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DESCOMPLICANDO O ICE

– INCENTIVO À CAPITALIZAÇÃO DAS EMPRESAS

Por Paulo Marques biente empresarial justo e sustentável, nomeadamente


Contabilista Certificado através de medidas fiscais específicas que incentivem o
Consultor fiscal investimento e o crescimento, constitui uma das princi-
Formador pais prioridades políticas da União. E que, a fim de
so.proveitos.consultoria@asconta.pt apoiar o financiamento sustentável e a longo prazo das
empresas, o sistema fiscal deve minimizar as distor-
ções indesejadas das decisões empresariais, por exem-

O Regime fiscal de incentivo à capitalização das empre-


sas (ICE) foi introduzido pela Lei do Orçamento do Es-
tado para 2023 no artigo 43.º-D do Estatuto dos Bene-
fícios Fiscais (EBF), sendo anunciado como substituto
da remuneração convencional do capital social e da
dedução por lucros retidos e reinvestidos, dois benefí-
cios que foram revogados.

O ICE é inspirado na proposta de Diretiva DEBRA (debt-


equity bias reduction allowance), uma proposta de Di-
retiva do Conselho que estabelece regras relativas a
uma dedução para reduzir a distorção dívida-capitais
próprios e à limitação da dedutibilidade dos juros para
efeitos do imposto sobre o rendimento das socieda-
des.

Explica aquele documento que a promoção de um am-

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plo, no que respeita ao financiamento por dívida e não


por capitais próprios. Pretendendo-se assegurar que o
financiamento por capitais próprios e por dívida seja
tratado de forma semelhante para efeitos fiscais em
todo o mercado único, para neutralizar a distorção
contra o financiamento por capitais próprios, é neces-
sário prever uma dedução para que os aumentos de
capitais próprios de um contribuinte de um período de
tributação para o seguinte sejam dedutíveis da sua ba-
se tributável, sob certas condições. E sugere-se que a
dedução deva ser calculada multiplicando o aumento
de capitais próprios por uma taxa de juro nocional ba-
seada na taxa de juro sem risco.

Entretanto, a Lei n.º 20/2023, de 17 de maio, veio fazer


algumas alterações ao ICE, mas também dar-nos a ga-
rantia de possibilidade da sua utilização em 2023. E
com a novidade de os lucros de 2022 que não foram
utilizados no regime da remuneração convencional do b) Disponham de contabilidade regularmente organiza-
capital social poderem ser considerados em 2023 para da, de acordo com a normalização contabilística e ou-
efeitos da primeira utilização neste ano do ICE, como tras disposições legais em vigor para o respetivo setor
previsto no artigo 12.º de atividade;
c) O seu lucro tributável não seja determinado por mé-
Neste trabalho, vamos explicar a aplicação do ICE já todos indiretos; e
este ano, um benefício fiscal que quase a totalidade d) Tenham a situação fiscal e contributiva regularizada.
dos sujeitos passivos elegíveis estarão em condições de
utilizar. Daí a importância da sua atempada compreen- Sem prejuízo das restantes condições previstas, para
são, para que não de desperdice este benefício no en- todos os sujeitos passivos que queiram aproveitar o
cerramento de 2023. ICE, a título de exemplo, uma sociedade de mediação
de seguros, ou uma sociedade intermediária de crédi-
to, não podem beneficiar do ICE.
QUEM BENEFICIA DO ICE

Como regra, está definido que podem beneficiar do ICE O BENEFÍCIO


as sociedades comerciais ou civis sob forma comercial,
cooperativas, empresas públicas, e demais pessoas O benefício ICE consiste numa dedução ao lucro tribu-
coletivas de direito público ou privado com sede ou tável, a efetuar na linha 774 (Benefícios fiscais) do qua-
direção efetiva em território português, aplicando-se dro 07 da declaração modelo 22 de IRC. No quadro 04
exclusivamente aos sujeitos passivos que, no exercício, do anexo D à declaração modelo 22 espera-se a inclu-
exerçam, a título principal, uma atividade de natureza são de mais uma linha para indicar o valor da dedução
comercial, industrial ou agrícola, mas que preencham, do ICE incluído no campo 774 do quadro 07 da modelo
cumulativamente, as seguintes condições: 22.
a) Não sejam entidades sujeitas à supervisão do Banco
de Portugal ou da Autoridade de Supervisão de Segu-
ros e Fundos de Pensões, nem sucursais em Portugal O cálculo da dedução ao lucro tributável faz-se pela
de instituições de crédito, de outras instituições finan- aplicação da taxa de 5 % ao montante dos aumentos
ceiras ou de empresas de seguros; líquidos dos capitais próprios elegíveis, no caso de su-

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jeito passivo que se qualifique como micro, pequena AUMENTOS LÍQUIDOS DOS CAPITAIS PRÓ-
ou média empresa ou empresa de pequena-média ca-
PRIOS ELEGÍVEIS
pitalização (Small Mid Cap), de acordo com os critérios
previstos no anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6
de novembro. Uma Small Mid Cap é a empresa que, O montante dos aumentos líquidos dos capitais pró-
não reunindo as condições materiais para ser uma mi- prios elegíveis é apurado por referência ao somatório
cro, uma pequena ou uma média empresa (ou seja, dos valores apurados no próprio exercício e em cada
não é uma PME, tal como definida no âmbito da Certi- um dos nove períodos de tributação anteriores (1),
ficação PME), emprega, enquanto empresa autónoma, considerando-se que o montante dos aumentos líqui-
menos de 500 trabalhadores. dos dos capitais próprios elegíveis corresponde a zero
Nos restantes sujeitos passivos, aplica-se a taxa de 4,5 nas situações em que desse somatório resulte uma
%. diferença negativa.

A dedução assim calculada não pode exceder, em cada Tendo em conta a entrada em vigor do ICE, apenas se
período de tributação, o maior dos seguintes limites: consideram os aumentos líquidos dos capitais próprios
a) 2 000 000 €; ou elegíveis verificados nos períodos de tributação que se
iniciem em ou após 1 de janeiro de 2023.
b) 30 % do resultado antes de depreciações, amortiza-
ções, gastos de financiamento líquidos e impostos, nos Para o efeito, considera-se:
termos do artigo 67.º do Código do IRC.

a) «Aumentos de capitais próprios elegíveis»:


A parte da dedução que exceda o limite previsto na i) As entradas realizadas em dinheiro no âmbito da
alínea b) é dedutível na determinação do lucro tributá- constituição de sociedades ou do aumento do capital
vel de um ou mais dos cinco períodos de tributação social da sociedade beneficiária;
posteriores, após a dedução relativa a esse mesmo ii) As entradas em espécie realizadas no âmbito de au-
período, em respeito pelos limites previstos. mento do capital social que correspondam à conversão
de créditos em capital;
iii) Os prémios de emissão de participações sociais;
iv) A aplicação dos lucros contabilísticos passíveis de
distribuição, de acordo com a legislação comercial, em
resultados transitados ou, diretamente, em reservas
ou no aumento do capital;

b) 'Aumentos líquidos dos capitais próprios elegíveis', a


diferença, positiva ou negativa, entre:
i) Os aumentos dos capitais próprios elegíveis; e,
ii) As saídas, em dinheiro ou em espécie, a favor dos
titulares do capital, a título de redução do mesmo ou
de partilha do património, e as distribuições de reser-
vas ou resultados transitados.

Contudo, não são considerados os aumentos de capi-


tais próprios elegíveis que resultem de:
a) Entradas realizadas em dinheiro, no âmbito da cons-
tituição de sociedades ou do aumento do capital da

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sociedade beneficiária, que sejam financiadas por au- de tributação que se iniciem em ou após 1 de janeiro
mentos de capitais próprios elegíveis na esfera de ou- de 2023, onde consideraremos que o montante dos
tra entidade; aumentos líquidos dos capitais próprios elegíveis cor-
b) Entradas realizadas em dinheiro, no âmbito da cons- responde a zero nas situações em que desse somatório
tituição de sociedades ou do aumento do capital da resulte uma diferença negativa.
sociedade beneficiária por entidade com a qual o sujei-
to passivo esteja em situação de relações especiais que
sejam financiadas através de mútuos concedidos pelo Esta conta-corrente será fundamental, e não se conse-
próprio sujeito passivo ou por outra entidade com a guirá fazer na contabilidade em qualquer conta da
qual essa entidade e o sujeito passivo estejam em situ- classe 5, pois os valores a somar e a subtrair para efei-
ação de relações especiais; tos de aumentos líquidos dos capitais próprios elegí-
c) Entradas realizadas em dinheiro, no âmbito da cons- veis andarão dispersos por diferentes contas como a
tituição de sociedades ou do aumento do capital da 51 – Capital subscrito, a 54 – Prémios de emissão, a 55
sociedade beneficiária, por uma entidade que não seja – Reservas, e a 56 – Resultados transitados. Como tam-
residente para efeitos fiscais noutro Estado-Membro bém haverá alguns movimentos nestas contas que não
da União Europeia ou no Espaço Económico Europeu serão considerados para efeitos do ICE.
ou noutro Estado ou jurisdição com o qual esteja em
vigor convenção para evitar a dupla tributação interna- 2. DISTRIBUIÇÃO DO RESULTADO LÍQUIDO DO
cional, acordo bilateral ou multilateral que preveja a
PERÍODO
troca de informações para fins fiscais.
A eventual distribuição de resultado líquido do período
(RLP), deliberada na assembleia geral de aprovação de
REGIME TRANSITÓRIO contas realizada no início do ano seguinte, é neutra
para efeitos dos aumentos líquidos dos capitais pró-
prios elegíveis, na medida em que, sendo distribuído
Considera-se como primeiro lucro contabilístico abran- parte do RLP em aprovação, este valor a distribuir não
gido o lucro do período de 2022, cuja deliberação e releva para efeito dos aumentos de capitais próprios
correspondente aplicação, em resultados transitados elegíveis, nem está previsto nas “saídas” a subtrair.
ou, diretamente, em reservas ou no aumento do capi-
tal, ocorra no período de tributação que se inicie em
ou após 1 de janeiro de 2023.

E não são considerados os aumentos de capital efetua-


dos com recurso aos lucros gerados no período de tri-
butação com início em 2022 que tenham beneficiado
do regime da remuneração convencional do capital
social previsto no anterior artigo 41.º-A do EBF.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

1. CONTA-CORRENTE
O cálculo do benefício deve ser efetuado com recurso
a uma conta-corrente em que vamos considerar o so-
matório dos valores dos aumentos líquidos dos capitais
próprios elegíveis apurados no próprio período e em
cada um dos nove períodos de tributação anteriores,
relevando apenas os que se verifiquem nos períodos

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Como exemplo, consideremos um RLP de 2022 de


300.000 €, do qual, na assembleia geral realizada em
20 de fevereiro de 2023, 100.000 € foram utilizados no
regime da remuneração convencional do capital social
(com efeito ainda em 2022), e 50.000 € foram objeto
de deliberação de distribuição aos sócios. Deliberou-se
aplicar em reservas livres o restante valor de 150.000
€. Assumindo a reserva legal já no montante mínimo
exigido e não existência de qualquer outra limitação à
distribuição de lucros, estes 150.000 € são o valor de
lucros contabilísticos passíveis de distribuição aplica-
dos em reservas que serão de somar na conta-corrente
do ICE para cálculo da dedução ao lucro tributável de
2023.

Assim, a distribuição, em 2023, na assembleia geral de


aprovação de contas, de 50.000 € do RLP de 2022, não
consubstancia nem aumento nem diminuição relevan-
te para cálculo dos aumentos líquidos dos capitais pró-
prios em 2023. Contudo, uma vez aplicados os 150.000
€ daquele RLP de 2022, em resultados transitados, em
reservas ou no aumento de capital, a sua posterior dis- Mas no âmbito do ICE apenas são de considerar os lu-
tribuição (ou parte) a favor dos titulares do capital, cros contabilísticos “passíveis de distribuição”, pelo
consubstanciará uma “saída” a considerar para efeitos que deve considerar-se o que determina a legislação
do apuramento dos “aumentos líquidos dos capitais comercial aplicável quanto a esta matéria, designada-
próprios elegíveis”, sendo de subtrair tal montante, no mente, o previsto nos artigos 32.º e 33.º do Código das
ano da distribuição. Sociedades Comerciais.

3. LUCROS CONTABILÍSTICOS PASSÍVEIS DE DIS- A título de exemplo, não se pode distribuir (logo não
TRIBUIÇÃO são lucros contabilísticos “passíveis de distribuição”, a
Os “lucros contabilísticos” correspondem ao “resultado parte do RLP que seja necessária para cobrir prejuízos
líquido do período” inscrito no campo 701 da declara- de períodos anteriores, ou para formar ou reconstituir
ção modelo 22 de cada período em causa, sem qual- reservas legais (2) ou previstas no pacto social, ou a
quer ajustamento para efeitos fiscais, por a norma as- parte do RLP com origem na aplicação do justo valor
sim não o prever, não relevando, nestes termos, o lu- ou do método da equivalência patrimonial, que ainda
cro tributável, mas sim o RLP do período de tributação não esteja realizada.
em causa.
Reforça-se a importância da correta interpretação e
De notar que o RLP só estará correto se tiver sido con- aplicação dos artigos 32.º e 33.º do Código das Socie-
tabilizado o gasto com imposto do período (a débito da dades Comerciais, para evitar problemas futuros moti-
conta 8121). Não contabilizar o gasto com imposto do vados pelo uso indevido do ICE.
período, como ainda muito se vai vendo, significa ter
um RLP superior ao correto (afinal não será um RLP,
4. A APLICAÇÃO DOS LUCROS CONTABILÍSTICOS
mas o resultado antes de impostos), e um aproveita-
mento indevido do benefício ICE, sobre a parte dos PARA EFEITOS DE ICE
lucros que não foi diminuída com o gasto com imposto A “aplicação” dos lucros prevista no ICE reporta-se ao
do período. período em que a aplicação é efetivamente efetuada/

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contabilizada, ou seja, ao período em que, após a deli-


beração, ocorre a aplicação em resultados transitados
ou, diretamente, em reservas ou no aumento do capi- 5. DISTRIBUIÇÃO DE RESERVAS OU RESULTADOS
tal, conforme resulta da conjugação do disposto no n.º TRANSITADOS
9 do artigo 43.º-D do EBF com o disposto no n.º 1 do Recordando a alínea b) do n.º 6 do artigo 43.º-D do
artigo 12.º da Lei n.º 20/2023 (Regime transitório). EBF, temos como aumentos líquidos dos capitais pró-
prios elegíveis', a diferença, positiva ou negativa, en-
tre:
Por outras palavras, a aplicação dos lucros contabilísti- i) Os aumentos dos capitais próprios elegíveis; e,
cos passíveis de distribuição que releva para efeitos do ii) As saídas, em dinheiro ou em espécie, a favor dos
ICE é a que resulta da assembleia geral de aprovação titulares do capital, a título de redução do mesmo ou
de contas e aplicação de resultados do período ante- de partilha do património, e as distribuições de reser-
rior. Recorda-se que a norma prevê como aumento de vas ou resultados transitados.
capitais próprios elegíveis a “aplicação dos lucros con-
tabilísticos passíveis de distribuição, de acordo com a
legislação comercial, em resultados transitados ou, Não tendo sido prevista qualquer delimitação quanto
diretamente, em reservas ou no aumento do capital”. às distribuições de reservas ou resultados transitados,
desde que estas ocorram depois de 1 de janeiro de
2023, relevam para efeitos de ICE todas as distribui-
Uma norma mais ampla e simplificadora do que a que ções, mesmo que relativas a reservas ou resultados
tínhamos no regime da remuneração convencional do transitados com origem em períodos até 2021.
capital social, que obrigava à realização do registo do
aumento de capital até à entrega da declaração de
rendimentos relativa ao exercício em causa. Porque a Como exemplo, consideremos um RLP de 2022 de
única aplicação possível do RLP era o aumento de capi- 300.000 €, tendo sido deliberado, na assembleia geral
tal social com recurso aos lucros gerados no próprio realizada em 20 de fevereiro de 2023, que o mesmo
exercício. permanecesse em resultados transitados. Assuma-se
que estes 300.000 € são lucros contabilísticos passíveis
de distribuição.
O ICE mantém a possibilidade de aumentar capital so-
cial com recurso aos lucros mas, agora, os gerados no
período anterior. Contudo, este aumento de capital
social com recurso a lucros só será feito se a assem-
bleia geral tiver algum interesse em particular em au-
mentar o valor da conta 51. Não havendo esse interes-
se, poupa-se na burocracia e os gastos do registo do
ato na Conservatória, porque basta que os lucros con-
tabilísticos passíveis de distribuição, de acordo com a
legislação comercial, sejam aplicados em resultados
transitados ou, diretamente, em reservas.

Desde o lançamento feito e reportado a janeiro, o RLP


do período anterior já está em resultado transitados
(com a transferência do valor da conta 818 para a con-
ta 56x). Se a intenção for aplicar RLP “diretamente” em
reservas ou no aumento do capital, esta deliberação
deve ser tomada na assembleia geral de aprovação de
contas, para que o ICE aproveite deste aumento de
capitais próprios elegíveis.

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Em novembro de 2023, em assembleia geral extraordi-


nária, foi deliberado distribuir aos sócios valores de
lucros de 2020 e 2021, no total de 100.000 €. Este pa-
gamento ocorreu em dezembro de 2023, sendo assim
uma saída relevante para efeitos de ICE. Pelo que, os
aumentos de capitais próprios elegíveis para o ICE em
2023 foram apenas de 200.000 € (300.000 € - 100.000
€).

6. EFEITO DO RESULTADO CONTABILÍSTICO NE-


GATIVO
Sendo relevantes para determinação dos aumentos
líquidos dos capitais próprios elegíveis apenas as dimi-
nuições que consistam em saídas, em dinheiro ou em
espécie, a favor dos titulares do capital, a título de re-
dução do mesmo ou de partilha do património, e as
distribuições de reservas ou resultados transitados, a
verificação de um prejuízo contabilístico não vai afetar
no imediato o benefício do ICE. Em complemento, deve consultar o Ofício Circulado n.º
20261 de 16 de outubro de 2023 da Área de Impostos
Sobre o Rendimento da AT.
Como exemplo, consideremos que, em 31 de dezem-
bro de 2027, o saldo da conta-corrente ICE é de
250.000 €. Em 2027, a empresa regista um prejuízo de EXEMPLO DE APLICAÇÃO
200.000 € e não ocorre nenhuma saída relevante. Lo-
go, em 31 de dezembro de 2028, o saldo da conta-
corrente ICE continua em 250.000 €, e a dedução ao Como decorre de tudo o explicado, a conta-corrente
lucro tributável de 2028 é igual à que foi feita em 2027. ICE inicia-se em 1 de janeiro de 2023 e vamos incre-
mentando anos para o futuro até ao limite definido.
Para, nessa altura que se alcance o limite previsto,
Em 2028, a emprega regista um RLP de 300.000 €. Lo- acrescentarmos mais um período e retirarmos o mais
go, 200.000 € começam por cobrir o prejuízo transita- antigo que deixou de estar dentro dos períodos anteri-
do de 2027 (n.º 1 do artigo 33.º do Código das Socieda- ores a considerar.
des Comerciais), restando 100.000 € de lucros contabi-
lísticos passíveis de distribuição que, deliberando-se
que fiquem em resultados transitados, serão de au- Sem considerar as alterações do Orçamento do Estado
mentar na conta-corrente ICE em 2029. para 2024, teremos este cálculo num horizonte móvel
de 10 anos. Iremos seguindo o mesmo raciocínio de
2023 a 2032. Em 2033 consideraremos os aumentos
Está por esclarecer se, tendo a empresa disponíveis líquidos dos capitais próprios elegíveis de 2024 a 2033,
resultado transitados positivos com origem em perío- deixando de considerar os valores de 2023. Em 2034
dos anteriores, e delibere - durante 2028 - cobrir o pre- consideraremos os aumentos líquidos dos capitais pró-
juízo de 2027 com esses lucros, poderá considerar os prios elegíveis de 2025 a 2034, deixando de considerar
300.000 € de lucro de 2028 como lucros contabilísticos os valores de 2024. E assim sucessivamente.
passíveis de distribuição, a aplicar em resultados tran-
sitados, e serem aumentados na conta-corrente ICE Como faltam muitos anos até isto acontecer, mesmo
em 2029. com a redução para 2024 (próprio exercício e em cada
um dos seis períodos de tributação anteriores), anali-
semos um possível exemplo de aplicação do ICE de

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2023 a 2029, assente no que aqui explicámos. [ 5 ] 350.000 € x 5 % = 17.500 €


Assumimos PME e, para exemplo, mantivemos a taxa
de 5 %, sem considerar a alteração a ocorrer a partir
de 2024 . 2025
O exemplo está na imagem publicada. [ 1 ] 100.000 €
[ 2 ] 500.000 €
[ 3 ] - 400.000 €
Pressupostos: [ 4 ] - 50.000 €
2023 [5]0€x5%=0€
[ 1 ] Aumentos dos capitais próprios elegíveis
(qualquer das origens possíveis) – 300.000 €
[ 2 ] Saídas e reduções dos capitais próprios a conside- 2026
rar (qualquer das origens possíveis) – 100.000 € [ 1 ] 200.000 €
[ 3 ] Aumentos líquidos dos capitais próprios elegíveis – [2]0€
200.000 € [ 3 ] 200.000 €
[ 4 ] Somatório dos aumentos líquidos dos capitais pró- [ 4 ] 150.000 €
prios do período e dos 9 períodos anteriores – 200.000 [ 5 ] 150.000 € x 5 % = 7.500 €

[ 5 ] Dedução ao lucro tributável – 200.000 € x 5 % = 2027
10.000 € [ 1 ] 100.000 €
[2]0€
2024 [ 3 ] 100.000 €
[ 1 ] 150.000 € [ 4 ] 250.000 €
[2]0€ [ 5 ] 250.000 € x 5 % = 12.500 €
[ 3 ] 150.000 €
[ 4 ] 350.000 €

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2028 Paulo Marques, 2023.11.14


[1]0€
Registou prejuízo contabilístico de 200.000 € em 2027 ________
[2]0€ (1) Este artigo explica as disposições do artigo 43.º-D
[3]0€ do EBF que se aplicam na determinação da dedução à
[ 4 ] 250.000 € coleta ao lucro tributável de 2023.
[ 5 ] 250.000 € x 5 % = 12.500 € (2) Anualmente, deve ser constituída/reforçada a re-
serva legal pelo menos por 5 % do lucro anual, até se
chegar ao valor a 20 % do capital social. Sendo que,
2029
nas sociedades por quotas, o limite mínimo da reserva
[ 1 ] 100.000 €
RLP de 2028 de 300.000 € que cobre o prejuízo de legal é de 2.500 €.
200.000 € de 2027, restando 100.000 € de lucros con-
tabilísticos passíveis de distribuição deixados em resul-
tados transitados. Consulte a nossa oferta formativa,
[2]0€
[ 3 ] 100.000 € todas as condições e faça
[ 4 ] 350.000 €
[ 5 ] 350.000 € x 5 % = 17.500 €
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