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Apostila para Professores Sobre o Paraolimpismo PDF
Apostila para Professores Sobre o Paraolimpismo PDF
para os Professores
de Educação Física
www.cpb.org.br
VANILTON SENATORE
Coordenador-Geral do Desporto Escolar
Vanilton Senatore
Licenciado em Educação Física pela PUC Campinas/SP, 1972
Professor concursado do GDF, desde 1974
Coordenador Adjunto da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1987/1989
Diretor do Departamento de Desportos das Pessoas Portadoras de Deficiência – Secretaria de Desportos da Presidência da
República, 1990/1993
Coordenador Geral do Desporto Escolar do Comitê Paraolímpico Brasileiro
Revisão:
Sérgio Augusto de Oliveira Siqueira
e-mail: paradesportosergio@hotmail.com
Impressão:
Gráfica Cidade
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN : 85-60336-00-1
978-85-60336-00-5
CDU: 796.015
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
PARAOLÍMPICOS DO FUTURO
Vanilton Senatore
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................ 09
CAPÍTULO 2
O ESPORTE ADAPTADO E PARAOLÍMPICO COMO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Pedro Américo de Souza Sobrinho
2. DEFICIÊNCIA .................................................................................................................................................. 26
CAPÍTULO 4
OS JOGOS PARAOLÍMPICOS
Coordenação de Comunicação do CPB
Compilação: Leandro Ferraz
O projeto Paraolímpicos do Futuro, que ora se inicia, faz parte de nossos anseios há um bom tempo.
Mais precisamente desde 2001, quando foi sancionada a Lei Agnelo/Piva, verdadeiro divisor de águas na
história do esporte brasileiro. A referida lei, que destina recursos para o fomento a diversas áreas da
prática desportiva, atende também ao meio escolar.
Sempre defendi que, antes de tomarmos qualquer iniciativa com relação ao desenvolvimento do
esporte para crianças e jovens com deficiência na escola, precisávamos criar uma cultura do esporte
paraolímpico no país. De fato, hoje, a sociedade está bem mais sensível a esta nobre causa. E, sem
sombra de dúvida, o desempenho de nossos atletas na Paraolimpíada de Atenas, em 2004, muito contribuiu
para a exposição e a conseqüente visibilidade do esporte de alto-rendimento para pessoas com deficiência.
No contexto atual de escola inclusiva, na qual alunos com e sem deficiência estudam juntos, o
Paraolímpicos do Futuro vem preencher importante lacuna: apresentar à comunidade acadêmica o
esporte adaptado, torná-lo ferramenta de integração e, ainda, garimpar futuros talentos. Com uma
estratégia de implantação gradativa, que se estenderá até 2008, o projeto tem, para 2006, ações
programadas nas cinco regiões geográficas do Brasil: Santa Catarina (Região Sul), Minas Gerais (Sudeste),
Mato Grosso do Sul (Centro-Oeste), Ceará (Nordeste) e Pará (Norte).
O trabalho tem cronograma de etapas diferenciadas prevendo a preparação do material didático e
de divulgação e a sensibilização dos agentes envolvidos diretamente. A meta do ano é levar a informação
para 3.000 escolas, média de 600 em cada uma das cinco unidades da Federação, e treinar 6.000
professores de educação física, dois em média por unidade escolar.
Como fechamento do ano, o Comitê Paraolímpico Brasileiro realizará em outubro, em parceria com
o Ministério do Esporte, o I Campeonato Escolar Brasileiro Paraolímpico de Atletismo e Natação. A
competição possibilitará a criação de ranking dos jovens atletas, que poderão pleitear, em 2007, a
Bolsa-Atleta, programa de incentivo do governo federal.
O próximo passo será seguir o rumo de integração hoje existente entre Olimpíada e Paraolimpíada,
bem como Pan-americano e Parapan-americano, competições indissociáveis, dentro de uma mesma
estrutura organizacional. A idéia é aproximarmos os Jogos Paraolímpicos Escolares das já tradicionais
Olimpíadas Escolares e Universitárias.
Como pode ver, caro(a) professor(a), na qualidade de referência dos alunos, de formador de opinião,
você só tende a alavancar a plena ambientação dos estudantes com deficiência na escola. De posse de
nova capacitação e de compromisso sedimentado em bases éticas e humanas, sua participação é
fundamental para o sucesso do projeto.
PARAOLÍMPICOS DO FUTURO
APRESENTAÇÃO
O Comitê Paraolímpico Brasileiro – CPB dá, em boa hora, um passo de suma importância na
disseminação do conhecimento sobre o movimento paraolímpico em nosso país ao apresentar o projeto
“Paraolímpicos do Futuro” que tem como objetivos e metas aumentar o conhecimento sobre o esporte
para as pessoas com deficiência. Com esta iniciativa o CPB deposita suas esperanças e expectativas em
uma proposta que, baseada na participação da nossa categoria, contribuirá para a melhoria do
entendimento e para o crescimento seguro do esporte paraolímpico. Os profissionais de educação
física, atuantes nas escolas do ensino fundamental e médio são, sem sombra de dúvida, os que podem
dar a melhor contribuição para o sucesso desse trabalho. A convivência deles com crianças, jovens e
adolescentes, portadores ou não de deficiências, no ambiente escolar, é a melhor oportunidade e o
momento mais adequado para que seja revertida uma situação que, há muito tempo, vem reforçando
preconceitos e equívocos. Ao oportunizar a prática esportiva para os alunos com deficiências, os
professores de educação física estarão rompendo e substituindo muitos paradigmas: da incapacidade
pela capacidade, da baixa estima pela alta auto-estima, da exclusão pela inclusão. Certamente a maior
vitória nesse processo será nossa contribuição para formação de cidadãos mais conscientes, justos e
solidários. Para auxiliá-los nesse trabalho, estamos apresentando esse primeiro manual que trata um
pouco da história do movimento, das características de cada uma das deficiências que são elegíeis para
o paraolimpismo, da legislação que assegura o direito a cada um de ter o acesso à prática esportiva e
como a escola inclusiva pode contribuir nessa caminhada.
1. UM PROJETO DESAFIADOR
Há quanto tempo ouvimos que crianças e adolescentes são o futuro do Brasil? De fato, nosso
presente reflete apenas ações e estagnações do passado. É inegável que questões históricas refreiam o
progresso do país em campos essenciais, como o econômico, o educacional e o social, por exemplo. O
que dizer, então, das barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência neste Brasil eternamente jovem,
promissor e “em desenvolvimento”?
Neste contexto, o esporte torna-se uma das mais importantes ferramentas de inclusão social e nele
o Comitê Paraolímpico Brasileiro, preocupado em contribuir para a evolução, o desenvolvimento e o
aprimoramento humano do nosso país, apresenta o projeto “Paraolímpicos do Futuro”. O projeto tem
como objetivos divulgar o movimento paraolímpico, oportunizar e facilitar a implantação, em abrangência
nacional, da prática do esporte para pessoas com deficiência a partir das escolas do ensino fundamental
e médio, das redes pública e privada.
Tendo por base o fundamento e a determinação da lei no 10.264/2001, conhecida como Lei Agnelo/
Piva, que destina parte dos recursos para aplicação no esporte escolar, o CPB centra seus esforços
buscando no sistema de ensino fundamental e médio o caminho natural da renovação, consolidação e
fortalecimento do paraolimpismo em nosso país.
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Este deverá ser o norte a ser seguido por este projeto que, entre suas metas, pretende tornar o
movimento paraolímpico mais conhecido em toda a rede de escolas do ensino fundamental e médio.
Para isso, propõe executar ações de sensibilização e capacitação dos dirigentes e dos profissionais de
educação física atuantes no sistema de ensino. Os profissionais de educação física são de fundamental
importância para o projeto ao desempenharem o papel estratégico de agentes na identificação e no
incentivo para que os alunos elegíveis para o movimento paraolímpico iniciem a prática esportiva em
época mais propícia e adequada do seu desenvolvimento psicomotor.
O CPB entende que a preparação dos professores envolvidos será o fator fundamental e que propiciará,
além do crescimento quantitativo do movimento, a qualidade na oferta de opções de programas de treinamentos
e competições esportivas para estudantes, crianças, jovens e adolescentes com deficiência. Para tanto, é
importante que se desenvolva um trabalho diferenciado e que todos os alunos possam participar, efetivamente
e sem nenhum tipo de exclusão, principalmente os mais jovens e menos habilidosos esportivamente.
Esse trabalho diferenciado exigirá dos professores envolvidos um perfeito entendimento e um grande
compromisso com a proposta apresentada e que não se permita confundi-la com programas esportivos
tradicionais que, via de regra, privilegiam somente aqueles que são os mais talentosos no campo esportivo.
Nesse diferencial reside, sem dúvidas, o nosso maior desafio.
Inicialmente, é preciso resgatar alguns fatos referentes às origens do esporte paraolímpico no mundo
e, em especial, no Brasil, onde a história teve seu começo há aproximadamente meio século e já é plena
de lutas, competições, conquistas e glórias.
NO MUNDO
O esporte tem comprovada importância na qualidade de vida de qualquer pessoa e, sem dúvida, é
muito mais importante ainda para as pessoas com deficiência. Ao fazermos essa afirmação estamos nos
baseando não apenas no que a atividade esportiva pode contribuir para o desenvolvimento físico de
todas as pessoas, mas principalmente na sua possibilidade como poderosa ferramenta de ajuda na
reabilitação e inclusão das pessoas com deficiências junto à sociedade. Mais que tudo, o esporte lhes
propicia independência.
O esporte para pessoas com deficiência existe há mais de 100 anos. Nos séculos 18 e 19 a contribuição
das atividades esportivas foi maior no sentido da reeducação e da reabilitação das pessoas com deficiência.
Depois da I Grande Guerra (1914/1918), a fisioterapia e a medicina esportiva surgiram como recursos
importantes na recuperação das cirurgias internas e ortopédicas.
As primeiras notícias da existência de clubes esportivos para pessoas surdas datam de 1888, em
Berlim, Alemanha. Em agosto de 1924 foram realizados, em Paris, os Jogos do Silêncio, com a participação
de 145 atletas de nove países europeus. Essa foi a primeira competição internacional para pessoas com
deficiência. Durante o evento, no dia 24 de agosto, foi fundado o Comitê International des Sports
Silencieux – CISS.
Em 1944, ainda durante a segunda grande guerra, o governo britânico contratou, entre outros, o
neurocirurgião alemão, Dr. Ludwig Guttmann, para começar um trabalho de reabilitação para lesionados
medulares dando origem ao Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville na Inglaterra.
Dr. Guttmann, também uma vítima da guerra que, como judeu, foi obrigado a fugir da Alemanha
nazista, marcou seu trabalho de reabilitação médica e social direcionados aos veteranos de guerra, pelo
uso da prática esportiva como parte do tratamento médico.
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
O sucesso do trabalho motivou o Dr. Guttmann a organizar a primeira competição para atletas em
cadeiras de rodas e no dia 29 de julho de 1948 – exatamente a data da cerimônia de abertura dos Jogos
Olímpicos de Londres, aconteceu a competição denominada Stoke Mandeville Games. Em 1952, ex-
soldados holandeses se uniram para participar dos jogos de Stoke Mandeville, e juntamente com os
ingleses, fundaram a ISMGF – International Stoke Mandeville Games Federation – Federação Internacional
dos Jogos de Stoke Mandeville, dando início ao movimento esportivo internacional que viria a ser base
para a criação do que hoje conhecemos como esporte paraolímpico.
Oito anos depois, em 1960, incentivados pelo Dr. Antonio Maglio, diretor do Centro de Lesionados
Medulares de Ostia na Itália, o comitê organizador dos jogos de Stoke Mandeville aceitou o desafio e
realizou os jogos em Roma logo após a realização dos Jogos Olímpicos. Usando os mesmos espaços
esportivos e o mesmo formato das olimpíadas, 400 atletas de 23 paises participaram da primeira
Paraolimpíada. A partir de Roma em 1960 e sempre a cada quatro anos, os jogos vêm sendo realizados
de forma cada vez mais organizada e sempre com um número crescente de países participantes. Até os
jogos de 1972 em Heildelberg, Alemanha, apenas atletas em cadeiras de rodas participavam oficialmente
dos jogos. Em 1976, nas Paraolimpíadas de Toronto, Canadá, houve a inclusão dos atletas cegos e
amputados e, a partir de 1980, em Arnhem, na Holanda, a inclusão dos paralisados cerebrais.
A décima segunda edição dos jogos aconteceu em Atenas, na Grécia, berço do movimento olímpico
e Pequim, na China, está-se preparando para receber a décima terceira edição dos jogos em 2008. Um
dado importante e que demonstra a força do movimento e o seu crescimento contínuo foi o número
de países e atletas presentes em Atenas: 3.806 atletas representando 136 países, número maior do que
os de Munique nos Jogos Olímpicos de 1972. No capítulo 4 - “De Roma a Atenas” - você encontrará
mais detalhes da história de cada um dos jogos paraolímpicos de verão e da participação brasileira neles.
O dinamismo e a força do movimento paraolímpico levou seus organizadores a mais um desafio:
esportes de inverno e, em 1976, foi realizada a primeira Paraolimpíada de Inverno, evento que teve
como sede a cidade de Ornskoldsvik, Suécia. A partir de então e até 1992 os jogos de inverno aconteceram
no mesmo ano dos jogos de verão. Em 1994 o ciclo foi ajustado passando a ser realizado no mesmo ano
dos Jogos Olímpicos de Inverno. A nona edição das Paraolimpíadas de Inverno aconteceu na cidade de
Torino, Itália, em 2006.
Pelo uso constante que fizemos nos parágrafos anteriores temos uma palavra que já nos é bastante
familiar, mas cuja origem precisa ser esclarecida. A palavra Paraolímpico deriva da preposição grega “para”
que significa ao lado, paralelo e da palavra “olímpico”. Os jogos paraolímpicos começaram em paralelo aos
Jogos Olímpicos de Roma, em 1960. A palavra paraolímpico era originalmente uma combinação de
paraplégico e olímpico. Entretanto com a inclusão de outros grupos de deficientes e a união das associações
ao movimento olímpico, mostraram que agora os dois movimentos existem lado a lado.
Desde seu início, em 1948, houve por parte dos organizadores dos jogos para as pessoas com
deficiência uma grande preocupação em tornar a competição a mais justa possível levando em
consideração a situação médica de cada participante e, dessa forma, foram surgindo diferentes classes
de competidores agrupadas por tipo de lesão. O que inicialmente era apenas uma classificação médica
ganhou muito com a contribuição dada pelo professor de educação física, o alemão Horst Strohkendl.
Com seus estudos baseados no desempenho dos atletas ele estabeleceu uma classificação funcional que
tem por base a possibilidade de utilização da musculatura e das articulações preservadas de cada atleta.
Essa junção da classificação médica e funcional tornou ainda mais adequada a divisão das classes de
competição permitindo que, em praticamente todas as modalidades esportivas, os atletas possam participar
em condições mais próximas em relação às suas deficiências e com isso os resultados obtidos passam a
ser conseqüência natural do talento e do treinamento de cada um. A contribuição do Professor Strohkendl
foi de grande valia para que o princípio da igualdade pelo esporte pudesse ser atingido.
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Aqui abrimos um parêntesis para falar sobre a participação dos atletas com deficiência mental no
movimento paraolímpico. A primeira participação deles ocorreu em algumas provas de atletismo em
caráter de demonstração nos jogos de Atlanta, USA, em 2006. Para os Jogos de Sydney, Austrália, 2006,
eles foram oficialmente incluídos nas modalidades de atletismo, basquetebol, natação e tênis de mesa.
Em razão de problemas sérios de irregularidades e fraudes encontradas quanto à elegibilidade de alguns
atletas presentes em Sydney, houve a suspensão dos atletas com deficiência mental das atividades
promovidas pelo IPC até que se encontre um meio eficaz e seguro de definir sua elegibilidade e por isso eles
não participaram dos jogos de Atenas 2004. Em decisão recente do IPC publicada em sua página eletrônica
de junho de 2006, foi reafirmada a definição de não-participação dos atletas com deficiência mental até os
Jogos Paraolímpicos de Pequim – 2008. A partir de 2009 o sistema de elegibilidade passará a ser de
responsabilidade de cada modalidade esportiva, cabendo a ela definir, se for o caso, as normas de participação
dos atletas deficientes mentais.
O surgimento do esporte das pessoas com deficiência e seu crescimento em todo o mundo fez com
que gradativamente fossem criadas entidades mundiais nas diversas áreas de deficiência com a
responsabilidade de melhor administrá-lo. Dessa forma e em ordem cronológica, tivemos a fundação
das entidades a seguir relacionadas.
Para melhor compreensão inserimos algumas informações complementares sobre as entidades citadas.
1924 – CISS – Comité International des Sports Silencieux. O CISS é a mais antiga entidade
internacional em funcionamento na área do esporte das pessoas com deficiências. Em maio de 2001, o
COI – Comitê Olímpico Internacional deu autorização ao CISS para alterar o nome dos seus jogos que
passaram a ser denominados Deaflympics Games, que em tradução livre podem ser denominados
Jogos Olímpicos dos Surdos. Em janeiro de 2005, Melbourne na Austrália, foi sede dos 20o Jogos
Olímpicos de Verão dos Surdos - Deaflympics Summer Games. Desde 1949, o CISS realiza também
seus Jogos de Inverno. A cidade de Sundsvall, na Suécia, foi sede em 2003 dos 15o Jogos Olímpicos de
Inverno dos Surdos - Winter Deaflympics Games. Os eventos de verão e inverno são sancionados pelo
Comitê Olímpico Internacional. Embora tenham participado entre 1986 até 1995 do movimento
paraolímpico, o CISS sempre realizou de forma independente os seus próprios jogos. O representante
brasileiro é a CBDS – Confederação Brasileira de Desportos para Surdos. Para maiores detalhes acesse o
site: www.deaflympics.com.
1952 - ISMGF – International Stoke Mandeville Games Federation. Criada inicialmente com o
nome de Federação Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, destinava-se ao esporte para deficientes
em cadeira de rodas e sua ação esportiva estava mais concentrada no basquetebol. Posteriormente
passou a ser denominada ISMWSF – International Stoke Mandeville Wheelchair Sports Federation –
Federação Internacional de Stoke Mandeville para Esportes em Cadeira de Rodas. Em novembro de
2004 a ISMWSF e a ISOD se uniram para formar a IWAS – International Wheelchair and Amputee
Sports Federation - Federação Internacional de Esportes para Cadeiras de Rodas e Amputados. É
representada no Brasil pela ABRADECAR – Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas.
Mais informações no site: www.wsw.org.uk
1964 – ISOD – International Sport Organization for the Disabled. Em 1960, com o apoio da
Federação Mundial para Ex-Combatentes, foi criado um grupo de trabalho internacional com a finalidade
de realizar novos estudos sobre os problemas do esporte para pessoas com deficiências. Uma das
indicações do grupo resultou na criação, em 1964, da ISOD – Organização Internacional de Esportes
para Deficientes. A ISOD foi fundada como uma federação esportiva internacional para atender a
deficientes visuais, amputados, paralisados cerebrais e paraplégicos não contemplados pela Federação
Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville – ISMGF. A ISOD começou suas atividades com 16 países
filiados e foi muito importante no trabalho que resultou na inclusão dos cegos e amputados nas
Paraolimpíadas de Toronto, Canadá, em 1976, e dos paralisados cerebrais nas Paraolímpiadas de Arnhem,
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
Holanda, em 1980. Com a evolução do esporte para deficientes e a fundação de diversas entidades
específicas por área de deficiência a ISOD, que havia ficado exclusivamente com os amputados, uniu-se,
em 2004, à ISMWSF formando a IWAS – International Wheelchair and Amputee Sports Federation –
Federação Internacional de Esportes para Cadeiras de Rodas e Amputados.
1968 – Special Olympics International – Destinada ao esporte para deficientes mentais e fundada
pela Joseph Kennedy Foundation tem como principal característica oferecer esportes sem a preocupação
do alto-rendimento. Com um sistema de organização próprio em que os atletas de cada esporte são
agrupados por nível de rendimento esportivo, permite que todos os deficientes mentais,
independentemente do seu grau de deficiência, possam participar em condições de igualdade. Pelas
características da deficiência mental, tem sido a forma mais adequada de oferecer atividade esportiva
para esse segmento. No Brasil tem como representante a Special Olympics Brazil. Mais detalhes pelo
site: www.specialolympics.org.
1978 – CP-ISRA – Cerebral Palsy – International Sports and Recreation Association. Com base no
trabalho desenvolvido pela ISOD a partir de 1964, a CP-ISRA foi fundada em 1978 para atuar como
entidade internacional específica para o esporte e a recreação das pessoas com paralisia cerebral. Sua
filiada no Brasil é a ANDE – Associação Nacional de Esportes para Deficientes. Mais informações pelo
site: www.cpisra.org.
1981 – IBSA – International Blind Sports Federation. Destinada especificamente ao esporte para
cegos e deficientes visuais, foi fundada em Paris e tem sua sede na Espanha após um período de mais de
20 anos em que o segmento havia ficado sob a organização da ISOD. No Brasil, sua entidade filiada é a
CBDC – Confederação Brasileira de Desportos para Cegos. Mais informações no site: www.ibsa.es.
1982 – ICC – International Co-ordination Committee of World Sports Organizations for the Disabled.
O rápido desenvolvimento do esporte para pessoas com deficiência deu origem a muitas competições
nas diversas áreas de deficiência, propiciando o surgimento dos eventos multideficiências e entre eles os
de maior importância, as Paraolimpíadas, com a inclusão, a partir dos jogos de Toronto em 1976, de
atletas com deficiência visual, cegos e amputados e dos jogos de Arnheim, em 1980, com os paralisados
cerebrais. Com essa nova situação de participação de diferentes áreas de deficiência, foi reforçada a
necessidade da criação de um organismo para administrar e realizar os eventos com maior eficácia e ao
mesmo tempo que também pudesse ter voz junto ao Comitê Olímpico Internacional. Assim, quatro das
entidades internacionais existentes criaram em 1982 o ICC – Comitê Internacional de Coordenação das
Organizações Mundiais de Esportes para Deficientes – que inicialmente foi composto pelos presidentes
da CP-ISRA, IBSA, ISMGF e ISOD, um secretário-geral e um membro adicional. O CISS e a INAS-FID
juntaram-se ao comitê em 1986. Por decisão própria, o CISS se retirou do movimento paraolímpico em
1995, preferindo continuar realizando seus eventos de forma independente e isolada. Seguindo seus
objetivos o ICC, com a interlocução e o apoio do COI, organizou as Paraolimpíadas de Seul, Coréia,
1988, usando, pela primeira vez de forma oficial, as mesmas instalações dos Jogos Olímpicos promovidos
pelo Comitê Olímpico Internacional. O sucesso no trabalho e a crescente pressão dos países membros
por mais representatividade no ICC levaria à fundação, em 1989, de instituição democraticamente
organizada, o IPC – International Paralympic Committee – que passou a ser responsável pelas atividades
do movimento paraolímpico em todo o mundo.
1986 – INAS-FID – International Sports Federation for Persons with Intellectual Disability. Destinada
ao esporte de alto-rendimento para deficientes mentais foi fundada na Holanda. Desde sua criação vem
buscando uma forma de definição de elegibilidade que evite a participação de atletas que não sejam
efetivamente portadores de deficiência mental. Embora a INAS-FID seja uma das signatárias da fundação
do IPC, em 1989, a falta de uma forma segura na definição de elegibilidade tem impedido a participação
dos deficientes mentais nos jogos paraolímpicos. Na única exceção ocorrida em 2000, nos Jogos
Paraolímpicos de Sydney, Austrália, houve a comprovação de fraudes na equipe de basquetebol da
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Espanha que havia conquistado a medalha de ouro. Alguns atletas da equipe não eram deficientes
mentais e, simplesmente, haviam fraudado laudos e exames para participarem do evento. A ABDEM –
Associação Brasileira de Desportos para Deficientes Mentais é sua filiada brasileira. Mais detalhes no
site: www.inas-fid.org.
1992 – WOVD – World Organization Volleyball for Disabled. Organização Mundial de Voleibol para
Deficientes. O jogo de voleibol sentado para deficientes surgiu na Holanda em 1956 e foi aceito como
esporte no programa da ISOD em 1978. Em 1981, a ISOD estabeleceu uma seção de Voleibol em sua
estrutura que, em 1992, foi transformada em entidade independente denominada World Organization
Volleyball for Disabled. A WOVD tem como sua filiada brasileira a ABVP – Associação Brasileira de
Voleibol Paraolímpico. O site da entidade internacional é: www.wovd.info.
1993 - IWBF – International Wheelchair Basketball Federation. Federação Internacional de
Basquetebol em Cadeira de Rodas. Criada a partir de um desmembramento da ISMGF é a responsável
internacionalmente pelo basquetebol em cadeira de rodas. Tem como filiada brasileira a CBBC –
Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Mais informações no site: www.iwbf.org.
Finalizando esta parte do breve histórico do esporte para pessoas com deficiência no âmbito
internacional mundial, falaremos um pouco do IPC, o Comitê Paraolímpico Internacional, que é a
principal entidade do movimento paraolímpico e tem a responsabilidade de conduzir o programa
mundialmente.
O IPC foi fundado em 22 de setembro de 1989 na cidade de Dusseldorf, Alemanha, pelas quatro
entidades, CP-ISRA, IBSA, INAS-FID, ISOD e ISMWSF, que, em 1982, haviam se juntado para criar o ICC.
Como entidade máxima do movimento paraolímpico mundial, o IPC é responsável pela organização
e execução dos Jogos Paraolímpicos de verão e de inverno, das competições multi-deficiências, como os
campeonatos mundiais, e por projetos de fomento desenvolvidos ao redor do mundo. Os Jogos
Paraolímpicos de Inverno de Lillehammer, em 1994, foram o primeiro evento realizado sob a
responsabilidade direta do IPC.
Apesar de o IPC ter menos de 20 anos de existência oficial, o número de países que hoje são filiados
atesta o rápido e crescente desenvolvimento do movimento paraolímpico em todo o mundo, como
ficou comprovado nos Jogos Paraolímpicos de Atenas 2004, em que 3.806 atletas de 136 países estiveram
participando da competição. O Brasil é representado oficialmente junto ao IPC pelo CPB – Comitê
Paraolímpico Brasileiro.
Nesse pouco tempo de vida e atividades, o IPC vem trabalhando arduamente na promoção e no
desenvolvimento do movimento paraolímpico em todo o mundo e tem conseguido avançar na
consolidação, no reconhecimento e no respeito da comunidade esportiva internacional em relação ao
esporte das pessoas com deficiência.
Uma das ações de maior impacto foi, sem dúvida alguma, a assinatura em 19 de junho de 2001, de
um acordo entre o IPC e o COI que tornou obrigatório a partir de Pequim-2008 que a cidade ao
apresentar sua candidatura para os Jogos Olímpicos de Verão e Inverno englobe na mesma proposta a
realização das Paraolimpíadas. Assim, o que vinha sendo feito de maneira informal desde Seul, em 1988,
passa a ser requisito na candidatura de qualquer cidade a sede dos jogos olímpicos. O estreitamento das
relações entre o movimento olímpico e paraolímpico se dá também nas diversas comissões e comitês do COI
e do IPC em que ambos participam em conjunto na busca de melhores caminhos para o esporte mundial.
A evolução do esporte paraolímpico também contribui para a modernização da estrutura organizacional
do IPC que hoje tem a sua Assembléia Geral como principal poder de decisão e está constituída por
quatro IOSDs – Entidades Internacionais por Área de Deficiência, seis IFs – Federações Esportivas
Internacionais, onze IPC Sports – esportes administrados diretamente pelo IPC por serem multideficiência,
sete IOSD Sports – esportes sob responsabilidade das IOSDs por serem para uma única deficiência,
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
quatro ROs - organizações regionais, duas IPC Regionais e cento e sessenta e um NPCs – Comitês
Paraolímpicos Nacionais, entre eles o CPB. O IPC é administrado pela Diretoria Executiva e sua equipe
com assessoramento de cinco conselhos e 12 comitês.
O IPC tem um dos mais completos sítios sobre o movimento esportivo das pessoas com deficiência
e por isso recomendamos sua visita para conhecimentos e consultas: www.paralympic.org.
15
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
NO BRASIL
Em nosso país podemos considerar como marco inicial do movimento esportivo para deficientes a
exibição da equipe de Basquetebol em Cadeiras de Rodas “PAN JETS”, formada por funcionários deficientes
da Pan American World Airlines. Eles fizeram duas apresentações no Brasil, em novembro de 1957 no
Ginásio do Ibirapuera em São Paulo e em seguida no Ginásio do Maracanãzinho no Rio de Janeiro. A
vinda dos americanos foi possível graças aos contatos mantidos por Sérgio Seraphin del Grande, um
jovem esportista de São Paulo que, ao se acidentar em 1951, foi para os Estados Unidos em busca de
tratamento. Sua passagem pelo Instituto Kesller, em Wiste Orange, New Jersey, o fez conhecer a
reabilitação pelo esporte. Sérgio retornou ao Brasil no final de 1955 e, no ano seguinte, apresentou ao
Dr. Renato Bonfim, um dos fundadores da AACD (Associação de Atenção à Criança Defeituosa) de São
Paulo, sua experiência com a reabilitação pelo esporte. O Dr. Bonfim passou a ser um dos entusiastas da
idéia e deu grande apoio a Sérgio para trazer a equipe americana para as apresentações no Brasil.
Com o sucesso alcançado nas apresentações e incentivado por amigos, Sérgio formou a primeira
equipe brasileira de basquetebol em cadeiras de rodas denominada “azes da cadeira de rodas” que fez a
sua estréia em exibição pública em fevereiro de 1958 no Ginásio de Esportes do Conjunto Desportivo
Baby Barioni na Água Branca em São Paulo. O passo seguinte foi naturalmente a criação do primeiro
clube voltado ao esporte para pessoas com deficiência. Em 28 de julho de 1958, aconteceu a assembléia
de fundação do CPSP (Clube dos Paraplégicos de São Paulo), mais uma iniciativa de Sérgio Seraphim Del
Grande que podemos considerar, sem dúvida alguma, como um dos maiores nomes do esporte
paraolímpico brasileiro. O CPSP permanece em efetiva atuação até a presente data, oferecendo iniciação,
treinamento e oportunidades de competição para deficientes físicos. Sua primeira diretoria eleita teve
o Dr. Fernando Boccolini como presidente e Sérgio Seraphim Del Grande como vice. Mais informações
estão disponíveis no site: www.cpsp.com.br.
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
No mesmo ano de 1958, na cidade do Rio de Janeiro, foi criado o Clube do Otimismo, idealizado por
Robson Sampaio de Almeida, outro grande nome de destaque no esporte paraolímpico, e que contou
com o apoio do professor Aldo Miccolis. Em 1959, o CPSP e o Clube do Otimismo realizaram o primeiro
jogo de basquetebol em cadeira de rodas entre equipes brasileiras.
Do pioneirismo do CPSP em1958 aos dias de hoje, centenas de entidades de prática esportiva para as
pessoas com deficiência foram sendo criadas. Essas associações e clubes são, como em todo sistema
esportivo, a base onde o esporte é efetivamente praticado desde sua iniciação até as competições de
mais alto nível. Sem sua existência, sem o trabalho muitas vezes silencioso e de completa dedicação, na
maioria dos casos voluntariamente, dos seus dirigentes e técnicos, não teríamos os atletas para fazer a
história do esporte adaptado em nosso país. Organizados por deficiência ou por esporte, eles são
filiados às diversas entidades dirigentes estaduais e nacionais e garantem o funcionamento contínuo do
esporte paraolímpico brasileiro.
Os primeiros 20 anos do movimento brasileiro tiveram como fator principal a dedicação e a abnegação
de alguns atletas, dirigentes, entidades e profissionais de educação física, que não mediram esforços no
firme propósito de garantir sustentabilidade ao ainda frágil e incipiente desporto paraolímpico em
nossa terra. Até o final da década de 80, o movimento foi conduzido de forma heróica e conseguiu
crescer e fincar raízes graças a um grupo de pessoas, às quais rendemos as homenagens e os
agradecimentos. Sem demérito a tantos outros, permitimo-nos citar apenas três pessoas que já nos
deixaram e que muito bem simbolizaram essa época de lutas: José Gomes Blanco, Sergio Seraphim Del
Grande e Robinson Sampaio de Almeida.
No final da década de 80, para acompanhar os acontecimentos internacionais que sinalizavam um novo
rumo na forma de administração do esporte paraolímpico e para organizar adequadamente a participação
brasileira nos Jogos Paraolímpicos de Seul - 1988, as entidades nacionais então existentes a Associação
Brasileira de Desporto para Cegos – ABDC, presidida por Mario Sérgio Fontes; a Associação Brasileira de
Desporto em Cadeira de Rodas – ABRADECAR sob a presidência de José Gomes Blanco; e a Associação
Nacional de Desporto para Deficientes – ANDE, tendo como presidente o professor Aldo Miccolis,
buscaram o apoio do governo federal por meio da Secretaria de Educação Física e Desportos do Ministério
da Educação (SEED-MEC) e da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Deficiente (CORDE).
Em reunião histórica realizada no Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro em 11 de abril de 1988, o
saudoso José Gomes Blanco, baluarte do esporte paraolímpico brasileiro e então presidente da SADEF – RJ
e da ABRADECAR, propôs a criação do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Após consultas ao COB e ao CND –
Conselho Nacional dos Desportos, órgão do MEC e responsável máximo pela regulamentação do esporte
brasileiro, foi verificada a impossibilidade legal da criação do comitê em função das restrições da
Constituição vigente, da lei no 6.251 de 1975 e do Decreto no 80.228 de 1977 que normatizavam a
prática esportiva em nosso país.
Como opção para o problema e por iniciativa da CORDE, foi constituída, por meio da Portaria
Interministerial no 1207/88 – SEDAP/Secretaria da Administração Pública, a Comissão Paradesportiva
Brasileira formada por dois representantes do governo federal, um da SEED/MEC e um da CORDE, e
pelos presidentes da ABDC, ABRADECAR e ANDE. A comissão assumiu a responsabilidade pela organização
administrativa e participação da delegação brasileira nos Jogos de Seul.
O trabalho da comissão foi apresentado oficialmente ao público com um ato solene no Salão Nobre
do Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 1988. O evento contou com a presença
de patrocinadores, imprensa e ídolos do esporte, com destaque para Roberto “Dinamite” do futebol; os
integrantes da equipe Olímpica Brasileira de 1988: “Magic” Paula, do basquete; Ana Richa, do vôlei;
Robson Caetano, do atletismo e o querido e saudoso “João do Pulo” Carlos de Oliveira. A proposta de
criação do Comitê Paraolímpico Brasileiro, discutida na comissão, foi apresentada oficialmente durante
a solenidade, firmando-se o propósito que as ações deveriam ser intensificadas após a promulgação da
17
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
O sucesso da participação brasileira nas Paraolimpíadas de Seul – 1988, quando foram conquistadas
27 medalhas, quatro de ouro, nove de prata e 14 de bronze, contribuiu para tornar o movimento
paraolímpico mais conhecido em nosso país e foi decisivo na formulação do modelo de administração
esportiva adotado pelo governo eleito em 1989 que, ao assumir em março de 1990, criou a Secretaria
dos Desportos da Presidência da República (SEDES) tendo, na sua estrutura organizacional, o Departamento
de Desportos para Pessoas Portadoras de Deficiência (DEPED).
A SEDES teve como seu primeiro Secretário o grande atleta do futebol brasileiro, Arthur Antunes
Coimbra, Zico, que, além de amigo pessoal de José Gomes Blanco, era um entusiasta e incentivador do
esporte paraolímpico. A partir de 1991, a SEDES incluiu em seu orçamento anual, pela primeira vez na
história do governo brasileiro, recursos específicos para o esporte das pessoas portadoras de deficiência.
18
Introdução ao Movimento Paraolímpico
Em razão da legislação esportiva vigente e ainda não reformulada que continuava a dificultar as ações
para a fundação do Comitê Paraolímpico, a recém-criada Secretaria resolveu, em janeiro de 1991, re-
editar a Comissão Interministerial, mantendo o mesmo formato adotado em 1988 com a participação
de dois representantes do Governo Federal, SEDES e CORDE, e os três presidentes das entidades nacionais
de desporto para deficientes existentes, ABDC, ABRADECAR e ANDE. A Comissão ficou, mais uma vez,
com a responsabilidade pela coordenação dos preparativos e da participação da delegação brasileira nos
Jogos Paraolímpicos de Barcelona – 1992 tendo trabalhado durante 18 meses em estreita parceria com
as três entidades nacionais. Em Barcelona, os atletas paraolímpicos brasileiros conquistaram sete
medalhas, três de ouro e quatro de bronze.
Os trabalhos desenvolvidos pelas duas comissões em 1988 e 1991/1992, além de se pautarem pelas
normas e procedimentos adotados internacionalmente, pelo ICC e IPC, foram base sólida para o
estabelecimento de uma nova postura no movimento paraolímpico brasileiro. Essa base e a nova estrutura
legal do esporte brasileiro permitiram que as entidades nacionais, espelhadas na tendência mundial e na
experiência adquirida na preparação e participação nos Jogos Paraolímpicos de 1988 e 1992, caminhassem
de forma determinada no processo que terminou, naturalmente, com a fundação do CPB em 9 de
fevereiro de 1995.
A criação oficial do CPB propiciou ao Brasil o início de um segundo estágio no seu ainda jovem
movimento paraolímpico. Com ações que se caracterizaram pela busca da consolidação e do
desenvolvimento com mais qualidade, nosso país conquistou, na Paraolimpíada de Atlanta - 1996, 21
medalhas, sendo duas de ouro, seis de prata e 13 de bronze. Mais quatro anos e nos Jogos de Sydney -
2000 nosso país conseguiu 22 medalhas, seis de ouro, dez de prata e seis de bronze, com evidências
claras de que o trabalho desenvolvido estava no rumo certo.
Após a garantia dos recursos públicos estabelecida no orçamento federal a partir de 1991, podemos
afirmar, com absoluta segurança, que a entrada em vigor, em julho de 2001, da lei no 10.264/2001, que
definiu o repasse continuado de recursos financeiros das loterias exploradas pela Caixa Econômica
Federal para o esporte brasileiro incluído o esporte paraolímpico, foi decisiva para que o movimento
iniciasse um novo estágio de organização e desenvolvimento.
Não temos nenhuma dúvida em afirmar que a Lei AGNELO/PIVA, como é conhecida a lei no 10.264/01,
representa o grande diferencial da história paraolímpica brasileira. Ela tem assegurado ao movimento a
condição fundamental de trabalho, permitindo a formulação e o desenvolvimento de um planejamento
estratégico que está contribuindo, de forma incontestável, para sua consolidação e expansão em todo o país.
Com ela temos, a partir de 2001, o início do terceiro e mais importante estágio até o momento do
paraolimpismo brasileiro. Como demonstram os resultados alcançados nos Jogos de Atenas - 2004, o
Brasil está trilhando, com decisão e firmeza, o caminho correto na consolidação do movimento
paraolímpico. Foi motivo de orgulho e honra para todos os brasileiros poder acompanhar nossos atletas
na conquista do melhor resultado da história paraolímpica de nosso país, justamente no berço secular
do movimento olímpico mundial. Foram 33 medalhas, 14 de ouro, 12 de prata e sete de bronze,
resultado que, por si só, retrata a luta e a obstinação desses heróis guerreiros.
Em 2005, começamos a vivenciar mais um ciclo paraolímpico que se estenderá até Pequim – 2008.
Sem traumas e angústias, sabemos que alguns dos nossos heróis, dentro de uma lógica natural da vida,
já começam a sentir o peso dos anos e deverão, em algum tempo, estar cedendo seus lugares a novos
campeões. É preciso que o trabalho de busca desses novos talentos seja constante e estruturado para
garantir que o processo natural de renovação não seja interrompido.
A proposta de trabalho do projeto “Paraolímpicos do Futuro” ora apresentada possui os pés fincados
na experiência vivenciada ao longo dos últimos anos e os olhos voltados para o futuro do movimento e
não pode e não deve ser confundida como ação imediatista. Seus resultados são esperados e devem ser
cobrados em médio e longo prazo e começarão a ser percebidos a partir de 2008 com a realização do
I Jogos Paraolímpicos Escolares Brasileiros.
19
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
20
Introdução ao Movimento Paraolímpico
com a definição de elegibilidade dos atletas e as discussões sobre o assunto somente serão retomadas
em 2009 após as Paraolimpíadas de Pequim – 2008. Site: www.abdem.com.br.
ABDA – Associação Brasileira de Desporto para Amputados. Fundada em 1990, com a finalidade
de desenvolver o esporte de amputados, tem sua atuação basicamente voltada para o futebol, pois os
outros esportes que oferece já são desenvolvidos por outras entidades nacionais. Foi uma das entidades
presentes na criação do Comitê Paraolímpico Brasileiro em 1995, mas deixou de ser filiada ao CPB por
não ter vinculação internacional e ainda pelo fato de o futebol de amputados não ser um esporte
reconhecido oficialmente pelo IPC – Comitê Paraolímpico Internacional. Site: www.abda.org.br.
AOEB – Associação Olimpíadas Especiais Brasil. Criada em Brasília, DF, em dezembro de 1990, e
foi até o ano de 2002 a representante oficial do Brasil junto a SOI – Special Olympics International,
entidade internacional que desenvolve programas esportivos para pessoas com deficiência mental voltados
para o esporte de participação sem preocupação com o alto rendimento. A partir de 2003, foi substituída
por uma nova organização criada pela SOI com o nome de Special Olympics Brazil que tem sede em
São Paulo, SP. Site: www.specialolympicsbrasil.org.br.
CBBC – Seguindo uma clara tendência do movimento paraolímpico internacional que caminha para
ter sua representação por esportes e não mais por área de deficiência, tivemos em dezembro de 1997
a fundação da CBBC – Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Com isso, o
basquetebol em cadeira de rodas deixou de ser dirigido pela ABRADECAR. A CBBC é uma das entidades
filiadas ao CPB e internacionalmente seu vínculo é com a IWBF – Federação Internacional de Basquetebol
em Cadeira de Rodas. Site: www.cbbc.org.br.
CBTMA – Em maio de 2000 e, mais uma vez, na linha mundial de entidades por esporte, tivemos a
fundação da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa Adaptado com o objetivo de promover e incentivar
a modalidade do tênis de mesa adaptado, praticado pelos atletas com deficiência física motora. Por
ainda não haver uma entidade internacional que comande o esporte que continua sob a responsabilidade
do IPC, a CBTMA não é filiada, sendo vinculada ao CPB com o qual mantém uma parceria de
responsabilidade para o desenvolvimento da modalidade. Site: www.tenisdemesaparaolimpico.br.gs.
ABVP – Associação Brasileira de Voleibol Paraolímpico. Seguindo a tendência do movimento
paraolímpico internacional, que caminha para ter sua representação por esportes e não mais por área
de deficiência, foi criada em 2003 a ABVP – Associação Brasileira de Voleibol Paraolímpico. A ABVP está
filiada no Brasil ao CPB e internacionalmente a WOVD – Organização Mundial de Voleibol para Deficientes.
Site: www.voleiparaolimpico.org.br.
CPB – Com a fundação do Comitê Paraolímpico Internacional – IPC, em 1989, surgiu uma tendência
mundial para a criação de comitês paraolímpicos nacionais – NPCs. Passaram os Jogos de Barcelona -
1992 e a formação de NPCs já se tornava necessária, pois o IPC precisava ter como filiadas entidades
que tivessem representatividade em nível nacional e agregassem modalidades para pessoas com todos
os tipos de deficiência.
Os representantes da ABDA, ABDC, ABRADECAR, ANDE e ABDEM, numa decisão conjunta, em 9 de
fevereiro de 1995, fundaram o Comitê Paraolímpico Brasileiro – CPB, com sede na cidade de Niterói,
RJ. João Batista de Carvalho e Silva foi indicado para ser o primeiro presidente da entidade. Mesmo
com o pouco tempo de existência, o CPB começou a colocar em prática uma de suas principais funções:
a organização de eventos paraolímpicos nacionais para o desenvolvimento deste tipo de esporte no
país. Ainda em 1995, a entidade organizou o I Jogos Brasileiros Paradeportivos em Goiânia. A segunda
edição da competição foi realizada no Rio de Janeiro, no ano seguinte.
Com o passar dos anos, o Comitê Paraolímpico Brasileiro passou a contribuir progressivamente
para o fomento do esporte de alto-rendimento para pessoas com deficiência. As iniciativas foram
desde a divulgação e a organização de competições até o envio de atletas nacionais para eventos no
21
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
exterior, com o intuito de lhes proporcionar uma maior experiência esportiva. Estas ações vieram a
surtir o efeito esperado durante a Paraolimpíada de Sydney – 2000, quando o País ficou em 24o lugar no
quadro de medalhas, após a conquista de seis ouros, dez pratas e seis bronzes. Na Austrália, a delegação
nacional era composta por 64 competidores.
Em 2001, ocorreram as eleições do Comitê, e Vital Severino Neto, graduado em Direito, ex-atleta
paraolímpico e secretário-executivo da primeira gestão do CPB, foi eleito presidente. Foi a primeira vez
que uma pessoa com deficiência assumiu o comando da entidade, já que Vital é cego desde a infância.
No dia 19 de junho de 2002, a sede do Comitê Paraolímpico Brasileiro foi transferida de Niterói para
Brasília. Esta medida foi tomada com o intuito de colocar a entidade máxima do esporte paraolímpico
nacional na cidade que é o centro das decisões políticas do Brasil. Outro motivo foi a maior visibilidade
e acessibilidade que o Comitê adquiriu por estar no centro geográfico do país.
Atualmente a estrutura do CPB tem como filiadas as seguintes entidades que são oficialmente
reconhecidas pelo movimento paraolímpico internacional: ANDE, ABRADECAR, ABVP, ABDEM, CBBC,
CBDC, Federação Brasileira de Vela e Motor e a Confederação Brasileira de Tênis.
IPC
CPB
No próximo capítulo, o Professor Pedro Américo de Souza Sobrinho, da Universidade Federal de Minas
Gerais, mostra-nos um pouco sobre cada uma das deficiências que são elegíveis para o movimento paraolímpico
e a base legal que assegura a nossas crianças, jovens e adolescentes o direito à prática esportiva.
22
Introdução ao Movimento Paraolímpico
2 - Sites:
www.deaflympics.com - CISS, The International Committee of Sports for the Deaf Inc. (ICSD)
www.ibsa.es – IBSA - International Blind Sports Federation
www.inas-fid.org – INAS-FID – International Sports Federation for Persons with Intellectual Disability -
deficientes mentais
www.ande.org.br
www.abradecar.org.br
www.surdos.com.br/cbds
www.cbdc.org.br
www.abdem.com.br
www.abda.org.br
www.specialolympicsbrasil.org.br
www.cbbc.org.br
www.voleiparaolimpico.org.br
www.tenisdemesaparaolimpico.br.gs
23
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Este livro do projeto “Paraolímpicos do Futuro”, de iniciativa do Comitê Paraolímpico Brasileiro, tem
como objetivo, na realidade, promover uma introdução à temática relativa às pessoas com deficiência,
definindo e caracterizando as formas de deficiência física e visual. Com isso, pretende-se dar condições
para que os leitores dos demais livros, bem como os profissionais da educação física e do esporte, que
participarem dos cursos de qualificação agora programados pelo CPB e demais cursos vindouros, tenham
uma formação, ainda que sem grandes aprofundamentos, suficiente para acompanhar os demais textos
e cursos relativos à prática do esporte paraolímpico por pessoas com deficiência física e visual,
especialmente no âmbito do esporte escolar paraolímpico, alvo do projeto “Paraolímpicos do Futuro”.
A seguir são citadas algumas das mais importantes leis brasileiras que asseguram a prática esportiva
por crianças e jovens com deficiência. A legislação brasileira assegura às crianças e aos jovens o direito
à prática esportiva. Sendo este um preceito legal, torna-se obrigatório o seu cumprimento por todos
nós, sejamos juristas, membros do Conselho Nacional de Educação, membros do Ministério Público,
profissionais da educação ou do esporte, pais, cidadãos, administradores de escolas, sejam elas municipais,
estaduais, federais ou particulares; administradores públicos (Governo Federal em todas as suas esferas,
Governo dos Estados, Prefeituras e suas Secretarias, etc.) ou da iniciativa privada; gestores de políticas
públicas, mesmo que não pertencentes aos órgãos públicos (ONGs, por exemplo), dirigentes de federações
e clubes esportivos, etc.
Para o efetivo cumprimento destas leis, torna-se necessário, entre outras medidas, qualificar professores
de educação física para o atendimento de qualidade a estas pessoas, disponibilizar material didático
sobre o tema em questão, promover a oportunidade de participação em competições do esporte adaptado
e paraolímpico, promover competições e campeonatos, prover os diversos ambientes esportivos (quadras,
pistas de atletismo, piscinas, ginásios, estádios, dojôs, etc.) das necessárias condições de acessibilidade;
disponibilizar material esportivo de qualidade e adequado, sensibilizar a população sobre os direitos das
pessoas com deficiência à prática esportiva, bem como sobre os potenciais dessas pessoas, tanto no
âmbito esportivo quanto estudantil, social e para o trabalho, etc.
Considerando que a Constituição do Brasil:
1. Em seu Artigo 217 dispõe que “é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não
formais, como direito de cada um”;
2. Em seu Artigo 227, que “é dever da ... sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito ... à saúde, ... à educação, ao lazer ... à convivência familiar e
comunitária ...”;
Considerando a lei no 9.394, de 20/12/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
que determina:
3. Em seu Artigo 27, que “os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as
seguintes diretrizes:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de
respeito ao bem comum e à ordem democrática;
II - ...;
III - ...;
24
Introdução ao Movimento Paraolímpico
25
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Devendo ser considerado, ainda, que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece, no Artigo 208,
Capítulo VII, relativo à Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos, que “regem-se
pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e
ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular.” de atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência”; e
Sendo a prática do esporte um direito constitucional, mas também um direito assegurado pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como pelas Leis de Diretrizes e Bases da Educação, deve-se
entender também como obrigatória a qualificação dos futuros professores de educação física para
atuar no âmbito escolar, respeitando o direito das crianças e dos adolescentes à prática do esporte
adaptado e do esporte paraolímpico.
Ante estes dispositivos jurídicos, deve ser entendida também como obrigatória a inclusão, nos currículos
(curricula) dos cursos de formação de professores de educação física, considerando-se todos os níveis
e graus do ensino, bem como nos currículos dos cursos de formação de bacharéis, de graduados em
educação física, disciplinas ou conteúdos com volume de informações, qualidade dos conteúdos e
prática didático-pedagógica que assegure o efetivo e regular cumprimento dos dispositivos legais, que
dispõem que o esporte é um direito das crianças e dos adolescentes.
Levando-se em conta todas estas “considerações” o CPB sente-se no dever de promover o esporte
escolar paraolímpico, no sentido tanto de cumprir estes dispositivos legais quanto para melhor exercer
seu papel social de fomento às práticas esportivas por pessoas com deficiência, assim como para assegurar
condições para a necessária renovação do quadro de atletas paraolímpicos do Brasil.
Como o Livro no 1 do projeto “Paraolímpicos do Futuro”, de iniciativa do CPB tem como principal
objetivo promover uma introdução à temática relativa às pessoas com deficiência, definindo e
caracterizando cada uma das formas de deficiência que são elegíveis para o programa – física, mental
e visual –, são apresentados, a seguir, conteúdos relativos a estas formas de manifestação das deficiências.
2. DEFICIÊNCIA
26
Introdução ao Movimento Paraolímpico
3. DEFICIÊNCIA VISUAL
Ao abordar as questões relativas à prática esportiva por pessoas com deficiência visual, é imprescindível
fazer uma diferenciação entre alunos ou atletas que possuem deficiência visual congênita ou adquirida
precocemente daqueles que contraíram a deficiência visual tardiamente, após terem experiências
esportivas próprias ou mesmo como espectadores.
Outra diferenciação importante deve ser feita entre as crianças, jovens e adultos com deficiência
visual que tiveram infância e juventude daqueles que não tiveram infância ou juventude, que viveram
confinadas ou pouco estimuladas sob o ponto de vista do lazer e do esporte, bem como sob o ponto de
vista social, escolar, familiar e laboral.
Devem ser diferenciadas, ainda, crianças, jovens e adultos com visão subnormal das pessoas com cegueira.
Deve estar claro que crianças, jovens e adultos com visão subnormal ou cegueira, contando com
estimulação e apoios de qualidade, são pessoas em perfeitas condições de praticar as mais diversas
modalidades esportivas, para cursar os diversos níveis e graus do ensino, assim como para assumir
diversas formas de emprego e assegurarem seu sustento. O esporte tem um papel importantíssimo na
vida dessas pessoas, no sentido de dar provas inequívocas de seus potencias à sociedade e às suas famílias.
Antes de se abordarem os diversos termos relativos à deficiência visual, primeiro deve-se falar um
pouco sobre as funções dos olhos.
A função mais importante dos olhos é focalizar a luz. O funcionamento dos olhos é como o de uma
câmera fotográfica: os raios de luz penetram pela córnea, que possui uma grande capacidade de
focalização. A luz passa, então, pelo cristalino, que faz o ajuste fino na focalização sobre a retina, que
está localizada na parte posterior do olho. A retina transforma a luz em impulsos elétricos, que são
levados pelo nervo óptico até o cérebro, onde é formada a imagem.
Diversas patologias podem ocorrer se não houver uma refração correta dos raios de luz sobre a
retina. Quando o olho apresenta alguma deficiência em refratar os raios de luz, a pessoa pode apresentar
dificuldades visuais, tais como: miopia, hipermetropia e astigmatismo.
MIOPIA
A miopia ocorre quando o olho é muito longo em relação à curvatura da córnea. Com isto, os raios
de luz que penetram nos olhos focam em um plano anterior à retina, fazendo com que a imagem fique
embaçada (borrada). As pessoas míopes podem enxergar muito bem objetos que estiverem perto de
seus olhos, porém não conseguem enxergar bem os objetos ou pessoas que estejam distantes.
ASTIGMATISMO
No astigmatismo a imagem é projetada sobre uma superfície irregular, no caso sobre a córnea ou o
cristalino, quando apresentam meridianos com curvaturas irregulares. Com isto ocorre distorção da
imagem em função da alteração desigual na inclinação dos raios de luz que incidem nos olhos. Sob estas
condições, a visão fica embaçada, desfocada, tanto para perto quanto para longe. Praticamente 50%
das pessoas com miopia têm astigmatismo.
HIPERMETROPIA
Quando o olho é muito curto em relação à curvatura da córnea, ocorre um erro refracional em que
a projeção da imagem ocorre atrás da retina. Normalmente a pessoa com hipermetropia enxerga
27
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
melhor de longe que de perto. Este fato, no entanto, até certo ponto é comum em crianças, sendo
considerada fisiológica dentro de certos parâmetros visuais e de idade. Isto implica programa de prevenção
a doenças, com exame oftalmológico antes de a criança ser escolarizada aos seis ou sete anos de idade.
CEGUEIRA
O termo cegueira não é um conceito absoluto, reunindo situações de vários graus de visão residual,
ainda que em níveis que dificultam seriamente a realização de tarefas da vida diária (vide, por exemplo,
Rocha e Ribeiro-Gonçalves 1987, p.49).
A cegueira pode ser subdividida em: cegueira total e cegueira parcial.
Entende-se por cegueira total a completa perda da visão. Ela também é denominada amaurose.
Neste caso, considera-se que a visão é nula, sendo também chamada de “visão zero”. Na cegueira total,
não é possível distinguir nem mesmo a luz. Na cegueira total, a visão corrigida no melhor olho é de 20/
200 ou menos. Isto significa que, neste caso, a pessoa só é capaz de ver a uma distância de 6m (20 pés),
o que uma pessoa com visão normal é capaz de ver a 60m (200 pés).
A “cegueira parcial” (também denominada de cegueira legal ou cegueira profissional) se refere à situação
em que indivíduos com acuidade visual corrigida nos dois olhos (com óculos ou lentes de contato) igual ou
inferior a 0.1, bem como aos portadores de campo visual tubular restrito a 20 graus ou menos. Pessoas
que só percebem vultos, a curta distância, se enquadrariam no que se conceitua como “cegueira parcial”.
Há um caso especial de cegueira, que é denominada ambliopia. Ela é definida como sendo uma baixa
de visão em olho organicamente perfeito, sem que se possa diagnosticar nada que justifique a cegueira.
Não se enquadram na ambliopia as baixas visuais que podem ser corrigidas pelo uso de óculos, lentes de
contato, cirurgia, etc. Entre cada 100 crianças, em torno de 04 podem ser tornar amblíopes, se não
tiverem esta doença diagnosticada e tratada precocemente. O tratamento se refere à oclusão do olho
sadio, uso de óculos ou cirurgia.
Definição: de acordo com o Artigo 70 do Decreto no 5.296 de 02 de dezembro de 2004, define-se
deficiência visual e cegueira como sendo:
Cegueira: acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;
Baixa visão: acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;
Os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor
que 60° ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.
Pode-se diferenciar a cegueira, também, em dois tipos: cegueira infantil e cegueira no adulto.
CEGUEIRA INFANTIL
Causas da cegueira infantil: as anomalias congênitas, presentes no nascimento, devem-se a alguma
irregularidade nos processos de desenvolvimento intra-uterino. Entre suas causas podem ser citados
fatores genéticos e ambientais, bem como suas interações.
Entre os agentes causais ambientais, podem ser citados: agentes físicos, químicos ou infecciosos,
capazes de provocar alterações no desenvolvimento durante a vida intra-uterina.
Quanto à idade gestacional em que se iniciam, as anomalias de desenvolvimento podem ser situadas
em três classes:
Germinativas ou Gametogênicas (nitidamente hereditárias);
Organogênicas (da 2a à 6a semana);
Fetais (do 3o ao 6o mês).
28
Introdução ao Movimento Paraolímpico
As duas últimas são causadas por influências ambientais, tais como: rubéola, sífilis, toxoplasmose,
tuberculose, etc.). Por outro lado, quanto mais precoce incidir um desses agentes, mais sério poderá ser
o comprometimento.
CEGUEIRA NO ADULTO
São três as maiores causas da cegueira no adulto:
Diabetes (a retinopatia diabética é a causa de 84% da cegueira em diabéticos). Para evitá-la, os
diabéticos com níveis muito elevados de glicemia deverão ter acompanhamento oftalmológico a cada
quatro ou seis meses ou com periodicidade determinada pelo oftalmologista;
Glaucoma (que é caracterizada pelo aumento patológico da pressão intra-ocular);
Degeneração macular senil (ocorre em 15% das cegueiras).
Deve ser lembrado que uma série de doenças podem se manifestar tardiamente (ex.: retinose pigmentar
e a coroideremia) ou que doenças adquiridas podem provocar cegueira no adulto (traumatismo,
descolamento de retina, infecções, tumores, etc.).
29
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
30
Introdução ao Movimento Paraolímpico
Esta listagem de Menescal (2001, p.140), relativa às defasagens que as pessoas com deficiência visual
tenderiam a apresentar, é de grande valor na estruturação e na seleção dos objetivos, conteúdos,
métodos e processos de treinamento esportivo de pessoas com deficiência visual, visando a compensá-
los ou influir positivamente nestas tendências.
Além do exposto, deve ser mencionado que estes comprometimentos visuais normalmente levam a
pessoa a adotar uma postura inadequada do tronco, pescoço e cabeça, que por sua vez podem provocar
dores. Vide, ainda, sob o título de Paralisia Cerebral, os distúrbios visuais com incidência nesta forma de
deficiência física.
4. DEFICIÊNCIA FÍSICA
DEFINIÇÃO
O Decreto no 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a lei no 7.853, de 24 de dezembro
de 1989, e dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define
deficiência física, como sendo a caracterizada por:
“uma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física, (...) membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto
as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções”.
31
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
32
Introdução ao Movimento Paraolímpico
5. PARALISIA CEREBRAL
INTRODUÇÃO
Inicialmente, deve-se levar em conta que nosso cérebro regula todas as nossas funções: cognição,
comportamento, movimentos, visão, audição, fala, atenção e concentração, etc. Havendo uma disfunção
cerebral, uma ou mais funções sobre sua esfera de atuação podem ficar comprometidas. Estas disfunções
do funcionamento cerebral podem ser causadas tanto por um distúrbio na estruturação do cérebro
como por lesões provocadas nele. Com isso, podem ocorrer inibição funcional, desregulação de funções
ou perdas de uma ou mais funções.
A paralisia cerebral não deve ser vista como uma catástrofe, mas sim
como um desafio que a vida nos apresentou e que pode e deve ser superado
emocionalmente.
Pedro Américo de Souza
Definição
A paralisia cerebral é definida como sendo o resultado de um distúrbio do desenvolvimento cerebral
ou de uma seqüela que acomete o cérebro durante as fases pré-natal, perinatal e pós-natal, sendo
limitada sua ocorrência, por questões de definição teórica, até os primeiros anos de vida.
A paralisia cerebral designa um grupo específico de desordens motoras, que não são progressivas,
não implicando, portanto, risco de piora do quadro clínico, desde que não haja abandono dos cuidados
e tratamentos prescritos.
Esta definição de paralisia cerebral, limitada ao tempo de sua ocorrência, tem por finalidade diferenciar
a paralisia cerebral de outros comprometimentos do cérebro, manifestos na juventude, idade adulta ou senil.
Apesar de que o comprometimento do desenvolvimento cerebral ou de seu funcionamento possa
afetar todas as funções reguladas pelo cérebro, tais como comportamento, inteligência, padrão dos
movimentos, visão, audição, etc., refere-se à paralisia cerebral como sendo o resultado de um
comprometimento exclusivamente motor. Deve ser lembrado, no entanto, que:
a paralisia cerebral pode estar associada ao comprometimento de outras funções do cérebro
(visão, audição, fala, cognição, comportamento, etc.);
a paralisia cerebral não implica necessária e obrigatoriamente comprometimentos da inteligência
ou distúrbios do comportamento.
A denominação paralisia cerebral, popularmente chamada de “PC”, poderia ser considerada como
inadequada, já que o cérebro não se encontra paralisado. Na realidade, o cérebro da pessoa com paralisia
cerebral apresenta “apenas” algumas disfunções, algumas perdas ou desordens funcionais, mas continua
ativo e funcional para grande parte das suas capacidades.
O termo paralisia refere-se tanto ao comprometimento mais sério de determinadas funções quanto
a perdas ou praticamente ausência de determinadas funções, enquanto o termo paresia se refere a
comprometimentos menos marcantes.
33
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Isto se deve à resistência, maior ou menor, que o cérebro das diferentes pessoas pode apresentar a estes fatores.
As causas da paralisia cerebral são divididas pela sua época de ocorrência em pré-natais, perinatais e pós-natais.
a) Causas Pré-Natais:
Distúrbios circulatórios. Durante a fase da gestação, distúrbios circulatórios podem provocar
deficiências acentuadas de oxigenação no cérebro da criança, sendo manifestos, entre outros, por:
deformidades ou distúrbios funcionais do coração da criança ainda em formação, distúrbios nas trocas
sangüíneas entre a mãe e a criança, incompatibilidade sangüínea entre a mãe e a criança, enforcamento
pelo cordão umbilical, hemorragias sérias da mãe durante a gravidez, etc.;
Exposição ao raio X;
Redução do número de hemácias;
Infecções: sífilis, tuberculose, toxoplasmose, rubéola, paratifo, malária, hepatite, meningite, varicela,
etc. Deve ser chamada a atenção para o fato de que muitas destas doenças ainda existem em nosso
meio. Muitas vezes é dada atenção para elas quando chegam a matar alguém e isto é noticiado pela
imprensa. No entanto, passa despercebida sua ação no cérebro das crianças durante a fase pré-natal.
Daí o necessário cuidado com base em exames pré-natais, tratamentos e manutenção de conduta
adequada e vacinação preventiva, quando for o caso;
Agentes tóxicos: drogas (craque, cocaína, maconha, etc.), medicamentos, produtos químicos
(material de limpeza, inseticidas, etc., ingeridos acidentalmente pela gestante), alimentos com validade
vencida, nos quais se desenvolveram agentes tóxicos (fungos e bactérias), poluição ambiental, etc.;
Distúrbios metabólicos (por exemplo, com insuficiências nutricionais ou incapacidade metabólica
do organismo);
Traumatismos diretos na barriga da gestante.
b) Causas Perinatais:
Durante o parto, as causas de paralisia cerebral mais freqüentes são:
Asfixias em partos prolongados. Freqüentemente eles implicam sofrimento da criança, sobrecarga
cardiovascular, deficit de oxigenação, podendo levar à paralisia cerebral;
Edema cerebral;
Medicamentos (por exemplo anestesia durante o parto);
Rompimento prematuro da placenta;
Constituição (crianças prematuras ou subdesenvolvidas). Este fator tende a desaparecer entre as
causas da paralisia cerebral. No entanto, ele depende de políticas públicas de saúde responsáveis,
assegurando-se à população o atendimento em tempo hábil e de qualidade pelos agentes de saúde:
médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, auxiliares de enfermagem, além de
equipamentos adequados (incubadoras, por exemplo), etc.;
Lesões mecânicas. Elas podem ser provocadas por traumatismos durante o parto, como quedas
por exemplo, ou pelo uso do fórceps. Recentemente tem sido relativizado o uso do fórceps, considerando-
se que as condições que implicaram o uso do fórceps é que provocariam a paralisia cerebral e não o uso
do fórceps em si. Isto depende, naturalmente, da qualificação do profissional que o utilizará.
c) Causas Pós-Natais:
Traumatismo craniano (comoção, contusão e fratura). Normalmente, na comoção a pessoa não
34
Introdução ao Movimento Paraolímpico
35
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
As atividades lúdicas e de caráter esportivo utilizadas pela educação física, principalmente no ensino
pré-escolar e nas primeiras séries do ensino fundamental, são de especial importância, já que estimulam
o processo de memorização (de coreografias, seqüências motoras, regras, etc.), desenvolvem as diversas
percepções (cores, sons, tátil, diferenciação de formas, tamanhos, grandezas; sinestésica, espaço-temporal,
texturas, pesos e medidas, temperaturas, etc.), promovem a melhora da coordenação motora, da
lateralidade, do equilíbrio e do esquema corporal; promovem o desenvolvimento cardiovascular e a
melhora metabólica, enquanto ao mesmo tempo promovem vivências de confrontações para a superação
do medo, do auto-conceito de incapacidade, da superação da dependência física e emocional, do
egocentrismo, entre outras funções; contribuindo para o processo de desenvolvimento, de inclusão
social, e para o processo de aprendizagem destes alunos.
A paralisia cerebral pode se manifestar em diferentes graus de comprometimento. No entanto, até
hoje só a forma espástica (espasticidade) apresenta uma classificação, sendo diferenciada em paralisia e
paresia, conforme o grau de comprometimento.
As diversas manifestações da paralisia cerebral são organizadas sob aspectos funcionais e topográficos.
Elas são diferenciadas de acordo com o tipo de distúrbios motores que apresentam, podendo ser
diferenciadas nas seguintes formas:
Formas espásticas (hipertônicas, muito citadas como espasticidade);
Formas atáxicas;
Formas discinéticas (atetose, coréa, balismo e distonia).
Ante sua relevância clínica e estatística, serão apresentadas a seguir a espasticidade, a ataxia, a
atetose e a coréa.
Espasticidade
A espasticidade acomete aproximadamente 70% dos casos de paralisia cerebral. Ela se caracteriza
por um aumento patológico da tensão fisiológica da musculatura atingida (tônus muscular), afetando
um ou mais membros, podendo atingir também todo o corpo. Com isto os movimentos podem ficar
dificultados ou impedidos de serem realizados. Assim, a escrita, a leitura, a vida diária, as brincadeiras,
etc., podem ser dificultadas pela espasticidade.
Ela é atribuída a comprometimentos das vias piramidais, sendo que a cápsula interna é atingida com
mais freqüência, provocando como conseqüência a espasticidade. As vias piramidais estão entre as vias
de transmissão mais importantes do sistema nervoso central, sendo responsáveis pela condução dos
impulsos dos movimentos voluntários para a musculatura do corpo, assim como são responsáveis
também pela ocorrência dos reflexos musculares.
As formas mais graves de comprometimento na espasticidade são caracterizados pelo final “plegia”
nos diagnósticos, tais como hemiplegia, monoplegia, diplegia, triplegia, etc., indicando um grau maior
de comprometimento.
As formas mais brandas de manifestação espástica da paralisia cerebral são especificadas pelo final
“paresia”, tais como: hemiparesia, diparesia, monoparesia, etc.
Os diferentes diagnósticos de uma mesma criança geralmente confundem a família. É comum a
família comentar que “cada médico fala uma coisa. Um disse que o meu filho tem paralisia cerebral. O
outro disse que ele tem uma hemiparesia. O último médico disse que ele tem uma espasticidade, que ele
é espástico”. Como pode ser deduzido por este texto, os três diagnósticos informam a mesma coisa, só
que de forma diferenciada. Uma hora a informação é dada de forma mais genérica e nos outros
diagnósticos se especifica mais a forma de manifestação da paralisia cerebral.
36
Introdução ao Movimento Paraolímpico
Geralmente, os músculos adutores e os flexores têm sua ação exacerbada, quando atingidos na
paralisia cerebral, podendo levar a posturas viciosas e até mesmo a contraturas e a deformidades
irreversíveis. Estas contraturas podem implicar a necessidade de tratamentos fisioterápicos ou medicinais.
As deformidades podem até tornar necessária a realização de cirurgias.
Na paralisia cerebral espástica, a musculatura atingida apresenta uma resistência ao seu alongamento.
A musculatura fica mais tensa, difícil de ser movimentada, sendo denominada de espástica exatamente por isso.
A espasticidade predomina em alguns grupos musculares, estando ausente em outros. Com isso é
comum a ocorrência de deformidades articulares e de estrabismo.
Em função das áreas funcionais comprometidas no cérebro, a paralisia cerebral espástica ou paresia
cerebral pode se apresentar em diferentes regiões do corpo. Por isto, a paralisia cerebral espástica é
dividida nas seguintes formas de manifestação:
Monoplegia ou monoparesia
Caracteriza-se pelo comprometimento de um só membro do corpo. O diagnóstico de monoplegia
indica o comprometimento mais sério de um membro, sendo uma forma de manifestação da paralisia
cerebral. Já o diagnóstico de monoparesia refere-se a uma forma mais branda de disfunção cerebral,
que acomete também apenas só um membro.
Quando um braço é comprometido, o ombro é mantido predominantemente em adução, ou seja
junto ao corpo. O cotovelo tende a ser mantido em flexão, assim como o pulso. Os dedos são mantidos
também em flexão, muitas vezes formando uma mão “em garra”. Isto pode implicar numa maior ou
menor dificuldade para escrever no quadro ou no caderno, assim como para segurar objetos.
Quando a perna é comprometida, o quadril do lado comprometido é mantido em adução. O pé
apresenta flexão plantar, recebendo a denominação de “pé eqüino”, sendo apoiado no solo pela ponta
do pé. Em função do comprometimento motor desta perna, ela faz um arco ao avançar para a frente
ou é arrastada durante a marcha. Não é feita flexão do quadril do lado comprometido, nem flexão do
joelho comprometido.
Hemiplegia ou hemiparesia
O comprometimento de um lado do corpo, em que o braço, a perna e a musculatura do tronco de
um mesmo lado são comprometidos, recebe a denominação de hemiplegia ou de hemiparesia, nos casos
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
mais brandos. As funções motoras da mão, do ombro, da perna e do quadril comprometido apresentam
as mesmas características descritas nos casos de monoplegia e monoparesia.
Triplegia ou triparesia
Elas são de manifestação mais rara, sendo caracterizadas pelo comprometimento de dois membros
de um mesmo lado e um membro do outro lado do corpo.
Quadriplegia (tetraespasticidade)
Refere-se ao comprometimento espástico dos quatro membros do indivíduo. Isto não significa que
o indivíduo “não mexa nada”. Significa que os quatro membros apresentam comprometimentos em
algumas funções motoras, idênticas às descritas na monoplegia e monoparesia, só que acometendo os
quatro membros. Obs.: O termo tetraespasticidade não vem sendo utilizado no Brasil.
A pessoa com espasticidade apresenta algumas características, tais como:
quando o braço é acometido: a mão apresenta dificuldade maior ou menor de preensão de
objetos. Em casos mais graves, pode ser muito difícil o uso da mão comprometida. O ombro apresenta
adução, sendo difícil ou impossível fazer movimentos de abdução. Freqüentemente, o cotovelo
comprometido é mantido em flexão, assim como também o pulso;
quando a perna é comprometida, muitas vezes, dependendo do grau de comprometimento, a
marcha é feita fazendo-se um arco com a perna ou arrastando-a. O apoio no solo geralmente é feito
com a ponta dos pés (“pé eqüino”). É difícil para a pessoa espástica fazer flexão do quadril comprometido,
flexão do joelho e extensão dos quadris.
A espasticidade pode implicar o uso de medicamentos, tais como relaxantes musculares
(miorrelaxantes), órteses, que auxiliam as funções da mão ou do pé e da perna; assim como na realização
de tratamento fisioterápico, durante boa parte da vida da pessoa com espasticidade.
Ataxia
Aproximadamente 5 a 10% das pessoas com paralisia cerebral apresentam ataxia. Ela se caracteriza
por distúrbios de coordenação motora, do equilíbrio, da percepção espaço-temporal, nistagmo (leve
tremor dos olhos), baixo tônus muscular, movimentos oscilatórios do braço e da mão, por exemplo
quando vão cumprimentar alguém, pegar um objeto ou quando estão escrevendo, e fala escandida, que
se assemelha à fala das pessoas embriagadas.
A ataxia é causada, por exemplo, por comprometimento funcional do cerebelo. O cerebelo distingue-
se do cérebro pela sua superfície estriada. Ele atua como um centro de coordenação para a manutenção
do equilíbrio e do tônus muscular, devido à sua participação nos complexos mecanismos de feedback e
de regulagem do tônus muscular, possibilitando a realização de movimentos suaves e precisos (finos).
Denomina-se atáxico à pessoa com ataxia, bem como às características dos movimentos destas
pessoas.
DUUS (1989) nos permite perceber de melhor forma os comprometimentos que acompanham a
ataxia, quando ilustra os sinais de disfunção do neocerebelo, que são:
Ataxia: Ela afeta os membros, sobretudo as extremidades deles, acompanhando-se de desvio da
marcha e do corpo para o lado correspondente à lesão;
Dismetria: Consiste na incapacidade para avaliar corretamente a distância, de modo que o
movimento cessa precocemente ou então ultrapassa o alvo (hipermetria). Com base nisso é que o
38
Introdução ao Movimento Paraolímpico
atáxico tem dificuldades para avaliar a altura dos degraus, esbarra nos objetos que deseja pegar, assim
como no mobiliário;
Assinergia: Perda da coordenação motora na inervação dos grupos musculares, necessária para a
realização de movimentos exatos. Os diversos grupos musculares funcionam de modo independente,
sendo incapazes para a execução de padrões motores complicados (decomposição dos movimentos).
Apesar da citação se referir especificamente à realização de movimentos “complicados”, na prática
observa-se que os atáxicos têm grande dificuldade até mesmo para executar movimentos simples de
saltar à frente, como, por exemplo, na “amarelinha”;
Desdiadococinesia (adiadococinesia): O atáxico tem grande dificuldade (desdiadococinesia) ou é
incapaz (adiadococinesia) de realizar movimentos que exigem alternância rápida entre agonistas e
antagonistas. Os movimentos alternantes, tais como a pronação e a supinação da mão (virar a palma da
mão para baixo e para cima), necessários para pegar um lápis ou caneta na mesa e escrever, tornam-se
lentos, difíceis e fora do ritmo adequado. Isto implica que os atáxicos necessitam de mais tempo para
fazer anotações ou provas escritas que os demais colegas;
Tremor de intenção: Trata-se de tremor de ação, o qual aparece quando o atáxico aponta um
objeto, tenta pegar um objeto ou pretende cumprimentar alguém. Este tremor aumenta à medida que
a mão se aproxima do objeto;
Fenômeno do rechaço: Este fenômeno é devido à incapacidade do portador de ataxia se adaptar
rapidamente às alterações da tensão muscular. Isto pode ocorrer, por exemplo, especialmente quando
cessam, de um momento para outro, a resistência à ação que o atáxico faz ao empurrar um objeto;
Hipotonia: Caracterizada por flacidez muscular e rápido cansaço da musculatura ipsilateral (astenia),
devidos às modificações da inervação tônica. Os reflexos tendinosos apresentam-se lentos;
Incapacidade para discriminação do peso: O atáxico terá dificuldade para avaliar o peso de um
objeto ou para avaliar a força necessária para movê-lo.
Há fortes indícios de que outras partes do cérebro sejam capazes de compensar parcialmente as
perdas ou disfunções cerebelares.
Fala escandida: O assinergismo dos músculos que participam da fala resulta em fala mal articulada,
lenta e hesitante, com acentuação inadequada de algumas sílabas, de modo que algumas palavras são
ditas de forma mais rápida que as outras. A fala escandida se parece com a fala do bêbado. Como a
população, de um modo geral, não conhece a ataxia, os atáxicos sofrem grande preconceito.
O nistagmo é caracterizado por leves tremores dos olhos, que podem dificultar a escrita e a leitura,
bem como a percepção de objetos e de obstáculos e, com isto, diminuem a segurança na marcha,
dificultam participar das brincadeiras com outras crianças, praticar esportes, etc.
Ante a dificuldade de equilíbrio e de coordenação motora os atáxicos andam com os pés separados,
para aumentar a base, na tentativa de melhorar o equilíbrio. Mesmo assim têm dificuldade para andar
em linha reta, desequilibram-se com maior facilidade que as outras pessoas, dependendo do grau do
comprometimento. A velocidade de deslocamento da pessoa atáxica também sofre alterações, passando
de movimentos mais rápidos durante a marcha a um andar mais devagar e vice-versa.
Atetose
A atetose é causada por lesões nos gânglios basais (estriato, globo pálido e, mais raramente, no
tálamo e Nucleus ruber) e acomete de 10 a 20% dos portadores de paralisia cerebral.
O tálamo é composto de duas grandes massas simétricas de substância cinzenta, as quais representam
80% do diencéfalo. “Todos os impulsos destinados ao córtex precisam passar pelo tálamo, a fim de se
tornarem conscientes” (DUUS 1989, p. 163). Os sinais e sintomas devidos ao comprometimento do
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Coréa
A coréa é uma das formas de manifestação da paralisia cerebral menos freqüentes. Com o
comprometimento funcional do striatum, o palidum tem sua ação prevalecendo. Isto resulta em
movimentos hipercinéticos e a musculatura apresenta-se hipotônica.
40
Introdução ao Movimento Paraolímpico
Em crianças portadoras de paralisia cerebral a atrofia óptica total ou parcial é a principal causa de
uma acuidade visual baixa em nível severo.
Por outro lado, enquanto apenas 3 a 5% da população infantil apresentam estrabismo, que é um
desvio ocular, em torno de 60% das crianças com paralisia cerebral apresentam algum grau de estrabismo,
sendo esta a segunda causa de dificuldades visuais nestas crianças. O estrabismo pode impedir o
desenvolvimento de um dos olhos, reduzir seriamente a acuidade visual do indivíduo e até mesmo levar
um dos olhos à cegueira. Além disso, o estrabismo pode provocar visão dupla (diplopia) e perda da visão
de profundidade.
Vide no capítulo Deficiência Mental referências sobre Possíveis Implicações da Paralisia Cerebral na
Aprendizagem Escolar.
6. PARAPLEGIA E TETRAPLEGIA
INTRODUÇÃO
As paraplegias e as tetraplegias são decorrentes de comprometimentos funcionais da medula espinhal.
Elas se manifestam em três formas distintas de comprometimentos: motores, da sensibilidade e vegetativos
(vide entre outros PAPE et PAESLACK 1997, p.306; GERNER 1992, p.3).
Quando as vias medulares são totalmente interrompidas, resulta em uma lesão medular completa.
Esta lesão será diagnosticada como sendo uma tetraplegia, quando comprometer os 4 membros e o
tronco, como conseqüência de lesões cervicais e em nível da primeira vértebra torácica. Observação:
em casos de tetraplegia, os deltóides ficam com funções perfeitamente normais, assim como o peitoral
menor. Já o ancôneo e o bíceps ficam parcialmente funcionais. Com estes músculos os tetraplégicos
podem, por exemplo, nadar, fazer atletismo (corridas, arremessos e lançamentos), rugby, jogar tênis em
cadeira de rodas, etc. Quando a lesão medular completa comprometer “apenas” as pernas, o diagnóstico
será de paraplegia.
Nas lesões medulares incompletas, quando elas ocorrerem na região cervical ou até a primeira
vértebra torácica, o diagnóstico será de tetraparesia, já que todos os quatro membros e o tronco ficam
parcialmente comprometidos. Abaixo deste nível, o diagnóstico será de paraparesia, já que ambas as
pernas ficam parcialmente comprometidas.
A altura da lesão é determinada com base nas perdas funcionais e distúrbios das funções
comprometidas.
Quando ocorre uma perda séria das funções motoras, fala-se em paralisia. Quando ocorre um “leve”
comprometimento, fala-se em paresia.
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
A compressão medular ocorre pela ação prolongada de fragmentos ósseos e, especialmente, por
hematomas.
Processos intra-espinhais capazes de destruir áreas medulares (tumores, abscessos, hérnias de
disco, cistos, hematomas, etc.);
Disfunções circulatórias e más formações de vasos sangüíneos;
Infecções e infestações: os processos infecciosos comprometem as estruturas neurais, que não se
regeneram e levam a perdas funcionais. Em muitas regiões brasileiras, é grande a infestação por xistose
(Schistossoma mansoni), que pode se alojar junto à medula e provocar paraplegias;
Processos degenerativos, como, por exemplo, na esclerose múltipla;
Más formações da estrutura neural da medula: espinha bífida oculta e espinha bífida aberta.
A espinha bífida oculta não tem importância clínica na maioria dos casos, já que geralmente não
apresenta seqüelas. DELANK et GEHLEN (1999, p. 333) chamam a atenção, no entanto, para o fato de
que adultos com incontinência urinária, sem comprometimentos neurológicos diagnosticados, poderiam
ter como causa da incontinência urinária a espinha bífida oculta.
A espinha bífida aberta é causada por um distúrbio de desenvolvimento da medula espinhal, estando
comprometidos inclusive suas membranas e nervos (meningocele, mielomeningocele,
mielomeningocistocele, etc.);
Outras anomalias, causadas, por exemplo, pela instabilidade cervical (instabilidade atlanto-axial) na
síndrome de Down, que pode provocar tetraplegias ou até mesmo levar à morte, ante a frouxidão ligamentar.
As lesões medulares completas quase sempre são de causa traumática e raramente são infecciosas.
Com isso, é de fundamental importância o cuidado com acidentes, evitando-se mergulhos em águas
rasas ou em ambientes desconhecidos. Também deve-se evitar o acesso a lagoas ou rios contaminados
com xistose nas atividades de lazer, na prática esportiva ou no exercício profissional, como é o caso dos
Bombeiros Militares ou mergulhadores, por exemplo.
Tetraplegia Paraplegia
Lesões cervicais até T1 Lesões medulares abaixo de T1
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
medidas que assegurem a compensação do estresse térmico, tais como: ingestão de líquidos antes,
durante e após a prática esportiva; alternância, se for possível, da exposição ao calor com a permanência
em lugares mais frescos, etc.;
Perda de sensibilidade (dor, frio, calor, tato, contato, propriocepção postural, etc.);
Disfunção da atividade da bexiga e do intestino. A bexiga do paraplégico e do tetraplégico é
denominada de neurogênica. Atingindo um certo volume, automaticamente ela se esvazia, como no
caso de bexigas de crianças menores. Isto implica o uso de fraldas (fralda geriátrica no caso de adultos)
e/ou de sondas.
Redução da pressão arterial e da pressão nos vasos sangüíneos, dificultando a circulação de “retorno”;
Comprometimentos da sexualidade.
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
Classificações da Escala de
Escala WISC
Deficiência Mental Stanford-Binet
Leve 63-52 pontos 69-55 pontos
Moderada 51-36 54-40
Severa 35-20 39-25
Profunda 19 e menos 24 e menos
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Entre elas, podem ser citadas, por exemplo: patologias do coração (em quase 40% dos portadores de
síndrome de Down), convulsões (menos de 5%, enquanto em pessoas sem deficiência o índice é de 1 a
2%), estrabismo (33%, que eleva em muito o risco de acidentes e, se não for tratado precocemente, de
deficiência visual), nistagmo (1,3%). Como o nistagmo é um tremor dos olhos, a visualização de obstáculos
fica prejudicada, favorecendo a ocorrência de acidentes). Além disso, possui extrema relevância na
prática esportiva por portadores de síndrome de Down a incidência de instabilidade atlanto-axial, que
também é denominada de “instabilidade cervical na síndrome de Down” e que tem uma ocorrência
entre 12 a 20% das pessoas com esta síndrome, podendo provocar a morte ou uma tetraplegia. LOTT
(1993) encontrou prejuízos evidentes em portadores de síndrome de Down nas áreas da memória
seqüencial auditiva e visual. FOWLER (1990) encontrou também achados importantes de
comprometimentos da linguagem e da fala.
Sendo a deficiência mental uma das mais importantes características da síndrome de Down, são de
relevância as pesquisas realizadas por MOORE (1973, citado por SCHWARTZMAN et al., 1999, p.58),
que avaliou 2.750 portadores de síndrome de Down, tendo encontrado dois deles com QI acima de 85,
e sete com QI entre 70 e 84.
Muitas vezes, encontram-se crianças com comprometimento motor severo e com inteligência normal,
em condições de acompanhar as diversas séries do ensino regular desde o nível fundamental ao nível
médio e até o ensino universitário. A diversidade de condições para o aprendizado escolar é muito
grande e deve-se evitar o uso de informações generalizadas, que podem induzir a equívocos e a
preconceitos, já que muitos alunos com paralisia cerebral não só têm inteligência normal como são
ótimos alunos.
Pesquisas realizadas por KÖNIG et al. (s.d.) indicam os seguintes resultados relativos à inteligência de
crianças e jovens com paralisia cerebral:
25% apresentavam inteligência normal;
50% apresentavam limitado Q.I.;
25% apresentavam níveis de inteligência classificados como severos ou profundos.
Distúrbios visuais, de percepção e diferenciação de formas podem dificultar o processo de
aprendizagem de crianças e jovens com paralisia cerebral, assim como podem dificultar o processo de
aprendizado na iniciação esportiva. Muitas dessas crianças e jovens não receberam nenhuma estimulação
em casa. Os pais não foram preparados para ter filhos com deficiência e se preocupam, freqüentemente,
apenas com a assistência médica e fisioterápica e deixam de lado o estímulo para que o filho com
deficiência tenha a infância e juventude asseguradas. Com isso, as crianças e os jovens com paralisia
cerebral ou com outras formas de deficiência física ou visual, por exemplo, não têm nenhuma experiência
com o próprio corpo ou com objetos, assim como também não estão habituados a conviver com os
desafios que as brincadeiras, a educação física e o esporte nos apresentam para nosso desenvolvimento
cognitivo, social, físico e emocional.
É comum a ocorrência de distúrbios visuais em portadores de paralisia cerebral, sendo que
aproximadamente 60 a 80% dos estudantes com paralisia cerebral apresentam algum tipo de
comprometimento da visão e, deste total, 40 a 50% necessitaram de correção óptica (lentes ou óculos).
Estes distúrbios visuais é que dificultariam o processo de aprendizagem e não a paralisia cerebral.
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
Considerando-se estar já por algumas vezes, mencionada a pobreza de experiência motoras, sociais,
emocionais e esportivas em crianças e jovens com deficiência, somos de opinião que, em muitos casos,
se deveria promover uma estimulação psicomotora para assegurar uma base de desenvolvimento, para
depois se dar ênfase à iniciação esportiva no ambiente escolar. Por outro lado, deve-se reconhecer que
muitas crianças e jovens com deficiência já apresentam plenas de prática esportiva, quando iniciam o
processo de escolarização. Ou seja, cada caso é um caso.
A seguir, citamos alguns exemplos de estimulação psicomotora.
Antes, porém, deve ser dito que a psicomotricidade é uma área do conhecimento que estuda, entre
outros, o desenvolvimento das estruturas neurais e da cognição, e sua relação com o comportamento
motor e emocional das pessoas, especialmente das crianças e dos jovens.
Como a psicomotricidade abrange variados aspectos, ela é estudada e praticada por diferentes
profissões, tais como a pedagogia, a educação física, a psicologia, a fisioterapia, a terapia ocupacional
e a medicina.
A estimulação psicomotora, com base nas aulas de educação física e na iniciação e na prática do
esporte escolar paraolímpico, poderia ser usada para favorecer os processos cognitivos dos alunos e
outras condições fundamentais ao processo de inclusão e à valorização de suas pessoas pelo esporte
escolar paraolímpico.
Como exemplo de estimulação à cognição, poderiam ser citadas as seguintes ações:
Exercícios e práticas esportivas que estimulem a atenção e concentração (capacitar-se para manter-
se atento por cada vez mais tempo e de selecionar entre estímulos secundários e principais);
A memorização (de brincadeiras, regras, seqüências motoras e melódicas, associação de músicas e
movimentos);
Capacidade de tomar decisões adequadas;
A criatividade (por exemplo, com os próprios alunos criando brincadeiras ou variando formas
jogadas, táticas ou técnicas);
Ser capaz de selecionar entre estímulos importantes e secundários, como ocorre freqüentemente
no basquete e no handebol, por exemplo;
Promover dinâmicas esportivas e de lazer procurando estimular os alunos a se perceberem como
pessoas capazes e a ter prazer nas atividades físicas, passando-as a ver como um desafio que pode ser
superado;
Proporcionar dinâmicas que favoreçam vencer o medo, bem como melhorar a coordenação motora,
o equilíbrio;
Proporcionar a vivência de atividades de equilíbrio (estático, dinâmico e de materiais);
Estimular a melhora das percepções: tátil (texturas e temperaturas), auditiva, visual, discriminação
de pesos , cores, tamanhos, etc.), da percepção espaço-temporal (perto, longe, devagar, rápido, primeiro,
último, em linha reta, em linha sinuosa, se aproximando, se afastando, etc.);
Favorecer a lateralidade com uso de formas jogadas e brincadeiras: em cima, embaixo, atrás,
dentro, fora, à frente, ao lado, organizado numa certa seqüência, etc.);
Promover a oportunidade de vivenciar diversas formas de atividades, para aprender a se comportar
adequadamente, por exemplo com as seguintes ações de: passar e receber; proximidade e distância;
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
tocar e ser tocado; ajudar e aceitar ajuda; participar ou esperar sua vez; desinibir-se; aprender a ser
solidário; aprender a liderar e a seguir instruções; sentir-se aceito; canalizar a agressividade; combater
a depressão, a apatia e o medo; combater o narcisismo e o egocentrismo; desenvolver a autoconfiança;
reduzir a dependência e promover a independência (física e na tomada de decisões), combater a
introversão, promover o comportamento mais extrovertido; sentir-se preparado para também participar.
Aprender a se empenhar, a valorizar-se, aprender a reconhecer seus potenciais e o das outras pessoas,
bem como a ser responsável.
Melhorar a condição física, tanto sobre o ponto de vista muscular quanto cardiovascular.
Promove adaptações metabólicas positivas, quando adequadamente dosado e aplicado (ex.: aumento
dos capilares disponíveis e de seu calibre, aumento do percentual de plasma sangüíneo, etc.);
Redução da freqüência cardíaca;
Menor produção e maior tolerância ao lactato;
Reduz a possibilidade de ocorrerem doenças relacionadas aos males do sedentarismo;
Inclusão social;
Melhora a qualidade de vida;
Efeitos psicológicos (conhecer-se como alguém capaz e não apenas como um portador de
deficiências, melhor auto-aceitação e autoconfiança, maior motivação, etc.);
Aprimoramento técnico, tático e físico;
Saber valorizar-se e ser valorizado por sua família e pela comunidade, por exemplo, por representar
suas associações, clubes, escolas, Estado ou País.
11. BIBLIOGRAFIA
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Meu nome é Pedro Paulo. Sou professor de educação física em uma escola pública na cidade de São
Gonçalo, no Rio de Janeiro. Minha escola atende a uma comunidade carente da 1a à 8a série do ensino
fundamental. É a Escola Municipal Ednoc Lacsenem, nome dado em homenagem a um ex-professor de
origem eslava, segundo nos contam.
No fundo da escola, temos um terreno, nele fizemos nossa quadra. Com o chão de terra batida,
pintamos as linhas com cal e meus alunos me ajudaram a fazer as duas traves pintadas de branco. De
dois velhos bancos que estavam nos corredores, fizemos a nossa “arquibancada”.
Por trás dos dois gols, temos os muros que demarcam o terreno da escola. Junto às laterais, de um
lado o prédio, de dois andares, com as salas de aula e do outro um terreno abandonado com muito
mato. Isso mesmo, a escola não possui muros nos fundos e nossas bolas, sempre que podem, teimam
em fugir para lá.
Já no terreno vizinho, existe um pequeno córrego, logo depois de um barranco de uns dois metros
de altura. Entre o campo e o barranco, temos, ainda em terreno nosso, uma enorme mangueira.
Ao redor do campo, improvisamos uma pequena pista de corridas e, abrigados à sombra da árvore,
com tubos galvanizados, barras fixas de três alturas, com uma escada e quatro dormentes, fizemos um
“caminho do Tarzan”, penduramos uma corda grossa na mangueira e dela até um poste de madeira
esticamos a nossa rede de voleibol.
Até que tudo ficou bonitinho. No dia da inauguração, com torneios entre as turmas de futebol,
“queimada” e voleibol, compareceu até a gerente regional de Educação, e ela só nos visita em ocasiões
realmente muito especiais.
A Ednoc tem cerca de 250 alunos. De Educação Física, somos dois, eu e a professora Teresa. Chegamos
juntos à escola e já estávamos por lá há seis anos. Todas as turmas têm duas aulas por semana, quer
dizer, quando não chove muito.
O choque inicial
Nossa história se passa em 1996. No início do ano letivo, eu estava revendo meus alunos que
cursariam a quarta série. Eu com o grupo de meninos, junto aos bancos, e Teresa com as meninas na
sombra da mangueira. Muito barulho, muito assunto trazido das férias de verão para ser dividido com
os colegas, todos na faixa de dez a doze anos. Eu, simplesmente, dava a eles esse tempo.
De costas para o prédio da escola, de repente notei que meus alunos pararam com a algazarra e
olhavam por cima de meus ombros. Suas fisionomias iam da surpresa à incredibilidade.
Virei e vi dona Adriana, diretora da Ednoc, trazendo pelas mãos mais um aluno. Era o Roberto. Ela
foi logo dizendo – professor, esse é seu novo aluno, ele veio transferido para nossa escola. É um menino
muito inteligente e gosta muito de esportes. Roberto, esse é o professor Pedro Paulo.
O silêncio continuava, mas agora todos os alunos, as alunas e até Teresa olhavam para mim. Esperavam
a minha reação, pois Roberto, notadamente, era cego.
Fiquei mudo. Fazia muito calor naquela manhã de fevereiro. Eu, que usava um chapéu para me
50
Introdução ao Movimento Paraolímpico
proteger dos quase 40 graus do verão fluminense, tirei-o e, sem perceber, me vi coçando a cabeça. E
agora? O que vou dizer? Como falo com ele? Educação Física, será possível? Eu estava absolutamente
sem ação.
Olhei para Teresa como que pedindo socorro. Ela me respondeu com os ombros e com as mãos, vi
que ela não tinha como me ajudar. Respirei fundo e encarei. E aí Roberto, tudo bem? Tudo, respondeu,
absolutamente lacônico.
Dei a mão para o Roberto, acho que disse para dona Adriana algo assim como “deixe comigo” e o
levei até o grupo de alunos. Não sabia, ainda, que ali estava começando uma grande caminhada para
mim, para ele e para todos em nossa escola. Com Roberto, aprendemos coisas que jamais poderíamos
aprender em livros e cursos.
Sentaram no chão e começamos a chamada. Todos ainda meio atônitos, inclusive eu. “Pingava” a
freqüência, de forma mecânica, enquanto pensava no que fazer. Tinha a aula toda planejada, falaria das
atividades que seriam desenvolvidas naquele primeiro semestre, futebol e handebol e de nosso torneio
interno de julho. Faríamos uma brincadeira de “pique ajuda” e depois um “queima-queima”, pequeno
jogo de iniciação ao handebol.
Mas, e agora? Como inserir Roberto nessas atividades? Dispensá-lo das aulas, confesso que foi a
primeira coisa que pensei. Mas não, era um grande desafio e eu tinha de enfrentá-lo. Tempo, era isso de
que eu precisava. Tinha de pensar em algo e fazê-lo bem rápido.
Pedi que todos corressem ao redor do campo e pedi a Bernardo, um aluno antigo e que gozava de
minha confiança e amizade, que fosse junto do Roberto. Mesmo relutante, Bernardo pegou Roberto
pelas mãos e começaram a correr. Logo notei que Roberto preferia segurar no braço de Bernardo
durante a corrida. Enquanto isso, minha cabeça explodia de dúvidas e de soluções mágicas, as quais,
muito rápido, naufragavam num maremoto de incertezas.
Contudo, notei que Roberto e Bernardo, inicialmente arredios entre si, passaram a conversar enquanto
corriam. Percebi que o caminho era esse, tínhamos de conversar, Roberto, eu e toda a turma.
Juntei o grupo, já na sombra de nossa árvore, e conversamos durante todo o tempo restante. Como
foi? Eu conto depois.
51
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Disse que a cegueira total, ou simplesmente amaurose, pressupõe a completa perda de visão. A visão
é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente e que a delimitação do grupamento de deficientes
visuais se dá, então, por duas escalas: acuidade visual, aquilo que se enxerga a determinada distância e
campo visual, a amplitude da área alcançada pela visão, sendo o campo visual normal de 180º.
Uma pessoa é considerada como tendo visão subnormal, ou baixa visão, se corresponde a um dos
critérios seguintes: a visão corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode
ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros); ou se o
diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua
acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200.
Nesse contexto, caracteriza-se como cego aquele que possui uma acuidade visual até 6/60, ou um
campo visual de até 10º e como portador de visão subnormal, ou baixa visão, aquele que possui acuidade
visual de 6/60 e 18/60 ou um campo visual entre 10 e 20º.
Ela me disse que, pedagogicamente, delimita-se como cego quem necessita de instrução em braile
(sistema de escrita por pontos em relevo) e como portador de baixa visão aquele que lê tipos impressos
ampliados ou com o auxílio de potentes recursos ópticos. Roberto escreve e lê em braile, e muito bem.
A conversa
Passado o choque inicial, sentamos à sombra e passamos a conversar claramente sobre como seriam
nossas aulas naquele semestre para que o Roberto pudesse participar de tudo. O Bernardo foi o primeiro
a falar “ele é muito legal, pena que seja flamenguista ... ele corre mais que eu”.
Bernardo, eu e muitas outras pessoas inteligentes somos tricolores, ou seja, torcedores do glorioso Fluminense
Futebol Clube, o tricolor das Laranjeiras. Foi o futebol que aproximou os dois alunos durante a corrida.
Muitas idéias surgiram. Todos falavam, menos o Roberto. Percebi isso e perguntei – Roberto do que
você gosta? Futebol, disse incisivo. Depois de alguns comentários sobre os times do futebol carioca,
todos, é claro, achando os seus sempre os melhores, fui surpreendido pela observação do Bernardo “eu
posso correr sempre com ele, é fácil, ele segura no meu braço e vamos embora”.
Naquele momento, o Bernardo foi nomeado monitor de educação física. Ele teria a função principal
de fazer seus exercícios junto com o Roberto.
Todos nós decidimos que o futebol seria a unidade do semestre e que o Roberto participaria de tudo
aquilo que pudesse. A participação dele, contudo, viria a surpreender a todos nós.
Acabou o horário da aula, nós nos despedimos e pude perceber Roberto, guiado por Bernardo, junto
com um bando de outros garotos, voltando à sala de aula, conversando animadamente.
Eu e dona Cristina
Dona Cristina era a professora da turma 401. Roberto era também seu aluno. Ela passou pelas
mesmas inquietações que eu. Das dúvidas iniciais, aprendeu o sistema braile, fez cursos e de Roberto
um de seus melhores alunos. Juntos, eu e ela, sempre buscávamos o apoio de dona Leila.
Já no nosso segundo encontro, dona Leila nos informou que Roberto possuía cegueira congênita, ou
seja, nascera cego em função de uma doença de sua mãe durante a gestação. Ela também falou da
deficiência adquirida, disse-nos que se enquadram nesse caso pessoas que nascem sem uma deficiência
que só se instala após os dois ou três anos.
Dona Leila, ainda no segundo encontro que tivemos, disse-nos que, embora em sua conceituação
tenha dado ênfase à condição do deficiente visual como uma pessoa normal que não enxerga ou possui
visão subnormal, nesse momento tornava-se importante listar prejuízos no desenvolvimento de crianças
52
Introdução ao Movimento Paraolímpico
cegas que são cientificamente comprovadas e estatisticamente relevantes. Disse que essas diferenças,
quando apresentadas, são de maneira mais acentuada na área motora e se dão, não por um deficit
anátomo-fisiológico do sistema motor inerente ao cego, mas sim pela limitação de experiências motoras
em diversos níveis.
Quando ela falou isso, olhou para mim e disse: “professor Pedro Paulo, para o Roberto o seu trabalho
será muito mais importante do que para os demais, mesmo sabendo da importância da educação física
para todos”. Senti minhas responsabilidades aumentarem.
Em seguida, ela comentou que alunos cegos, como o Roberto, necessitam de atividades de educação
física que atuem e enfatizem a formação adequada da imagem corporal, dos esquemas corporal e
cinestésico, o equilíbrio, a postura, a mobilidade, a expressão corporal e facial, a coordenação motora,
a lateralidade, a direcionalidade, os exercícios de relaxamento e de flexibilidade articulatória.
Disse, ainda olhando em meus olhos, que a educação física é excepcional para o aluno cego como
ferramenta de desenvolvimento afetivo, tendo em vista seu potencial nessa área como fator de aquisição
de autoconfiança, auto-estima, sentimento de mais valia, de segurança em relação às suas possibilidades,
de formação e desenvolvimento do espírito de coletividade e elaboração dos conceitos de colaboração
e co-participação e de diminuição de sua ansiedade, quebrando possíveis situações de apatia, dependência,
isolamento e desinteresse pela interação social.
Dando ênfase à importância do trabalho realizado pelos profissionais que atuam na área de atividades
motoras das crianças cegas, dona Leila nos disse que a potencialização da ação motora autocontrolada
buscará dotar a criança cega de elementos psicomotores, afetivos e cognitivos que a levem, a partir do
auto-conhecimento corporal e do aumento de suas possibilidades de experimentação ativa em situações
de aprendizagem, a perceber-se como ser inédito, capaz e participativo, por meio de um processo
gradual e progressivo de ampliação de seu mundo particular e restrito pela falta das informações
visuais. Falou ainda que a criança cega tem no movimento o principal veículo das descobertas e que
cercear-lhe essa possibilidade, por ações ou falta delas, constitui bloqueio externo ao seu desenvolvimento
geral, à sua maturação e, por conseqüência, ao seu adequado e igualitário encontro com a sociedade.
Lembro que pensei: bonito isso, mas será que vou conseguir?
Voltando sua atenção para a dona Cristina, ela nos informou que a limitação na captação de estímulos,
assim como a falta de relação entre o objeto visualmente percebido e a palavra, além da falta de
experiências práticas, podem causar uma problemática cognitiva no aluno cego e que esta tem como
característica básica a dificuldade na formação e na utilização de conceitos. Ressalvou, contudo, que a
defasagem cognitiva é uma situação conjuntural e não estrutural no desenvolvimento da pessoa cega.
Voltando a mim, explicou que a maior parte dos conceitos que a criança cega adquire chegam até ela
por seu corpo e seu movimento. Ela sempre aumentando minha responsabilidade.
Perguntou se nos lembrávamos das brincadeiras infantis de nossa época. Claro, quem pode esquecer.
- Lembram da brincadeira de “cabra-cega”? ... aqueles que passaram por essa experiência podem perceber
claramente o privilégio e a vantagem do vidente sobre o não-vidente na orientação espaço-temporal e
nas possibilidades de movimentação. A visão constitui para a criança o principal elemento de captação
de informações e estímulos, principalmente aqueles que levam à ação motora. Do móbile pendurado
sobre o berço, à bola rolando no pátio da escola, ou na calçada da rua, a visão leva a criança ao
movimento. A “cabra cega” percebe-se momentaneamente cercada dos parâmetros visuais que, até
então, serviam-lhe, quase que exclusivamente, na sua interação com o meio ambiente. A criança cega
não pode tirar o pano dos olhos. Sua limitação não é temporária. Ainda no berço, sua mão não vai
naturalmente ao móbile. A bola rolando não a faz correr atrás dela. Seus conceitos, dos corporais aos
abstratos, podem não estar adequados à realidade. Eu e dona Cristina ficamos absolutamente atentos
àquilo que falava e nos perguntávamos por que nunca havíamos pensado nisso.
53
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Finalizando, colocou que, estando cerceado no principal dos sentidos, o cego e o portador de visão
residual não desenvolvem naturalmente os sentidos intactos de forma compensatória. O tato, as
cinestesias, a audição e o olfato, sem uma adequada estimulação, não atuam, de maneira fidedigna, na
diminuição da diferença na captação e elaboração dos estímulos ambientais e que, por isso, todos os
demais sentidos deveriam ser muito bem trabalhados. Foi uma verdadeira aula que tivemos.
A primeira aula
Antes de começarmos a aula, chamei o Bernardo e conversamos sobre a sua responsabilidade como
monitor de Roberto. Falei da importância da ajuda e da segurança. Ele me disse “pode deixar, eu e o
Roberto já somos amigos”.
Confesso minha insegurança nos primeiros momentos e minha ansiedade para que tudo desse certo.
Fizemos a corrida, sempre com Bernardo e Roberto juntos. Passamos para exercícios e brincadeira
em roda, todos de mãos dadas, e finalizamos a parte inicial da aula com exercícios em duplas – saltitar,
pular, puxar, empurrar, carregar e alguns abdominais. Roberto fez todos eles.
Eu explicava os exercícios, demonstrava e Bernardo o ajudava e corrigia. Usava a ajuda física segurando
o corpo de Roberto e deixava que ele tocasse o seu corpo para que pudesse perceber as posições e os
movimentos. Foi tudo muito legal.
O circuito
Logo depois, veio o circuito. Eu mostrei estação por estação. Disse que seria um circuito diferente
daqueles que nós já havíamos feito. Seria sempre em duplas e não obedeceria a uma ordem fixa de
estações. Usaríamos os bancos, nossas duas únicas bolas, as barras, o campo, o “caminho do Tarzan”, a
corda e a rede de voleibol. Cada dupla ficaria num determinado aparelho até que eu comandasse a troca.
O resto do tempo foi gasto com os alunos experimentando as estações e conhecendo o circuito.
Bernardo não deixava passar um detalhe sequer, explicava, com toda a paciência, tudo ao Roberto.
Depois fizemos duas brincadeiras em grupo, todos juntos. Roberto, Bernardo, todos os demais
alunos e eu, ao final daquela primeira aula, vibrávamos e percebíamos que nossos limites são muito mais
amplos do que julgáramos anteriormente.
54
Introdução ao Movimento Paraolímpico
A bola
Já na segunda aula, logo na corrida de aquecimento, fui surpreendido ao ver que Roberto corria com
outro colega. Era o Flávio, uma liderança na turma e, quase, um problema disciplinar. Depois, conversando
com o Bernardo, eu soube que o Flávio havia pedido para correr com o Roberto. Queria experimentar
e ajudar também. Depois desse dia, houve um revezamento na corrida, e todos queriam guiar o Roberto.
No circuito, aconteceu a mesma coisa.
Nosso circuito foi muito bom. Os alunos participaram efetivamente num ambiente de alegria e de
descontração. Pulavam de estação em estação, sempre ao meu comando.
Viria a parte principal da aula. Faríamos alguns pequenos jogos, contestes e estafetas centrando em
componentes de técnica de futebol, condução da bola, recepção, passes e chutes. Todas as minhas
dúvidas voltaram. Como fazer com que a participação de Roberto fosse possível? Como adaptar as
atividades? Excluí-lo delas? Nunca. Logo do futebol, de que ele tanto gosta.
Foi o próprio Roberto que me deu a idéia: “professor, basta colocar a bola dentro de um saco
plástico, desse de supermercado mesmo. Ela fará barulho e eu saberei da sua posição”. Um “pulo do
gato”. Uma coisa tão simples e que não impedia os outros alunos de jogarem com a mesma bola. Todos
aprovaram e Bernardo e os demais alunos ajudavam e torciam sempre para que Roberto desempenhasse
bem suas participações nos grupos dos joguinhos.
Naquele dia, ficamos nisso. Sentamos, sempre à sombra de nossa mangueira, e conversamos sobre
nosso circuito, nossos exercícios, nossas brincadeiras e sobre futebol.
Reconhecimento (conceituação e mapa mental) das áreas, implementos e materiais a serem utilizados
nas aulas de educação física. Ao aluno cego, deve ser dado o tempo necessário ao completo
reconhecimento do ambiente de aula.
55
Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Uso de pistas ambientais: o vento entrando por uma porta ou janela, uma fonte sonora localizada
em um ponto constante, um odor característico, a posição do sol, a textura de solos e paredes. Ao
aluno vidente, indicações sem a menor importância, ao aluno cego, pistas essenciais à sua orientação e
locomoção e à formação do mapa mental do ambiente físico.
É absolutamente necessário que o professor saiba o nome de seus alunos deficientes visuais. Essa
necessidade, além da questão afetiva, assume um papel importantíssimo na segurança do aluno. Eles não
responderão a expressões quase sempre acompanhadas de gesticulação. Ei! Você aí! Pare! Vem aqui!
Existindo uma limitação óbvia à demonstração, o professor, além da voz de comando, poderá
utilizar a ajuda física e a percepção cinestésica, tocando no seu aluno e deixando que ele o toque.
Procure evitar ambientes profundamente ricos em estímulos sonoros. Lembre-se da importância
das pistas sonoras e de uma voz de comando clara.
Não tenha melindres de alertar o seu aluno cego sobre qualquer impropriedade no seu vestuário.
Não saia de uma conversa com seu aluno cego sem avisar de sua saída, tampouco chegue a um
grupo de alunos, entre os quais haja um cego, sem comunicar sua chegada.
Enfatize a higiene pessoal. Além da importância fundamental para a saúde, as boas condições de
higiene são importantíssimas no convívio social.
Os jogos de contestes e estafetas, com adaptações, são possíveis e trazem grande participação.
Não julgue que seu aluno cego conte passos para localizar objetos ou portas. Ele utiliza a memória
cinestésica que todos nós temos e que ele desenvolve muito mais.
Conduza o seu aluno cego, oferecendo-lhe o braço. Ele o segurará acima do cotovelo e caminhará
meio passo atrás de você.
Nunca prejulgue o seu aluno cego ou de baixa visão, considerando-o incapaz de realizar um
exercício ou atividade, lembre-se de que a vida dele será um contínuo superar de obstáculos. Tente, e
principalmente, use o bom senso.
Não demonstre excesso de proteção ao seu aluno cego ou com baixa visão, inserido em uma
turma de não deficientes. Lembre-se sempre que ele, antes de mais nada, quer ser tratado com igualdade.
Não generalize predicados ou defeitos de um deficiente visual a todos os outros. Lembre-se de
que as diferenças individuais constituem-se parâmetro do processo educacional e as generalizações são
componentes básicos do preconceito.
Toda criança gosta de brincar. A brincadeira desempenha um papel importante no seu
desenvolvimento. A deficiente não é diferente. Ela gosta e tem necessidade de brincar. Dê ênfase às
brincadeiras que trazem em si a necessidade da interação ambiental e interpessoal.
Embora possam acontecer diferenças psicomotoras, a criança cega, quanto ao interesse por atividades
recreativas, tem seu desenvolvimento em consonância com a criança de visão normal da mesma faixa etária.
Lembre-se de que é uma tendência natural do ser humano o temor do desconhecido. A criança
cega, enquanto não forma o conceito, desconhece. O medo de situações novas não lhe é inerente.
Contudo, se for demonstrado, empregue estratégias que propiciem a ela a experimentação física e a
formação do conceito ambiental.
O sentido rítmico é inerente a todo o ser humano. À criança cega deve ser dada a possibilidade de,
inicialmente, exteriorizar livremente, por meio do movimento, o seu ritmo próprio. Ela não tem,
naturalmente, padrões de expressões rítmicas corporais. Esses padrões, se inseridos pelo professor,
poderiam demonstrar-se contraproducentes e inibidores na pré-escola, ou nos primeiros anos do ensino
fundamental. Nessa fase, o mais importante é que o movimento corporal aconteça. Sua performance
aí não deve ser enfatizada.
56
Introdução ao Movimento Paraolímpico
Na pré-escola e até aproximadamente os oito anos de idade, a criança cega não tem a possibilidade
de abstrair do modelo para o real. Sua aprendizagem deve ser a mais concreta possível. Depois dessa
idade, o professor de educação física poderá utilizar-se de maquetas e plantas baixas em relevo para
apresentar aos alunos modelos de quadras desportivas e instalações de educação física.
O professor de educação física deve buscar informações relativas à anamnese médica, social,
familiar, psicológica e acadêmica de seu aluno portador de deficiência visual. Essas informações lhe
darão parâmetros básicos para sua intervenção, contudo não poderão limitá-lo por meio da formação
de um prognóstico final.
Aos professores de educação física de portadores de deficiência visual caberá buscar a integração
de seus conteúdos com aqueles desenvolvidos pelas outras áreas. Essa relação é fundamental e propiciará
a significatividade, as generalizações e as aplicações da aprendizagem proposta.
A pessoa com deficiência visual é um ser lúdico, como todo o ser humano. O professor de
educação física terá também a função de incitar-lhe para o lúdico e para o prazeroso. Lembre-se
sempre de que prazer e deficiência não são incompatíveis, contudo, em algumas situações, geralmente
trazidas pelos cerceamentos da superproteção e de outras reações familiares ao nascimento de uma
criança portadora de deficiência, ela necessita ser levada ao gosto e ao prazer do lúdico. Precisa ter
oportunidade de descobrir a brincadeira e o prazer e a alegria que ela traz, sendo essa uma das primeiras
descobertas de muitas que a vida lhe oportunizará.
Busque compreender seus alunos como crianças e como crianças com deficiência, exatamente
nessa ordem, não deixando de considerar tudo aquilo que a infância e a deficiência trazem quanto a
necessidades, interesses e expectativas.
Lembre-se sempre do papel e da importância que tem uma coisa tão simples quanto a alegria em
uma aula de educação física.
E, por fim, nunca esqueça da importância estratégica da predominância absoluta das atividades de
animação sobre as de instrução; da aquisição, transferência e utilização de conceitos sobre a técnica
específica; dos estímulos, problemas e reforços apresentados de forma individualizada sobre aqueles
dirigidos a todo o grupo; da utilização das pistas ambientais e dos pontos de referência sobre uma voz
de comando constante; do movimento livremente expresso sobre aquele construído a partir de um
comando externo; do movimento sobre sua excelência; da individualidade sobre o todo; dos aspectos
utilitários, recreativos e formativos sobre a performance; do desenvolvimento da auto-confiança, da
auto-iniciativa, da capacidade de tomar decisões e do prazer de poder fazer sobre a dependência
absoluta do aluno ao professor; e, acima de tudo, o privilégio da participação plena, da ludicidade, do
prazer e da alegria sobre os conteúdos formais.
Confesso que gostei muito. Muitas das minhas dúvidas estavam respondidas naquela apostila.
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Sempre na parte final da aula, Roberto era o centro das atenções. Comentava o jogo com os colegas,
reclamava e dava suas opiniões. Todos o ouviam. Estava totalmente integrado ao grupo e plenamente participativo.
Roberto me ensinou o quanto é importante ouvir nossos alunos, conversar com eles, ouvir suas opiniões.
Todos cegos
Um dia, eu tive uma idéia. Colocaria vendas nos olhos de alguns alunos e faríamos uma partida de
futebol onde Roberto jogaria normalmente. A bola, sempre coberta por um saco plástico e presa por
uma fita adesiva. A experiência foi ótima. Roberto, logicamente, levou uma grande vantagem. Fez dois
gols, mesmo os goleiros estando sem vendas.
Ele se deslocava por toda a quadra, conduzia a bola com os dois pés, chutava e marcava muito bem.
Parecia saber sempre muito bem a sua posição em relação ao seu gol, ao do adversário, onde estava a
bola e as posições de seus colegas de time. Com estes, trocava passes e, sempre buscando uma boa
posição na quadra, pedia a bola.
O nosso pequeno jogo terminou 2 a zero. Na nossa escola, a equipe que contasse com o Roberto,
sempre ganharia.
Repetimos esse jogo diversas vezes naquele ano. Todos se divertiam muito. O difícil era dividir as
equipes. Todos queriam ficar no time do Roberto.
Voltando à calma
Na Ednoc nós não possuímos vestiários. Depois das aulas, principalmente no verão, os alunos tomam
banho em uma torneira que fica próxima ao muro da escola, junto ao banheiro e ainda bem próxima de
nosso campo. Lá existe uma mangueira de borracha e todos se divertem bastante, principalmente
quando Roberto pegava a borracha e jogava água em todos de forma aleatória. Depois todos vão para
o banheiro trocar de roupa e voltar à sala de aula.
Ao final de todas as aulas, além da conversa, fazemos sempre uma brincadeira de “volta à calma”.
Nela, Roberto se destaca por participar de tudo, principalmente quando fazemos brincadeiras de habilidade
mental e resolução de charadas. Ele é muito bom nisso. Fazemos, também, perguntas sobre futebol,
suas regras, história e sobre outros esportes. Roberto sabe muita coisa sobre basquete, voleibol e até
sobre tênis. Ele é fã do Guga.
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
com o respeito às diferenças. Provou que a pressuposta incapacidade é uma barreira ao desenvolvimento
do pleno potencial do homem. Que os estigmas e os preconceitos que todos nós temos, em intensidades
e nuances diferenciadas, são quebrados no dia-a-dia da convivência e da interação.
O Roberto me fez perceber que a educação física, no contexto da escola e na realidade da escola
pública brasileira, é uma ferramenta que não pode ser desprezada como veículo da inclusão, espaço das
potencialidades e do respeito às diferenças.
Enfim, pensei eu, valeu a pena. Crescemos como pessoas; eu, o Roberto, nossos outros alunos e
todos da nossa escola.
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
1. DE ROMA A ATENAS
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
ser nove, não levando em conta as subclassificações. São eles: atletismo, natação, halterofilismo, tênis
de mesa, arco e flecha, sinuca, basquetebol, esgrima e bocha.
Novamente EUA e Inglaterra confirmaram sua força no esporte para pessoas com deficiência, fican-
do em primeiro e em segundo lugar respectivamente. A surpresa ficou por conta de Israel que superou
muitos favoritos e conquistou 15 medalhas de ouro, chegando em terceiro lugar no quadro geral. Nessa
Paraolimpíada, a equipe israelense de basquete em cadeira de rodas derrotou até os americanos, ficando
com a medalha de ouro.
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
Cerca de 12.000 pessoas compareceram à cerimônia de abertura naquele dia 21 de junho. Pela
primeira vez voleibol, goalball e as competições para paralisados cerebrais foram aceitos no programa
paraolímpico e houve disputa de medalha. No final dos anos 80 é fundado o Comitê Paraolímpico
Internacional – IPC.
O Brasil foi para a Paraolimpíada na Holanda representado apenas pela seleção de basquete e por um
nadador, mas não subiu ao pódio. Os vencedores no quadro de medalhas foram EUA, Alemanha e Canadá.
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Introdução ao Movimento Paraolímpico
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Manual de Orientação para Professores de Educação Física
mais de 4.000 atletas disputando 19 modalidades: arco e flecha, atletismo, basquete em cadeira de
rodas, bocha, ciclismo, esgrima, futebol de cinco, futebol de sete, goalball, halterofilismo, hipismo,
judô, natação, rugbby em cadeira de rodas, tiro, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, vela e
voleibol. Um número recorde de 2.000 profissionais de mídia deu cobertura aos Jogos. Mais de 35.000
pessoas de todo o mundo ajudaram na organização, entre as quais 15.000 voluntárias. Os integrantes das
delegações somaram cerca de 2.000 pessoas. Foram mais de 300 horas de cobertura televisiva. Por uma
decisão do governo grego, os atletas paraolímpicos não tiveram de pagar qualquer taxa de participação.
Quase todos os locais de competição utilizados na Olimpíada foram mantidos para a Paraolimpíada. O
futebol de sete e o de cinco foram jogados em um local diferente dos olímpicos em função das diferenças
nas medidas do campo e no material do piso. Todos os locais com grande apelo turístico, prédios públicos
e regiões urbanas com grande fluxo de pessoas foram revistos a fim de que as barreiras arquitetônicas
fossem eliminadas, tanto em Atenas quanto em todas as cidades que foram sede das competições.
Grande parte da vila dos atletas olímpicos e paraolímpicos era adaptada. As casas para hospedagem
ficaram próximas ao centro de Atenas numa área de 1.240.00m². As portas da vila estiveram abertas a
partir de 10 de setembro e se fecharam no dia 1o de outubro. Mais de 7.000 residentes, entre eles
atletas e integrantes das delegações dos países participantes, ficaram ali hospedados. A vila foi dividida
em duas zonas: a residencial e a internacional.
A zona residencial contou com 1.034 apartamentos e 75% deles foram adaptados para receberem
os atletas paraolímpicos. A área era restrita aos esportistas, técnicos e convidados especiais. Os aparta-
mentos possuíam quatro quartos e dois banheiros e, em cada quarto, foram hospedados dois atletas.
Os chefes de missão ficaram em quartos individuais. Os residentes provisórios tiveram acesso a centros
de recreação e religião, espaços para socialização e aos mais variados serviços como cyber cafés, depar-
tamento de achados e perdidos, soluções de problemas, spa e centrais de comunicação com telefone,
fax e Internet. A vila teve uma policlínica com especialistas das áreas de oftalmologia, cirurgia geral,
dermatologia, ortopedia, ginecologia, cardiologia, psiquiatria, odontologia e fisioterapia. O restaurante
com capacidade para atender três mil pessoas ofereceu vários tipos de comida. A policlínica, o restaurante
e o transporte interno funcionaram 24 horas por dia.
Zona internacional: nesta área estavam a entrada principal da vila, o shopping center, o museu
paraolímpico e os prédios administrativos. A mídia e convidados puderam entrar na zona internacional.
As lojas venderam os mais diversos produtos e ficaram abertas entre 8h da manhã e 11h da noite. Nas
dependências da vila só foram aceitos Euro e cartão Visa. Naquela zona, os atletas puderam freqüentar
os complexos esportivos, o cinema ao ar livre, a danceteria, a sala de jogos e presenciar as apresentações
artísticas ao ar livre.
Foi no Estádio Olímpico, o estádio principal dos Jogos Paraolímpicos, que aconteceram as cerimônias
de abertura e encerramento e as competições de atletismo. Ele está situado em Marousi, um subúrbio do
norte de Atenas e faz parte do Complexo Olímpico. O estádio comporta um público de 75 mil pessoas.
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Colocação
Ano Local País OURO PRATA BRONZE TOTAL
do Brasil
1972 Heildelberg Alemanha 0 0 0 0 X
1976 Toronto Canadá 0 1 0 1 31 a
1980 Arnhem Holanda 0 0 0 0 X
1984 Nova Iorque EUA 1 3 2 6 29 a
1984 Stoke Mandeville Inglaterra 6 14 2 22 14 a
1988 Seul Coréia do Sul 4 9 14 27 25 a
1992 Barcelona Espanha 3 0 4 7 32 a
1996 Atlanta EUA 2 6 13 21 37 a
2000 Sydney Austrália 6 10 6 22 24 a
2004 Atenas Grécia 14 12 7 33 14 a
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