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I- Relatório
C………….. Projetos, ……., SA. deduziu impugnação judicial contra o
Despacho do Diretor de Finanças Adjunto de Lisboa que indeferiu a
Reclamação Graciosa do ato de liquidação adicional n.º ………….., de
17/03/2008, relativa a IRC do exercício de 2003.
O Tribunal Tributário de Lisboa, por sentença proferida a fls. 525 e ss.
(numeração do SITAF), datada 28/10/2020, julgou a impugnação parcialmente
procedente, anulando a liquidação impugnada, na parte referente à correcção
relativa a omissões de proveitos obtidos com a alienação das frações KB, OD,
OI, RA, BV e GA.
A Fazenda Pública interpôs recurso contra a sentença. Alega nos termos
seguintes:
«A. Vem o presente Recurso contra a douta Sentença proferida pelo Tribunal “a
quo” em 28/10/2020, o qual julgou parcialmente procedente a Impugnação
Judicial apresentada nos autos à margem referenciados e, por consequência,
determinou a anulação parcial do acto de liquidação adicional de Imposto Sobre
o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC) n.º ………….., no valor de
€28.587,72 referente ao período de tributação de 2003, na parte referente às
fracções KB, OD, OI, RA, BV e GA.
B. Com o devido respeito que a douta Sentença nos merece, a Representação da
Fazenda Pública considera que a decisão do Tribunal “a quo” foi baseada numa
errónea subsunção dos factos ao direito aplicável, padecendo de erro de
julgamento da matéria de facto e da matéria de direito, no que concerne à
correcção aritmética resultante da falta de contabilização pela Espaço Urbano,
no ano de 2003, dos proveitos realizados com a venda das fracções designadas
pelas letras KB, OD, OI, RA, BV e GA.
C. De acordo com o princípio da especialização dos exercícios, os proveitos e
custos, assim como outras componentes positivas ou negativas do lucro
tributável, são imputáveis ao exercício a que digam respeito (artigo 18.º, n.º 1
do CIRC).
D. A regra estatuída no n.º1 do artigo 18.º do CIRC sofre, porém, a excepção
regulada no seu n.º 2, de acordo com a qual, as componentes positivas e
negativas só não são imputáveis ao respectivo exercício quando, na data do
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Acordão do Tribunal Central Administrativo
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X
Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir, considerando que a tal
nada obsta.
X
O Ministério Público foi regularmente notificado, pronunciando-se pela
procedência do recurso.
X
II- Fundamentação.
A sentença recorrida assentou na seguinte fundamentação de facto:
« 1. A Impugnante é a Sociedade dominante de um grupo de sociedades, do
qual faz parte a Sociedade ………. - Investimentos ……………, SA - Facto
não controvertido;
2. Em 13/05/1996, foi celebrado contrato promessa de compra e venda, entre a
Sociedade São ………… - Investimento ………, SA e C ………………….,
cujo conteúdo se dá aqui por integralmente reproduzido, e nos termos do qual a
primeira declarou prometer vender e o segundo declarou prometer comprar a
fração autónoma GA, pelo preço de 44.100.000$00, pagos da seguinte forma:
(i) € 4.100.000$00 a título de sinal e princípio de pagamento, (ii) 4.000.000$00
a título de reforço de sinal, em 17/06/1996, (iii) 14.000.000$00 a título de
reforço de sinal, em 12/08/1996 (iv) e € 22.000.000$00, a pagar na data da
realização da escritura pública - cfr. documento 34 junto com a PI;
3. Em 12/11/1996, foi celebrado um contrato promessa de permuta, entre a
Sociedade São …………. - Investimento ………….., SA e C …………………,
nos termos do qual, o segundo outorgante promete permutar com o primeiro
outorgante a fração AL com a fração GA - cfr. documento 35 junto com a PI;
4. Em 31/12/1996, foi contabilizada a venda das frações GA e BV, na
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Conforme o descrito nos capítulos I e II, o sujeito passivo foi objeto de ação
inspetiva externa, realizada pelos Serviços de Inspeção Tributária da Direção de
Finanças de Lisboa, tendo para conclusão o procedimento sido elaborado o
relatório final, de acordo com o disposto no n.0 1 do artigo 62.º do RCPIT, no
qual se encontram descritos os factos detetados e a sua qualificação jurídico-
tributária, e que constituem a fundamentação das correções propostas ao lucro e
à matéria tributável, para efeitos de IRC, dos exercícios de 2003, 2004 e 2005,
relatório e respetivos anexos, num total de 206 folhas, que se juntam como
Documento 1 e que se dão aqui por integralmente reproduzidas para todos os
efeitos legais.
Relativamente aos elementos enviados pela Direção de Finanças de Lisboa,
entregues pelo sujeito passivo, após a conclusão dos atos de inspeção externa,
têm em vista justificar a omissão dos proveitos quantitativos no relatório de
inspeção (Documento q), nos anos de 2003 e 2004.
As situações em causa já foram devidamente tratadas no relatório de Inspeção
Tributária (Documento 1), designadamente no seu Anexo 1, exceto no que se
refere à fração A, para a qual veio invocar que:
- O proveito foi reconhecido em 1997 pela Sociedade São ………….,
sociedade que se extinguiu nas S………… e P……….;
- Em 1999 e 2001, a P…….. e a S. extinguem-se, respetivamente por fusão na
………………….
Alegações que, dos elementos enviados e no âmbito deste procedimento, são
impossíveis de comprovar, e atendendo ao princípio da especialização dos
exercícios, nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 18.º do CIRC, os proveitos
obtidos com as vendas das frações em causa, encontram-se devidamente
imputados no relatório de inspeção (documento 1), aos anos em que foram
realizadas as escrituras de compra e venda, ano(s) em que foi declarada a posse
das frações para efeitos de pagamento de Sisa ou IMT, por parte dos
compradores e a consequente transmissão da propriedade.
(…)
IX - Direito de Audição
0 sujeito passivo foi notificado para exercer o direito de audição no prazo de 10
dias, nos termos previstos no artigo 60º da Lei Geral tributária e artigo 60º do
Regime Complementar do Procedimento da Inspeção Tributária, através do
Ofício nº ………/0505, de 19/11/2007, registo dos CTT n.º RM………………,
tendo exercido esse direito, com entrada nestes serviços, em 30/11/2007, que se
dá aqui por integralmente reproduzido, e de que se junta fotocópia como
documento 2, não juta quaisquer elementos que se destaca, discorda das
correções constantes no projeto de relatório relativamente às quais se passa a
transcrever:
1 - Correções aos proveitos por omissão de vendas
Assim, e reafirmando tudo o quanto já foi transmitido à técnica da Direção de
Finanças de Lisboa, no que concerne à projetada correção de proveitos, por
suposta omissão de vendas, dos anos de 2003 e 2004, a …………… sustenta e
mantém tudo aquilo que já afirmou no decurso da inspeção e que é revelado na
sua escrita, isto é, não existe qualquer omissão de proveitos, tendo a sociedade
cumprido escrupulosamente com as suas obrigações contabilísticas e fiscais,
conforme o salienta a certificação legal de contas referente àquele exercício.
2 - Correção aos acréscimos de proveitos (aplicação do artigo 58º - A do CIRC)
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Acordão do Tribunal Central Administrativo
(...)
IX - DIREITO DE AUDIÇÃO - FUNDAMENTAÇÃO
O contribuinte exerceu o direito de audição nos termos do artigo 60.º da Lei
Geral Tributária, tendo enviado uma petição escrita que foi recebida no dia
11/02/2008.
Na petição entregue pela C............. Projetos, ………, SA (dominante) e mais
propriamente no seu ponto 12 é solicitado que seja efetuada uma completa
verificação da situação registral dos documentos que suportam a contabilidade
da Espaço Urbano. Tal procedimento só é possível no âmbito da ............ . -
…… Imobiliários, SA, NIPC …………. (dominada).
A correção agora proposta é efetuada à Declaração de Rendimentos do Grupo e
não petição apresentada não são invocados quaisquer erros de facto ou de
direito. O resultado fiscal do Grupo foi corretamente apurado através da soma
algébrica dos lucros tributáveis e dos prejuízos fiscais apurados das
Declarações de Rendimentos individuais de cada uma das sociedades
pertencentes ao Grupo (art.º 6º do CIRC).
Em face do exposto, conclui-se que as correções propostas são de manter (...)" -
cfr. Processo de Reclamação Graciosa junto com o PAT, a fls. 28 a 37;
27. Em 26/02/2008, foi proferido Despacho, pelo Chefe de Divisão dos
Serviços de Inspeção Tributária, por subdelegação do Diretor de Finanças
Adjunto, nos termos do qual se concordou com o relatório da ação inspetiva
referida no ponto anterior, e nos termos do qual se referiu, nomeadamente, o
seguinte: "Concordo com o parecer do Chefe de Equipa, e com o relatório da
ação inspetiva, em anexo. Dos fundamentos deles constante resulta que se
encontram verificados os pressupostos legais e de facto para, mantendo-se a
avaliação direta da matéria coletável, proceder às correções técnicas propostas,
nos termos da parte final dos artigos 16.º n.º 1 e 17.º n.º 1 do Código do IRC,
bem como os artigos 81.º a 84.º da LGT. Desta forma, com os fundamentos
referenciados, determino que se proceda à alteração do lucro tributável/prejuízo
fiscal e/ou matéria coletável da declaração do Grupo, cf. Regime Especial de
Tributação dos Grupos de Sociedades, estatuído no art.º 63º do CIRC (...)" - cfr.
Processo de Reclamação Graciosa junto com o PAT, a fls. 28;
28. Em 17/03/2008, foi emitida a liquidação de IRC 2008 8910001515, em
nome da Impugnante, no valor de € 28.587,72 - cfr. PAT, a fls. 309;
29. Em 01/08/2008, deu entrada no Serviço de Finanças de Lisboa 10,
Reclamação Graciosa, nos termos da qual a Impugnante solicitou a anulação do
ato tributário reclamado - cfr. Processo de Reclamação Graciosa junto ao PAT,
a fls. 1 a 24;
30. Em 14/08/2009, foi elaborada uma informação, pela Divisão de Justiça
Contenciosa da Direção de Finanças de Lisboa, nos termos da qual foi proposto
o indeferimento da Reclamação Graciosa referida no ponto anterior, cujo o
conteúdo se dá aqui por integralmente produzido, e que refere, nomeadamente
o seguinte: "(...) 5 - Nos termos do n.º 1 do art.º12.º do Código do
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Acordão do Tribunal Central Administrativo
Quanto aos factos não provados, a Impugnante não trouxe aos autos qualquer
elemento de prova que consubstanciasse o alegado. O referido acordo com o
cliente não está suportado em nenhum meio de prova, nem que parte do valor
seria afeto a uma fração e a parte restante a outra (QC e KR).
Não logrou, ainda, a Impugnante, demonstrar que os valores de € 12.468,00, e o
valor de € 1.001,00 correspondiam ao valor das frações referidas no parágrafo
anterior. Não havendo qualquer meio de prova que sustente o alegado, o facto é
dado como não provado por este Tribunal».
X
A recorrente sustenta que «deveria ter sido julgado como não provado o
seguinte facto: “Os custos referentes ao exercício de 2003, no valor de €
276.475,16, eram manifestamente imprevisíveis”».
Sucede, porém, que se trata de uma asserção conclusiva e que, como tal, não
pode constituir um enunciado de facto.
Motivo porque se rejeita a presente asserção.
X
2.2. Direito
2.2.1. A presente intenção recursória centra-se sobre o alegado erro de
julgamento em que terá incorrido a sentença recorrida, quanto ao
enquadramento jurídico da causa.
2.2.2. A sentença julgou procedente, parcialmente, a impugnação, no que
respeita à correcção relativa a omissão de proveitos (vendas), do exercício de
2003, no montante de €276.475,16. Para assim proceder, a sentença esteou-se
na argumentação de que: «a Impugnante não conseguiu provar que o
reconhecimento do proveito relativo às frações QC e KR foi efetuado pelo valor
de € 12.468,00, em 2003, e pelo valor de € 1.001,00, em 2006. Explicitando, a
Impugnante não logrou demonstrar que os valores de € 12.468,00, e o valor de
€ 1.001,00 correspondiam ao valor das frações QC e KR, não tendo
apresentado qualquer meio de prova que sustentasse o alegado. // Assim, face
ao exposto, é de improceder a alegação da Impugnante apenas quanto a esta
parte, e de proceder quanto ao restante montante, por ter ficado provado que os
valores referentes às frações KB, OD, OI, RA, BV e GA, foram contabilizadas
noutros anos, sem que se tenha demonstrado que os erros praticados pela
Impugnante resultaram de omissões voluntárias».
2.2.3. A recorrente censura o veredicto que fez vencimento na instância. Invoca
que: «dos autos não resulta demonstrada a situação tributária da ............ ,,,,,,,,,,,
quer nos anos em que foram contabilizados os referidos proveitos quer entre
esses anos e o ano de 2003, de forma a que se possa concluir que não existiu
manipulação de resultados, de modo a permitir, por exemplo, com o
deferimento no tempo dos lucros, fraccionar os lucros ou concentrar o lucro
num exercício para se poder efectivar deduções mais avultadas».
Apreciação. «Os proveitos e os custos, assim como as outras componentes
positivas ou negativas do lucro tributável, são imputáveis ao exercício a que
digam respeito, de acordo com o princípio da especialização dos exercícios»
(1). O princípio da especialização económica dos exercícios «consiste em
incluir nos resultados fiscais apenas os proveitos e os custos correspondentes a
cada exercício económico. // Este princípio da anualidade determina que todos
os proveitos e custos devem ser imputados no período a que respeitam,
independentemente do seu recebimento ou pagamento, regra, que, aliás,
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