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3 – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO
I) . A 06.05.2005 foi aceite pela F…., a celebração de seguro pelo tomador B….., no
ramo “Avaria Máquinas/Casco”, com data de início da apólice de 05.05.200, pelo valor
de €544.000,00, com o credor hipotecário Banco …… SA Sociedade Aberta, referente
aos seguintes bens:
(“texto integral no original; imagem”)
[cf. fls. 78 e 79 dos autos].
insolvência, que apresentou declaração de cessação para efeitos de IVA a 31.08.2007, alterando a sede da
empresa para a sua morada própria, em M…. (distrito de Leiria).
Posteriormente, em 30.06.2008, o administrador de insolvência entrega nova declaração de alterações
referindo que pretendia repor a sede da empresa em A…. (distrito de Faro), dado que, por lapso, o mesmo
administrador tinha alterado a sede para a sua morada própria, pretendendo igualmente actualizar o
cadastro da empresa no tocante aos representantes.
Desta forma, e desde 30.06.2008, a sede da empresa voltou a ser a Rua A…., n.° 26, F….., em Albufeira
B - Actividade desenvolvida:
Tendo por base as facturas contabilizadas pelos diversos utilizadores de que temos conhecimento, relativas
a este emitente, verificamos os seguintes descritivos que transcrevemos: "cedência de mão-de-obra para
obra em ...", "...desmantelamento da passagem superior... ", "Desaterro e transporte de terras a vazadouro e
abertura de sapata", "Cofragens e armação de ferro, betonagem das fundações, pilares, placas", "Const. de
telhado, alvenarias,
reboso, betonilhas, tub. de agua, elect. assentamento de loiças, sanitários", "Execução de cofragem ao
metro ...", "Serviço de apoio - serviço de apoio as vossas obras prestado com equipamento mecânico
conforme contrato com a vossa empresa", "Cedência de mão de obra – Serviço prestado na vossa obra",
"Cedência de equipamento - serviços prestados em diversas obras no mês de Dezembro", "Madeira de
pinho para cofragem", "Terraplanagem de terra ... abertura de valas e colocação de manilhas de drenagem
em 600 mts de cumprimento e fecho de vala com areias e camada de terra na finalização", " Sucatas de
obra — venda de sucata retirada das nossas obras ...", "Máquina retroescavadora — trabalhos efectuados
na vossa obra ...", "Giratória J…. - Cedência de equipamento para a sua obra ...", "Serviços prestados nas
suas obras ...", "Serviços prestados ... aplicação de silicone nas madeiras dentro
dos apartamentos", "Serviços prestado ... reparações diversas nos apartamentos (substituição de
pavimentos flutuantes, substituição de perfis ...", "...aluguer de uma rectroescavadora, de uma giratória... ",
"Serviço de camion... ", "Serviços prestados — trabalhos efectuados no Porto no mês de Outubro".
Como se pode verificar, são descritivos muito vagos os mencionados nas facturas por si emitidas ou
emitidas em seu nome, sem descriminação detalhada dos serviços efectivamente realizados, não tendo sido
apresentados quaisquer elementos ou documentos que contenham a descrição completa dos produtos
fornecidos, ou da quantificação e valorização unitária dos serviços prestados, etc., o que constitui clara
violação ao disposto na alínea b) do n.° 5 do art.°35.° do Código do IVA segundo o qual "As facturas ou
documentos equivalentes devem ser datados, numerados sequencialmente e conter os seguintes
elementos ......b) a quantidade e denominação usual dos bens transmitidos ou dos serviços prestados, com
especificação dos elementos necessários à determinação da taxa aplicável; as embalagens não
efectivamente
transaccionadas deverão ser objecto de indicação separada e com menção expressa de que foi acordada a
sua devolução".
Igualmente verificámos, que não só os locais onde são efectuados mas também o tipo de serviços prestados
mencionados nas facturas contabilizadas pelos diversos utilizadores de que temos conhecimento, abrange
uma variedade bastante diversificada de locais e serviços prestados, correspondentes às dos respectivos
utilizadores dessas facturas, factos estes não compatíveis com os padrões normais de funcionamento da
generalidade dos operadores económicos
C - Facturação:
Através da análise das facturas apreendidas e do mapa de registo de todas as facturas
contabilizadas nos diversos utilizadores conhecidos, foram detectadas algumas
irregularidades ao nível da emissão de facturas:
• a ordem cronológica não segue a ordem numérica sequencial, pois há facturas com numeração posterior
passadas em data anterior (ex: facturas n.°s 172 de 03.07.2004 e 173 de 31.05.2004, facturas n.° s 443 de
30.06.2006 e 444 de 29.04.2006);
• duplicação de numeração, ou seja, facturas com o mesmo número mas com datas, valores e utilizadores
diferentes. A título de exemplo, temos:
o factura n.° 261A de 30.11.2004, no valor de € 20.527,50
factura n.° 26IA de 31.01.2005, no valor de €101.660,68
o factura n.° 264 de 31.12.2004, no valor de € 10.138,80
factura n.° 264 de 01.02.2005, no valor de € 32.130,00
o factura n.° 337 de 30.06.2005, no valor de € 30.250,00
factura n.° 337 de 02.01.2006, no valor de € 9.982,50
o factura n.° 357 de 28.02.2006, no valor de € 14.520,00
factura n.° 357 de 28.02.2006, no valor de € 36.300,00
o factura n.° 358 de 15.03.2006, no valor de € 20.394,74
factura n.° 358 de 23.03.2006, no valor de € 10.768,88
o factura n.° 359 de 31.01.2006, no valor de € 13.715,35
factura n.° 359 de 30.06.2006, no valor de € 20.394,74
o factura n.° 469 de 31.10.2006, no valor de € 21.489,60
factura n.° 469 de 22.09.2006, no valor de € 21.538,00
o factura n.° 472 de 10.07.2006, no valor de € 9.900,00
Concluímos assim que, após 31.01.2005 a empresa emitiu facturas relativamente a serviços
para os quais não estava legalmente habilitada, sendo de salientar que essa habilitação tinha
sido obtida pela anterior gerência e quando a empresa exercia normalmente a sua actividade.
I - Outros aspectos a salientar:
I.1 — Declarações efectuadas por pessoas relacionadas com a firma C….
Lda - em liquidação
I.1.1 – V……
Tendo sido ….
- EM LIQUIDACÃO — NIPC — 504.78….., foi
possível constatar a nomeação como gerente da empresa o senhor V …, com
NIF 201.64…., durante um breve período no mês de Abril de 2004.
Foi o mesmo notificado para comparecer nos serviços da inspecção tributária da Direcção de
Finanças de Lisboa no 14 de Abril de 2009, e tendo o mesmo comparecido na data e hora
marcadas, foi confrontado com o facto de ter sido nomeado gerente em Abril de 2004, referiu
não ter tido, nem ter, conhecimento da sua nomeação como gerente da firma C…..
, Lda, com NIPC 504.78…... Teve conhecimento de que o dono desta empresa era o
Sr. F….., dado ter-se deslocado a A…. no Algarve, a seu pedido para de
lá retirar todos os móveis e alguma documentação, para entregar numa garagem na
C….. do R….. Referiu que, por várias vezes o Sr. B….., tendo em conta o facto
de trabalhar na noite, como segurança na grande Lisboa, lhe solicitou que arranjasse pessoas de
nacionalidade brasileira e angolana que vivessem com dificuldades no sentido de, a troco de algum
dinheiro, pudessem os mesmos dar o seu nome como compradores de certas empresas.
Disse ter conhecimento de que entre o senhor B….. e outras pessoas, existia um negócio de emissão de
facturas sem a correspondente prestação de serviços, sendo que essas facturas eram emitidas por diversas
entidades das quais não sabia o nome, sendo que algumas dessas facturas eram assinadas pelo Sr. B….
Não sabia ao certo o valor que eles recebiam pela venda das facturas, tendo alguns desses cheques, sido
por si levantados (a pedido do Sr. B….) no balcão do B…. do Carregado dado ser titular duma conta nesse
banco, sendo assim mais fácil levantar o dinheiro dos cheques. Esporadicamente, o senhor B…
contactava-o para o acompanhar na sua ida a lugares mais problemáticos e outras vezes contactava-o para
eu ir entregar envelopes com dinheiro a determinados locais
I.2 — Outros factos
No âmbito do processo de inquérito 1596/03.0JFLSB — DCICCE da Polícia Judiciária, e de entre as
entidades em que foram detectadas facturas emitidas pela C….., verificamos que uma delas indicou, em
resposta a notificação efectuada por estes Serviços para justificar as facturas registadas na contabilidade e
os serviços constantes do seu descritivo, que não conhecia a entidade C….., Lda. nem os seus
representantes legais, uma vez que os trabalhos efectuados foram executados por outra pessoa. Por sua vez,
esta mesma pessoa veio a confirmar ter realizado alguns trabalhos para essa empresa, num montante à
volta de 10.000,00 €, tendo passado facturas da firma C…., Lda. e pelas quais pagou ao Sr. B…. um
montante de cerca de 12%.
I.3 — Interrogatório de um arguido pela Policia Judiciária
No âmbito do processo de inquérito 1596/03.0JELSB — DCICCE da Polícia Judiciária, foi ouvido pela
Policia Judiciária, um empresário em nome individual, que afirmou ter sido contactado por um indivíduo,
que se identificou como F....., que lhe disse necessitar de "descarregar" urnas facturas, e se podia ficar com
algumas das suas facturas, ao que o mesmo acedeu.
Mais referiu que, o mesmo F....., começou a depositar na sua caixa de correio outras facturas, já em nome
de uma outra firma, a C....., Lda., tendo assumido serem falsas, todas as facturas que lhe foram entregues
pelo F....., pois os serviços descritos nas mesmas não foram prestados.
I.4 — Processo de insolvência
Em Março de 2007 deu entrada no Tribunal Judicial de Albufeira "acção especial de insolvência" contra a
empresa C....., acção esta instaurada por um terceiro, tendo como fundamento um crédito no montante de
32.099,50€ mais juros de mora entretanto vencidos. Este crédito foi titulado por injunção emitida pelo
Tribunal Judicial de Torres Vedras, constituindo título executivo. A empresa indicou na sua acção outros
credores da C..... que entretanto já tinham instaurado as competentes acções e indicou como único sócio e
único gerente da requerida o Sr. B…..
Nos anos de 2003 a 2007 foram instauradas outras acções por outros credores e referenciadas na acção
interposta e acima referida.
Na sentença foi declarado aberto o incidente de qualificação da insolvência, com carácter limitado, uma
vez que não eram conhecidos bens à devedora (art.° 39° CIRE), tendo sido fixada residência ao gerente
F.....na Praceta….., n.° 7 — R/C — Carregado.
Na sentença do Tribunal Judicial de Albufeira, datada de 13 de Agosto de 2007, foi a sociedade C…. LDA
- EM LIQUIDACÃO — NIPC — 504.78…. declarada insolvente, atendendo ao disposto nas alíneas b) e
h) do n.° 4 do art.° 35 do CIRE, ou seja, "falta de cumprimento de uma ou mais obrigações que, pelo seu
montante ou pelas circunstâncias do incumprimento, revele a impossibilidade de o devedor satisfazer
pontualmente a generalidade das suas obrigações" e "... atraso superior a nove meses na aprovação e
depósito das contas, se a tanto estiver legalmente obrigado".
De acordo com o anúncio n.° 6395/2007, constante do Diário da Republica 2a série — n.° 184 de
24.09.2007, foi designado como administrador da insolvência L....., com endereço na Rua do….., apartado
20 — 24….-1…. de Aire.
O administrador de insolvência da sociedade C..... apresentou o seu parecer
nos termos no n.° 2 do art.° 188° do Código da Insolvência e Recuperação de Empresas CIRE),
qualificando a insolvência de culposa, tendo o administrador de insolvência procedido à cessação de
actividade a 31.08.2007, não conseguindo contactar os gerentes da insolvente nem apreender os elementos
da contabilidade, concluindo-se que o património da mesma é nulo.
O Ministério Público emitiu o seu parecer, discordando da qualificação da insolvência como culposa, mas
apenas fortuita, isto porque não ficou evidenciado o incumprimento doloso por parte dos administradores
da insolvente.
Na sentença do Tribunal Judicial de Albufeira foram acolhidos os argumentos do Ministério Público, tendo
concluído não ter sido apurado que a situação de insolvência tenha sido criada ou agravada em
consequência da actuação, dolosa ou com culpa grave dos administradores.
De acordo com informação do Tribunal Judicial de Albufeira, o processo foi considerado findo em
Dezembro de 2007.
I.5 — Notificação aos sócios-gerentes e TOC pela Direcção de Finanças de Santarém
Em relatório da inspecção realizada pela Direcção de Finanças de Santarém a um utilizador de facturas
falsas emitidas por C....., Lda., é referido que no âmbito de uma anterior acção inspectiva a um utilizador
de facturas falsas emitidas pela C…., tinha sido notificado o técnico oficial de contas constante do cadastro
do sujeito passivo. O mesmo enviou resposta, indicando que deixou de exercer as funções de TOC da
empresa C..... a 31.12.2003 conforme carta enviada à Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, tendo as
quotas sido vendidas em Janeiro de 2004 a pessoas com as quais não tem qualquer relacionamento.
No âmbito da mesma acção inspectiva, foram notificados os antigos gerentes da empresa C….. Lda., tendo
ambos declarado, ter deixado a gerência da empresa em
13.01.2004 passando a gerência a ser exercida por F…., data em que alienaram as suas participações
J- Conclusão
Podemos concluir que relativamente ao sujeito passivo C….. LDA – EM
LIQUIDACÃO — NIPC — 504……, pelo menos desde o inicio de 2004, aquando da
cedência de quotas a favor da T….., que não se lhe conhece qualquer capacidade
estrutural (técnica, humana, logística), seja de mão-de-obra, seja em maquinaria, ou qualquer outro meio,
que lhe permitisse realizar quaisquer operações, bem como os montantes que lhe estão associados se
comportam de forma exagerada face à capacidade observada, tendo em linha de conta de que também não
se verificou que esta entidade se socorra de terceiros para o "exercício" destas actividades. Deste modo
verifica-se que o sujeito passivo marca, assim, o início de um fluxo documental (como emitente) sem que
existam evidências de um fluxo real de bens, de trabalhadores ou de serviços prestados (como adquirente).
Tudo o que foi referido anteriormente (com especial destaque a inexistência de uma adequada estrutura
empresarial do alegado prestador, susceptível de exercer a actividade declarada)constituem os factos, que
isoladamente ou conjugados entre si, nos levam a concluir, que os serviços prestados nunca se realizaram e
como tal não correspondem a transacções reais.
(…)
III-4 DILIGÊNCIAS, NOTIFICAÇÕES E PROCEDIMENTOS EFECTUADOS
III-4.1 RELATIVOS À FIRMA B..... BRITAS CALCÁRIO LDA – NIPC 50059….
Como já atrás se referiu, a acção de inspecção aos exercícios de 2005 e 2006 foi iniciada no dia
06/05/2008, com a assinatura das Ordens de Serviço n.Os 0120070… e 01200801…, a acção
ao exercício de 2007 foi iniciada no dia 25/11/2008, com a assinatura da Ordem de Serviço n."
012008….6 e a acção aos exercícios de 2004 e 2008 foi iniciada a 06/11/2009, com a assinatura das
Ordens de Serviços n.os 0120090… e 0120090…. Relativamente a todas as acções, foi dada cópia da
Ordem de Serviço ao sujeito passivo.
Antes do início da acção de inspecção efectuada ao sujeito passivo, foram desenvolvidas diligências no
sentido de contactar com os responsáveis da B…..
LDA - NIPC 500.59…., com o intuito de iniciar a respectiva acção de inspecção. Assim, no dia
24/04/2008, deslocamonos à respectiva sede constante do cadastro da DOCI, sito em ALDEIA G….. -
S….., mas constatámos que, actualmente, tal morada corresponde a morada da mãe/sogra dos dois sócios-
gerentes, a qual forneceu o contacto telefónico do Sr. A…., sócio-gerente da empresa.
Após contacto telefónico com o Sr. A….. e dada a indisponibilidade imediata para se proceder ao inicio da
acção inspectiva, foi possível marcar reunião com o referido sócio gerente, para o dia 6 de Maio de 2008,
nas instalações que a empresa possui junto da pedreira explorada pelo seu cliente S…., em M…..
As acções de inspecção à firma B….. LDA - NIPC - 500.5…..aos exercícios de 2004,2005,2006,2007 e
2008 foram determinadas em consequência do Processo de Inquérito NUIPC N.O 1596/03.0JFLSB -
DCICCE da Polícia Judiciária - cujos
elementos foram remetidos a estes Serviços de Inspecção Tributária através do Oficio N."
83.817 de 12/04/2007 da DCICCEF - por haver indícios muito fortes da mesma ter registado
na sua contabilidade facturas emitidas pelas entidades atrás identificadas e de forma a "ser
instaurado o procedimento de liquidação e contabilizadas as vantagens patrimoniais obtidas".
Chegamos assim à conclusão que o valor do contrato de locação financeira n.° 40002… está
extraordinariamente empolado face ao valor de uso, de mercado ou qualquer outro critério
que possa ser usado para valorizar o equipamento subjacente a esta operação de locação
financeira.
i) Para pagamento desta factura emitida pela firma C....., LDA, o BANCO
….SA — NIPC — 501 525…., não credita o montante global de E
890….. numa conta dessa firma, mas sim numa conta do sócio gerente da B…, o Sr.
A…. (conta n.° 1719…. do balcão do B… em Faro), tendo por base uma
declaração, datada de 5 de Maio de 2005, emitida pela referida C.....,
LDA, assinada pelo seu gerente, Sr. F….., com
NIF 169.249…., a solicitar, e citamos "Relativamente à factura n.° 286A em assunto,
informamos V° Exas de que já recebemos da empresa B…. Lda montante global da
mesma, pelo que autorizamos V. Exas. a procederem ao pagamento do referido valor global
ao Sr° A….. com o n° de conta 171980…. pertencente ao vosso balcão de Faro",
conforme Anexo n.° 6 de uma folha;
j) Ou seja, a empresa B…. celebra um contrato de leasing no dia 5 de Maio de 2005 e na
mesma data é declarado, pela C..... Lda (pretenso fornecedor do
equipamento) ao banco locador, que já recebeu da locatária (B….) o valor do contrato,
pedindo que credite a conta do sócio-gerente da empresa o mesmo valor;
k) Da análise efectuada, e de acordo com os registos e extracto de conta corrente, constantes na
contabilidade do BANCO …SA - NIPC - 501 52 …. (conforme
cópias em Anexo n. o 7 de dez folhas), relativamente ao crédito do seu "fornecedor" C…
, Lda, foi possível verificar que, o valor da factura n.º 286A de 05/05/2005 da
C....., Lda, num total de E 890.358,00, foi "saldado", da seguinte forma:
I. A débito o montante de € 352.775.50, por crédito da conta da B… correspondente
à primeira renda a pagar por parte desta, relativamente ao contrato de locação financeira
n." 400026…. (E 295.700,00) mais o respectivo IV A (E 56.183,00) e despesas de abertura e
gestão do dossier contrato (E 892,50), tendo um comentário dizendo "montante da 1. a
renda + IVA+ Portes. que é feito encontro de contas com o montante total a pagar ao
fornecedor". Por outro lado, na contabilidade da B…., analisando o lançamento
contabilístico deste "pagamento" de 352.775,50 E (diário 70 - Doe, 94 - N. Doe 22) da
primeira rend., verificamos que a conta reflectida (a crédito) é a conta do sócio A….
(# 25511).
De acordo com informação prestada pelo sujeito passivo B…., no âmbito desta
acção inspectiva, foi referido e citamos" Vai verificar que não consta no extracto bancário
o pagamento da 1.ª renda, o que na altura me foi indicado é que tinha sido paga pelos
sócios, e foi nesse sentido que foi contabilizado. Mas tal facto não foi, só agora com a
situação da recolha dos elementos para a acção inspectiva que está a decorrer é que me
foi explicado é que a 10 renda sido deduzida/paga com o encontro de contas entre a
B… e a C..... na factura 5304 de 23,03.2005."
Ou seja, a afirmação efectuada põe em causa a declaração da firma C.....
Lda, que reconheceu perante o Banco…, SA que já tinha recebido o
montante global da sua factura 286 A. Ora, se é a própria B….. a referir que o valor
da renda emitida pelo Banco ....., SA não está reflectida nos extractos
da sua conta bancária, tendo antes sido deduzida/paga de encontro de contas entra a
..... e a C..... Lda, tal leva-nos a concluir que a C.....
Lda não recebeu qualquer valor decorrente desta operação, tendo ordenado ao Banco
..... SA que efectuasse o pagamento ao Sr Alcino Matias o montante da
mesma factura.
II. A débito o montante de € 72.695,59 (valor este traduzido na factura de rescisão FeR 16693
no valor de € 72.517,09 e nota de débito recibo NDB 442458, no valor de €178,50, ambas
emitidas pelo Banco ..... SA a 20.05.2005) resultante da rescisão de um
contrato de locação financeira com o n." 200308559, anterior ao contrato n.º 400026423 e
celebrado com a empresa ..... B….. Assim, o próprio Banco utiliza o valor em divida
dum contrato de leasing completamente estranho ao seu fornecedor C…..
, Lda, dado que esta empresa não interveio naquele contrato 20030…. (como
fornecedor ou a qualquer outro título) e salda parcialmente o valor em dívida a esse
fornecedor C..... Lda. Tal valor é lançado na contabilidade da B…..
por contrapartida da conta do sócio-gerente da empresa, o Sr. A…., conforme
doc. n.° 21 do diário de bancos de Maio de 2005; vide Anexo n.° 8 de duas folhas;
III. A débito a diferença de €464.886,91, por crédito datado de 12/05/2005, duma conta
bancária com o número 45210101684, junto do M…. B…, pertencente à B….
que por sua vez transferiu para o sócio-gerente Sr. A…., diversas verbas, no
próprio dia 12.05.2005 (€150.000,00), no dia 13.05.2005 (€200.000,00) e no dia 17.05.2005 (€
25.000,00) o que é confirmado analisando os lançamentos contabilísticos na contabilidade
da B….. (docs. 13, 14, 15 e 17 do diário de bancos de Maio de 2005) e respectivo
extracto bancário, conforme Anexo n.° 9 de seis folhas.
IV. Verificamos não ter existido qualquer movimento financeiro entre C.....
Lda. e a ..... para pagamento da factura n.° 5304, emitida por esta última (vide
nota na alínea e) acima), tal só vem reforçar a convicção de que esta factura não teve
qualquer correspondência com a realidade, na medida em que a B….. emite a
factura n.° 5304 em Março de 2005, e a C..... Lda. nunca procedeu ao seu
pagamento e só no final do ano de 2007, a B…. regulariza este saldo por
contrapartida duma "conta saco" (2681), sem identificação de qualquer terceiro, sendo
manifesto que nunca foi sua intenção proceder ao pagamento de tal factura;
V. Da mesma forma, para pagamento da factura n.° 286A da firma C.....
Lda., também não existe qualquer movimento financeiro entre o Banco
….SA e o seu "fornecedor" C..... Lda, apenas "mero encontro de
contas", conforme atrás se referiu;
l) Deveremos acrescentar que, conforme Anexo n.° 10 (duas páginas), a B….
LDA — NIPC — 500.59…., tendo como avalistas os seus sócios Sr. A……
e D. E....., assinou uma
Livrança em branco — cujo montante se desconhece, dado não ter sido preenchida essa parte,
mas que pensamos não andar longe da diferença entre o montante de contrato de locação
financeira e o do valor real dos bens objecto de contrato - destinada a "titular os créditos"
desse Banco relativamente ao contrato de locação financeira com o n.° 400026423,
nomeadamente das obrigações pecuniárias, presentes ou flautas, resultantes do
incumprimento, temporário ou definitivo, da resolução, da caducidade e da ineficácia do
referido contrato;
m) O referido contrato de locação financeira n.º 400026423, entre o BANCO …..
SA e a B….., com inicio em Maio de 2005 e fim em Maio de 2008, prevê
um prazo de locação de 36 meses, com rendas de periodicidade mensal, conforme Anexo n.º 5;
n) Deste modo, após exame à escrita e análise de todos os elementos constantes da contabilidade
da firma B….. LDA - N/PC - 500.59….., e no âmbito das
diligências efectuadas para carrear prova para o Processo de Inquérito NUIPC N.º
1596/03.0JFLSB - DCICCE da Polícia Judiciária, foi o sujeito passivo B…..
LDA - NIPC 500.59…., notificado, na pessoa do seu sócio-gerente, para
esclarecer alguns assuntos sobre esta operação, conforme notificação pessoal (Anexo n. o 11
de uma folha).
o) Em resposta à notificação e relativamente ao contrato de locação financeira n.º 400026423, a
empresa referiu (conforme anexo n.º 12 de três folhas) e apresentou os seguintes elementos:
"A ..... Lda., NIPC n" 501 44….era proprietária do equipamento constante do contrato de locação
financeira n. o 400026423 do B…...
Em 23.03.2005 a ....., Lda. vendeu, conforme factura n.º 5304, por 278.000,00 €, acrescido de IVA à taxa
de 19%, o equipamento li empresa C..... Lda.
O negócio teve por base o interesse manifestado pela C..... Lda., na perspectiva de
execução parcial dos trabalhos do novo autódromo do Algarve, em Portimão.
Não lhe tendo sido adjudicado o referido trabalho, veio propor a retoma dos equipamentos, os quais,
nesse espaço de tempo, de mais ou menos 2 meses, foram sujeitos a várias reparações e pinturas.
Face ao montante em causa, optou-se pela aquisição do equipamento através de uma empresa de locação
financeira, aquisição a ser efectuada pela B…. Lda.
Foram cumpridas todas as formalidades do contrato de locação financeira, tais como emissão da factura do
fornecedor C…. Lda, avaliação do equipamento por empresa idónea e efectuado o seguro do equipamento.
Factura do fornecedor n° 286 de 05.05.2005 foi de 748.000,00 € acrescido de IVA à taxa de 19%, valor
correspondente ao contrato de locação celebrado.
O equipamento foi recepcionado e foi já objecto de conferência física em 11.09.2008, conforme termo de
declarações lavrado nessa data. O contrato de locação terminou no início do ano 2008, tendo sido pagas
todas as rendas, estando o mesmo integralmente cumprido.
Relativamente ao termo de declarações referido no ponto anterior, e com referência à escavadora
hidráulica marca Volvo, modelo EC450, foi vendida à B…..Lda em 30.12.2007, conforme factura n°
117, tendo a B…. vendido essa máquina à A….. Lda, através da factura 6938, de 03.01.2008, conforme
cópias ..."
p) Com o objectivo de verificar a utilização e a existência física dos equipamentos adquiridos
através deste contrato de locação financeira, foi ouvido o Sr. A....., sócio-gerente da
B…. LDA — NIPC — 500.59….., em Termo de Declarações no
dia 11.09.2008, tendo-lhe sido colocadas as seguintes questões:
"- Qual a utilização dada aos equipamentos elencados no quadro seguinte, adquiridos através do
contrato de locação financeira n.° 400026423 celebrado com Banco ..... SA, sendo
fornecedor dos mesmos a empresa C....., Lda, com NIPC 504.78….?
- Desde a data de assinatura do contrato de locação financeira atrás identificado até à presente
data, qual foi a localização exacta dos referidos equipamentos?
(“texto integral no original; imagem”)
Por isso, tal operação corresponde a negócio jurídico simulado, não pode ser deduzido, face
ao disposto no n.° 3 do artigo 19.° do Código do IVA ("não pode ser deduzido imposto que
resulte de operação simulada ou em que seja simulado o preço constante da factura ou
documento equivalente"), o IVA incluído nas rendas do contrato de locação financeira
suportado pela B..... LDA — NIPC — 500.59….
Para que se possa configurar a existência de simulação em sede de IVA, é necessário que se
detecte, pelo menos indiciariamente, a inexistência, total ou parcial da operação material
subjacente à emissão da factura ou, pelo menos, que a sua descrição constante da factura não
corresponda com a efectivamente ocorrida, ou seja, que as facturas não titulam as transacções
reais, o que se verifica quando o sujeito passivo emitente da factura, embora declarando fazêlo,
não celebrou qualquer contrato, transmitiu bens ou prestou serviços que a justifique, não
tendo, pois, concretizado qualquer relação comercial (simulação absoluta) ou então efectivoua
em termos distintos dos que foram declarados e se reflectem na factura (simulação relativa).
Na verdade, a simulação, de acordo com a caracterização clássica que é dada pelo Código
Civil no art.° 240° n.° 1, implica que, por acordo entre: declarante e declaratário, e no intuito
de enganar terceiros, ocorra divergência entre a declaração negocial e a vontade real. É, assim,
característico da simulação que as recíprocas declarações das partes não correspondem
intencionalmente à sua vontade, antes se pretendendo, conforme pacto simulatório celebrado,
apresentar uma aparência que não acompanha a substância negocial.
No mesmo sentido está o entendimento que tem sido expresso na abundante jurisprudência
dos tribunais, sobre a questão das facturas falsas, como é o caso do Acórdão do Supremo
Tribunal Administrativo de 07 de Maio de 2003 - Recurso n." 1026/02, no qual se afirma
aquilo que a seguir transcrevemos: " ... 0 direito à dedução do IVA pago a montante apenas
poderá existir, segundo a sua própria tipologia e natureza, relativamente ao imposto
efectivamente suportado com relação a operações económicas efectivamente realizadas .... " .
Conforme Acórdão de 17/04/2002, no processo N." 26635 do Supremo Tribunal
Administrativo (citado no Acórdão do STA de 07/05/2003 -- Recurso n." 1026/02), à
Administração Fiscal cabe o controle e/ou fiscalização relativa ao cumprimento dos deveres
dos contribuintes nomeadamente de que estes fizeram constar das suas declarações uma
dedução superior à que seria devida ou seja, superior à que resulta da aplicação da lei que as
regula e a respectiva fundamentação. Considerando que a dedução de NA corresponde a um
direito do sujeito passivo que suportou o imposto, conclui o ST A no Acórdão citado, que "da
conjugação das normas dos artigos 82. o n. o 1 e 19. o do CIVA resulta, assim, que não caberá
à Administração o ónus de prova da inexistência dos factos tributários cujo imposto
considerou fundamentadamente deduzido ilegalmente por parte do contribuinte, mas que
caberá ao próprio contribuinte o ónus de prova da existência dos factos tributários em que
fundou a dedução que declarou. Digamos (. .. ) que (oo.) à Administração cabe o ónus de
prova da verificação dos requisitos estabelecidos no artigo 82. o n.01 do CIVA para que possa
liquidar adicionalmente o IVA respeitante a deduções indevidas, mas já não a existência dos
factos contra ela afirmados pelo contribuinte, traduzidos na existência dos factos tributários ~
sua expressão quantitativa.".
A argumentação expendida neste acórdão leva a concluir no seu sumário que "quando o acto
de liquidação adicional do IVA se fundamente no não reconhecimento das deduções
declaradas pelo contribuinte cabe à Administração apenas a prova da verificação dos
pressupostos legais que legitimam a sua actuação, constantes no art. 82.º n.º 1 do CIVA e ao
contribuinte o ónus de prova da existência dos factos tributários que alegou como
fundamento do seu direito de dedução do imposto nos termos do art. 19.º do CIVA.".
Ainda neste contexto e a propósito da utilização por sujeitos passivos de "facturas falsas",
conforme Acórdão de 20/11/2002 - Processo 1483/02 do STA, a presunção de veracidade e de
boa fé das declarações e da contabilidade, consagrada no artigo 75.º da Lei Geral Tributária
(aprovada pelo Decreto-Lei N.º 398/98 de 17 de Dezembro), cessa quando aquelas revelarem
"omissões, erros, inexactidões ou indícios fundados de que não reflectem ou impeçam o
conhecimento da matéria tributável do sujeito passivo", o que será o caso de a contabilidade
incluir operações não efectuadas. Nestas circunstâncias, considera o STA "a lei não exige
senão "indícios fundados", ou seja, não impõe à Administração a "prova provada" de que por
detrás dos documentos não está a realidade que normalmente reflectem e comprovam, bastase
com indícios fundados para fazer cessar a presunção a favor do contribuinte. E a este,
desprovido do escudo protector da presunção, não resta senão demonstrar a veracidade dos
seus elementos contabilísticos, e respectivos suportes, destarte posta em crise, face àqueles
"fundados indícios".
Pelos factos atrás descritos, a dedução do IVA efectuada nas rendas do contrato de locação
financeira n.° 400026423, no período de Maio de 2005 a Maio de 2008, no montante de E
98.191,02, pelo sujeito passivo, por via da contabilização dos recibos de renda do contrato
supracitado, e considerando-se não demonstrada uma correspondência entre as facturas e as
operações - não obedecem aos requisitos previstos nos n.ºs 3 e 4 do artigo 19° e no artigo 20°
do CIVA — Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado, aprovado pelo Decreto — Lei n.°
394—B/84, de 26 de Dezembro, pelo que o imposto deduzido o foi indevidamente, o que
implica a necessidade de efectuar a correspondente correcção (liquidação adicional).
Este valor deduzido não obedece aos requisitos previstos nos artigos 19.º, n.°s 3 e 4 e 20.° do
CIVA, pelo que existe uma inexactidão nas Declarações Periódicas de IVA nos períodos acima
indicados, o que originou errado apuramento de imposto.
A vantagem patrimonial obtida para o período em causa, foi de € 98.191,02, em resultado da
infracção praticada pelo sujeito passivo.
Deste modo existe uma vantagem patrimonial ilegítima, em termos de IVA, por "utilização de
facturas ou documentos equivalentes por operações inexistentes ou por valores diferentes ou
ainda com a intervenção de pessoas ou entidades diversas das da operação subjacente " o que
nos termos do disposto no n.° 2 do artigo 104.° do RGIT (aprovado pela Lei n.° 15/2001 de 5
de Junho), consubstancia a prática de crime de Fraude Qualificada, procedendo-se assim à
respectiva correcção do NA indevidamente deduzido.
- Em sede de IRC
Atendendo aos factos apurados, tendo em conta os mesmos motivos já descritos em sede de
IVA, não poderão ser aceites fiscalmente, nos termos do art.° 23° do CIRC, na mesma
percentagem de 62,84%, dos custos suportados nas rendas do contrato de locação financeira
n.° 400026423, designadamente juros (conta 6818 / 9), serviços bancários (6881 / 68812) e IVA
não dedutível (6312), rubricas que totalizaram os seguintes valores (em euros):
(“texto integral no original; imagem”)
Nota: estes valores anuais estão devidamente decompostos no mapa acima
Vide mapa de amortizações técnicas praticadas pelo sujeito passivo B..... nos exercícios de
2005 a 2007 em Anexo n.º 15 de três folhas.
Em conclusão, propomos as seguintes correcções em sede de IVA e IRC (em euros):
- IVA — Rendas contrato locação financeira:
(“texto integral no original; imagem”)
III – 5 CORRECÇÕES EM SEDE DE IVA E DE IRC E VANTAGEM PATRIMONIAL
Iremos proceder às correcções de IVA e IRC, de acordo com os fundamentos atrás expostos,
nos pontos III —1 e III - 2, designadamente com os seguintes:
a) Que a firma C…. LDA, NIPC — 504.78…..é uma das entidades
suspeitas da emissão de facturas indiciadas como falsas no Processo de Inquérito N.°
1596/03.01E1-SB da Polícia Judiciária de LISBOA, cuja inexistência de uma adequada
estrutura empresarial, susceptível de exercer a actividade declarada, nos permitiu concluir
que os serviços prestados e/ou venda de equipamentos mencionados nas facturas por si
emitidas nunca se realizaram e como tal não correspondem a transacções reais;
b) Em resultado das diligências efectuadas verificou-se uma manifesta falta de
(…)
IX – DIREITO DE AUDIÇÃO – FUNDAMENTAÇÃO
Nos termos do n.° 5 do art.° 38° do Código de Procedimento e de Processo Tributário,
aprovado pelo Decreto-Lei n.° 433/99, de 26/10, o sujeito passivo foi notificado no dia
03/12/2009, para exercer no prazo de dez dias, querendo, o direito de audição sobre o
projecto de conclusões do relatório que lhe foi entregue na pessoa do seu sócio-gerente, o Sr.
A…., com NIF 129….., nos termos do artigo 60° da Lei Geral
Tributária e do artigo 60° do RCPIT — Regime Complementar do Procedimento da Inspecção
Tributária, através do oficio n." 104.970 de 03/12/2009. Vide cópia dos documentos
concernentes à notificação do fim dos actos inspectivos e de notificação do projecto de
conclusões do relatório ("Certidão de marcação de hora certa" para o fim dos actos de
inspecção, "Certidão de verificação de hora certa", "Certidão de notificação pessoal",
mandado, oficio n." 104.970 de 03.12.2009 referente à notificação do projecto de relatório), em
anexo n. o 19 de cinco folhas.
Consequentemente, o prazo concedido para o exercício do direito de audição terminou no dia
14 de Dezembro de 2009.
No dia 14 de Dezembro de 2009 deu entrada nestes serviços da Inspecção Tributária desta
Direcção (por fax) o direito de audição e em 15 de Dezembro de 2009 deu entrada por via
postal. Anexo n. o 20 de dezanove folhas.
Da sua leitura salientam-se os seguintes argumentos:
"5. A Exponente não questiona, todavia, o Ponto IJI-6 referente a "Correcções em sede de retenções na
fonte de IRS não entregues nos cofres do Estado", infracção detectada relativa aos exercícios de 2005
e 2006 mas que já se encontra na presente data regularizada - cfr. respectivas guias de pagamento e
documentos comprovativos do pagamento ora juntos como DOe. n. o 1, 2, 3 e 4 e cujo teor se dá por
integralmente reproduzido para todos os efeitos."
De facto, e de acordo com os elementos disponibilizados pelo sujeito passivo e constantes das
bases de dados da DOCI, é possível confirmar que, no âmbito do direito do audição, o sujeito
passivo procedeu à regularização voluntária referente às retenções na fonte de IRS efectuadas
em 2005 e 2006 e não entregues nos cofres do Estado no tempo devido, no montante de €
10.000,00 para cada ano.
Em relação às correcções propostas relacionadas com o contrato de locação financeira n."
400026423; inicialmente o sujeito passivo afirma e citamos que,
"9. As empresas "..... – B…., Lda" e a Exponente
"B....., Lda", ambas objecto das acções de inspecção tributária levadas a cabo pela Direcção de Finanças de
Lisboa, são propriedade de A.....e E....., os quais são também os gerentes das sociedades.
10. A B…. Lda está colectada para o exercício efectivo de 2 actividades: (i) uma de extracção de saibro.
areia e pedra britada, com o CAE 8121, e (ii) outra de construção civil, com o CAE 42110, sendo detentora
do Alvará de Construção n. o 45…... emitido pelo INCL enquanto que a Exponente apenas está colectada
para a actividade de extracção, com o CAE 8121.
11. Ambas têm a sede no mesmo local — Aldeia ….- e funcionam no mesmo estaleiro em V…, bem como
utilizam as mesmas infra-estruturas de apoio, quer em termos administrativos quer em termos de oficinas
mecânica e de serralharia.
12. A existência das duas empresas com estas particularidades, adjectivadas pelos senhores inspectores
tributários de "situações de contornos peculiares ", deve-se tão somente ao facto de cada uma delas ser
detentora de uma licença específica de exploração de pedreira, designadamente a Exponente B..... detém a
concessão de pedreira em S….— em….; enquanto que a B….Lda detém a concessão de pedreira em M…
— em Tavira.
13. Quando foi adquirida pelos actuais sócios, a Exponente B..... tinha a sede e local de trabalho sem S…..,
que foi alterado para a Aldeia …. por uma questão de facilidade de laboração e controlo diários."
A afirmação efectuada pela Administração Tributária relativamente ao facto de estarmos
perante "situações de contornos peculiares", não resulta, conforme o sujeito passivo atribui, à
relação entre as empresas ..... e B....., pertencentes aos mesmos sócios, nem à
forma como ambas as empresas exercem a sua actividade, mas antes, deriva das situações
descritas de "venda " de equipamentos a entidades que dedicam a sua actividade à emissão de
facturas falsas e a sua posterior "compra" por montantes artificialmente empolados, ou seja,
nas condições que caracterizaram e permitiram a realização do contrato de locação financeira
n.° 400026423, conforme foi oportunamente desenvolvido no ponto III — 4.1.1.
De facto, as características concernentes à concretização deste contrato, revelam contornos
peculiares, e sem dúvida não constitui prática comum da maioria das empresas, realizar da
forma como o foi pelas duas empresas envolvidas, com a intervenção da C.....
e do Banco ....., conforme já anteriormente descrito. O facto das duas
empresas pertencerem ao mesmo sócio gerente (para cuja conta bancária foram transferidos
alguns dos montantes envolvidos), de certo que não foi indiferente, tendo sido de
fundamental importância.
Continuando a citar o sujeito passivo, temos
"14. Por contrato celebrado no dia 23 de Março de 2005, a B….Lda vendeu à empresa C….
, LDA um conjunto de equipamentos usados (máquinas) que detinha no seu activo
imobilizado, pelo valor total de €330.820,00.
15.Neste actividade a compra e venda de equipamentos usados é normal e comum na sequência da
adjudicação de obras de grande envergadura e necessidade imediata ou a curto prazo de equipamento
especifico para levar a cabo essas mesmas obras.
16. Dadas as boas relações comerciais que já existiam com a B…. Lda, nomeadamente na pessoa do seu
sócio-gerente Sr. A....., e tendo este conhecimento que a C….., LDA
era uma firma economicamente sustentada e apresentando uma situação financeira estável nos
exercícios anteriores até à data, ou seja, até 2004, a factura n. o 5304 emitida pela ....., Lda. não foi
liquidada de imediato, mas lançada na "conta corrente" existente entre ambas as sociedades.
17. Assim e uma vez que as máquinas iam ser utilizadas numa nova obra que aquela empresa estaria
prestes a ganhar (designadamente, a execução parcial dos trabalhos do novo Autódromo do Algarve em
Portimão), o valor desta factura foi lançado em conta corrente, e seria pago logo que adjudicada a
referida obra C……, LDA e recebido por esta o primeiro adiantamento, conforme
foi devidamente esclarecido durante a acção inspectiva sempre que solicitada a cópia da documento de
recebimento da factura.
18. A aquisição dos equipamentos foi efectuada no estado em que os mesmos se encontravam na data,
sendo o preço fixado pelo seu valor residual, ou seja, €280.000,00 acrescido de IVA no valor de
€52.820,00, no total de €330.820,00. "
Conforme foi desenvolvido no ponto III - 3.1, as quotas da sociedade C…., Lda.
foram cedidas em Janeiro de 2004 - data a partir da qual deixou de exercer qualquer
actividade de facto - a favor da empresa T….., pelo que à data da emissão da facturas
n." 5304 (Março de 2005), os antigos sóciosgerentes já não tinham qualquer relação com a
empresa C…, Lda., pelo que invocar neste ponto "... dadas as boas relações
comerciais ... ", não se configura como um facto relacionado com realidade dos factos, excepto
se o sujeito passivo quiser dar a entender que teve boas relações tanto com os anteriores
sócios-gerentes, como também com o novo detentor das quotas da C.....,
detentor este que passou a utilizar esta empresa para emissão de facturas e outros
documentos equivalentes sem correlação com o exercício efectivo de alguma actividade
económica.
Tal é reforçado pelos argumentos aduzidos no ponto III - 3.1 e que permitem tirar a conclusão
de que, pelo menos desde o inicio de 2004, não se lhe conhece qualquer capacidade estrutural
(técnica, humana, logística), seja de mão-de-obra, seja em maquinaria, ou qualquer outro
meio, que lhe permitisse realizar quaisquer operações, bem como os montantes que lhe estão
associados se comportam de forma exagerada face à capacidade observada, tendo cm linha de
conta de que também não se verificou que esta entidade se socorra de terceiros para o
"exercício" destas actividades.
Registamos aqui também a incongruência argumentativa apresentada, ao ser referido que a
C..... apresentava uma situação financeira estável nos exercícios até à data, ou
seja, até 2004, pelo que o Sr. A..... confiava e mantinha boas relações comerciais com
essa empresa, tendo a factura n.° 5304 sido lançada em "conta-corrente".
É de notar, que nos argumentos invocados por uma outra firma (pertencente ao mesmo sócio
gerente e cujo nome é invocado pelo sujeito passivo B.....), é referido que a firma C….
, Lda, já no ano de 2004," se encontrava com dificuldades financeiras e estava em
dívida quer com a E….. (...), quer com a B...... , constatou que não tinha
possibilidades de liquidar as suas dívidas ", pelo que não se compreende que o mesmo
argumento venha agora a ser invocado pela B....., para o ano de 2005, ou seja, se a firma
C....., Lda não tinha tido possibilidades de liquidar as suas dívidas já no ano
de 2004 em negócios que realizou com o Sr. A..... (em representação das 2 firmas), de
montantes de cerca de 2 milhões de euros, não se compreende como é que no ano seguinte de
2005, são realizados com a mesma C....., Lda negócios da mesma natureza e
com os mesmos intervenientes?
Repetimos aqui o que já foi referido, que, apesar de várias vezes notificado o sujeito passivo
para apresentar cópia do documento de recebimento do valor da referida factura, verificamos
a inexistência de quaisquer fluxos financeiros com proveniência da firma C…..
, LDA, - foi por diversas vezes solicitado cópia do documento de recebimento do
valor da factura n.° 5304 , tendo mesmo sido notificada a firma ..... B…. para esse
efeito (através do nosso oficio n.° 33.566 de 28.04.2009), e reforçado o pedido pela última vez
em mail datado de 09.10.2009. Em resposta a este último mail, foi entregue extracto de conta
corrente da conta "2111… — C..... Lda" de 2007, ano em que foi regularizado
o saldo, equivalente ao valor da factura n.° 5304 (E 330.820,00) por contrapartida duma conta
"2681 — Contas a regularizar", ou seja, não existem comprovativos do pagamento dessa
factura, por parte da firma C....., Lda à firma ..... B…. Reiteramos
aqui que o sujeito passivo nunca mencionou a forma de recebimento do valor da factura n.°
5304 ("seria pago logo que adjudicada a referida obra à C…., LDA e
recebido por esta o primeiro adiantamento"), apesar de sucessivamente solicitado ao mesmo e
notificado para apresentar cópia do meio de recebimento. Adicionalmente, questionamos a
forma de registo da anulação / regularização da factura na "conta-corrente", que para além de
tardia (o saldo do "fornecedor" C..... foi "regularizado" somente em 2007) teve
como contrapartida uma conta "2681 — Contas a regularizar", sem qualquer explicação
adicional.
Sendo normal e comum a compra e venda de equipamentos na sequência da adjudicação de
obras de grande envergadura, conforme é referido pelo sujeito passivo, então surgem um
conjunto de questões, para as quais o mesmo não apresenta quaisquer esclarecimentos:
- se a C..... apresenta constrangimentos financeiros, desde pelo menos o ano
de 2004, como é que se justifica a adjudicação de obras de grande envergadura a uma empresa
com estas dificuldades, sendo exigível aos prestadores de serviços condições financeiras e de
funcionamento da própria actividade que lhe permitam satisfazer as condições contratuais, o
que no caso da C..... certamente não se verificava desde, pelo menos, o inicio
de 2004;
- se a C..... apresenta constrangimentos financeiros, como é que se justifica a
venda do equipamento referido a essa empresa pela ..... B…….., sabendo de antemão que
dadas as dificuldades financeiras da mesma empresa, dificilmente honraria os seus
compromissos;
- se ficou provado, conforme argumentação apresentada no ponto III - 3.1, que a C…
, após passar para a posse da T…. (inicio de Janeiro de 2004), deixou de ter
condições para o desenvolvimento de qualquer actividade, como pode ser argumentado que à
mesma iria ser adjudicado "obras de grande envergadura", sendo-lhe vendido equipamento
para concretizar essas operações, sem que tivesse disponibilidade financeira para satisfazer
essa compra, estando inclusive inibida de movimentar contas bancárias.
No ponto 18, o sujeito passivo refere que o equipamento foi vendido pelo valor residual, ou
seja, € 278.000,00 mais IVA. No entanto, tal não corresponde à realidade, já que o valor
entretanto verifica-se que os mesmos trabalhos não se concretizam, tendo sido decidido
realizar o retomo do equipamento para uma das empresas do Sr. A…. (para onde
foram transferidos montantes elevados relacionados com esta " operação "), havendo ainda
tempo para negociar com uma entidade bancária o processo conducente ao contrato de
locação financeira n." 400026423, com toda a burocracia envolvida.
Tendo uma empresa detida pelo Sr. A..... (..... B…) ficado sem os equipamentos
e necessitando a B..... dos mesmos para a realização das suas obras, como é que no espaço
de um mês e meio, se tomou tão notória a falta do referido equipamento? Revelou-se
desadequada a decisão da gestão de vender o equipamento que tanta falta fazia para o
exercício da sua actividade?
Salientamos que, caso assim entendesse, poderia o sujeito passivo fazer prova de tais
melhoramentos, designadamente solicitando junto dos responsáveis da C.....
Lda., cópia dos documentos que comprovem tal "valorização".
A seguir, o sujeito passivo adianta que:
"31. Atendendo aos fundamentos e justificações já apontadas para a definição do preço dos bens em causa,
manifestamente de refuta a conclusão a que chegam os Serviços de Inspecção Tributária
considerarem que "o valor do contrato do locação financeira n.° 400026423 está extraordinariamente
empolado face ao valor de uso, de mercado ou qualquer outro critério que possa ser usado para valorizar o
equipamento subjacente a esta operação de locação financeira."
32. Acrescente-se que, para efeitos de determinação do valor dos bens objecto do contrato de locação
financeira, os equipamentos foram objecto de conferência física e sujeitos a avaliação, efectuada por uma
empresa idónea, tendo, ainda, sido efectuado o respectivo seguro do equipamento.
33. Pelo que, a valorização que os bens em causa sofreram nada tem de "excepcional" ou de "artificial".
34. O dito contrato de locação financeira foi integramente e pontualmente cumprido, tendo terminado
no início do ano de 2008 com o pagamento de todas as rendas."
Face aos factos apurados, designadamente pela comparação entre o valor contabilístico dos
equipamentos, o valor de venda da B.....à C..... Lda., desta ao B… e
finalmente o valor do contrato de locação financeira n.° 400026423, conforme quadro seguinte,
só podemos concluir que o valor do contrato de locação financeira n.° 400026423 está
extraordinariamente empolado face ao valor de uso, de mercado ou qualquer outro critério
que possa ser usado para valorizar o equipamento subjacente a esta operação de locação financeira.
(“texto integral no original; imagem”)
Conforme já foi anteriormente referido, a suposta valorização efectuada pela C…
Lda., para além de não demonstrada pelo sujeito passivo, não resulta numa efectiva
valorização do equipamento, mas antes numa despesa de manutenç:ão do equipamento com
o objectivo de o manter operacional.
Se verificarmos na contabilidade da empresa B.....e ao longo dos anos em que
manteve os equipamentos ao seu serviço (antes da alienação à C..... Lda), a
mesma Incorreu naturalmente em tal tipo de despesas, as quais não foram acrescidas ao valor
registado dos equipamentos na respectiva conta de imobilizado, tendo-se mantido o valor de
aquisição deduzido das amortizações acumuladas entretanto praticadas e que traduzem o
desgaste natural do mesmo equipamento com o uso e com o tempo.
Tais despesas foram registadas em Conservação e Reparação, comprovando que tiveram
como objectivo a manutenção do mesmo em condições de laboração.
Verificamos que o sujeito passivo não junta ao seu direito de audição quaisquer documentos
comprovativos das suas afirmações, designadamente, a "avaliação efectuada por uma
empresa idónea" e cópia da apólice do seguro do equipamento.
Conforme já foi anteriormente referido, se o valor do equipamento não fosse empolado
através do contrato de locação financeira, conforme é afirmado pelo sujeito passivo, que
necessidade tem o Banco ..... de exigir uma garantia adicional, como seja
uma livrança em branco, já que o equipamento por si já tem um valor, de acordo com o sujeito
passivo, que não necessitaria de, e reafirmamos, de garantias adicionais (livrança em branco).
Continuando a sua argumentação, refere que
"35. No que respeita ao pagamento da factura n. o 286A, emitida pela firma C….
, LDA, atendendo aos constrangimentos financeiros da C….,
LDA (a qual se encontrava inibida de movimentação bancária) e como garantida do pagamento dos
valores ainda por liquidar por esta sociedade à B…. Lda (relativos à factura n. o 5304), o montante de
€890.358, 00 foi creditado pelo BANCO …..não à sociedade vendedora mas ao Sr. A....., tendo por base
uma declaração de autorização, datada de 5 de Maio de 2005, emitida pela referida C….., LDA, assinada
pelo seu gerente, Sr. F......
36. Ou seja, os movimentos passaram pela conta particular de A....., de forma a garantir a
liquidação da venda inicial dos equ.ipamentos por parte da B… Lda e o pagamento das mais valias
introduzidas pela C…., LDA."
Convém neste ponto reafirmar que a Administração Fiscal concluiu, face aos factos apurados,
que este equipamento nunca circulou entre as entidades envolvidas, apenas circulando
custos", Ciência e Técnica Fiscal n.° 396, pág. 136: "os custos indispensáveis equivalem aos gastos
contraídos no interesse da empresa ou, por outras palavras, em todos os actos abstractamente subsumíveis
num perfil lucrativo"."
Nesta parte, o sujeito passivo faz meramente um enquadramento legal do regime fiscal dos
custos, citando os art.°s 23.° e 17.° do Código do IRC, 104.° da Constituição da República
Portuguesa, alargando a citação a alguns acórdãos que tratam desta matéria, mas sem
qualquer enquadramento concreto relativamente aos factos apurados pela Administração
Tributária sobre os custos suportados e IVA deduzido, não adiantado nada em termos de
argumentação.
Repete-se, o que foi posto em causa, não foi a operação de venda/transferência do
equipamento, de uma para outra empresa (a propriedade dos bens mudou), ou seja, da l
B…. para a B..... (ambas pertencentes ao mesmo sócio-gerente) mas sim os montantes
completamente díspares, pela qual esse equipamento, sai duma empresa e entra na outra.
Concluímos assim, em substância, que este equipamento nunca circulou entre as entidades
envolvidas, apenas circulando diversa documentação (facturas e contrato de leasing) de
suporte, na realidade, a uma eventual necessidade de financiamento para a actividade das
empresas B..... e B…., usando o sócio-gerente das mesmas como beneficiário final
deste circuito, sendo creditada a sua conta pessoal, conforme declaração da C………
Medeiros Lda.
Atendendo a esse facto, interpretando-o como sendo a "vontade real das partes",
considerámos como real, apenas as transacções entre as duas empresas B… LDA - NIPC - 501.44….e
B..... LDA - NIPC- 500.592…., pelos valores pelos quais foi
contabilizada a saída na primeira.
X – PROPOSTAS
Em face do exposto no ponto anterior propomos que se mantenham as correcções efectuadas
no projecto de conclusões do relatório de inspecção, que a seguir resumimos (em euros):
IRC
(“texto integral no original; imagem”)
4 – FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
Ora, uma leitura atenta da sentença logo permite concluir que não há qualquer
vazio de fundamentação, pois é mencionada a prova que levou às conclusões
de facto reflectidas na sentença, sendo que, por outro lado, não deixou a Mma.
Juiz recorrida de indicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas
correspondentes.
Por outro lado, a sentença não assumiu como provada a matéria factual ou
conclusiva que consta do relatório de inspecção, limitou-se a transcrever o que
dele consta, sem extractar o que dele verdadeiramente importava para a
decisão é certo, mas isso, sendo tecnicamente censurável, não inquina a
sentença de nulidade, sendo certo que nenhuma factualidade relevante tendo a
Mma. Juiz a quo extraído da prova produzida pela impugnante e, portanto e
logicamente também não factos contraditórios com os vertidos no relatório,
nenhuma exigência alargada de apreciação crítica da prova se lhe impunha na
motivação da decisão.
Recorrente tais depoimentos, não pode este tribunal de apelação pôr em causa,
de ânimo leve, a convicção daquele, livremente formada, tanto mais que, em
regra, dispõe de outros mecanismos de ponderação da prova global
(imediação) que este tribunal ad quem não detém aqui
Resulta do n.º2 daquele preceito que cessa tal presunção de veracidade quando
e, nomeadamente, nos termos da sua alínea a), “As declarações, contabilidade
ou escrita revelarem omissões, erros, inexactidões ou indícios fundados de que
não reflectem ou impeçam o conhecimento da matéria tributável real do sujeito
passivo”.
Como está bem de ver, não podia a sentença concluir que tendo a AT
recolhido factualidade suficientemente indiciadora da falsidade dessa
operação, à impugnante cabia o ónus de demonstrar que, não obstante os
indícios apontados, a operação tem materialidade económica, pois isso seria
fazer recair sobre a impugnante o ónus de demonstrar a realidade de operações
fictícias em que não participou e de que não beneficiou.
Com efeito, como pode a AT afirmar com a segurança que o método directo
exige, que o valor por que os bens foram adquiridos pelo B… e colocados à
disposição da impugnante através de locação financeira correspondem ao valor
de 330.820,00€ por que a B.., a montante, os facturou à “C....., Lda.”? E isto,
repare-se, sem nunca questionar a credibilidade do B…. quer como eventual
beneficiário de facturação falsa, quer como eventual falso emitente. Teria a
B….. facturado a venda dos equipamentos à “C....., Lda.” pelo valor real (que
a AT aceitou por bons) ou abaixo do valor de mercado para subvalorizar os
proveitos contabilizados?
Não há, pois, nos autos, indícios fundados e seguros de que o custo
contabilizado pela impugnante com rendas de locação financeira esteja
suportado em facturas relativas a operação fictícia (de leasing), o que torna a
correcção daquele custo e das amortizações dos equipamentos dele objecto,
ilegal por erro nos pressupostos.
5 - DECISÃO
Custas a cargo da Recorrida não sendo devida taxa de justiça nesta instância
por não ter contra-alegado.
Vital Lopes
Joaquim Condesso