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Direcção-Geral da Administração da Justiça

Texto de apoio
à formação de oficiais de justiça

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REFORMA DA ACÇÃO EXECUTIVA

Decreto-Lei n.º 38/2003,


de 08 de Março

Preâmbulo:

No uso da autorização legislativa concedida pela Lei n.º 23/2002, de 21 de


Agosto, altera o Código de Processo Civil, o Código Civil, o Código do Registo
Predial, o Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência,
o Código de Procedimento e de Processo Tributário, o Código de Processo do
Trabalho, o Código dos Valores Mobiliários e legislação conexa, alterando o regime
jurídico da acção executiva.

A revisão do Código de Processo Civil operada pelo Decreto-Lei n.º 329-A/95,


de 12 de Dezembro, e pelo Decreto-Lei n.º 180/96, de 25 de Setembro, complementada
pelo Decreto-Lei n.º 274/97, de 8 de Outubro, que alargou o âmbito do processo
sumário de execução, e pelo Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de Setembro, que reformou,
revitalizando-o, o processo de injunção, manteve, nas suas linhas gerais, o esquema dos
actos executivos, cuja excessiva jurisdicionalização e rigidez tem obstado à satisfação,
em prazo razoável, dos direitos do exequente. Os atrasos do processo de execução têm-
se assim traduzido em verdadeira denegação de justiça, colocando em crise o direito
fundamental de acesso à justiça.
Identificadas as causas e os factores de bloqueio do processo executivo
português, o XIV Governo Constitucional preparou, submeteu a debate público e
aperfeiçoou, sem ter chegado a aprová-lo, um projecto de reforma da acção executiva
que, sem romper a sua ligação aos tribunais, atribuiu a agentes de execução a
iniciativa e a prática dos actos necessários à realização da função executiva, a fim

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de libertar o juiz das tarefas processuais que não envolvem uma função
jurisdicional e os funcionários judiciais de tarefas a praticar fora do tribunal.
Coube ao XV Governo Constitucional aprofundar a reforma projectada. Fê-lo
suprimindo pontos de praticabilidade discutível, como o da atribuição de competências
executivas às conservatórias do registo predial, demarcando mais nitidamente o plano
da jurisdicionalidade, estendendo o esquema de garantias do executado e alargando o
campo de intervenção do solicitador de execução, em detrimento do oficial de justiça e
do de outros intervenientes acidentais no processo.
Dentro e fora do domínio estrito da execução, são alterados muitos outros pontos
do regime processual vigente, bem como alguns preceitos de direito substantivo com
eles conexos. Optou-se por conservar, tanto quanto possível, a ordem dos artigos do
Código e procurou-se conciliar rigor, clareza e concisão na redacção dos preceitos,
aproveitando-se, inclusivamente, para clarificar o sentido de algumas alterações
recentes de interpretação duvidosa.
Não são alterados o elenco e os requisitos dos títulos executivos. Mas a
natureza do título executivo constitui juntamente com o valor da execução, a
natureza do bem a penhorar e a prévia notificação do executado, um dos factores
que dispensam, em regra, o despacho liminar e a citação prévia, dando
precedência à penhora.
Assim, mantém-se a regra da penhora sem necessidade de prévio despacho
judicial para a execução de sentença e para o requerimento de injunção no qual tenha
sido aposta a fórmula executória. Alarga-se, porém, esta regra às acções em que o título
executivo é uma decisão arbitral ou um documento particular com determinadas
características.
Assim, não há lugar a despacho liminar, nem a citação prévia do executado
nas execuções baseadas em:
a) Documento exarado ou autenticado por notário, ou documento
particular com reconhecimento presencial da assinatura do devedor
desde que:
i) O montante da dívida não exceda a alçada do tribunal da
relação e seja apresentado documento comprovativo da

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interpelação do devedor, quando tal fosse necessário ao


vencimento da obrigação;
ii) Excedendo o montante da dívida a alçada do tribunal da
relação, o exequente mostre ter exigido o cumprimento por
notificação judicial avulsa;
b) Qualquer título de obrigação pecuniária vencida de montante não
superior à alçada do tribunal da relação, desde que a penhora não recaia
sobre bem imóvel, estabelecimento comercial, direito real menor que
sobre eles incida ou quinhão em património que os inclua.
Pode, além disso, o juiz dispensar a citação prévia do executado quando se
justifique o receio da perda da garantia patrimonial do crédito, o que, com economia
processual, permite enxertar na execução um juízo de natureza cautelar.
Em todos estes casos, portanto, a execução começa pela penhora. Tendo esta
circunstância em atenção, estabelece-se nestas situações o dever do funcionário
judicial de suscitar a intervenção do juiz em todos os casos em que é admissível o
indeferimento liminar ou despacho de aperfeiçoamento.

Para a realização da penhora, a cargo do agente de execução, tem este


acesso ao registo informático das execuções, que disponibilizará informação útil sobre
os bens do executado, assim como sobre outras execuções pendentes contra o mesmo
executado. Podendo o agente de execução recorrer à consulta de outras bases de dados,
é, porém, salvaguardada a reserva da vida privada, mediante a imposição de despacho
judicial prévio quando se trate de dados sujeitos a regime de confidencialidade. Quanto
ao dever de informação do executado, intenta-se torná-lo mais efectivo, mediante a
fixação de sanções pecuniárias compulsórias.

Simplificam-se os procedimentos da penhora, designadamente da de depósitos


bancários, salvaguardada a necessidade de prévio despacho judicial, e da de bens
sujeitos a registo, processados electronicamente e com eficácia imediata.

Efectuada a penhora, é citado o executado que inicialmente o não tenha sido,


podendo então ter lugar a oposição à execução ou à penhora. A simultânea citação dos
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credores conhecidos, com supressão da citação edital dos desconhecidos e significativa


limitação dos privilégios creditórios, assegura que a reclamação de créditos, a existir,
corra paralelamente às oposições.

A limitação dos privilégios creditórios, nunca afectando direitos dos


trabalhadores, concretiza-se através da limitação da sua possibilidade de reclamação,
tratando-se de privilégio creditório geral, mobiliário ou imobiliário, quando:
a) A penhora tenha incidido sobre bem só parcialmente penhorável, outro
rendimento periódico, ou veículo automóvel;
b) Sendo o crédito do exequente inferior a 190 UC, a penhora tenha
incidido sobre moeda corrente, nacional ou estrangeira, ou depósito bancário em
dinheiro;
c) Sendo o crédito do exequente inferior a 190 UC, este requeira
procedentemente a consignação de rendimentos, ou a adjudicação, em dação em
cumprimento, do direito de crédito no qual a penhora tenha incidido, antes de
convocados os credores. Por outro lado, estabelece-se a regra segundo a qual a
quantia a receber pelo credor com privilégio creditório geral é reduzida na
medida do necessário ao pagamento de 50% do crédito do exequente, desde que
não ultrapasse 50% do remanescente do produto da venda, nem exceda o valor
correspondente a 250 UC.

Admite-se a formação, no próprio processo de execução, de título executivo


parajudicial a favor do credor com garantia real, o que dispensará em muitos casos o
recurso à acção do artigo 869.º do Código.

Igual possibilidade é admitida contra o cônjuge do executado, quando este ou o


exequente pretendam que a dívida seja comum. Nomeadamente, quando o exequente
tenha fundamentadamente alegado que a dívida, constante de título diverso de sentença,
é comum, é ainda o cônjuge do executado citado para, em alternativa e no mesmo prazo,
declarar se aceita a comunicabilidade da dívida, com a cominação de, se nada disser, a
dívida ser considerada comum.

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É favorecida a adjudicação de bens, que dispensará, em alguns casos, a pesada


tramitação que hoje se segue ao requerimento do credor que a pretenda. Quanto à venda
executiva, nela tem papel fundamental o agente de execução, que pode, em certas
circunstâncias, ser encarregado da própria realização da venda por negociação
particular. À abertura das propostas em carta fechada continua a presidir o juiz da
execução, quando é imóvel o bem a vender ou quando, tratando-se dum
estabelecimento comercial, ele próprio, solicitado para tanto, o determine. Tão-pouco é
dispensável a intervenção do juiz na autorização da venda urgente. Mas, nos outros
casos, a venda será realizada, em princípio, sem intervenção judicial, o mesmo
acontecendo com o pagamento.

Nos casos em que tem lugar, a intervenção jurisdicional far-se-á através de


magistrados judiciais afectos a juízos de execução e só através dos magistrados do
tribunal de competência genérica quando não sejam criados esses juízos com
competência específica. Visa-se assim conseguir maior eficácia e consequente
celeridade na administração da justiça, nesta expectativa se fundando soluções como a
de suspender a acção executiva quando o executado se oponha à execução após a
penhora. São, aliás, estabelecidos prazos curtos para os despachos judiciais a proferir
no processo de execução e para as decisões dos processos declarativos (de oposição ou
reclamação) que nele se enxertam.

Passam os tribunais portugueses a ter competência internacional exclusiva


para as execuções sobre bens existentes em território nacional, em consonância com
o regime do Regulamento (CE) n.º 44/2001, de 22 de Dezembro de 2000.

Aproveita-se a nova figura do solicitador de execução para lhe atribuir a citação


pessoal do réu na acção declarativa, simultaneamente se fazendo cessar a
modalidade, da citação postal simples. Mantém-se a regra da primeira tentativa de
citação se fazer por via postal, mas sempre registada. Caso tal tentativa se frustre, a
citação é feita por agente de execução através de contacto directo com o citando.
Em coerência, repristina-se a regra da notificação das testemunhas por aviso
postal registado.
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De entre as outras alterações ora introduzidas, destaque-se


a que repristina a regra da decisão imediata das reclamações das partes
sobre a selecção da matéria de facto,
a que atribui, em regra, efeito suspensivo ao recurso da decisão da 1.ª
instância,
a que dispensa, em certos casos, a acção declarativa prévia ao recurso de
revisão da sentença,
a que no processo de falência, permite ao liquidatário impugnar os
créditos reclamados
e a que, no processo de arbitragem voluntária, exclui a intervenção
judicial prévia na determinação do objecto do litígio sobre o qual não
haja acordo das partes.
Foram ouvidos o Conselho Superior da Magistratura, a Ordem dos Advogados, a
Câmara dos Solicitadores, a Comissão Nacional de Protecção de Dados, a Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários, a Associação Portuguesa de Bancos e as estruturas
associativas e sindicais dos juízes e dos funcionários judiciais.
...

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INTRODUÇÃO

Com a reforma da acção executiva, que teve por finalidade retirar parte da
actividade processual aos tribunais, deixando para estes a sua verdadeira função de
dirimir litígios, foram criados intervenientes da acção executiva nomeadamente
secretarias de execução, o juiz de execução e o agente executivo, os quais vão ser
auxiliados pelo novo registo informático de execuções. Registo este que daqui a um ano
deverá abranger todas as acções executivas pendentes nos tribunais (novas e antigas),
assim como os processos de falência.

O novo diploma, sem romper a sua ligação aos tribunais, atribui ao agente de
execução a iniciativa e a prática dos actos necessários à realização da função executiva,
a fim de libertar o juiz das tarefas processuais que não envolvem uma função
jurisdicional e os funcionários judiciais de tarefas a praticar fora dos tribunais.

A acção executiva será conduzida nas secretarias de execução, as quais têm


competência para efectuar todas as diligências necessárias à normal tramitação da
execução que não sejam da competência do agente de execução, através dos oficiais de
justiça.

O JUIZ DE EXECUÇÃO

O juiz de execução tem por função supervisionar toda a acção executiva, resolver
os litígios e efectuar o controlo geral do processo (cfr. art.º 809.º), competindo-lhe,
nomeadamente:
- Proferir o despacho liminar, quando deva ter lugar, nomeadamente, nos termos
do art.º 812.º - A, n.º 2. Podendo este consistir em :
a) Despacho de aperfeiçoamento (art.º 812.º, n.º 4);
b) Despacho de indeferimento liminar (art.º 812.º, n.º 1 e 2);
c) Despacho que rejeite parte do título executivo (art.º 812.º n.º 3);
d) Despacho de citação (cfr. art.º 812.º, n.º 6). Note-se que a regra é haver
despacho de citação quando há despacho prévio (cfr. art.º 812.º- B).
- Julgar a oposição à execução (art.ºs 813.º a 816.º) e ou à penhora (art.º s 863.º
–A e 863.º -B);
- Verificar e graduar os créditos (cfr. art.ºs 865.º a 869.º);
- Julgar as reclamações dos actos praticados pelo agente de execução;
- Decidir outras questões levantadas pelas partes, pelo agente de execução ou
mesmo por terceiros intervenientes.
O n.º 2 do art.º 809.º prevê a aplicação de multa à parte
apresentante de requerimento considerado injustificado, de
valor compreendido entre ½ UC e 10 UC e cobrável nos
termos do art.º 103.º do (cfr. art.ºs 102.º, al.ª b) e 103.º do
Código das Custas Judiciais).

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Apresenta-se, em seguida, uma síntese de alguns actos que requerem a


intervenção do juiz de execução:

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Art.ºs Actividade Obs.

804.º, n.º 2 Apreciação da prova não documental da obrigação


condicional ou da prestação alternativa.
805.º, n.º 5 Liquidação por árbitros. Art.º 12.º da Lei n.º
31/86, de 29/8
808.º, n.º 1 Controlo dos actos do agente de execução.
808.º, n.º 4 Destituição do solicitador de execução, Art.º 130.º do
oficiosamente ou a requerimento do exequente. Estatuto da Câmara
dos Solicitadores,
aprovado pelo Dec.
Lei n.º 88/2003, de
26/Junho
809.º Competências genéricas do juiz de execução.
811.º, n.º 2 Decisão da reclamação da recusa do requerimento
executivo pela secretaria.
812.º, n.ºs 1 Art.º 809.º, n.º 1-a).
e 2, 4 e 6 Despacho liminar quando haja lugar. Aplica-se também
às execuções para
entrega de coisa
certa (art.ºs
928.º/931.º) e para
prestação de facto
(art.ºs 933.º a 942.º)
por força do art.º
466.º, n.º 2.
812.º-A, n.º Despacho provocado por oficial de justiça nas
3 execuções dispensadas de despacho liminar.
812.º-B, n.ºs Decisão dos pedidos de dispensa de citação prévia.
3e4
817.º a 819.º Julgamento da oposição à execução. Art.º 809.º, n.º 1-b)
820.º Pode conhecer oficiosamente das questões a que
aludem os n.ºs 3 (indeferimento parcial do
requerimento executivo) e 5 (convidar o exequente
a suprir irregularidades ou vícios) , bem como a
alínea c) do n.º 7 do mesmo artigo (execuções
fundadas em título extrajudicial contraído para
aquisição de habitação própria hipotecada em
garantia) até ao primeiro acto de transmissão de
bens penhorados.
E ordena o levantamento da penhora no caso de
julgar extinta a execução (n.º2 do art.º 820.º).
824.º, n.ºs 4 Alterar os limites mínimos da penhora
e5

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estabelecidos neste artigo.


833.º, n.º 3 Autoriza o agente de execução, e a pedido deste, a
consultar informação protegida pelo sigilo fiscal.
838.º, n.º 4 Se a questão lhe for colocada, pode decidir sobre a
eventual sustação da execução até que se
demonstre o registo definitivo da penhora de
imóvel.
840.º, n.º 2 Determina, a pedido do agente de execução, a Semelhante ao art.º
848.º, n.º 3
requisição de força pública para entrega efectiva de
imóvel penhorado ao depositário (a pedido do
agente de execução).
842.º-A Pode autorizar o levantamento da penhora sobre
um ou mais dos imóveis resultantes da divisão ou
fraccionamento, a requerimento do executado.
843.º, n.º 2 Decide sobre o modo de exploração dos bens Pode ter aplicação
subsidiária e
penhorados, quando não haja acordo entre o complementar ao
art.º 862.º-A, n.º 3.
exequente e o executado.
848.º, n.º 2 Decide o incidente suscitado sobre a pertença de
bens dum terceiro depois de penhorados ao
executado.
848.º, n.º 3 Determina, a pedido do agente de execução, a Semelhante ao art.º
840.º, n.º 2
requisição de força pública para forçar a entrada no
domicílio do executado ou de terceira pessoa.
852.º e 853.º Decide pedido de autorização de navio penhorado a

navegar.
854.º Decreta o arresto de bens do depositário infiel e
ordena o levantamento do mesmo arresto quando
após o pagamento do valor do depósito, das custas
e acréscimos.
856.º, n.º 5 Autoriza, a requerimento do exequente, do
executado e dos credores reclamantes a prática dos
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actos que se afigurem indispensáveis à conservação


do direito de crédito penhorado.
861.º-A, n.º Autoriza a penhora de depósitos bancários.
1
862.º, n.º4 Quando solicitado, pronuncia-se sobre a
inconveniência da venda da totalidade do
património autónomo ou do bem atingido só em
parte pela penhora.
863.º-A e Julga a oposição à penhora Art.º 809.º, n.º 1-b)
863.º-B
865.º a 869.º Verifica e gradua os créditos reclamados Art.º 809.º, n.º 1-b)

870.º Suspende a execução, a requerimento de qualquer


credor que comprove pender processo especial de
recuperação de empresa ou de falência.
871.º A requerimento do agente de execução, do
exequente, do executado ou de qualquer credor
susta a execução em que se efectuar a última
penhora sobre os mesmos bens.
875.º,n.º 7 Requerida a adjudicação de direito de crédito cuja
data de vencimento esteja próxima, o juiz pode
suspender a execução até essa data.
876.º, n.º 3 Preside à abertura de propostas na venda de imóvel Cfr. art.ºs 901.º-A e
893.º, n.º 1
e de estabelecimento comercial.
880.º, n.º 4 Decide o desacordo entre o executado e o
consignatário de bem locado.
886.º-A, n.º Aprecia e decide o desacordo manifestado por
5
exequente, executado e credores reclamantes
relativamente à modalidade da venda determinada
pelo agente de execução.
886.º-C, n.º Autoriza a venda antecipada de bens, sob
1
requerimento do exequente, do executado ou do
depositário dos bens a vender.

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889.º, n.º 3 Pode determinar que a venda se efectue no tribunal


da localização dos bens, invertendo a regra geral da
venda no tribunal onde corre a execução.
893.º, n.º 1 Preside à abertura das propostas na venda por
propostas em carta fechada.
898.º, n.ºs 1 Ordena o arresto a requerimento do agente de
e2
execução, quando o proponente ou o preferente não
depositem o preço.
E ordena o levantamento do arresto após o
pagamento.
901.º-A Determina, a requerimento do agente de execução, Cfr. art.º 876.º, n.º 3
do exequente, do executado ou de qualquer credor
com garantia real a realização da venda por
propostas em carta fechada de estabelecimento
comercial de valor consideravelmente elevado.
E determina ainda se preside à abertura das
propostas.
904º, al.ª c) Decide a venda por negociação particular com
fundamento na urgência da venda.
905.º, n.º 2 Pode encarregar da venda por negociação particular
o solicitador de execução, perante o desacordo
entre os credores ou a oposição do executado.
907.º Decide reclamações sobre a venda.
908.º Decide sobre a anulação da venda e a
indemnização do comprador.
916.º Ordena a liquidação da responsabilidade do
executado a requerimento de quem (executado ou
terceira pessoa) depositar voluntariamente o crédito
exequendo ou a diferença entre este e o produto da
venda e as custas (n.º 1).
939.º, n.º 1 Fixa prazo para prestação de facto a pedido do
940.º, n.º 1
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exequente formulado no requerimento executivo.


Isto sucede quando o título executivo não designe o
prazo dentro do qual o facto deva ser prestado.
Em tais circunstâncias, o processo é inicialmente
concluso ao juiz.
942.º Ordena a demolição da obra à custa do executado e
a indemnização do exequente, ou fixa apenas o
montante desta última, quando não haja lugar à
demolição – isto quando reconheça a falta de
cumprimento da obrigação negativa, ou seja, de
não praticar algum facto.

O AGENTE DE EXECUÇÃO

À nova figura criada pela reforma compete assegurar o andamento normal do


processo executivo, praticando doravante uma parte significativa dos actos processuais
que no regime cessante incumbiam à secretaria, tais como citações, notificações,
penhoras e vendas, e simultaneamente alguns actos retirados à esfera das competências
imediatas do juiz como é o caso da decisão sobre a venda prevista no art.º 886.º-A, n.º 1.

Embora o juiz deixe de ter uma intervenção sistemática na acção executiva, a


todo o tempo pode exercer o controlo regulador e tutelar do processo, nos termos
previstos no n.º 1 do art.º 809.º.

De acordo com o disposto no n.º 2 do art.º 808.º, em princípio, as funções de


agente de execução são desempenhadas por solicitador de execução que, sob
fiscalização da Câmara dos Solicitadores e na dependência funcional do juiz da causa,
exerce as competências específicas de agente de execução e as demais funções que lhe
forem atribuídas por lei, conforme definição do art.º 116.ª do Estatuto da Câmara dos
Solicitadores aprovado pelo Dec. Lei n.º 88/2003, de 26/04.

Só assim não será


nas execuções por custas, multas e outras quantias contadas
ou liquidadas, em que o agente de execução será sempre
oficial de justiça.
E nas demais execuções quando não houver solicitador de
execução inscrito no círculo judicial onde correr o processo
ou quando ocorrer alguma causa de impossibilidade de entre
as previstas nos artigos 120.º a 122.º, 129.º e 130.º do

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Estatuto da Câmara dos Solicitadores1 (incompatibilidade,


impedimento, escusa, substituição, destituição) - cfr. art.º
808.º, n.ºs 2 (parte final) e 3.
A título de exemplo podemos referir os casos em que ao único solicitador de
execução inscrito na área do círculo sejam atendidos o pedido de suspensão de aceitar
novos processos nos termos do art.º 122.º do Estatuto ou o pedido de escusa por ser
mandatário judicial de uma das partes (cfr. art.ºs 120.º, n.º 1-a) e 122.º, n.º 3-b) do
Estatuto) ou ainda por ser cunhado de uma das partes (art.ºs 121.º, n.º 1 do Estatuto e
122.º, n.º 1-b) do Código de Processo Civil por força do art.º 125.º, n.º 2 do mesmo
Código).
E vem a propósito lembrar a eventualidade de uma execução ser iniciada com um
solicitador de execução designado e por motivos sobrevindos ele vir a ser substituído
por um oficial de justiça, em virtude de não haver outro solicitador de execução no
círculo, hipótese que, aliás, mereceu já a atenção do legislador de custas (cfr. art.º 3.º,
n.º 3 do Decreto-Lei n.º ______/____, de _________, diploma que aprovou o regime
especial de custas judiciais para a nova acção executiva).

Competências

O n.º 1 do art.º 808.º atribui ao agente de execução competência para efectuar


todas as diligências do processo executivo, tais como citações, notificações,
publicações, penhoras, vendas, salvo quando a lei determine o contrário, sem prejuízo
do poder geral do controlo do processo pelo juiz de execução.

Tem sido suscitada a dúvida sobre se as notificações a realizar pelo agente de


execução abrangiam igualmente as que hajam de efectuar-se no âmbito dos apensos
declarativos, tais como a oposição (à execução e à penhora) ou da reclamação de
créditos, habilitação de sucessores, embargos de terceiro ou outros procedimentos
incidentais de natureza declarativa, e bem assim as diligências subsequentes ao
despacho que ordene a realização de diligências probatórias para apreciação do pedido
de dispensa de citação prévia nos termos do artigo 812.º-B, n.º 3.

Pensamos que, face ao que dispõe o n.º 1 do artigo 808.º, os actos específicos do
agente de execução limitam-se exclusivamente aos “actos processuais executivos” tais
como a citação do executado, a penhora, as citações do cônjuge e dos credores ou
mesmo a venda, em que ele goza de relativa autonomia.
A tramitação dos apensos e dos procedimentos incidentais de natureza declarativa,
ainda que no interior da própria execução, são da competência da secretaria.
Por exemplo,
a apreciação pelo juiz do pedido de dispensa de citação prévia,
que é formalizado pelo exequente no requerimento executivo,
implica despacho inicial e a realização de diligências probatórias,
após o que é decidido.

1
Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril.
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Vejamos, agora, os passos a dar no caso de as notificações serem efectuadas pelo


agente de execução:
a secretaria notificaria o despacho ao agente de execução que, por sua
vez, notificaria o exequente e as testemunhas.
Outro exemplo:
recebida a oposição à execução, por despacho do juiz, a secretaria
notifica o exequente/embargado para contestar, enviando-lhe o
duplicado respectivo juntamente com as cópias dos documentos
apresentados (na secretaria) – art.º 817.º, n.º 2.

Pela mesma ordem de razões se propende caberem igualmente à secretaria as


notificações a efectuar no âmbito dos recursos.

Designação

O art.º 116.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores define o solicitador de


execução como sendo o solicitador que, sob fiscalização da Câmara e na dependência
funcional do juiz da causa, exerce as competências específicas de agente de execução e
as demais funções que lhe forem atribuídas por lei.

O solicitador de execução é indicado pelo exequente no requerimento inicial


(cfr. art.º 810.º n.º 3, al. e) e a aceitação por parte do solicitador de execução é feita no
“anexo C2” do requerimento executivo, podendo, em alternativa, ser feita em
requerimento autónomo a apresentar na secretaria no prazo de cinco dias contados da
apresentação do requerimento executivo (cfr. art.ºs 810.º, n.º 6 e 808.º, n.º 7). A não
apresentação deste requerimento no prazo assinalado implica que a designação fique
sem efeito, em face do que a secretaria designará ela própria o solicitador de execução
que lhe for indicado por via electrónica pela Câmara dos Solicitadores, nos termos
previstos no n.º 1 do art.º 811.º-A.
Idêntico procedimento deverá ser adoptado pela secretaria no caso de o exequente
omitir no requerimento a indicação ou designação de solicitador de execução, sendo de
salientar que esta omissão, face ao disposto no art.º 811.º-A, não é motivo de recusa do
requerimento executivo como adiante se verá.

O agente de execução/solicitador de execução quando haja de praticar actos


executivos fora da área da comarca da execução e das comarcas limítrofes ou no caso de
Lisboa e Porto para fora dos limites das respectivas áreas metropolitanas2, salvo casos
de impossibilidade ou de grave dificuldade, solicita a realização, sob sua
responsabilidade, a solicitador de execução da respectiva área comarcã – art.º 808.º, n.º
5.

2
As áreas metropolitanas de Lisboa e Porto foram encontram-se definidas pelo art.º 2.º da Lei n.º 44/91,
de 2 de Agosto. A área metropolitana de Lisboa abrange os concelhos de Alcochete, Almada, Amadora,
Azambuja, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Oeiras, Palmela, Sesimbra, Setúbal,
Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira. E a área metropolitana do Porto abrange os concelhos de Espinho,
Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia.
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Sendo oficial de justiça o agente de execução designado, idêntico pedido é feito


pela via que se revele mais eficaz nos termos do n.º 5 do art.º 176.º (via postal,
telecópia, via electrónica ou outro meio telemático, dirigido à secretaria judicial do
tribunal da comarca da área da diligência a realizar – art.º 808.º, n.º 5.

O direito processual subsidiário:

a) as normas próprias da acção executiva (art.ºs 45.º a 60.º, 90.º a 95.º e 801.º a
943.º);
b) as normas relativas à parte geral e comum ( art.ºs 1.º a 466.º);
c) na falta das normas próprias e comuns, aplicam-se, subsidiariamente, as
normas próprias da acção declarativa (art.º 466.º, n.º 1).

As acções executivas são aquelas em que o autor requer as providências


adequadas à reparação efectiva do direito violado (cfr. art.º 4.º, n.º 3).

Conforme consta do art.º 2.º, n.º 2, a realização coerciva do direito violado


significa a realização pela força, se necessário, para reparar o direito violado,
recorrendo-se ao tribunal. Este direito que se pretende fazer valer na acção executiva
deve encontrar-se previamente declarado num título – o título executivo.

A acção executiva tem por finalidade efectivar coercivamente a realização de


uma prestação estabelecida num título executivo ou, caso essa efectivação não seja
possível, a substituição da prestação devida por um benefício equivalente, à custa do
património do devedor (art.ºs 821.º, n.º 1 e 817.º do C.C.). No fundo, trata-se de
providenciar pela reparação material coactiva do direito do exequente.

A lei distingue três tipos de acções executivas, consoante o fim a que as


mesmas se destinam ou de acordo com a forma de processo que lhes são aplicáveis.

Assim, quanto ao fim (art.º 45.º, n.º 2) a acção executiva pode ser:

a) Execução para pagamento da quantia certa em que o exequente


pretende obter o cumprimento de uma obrigação pecuniária através
da penhora de bens do executado, os quais posteriormente são
vendidos, revertendo o produto da venda a favor do exequente até ao
montante do seu crédito.

b) Execução para entrega de coisa certa em que o exequente se


assume como titular de um direito à prestação de uma coisa
determinada e requer ao tribunal que apreenda essa coisa ao devedor
e seguidamente lha entregue (art.º 827.º do C.C.). A lei permite que
se a coisa a entregar não for encontrada, o exequente efectue uma
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liquidação do seu valor e do prejuízo resultante da falta da entrega,


procedendo-se de seguida à penhora nos bens do executado
suficientes para pagamento da importância apurada (cfr. art.º 931.º).

c) Execução para prestação de um facto (positivo ou negativo) em a


que se funda num título que impõe ao devedor uma obrigação de
prestar um facto, seja ele fungível ou infungível3.

Se a prestação é fungível, o exequente pode requerer que ela seja prestada


por outrém à custa do património do devedor (art.º 828.º do C.C.). Serão
penhorados e vendidos bens do executado que sejam necessários ao
pagamento da obrigação.

Se a prestação é infungível (não se pode obter de terceiro a prestação) e


não tendo sido voluntariamente prestada pelo devedor, dá-se a extinção dessa
obrigação, uma vez que o credor não pode obter a sua execução forçada.
Assim, o exequente só poderá pretender a apreensão e venda dos bens do
devedor suficientes para o indemnizar do dano sofrido com o
incumprimento e requerer que o devedor seja condenado ao pagamento de
uma quantia por cada dia de atraso no cumprimento (cfr. art.º 829.º - A do
C.C.).

O facto a que o devedor esteja obrigado a prestar pode ser positivo ou


negativo, assim a obrigação se traduza em fazer ou não fazer.
Por exemplo:
Se o devedor estiver obrigado a demolir um muro, estamos
perante uma prestação de facto positivo.
Se o devedor estiver obrigado a não demolir um muro,
estamos perante uma prestação de facto negativo.

Quanto à forma de processo a lei distingue (cfr. art.º 460.º) :


a) Processo especial - nos casos especialmente previstos no Código ou em leis
extravagantes. Como exemplos desta forma de processos temos:
- a execução por alimentos (cfr. art.ºs 1118.º e segs.);
- a execução por despejo (cfr. art.ºs 56.º e segs. do RAU);
- a execução por custas (cfr. art.ºs 117.º e seguintes do Código das Custas
Judiciais;
- a execução para venda de navio abandona (cfr. art.ºs 17.º e 18.º do Dec.
Lei n.º 202/98, de 10 de Julho).

3
A prestação diz-se fungível quando pode ser realizada por pessoa diversa do devedor com satisfação
do interesse do credor, sendo-lhe indiferente que ela seja realizada pelo devedor ou por outra pessoa
qualquer – cfr. art.º 828.º do C.Civil.
De modo inverso, prestação infungível é aquela que tem de ser efectuada pelo devedor para satisfação
do interesse do credor.

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Mas, em tudo quanto não estiver previsto nas disposições próprias, as


execuções especiais regem-se pelas normas do processo comum – art.º 466.º, n.º 3.

b) Processo comum é a forma aplicável quando não corresponda forma especial


e no caso concreto da acção executiva a lei prevê forma única (cfr. art.º 465.º).

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Pressupostos processuais são os requisitos necessários ao regular


desenvolvimento da instância. Se houver desrespeito pelos pressupostos processuais na
acção declarativa, este facto irá impedir o juiz de se pronunciar sobre o mérito da causa.

Também na acção executiva, o tribunal deve verificar se estão reunidos os


pressupostos processuais mínimos e indispensáveis para que a acção possa prosseguir
(cfr. art.ºs 265.º, 812.º, n.ºs 1 e 2 e 820.º).
Assim, a acção executiva está sujeita, tal como a acção declarativa, a pressupostos
gerais tais como:
capacidade e personalidade judiciária;
legitimidade das partes;
patrocínio judiciário; e
competência do tribunal.

Mas, a acção executiva, além de estar sujeita àqueles pressupostos, está ainda
sujeita a outros, que lhe são específicos, tais como: o título executivo, a certeza, a
exigibilidade da prestação e a liquidez da obrigação exequenda.

PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS DA ACÇÃO EXECUTIVA

Título executivo

Título executivo é um documento escrito no qual consta a existência de um direito


subjectivo nele incorporado contendo os sujeitos dessa relação, da prestação e do fim e
limites dessa prestação. Determina o fim e os limites da acção executiva. Indica a
espécie de prestação, o tipo e forma de execução, o “quantum“ dessa obrigação e fixa a
legitimidade (activa e passiva) para a execução.
É a causa de pedir na acção executiva. É requisito de natureza formal (cfr. art.º
45.º, n.º 1).
Assim, é a condição necessária e suficiente da acção executiva.

Condição necessária, porque sem título não há execução (cfr. art.º 45.º, n.º 1) . O
título deve acompanhar sempre o requerimento inicial (cfr. art.º 810.º, n.º 4).

Condição suficiente, porque a existência do título dispensa qualquer averiguação


prévia sobre a existência efectiva do direito.

Espécies de títulos
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O art.º 46.º enumera, nas suas alíneas, as espécies de título executivo. Vigora o
princípio da tipicidade ou seja, só existem estes títulos e nenhuns outros.

Sentenças4 condenatórias (art.º 46.º al. a) – Para que a sentença seja exequível é
necessário que tenha transitado em julgado, isto é, que não seja possível a interposição
de recurso ordinário ou de reclamação (cfr. art.º 677.º) , salvo se contra ela tiver sido
interposto recurso com efeito meramente devolutivo (cfr. art.º 47.º, n.º 1).

Entre outras, aqui se incluem, por exemplo, as sentenças


homologatórias das transacções ou das confissões de pedido (cfr.
art.ºs 300.º, n.ºs 3 e 4 do CPC); as sentenças homologatórias de
partilhas (art.º 1382.º do CPC); as decisões proferidas pelos juízes
de paz (cfr. art.ºs 56.º, n.º 1, 60.º e 61.º da Lei n.º 78/2001, de 13
de Julho); ou ainda as decisões homologatórias dos autos de
conciliação em processo do trabalho (cfr. art.ºs 51.º a 53.º e 88.º
do Código de Processo do Trabalho).

Assim, significa que mesmo com a interposição de recurso, é possível executar a


sentença, desde que a esse recurso seja atribuído efeito meramente devolutivo. Essa
execução é por natureza provisória, uma vez que vai sofrer, posteriormente, as
consequências da decisão do tribunal superior (cfr. art.º 47.º, n.º.º2). Se a decisão do
tribunal superior revogar a decisão proferida em primeira instância, extingue-se a
execução. Caso contrário, se mantiver a decisão da primeira instância, a execução
prossegue os seus tramites.

No entanto, a acção executiva proposta na pendência do recurso pode também ser


suspensa, a pedido do executado, desde que este preste caução (cfr. n.º 4 do art.º 47.º).
Mas, se não houver suspensão nos termos atrás referidos, não será admitido o
pagamento ao exequente ou a qualquer outro credor, enquanto a sentença estiver
pendente de recurso, sem que preste caução (cfr. art.º 47.º, n.º 3).
Documentos exarados ou autenticados por notário (art.º 46.º al. b) –
documentos autênticos5 são os que são elaborados ou exarados pelo notário
(testamento público, escritura pública).

Documentos autenticados6 são aqueles que não são elaborados pelo notário, mas
sim apresentados pelas partes e, na sua presença, o notário certifica a conformidade das
suas vontades com o respectivo documento.

4
Sentença é o acto pelo qual o juiz decide a causa principal ou algum incidente que apresente a estrutura
duma causa. As decisões dos tribunais colegiais denominam-se acórdãos – art.º 156.º, n.ºs 2 e 3 do
CPC.
São equiparados às sentenças os despachos e quaisquer decisões ou actos da autoridade judicial que
condenem no cumprimento de obrigação – art.º 48.º do CPC.
5
Cfr. art.ºs 369.º a 372.º do Código Civil.
6
Cfr. art.ºs 377.º do Código Civil.
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Os documentos exarados e autenticados por notário constituem títulos


extrajudiciais, exigindo-se para esse efeito que provenham da existência de uma
obrigação.

A exequibilidade destes documentos está prevista no art.º 50.º.

Assim, existem dois tipos de situações:


- convenções de prestações futuras – são os contratos de execução
continuada em que as partes se vinculam. São deste tipo os contratos de
fornecimento de determinados bens e de execução continuada.

- obrigações futuras – estão sujeitos a uma condição suspensiva. Para ser


título é necessário um outro documento que comprove que a condição já se
verificou e mesmo assim a parte contrária não cumpriu.

Documentos particulares7 (cfr. art.º 46.º al. c) – Para que os documentos


particulares sejam títulos executivos têm que apresentar certos requisitos:

1.º) O documento tem que estar assinado pelo devedor;

2.º) E tem que prever a constituição ou reconhecimento de obrigações


pecuniárias - cujo montante seja determinado ou determinável por
simples cálculo aritmético -, ou a entrega de coisa ou a prestação de
facto.

Títulos executivos especiais (cfr. art.º 46.º al. d)) – a sua exequibilidade
depende de disposição especial conferida por lei, como acontece, por exemplo, nas
letras, cheques, livranças, requerimentos de injunção em que tenha sido aposta a
fórmula executória, actas de condomínio, etc.

Juros de mora (cfr. n.º 2 do art.º 46.º) – consideram-se abrangidos pelo título
executivo os juros de mora, à taxa legal, da obrigação dele constante. Podem surgir duas
situações:

1.ª) Se o título executivo depender de uma obrigação com prazo certo,


terminado esse prazo sem que o devedor cumpra a obrigação, são
devidos juros de mora à taxa legal, a partir da data do incumprimento.
Assim, estes juros consideram-se abrangidos pelo título executivo, sem
prejuízo da necessidade de liquidação por parte do exequente no
requerimento executivo (cfr. art.º

2.ª) Se a obrigação não tiver prazo certo de cumprimento (obrigações


puras), a mora só se verifica após a interpelação (cfr. art.º 777.º, n.º 1 do
C.C.). Esta interpelação pode ser efectuada extrajudicialmente, ou seja,

7
Cfr. art.ºs 373.º e seguintes do Código Civil.
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antes de ser intentada a acção executiva ou judicialmente através da


citação (cfr. art.º 662.º, n.º 2 al. b) por remissão do art.º 801.º).

Consequência da falta de apresentação do título

Ao requerimento executivo deve o exequente juntar o título executivo (cfr. 810.º,


n.º 4). Caso o título provenha de uma sentença, a execução deverá correr no tribunal de
1ª instância em que a causa foi julgada e no respectivo translado, excepto nos termos do
art.º 90.º, n.º 3, isto é, quando o juiz da execução entenda por conveniente apensar à
execução o processo em que a decisão haja sido proferida.
Sem título não há execução (cfr. art.º 45.º, n.º 1).

Falta ou insuficiência do título executivo

A secretaria deve recusar o requerimento executivo sempre que este não seja
junto à petição ou seja manifesta a insuficiência do título apresentado (cfr. art.º 811.º,
n.º 1, al. b). No entanto, o exequente pode reagir contra esta recusa, reclamando para o
juiz de turno à distribuição (cfr. art.ºs 811.º, n.º 2 e 161.º, n.º 5). Nesta situação, o
exequente pode apresentar no prazo de 10 dias a partir da recusa, novo requerimento ou
os documentos em falta, nomeadamente o documento comprovativo do prévio
pagamento da taxa de justiça inicial ou em alternativa da concessão do benefício de
apoio judiciário, considerando-se o novo requerimento apresentado na data em que o
primeiro tenha sido apresentado em juízo (cfr. art.ºs 476.º e 466.º).
Afigurando-se dúvidas quanto à suficiência do título executivo a secretaria deverá
submeter as dúvidas à apreciação do juiz – cfr.º art.ºs 234.º-A, n.º 5, 812.º-A, n.º 3,
809.º, n.º 1.

A secretaria não detecta as insuficiência ou falta do título

Havendo despacho liminar e citação prévia (art.º 812.º)

Se a secretaria não detectar estas faltas pode acontecer o seguinte:

a) O exequente no requerimento executivo faz uma exposição sucinta dos


factos que fundamentam o pedido e invoca que junta o título sem o ter junto.

Nesta situação, o juiz profere despacho de aperfeiçoamento convidando o


exequente a juntar o título em falta, dentro do prazo que fixar ou, na sua falta,
no prazo previsto no art.º 153.º, sob pena de indeferimento liminar do
requerimento inicial (cfr. art.º 812.º, n.º 4 e 5).

b) Se no requerimento executivo o exequente não junta o título nem lhe faz


menção.

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Nesta situação, o juiz profere um despacho de indeferimento liminar por


falta deste pressuposto específico da execução, o qual é de conhecimento
oficioso (cfr. art.º 812.º, n.º 2, al. a).

Se a acção executiva começar sem despacho liminar e a secretaria não tiver


detectado a falta ou insuficiência do título executivo, o executado pode sempre deduzir
oposição à execução com tais fundamentos (cfr. art.ºs 813.º, n.º 1, 814.º al. a) e 816.º).

Se o executado, mesmo nesta situação, não recorrer aos meios de defesa atrás
expostos, pode o juiz , em qualquer momento, até ao primeiro acto de transmissão de
bens penhorados, ordenar a notificação do exequente para suprir a falta ou julgar
extinta a execução (cfr. art.º 820.º).

Se o exequente faz um pedido para além do que consta no título e a secretaria não
recusar a petição por insuficiência do título, quando o processo for concluso ao juiz, este
profere um despacho de indeferimento parcial (cfr. art.º 813.º, n.º 3) quanto ao excesso
do título, devendo a acção executiva prosseguir os seus tramites quanto à parte do
pedido que não foi objecto de indeferimento.

Certeza (art.º 802.º)

É outro pressuposto específico da acção executiva. Consiste em identificar, com


rigor, o objecto em que há-de consistir a obrigação.

A incerteza pode consistir:

- quanto ao objecto, por exemplo nas obrigações alternativas;

- quanto ao género, nas obrigações genéricas.

As obrigações alternativas (cfr. art.º 543.º do C.C.), compreendem duas ou mais


prestações, dependendo a escolha daquele que a vai realizar.

• Se a escolha pertencer ao credor, este indica na petição por qual opta,


tornando-se assim certa a obrigação8.

• Se a escolha pertence ao devedor, este é notificado para, no prazo de 10


dias, declarar por qual das prestações opta, caso não haja outro prazo
convencionado pelas partes. Se nada disser dentro deste prazo, devolve-
se ao credor o direito da escolha da prestação (cfr. art.º 803, n.º 2 e
548.º do C.C.).

8
Quando se tratar de uma prestação alternativa e a escolha pertencer ao credor, se o mesmo não a fizer
no requerimento executivo, é motivo de recusa por parte da secretaria, nos termos dos art.ºs 811.º, n.º
1, al. a) e 810, n.º 3 al. c) parte final.
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• Se a escolha cabe a terceiro, este é notificado para a efectuar. Se não a


efectuar, esta é feita pelo tribunal a requerimento do exequente através de
uma acção especial para determinação judicial da prestação ou do preço,
nos termos do art.º 1429.º (cfr. art.º 803.º, n.º 3).

Exigível

Outro dos pressupostos específicos do processo executivo é a exigibilidade (cfr.


art.º 802.º).

A prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencida ou o seu


vencimento dependa de acordo com estipulação expressa das partes ou com a simples
interpelação do devedor (cfr. art.º 777.º, n.º 1 do C.C.)

Quando a obrigação está dependente de condição suspensiva ou de uma


prestação por parte do credor ou de terceiro, incumbe ao credor provar por
documento, perante o agente de execução, que se verificou a condição ou que se
efectuou a prestação (cfr. art.º 804.º, n.º 1).

Se o credor não puder efectuar a prova por documento, ao requerer a execução,


oferece as respectivas provas, que são logo produzidas, sumariamente, perante o juiz,
desde que este entenda que não é necessário ouvir o devedor (cfr. 1ª parte do n.º 2 do
art.º 804.º).

No caso de o juiz entender ouvir o devedor, este é citado com a advertência que
com a falta de contestação se considera verificada a condição ou efectuada ou oferecida
a prestação, nos termos da petição inicial, salvo o previsto no art.º 485.º,excepção à
revelia. A contestação só pode ter lugar em oposição à execução, art.ºs 813.º e 817.º (
ver 2ª parte do art.º 804.º, n.º 2 e n.º 3).

Se a obrigação tiver prazo certo, a execução não pode ser proposta antes da data
do seu vencimento.

Se a obrigação não tiver prazo (obrigações puras) o credor tem o direito de exigir
a todo o tempo o cumprimento da obrigação. Se a interpelação for extrajudicial
(carta registada com aviso de recepção ou notificação judicial avulsa, art.º 261.º) serve
como prova que o devedor foi interpelado. O credor junta documento ao requerimento
executivo. Se não houver interpelação extrajudicial a citação do executado para a
acção executiva vale como interpelação.

NOTA:
Se a inexigibilidade e incerteza forem manifestas
em face título executivo, o juiz indeferirá
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liminarmente a acção executiva (cfr. art.º 812.º, n.º 2


al. b) nos casos em que haja despacho liminar ou se o
processo lhe for concluso nos termos do art.º 812.º-A,
n.º 3.
Se a acção executiva não comportar despacho
liminar, pode a secretaria recusar o recebimento do
requerimento inicial, caso o vicio seja manifesto
perante o título executivo (cfr. art.ºs 811.º, n.º 1 al. a) e
810.º, n.º 3).
Sempre que o oficial de justiça tenha dúvidas,
nas execuções que dispensem o despacho liminar ou
na interpelação ou notificação do devedor, sobre a
suficiência do título, deve fazer o processo concluso
ao juiz com a informação respectiva (cfr. art.º 812.º -
A, n.º 3).

Liquidez

O quantitativo da obrigação tem de estar liquidado. Assim, quando a obrigação


constante do título é ilíquida, é necessário efectuar um certo número de operações no
sentido de tornar essa obrigação liquida.

Existem três tipos de liquidação:

A que depende de simples cálculo


aritmético;
A efectuada pelo juiz ; e
A efectuada pelos árbitros.

Simples cálculo aritmético (art.º 805.º, n.º s 2 e 3)

O exequente deve fixar o seu quantitativo no requerimento executivo, bem como


identificar todas as operações efectuadas para chegar aquele valor.

Os juros que continuem a vencer-se serão liquidados, a final, pela secretaria,


desde a apresentação do requerimento executivo até à data do pagamento, adjudicação
ou consignação de rendimentos (cfr. art.º 53.º, n.º 4 do C.C.J.) à taxa legal ou
convencionada, bem como a sanção pecuniária compulsória que seja devida (cfr. art.º
829.º - A do C.C.).

Esta liquidação não carece de prova.

Liquidação efectuada pelo tribunal (art.º 805.º, n.º s 1 a 4)

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Nesta situação tem de haver alegação e prova dos factos em que o exequente
fundamenta o seu pedido. Assim, a liquidação depende da averiguação de certos factos.

Quando o título é uma sentença, os montantes vão ser apurados posteriormente


(cfr. art.º 661, n.º 2) na liquidação iniciada por requerimento junto na própria acção
declarativa onde a sentença tiver sido proferida, renovando-se por essa forma a instância
(cfr. art.º 378.º, n.º 2).
Uma vez que a liquidação tem lugar na acção declarativa, quando a execução é
proposta já a obrigação se encontra liquidada (cfr. art.º 47.º, n.º 5), razão por que o
executado só poderá deduzir oposição à execução, já não à liquidação.

Quando o título não provém de sentença, faz-se a liquidação na própria


execução (cfr. art.º 805.º, n.º s 1 a 4). Os títulos provenientes de documentos
particulares só constituem verdadeiros títulos quando essa liquidação depende de
simples cálculo aritmético (cfr. art.º 46.º, alínea c).

Nesta situação, o executado é logo citado para contestar a liquidação, em sede


de oposição à execução (cfr. art.ºs 813.º a 817.º), sob pena de a obrigação se considerar
fixada nos termos do requerimento inicial. Deste modo, a falta de contestação importa a
confissão dos factos articulados pelo exequente (cfr. art.º 484.º), salvo se a revelia se
considerar inoperante (cfr. art.ºs 484.º e 485.º), seguindo a forma de processo
declarativo sumário com produção de prova pericial.

Liquidação efectuada por árbitros (art.º 805.º, n.º 5)

A liquidação é efectuada por árbitros nos casos em que a lei expressamente o


determine ou a mesma for convencionada pelas partes (cfr. art.º 380.º-A, n.º 1).
E se fundada noutro título que não a sentença, a liquidação processa-se sempre
antes da apresentação do requerimento executivo.

Os árbitros são nomeados segundo as regras dos art.ºs 568.º e segs. A sua decisão
é definitiva, limitando-se o juiz a homologá-la.

Quando a iliquidez resulte de uma universalidade, a liquidação só tem lugar em


momento posterior à sua apreensão, antes de ser entregue ao exequente (cfr. n.º 6 do
art.º 805.º).

O PATROCÍNIO JUDICIÁRIO (art.º 60.º)

O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica prestada às partes pelos


profissionais do foro – advogados e ou solicitadores.

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Nas acções executivas de valor superior à alçada9 da Relação (€ 14 963,94) é


sempre obrigatória a intervenção de advogado (cfr. 1ª parte do n.º 1 do art.º 60.º).

Nas acções executivas de valores compreendidos entre € 14 963,94 e € 3 740,99,


só é obrigatória a constituição de advogado quando tiver sido deduzida oposição à
execução ou quando haja lugar a qualquer outro procedimento que siga os termos do
processo declarativo.

Nas acções executivas iguais ou inferiores a 3 740,98 €, não é obrigatória a


constituição de mandatário, mesmo que haja oposição à execução, podendo as próprias
partes intervir no processo.

No apenso de reclamação de créditos, o patrocínio de advogado só é necessário


quando seja reclamado algum crédito de valor superior à alçada do tribunal de comarca
(€ 3 740,98+ 0,01) e apenas para apreciação deste.

À falta de constituição de mandatário, quando obrigatória, aplica-se o previsto


para as acções em geral, devendo a secção de processos, uma vez detectada a falta, fazer
o processo concluso ao juiz nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 33.º.

CONSTITUIÇÃOOBRIGATÓRIADEMANDATÁRIOJUDICIALNAACÇÃOEXECUTIVA
art.º 60.º

VER
IFIC
A D V O G A D O


Se o ÃO DE
ito r CRÉDIT
créd
e
depe xced
mad OS
(não ecla
nde e r €
dos
dem 3.74 o
ais c 0,
rédit 98
recla os
€ 14.963,95 - superior à alçada da Relação mad
os)

€ 14.963,94 - alçada da Relação

Apenas Também

ADVOGADO - ADVOGADOESTAGIÁRIO
- SOLICITADOR(não de execução)
Se houver procedimento
declarativo (ex. oposição à Se não houver procedimento declarativo.
execução e ou à penhora).

€ 3.740,99 - superior à alçada 1ª instância

€ 3.740,98 - alçada 1ª instância


Não é obrigatória
a constituição de
mandatário judicial

9
“Em matéria cível a alçada dos tribunais da Relação é de € 14.963,94 e a dos tribunais de 1ª instância é
de € 3.740,98” – n.º 1 do art.º 24.º da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, alterado pelo art.º 3.º do Dec. Lei n.º
323/2001, de 17/12)
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TRAMITAÇÃO
DO PROCESSO EXECUTIVO

O desenvolvimento da acção executiva destinada ao pagamento da quantia


certa passa pelas seguintes fases processuais:

1ª) inicial ou introdutória;


2ª) oposição à execução;
3ª) oposição à penhora;
4ª) convocação de credores (deixou de haver citação edital);
5ª) venda executiva;
6ª) pagamento aos credores;
7ª) extinção da execução.

Fase inicial ou introdutória

A execução inicia-se com a apresentação do requerimento executivo na secretaria


do tribunal de execução (cfr. art.ºs 150.º e 810.º, n.º 1), o qual constará de modelo
aprovado por decreto-lei (art.º 810.º, n.º 2), sob pena de recusa (cfr. art.º 811.º, n.º1-a)).

No requerimento executivo, para além dos requisitos que lhe são próprios e
constantes do referido modelo (cfr. art.º 810.º), deve obedecer ao disposto no art.º 467.º,
n.º 1 alíneas b), c), e) e f), bem como a identificação das partes nos termos da alínea a)
do n.º 1 do referido artigo, incluindo sempre que possível, o número de identificação de
pessoa colectiva, a filiação e os números dos bilhetes de identidade e identificação
postal.

Recusa do requerimento executivo (cfr. art.º 811.º)

A secretaria do tribunal de execução pode recusar o seu recebimento nos


seguintes casos:

- não conste do modelo aprovado por decreto – lei ou omita algum dos seguintes
requisitos:

* requisitos previstos no art.º 467.º, n.º 1 alíneas a), b), e) e f) tais como a
designação do tribunal, identificação completa das partes, indicação do domicílio
profissional do mandatário judicial, caso seja obrigatória a sua constituição (cfr. art.º
60.º), declarar o valor da causa, indicação do fim da execução (cfr. art.º 45.º, n.º 2).

- não apresente título executivo (cfr. art.º 810.º, n.4) ou seja, o documento escrito
que fundamenta a execução, ou juntando o título, este seja manifestamente
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insuficiente, uma vez que sem o respectivo título não há lugar a processo
executivo (cfr. art.º 45.º, n.1). O título será manifestamente insuficiente quando,
por exemplo, dele não seja possível extrairem-se os factos que fundamentem o
pedido, pelo que, o exequente deverá fazer um exposição sucinta desses mesmos
factos;

- quando seja necessário efectuar a liquidação da obrigação (cfr. art.º 805.º),


ou quando a obrigação para se tornar certa e exigível a escolha da prestação
caiba ao credor para que possa identificar o objecto ou o fim com rigor,
identificar o quantitativo e se a obrigação se considera vencida;

- designar o solicitador de execução (cfr. art.ºs 808.º, n.º 2, 810.º, n.º 3 alínea
e). A falta deste requisito não é motivo de recusa de recebimento do
requerimento inicial, uma vez que esta nomeação do agente executivo pode ser
feita pela secretaria, segundo uma escala constante de lista informática cedida
pela Câmara dos Solicitadores (cfr. art.º 811.º - A);

- deve ainda recusar o requerimento executivo, quando a taxa de justiça inicial


não seja junta ao requerimento executivo (cfr. art.ºs 467.º n. 3 , 474.º e 23.º e
24.º do C.C.J.), salvo nos casos de isenção, de apoio judiciário ou se enquadre
nas previsões dos n.ºs 4 e 5 do art.º 150.º.

Nota:
Nas execuções dispensadas de despacho
liminar, o oficial de justiça deve suscitar a
intervenção do juiz (cfr. art.ºs 234.º-A, n.º 5 e
812.º - A, n.º 3) sempre que:

- Duvide da suficiência do título ou da


interpelação ou notificação do devedor;
- Suspeite que se verifique uma das situações
previstas nas alíneas b) e c) do n.º 2 e n.º 4 do
art.º 812.º, ou seja, excepções dilatórias,
inexistência de factos constitutivos, impeditivos
ou extintivos da obrigação exequenda ou
irregularidades do requerimento executivo; ou
- Quando a execução tenha por base um título de
sentença arbitral, duvide de que os factos que
compõem aquele litígio pudessem ser decididos
por decisão arbitral.

Do acto de recusa cabe reclamação

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Prevê o n.º 2 do art.º 811.º que do acto de recusa cabe reclamação para o juiz, cuja
decisão é irrecorrível, salvo quando se funde na insuficiência do título ou na falta de
exposição dos factos.

Sendo-lhe recusado o requerimento executivo, o exequente pode apresentar novo


requerimento executivo ou o documento cuja falta determinou a recusa no prazo de 10
dias posteriores à recusa ou à notificação do despacho que a tiver confirmar em caso de
reclamação (com o sem recurso), considerando-se o novo requerimento apresentado na
data do primeiro (art.ºs 811.º, n.º 3).

Despacho liminar versus citação prévia

Regra geral:
- Na acção executiva, a citação é precedida de despacho liminar
– art.ºs 234.º, n.º 4-e) e 812.º, n.º 1.

Excepções à regra:
- Só os casos concretamente previstos nos art.ºs 812.º, n.º 7 e
812.º-A, n.º 1.

Recordemos, o que consta do preâmbulo do Dec. Lei n.º 38/2003, no que


respeita a esta matéria:

“...a natureza do título executivo constitui juntamente com o valor da


execução, a natureza do bem a penhorar e a prévia notificação do executado, um dos
factores que dispensam, em regra, o despacho liminar e a citação prévia, dando
precedência à penhora.
Assim, mantém-se a regra da penhora sem necessidade de prévio despacho
judicial para a execução de sentença10 e para o requerimento de injunção11 no qual
tenha sido aposta a fórmula executória. Alarga-se, porém, esta regra às acções em que
o título executivo é uma decisão arbitral10 ou um documento particular com
determinadas características12.
Assim, não há lugar a despacho liminar, nem a citação prévia do executado
nas execuções baseadas em:
a) Documento exarado ou autenticado por notário, ou documento
particular com reconhecimento presencial da assinatura do devedor
desde que:13

10
Art.º 812.º-A, n.º 1-a).
11
Art.º 812.º-A, n.º 1-b).
12
Art.º 812.º-A, n.º 1-c).
13
Art.º 812.º-A, n.º 1-c).
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i) O montante da dívida não exceda a alçada do tribunal da


relação e seja apresentado documento comprovativo da
interpelação do devedor, quando tal fosse necessário ao
vencimento da obrigação;
ii) Excedendo o montante da dívida a alçada do tribunal da
relação, o exequente mostre ter exigido o cumprimento por
notificação judicial avulsa;
b) Qualquer título de obrigação pecuniária vencida de montante não
superior à alçada do tribunal da relação, desde que a penhora não
recaia sobre bem imóvel, estabelecimento comercial, direito real menor
que sobre eles incida ou quinhão em património que os inclua14.

Pode, além disso, o juiz dispensar a citação prévia do executado quando se


justifique o receio da perda da garantia patrimonial do crédito, o que, com economia
processual, permite enxertar na execução um juízo de natureza cautelar15.

Em todos estes casos, portanto, a execução começa pela penhora. Tendo esta
circunstância em atenção, estabelece-se nestas situações o dever do funcionário
judicial de suscitar a intervenção do juiz em todos os casos em que é admissível o
indeferimento liminar ou despacho de aperfeiçoamento.”

Assim, não há despacho liminar:

- nas execuções baseadas em sentença judicial ou em decisões arbitrais;

- nas baseadas em requerimento de injunção no qual tenha sido aposta a


fórmula executória;

- nas baseadas em documentos exarados ou autenticados por notário, ou nas


que tenham por base um documento particular com o reconhecimento
presencial da assinatura do devedor, desde que se verifiquem cumulativamente
os seguintes requisitos:

a) não exceda o valor da alçada do tribunal da Relação (€ 14 963,94) e


seja apresentado documento comprovativo da interpelação do devedor no
sentido de reclamar o cumprimento da obrigação (cfr. art.ºs 777.º, n.º 1 e
805.º do C.C.);
ou
b) exceda o valor da alçada do tribunal da Relação (€ 14 963,95) e seja
apresentada notificação judicial avulsa como meio de interpelação do

14
Art.º 812.º-A, n.º 1-d).
15
Art.º 812.º-B, n.ºs 2 e 4.
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devedor a exigir-lhe o cumprimento da obrigação (cfr. também o art.º


261.º);

- nas execuções baseadas em qualquer título de obrigação pecuniária (ex.


cheque, letra, conta de custas, etc.) que simultaneamente se verifiquem os
seguintes requisitos:

a) A obrigação pecuniária esteja vencida;


b) De montante igual ou inferior à alçada do tribunal da Relação (€
14.963,94);
c) E a penhora, segundo a indicação inicialmente feita pelo exequente no
requerimento executivo, não recaia sobre bens imóveis, estabelecimento
comercial ou direito real menor16, que sobre eles incida ou quinhão em
património que os inclua.

Há sempre despacho liminar (art.º 812.º - A – n.º 2)

- Nas execuções movidas só contra o devedor subsidiário, como é o caso do


fiador, que é o garante da obrigação (cfr. art.ºs 627.º, n.º 1 e 634.º, ambos do C.C.),
quando o credor tenha receio da perda da garantia patrimonial. Neste caso, requer a
penhora, sem prévia citação do executado, mas o exequente oferece as provas
justificativas desse receio (cfr. art.º 812.º-B, n.º 2).

- Quando a obrigação exequenda esteja dependente da verificação de


condição suspensiva ou de prestação por parte do credor ou de terceiro, e o
devedor deva ser ouvido (cfr. art.ºs 812.º, n.º 6 e 804.º, n.º 2). Nesta situação pode
acontecer:

a) Quando a prova não possa ser feita por documento, o exequente indica
as provas logo no requerimento executivo, dando azo a despacho liminar –
cfr. art.ºs 804.º, n.º 2 e 812.º, n.º 6.

b) Havendo prova documental, não há, em princípio, despacho liminar,


prevendo-se, então, que o exequente demonstre ao agente de execução ter-
se verificado a condição ou de a prestação ter sido efectuada ou prestada, o
que deverá ser traduzido no requerimento executivo – art.º 810.º, n.º 3-b) e
c);

c) Quando o funcionário, perante o título, tenha dúvidas quanto à sua


suficiência; à interpelação do devedor pelo credor ou à notificação judicial
avulsa do devedor nos casos a que alude a al.ª c) do n.º 1 do art.º 812.º-A;

16
São direitos reais menores, entre outros: o usufruto – art.ºs 1439.º e seguintes do Cód. Civil; o direito
de superfície – art.ºs 1524.º e 1525.º do CC; o direito real de habitação periódica – Dec. Lei n.º 275/93, de
5/8
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ou qualquer outra dúvida prevista no art.º 812.º - A, n.º 3, conforme atrás já


se referiu;

d) em todas as outras situações que não sejam abrangidas pelo art.º 812.º-
A, n.º 1.

Nota:
Para que o devedor subsidiário17 possa ser
demandado é necessário que o mesmo tenha
renunciado ao benefício de excussão prévia (cfr.
art.º 638.º do C.C.), que consiste na sua recusa em
cumprir a obrigação enquanto não forem excutidos
todos os bens do devedor principal sem plena
satisfação do crédito.

Citação prévia do executado, não precedida de despacho – art.º 812.º n.º 7

- Acção executiva movida apenas contra o devedor subsidiário e o exequente


não tenha requerido a dispensa de citação prévia;

- Quando o título seja diverso de sentença, a quantia seja ilíquida e a


liquidação não dependa de simples cálculo aritmético (cfr. art.º 805.º, n.º 4), caso em
que o executado é logo citado (cfr. n.º 4 do mesmo artigo);

- Quando a execução se baseie em título extrajudicial de empréstimo contraído


para aquisição de habitação própria hipotecada com garantia.

Vejamos, então, os seguintes

QUADROS SINÓPTICOS:

17
São devedores subsidiários: o fiador – art.ºs 627.º e seguintes do Cód. Civil, salvo as excepções do art.º
604.º, n.º 2 (na fiança comercial, o fiador é solidário com o respectivo afiançado – cfr. art.º 101.º do Cód.
Comercial); sócios da sociedade comercial em nome colectivo – art.º 175.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades
Comerciais; sócios comanditados da sociedade comercial em comandita – art.º 465.º, n.º 1 do Cód. das
Sociedades Comerciais; sócios da sociedade civil – art.º 997.º, n.º 2 do Cód. Civil.
Nas letras e livranças o avalista é considerado responsável como primeiro pagador – art.ºs 37.º e 77.º da
LULL.
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Não há despacho liminar


1
Execução fundada em
1 - Decisão judicial – art.º 812.º-A,n.º 1-a)
81
év
ia

2 - Decisão arbitral – art.º 812.º-A,n.º 1-a)


Art.º

3 - Requerimento de injunção com fórmula executória – art.º


812.º- A, n.º 1-b)

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4 - Documento exarado ou autenticado por notário, ou documento


particular com reconhecimento presencial da assinatura do devedor,
desde que:
– o montante da dívida não exceda a alçada do tribunal da
relação (até € 14.963,94) e seja apresentado documento
comprovativo da interpelação do devedor, quando tal fosse
necessário ao vencimento da obrigação – art.º 812.º-A, n.º 1-c) 1.ª
parte.
5 - Documento exarado ou autenticado por notário, ou documento
particular com reconhecimento presencial da assinatura do devedor,
desde que:
– excedendo o montante da dívida a alçada do tribunal da
relação (superior a € 14.963,94), o exequente mostre ter exigido o
cumprimento por notificação judicial avulsa – art.º 812.º-A, n.º 1-c)
2.ª parte.
6 Qualquer título de obrigação pecuniária vencida de montante não
superior à alçada do tribunal da relação (€ 14.963,94), desde que a
penhora não recaia sobre bem imóvel, estabelecimento comercial,
direito real menor que sobre eles incida ou quinhão em património
que os inclua (bem imóvel, estabelecimento comercial ou direito real
menor que sobre eles incida) – art.º 812.º-A, n.º 1-d).

Não há despacho liminar


7 Quando, em execução movida apenas contra o devedor
v

subsidiário, o exequente não tenha pedido a dispensa da citação


i

Art.º

prévia – art.º 812.º, n.º 7-a)

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8 Execução fundada em título diverso da sentença e a obrigação


exequenda não seja liquidável por simples cálculo aritmético –
art.ºs 812.º, n.º 7-b) e 805.º, n.º 4
9 Nas execuções fundadas em título extrajudicial de empréstimo
contraído para aquisição de habitação própria hipotecada em
garantia – art.º 812.º, n.º 7-c)

No caso do n.º 8, o executado é citado para, querendo, deduzir oposição à


execução, onde cumulará a contestação à liquidação, nos termos do art.º 805.º, n.º 4.

Há despacho liminar 2

10 Sempre
Nas execuções movidas contra devedor subsidiário (apenas ou
também contra o devedor principal) em que o exequente requeira
dispensa de citação prévia – art.ºs 812.º, n.º 7-a), 812.º-A, n.º 2-a),
812.º-B, n.º 2 e 828.º.

Há citação prévia
(em princípio)
11 Sempre
Quando o cumprimento da obrigação exequenda dependa de
condição suspensiva ou de prestação por parte do credor ou de
terceiro e a prova não possa ser feita por documentos, nos termos do
n.º 2 do art.º 804.º - art.ºs 812.º, n.º 6 e 812.º-A, n.º 2-b)
12 E em qualquer outro caso não especificamente indicado nos pontos 1
a 9.

No ponto 10 não há citação prévia se o juiz atender favoravelmente ao


pedido do exequente – cfr. art.º 812.º, n.º 2 do CPC.

A OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO

Com a estrutura duma verdadeira acção declarativa, corre por apenso ao processo
executivo (cfr. art.º 817.º, n.º s 1 e 2), e varia consoante o título que lhe subjaz.
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Assim, a oposição pode ser restrita ou ampla. É restrita quando o título executivo
se baseia numa decisão judicial. Sabemos que a sentença, depois de transitada, constitui
o título executivo por excelência. Na acção declarativa onde foi proferida, o réu já teve
todas as possibilidades de se defender.
Os fundamentos desta defesa são, exclusivamente, os previstos no art.º 814.º.

A oposição à execução baseada em título extrajudicial, é uma oposição ampla,


visto poderem ser alegados quaisquer fundamentos de defesa, como a impugnação e
excepção, utilizados na acção declarativa (cfr. art.º 816.º).

Prazo para dedução da oposição à execução

A oposição é apresentada no prazo de 20 dias a contar da citação, seja esta


efectuada antes ou depois da penhora (cfr. art.º 813.º, n.º 1).

Assim, pode acontecer uma das seguintes situações:

- se a citação for efectuada antes da penhora, o executado tem o prazo de 20 dias


para pagar ao exequente ou opor-se à execução (cfr. art.º 812.º, n.º 6);

- se a penhora é previamente efectuada, só depois o executado é citado para, no


prazo de 20 dias, se opor à execução (cfr. art.º 813.º, n.º 1);

- quando a penhora tenha sido realizada antes da citação, o executado com a


oposição à execução pode cumular a oposição à penhora se a pretender deduzir
(cfr. art.º 863.º - A);

- se a matéria da oposição for superveniente, o prazo conta-se a partir do dia em


que ocorra o respectivo facto ou dela tenha conhecimento o oponente (cfr. art.º
813.º, n. 3). A superveniência pode ser objectiva ou subjectiva. A
superveniência é objectiva quando os factos ocorrem, posteriormente, ao prazo
da oposição (20 dias). A superveniência é subjectiva, quando os factos são
anteriores, mas o executado só tem conhecimento deles após o decurso do prazo
da oposição;

- não é aplicável à oposição o disposto no n.º 2 do art.º 486.º, ou seja, o prazo do


último citando não aproveita aos demais executados.

4.1 Tramitação da oposição à execução

Como já foi referido, a oposição à execução corre por apenso à execução (cfr. art.º
817.º, n.º 1 e está sujeita a despacho liminar, não vigorando aqui o princípio da
oficiosidade (cfr. art.ºs 234.º, n.º4 alínea a) e 817.º, n.º 1).
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O despacho liminar pode ser:

1.º) de indeferimento nos seguintes casos:

a) se a oposição tiver sido deduzida intempestivamente;

b) se a oposição não se ajustar a um dos fundamentos previstos nos art.ºs 814.º a


816.º,

c) se for manifesta a improcedência da oposição do executado, tal como quando


ocorra alguma excepção dilatória não suprível e de conhecimento oficioso.

Se ocorrer despacho de indeferimento liminar, pode o requerente interpor recurso


de agravo até à Relação, mesmo que o valor seja inferior ao tribunal de comarca (cfr.
art.ºs 234.º - A n.º 2 e art.º e 923.º, n.º 1 alínea b).

2.º) de aperfeiçoamento nos casos previstos no art.º 234.º - A, n.º 1. O requerente


pode apresentar nova petição inicial (cfr. art.º 476.º).

3.º) se for de recebimento, o exequente é notificado para contestar, dentro do


prazo de 20 dias, seguindo-se, sem mais articulados, os termos do processo sumário de
declaração (cfr. art.º 817.º , n.º 2).

A falta de contestação à oposição importa à confissão dos factos articulados pelo


requerente (cfr. art.ºs 484.º, n.1 e 485) não se considerando, porém, confessados os
factos que estiverem em oposição com o que se encontrar expressamente alegado
no requerimento executivo (cfr. art.º 817.º, n.º 3).

Se a oposição for julgada procedente, a execução extingue-se ou modifica-se,


consoante essa procedência for total ou parcial (cfr. art.º 817.º, n.4).

4.1.1 Efeitos do recebimento da oposição (cfr. art.º 818.º)

1.º) Havendo citação prévia do executado:

- o recebimento da oposição só suspende a execução quando:

a) o executado / opoente preste caução – tem carácter urgente (cfr. art.º 990.º);

b) quando o executado / opoente alegue que a assinatura aposta no documento


particular não é genuína, apresentando logo documento como início de prova
(ex: cópia do B.I.). Após ouvir o exequente o juiz entende que se justifica a
suspensão da execução.
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2.º) Não havendo citação prévia:

a) nesta situação não é necessário prestar caução. O despacho de recebimento


suspende a execução mas se o juiz entender pode ordenar o reforço ou
substituição da penhora;

b) esta suspensão cessa se a oposição estiver parada durante mais de 30 dias, por
negligência do executado / opoente;

c) se a execução não ficar suspensa, nem o exequente nem qualquer outro credor
podem ser pagos, na pendência da oposição, sem prestar caução.

4.1.2 Responsabilidade do exequente (art.º 819)

Prevê este artigo sobre a possibilidade de o exequente ser responsabilizado pelo


impulso da acção executiva quando o executado deduza oposição, desde que se
observem os seguintes requisitos:

- a oposição seja julgada procedente;

- não tenha havido citação prévia;

- não tenha agido com a prudência normal.

Quando se verifiquem estes requisitos, o exequente será responsabilizado pelo


pagamento de uma indemnização pelos danos que, culposamente, causar ao executado e
pelo pagamento de uma multa correspondente a 10% do valor da execução ou da parte
dela que for objecto de oposição, mas não inferior a 10 UC (€ 798,10), nem superior
ao dobro do máximo da taxa de justiça.

A fase da penhora

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Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o


direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o
património do devedor, nos termos declarados neste código e nas leis
de processo – art.º 817.º do Código Civil.

Como vimos antes. a indicação dos bens tem lugar no próprio requerimento
executivo – art.º 810.º, n.º 3-e).

A materialização da penhora, alcançada através da efectiva apreensão dos bens,


priva o executado de exercer livremente os direitos que sobre eles detém, ao
mesmo tempo que o credor/exequente adquire um direito real de garantia – art.º
822.º do Código Civil.

Independentemente dos bens que possam ser indicados pelo exequente, o n.º 3
do art. 821.º estabelece uma regra de proporcionalidade entre o valor dos bens a
penhorar e o valor da obrigação exequenda.

A PENHORABILIDADE DOS BENS

I - Os limites da penhora

Sem prejuízo de em momento posterior se vir a constatar da insuficiência da


penhora e de, por isso, haver necessidade de penhorar outros bens (reforço – art.º
834.º, n.º 3), o valor da penhora deverá revelar-se “adequado ao montante do
crédito do exequente” (cfr. n.º 1 do art.º 834.º), acrescido das despesas previsíveis
calculadas na proporção inversa dos valores das alçadas como se demonstra no
quadro seguinte, sem prejuízo da excepção prevista no n.º 2 do mesmo artigo, que
permite a penhora, por excesso, de imóvel ou de estabelecimento comercial
quando seja previsível que a penhora de outros bens não permita a satisfação
integral do crédito exequendo no prazo de 6 meses.

Dívida exequenda Até Entre A partir de


€ 3.740,98 € 3.740,99 59.855,77
e (inclusive)
€ 59.855,76
Despesas prováveis 20% * 10% * 5% *

* - Estas percentagens são calculadas sobre o “valor da execução” – cfr. art.ºs


821.º, n.º3.

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Neste contexto, o valor da execução destinada a pagamento de quantia certa é o


que resultar do crédito exequendo liquidado pelo exequente (cfr. art.ºs 810.º, n.º 3-
c)), acrescido dos juros vincendos, se for o caso, desde a apresentação do
requerimento executivo até ao momento da efectivação da penhora18.

Mas, será possível ou admissível a penhora de todos e quaisquer bens?


Não! Na verdade, nem todos os bens podem ser penhorados.
Com efeito, os artigos 822.º, 823.º e 824.º do CPC protegem da penhora
alguns bens, uns com protecção absoluta, outros relativamente ou parcialmente
protegidos observados que sejam determinados condicionalismos.
Vejamos, então, quais os bens impenhoráveis :
As coisas ou direitos inalienáveis – art.º 822.º, al.ª a)19;
Os bens do domínio público do Estado20 e das restantes pessoas
colectivas públicas21 – art.º 822.º, al.ª b);
Os objectos cuja apreensão seja ofensiva dos bons costumes ou careça
de justificação económica, pelo seu diminuto valor venal – art.º 822.º,
al.ª c);
Os objectos especialmente destinados ao exercício de culto público 22–
art.º 822.º, al.ª d);
Os túmulos – art.º 822.º, al.ª e);
Os bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se
encontrem na residência permanente do executado, salvo se se tratar de
execução destinada ao pagamento do preço da respectiva aquisição ou
do custo da sua reparação23 – art.º 822.º, al.ª f);
18
Considerem-se, também, para o mesmo efeito, as figuras da cumulação de execução (inicial ou
sucessiva) e de coligação de exequentes – cfr. art.ºs 53.º, 54.º, 58.º, 832.º, n.ºs 4 e 5.
19
Alguns exemplos: crédito de alimentos –art.º 2008.º, n.º 1 do Cód. Civil; direito de uso e habitação –
art.º 1488.º do Cód. Civil; direito de servidão separadamente do imóvel a que estiver ligada – art.º 1545.º
do Cód. Civil; o direito à sucessão de pessoa viva – art.º 2028.º do Cód. Civil; a posição do arrendatário
de prédio destinado a habitação, salvo em caso de divórcio – art.ºs 83, 84.º e 85.º do Regime do
Arrendamento Urbano, aprovado pelo Dec. Lei n.º 321-B/90, de 15/10; a raiz dos bens sujeitos a
fideicomisso – art.º 2292.º do Cód. Civil; a propriedade do nome ou da insígnia do estabelecimento
separadamente deste – arts.º 297.º e 31.º do Cód. Propriedade Industrial, aprovado pelo Dec. Lei n.º
36/2003, de 5 de Março; subsídio de Natal e de férias dos funcionários e agentes da Administração
Pública – art.º 17.º do Dec. Lei n.º 496/80, de 20/10; as prestações dos regimes da segurança social são
parcialmente penhoráveis – art.º 73.º, n.º 2 da Lei n.º 32/2002, de 20/12;
20
Sobre bens do domínio do Estado cfr. art.ºs 84.º da Constituição da República Portuguesa e 4.º a 7.º do
Dec. Lei n.º 477/80, de 15/10.
21
São pessoas colectivas de utilidade pública as associações ou fundações que prossigam fins de interesse
geral, ou da comunidade nacional ou de qualquer região ou circunscrição, cooperando com a
Administração Central ou a administração local, em termos de merecerem da parte desta administração a
declaração de «utilidade pública» - art.º 1.º, n.º 1 do Dec. Lei n.º 460/77, de 7/11. A declaração de
utilidade pública é da competência do governo e é publicada no Diário da República – art.ºs 3.º e 6.º do
mesmo diploma.
22
Em princípio, são penhoráveis as capelas particulares e seus adornos.
23
Cfr. Ac. TRL de 85/07/09 in BMJ n.º 356, pg. 438; Ac. TRE de 89/04/04 in Col. Jur. de 1989, Tomo II,
pg. 283.
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Os instrumentos indispensáveis aos deficientes e os objectos destinados ao


tratamento de doentes – art.º 822.º, al.ª f);
Os bens do Estado e das restantes pessoas colectivas públicas, de entidades
concessionárias de obras ou serviços públicos ou de pessoas colectivas de
utilidade pública, que se encontrem especialmente afectados à realização
de fins de utilidade pública, salvo tratando-se de execução para pagamento
de dívida com garantia real – art.º 823.º, n.º 1;
Os instrumentos de trabalho e os objectos indispensáveis ao exercício
da actividade ou formação profissional do executado, salvo se:
O executado os indicar para penhora;
A execução se destinar ao pagamento do preço da sua
aquisição ou do custo da sua reparação;
Forem penhorados como elementos corpóreos de um
estabelecimento comercial – art.º 823.º, n.º 2, al.ªs a) a c).
Dois terços
dos vencimentos,
salários ou
prestações de natureza semelhante24, auferidos pelo executado
– art.º 824.º, n.º 1-a);
das prestações periódicas pagas a título de
• aposentação ou de
• outra qualquer regalia social, seguro, indemnização por
acidente ou renda vitalícia,
• ou de quaisquer outras pensões de natureza semelhante -
art.º 824.º, n.º 1-b).
Se esta fracção de 2/3 for superior ao triplo do salário mínimo
nacional25 em vigor à data da penhora, a diferença pode ser penhorada –
art.º 824.º, n.º 2.
Não auferindo o executado qualquer outro rendimento e caso o crédito
não seja de alimentos, se o valor correspondente a 2/3 do salário do
executado ficarem aquém do salário mínimo nacional, o valor
impenhorável equivale ao do salário mínimo nacional, o que significa que
a parte penhorável será inferior à terça-parte - art.º 824.º, n.º 2 segunda
parte.

Exemplo (art 824.º, n.º 2 - 1.ª parte):

Imagine-se que o executado aufere um salário de € 2.100,00. Dois terços


correspondem a € 1.400,00.
Considerando que o salário mínimo nacional está fixado em € 356,60, o
triplo do seu valor é igual a € 1.069,80 (valor impenhorável).
Obtendo a diferença entre € 1.400,00 e € 1.069,80 encontramos o valor
penhorável: € 330,20.
24
Incluem-se as prestações periodicamente pagas pela Segurança Social.
25
Dec. Lei n.º 320-C/2002, de 30/12.
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Em suma, a este executado poder-se-ia penhorar:


1 Salário do executado € 2.100,00
2 1/3 do salário € 700,00
3 2/3 do salário € 1.400,00
4 Triplo do salário mínimo nacional € 1.069,80
A diferença entre 2/3 do salário e o triplo do salário
5
mínimo nacional [3-4] € 330,20
6 Total penhorável em cada apreensão [2+5] € 1.030,20

Exemplo (art 824.º, n.º 2 - 2.ª parte):

O executado aufere um salário de € 500,00.


A aplicação genérica da norma ditaria que a penhora poderia alcançar os
2/3 = € 333,33, deixando livre de qualquer penhora a fracção de 1/3 = €
166,67.
No entanto, como o valor correspondente aos 2/3 (€ 333,33) é inferior ao
salário mínimo nacional, passa este último a constituir o limite de
impenhorabilidade, ou seja, € 356,60, tal como se demonstra no quadro
seguinte:
1 Salário do executado € 500,00
2 1/3 do salário € 166,67
3 2/3 do salário € 333,33
4 Salário mínimo nacional € 356,60
5 Valor impenhorável € 356,60
6 Total penhorável em cada apreensão [1+4] € 143,40

Resumindo:
- Em princípio, é sempre penhorável 1/3 do salário do executado.
Excepção: Só assim não será se os restantes 2/3 tiverem
um valor inferior ao salário mínimo nacional,
caso em que este se manterá intacto,
incidindo a penhora sobre a diferença entre o
salário global e o "valor intocável".
Retomando o último exemplo:
€ 500,00 -€ 356,60 = € 143,40.
- Se os 2/3 forem inferiores ao triplo do salário mínimo
nacional, mantêm-se inatacáveis pela penhora, pelo que será
penhorável apenas a fracção de 1/3.
- Caso os 2/3 ultrapassem o triplo do salário mínimo nacional,
será penhorável a parte excedentária, além da fracção de 1/3.

Na penhora de dinheiro ( art.ºs 824.º-A; 839.º, n.º 3; 848.º, n.º 4; 865.º, n.º 4-
b) e 874.º) ou de saldo bancário (art.ºs 824.º-A; 861.º-A; 865.º, n.º 4-b) e 874.º) é
impenhorável o valor global correspondente a um salário mínimo nacional,
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assim se permitindo ao executado a satisfação das suas mais elementares


necessidades de vida – art.º 824.º, n.º 3.

Embora a iniciativa da penhora parta do agente de execução sem precedência de


despacho judicial, o juiz, mediante requerimento do exequente ou do executado, pode
ser chamado a intervir no processo em ordem a fixar outros limites à penhora, nos
termos previstos nos n.ºs 4 e 5 do artigo 824.º, reduzindo a parcela penhorável ou
concedendo uma isenção de penhora por período não superior a um ano.
Deste despacho é o agente notificado pela secretaria, procedendo a partir daqui
às demais diligências.

}~

II - A penhora de bens comuns do casal – art.º 825.º

O artigo 601.º do Cód. Civil estabelece como princípio genérico a


responsabilidade de todos os bens do devedor pelo cumprimento das suas obrigações,
salvo casos especialmente previstos que estabeleçam de forma diferente, como acontece
quando o devedor é casado.

Sendo o devedor casado no regime da separação de bens, a penhora não levanta


grandes problemas, visto cada um dos cônjuges conservar o domínio e fruição de todos
os seus bens – cfr. art.º 1735.º CC – salvo a possibilidade de presunção de
compropriedade dos bens móveis fundada na dúvida sobre a propriedade desses bens –
cfr. art.º 1736, n.º 2.
Ou seja, ressalvada a excepção, pelas dívidas de cada um dos cônjuges
respondem os bens próprios – cfr. art.º 1695.º, n.ºs 1e 2 do CC.

O que já não acontece quando entre os cônjuges vigore o regime da comunhão


de adquiridos (regime supletivo - cfr. art.ºs 1721.º e seguintes do CC) ou geral (art.ºs
1732.º e seguintes do CC), em que há, por via de regra, bens próprios e comuns.

Assim, quanto à dívida da responsabilidade de um dos cônjuges, respondem em


primeiro lugar os bens próprios e na falta ou insuficiência destes a sua meação nos bens
comuns – art.º 1696.º do CC.
Sobre as dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges prevêm os art.ºs
1692.º, 1693.º, n.º 1 e 1694.º, n.º 2 do Cód. Civil.

Relativamente às dívidas de ambos os cônjuges, há que distinguir entre as


dívidas comuns - derivadas de facto praticado por ambos - e as dívidas comunicáveis,
como são, entre outras, as dívidas assumidas por um dos cônjuges com o consentimento
do outro ou, na comunhão geral, as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges antes
do casamento, em proveito comum o casal – cfr. art.º 1691.º do Cód. Civil

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Conjugando o art.º 825.º com o art.º 864.º, n.º 3-a) chega-se à conclusão que, em
execução movida apenas contra um dos cônjuges, deve ser citado o outro cônjuge por
qualquer da seguintes razões:
quando, em execução movida contra um dos cônjuges, sejam
penhorados bens comuns do casal – art.º 825.º, n.º 1;
quando o exequente, munido de título executivo que não a
sentença26, invoque a comunicabilidade da dívida – art.º 825.º, n.º
2.
quando tiver sido penhorado bem imóvel ou estabelecimento
comercial que o executado não possa alienar livremente (próprios
ou comuns – cfr. art.º 1682.º-A do CC) – art.º 864.º, n.º 3-a);

O cônjuge do executado adquire, pela via da citação, o estatuto especial


reconhecido pelo art.º 864.º-A, que lhe permite exercer os mesmos direitos processuais
conferidos ao executado, podendo nomeadamente:
deduzir oposição à execução;
deduzir oposição à penhora;
requerer a separação dos bens quando a penhora recaia em bens
comuns.
Assim, após a penhora e em qualquer dos casos acima descritos, o agente de
execução, procede oficiosamente à citação, além do próprio executado (ou notificação
no caso de ter sido previamente citado), também do seu cônjuge, sendo-o este para, no
prazo de 20 dias:
- Deduzir oposição à execução e ou à penhora no prazo de 20
dias27 – art.º 813.º do CPC;
- Podendo, no mesmo prazo, requerer a separação de bens ou
juntar certidão comprovativa de já haver acção pendente para tal
fim.

Quanto à comunicabilidade da dívida pode verificar-se uma de duas situações:


O exequente invocou ou não a comunicabilidade da dívida (em execução
fundada em título diverso de sentença).
Na hipótese afirmativa, o cônjuge do executado é ainda citado
para, em alternativa, declarar se aceita a comunicabilidade da
dívida, sob a cominação de, se nada disser, a dívida ser
considerada comum, ainda que deduza oposição, prosseguindo a
execução sobre os bens comuns.
Cônjuge do executado passa a executado
Se o cônjuge aceitar a dívida ou se nada disser, a execução
prossegue também contra si, abrindo-se a possibilidade de lhe
serem penhorados os bens próprios – n.º 3 do art.º 825.º.

26
Presume-se que a sentença como título executivo foi posta à margem por se entender que a
oportunidade para discutir a comunicabilidade da dívida esgotou-se na acção declarativa.
27
Note-se que em caso de penhoras múltiplas espaçadas no tempo, o cônjuge, depois de citado, já só é
notificado para deduzir oposição à penhora no prazo de 10 dias, aplicando-se as regras do art.º 235.º do
CPC – cfr. art.º 863.º-B, n.º 1-B).
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Do mesmo modo, a execução prossegue contra o cônjuge do


executado que recuse a comunicabilidade da dívida, mas não
requeira a separação de bens – n.º 4.
Qualquer das situações antes descritas, aliás, em paralelo com
aquela previta no artigo 869.º, dá origem ao alargamento ao
cônjuge do executado da obrigação constante do título executivo,
prosseguindo a execução também contra ele.
Do mesmo modo, pode formar-se este “título executivo especial”
no caso previsto no n.º 6, em consequência de o próprio
executado alegar fundamentadamente a comunhão da dívida no
prazo da oposição, na sequência da sua citação, quer tenha sido
prévia ou não.
Caso contrário, isto é, se o exequente não invocar a
comunicabilidade da dívida, tanto o executado como o seu
cônjuge podem, nos prazos respectivos para a oposição (não
funciona o aproveitamento dos prazos da acção declarativa – art.º 813.º, n.º 4),
requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da
pendência da acção, o que a acontecer implica a suspensão da
execução até que se conclua a partilha dos bens.
Se não o fizerem a execução prossegue somente contra o
executado, já não contra o cônjuge, mas, sobre os bens que
estiverem penhorados, mesmo sendo comuns.
Autuado o requerimento da separação por apenso à execução,
como processo de “inventário” – cfr. art.º 1406.º do CPC – é
concluso ao juiz de execução para ordenar os termos do
inventário e bem assim decretar a suspensão da acção executiva.
O cargo de cabeça de casal é exercido pelo cônjuge mais velho e
o exequente como qualquer credor do executado podem
promover o andamento do inventário, permitindo-se ao cônjuge
do executado a possibilidade de escolher os bens que hão-de
preencher a sua meação, escolha essa que pode ser alvo de
reclamação dos credores.
A sentença homologatória da partilha, além de notificada aos
interessados e credores, deve ser igualmente notificada ao agente
de execução.
Se os bens penhorados não forem adjudicados ao executado, a
penhora mantém-se até que o agente de execução penhore novos
bens (cfr. art.ºs 821.º, n.º 3 e 834.º, n.º 1), momento em que se
opera a substituição da penhora – cfr. art.º 825.º, n.ºs 3 e 7.

III – Penhora em caso de comunhão ou compropriedade – art.º 826.º

As penhoras em casos de comunhão ou de compropriedade consagradas no art.º


826.º são efectuadas de acordo com o artigo 862.º.

Nas previsões do artigo 826.º cabem duas situações distintas:

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1. Execução movida contra algum ou alguns contitulares de património


comum (ex. herança; património do casal);
2. Execução movida contra algum ou alguns comproprietários de bem
indiviso.

Em qualquer das situações a penhora incide na quota-parte do executado (ou


executados) no património autónomo ou no bem indiviso, nunca sobre os próprios bens
ou parte específica deles.
A penhora do quinhão do executado na herança aberta por morte de F... não se
traduz na penhora dos próprios bens (ou parte deles) que constituem o acervo
hereditário.
Do mesmo modo, a penhora do direito do executado à terça-parte indivisa dum
certo imóvel não implica a penhora de uma parte (1/3) específica do próprio imóvel.

Se em execuções distintas28 forem penhorados todos os quinhões de património


autónomo ou todos os direitos sobre um bem indiviso, realizada-se uma venda única,
no processo em que tiver sido efectuada a primeira penhora.
Neste ponto, afigura-se-nos que o agente de execução deve requerer ao juiz da
execução em que tiver sido efectuada a primeira penhora a apensação das demais
execuções, nos termos do art.º 275.º, n.º 5.
A penhora consiste na notificação ao administrador e aos contitulares e quando
sejam várias as pessoas notificadas, a penhora produz efeitos a partir da primeira
notificação29 - art.º 862.º, n.º 1.
Se o bem indiviso estiver sujeito a registo, também a penhora do direito o está e
neste caso releva a data do registo, por ser este o acto constitutivo da penhora – cfr.
art.ºs 838.º, 851.º e 863.º.

A perspectiva de venda única é motivo para que o agente de execução dê


prioridade à penhora destes direitos – cfr. art.ºs 832.º, n.º 1, 835.º, n.º 2 e 862.º.

IV – Bens a penhorar na execução contra herdeiro – art.º 827.º

Nas previsões deste artigo cabem as execuções propostas contra o herdeiro por
dívidas da herança, pelas quais respondem os bens que integram o respectivo
património (cfr. art.º 2068.º do CC).
Daí que no n.º 1 do art.º 827.º se estabeleça que na execução movida contra o
herdeiro só podem penhorar-se os bens que ele tenha recebido do autor da herança.
Mas, o herdeiro pode aceitar a herança pura e simplesmente ou a benefício de
inventário (cfr. art.º 2052.º do CC).
Se aceitar a herança a benefício de inventário, a penhora só atinge os bens que
ao herdeiro tiverem sido adjudicados em razão da partilha e se porventura forem
atingidos quaisquer outros bens, o herdeiro executado pode requerer
fundamentadamente o seu levantamento e ao mesmo tempo indicar outros bens da
herança que tiver em seu poder – n.º 2 do art.º 827.º.

28
Podem ser distintos os exequentes e os executados.
29
A penhora considera-se feita no momento da notificação - Ac. STJ, de 94/05/26 in BMJ 437, pg. 471.
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O agente de execução atenderá ao pedido se a ele não se opuser o exequente,


para o efeito notificado (pelo agente de execução).
Caso o exequente se oponha ao requerido, o executado só logrará obter o
levantamento da penhora se demonstrar ao agente de execução, através de prova
documental, que os bens penhorados não provieram da herança e que não recebeu
outros bens além dos que indicou ou, se recebeu mais, que os outros foram aplicados
Quer o exequente quer o executado poderão reclamar para o juiz da decisão que
sobre a questão for tomada pelo agente de execução – cfr. art.º art.º 809.º, n.º 1.

V – Penhorabilidade subsidiária – art.º 828.º

Há bens que só podem ser penhorados, depois de verificadas a insuficiência ou


mesmo a falta de bens de outros.
Como e o caso já visto das dívidas de um dos cônjuges, pelas quais respondem
primeiramente os seus próprios bens e depois, se a dívida é comum ou comunicável, os
bens comuns do casal.
Mas, há mais situações em que isto acontece, nomeadamente quando, pela via
negocial ou legal, há um devedor principal e outro subsidiário de que é exemplo mais
frequente o fiador. Diz-nos o art.º 627.º, n.º 1 do CC que o fiador garante a satisfação do
direito de crédito, ficando pessoalmente obrigado perante o credor, acrescentando o n.º
2 que a obrigação do fiador é acessória da que recai sobre o principal devedor.
Mas, ao fiador é lícito usar o benefício da excussão prévia30 recusando o
cumprimento da obrigação enquanto o credor não tiver excutido todos os bens do
devedor com ou sem garantia reais – cfr. art.ºs 638.º e 639.º do CC.
No mesmo contexto, vem o art.º 828.º definir algumas regras para a penhora
subsidiária de bens consoante se trate de
- execução movida contra o devedor principal e o devedor subsidiário;
- execução movida apenas contra o devedor principal; ou
- execução movida contra o devedor subsidiário.

Na execução movida contra os devedores principal e subsidiário, em que este


deva ser citado previamente à penhora dos seus bens (cfr. art.º 812.º, n.º 7), o n.º 1 nega
a penhorabilidade dos bens do devedor subsidiário enquanto não forem penhorados e
vendidos ou adjudicados todos os bens do devedor principal.
Mas, a citação do devedor subsidiário, ainda que prévia à penhora dos seus bens,
só poderá ocorrer depois de excutidos todos os bens do devedor principal se o
exequente formular tal pedido no requerimento executivo, caso em que devedor
subsidiário pode, no prazo da oposição e por simples requerimento dirigido ao agente de
execução, invocar o benefício da excussão prévia dos bens do devedor principal,

30
O benefício da excussão prévia é invocável pelos seguintes devedores subsidiários: fiador – art.ºs 627.º
e seguintes do Cód. Civil, salvo as excepções do art.º 640.º, n.º 2 e da fiança comercial, em que o fiador é
solidariamente responsável com o afiançado – cfr. art.º 101.º do Cód. Comercial; sócios da sociedade
comercial em nome colectivo – art.º 175.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades Comerciais; sócios
comanditados da sociedade comercial em comandita – art.º 465.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades
Comerciais; sócios da sociedade civil – art.º 997.º, n.º 2 do Cód. Civil.
O avalista nas letras ou nas livranças é considerado principal responsável – art.ºs 32.º e 77.º da LULL.

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sujeitando-se, caso o não faça, à possibilidade de os seus bens serem logo penhorados –
cfr. n.ºs 1 e 3-a) do art.º 828.º.
A excussão plena dos bens do devedor principal termina com o “apuramento”
do produto da venda de todos os seus bens, pois só assim é possível aferir a eventual
insuficiência do produto em face do somatório das custas da execução (cfr. art.º 455.º),
do crédito exequendo e bem assim dos créditos graduados à frente do exequente.
A execução prosseguirá sobre os bens do devedor subsidiário até que o crédito
do exequente seja integralmente pago.

Vejamos agora a execução movida apenas contra o devedor principal.


Aqui respondem em primeira linha os bens dele e só perante a manifesta falta ou
insuficiência dos bens é que o exequente pode requerer ao agente de execução, no
mesmo processo, o prosseguimento da execução também contra o devedor subsidiário –
cfr. n.º 5 do art.º 828.º.

Finalmente, temos a execução movida apenas contra o devedor subsidiário.


O n.º 7 deste normativo permite a instauração da acção executiva logo contra o
devedor subsidiário, assim o credor/exequente demonstre a falta ou insuficiência de
bens do devedor principal.
Proposta a execução apenas contra o devedor subsidiário, ele só não será citado
previamente se o juiz deferir o pedido de dispensa de citação prévia formulado pelo
exequente no requerimento executivo – cfr. art.ºs 812.º, n.º 7-a) e 812.º-B, n.º 2.
Sendo citado previamente, advém-lhe a possibilidade de no prazo da
oposição invocar o benefício da excussão prévia, o que confere ao exequente
o direito de pedir o prosseguimento da execução também contra o devedor
principal. A não invocação do benefício abre portas à penhora em primeira
linha dos bens do devedor subsidiário – n.º 2 do art.º 828.º.
Não sendo citado previamente, os bens do devedor subsidiário só podem ser
penhorados desde que se comprove a falta de bens do devedor principal (o
que será alegado pelo exequente no requerimento executivo) ou a renúncia
ao benefício da excussão prévia feita extrajudicialmente pelo do executado
(cfr. art.º 640.º al.ª a) do CC).´
Só assim se compreende a al.ª b) do n.º 3 do artigo em referência, quando
articulado com o n.º 4, que permite ao devedor subsidiário que não tenha
renunciado extrajudicialmente ao benefício da excussão prévia poder vir
invocar tal benefício no prazo da oposição, e com o n.º 6 que confere ao
devedor subsidiário a possibilidade de a todo o tempo indicar à penhora bens
do devedor principal e por essa via pedir o levantamento da penhora dos
seus.
Admitida a oposição à penhora, o exequente, ao ser notificado para a ela se
opor no prazo de 10 dias (cfr. art.ºs 863.º-B, n.º 2 e 303.º), deverá ser
advertido para, no mesmo prazo, requerer o prosseguimento da execução,
também, contra o devedor principal, com a cominação de não o fazendo ser
levantada a penhora dos bens do devedor subsidiário.

Início das diligências para a penhora


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No quadro da nova acção executiva, são distintos os momentos em que se


iniciam as diligências tendentes à penhora, sem precedência de despacho judicial à
excepção da penhora de saldos bancários, porém, com um dado comum traduzido na
precedência da notificação do agente de execução a efectuar pela secretaria.

As diligências tendentes à penhora só têm início após a apresentação do


requerimento executivo nos casos em que não haja lugar a despacho liminar nem à
citação prévia.

Assim, nas execuções em que não tenham lugar o despacho liminar nem a
citação prévia e o solicitador de execução aceite a designação no próprio
requerimento executivo, as diligências têm início a partir da notificação para tal efeito
realizada pela secretaria logo após a autuação do requerimento executivo, daí se
contando o prazo de 30 dias fixado no art.º 837.º, n.º 1.
E não vemos que possa ser de outro modo, pese embora a redacção do n.º 1 do
art.º 832.º.
É que o solicitador de execução que aceita a designação no próprio
requerimento executivo e o assina ou vem aceitar nos cinco dias subsequentes à
apresentação, só fica investido das funções de agente de execução depois de iniciada a
instância e deste facto nada garante que ele tenha conhecimento, a não ser através duma
notificação a efectuar pela secretaria, após verificada a inexistência de fundamentos
para suscitar a intervenção do juiz a coberto do n.º 3 do art.º 812.º.
Se o solicitador de execução não aceitar ou a designação ficar sem efeito,
será a partir da notificação da designação feita pela secretaria nos termos do art.º 811.º-
A, n.º 2 que as diligências da penhora têm início.

Nas demais situações, as diligências iniciam-se a partir da notificação


efectuada pela secretaria ao agente de execução após:
O despacho que dispense a citação prévia do executado a requerimento
do exequente – cfr. art.º 812.º-B, n.º 3 – 1.ª parte;
O termo do prazo para a oposição à execução, quando ela não seja
deduzida ou sendo-o, o recebimento não suspenda a execução, por o
executado opoente não requerer a prestação de caução (cfr. art.ºs 812.º,
n.º 6 e 818.º,n.º 1);
A decisão que julgue improcedente a oposição deduzida, cujo
recebimento tenha suspendido a execução;
O despacho do juiz que indefira o pedido de suspensão da execução
fundado não genuinidade falta de genuinidade do documento particular
(art.º 818.º, n.º 1).

Consulta prévia – art.º 832.º, n.º 2 CPC

As execuções (cíveis e laborais) e as falências serão objecto de registo


informático em ordem a permitir a disponibilização da informação nela contida a
magistrados judiciais e do Ministério Público, advogados, solicitadores e
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solicitadores de execução, agentes de execução (solicitadores de execução ou


oficiais de justiça), o “titular dos dados” (executado ou falido) ou qualquer pessoa
que com o ele tenha relação contratual ou pré-contratual, nos termos previstos no
artigo 807.º e regulados no Decreto-Lei n.º ________, de ________.

Uma vez notificado, o agente de execução, em requerimento de modelo


aprovado, solicita na secretaria onde o processo correr termos o certificado da
consulta à base de dados do registo informático de execuções, certificado esse
que, além de gratuito, é oficiosa e imediatamente emitido - art.ºs 807.º, n.º 3-c) do
CPC
Cabe ainda referir que toda a informação contida nesta base de dados será
diariamente actualizada pela secretaria – cfr. art.ºs 806.º, n.º 3 do CPC -,
prevendo-se a possibilidade de se efectuarem rectificações ou actualizações a
requerimento do titular do dados em qualquer momento, independentemente da
fase em que se encontrem os processos.
Conforme consta do art.º 806.º o registo de cada processo executivo conterá os
seguintes dados:
- Identificação do processo;
- Identificação do agente de execução:
o solicitador de execução será identificado pelo nome, domicílio profissional e números
de cédula e de identificação;
o oficial de justiça será identificado pelo nome e respectivo número mecanográfico;
- Identificação das partes nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 467.º31 e incluindo
ainda, sempre que possível, o número de identificação de pessoa colectiva, a filiação e
os números de bilhete de identidade e de identificação fiscal;
- Pedido (indicando-se o fim e o montante, a coisa ou a prestação, consoante se trate de
execução para pagamento de quantia certa, para entrega de coisa certa ou para prestação
de facto);
- Bens indicados para penhora;
- Bens penhorados (indicando-se a data e a hora da penhora e mais tarde as datas da
adjudicação ou da venda);
- Os créditos reclamados serão igualmente sujeitos s registo, inserindo-se os valores e a
identificação dos respectivos titulares

31
Nomes, domicílios ou sedes e na medida do possível as profissões e locais de trabalho.
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Todos estes dados serão introduzidos diária e oficiosamente pela secretaria com base na
informação carreada pelo agente de execução, nuns casos, ou por constatação directa,
noutros, como é o caso, por exemplo, dos créditos reclamados.

Mas, casos há em que o registo não é oficiosamente efectuado pela secretaria, por
carecerem de despacho judicial. Referimo-nos concretamente aos processos de falência
(cfr. art.ºs 806.º, n.º 4-a) do CPC e 186.º, n.º 1 e 187.º, n.º 1 do CPEREF, com as
alterações produzidas pelo Dec. Lei n.º 38/2003) e às execuções do foro laboral que
sejam arquivadas por falta de bens penhoráveis.

Os procedimentos do agente de execução após a consulta serão diversos,


consoante a informação obtida seja alguma das seguintes:
Não existe qualquer registo;
Execução extinta com integral pagamento – art.º 806.º, n.º 2-a);
Execução extinta sem integral pagamento – art.º 806.º, n.º 2-b);
Execução suspensa por falta de bens – art.º 806.º, n.º 2-c);
Execução de trabalho finda por falta de bens – art.º 806.º, n.º 4-b).
Execução pendente;
Falência pendente – art.º 806.º, n.º 4-a);
Falência extinta por falta ou insuficiência de bens – art.ºs 806.º, n.º4-a)
CPC; 186.º, n.º 1 e 187.º, n.º 2 do CPEREF (alterados pelo art.º 7.º do
Dec. Lei n.º 38/2003, de 8/3).

Inexistindo registo algum ou havendo registo de execução finda com pagamento


integral, o agente de execução inicia logo as diligências com vista à efectivação da
penhora.

Havendo execução extinta sem integral pagamento ou suspensa por falta de


bens, o agente de execução diligencia no sentido de identificar e localizar bens
penhoráveis, a começar pelos indicados no requerimento executivo – art.ºs 832.º, n.º 3,
833.º, n.ºs 1 e 2 e 810.º, n.º 3-d).

Pendendo alguma execução para pagamento de quantia certa, o agente de


execução requer à secretaria a remessa da “sua” execução para apensação ou
incorporação na execução constante da base de dados - evitando-se por esta via não só a
pulverização de execuções autónomas sobre o mesmo executado como também a
multiplicação de penhoras sobre os mesmos bens -, apenas e só no caso de se
verificarem cumulativamente os dois requisitos seguintes:

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1. Que o exequente desta última execução seja titular dum direito real de
garantia (que não seja privilégio creditório geral32) sobre algum bem
penhorado na primeira execução – art.º 832.º, n.º 4-a); e

2. E que em tal execução ainda não tenha sido proferida a sentença


graduatória de créditos – art.º 832.º, n.º 4-b).

Daqui ressalta que, na falta de um destes requisitos, o agente de execução


não providenciará pela remessa do processo, pelo que dará início aos actos
preparatórios da penhora de bens, incluindo, se necessário, os próprios bens
penhorados anteriormente na outra execução, caso em que, após a penhora,
a execução há-de ser suspensa pelo juiz, a requerimento do agente de
execução (ou do exequente) apresentado no prazo de 10 dias após a
penhora, nos termos previstos no artigo 871.º.
Verificados ambos os requisitos antes mencionados, se a primitiva execução já
estiver na fase do concurso de credores33, esta segunda execução valerá como
reclamação de créditos, pelo que deverá ser incorporada no apenso da reclamação de
créditos. Se ainda não existir o apenso, abrir-se-á um com base nesta execução – art.ºs
832.º, n.º 5 e 865.º, n.º 8.
Encontrando-se aquela execução em fase anterior à do concurso de credores, a
execução é remetida para ser apensada ou incorporada na primitiva acção executiva,
dando lugar a uma coligação34 de exequentes - art.ºs 832.º, n.º 5, 58.º, n.º 4, 275.º, n.ºs 1
e 2.
Note-se que tanto a apensação como a incorporação operar-se-ão de acordo
com o estabelecido nos n.ºs 2 a 4 do artigo 53.º, aplicáveis à coligação por força do n.º 3
do artigo 58.º.

Se constar da base de dados que alguma execução anterior terminou


prematuramente sem o pagamento integral, o agente de execução encetará todas as
diligências no sentido de identificar e localizar bens penhoráveis, começando pelos bens
que o exequente houver indicado no requerimento executivo, e consultando, se
necessário, as bases de dados da segurança social, das conservatórias dos registos
predial, comercial e automóvel e de quaisquer outros registos ou arquivos de natureza
semelhante (ex.- reg.º civil, cartórios notariais, câmaras municipais, D.G.V., etc.).

Frustradas as tentativas, o agente de execução pode ainda requerer ao juiz


autorização para obter informações sujeitos a sigilo fiscal, bancário ou profissional.
32
Do Código Civil: artigo 735º - (Espécies)
1. São de duas espécies os privilégios creditórios: mobiliários e imobiliários.
2. Os privilégios mobiliários são gerais, se abrangem o valor de todos os bens móveis existentes no
património do devedor à data da penhora ou de acto equivalente; são especiais, quando compreendem
só o valor de determinados bens móveis.
3. Os privilégios imobiliários são sempre especiais.
33
A fase do concurso de credores inicia-se com a primeira citação que se fizer nos termos do art.º 864.º.
34
“Esquematicamente, pode dizer-se que há litisconsórcio quando o pedido é o mesmo ou os pedidos são
os mesmos relativamente a todos os sujeitos; há coligação quando são deduzidos pedidos diferentes por
vários autores ou contra vários réus” – Eurico Lopes Cardoso in Manual da Acção Executiva, 3.ª edição,
pg.ªs. 126 e 127.
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Da Lei Geral Tributária35


Artigo 64.º
Confidencialidade

1 - Os dirigentes, funcionários e agentes da administração tributária estão


obrigados a guardar sigilo sobre os dados recolhidos sobre a situação tributária
dos contribuintes e os elementos de natureza pessoal que obtenham no
procedimento, nomeadamente os decorrentes do sigilo profissional ou qualquer
outro dever de segredo legalmente regulado.
2 - O dever de sigilo cessa em caso de:
a) Autorização do contribuinte para a revelação da sua situação
tributária;
b) Cooperação legal da administração tributária com outras
entidades públicas, na medida dos seus poderes;
c) Assistência mútua e cooperação da administração tributária com
as administrações tributárias de outros países resultante de
convenções internacionais a que o Estado Português esteja
vinculado, sempre que estiver prevista reciprocidade;
d) Colaboração com a justiça nos termos do Código de Processo
Civil e do Código de Processo Penal.
3 - O dever de confidencialidade comunica-se a quem quer que, ao abrigo
do número anterior, obtenha elementos protegidos pelo segredo fiscal, nos
mesmos termos do sigilo da administração tributária.
4 - O dever de confidencialidade não prejudica o acesso do sujeito passivo
aos dados sobre a situação tributária de outros sujeitos passivos que sejam
comprovadamente necessários à fundamentação da reclamação, recurso ou
impugnação judicial, desde que expurgados de quaisquer elementos susceptíveis
de identificar a pessoa ou pessoas a que dizem respeito.
5 - Não contende com o dever de confidencialidade a publicação de
rendimentos declarados ou apurados por categorias de rendimentos,
contribuintes, sectores de actividades ou outras, de acordo com listas que a
administração tributária deverá organizar anualmente a fim de assegurar a
transparência e publicidade.

Não sendo encontrados bens penhoráveis, o agente de execução notifica o


exequente para, no prazo de 30 dias, indicar bens penhoráveis – art.º 832.º, n.º 1.

Se o exequente indicar bens, o agente de execução enceta as diligências


necessárias à penhora dos bens no prazo de 30 dias, findos os quais, sem que o consiga,
informa o exequente através de relatório para o efeito elaborado, enviando uma cópia
para a secretaria a fim de ser junto aos processo (cfr. art.º 837.º, n.º 1).

Caso contrário, a execução


Data em
considera-se suspensa a partir do 30.º que o
dia (cfr. art.ºs 276.º, n.º 1-d) e 832.º, n.º exequente
3) e volvidos três meses sobre o início se 30.º
considera
da suspensão o processo é remetido à notificado dia À conta
conta nos termos do art.º 51.º, n.º 2-a) e 3 meses
b) do Código das Custas Judiciais (fig.
ao lado), ficando as custas a cargo do

35 Aprovada pelo Decreto-Lei n.º 398/98, de 17 de Dezembro; revista e republicada com a Lei n.º
15/2001, de 5 de Junho e alterada pela Lei n.º 16-A/2002, de 31 de Maio.
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exequente, nos termos do art.º 47.º, n.º 3


do mesmo diploma.

E decorrido um ano após aquele 30.º dia o processo é concluso para ser
declarada a interrupção da instância nos termos do art.º 285.º.
Notificado o despacho às partes e ao agente de execução, o processo
considera-se findo para efeitos de arquivo (cfr. art.º 126.º, n.º 1-c) da Lei n.º 3/9936, de
13 de Janeiro.

Como já foi antes referido antes, o registo informático das execuções efectua-
se após a consulta prévia pelo agente de execução e o que se pretende dizer com o n.º 6
do art.º 832.º, conjugado com o art.º 806.º, n.º 2-c), é que a suspensão de instância que
acabámos de referir está sujeita a registo. Ou seja, a pedido do agente de execução
antes do início das diligências para a identificação e localização dos bens, a secretaria
regista a execução e no caso de se verificar a referida suspensão da instância, ela
constitui motivo para actualização dos dados respeitantes à execução na base de dados.

Finalmente, se não houver razões para a remessa do processo nos termos


previstos nos n.ºs 4 e 5 do art.º 832.º, nem à suspensão da instância que se reportam os
n.º 2 e 6 do mesmo artigo, o agente de execução inicia as diligências tendentes à
penhora dos bens nos termos do n.º 1 do art.º 833.º, respeitando os limites estabelecidos
no n.º 3 do art.º 821.º, sem prejuízo naturalmente da excepção inscrita no n.º 2 do art.º
834.º, e bem assim os regras excepcionais sobre a (im)penhorabilidade dos bens
constantes dos artigos 822.º e seguintes, aos quais fizemos referência em momento
anterior.

Se ao cabo de 30 dias após o início das diligências o agente de execução não


encontrar bens, envia um relatório ao exequente e simultaneamente notifica-o para, no
prazo de 10 dias, indicar os bens penhoráveis que conhecer (cfr. art.ºs 833.º, n.º 4 e
837.º, n.º 1).
Do relatório é enviada uma cópia para a secretaria a fim de ser junto ao
processo e outra para a Câmara de Solicitadores, no caso de agente de
execução/solicitador de execução.

O silêncio do exequente implica a citação do executado37 (ou notificação no


caso de já ter sido previamente citado – art.º 833.º, n.º 5 in fine) para:
Deduzir oposição à execução no prazo de 10 dias (cfr. parte final n.º 5),
a menos que já tenha sido citado previamente, caso em que não será
notificado para exercer este direito processual;
E independentemente da oposição que venha a deduzir, pagar ou
indicar bens à penhora no prazo de 10 dias;

36
Com declaração de rectificação n.º 7/99, de 16 de Fevereiro; e alterada pelos seguintes diplomas: Lei
n.º 101/99, de 26-07; Dec. Lei n.º 323/2001, de 17/12 e Dec. Lei n.º 38/2003, de 8 de Março.
37
À parte a citação prévia, o momento da realização constitui uma excepção ao regime regra estabelecido
no n.º 1 do art.º 864.º, segundo o qual o executado é citado no momento da penhora ou, quando não esteja
presente, num dos cinco dias seguintes.
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Com a expressa advertência de que fica sujeito a uma sanção pecuniária


compulsória38 de montante correspondente a 1% da dívida por cada mês
passado até à descoberta de bens, a partir da data em que ele omitir a
indicação de bens ou fizer declaração alguma, cuja falsidade se venha a
comprovar em razão do posterior conhecimento de bens naquela data
(cfr. art.ºs 833.º, n.ºs 5 e 7 do CPC).

A falta de pagamento ou de indicação de bens pelo executado importa a


suspensão instância de forma semelhante à prevista no n.º 3 do art.º 832.º.

Porque o exequente não tem conhecimento desta suspensão, afigura-se-nos


que na circunstância o agente de execução deve notificá-lo, com a informação adicional
de que o processo ficará parado a aguardar o seu impulso processual (cfr. art.ºs 833.º, n.º
6 e 265.º, n.º 1) e que se este não ocorrer nos primeiros três meses implicará a remessa
do processo à conta, ficando as custas a seu cargo, nos termos dos art.ºs 51.º, n.º 2-b) e
47.º, n.º 3 do Código das Custas Judiciais.

Realização da penhora

No regime cessante, a penhora incidia sobre os bens nomeados à penhora pelo


executado ou pelo exequente.
No futuro, independentemente da indicação dos bens feita no requerimento
executivo e à parte os casos de falta de bens abordados antes (art.ºs 832.º, n.º 3 e 833.º,
n.ºs 4 a 7), cabe ao agente de execução escolher os bens a penhorar, considerando, como
já referido, os limites do n.º 3 do art.º 821.º e do art.º 824.º, sendo caso disso, e
considerando especialmente a facilidade de realização do crédito exequendo.
Norma excepcional é o n.º 2 do art.º 834.º, que admite a penhora, por excesso,
de imóvel ou de estabelecimento comercial, quando no universo patrimonial do
executado não existirem bens cuja penhora se preveja não garantir a satisfação integral
do devido no prazo de 6 meses.
Se a dívida ascender a € 25.000,00 e o executado apenas possuir um prédio
urbano (casa de habitação) de valor estimado em € 50.000,00 e um automóvel de valor
estimado em € 13.000,00, a citada norma permite a penhora do imóvel, embora de valor
excessivo relativamente ao devido, deixando livre o automóvel, por não ser crível que a
sua venda satisfaça o crédito exequendo.

De entre os bens passíveis de penhora, o agente de execução escolherá e dará


preferência àqueles cujo valor pecuniário seja de mais realização – cfr. n.º 1 do art.º
834.º.
A conjugação dos n.ºs 1e 2 deste artigo sugere em termos abstractos ao agente
de execução que a penhora dos depósitos bancários, abonos, vencimentos, salários,
rendas, preceda a de bens móveis, sujeitos ou não a registo, seguindo-se a dos
estabelecimentos comerciais, imóveis e direitos.

38
O valor desta sanção é repartida equitativamente pelo exequente e pelo Estado (cfr. art.º 829.º-A, n.º 3
do Cód. Civil).
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No entanto, porque cada caso é um caso não é sensato qualificar-se esta leitura
como uma regra de precedências.

Estando em causa a cobrança de dívida com garantia real que onere certos
bens do executado, caberá ao agente de execução escolher os bens a penhorar, mas,
somente após a comprovada insuficiência dos bens dados em garantia – art.º 835.º, n.º 1.

Outrossim, a penhora de quinhão de património autónomo (ex. herança) ou


de direito sobre bem indiviso (ex. imóvel em compropriedade) precede a de outros
bens se os restantes quinhões ou direitos já se encontrarem penhorados na mesma ou em
diferentes execuções, determinando a venda conjunta e única no processo em que se
tiver realizado a primeira penhora – cfr. art.ºs 835.º, n.º 2 e 826.º.

Sendo penhorados bens que estejam na posse de terceiro (cfr. art.º 831.º), o
agente de execução deverá averiguar se tal facto advém de direito de retenção ou de
penhor e na afirmativa, consigna-o no auto de penhora e identifica o terceiro39, tendo em
vista a sua ulterior citação aquando da convocação dos credores (registados ou
conhecidos), nos termos do art.º 864.º, n.ºs 1 e 9.

Reforço ou substituição

Efectuada a penhora, é possível reforçá-la através por via da penhora de mais


bens - o que pode acontecer a requerimento do exequente - ou substituí-la pela penhora
de outros bens, nuns casos a pedido do exequente, noutros a requerimento do executado.
Senão vejamos como dispõem os n.ºs 3 e 5 do art.º 834.º:
3 – A penhora pode ser reforçada ou substituída nos seguintes casos:
a) Quando o executado requeira, no prazo da oposição à penhora, a substituição dos
bens penhorados por outros que igualmente assegurem os fins da execução, desde que a
isso não se oponha fundadamente o exequente;(cfr. art.º 863.º-B)
b) Quando seja ou se torne manifesta a insuficiência dos bens penhorados;
c) Quando os bens penhorados não sejam livres e desembaraçados e o executado tenha
outros que o sejam;
d) Quando sejam recebidos embargos de terceiro contra a penhora, ou seja a execução
sobre os bens suspensa por oposição a esta deduzida pelo executado;(cfr. art.º 356.º)
e) Quando o exequente desista da penhora, por sobre os bens penhorados incidir
penhora anterior;

39
Estas referências são feitas em “18 - Observações” do auto de penhora de modelo aprovado pela
Portaria n.º 700/2003, de 31 de Julho.
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f) Quando o devedor subsidiário, não previamente citado, invoque o benefício da


excussão prévia.(cfr. art.º 828.º)
5 – O executado que se oponha à execução pode, no acto da oposição, requerer a
substituição da penhora por caução idónea que igualmente garanta os fins da execução.
(cfr. art.º 813.º)

Estatui ainda o n.º 4 que em caso de substituição, e sem prejuízo do levantamento da


penhora a requerimento do devedor subsidiário nos termos previstos no n.º 4 do artigo
828.º, só depois da nova penhora é levantada a que incide sobre os bens substituídos.

O auto de penhora

Sobre a penhora é lavrado auto40 de modelo aprovado pela Portaria n.º


700/2003, de 31 de Julho, sob o comando do art.º 836.º CPC, no qual deverão constar,
além dos elementos identificadores das partes, do processo, da quantia exequenda, e dos
prédios penhorados (os quais deverão ser identificados tal como se encontram registados e
considerando o disposto no n.º 5-a) do art.º 810.º), a data e a hora da realização, que se revestem
de particular importância para a determinação do processo principal quando se sucedam
penhoras sobre os mesmos bens em processos diferentes (cfr. art.º 871.º) ou para a
determinação do processo em que há-de ser realizada a venda única no caso previsto no
art.º 826.º, n.º 2.
Sendo vários os bens, descrever-se-ão por meio de verbas numeradas
sequencialmente.

O auto de penhora é lavrado pelo agente de execução designado na execução –


cfr. art.º 838.º, n.º 3 -, salvo nos casos previstos no n.º 5 do art.º 808.º, em que o auto
será lavrado não pelo agente de execução designado, mas, pelo solicitador de execução
ou oficial de justiça que realizarem o acto a solicitação do agente.

Penhora de imóveis

Antes de mais, importa sublinhar que as regras estabelecidas para a penhora de


imóveis aplicam-se subsidiariamente à penhora de bens móveis e de direitos (cfr. art.ºs
855.º e 863.º).

A penhora de coisas imóveis41 efectua-se nos termos gerais ou por


comunicação electrónica enviada pelo agente de execução e dirigida à conservatória

40
O modelo aprovado serve para a penhora de imóveis (art.º 838.º, n.º 3), móveis (849.º e 851.º, n.º 1) e
estabelecimentos comerciais (art.º 862.º-A, n.º 1).
41
Art.º 204.º do Cód. Civil: 1 - São coisas imóveis os prédios rústicos e urbanos; as águas; as árvores, os
arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados a solo; os direitos inerentes aos imóveis
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do registo predial competente42, valendo a comunicação como apresentação para o


efeito da inscrição no registo – cfr. art.º 838.º, n.º 1 – e só depois de receber da
conservatória a respectiva certidão43 dos direitos e encargos sobre o prédio penhora ou
fotocópias com o mesmo valor (cfr. art.ºs 838.º do CPC; 110.º e 111.º, n.ºs 1 e 5 do
Código do Registo Predial) é que o agente de execução lavra o respectivo auto de
penhora e procede à afixação do edital de modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003,
de 31 de Julho, na porta ou noutro local visível do imóvel (cfr. n.º3 do art.º 838.º).
A certidão não é emitida oficiosamente pela Conservatória. Carece de ser
requisitada pelo agente de execução ou pelo exequente de acordo com o n.º 1 do art.º
111.º do CRP, podendo, no entanto, ser pedidas verbalmente fotocópias com valor de
certidão dos registos (n.º 5 do citado artigo).

Não sendo por comunicação electrónica, o registo da penhora efectua-se a


pedido do agente de execução em impresso de modelo aprovado, nos termos do art.º
41.º do Código do Registo Predial, entregue ou enviado pelo correio, nos termos dos
art.ºs 60.ºe 65.º do mesmo Código.

O registo da penhora é considerado acto urgente (cfr. art.ºs 838.º, n.º 5 do CPC
e 75.º, n.º 3 do CRP) e perde eficácia se o preparo devido não for pago pelo exequente
ou pelo agente de execução, dentro do prazo de 15 dias a contar da notificação do
exequente para o efeito realizada pela Conservatória – cfr. art.º 838.º, n.º 6 do CPC
conjugado com os art.ºs 69.º, n.º 1-f), 150.º e 151.º, todos do CRP e 8.º do Regulamento
Emolumentar dos Registos e Notariado, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 322-A/2001, de
14 de Dezembro, com as alterações introduzidas o Decreto-Lei n.º 194/2003, de 23 de
Agosto.
Nas execução por custas, multas e outras quantias liquidadas e nas execuções
em que o exequente seja entidade isenta de custas ou beneficie do apoio judiciário na
modalidade de dispensa total, o pagamento do preparo pode constituir um obstáculo ao
prosseguimento da acção executiva derivado da eventual indisponibilidade orçamental
da delegação do Cofre Geral dos Tribunais (junto do tribunal da execução), quiçá
ultrapassável através da dispensa do preparo por parte do conservador44.

O valor do auto de penhora é agora meramente formal, já que o momento da


sua elaboração ocorre já depois de efectuada a penhora, acto este que se limita à

mencionados nas alíneas anteriores; as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos. 2 - Entende-se
por prédio rústico é uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham
autonomia económica e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que
lhe sirvam de logradouro. 3 - É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao prédio com
carácter de permanência.
42
Art.º 48.º, n.º 1 do Cód. Reg. Predial (com a redacção dada pelo Dec. Lei n.º 38/2003, de 8/3):”O
registo da penhora pode ser feito oficiosamente, com base em comunicação electrónica do agente de
execução, condicionada, sob pena de caducidade, ao pagamento do respectivo preparo, no prazo de 15
dias, após a notificação do exequente para o efeito; tem natureza urgente, importando a imediata feitura
das inscrições pendentes.”
43
Os “certificados” desapareceram com o Decreto-Lei n.º 49063, de 12 de Junho de 1969.
44
“Os conservadores e notários podem exigir, a título de preparo, o pagamento antecipado do custo
provável dos actos a praticar nos respectivos serviços” – art.º 8.º do Regulamento Emolumentar dos
Registos e Notariado.
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inscrição no registo, quer a título provisório ou definitivo (cfr. art.ºs 70.º, 92.º e 101.º do
CRP).

Enquanto o registo provisório não passar a definitivo, a execução prossegue os


trâmites normais, salvo decisão contrária do juiz sobre questão submetida à sua
apreciação pelas partes ou pelo agente de execução, mas, em qualquer circunstância,
fica impedida a adjudicação dos bens (cfr. art.º 875.º e segs.), a consignação judicial dos
respectivos rendimentos (cfr. art.º 879.º e segs.) ou a venda (cfr. art.ºs 886.º e segs.).

Depositário

Em regra, o cargo de depositário é atribuído ao agente de execução ou quando


este seja oficial de justiça, o depósito é confiado a pessoa por ele designada – cfr. art.º
839.º, n.º 1.

Casos especiais:
O próprio executado, mediante o consentimento do exequente ou
quando o imóvel penhorado seja a sua casa de habitação – al.ª a);
O arrendatário em caso de imóvel arrendado. Sendo vários os
arrendatários, o agente de execução escolherá um a quem caberá,
também, cobrar as rendas e depositá-las numa instituição de crédito à
ordem do solicitador de execução ou da secretaria de execução nas
execuções em que o agente de execução seja oficial de justiça – al.ª b)
e n.º 2;
O retentor relativamente a bem penhorado que seja objecto de direito
de retenção derivado de incumprimento contratual judicialmente
verificado – al.ª c).

Posse dos bens


O depositário deve tomar posse efectiva dos bens penhorados cuja entrega
constará do auto de penhora, a menos que o cargo incumba ao próprio executado, caso
em que apenas se fará menção do facto.

Se o imóvel estiver com as portas encerradas ou quando seja oferecida alguma


resistência ou se preveja que tal venha a acontecer, deve o agente de execução solicitar
ao juiz que determine a requisição do auxílio de força pública, arrombando-se as portas,
se necessário, e lavrando-se auto de ocorrência – art.º 840.º, n.º 2 -, diligências estas que
só poderão realizar-se entre as 7 e as 21 horas no caso de se tratar de casa habitada ou
duma dependência desta.

Deveres e direitos
Estabelece o art.º 843.º que ao depositário incumbem, além dos deveres gerais
de zelo definidos nos art.ºs 1187.º e seguintes do Código Civil, o dever de administrar
os bens e a obrigação de prestar contas (cfr. art.º 1023.º), podendo o agente de
execução/solicitador de execução socorrer-se de colaboradores para o auxiliarem no
desempenho do cargo, sob a sua responsabilidade (cfr. art.º 1198.º do Cód. Civil).

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A exploração dos bens penhorados é feita nos termos acordados entre


exequente e executado, e na falta de acordo compete o juiz decidir, depois de ouvidos o
depositário e feitas outras diligências consideradas necessárias.
Ao depositário é devida a remuneração que vier a ser fixada pelo juiz, até 5%
do valor da execução ou dos bens por si administrados se este for inferior

Incidente de remoção
O depositário que deixar de cumprir escrupulosamente os seus deveres pode
ser removido pelo juiz a requerimento do exequente, do executado, do cônjuge deste
(cfr. art.º 864.º-A), de qualquer credor reclamante ou até de terceiro que tiver deduzido
embargos de terceiro – cfr. art.º 845.º.
Esta remoção não se aplica ao depositário agente de execução/solicitador de
execução, sem prejuízo da possibilidade de poder ser destituído nos termos previstos no
n.º 4 do art.º 808.º.
Apresentado e junto o requerimento ao processo executivo, o depositário é
oficiosamente notificado pela secretaria para responder no prazo de 10 dias, após o que
é processo concluso ao juiz para prosseguimento dos trâmites normais dos incidentes de
instância regulados nos art.ºs 302.º a 304.º.

Conversão de arresto em penhora

Se os bens a penhorar tiverem sido anteriormente arrestados, a penhora


consiste na conversão do arresto por despacho do agente de execução, com efeitos
reportados à data do arresto (cfr. art.ºs 822.º, n.º 2 do CC e 846.º do CPC).

Levantamento da penhora

Além dos casos previstos nos art.ºs 832.º, 833.º, tal como quando proceda a
oposição à execução (cfr. art.º 863.º-B, n.º 4), a penhora pode ser levantada a
requerimento do executado com fundamento na inércia negligente do exequente
causadora da paragem da execução durante seis meses, paragem essa que não é
quebrada pelos procedimentos atinentes à contagem do processo nos termos do art.º
51.º, n.º 2-b) do CCJ e aos pagamentos das custas (cfr. art.º 847.º n.ºs 1 e 2).
Também qualquer credor reclamante, a partir do termo do primeiro trimestre
decorrido após o início da imobilidade do exequente, pode praticar o acto deixado de
praticar pelo exequente promovendo assim o andamento do processo relativamente aos
bens sobre os quais o credor detenha garantia real (cfr. art.º 920.º, n.º 3) até que o
exequente retome a prática normal dos actos subsequentes – cfr. art.º 847.º, n.º 3.

Penhora de móveis

A reforma diferencia claramente a penhora de coisas móveis sujeitas a registo


(cfr. art.ºs 851.º a 854.º) da que incide sobre os móveis não sujeitos a registo (cfr. art.ºs
848.º a 850.º).

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Os bens móveis não sujeitos a registo são penhorados, apreendidos e


imediatamente removidos para depósitos (públicos45 ou não), presumindo-se do
executado os bens encontrados em seu poder, presunção esta que o executado pode
refutar perante o juiz, depois de efectuada a penhora, exibindo documentos
comprovativos de direitos de terceiros, os quais podem igualmente reagir, mas, pela via
do embargo de terceiro (cfr. art.º 848.º, n.º 2 e 351.º).
Este requerimento é oficiosamente notificado ao exequente para dizer o que se
lhe oferecer no prazo de 10 dias (cfr. art.ºs 3.º e 3.º-A, 153.º e 229.º, n.º 2), após o que se
fará o processo concluso ao juiz.

Havendo necessidade de forçar a entrada no domicílio do executado ou de


terceiro (quando estiver em causa a penhora de bens do executado em poder de terceiro – art.º 831.º)
ou se se previr que tal venha a ser necessário, o agente de execução requer ao juiz que
determine a requisição do auxílio de força pública (PSP ou GNR).

O auto de penhora

No auto de penhora relatar-se-ão todas ocorrências.

Da penhora é lavrado auto46 de modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003,


de 31 de Julho, sob o comando do art.º 836.º CPC, no qual deverão constar, além dos
elementos exigidos pelas disposições conjugadas dos art.ºs 849.º e 810.º, n.º 5-b), a data
e a hora da realização, as quais se revestem de particular importância para a
determinação do processo principal quando se sucedam penhoras sobre os mesmos bens
em processos diferentes (cfr. art.º 871.º).

O auto de penhora é lavrado pelo agente de execução designado na execução –


cfr. art.º 838.º, n.º 3 -, salvo nos casos previstos no n.º 5 do art.º 808.º, em que o auto
será lavrado não pelo agente de execução designado, mas, pelo solicitador de execução
ou oficial de justiça que realizar o acto a solicitação do agente.

Sendo vários os bens, descrever-se-ão47 sumariamente por meio de verbas


numeradas sequencialmente, atribuindo-se a cada verba (bem) um valor aproximado,
podendo o agente de execução recorrer directamente a um perito, quando a avaliação
exigir conhecimentos especiais.
Aqui, sendo oficial de justiça o agente de execução, deverá ser notificado o
exequente para efectuar o necessário preparo para despesas (cfr. art.ºs 43.º e 44.º), a
menos que deles esteja isento ou dispensado do pagamento de custas por beneficiar do
apoio judiciário, casos em que as despesas da avaliação serão adiantadas pelo Cofre
Geral dos Tribunais, sem prejuízo do direito de reembolso (cfr. art.ºs 147.º al.ª a) do
Código das Custas Judiciais e 455.º do CPC).

45
Os bens removidos para depósitos públicos são lá vendidos – cfr. art.º 907.º-A
46
O modelo aprovado serve para a penhora de imóveis (art.º 838.º, n.º 3), móveis (849.º e 851.º, n.º 1) e
estabelecimentos comerciais (art.º 862.º-A, n.º 1).
47

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O exequente pode cooperar com o agente de execução, facultando os meios


necessários à apreensão dos bens, e as despesas que suportar sairão precípuas do
produto da penhora (cfr. art.ºs 848.º-A e 455.º).

No caso de o executado ou alguém por si recusar-se as portas da casa ou dos


móveis ou ainda se a casa se encontrar deserta, o agente de execução deverá requerer ao
juiz que determine a requisição de força pública nos termos previstos para a entrega
efectiva de imóvel – cfr. art.ºs 850.º, n.º 1 e 840.º.

Ocultação e sonegação de bens

Quem ocultar ou sonegar bens no intuito de os afastar da penhora fica sujeito


às sanções correspondentes à litigância de má fé a aplicar pelo juiz (cfr. art.ºs 456.º e
457.º), em face das informações prestadas pelo agente de execução, sem prejuízo de
eventual procedimento criminal.

O dinheiro, papéis de crédito, pedras e metais preciosos são apreendidos e


depositados numa instituição de crédito à ordem do solicitador de execução designado,
ou na Caixa Geral de Depósitos à ordem da secretaria, quando se tratar de oficial de
justiça, em obediência ao disposto no art.º 124.º, n.º 4 do Código das Custas Judiciais e
os artigos 13.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 694/7048, de 31 de Dezembro, normas
estas que definem o regime dos depósitos nesta instituição de crédito.

Depositário

Dos bens móveis penhorados é sempre depositário o agente de execução que


efectuar a diligência (solicitador de execução ou oficial de justiça), o que já não
acontece nos imóveis ou nos direitos.
No entanto, revelando-se impossível a remoção dos bens, afigura-se-nos a
possibilidade de o agente de execução nomear depositário o executado, uma vez obtido
o consentimento do exequente, ou outra pessoa idónea por si (cfr. art.ºs 839.º, n.º 1 e
855.º).

Além dos deveres gerais estabelecidos nos art.ºs 1187.º e seguintes do Cód.
Civil, o depositário de bens móveis fica obrigado a mostrá-los a qualquer pessoa,
quando tal lhe for ordenado – cfr. art.º 854.º, n.º 1. Se não o fizer dentro do prazo de 5
dias nem justificar as razões da falta, o agente de execução dará conhecimento do facto
ao juiz com o fito de ser decretado arresto em bens do depositário faltoso para garantia
do valor do depósito (valor atribuído no auto de penhora aos bens em causa), as custas e
as despesas, arresto que será levantado logo que os bens sejam apresentados ou que
sejam pagos os valores atrás referidos, sendo as custas calculadas de imediato.

48
Mantidos em vigor pelo art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 287/93, de 20 de Agosto,
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Simultaneamente, o juiz ordena ainda


A extracção de certidão dos autos e a entrega ao
Ministério Público para efeitos de procedimento criminal;
E ordena o prosseguimento da execução, também, contra
o depositário infiel.

Penhora de coisas móveis sujeitas a registo

A penhora destes bens efectua-se por comunicação electrónica dirigida à


conservatória competente (comercial ou automóvel), na sequência do que será feito o
registo e tudo o mais previsto no art.º 838.º para os imóveis.
Tal como nos imóveis, também a penhora destes bens pode realizar-se nos
termos gerais, ou seja, através do preenchimento dos impressos próprios e entregues em
mão ou enviados sob registo postal às entidades competentes para o registo.

Navios
Tratando-se de navio despacho para viagem, a comunicação electrónica é
enviada à conservatória do registo comercial, atento o disposto nos art.ºs 2.º e 4.º-f) do
Dec. Lei n.º 42644, de 14 de Novembro49, diploma mantido em vigor pelo art.º 5.º do
Dec. Lei n.º 403/86, de 3 de Dezembro,
Nos termos do n.º 2 do art.º 830.º, o navio considera-se despachado para
viagem logo que esteja em poder do respectivo capitão o desembaraço passado pela
capitania do porto.

Os navios mercantes estão ainda sujeitos a um registo de carácter


administrativo junto das capitanias dos portos, nos termos dos art.ºs 1.º, 3.º, 72.º, n.º 1,
73.º, n.º 1 e 78.º do Regulamento Geral das Capitanias, aprovado pelo Dec. Lei n.º
265/72, de 31 de Julho, alterado pelo Dec. Lei n.º 208/2002, de 2 de Setembro.

A requerimento do exequente ou de qualquer credor ou ainda depositário, pode


o juiz autorizar o navio penhorado a navegar.
O pedido do depositário é atendido se exequente e executado estiverem de
acordo.
Nos outros casos, o pedido pode ser deferido independentemente do acordo
das partes, mediante a garantia de caução prestada pelo exequente ou credor que
requerer a navegação e dum seguro usual contra os riscos, após o que o navio é entregue
ao requerente que se constituirá como depositário, comunicando-se a decisão à capitania
do porto – art.º 853.º.

A penhora que incida apenas sobre as mercadorias carregadas no navio,


rege-se pelas disposições do artigo 830.º e das relativas à penhora dos bens móveis
(sujeitos ou não a registo) ou de direito consoante a natureza dos bens encontrados.

49
O art.º 5.º do Dec. Lei n.º 403/86, de 3/12, que aprovou o Código do Registo Comercial, manteve em
vigor o diploma em anotação.
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Aeronaves
Tratando-se de aeronave, a comunicação electrónica é dirigida ao Instituto
Nacional de Aviação Civil, que é a entidade competente para o registo nos termos do
art.º 6.º, al.ª i) do Dec. Lei n.º 133/98, de 15 de Maio, com as alterações introduzidas
pelo Dec. Lei n.º 145/2002, de 21 de Maio, seguida de notificação à entidade
responsável pelo controlo das operações onde ela se encontrar estacionada, com a dupla
finalidade de comunicar a penhora e para proceder à apreensão dos respectivos
documentos.

Veículos automóveis

A penhora de veículo automóvel faz-se por comunicação electrónica nos


termos gerais perante a conservatória do registo automóvel, acompanhada da sua
apreensão, seguida da aposição do selo aprovado pela Portaria n.º 700/2003, de 31 de
Julho, e da apreensão dos respectivos documentos, de tudo se lavrando o respectivo auto
de penhora, cabendo ao agente de execução atribuir um valor ao bem.

A apreensão do veículo e dos documentos pode ser solicitada a qualquer


autoridade administrativa ou policial nos termos do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de
Fevereiro.

Não sendo possível imobilizar o veículo, cabe ao agente de execução,


senecessário, com a cooperação do exequente, removê-lo para outro local e confiar a
sua guarda a depositário por si escolhido.

Penhora de direitos

Vimos até aqui a penhora sobre coisas corpóreas – imóveis ou móveis.


Mas, a penhora pode incidir também sobre coisas incorpóreas – direitos.
Sobre a penhora de direitos versam os art.ºs 856.º a 863.º, divididos consoante
as especificidades, a saber:
- Créditos – art.ºs 856.º a 860.º;
- Direitos ou expectativas de aquisição – art.º 860.º-A;
- Rendas, abonos, vencimentos ou salários – art.º 861.º;
- Depósitos bancários – art.º 861.º-A;
- Direitos a bens indivisos- art.º 862.º;
- Quotas em sociedades – art.º 862.º;
- Estabelecimento comercial – art.º 862.º-A.

Um dos aspectos que caracteriza a penhora de direitos consiste na notificação


como forma de realização, regendo-se pelas disposições próprias e subsidiariamente
pelas disposições relativas à penhora de imóveis e de móveis – art.º 863.º.

Penhora de créditos

Efectua-se por notificação ao devedor do executado, segundo o formalismo da


citação, ou por outras palavras, a notificação processa-se como a citação pessoal, a qual,
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como é sabido, começa pela via postal e vai até ao contacto pessoal por solicitador de
execução ou oficial de justiça, consoante o caso (cfr. art.ºs 233.º, n.ºs 2 e 4 e 808.º, n.º
1).
Este devedor (terceiro) é assim notificado de que o crédito do executado fica à
ordem do agente de execução e que dispõe dum prazo de 10 dias (prorrogável com
fundamento justificado) para declarar se o crédito existe ou não e, na afirmativa, quais
as garantias que o acompanham, em que data se vence e quaisquer outras circunstâncias
que possam interessar à execução – cfr. art.º 865.º, n.ºs 1 e 2 -, sendo advertido nos
termos e para os efeitos dos art.ºs 856.º, n.ºs 3 e 4 e 860.º, n.º 4.
Sendo a notificação feita por contacto pessoal, o notificando pode prestar as
declarações no próprio acto, as quais serão transcritas na certidão pelo agente de
execução.

Estando o crédito garantido por penhor de coisas (cfr. art.ºs 669.º e seguintes
do Cód. Civil), faz-se a apreensão dos próprios bens empenhados nos termos da penhora
de bens móveis. Tratando-se de penhor de direitos (cfr. art.ºs 679.º e seguintes do CC),
são os direitos transferidos para a execução por via da notificação das notificações aos
terceiros, nos termos da penhora de direitos.
Se o crédito estiver garantia por hipoteca, a penhora será registada por
averbamento à respectiva inscrição – cfr. art.ºs 856.º, n.º 6 do CPC; 2.º, n.º 1-o) e 101.º,
n.º 1-a), ambos do Código do Registo Predial.

Actos subsequentes consoante o comportamento do terceiro devedor

Contesta a existência crédito


Se o terceiro devedor contestar ou negar a existência do crédito, o agente de
execução notifica o exequente e o executado para responderem no prazo de 10 dias,
sendo o primeiro advertido para declarar se pretende a manutenção da penhora ou se
desiste dela, e que no caso de pretender mantê-la, o crédito considerar-se-á litigioso50 e
como tal será adjudicado ou transmitido (cfr. art.ºs 858.º), considerando-se efectuada a
penhora na data da primitiva notificação.
Optando pela desistência do crédito, a penhora deve ser levantada, dando-se ao
exequente, quando necessário, a possibilidade de indicar outros bens, nos termos do art.º
834.º, n.º 3 al.ªs b) e e).

Alega que a obrigação depende de prestação do executado

O executado é notificado para confirmar ou infirmar o terceiro devedor.

Se confirmar ou nada disser e a prestação já estiver vencida, o agente de execução


despacha e notifica o executado para satisfazê-la no prazo de 15 dias (cfr. art.º 859.º, n.º
1).

50
“Diz-se litigioso o direito que tiver sido contestado em juízo contencioso, ainda que arbitral, por
qualquer interessado” – cfr. n.º 3 do art.º 579.º do Código Civil.

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Perante o incumprimento da prestação pelo executado, pode o exequente ou o


terceiro devedor exigir o cumprimento, por apenso à acção executiva, servindo de título
executivo o despacho do agente de execução (cfr. art.º 859.º, n.º 2 e 4).
Em alternativa, pode também o exequente substituir-se ao executado no
cumprimento da prestação, ficando, nesse caso, sub-rogado nos direitos daquele terceiro
devedor – art.º 859.º, n.º 2.

Refutando a afirmação do terceiro devedor, o agente de execução notifica o


exequente para se pronunciar no prazo de 10 dias, nos termos e para os efeitos do art.º
858.º, n.ºs 1 e 2, sendo o primeiro advertido para declarar se pretende manter a penhora
ou se desiste dela, e que no caso de pretender mantê-la, o crédito será considerado
litigioso, embora com a incerteza relativamente à dependência de prestação por parte do
executado, e como tal será adjudicado ou transmitido (cfr. art.ºs 858.º), considerando-se
efectuada a penhora na data da primitiva notificação – cfr. art.º 859.º, n.º 3.
Optando pela desistência do crédito, a penhora deve ser levantada, dando-se ao
exequente, quando necessário, a possibilidade de indicar outros bens, nos termos do art.º
834.º, n.º 3 al.ªs b) e e).

Depósito ou entrega da prestação devida

Vencendo-se a dívida antes de ultimada a fase de pagamentos, o terceiro-devedor


é notificado para depositar a importância numa instituição de crédito à ordem do
solicitador de execução ou na Caixa Geral de Depósitos à ordem da secretaria de
execução, no caso do agente de execução ser oficial de justiça, entregando ao agente
executivo o respectivo documento comprovativo – art.º 860.º, n.º 1 -, podendo, em
alternativa, entregar a coisa ao agente de execução, que dela ficará depositário.

Se o crédito estiver vendido ou adjudicado, a prestação é entregue ao respectivo


adquirente (cfr. art.º 860.º, n.º 1).

Se o terceiro-devedor não cumprir a obrigação, pode o exeqte. ou o adquirente


exigir a prestação, servindo de título executivo:
Se o crédito não está vendido ou adjudicado - a declaração de
reconhecimento do devedor, a notificação efectuada e a falta de declaração;
Se o crédito já estiver vendido ou adjudicado - o título de aquisição do
crédito – cfr. art.º 860.º, n.º 3.

Penhora de direitos ou expectativas de aquisição

Diz-nos o n.º 1 do art.º 860.º-A, que são-lhe aplicáveis as disposições relativas à


penhora de créditos, o que vale por dizer, que a penhora se constitui por notificação do
terceiro (segundo as regras da citação), nos termos do art.º 856.º.
E se o objecto a adquirir estiver na posse ou detenção do executado, será o
próprio objecto apreendido nos termos previstos para a penhora de imóveis ou móveis,
consoante a sua natureza.
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Exemplo:
Se o executado tiver adquirido um veículo automóvel
a prestações, com reserva de propriedade (cfr. art.º 934.º
do CC), o agente de execução procede à penhora da
seguinte forma:
Notifica o vendedor que o direito do executado
sobre o automóvel51 fica à ordem do agente de
execução, e tudo o mais prescrito no art.º 856.º, com
as necessárias adaptações;
Apreende52 o veículo automóvel (e os
documentos) nos termos do art.º 851.º, o qual deverá
estar na posse do executado, e se necessário remove-
o e confia-o a depositário por si designado;
E atendendo a que uma das principais finalidades
do registo é publicitar a situação jurídica dos bens e
uma vez que o veículo automóvel é bem móvel
sujeito a registo, também a penhora de um direito
sobre ele deve ser registada na competente
conservatória do registo automóvel.

Consumando-se a aquisição na pendência da acção executiva, a penhora


anteriormente efectuada passa a incidir na penhora do próprio bem, que, recorde-se, já
foi apreendido, facto que não dispensa o agente de execução de efectuar a comunicação
electrónica à respectiva conservatória ou em alternativa proceda ao registo da penhora
nos termos gerais, pagando o respectivo preparo53, e de lavrar o auto de penhora depois
de receber da conservatória a certidão dos ónus e encargos.

Penhora de rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros rendimentos


periódicos

Tal como as penhoras anteriormente afloradas, é igualmente pela notificação do


terceiro devedor que se efectua a penhora destes bens – art.º 861.º, n.º 1.

Assim, o terceiro devedor será o locatário relativamente à penhora de rendas; o


empregador ou entidade patronal relativamente à penhora de vencimentos ou de salários
(incluindos estão os funcionários os agentes da administração pública, relativamente aos
quais desapareceu o regime diferenciado de penhora); ou outras entidades no tocante a
abonos ou outros rendimentos periódicos.

51
O direito do executado consiste grosso modo na aquisição da propriedade do veículo depois de o pagar
integralmente ao vendedor ou
52
Não se confunda esta apreensão com a penhora, porque o bem pertence a terceiro pessoa.
53
Cfr. penhora de imóveis e móveis sujeitos a registo – art.ºs 838.º e 851.º.
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O agente de execução notifica (segundo as regras da citação) o terceiro devedor


para descontar, nas quantias que ele tiver de pagar, o valor calculado pelo agente de
execução respeitando os limites dos art.ºs 821.º e 824.º e depositá-los numa instituição
de crédito à ordem do agente de execução.
Sendo oficial de justiça o agente de execução, a entidade é notificada para
depositar os descontos na Caixa Geral de Depósitos à ordem da secretaria judicial –
art.ºs 861.º, n.º 2 do CPC e 124.º do Código das Custas Judiciais.

Dado importante a considerar é que esta penhora, embora se considere


efectuada na data da notificação do terceiro devedor, tem-se por concluída
somente com o depósito dos descontos54.

As quantias descontadas e depositadas mantêm-se indisponíveis até ao termo do


para da oposição à execução (e à penhora) ou, se ela for deduzida, até à decisão que a
julgar improcedente, momentos a partir dos quais o exequente pode requerer ao
agente de execução a entrega das quantias depositadas até perfazerem o montante da
dívida exequenda que tiver sido liquidada no requerimento executivo, deduzindo-se o
valor das despesas da execução estimado nos termos do n.º 3 do art.º 821.º, e
assegurando-se os valores dos créditos reclamados ou dos créditos graduados antes do
exequente, consoante o caso – cfr. art.º 861.º, n.º 3.
De forma semelhante, como veremos a seguir, pode proceder o exequente na
penhora de depósitos bancários (cfr. art.º 861.º-A, n.º 11).

Mas, o exequente ou qualquer credor podem, ainda, requerer ao agente de


execução a adjudicação por entrega directa das quantias descontadas, nos termos do n.º
8 do art.º 875.º.

Penhora de depósitos bancários e de valores mobiliários, escriturais ou


titulados, integrados em sistema centralizado, registados ou depositados em
intermediário financeiro ou registados junto do respectivo emitente

Fugindo à regra geral da não precedência de despacho instituída no n.º 1 do art.º


832.º, a penhora de depósitos bancários carece sempre de despacho do juiz a autorizá-la,
que pode ser fazer parte do despacho liminar quando a ele houver lugar e efectua-se
preferentemente por comunicação electrónica directa para cada uma das instituições
bancárias (cfr. art.º 861.º-A, n.ºs 1 e 5).

Nas execuções em que não haja lugar a despacho liminar, pode revelar-se
prematuro fazer o processo concluso imediatamente após a autuação do requerimento
executivo em face do que pode resultar da consulta prévia nos termos do art.º 832.º (cfr.
n.ºs 3 e 4).

Nas execuções em que agente de execução for oficial de justiça, será através do
H@bilus que estas comunicações se vão processar (envio resposta) bastando ao

54
O valor dos descontos mensais está sujeito aos limites do art.º 824.º.
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operador seleccionar as instituições bancárias para as quais pretende enviar a


comunicação.

O conteúdo da comunicação/notificação assemelha-se à da penhora de direitos


(art.º 856.º), com as seguintes especialidades:
Sendo vários os titulares do depósito, a penhora incide na quota-parte do
executado, que se presume igual à dos restantes (cfr. n.º 2 e art.º 1403.º,
n.º 2 do CC).
Perante o n.º 3, é admissível o envio da comunicação a todas as
instituições legalmente autorizadas, quando se desconheçam as contas ou
as instituições em que elas possam estar constituídas. E se o somatório dos
depósitos penhorados exceder os limites do n.º 3 do art.º 821.º, cabe ao
agente de execução fazer as reduções necessárias e em seguida comunicar
às instituições respectivas, para descativarem as quantias em excesso, com
a seguinte ordem de preferências:
1) Contas a prazo
a) Executado único titular;
b) Menor número de contitulares;
c) Executado 1.º titular de entre vários titulares ou
contitulares;
2) Contas à ordem
a) Executado único titular;
b) Menor número de contitulares;
c) Executado 1.º titular de entre vários titulares ou
contitulares;
A notificação é feita com a menção expressa de que o saldo existente ou a
quota-parte do executado (nos casos de contitularidade), fica “cativado”
desde a data da notificação, podendo apenas ser movimentada pelo agente
de execução até ao limite do n.º 3 do art.º 821.º (dívida exequenda +
despesas previsíveis), para além dos movimentos a débito ou a crédito
resultantes de operações ocorridas antes da penhora (por exemplo,
pagamentos feitos através de cartão de crédito; letras; livranças; cheque
emitido antes da penhora e creditado na conta, cujo saldo só fica
disponível uns dias depois), sendo que as instituições constituem-se
depositárias e como tal responsáveis pelos saldos existentes, incumbindo-
lhes o dever de enviarem para o “tribunal” extractos dos movimentos
efectuados (cfr. art.º 861.º-A, n.ºs 3 e 9);
Identificação do agente de execução e do executado:
o O agente de notificação identifica-se nos termos do n.º 7 do art.º
808.º e identifica o executado pelo nome, domicílio ou sede (se
pessoa colectiva), número do bilhete de identidade ou documento
equivalente (cédula, carta de condução, passaporte, etc.) e número
de identificação fiscal.
o Na falta do B.I. e ou do n.º de identificação fiscal, deve o agente de
execução recorrer à consulta de documentos sujeitos a sigilo
fiscais, requerendo previamente ao juiz a necessária autorização
nos termos do n.º 3 do art.º 833.º;
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Resposta das instituições:


o As entidades notificadas devolvem a resposta (positiva ou
negativa) no prazo de 15 dias (art.º 861.º-A, n.º 7);
Notificação do executado:
o Incumbe à entidades bancárias comunicar ao executado a
efectivação da penhora;

As quantias depositadas e penhoradas mantêm-se indisponíveis até ao termo do


para da oposição à execução (e à penhora) ou, se ela for deduzida, até à decisão que a
julgar improcedente, momentos a partir dos quais o exequente pode requerer ao
agente de execução a entrega das quantias depositadas até perfazerem o montante da
dívida exequenda que tiver sido liquidada no requerimento executivo, deduzindo-se o
valor das despesas da execução estimado nos termos do n.º 3 do art.º 821.º, e
assegurando-se os valores dos créditos reclamados ou dos créditos graduados antes do
exequente, consoante o caso – cfr. art.º 861.º-A, n.º 11.
De forma semelhante, como vimos anteriormente, pode proceder o exequente na
penhora de rendas, salários, vencimentos e outras quantias (cfr. art.º 861.º, n.º 3).

Custos
Para cada instituição notificada estão fixadas no art.º 32.º do Código das Custas
Judiciais (na redacção dada pelo art.º 18.º do Dec. Lei n.º 38/2003, de 8 de Março) as remunerações
a seguir indicadas, as quais entram em regra de custas a título de encargos (cfr. art.º
861.º-A, n.º 10):
Nas comunicações electrónicas:
1/10 UC, quando sejam apreendidos saldos de conta
bancária ou valores mobiliários existentes em nome do
executado;
1/20 UC, quando não haja saldo ou valores em nome do
executado;
Nas comunicações normais (não electrónicas)
O dobro dos valores acima indicados.

Penhora de
quinhão autónomo
direito a bem indiviso não sujeito a registo
direito real de habitação periódica
outro direito real cujo objecto não deva ser apreendido55
quota em sociedade

Comecemos por recordar as restrições à penhora dos próprios bens que integram a
universalidade do património autónomo ou bem indiviso estabelecidas no art.º 826.º.

Diz-nos o n.º 1 do art.º 862.º que a penhora de quinhão em património autónomo


ou direito a bem indiviso não sujeito a registo consiste unicamente na notificação do
facto ao administrador dos bens (cfr. arts.º 985.º, 1047.º, n.º 1 e 2079.º, todos do Cód.

55
Exemplo: penhora da nua propriedade em fracção autónoma.
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Civil), se o houver, e aos contitulares, com expressa advertência de que o direito fica
penhorado à ordem do agente de execução, desde a data da primeira notificação
efectuada a qualquer deles (administrador ou contitulares).

Serão, ainda, notificados de que podem fazer as declarações que entenderem


quanto ao direito do executado, no prazo de 10 dias ou no próprio acto de notificação
quando for por contacto pessoal do agente de execução (cfr. art.º 856.º, n.º 2), e ao
modo de o tornar efectivo, podendo dizer se pretendem que a venda tenha por objecto
todo o património autónomo (ex. herança) ou a totalidade do bem indiviso (cfr. art.º
862.º, n.º 2), e se todos os contitulares forem unânimes na venda total, a ela se
procederá, salvo se o juiz, com base em requerimento de qualquer interessado ou até do
próprio agente de execução, declará-la inconveniente para os fins da execução (cfr. art.º
862.º, n.º 3).
Se algum deles contestar o direito do executado, o agente de execução notificará o
exequente e o executado para, no prazo de 10 dias (cfr. n.º 2 do art.º 858.º e n.º 3 do
art.º 862.º), se pronunciarem sobre o requerimento, seguindo-se os demais trâmites
prescritos no art.º 858.º.

A penhora de direito real de habitação periódica consiste na notificação do


facto ao administrador ou proprietário do empreendimento, responsável pela
administração das unidades de alojamento (cfr. art.º 25.º do Dec. Lei n.º 275/93, de 5 de
Agosto).

Quanto à penhora de outros direitos reais, veja-se o caso da penhora da nua


propriedade duma fracção autónoma a efectuar-se através da notificação do usufrutuário
(cfr. art.º 1439.º e seguintes do Cód. Civil).

Finalmente, a penhora de quota em sociedade constitui-se, segundo o n.º 6 do


art.º 862.º, pela comunicação (electrónica ou normal) à conservatória do registo
comercial competente (cfr. art.º 3.º-f) do Código do Registo Comercial), e
complementa-se com notificação à própria sociedade, aplicando-se, quanto à execução
da quota, os art.ºs 183.º, 222.º e 239.º do Código das Sociedades Comerciais.

PAGAMENTOS

Findo o prazo para a reclamação de créditos (cfr. art.º 865º, n.º 2) a execução
prossegue, independentemente do prosseguimento do apenso da verificação e graduação
de créditos, com as necessárias diligências para a realização do pagamento, mas só
depois de findo o prazo para a sua reclamação (cfr. art.º 873º, n.º 1), com a excepção da

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consignação de rendimentos, que pode ser requerida pelo exequente e deferida logo a
seguir à penhora.

Pagamentos

O pagamento pode efectuar-se numa das seguintes modalidades (cfr. art.º 872º):

a) entrega de dinheiro (cfr. art.º 872º);

b) adjudicação dos bens penhorados (cfr. art.ºs 875º a 878º);

c) consignação judicial dos seus rendimentos (cfr. art.º s 879º a 881º);

d) pagamento em prestações (cfr. art.º s 882º a 885º);

e) produto da venda (cfr. art.º s 886º e segs.)

Entrega de dinheiro (art.º 874º)

Se a penhora recair em moeda corrente, depósito bancário em dinheiro ou outro


direito de crédito pecuniário, o exequente ou qualquer credor que o sobreponha é pago
pelo dinheiro existente até ao montante do seu crédito, tendo sempre em atenção o
previsto no art.º 455º.

Adjudicação (art.º s 875º a 878º)

Esta modalidade de pagamento consiste na possibilidade que o exequente e os


credores reclamantes têm para pedir os bens penhorados não compreendidos nos art.º s
902º e 903º lhe sejam adjudicados como pagamento completo ou parcial do seu crédito,
tendo sempre em atenção, como atrás já foi referido, que as custas saem precípuas do
produto dos bens penhorados (cfr. art.º 455º).

O requerente deve indicar o preço que oferece, não podendo a oferta ser inferior a
70% do valor base dos bens (cfr. art.º 889º, n.º2). Deve ainda juntar ao requerimento da
proposta, um cheque visado à ordem da execução ou do solicitador de execução,
consoante o agente executivo seja funcionário de justiça ou não, no montante de 20% do
valor base dos bens, ou garantia bancária do mesmo valor (cfr. art.º 897º, n.º 1).

Cabe ao agente de execução fazer a adjudicação mas, se à data do requerimento já


estiver anunciada a venda por propostas em carta fechada, esta não é sustada e a
pretensão do requerente só será considerada se não houver pretendentes que ofereçam
preço superior (cfr. art.º 875º, n.º 4).

Requerida a adjudicação, será designado dia e hora para abertura das propostas de
preço superior ao oferecido, notificando-se os preferentes, executado e credores
reclamantes, se os houver.
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A abertura de propostas tem lugar perante o juiz se se tratar de imóveis ou,


estabelecimento comercial, se o juiz o determinar (cfr. art.º 876º).

Se não surgir nenhuma proposta e não aparecer ninguém a exercer o direito de


preferência, aceita-se o preço oferecido pelo requerente. Se houver propostas de
maior preço, observar-se-á o disposto nos art.º s 893º e 894º, ou seja, em princípio
aceita-se o preço de maior valor, em protecção de todos os interessados.

Se o requerimento de adjudicação tiver sido feito depois de anunciada a venda por


proposta em carta fechada e esta não tiver qualquer proposta, são lodo adjudicados os
bens ao requerente (cfr. art.º 877º, n.º 3).

A adjudicação como atrás foi referido, cabe ao agente de execução, a qual é


efectuada nos termos do art.º 890º (cfr. art.º 878º).

Consignação de rendimentos (art.º s 879º a 881º)

Esta modalidade de pagamento pode ser requerida ao agente de execução logo


após a penhora de bens até à venda ou adjudicação, desde que a penhora tenha recaído
em bens imóveis ou móveis sujeitos a registo (cfr. art.º 879º, n.º 1).

Ouvido o executado, se este não requerer a venda, é deferido o requerido ao


exequente, sendo este pago pelo rendimento dos bens.

Se a consignação de rendimentos for deferida antes de se iniciar a fase da


convocação de credores, esta não se realiza (cfr. art.º 879º, n.º 3) uma vez que os bens
não são transmitidos.

A consignação efectua-se por comunicação à Conservatória, através de


comunicação electrónica, sendo o registo efectuado por averbamento (cfr. art.º 879.º, n.º
s 4 e 5).

Pagamento em prestações (art.º s 882º a 885º)

É admissível o pagamento em prestações da dívida exequenda se se verificarem os


seguintes pressupostos:

a) exequente e executado estarem de comum acordo, na suspensão da


instância executiva, que terá de ser requerida até à transmissão do bem
penhorado ou, no caso da venda mediante proposta em carta fechada, até à
aceitação da proposta apresentada;

b) no referido requerimento para pagamento em prestações deve constar o


plano de pagamento acordado.
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Salvo convenção em contrário e sem prejuízo da constituição de outras garantias,


a penhora, já realizada, vai manter-se até integral pagamento (vidé art.º 883º).

Se houver falta de pagamento de qualquer prestação, nos termos acordados, o


exequente requerer o prosseguimento da execução (cfr. art.º 884º).

Se estiver a correr termos um processo de reclamação de créditos, fica sem efeito


a sustação se algum credor reclamante, cujo crédito esteja vencido, requerer o
prosseguimento da execução para satisfação do seu crédito (cfr. art.º 885º, n.º 1).
Ao exequente é facultado o direito de denúncia do acordo, a exercer no prazo de
10 dias após a notificação. Se exercer esse direito, o remanescente do seu crédito será
satisfeito pelo produto da venda do bem penhorado. Se não o exercer, perde o direito de
garantia constituído a seu favor pela penhora e, caso o credor tenha exercido o direito de
prosseguir com a execução, assumindo a posição de exequente, verá a acção executiva
prosseguir apenas para satisfação do seu crédito e os restantes credores reclamantes com
garantia real sobre o bem penhorado (cfr. art.º 885º, n.º s 2 a 4).

MODALIDADES DE VENDA
– ART.º S 886º E SEGS. -

O art.º 886º, n.º 1 prevê quais as modalidades que a venda pode revestir. Assim,
pode consistir:

1ª) proposta em carta fechada (art.º s 889º e segs.);


2ª) venda em bolsas de capitais ou mercadorias (art.º 902º);
3ª) venda directa a pessoas ou entidades que tenham direito a adquirir os bens
(art.º 904º);
4ª) venda por negociação particular (art.º s 904º e 905º);
5ª) venda em estabelecimento de leilões (art.º 906º);
6ª) venda em depósito público ( art.º 907º - A).

A regra da venda de imóveis é a venda por proposta em carta fechada


(cfr. art.º s 889º, n.º 1 e 895º, n.º 2) tendo as outras formas de venda um carácter
excepcional.

Quando não esteja prevista na lei, cabe ao agente de execução a escolha depois
de ouvidos os interessados (cfr. art.º 886º - A) devendo esta decisão ter como
objecto as seguintes questões:

a) modalidade da venda;

b) valor base dos bens a vender;

c) eventual formação de lotes, com vista à venda em conjunto dos bens


penhorados.
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Para a fixação do valor pode o agente de execução efectuar algumas diligências


que considere vantajosas para apurar o valor real dos bens. Esta decisão é notificada a
todos os interessados. Se alguém não concordar compete ao juiz decidir. Desta decisão
não cabe recurso (cfr. art.º 886º - A, n.º s 3 a 5).

VENDA EM PROPOSTA EM CARTA FECHADA


– ART.º S 889º E SEGS. -

Após decisão da venda por proposta em carta fechada, o agente de execução vai
dar publicidade a este acto, através de editais e anúncios e inclusão na página
informática da secretaria de execução (cfr. art.º 890º, n.º 1).

O valor a anunciar para a venda é de 70% do valor base dos bens (cfr. art.º 889º,
n.º 2)

Esta venda efectua-se no tribunal da execução, salvo se o juiz, oficiosamente ou a


requerimento dos interessados, ordenar que tenha lugar no tribunal da situação dos bens
(cfr. art.º 889º, n.º 3).

Designado dia e hora para abertura de propostas pelo agente de execução, após
prévia consulta ao magistrado judicial, é feita pelo mesmo a publicidade da venda
através de editais, anúncios e inclusão na página informática da secretaria de execução
(cfr. art.º 890º, n.1).

Os editais são afixados pelo referido agente de execução, com a antecipação de 10


dias, nas portas da secretaria de execução e da sede da junta de freguesia em que os bens
se situem, bem como na porta dos prédios urbanos a vender (cfr. art.º 890º, n.º 2).

Os anúncios a publicar igualmente pelo agente de execução (cfr. art.º 808º, n.º 1)
são publicados com igual antecipação, em dois números seguidos de um dos jornais
mais lidos da localidade da situação dos bens ou, se na localidade não houver periódicos
ou este se publicar menos de uma vez por semana, de um dos jornais que nela sejam
mais lidos, salvo se o agente de execução, em qualquer dos casos, os achar
dispensáveis, atento ao diminuto valor dos bens (cfr. art.º 890º, n.º 3).

Os bens a vender devem ser mostrados pelo depositário designado (cfr. art.º 839º)
a quem os queira examinar (cfr. art.º 891º).

Devem ser notificados os titulares de direito de preferência legal ou


convencional com eficácia real sobre os bens penhorados, informando – os do dia, hora
e local para a abertura das propostas (cfr. art.º 892º, n.º s 1 e 2).

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Nota: às notificações aplicam-se as regras referente à citação, isto é, por carta


registada com A. R. A não notificação de algum preferente não impede de propor acção
de preferência nos termos do art.º 1410º do C. Civil.

As propostas são entregues na secretaria do tribunal e abertas na presença do juiz,


devendo assistir à abertura o agente de execução e podendo ainda assistir, se quiserem,
o executado, o exequente e credores reclamantes que detenham garantias reais sobre os
bens a vender (cfr. art.º 893º, n.º 1).

Os proponentes devem juntar à sua proposta, como caução, um cheque visado, à


ordem da execução ou do solicitador de execução, consoante o agente de execução
seja funcionário de justiça ou solicitador de execução no montante correspondente a
20% do valor base dos bens, ou garantia bancária no mesmo valor (cfr. art.º 897º, n.º 1).

Se o preço mais elevado for oferecido por mais de um proponente, abre-se logo
licitação entre eles, salvo se declararem que pretendem adquirir os bens em
compropriedade (cfr. art.º 893º, n.º 2).

Após abertura das propostas da licitação ou do sorteio a que haja lugar, são as
mesmas apreciadas pelo exequente, executado e credores que hajam comparecido. Se
nenhum estiver presente, considera-se aceite a proposta de maior valor (cfr.- art.º 894º,
n.º 1).

Aceite alguma proposta, é o proponente notificado para, no prazo de 15 dias,


depositar na execução ou numa instituição de crédito, consoante o agente executivo
seja funcionário de justiça ou solicitador de execução, a totalidade ou parte do preço em
falta com a cominação prevista no art.º 898º (cfr. art.º 897º, n.º s 1 e 2).

Se o proponente não depositar o preço dentro do prazo acima referido, o agente de


execução liquida os valores da responsabilidade do proponente, isto é, o valor que devia
ter sido depositado e que não foi acrescido das despesas referidas no art.º 821º, n.º 3, ou
seja, dos encargos que a falta de depósito deu lugar, devendo requerer perante o juiz
o arresto em bens suficientes para garantir o pagamento do valor em falta, sem
prejuízo de procedimento criminal que haja lugar (cfr. art.º 898º, n.º 1).

Pode porém, o agente de execução, ouvidos todos os interessados na venda,


determinar que esta fique sem efeito, aceitando a proposta de valor imediatamente
inferior ou determinar que os bens voltem a ser vendidos mediante novas propostas
em carta fechada ou por negociação particular. Nesta situação, ao faltoso não é
permitido adquiri-los novamente e perde o valor da caução (cfr. art.º 898º, n.º 3).

Da abertura e aceitação de propostas o agente de execução lavra um auto (cfr. art.º


899º).

Antes da adjudicação do bem, o agente de execução deve interpelar os titulares de


direito de preferência que estejam presentes para que declarem se querem exercer o seu
direito (cfr. art.º 896º, n.º 1).
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Caso se apresente mais de uma pessoa com igual direito de preferência, abre-se
licitação entre elas, sendo aceite o lance de maior valor (cfr. n.º 2 do art.º 896º).

Aos preferentes que pretendam exercer esse direito aplicam-se as regras,


devidamente adaptadas, do art.º 897º, n.º 1, isto é, a caução dos 20% sobre o valor
base dos bens, devendo depositar o remanescente do valor no prazo de 15 dias, à
ordem da execução ou em instituição bancária à ordem do solicitador de execução,
consoante o agente executivo seja funcionário de justiça ou solicitador de execução.

Finalmente, após o pagamento total do preço e satisfeitas as obrigações fiscais,


caso haja lugar a elas, são os bens adjudicados e entregues ao adquirente, mediante a
passagem do título de transmissão pelo agente executivo (cfr. art.º 900º, n.º 1).

Por fim, o agente de execução comunica à conservatória a transmissão operada


pela venda para o respectivo averbamento de cancelamento dos registos que houverem
de ser cancelados (cfr. art.ºs 824º, n.º 2 do C.C., 101.º, n.º 5 do Cód. Reg. Predial, 900.º,
n.º 2 do CPC).

VENDA POR NEGOCIAÇÃO PARTICULAR – art.º s 904º e 905º

A venda por negociação particular prevista no art.º 904º, pode surgir nas seguintes
situações:
a) quando o exequente propõe um comprador ou um preço, e após ouvidos o
executado e demais credores é aceite;

b) quando o executado propõe um comprador ou um preço, e ouvidos o


exequente e demais credores é aceite;
c) quando haja urgência na realização da venda, e esta for reconhecida pelo juiz
como por exemplo bens que se deteriorem ou depreciem;
d) quando se fruste a venda por proposta em carta fechada (cfr. art.º 895º, n.º 2);
e) quando se fruste a venda em depósito público por falta de proponentes ou não
aceitação das propostas, e, atenta a natureza dos bens, tal seja aconselhável.

Esta venda é efectuada por uma pessoa especialmente designada para o efeito,
podendo ser nomeado o solicitador de execução por acordo de todos os credores e sem
oposição do executado, ou, na falta de acordo ou oposição, por determinação do juiz.
Para a venda de imóveis é preferencialmente designado um mediador oficial (cfr. art.º
905º, n.º s 1 a 3).

O preço oferecido deve ser imediatamente pago na sua totalidade antes de lavrado
o instrumento da venda (cfr. art.º 900º, n.º 1).

Direito de remissão

Este direito é concedido ao cônjuge do executado que não esteja separado


judicialmente de pessoas e bens e seus parentes em linha recta. Consiste num direito
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especial de preferência (cfr. art.º 912º). Este direito de remissão prevalece sobre o
direito de preferência (cfr. art.º 914º, n. 1).

Extinção da execução

Regra geral a execução extingue-se pelo pagamento coercivo da quantia


exequenda e legais acréscimos.
Este pagamento, como atrás foi referido, pode revestir a forma de venda,
adjudicação ou consignação de rendimentos.

Mas, pode o executado ou terceiro fazer extinguir o processo executivo através de


um acto voluntário (cfr. art.º 916º, n.º 1).

Ocorrida uma causa de extinção da execução, esta extingue-se, devendo todos os


intervenientes serem notificados dessa extinção (cfr. art.º. 919º, n.º 2).

Nota:
Perante a nova redacção dada pelo Dec. Lei n.º
38/2003, afigura-se-nos que a extinção da acção
executiva não carece da habitual sentença, sem prejuízo
do controlo processual poder ser exercido pelo juiz
aquando da correição.

A execução extinta pode renovar-se nas situações previstas no art.º 901º, n.º s 1 e
2 a requerimento do exequente, quando o título tenha um trato sucessivo, isto é, para
cobrança de prestações vincendas, ou por qualquer credor, cujo crédito esteja vencido,
podendo este, no prazo de 10 dias a contar da data em que declare extinta a execução,
requerer o prosseguimento da mesma, para pagamento do seu crédito, o qual vai
assumir a posição de exequente.

Pode ainda a execução extinta renovar-se nos termos do art.º 901º, por iniciativa
do adquirente dos bens penhorados, quando a posse efectiva dos mesmos seja
dificultada pelo detentor.

O processo executivo pode ser anulado no todo aproveitando-se apenas o


requerimento executivo ou em parte, nos termos dos art.ºs 921º, n.º 1 e 864º n.º 10. Esta
nulidade provada pela falta de citação pode ser requerida a todo o tempo.

PROCESSO EXECUTIVO PARA ENTREGA DE COISA CERTA

Este tipo de execução tem lugar sempre que o título executivo tenha por fim a
entrega de uma coisa (objecto da obrigação). Não se traduz na execução do património
do devedor para garantia e satisfação dos direitos do credor, mas sim numa obrigação de
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entrega de coisa certa, ainda que esta não exista ou não venha a ser encontrada, podendo
neste caso haver uma conversão deste tipo de execução.

Assim, neste processo executivo o credor não requer a execução do património do


devedor (cfr. art.º 817º do C.C.) mas sim a entrega judicial da coisa devida (cfr. art.º
827º do C.C.).

Apresentado na secretaria o requerimento executivo e após a distribuição (cfr. art.º


209º e segs.) o executado é citado para, no prazo de 20 dias, fazer a entrega (cfr. art.º
928º) sob pena de esta se fazer judicialmente (cfr. art.º 830º, n.º 1).

O executado pode deduzir oposição pelos motivos especificados dos art.º s 814º,
815º e 816º, na parte aplicável, e com fundamento em benfeitorias a que tenha direito
(cfr. art.º 929º, n.º 1) devendo concluir com um pedido líquido (cfr. art.º 805º).

A oposição à execução suspende a execução, salvo se o exequente prestar


caução quanto às benfeitorias (cfr. art.º 929º, n.º 2).
Mas se a oposição tiver por fundamento outra situação que não as benfeitorias,
só suspende se o executado prestar caução.

Findo o prazo da citação sem que haja oposição à execução ou


esta for julgada improcedente e o executado não fizer voluntariamente a
entrega da coisa, segue-se a apreensão e entrega judicial (cfr. art.º 930º,
n.º 1). Aplicam-se as regras da penhora com as necessárias adaptações.

Se os bens a entregar forem móveis, o agente de execução faz a entrega da coisa.


Sendo imóveis, ao agente de execução investe o exequente na sua posse (cfr. art.º 930º,
n.º s 2 e 3).

Se a execução se destinar à entrega de casa de habitação principal do executado,


aplicam-se as regras do art.º 61º do R.A.U. Se a entrega suscitar dificuldades no
realojamento do executado, o agente de execução comunica, antecipadamente, o facto
às entidades assistenciais competentes (cfr. art.º 930º - A, n.º s 1 e 2).

Quando não seja encontrada a coisa, observam-se as regras da liquidação (cfr.


art.ºs 378º, 380º e 805º) com as necessárias adaptações. Feita a liquidação procede-se
à penhora de bens necessários (cfr. art.º 821º, n.º 3) seguindo-se os demais termos do
processo executivo para pagamento da quantia certa (cfr. art.º 931º).

PROCESSO EXECUTIVO PARA PRESTAÇÃO DE FACTO

Utiliza-se este tipo de execução, quando o título é uma prestação de facto que
pode ter a natureza positiva ou negativa (cfr. art.º s 828º e 829º do C.C.).
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A prestação de facto pode ter natureza fungível ou infungível.

Sendo o facto infungível, não é possível obter de terceiro a sua prestação (como
acontece quando um pintor de renome é contratado para retratar determinada pessoa. Se
por qualquer motivo não poder efectuar o retrato, o lesado só pode ser ressarcido por um
equivalente pecuniário, uma vez que o devedor numa situação destas é insubstituível).

Se for facto fungível é possível ser praticado pelo devedor ou por terceiro, caso
seja indiferente ao credor que seja efectuado por um ou por outro.

Pode distinguir-se entre prestação de facto positivo sujeito a prazo (cfr. art.º s
933º a 938º), de facto positivo não sujeito a prazo (cfr. art.º s939º e 940º) e de facto
negativo (cfr. art.º s 941º e 942º).

Facto positivo sujeito a prazo :

Se alguém estiver obrigado a prestar um facto em prazo certo e não cumprir, o


credor pode requerer a prestação por outrem, se o facto for fungível, bem como uma
indemnização moratória a que tenha direito (cfr. art.º 933º, n.º 1).

O devedor é citado para, no prazo de 20 dias, deduzir oposição à execução,


podendo o fundamento da oposição consistir, ainda que a execução se funde em
sentença, no cumprimento posterior da obrigação, provado por qualquer meio (cfr. art.º
933º, n.º 2).

O recebimento dos embargos tem os efeitos referidos no art.º 818º, devidamente


adaptados (cfr. art.º 933º, n.º 3).

Se o exequente tiver requerido uma indemnização, esta execução é convertida


em execução para pagamento da quantia certa, findo o prazo concedido para a oposição
à execução, ou julgada esta improcedente, (cfr. art.º 934º).

Se o exequente optar pela prestação do facto por outrem, requer a nomeação de


perito que avalie o custo da prestação. Concluída a avaliação e após a conversação da
execução, procede-se à penhora dos bens necessários para o pagamento da quantia
apurada, seguindo-se os tramites do processo executivo para pagamento da quantia certa
(cfr. art.º s 934º e 935º).

Pode o exequente mandar fazer sob sua vigilância as obras e trabalhos


necessários, mesmo antes de terminada a avaliação para a realização do facto. Fica, no
entanto, obrigado a prestar contas ao tribunal de execução (cfr. art.º 936º, n.º 1).

Aprovadas as contas, haja ou não contestação do executado, o crédito exequendo é


pago pelo produto da execução (cfr. art.º s 935º, n.º 1 e 931º).

Facto positivo não sujeito a prazo:


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Se o prazo não estiver fixado, o exequente indica o prazo que reputa suficiente,
sendo o executado citado para, em 20 dias, dizer o que tiver por conveniente (cfr. art.º
939º, n.º 1) sob pena de fixação judicial de prazo.

O executado pode deduzir oposição à execução e dizer o que se lhe ofereça sobre
o prazo indicado pelo exequente (cfr. art.º 939º, n.º 2).

Fixado o prazo pelo juiz, seguem-se os termos referidos para a prestação de facto
sujeito a prazo, com as necessárias adaptações (cfr. art.º 940º).

Facto negativo:

O executado está obrigado a não praticar certo facto e, apesar disso, praticou esse
mesmo facto, desrespeitando o compromisso.

Se o executado tiver praticado um facto que não devesse, o exequente pode, se for
o caso, à custa do património do devedor, pedir a demolição da obra que tenha sido
ilicitamente efectuada e uma indemnização compensatória pelo prejuízo (cfr. art.º 941º,
n.º 1).

A oposição à execução será apresentada no prazo de 20 dias a contar da citação


nos termos do art.º s 814º e seguintes; a oposição ao pedido de demolição pode fundar-
se no facto de a demolição representar, para o executado, prejuízo consideravelmente
superior ao sofrido pelo exequente (cfr. art.º 941º, n.º 2).

Efectuada a vistoria e avaliação, o juiz profere despacho declarando verificada, ou


não, a violação e a indemnização a liquidar posteriormente.

Se decidir pela violação, ordenará a demolição da obra, seguindo posteriormente


os termos da execução para pagamento da quantia certa (cfr. art.º 942º, n.º s 1 e 2).

C.F.O.J.
Agosto/2003

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