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Ode Triunfal
Ode Triunfal
Álvaro de Campos
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
Linhas de leitura
• Localização espácio-temporal
Linhas de leitura
• Estado de espírito do eu lírico
«Tenho febre e escrevo.» (v. 2) – estado febril,
doentio, delirante, que o compele ao “canto”. Este
estado vai-se desenrolando, mais adiante, em
«Tenho os lábios secos» (v. 10); «E arde-me a
cabeça» (v. 12); «Em febre» (v. 15); … O delírio do
sujeito poético é originado pelos "excessos" do
ambiente em que se encontra inserido. Os
movimentos «em fúria» e os «ruídos» ouvidos
«demasiadamente perto» das máquinas da fábrica
estão na base do seu estado febril.
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
Linhas de leitura
• Ação do sujeito poético («proposição»)
• Universalidade
«E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os
comboios / De todas as partes do mundo» (vv. 60-61); … − o eu expande-se
numa identificação com todos os locais urbanos: a era moderna é cosmopolita e
sem fronteiras geográficas, daí a evocação de vários espaços das grandes
metrópoles.
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
- visão: «e olhando os motores» (v. 15), «Desta flora estupenda, negra, artificial
e insaciável!» (v. 32);
- paladar: «Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!» (v. 9), «Tenho
os lábios secos» (v. 10);
- audição: «r-r-r-r-r-r-r eterno» (v. 5), «ruídos modernos» (v. 10), «Rugindo,
rangendo, ciciando» (v. 24);
- olfato: «perfumes de óleos» (v. 31);
- tato: «Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.» (v.
25), «calores» (v. 31).
Correção do trabalho de grupo
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
«(Na nora do quintal da minha casa / O burro anda à roda, anda à roda, / E o
mistério do mundo é do tamanho disto. / Limpa o suor com o braço, trabalhador
descontente. / A luz do sol abafa o silêncio das esferas / E havemos todos de
morrer, / Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, / Pinheirais onde a minha infância
era outra coisa / Do que eu sou hoje...)» (vv. 49-57) − momento de quebra
disfórica no poema.
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
«Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!» (v. 107) – desejo frustrado de
abarcar por inteiro toda a realidade e toda a humanidade, apesar de todo o
esforço literário empregue no cântico. A apetência para experimentar tudo de
todas as maneiras leva-o a querer ser toda a gente ao mesmo tempo. Esta
(com)fusão de identidades é o resultado da vida moderna que assiste à
compressão do tempo e do espaço, com as consequências que se adivinham ao
nível da personalidade.
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
Literária - «O burro anda à roda, anda à roda,/E o mistério do mundo é do tamanho disto.»
(vv. 50-51);
Intercalada com momentos linguísticos marcados pelo excesso, como, por exemplo - «Poder
ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,/Rasgar-me todo, abrir-me completamente,
tornar-me passento/A todos os perfumes de óleos e calores e carvões/Desta flora estupenda,
negra, artificial e insaciável!» (vv. 29-30).
Anáfora – «Olá grandes armazéns com várias secções! / Olá anúncios elétricos que vêm e
estão e desaparecem! / Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de
ontem! (vv. 35-37)»; …
Metáfora – «flora estupenda, negra, artificial e insaciável» (v. 32); «sou o calor mecânico e a
eletricidade!» (v. 100); …
Gradação – «Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento» (v. 30); «Ruído,
injustiças, violências, e talvez para breve o fim» (v. 71).
«Ode triunfal», Álvaro de Campos
Interjeição – «Ó» (v. 34); «ah» (v. 26); «Olá»; «Eh» (v. 38), «Eia» (v. 100), …
Neologismo – «submarinos» (v. 40); «aeroplanos» (v. 40); «árvore-fábrica» (v. 93); …