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O Cesto Dos Tesouros e o Brincar Heurist
O Cesto Dos Tesouros e o Brincar Heurist
Resumo
A proposta desta pesquisa é a de transitar pelas experiências pedagógicas
vividas por Educadoras Infantis que atuam com bebês de 08 a 14 meses de
idade, que se utilizaram do instrumento lúdico em suas ações pedagógicas e
deixaram uma rica e vasta teoria para novas e constantes pesquisas. E,
relacionar este procedimento ao brincar heurístico, objeto em foco deste
estudo, procurando sinalizar ao final da pesquisa, os valores que representam
este mesmo brincar. Compreender como o brincar heurístico vem sendo
abordado nesta faixa etária, identificar perspectivas de superação da atividade
brincar e entender se a natureza encontrada no brincar heurístico durante a
primeira infância tem efeitos positivos quanto ao desenvolvimento e em quais
esferas ela acaba por atuar, são as pretensões deste estudo. Esta pesquisa
caminhou na perspectiva de mostrar a importância do brincar heurístico com os
bebês desta faixa etária, oferecendo a eles materiais diversificados e do
cotidiano deles. A prática das educadoras suscitou perguntas: Como os bebês
poderão se desenvolver brincando com objetos do seu cotidiano? Quais
conhecimentos as educadoras mobilizam para facilitar este brincar no NEI? Estas
questões foram problematizadas a partir da bibliografia italiana (traduzida ou
não). A metodologia utilizada nesta investigação pauta-se numa abordagem
qualitativa, cuja técnica de construção dos dados envolve a observação da
prática educativa das educadoras com os bebês.
INTRODUÇÃO
A primeira infância tem sido o tema de um notável corpo de pesquisa nos
últimos anos. Autores como Schaffer (1971 e 1974), Trevarthen (1974 e 1982) e
Dunn (1988) apud Moyles (2006) demonstraram que a criança pequena tem,
desde o período em que é bebê, uma forte orientação para relacionamentos
sociais e para e interpretação do comportamento daqueles que a rodeiam. Esses
estudos revelam o impulso do bebê para relacionamentos pessoais e para
compreender o mundo que o cerca.
Isso, por sua vez, iluminou o quadro geral do que deve ser a educação nos
primeiros anos. Os bebês precisam ser vistos como aprendentes extremamente
competentes que, devido à sua tenra idade e a falta de experiência de mundo,
requerem uma provisão de aprendizagem cuidadosamente planejada para
atender as suas necessidades individuais e coletivas.
O bebê é, antes de tudo, um ser feito para brincar, pois é através da brincadeira
que ele se apropria da sua realidade, expressando seus sentimentos, medos,
desejos e fantasias. O bebê cria seu próprio mundo, e nele faz suas descobertas,
enfrenta obstáculos, barreiras que as fazem pensar em como e o que fazer,
superando-as e partindo para novas descobertas.
Desde o seu nascimento, os bebês veem se relacionando de modo diferente com
outras pessoas e com o meio em que vive. E é através destas interações que ele
se desenvolve e aprende, reproduz o discurso externo e o internaliza construído
seu próprio pensamento.
Conforme Santos (1999, p.12), para a criança pequena, “brincar é viver”. Esta
é uma afirmativa muito usada e bem aceita, pois como a própria história da
humanidade nos mostra, os bebês sempre brincaram, brincam hoje e,
certamente, continuarão brincando amanhã. Sabemos que ele brinca porque
gosta de brincar e que, quando isso não acontece, alguma coisa pode estar
errada. Alguns brincam por prazer, outros brincam para aliviarem angústias,
sentimentos ruins.
Partindo desse pressuposto, podemos perceber que o brincar está presente em
todas as dimensões da existência do ser humano e muito especialmente na vida
dos bebês. Podemos realmente afirmar que “brincar é viver”, pois o bebê
aprende a brincar brincando e brinca aprendendo.
De acordo com Kishimoto (2002, p.146), “por ser uma ação iniciada e mantida
pela criança, a brincadeira possibilita a busca de meios, pela exploração ainda
que desordenada, e exerce papel fundamental na construção de saber fazer”.
As brincadeiras são formas mais originais que a criança pequena tem de se
relacionar e de se apropriar do mundo. É brincando que ela se relaciona com as
pessoas e objetos ao seu redor, aprendendo o tempo todo com as experiências
que pode ter.
O bebê brinca porque assim como nutrição, saúde, habitação e educação,
brincar é uma necessidade básica e vital para o desenvolvimento infantil. Para
manter o equilíbrio com o mundo, o bebê precisa brincar, criar e inventar. Essas
atividades lúdicas são mais significativas à medida que se desenvolve,
inventando e construindo. Destaca Chateau (1987, p.14), que “uma criança que
não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá
pensar”.
Brincando, o bebê aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade
visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, desenvolve habilidades motoras,
exercita a imaginação, criatividade, socializa-se, interage, reequilibra-se,
recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer e reinventar e, assim,
constrói seus conhecimentos.
A proposta desta pesquisa é a de transitar pelas experiências pedagógicas
vividas por Educadoras Infantis que atuam com crianças de 08 a 14 meses de
idade, que se utilizaram do instrumento lúdico em suas ações pedagógicas e
deixaram uma rica e vasta teoria para novas e constantes pesquisas e,
relacionar este procedimento ao brincar heurístico, objeto em foco deste
estudo, procurando sinalizar ao final da pesquisa, os valores que representam
este brincar.
Esta pesquisa é um Estudo de Caso sobre a práxis pedagógica realizada pelas
educadoras infantis que atuam com bebês de 08 a 14 meses num Núcleo de
Educação Infantil – NEI, da cidade de Timbó – SC.
Compreender como o brincar heurístico vem sendo abordado nesta faixa etária,
identificar perspectivas de superação da atividade brincar e entender se a
natureza encontrada no brincar heurístico durante a primeira infância tem
efeitos positivos quanto ao desenvolvimento e em quais esferas ele acaba por
atuar, são as pretensões deste estudo.
Esta pesquisa caminhou na perspectiva de mostrar a importância do brincar
heurístico com os bebês desta faixa etária, oferecendo a eles materiais
diversificados e do cotidiano deles.
A escolha do Estudo de Caso (Lüdke e André, 1996) nesta pesquisa se justifica
para que possam ser explicados os diferentes pontos de vista presentes numa
mesma situação social, neste caso, na práxis pedagógica das educadoras
infantis, deste NEI, que atuam com bebês desta faixa etária.
A prática das educadoras suscitou perguntas: Como os bebês poderão se
desenvolver brincando com objetos do seu cotidiano? Quais conhecimentos as
educadoras mobilizam para facilitar este brincar no NEI? O que é brincar
heuristicamente?
Estas questões foram problematizadas a partir da bibliografia italiana
(traduzida ou não) sobre o Cesto de Tesouros, o brincar heurístico, a educação
da infância e sobre a prática educativa das educadoras infantis que atuam com
bebês de 08 a 14 meses de idade.
A publicação de Goldschmied (2006) foi a grande linha mestra pela qual fomos
caminhando, “degustando” e tecendo nossa análise dos dados de campo.
A metodologia utilizada nesta investigação pauta-se numa abordagem
qualitativa, cuja técnica de construção dos dados envolve a observação da
prática educativa das educadoras com os bebês.
A observação do brincar é, ao mesmo tempo, um processo exigente e
gratificante para o profissional, desafiando-o a aprender a partir do que ele
observa no comportamento espontâneo do bebê.
O brincar fornece oportunidades para uma cuidadosa observação dos bebês em
atividades que eles mesmos escolheram e que são relevantes e significativas
para eles. Kalvaboer (1977) apud Moyles (2006) salienta um ponto relevante
referente à observação:
Somente reservando um tempo para observar as crianças e, às vezes, brincar
com elas, e perto delas, é que os adultos serão capazes de reconhecer que o
brincar contém informações cruciais sobre o nível de desenvolvimento das
crianças, sobre suas capacidades organizadoras e sobre seu estado emocional.
(Kalvaboer, 1977, p. 121) .
Verificamos que havia um movimento das educadoras, que atuam com bebês
de 08 a 14 meses, de tentarem planejar suas práticas educativas através do
brincar, conforme detalharemos em seguida.
O modo como a criança brinca revela seu modo interior, permitindo, assim a
interação da criança com outras crianças e a formação de sua personalidade.
Para isso é preciso que os Núcleos de Educação Infantil dêem condições e
promovam situações de acordo com as necessidades das crianças,
oportunizando estimulação para seu desenvolvimento integral.
Bettelheim (1998), diz que através das brincadeiras que a criança realiza
podemos entender como ela percebe e constrói o mundo e a maneira que utiliza
para expressar suas dificuldades. A brincadeira possibilita a criança resolver de
forma figurada problemas não resolvidos anteriormente e enfrentar direta ou
simbolicamente questões atuais.
Para Winnicott,
O desenvolvimento infantil considera que o ato de brincar é mais que a simples
satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e
espaços próprios; um fazer que se constitui de experiências, culturais, que é
universal e próprio da saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos
relacionamentos principais, podendo ser uma forma de comunicação consigo
mesmo (a criança) e com os outros. (Winnicott, 1975, p. 63)
Brincar deixa de ser visto como uma atividade física e passa a ser privilegiada
porque é necessária para o ensino aprendizagem e o desenvolvimento integral
da criança.
Ao observarmos um bebê explorar os itens de um Cesto de Tesouros, é
fascinante ver o prazer e o interesse com que ele escolhe os objetos que o
atraem, a precisão que ele mostra ao levá-lo à boca ou passá-lo de uma mão à
outra e a quantidade de sua concentração ao tomar contato com o material
para brincar. Notamos que sua observação é concentrada, sua habilidade para
escolher e voltar a um objeto preferido que o atrai, às vezes compartilhando
seu prazer com a educadora.
O Cesto de Tesouros oferece uma oportunidade para observar a interação entre
os bebês em uma idade na qual se costumava dizer que eles não teriam
interesse uns pelos outros. Observando dois ou três bebês sentados junto ao
Cesto de Tesouros, podemos ver de imediato que isso não é verdadeiro. Os
bebês, apesar de se concentrarem em manipular os objetos que escolheram,
não somente estão cientes da presença do outro, como também estão
envolvidos em trocas interativas na maior parte do tempo. A disponibilidade
dos objetos é o que estimula essas trocas, que às vezes se tornam pequenas
disputas de posse.
Os itens de um Cesto de Tesouros devem ser sempre selecionados com cuidado,
tendo a segurança como fator principal. Devemos obviamente excluir objetos
que tenham bordas ou pontas cortantes, ou que sejam pequenos o suficiente
para serem engolidos.
O principal fator de proteção é a capacidade limitada dos bebês dessa idade.
Eles podem sacudir um objeto, ou pegá-lo e deixá-lo cair, mas não conseguem
atirá-lo ou cutucar outro bebê com ele.
Objetos naturais
Abóboras secas
Castanhas grandes
Conchas
Cones de pinho, de diferentes tamanhos
Nozes grandes
Núcleos de caroço de abacate
Pedaço de esponja
Pedra-pomes
Penas grandes
Pequena esponja natural
Rolhas de tamanho grande
Seixos grandes
Um limão
Uma maçã
Uma laranja
Objetos de madeira
Apito de bambu
Aro de cortina
Aro para guardanapos
Caixinhas forradas com veludo
Castanholas
Chocalhos de vários tipos
Cilindros: bobinas, carretel de linha
Colher ou espátula
Contas coloridas presas em cordas
Cubos – pequenos pedaços de madeira
Pequeno tambor de madeira
Pregadores de roupa de dois tipos diferentes
Tigelinhas
Xícara de cafezinho
Objetos de metal
Apito de escoteiros
Aros de chaveiros entrelaçados
Aros de cortina de metal
Bijuterias
Campainha de bicicleta
Clipes de papel
Coador de chá
Colheres de vários tamanhos
Copo grande de metal
Escova para limpar garrafas
Espremedor de alho
Espremedor de frutas
Forminha
Infusor de chá
Latas fechadas contendo arroz, feijões, pedrinhas, etc.
Latinhas com bordas lixadas (sem partes afiadas)
Molho de chaves
Pedaços de correntes de diferentes tipos
Pequena flauta
Pequeno batedor de ovos
Pequeno cinzeiro
Pequeno espelho com moldura de metal
Pequeno funil
Tampa de perfume grande
Tampa para latas – vários tipos
Triângulo de metal
Trombete de brinquedo
Vários sinos
Xícara para ovos de metal
Considerações Finais
A pesquisa revelou que o brincar faz parte do ser criança e tem expressivo
efeito por si só, além de auxiliar no desenvolvimento infantil, nas esferas
emocional, intelectiva, social e física, demonstrando a sua fundamental
importância neste período riquíssimo do ser humano, ou seja, a sua própria
estruturação, a base construtiva do que tenderemos a chegar no desencadear
de nossas vidas, dando-nos o assegura mento necessário para progressão natural
do ciclo humano.
A brincadeira instintivamente é usada pelo bebê para descobrir o mundo.
Brincando a criança descobre o mundo, como ele funciona, aprende, se
desenvolve, experimenta. Brincando a criança vai adquirindo noções espaciais,
produz sons, desenvolve o cérebro para funções como a fala e o andar,
auxiliando no seu desenvolvimento global.
Os tipos de brincadeira e a forma de brincar se modificam de acordo com a
etapa de desenvolvimento que a criança apresenta. A criança exercita e
organiza o pensamento, a noção de individualidade, a linguagem, a necessidade
de perseverar entre outros. Na brincadeira a criança exprime seus medos,
desejos, experiências.
De forma simbólica o brinquedo torna-se um meio de expressão. Se o brincar é
algo tão importante no desenvolvimento da criança, é também fundamental
para o desenvolvimento da linguagem e da fala.
A adequada aquisição e desenvolvimento da comunicação dependem de vários
fatores, entre eles: o biológico, o afetivo e o social. Entre os aspectos
biológicos, podemos destacar o processo de maturação do sistema nervoso
central, ou seja o sistema nervoso central vai evoluindo, se especializando e
todas as suas funções também.
O Sistema Nervoso Central é responsável pelo desenvolvimento global do
indivíduo. Os aspectos afetivos e sociais são a interação com a criança, o
estímulo, a confiança transmitida a ela, a atenção dada a criança e tudo
referente ao meio ao qual ela pertence.
A criança aprende por intermédio da interação com o ambiente, essa interação
também é realizada com o ato de brincar. Brincando as educadoras conversam
com o bebê, apresentam-lhe objetos, aos poucos será por meio do balbucio (um
brincar com os sons) a criança irá imitar os sons que ouve.
No bebê, a brincadeira é uma forma de interação do adulto com ele, o bebê
sozinho ainda não é capaz de simbolizar e usar a brincadeira para isso. Logo, o
brincar inicial do bebê é uma experimentação do mundo, ele manuseia objetos,
joga, bate, empilha explora o mundo de forma ainda primária condizente com
a sua fase, denominada pelos especialistas (Piaget, 1963) de fase sensório-
motora (etapa inicial do desenvolvimento cognitivo – corresponde a
aproximadamente os dois primeiros anos de vida).
Quando a criança começa a simbolizar, fase da brincadeira simbólica,
construída gradativamente, propicia que a linguagem evolua com mais rapidez,
assim a linguagem influencia na evolução da brincadeira e a brincadeira auxilia
na evolução da linguagem.
A falta de brincadeira pode deixar seqüelas, como dificuldades em se
relacionar, medos e outras ainda mais graves. Na dúvida de como lidar com
alguma dificuldade em relação ao brincar de uma criança, ou se a mesma não
brinca, é importante que se procure um profissional capacitado, como um
psicólogo, um pedagogo, para uma orientação específica.
Após esta pesquisa, podemos nos remeter a uma breve reflexão sobre a
importância do brincar com os bebês, por que é importante? O prazer que
provem das brincadeiras guarda o sentido do prazer pelo viver, ser, investigar,
sentir, tocar, viver com o outro, vibrar com vitórias e enfrentar derrotas.
Através do brinquedo e brincadeiras o bebê pode desenvolver a imaginação,
confiança, auto-estima, e a cooperação. O modo como o bebê brinca revela seu
mundo interior e isso permite a interação da criança com as outras crianças e
a formação de sua personalidade.
Para isso é necessário que os Núcleos de Educação Infantil deem condições e
promovam situações de brincadeiras de acordo com as necessidades dos bebês,
oportunizando a estimulação para o desenvolvimento integral da criança.
Descobrimos que, se oferecermos aos bebês a chance de brincar com um Cesto
de Tesouros bem abastecido, eles apreciam muito a ideia, desde que lhes sejam
dado tempo e o apoio de uma educadora atenta, de forma a superar os
sentimentos iniciais de estranhamento.
Concluímos que o brincar heurístico com o Cesto de Tesouros oferece uma
experiência de aprendizagem planejada para os bebês que estão na fase de
descobertas do mundo. Oferecer o brincar heurístico em instituições infantis
requer a resolução cuidadosa de pequenos detalhes, como: tempo, espaço,
materiais adequados e gerenciamento. O papel do educador é o de organizador
e facilitador, e não o de iniciador. Os bebês brincarão com concentração e sem
conflitos por longos períodos, desde que lhes sejam oferecidos quantidades
generosas de objetos cuidadosamente selecionados.
Referências
BETTELHEIM, Bruno. Uma Vida Para Seu Filho. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
CHATEAU, Jean. O Jogo e a Criança. São Paulo: Summus, 1987.
GOLDSCHMIED, Elinor; JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: O atendimento em creche. Tradução Marlon Xaxier. 2 ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cortez, 1997.
LÜDKE, Menga & ANDRÈ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1996.
MOYLES, Janet R.A excelência do brincar. Tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2006.
PIAGET, Jean. A construção do real na criança. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1963.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e Infância: um guia para pais e educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
WINNICOTT, D.w. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
Entrevista
Sonia Jackson
Não apenas uma sólida formação profissional, mas também as características pessoais
são importantes no perfil de um educador que trabalha com bebês. Para Sonia Jackson,
especialista em educação da primeira infância que hoje atua no Instituto de Educação
da Universidade de Londres, além de entender de psicologia, sociologia e
desenvolvimento infantil, o professor de crianças pequenas deve ter afeição genuína
por crianças, paciência, calma e afetuosidade. Reconhecida internacionalmente por
suas pesquisas sobre o bem-estar infantil, Sonia Jackson é co-autora do livro Educação
de 0 a 3 anos: o atendimento em creche, escrito em parceria com Elinor Goldschmied e
publicado no Brasil pela Artmed. Nesta entrevista, realizada por e-mail, ela fala sobre
a educação infantil na Inglaterra e explica alguns recursos apresentados no livro, como
o cesto dos tesouros e o brincar heurístico. Veja, a seguir, os principais trechos da
entrevista.
Na Inglaterra existe um número significativo de crianças que não
frequentam nenhum tipo de creche?
Quase todas as crianças hoje vivem algum tipo de experiência em grupo antes de iniciar
a escola obrigatória aos 5 anos. As que não o fazem normalmente pertencem às famílias
mais pobres, de imigrantes ou de refugiados. Existem algumas famílias que optam por
educar seus filhos em casa, em vez de mandá-los para a escola, e isso é permitido, desde
que os pais demonstrem competência para educá-los. Na prática, as únicas pessoas que
escolhem esse caminho são de classe média, têm bom nível de instrução, salários
relativamente altos e fortes convicções sobre a educação dos filhos. Existem alguns
subsídios financeiros para as despesas com creches, mas não o suficiente. As creches
oferecem apenas educação em tempo parcial (em geral, duas horas e meia três vezes por
semana). Contudo, a educação pública na escola agora começa no período letivo após o
quarto aniversário da criança; logo, muitas crianças de 4 anos freqüentam a escola em
tempo integral, das 9h às 15h15.