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-Adesão à Terapêutica

-Reabilitação e Integração da
pessoa na família e na
comunidade

Professora: Yoandra Rosabal Pérez


E-mail: yoandra.rosabal@docente.unicv.edu.cv
Um dos principais problemas que os Ministérios de Saúde
enfrentam é o abandono ou incorrecto incumprimento
dos tratamentos prescritos pelos profissionais de Saúde.

A não adesão aos tratamentos constitui


provavelmente a mais importante causa de insucesso das
terapêuticas, com implicações no sistema de Saúde
através do aumento da morbilidade a da mortalidade.

(Gallagher, Viscoli & Horwitz, 1993)

Adesão a Terapêutica
 O Termo Adesão é “sinónimo de concordância, compreendendo a
aceitação e intervenção ativa e voluntária do doente que partilha a
responsabilidade do tratamento com a equipa de profissionais de
saúde que o segue”(1)
 Os doentes pretendem cada vez mais, sentir-se incluídos, no processo
terapêutico, desejando obter mais informações e exigindo maior
interação com os profissionais de saúde
 Pelo que os profissionais de saúde devem abordar aos doentes como
parceiros ativos no percurso terapêutico.
 Os comportamentos de não adesão devem ser entendidos “como
respostas dos indivíduos à falta de coincidência entre as suas ideias e as
do médico relativamente aos seus problemas e /ou tratamentos”(2)

(1) Bugalho & Carneiro, 2004, pp. 9-10


(2)Klein & Gonçalves, 2005, pp. 119
 Cumprimento e Adesão são dois termos que podem ser utilizados como
sinónimos pois significam a existência de um acordo/aliança entre
ambas partes respeitando crenças e desejos(1)

 A falta de adesão ocorre quando o comportamento do doente não


coincide com as recomendações do médico ou de outro profissional de
Saúde, também com o facto de não seguir as indicações relativas às
alterações nos hábitos de saúde e estilos de vida no sentido de adotar
práticas saudáveis, bem como não comparecer a consultas médicas
previamente marcadas ou não realizar exames complementares de
diagnóstico(2)

(1) Bugalho & Carneiro, 2004, pp. 10


(2) Brannon & Feist, 1997
 Fatores que influenciam à adesão
1. Factores demográficos, sociais e socioeconómicos

a. Características dos doentes:


• Personalidade,
• Auto-estima,
• Motivação(relacionado com a maneira de encarar a sua
vulnerabilidade à doença e as suas consequências e impacto
na sua qualidade de vida)
• Idade( idosos, adolescentes, crianças)
• Analfabetismo ou falta de compreensão da informação
• Deterioração do estado de saúde
• Diminuição de algumas faculdades como a memória,
capacidade cognitiva e de comunicação
• Alterações psiquiátricas ou com depressão
• Falta de mobilidade ou outras incapacidades
b. Fatores socioeconómicos

• Baixo nível de escolaridade


• Desemprego ou falta de estabilidade no emprego
• Dificuldade de acesso ao medicamento( alto custo dos
medicamentos)
• O isolamento do doente ou a distância geográficas das
farmácias ou das unidades de cuidados de saúde( custo
adicional do transporte)
• A instabilidade habitacional(mudança frequente de
residência)
• Os efeitos secundários do tratamento nos hábitos
quotidianos ou estilos de vida
c. Fatores relativos à doença e ao regime terapêutico

• Gravidade da doença e a severidade dos sintomas sobre


tudo se não envolverem dor
• Cronicidade das patologias
• Ausência de sintomatologia ou condições assintomáticas
moderadas
• Existência de uma ou mais doenças concomitantes
• A forma com a doença irá progredir
• A vivência da doença( aguda, grave ou crónica)
• Duração e complexidade do regime terapêutico( mudanças
frequentes do regime terapêutico)
• Duração ou efeitos colaterais do tratamento
(fundamentalmente se são muito negativos)
• A prescrição em simultâneo de múltiplos medicamentos
assim como muitas tomas diárias ou dosagens elevadas
c. Fatores relativos a doença e ao regime
terapêutico(cont.)

• Tipo de fármaco e a forma como este deve ser


administrado e manuseado( desconforto que provoca por
tamanho e cheiro do comprimido ou sabor de um xarope)
• Experiências negativas anteriores ou no passado com os
mesmos fármacos ou similares
• Nível de instrução dos pacientes e conhecimento que têm
sobre a doença
• Atitude e crenças pessoais sobre a eficácia dos
medicamentos
• Horário de toma dos medicamentos
 Se é certo que existem normas sociais favoráveis à adesão a
terapêutica também é verdade que existem outras normas
socioculturais desfavoráveis como por exemplo:

• A crença do risco da perda das “defesas naturais”


• A eventual preocupação em relação ao diagnóstico, ao
prognóstico e à gravidade que os doentes atribuem à doença
• A falta de obtenção de resultados positivos com as
terapêuticas em situações clínicas passadas
• A ausência imediata de melhoria
• A perceção da melhoria ou desaparecimento dos sintomas
fundamentalmente quando deixa de haver dor
d. Fatores cognitivos e emocionais

• Esquecimento
• A ausência da perceção da necessidade e importância de
cumprir o tratamento ou da gravidade da doença
• A desconfiança em relação à obtenção de resultados
positivos
• A ansiedade inerente às tomas dos fármacos sobretudo em
regimes terapêuticos complexos
• O medo de possíveis efeitos adversos ou dependência
e. Fatores ligados à relação do doente com os
profissionais e serviços de Saúde

• A confiança que o paciente deposita no profissional de


saúde
• Competências de comunicação que o profissional de
saúde coloca na relação com os doentes( transmitir as
informações de maneira clara e que sejam bem
assimilados numa linguagem adequada ao nível
educacional e a capacidade cognitiva de cada doente)
• As atitudes ou comportamentos dos profissionais de
Saúde em relação ao doente( linguagem, tempo
dispensado para a consulta, atendimento acolhedor)
e. Fatores ligados à relação do doente com os profissionais e
serviços de Saúde(Cont.)

o Saber ouvir , entender e respeitar as expectativas e


preocupações dos doentes( respeito com as verbalizações
e questionamentos dos doentes e motivá-los a cumprir o
tratamento)
o Os profissionais de saúde devem dar especial atenção à
possibilidade do doente não estar a cumprir com o
tratamento ou indicações médicas tal como lhes foi
indicado e deve certificar -se das informações fornecidas
pelos doentes( fazer entrevistas sobre como toma o
medicamento, importância)
 Deve ter-se especial atenção no direito do doente de
decidir sobre o seu corpo e se vai ou não a tomar o
medicamento.

 Pelo que:
 As questões sobre a adesão ou não ao tratamento devem ser
feitas de maneira amigável, tentando expressar o menor nível de
pressão possível
 Citando as dificuldades encontradas por outros pacientes e
solicitando que o paciente fale sobre as suas próprias
dificuldades e assim identificar as possíveis causas da não
adesão ao tratamento
 O doente e o entrevistador devem ter uma relação de confiança
e a validade da entrevista depende da sinceridade do doente
entrevistado e da atitude do profissional de saúde
 As repetidas situações de recaída e o
alargamento do período do tratamento,
conduz a um sofrimento evitável e a custos
substanciais acrescidos(1)
 No caso das doenças infecciosas a não adesão
à terapêutica tem conduzido ao aumento da
resistência aos antibióticos(2)

(1)Enlud & Poston, 1987


(2)Chesney, Morin & Sherr, 2000
 Estratégias para Aumentar a Adesão do Doente a um
Regime Terapêutico

 Planear em colaboração com o doente. Lembrar que o regime


pertence ao indivíduo e não ao enfermeiro

 Incluir a família no planeamento e ensino, se o doente aprovar

 Simplificar ao máximo, o regime necessário

 Ajudar o mais possível a incluir o regime na suas atividades


diárias. Encorajá-lo adaptar o regime, conforme necessário
 Estratégias para Aumentar a Adesão do Doente a um
Regime Terapêutico

 Certificar que o doente e a família compreendem a razão de


todas as atividades. Fornecer material escrito necessário que lhe
sirva de referência

 Explorar a ideia de fazer um contrato com a pessoa


relativamente à mudança comportamental requerida

 Fornecer muitos feedback (reforços) positivos pelos esforços do


indivíduo

 Iniciar referenciações para grupos comunitários de autoajuda e


apoio. Dar números de telefone e moradas e efetuar o primeiro
contacto telefónico, se for apropriado.
 “O doente não está preocupado em
desobedecer ou não aderir ao receituário
médico, mas sim com lidar com a sua
condição de vida da forma que lhe convenha e
que lhe permita maior autocontrol0 e
liberdade”.
(1) Conrad ( 1985)
Reabilitação
e Integração
da pessoa na
família e à
comunidade
 Reabilitação e Integração da pessoa na família
e na comunidade

 A reabilitação é a área de cuidados ao doente que se


centra em ajudar este a atingir a máxima
independência, e uma qualidade de vida aceitável em
termos físicos, emocionais, psicológicos, sociais e
profissionais.

 A reabilitação não é orientada para a cura, mas para


tornar possível que os doentes vivam da forma mais
plena possível.
 Centros de Reabilitação
 As deficiências que necessitam de reabilitação
podem ser:
Temporárias ou permanentes
Intermitentes ou contínuas
Ligeiras ou graves
Progressivas, regressivas ou estáticas

 Tipos de programas de reabilitação:


Programas músculo-esqueléticos
Cardíacos
Respiratórios
Oncológicos
 Centros de Reabilitação( cont.)

 Incluem serviços de:

Internamento
Centros de doentes em ambulatório
Clínicas de reabilitação
Reabilitação no domicílio
• Centros de Reabilitação( cont.)

• As unidades de internamento podem ser:


Para problemas agudos ou subagudos

• A Reabilitação de situação aguda pode ocorrer:


Num Hospital de Reabilitação
Numa Unidade especializada de um Hospital Central

• Centros de situação subaguda podem ser:


Uma unidade especializada num Hospital de Reabilitação
Uma instituição de cuidados de longa duração
 Filosofia da Reabilitação:

 Perspetiva de bem-estar
 Abordagem individualizada( focada no doente e orientada para
objetivos em termos de cuidados)
 A reabilitações centra-se nas capacidades ou nas incapacidades
 Usa uma abordagem multidisciplinar
 Orienta-se para o apoio ou desenvolvimento da capacidade de
funcionamento deste
 Usa dispositivos de apoio
 Os elementos de cada equipa de reabilitação multidisciplinar
variam de acordo com as necessidades individuais do doente.
Equipa de Reabilitação
 Equipa de Reabilitação

 Fisiatra: Médico especializado em medicina de Reabilitação

 Enfermeiro de Reabilitação: Frequentemente o supervisor de


processos, responsável pela coordenação do trabalho de equipa e
também tem ação direita nos cuidados de reabilitação feito à pessoa
com incapacidade

 Fisioterapeuta: Promove a mobilidade e o desempenho de


determinadas Atividades da Vida Diária(AVD)

 Terapeuta Ocupacional: Facilita o desenvolvimento da coordenação e as


capacidades motoras finas usadas nas AVD
 Equipa de Reabilitação

 Terapeuta Ocupacional: Facilita o desenvolvimento da coordenação e as


capacidades motoras finas usadas nas AVD

 Terapeuta da fala: Realiza o treino do tratamento da fala, linguagem e


de problemas de deglutição

 Animador social: Facilita a participação em Hobbies e o


desenvolvimento de interesses

 Terapeuta cognitivo: Trabalha com doentes com lesões cerebrais que


têm deficiências cognitivas

 Psicólogo: Presta terapia e ajuda em relação ao coping

 Orientador profissional: Ajuda na colocação, estágio ou formação


profissional
 Processo de Reabilitação

 Começa com a avaliação da capacidade do doente de


beneficiar da reabilitação e se a avaliação for positiva,
a escolha de um centro adequado.

 Factores a ter em conta na selecção do centro de


reabilitação:

 Necessidades de reabilitação do doente


 Tipo de terapia de reabilitação necessária
 Recursos financeiros
 Localização do centro de reabilitação
 Já escolhido o centro de reabilitação

 São feitas pelo enfermeiro de reabilitação várias


avaliações ao doente:

◦ Avaliação da capacidade :

◦ Física
◦ Psicológica
◦ Emocional
◦ Social
◦ Funcional
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação

 É um desafio que requer capacidades :


◦ de avaliação individual e comunitária,
◦ de ensino,
◦ de modelo,
◦ de advogado do doente,
◦ de iniciação de mudança,
◦ de reavaliação

 Deve adaptar os cuidados de forma adequada à idade,


e ao diagnóstico. Deve ter excelentes aptidões
interpessoais para estabelecer uma relação de
confiança terapêutica com o doente e a família.
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação(cont.)

 Objectivos a atingir com o doente

Dividir objectivo em passos mais pequenos de modo a este


não parecer muito grande ou esmagador
Planeamento: Definir metas com avaliações periódicas
Permitir que o doente domine uma capacidade um pouco de
cada vez;
Adaptar ou demonstrar a tarefa para ajudar o doente a
compreender o processo;
Encorajar o doente a realizar uma tarefa depois de a ter
demonstrado.
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação(cont.)

 Objectivos a atingir com o doente

Treinar e transmitir o reforço positivo, conforme for


adequado, cada vez que o doente efectue a tarefa;
Trabalhar com o doente para estabelecer prioridades entre as
Actividades da Vida Diária(AVD) ou tarefas a serem
dominadas e decidir a sua realização num período de tempo
razoável;
Respeitar o tempo do doente para aprender
Redefinir os objectivos, conforme necessário.
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação(cont.)

 Apoiar o doente na manutenção do seu sentido de identidade e


controlo;
 Ajudar o doente no desenvolvimento ou manutenção de uma
auto imagem positiva;
 Ajudar ao doente a reaprender a efectuar as Actividades da Vida
Diária(AVD) de forma autónoma ou com ajuda de uma pessoa
ou dispositivo de apoio;
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação(cont.)

 Maximizar a mobilidade do doente evitando complicações


músculo-esqueléticas da mobilidade(perda da força muscular,
pé equino e a espasticidade);
 Estabelecer rotinas para a defecação e realização do treino
vesical para melhorar os transtornos na eliminação vesical e
intestinal(por incontinência);
 Prevenção e tratamento das úlceras por pressão.
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação(cont.)

 Maximizar o potencial da pessoa;


 Desempenham um papel determinante nos processos de
cuidados, na reabilitação, na readaptação e na reintegração das
pessoas dependentes no ambiente familiar, potenciando o seu
desenvolvimento;
 Promover a continuidade dos cuidados e articulações entre as
equipas e instituições;
 Papel do Enfermeiro de Reabilitação(cont.)

 Envolver o doente e a família no processo de reabilitação;


Garantir um bom suporte família (informar o doente e a família
sobre a situação real ou estado real de saúde, criar estratégias
que diminuam a existência de disfunção e depressão familiar);
 Informar, apoiar e orientar o doente e a família no processo de
reabilitação e integração e cuidados.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade
 Devem estar encaminhadas a maximizar as
potencialidades do indivíduo e prepará-lo para a
integração da maneira mais completa possível na
comunidade com a ajuda da família, tendo em
consideração o seu conceito de qualidade de vida.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)

Os objectivos

 a desinstitucionalização
 a reabilitação
 a valorização sócio-familiar
 o combate ao estigma social
 a reintegração
 a inserção profissional.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)
 Ajuda no desenvolvimento dos doentes nas
competências pessoais e sociais:

Compreendendo ao doente
 não o estigmatizando
não o discriminando
não o excluindo
Apoiando-o
Reabilitando-o
 integrando-o
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)

 Áreas de intervenção

◦ Área de Reabilitação e Reintegração

Elaboração e execução de um programa individual


que parte de uma avaliação do utente e da sua
família, a vários níveis, uma vez que se considera que
este programa deve adaptar-se à realidade específica
de cada doente.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)

 Áreas de intervenção

 Área do Apoio Individual


Acompanhamento, em sessões individuais,
contínuas e obrigatórias, dos problemas sócio-
emocionais do utente.
 Definição de objectivos a alcançar e avaliação de
metas alcançadas.
 Prevenção de situações de crise.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)

 Áreas de intervenção

 Área do Desenvolvimento de Competências


Organização de atividades normalmente realizadas
em grupo, mas que têm subjacente o plano individual
de reabilitação, de modo a preparar o utente para o
trabalho, para o quotidiano e para a vida em
sociedade.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)

 Áreas de intervenção

◦ Área de Apoio às Famílias

Acompanhamento das famílias, incentivando a troca


de experiências, uma vez que o envolvimento das
famílias é um factor de sucesso na reabilitação dos
utentes.
Desenvolvimento de competências de suporte e ajuda
em situações de crise.
 Reintegração do Doente na família e na
comunidade (cont.)

 Áreas de intervenção

◦ Área do Trabalho na Comunidade

Desenvolvimento de ações de sensibilização da


comunidade e de projetos de colaboração com
instituições.
Integração de utentes na comunidade em programas
de formação profissional normal ou protegida e em
emprego normal ou protegido.
Bibliografia
 Monaham, F. D.; Sands, J. K.; Neighbors, M.; Marek, J.
F.; Green, C. J. (2007). PHIPPS - Enfermagem Médico-
Cirúrgica: Perspectivas de Saúde e Doença. 8.ª ed. Vol
I. Loures: Lusodidacta. ISBN: 978-989-8075-22-2
 www.ordemenfermeiros.pt. (Março 2009). Conselho
de Enfermagem. Rede nacional de Cuidados
Continuados e Integrados. Referencial do
Enfermeiro.

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