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Apostila para o curso de Gerontologia da Universidade Estacio de Sá 

 Belo Horizonte 
Tema O sitema familiar e o envelhecimento 
 
 
Stúdio de Analise Bioenergética, Psicologia Transpessoal, 
 Cinesiologia Clinica e Sistêmica Familiar 
Rua Santa Rita Rita Durão 339 s/08 Funcionários  
Telfax: 31­ 3227 4983 Belo Horizonte 
e­mail: regis.bh@terra.com.br  
 
 
 
Constelações Familiares, liberando os destinos trágicos, e refazendo a 
imagem interior do seu lugar na família. 
Uma abordagem terapêutica  desenvolvido por Bert Hellinger 
Prática terapéutica conduzida por: 
Reginaldo Teixeira Coelho CBT psicólogo clínico 
 
Apostila para o curso de gerontologia da Universidade estacio de Sá Belo 
Horizonte 
Biografia resumida Bert Hellinger. 
 
...nascido  em  1925,  estudou  filosofia,  teologia e pedagogia. Sua formação religiosa levou­o 
depois  a  ingressar  em uma ordem religiosa católica. Mais tarde trabalhou como missionário 
na  África  do  Sul.  No  início  dos  anos  70  deixou  a  ordem  religiosa  católica  dedicando­se 
então à psicoterapia. 
Através  da  dinâmica  de  grupo,  da  terapia  primal,  da  análise  transacional  e  de  diversos 
métodos hipnoterapêuticos chegou à sua própria terapia sistêmica e familiar. 
Autor  de  best­sellers  na  Alemanha,  possui  mais  de  14  livros  em  sua bagagem. "A Simetria 
Oculta  do  Amor"  foi  o  primeiro  livro  a  ser  publicado  no  Brasil.  Entre  as  suas  atividades 
atuais está o seu trabalho com os sobreviventes do holocausto e suas famílias. 
Bert  Hellinger  redescobriu  durante  o  seu  trabalho  com  centenas  de  sistemas familiares que 
o  reconhecimento  do  amor  que  existe  no  seio  das  famílias  comove  as  pessoas e muda suas 
vidas.  Porque  um  amor  rompido  em  gerações  anteriores  pode  causar  sofrimentos  aos 
membros  posteriores  de  uma  família,  o  processo  de  cura  exige  que  os  primeiros  sejam 
relembrados. Nos seus workshops os participantes observam, representam pessoas de outras 
constelações  familiares  ou  exploram  suas próprias dinâmicas familiares ajudando Hellinger 
a  demonstrar  como  o  amor,  mesmo  se  injuriado  ou  mal­direcionado pode ser transformado 
em uma força que cura.  
Hellinger  é  inabalável  em  sua  serena  compaixão  durante  o  seu  trabalho  com  indivíduos, 


 
casais  ou  famílias  que  enfrentam  situações  difíceis.  Terapeutas  experientes  apreciam  a 
efetividade  de  seu  método  e  seus  resultados.  Freqüentemente  os  participantes  de  seus 
workshops  partem  com  uma  profunda  compreensão  de  si  mesmos,  o  poder  do  amor  e  as 
forças que governam os relacionamentos humanos. 
Bert  Hellinger  vive  hoje  com  sua  esposa  na  Alemanha,  no  sudeste  da  Baviera,  perto  da 
fronteira austríaca. 
Algumas idéias básicas 
Sobre o desenvolvimento da abordagem de Bert Hellinger  
Bert  Hellinger  descreveu  em  julho  de  1999  a  sua  abordagem  e  seu  respectivo 
desenvolvimento em tópicos. 
1.  A  idéia  de  Eric  Berne  de  que  existem  ​
scripts  pessoais  ​segundo  os  quais  uma  pessoa 
organiza  inconscientemente  a  sua  vida  teve  um  papel  muito  importante  para  mim.  Berne 
acreditava  que  isso  vem  das  instruções  recebidas  dos  pais  na  infância.  Eu vi que isto tem a 
ver  com  emaranhamentos  nos  destinos  de  outros  membros  da  família,  freqüentemente  em 
uma ou duas gerações anteriores. 
2.  Já  durante  o  meu  trabalho  prático  de  muitos  anos  com  a  ​
terapia  primal  ​
pude  observar 
que  muitos  sentimentos,  também  os  violentos,  nada  tinham  a  ver  com  a  vivência  pessoal. 
Tornou­se  bem  evidente  para  mim  que  são  sentimentos  freqüentemente  assumidos  através 
de uma identificação com uma outra pessoa. 
3.  Além  disso  sempre  vivenciei  que  a  ​ consciência  ​ que  sentimos  tem  funções  que 
conservam  o  sistema.  Trata­se,  em  especial,  do  vínculo  ao  grupo,  da  regulamentação  do 
intercâmbio  através  da  necessidade  de  equiparação  entre  o  dar  e o receber, das vantagens e 
perdas e a imposição das normas do grupo.  
4.  Mais  ainda.  Existe  uma  ​
consciência  inconsciente  ​
que  liga  os  membros  de um sistema e 
impõe dentro dele as seguintes ordens ou leis: 
a.  Cada  membro  da  família  e  estirpe  tem  ​
o  mesmo  direito  de  pertinência​

também  os  que  faleceram  precocemente  ou  os  natimortos,  assim  como  os 
deficientes e os maus. 
b.  A  ​
perda  de  um  membro  ​ através  da  exclusão  ou  esquecimento  será 
compensada  por  um  outro  membro  da  família.  Freqüentemente  em  uma 
geração  posterior  este  representa  ou  imita  inconscientemente  aquele  que  foi 
excluído ou esquecido. 
c.  Vantagens  ​
às  custas de outrem ​
serão compensadas muitas vezes somente 
em uma geração posterior. 
d.  Os  ​
membros  anteriores  ​
têm  precedência  sobre  os  ​
posteriores  ​
.  Por  isso 
quando  um  membro  posterior  se  eleva  sobre  um  anterior  ele  paga  muitas 
vezes através do fracasso ou queda. 
5.  Finalmente  existem  muitas  indicações  que  ​
os  mortos  ​
atuam  sobre  ​
os  vivos  ,  ou  de  um 
modo  ruim  se  são  excluídos ou temidos, ou de modo benévolo, se são chorados, honrados e 
depois deixados em paz. 


 
A  ​
Constelação  Familiar  ​ como  a  entendo  e  pratico,  traz  então  à  luz,  no  sentido  das  idéias 
básicas aqui apresentadas, onde estamos ​ emaranhados ​ e quais são os passos que conduzem 
ao  desenredamento  e  solução.  Todos estes passos têm a ver com o respeito pelos outros. Os 
assassinos  são  uma  exceção.  Devemos  deixá­los  partir  do  sistema  para  que  possam 
juntar­se às suas vítimas. Ali eles encontram a paz. 
Constelações Familiares ­ Visão geral 
Resumo da história do trabalho com as Constelações Familiares  
O  trabalho  com  as  Constelações  Familiares  "segundo  Hellinger"  em  sua  forma  atual  foi 
desenvolvida  nos  últimos  15  anos  por  Bert  Hellinger.  Baseia­se  no  pensamento  sistêmico 
que  teve seu início com Gregory Bateson nos últimos 30 anos e que já foi também colocado 
em prática e desenvolvido por outros terapeutas. 
Para  o  tratamento  terapêutico  de  um  cliente  é,  portanto,  necessário  que  sua  família,  o 
sistema  em  que  está  conectado  seja  levado  em  consideração.  Em  psicodramas  o  psiquiatra 
americano  de  ascendência  rumena  Jakob  Moreno  descobriu  através  do  teatro  o  significado 
das  ligações  sociais  de  seus  clientes.  Reconheceu  que  os  problemas  e  distúrbios  psíquicos 
de  um  ser  humano  têm  relação com o seu ambiente. Da americana Virginia Satir, assistente 
social  em  Palo  Alto  provém  a  reconstrução  familiar  e  e a escultura familiar (entretanto não 
é  idêntica  à  Constelação  Familiar  segundo  Hellinger).  Todos  os  membros  da  família 
trabalham  em  conjunto  a  sua  ligação  à  cadeia  das  gerações  e  como  podem  se  libertar  dos 
encargos assumidos da família. 
Impulsos  importantes  provém  também  do  trabalho  de  Ivan Bosyomenyi­Nagy que derivam 
do  pensamento  de  Martin  Buber  e  acentua  o  equilíbrio  necessário  entre  o  dar  e  o  receber 
nos relacionamentos humanos. 
Pararelamente  a  estas  evoluções  Bert  Hellinger  trabalha  com  cada  um  dos  clientes  e  sua 
imagem  interna  da  família  como  esta  se  apresenta  nas  percepções  dos  representantes  que 
foram  colocados  nas  constelações  familiares.  Ele  designa  a  postura  fundamental  e  o 
procedimento terapêutico que se desenvolve a partir daí como fenomenológico. 
A  realidade  profundamente  comovente  deste  trabalho  pode  ser  apreendida  apenas  através 
da própria participação em uma constelação familiar. 
Bert  Hellinger  descreve  seu  método  de  trabalho  em  uma  Introdução ao Trabalho com as 
Constelações Familiares ​ , que escreveu para esta homepage.  
 
Constelações Familiares segundo Bert Hellinger  
O Trabalho com as Constelações Familiares ­  
Uma introdução de Bert Hellinger 
O caminho do conhecimento  
Dois  movimentos  nos  levam  ao  conhecimento.  O  primeiro  se  estende  e  quer  abarcar  algo 
até  então  desconhecido  para  dele  se  apropriar  e  dele  dispor. O esforço científico pertence a 
esse  tipo  e  sabemos  quanto  ele  transformou,  assegurou  e  enriqueceu  o  nosso  mundo  e  a 
nossa  vida.  O  segundo  movimento  se  origina  quando  nos  detemos,  durante  nosso  esforço 


 
em  abarcar  o  desconhecido,  e  dirigimos  o  olhar,  não  mais  para  um  determinado  objeto 
palpável,  mas  para  um  todo.  Assim,  o  olhar  está  disposto  a  receber,  simultaneamente,  a 
diversidade  que  se  encontra  à  sua  frente.  Quando  nos  deixamos  levar  por esse movimento, 
por  exemplo,  diante  de  uma  paisagem,  uma  tarefa  ou  um  problema,  notamos  como  nosso 
olhar  fica,  ao  mesmo  tempo,  pleno  e  vazio.  Pois  só  podemos  nos  expor  à  plenitude  e 
suportá­la, quando prescindimos primeiramente dos detalhes. 
Assim,  detemo­nos  em  nosso  movimento  exploratório  e  nos  retraímos  um  pouco,  até 
atingirmos  aquele  vazio  que  pode  resistir  à  plenitude e à diversidade. Esse movimento, que 
primeiramente  se  detém  e  depois  se  retrai,  chamo  de  fenomenológico.  Ele  nos  conduz  a 
conhecimentos  distintos  daqueles  obtidos  pelo  movimento  do  conhecimento  exploratório. 
Contudo,  ambos  se  completam.  Pois  também  no  movimento  do  conhecimento  científico 
exploratório  precisamos,  às  vezes,  deter­nos  e  dirigir  nosso  olhar,  do  estreito  ao  amplo, do 
próximo  ao  distante.  Por  sua  vez,  o  conhecimento  resultante  do  procedimento 
fenomenológico precisa ser verificado no indivíduo e no próximo.  
O processo  
No  caminho  do  conhecimento  fenomenológico,  expomo­nos,  dentro  de  um  determinado 
horizonte,  à  diversidade  dos  fenômenos,  sem  escolher  entre  eles  e  nem  avaliá­los.  Esse 
caminho  do  conhecimento  exige,  portanto,  um  esvaziar­se,  tanto  em  relação  às  idéias 
preexistentes  quanto  aos  movimentos  internos,  sejam  eles  da  esfera  do  sentimento,  da 
vontade  ou  do  julgamento.  Nesse  processo,  a  atenção  é  simultaneamente  dirigida  e  não 
dirigida,  centrada  e  vazia.  A  postura fenomenológica requer uma prontidão tensionada para 
a  ação,  sem  passar,  entretanto,  à  execução.  Graças  a  essa  tensão,  tornamo­nos 
extremamente  capazes  e  prontos  para  perceber.  Quem  a  suporta  percebe,  depois  de  algum 
tempo,  como  a  diversidade  presente  no  horizonte  se  dispõe  em  torno  de  um  centro  e,  de 
repente,  reconhece  uma  conexão,  uma  ordem  talvez,  uma  verdade  ou  o  passo  que  leva 
adiante.  Esse  conhecimento provém igualmente de fora, é vivenciado como uma dádiva e é, 
via de regra, limitado.  
O Trabalho com as Constelações Familiares  
O  que  o  procedimento  fenomenológico  possibilita  e  requer  pode  ser  experimentado  e 
descrito  de  modo  especialmente  marcante  através  do  trabalho  com  as  constelações 
familiares.  Pois  a  colocação  da  constelação  familiar  é,  por  um  lado,  o  resultado  de  um 
caminho  do  conhecimento  fenomenológico  e,  por  outro  lado,  o  procedimento 
fenomenológico  obtém  resultado,  quando  se trata do essencial, apenas através da contenção 
e confiança na experiência e compreensão por ele possibilitadas. 
O cliente  
O  que  acontece  quando  um cliente coloca a sua família na psicoterapia? Em primeiro lugar, 
escolhe  entre  as  pessoas  de  um  grupo,  representantes  para  os  membros  de  sua  família. 
Portanto,  para  o  pai,  para  a  mãe,  para os irmãos e para si mesmo, não importando quem ele 
escolhe para representar os diversos membros de sua família. Na verdade, é melhor ainda se 
escolher  os  representantes  independentemente  de  aparências  externas  e  sem  uma 
determinada  intenção.  Isto  já  é  o  primeiro  passo  em  direção  a  uma  contenção  e  uma 
renúncia à intenções e velhas imagens. 


 
Quem  escolhe  seguindo aspectos exteriores, por exemplo, idade ou características corporais 
não  se  encontra  numa  postura  aberta  para  o  essencial  e  invisível.  Limita a força expressiva 
da  colocação  através  de  considerações  externas.  Com  isso  a  colocação  de  sua  constelação 
familiar  já  pode  estar,  para  ele,  talvez  fadada  ao  fracasso.  Por  isso  também  não  importa  e 
algumas  vezes  é  melhor  que  o  terapeuta  escolha  os  representantes  e  deixe o cliente montar 
com  estes a sua família. Porém, o que deve ser considerado é o sexo das pessoas escolhidas, 
isto  é,  que  homens  sejam  escolhidos  para  representar  os  homens  e  mulheres  para  as 
mulheres. 
Escolhidos  os  representantes  o  cliente  coloca­os  no  espaço  um  em  relação  ao  outro.  No 
momento  da  colocação  é  de  grande  ajuda  que  ele  os  segure  com  ambas  as  mãos  pelos 
ombros  e  assim  em  contato  com  eles  os  posicione  em  seu  lugar.  Durante  a  montagem 
permanece  centrado,  prestando  atenção  ao  seu  movimento  interior,  seguindo­o  até  sentir 
que  o  lugar  para  onde  conduziu  o  representante  seja  o  certo.  Durante  a  colocação  está  em 
contato  não  somente  consigo  e  com  o  representante,  senão  também  com  uma  esfera, 
recebendo  daí  também  sinais  que  o  ajudarão  a  encontrar  o  lugar  certo  para  essa  pessoa. 
Prossegue  assim  com  os  outros  representantes  até  que  todos se encontrem em seus lugares. 
Durante este processo o cliente está , por assim dizer, esquecido de si mesmo. 
Desperta deste esquecimento de si mesmo quando todos estão posicionados. Algumas vezes 
é de ajuda quando, em seguida, dá uma volta e corrije o que ainda não está totalmente certo. 
Senta­se  então.  Podemos  perceber  imediatamente  quando  alguém  não  se  encontra  nesta 
postura  de  esquecimento  de  si  mesmo  e  contenção.  Por  exemplo,  quando  prescreve  para 
cada  um  dos  representantes  uma determinada postura corporal no sentido de uma escultura, 
ou  quando  monta  a  constelação  muito  depressa  como  se  seguisse  uma  imagem 
preconcebida  ou  quando  se  esquece  de  colocar  uma  pessoa,  ou  quando  declara  que  uma 
pessoa já está em seu lugar certo sem tê­la posicionado concentradamente. 
Uma  constelação  familiar  que  não  foi  montada  deste  modo  concentrado  termina  num beco 
sem saída ou de forma confusa. 
O terapeuta  
O  terapeuta  precisa  também  se  libertar  de  suas  intenções  e  imagens  a  fim  de  que  a 
colocação de uma constelação familiar tenha êxito. Na medida em que se contém e se expõe 
centrado  à  constelação  familiar,  reconhece  imediatamente  se  o  cliente  quer  influenciá­lo 
através  de  imagens  preconcebidas  ou  esquivar­se  daquilo  que  começa  a  se  mostrar.  Então 
ele  ajuda­o  a  se  centrar  e  o  conduz  a  um  estado  de  disposição  para  que  se  exponha  ao que 
está acontecendo. Se isso não for possível, pára com a colocação. 
Os representantes  
Exige­se  também  dos  representantes  uma  contenção  interna  de  suas  próprias  idéias, 
intenções  e  medo.  Isso  significa  que  eles  devem  observar  exatamente  as  mudanças  que  se 
manifestam  em  seu  estado  corporal  e  seus  sentimentos  enquanto  são  colocados.  Por 
exemplo,  que  o  coração  bate  mais  depressa,  que  querem  olhar  para  o  chão,  que  se  sentem 
repentinamente  pesados  ou  leves,  ou  estão  com  raiva  ou  tristes.  É também de grande ajuda 
quando  prestam  atenção  às  imagens  que  emergem  e  que  ouçam  os  sons  e  palavras  que 
afloram. 


 
Por  exemplo,  um  americano  que  estava  começando  a  aprender  alemão,  ouvia 
constantemente  durante  uma  colocação  familiar  na  qual  ele  representava um pai a sentença 
alemã:  "Diga  Albert".  Mais  tarde  ele  perguntou  ao  cliente  se  o  nome  Albert  tinha  algum 
significado  para  ele.  "Mas  é  claro",  foi  a  resposta",  é  o  nome  do  meu  pai,  do  meu  avô  e 
Albert é o meu segundo prenome." 
Uma  outra  pessoa  que  representava  em  uma  constelação  o  filho  de  um  pai  que  havia 
morrido  em  um  acidente  de  helicóptero  ouvia  constantemente  o  ruído  do  rotor  de  um 
helicóptero.  Certa  vez  este  filho  tinha  sido  o  piloto  de  um  helicóptero  em  que  estava 
também  o  pai.  O helicóptero caiu, mas os dois sobreviveram. Para que essa postura obtenha 
resultado  são  naturalmente  necessárias  uma  grande  sensibilidade  e  uma  enorme  prontidão 
para  se distanciar de suas próprias idéias. E o terapeuta precisa ser muito cauteloso para que 
as  fantasias  dos  representantes  não  sejam  captadas  como  percepções.  Tanto  o  terapeuta 
quanto  os  representantes  podem  escapar  mais  facilmente  deste  perigo  quanto  menos 
informações tiverem sobre a família. 
As perguntas  
A  percepção  fenomenológica obtém melhores resultados quando se pergunta só o essencial, 
diretamente antes da colocação familiar. As perguntas necessárias são: 
1. Quem pertence à família?  
2. Existem  natimortos ou membros da família que morreram precocemente ? Houve na 
família destinos especiais, por exemplo deficientes?  
3. Algum  dos  pais  ou  avós  tiveram  anteriormente  um  relacionamento  firme,  portanto, 
foi  noivo(a),  casado(a)  ou  teve  de  alguma  forma  um  relacionamento  longo  e 
significante?  
Uma  anamnésia  extensa  dificulta,  via  de  regra,  a  percepção  fenomenológica  tanto  do 
terapeuta  como  também  dos  representantes.  Por  isso  o  terapeuta  recusa  também  conversas 
prévias  ou  questionários  que  vão  além  das  perguntas  mencionadas.  Pelo  mesmo  motivo os 
clientes  não  devem  dizer  nada  durante  a  colocação  nem  os  representantes  devem  fazer 
peguntas de qualquer tipo para os clientes. 
Centrar­se em si mesmo  
Alguns  representantes  são  tentados  a  extrair  da  imagem  externa  da  constelação  o  que 
sentem  em  vez  de  prestar  atenção  à  sua  percepção  corporal  e  ao  seu  sentimento  interno 
imediato.  Por  exemplo,  o  representante  de  um  pai  dissera  que  se  sentia  confrontado  pelos 
filhos  porque  estes  tinham  sido  colocados  à  sua  frente.  Entretanto,  quando  prestou atenção 
ao  seu  sentimento  interior  imediato,  percebeu  que  estava  se  sentindo  bem.  Ele  se  desviara 
de  sua  percepção  imediata  por  causa  da  imagem  externa.  Algumas  vezes,  quando  um 
representante  sente  algo  que  lhe  parece  indecoroso,  não  o  menciona. Por exemplo, que ele, 
como  pai,  sente  uma  atração  erótica  pela  filha.  Ou  uma  representante não se arrisca a dizer 
que  ela,  como  mãe,  se  sente  melhor  quando  um  de  seus  filhos  quer  seguir  um  membro  da 
família na morte. 
O  terapeuta  presta  atenção,  portanto, aos leves sinais corporais, por exemplo, um sorriso ou 
um  retesamento,  ou  uma  aproximação  involuntária  das  pessoas.  Quando  comunica  tais 
percepções  os  representantes  podem  verificar  novamente  a  sua  própria  percepção.  Alguns 
representantes  fazem  também  afirmações  amáveis  porque  pensam  que  com  isso  poderão 


 
ajudar  ou consolar o cliente. Tais representantes não estão em contato com o que acontece e 
o terapeuta deve substitui­los por outros imediatamente. 
Os sinais  
Um  terapeuta  que  não  se  mantém  constantemente  durante  a  situação  inteira  em  sua 
percepção  centrada,  isto  é,  sem  intenção  e  sem  medo,  é  levado,  muitas  vezes  através  de 
afirmações  de  primeiro  plano  a  um  caminho  errado  ou  a  um  beco  sem  saída.  Com  isso  os 
outros  representantes  ficam  também  inseguros.  Existe  um  sinal  infalível  se  uma  colocação 
familiar  está  no  caminho  certo  ou  não.  Quando  começa  a  se  perceber  no grupo observador 
inquietação  e  a atenção diminui, a colocação não tem mais chance. Nesse caso, quanto mais 
depressa o terapeuta interromper o trabalho tanto melhor. 
A  interrupção  permite  a  todos  os  participantes  concentrar­se  novamente  e  depois de algum 
tempo  recomeçar  o  trabalho.  Algumas  vezes  o  grupo  observador  também  apresenta 
sugestões  que  levam  adiante.  Entretanto  isto  deve  ser  apenas  uma  observação. Se tentarem 
somente  adivinhar  ou  interpretar,  isso  aumenta  a  confusão. Então o terapeuta também deve 
parar a discussão e reconduzir o grupo à concentração e seriedade. 
A abertura  
Tratei  minuciosamente  destas  formas  de procedimento e dos obstáculos que podem surgir a 
fim  de  por  limites  às  colocações  feitas  levianamente. Senão o trabalho com as constelações 
familiares  pode  cair  facilmente  em  descrédito.  Alguns  procedem  de  outra  forma  nas 
constelações  familiares.  Se  isso  ocorrer  a  partir  de  uma  atenção  centrada  pode  obter  bons 
resultados.  Entretanto,  se  ocorrer  somente  por  uma  necessidade  de  delimitação  ou  para 
ganhar prestígio a abertura fenomenológica fica limitada devido às intenções. 
A  melhor  forma  de  adquirir  prestígio  é  quando  se  tem  novas  percepções  que  podem  ser 
comprovadas  pelos  resultados  e  nas  quais  se  deixa  também  outros  participarem.  Se, 
entretanto,  a  delimitação  segue  idéias  teóricas  ou  é  influenciada por intenções e medos que 
se  recusam  em concordar com a realidade que se mostra, isto leva à perda da prontidão para 
apreender,  com  as  respectivas  consequências  para  o  efeito  terapêutico.  Se  a  colocação  da 
constelação  familiar  for  feita  só  por  curiosidade  ela  perde  a  sua  seriedade  e  força. Restam, 
então, do fogo talvez apenas as cinzas e do vestido apenas a cauda. 
O início  
De  volta  agora  ao  trabalho  com  as  constelações  familiares.  A  questão que o terapeuta deve 
decidir, em primeiro lugar, é: 
Coloco a família atual ou a de origem?  
Deu  bons  resultados  começar  com  a  família  atual.  Pois,  dessa  maneira,  pode­se  colocar 
mais  tarde  aquelas  pessoas  da  família  de  origem  que  ainda  agem  fortemente  na  família 
atual.  Obtém­se  assim  uma  imagem  em  que  as  influências  que  sobrecarregam  e  curam 
através  das  várias  gerações  ficam  visíveis  e  podem  ser  sentidas.  Unicamente  quando  os 
destinos  da  família  de  origem  são  especialmente trágicos é que se começa com a família de 
origem. 
A próxima pergunta é: 
Com quem começo a colocação?  
Começa­se  com  o  núcleo  familiar,  portanto,  pai,  mãe  e  filhos.  Se  existe  um  natimorto  ou 
uma  criança  que  morreu  precocemente,  coloca­se  esta  criança  mais  tarde  para  poder  ver 
qual  o  efeito  que  tem  na  família  quando  está  à  vista.  A  regra  é  começar  com  poucas 

 
pessoas, deixar­se conduzir por elas e desenvolver passo a passo a constelação. 
O procedimento  
Quando a primeira imagem é configurada dá­se ao cliente e aos representantes um pouco de 
tempo  para  que  se  exponham  à  ela,  deixando­a  atuar.  Muitas  vezes  os  representantes 
começam  a  reagir  espontaneamente,  por exemplo, começam a tremer ou chorar ou abaixam 
a  cabeça,  respiram  com  dificuldade  ou  olham  com  interesse  ou  apaixonadamente  para 
alguém.  Alguns  terapeutas  perguntam aos representantes muito depressa como eles estão se 
sentindo, impedindo ou interrompendo dessa maneira este processo. 
Quem  faz  perguntas  aos  representantes  apressadamente,  utiliza  este  procedimento 
facilmente  como  substituto  para  a  sua  própria  percepção,  tornando  os  representantes 
inseguros  também. O terapeuta deixa, em primeiro lugar, a imagem atuar também sobre ele. 
Freqüentemente  vê  imediatamente  qual  a  pessoa  que  está mais carregada ou em perigo. Se, 
por  exemplo,  ela  foi  colocada  de  costas  ou  de  lado,  o  terapeuta  vê  que  ela  quer  partir  ou 
morrer.  Apenas  precisa,  sem perguntar nada a ninguém, dirigi­la uns poucos passos à frente 
na  direção  em que está olhando e prestar atenção ao efeito que esta mudança provoca nela e 
nos outros representantes. 
Ou  se  todos  os  representantes  olham  para  uma  mesma  direção  o  terapeuta  sabe, 
imediatamente,  que  alguém  deve  estar  na  frente  deles:  uma  pessoa  que  foi  esquecida  ou 
excluída.  Por  exemplo, uma criança que morreu precocemente ou um noivo anterior da mãe 
que  morreu  na  guerra.  Então  ele  pergunta  ao  cliente  quem  poderia ser e coloca a pessoa no 
quadro antes que qualquer um dos representantes tenha dito algo. 
Ou  quando  a  mãe  está  cercada  pelos  filhos  dando  a  impressão de que eles estão impedindo 
a  sua  partida,  o  terapeuta pergunta ao cliente imediatamente: O que aconteceu na família de 
origem  da  mãe  que  possa  esclarecer  esta  atração  por  partir. Então ele procura, em primeiro 
lugar,  um  alívio  e  solução  para  a  mãe  antes  de  continuar  a  trabalhar  com  os  outros 
representantes.  
O  terapeuta  desenvolve,  portanto,  os  próximos  passos  a  partir  da  colocação  inicial  e  busca 
informações  adicionais  do  cliente  para  o  próximo  passo,  sem  fazer ou perguntar nada além 
do  que  ele  precise  para  este  passo.  Com  isso  a  constelação  mantém  a  concentração  no 
essencial  e  a  sua  especial  densidade  e  tensão.  Cada  passo  desnecessário,  cada  pergunta 
desnecessária,  cada  pessoa  adicional  que  não  seja  necessária  para  a  solução  diminui  a 
tensão e desvia a atenção das pessoas e dos acontecimentos importantes. 
Constelações familiares densas  
Freqüentemente  é  suficiente  colocar  somente  dois  representantes,  por  exemplo,  a  mãe  e  o 
filho  com  aids.  O  terapeuta  nem  precisa  então  dar  maiores  instruções.  Deixa  os 
representantes  seguir  os movimentos que resultam do campo de forças entre eles, entretanto 
sem  nada  dizer.  Assim  ocorre  um  drama  mudo,  no  qual  vem  à  luz  não  somente  os 
sentimentos  das  pessoas  participantes  mas  também  emerge  um  movimento  que  mostra 
quais os passos que são possíveis ou adequados para ambos. 
O espaço  
Aqui  se  apresenta  o  mais  surpreendente  efeito  da  postura  fenomenológica  e  sua  forma  de 
procedimento.  A  contenção  centrada  do  terapeuta  e  do  grupo  participante  cria  o  espaço  no 
qual  relacionamentos  e  emaranhamentos  vêm  à  tona.  Eles  se  movimentam  em  direção  à 
uma  solução  dando  a  impressão  de  que  os  representantes  são  movidos  por  uma  força 
poderosa exterior. 


 
Esta  força  serve­se  deles  e  deixa  parecer  muitas  das  usuais  suposições  psicológicas  e 
filosóficas insuficientes e falhas. 
A participação  
Em  primeiro  lugar  vê­se  que  existe  obviamente  um  conhecimento  através  da  participação. 
Os representantes comportam­se e se sentem como as pessoas que representam embora nem 
eles  nem  o  terapeuta  possuam  informações  prévias  que  vão  além  dos  fatores  e 
acontecimentos  externos  mencionados  anteriormente.  Muitas  vezes  o  cliente  fica 
estupefado  que  os  representantes  expressam  as  mesmas  coisas  que  conhece  das  pessoas 
reais  ou  que  mostram  os  mesmos  sentimentos e sintomas que as pessoas reais têm. Por isso 
pode­se  concluir  que  os  membros  reais  da  família  também  possuem  este  conhecimento 
através da participação de modo que nada de significativo permanece oculto à sua alma. 
Há  pouco  tempo  uma  conhecida  de  uma  mulher  relatou  que  o seu pai era judeu e que tinha 
ocultado  este  fato  de  seus  filhos,  batizando­se.  Ela  tomara  conhecimento  disto pouco antes 
de  sua  morte.  Nesta  oportunidade  soube  também  que  o  pai  tinha  ainda  duas  irmãs  que 
haviam  morrido  em  um  campo  de  concentração.  Esta  mulher tivera muitas profissões, uma 
atrás  da  outra.  Primeiro  tinha  sido  uma  camponesa,  depois  foi  restauradora  de  velhos 
móveis  antes  de  escolher  a  sua  atual  profissão  de  terapeuta.  Quando então pesquisou sobre 
as  circunstâncias  da  vida  de  suas  duas  tias  mortas  veio  à  tona  que  uma  delas  administrara 
uma  fazenda  e  a  outra  uma  loja  de  antigüidades.  Sem  ter conhecimento disto tinha seguido 
as duas através de suas profissões, ligando­se desse modo a elas. 
O campo de forças  
O  esclarecimento  para  isso  permanece  um  mistério.  Rupert  Sheldrake provou através de 
observações  e  muitas  experiências que cães demonstram através de seu comportamento que 
sentem  imediatamente  quando  seu  dono  ou  dona  que  estão  ausentes  se põem a caminho de 
casa  e  que  percebem  imediatamente  quando  este caminho é interrompido. Sentem também, 
algumas  vezes,  através  dos  continentes.  Portanto,  deve  existir  um  campo  de  forças  através 
do qual ambos estão diretamente ligados. 
Os mortos  
Nas  constelações  familiares  torna­se  ainda  mais  evidente  através  do  comportamento  dos 
representantes  e  com  isso,  naturalmente,  através  do  comportamento  e  dos  destinos  dos 
membros  reais  da  família  que  eles  estão  ligados  às  pessoas  que  já  faleceram  há  muito 
tempo.  Como  poder­se­ia  de  outra  forma  ser  esclarecido  que  numa  família,  durante  os 
últimos  100  anos,  três  homens  de  várias  gerações  tenham  se  suicidado  com  27  anos  de 
idade  no  dia  31  de  dezembro  e  pesquisas  revelaram  que  o  primeiro  marido da bisavó tinha 
falecido  com  27  anos  no  dia  31  de  dezembro  e  tinha  sido  provavelmente  envenenado  pela 
bisavó e seu segundo marido? 
A alma  
Aqui  atua  mais  do  que  um  campo  de  forças.  Aqui  atua  uma  alma  comum  que  liga  não 
somente  os  vivos  mas  também  os  membros  falecidos  da família. Esta alma abarca somente 
certos  membros  familiares  e  nós  podemos  ver  pelo  alcance  de  sua  atuação  quais  os 
membros da família que foram por ela abrangidos e tomados a seu serviço. 
Começando pelos descendentes são os seguintes: 
1. os filhos, inclusive os natimortos e os falecidos,  
2. os pais e seus irmãos,  
3. os avós,  

 
4. algumas  vezes  ainda  um  ou  outro  avô  ou  avó  e  também  ancestrais  que  estão  ainda 
mais longe  
5. todos  ­  e  isto  é  especialmente  significativo  ­  aqueles  que  deram  lugar  para  a 
vantagem  dos  membros  mencionados  anteriormente,  principalmente  parceiros 
anteriores  dos  pais ou avós, e todos aqueles que através de sua infelicidade ou morte 
a família teve vantagem ou lucro.  
6. as vítimas de violência ou morte causadas por membros anteriores dessa família.  
Sobre  os  dois  últimos  grupos  mencionados  gostaria  de  comunicar  o  que  experiências 
recentes  trouxeram  à  luz.  Nas  colocações  das  constelações  familiares  de  descendentes  de 
pessoas  que  acumularam  uma  grande  riqueza,  chamou­me  a  atenção  que  netos  e  bisnetos 
têm  tido  destinos  terríveis  que  não  podem  ser  entendidos  somente  pelos  acontecimentos 
dentro da família. 
Somente  depois  que  as  vítimas  cuja  morte  ou  infelicidade  havia  sido  o  preço  para  esta 
riqueza  foram  colocadas  na  constelação  veio  à  tona  a  extensão  da  atuação  dos  destinos 
destas  pessoas  na  família.  Exemplos  para  estes  casos:  trabalhadores  que  morreram  na 
construção  de  ferrovias  ou  sondagens  de  petróleo,  cuja  contribuição  para  a  riqueza  e 
bem­estar  dos  industriais  não tinha sido reconhecida e valorizada. Em muitas colocações de 
descendentes  de  assassinos,  por  exemplo,  agressores  nazistas  do  3°  Reich  pôde­se  ver  que 
os  netos  e  bisnetos  queriam  se  deitar  junto  às  vítimas  e  com  isso  corriam  extremo  risco de 
se suicidar.  
A solução para ambos os grupos era a mesma. As vítimas devem ser vistas e respeitadas por 
todos  os  membros  da  família.  Todos  devem  reverenciá­las,  inclinando­se  diante  delas, 
sentir  tristeza  e  chorar  por  elas.  Depois  disso,  os  ganhadores  e  agressores  originais  devem 
se  deitar  ao  lado  das  vítimas  e  os  outros  membros  da  família  devem  deixá­los aí. Só assim 
os  descendentes  ficam  livres.  Aqui  fica  evidente  que  os  membros da família se comportam 
como  se  tivessem  uma  alma  comum  e  como  se  fossem  chamados  a  serviço  por  uma 
instância  comum  preordenada  e  como  se esta instância servisse uma certa ordem e seguisse 
um certo objetivo. 
O amor  
Em  primeiro  lugar  podemos  ver que a alma liga os membros da família uns aos outros. Isso 
vai  tão  longe  que  a  alma  de  uma criança anseia seguir na morte o pai que morreu cedo ou a 
mãe  que  morreu  cedo.  Pais  ou  avós  também  desejam  às  vezes  seguir  na  morte  um(a) 
filho(a)  ou  um(a)  neto(a).  Podemos  observar  esse  anseio  também  entre  parceiros.  Se  um 
deles morre o outro freqüentemente também não quer mais viver. 
O equilíbrio  
Em  segundo  lugar,  podemos  ver  que  existe  em  uma  família  uma  necessidade  de  equilíbrio 
entre  o  ganho  e  a  perda  que  abarca  várias  gerações.  Isto  é,  os  que  ganharam  às  custas  de 
outros  pagam  com  uma  perda  compensando  assim  o  que  ganhou.  Ou,  se  no  caso  dos 
ganhadores  se  tratarem  de  agressores,  geralmente  não  são  eles  que  pagam,  senão  os  seus 
descendentes.  Estes  são  escolhidos  pela  alma  da  família  para  compensar  no  lugar  de  seus 
antecedentes, freqüentemente sem que tenham consciência disso. 
A precedência dos antecedentes  
A  alma  da  família,  portanto,  dá  preferência  aos  antecedentes  em  relação  aos  descendentes, 
sendo  este  o  terceiro  movimento  ou  a  ordem  que  a alma da família segue. Um descendente 
ou  está  disposto  a  morrer  por  um  antepassado  se  achar  que  com  isso  pode  evitar  a  morte 
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dele  ou  está  disposto  a  expiar  a  culpa  pendente  de  um  membro  familiar  anterior.  Ou  uma 
filha  representa  a  mulher  anterior  de seu pai e se comporta em relação ao pai como se fosse 
a  sua  parceira  e  como  rival  em  relação  à  mãe.  Se  a  mulher  anterior  foi  injustiçada, então a 
filha apresenta os sentimentos dessa mulher perante os pais. 
A totalidade  
Aqui  podemos  ver  também o quarto movimento e a ordem que a alma da família segue. Ele 
vela  para  que  a  família  esteja  completa  e  restaura  a  sua  totalidade  com  o  auxílio  de 
descendentes  para  representar  os  que  foram  esquecidos,  rejeitados  ou  excluídos.  Resumi 
aqui,  de  modo  sucinto, os movimentos da alma da família, as leis e as ordens que ela segue. 
Eu  os  descrevo  minuciosamente  em  meu  livro  "  Die  Mitte  fühlt sich leicht an" ("No centro 
sentimos  com  leveza")  nos  capítulos  "Culpa  e  Inocência  em  Sistemas",  "Os  Limites  da 
Consciência"  e  "Corpo  e  Alma,  Vida  e  Morte"  assim  como  em  meu  livro  "Ordnungen  der 
Liebe"  ("As  Ordens  do  Amor")  no  capítulo  "Do  Céu  que  provoca  Doenças  e  da  Terra  que 
cura". 
As soluções  
As questões são as seguintes: 
Como o terapeuta encontra uma solução para o cliente? 
O que é aqui o procedimento fenomenológico?  
Ele  vai  do  próximo  ao  distante  e  do estreito ao amplo. Isto é, em vez de olhar somente para 
o  cliente  o  terapeuta  olha  para  a  sua família e, em vez de olhar somente para o cliente e sua 
família  ele  olha para além deles, para um campo de forças e para a alma que os abarca. Pois 
é  evidente  que  o  indivíduo  e  sua  família  estão  integrados  em  um  campo  de  forças  maior  e 
em uma grande alma e são usados e tomados a seu serviço. 
Da  mesma  forma  que  o  reconhecimento  do  problema  e  as  soluções  possíveis  só  surgem 
freqüentemente  através  da  ligação  com  algo  maior.  Por  isso  se  quero  ajudar  a  alma  do 
cliente eu a vejo governada pela alma da família. Mas se olhar aqui somente para o cliente e 
sua  família,  reconheço,  talvez  ,  as  ordens  e  leis  que  levam  a  emaranhamentos.  Entretanto, 
somente  apreendo  onde  estão  as  soluções  se  encontro  um  acesso  ao  campo  de  forças  e 
dimensões da alma que ultrapassam o indivíduo e a sua família. 
Não podemos influenciar estas dimensões da alma. Nós podemos somente nos abrir. Porque 
quando  se  tratar  de  algo  decisivo,  a  compreensão  das  imagens,  frases  e  passos  que 
solucionam  e  curam  nos  será  presenteada  por  esta  alma. O terapeuta abre­se para a atuação 
desta  grande  alma  através  do  recolhimento  total  de  suas  intenções  e  sua  consideração  pelo 
que  ele  talvez  receie,  inclusive  o  receio  de  fracassar.  Então  surge  repentinamente  uma 
imagem  ou  uma  palavra  ou uma frase que lhe possibilita dar o próximo passo. No entanto é 
sempre um passo no escuro. 
Apenas  no  final  é  que  se  releva  se  foi  o  passo  certo  que  inverte  a  necessidade.  Através  da 
postura  fenomenológica  entramos,  portanto,  em  contato  com  estas  dimensões da alma. Isto 
é,  mais  através  da  não­ação  centrada  do  que  através  da  ação.  Através  de  sua  presença 
centrada o terapeuta ajuda também o cliente a adquirir esta postura, a compreensão e a força 
que  daí  advêm.  Muitas  vezes  o  cliente  não  agüenta  esta  compreensão  e  se  fecha  a  ela 
novamente.  O  terapeuta  também  concorda  com  isso,  através de seu recolhimento. Também 
aqui  ele  não  se  deixa  envolver  nem  através  de  uma  reivindicação  interna  nem  externa  no 
destino do cliente e de sua família. 

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Pode  parecer  duro,  mas  o  resultado  da  experiência  mostra  que  cada  compreensão  que  foi 
presenteada  desta  forma  é  incompleta  e  temporária,  tanto  para  o  terapeuta  quanto  para  o 
cliente. 
Retorno,  no  final,  ao  começo"  à  diferença entre o caminho do conhecimento científico e do 
fenomenológico. Eu a sintetizei num poema já há alguns anos atrás. Ele se chama: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palestra de Bert Hellinger em São Paulo, em agosto de 1999 
Para que o Amor dê Certo 

  Sumário 

   Ordem e amor (poema) 

   Tomar a vida 

   E algo que é próprio  

   O mesmo (poema) 

   Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão 

   O tamanho de criança 

   Receber e exigir 

   A equiparação 

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   O grupo familiar 

   O direito de pertencer 

   Os excluídos são representados 

   A solução 

   A imagem mágica do mundo e suas conseqüências 

   Homens e Mulheres 

   O vínculo 

   A ordem de precedência 

   Dois modos de ser feliz (uma história) 
  
Sumário   
Muita  gente  julga  que  o  amor  tem  o  poder  de  superar  tudo,  que  é  preciso  apenas  amar 
bastante  e  tudo  ficará  bem.  Contudo,  a  experiência  mostra  que  isto  não  é  verdade.  Muitos 
pais  são  forçados  a  experimentar  que,  apesar  do  amor  que  dão  a  seus  filhos,  estes  não  se 
desenvolvem  como  eles  esperavam.  São  forçados  a ver seus filhos adoecerem, se drogarem 
ou  suicidarem,  apesar  de  todo  o  amor que lhes dão. Para que o amor dê certo, é preciso que 
exista  alguma  outra  coisa  ao  lado  dele.  É  necessário  que  haja  o  conhecimento  e  o 
reconhecimento de uma ordem oculta do amor. 
 
Ordem e amor  
O amor preenche o que a ordem abarca. 
O amor é a água, a ordem é o jarro. 
A ordem ajunta, 
o amor flui. 
Ordem e amor atuam juntos. 
Como uma linda canção obedece às harmonias, 
assim o amor obedece à ordem. 
Assim como o ouvido dificilmente se acostuma 
às dissonâncias, mesmo quando são explicadas, 
assim também nossa alma dificilmente se acostuma 
ao amor sem ordem. 
Muita gente trata essa ordem 
como se ela fosse uma opinião 
que se pode ter ou mudar à vontade. 
Contudo, ela nos preexiste. 

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Ela atua, mesmo que não a entendamos. 
Não é inventada, mas encontrada. 
É por seus efeitos que a descobrimos, 
Como descobrimos o sentido e a alma. 
Muitas  dessas  ordens  são  ocultas.  Não  podemos  sondá­las.  Elas  atuam  nas  profundezas  da 
alma,  e  freqüentemente  as  encobrimos  com  pensamentos,  objeções,  desejos  e  medos.  É 
preciso tocar no fundo da alma para vivenciar as ordens do amor. 
Tomar a vida  
Direi  primeiro  alguma  coisa  sobre as ordens do amor entre pais e filhos e, do ponto de vista 
da  criança,  isto  é,  do  filho  para  com  seus  pais.  Aqui  menciono  algumas  verdades  banais. 
Elas  são  tão  óbvias  que  eu  quase  me  envergonho  de  citá­las.  Não  obstante,  são 
freqüentemente esquecidas. 
O  primeiro  ponto  é  que  os  pais,  ao  darem  a  vida,  dão  à  criança,  nesse  mais  profundo  ato 
humano,  tudo  o  que  possuem.  A  isso  eles  nada  podem  acrescentar, disso nada podem tirar. 
Na  consumação  do  amor,  o  pai  e  a  mãe  entregam  a  totalidade  do  que  possuem.  Pertence 
portanto  à  ordem  do  amor  que  o  filho  tome  a  vida  tal  como  a  recebe  de  seus  pais.  Dela,  o 
filho  nada  pode  excluir,  nem  desejar  que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar. 
O  filho  é  os  seus  pais.  Portanto,  pertence  à  ordem  do  amor  para  um  filho,  em  primeiro 
lugar,  que  ele  diga  sim  a  seus  pais  como  eles  são  ­­  sem  qualquer  outro  desejo  e  sem 
nenhum  medo.  Só  assim  cada  um  recebe  a  vida:  através  dos  seus  pais, da forma como eles 
são. 
Esse  ato  de  tomar  a  vida  é  uma  realização  muito  profunda.  Ele  consiste  em assumir minha 
vida  e  meu  destino,  tal  como  me  foi  dado através de meus pais. Com os limites que me são 
impostos.  Com  as  possibilidades  que  me  são  concedidas.  Com  o  emaranhamento  nos 
destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for. 
Essa  aceitação  da  vida  é  um  ato  religioso.  É  um  ato  de  despojamento,  uma  renúncia  a 
qualquer  exigência  que  ultrapasse  o  que  me  foi  transmitido  através  de  meus  pais.  Essa 
aceitação  vai  muito  além  dos  pais.  Por  esta  razão,  não  posso,  nesse  ato,  considerar  apenas 
os meus pais. Preciso olhar para além deles, para o espaço distante de onde se origina a vida 
e me curvar diante de seu mistério. No ato de tomar os meus pais, digo sim a esse mistério e 
me ajusto a ele. 
O  efeito  desse  ato  pode  ser  comprovado  na  própria  alma.  Imaginem­se  curvando­se 
profundamente  diante  de seus pais e dizendo­lhes:"Eu tomo esta vida pelo preço que custou 
a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe pertence, com seus limites 
e  oportunidades".  Nesse  exato  momento,  o  coração  se  expande.  Quem  consegue  realizar 
esse ato, fica bem consigo, sente­se inteiro. 
Como  contraprova,  pode­se  igualmente  imaginar  o  efeito  da  atitude  oposta,  quando  uma 
pessoa  diz:  "Eu  gostaria  de  ter  outros  pais.  Não  os  suporto  como  eles  são."  Que 
atrevimento!  Quem  fala  assim,  sente­se  vazio  e  pobre,  não  pode  estar  em  paz  consigo 
mesmo. 
Algumas  pessoas  acreditam  que,  se  aceitarem  plenamente  seus  pais,  algo  de  mau  poderá 
infiltrar­se  nelas.  Assim,  não  se  expõem  à  totalidade  da  vida.  Com  isto,  contudo,  perdem 
também  o  que  é  bom.  Quem  assume  seus  pais,  como  eles  são,  assume  a  plenitude da vida, 
como ela é. 
E algo que é próprio   

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Mas  aqui  existe  ainda  um  mistério  que  não  posso  justificar.  Com  efeito,  cada  um 
experimenta  que  também  tem  em  si  algo  de  único,  algo  que  é  inteiramente  próprio, 
irrepetível,  e  não  pode  ser  derivado  de seus pais. Isso também ele precisa assumir. Pode ser 
algo de leve ou de pesado, algo de bom ou de mau. Isto não podemos julgar. 
A  pessoa  que  encara  o  mundo  e  sua  própria  vida  com  olhos  desimpedidos  pode  ver  que 
tudo  o  que  ela  faz  obedece  a  uma  ordem.  Tudo  o  que  ela  faz  ou  deixa  de fazer, tudo o que 
ela  apoia  ou  combate,  ela  o  realiza  porque  foi  encarregada  de  um  serviço  que  ela  própria 
não  entende.  Aquele  que  se  entrega  a  tal  serviço,  experimenta­o  como uma tarefa ou como 
um  chamado,  que não se baseia nos próprios méritos nem na própria culpa (quando for algo 
de pesado ou cruel). Ele foi simplesmente tomado a serviço. 
Quando contemplamos o mundo desta maneira, cessam as diferenças 
habituais.  
Falei  até  aqui  sobre  a  ordem  fundamental  da  vida.  Foi­nos  concedido termos pais e sermos 
filhos. E temos também algo de próprio. 
Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão   
Na  verdade,  os  pais  não  dão  aos  filhos  apenas  a  vida.  Eles  nos  dão  também  outras  coisas: 
alimentam­nos,  educam­nos,  cuidam  de  nós  e  assim  por  diante.  Convém  à  criança  que  ela 
tome  tudo  isso,  da  forma  como  o  recebe. Quando a criança o aceita de bom grado, costuma 
bastar.  Existem  exceções,  que  todos  conhecemos,  mas  via  de  regra  é  suficiente.  Pode  não 
ser sempre o que desejamos, mas é o bastante. 
Nesse  particular,  pertence  à  ordem  que  o  filho diga a seus pais: "Eu recebi muito. Sei que é 
muito,  é  o  bastante.  Eu  o  tomo  com  amor".  Então  ele  se  sente  pleno  e  rico,  seja  qual  for  a 
situação.  Então  ele  acrescenta:  "o  resto,  eu  mesmo  faço".  Isto  também  é  um  belo 
pensamento.  Finalmente, o filho ainda pode dizer aos pais: "E agora eu os deixo em paz". O 
efeito  destas  frases  vai  muito fundo: agora o filho tem seus pais e os pais têm o filho. Pais e 
filho  estão  simultaneamente  separados  e  felizes.  Os  pais  concluíram  sua  obra  e  a  criança 
está livre para viver sua vida, com respeito pelos seus pais mas sem dependência. 
Imaginem  agora  a  situação  contrária,  quando  o  filho  diz  aos  pais:  "O  que  vocês  me  deram 
foi  errado  e  foi  muito  pouco.  Vocês  ainda  estão  me  devendo  muito".  O  que  esse  filho  tem 
de  seus  pais?  Nada.  E  o  que  têm  dele  os  pais?  Igualmente  nada.  Esse  filho  não  consegue 
soltar­se  de seus pais. Sua censura e sua reivindicação o vinculam a eles, mas de uma forma 
tal que ele não os tem. Ele se sente vazio, pequeno e fraco. 
Esta seria a segunda lei do amor entre filhos e pais. 
O tamanho de criança   
Existe  algo  que  os  pais  adquirem  por  mérito  pessoal.  Se  a  mãe,  por  exemplo, tem um dom 
especial  ­  suponhamos  que  ela  seja  pintora  e  pinte  quadros  maravilhosos  ­  então  isso 
pertence  a  ela  e  não  ao  filho.  Este  não  pode  reivindicar  ser  também  um  bom  pintor,  a  não 
ser que o tenha merecido por dotação própria e dedicação pessoal. 
A  mesma  coisa  vale  para  a  riqueza  dos  pais.  O  filho  não  tem  o  direito  de  reivindicá­la, 
como é o caso da herança. O que ele vier a receber será puro presente. 
Isto  vale  ainda  para  a  culpa  pessoal  dos  pais. Também esta pertence exclusivamente a eles. 
Com  freqüência,  uma  criança  presume,  por  amor,  tomar  sobre  si  essa  culpa,  carregá­la  em 
nome  dos  pais.  Também isto vai contra a ordem. A criança se arroga um direito que não lhe 
compete.  Quando os filhos querem expiar pelos pais, estão se julgando superiores a eles. Os 

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pais  passam  a  ser tratados como crianças, cuidadas por seus próprios filhos, que assumem o 
papel de pais. 
Uma  senhora,  que  recentemente participou de um grupo meu, tinha um pai cego e uma mãe 
surda.  Os  dois  se  completavam  bem,  mas  a  filha  achava  que  devia  cuidar  deles.  Quando 
montei  a  constelação  de  sua  família,  ela  se  comportou  como  se  fosse  ela  a  pessoa  grande. 
Porém  sua  mãe  lhe  disse:  "Esse  assunto  com  seu  pai eu resolvo sozinha". E o pai lhe disse: 
"Esse  assunto  com  sua  mãe  eu resolvo sozinho. Não precisamos de você para isso". Aquela 
senhora ficou muito desapontada, porque foi reduzida ao seu tamanho de criança. 
Na  noite  seguinte,  ela  não  conseguiu  dormir.  Aliás,  ela  sentia  uma  grande dificuldade para 
adormecer.  Perguntou­me  se  eu  podia  ajudá­la.  Respondi:  "Quem  não  consegue  dormir 
talvez  esteja  pensando  que  precisa  vigiar".  Contei­lhe  então  a  história  de  Borchert  sobre  o 
menino  de  Berlim  que,  no  fim  da  guerra,  tomava  conta  de  seu  irmão  morto,  para  que  os 
ratos  não  o  comessem.  O  menino  estava  esgotado,  porque achava que devia ficar vigiando. 
Nisto,  passou  por  ali  um  senhor  simpático  que  lhe  disse: "Mas os ratos dormem à noite". E 
a criança adormeceu. 
Na noite seguinte, aquela senhora dormiu melhor. 
Portanto,  a  ordem  do amor entre filhos e pais estabelece, em terceiro lugar, que respeitemos 
o que pertence pessoalmente a nossos pais e o que eles podem e devem fazer sozinhos. 
Receber e exigir  
A  ordem  do  amor  entre  pais  e  filhos  envolve  ainda  um  quarto  elemento.  Os  pais  são 
grandes,  os  filhos  pequenos.  Assim,  o  certo  é  que  os  pais  dêem  e  os  filhos  recebam.  Pelo 
fato  de  receber  tanto,  o filho sente a necessidade de pagar. Dificilmente suportamos quando 
recebemos  algo  sem  dar  algo  em  troca.  Mas,  em  relação  a  nossos  pais,  nunca  podemos 
compensar. Eles sempre nos dão muito mais do que podemos retribuir. 
Alguns  filhos  querem  escapar  da  pressão  de  retribuir  e  dos sentimentos de obrigação ou de 
culpa.  Eles  dizem  então:  "Prefiro  nada  receber,  assim  não  sinto  obrigação  nem  culpa". 
Esses  filhos  se  fecham  para  seus  pais  e,  nessa  mesma  medida,  sentem­se  pobres  e  vazios. 
Pertence  à  ordem  do  amor  que  os  filhos  digam:  "Eu  recebo  tudo  com  amor".  Assim,  eles 
irradiam  contentamento  para  os  pais,  e  estes percebem a felicidade deles. Esta é uma forma 
de  receber  que  é  simultaneamente  uma  compensação,  porque  os pais se sentem respeitados 
por esse receber com amor. Eles dão, então, com um prazer ainda maior. 
Quando, porém, os filhos dizem: "Vocês têm que me dar mais", o coração dos pais se fecha. 
Por  causa  da  exigência  do filho, eles não podem mais cumulá­lo de amor. Este é o efeito de 
tais  reivindicações.  Esse  filho,  por  sua  vez,  mesmo  quando  recebe  alguma  coisa,  não 
consegue tomar o que exigiu. 
A equiparação   
A  verdadeira  equiparação  entre  o  dar  e  o  tomar  na  família  consiste  em  passar  adiante  o 
dom.  Quando  a  criança  diz:  "Eu  tomo  tudo,  e  quando  eu  crescer,  eu  darei  por  minha  vez", 
os  pais  ficam  felizes.  A  criança,  no  seu  dar,  não  olha  para  trás,  mas  para  a  frente.  Os  pais 
fizeram  o  mesmo.  Eles  receberam  de  seus  pais  e  deram  a  seus  filhos.  Justamente  pelo fato 
de terem recebido tanto, sentem­se pressionados a dar, e podem igualmente fazê­lo. 
Até aqui, falei das ordens do amor entre filhos e pais. 
O grupo familiar  
Entretanto,  nossa  vinculação  não  se  limita  aos  pais.  Pertencemos  também  a  um  grupo 
familiar,  a  uma  estirpe,  um  sistema  maior.  O  grupo  familiar  se  comporta  como  se  fosse 

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dirigido  por  uma  instância comum e superior. Ele é comparável a um bando de pássaros em 
formação.  De  repente,  todos  mudam  a  direção  do  vôo,  como  se  tivessem sido movidos por 
uma força superior comum. 
No  grupo  familiar,  essa  instância  superior  atua  quase  como  um  comando  (Gewissen) 
interior  partilhado  por  todos,  e  que  atua de modo amplamente inconsciente. Reconhecemos 
as  ordens  a  que  obedece  pelos  bons  efeitos  de  sua  observância  e  pelos  maus  efeitos de sua 
violação. 
Quero  citar,  para  começar,  o  círculo  de  pessoas  que  são  abarcadas  e  dirigidas  por  esse 
comando  interior  (Gewissen),  cuja  amplitude  podemos  reconhecer  por  seus  efeitos.  Estão 
nele incluídos: 
● Todos os filhos, inclusive os que morreram ou foram abortados;  
● Os pais e todos os seus irmãos;  
● Os avós;  
● Eventualmente,  algum  bisavô  ou  até  mesmo  um  antepassado  ainda  mais  distante, 
principalmente se teve um destino mau.  
● Incluem­se  ainda  pessoas  sem  relação  de  parentesco,  a  saber, aquelas de cuja morte 
ou  infelicidade  pessoas  da  família  se  beneficiaram,  como  são, por exemplo, antigos 
parceiros dos pais e dos avós.  
O direito de pertencer  
No  interior  de  cada  grupo familiar, vale a ordem básica, a lei fundamental: todas as pessoas 
do  grupo  familiar  possuem  o  mesmo  direito  de  pertencer.  Em  muitas  famílias  e  grupo 
familiares,  determinados  membros  são  excluídos.  Alguns  dizem,  por  exemplo:  "Esse  tio 
não  vale  nada,  ele  não  pertence  a  nós",  ou  então:  "Dessa  criança  ilegítima  nada  queremos 
saber". Com isso, recusam a essas pessoas o direito de pertencer. 
Existem  também  os  que  dizem:  "Sou  católico,  você  é  evangélico.  Como  católico,  tenho 
mais  direito  de  pertencer  que  você".  Ou  inversamente:  "Como  protestante,  tenho  mais 
direito,  porque  minha  fé  é  mais  verdadeira.  Você  é  menos  crente  do  que  eu,  portanto  tem 
menos  direito  de  pertencer".  Isto  não  é  hoje  tão  freqüente  como  antigamente,  mas  ainda 
acontece. 
Ocorre  ainda,  quando  um  filho  morre prematuramente, que seus pais dão seu nome ao filho 
seguinte.  Com  isto,  estão  dizendo  ao  primeiro:  "Você  não  pertence  à  família.  Temos  um 
substituto  para  você".  Assim  o  filho  morto  não  conserva  nem  mesmo  o  seu  próprio  nome. 
Com  freqüência,  não  é  mais  contado  nem  mencionado.  Assim  lhe  é  negado  e  retirado  o 
direito de pertencer. 
O  excesso  de  moral  de  alguns,  que  se  sentem  melhores  e  superiores  a  outros,  na  prática 
significa  dizer­lhes:  "Tenho  mais  direito  de  pertencer  que  você".  Ou,  quando  alguém 
condena  uma  pessoa  ou  a  considera  má,  praticamente  está  lhe  dizendo:  "Você  tem  menos 
direito  de  pertencer  do  que  eu".  "Bom"  significa  então:  "Tenho  mais  direitos",  e  "mau" 
significa: "Você tem menos direitos". 
Os excluídos são representados  
Essa  lei  fundamental,  que  assegura  a  todos  o  mesmo  direito  de  pertencer,  não  tolera 
nenhuma  violação.  Quando  isso  acontece,  existe  no  sistema  uma  necessidade  inconsciente 
de  compensação,  que  faz  com  que  os  excluídos  ou  desprezados  sejam  mais  tarde 
representados  por  algum  outro  membro  da  família,  sem  que  essa  pessoa  tenha  consciência 

17 
 
do fato. 
Quando,  por  exemplo,  um  homem  casado  se  relaciona  com  outra  mulher  e  diz  à  própria 
esposa:  "Não  quero  mais  saber  de  você",  inventando  falsas  razões  e  cometendo  injustiça 
contra  ela,  e  depois  se  casa  com  a  segunda  mulher  e  tem  filhos  com  ela,  sua  primeira 
mulher  será  representada  por  um  desses  filhos. Uma menina, por exemplo, combaterá o pai 
com  o  mesmo  ódio  da  parceira  rejeitada,  sem  que  tenha  a  menor  consciência  dessa 
representação.  Aqui  atua  uma  força  secreta  de  compensação,  para  que  a  injustiça  feita  à 
primeira pessoa seja vingada por uma segunda. 
Muitos  acontecimentos  infelizes  na  família  como,  por  exemplo, desvios de comportamento 
dos  filhos,  doenças,  acidentes  e  suicídios  acontecem  pelo  fato  de  que  um  filho 
inconscientemente  representa  um  excluído  e  quer  dar­lhe  reconhecimento.  Nisso  se  revela 
ainda  uma  outra  propriedade  da  instância  superior.  Ela  faz  reinar  justiça  para  com  aqueles 
que vieram antes e injustiça para os que vêm depois. 
A solução  
A  solução  de  um  tal  emaranhamento  torna­se  possível  quando  a  ordem  básica  é 
restabelecida,  isto  é,  quando  os  excluídos  voltam  a  ser  acolhidos  e respeitados. Neste caso, 
por  exemplo,  a  segunda  mulher  deveria  dizer  à  primeira:  "Eu  tenho  este  homem  às  suas 
custas.  Eu  honro  isto  e  reconheço  que  foi  feita  injustiça  a  você.  Por  favor,  queira  bem  a 
mim  e  a  meus  filhos".  Desta  forma,  a  primeira  mulher  é  respeitada.  Nas  constelações 
familiares,  pode­se  perceber  então  como  se  relaxa  o  rosto  da  primeira  mulher,  como ela se 
torna  amigável  pelo  fato  de  ser  respeitada.  Com  isso,  é  reconhecido  o  seu  direito  de 
pertencer. 
A  solução  exige  também  que  a  menina,  que  imita  essa  mulher,  lhe  diga interiormente: "Eu 
pertenço  apenas  à  minha  mãe  e  ao  meu  pai.  Aquilo  que  se  passou  entre  vocês  adultos  não 
tem  nada  a  ver  comigo".  Ela  diz  a  seu  pai:  "Você  é  meu  pai,  e  eu  sou  sua  filha. Por favor, 
olhe­me  como  sua  filha".  Então  o  pai  não  precisa  mais  ver nela sua ex­mulher, não precisa 
mais  defrontar­se  com  o  ódio  ou  a  tristeza  que  ela  possa  ter.  Ou,  se  ele  ainda  a  ama,  não 
precisa ver a criança como sua amante, mas apenas como sua filha. Então a criança pode ser 
a filha, e o pai pode ser o pai. 
A  criança precisa também dizer ao pai: "Esta aqui é a minha mãe. Com sua primeira mulher 
não  tenho  nada  a  ver.  Eu  tomo  esta  como minha mãe. Esta é para mim a certa". E então ela 
precisa  dizer  à  mãe:  "Com  a  outra  mulher  eu  nada  tenho  a  ver".  De  outra  forma,  essa 
criança  se  tornará  uma  rival  da  mãe,  e  não  poderá  ser  filha.  Talvez  a  mãe  veja  nela 
inconscientemente  a  outra  mulher,  e  então  mãe  e  filha  entram  em  conflito  como se fossem 
duas  amantes  rivais.  Mas  quando  a  criança  diz:  "Você é minha mãe e eu sou sua filha, com 
a  outra  não  tenho  nada  a  ver.  Eu  tomo  você  como  minha  mãe",  então  a  ordem  é 
restabelecida. 
Existem  contudo  emaranhamentos  bem  mais  complicados.  Quando,  por  exemplo,  numa 
família,  um  filho  morre prematuramente, os filhos sobreviventes carregam muitas vezes um 
sentimento  de  culpa  pelo  fato  de  estarem  vivos,  enquanto  seu  irmão está morto. Acreditam 
que,  por  estarem  vivos,  possuem  uma  vantagem  sobre  o  irmão falecido. Então eles querem 
compensar  isto,  por  exemplo,  deixando­se  ficar  mal,  adoecendo  ou  mesmo  desejando 
morrer, sem que saibam por quê. 
Aqui  pertence  à ordem do amor que eles digam interiormente ao irmão morto: "Você é meu 
irmão  (minha  irmã).  Eu  respeito  você  como  meu  irmão  (minha  irmã).  Você  tem  um  lugar 

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em  meu  coração.  Eu  me  curvo  diante  do  seu  destino,  da  forma  como lhe aconteceu, e digo 
sim  ao  meu  destino,  da  forma  como  me  foi  determinado".  Então  a  criança  morta  é 
respeitada, e a outra pode permanecer viva sem sentimento de culpa. 
A imagem mágica do mundo e suas conseqüências  
Por  trás  da  necessidade  de  compensação,  que  faz  adoecer,  atua  uma  fantasia  mágica,  a 
saber,  que  eu  posso  salvar  uma  outra  pessoa  de  seu  pesado  destino,  desde  que  eu  tome 
também  algo  de  pesado  sobre  mim.  É  o  caso  da  criança  que  diz  à mãe gravemente doente: 
"Antes  eu  adoeça  do  que  você.  Antes  morra eu do que você". Ou ainda, quando a mãe quer 
abandonar a vida, um filho se suicida, para que a mãe possa ficar viva. 
Um  exemplo  disto  é  a  magreza  compulsiva.  O  anoréxico  vai  se  tornando  cada  vez  menor, 
desaparece,  por  assim  dizer,  até  a  morte.  Em  sua  alma,  essa  criança  diz  a  seu  pai  ou  a  sua 
mãe:  "Antes  desapareça  eu  do  que  você".  Aqui  atua  um  amor  profundo.  Mas  quando  a 
criança morre, qual é o efeito desse amor? Ele é totalmente inútil. 
Quando  trabalho  com  uma  pessoa  com  essa  compulsão,  faço  que  olhe nos olhos de seu pai 
ou  de sua mãe e diga: "Antes desapareça eu do que você". Quando ela os encara nos olhos a 
ponto  de  realmente os ver, ela não consegue mais dizer essa frase, porque percebe que o pai 
ou  a  mãe  não  aceitará  isto  dela.  É  que  o  amor  mágico  desconhece  o  fato  de  que  também a 
outra pessoa ama e que ela recusaria isto, independentemente da inutilidade de tal amor. 
Quando  a  mãe  morre  no  nascimento de uma criança, é muito difícil para essa criança tomar 
a  sua  vida.  Ela  precisaria  encarar  a  mãe  nos  olhos  e  dizer:  "Mamãe,  mesmo  por  este  alto 
custo  eu  tomo  esta  vida  e  faço  algo  de  bom  com  ela,  em  sua  memória.  Você  precisa  saber 
que  não foi em vão". Isto é amor, num nível mais elevado. Ele exige o abandono da fantasia 
mágica  de  poder  interferir  no  destino  de  outra  pessoa  e  mudá­lo.  Ele  exige  a  passagem  de 
um amor que faz adoecer para um amor que cura. 
A  fantasia  do  amor  mágico  está  associada  a  uma  presunção,  a  um  sentimento  de  poder  e 
superioridade.  A  criança  realmente  acha  que,  através  de  sua  doença  e  de  sua  morte,  pode 
salvar da morte outra pessoa. Renunciar a essa idéia só é possível pela humildade. 
Até aqui falei da ordem do amor na relação entre filhos e pais. 
Homens e Mulheres  
Quero  também  dizer  mais  alguma  coisa  sobre  a  ordem  do  amor  na  relação  do  casal.  Este 
tema  nos  fala  mais  de  perto.  Muitos  se  envergonham  disso, como se fosse algo que a gente 
deveria  ocultar.  Aquilo  que  diferencia  os  homens  das  mulheres,  que  realmente  os 
diferencia,  é  escondido.  Ou,  pode­se  dizer  também,  é  protegido.  Pois  é  o  lugar  onde  cada 
um  é  mais  vulnerável.  É  o  lugar  próprio  da  vergonha.  Vergonha  significa,  neste  contexto, 
que  eu  guardo  alguma coisa, para que nada de mau aconteça. E é o lugar onde nos sentimos 
mais entregues. 
Alguns  falam  depreciativamente  do  instinto sexual e esquecem que ele é a força real e mais 
profunda,  que  tudo  mantém unido e dirige, que toma cada pessoa a seu serviço, sem que ela 
possa  se  defender.  Pela  pura  razão,  ninguém  se  casaria  ou  teria  filhos.  Só  esse  instinto 
consegue  isso.  É  através  dele  que  estamos  em  sintonia  mais  profunda  com  a  alma  do 
mundo.  Esse  instinto  é  o  que  existe  de  mais  espiritual.  Todo  entendimento  e  toda 
consideração racional empalidecem diante da força que atua por detrás desse instinto. 
A  ordem  do  amor  entre  homem  e  mulher  exige  portanto,  em  primeiro  lugar,  que o homem 
admita  que lhe falta a mulher, e que ele, por si só, jamais poderá alcançar o que uma mulher 
tem.  E  exige  igualmente  que  a  mulher  admita  que  lhe  falta  o  homem,  e  que  ela,  por  si  só, 

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jamais  poderá  alcançar  o  que  o  homem  tem.  Então  ambos  se  experimentam  como 
incompletos e admitem isto. 
Quando o homem admite que precisa da mulher e que só através dela se torna um homem, e 
quando  a  mulher  admite  que  precisa  do  homem  e  só  através  dele  se  torna  uma  mulher, 
então  essa  carência  os  liga  um  ao  outro,  justamente  pelo  fato  de  a  admitirem.  Então  o 
homem  recebe  o  feminino  como  presente  da  mulher,  e  a  mulher  recebe  o  masculino  como 
presente do homem. 
Imaginem  agora  um  homem  que  desenvolve  em  si  o  feminino  e  uma  mulher  que 
desenvolve  em  si  o  masculino,  como  muitos  consideram  ideal.  Se  esse  homem  quiser  se 
ligar  a  essa  mulher,  qual  será  a  profundidade  dessa  relação?  No  fundo,  eles  não  precisam 
um  do  outro.  Inversamente,  quando  o  homem  renuncia  ao  feminino  e  a  mulher  ao 
masculino, então eles precisam um do outro e isto os mantém juntos. 
O vínculo  
Quando  o  homem  e  a mulher se aceitam mutuamente como tais, a consumação de seu amor 
cria  um  vínculo.  Esse  vinculo  é  indissolúvel.  Isto  nada  tem  a  ver  com  a  doutrina  moral  da 
Igreja  sobre  a  indissolubilidade  do  matrimônio.  A  realização  do  amor  cria  uma  ligação, 
independentemente do casamento e de qualquer rito externo. 
A  existência  de  uma  tal  ligação  é  percebida  pelos  seus  efeitos.  Por exemplo, o homem que 
se  separa  levianamente  de  uma  parceira  a  quem  estava  vinculado  dessa  forma  pela 
consumação  do  amor,  via  de  regra  não  conseguirá  conservar  uma  segunda  parceira  num 
outro  relacionamento.  Pois  esta  percebe  o  seu  vínculo  com  a  parceira  anterior,  e  não  ousa 
tomá­lo  plenamente.  Quando  um  homem  abandona  uma  mulher  e  se  casa  de  novo,  talvez 
sua  segunda  mulher  se  considere  melhor  que  a  primeira  e  diga:  "Agora  eu  o  tenho  para 
mim".  Ela  entretanto  o  perderá.  Nesse  próprio  triunfo  o  perde,  pois  reconhece  o  vínculo 
desse homem com a sua primeira mulher. 
Então  ela  não  o  assumirá  completamente.  Nas  constelações  familiares,  pode­se  perceber 
que  uma  segunda  mulher  se  distancia  um  pouco  do  homem.  Ela  não  ousa  colocar­se  perto 
dele, pelo fato de não ser sua primeira ligação, mas a segunda. 
A  profundidade  de  um  tal  vínculo  pode  ser  avaliada  pelo  seu  efeito.  A  separação  do 
primeiro  amor  é  a  mais  difícil  de  se  conseguir.  É  a  mais  dolorosa.  Quando  uma  segunda 
ligação se desfaz, a dor é menor. Numa terceira, é ainda menor. 
Essa  ligação  não  é  porém  sinônimo  de  amor.  O  amor  pode  ser  pequeno  e  o  vínculo 
profundo.  Inversamente,  o  amor  pode  ser  profundo  e  a  ligação  pequena.  O  vínculo  se 
origina  do  ato  sexual.  Por  isto,  ele também nasce de um incesto ou de um estupro. Para que 
mais  tarde  uma  nova  ligação  seja  possível,  é  preciso  que  a  primeira  seja  corretamente 
resolvida.  Ela  é  resolvida  quando  é  reconhecida  e  quando  é  honrado  o  respectivo parceiro. 
Quem amaldiçoa o primeiro vínculo impede uma ligação ulterior. 
A ordem de precedência  
O  fruto  do  amor  entre  o  homem  e  a  mulher  são  os  filhos.  Também  aqui  é  importante 
observar  uma  ordem  do  amor,  uma  ordem  de  precedência  no  amor.  Ela  se  orienta  pelo 
começo.  Isto  significa  que  o  que  vem  antes  tem,  via de regra, precedência sobre o que vem 
depois.  Numa  família,  existe  primeiro  o  casal  homem­mulher.  Seu  amor  funda  a  família. 
Por  isso,  seu  amor  como  homem  e  mulher  tem  precedência  sobre  tudo  o  que  vem  depois, 
portanto,  sobre  seu  amor  de  pais  por  seus filhos. Muitas vezes acontece nas famílias que os 
filhos  atraem  sobre  si  toda  a  atenção.  Então  os  pais  não  são  antes  de  tudo  um  casal,  mas 

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pais. Com isto os filhos não se sentem bem. 
Quando  a  relação  do  casal  tem  prioridade,  o  pai  diz  a  seu  filho:  "Em  você,  eu  respeito  e 
amo  também  a  sua  mãe".  E  a  mãe  diz  ao  filho:  "Em  você, eu respeito e amo também o seu 
pai".  E  a  mulher  diz  ao  homem:  "Em  nossos  filhos,  eu  respeito  e amo a você". E o homem 
diz  à  mulher:  "Em  nossos  filhos,  eu  respeito  e  amo  a  você".  Então  o  amor  dos  pais  é  a 
continuação do amor do casal. Este tem a prioridade. Os filhos então se sentem muito bem. 
Várias  famílias  são  segundas  e  terceiras  famílias,  quando  o  homem  e  a  mulher  já  eram 
casados  anteriormente e trouxeram filhos do matrimônio anterior. Como é então a ordem de 
precedência? 
Eles  são  primeiramente  pai  e  mãe  de  seus  próprios  filhos,  e  só depois disso constituem um 
casal.  Por  conseguinte,  seu  amor  como  casal  não  pode  continuar  nos  filhos,  pois  já  foram 
pais  anteriormente.  Então,  o  novo  parceiro  deve  reconhecer  que  o  outro  é,  em  primeiro 
lugar,  pai  ou  mãe  dos  próprios  filhos,  e  que  seu  maior  amor  e  sua  maior  força  fluem  para 
eles  e,  neles,  naturalmente,  também  para  o  parceiro  anterior.  Só então seu amor e sua força 
fluem  para  o  novo  parceiro.  Quando  ambos  os  parceiros  reconhecem  isto,  seu  amor  pode 
ser  bem  sucedido.  Quando,  porém,  um  parceiro  diz  ao  outro:  "Eu  tenho  prioridade  em  seu 
amor,  e  só  então  vêm  seus  filhos",  a  relação  fica  em  perigo.  Essa  situação  não  se  mantém 
por longo tempo. 
Se  eles  mais  tarde têm filhos em comum, então são, em primeiro lugar, pai e mãe dos filhos 
do  primeiro  casamento;  em  segundo  lugar,  são  um  casal  e,  em  terceiro  lugar,  são  pais  de 
seus  filhos  comuns.  Esta  seria  a  ordem,  neste  caso.  Quando  se  sabe  disto, pode­se resolver 
ou evitar conflitos em muitas famílias. 
Falei  até  aqui  sobre  algumas  ordens  do  amor  na  relação  entre  o  homem  e  a  mulher.  Para 
terminar, contarei a vocês uma história sobre o amor. Ela é assim: 
Dois modos de ser feliz  
Antigamente,  quando  os  deuses  ainda  pareciam  bem  próximos  dos  homens,  viviam  numa 
pequena cidade dois cantores que se chamavam Orfeu. 
Um  deles  era  o  grande.  Tinha  inventado  a  cítara,  um  tipo  primitivo  de  guitarra.  Quando 
tocava  o  instrumento  e  cantava,  toda  a  natureza  ficava  enfeitiçada  em  torno  dele.  Animais 
ferozes  se  deitavam  mansamente  a  seus  pés,  árvores  altas  se  inclinavam  para  ele:  nada 
podia  resistir  a  seus  cantos.  Pelo  fato  de  ser  tão  grande,  ele conquistou a mais bela mulher. 
E aí começou a descida. 
Enquanto  ele  ainda  festejava  o  casamento,  morreu  a  bela  Eurídice,  e  a  taça  cheia,  que  ele 
erguia  nas  mãos,  se partiu. Contudo, para o grande Orfeu, a morte ainda não foi o fim. Com 
a  ajuda  de  sua  arte  requintada,  encontrou  a  entrada  para  o  mundo  subterrâneo,  desceu  ao 
reino  das  sombras,  atravessou  o  rio  do  esquecimento, passou pelo cão dos infernos, chegou 
vivo diante do trono do deus da morte e o comoveu com seu canto. 
A  morte  liberou  Eurídice  ­­  porém  sob  uma  condição,  e  Orfeu  estava  tão  feliz  que  não 
percebeu  o  que  se  escondia  por  trás  desse  favor.  Orfeu  pôs­se  a caminho de volta, ouvindo 
atrás  de  si  os  passos  da  mulher  amada.  Passaram  ilesos  pelo  cão  de  guarda  do  inferno, 
atravessaram  o  rio  do  esquecimento,  começaram  o  caminho  para  a  luz,  que  já  viam  de 
longe.  Então  Orfeu  ouviu  um  grito  ­  Eurídice  tinha  tropeçado  ­  horrorizado,  ele  se  voltou, 
viu  ainda  a  sombra  dela  caindo na noite e ficou sozinho. Esmagado pela dor, ele cantou sua 
canção de despedida: "Ai de mim, eu a perdi, toda a minha felicidade se foi!" 
Ele  próprio  voltou  à  luz.  Entretanto,  no  reino  dos  mortos,  passara  a  estranhar  a  vida. 

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Quando  mulheres  ébrias  quiseram  levá­lo  à  festa  do  novo  vinho,  ele  se  recusou,  e  elas  o 
despedaçaram vivo. 
Tão grande foi sua desgraça, tão inútil foi sua arte. Entretanto, todo o mundo o conhece. 
O  outro  Orfeu  era  o  pequeno.  Era  apenas  um  cantor  de  rua,  aparecia  em  pequenas  festas, 
tocava  para  gente  humilde,  alegrava  um  pouco  e  curtia  isso.  Como  não  conseguia  viver de 
sua  arte,  aprendeu  um  ofício  comum,  casou­se  com  uma  mulher  comum,  teve  filhos 
comuns, pecou eventualmente, foi feliz de modo comum, morreu velho e satisfeito da vida. 
Entretanto, ninguém o conhece ­ exceto eu!  
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ 
Original: Wie Liebe gelingt,  
Palestra proferida por Bert Hellinger, em S.Paulo, Agosto de 1999 em original manuscrito. 
Tradução: Anand Udbuddha (Newton Queiroz) , Rio de Janeiro 
Revisão: Mimansa Erika Farny, Caldas Novas 
Novembro de 2000 
 

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