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Barbara Barber
A Escola Tradicional
! Somente devido ao tremendo impacto que o ensino Suzuki tem promovido na
educação de instrumentistas de cordas é que agregamos o termo “educação tradicional” ao
nosso vocabulário de cordas. Antes que as idéias de Shinichi Suzuki fossem introduzidas no
Japão, há quase 30 anos atrás, o que agora chamamos de estilo tradicional era o modo
normal de ensinar instrumentos de cordas. É um verdadeiro desafio definir o que hoje
conhecemos como estilo tradicional de ensino, uma vez que ele está baseado centenas de
anos de desenvolvimento das escolas européias de pedagogia e repertório passados de
geração para geração. Nós podemos traçar a nossa própria linhagem musical através dos
professores com quem estudamos – a minha própria volta a Ysaye, Auer e Persinger. Todos
os violinistas podem se considerar descendentes de Corelli, “o antecessor de todos os
grandes violinistas” 1. Muitos violinistas e violistas formaram-se baseados estritamente em Sitt,
Sevcik, Kreutzer, Galamian e Flesch; violoncelistas em Dotzauer, Dupont, Feulliard e Popper;
1 Boris Schawarz, Great Masters of the violin (New York,NY: Simon and Schster 1983). 49.
contra-baixistas em, Billé e Simandl; violonistas em Sor, Aguado, Giuliani, Carulli e Carcassi;
e harpistas em Boscha, Renié, Salzedo e Grandjany. Estes são apenas alguns dos
precursores da escola tradicional. Cada um desses compositores/pedagogos contribuiu
significativamente `a arte do ensino de cordas; porém, muitos outros geraram um impacto na
técnica de cordas apenas pelo seu próprio modo de ensinar (Vários dos grandes pedagogos
nunca na realidade foram solistas, como exemplo temos Dorothy DeLay e o próprio Suzuki) .
! Considerando-se as muitas personalidades e estilos individuais de execução, é obvio
que a escola tradicional de ensino de cordas foi influenciada por mudanças na cultura,
sociedade, moda e gosto de público, assim como pela evolução das modernas salas de
concertos e dos próprios instrumentos.
Shinichi Suzuki
! Shinichi Suzuki nasceu em 1898 no Japão, filho de um fabricante de violinos. Quando
jovem, estudou com Karl Klinger em Berlim, nos anos 20. Klinger foi aluno de Joachim:
portanto, o próprio Suzuki pode ser considerado tradicional. Ele deu início ao seu movimento
de Educação de Talento em 1945 em Matsumoto, depois de testemunhar a devastação
provocada pela Segunda Guerra Mundial e dar-se conta do imenso sofrimento das inocentes
crianças japonesas. !Ele passou muitos anos desenvolvendo sua ideologia, bem como sua
aplicação ao ensino de violino. Hoje em dia, do alto de seus mais de 90 anos, ele se levanta
cedo diariamente para meditar, ler e ensinar e ainda viaja aos Estados Unidos
ocasionalmente.
! Apesar de seu sistema ser publicado e constantemente referido como “método”, ele é
na realidade uma filosofia educacional que pode ser aplicada ao ensino de qualquer
conteúdo ou técnica para aluno de qualquer idade. A base do material do Método Suzuki para
violino, viola, cello, contra-baixo, violão, harpa, piano e flauta é agora publicada pela Sammy
Birchard, Inc. Uma vez que o próprio Suzuki é violinista, o repertório original foi concebido
para violino. Por esta razão e porque o violino é talvez o instrumento com mais facilidade de
adaptação para crianças pequenas por ser portátil e não tão caro, o método é mais popular
para violino. Seus 10 volumes para violino tem sido chamados “uma série de bem graduada
de composições para o desenvolvimento técnico e musical da criança”2.
! Os volumes 1 a 3 consistem em várias de suas composições e transcrições da
literatura clássica, incluindo obras de Bach, Brahms, Schumann, Dvorak e Boccherini (muitas
dessas mesmas peças são encontradas em outras coleções de solos para alunos
principiantes e intermediários). Os volumes 4 a 10 consistem do repertório padrão de violino
usado por professores tradicionais por muitos anos – os concertos de Seitz, Vivaldi, Bach e
Mozart; as sonatas de Handel, Corelli, Eccles e Veraccini e um número de peças curtas
transcritas. O que poderia ser mais tradicional do que este repertório?
! O repertório publicado para os outros instrumentos mencionados seguem a mesma
ordem cuidadosamente planejada, a cada peça acrescentando apenas um novo elemento
técnico ou musical. Algumas peças são inseridas periodicamente como peças “plateau”,
dando ao aluno a oportunidade de polir algumas técnicas previamente aprendidas e
desenvolver-se musicalmente. Muitas das primeiras peças são comuns a todos os
instrumentos – em particular as “Variações das Estrelinhas” - embora elas sejam transpostas
para tonalidades apropriadas a cada instrumento. Todo volume é acompanhado de gravação
que permitem aos alunos ouvir as peças que estão aprendendo com o acompanhamento de
2 William Starr. Suzuki Violinits (Knoxville,TN: Kingston Ellis Press 1976), 17.
piano. Aí está uma das maiores contribuições dos materiais publicados do Suzuki: gravações
amplamente acessíveis de músicas para alunos principiantes e intermediários.
! Não é raro o uso indevido do nome Suzuki. Pais e alunos acham que eles estão
“fazendo Suzuki” quando na verdade eles estão estudando violino (ou cello, viola, contrabaixo,
violão, harpa, flauta, piano). Crianças pequenas tem sido chamadas de “aqueles Suzukinhos
bonitinhos” quando na realidade eles estão utilizando idéias “tradicionais” e literatura
tradicional de vários pedagogos e compositores. O Dr Suzuki é o primeiro a admitir o
ecletismo da sua filosofia e sugere ao professor “Suzuki” que, ao invés de nomear-se assim,
se apresente como “Suzuki da Silva” ou “Suzuki de Oliveira” 3. Nota-se então que não há um
“professor puramente Suzuki “, uma vez que cada um de nós adapta várias técnicas e idéias
no desenvolver da nossa própria maneira de ensinar. A maneira Suzuki de ensinar, baseada
na sua filosofia educacional, não é uma metodologia técnica, mas possui características que
a distingue da maneira de ensino tradicional. Vejamos como algumas dessas idéias são
compartilhadas até certo ponto por professores tradicionais. Meus comentários (em itálico)
contrastam esses conceitos com os do ensino tradicional.
! O Dr. Suzuki acredita que toda criança nasce com um potencial extraordinário e,
exposta a um ambiente musical e recebendo excelente treinamento, ela pode aprender a
tocar um instrumento. Daí o nome “Educação do Talento”. Suzuki mudou o conceito
tradicional de que sucesso ou fracasso da habilidade musical de uma criança é resultado
de um talento inato. Enquanto algumas crianças podem adaptar-se mais rapidamente e
de forma mais sensível que outras, haja vista cada uma tem seu próprio ritmo de
aprendizado, todas podem aprender a tocar bem, seja qual for o nível alcançado. Talento
não é inato ou herdado, mas sim treinado e educado. Gênio é o respeitoso nome dado
aqueles que são expostos e treinados a ter uma alta habilidade4.
! Suzuki aconselha professores e pais a nutrirem suas crianças e alunos em uma
atmosfera de amor, construindo a auto-estima com constante paciência, tolerância,
oferecendo elogios e reforçando positivamente estas idéias. Sua proposta não é
transformar alunos em profissionais de carreira, mas enriquecer suas vidas através da
apreciação de boa música e torná-los seres humanos sensatos , sensíveis e pacíficos.
! Enquanto todo professor abraçaria os conceitos de criar um ambiente favorável ao
aprendizado, mostrando a todas as crianças a experiência da música clássica e seus
benefícios, alguns professores de outros métodos de ensino estão mais inclinados a
encorajar os alunos mais talentosos que desde cedo demonstram considerável potencial.
3 Ray Landers. Is Suzuki Education Working in America? (Chicago, IL: Daniel Press. 1987), 12.
4 Shinichi Suzuki. Nurtured by Love (New York,NY: Exposition Press 1976), 31.
2. Alunos treinados pelo Método Suzuki começaram bem jovens.
! Professores que usam esta filosofia têm uma afinidade particular para ensinar
crianças pequenas. Eles podem começar alunos de qualquer idade a partir de três anos
até nove ou dez. O ideal é permitir um início vagaroso e cuidadoso, permitindo que a
criança domine completamente cada nível antes de seguir para o próximo. A instrução
inicial para a criança consiste em observar as aulas de outros alunos, ouvir as gravações
e frequentemente aprender a posição do instrumento e do arco com uma espécie de pré-
violino/violoncelo.
! Professores tradicionais normalmente iniciam alunos quando eles são mais velhos.
No entanto, a base construída em qualquer idade é crucial, pois o futuro dos alunos será
um reflexo desta. Professores descuidados na escolha do método de iniciação podem
provocar danos irreparáveis ao mover demasiadamente rápido seus alunos, independente
de sua idade.
! Suzuki Chama o seu plano de “filosofia da língua materna,” uma vez que ele segue
o mesmo procedimento usado pelas crianças quando estas aprendem a falar a sua língua
nativa: exposição, imitação, encorajamento, repetição, adição e refinamento. Os alunos
aprendem a tocar imitando as peças gravadas as quais eles escutam várias vezes por
dias. Eles primeiramente interiorizam cada peça e posteriormente são mostrados como
recriá-la no instrumento. Eles vencem muitas das dificuldades técnicas do instrumento e
aprendem a comunicar-se através do instrumento antes de aprender a ler partituras,
exatamente como eles aprendem a falar antes de ler. !
! Quando as idéias educacionais de Suzuki foram introduzidos nos Estados Unidos,
muitos professores norteamericanos ficaram tão entusiasmados com esta nova maneira
de ensinar crianças a tocar sem a responsabilidade de usar a música impressa que,
verdade seja dita, a leitura musical foi frequentemente negligenciada. Aprendendo através
de erros passados e adaptando o método à nossa cultura, muitos professores perceptivos
agora ensinam o instrumento e a leitura geralmente do começo, mas como duas tarefas
separadas. Muitos principiantes atendem às aulas de leitura ou teoria, onde são expostos
ao básico da notação musical, bem como ao prazer de cantar e de participar de jogos
musicais. Mas quando é que o aluno Suzuki começa a ler música com o instrumento? Na
hora apropriada, determinada pela própria criança em seu comando técnico do
instrumento e a habilidade de concentrar-se na música escrita ao mesmo tempo.
! O professor julga cada aluno separadamente. A maioria dos professores incorpora
a leitura à aula no Volume 2 ou em idade escolar. Novos materiais foram desenvolvidos
para este propósito, e professores estão ensinando leitura mais cedo e com maior
sucesso do que anteriormente. !
! Alunos Suzuki são frequentemente criticados por não ler música tão bem quanto
tocam. Infelizmente, eles são alvos tão somente porque tocam bem, e porque
normalmente são mais jovens do que seus tradicionais contemporâneos; suas habilidades
de leitura simplesmente ainda não alcançaram o seu nível técnico e musical de execução
do instrumento. Geralmente, eles estão lendo em um nível apropriado à sua idade. Nós
não culpamos nossas crianças de cinco anos e seis anos quando eles podem já falar
inglês fluentemente mas não podem ainda ler! !
! Muitos alunos de outros métodos também não leem bem, mas, como eles
normalmente também não tocam bem, eles não são culpados por sua fracas habilidades
de leitura. Muitos músicos talentosos não leem música no mesmo nível nível que eles
realmente tocam. Alguns dos maiores músicos de jazz, música popular e gospel
aprendem a tocar exclusivamente de ouvido. Simplificando, o ensino tradicional coloca a
escrita antes o som e o ensino Suzuki coloca o som antes da escrita, o que é de fato o
mais “tradicional” meio de educação no mundo.
5. Suzuki eliminou o uso de estudos no seu curso e usa escalas e arpejos apenas
moderadamente.
! Novas técnicas são introduzidas nas próprias peças ou com curtos exercícios
introduzidos antes delas nos livros. Professores também criam dezenas de pequenos
exercícios quando necessário nos primeiros volumes, adicionando em volumes
adiantados as escalas padronizadas e estudos técnicos. As primeiras peças de Suzuki
foram escritas e adaptadas para crianças pequenas; elas são curtas, cheias de
movimento, divertidas de tocar, e funcionam bem em grupos. Elas são escritas na
tonalidade de Lá, Ré e Sol, viabilizando o uso dos sons das cordas soltas. Seus registros
geralmente favorecem as cordas superiores, já que estas cordas soam melhor em
instrumentos pequenos. A genialidade do primeiro ritmo das Estrelinhas (sendo este
empréstimo da abertura do Concerto Duplo de Bach) baseia-se na introdução às arcadas
em detaché e staccato. Toda criança se deleita ao ver que já pode tocar o seu primeiro
“Mississipi Stop Stop” ( apenas um dos muitos nomes pelo qual é conhecido). Eles estão
prontos para tocar um solo! o Ritmo é tocado no meio do arco, usando primeiro os
grandes músculos do braço; as arcadas são prolongadas gradualmente até tornarem-se
arcos inteiros no final do volume 1.
! Muitos sistemas tradicionais consistem em páginas após páginas de duros
exercícios técnicos usando semibreve, mínima, semínima, exigindo do aluno o controle do
arco inteiro desde o começo, ao mesmo tempo que ele também está aprendendo a
controlar e a ler música. Estes exercícios tem pouco ou nenhum interesse musical, além
do fato que métodos musicais não contém grande variedade de peças. Passam-se muitos
meses antes do aluno estar preparado o suficiente para tocar para os outros.
Translated and Reprinted by permission of author, Suzuki Association of the Americas and
American Strings Teachers Association.
5 William Primrose. Wolking on the North Side (Provo,UT: Brigham Young University Press.1978), 218.
6 Stephen Lo. A Reading Course for Suzuki piano Students (dissertação em progresso).