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Graduada em Pedagogia(2009) e em Letras (2016) pela Unifadra, Dracena-SP. Mestranda em Estudos
Linguísticos pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. ariellyberlandi@hotmail.com.
O dicionário tem o propósito de atender às demandas linguísticas de uma
sociedade, principalmente como objeto pedagógico. A importância e responsabilidade de uma
obra deste porte são imensas. Além de conter o registro léxico de uma língua, esses
exemplares são também fonte de consulta para palavras, expressões e termos desconhecidos
ou pouco utilizados e difundidos. As obras lexicográficas trazem informações funcionais e
históricas de componentes linguísticos; é nesse instrumento que há uma normatização e
formalização para legitimar o léxico. Por isso “dicionário goza de uma autoridade que não é
menor nas sociedades de cultura que, inclusive, o entendem como instrumento da ‘verdade
linguística’, logo, inquestionável” (p. 142). Krieger afirma que há uma incompreensão da
sociedade sobre o dicionário, quando colocado como resultado de um saber-fazer pragmático
de apenas compilação de palavras, ou seja, que a obra lexicográfica traz conceitos
consagrados pelo coletivo. Daí a importância do cuidado na elaboração desses. Por ser uma
obra de alta complexidade, são necessárias uma competência específica e a presença de
especialistas e conhecedores do idioma, além de metodologia e organização próprias. Sobre a
confecção de um dicionário, Biderman, 1984, em sua obra “O dicionário padrão da língua”
corrobora com os pontos elencados por Krieger no cuidado da compilação dessas obras:
Os lexicógrafos devem conhecer muito bem a sua língua materna e ter uma ampla
leitura de seu patrimônio literário e cultual de todas as épocas no caso de idioma de
longa tradição cultural como é o caso do português. Devem conhecer igualmente
variantes faladas da língua. E devem saber que vão executar uma tarefa científica e
cultural que se assemelha muito ao labor dos monges na Idade Média, os quais se
aplicavam dedicada e apaixonadamente à cópia de manuscritos e/ou traduções de
textos clássicos e científicos de outras línguas, ritualmente, dia após dia, durante
toda sua vida. O dicionarista precisa ser como esse monge. (BIDERMAN, 1984, p.
29)
Biderman discorre especificamente sobre os dicionários chamados padrão na língua
portuguesa, entretanto conseguimos destacar pontos que são pertinentes aos lexicógrafos de
qualquer tipologia de dicionário como quando comparados aos monges, posição de grande
nobreza na Idade Média. Podemos compreender a grandeza e o grau de complexidade que
demanda a confecção de um dicionário.
Em “Da tipologia de dicionários” a autora discorre que mesmo com uma proposta
de confecção objetiva e aprofundamento teórico, visando uma padronização, nota-se que as
obras não são todas iguais e tampouco neutras – há diferenças tipológicas, pois cada um traz
objetivos específicos e outras especificidades, além de públicos-alvo diferenciados. A autora
mostra que não há uma uniformidade na produção de dicionários, já que apresenta variedade
tipológica extensa (dicionário monolíngue, dicionário bilíngue, dicionário geral,
minidicionário, dicionário escolar, entre outros). Outro ponto é que os dicionários também
podem tratar de temáticas especificas, embora com funções distintas. Sobre a tipologia, ainda
é possível perceber que dicionários gerais abrangem a língua na totalidade de expressões
utilizadas por uma sociedade utilizando como critério a frequência de uso, enquanto
dicionários especializados focam no estudo de critérios específicos. Essa é uma das razões
pela qual algumas obras não abarcam, por exemplo, palavras gramaticais como artigos,
conjunções, entre outros.
O texto também destaca que, para formar um conjunto léxico de um idioma, são
necessárias, principalmente, três condições: tempo, espaço e registro. Esses itens mostram a
diversidade do léxico, que cumpre a função de nomear os seres, objetos, ações e processos no
mundo fenomenológico, e também aquele percebido pelos homens. O léxico é um objeto de
estudo multifacetado em incessante mudança. A professora classifica o léxico como
inorgânico, descontínuo e idiossincrático, mas aponta que ele é muito sistêmico como atesta a
morfologia derivacional.
Hoje os dicionaristas não precisam mais dar o seu sangue para elaborarem um
tesouro lexicográfico porque uma grande parte do trabalho manual, monótono e
estafante, pode ser feito pelo computador. Além disso, os contemporâneos contam
com a vantagem de produzirem uma obra mais completa e de melhor qualidade, pois
economizam sua energia com a parte repetitiva do trabalho, proporcionalmente
muito volumosa no conjunto de tarefas; dessa forma poderão utilizar essa energia
para a seleção do material compilado pela máquina e para a redação do texto final,
que constitui a etapa mais importante de qualquer obra lexicográfica. (BIDERMAN,
1984, p.17)
Como salientado pelas duas autoras, a lexicografia é outra depois da chegada dos
computadores e com eles os novos recursos tecnológicos, o lexicógrafo, hoje, goza dos
melhoramentos que a tecnologia oferece e com ela mudança da preocupação com a língua. A
língua “real” é bastante presente nos dicionários eletrônicos, e até, altamente buscada pelos
usuários.
O último tópico texto “Etimologia e morfologia: a origem e a formação do léxico
nos dicionários” a professora reitera que as metodologias, as estruturas e as finalidades dos
dicionários são diversas e deixa claro que no caso dos dicionários linguísticos o objeto é
sempre o mesmo: o componente léxico. As variações encontram-se nas aproximações, nos
ângulos que cada obra evidencia, entre outros. Dadas essas considerações a autora chama a
atenção para a organização dos verbetes dos dicionários de língua padrão, muitas informações
de cunho gramático e linguístico estão presentes nessas palavras e algumas ainda apresentam
dados etimológicos. Krieger aponta que o étimo das palavras expressa sua origem e a
compreensão de sua base lexical antiga, ela destaca dois sentidos para a definição de étimo:
“(1) informação sobre as bases lexicais que deram origem à palavra que passou a integrar o
vocabulário de um idioma; (2) a verdade sobre esta palavra” (p. 146). A autora destaca, em
relação ao segundo sentido a busca incessante do homem sobre o componente “verdade” no
sentido das palavras. Para elucidar, a professora traz três quadros para discutir a organização,
a etimologia, entre outros em diferentes tipos de dicionários. Ela finaliza seu texto salientando
que as configurações organizacionais dos dicionários são motivadas por fatores como a
finalidade da obra e o usuário visado.
REFERÊNCIAS
BIDERMAN, M.T.C. A ciência da lexicografia. Alfa: Revista Linguística, São Paulo, v.28,
p.1-26, 1984
___________. O dicionário padrão da língua. Alfa: Revista Linguística, São Paulo, v.28, p.27-
43, 1984.
KRIEGER, Maria da Graça. Tipologias de dicionários: registros de léxico, princípios e
tecnologias. In: Calidoscópio. Vol. 4, n. 3, p. 141-147, set/dez, 2006.