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Dicas para
determinar a frequência
de calibração do seu
instrumento de medição
Introdução
Neste e-book vamos entender o que é a frequência de calibração, quem é
o responsável por determinar tal frequência e qual a recomendação de
periodicidade de calibração para seus instrumentos de medição. Neste
estágio, já entendemos que a calibração dos instrumentos de medição
utilizados em processos de medição é necessária e contribui
significativamente para a qualidade de produtos e serviços, redução de
custos e confiabilidade das medições.
O que é "Frequência
de Calibração"?
Frequência de calibração é o período de tempo em que um instrumento é enviado à calibração.
Por exemplo, um paquímetro teve sua frequência de calibração definida pelo departamento de
qualidade de uma empresa de 8 meses. Logo, a cada ciclo de 8 meses esse instrumento sai da
linha de produção e é enviado a calibração.

Quem determina a "frequência


de calibração" dos meus
instrumentos de medição?

A norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017 que rege os requisitos gerais para a competência dos
laboratórios de ensaio e calibração salienta que o intervalo de calibração dos instrumentos de
medição não deve ser responsabilidade do laboratório e tal informação pode ser acordada com
o cliente durante todo o processo de negociação do serviço prestado.

Já para os laboratórios, a periodicidade de calibração dos seus padrões de trabalho tem


algumas indicações e referencias encontradas em normas e também em documentos
orientativos do Inmetro.

O documento internacional ILAC-G24:2007 / OIML D 10:2007 traz um guia para a determinação


de intervalos de calibração de instrumentos de medição oferecendo aos laboratórios de
calibração e ensaios uma orientação sobre como determinar intervalos de calibrações para seus
padrões de trabalho. Deste documento podemos resgatar algumas informações que também
podem ser aplicadas no campo empresarial ou para qualquer pessoa que tenha interesse em
conhecer mais sobre quais fatores interferem no instrumento de medição ao ponto de influenciar
a decisão da melhor frequência de calibração.
Segundo o guia ILAC-G24, um grande número de fatores pode influenciar o período de
calibração dos padrões utilizados pelos laboratórios. Vamos entender alguns dos fatores listados
pelo guia ILAC-G24 que podem contribuir para a decisão da frequência de calibração.

INCERTEZA DE MEDIÇÃO DECLARADA NO


CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO DO LABORATÓRIO;
A incerteza de medição pode ser utilizada para definições de
frequência de calibração, por exemplo, quando seus valores
declarados no certificado de calibração podem contribuir para
ultrapassar os limites de aceitação definidos.

RISCO DE UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO EXCEDER


OS LIMITES DE ERRO MÁXIMO ADMISSÍVEIS;
Neste caso, é possível verificar com o certificado de calibração anterior o risco
de medições fora dos limites de erro máximo admissível. Nos artigos da ACC (A
medição e o risco para o seu produto ou processo! e O risco e a incerteza de
medição), você pode encontrar mais sobre a relação risco e calibração.

CUSTO COM CORREÇÕES NAS MEDIÇÕES QUANDO VERIFICADO QUE


O INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO NÃO ERA ADEQUADO AO USO E FOI
UTILIZADO POR UM LONGO PERÍODO DE TEMPO;
Neste caso, podemos perceber que prolongar o período de calibração muitas vezes
pode incorrer em custos de correções nas medições, como por exemplo aceitar
durante muito tempo medidas que não são confiáveis.

TIPO DO INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO;


O tipo do instrumento também pode interferir na decisão de frequência de
calibração do instrumento de medição. Por exemplo, um termômetro
digital e um termômetro de vidro? Ambos medem a temperatura, porém a
frequência de calibração deve também ser a mesma?

TENDÊNCIA DE USO E DE DESGASTE AO


LONGO DO TEMPO (DERIVA);
O frequente uso do instrumento no dia-a-dia e o seu desgaste podem
oferecer indícios de que a frequência de calibração deste instrumento deve
ser bem avaliada.

RECOMENDAÇÕES DO FABRICANTE;
Alguns fabricantes possuem recomendações de uso, manuseio e até
mesmo de medições que podem contribuir para a definição da melhor
frequência de calibração do instrumento.
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS QUE O INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO É EXPOSTO
(TEMPERATURA, HUMIDADE, VIBRAÇÃO, RADIAÇÕES IONIZANTES, ETC.);
Pode até parecer estranho, mas os instrumentos de medição utilizados também
devem ser acondicionados e utilizados em locais climatizados. A influência do
meio ambiente contribui consideravelmente nas medições e a constante
exposição do instrumento a condições climáticas adversas pode ser um indicio
para a frequência com que este instrumento é enviado a calibração

DADOS COMO ERROS E INCERTEZAS OBTIDOS


EM CALIBRAÇÕES ANTERIORES;
O dado histórico com calibrações anteriores contribui muito para uma avaliação
quantitativa sobre a frequência de calibração do instrumento. Por exemplo, uma curva
de tendência pode ser elaborada com dados dos certificados anteriores para
monitorar o comportamento das medidas do instrumento durante calibrações.

HISTÓRICO REGISTRADO DE MANUTENÇÕES E AJUSTES


REALIZADOS NO INSTRUMENTO;
Todas as manutenções e ajustes feitos no instrumento podem oferecer indícios
para a frequência de calibração e/ou de que o instrumento já não está mais
apto ao uso preterido.

FREQUÊNCIA E QUALIDADE DAS


VERIFICAÇÕES INTERMEDIÁRIAS;
Após a calibração, é de responsabilidade do operador ou responsável pelo
instrumento realizar verificações intermediárias com qualidade e em períodos
determinados para que seja acompanhado os desvios com base na última
calibração realizada.

TRANSPORTE DO INSTRUMENTO;
O transporte e manuseio de instrumento deve ser levado em consideração
quando decisões são feitas sobre a frequência de calibração

GRAU DE INSTRUÇÃO/TREINAMENTO DO
OPERADOR QUE UTILIZA O INSTRUMENTO
O responsável pelo uso e manuseio do instrumento de medição deve ser treinado
e capacitado para realizar as medições, de modo que elas sejam confiáveis. Caso
a equipe não seja preparada, ou esteja em fase de treinamento, a frequência de
calibração do instrumento deve ser repensada.

A decisão sobre a melhor frequência de calibração deve ser tomada por pessoa ou grupo de
pessoas competentes e experientes. Uma estimativa deve ser feita para cada instrumento ou
grupo de instrumentos quanto ao período de tempo em que o instrumento provavelmente
permanecerá dentro do erro máximo permissível após a calibração.
5 Dicas para revisão do
intervalo de calibração
Uma vez que uma rotina de calibração dos instrumentos de medição tenha sido estabelecida, a
definição dos intervalos de calibração é possível de ser feita com o objetivo de reduzir o risco e
custo com a não qualidade das medições. Os métodos apresentados a seguir são baseados no
documento internacional ILAC-G24:2007 / OIML D 10:2007 que orienta os laboratórios a
estipular métodos para definir a melhor data de recalibração dos seus padrões de trabalho. Esses
métodos podem também ser empregados na indústria de produtos e/ou serviços, ou para
qualquer organização que necessite definir um período de calibração adequados aos seus
instrumentos de medição.

MÉTODO DO AJUSTE AUTOMÁTICO OU “MÉTODO DA ESCADA” (CALENDÁRIO - TEMPO)


Cada vez que um instrumento é calibrado em uma rotina básica, o período subsequente pode ser
prolongado se os resultados da última calibração estiverem dentro de 80% do erro máximo
permitido para a medição, ou o período pode ser reduzido se os valores estiverem acima do erro
máximo permitido. Este modelo, similar ao subir e descer de escada, pode reproduzir um rápido
ajuste de intervalos e pode ser facilmente realizado sem grandes esforços da equipe. Uma
desvantagem em tratar os instrumentos de mediação individualmente é manter a rotina de
calibração suave e equilibrada, o que pode requerer um planejamento de calibração mais detalhado.

GRÁFICO DE CONTROLE (CALENDÁRIO - TEMPO)


O controle a partir de gráficos é uma das mais importantes ferramentas do Controle Estatístico da
Qualidade – CEQ. Este método funciona da seguinte maneira: Os pontos significativos de um
certificado de calibração são escolhidos e os resultados do instrumento são plotados em função do
tempo. Desta plotagem, tanto a dispersão nos resultados como a deriva são calculados, a deriva pode
ser ou a média das derivas ao longo de um intervalo de calibração, ou no caso de instrumentos com
comportamento bastante estável, a deriva pode ser sobre uma serie de intervalos. A partir das figuras,
um intervalo ótimo de calibração pode ser determinado.

Este método pode ser de difícil aplicação, extremamente se os instrumentos de medição forem
complexos, e necessita ser utilizado com um programa de processamento de dados automático.
Antes de iniciar os cálculos para esse método, é necessário que a equipe conheça mais sobre a lei da
variabilidade de um instrumento, fundamentos estatísticos e é claro, metrologia. No entanto, ao
conseguir aplicar os conhecimentos de gráfico de controle, o nível de confiabilidade pode ser calculado
e refletir um intervalo de calibração eficiente. Além disso, os cálculos de dispersão de resultados irão
indicar se os limites de especificação foram estabelecidos corretamente e estão coerentes e a análise
da deriva encontrada pode ajudar a indicar a causa raiz desta deriva.
TEMPO EM USO – “ IN-USE TIME”
Este método é uma variação dos outros dois métodos apresentados. As características do método se mantem
a mesma, porém o intervalo de calibração é expressado em horas de uso, ao invés de meses. O instrumento é
equipado com um indicador de tempo decorrido e irá retornar para a calibração quando o indicador atingir
um valor especifico. Alguns exemplos de instrumentos são termopares, instrumentos dimensionais, etc. A
desvantagem teórica deste método é que o número de calibrações realizadas, e, portanto, o custo destas
calibrações varia diretamente com o período de tempo em que o instrumento é utilizado.

VERIFICAÇÃO NO SERVIÇO OU TESTE DA CAIXA-PRETA (“BLACK-BOX TESTING”)


Este método é uma variação dos métodos 1 e 2 e é recomendado para instrumentos de medição
complexos. Os parâmetros críticos são analisados frequentemente (uma vez ao dia, ou mais), por uma
engrenagem de calibração portátil, ou preferencialmente chamada de caixa –preta, feita
especialmente para checar os parâmetros selecionados.

Se os resultados de medição do instrumento indicarem valores acima do erro máximo permissível pela
caixa-preta, o instrumento deve ser encaminhado a uma nova calibração.

A principal desvantagem deste método é que ele requer a máxima disponibilidade do operador do
instrumento. Este método é indicado para instrumentos geograficamente separados dos demais
instrumentos, ou de locais climatizados como os laboratórios, visto que a calibração completa destes
instrumentos é realizada apenas quando é conhecida a real necessidade. A dificuldade deste método
retoma na decisão dos parâmetros críticos e na construção/design de uma caixa-preta. Além disso, o
instrumento pode falhar em algum parâmetro não medido pela “caixa preta “e as características da
caixa em si podem não permanecer constantes.

OUTROS MÉTODOS ESTATÍSTICOS


Métodos baseados em análise estatística de um instrumento de medição individual podem ser outras
possíveis abordagens. O uso de análises estatísticas vem ganhando cada vez mais destaque,
especialmente quando utilizados em combinação com ferramentas de software adequadas. Quando
um grande número de instrumentos similares (grupo de instrumentos do mesmo tipo) é calibrado, o
intervalo de calibração pode ser revisado com a ajuda de métodos estatísticos.
Comparação
dos métodos
É preciso salientar que nenhum método é dito ideal para um gama diversificado de
instrumentos e a escolha do método, depende também das manutenções planejadas para os
instrumentos e de uma série de fatores já apresentados anteriormente. A tabela a seguir mostra
a comparação entres os métodos apresentados.

MÉTODO 1 MÉTODO 2 MÉTODO 3 MÉTODO 4 MÉTODO 5

Método Gráfico de Tempo em “black-box Outros


de escada controle uso testing” métodos

Confiabilidade Médio Alto Médio Alto Médio

Esforço da equipe
Baixo Alto Médio Baixo Alto
para a aplicação

Dificuldade do
Médio Médio Ruim Médio Ruim
trabalho

Aplicabilidade
em relação a Médio Baixo Alto Alto Baixo
dispositivos
específicos

Disponibilidade de Médio Médio Médio Alto Médio


instrumentos

Qual a frequência recomendada para meus instrumentos?

Com base em todos os fatores e métodos observados, fica a critério do cliente estipular a melhor
decisão para a calibração de seus instrumentos. A ACCPR publicou o artigo 10 instrumentos de
medição que precisam de calibração anualmente, e pode colaborar com algumas recomendações
para sua empresa.
Referencias:
ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017. Requisitos gerais para a competência de
laboratórios de ensaio e calibração.

Guidance Series ILAC-G24, Edition 2007 (E) / International Document OIML D 10,
Edition 2007 (E). Guidelines for the determination of calibration intervals of
measuring instruments.

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