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Fernando Cabral Martins, Introdução ao estudo de Fernando Pessoa, Lisboa, Ed. Assírio & Alvim, 2014,
pp. 199-200.
9
Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio , Lisboa, Ed. Presença, 1985, p. 42.
10
Veja-se por exemplo os seguintes estudos associando o ocultismo ao satanismo: ; Jacky Cordonnier,
De l’astrologie au satanisme, 2001; J.L. Vazquez, Los nuevos movimentos religiosos. Nueva Era,
Ocultismo, Satanismo, Ed. San Pablo, 2004 Paul Roland, Le livre noir de l’occultisme, Paris, Ed. Encore,
2011; Jeff Harshbarger, Dancing with the devil : na honest look into the occult from former followers ,
New York, Ed. Charisma House, 2012; Aleister Crowley, The Writings of Aleister Crowley, 2019, London,
Ed. Anubis Books.
que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, teu Deus,
expulsa diante de ti essas nações” (Deuteronómio, 18, 9-13.).
Todas as religiões cristãs defendem que o ocultismo não vem de Deus, e
afirmam mesmo que o ocultismo é uma atitude contra Deus, e que é uma coisa
diabólica. Por exemplo a religião católica, afirma oficialmente o seguinte :“Todas as
formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios,
evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõe “descobrir” o futuro.
A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e
da sorte, os fenómenos de visão, o recurso a médiuns escondem um desejo de ganhar
para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos
ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus” (Catecismo da Igreja Católica,
n.2116).
Os heterónimos Ricardo Reis, e António Mora foram pagãos, tinham uma
admiração pelos deuses da Grécia antiga, mas essa atitude é um contraponto da crítica
de Fernando Pessoa ao Cristianismo. Fernando Pessoa tinha uma grande admiração pela
Grécia e pela Roma antigas (a sua História, a sua arte, a sua mentalidade, etc.), e
lamentou essa civilização ter terminado, daí ter defendido essa civilização, em cuja
cultura se incluía também o paganismo. Mas será que Fernando Pessoa, ele próprio
enquanto indivíduo, e tão inteligente que era, acreditava na existência dos deuses gregos
e de outros seres de que falam as histórias da mitologia grega ? A titanomaquia é uma
das mais clássicas histórias da mitologia grega. Nela é narrada a famosa luta entre
deuses e titãs pelo domínio do mundo. Tudo começou com o nascimento dos Titãs,
filhos dos deuses primordiais Urano e Gaia. Um deles, Cronos, rebela-se contra o pai e
castra-o, tornando-se o rei de tudo, e engoliu os seus próprios filhos Será que Fernando
Pessoa acreditava realmente nisto ? Será que Fernando Pessoa tinha fé nos deuses
gregos, como por exemplo um católico tem fé em Deus, na Virgem Maria, e nos
santos ? certamente que não.
Segundo a mitologia grega, os males apareceram no mundo quando Pandora
abriu uma caixa onde Zeus, o deus dos deuses, tinha mandado guardar todos os males.
Será que Fernando Pessoa acreditava que a existência dos males no mundo se deve ao
facto de Pandora ter aberto uma caixa ? Segundo a mitologia, Afrodite, deusa do amor e
da beleza, nasceu das ondas do mar. Será que Fernando Pessoa acreditava que uma
deusa nasceu mesmo das ondas do mar, e que é devido a essa deusa que existe entre os
seres humanos o amor e a beleza ? Será que Fernando Pessoa acreditava que a sabedoria
existe devido à deusa da sabedoria Atena ? Será que Fernando Pessoa acreditava que
existiu Poseidon, o deus dos mares ? será que Fernando Pessoa acreditava que existia
Ares, o deus da guerra? será que Fernando Pessoa acreditava que existia Hermes, o deus
das viagens ? Será que Fernando Pessoa acreditava na existência de Sisífo, Teseu,
Édipo, Hércules, Midas, Medusa, Perséfone, Teseu, Jasão, ou de Narciso? Será que
Fernando Pessoa acreditava em ninfas, sereias, sátiros, elfos, gnomos, faunos, silenos,
centauros, e nereidas ? Certamente que não, pois isto são histórias, lendas, contos,
mitos, que existem também em alguns textos de Fernando Pessoa, mas do ponto de vista
literário, e portanto não como crente mas como escritor. Quando Zeus castrou seu pai
Cronos e arremessou seus testículos ao mar, libertou os irmãos que o Titã havia
devorado, criando a tríplice divisão : Zeus governava o Olimpo, Poseidon governava os
mares, e Hades governava o mundo dos mortos. Estas e outras histórias da mitologia
grega, pelas quais Fernando Pessoa se sentiu fascinado, enquanto figuras literárias ou
imagens simbólicas, fazem boa literatura, e foi essencialmente o que com elas Fernando
Pessoa fez. Assim como o Futurismo, o Paulismo, o Saudosismo, o Sensacionismo, e
outros ismos, o Paganismo é também uma estética, na qual os deuses da Grécia antiga
entram como figuras literárias, ou como símbolos. O fascínio de Fernando Pessoa por
exemplo pelo deus Apolo, não é por este ser um deus, mas sim pela sua beleza, e por
Apolo ser o símbolo da beleza, da perfeição, da luz, da harmonia, e do equilíbrio.
As figuras mitológica da Grécia antiga podem também ser interpretadas como
símbolos no sentido psicológico (por exemplo dos sonhos do ser humano), como fazem
Freud, e Jung, sobre o significado da mitologia. Assim, o próprio pagão António Mora,
que é o autor da maior parte dos textos pagãos de Fernando Pessoa, diz que não se deve
entender o paganismo no sentido religioso : “Quando, por isso, vos digo que esta obra é
a reconstrução do paganismo, e, lendo-a, não vedes lá deuses, não pasmeis, nem
duvideis de mim. Os deuses (volto à forma conveniente) são os atributos de substância
«pagã»; necessários à existência da substância como manifestada, mas não à da
substância como substância.”11
Também o heterónimo Ricardo Reis, apesar de ser pagão e “crente” nos deuses
da Grécia antiga, critica as religiões, afirmando o seguinte : “A religião é a redução a
ilegítima de uma coisa legítima – a especulação metafísica. A religião é uma metafísica
popular, coletiva. (…) Há só uma coisa capaz de eliminar a religião : a educação. E a
11
Obras de António Mora, Lisboa, Ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002, p. 230
educação – pode porque ela própria é uma ciência (se bem que imperfeita ainda) – deve
ser científica.
A moral é uma coerção : quando a religião era respeitada, era porque podia
prender, enforcar e banir.
O povo dos campos não é por ser religioso que é relativamente bom, é porque o
prendem, e se é relativamente sossegado é porque vive no campo”.12
Há poemas em que Fernando Pessoa emprega o nome de Deus, mas como figura
literária, através de exclamações para reforçar a coloquialidade da frase e dar
expressividade aos versos, como por exemplo quando no poema Aniversário diz :“(…)
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! / Hoje já não faço anos.”. Em alguns poemas
emprega também a expressão “Valha-me Deus”, ou “Graças a Deus !”, como faz por
exemplo Alberto Caeiro (que é um heterónimo que não acredita em Deus), que no seu
poema No entardecer dos dias de Verão, às vezes diz :“Graças a Deus que há imperfeição
no Mundo”. “Valha-me Deus !”, ou “Graças a Deus” são expressões típicas da língua
portuguesa, mas o seu emprego não deve ser encarado no sentido literal, isto é, não
significa que Fernando Pessoa esteja a pedir ajuda ou a agradecer a Deus.
Fernando Pessoa também emprega por vezes a palavra “alma”, mas o emprego
dessa palavra, em língua portuguesa, nem sempre significa a alma no sentido religioso.
Pode-se empregar a palavra “alma” com diferentes significados, como por exemplo
quando se diz que uma determinada pessoa tem “alma de artista”. Os diferentes usos
dessa palavra estão presentes também, por exemplo, na expressão “estados de alma”,
que tem a ver com o estado de espírito de um indivíduo, e tem portanto um significado
psicológico. Pode-se empregar a palavra “alma” com diferentes significados, assim
como Fernando Pessoa empregava, isto é, como sinónimo de “consciência”, “mente”,
“eu interior”, “eu profundo”, “princípio vital”, “força vital”, ”ânimo”, “disposição,
“essência”, mas isso não significa a alma de que falam as religiões (algo que quando
um indivíduo morre vai para o céu ou vai para o inferno). Há mesmo poetas, entre os
quais Fernando Pessoa, que por vezes empregam a palavra “alma” como sinónimo de
“coração” (a propósito de sentimentos amorosos), por exemplo quando Álvaro de
Campos, no poema A rapariga inglesa, diz o seguinte : “aquela rapariga foi uma
oportunidade da minha alma”, ou a alma como sendo mesmo algo de carnal, como por
exemplo quando no poema Saudação a Walt Whitman Fernando Pessoa ao beijar o
retrato deste diz sentir : “Uma ereção abstrata e indireta no fundo da minha alma”, ou
12
Obra completa de Ricardo Reis, Lisboa, Ed. Tinta da China, 2016, p. 302.
na Ode Marítima , quando falando do que sente em relação aos piratas afirma :
“Florescesse como uma ferida comichando na carne irreal da minha alma!”
Fernando Pessoa tem também poemas em que fala de forma elogiosa sobre
Cristo, como por exemplo o poema Liberdade, em que num verso diz o seguinte : “O
mais do que isto é Jesus Cristo/ Que não sabia nada de Finanças/ Nem consta que
tivesse bibliotecas”, mas este poema, como outros do mesmo estilo, tem a ver com a
admiração por Jesus Cristo apenas como figura histórica, e pela sua mensagem, não
enquanto mensagem religiosa mas sábia (assim como se pode admirar os ensinamentos
filosóficos de Confúcio, sem se ser confucionista). A admiração por Cristo não tem a
ver com a crença religiosa em Cristo como filho de Deus, e a quem Fernando Pessoa
rezasse (crença essa que aliás ele criticou, conforme se pode confirmar no presente
livro). Por outro lado, mesmo alguns versos elogiosos sobre Cristo não devem ser
encarados em sentido literal, conforme afirma o heterónimo Frederico Reis, ao referir-
se à “ideia puramente poética de Alberto Caeiro de que o Menino Jesus era o deus que
faltava”13 ( note-se : é uma ideia “puramente poética”, conforme ele afirma), até porque
Alberto Caeiro era ateu e materialista, e portanto não via Cristo como um Deus.
Fernando Pessoa interessou-se muito por diversos temas, e portanto interessou-
se também muito por religião, mas fê-lo como pensador da religião, para a analisar e
criticar, e não como homem crente. Houve muitos escritores e filósofos ao longo da
História que se interessaram muito pelas religiões, mas que não eram crentes, e que se
definiram antes como livres pensadores. Fernando Pessoa definia-se também a si
mesmo como livre pensador, descrente nas religiões e naquilo em que acreditavam os
crentes, conforme ele diz sobre si próprio, por exemplo na seguinte afirmação: “eu
mesmo, racionalista, livre pensador, não possuindo um átomo de crença no saco de
esmolas dos vossos dogmas”.14
Por entre a sua vastíssima obra, Fernando Pessoa escreveu também alguns
poemas místicos, pois enquanto poeta tinha uma sensibilidade contemplativa,
sonhadora, espiritual, mas isso não significa que ele acreditasse em Deus. Houve poetas
considerados místicos, que escreveram poemas contemplativos e de linguagem religiosa
sobre a Natureza, mas cujos poemas não falam em Deus, e alguns desses poetas não
acreditavam em Deus. Ter uma tendência espiritual, como era o caso de Fernando
Pessoa, não é a mesma coisa que acreditar em Deus. Num dos seus texto
13
Obra completa de Ricardo Reis, Lisboa, Ed. Tinta da China, 2016, p. 374.
14
BNP, 55c-71
autobiográficos, Fernando Pessoa explica em que consistia a sua tendência espiritual :
“Mas desde que tenho consciência de mim, apercebi-me de uma tendência inata em
mim para a mistificação, a mentira artística. Acrescente-se a isto um grande amor pelo
espiritual, pelo misterioso, pelo obscuro, que, ao fim e ao cabo, não era senão uma
forma e uma variante daquela minha outra característica”.15
Fernando Pessoa escreveu alguns poemas em que faz intervir Deus como
personagem dos seus poemas, que devem ser vistos apenas como criação literária, dado
que, como ele próprio afirma, “o poeta é um fingidor”, e portanto isso não significa que
Fernando Pessoa, enquanto indivíduo, acreditasse na existência de Deus, da Virgem
Maria, dos anjos, dos santos, nos dogmas das religiões, e no catecismo de qualquer
Igreja .16 Há misticismo em alguns dos seus poemas, mas um estado de espírito místico,
ou um temperamento místico, não é a mesma coisa que acreditar na existência de Deus.
Assim, um dos seus heterónimos, o Barão de Teive, diz o seguinte : “”O meu estado de
alma é aquele em que assentam os grandes misticismos, as renúncias transcendentes;
eles, porém, assentam na fé, e eu não tenho fé” 17 O mesmo acontece com outro dos seus
heterónimo, Friar Maurice, sobre quem Fernando Pessoa diz o seguinte : “Era um
místico sem Deus, um cristão sem uma crença.”18
O facto de haver em Fernando Pessoa, conforme se nota em alguns textos, uma
certa aspiração pela transcendência, pelo absoluto, e pelo ilimitado, não significa
acreditar que Deus existisse. Uma coisa é Deus enquanto ideia filosófica, enquanto
conceito, sobre o qual Fernando Pessoa refletiu, e outra coisa é acreditar que Deus
existia. Há textos em que Fernando Pessoa fala de Deus como mistério, e apenas como
tal, e utiliza esse conceito para se referir a outras realidades, como por exemplo quando
diz : “(…) um mistério igual a Deus” 19. Uma coisa é falar de Deus enquanto conceito, e
outra coisa é acreditar na existência de Deus. Também o facto de sentir admiração pela
ideia de Deus, aspirar à existência de Deus, ou desejar que Deus exista (que é algo que
também está presente em alguns textos de Fernando Pessoa), não significa acreditar que
Deus exista. Há quem procure Deus, mas não o encontre, e o facto de o procurar e não o
encontrar, revela que não consegue ter fé em Deus. No caso de Fernando Pessoa, além
de existir essa atitude, existe também a atitude em sentido inverso : apesar de dizer que
15
Escritos autobiográficos, automáticos, e de reflexão pessoal”, Lisboa, Ed. Assírio & Alvim, 2003, p. 76.
16
Ver sobre isso o livro de Andrés Ordoñez, Fernando Pessoa, um místico sem fé, Rio de Janeiro, Ed.
Nova Fronteira, 1994.
17
A educação do estoico, Lisboa, Ed. Assírio & Alvim, 2001, p. 337.
18
Eu sou uma antologia, Lisboa, Ed. Tinta da China, 2014, p. 263.
19
Textos filosóficos, o. c., p. 237.
Deus não existe, procura-o, conforme se pode ver por exemplo no Livro do
Desassossego, quando pergunta: “Onde está Deus, mesmo que não exista ?” 20 Álvaro
de Campos também exprime essa ideia, quando diz : “Dá-nos a Tua Paz,/ Deus Cristão
falso, mas consolador/ Dá-nos a Tua Paz, ainda que não existisses nunca”.21
A consciência que o Homem tem da sua finitude, e a sua aspiração à infinitude,
não deixa de ser uma aspiração, e não significa acreditar na existência dessa infinitude
enquanto Substância e Ser supremo. A consciência que o Homem tem da sua
imperfeição, e aspirar à perfeição, não deixa de ser uma aspiração, e não significa
acreditar na existência dessa perfeição enquanto Substância e Ser supremo. Há em
Fernando Pessoa essa aspiração, a busca de um sentido para a Vida, a procura de um
significado profundo para a existência humana, e a consciência de que esta Vida não
nos basta, mas isso não é a mesma coisa que acreditar em Deus. A busca da razão
profunda da existência, a demanda do Absoluto, pensar na essência dos fenómenos, e a
própria metafísica, não significa acreditar em Deus, pois houve muitos filósofos ao
longo da História que também tinham essa atitude, mas eram ateus. Sempre houve e há
ateus que apesar de serem ateus, foram e são indivíduos com uma abertura ao espiritual,
dado que a espiritualidade, sendo entendida em sentido lato, é uma tendência do ser
humano para buscar significado para a Vida por meios que transcendem o imediato, e
significa um sentido de ligação a algo maior que si próprio, mas que não tem
necessariamente a ver com Deus nem com as religiões. Há mesmo autores que
defendem a existência de uma espiritualidade no ateísmo, uma espiritualidade sem
dogmas, sem Igreja, e sem religiões. Por exemplo, o filósofo André Comte-Sponville
fala de uma “espiritualidade sem Deus”, significando isso uma abertura para o ilimitado,
um reconhecimento de que somos seres relativos mas abertos para o Absoluto. Significa
o reconhecimento do caráter misterioso e ilimitado da existência, mas que não necessita
de passar por uma explicação religiosa, e por aderir e militar num credo religioso.22
Além de ter escrito textos ateístas e contra as religiões, Fernando Pessoa
escreveu também alguns textos que são especificamente contra a Igreja Católica e
contra o clero, e nesta atitude Fernando Pessoa estava particularmente marcado pela sua
época. O período de cerca de cinquenta anos que decorreu entre 1870 e 1920 foi o mais
fértil período de manifestações ateístas e anticlericais da História Portuguesa, período
20
Livro do Desassossego, Lisboa, Ed. Assírio & Alvim, 2011, texto 88, p. 120.
21
Obra completa de Álvaro de Campos, Lisboa, Ed. Tinta da China, 2014, p. 364.
22
André Comte-Sponville, L’esprit de l’athéisme : introduction à une spiritualité sans Dieu (“O espírito do
ateísmo : introdução a uma espiritualidade sem Deus”), Paris. Ed. Albin Michel, 2006.
esse em que Fernando Pessoa viveu, e que muito o influenciou. Conforme afirmam os
historiadores, “de entre os grupos não católicos, contudo, o contingente mais numeroso
era o que se afirmava sem religião e que coincidia, em grande parte, com o dos livres
pensadores. Já em 1900 quase 1500 pessoas se tinham oficialmente declarado “sem
religião”. (…) Números citados por fontes católicas para os primeiros tempos da
República apontavam para mais de 50 000 livre pensadores confessos só na cidade de
Lisboa, a que havia ainda de acrescentar muitos neutros e indiferentes.”23
No que diz respeito à literatura e aos escritores, para o período entre os finais do
século XIX e as primeiras duas décadas do século XX, o investigador Luís Machado de
Abreu organizou uma coletânea de algumas dessas manifestações no seu livro Ensaios
anticlericais, onde se pode encontrar uma lista de diversas manifestações culturais
(literatura e ensaios), que revelam o ateísmo e o anticlericalismo da época de Fernando
Pessoa e dos anos que o precederam, e que passamos a descrever:
Na poesia anticlerical : Óscar Mário, Os Padres (1875); Gomes Leal, O anti-
Cristo (1884); Guerra Junqueiro, A velhice do Padre Eterno (1885); Guilherme Braga,
O Bispo, Nova Heresia em Verso (1895); Heliodoro Salgado, Através das Idades.
Poemeto (1899); Forjaz de Sampaio, O sol do Jordão (1903); Alfredo Pimenta, Para a
minha filha (1905); etc. No romance : Francisco Barata, Os Jesuítas na Corte (1877);
Eça de Queiroz, O crime do Padre Amaro (1880); João Bonança, O Século e o Clero
(1900); Baptista Dinis, Os crimes dos conventos (s/d.); etc. No ensaio : O Portugal
jesuíta (1893); Miguel Bombarda, A Ciência e o Jesuitismo (1900); Heliodoro Salgado,
O culto da Imaculada ( 1905) e Mentiras religiosas (1906); Brito de Bettencourt,
Catecismo ateu (1906); José Caldas, A corja negra ( 1914); Albino Forjaz Sampaio,
Palavras Cínicas (1905).
Conforme diz o provérbio, “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. A
mesma coisa se pode dizer sobre as leituras de um indivíduo : “diz-me o que lês, e dir-
te-ei quem és”. Ora, na biblioteca particular de Fernando Pessoa, entre os livros que ele
comprou e que leu, há muitos livros ateístas, livros céticos em relação a Deus, e livros
contra as religiões. Fernando Pessoa tinha vinte e três livros de John Mackinnon
Robertson, um autor britânico, nascido em 1856, e falecido em 1933, que era o autor
mais representado na sua biblioteca, e sobre quem escreveu um poema (“Este tal
Robertson, diz Jesus Cristo”). Enquanto indivíduo Robertson era ateu, e enquanto autor
23
Joel Serrão, e António de Oliveira Marques, Nova História de Portugal – Portugal da Monarquia para a
República, vol. XI, Lisboa, Ed. Presença, 1991, p. 517.
nos seu livros também defendia que Deus não existe, e defendeu ainda, ao longo da sua
vida, a tese da inexistência do Cristo histórico, e foi ainda autor de vários estudos sobre
o livre pensamento. Havendo tantos livros deste autor ateu na sua biblioteca (vinte e
três), livros esses que Fernando Pessoa mandava vir de propósito de Inglaterra, 24 e que
portanto lhe ficaram caros financeiramente, e dado que Fernando Pessoa atravessou
dificuldades financeiras ao longo da sua vida, isto revela bem o seu interesse e o seu
gosto por esse autor. Na biblioteca de Fernando Pessoa, depois desse autor, o segundo
autor mais representado é o escritor racionalista e agnóstico H.G.Wells, outro autor
britânico, nascido em 186, e falecido em 1946, de quem Fernando Pessoa tinha também
uma boa quantidade de títulos : treze, e que também mandava vir de Inglaterra, ficando-
lhe portanto caros financeiramente (apesar das dificuldades financeiras de Fernando
Pessoa), o que também revela bem o seu interesse e o seu gosto por esse autor.
Além destes autores, há também a destacar na biblioteca de Fernando Pessoa os
seguintes autores ateus ou agnósticos : Félix Le Dantec, L’athèisme (“O ateísmo”), e La
lutte universelle (“A luta universal”); Ernst Haeckel, Les enigmes de l’Univers (“Os
enigmas do Universo”), e Origine de l’Homme (“Origens do Homem”); Binet Sanglet,
La folie de Jésus (“A loucura de Jesus”). Mas na biblioteca de Fernando Pessoa há
muitos mais autores ateístas e agnósticos, ou racionalistas, secularistas, e
antirreligiosos : Alfred William Benn, Samuel Laing, Ludwig Büchner, Edward Clodd,
Charles Darwin, G.H.Lewes, William Rathbone Greg, John Wilson, John Henry
Bridges, ThomasWhittaker, F.W.Newman, Frank Hill Perrycoste, Fred C. Conybeare,
Bertrand Russell, Gustav Spiller, Elystan Thomas, Edgar Roystone Pike, Chilperic
Edwards, George Seibel, Jocelyn Rhys, Aldous Huxley, e Herbert Spencer (de quem
tinha quase todas as obras).
Na biblioteca particular de Fernando Pessoa as obras sobre Cristo são bastante
críticas sobre este, destacando-se as obras de cariz crítico e histórico, em detrimento de
obras teológicas e místicas. Uma das obras de destaque sobre Cristo, é a de Binet
Sanglè, A loucura de Jesus, autor que Fernando Pessoa refere em alguns dos seus
escritos. Fernando Pessoa projetou mesmo um estudo crítico sobre esta obra, colocando
como seu autor o heterónimo Alexander Search (que não chegou a concretizar,
conforme sucedeu com muitos outros projetos). Fernando Pessoa leu e sublinhou essas
obras, ou a sua quase totalidade, conforme se pode confirmar através dos sublinhados e
24
No seu diário de 1915, Fernando Pessoa relata alguns factos para si importantes, no dia 9 de
Novembro. Um deles é o seguinte : “Chegaram alguns livros ingleses à Livraria Inglesa” ( Escritos
autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal, o. c., p. 159).
das anotações que fez, revelando portanto interesse pela descrença em relação a Deus, e
pela crítica às religiões.
Mas não é apenas a biblioteca particular de Fernando Pessoa que revela o seu
ateísmo, a sua antirreligiosidade, e o seu anticlericalismo. É visível em Fernando
Pessoa, desde muito novo, a sua rebelião contra Deus, contra a Igreja, e contra as
religiões em geral. Aos dezasseis anos de idade planeou escrever o conto The atheist
(“O ateísta”), planeado como a study of religion (“um estudo sobre a religião”), a
assinar pelo heterónimo David Merrick, embora não tivesse chegado a concretizar esse
projeto (como aliás aconteceu com muitos projetos de livros que não concretizou). Num
texto autobiográfico, sobre o trabalho literário que realizou logo após o seu regresso a
Lisboa (Fernando Pessoa tinha apenas dezoito anos), diz o seguinte : “Início do estilo
agressivo, antirreligioso”.25 Por volta dos vinte anos de idade Fernando Pessoa projetou
a publicação de O Phosphoro, que pretendia traduzir a aversão de Fernando Pessoa
contra a Monarquia e a Igreja Católica. 26, e O Iconoclasta , que Fernando Pessoa queria
que fosse “inimigo não só da Igreja, mas das religiões todas e da religião em si”. 27 Aos
vinte e dois anos de idade Fernando Pessoa inventou um heterónimo antirreligioso e
anticlerical : Charles Robert Anon, e através deste heterónimo Fernando Pessoa
escreveu alguns poemas, que estão incluídos no presente livro.
Ao longo de toda a sua vida Fernando Pessoa escreveu muitos textos ateístas,
antirreligiosos, e anti católicos, conforme se pode confirmar através da significativa
amostra desses muitos textos, que incluímos no presente livro, o que revela portanto que
isso não foi uma fase passageira, mas sim uma coisa que durou ao longo de toda a sua
vida. Por outro lado, a sua descrença em Deus e a sua crítica às religiões não é algo que
existe apenas num heterónimo, mas sim em praticamente todos os seus heterónimos. O
heterónimo Bernardo Soares, que é um dos mais representativos, com o qual Fernando
Pessoa muito se identificava, e que dizia que o Livro do Desassossego era uma
“biografia sem factos”, é um homem profundamente descrente em Deus, conforme se
pode confirmar nos diversos textos de Bernardo Soares aqui incluídos. Há quem tenda a
ver no ortónimo aquilo que mais pensava o próprio Fernando Pessoa. Ora, é
precisamente no ortónimo que há mais textos ateístas, antirreligiosos, e anticatólicos.
25
Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal, o. c., p. 25.
26
“Artigos no Phosphoro sobre a crise moral da sociedade portuguesa”, in Pessoa por conhecer, Lisboa,
Ed Estampa, 1990, p. 163.
27
Idem, p. 166.
Por outro lado, há que salientar que esses textos não são apenas textos literários,
mas também textos de ensaio, textos autobiográficos, e textos de reflexão pessoal,
conforme se pode constatar neste livro, o que revela que o ateísmo, a antirreligiosidade,
e o anticatolicismo são algo sentido do ponto de vista pessoal. Mas a atitude de
Fernando Pessoa sobre Deus e as religiões, não está apenas nos seus escritos, pois o
próprio Fernando Pessoa, enquanto indivíduo, além de não ter nenhuma religião, e de
não frequentar nenhuma Igreja, assumiu a sua forte crítica contra a Igreja católica, por
exemplo depois de ele e a sua editora terem sido alvo de críticas da Imprensa oficiosa
católica (o jornal A Época), e da então Associação de Estudantes Católicos, em
resultado da proibição dos livros dos seus amigos António Botto, e Raul Leal. Nos
últimos anos da sua vida revelou-se novamente a sua militância anticatólica, de que é
testemunho a sua defesa pública da Maçonaria, contra a lei de inspiração católica que
proibiu a Maçonaria e outras associações secretas.
Para concluir este prefácio, façamos alguns esclarecimentos sobre a organização
deste livro e sobre os seus critérios. Como é sabido, Fernando Pessoa não publicou
nenhum livro em vida (exceto a Mensagem), pois deixou tudo em manuscritos,
dispersos, e sem organização. Têm sido os investigadores quem tem reunido e
organizado esses textos, dando-lhes porém diferentes organizações. Na organização dos
textos de Fernando Pessoa, os textos têm aparecido pelo ortónimo, ou pelos
heterónimos, ou por poesia, e por prosa, e em alguns casos por temas. Com o presente
livro é a primeira vez que surge esta organização temática, e portanto é a primeira vez
que são reunidos e publicados os textos ateístas, antirreligiosos, e anticatólicos de
Fernando Pessoa, em resultado de uma investigação pormenorizada na sua vasta obra,
que foi publicada até hoje.
Esta nossa investigação está dividida entre Fernando Pessoa ortónimo, e os
heterónimos, e dentro destes, os heterónimos principais, e os outros heterónimos,
seguindo aqui os heterónimos uma ordem cronológica, isto é, aparecendo desde os mais
antigos até aos mais recentes. Dentro de cada um deles (ortónimo e heterónimos), a
sequência é por poesia, e depois por prosa, e dentro de cada conjunto de poemas e de
prosa, a sequência é cronológica (à exceção dos textos não datados, que colocámos no
final de cada um dos grupos mencionados).
Assim, temos neste livro o seguinte resultado : no ortónimo, sessenta e seis
poemas, dezoito contos e outros textos de ficção, vinte e sete textos de ensaio, dezasseis
textos autobiográficos e de reflexão pessoal, e oito projetos de textos. Nos heterónimos
principais, o resultado é o seguinte : em Alberto Caeiro, doze poemas, e um texto em
prosa; em Ricardo Reis, dez poemas, e nove textos em prosa; em Álvaro de Campos,
sete poemas, e seis textos em prosa; em Bernardo Soares, vinte e três textos em prosa.
Nos outros heterónimos, o resultado é o seguinte : em Charles Robert Anon, três
poemas, e três textos em prosa; em Horace James Faber, um poema; em Alexander
Search, onze poemas, e um texto em prosa; em Jean Séul de Méluret, um texto em
prosa; em Pantaleão, dois poemas, e um texto em prosa; em Joaquim Moura Costa, sete
poemas; Em Carlos Otto, um poema; em Vicente Guedes, um texto em prosa; no Barão
de Teive, um texto em prosa; em Raphael Baldaya, dois textos em prosa; em António
Mora, doze textos em prosa; em Friar Maurice, um texto em prosa; num heterónimo não
identificado, um texto em prosa.
Todos estes textos expressam ou ateísmo, ou agnosticismo, ou antirreligiosidade,
ou anticristianismo, ou anticatolicismo, e por vezes no mesmo texto essas atitudes estão
juntas (por exemplo a atitude ateísta e antirreligiosa). Existem mais textos que poderiam
ser incluídos neste livro, devido à subjetividade de muitos textos que Fernando Pessoa
escreveu, tratando-se sobretudo de textos literários, e dado que cada leitor tem a sua
própria maneira de interpretar os textos de Fernando Pessoa. No entanto, procurámos
fugir à subjetividade dos textos, por isso uns são de facto ateístas, outros são de facto
antirreligiosos, e outros são de facto anticatólicos. Alguns deles são especificamente
anticristãos, e portanto o anticristianismo inclui naturalmente o anticatolicismo, mas
para não alongarmos o título do presente livro, e para destacarmos o seu
anticatolicismo, que é aliás uma das razões do seu anticristianismo, optámos pela
designação de anticatolicismo. Incluímos também textos agnósticos, e textos que
expressam essas atitudes não tão diretamente, mas de modo associado, isto é, textos que
expressam ceticismo em relação a Deus, e textos que defendem o racionalismo como
via de conhecimento, tendo subjacente a crítica ao fenómeno religioso . Não incluímos
no título deste livro as designações de “textos agnósticos”, “textos céticos sobre Deus”,
e “textos racionalistas”, para o título não ficar demasiado extenso. No entanto, o
agnosticismo, o ceticismo religioso, e o racionalismo, estão relacionadas com o ateísmo
e a atitude contra as religiões, em Fernando Pessoa, por isso escolhemos as designações
mais abrangentes.
Os poemas aqui incluídos foram transcritos quase todos na sua totalidade,
havendo portanto poucas exceções, e quando não os incluímos na sua totalidade, isso
deve-se ao facto de a sua totalidade abordar outros temas que não os de Deus e das
religiões. Por exemplo, o extenso poema Rubayat, de Fernando Pessoa ortónimo, ou o
poema a Tabacaria, do heterónimo Álvaro de Campos, têm algumas partes em que se
expressa a descrença em Deus e a crítica às religiões, mas a totalidade desses poemas
não é sobre esse tema, e por essa razão transcrevemos apenas as partes respeitantes a
isso. No que diz respeito aos textos em prosa, em alguns deles também não
transcrevemos a sua totalidade, como por exemplo no conto O Banqueiro Anarquista,
assim como em outros textos, que assinalamos com o sinal (…), quando são textos
muito extensos, ou quando têm outros assuntos que não têm a ver com o assunto do
presente livro.
A sequência dos textos aqui apresentados, dado que é cronológica, não é uma
sequência conforme a designação deste livro (textos ateístas, textos antirreligiosos, e
textos anticatólicos), pois pode aparecer um texto ateísta, seguidamente um texto
antirreligioso, e de novo um texto ateísta; pode aparecer um texto anticatólico e depois
um texto ateísta; pode aparecer um texto antirreligioso, e depois um texto ateísta, etc.
Embora não sejam exatamente a mesma coisa, todas estas atitudes (ateísmo,
antirreligiões, e anticatolicismo) encontram-se em Fernando Pessoa, e confirmam-se,
reforçam-se e completam-se umas às outras : o seu anticatolicismo enquanto
consequência do seu ateísmo, o seu ateísmo enquanto consequência do seu
anticatolicismo, a sua antirreligiosidade enquanto consequência do seu ateísmo, o seu
ateísmo enquanto consequência da sua antirreligiosidade, etc., podendo existir portanto
individualmente ou em conjunto em cada um dos textos, mas inter-relacionando-se ao
longo deste livro.
Victor Correia
ÍNDICE
- Prefácio
ORTÓNIMO
POESIA
- A hora do diabo
- Diálogo entre um católico e um cristão
- Marcos Alves
- Manuel Fontoura
- O banqueiro anarquista
- O padre Jesuíno
- O eremita da serra negra
- Doloroso
- Memórias de um ladrão
- Alegações finais
- O desconhecido
- Salomé
- Calvário
- Diálogo no jardim do palácio
- Diálogo sobre a tirania
- Diálogo filosófico
- Metafísica do Dr. Neibas
- Na Casa de Saúde de Cascais
TEXTOS DE ENSAIO
- Páginas do Diário
- Depressa descobri que a minha constituição era assim
- Não amava eu Heraclito ternamente
- É agora necessário que eu diga que espécie de homem sou
- Ficarei o inferno de ser eu
- O homem bobo da sua aspiração
- O grande Shakespeare que é toda a gente
- Nunca realizamos o que queremos
- Para Orpheu
- Uma estranha náusea
- Há coisas em mim
- Felizes aqueles
- A minha imagem
- Aqueles que sofrem
- Explicação de um livro
- Carta ao prior dos Mártires
PROJETOS DE TEXTOS
HETERÓNIMOS PRINCIPAIS
ALBERTO CAEIRO
POESIA
- Há metafísica bastante em não pensar em nada
- Esta tarde a trovoada caiu
- Num meio dia de fim de Primavera
- Só a Natureza é divina, e ela não é divina…
- Se quiserem que eu tenha um misticismo
- Bendito seja o mesmo sol de outras eras
- Seja o que for que esteja no centro do mundo
- Ah querem uma luz melhor que a do sol !
- Tu, místico, vês uma significação em todas as coisas
- Gosto do céu porque não creio que ele seja infinito
- Ponham na minha sepultura
- Quem tem flores
PROSA
- Entrevista
RICARDO REIS
POESIA
PROSA
- Um dos mais perniciosos efeitos da religião
- Olhado com desprezo e aversão indiferente
- O Cristianismo está em liquidação
- Reconstruir o paganismo
- Ao contrário da sensibilidade cristã
- Maurras e os seus são os românticos da disciplina
- A religião é a redução de uma coisa legítima
- A Ciência não curará muitos vícios, mas também não provoca nenhum
ÁLVARO DE CAMPOS
POESIA
- Não há abismos !
- Tabacaria
- Carry Nation
- Esta velha angústia
- Barrow-on-Furness
- Dá-nos a tua paz
- Ultimatum
PROSA
BERNARDO SOARES
- Nasci em um tempo
- Quando, como uma noite de tempestade
- Choro sobre as minhas páginas imperfeitas
- A Metafísica pareceu-me sempre
- Onde está Deus, mesmo que não exista ?
- Quando nasceu a geração a que pertenço
- Somos morte
- Quantas coisas, que temos por certas ou justas
- Não se subordinar a nada
- Nenhum prémio certo tem a virtude
- Desde o meio do século dezoito
- Tão dado como sou ao tédio
- A História nega as coisas certas
- Adoramos a perfeição, porque a não podemos ter
- Pertenço a uma geração que herdou a descrença na fé cristã
- A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer
- O campo é onde não estamos
- Quedar-nos-emos indiferentes
- Nunca tive alguém a quem pudesse chamar “Mestre”
- Atingir, no estado místico
- O mais alto grau do sonho
- Morreu pela pátria
- Sinfonia na noite inquieta
OUTROS HETERÓNIMOS
POESIA
PROSA
- Excomunhão
- Um ódio às instituições
- Eu era um génio
ALEXANDER SEARCH
POESIA
- Trabalho
- Obra de Deus
- O Apóstolo
- Homens de Ciência
- A última das coisas
- O padre e o carrasco
- Epigramas
- Ninharias
- A mulher de negro
- A tristeza veio para chorar
- Epitáfio
PROSA
PANTALEÃO
POESIA
PROSA
- Carta
CARLOS OTTO
- Epigrama
VICENTE GUEDES
- O asceta
BARÃO DE TEIVE
RAPHAEL BALDAYA
- Tratado da negação
- Os místicos, esotéricos e outra gente assim
ANTÓNIO MORA
- Como vimos
- Causas da religião
- A Igreja Católica é a inimiga de todo o nacionalismo
- A religião cristista
- Dizei-me porém se, ignorantes de todo o Cristianismo
- Teoria dos deuses
- O Cristianismo, pelas três origens que teve
- Com o assédio e a decadência da religião cristista
- Das virtudes a que o Cristianismo incita
- Uma demonstração, feita sobre uma lenda conhecida
- A que leva a moral excessiva ?
- Adentro do paganismo não há heresias
FRIAR MAURICE
- Imoralidade do Catolicismo
- Bibliografia
- Índice