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Métodos e Técnicas de Pesquisa

Book · June 2018

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1 author:

Orestes Trevisol Neto


Universidade do Estado de Santa Catarina, Pinhalzino, Brasil
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Métodos e Técnicas de
Pesquisa
Componente curricular na modalidade de educação a distância

Orestes Trevisol Neto


Técnico em Administração pela Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), mestre em Ciência da Informação (UFSC). Foi tutor presencial
do curso de especialização em Gestão de Bibliotecas Escolares UAB/CIN/UFSC,
polo Florianópolis. É Professor no curso de Biblioteconomia EaD da Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ) e bibliotecário da Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Pinhalzinho. É avaliador da Revista ACB.
Possui conhecimento em Comunicação Científica, Bibliometria, Cienciometria e
Institucionalização Científica e também na área de Moda, enquanto campo de
conhecimento. Compõe o grupo de pesquisa Núcleo de Estudos em Informação e
Mediações Comunicacionais Contemporâneas (NEIMCOC).

Chapecó, 2017
Reitor
Claudio Alcides Jacoski

Vice-Reitora de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação


Silvana Muraro Wildner

Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento


Márcio da Paixão Rodrigues

Vice-Reitor de Administração
José Alexandre de Toni

Coordenação: Rosane Natalina Meneghetti Silveira Coordenador Geral: Paulo Sergio Jordani
Comercial: Luana Paula Biazus
Revisão: Juliane Fernanda Kuhn de Castro, Kauana
Assistente editorial: Caroline Kirschner Pagliocchi Gomes

Conselho Editorial: (2016-2018) Titulares: Murilo Cesar Assistente Administrativo: Manon Aparecida Pereira
de Jesus
Costelli (presidente), Clodoaldo Antônio de Sá (vice-
presidente), Rosane Natalina Meneghetti Silveira, Cesar Capa: Marcela do Prado, Juliane Fernanda Kuhn de Castro
da Silva Camargo, Giana Vargas Mores, Silvana Terezinha
Winckler, Silvana Muraro Wildner, Ricardo Rezer, Rodrigo Diagramação: Marcela do Prado, Roberta Rodrigues Kunst
Barichello, Mauro Antonio Dall Agnol, Claudio Machado
Maia. Suplentes: Arlene Anélia Renk, Fátima Ferretti,
Fernando Tosini, Rodrigo Oliveira de Oliveira, Irme Salete
Bonamigo, Maria Assunta Busato.

Ficha catalográfica
_______________________________________________________________

Trevisol Neto, Orestes
T814m Métodos e técnicas de pesquisa / Orestes Trevisol Neto. --
Chapecó, SC : Argos, 2017.
96 p. : il. ; 28 cm. -- (EaD ; 32)

Inclui bibliografias
ISBN 978-85-7897-209-7

1. Pesquisa - Metodologia. I. Título.

CDD 21 -- 001.42
_______________________________________________________________
Catalogação elaborada por Daniele Lopes CRB 14/989
Biblioteca Central da Unochapecó

Av. Sen. Attílio Fontana, 591-E - Bairro Efapi - Chapecó (SC)


CEP 89809-000 - Caixa Postal 1141 - Fone: (49) 3321 8088
E-mail: unovirtual@unochapeco.edu.br
Home Page: www.unochapeco.edu.br/ead

Não estão autorizadas nenhuma forma de reprodução, parcial ou integral deste material, sem autorização expressa do autor e da
UnochapecóVirtual
CARTA AO ESTUDANTE

Seja bem-vindo!
Você está recebendo o livro do componente curricular de Métodos e Técnicas
de Pesquisa.

No atual cenário educacional, em que, cada vez mais, as pessoas buscam por
uma formação complementar e há a inserção massiva das tecnologias de informação
e comunicação, a modalidade de educação a distância é vislumbrada como uma
importante contribuição à expansão do ensino superior no país, que permite formas
alternativas de geração e disseminação do conhecimento.
A educação a distância tem sido importante para atingir um grande contingente
de estudantes de vários locais, com disponibilidade de tempo para o estudo diversa,
além daqueles que não têm a possibilidade de deslocamento até uma instituição de
ensino superior todos os dias. Desta forma, a Unochapecó, comprometida com o
desenvolvimento do ensino superior, vê a educação a distância como um aporte para
a transformação dos métodos de ensino em uma proposta inovadora.
Levando em consideração o pressuposto da necessidade de autodesenvolvimento
do estudante da modalidade de educação a distância, este material foi elaborado de
forma dialógica, baseada em uma linguagem clara e pertinente aos estudos, além de
permitir vários momentos de aprofundamento do conteúdo ao estudante, através da
mobilidade do para outros meios (como filmes, livros, sites).
Temos como princípio a responsabilidade e o desafio de oferecer uma formação
de qualidade, para tanto, a cada novo material, você está convidado a encaminhar
sugestões de melhoria para nossa equipe, sempre que julgar relevante.
Lembre-se: a equipe da UnochapecóVirtual estará à disposição sempre que
necessitar de um auxílio, pois assumimos um compromisso com você e com o
conhecimento.

Acreditamos no seu sucesso!

Núcleo de Educação a Distância


UnochapecóVirtual

Métodos e Técnicas de Pesquisa


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...............................................................................7

UNIDADE 1 CIÊNCIA, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O


DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA.....................................................9
1 INTRODUÇÃO.................................................................................11
2 O QUE É CIÊNCIA?..........................................................................11
3 A CIÊNCIA E SEUS PERÍODOS.........................................................14
4 SENSO COMUM E CONHECIMENTO CIENTÍFICO.............................18
5 A CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA.......................................................20
6 O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA E AS RELAÇÕES DE PODER ENTRE
AGENTES CIENTÍFICOS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO........22
REFERÊNCIAS.....................................................................................27

UNIDADE 2 PESQUISA, SUAS CLASSIFICAÇÕES E O MÉTODO


CIENTÍFICO.....................................................................................31
1 INTRODUÇÃO.................................................................................33
2 O QUE É PESQUISA?.......................................................................33
3 PESQUISA BÁSICA (PURA) E PESQUISA APLICADA..........................38
4 A CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA QUANTO AO PROBLEMA, OBJETIVOS
E OS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS.....................................................39
4.1 Pesquisa quantitativa, qualitativa e pesquisa quali-
quantitativa...................................................................................39
4.2 Pesquisa exploratória, descritiva e explicativa........................41
4.3 Classificação da pesquisa conforme os procedimentos técnicos
empregados...................................................................................46
4.3.1 Pesquisa bibliográfica...................................................46
4.3.2 Pesquisa documental.....................................................47
4.3.3 Pesquisa experimental ..................................................47
4.3.4 Levantamento ou survey ..............................................48
4.3.5 Estudo de caso .............................................................49
4.3.6 Pesquisa ex-post-facto..................................................49
4.3.7 Pesquisa-ação ...............................................................50
4.3.8 Pesquisa participante....................................................50
5 O QUE É MÉTODO CIENTÍFICO?......................................................51
5.1 Métodos de abordagem..........................................................52
5.1.1 Método dedutivo...........................................................53
5.1.2 Método indutivo............................................................53
5.1.3 Método hipotético-dedutivo.........................................54

Métodos e Técnicas de Pesquisa


5.1.4 Método dialético...........................................................55
5.1.5 Método fenomenológico...............................................56
5.2 Métodos de procedimento......................................................56
REFERÊNCIAS.....................................................................................60

UNIDADE 3 ETAPAS E ELEMENTOS DA PESQUISA CIENTÍFICA.......63


1 INTRODUÇÃO.................................................................................65
2 ESCOLHA DO TEMA........................................................................65
3 REVISÃO DE LITERATURA................................................................66
4 JUSTIFICATIVA................................................................................67
5 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA.......................................................68
6 DETERMINAÇÃO DE OBJETIVOS.....................................................69
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................70
8 TESTE DE INSTRUMENTOS..............................................................74
9 CRONOGRAMA...............................................................................74
10 COLETA DE DADOS.......................................................................74
11 TABULAÇÃO DE DADOS................................................................74
12 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................75
13 CONCLUSÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS...............................75
14 REDAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO TRABALHO CIENTÍFICO ............75
REFERÊNCIAS.....................................................................................80

UNIDADE 4 A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA....................................83


1 INTRODUÇÃO.................................................................................85
2 A COMUNICAÇÃO NA CIÊNCIA: O SURGIMENTO DOS PERIÓDICOS
CIENTÍFICOS......................................................................................85
3 OS CANAIS DE COMUNICAÇÃO: INFORMAL E FORMAL.................88
4 O MOVIMENTO DE ACES SO ABERTO NA COMUNICAÇÃO
CIENTÍFICA.........................................................................................90
REFERÊNCIAS.....................................................................................94

6 Métodos e Técnicas de Pesquisa


APRESENTAÇÃO

Prezado aluno de Biblioteconomia!


Bem-vindo ao componente curricular de Métodos e Técnicas de pesquisa,
aqui procuraremos introduzi-lo no universo científico, em específico no processo de
pesquisa, destacando as etapas que envolvem a construção do conhecimento científico.
Desenvolver pesquisa é uma atividade complexa, na qual, ao longo da jornada
acadêmica, vamos aprimorando nossa capacidade crítica e investigativa. Para
desenvolver uma pesquisa, primeiramente, é preciso um problema a ser investigado, o
que denota uma pergunta que não dispõe de resposta. Diante desse questionamento,
determinamos os objetivos que desejamos alcançar, bem como os procedimentos
metodológicos que permitam atingir tais objetivos. Nesse processo investigativo,
adotamos métodos e técnicas que embasarão a pesquisa. Depois de ter levantado os
dados, analisado e discutido com a literatura científica, cabe ao pesquisador comunicar
os resultados obtidos com os pares por meio da publicação de artigos científicos,
trabalhos apresentados em eventos ou livros. Assim, nesse componente curricular,
você, aluno, deve ser capaz de compreender a dinâmica que envolve a produção e
comunicação do conhecimento científico.
O componente curricular de Métodos e Técnicas de Pesquisa traz em sua
ementa os seguintes itens: as orientações metodológicas; os métodos de pesquisa; o
planejamento da pesquisa e as técnicas empíricas; a pesquisa qualitativa e quantitativa;
redação técnico-científica.
O conteúdo do componente curricular foi organizado em quatro unidades.
Na primeira unidade abordaremos os atributos da ciência; conhecimento
científico e senso comum; ciência formal e ciência factual; paradigma científico, ciência
normal e ciência revolucionária; campo científico e capital científico.
Na segunda unidade estudaremos a noção de pesquisa e método científico,
veremos a classificação das pesquisas diante de seus objetivos e procedimentos
técnicos, bem como os métodos de abordagem e métodos de procedimentos.
Na terceira unidade falaremos sobre planejamento, execução e relatório final de
pesquisa; escolha do tema; revisão de literatura; justificativa; formulação do problema;
determinação dos objetivos; procedimentos metodológicos; teste de instrumentos;
cronograma; coleta de dados; tabulação de dados; análise e discussão dos resultados;
redação e apresentação do trabalho científico.
Na quarta unidade, encerramos o componente curricular tratando da
comunicação científica, em específico, abordamos o surgimento dos periódicos
científicos, a importância da revisão por pares e os canais formais e informais na
comunicação científica. Por fim, destacamos o acesso aberto na comunicação científica
e os periódicos da Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Lembramos que é importante que o aluno faça as leituras indicadas, além do
livro didático, ampliando o leque de conhecimentos e completando sua formação.

Métodos e Técnicas de Pesquisa


A seguir, apresentamos o cronograma do componente curricular para que você
possa acompanhar o andamento de seus estudos.

Carga horária Unidade


Unidade 1. Ciência, conhecimento científico e o desenvolvimento
10 h
da ciência
10 h Unidade 2. Pesquisa, suas classificações e método científico
10 h Unidade 3. Etapas e elementos da pesquisa
10 h Unidade 4. A comunicação científica

Por gentileza, leia com atenção todo o material didático e demais orientações!

Bom estudo!
Orestes Trevisol Neto

8 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Unidade 1
Ciência, Conhecimento Científico e o Desenvolvimento da
Ciência

Objetivo:
• Apresentar a noção de ciência e como ocorre seu desenvolvimento;
• Caracterizar os diferentes períodos da ciência;
• Destacar as diferenças entre senso comum e conhecimento científico;
• Apresentar a classificação das ciências;
• Espera-se que o aluno entenda o que é ciência, sua classificação e como ocorre
o desenvolvimento científico, percebendo os diferentes períodos transcorridos
e sendo capaz de distinguir senso comum de conhecimento científico.

Conteúdo programático:
• Atributos da ciência;
• Conhecimento científico, senso comum;
• Ciência formal e ciência factual;
• Paradigma, ciência normal e ciência revolucionária;
• Campo científico, capital científico.
Faça aqui seu planejamento de estudos

10 Métodos e Técnicas de Pesquisa


1 INTRODUÇÃO

Prezado estudante, nesta unidade buscaremos explorar o conceito de ciência,


pautando os diferentes períodos científicos percorridos no desenvolvimento histórico
da sociedade. Atrelado a esse olhar geral, reforçamos a noção de conhecimento
científico e apresentamos a classificação macro da ciência, também procuramos
explicitar como a ciência se desenvolve utilizando os pressupostos teóricos de Thomas
Kuhn, relacionando com a noção de campo científico postulado por Pierre Bourdieu, o
qual deflagra as relações de poder e interesse travados pelos cientistas na construção
do conhecimento científico.
Ao ingressar na universidade, você, estudante, passa a fazer parte do universo
científico, para tanto, precisa entender os valores que permeiam a atividade e a lógica
científica. Ao longo de sua jornada acadêmica estará em contato constante com o
conhecimento científico e propriamente com a ciência, seja por meio das atividades
de ensino e aprendizagem, seja no momento de desenvolver uma pesquisa científica,
no chamado Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Assim, esperamos que no final dessa unidade você entenda como opera a
ciência, quais são seus atributos e qual o seu objetivo final. Percebendo a importância
da ciência e do conhecimento científico diante das explicações dos fenômenos naturais
e sociais.

2 O QUE É CIÊNCIA?

Não há uma definição exata/clara de ciência, mas o entendimento que se tem


dessa está muito próximo da definição de conhecimento científico. Assim, a ciência
é uma forma de conhecimento que objetiva formular leis que regem os fenômenos.
Tais leis descrevem os fenômenos, são comprováveis por meio de observação/
experimentação e podem prever acontecimentos futuros com base na probabilidade.
A partir dos seus atributos a ciência é caracterizada como uma forma de conhecimento
objetivo, racional, sistemático, geral, verificável e falível. Portanto, diante desses
enunciados é possível distinguir ciência de não ciência (GIL, 2010).
Se analisarmos o aspecto etimológico da palavra ciência (scire) seu significado
representa saber/conhecer. Porém, a ciência pode ser considerada sob três aspectos:
“[...] conhecimento ou sistema de enunciados provisoriamente estabelecidos – recebe
o nome de conhecimento científico; como busca da verdade e produtora de ideias
– é a investigação científica; como produtora de bens materiais – é a tecnologia.”
Observamos que esses aspectos estão intimamente ligados e denotam um sentido
amplo de ciência (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 47).
Sob uma perspectiva sociológica, a ciência é considerada uma atividade social
desenvolvida por grupos de indivíduos e instituições. Cada grupo, especializado em
determinado campo de conhecimento, estipula seus objetos de estudo/metodologias
e adota teorias e terminologias próprias. Os indivíduos participantes desse processo

Métodos e Técnicas de Pesquisa 11


são tradicionalmente denominados de cientistas, pesquisadores que objetivam realizar
novas descobertas científicas e gerar novos conhecimentos. O conhecimento científico
é um produto dessa atividade.
Targino (2000) lembra que a ciência é uma instituição social, dinâmica e
contínua, sua finalidade consiste em desvendar e compreender a natureza e seus
fenômenos por meio de metodologias seguras e sistemáticas. Os resultados de
pesquisas são provisórios e seus sistemas explicativos não são permanentes, refletindo
a dinamicidade da ciência. Os resultados científicos são transformados ao longo do
tempo, de acordo com novas descobertas e acréscimos cognitivos. Os constructos
científicos ampliam continuamente as fronteiras do conhecimento. Ao longo dos
séculos a ciência influenciou a humanidade, criando/alterando convicções, modificando
os hábitos e gerando leis.
Colaborando com as ideias expostas, a palavra ciência pode ser utilizada em
muitos sentidos, como, por exemplo, para apontar:

(1) um conjunto de métodos característicos por meio dos quais o conhecimento


é certificado; (2) um estoque de conhecimento acumulado que se origina da
aplicação desses métodos; (3) um conjunto de valores e costumes culturais que
governam as atividades denominadas científicas; ou (4) qualquer combinação
das três anteriores. (MERTON, 2013, p. 183).

Na visão de Ziman (1979), a ciência é um produto da consciência humana,


apresentando escopo e conteúdo bem definidos, como também praticantes
profissionais que fundamentam suas atividades por meio da avaliação, da crítica, da
aprovação e cooperação. A ciência é “precisa, metódica, acadêmica, lógica e prática”
(ZIMAN, 1979, p. 17). Em sua concepção, a ciência é o conhecimento científico
publicado, resultante do consenso da comunidade científica.
No entendimento de Volpato (2015, p. 28-29), a ciência pode ser considerada
a partir de dois referenciais: “a) a forma como construímos o conhecimento e b) o
conjunto de conhecimento produzido”. Para alcançar status de ciência o conhecimento
deve estar pautado no método científico e “[...] os preceitos necessários para construir
o conhecimento científico são: ser sustentado por base empírica; e essa base empírica
deve ser universal, i,e., obtida ou percebida, no mínimo, por quaisquer cientistas
da área [...]” (VOLPATO, 2015, p. 28-29), aspectos esses que definem a essência do
método científico. No entanto, o autor explica que fazer ciência vai além da utilização
do método científico, ao se produzir conhecimento é necessário conectá-lo com a “[...]
rede de conhecimento existente, seja corroborando-os, modificando-os ou eliminando-
os.” (VOLPATO, 2015, p. 30). Além disso, é preciso considerar o conhecimento
científico como eternamente provisório, pois novas descobertas científicas podem
alterar a maneira como compreendemos e explicamos os fatos e fenômenos. Tais
preceitos caracterizam o uso do método científico no fazer da ciência “[...] entendida
epistemologicamente como essa rede de conhecimento que nos fornece entendimento
sobre o mundo natural.” (VOLPATO, 2015, p. 30). Cabe aos cientistas construir
explicações gerais sobre o mundo natural, ou seja, propor teorias científicas.

12 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Nos livros de metodologia científica encontramos as seguintes definições
para ciência: Ander-Egg (1978, p. 15) entende a ciência como “[...] um conjunto de
conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente sistematizados
e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza.” Tomando
uma definição mais precisa, Trujillo (1974, p. 8) afirma que “[...] a ciência é todo um
conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento
com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação.” Diante dos conceitos
expostos convém caracterizar a ciência como:

[...] um pensamento racional, objetivo, lógico e confiável, ter como


particularidade o ser sistemático, exato e falível, não final e definitivo, pois
deve ser verificável, isto é, submetido a experimentação para a comprovação
de seus enunciados e hipóteses, procurando-se as relações causais; destaca-se,
também, a importância da metodologia que, em última análise, determinará a
própria possibilidade de experimentação. (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 23).

Diante das concepções expostas, é possível perceber que a ciência tem como
objetivo a construção de um conhecimento seguro, verificável, por meio de caminhos
(métodos) que atestem sua confiabilidade, esse conhecimento é analisado de forma
crítica por todos que se dedicam no fazer da ciência, ou seja, a ciência é feita de
maneira coletiva e universal. A ciência pode ser desenvolvida tanto em laboratórios,
a partir de experimentos e testes de materiais, quanto a partir da confrontação de
teorias relacionadas à observação dos fatos e fenômenos sociais. Assim, a ciência
engloba tanto as ciências naturais/exatas quanto as ciências sociais/humanas.
Por fim, é importante salientar que os objetivos da ciência são determinados
pela “[...] necessidade que o homem possui de compreender e controlar a natureza
das coisas e do universo, compreendendo-as naquilo que elas encerram de certo,
evidente e verdadeiro.” (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 46-47).

Saiba mais

Agora que você já sabe o que é ciência, assista ao vídeo em que a professora
Dra. Luciana Massi discute a noção de ciência, enfatizando as visões
distorcidas frequentemente associadas a essa atividade:
https://youtu.be/ZYz0O8gFbyQ.

Na sequência, será apresentando um breve relato do desenvolvimento da


ciência ao longo da história da humanidade, iniciamos no período grego e chegamos
na contemporaneidade. É importante perceber as mudanças que ocorrem na forma
de construir o conhecimento.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 13


3 A CIÊNCIA E SEUS PERÍODOS

Ao longo da história da humanidade a ciência passou por diferentes períodos,


por diferentes concepções, paradigmas e modelos teóricos. Podemos dividir a ciência
em três tempos: Ciência Grega, que inicia no século VIII a.C. até o final do século
XVI; Ciência Moderna, que data do século XVII até o início do século XX; e Ciência
Contemporânea, que emerge no início do século XXI até a atualidade (KÖCHE, 2013).
Faremos uma breve retomada de cada período.
Primeiro período (Ciência Grega): dentre os anos de VIII a.C. e IV a.C. na
Antiguidade, na Grécia o conhecimento científico foi desenvolvido pela filosofia, a
ciência era conhecida como filosofia da natureza no qual sua preocupação concentrava-
se na busca do saber, na compreensão da natureza das coisas e do homem. Nesse
contexto, os filósofos pré-socráticos (Tales de Mileto, Anaximandro, Pitágoras,
Heráclito, Empédocles, Anaxágoras e Demócrito) rompem com uma concepção de
mundo caótico embasado na mitologia e inserem a ideia de cosmos, nele, as forças
espirituais e sobrenaturais exercidas pelos Deuses são desconsideradas diante dos
fenômenos que aconteciam no mundo, passa a imperar a ideia de uma ordem natural
no universo, sendo ordenada por princípios e leis inerentes à natureza. Assim, os
fenômenos estavam relacionados à natureza, sendo possível conhecê-los e prevê-los
usando da especulação racional para se chegar à sabedoria. Os pressupostos dos pré-
socráticos prevaleceram por mais de 2000 anos (KÖCHE, 2013).
Em seguida, surge o modelo platônico, nele “[...] o real não está na empiria,
nos fatos e fenômenos percebidos pelos sentidos. O verdadeiro mundo o mundo
platônico é o das ideias, que contém os modelos e as essências de como as aparências
devem se estruturar.” (KÖCHE, 2013, p. 45). Na sequência desponta a concepção
aristotélica que predominou do século IV a.C. até o século XVII, aqui a ciência é fruto
da elaboração do entendimento em colaboração com a experiência sensível, resultante
da abstração indutiva. Assim, o método aristotélico tem como base a análise da “[...]
realidade através de suas partes e princípios que podem ser observados, para em
seguida, postular seus princípios universais, expressos na forma de juízos, encadeados
logicamente entre si.” (KÖCHE, 2013, p. 47). Essa concepção de ciência contribui
para construção de um conhecimento próximo da realidade, uma vez que se pauta
na observação.
Na ciência grega o processo de descoberta não tem destaque, pois o foco era
justificar e demonstrar os princípios universais, então, “[...] o conhecimento científico
era demonstrado como certo e necessário através de argumentos lógicos [...] ” e o valor
das explicações estava na argumentação. Portanto, os gregos fizeram uma ciência do
discurso e qualitativa, sem que houvesse o tratamento do problema que desencadeia
a investigação, a preocupação residiu na demonstração da verdade racional no plano
sintático (KÖCHE, 2013, p. 47-48).
Segundo período (Ciência Moderna): a ciência moderna é marcada pela
oposição à ciência grega (filosofia) e ao dogmatismo religioso. É a partir do século
XV que os modelos platônico e aristotélico são severamente atacados, principalmente

14 Métodos e Técnicas de Pesquisa


no século XVII. Em meio ao Renascimento e à Revolução Científica é introduzida a
experimentação científica, ocasionando uma mudança de compreensão e concepção
teórica de mundo, de ciência, do que vem a ser a verdade, o conhecimento e o método.
Nesse contexto, Galileu e Bacon passam a rejeitar o modelo aristotélico (KÖCHE, 2013).
Bacon advogou que preceitos de ordem filosófica, religiosa e cultural deveriam
ser ignorados no fazer científico, uma vez que distorciam e impediam a verdadeira
visão de mundo. No seu entendimento cabia à experiência confirmar a verdade, o
verdadeiro caminho para o conhecimento era o da indução experimental, assim, Bacon
propôs o método científico, por meio dele se chegaria ao conhecimento. O referido
método é composto pelos seguintes passos: experimentação, formulação de hipóteses,
repetição da experimentação por outros cientistas, repetição do experimento para a
testagem das hipóteses, por fim, formulação das generalizações e leis (KÖCHE, 2013).
Na ciência moderna o método silogístico grego é substituído pelo método
científico-experimental. Assim, “[...] o critério de verdade, para a ciência moderna,
passaria a ser o da correspondência entre o conteúdo dos enunciados e a evidência
dos fatos (verdade semântica).” (KÖCHE, 2013, p. 52). É válido destacar a participação
importante de Galileu na revolução científica moderna, ao introduzir a “[...] matemática
e a geometria como linguagens da ciência e o teste quantitativo-experimental das
suposições teóricas como mecanismo necessário para avaliar a veracidade das hipóteses
e estimular a verdade científica [...]” (KÖCHE, 2013, p. 52), alterando a forma de
produzir e justificar o conhecimento científico. É característica desse período a aplicação
de procedimentos experimentais e matemáticos, e o despontar de uma concepção de
mundo mecanicista e determinista.
Newton, por sua vez, faz uma interpretação do método científico sob um
viés indutivista e positivista, recusando o uso de hipóteses apriorísticas. No seu
entendimento as hipóteses deveriam ser extraídas da experimentação pela indução, as
leis e teorias se originavam dos fatos, “[...] isto é: em física, toda proposição deveria
ser tirada dos fenômenos pela observação e generalizados por indução.” (KÖCHE,
2013, p. 55). Nesse modelo as hipóteses são colocadas à prova e seriam aceitas pela
ciência as que tivessem confirmação do método experimental.
Contudo, observamos que o método científico na modernidade está relacionado
a procedimentos de experimentação que permitem o acesso à realidade, assim, são
criados critérios que determinam julgar quando há ou não o acesso à realidade (KÖCHE,
2013).
Na ciência moderna acreditou-se que o método científico-experimental indutivo
chegaria a verdades exatas, verificadas e confirmadas pelos fatos, e o crescimento da
ciência seria de forma acumulativa diante da superposição de verdades demonstradas
pelas provas geradas pela observação e experimentos. Foi postulado que o único
conhecimento válido é o científico (cientificismo) e que a ciência tudo pode desvendar
e conhecer. É nesse contexto que o modelo científico da física passa a ser adotado
por outras áreas de conhecimento na busca por status científico. Observamos, então,
o desenvolvimento de uma ciência quantitativa e experimental (KÖCHE, 2013).
É válido ressaltar que no século XVII a ciência recebeu influência dos valores
puritanos, refletindo aspectos na sua constituição. Na sociedade inglesa, o aumento

Métodos e Técnicas de Pesquisa 15


do interesse pela ciência esteve relacionado à glorificação divina e ao bem-estar
social, havia um temor que o ócio dos indivíduos pudesse originar pensamentos
pecaminosos e desnecessários. Por meio dessa influência puritana, a ciência incorporou
o utilitarismo e o empirismo em suas práticas, exaltando, assim, a racionalidade,
“[...] a combinação de racionalismo e empirismo que é tão pronunciada na ética
puritana constituiu a essência do espírito da ciência moderna.” (MERTON, 2013, p.
23). Portanto, os conhecimentos teológicos se tornaram insuficientes para responder
questões científicas, pois os fatos devem ser comprovados por meio da observação,
experimentação e ancorados por uma ótica racional, a fé já não bastava (MERTON,
2013).
No mais, os puritanos instituíram academias nas quais a ênfase estava
direcionada para ciência e tecnologia, relacionando-as com questões práticas da
vida. Em suas academias/centros educacionais tinham destaque as disciplinas de
mecânica, hidrostática, física, anatomia e astronomia. Tais estudos se realizavam com
a ajuda de experimentos e observações reais, reforçando, assim, a aplicação prática
dos ensinamentos. A educação puritana estava ligada à vida e seus assuntos tinham
um cunho prático, diferente do ensino desenvolvido nas universidades católicas
que focavam uma educação clássica, teológica, com estudos culturais e pouco úteis
(MERTON, 2013).
Nesse sentido, Burke (2003) enfatiza que no século XVII assistimos ao surgimento
dos institutos de pesquisa, do pesquisador profissional e da própria ideia de pesquisa.
Entre os séculos XVII e XVIII são criadas organizações de fomento à pesquisa e
fundadas as academias de artes, engenharia e medicina. Nesse período utilizaram-se
regularmente os termos investigação e experimento, o que denota a consciência de
certos grupos sobre a “[...] necessidade de buscas para que o conhecimento fosse
sistemático, profissional, útil e cooperativo.” (BURKE, 2003, p. 48-49).
Observa-se que é na modernidade que a ciência se constitui e se institucionaliza.
Nesse período o modelo de construção de conhecimento teve como base a
experimentação e observação, estando vigente um modelo positivista de ciência.
Terceiro período (Ciência Contemporânea): no início do século XX as
contribuições teóricas de Einstein e Popper são fundamentais para a transformação da
ideia de ciência e do método científico. A ciência contemporânea rompe com a noção
de ciência moderna para a qual a investigação tem um olhar objetivo dos fenômenos
e cabe a ela apenas descrever a realidade de forma isenta, sem influência das ideias
pessoais. Na contemporaneidade, a ciência é a proposta de uma interpretação, faz-se
uma analogia na qual o cientista se aproxima de um artista e não de um fotógrafo.
Nesse pensamento, o progresso científico deixa de ser acumulativo e passa a acontecer
por meio de revoluções científicas e o método experimental indutivo deixa de ser um
critério para definir o que é ciência e o que não é ciência (KÖCHE, 2013).
Renegado o método científico indutivo e positivista, a ciência contemporânea
passa a ser vista com um olhar crítico, sendo interpretada e compreendida por meio
do método hipotético-dedutivo, que tem como fundamento a testagem das hipóteses
na tentativa de falseamento, para assim aceitá-las ou refutá-las. Assim, o processo

16 Métodos e Técnicas de Pesquisa


de conhecer é resultante do questionamento feito pelo sujeito que coloca em dúvida
o conhecimento já existente. “Na ciência contemporânea, a pesquisa é um processo
decorrente da identificação de dúvidas e da necessidade de elaborar e construir
respostas para esclarecê-las.” (KÖCHE, 2013, p. 71).
Köche (2013, p. 71) explica que “[...] a investigação científica se desenvolve,
portanto, porque há a necessidade de construir e testar uma possível resposta ou
solução para um problema, decorrente de algum fato ou de algum conjunto de
conhecimentos teóricos.” As soluções elaboradas para o problema apresentam-se
como modelos hipotéticos, ideias que devem ser testadas e criticadas com base no
conhecimento disponível. No método dedutivo a intenção é sempre colocar a hipótese
a prova confrontando-a com hipóteses concorrentes.
As hipóteses são elaboradas pelo pesquisador e levam em conta o domínio
teórico que esse possui em seu campo de atuação, a lógica da pesquisa volta-se para
criar hipóteses e submetê-las à crítica com o intuito de avaliar sua validade, ou seja, a
correspondência com os fatos (verdades semânticas). No entanto, no desenvolver da
pesquisa caminhos variados podem ser seguidos pelos pesquisadores para produzir
uma explicação (KÖCHE, 2013).
Deve ficar claro que no contexto contemporâneo a ciência é percebida como
uma “[...] investigação constante, em contínua construção e reconstrução, tanto das
suas teorias quanto dos seus processos de investigação. A ciência não é um sistema
de enunciados certos ou verdadeiros.” (KÖCHE, 2013, p. 77). O aspecto transitório
do conhecimento tem como base a submissão permanente à crítica e o fato de ser
um produto criativo do espírito humano, da sua imaginação.
Köche (2013, p. 78) afirma que para existir ciência são necessários dois aspectos:
“[...] um subjetivo, o que cria, o que projeta, o que constrói com imaginação a
representação do seu mundo segundo as necessidades internas do pesquisador, e outro
objetivo, o que serve de teste, de confronto.” Em ambos os aspectos existem leis e
o objetivo é conhecê-las, considerando a constante transformação do conhecimento
científico (KÖCHE, 2013).
O conhecimento científico torna-se seguro/confiável pelo seu caráter metódico,
reflexo da preocupação constante pelo aperfeiçoamento e correção dos métodos de
investigação. Cada área de conhecimento adota métodos que são mais confiáveis,
os quais permitem a eliminação de erros e possibilitam que a comunidade científica
exerça a crítica. No entanto, não existe mais a pretensão de taxar o conhecimento
como verdadeiro, uma vez que esse é falível e a ciência passa a ser entendida como
um processo de investigação consciente de suas limitações, capaz de rever e renovar
seus métodos e teorias sob um olhar crítico (KÖCHE, 2013).
Diante do exposto, é possível perceber que, ao longo dos séculos, o caminho
e a lógica utilizados na construção do conhecimento sofreram alterações, levando
em consideração as transformações sociais de cada período, se há uma mudança de
método, isso reflete a forma de encarar a ciência e produzir conhecimento.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 17


4 SENSO COMUM E CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Ao longo da vida as pessoas se apropriam do conhecimento para tomar decisões,


desde as atividades mais simples até as mais complexas recorremos ao conhecimento
em suas diferentes formas, seja ele oriundo do senso comum ou fruto da atividade
científica (KÖCHE, 2013). O que distingue o senso comum do conhecimento científico
“é a forma, o modo ou método e os instrumentos do ‘conhecer’”, isso representa
a maneira de se chegar ao conhecimento. Destacamos que ambos os tipos de
conhecimentos podem ser verdadeiros, pois um mesmo objeto ou fenômeno podem
ser matéria de interesse e observação tanto para o cientista quanto para o homem
comum (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 17).
O modo mais convencional do homem interpretar a si mesmo e o universo tem
como base o senso comum (conhecimento empírico ou conhecimento popular). Esse
conhecimento se processa em consequência da resolução de problemas imediatos
enfrentados no cotidiano, sendo elaborado de forma espontânea e intuitiva, sem
aprofundamento racional e crítico. Seu carácter utilitarista se distancia da explicação
e compreensão a respeito das relações entre os fatos e fenômenos. Por exemplo, sabe-
se que o Chá de Marcela ajuda a aliviar a dor de estômago, no entanto, as pessoas
desconhecem a composição química da erva, as dosagens corretas e possíveis efeitos
colaterais (KÖCHE, 2013).
O senso comum é um tipo de conhecimento superficial e subjetivo relacionado
com as crenças e convicções pessoais, subordinado ao envolvimento afetivo e emotivo,
incapaz de ser submetido à crítica isenta de interpretações pessoais. Sua linguagem
não é especializada, apresenta conceitos e termos vagos que não são previamente
definidos pelos sujeitos, não são claros e podem variar de um contexto para outro,
adquirindo diferentes significados a partir das pessoas e grupos que os utilizam. Em
resumo, esse conhecimento é empírico e assistemático, desenvolve-se naturalmente à
medida que a vida acontece, é passado de geração em geração e leva em consideração
as experiências de vida das pessoas (KÖCHE, 2013).
Por sua vez, o conhecimento científico emerge na tentativa do homem de
otimizar sua racionalidade ao “[...] propor uma forma sistemática, metódica e crítica
da sua função de desvelar o mundo, compreendê-lo, explicá-lo e domina-lo.” (KÖCHE,
2013, p. 29). Esse conhecimento vai além da resolução de problemas de ordem
prática, pois o homem deseja compreender a cadeia de relações existentes entre os
fatos e fenômenos, conhecendo, assim, seus princípios explicativos (por que e como).
O conhecimento é considerado científico quando segue o método científico, isso
pressupõe um “[...] procedimento de passos e rotinas específicas que indica como
a ciência deve ser feita para ser ciência.” (KÖCHE, 2013, p. 34), apresentando ideais
de objetividade e racionalidade. Durante seu processo de construção é preciso se
fundamentar em conceitos, teorias e leis, ao mesmo tempo, é necessário demostrar
o caminho para sua obtenção.
O conhecimento científico é revisado pelos pares através de uma avaliação crítica
intersubjetiva, ao mesmo tempo em que seus enunciados podem ser testados através

18 Métodos e Técnicas de Pesquisa


de experimentos. Esse conhecimento apresenta uma linguagem especializada entre os
membros da comunidade científica, isso significa que seus conceitos devem ser coesos
e universais para todos que pertencem a uma mesma especialidade científica (KÖCHE,
2013). Em resumo, o conhecimento científico caracteriza-se por ser sistemático,
universal (generalizável), verificável, falível, hipotético e aproximadamente exato
(MARCONI; LAKATOS, 2011). Assim, o conhecimento científico tenta se aproximar
de uma verdade, mas reconhece suas limitações e está em constante transformação,
uma vez que a cada nova pesquisa novos conhecimentos são gerados, ocasionando
uma revisão e acréscimo no fundo coletivo de saberes existente.
Santos (1989) esclarece que o conhecimento científico não surgiu
espontaneamente, mas sim como uma tentativa para atestar o que é racional e
verdadeiro. Para o conhecimento possuir um caráter científico, esse deve ser produzido
a partir de uma metodologia, amparado por um arcabouço teórico, no qual estão
presentes as teorias que sustentaram o processo de pesquisa, descritas as etapas de
pesquisa, explanados seus objetivos e resultados. O que confere cientificidade ao
conhecimento é a aceitação da comunidade científica. A avaliação e o reconhecimento
dos pares são fundamentais nesse processo.
Para fortalecer as diferenças entre senso comum e conhecimento científico,
vejamos o Quadro 1, no qual há uma comparação das características desses dois
conhecimentos.

Quadro 1 - Senso comum x conhecimento científico


Senso comum ou conhecimento popular Conhecimento científico
Valorativo Real (factual)
Reflexivo Contingente
Assistemático Sistemático
Verificável Verificável
Falível Falível
Inexato Aproximadamente exato
Fonte: adaptado de Marconi e Lakatos (2011, p. 18 apud TRUJILLO, 1974, p. 11).

Acabamos de abordar dois tipos de conhecimento que são de interesse especial


do componente curricular de Métodos e Técnicas de Pesquisa, mas, além desses,
podemos citar o conhecimento filosófico e o religioso que foram apresentados no
componente curricular de Iniciação Científica.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 19


Saiba mais

Para relembrar das características inerentes aos tipos de conhecimento assista


à videoaula ministrada pela Professora Dra. Cristina Pátaro, que pontua as
particularidades de cada tipo de conhecimento:
https://www.youtube.com/watch?v=QbwdHHfAOS0.

Diferenciado o conhecimento científico de senso comum, a seguir apresentamos


uma classificação geral da ciência, visto que as diversas áreas e especialidades do saber
se constituíram em torno de objeto de estudo ou tema.

5 A CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA

A ciência é composta por diversos ramos de estudo e especialidades, nesse


sentido, podemos classificar a ciência de acordo com a sua complexidade e conteúdo:
objeto/tema, diferenças de enunciados e metodologia. Essa necessidade de classificar
a ciência decorreu da complexidade do universo e da variedade de fenômenos que
nele se manifestam, relacionados ao interesse do homem em estudá-los, entendê-los
e explica-los (MARCONI; LAKATOS, 2011).
De maneira geral, as ciências podem ser classificadas em duas grandes
categorias, formal e factual, e a partir dessas podem ser subdivididas em subcategorias,
conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1 - Classificação da ciência

LÓGICA
FORMAIS
MATEMÁTICA

CIÊNCIAS Física
Química
NATURAIS
Biologia

FACTUAIS
Antropologia
Direito
Economia
SOCIAIS Política
Sociologia
Psciologia
Fonte: Marconi e Lakatos (2011, p. 28).

20 Métodos e Técnicas de Pesquisa


A principal característica que distingue as ciências reside no seu objeto de
estudo, as ciências formais se voltam para o estudo das ideias, enquanto as ciências
factuais se voltam para o estudo dos fatos. Enquadradas como ciência formal, a lógica
e a matemática são abstratas, estão na mente humana em um nível conceitual, isso
impossibilita a experimentação e validação de suas fórmulas. Em contrapartida, a
Física e a Sociologia são ciências factuais, pois lidam com os fatos que ocorrem no
mundo, passíveis de experimento e observação na comprovação de suas fórmulas,
sendo possível teste de hipóteses (MARCONI; LAKATOS, 2011).
Colaborando com essa classificação, Barros e Lehfeld (2000) explicam que as
ciências formais utilizam do método dedutivo e, como dito anteriormente, seus objetos
de estudo são ideias, imagens mentais, correspondentes às simbologias. Nesse sentido,
nada é factual, concreto, experimental e tampouco se utiliza da observação. Por sua
vez, as ciências factuais utilizam o método indutivo e seus objetos de estudo são os
fatos, processos que se referem às causas naturais e humanas, no qual é possível fazer
a experimentação e observação. Essa divisão da ciência leva em consideração alguns
aspectos demonstrados no Quadro 2.

Quadro 2 - Aspectos relacionados à divisão em ciências formais e factuais


ITEM FORMAL FACTUAL
Objeto ou tema Enunciados baseados em Objetos empíricos fenômenos
entidades abstratas naturais, coisas e processos
Enunciados Relações entre símbolos Relações entre entes,
fenômenos, fatos
Método de Uso da lógica dedutiva para Necessita da observação e/ou da
comprovar demonstrar seus teoremas experimentação. Manipulação
enunciados D e d u ç ã o : c o e r ê n c i a d o deliberada dos fenômenos e
enunciado com um sistema objetos para verificar os fatos.
previamente aceito. Não usa Usa a Indução
Indução
Grau de suficiência Suficiente quanto ao conteúdo Seu conteúdo depende de
em relação ao e aos métodos de prova fatos. Utiliza experimentação
conteúdo e ao (ou observação) para assegurar
método de prova a validade de suas hipóteses
Grau de coerência Coerência do enunciado com A coerência com um sistema
para alcançar a um sistema prévio de ideias. previamente aceito é necessária
verdade A verdade não é absoluta, mas não suficiente. A estrutura
mas sim relativa ao sistema lógica não é suficiente para
previamente admiti do. Ex.: garantir a verdade. A experiência
geometria euclidiana e não garante a verdade sem excluir a
euclidianas possibilidade de que esta possa
ser melhorada com a evolução
do conhecimento

Métodos e Técnicas de Pesquisa 21


Resultado Demonstração ou prova, Ve r i f i c a ç ã o d e h i p ó t e s e s
alcançado completa e definitiva comprovando ou refutando-
as. As hipóteses, comprovadas
são provisórias. A verificação
é incompleta e, portanto, não
definitiva
Fonte: adaptado de Marconi e Lakatos (2011).

Nesse contexto de classificação, a Biblioteconomia é considerada uma Ciência


Social. Contudo, se considerarmos a classificação de áreas do conhecimento adotada
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a
Biblioteconomia pertence à grande Área de Ciências Sociais Aplicadas I, estando
vinculada à área da Ciência da Informação (CAPES, 2016). Em resumo, os bibliotecários
em suas pesquisas científicas tratam de processos e fatos sociais passíveis de observação
e experimentação, podendo, assim, formular ou rejeitar hipóteses de pesquisa.

6 O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA E AS RELAÇÕES DE PODER ENTRE


AGENTES CIENTÍFICOS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Apresentado o conceito de ciência é necessário abordar como a ciência se


desenvolve e como se processam as relações entre os cientistas no processo de
construção do conhecimento científico. Para tanto, buscamos fundamentação no
filósofo do conhecimento, Thomas Kuhn (2009) e no sociólogo da ciência, Pierre
Bourdieu (1983; 2004).
Ao escrever A estrutura das revoluções científicas, em 1962, o físico Thomas
Kuhn apresenta conceitos-chave no entendimento do que é ciência e como ocorrem
as transformações científicas. Segundo o autor, o progresso da ciência não acontece
com o acúmulo do conhecimento, mas por processos de revolução que representam
transformações e mudanças no modo de fazer ciência, assim, os cientistas são
levados a rever suas práticas, teorias e problemas de pesquisa. Nesse contexto,
propõe a noção de paradigma que norteia o entendimento de ciência, pois são “[...]
as realizações científicas universalmente conhecidas que, durante algum tempo,
fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de
uma ciência.” (KUHN, 2009, p. 13). Os paradigmas compreendem os valores, crenças
e modelos compartilhados entre os membros de uma comunidade científica, este
perde sua relevância quando não consegue mais responder ou solucionar problemas
de pesquisa (KUHN, 2009).
As comunidades científicas organizam-se em torno de um paradigma, pois
é esse que determina qual o objeto de estudo das pesquisas, quais as teorias e
técnicas empregadas, como também define os problemas a serem discutidos. O que
aproxima os membros da comunidade (cientistas/pesquisadores) são suas afinidades
de pesquisa, interesses e objetivos em comum. Situados em um mesmo contexto,

22 Métodos e Técnicas de Pesquisa


familiarizados com os mesmos fenômenos e objetos sua linguagem evolui para um
patamar especializado que só é compreendido dentro do limite de cada grupo, pois
receberam formação similar e absorveram a mesma literatura (KUHN, 2009).
Nesse sentido, os paradigmas governam as práticas científicas e apresentam
uma relação direta com o desenvolvimento científico. A ciência se desenvolve por
diferentes momentos, no qual velhos paradigmas deixam de vigorar e surgem novos
paradigmas que alteram a maneira do cientista perceber os objetos e fenômenos,
influenciando o modo de produzir conhecimento. Em consequência disso, ocorrem
períodos de ciência normal e períodos de ciência extraordinária (KUHN, 2009).
Os períodos denominados de ciência normal não apresentam novidades e
descobertas, neles os cientistas estão em sua zona de conforto, desenvolvem suas
pesquisas com base em conhecimentos já existentes e, assim, articulam fenômenos
e teorias fornecidos pelo paradigma vigente, refletindo e reafirmando o que já
se conhece. Os livros constituem os manuais da ciência normal, já que definem e
expressam teorias, problemas e métodos de um campo e reforçam o paradigma
vigente. Portanto, a ciência normal “[...] significa a pesquisa firmemente baseada
em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas
durante algum tempo por alguma comunidade científica específica.” (KUHN, 2009,
p. 13).
Para dar início ao período de ciência extraordinária é preciso a constatação de
anomalias, essa provoca uma crise no paradigma existente. Quando uma pesquisa
normal não atinge os resultados esperados, isso significa que existe algo de errado que
o paradigma existente não dá conta de amparar. Instaurada a crise, um novo paradigma
emerge e os pesquisadores passam a adotar novas teorias e renunciam às velhas. As
crises abrem caminho para as revoluções científicas, o que Kuhn (2009, p. 125) chama
de “[...] episódios de desenvolvimento não cumulativo, nos quais o paradigma mais
antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior.”
O sentimento de funcionamento defeituoso ocasionado pelo paradigma antigo é um
pré-requisito para a revolução, esse sentimento é crescente e inicialmente pertence a
uma pequena subdivisão da comunidade científica.
Ao se adotar um novo paradigma é possível observar um novo mundo, são
aceitos novos instrumentos e os olhares são orientados para novas direções. Em meio
às revoluções científicas, os cientistas veem coisas novas e diferentes que antes não
conseguiam observar devido ao antigo paradigma. Esse período é constituído de
ciência extraordinária, no qual se observa uma concorrência entre os paradigmas,
assim, a adoção de um novo paradigma pode até conceber uma nova área ou ciência.
De forma geral, o que Kuhn (2009) afirma é que a ciência é formada por
momentos distintos, caracterizados pela alternância entre ciência normal e ciência
extraordinária, no que se referem aos paradigmas, eles governam e modulam as
comunidades científicas e suas práticas. A adoção de um novo paradigma influi em
mudanças teóricas e práticas, aspectos esses que caracterizam um campo científico.
Demonstrada essa noção de desenvolvimento da ciência sob um prisma da
filosofia do conhecimento, a seguir veremos que as práticas científicas desempenhadas
pelos pesquisadores na construção do conhecimento científico são camufladas

Métodos e Técnicas de Pesquisa 23


de interesses. Assim, as escolhas dos temas de pesquisa, as técnicas de pesquisa
empregadas e as publicações dos resultados das pesquisas refletem estratégias
adotadas para aumentar o capital científico dos cientistas/pesquisadores, quando
esses detêm prestígio e capital científico significativo passam a ser dominantes em
suas áreas, influenciando os demais pares.
O sociólogo Pierre Bourdieu (1984) apresenta a noção de campo científico
como sendo um espaço de concorrência e disputa entre os cientistas na busca pela
autoridade científica, que é definida pela capacidade técnica e poder social dos
cientistas. Nessa concepção, a ciência está relacionada com a luta de poderes no meio
acadêmico diante da busca pelo reconhecimento científico. O foco da questão não
é o cientista singular, mas o campo científico com base nas relações de concorrência
que nele se manifestam.
No campo científico estão inseridos os cientistas/pesquisadores de diversos
níveis e instituições científicas (universidades, associações científicas e instituições de
fomento) que juntos constituem, produzem, fomentam e difundem a ciência. Neste
campo existem pesquisadores dominantes e cientistas dominados, “[...] os dominantes
são aqueles que conseguem impor uma definição da ciência segundo a qual a realização
mais perfeita consiste em ter, ser e fazer aquilo que eles têm, são e fazem.” (BOURDIEU,
1983, p. 128). Os pesquisadores dominantes orientam a dinâmica do campo ao indicar
o que deve ser pesquisado, onde devem ser publicados os resultados de pesquisa e
quais os objetos de interesse que merecem ser investigados.
Na maioria das vezes os pesquisadores dominantes se caracterizam por
apresentar um volume expressivo de publicações (livros, artigos), em consequência
disso podem ser os autores mais citados em suas respectivas áreas, ou seja, suas
ideias e teorias são utilizadas e aceitas como importantes pelos demais cientistas.
Em contrapartida, os dominados podem ser considerados como os pesquisadores
iniciantes que ainda não possuem um histórico e representatividade pelo pouco
tempo de atuação ou pesquisadores com pouca expressividade na área, visto que
suas ideias, conceitos e teorias não são bem aceitos pelos demais pares, como fruto
disso, enfrentam dificuldades para publicar seus trabalhos e disseminá-los.
A relação dominante e dominado tem como base a estrutura do campo, sendo
determinada pela distribuição do capital científico, nesse os agentes (pesquisadores e
instituições de fomento) caracterizados pelo seu volume de capital determinam como
serão distribuídas as posições entre eles. “A estrutura do campo científico se define,
a cada momento, pelo estado das relações de força entre os protagonistas em luta,
agentes ou instituições, isto é, pela estrutura da distribuição do capital específico
[...].” (BOURDIEU, 1983, p. 133). No domínio da pesquisa científica são os agentes
que fazem seus os objetos de interesse:

[...] os pesquisadores ou as pesquisas dominantes definem o que é, num dado


momento do tempo, o conjunto de objetos importantes, isto é, o conjunto
das questões que importam para os pesquisadores, sobre as quais eles vão
concentrar seus esforços e, se assim posso dizer, compensar determinando
uma concentração de esforços de pesquisa. (BOURDIEU, 2004, p. 25).

24 Métodos e Técnicas de Pesquisa


O campo científico, segundo Bourdieu (1996, p. 159), exige daqueles que estão
nele envolvidos um saber prático das leis de funcionamento desse universo, isto é,
“[...] um habitus adquirido pela socialização prévia e/ou por aquela que é praticada
no próprio campo.” O habitus funciona como um manual de condutas, permitindo
aos participantes do campo científico ter a dimensão do que podem fazer e o que
deve ser feito no campo.
No geral, todas as práticas científicas estão dirigidas para a obtenção da
autoridade científica que se reverte em capital científico. O interesse pela atividade
científica apresenta aspectos intrínsecos e extrínsecos, pois não basta uma pesquisa
ser atraente e importante somente para quem a realiza, é necessário que ela chame a
atenção dos pares e seja reconhecida como importante. Assim, os esforços científicos
se organizam tendo por base o que vai proporcionar lucro simbólico, buscam solução
para problemas considerados como os mais pertinentes pela comunidade (BOURDIEU,
1983).
O capital científico é um poder simbólico, esse se relaciona com o status
proporcionado pelos atos de conhecimento e reconhecimento capazes de manipular
os meios constitutivos do campo. O reconhecimento consiste nos créditos que uma
determinada comunidade de pesquisadores atribui a um cientista pelos seus feitos
(BOURDIEU, 2004).
Não existe ciência neutra, há sempre interesses envolvidos no desenvolvimento
das pesquisas. Segundo Bourdieu (2004, p. 35), “[...] os campos são o lugar de duas
formas de poder que correspondem a duas espécies de capital científico [...]”: o poder
temporal (político) e o poder específico (prestígio). O primeiro, como seu próprio nome
infere, se relaciona com a ocupação de posições representativas nas instituições, tais
como: direções de laboratórios, de departamentos, nomeação para comissões etc. O
segundo poder é mais independente, está relacionado com o reconhecimento científico
proveniente dos pares. Esses dois tipos de capital apresentam leis de acumulação bem
distintas: “O capital científico puro adquire-se, principalmente, pelas contribuições
reconhecidas ao progresso da ciência, as invenções ou as descobertas.” (BOURDIEU,
2004, p. 36). Um exemplo é a publicação de um artigo em uma revista renomada,
respeitada. Já o capital institucionalizado (temporal) é constituído e fortalecido com
o tempo, sua aquisição ocorre basicamente por “[...] estratégias políticas (específicas)
[...] participação em comissões, bancas (de teses, de concursos), colóquios mais ou
menos convencionais no plano científico, cerimonias, reuniões.” (BOURDIEU, 2004,
p. 36).
O capital científico está no cerne da disputa dos agentes, o capital denota poder
e quanto mais se acumula capital mais domínio se exerce sobre o campo científico.
Quanto mais capital um cientista acumular mais propriedade esse tem para definir o
que é válido ou não em sua área (BOURDIEU, 2004).
Na visão de Bourdieu (1983), acreditar na neutralidade genuína dos agentes
científicos seria ilusão, o campo é um ambiente de disputa, no qual o cientista que
conseguir acumular mais capital científico tem o poder de influenciar todo o campo,
sendo facultada competência para agir e falar. Essa hegemonia implica em um estado
no qual as novas ideias e concepções são analisadas constantemente e contidas quando

Métodos e Técnicas de Pesquisa 25


ameaçam os dominantes. Os pesquisadores dominantes visam manter a estrutura
do campo a seu favor, suas decisões vão estar pautadas em estratégias políticas
e não na noção do bem-estar coletivo dos demais pesquisadores. Aos dominados
resta reivindicar e lutar por mais espaço, na medida em que aumentarem seu capital
científico e político poderão alterar as estruturas do campo.

Síntese

Vimos que ciência é uma atividade social desenvolvida por cientistas na


tentativa de desvendar, compreender e explicar os fenômenos da natureza e
da sociedade. Como produto dessa atividade científica temos a produção do
conhecimento científico que se difere do senso comum, tais conhecimentos se
aplicam em diferentes contextos. A ciência e, respectivamente, o conhecimento
científico são caracterizados como um conhecimento objetivo racional,
sistemático, geral, verificável e falível. Ambos se constituem por meio de uma
rede universal de saberes que se interliga e se renova diante do acréscimo
cognitivo resultante de cada nova pesquisa realizada.
Observamos que a concepção de ciência ao longo dos séculos esteve
atrelada ao método científico, ou seja, os critérios adotados para considerar o
que é digno de ciência e não ciência. Em relação à divisão da ciência, essa pode
ser dividida em duas grandes categorias, ciência formal e factual, sendo que a
Biblioteconomia integra o grupo das ciências sociais, pertence especificamente
à área de Ciência da Informação.
Demonstramos num contexto geral como ocorre o desenvolvimento
da ciência, destacando a importância dos paradigmas na configuração das
comunidades científicas e, respectivamente, sua influência sobre a formação
e prática dos cientistas. Contextualizamos as relações de poder travadas entre
os cientistas na construção do conhecimento diante da busca pela autoridade/
reconhecimento científico. A ideia de neutralidade na ciência fica fragilizada,
pois todas as ações desempenhadas pelos cientistas são motivadas por interesses
que implicam na adoção de estratégias que objetivam aumentar o capital
científico dos pesquisadores.

26 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Para ler...

Para complementar o que vimos na unidade, observe a seguir algumas


referências:

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São


Paulo: Brasiliense, 1992.

CHALMERS, Alan Francis. O que é ciência afinal. São Paulo: Brasiliense,


1993.

SEDOR, Gígi Anne Horbatiuk. Thomas S. Kuhn: explorando o mundo


científico. Florianópolis: Ed. do Autor, 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução a uma ciência pós-moderna. 3.


ed. Porto: Edições Afrontamento, 1993.

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Técnicos e Científicos, 1979.

REFERÊNCIAS

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CAPES. Tabela de áreas do conhecimento. Disponível em:<http://www.capes.gov.br/


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KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação


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ZIMAN, J. M. Conhecimento público. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed.


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Anotações

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Métodos e Técnicas de Pesquisa 29


Anotações

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30 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Unidade 2
Pesquisa, suas Classificações e o Método Científico

Objetivo:
• Compreender a noção de pesquisa e de método científico;
• Caracterizar as pesquisas de acordo com objetivos, abordagens e técnicas;
• Apresentar os métodos de abordagem e de procedimentos empregados na
investigação científica;
• Espera-se que o aluno compreenda as noções de pesquisa e método científico,
sendo capaz de caracterizar as pesquisas diante de seus objetivos, abordagens,
métodos e técnicas.

Conteúdo programático:
• Pesquisa básica, pesquisa aplicada;
• Pesquisa qualitativa, pesquisa quantitativa, quali-quantitativa;
• Pesquisa exploratória, pesquisa descritiva, pesquisa explicativa;
• Técnicas de pesquisa: bibliográfica, documental, experimental, levantamento,
estudo de caso, ex-post-facto, pesquisa-ação e participante;
• Método Dedutivo, Método indutivo, Método Hipotético-Dedutivo, Método
Dialético, Método Fenomenológico;
• Método Histórico, Método Comparativo, Método Monográfico, Método
Estatístico, Método Tipológico, Método Funcionalista, Método Estruturalista,
Método Experimental, Método Observacional, Método Clínico.
Faça aqui seu planejamento de estudos

32 Métodos e Técnicas de Pesquisa


1 INTRODUÇÃO

Nesta unidade apresentamos a noção de pesquisa científica que denota um
processo de investigação resultante de uma dúvida ou da necessidade de resolver
um problema. A finalidade da pesquisa é encontrar soluções e respostas as questões
que deram início à investigação, no seu fazer se utilizam de pressupostos científicos
e principalmente do método científico.
Frequentemente fazemos pesquisas, mas nem todas podem ser categorizadas
como científicas, para se enquadrar nesse nível, é necessário haver um problema
significativo, objetivos, justificativa, metodologia, fundamentação teórica, coleta de
dados, análise e discussão dos resultados e pôr fim à divulgação da pesquisa perante
demais pesquisadores. Então, o simples levantamento de informações para dirimir
dúvidas não chega a ser uma pesquisa científica, uma vez que não é uma atividade
complexa.
No que se refere à classificação das pesquisas, veremos que elas são classificadas
conforme a sua finalidade, de acordo com os objetivos, abordagem do problema e
procedimentos técnicos empregados na investigação.
Além disso, ressaltamos que o método científico é fundamental na construção do
conhecimento, pois demonstra as operações mentais e técnicas seguidas no processo
da pesquisa, por meio do método é possível a verificação. O método contempla tanto
etapas mais abstratas da pesquisa como a formulação do problema, hipóteses, assim
como partes mais concretas que envolvem a aplicação de procedimentos na coleta
de dados.
Esperamos que no final desta unidade você entenda o que é pesquisa e suas
classificações, percebendo a importância do método na investigação dos fenômenos
naturais e sociais.

2 O QUE É PESQUISA?

A noção de pesquisa que é apresentada nesta unidade faz referência às atividades


desenvolvidas por pesquisadores/cientistas na busca e construção do conhecimento
científico, essa atividade visa sanar dúvidas e resolver problemas de ordem científica
que se colocam diariamente na vida das pessoas. A pesquisa é motivada pela vontade
de conhecer, de saber mais sobre um fato, fenômeno ou objeto.
Tradicionalmente as pesquisas científicas são realizadas nas Universidades, nas
Instituições de Ensino Superior, nos Centros e Institutos de Pesquisas, tais instituições
possuem um quadro profissional qualificado (mestres e doutores) e infraestrutura
adequada, incluindo laboratórios, bibliotecas e tecnologias que amparam esse
processo. As pesquisas buscam explorar os fenômenos da natureza e atender às
necessidades humanas. Como resultado, geram produtos científicos: livros, artigos,
dissertações, teses, relatórios de pesquisa etc.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 33


Dependendo da natureza da pesquisa é possível perceber a aplicação do
conhecimento gerado, por exemplo, quando se desenvolve um medicamento ou
tratamento de saúde. Nesse caso, o conhecimento científico é utilizado na resolução
de um problema concreto pelo qual muitas pessoas enfrentam.

Saiba mais

Vejamos uma matéria que aborda o desenvolvimento de uma vacina contra o


vírus da Zika:

Butantan fecha parceria com EUA para desenvolver vacina de zika


Instituto receberá US$ 3 milhões de órgão do governo americano.
Parceria é para desenvolvimento de vacina com vírus inativado.
Mariana Lenharo
Do G1, em São Paulo

O Instituto Butantan fechou, nesta sexta-feira (24), uma parceria com os Estados
Unidos e com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para o desenvolvimento
de uma vacina contra o vírus da zika.
O centro de pesquisa brasileiro deve receber US$ 3 milhões da Autoridade de
Desenvolvimento e Pesquisa Biomédica Avançada (Barda, na sigla em inglês),
órgão ligado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo
americano (HHS), para o desenvolvimento de uma vacina de zika com vírus
inativado. O HHS é o órgão equivalente ao Ministério da Saúde dos EUA.
O investimento faz parte de um acordo já existente entre a Barda e a OMS. Além
dos US$ 3 milhões provenientes do órgão americano, a OMS também destinará
doações de outros países e organizações privadas para o expandir a capacidade
de produção de vacinas do Instituto Butantan.
Com o dinheiro, o Butantan poderá comprar equipamentos de laboratório,
reagentes, linhagens de células e outros recursos necessários para o
desenvolvimento e produção da vacina de zika. A parceria também inclui a
cooperação técnica entre pesquisadores da Barda e do Butantan.
A expectativa é que a vacina esteja pronta para testes em humanos no primeiro
semestre de 2017.

Vacina de vírus inativado


Segundo o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, o desenvolvimento da vacina
de vírus inativado contra zika já está em desenvolvimento há alguns meses.
Pesquisadores do centro já trabalharam no processo de cultura, purificação e
inativação do vírus em laboratório. Na fase atual, roedores devem começar a
receber os vírus inativados.
O Butantan tem ainda outras três iniciativas de desenvolvimento de vacina contra
zika: uma vacina a base de DNA, outra vacina com vírus inativado semelhante
à vacina da dengue, além de uma vacina híbrida que tem como base a vacina
de sarampo.

34 Métodos e Técnicas de Pesquisa


“A resposta tem que ser rápida ou o dano vai estar feito e deixará um legado
terrível: as crianças com microcefalia”, diz Kalil.
Segundo o diretor, esse desenvolvimento ocorreria de forma mais rápida se houvesse
mais recursos disponível. Em fevereiro, o governo federal anunciou um investimento
de R$ 8,5 milhões para financiar o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à
zika no Instituto Butantan. Mas, segundo Kalil, o recurso ainda não foi liberado.

Vírus já circula em 61 países


Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o vírus da zika
como emergência de saúde pública global. O vírus foi associado à microcefalia,
uma malformação congênita.
De acordo com boletim da OMS divulgado na semana passada, 61 países e
territórios já registram transmissão continuada do vírus da zika. Além disso,
outros 10 países tiveram relato de transmissão de zika de indivíduo para
indivíduo, provavelmente por via sexual.
O Brasil é o país onde o vírus está mais disseminado, com mais casos de infecção
pelo vírus e de microcefalia associada à zika. O país teve 138.108 casos prováveis
de zika em 2016 até o dia 7 de maio, segundo o Ministério da Saúde. Em 2016, o
país registrou uma morte causada pela doença em um adulto no Rio de Janeiro e,
no ano passado, foram 3 mortes de adultos.
Ainda segundo a pasta, são 1.616 casos confirmados de microcefalia desde o início
das investigações, em 22 de outubro, até 11 de junho, com 73 mortes de bebês.

Fonte: Portal de Notícias G1. 27/06/2016 09h39, atualizado em 27/06/2016 11h10.


Disponível em: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/06/butantan-fecha-
parceria-com-eua-para-desenvolver-vacina-de-zika.html.

Para desenvolver a vacina foi necessário fazer pesquisa científica, usar e aplicar
conhecimentos existentes sobre o assunto, como também submeter a vacina a
experimentos e testes que validassem a sua eficácia. A necessidade de fazer a vacina
partiu de um problema social e os cientistas/pesquisadores foram levados a propor
uma solução. Então, a pesquisa científica está direcionada a propor respostas, gerar
conhecimentos que contribuam na solução de problemas no âmbito prático ou teórico.
A seguir apresentamos alguns conceitos de pesquisa científica, observamos
que os autores citados possuem concepções similares ao ressaltar a adoção de
procedimentos racionais, a utilização dos métodos científicos, a avaliação por pares
e a publicação dos resultados obtidos nas pesquisas.
De forma genérica, pesquisa é a atividade que visa descobrir respostas a algum
tipo de indagação, atesta Volpato (2007). Por sua vez, a pesquisa científica é atividade
que utiliza metodologia e pressupostos científicos.

Uma pesquisa científica pode ser caracterizada pelo seu método: basicamente,
base empírica, controle de variáveis e crítica para aceitação das ideias.
Uma vez produzido dessa forma, o conhecimento pode ser ligado a outros

Métodos e Técnicas de Pesquisa 35


conhecimentos científicos aceitos no momento, construindo então a rede de
conhecimentos que caracteriza a Ciência. (VOLPATO, 2007, p. 28).

Com um pensamento semelhante ao exposto, Rudio (2011) expõe que a pesquisa


científica deve ser desenvolvida de forma sistemática, usando métodos e técnicas
que se referem a uma realidade empírica (tudo que existe e pode ser conhecido
através da experiência e observação). O conhecimento obtido na pesquisa pressupõe
a comunicação desses por meio de publicações científicas.
Reafirmando os conceitos apresentados, Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 57)
definem pesquisa como:

[...] atividade voltada para a investigação de problemas teóricos ou práticos


por meio do emprego de processos científicos. Ela parte, pois, de uma dúvida
ou problema e, com o uso de método científico, busca uma resposta ou
solução. Os três elementos - dúvida/problema, método científico e resposta/
solução – são imprescindíveis, uma vez que a solução poderá ocorrer somente
quando algum problema levantado tenha sido com instrumentos científicos
e procedimentos adequados.

Na visão de Gil (2010a) pesquisa é um procedimento racional e sistemático que


objetiva responder determinados problemas, desponta em decorrência da ausência
ou insuficiência de informações que possam responder ao problema ou questão.
Há casos em que existe informação sobre o problema, mas, devido a sua desordem
não é possível se adequar à situação. Além disso, a pesquisa abrange a adoção de
métodos e técnicas de investigação e “[…] desenvolve-se ao longo de um processo que
envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória
apresentação dos resultados.” (GIL, 2010, p. 1).
Minayo (1994) ressalta que pesquisa é a atividade básica da ciência, vincula
teoria e prática, fornece subsídio à atividade de ensino e atualiza o repertório de
conhecimento frente à realidade do mundo. Essa emerge a partir de um problema,
uma dúvida ou pergunta e se articula com conhecimentos anteriores, já existentes.
Nesse processo de investigação são feitas descobertas que contribuem com o
desenvolvimento da ciência, gerando novas referências.
Richardson (2008, p. 16) afirma que a pesquisa é uma ferramenta para adquirir
conhecimento e tem como objetivo “resolver problemas específicos, gerar teorias ou
avaliar as teorias existentes”. Envolve, assim, a resolução de problemas práticos, a
formulação de novos conhecimentos e validação de conhecimentos existentes.
O caráter científico das pesquisas advém da adoção da metodologia científica
e de técnicas adequadas para a obtenção de dados que possibilitam compreender
um fenômeno. O conhecimento resultante da investigação científica contribui na
ampliação de conhecimentos já existentes, refletindo na construção, reformulação
e transformação de teorias científicas. A ciência avança graças ao desenvolvimento
de pesquisas, essa denota um processo reflexivo, sistemático, controlado e crítico
(BARROS; LEHFEL, 2010).

36 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Fazer pesquisa não se restringe ao uso de bibliografias e documentos para dirimir
dúvidas ou transcrever resultados, a consulta aos documentos é um meio de acesso à
informação para assim obter o conhecimento. Essa busca por esclarecimentos envolve
problema e solução menos significativos, não segue critérios rigorosos e tampouco
registra dados. Portanto, a pesquisa científica tem como base a resolução de problema
significativo no qual aplica procedimentos racionais e sistemáticos que permitem sua
validação, réplica e registro dos resultados alcançados (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
Nenhum pesquisador/cientista nasce com talento nato para a pesquisa,
o pesquisador tem seu espírito científico explorado durante a sua formação, no
qual apreende a fazer pesquisa. Quando o pesquisador é introduzido no universo
científico, inicialmente sua preocupação recai no processo, nas etapas da pesquisa
e não propriamente nos resultados, uma vez que precisa conhecer e aprender essa
atividade.
Tradicionalmente, no fim da graduação os alunos desenvolvem um projeto
de pesquisa, o que permite um melhor entendimento e compreensão da lógica
do pesquisar, conhecendo detalhadamente os elementos e etapas da investigação
científica. Da mesma forma, o aluno que faz a componente curricular de iniciação
científica na graduação também está em processo de formação e desenvolve o espírito
científico. Na medida em que o pesquisador ganha experiência, mais familiaridade
tem para propor e desenvolver pesquisas.
No entanto, Gil (2010b, p. 2) explica que o êxito de uma pesquisa está
relacionado com qualidades sociais e intelectuais do pesquisador, envolvendo, assim:
“[...]conhecimento do assunto a ser pesquisado; curiosidade, criatividade, integridade
intelectual, atitude autocorretiva; sensibilidade social; imaginação disciplinada;
perseverança e paciência; confiança na experiência.” A combinação de tais elementos,
mais a experiência do pesquisador favorece para o sucesso da pesquisa.
A pesquisa científica exige a elaboração de alguns elementos como, problema,
justificativa, hipóteses, objetivos, fundamentação teórica, metodologia e resultados,
mas isso não significa que seja desempenhada de forma rígida. No decorrer de uma
pesquisa pode haver mudanças, sendo comuns na sua fase inicial, como adequação
do problema, hipótese, objetivos e reestruturação dos procedimentos metodológicos.
Nem sempre o pesquisador tem controle sobre o andamento da pesquisa,
por exemplo, quando a investigação utiliza de entrevista para a coleta dos dados,
há uma dependência de terceiros para sua realização. Assim, é necessário analisar
as possibilidades de os indivíduos participarem da pesquisa, sendo que ninguém é
obrigado a colaborar. Além disso, as pesquisas implicam em custos para sua execução,
o pesquisador precisa estipular um orçamento e dispor de fontes que arquem com
os gastos. Por mais simples que seja a pesquisa sempre haverá custos relacionados,
desde a impressão do relatório final até compras de materiais para experimento, ou
gasto com viagens de estudo quando necessário.
A seguir veremos que os cientistas são motivados a fazer pesquisa por distintas
razões e as pesquisas apresentam diferentes fins.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 37


3 PESQUISA BÁSICA (PURA) E PESQUISA APLICADA

As razões que estimulam os cientistas no desenvolvimento da pesquisa estão


divididas em dois grupos, as razões de ordem intelectual estão fundamentadas “no
desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer”, e as razões de ordem prática
cujo “desejo de conhecer tem em vista fazer algo de maneira mais eficiente, ou melhor”
(GIL, 2010b). Tradicionalmente, as pesquisas são classificadas quanto a sua natureza
em dois tipos:
Pesquisa básica (pura): seu propósito é o progresso da ciência e desenvolve
o conhecimento científico sem preocupação com sua aplicação prática. Enriquece
o repertório de conhecimento humano sobre determinado assunto. As motivações
residem na vontade que o pesquisador possui diante do saber, satisfazendo a
necessidade intelectual pelo conhecimento. Objetiva a criação de teorias e leis, se
refere a verdades e interesses universais (BUNGE, 1989; CERVO; BERVIAM, 2002; SILVA;
MENEZES, 2005).

Exemplo:

Quando o pesquisador estuda a história dos códigos de catalogação e compara


seus princípios e características. O resultado da pesquisa refletirá no acréscimo de
conhecimento a respeito dos códigos de catalogação, dependendo da profundidade
do estudo será possível gerar uma teoria de catalogação.


Pesquisa aplicada: seu propósito é buscar solução para problemas concretos,
está relacionada com fins práticos, com aplicação propriamente do conhecimento.
Apropria-se de forma prática dos conhecimentos obtidos em pesquisas básicas. Não
pretende desenvolver teorias universais, pois se refere a verdades e interesses locais
(BUNGE, 1989; CERVO; BERVIAM, 2002; SILVA; MENEZES, 2005).

Exemplo:

Quando o pesquisador desenvolve um novo modelo de catalogação tendo em vista


a representação descritiva da informação em meio digital. O modelo resultante da
pesquisa implicará na prática da catalogação exercida pelos bibliotecários. Portanto,
essa pesquisa tem um fim prático para a área.

Algumas áreas de conhecimento tem uma predileção a desenvolver mais


pesquisas de ordem pura, enquanto outras desenvolvem mais pesquisas aplicadas.
Assim, as Ciências Humanas tendem a fazer pesquisa pura e as Engenharias tendem
a fazer pesquisa aplicada. No entanto, não existem regras e os dois tipos de pesquisa
coexistem em todas as áreas, as pesquisas aplicadas se utilizam dos conhecimentos
gerados pela pesquisa pura.

38 Métodos e Técnicas de Pesquisa


4 A CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA QUANTO AO PROBLEMA, OBJETIVOS E
OS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

Além da distinção de pesquisa pura e aplicada, as pesquisas apresentam


diferentes classificações que levam em consideração a abordagem do problema de
pesquisa, a natureza dos objetivos e a aplicação dos procedimentos técnicos.

4.1 Pesquisa quantitativa, qualitativa e pesquisa quali-quantitativa

As pesquisas podem ser classificadas em três categorias, tendo em vista a


abordagem do problema:

Pesquisa Quantitativa: sua característica é a objetividade. Pressupõe que tudo


pode ser quantificado, traduzindo em número as opiniões, geralmente é aplicada em
estudos descritivos que buscam relacionar variáveis ou que investigam a relação de
causalidade entre fenômenos. Sua intenção é obter a precisão dos resultados, evitando
distorções de análise e interpretação.

Caracteriza-se pelo emprego de quantificação tanto nas modalidades de


coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas
estatísticas, desde a mais simples como percentual, média, desvio padrão,
as mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão etc.
(RICHARDSON, 2008, p. 70).

Apresenta uma concepção positivista de ciência, em que seu modelo tem por
base as ciências naturais que explicam os fenômenos por leis.

Exemplo:

Quando o pesquisador realiza um estudo bibliométrico que objetiva identificar os


autores que mais publicaram artigos na área da Biblioteconomia e as revistas que mais
publicaram artigos dentre os anos de 2010 a 2015. Primeiro o pesquisador coleta os
dados, depois utiliza da estatística para fazer os cálculos e interpretar os resultados,
tendo como base as leis bibliométricas de Lotka e Bradford.

Pesquisa Qualitativa: não emprega um instrumental estatístico, visto que


não pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. A abordagem
qualitativa de um problema é adequada para entender a natureza de um fenômeno
social, tenta compreender os significados, não é objetiva e apresenta uma concepção
funcionalista da ciência. As pesquisas qualitativas lidam com situações complexas ou
particulares.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 39


Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever
a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas
variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos
sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar,
em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do
comportamento dos indivíduos. (RICHARDSON, 2008, p. 80).

Exemplo:

Quando o pesquisador estuda as motivações que levaram os alunos do curso de


Biblioteconomia da Unochapecó a ingressar no curso. Para obter os dados, realiza
entrevistas gravadas com os alunos e depois analisa o discurso do sujeito coletivo, ou
seja, a essência da pesquisa são as respostas dos alunos e não podem ser representadas
estatisticamente, mas sim por texto, conteúdo das falas.

Pesquisa Quali-quantitativa (métodos mistos): emprega a combinação


de abordagens, essa associação ocorre em virtude da complexidade do problema
pesquisado.

A pesquisa de métodos mistos é uma abordagem de investigação que


combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições
filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das
duas abordagens em um estudo. Por isso é mais que uma simples coleta e
análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens
em conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que
a da pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada. (CRESWELL, 2010, p. 27).

Exemplo:

Quando o pesquisador investiga as preferências de leitura de estudantes universitários


da Unochapecó, para obter os dados/resultados ele combina as duas abordagens. Num
primeiro momento entrevista uma amostra estratificada de estudantes, num segundo
momento levanta os dados estatísticos provenientes do sistema de gerenciamento da
biblioteca. A combinação do discurso dos alunos sobre seu gosto de leitura juntamente
com os dados estáticos de empréstimo da biblioteca permite traçar as preferências de
leitura dos alunos. Assim, existem dados que podem ser quantificados e outros que
exigem compreensão e reflexão.
Em resumo, o que determina o tipo de abordagem na pesquisa é a complexidade do
problema a ser investigado, assim como a relação existente entre os objetivos traçados
e os resultados desejados.

40 Métodos e Técnicas de Pesquisa


4.2 Pesquisa exploratória, descritiva e explicativa

Em relação à natureza dos objetivos, tradicionalmente as pesquisas podem ser


classificadas como:

Exploratória: é realizada quando o tema é pouco explorado e de difícil


formulação de hipóteses, seu propósito consiste em proporcionar familiaridade ao
assunto ou problema. Visa esclarecer, modificar conceitos e ideias para formular
problemas mais precisos e construir hipóteses, proporciona uma visão geral do fato.
Nesse caso, os dados são coletados por meio do levantamento bibliográfico ou
documental e entrevistas. Assume a forma de Pesquisa Bibliográfica e Estudo de Caso.
A maioria das pesquisas acadêmicas, num primeiro momento, são exploratórias, pois
é uma etapa preparatória para outro tipo de pesquisa ou investigação mais ampla
(GIL, 2010).

Exemplo:

A dissertação a seguir é do tipo de pesquisa exploratória. Leia o resumo para ver suas
características:
TREVISOL NETO, O. A institucionalização científica do campo da moda no Brasil:
estudo baseado nas instituições, produtores e produtos científicos. 2015. 192 f.
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

O interesse desta pesquisa está voltado para a análise da institucionalização científica


no campo da Moda concentrando-se nos agentes, locais e processos de produção
e comunicação científica. Os pressupostos que mobilizam o desenvolvimento desta
pesquisa estão alicerçados na crença que os agentes, as instituições produtoras e a
própria produção científica são responsáveis pela consistência científica do campo e
pelo seu nível de institucionalização. A pesquisa busca resposta para a seguinte questão:
como se configura a institucionalização científica nesse campo? A pesquisa teve como
objetivo geral analisar a institucionalização científica do campo da Moda no Brasil e
como objetivos específicos: a) identificar as instituições formais do campo da moda no
Brasil (cursos de graduação, pós-graduação, revistas, associação de pesquisa, eventos,
grupos de pesquisa); b) Identificar os pesquisadores do campo da moda; c) Caracterizar
a produção bibliográfica nesse campo (artigos, livros, capítulos de livros, trabalhos
em eventos, dissertações de mestrado e teses de doutorado); d) Verificar se é possível
relacionar a existência e consolidação das instituições científicas e a produção científica
desse campo. A pesquisa possui caráter descritivo e exploratório, faz uma abordagem
quali-quantitativa (mista) e utiliza técnica de pesquisa documental. O corpus da pesquisa
foi constituído pelos dados retirados dos grupos de pesquisa em moda cadastrados no
Diretório de Grupos de Pesquisa, no Currículo Lattes dos pesquisadores, nos sites dos
programas de pós-graduação, eventos e revistas científicas e demais documentos usados
como fontes para coleta de dados. A cobertura temporal compreendeu os anos de 1988

Métodos e Técnicas de Pesquisa 41


a 2013, que abrangeu o surgimento dos cursos de graduação e pós-graduação
no Brasil. Na vertente da institucionalização social foram analisados os cursos de
graduação e pós-graduação, as revistas, a associação de pesquisa, os eventos e os
grupos de pesquisa desse campo. A importância da Associação Brasileira de Estudos
e Pesquisa em Moda (ABEPEM) no processo de institucionalização social do campo
ficou destacada. Na vertente da institucionalização cognitiva foram analisados os
pesquisadores e a produção científica do campo. Nesse aspecto foi possível detectar a
existência de uma comunidade científica pequena e foi percebida a importância dada
pelos integrantes dessa comunidade para a publicação de trabalhos em eventos, o que
permite estabelecer uma relação direta entre institucionalização social e cognitiva nesse
campo e a importância da comunicação científica no processo de institucionalização.
A análise dos resultados aponta indícios de institucionalização embrionária cognitiva
e social do campo da moda no Brasil, visto que não é possível afirmar com exatidão
o grau de institucionalização desse campo, em função de que todas as instituições
do campo foram implantadas muito recentemente e é preciso mais maturidade para
estimar se o campo apresenta baixo ou alto grau de institucionalização. Ao longo da
última década é perceptível o processo de desenvolvimento social e cognitivo, tendo em
vista o aumento dos cursos de graduação, pós-graduação, da produção intelectual e na
formação de novos pesquisadores. Resta lembrar que essa configuração desse campo
científico deve ser vista a partir das decisões metodológicas e dos recortes efetuados para
o desenvolvimento desta pesquisa em termos de amostra e de abrangência dos dados.

Você pode ver o documento na íntegra em: http://tede.ufsc.br/teses/PCIN0117-D.pdf.

Descritiva: como seu próprio nome infere, objetiva descrever as “[...]


características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relação
entre variáveis.” (GIL, 2010, p. 28). Nessa modalidade o pesquisador não manipula os
fenômenos estudados, os fatos são registrados, analisados, classificados, interpretados
sem interferência do pesquisador. Tem como característica a utilização de técnicas
padronizadas para a coleta de dados, tais como, questionário e observação sistemática,
assumindo a forma de levantamento. São consideradas pesquisas descritivas as
pesquisas de opinião, as mercadológicas, os levantamentos socioeconômicos e
psicossociais. Algumas pesquisas descritivas estudam as características de um grupo
como idade, sexo, nível de escolaridade etc., outras estudam o nível de atendimento
de um serviço ou nível de satisfação. Além dessas, há as pesquisas que descobrem
relação entre variáveis, como exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relação
entre preferência político-partidária e escolaridade (ANDRADE, 1999; GIL, 2010).

42 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Exemplo:

A dissertação a seguir é do tipo descritiva, leia o resumo para ver suas características:

LOPES, Marili Isensee. A Internet e a busca da informação em comunidades


científicas: um estudo focado nos pesquisadores da UFSC. 2005. 184 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.

Pesquisa que teve por objetivo verificar o uso da Internet, no processo de busca
da informação em comunidades científicas, visando detectar a ocorrência da
desintermediação da informação e suas consequências no processo de comunicação
científica e na atuação das unidades de informação. Para efeitos desta pesquisa, a
desintermediação foi considerada como ausência de intermediários entre os recursos de
informação e os pesquisadores. Elege como lócus e universo para aplicação da pesquisa
a Universidade Federal de Santa Catarina e os pesquisadores-docentes vinculados aos
seus Programas de Pós-Graduação. Usa o questionário, como instrumento para a coleta
dos dados, com questões voltadas ao levantamento de informações sociodemográficas
e ao uso de recursos informacionais. A amostra foi constituída por 324 pesquisadores-
docentes, selecionada em três etapas: aleatória estratificada por áreas de atuação,
aleatória simples por notas de avaliação da CAPES e aleatória por conglomerados por
programa. Organiza e tabula os dados por meio do pacote estatístico SPSS, versão
11.0, utilizando a estatística descritiva (consequência e porcentagens), de associações
(teste X2), e comparativas (teste de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney), considerando-se
um nível de significância de 5%. As análises dos resultados permitiram constatar que
dos participantes da amostra, 43,2% atuavam nos Programas de Pós-Graduação das
Ciências Exatas e da Terra, 30,9% atuavam nos Programas das Ciências Humanas e
Sociais e 25,9% nos Programas das Ciências da Vida e que todos os pesquisadores eram
doutores com predominância no regime de trabalho de dedicação exclusiva. Quanto
ao percurso preferido na busca da informação por esses pesquisadores, destacam-se a
biblioteca particular com 46,3% e a Internet com 43,2%. O Sistema de Bibliotecas da
UFSC (BU/UFSC) não obteve um índice expressivo de preferência no processo de busca
da informação. No entanto, teve uma indicação significativa quanto à consequência de
uso (77,8%) se consideradas as três opções de frequências – diária, semanal e mensal. O
periódico foi o mais indicado dentre os recursos disponibilizados no Sistema BU/UFSC. Os
pesquisadores indicaram que preferem obter o material em formato eletrônico devido a
sua acessibilidade. Em relação aos mediadores no processo de busca da informação, os
colegas/pares foram os mais citados. O correio eletrônico foi o recurso da Internet mais
utilizado, o que também confirma a finalidade de uso da rede, onde a comunicação
entre pares, com 65,4%, foi a que obteve maior incidência de indicações. Dentre os
serviços on-line disponibilizados pela BU/UFSC, o Portal CAPES foi o mais indicado
(61.7%). Embora a Internet tenha apresentado uma consequência expressiva de uso, os
resultados demonstraram ocorrer barreiras em relação à conexão e ao suporte técnico,
principalmente na área de Ciências Humanas. Nesta pesquisa, não foram encontradas
associações estatisticamente significativas quanto ao uso da Internet como percurso

Métodos e Técnicas de Pesquisa 43


preferido quando relacionados com a área de atuação, ao regime de trabalho e à faixa
etária. Entretanto, observaram-se diferenças significativas entre a área de atuação e
as barreiras de uso da Internet, os recursos da Internet, os recursos informacionais
tradicionais e on-line do Sistema BU/UFSC. Embora o processo de desintermediação tenha
aumentado em todas as áreas, considerando-se que os pesquisadores estão utilizando
com autonomia os recursos eletrônicos no processo de busca da informação, conclui-
se que o Sistema BU/UFSC ocupa um lugar de destaque nesse processo, em função do
uso significativo do acervo tradicional, bem como dos serviços on-line disponibilizados
pelo sistema. Quanto aos profissionais bibliotecários, os resultados permitiram concluir
que eles não são os mediadores reconhecidos como preferenciais por esta comunidade
científica. Considerando que esses profissionais têm trabalhado no sentido de aumentar
os recursos on-line para pesquisa disponibilizados nas universidades, como também
têm investido esforços no treinamento para tornar os usuários mais autônomos, o
que se pode inferir é que provavelmente a desintermediação tenha ocorrido como
consequência natural dessas ações e como sinal da evolução ou da crise dos sistemas de
informação que dependem na atualidade muito mais de sistemas e interfaces amigáveis
que facilitem o acesso à informação do que dos próprios recursos humanos e físicos
existentes nas unidades de informação.

Você pode ler o trabalho na íntegra em: http://www.tede.ufsc.br/teses/PCIN0005.pdf.

Explicativa: “[...] tem como propósito identificar fatores que determinam


ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Estas pesquisas são as que mais
aprofundam o conhecimento da realidade, pois tem como finalidade explicar a razão,
o porquê das coisas.” (GIL, 2010, p. 28). É o tipo de pesquisa mais complexo/delicado,
visto que busca explicar suas causas. Nessa modalidade o pesquisador manipula
e controla as variáveis, objetivando identificar efeito e causa sobre o fenômeno
em estudo. As pesquisas experimentais nas ciências naturais recorrem ao método
experimental, já nas ciências sociais valem-se do método observacional, assumem o
formato de Pesquisa Experimental e ex-post-facto (ANDRADE, 1999; GIL, 2010).

Exemplo:

Esse tipo de pesquisa é pouco explorado na Biblioteconomia e Ciência da Informação.


Como exemplo podemos citar uma pesquisa que procura explicar quais os benefícios
da leitura na vida das pessoas.

44 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Exemplo:

Veja essa matéria que reporta a uma pesquisa do tipo explicativa:

Quem lê mais vive mais. E basta meia hora por dia


Só tem um problema: não adianta ler qualquer coisa.
Por Helô D’Angelo

Seus amigos reclamam quando você deixa de encontrar com eles para ficar em casa
lendo? Não fique triste, leitor: uma pesquisa de Yale revela que o hábito de ler mais está
ligado a uma longevidade maior – ou seja, seus livros queridos não só são divertidos:
eles te fazem viver mais. 
O estudo, chamado Um capítulo por dia, foi realizado nos EUA, ao longo de 12 anos
– e analisou a relação entre a longevidade e os hábitos de leitura de 3.635 pessoas
com mais de 50 anos. Essa mesma turma também estava participando de uma outra
pesquisa maior, a Health and Retirement Study, que tem investigado, desde 1990, a
saúde de americanos que passam dos 50 anos. 
Em Um capítulo por dia, os pesquisadores dividiram as 3.635 pessoas em três grupos:
os “não leitores” (quem não tinha o hábito de ler), os “leitores” (que liam por até três
horas e meia na semana) e os “super leitores” (quem lia mais de três horas e meia por
semana). Para definir os grupos, os participantes responderam a algumas perguntas
simples sobre quanto tempo passavam lendo livros, revistas e jornais por semana.
Aí, 12 anos depois, os cientistas compararam esses hábitos aos dados de saúde do
Health and Retirement Study, e descobriram o seguinte: os não leitores haviam morrido
mais cedo do que os leitores, e bem mais cedo do que os super leitores.
Quem lia até 3h30 por semana, segundo o estudo, tinha 17% menos chances de morrer
antes dos 62 anos do que quem não lia nada – e quem fazia parte do grupo dos super
leitores tinha 23% menos chances de bater as botas antes dos 62. Além disso, esse
resultado foi geral – não tinha a ver com gênero, classe social, problemas psicológicos
nem nível de educação. 
Fazendo as contas, dá para ver que não precisa de muito trabalho para ser um super
leitor: um pouco mais de meia hora de leitura por dia já é o suficiente para fazer parte
desse grupo. Mas tem um truque aí: não adianta ler qualquer coisa, porque a mágica
só funciona com livros – quando os cientistas compararam o tempo de vida das pessoas
que liam apenas jornais e revistas, mesmo que fosse muita leitura, a longevidade não
era tão grande quanto a dos super leitores de livros.Então sai já dessa tela!

Fonte: D’Angelo (2016).

É válido lembrar que uma pesquisa pode apresentar objetivos que se enquadram
em mais de uma classificação, isso vai depender da natureza de seus propósitos.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 45


4.3 Classificação da pesquisa conforme os procedimentos técnicos
empregados

Depois de resolver questões conceituais da pesquisa, como formulação do


problema, construção de hipóteses e identificação das variáveis, é necessário definir
o delineamento da pesquisa. Para tanto, é levado em consideração o ambiente em
que são coletados os dados e as formas de controle das variáveis, nesse momento, a
preocupação do pesquisador recai sobre os problemas mais práticos de verificação da
pesquisa, pois é o delineamento que proporciona os meios técnicos para a investigação
(GIL, 2010).
O delineamento da pesquisa leva em consideração o procedimento adotado
para a coleta de dados, assim, existem dois grupos de delineamentos, aqueles que
utilizam fontes de “papel” e aqueles que utilizam de pessoas para obtenção de
dados. A pesquisa bibliográfica e pesquisa documental utilizam fontes de “papel”,
já a experimental, ex-post-facto, o levantamento e o estudo de caso tem como fonte
de dados as pessoas (GIL, 2010).
Portanto, as pesquisas podem ser classificadas quanto aos procedimentos
técnicos utilizados como: bibliográfica, documental, experimental, levantamento,
estudo de caso, ex-post-facto, pesquisa-ação e participante. Vejamos cada uma delas.

4.3.1 Pesquisa bibliográfica

Elaborada a partir de material já publicado que passou por tratamento


analítico, assim, o propósito dessas publicações é que sejam lidas e consultadas por
grupos específicos. Os materiais bibliográficos de aporte são os livros, artigos, teses,
dissertações, anais de eventos que estão no formato impresso ou digital. De certa
forma, toda pesquisa é bibliográfica, pois se recorre às publicações já existentes para
fundamentar o trabalho de pesquisa. É indispensável nos estudos históricos, visto que
em alguns casos a bibliografia é a única maneira para conhecer os fatos (GIL, 2010).
Esse tipo de pesquisa tenta explicar um problema a partir das teorias publicadas,
para tanto, o pesquisador “[...] irá levantar o conhecimento disponível na área,
identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para
auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da investigação [...] ”, assim,
seu objetivo consiste em conhecer e analisar as contribuições teóricas sobre um tema
ou problema (DEMO, 2013, p. 122).

Exemplo:

Quando o pesquisador faz uma revisão de literatura sobre a temática “bibliotecário


escolar e sua importância no incentivo à leitura”. Nesse caso, ele analisa as publicações
científicas a respeito do tema, estas constituem as principais fontes para obter os
resultados da pesquisa.

46 Métodos e Técnicas de Pesquisa


4.3.2 Pesquisa documental

Elaborada a partir de documentos que foram produzidos com finalidades


diversas e não receberam tratamento analítico. Geralmente são documentos internos,
de acesso restrito vinculado a uma organização/instituição. Os materiais de aporte
são documentos institucionais, cartas e diários pessoais, folders, convites, fotos,
imagens, filmes, escrituras, testamentos, registros estatísticos, jornais e outros objetos
que podem ser considerados como documentos de pesquisa (GIL, 2010). Conforme
Severino (2007, p. 123), a pesquisa documental apresenta uma diversidade de materiais
informacionais, estejam eles no formato físico ou digital. Nesse tipo de pesquisa “[...]
os conteúdos dos textos ainda não tiveram nenhum tratamento analítico, são ainda
a matéria prima, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação e
análise.”

Exemplo:

Quando o pesquisador pretende conhecer as motivações que levaram a criação do


curso de Biblioteconomia da Unochapecó. Nesse caso, as principais fontes para o
desenvolvimento da pesquisa constituem-se nos documentos institucionais (portarias,
memorandos, atas, PPP) e outros documentos que não receberam tratamento analítico.
Assim, como o relato (oral ou escrito) das pessoas que estiveram envolvidas na criação
do curso.

4.3.3 Pesquisa experimental

Esse tipo de pesquisa “[...] consiste em determinar um objeto de estudo,


selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle
e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.” (GIL, 2010, p. 51). Nesse
tipo de pesquisa o pesquisador analisa um problema, cria hipóteses e manipula as
variáveis referentes ao fenômeno observado, ao manipular de forma qualitativa ou
quantitativa as variáveis tem-se o estudo das causas e efeitos do fenômeno, com isso
é permitido que pesquisador controle e avalie os resultados dessas relações (DEMO,
2013). São exemplos clássicos de pesquisa experimental aquelas que utilizam os ratos
de laboratório, porções líquidas e bactérias, visto que não sofrem limitações quanto
ao experimento, sendo possível o controle e manipulação das variáveis.
Pesquisas desse tipo são mais recorrentes na área da saúde, no entanto,
podem ocorrer estudos experimentais de campo. Lembrando que existe diferença na
experimentação de laboratório e na de campo, considerando as situações em que
ocorrem e as influências que sofrem. No laboratório o pesquisador pode “[...] criar um
cenário desejado, no qual controla ou manipula as variáveis, tendo a capacidade de
analisar o efeito da manipulação das variáveis independentes (causa) e dependentes

Métodos e Técnicas de Pesquisa 47


(efeito).” (RAUPP; BEUREN, 2003, p. 88). Já os experimentos de campo não dispõem
da alta precisão na manipulação e controle das variáveis e suas relações.

Exemplo:

O pesquisador pretende conhecer como se comportam os usuários da biblioteca


diante do novo sistema de pesquisa. Nesse caso, são selecionados indivíduos para
experimentar o sistema de pesquisa, aos participantes são propostos comandos
relacionados à interface do sistema, as opções de busca, as estratégias de pesquisa,
sendo contabilizado o tempo utilizado para fazer a pesquisa, enfim, são determinadas
variáveis. O pesquisador observa e registra os dados referentes a cada variável. Concluído
o experimento ele analisa os resultados.

4.3.4 Levantamento ou survey

As pesquisas de levantamento (survey) se

[...] caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento


se deseja conhecer. Basicamente, procede-se a solicitação de informações a
um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em
seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes
dos dados coletados. (GIL, 2010, p. 55).

O levantamento pode ocorrer de duas formas: censo: quando é coletado


informações de todos os integrantes do universo da pesquisa, geralmente é desenvolvido
por governos ou instituições que visam conhecer informações gerais da população,
tais como renda familiar, faixa etária, nível de escolaridade etc.; amostragem: quando
não são pesquisados todos os integrantes da população estudada e por meio de
procedimentos estatísticos seleciona-se uma amostra significativa do universo ou
população. O levantamento não exige aprofundamento sobre objeto ou fenômeno
estudado, é recorrente em pesquisas descritivas que visam conhecer opiniões e atitudes
(preferência eleitoral, comportamento do consumidor), são contraindicados no estudo
de problemas referentes às estruturas sociais complexas (GIL, 2010).

Exemplo:

Quando o pesquisador verifica se a população de Chapecó frequenta e utiliza os serviços


da Biblioteca Municipal e analisa seus hábitos de leitura (o que lê, quando lê, onde
lê). Nesse caso, terá que decidir se entrevistará toda a população de Chapecó ou uma
amostra. Assim, deve levar em consideração o tempo e os recursos disponíveis para o
desenvolvimento da pesquisa.

48 Métodos e Técnicas de Pesquisa


4.3.5 Estudo de caso

O estudo de caso “[...] é uma investigação empírica que investiga um fenômeno


contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes.”
(YIN, 2010, p. 39). O estudo de caso almeja entender os fenômenos sociais complexos,
permitindo preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida
real. Estes estudos são relevantes ou indicados quando o pesquisador deseja responder
questões do tipo “como” ou “porque” funciona um fenômeno social e quando o
pesquisador tem pouco controle sobre os eventos. Os estudos de caso não procuram
fazer generalização dos resultados, uma vez que seu foco é interpretar e compreender
de forma profunda os fenômenos (YIN, 2010). Na visão de Gil (2010, p. 58), estudo de
caso “[...] é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos,
de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.” Por ser desenvolvido
com foco específico demanda tempo para sua realização e intensidade por parte do
pesquisador, este tipo de pesquisa pode combinar diferentes técnicas de coleta de
dados, como entrevista e observação.

Exemplo:

Quando o pesquisador faz um estudo de usuário na biblioteca onde atua. Nesse


caso, poderá analisar o comportamento de busca e uso da informação por parte dos
frequentadores da biblioteca, para tanto, poderá aplicar um questionário on-line, fazer
entrevistas com os usuários da biblioteca ou observar o comportamento dos mesmos.
No estudo de caso, são selecionados um ou poucos objetos de estudo, porém, a
investigação é profunda.

4.3.6 Pesquisa ex-post-facto

Em poucas palavras, o que define essa modalidade de pesquisa é que o


“experimento” é realizado após o fato. Nesse tipo de investigação o pesquisador
não tem controle direto das variáveis independentes, pois suas manifestações
já aconteceram e por natureza não são manipuláveis. Sendo assim, os fatos são
espontâneos e não provocados pelo pesquisador (GIL, 2010).

Exemplo:

O pesquisador investiga quais foram os efeitos/mudanças ocasionadas no comportamento


de leitura dos alunos do ensino médio após a instalação da biblioteca em uma escola
onde não existia biblioteca escolar. 

Métodos e Técnicas de Pesquisa 49


4.3.7 Pesquisa-ação

É uma modalidade de pesquisa que não se enquadra no modelo clássico


de pesquisa científica, emerge assim “[...] como uma metodologia voltada para
intervenção, desenvolvimento e mudança no âmbito de grupos, organizações e
comunidades.” Caracteriza-se pela interação entre pesquisador e pessoas envolvidas na
situação investigada. Essa modalidade de pesquisa conduz à ação social, supondo uma
ação planejada de caráter social, cultural ou técnico no qual “[...] procura diagnosticar
um problema específico numa situação específica, com vistas a alcançar algum resulto
prático, não visa obter enunciados científicos generalizáveis.” (GIL, 2010, p.42). Sendo
assim, a pesquisa-ação é

[...] um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em


estreita associação com uma ação ou ainda, com a resolução de um problema
coletivo, onde todos os pesquisadores ou participantes estão envolvidos de
modo cooperativo e participativo. (THIOLLENT, 1985, p. 14 apud GIL, 2010,
p. 42).

Exemplo:

Imaginamos que o pesquisador detecta um problema pelo qual a biblioteca enfrenta,


o problema tem como causa os conflitos de relacionamento da equipe da biblioteca
(bibliotecários e auxiliares da biblioteca), nesse contexto, o pesquisador e participantes
da pesquisa juntos propõem uma ação para resolver essa questão.

4.3.8 Pesquisa participante

É desenvolvida com base nas interações entre pesquisador e membros das


situações investigadas, mas não requer ação planejada. Seu diferencial está na
emancipação das pessoas ou comunidades que a realizam (GIL, 2010). O autor explica
que nesse modelo

[...] a população não é considerada passiva e seu planejamento e condução


não ficam a cargo de pesquisadores profissionais. A seleção dos problemas a
serem estudados não emerge da simples decisão dos pesquisadores, mas da
própria população envolvida, que os discute com os especialistas apropriados.
(GIL, 2010, p. 43).

Nessa modalidade de pesquisa, o ideal é promover a participação de todos


e emergir na cultura e no universo dos sujeitos da pesquisa. Além disso, a pesquisa
participativa valoriza a experiência profissional tanto dos pesquisadores como
pesquisados o que possibilita aplicação prática da temática investigada.

50 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Exemplo:

O pesquisador com os participantes selecionam um problema e juntos desenvolvem a


pesquisa. Nesse caso, os participantes têm a liberdade de integrar e opinar em todas
as etapas da pesquisa.

Observamos que cada tipo de pesquisa utiliza de uma técnica para coletar os
dados. De maneira geral, todas as pesquisas podem ser consideradas bibliográficas,
pois é necessário recorrer à literatura científica para desenvolver a pesquisa. Além
disso, a escolha da técnica de pesquisa está atrelada ao problema de pesquisa e aos
objetivos delimitados.
Entendidos os tipos de pesquisas diante dos objetivos, problema e técnicas
de pesquisa, a seguir veremos o que é método científico e quais são os métodos de
abordagem e procedimento empregados na investigação científica.

5 O QUE É MÉTODO CIENTÍFICO?

Ao abordar o conceito de método científico adentramos com ênfase na


investigação científica, pois é a adoção de metodologias, procedimentos e técnicas
na pesquisa que qualifica o conhecimento como científico. Qualquer pesquisa que
não indique a aplicação de métodos e técnicas no seu processo de desenvolvimento
compromete sua aceitabilidade perante a comunidade científica. Portanto “não há
ciência sem o emprego de métodos científicos” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 83),
uma vez que é preciso demonstrar operações mentais e técnicas que permitam a sua
verificação (GIL, 2010).
De maneira geral o método está relacionado ao caminho e as estratégias que o
pesquisador traça para alcançar um resultado ou objetivo, especificamente o método
científico é um “[...] conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para
se atingir o conhecimento.” (GIL, 2010, p. 8). Portanto, envolve a forma de proceder
no desenvolvimento da pesquisa, inclui a escolha de técnicas e instrumentos a partir
do problema de pesquisa. Na visão de Marconi e Lakatos (2003, p. 83),

[...] método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com


maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos
válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros
e auxiliando a decisão do cientista.

Na visão de Minayo (2010) o método é o caminho de pensamento e prática


exercida na abordagem, incluindo os métodos, as técnicas, a criatividade e habilidade
do pesquisador. Portanto, fornece parâmetros a serem seguidos, norteando a pesquisa.
Rúdio (2011, p. 17) explica que o método serve de guia para o estudo sistemático
e busca resolução do problema de pesquisa, o método da pesquisa científica é “[...] a

Métodos e Técnicas de Pesquisa 51


elaboração, consciente e organizada, dos diversos procedimentos que nos orientam
o ato reflexivo, isto é, a operação discursiva de nossa mente.”
É preciso ficar claro a distinção que existe entre método e metodologia. Nesse
sentido, Richardson (2008) destaca que o método é o caminho, ou a maneira,
seguido para se alcançar um fim ou objetivo, por sua vez, a metodologia envolve os
procedimentos e regras utilizados por determinado método. O autor ressalta que o

[...] método científico é o caminho da ciência para chegar um objetivo. As


metodologias são as regras estabelecidas para o método científico, por
exemplo: a necessidade de observar, a necessidade de formular hipóteses, a
elaboração de instrumentos etc. (RICHARDSON, 2008, p. 22).

Andrade (1999, p. 112) explica que “[...] quando o homem começou a


interrogar-se a respeito dos fatos do mundo exterior, na cultura e na natureza, surgiu
a necessidade de uma metodologia da pesquisa científica.” A autora ainda afirma
que “[...] metodologia é o conjunto de métodos ou caminhos que são percorridos na
busca do conhecimento.” (ANDRADE, 1999, p. 112).
Toda pesquisa apresentará uma seção no qual abordará a metodologia ou os
procedimentos metodológicos empregados no seu desenvolvimento. A descrição dos
procedimentos metodológicos permite que outros pesquisadores adotem os mesmos
procedimentos e com isso obtenham resultados similares.
Não existe um método universal aplicável a todas as áreas do conhecimento,
mas existem vários métodos que são determinados pelo tipo de objeto investigado e
pela classe de preposições a descobrir. Com isso, dizemos que o método aplicado na
Matemática é distinto do método aplicado na Biblioteconomia. A fim de categorização,
os métodos são classificados em dois grupos, os métodos de abordagem proporcionam
as bases lógicas da investigação científica e os métodos de procedimentos, que são
específicos às etapas da pesquisa, operam num nível mais concreto e esclarecem os
procedimentos técnicos utilizados na investigação (GIL, 2010).

5.1 Métodos de abordagem

Esses métodos esclarecem os procedimentos lógicos adotados no processo de


investigação dos fatos da natureza e da sociedade, são desenvolvidos sob elevado
grau de abstração e com seu uso o pesquisador consegue decidir o grau de alcance
da pesquisa, as regras de explicação dos fatos e a validade das generalizações (GIL,
2010). Tais métodos se referem ao plano geral do trabalho, aos fundamentos lógicos
e ao processo de raciocínio adotado (ANDRADE, 1999).
Nesse sentido, “[...] método de abordagem é conjunto de procedimentos
utilizados na investigação de fenômenos ou no caminho para chegar-se à verdade.”
(ANDRADE, 1999, p. 112). Fazem parte dessa categoria cinco métodos de investigação:
dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. Esses estão
relacionados a correntes filosóficas e objetivam explicar como se processa o

52 Métodos e Técnicas de Pesquisa


conhecimento da realidade. No entanto, a escolha por um deles leva em consideração
a natureza do objeto pesquisado, os recursos materiais disponíveis, o nível de
abrangência da pesquisa, e a inspiração filosófica do pesquisador (GIL, 2010). Vejamos
uma breve definição de cada um deles:

5.1.1 Método dedutivo

Esse método sofre influência do racionalismo, uma vez que o conhecimento


verdadeiro é obtido por meio da razão, foi proposto por Descartes, Spinoza e Leibnez.
Nele uma cadeia de raciocínio que parte de uma visão geral para o particular é
empregada para esclarecer ideias, visto que o raciocínio dedutivo objetiva explicar
o conteúdo de premissas. Destaca-se que sua característica é o silogismo, no qual
uma construção lógica formada por duas premissas gera uma terceira que fornece a
conclusão (GIL, 2010; ANDRADE, 1999).

A dedução é o caminho das consequências, pois uma cadeia de raciocínio


em conexão descendente, isto é, do geral para o particular, leva à conclusão.
Segundo esse método, partindo-se de teorias e leis gerais, pode-se chegar
à determinação ou previsão de fenômenos particulares. (ANDRADE, 1999,
p. 113).

Na dedução o ponto de partida é princípio reconhecido como verdadeiro e


indiscutível. Seguem exemplos do raciocínio dedutivo, conforme Gil (2010, p. 9) e
Marconi e Lakatos (2003, p. 91):

Todo homem é mortal. (premissa maior)


Pedro é homem. (premissa menor)
Logo, Pedro é mortal. (conclusão)

Todo mamífero tem um coração. (premissa maior)


Ora, todos os cães são mamíferos. (premissa menor)
Logo, todos os cães tem um coração. (conclusão)

O método dedutivo é bem visto e utilizado pela Física e Matemática, uma vez
que os princípios podem ser enunciados como leis. Em contrapartida, seu uso é mais
restrito nas ciências sociais (GIL, 2010).

5.1.2 Método indutivo

Esse método decorre de maneira inversa que o dedutivo e está relacionado ao


empirismo. Foi proposto por Bacon, Hobbes, Locke, Hume, nele o conhecimento é
fundamentado na experiência, desconsiderando princípios preestabelecidos. Acredita-
se que observação leva a algo novo, desde que se paute em casos concretos que

Métodos e Técnicas de Pesquisa 53


confirmam a realidade. No método indutivo a cadeia de raciocínio segue uma conexão
ascendente, ou seja, parte-se de uma noção particular (específico) para geral. Com
base nas constatações particulares se obtêm teorias e leis gerais (ANDRADE, 1999;
GIL, 2010). Conforme Marcone e Lakatos (2003, p. 86):

[...] indução é o processo mental por intermédio do qual, partindo de dados


particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou
universal, não contidas nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos
argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é mais amplo do
que os das premissas nas quais são baseadas.

Na indução as conclusões são prováveis, pois as conclusões obtidas pela indução


correspondem a uma verdade não contida nas premissas. Veja exemplos do raciocínio
indutivo conforme Andrade (1999, p. 114) e Gil (2010, p. 11):

O calor dilata o ferro; (particular)


O calor dilata o bronze; (particular)
O calor dilata o cobre; (particular)
Logo, o calor dilata todos os metais. (universal, geral)

Antônio é mortal.
Benedito é mortal.
Carlos é mortal.

Zózimo é mortal.
Ora, Antônio, Benedito, Carlos… e Zózimo são homens.
Logo, (todos) os homens são mortais.

Na visão de Gil (2010), a indução é o método mais adequado para as pesquisas


nas ciências sociais, visto que os estudiosos da sociedade apropriaram-se da observação
como procedimento para se alcançar o conhecimento científico.

5.1.3 Método hipotético-dedutivo

Esse método é fundamentado nas críticas que Popper fez em relação ao método
indutivo e está presente na obra A Lógica da investigação científica (1935). O princípio
do referido método consiste na formulação de hipóteses que serão testadas para serem
aceitas ou refutadas (GIL, 2010). As hipóteses são suposições, possíveis respostas que
merecem ser comprovadas. O autor explica que

[...] quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são


insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar
explicar a dificuldade expressa no problema, são formuladas conjecturas ou
hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão
testadas ou falseadas. Falsear significa tentar tornar falsas as consequências

54 Métodos e Técnicas de Pesquisa


deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo procura-se a todo
custo confirmar a hipótese, no método Hipotético-dedutivo, ao contrário,
procuram-se evidências empíricas para derrubá-la. (GIL, 2010, p. 12).

Nesse método o sujeito questiona, põe em dúvida o conhecimento científico


já existente. Portanto, a pesquisa surge de dúvidas e da necessidade de construir
respostas para esclarecê-las, a possível resposta ou solução será rigorosamente testada,
criticada (KÖCHE, 2013).
Diferente da indução que privilegia a observação dos fatos particulares e depois
a confirmação das hipóteses, o método hipotético-dedutivo defende, primeiramente,
o aparecimento do problema e da conjectura, que serão testados pela observação
e experimentação. Nesse sentido, as respostas científicas são sempre provisórias,
assim, o método hipotético-dedutivo pode ser chamado de “método de tentativa e
eliminação de erros”, pois a resolução dos problemas acontece por meio de tentativas
e eliminação de erros (MARCONI; LAKATOS, 2011).
Tal método é bem aceito nas pesquisas das ciências naturais, sendo influenciado
pela corrente filosófica neopositivista (ANDRADE, 1999; GIL, 2010).

5.1.4 Método dialético

Esse método está relacionado ao materialismo dialético, inicialmente


fundamentado na concepção de Hegel, em que admite-se a hegemonia das ideias
sobre a matéria e depois revisto por Marx e Engels que admitiram a hegemonia da
matéria em relação às ideias. Trata-se de um método de interpretação da realidade que
apresenta três princípios: unidade dos opostos, quantidade e qualidade e negação da
negação. Esse método permite uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade,
alega que os fatos sociais não podem ser entendidos e considerados isoladamente,
mas com base no contexto social, político, econômico e cultural (GIL, 2010). Na visão
de Marconi e Lakatos (2003), quatro leis fundamentam o método dialético:
Ação recíproca: as coisas são analisadas na qualidade de objetos em
movimentos que não estão acabados, mas em transformação, desenvolvimento, o
fim de um processo é o começo de outro. As coisas são interdependentes uma das
outras, a natureza e sociedade são compostas de objetos e fenômenos ligados entre
si, condicionando-se reciprocamente.
Mudança dialética: é a negação da negação, pois, ao negar uma coisa inicia-
se a transformação das coisas em seu contrário. Inicialmente se tem uma tese que
é negada, na sequência aparece antítese que também é negada, como resultado da
negação da tese e da antítese se obtém a síntese. Vejamos a explicação,

O ponto de partida é a tese, proposição positiva; essa proposição se nega


ou se transforma em sua contrária – a proposição que nega a primeira é a
antítese e constitui a segunda fase do processo; quando a segunda proposição,
antítese por sua vez é negada, obtém-se a terceira proposição ou síntese,
que é a negação da tese e antítese [...]. (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 102).

Métodos e Técnicas de Pesquisa 55


Assim, duas coisas opostas resultam em uma terceira, visto que o desenvolvimento
dialético prossegue através das negações.
Passagem da quantidade à qualidade: as coisas em algum momento
transformam-se de quantidade em qualidade.

Denominamos de mudança quantitativa o simples aumento ou diminuição


de quantidade. Por sua vez a mudança qualitativa seria a passagem de uma
qualidade ou de um estado para outro [...] a mudança qualitativa não é obra
do acaso, pois decorre necessariamente da mudança quantitativa. (MARCONI;
LAKATOS, 2003, p. 104).

Interpenetração dos contrários: a realidade é um movimento que assume


formas quantitativas e qualitativas que estão inter-relacionadas, sendo uma
consequência da luta dos contrários. Trava-se uma luta entre o velho e o novo, o nascer
e o morrer. Os contrários se complementam, formam uma unidade dos contrários.
Em resumo, esse método é contrário ao conhecimento rígido, pois se observa que
tudo está em transformação, se opondo ao positivismo que privilegia procedimentos
quantitativos. Portanto, é o método empregado em pesquisas qualitativas (GIL, 2010;
ANDRADE,1999).

5.1.5 Método fenomenológico

Movimento filosófico que surge no século XX, seus principais pensadores são
Edmund Husserl, Martin Heidegger e Maurice Merleau-Ponty. Não é considerado
dedutivo, tampouco indutivo, pois desconsidera leis e princípios para suas explicações.
Tem por característica certo grau de subjetividade em virtude da não utilização de
técnicas estruturadas para coleta de dados. A intenção da fenomenologia é “[...]
proporcionar uma descrição direta da experiência tal como ela é, sem nenhuma
consideração acerca de sua gênese psicológica e das explicações causais que os
especialistas podem dar.” (GIL, 2010, p. 14). Para a fenomenologia não existe apenas
uma única realidade, podem existir outras de acordo com suas interpretações e
comunicações, visto que a realidade é uma construção social.
Na fenomenologia o sujeito é reconhecido como importante na construção
do conhecimento e o pesquisador procura esclarecer o que é dado. “A pesquisa
fenomenológica parte do cotidiano, da compreensão do modo de viver das pessoas,
e não de definições e conceitos [...]”, esse tipo de pesquisa “[...] procura resgatar os
significados atribuídos pelos sujeitos ao objeto que está sendo estudado [...].” (GIL,
2010, p. 15). Tal método é utilizado em pesquisas qualitativas.

5.2 Métodos de procedimento

No entendimento de Marconi e Lakatos (2011, p. 91), os métodos de


procedimento “[...] são as etapas mais concretas da investigação, com finalidades mais

56 Métodos e Técnicas de Pesquisa


restritas em termos de explicação geral dos fenômenos e menos abstratos. Dir-se-ia até
serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos.” Os métodos
de procedimento utilizados nas ciências sociais são: o histórico, o comparativo, o
monográfico, o estatístico, o tipológico, o funcionalista e o estruturalista.
Na visão de Gil (2010), os métodos de procedimento proporcionam ao
investigador os meios técnicos para garantir objetividade e precisão no estudo,
fornecem orientação para a realização da pesquisa, especificamente na obtenção,
processamento e validação dos resultados. Assim, os métodos mais adotados nas
ciências sociais são: o experimental, o observacional, o comparativo, o estatístico, o
clínico e o monográfico. Vejamos cada um deles:

Método Histórico: como seu próprio nome infere, está ligado aos aspectos
históricos. Consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado
a fim de verificar sua influência na sociedade de hoje. Parte da ideia que “[...] as atuais
formas de vida social, instituições e os costumes tem origem no passado, é importante
pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função.” (MARCONI; LAKATOS,
2011, p. 91).

Método Comparativo: investiga indivíduos, classes, fenômenos ou fatos a fim
de ressaltar as semelhanças ou diferenças entre eles. Permite o estudo comparativo
de grandes grupos sociais, separados pelo tempo e espaço (GIL, 2010). “Realiza
comparações com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências [...] é
usando tanto para comparações de grupos no presente e no passado, ou entre os
existentes e os do passado [...]”, assim, como, entre sociedade de iguais ou diferentes
estágios de desenvolvimento (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 92).

Método Monográfico: “[...] partindo do princípio de que qualquer caso que


se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou
até de todos os casos semelhantes.” Envolve o estudo de determinados indivíduos,
profissões, instituições, grupos ou comunidades a fim de obter generalizações
(MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 92).

Método Estatístico: “[...] fundamenta-se na utilização da teoria estatística
das probabilidades. Suas conclusões apresentam grande probabilidade de serem
verdadeira, embora admitam certa margem de erro.” Com a quantificação e a
manipulação estatística é possível “[...] comprovar as relações dos fenômenos entre
si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado.” (ANDRADE,
1999, p. 116).

Método Experimental: “[...] consiste essencialmente em submeter os objetos


de estudo à influência de certas variáveis, em condições controladas e conhecidas
pelo investigador, para observar os resultados que a variável produz no objeto.” É
considerado como o método, por excelência, das ciências naturais (GIL, 2010, p. 16).

Métodos e Técnicas de Pesquisa 57


Método Observacional: é o método mais utilizado nas ciências sociais e
possibilita o mais alto grau de precisão nessa área de conhecimento. Nesse caso, o
cientista não controla as variáveis, ou seja, não toma providência para alguma coisa
acontecer, ele apenas observa algo que acontece ou já aconteceu (GIL, 2010).

Método Clínico: “[...] apoia-se numa relação profunda entre pesquisador e


pesquisado. É utilizado, principalmente, na pesquisa psicológica, onde os pesquisados
são indivíduos que procuram o psicólogo ou psiquiatra para obter ajuda.” Ao adotar
esse método é preciso cuidado ao propor generalizações, uma vez que se apoia em
casos individuais e envolve experiências subjetivas (GIL, 2010, p. 17).

Método Tipológico: foi preconizado por Marx Weber e apresenta semelhanças
com o método comparativo. Porém, “[...] ao comparar os fenômenos sociais complexos,
o pesquisador cria tipos ou modelos ideais, construídos a partir da análise de aspectos
essenciais do fenômeno.” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 94). Sua principal característica
é o fato de não existir na realidade, mas serve de modelo para análise e compreensão
de casos concretos, reais. Weber defende que o cientista deve distinguir os juízos de
realidade (o que é) e os juízos de valor (o que deve ser) da análise científica, assim, o
conhecimento é seguido pelo conhecimento. “O tipo ideal não expressa a totalidade
da realidade, mas seus aspectos significativos, os caracteres mais gerais, os que se
encontram regularmente no fenômeno estudado.” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p.
94). Cabe ao cientista ampliar certas qualidades e fazer ressaltar certos aspectos do
fenômeno analisado.

Método Funcionalista: foi utilizado por Bronislaw Malinowski e se enquadra


mais como um método de interpretação do que investigação. Considera que a
sociedade é formada por partes distintas, inter-relacionadas e interdependentes no
qual cada uma desempenha uma função social, as partes são bem entendidas quando
se compreende as funções que desempenham no todo. O “[...] método funcionalista
estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um
sistema organizado de atividades [...] o conceito de sociedade é visto como um todo
em funcionamento, um sistema em operação.” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 94-95).
Assim, a sociedade é entendida como uma estrutura complexa de grupos e indivíduos
envolvidos em ações e reações sociais, da mesma forma que é vista como um sistema
de instituições correlacionados entre si, agindo e reagindo entre si.

Método Estruturalista: foi desenvolvido por Lévi-Strauss, esse método parte


da
[...] investigação de um fenômeno concreto, eleva-se, a seguir, ao nível
abstrato, por intermédio da constituição de um modelo que representa o
objeto de estudo, retornando, por fim, ao concreto, dessa vez com uma
realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social.
(MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 95).

58 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Valoriza o uso da linguagem abstrata visto que permite a comparação de
experiências. Esse método “[...] caminha do concreto para o abstrato, e vice, versa,
dispondo na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos
diversos fenômenos.” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 95-96).

Síntese

Observamos que, de acordo com os objetivos delimitados, as pesquisas


podem ser classificadas como exploratórias, descritivas e explicativas. Em relação
à abordagem do problema podem ser qualitativas, quantitativas ou quali-
quantitativa (mistas). Diante da sua finalidade se caracterizam como pesquisa
básica (pura) ou aplicada, sendo que ambas se complementam. No que diz
respeito às técnicas de pesquisas, são utilizadas duas fontes para a coleta dos
dados, sendo extraídos de fontes documentais (papel) e por meio de pessoas.
No entanto, uma mesma pesquisa pode apresentar diferentes classificações,
abordagens e técnicas, desde que siga os requisitos de cada uma delas.
Demonstramos que o método científico denota o caminho percorrido
para se obter um conhecimento confiável/seguro, portanto envolve a escolha
de métodos, técnicas, instrumentos e estratégias aplicados para resolver o
problema de pesquisa.
Na contemporaneidade o método não pode ser concebido com uma
visão rígida e previsível, o ideal seria a combinação de diferentes métodos na
investigação, permitindo, assim, ampliar as possibilidades de análise e obtenção
de resposta ao problema tratado.
Por fim, destacamos o pensamento Silva e Menezes (2005, p. 23):

Pesquisa científica seria, portanto, a realização concreta de uma


investigação planejada e desenvolvida de acordo com as normas
consagradas pela metodologia científica. Metodologia científica aqui
entendida como um conjunto de etapas ordenadamente dispostas
que você deve vencer na investigação de um fenômeno. [...]. Realizar
uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um
tema e defina um problema para ser investigado, elabore um plano
de trabalho e, após a execução operacional desse plano, escreva um
relatório final e este seja apresentado de forma planejada, ordenada,
lógica e conclusiva.

O desenvolvimento das pesquisas possibilita o avanço da ciência, à medida


que novas descobertas são feitas, conceitos e teorias são revistos diante dos
acréscimos cognitivos. O conhecimento está em constante reformulação, as
explicações dos fatos e fenômenos repousam em uma condição provisória.
Assim, pesquisar é um processo que não tem fim em si mesmo.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 59


Para ler...

Para se aprofundar nos conteúdos da unidade, veja as referências a seguir


de leituras complementares:

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 9. ed. São


Paulo: Cortez, 2008.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa


em ciencias sociais. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 2013.

GEWANDSZNAJDER, Fernando. O que é método científico. São Paulo:


Pioneira, 1989.

MUELLER, Suzana Pinheiro Machado. Métodos para a pesquisa em Ciência


da Informação. Brasília: Thesaurus, 2007.

PEREIRA, Julio César R. Análise de dados qualitativos: estratégias


metodológicas para as ciências da saúde, humanas e sociais. 3. ed. São
Paulo: EDUSP: FAPESP, 2001.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a


pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1992.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração


de trabalhos na graduação. 4. ed. São Paulo: Atlas,1999.

BUNGE, M. Ciência e desenvolvimento. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice-Hall,


2002.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São
Paulo: Pearson, 2007.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3.


ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

60 Métodos e Técnicas de Pesquisa


D’ANGELO, Helô. Quem lê mais vive mais. E basta meia hora por dia. Só tem um
problema: não adianta ler qualquer coisa. Super Interessante, 4 ago. 2016, 19h,
atualizado em: 31 out. 2016, 19h05. Disponível em: <http://super.abril.com.br/
comportamento/quem-le-mais-vive-mais-e-basta-meia-hora-por-dia/>. Acesso em:
08 nov. 2016.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010a.

______. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010b.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5.


ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 24.


ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

RICHARDSON, Roberto Jarry; PERES, José Augusto de Souza. Pesquisa social: métodos


e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e


elaboração de dissertação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo:
Cortez, 2007.

RAUPP, F. M.; BEUREN, I. M. Metodologia da pesquisa aplicável às ciências sociais. In:


BEUREN, I. M. (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade:
teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2003.

RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 39. ed. Petrópolis:


Vozes, 2011.

VOLPATO, Gilson L. Ciência da filosofia à publicação. 5. ed. São Paulo: Cultura


Acadêmica, Vinhedo: Scripta, 2007.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman,
2010.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 61


Anotações

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62 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Unidade 3
Etapas e Elementos da Pesquisa Científica

Objetivo:
• Apresentar as etapas e elementos fundamentais no processo de pesquisa;
• Compreender o planejamento e desenvolvimento da pesquisa científica;
• Compreender as etapas e elementos do processo de pesquisa, adquirindo
competências para planejar, desenvolver e executar projetos.

Conteúdo programático:
• Planejamento, execução, relatório final;
• Escolha do tema;
• Revisão de literatura;
• Justificativa;
• Formulação do problema;
• Determinação dos objetivos;
• Procedimentos metodológicos;
• Teste de instrumentos;
• Cronograma;
• Coleta de dados;
• Tabulação de dados;
• Análise e discussão dos resultados;
• Redação e apresentação do trabalho científico.
Faça aqui seu planejamento de estudos

64 Métodos e Técnicas de Pesquisa


1 INTRODUÇÃO

Ao desenvolver uma pesquisa é necessário seguir uma série de etapas, uma
vez que a pesquisa “[...] é um procedimento formal, com método de pensamento
reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer
a realidade ou para descobrir verdades parciais.” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 139).
Ela não acontece desordenadamente e intuitivamente.
É possível distinguirmos três fases no amadurecimento do trabalho científico:
a fase da invenção, da intuição, da descoberta; a fase da pesquisa positiva, seja
experimental, seja de campo ou bibliográfica; e a fase da composição do trabalho. A
primeira fase é eminentemente lógica e o pensamento é provocador. Na segunda fase,
o espírito é posto diante dos fatos, de outras ideias. Há a oportunidade de cotejar
as primeiras intuições com as intuições alheias ou com os fatos objetivos e, deste
confronto, nasce uma posição amadurecida. Algumas ideias podem ser abandonadas,
novas acrescentadas e outras reformuladas. Isso quer dizer que a primeira formulação
não é necessariamente definitiva. Já na última fase, é preciso estar de posse de uma
formulação definitiva, que poderá confirmar a primeira ou modificá-la (SEVERINO,
2007).
A partir desta lógica, a pesquisa pode compreender as seguintes etapas:
planejamento (ou projeto); execução; e relatório final, conforme observamos na Figura
2.

Figura 2 - Fases da pesquisa

Planejamento Excecução Relatório final


Escolha do tema Coleta de dados Redação e
Revisão de literatura Tabulação de dados apresentação
Justificativa Análise e discussão do trabalho
Formulação do dos resultados científico
problema Conclusões
Determinação dos
objetivos
Procedimentos
metodológicos
Teste de instrumentos
Cronograma
Fonte: elaborada pelo autor com base nas fases da pesquisa apontadas por Silva e Menezes (2005) e
Marconi e Lakatos (2010).

As subseções, a seguir, contêm conceitos, aspectos e características de cada


etapa da pesquisa científica.

2 ESCOLHA DO TEMA

A escolha do tema é uma etapa de máxima importância, pois dela depende


o êxito do trabalho a ser desenvolvido. O tema é o assunto que se deseja estudar e

Métodos e Técnicas de Pesquisa 65


pesquisar. O trabalho de definir adequadamente o tema pode perdurar por toda a
pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Escolher o tema significa, de acordo com Marconi e Lakatos (2010),

a) escolher um assunto de acordo com as inclinações, as possibilidades, as


aptidões e as tendências de quem se propõe a elaborar um trabalho científico;
b) encontrar um objeto que mereça ser investigado cientificamente e tenha
condições de ser formulado e delimitado em função da pesquisa.

Em outras palavras, o tema deve corresponder ao gosto, à vocação e aos


interesses de quem vai abordá-lo. Elaborar uma pesquisa sobre um tema que
não desperta o interesse ou que não corresponde ao gosto do pesquisador, pode
transformar-se em tarefa demasiadamente pesada (ANDRADE, 2010).
Quanto a escolher um tema possível de ser investigado cientificamente, é
importante observarmos os seguintes aspectos, de acordo com Marconi e Lakatos
(2010) e Andrade (2010):
a. evitar escolher temas sobre os quais existam vários e exaustivos trabalhos, pois
corremos o risco de repetir tão somente o que já foi dito sobre o assunto;
b. o tema deve ser relevante, ou seja, seu estudo deve apresentar alguma utilidade
ou importância prática ou teórica;
c. deve ser exequível e adequado, em termos tanto dos fatores externos quanto dos
internos (custos, tempo disponível para o desenvolvimento do trabalho, interesse
e determinação para seguir o estudo, qualificações pessoais do pesquisador em
termos de background da formação universitária);
d. deve ser preciso, bem determinado e específico;
e. deve responder à pergunta: o que será explorado?

A delimitação do tema consiste em especificar o enfoque sobre o assunto


escolhido; delimitar o local onde a situação estudada se desenrola; e apontar os
fatores aos quais se restringe a pesquisa. Trata-se de fazer um recorte de sua amplitude
(DMITRUK; GALLON, 2004). Quanto mais delimitado o assunto, maior é a possibilidade
de aprofundar a abordagem.

3 REVISÃO DE LITERATURA

A pesquisa deve conter uma revisão de literatura que apontará as premissas


ou pressupostos teóricos sobre os quais o pesquisador fundamentará sua pesquisa.
A revisão de literatura, conforme Dmitruk e Gallon (2004, p. 128), “[...]
compreende o embasamento teórico-metodológico do trabalho proporcionando uma
revisão avaliativa da literatura.” Por meio da análise do que já foi publicado, devemos
traçar um quadro teórico e fazer uma estruturação conceitual que dará sustentação
ao desenvolvimento da pesquisa (SILVA; MENEZES, 2005).

66 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Nesta fase o pesquisador deverá responder às seguintes questões, de acordo
com Silva e Menezes (2005):
a. Quem já escreveu e o que já foi publicado sobre o assunto?
b. Que aspectos já foram abordados?
c. Quais as lacunas existentes na literatura?

Para Silva e Menezes (2005 apud LUNA, 1997), a revisão de literatura em um


trabalho de pesquisa pode ser realizada pelo pesquisador com os seguintes objetivos:
a. determinação do “estado da arte”: mostra por meio da literatura já publicada o
que já sabemos sobre o tema, quais as lacunas existentes e onde encontramos os
principais entraves teóricos ou metodológicos;
b. revisão teórica: insere o problema de pesquisa dentro de um quadro de referência
teórica para explicá-lo. Geralmente acontece quando o problema em estudo é gerado
por uma teoria, ou quando não é gerado ou explicado por uma teoria particular,
mas por várias;
c. revisão empírica: explica como o problema vem sendo pesquisado do ponto de vista
metodológico, procurando responder as seguintes questões: quais os procedimentos
normalmente empregados no estudo desse problema? Que fatores vêm afetando
os resultados? Que propostas têm sido feitas para explicá-los ou controlá-los? Que
procedimentos vêm sendo empregados para analisar os resultados? Há relatos de
manutenção e generalização dos resultados obtidos? Do que elas dependem?;
d. revisão histórica: recupera a evolução de um conceito, tema, abordagem ou
outros aspectos fazendo a inserção dessa evolução dentro de um quadro teórico de
referência que explique os fatores determinantes e as implicações das mudanças.

Para elaborar uma revisão de literatura recomendamos que o pesquisador adote


a metodologia de pesquisa bibliográfica e/ou documental, de acordo com o objetivo
que se pretende alcançar, e use fontes de informação destinadas para pesquisa,
ou seja, bases de dados especialmente organizadas para consulta (Ex.: Library and
Information Science Abstracts - LISA, Emerald Fulltext, Base de Dados em Ciência da
Informação - Brapci) e ferramentas de busca especializada (Ex.: Portal Capes, Google
Acadêmico, Google Livros), que facilitam o levantamento dos trabalhos publicados
sobre o assunto para serem analisados.

4 JUSTIFICATIVA

Esta etapa visa explicar qual a importância ou relevância do estudo para


a comunidade científica, acadêmica, profissional e/ou para a própria sociedade
(DMITRUK; GALLON, 2004). Trata-se de uma etapa de suma importância, uma vez
que, contribui diretamente na aceitação da pesquisa pela comunidade acadêmica ou
pela pessoa ou entidade que irá financiá-la (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Métodos e Técnicas de Pesquisa 67


Para elaborar a justificativa, Silva e Menezes (2005) recomendam que o
pesquisador faça a si mesmo as seguintes perguntas:

a. O tema é relevante e, se é, por quê?


b. Quais os pontos positivos da abordagem desta proposta?
c. Que vantagens e benefícios esta pesquisa irá proporcionar?

Salientamos, de acordo com Marconi e Lakatos (2010, p. 202), que a justificativa


consiste “[...] numa exposição sucinta, porém completa, das razões de ordem teórica
e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização da pesquisa.”
Estes autores esclarecem ainda que esta etapa é diferente da revisão bibliográfica e,
por este motivo, não apresenta citações de outros autores. Portanto, o pesquisador
deve ressaltar a importância da pesquisa a partir do seu conhecimento científico aliado
à sua criatividade e capacidade de convencimento.

5 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Nesta etapa devemos refletir sobre o problema que pretendemos resolver na


pesquisa. O problema é o ponto de partida da pesquisa (SILVA; MENEZES, 2005), e
deve-se responder às seguintes perguntas: O quê? Como? (MARCONI; LAKATOS, 2010).
O problema, na acepção científica, é definido por Marconi e Lakatos (2010,
p. 143) como “[...] uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma
coisa de real importância, para a qual se deve encontrar uma solução.” Definir um
problema significa especificá-lo em detalhes precisos e exatos. Em sua formulação deve
haver clareza, concisão e objetividade a fim de facilitar a construção das hipóteses
(MARCONI; LAKATOS, 2010). Hipóteses são, de acordo com Silva e Menezes (2005,
p. 86),

[...] suposições colocadas como respostas plausíveis e provisórias para o


problema de pesquisa. As hipóteses são provisórias porque poderão ser
confirmadas ou refutadas com o desenvolvimento da pesquisa. Um mesmo
problema pode ter muitas hipóteses, que são soluções possíveis para a sua
resolução. A(s) hipótese(s) irá(ão) orientar o planejamento dos procedimentos
metodológicos necessários à execução da sua pesquisa. O processo de pesquisa
estará voltado para a procura de evidências que comprovem, sustentem ou
refutem a afirmativa feita na hipótese. A hipótese define até aonde você
quer chegar e, por isso, será a diretriz de todo o processo de investigação. A
hipótese é sempre uma afirmação, uma resposta.

68 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Na Figura 3, observamos um exemplo de problema e hipótese.

Figura 3 - Problema e hipótese

HIPÓTESE
PROBLEMA? Problemas de
Qual a causa da doença têm
evasão nos Curso ocasionado evasão
de Biblioteconomia nos Cursos de
do Brasil? Biblioteconomia do
Brasil.

Fonte: adaptado de Silva (2014).

Problemas e hipóteses são enunciados de relações entre variáveis1


(fatos, fenômenos). A diferença reside em que o problema se constitui em sentenças
interrogativas e a hipótese, em sentença afirmativa mais específica (MARCONI;
LAKATOS, 2010).
Formular o problema não é uma tarefa fácil, uma vez que, vincula-se
estreitamente ao processo criativo do pesquisador. A formulação de problemas não
se faz mediante a observação de procedimentos rígidos e sistemáticos (GIL, 2010).
Assim, para facilitar este processo de criação, Gil (2010) faz algumas recomendações:
d. o problema deve ser formulado como pergunta, isso facilita sua identificação por
parte de quem lê a pesquisa;
e. o problema deve ser claro e preciso;
f. o problema deve ser suscetível de solução;
g. o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável, ou seja, deve ser restrito
para permitir a sua viabilidade.

Estas características são importantes para definir de maneira adequada os


objetivos da pesquisa.

6 DETERMINAÇÃO DE OBJETIVOS

Nesta etapa devemos pensar a respeito da intenção do pesquisador ao propor


a pesquisa. Os objetivos da pesquisa deverão sintetizar o que pretendemos alcançar
e deixar claro a contribuição que o trabalho visa atingir. Além disso, devem estar
coerentes com a justificativa e o problema proposto.
1 Uma variável pode ser considerada uma classificação ou medida; uma quantidade que varia; um conceito que
contém ou apresenta valores; aspecto, propriedade ou fator, discernível em um objeto de estudo e passível de
mensuração. Os valores que são adicionados ao conceito para transformá-lo em variável podem ser quantidade,
qualidades, características, magnitude, traços etc., que se alteram em cada caso particular e são totalmente
abrangentes e mutuamente exclusivos. O conceito, por sua vez, pode ser um objeto, processo, agente, fenômeno,
problema etc. (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Métodos e Técnicas de Pesquisa 69


O objetivo geral será a síntese do que se pretende alcançar, e os objetivos
específicos explicitarão os detalhes e serão desdobramentos do objetivo geral (SILVA;
MENEZES, 2005). Dmitruk e Gallon (2004) recomendam elaborar de três a cinco
objetivos específicos que possibilitem atingir a compreensão do estudo.
Os enunciados dos objetivos devem começar com um verbo no infinitivo e este
verbo deve indicar uma ação passível de mensuração. Silva e Menezes (2005, p. 31-
32) citam alguns exemplos de verbos usados na formulação dos objetivos:

• determinar estágio cognitivo de conhecimento: os verbos apontar, arrolar,


definir, enunciar, inscrever, registrar, relatar, repetir, sublinhar e nomear;
• determinar estágio cognitivo de compreensão: os verbos descrever, discutir,
esclarecer, examinar, explicar, expressar, identificar, localizar, traduzir e
transcrever;
• determinar estágio cognitivo de aplicação: os verbos aplicar, demonstrar,
empregar, ilustrar, interpretar, inventariar, manipular, praticar, traçar e usar;
• determinar estágio cognitivo de análise: os verbos analisar, classificar,
comparar, constatar, criticar, debater, diferenciar, distinguir, examinar, provar,
investigar e experimentar;
• determinar estágio cognitivo de síntese: os verbos articular, compor, constituir,
coordenar, reunir, organizar e esquematizar;
• determinar estágio cognitivo de avaliação: os verbos apreciar, avaliar, eliminar,
escolher, estimar, julgar, preferir, selecionar, validar e valorizar.

Os objetivos podem definir a natureza do trabalho, o tipo de problema a ser


selecionado, o material a coletar etc., atesta Oliveira Netto (2008).

7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta etapa devemos apresentar a natureza ou tipo da pesquisa, a população


ou universo da pesquisa, a amostragem, os instrumentos de coleta de dados e a forma
como pretendemos tabular e analisar os dados.
Os procedimentos metodológicos, conforme Andrade (2010, p. 117), são “o
conjunto de métodos ou caminhos que são percorridos na busca do conhecimento”.
Esta etapa, conforme Marconi e Lakatos (2010), abrange algumas questões que podem
ser observadas na Figura 4.

70 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Figura 4 - Procedimentos metodológicos

ONDE?
COMO? Descrever o
contexto da e o
Classificar a
universo de
pesquisa.
aplicação da
pesquisa.

QUANTO? COM QUÊ?


Delimitar os Descrever como
termos e as os dados serão
variáveis de tratados e as
análise da técnicas de
pesquisa. análise de dados.

Fonte: adaptado de Silva (2014).

A natureza ou tipo da pesquisa pode ser determinado segundo sua finalidade,


objetivos e métodos empregados, conforme apresentamos na Unidade 2.
A população ou universo da pesquisa é “[...] o conjunto de seres animados ou
inanimados que apresentam pelos menos uma característica em comum.” (MARCONI;
LAKATOS, 2010, p. 206). A delimitação do universo consiste em explicitar que pessoas,
coisas ou fenômenos serão pesquisados, enumerando suas características comuns.
Alguns exemplos de características comuns são: sexo, faixa etária, organização a que
pertencem ou trabalham, lugar onde vivem etc. (MARCONI; LAKATOS, 2010).
A amostra, de acordo com Silva e Menezes (2005, p. 32), “[...] é parte da
população ou do universo, selecionada de acordo com uma regra ou plana. A amostra
pode ser probabilística e não-probabilística [...]”, conforme a Figura 5:

Métodos e Técnicas de Pesquisa 71


Figura 5 - Tipos de amostras

Amostras Amostras
probabilísticas
não-probabilísticas (compostas por sorteio)

amostras casuais simples:


amostras acidentais:
cada elemento da população
compostas por acaso, com
tem oportunidade igual de ser
pessoas que vão aparecendo;
incluído na amostra;

amostras por quotas: diversos amostras casuais


elementos constantes da estratificadas: cada estrato,
população/universo, na mesma definido previamente, estará
proporção; representado na amostra;

amostras internacionais:
amostras por agrupamento:
escolhidos casos para a
reunião de amostras
amostra que representem o
representativas de uma
“bom julgamento” da
população.
população/universo.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Silva e Menezes (2005, p. 32).

Além de caracterizar o tipo de amostragem utilizado, devem-se descrever as


etapas concretas de como será feira a seleção da amostra.
Os instrumentos de coleta de dados a serem empregados na pesquisa científica
poderão ser selecionados desde a proposição do problema, dos objetivos e do universo
a ser investigado. Os instrumentos de coleta de dados tradicionais, conforme Silva
e Menezes (2005), são: observação, entrevista, questionário e formulário. Também
podemos utilizar pesquisa documental e bibliográfica para coletar dados, conforme
abordamos na Unidade 2.
A observação é um instrumento de coleta de dados para conseguir informações
que utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Consiste
em ver, ouvir e examinar fatos ou fenômenos que desejamos estudar. A observação
ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais
os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Obriga o
investigador a um contato mais direto com a realidade (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Existem várias modalidades de observação, que variam de acordo com as
circunstâncias. Silva e Menezes (2005) apresentam os tipos de observação:
a. observação assistemática: não tem planejamento e controle previamente
elaborados;
b. observação sistemática: tem planejamento, realiza-se em condições controladas
para responder aos propósitos preestabelecidos;
c. observação não-participante: o pesquisador presencia o fato, mas não participa;

72 Métodos e Técnicas de Pesquisa


d. observação individual: realizada por um pesquisador;
e. observação em equipe: feita por um grupo de pessoas;
f. observação na vida real: registro de dados à medida que ocorrem;
g. observação em laboratório: onde tudo é controlado.

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de determinado assunto. Trata-se de uma conversação efetuada
face-a-face de maneira metódica (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Há diferentes tipos de entrevistas, que variam de acordo com o propósito do
entrevistador. Para Silva e Menezes (2005), as entrevistas podem ser:
a. padronizada ou estruturada: roteiro previamente estabelecido;
b. despadronizada ou não-estruturada: não existe rigidez de roteiro. Pode-se explorar
mais amplamente algumas questões.

O questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma


série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença
do entrevistador. Junto com o questionário, devemos enviar uma nota explicando a
natureza da pesquisa, sua importância e a necessidade de obter respostas (MARCONI;
LAKATOS, 2010).
As perguntas do questionário podem ser, conforme Silva e Menezes (2005):
a. abertas: “Qual é a sua opinião?”;
b. fechadas: duas escolhas: sim ou não;
c. de múltiplas escolhas: fechadas com uma série de respostas possíveis.

O formulário, conforme Marconi e Lakatos (2010), é um instrumento de coleta


que consiste em obter informações diretamente do entrevistado, ou seja, face-a-
face. O roteiro de perguntas deve ser preenchido pelo entrevistador no momento da
entrevista.
A observância de alguns aspectos é necessária na construção do formulário,
para facilitar o seu manuseio e posterior tabulação: tipo, tamanho e formato do
papel; a estética e o espaçamento entre os itens, permitindo espaço para a redação
das respostas; deve ser digitalizado em uma só face do papel; é importante numerar
as folhas; a redação deve ser simples, clara e concisa (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Nesta etapa, o pesquisador deve também escolher as possíveis formas de
tabulação e apresentação de dados, bem como os meios (os métodos estatísticos,
os instrumentos manuais ou computacionais) que serão usados para facilitar a
interpretação e análise dos dados na fase de execução da pesquisa, conforme orientam
Silva e Menezes (2005).

Métodos e Técnicas de Pesquisa 73


8 TESTE DE INSTRUMENTOS

Uma vez definidos e elaborados os instrumentos de pesquisa, o procedimento


utilizado para verificar a sua validade é o pré-teste ou teste-preliminar. Esta etapa
consiste em testar os instrumentos da pesquisa sobre uma pequena parte da
população ou da amostra, antes de ser aplicado definitivamente. Este procedimento
é fundamental para evitar que a pesquisa chegue a um resultado falso e para verificar
até que ponto esses instrumentos têm condições de garantir resultados isentos de
erros (MARCONI; LAKATOS, 2010).
O pré-teste pode ser aplicado a uma amostra representativa ou intencional. São
necessários alguns cuidados para que o estudo ofereça boas perspectivas científicas,
conforme Marconi e Lakatos (2005): fidelidade de aparelhagem, precisão e consciência
dos testes; objetividade e validez das entrevistas e dos questionários ou formulários;
critérios de seleção da amostra.

9 CRONOGRAMA

Estabelecer um cronograma de execução da pesquisa nada mais é que fazer


uma previsão do tempo que será necessário para se passar por cada etapa da pesquisa.
O cronograma deve ser apresentado da seguinte maneira: por linhas, que
indicam as fases da pesquisa, e por colunas, que indicam o tempo previsto (GIL, 2010).
Algumas fases da pesquisa podem ser desenvolvidas simultaneamente.

10 COLETA DE DADOS

Nesta etapa da pesquisa iniciaremos a aplicação dos instrumentos elaborados


e das técnicas selecionadas, a fim de efetuar a coleta dos dados previstos.
Para obter êxito neste processo, duas qualidades são fundamentais, conforme
Silva e Menezes (2005), a paciência e a persistência. Esta é uma tarefa cansativa e
toma, normalmente, mais tempo do que se espera (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Para evitar erros e defeitos resultantes de entrevistadores inexperientes ou
de informantes tendenciosos é fundamental, nesta etapa, um rigoroso controle na
aplicação dos instrumentos de pesquisa, bem como, obedecer aos prazos estipulados
no cronograma.

11 TABULAÇÃO DE DADOS

Tabular os dados significa dispô-los em tabelas, possibilitando mais facilidade


na verificação das inter-relações entre eles. Trata-se de uma parte do processo técnico

74 Métodos e Técnicas de Pesquisa


de análise estatística, que permite sintetizar os dados e representá-los graficamente
(MARCONI; LAKATOS, 2010).
Atualmente, o pesquisador pode lançar mão de recursos manuais ou
computacionais para organizar os dados obtidos na pesquisa de campo. Estes recursos
darão suporte à elaboração de índices e cálculos estatísticos, tabelas, quadros e gráficos
(SILVA; MENEZES, 2005).

12 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta etapa é o passo seguinte à manipulação dos dados e obtenção dos


resultados. Estas duas etapas constituem-se no núcleo da pesquisa. Os dados obtidos
devem proporcionar respostas às investigações.
A análise e discussão dos resultados, conforme Marconi e Lakatos (2010),
envolvem suas operações: a análise, que é a tentativa de evidenciar as relações
existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores; e a interpretação, que é
a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às respostas,
vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação significa a exposição
do verdadeiro significado do material apresentado, em relação aos objetivos propostos
e ao tema.

13 CONCLUSÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesta etapa o pesquisador deverá sintetizar os resultados obtidos com a


pesquisa. Deverá explicitar se os objetivos foram atingidos, se a(s) hipótese(s) ou os
pressupostos foram confirmados ou rejeitados. E, principalmente, deverá ressaltar a
contribuição da sua pesquisa para o meio acadêmico ou para o desenvolvimento da
ciência e da tecnologia, conforme Silva e Menezes (2005).
A introdução e a conclusão de qualquer trabalho científico, via de regra, são
as últimas partes a serem redigidas.

14 REDAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO TRABALHO CIENTÍFICO

Esta etapa consiste em redigir o relatório de pesquisa, que pode ser trabalho
de conclusão de curso, dissertação ou tese. Trata-se da “[...] exposição geral da
pesquisa, desde o planejamento às conclusões, incluindo os processos metodológicos
empregados.” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 155).
Silva e Menezes (2005) observam que o texto deverá ser escrito de modo apurado,
ou seja, gramaticalmente correto, fraseologicamente claro, terminologicamente preciso
e estilisticamente agradável. Para Severino (2007), todo trabalho científico, suas partes,
capítulos e, no interior deles, os parágrafos, devem ter uma sequência lógica rigorosa

Métodos e Técnicas de Pesquisa 75


determinada pela estrutura do discurso. São importantes, conforme Marconi e Lakatos
(2010), a objetividade e o estilo, mantendo-se a expressão impessoal e evitando-se
frases valorativas, uma vez que, a informação deve somente descrever e explicar.
Do ponto de vista da estrutura formal, o trabalho será composto de três partes
fundamentais, de acordo com Severino (2007): a introdução; o desenvolvimento; e a
conclusão. É dentro deste esquema que se desenvolverá o raciocínio demonstrativo
do discurso.
A introdução levanta o estado da questão, mostrando o que já foi escrito a
respeito do tema e assinalando a relevância e o interesse do trabalho, além disso,
manifesta as intenções do autor e os objetivos do trabalho, enunciando seu tema, seu
problema, sua tese e os procedimentos que serão adotados para o desenvolvimento do
raciocínio. Encerra-se com uma justificação do plano de trabalho. Ao ler a introdução,
o leitor deve sentir-se esclarecido a respeito do teor da problematização do tema do
trabalho. Deve ser sintética e versar exclusivamente sobre a temática do trabalho,
evitando-se intermináveis retrospectos históricos (SEVERINO, 2007).
O desenvolvimento corresponde ao corpo do trabalho e será estruturado
conforme as necessidades do plano definitivo do trabalho. As subdivisões dos tópicos,
os itens, os capítulos etc. devem ser lógicas e claras, dando a ideia exata do conteúdo
do setor que intitulam (SEVERINO, 2007).
A conclusão é a síntese para a qual caminha o trabalho. Será breve e visará
recapitular sinteticamente os resultados da pesquisa. O autor manifestará seu ponto
de vista sobre os resultados obtidos (SEVERINO, 2007).
Dmitruk e Gallon (2004) apresentam um roteiro básico de apresentação do
relatório da pesquisa:

a)Elementos pré-textuais
Capa
Folha de rosto
Dedicatória, agradecimento, mensagem (opcional)
Resumo e/ou abstract
Lista de siglas e abreviaturas (se existirem)
Lista de tabelas e gráficos (se houver)
Sumário

b) Elementos textuais
Introdução
Tema
Problema
Objetivos (geral e específicos)
Justificativa
Hipóteses ou questões de pesquisa (problema)
Revisão de literatura
Metodologia
Análise e discussão dos dados

76 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Conclusões e recomendações finais (indicações do prosseguimento do estudo ou
de novas pesquisas)

c) Elementos pós-textuais
Referências
Apêndices e anexos (se houver)

As normas de documentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT) deverão ser consultadas visando à padronização das indicações bibliográficas
e a apresentação gráfica do texto.
Apresentamos na Tabela 1 as principais normas da ABNT para a elaboração de
trabalhos científicos e acadêmicos.

Tabela 1 - Normalização de trabalhos científicos e acadêmicos


NORMALIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS E ACADÊMICOS
Informação e documentação – Relatório técnico e/ou
ABNT NBR 10719:2015
científico – Apresentação

ABNT NBR 6027:2012 Informação e documentação – Sumário – Apresentação

Informação e documentação – Numeração progressiva


ABNT NBR 6024:2012
das seções de um documento – Apresentação
Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos –
ABNT NBR 14724:2011
Apresentação
Informação e documentação – Projeto de pesquisa –
ABNT NBR 15287:2011
Apresentação
ABNT NBR 6034:2004 Informação e documentação – Índice – Apresentação
ABNT NBR 12225:2004 Informação e documentação – Lombada – Apresentação
ABNT NBR 6028:2003 Informação e documentação – Resumo – Apresentação
Informação e documentação – Artigo em publicação
ABNT NBR 6022:2003
periódica científica impressa – Apresentação
Informação e documentação – Citações em documentos
ABNT NBR 10520:2002
– Apresentação
ABNT NBR 6023:2002 Informação e documentação – Referências – Elaboração
Fonte: Elaborada pelo autor.

Para finalizar esta unidade, apresentamos a seguir, a fim de facilitar a


compreensão do que expomos até aqui, um exemplo de estrutura de pesquisa em
Biblioteconomia em fase de planejamento, descrita por Silva (2014):

• TEMA
A EVASÃO NO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA
CATARINA (UFSC)

Métodos e Técnicas de Pesquisa 77


• PROBLEMA
Quais fatores geram a evasão no curso de Biblioteconomia da UFSC?
• HIPÓTESES
A ausência de meta ou objetivo de vida dos alunos gera evasão;
Problemas de doença têm ocasionado evasão;
Problemas relacionados ao trabalho dos alunos têm ocasionado evasão.
• OBJETIVO GERAL
Diagnosticar os fatores que ocasionaram a evasão dos alunos, ingressos no período
de 1997 a 2007, do curso de Biblioteconomia da UFSC.
• OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar os alunos evadidos;
Levantar os fatores que ocasionaram a evasão desses alunos;
Analisar, à luz da literatura que se dispõe sobre o assunto, os fatores apontados
como motivadores da evasão.
• REVISÃO DE LITERATURA
Educação universitária no Brasil;
Formação do bibliotecário no Brasil;
Evasão escolar;
Evasão universitária.
• PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Pesquisa exploratória, com procedimentos técnicos de pesquisa documental – corpus
da pesquisa composto por registros de evadidos existentes no DAE no período. O
instrumento de coleta de dados será composto por fichas para anotações dos dados.
Pesquisa descritiva, com procedimentos técnicos de levantamento – população
composta pelos alunos evadidos no período. Não será calculada amostra, pois o
estudo será censitário. O instrumento de coleta de dados será o questionário.

78 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Síntese

Diante do exposto, observamos que para desenvolver pesquisa é necessário


seguir algumas etapas. No primeiro momento da investigação, o pesquisador
planeja o projeto de pesquisa, delimita o tema, faz a revisão de literatura
buscando aprimorar seu entendimento sobre o tema escolhido, e assim formula
a justificativa, o problema/hipótese e objetivos. Nessa etapa, também são
definidos os procedimentos metodológicos que abrangem o universo/amostra
da pesquisa, os instrumentos de coleta de dados e técnicas a serem aplicadas.
Também são testados os instrumentos para garantir sua eficácia e se estipula um
cronograma que servirá de apoio na condução das atividades de investigação.
No segundo momento da investigação, o pesquisador vai executar o que
foi planejado anteriormente. Nessa etapa, o pesquisador coleta os dados da
pesquisa, tabula os mesmos para que seja possível fazer a análise e a discussão
dos resultados. Aqui será demandado do pesquisador um esforço maior durante
o processo de análise e discussão dos resultados, pois é preciso interpretar e
relacionar os dados obtidos com os resultados de outras pesquisas, além de
encontrar semelhanças e diferenças em nível teórico/conceitual.
No terceiro e último momento, o pesquisador redige o relatório final, esse
pode assumir a forma de um trabalho de conclusão de curso, dissertação ou
tese. Nessa fase, será feita a redação e apresentação da pesquisa seguindo as
normas da ABNT que norteiam o processo de pesquisa, em especial as NBR
14724. Além disso, a redação deve ser clara, objetiva, linear, sem juízo de
valor ou achismo, pois deve ficar claro para o leitor o conteúdo abordado e
propriamente a pesquisa com um todo.

Para ler...

Para aprofundar-se no conteúdo desta unidade, veja as sugestões para


leituras complementares:

BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 9. ed.


Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012.

LUNA, Sergio Vasconcelos de. Planejamento de pesquisa: uma introdução:


elementos para uma análise metodológica. 2. ed. São Paulo: EDUC, 2011.

MEDEIROS, João Bosco. Redação cientifica: a pratica de fichamentos,


resumos, resenhas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MENDONÇA, Julieta. Manual do texto dissertativo: modo de escrita da


redação científica. Foz do Iguaçu, PR: Editares, 2011.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 79


REFERÊNCIAS

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico.


10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

DMITRUK, Hilda Beatriz; GALLON, Lorete Maria. Pesquisa. In: DMITRUK, Hilda Beatriz
(Org.) Cadernos metodológicos: diretrizes do trabalho científico. Chapecó: Argos,
2004.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia


científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

OLIVEIRA NETTO, Alvim Antônio. Metodologia da pesquisa científica: guia prático


para a apresentação de trabalhos acadêmicos. 3. ed. rev. atual. Florianópolis: Visual
Books, 2008.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. atual.
São Paulo: Cortez, 2007.

SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e


elaboração de dissertação. 4. ed. ver. atual. Florianópolis: UFSC, 2005.

SILVA, Edna Lúcia da. Aula 3: Planejamento da pesquisa. Florianópolis: [s.n], 2014.
59 Slides.

80 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Anotações

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Anotações

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82 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Unidade 4
A Comunicação Científica

Objetivo:
• Compreender o processo de comunicação do conhecimento científico;
• Descrever os canais de comunicação formal e informal na ciência;
• Ressaltar a importância da revisão por pares na ciência;
• Apresentar o movimento de acesso aberto na comunicação científica;
• Apresentar os periódicos científicos de Biblioteconomia e Ciência da Informação;
• Compreender o processo de comunicação na ciência e sua importância para
a vitalidade da ciência, sendo capaz de reconhecer o processo de revisão por
pares, os canais formais e informais de comunicação, o movimento de acesso
aberto e os periódicos da área.

Conteúdo programático:
• Comunicação científica;
• Periódicos científicos;
• Revisão por pares;
• Canais formais e informais;
• O acesso aberto na comunicação científica;
• Periódicos científicos da Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Faça aqui seu planejamento de estudos

84 Métodos e Técnicas de Pesquisa


1 INTRODUÇÃO

A relevância da comunicação científica é apontada por Meadows (1999, p. VII),


quando expõe que a comunicação “situa-se no próprio coração da ciência. É para ela
tão vital quanto à própria pesquisa”. Mueller (2007, p. 128) reitera essa afirmação
quando expressa que a “comunicação desempenha papel central na ciência”. No
discurso de ambos subentendemos que no fazer da ciência a comunicação é processo
imprescindível, ou seja, a ciência e comunicação estão interligadas, são dependentes
uma da outra. A velocidade do avanço científico está relacionada à eficiência com que
os cientistas comunicam seus estudos aos pares e a sociedade, os resultados divulgados
incidem no desenvolvimento de novas tecnologias e práticas (BJÖRK, 2007).
De nada adianta produzir conhecimento se esse não for disseminado com a
comunidade científica e com a sociedade em geral. Merton (2013) ao propor o éthos
da ciência (universalismo, comunismo, desinteresse e ceticismo organizado), um
conjunto de normas e crenças, enfatiza a comunicação do conhecimento com base na
ideia de comunismo. O autor explica que as descobertas científicas são um produto
da colaboração social, direcionam-se à sociedade num âmbito geral. O pesquisador,
cientista, não é visto como proprietário do conhecimento ou da descoberta, cabe a ele
apenas reconhecimento e estima por seu trabalho. As pesquisas científicas devem ser
de livre acesso, os resultados de pesquisa precisam ser divulgados e compartilhados.
O pesquisador, ao publicar, torna conhecida a sua descoberta e obtém registro de
sua autoria. Publicar deve ser meta do cientista; pois é condenável a supressão das
descobertas científicas, visto que retardam o desenvolvimento científico.

2 A COMUNICAÇÃO NA CIÊNCIA: O SURGIMENTO DOS PERIÓDICOS


CIENTÍFICOS

Analisando o histórico da ciência não é possível afirmar com exatidão o início


das pesquisas científicas e da comunicação científica. Entretanto, as atividades mais
primitivas que impactaram a comunicação científica moderna originaram-se na Grécia,
com a tradição da pesquisa comunicada em forma escrita. A fala e a escrita constituem,
assim, as formas mais importantes da comunicação científica (MEADOWS, 1999).
A lentidão na comunicação científica perdurou durante séculos, pois, inicialmente
os textos eram transcritos manualmente e a comunicação era local. Somente com a
invenção da imprensa, por volta de 1945, foi possível agilizar a reprodução dos textos,
diminuir os custos e estabelecer uma forma mais sistemática de comunicação. Nessa
época, os cientistas começaram a organizar sociedades científicas com a finalidade
de difundir o conhecimento (BJÖRK, 2007).
Assim, a comunicação científica surge como uma evolução do sistema particular
e privado de comunicação, feito até então por meio de cartas, atas e memórias
científicas. Essas correspondências especializadas entre os cientistas e as agremiações
científicas vão originar, no século XVII, as publicações científicas (periódicos científicos),

Métodos e Técnicas de Pesquisa 85


voltadas para um público mais amplo, porém, especializado (STUMPF, 1996; FREITAS,
2006).
De maneira geral, podemos definir os periódicos como publicações seriadas
de números/fascículos sem fim previsto, organizados em volumes, identificados por
um título e ISSN. Esses publicam textos originais e estruturam a dinâmica/fluxo da
comunicação das pesquisas, a pontualidade dos periódicos é um aspecto fundamental
no processo de disseminação dos resultados. A missão dos periódicos é comunicar,
tornar público os resultados originais das pesquisas, contribuindo, assim, para o
avanço do conhecimento (PARKER, 2011).
No que diz respeito ao surgimento das revistas científicas (periódicos científicos),
Ziman (1979) destaca a importância das sociedades reais e academias nacionais no
desenvolvimento da ciência. É creditada à Royal Society de Londres a iniciativa de
estimular a comunicação entre os cientistas, processo esse que teve início com as
reuniões científicas e com a utilização de atas para informar e lembrar os participantes
das questões abordadas nos encontros. A utilização e troca de atas entre os membros
das associações científicas originou os periódicos científicos.
Nesse sentido, a Philosofical Transactions é reconhecida como a primeira
revista voltada para comunicação da ciência, é o protótipo dos atuais periódicos
especializados. Criada por Henry Oldenburg, secretário da Royal Society em 1665 em
Londres, visava à criação do registro público de contribuições originais e desempenhava
a função de um escritório de patentes. O interesse de Oldenburg consistia em atrair
autores europeus para registrar suas descobertas na Philosofical Transactions, nesse
período Londres tornou-se o centro universal da comunicação científica. No mesmo
ano da criação da Philosofical Transactions, nasce em Paris o Journal des Sçavans,
precursor do periódico moderno de humanidades que tinha como foco temas mais
variados e informativos. Percebe-se, então, que ambos os periódicos surgem com
diferenças de conteúdo e intenção (ZIMAN, 1979; MEADOWS, 1999; GUEDÓN, 2001;
VOLPATO, 2008).
As razões para o surgimento dos periódicos científicos estão fundamentadas
na crença de que os editores teriam lucro e que para fazer novos descobrimentos
era necessário um debate coletivo. Embora, o real motivo de sua criação foi à
necessidade de uma comunicação eficaz que atendesse à clientela interessada em
novos conhecimentos (MEADOWS, 1999).
A comunicação científica está sustentada no processo de revisão por pares,
mecanismo em vigor há mais de 350 anos. Nesse processo, especialistas avaliam os
textos originais de seus pares, geralmente desconhecendo a autoria dos artigos, com
a missão de fazer críticas, emitir pareceres, aprovar ou reprovar e, assim, garantir a
confiabilidade dos textos publicados (MEADOWS, 1999; ABADAL, 2013).
Mueller (2007) destaca que o conhecimento só assume status científico quando
ele é aprovado pelos pares. Esse processo de validação acontece em dois momentos, o
primeiro na chamada avaliação prévia, um teste de qualidade no qual os manuscritos
são submetidos antes da publicação, e o segundo momento na publicação do artigo
científico. Ao publicar o artigo, tornando público o conhecimento, esse serve de

86 Métodos e Técnicas de Pesquisa


insumo para pesquisas futuras, contribuindo na geração de novos conhecimentos. O
processo de revisão por pares reflete um movimento cíclico de avaliação e publicação.
A função desempenhada pela revisão dos pares é base para a constituição da
ciência, tudo gira em torno do árbitro que opina sobre o valor do trabalho submetido
à revista. “Ele deve dizer se os resultados empregados pelo autor são de interesse
científico, se foram autenticados e se merecem créditos os métodos empregados
para alcançá-los.” (ZIMAN, 1979, p. 124). Cabe ao avaliador indicar o uso de fontes
de informação e opinar no formato e conteúdo do texto. Entretanto, o julgamento
e avaliação das produções científicas devem partir de toda a comunidade científica,
essa árdua missão não é responsabilidade apenas dos editores e avaliadores. Quando
encontrada uma anomalia que tenha passado pelo crivo dos avaliadores, aconselha-
se não criticar e apontar publicamente o erro alheio, a alternativa é dar a entender
que as afirmações contidas no trabalho não têm fundamentação científica (ZIMAN,
1979).
Assim, as revistas científicas funcionam como filtros de qualidade, os artigos,
quando publicados, além de representar a opinião do autor, carregam consigo a marca
da revista na qual foram publicados, a publicação de trabalhos científicos é feita de
maneira seletiva. “Um artigo publicado em uma revista conceituada não apresenta
apenas a opinião do autor; leva também o selo de autenticidade científica através
do imprimatur dado pelo editor e os examinadores que ele possa ter consultado.”
(ZIMAN, 1979, p. 124).
Os periódicos (revistas) constituem o principal canal de comunicação na ciência,
é por meio dele que pesquisadores divulgam os resultados de suas pesquisas, conferem
o estudo de seus pares, recebem o crédito pelas pesquisas desenvolvidas e se mantém
atualizados (MEADOWS, 1999, SAYÃO, 2010, RODRIGUES; OLIVEIRA, 2012).
Diante do valor atribuído aos periódicos científicos, Guedón (2001, p. 31) explica
que esses funcionam como um dispositivo imbuído de três funções, “[...] ferramenta
que atribui prestígio ao pesquisador, elemento chave para título de propriedade e
instrumento de avaliação do desempenho individual dos pesquisadores.” Os periódicos
ainda atuam como filtros de qualidade em todas as áreas de conhecimento, num
processo de validar ou rejeitar as comunicações e relatos de pesquisa, as revistas
tornaram-se o principal meio para a visibilidade científica (RODRIGUES; OLIVEIRA,
2012).
Com uma visão geral a respeito das publicações científicas vinculadas nos
periódicos científicos, Guédon (2010) divide a ciência em dois grupos, ciência
predominante e a ciência periférica. Tal distinção está relacionada com a maneira
que os cientistas produzem e comunicam suas pesquisas. A ciência predominante é
produzida em países desenvolvidos, publicada em inglês, em periódicos internacionais
que estão indexados em bases dados como a Wos e Scopus. Já a ciência periférica
é produzida por países de terceiro mundo (periféricos), suas pesquisas retratam
problemas particulares, são divulgadas em periódicos nacionais, escritas no idioma
do seu país e enfrentam dificuldades para integrar as bases de dados.
Porém, diante desta distinção geopolítica, Volpato (2008) afirma que não existe
pesquisa científica nacional:

Métodos e Técnicas de Pesquisa 87


O que pode existir é pesquisa científica realizada em território nacional, ou
com organismos que vivem, exclusivamente ou não, em território nacional.
Pode haver também pesquisa científica com implicações práticas para certo
país. Mas tudo isso não significa que a pesquisa seja nacional. A ciência é
internacional e seu discurso também. (VOLPATO, 2008, p. 49).

Com base no exposto, reforçamos a noção universal da ciência que,
consequentemente, é incorporada pela comunicação científica. Esse caráter
internacional da divulgação científica considera o inglês como o idioma franco da
ciência na atualidade. Portanto, isso leva a crer que os cientistas devem no mínimo
dominar um nível básico desse idioma, para, assim, poder acompanhar e dialogar
com as pesquisas no âmbito internacional.

3 OS CANAIS DE COMUNICAÇÃO: INFORMAL E FORMAL

A comunicação entre os pesquisadores pode ocorrer de maneiras distintas, é


comum na academia fazer distinção entre canais informais e formais. Constituem os
canais informais aqueles que possuem um caráter mais pessoal, particular a grupos de
pesquisadores, usados quando as pesquisas ainda não estão concluídas, caracterizam-
se como canais informais as trocas de e-mails, manuscritos, preprints, conversas por
telefone, face a face, assim como aquelas que se desenvolvem nas conversas de café,
nas viagens de estudos, nos eventos e reuniões científicas. Portanto, esses são os elos
de comunicação que predominam nos colégios invisíveis. Já os canais formais são
estudos já concluídos publicados em livros e artigos científicos, obras de referência,
relatórios técnicos, dissertações e teses (literatura cinzenta), apresentando, assim,
uma ampla divulgação do conhecimento, sendo mais fácil o acesso aos documentos
e a recuperação da informação (ZIMAN, 1979; MEADOWS, 1999; TARGINO, 2000;
MUELLER, 2007).
No Quadro 3 apresentamos as principais distinções existentes entre os canais
formais e informais.

88 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Quadro 3 - Canais formais x canais informais
CANAIS INFORMAIS CANAIS FORMAIS
Nos canais informais o processo de Nos canais formais o processo de
comunicação é ágil e seletivo. A informação comunicação é lento, mas necessário para
circulada tende a ser mais atual e ter maior a memória e a difusão de informações para
probabilidade de relevância, porque o público em geral. Os canais formais são
é obtida pela interação efetiva entre oficiais, públicos e controlados por uma
os pesquisadores. Os canais informais organização. Destinam-se a transferir
não são oficiais nem controlados e são informações a uma comunidade, não
usados geralmente entre dois indivíduos a um indivíduo, e tornam público o
ou para a comunicação em pequenos conhecimento produzido. Os canais
grupos para fazer disseminação seletiva formais são permanentes, as informações
do conhecimento. que veiculam são registradas em um
suporte e assim tornam-se mais acessíveis.
Fonte: adaptado de Silva e Menezes (2005, p. 15).

Meadows (1999, p. 14) atesta que a comunicação informal é efêmera, “[...]


por sua própria natureza, logo se perde, porém os livros e revistas que constituem os
canais formais de comunicação são duradouros e se acumulariam linearmente com o
passar do tempo.” O autor explica que a comunicação científica segue alguns padrões
e esses diferem conforme os campos de conhecimento. Alguns campos apresentam
preferência pela comunicação informal, outros pela formal, assim, alguns preferem
disseminar o conhecimento em livros e outros em periódicos científicos.
Apesar dessa distinção, há autores que apresentam uma nova classificação da
comunicação científica, “[...] a ideia de comunicação científica semiformal, como a
que guarda, simultaneamente, aspectos formais e informais, possibilitando discussão
crítica entre os pares, o que conduz a modificações ou confirmações do teor original.”
(TARGINO; NEYRA, 2016, p. 16).
Como exemplo da comunicação científica semiformal temos a divulgação
de trabalhos científicos em eventos, nesses espaços os pesquisadores apresentam
resultados prévios ou pesquisas concluídas. Geralmente os trabalhos passam pela
avaliação dos pares e no momento de apresentação acontece uma interação informal.
Além das críticas e sugestões feitas na avaliação, é possível que pesquisador receba
feedbacks na exposição da pesquisa. Finalizada apresentação, os trabalhos passam
a constituir os anais do evento, no formato impresso ou digital, permitindo que os
documentos sejam recuperados e utilizados por outros pesquisadores.
Como visto, os canais se destinam a funções distintas, em fase de elaboração e
construção da pesquisa os pesquisadores podem recorrer mais aos canais informais,
quando concluída a investigação seus resultados são publicados em canais formais,
visando que o público tome conhecimento e usufrua da pesquisa. Nesse sentido,
ambas são importantes no fluxo de informação científica.
É pertinente lembrar que a qualidade das produções científicas está relacionada
com sua aceitação, a utilização dos conteúdos e a citação dos trabalhos por outros
cientistas denota que a pesquisa tem qualidade, é significativa.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 89


4 O MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO NA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

No fim da década de 90 surge o movimento de acesso aberto, que consiste na


publicação e no acesso gratuito às publicações científicas, livre de algumas restrições
de direitos autorais, no qual os usuários podem baixar, copiar e distribuir conteúdo
para fins educacionais. O movimento de acesso aberto possibilita ultrapassar barreiras
geográficas e de tempo, proporciona visibilidade às pesquisas e democratiza o acesso
à informação (ABADAL, 2012). Com a criação da Internet e o desenvolvimento das TICs
a produção e publicação de conteúdos se tornou uma tarefa menos árdua, permitindo,
assim, livre acesso a artigos científicos e outros documentos.
O Movimento de Arquivos Abertos (OAI) é o ponto de partida, por meio dele
são estabelecidos padrões tecnológicos e ideais que se integram, objetivando facilitar
o livre acesso à informação científica. Como consequência surge o movimento de
Acesso Aberto (AO), no qual instituições de todo o mundo aderem por meio do
estabelecimento de declarações, como a Declaration of Berlin, a Declaration of
Bethesda e o Manifesto Brasileiro de Apoio ao Acesso Livre à Informação Científica
(KURAMOTO, 2011).
A premissa do movimento é que todas as pesquisas financiadas com dinheiro
público devem ser de acesso público, nada mais justo que os resultados sejam
disseminados de forma ampla e irrestrita. Como benefício deste movimento tem-
se maior visibilidade das pesquisas e possível utilização por um maior número de
interessados, promovendo, assim, o desenvolvimento da ciência (BAPTISTA et al.,
2007; KURAMOTO, 2011; ABADAL, 2012).
O movimento é o resultado da reação da comunidade científica contra o
modelo praticado pelas editoras comerciais que criaram uma “indústria de editoração”
voltada ao lucro, e da conscientização do impacto provocado pela disponibilização
de documentos científicos livres de barreiras de acesso (BAPTISTA et al., 2007). Com
o modelo de acesso aberto o usuário não paga para acessar e fazer uso do conteúdo
das revistas e os autores submetem seus artigos sem pagar pela editoração/publicação.
As publicações em acesso aberto ocorrem de duas formas: via dourada, no
qual os artigos são publicados em revistas de acesso aberto; via verde, consiste no
arquivamento das publicações científicas em repositórios de acesso aberto vinculados
a instituições públicas ou particulares. Percebemos que o modelo de acesso aberto
“ameaça” as editoras comercias, pois quebra com a ideia de lucro, rompe as barreiras
de tempo e espaço, diminui a desigualdade informacional entre ricos e pobres e
permite visualizar os investimentos públicos em pesquisa (GUÉDON, 2010; ABADAL,
2012).
No Brasil, todos os periódicos científicos da Biblioteconomia e Ciência da
Informação adotam a filosofia do acesso aberto, com isso, todo o conhecimento
construído na área pode ser acessado e utilizado de maneira livre, sem custos ou
licenças de uso. No Quadro 4 apresentamos uma lista das revistas científicas da área.

90 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Quadro 4 - Lista dos periódicos científicos da Biblioteconomia e Ciência da Informação
Títulos Links
Analisando em Ciência da
http://racin.arquivologiauepb.com.br/
Informação (RACin)
AtoZ  http://revistas.ufpr.br/atoz
Biblionline  http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/biblio
Biblioteca Escolas em Revista http://www.revistas.usp.br/berev
Bibliotecas Universitárias https://seer.ufmg.br/index.php/revistarbu/
Biblos  https://www.seer.furg.br/biblos
Brazilian Journal of Information <http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.
Science  php/bjis/index>
Ciência da Informação http://revista.ibict.br/ciinf
Ciência da Informação em revista http://www.seer.ufal.br/index.php/cir/index
Conhecimento em ação https://revistas.ufrj.br/index.php/rca
Em Questão  http://seer.ufrgs.br/EmQuestao
Encontros Bibli https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb
<http://periodicos.ufca.edu.br/ojs/index.php/
Folha de rosto
folhaderosto/index>
InCID  http://www.revistas.usp.br/incid/index
<http://www.periodicos.ufc.br/index.php/
Informação em Pauta
informacaoempauta>
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/
Informação@Profissões
infoprof/index>
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/
Informação & Informação 
informacao>
Informação & Sociedade  http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies
Liinc em Revista  http://liinc.revista.ibict.br/index.php/liinc
<http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.
Múltiplos Olhares
php/moci>
Pesquisa Brasileira em Ciência da
http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pbcib
Informação e Biblioteconomia
<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/
PontodeAcesso
revistaici>
Revista ACB  https://revista.acbsc.org.br/racb
RBBD Revista Brasileira de
https://rbbd.febab.org.br/rbbd
Biblioteconomia e Documentação

Métodos e Técnicas de Pesquisa 91


Revista Digital de Biblioteconomia <http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.
e Ciência da Informação  php/rdbci>
Revista Ibero-Americana de <http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.
Ciência da Informação php/rdbci>
Tendências da Pesquisa Brasileira <http://periodicos.unb.br/index.php/RICI/
em Ciência da Informação issue/view/1165>
Perspectivas em Ciência da <http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.
Informação php/pci>
Perspectivas em Gestão &
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/pgc
Conhecimento
<http://www.abecin.org.br/revista/index.php/
Rebecin
rebecin>
<http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/
Transinformação
index.php/transinfo>
Fonte: Bibliotecários sem fronteiras (2016).

As revistas científicas são importantes, pois disseminam o conhecimento


certificado e fortalecem a dimensão cognitiva e institucional do campo da
Biblioteconomia e Ciência da Informação. Revistas ativas e com periodicidade regular
demonstram que a área está comprometida com a pesquisa, reforçando seu corpo
teórico e conceitual.

Saiba mais

Para ampliar seus conhecimentos a respeito da comunicação científica em


acesso aberto faça a leitura dos seguintes artigos:

A comunicação científica e o movimento de acesso livre ao conhecimento.


Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1138/1293.

Filosofia aberta, modelos de negócios e agências de fomento: elementos


essenciais a uma discussão sobre o acesso aberto à informação científica.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v35n2/a05v35n2.

Periódicos científicos na América Latina: títulos em acesso aberto indexados


no ISI e SCOPUS. Disponível em:
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/1593.

Assista também o vídeo em que o professor Helio Kuramoto aborda: “O


acesso livre na literatura científica no paradigma da comunicação científica”
https://youtu.be/NED0efE6Gik.

92 Métodos e Técnicas de Pesquisa


Síntese

Observamos que a comunicação científica desempenha um papel vital


na ciência, ela é tão importante quanto a atividade de pesquisa. Assim, a
divulgação dos resultados oriundos da investigação é de suma importância,
visto que possibilita o desenvolvimento de novas práticas e saberes. Qualquer
tipo de ação que venha obstruir ou ocultar a disseminação de novas pesquisas
retarda o avanço da ciência.
Vimos que o processo de comunicação na ciência surgiu diante da troca de
informações entre os pesquisadores em suas reuniões nas sociedades científicas,
no qual as atas tinham o papel de registrar e comunicar os fatos acontecidos,
porém, é na Europa do século XVII que surgem os primeiros periódicos
científicos, sendo eles o Philosofical Transactions e Journal des Sçavans, desde
então, até os dias de hoje os periódicos científicos são considerados o principal
meio de divulgação. Vale frisar que a comunicação científica está sustentada no
processo de revisão por pares, mecanismo em vigor há mais de 350 anos, no
qual os manuscritos passam pelo crivo criterioso dos membros da comunidade
científica.
Além disso, a comunicação na ciência também se utiliza dos canais formais,
informais e semiformais para disseminar a informação científica e tecnológica,
cada canal de comunicação apresenta particularidades na forma de divulgar e
apresentar os resultados de pesquisa.
Por fim, destacamos a importância da comunicação científica de acesso
aberto, essa ultrapassa barreiras de tempo/espaço, o conhecimento produzido/
publicado fica livre das restrições de acesso e o leitor não paga para fazer uso
do mesmo.

Para ler...

Você pode aprofundar-se no conteúdo da unidade por meio das sugestões


de leitura complementar:

LEITE, Fernando César Lima.   Como gerenciar e ampliar a visibilidade


da informação científica brasileira:  repositórios institucionais de acesso
aberto. Brasília, DF: IBICT, 2009.

POBLACIÓN, Dinah A.; WITTER, Geraldina Porto; SILVA, Jose Fernando Modesto
da. Comunicação & produção científica: contexto, indicadores e avaliação.
São Paulo: Angellara, 2006.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 93


REFERÊNCIAS

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BIBLIOTECÁRIOS SEM FRONTEIRAS. Lista com todas as revistas científicas de


biblioteconomia e Ciência da Informação. Disponível em: <https://bsf.org.
br/2016/01/13/lista-todas-revistas-cientificas-academicas-biblioteconomia-ciencia-da-
informacao/>. Acesso em: 25 ago. 2016.

BAPTISTA, A. A.; COSTA, S. M. de S.; KURAMOTO, Hélio; RODRIGUES, E. Comunicação


científica: o papel da open archives initiative no contexto do acesso livre. Encontros
Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v.
12, n. esp., p. 1-17, jan./jul. 2007.

BJÖRK, B-C. A model of scientific communication as a global distributed information


system. Information Research, [s.l.], v. 12, n. 2, p. 307-320, 2007.

GUEDÓN, J-C. Oldenburg’s Long Shadow: librarians, research scientists, publishers,


and the control of scientific publishing. [s.l.]: Association of Research Libraries, 2001.

GUEDÓN, Jean-Claude. Acesso Aberto e divisão entre ciência predominante e ciência


periférica. In: FERREIRA, Sueli Mara; TARGINO, Maria das Graças (Orgs.). Acessibilidade
e visibilidade de revistas científicas eletrônicas. São Paulo: Editora São Paulo, 2010.

KURAMOTO, H. Acesso Live: um caso de soberania? In: TOUTAIN, L. M. B. B. (Org.).


Para entender a Ciência da Informação. Salvador: EDFBA, 2007.

MEADOWS, A. J. A comunicação científica. Brasília: Briquet de Lemos, 1999.

MERTON, R. K. Ensaios de sociologia da ciência. São Paulo: Editora 34, 2013.

MUELLER, S. P. M. Literatura científica, comunicação científica In: TOUTAIN, L. M. B.


B. (Org.). Para entender a Ciência da Informação. Salvador: EDFBA, 2007.

MUELLER, S. P. Ma. Produção e Financiamento de Periódicos Científicos de Acesso


aberto: um esudo na base Scielo. In: POBLACIÓN, Dinah A; WITTER, Geraldina Porto;
RAMOS, L M S V C. (Org.). Dos processos tradicionais às perspectivas alternativas
de comunicação. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.

PACKER, A. L. Os periódicos brasileiros e a comunicação da pesquisa nacional. Rev.


USP, São Paulo, n. 89, mar./maio 2011. Disponível em:<http://rusp.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-99892011000200004&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 17 out. 2015.

94 Métodos e Técnicas de Pesquisa


RODRIGUES, R. S.; OLIVEIRA, A. B. de. Periódicos científicos na América Latina: títulos
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SAYÃO, L. F. Repositórios digitais confiáveis para a preservação de periódicos eletrônicos


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STUMPF, I. R. C. Passado e futuro das revistas científicas. Ciência da Informação,


Brasília, v. 25, n. 3, p. 383-386, set./dez. 1996.

TARGINO, Maria das Graças. Comunicação científica: uma revisão de seus elementos
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TARGINO, M. G; NEYRA, O. N. B. Dinâmica de apresentação de trabalhos em


eventos científicos. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v.16, n.2,
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php?dd0=0000007623&dd1=44526>. Acesso em: 17 out. 2015.

ZIMAN, J. M. Conhecimento público. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. Univ.
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VOLPATO, G. Publicação científica. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2008.

Métodos e Técnicas de Pesquisa 95


Anotações

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