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Agente de Desenvolvimento Infantil do CCI - Centro de Convivência Infantil Chalezinho da Alegria da
Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente/SP. Graduada em Pedagogia com
Habilitação em Educação Infantil e Séries Inicias pela UEM - Universidade Estadual de Maringá/PR e pós-
graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo CESUMAR - Centro Universitário de
Maringá/PR.
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No CCI, cada grupo de crianças conta com o trabalho de duas ADI’s – Agentes de Desenvolvimento
Infantil. Denominamos “educadoras de referência”, pois respondem pelo trabalho pedagógico realizado
em determinado grupo, de forma igualitária e complementar, e são referência para aquele espaço, para
as crianças e para as famílias das crianças que compõem o grupo.
Ao falar sobre adaptação tenho como referencial mais forte o grupo de crianças
denominado Reino Encantado, que abrange a faixa etária de 1 ano e 4 meses
até 3 anos de idade. Trabalhei pouco mais que 3 anos com este grupo de
crianças. Atualmente trabalho com o grupo Criança Feliz que abrange a faixa
etária de 0 a 1 ano e 4 meses de idade. Embora o referencial seja o primeiro
grupo, muitos traços e apontamentos que serão vistos se aplicam de forma
muito apropriada a todas as faixas etárias que trabalhamos no CCI, que vai de
0 a 5 anos e 11 meses de idade.
Assim que uma criança é matriculada no CCI, ela passa pelas orientações
dadas pela Assistente Administrativa e/ou Supervisora e é agendado encontro
entre família e educadoras, o que denominei de “pré-adaptação”. Este
processo de “pré-adaptação” corresponde à “Reunião de Família Ingressante”,
orientações da administração e supervisão, conhecimento do espaço do CCI,
enfim é o momento em que família e instituição vão trocar informações e
experiências para se preparem para esta importante etapa do desenvolvimento
da criança – a adaptação e sua inserção no ambiente da instituição.
Esta troca de informações possibilita que, mesmo sem ter contato com a
criança, o educador possa conhecer um pouco do perfil da criança de acordo
com a ótica da família e conhecer a própria família e a relação entre os pais ou
responsáveis e a criança. Nesta ocasião é possível conhecer também qual
imagem a família tem do CCI em sua finalidade e atribuições, que papel
atribuem aos profissionais, especialmente às educadoras.
No CCI o período de adaptação dura no mínimo cinco dias sendo que no
primeiro dia a criança fica de 30 a 40 minutos na instituição junto com seu
grupo e em companhia de um adulto conhecido, sempre no período da manhã.
O período da manhã é optado na instituição por questões relativas a
organização3 do próprio CCI no período da tarde e também por considerarmos
o período da manhã mais produtivo e tranquilo. Ao tratar das pesquisas de
Davies e Brember, Rappaport e Piccinini comentam sobre o turno em que é
realizada a adaptação, e nos mostram que:
“Os autores verificaram que as crianças atendidas pela
manhã eram, de modo geral, melhor adaptadas do que
as atendidas à tarde. Os autores explicaram este
resultado pelo fato das educadoras trabalharem dois
turnos, estando cansadas à tarde e serem mais rígidas
em seu tratamento e julgamento das crianças deste
turno. Além disso as crianças da tarde não estariam tão
dispostas quanto as da manhã, com o conseqüente
prejuízo em seu comportamento, dando razão para as
educadoras avaliarem como difícil a adaptação” (2001,
p.90)
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Com relação à dinâmica da instituição, no período vespertino temos: horário de chegada e saída de
crianças, momento do lanche da tarde, o horário de almoço das educadoras (o que tornaria uma
adaptação possível apenas depois das três e meia da tarde, visto que é neste horário que as duas
educadoras voltam a trabalhar juntas). Considerando que o processo de adaptação, assim como o da
“pré-adaptação”, deve ser vivenciado pelas duas educadoras não é viável utilizar o período da tarde
para tal finalidade.
Já no segundo, terceiro e quarto dias os períodos de permanência vão se
estendendo assim como a distância do adulto conhecido (este vai se
distanciando gradativamente). E no quinto dia é esperado que a criança
consiga permanecer o período da manhã sem a presença do adulto conhecido
e de forma suficientemente tranqüila.
Cada criança tem seu tempo para adaptar-se de forma esperada ao ambiente
escolar, é preciso respeitar este tempo bem como as manifestações e reações
que a criança apresenta. Cada família também tem maneiras próprias de
encarar este período de mudanças e deve ser igualmente respeitada, no
entanto, por tratar-se de adultos, o diálogo franco, claro e aberto deve
prevalecer para privilegiar o bem-estar de todos, principalmente da criança.
De acordo com Rapoport e Piccinini (p.93) “a adaptação à creche é um
processo gradual em que cada criança precisa de um período de tempo
diferente para se adaptar, sendo importante respeitar o ritmo da própria criança
e não impor um período pré-determinado para a adaptação”. Embora Rapoport
e Piccinini descrevam o processo de adaptação desta forma compreendo que
ainda assim estamos em concordância com estes autores visto que, quando
colocamos a meta inicial de cinco dias para a adaptação de acordo com os
moldes descritos e concomitantemente já explicitamos a possibilidade de
prolongamento da mesma consideramos este prazo como uma expectativa
inicial que pode ou não ser cumprida.
Este é um processo que ocorre de forma gradativa para a criança, é algo que
precisa ser construído e solidificado pouco a pouco. Sobre questões
relacionadas a formação de vínculos, Rapoport e Piccinini se embasam nos
ensinamentos de Bowlby e nos mostra que:
“A teoria de apego de Bowlby (1969/1990) postula que a
tendência para se estabelecerem fortes relações de
apego com determinada pessoa é uma necessidade
básica tão importante quanto a alimentação e o sexo. A
relação de apego que a criança estabelece com a mãe
ou cuidador principal depende da responsividade e
sensibilidade desta pessoa com a criança e não da
satisfação das necessidades primárias da criança pelo
adulto. Além disso, Bowlby assinalou que o longo período
da infância humana torna a criança vulnerável e
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“(...) psiquiatra, especialista em psiquiatria infantil e psicanalista inglês (...)” (Dalbem e Aglio, p. 2005)
impotente para viver sozinha, principalmente nos
primeiros anos de vida”. (, p.82)
Assim como essas atitudes nos chamam a atenção, reações muitos agradáveis
aos olhos adultos como aceitação imediata, sorrisos, desprendimento fácil do
adulto conhecido também devem ser observados com cautela, pois também
configuram-se em reações frente ao novo. A novidade pode fazer com que a
criança fique deslumbrada, envolvida com inúmeros e novos estímulos, e
quando este encantamento diminui ela pode apresentar reações como as
descritas anteriormente: recusa a ficar, choro, etc. Por isso independentemente
da reação que a criança apresenta no momento inicial da adaptação, o
processo de ambientação gradativo deve continuar inalterado.
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Por se tratar de um momento único, onde as particularidades e especificidades da criança e família
precisam ser observadas com atenção, optamos por fazer a adaptação de uma criança por semana. A
individualidade deve manter-se preservada no momento da adaptação inicial.
da criança pequena que terão mais confiança no
ambiente e nas pessoas que os cercam” (2001, p.93).
É sobre esta convicção na forma como se trabalha que estamos nos referindo.
Quando se acredita no que está fazendo e quando se tem noção das suas
possibilidades enquanto educador infantil e ainda, quando há compreensão da
criança e do que realmente é a Educação Infantil isso se torna visível através
das ações do profissional de educação, pois consegue transitar entre suas
competências e a necessidade do outro (família, criança, instituição) de forma
satisfatória para todos os envolvidos.
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“É uma cidade de 130.000 habitantes na região prospera e progressista de Emilia Romagna, no
nordeste da Itália. Seu sistema municipal de educação para a infância tornou-se reconhecido e
aclamado como um dos melhores no mundo”. (Newsweek, 2 dezembro de 1991 in EDWARDS, GANDINI
e FORMAN, 1999, p. 21)
ter acesso ao patrimônio histórico e cultural de acordo
com o momento que está vivendo”. (www.fct.unesp.br/cci)
Referencias Bibliográficas: