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ILiW SUPLEMENTO LITERÁRIO DE
"A MANHA"
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11/1/942 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio '
Ano 11 Leão (Da Academia Brasileira de Letras) uum- '

Notícia sobre José de Alencar

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Tose Martiniano de Alencar crctaria, pediu que as remune- Diário do Rio", entre os meses
nasceu em 1 de maio de 1829. rações que lhe haviam de ser de fevereiro e abril de 1*67, é
Bra filho de José Martiniano de pagas fossem aplicadas no um livro conhecido de toda a
"Diário Oficial" á publicação gente, e suas edições ainda hoje
Mencar, político de brilhante esgotam uma a uma. De qua-
ttuacão na época da Indepen- dos seus pareceres exarados no se se todos os seus livros poderia-
Jência. revolucionário ativo no espaço de nove anos. mos dizer que encontram carl-
movimento pernambucano de No gabinete de 16 de julho de idêntico no espirito dos lei-
1817. Foi seu berço a cidade de 11168 ocupou a pasta da Justiça, nho sucede, por exem-
Mecejana, no Ceará, região que ali ficando até 1870. Entrou tores. fi o que"Iracema", com a
_le havia de imortalizar no mais numa lista tríplice para sena- "Patapio, com
da Gazela", com os três
formoso dos seus livros. dor. Achando-se enfermo do perfis da mulher, "Diva", "Lu-
Formou-se em direito pela realizou uma viagem à ciola" e "Senhora", com os
Faculdade de São Paulo e logo peito,
Europa, regressando bom. Mas "Sonhos de Ouro", com "Ubira-
depois iniciou a vida pública. sua aparência de saúde era ilu- etc.
Foi, com igual brilhantismo, sória, e pouco tempo depois, no jara", livre, dono de uma
advogado, jurista, jornalista, dia 12 de dezembro de 1877, ele Espiritoconciéncia de sua pá-
professor, parlamentar, homem falecia. grande
de letras. Foi lente de Direito tria, José de Alencar foi, em seu
Mercantil no Rio de Janeiro, José de Alencar é um dos es- tempo, um campeão Só estrénuo esse as-
brasileira.
diretor de secção da Secretaria critores mais populares do Bra- da lingua o TOSE' DE ALENCAR
tia Justiça, logo depois cônsul- sil, e talvez possamos, dizer que pecto de sua personalidade
tor da mesma Secretaria. Re- ele é o "Omais popular.escrito Seu ro- sagra definitivamente ao nosso
Guarani", dia respeito, à nossa veneração e ao
nunciando a esse lugar, que era mance "O nosso amor.
considerado como adido à Se- a dia para os folhetins de
SUM ÁRIO
Bibliografia de José de Alencar PAGINA l: A Agricultura
José de Alencar, orador. —
" Noticia sobre José de Alencar Discurso sobre a viagem Im-
(Orgõnizdda por Mario de Alencdr)
'Guerra dos mascates",
Bibliografia de José de Alen-
car (Organizada por Mário
perial.

ItU — "Ao correr da pena 1870, 1875. 1878, 1894, 1873 de Alencar) PAGINA 11:
1895, 1910. (Foi tradu- 2 vols., B L. Garnier; Sumário.
crônicas hebdoma-, 2* ed., 1896.
darias no "Correio Mer- lida para inglês por "Voto de graças"—Dis- José de Alencar no conceito —
cantil'' (Rio de Janel- Isabel Burton, London, PAGINA 2: dos seus contemporâneos.
1866; e por Norman curso que devia prufe- Apreciações de Francisco
ro); 1» edição 1874, São rir na sessão de 20 de
Paulo; 2» edição 1888, Bíddeli, 1921; e para — Três estudos de Joio Ribeiro . Otaviano, Pedro Luis,
Salda-
alemão, em verso, por maio — Tip. Pinheiro. nha Marinho, Quintino Bo-
Rio de Janeiro — B. L. "Alfarrábios" — 2 vols., sobre José de Alencar. l — O de Taunay,
Garnier, 2 vols.; 5* edi- Von During, Hamburg, iia ie Alencar; II — As Mi- caiuva. Visconde
B L. Garnier, 2* ed. Barão de Paranapiacaba, BI-
H. Garnier. 1896.
"As minas de prata" — 1874
•Á refprma eleitoral" naj de Prata; III -r José ie
tencourt Sampaio, Gusmão
MM — "Cartas de Ig" sobre a 1885
"Confederação dos Ta- 6 vols.; 2" ed. em 3 vol*. Discursos. Alencar e a linguagem iif»- Lobo, Fereira de Araujo, An-
"O novo cancioneiro" rendai io BrasiL
1877; 1896. dré Rebouças, José do Patro-
moios", nas colunas do "Cartas de Erasmo" — Cartas a um amigo cinio, Tito Franco, Emílio
"Diário do Rio", 1* edi- 1888
1», 2* e 3* ed. _ No jornal "A Repu PAGINA 8: Zaluar, Frederico -Rego,
ção 1858, Tip. do Dia- "Página de atualidade" blica". França Junior, Afonso Celso,
rio".
"O Marque» de Para- •Os partidos" — Pan,
"O vate bragantlno" -
— Po«t-scripfttm Mo romance Carlos de Laet, Lino da A»-
"A sunção, Machado de Assis.
íleto anônimo. Cartas no jornal Sonhos ie Ouro — José de
ná" — traços biografi- - "O juizo de Deus" — República".
oos — Rio de Janeiro 18*7 Panfleto anônimo. RI» "Til", em 4 vols., B. L. Alencar.
PAGINA lí:
— in. 18; 35 págs. Garnier; 2« ed. 1897. 3"
de Janeiro. PAGINA 4:
UR _ "O Guarani", em folhe- "A corte do leão" — ed. 1900. — José de Alencar, teatrtlog».
tiru do "Diário do Rio", Panfleto, Rio de Ja-
"Ublrajara" — Lenda Afãe (Cena final do ato
sem nome do autor; 1* neiro. „ tupi B. L. Garnier,—Algumas páginas do Guarani. terceiro).
edição, 4 vols., tip do "O Marquês de Caxias 2* ed., 1895; 1899. (Foi
"Diário"; 2* ed., B. L.
_ Biografia — Rio de traduzido para alemão PAGINA S: PAGINA 13:
Garnier, 2 vols.; 5* edi- Janeiro. por Hoffmann.)
ção, 1887, (Foi tradu- "Uma tese constitucio-
Il™!' - "Senhora" — 2 vols., — Algumas páginas de Iracema Henrique Rctne, de Muda
íido em francês, ale- nal — "A princesa im- B. L. Garnier; 4* ed. Uma página de O Sertanejo. Leão
mão e italiano).
"O — perial e o príncipe con- "Ò Jesuita" — Drama A seca no sertão. O Intermezzo, de Helne
1857 — Rio de Janeiro"
"Verso e reverso" — sorte no Conselho— de 1895; 1907. Efemérides da Academia.
Estado" _ in 4» 16 B. L. Garnier; 3.» ed. PAGINAS 6 e T:
Comédia em 2 atos — pp., Rio de janeiro. 1900. (Foi traduzido em
2* edição 1864. 1M, "O PAGINA 14;
"Cinco Minutos" — Ti- lw" _ " sistema representa- inglês por B. R. De Bri- —
tivo" — B. L. Garnier. to, 1921). José de Alencar, poeta. O» -Pensando em Dante, de D.
do "Diário"."A "A expiação" — Co- ¦Aos domingos" — Fo- Filho» ie Tupan. — A Guerra.
pografia
"Cinco Minutos" — Milano
média em 4 atos — RI" lhetins no "O Globo". A margem da critica do sr.
viuvinha" — Rio de de Janeiro — Crux "O sertanejo" — 2 vol*., PAGINA 8:
Janeiro — 2* ed. 1865, Álvaro Lins sobre Chotie nos
Cóutinho. .
"Relatório do Ministe- B. L. Garnier; 3.» ed Campos ie Cachoeira, io
B. L. Garnier . 1895. A estátua de José de Alen- Dalcidio Jurandir
1858 — "O demôn'o familiar" rio da Justiça. . "Encarnação" — ro- car. — Discurso de Machado —
— Comédia em 4 atos jg6(j . . "Discursos proferidos 1877 em folhetins no
mance, "Folha de Assis, na cerimônia de Salvador de Mendonça e a
2* edição 1864; 3», 1903. na Câmara e no Sena_ Nova"; sua inauguração. arbitragem obrigatória, de
Jornal
1859 — "Mãe" drama em 4 do, na sessão de 1869 ed. 1892; 2* ed., 1909. ímilia, de José de Alencar Ernesto Feder.
— 2* edição 186*; — São Luiz do Ma- "A festa macarrônlca" Duas poesias de José de Alen-
4»atos car. — Estrela ia Tarie. —
edição, 1897. ranhão. — Panfleto político — PAGINA 15:
i 1860 — "A noite de São João1 ltm . . •• Gaúcho" - 2 vols., — Rio de Janeiro. Zelos.
— libreto de comedia B. L. Garnier. 2* ed. "O protesto" — Jornal Curso de estudos da Amaso-
lírica. "A pata da gazela" — de três, periódico men- PAGINA 9: nia. Segunda aula. proles-
*As asas de um anjo" sal — in. 4». sor Angione Costa. Prehiató-
_ Comédia em 4 atos, B. L. Garnier
"O tronco do ipê — 2 I"">z " A propriedade " — José de Alencar, político. — ria e arqueologia amazônica
¦ . 209 pp. B. L. Garnier. — José, poema de Carlos Drum-
prólogo e epílogo; 2» 1871 vols., B. L. Garnier
-
"Esbcços jurídicos" —
Carta ao imperador
mond de Andrade, com ilus-
edição 1865. O Pampa, ie José de Alen-
"Carta aos eleitores do 1913
•A viagem «"?"'»!" 239 pp. B. L. Garnier. car. tração de Osvaldo Goeldl
Ceará" — 20 pp. in loi. ,„,
1893 "Como e porque sou ro- Correspondência de escrito-
"Luciola" — 6* ed. 1895; (Discurso) - Tip. de mancista" — Tip. Leu- res carta de José de Alen- PAGINA 16
"As asas de um anjo" j. Villeneuve. singer. car a Leonel de Alencar
"Discursos"" proferidos _ "O crédito" — Come
- Io vol. (Biblioteca 1895
Brasileira). „» sessão de 1871. Ti- dia em 5 atos represen PAGINA 10: , ¦
A viia é ie cabeça baixa, da
"Diva" _ 3» ed. 1875; pograPa Perseverança 1858, publica- Álvaro Moreyra
11864 - ^Sonhos de Ouro" - » tada em"Bwiata A colaboração de FilobibUca.
.. — da na Brasi-
6» ed 1895. ltn vols., B. L. Garnier —José de Alencar, jornalista. — Achado n.o S.
"Iracema" — Tipogra- lelra".
|U83 — J. ed. 186»; 18».
tia Viana; B.L. Garnier
PAGINA 2 aUFUMENTO LITERÁRIO DE «A MANHA" —VOL. II DOMINGO, 11/1/194Í

Três estudos de João Ribeiro sobre José de Alencar


Enfim, se a memória dos ho-vicção que assoalhava de haver III não escrever segundo os cano-
mens só se realiza pela palavra descoberto ricas jazidas do me- nes europeus. Herculano e Cas-
O DIA DE ALENCAR e pelo pensamento,.aos gênios tal precioso na serra de Ita- JOSr DE ALENCAR B A LIN- tilho davam as normas c o
Hoje, 1° de maio, é o dia de literários caberá sempre o baiana. GUAGEM DIFERENCIAL DO mesmo Garrett seria suspeito
José de Alencar, Todas as Io- maior quinhão de glória. Roberio Dias era filho de Bel- BRASIL — AS CRITICAS QUE ao escrupulóso purismo dos dois
Essa, ganhou-a Alencar com chior Dias, descendente do len- SOFREU DOS DEFENSORES primeiros.
lhas da manhã publicam ex-
tensos panegíricos do grande seu ° mesmo direito que Slorifica o dário "Caramurú" e da esposa DA LÍNGUA PORTUGUESA Desde então pode afirmar-
escritor, reproduzem autógralos de Assis. grande sucessor Machado Índia Catarina de Paraguaçú CONTRA AS TENDÊNCIAS DA se que foi desunida a '.'atitude**
c retratos na comemoração do que entrou mais tarde no poe- LÍNGUA NACIONAL AME- dos escritores brasileiros maia
centenário daquele que foi o 1929). ("Estado de S. Paulo" — 7-5- ma épico de Santa Rita Durão, RICANA independentes.
mais popular e o mais lido dos por graça da tradição que tor- por isso, é que vamos apon-
nossos romancistas. nou fidalga toda a descendên- o estudo da lingua portu- tar algumas das censuras mais
Grande parte, porem, da sua I I cia desse herói da fundação da guesa no Brasil envolve larga interessantes de José Fe) i ei ano
fama, no meu entender, deriva Baía. matéria de erudição filológica. de Castilho. Outras versam co-
da importância política do es- AS MINAS DE PRATA
Como quer que seja Roberio Queremos apenas, hoje, no bre "neologismos" literários.
cri tor Dias, nunca, ao que se saiba, centenário do mais nacionalis- O primeiro a romper a con-
No Brasil, dominam em qual- comunicou a descoberta _ das ta dos nossos escritores, apon- tenda loi Franklin Tavora. que
No Brasil a parte de roman- Internado no sertão e em
«ner sentido os políticos e do- çeé considerável. No outro tem- tar breve síntese as piincl- estranhou certas novidades de
minam em todas as coisas sem ran havii a> «rm™ »m io,™ inl nobreza orBulhoso aa 5ua prosápia de pais acusações que lhe fizeram. Alencar que lhe pareceram in-
lniiiaiudirciMeiindBiBiu "Caramurú" através do
excetuar o canhestro e solitá- teriores donde saiam caudalo O mais acérrimo dos seus crí- felizes e que achamos agora
rio recanto da literatura. seu progenltor Belchior ou Mel- ticos foi um português ilustre bem afortunadas; hihnito" (do
sos rios,"vidro por toda a parte árvo-
Só há um melo de ser gente, ™1 ™ de ™?™:_^rnrf?? monstaKincriveUl tou f1'01-Días. Pr°vavelmente visi- que vivia no Brasil. José de cavalo), o "afflár" da íronde
Ou, de
*» subir
«.hir nan» estima pública:¦
..im,. ™*,hit.. Í5
howr.s ainda mais .'_Üí"l"!
indiimos que ¦™-™"";*"'aaa">»^aai
a soberba serra de Itabalana mencar
domina Msí a capitanla de
Alencar jusuncou-se
justificou-se fundado das palmeiras; vozes clássicas.
é o de subir os degraus do po- V°;S mdigno. principa,mente no direit0 José Peliciano ("Questões*
der A lenda substituía a realida-
Sergipe dei Rei desde o mar até temos e que ousamos Ur falan- IX) nota o abuso de "imenso",
A literatura ê um oficio do de, principalmente a lenda de os seus mais alongados confins, do e escrevendo a linguagem o "imenso orbe e a imensa
"pis aller", mais adaptável às O panorama é realmente es- transplantada para o Brasil e planície'*, e foi essa a sua es-
tesouros e de riquezas ignora- plendido e ja tive a ventura de naturalmente sujeita às roodl- tréia de futilidádes. Aí conde-
vagabundagens do espirito. das.
Esses "fainéants" das letras Hoje não tanto; mas, a fá- minha terra.
desfruta-lo sob o ceu glorioso da «cações do novo ambiente. na o verbo novo "estringir" nm
¦ão sempre despojados e usur- bula de grandesas ainda é mais As principais censuras encon- frase: "A funda tristeza
"estringe" que
pados pelos mordomos da coisa considerável que a da reali- Mas, a existência de ouro, tram-se numa publicação pe- a alma". Quem é em
pública. dade prata ou pedras preciosas nuh- riódlca, as "Questões do Dia", português esse senhor "estrin-
Nao fosse Alencar deputado e Basta ca se averiguou até agora. Co- e delas é que vamos tratar su- ge'" pergunta José Feliciano
ministro, jamais conseguiria a rochedo " " que um Moisés toque o mo 1uer Q.ue scJa> acredita-se Diariamente. com o entono de mestre escola,
com a vara encantada
admiração universal dos sábios e logo mana a prodigiosa abun- oue Roberio Dias escreveu um As "Questões do Dia" encer- Em seguida passa à questão
ç dos basbaques. itinerário ou "Roteiro" a maior da dos pronomes, que desde então
dáncia de todas as coisas. que ram parte polêmica
O mesmo aconteceria com guardou secreto e tentou nego- do lado dos adversários de José se tornou o forte dos vernaciílis-
Rui Barbosa. Certo é que um e Pelo menos essa fantasia ciá.lo com o governo da Baia de Alencar. Eram as "Quês- tas. José Feliciano não supor-
outro devem a perpetuidade dos desordenada serve para alen- ou ,je Madrí toes" curiosos panfletos de po- tava a má colocação dos prono-
•eus nomes ao fulgor das letras; w tar o otimismo crédulo das gen- Nada conseguiu -"-— e nada se sa- litica e literatura de que fora mes e documenta em Alencar:
. f,„n„„«. . !„.,„„.;.,» inventiva j„. dos on nunca existira,
mas esse fulgor empalideceria ™L„^.„r 1 ™S,« 2! existira. redator principal José Felicia- "que girou-lhe em torno da ca-
»e não tivesse a espevitã-lo a romancistas e contadores de A vcrdade é ,,ue o pai de Ro- no de Castilho, homem de eru- beca", "o suor que alagava-lhe
aureola de estadista. be"° Diiís esteve *** diía0 mu»o *»BU™ »>M escH- o corpo", "cuja estampa dese-
Um «enrolo dessa facúndia é "l^T" m0tlT° Presona 'Eno[aí0 ÍOT *rt mult«, rele™' P™"*»
E tanto assim era que os ho- a „S«taa Wstória da¦¦•mnã S°r »h»™-« • etc
Biens de grande talento no ou- S. iví£" * durante dois anos conseguindo fatigante. Aqui viveu José Fell- Nao devemos aqui dissimular
tro tempo, não ousavam conta- * llberdade c0™ ° res6ate de cian0 «"" duvidoso emprego Que José Feliciano conseguiu de
Desd» ó temDO de Walter
minar-se com a peste liteçárla, seutt a moda foF de escreve? ""oi™ ^S"™^ n , „¦
d?s suas letras* redi6lnd° «la- 'ato o melhor do seu combate,
quando tinham e entrelinham romances históricos A Wsto-i- n '"* e Ca-tarlna '. '"h°„ de BeI'Ch.10r tofios dc m™M™ ignorantes No Brasil a questão dos prono-
^ P"?**"***»; te- ou
as musas e a ambição política cidade das na°rat°vas pouco a que desejavam parecer cor- mes (ainda não literalmente re-
Otaviano, Pedro Luiz e de lá pouco fo? dêsmer™nd? bis- ,Te **" ™».u™»'nd» d» G™, retos quanto á vernaculidade *>vida) encaminhou-se para a
até Luiz Delfino não quiseram C fpenas Ze os persÒ^- " "í? "aSL"1*"" aranM!s °«- f°^a„» que o escritor português
Jamais pub'icar os versos que gens, a cor local e um ou outro èm„. le^pe ' " ciais. Como quer que seja go- indicava'e aliás"" sem impertinên-
!„„..„.,—
logravam a„ admiração
_j„a.,_..=_ discreta
j, .. . Eis tudo quanto se sabe e Jo- 2ava de grande conceito e não cia-
fato caracterizasse a época e o talvez
dos amigos. crnár.o. sé de Alencar sabia muito me- pouco contribuiria para De fato ele escrevia a este
"há aqui uma desculpa
José de Alencar que nada ti- Era a decadência do ro- nos ao urdir o seu formoso ro- o seu prestígio o ser irmão do propósito
Bha de tímido, e era, pelo con- mance jãrigorosamente histórico, mance das "Minas de Prata". grande Castilho (Antônio), o se há culpa: é este seu dizer
trário, um espírito combativo e difícil de escrever e sempre In A Fazenda de Jabebery foi prosador e o poeta de grande (de Alencar) assáz freqüente no
de absoluta coragem, cedeu a clinndo e viciosos anacronismos arrendada em 1636 quando Ro- reputação em Portugal Brasil e característico dos mais
essa repugnância geral. erros inevitáveis. berio abandonou o teatro das Brasil. seguros se afirmar "prima
Os seus livros apareceram, lo- Bastava ao romancista apro- suas explorações mineiras. Nas "Questões" para comb a facie" terpara uma obra portuguesa
go que teve nome político, com veitar as linhas gerais de acon- Provavelmente levou dalí sua ter a literatura "incorrecta" i sido aqui escrita".
disfarçados pseudônimos. tecimento
-, .,—, remoto; ,..„„ mais „„
ou me-„«- mãe a índia Lourença. E* aind_ nacionalista de ,-„,..Alencar ajun Há nessa -— mui sensata afirma-
O„ Guarani",
„ o livro que al- nos vago sob a espécie de lenda um ,at0 <>ue a"J"l"»' as tropas ta-«r a Jose Peliciano um bra- ção duas cousas a notar: primei-
eançou a maior popularidade, ou de tradição geralmente do conae Bagnuolo quando este snleiro de algum mérito, Fran- ra que não há culpa sendo o
apareceu em folhetins anõni- aceita. diante da vitória dos holande- khn Tavora, que"Sempronio" usava o pseu- modo geral de expressão no
-
mos. Os temas mais favoráveis Ees se retirara para o sul. dõnimo de em Brasil; e em segundo lugar. Jo-
Os Perfis dc mulher", "Lu- eram naturalmente aqueles Essas migalhas fragmentárias fj^w dllj?idaí » "Cincina- sé Feliciano assegura que uma
eio:a", "Diva", "Senhora tra- a história deixava indecisos que ou e colhidas na história e na tra- to"Ambos
" iJosé
'' "*° Feliciano). "obra
portuguesa" pode *er
liam as iniciais "G. M incertos, porque mais se pres- dição serviram para a ai quite- os críticos pela vee- "aqui" escrita.
O "Gaúcho", o "Tronco do tavam ã imaginação e não com- tura do romance de José de mência dos seus libelos concor- Na realidade os seus discipu-
Ipê". "Sonhos de Ouro", a prometiam a verdade, Alencar. riam. para exaltar a atitude de los foram e são da mais desen-
"Guerra dos Mascates", ,
Jose a .,
de Alencar, —
trouxe- Um desses temas loi o das Havia lacunas e hiatos a pre- prezava amargamente, que os menos- freada incontinência. Não ad-
ram o pseudônimo de "Senio". •Minas tendo-os mitem vacilacões na matéria
Era evidente a incompatibili- José de de Prata" explorado por encher e para a urdidura e tra- a conta de charlatães, impoten- José Peliciano expõe algumas
dade que existia entre o homem Alencar. ma de um
Pouco se sabia dessas fam^as ideiaruma hTstóriaCdeCamornha """" ^ras da topologia ^nominal:
público e o literato. mir.as e essa dubiedade, escas- MS^lS*"*""
' an,eP°s,?a? do P">i«>me 0bli-
Todos sabiam que esses ro- O historiador exige dociunen- S £L, „,„ «e mn.iH.„ *
mances eram da pena de José sez e incerteza favoreciam a in- tos, mas o romancista S "' ,M- "aS '^
ventiva do romancista. vaíorSe* tais^riUcoTToart? «r°hS« T^ ""•• "»n«. «*"P-«.
de Alencar, e, todavia, era-lhe ou O fato se apenas com o estimulo inicial de jósé reuciano FeUcfaM eíTi n\sSl¦•? IS V\*Z
nu lenda tra rir, «„„i„
era do século XVI e oe itvt . de quaiquer
oualauer nistona.história S„ e• proveitosa, era a mais ai- etc., e a posposiçao quando o
mais agradável subscrever um da porque quase verbo começa a frase:
livro de Irioleiras jurídicas e para autenticar a narrativa O mais provável é que essas "da ela se resumia em corre- te, vou-me embora conheço-
políticas que nSo podiam com- bastava ficial do
apenas o estudo super- famosas
vocabulário minas nunca existiram ?«« da "linguagem brasllei- Poucas regras de fato mas
prometer as suas atitudes de po- tista, algumas noções quinhen- e se existissem hoje seriam des- ra" considerada espúria e.nos são as melhores e
da colo- cobertas e conhecidas. quase úiiicas.
Mico
primitiva dos portugue- I»quena e inteiramente A vascole- terra é neologismos do autor de "Ira- Condena o vocábulo faceiro e
.Hoje em dia não estão mu- nização ses «ema". faceira, aliás,
na Baía, o vozes
«adas as coisas, cenário dos ato- jada em seus caminhos para o Essa agressão durou um ano portuguesas no sentido antigas
Homens que nada teem que res principais do drama. ,ertao lnteil° d<* «" a 1872, nos cin- lante e gentil. Hoje dp ir-
ganhar nem perder nas altas O que se sabia ao certo acer- num«°s do porem pa-
"Minas Como quase todo o norte ape- ?uenV- panfleto li- ra os portugueses faceira c
esferas, como era o caso de Ma- ca dessas de prata" era nas '"""" " político ""' -*~ 'Quês- "carne """
ehado de Assis, podem sem des- quase nada e esse pouco, envol- ráneauma pequena faixa Uto terarioe das
toes . Franklin Tavora cen5u- diz o Moraes.
das faces do boi
douro assumir as responsabili- to em misterioso véu quase im- mem sedentário, e haDiaavei _ para „o ,„,. ™,A
o resto é um ? <rntrecho dos romances. Também não lhe parece bem
dades perigosas do exereieio das Penetravel imenso deserto __ a Iantasla desordenada do nos- - "» expressão de -¦ — '•
sáfaro
le^a?- José de Alencar náo ignora- Nada inrpediTãue" e inuratò !° romancista e dava-o como uma má traduçãorecolho" que é
,
Entretanto, os políticos e es- va que os antigos colonos desde castelos fantásticos nase"efe^s deshla- briand,dlsc'P>llo
""'"" ' ' ~ ' de grosseiro Chateau- ment.
de recucille-
est'uec.id')s "o P"- ° Primeiro povoamento tinham ção da de Gustavo Almard .
meim nl"0- ° P°stum»' E o em vista a paisagem e ati parece de Fenimoré Censura a sintaxe do se em
™ZSn A1™Car- », pesquisa do ouro que o decerto á fanta- adulterava, Cooper, de quem "percebia-se
desaP^<rceria das pedras preciosas e com esse sia dos poetai provoca como no antteo copiava e estraga- uns reflexos".
\Zfr?Hn
de todo se nao tivesse a susten- >ntuito realizavam "entradas" oriente g va as idéias fundamentais. José Feliciano achava que a
A
maSnifl|ra Prole pseu- Pe'» interior do país, revelan- Sergipe deve tudo injustiça e a sem razão -„-.„_ „„ guerra aos clàsiífcos era uma
SfinTmf 5 do a geografia ainda Ignorada, nada ao sertão, ondeao litoral e critica maligna desproporciona- espécie de manifesto da raposa,
E^inV™l^mances. c"rsod?? rl05' a existência de quer o gado nemV- tia e inepta era
ao Pró" vitimado ou parecia ser inimiga da uva. Alencar íes-
erfo Bni rãC?ntect'na Sa "ue lograria ?tnbus.lnd'genas que friamente pelas secas prospera, e ^la arid« dS mais o produto de incontida in- pondia-Ihe enfaticamente: "O
mandí muito
quando m -f a palma enfeza- escravisavam e eram um peque- solo veja do que a visão serena da vp,n0 estilo clássico destoa no
da de Jornalista ou de grama- no luer0 na ausência dos metais E' preciso atravessá-lo justiça e equidade. meio destas florestas seculares.
tico
José de Alencar tem mereci
que procuravam. chegar ao curso majestosopara ao
Prudentemente evitava Fran- 'Jestas catadupas formidáveis,
na„ T,.™„ V"'" de *
ifernente duas ri„»„~~~,-: A fábula *« "Minas de Pra- SÃ0 Francisco onde "" há pelo „í ?
lavora M questões in destes prodígios da natureza
oamente ~Ã^~it""i ""='¦''
estatuas, o """•
Rio ¦* '«-Bull-a
ta" resulta ue ¦ ¦
rie uma conjetura menos água para mitigar . -— — v^° Euasem
guagem em que mie não
nãr, tinha
unh» au- „.. virgem que não podem sentir
Dátria enna-mo 1, de afé h0-íe toridade alguma. as musas gentis do Tejo p do
nâo criticada o peixe a
Assis anen« l^íf co,n„sagrou P1"???0 de Roberio Dias da ex- »?de, para alúnlma^
se 5a° 'rugal e um pouco de umi apegava-se á critica
José Peliciano, pelo contrário, Mondego",
nma'heZ? ™ ,L seus e5tabeleceu em Jabeberyque um dade Para a vegetação. dos fatos Depois censura o máu empre-
Jardins s a'Iucnte do Rio Real, onde ti- .,*» "Minas de Prata" da his- „,.„ da lingua, fazendo da *¦
E* certo que oue Machado
Miaeh»*, de h As- ü "Minas guesa européia, . como aindaportu go de carecer (Questões. XVII).
m>.Jk„ nha uma fazenda de rriarãn tória são, como as de hoje do mais em vez 0*0 já e os inu-
f."^quereria mais e nem Este sitio de Jabeberyficavaem Prata" do romance pura fanta- "J3 ° padrao modelar da «- meraveis gaJicismos de »m
sia e miragem perpétua do de- pressão mesmo no Brasil. „m. . um a adjetivar todos 00
¦^eut!rSiannuón".mtercoiun,°do TJl«Lc™!?±J^,™*r serto JZZJs«o
pareceu a todos a única
mesmo, » sua crtlca substantivos: uma brisa, um
mem ativo, empreendedor e tal- i«„.i tosa. No Brasil e naquele provei- sopro, orna dúvida, etc sem
M ai tudo acabou. Tea um visionário tal era a cor.- ro CHev 8onsa* r™*"
de 193*?. ~
,anel" tempo parcimônia,
escrever bem" não «eria se- A isso Alencar opunha acrl*
DOMINGO, ll/l/UM' SlirLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" — VOL H PAGINA S

"Sonhos
Post-scriptum do romance
de Ouro' — /osé du aluncar
Há quinze dias teve Ricardo que tivera outrora, despertado
de assistir a uma vistoria, em por um riso argentino; e con-
questão de terras, pára o lado templou com entusiasmo de ar-
de Jacarepaguá. tista, e um enlevo que então
Na volta lembrou-se de visi- não sentira, o gracioso vulto da
tar D. Joaquina, a quem não gentil amazona.
via desde muito. Achou a casl- Depois correram as vistas
rha e * dona no mesmo estado* novas cenas sucediam-se; e a
velhas como as deixara, mas imaginação as povoava de re-
contentes e sossegados. cordações vivazes, que entre-
A tia de Fábio recebeu o ad- tanto pareciam extintas.
voíaclo com muita festa e lia-
saiiio; perguntou noticias do so-
Este volver ao passado inco-
modava Ricardo, que pensou ^^¦^ J^B Wm
banho e da nova sobrinh»; e escapar-lhe fugindo àquele si-
pediu a Ricarao que lhe mati- tio. .
dasse muitas e muitas reco- Ao voltar uma curva desço-
mendações. quando escrevesse. briu duas senhoras, que se apro-
Eram duas horas. Já D. Joa- ximavam lentamente pelo mes-
quina tinha jantado; mas lia- mo caminho; e qual não [oi o
via carne assada e improvisou- seu espanto reconhecendo Gui-
se uma fritada, que Ficarão da acompanhada de Mrs.
scerou de bom grado, para ter Trowshy.
o prazer de passar com a velhi Desde certo tempo a saúde de
o resto da tarde. O advogado Oulda se alterara. Não se quei-
temeu com apetite; e não tro- xava, nem tinha mesmo inco-
.11 ir. o copo dágua cristalina. modo ou mal determinado. Per-
dera a alegre vivacidade; e sen- Casa em que nasceu Alencar, em Biecejana, Ceará
que ba-heu depois do melado, pe- tia invadi-la um abatimento
le mais esquisito champanha.
_0 senhor é que ainda não indetinivel. Sua vida nos me- um vestido cinzento e, sobre vam para desferir lampejo fe- O arbusto, reverdecido com as
quis casar? disse D. Joaquina, ses últimos não era mais do ele, um casaco preto guarneci- brll. águas do inverno, começava a
preparando-lhe uma charena que um lento delíquio; parecia- do de martha. A alvura Ima- florescência. Nas pontas dos
de café. lhe que estava desmaiada As Nâo se concebe a comisera- renovos germinavam já os lin-
culada de seu rosto destacava-
Creio que fiquei para Uo; flores, se é qoe tem sensibtM- se nesse trajo escuro, entre os ção que sentiu Ricardo notan- dos cálices de nacar, com o seu
disse Ricardo sorrindo. dade. devem experimentar uma do aquele deperecimento lento pingo douro.
negros cabelos, com uma livi- de uma beleza, que ele vira tão
_ Qual!... A dificuldade é Impressão igual quando mur- dez que assustava; parecia o Roçou Guida as mãos pelas
encontrar ai algum peixãozi- cham. esplêndida. Lágrimas umede-
perfil de uma estátua em ala- ceram-lhe os olhos; e teve im- folhas glabras do arbusto como
nho que lhe ponha feitiço; co- Ultimamente o desfalecimen- bastro. para sentir-se acariciada pelo
mo um que veio aqui o outro to chesàra a ponto de inquie- pulso de ajoelhar-se aos pés da doce florido:
Reconhecendo Ricardo, teve mártir, sacrificada ao paganis-
dia. tar a família; os médicos re- a moça uma violenta comoção, mo social. Sonhas douro! murmurou.
_ Não tenha receio, trago ceitaram as duas panacéias do e tomou para suster-se o bra-
uma figa, duas figas, que me li- costume, "o ««samento e o ço da mestra, que atribuiu o
Lembrou-se da conversa que E' verdade! exclamou Ri-
viam do quebranto: tornou RI- campo". Pobres dos médicos! choque a susto e debilidade da tivera com a moça dois anos cardo sorrindo.
cardo no mesmo tom. Queixam-se deles. Ah! Se ti- moléstia. , antes, pouco distante daquele Nem se lembrava! disse
—Deixe ver; disse a velha. vessem na sua farmacopéia sítio. Guida era uma das víti- Guida com leve exprobação.
certas drogas preciosas, como o Não sabia que estava na mas desse martirológio da fa-
Estão lá dentro, no coração. Ttjuca, disse Ricardo. Não culpe a pobre flori-
A velha riu-se. E o advoga- amor. a ambição, a glória, que milia, que poucos sabem e nin-
Viemos há oito dias. guem compreende. Nascera ri- nha, se o vento da tempestade
do acendendo o charuto saiu a de curas milagrosas não fa- a mirrou e cobriu de pó. tor-
dar uma volta de passeio a pé. riam! Ela tem andado doente; o ca; educaram-na para a opu-
lència; e a grandeza a sufoca- nou Ricardo apanhando os se-
enquanto se ia buscar ao pasto Quando se tratou de escolher doutor mandou tomar ares; va. cos despojos da passada flora-
o "Galgo", que naturalmente o arrabalde, Guida pediu a Ti- disse Mrs. Trowshy em portu- ção.
andava tambem matando sau- jucá; não que ela esperasse guês arrevesado. Havia um meio de salvar-se; Estes morreram, murmu-
dades, pois desde muito tempo tirar proveito para a saúde. era esfarfalhar sua alma pelas
_ Há de fazer-lhe bem a Ti- salas em afeições efêmeras; rou Guida olhando as flores
residia na corte â Travessa do Bem longe disso; era um desejo murehas. mas vão renascer. E
Espírito Santo n. 19, cocheira recôndito de rever aqueles si- Juca; tornou Ricardo. tornar-se a moça da moda, fa-
os meus?...
do Viana. tios, e saciar-se das remlnis- A saúde?... perguntou ceira, namorada, perseguida e
Tomou Ricardo pelo mesmo cências que eles guardavam. disputada por um enxame de A voz da moça expirou nos
Guida. adoradores. A dignidade inata lábios, e exalou-se em um sus-
caminho em que á primeira vez Matassem embora essas árvores,
o encontramos, e não tinha como a mancenllha; queria E abanou a cabeça desfo- fechou-lhe essa válvula do co- piro:
dado vinte passos que as recor- embriagar-se de seus pertu- lhando um triste sorriso. ração. Os meus nasceram aqui
dações de outros tempos surgi- mes. Guida o guardara virgem e tambem, porem morreram para
ram para envolvê-lo como o Lembrava-se da "Africana" Foi então que Ricardo nepa- intacto para o seu primeiro sempre!
auarato de uma cena armada que vira representar ultima- rou no estado de abatimento amor; porem este não o encon- Ergueu Ricardo surpreso os
de improviso. mente; e invejava aquela mor- da moça. O talhe, tão esbelto trará no mundo. Porque? Nào olhos, e viu o semblante da mo-
Ouviu tropel de animal; re- te. ela que dois anos antes, na- e gracil, retraia-se como o cá- havia um homem que a mere- ça banhado em lágrimas.
conheceu o "Galgo"; viu pas- quelas mesmas montanhas, lice do lírio do vale quando cesse? Guida estimava o ho- „ Guida! exclamou ele.
sar Fábio: trocou palavras com zombava de sapho, a mais ilus- fana-se, e os olhos de emba- mem, mais do que ele valia, E cingiu-lhe a cintura com o
ele; perdeu-se entre os tufos do tre entre as mártires do amor. ciados, só intercadeute3, como porem na pureza do ideal; por braço para ampará-la, porque
arvoredo; sentiu o sobressalto Oulda trajava naquela tarde o trepidar da estrela, rutila- isso os indivíduos da espécie a via desfalecer.
lhe pareciam escorços, senão Eu queria morrer aqui!
caricaturas. balbuciou ela descaindo a fron-
ntoniosamente as suas razões com o tropel de um só cavalo, ponto de partida o imenso pres- —Porque não sou eu o ho- te ao ombro dc Ricardo, e re-
nas de muitos. Entretanto, a tigio de José de Alencar. mem que ela sonha? disse Ri- clinando o talhe ao peito onde
conlra o salsinha literário, cas- Não há certamente um dia- cardo; porque não me deu o conchegou-se hirta, sem movi-
murro, charlatão» palhaço-, cri- idéia de tropel é mais do ruído
que da multidão e podemosatro- dt- teto brasileiro. A língua é a Criador um ralo do fogo sagra- mento.
tiqueiro, cacassene e, realmen- portuguesa, para os dois gran- do para reanimar esta vida que
te. muitas das censuras de Joaé zer que uma só cousa pode Mudo e extático. Ricardo nãa
pelar outra. Vè-se a estreiteza des paises de idioma comum. se extingue, para reter na ter- sabia o que fizesse; não tinha
Feliciano sâo coaretadas de Entretanto, há um matiz que ra esta bela mulher que se está
BertoHno, como a de ver mona- do seu critério e por Isso conde- forças para separar de si o cor-
na como algaravias tom opaco nos pertence para sempre no transformando em anjo? po desfalecido, nem ousava
truosidades todo momento em
"ondas, em a flutuação", a que da solidão, o céu, tela aiul, etc. modo de falar e de escrever. Guida sentara-se à beira do observar-lhe o semblante, té-
Essas coisas para ele nãa Em várias oportunidades bus- caminho, numa lelva coberta de mendo ver nele a máscara da
Alencar opõe a anda flactivaga cou Alencar em preciosas notas
de Estacio (caindo, todavia, em atam nem desatam. Imprimir relva. e acompanhava o recor- morte. m
um perfume é um dlslate, não ortográficas e lingüísticas jus- te das nuvens com o olhar mór-
erro do autor citado, Silvia, em tificar o vocabulário tupi e as Foi rápido o lance, e durou
vez de Silvas, nome da obra do sendo o perfume coisa sólida ou bido, que ás vezes se eclipsava enquanto Mrs. Trowshy. qu»
oesada presumidas incorreções de lln- sob os longos cílios e volvia rá- duas vezes investira com o ar-
poeta latino). Em conclusão, a critica de Jo- guagem que lhe atribuíram os
Os escritores de grande enge- críticos de boa e de má fe. pida e subtilmente ao rosto de voredo, mas fora repelida por
sé Feliciano pode ser decompôs- Ricardo. causa de sua rotundidade. fazia
nho atraem sempre a anl- ta em dois motivos gerais: um, Em nota ao seu poema em
mad versão dos mais apoucados, -Iracema", justifica usos Deve passeiar! disse RI- volta para aproximar-se.
a censura indébita de imagens, prosa.
cardo para romper o silêncio. _ Guida! repetiu Ricardo
dos invejosos e, na maior parte de tropos e de neologlsmos como o de acentuar grafica-
dos casos, dos principiantes que mente a preposição a ainda Ela nâo gosta mais de sair aflito.
quase sempre aceitáveis; o ou-
querem aparecer. Assim o fez o tro, a questão da gramática quando não absorva o artigo. E como dantes; observou Mrs. A moça ergueu a fronte en-
próprio José de Alencar na cri- portuguesa que considera in- tinha a seu favor a prosódia Trowshy. golfando-se no o^har que ba-
tica à Confederação dos Ta- tangível e por isso mesmo ina- brasileira que não distingue á Fatiga-me tanto! tornou nhou o rosto do mancebo. sor-
«noyos, o poema de Magalhães, daptavel a quaisquer diferen- de a. Não lhe parecia razoável Guida. Já três vezes viemos riu.
nosso primeiro romântico. ciações fora do velho Portugal. fugir o português a um fato ro- este lado; e ainda não pu- Cuidei que morria... •
mãnico da preposição acentua- para
Continuando, José Feliclano E' esse segundo motivo o mais de chegar até a outra volta. era feliz!
censura em Alencar a frase: "B respeitável e é ainda o que se da como se dá no italiano e no Ricardo nou.sou um beijo c**-.
francês. _ Quando estiver mais forte to na fronte da moça.
promovendo um passo". Mover, processa nas polêmicas vigentes Tenho tanta vontade! Mas Há de viver!
sint, e não promover, diz O mes- com alguma vivacidade. Aí responde a Pinheiro Cha- hoje hei de ir; Já descansei.
tre. Mas, promover, gas (que aliás recebeu com _ Pura Quem?...
menos Os escritores brasileiros de
etimologicamente, é pelo
mover pa- grande entusiasmo o romance
Venha cono.sco! disse pousando
o olhar súplice no semblante do
para mim!
ra diante. José Feliclano prefe- maior independência opõem-se indianista de Alencar) contra-- Por ele e para ele. meí
re o Manuel de Galhegos quan- aos rigores do vernaculismo eu- pondo a opinião de Webster: moço. Deus! disse e!i ajoelhando com
do escreve: ropeu, clássico ou contemporâ- "Quando povos da mesma estir- Não era longe a volta a que as mãos erguidas ao céu.
neo. O mesmo sucede em Por- se separam e habitam re- a moça desejava chegar. What!... gritou a mestra
tugal quanto ao fabuloso pres- pe
giões distintas, a linguagem de _ Lembra-se? perguntou a vendo Guida naquela posirão.
Nem quando *a Aurora... tigio dos clássicos. Eça de Quei- Ricardo. Aqui nas encontramos
Com tanta bizarria os passos enda um começa a divergir por Ergueu-se Guida com um sor-
roz, Fialho e outros que vieram vários modos". pela primeira vez. riso:
tmove depois dificilmente poderiam Mão esqueceu? Estava agradecendo a Detw
entrar na tradição do quinhen- Quanto à questão da topolo- E a nossa flor...
Nas Questões (n. 43) nota qne tismo, muito mais cultivado no gia pronominal tudo fiava da Ainda a benção que me enviou.
* incorreto dizer, como Alen- Brasil se atentarmos no influxo eufonia e da elegância da fra- estará no mesmo lugar? E abraeando-a com efusSo,
ear: "Reboou nas barrocas d* de Rui Barbosa e na sobriedade se. Era mais questão de ouvido Ricardo rompeu o arvoredo, e cobrlu-a de beijos.
azinhaga o tropel de um c«- que de gramática. procurou: Child! Dear Çhttil... «nt-
de Machado de Assis. clamava a Inglesa esmagando
»alo". Em qualquer caso. oa revolu- ("Jornal do Brasil" — 1-i- —Aqui está ela!
José Feliclano não concorda cionários podem tomar como (29). Outda aproximou-» as lágrimas nos olhos.

...-ü.'...;,;¦.,. •r-.i ,ê*. _ ._e-.'..*.l_,:J'.\ ...... la_.^».^e^


'¦¦¦•*, ,*r.fivww*;CT(fMr"
^.¦^^^¦*:i.lvl,,i,flP!.|U,..lt!.

"GUARANI"
"A MANHA" — VOL. II DOMINGO, 11/1/194;
PAGINA 4 SUPLEMENTO LITERÁRIO DE

ALGUMAS PÁGINAS DO Como assim, minha filha? eom a idéia de que. por um ora- Algum tempo se passou sam
A PRECE Sra noite.
Todos se ergueram; os aven- disse D. Antônio! sefo, tivesse sido a causa da que o menor incliente pertur.
A tarde ia morrendo. tureiros cortejaram e foram-se — Vede vós, meu pat, res- morte desse amigo dedicado que basse o suave painel que forma-
O sol declinava no horizon- retirando a pouco e pouco. pondeu Cecílio, enxugando as lhe salvara a vida, e arriscava va esse grupo de família.
te e deitava-se sobre as gran- Cecilia ofereceu a fronte ao lágrimas que lhe saltavam dos todos os dias a sua, somente pa- De repente, entre o docel ie
úes florestas, que iluminava beijo de seu poi e de sua mãe, olhos; conversava quinta-feira ra fazê-la sorrir, verdura que cobria esfa cena.
tom os seus últimos raios. e fez uma graciosa mesura com Isabel, que tem grande Tudo nesta recâmara lhe fa- ouviu-se um grito vibrante e
A lus frouxa e suave do oca- seu irmão e a Álvaro. meio de onças, e brincando, lava dele: suas aves, seus dois uma palavra de lingua estra-
to, desusando pela verde alça- Isabel tocou com os lábios disse-lhe que desejava ver uma amiguinhos que dormiam, um nha. "Iara"!
Ufa, enrolava-se como ondas de mão de seu tio, e curvou-se em vivai... no sea ninho e outro sobre o —
ouro e de púrpura sobre a Jo-
Viagem das árvores. face de D. Lauriana par,a rece- — E Peri a foi buscar para sa- tapete, as penas que serviam ãe £' um vocábulo guarani: st-
"a senhora".
ber uma benção lançada com tisfazer o teu desejo; replicou ornato 00 aposento, as peles dos gnifica
.JZ.J1P1 ,,efíL alvas
í-,,!:T,)„h dionidade e altivez de um aba- o fidalgo rindo. Não há que ad- animais que seus pes roçavam, D. Antônio levantou-se; voU
safavam as flores e deli- d* mirar Outras tem ele feito. o perfume suave de beijoim que vendo olhos rápidos, viu sobre
caias; e o ouricori abria as suas Depois a tamiHa chegand0. _ porem> meu p0j_ t^ é coj. ela respirava; tudo tinha vindo a eminência que ficava sobrar/.-
se partt iunto ãa porta- tffc- " "ue se >"*" A onÇa deVe U~ ã0 <Bdí ?""' com<LBm í!0eía ~ 0U teira ao lugar em que estava
tS no Z%K oriTamo dõ ° um íesses om- morto. um artista, parecia criar em Cecilia, um quadro original.
SL, n. „Í7™L ™i!?L„,
«oife. Os animais retardados %s wrfiej" P»s"se Pass<,r lo
que mtrora pr<xe_ _ N-0 ^ ^^^ D. Ce. torno dela um pequeno templo De pé, fortemente apoiado
procuravam a pousada, enquan diam i simples mas suculenta ciliar ele saberá defender-se. dos primores da naturesa ora- sobre a base estreita que for-
to a juriti, chamando a com- ceia. — E vós, sr. Álvaro, por gue sileira. mava a rocha, um selvagem co-
panheira, soltava os arruihos a ser o não o ajudastes a ãefenier-se? Ficou assim a olhar pela ja- berto com um ligeiro saio de
doces e saudosos com que se seuÁlvaro, em atenção dia de chegada, disse a moça sentida. nela muito tempo; nessa oca algodão metia o ombro a uma
despede ão dia. primeiro
velho fi- — Oh! se visseis a raiva com sião nem se lembrava de Alva- lasca ie pedra que se iesencra-
Um concerto de notas graves fora emprazaio pelo
•JÍ^LÜT-™" Jí."IT^J^Í^1 dalgo para tomar parte nessa que ficou por querermos atirar ro, o joven cavalheiro elegante. vara do seu alvéolo, e ia rolar
ÜSr.. com
dia-se JLV?.ri!!'..£ ?.J1.I
o rumor da cascata, colação ia família, o que havia sobre o animal! tão delicado, tão tímido, que pela encosta.
gue parecia quebrar a aspereza so*
recebido como um favor tmen- E 0 m0ç0 contou parte ia ce- corava diante dela, eomo elo O índio fazia um esforço su-
de sua queda e ceder à doce in- no passada no floresta. dia"te dele\ premo para suster o peso ãa la-
O que explicava esse apreço e _ Ndo hei dúvida disse De repente a moça estreme- ge prestes a esmagá-lo; e com
fluencia da tarde. grande valor dado por ele a um Ántonio de Mariz, tia sua cega ceu o braço estendido de encontro
ira Ave-Maria.
Como é solene e grave no tao simples convite era o regi- dedicaçao p„r Cecí!*a, oufs fa- Tinha iiisfo d Im das estrelas a um galho ie árvore manti-
meio das nossos matas a hora me caseiro que D. Lauriana -er.;hc „ vo„tade com risco de Passar um vult0 aue ela TeÇ°.m nha por uma tensão violenta
crepúsculo, em , havia estabelecido na
*>«..*sua vidasua habi- ¦,...«.«. r*, para
»«*,». mim mtt das
«*».» ¦«,#»» «—> - nheceu pela alvura ie sua tu- dos músculos o equilíbrio do
misteriosa do «.„¦,-,. ^«„.«„B
mie a natureza se ajoelha aos tr"^°- aventureiros , . ,. coisas móis admiráveis que te- nica fe algodão, e pelas formas corpo.
e seus chefes nho pisto nesta . 0 caráter esbeltas e flexíveis; quando o A árvore tremia; por mo-
Sés do criador para murmurar ,0s
•prece dc noite' viviam num lado da casa Mei- desse indi0 Desde o primeiro vulto entrou na cabana, náo lhe mentos parecia que peira e ho-
Essas grandes sombras das "'mente o separados ãa família; dia Que aqui entr0Uj salmnd0 restou a menor duvida, mem se enrolavam numa mes-
árvores que se estendem pela Amante dia corriam os matos minha „ ma vida tem sf_ Era Peri. ma volta, e precipitavam-se so-
essas in ocupavam-se com a caça ou d0 ,m fm só ato de abnegação Sentiu-se aliviada um bre a menina sentada na aba
planície; graãações fi- e diversos trabalhos de cor- heroismo. e Je
então en- da colina.
nitas ãa luz pelas quebradas da °?m creáe-me, Álvaro, Brande peso: pôude
montanha: esses raios perdidos, àoagem e marcenaria. um cavaiheiro português no tregar-se ao prazer de exami- Cecília, ouvindo o grito, er-
u™ vor um, com toaa a guera a cabeça, e olhava seu
que, esvasanio-se pelo renaaao Era unicamente na hora ia corpo de um selvagem! riar os unaos objetos que com alguma surpresa, sem
ia folhagem, vão brincar um prece que se reuniam um mo- A conversa continuou; mas atenção, pai
momento sobre a areia; tudo mento na esplanada, onde, Cecilia tinha ficado triste, e não recebera, e que lhe causavam adivinhar o perigo que a amea-
respira uma poesia imensa aue quando o tempo estava bom, as tomou mais parte nela. um vivo Vrazer- cava.
enche a alma. TVralTZ """ 'SoTsfl Ver. lançar-se para sua filha,
L""Han\ atirou-se
O urutau no fundo da mata """ oraf*°, aa ía™e* \a?dT \°' as suas ordens; o velhopara
dar J^J^SSol. tomá-la nos braços, arrancá-la
fi- como ,& %&0 {inha inauietação i morte, foi para D. Antônio
iolta as suas notas graves e so- Quanto a família, essa con- dalgo e o moço conversaram ate nem fristestt adormeceu sor- de Mariz uma sá Idéia e um só
¦aoras, que, reboando petas luei- servava-se sempre retirada no oito horas, em que o toque de rjnd0
ã ima„em de uva.ro e movimento, que realizou com a
fas crastas de verdura, vão interior ãa casa durante a se- uma campa no terreiro da casa r>ensand0 na maqua que lhe fi- força e a impetuosidaie do su-
ecoar ao longe como o toque mana. O domingo era consa- veio anunciar a ceia. o seu mimo.
lento e pausado do "angelus". grado ao repouso, à distração e Enquanto os outros subiam os sera, recusando blime amor ãe pai, que era to-
da a sua vida.
A brisa, roçando as grimpas à alegria; então dava-se às ve- degraus da porta e entravam IARA No momento em que o ti-
ga floresta, traz um débil sus- zes um acontecimento extra- na habitação, Álvaro achou oca-
dalgo deitava Cecilia quase des-
surro, que parece o último eco ordinário como um passeio, sião de trocar algumas palavras Dois dias iepois da cena io maiaâa sobre o regaço materno,
dos rumores do dia, ou o derra- uma caçada, ou uma volta em com Cecilia. pouso, por uma bela tarde de o índio saltava no meto do va-
deiro suspiro da tarde que mor- canoa pelo rio. — Não me perguntais pelo verão, a
familia âe D. Anto- le; a pedra girando sobre si,
re. Já se vê pois a razão por que que me ordenastes, D. Cecília? nio estava reunida na precipitada do alto ãa colina,
ãe Mariz"Paquequer".
Todas as pessoas reunidas na Álvaro tinha tantos desejos, disse ele a meia t!02. margem do entfirrava-se profundamente no
esplanada sentiam mais ou me- como"Paquequer" dizia o italiano, de chegar Ah! sim! trouxestes todas o lugar em que se achava era chão.
nos a impressão poderosa des- ao em um sábado as coisas que vos pedi? uma baixa cavada en-
ta hora solene, e cediam invo- e antes das seis horas; o moço
pequena
Todas e mais..., disse o tre dots outeiros pedregosos que Foi então aue os outros esne-
hmtariamente a esse sentimen- sonhava com a ventura desses moço balbuciando. se elevavam naquelas para- ctaãores desta cena, paralisados
choque que haviam sofri-
to vago, que não é bem tristeza, curtos instantes âe contempla pelo
ão- E mais o que? perguntou gens. A relva que tapeçava es- io, lançaram um grito de ter-
mas respeito misturado de um cão e com a liberdade do çecmai sas 'fragas, as árvores que ha- ror, pensando no perigo que jâ
certo temor. mingo, aue lhe ofereceria fal- _ E'mais uma c0isa não , fmias das estava passado.
iu' ocasião ttmKPflT uma
ria* arriscar '
De repente os sons melancõ- vez nn/icinn de IJfll-fT pa-Tlft-
pediste^
...
pedras,
-
e reclinanão sobre -
Hcos de um clarim prolonga- lavra. _ £sso nSo QUero! respondeu vale teciam um lindo docel de Uma larga esteira que descia
Tam-se pelo ar quebrando o Formado o grupo da família, a moça com um ligeiro en/ado. verdura, tornavam aquele retl- da eminência atérecostaãa, o lugar onde
concerto da tarde; era um dos a conversa travou-se entre _ Nem por vos pertencer ji? ro pitoresco Cecília estivera mos-
aventureiros que tocava Ave- o. Antônio de Mariz, Álvaro e replicou ele timidamente. NS. -„rii„ h.,,~ ,f,in _,„,, trava a linha que descrevera a
Uaria. D. Lauriana: Diogo ficara um 1 mo entende. P uma coi- JrZnvef^ara,eJsl% pedra na passagem, arrancando
Todos se descobriram. «uraiavel para se passar uma a relva e ferindo o chão. D.
pouco refira-lo,* as moças, timi- sa que já me pertence, dizeis? sesta de estio, do que esse ca- Antônio, ainda pálido e trêmulo
D. Antônio de Mariz, aãian- das, escutavam, e quase nunca _ sim; porque é uma lem-
tando-se até à beira da espia- se animavam a dizer uma pa- branca vossa. ramachão cheio ie sombra e ie do perigo que correra Cecilia,
nada para o lado do ocaso, ti- lavra sem que se dirigissem di- _ Nesse caso guardai-a, sr. frescura, onde o canto das aves volvia os olhos daquela terra
Tou o chapéu e ajoelhou. retamente a elas, o que rara Álvaro, disse ela sorrindo, e concertava com o trepido mur- gue se lhe afigurava uma cam-
Ao redor dele vieram grupar- vez sucedia. guardai-a bem. múrio das águas. pa, para o selvagem que surgi-
Por isso, apesar de éle ra, como um gênio benfazejo
ge sua mulher, as duas moças. Álvaro, ãesejoso de ouvir a e fugindo foi ter com seu pai, a alguma distância ia ficar casa, a
Álvaro e D. Diogo; os aventu- voz doce e argentina de Cecilia, que chegava à varanda, e em das florestas do Brasil.
reiros, formando um grande d0 gua! ele tinha saudade pelo presença dele recebeu de Alva- familia vinha ás vezes, quando O fidalgo não sabia o gue
arco de círculo, ajoelliaeam-se muito tempo que não a escuta- ro um pequeno cofre, que o mo o tempo estava sereno, gozar ai- mais admirar, se a força e o
tt algum passos de distância. va, procurou um pretexto que a co fez conduzir, è que continha L,,. gumas horas da frescura deli- Heroísmo com que ele salvara
.„ „ resvsrava
O sol com o seu ultimo refle- chamasse à conversa. as suas encomendas. Estas con- - que a,, se resmraya sua filha, se o milagre ie agi-
xo esclarecia a barba e os ca- _ Esquecia-me eontar-vos, sistiam em jóias, sedas, espigai- D. Antônio ie Mariz, senta- lidade com que se livrara a si
io junto de sua mulher, con-
belos brancos do velho fidalgo, sr. D. Antônio, disse ele apro- ikat de linho, fitas, galacêt. templava por entre uma aberta próprio da morte.
e realçava a beleza daquele veitando-se ie uma pausa, um holandas. e nm lindo par ie „„ .„,„„, . „„ „„„ , „„„,„„„ Quanto ao sentimento quê
busfo de antigo cavalheiro. dos incidentes ia nossa viagem, pistolas primorosamente em- das tolhas o céu azul e aveluãa- ditara esse proceder, D. Anto-
5„ /,"„„„ ,„rn L. ™ Zl nio não se aámirava; conhecia
"""f0 tfZa,.Lní°SJ„^Í
Era uma cena ao mesmo tem- _ Qual? Vejamos; respondeu butidas. 2° d° Europa nao se cansam, ie o caráter dos nossos selvagens,
po — simples
'-— e majestosa a que 0 'fidalgo
¦¦¦¦- ,,„„,,„ "enão essas „„„. armas,
„m„. a moçad2
apresentava essa prece meio . ™ÍÍ",„J".
™i.„ a. „.,„(,„ «„„,,. admirar. Isabel, encostada a tão injustamente caluniados
ff «o»0" "m -""P*"* ooafaio e uma palmeira nova, olhava a pelos historiadores; sabia que
cristã, meio selvagem; em todos daqui,i* encontramos Peri oi.
aqueles rostos, iluminados pelos _ fnda bem! disse Cecilia:murmurou —M. Me"
consigo: correnteza * --
_„,,_. Perí' «,„i„,_
0..1, TdlVCZ i~. ;**:- lima io :*" rio murmurando fora da guerra e da vingança
i Bemar-
»*in« ao
raios rln ocaso,
nrei.n respirava
re.relrnvn um „m hú^iots
S.A *„V. dias M„. que «, . .„•» ,,v_«.
nao sabemos Pobre já baixinho troVd ie eram generosos, capazes de uma
nio te siTvam nem paro <e „e_ tfjm Rlbeír(l ação grande e de um estímulo
tanto respeito. noticias dele
Loreãano foi o único que con- JVada mais simples, repli- jenderes Cecilia corria pelo vale per- nobre.
servou o seu sorriso desdenho- cou o fidalgo; ele corre todo como costumava ser naqueles A ceia foi longa e pausada, seguindo nm lindo eoíibrí, que Por muito tempo reinou si-
so, e seguia com o mesmo olhar este sertão, no vôo rávido iriava-se de mil léncio expressivo nesse grupo,
tempos em que a refeição era cores, cintilanão como o vris-
torvo os menores movimentos _ sim! tornou Álvaro, mas o uma ocupação séria, e a mesa que se acabava ãe transformar
êe Álvaro, ajoelhado perto de modo vor que o encontramos é um altar ma de um raio solar. A linda ãe modo tão imprevisto.
Cecilia e embebião em contem- que não vos parecerá tão sim- que se respeitava. menina, com o rosto animado, D. Lauriana e Isabel de ioe-
Durante a colação, Álvaro es- rinâo-se dos volteias que a ave- lhos oravam a Deus, rendendo-
plá-la, como se ela fosse a di- pies. teve descontente pela recusa zinha lhe fazia dar. como
vinãade a quem dirigia a sua q qUe fazia então? lhe graças: Cecilia ainda assus-
a moça fizera io modesto brincasse com ela. achava nes tada apoiava-se ao
prece. — Brincava com uma onça que presente que ele havia acari- se folguedo nm vivo prazer.
peito de seu
Durante o momento em que o como vós com o vosso veadinho, ciado com tanto amor e tanta pai e beijava-lhe a mão com
rei da luz, suspenso no hori- j), Cecilia. Mas afinal, sentindo-se tatl- ternura: o índio humilde e sub-
esperança. nada. foi rerostar-se em um cô- misso fitava um olhar profun-
tante, lançava ainda um olhar Meus Deusf exclamou a Í.0170 oue seu ergueu-se, moro
pai de relva, que. elevanio-se do admiração sobre a moça
sobre a terra, todos se concen- moça soltando um grito. Cecilia recolheu ao seu quarto, vo sopé io rochedo, formava que detinha salvado.
travam em um fundo recolhi- Oue fens, menina? pergun- e, ajoelhanio iiante lo crucifi- uma espécie de divan natural.
mento, e diziam uma oração tou D. Lauriana. Por fim D. Antônio, passando
_ E_, zo. tez a sua oração. Depois. Descansou a cabeça no decline. braço pela cintura
muda, que apenas agitava im- oue ele deve estar mor- erguenão-se, loi levantar um e assim ficou com os pesinnos cdc sua esquerdo caminhou para o
perceptivelmente os lábios, fo a esta hora, minha mãe canto ia cortina ia janela estendidos sobre a arama que selvagem,filha, e estendeu-lhe a mão
Por fim o sol escondeu-se; — Wao se perde prande coisa, olhar a cabana
Aires Gomes estendeu o mos- respondeu a senhora. na ponta io rochedo, que se ertmta os escondia como a lã ie um ri- com gesto nobre e afavel: o in-
é estava co tapete, e o selo mimoso a dio curvou-se e beijou a mão io
guete sobre o precipício, t um Mas eu serei a causa de deserfa e solitária. arfar com o anhcHto da respi-
Mra laudou o ocaso. \ mortal Sentia apertar-se o cor anão rasão. fidalgo.
— De gue nação ist perau*-
¦fpirffw*
--• "¦ ., ,,,.,».,-.» .^^.^^^
.. „,..-,.-

DOMINGO, 11/1/1*4* SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" — VOL II PAGINA I

DE JOSÉ DE ALENCAR saivo, brioso e


tou-lhe o cavalheiro em gua- °seulul"> de .iraré lembrou-se de — B' a minha companheira Deus te leve a entre as vagas
runi pai.
"^eio fiel, a minha arma de guerra; altivo barco, por
Goiiacas, respondeu o sei- "Partimos; o Jempo do guerra. nunca mentiu fogo, nunca errou revoltas, e te poje nalguma en-
vagem erguendo a cabeça com andamos; chegamos o alvo: a sua bala é como a seta seada amiga. Soprem para ti
ttlliVes ao grande rio. Os guerreiros tio teu arco. Peri, tu me deste as brandas auras; e para t.í
¦ - armaram as redes; as mulhe- minha filha; minha filha ie dá jaspeie a bonança mares de
Como te chamas?
— Peri, filho de Ararê, pri- res fizeram fogo; Peri olhou a arma de guerra de seu pai. leite.
meiro de sua tribu. sol. O indio recebeu o presente Enquanto vogas assim, à dis-
"Viu passar o gavião. com uma efusão de profundo creção do vento, airoso barco,
.— Eu, sou nm fidalgo portu- "Se Perí
guès, um branco inimigo de tua a senhora no ceu. fosse o gavião ta ver reconhecimento. volve às brancas areias a sau-
— Esta arma, que vem da se- dade que te acompanha, mas
raça, conquistador de tua terra; "Viu passar o vento. nhora, e Perí
mos tu salvaste minha filha; "Se Perf farão um só cor- não se parte da terra onde re-
ojercço-tc a minha amizade. fosse o vento, carre- po. voa.
Perí aceita;' tu já eras 9am ° senhora no ar. A campa do terreiro tocou n
"Viu passar a sombra. anunciando a ceia.
ami„0 "Se no meio dos Alem, muito alem daquela
-7como assim'' perguntou D Peri fosse a sombra, O indio, vexado
Antônio admirado acompanhava a senhora de usos estranhos, tomado de um zonte, serra, que ainda azula no hori-
Oiiue sanío respeito, não sabia como nasceu Iracema.
"Osnoite. passarinhos dormiram se ter. Iracema, a virgem dos lábios
o índio começou 'poética na sua lin-
mmnpm tão rica e com três veses. Apesar de todos os esforços do de mel, que tinha os cabelos
"Sua mãe veio e disse: fidalgo, que sentia um prazer mais negros que a asa da grau-
n rtnre nronúncia oue parecia "- Peri. filho de Ararè, guer- indizivel em mostrar-lhe quan- na e mais longos que seu talhe
ter aprendido das auras da sua a sua ação e remo- de palmeira.
terra ou Sas aves das florestas reir0 branco salvou tua mãe; to apreciava o favo da jati não era doce
viraens, esta simples "Perf narração, virgem branca também cara com a alegria de ver sua José de Alencar etn 18G1
«">«
tomou suas armas "' e filha viva, o selvagem não to- como seu sorriso; nem a bau-
ia ver o bran- cou em um só manjar. nilha rescendia no bosque co-
?
?
* partiu;
co para ser amigo; e a filha da
guerreiro
Por fim D. Antônio de Mariz. mo o seu hálito perfumado.
UMA PAGINA DE
"Era o tempo das árvores de senhora ser escravo. conftecendo -que toda a Insis- Mais rápida que a ema sei- "O SERTANEJO*
'Õ sofpara chegava ao meio do tência era inútil, encheu duas vagem, a morena virgem corria
ouro. céu e Peri chegava também ao taças de vinho das Canárias. o sertão e as matas do Ipu, on-
"A terra cobria o corpo de rio; avistou longe a tua easa — Peri, disse o fidalgo, há um de campeava sua guerreira tri- A SECA NO SERTÃO
Ararê e as suas armas, menos o grande. costume entre os brancos, de um Obu. da grandee nu, nação Tabajara.
mal roçando
seu"Peri arco de guerra. «A virgem branca apareceu, homem beber por aquele que é pé gracil José de Alencar
chamou os guerreiros de «Era „ senftora que Peri tinia amigo. O vinho é o licor que dá alisava, apenas ,a verde pelúcia
tua nação e disse: „jsto; nã0 estava triste como a força, a coragem, a alegria, que vestia a terra, com as pri- Nessa época o sertão parece
•• _ Pai morreu; aquele que da
primeira vez: estava alegre: Beber por um amigo é uma ma- meiras águas. .
Um dia. ao pino do sol, ela re- a terra combusta aído profeta;
for o mais ais ]forte entre todos, te- tinha deixado lá a nuvem e as neira de dizer que o amigo è e
rá o arco de Ararê. Guerra!" será forte, corajoso e feliz. Eu pousava em um claroo dacorpo flores- dir-se-la que por passou o
"Assim falou Peri; os guer- estrelas "Peri disse: bebo pelo filho de Arari. ta. Banhava-lhe mais frescaa ra, que é o sorriso dos campos e
fogo e consumiu toda a verdu-
reiros responderam: Guerra! «A desceu do céu, - E Peri bebe por ti, porque és -sombra da oiticica,
"Enquanto o sol alumiou a rjoroue senftora a lua sua mãe deixou; pai da senhora; bebe por ti. do que o orvalho da noite. Os manto, como chamavam
a gala das árvores, ou o seu
terra, caminhamos; quando a Perí, filho do sol. acompanha- porque salvaste sua mãe; bebe ramos da acácia silvestre espar- camente os indígenas. poeti-
lua subiu ao céu, chegamos. rá d senhora na terra. por ti, porque és guerreiro £iam flores sobre os úmidos ca-
Combatemos como Goitacazes. ,„ olhos estavam na senho- ,
"Os -„jn naiawa o índio tocou belos. Escondidos na folhagem
™*a Pela vasta planura que se
Toda a noite foi uma guerra. ra; e o ouvido no coração de V?CaJL f ^"'"'""traoo de vi- os pássaros ameigavam o canto. estende a perder de vista, se
Houve sangue, houve fogo. nho, sem ,„". o„ menor
fazer ™"'"r gesto
no5, Enquanto repousa, Iracema irriçam os troncos ermos e nus
"Quando Peri abaixou o arco Peri. A pedra'& estalou e quis ta
ser ma; senhora de desgosto; ele beberia ve- empluma das penas do gará as com os esgalhes rijos e encar-
flechas do seu arco, e concerta,
d:- Arará, não havia na tabados „A senftora mha soiM(io „ neno â saude ão pai de Cecilia. com o sabiá da mata, pousado quilhados, que figuram o vasto
brancos uma cabana em pe, um m&e ^ p. peH nio ossuárlo da antiga floresta.
fa no galho, próximo, o canto
homem mio; tudo era cinza. smhora ficasse triste, e vol-
"Vem o dia e alumiou o cam-
ALGUMAS PÁGINAS agreste.
¦' Quem pela pr:?neira vez per-
veio o i>ento e levou a cinza.
tasse ao ceu.
"Guerreiro branco, Peri, prt- D EIRACEMA" A graciosa ará, sua compa-
po;"Peri e amiga, brinca junto corre o sertão nessa quadra, de-
tinha vencido; era o metro de sua tribu, filho de José de Alencar nheira dela. Às vezes, sobe aos ramos pois de longa seca, sente con-
primeiro de sua tribu e o mais Ararè, da nação Goitacaz, for- i da árvore e de lá chama a vir- frangerss-lhe a alma até os úl-
forte de todos os guerreiros. te na guerra, te oferece o seu frmos refolhos em face dessa
"Sua mãe chegou e disse: gem pelo nome; outras, reme-
'«-_ Perí, chefe dos Goitaca- arco; tu és amigo." Verdes mares bravios de mi- che o urú de palha matizada. inanição da vida, desse imenso
? * nha terra natal, onde canta a onAe traz a seivaKem seus per. holocausto da terra.
zes, filho ãe Ararê, tu és gran- jandaia nas frondes da car- fumes os alvos flos do crautai
de. tu és forte como teu pai; E* mais fúnebre do que um
nauba! as agulhas da Jussara com que cemitério. Na cidade dos mor-
tua mãe te ama". que brilhais tece a rendaj e as tintas de que tos as loucas estão cercadas por
"Os guerreiros chegaram e O indio terminou aqui a sua Verdes mares, esmeralda aos matjza
narração como li(iuida *^«t« perlon- Ru 0 algodão. uma vegetação que viça e fio-
disseram:
"_ peri, chefe dos Goitaca- Enquanto falava, um assomo raios do alvas ^ ^ resce; mas aqui a vida abando-
do orgulho selvagem da força e Bando as praias ensom hwmonia da ^^ e a yir_ na a terra, e toda essa região
zes. filho de Ararê. tu és o mais lhe brilhava nos *™*"f£
valente da tribu mais
au <je «o ».«.o temi
...... ria
- coragem Ss mares, mares e uiismalisai
ansai B™ °* «""W, 1™ ° sol "ào des- que se estende por centenas de
mhn. _i„rn, *,.„>•„..! „b rinva rimm certa no- Serenai, verdes
serenai, veraes
do do inimigo;¦ os guerreiros íe olhos »'M«™^«.» Embora docemente a vaga impetuosa,
,umbra; sua vista perturba.se. léguas não é mais do que o vas-
obedecem breza ao seu gesto. Diante dela, e todo a contem- to jazigo de uma natureza ex-
Zs mulheres chegaram e dis- ignorante filho " da¦realcsa florestas era ^Z^LÍTiloTlT^, plá-la, está um guerreiro estra- tinta, e o sepulcro da própria
seram ¦am: '»" rei: tmda da /or" S. ™iaa afoutanfonta jangada,
ianeada "ho se é guerreiro e nao algum criação.
••— Peri, primeiro de todos, ca Onde vai mau espírito da floresta. Tem
a altivez do Das torrentes caudais restam
tu és belo como o sol. e flexível --¦Apenas . concluiu,
,desapareceu; ,, ^J^rl^VescotrrT^ ™ «« ° branco das areias
como a cana selvagem que te guerreiro ficou ti vela? que bordam o mar, nos olhos o apenas de
os leitos estanques, on-
não se percebe mais nem
modesto; nao era grande azul triste das águas
deu o nome; as mulheres são mulo e ja Onde vai, como branca alcio*- profundas vestígios da água que os asso-
tuas escravas. mais do que um bárbaro em fa- o rochedo pátrio ^noUts armas e tecidos ignotos
"Perí ouviu e não respondeu; ce de criaturas civilizadas, cuja nas buscando solidões do oceano? cobrem-lhe o corpo. berbava. Sabe-se que ali houve
um rio, pela depressão às ve-
nem a voz de sua mãe, nem o superioridade de educação o seu zes imperceptível do terreno, e
canto dos guerreiros, nem o instinto reconhecia, "« pela areia alva e fina que o en-
amor das mulheres, o fez sor- Antônio o ouvia sorrindo- Sol,' otr" a""0 *»ida no arco partiu. Gotas de
xurro lavou. ^
rir. __ se „. seu . estilo ora figurado, üm'jovem guerreiro, cuja tez f^ZuecT ^ ""
"Na casa da cruz, no meio do ora do tão singelo como as primei branca não cora o sangue ame- oesconneciao. E* nos estuários dessas alu-
fogo, rc.
,„.jv. Peri «,.,.<•
tinha visto „.,.«, ua «..,«,-
senho- ras ,„„ ,,„««
frases V^ que batbucia
„„.„„... a crian ricano; uma criança e um ra- . H? ^lm„e'í?. „ ™„ rtf «SJ!?> viões do inverno, conhecidos
ra dos brancos; era alva como ça aos peitos maternos. O f%- feiro"florestas, que viram a luz no berço *J; |f.. ,í„'u ,„„„ „„, 7? com o nome de várzeas, onde
melhor °J™ mo , se conserva algum vislumbre
'ÍJSS!
a filha da ma; era bela como dalgo traduzia, da das e brincam, ir- L°£1„h0™1u„*
garça do rio. maneira que podia, essa lin- mãos, filhos ambos da mesma !™°m?ep onde a mXfr é da vitalidade, que parece ha-
"Tinha a cor do céu nos guagem poética de todo abandonado a ter-
a Cecília, a terra selvagem. SSLSS. ?« f'»™„™ . *„ iUÜ!. L ver ra. Ai se encontram, semeadas
olftos; a cor áo sol nos cabelos; qual já livre do susto queria por A lutada intermitente traz, f™ freu „°„£
mais j„,™"
dalma „„„ da ,*j£l
ferida.
eslava vestida de nuvens, com força, apesar do medo que lhe da praia, um eco vibrante, qut. O que pelo campo, touceiras eriçadas
um cinto de estrelas e uma plu- causava o selvagem, saber o que ressoa entre o marulho das va- olhos sentimento que ele pôs nos de puas e espinhos em que se
ma de luz. ele dizia. e no rosto, não o sei eu. entrelaçam os cardos e as car-
"O gas: Porem a virgem lançou de si o naubas. Sempre verdes, ainda
fogo passou; a casa da Compreenderam na históriade _ Iracema!
arco e a uiracaba e ..orreu nara
cruz caiu.
"De noite Peri teve Peri. que uma índia salva ha- o moço guerreiro, encostado °°"™'
sentida aa magua quando
não cal do céu uma só
um. so- uia dois dias por D. Antônio das ao mastro, leva os olhos presos. ^êmto^lMa^XS gota de orvalho, estas plantas
nfto; a senhora apareceu; esta- mãos dos aventureiros e a quem na sombra fugitiva da terra: a l™6 causara, simbolizam no sertão as duas
tia íriste e falou assim: Cecília enchera de presentes de espaços, o olhar empanado por A mão que rápida ferira, es- virtudes cearenses, a sobrieda-
"— peri,
guerreiro livre, tu és velórios azues e escarlates, era tênue lágrima cai sobre o girau, tancou mais rápida e compas- de e a perseverança.
meu escravo; tu me seguirái a mãe ão selvagem. onde folgam as duas inocentes siva o sangue que gotejava. De- O capitão-mór havia sestea-
por toda a parte, como a estrela _ perí, disse o fidalgo, quan- criaturas, companheiras de seu pois Iracema quebrou a flecha do a quatro léguas da fazenda,
grande acompanha o dia. do dois homens se encontram e infortúnio. . homicida; deu a haste ao des-
"A lua tinha voltado o seu ficam amigos, o oue está na ca- Nesse momento o lábio arran- conhecido, guardando consigo a e partira à tarde quandocon- já
arco vermelho, quando torna- sa do outro recebe a hospitali- ca dalma um agro sorriso. ponta farpada. quebrara a força do sol,
mos da guerra; todas as noites dade. deixara ele na terra de O guerreiro falou. tando chegar a sua casa á noi-
Que
Perí via a senhora na sua nu- — E' o costume que os velhos exílio? Quebras comigo a flecha tinha.
vem; ela não tocava a terra, transmitiram aos moços da tri- Uma história, que me conta- da paz? Nessas horas do ocaso o ser-
Peri não podia subir ao céu btt, e os pais aos filhos. ram nas lindas várzeas onde Quem te ensinou, guerrei- tão perde o aspecto morno,
"O cajueiro — Tu cearás conosco. nasci, à calada da noite, quando ro branco,- a linguagem dos acerbo e desolac'or que toma ao
quando perde a
sua folha parece morto; não . Peri te obedece. a lua passeava no céu, argen-.meus irmãos? Donde vieste a dardejar do sol em brasa. A
tem flor, nem sombra: chora A tarde declinava; as primei- teando os campos, e a brisa ru- estas matas, que nunca viram sombra da tarde reveste-o de
umas lágrimas doces como o rass estrelas luziam. luziam A família, girava nos palmares. outro guerreiro como tu? seu manto suave e melancóli-
mel dos seus frutos. acompanhada por Peri, dirigiu- Refresca o vento. — Venho de bem longe, filha co; é também a hora em que
"Assim Perí triste. se á casa. e subiu a esplanada. O rulo das vagas precipita. O das florestas. Venho das terras, chega a brisa do mar e derra-
"A senhora ficou 'entrou
não apareceu D Antônio um mo- barco salta sobre as ondas e que teus irmãos já possuíram, e «na por essa atmosfera, incan-
mais; e Peri via sempre a se- mento e voltou trazendo uma desaparece no horizonte. Abre- hoje teem os meus. descente como uma fornalha, &
nhora nos seus olhos. Mniía rfaoína tauxiaáa com o se a imensidade dos mares e a — Benvindo seja o estrangei- sua frescura consol.aóora.
"As árvores
ficaram verdes; brazão de armas do fidalgo, a borrasca enverga, como o con- ro aos campos dos Tabajaras,
Os pasasrinftos fizeram seus ni- mesma que já vimos nas mãos dor, as foscas Mi sobre o senhores das aldeias, e à cabana
nftos; o sabiá cantou; tudo rta: do indio. abisme de Araken, pai de Iracema!

....;: .*,-¦;....*
¦ .*.*: i-*-:':..*.*..^,.Lí«i...%.:;.'..:,,-*;v-.jiy.;^*M¦*«;«¦»¦.;'*¦; .;.:.;,iajsk.»^^o.fi.tà.o
SPf^f^í^^^-TOSíTS"*

"A MANM" — VOL. I» DOMINGO, Il/l/lMÜ


PAGINA • SUPLEMENTO LITERÁRIO DE

JOSÉ DE ALENCAR
1.» Canto Joelho em terra! — Estamos no deserto. Hâo! Deus que te formou com tanto esmero.
Grande e imenso deserto, sàlio augusto Mimo da criação e primor dela,
A GUERRA Va virgem natureza americana; Çue ao mundo te ocultou por longas em
I Leito dc amor, vo qual o grande rio Para em ti se rever no doce enlevo.
Fecunda o centre desta selva antiga; Como pai extremoso que recata
Jo deserto, minhahna! Sobre os píncaros Imagem do infinito, monumento Da virgem pura o cândido melindre;
Da bronca penedia, enquanto o vento' Da primitiva criação do mundo; Deus te sorri! ES filha predileta;
Aos antros c7ü montanha ulüla c brame, Profunda solidão que a majestade Das índias a mais moça e a mais formosa.
Soiia a rude pocema, o canto fero, Concebes, e o poder de um Deus unânime; Se tua irmã do sol é róseo berço,
Doa filhos de Tupan. E ruja a inúbia. Vasta amplitude em que a alma se diluía . Tu cs do rei da luz a jovem noiva;
Troando pela várzea os sons brúvios. Alem dos horizontes da existência, Trajarás do progresso o manfo esplêndido.
A embéber-se na luz da eternidade; Hão de sagrar-te entre as nações, rainha,
n Brasil selvagem, solo agreste e rudo, Mas sem prostituir ao velho mundo
Oue da lázara gente o haja impuro Teu brio nacional, pudor de pátria.
Salve, Amazonas! Rei dos reis das águas,, Mia senliste a creslar-te a flor do rosto: Serás grande, Brasil, em ti eu creio,
Ynmiií dos rios, filho ào dilúvio! Vale, donde formou-se o grande império, Como creio no Deus que me iluminai
Gipan!.es que o maior dos oceanos Qmndo passou a aluvião dos mares;
Gerou nos flancos da maior montanhas flerto de minha pátria; eis-me em teu seM «este horizonte límpido e sereno,
E's origetn do liquido elemento Gaze de luz tecida em áureos licos,
Qne circunda o universo? E's tu que pejis IV Que vela do Senhor a face augusta,
Dos pélagos sem fim as profundezas, A mente se arrebata aos altos vôos.
Onde matam a sede o céu e a terra? Como és donoza, mãe, no verno júbilo, Vm turbilhão de idéias inda em polen,
£'$ pui das ondas, on tirano delas? Da sempre renascente juventude; Larvas do pensamento adormecidas
Cusla esposa, do banho perfumado No cálice da flor. no puro aljotar
Coh>sso ingente, que fundiu nas águas Na formosa nudez que o pejo veste, Do orvalho que tremula sobre a folha,
O verbo de um arlitfa onipotente, Palpitante de amor, em languc espasma Esperam só calor da inteligência
A cabeça reclinns sobre os Andes Parece que do caos, surgindo agora, Para de enchame abrir as asas rútilat.
Ao céu rasgando as largas cataratas. Daljofares do céu, rórida a face, A natureza aqui mostra no tipo
O dorso enorme restupino etlcndes, Meiga aos beijos do sol, dobras o colo. Das belas formas, no matiz brilhante.
Feia terra qne verga com teu peso; E como a linda esposa, entre rubore*. Como nas melopéias do deserto,
Os vni braço.', que alongas pelas serras, Desata o lábio c colhe vergonhosa Vm molde original, sublime ritmo,
A vida noutro lábio de que vive, Qual nunca o pressentira o gênio dur te.
Abrangem Uwto espaço que outros mvnds>» Tu, ao roçar da luz estremecendo,
Couberam ainda, neste inundo 7;o;u, Abres o seio e bebes no deliquio VI
Feito pora teu berço. Com desprezo A seve da bnlhanle jlorescência.
Aos pés o colo esmagas do oceano, Teus filhos, pátria, o sangue teem dos Lusos,
Çae miigindo ce roja pelas pratos, Tudo c subiime, tudo. em teu regaçot Çue dum revez da espada outro hemisfério
Jtfíis proxtraclo c vencido, não vassalo, Como ao raiar do mundo, nestes limbos, Talharam do infinito. Cuja lança
O ''na, soberbo às rezes se rei\i]!c. C espirito de Deus paira nas asas. Haste da cruz, gravou a lei de Cristo
Alçada a fronte, a juba àesgrcnhaàa, Da vida eterna se deliba o goso Onde a voz não chegou de seus*apóstolos.
Berra;ti. e raiva e ruge e ronca e.troa; No sopro criador que te bafeja. Povo exiguo, assinou-lhe Deus o berço
£ v longa, imensa cauda destorcendo, Palpü-sc ainda a mão onipotente Da cabeça da Europa, sobre o crânio;
Te ctiiaça o corpo no impotente esforço. Nestas moles de serros de granito Donde os arcanos rasgue do futuro
Que figuram descer do céu à terra; E do universo as raias descortine.
Na vigorosa incrustação das rochas Estreito ptomontório, ninho dnguia
Pousa em teus ombros o condor altivo Vasadas pela lava incandescente Prestes a desferir os largos surtos;
Aguia-leâo dos paramos da América; Do fogo que soldou no espaço o globo: Essu nesga de terra, ainda sobrava
O iaguar, rei da selva brasileira, Ao íiíio eiubcraníe desta argila,
E v tapir, qne dos pés o chão devora, Para conter-lhe o reino; mas não cabe
Teut rafeiros humildes, te farejam Qne não se basta para em si conter-se. O grande coração da raça ilustre,
De longe. A seiva pastam de teu sangue £ /orina em cada planta um novo solo. Çue alem, buscando espaço onde respire,
tidfiões de raças de animais selvagens. Ambilo imensurável, sem limites. Conquista o mundo antigo, inventa o novo.
Vermes, (jue ie pululam nas entranhas, A grandeza tu narras do ser màximor~
São negros manatis, focas enormes, Nem a civilização que o homem gasta Teus filhos... Porem, mãe, outros tivesttl
Comu vil combustível, consumindo-o

J Descomunal aborto da mãe dágua, Antes que irado o Atlântico arrogante


M a sucuri, leviatan dos rios. Na chama que depura a humanidade; Pela fúria dos novos argonautas
Resvalam por teu corpo, tiele insetos, Nem soberbos inventos, que do mundo Çue ousaram sujeitar-lhe as ondas livre*,
Horrendos crocodilos, negras serpes, A loucura presume que o realçam, Do oriente os lançasse no ocidente;
Talvez metamorfose monstruosa Uns só revelam dele a niilidade, Antes que o mar, qual tigre saciado
Dos grossos troncos de tombadas àrvcret, A nobre singeleza desfloraram Çue a presa repudia, nesta plaga
Bestes campos. Ainda aqui não veio Rejeitasse os intrépidos corsários;
Que os iodos animalam corropipenáo. A ciência arrogante, cujo orgulho. Dominava teus campos soberanos
He atreve a disputar, verme da terra, l/ma ruça valente, grande e forte.
Aqui, jungido, sob a mão do Eterno, Ao Senhor os mistérios do infinito.
Cravado ao chão, monarca do deserto, Monumentos de rica arquitetura, Raça jovem, dos brios na pujança,
Como Satan domado pelo arcanjo, litros de pedra em que dum povo extinto, Nascera neste vale, estenso berço
Dormes por todo o século dos séculos. Le-se a miséria, alguma vez a glória; De povos invasores, que mais tarde
Mas quanto és grande mesmo adormecido! Nunca as artes ergueram nestes plainos. Em longas migrações se derramaram,
Ruge o trovão no peito que resfclga; Nunca o homem aqui, sombra de um dia, Como veias de rápidas torrentes
Vm bolcâo turbilhoita em teu anelito; íai/icou do pò, sobre o futuro. Cavam, rompendo a lapa, alveos na rocha.
Se arquejas sobre o leito, o céu se torva, Apenas tosco esboço desenhado Daqui partiram eles à conquista
As nuvens se convolvem na prôcela, Das regiões do sul. Nunca vencidos,
Foge a base às montanhas que se abismam, Sobre o rochedo, e simples urna fúnebrt, Os limites mediram pelas armas
Treme a terra abalada nos seus eixos. Dahna imortal, misterioso culto, Do vasto continente avassalado,
Dorme, o gênio das águas! Quando oo senho Certo pressentimento doutra vida, Onde cada nação plantara a taba
Terrível do Senhor, tu tíespcrtarcs, Dizem ao viandante solitário, E dera a seus guerreiros nova pátria.
Q mundo voltará de novo ao caos, 'Aqui também sofreu a raça humana".
Como a garça, que brinca sobre as água*.
m De faceira espelhando a extreme alvura. vn
Apenas sente as algas da corrente
» Manchar-lhe a ponta das ligeiras asas. Onde estão estes povos primitivos?
Mis o deserto! Surge alem, ao longe, Mergulha, se espaneja e ao sol aquece Çue i de nossos irmãos, teus primogênitos.
Mar de florestas, sobre o mar dos rios. As plumas que de nítidas esplendem; De teus filhos selvagens, minha terra?
Sempre isenta viveste, ó pátria minltal Extinguiram-se! Alguns dispersos vagam,
Penetrando os umbrais da virgem pátria. Se o homem te crestava a tez mimosa, Pelos antros se acoutam como feras,
Uinlialma, repouzemos um instante. Banhavas no oceano a finda espádua, Ercorjaãos, perdido o antigo lustre.
Peregrinos, pisamos terra santa Que enxugavas da luz no résrio manto. Dejéneres da pura e nobre casta.
£ nunca profanada. Aqui na rama Poucos, dos ritos pátrios renegando
Desta planta sem nome conhecido, Abraçados, à cruz, à sombra dela,
Limpemos a poeira das sandálias, Misturaram seu sangue ao sangue estranho.
Que roçaram na lama das cidades, Quase todos morreram defendendo
É o chão varreram jà da praça pública. JU as olfta.' ...Já bulcão de espesso fumo, C solo que dos pais guardava as cinzas,
Oh! Não lancemos, não, pó de >ainas, Çue a turba delirante arrasta ao vórtice Os campos dos avós glória e conquista,
Que esbroam da caduca sociedade, Da ambição, lá negreja no horizonte. E a liberdade, lei, direito santo,
Hem farpas do esqueleto carcomido O cavalo a vapor bufando espuma, Mais que direito ou lei, culto profundo
Do mundo, sobre o viço em que se espanâe Campeia, escarra o chão, relincha e parte. Fera religião de um povo indõmito.
Deste solo a robusta mocidade. Traga a terra, sorvendo o espaço, <i foge; Em torno aos filhos seus recem-nascidot,
Ignorante e simples, como outrora, Das áridas estepes vem do Cáncaso A cascavel coleta estremecendo
Quando bebias dos maternos lábios Pastar nos Andes a virente grama. De inefável prazer. Terna se engolfa
O tímido balbucio nas caricias, Seu hálito abrazado já te escalda, Na delícia de os ver à imagem sua:
Leite e polen que a infância te nutriram; De longe embora, a fronte. Em breve tempo òra em doces anéis toda se enrosca,
Vi: gem, como do nada tu saiste, Aqui virá pisar com férrea pata Palpitante de amor os cinge e estreita,
Vem, ó minha alma. a prece purifica. As flores mais mimosas de teus vale» Porque mãe, outra vez, inda os conceba,
Adore ao Criador o teu silêncio. E a túnica de relvas que te cobre. Mas súbito o perigo perto assoma.
Contempla, admira, sente, crê, não pentes! Cavalga a fera o gênio do progresso. Eis que das nuvens gavião, que paira,
Vem te engolfar nau auras desta briza. Espirito de luz; sâo chama as asas, Abate o vôo as garras encrespando;
Da harmonia e fragrância, essência e eler' Tem do corisco o vôo; o rastro é cinza-, A serpente se assanha, silva, estila
tmerge o seio nas torrentes douro, E deve profanar-te, gentil pátria, O veneno; terrível brande a cauda.
Sacia-te da luz que a jorros mana. A graça virginal destas campinas. Antes que armando o bote, enriste o coto.
Beija este solo, nosso antepassado. Culto bastardo de emprestadas artes? Rasga o hiato e na larga 1av.ee aninha,
Há de ornar-te nas festas de teus filhos. . Ou entes que gerou. No afã supremo.
Pálida rosa murcha doutros climas, Egoísmo de mãe, sublime e justo.
Cujo humor nutre ainda a tênue argila desbotado lirio? De vaidosa
Do corpo que o teu fogo intenso abrata. Deixarás que a nativa graça velem Devora a prole que salvar não pode,
Banha-te no cristal daquelas águas Com louçanías de lacor estranho* Ko seio que a formou, viva sepulta.
Que se esfrolam nas lapas da cascata Esquecerás acaso as melodias Assim os filhos teus. pátria, embalnst»
Em borbotões de espvma. Site batismo Das florestas, a pompa majestosa, Na sombra das florestas, sobre as água»,
figora t jwcnece a mente enferma. a selvagem poesia destas brenhatf io rumar da cascata. No regaço

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í DOMINGO, 11/I/1MI SUPLEMENTO LITERÁRIO DK "A MANHA" — TOI. II PAGINA T

- "Os a
POETA Filhos-deTu pân
De teus vaies em flor, meiga os cingieti. Al, pátria, por que a vida tio risonht Trovão ia terra, estremecer o* astro*.
Mas veio enfim o sol ia desventura. As turbas dos Oromos, gente bárbara, Luz em torrentes, alto o sol dardeja;
guando errantes, nas mata* foragido*, Que ia afronta cruel ruge vingança. O céu resplenie azul, a terra flores;
estrangeiros na terra ie seu berço, Canta a floresta hosana ao ret do dia;
Dc esmorecida a fronte reclinaram; Volve alem majestoso o granie ru.
Correu a flecha, núncia io combate;
Alirism o seio e nele os recolheste. O trocano mandou ás longes tabas
prcffímte ser mãe orfâ de filhos, A voz io chefe, e os ecos responderam.
A ser pátria de raça vil descravos. Como em ondas caudais juntando as água* VARIANTES do primeiro cant*
No largo e imenso leito io Amazonas
Ahi gue nos triste e grave enche o silêncio, Se transformam num mar tamanhos rios. T. J Nos antros da montanha ulvand» raiva.
Peiet amplidão dos ermos reboando; As cem nações tupis se ergueram, uma:
v. i Ave, Amazonas! Rei dos reis das água*.
V. 18 A cabeça rcclina sobíe os Andei*.
Qua gemido plangente e merencório Braços de um corpo só, parem gigante. V. 20 O corpo enorme ressupino estende,
Solta a floresta das profundas crastatl O prudente Iruama. o grande chefe, V. 21 Pela terra que verga com seu pesa.
Ançiiitiado o vento nas gargantas Os filhos de Tupan conduz à guerra.
V.
V.
22
23
Os mil braços que alonga pelas serrai.
Conter podiam dentro do sen Âmbito.
Dos alcantis, ulula soluçante; V. 24 Outros mundos ainda neste mundo.
O grande rio, apresso da borrasca. V. 30 Alçada a fronte, a juba horripilante,
Ar.Mia na agonia e se convulsa. Em meio da campina que se alarga V. 33 Lhe estringe o «corpo no impotente esfoif*.
Da lufada sulfúrea ao bafo ardente, Pelo deserto alem, planta Iruama Seus rafeiros humildes o farejam
De longe. A seiva pastam-lhe da santa*
A negra coma as árvores desgrenham. O sacro maracá do povo egrégio; Vermes que lhe pululam nas entranhaa
Os mil rumores vagos, indecisos, A cabeça da guerra, assim chamada, São enormes cetáceos, viva mole
Porque nela respira a alma sombria Resvalam por seu corpo, dele insetos
Que ali, aqui, crepitam pela sombra, Do iracundo Areski, do torvo nume. V. «I Dorme, 4 gênio do abismo, atado ae posa*
Quais dobre* pulsações ia grande artirim V. 62 quando k voa do Senhor tu despertarei
Do globo, se condensam longe e longe Que odeia a paz, despreza amor e vinho; V 158 Ao Senhoi, os arcanos do infinito
A quem deleita a festa dos combates, V. us Come a terra, sorvendo o espaço: vm
Ho lúgubre estertor da natureza. V. 202 Ou desbotados lírios? De vaidosa
Tu choras, pátria, choras por teus filha*, Onde beba do sangue a rubra espuma. V. sos Deixarás que a lindera te disfarcem
Olil silêncio, minha alma, respeitemo* Da lança que empunhara, sobre o topo.
A dor da mãe, viuva, órfã ia prolel Ergue-se o vasto crânio, a fronte hirsuta. MOTAS
De herói, que aos homens ensinou a guerra,
Ei-lo o tremendo vulto, o gesto aspérrimo, T. 4 POCEMA — Grito de guerra dos tupfl im p*-mào e
VIII Que no lenho esculpiu com rubras tinta* cerna-clamar; porque o alarido era acompanhado de
4 Do vidente abaré a arte sublime. gestos de desafios e pelo estrépito das armas.
V. 5 INOBfA — Trombeta de guerra dos tupis.
Eram filhos de sua virgindade Os olhos coruscantes, que afrontavam V. 8 TAMUf — Herói da mitologia dos tupis; significa o
Os raios de Tupan, das fundas órbitas. Avô. e dele descendia a grande nação dos Tamoios.
Primeiros que no seio concebera, E" o Abraham dos Tupis, — Mitologia ou mito*
E ii.ocentes o peito lhe morderam. Fulminam de pavor os inimigos, dos tupis é expressão de Humboldt — Voyage am
Eram belos como ela. A tez morena, _ inspiram nos Tupis a força invicta. * nouveau rontinent — tom. 8, pág. 245.
Quando vibrada pelo vento a lança, T. 9 O MAIOR DOS OCEANOS — o Pacífico; e A MAIOR
Crestada oo sol, brilhava com reflexoê MONTANHA — os Andes. O Amazonas nasce na
Do cobre encandecido pelo raio. Na boca hiante Jreme-lhe o bramido, encobta oriental dos Andes entre 83* e 84» lat.
Negros os olhos, negros os cabelos, Como estilhas de rocha que fracassam; oeste, cerca de 100 léguas distante da costa do Pa-
Era assim que rangiam do guerreiro ciíico. e atravessa toda a América do Sul para vir
Como o basalto dos rochedos pátrios: lançar-se no Atlântico, com um curso de 1.300 le-
Rosto nu que moldava o pensamento Os rijos dentes no furor da pugna, Bu as.
Nas linhas do perfil. O talhe ereto, Y. 19 CATARATAS — «t cataractae eoeli aperta* sunt.
(Gênesis 7° XI).
Como os orgãs da grande cordilheira. Quando vòa do sul a tempestade. V. 22 OS CEM BRAÇOS — Os inumeráveis afluentes Ú9
Qual silvestre bambu vergava airoso; Antes que sobre o mar envergue as asas.
T.
Amazonas.
29 O MAR SOBERBO — Descrição do fenômeno da po-
Forma esbelta de serpe, em que se elava Cobre da Corcovado o largo dorso; róroca. Tentou-se na onomatopéia de todo esse
Do cedro a robustez, do tigre a forca. Mas entre a bruma surte o cimo altivo trecho imitar o estrondo das águas do mar repeli-
Almas rudes e ingênuas, corpo atlético, Que domina sereno os horizontes. das pela corrente do rio.
— Voyage en Ameriqtte
Fundido em bronze, escólpito na rocha, O povo dos Tupis antes que arroje Y. M O CONDOR — Condamine
Meridional, pág. 175: "Le fameux oiseau appellé
Tinham herdado de seu Deus o nome. Sobre o inimigo a sanha, lá rodeia. •eontur et par córmption condor que j'ai vu en plu-
Chamavam-se Tupis, heróis e filhos sleurs endroits des montagnes de Ia Province de
si ce m'a assuré est
se trouve aussi, qu'on
De Tupan, criador e pai dos homens. O grande abaeté, que sobrancetro
Quito,
vrai. da|is jes pays bas au bprd du Ma.ranon, J'en
Solta da guerra o mirai soberbo. vai vu t-laner au dessus d'un troupeau de moutons."
43 MAE DÁGUA — E* nas lendas populares do Brasil
Ensinou-lhes somente a natureza, Disse Iruama: — "Filhos de meu arco, T.
um espírito ou gênio, que produz a inundação, e
Uma ciência — amor; uma arte — a guerra, Fortes chefes e filhos de meus filho*, que a imaginação do povo representa na figura de
A terra em que nasciam, desvelada E netos de Tupi, primeiro homem, uma moça de prodigiosa formosura «com os olhos
verdes e as trancas mui longas.
Trabalhava por eles, mãe e escrava. Gerado pelo vento na palmeira; Y. 44 SUCURÍ — Cobra que devora um boi. Encontraram-
Asjiro tronco brotando entre penhasco*. Florestas de guerreiros que eu habito; se de tamanho e grossura descompassados nos gran-
Findo, em borbotões manava o leite, Tupan nos ama, pois nos manda a guerra,, < des rios do Brasil ao tempo da descoberta: hoje
tem-se extinguido. Alguns exploradores viram-nas
Que no peito materno, homens robustos, Da guerra vem a força para o corpo, maiores de 40 pés. Em várias provincias dão-lhe o
Sugavam inda infantes para o munia. Como vem da torrente a força dágua. nome de sucuriú ou siicurujuba; Gabriel Soares
Destilava nas lágrimas douradas, O sol trouxe o inimigo a nossos campo$ chama-a boiuna,
T. 4t ANIMALAM — Animalar «_ tornar em animal; e ant-
O beijoim as gomas recendentes, Mas há de aqui deixá-lo. como a sombra malizar é dar qualidade de animal- Igual diferença
Incenso o sassafraz. Perene a abelha Lastrando pela terra fria e negra. A Qtie existe entre humanar e humanizar.
De rosado licor enchia os favos: Não se acredita na geração espontânea da ma-
Quei Iruama e seus guerreiros queiram teria; esse modo de exprimir-se é apenas unia fl-
E cada sol, dos. cocos sazonava Qne o sol não morra sem que morra o ultimar'. gura para mostrar a desformidade dos répteis e ofi»
A polpa delicada e o fino creme. dios que se criam naquela região.
As vestes encontravam já tecidas Y. 53 SÉCULO DOS SÉCULOS — Per omnla secula século-
rum, etc. —, Ut Intereant In seculum seciril. Sal-
Na casca da niarima; e na plitmagem mo XCI. 8.
Das aves seus ornatos de ouro e púrpura, - Y. 94 CUJO HUMOR, etc. — O vale do Amazonas é aqui
Unia palmeira só dava à família A voz do chefe que a vitória ordena. tomado como a imagem do Brasil antes da desço-
berta: é a pátria americana, o sfmboto da .terra
Armas, sombra, alimento, fogo e vinho; Lá responde a pocema dos guerreiros. natal.
"Tupan! Tupan! Tupan! crebro rebrama 134 O espírito de Deus paira nas asas — Et spirituf Del
O teto da cabana, e as rijas malhas T.
Da rede, que embalava amor de esposo. Com possante clamor o povo e brande perebatur super ás uas — Genes. Cáp. I. if S
Os tacapes que embatem nos escudos. V- 138 No sopro criador que te. bafeja — Formavlt igitur
Doiuimis Deus hominem de limo terrae, et inspiravit
Raio de leite e mel, luz e perfume, Freme a selva Tupan; e de eco em eco " in faciem ejus spiraculum vltae et factum est hom*

A vida em flor, aqui desabrochavai Pelas fragas Tupan rolando, ao longe . In animam viventem — Gen. Cap. 2» v; T.
Tupan retroa; alem Tupan ribomba." Y- 149 E forma em cada planta um novo solo.
Os lábios a colhiam num sorriso. Aluzão A vegetação parasltica. tão exuberam»
Hão crestada por hálito ofegante; Soa então dos Tupis o canto bélico: em nosso pais, e que dá um aspecto original e novo
"O grande pai do céu manda a seus filhoa As florestas da América tropical.
Das bagas do suor não rorejada. Inimigos sem conta, como as ondas V. 147 A grandeza tu narras de um ser grande — Coeü
Até na morte a vida era suave enarrant gloriam. Dei Salm. 18 v. 2.
_ a (erra mãe; um áspide na relva, Mania aos rios e a flor à sapucaia. V. .WS Apenas tosco esboço desenhado...
De veneno uma gota; e vinha a noite Eles vêem nos trazer as lindas filhas Sobre -i rochedo, e simples urna fúnebre
"Entre o Orenoco e o Amazonas não ouvi falar
E dormiam do sono que não sonha. Que sonham noiva rede em nossas taba*. de um muro de terra, de um resto de dique, de-um
Aa, pátria, por que a vida tão risonha Vêem de sangue orvalhar os nossos campou túmulus sepulcral. As rochas unicamente nos mos-
Lhes fizeste; nâo luta, mas enlevo? Porque se enflore o pequiá da mata, tram. sobre uma grande extensão do pais, traços
E d$ cor de encarnado o cardo brilhe. grosseiros, que em tempos desconhecidos a mão do
Os olhos com teus beijos lhes cerrava», Vem aar-nos o colar dos alvos dentes;
homem traçou e que se ligam a tradições religlo-
sas." Humboldt 8 v. p. 249.
Que não vissem alem o mundo ingrato! Dos ossos o boré rijo e sonoro. Y. IM Que enxugavas da luz no régio manto — Amictus la-
Eles vêem como a seca folha dárvore, mine. sicut vestimenta — Ps. 103 v. 1.
Y. 125 Das índias a mais moça e a mais formosa.
Eram felizes no infantil conchego Que ao tronco já não volta em que nascera índias Ocidentais foi o primeiro nome dado «ao
De leu grêmio. Se a folha ji caduca E negro pó da terra o vento a leva. Brasil pelos Portugueses, para diferençá-lo das In-
Do cajueiro que despira os ramos, Quer Iruama e seus guerreiros querem dias Orientais.
V. 266 Nascera neste vale, extenso berço.
Alguma vez levava tristes luas. Que o sol não morra sem que morram todos", E' a opinião de Humboldt, quando fala dessa
"imensa Mesopotámia que se estende entre o Ama-
A nova lhe* trazia festa e júbilo.
A prole que em Tamandaré surgindo "O feroz Areski manda ao guerreiro zonas, ¦*» Orenoco e o Rio Negro". Vo!. 8a p. 136.
A tradição dos tupis que dominavam a costa do
Da voragem das águas, renascera, Inimigos valentes, como a onça Brasil no tempo da descoberta, rezava de uma eml-
Mais forte e vigorosa florescia. Manda ao jaguar, e o vento manda a chamai gração marchando do Norte para o Sul.
Da haste frágil sairá uma familia; Eles vem dar aos velhos a vingança; Y. I7f Onde cada nação plantara a taba
Taba — aldeia — Era para os selvagens nôma-
A familia medrara e fez-se tribu; Aos mancebos trazer nome de guerra. des, ou emigrantes o mesmo que a tenda do Be-
As tribus dividiram-se crescendo; Vêem os vôos medir às nossas flechas, duino: isto _. a pátria conquistada, o ponto de re-
E a grande raça, tronco já frondoso, O peso do tacape que brandimos, pouso das correrias guerreiras,
Pátria dizia-se cetama.
Que boiava embrião sobre o dilúvio, E do braço tupi a força inata. Y. 283 Dejéueres à semelhança de conjéneres — -Os adi*-
Formava cem nações, jovens, pujantes. Vêem do negro oitibó matar a fome, tivos passivos, tão usados na língua latina, são uma
Cem nações que cem chefes dirigiam, Porque de noite os sonhos não agoure; necessidade indeclinável na linguagem poética, cuja
concisão e harmonia não comporta o emprego *e
Reconhecendo os chefes um mais alto, Eles vêem como as águas da torrente palavras de muitas sílabas.
Pai dos povos na paz. senhor da guerra. \ Que ao seio mais não volvem da montanha Y. «Í54 Almas rudes c Ingênuas, corpo atlético
E se perdem na areia do deserto. Fundido em bronze, escõlpito na rocha
Sobre a estatura dos selvagens, leia-se Hum*
IX Quer Iruama e seus guerreiros querem — Viagem ao novo Continente.
boldí"Ces
Que o sol não morra sem que morram todos". Carifces sont des hommes d'une stature pe*-
Eram felizes. Quando o caso estranhe que athletique — Humboldt 7" p. 25T.
387 Chamavam-se Tupis, heróis e filhos
De espanto e horror encheu a raça heróica. As guerras inimigas se desdobram Y.
De Tupan, criador e pai dos homens.
E porque de Tupan conjure as iras, Pela imensa campina, como nuvem, Tupan — Deu? dos Tupis — Tu-panga — alma Oa
Manda o grande nbari, que o deus inspira, '¦ Pejadai dt tufão, igneas de raios, vida.
«313 Aspro tronco brotando entre penhasco*
Buscar a guerra ao cimo deu montanha*, Que chocando-se rompem nas chapada* Y.
Ferido em borbotões manava • leite,
E Irazè-la ia pátria ao seio virgem Da excelsa Ibiapaba. Utn estampido Que no peito materno homens robusta*
Para a seie aplacar ia terra amiga. Horissono. um fragor medonho e fero. Sugavam Inda Infantes para • mande. . <¦*
va**,
Voz ia turba, io mar, ia tempestade, A Arvore chamada pelos espanhóis pai*
Foi então que ias cimo* attanetros (Continua M página Ul
Do* Ande* iespenharam tut planície Beboa pelo espaço e vai rugindo,

___r;T^;*-__,_;._..i .-:T-___,
$PS"W""

»A MANHA" — VOI. n DOMINGO, 11/1/1MI


PAGINA II SUPLEMENTO UTERAWO DE

m' \' .emamf-- *— "•


1X' *»
DudS poesias de
A estátua de José de Alencar jÇ* ,j*». __sjfc ;
José de Alencdr
dt sna inauguração)
(Discurso dc Machado dc Assis, na cerimônia Estrela da Tarde
1 . r.*___Z___B_.-S>9tj.1lt
Senhores: um modo de ver e de senlu, Boa noite, minha estrela!
que dá a nota íntima da nacio- Êí'-;0-0~:--^ <~ft LbbE^I Vem consolar-me, estou triste;
Tenho ainda presente a e<;a nalidade, independente da face Volve a face: — quero vê-la...
tm (|iie. por algumas horas úl- externa das coisas. O mais Ontem, má, nem me sorriste!
tiiiias, pousou o corpo de José francês dos sempre trágicos
dc Alencar. Creio que jamais franceses é Kacine, que só fez * "•^i^mEtHBm1m______B Por entre as alvas cortinas
o espetáculo da morte me fez falar a antigos. Schiller é sem- .... pp|^9 l(HPi Das nuvens no branco seio
tão singular impressão. Quan- alemão, quando recompõe A meiga fronte reclinas
pre
""clipe
do entrei na adolescência, fui- Ií e Joana D'Arc. O nos- Sempre com tanto receio I

T rw*"" ll "'""""liMH
giam os primeiros raios daquele so Alencar juntava a esse dom Os anjos puros de Deus
•gramle engenho; vi-os depois _ naturc2a ,]os assuntos, tirados
Amam, pesar de inocentes;
em lauta cópia e com tal es- da vida ambiente da história Mas tu, nem dos olhos meus
sol,
pkniliir que eram já um local. Outros o fizeram tam- '% 4Êjlt' ^[sa^aH ^[..............1^.......................^ A meiga prece consentes.
quando entrei na mocidade. bem; mas a expressão do seu J.
Gonçalves Dias e os homens do gênio era mais vigorosa e mais *Yf»S_!»»5__|p»»»»i » Em que te ofende o olhar
seu tempo estavam feitos; Al- intima. A imaginação que so- ' ' '-¦ *p_í____________3<_»»»'^^__^^B Que só de longe te implora?
sares ile Azevedo, como hvio brepujava nele o espirito dc Ao menos deixa te amar
era a lioa-nova dos poetas, fale análise, dava a tudo o calor dos Não ames, estrela, embora.
cera antes dc revelado ao imin- trópicos c as galas viçosas de
do. Todos eles influíam pro- nossa terra. O talento descriti Já é tarde... Vais dormirf
fundamente no ânimo juvenil vo. a riqueza, o mimo e a origi- Adeus, mas volta amanhã...
Ah! foges sem me sorrirI
que apenas balbueiava alguma
¦MHglII;;!^^;^-11- "0;-kOO0:'í-«lç|^P^
nalidade do estilo completavam
coisa; nus a ação crescente de a sua fisionomia literária. Boa noite minha irmãl
Alencar dominava as outras. A
sensação que recebi no primei- Não me lembro aqui as letras ZELUS
e
ro encontro pessoal com ele foi políticas, os dias de governo

f^ f. „ I - <]
dc Tenho ciúme
extraordinária; creio ainda ago- de tribuna. Toda essa parle Do ar
K que não lhe disse nada, con- Alencar fica para a biografia, E que
que gira
respira
tenlando-mc de fitá-lo com os A glória contenta-se da outra
O teu
olhos assombrados do menino parte. A politica era incompa- perfume
Heine ao ver passar Napoleão. tivel com ele, alma solitária. Tenho ciúme
a
A fascinação não diminuiu com A disciplina dos partidos c Da luz que bebe
as
o trato do homem e do artista, natural sujeição dos homens Nos olhos dllebe
cc-
Dai o espanto da morte. Não necessidades e interesses O brando lume.
o autor dc tanla inuns não podiam ser aceitas a
podia crer que "'•-"- ¦— um espírito que em outra esíc- Tenho ciúme
Tida estivesse ali, dentro de um A estátua Üe José de Alencar, na praça que tem o nome do grande Desse retiro
féretro, mudo e inbabil por to- ra, a dispunha da soberania — — — _ escritor brasileiro, na capital da República — — — —
dos os tempos dos tempos. Mas •Ja liberdade. Primeiro em Ate- Que ouve o suspini
« mistério e a realidade inipu- nas, era-lhe difícil ser segundo Do teu queixuine.
nham-se; não havia mais que au terceiro em Roma. Quando Tenho ciúme
enterrá-lo e ir conversá-lo em um ilustre lioniem de Estado
geus livros. , respondendo a Alencar, já en-
compa-
E M I L I A, - José ii Alencar Da flor, senhora
Que em ti ador?
tâo apeado do
Hoje, senhores, assistimos ao rou a carreira governo,à do sol- Celeste nume.
inicio de outro monumento, cs- dado, politica Não parava ai a íealdade da no talho do vestido, e sumir as
tem de pelos
te agora de vida, destinado a serviçosque ínfimos e passar pobre Emilia. A óssea eslru- mãos no punho das mangas, Tenho ciúme
dar á cidade, à pátria e ao ganhar os tura do talhe tinha nas espâ- Caminhando, dobrava as cur- De quanto existe
mundo a imagem daquele que postos gradualmente, dando-se duas, no peito e nos cotovelos, vas, afim de tornar comprida a Que me faz triste
a si mesmo como exemplo des-
«m dia acompanhamos ao cerni- sa leí, usou de uma imagem íc- agudas saliências que davam ao saia curta; sentada, metia os E me consome.
terio. Volveram anos; volve- Íiz e verdadeira, mas ininteli- corpo uma aspereza hirta. Era pés por baixo da cadeira.
iam coisas; mas a conciência uma boneca, descoujuntada a Tinha um cuidado extremo Estas duas poesias Ho gran-
humana diz-nos que, no meio givel, para o autor das Minas miúdo pelo gesto ao mesmo em puxar para a frente as lon- de escritor brasileiro foram pu-
de Prata. Um há que no-
das obras e dos tempos fugi- lar, entretanto, ponto tempo brusco e tímido. blicadas na "Cidade do Rio**,
naquele curto gas trancas do cabelo, que an-
«lios, subsiste a flor da poesia, estádio O autor do Como ela trazia a cabeça davam sempre a dansar-lhe, em 25 de fevereiro dc 18#(\
ao passo que a conciência na- Gaúcho político. carecia das constantemente baixa, a parte como antolhos, pelo roslo. Se acompanhadas da seguinte no-
eional nos mostra na pessoa do necessárias à tribuna* qualidade* mas quis inferior do rosto ficava sem- lhe falava alguma pessoa de in- ta:"JOSÉ'
grande escrilor o robusto e vi- ser orador, e foi orador. Sabe- pre na sombra. A barba fugia- timidade da família, não lhe DE AT.ENCAR —
»az representante da literatura mos se bateu lhe pelo pescoço fino e longo; voltava as costas, como fazia Presenteamos hoje os nossos
brasileira. que galhardamen
te com muitas das primeiras faces, não as tinha: a testa era com os estranhos, mas sentia leitores com duas produções
Não c aqui o lugar adequado vozes do parlamento. comprimida sob as pastas bati- logo uma necessidade invencível poéticas inéditas, de José de
à narração da carreira do aulor das do cabelo, que repuxavam de cocar a cabeça, acompanha- Alencar, graças à gentileza de
de Iracema. Todos vós sabeis Desengano dos homens e das
coisas. Alencar volveu de todo duas trancas compridas e es- da por um repuxamento dos sua exma. familia que nos ce-
que foi rápida, brilhante e cheia; as suas pessas. ombros. Eram modos de at deu para este fim os dois tra-
podemos dizer que ele saiu da queridas letras. As le- balhos do ilustre literato bra-
Restava apenas uma nesga vessar o braço diante do rosto
Academia para a celebridade. Iras são boas amigas; não lhe sileiro.- Escusado é querer leni-
fizeram esquecer inteiramente de fisionomia para os olhos, o e furtar o queixo, escondendo
Quem o lê agora, em dias e ho- nariz e a boca. Esta rasgava a assim o que lhe restava de fi-
brar que eles trazem a data de
ras dc escolha, e nos livros que as amarguras, é certo; senti-lhe 1857, época em que a poesia no
maxila de uma orelha a outra. sionomia.
mais lhe aprazem, não era idéia mais de uma vez a alma enoja-
O nariz romano seria bonito Muitas vezes o sr. Duarte Brasil estava longe de supor
da fecundidade extraordinária da e abatida. Mas a arte, que havia de ser o assombro
é a liberdade, era a força medi- em outro semblante mais re- zombava com terna ironia des que
que revelou, tão depressa en- catriz do seu espirito. Enquan- ses biocos da filha: de hoje. Ouviam-se por esse
trou na vida. Desde logo pós guiar.
Deixa estar, Miial... di- tempo as grosserias poéticas
mãos a crônica, ao romance, a ío a imaginação inventava, com- Os olhos negros e desmedi- de Gonçalves de Magalhães, e
critica e ao teatro, dando a to- punha e polia novas obras, : damente grandes afundavam na zia ele abraçando-a. Vou man- at roa vam os ares os grilos
das essas formas do pensamen- contemplação mental ia vencen do sobrolho sempit dar fazer para ti um saco dc
penumbra guerreiros de Gonçalves, Dias.
to um cunho particular e des- do as tristezas do coração, e < carregado, como buracos, ptla.-. lã com dois buracos no lugar Tinha passado apenas como titn
conhecido. No romance, que miçantropo amava os homens. órbitas. dos olhos.
relâmpago o gênio admirável
loi a sua forma por excelência. Agora que os anos vão pas- A respeito do trajo, que é sc- Tal era Emilia aos quinze mas antes
prosador que poeta,
• primeira narrativa, curta, sim sando sobre o óbito do escritor, gunda epiderme da mulher e
anos. embora ainda em embrião;
pies, mal se espaçou da segun- é justo perpetuá-lo, pela mão dessa flor animada, o Entretanto, soubera a aquele moço extraordinário que
pétalas quem
da e da terceira. Em três sal- do nosso"concluindo ilustre estatuário na- da menina corespondia ao seu anatomia viva da beleza, co- se chamou Manoel Antônio Al-
tos estava o Guarani diante de c'iom1 o livro d; nhecera que havia nessa meni- vares de Azevedo.
físico.
nós; e daí veio a sucessão cies- Iracema, escreveu Alencar esta Escritos naquele tempo de
cente de força, de esplendor, de palavra melancólica: "A jan- Compunha-se ele de um ves- na feia e desengraçada o arca-
variedade. O espírito de .Men- daia cantava ainda no olho do tido liso e escorrido, que fe- bouço de uma soberba mulher. verdadeira desorientação na li-
car percorreu as diversas p.irtes coqueiro, mas nâo repetia já o chava o corj» como uma bai- O esqueleto ali estava, só carc- teratura brasileira, as duas pro-
da nossa terra, o-norte e o sul. mavioso nome de Iracema. Tu- nha desde a garganta alé os cia de incarnação. duções do aplaudido romance-
'-
¦ cidade e o sertão, a mata e o do passa sobre a terra". Se- punhos e os tornozelos; de uni Ainda me lembro da cólera ta tem incontestável valor.
lenço enrolado no pescoço, e infantil de Emilia, quando, elas serviriam sem dúvida j«ira
pampa, fixando-as em suas pá- nhores, a filosofia do livro não de umas calças largas, que ar- primeira vez que estive com atestar a fibra poética que Jo-
gínas, compondo assim com as podia ser outra, mas a posteri- vi-
diferenças da vida. das zonas, e dade é aquela jandaia que não rastavam, escondendo quase ela, eu a perseguia dc longe, sé de Alencar possuía tão
toda a botina. chamando-a: brante e afinada, se já náo fo«-
dos tempos a unidade da sua deixa o coqueiro, e que ao con- se essa a nota que palpita
Minha noiva!
obra. trário da que emudeceu na no- Emilia ainda assim não pa- toda a prosa de Iracema, c
Feio! dizia-me então.
Nenhum escritor teve em vela, repete e repetirá o nome recia satisfeita. Estava cons- maioria dc suas obras, entre a»
atais alto grau a alma brasilci- da linda tabajara c do seu imor- tantemente a encolher-se, fa- E pronunciava essa palavra, quais — nâo somos o primei r<
s. E não é só porque houves- tal autor. Nem tudo passa so zendo trejeitos para mergulhar como se ela simbolizasse que o afirma — avultam algu-
at tratado assuntos nossos. Há bre a tena. o resto do pescoço c o queixo maior injúria possivel. mu de alto merecimento".

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DOMINGO, 11/1/1*4» 8UPLEMKNTO LITERÁRIO DE "A MANHA" — VOL. II PAGINA »

José de Alencar, político - Corta <ao Imperador O PAMPA - José ile Alincv
sistema representativo e o de- pelo menos sã e moralizada. Em
coro parlamentar exigiam a pior regime se elegeram a.cons- Como sao melancólicas e solenes, ao pino do sol, as vastas cam-
provocação às urnas. tituinte e as legislaturas de pinas que cingem as margens do Uruguai e seus afluentes í
A Câmara, representante ime- 1826 e 1830, assembléias nota- A savana se desfralda a perder de vista, ondulando pelas sangas c
**A honra é sempre a melhor diato do povo, exprime a opi- veis pfco. patriotismo e inde- cochilhas que figuram as flutuações das vagas nesse verde oceano.
política". Foi não somente uma nião atual do país, a opi- pendência. Mais profunda parece aqui a solidão, e mais pavorosa, do que na
bola frase, como uma obra glo- nião que vigorava desde o tem- Quando porem aconteça que imensidade dos mares.
E' o mesmo ermo porem selado pela imobilidade, e como qtie es-
riosa de Washington. Atual- po de sua eleição até o momen- a nova legislatura saia das ur- tupefato ante a majestade do firmam&nto.
mente que se desenvolve entre to presente. Quando o monar- nas contaminada pela venali- Raro corta o espaço, cheio de luz, um pássaro erradio, demandando
nós um fervor de americanis- ca entende que o bem do Esta- dade, ou se deprave na verifi- a sombra, longe na restinga de mato que borda as orlas de algum ar-
mo, seria para desejar que, an- do reclama outras idéias, es- cação dos poderes, dissolvei-a raio. A trecho passa o poldro bravio, desgarrado do magote; ei-lo que
tes dos braços e artefatos, tranhas às lutas existentes, é de novo, senhor, e sem hesita- se vai retoucando alegremente babujar a grama do próximo banhado.
transportassem de preferência preciso que a opinião se pro- ção, embora preste decidido No seio das ondas o nauta sente-se isolado; é átomo envolto numa
pnra esta América as virtuosas nuncie explicitamente sobre a apoio ao gabinete. Será um dobra do infinito. A âmbula imensa tem só duas faces convexas, o mar
tradições daqueles rígidos ci- nova política proposta pela exemplo de moralidade. A posi- e o céu. As ondas se agitam em nuvens constante flutuação; teem uma voz,
dadãos, que primeiro civiliza- corou. murmuram. No firmamento as cambiam a cada instante ao
ção que assumirdes perante a sopro do vento; há nelas uma fisionomia, um gesto.
ram a liberdade no novo mun- A Câmara anterior é anacrô- nação há de acordar a con- A tela oceânica, sempre majestosa e esplêndida, ressumbra pos-
do. nica para essa política futura: ciência pública. O país sentirá sante vitalidade. O mesmo pego, insondável abismo, exubera de força
A prosperidade material, que seu apoio não patentearia o que desejais reinar sobre um criadora; miríades de animais o povoam, que surgem a flor da água.
muitos sonham e esperam da voto nacional: o Senado não povo moralizado. O pampa ao contrário é o pasmo, o torpor da natureza.
colonização, das estradas de saberia qual atitude tomar. Por Essa insistência da coroa é O viandante perdido na imensa planície, fica mais que isolado, fica
ferro, da navegação dos rios, outro lado ficaria pairando so- legítima e salutar, apesar do opresso. Em torno dele faz-se o vácuo; súbita paralisia invade o es-
bre a fácil assembléia uma for- que pretendam certos terroris- paço, que pesa sobre o homem como lívida mortalha. Lavor de jaspe,
que fora sem a regeneração mo- tas. um balido na lâmina azul do céu, é a nuvem. O chão semelha a vasta
rai do pais? Matéria para a te suspeita de corrupção ou de extenso Por toda a parte a imutabili-
fraqueza. lápide musgosa pavimento.
combustão; pasto aos vermes. Um dos maiores políticos dos dade. Nem um baio para que essa natureza palpite; nem um rumor
A grandeza material deste im- É por isso que o Ministério de últimos tçmpos, Cavour, tam- que simule o balbuciar do deserto.
pério é obra de Deus. A exube- 30 de maio de 1862 subverteu as bem pensava que a dissolução, Pasmosa inanição da vida no seio de um alúvio de luzl
rância do solo, a força criadora fôrmas parlamentares. Inaugu- longe de ser uma violência à O pampa é a pátria do tufão. Al, nas estepes nuas, Impera o rei
do clima, hão de fazê-lo opu- rando uma terceira política, ex- vontade nacional, é o meio de dos ventos. Para a fúria dos elementos inventou o Criador as rijezas
lento infalivelmente. Do que tranha às duas faces da opinião imprimir à sua manifestação cadavérlcas da natureza. Diante da vaga impetuosa colocou o roche-
mais necessitamos é da gran- reinante no parlamento, não maior solenidade. Ele dissolveu do; como leito do furacão estendeu pela terra as iníindas savanas da
deza moral; das virtudes que provocou, como devera, o pro- em 1853 uma legislatura não América e os ardentes areais da África. ,
Arroja-se o furacão vastas espoja-se nelas como
ornam a juventude dos povos; nunciamento nacional. obstante a grande maioria que o poltro indômito; convolve a terra planícies; pelas
e o céu em espesso turbilhão.
e já mareamos nós, império de Qual foi a conseqüência? A' o apoiava; era necessário fazer Afinal a natureza entra em repouso; serena a tempestade; queda-se o
ontem, nos vícios «das nações nova legislatura apenas insta- sentir ao Senado', què resistia, deserto como dantes, plácido e inalterável.
decrépitas. lada repudiou o gabinete, de- a firmeza da opinião do pais E' a mesma face impassível; nfto há ali sorriso, nem ruga. Pas-
O primeiro ato do novo gabl- durando por tal modo que a a respeito da secularização dos sou a borrasca, mas não ficaram vestígios. A savana permanece como
nete, creio que será pedir-vos a nação fora governada cerca de bens eclesiásticos. foi ontem, como há de ser amanha, até o dia em que o verme "ho-
dissolução (ia Câmara. A expo- dois anos contra seu voto. Não tereis necessidade porem mem" corroer essa crôsta secular do deserto.
Bicão dos motivos desse decreto Os vícios do nosso sistema de insistir, senhor. Esta expan Ao por do sol perde o pampa os toques ardentes da luz meridio-
valerá ante o país com a dec!a- eleitoral, ninguém os descònhe- são veemente do espírito pú* desdobram-se nal. As grandes sombras, que nao Interceptam montes nem selvas,
pelo campo fora. E* então que assenta per-
ração formal e completa da po- ce; não obstante, sob a influên- blico a respeito de vossa augus- feitamente na lentamente planície o nome castelhano. A
"savana" figura
lit i ca inaugurada. cia regeneradora da revolução ta pessoa é nuncia de uma realmente um imensa vasto lençol desfraldado por sobre a terra e velando a
Ainda que a Câmara estives- Iniciada pela coroa e a ação de crise salutar que se há de ope- virgem natureza americana.
se disposta a aceitar a nova um governo justo, devemos es- rar sob o influxo da iniciativa Essa fisionomia crepuscular do deserto é suave nos primeiros mo-
ordem de coisas, a verdade do perar que a nova Câmara seja imperial. A nova legislatura mentos; mas logo após ressumbra tão funda tristeza que estruge a
corresponderá à situação; é vo- alma. Parece que o vasto e imenso orbe serra-se e vai minguando a
tara as reformas mais urgentes, ponto de espremer o coração.
apoiando francamente o gabi* Cada região da terra tem uma alma sua, ralo criador que lhe lm-
Correspondência de escritores nete, porem mantendo ilesa prime o cunho dae nutre originalidade. A natureza infiltra em todos os se-
sua dignidade. res que ela gera aquela selvs própria; e lorma assim uma Ia-
sociedade universal.
CARTA DE JOSÉ DE ALENCAR Deve aparecer no pais uma
mllla na grande
Quantos seres habitam as estepes americanas, Tem
oposição; qualquer que seja a mal ou planta, inspiram nelas uma alma pampa.
sejam homem, am-
grandes vlrtu-
perversão de seus instintos, des ess» alma. A coragem, a sobriedade, a rapidez são indignas da sa-
A LEONEL DE ALENCAR' desde que combater um gover- vana.
no honesto, será coagida a mo- ,- No selo dessa profunda solidão, onde não hí guarida para a defesa,
í WW
,;.:-:í^?^'íí
í?>«^:TWÍ:^í:;r?: v ::::":-:í :>*"V ralizar-se para lutar com van- nem sombra para abrigo, é preciso apontar o deserto com intrepidez,
*^>_ «!•«*» *áU» ,«" tagem. Dizia o grande Pitt: "Se sofrer as privações com paciência e suprimir as distâncias pela velocl-
não tivéssemos uma oposição,
seria necessário inventá-la". Áté ¦> árvore solitária que se ergue no melo dos pampas ê tipo des-
O primeiro e grande beneli- sas virtudes. Seu aspecto tem o quer que seja de arrojado e desreml-
cio de vossa política será a res- desgrenhada,do naquele tronco derreado, naqueles galhos convulsos, na folhagem
há ums atitude atlética. lx>go se conhece que a arvore
tauração dos partidos e sua de- ia lutou com o pampeiro e o venceu, Uma terra seca e poucos orv»-
puraçào. A virtude reassumirá lhos bastam à sua nutrição. A árvore é sóbria e afeita ãs inclemên-
seu império; a emulação para cias do sol abrazador. Veio de longe a semente; trouxe-a o tufão nus
:V::.VÍ|:í*IÍÍv^:.Vf^V;.^«*^.. VL,,,, ^v.?R3»,,; /^ o bem voltará. As idéias atual- asas e a*irou-a ali, onde medrou. E* uma planta Imigrante.
mente sufocadas pelo egoísmo "em vez vÍob Como a arvore, são a ema, o touro, o coroei, todos os nlnos om-
poderão sair a lume; da savana.
das grosseiras ciladas da cor- Nenhum ente, porem, inspira mais energicamente a deserto, alma pampa,
rupção, os princípios combate- do que o homem, o "gaúcho'. De cada ser que povoa o bnos toma
rão com as armas leais e nobres ele o melhor; tem a velocidade da ema ou da corça, os do coroei
da inteligência, que não geram e a veemência do touro.
rancores. O coração, fé-lo a natureza franco e descortinado como a vasta
hr-.Vi cochilha* a pai;;ão que o agita lembra os Ímpetos do furacão, o mesmo
Eles sentirão a necessidade bramldo, a merma pujança. A esse turbilhão do sentimento era indi».
de buscar o apoio das diversas pensavel uma amplitude de coração, imensa como a savana.
classes do país, cuias tendên- Tal é o pampa.
cias formam as moléculas da Esta palavra originária da língua gulchua significa simplesmente
* ... .rf-i.-, ..— opinião. A agricultura, o comer- o plaino; mas sob a fria expressão do vacábulo está viva e palpitante
S^ÈÍsVVirMp o nom?, como o povo que o inventou. Náo vedes no
cio, as letras, as artes, terão a a idéia Pronunciai
cheio da voz, que reboa e se vai propagando, expirar no vago, a
¦xV::VrÍA^^^fc:í::r-!:VVV-rÍrV"?>,^.;r;:::;
':^^^^^^4^^i':'..i-^ par da administração voto na sem imagem fiel da savana a dilatar-se por horizontes infindoe? Nao ouvls
-%i.*i.*c'-*.-**ts- ~ -r.:^^- _-
e
causa pública, pesarão na ba- nessa majestosa onomatopéia repercurtir a surdina profunda e ineren-
lança social. côria da vasta solidão?
V.:P:£r^
Restaurados os partidos, o Nas margens do Uruguai, onde a civibzação Já babujou a virgin-
feudalismo das posições oficiais dade primitiva dessas regiões, perdeu o pampa seu belo nome ameri-
dá-lhes o nome de campanha.
desaparecerá para dar lugar à cano. O gaúcho habitante da savana,
verdadeira aristocracia do mé- -O GAÚCHO"
rito, corrigida pela opinião, e
renovada pela seiva popular. Ao
ciúme e egoísmo que aleijam o de a ter proferido; po-
talento, há de suceder a emu- fronte estará na altura de vos- mágoa rem ante a majestade não sou
P'r* / ,, PP lação que desenvolve as vaíen- so nome.
6 Brasil era. menor há vinte um homem; sou uma idéia,
tes inteligências. ela é uma instituição,
Os ministros notáveis nãc anos- ' porem estava então mais como uma força fatal e inven-
ofuscam o brilho do trono, an- domina alto porque na sumidade que Há
o trono brilhavam os eivei que impele as idéias a
tes o realçam. A história não histó- prorromperem através de uma
grandes nomes de nossa
ii^^^lilillilIBil^^Bll mostra um só grande rei, iso- ria
lado dessas vigorosas individua- dos restam.
lidades, que"o são na frase do aos
de qui bem raros e eclipsa- época, ainda quando o indivi-
A pátria valia mais duo que lhes serve de condu-
olhos e à conside- tor deva ser despedaçado. E'
sal da terra" e o raçãopróprios
m -"'"" p
• - pi evangelho
creme dos povos
das nações estrangeiras, um projétil que
Homens de grande mérito
arrebenta;
xái-o; a canhão arremessará
dei-

*P -. P:y-,,: Criai, senhor estadistas emi- alta .^ção eram enviados nas outros,
nentes; suas obras, como seus mj5S;jes diplomáticas, hoje qua- Não teem nome as idéias. A
* -{.j nomes, serão raios de vossa se abandonadas. verdade é o único batismo, co-
* <f^* ' glória. Desbastem-se as clientelas pa- mo a razão é o único foro, pa-
Quando os ilustres represen- ra se formarem os nomes glo- ra os indivíduos que se fazem
tantes da geração
„ . , _ ....
que vai su riosos, que atestam a existên- idéias, e se incorporam na mas-
mir-se, possam encher os seus cia de um grande rei e de um sa da opinião,
dias com uma velhice de Cha- grande povo. Eles são como as Minha individualidade nunca
Meu caro Leonel. tam e Palmerston; quando aos árvores gigantes que medram foi estorvo à censura. Se algu-
A corto que lhe escrevi em outubro foi parar no Amo- novos estadistas, que se estão nas encostas das altas monta- ma parte ela teve nos fatos que
zonas e naturalmente você terá recebido a cjue na mesma gastando em um doloroso atri- nhas. onde exubera o húmus a razão a frio condena, a culpa
ocasião escrevi para o nosso amigo Barão de São Leonardo. to de paixões acerbas, se ofere- da terra, e manam do alto lhe cabe, e mais grave que às
ça a longa carreira de Can- ricos mananciais. outras.
Ai lh'o envio como chegou com o do Borõo, onde você ning, Russell e Gladstone; e à Senhor. Não a defendi contra a pro-
verá a queixa que tem suo. Escrevo-lhe, é um bom amigo. mocidade brasileira não se an- O penoso sacrifício está con- pria conciência, não a defende-
Seu irmão amigo, tolhe um sonho impossível a sumado. rei agora de vossa justa seve-
rápida ascensão de um Wil- Muitas vezes arranquei a ver- ridade.
JOSE' DE ALENCAR. liam Pitt ou Robert Peel; a dade do coração rebelde que a 24 de janeiro.
3-Janeiro-1875. coroa que tos cinge a augusta recusava; outras mais senti •

'¦: -í.^wisiVíiUiàLá
¦^V.iV.-,.,J;V:-.-_.j!:-pí; i::-- .- -¦ -:-:'¦¦ Vr.,v .,'.*'-¦ .-.-r-V-P-p :^i-^-£~ --J-.rV-:ki.VlVV5!Í
j :.¦;¦¦j"T;:;'í"

"A MANM" - VOI-. n DOMINGO, ll/l/lHt#jfc.


PAGINA 1* SUPLEMENTO LITERÁRIO DE

José de Alencar,
— A dgriCUltUrd
José de Alencar, orador J cínwr| ^ Depnlados de J * Mait •> 1871)
jOmâliStd (DJs£wsa ^ a vjJíe||| i(B))íria| ^y, M swsâ, u
O Brasil é um pais essencial- um tacanho regime aduaneira ": descendeis. a perda da torça primeira • segunda regência
¦lente agrícola. e, portanto, a obra longamente Estou me alongando de mais; moral". Em ambosmenos, o« casos o eletiva,
destinou trabalhada dos nossos financei- mas ao da
A natureza o para porem, senhores, receio náo po- suicídio;
resistência é glorioso!
essa nobre indústria, dotando-o ros. de braços, der voltar a esta discussão, e não Bem sei que este argumento
de um solo vasto e ubérrimo, Falta de capitais, Câmara terá a condescendên- Eu. portanto, senhores,
em cuja área se encontram to- de transporte, de estas estudos pro- cta d" ouvir mais algumas con- sou levVdo pelo receioa necessi- de uma muito incomoda aos sustenta-
fissionais, todas causas defender dores da regência do direito di-
dos os climas. síderacões em relação à quês- dissolução a há algum vino; eles nao admitem o para-
A índole e os hábitos de seus apontadas do atrazo de nossa mas tão Não convém que passe des- dade da restrição. Se existência Como comparar o regente
lavoura, não sao causas, a leio.
primeiros povoadores desenvol- única: a nossa wcebidonôpa™amentooexa- meio de prolongar hereditário com o regente elei-
Tciam essa disposição origina- efeitos da causa me ne assuntos oue tanto in- desta Câmara, é justamente
ria, criando as lavouras que ignorância econômica, ou. an-
SrcíamTcausaTúbUcT que nos oferece o governo:e con- O membro é vo- to? O príncipe com o cidadão?
ainda hoje são a única fonte tes, a nossa índole rotineira. da dinastia com um
Em verdade, nao era Kbdeci a competência da ?ar a proposta imperial ele- plebeu?
importante de nossa produção. precisa
um assembléia para restringir a re- sagrar a revolução social do
O regime colonial, com toda a ciência para mostrar que gência do principe imperial, da mento servil. Quando ouço, senhores, con-
a sua brutalidade, não contra- pais, onde o fisco aia vida encare-
herdeira presuntiva da coroa; Ca30 pas5asse uma emenda síderacões desta ordem, duvido
riou nunca, antes protegeu a cendo gradualmente pela mas nâo basta; surge a quês- restrmgindo o exercício daa de mim, e julgo-me transporta-
seu modo o espirito agrícola exorbitância dos direitos de tão de conveniência, que mui- atrlDUjções majestáticas da re- do a alguma Rússia ou Turquia
das suas possessões americanas. consumo, devia necessariamente to freqüentemente em nosso êncja a câmara seria imedia- onde se fale português. (RLso).
Não por zelo de nosso futuro, empobrecer em cabedais, em país costuma prejudicar a quês- j^^nte dissolvida, e outra con- Pois no nosso pais essencial-
mas por favor às fábricas e braços, em trabalho, e ate em tão do direito e do princípio. Yocada para revogar aquilo que mente democrático, em que to-
manufaturas do reino, foram estímulos. Convém conceder á princesa houvéssemos feito, e dar à prin- do o poder tem a sua raiz no
proibidos no Brasil certos ofi- O que admira e que ele tenha imperial o uso pleno das prer- cesa imperiai a plenitude do po- povo. donde tira sua força e
elos e acoroçoada a lavra das resistido à compressão de seme- rogativas majestáticas, como der ' pois t)enl. eu sinto não ter, legitimidade, se podem susten-
terras. lhante sistema e a po»to de está consignado na proposta? yez d0 meu único, cem vo- tar, a nào ser por notável aber-
Estava reservada ao governo ainda ser atualmente no mer- Não, senhores, não convém; ^ ara provocar o poder ração, semelhantes paradoxos?
constitucional a triste e ingrata cado universal o primeiro pro- e não só não convém, como há essa dissolução imediata. Sinto Há no Brasil quem pretenda
missão de combater surdameu- dutor de café. nesse alvitre perigos mui sérios d0 mais proiUndo de minha ai- provar a superioridade de uma
te, pelo mais absurdo sistema Mas as circunstancias se para o pais ' Para a dinastia. m> porque assjm preparava ao regência hereditária sobre uma
econômico, o incremento dn agravaram de modo que, afinal, Vou entrar no desenvolvimen- meJ| partid0i ou um grande eletiva?
nossa indústria, desviando o os poderes do Estado agrícola, se pre-
to desta tese; mas para que o triunf0 on uma queda gloriosa, Por que serlhores, neste pais
trabalho de seu curso natural. ocuparam da questão possa fazer com plena isenção Se„hores. é no próprio inte- „ rei e rei, e „ príncipe é prin-
Proclamada a independência, que é, sem contestação, o nosso de espirito, devo pnmeiramen- resse da aügusta princesa impe- cipe? Porque a naca0 o quer.
não era possivel que se organi- máximo problema econômico. te arredar uma suspeita que na fla, que e(1 entendo que se deve (Apoiados). Pois é este o mes-
¦assem logo as nossas finança.!, Depois de uma grande osten- de surgir, se ja nao surgiu. restringir o exercício da regen- m0 pri„cípio, é este o mesmo
sobretudo quando as dissipações tacão de inquéritos e relatórios, Entre as atribuições majes- ^ ge a diss0lução é sempre ütu)0 da legitimidade do rc-
do primeiro império, menores coín que se pretendeu arreme- táticas figura a de dissolver o um aU) grave que abaia 0 país, gmte eietivo, com a diferença
todavia que as atuais, exauriam dar. mas só na papelagem, as parlamento, uma das mais gra- quant0 mais na0 0 será exerci- de que n0 regente hereditário
tesouro, e o obrigavam a re- práticas inglesas, votou-se uma ves e importantes funções da da essa atribuição por uma re- predomina apenas um acidenta
correr aos expedientes ruino- lei chamada de auxílios á la- realeza, e uma daquelas que, a gência efêraera? Imaginai qual de nascimento, e no regente ele-
•os. voura. exemplo da lei de 14 de junno n&0 ^^ a iIritação do partido tiv0 na a raanifestação solene
Mas o prurido de mostrar Triste epigrama! de 1831, deve ser restringida. decald0, sobretudo se o entrar da nação. um reconhecimento
proficiência econômica fes co- Para sanar os efeitos de um Esta opinião, senhoras, nao & crença de que na0 ^ realiza- powico dos dotcs morais, do
piar dos livros franceses sofis- regime econômico, filho da res- faltará quem a atribua ao re- rfa esse golpe de estado se es- civlsm0 das virtudes do cida-
mas refutados pelo simples trição e do privilégio, a ciência ceio da próxima dissolução. tiyesse a testa ia gOVerno pes- dâo e ela ergue a0 primeiro
bom senso, e rotinas sem apli- financeira do nosso governo não Embora eu considere esta au- soa mais experinientada, o ver- cargo a cui>uia do poder,
eacão ao nosso pais. achou outra coisa senão um gusta Câmara e cada um dos dadeir0 SODerano?
Um dos sofismas foi esse de odioso monopólio! seus membros muito superiores , «.anarquista sin- •••••• ''•• ;v •¦•
^ue os empréstimos são fontes O poder já invadiu tudo. Dc- semelhante suspeita não só a ms- Tenho, senhores considerado
de renda, axioma preconizado pois de absorver pela centrali- — ceio oue defendo
O sr. Coelho Rodrigues tituiçao como a dinastia, hei de a. examinado questão por todas as faces,
pelo marquês de Abrantes, zação a vida política e admi- Apoiado. aqueles argumen-
ele O sr. J. de Alencar — ...en- com o meuToto concorrer par» e
quando Calmon, e chefe da es- nistrativa das localidades, tâo de pe- tos que me ocorreram e que sao
inaugurou neste pais começou a lançar as raizes do tendo que é de meu dever re uma situação prenhe
eola que Has rigosV,i Não senhores, por for- geralmente apresentados em
sem fabricas e sem manufaturas enorme pólipo pelo campo peli-la. Quanto a mim especial sustentação da opinião que
O regime protetor dos velhos Es- relações civis. mente, confesso que *—'¦ alguma. E cumpre não es- combato^ se outros forem pro-
Monopolizou o crédito; avas- * pros: ,TeceranprovocaçàoP,ue o gã-
tados europeus. voltar para a oposição rór'» E,h/i
------ de 7 .vi.indo mkreo acaba de-
rte março
de de- duzidos na discussão, e eu pu-
Então a escola da livre per- salou o comércio; subvencionou seguir nesta tarefa ímproba que binete • nue se der, voltarei a tomar parte
muta combatia em França essa a indústria; e domina até as me impús de combater meus tog»"Mguj ^da^níe nela. .
liberais pelos privi-
«busão econômica dos governos profissões légios quê reparte entre os seus
amigos, in, estão do elemento servil. Se me fosse permitido, agora,
*
que pensam desenvolver a In- favoritos. O Ministério da Agri- Realmente, senhores, quando £" .enhores desde que uma desta tribuna, onde soà devo fa-
"rg0
dústria nacional encarecendo os
cultura criou duas novas cias- vejo ministros conservadores, » incandescente, uma 1« á nação, dirigir augusta
produtos similares de procedên- ses; os advogados administrati- esquecidos dos compromissos JJJ "*"cov" eravissima, é — assim lan- princesa imperial, que vai bre-
cia estrangeira. solenes com que nhimns
subimos on
ao nn-
po na5arena, cumpre que es-
— «mente
vem ente iWB-te império, ti-
Imperiais.
Era essencial que o Brasil tl- vos e os literatos a agricultura. influèn cada
der, transigirem com a influèn- "" chefe d0 estado, gumas palavras, eu lhelhe diria
Tesse também um sistema pro- EmRestava todos
porem
os tempos e em todas cia indébita da coroa; quando fomentou, para muito respeitosamente:
tetor, como depois veio a ter as nações, sempre essa classe vejo nesta situação, que se pro recuar, se ainda for tempo. Dar "Senhora, não aceiteis o pre-
contencioso administrativo,_ e distinguiu-se sua indepen- clama conservadora, um pro- à augusta princesa Imperial sente funesto que vos querem
outras exóticas importações, pela grama de governo, do qual dizia exercício pleno das atribuições fazer. A nação vos chama à re-
isenção, como seus
jem o que não seria uma nação dència e de ordem e por morali- ontem um nobre senador pela majestáticas, é animá-la a re- gência, mas não sois ainda a
Civilizada. princípios Baía que parece foi escrito em •* do elemento soberana; não podeis assumir o
dade. lyer.. questão exercício pleno das atribuições
Mas o que havia a proteger 1867, verdadeiro anacronismo sc""-
neste país sem riqueza fabril? Em nosso pais era ela talvez "-'" ~-™«-
politico; quando majestáticas. Neta do fundador
Entendo eu, porem, senhores, deste Império, inaugurai
Os nossos financeiros nao se a base única de uma resistência -—- - ... 1 „^t„ uma
esta ,„U« das. rf«s Qjestoes
miestõM ^ . ovos-
preocuparam com essa baga- legal e pacífica, mas perseve- ardentes de nossos adversários, que ^ >
aquelas que nós combatemos na que nao podei» ser re«"v'^«
tela; e quando pelo diante a rante e enérgica, às invasões do fecundo exemplo. Sujeitai-vos a
anomalia tornou-se flagrante, poder. Com sua costumada sa- Sto£ -«-». <* J« vigoíou.paar a
tomaram um engenhoso expe- gacidade a coroa viu o perigo, v1torDro^dSrpaer10quqeUomaeÇu StfwSSTfeSSSSto
diente. e encampou também a indústria partido torne à oposição e ve- ria
rtXto™e0|Po^siqçiÕ°.mv^ digno_e,e nem conveniente rS^^S
"» "'>*"";^^''«"âfrantam cumprimento da Constituição
Como faltava a indústria par* rural. nha lutar no mesmo campo on- para o pais. Nao se aironwm h\ djf riu
#er protegida, cuidou-se em Criou-se uma agricultura ofi- de esteve em 1867 e onde eu crises desta ordem com interl- c^Vè o cidádão^^rque ambos
criar, por meio de loterias e ciai. ainda me acho nioaaes. são súditos da soberania nacio-
subvenções, umas fábricas enfe- Eis o único sentido e o efeito Senhores, esta Câmara talvez se pode haver algum perigo nal identificai-vos assim com
«adas, que servissem de pretex- único da lei chamada de auxí- ignore que a sua sorte está es- mais sério do que a resolução 0 Y0SS0 ^o e ^^ ,eito em
to às enormidades da tarifa, e lios à lavoura, a qual, se ainda crita no livro do destino. Ainda precipitada da questão do ele- uma hora a bem do país a bem
dessem aso a falar-se enfática- não produziu todos os males de lhe restam alguns dias de vida, mento servil, é sem dúvida esse da instituição monárqulca, e da
mente no parlamento — da in- que vem pejada, é porque o quantos forem necessários para de sua resolução na ausência Vossa dinastia mais do que
dústria nacional. mercado monetário de Londres prestar um serviço relevante, do chefe do Estado.outros fizeram 'em muitos anos".
Os nossos financeiros teem a retraiu-se, espantado ante a paia cobrir com sua responsa- Uma voz: — Apoiado. Vozes — Muito bem, muito
Ingenuidade de crer que o sls- nossa prodigalidade. bilidade dois fatos graves; a O sr. J. de Alencar — Que- bem.
tema protetor, ou, por outra, a viagem imperial e a emancipa- rem resolver a todo transe a
Quando, porem, cada provín- çào do elemento servil. do elemento servil? Se-
«levação das taxas, aumenta a cia, ou cada município, tiver o
leceita; e como eles não cogitam seu engenho e fazenda centrai, Quando o partido conserva- questão lógicos; chamem ao
dor tiver feito prova desta aqueles que iniciaram a poder
jam
do povo e sim do fisco, estão subvencionados pelo governo, a
convencidos que não há outra máquina administrativa ficara
ciência alem dessa de fintar montada; e as lavouras serão,
bastante os gêneros de maior como as outras empresas, meras
consumo. »
a d mi ravel condescendência; tão,
que devem
quando ele perder o direito de alcance, que podem contar com |
acusar os promotores do mal, um
quês- |
ter medido seu
partido compacto em favor
porque terá aceitado a sua cum- dela; que devem em suma car- |
p ¦Blllpi
Assim radicou-se em nossa Públicas.
administração o funesto regi-
secções do Ministério das Obras
Tal é o estado desanimador
plícidade; então será encostado
como instrumento perro. Isto, dade.
senhores, não é uma conjetura;
regar com sua responsabili- |
|_
Acredito que se os conselhel- |?
|
WmsJKÊm
me; e se fosse possivel chamar de nossa agricultura. Entretan- é a verdade estampada na fisio- ®
à barra da nação todos os mi- to, para os males que a acabru- nomia da situação; é um pro- ros da coroa tivessem submeti-
nistros que o defenderam e con- nham, como para os que afii- grama de governo consignado do ao soberano estas e outras
solidaram, nenhum, estou certo, gem o país em geral, há um re- na fala do trono. considerações, Sua Majestade
se mostraria contrito dos males médio; remédio tão simples e Com efeito, exigir desta Cã- houvera refletido muito seria-
causados por tão grave erro. desprezado, como eficaz. mara conservadora, desta Cã- mente antes de expor sua au-
Talvez ao contrário se apre- E' a liberdade. mara composta de cidadãos que Busla "lha às tributações de
sentassem ufanos de sua obra, Mostraremos depois como, ao combateram a idéia da eman- uma regência em situação tão
c reclamando as bênçãos da pá- seu influxo poderoso, sem tu- cipação do elemento servil; arriscada,
tria pelos serviços prestados tela nem subvenções, a nossa desta Câmara que sustentou Já afirmei à Câmara que não
com sua gestão. lavoura surgiria do abatimento Ministério Itaborai, e o ano há exemplo de regência ilimi-
Entretanto, o erro aí est* pa- e declínio a que chegou, para passado lhe deu um voto de tada; citei a lição histórica dos
tente; e a decadência da nossa tomar um novo e vigoroso im- confiança para tranqüilizar os paises constitucionais e abso-
agricultura, confessada pelo go- pulso e com ela todas as indús- ânimos; declarar a esta Cama- lutos, os precedentes de Ingla-
Terno e apregoada no parla- trlas do pais, atrofiadas pelo ra que é tempo de resolver terra, resta-me citar o nosso
mento, não é outra coisa senão atual sisteriia financeiro. questão, eqüivale a dizer: "Se precedente, a lei de 14 de junho
conseqüência lógica e fatal de (D™0 Protesto"). resisti.'!, a dissolução; se con- de 1831, que vigorou para a Alencar ao lim 0* tua vids
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Pfpp-iÇPIm-;¦"¦« i.p ipipjs^spjtpir^çp

DOMINGO, 11/1/1942 SUPLEMENTO LITERÁRIO Dl "A MANHA" — VOU II PAGINA 11

José de Alencar no conceito dos seus contemporâneos


DE FRANCISCO OTAV1ANO: posição mais real, mais elevada e nobre do que DE JOSE' DO PATROCÍNIO)
aquela por eles conquistada nos labores literários,
Contra meus votos, torcendo minhas aspirações por um grandioso talento e profundo estudo. Ho- Poi uma»contradição: tinha as valentias de i
e só por muita deferência a meu sogro, passei do
-Jornal do Comércio" mens dessa ordem, homens como José de Alencar, gênio e as fraquezas de um ânimo apreensivo.
folhetim literário e ameno do "Correio Mercantil". não morrem. A matéria sucumbe, mas o espirito
paia a redação política do Co- mantém a sua posição, não fenece. O poeta é imor-
municando à direção daquele jornal a necessidade tal. Nas letras deixa seu nome esculpido em ca- DE TITO FRANCO:
em que me via de separar-me dele, fui intimado, racteres indeléveis, e as letras lhe perpetuam a
como é de cortezia na despedida dos ministros, para glória. A pátria, orgulhosa, bendiria sempre o filho José de Alencar..., "ccelestis in tiicendo tít".
apontar o meu sucessor. que tão luminosos traços deixou no caminho ala-
_ José de Alencar, respondi sem hesitação. Os noso e sublime que trilhou na vida. DE EMILIO ZALUAR:
diretores do "Jornal" não mostraram nesse dia o
tino que bem os encaminhava sempre. A "Semana" DE QUINTINO BOCAIÚVA: Oh, Filhos de Tu pau! Brilhantes Sonhos d'Ouro|
agradara, não por grande merecimento intrínseco, Vós sois do gênio seu o ideal tesouio!
mas por aquele espirito alegre, vivaz, pronto, a que A escuridão que vai dilatar-se «quem sabe por Do sol americano o raio mas fecundo
namoram todas as belas coisas, que comovem Iodas Traçou à sua glória a órbita 4o mundo)
as grandes ações, desde a riqueza generosa até a quantos anoc!) na literatura nacional servirá de
atestar a imensa perda que acaba de afligir-nos
pobreza bem suportada, espirito que a tudo se com a morte tie José de Alencar. Tanto é verdade
atreve, menos à ofensa por interesse, e que ora é DE FREDERICO REGO:
sentimental com naturalidade, ora zombeteiro sem que os grandes homens, como as grandes monta-
ir] Esse espirito é um resplendor passageiro: só nhas, podem ser avaliados pela sombra que pio- Os livros de Joté de Alencar sâo como as florw
nos ilumina por poucos anos na aurora da vida. jetam. Como Andrés Belo — a cabeça culminante tropicais que expandem-se à me d da^ que o sol vai
Começava a despontar em José de Alencar, em da raça latina nos dois mundos — José de Alencar subindo no horizonte. Como o espirito daquele eroj-
mim já ia declinando. Procurou-se para a "Se- deixa um vácuo impossivel de preencher nas letrr.s nente escritor, não tiveram poente, eles tambem não
mana" a grande ilustração, o estilo clássico,"feitiço".
mesmo americanas. Homens dessa estatura servem, na conheceram o crepúsculo,
o grande talento; mas não se procurou o orografia moral do mundo, para assinalar os mais
o demônio inspirador dos vinte anos. De meu con- altos cimos do engenho humano.
selho sé lembraram os diretores do "Jornal": já DE FRANÇA JÚNIOR:
eia tarde. Eu estava constituído em centro de par- DO VISCONDE DE TAUNAY:
tiíio, redator principal do "Mercantil" e cabeça de Há nomes que marcam época impereclvel na
família. Abdicara de moço. Não podia mais poe- Vinde, casta e gentil Ceei, melancólica Isabel, vida dos povos. Bafejados pelas áureas celestes, toi-
tisar. não podia andar solto pelo campo da ima- nam-se os apóstolos de uma geração inteira e pei-
de aceitar um roteiro graciosa Guida! Vinde, meiga e doce Iracema, ca- duram indeléveis no bronze da história. José de «,
gi nação: tinha de jornada, prichosa Diva, e vós, altiva Senhora! vinde todas
em que eram defesas as peregrinações à Boêmia. — formosas filhas do gênio de Alencar — entre- Alencar era um desses nomes. Ot seus escritos que
Reconhecera a necessidade de ter Alencar a meu tecer uma capela de brancas saudades para aquele ai ficam, frutos de um cérebro luminoso e infati-
lado. Ele, cedendo a um sentimento que o honra, que vos deu vida ideal, cheia de luz e de imarces- gavel, são hinos em louvor da pátria. Quem melhor
preferiu dar-me o seu concurso a alistar-se na siveis encantos! tio que ele pintou os esplendores desse cenário
turma de meus competidores. grandioso, onde o Supremo Arquiteto dos mundos
No correr de 9 de agosto de 1853 dele recebi espargiu com mão profusa os mais brilhantes tesou-
DO BARÃO DE PARANAPIACABA; ros de sua onipotência? Quem com mais critério e
efte aviso: energia defendeu as nossas instituições? A litera-
'Otaviano — Lembras-te do que conversamos t
De teu laurel de glória tura para José de Alencar foi um sacerdócio. Nas
domingo, ã noite, vindo de Botafogo, e especial- A mais formosa gema lutas da política, nos fastos do jornalismo, nos con-
mente de um projeto que me comunicaste. o qual Burila a pátria história selhos da coroa, no romance, no teatro, em todits
me diz respeita e se há de realizar em setembro? Na lenda de Iracema. as manifestações, enf;m, do seu espirito cintilante,
Se te lembras, deves lembrar-te tambem do que via-;c o literato. E é esta a sua glória! A biografia
te cu disse na ocasião, que a seguir uma carreira Como Virgílio ao Dante, de José de Alencar resume-» era duas palavra*:
nova para mim desejava começá-la a teu lado a "gênio e trabalho"
Cooper no céu te espera,
debaixo de tuas vistas, porque me sorri essa idéia Estrela cintilante
de continuarmos colegas e amigos, embora já lá Da constelada esfera. JÚNIOR:
vão os tempos de Sâo Paulo. Entretanto, segundo DE AFONSO CELSO
te percebi, qualquer resolução a este respeito não Já Deus te deu descanso;
depende unicamente de ti, pois que então sei que A pátria, n'angústia extrema.
Deu-te de eleito a palma; Chorou ao vê-lo partir,
»ciia negócio feito. E' necessário o acordo de ou- Tiveram já remanso
tros, e este acordo, bom ou mau para mim, eu pre- Como a olvidada Iracema
Os estos de tualmal Sentindo o amado fugir!
cisava sabê-lo hoje. Tive, pela manhã, um ofere- E agora... dele a memória
cimento vantajoso, o qual facilmente adivinhar,
DE BTTENCOURT SAMPAIO: Nos fundos mares da história
porque direta ou indiretamente concorreste para Deslisa calma, ideal...
ele. Não o aceitei por precisar consultar-te. Com-
De pé por sobre a bronca penedla Como o batei dos gentios
prometi-me porem a dar uma resposta hoje e por Estava o Genio da floresta; — o vento Nos verdes mares bravioa
Isso volto-me para ti. A noite desejo terminar
Isto: tu dirás com quem. Preciso dizer-te que te No ermo sibilava, enquanto atento Da sua terra natal!...
consulto não só pelo dever rigoroso em que estou Junto dele um cantor ali se via.
depois do que me disseste. como por interessse Que procuras, mancebo, noite e dia
meu: quem ganha se contigo eu for, não és tu, sou DE CARLOS DE LAET:
eu pelo que te disse no começo, e por outras razões Com tanto afan e ardor no pensamen to I
O passado! o passado!... e suarento Se viver é pensar — de heróis longevoi
que te direi. Vem jantar comigo no Hotel da Eu- Leva aos lábios a inúbia que trazia. este o primeiro foi... E a longa idéia
ropa: conversaremos sobre e*te respeito com mai»
largueza. Irei ao "Mercantil" esperar-te ás 3 ho- fundiu qual bronze, que assoberba os evos,
ras Todo teu — Alencar. Vem, pois, lhe disse o Gênio em tom ardido no jornal, na tribuna, na epopéia.
Serei teu guia e mestre: tem ao certo Se viver é sentir, — sentiu por quantos
"P. S. — Esqueceu-me dizer-te que qualquer lhe escutaram no drama as íãs lições,
A vitória quem luta convencido...
das duas coisas que se realize, "Correto Mer- quando ao sopro do gênio, em riso ou prantos
cantil" ou "Jornal do Comércio", desejava que fi- Partiram; das florestas ei-los perto... estuavam fremendo as multidões.
casse em segredo,. De qualquer dos dois modos te Brada o cantor parando comovido: Viveu! Que luz, oh pátria, tão brilhante!...
vou substituir e, por conseguinte, prefiro que a di- Joelho em terra! Estamos no deserto! E por que é noite vais carpi-lo agora?
ficuldade da posição recaia sobre um nome igno- Ninguém lamenta o sol que desce ovante:
rado absolutamente." Fora descrer d'auroral
DE GUSMÃO LOBO:
Pelo tempo que recebi esta carta os conselheí-
ros de redação do "Mercantil" eram meu sogro, o Daquele se pode dizer que nSo honrou menos DE LINO D'ASSUNÇAO:
sr. Muniz Barreto, e os srs. Souza Franco e Sales a razão do que o seu nobre instrumento: a pala-
Torres Homem. vra. Como todos os grandes escritores destinados •
Deixaram-me plena liberdade de ação. O açor- Um só de seis livros, o "Sistema Representa- passar à posteridade, José de Alencar inspiròu-se
do, de que eu falara a Alencar, era somente o de tivo", talvez o que menos haja contribuído para a na verdadeira fonte da legitima inspiração — nas
meus colaboradores do trabalho diário, porque foi sua grande voga de escritor, mas com certeza o tradições populares. Observando e analisando cora
costume, de que nunca me apartei, prover à har- que maior cabedal de cogitação lhe deve ter custado, elevado critério o teu meio, evocando do seio das
monia pessoa de meus companheiros. Podiam pen- bastaria a perpetuar a memória da prodigiosa in- florestas as poéticas lendas dos indígenas, dando à
«ar como lhes aprouvesse, mas era essencial que dividualidade, que o futuro admirará em cinqüenta velha crônica a forma amena do romance, produziu
se não combatessem publicamente, e mais do que diversissimos volumes. essas obras que hão de durar tanto quanto a líu-
tudo, que se estimassem pessoalmente. Para eles Despedida a luz, pode o astro apagar-se. Nem gua em que as escreveu. For isso, a sua pena in*
íoi motivo de feita a comunicação reservada que vestigadura e inspirada, correntia e expontânea, e,
lhes dei, da carta de Alencar. Nào podia haver far- por isso ele percorrerá o espaço com menos brilho. sobretudo, essencialmente brasileira, há de ser ado-
tura maior. Adivinhavam todas as suas grandes DE FERREIRA DE ARAÚJO: rada nos altares da pátria, como símbolo do en-
forças intelectuais, e todos lhe queriam bem. Ai Deve considerar-se feliz aquele que conseguir sino superior, do guia fiel para presentes e pós-
5 horas da tarde José de Alencar era parte da teros.
redação do "Correio Mercantil". percorrer uma só das esferas da atividade intele-
ctual com brilho aproximado ao que revelou José
de Alencar percorrendo-as todas. DE MACHADO DE ASSIS:
DE PEDRO LU2:
DE ANDRÉ* REBOUÇAS: Naquele eterno azul, onde Coema,
aDEUS, IRACEMA Onde Lindoia, sem temor dos anos.
Foi por certo o sublime êfeptrlto de Alencar Erguem os olhos plácidos e ufanos,
Lá da montanha azul na florida campina quem inspirou a Otaviano fundar sobre seu túmulo Tambem os ergue a límpida Iracema.
E?mpre ouvirás em sonhos os peregrinos cantos a Associação dos literatos brasileiros. Destes, alguns
Que murmurou na terra a tua voz divina... teem, talvez, como Alencar, gênio inventivo, gran- Elas foram, nas asas do poema,
Mas ao hino de amor misturará seus prantos diosa e ousada inspiração, e talento variadissimo, Cantadas pela voz de americanos,
A saudade — meu bardo — a nossa dor suprema! nem um, sem dúvida, possue sua prodigiosa devo- Mostrar às gentes de outros oceanos
Vertem lágrimas hoje as flores de Iracema. tação ao trabalho. Possa o auspicioso lábaro — Jóias do nosso rútilo diadema.
José de Alencar — ser estimulo eterno e dizer in-
DE J. SALDANHA MARINHO: cessan temente: E, quando a magua voz inda afinavas.
Brasileiros! Estudai, dia e noite, a maravilhosa Foges-nos, como se a chamar sentira*
Os Lamartines não foram talhados" para a po- natureza americana; ao esplendor do sol, à melan- A voz da glória pura que esperavas.
Kica. Teem o seu mundo ã parte. Ha larga e bri- eólica luz da lua, e ao simpático cintilar das estre-
Ihante esfera, a que foram destinados, assentam Ias do Cruzeiro do Sul! Trabalhai sem descanso na O cantor do Uruguai e o dos Timbiraa
•ua glória. A política, que não os aprecia e que obra monumental da criacã* • «ngrandecimento da Esperavam por ti, tu lhe faltava*
lamate foi compreendida por des, não lhe* daria literatura nacionall Tara • concerto daa eternas lira.

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"A MANHA" - DOMINGO, 11/1/1942 j


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PAGINA 12 SUPLEMENTO LITERÁRIO PE

As relíquias de José de Alencar


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"clichês",
Nestes dois estão as últimas relíquias do criador de Ceei e de Iracema: um deles :
túmulo em que ele
nos apresenta a máscara mortuária do romancista ;o outro nos mostra o
dorme o seu eterno sono, na necrópole de S. João Batista. Ií*7*

"MAE"
José de Alencar, teatrólogo - (Cem liai) di ato leicein)
CENA XIII JORGE JORGE JORGE
Morta!..
DR. LIMA, GOMES e JORGE Acabe, senhor!... ELISA Fala! Falai
GOMES
JORGE Minha boa Joana!... JOANA
Esse casamento nio é mais possivell
Vlu-a, doutor?... Não a encontrei!.., JOANA E' um atrevimento!... Mas eu queria
Procurei tudo! JORGE Escute, iáiá, Elisa... E' a última coisa antes de morrer... beijar sua... sua tes-
Ah! que lhe peço... Iáiá há de fazer meu ta, meu nhonhõ!...
DR. LIMA DR. LIMA nhonhõ muito leliz!... Me promete?...
Queira a ele tanto bem, como Joana que- JORGE
Sossegue, Jorge! Deve ter saido... Ela Por que razão, si*. Gomes? iia... Mas, nem iáiá nem ninguém po- Mãe!...
nada sabe ainda! Seja prudente... Não <Í3... não!.., JOANA
lhe anuncie de repente!... O choque po- JORG
de ser terrível!... JORGE Ah!... Joana morre felia.
JORGE Porque não reneguei minha mãe.
Minha mãe!... Porque foges de teu
JORGE
Não me sei conter!.,. Quero abraça- GOMES filho, apenas ele te reconhece?
la'... Minha mãe!... Que prazer su- Sr. Jorge, eu o estimo... porem... Abandonando seu filho
premo que eu sinto em pronunciar este JOANA
nome!... Parece-me que aprendi-o há JORGE Adeus, meu nhonhò... Lembre-se às JOANA
pouco!... vezes de Joana... Sim?... Ela vai re-
GOMES Tem razão, sr. Gomes!... O senhor zar no céu por seu nhonhõ-,. Mas aa- Nhonhõ!... Ele se enganou!... Eu
Br. Jorge. me julga indigno de pertencer à sua fa- tes eu queria pedir... não sou tua mãe, não... meu, lilhol
JORGE milia porque eu sou filho daquela1 que se (Morre).
vendeu para salvar essa mesma honra JORGE
Ah! desculpe... Esqueci-me que es- em nome da qual me repelel JORGE, de joelho»
tava aqui... O que acabo de saber... Que, mãe? Pede-mel... Minha mãe!...
GOMES
GOMES JOANA ELISA
Penalisa-me bastante, crela. Mas não é... não!... Eu juro...
Nhonhõ não se zanga? E minha, Jorge!...
JORGE DR. LIMA
JORGE GOMES
Oomo, sr. Gomes? Joana!... Deus nos ouve!
Eu sou teu filho!... Dize!... Uma vez Ela abençoe tão santa união!...
GOMES JOANA ao menos... este nome.
Sinto muito, porem... O senhor com- Por Deus mesmo... E?e sabe porque DR. LIMA
(jreende a minha posição... As conside- digo isto!... Por Deus mesmo... juro... JOANA
•rações sociais... que... Ah!... Ah!... Nâol... Não posso! E me perdoe o mal que lhe fiz!

JOSE DE ALENCAR, POETA {Continuação da página T) | os avisos que de parte a parte fazem umas e outra?
e no Pará Arvore de leite, da família dos sapotl- T*-amana-rl — o que veio depois da chuva aldeias quando hâ novidade que participar aos alia-
seiros. O leite tem todas aa qualidades do leite V. 420 As turbas dos Oromos, gente bárbara. dos quo estão mais distantes. De sorte que a pri-
animal. Os Oromos — Tribu da grande nação Yurakarè, meira aldeia que ouve o sinal do Trocano o parti-
As vestes encontravam já (ecldai pertencente ao ramo Antisiano da raça Ando-Pe- cipa à outra, sua Imediata, fazendo o mesmo sinal
Na casca da marlma ruviana. Es^a tribu habitava os Andes Orientais, e assim em breve tempo se avisam ainda as qua
A árvore das camisa-:, embirit!, da qual se tiram nas cabeceiras dos rios Para e Ueaialy afluentes do estão mais remotas. Gonçalves Dias — Dicionário
panos de 5 a 6 pés de largo. Vide Gabriel Soares. Solimões ou Amazonas. Tupi.
Roteiro do Brasil. Marima segundo Humboldt 8* Os Yurakarês eram de grande estatura; mediam O prudente Iruama, o grande chefe
vol. pá,-. 188. 1 metro e 7fi cenüm.,.5 pés e 5 polegadas. Iruama, derivado de I-rub-rama — Ele há de ser
Uma palmeira só dava à família Yurakarè vem do yiirak — branco, e kari, ho* pai, na língua túpica.
Armas, sombra, alimento, fogo e vinho, etc.
"E' curioso ver no mais baixo mem — na língua chichera. V. Orbygny — L"hom- Solta da guerra o mirahl soberbo
grau da civili- me sméricain. Mirahl — significa em Guarani o discurso —
zaçüo, a existência de toda unia povoação depender V. 422 Correu a flecha, núncía do combate Gumilha — O Orenoco, 1» vol. pág. 310.
de uma só espécie de palmeira; à semelhança tleiEPS Gumilha. no seu Orenoco, trata da irmandade Mira — multidão, de imira — floresta.
insetos que se nutrcmfcxclusi vãmente de uma flor, das nações indígenas para a defesa comum. Os men- Jê — é o verbo dizer. (Discurso da multidão),
ou de uma mesma parte de um vegetal.'* sageiros, diz ele, dão aviso da guerra em silêncio, E netos de Tupi, primeiro homem •
Humboldt. V. au N. C. 8o vol, pág. 584. deixando uma flecha cravada em lugar público, Tupi — o Adão dos Tupís
A palmeira a que se refere Humboldt é o mn- Este aviso chama-se correr a flecha. Tu-ypl — primeiro gerado do vento, ou do trovão.
rlehl, de que os indígenas tiravam vinho, farinha, 1.° vol. pág, 134. Porque se enflore o pequiá da mata.
fios para a rede, e folhas para cobrir as cabana-, V. 423 O trocano mandou ás longes tabai Pequli — árvore brasileira, cuia flor é ewarlate.
pelo que a chamavam — árvore da vida, A voz 'Io chefe. Aos mancebos trater nome de guerra
A príile que cm Tamandaré surgindo Trocano, diz Ferreira, era o instrumento de Nome de guerra — *Costuma-se entre os Tupi"
Da voragem das água*,.. guerra de quase todos os gentios do Pará, como o nambás, que todo aquele que mata contrário, tom»
Tamandaré é o Noé dos Tupis. Segundo a tra- havia na aldeia antigamente chamada de Troca- logo nome entre si, mas não o din senão a seu
dlção salvou-se no alto dt uma palmeira. U. da no, hoje vila de Borba. Serve às gentes de caixa tempo, que manda faw grandes vinhoa". Gabn«
Vasconcelos pág. 48. de guerra para as suas chamadas • tambem para Soares, Cip. 170.

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DOMINGO, 11/1/1942 SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" — VOL. II PAGINA 13.

HENRIQUE HEINE MoenUip Heine em português: O Intermezzo


Em 1S94, estando a "Semana" Aqui vai, pois, em nosso nú- "Intermezzo" na tradução it
No dia 1 dc janeiro dc 1800,
há cento e quarenta c um anos,
Pi sob a direção do sr, Max mera de hoje, o prólogo do "A Semana".
Flcuiss, iniciava-se, em suas ca
nasceu Henrique Heine. lunas, a publicação do "Inter-
Por isso, o grande poeta, que mezzo", de Heine, peita por vá-
rios poetas dos mais ilustres do
PRÓLOGO Machado de Assis
amava sorrir das"eracoisas, costu- Brasil. A iniciativa, que era de-
ntava dizer que o primeiro vida a João Ribeiro e Max Um cavaleiro havia, taciturno,
homem do século". Fleuiss, obeteve. o maior êxito, Que o rosto magro e macilento tinha.
Pondo dc parte qualquer bla- Foram as traduções, publica-
das, logo depois, em volume, que Vagava como quem de algum noturno
gue, ele foi, realtnente, pela cedo se esgotou. Em' 1902 saia Sonho levado, trepido caminha.
maravilha da sua poesia cheia segunda edição que também es-
dc melancolia e de luz, um dos tá hoje esgotada. Tão alheio, tão frio. tão soturno,
tnais extraordinários homens Vamos agora, iniciar a publi- Que a moça em flor e a lépida florinha.
do seu século. cação das traduções de Heine
gue existirem feitas no Brasil, Quando passar tropegamente o viam,
Mas o delicioso mágico dos
**licds" e oue sâo muito numerosas. Em .As escondidas dele escarneciam.
germânicos teve um
destino cheio de desventuras. primeiro lugar, daremos o "/n-
termezzo", Jeito por vários au- A miúdo buscava a mais sombria
Sua arte, como escritor, foi dc- tores, e cujo prólogo é devido
hcadissima e prodigiosa. ' Tendo L.~±T2sWl**-i^k.\\*m -g a Machado de Assis. IE' a ini- Parte da casa, por fugir à gente:
nascido na Alemanha, soube .ivtne, cego e paralitico. ctativa da "Semana", gue va- Daquele posto os braços estendia
perto de morrer mos trazer ao conhecimento do'
levar a tal depuramento o espí- leitor de hoje). Teremos, de- Tomado de desejo impaciente,
rito francês que, relendo-o, ho- Heine era am estranho espeta- pois, esse mesmo "intermezzo'* Uma palavra só não proferia.
je, temos a impressão de que culo. na tradução de P. A. Gomes
Mas' pela meia noite, de repente.
nos achamos diante de um dos Sua conversa, cheia dc fui- Júnior (B. L. Xavier, Rio de Ja-
neiro, WS). E, enfim, teremos Estranho canto e música escutava,
mais verdadeiros e ruídos fi- gor, cheia de graça e de perji- inúmeros versos de outros poe-
lltos da frança, diante de Httt dia. era uma maravilha. Mas, mas de Heine. E logo alguem que à porta lhe tocava.
irmão autêntico de Voltaire, tombem, em certas horas, como
de Molicre ou de Rivarol. Re-> ela era indicivclmente melanco- Furtivamente então entrava a amada, j
nan, que o amava com ternura, lica! O vestido de espumas arrastando,
queria que todos se descobris- Esse poeta criou a poes m Tão vivamente fresca e tão corada
sem diante do admirável esli- mais singular: a poesia da mt~
" Como a rosa que vem desabrodiando;
lista dc Rciscbildcr".
lancolia que sorri dc si mesma Brilha o veu; pela esbelta e delicada
Na introdução que escreveu
Em seus pequenos versos do
para esse livro, Teójilo Gau- "Intermezzo",
em suas eneon- Figura as trancas soltas vão brincando;'
tier conta episódios interessan-
tadoras poesias do "Mar do Os meigos olhos dela e os dele fitam,
tes da vida dc Heine.
Norte", cm sua "Alia TrolC, E um ao outro de ardor se precipitam.
Os dois poetas sc conhece-
achamos o mesmo espirito, esse
ram pouco depois dc 1830. Era
espírito ao mesmo tempo som- Com a força que o amor somente gera,
a época do mais desenfreado
bador c adorável: a ternura O peito a cinge, agora afogueado; '
romantismo. Longamente re-
que tem o pudor de ser ternu-
percutia, na Europa, a voz ar- ra c sorri da sua efusão, como O descorado as cores recupera,
dente de Vitor Hugo, anunci- E o retraido acaba namorado,
"Crom- os palhaços, a ironia beijada
ando, no prefácio do
por um raio do sol da meiguicr O sonhador desfaz-se da quimera.. „
wcll", as idéias dc uma lilera-
tura revolucionária, que visava mais pura... Ela o exita, com gesto calculado;
a derrubar os ídolos do classi- Pois igual a essa poesia era Na cabeça lhe lança levemente
cismo já cansado. Estavam cm a conversa de Heine. E, ao la-
do disso, que tremendas exe- O adamantino véu alvo e luzente.
moda Iodas as mclancolias e
todos os "ennuis7*, que eneon- cuções que ele fazia! Esse prin- Heine, na mocidade (quadro
cipe do ritmo não perdoava a de F. Humpf) Ei-lo se vê em sala cristalina
travam a sua expressão mais De aquático palácio. Com espanto
completa em Renc, criado peto maldade e a vaidade dos espí-
ritos vulgares. Em uma dc suas meço dc sua monstruosa ago- Olha, e de olhar a fábrica divina
gênio dc Chateaubriand. Era crônicas, recolhidas em 'Lu- nia de oito anos. As primeiras
a fase dos luares argenteos, dos Quase os olhos lhe cegam. Entretanto,
tecia", encontramos uma êxe- injúrias da paralisia, que have-
amores puros à margem dos
cução implacável de Hugo. Se ria dc ser o seu martírio horii- Junto ao úmido seio a bela ondiha
lagos azues, dos poetas dc lon- O aperta tanto, tanto, tanto, tanto...
assim sofria, em suas mãos de vel, o Sinai e o Calvário de
gos melenas, sonhando juliclas deus bárbaro, o grande liriec. seus dias, já lhe feriam a ahna Vão as bodas seguir-se. As notas belas
imponderáveis, doces visões sor-
rindo em céus inacessíveis... que havemos de diser dos poe- incandescente. Vêem tirando das cítaras donzelas.
O verdadeiro poeta deveria, a tas menores, que ele se diver- Tempos depois, o poeta caiu
esse tempo, ser cutjo, ter, na tia em espremer em sua pren- uo leito, para nunca mais le- As notas vêem tirando, e deleitosaa
tez, a palidez das tnagnólias — sa de sarcasmo e dc fiamos re- vantar-sc. Cantam 'e cada uma a dansa tece
fi palidrz dos mármores funé- den toras* E dir-se-ía que a sua decom- Erguendo ao ar as plantas graciosas.
reos, que a tristeza dos raios do Depois Heine separou-se de posição começava ainda em
Gautier. Anos passaram, sem Ele, que todo e todo se embevece.
luar houvesse tocado de uma vida.
luz dr outra vida. que os dois poetas se eneon- Suas mãos, durante anos e Deixa-se ir nessas horas amorosas...
trassem mais. anos, não puderam mais suste*, Mas o clarão de súbito fenece,
Heine era o contrário de tu- Vm dia, à porta de Gautier sequer, a pctta com que ele ou- E o noivo torna à pálida tristura
do isto. Era um belo c guapo bateu alguém. O criado, que ir ora escrevia poemas divinos. Da antiga, solitária alcova escura.
mancebo, dcseinpenado, forle, recebeu' o recado do visitante, Seus olhos não podiam mais
alegre. Suas faces rubicundas comunicou a Gautier que, lá em ver a luz. As pálpebras, en-
não tinham um fio dc pelo; baixo, estava um estrangeira,
seus cjéclos, crespos, muito
louros c rebeldes, não procura- que desejava vê-lo. Gautier
mandou entrar o estrangeiro.
fraquecidas pela enfermidade,
caiam pesadamente sobre eles,
vedando-lhes a visão das coi-
Efemérides da Acad em ia
vam adquirir o jeito das cabe- Apareceu-lhe, então, um lio- sas! Quando algum amigo o tn- DE JANEIRO mais cargos são deixados para
leiras rm moda. Teójilo Gau- mem desconhecido. Era um 893 — Nascimento, em São
sitava ele a custo podia levan- eleição ulterior.
tier o define como "um Apoio sujeito curvo e magrissimo, do* Paulo, de Paulo Setúbal. Ocupou 1918 — Falecimento do Barão
tar, com o aedo flacidíssimo, a
germânico". ente, brancas as barbas, uma na Academia a cadeira n° 31, Homem de Melo, sucessor de Jo-
pálpebra morta, para olhar o que tem como patrono Pedro sé Veríssimo.
Era aquela uma fase sinyu- espécie dc devastação humana recém-chegado. E então, que Luiz e que foi criada por Luiz DE JANEIRO
lar da alma do poeta. Heine e ambulante. Chamou o poeta infinita melancolia sc estampa- Guimarães Junior. 1711 — Falecimento, na Baia,
mesmo conta que, àquele tem- pelo nome familiar: Thco! va no fulgor morto daquelas DE JANEIRO de Manuel Botelho de Oliveira,
pn. era ele o seu próprio Dcui. Gautier não podia desço- retinas exímias! Esses znsitan- 1855 — Nascimento na Cha- autor da "Música do Parnaso".
Adorava-se a si mesmo. Ne- brir quem fosse aquele ho- pada, Baía, de Urbano Duarte, E' patrono da cadeira n. 3 dos
tes eram raríssímos, nos últi- criador da cadeira n. 12, de que correspondentes.
uhuma injúria o atingia, então: mem. Dada, porem, a intimi- mos tempos. Hcínc costumava é patrono França Junior. 1868 — Falecimento, em Lis-
nenhuma maldade o feria. Es- dailc com que o tratava, nãn dizer, quando alguém ia vê-lo, DE JANEIRO boa, onde exercia o cargo ete
sc cavaleiro andante da poesia evitou travar conversa com ele. ao fim da sua existência, que ministro do Brasil, de Antônio
1839 — Nascimento na Vila Peregrino Maciel Monteiro, Ba-
tinha, aos trinta anos, utn des- Ao cabo de dois minutos, um esse alguem "se tinha esquecido de Barra de S. João, municipio rão de Itamaracá. - E' patrono
preso absoluto por quem quer lampejo prodigioso dc ironia e dc csquccc-lo"'... de Macaé, província do Rio de da .cadeira n. 27, criada por
que o procurasse ferir. A seta dc e/rn(a saiu daqueles lábios Janeiro, de Casimiro José Mar- Joaquim Nabuco.
Assim, a vida vingou-se cru- quês de Abreu. O poeta das DE JANEIRO
mais aijuiln que lhe lançassem murchos. Gautier o identificou cimente daquele homem que tt- "Primaveras",
que faleceu aos
não o atingiria. 1840 — Nascimento, em Lis-
Confessava pclu palavra jlamcjantc: nha cometido, desde o nascer, 21 anos de idade, é patrono da boa, de Aniceto dos Reis Gon-
que, para todos os pérfidos, li- — "Sc não é o diabo, i cadeira n. 6, criada por Teixei- çalves Viana, sócio correspon-
esse imenso crime: o crime de ra de Melo.
nha o olllar tranqüilo dc uma Heine'*. dente, eleito em 20 de agosto
ter gênio. 1897 — Quarta sessão prepa- de 1910.
divindade, certa de que, por E era Heine, mesmo.
nuiior que fosse a blasfêmia re- Mas como a vida linha opt- Poderíamos, tombem, dizer ratória da Academia. E' eleita DE JANEIRO
a sua primeira mesa, que íica 1854 — Nascimento, no Rio
cehida, maior ainda seria o bàl- rada uma transformação abso- que Heine se vingou da malda- assim constituida: presidente, de Janeiro, de Manuel Ferrei-
sumo do seu perdão. ta, absurda, naquele magnífico de da vida: e vingou-se tornan- Machado de Assis; secretário ra Garcia Redondo, fundador
Gautier e Heine ficaram mancebo de oulrorol dose imortal, m veneração da geral, Joaquim Nabuco; tesou- da cadeira n. 24, que tem como
amigos desde ttu tempo.. 4 Heine *stavo, isstâo, tu te- relro, Inglez de Souza. Os de- patrono Júlio Ribeiro.

I . „,a;..;„.^.^a«.ã.M .;l^*,.I,,..^.-..a.
"A MANHA» - VOI.. K DOMINGO. 11/1/lsMf j/%.
PAGINA 14 SUPLEMENTO LITERÁRIO PE

DA CRI-
A' MARGEM
Pensando em Dânte - d. mt*™ TICA DO SR. ÁLVARO
"CHOVE
Salvador de Mendonça e a
LINS SOBRE limvsto
Da tua grande existência so- iras, cercado do asfalto...
Maria, qae motivo tirarei para darias. Longe
de castelos e esca- NOS CAMPOS DE CA-
-OllU^IL»'*
arbitrasem obrigatória Feder
a minha pequena meditação' Reflitamos um pouco. Aquilo
Talvez esles versos ardendo de que f0i a vida inteira de amor, Múcio Leão, em seu "O notável aos bons ofícios de potência
vida misteriosa na pasma oue dedicação, sacrifício sem paga, Dalcidio Jurandir discurso acadên.ico es- amiga antes de lançar mão dus
abri ao acaso: anos de procura e estudo, dias ume de- forçado diplomata do Impe- armas, e tanto quanto o pernú-
Não quero insinuar a<.-ít
perdidos, noites indormidas. íesa de meu'¦aclioeiraromance "Chove tios rio e da República", estam- tissem as circunstâncias".
"Suplemento Beni se compreende que, etu
-Maledetta tua culta campos d . em lace da pado no últin.o
"tristizia e voglta aguda e iesinleressada critica do Literário", realça, com ra- 1856, durante a alta tensão da
chi Insinuo cotanti sonni invn- ir Álvaro Uns. Seria ridículo, nessa ine-
zao, o papel
'.ecisivo
que política européia, às vésperas
íno"... di sospirare e di morir di pian- lica' e cruel. Sim, porque In desem- das guerras de 1859, 1864, 18ri.i,
[fo-', espécie de defesa uma crueldade Salvador de Mendonça 1870, as velhas monarquia.- da
mesmo sem penhou na questão da arbitra-
que o autor impõe a A s: defesa nuo »em obrisatória da Primelia Europa se contentassem com
De tua obra qne primeiro se- vantagem alguma. esta fórmula tímida e inócua.
conquls- eslu nas intenções ou no amor que Conferência Pan-Ainericana. O
parou, pela lingua e pelo espi- renuncia a prazeres e seu Uno dedica. Um es- assunto é da mais alta impor- Menos se percebe porque e que
rito, o mundo antigo do mundo tas, conjorinação à pbreza e à o autor ao se defende ou explica a o do Brasil, em vez de
moderno a que deu nascimento, solidão, na luta obscura do lio- critor que uma atualida- governo
de tância e espelha
até sua obra t rmina sempr-, ao fim incandescente. Fora, talvez, Inspirar-se nas tradições ame*
qus trecho escolherei para dele mem contra a palavra surda -Color sua de/esa ou de ua explicação, soli de narrar os prelúdios ricanas que, há meio século ti-
tirar o exemplo que me venha tirar-lhe um puro som: a terrível conciència de sua defini- interessante nham a instituição da arbitra-
servir de tema ao pensamento? d'amore...", o verso inspirado Uva fragilidade, de sua ignorância, desse resultado definitivo, pre- em conta de verdadeira
Sdo tontos: pela contemplação da mulher de sua hesitação no que tentou ou lúdios a que não faltam porme- gem
pretendeu fazer. nores pinturescos. garantia da paz continental, se
que passa : Nào me considero maguado com O convite a essa primeira preparava pa.a seguir o mau
mOmo da sé vertti fatto ha ton- as afirmativas tio sólidas da en- em Washington, exemplo europeu. Mais incom-
saisla de -Hislória literwia de Eca Conferência,em 1889,
Itana, -come una donna
de Queiroz". O crítico deixa en- formulado, pelo gover- preensivei, ainda, visto que os
•mo no, mala üestia clfom so- che fosse latta duna bella Brasil ha-
pe-
trever uma boa vontade comigo no dos Estados Unidos, indica- dois imperadores do
Imiglia", „uj;] viam, firmado nu-
que me surpreende. Nem me jul- va, como ponto do programa, mevo dejá, tratados de grande arbitragem
e/ar ia ofendido se o meu romance um acordo tendente a um plano
fosse por ele negado totalmente. definido de arbitragem „pam com potências européias e ame-
o nascimento de ra poema a Devemos guardar em todos os de- O governo i.cuiiuò. as instruções categóri-
esqw.na de uma rua noturna, bates da nossa desgraçada e pito- todas as divergências. o cas do governo atavam as mãos
respirando o ar, a lingua, resca vida literária, em todas as imperial do Brasil, aceitando
mL'e$'tgliot cha rp'e dato, anor tudo repre- dos delegados que, tal fosse o
a cidade ein que se vwe, e se controvérsia* em que tudo se pode convite, instruiu os seus
Uni teqtto". ama : negar ou aceitar, uma silenciosa e sentantes Lafayette Rodrigues caso, só teriam que se opor ao
infatigavel dignidade intelectual. Pereira, Amaral Valente e !3al- projeto norte-americano.
Em questões puramente literárias vador de Mendonça no sentido A Conferência de Washington
Um que Idioma falado hoje •y não deve laver melindres nem "manterem a adesão daaa ainda não iniciara a discussão
.. vidi cose dubitose molto, é vulgar nte, de
mo mando encontrarei mais r.el vano imaginare ov'io entrai; ódios, essa afirmação >e ütura é mai» ao voto do Congresso de Paris da arbitragem quando foi pro-
aquele som a am tempo áspero ed esser mi parea rton so in qual iv.disvensáv-l A e vive acima de 1858". Esta velha resolução clamada a República no Brasil.
séria do que se pensa 'aidaúe "a Quintino Bocaiúva, ministro doa
c suave, o eco inotutdauel áa lloco, de nossa quotidiana e das contentava-se com exprimir "
"ferro e urminho"
tua noz de e oeder donne andar per via nossas infelizes vretsns <es. Hoje esperança de que os Estados, Negócios Estrangeiros do Go-
qm lembra as vestimentas dos Idisciolte, mesmo na situação do mundo atual em caso de litígio, recorressem verno Provisório, renovou os po-
/cavaleiros e damas da tua èuo- ata dessa natureza seria deres da delegação. O primeiro
qual lagrimando, e qual traendo qualquer respeito aos açontecimen-
90. mística e brutal?"Cantos" Iguai, falta de tanto sacodem a vida hu-
ato de Salvador de Mendonça,
Falarei dos teus sa tas que lite- eu chefe, depois da demlssãj
di trisíizia saettavan ponto de vista absolutamente
•tomparavets ao r-etampejar das che foco. mana.
foi o de indagar
Poi mi parve veder a poço a A vida literária no Brasil pade- rario. Pode ser mesmo, dentro dos de Lafayette, "se
palavras do Apocalipse ou aos {poço ce muito dessas complicações que principio* estéticos em que está si- do ministro podia dar in-
venioÁ de súbito e obscurecido turbar lo sole e apparir Ia stella, tanto a desmoralizam. E sinto o de- tuado o sr. Álvaro Li/is, um alar- terpretação republicana as in.v-
tufão? Dos teus anátemas, dos e pianger elli ed ella; ver _ e isso è uma responsabilida- mante sintoma de pobresa de trueôes do Império", como ele
teu; castigos, dos suplícios que cader li augelli votando per de a que todos « estreantes— devem idéias, de lingua, sentimentos, de degene- mesmo o diz em carta a Saem
chamar a si com orgulho o de- ração da enfim, um sintoma
inventas'?, dos ódios reconcen- Vare, ver de submeter "Chove noj cam- de provincianismo que, em vez de Pena, divulgada por Múcio
tradoa que te rugtam na boca e Ia terra tremare; de Cachoexr" ' uma prova se ostentar retórico e gramatical, Leão. As novas instruções bai-
pos
em rr irreprimíveis (és o poeta ed orno apparve scolorüo e fioco. máxima de resistência, não pelo surge dentro de uma linguagem xadas pelo ministro da Repú-
«to D : dicendomi: — Che fai? non sai que o livro encerra ou promete, terra todos a terra para fazer o efeito blica prescreveram aos delega-
ínovella ? mas pelas circunstâncias especiais que os provincianos desejam dos que "aceitassem o princípio
em que foi lançado por força dum nog círculos literários em moda na da arbitragem com a maior am-
mambo le Tnan lo dolor mt morta é Ia doaria tua, ch'era ci literário, cujos são capitai da República. Entretanto,
per concurso juizes
[rnorsi"... Ibella —.-¦ escritores de muita responsabili- penso que tentei fazer da carta- plitude possivel".
dade ni história e na vida literária entrevista um depoimento e mais Firmado nessas novas ordens,
Ou antes dos teus altos amo- tudo isso ser assim de repente do pais.deixar Meu maior desejo consis- nada. t/m diretissimo aepoimento. certo do apoio argentino e ven-
te em que os criticos falem como uma carta que se escreve. Nào cendo a oposição norte-ameri-
rei intelectuais que vieram dar vertido
para outro idioma, todo à vontade de meu romance. Para seria mesmo em nome da própria cana que se erguera à sua au-
uma nova e pura forma a essa esse trabalho perdido e desva- isso não os incensei com dedicata- literatura da literatura corrompidu daciosa proposta, Salvador de
estranha e cruel paixão humana lorizado em sua melhor parte. rias ou empenhou de qualquer es- nas idéias, nos snti mentos de hoje, Mendonça conseguiu,
ser ingênuo ou em nome do que lhe resta ainda de quase seiu
t banhar de sonho a mente dos Ver-se o poema que levou tan. pécie. Issona poderá confusão literária em verídico e espiritual que foi feita a restrições, a adoção do princi-
poetas amorosos do futuro? Diz to tempo de vida a germinar no pedante debatemos. No entanto è. referida carta? pio de arbitragem obrigatória
a toda hora o enamorado Ca- espirito e a encontrar a sua que nos Aa longo de toda a história li- pelo tratado de Washington de
môes: "õ meus altos pensamen- para mim de uma abson>ente preo-
"Tutti forma de sonho materializado, cupação. terària ou da vida literária esses 28 de abril de 1890, cujo ar-
tos!". E tua voz: li miei sofrendo de ser assim transpôs- Acho que a crítica n^ Brasil vai depoimentos aparecem inevitável- tigo 1.° assim reza: "As Repú-
pensar parlan d'amore". to para uma língua alheia e in- agora tomando uma pnsi-ào mais mente. Seria longo enumera-los. blicas adotam a arbitragem
Vejo-te moço, poeta, estúdio- diferente, seria e mais conciênte de suas pos- Felizmente o sr. Álvaro Lins chegou como
io-; da para climas estra-
sibilidades. Aprende a ser honesta a entender que havia nessa carta princípio de Direito Intec-
to Astros, da Metaficisa, nhos, céus diversos, onde irá e isso não basta, aprende a ser mais qualquer coisa de simples, espontâ- nacional Americano para a so-
Política, da Súmula, da Reto- para sempre o som in- ágil, mais exigenfe com os recursos neo, natural. A culpa da entrevista lução de litígios, questões ou
rica, isto em 1*280, em ruas dt perder traduzivel, a cor indefinivel. que a cultura e a experiência lhe teria partido do autor ou dos pro- controvérsias entre duas on
Florença, tendo por objeto má- Criar um verso imutável, horas transmitem. Sei ainda que as suas blentas tão sujos e anti-literarios mais dentre elas".
limo da vida-. Beatriz. A apa- e horas meditando numas pou- atuais tendências — ou sejam por que nos envolvem?
rição branquissima dessa meni- cas uma reação aos movimento* mo- Essa arbitragem é declarada
palavras que resumem o dernisias ou por fenômenos que Sinto aliás uma virtude literária obrigatória
ua de nove anos revelou a teus mundo minha carta entrevista: a hu- para todas as quês-
para o poeta, e vê-lo de- nâo posso aqui declarar — voltam- na mildade. A'linguagem terra a terra toes, seja qual for o seu cara-
alhos uma vida nova. Vita Nuo-
pois quebrado em suas parte* se, em certo sentido a reclamar ou — antes devia dizer popular e náo ter. Somente no caso de se ver
«a... mais belas e os pedaços reajus- sugerir uma arte tranqüila, menos terra a terra — náo está assim tâo em risco a independência de
Agora ms lembro que ha dias tados em outras palavras reco- perigosa, menos aventureira, práxi- vas ia de sentido ou tão vulgar. Por- uma nação, se lhe torna facul-
Vi numa estante de livraria sidas, — violada em seu túmulo ma do amadurecimento, da crista- que sugere uma virtude táo apa- tativa a medida.
¦uma tradução, ndo sei se boa marmóreo a ligação literária. Com menor força
fixa linguagem dos talvez porém mais bem realizada, rentemente desnecessária e tâo O objetivismo histórico exige
ou má, desse livro da mocida- poetas mortos. inesperada. Nessas alturas do nos-
corno estética ou depuração estéti- to meia intelectual a linguagem li- se acrescente
de do poeta florentino. que a atitude do
E' necessário traduzi-los, as- ca, se digo bem. Afinal a crítica terária perdeu muito de s»n dtqn'- último gabinete imperial não
Mal comecei a ler, adaptada sim o exige o valor universal do brasileira surge num empenho de dade interior, de sua autonomia,
é nossa linguagem usual e sem algum modo inteligente e pruden- traduzia o pensamento e a vou-
que não admite te. Virtude nova e necessária em de sua conciència mesma. O seu es- tade do imperador, fervoroso
sabor, aquela prosa e versos /et- pensamento Mas é tilo, a sua forma parecem contami
fronteiras. que poetas nossa critica — a prudência. Um nados e entorpecem. As adepto da arbitragem.
tos em pedra, daquela fresca « são as almas das nações.
Quem crítico prudente ou prevenido — sofrem dessa contaminação palavras que po Em seus últimos dias, ainda
doce côr que o tempo lhes dá
já passou os olhos por uma tra- prevenção no melhor .s"*í'''rfo, já se de muitas vezes condenar um estilo nos dá disso prova evidente o
fiquei triste como se visse o dução francesa dos Lusiadas po- vê — é sempre respeitável t nos e matar todo o sentido de uma imperador, '
ressuscitado, oferece sugestões e aireções sur- a qual, aliás, -te
poeta porem não de imaginar a dor de um por- obra. De maneira quase geral a lin prende a uma questão argeu-
mai:i trajando aquele seu digno tuguês ao ver o verso preendentes. guagem literária se acha a serviço
manto de escuras dobras, mas meiro lhe cantou no ouvido que pri- tino-brasileira. E* sabido que o
ao Positivamente estou gostando da do que há de pior, de mentiroso,
vestido à moda vulgar de nossa abrir os olhos maneira como foi recebido o meu nas idéias, nos sentimentos e nas tratado de Montevidéu, de
a vida, livro. Um começo
época, de calça e paletó.
para muito
transposto numa prosa insulsa vida literária pode ser u<nn desgra- to reclamam talvez seja mais
fácil na intenções. Essa linguagem que tan 1890, queria partilhar entre o»
Mestre, amado como um pat, des- dois países o território contes-
e fria: "Je ckanterai les com- ça. Vm autor conciênte de um mi- respeitada pelos que a louvam (fo tado das Missões. A opinião p;i-
perdoa tratarem indignamente bats et ces hommes courageux... nirno de qualidades de seu livro e que mesmo pelos que surgem ingê- blica
e trazerem para o borborinho As armas e os barões assinala- de um máximo de defeitos e in- nuos e infantis no seu primilivis- opusera-se à ratificação
"Jor-
superficial do nosso meio a tua dos.., parlamentar do acordo. O
qui, de Ia rive occidenta- suficiênçtas rejeitará sempre os fã- mo. Precisa antes ser limpa das nal do Comércio" pediu o voto
figura casta no tempo, como c le de Ia Lusitanie... eeis elogios e reconhece qw o car- pequenas idéias, das intenções e dos
pintou Giotto, respirando urna taz de publicidade náo significa sentimentos que a desmoralizam e de d. Pedro II que, gravemente
inalterável felicidade espiritual nada para o legitimo valor Ue urna dsshumanizam. Precisa reagir con enfermo, se encontrava em Vi-
Que da ocidental praia lusita- obra literária. E quando se trata tra o conforto e a estaun da qairtu- chy. O imperador telegrafou:
simbolizada na flor que entre na"... de um romance premiado através de dos qu:> a exibem com extraor. Sempre contrário à divitão do
teus dedos sonha e com seu in- Este verso começa a crescer das contingências de um concurso dinãrio tato e táo bem estar lite- território das Missões. Em últi-
Visível perfume suaviza a figiu de modo crespo e inverso-, "Que do qual trouxe as melhores razões ràrio.
ra pensativa, curva sobre si mes- da ocidental", uma cris-
de sua evidência, o romancista en- A crueldade que o sr. Álvaro Lins mo recurso, so aceito a arbitra-
o tra-
ma, daquele qtie na vida foi ta de onda alta:forma "praia..." de- tâo nâo se deixará levar jamais achou no gesto que incorporou a gem". A Câmara recusou
mlém... "...lusi- pela risonha unanimidade dos lou- entrevista ao meu romance foi para tado. A sentença arbitrai deu
pois desab e escorre: vores antes^se deve retemperar pela mim de um inesperado sabor e, co- ganho de causa ao Brasil.
Àquele cujo manto escuro re- tana", como a espuma dese- fria unanimidade das censuras, mo provinciano, estou ingenuamen-
Seguindo as instruções repu-
cobre o corpo todo, abotoado do nhando a sua forma sinuosa na mesmo do silêncio e das negações te orgulhoso dela. Entre uma ati- blicanas.
sistemáticas. tude que pode jiarecer primária, Salvador de Mendon-
pescoço aos pés, a mão sega- página de areia.
rando um livro de encontro ao O sr. Álvaro Lins ao falar da car- quase ridícula e a atitude dos que ça conservou-se, ao mesmo tem-
Comparai com a mísera tra- ta que escrevi para "Dom Casmur- vivem tão bem mascarados e pro- po, fiel ás tradições imperiais.
peito, sofrendo o latido feroz do ro" e publicada no volume de tegidos pelos sutis e tranqüilos re- Quão outro fora o curso da His-
Coração leal de amante e cava- dução. ''Chove nos campos dn Cachoeira" vestimentas artísticos
ou espirituais tória nos últimos quartéis d<j
teiro, áe poeta e justiceiro, e Cada poeta deveria viver na considerou-a um documento anti- prefiro aquela, muito mais conciên- século
ilha literário escrito numa linavarjem te. muito mais pronta a err<$r e a se as alevantadas idéia'
que com esse nobre traje andou sua e aquele* que quisessem terra
"ramingo
e tristo" galgando os aproximar-se do deus deveriam confissões a terra. Minha» simplórias mudar porém muito mais pronta a dos delegados brasileiros e de
"detfaUrui quase que o levam a qua- compreender e fixar, aindfi que ru- seu governo houvessem, tam-
degraus scate". primeiro aprender • língua do lificá-tas de ridículas. Reconheço demente, o humano t 9 tuemcial bem, inspirado os governos do
, Antnt te vejo, entre duras pe- «ue • corta Md* rtpreumta no (¦e M dentro de ma. Velho Mundol
tgsnass^mrvKilgsasssiss^^ """'-' -".-.-..- ,-l ¦¦- «SBSWW5WW'-™*- ~^^^mf^l

DOMINGO, 11/1/1942 SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" — VOL. II PAGINA IS

Curso de Estudos da Amazônia


nfto existiu aqui. Quando o ho-
Segunda aula nijiu ap receu na planície já ern
um sser perfeita meni te formar,
conduzindo todos os ek mento
Professor Angione Cosia morfológicos do tipo humane
atual, indivíduo emigrado, acussan-
do os mesmos traços raciais das
tribus que hoje infestam a Ama-
Pre-história e arqueologia zônia. Pode-se discutir a proce-
drncla ou os caminhos que abrem
amazônica na planície os homens da Ama-
zônia. Não se poderá, entretanto,
pensar na evidência de qualquer
encontro de fosseis humanos que
Sou grato ã deferência do ih»- apresentassem os característicos
Ire professor Pio Borges, possibi- das três ou quatro raças que oe>
]itando-me o prazer de falar aos pre-historia dores descobriram nas
professores do Distrito Federal e cavernas de França. O homem
do Brasil, na campanha educati- tia Amozónia, sc pelas suas cui-
va pelos problemas da Amazônia, turas pode assimilar-se a cortas
aberta com o notável discurso do raças da pre-história, do ponto
presidente Getulio Vargas. de vista antropológico, é um puro
Não me é fácil a tarefa, po-tjue ser contemporâneo da história.
a pre-história e a arqueologia E será com a arqueologia que ire-
a mazònica a inda são dois ca- mos tentar um esboço rápido, pa-
ra facilitar um conhecimento me-
pitulca a escrever. O pouco que nos sobrecarregado de incertezas
se conhece sobre as duas discipli- relativo a alguns agrupamentos
nas. anda esparso e diluído por humanos remotos, que ali melhoi
memórias e estudos de -sábios emi-
-«entes material nos deixaram.
do Brasil e do estrangeiro,
geólogos, antropólogos e etnologo.1-.,
estudos nem sempre fáceis de £' assim da maior valia o pou-
consultar porque as mais das ve- co que podemos conhecer sobre a
ies publicados' em compêndios de arqueologia amazônica. Arqueolo-
lingua estranha e de difícil aqui- gia amazônica.é cerâmica. E será
fiçáo, quando não em publicações também o silex e fosseis herdados
periódicas mais fechadas ainda. da pre-história. Como as uibúa
A pre-história amazônica cons- contemporâneas da descoberta,
tuue, a meu ver, um capitulo da seguidas pelas aluais, se achavam
geologia, incluído, a rigor, naquele no domínio de velhas culturas, in-
que os geólogos classificam tíe cluem-se, igualmente, os seus
teologia histórica. Devemos lem- achados entre a nossa arqueolo-
brar que a geologia histórica com- gla. E necessitaremos de estudar
preende a era cenozóica e estuda e localizar, por exemplo, a cera-
os períodos terciftrio e quaterna- mica de Marajó, tão rica nos de-
rio .subdivididos, por sua vez, o talhes da sua mcrfologia; a cerfi-
terciàrio, em plióceno, mióceiio, mica bizarra e caprichosa de Ma-
«ligóceno e eóceno; o quaternário, rara: a cerâmica singela e tra-
em holóceno e pieis óceno. segun- batalha de Cunami, e essa outra,
do as classificações de Charles tâo esquesite e variada, deposi-
Lyell, em 1833; Beyrich, em 18o4- tada quase à flor do -solo, em
1859, e Paul Gervais, em 1860. Santarém. Toda essa arte oleira
Esta classificação, feita sob o cri- que, ao lado dos líticos, ainda
térió paleontológico, ferve para hoje também usados pelas tribus
definir o terciário como a idade amazônicas, cons tuue o mais rico
dos grandes mamíferos, e o qua- material arqueológico da planície,
ternário, como a idade do homem. guarda o segredo relativo ao ho-
Para estudar a pre-história e a mem que a construiu, e este se-
arqueologia amazônica devemos gredo é um problema aberto no
situar a região onde as duas cui- ten lt Vio arqueoiògãoo brasileiro,
turas se defrontam. Precisarr.en- Realmente, nenhum dos tipos de
te a região amazônica compreen- cerâmica reunidos nos quatro
de três aspectos fisiográficos de- grupos citados, era trabalhado na
íinidos: a terra-firme, defendida Amazônia ao tempo da descober-
contra a.s maiores inundações; a ta. Nem naque le século, nem nos
várzea, que submerge em certa que se lhes seguiram, foi encon-
parte do ano; o igapo, zona per- tiada na planície nenhuma tribu
manente submersa e pântanos». que estivesse na posse daqueles
A t«ra-firme inclue-se no pieis- aprimorados dons materiais. To-
tôceno, era responsável pela for- da cerâmica confeccionada pelas
mação de quase todas as terras tribus que dominam a planície,
da Amazônia, terras jovens do modernamente, difere na qual!-
quaternário, terras de aluvião. A dade. habilidade e perfeição, dos
várzea e o igapó, por sua vez. quatro modelos apontados. Os es*
compreendem ainda outras ter- tudos realizados até o presente,
ras mais jovens, produto de sedi- cobre este material teem servido
mentação recente, que o nativo para assinalar, no tempo e no es-
chama tijuco, terras de aluvião paço. a profunda diferença que
classificadas pela geologia como distingue as culturas oleiras atuais
terras de formação holócena. daquelas que constituem o nosso
Nessas diversas forrr.a*;ôe.s geo- principal monumento de arqueo-
lógicas há evidentes sinais de vi- logia. E essa diferenciação de
da fóssil colocados nos depósitos culturas é um dos caminhos mais
do pieis dreno. Dicot ler-ôneos fo- sedutores no território arqueolo-
ram encontrados no Pará, nas re- gico brasileiro, porque ela nos fa-
•Síws do Baixo Amazonas, da la. precisamente, des homens que
Prainha e do Tapajoz. De eras primeiro devem ter dominado na
geológicas anteriores, quando a planície.
Batia Amazônica formava um
mar, conhecem-se, igualmente, A arqueologia amazônica cons-
vários achados fosseis: no rio titue o elemento principal da
Acre, por exemplo, entre o rio modesta arqueologia do Brasil.
Branco e o Xapuri, Chanciless co- No dia em que eia lor estudada
lheu restos fossiliferos de meu*- como nós desejamos e a sentimos,
saur-K (serpente do mar) e de seguraanente muitos conhecimen-
peixes que, estudados por Agassis, tos relativo» às origens do indige-
foram classificados como de for- na brasileiro serão modificados.
mação cretácea. Há igualmente O estudo da arqueologia pelo mé-

I OS E' -
uma fauna abundante represen- todo tipológico poder* esclarecer
taria pelos corais, crusáccos, bra- rumos obscuros da nossa etnolo-
quiopados, lamelibránquios, cela-
lópodos e peixes ganoides. Mais
gia. encadeando ou dissociando
culturas oleiras semelhantes exis-
Carlos Drummond
próximo de nós, isto é, nss for- tentes no continente, que, por ura
mações do terciário, escavaram-
se riquissimos fosseis de mamilc-
roa na região de Pirabaa, encon-
processo de emigração ou de acul-
turaçáo, são atualmente apresen-
tadas como formadoras desses
de Andrade
trando-se ainda outros fosseis grupos culturais. Só assim pode- E agora, José? riso nao veio, Minas não há maiíí
mais mod-stos, pela encosta de remos vir a conhecer afinal a
Salinas até as terras por onde procedência ou origem desses re- A festa acabou, não veio a utopia José, e agora?
corre a Estrada de Perro de Bm- motos povoadores de áreas tão luz apagou, e ludo acabou
gança. Também há notícia da esparsas da Amazônia, e pelo Se você gritasse,
existência de grandes-, mamíferos mesmo processo estabelecer ou o povo sumiu, e tudo fugiu,
do terciário em rios da Alta Ama- não 0 grau de parentesco ou con- a noite esfriou, c tudo mofou, sc você gemesse,
toma. sanguinidade des grupos que pri- se você tocasse
Neste território humoso, risca- meiro ali chegaram em face das e agora, José ? agora, Josc?
do por abundantes cursos de água tribus amais. e agora, Raimundo? a valsa vienense,
em todas as direções, os conheci- E agora, José? se você dormisse,
mentos da pre-história até este e agora, você?
momento ss circunscreveram ao você que é sem nome, ¦ua doce palavra» sc você cansasse,
PEQUENA BIBLIOGRAFIA
domínio da geologia e da paleon- seu instante de íebft, se você morresse,.. 4
tologia. Fosseis animais e vege- INDISPENSÁVEL que zomba dos outros,
tais são testemunhos dessa cultu- você que faz versos, tua gula e jejum, suas você não morre,
ra na planície. Da paleontologia Geologia do Brasil — Avelino aua biblioteca, você é duro, José!
que ama, protesta?
prrpriamonte humana, náo há,
entretanto, notícia. Quando mui- Inácio de Oliveira e Othon Hen- e agora, José.'
-tua lavra de ouro, Sozinho no escuro
ry Leonardos — Rk> de Janeiro,
to. poderíamos referir-nos' á es- 1940. Está sem mulher, »eii terno de vidro, qual bicho «lo mato,
tra nha espessura de um crânio sem teogonia,
de sambaquí encontrado pelo na- Geologia do Estado do Par* — está sem carinho, sua incoerência, ,
turalísta Ferreira Pena, na região Dr Friedrich Katzer. tradução está sem discurso, seu ódio — e agora ? sem parede nua
tie Salinas, documento is'iado e de Frei Hugo Menie — Pará, 1929. não pode beber, Com a chave na má» para se encostar,
mal estudado, que não pode der- * já
rogar a afirmação. O ambiente Introdução * Arqueologia Bra- já não pode fumar, quer abrir a porta, sem cavalo preto
slleira e Migrações c Cultura In-
físico da Amazônia está demons-
digena — Angione Costa — Sao pispir já não pode, Bão existe porta; que fuja a galope,
trantlo que a terra era excessiva- e 1938. •quer morrer no irar, entretanto íorte,
mente jovem para possibilitar o Paulo, 1934 a noite esfriou,
aparecimento da espécie humana. Arquivo» do Museu Nacional — o dia não veio, ¦ias o mar secou: você segue, José!
O homem pre-histórico, contem- vols. I, IV e VI — Rio dat Ja»eJ- bonde não «oa. afucr ir para Minas, , José, para ondcíl
poráneo 4o quaternário Iianc*. n — 187t, Ul», UM.
T^,__^-r?r-r;ara,.,Tya '• ^l-.-rnie^yf.

"A MANHA" — VOI- n DOMINGO, U'l/l»K


PAGINA 16 SUPLEMENTO LITERÁRIO DE

A vida é de cabeça baixa - ** *m A Colaboração


de Filobiblion
escritos e não faço jamais corrigenda a faltas ia mmha revi- dia.
Achado n.* S
tlUNCA SE SABE... sào porque tenho, infelizmente, já 13 anos de jornalismo
. rio Os que escrevem em jornais sabem o quanto sao comuns tats O coronel de engenheiros Anto-
Contar a vida é uma espécie ie masoquismo. Pelo menos, e errgs Mas a Maciel Júnior respondo maguado. tlao pelas sus- nio José da Silva Paulet serviu nu
mesma, ie — porque capitania do Ceara durante o g,>-
um moio humilde ie amar essa mulher, que nunca é a ceptii,mdades que a sua interpretação possa trazer verno de°ina Manuel Inácio de Som-
.mar essa mulher por quem, afinal, todos se matam. Eu penso iíacíei juni0r inteligente, ardente, polido, foi capaz de julgar e
••¦¦•¦- ----- —- "*- '-*- pato {depois primeira vis-
na minha vida como se a acariciasse. A voz com que lhe falo sl,bitamente idiota quem continua, pelo menos, com intehgen- conde ie Lançaial, ie 1812 a 181!),
acaba sempre calada num beijo. aa para ser seu admirador sincero". como seu ajudante de ordens. Fui
— Minha! Quando digo assim, sou em que me sinto entregue, por determinação desse governa-
tou eu que te pertenço, minha... minha... minha... dor que levantou a carta topogra-
Tudo aparece sem seguimento. Vinte anos... Cinco anos... PAULO BARRETO fica da capitania, gravada na lüa-
do Arquivo Militar, em líim,
Ouatorze... Cinqüenta... Depois... Antes... Uma porta largx grafia
B« rua da Igreja em Porto Alegre vem na tarde morrendo em baram Os seus últimos meses, tio barulhentos, tão i vista, pertur- da qual possue um exemplar a Bi-
sinos, salgueiros, um pouco a lembrança que deveria deixar. Fala-se, quan- blioteca Nacional, bem como copia
tlorença, com aquele perfume Enigma, entre '° à mão,commais
a ai- feita perfeita e digna
corujas... Corpos saem de paisagens... Paisagens saem ie io pensa em João do Rio, no jornalista. O escritor tem
lo se pensa apreço, a da vila da
asas... Beleta canta Vidalita numa aula ie Direito civil... Jesus tfto miração de alguns escassos leitores. O homem esta esquecido, Fortaleza. A Pauletplanta atribuiu-se «
o revelaram. Ficou sendo, na opinião maior, um demolidor "Descrição Geográfica
Cristo e Talleyrand diante ie uma vitrina cheia de boné- autoria áa
param — pago, — e um mestre gratuito de maus discípulos. abreviada da Capitania do Ceará",
cas... As minhas primeiras calças compridas passeiam pelo úl- terrível o artificial. O natural, a terra comeu. Paulo Barreto na- que o conselheiro Tristão de Alen-
tinio ato da Boêmia... "Salve, Rainha, mãe de misericórdia..." Sobrou aqui Araripe divulgou na "Revista
Uac West toca Débussy... Amor, delicia e órgão... Levanto tvral porque a poesia nele era um estado de nascença,nãoestao trai- car do Instituto tiisiórieo", tomo LX,
as músicas que ouvi em nesta carta mandada a uma das raras criaturas que
Paris nas minhas mãos peqxienas, vejo I, ps. 75-101; fazendo-o, con
Pari;... Renan volta numa rosa... "Trocar tudo que se teve por ram, nesta comoção pequena carta, irreverente, fantasista, irônica, es- oparte alto critério de investigador con-
a imensa:
ttido que se sonhou..." Santa Cecília... Hamleto... Venus Cali- condendo •Fazes hoje, definitivamente vinte e cinco anos. Eu também sumado que era o conselheiro, no-
"O maior dos prodígios!" O tou que a letra das palavras qu«
pigia... O fim da Casa de Boneca: te ver com uma pérola davam a autoria ao coronel, nãu
começo da Bíblia: "No princípio Deus criou o céu e a "Das terra..-" íefinitivamente perdi a esperança de tinhas iezoito de idade. era de caráter igual ao da letra d<t
Não foi o paire Manuel Bernaries que descobriu?-. tris- cue te
.* enviei
.......... há dois anos,
"-------•-_... quando inuca
ie<umacamaradagem louca' «»e data como titulo e do corpo de memória, que ,t
aur a^*,«0^
tetas não se pode contar nada ordenadamente porque desordena- "mca recordação ante. deCristo. Mas «%r°'aerJ evidência mostrava ser mai: an-
temente acontecem elas". Das tritezas e dos intervalos. vinguem ignora, do ano 2025 tlga.
Também nunca se sabe se as coisas acontecem quando de- «nel.Jmapenhor'£$^*1ZZ£^Z«^ A "Descrição Geográfica" ê um
wem acontecer J-m dos documentos mais instrutivot
Vver é misturar símbolos breves das ternura, humanas, dois anéis que nio pode- que se podem consultar sobre a ter-
,is por no prego, mas que teem um grande valor de beleza her. ra cearense nos começos do séeula
'A LENDA DAS ROSAS" E REMY DE GOURMONT méttctt. O primeiro è um crisóprasc, a.que o, russo*l0*™™J> passado, em relação à sua geogrâ-
pedra da sorte e que foi, segundo ocultistas,autoratuaede o palácio aa eterna fia, geologia, clima, população, vi-
outros Ias, lavoura e indústria; as cècas,
Deixei o "Fon-Fon!" por causa da ¦¦Seleta". Foi depois <to esperança. O segundo é uma pedra da»lua,«««™; """J? " que flajeiam o território, lança a
.vareeimento dessa revista na mesma empresa, pelo aumento malucos como eu. Usaras um nacarne na "?'" ,,
«™r3* autor à conta do "mal entendido
io meu trabalho sem resultado para mim, e pelo aumento io ca- rcita. E quanio o ponche da tua WJ*<*r sistema ern agricultura de derru-
os dois fatores ™ae"™"¦,;', "*
Tital dos patrões com resultado para eles, que eu descobri a mi- tu. erguendo as mãos, agitara, bar todas as matas para semearem
nha vocação ie pobre. Daí em diante, tenho me consolado em todos nós-, a esperança renitente e a ".'"fj^1'''0 aa oonaaae. tom
novos terrenos, onde há plantações,
o o abuso de lançar por terra as àr-
se, uma ponte por onde o dinheiro passa, suspira e li se vai. toda a vida. embriaguez da terra, Satanas
coração, Paulo, vores só para colher os favos dn
Hão volta mais. Um trânsito, afinal de contas, divertido. mel que as abelhas nelas fabri-
A falta de emprego, em 1916. me deu Remy de Gourmont, cam...".
hdo todo. o que eu nâo ignoro, devo a Rumy de Gourmont. E A MINHA CELEBRIDADE EM PARIS.. O espetáculo lastimoso ia reti-
~A Lenda das Rosas", escrita durante as férias de graça ainda rada das populações do interior
hoje vale por todos ot "week-ends" que eu nâo posso fizer... Havia em Paris, na rua Bergère, am Ikofel que, nlo sei por para a beira d- mar, no rigôt da*
r,uc hospedava principalmente pessoas do Brasil. Entre essas secas, deixando pelas estradas cal-
chiadas os corpos dos que não re-
DESENTENDIMENTO pessoas esteve li, dona Otilia Silva. E, aliando esteve, também sistiram à fome e à fadiga, descre-
estavam li outras pessoas de Porto Alegre. De volta, encontrando
ve o autor com uma simplicidade
Na sua secção d''O Pais", — "Pall-MaU.Rio", que ele assi- mmha mãe, dona Otilia^ perguntou: q:ie náo deixa de ser oomoventr..
Utíva José Antônio José, Paulo Barreto publicou uma. nota sobre Enfio o jííuaro desmanchou • casamento com a ZairaT Na espantosa seca de 1790 t 1791
A Lenda das Rosas", exagerada pelo bem que me queria. No Minha mãe respondeu: [escreve ele), viu-se trocar um
mesmo dia, "A Noite'' trouxe esta carta de Maciel Júnior, com o Não sei... meio ie sola pc * uma bolacha.. .'•.
"Em Paulet d xou sua comistâo no
titulo"Sr. defesa do Rio Grande do Sul": E dona Otilia: Ceará com a saida do governador
diretor da "A Noite" — Não morrerão sem o meu pro- Pois em Paris náo se fala noutra coisat Sampaio e Pina, em janeiro it
testo os seguintes tópicos, da crônica do "País", de hoje, intitu- 1819; em 1821 era comandante mi*
lada "Pail-At ali-Rio", a propósito de um livro de versos do ins- ONDE ESTAIS? ONDE ESTAIS! ( ((tar em Sáo Borja, onde o encon-
vate gaúcho Álvaro Moreyra-, trou o naturalista Auguste ds
pirado "O espantoso é itaint-Hllairi, que ali jr.madeo» ds
que esse artista tão pessoal, tão delicado, tão Meus companheiros da turma de bacharéis ia Faculdade Ll- 19 de fevereiro a 1 de março
fino, tão sensível e tão profundo, tenha nascido numa terra de do Rio de Janeiro, em 1912: Abelardo Aiarico dos i-Vogage à 342-352, Rio Grande do Sul —
escândalo violento da paisagem, de "parvenus" opacos e de per- vre de DireitoLopes de Almeida, Alexandre Ludolf, Alexandre The- Brésil", ps. Orlèans, 1881).
nosticisnw amalaniraio.Mas, como as exceções são a forçadas Reis, Afonso Saint-Holaire com ele boa atni-
. Nei . (
"Figueired0t „. áa sade e o louvoufez sem restrições. O
regras, Álvaro Moreyra deu ao Rto Grande do Sul o prazer de
te, nascido lá..." ^ ^ ^mU) ^^ ^ Antò^io Barref0 coronel poi; ía realmente boas le-
"José Antônio José" è "João do Rio", Paulo Barreto, no dizer V.nhas, Antônio Dantas Coelho, Antônio Qomes Júnior, Antônio sâo tros; mas Alencar Araripe teve ra-
*m 'evantar a pri eira suspei-
Vieira Braga Júnior, Apoio de Morais, Antenor Ferreira Roma- "Des-
torrente dos "encantadores". Temos, assim, a blasfêmia, injus- r,t, Aristides Freixo Lobo, Arnaldo Bettencourt Belford, Amoldo ta a respeito da autorir da
ta e injustificável, contra a cara terra riograndense. na boca de Medeiros da Fonseca, Belarmino ia Gama e Sousa, Benjamim crição Geográfica", cue ihe con^e-
tmro ie um ios imortais ia Academia. Rei. Bernardo Garcez, Brasitio ia Luz Júnior, Cândido Batista riram, e que depois veio « verif%*
Por que? Talvez o próprio "João io Rio" nâo o saiba, por- Antunes Cindido Natividade da Silva, Carlos Augusto Moreira ear-se perta-cer ao bacharel Joã<*
Antônio Rodrigues Ae Carvalho,
tflíanto há bem poucos dias, naquela mesma originalíssima co- Guimarães Carlos Schverin, Castelar da Gama Cabral, Crisilito natural do Rio de Janeiro. Kra Ro-
tona, s. s. declarava, muito espontaneamente, ser -quase rio- chaves de Gusmão, Clovis Dunshee ie Abranches, Djalma Pi- drigues de Carvalho j-.íis de fóra ds
tranien.se"! nlteiro Chagas, Eiuario ia Silva Ramos, Eurindo Neves, Eva- Gaiana, Pernambuco,de desde 1908,
Seja lá como for, o certo é que o ilustre escritor nâo tem rfs(0 ferreira ia Veiga, Everaldo V. de Miranda Carvalho, Fausto quando em outubrocomarca 1814 foi no-
ttreito de assim imprecar contra o meu torrão natal, a menos Moreira, Francisco Antônio Muniz, Francisco ie Assis Vasconce- meado ouvidor da do Cea~
O governedor Sampaio e Pinn
qne queira fazer praça de ignorância ou de má vontade siste- ;os> francisco Baltazar da Silveira, Francisco Cristóvão Cardoso, recusou-se a dar c mprimento *
ttáttca. -pernosticismo Francisco Coelho Gomes, Francisco de Castro Soares, Francisco carta de nomeação, por não trazer
O amalandrado" tem o seu berço alhures, de PauUí Santiago. Genesio Cavalcanti. Hugo de Carvalho, IU- a fé do jurameto n». chancelaria;
não Ia, onde da simplicidade de costumes ainda restam vestígios „,ttm Marcondes Machado lvo Pagani, João Carvalho Santos, de modo que, satisfeita a nuga im-
furtes, que o tempo mau ji ie todo varreu noutras bandas; João Leã0 ie Faría, João ie Oliveira Franco, Joaquim Fonseca rocrática, somente aouvidor & de Maio do
Álvaro Moreyra, por ser um delicado artista do verso, nio é, con. vieira, Joaquim Santos Júnior, José ie Araújo Coutinho, José outro do ano pôde o tomar
cargo.
tudo, o único rebento que as musas dos pampas acarinharam, ae Arauj0 Lima. josi de Assis Martins, José Ferreira Facó, José posse -Descrição teria
to nascer. Thedim A Geográfica"
de Siqueira, Luiz Pnto ia Silva Pereira, Mario ie Deus escrita antes de 27 de junho
Pediria eu ao ilustre Benjamin do Silogeo que, de outra fernandes Manoel Bica de Almeida, Mario do Rego Monteiro, sido de 1816, porque menciona uma só
feita, fosse para com o Rio Grande menos agressivo e mais jus- Mario da Süva Araújo, Mario de Souza Magalhães, Moliano Crês- comarca na capitania, quando i
tecetro. _ Olegario da Silva Bernardes, Ribeiro, Oscar Ju- certo que depois daquela data s*ra foi
_ . Olímpio Tlto_.._._
Agradecendo, sr. diretor, o acolhimento que dará a estas li Couto, Ornar . Murgel Dutra, Oscar Orestes da Rocha, Per- criada a ouvidor do Crato, e nomeado
José Raimundo *
nhas, subscrevo-me, muito grato, etc. F. Antunes Maciel Ju- gurta gentino Pereira Guimarães, Raul da Costa Bastos, Romualdo Pa- primeiro
wor — 10 de agosto ie 1916". Paçoy Por-bem Barbo*»., empossado
Da longa resposta de Paulo Barreto, copio-. gani, Rubem Braga, Saverio de Castro Pentagna, Senhorinho G. em 17 de dezembro do ano seguiu-
"Eu. não posso agredir o Estado do Rio Grande do Sul Pessoa. Serafim França. Teodomiro Pena Vieira, Tome Reis, Vi- te. O ouvidor Rodrigues de Carva-
^tor de^ „.„two
Matos „., Rudge, ... VirgíVo Benevenuto, Virgílio Seabra de Melo, lho, em 30 de março de 1817. }<A
Porque não o conheço, nâo o visitei e seria apenas um cretino ,e /7iiaro'rèíxêira"7e'Meio, CleaJitVoJêquiriçaJFrancisco Melo. preso como revolucionário e ada-
irseompusesse um Estado inteiro, sem motivo; 2° — porque, onde estais? Onde estais? rente às idéias dos republicanos de
tendo eu de uma familia que está na história da formação he- Pernambuco; um mis depois er%
ròica do Rio Grande, desde antes da independência, e sendo MORTES remetido para Lisboa, embarcado
na galera "São José Jequá". e a i
teu único descendente direto na linha masculina, seria um pas- ie junho, er 40.* de latitude, ex-
trana se pelo Rio Grande nio tivesse a simpatia moral e se cha- Tenho morrido muitas vezes. Na intimidade. Em público já crevia ao ministro Targini {barão
masse os meus parentes de nomes desagradáveis; 3.» — poraue mf aconteceu iss0 com um jníertialo de dois anos e cinco meses, de São Lourenço), longa carta, em
uté hoje. entre os riograndense, visíveis, — daqueles de que nao 7M capital portuguesa e no extremo norte brasileiro. Li os ne. que narrava as circunstância» de
tou camarada, sou. pelo menos, admirador cheio de simpatia; croiógios. Fiquei triste. Continuando no mundo, eu (a iesapon- sua prisão. Livre de culpa ae segur pena,
*.» — porque, se me atacasse a estupidez para áescompor o Rio tar os mnigos que 0- escreveram. Nuno Simões, por exemplo, que Rodrigues deputado à
de Carvalho foi
Assembléia Constituiu-
Grande em bloco, eu, que disponha de varias primeiras colu- na APiiria„ ie Lisb<Mi ,e descobriu "respeitosa e comovidamen te de 1823 pela provincia io Cea-
nas e escrevo de vez em quando coisas graves, nao iria pedir u„ diante d0 me„ cadaver, em 15 de agosto de 1023. Por exem rá, senador por essa província em
José Antônio José o final de um despretencioso átario mundano , Rmt d. Áseved0 que no "libertador", de Manaus, em 22 de 1826, primeiro presidente de Santa
para insultar o Rio Grande no elogio de um poeta alem do mais eantiro ie 1926. acfcou que ie certo eu devia "ter tido um sorriso Catarina,Tribunal e acabou minis*ro do Su-
riograndense, e, como todo riograndense, "bairrista"... Eu fala- auando a morte" me 'golpeou" premo
lecer no Rio
de Justiça, até '! fa-
de Janeiro, ern d*
pa do Brasil no momento atual. Repetia o que tenho dito várias janeiro ie 1841, sendo sepultada
vezes. Basta notar aquele "escândalo violento da paisagem". Não nas catacumbas da Ordem do Car-
mr- consta que o Rio Grande, o pampa, tenha violências de pai- "Morre muito moço Álvaro Moreyra. E ele nos deixa uma mo.
togem. Agora o jornalista e não o deputado Maciel saiba mais, profunda, uma grande, uma intensa saudade" Escreveu outros trabalhos, '('**
çtíe esse trecho, escrito à última hora e não revisto pelo José cila Sacramento Black, -Diciatia-
Antônio José, terminava a sua última oração assim: "Álvaro Depois, abracei aqui Nuno Simões, de oltw voz... Com Raul ric Bibliográfico Brasileiro". "Descrn-ia
''.'•
Moreyra nasceu no Brasil, dando ao Rio Grande", etc. A opinião de Azevedo ainda viajo, de quando em quando, no mesmo ônibus, pi. 321: juntr-se al a com-
era quanto ao Brasil e â sua crise atual, sem a odiosidade, sem, c ele nio se assusta... Geográfica**, e fica sua ficha
Mas corrija-se a natural")*-
tyimo Maciel diz muito bem. "a blasfêmia injustificável" contra Entretanto, agora, ando me sentindo um pouco fantasma... plettt. ie e data do /alecimenlo. -ul <•*
trn. Estado. Não respondo nunca • iiéiat que formem iot meus Há dt ter do tempo. pra".

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