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EMPRESAS FAMILIARES COM MAIS DE 200 ANOS

As histórias e sagas de empresas familiares que desaparecem antes de atingir a terceira


geração são bastante conhecidas e merecem, constantemente, intensa divulgação através dos
diferentes meios de comunicação. Mas até agora pouco tem se estudado e conhecido os casos
de famílias empresárias que ultrapassaram a barreira dos 100 ou 200 anos. E por esta razão
torna-se mais importante ainda, conhecer as razões que determinaram o sucesso das empresas,
de controle familiar, que atingiram a categoria de bicentenárias.
E um dos primeiros pontos que se torna digno como registro para análise e conhecimento deste
processo de longevidade, é que todas estas empresas continuam sendo controladas pelas
mesmas famílias que lhe deram origem.
Um segundo destaque é que esta longevidade resulta de um processo contínuo que não envolve
apenas a empresa e seu mercado. Mas ele é suficientemente amplo para que tanto a família,
como o patrimônio, mereçam também uma atenção muito especial. Principalmente na
perspectiva de que, além de uma família empresária, os seus componentes necessitam
preparar-se para o papel de acionistas. Vínculo este que decorre tanto do legado e valores
recebidos, como do capital herdado. E isto vai exigir, a cada nova geração, competências e
condutas que agreguem valor, tanto material como moral, ao conjunto – individual e coletivo -
que cada herdeiro deverá receber e administrar.
Pesquisa feita por dois professores – Alden G. Lank e Mônica Wagen – acrescidas pela
experiência de um herdeiro da quinta geração de uma destas empresas – Bill Gordon, da
indústria escocesa de bebidas William Grant & Sons – conseguiu listar as características
determinantes da longevidade das empresas familiares com mais de 200 anos. E abaixo
relacionamos algumas destas, com um respectivo comentário.
Iniciando a análise pelos fatores determinantes do sucesso na perspectiva da empresa, foram
identificados os seguintes: Preservar e desenvolver uma atuação fortemente competitiva em
relação aos negócios; Manter um foco claramente estratégico e de longo prazo; Ter muito claro o
nicho de atuação e concentrar-se com firmeza no mesmo; Assegurar de que a marca se
mantenha, ao longo de todo o tempo, como uma marca de alto valor agregado; Desenvolver um
eficiente sistema de distribuição dos seus produtos e serviços; Estabelecer uma conduta de
abertura para as oportunidades que permitam alianças estratégicas de forte valor agregado e
complementaridade; Crescimento através de uma agressiva política de aquisições; Diversificar
tendo sempre como estratégia agregar valor ao produto principal; Manter uma política de
mercado em que a receita seja proveniente em 60% do mercado externo; Por último, preservar
uma forte capacidade de adaptação às exigências do mercado – clientes, fornecedores e
concorrentes -.
O que se pode depreender deste conjunto de fatores é que uma das características das
empresas familiares com vida longa, e estratégia de negócios bem sucedida, é uma visão de
longo prazo. Sua missão, planejamento e ações levam em conta os interesses de um grupo de
acionistas, conjugado com o corpo executivo, para as gerações futuras. Tanto na perspectiva do
mercado como dos seus controladores. São evitadas medidas de curto prazo, muito típicas de
grupos executivos fortemente comprometidos com resultados vinculados a bonificações e cortes
de custos abruptos.

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Ao ampliar esta análise nas perspectivas da Família e do Patrimônio, levando ainda em
consideração o vínculo societário e a importância em preservar o controle do capital, vamos
encontrar um outro conjunto de fatores que, embora possa parecer complementar, possuem
igual relevância que os já apresentados, na perspectiva da empresa.
Vejamos então alguns deles: Criar e manter, tanto na família como na sociedade, uma visão
comum e compartilhada; Fixar, nas mesmas instâncias, estratégias alcançáveis; Estruturar
instituições de governança apropriadas, tanto para a família como para o controle; Estabelecer,
compartilhar e comprometer todos os componentes, com uma clara separação dos papéis de
todos os componentes dos diferentes sistemas; Admitir a existência de conflitos e criar sistemas
ágeis e legitimados para administrar os mesmos; Desenvolver e implementar políticas de
Recursos Humanos para toda a família através de Acordos, Protocolos e Código de Ética;
Estabelecer formas e comportamentos facilitadores que possam atrair, para a organização,
executivos não-familiares competentes; Estruturar um processo de sucessão eficiente tanto no
âmbito da família como da sociedade; Estar atento, e agir preventivamente, nas questões legais
e tributárias;
Criar programas educativos para os mais jovens sobre o significado de fazer parte de uma
família empresária; Manter cursos e eventos para a formação dos herdeiros para o papel de
acionistas; Organizar eventos para que a família se divirta e amplie sua integração; Criar e
manter atualizado o Acordo de Acionistas; Priorizar a empresa antes da família em todos os
processos decisórios e administração dos conflitos; Estimular o orgulho e paixão de pertencer a
uma família empresária; Preservar um espírito de independência e busca da realização pessoal
e profissional como um compromisso de cada um.
Uma rápida observação deste conjunto de fatores mostra o quanto torna-se necessário um
processo educativo das famílias, e seus componentes, para o desempenho dos seus diferentes
papéis no contexto de uma empresa de controle e gestão familiar. E o uso da palavra processo é
muito apropriado na medida em que este desafio se renova, e modifica, a cada nova geração.
Uma das conclusões importantes de todo este trabalho, que reforça a orientação que temos
seguido nos processos de apoio a empresa nacional, é que sucessão na empresa familiar não
se restringe a encontrar sucessores qualificados para o gerenciamento dos negócios. Tão
fundamental quanto ter bons gestores, familiares ou não familiares, é ter uma família e acionistas
conscientes e profissionalizados para os seus diferentes desafios.
O exemplo das empresas longevas merece ser olhado e analisado com interesse. Nada deve
ser imitado porque cada caso é um caso. Mas, guardadas a peculiaridades de cada família,
patrimônio, sociedade e empresa, as referências podem ser úteis. Especialmente num país com
a nossa diversidade cultural.

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