Você está na página 1de 51

Como estudar a partir de textos?

Existem vários tipos de TEXTOS INFORMATIVOS:


Estruturas-tipo dos textos
Conteúdos
informativos
É um tipo de texto que fornece informações
Descrição específicas sobre qualidades e/ou características
de sujeitos, situações ou objetos.
É um tipo de texto que enumera objetos,
Categorização pessoas e situações que se relacionam em
função de uma ou várias características comuns.
É um tipo de texto que enumera as semelhanças
Comparação e as diferenças entre objetos, pessoas ou
acontecimentos.
É um tipo de texto que identifica uma relação
causal entre acontecimentos e suas
Relação causa-efeito
consequências, entre acções e efeitos dessas
acções.
É um tipo de texto em que se trabalham a
Relação problema-solução relação entre um dado problema e a sua
solução, entre uma pergunta e uma resposta.

Independentemente do tipo de texto, importa passar pelas seguintes


etapas na análise do texto:
1º Passo: Leitura global do texto
Contato pela primeira vez com o texto, de forma a abordar os seus principais
conteúdos:
Lê os títulos e subtítulos;
Lê a introdução e as conclusões;
Observa os mapas, as gravuras e os gráficos.
Identifica elementos do texto que contribuam para dificultar a tua compreensão;
Relaciona as informações contidas no texto com outras informações, já
adquiridas, sobre a mesma temática.

Como estudar a partir de textos 1


2º Passo: Leitura compreensiva do texto
Lê todo o texto, com cuidado;
Presta atenção às palavras mais destacadas;
Procura compreender todos os gráficos, figuras, etc;
Distingue, no texto, as ideias principais das ideias secundárias;
Clarifica as palavras/conceitos que não compreendo;
Sublinha o texto.

3º Passo: Utilização do texto como instrumento de estudo


Parafraseia o texto;
Esquematiza o texto;
Resume o texto;
Elaboro apontamentos do texto.

A leitura global e compreensiva do texto poderá ser guiada através das seguintes
questões:

Questões e tarefas Respostas


Qual é o título do texto?
O texto possui subtítulos?
O texto possui esquemas, gravuras,
fotografias, gráficos ou mapas?
Qual é o assunto de que trata o texto?
Assinala com um “?”, a lápis e na margem,
as frases que não compreendeste.
Que outras dificuldades é que sentiste face
à leitura do texto?
Sublinha, a azul, as frases ou as palavras
que exprimam a ideia principal de cada
parágrafo.
Sublinha, a vermelho, as frases ou as
palavras que exprimam a(s) ideia(s)
secundária(s) de cada parágrafo.

Como estudar a partir de textos 2


Como sublinhar um texto?
Quais são as vantagens de sublinhar o texto?
É uma forma activa de estudar: quem sublinha lê duas vezes;
Despertar a atenção para as ideias de um texto;
Permite apreender melhor o sentido do texto;
Facilita as revisões.

Regras para sublinhar bem:


Sublinha só as palavras ou ideias principais. Sublinhar tudo é o mesmo que
não sublinhar nada;
Dá mais importância às definições, fórmulas, termos técnicos e ideias-chave;
Sublinha de maneira a que, se só leres os sublinhados, te consigas lembrar de
todo o texto e perceber o seu sentido. assim quando fores fazer revisões da
matéria, terás o trabalho muito facilitado.
Podes utilizar diferentes tipos de sublinhados, para distinguires diferentes tipos
de ideias, por exemplo:
para enquadrar títulos
para marcar as ideias principais
para marcar ideias secundárias, mas também que devem ser revistas
mais tarde
Podes utilizar cores diferentes para cada um desses tipos de ideias.

Como distinguir as ideias principais das ideias secundárias?


Para distinguir uma ideia principal de uma ideia secundária podem seguir-se as
seguintes regras:
em qualquer parágrafo existe, usualmente, uma frase que exprime uma
ideia principal;
as frases que exprimem as ideias principais caracterizam-se por conter
afirmações mais genéricas e amplas;
as frases que exprimem as ideias secundárias transmitem informações
mais detalhadas;
se se retirarem as frases que exprimem as ideias principais, o texto
deixa de fazer sentido;
se se retirarem as frases que exprimem as ideias secundárias, o sentido do texto não é
alterado.

Como estudar a partir de textos 3


É importante ter em conta alguns procedimentos enquanto se sublinha o texto:
Não sublinhar o texto na fase da leitura compreensiva e global;
Não abusar dos traços e das cores;
Sublinhar as ideias principais e/ou definições, as palavras-chave, as datas, as
fórmulas,...

Além dos sublinhados, podes também utilizar um código e fazer notas à margem do
texto, chamando assim a atenção para diversos pontos:
Código Significado
! Importante; ideias a realçar
Concordo

Não concordo
Def. Definição ou conceito

Aviso
(1) Enumeração de factos
? Dúvidas

Como esquematizar um texto?


Por que utilizar esquemas?
Permitem organizar a informação a estudar, facilitando, por isso, as revisões da
matéria dada;
Obrigam a estabelecer relações entre as várias ideias presentes num texto,
contribuindo para uma melhor compreensão da matéria em estudo;
Facilitam a visualização do tipo de relações existentes entre os conceitos que
dizem respeito aos conteúdos a estudar, o que facilita a sua evocação.

Para organizares um esquema, precisas de:


definir as ideias principais;
definir as ideias secundárias, que estão ligadas a cada uma delas;
escolher uma palavra ou uma frase curta que transmita as ideias a reter;
escolher o esquema gráfico adequado que contenha essas palavras-chave ou
essas frases curtas, de forma a mostrar a relação existente entre elas.

Como estudar a partir de textos 4


No caso de um texto descritivo, um esquema adequado poderia ser:

T
O gráfico de uma estrutura adequada a um texto que estabelece categorias seria:

Ou

Ela pode ser sensual, engraçada e sensível. Calma... não é a mulher ideal, é a linguagem do corpo. É
sensual quando em um encontro, por exemplo, um casal utiliza olhares intensos, gestos calculados e
expressões corporais atrevidas para expressar suas emoções. É engraçada quando um humorista, para dar
o correto tom de sua piada, faz caretas, imitações e até mímicas com o intuito de fazer o espectador rir.
É, finalmente, sensível quando um ator, ao final do espetáculo, curva-se diante do público para agradecer
os aplausos, que também identificam a sensibilidade do público para afirmar que está satisfeito com a
apresentação. Tais exemplos de linguagem corporal nos levam à conclusão de que as palavras são
dispensáveis quando o corpo consegue supri-las.

Como estudar a partir de textos 5


Para um texto que estabelece comparações, um gráfico adequado poderá ser:

Semelhanças Semelhanças

Diferenças Diferenças

Como estudar a partir de textos 6


No caso de um texto que estabeleça relações causa-efeito, o gráfico de estrutura
adequada seria:

Embora goste bastante de futebol, o torcedor amazonense não prestigia os jogos locais. A
primeira causa para esse crescente desinteresse é a falta de incentivo por parte do governo e da
mídia local, que dão mais ênfase ao futebol do sul e do sudeste, deixando o daqui sem muito
atrativo. A segunda é a ausência de jogadores de expressão e de grandes ídolos no futebol
amazonense, o que faz com que o torcedor deixe de comparecer aos estádios e prefira assistir aos
jogos ‘de fora’ pela televisão. A terceira causa para esse desprestígio é a falta de uma estrutura
profissional local mais eficaz dentro dos clubes, que não dão aos seus técnicos e atletas condições
favoráveis para desempenharem um futebol de melhor qualidade. Por tais razões, o futebol, tão
apreciado pelo torcedor manauara, não se torna expressivo no âmbito local.”
(Edilson de S. Soares, aluno do 1º período de Letras da UFAM, 1999)

Os mapas de ideias constituem outra forma de sistematizar informação de um texto,


podendo ser bastante útil para os mais diversos tipos de textos:

Ideia principal

Podes sempre fazer esquemas mistos, que incluam ideias de cada um destes esquemas
de forma a melhor conseguires retratar todo o texto.

Como estudar a partir de textos 7


Como RESUMIR um texto?
O resumo dos textos deve ser realizado através de paráfrases, sendo que parafrasear
um texto é contar por palavras suas o que se acabou de ler nesse texto. As vantagens de
parafrasear um texto podem ser resumidas do seguinte modo:
facilita o estudo de um texto;
ajuda a compreender e a reter melhor a informação contida num texto;
ajuda a compreender melhor quais são as dificuldades sentidas face a um
texto;
ajuda a esquematizar um texto;
ajuda a resumir um texto;
ajuda a elaborar apontamentos.

Etapas necessárias à realização de um bom resumo:


Lê o texto e tenta compreendê-lo bem. Identifica as ideias principais, parágrafo
a parágrafo:
Podes sublinhá-las, durante a leitura;
Podes fazer um esquema, no fim da leitura, para organizar o texto e os
parágrafos.
Parafraseia cada uma das frases que exprimem essas ideias;

Começa a escrever o resumo, a partir das frases que parafraseaste,


procurando:
não incluir os pormenores inúteis;
não repetir ideias: substituir ideias repetidas ou semelhantes por uma
que as englobe;
utilizar termos genéricos em vez de listas;
utilizar uma linguagem pessoal.

Avalia o trabalho realizado e, caso seja necessário, corrige o teu resumo:


Contém as ideias principais?
Respeitaste a ideia do autor?
O texto compreende-se bem?
Não há pormenores inúteis ou repetições?
Verificaste se tem erros ortográficos?
Faz outra leitura do teu resumo e aperfeiçoa a linguagem do texto, se for
necessário.
Como estudar a partir de textos 8
Como elaborar APONTAMENTOS (anotações) a partir de um texto?

Etapas necessárias à elaboração de apontamentos:

Lê o texto do príncipio ao fim;


Qual a temática que o texto aborda?
Sublinha as principais ideias contidas em cada um dos parágrafos;
Lê o texto por partes. Regista, por palavras tuas, o que consideras mais
importante, de uma forma muito mais resumida do que o texto;
Utiliza frases curtas ou palavras-chave;
Lê os teus apontamentos e procura melhorá-los, ligando bem as ideias e
organizando o texto ou a ligação entre as frases ou palavras-chave;
Utilizando um dos modelos que conheces, inventa um esquema que te permita
estabelecer relações entre as ideias principais contidas em cada um desses
parágrafos;

Avalia os apontamentos que redigiste:

Consegues compreender sem dificuldades o que


SIM NÃO
escreveste?
Verifica quais são as ideias que sublinhaste no texto.
Consegues identificar todas essas ideias nos apontamentos SIM NÃO
que redigiste?
O esquema que utilizaste permite-te compreender o texto
SIM NÃO
com facilidade?

Se for necessário, melhora alguns aspectos e volta a fazer a auto-avaliação.

Como estudar a partir de textos 9


Lista de verificação da atividade

Como está o meu RESUMO?

Questões e tarefas A manter A melhorar


Realizei uma leitura global do texto
Sublinhei as ideias principais em cada um dos
parágrafos do texto.
Parafraseei essas frases.
Reescrevi um texto a partir dessas frases, evitando:
os pormenores desnecessários;
as ideias repetidas.
O texto contém as ideias principais.
O texto compreende-se bem.
Verifiquei se tem erros ortográficos.
O resumo está breve, claro, rigoroso e com uma
linguagem pessoal.

Como está o meu ESQUEMA?

Questões e tarefas A manter A melhorar


Defini as ideias principais do texto.
Defini as ideias secundárias.
Escolhi uma palavra ou uma frase curta que
transmite as ideias a reter.
Escolhi o esquema gráfico adequado que contém
essas palavras-chave ou essas frases curtas, de
forma a mostrar a relação existente entre elas.
O esquema estabelece as relações entre as várias
ideias presentes.
O esquema facilita a visualização do tipo de relações
existentes entre os conceitos que dizem respeito aos
conteúdos a estudar.

Como estudar a partir de textos 10


Como estão os meus APONTAMENTOS?

Questões e tarefas A manter A melhorar


Escrevi os meus apontamentos por palavras minhas.
Consigo compreender sem dificuldades o que
escrevi.
Consigo encontrar todas as ideias sublinhadas no
texto descritas nos meus apontamentos.
O esquema que utilizei permite-me compreender o
texto com facilidade.

TEXTO 1
PRECONCEITO LINGUÍSTICO

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz.São Paulo: Loyola

“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”

Este é o maior e o mais sério dos mitos que compõem a mitologia do preconceito
linguístico no Brasil. Ele está tão arraigado em nossa cultura que até mesmo intelectuais de
renome, pessoas de visão crítica e geralmente boas observadoras dos fenômenos sociais
brasileiros, se deixam enganar por ele. É o caso, por exemplo, de Darcy Ribeiro, que em seu
último grande estudo sobre o povo brasileiro escreveu:
É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um
dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente da
Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. [grifo meu. Folha de S. Paulo, 5/2/95].

Existe também toda uma longa tradição de estudos filológicos e gramaticais que se
baseou, durante muito tempo, nesse (pre)conceito irreal da “unidade linguística do Brasil”.
Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a verdadeira
diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se
ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente
de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de
escolarização etc.
Ora, a verdade é que no Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da
população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e de
variabilidade, não só por causa de grande extensão territorial do país – que gera as diferenças
regionais, bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito –, mas
principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo país com a pior
distribuição de renda em todo o mundo. São essas graves diferenças de status social que
explicam a existência, em nosso país, de um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes
das variedades não-padrão do português brasileiro – que são a maioria de nossa população –
e os falantes da (suposta) variedade culta, em geral mal definida, que é a língua ensinada na
escola.

Como estudar a partir de textos 11


Como a educação ainda é privilégio de muito pouca gente em nosso país, uma
quantidade gigantesca de brasileiros permanece à margem do domínio de uma norma culta.
Assim, da mesma forma como existem milhões de brasileiros sem terra, sem escola, sem teto,
sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros sem língua. Afinal, se formos
acreditar no mito da língua única, existem milhões de pessoas neste país que não têm acesso
a essa língua, que é a norma literária, culta, empregada pelos escritores e jornalistas, pelas
instituições oficiais, pelos órgãos do poder – são os sem-língua. É claro que eles também falam
português, uma variedade de português não-padrão, com sua gramática particular, que no
entanto não é reconhecida como válida, que é desprestigiada, ridicularizada, alvo de chacota e
de escárnio por parte dos falantes do português-padrão ou mesmo daqueles que, não falando
o português-padrão, o tomam como referência ideal – por isso podemos chamá-los de sem-
língua.
O que muitos estudos empreendidos por diversos pesquisadores têm mostrado é que os
falantes das variedades lingüísticas desprestigiadas têm sérias dificuldades em compreender
as mensagens enviadas para eles pelo poder público, que se serve exclusivamente da língua-
padrão. Como diz Maurizzio Gnerre em seu livro Linguagem, escrita e poder, a Constituição
afirma que todos os indivíduos são iguais perante a lei, mas essa mesma lei é redigida numa
língua que só uma parcela pequena de brasileiros consegue entender. A discriminação social
começa, portanto, já no texto da Constituição. É claro que Gnerre não está querendo dizer que
a Constituição deveria ser escrita em língua não-padrão, mas sim que todos os brasileiros a
que ela se refere deveriam ter acesso mais amplo e democrático a essa espécie de língua
oficial que, restringindo seu caráter veicular a uma parte da população, exclui necessariamente
uma outra, talvez a maior.
Muitas vezes, os falantes das variedades desprestigiadas deixam de usufruir diversos
serviços a que têm direito simplesmente por não compreenderem a linguagem empregada
pelos órgãos públicos. Um estudo bastante revelador dessa situação foi empreendido por
Stella Maris Bortoni-Ricardo na periferia de Brasília e publicado no artigo “Problemas de
comunicação interdialetal”. Diante do que descobriu a autora afirma:
A ideia de que somos um país privilegiado, pois do ponto de vista linguístico tudo nos
une e nada nos separa, parece-me, contudo, ser apenas mais um dos grandes mitos
arraigados em nossa cultura. Um mito, por sinal, de consequências danosas, pois na medida
em que não se reconhecem os problemas de comunicação entre falantes de diferentes
variedades da língua, nada se faz também para resolvê-los.
A mesma autora alerta para que não se confunda a ideia de “monolinguísmo”, com a de
“homogeneidade lingüística”. O fato de no Brasil o português ser a língua da imensa maioria da
população não implica, automaticamente, que esse português seja um bloco compacto, coeso
e homogêneo. Na verdade, como costumo dizer, o que habitualmente chamamos de português
é um grande “balaio de gatos”, onde há gatos dos mais diversos tipos: machos, fêmeas,
brancos, pretos, malhados, grandes, pequenos, adultos, idosos, recém-nascidos, gordos,
magros, bem-nutridos, famintos etc. Cada um desses “gatos” é uma variedade do português
brasileiro, com sua gramática específica, coerente, lógica e funcional.
É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a
educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a
reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas
políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades
não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas ensinadas em sala
de aula é, em muitas situações, uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega à
escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano é
uma variedade de português não-padrão.
Felizmente, essa realidade linguística marcada pela diversidade já é reconhecida pelas
instituições oficiais encarregadas de planejar a educação no Brasil. Assim, nos Parâmetros
Como estudar a partir de textos 12
curriculares nacionais, publicados pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1998,
podemos ler que
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela
sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim,
quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que se constitui de
muitas variedades. [...] A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da
linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo
dos programas de difusão da mídia sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”,
não se sustenta na análise empírica dos usos da língua.

São, de fato, boas novas! Espero que elas desçam das altas esferas governamentais e
se propaguem pelas salas de aula de todo o país!

“O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”

Não sei quem foi a primeira pessoa que proferiu essa grande bobagem, mas a realidade
é que até hoje ela continua sendo repetida por muita gente por aí, inclusive gente culta, que
não sabe que isso é apenas um mito sem nenhuma fundamentação científica. De onde será
que veio essa ideia? Esse mito nasceu, mais uma vez, da velha posição de subserviência em
relação ao português de Portugal.
É sabido que no Maranhão ainda se usa com grande regularidade o pronome tu,
seguido das formas verbais clássicas, com a terminação em –s característica da segunda
pessoa: tu vais, tu queres, tu dizes, tu comias, tu cantavas etc. Na maior parte do Brasil, como
sabemos, devido à reorganização do sistema pronominal de que já falei, o pronome tu foi
substituído por você. Aliás, nas palavras da boneca Emília, “o tu já está velho coroco” e o que
ele deve fazer, na opinião dela, “é ir arrumando a trouxa e pondo-se ao fresco”, e mudar-se de
vez para o “bairro das palavras arcaicas”. De fato, o pronome tu está em vias de extinção na
fala do brasileiro, e quando ainda é usado, como por exemplo em alguns falares característicos
de certas camadas sociais do Rio de Janeiro, o verbo assume a forma da terceira pessoa: tu
vai, tu fica, tu quer, tu deixa disso etc., que caracteriza também a fala informal de algumas
outras regiões. Em Pernambuco, por exemplo, é muito comum a interjeição interrogativa “tu
acha?” para indicar surpresa ou indignação.
Ora, somente por esse arcaísmo, por essa conservação de um único aspecto da
linguagem clássica literária, que coincide com a língua falada em Portugal ainda hoje, é que se
perpetua o mito de que o Maranhão é o lugar “onde melhor se fala o português” no Brasil.
Acontece, porém, que os defensores desse mito não se dão conta de que, ao utilizarem
o critério prescrivista de correção para sustentá-lo, se esquecem de que os mesmos
maranhenses que dizem tu és, tu vais, tu foste, tu quiseste, também dizem: Esse é um bom
livro para ti ler, em vez da forma “correta”, Esse é um bom livro para tu leres. Ou seja, eles
atribuem ao pronome ti a mesma função de sujeito que em amplas regiões do Brasil, nas mais
diversas camadas sociais (cultas inclusive), é atribuída ao pronome mim quando antecedido da
preposição para e seguido de verbo no infinitivo: Para mim fazer isso vou precisar da sua ajuda
– uma construção sintática que deixa tanta gente de cabelo em pé.
O que acontece com o português do Maranhão em relação ao português do resto do
país é o mesmo que acontece com o português de Portugal em relação ao português do Brasil:
não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja intrinsecamente “melhor”,
“mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” que outra. Toda variedade linguística atende às
necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam. Quando deixar de atender,
ela inevitavelmente sofrerá transformações para se adequar às novas necessidades. Toda
variedade linguística é também o resultado de um processo histórico próprio, com suas
Como estudar a partir de textos 13
vicissitudes e peripécias particulares. Se o português de São Luís do Maranhão e de Belém do
Pará, assim como o de Florianópolis, conservou o pronome tu com as conjugações verbais
lusitanas, é porque nessas regiões aconteceu, no período colonial, uma forte imigração de
açorianos, cujo dialeto específico influenciou a variedade de português brasileiro falado
naqueles locais. O mesmo acontece com algumas características “italianizantes” do português
da cidade de São Paulo, onde é grande a presença dos imigrantes italianos e seus
descendentes, ou com castelhanismos evidentes na fala dos gaúchos, que mantêm estreitos
contatos culturais com seus vizinhos argentinos e uruguaios.
Numa entrevista à revista Veja (10/9/97), Pasquale Cipro Neto disse que é “pura lenda”
a idéia de que o Maranhão é o lugar do Brasil onde melhor se fala português. Ponto para ele.
Infelizmente, continuando a tratar do assunto, não hesitou em afirmar que “no cômputo geral, o
carioca é o que se expressa melhor sob a ótica da norma culta” e que a São Paulo que fala ‘dois
pastel’ e ‘acabou as ficha’ é um horror. Não acredito que o fato de ser uma cidade com grande número de
imigrantes seja uma explicação suficiente para esse português esquisito dos paulistanos. Na verdade, é
inexplicável.

Faltam argumentos científicos rigorosos, por parte do entrevistado, que nos expliquem
como chegou ao “cômputo geral” que lhe permitiu atribuir ao carioca uma expressão “melhor
sob a ótica da norma culta”, nem com que critérios metodológicos chegou à conclusão de que
o português paulistano é “esquisito”. O uso de expressões tão generalizadoras como “o
carioca” (de que classe social, de que faixa etária, com que nível de instrução?) ou “a São
Paulo que fala” (quase vinte milhões de habitantes, duas vezes a população de Portugal!)
acaba reforçando indiretamente (devido à influência inegável de quem as formulou como
formador de opinião) a idéia de que o falar carioca é “melhor” e digno de maior prestígio que os
demais falares brasileiros – idéia que, no passado, levou até a se querer impor a pronúncia
carioca como a oficial no teatro, no canto lírico e nas salas de aula do Brasil inteiro!
As pesquisas sociolinguísticas – que se baseiam em coleta de dados por meio de
gravações da fala espontânea, viva, dos usuários nativos da língua – confirmam uma
suposição óbvia: as pessoas das classes cultas de qualquer lugar dominam melhor a norma
culta do que as pessoas das classes não-cultas de qualquer lugar. Falantes cultos do Rio de
Janeiro, do Recife, de Porto Alegre, de São Paulo, de Catolé do Rocha ou de Guaratinguetá se
expressarão igualmente bem “sob a ótica da norma culta”. Basta consultar, por exemplo, o
enorme acervo de centenas de horas de gravação da fala urbana culta recolhido pelos
pesquisadores do Projeto NURC para confirmar que, apesar das inevitáveis variações
regionais, existe uma norma urbana culta geral brasileira. Muitos aspectos dessa norma urbana
culta estão descritos nos seis volumes da Gramática do português falado, uma grande obra
coletiva publicada pela Editora da Unicamp, resultado do trabalho de investigação e análise de
centenas de lingüistas das mais diversas regiões do país.
De igual modo, fenômenos de concordância do tipo “dois pastel” e “acabou as ficha” são
facilmente encontráveis na fala carioca, como podemos ouvir nas fitas gravadas do Projeto
CENSO, que investiga o uso da língua no Rio de Janeiro nas classes sociais não-cultas (isto é,
pessoas que não cursaram universidade). Além disso, esse tipo de concordância se verifica de
Norte a Sul do Brasil – e também em Portugal, segundo pesquisas recentes da professora
Maria Marta Scherre. Essa mesma pesquisadora defendeu, na Universidade Federal do Rio de
Janeiro, uma tese de doutorado com o título Reanálise da concordância em português, com
555 páginas, que hoje é uma referência obrigatória para quem se aventurar a emitir opiniões a
respeito. Scherre mostra que, ao contrário do que pensa Cipro, aqueles fenômenos de
concordância são, na verdade, altamente explicáveis. Portanto não representam uma mera
“esquisitice” dos paulistanos, muito menos um “horror”.
Convém salientar que a determinação das normas culta e não-culta é uma questão de
grau de freqüência das variantes (o que os normativistas considerariam erros ou acertos). Por

Como estudar a partir de textos 14


exemplo, coisas como “os menino tudo” ou “houveram fatos”, podem aparecer na fala de
brasileiros cultos.
É preciso abandonar essa ânsia de tentar atribuir a um único local ou a uma única
comunidade de falantes o “melhor” ou o “pior” português e passar a respeitar igualmente todas
as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura. Todas elas têm
seu valor, são veículos plenos e perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas que
as falam. Se tivermos de incentivar o uso de uma norma culta, não podemos fazê-lo de modo
absoluto, fonte do preconceito. Temos de levar em consideração a presença de regras
variáveis em todas as variedades, a culta inclusive.

TEXTO 2

Dicionário Mineirês (especial procêis):


PRESTENÇÃO - é quano um miner tá falano mais cê num tá ouvino.
CADIQUÊ (?! ) - 'Por causa de quê?', assim, tentânu intendê o motivo de algum acontecimento...
DEU - o messs qui "de mim". Ex : " - larga deu, sô !"
SÔ - fim de quarqué frase. Qué exêmm tamém ? : Cuidadaí, sô !!...
DÓ - o messs qui "pena", "compaixão" : "Ai qui dó, gentch...!!!"
NIMIM - o messs qui "em mim". Exemplão, gora, ó: "- Nóoo, cê vive garrádu nimim, trem !...Larga deu, sô !!...
NÓOO - num tem nada a ver cum laço pertado, não ! É o mess qui "nossa!!"...Vem di: Nóoossinhora !...
PELEJÂNU - o mess qui tentânu: " -Tô pelejânu qü' esse diacho, né di hoje! Qui nó cego!" ( agora é nó mess ! )
MINERÍM - Nativo duistádimínnss.
UAI - Corresponde a "UÉ", dos paulista. Ex: "Uai é uai,...uai !"
ÉMESSSS (?! ) - Minerím querêno cumfirmá.
ÓIQUÍ - Minerím tentano chamá atenção pra alguma coizz...
PÃO DI QUÊJJ - Ísscêis sabe !: Cumida fundamental que disputa c'o tutú a preferência na mezz minêr.
TUTU - Mistura de farínn di mandioca cum feijão massadím. Baum dimais da conta !...
TREM - Qué dizê qualqué coizz que um minerim quisé !! Ex: "Já lavei us trem!", "Bora tomá uns trem ?!..."
NNN - Gerúndio do minerêis. Ex: "Eles tão brincânnn". "Cê tá innn, eu tô vinnn..."
BELZONTCH - Capitár do estado.

TEXTO 3

GÊNEROS TEXTUAIS

Nossas necessidades comunicativas são múltiplas e os conteúdos de nossos atos


verbais ilimitados. No entanto, a vida em comunidade se caracteriza pela repetição e
padronização das situações interativas e pela previsibilidade dos atos verbais que realizamos
nessas situações. Noutras palavras a maior parte de nossa atividade discursiva se processa
como um ritual: em situações que se repetem para o conjunto da comunidade e para cada
pessoa em particular, igualamo-nos nas necessidades comuns pelo uso das mesmas frases e
pela construção de textos que realizam tarefas comunicativas “comuns”. A vida em
comunidade pressupõe hábitos e práticas comuns: a originalidade absoluta da expressão é
impossível quando o objetivo é fazer-se entender para conferir dinâmica à convivência
sociocultural.
Eis por que produzimos textos segundo modelos social e historicamente construídos a
que damos o nome de gêneros textuais. De certo modo, eles nos são impostos por uma

Como estudar a partir de textos 15


espécie de convenção consagrada, inerente ao ritualismo da vida social. Em alguns casos isto
é muito claro: requerimentos, atas, bulas de remédio, anúncios funerários, juramentos, receitas
culinárias são gêneros textuais inerentes a atos ou eventos discursivos próprios de certos
domínios. (Azeredo, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa.)

TEXTO 4

AGRUPAMENTO DE GÊNEROS

Considerando as condições de produção, os gêneros textuais costumam ser reunidos


em agrupamentos, em função de seus aspectos comuns. Além disso, cada gênero textual
apresenta ainda características específicas relativamente estáveis.
Tomemos como exemplo a bula de remédio. Ela traz um conjunto de informações sobre
certo medicamento, dentre outras, o modo de uso e um alerta sobre eventuais efeitos
colaterais. Aproxima-se do contrato, do regulamento, das instruções de uso de aparelhos
eletrônicos e, também, da circular, como a comentada acima. Todos esses gêneros textuais
esclarecem procedimentos a serem seguidos. São gêneros que remetem à vida real, regulando
o comportamento das pessoas; são, portanto, gêneros prescritivos.
Vejamos os aspectos específicos a cada um deles: a bula oferece informações sobre o
uso de remédios; o contrato e o regulamento apontam condutas a serem cumpridas por
pessoas que efetuam negociações ou frequentam o mesmo espaço; as instruções de uso
indicam o modo de utilizar eficientemente determinado equipamento. Porém, ainda que haja
um aspecto específico a cada um desses gêneros, todos compartilham de uma característica
comum: regular ou orientar modos de agir.
Ocorre o mesmo nos demais agrupamentos. Eles reúnem gêneros com aspectos
semelhantes e, por sua vez, cada um desses gêneros apresenta características específicas.
Por exemplo, o romance, o conto e a peça teatral circulam na esfera literária ficcional: revelam
narrativas imaginárias criadas por um autor, envolvendo personagens igualmente fictícias. Por
serem verossímeis, dão a impressão de serem verdadeiras, mas não passam de invenção.
São, portanto, gêneros ficcionais.
Já as aulas, os seminários, as palestras, os relatórios, os verbetes de dicionários
preocupam-se com a construção e a transmissão precisa de saberes. Transmitem
conhecimentos e são chamados de gêneros expositivos.
A notícia, o diário, o depoimento pessoal, o relato de viagem e até mesmo o curriculum
vitae têm como finalidade a documentação e o registro de fatos reais. Eles possibilitam a
memorização e o registro das ações humanas; são gêneros com a finalidade de relatar.
Os gêneros argumentativos compõem um agrupamento marcado pela discussão de
questões controversas, que envolvem opiniões divergentes sobre determinado tema. O
editorial, o artigo de opinião, a carta de reclamação, o debate oral, o discurso de acusação ou
de defesa (no universo jurídico) são exemplos de gêneros argumentativos. (Goldstein, Norma. O texto
sem mistério – leitura e escrita na universidade.)

TEXTO 5

TÉCNICA DE REDAÇÃO – O que é preciso saber para bem escrever


Lucília Garcez – Martins Fontes

Escrever é uma prática que se articula com a prática da leitura

É improvável que um MAU LEITOR chegue a escrever com desenvoltura. É pela


LEITURA que assimilamos as estruturas próprias da língua escrita. Para nos comunicarmos
oralmente apoiamo-nos no contexto, temos a colaboração do ouvinte. Já a comunicação
Como estudar a partir de textos 16
escrita tem suas especificidades, suas exigências. Essas exigências advêm do fato de
estarmos nos comunicando a distância, sem apoio do contexto ou da expressão facial.
Tratamos de forma diferente a sintaxe, o vocabulário e a própria organização do discurso. É
pela convivência com textos escritos de diversos gêneros que vamos incorporando às nossas
habilidades um efetivo conhecimento da escrita.
Além de ser imprescindível como instrumento de consolidação dos conhecimentos a
respeito da língua e dos tipos de texto, a leitura é um propulsor do desenvolvimento das
habilidades cognitivas. Envolve tantos procedimentos intelectuais e exige tantas operações
mentais que o bom leitor adquire maior agilidade de raciocínio.
Há ainda que se considerar que a leitura é uma das formas mais eficientes de acesso à
informação. Seu exercício intenso e constante promove a análise e a reflexão sobre os
fenômenos e acontecimentos, tornando a pessoa mais crítica e mais resistente à dominação
ideológica.

Escrever é necessário no mundo moderno

Observa-se que o cidadão comum, dependendo do mundo profissional a que pertence,


escreve muito pouco. Hoje, tudo está muito automatizado e as relações humanas por
intermédio da escrita podem ser reduzidas ao mínimo: o telefone resolve a maior parte dos
problemas do cotidiano. Alguns conseguem mesmo reduzir sua atividade escrita à assinatura
de cheques e documentos.
Por outro lado, paradoxalmente, o complexo mundo contemporâneo está cada vez mais
exigente em relação à escrita. Precisamos de documentos escritos para existir, ser, atuar e
possuir: certidões, certificados, diplomas, atestados, declarações, contratos, escrituras,
cédulas, comprovantes, registros, recibos, relatórios, projetos, propostas, comunicados
inundam a nossa vida cotidiana. Tudo o que somos, temos, realizamos ou desejamos realizar
deve estar legitimado pela palavra escrita. Vale o escrito. E nossa habilidade de escrever é
exigida, investigada, medida, avaliada, sempre que nos submetemos a qualquer processo
seletivo, sempre que nos propomos a integrar os órgãos que conformam o sistema da
cidadania urbana.
Mesmo na informática, tudo é mediado pela escrita. Navegar ou conversar na Internet
exige um convívio especial com a escrita. O que antes se resolvia simplesmente com uma
ligação telefônica passou a ser substituído por um texto escrito transmitido via fax ou e-mail.
Além disso, enquanto o trabalho primário vai sendo atribuído às máquinas, exigem-se
dos homens as habilidades que lhes são exclusivas, como a produção de textos. Os
profissionais que dominam essas habilidades mais complexas e sofisticadas têm mais chances
no mercado de trabalho, a cada dia mais seletivo.

1. O QUE É LEITURA

Como vimos, a escrita não pode ser considerada desvinculada da leitura. Nossa forma
de ler e nossas experiências com textos de outros redatores influenciam de várias maneiras
nossos procedimentos de escrita. Pela leitura vamos construindo uma intimidade muito grande
com a língua escrita, vamos internalizando as suas estruturas e as suas infinitas possibilidades
estilísticas.

A LEITURA é um processo complexo e abrangente de decodificação de signos e de


compreensão e intelecção do mundo que faz rigorosas exigências ao cérebro, à memória e à
emoção. Lida com a capacidade simbólica e com a habilidade de interação mediada pela
palavra. É um trabalho que envolve signos, frases, sentenças, argumentos, provas formais e
informais, objetivos, intenções, ações e motivações. Envolve especificamente elementos da
linguagem, mas também os da experiência de vida dos indivíduos.
Como estudar a partir de textos 17
Nosso convívio com a leitura de textos diversos consolida também a compreensão do
funcionamento de cada gênero em cada situação. Além disso, a leitura é a forma primordial de
enriquecimento da memória, do senso crítico e do conhecimento sobre os diversos assuntos
acerca dos quais se pode escrever.
Os procedimentos de leitura podem variar de indivíduo para indivíduo e de objetivo para
objetivo. Quando lemos apenas para nos divertir, o procedimento de leitura é bem espontâneo.
Não precisamos fazer muito esforço para manter a atenção ou para gravar na memória algum
item. Mas, em todas as formas de leitura, muito do nosso conhecimento prévio é exigido para
que haja uma compreensão mais exata do texto. Trata-se de nosso conhecimento prévio
sobre:
• a língua
• os gêneros e os tipos de texto
• o assunto

Eles são muito importantes para a compreensão de um texto. É preciso compreender


simultaneamente o vocabulário e a organização das frases; identificar o tipo de texto e o
gênero; ativar as informações antigas e novas sobre o assunto; perceber os implícitos, as
ironias, as relações estabelecidas com o nosso mundo real. Esse é o jogo que torna a leitura
produtiva.

Como exemplo, vamos analisar uma crônica de Luís Fernando Veríssimo.

O PRESIDENTE TEM RAZÃO

Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para criticar. No
caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava
falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não vão ficar menos pobres e
podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não é tão ruim assim. E eu concordo com o
presidente. Ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. Pobre vive amontoado em favelas, quase
em estado natural, numa alegre promiscuidade que rico só pode invejar. Muitas vezes o pobre constrói
sua própria casa, com papelão e caixotes. Quando é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer
assim com o barro da vida, exercer sua criatividade e morar num lugar que pode chamar de realmente
seu, da sua autoria, pelo menos até ser despejado? Que filho de rico verá um dia sua casa ser arrasada
por um trator? Um maravilhoso trator de verdade, não de brinquedo, ali, no seu quintal! Todas as
emoções que um filho de rico só tem em vídeo game o filho de pobre tem ao vivo, olhando pela janela,
só precisando cuidar para não levar bala. Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para ser
atendido por um especialista, aqui ou no exterior, folheando uma National Geographic de 1950, deve ter
suspirado e pensado que, se fosse pobre, aquilo não estaria acontecendo com ele. Ele estaria numa fila
de hospital público desde a madrugada, conversando animadamente com todos à sua volta, lutando
para manter seu lugar, xingando o funcionário que vem avisar que as senhas acabaram e que é preciso
voltar amanhã, e ainda podendo assistir a uma visita teatral do Ministro da Saúde ao hospital, o que é
sempre divertido em vez de se chateando daquela maneira. E pior. Com toda as suas privações, rico
ainda sabe que vai viver muito mais do que pobre, ainda mais neste modelo e que seu tédio não terá
fim. Efe Agá tem razão, é um inferno.

Correio Braziliense. Brasília, 2 dez. 1998.

Para compreender adequadamente esse texto, levamos em consideração, além de


outros, os seguintes conhecimentos prévios:
• quem é Veríssimo (um escritor de humor, cronista crítico que se opõe ao governo em
questão);
• como são, em geral, os outros textos de Luís Fernando Veríssimo (sempre de humor e
ironia);

Como estudar a partir de textos 18


• qual é a sua posição no jornalismo de sua época (é um dos mais conceituados e
respeitados cronistas de costumes e de política; seus textos são publicados em espaços
nobres dos principais jornais e revistas brasileiros);
• quem é o presidente a que ele se refere (o presidente da República no ano de
publicação, 1998);
• a que fala do presidente ele se refere (a comparação que estabeleceu entre a vida do
pobre e a do rico);
• qual é a situação social do Brasil em nossa época e como é realmente a vida nas
classes menos favorecidas.

Entrelaçando essas informações e a forma como o texto foi escrito, vamos reconsiderar
o título e as ideias que se repetem pelo texto: o presidente tem razão; eu entendi o presidente;
eu concordo com o presidente.
Quando comparamos as descrições da forma de vida dos pobres e dos ricos e a
afirmação de que ser pobre é muito mais divertido do que ser rico, penetramos no mundo da
ironia, que no Dicionário Aurélio Eletrônico é definida como:

[Do grego: eiróneia, interrogação; pelo latim, ironia.]


S.f.
1. Modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está
pensando ou sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa e
sarcástica em relação a outrem;
2. Contraste fortuito que parece um escárnio;
3. Sarcasmo, zombaria.

Nessa experiência, podemos constatar que a leitura não é um procedimento simples. Ao


contrário, é uma atividade extremamente complexa, pois não podemos considerar apenas o
que está escrito. No texto analisado, por exemplo, para compreender as intenções e posições
do autor, lemos muito mais o que não está escrito, pois suas ideias são contrárias ao que está
escrito.
Como a LEITURA faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro, é necessário
desenvolver, consolidar e automatizar habilidades muito sofisticadas para pertencer ao mundo
dos que leem com naturalidade e rapidez. Trata-se de um longo e acidentado percurso para a
compreensão efetiva e responsiva que envolve:
• decodificação de signos;
• interpretação de itens lexicais e gramaticais;
• agrupamento de palavras em blocos conceituais;
• identificação de palavras-chave;
• seleção e hierarquização de ideias;
• associação com informações anteriores;
• antecipação de informações;
• elaboração de hipóteses;
• construção de inferências;
• compreensão de pressupostos;
• controle de velocidade;
• focalização de atenção;
• avaliação do processo realizado;
• reorientação dos próprios procedimentos mentais.

Como estudar a partir de textos 19


2. RECURSOS PARA UMA LEITURA MAIS PRODUTIVA

Um leitor ativo considera os recursos técnicos e cognitivos que podem ser


desenvolvidos para uma leitura produtiva. A leitura não se esgota no momento em que se lê.
Expande-se por todo o processo de compreensão que antecede o texto, explora-lhe as
possibilidades e prolonga-lhe o funcionamento além do contato com o texto propriamente dito,
produzindo efeitos na vida e no convívio com as outras pessoas.

Há procedimentos específicos de seleção e hierarquização da informação como:

• observar títulos e subtítulos;


• analisar ilustrações;
• reconhecer elementos paratextuais importantes (parágrafos, negritos, sublinhados,
deslocamentos, enumerações, quadros, legendas etc.);
• reconhecer e sublinhar palavras-chave;
• identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos;
• relacionar e integrar, sempre que possível, esses fragmentos a outros;
• decidir se deve consultar o glossário ou o dicionário ou adiar temporariamente a dúvida
para esclarecimento no contexto;
• tomar notas sintéticas de acordo com os objetivos.

Há também procedimentos de clarificação e simplificação das idéias do texto como:


• construir paráfrases mentais ou orais de fragmentos complexos;
• substituir itens lexicais complexos por sinônimos familiares;
• reconhecer relações lexicais/moforlógicas/sintáticas.

Utilizamos ainda procedimentos de detecção de coerência textual, tais como:


• identificar o gênero ou a macro-estrutura do texto;
• ativar e usar conhecimentos prévios sobre o tema;
• usar conhecimentos prévios extratextuais, pragmáticos e da estrutura do gênero.

Um leitor maduro usa também, frequentemente, procedimentos de controle e


monitoramento da cognição:
• planejar objetivos pessoais significativos para a leitura;
• controlar a atenção voluntária sobre o objetivo;
• controlar a consciência constante sobre a atividade mental;
• controlar o trajeto, o ritmo e a velocidade de leitura de acordo com os objetivos
estabelecidos;
• detectar erros no processo de decodificação e interpretação;
• segmentar as unidades de significado;
• associar as unidades menores de significado a unidades maiores;
• autoavaliar continuamente o desempenho da atividade;
• aceitar e tolerar temporariamente uma compreensão desfocada até que a própria leitura
desfaça a sensação de desconforto.

Alguns desses procedimentos são utilizados pelo leitor na primeira leitura, outros na
releitura. Há ainda aqueles que são concomitantes a outros, constituindo uma atividade
cognitiva complexa que não obedece a uma seqüência rígida de passos. É guiada tanto pela
construção do próprio texto como pelos interesses, objetivos e intenções do leitor.
Como são interiorizados e automatizados pelo uso consciente e frequente, e são apenas
meios e não fins em si mesmos, nem sempre esses procedimentos estão muito claros ou
conscientes para quem os utiliza na leitura cotidiana.
Como estudar a partir de textos 20
TEXTO 6

ENTREVISTA - NICHOLAS CARR (revista Galileu, agosto de 2010, p. 42)

"ESTAMOS MAIS RÁPIDOS E SUPERFICIAIS"

Um dos mais polêmicos pensadores da era digital, o americano Nicholas Carr acaba de lançar
o livro The Shallows: What Internet is Doing to Our Brains, em que questiona os danos que a
internet está causando em nossos cérebros. Na entrevista abaixo, conta que dá até para ler
online de maneira aprofundada, mas que isso não é a regra.

* Que mudanças a internet está causando em nossa mente?

Carr: Ela nos encoraja a avaliar vários pequenos pedaços de informação de uma maneira
muito rápida, enquanto tentamos driblar uma série de interrupções e distrações. Esse modo de
pensamento é importante e valioso. Mas, quando usamos a internet de maneira mais intensiva,
começamos a sacrificar outros modos de pensamento, particularmente aqueles que requerem
contemplação, reflexão e introspecção. E isso tem consequências. Os modos contemplativos
sustentam a criatividade, empatia, profundidade emocional, e o desenvolvimento de uma
personalidade única. Nós podemos ser bem eficientes e bem produtivos sem esses modos de
pensamento, mas como seres humanos nos tornamos mais rasos e menos interessantes e
distintos intelectualmente.

* As evidências são preocupantes?

Carr: Mais do que eu esperava. Nossos cérebros são altamente maleáveis. Isso permite que
nos adaptemos a novas circunstâncias e experiências, mas isso também pode ser algo ruim.
Podemos treinar nosso cérebro para pensar de maneira rasa ou profundamente com a mesma
facilidade. Estudos mostram que, quando ficamos online, entramos em um ambiente que
promove a leitura apressada, pensamento distraído e aprendizado superficial. É possível
pensar profundamente enquanto surfamos na web, mas não é o que a tecnologia encoraja e
premia.

* Quais são as diferenças em relação à leitura de um livro tradicional, feito com papel e tinta?

Carr: O livro impresso e a internet são o que chamo de “ferramentas da mente”, mas seria
difícil de imaginar duas ferramentas mais diferentes. Como tecnologia, um livro foca nossa
atenção, nos isola das várias distrações que enchem nossas vidas diárias. Um computador
conectado faz o oposto. É desenhado para dispersar nossa atenção. Ele não protege a gente
das distrações do ambiente; se une a elas. Ao passo em que nos movemos do mundo da
página para o mundo da tela, nós estamos treinando nosso cérebro para ser rápido, mas
superficial.

* Você diz que a internet é melhor compreendida como parte de uma tendência...

Carr: As tecnologias que usamos para reunir, armazenar e dividir informação mudaram nossa
formação intelectual. Mapas, relógios, livros e TV nos mudaram. E agora a internet está nos
mudando. Ela abriu um novo capítulo em nossa história intelectual, mas a história está
acontecendo há muito tempo.

Como estudar a partir de textos 21


TEXTO 7

Manifesto antigerundista

Para você estar passando adiante – Ricardo Freire (As Cem Melhores Crônicas
Brasileiras – Objetiva)

Este artigo foi feito especialmente para que você possa estar recortando e possa estar
deixando discretamente sobre a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar
espalhando essa praga terrível da comunicação moderna, o futuro do gerúndio.
Você pode também estar passando por fax, estar mandando pelo correio ou estar
enviando pela Internet. O importante é estar garantindo que a pessoa em questão vá estar
recebendo esta mensagem, de modo que ela possa estar lendo e, quem sabe, consiga até
mesmo estar se dando conta da maneira como tudo o que ela costuma estar falando deve
estar soando nos ouvidos de quem precisa estar escutando.
Sinta-se livre para estar fazendo tantas cópias quantas você vá estar achando
necessárias, de modo a estar atingindo o maior número de pessoas infectadas por esta
epidemia de transmissão oral.
Mais do que estar repreendendo ou estar caçoando, o objetivo deste movimento é estar
fazendo com que esteja caindo a ficha nas pessoas que costumam estar falando desse jeito
sem estar percebendo.
Nós temos que estar nos unindo para estar mostrando a nossos interlocutores que, sim!,
pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse
jeito.
Até porque, caso contrário, todos nós vamos estar sendo obrigados a estar emigrando
para algum lugar onde não vão estar nos obrigando a estar ouvindo frases assim o dia
inteirinho.
Sinceramente: nossa paciência está estando a ponto de estar estourando. O próximo
“Eu vou estar transferindo a sua ligação” que eu vá estar ouvindo pode estar provocando
alguma reação violenta da minha parte. Eu não vou estar me responsabilizando pelos meus
atos.
As pessoas precisam estar entendendo a maneira como esse vício maldito conseguiu
estar entrando na linguagem do dia-a-dia.
Tudo começou a estar acontecendo quando alguém precisou estar traduzindo manuais
de atendimento por telemarketing. Daí a estar pensando que “We’ll be sending it tomorrow”
possa estar tendo o mesmo significado que “Nós vamos estar mandando isso amanhã” acabou
por estar sendo só um passo.
Pouco a pouco a coisa deixou de estar acontecendo apenas no âmbito dos atendentes
de telemarketing para estar ganhando os escritórios. Todo mundo passou a estar marcando
reuniões, a estar considerando pedidos e a estar retornando ligações.
A gravidade da situação só começou a estar se evidenciando quando o diálogo mais
coloquial demonstrou estar sendo invadido inapelavelmente pelo futuro do gerúndio.
A primeira pessoa que inventou de estar falando “Eu vou tá pensando no seu caso” sem
querer acabou por estar escancarando uma porta para essa infelicidade lingüística estar se
instalando nas ruas e estar entrando em nossas vidas.
Você certamente já deve ter estado estando a estar ouvindo coisas como “O que cê vai
tá fazendo domingo?”, ou “Quando que cê vai tá viajando pra praia?”, ou “Me espera, que eu
vou tá te ligando assim que eu chegar em casa”.
Deus. O que a gente pode tá fazendo pra que as pessoas tejam entendendo o que esse
negócio pode tá provocando no cérebro das novas gerações?

Como estudar a partir de textos 22


A única solução vai estar sendo submeter o futuro do gerúndio à mesma campanha de
desmoralização à qual precisaram estar sendo expostos seus coleguinhas contagiosos, como o
“a nível de”, o “enquanto”, o “pra se ter uma idéia” e outros menos votados.
A nível de linguagem, enquanto pessoa, o que você acha de tá insistindo em tá falando
desse jeito?

TEXTO 8

Vinhos irresponsáveis (http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/1/artigo15064-1.asp)

O Vinho é mais velho do que a História: nascido na Ásia Menor, em tempos imemoriais, veio de
copo em copo até a boca do consumidor atual. Ou do bolso, pois é também um bom negócio. Mas
fiquemos na liturgia: bebê-lo é um prazer, degustá-lo uma arte. Supõe sensibilidade e serenidade.
Tempo. Para a cerimônia do vinho, a palavra amanhã já é urgência.
O vinho é cor, presença, aroma e vertigem. De tal forma que foi a partir dele que surgiu o brinde.
Para os romanos, sua simples chegada já supunha o despertar dos sentidos clássicos: visão, tato,
olfato, paladar... faltava apenas a audição.
Por isso, e para despertá-la, batiam-se as taças (de estanho e cobre), o que produzia forte
estalido; a seguir, reduziram-se os decibéis pela sinfonia do cristal. Mesmo assim, era pouco: faltava o
calor da voz humana. Passou-se, então, a dizer o brinde. E é assim que, em francês, se diz santé; em
inglês, cheers; os napolitanos dizem salute e figli maschi; os suecos dizem skoll; os árabes, sah-tem, e
nós dizemos saúde.

Nós??
Sim, em geral. Mas proponho uma variável: quando você sentir que entre o seu olhar e o dela se
acendeu um fósforo, como a pupila do gato quando risca um topázio na franja da madrugada, levante o
seu copo e diga, devagarinho, como uma patrulhinha fazendo ronda: a nós que nos bastamos.
Três minutos depois, deite falação, mostrando sabedoria: defenda os brancos, escolhendo os
príncipes: o Gewürztraminer, por exemplo, um vinho com aroma de madrugada, intenso, frutado, doce e
seco. Regiões de origem: na França, Alsácia; na Alemanha, a Renânia.
Continue pelos Chardonnay: há os franceses, mas também os excelentes americanos,
australianos, neozelandeses, chilenos, argentinos, belos brancos enfim, nascidos da costela da uva-
madrinha do champagne. É um vinho seco, delicado, cor de âmbar, querendo ouro. Ambos
acompanham comidas leves: peixes, galinha, saladas, queijos etc.
O Gewurz, como é chamado pelos íntimos, vai bem solteiro, também: num fim de manhã ou na
franja da tarde, sempre bem gelado, Neruda ao alcance da mão.

Está rolando um clima?


Vá em frente. Já que estamos falando de monsenhores – e não de cardeais – convoque um
Beaujolais, mas com ar displicente, assim como quem escolhe uma bermuda em Miami. Até porque ele
é o mais mulato dos tintos, o único tinto do hemisfério norte que é colhido, engarrafado e servido no
mesmo ano da colheita. Por isso, é um vinho adolescente, “namorado” de ocasião, de qualquer prato
não-sofisticado: carpaccio, pizza, tira-gosto, sanduíche mesmo. Logo após prová-lo vem à boca um
sabor de amora, cereja, às vezes banana. Sua cor é violácea, querendo o rubi. Região de origem: a
Borgonha Meridional, na França.
Mas chega de discurso. A gente só deveria falar de vinho para bebê-lo, sem “falar” de boca
cheia. Por isso, eleve a sua taça com a elegância de um samurai desembainhando a espada e, para
pasmo dos demais, brinde em latim: ergo, bibamos. E não diga mais nenhuma palavra para não cair no
ridículo.
* Reinaldo Paes Barreto, é membro fundador da confraria “Os Companheiros da Boa Mesa”

Como estudar a partir de textos 23


TEXTO 9

Sobre moluscos e homens


Rubem Alves – Folha de S. Paulo 17-02-02

Piaget, antes de se dedicar aos estudos da psicologia da aprendizagem, fazia pesquisas


sobre os moluscos dos lagos da Suíça.
Os moluscos são animais fascinantes. Dotados de corpos moles, seriam petiscos
deliciosos para os seres vorazes que habitam as profundezas das águas, e há muito teriam
desaparecido se não fossem dotados de uma inteligência extraordinária. Sua inteligência se
revela no artifício que inventaram para não se tornarem comida dos gulosos: constroem
conchas duras e lindas (que os protegem da fome dos predadores)!
Ignoro detalhes da biografia de Piaget e não sei o que o levou a abandonar seu
interesse pelos moluscos e a se voltar para a psicologia da aprendizagem dos humanos. Não
sabendo, tive de imaginar. E foi imaginando que pensei que Piaget não mudou o seu foco de
interesse. Continuou interessado nos moluscos. Só que passou a concentrar sua atenção num
tipo específico de molusco, chamado “homem”.
Muito nos parecemos com eles: nós, homens, somos animais de corpo mole, indefesos,
soltos numa natureza cheia de predadores. Comparados com os outros animais, nossos
corpos são totalmente inadequados à luta pela vida. Vejam os animais: eles dispõem apenas
do seu corpo para viver. E o seu corpo lhes basta. Seus corpos são ferramentas maravilhosas:
cavam, voam, correm, orientam-se, disfarçam-se, comem, reproduzem-se. Nós, se
abandonados apenas com o nosso corpo, teríamos vida muito curta.
A natureza nos pregou uma peça: deixou-nos, como herança, um corpo molengão e
inadequado, que, sozinho, não é capaz de resolver os problemas vitais que temos de enfrentar.
Mas, como diz o ditado, “é a necessidade que faz o sapo pular”. E digo: é a necessidade que
faz o homem pensar. Da nossa fraqueza surgiu a nossa força, o pensamento. Parece-me,
então, que Piaget, provocado pelos moluscos, concluiu que o conhecimento é a concha que
construímos a fim de sobreviver.
O pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a
desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir... O pensamento se
desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu.
O corpo aprende para viver. É isso que dá sentido ao conhecimento. O que se aprende
são ferramentas, possibilidades de poder. O corpo não aprende por aprender. Aprender por
aprender é estupidez. Somente os idiotas aprendem coisas para as quais eles não têm uso. É
o desafio vital que excita o pensamento. E nisso o pensamento se parece com o pênis. Não é
por acidente que os escritos bíblicos dão ao ato sexual o nome de “conhecimento”...
Sem excitação, a inteligência permanece pendente, flácida, inútil, boba, impotente.
Alguns há que, diante dessa inteligência flácida, rotulam o aluno de “burrinho”... Não, ele não é
burrinho. Ele é inteligente. E sua inteligência se revela precisamente no ato de recusar-se a
ficar excitada por algo que não é vital. Ao contrário, quando o objeto a excita, a inteligência se
ergue, desejosa de penetrar no objeto que ela deseja possuir.
Os ditos “programas” escolares se baseiam no pressuposto de que os conhecimentos
podem ser aprendidos numa ordem lógica predeterminada. Ou seja: ignoram que a
aprendizagem só acontece em resposta aos desafios vitais no momento (insisto na expressão
“no momento”; a vida só acontece “no momento”) da vida do estudante. Isso explicaria o
fracasso das nossas escolas. Explicaria também o sofrimento dos alunos, a sua justa recusa
em aprender, a sua alegria ao saber que a professora ficou doente e vai faltar...
Não há pedagogia ou didática que seja capaz de dar vida a um conhecimento morto.
Acontece, então, o esquecimento: o supostamente aprendido é esquecido. Não por memória
fraca; é esquecido porque a memória é inteligente. A memória não carrega conhecimentos que

Como estudar a partir de textos 24


não fazem sentido e não podem ser usados. Ela funciona como um escorredor de macarrão.
Um escorredor de macarrão tem a função de deixar passar o inútil e guardar o útil e prazeroso.
Se foi esquecido, não fazia sentido.
Por isso acho inúteis os exames oficiais (inclusive os vestibulares) feitos para avaliar a
qualidade do ensino. Eles produzem resultados mentirosos por serem realizados no momento
em que a água ainda não escorreu. Eles só diriam a verdade se fossem feitos muito tempo
depois, depois do esquecimento haver feito o seu trabalho.
O aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido... Vestibulares: tanto
esforço, tanto sofrimento, tanto dinheiro, tanta violência à inteligência... O que sobra no
escorredor de macarrão, depois de transcorridos dois meses? O que restou no seu escorredor
de macarrão de tudo o que você teve de aprender? Duvido que os professores de cursinhos
passem nos vestibulares. Duvido que um professor especialista em português se saia bem em
matemática, física, química e biologia... Eles também esqueceram. Duvido que os professores
universitários passem nos vestibulares. Eu não passaria. Então, por que essa violência sobre
estudantes?
Ah! Piaget! Que fizeram com a sua sabedoria? É preciso que os educadores voltem a
aprender com os moluscos...

TEXTO 10

O Parágrafo-padrão

Para efeitos didáticos, deve-se considerar parágrafo-padrão aquele constituído de duas,


ou eventualmente de três partes: introdução (tópico frasal – que em geral contém a idéia
núcleo) e conclusão (nem sempre necessária).
Veja-se, por exemplo, o seguinte parágrafo, extraído do belo texto “O Último discurso”,
de Charles Chaplin:

“O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A


cobiça envenenou a alma dos homens.... levantou no mundo as muralhas do ódio... tem-nos
feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da
velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina que produz abundância,
tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência,
empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de
máquinas precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e
doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido”.

O parágrafo acima é um bom exemplo de parágrafo-padrão, pois apresenta a seguinte


estrutura: introdução (tópico frasal): o primeiro período (“O caminho... extraviamos”);
desenvolvimento: “A cobiça... bem pouco.” (são vários argumentos para justificar e enriquecer
a idéia inicial); conclusão: “Mais do que máquinas... será perdido.”

Há outras formas de se elaborar um parágrafo, mas esta (a estrutura do parágrafo-


padrão) é a que parece mais eficaz e, conseqüentemente, mais aconselhável, porque permite a
quem escreve organizar e desenvolver melhor as suas idéias, com uma argumentação
suficiente e bem relacionada com o tópico frasal.

Voltando ao parágrafo de Charles Chaplin, vamos observar como o autor desenvolveu a


idéia inicial, mantendo-se fiel ao seu objetivo até o fim. Ele utilizou-se, principalmente, do
processo do confronto por contraste das idéias para justificar a idéia de que “nos extraviamos”
do “caminho da liberdade e da beleza”. Além das expressões “a cobiça envenenou”, “muralhas
do ódio”, “miséria e morticínios” que justificam a afirmação de que “nos extraviamos”, devem
ser notadas as oposições (antíteses), nessa mesma linha de raciocínio:

Como estudar a partir de textos 25


“velocidade/enclausurados”; “abundância/penúria”; “conhecimentos/céticos”;
“inteligência/empedernidos, cruéis”; “pensamos em demasia/sentimos bem pouco”; “Mais...
máquinas/... humanidade”; “Mais... inteligência/... afeição e doçura”.

O OBJETIVO

O ato de escrever pressupõe um objetivo, pois escrevemos para comunicar, para


defender um ponto de vista. Assim, devemos pensar previamente no que queremos transmitir
ao nosso leitor; que idéia geral, que visão de realidade vamos deixar transparecer. Disso
depende o enfoque que daremos ao tema a ser abordado.
Além do objetivo geral, que orientará todo o texto, durante a redação (ou mesmo antes,
na elaboração do plano) pode-se pensar num objetivo para cada parágrafo e traduzi-lo no
próprio tópico frasal na grande parte dos parágrafos que seguem a estrutura que vimos
analisando (parágrafo-padrão). Se perguntarmos, por exemplo, qual foi o objetivo do Autor no
parágrafo que estudamos aqui, poderíamos responder que foi o seguinte: mostrar (ou
comentar, argumentar) que “o caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos
extraviamos!”. Como se observa, todo o parágrafo gira em torno dessa idéia, justificando-a;
portanto o tópico frasal contém o objetivo do Autor para o parágrafo.

AS QUALIDADES DO PARÁGRAFO

As qualidades do parágrafo são, em geral, as mesmas do texto e ou da própria


linguagem escrita, no seu padrão culto e, especialmente, da linguagem objetiva ou técnica (a
linguagem literária tem especificidades que não admitem generalizações como as que aqui
temos levantado). Essas qualidades são: clareza, objetividade, concisão, precisão, coerência, a
unidade e a ênfase.

Merecem destaque, conforme observamos em Garcia (p. 253 e Seg.):


- Unidade: uma só idéia principal no parágrafo; por isso toda vez que se julgar concluída a
explanação de uma determinada idéia núcleo, deve-se mudar de parágrafo para que o enfoque
de outra idéia igualmente importante;

- Coerência: consiste na relação lógica das idéias dentro do parágrafo, ou seja, o


desenvolvimento deve estar perfeitamente adequado ao tópico frasal;

- Ênfase: é, em linha geral, o destaque que se deve dar à idéia principal, o que pode ser
conseguido principalmente pelo emprego do tópico frasal explícito, no início do parágrafo.

Da unidade e da coerência dependem outras qualidades do parágrafo como a clareza,


a objetividade.
É importante notar, ainda, sobre as qualidades do parágrafo, os seguintes ensinamentos
de Garcia (pp. 253-288):

Para se conseguir a unidade do parágrafo, deve-se:


a) dar atenção ao que é essencial, enunciando claramente a idéia núcleo em tópico frasal;
b) não se afastar, por descuido, no desenvolvimento, da idéia predominante expressa no
tópico frasal;
c) evitar pormenores impertinentes e acumulações redundantes, que nada esclarecem e
ainda “abafam” a idéia núcleo;
d) evitar a fragmentação da mesma idéia núcleo em diversos parágrafos (ver p. ex, Garcia,
pp. 204-205 – Extenção do Parágrafo);
e) pôr em parágrafos diferentes idéias igualmente relevantes, relacionando-as por meio de
expressões adequadas à transição.

Como estudar a partir de textos 26


Para se obter a COERÊNCIA, deve-se levar em conta:
a) em princípio, a ordem cronológica dos fatos (textos narrativos);
b) a ordem espacial (principalmente nas descrições, é aconselhável seguir a ordem em
que o objeto é observado, a ordem do ponto de vista);
c) a ordem lógica: na dissertação, nas explanações didáticas, na exposição em geral, é
importantíssima a ordenação lógica das idéias;
d) partículas de transição e palavras de referência: é o que estabelece a relação lógica,
a conexão e a transição das idéias.

Enfim, como observa Garcia (p. 274): “A coerência (do latim coharens entis: o que está
junto ou ligado) consiste em ordenar e interligar idéias de maneira clara e lógica e de acordo
com um plano definido. Sem coerência é praticamente impossível obter-se ao mesmo tempo
unidade e clareza. Ela é, por assim dizer, a alma da composição. Os organismos vivos, os
próprios mecanismos só funcionam quando suas partes componentes se ajustam, se integram
numa unidade compósita.”

COMO DESENVOLVER O PARÁGRAFO

Há diversos processos para se desenvolver ou se fazer a explanação de uma idéia


núcleo ou tópico frasal. Esses processos variam de acordo com a natureza do assunto e o
objetivo da exposição, mas, em qualquer caso, o mais importante é o autor procurar
fundamentar de maneira clara, objetiva e convincente as idéias que expõe ou defende. Entre
tais processos, destacam-se: enumeração ou descrição de detalhes; confrontos, comparações
e analogias; citação de exemplos; razões e conseqüências; causas e efeitos; definições;
divisão e explanação de idéias em cadeia; ordenação dos fatos por tempo e espaço.

Vejamos alguns desses processos:

1- Enumeração ou descrição de detalhes: ocorre sobretudo quando há tópico


frasal explícito inicial (método dedutivo) e é mais comum nos textos descritivos,
como no caso a seguir:
“O salão de visitas era no primeiro andar. Mobília antiga um tanto mesclada; ao
centro, grande lustre de cristal, coberto de filó amarelo. Três largas janelas de
sacada guarnecidas de cortinas brancas, davam para a rua; do lado oposto, um
enorme espelho de moldura dourada e gasta inclina-se pomposamente sobre um
sofá, de molas; (..)”

2- Confronto pode ser:


a) Contraste: baseado nas semelhanças, na oposição de idéias, servindo de
exemplo o parágrafo já citado, do texto de Charles Chaplin: “O Caminho... perdido”.
Alguns temas se prestam, por natureza, ao desenvolvimento por contraste, como,
por exemplo: a vida no campo e a vida na cidade; a juventude e a velhice; a paz e a
guerra; a riqueza e miséria, etc.
b) Paralelo: baseia-se na semelhança entre os seres, ou idéias confrontadas. Para
nós, o confronto por paralelo é processo idêntico ao da comparação, podendo,
portanto, ser reconhecido com essa designação.
Eis um parágrafo desenvolvido por confronto por paralelo, ou comparação:

“... olho humano tem muita coisa em comum com a máquina fotográfica. Ambos
possuem uma lente de grande transparência para captar os raios luminosos que compõem as
imagens. Na máquina essa peça recebe o nome de objetiva; no olho, o nome de cristalino. (...)”

Como estudar a partir de textos 27


3- Analogia: espécie de comparação subjetiva, em que a semelhança fica apenas
sugerida:
“O que faz a grandeza do educador, além do amor das crianças e da instituição
psicológica, é o poder de moldar as almas segundo uma concepção íntima do Homem.
Neste sentido, o grande educador é sempre um humanista (falo do humanista íntimo,
que é o amor e conhecimento do humano). Não se concebe que o educador ignore, ou
não procure conhecer cada vez melhor, as necessidades e as virtualidades físicas e
morais do homem. Nada do que é humano lhe pode ser alheio. Não se concebe um
artista que não domine inteiramente, pela inteligência e pelo coração, o material em que
trabalha.”

No parágrafo acima, o autor faz uma analogia do educador com o humanista e,


sobretudo, com o artista.

4- Citação de exemplos: é o tipo de desenvolvimento em que o autor, após fazer


uma generalização, no tópico frasal, cita um, ou alguns exemplos que justifiquem
a afirmação inicial:

“A crise no ensino é mundial e todos estão reclamando: Se as universidades não


existissem, não seria necessário inventá-las, pelo menos na sua forma atual. E se
deixassem de existir, levaríamos anos para perceber. A frase de um empresário francês,
evidencia a total descrença no sistema de ensino superior de meu país.”

Observa-se no parágrafo acima, que o autor justifica a idéia inicial com um


exemplo: o do ensino superior na França.

5- Razões e Consequências: uma das formas mais comuns de se desenvolver uma


idéia núcleo é apresentar razões, motivos ou explicações que justifiquem essa
idéia. Eis um exemplo:

“Hoje em dia, há um medo generalizado nas pessoas. Há um medo do futuro. E, se


perguntarmos o motivo dessa inquietude, quase todos dirão que receiam uma guerra
atômica. A bomba parece estar no meio da humanidade, tornando sombrias suas
expectativas. Entretanto, não temos medo do futuro por causa das bombas; temos medo
das bombas porque não temos fé no futuro, não confiamos mais na capacidade de
decisão das pessoas.”

O autor apresenta uma série de razões ou motivos, para argumentar a idéia inicial
de que as pessoas têm um medo generalizado do futuro (conseqüência).

6- Definição: processo muito comum nas exposições didáticas, podendo envolver a


enumeração de detalhes, a citação de exemplos, o confronto. O parágrafo abaixo
apresenta uma definição através de exemplos:

“Em sentido lato, entende-se por língua escrita a comunicação do pensamento mediante
sinais visíveis. Apresenta modalidades diferentes como, por exemplo, a linguagem
administrativa, a linguagem jurídica, a linguagem técnica e a linguagem literária.”

7- Divisão e explanação de ideias “em cadeia”. Após enunciar a divisão na idéia


núcleo, o autor discute, analisa ou comenta cada uma dessas partes. Esse
processo é conhecido também como divisão e classificação e é mais comum
nas exposições didáticas. Veja, como exemplo, o seguinte parágrafo:

Como estudar a partir de textos 28


“Há três espécies de donos de livros. Uns limitam-se a contemplá-los; acumulam-nos
pelo simples prazer de ver, nas prateleiras, as extensas filas de volumes. Outros gostam
apenas de falar dos livros que têm; transformam em seu assunto constante o fato de
possuir tal ou tal obra. Há, por fim, o pequeno grupo dos que lêem os seus livros.”

8- Ordenação dos fatos por tempo e espaço: é uma forma de desenvolvimento do


parágrafo narrativo. Nesse tipo de parágrafo nem sempre há necessidade de se
enunciar explicitamente o tópico frasal, que pode ficar implícito no conjunto dos
fatos apresentados. É o que se vê, no parágrafo a seguir:

“Fabiano procurou em vão perceber um toque de chocalho. Avizinhou-se da casa, bateu,


tentou forçar a porta. Encontrando resistência, penetrou um cercadinho de plantas
mortas, rodeou a tapera, alcançou o terreiro do fundo, viu um barreiro vazio, um bosque
de caatingueiras mortas, um pé de turco e o prolongamento da cerca do curral. Trepou-
se no moirão do canto, examinou a caatinga, onde avultavam a ossada e o negrume dos
urubus”.

Bibliografia:
Garcia, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas,
1978.

TEXTO 11

NOTAS SOBRE CINEMA – Lya Luft. 9 de março de 2005, Veja pg. 22.

Antes que alguém tresleia, explico que não entendo de cinema, não sou cinéfila, não sei
citar diretores nem produtores, apenas frequento cinemas como qualquer mortal. Há filmes que
a crítica malha e me agradam, há filmes que a crítica dita sofisticada endeusa e me entediam.
Como passo os dias neste computador lidando com reflexão, destino, personagens, tramas,
não curto demais, fora desta casa, nada tão hermético que nem o próprio diretor ou roteirista
entendem. Dito isso, vou escrever aqui sobre o que mexeu comigo em dois filmes recentes.
O primeiro foi Closer, que de “Mais Perto” resolveram traduzir como Perto Demais.
Tinham-me falado do filme de várias maneiras: muitas mulheres dizendo que ele mostrava
mais uma vez que “homens não prestam, são todos infantis e boçais”; outros, que revelava a
diferença abissal entre masculino e feminino – isso me interessou, pois um de meus projetos
atuais de trabalho é um pequeno ensaio sobre o assunto fascinante.
Seja como for, assisti sem esperar nem grande decepção nem maior entusiasmo. Ao
sair me perguntei: de que, resumidamente, trata esse filme? Perto Demais trata de desencontro
e solidão. De incomunicabilidade. De futilidade, de não-entrega. O que menos se aborda ali é
amor. Nada vi de diferenças marcantes entre masculino e feminino: ao contrário, todo mundo
está com alguém, mas de olho no outro, e tanto faz qual o sexo de quem; saboreando um,
espreita o vizinho. Perto Demais retrata, entre muitos, um aspecto marcante do nosso tempo: a
superficialidade e o hedonismo burro com que tantas vezes nos desperdiçamos.
...
Menina de Ouro me desagradaria de saída, pois detesto violência, sobretudo física, e
nunca entendi como se pode ferir e deixar-se ferir enquanto outros seres humanos em torno
torcem como se fossem todos, no ringue e fora dele, animais. Por outro lado, o tema da
eutanásia é difícil, duro, e a algumas pessoas toca muito de perto: por exemplo, a quem
eventualmente assistiu, ano após ano, à deterioração mental e física de uma pessoa amada,
indizível sofrimento. Bom para provocar os falsos moralistas no mundo inteiro. Mas o diretor
Clint Eastwood disse numa entrevista que não quis fazer um filme sobre boxe nem sobre

Como estudar a partir de textos 29


eutanásia. Fez um filme sobre a precariedade da vida, e sobre os sentimentos humanos. Para
quem escreve sobre eles e sobre família em especial, o filme provocou um mar de reflexões.
O treinador, culpado, batendo anos a fio à porta de uma filha rancorosa que lhe devolvia
pontualmente as cartas, encontrou na jovem boxeadora alguém que soube valorizá-lo, que
precisava dele, e que lhe deu tudo o que a sua filha de sangue negava. Para a moça, solitária e
desamada, o velho treinador, fingidamente frio e crítico, foi a família que ela não teve. Ou
melhor: tinha, mas antes não existisse, pois era fria, aproveitadora, ridicularizando seus
esforços e ignorando seus sentimentos.
Mocinha e treinador jogavam pérolas a porcos. A vida lhe deu uma chance de escolher
algo mais, na arguta e comovida visão de Clint Eastwood, a quem a passagem do tempo foi
extremamente favorável. Os obcecados pela beleza física e pela eterna juventude dirão que ele
está enrugado, feioso, torto até – mas que ator. E que diretor. Que abrangência de talentos,
pois até da trilha musical ele cuida. Grande filme sobre dois grandes personagens,
aparentemente fracassados, mas poderosos na sua generosidade em dar e aceitar amor. Boa
sugestão: transformou-se o desperdício em generosa troca.

TEXTO 12

OS IRMÃOS MAUS
Cristóvam Buarque. Primeira Leitura. cristovam@senado.gov.br

Ir de Mamelodi a Waterkloof, em Pretória, na África do Sul, é o mesmo que ir da Vila


Estrutural ao Lago Sul, em Brasília, no Brasil. Nos dois primeiros bairros de cada país, casas
minúsculas formam um imenso acampamento, parte dele sem água nem luz. Nos outros há
imensos casarões, monumentos à arquitetura, com todos os serviços que a modernidade
oferece. Nos primeiros, o desemprego é geral, não há atendimento médico, há adultos
analfabetos e escolaridade de no máximo cinco anos, o transporte não funciona, as escolas
são inexistentes ou de péssima qualidade, a renda per capita gira em torno de US$ 300 por
ano. Nos outros dois bairros, há pleno emprego de qualidade, altas taxas de curso superior,
renda per capita média US$35 mil, famílias com mais de dois carros, todos protegidos por
excelentes seguros de saúde. É como ir do Haiti para os Estados Unidos, mas dentro das
mesmas cidades, em dois países muito parecidos, principalmente na absurda desigualdade
que apresentam.
Brasil e África do Sul são dois países irmãos na maldade com que têm tratado seus
habitantes ao longo de séculos de história. São semelhantes no desenvolvimento separado,
que beneficia apenas parte da população – no primeiro, os europeus e seus descendentes, que
durante quatro séculos trouxeram escravos da África; no segundo, os europeus que chegaram
à África e mantiveram os nativos africanos excluídos das vantagens do progresso. Quando se
tornou impossível manter a escravidão, o Brasil libertou seus escravos sem dar nenhum direito
a eles e a seus filhos – terra, escola, moradia, água, luz. Na África do Sul, quando a
urbanização dificultou o servilismo agrário, implantaram o apartheid e mantiveram o povo sem
direitos sociais nem políticos. Fora isso, tudo é igual, inclusive a grande chance de mudar essa
maldita história.
Com um intervalo de apenas oito anos, Mandela e Lula chegam ao poder. Ambos vindos
do grupo de excluídos – o primeiro, líder dos negros contra o apartheid, o segundo líder dos
pobres contra a apartação. A eleição dos dois tem um significado emblemático de mudança
histórica, de transformação de maldade e exclusão para solidariedade e inclusão.
Lamentavelmente, nesse curto intervalo, ainda não se percebe diferença no que é substancial.
Na África do Sul, há uma mudança radical no fim da separação política e física entre
raças. Brancos e negros podem andar na mesma calçada. Crianças negras podem estudar nas
escolas de brancos, mas desde que seus pais sejam ricos. Em Mamelodi, há casas com água,
luz, com banheiro externo padronizado, algumas até de alvenaria, produto – segundo Josias,

Como estudar a partir de textos 30


um motorista moçambicano – de Mandela. Mas o desemprego continua igual, o sistema de
transporte público inexiste, a violência racial até cresceu.
Nas cidades pobres do Brasil, há uma pequena transferência de renda para a população
pobre, há mais casas com luz elétrica. Mas não se vê mudança significativa na estrutura social,
na educação, na geração de empregos. Apenas melhorias para os trabalhadores do setor
moderno, que tem benefícios assegurados, como o pagamento da universidade para seus
filhos, cotas para negros que terminaram o ensino médio. Benefícios que não atendem os que
estavam e continuam excluídos.
O Brasil caminha para uma exclusão crescente, inclusive como defesa contra a violência
entre classes sociais. A África do Sul, depois de Mandela, está se brasilianizando, e o Brasil de
Lula está se sulafricanizando. Ambos países maus, irmãos na história da humanidade, sem
vontade de abolir a exclusão e garantir direitos humanos fundamentais. Deram passos e
mudaram a realidade, elegendo um negro e um pobre, mas ainda não conseguiram incluir os
negros lá nem os pobres aqui. Dois paísess irmãos. Irmãos perversos.

TEXTO 13
QUAL É O PROBLEMA?
Stephen Kanitz. Ponto de vista, VEJA 30 de março de 2005, pág. 18

Um dos maiores choques de minha vida foi na noite anterior ao meu primeiro dia de pós-
graduação em administração. Havia sido um dos quatro brasileiros escolhidos naquele ano, e
todos nós acreditávamos, ingenuamente, que o difícil fora ter entrado em Havard, e que o
mestrado em si seria sopa. Ledo engano.
Tínhamos de resolver naquela noite três estudos de caso de oitenta páginas cada um. O
estudo de caso era uma novidade para mim. Lá não há aulas de inauguração, na qual o
professor diz quem ele é e o que ensinará durante o ano, matando assim o primeiro dia de
aula. Essas informações podem ser dadas antes. Aliás, a carta em que me avisaram que fora
aceito como aluno veio acompanhada de dois livros para serem lidos antes do início das aulas.
O primeiro caso a ser resolvido naquela noite era de marketing, em que a empresa
gastava boas somas em propaganda, mas as vendas caíam ano após ano. Havia comentários
detalhados de cada diretor da companhia, um culpando o outro, e o caso terminava com uma
análise do presidente sobre a situação.
O caso terminava ali, e ponto final. Foi quando percebi que estava faltando algo. Algo
que nunca tinha me ocorrido nos dezoito anos de estudos no Brasil. Não havia nenhuma
pergunta do professor a responder. O que nós teríamos de fazer com aquele amontoado de
palavras? Eu, como meus quatro colegas brasileiros, esperava perguntas do tipo “Deve o
presidente mudar de agência de propaganda ou demitir seu diretor de marketing?”. Afinal,
estávamos todos acostumados com testes de vestibular e perguntas do tipo “Quem descobriu o
Brasil?”.
Harvard queria justamente o contrário. Queria que nós descobríssemos as perguntas
que precisam ser respondidas ao longo da vida.
Uma reviravolta e tanto. Eu estava acostumado a professores que insistiam em que
decorássemos as perguntas que provavelmente iriam cair no vestibular.
Adorei esse novo método de ensino, e quando voltei para dar aulas na Universidade de
São Paulo, trinta anos atrás, acabei implantando o método de estudo de casos em minhas
aulas. Para minha surpresa, a reação da classe foi a pior possível.
“Professor, qual é a pergunta?”, perguntavam-me. E, quando eu respondia que essa era
justamente a primeira pergunta a que teriam de responder, a revolta era geral: “Como vamos
resolver uma questão que não foi sequer formulada?”.
Temos um ensino no Brasil voltado para perguntas prontas e definidas, por uma razão
muito simples: é mais fácil para o aluno e também para o professor. O professor é visto como
um sábio, um intelectual, alguém que tem solução para tudo. E os alunos, por comodismo,
querem ter as perguntas feitas, como no vestibular.

Como estudar a partir de textos 31


Nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência, o mito de que todas as
questões do mundo já foram formuladas e solucionadas. O objetivo das aulas passa a ser
apresentá-las, e a obrigação dos alunos é repeti-las na prova final.
Em seu primeiro dia de trabalho você vai descobrir que seu patrão não lhe perguntará
quem descobriu o Brasil e não lhe pagará um salário por isso no fim do mês. Nem vai lhe pedir
para resolver “4/2=?”. Em toda a minha vida profissional nunca encontrei um quadrado perfeito,
muito menos uma divisão perfeita, os números da vida sempre terminam com longas casas
decimais.
Seu patrão vai querer saber de você quais são os problemas que precisam ser
resolvidos em sua área. Bons administradores são aqueles que fazem as melhores perguntas,
e não os que repetem suas melhores aulas.
Uma famosa professora de filosofia me disse recentemente que não existem mais
perguntas a serem feitas, depois de Aristóteles e Platão. Talvez por isso não encontramos
solução para os inúmeros problemas brasileiros de hoje. O maior erro que se pode cometer na
vida é procurar soluções certas para os problemas errados.
Em minha experiência e na da maioria das pessoas que trabalham no dia-a-dia, uma vez
definido qual é o verdadeiro problema, o que não é fácil, a solução não demora muito a ser
encontrada.
Se você pretende ser útil na vida, aprenda a fazer boas perguntas mais do que sair
arrogantemente ditando respostas. Se você ainda é um estudante, lembre-se de que não são
as respostas que são importantes na vida, são as perguntas.

TEXTO 14

SISTEMA DE COTAS NO SERVIÇO PÚBLICO


(Luciano Sampaio G. Rolim – Correio Braziliense, 6 de maio de 2002).

É imensa a dívida do Estado brasileiro com relação aos negros. Eles sofrem, ainda hoje,
as conseqüências do regime escravista que perdurou durante largo período de nossa história.
A abolição da escravatura não foi acompanhada de medidas estatais que assegurassem aos
libertos condições de integração social, o que fez surgir um quadro de exclusão que se projeta,
atualmente, na pirâmide social, cuja base é composta predominantemente por afro-
descendentes.
Diante dessa constatação, discute-se a instituição do sistema de cotas, mediante a
reserva de um percentual de vagas para afro-descendentes (negros e pardos) em concursos
para ingresso em cargos e empregos públicos, no intuito de compensar as injustiças históricas
de que foram vítimas e possibilitar sua inserção social.
Alega-se que o sistema em apreço não ofende o disposto no caput do art. 5º da
Constituição, segundo o qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza”. O tratamento mais favorecido aos afro-descendentes, ao contrário de violar o
princípio da isonomia, rende-lhes homenagem, porquanto a verdadeira igualdade é a
substancial, consistente em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.
Para uma análise percuciente do sistema de cotas, faz-se necessário ter presente a
exata compreensão do princípio da isonomia, cujo conteúdo científico foi desvelado com
brilhantismo por Celso Antônio B. de Mello. Nas palavras do eminente jurista, “para desate do
problema é insuficiente recorrer à notória afirmação de Aristóteles, assaz de vezes repetida,
segundo cujos termos a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais. Sem contestar a inteira procedência do que nela se contém e reconhecendo (...) sua
validade como ponto de partida, deve-se negar-lhe o caráter de termo de chegada, pois entre
um e outro extremo serpeia um fosso de incertezas cavado sobre a intuitiva pergunta que

Como estudar a partir de textos 32


aflora ao espírito: quem são iguais e quem são os desiguais?” (O Conteúdo Jurídico do
Princípio da Igualdade, 3ª edição, p. 10).
Cumpre registrar que a finalidade do art. 5º da Constituição não é vedar, de forma
absoluta, a adoção dos fatores raça, sexo etc. como critério de desequiparação. Conforme
ensina Celso Antônio, referido dispositivo “apenas pretendeu encarecê-los como insuscetíveis
de gerarem, por si só, uma discriminação” (op. cit., p. 18). O que se interdita, pois, é a
discriminação sem qualquer fundamentação lógica, em vez de pautada em critérios de
razoabilidade capazes de justificar o tratamento diferenciado. Ou seja, deve existir, no dizer do
autor, “correção lógica abstrata entre o fator erigido em critério de discrímem e a disparidade
estabelecida no tratamento jurídico diversificado”. E, ainda, “consonância desta correlação
lógica com os interesses absorvidos no sistema constitucional e destarte juridicizados. (...) Em
suma: importa que exista mais que uma correlação lógica abstrata entre o fator diferencial e a
diferenciação conseqüente. Exige-se, ainda, uma correlação lógica concreta, ou seja, aferida
em função dos interesses abrigados no direito positivo constitucional” (op. cit., pp. 21 e 22).
No que tange ao sistema de cotas para ingresso em cargos públicos, com o escopo de
corrigir injustiças sociais, há fundamento lógico plausível compatível com os valores albergados
no texto constitucional a justificar o tratamento diferenciado? Em primeiro lugar, convém frisar
que a administração pública é informada pelo princípio da eficiência, nos termos do art. 37,
caput, da Constituição, na redação dada pela EC nº 19/98. Consoante a Mensagem
Presidencial nº 886/95, que acompanhou a proposta da qual resultou essa emenda, “o
aparelho do Estado que se revelar apto a gerar mais benefícios, na forma de prestação de
serviços à sociedade, com os recursos disponíveis, em respeito ao cidadão contribuinte”.
Para que isso se torne realidade, resta imprescindível que a administração pública conte
com os indivíduos mais preparados para o desempenho das funções estatais, sejam eles
negros, pardos ou brancos. Daí a necessidade do instituto do concurso público, informado pelo
princípio do mérito, que possibilita, em regime de igualdade, a seleção dos mais aptos ao
exercício eficaz do serviço público.
Desse modo, a acessibilidade aos cargos públicos não deve ser tratada como medida de
índole assistencial nem tampouco como instrumento para remediar injustiças perpetradas no
passado. Do contrário, a lei teria que incluir na reserva de vagas os índios e, ainda, outros
grupos discriminados por fatores outros que não a raça.
É verdade que a própria Lei Maior reclama a reserva de vagas, nos concursos públicos,
em favor das pessoas portadoras de deficiência. A situação dessas pessoas, todavia, é
bastante diferente da dos afro-descendentes. De fato, aqueles, ao contrário destes, em virtude
da incapacidade de que são portadores, encontram óbice quase intransponível para o exercício
de atividade remunerada na iniciativa privada, mesmo quando relacionada a funções
subalternas, fato capaz de comprometer a própria subsistência. Nesse caso, em caráter
excepcional, a Constituição prevê o acesso aos cargos públicos, como medida de caráter
assistencial. Assim, e porque o concurso público é informado pelo princípio do mérito, a falta de
referência a outros grupos passíveis de discriminação há de ser considerada como omissão
proposital, revelando ao intérprete que, salvo quanto aos deficientes, é inconstitucional a
reserva de vagas em concursos públicos por motivo de ordem assistencial.
Ademais, o sistema de cotas, tal qual está sendo proposto, elege um fator de discrímem
que não apresenta correlação lógica abstrata com o fundamento do tratamento diferenciado
postulado, qual seja, escassez de afro-descendentes no serviço público. Na essência, o que
acarreta essa situação é o fator pobreza. O negro ou o pardo que, contrariando a regra geral,
teve acesso a um ensino de qualidade não encontrará dificuldades para obter aprovação em
concurso público. Por outro lado, o branco, a quem esse ensino foi negado, jamais integrará a
administração pública.
Entretanto, ainda que se eleja o fator pobreza como critério informativo do sistema de
cotas, a reserva de vagas em concurso público é inconstitucional, por inexistir correlação lógica
concreta entre a desequiparação estabelecida e os valores consagrados na Lei Maior, a qual

Como estudar a partir de textos 33


contempla a exigência de concurso público como instrumento de realização do princípio da
eficiência e não como remédio de caráter assistencial.
Conclui-se que os sistema de cotas, mediante a reserva de um percentual de vagas para
afro-descendentes em concursos para ingresso em cargos e empregos públicos, é
inconstitucional, por infringir o princípio da isonomia e as exigências constitucionais atinentes
ao concurso público.

Neste capítulo, vamos treinar um pouco, mostrando variados tipos de questões de


interpretação e compreensão de texto.

TEXTO I
Salustiano era um bom garfo. Mas o jantar que lhe haviam oferecido nada teve de abundante.
- Quando voltará a jantar conosco? - perguntou-lhe a dona da casa.
- Agora mesmo, se quiser.
(Barão de Itararé, in Máximas e Mínimas do Barão de Itararé)
1) A figura de linguagem presente no d) é um grande amigo da dona da casa.
primeiro período do texto é:
e) decidiu que não mais comeria naquela
a) hipérbole casa.
b) eufemismo
c) prosopopéia 3) O adjetivo que não substitui sem
alteração de sentido a palavra “abundante”
d) metonímia
é:
e) antítese
a) copiosa
b) frugal
2) Deduz-se do texto que Salustiano:
c) opípara
a) come pouco.
d) lauta
b) é uma pessoa educada.
e) abundosa
c) não ficou satisfeito com o jantar.

TEXTO II
A mulher foi passear na capital. Dias depois o marido dela recebeu um telegrama:
“Envie quinhentos cruzeiros. Preciso comprar uma capa de chuva. Aqui está chovendo sem
parar”.
E ele respondeu: “Regresse. Aqui chove mais barato”.
(Ziraldo, in As Anedotas do Pasquim)
1) A resposta do homem se deu por razões:
a) econômicas
b) sentimentais
c) lúdicas
d) de segurança
e) de machismo

Como estudar a partir de textos 34


2) Com relação à tipologia textual, pode-se afirmar que:
a) se trata de uma dissertação.
b) se trata de uma descrição com alguns traços narrativos.
c) o autor preferiu o discurso direto.
d) o segundo período é exemplo de discurso indireto livre.
e) não se detecta a presença de personagens.

3) Com relação aos elementos conectores do texto, não se pode dizer que:
a) dela tem como referente mulher.
b) o referente do pronome ele é marido.
c) a preposição de tem valor semântico de finalidade.
d) A oração “Aqui está chovendo sem parar” poderia ligar-se à anterior, sem alteração de
sentido, pela conjunção conquanto.
e) O advérbio aqui, em seus dois empregos, não possui os mesmos referentes.

TEXTO III
“Uma nação já não é bárbara quando tem historiadores.”
(Marquês de Maricá, in Máximas)

2) Só não constitui paráfrase do texto:


1) O texto é: a) Um país já não é bárbaro, desde que nele
existem historiadores.
a) uma apologia à barbárie
b) Quando tem historiadores, uma nação já é
b) um tributo ao desenvolvimento das nações
civilizada.
c) uma valorização dos historiadores
c) Uma nação deixa de ser bárbara quando
d) uma reprovação da selvageria há nela historiadores.
e) um canto de louvor à liberdade d) Quando possui historiadores, uma nação
não mais pode ser considerada bárbara.
e) Desde que tenha historiadores, uma nação
já não é mais bárbara.

TEXTO IV
“A maior alegria do brasileiro é hospedar alguém, mesmo um desconhecido que lhe peça
pouso, numa noite de chuva.” (Cassiano Ricardo, in O Homem Cordial)
1) Segundo as idéias contidas no texto, o brasileiro:
a) põe a hospitalidade acima da prudência.
b) hospeda qualquer um, mas somente em noites chuvosas.
c) dá preferência a hospedar pessoas desconhecidas.
d) não tem outra alegria senão a de hospedar pessoas, conhecidas ou não.
e) não é prudente, por aceitar hóspedes no período da noite.

Como estudar a partir de textos 35


2) A palavra mesmo pode ser trocada no texto, sem alteração de sentido, por:
a) certamente
b) até
c) talvez
d) como
e) não

3) A expressão “A maior alegria do brasileiro” pode ser entendida como:


a) uma personificação
b) uma ironia
c) uma metáfora
d) uma hipérbole
e) uma catacrese

4) O trecho que poderia dar seqüência lógica e coesa ao texto é:


a) Não obstante isso, ele é uma pessoa gentil.
b) Dessa forma, qualquer um que o procurar será atendido.
c) A solidariedade, pois, ainda precisa ser conquistada.
d) E o brasileiro ganhou fama de intolerante.
e) Por conseguinte, se chover, ele dará hospedagem aos desconhecidos.

PARTE II: INTERPRETAÇÃO I


TEXTO I
Não existe essa coisa de um ano sem Senna, dois anos sem Senna...Não há calendário para a
saudade.
(Adriane Galisteu, no Jornal do Brasil)

1) Segundo o texto, a saudade: c) causal


a) aumenta a cada ano. d) condicional
b) é maior no primeiro ano. e) proporcional
c) é maior na data do falecimento.
d) é constante. 3) A repetição da palavra não exprime:
e) incomoda muito. a) dúvida
b) convicção
2) A segunda oração do texto tem um claro c) tristeza
valor: d) confiança
a) concessivo e) esperança
b) temporal

Como estudar a partir de textos 36


4) A figura que consiste na repetição de b) silepse
uma palavra no início de cada membro da c) sinestesia
frase, como no caso da palavra não,
chama-se: d) pleonasmo
a) anáfora e) metonímia

TEXTO II
Passei a vida atrás de eleitores e agora busco os leitores.
(José Sarney, na Veja, dez/97)

5) Deduz-se pelo texto uma mudança na c) simples


vida: d) honesta
a) esportiva e) coerente
b) intelectual 8) O trecho que justifica a resposta ao item
c) profissional anterior é:
d) sentimental a) e agora
e) religiosa b) os leitores
6) O autor do texto sugere estar passando c) passei a vida
de: d) atrás de eleitores
a) escritor a político e) busco
b) político a jornalista 9) A palavra ou expressão que não pode
c) político a romancista substituir o termo agora é:
d) senador a escritor a) no momento
e) político a escritor b) ora
7) Infere-se do texto que a atividade inicial c) presentemente
do autor foi: d) neste instante
a) agradável e) recentemente
b) duradoura

TEXTO III
Os animais que eu treino não sao obrigados a fazer o que vai contra a natureza deles.
(Gilberto Miranda, na Folha de São Paulo, 23/2/96)

10) O sentimento que melhor define a 11) O autor do texto é:


posição do autor perante os animais é: a) um treinador atento
a) fé b) um adestrador frio
b) respeito
c) um treinador qualificado
c) solidariedade d) um adestrador consciente
d) amor e) um adestrador filantropo
e) tolerância
Como estudar a partir de textos 37
12) Segundo o texto, os animais: d) não são objeto de qualquer preocupação
para o autor.
a) são obrigados a todo tipo de treinamento.
b) fazem o que não lhes permite a natureza. e) são treinados dentro de determinados
limites.
c) não fazem o que lhes permite a natureza.

TEXTO IV
Estou com saudade de ficar bom. Escrever é conseqüência natural.
(Jorge Amado, na Folha de São Paulo, 22/10/96)

13) Segundo o texto: d) de escrever


a) o autor esteve doente e voltou a escrever. e) da doença
b) o autor está doente e continua escrevendo.
c) O autor não escreve porque está doente. 15) “Escrever é conseqüência natural.”
Conseqüência de:
d) o autor está doente porque não escreve.
a) voltar a trabalhar.
e) o autor ficou bom, mas não voltou a
escrever. b) recuperar a saúde.
c) ter ficado muito tempo doente.
14) O autor na verdade tem saudade: d) estar enfermo.
a) de trabalhar e) ter saúde.
b) da saúde
c) de conversar

TEXTO V
A mente de Deus é como a Internet: ela pode ser acessada por qualquer um, no mundo todo.
(Américo Barbosa, na Folha de São Paulo)
16) No texto, o autor compara: e) O desejo que todos têm de se comunicar
com o mundo.
a) Deus e internet
18) O conectivo comparativo presente no
b) Deus e mundo todo
texto só não pode ser substituído por:
c) internet e qualquer um
a) tal qual
d) mente e internet
b) que nem
e) mente e qualquer um
c) qual
d) para
17) O que justifica a comparação do texto
e) feito
é:
a) a modernidade da informática
19) Só não constitui paráfrase do texto:
b) a bondade de Deus
a) A mente de Deus, bem como a internet,
c) a acessibilidade da mente de Deus e da
pode ser acessada por qualquer um, no
internet
mundo todo.
d) a globalização das comunicações
Como estudar a partir de textos 38
b) No mundo todo, qualquer um pode acessar d) Tanto a internet quanto a mente de Deus
a mente de Deus e a internet. podem ser acessadas, no mundo todo, por
qualquer um.
c) A mente de Deus pode ser acessada, no
mundo todo, por qualquer um, da mesma e) A mente de Deus pode acessar, como
forma que a internet. qualquer um, no mundo todo, a internet.

TEXTO VI
Marx disse que Deus é o ópio do povo. Já sabemos que não entendia nem de Deus nem de
ópio. Deus é uma experiência de fé. Impossível defini-lo.
(Paulo Coelho, em O Globo, 25/2/96

20) Segundo o período inicial do texto, c) admirado


para Marx Deus: d) sentido
a) traz imensa alegria ao povo. e) estudado
b) esclarece o povo. 24) A palavra que justifica o item anterior
c) deixa o povo frustrado. é:
d) conduz com segurança o povo. a) ópio
e) tira do povo a condição de raciocinar. b) Io
21) Segundo o autor, Marx: c) fé
a) mentiu deliberadamente. d) povo
b) foi feliz com suas palavras. e) experiência
c) falou sobre o que não sabia. 25) A figura de linguagem presente no
primeiro período é:
d) equivocou-se em parte.
a) metáfora
e) estava coberto de razão, mas não foi
compreendido. b) metonímia
22) O sentimento que Marx teria c) prosopopéia
demonstrado e que justifica a resposta ao d) pleonasmo
item anterior é:
e) hipérbole
a) leviandade
26) A palavra que poderia ter sido grafada
b) orgulho com letra maiúscula é:
c) maldade a) ópio
d) ganância b) povo
e) egoísmo c) experiência
23) Infere-se do texto que Deus deve ser: d) fé
a) amado e) lo
b) conceituado

TEXTO VII
Quando vim da minha terra, não vim, perdi-me no espaço, na ilusão de ter saído.
Ai de mim, nunca saí. (Carlos D. de Andrade, no poema A Ilusão do Migrante)

Como estudar a partir de textos 39


27) O sentimento predominante no texto é:
a) orgulho
b) saudade
c) fé
d) esperança
e) ansiedade

28) Infere-se do texto que o autor: 30) Pelo último período do texto, deduz-se
que:
a) não saiu de sua terra.
a) ele continuou ligado à sua terra.
b) não queria sair de sua terra, mas foi
obrigado. b) ele vai voltar à sua terra.
c) logo esqueceu sua terra. c) ele gostaria de deixar sua cidade, mas
nunca conseguiu.
d) saiu de sua terra apenas fisicamente.
d) ele se alegra por não ter saído.
e) pretende voltar logo para sua terra.
e) ele nunca saiu da terra onde vive
29) Por “perdi-me no espaço” pode-se
atualmente.
entender que o autor:
31) A expressão “ai de mim” só não
a) ficou perdido na nova terra.
sugere, no poema:
b) ficou confuso.
a) amargura
c) não gostou da nova terra.
b) decepção
d) perdeu, momentaneamente, o sentimento
c) tristeza
por sua terra natal.
d) vergonha
e) aborreceu-se com a nova situação.
e) nostalgia

TEXTO VIII
Enquanto o Titanic ainda flutua, tentemos o impossível para mudar o seu curso. Afinal, quem
faz a história são as pessoas e não o contrário.
(Herbert de Souza, na Folha de São Paulo, 17/11/96)

32) Infere-se do texto que o Titanic: d) favorecimento


a) é um navio real. e) determinismo
b) simboliza algo que vai mal. 34) A palavra “afinal” pode ser substituída,
sem alteração de sentido, por:
c) é um navio imaginário.
a) conquanto
d) simboliza esperança de salvação.
b) porquanto
e) sintetiza todas as tragédias humanas.
c) malgrado
33) Pelo visto, o autor não acredita em:
d) enquanto
a) transformação
e) apenas
b) elogio
c) desgraça

Como estudar a partir de textos 40


35) Infere-se do texto que: 36) Para o autor, as pessoas não devem:
a) há coisas que não podem ser mudadas. a) exagerar
b) se tentarmos, conseguiremos. b) falhar
c) o que parece impossível sempre o é. c) desanimar
d) jamais podemos desistir. d) lamentar-se
e) alguns têm a capacidade de modificar as e) fugir
coisas, outros não.

TEXTO IX
A função do artista é esta, meter a mão nessa coisa essencial do ser humano, que é o sonho e
a esperança. Preciso ter essa ilusão: a de que estou resgatando esses valores.
(Marieta Severo, na Folha de São Paulo)

37) Segundo o texto, o artista:


a) leva alegria às pessoas. 40) A expressão “meter a mão”:
b) valoriza o sonho das pessoas pobres. a) pertence ao linguajar culto.
c) desperta as pessoas para a realidade da b) pode ser substituída, sem alteração de
vida. sentido, por intrometer-se.
d) não tem qualquer influência na vida das c) tem valor pejorativo.
pessoas. d) é coloquial e significa, no texto, tocar.
e) trabalha o íntimo das pessoas. e) é um erro que deveria ter sido evitado.
38) Segundo o texto: 41) Só não se encontra no texto:
a) o sonho vale mais que a esperança. a) a influência dos artistas
b) o sonho vale menos que a esperança. b) a necessidade da autora
c) sonho e esperança têm relativa importância c) a recuperação de coisas importantes
para as pessoas.
d) a conquista da paz
d) não se vive sem sonho e esperança.
e) a carência de sentimentos das pessoas
e) têm importância capital para as pessoas
tanto o sonho quanto a 42) A palavra “esses” poderia ser
substituída, sem alteração de sentido, por:
esperança.
a) bons
39) A palavra ou expressão que justifica a
resposta do item anterior é: b) certos
a) ilusão c) tais
b) meter a mão d) outros
c) essencial e) muitos
d) ser humano
e) valores

Como estudar a partir de textos 41


TEXTO X
Um prêmio chamado Sharp, ou Shell, Deus me livre! Não quero. Acho esses nomes feios. Não
recebo prêmios de empresas ligadas a grupos multinacionais. Não sou traidor do meu povo
nem estou à venda.
(Ariano Suassuna, na Veja, 3/7/96)
43) A palavra que melhor define o autor do texto é:
a) megalomaníaco
b) revoltado
c) narcisista
d) nacionalista
e) decepcionado

44) Se aceitasse algum tipo de prêmio de 46) O último período do texto tem claro
empresas multinacionais, o autor, além de valor:
traidor, se sentiria: a) causal
a) infiel b) temporal
b) venal c) condicional
c) pusilânime d) comparativo
d) ingrato
e) proporcional
e) ímprobo 47) A expressão “Deus me livre!”
45) O autor não recebe prêmios de demonstra, antes de tudo:
empresas multinacionais porque: a) revolta
a) seus nomes são feios. b) desprezo
b) estaria prestando um desserviço ao Brasil. c) ironia
c) detesta qualquer empresa que não seja
d) certeza
brasileira
e) ira
d) esses prêmios não têm valor algum.
e) não quer ficar devendo favores a esse tipo
de empresa.

TEXTO XI
Inserto entre o 16° e o 18°, o século XVII permanece em meialuz, quase apagado, nos fastos
do Rio de Janeiro, sem que sobre esse período se detenha a atenção dos historiadores, sem
que o distingam os que se deixam fascinar pelos aspectos brilhantes da história.
(Vivaldo Coaracy, in O Rio de Janeiro)

48) Segundo o texto, o século XVII: c) assemelha-se aos séculos XVI e XVIII.
a) chamou a atenção dos historiadores por d) foi importante, culturalmente, para o Rio de
ser meio apagado. Janeiro.
b) foi uma parte brilhante da história do Rio de e) transcorreu sem brilho, para o Rio de
Janeiro. Janeiro.
Como estudar a partir de textos 42
49) A palavra ou expressão que pode d) explica a palavra meia-luz.
substituir sem prejuízo do sentido a e) amplia a palavra meia-luz.
palavra “fastos” é:
51) Infere-se do texto que:
a) anais
a) os historiadores detestaram o século XVII.
b) círculos culturais
b) os mais belos momentos da história
c) círculos políticos encantam certas pessoas.
d) administração c) o século XVI foi tão importante quanto o
e) imprensa século XVIII.
50) A expressão “quase apagada”: d) a história do Rio de Janeiro está repleta de
coisas interessantes.
a) retifica a palavra meia-luz.
e) os historiadores se interessam menos
b) complementa a palavra meia-luz.
pelos séculos XVI e XVIII do que pelo século
c) reforça a palavra meia-luz. XVII.

TEXTO XII
Acho que foi uma premonição, uma vez que ele já tinha declarado que “A Fraternidade é
Vermelha” seria seu último filme. Foi o cineasta contemporâneo que conseguiu chegar mais
perto do conceito de Deus. Poderia ter feito muito mais filmes, mas foi vítima do totalitarismo
socialista.
(Leon Cakoff, no Jornal da Tarde, 14/13/96)

52) O totalitarismo socialista: d) desagradou por não falar de Deus.


a) atrapalhou a carreira do cineasta. e) não sabia nada sobre Deus.
b) manteve-se alheio à carreira do cineasta. 55) Levando-se em conta o caráter
materialista usualmente atribuído aos
c) interrompeu a carreira do cineasta.
socialistas, o título do filme seria, em
d) incentivou a carreira do cineasta. princípio:
e) fiscalizou a carreira do cineasta. a) uma redundância
b) uma ambigüidade
53) “A Fraternidade é Vermelha”: c) um paradoxo
a) foi um filme de repercussão nos meios d) uma qualificação
religiosos.
e) uma incoerência
b) foi o primeiro filme de sucesso do cineasta.
56) A palavra “premonição” se justifica
c) não abordava o assunto Deus. porque:
d) foi o melhor filme do cineasta. a) seu filme foi um sucesso.
e) foi o último filme do cineasta. b) o cineasta falava de Deus.
c) o cineasta não quis fazer mais filmes.
54) Provavelmente, o cineasta: d) a “Fraternidade é Vermelha” foi seu último
a) agradou, por ser materialista. filme.
b) agradou por falar de Deus. e) o cineasta foi vítima do totalitarismo
socialista.
c) desagradou por falar de Deus.

Como estudar a partir de textos 43


57) A palavra “Vermelha” eqüivale no texto 58) O conectivo que não poderia substituir
a: “uma vez que” no texto é:
a) totalitária a) porque
b) comunista b) pois
c) socialista c) já que
d) materialista d) porquanto
e) espiritualista e) se bem que

TEXTO XIII
Nem todas as plantas hortícolas se dão bem durante todo o ano; por isso é preciso fazer uma
estruturação dos canteiros a fim de manter-se o equilíbrio das plantações. Com o sistema
indicado, não faltarão verduras durante todo ano, sejam folhas, legumes ou tubérculos.
(Irineu Fabichak, in Horticultura ao Alcance de Todos)

59) Segundo o texto: e) manter sempre limpos os canteiros


a) todas as plantas hortícolas não se dão bem 61) A conjunção “por isso” só não pode
durante todo o ano. ser substituída por:
b) todas as plantas hortícolas se dão bem a) portanto
durante todo o ano. b) logo
c) todas as plantas hortícolas se dão mal c) então
durante todo o ano.
d) porque
d) algumas plantas hortícolas se dão bem
durante todo o ano. e) assim
e) nenhuma planta hortícola se dá mal 62) Segundo o último parágrafo do texto:
durante todo o ano. a) tubérculos não são verduras.
60) Para manter o equilíbrio das b) legumes são o mesmo que tubérculos.
plantações é necessário:
c) folhas, legumes e tubérculos são a mesma
a) estruturar de maneira mais lógica e racional coisa.
os canteiros.
d) haverá verduras o ano todo, inclusive
b) fazer mais canteiros, mas ordenando-os de folhas, legumes e tubérculos.
maneira lógica e
e) haverá folhas, legumes e tubérculos o ano
racional. todo.
c) fazer o plantio em épocas diferentes.
d) construir canteiros emparelhados.

TEXTO XIV
Aquisição à vista. A Bauducco, maior fabricante de panetones do país, está negociando a
compra de sua maior concorrente, a Visconti, subsidiária brasileira da italiana Visagis. O
negócio vem sendo mantido sob sigilo pelas duas empresas em razão da proximidade do
Natal. Seus controladores temem que o anúncio dessa união - resultando numa espécie de
AmBev dos panetones - melindre os varejistas.
(Cláudia Vassallo, na Exame, dez./99)

Como estudar a partir de textos 44


63) As duas empresas (/. 4) de que fala o texto são:
a) Bauducco e Visagis
b) Visconti e Visagis
c) AmBev e Bauducco
d) Bauducco e Visconti
e) Visagis e AmBev

64) A aproximação do Natal é a causa:


a) da compra da Visconti
b) do sigilo do negócio
c) do negócio da Bauducco
d) do melindre dos varejistas
e) do anúncio da união

65) Uma outra causa para esse fato seria: 66) Por “aquisição à vista” entende-se, no
a) a primeira colocação da Bauducco na texto:
fabricação de panetones a) que a negociação é provável.
b) o fato de a Visconti ser uma multinacional b) que a negociação está distante, mas vai
acontecer.
c) o fato de a AmBev entrar no mercado de
panetones c) que o pagamento da negociação será feito
em uma única parcela.
d) o possível melindre dos varejistas
d) que a negociação dificilmente ocorrerá.
e) o fato de a Visconti ser concorrente da
Bauducco e) que a negociação está próxima.

TEXTO XV
Um anjo dorme aqui; na aurora apenas, disse adeus ao brilhar das açucenas em ter da vida
alevantado o véu.
- Rosa tocada do cruel granizo Cedo finou-se e no infantil sorriso passou do berço pra brincar
no céu!
(Casimiro de Abreu, in Primaveras)

67) O tema do texto é: 68) O tema se desenvolve com base em


uma figura de linguagem conhecida como:
a) a inocência de uma criança
a) prosopopéia
b) o nascimento de uma criança
b) hipérbole
c) o sofrimento pela morte de uma criança
c) pleonasmo
d) o apego do autor por uma certa criança
d) metonímia
e) a morte de uma criança
e) eufemismo

Como estudar a partir de textos 45


69) No âmbito do poema, podemos dizer 71) Por “sem ter da vida alevantado o véu”
que pertencem ao mesmo campo entende-se:
semântico as palavras:
a) sem ter nascido
a) aurora e véu
b) sem ter morrido cedo
b) anjo e rosa c) sem ter conhecido bem a vida
c) granizo e sorriso d) sem viver misteriosamente
d) berço e céu e) sem poder relacionar-se com as outras
e) cruel e infantil pessoas
70) As palavras que respondem ao item 72) “Na aurora apenas” é o mesmo que:
anterior são: a) somente pela manhã
a) uma antítese em relação à vida b) no limiar somente
b) hipérboles referentes ao destino c) apenas na alegria
c) personificações alusivas à morte d) só na tristeza
d) metáforas relativas à criança e) só no final
e) pleonasmos com relação à dor.

TEXTO XVI
Julgo que os homens que fazem a política externa do Brasil, no Itamaraty, são excessivamente
pragmáticos. Tiveram sempre vida fácil, vêm da elite brasileira e nunca participaram, eles
próprios, em combates contra a ditadura, contra o colonialismo. Obviamente não têm a
sensibilidade de muitos outros países ou diplomatas que conheço.
(José Ramos-Horta, na Folha de São Paulo, 21/10/96)

73) Só não caracteriza os homens do 75) Pelo visto, o autor gostaria de que os
Itamaraty: homens do Itamaraty tivessem mais:
a) o pragmatismo a) inteligência
b) a falta de sensibilidade b patriotismo
c) a luta contra a ditadura c) vivência
d) a tranqüilidade da vida d) coerência
e) as raízes na elite do Brasil e) grandeza

74) A palavra que não se liga 76) A oração iniciada por “obviamente”
semanticamente aos homens do Itamaraty tem um claro valor de:
é: a) conseqüência
a) o segundo que (/. 1) b) causa
b) tiveram (/. 2) c) comparação
c) vêm (/. 3) d) condição
d) eles (/. 3) e) tempo
e) o terceiro que (/. 5)

Como estudar a partir de textos 46


77) A palavra que pode substituir, sem a) nem todo diplomata é excessivamente
prejuízo do sentido, a palavra pragmático.
“obviamente” (/. 4), é:
b) ter lutado contra o colonialismo é
a) necessariamente importante para a carreira de diplomata.
b) realmente c) Nem todo diplomata vem da elite brasileira.
c) justificadamente d) ter vida fácil é característica comum a todo
tipo de diplomata.
d) evidentemente
e) há diplomatas mais sensíveis que outros.
e) comprovadamente
78) Só não pode ser inferido do texto:

TEXTO XVII
Se essa ainda é a situação de Portugal e era, até bem pouco, a do Brasil, havemos de convir
em que no Brasil-colônia, essencialmente rural, com a ojeriza que lhe notaram os nossos
historiadores pela vida das cidades - simples pontos de comércio ou de festividades religiosas -
, estas não podiam exercer maior influência sobre a evolução da língua falada, que, sem
nenhum controle normativo, por séculos “voou com as suas próprias asas”.
(Celso Cunha, in A Língua Portuguesa e a Realidade Brasileira)

79) Segundo o texto, os historiadores: a) medo


a) tinham ojeriza pelo Brasil-colônia. b) admiração
b) consideram as cidades do Brasil-colônia c) aversão
como simples pontos de comércio ou de d) dificuldade
festividades religiosas.
e) angústia
c) consideram o Brasil-colônia essencialmente
rural.
d) observaram a ojeriza que a vida nas 82) A língua falada “voou com as suas
cidades causava. próprias asas” porque:
e) consideram o campo mais importante que a) as cidades eram pontos de festividades
as cidades. religiosas.
80) Para o autor: b) o Brasil se distanciava lingüisticamente de
Portugal.
a) as festas religiosas têm importância para a
evolução da língua falada. c) faltavam universidades nos centros
urbanos.
b) No Brasil-colônia, havia a prevalência da
vida do campo sobre a das cidades. d) não se seguiam normas lingüísticas.
c) a evolução da língua falada dependia em e) durante séculos, o controle normativo foi
parte dos pontos de comércio. relaxado, por ser o Brasil uma colônia
portuguesa.
d) a evolução da língua falada independe da
condição de Brasilcolônia.
e) a situação do Brasil na época impedia a 83) Segundo o texto, a população do
evolução da língua falada. Brasil-colônia:
a) à vida do campo preferia a da cidade.
81) A palavra “ojeriza” (/. 3) significa, no b) à vida da cidade preferia a do campo.
texto:
Como estudar a partir de textos 47
c) não tinha preferência quanto à vida do e) preferia a vida no Brasil, fosse na cidade ou
campo ou à da cidade. no campo.
d) preferia a vida em Portugal, mas procurava
adaptar-se à situação.

TEXTO XVIII
Ainda falta um bom tempo para a aposentadoria da maior parte deles, mas a Andrade
Gutierrez já tem pronto um estudo sobre a sucessão de 20 de seus principais executivos,
quase todos na faixa entre 58 e 62 anos. Seus substitutos serão escolhidos entre 200
integrantes de um time de aspirantes. Eduardo Andrade, o atual superintendente, que já integra
o conselho de administração da empreiteira mineira, deverá ir se afastando aos poucos do dia-
a-dia dos negócios. Para os outros executivos, que deverão ser aproveitados como
consultores, a aposentadoria chegará a médio prazo.
(José Maria Furtado, na Exame, dez./99)

84) Se começarmos o primeiro período do texto por “A Andrade Gutierrez já tem


pronto...”, teremos, como seqüência coesa e coerente:
a) visto que ainda falta um bom tempo para a aposentadoria da maior parte deles.
b) por ainda faltar um bom tempo para a aposentadoria da maior parte deles.
c) se ainda faltar um bom tempo para a aposentadoria da maior parte deles.
d) embora ainda falte um bom tempo para a aposentadoria da maior parte deles.
e) à medida que ainda falta um bom tempo para a aposentadoria da maior parte deles.

85) Segundo o texto: 87) Sobre o executivo Eduardo Andrade,


não se pode afirmar:
a) 20 grandes executivos da empresa se
aposentarão a médio prazo. a) ocupa, no momento, a superintendência.
b) 20 grandes executivos da empresa acham- b) é um dos conselheiros.
se na faixa entre 58 e 62 anos. c) será substituído por um dos 200 aspirantes.
c) nenhum dos 20 grandes executivos se d) está se afastando dos negócios da
aposentará a curto prazo. empresa.
d) Eduardo Andrade é um executivo na faixa e) será o primeiro dos 20 grandes executivos
dos 58 a 62 anos. a se aposentar.
e) a empresa vai substituir seus vinte
88) Sobre a Andrade Gutierrez, não é
principais executivos a curto e médio prazos. correto afirmar:
86) A empresa, no que toca à a) é empresa de obras.
aposentadoria de seus executivos, mostra-
se: b) é do estado de Minas Gerais.
a) precipitada c) preocupa-se com seus funcionários.
b) cautelosa d) mantém-se alheia a qualquer tipo de
renovação.
c) previdente
e) procura manter vínculo com executivos
d) rígida aposentados.
e) inflexível

Como estudar a partir de textos 48


TEXTO XIX
Toda saudade é a presença da ausência de alguém, de algum lugar, de algo enfim.
Súbito o não toma forma de sim como se a escuridão se pusesse a luzir.
5 Da própria ausência de luz o clarão se produz,
o sol na solidão.
Toda saudade é um capuz transparente que veda e ao mesmo tempo traz a visão
10 do que não se pode ver porque se deixou pra trás mas que se
guardou no coração.
(Gilberto Gil)

89) Por “presença da ausência” pode-se 90) Para o autor, a saudade é algo:
entender: a) que leva ao desespero.
a) ausência difícil
b) que só se suporta com fé.
b) ausência amarga c) que ninguém deseja.
c) ausência sentida d) que transmite coisas boas.
d) ausência indiferente e) que ilude as pessoas.
e) ausência enriquecedora

91) O texto se estrutura a partir de c) as coisas boas podem transformar-se em


antíteses, ou seja, emprego de palavras ou coisas ruins.
expressões de sentido contrário. O par de d) a saudade, como um capuz, não nos
palavras ou expressões que não permite ver com clareza a situação que
apresentam no texto essa propriedade vivemos.
antitética é:
e) a saudade, como um capuz, não nos deixa
a) presença (/. 1) / ausência (/. 1) perceber coisas que ficaram em nosso
b) não (/. 3) / sim (/. 3) passado.
c) ausência de luz (/. 5) / clarão (/. 6)
d) sol (/. 7) / solidão (/. 7) 93) O que se guarda no coração é:
e) que veda (/. 9) / traz a visão (/. 9) a) a saudade
b) o clarão
92) Segundo o texto: c) o que se deixou para traz
a) sente-se saudade de pessoas, e não de d) a visão
coisas. e) o que não se pode ver
b) as coisas ruins podem transformar-se em
coisas boas.

TEXTO XX
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar
pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que

Como estudar a partir de textos 49


eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi
outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que
também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este
livro e o Pentateuco.
(Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)

94) Pode-se afirmar, com base nas idéias 98) A diferença capital entre o autor e
do autor-personagem, que se trata: Moisés é que:
a) de um texto jornalístico a) o autor fala da morte; Moisés, da vida.
b) de um texto religioso b) o livro do autor é de memórias; o de
Moisés, religioso.
c) de um texto científico
c) o autor começa pelo nascimento; Moisés,
d) de um texto autobiográfico
pela morte.
e) de um texto teatral
d) Moisés começa pelo nascimento; o autor,
pela morte.
95) Para o autor-personagem, é menos e) o livro do autor é mais novo e galante do
comum: que o de Moisés.
a) começar um livro por seu nascimento.
b) não começar um livro por seu nascimento, 99) Deduz-se pelo texto que o Pentateuco:
nem por sua morte.
a) não fala da morte de Moisés.
c) começar um livro por sua morte.
b) foi lido pelo autor do texto.
d) não começar um livro por sua morte.
c) foi escrito por Moisés.
e) começar um livro ao mesmo tempo pelo
d) só fala da vida de Moisés.
nascimento e pela morte.
e) serviu de modelo ao autor do texto.

96) Deduz-se do texto que o autor-


personagem: 100) Autor defunto está para campa, assim
como defunto autor para:
a) está morrendo.
a) intróito
b) já morreu.
b) princípio
c) não quer morrer.
c) cabo
d) não vai morrer.
d) berço
e) renasceu.
e) fim

97) A semelhança entre o autor e Moisés é


que ambos: 101) Dizendo-se um defunto autor, o autor
destaca seu (sua):
a) escreveram livros.
a) conformismo diante da morte ;
b) se preocupam com a vida e a morte.
b) tristeza por se sentir morto
c) não foram compreendidos.
c) resistência diante dos obstáculos trazidos
d) valorizam a morte.
pela nova situação
e) falam sobre suas mortes.
d) otimismo quanto ao futuro literário
e) atividade apesar de estar morto
Como estudar a partir de textos 50
TEXTO XXI
Segunda maior produtora mundial de embalagem longa vida, a SIG Combibloc, principal
divisão do grupo suíço SIG, prepara a abertura de uma fábrica no Brasil. A empresa,
responsável por 1 bilhão do 1,5 bilhão de dólares de faturamento do grupo, chegou ao país há
dois anos disposta 5 a brigar com a líder global, Tetrapak, que detém cerca de 80% dos
negócios nesse mercado. Os estudos para a implantação da fábrica foram recentemente
concluídos e apontam para o Sul do país, pela facilidade logística junto ao Mercosul. Entre os
oito atuais clientes da Combibloc na região estão a Unilever, com a marca de atomatado
Malloa, no Chile, e a 10 italiana Cirio, no Brasil.
(Denise Brito, na Exame, dez./99)

102) Segundo o texto, a SIG Combibloc: 104) Os estudos apontam para o Sul
porque:
a) produz menos embalagem que a Tetrapak.
a) o clima favorece a produção de
b) vai transferir suas fábricas brasileiras para
embalagens longa vida.
o Sul.
c) possui oito clientes no Brasil. b) está próximo aos demais países que
compõem o Mercosul.
d) vai abrir mais uma fábrica no Brasil.
c) a Cirio já se encontra estabelecida ali. -v-.v.
e) possui cliente no Brasil há dois anos,
d) nos países do Mercosul já há clientes da
embora não esteja instalada
Combibloc.
no país.
e) o Sul é uma região desenvolvida e
promissora.
103) Segundo o texto: 105) “...que detém cerca de 80% dos
a) O Mercosul não influiu na decisão de negócios nesse mercado.” (/. 5-6) Das
instalar uma fábrica no Sul. alterações feitas nessa passagem do texto,
a que não mantém o sentido original é:
b) a SIG Combibloc está entrando no ramo de
atomatado. a) a qual detém cerca de 80% dos negócios
em tal mercado.
c) a empresa suíça SIG ocupa o 2o lugar
mundial na produção de b) que possui perto de 80% dos negócios
nesse mercado.
embalagem longa vida.
c) que detém aproximadamente 80% dos
d) a Unilever é empresa chilena. negócios em tais mercados.
e) a SIG Combibloc detém 2/3 do faturamento d) a qual possui aproximadamente 80% dos
do grupo. negócios nesse mercado.
e) a qual detém perto de 80% dos negócios
nesse mercado.

106) “...e apontam para o Sul do país...” O trecho destacado só não pode ser entendido,
no texto, como:
a) e indicam o Sul do pai
b) e recomendam o Sul do país
c) e incluem o Sul do país
d) e aconselham o Sul do país
e) e sugerem o Sul do país
Como estudar a partir de textos 51

Você também pode gostar