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Otite externa em cães e

gatos

Msc. Evandro Silva Favarato


Doutorando em Clínica Médica de Cães e Gatos – DVT-UFV
Professor de Diagnóstico por Imagem - UNIVIÇOSA
Professor de Produção e Doenças de Cães e Gatos - UNIVIÇOSA
Otite externa

 É a doença mais comum do canal auditivo


externo.
 10 – 20% cães
 2 – 6% gatos

 Muitas vezes existe falha no manejo correto


da otite externa
 Doença recorrente
Doença crônica
 Infecção
Otite externa

Pontos chaves para um tratamento eficaz da


otite externa.

Identificar e tratar o Identificar e tratar o


Fator primário Fator perpetuante
Objetivo

Destacar pontos importantes para o correto


diagnóstico e tratamento das otites externas.
Anatomia da orelha externa
Anatomia da orelha externa

 O epitélio que reveste o conduto auditivo é


similar ao restante do corpo e contém anexos
 Liso, rosa claro, úmido
e com pouco cerume.

 Comprimento
variável (5-11 cm).
Anatomia da orelha externa

 Membrana timpânica:
A: Pars flácida
B: Pars tensa
C: Manúbio do
Martelo.
Patofisiologia da otite externa

Eritema e edema

Infiltrado inflamatório Constrição do lúmem


Misto na derme e epiderme

Dor
Hiperplasia epitelial e das
glândulas sebáceas
CRONICIDADE

Mudança da anatomia do canal


Secreção Descamação

Fibrose derme e SC e Calcificação ou


Muito cerume proliferação nodular ossificação
Da cartilagem
Oclusão do canal
Apresentação clínica

 Achados físicos variáveis

 Sinais clássicos:
 Balançar de cabeça, prurido, evidência de auto-
traumatismos (escoriações, hematoma aural,
dermatite úmida aguda), corrimento otológico,
odor fétido, edema e dor.
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Apresentação clínica
Causas predisponentes da
otite externa
Fatores anatômicos

 Controvérsia se isoladamente podem causar a


otite externa

 Principais fatores:
 Orelha longa e pendulosa.
 Condutos auditivos estreitos.

 Pelos excessivos.
Umidade excessiva

 Causa maceração do estrato córneo.

 Estimula as glândulas
ceruminosas
Fatores iatrogênicos

 Limpezas inadequadas
do conduto.

 Tratamento tópico ou sistêmico inadequado.


Doença obstrutiva

 Tumores não neoplásicos


 Pólipos, hiperplasia e cistos glandulares.

 Neoplasias
 Malignas ou benignas.
 Tumor de glândulas ceruminosas.

 Carcinomas de células escamosas.

 Papilomas.

 Mastocitomas.
Fatores primários da
otite externa
Fatores primários

 São os fatores que iniciam o processo


inflamatório.

 O sucesso do tratamento depende da


identificação deste processo.
Doenças alérgicas e de hipersensibilidade

 É o principal fator primário da otite externa.

 Dermatite atópica.
 >55 % cães apresentam otite.
 3 a5% dos cães apresentam somente a otite externa.

 Alergia alimentar
 >80% cães apresentam otite.
 25% dos cães apresentam somente a otite externa.
Doenças alérgicas e de hipersensibilidade

 Dermatite alérgica por contato


 Menos comum

 Reações alérgicas a medicações tópicas.


Parasitas

 Otodectes cynotis
 50% otites em gatos
 5-10% otites em cães

 Demodex canis

 Outros:
 Sarcoptes scabiei
 Notoedres cati
 Cheyletiella spp
 Carrapatos
Desordens de ceratinização

 Doenças endócrinas
 Hipotireoidismo
 Hiperadrenocorticismo

 Seborréia idiopática
Corpos estranhos

 São causas incomuns:

 Gravetos

 Grama

 Areia

 Insetos mortos
Fatores perpetuantes da
otite externa
Bactérias

 Microbiota normal.

 Aumento da colonização e infecção.


 Staphylococcus intermedius
 Pseudomonas aeruginosa
 Proteus mirabilis
 E. coli
 Corynebacterium spp
 Enterococcus spp
 Streptococcus spp
Fungo / levedura

 Fungo residente normal


 Malassezia pachydermatis

 Aumento da colonização e infecção


 Malassezia pachydermatis
 Candida spp
Otite média

 Desenvolve usualmente como extensão da


otite externa.
 16% cães com otite externa.
 82% cães com otite crônica.

 Importante investigar em otites recorrentes


ou crônicas.
Avaliação clínica do paciente
com otite externa
Anamnese

 Fundamental que seja bem realizada.

 O objetivo é determinar também o fator


primário.

 História geral e dermatológica.


Anamnese

 O que a anamnese pode revelar?

Se o paciente é um nadador regular.


Evidência de doença endócrina ou metabólica.
Exposição a outros animais, sugerindo uma doença contagiosa.
Evidência de prurido em outras áreas do corpo.
Uso de medicações anteriores.
A raça pode indicar possíveis predisposições anatômicas.
Evidência de uma possível imunodeficiência.
Se a doença ter característica de sazonalidade ou não.
Exame físico

 Realizar uma exame físico completo e


dermatológico.

 Lembrar que a pele que reveste o conduto


auditivo externo é susceptível as mesmas
doenças que afetam o resto do corpo.
Otoscopia

 Exame fundamental para avaliação dos


pacientes com otite externa.

 Sempre examinar ambos ouvidos.


 Sempre examinar primeiro o ouvido menos
afetado.

 Avaliar: inflamação, exsudato, estenose e


proliferação.
Otoscopia

 Muitas vezes requer a contenção química do


paciente.

 Realizar a otoscopia antes e após a lavagem


otológica.

 Tratamento prévio (4-7 dias) com


glicocorticóides em otites graves.
Otoscopia

 Otoscópio de qualidade!
Vídeo otoscópio

 Vantagens:
 Melhor ampliação.
 Permite registro de
imagens e vídeos.
 Realização de
lavagens otológicas
simultâneas.
 Realização de
intervenções
cirúrgicas.
Como examinar com o otoscópio?
Inflamação do conduto auditivo

 Achados na otoscopia
 Eritema, espessamento do epitélio, proliferação
nodular com estreitamento ou não do canal,
ulceração do epitélio.
 Presença de exsudatos.

 Perfuração ou aspecto anormal da membrana


timpânica.
 Pólipos, neoplasias, corpos estranhos e parasitas.
Inflamação do conduto auditivo
Citologia

 Identificação de fatores perpetuantes.


 Avaliar a presença de leveduras, bactérias e
leucócitos.

 Ambos condutos.

 Fazer a coleta antes de


qualquer limpeza otológica
ou tratamento.
Citologia

 Avaliar a lâmina antes de realizar a coloração.

 Coloração:

 Aquecer a lâmina na
chama previamente

 Diff-Quik e Gram.
Citologia
Citologia
Citologia

Recomendação para a significância dos organismos presentes


(objetiva de 40x)

Normal Suspeito Anormal


Malassezia
Cão ≤2 3-4 ≥5
Gato ≤2 3-11 ≥12
Bactéria
Cão ≤5 6-24 ≥25
Gato ≤4 5-14 ≥15
Fonte: ANGUS, 2004
Cultura e antibiograma

 Fundamental principalmente
nas otites crônicas.

 Tratamento empírico enquanto aguarda o


resultado.

Interpretar junto com sinais clínicos,


achados físicos e citológicos.
Terapia médica na
otite externa
Tratamento da otite externa

 “Pode ser vista mais como uma arte do que


uma ciência”.
 Poucas pesquisas sobre terapia.
MORRIS, 2004

 Identificar e tratar fatores predisponentes,


primários e perpetuantes.

 Evidência de cepas bacterianas resistentes.


 Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus spp.
Princípios básicos do o tratamento

 Limpeza do conduto auditivo.

 A terapia tópica é eficiente na maioria das


vezes.
 Apresentações otológicas apresentam em sua
maioria um anti-inflamatório, antibiótico e
antifúngico.

 Tratamento sistêmico se o ouvido estiver


estenosado ou tiver otite externa.
Princípios básicos do o tratamento

 Otite aguda
 Compatível com os achados citológicos
 Duração mínima de 7-14 dias.

 Volume suficiente do medicamento no canal.

 Otite crônica
 Verificar integridade da membrana timpânica.
 Predinisona (0,5 mg/kg, BID, 24h, 48h por 2-4
semanas).
 Antibióticos sistêmicos.
Medicações anti-inflamatórias

 Aguda:
 Fluocinolona, betametasona e dexametasona

 Longo prazo:
 Hidrocortizona.

 Sistêmica:
 Predinisona (0.25-0,5mg/kg, BID, 1 a 2 semanas)
Medicações bactericidas

 Conforme os achados citológicos e da cultura


e antibiograma.
 Cocos
 Neomicina; gentamicina.
 Bastonetes
 Gentamicina; amicacina (diluir a 30-50mg/ml);
 Tobramicina (diluir a 8mg/ml);

 Sulfadiazina de prata (diluir a 0,1%).

 Sistêmica
 Cefalosporinas; clindamicina.
Medicações fungicidas

 Malassezia e Candida spp

 Nistatina

 Benzoimidazois (tiabendazol, miconazol,


itraconazol)
Medicações parasiticidas

 Otodectes cynotis
 Piretrinas
 Tiabendazol

 Ivermectina oral (250 µg/kg, VO, SID, 3-4


semanas ou SC, 2 tratamentos a cada 10 dias)

 Demodex spp
 Amitraz (diluir 2% em óleo mineral a cada 3 dias)
 Ivermectina oral (300–600 µg/kg, VO,
diariamente)
Tratamento cirúrgico

 Otites refratárias ou quando há importante


perda da anatomia do ouvido.

 Favorecer o microambiente
no conduto.
 Ressecção da parede lateral
 Ablação do canal vertical

 Ablação total / osteotomia

da bula lateral.
Considerações finais

 A otite crônica e recorrente representa um


dos problemas diários mais frustrantes na
prática clínica diária.

 O que podemos modificar para melhorar?


 Buscar sempre os fatores primários e
perpetuantes da otite.
 Realizar um exame clínico completo.

 Acompanhar o tratamento.

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