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Apud Kant – “As mulheres não podem mais defender pessoalmente seus
direitos e seus assuntos civis, assim como não lhes cabe fazer a guerra: elas só
podem fazê-lo por meio de um representante”. “[...] a mulher é, por essência,
sem nome e isso porque lhe falta, por natureza, personalidade”.
p. 117 – “Realmente, é claro que o eterno, na história, não pode ser senão o
produto de um trabalho histórico de eternização. O que significa que, para
escapar totalmente do essencialismo, o importante não é negar as constantes e
as invariáveis, que incontestavelmente fazem parte da realidade histórica: é
preciso reconstruir a história do trabalho histórico de des-historização, ou, se
assim preferirem, a história da (re)criação continuada das estruturas objetivas e
subjetivas da dominação masculina, que se realiza permanentemente desde que
existem homens e mulheres, e por meio da qual a ordem masculina se vê
continuamente reproduzida através dos tempos”.
“Uma verdadeira compreensão das mudanças sobrevindas [...] não pode ser
esperada, paradoxalmente, a não ser de uma análise das transformações dos
mecanismos e das instituições encarregados de garantir a perpetuação da
ordem dos gêneros”.
A igreja, marcada pelo antifeminismo, e pelo clero, decência, etc“ [...] ela inculca
(ou inculcava) explicitamente uma moral familiarista, completamente dominada
pelos valores patriarcais e principalmente pelo dogma da inata inferioridades das
mulheres. Ela age, além disso, de maneira indireta, sobre as estruturas históricas
do inconsciente, por meio sobretudo da simbologia dos textos sagrados [...]”.
p.121 - “Por fim, a Escola, mesmo quando já liberta da tutela da Igreja, continua
a transmitir os pressupostos da representação patriarcal (baseada na homologia
entre a relação homem/mulher e a relação adulto/criança) e sobretudo, talvez,
os que estão inscritos em suas próprias estruturas hierárquicas, todas
sexualmente conotadas [...]”.
a escola “[...] nunca deixou de encaminhar, até época recente, modos de pensar
e modelos arcaicos (tendo, por exemplo, o peso da tradição aristotélica que faz
do homem o princípio ativo e da mulher o elemento passivo) [...]”
“[...] entre sua mão direita, paternalista, familiarista e protetora, e sua mão
esquerda, voltada para o social, a divisão arquetípica entre o masculino e o
feminino, ficando as mulheres com a parte ligada ao Estado social, não só como
responsáveis por ele, como enquanto destinatárias privilegiadas de seus
cuidados e de seus serviços”.
p.127 – “Em número maior que os rapazes, quer para obtenção do bacharelado,
quer nos estudos universitários, as moças estão bem representadas nos
departamentos mais cotados, mantendo-se sua representação inferior nos
departamentos de ciências, ao passo que cresce nos departamentos de letras”.
p.130 - “Por um lado, qualquer que seja sua posição no espaço social, as
mulheres têm em comum o fato de estarem separadas dos homens por um
coeficiente simbólico negativo que, tal como a cor da pele para os negros, ou
qualquer outro sinal de pertencer a um grupo social estigmatizado, afeta
negativamente tudo que elas são e fazem [...]”
p.133 – “A constância dos habitus que daí resulta é, assim, um dos fatores mais
importantes da relativa constância da estrutura da divisão sexual de trabalho:
pelo fato de serem estes princípios transmitidos essencialmente, corpo a corpo,
aquém da consciência e do discurso, eles escapam, em grande parte, às
tomadas de controle consciente e, simultaneamente, às transformações ou às
correções (como o comprovam as defasagens, não raro observadas, entre as
declarações e as práticas, os homens que se dizem favoráveis à igualdade entre
os sexos não participando mais do trabalho doméstico, por exemplo, que os
outros); além disso, sendo objetivamente orquestrados, eles se confirmam e se
reforçam mutuamente”.
p.142-145 – homologia das divisões, em diferentes campos; sexualidade; Commented [LdSM4]: semelhança de origem e
trabalho histórico de produção de condições; estrutura entre órgãos ou partes de organismos
diversos.
p. 147 – “É, portanto, sob a condição de manter juntas a totalidade dos lugares
e a das formas nas quais se exerce essa espécie de dominação – que tem a
particularidade de poder realizar-se em escalas bem diferentes, em todos os
espaços sociais, dos mais limitados, como as famílias, aos mais vastos – que
podemos captar as constantes de sua estrutura e os mecanismos de sua
reprodução. As mudanças visíveis que afetaram a condição da feminina
mascaram a permanência de estruturas invisíveis que só podem ser
esclarecidas por um pensamento relacional, capaz de pôr em relação a
economia doméstica, e, portanto, a divisão de trabalho e de poderes que a
caracteriza, e os diferentes setores do mercado de trabalho (os campos) em que
estão situados os homens e as mulheres. E isso no lugar de apreender
separadamente, como tem sido feito em geral, a distribuição de tarefas entre os
sexos, e sobretudo entre os níveis, no trabalho doméstico e no trabalho não
doméstico”.
p. 158 “[...] o que se pode dizer é que o melhor dos movimentos políticos está
fadado a fazer uma má ciência e, em última instância, uma má política, se não
conseguir transformar suas disposições subversivas em inspiração crítica – e,
antes de mais nada, em autocrítica”.
p. 166 - “Como em certos tipos de racismo, ela assume, no caso, a forma de uma
negação da sua existência pública, visível. A opressão como forma de
‘invisibilização’ traduz uma recusa à existência legítima, pública, isto é,
conhecida e reconhecida, sobretudo pelo direito, e por uma estigmatização que
só aparece de forma realmente declarada quando o movimento reivindica a
visibilidade. Alegra-se, então, explicitamente, a ‘discrição’ ou a dissimulação a
que ele é ordinariamente obrigado a se impor”.