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O Facto Jurídico
É todo o facto da vida real, juridicamente relevante, que nao é indiferente para o direito. É
o que dá existência à relação jurídica. O facto juridicamente relevante contrapõe-se ao
facto juridicamente irrelevante (simples ou neutro). Os factos excluídos são por exemplo
as preferências clubisticas de alguém, ou a cor de cabelo de alguém. Vamos centrar nós
nos factos jurídicos. Vamos estudar classificações relevantes dentro do facto jurídico:
Os factos jurídicos ou são consequência de uma vontade, manifestação de uma atuação
de uma vontade e dizemos que são factos voluntários – ações humanas; ou a vontade é
irrelevante para a sua produção e aí temos factos involuntários (nascimento ou morte de
alguém, por exemplo)– obras da natureza.
- dentro dos factos voluntários temos factos lícitos e ilícitos – lícitos são os que
estão de acordo com a ordem jurídica e os ilícitos são contrários à ordem jurídica e
os seus efeitos são reprovados pela mesma. Os ilícitos podem ser civis ou penais e
as sanções penais são distintas das civis, mas o mesmo facto pode desencadear
as duas sanções.
Os factos voluntários lícitos são os que nos interessam – factos jurídicos em sentido lato.
Dentro destes podemos distinguir os atos jurídicos em sentido estrito, e os negócios
jurídicos.
Os atos jurídicos em sentido estrito: também chamados simples atos jurídicos,
também são ações humanas lícitas mas os efeitos jurídicos, embora possam ser
concordantes com a vontade, decorrem da lei, independentemente da haver uma
vontade nesse sentido. Por exemplo, art. 805º CC, que se refere à interpelação do
credor pelo devedor, é um simples ato jurídico, é juridicamente relevante mas os
efeitos produzem-se porque a lei assim o estabelece. Dividem-se em:
1. Os quase negócios jurídicos consistem na manifestação de uma vontade
ou ideia mas não é a essa vontade a que se ligam os efeitos jurídicos, estes
advém da lei. Interpelação do credor pelo devedor, art. 805º. Outro exemplo
é a gestão de negócios 464º.
2. As operações jurídicas traduzem-se na produção de um resultado material
ou técnico a que a ordem jurídica liga determinados efeitos. Por exemplo, a
ocupação de animais art. 1318º, é alguém que “ocupa” um animal, é um ato
material, e é juridicamente relevante, os efeitos deste ato provêem da lei. A
descoberta de uma tesouro, art. 1324º, é também um ato material a que a lei
faz corresponder efeitos jurídicos.
Capítulo I
Do negócio jurídico e do simples ato jurídico
Conceito
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob
tutela do direito.
A função do negócio jurídico é servir como meio de autogoverno pelos particulares da sua
esfera jurídica própria.
Teoria dos efeitos jurídicos: para esta doutrina os efeitos jurídicos produzidos, tais como a
lei os determina, são perfeita e completamente correspondentes ao conteúdo da vontade
das partes.
Sucede é que as partes dos vários negócios não têm uma representação completa e
exata de todos os efeitos que o ordenamento jurídico atribui às suas declarações de
vontade.
Teoria dos efeitos práticos: as partes manifestam apenas uma vontade de efeitos práticos
ou empíricos, normalmente económicos e sociais, a que a lei faria corresponder efeitos
jurídicos concordantes.
Mas desta forma, o negócio jurídico não se distingue dos compromissos ou convenções
celebrados sob o império de outros ordenamentos normativos (cortesia, moral, praxes
sociais, etc.).
Teoria dos efeitos prático-jurídicos: os autores dos negócios jurídicos visam certos
resultados práticos ou materiais e querem realizá-los por via jurídica. têm, pois, também
uma vontade de efeitos jurídicos. A vontade dirigida a efeitos práticos não é a única nem é
a decisiva - decisiva para existir um negócio é a vontade de os efeitos práticos queridos
serem juridicamente vinculativos, a vontade de se gerarem efeitos jurídicos,
nomeadamente deveres jurídicos, correspondentes aos efeitos práticos.
Basta uma representação global prática - de profanos - dos efeitos jurídicos imediatos e
fundamentais do negócio. Esta é a teoria que releva para nós.
“Gentleman’s Agreements”:
Estas são convenções sobre matéria que é normalmente objeto de negócios jurídicos,
mas que, excepcionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos.
Elementos essenciais
O negócio jurídico é um acto que só desempenha a sua função na medida em que for
válido. A sistematização tradicional considera elementos essenciais de todo e qualquer
negócio jurídico os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio. São
eles:
- capacidade das partes (e a legitimidade);
- declaração de vontade (sem anomalias);
- idoneidade do objeto.
Elementos naturais
São os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é necessário
que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos, podendo,
todavia, ser excluídos por estipulação adrede formulada.
Elementos acidentais
São as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Trata-se das estipulações que não
caracterizam o tipo negocial em abstrato, mas se tornam imprescindíveis para que o
negócio em concreto produza os efeitos a que elas tendem. Ex. cláusulas de juro,
condicional, etc.
II - Negócios unilaterais:
- a eficácia do negócio não carece da concordância de outrém;
Contratos bilaterais imperfeitos: nestes há inicialmente apenas obrigações para uma das
partes, surgindo eventualmente mais tarde obrigações para a outra parte, em virtude do
cumprimento das primeiras e em dados termos.
Os negócios formais ou solenes são aqueles para os quais a lei exige a observância de
determinada forma. Os não solenes ou consensuais são os que podem ser celebrados por
Quanto aos negócios reais, fala-se deles no sentido de negócios com efiácia real, isto é,
reais quanto aos efeitos. Nestes, o princípio da liberdade contratual sofre considerável
limitação, derivada do princípio da tipicidade, ou do numerus clausus, visto que ‘’não é
permitida a constituição de restrições ao direito de propriedade de figuras parcelares
deste direito senão nos casos previstos na lei (1306º).
Quanto aos sucessórios, este princípio sofre importantes restrições, resultante de normas
imperativas de direito das sucessões.
Os atos de disposição vão afetar a própria raiz do património, sendo atos através dos
quais o titular do direito patrimonial dispõe do património. Enquanto que os negócios de
mera administração não afetam a raiz do património.
Capítulo II
A declaração negocial
A declaração negocial é um elemento integrante do negócio jurídico, conduzindo a sua
falta à inexistência material do negócio.
Pode definir-se como o comportamento que, exteriormente observado, cria a aparência de
exteriorização de um certo conteúdo de vontade negocial, caracterizando depois a
vontade negocial como a intenção de realizar certos efeitos práticos, com ânimo de que
sejam juridicamente tutelados e vinculantes. Temos um comportamento declarativo que
visto exteriormente tem a aparência de declaração.
O art. 295º manda aplicar aos atos não negociais as disposições da doutrina geral do
negócio jurídico, “na medida em que a analogia das situações o justifique”. Esta questão
será diferente se estivermos perante atos pessoais.
Ø Expressa: quando feita por palavras, escrito, ou quaisquer outros meios diretos,
frontais, imediatos de expressão de vontade – art. 217º,1.
Ø Tácita: deduz-se de factos que revelam uma vontade num sentido, decorre de um
comportamento concludente.
Em regra, o silêncio não tem valor declarativo, mesmo que o sujeito pudesse/devesse
falar. O código civil resolve o problema no art 218º, estabelecendo que “ o silêncio não
A ficta tem lugar sempre que a um comportamento seja atribuído um significado legal
tipicizado, sem admissão de prova em contrário.
Protesto e reserva
Inconvenientes:
§ Redução da fluência e celeridade do comércio jurídico;
§ Eventuais injustiças (custos).
O princípio geral é o da liberdade de forma, mas existem muitas exceções. Este princípio
significa que as partes podem adotar ou não uma forma, quando a lei não o exija.
Formalidades
Inobservância da forma
Nos casos em que a forma é convencional, presume-se que as partes não se quiseram
vincular. Mas se chegam a acordo e nesse momento ou posteriormente o colocam por
escrito, a forma é meramente probatória.
A declaração negocial com um destinatário ganha eficácia logo que chegue ao seu poder
ou é dele conhecida. As declarações não receptícias tornam-se eficazes logo que a
vontade se manifesta na forma adequada.
A declaração será ineficaz se for recebida ‘’pelo destinatário em condições de, sem culpa
sua, não poder ser conhecida’’ – artigo 224º,3.
Entende-se que existe enquanto um convite a contratar e que não equivale realmente a
uma proposta.
Interpretação e integração
Se, porém, a dúvida a que se chegar no termo do labor interpretativo foi insanável, parece
que a declaração é ineficaz, por aplicação, ao menos analógica, do artigo 224º,3.
O critério a utilizar para o efeito de realizar a integração dos negócios jurídicos lacunosos
é a enunciado no artigo 229º.
Divergencia intencional:
• Simulação
• Reserva mental
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Simulação
O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, por força do
conluio com o declaratário, com intenção de enganar terceiros.
Reserva Mental
O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, sem
qualquer conluio com o declaratário, visando precisamente enganar este.
O código civil não contém uma norma que resolva, em geral, o problema da divergência
entre a vontade e a declaração. Podemos dizer que seguimos uma vertente declarativista,
ou seja, trta-se da proteção e preservação do negócio jurídico em detrimento da vontade
do declarante. No entanto temos de ver caso a caso.
Simulação
Modalidades da simulação
A simulação importa a nulidade do negócio simulado, - art. 240º,2 – a menos que a lei
preveja um regime diferente (o testamento e o casamento simulados são anuláveis, art.
2200º e 1635º).
De acordo com o regime geral, pode qualquer interessado invocar a nulidade e o tribunal
pode declará-la oficiosamente (art. 242º e 286º).
Pode ser arguida a todo o tempo (art. 286º), quer o negócio não esteja cumprido (art.
287º,2), quer tenha tido lugar o cumprimento.
Há autores que defendem que o negócio simulado não devia ser nulo, se as razões que
estão na base da exigência da sua forma ficaram satisfeitas com a observância das
soleinidades próprias do negócio simulado.
A nulidade a ser invocada pelos próprios simuladores entre si, sofre uma apreciável
restrição indirecta por força do artigo 394º,2. Aí se estabelece que é inadmissivel a prova
testemunhal do acordo simulatório e do negócio dissimulado, quando invocados pelos
simuladores. A prova de simulação pelos simuladores é assim praticamente restringida à
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A simulação e terceiros
A nulidade do negócio simulado pode, como todas as nulidades, ser invocada por
qualuqer interessado e declarada ex officio pelo tribunal (art. 286º, ressalvado no art.
242º,nº1).
Se não se entender que o artigo 243º é aplicável apenas à arguição da nulidade pelos
simuladores, tornam-se possíveis conflitos entre terceiros que pretendem arguir a
nulidade do negócio simulado e terceiros cujos interesses exigem que o negócio simulado
seja tratado como válido.
Prova da simulação
A prova do acordo simulatório e do negócio dissimulado por terceiros é livre, podendo ser
feita por qualquer dos meios admitidos na lei: confissão, documentos, testemunhas,
presunções, etc., dado que a lei não estabelece qualquer restrição.
Conceito:
1. Emissão de uma declaração contrária à vontade real;
2. Intuito de enganar o declaratário.
Efeitos
Os efeitos desta figura são determinados pelo nº2 do artigo 244º, onde se estatui a
irrelevância da reserva mental, excepto se for conhecida do declaratário.
Se a reserva mental for desconhecida, a declaração produz os seus efeitos.
Independentemente da reserva mental ser inocente ou fraudulenta, se ela é
desconhecida, a reserva não prejudica a validade da declaração. A lei protege o
declaratário, protegendo um negócio que não corresponde à vontade real do declarante.
Se a reserva mental é conhecida do declaratário, então já não faz sentido proteger o
declaratário, porque ele tem conhecimento de que está a ser enganado e a declaração é
nula.
Esta declaração não visa enganar ninguém. O sujeito pena que o declaratário não
desconhece a falta de seriedade da declaração. Cabem aqui as declarações jocosas,
cênicas, didáticas, etc.
Se houver o intuito de enganar alguém, deixamos de ter uma declaração não seria e
passamos a ter uma situação de reserva mental.
Consequências: nulidade, art. 245º. No entanto, o nº2 do mesmo art. diz que poderão
existir outros efeitos, como uma indemnização, verificados alguns requisitos. Protegendo
a confiança gerada na contraparte.
Não produz efeitos, mas se a falta de consciência for imputável ao declarante, este pode
ter de indemnizar o declaratário (no caso da falta de consciência da declaração).
O declarante emite uma declaração que não corresponde à sua vontade, mas o
declarante enganou-se, ele não sabe da divergência, ele julga estar a declarar o que quer,
mas está em erro ou julgava que as suas palavras tinham outro sentido.
Consequência: anulabilidade – uma invalidade menos grave, mas esta não é automática
porque a lei estabelece um requisito para que o negócio seja anulável. A lei não exige que
a lei conheça o erro, nem sequer impõe que o erro seja desculpável. Mas impõe com um
requisito que se prende com o declaratário: “conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro”. O declaratário
tem de saber que há um determinado aspecto no negócio que é essencial para a
contraparte, e o facto de incidir um erro sobre essa questão já não tem de saber.
Se o erro do declarante não incide sobre um aspecto essencial, o negócio não é anulado.
Para que o negócio seja anulado, é preciso que o aspecto sobre o qual recai a
divergência seja decisivo para a formação da vontade do declarante. Art. 232º.
Portanto:
1. Se o declaratário se apercebeu do dissídios entre a vontade real e a declarada e se
conheceu a vontade real do declarante, o negócio valerá de acordo com a vontade
real (art.236º,2).
2. Se o declaratário conheceu, ou devia ter conhecido, o próprio erro, o regime
aplicável continua a ser a anulabilidade.
3. Se o declaratário aceitar o negócio como o declarante queria, a anulabilidade
fundada em erro não procede (art.248º).
Esta hipotese está prevista no artigo 250º, que a disciplina nos mesmos termos do erro-
obstáculo. O erro na transmissão da declaração não tem, portanto, relevância autónoma;
desencadeará o efeito anulatório apenas nos termos do artigo 247º.
Estabelece-se, porém, uma excepção a este regime geral do nº2 do 250º, admitindo-se a
anulação sempre que o intermediário emite intencionalmente (com dolo) uma declaração
diversa da vontade do dominus negotti.
Vícios da Vontade
Conceito
Vícios a que o nosso direito atribui em geral relevância autónoma: erro-vício, dolo,
coacção moral, incapacidade acidental e estado de necessidade.
Duas figuras próximas dos vícios de vontade, são os negócios usurários e os vícios
redibitórios.
Vícios redibitórios: vícios ocultos da coisa, que tornam a coisa imprópria para o fim a
que se destina, ou então, reduzem de tal maneira a aptidão para o uso a que se destina,
que se o pagante conhecesse esse vício não teria adquirido a coisa.
A nossa lei não confere autonomia a estes vícios, temos um regime de compra e venda
de coisa defeituosa, mas um contrato de compra e venda de coisa defeituosa só será
inválido se se verificarem os fundamentos da anulabilidade-913º e SS. No entanto, para
além do regime a compra venda defeituosa, temos um regime especial no DL67/2003 de
garantia na compra e venda de bens de consumo. Quando o vício da coisa surge no
contexto de uma compra e venda de consumo, em que temos um vendedor e consumidor,
o regime aplicável não é o do CC, mas sim o regime deste DL. O regime do código é
secundário na medida em que os problemas surgem no contexto de contratos celebrados
com o consumidor.
A possibilidade de anular o negócio com vício redibitório caduca no prazo de 30 dias e
dentro dos 6 meses da entrega da coisa.
Essencialidade
Só é relevante o erro essencial, isto é, aquele que levou o errante a concluir o negócio em
si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído. O erro foi causa da celebração
do negócio e não apenas dos seus termos. O erro é essencial se, sem ele, se não
celebraria qualquer negócio ou se celebraria um negócio com outro objeto ou de outro tipo
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Propriedade
O erro só é próprio quando incida sobre uma circunstância que não seja a verificação de
qualquer elemento legal da validade do negócio. Ou seja, o erro tem de ser próprio, tem
de ser fundamento autónomo de invalidade do negócio, tem de incidir sobre um elemento
que não seja um elemento legal.
Erro sobre a base do negócio: se o erro incidir sobre as circunstâncias que constituem a
chamada base “base negocial”, haverá lugar à anulabilidade do contrato, nos termos em
que, nos artigos 437º a 439º, se dispõe acerca da resolução por alteração das
circunstâncias vigentes no momento em que o negócio foi concluído: “desde que a
exigência das obrigações assumidas afete gravemente os princípios da boa-fé e não
esteja coberta pelos riscos próprios do contrato”. Não se exigirá, portanto, nestes casos,
uma cláusula de “condicionamento”.
Erro sobre o objeto do negócio: está previsto no artigo 251º, quer na hipótese do erro
sobre a identidade, quer na do erro sobre as qualidades. O negócio será anulável nos
termos previstos no artigo 247º para o erro-obstáculo, isto é, “desde que o declaratário
conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento
sobre que incidiu o erro”.
Dolo
Conceito
A noção de dolo consta do nº1 do artigo 253º. Trata-se de um erro determinado por um
certo comportamento da outra parte. Só existirá dolo quando se verifique o emprego de
qualquer sugestão ou artifício com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro
o autor da declaração (dolo positivo ou comissivo), ou quando tenha lugar a dissimulação,
pelo declaratário ou por terceiro, do erro do declarante (dolo negativo, omissivo ou de
consciência).
Modalidades
A) Dolo positivo e negativo – art. 253º.
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II – Condições:
1. Deve tratar-se de dolus malus (art. 253º,2);
2. Deve ser essencial ou determinante;
3. Existência no deceptor da intenção ou consciência de induzir ou manter em erro;
4. O próprio dolo bilateral ou recíproco pode ser invocado como fundamento de
anulação (2ª parte do nº1 do artigo 254º).
A coação
Conceito
II – Não basta um simples medo ou receio; a lei exclui, desde logo, o chamado temor
referencial (art. 255º,2). Torna-se necessário que o receio provenha de uma ameaça
ilícita. Exige-se igualmente que a cominação do mal vise extorquir a declaração negocial.
Modalidades
Conceito
Situação de receio ou temor gerada por um grave perigo que determina o necessitado a
celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra.
A confusão só pode surgir quando o estado de necessidade for ocasionado por um facto
humano. Neste caso, estaremos perante a figura do estado de necessidade quando a
situação de perigo não for criada com o desígnio de extorquir um negócio (falta de
intenção de coagir).
II – Este regime dos artigos 282º e 283º não se aplicará, havendo antes lugar à nulidade,
quando a pessoa que se aproveita conscientemente da situação de necessidade tinha o
dever de auxiliar o necessitado (ato contrário à lei ou aos bons costumes).
Incapacidade acidental
Conceito
Espécies
Admissibilidade da representação
Pressupostos da representação
Haverá abuso de representação, quando o representante atuar dentro dos limites formais
dos poderes conferidos, mas de modo substancialmente contrário aos fins da
representação. O artigo 269º, manda aplicar o regime do artigo 268º à hipótese de abuso
de representação, se a outra parte conhecia o abuso ou se este lhe era cognoscível.
Forma
O caráter formal ou consensual da ratificação, como, aliás, da procuração, depende das
exigências formais do negócio representativo (art. 268º,2 e 262º,2). Por uma questão de
prova é mais conveniente que a procuração esteja num documento escrito.
Condição
Conceito, natureza e importância
I – Noção Geral
Não reúnem todas as qualidades que caracterizam a condição verdadeira e própria:
1. evento futuro, ao qual está subordinada a eficácia do negócio;
2. caráter incerto do evento;
3. subordinação resultante da vontade das partes e não diretamente ex lege.
A aponibilidade da condição
Determinado, por interpretação da vontade das partes, qual seja o facto condicionante,
verificar-se-á a condição se tal acontecimento tiver lugar; nos temos do artigo 275º,1, a
certeza de que a condição se não pode verificar equivale à sua não verificação.
II – Verificada a condição
Os efeitos do negócio que estavam suspensos tornam-se efetivos ipso iure e desde a data
da conclusão do negócio, sem mais requisitos. O princípio da retroatividade da condição é
afirmado no art. 276º é considerado como efeito efeito natural da cláusula condicional,
pois os efeitos do preenchimento da condição podem ser, pela vontade das partes ou pela
natureza do ato, reportados a outro momento.
II – Pendente Conditione
O negócio produz os seus efeitos normais, mas está suspensa sobre a sua eficácia à sua
possibilidade de verificação do evento condicionante. O devedor condicional é titular de
uma expectativa com certa tutela jurídica. Por esse motivo, o credor condicional deve
proceder segundo boa fé (art. 272º); o devedor ou alienante condicional pode praticar atos
conservatórios (art. 273º) e pode até praticar atos de disposição, cuja eficácia fica sujeita
à verificação da condição resolutiva.
O termo
Cláusula acessória típica pela qual a existência ou a exercibilidade dos efeitos de um
negócio são postas na dependência de um acontecimento futuro mas certo, de tal modo
que os efeitos só começam a fazer efeito ou se tornam exercitáveis a partir do momento
(termo suspensivo ou inicial) ou começam desde logo, mas cessam a partir de certo
momento (termo resolutivo ou final).
Efeitos
Aponibilidade do termo
O termo pode ser aposto, em princípio, a qualquer negócio jurídico. Esta regra tem
exceções, contudo, visto que há negócios que não admitem termo – negócios
inaprazáveis - , os quais coincidem, em regra, com os negócios incondiconáveis.
Modalidades
A cláusula modal impossível (física ou legalmente) tem-se por não escrita e não prejudica
o donatário, herdeiro ou legatário, salvo declaração do doador ou do testador em
contrário. Os encargos ilícitos têm-se igualmente por não escritos, ainda que o disponente
disponha o contrário. 963º -> 2245º -> 2230º CC.
Inadimplemento do modo
Para as doações, tenha o encargo valor patrimonial ou moral, parece inferir-se do artigo
966º que o doador ou os seus herdeiros poderão “pedir a resolução” de toda a doação,
apenas quando, por interpretação do contrato, esse direito lhes seja concedido. Não
bastará, portanto, provar, por qualquer meio, que a cláusula modal foi causa impulsiva da
doação, isto é, que o doador a não teria feito se soubesse que o inadimplemento teria
lugar; é necessário que o direito de resolução lhe seja conferido pelo contrato e, portanto,
II - A condição suspensiva suspende mas não obriga e o modo obriga mas não suspende.
- A condição resolutiva resolve automaticamente, mas não obriga e o modo obriga, mas
dá apenas o direito de pedir resolução.
Portanto, o modo não interfere na eficácia do negócio como acontece com a cláusula
modal.
Cláusula Penal
Conceito
II – Uma outra espécie de cláusula penal é aquela cujo escopo é puramente coercivo e a
sua índole, por isso, exclusivamente compulsivo-sancionatória. A especificidade desta
cláusula traduz-se no facto dela ser acordada como um plus, como algo que acresce à
execução específica da prestação ou à indemnização pelo não cumprimento. Ou seja,
visa compelir o devedor ao cumprimento, não substitui a indemnização, constituindo, por
definição, um plus, algo que acrescerá àquela, que terá assim, de apurar-se nos termos
gerais.
V - Pode acontecer, com efeito, que o montante da pena se venha a revelar, nas
circunstâncias concretas, manifestamente excessivo.
A possibilidade de reduzir a pena depende de o seu montante se mostrar manifestamente
excessivo, e não apenas de ser superior não dano. Só em casos excecionais, pois, é que
o tribunal poderá reduzir o montante estipulado na cláusula penal, a fim de evitar abusos,
pois de outra forma, isto é, se fosse permitida a redução da pena sempre que, fosse
superior ao prejuízo efetivo, anular-se-iam as vantagens que a cláusula penal apresenta.
Ver artigo. 812º CC.
Conceito
Regime
II – Devemos fazer uma interpretação restritiva do art. 809º, por forma a subtrair do seu
alcance uma cláusula que condicione a responsabilidade do devedor ao dolo e culpa
grave, exonerando-o assim por comportamentos que só lhe podem ser imputados por
mera culpa leve. No mesmo sentido depõe o próprio texto do art. 809º, visto que neste
caso não haverá propriamente uma renúncia à indemnização.
III – O DL 446/85, 25 de outubro, apenas proibiu (no art. 18º,c)) as cláusulas que “excluem
ou limitem, de modo direto ou indireto, a responsabilidade por não cumprimento definitivo,
mora ou cumprimento defeituoso, em caso de dolo ou culpa grave”. Pode assim dizer-se
que foi o próprio legislador a confirmar a posição que vimos defendendo sobre a
compatibilidade com o art. 809º das cláusulas de exclusão de responsabilidade em caso
de culpa leve, uma vez que, mesmo no domínio dos contratos de adesão, apenas as
proibiu para casos de dolo ou culpa grave.
IV – Quanto à exclusão da responsabilidade do devedor por atos dos seus auxiliares (art.
800º,2), cremos que a mesma só poderá valer, em princípio, nos mesmos termos em que
é de admitir a cláusula de irresponsabilidade por atos diretamente praticados pelo
devedor, ou seja, apenas em caso de incumprimentos imputáveis a título de simples culpa
leve. Porém, se os auxiliares de que o devedor se serve, na circunstância concreta, forem
pessoas autônomas e independentes da sua organização, poderá admitir-se uma
exclusão da responsabilidade ao devedor em termos mais amplos, desde que haja acordo
prévio do credor nesse sentido. Parece que só neste último caso se justificará um
tratamento diferenciado da cláusula exoneratória, permitindo-a em termos mais altos do
que se fosse o próprio devedor – ou um auxiliar dependente – a cumprir a obrigação.
Conceito
O artigo 437º,1, dispõe que “se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão
de contratar tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução
do contrato, ou à modificação dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência
das obrigações, por ela assumidas, afecte gravemente os princípios da boa fé e não
esteja coberta pelos riscos próprios do contrato”.
A alteração das circunstâncias deve, pois, ser uma alteração anormal e com
consequências tais que a exigência do cumprimento inalterado implicaria,
cumulativamente, uma ofensa aos princípios da boa fé e a imposição de uma situação
que não corresponderia aos riscos próprios do contrato.
II – Parece que o artigo 437º não limita à resolução dos contratos por alteração das
circunstâncias aos contratos bilaterais, podendo lançar-se mão dessa providência, desde
que se verifiquem os requisitos respectivos, nos contratos unilaterais ou bilaterais
imperfeitos.
A ineficácia em sentido amplo tem lugar sempre que um negócio não produz, por
impedimento decorrente do ordenamento jurídico, no todo ou em parte, os efeitos que
tenderia a produzir, segundo o teor das declarações respectivas.
A invalidade é uma espécie do género ineficácia: enquanto a ineficácia lato sensu
compreende todas as hipóteses em que, por causas intrínsecas ou extrínsecas, o negócio
não deve produzir os efeitos a que tendia, a invalidade é apenas a ineficácia que provém
de uma falta ou irregularidade dos elementos internos (essenciais, formativos) do negócio.
O conceito de ineficácia em sentido estrito definir-se-á, coerentemente, pela circunstancia
de depender, não de uma falta ou irregularidade dos elementos internos do negócio, mas
de alguma circunstância extrínseca que, conjuntamente com o negócio, integra a situação
complexa (fattispecie) produtiva de efeitos jurídicos.
Na invalidade, a ausência de produção dos efeitos negociais resulta de vícios ou de
deficiências do negócio, contemporâneos da sua formação. O mesmo sucede em muitos
casos de ineficácia em sentido estrito.
Há, porém, casos de cessação dos efeitos negociais – e, portanto, de ineficácia em
sentido lato – por força de eventos posteriores ao momento da sua celebração. Surgem-
nos com estas características, no quadro conceitual e terminológico do Código Civil,
figuras como à resolução, a revogação, a caducidade, a denúncia.
I - Inexistência
A inexistência é uma figura autónoma, com consequências mais graves do que a nulidade
e a anulabilidade. Estes dois últimos conceitos serão precisados adiante.
Quanto à inexistência, afirma-se estarmos perante esta figura quando nem sequer
aparentemente se verifica o corpus de certo negócio jurídico (a materialidade
correspondente à noção de tal negócio), ou, existindo embora essa aparência material, a
realidade não corresponde a tal noção.
Pelo contrário, a valoração de um negócio como nulo ou anulável pressupõe, pelo menos,
que o negócio exista, isto é, que se verifiquem os elementos correspondentes ao seu tipo,
sem embargo de ocorrer, nesses elementos, alguma anormalidade.
O código civil de 1966 consagrou, explicitamente, a figura da inexistência jurídica dentro
das invalidades do casamento. As hipóteses de inexistência jurídica do casamento estão
enumeradas no artigo 1628º, determinando-se no artigo 1630º que a inexistência pode ser
invocada por qualquer pessoa, a todo o tempo, independentemente de declaração judicial,
e que o casamente inexistente não produz qualquer efeito jurídico e nem sequer é havido
como putativo. Diversamente, os casamentos anulados produzem efeitos de casamento
putativo.
a) Operam ipso iure ou ipsa vi legis. Não se torna necessário intentar uma ação ou
emitir uma declaração nesse sentido, nem sequer uma sentença judicial prévia, e
podem ser declaradas ex officio pelo tribunal (art.286º).
b) São invocáveis por qualquer interessado, isto é, pelo sujeito de qualquer relação
jurídica afetada, na sua consistência jurídica ou prática, pelos efeitos a que o
negócio se dirigia (art.286º).
c) São insanáveis pelo decurso do tempo, isto é, são invocáveis a todo o tempo (art.
286º).
d) São insanáveis mediante confirmação (art.288º, a contrario).
O negócio anulável é, em princípio, apesar do vício, tratado como válido. Se não for
anulado, no prazo legal e pelas pessoas com legitimidade, passa a ser definitivamente
válido. Se for anulado, no tempo e forma devidos, considera-se que os efeitos visados não
se produziram desde o início, como nunca tenham tido lugar.
São as seguintes características das anulabilidades:
a) Têm de ser invocadas pela pessoa dotada de legitimidade. Não podem ser
declaradas ex officio pelo juiz. Exigem uma ação especialmente destinada a esse
efeito, ressalvada a possibilidade da sua arguição por via de exceção, isto é, a
possibilidade de as pessoas legitimadas se defenderem, arguindo a anulabilidade
de qualquer negócio jurídico que contra elas seja invocado (art. 287º).
b) Só podem ser invocadas por determinadas pessoas e não por quaisquer
interessados. Resulta, com efeito, do artigo 287º,1, que só têm legitimidade para
arguir a anulabilidade os titulares do interesse para cuja específica tutela a lei
estabeleceu.
c) São sanáveis pelo decurso do tempo. O novo código estabelece o prazo de um ano
para a arguição das anulabilidades (art. 125º e 287º). Na hipótese dos atos
afetados por ilegitimidade conjugais, o prazo máximo é de três anos (1687º,2).
Quanto ao momento a partir do qual se conta o prazo, a lei fixa-o, expressamente,
para certas hipóteses: assim, artigos 125º (varia com a pessoa legitimada para
invocar a anulabilidade) e 1687º (desde a celebração do ato); ou seis meses desde
o seu conhecimento); quando a lei nada disser expressamente, o prazo deve
contar-se desde "a cessação do vício que lhe serve de fundamento" (art. 287º).
d) São sanáveis mediante confirmação (art. 288º). a confirmação é um negócio
unilateral (cremos que não receptício, embora haja divergências na doutrina), pelo
qual a pessoa com legitimidade para arguir a anulabilidade declara aprovar o
negócio viciado.
Trata-se de um negócio jurídico e, como tal, está sujeito aos requisitos gerais de
validade dos negócios; só é eficaz, se for posterior à cessação do vício que
fundamenta a anulabilidade.
A confirmação não depende de forma especial e pode ser tácita ou expressa (art.
288º, 3). A confirmação tem eficácia retroativa, mesmo em relação a terceiro (art.
288º,4).
1) Operam retroativamente (art. 289º), o que está em perfeita coerência com a ideia
de que a invalidade resulta de um vício intrínseco do negócio e, portanto,
contemporâneo da sua formação. Não se produzem os efeitos jurídicos a que o
negócio tendia.
2) Não obstante a retroatividade, há lugar à aplicação das normas sobre a situação
do possuidor de boa fé, em matéria de frutos, benfeitorias, encargos, etc. (289º,3).
3) Em consonância com a retroatividade, haverá lugar à repristinação das coisas no
estado anterior ao negócio, restituindo-se tudo o que tiver sido prestado ou, se a
restituição em espécie não for possível, o valor correspondente (art. 289º,1). Tal
restituição deve ter lugar, mesmo que se não verifiquem os requisitos do
enriquecimento sem causa, isto é, cada uma das partes é obrigada a restituir tudo
o que recebeu e não apenas aquilo com que se locupletou.
4) A retroatividade da nulidade e da anulação, levada às suas últimas consequências
lógicas, conduziria à oponibilidade da destruição dos efeitos do negócio em face de
terceiros. Em princípio, tais formas de invalidade são oponíveis a terceiros, salvo o
caso especial da simulação, que é inoponível a terceiros de boa fé (art. 243º). Em
nome da proteção dos legítimos interesses de terceiros e dos interesses do tráfico
jurídico estabeleceu-se, contudo, que a declaração de nulidade ou a anulação do
negócio respeitante a bens sujeitos a registo, se não for proposta a registada nos
três anos posteriores à conclusão do negócio, é inoponível a terceiros de boa fé,
adquirentes, a título oneroso, de direitos sobre os mesmos bens (art.291º).
III – A cessação dos efeitos negociais pode ter lugar, sem caráter retroativo, sob a forma
de caducidade. Ver artigos 328º a 333º. No nosso sistema jurídico abrange este conceito
uma série numerosa de situações em que as relações jurídicas duradouras de tipo
obrigacional criadas pelo contrato ou pelo negócio se extinguem para o futuro por força do
decurso do prazo estipulado, da consecução do fim visado ou de qualquer outro facto ou
evento superveniente a que a lei atribui o efeito extintivo, ex nunc, da relação contratual.
Artigos: 1051º, 1141º, 1716º, 1174º, 2317º.
A caducidade aplica-se aos direitos potestativos, a dado que é o direito de acionar. A lei
admite que as partes convencionem sobre a caducidade (330º). E é apreciada
oficiosamente pelo tribunal (333º). Os prazos de caducidade, em regra, são curtos, dado
que é exigida uma reação rápida, com consequência do beneficiário/titular não poder
exercer o seu direito (potestativo).
Esta figura distingue-se da prescrição. Nesta última, um direito subjetivo extingue-se pela
inércia do seu titular. A prescrição supõe, então:
- a existência de um direito (subjetivo);
- que o seu titular não o exerça;
- que decorra um determinado tempo.
Trata-se de saber se, no caso de um fundamento de invalidade ser relativo apenas (afetar
apenas) a uma parte do conteúdo negocial, o negócio deve valer na parte restante (não
afetada) ou deve ser nulo ou anulável na sua totalidade.
Trata-se de saber se, declarado nulo ou anulado totalmente um negócio, este não
produzirá quaisquer efeitos negociais ou se, dados certos requisitos, não poderá
reconstituir-se, com os materiais do negócio totalmente inválido, um outro negócio, cujo
resultado final económico-jurídico, embora mais precário, se aproxime do tido em vista
pelas partes com a celebração do contrato totalmente inválido.
Requisitos de admissibilidade:
Artigo 280º dá-nos os requisitos do objeto da relação jurídica; são nulos os negócios cujo
objeto seja:
- física ou legalmente impossíveis;
- contrário à lei;
- indeterminável.