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Texto

Etimologicamente, texto significa tecido, trama, enlace, entrelaçamento. O objetivo de quem compõe um texto é
entrelaçar as palavras, compô-las de tal sorte que resulte num todo organizado. A urdidura das palavras tem por
resultado uma tessitura de palavras.

Texto é a mensagem, a informação, em suma, o próprio discurso, não só escrito, mas também contido numa
imagem ou charge, ou ainda nas palavras-frases (“fogo”, silêncio”, “perigo”, “homens trabalhando”).

Numa perspectiva abrangente:


Texto = toda e qualquer manifestação da língua que constitui uma unidade de comunicação.

Sob perspectiva restrita:


Texto = unidade linguística escrita ou falada capaz de promover entre os usuários da língua certa significação, ou
seja, só há texto quando seu destinatário reconhece uma unidade de sentido.

Um amontoado de palavras às quais faltem ordem e lógica não forma um texto, já que este só é formado quando
as palavras são postas em função de uma mensagem a ser transmitida.

O sentido de “texto” (para a Semiótica da Cultura): unidade de cultura ou de tudo que o homem produziu
através da linguagem natural e também das inúmeras linguagens artificiais, com o objetivo de armazenar e
difundir informação e produzir comunicação. Aplica-se a todos os portadores de sentido: cerimônia, obras de
arte, peça musical. Vale dizer: todas as mensagens que podem ser definidas como gênero: uma reza, uma lei, um
romance, etc., cumprindo uma função semiótica.

Contexto:
Etimologicamente indica “reunião”, “companhia”, “vizinhança”. Por isso se diz que contexto é “o que cerca o
texto”, “o entorno”, “o que está junto ao texto”.
Tudo, portanto, que acompanha, antes ou depois, o texto, constitui o contexto, cuja finalidade é colaborar com a
compreensão da mensagem.

Contexto imediato ou linguístico: se refere aos elementos inseridos no texto, dentro do texto, tais como o
título da obra, a autoria (que nos fornece dados sobre o estilo), o conteúdo do livro, o pensamento político do
autor, por exemplo.
Situacional ou não linguístico: elementos não inseridos no texto, fora do texto, na periferia do texto, com o
mesmo objetivo de ampliar o leque de esclarecimentos sobre o texto. Contribuições de ordem social, histórica,
literária, psíquica e outras, numa partilha de conhecimentos, o que confere ao contexto uma feição dialógica = o
texto só tem sentido com o contexto.

Intertexto:
Relação entre textos, cruzamento, releitura, enfim, é a presença de um texto em outro texto. Pode acontecer de
várias maneiras.

O filósofo russo Mikhail Bakhtin desenvolveu estudos discursivos sob a perspectiva das interações havidas entre as
obras literárias, fenômeno ao qual deu o nome de dialogismo.

Bakhtin demonstrou em suas pesquisas que nos textos de Dostoiévski havia polifonia, isto é, dentro do próprio
discurso há diálogos internos e há, também, diálogos com outras obras.

Julia Kristeva esculpiu e batizou “a teoria da intertextualidade”, sustentando que todo texto é construído como
um mosaico de citações. Dessa maneira, cada texto é resultado de absorção e transformação de outros textos.
Leyla Perrone-Moisés explica que “o objetivo dos estudos de intertextualidade é examinar de que modo ocorre
essa produção do novo texto, os processos de rapto, absorção e integração dos elementos alheios na criação da
obra nova. (...) As ‘influências’ não se reduzem a um fenômeno simples de recepção passiva, mas são um
confronto produtivo com o outro, sem que se estabeleçam hierarquias valorativas em termos de anterioridade-
posteridade, originalidade-imitação.”

As influências que textos antecedentes promovem nos textos posteriores, sejam sutis ou expressas, sejam
contextuais ou filosóficas, dão azo aos estudos que de convencionou chamar Literatura Comparada, a qual tem
por base a intertextualidade. Pode haver, então, várias formas de intertexto.

Paráfrase

Cruzamento de texto em que há um desvio mínimo entre um texto e outro, o que implica equivalência ou
conformação semântica. É o que ocorre nas citações indiretas (que, por sinal, se amoldam bem à linguagem
jurídica, por seu tom ritualizado).

Há paráfrase quando alguém reproduz, com suas próprias palavras, a ideia de outrem. Muitas vezes, a paráfrase é
utilizada para explicar o texto matriz, preservando sua semântica e conferindo-lhe forma mais clara ou didática.
Nesse caso, é comum que se apresente ao interlocutor o texto matriz e, então, expressões como “ou seja”, “com
outras palavras”, “melhor explicando”, as quais servem de conectivo para a paráfrase.

Importante citar que a citação indireta, realizada em trabalhos acadêmicos e científicos, bem como na seara
jurídica, não desobriga a citação da fonte.

“O Bicho” (Manuel Bandeira)

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Um exemplo de paráfrase do poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira:


No poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira, o eu lírico conta que no dia anterior se deparou com um bicho
procurando comida em meio à sujeira de um pátio, e que, de tão faminto, engolia ferozmente o que encontrava,
sem averiguar se aquilo era comestível. Diz ainda que o bicho não era um animal desses que, instintivamente,
apresentam esse comportamento, como um cão, um gato ou mesmo um rato, e termina por revelar, indignado,
que o bicho que ele vira era um ser humano.

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