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Uma comparação entre Ensino

Tradicional e o Método Suzuki

Barbara Barber

! Recentemente tive uma conversa com um amigo, um violinista de uma orquestra


sinfônica importante, que também dá aulas particulares.

Amigo: “Você é uma professora Suzuki, certo?”


Eu: “Não, eu sou professora de violino.”
Amigo: “Mas você não usa o método Suzuki?”
Eu: ”Sim, mas eu também uso outros materiais. O que você usa?”
Amigo: “Bem eu uso Tune a Day, Loaureux, Wohlfahrt, Doflein e outros.”
Eu: “ Eu uso todos esses também.”
!
! Ao longo da nossa conversa, chegamos à conclusão que realmente nós estávamos
fazendo a mesma coisa: ensinando alunos a tocar violino. Comecei a pensar sobre o
significado do que é ser um professor Suzuki e como isto se compara ao que se conhece
como professor tradicional. Quais as diferenças? Quais as semelhanças? Por que percebe-
se uma diferença entre os dois? Como eles se completam? Existe uma transição entre um e
outro? Em que ponto eles pregam a mesma coisa? Estas são perguntas frequentes de
professores e pais que eu gostaria de tentar responder, através de uma perspectiva norte
americana.

A Escola Tradicional
! Somente devido ao tremendo impacto que o ensino Suzuki tem promovido na
educação de instrumentistas de cordas é que agregamos o termo “educação tradicional” ao
nosso vocabulário de cordas. Antes que as idéias de Shinichi Suzuki fossem introduzidas no
Japão, há quase 30 anos atrás, o que agora chamamos de estilo tradicional era o modo
normal de ensinar instrumentos de cordas. É um verdadeiro desafio definir o que hoje
conhecemos como estilo tradicional de ensino, uma vez que ele está baseado centenas de
anos de desenvolvimento das escolas européias de pedagogia e repertório passados de
geração para geração. Nós podemos traçar a nossa própria linhagem musical através dos
professores com quem estudamos – a minha própria volta a Ysaye, Auer e Persinger. Todos
os violinistas podem se considerar descendentes de Corelli, “o antecessor de todos os
grandes violinistas” 1. Muitos violinistas e violistas formaram-se baseados estritamente em Sitt,
Sevcik, Kreutzer, Galamian e Flesch; violoncelistas em Dotzauer, Dupont, Feulliard e Popper;

1 Boris Schawarz, Great Masters of the violin (New York,NY: Simon and Schster 1983). 49.
contra-baixistas em, Billé e Simandl; violonistas em Sor, Aguado, Giuliani, Carulli e Carcassi;
e harpistas em Boscha, Renié, Salzedo e Grandjany. Estes são apenas alguns dos
precursores da escola tradicional. Cada um desses compositores/pedagogos contribuiu
significativamente `a arte do ensino de cordas; porém, muitos outros geraram um impacto na
técnica de cordas apenas pelo seu próprio modo de ensinar (Vários dos grandes pedagogos
nunca na realidade foram solistas, como exemplo temos Dorothy DeLay e o próprio Suzuki) .
! Considerando-se as muitas personalidades e estilos individuais de execução, é obvio
que a escola tradicional de ensino de cordas foi influenciada por mudanças na cultura,
sociedade, moda e gosto de público, assim como pela evolução das modernas salas de
concertos e dos próprios instrumentos.

Shinichi Suzuki
! Shinichi Suzuki nasceu em 1898 no Japão, filho de um fabricante de violinos. Quando
jovem, estudou com Karl Klinger em Berlim, nos anos 20. Klinger foi aluno de Joachim:
portanto, o próprio Suzuki pode ser considerado tradicional. Ele deu início ao seu movimento
de Educação de Talento em 1945 em Matsumoto, depois de testemunhar a devastação
provocada pela Segunda Guerra Mundial e dar-se conta do imenso sofrimento das inocentes
crianças japonesas. !Ele passou muitos anos desenvolvendo sua ideologia, bem como sua
aplicação ao ensino de violino. Hoje em dia, do alto de seus mais de 90 anos, ele se levanta
cedo diariamente para meditar, ler e ensinar e ainda viaja aos Estados Unidos
ocasionalmente.
! Apesar de seu sistema ser publicado e constantemente referido como “método”, ele é
na realidade uma filosofia educacional que pode ser aplicada ao ensino de qualquer
conteúdo ou técnica para aluno de qualquer idade. A base do material do Método Suzuki para
violino, viola, cello, contra-baixo, violão, harpa, piano e flauta é agora publicada pela Sammy
Birchard, Inc. Uma vez que o próprio Suzuki é violinista, o repertório original foi concebido
para violino. Por esta razão e porque o violino é talvez o instrumento com mais facilidade de
adaptação para crianças pequenas por ser portátil e não tão caro, o método é mais popular
para violino. Seus 10 volumes para violino tem sido chamados “uma série de bem graduada
de composições para o desenvolvimento técnico e musical da criança”2.
! Os volumes 1 a 3 consistem em várias de suas composições e transcrições da
literatura clássica, incluindo obras de Bach, Brahms, Schumann, Dvorak e Boccherini (muitas
dessas mesmas peças são encontradas em outras coleções de solos para alunos
principiantes e intermediários). Os volumes 4 a 10 consistem do repertório padrão de violino
usado por professores tradicionais por muitos anos – os concertos de Seitz, Vivaldi, Bach e
Mozart; as sonatas de Handel, Corelli, Eccles e Veraccini e um número de peças curtas
transcritas. O que poderia ser mais tradicional do que este repertório?
! O repertório publicado para os outros instrumentos mencionados seguem a mesma
ordem cuidadosamente planejada, a cada peça acrescentando apenas um novo elemento
técnico ou musical. Algumas peças são inseridas periodicamente como peças “plateau”,
dando ao aluno a oportunidade de polir algumas técnicas previamente aprendidas e
desenvolver-se musicalmente. Muitas das primeiras peças são comuns a todos os
instrumentos – em particular as “Variações das Estrelinhas” - embora elas sejam transpostas
para tonalidades apropriadas a cada instrumento. Todo volume é acompanhado de gravação
que permitem aos alunos ouvir as peças que estão aprendendo com o acompanhamento de

2 William Starr. Suzuki Violinits (Knoxville,TN: Kingston Ellis Press 1976), 17.
piano. Aí está uma das maiores contribuições dos materiais publicados do Suzuki: gravações
amplamente acessíveis de músicas para alunos principiantes e intermediários.

Fundamentos Básicos da Filosofia Suzuki

! Não é raro o uso indevido do nome Suzuki. Pais e alunos acham que eles estão
“fazendo Suzuki” quando na verdade eles estão estudando violino (ou cello, viola, contrabaixo,
violão, harpa, flauta, piano). Crianças pequenas tem sido chamadas de “aqueles Suzukinhos
bonitinhos” quando na realidade eles estão utilizando idéias “tradicionais” e literatura
tradicional de vários pedagogos e compositores. O Dr Suzuki é o primeiro a admitir o
ecletismo da sua filosofia e sugere ao professor “Suzuki” que, ao invés de nomear-se assim,
se apresente como “Suzuki da Silva” ou “Suzuki de Oliveira” 3. Nota-se então que não há um
“professor puramente Suzuki “, uma vez que cada um de nós adapta várias técnicas e idéias
no desenvolver da nossa própria maneira de ensinar. A maneira Suzuki de ensinar, baseada
na sua filosofia educacional, não é uma metodologia técnica, mas possui características que
a distingue da maneira de ensino tradicional. Vejamos como algumas dessas idéias são
compartilhadas até certo ponto por professores tradicionais. Meus comentários (em itálico)
contrastam esses conceitos com os do ensino tradicional.

1. A filosofia Suzuki é baseada no preceito de que as crianças podem ser educadas


através do seu ambiente.

! O Dr. Suzuki acredita que toda criança nasce com um potencial extraordinário e,
exposta a um ambiente musical e recebendo excelente treinamento, ela pode aprender a
tocar um instrumento. Daí o nome “Educação do Talento”. Suzuki mudou o conceito
tradicional de que sucesso ou fracasso da habilidade musical de uma criança é resultado
de um talento inato. Enquanto algumas crianças podem adaptar-se mais rapidamente e
de forma mais sensível que outras, haja vista cada uma tem seu próprio ritmo de
aprendizado, todas podem aprender a tocar bem, seja qual for o nível alcançado. Talento
não é inato ou herdado, mas sim treinado e educado. Gênio é o respeitoso nome dado
aqueles que são expostos e treinados a ter uma alta habilidade4.
! Suzuki aconselha professores e pais a nutrirem suas crianças e alunos em uma
atmosfera de amor, construindo a auto-estima com constante paciência, tolerância,
oferecendo elogios e reforçando positivamente estas idéias. Sua proposta não é
transformar alunos em profissionais de carreira, mas enriquecer suas vidas através da
apreciação de boa música e torná-los seres humanos sensatos , sensíveis e pacíficos.
! Enquanto todo professor abraçaria os conceitos de criar um ambiente favorável ao
aprendizado, mostrando a todas as crianças a experiência da música clássica e seus
benefícios, alguns professores de outros métodos de ensino estão mais inclinados a
encorajar os alunos mais talentosos que desde cedo demonstram considerável potencial.

3 Ray Landers. Is Suzuki Education Working in America? (Chicago, IL: Daniel Press. 1987), 12.
4 Shinichi Suzuki. Nurtured by Love (New York,NY: Exposition Press 1976), 31.
2. Alunos treinados pelo Método Suzuki começaram bem jovens.

! Professores que usam esta filosofia têm uma afinidade particular para ensinar
crianças pequenas. Eles podem começar alunos de qualquer idade a partir de três anos
até nove ou dez. O ideal é permitir um início vagaroso e cuidadoso, permitindo que a
criança domine completamente cada nível antes de seguir para o próximo. A instrução
inicial para a criança consiste em observar as aulas de outros alunos, ouvir as gravações
e frequentemente aprender a posição do instrumento e do arco com uma espécie de pré-
violino/violoncelo.
! Professores tradicionais normalmente iniciam alunos quando eles são mais velhos.
No entanto, a base construída em qualquer idade é crucial, pois o futuro dos alunos será
um reflexo desta. Professores descuidados na escolha do método de iniciação podem
provocar danos irreparáveis ao mover demasiadamente rápido seus alunos, independente
de sua idade.

3. O professor Suzuki estabelece uma sociedade com os pais.

! Um dos pais atende a todas as aulas com a criança, tomando notas


cuidadosamente e fazendo perguntas para então ela/ele se tornar o professor em casa
durante o resto da semana. Os pais normalmente atendem a sessões de orientação,
algumas vezes mesmos aprendem a tocar as primeiras peças no instrumento. Isto requer
organização e um compromisso substancial em termos de tempo e energia dos pais.
! Qualquer professor aprecia o auxílio e encorajamento dos pais. No entanto, eles
geralmente não exigem que os pais tenham um papel ativo no processo de aprendizado.

4. O ensino pelo Suzuki ensina as crianças a tocar um instrumento antes de


introduzir a leitura de partitura musical.

! Suzuki Chama o seu plano de “filosofia da língua materna,” uma vez que ele segue
o mesmo procedimento usado pelas crianças quando estas aprendem a falar a sua língua
nativa: exposição, imitação, encorajamento, repetição, adição e refinamento. Os alunos
aprendem a tocar imitando as peças gravadas as quais eles escutam várias vezes por
dias. Eles primeiramente interiorizam cada peça e posteriormente são mostrados como
recriá-la no instrumento. Eles vencem muitas das dificuldades técnicas do instrumento e
aprendem a comunicar-se através do instrumento antes de aprender a ler partituras,
exatamente como eles aprendem a falar antes de ler. !
! Quando as idéias educacionais de Suzuki foram introduzidos nos Estados Unidos,
muitos professores norteamericanos ficaram tão entusiasmados com esta nova maneira
de ensinar crianças a tocar sem a responsabilidade de usar a música impressa que,
verdade seja dita, a leitura musical foi frequentemente negligenciada. Aprendendo através
de erros passados e adaptando o método à nossa cultura, muitos professores perceptivos
agora ensinam o instrumento e a leitura geralmente do começo, mas como duas tarefas
separadas. Muitos principiantes atendem às aulas de leitura ou teoria, onde são expostos
ao básico da notação musical, bem como ao prazer de cantar e de participar de jogos
musicais. Mas quando é que o aluno Suzuki começa a ler música com o instrumento? Na
hora apropriada, determinada pela própria criança em seu comando técnico do
instrumento e a habilidade de concentrar-se na música escrita ao mesmo tempo.
! O professor julga cada aluno separadamente. A maioria dos professores incorpora
a leitura à aula no Volume 2 ou em idade escolar. Novos materiais foram desenvolvidos
para este propósito, e professores estão ensinando leitura mais cedo e com maior
sucesso do que anteriormente. !
! Alunos Suzuki são frequentemente criticados por não ler música tão bem quanto
tocam. Infelizmente, eles são alvos tão somente porque tocam bem, e porque
normalmente são mais jovens do que seus tradicionais contemporâneos; suas habilidades
de leitura simplesmente ainda não alcançaram o seu nível técnico e musical de execução
do instrumento. Geralmente, eles estão lendo em um nível apropriado à sua idade. Nós
não culpamos nossas crianças de cinco anos e seis anos quando eles podem já falar
inglês fluentemente mas não podem ainda ler! !
! Muitos alunos de outros métodos também não leem bem, mas, como eles
normalmente também não tocam bem, eles não são culpados por sua fracas habilidades
de leitura. Muitos músicos talentosos não leem música no mesmo nível nível que eles
realmente tocam. Alguns dos maiores músicos de jazz, música popular e gospel
aprendem a tocar exclusivamente de ouvido. Simplificando, o ensino tradicional coloca a
escrita antes o som e o ensino Suzuki coloca o som antes da escrita, o que é de fato o
mais “tradicional” meio de educação no mundo.

5. Suzuki eliminou o uso de estudos no seu curso e usa escalas e arpejos apenas
moderadamente.

! Novas técnicas são introduzidas nas próprias peças ou com curtos exercícios
introduzidos antes delas nos livros. Professores também criam dezenas de pequenos
exercícios quando necessário nos primeiros volumes, adicionando em volumes
adiantados as escalas padronizadas e estudos técnicos. As primeiras peças de Suzuki
foram escritas e adaptadas para crianças pequenas; elas são curtas, cheias de
movimento, divertidas de tocar, e funcionam bem em grupos. Elas são escritas na
tonalidade de Lá, Ré e Sol, viabilizando o uso dos sons das cordas soltas. Seus registros
geralmente favorecem as cordas superiores, já que estas cordas soam melhor em
instrumentos pequenos. A genialidade do primeiro ritmo das Estrelinhas (sendo este
empréstimo da abertura do Concerto Duplo de Bach) baseia-se na introdução às arcadas
em detaché e staccato. Toda criança se deleita ao ver que já pode tocar o seu primeiro
“Mississipi Stop Stop” ( apenas um dos muitos nomes pelo qual é conhecido). Eles estão
prontos para tocar um solo! o Ritmo é tocado no meio do arco, usando primeiro os
grandes músculos do braço; as arcadas são prolongadas gradualmente até tornarem-se
arcos inteiros no final do volume 1.
! Muitos sistemas tradicionais consistem em páginas após páginas de duros
exercícios técnicos usando semibreve, mínima, semínima, exigindo do aluno o controle do
arco inteiro desde o começo, ao mesmo tempo que ele também está aprendendo a
controlar e a ler música. Estes exercícios tem pouco ou nenhum interesse musical, além
do fato que métodos musicais não contém grande variedade de peças. Passam-se muitos
meses antes do aluno estar preparado o suficiente para tocar para os outros.

6. Os professores do Método Suzuki ensinam um repertório padronizado.

! A maioria dos professores ensinam os primeiros quatro volumes em sequencia,


mas nos volumes seguintes, a ordem das varia frequentemente, e materiais de várias
diferentes fontes são misturados à literatura Suzuki. A maioria dos professores que usa o
repertório Suzuki é bem flexível, usando o material para servir às diferentes necessidades
de cada aluno. No entanto, não é todo aluno que quer as mesmas peças que os outros
estão tocando. !
! Professores tradicionais tem bastante flexibilidade em criar um cronograma
individual para cada aluno. Muitos professores tradicionais usam os materiais Suzuki com
seus alunos simplesmente porque são ótimas coletâneas de peças.

7. Alunos Suzuki revisam continuamente o repertório previamente aprendido.

! Novas peças são acrescentados ao repertório assim como crianças acrescentam


palavras ao seu vocabulário. Elas estão prontas para apresentar a qualquer momento.
Peças revisadas são usadas para introduzir novas técnicas (mudança de posição,
spiccato e assim por diante) e proporcionar a viabilidade para que alunos desenvolvam
um alto nível de musicalidade. Alguns professores abstém-se de exigir a revisão contínua
do repertório aos seu alunos mais adiantados.
! O aluno tradicional geralmente abandona uma peça do repertório quando começa
uma nova. Quando solicitado a tocar, o aluno normalmente “ não tem nada pronto”.

8. Alunos Suzuki tocam frequentemente e memorizam com facilidade.

! Eles desde o começo aparecem no palco tanto como solistas ou membros de


grupos de professores. O repertório em comum serve como um mecanismo de motivação
embutido: eles estão ansiosos para aprender as peças que os alunos mais avançados
estão tocando. Aulas de grupo, concertos na comunidade, recitais e cursos de verão dão
a eles razão suficiente para estudar e compartilhar com os outros suas realizações.
Quando eles entram nas orquestras das escolas, o que eles quase sempre fazem, eles já
têm vasta experiência em grupo. !
! Alunos tradicionais tendem a se direcionar mais para uma vida de “confinamento
solitário”. Eles normalmente não tem tantas oportunidades de apresentar-se em público, e
as experiência em grupo são somente adquiridas nas orquestras de escola e em grupos
camerísticos. A independência da estante de música, que permite o seu florescimento
como artista, algumas vezes não acontece até um nível mais avançado.

Programa de Desenvolvimento do Professor

! Professores interessado na Educação de Talento podem receber treinamento


intensivo especializado com pedagogos americanos aprovados e altamente
recomendados pela SAA (Associação Suzuki das Américas). O estudo é dividido em
unidades correspondentes à unidade do livro de repertório. Um professor pode escolher
uma unidade em específico para estudar com um pedagogo em particular no local de sua
preferência. !
! O estudo dos volumes é ensinado em cursos curtos, como programas de
aprendizado individualizado com professores em estúdios, ou como programa
compreensivos de longo prazo em faculdades e universidades que oferecem diplomas em
Pedagogia Suzuki. Professores podem registrar seu estudo pela SAA, seguindo as
diretrizes do Programa de Desenvolvimento do Professor, e são aconselhados a fazer as
unidades em sequência. Os cursos são designados para aqueles que tem bastante
domínio de seus instrumentos. Pré requisitos para as aulas incluem proficiência na
execução do volume estudado, leitura e familiaridade com a filosofia Suzuki. !
! Os professores acham esse treinamento estimulante e extremamente valioso; ele é
aplicável a qualquer cenário no ensino de cordas – em estúdio privados, seja em
preparação para a faculdade e no nível universitário, bem como as aulas em escolas
públicas. O enfoque não está no credenciamento, mas desenvolvimento e crescimento
contínuo do professor. !
! É necessário que professores que se proclamem adeptos ao método Suzuki sejam
filiados à SAA. Nenhuma outra organização oferece este tipo sistemático e compreensivo
de educação contínua a professores de cordas, nem devem os professores serem
afiliados à nenhuma outra associação.

Concepções errôneas mais Frequentes

! Os seguintes pontos de vista foram expostos pelo ceticismo e má interpretação de


indivíduos que são simplesmente desinformados sobre este sistema educacional. Uma
tentativa é feita aqui para dispersar tais mal-entendidos:

1. O ensino Suzuki é um método de grupo.


Alunos Suzuki ganham atenção da mídia por causa dos concertos em grandes grupos
frequentemente apresentados, dando a falsa impressão de que este é modo em que eles
são treinados. Ao contrário do que alguns acreditam, a base do programa é na realidade a
chamada aula individual. Este pode ser o modo mais apropriado de aula particular, uma
vez que outros alunos, pais e professores são também estimulados a comparecer.

2. Os alunos Suzuki não leem música.


Como nós já vimos, não ensinar alunos a ler música não é um dos princípios da
Educação do Talento. Se alunos usando este sistema não leem bem, os responsáveis por
isto são os professores e os pais.

3. Os alunos Suzuki tocam como robôs.


Em grupo, a unidade musical é enfatizada, como no naipe de cordas de qualquer
orquestra sinfônica profissional. Porém, qualquer professor que não estimule sua alunos a
desenvolver sua individualidade quando está tocando solo, não devesse talvez nem
sequer estar dando aulas, independente do método que esteja utilizando. Tanto
professores Suzuki como professores tradicionais fornecem exemplos de beleza musical
tocando para inspirar seus alunos. É para isso que servem os professores. Enquanto um
aluno pequeno é moldado como se imitasse seu professor, alunos mais avançados são
guiados pelo que seu professor julgar ser a mais aceitável direção.

4. Alunos mais avançados devem fazer a transição do “Suzuki” para o Tradicional”.


Alunos tocando os últimos volumes estudam repertório suplementar e supostamente
demonstram desenvoltura na leitura de partitura. Gradualmente, eles tornam-se
independentes do envolvimento dos pais na aula e no estudo em casa. Em nenhum ponto
eles param de ser alunos Suzuki e passam a ser alunos tradicionais; não há uma
transição de um para outro já que ambos são a mesma coisa.
5. Professores Suzuki ensinam com jogos e truques.
Quando professores usam imagens criativas e jogos engenhosos tanto nas aulas
individuais quanto nas aulas de grupo, especialmente com alunos pequenos, isto quase
sempre é feito, com finalidades técnicas ou musicais. Professores tradicionais também
usam muitas das mesmas táticas de ensino. Isso realmente depende muito da
personalidade individual o professor e sua filosofia de ensino. Qualquer fórmula de
aprendizado pode ser divertida.

6. Alguns procedimentos e técnicas “Suzuki” devem ser seguidos: !


a) Muitos professores Suzuki adotam o costume japonês de pedir ao aluno que se curve
(em reverência) no começo e no final da aula como sinal de respeito, instigando-lhe a
concentração durante a aula e ensinando-lhe a portar-se propriamente no palco.
b) Alguns professores ensinam seus alunos principiantes a segurar o arco com o polegar
voltado para fora do talão.
c) Fitas são normalmente colocados no espelho do instrumento dos principiantes, para
assegurar a precisão na afinação e no arco para indicar a distribuição do mesmo.
Nenhuma instrução em específico é dada aos professores sobre nenhuma dessas
práticas comuns. Elas são meramente de aspecto periféricos e não são essenciais à
filosofia Suzuki. Professores devem procurar usá-las por curto período de tempo, até
um certo estágio, ou não usá-las. !
d) Alguns seguidores da metodologia Suzuki pregam o posicionamento demasiadamente
baixo do braço direito do violinista. Esta pode ser o resultado da velha prática do “livro
embaixo do braço”, tão propaganda na Alemanha no fim do século dezenove. Apesar
de nenhum guia específico ter sido estabelecido, este tem sido tópico importante,
enfaticamente considerado por Dr Suzuki nos últimos anos. Ele defende o cotovelo
baixo por acreditar que isto auxilia o desenvolvimento de uma sonoridade mais densa
causada pelo peso do braço ao invés da pressão no arco.

7. Professores Suzuki devem ser licenciados.


Como dito anteriormente, não existe uma licença do professor, apenas o registro na SAA
das unidades de treinamento que o professor completou. Muitos professores intitulam-se
professores Suzuki sem se importar com a quantidade de treinamento ou diplomas em
música que eles tem. Sem o completo entendimento ou dedicação a filosofia, alguns
professores usam o nome “Suzuki” ou “Educação do Talento” por causa da atenção que
atrai pais e crianças a este conhecido sistema educacional. Muitos professores trabalham
muito bem sob a estrutura de um círculo organizado. Outros podem desencorajar esta
identificação ou evitá-la inteiramente para que não se restrinjam; eles não querem ficar
conhecidos como instrutores apenas de crianças pequenas, como muitas vezes são
associados pelos mais desinformados. Existe também aqueles que usam o que pode ser
chamado de uma metodologia Suzuki modificada, empregando somente parte dos
princípios envolvidos. A maioria das idéias de Suzuki não são novas, mas tem sido
codificadas como uma metodologia sistematizada. Ele tem oferecido a professores
exemplos maravilhosos de como ensinar crianças pequenas. Muitos professores
tradicionais usam alguns dos mesmos princípios em aulas individuais e em
conservatórios.
Riscos e Problemas
! Espero deixar aqui claro que minha intenção ao escrever este artigo não é a de
somente expor as virtudes da metodologia Suzuki. A Educação do Talento certamente não
é imune a alguns riscos do ensino de cordas em geral. Como qualquer processo
educacional, seu sucesso depende do professor que o ensina. Durante meus 15 anos de
experiência ensinando Suzuki, pude constatar as seguintes situações: !

1. Por causa do envolvimento dos pais, do uso de gravação e do adiantamento da leitura


de partitura, algumas crianças pequenas avançam rapidamente entre um livro de
repertório e outro, defrontando-se então com alguma grande peça de repertório – um
concerto de Mozart, por exemplo – antes que estejam maduras técnica e
emocionalmente. A obsessão de alguns pais e professores em relação ao número de
peças e volumes completos acaba por vezes comprometendo a qualidade do trabalho.
2. O repertório Suzuki é composto predominantemente de obras barrocas, bem como de
peças de grande virtuosidade técnica nos últimos volumes. Ultimamente, professores
procuram mais do que nunca alargar este repertório, incorporando peças que forneçam
maior variedade técnica e estilística, o que possibilita um crescimento mais gradual na
preparação do aluno para o grande repertório.
3. Alunos mais velhos podem criar uma perigosa dependência:
a) de gravações, já que podem assimilar uma nova passagem muito mais rapidamente
de ouvido do que através da música impressa;
b) dos pais, sempre carregando os seus instrumentos, organizando todas as suas
músicas e preparando-os para tocar desde pequenos;
c) de seus professores, que tem afinado seus instrumentos, marcado suas músicas e
facilitado todo o aprendizado (algumas vezes mastigando nota por nota) desde o
começo. Eles algumas vezes tem maior dificuldade do que alunos tradicionais no
desenvolver de sua independência. No entanto, isto não é apenas um problema do
aluno Suzuki. Até mesmo professores universitários reclamam que seus alunos não
sabem como pensar por eles mesmos!
4. O público americano tem a chance de ouvir o Tour Group da Educação do Talento,
formado por alguns dos melhores músicos jovens do Japão, todo outono. Estes
concertos são sempre fonte de muita inspiração ao s alunos, pais e professores. Em
um esforço para manter-se a par com seus equivalentes japoneses e com as
gravações, os alunos Suzuki americanos tem a tendência de tocar forte, muito forte,
fortíssimo (Dr Suzuki constantemente enfatiza SOM GRANDE) e presto, molto presto,
prestíssimo (tempo de “Matsumoto”). Isto se torna mais exagerado ainda quando os
alunos tocam em grandes grupos. Repetindo: isto não é um problema que só os alunos
Suzuki desenvolvem. Todos os grupos de cordas formados por músicos jovens tem
uma tendência natural de “correr e tocar muito forte” se seu professor não ensina
nuances como sotto voce e controle do tempo desde o começo.

Nós não somos tão diferentes


! Portanto,vemos que as diferenças entre o ensino Suzuki e o ensino tradicional
estão mais relacionadas ao começo e são diferentes mais filosóficas do que técnicas.
William Primrose descreve seu ceticismo no que ele acredita ser uma filosofia de ensino
em “linha de montagem” do ensino de violino, uma atitude típica de muitos músicos de
sua geração. Depois de viajar ao Japão com sua esposa Hiroko, visitando Suzuki e
ouvindo seus alunos no Instituto da Educação do Talento em Matsumoto, Primrose
surpreendeu-se do quanto a sua educação foi similar à ideologia Suzuki: ele tinha sido
criado desde cedo por pais dedicados em um ambiente musical inspirador. Ele era
“imitador”, como qualquer outra criança. O método do Suzuki de ensinar violino não é tão
diferente de tantos outros. Sua singularidade está na habilidade impressionante de
desenvolver crianças pequenas e enriquecer suas vidas5.
! Não importando se nos rotulamos professores “tradicionais” ou “Suzuki”, cada um
de nós deve aproveitar todas as oportunidades possíveis de aperfeiçoarmo-nos como
músicos e como professores, extraindo idéias de diferentes fontes e combinando-as com
as nossas próprias, desenvolvendo um estilo próprio. “Para o professor criativo e
qualificado, qualquer método serve como uma estrutura básica para um ponto de partida,
para que posteriormente problemas práticos do seu cotidiano o façam amadurecer e
aperfeiçoar-se constantemente6. Nós construirmos nossa reputação como professores,
seja ela boa ou ruim, através de nossos alunos e nos exemplos que estes passam aos
outros. Nossos passos iniciais podem ser diferentes, mas nossas esperanças e objetivos
são no final os mesmos: ter uma influência positiva em crianças cujas vidas nós ajudamos
a formar, ensinando-as a arte de tocar um instrumento e instigando sempre a apreciação
da boa música.

Título original em inglês: A Comparison of Tradicional and Suzuki Teaching,


Barbara Barber. 1991

Translated and Reprinted by permission of author, Suzuki Association of the Americas and
American Strings Teachers Association.

Reservam-se os direitos desta tradução à Eloisa Padilha.

5 William Primrose. Wolking on the North Side (Provo,UT: Brigham Young University Press.1978), 218.
6 Stephen Lo. A Reading Course for Suzuki piano Students (dissertação em progresso).

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