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J. M. Silva, et al.

ISSN 1983-6708

ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO-ESTERÓIDES E
SUAS PROPRIEDADES GERAIS

Jerusa Marques da Silva1, Patrícia Pereira Mendonça1, Anette Kelsei Partata2

Os anti-inflamatórios não-esteróides (AINE’s) constituem uma das classes de fármacos mais


difundidas em todo mundo, utilizados no tratamento da dor aguda e crônica decorrente de
processo inflamatório. Possuem ação anti-inflamatória, analgésica e antipirética por inibição da
síntese de prostaglandinas mediante ao bloqueio da ciclooxigenase1 (COX-1) e ciclooxigenase2
(COX-2), criando subgrupos de AINE seletivos e não-seletivos para COX-2. Todavia, as
cicloxigenases expressam ações distintas. As propriedades farmacológicas dos AINE’s decorrem
principalmente da ação inibitória sobre a COX-2, enquanto as reações adversas são resultantes da
inibição da COX-1. São múltiplos os riscos evidenciados à utilização exacerbada de AINE: riscos
cerebrovasculares, renais, hepáticos, cardiovasculares e trombóticos, gastrintestinais, gestacionais e
fetais. Essa revisão tem por objetivo descrever a classe terapêutica dos AINEs, ao evidenciar suas
propriedades farmacológicas, indicações clínicas e reações adversas; relacionar os riscos mais
frequentes associados ao seu uso crônico e irracional e ressaltar a importância da assistência
farmacêutica na seleção e seguimento da terapia. A avaliação risco/benefício deveria ser realizada
na seleçãodo fármaco e seguimento da farmacoterapia, a fim de obter sucesso no tratamento do
paciente. Contudo, cabe ao farmacêutico exercer suas habilidades e responsabilidades na
orientação e intervenção, subsidiando quipe médica na prática clínica.
Palavras-Chave: Anti-inflamatórios Não-esteróides. Ciclooxigenase. Inflamação.

The non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) compose one of the classes of drugs more
widespread around the world, they are used in the treatment of acute and chronic pain due the
process of inflammation. They have anti-inflammatory, analgesic and antipyretic action by
inhibiting prostaglandin synthesis by cyclooxygenase 1 (COX-1) and cyclooxygenase 2 (COX-2),
creating selective and non-selective subgroups. However, the cyclooxygenase express different
actions. The pharmacological properties of NSAIDs arise mainly from the inhibitory action on
COX-2, while the adverse reactions are due to the inhibition of COX-1. There are potential risks
associated with the exaggerated use of NSAIDs: cerebrovascular, renal, hepatic, cardiovascular and
thrombotic events, gastrointestinal, pregnancy and fetal. This review aims to describe the class of
NSAIDs therapy by enhancing their pharmacological properties, clinical indicationsand adverse
reactions; relate the most common risks associated with its chronic use and irrational and
emphasize the importance of the pharmaceutical care in the selection and monitoring of the
therapy. The evaluation risk/benefit should be conducted in the selection and monitoring of the
drug in order to be successful in the treating of the patient. However, it is up to the pharmacist to
execute their skills and responsibilities in guiding and intervention, on advice the most appropriate
drug therapy, giving support to the medical staff in clinical practice.
Keywords: Non-steroidal Anti-inflammatory Drugs. Cyclooxygenase. Inflammation.

1Farmacêuticas. Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos- ITPAC; Av. Filadélfia, 568; Setor Oeste; CEP: 77.816-540;
Araguaína-TO. Email: lorenalluz@hotmail.com, solivanelimasts@hotmail.com.
2Doutora. Docente. Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos- ITPAC; Av. Filadélfia, 568; Setor Oeste; CEP: 77.816-540;
Araguaína-TO. Email:anettepartata@hotmail.com.

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1. INTRODUÇÃO farmacêutico contribui diretamente na


Os anti-inflamatórios não-esteróides racionalização e intervenção terapêutica.
(AINE) constituem uma das classes de Devido à ampla escala de consumo
fármacos mais difundidas em todo mundo, dos AINE, o presente estudo se torna
abrangendo diferentes especialidades no necessário por elucidar seus aspectos
mercado global, utilizados no tratamento da farmacológicos, enfatizando os riscos
dor aguda e crônica decorrente do processo relacionados ao uso dessa classe terapêutica
inflamatório. Possuem propriedades anti- e por sua fácil aquisição, sendo assim
inflamatória, analgésica e antipirética e sua explicado o seu uso exacerbado e
ação decorre da inibição da síntese de indiscriminado.
prostaglandinas (PG), mediante inibição das
enzimas ciclooxigenase1 (COX-1) e
2. REVISÃO DE LITERATURA
ciclooxigenase2 (COX-2), criando subgrupos
de anti-inflamatórios seletivos e não- 2.1 História
seletivos para COX-2. O controle da dor e febre, associadas
A isoforma COX-1 encontrada em ou não a inflamação, tem sido uma
vários tecidos é uma enzima constitutiva, preocupação desde os mais primários na
desempenhando função ao promover origem humana. Da casca do salgueiro
homeostasia. Por outro lado, a COX-2 é uma (Salixalbavulgaris), Lerouxem 1827, isolou a
enzima induzida na inflamação, salicina. Mais tarde, Piria, em 1838, isolou o
influenciando os eventos vasculares. Tais ácido salicílico. Em 1844, Cahours isolou o
enzimas estão envolvidas diretamente na ácido salicílico do óleo de gaultéria. Kolbe e
produção de prostaglandinas, as quais Leutemann, em 1860, conseguiram obter o
exercem papel importante na manutenção ácido salicílico através de síntese. E
de órgãos e tecidos. Ao inibir as isoenzimas finalmente em 1899, foi introduzido na
e os eicosanóides, a regulação normal destes prática clínica o ácido acetilsalicílico (AAS)
órgãos é afetada, induzindo alterações (CARVALHO, 2010).
funcionais. Devido à alta prevalência do uso Com a toxicidade, principalmente
de AINE, são evidenciadas disfunções gastrintestinal, procuraram sintetizar
cérebrovasculares, renais, hepáticas, substâncias com menos efeitos
cardiovasculares e trombóticas, gastrintes- adversos.Então, em 1950, desenvolveram a
tinais, gestacionais e fetais, elevando o fenilbutazona, o primeiro anti-inflamatório
índice de morbimortalidade. não-salicilato. Contudo, foram observados
Esse grupo de medicamentos deve efeitos adversos distintos, como
ser empregado após fazer um balanço entre agranulocitose, ocasionando progressivo
riscos e benefícios para o paciente. A partir abandono, o qual é raramente utilizado. A
de estudos individuais relacionados, a partir de 1960, foram desenvolvidos outros
seleção e seguimento terapêutico são feitos derivados acídicos ou não, com ações
com ênfase nas interações medicamentosas e analgésicas e anti-inflamatórias cada vez
seus riscos. Entretanto, é a classe de mais eficazes e menos efeitos indesejáveis
medicamento mais empregada na prática (JÚNIOR, 2007; KLIPPEL, 2001; apud
clínica atualmente, o que possibilita MONTEIRO, et al, 2008).
desenvolver ou agravar riscos ao seu uso Estudo da atividade anti-inflamatória
irracional. Nesse sentido, a presença do do AAS demonstrou que a ação estaria
ligada à capacidade dessa substância inibir a

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produção de PG, por provável competição acetilam as isoenzimas (COX-1 e COX-2) de


com o sítio ativo da enzima ciclooxigenase forma irreversível. Sabe-se que as ações anti-
(COX). Mais tarde, um pesquisador inflamatória, antipirética e analgésica
brasileiro, Sérgio Ferreira, levantou a decorrem da inibição sobre a COX-2,
hipótese de que haveria duas isoformas enquanto os efeitos indesejáveis são
dessa enzima. Somente, em 1990, que se resultantes da inibição da COX-1. Seus
conseguiu comprovar que a COX é principais efeitos colaterais são gastrite,
constituída por duas isoformas, com disfunção plaquetária, comprometimento
características bem definidas, a COX-1 renal e broncoespasmo (CARVALHO, 2010;
(fisiológica) e a COX-2 (induzida) JÚNIOR, 2007; apud MONTEIRO, et al,
(OLIVEIRA, 2007; apud CHAHADE; 2008).
GIORGI; SZAJUBOK, 2008). A introdução dos inibidores seletivos
Na tentativa de aumentar a aceitação da COX-2 na prática clínica visa manter a
desses fármacos pelos pacientes, reduzir a eficácia anti-inflamatória sem os efeitos
toxicidade e aumentar sua ação anti- gastrintestinais indesejáveis. Hoje se dispõe
inflamatória, vem se desenvolvendo de alguns inibidores seletivos da COX-2, por
inúmeros AINE (SOLOMON, 2007; exemplo, os coxibes, que se ligam
BRENOL, 2000; apud MONTEIRO et al, seletivamente ao local ativo da enzima
2008). COX-2 e a bloqueia com mais eficácia que a
Em 1995, a comercialização alcançou COX-1. Nota-se que essa subclasse tem
a cifra de 2,2 bilhões de dólares, com 73 efeito analgésico e anti-inflamatório
milhões de prescrições anuais em todo semelhante aos demais AINE, estando em
mundo (SIMON, 1995 apud FERREIRA; primeira escolha para o tratamento de
WANNMACHER, 2006). No entanto, idosos e pacientes predispostos a ulceração
devido à preocupação a respeito de alguns e sangramento digestivo. Todavia estudos
fármacos, houve queda de 15% nas sugerem toxicidade associado ao seu uso
prescrições dos AINE desde 2004. Porém, a (ROBERTS, 2001; CHEER, 2001; apud
utilização dessa classe medicamentosa é FERREIRA; WANNMACHER, 2006).
muito difundida no mundo e continua a se
expandir (ARDOIN, 2006; apud MONTEIRO
et. al, 2008). INIBIDORES NÃO-SELETIVOS DA COX
Derivados do Ácido Salacílico (salicilatos)
2.2 Classificação Ácido Acetilsalicílico (Aspirina), Salicilato de Sódio,
Os AINE constituem uma extensa Salicilato de Metila, Diflunisal, Flunfenisal,
Sulfassalazina, Olsalazina
classe de compostos heterogêneos com Derivados Pirazolônicos
estruturas químicas variantes, podendo ser Dipirona, Fenilbutazona, Apazona, Sulfimpirazona
distribuídos em classes, de acordo com seu Derivados do Para-aminofenol
grupo químico (Figura 1). Admite-se que as Paracetamol (Acetaminofeno)
Derivados do Ácido Indolacético e Ácido
diferenças na ação primária entre fármacos
Indenoacético
estejam na distribuição em subclasses de Indometacina, Sulindaco, Etodolaco
acordo com sua seletividade (CARVALHO, Derivados do Ácido N-fenilantranílico (fenamatos)
2010; RANG et al, 2007). Ácido Mefenâmico, Ácido Meclofenâmico, Ácido
Os tradicionais AINE inibem as Flufenâmico, Ácido Tolfenâmico, Ácido Etofenâmico
Derivados do Ácido Pirrolalcanoico
mesmas enzimas de forma reversível e não- Tolmetino, Cetorolaco
seletiva. No entanto, existem fármacos que Derivados do Ácido Fenilacético

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Diclofenaco de Sódio, Aceclofenaco terapêutica liga-se altamente à albumina


Derivados do Ácido Propiônico plasmática, cerca de 98%. Pacientes com
Ibuprofeno, Naproxeno, Flurbiprofeno, Cetoprofeno,
Fenoprofeno, Oxaprozino, Indoprofeno, Ácido hipoalbuminemia apresentam maiores
Tiaprofênico concentrações da forma livre da substância,
Derivado do Ácido Enólico (Oxicam) que corresponde à sua forma ativa (FURST;
Piroxicam, Meloxicam, Tenoxicam, Sudoxicam, ULRICH, 2010).
Isoxicam, Ampiroxicam, Droxicam, Lornoxicam,
Cinoxicam, Ampiroxicam, Pivoxicam
Todos os AINE podem ser
Derivado do Ácido Naftilacético encontrados após administração repetida,
Nabumetona, Proquazona no líquido sinovial. Os fármacos com meias-
Derivados do Ácido Carbâmico vidas curtas permanecem nas articulações
Flupirtina por maior período de tempo comparado
INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2 com o previsto, enquanto os fármacos com
Derivado da Sulfonanilida meias-vidas mais longas desaparecem do
Nimesulida líquido sinovial em uma taxa proporcional
Derivado do Ácido Indolacético
Etodolaco às suas meias-vidas. Os AINE mais
Derivado FuranonaDiarilsubstituído lipossolúveis penetram o sistema nervoso
Rofecoxib central (SNC) com facilidade e estão
Derivado PirazolDiarilsubstituído associadas a leves alterações de humor e na
Celecoxib
função cognitiva (FURST, 2010; MONTEIRO
Derivado BipiridínicoDiarilsubstituído
Etoricoxib et al., 2008; ULRICH, 2010).
Derivado IsoxazolDiarilsubstituído
Valdecoxib 2.4 Farmacodinâmica
Tabela 1. Classificação dos anti-inflamatórios não- Sabe-se que as PGs são produtos do
esteróides (AINE). - Fonte: CARVALHO, 2010; ácido araquidônico, o qual é o mais
RANG, et al., 2007. abundante e importante precursor dos
eicosanóides obtido do ácido linoleico ou
2.3 Farmacocinética em dieta (FITZGERALD; SMYTH, 2010).
A diversidade química dos AINE é Para que ocorra a síntese de eicosanóides, o
responsável pela ampla variedade de araquidonato deve ser liberado dos
características farmacocinéticas. Mas, de fosfolipídios da membrana pela enzima
forma geral, possuem propriedades básicas fosfolipase A2. Mediadas por duas vias
em comum. São ácidos orgânicos fracos, enzimáticas, a sua metabolização ocorre em
com exceção da nabumetona que é pró- etapas sequenciais; a via das COX
fármaco. A maior parte dos medicamentos é desencadeia a biossíntese das PGs,
bem absorvida por via oral, e a sua prostaciclinas e tromboxanos, coletivamente
biodisponibilidade não é consideravelmente denominados prostanóides; e a via das
modificada pela presença de alimentos LIPOX, responsáveis pela síntese dos
(FURST; ULRICH, 2010). leucotrienos, e outros compostos
O metabolismo se dá principalmente, (CARVALHO, 2010; FURST; ULRICH,
pelo fígado, através das famílias CYP3A ou 2010).
CYP2C das enzimas P450. Embora, a A ação principal dos AINE decorre
eliminação final mais importante seja via da inibição da biossíntese de PG, efetuada
renal, quase todos os AINE sofrem variações mediante a inativação das COX. No entanto,
de excreção biliar e reabsorção (circulação alguns AINE possuem mecanismos de ação
êntero-hepática). A maior parte da classe adicionais como, inibição da quimiotaxia,

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infra-regulação da produção de na medula espinhal. As lesões inflamatórias


interleucina1, diminuição na produção de aumentam a liberação de PG na medula, o
radicais livres e superóxido e interferência que facilita a transmissão de dor através de
nos eventos intravasculares mediados pelo neurônios (RANG, et al, 2007).
cálcio (FURST; ULRICH, 2010). As reações inflamatórias são
A PG produzida pela COX está coordenadas por muitos mediadores e
envolvida em diversos processos podem ser produzidas por vários
fisiológicos e patológicos. Na secreção mecanismos independentes. Os AINEs
gástrica, homeostasia e manutenção da reduzem principalmente os componentes da
função renal, as PGs participam de forma resposta inflamatória em que as PGs
fisiológica mediadas pela COX-1. Enquanto derivadas da COX-2, desempenham papel
a COX-2 é induzida na inflamação, como significativo. A dor, o edema e o aumento
resposta do tecido lesado, contribuindo para de fluxo sanguíneo associado à inflamação,
o desenvolvimento de alterações patológicas sofrem ação direta dos AINE, todavia o
(CARVALHO, 2010). progresso da doença adjacente não sofre
nenhuma interferência (RANG, et al, 2007).
2.5 Efeitos Farmacológicos
Todos os AINE são antipiréticos, 2.6 Indicações Clínicas
analgésicos e anti-inflamatórios, com Ao inibirem a síntese de PG e
exceção do paracetamol que tem ação tromboxano, os AINEs são úteis em
antipirética e analgésica, mas praticamente manifestações sintomáticas musculoes-
não possui atividade anti-inflamatória queléticas, em pacientes com artrite
(BURKER; FITZGERALD; SMYTH, 2006). reumatóide, polimiosite, lúpus eritematoso
O hipotálamo regula a temperatura sistêmico, esclerose sistêmica progressiva,
corporal mantendo o equilíbrio entre a poliartritenodosa eespondilite anquilosante.
produção e a perda de calor. Com o Demonstram eficácia na dismenorréia
desequilíbrio desse termostato, ocorre a primária, mastocitose sistêmica, serosites
febre refletida a partir de uma infecção ou lúpicas (pleurite e pericardite). São também
resultado de uma lesão ou doença maligna. utilizados como adjuvantes no tratamento
Em todas essas condições, aumentam a da gota aguda e em osteoartrose,
formação de citocinas, seguido de aumento artroplastia e fibrose cística (FERREIRA;
das PGs no hipotálamo. A ação antipirética WANNMACHER, 2006 BURKER;
dos AINE está fundamentada por inibir a FITZGERALD; SMYTH, 2006).
produção de PG no hipotálamo (RANG, et No tratamento específico da gota
al, 2007). aguda, é relatada a eficácia de alguns
Os AINE são eficazes em dor leve a AINEs, tais como, etoricoxibe,
moderada, especialmente em dores celecoxibe(RUBIN et al., 2004 apud
originadas no processo inflamatório ou BURKER; FITZGERALD; SMYTH, 2006),
lesão tecidual. Há dois sítios de ação no qual indometacina, naproxeno e sulindaco.
os fármacos podem agir. Em primeiro Porém, somente os três últimos são os
instante, perifericamente, diminuindo a únicos aprovados pelo Foodand Drug
produção de PG sensibilizando os Administration (FDA) (BURKER;
mediadores químicos da inflamação e seus FITZGERALD; SMYTH, 2006).
eventos vasculares. Sua segunda ação é As indicações mais comuns de AINE
central, menos caracterizada possivelmente na infância e adolescência são no controle da

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febre,dores agudas e crônicas, e inflamação. pois não se associa a efeitos teratogênicos


O ácido acetilsalicílico, o naproxeno,o em humanos. Todavia, deve ser suspenso
ibuprofeno e o tolmentin são os únicos antes do tempo previsto para o parto a fim
aprovados pelaFDA para uso na faixa etária de evitar complicações como trabalho de
pediátrica(HILARIO; TERRERI; LEN, 2006). parto prolongado, aumento de hemorragia
Os inibidores seletivos da COX-2 são pós-parto e fechamento intrauterino
indicados nos pacientes que apresentam prematuro do ducto arterioso (PINHEIRO;
efeitos colaterais comprovadamente WANNMACHER, 2012).
relacionados ao uso de AINE não-seletivos, Ohlsson(2010; apud PINHEIRO;
como a intolerância gástrica não controlada WANNMACHER, 2012) ressalta a restrição
pela associação de medicamentos do uso de AINE em crianças pelo receio do
gastroprotetores (HILARIO; TERRERI; LEN, aparecimento da síndrome de Reye. Uma
2006). exceção é o uso de ibuprofeno intravenoso
Rotineiramente, os AINEs são (sol. inj. 5mg/ml) em recém-nascidos
indicados por vários especialistas, como prematuros. No entanto, não existe tal
pediatras, otorrinolaringologistas, forma farmacêutica no Brasil.
reumatologistas, ginecologistas e Pacientes com história de ulceração
ortopedistas, que são os maiores prescritores péptica ou em alto risco para o
desses medicamentos (PERROTT, 2004; desenvolvimento de efeitos adversos
RUIZ, 2002; apud HILARIO; TERRERI; LEN, gastrintestinais, preferencialmente, não
2006). devem receber AINE. Se o tratamento for
imprescindível, medidas de proteção
2.7 Contraindicações gástrica devem ser providenciadas
Em dores leves e moderadas não se (PINHEIRO; WANNMACHER, 2012).
recomenda AINE, na crença de que tenham Há restrições no uso de AINE em
efeitos superiores ao de analgésicos sem pacientes com histórico de
açãoanti-inflamatória. Não devem ser hipersensibilidade, que se manifestam com
empregados em situações em que a reação reações de urticária generalizada,
inflamatória não deva ser inibida, como angioedema, edema de glote,
traumas e infecções. A inflamação é laringoespasmo, rinite, dermatite,
componente indispensável à reparação hipotensão e choque anafilático. Existe
tecidual e representa uma das defesas do ainda hipersensibilidade cruzada, de modo
organismo. Em muitas condições, o que pacientes que apresentem a um
tratamento deve ser direcionado representante da classe, não devem receber
especificamente à gênese do problema (por nenhum AINE. Para controlar dor e
exemplo, antimicrobianos em infecções) inflamação, agentes de outras classes
(FERREIRA; WANNMACHER, 2006). farmacológicas devem ser utilizados
Em idosos, o uso de AINE deve ser (LEMANSKE, 2010 apud PINHEIRO;
considerado com cautela, visto o aumento WANNMACHER, 2012).
do risco de sangramento gastrintestinal e
perfurações, manifestações que podem ser 2.8 Reações Adversas
fatais. Os AINEs não são recomendados em Procura-se dimensionar a questão dos
gestantes. Se forem muito necessários, efeitos colaterais dos AINEs, tanto no que se
utiliza-se o ácido acetilsalicílico em baixas refere a real incidência de efeitos irritativos
doses por ser provavelmente o mais seguro, induzida por agentes não-seletivos quanto à

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propagada ausência desses efeitos atribuída Segundo BRENOL (2000; apud


a inibidores seletivos de COX-2. Efeitos estes CHAHADE; GIORGI; SZAJUBOK, 2008), é
que acarretam disfunções sobre os sistemas através do uso de AINE que se inibe a
cardiovascular, cerebrovascular, renal e síntese de PG por meio do bloqueio da
reprodutor feminino. Em relação à enzima de COX-1,especialmente PGI2 e
cardiotoxicidade, questiona-se a utilização PGE2, que servem como agentes cito-
dos coxibes e seus efeitos, comum a todos os protetores da mucosa gástrica. Estes
representantes (PINHEIRO; WANNMA- eicosanóides agem inibindo a secreção ácida
CHER, 2012). pelo estômago, aumentando o fluxo
As complicações gastrintestinais sanguíneo na mucosa gástrica e
podem estar associada são uso dos AINEs, e promovendo a secreção de muco
não se pode esquecer que o uso crônico citoprotetor. Ao inibir a sua síntese, acarreta
dessas medicações pode acarretar esofagite, ao estômago maior suscetibilidade às lesões,
gastrite ou duodenite, úlcera gástrica ou cujo aspecto característico com infiltrado
duodenal.Além disso, a utilização inflamatório levou ao uso da denominação
concomitante de corticosteróides, anticoa- de gastropatia por AINE. Além disso,
gulantes e a história pregressa do paciente diminui a adesividadeplaquetária,
são os principais fatores de riscos para estas aumentando os riscos de sangramento. A
complicações.Os efeitos no sistema renal por indometacina, sulindaco e meclofenamato
AINE se atribui à inibição da síntese de PG, sódico apresentam acentuada recirculação
o que leva a isquemia renal reversível, enteropática, o que aumenta os efeitos
declínio da pressão hidrostática e tóxicos desses fármacos.
insuficiência renal aguda (WOLFE, 1999; Como os efeitos colaterais são
apud MONTEIRO, et al., 2008). mediados principalmente pela inibição da
Não há estudos na literatura que COX-1, acreditava-se que os inibidores
comprovem a segurança do uso de AINE no seletivos da COX-2 seriam uma alternativa
esquema de tratamento por curto período. mais segura. Entretanto, apesar de alguns
Isto, no entanto, não descarta a estudos terem referido menor frequência de
possibilidade de efeitos adversos atribuído complicações gastrintestinais com os
ao AINE (PINHEIRO; WANNMACHER, inibidores da COX-2 do que com os AINEs
2012). convencionais, a recente preocupação com a
segurança cardiovascular tem limitado a
2.9 Riscos Gastrintestinais e Estratégias de utilização dos medicamentos dessa
Proteção subclasse (HILÁRIO, TERRERI, LEN; 2006).
Achado endoscópico de lesão na A prevenção de úlceras gástricas e
mucosa gastroduodenal aparece em 20–40% duodenais em pacientes que usam de forma
dos pacientes em uso de AINE. Apesar de, crônica os AINEs sem possibilidade de
contemporaneamente, ocorrer diminuição suspendê-los, pode ser obtida com
na incidência geral de úlcera péptica, há misoprostol, inibidores da bomba de
aumento daquelas associadas ao uso de prótons (IBP) e doses duplas de antagonistas
AINE em adultos e idosos, em quem riscos H2. Em usuários de AINE, o emprego
de complicações e necessidade de internação concomitante de doses usuais de
são maiores (SUNG, 2009; apud PINHEIRO; antagonistas H2diminui o risco de úlcera
WANNMACHER, 2012). duodenal, mas não o de úlcera gástrica, a
mais frequentemente associada a anti-

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inflamatórios (FELDMAN, 2009; apud Usuários habituais de inibidores não-


PINHEIRO; WANNMACHER, 2012). seletivos da COX e de inibidores seletivos
Latimer (2009; apud PINHEIRO; da COX-2foram avaliados porHaag (2008;
WANNMACHER, 2012) apresenta estudos apud BATLOUNI, 2010), estes tiveram
de custo-efetividade em pacientes com maiores riscos de acidente
osteoartrite, o qual demonstrou que a adição cerebrovasculares, porém não os que
de IBP a qualquer AINE aumenta a tomaram inibidores seletivos da COX-1.
estimativa de ganho na qualidade de vida. Contudo, não se pode limitar esses riscos
Revisão sistemática sugere, após somente aos usuários de AINE seletivos.
modelagem econômica, que a associação de Estudo demonstrado por Kearney
antagonistas de receptores H2 ou IBP a (2006; apud PINHEIRO; WANNMCHER,
AINE não-seletivo deveria ser uma 2012)apresentou ocorrência de evento
estratégia custo-efetiva para evitar úlcera vascular em pacientes que estavam sob uso
endoscópica em pacientes que necessitam de de AINE não-seletivos e inibidores seletivos
uso prolongado de AINE (BROWN, 2006; de COX-2. Em comparação a placebo,
apud PINHEIRO; WANNMACHER, 2012). inibidores seletivos de COX-2 associaram-se
significativamente ao aumento na incidência
2.10 Riscos Cardiovasculares, Trombóticos de eventos cardiovasculares, principalmente
e Cerebrovasculares infarto do miocárdio. A incidência de
A decisão de iniciar tratamento com eventos vasculares graves foi similar entre
AINE deve sempre ser precedida de inibidores seletivos de COX-2 e qualquer
avaliação individual do risco AINE não-seletivo.
cardiovascular, considerando O uso crônico de AINE pode
cuidadosamente o balanço entre benefícios e aumentar em 5–6mmHg a pressão média em
riscos. Tanto coxibes quanto AINE não- pacientes com hipertensão arterial sistêmica
seletivos têm diferentes graus de segurança e pode interferir na eficácia de alguns anti-
cardiovascular. Particularmente rofecoxibe e hipertensivos (BATLOUNI, 2010).
diclofenaco associam-se as mais acentuadas Scott (2008; apud PINHEIRO;
morbimortalidade cardiovasculares. Por WANNMACHER, 2012) apresenta análise
isso, devem ser prescritos com cautela, de estudos observacionais e ensaios clínicos
inclusive a indivíduos sadios, já que alguns aleatórios que demonstraram que a
fármacos dessa classe são vendidos sem utilização de AINE não-seletivo aumenta o
prescrição médica (FOSBOL, 2010; apud risco relativo de insuficiência cardíaca em
PINHEIRO; WANNMACHER, 2012). 30-100%. No entanto, o risco absoluto é
A enzima COX-2 resulta na formação pequeno: menos de um paciente desenvolve
de PG, em especial PGI2. Esta promove insuficiência cardíaca atribuída a AINE por
efeito antitrombótico, vasodilatação e 100 pacientes/ano de tratamento.
redução da agregação plaquetária. Inibindo Em relação aos representantes da
essa enzima através do uso de inibidores nova classe desenvolvida (coxibes), é
seletivos da COX-2, poderiam afetar o prudente adotar medidas cautelosas. As
equilíbrio entre alguns eicosanóides (TXA2 e prescrições destes devem ser reservadas a
PGI2), levando ao aumento de eventos pacientes com alto risco gastrintestinal,
trombóticos e cardiovasculares (SARAIVA, sendo contraindicado em pacientes que
2007; apud CHAHADE; GIORGI; possuem doença coronariana e
SZAJUBOK, 2008).

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cerebrovasculares estabelecidas (CHAHA- trição e retenção de sódio e água, processo


DE; GIORGI; SZAJUBOK, 2008). que termina em desordens como distúrbios
hidroeletrolíticos, síndrome nefrótica e, em
2.11 Riscos Renais certas condições, insuficiência renal aguda
A toxicidade induzida por AINE é (EJAZ, 2004; apud MELGAÇO, et al., 2010).
geralmente atribuída ao bloqueio da Os anti-inflamatórios seletivos afetam
atividade da COX-1, enquanto que a ação menos os indivíduos com função renal
anti-inflamatória resulta do bloqueio da normal, e afetam de modo semelhante os
COX-2, por se apresentarem de forma pacientes com alterações renais prévias e,
constitutiva e indutiva respectivamente. No nestes, a gravidade do quadro é diretamente
entanto, estudos realizados nos últimos anos proporcional ao tempo de terapia.Estudos
demonstram que a COX-2 está clínicos recentes mostram que o papel
constitutivamente expressa no rim. Essa funcional da COX-2 nos rins está
toxicidade ocorre tanto com os inibidores principalmente associado à manutenção da
seletivos quanto com os não-seletivos das homeostase hidroeletrolítica, enquanto a
ciclooxigenases (WHELTON, 2001; apud COX-1 parece estar mais relacionada à
MICHELIN et al, 2006). manutenção da filtração glomerular normal
Como a COX-1 e a COX-2 estão (WHELTON, 2001; apud MICHELIN, 2006).
presentes nos rins, todas as classes de AINE A prescrição dessa classe de drogas
podem causar, em maior ou menor grau, deve ser criteriosa, especialmente para os
lesão ao órgão.Até pouco tempo, acreditava- pacientes considerados de alto risco para
se que a toxicidade renal estava associada desenvolver lesão renal, como idosos,
apenas aos inibidores da COX-1, devido à hipertensos, diabéticos, pacientes
maior quantidade dessa enzima nos rins hipovolêmicos ou em uso de diuréticos
(BRICKS, 2005; apud MELGAÇO et al, 2010). (MELGAÇO, et al., 2010).
De acordo com Melgaço, et. al (2010),
as PGs exercem funções nos rins eestão 2.12 Riscos Gestacionais e Fetais
envolvidas na homeostase de sódio e água, Durante o primeiro e o segundo
na liberação de renina, na circulação trimestres da gravidez, o uso de AINE não é
regional, no balanço de potássio e no tônus recomendado. Se for absolutamente
vascular local. Junto com outros necessário, emprega-se o fármaco com
mediadores, as PGs preservam a maior experiência de uso, na menor dose e
homeostase renal emesmo na ausência dos pelo menor tempo possível. Ibuprofeno é o
mediadores conseguem promover agente preferencial na gravidez, mas seu
equilíbrio. Nas regiões dos rins, as uso é em último caso, pois a ausência de
prostaciclinas dilatam os vasos, diminuindo investigação não permite aos fabricantes
a resistência vascular renal, o que aumenta a assegurar a utilização no início da gravidez.
perfusão do órgão, ocasionando a Porém, está contraindicado após 30 semanas
redistribuição do fluxo sanguíneo renal. de gestação pelo risco de fechamento
Ao inibir esses mecanismos prematuro do ducto arterial e diminuição do
promovidos pelas PGs através dos AINEs, líquido amniótico. Se o uso de AINE se fizer
tende a diminuir a perfusão renal e necessário após 30 semanas, deve-se
redistribuir o fluxo sanguíneo e na monitorar a circulação fetal e o líquido
hipovolemia, há o estímulo do sistema amniótico por ultrassonografia, uma ou até
renina-angiotensina, ocorrendo vasocons-

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duas vezes por semana (ODOULI. 2003; podem antagonizar os efeitos


apud PINHEIRO; WANNMACHER, 2012). cardioprotetores do ácido acetilsalicílico.
Odouli (2003; apud PINHEIRO; Recomenda-se que paraa paciente com
WANNMACHER, 2012) apresentou estudo osteoartrite que faz o uso de ácido
populacional que demonstrou aumento de acetilsalicílico em baixa dosagem deve ser
80% na taxa de risco de aborto espontâneo prescrito outro analgésico que não seja
associadoao AINE, aumentando esse risco oAINE para o manejo de dor.
com uso próximo da concepção ou por mais A FDA (apud PINHEIRO;
de uma semana. WANNMACHER, 2012) recomenda aos
Estudos analisam a associação entre profissionais de saúde o espaçamento de
uso de ácido acetilsalicílico e AINE e risco tempo entre as administrações desses dois
de malformações congênitas. Nesse estudo, fármacos. Ainda destaca haver risco mínimo
nenhum medicamento associou-se de diminuição do efeito antiplaquetário do
significativamente à elevação de risco de ácido acetilsalicílico com uso de ibuprofeno.
malformação cardíaca. Porém, evidenciou- Entretanto, sugere que pacientes em uso de
se associação significativa de risco de ácido acetilsalicílico de liberação imediata
malformação orofacial quando o AINE foi usem a dose de ibuprofeno (400mg) pelo
usado durante o primeiro trimestre de menos 30 minutos após a ingestão ou 8
gravidez (BERARD, 2008; apud PINHEIRO; horas antes da administração do ácido
WANNMACHER, 2012). acetilsalicílico para evitar a possível redução
Tanto a COX-1 como a COX-2 são dos efeitos antiplaquetários.
expressas no miométrio durante a gravidez. Pacientes em tratamento anti-
Na gravidez, a expressão da COX-2 é maior hipertensivo com diuréticos de alça,
do que a expressão da COX-1 no miométrio. antagonistas de receptores de angiotensina
Esses achados sugerem que a COX-2 seria II (ARA-II) e inibidores da enzima de
responsável pela produção de PG durante o conversão da angiotensina (IECA) e
trabalho de parto e que a inibição seletiva da betabloqueadores alfa não devem receber
isoenzima COX-2 poderia retardar o concomitantemente AINE, por interagirem
trabalho de parto espontâneo em mulheres entre si, revertendo o efeito dos anti-
grávidas (ZUO apud PINHEIRO; hipertensivos (PINHEIRO; WANNMA-
WANNMACHER, 2012). CHER, 2012).
Uso concomitante de AINE e
diuréticos de alça requer cautela e
2.13 Interações Farmacológicas monitoramento, visto os riscos potenciais de
AINE e paracetamol são frequente- redução do efeito anti-hipertensivo e
mente prescritos simultaneamente. Estudos aumento de incidência de insuficiência
com a associação de ibuprofeno e renal. A interação entre a maioria dos
paracetamol não demonstraram interação AINEs (exceto indometacina) e diuréticos
com uso concomitante e isolado dos dois tiazídicos parece pouco reduzir o efeito anti-
fármacos (SETAKIS, 2010; apud PINHEIRO; hipertensivo desses (BAXTER, 2006; apud
WANNMACHER, 2012). PINHEIRO; WANNMACHER, 2012).
O National Institute for Health and A combinação de IECA ou ARA-II
Clinical Excellence (2008; apud PINHEIRO; com diurético pode causar insuficiência
WANNMACHER, 2012) reconhece que renal aguda (IRA) mesmo com o uso
todos os medicamentos da classe de AINE concomitante de curto prazo de AINE (ACE,

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2003; apud PINHEIRO; WANNMACHER, à ação anti-inflamatória. Evidências


2012). comprovam que coxibes
Estudo mostrou que uso comparados a tradicionais
concomitante de medicamentos inibidores orais de COX-2, AINEs
orais entre si e AINEs orais versus
cardiovasculares e AINE aumentou o risco
paracetamol são igualmente
de IRA. No mercado brasileiro existem
eficazes na redução de dor em
várias apresentações comerciais que doenças musculoesqueléticas
combinam doses fixas de diuréticos com agudas e crônicas (GOTZSCHE,
IECA ou com ARA-II, motivando 2010; apud PINHEIRO; WANNMA-
preocupação quanto ao uso de AINE nesses CHER, 2012).
pacientes (HUERTA, 2006; apud PINHEIRO;
WANNMACHER, 2012). Entretanto, podem originar diferen-
O risco de sangramento ciadas respostas terapêuticas individuais,
gastrintestinal é aumentado quando AINE é cujo mecanismo não está elucidado em
administrado com inibidores seletivos da estudos clínicos. Em pacientes não-
recaptação de serotonina (ISRS). Análise de responsivos a um dado AINE, pode-se
estudos mostrou aumento significativo do substituí-lo por outro, preferencialmente de
risco de sangramento gastrintestinal após diferente outro subgrupo. Havendo eficácia
uso de ISRS com a utilização de AINE similar, a escolha deve basear-se em outros
(LOKE, 2008; apud PINHEIRO; critérios: toxicidade relativa, conveniência
WANNMACHER, 2012). de administração para o paciente, custo
comparativamente favorável e experiência
2.14 Seleção, Prescrição e Seguimento de emprego (FERREIRA; WANNMACHER,
A seleção do AINE ideal 2006).
dependerá diretamente de fatores Para os AINE considerados como
de risco individuais, da resposta medicamentos essenciais, os esquemas
terapêutica desejada e de terapêuticos estão descritos na Tabela 2.
preferências pessoais. Todos os
AINEs têm similar eficácia quanto
REPRESENTANTES ESQUEMA DE ADMINISTRAÇÃO
Prodose oral Dose máxima diária Intervalo entre doses
Acido acetilsalicílico
Adulto 1.000mg 5.000mg 6 horas
Criança Não recomendado
Ibuprofeno
Adulto 300-600mg 2.400mg 6 horas
Criança > de 3 meses 5-10mg/kg/dose 40mg/kg/dia 6-8 horas
Tabela 2. Esquemas terapêuticos anti-inflamatórios de AINE para adultos e crianças - Fonte: Pinheiro;
Wannmacher, 2012.

É importante lembrar que dobrar a aumento de efeito que pode não ser
dose de um AINE pode-se levar a um discreto clinicamente relevante, mas resulta em

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acentuados efeitos adversos. Preferencial- óbitos em todo Brasil. A partir de 1994, os


mente são usados por via oral, mas existem medicamentos assumiram a primeira posição
AINEs tópicos em forma de gel, aerossol e no conjunto de agentes tóxicos estudados
creme, com os quais se demonstrou redução (MATOS, 2008; apud CRF-SP, 2012).
de dor aguda de origem musculoesquelética, É nesse cenário que o papel do
sem ocorrência dos efeitos adversos farmacêutico, enquanto profissional de saúde
sistêmicos associados com o uso oral responsável pela orientação da utilização
(MASSEY, 2010; apud PINHEIRO; correta dos medicamentos, faz-se
WANNMACHER, 2012). fundamental. Os AINEs compõem uma
As finalidades terapêuticas desses anti- categoria de medicamentos na qual a
inflamatórios são variadas, dada a orientação e intervenção farmacêutica é o
multiplicidade de manifestações clínicas das principal fator para o sucesso esegurança da
doenças para as quais estão indicados. terapia (CRF-SP, 2012).
Diminuição de dor, eritema e edema são É válido destacar que a classe de AINE
medidas clínicas de eficácia dos AINEs. Em está disponível entre os Medicamentos Isentos
artrite reumatóide e osteoartrose, redução de de Prescrição (MIPs), segundo a RDC 138/03
rigidez matinal e sensibilidade articular e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
aumento de capacidade funcional comprovam (Anvisa). O fácil acesso a esses medicamentos
o benefício desses medicamentos (PINHEIRO; torna-os diretamente atrelados ao uso
WANNMACHER, 2012). irracional e automedicação, prática
Todavia,os benefícios contrastam com comumente vista (CRF-SP, 2012).
seus efeitos adversos, predominantemente, O farmacêutico é o profissional que
gastrintestinal e renal, possuindo variações tem como obrigação aconselhar o meio mais
em sua intensidade e prevalência, o que leva a adequado para que o paciente se sinta melhor
um balanço entre riscos envolvidos e com o tratamento, exigindo, deste
benefícios para o paciente (FERREIRA; profissional, conhecimentos sobre indicações
WANNMACHER, 2006). e contraindicações, interações e o
acompanhamento com o médico. Neste
processo, o farmacêutico deve encaminhar o
2.15 A Importância do Farmacêutico no Uso paciente ao médico sempre que necessário,
Racional de Medicamentos atuando com complementaridade (ARANDA
O uso indiscriminado de DA SILVA, 2007; apud CRF-SP, 2012).
medicamentos também pode ocasionar Visto que a utilização prolongada e/ou
maiores resultados indesejáveis do que inadequada de AINE traz riscos e malefícios à
benefícios. Além disso, o indivíduo pode saúde do usuário, faz-se necessária a presença
apresentar alergia a determinados do profissional farmacêutico exercendo suas
ingredientes da formulação medicamentosa e, responsabilidades e habilidades na assistência
em consequência, desenvolver intoxicação farmacoterapêutica ao paciente.
(LIMA & RODRIGUES, 2008; apud Independentemente de seu grau de
CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA desenvolvimento, todos os países precisam de
DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2012). meios para assegurar o uso racional e custo-
Entre 1986 e 2006, foram registrados efetividade dos medicamentos. Nesse sentido,
pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico- os farmacêuticos podem desempenhar um
Farmacológicas (Sinitox), 1.220.987 casos de papel-chave no atendimento das necessidades
intoxicação, com um total de 7.597 (0,6%)

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do indivíduo e da sociedade (OPAS, 2004; um risco aos usuários, mas vários. Riscos
apud CRF-SP, 2012). gastrintestinais, cardiovasculares, cérebro-
vasculares e trombóticos, renais, gestacionais
e fetais são atribuídos ao uso crônico e
4. CONCLUSÃO irracional de AINE, o que pode levar a sérias
A classe terapêutica dos AINEs complicações posteriores.
caracteriza-se principalmente por inibirem a A escolha adequada de um AINE no
biossíntese das PGs mediante inibição das tratamento dependerá das características de
COX. Contudo, há em algumas situações, cada paciente, suas preferências, fatores de
especificidade de bloqueio de isoformas, riscos/benefícios e efetividade terapêutica
determinando as subclasses existentes: desejada, podendo haver possibilidades de
inibidores não-seletivos de COX e inibidores diferenciadas respostas. Ainda deve basear-se
seletivos da COX-2. Há ainda grupos distintos em sua toxicidade, custo favorável,
e variados que classificam os AINEs de experiência de emprego e conveniência de
acordo com sua composição e estrutura administração para o paciente. O sucesso da
química. terapêutica é obtido através do
As ações anti-inflamatória, antipirética acompanhamento de uma equipe
e analgésica são esperadas de um AINE, com multiprofissional durante o tratamento.
exceção do paracetamol. Todas as reações Os conhecimentos técnicos
decorrentes da utilização desses fármacos relacionados à medicação são atribuídos ao
ocorrem de forma primária na produção profissional farmacêutico, que tem o dever de
diminuída de PG, prostanóide encontrado no transmitir e elucidar as informações
organismo, tanto em processos fisiológicos necessárias para o paciente/usuário a fim de
como patológicos. obter o sucesso farmacoterapêutico. Visto a
Os AINEs são indicados nas doenças prática errônea de utilização de fármacos pela
musculoesqueléticas, como, artrite sociedade, é possível que o farmacêutico
reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, desempenhe papel crucial e de grande
esclerose sistêmica progressiva, poliarterite importância quanto à morbidade e
nodosa, dismenorréia primária, mastocitose mortalidade produzidas por medicamentos.
sistêmica, e outros. Também são eficazes
como adjuvantes no tratamento da gota aguda
e em osteoartrose, artroplastia e fibrose cística. 5. REFERÊNCIAS
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