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Geografia Aplicada

ao Turismo
Prof. Vinicius De Lucca Filho

2012
Copyright © UNIASSELVI 2012

Elaboração:
Prof. Vinicius De Lucca Filho

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

910
D366g De Lucca Filho, Vinicius
Geografia aplicada ao turismo / Vinicius De Lucca Filho. Indaial :
Uniasselvi, 2012.

211 p. : il

ISBN 978-85-7830- 565-9

1. Geografia; 2. Turismo. I. Centro Universitário Leonardo


da Vinci. II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

A atividade turística é um amálgama de atividades e ocupações,


como hotelaria, alimentação fora do lar, construção civil, empresas de
elaboração de projetos de planejamento, captação de recursos, transportes,
entretenimento, organização de eventos, pesquisa, segurança, educação no
setor, entre outras. Além disso, o Estado envolve-se na atividade por meio
de políticas públicas e investimentos em espaços para eventos, infraestrutura
básica – saneamento, segurança, vias, entre outras questões.

A atividade impacta os destinos - social, cultural, política e


economicamente - em qualquer região em que se faz presente. Naturalmente
que tais impactos são positivos e negativos para as localidades. É possível
amenizarmos os impactos negativos e potencializarmos os positivos? É
possível fazermos da atividade turística uma atividade inclusiva? Quais as
possibilidades de contribuição que a geografia pode ceder ao turismo?

As questões acima estão presentes na presente obra, que tem como


objetivo principal perceber a complexidade do espaço geográfico e suas
relações com a atividade turística, para, a partir daí, buscar na geografia a
teoria e os instrumentos práticos que auxiliam no planejamento e no estudo
do turismo.

Além do objetivo principal, outros objetivos norteiam as três unidades


que compõem a obra. As relações entre as informações cartográficas, o
clima, aspectos de recepção e emissão da demanda turística, os processos
de urbanização fomentados pelo turismo e a sustentabilidade – que deve
perpassar cada processo do planejamento e da realização da atividade
turística - são encontrados aqui.

Prof. Vinicius De Lucca Filho

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO............................................ 1

TÓPICO 1– NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA............................................................................. 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 A GEOGRAFIA DO TURISMO.......................................................................................................... 3
3 MÉTODOS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS.................................................................................. 8
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 9
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 10

TÓPICO 2 – TURISMO E ESPAÇO....................................................................................................... 11


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 11
2 CONCEITOS ESSENCIAIS................................................................................................................. 11
3 TURISMO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO................................................................................. 12
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 18
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 19

TÓPICO 3 – CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO............................................................. 21


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 21
2 REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS........................................................................................ 22
3 GEOPROCESSAMENTO..................................................................................................................... 34
3.1 O GPS.................................................................................................................................................. 35
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 37
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 38

TÓPICO 4 – CLIMA E TURISMO......................................................................................................... 39


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 39
2 CLIMA...................................................................................................................................................... 39
2.1 OS PRINCIPAIS CLIMAS DO MUNDO....................................................................................... 43
3 AS RELAÇÕES ENTRE CLIMA E TURISMO................................................................................. 44
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 47
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 52
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 53

TÓPICO 5 – RELEVO E TURISMO...................................................................................................... 55


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 55
2 CONCEITO DE RELEVO..................................................................................................................... 55
3 O RELEVO BRASILEIRO.................................................................................................................... 56
4 TURISMO E RELEVO........................................................................................................................... 58
4.1 MUNDO............................................................................................................................................. 58
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 67
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 68

VII
UNIDADE 2 – ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO........................................................ 69

TÓPICO 1 – ESPAÇO URBANO............................................................................................................ 71


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 71
2 CONCEITOS DE ESPAÇO URBANO............................................................................................... 71
3 A CIDADE............................................................................................................................................... 73
4 EQUIPAMENTOS URBANOS ........................................................................................................... 76
5 MOBILIÁRIO URBANO...................................................................................................................... 81
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 84

TÓPICO 2 – TURISMO URBANO ...................................................................................................... 85


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 85
2 CONCEITO DE TURISMO URBANO.............................................................................................. 85
3 TURISMO E REGENERAÇÃO URBANA........................................................................................ 88
4 E O TURISMO NA REGENERAÇÃO URBANA?.......................................................................... 93
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 95
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 96

TÓPICO 3 – TIPOS DE TURISMO URBANO.................................................................................... 97


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 97
2 TURISMO CULTURAL........................................................................................................................ 97
3 TURISMO DE EVENTOS..................................................................................................................103
4 TURISMO RELIGIOSO.....................................................................................................................106
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................111

TÓPICO 4 – IMAGEM DA CIDADE E TURISMO.........................................................................113


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................113
2 IMAGEM...............................................................................................................................................113
3 CITYMARKETING...............................................................................................................................115
4 A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM.....................................................................................................117
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................119
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................127
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................128

UNIDADE 3 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE.......................................................................129

TÓPICO 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE...........................................................................131


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................131
2 CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE.......................................................................................131
3 TURISMO SUSTENTÁVEL..............................................................................................................136
4 A CAPACIDADE DE CARGA........................................................................................................... 141
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 145

TÓPICO 2 – CERTIFICAÇÃO E TURISMO..................................................................................... 147


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 147
2 CARACTERÍSTICAS DA CERTIFICAÇÃO.................................................................................. 147
3 VANTAGENS DA CERTIFICAÇÃO............................................................................................... 148
3.1 NORMAS ISO.................................................................................................................................. 149
3.2 COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA ISO 9000...................................................................................... 149

VIII
3.3 A ISO 14000...................................................................................................................................... 150
4 OUTRAS CERTIFICAÇÕES UTILIZADAS NO SETOR TURÍSTICO.................................... 150
4.1 O PROGRAMA HÓSPEDE DA NATUREZA............................................................................. 150
4.2 CERTIFICAÇÃO PARA TURISMO DE AVENTURA............................................................... 152
4.3 CERTIFICAÇÃO E EVENTOS...................................................................................................... 153
4.4 CERTIFICAÇÃO E ALIMENTAÇÃO.......................................................................................... 154
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................155
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................156

TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS......................157


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................157
2 ASPECTOS QUE CONTRIBUEM PARA QUE AS EMPRESAS TURÍSTICAS
ALCANCEM NÍVEIS DE SUSTENTABILIDADE .......................................................................157
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................164
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................165

TÓPICO 4 – DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA...............................................167


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................167
2 CONSUMO...........................................................................................................................................167
3 GLOBALIZAÇÃO E TURISMO.......................................................................................................169
4 TURISMO DE EXPERIÊNCIA..........................................................................................................171
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................175
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................176

TÓPICO 5 – REDES E TURISMO.......................................................................................................177


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................177
2 REDES....................................................................................................................................................177
3 ALIANÇAS ESTRATÉGICAS...........................................................................................................181
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................185
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................189
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................190
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................191

IX
X
UNIDADE 1

FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO
TURISMO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender a finalidade da geografia e a sua relação com o turismo;

• analisar as interferências do turismo no espaço geográfico;

• conhecer as representações cartográficas e a sua utilização para o turismo;

• relacionar os elementos climáticos com os tipos de turismo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o/a ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA

TÓPICO 2 – TURISMO E ESPAÇO

TÓPICO 3 – CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

TÓPICO 4 – CLIMA E TURISMO

TÓPICO 5 – RELEVO E TURISMO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA

1 INTRODUÇÃO
O que é “Geografia do Turismo”? Quais as relações entre a geografia e o
turismo? Tais temas serão tratados no presente tópico.

A geografia estuda um espaço específico – o espaço geográfico. “Para


estudá-lo, desenvolveu, ao longo de sua história, um conjunto de teorias e
conceitos que permitem compreender o mundo em que vivemos em diferentes
escalas, tanto no tempo quanto no espaço” (CAVALCANTI, 2003 apud ALMEIDA;
GUERREIRO; FIORI, 2007, p. 8).

Unindo-se ao pensamento acima, cabe observarmos Santos (2002), quando


diz que o espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem. O autor considera
que a “natureza natural” é intocada pelo homem e a natureza social ou artificial é
aquela em que o homem teve contato e que está em permanente construção, sendo
(re)construída a cada momento. Santos (1988, p. 26-27) expõe que:

O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de que


participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos
naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os
anima, ou seja, a sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade)
não é independente da forma (os objetos geográficos), e cada forma
encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um
conjunto de formas em movimento. As formas, pois, têm um papel na
realização social.
Vamos estudar um pouco mais sobre o assunto?

2 A GEOGRAFIA DO TURISMO
A geografia tem vivenciado, nestas últimas décadas:

algumas inovações na perspectiva de abordagem do seu objeto de


estudo: o espaço geográfico. Isto se deve, em parte, ao desenvolvimento
de pesquisas nas áreas de saúde, meio ambiente, turismo, entre outras
que, embora interfiram na organização e reestruturação espacial,
não despertavam o interesse do profissional de geografia (SOUZA
JUNIOR; ITO, 2005, p. 116).

3
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

A preocupação com a geografia do turismo é antiga, como relata Rodrigues


(1999, p. 1), quando afirma que o termo “Geografia do Turismo” data de 1905.
“Face às incidências espaciais do turismo, o tratamento geográfico do fenômeno
vem se tornando cada vez mais destacado.

Rodrigues (1999, p. 1) ainda escreve que o:

estudo do turismo no âmbito da geografia acentua-se a partir da


década de 1960, tendo em vista o acelerado desenvolvimento do
fenômeno ligado à prosperidade econômica que marcou o período de
pós-guerra nos países centrais do capitalismo.

Albach (2011) fez um quadro interessante, mostrando alguns autores e


temas que se preocupam com as relações entre geografia e turismo – perceba a
grande variedade de temas abordados:

QUADRO 1 – TEMAS DA RELAÇÃO GEOGRAFIA E TURISMO

Autores Temas
JAFARI E RITCHIE - Identificação e análise de regiões turísticas funcionais.
(1981) - Previsão do volume de viagens entre origens.
- A temática da distribuição da atividade turística no espaço
(comportamentos da demanda, estratégias de localização, prob-
lemas de distância etc.).
- A temática da produção espacial turística (representação, per-
CAZES (1992) cepção, formas, modelos de ordenação, paisagens construídas
etc.).
- A temática sobre a articulação espacial do sistema turístico
com o sistema local (processo de turistificação, impactos no
território etc.).
Em leitura mundial:
- Na Alemanha: prioridade a aspectos morfológicos (paisagem) e
sociais.
VERA et al. (1997) - Na França: turismo internacional, modelos de pequena e grande
escala.
- Nos Estados Unidos e Reino Unido: recreação em áreas rurais
e naturais e generalização dos temas de planejamento.
- Territórios sem turismo.
KNAFOU (1999) - - Turismo sem territórios.
- Territórios turísticos.

4
TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA

- Localização de áreas turísticas.


- Deslocamentos de pessoas em função das localidades turísticas.
GOLDNER,
- Mudanças que a atividade traz para a paisagem por causa das
RITCHIE,
estruturas turísticas.
MCINTOSH (2002)
- Dispersão do planejamento físico do desenvolvimento turístico
e dos problemas econômicos, sociais e culturais.
Dimensão espacial do turismo; fundamentos geográficos do tur-
ismo; ecoturismo; turismo ambiental; meio ambiente e turismo;
gestão ambiental; avaliação de impactos ambientais em áreas
turísticas; turismo, espaço, paisagem; turismo: potencialidades e
RODRIGUES (2001)
impactos; estrutura e planejamento de unidades de conservação;
ecossistemas brasileiros: potencialidades e conflitos; turismo e
desenvolvimento sustentável; planejamento e gestão sustentável
do turismo; dentre outros.
- Os padrões de distribuição espacial da oferta.
- Os padrões de distribuição espacial da demanda.
- A geografia dos centros de férias (veraneio).
PEARCE (2003)
- Os movimentos e fluxos turísticos.
- O impacto do turismo.
- Os modelos de desenvolvimento do espaço turístico.
Espaço geográfico, organização espacial, tempo, espaço rural
e urbano, lugar, território, territorialidades, território turístico,
desterritorializar e reterritorializar, paisagem, produção espacial,
CORIOLANO E
técnica, natureza, patrimônio histórico e artístico, sentimento
MELLO E SILVA
de patrimônio, comunidade, turismo comunitário, arranjo pro-
(2005)
dutivo, litoral, região, regionalização, cidade, cultura, mundo,
local, população, rede, relação sociedade/natureza e unidade
geoambiental.

FONTE: Albach (2011)

“O conceito de turismo é o centro de inúmeras discussões entre


pesquisadores e instituições. Visões economicistas, sociais, culturais, ecológicas
e holísticas discutem qual conceito é mais adequado à atividade” (DE LUCCA
FILHO, 2005, p. 24).

Para Sampaio, Gândara e Mantovanelli Júnior (2004 apud DE LUCCA


FILHO, 2005, p. 24):

5
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

O crescimento da atividade turística, e sua complexidade como


fenômeno, demandam uma análise da mesma dentro de uma
perspectiva mais ampla, que considere de forma equânime os
aspectos econômicos, ambientais e sociais, pois somente desta forma
será possível uma aproximação mais ampla e concreta de seus reais
impactos, positivos e negativos, considerando sempre que uma
aproximação parcial e relativizada sempre comprometerá a percepção
do todo e distorcerá a compreensão do fenômeno de forma indelével.

O turismo, como um campo específico de estudo, tem diversas


definições, como a de Hunzilker e Krapf (apud FÜSTER, 1985), que o conceituam
como “fenômeno originado pelo deslocamento e permanência de pessoas fora
do seu local habitual de residência, desde que tais deslocamentos não sejam
utilizados para o exercício de uma atividade lucrativa principal, permanente
ou temporária”.

[...]

Mathieson e Wall (1982) consideram o turismo como um movimento


temporário de pessoas para destinos fora dos seus locais normais de trabalho
e de residência, as atividades desenvolvidas durante sua permanência nesses
destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades.

[...]

Sobre os eventuais problemas gerados pela atividade turística, Lins


(2000, p. 66) observa que:

se o turismo agrava problemas existentes (e produz novos problemas)


e se esse agravamento representa ameaça tanto à qualidade de
vida da população quanto à sustentabilidade do próprio turismo,
promover o combate aos efeitos deletérios da sua expansão constitui
processo fundamental.

FONTE: De Lucca Filho (2005, p. 24-25)

Outros críticos à atividade levantam questões como:

O caráter mercadológico e fetichista [...]. O turismo vem ganhando força


nos discursos e nas práticas do Estado neoliberal [...]. O turismo se desenvolve
apropriando-se e expropriando comunidades tradicionais, transformando os
lugares em “paraísos artificiais”, fazendo com que se viva a partir da imagem, isto
é, o espaço torna-se mercadoria a ser contemplada e consumida passivamente.
(NOGUEIRA; ROCHA, 2010, p. 25).

Jafar Jafari (apud BENI, 2001, p. 36) introduziu um conceito holístico de


turismo em que aborda seus fenômenos, suas relações e seus efeitos na área de origem
dos turistas. “Turismo é o estudo do homem longe de seu local de residência, da
indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria,
geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora”.

6
TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA

Para definirmos o que é turismo para a geografia, optamos pela definição


proposta por Cruz (2001, p. 5), que o identifica como, “antes de mais nada, uma
prática social, que envolve o deslocamento de pessoas pelo território e que tem no
espaço geográfico seu principal objeto de consumo”.

O turismo deve ser compreendido também como uma atividade


socioeconômica, à medida que gera a produção de bens e serviços para o
indivíduo, visando à satisfação de necessidades básicas (e desejos), como a de
alimentação, hospedagem, transporte e complementares, como lazer, assumindo
lugar de destaque na economia do país, de uma região ou localidade.

O turismo se desenvolveu, ao longo da história, a partir de deslocamentos


de diversas ordens, somente sendo reconhecido “enquanto atividade coprodutora
do espaço geográfico” (MACHADO 2000 apud SANTOS, 2005, p. 73).

No século XX, quando foi impulsionado pelo advento das revoluções


tecnológicas e dos meios de transporte, o seu desenvolvimento está atrelado à
melhoria dos meios de locomoção, à expansão urbana e à ascensão do capitalismo,
principalmente a partir de meados do século XX. A Revolução Industrial (século
XIX) promoveu modificações econômicas – e consequentemente sociais – e a
consolidação do capitalismo – que fomentaram a atividade turística (inclusive no
Brasil, como a regulamentação das férias dos trabalhadores - Decreto federal no
4.982//925). (SANTOS, 2005).

Ainda sobre as mudanças relacionadas ao turismo no século XX, Becker


(1996 apud SANTOS, 2005, p. 74) observa que:

no período pós-guerra é que houve uma mudança importante para o


turismo, marcada pela massificação, pela regulação do trabalho, na
limitação de seu tempo, nas férias, na aposentadoria, na sociedade
de massa de consumo, nos transportes desenvolvidos, como o avião,
e aí sim o turismo, realmente, apresentou essa característica de
massificação.

É importante observarmos o que nos conta Milton Santos (1993, p. 36


apud SANTOS (2005, p. 74):

após a Segunda Guerra Mundial, a integração do território se torna


viável, integração esta que se iniciara com as estradas de ferro que
até então ligavam as áreas produtoras com os portos de exportação.
Estas estradas, entretanto, eram em sua maior parte desconectadas. A
interligação toma um novo impulso com a construção das estradas de
rodagem, que põem em contato as diversas regiões entre si e, sobretudo,
com o polo mais dinâmico do país, eixo Rio–São Paulo, o que redunda
na execução de um ousado programa de infraestruturas. Esse período
duraria até fins da década de 1970. O golpe de Estado de 1964 aparece
como um marco, pois foi o ciclo militar que criou as condições de uma
rápida integração do país a um movimento de internacionalização que
aparecia como irreversível, em escala mundial.

7
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

3 MÉTODOS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS


O turismo é um agente transformador do espaço geográfico e uma
atividade complexa. Devemos ter como base de análise para esta temática na
geografia o conceito de formação socioespacial (FSE), proposto por Milton
Santos (1977). Ou seja: cada região possui suas particularidades, sejam elas
físicas ou sociais. E se cada região possui suas especificidades, deve, portanto,
ser analisada em sua totalidade, tendo em vista sua formação espacial.

Vieira e Pereira (1997) nos mostram que tal método possibilita conhecer
uma sociedade em sua totalidade e em suas frações, e tal perspectiva reintroduz
na geografia uma interpretação totalizadora manifestada nos escritos de Marx
(as “múltiplas determinações”), que amplia as possibilidades das análises, pois
considera o estudo dialético entre elementos naturais e humanos e insere estes
elementos em diversas escalas (mundial, nacional, regional, local), o que permite
compreender que uma determinada realidade tem sua explicação num universo
mais amplo. (VIEIRA E PEREIRA, 1997).

Para Mamigonian (1996, p. 202):

Milton Santos percebeu que formação social e geografia humana não


coincidem completamente, não pelas teorias que embasam aquela
categoria marxista e esta área do conhecimento acadêmico, e mais pela
prática indispensável de localização da geografia, nem sempre usada
nos estudos de formação social, daí ter proposto a categoria formação
socioespacial. 

Como várias das atividades turísticas estão diretamente ligadas à


exploração de paisagens naturais e seus impactos socioambientais, deve-se
utilizar outra categoria de análise: a de geossistema, proposta e aperfeiçoada pelo
geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (2000 apud SOUZA; BASTOS,
2010). Ambos os conceitos aqui sugeridos são passíveis de serem utilizados. Na
prática, um estudo de viabilidade ambiental de um empreendimento turístico
requer o uso do conceito de geossistema, mas se esse estudo necessitar saber
a viabilidade socioeconômica, cabe o uso da FSE, para possibilitar o estudo da
totalidade das variáveis envolvidas.

É importante salientar que tanto uma forma de análise quanto outra não
despreza a importância dos diferentes problemas que envolvem a atividade.

8
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou:

● As relações entre a geografia e o turismo.

● Os temas de estudo e os métodos de análises geográficas que podem ser


aplicados ao turismo.

● Que a atividade turística recria/refaz o espaço – e que tal interação é o escopo


do estudo geográfico aplicado ao turismo.

● Que o método de formação socioespacial nos dá instrumentos para avaliar de


forma totalizadora para conhecermos a sociedade.

9
AUTOATIVIDADE

Quais são os principais temas relacionados ao turismo que a geografia aborda


atualmente?

10
UNIDADE 1
TÓPICO 2

TURISMO E ESPAÇO

1 INTRODUÇÃO
Como visto no tópico anterior, “a geografia estuda um espaço específico
– o espaço geográfico. Para estudá-lo, desenvolveu, ao longo de sua história, um
conjunto de teorias e conceitos que permitem compreender o mundo em que
vivemos em diferentes escalas, tanto no tempo quanto no espaço” (CAVALCANTI,
2003 apud ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 8).

O espaço geográfico é fruto da combinação de elementos físicos, biológicos


e humanos. A dinâmica de um espaço geográfico precisa ser compreendida à luz
dos processos sociais, sem esquecer as características naturais (definidor) que
oferecem a base para seu desenvolvimento. Assim, o espaço é a cristalização do
tempo e da história.

Essa visão é interdisciplinar e multidisciplinar, para a percepção da


totalidade. Ao introduzir a dimensão espacial, demonstra a impossibilidade
de compreensão da sociedade sem referência ao espaço, pois toda formação
econômico-social é espacial e temporalmente determinada.

2 CONCEITOS ESSENCIAIS
Precisamos conhecer alguns conceitos para seguirmos adiante.

Segundo Santos (apud PEREIRA, 2003), o processo histórico é responsável pela


formação socioespacial atual, ou seja, a materialidade concreta expressa no espaço:

A relação dialética entre os elementos naturais e humanos, em diferentes


escalas (mundial, nacional, regional e local), propicia uma interpretação
totalizadora manifestada por Marx como múltiplas determinações
(ao mesmo tempo que permite analisar a especificidade de cada
lugar histórica e geograficamente, sem desprezar o conhecimento do
conjunto. É um enfoque globalizante, ou seja, a visão holística de algo,
fundamental para que se chegue à essência). O concreto (realidade) é a
síntese de múltiplas determinações. (PEREIRA, 2003, p.101).

Segue uma lista dos conceitos mais utilizados na geografia – e necessários


ao estudo do turismo (CAVALCANTI, 2003 apud ALMEIDA; GUERRERO;
FIORI, 2007, p. 8).

11
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Lugar: podemos dizer que se trata do espaço familiar ao indivíduo,


denominado espaço vivido, onde experienciamos a vida. Seria uma
parcela do espaço e particularidades devem ser compreendidas na
mundialidade, ou seja, um problema local deve ser analisado como
problema global.
Paisagem: para a geografia, esse conceito permite a observação de
aspectos visíveis dos fatos, fenômenos e acontecimentos geográficos. O
geógrafo Milton Santos a definia não só como tudo aquilo que a visão
abarca do ponto de vista da forma e do volume das formas concretas,
mas também por cores, sons, movimentos, odores e outros atributos
sensoriais. É um conceito relacionado ao campo da percepção,
sendo esta uma habilidade do processo seletivo de apreensão da
realidade. Pode ser classificada em: natural ou artificial e cultural (ou
humanizada).
Região: trata-se de um espaço concreto, dotado de características
espaciais capazes de torná-lo homogêneo internamente, mas distinto
de outros espaços. Está associado à localização e à extensão de um
fato ou fenômeno. Em outro sentido, pode ser atribuída à região
a característica de unidade administrativa, cuja hierarquização se
dá pela divisão regional. Um exemplo seria a divisão do território
brasileiro em cinco regiões, proposta do IBGE (regiões sul, sudeste,
norte, nordeste e centro-oeste).
Território: constituem parcelas do espaço que são apropriadas pelos
seres humanos de forma concreta ou abstrata (por interesses políticos,
econômicos ou por representações, por exemplo). Um território
é delimitado por fronteiras, redes e nós, limites, continuidades e
descontinuidades, domínios material e não material. Esses limites
estão associados às áreas de influência (de poder ou política) de grupos
humanos, sendo entendido como um campo de forças que envolve
relações de poder.

3 TURISMO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO


O turista modifica o espaço, criando-os e recriando-os. A dinâmica social
do turismo gera a apropriação dos espaços, causando transformações territoriais
por meio da incorporação e desagregação de espaços novos e antigos. Novos
espaços são incorporados à prática do turismo, enquanto antigos são total ou
parcialmente abandonados, perdendo sua antiga função.

Tais transformações têm como principais elementos motivadores de sua


ação o ganho financeiro e os modismos. Existem ainda ações que visam devolver
espaços a comunidades tradicionais – ou evitar que tais espaços sejam modificados
por agentes externos à comunidade.

12
TÓPICO 2 | TURISMO E ESPAÇO

TUROS
ESTUDOS FU

O turismo de base local, fincado na rotina da população autóctone, será


observado com detalhes ainda na Unidade 3.

Almeida (2004, p. 1) observa que:

Os núcleos receptores de turistas têm as mais variadas transformações


socioespaciais: infraestruturas montadas e/ou apropriadas em função
da acessibilidade dos visitantes; infraestrutura de hospedagem,
de alimentação, lazer e de serviços em geral. O turismo é capaz de
reorganizar sociedades inteiras para que ele possa acontecer, mormente
apoiado por políticas ditas de desenvolvimento que “redescobrem”
regiões eleitas como turistificáveis.

O mercado liderado pelos agentes promotores do desenvolvimento da


atividade turística tem, na iniciativa privada, seu principal ator, composto por
empreendedores responsáveis pela turistificação dos lugares através de seus
investimentos (CRUZ, 2003). Não podemos esquecer que, além do setor privado,
o Estado atua como importante incentivador desse processo e, como tendência
atual, existem as parcerias público-privadas (PPP), quando os dois atores agem
em conjunto.

Tais investimentos são responsáveis pela transformação do território, por


meio de uma série de mudanças estruturais que são impostas ao espaço, como
demonstra Cruz (2003, p. 13):

Como tais objetos não podem ser “lançados no território”


aleatoriamente, são, necessariamente, acompanhados por
infraestruturas de saneamento básico, energia, telefonia e acesso. Esse
conjunto de “objetos turísticos” e “objetos-suporte” (infraestrutura de
saneamento, energia e viária), quando somado à presença do turista,
configura, materializa o lugar turístico.

Rodrigues (1999, p. 3) observa que:

a dificuldade para conceituar o espaço turístico está basicamente


em captar o peso ou a força que esta atividade exerce na produção
do espaço. Distinguem-se os espaços de vocação turística, como
os parques nacionais, onde apesar do turismo ser uma atividade
intensamente explorada, não foi esta que os produziram. Por outro
lado, encontram-se espaços produzidos pelo turismo e para o
turismo, apesar da ausência de quase todos os fatores apontados
como favoráveis para a produção do espaço turístico. Las Vegas é
excelente exemplo. Localiza-se em pleno deserto de Nevada, cujo
índice pluviométrico pouco ultrapassa 100 mm anuais, distante mais
de 500 km de Los Angeles e quase 1.000 km de São Francisco, dois

13
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

grandes centros urbanos da Califórnia, que além de se comportarem


com os polos emissores, funcionam também na captação e distribuição
da demanda turística de Las Vegas, proveniente do mundo todo.
Considerando os princípios da Geografia Clássica, seu “sítio” e sua
“posição geográfica” são completamente desfavoráveis, e, entretanto,
constitui o maior centro internacional do jogo, captando uma enorme
soma de recursos financeiros.

De fato, a questão conceitual é bastante discutida. Outro conceito que temos


que abordar é o de “atrativo turístico”. Vejamos o que escreveu Cruz (2003, p. 9):

O atrativo turístico é uma definição complexa, pois depende da


significação do que atrai o turista para um lugar ou não e essa definição
varia no espaço e no tempo, pois é um elemento cultural da sociedade.
O que é atrativo turístico hoje pode não ter sido no passado, como
exemplo do turismo praticado nas comunidades do Rio de Janeiro (os
safáris urbanos na Rocinha).

Outro exemplo bem claro de como o atrativo turístico modifica a


organização do espaço é a cidade de Florianópolis (SC), onde, até meados do
século XX, a praia era tida como lugar de trabalho e não de lazer, com reflexos
diretos nos tipos de construções: as mais antigas, que resistiram às mudanças do
tempo, foram construídas de costas para o mar, valorizando a visão da rua; já
as modernas têm a frente orientada para o mar, explorando essa nova atividade
inserida na prática social da região. Tais construções (arquitetura) modificam a
paisagem ao longo do tempo. As paisagens transformadas exercem um papel
fundamental na indução do turismo, pois esses elementos culturais tornaram-
se um grande atrativo turístico e formam o que podemos chamar de paisagem
turística, “que têm muito a ver como o que se habituou chamar de cultura de
massa e, portanto, com o papel da mídia na homogeneização de gostos e na
disseminação de padrões de consumo homogeneizados” (CRUZ, 2003, p. 10).

Cabe ainda dizer que:

nenhum lugar turístico tem sentido por si mesmo, ou seja, fora do


contexto cultural que promove sua valorização, em dado momento
histórico. Isso significa reconhecer, por exemplo, que as praias
tropicais, colocadas hoje entre os mais importantes recursos turísticos,
assim o são porque as sociedades construíram culturalmente sua
valorização. Sem essa dimensão cultural, tais praias seriam – para o
turismo – um recurso (ou um lugar) tal como qualquer outro recurso
natural. (CRUZ, 2001, p. 8).

Vale conferir o que fala Urry (2001 apud SÁ, 2005, p. 2) sobre ações
preparadas exclusivamente para o turismo – inventadas ou pouco autênticas – são:

os pseudoacontecimentos (atrações inventadas e com pouca


autenticidade) e a bolha ambiental (sistema fechado que “protege”
o turista da realidade local, composto por hotéis familiares de redes
internacionais, ônibus com ar-condicionado, restaurantes de fast-food,
guias de turismo bilíngues, etc.). Os espaços turísticos podem ser

14
TÓPICO 2 | TURISMO E ESPAÇO

encenados, com uma autenticidade questionável - tanto as paisagens,


quanto o comportamento das pessoas. (...) os conceitos não são
necessariamente pejorativos, já que as culturas são constantemente
reelaboradas, reinventadas e seus elementos e símbolos são
reorganizados. Ou seja, não fica claro quando uma encenação destinada
ao turista e aparentemente inautêntica, é diferente daquilo que ocorre
de qualquer maneira em todas as culturas. Urry ainda aborda outros
conceitos, como o processo de sacralização que torna um determinado
artefato, natural ou cultural, um objeto sagrado do ritual turístico.

Cabe ainda destacarmos alguns conceitos relacionados com o local em


que o turismo é praticado:

a) Turismo e cidade (turismo urbano): esse tipo de turismo apresenta o maior


fluxo turístico atualmente, gerando uma grande concentração de serviços
relacionados a essa atividade (hotéis, hospitais, bancos, comércio, locadoras,
parques, bares, restaurantes), com as melhores vias de acesso (rodoviárias,
aeroportos, rodovias, portos).

O processo de urbanização, na grande maioria das vezes, é anterior aos


fluxos turísticos, pois o processo de urbanização está ligado a outras
atividades econômicas, mas há casos em que a atividade turística gera
um processo de urbanização, na medida em que esta atividade vai
se desenvolvendo, como no “caso de Cancun (México) ou Las Vegas
(Estados Unidos)... Porto Seguro (Brasil)”. (CRUZ, 2003, p. 17).

b) Turismo em áreas naturais (ecoturismo, turismo ecológico e turismo de


natureza): tem ganhado importância nos últimos anos e está relacionado com a
busca constante de uma parcela da sociedade por essa prática, na qual encontra
uma possibilidade de entrar em contato com a natureza. As atividades mais
comuns são os esportes de natureza, como o rafting, o rapel, o trekking, safáris,
entre outras. Mas não é por acaso que se busca essa volta do homem ao contato
com a natureza. Vejamos o que diz Cruz (2003, p. 18) a respeito:

[...] há que se considerar que, de meados da década de 1970 para


cá, ou seja, desde a realização da primeira conferência sobre meio
ambiente, em Estocolmo (Suécia), em 1972, vimos assistindo a uma
crescente atribuição de importância às questões ditas ambientais... É
nessa atmosfera de resgate de natureza que se gesta o modismo em
torno de tudo o que diz respeito a ambientes naturais. É nesse período
que cresceram, também, em importância, as práticas de ecoturismo.
Não por acaso, portanto, mas como mais um produto desse momento
histórico. (CRUZ, 2003, p. 18).

c) Turismo em espaços rurais: a prática do turismo rural tem uma relação direta,
na maioria das vezes, com a vontade do homem da cidade de retornar às suas
origens. A atual população urbana é fruto de diversos processos de migração
que ocorreram durante as etapas de industrialização, em diferentes locais,
e que, como bem sabemos, não aconteceram de forma homogênea e nem
finalizaram por completo.

15
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

São percebidos outros tipos de espaços na literatura:

Tipos de espaço (BENI, 2001):

● Espaço real: totalidade da superfície do planeta e a biosfera que o envolve.

● Espaço potencial: destinar ao espaço real uso diferente do atual. Possibilidades


de uso de um território.

● Espaço cultural: parte que a ação do homem mudou a fisionomia original.

● Espaço natural adaptado: espécies naturais sob as condições que o homem


fixou.

● Espaço artificial: tudo que foi feito pelo homem.

● Espaço natural virgem: sem vestígios da ação humana.

● Espaço turístico: resultado da presença e distribuição territorial dos atrativos


turísticos.

Tipos de espaço turístico (MONTEJANO, 2001):

● Espaço de influência heliotrópica e talassotrópica: o sol e as praias são os fatores


que desencadeiam a corrente turística.

● Espaços naturais: motivação e atrativo são atrativos naturais, que permitem


estar em contato com a natureza e aproveitá-la para desenvolver atividades
relacionadas com este meio.

● Espaços culturais: onde a história e a arte deixaram vestígios.

● Espaços antropológicos: onde o homem desenvolveu uma série de atividades


culturais e antropológicas relacionadas com o artesanato, gastronomia, folclore.

● Espaços urbanos constituídos por núcleos urbanos grandes, médios ou pequenos,


com muitos núcleos turísticos (polinucleares ou multiproduto), como é o caso de
Paris, Londres, Nova York; ou mononucleares ou produto único, com um núcleo
turístico, como cidades de peregrinação Lourdes, Fátima etc.

Existem diversas maneiras de se estudar e delimitar uma unidade de


paisagem geográfica. O mais importante é estabelecer critérios e compreender
a interdependência de todos os elementos que a integram. Vejamos
algumas etapas para um estudo da paisagem geográfica, que não precisam
necessariamente seguir essa ordem:

a) definição da escala de abordagem (espacial e temporal);

16
TÓPICO 2 | TURISMO E ESPAÇO

b) descrição da topografia;

c) caracterização da estrutura geológica, geomorfológica (relevo) e pedológica


(solo): identificar problemas de erosão e usos do solo;

d) caracterização climática (temperaturas médias, ocorrência de chuvas e


ventos ao longo do ano e alterações observadas nos últimos anos);

e) identificação da estrutura e fluxo de energia e matérias;

f) identificação dos ecossistemas existentes;

g) caracterização das formações vegetais predominantes: áreas de reflorestamento,


áreas protegidas, recursos utilizados;

h) inventário da fauna e cadeias alimentares;

i) determinação do grau de interferência humana: agricultura (tipos de culturas,


histórico dessas culturas, grau de mecanização, origem das sementes, uso de
agrotóxicos e adubos etc.), habitat, urbanização, atividades industriais (modo
de produção, localização e tratamento de resíduos);

j) identificação das espécies animais e vegetais ameaçadas ou em vias de


extinção;

k) análise dos recursos hídricos: quantos e quais são; qual a utilização desses
recursos (irrigação, abastecimento, produção de energia, atividades de lazer),
verificação da presença de vegetação ciliar, fauna aquática, assoreamento e
substâncias poluentes;

l) caracterização da estrutura e dinâmica da população;

m) identificação das políticas de organização e gestão dos espaços;

n) inventário dos valores culturais da sociedade;

o) síntese das etapas anteriores.

FONTE: Almeida; Guerrero; Fiori (2007, p. 13)

ATENCAO

Pela quantidade e tipo de variáveis a serem analisadas, pode-se constatar que tais
análises devem ser realizadas por equipes multidisciplinares. Além disso, cabe sempre ressaltar
que cada análise tem validade para determinado espaço geográfico em determinado período.

17
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico:

● Observamos conceitos e tipos de espaço.

● Verificamos como o turismo reconstrói o espaço.

● Observamos também alguns conceitos essenciais, como: “lugar” (espaço


vivido); “paisagem” (aspectos visíveis dos fatos, fenômenos e acontecimentos
geográficos); “região” (espaço concreto – associado à localização de um fato
ou fenômeno – ou ainda unidade administrativa, por exemplo, a divisão do
território brasileiro em cinco regiões); “território”, que são parcelas do espaço
apropriadas pelos seres humanos de forma concreta ou abstrata, delimitado
por fronteiras, redes e nós, limites, continuidades e descontinuidades, domínios
material e não material.

18
AUTOATIVIDADE

Quais as principais modificações que o turismo impõe ao espaço


geográfico?

19
20
UNIDADE 1
TÓPICO 3

CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

1 INTRODUÇÃO
“A informação tem uma grande importância para o setor turístico” (DE
LUCCA FILHO, 2005, p. 31). Ela serve tanto para os possíveis turistas (aqueles
que estão escolhendo o destino), para os turistas que já decidiram o seu destino,
os destinos que estão a caminho do destino e para o turista que já está no destino.

O “uso” da informação na atividade turística tem aumentado. Porém, já


em 170 a.C, Pausânias publicou dez volumes de um guia intitulado “Um Guia
para a Grécia”, que descrevia as esculturas, lendas e mitos da região, tendo
como público-alvo os romanos mais abastados, que viajavam com frequência,
em especial para a Grécia e para o Egito (OMT, 2001).

Na Idade Média, as peregrinações, viagens comerciais e descobrimentos


geográficos estavam relacionados com a literatura de viagem, caracterizada
por escritos que se referiam a rotas, destinos, mapas, características de
determinadas regiões visitadas. O primeiro Guia Turístico de Santiago de
Compostela, Espanha, foi escrito em 1140 pelo francês Aymeric Picaud, que
descreveu suas viagens, a qualidade das terras e o seu relacionamento com as
pessoas. (MONTEJANO, 2001).

[...]

Com o intuito de orientar viajantes, os guias de turismo surgiram na


Alemanha, editados por Baedecker, no início do século XIX (FÜSTER, 1985).
Atualmente ainda existe o Guia Baedecker, publicado em várias línguas.
Outro pioneiro do setor foi Eugéne Fodor, que em 1936 editou um guia sobre a
Europa, para ser utilizado por turistas britânicos.

A necessidade de informação para o turista já existia na Europa


Moderna, como atesta Burke (2003, p. 69-70):
Todo turista sabe que, quanto maior a cidade, maior a necessidade
de um guia, seja sob a forma de uma pessoa ou de um livro. No início
da Europa moderna havia uma demanda de cicerones [...] e também
de livros-guia. [...] No século XVIII, esses livros-guia passaram
a acrescentar à descrição das igrejas e das obras de arte algumas
informações práticas, do tipo como negociar com os condutores de
cabriolés ou quais ruas deviam ser evitadas à noite.

FONTE: De Lucca Filho (2005, p. 31)


21
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

O conceito da Cartografia, hoje aceito sem maiores contestações,


foi estabelecido em 1966 pela Associação Cartográfica Internacional (ACI),
e posteriormente, ratificado pela Unesco, no mesmo ano: “A Cartografia
apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e
artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise
de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas
de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes
físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização”.

O processo cartográfico, partindo da coleta de dados, envolve estudo,


análise, composição e representação de observações, de fatos, fenômenos e dados
pertinentes a diversos campos científicos associados à superfície terrestre.

FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_


nocoes/introducao.html>. Acesso em: 6 mar. 2012.

A cartografia é uma forma de comunicação que tem atuado na


instrumentação do turismo praticamente desde o seu surgimento
como atividade econômica. E assim como outras formas de
comunicação com o turista, como os folhetos de divulgação e placas
informativas que são disponibilizados nos espaços turísticos, os
mapas devem orientar as pessoas na localização dos objetos e lugares
de seu interesse. Em especial nas tarefas de planejamento e gestão do
turismo, a cartografia pode constituir um instrumental extremamente
útil nas etapas de diagnóstico, de implementação e de avaliação de
uma atividade turística (OLIVEIRA, 2005, p. 2).

Um dos principais componentes de qualquer guia turístico é o mapa.


Como são feitos os mapas? E quais seus usos na atividade turística?

2 REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS
Antes das representações cartográficas, é necessário conhecer o conceito
de “escala”:

● Escala – com a necessidade de reduzir as proporções dos acidentes a


representar, a fim de tornar possível a representação dos mesmos em um
espaço limitado. Essa proporção é chamada de escala.

FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_


nocoes/representacao.html>. Acesso em: 6 mar. 2012.

“Quanto menor é a escala do mapa, maior será a porção de espaço abrangida.


Consequentemente, os elementos representados terão um detalhamento menor”
(ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 26).

22
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

FIGURA 1 – DIFERENÇAS DE ESCALAS

FONTE: IBGE (2012)

A escala cartográfica pode ser representada de duas formas:

 Escala gráfica: “Consiste em um segmento de reta, dividido em espaços


regulares, que mostra a relação entre a medida no mapa e a medida na
realidade” (ALMEIDA; GUERREIRO; FIORI, 2007, p. 27). Exemplo: 1 cm no
mapa = 1km no terreno real.

23
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

FIGURA 2 – ESCALA GRÁFICA

0 50 100 150 KM

FONTE: O autor

FIGURA 3 – ESCALA GRÁFICA EM USO

FONTE: Cantinho da Teodósia, 2012

 Escala numérica: “É representada em forma de fração, onde o numerador indica


uma unidade medida no mapa e o denominador indica o valor, na mesma unidade,
medida no terreno real” (ALMEIDA; GUERREIRO; FIORI, 2007, p. 27).

Numerador = 1 cm Denominador = 100.000 cm ou 1 km - 1:100.000

24
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

FIGURA 4 – ESCALA NUMÉRICA EM USO

FONTE: IBGE (2012)

“Para construir uma escala, geralmente utiliza-se o Sistema Métrico


Decimal” (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 27) – quilômetro, hectômetro,
decâmetro, metro, decímetro, centímetro, milímetro.

É importante saber optar pela escala correta, pois, conforme Almeida,


Guerrero e Fiori (2007, p. 27):

a opção por uma ou outra escala de representação é muito importante,


pois define a quantidade de informações e detalhes possíveis de ser
representados no mapa. Se a realidade for pouco reduzida, poderemos
representá-la com mais detalhes. Ao contrário, se tivermos que reduzir
muito a realidade, só poderemos representar as informações mais
importantes, desprezando os detalhes.
Resumindo:
Escala maior (denominador menor): mais detalhes representados.
Escala menor (denominador maior): menos detalhes representados.

Também é importante falarmos das coordenadas geográficas:

25
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

O homem começou a buscar uma forma de localização mais precisa que


apontasse mais que uma direção e, com exatidão, um ponto na superfície
terrestre. A partir daí que os gregos idealizaram um sistema de linhas
imaginárias traçadas sobre a superfície terrestre. Essas linhas receberam
os nomes de paralelos e meridianos. Ao se cruzarem, paralelos e
meridianos indicam com exatidão o local de um determinado ponto
na superfície terrestre. Esse sistema é conhecido como coordenadas
geográficas (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 23).

Como também é importante entender o que são paralelos e meridianos:

Os paralelos são linhas paralelas ao Equador que indicam a latitude.


No total, são 90 paralelos ao norte do Equador e 90 paralelos ao
sul, num total de 180° de latitude. Os meridianos são semicírculos
semelhantes ao Meridiano de Greenwich, que indicam a longitude.
São 180 meridianos a leste de Greenwich e 180 a oeste, totalizando
360° de longitude. As coordenadas geográficas são sempre medidas
em graus (símbolo°), minutos (símbolo’) e segundos (símbolo”) e a
indicação N ou S para a latitude, e L ou O para a longitude (ALMEIDA;
GUERRERO; FIORI, 2007, p. 24-25).

FIGURA 5 – MERIDIANOS E PARALELOS

FONTE: Dreamtime (2012)

Agora, podemos voltar às representações. Existem dois tipos de


representação: por traço e por imagem.

Vamos estudar alguns conceitos da representação por traço:

• GLOBO – “representação cartográfica sobre uma superfície esférica, em escala


pequena, dos aspectos naturais e artificiais de uma figura planetária, com
finalidade cultural e ilustrativa” (IBGE, 1998, p. 23).

26
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

FIGURA 6 – GLOBO TERRESTRE

FONTE: Dreamtime (2012)

• MAPA: de acordo com o IBGE (1998, p. 18), os mapas possuem as seguintes


características:

- representação plana;
- geralmente em escala pequena;
- área delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas
etc.), político-administrativos;
- destinação a fins temáticos, culturais ou ilustrativos.

FIGURA 7 – MAPA

FONTE: IBGE (2012)

27
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

A partir dessas características pode-se generalizar o conceito:

Mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena,


dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma
área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por
elementos físicos, políticos e administrativos, destinada aos mais
variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos (IBGE, 2012).

O mapa é uma imagem convencionada, codificada, que representa


feições e características da realidade geográfica. O mapa não reproduz
fielmente o terreno; ele é uma construção que seleciona alguns aspectos
e os representa, fazendo uso de um sistema de símbolos. Os elementos
espaciais da superfície terrestre escolhidos para serem representados
no mapa (como objetos, fatos e relações) são transformados em
símbolos e localizados no mapa a partir de um sistema de coordenadas
que considera distâncias e direções. (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI,
2007, p. 20).

Raisz (1969, p. 2) diz que o conceito elementar de um mapa é “uma


representação convencional da superfície terrestre, vista de cima, na qual se
colocam letreiros para sua identificação”.

É importante na guerra e na paz que um soldado ou aviador americano


seja capaz de ler um mapa francês ou que um montanhês canadense
seja capaz de escalar os Andes usando um mapa chileno. Apesar de
cada levantamento publicar uma legenda de símbolos, isto geralmente
não se acha à mão (RAISZ, 1969, p. 94).

• CARTA: suas principais características são:

- representação plana;

- escala média ou grande;

- desdobramento em folhas articuladas de maneira sistemática;

- limites das folhas constituídos por linhas convencionais, destinadas à avaliação


precisa de direções, distâncias e localização de pontos, áreas e detalhes.

FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_


nocoes/representacao.html>. Acesso em: 6 mar. 2012.

Da mesma forma que da conceituação de mapa, pode-se generalizar que


carta é:

a representação no plano, em escala média ou grande, dos aspectos


artificiais e naturais de uma área tomada de uma superfície planetária,
subdividida em folhas delimitadas por linhas convencionais -
paralelos e meridianos - com a finalidade de possibilitar a avaliação
de pormenores, com grau de precisão compatível com a escala. (IBGE,
1998, p. 17).

28
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

• PLANTA – “a planta é um caso particular de carta. A representação se restringe


a uma área muito limitada e a escala é grande, consequentemente o número de
detalhes é bem maior” (IBGE, 1998, p. 20).

O outro tipo de representação cartográfica é a “por imagem”. Para facilitar,


fizemos um quadro com as representações e suas características. São elas:

QUADRO 2 – TIPOS DE REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS POR IMAGEM

Representação Conceito
É o conjunto de fotos de uma determinada área, recortadas e
montadas técnica e artisticamente, de forma a dar a impressão de
que todo o conjunto é uma única fotografia. Pode ser de três tipos:
1) Controlado - é obtido a partir de fotografias aéreas submetidas
a processos de correção para que a imagem resultante
corresponda exatamente à imagem no instante da tomada da
foto. Essas fotos são então montadas sobre uma prancha, onde
se encontram plotados um conjunto de pontos que servirão de
controle à precisão do mosaico. Os pontos lançados na prancha
MOSAICO têm que ter o correspondente na imagem. Esse mosaico é de
alta precisão.
2) Não controlado - é preparado por meio do ajuste de detalhes
de fotografias adjacentes. Não existe controle de terreno e as
fotografias não são corrigidas. É de montagem rápida, sem
precisão. Para alguns tipos de trabalho ele satisfaz.
3) Semicontrolado - são montados combinando-se características
do mosaico controlado e do não controlado. Por exemplo,
usando-se controle do terreno com fotos não corrigidas; ou fotos
corrigidas, mas sem pontos de controle.

É um mosaico controlado, sobre o qual é realizado um tratamento


FOTOCARTA cartográfico (planimétrico).

É uma ortofotografia - fotografia resultante da transformação


de uma foto original, que é uma perspectiva central do terreno,
ORTOFOTOCARTA em uma projeção ortogonal sobre um plano - complementada
por símbolos, linhas e georreferenciada, com ou sem legenda,
podendo conter informações planimétricas.

É o conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma


ORTOFOTOMAPA determinada região.

29
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Montagem por superposição das fotografias, geralmente


em escala reduzida. É a primeira imagem cartográfica da
região. É insumo necessário para controle de qualidade de
FOTOÍNDICE
aerolevantamentos utilizados na produção de cartas através do
método fotogramétrico. Normalmente a escala do fotoíndice é
reduzida de 3 a 4 vezes em relação à escala de voo.
Imagem referenciada a partir de pontos identificáveis e com
CARTA IMAGEM coordenadas conhecidas, superposta por reticulado da projeção,
podendo conter simbologia e toponímia.

FONTE: IBGE (1998, p. 20-21)

Mas como colocar a Terra, que é esférica, no papel, que é plano? “Para
solucionar esse problema, foram criadas as projeções cartográficas. Projeções
cartográficas são operações matemáticas utilizadas para representar a superfície
esférica da Terra em uma superfície plana” (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI,
2007, p. 21).

Apesar de todo o esforço dos cartógrafos, as projeções sempre


apresentam alguma deformação da superfície terrestre. Tal deformação
pode ser reduzida, mas nunca eliminada. Dependendo de como é
feita a projeção, é possível conservar: a área, a forma, a distância ou a
direção. (ALMEIDA, GUERRERO E FIORI, 2007, p.21).

Mas o que significa cada informação no mapa? A representação gráfica


(Simiologia Gráfica) é o que determina cada informação presente nos mapas
(ROSA, 2004).

Cada parte de uma informação é chamada de componente, a qual


apresenta as seguintes características:

a) comprimento - é o número de suas subdivisões (classes);

b) extensão - é a relação entre o número maior e o menor da série quantitativa


considerada;

c) nível de organização - é a característica mais importante da componente,


trata-se do significado, que pode ser: quantitativo (ex. no de alunos, no de
dias de chuva etc.), ordenado (ex. dias da semana, meses do ano, hierarquias
militares, tonalidades etc.), e qualitativo (ex. indústrias, culturas etc.).

As informações transmitidas por uma componente podem se referir a


uma localização precisa, a um limite ou percurso, a uma superfície, ou ainda
a um volume. Essas quatro maneiras de colocar a informação no plano da
folha de papel representam os quatro modos de implantação (ou elementos de
representação do espaço), a saber: ponto, linha, área (zona) e volume.

30
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

Elementos de representação do espaço – São as maneiras de colocar a


informação em um mapa.

● Ponto - não tem dimensão, representa apenas a posição (localidade ou


localização). Ex. localização precisa de uma indústria, cidade etc.

● Linha - é unidimensional, representa apenas direção. Ex. o percurso de um


rio, o limite administrativo (fronteira), uma estrada etc.

● Área (zona) - é bidimensional, representa a largura e comprimento. Ex.


densidade de população, florestas, cultivos, áreas urbanas, lagos etc.

● Volume - é tridimensional, representa largura, altura e comprimento. Ex.


quantidade de precipitação, produção etc.

As variáveis da retina – A linguagem gráfica é formada por variáveis da


retina. Por ser a retina o órgão sensível do olho, todas as variações percebidas
por ela são chamadas variáveis da retina, que são:

a) Tamanho - é usado para representar dados quantitativos, traduzindo a


proporção entre as classes dos diversos elementos cartográficos. Para a sua
representação, usam-se as formas básicas (círculos, quadrados, retângulos,
triângulos), conferindo-lhe tamanhos proporcionais ao valor dos dados.
Varia do grande, médio, pequeno. Ex: total de população do Estado de Minas
Gerais por município.

b) Valor - é usado para representar dados ordenativos, através da variação


de tonalidade do branco ao preto, passando pelos tons cinza ou vermelho,
ou de verde, ou de azul. O branco representa ausência (0%) e o preto a
totalidade (100%), e os outros níveis representam valores intermediários,
indo do claro (percentagens menores) ao escuro (percentagens maiores). Ex.
profundidades do mar, altitudes etc.

c) Granulação - também usado para representar dados ordenativos, porém em


substituição ao valor. Consiste na variação da repartição de preto no branco,
onde a proporção de preto e branco permanece.

d) Cor - é usada para representar dados qualitativos (seletivos). Consiste na


variação das cores, tendo as cores a mesma intensidade. Por exemplo:

Azul é usado para representar água, frio, úmido, valores numéricos positivos.

Verde é usado para representar vegetação, terras baixas - planícies, florestas.

Amarelo/Ocre é usado para representar seca, vegetação pobre, elevações


intermediárias.

31
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Marrom é usado para representar formas de relevos (montanhas, áreas


elevadas), curvas de nível.

Vermelho é usado para representar elementos quentes, itens importantes,


estradas, cidades.

e) Orientação - também usada para representar dados qualitativos (seletivos)


em substituição à cor. Orientação são as variações de posição entre o vertical,
o oblíquo e o horizontal.

f) Forma - usada para representar dados qualitativos (associativos). Agrupa


todas as variações geométricas ou não. Elas são múltiplas e diversas, podem
ser geométricas (círculo, quadrado, triângulo etc.) ou pictóricas. As formas
não devem ser muito variadas, se possível, devem ser limitadas a no máximo
seis. Esses mapas são de fácil representação e leitura. A forma é um ponto, e,
portanto, indica a localização.

A informação subdividida em componentes é transcrita, e traduzida


em linguagem visual por meio das variáveis da retina. Cada componente é
traduzido por uma variável da retina. Nem todas as variáveis da retina admitem
todos os níveis de organização (quantitativo, ordenativo, seletivo, associativo).
Por exemplo, o tamanho indica proporção; o valor e a granulação mostram
uma hierarquia, uma ordem entre as classes; a cor e a orientação diferenciam
as classes, sem ordená-las. A forma é associativa e indica a localização.
Eventualmente, pode-se usar a associação entre as variáveis da retina.

Tipos de mapas

Os mapas, de acordo com seus objetivos e finalidades, podem ser


divididos em três tipos: mapas gerais, especiais e temáticos [...]:

Mapa geral - objetiva alcançar um público bastante diversificado e grande. As


informações contidas nesses mapas são muito genéricas, não permitindo aos
especialistas, ao consultá-lo, obterem informações detalhadas. Normalmente
são mapas que apresentam escalas reduzidas [...]. Os principais elementos
representados nestes mapas são: divisão política, capitais e cidades de
destaque, principais rodovias e ferrovias e algumas informações da parte física
(rios, relevo, vegetação).

Mapa especial - atende a um reduzido número de pessoas, em geral técnicos,


como geógrafos, meteorologistas, biólogos, geólogos e outros profissionais que
se utilizam de mapas. As informações contidas nestes mapas estão relacionadas
a estudos específicos e técnicos, sendo de pouca valia às pessoas fora da
especialidade a que se destina. Normalmente, este tipo de mapa é construído
em escala grande [...].

32
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

Mapa temático - é construído a partir de um mapa base, normalmente com


informações políticas e hidrográficas, no qual são cartografados os demais
fenômenos geográficos. Dependendo da área, podem ser aspectos geológicos,
demográficos, cobertura vegetal etc. Normalmente este tipo de mapas é
construído em qualquer escala.

FONTE: Rosa (2004, p. 48-50)

“Entre os mapas temáticos básicos [...], podem-se citar os de uso e ocupação


das terras, da infraestrutura disponível, das formas do relevo, dos elementos
climáticos, entre outros” (OLIVEIRA, 2005, p. 35).

É necessário conhecermos os tipos de mapas importantes para a atividade


turística. Para Oliveira (2005, p. 35):

Os mapas de uso e ocupação das terras representam as atividades


econômicas já instaladas sobre determinado território, como a
agricultura, a pecuária, as áreas urbanas, a malha viária e as áreas
verdes remanescentes. O grau de detalhamento das classes escolhidas
vai depender da escala do mapeamento e de sua relevância para o
empreendimento turístico a ser instalado.
Os mapas sobre a infraestrutura mostram a localização de elementos
como a rede viária, as redes de energia elétrica, telefonia, água tratada,
coleta de esgoto, TV a cabo etc., além da localização de serviços
essenciais, como a presença de agências dos correios, postos de saúde
ou hospitais, agências bancárias, postos policiais ou delegacias e
postos de combustíveis.

Segundo Oliveira (2005, p. 37):

A primeira função de um mapa para turistas é localizar, com precisão


e clareza, onde estão os atrativos turísticos num determinado lugar.
Portanto, na escolha dos elementos que devem constar no mapa é
preciso considerar a necessidade de filtrar informações desnecessárias,
que tornariam o mapa carregado visualmente e dificultariam a
localização dos atrativos [...] O mapa deve ser visto como forma de
comunicação com o turista. Precisa, portanto, utilizar uma linguagem
adequada ao tipo de turista que deverá manuseá-lo, sob pena de ser
descartado ou virar uma peça meramente ilustrativa.

Mapas sobre os elementos do clima são particularmente importantes


para áreas com potencial para a instalação do turismo de lazer, como
pousadas e hotéis ou outros tipos de empreendimentos em balneários
ou em ambientes de altitudes mais elevadas. Enfim, qualquer atividade
em que sejam relevantes as informações sobre a distribuição anual das
chuvas, dias com insolação, direção e intensidade dos ventos ou a
variação anual das temperaturas (OLIVEIRA, 2005, p. 35-36).

A relação dos atrativos com os aspectos naturais é muito importante,


conforme alerta Oliveira (2005, p. 36):

33
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

A partir dos mapas básicos ou sobre eles pode-se localizar e destacar


os possíveis atrativos turísticos e relacioná-los com as características
naturais ou socioeconômicas do lugar, para avaliar o grau de sua
potencialidade e detectar prováveis problemas a serem superados em
sua efetivação como atrativos.

A cartografia serve como instrumento de promoção turística dos destinos


– e teve um papel decisivo nas Ilhas Baleares (Espanha) no século XIX e no início
do século XX, quando somente a elite europeia conseguia entender os mapas. O
acesso era difícil e as informações disponíveis nos mapas ajudaram os aventureiros
a chegar às ilhas (MUJICA, 2007).

Num exemplo simples, um mapa com a topografia de uma área,


expressando as altitudes em curvas de nível e pontos cotados, quando
cruzado com a rede de drenagens, pode dar indicativos da presença
de quedas d’água, cachoeiras e corredeiras, que são atrativos naturais
em potencial. Para maior detalhamento, pode-se associar também
o uso de imagens orbitais ou fotografias aéreas [...]. A partir daí, o
cruzamento com as informações sobre a infraestrutura disponível nas
proximidades do local (rede viária, hotéis, postos de combustíveis,
entre outros) e sobre os tipos de uso e ocupação das terras na região
pode determinar a viabilidade ou não do local e sua potencialidade
(OLIVEIRA, 2005, p. 36).

3 GEOPROCESSAMENTO
A recente popularização das técnicas de geoprocessamento tem feito
surgir algumas confusões na atribuição dos termos Geoprocessamento e
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) [...].

O Geoprocessamento é um termo amplo, que engloba diversas


tecnologias de tratamento e manipulação de dados geográficos, através de
programas computacionais. Dentre essas tecnologias, se destacam: a cartografia
digital, o processamento digital de imagens, os sistemas de posicionamento
global e os sistemas de informação geográfica. Ou seja, o SIG é uma das técnicas
de geoprocessamento, a mais ampla delas, uma vez que pode englobar todas as
demais, mas nem todo o geoprocessamento é um SIG.

A tecnologia de SIG integra operações convencionais de bases de dados,


com possibilidades de seleção e busca de informações e análise estatística,
conjuntamente com possibilidades de visualização e análise geográfica
oferecida pelos mapas. Esta capacidade distingue os SIG dos demais sistemas
de informação e torna-os úteis para organizações no processo de entendimento
da ocorrência de eventos, predição e simulação de situações, e planejamento
de estratégias. Os SIG permitem a realização de análises espaciais complexas,
através da rápida formação e alteração de cenários que propiciem aos
planejadores e administradores em geral, subsídios para a tomada de decisões.

FONTE: Rosa (2004, p. 71)

34
TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO

Não podemos abrir mão das tecnologias para um processo de planejamento


mais eficiente.

3.1 O GPS
Segundo Rocha (2003), GPS é a abreviatura de NAVSTAR GPS (NAVigation
System with Time And Ranging Global Positioning System).

É um sistema de radionavegação baseado em satélites criado e


monitorado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos que permite a
qualquer usuário saber a sua localização, velocidade e tempo, 24 horas por dia,
sob quaisquer condições atmosféricas e em qualquer ponto do globo terrestre.

FONTE: Adaptado de: <http://www.duke.edu/~mmv3/geomatica/documents/Aula%201%20


Teorica%20Intro%20GPS.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2012.

Para Martoni e Varajão (2008, p. 6):

o sistema de navegação por satélites pode ser dividido em três


segmentos: o segmento espacial, composto pela constelação de
satélites; o segmento de controle, composto por quatro estações
de controle terrestres e uma estação mestra – a Consolidated Space
Operations Center, localizada na Schriver Air Force Base no Colorado,
EUA – que possuem o objetivo principal de monitorar e garantir o
funcionamento de todo o sistema; e o segmento de utilização civil, que
compreende o conjunto de usuários do sistema receptores dos sinais.

Segundo Bender (2012), há dois tipos de mapas para GPS:

1- Mapa simples, que serve apenas como referência.


2- Mapa roteável, que possui dados complementares como endereços,
sentido de direção etc. Com um GPS que explora todas as informações
de um mapa roteável, basta escolher o destino e o aparelho determina
o caminho.

Letham (2001 apud BETTONI, 2009, p. 75) cita três benefícios pessoais
agregados a um GPS:

Guiar alguém até um destino contido num mapa, calcular sua posição
atual e registrar sua posição inicial para um possível retorno ao mesmo ponto da
Terra posteriormente. O mesmo autor entende que o emprego desse aparelho
no lazer pode ser altamente atrativo, citando alguns exemplos: excursionismo
(chance de se perder em uma caminhada é muito menor, pela precisão do
aparelho), viagem de carro (orientação em qualquer via), rally (orientação em
trilhas), viagens em caiaque ou canoa (orientação em rios), entre outros.

35
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Featherstone (2004) explica que os mapas e dados do aparelho podem


ser compartilhados pela internet [...]. [...] o aparelho já sai da fábrica com mapas
básicos e é possível adquirir outros mapas e conjuntos de dados de acordo com
as necessidades de cada um, como, por exemplo: turistas (informações sobre
atrativos urbanos, city tours, monumentos); excursionistas (lagos, cachoeiras,
montanhas, trilhas). Esses dados podem ser trocados entre usuários ou mesmo
comercializados.

Alguns pesquisadores utilizam o “geoprocessamento para o planejamento


e gestão da atividade turística regional e municipal” (BETTONI, 2009, p. 74).

Veiga e Silva (In: SILVA; ZAIDAN, 2004) utilizaram um conjunto de


técnicas para avaliar a potencialidade turística de regiões em Macaé–
RJ, através do uso de SGI (Sistema Geográfico de Informação), com o
cruzamento de diversos dados sobre o município, como saneamento,
demografia e qualidade de vida. Bueno (In: QUEVEDO, 2007) usou
o geoprocessamento através de um SGI, inserindo informações
institucionais e também coleta em campo com a ferramenta GPS,
visando utilizar a “Geoinformação” nas atividades de Ecoturismo.
(BETTONI, 2009, p. 74).

Atualmente, sites específicos de mapas disponíveis na internet auxiliam o


possível turista a se orientar antes e durante a viagem. O mais conhecido deles
é o Google Maps. O instrumento auxilia na tomada de decisão, pois oferece a
localização, formas de como chegar, distâncias, tempos de deslocamento e – no
hemisfério norte – localização de meios de hospedagem, atrativos, restaurantes e
outros elementos da oferta turística.

36
RESUMO DO TÓPICO 3
Com o estudo deste tópico:

● Conhecemos a cartografia e as representações cartográficas.

● Verificamos alguns conceitos e elementos relativos aos mapas.

● Estudamos um pouco sobre o GPS e a atividade turística.

37
AUTOATIVIDADE

Você faz uso de mapas quando viaja? Quais os principais elementos que você
observa? É um instrumento necessário para suas viagens?

38
UNIDADE 1
TÓPICO 4

CLIMA E TURISMO

1 INTRODUÇÃO
Chuva, frio, sol, nuvens, calor, umidade, neve. Tudo está muito relacionado
com a atividade turística. No Tópico 4 abordaremos a questão climática e a
atividade turística.

As frases a seguir poderiam ter sido retiradas de veículos de comunicação


e apontam para algumas situações que relacionam clima e turismo:

● Falta de neve esvazia resorts nas montanhas estadunidenses.

● Chuva em janeiro foi o dobro da prevista para o mês no Rio de Janeiro.

● Neve leva milhares de turistas à Serra Catarinense.

● Tempo bom leva milhares ao litoral.

● Temporada de furacões fecha hotéis no Caribe.

Não há dúvida de que as relações entre turismo e clima são muito próximas,
certo? Vamos abordar tais questões com maior profundidade a partir de agora.

2 CLIMA

O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change  ou  Painel


Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) foi criado pela Organização
Meteorológica Mundial  e pelo PNUMA - Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente,  para fornecer informações científicas, técnicas e
socioeconômicas relevantes para o entendimento das mudanças climáticas.

FONTE: Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Painel_Intergovernamental_sobre_


Mudan%C3%A7as_Clim%C3%A1ticas>. Acesso em: 25 abr. 2012.

O IPCC (2012) conceitua clima:


Clima, num sentido restrito, é geralmente definido como 'tempo
meteorológico médio', ou, mais precisamente, como a descrição
estatística de quantidades relevantes de mudanças do tempo
meteorológico num período de tempo, que vai de meses a milhões
de anos. O período clássico é de 30 anos, definido pela Organização

39
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Mundial de Meteorologia (OMM). Essas quantidades são geralmente


variações de superfície, como temperatura, precipitação e vento. O
clima num sentido mais amplo é o estado, incluindo as descrições
estatísticas do sistema global. (IPCC, 2012).

Tempo e clima não são sinônimos. O tempo é o estado físico das condições
atmosféricas em um determinado momento e local.

O clima é composto por elementos e fatores climáticos:

● Elementos climáticos são grandezas meteorológicas que variam no tempo e


no espaço e comunicam ao meio atmosférico. São elementos climáticos:

1. temperatura;

2. umidade;

3. pressão atmosférica;

4. radiação solar.

No quadro a seguir vamos ver os elementos do clima e suas características:

QUADRO 3 – ELEMENTOS DO CLIMA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Corresponde à quantidade de vapor de água que encontramos


na atmosfera. Pode ser expressa em valores absolutos ou
relativos:
• A umidade absoluta do ar é a quantidade (em gramas) de
vapor d’água.
• A umidade relativa do ar é obtida através da relação entre a
umidade absoluta (a quantidade de vapor de água do ar) e o ponto
de saturação (a quantidade máxima de vapor de água que o ar
consegue reter), em determinado local e momento. Ela é expressa
em porcentagem (%). Quando, na atmosfera, a umidade atinge o
UMIDADE ponto de saturação, ela libera água que cai sobre o solo em forma
de chuva ou outros tipos de precipitação.
A umidade é relativa ao ponto de saturação de vapor de água
na atmosfera, que é de 4%. Quando a atmosfera atinge essa
porcentagem, ou se satura de vapor, ocorrem as chuvas. Muitas
vezes escutamos no jornal falarem que a umidade relativa do ar é, por
exemplo, de 60%. Isto quer dizer que estamos a 60% da capacidade
máxima de retenção de vapor de água na atmosfera. Quando está
chovendo, a umidade relativa do ar está em 100%, ou 4% em termos
absolutos. Portanto, quando a umidade relativa do ar está por volta
de 60%, está em 2,4% de vapor em termos absolutos.

40
TÓPICO 4 | CLIMA E TURISMO

A pressão atmosférica é a força provocada pelo peso do ar sobre


uma superfície, cujo valor é expresso em milibares (mb). Ela
depende da latitude, altitude e temperatura.
Quanto maior a altitude, menor a pressão. Quanto menor a
latitude, menor a pressão. Nas regiões mais quentes, região
PRESSÃO
equatorial, o ar se dilata ficando leve, por isso tem uma baixa
ATMOSFÉRICA
pressão. Próximo aos polos, o frio contrai o ar, deixando-o
mais denso, tendo uma maior pressão. No entanto, em regiões
mais elevadas, de menor temperatura, também há menor
concentração de moléculas de ar (ar mais rarefeito) e, neste caso,
menor será a pressão.
A temperatura, medida em graus Celsius (ºC), registra o calor da
TEMPERATURA atmosfera de um lugar, cuja variação depende da sua localização
e da circulação atmosférica.
É o calor recebido de tudo que rodeia o animal (sol, paredes,
outros animais, o solo etc.). Somente 31% da radiação solar
atinge a superfície terrestre. 30% é refletida pelas camadas de
nuvens e volta para o espaço e 6% é refletido pelo solo. Cerca
RADIAÇÃO
de 15% é absorvida na atmosfera, pelo vapor de água, CO2 e
partículas (aerossóis). Aproximadamente 3% é absorvido na
ionosfera, na formação do ozônio. Cerca de 15% da radiação
solar incidente é dispersada pelas partículas sólidas e gasosas.

Os fatores climáticos influenciam os elementos climáticos, modificando


o clima de um local. São fatores climáticos:

1. latitude;
2. altitude
3. massa de ar;
4. continentalidade/maritimidade;
5. correntes marítimas;
6. vegetação;
7. relevo.

O quadro a seguir dá as características dos fatores climáticos:v

41
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

QUADRO 4 – ELEMENTOS DOS FATORES CLIMÁTICOS

Refere-se à distância de um determinado ponto na Terra


ao Equador, sendo que quanto mais distante, menor a
temperatura, devido à menor incidência de luz solar. Quanto
LATITUDE
mais nos afastarmos do Equador, menor a temperatura. A Terra é
iluminada pelos raios solares com diferentes inclinações. Quanto
mais longe do Equador, a incidência de luz solar é menor.
Altura em referência ao nível do mar. Quanto maior a altitude,
menor a temperatura. Isso ocorre porque o ar se torna rarefeito,
ou seja, a concentração de gases e de umidade, à medida que
ALTITUDE aumenta a altitude, é menor, o que vai reduzir a retenção de calor
nas camadas mais elevadas da atmosfera. Há a questão também
que o oceano ou continente irradiam a luz solar para a atmosfera,
ou seja, quanto maior a altitude, menos intensa será a irradiação.
São grandes blocos de ar que se deslocam pela superfície terrestre.
Podem ser polares, tropicais ou equatoriais, apresentando
características particulares da região em que se originaram, como
temperatura, pressão e umidade. O encontro de duas massas,
geralmente uma fria e outra quente, é denominada de frente.
Quando elas se encontram ocorrem chuvas e o tempo muda. As
massas de ar tropicais se formam nos trópicos de Capricórnio e de
MASSAS DE AR Câncer. Elas podem se formar na altura dos oceanos (oceânicas)
e ser úmidas; serão secas se forem formadas no interior dos
continentes (continental). As massas polares são frias. Isto porque
elas se formam em regiões de baixas temperaturas, como o nome
já diz, nas regiões polares. Elas também são secas, visto que as
baixas temperaturas não possibilitam uma forte evaporação das
águas. As massas equatoriais são quentes, se formam próximas
à linha do Equador.
A extensão dos continentes é um fator climático. A relação entre
o volume de terras e a proximidade de grandes quantidades
de água exerce influência na temperatura. Isso porque a água
demora a se aquecer, enquanto os continentes se aquecem
rapidamente. Por outro lado, ao contrário dos continentes,
CONTINENTALIDADE
a água demora a irradiar a energia absorvida. Por isso, o
Hemisfério Norte tem invernos mais rigorosos e verões mais
quentes, devido à quantidade de terras emersas ser maior,
ou seja, sofre influência da continentalidade. Áreas costeiras
tendem a ser mais frias que as áreas continentais.
São as massas de água que circulam pelo oceano. Têm suas
CORRENTES
próprias condições de temperatura e pressão e exercem grande
MARÍTIMAS
influência no clima.

42
TÓPICO 4 | CLIMA E TURISMO

A topografia pode facilitar ou dificultar a circulação das massas


de ar, influenciando na temperatura. No Brasil, por exemplo,
RELEVO as serras no Centro-Sul do país formam uma “passagem” que
facilita a circulação da massa polar atlântica e dificulta a massa
tropical atlântica.
Impede a incidência direta dos raios solares na superfície,
amenizando o aquecimento. Por isso, com o desmatamento
VEGETAÇÃO
há diminuição de chuvas, visto a umidade diminuir, e há um
aumento da temperatura na região.

FONTE: Adaptado de: <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/geografia/


geografia_geral/clima/clima_fatores_elementos>. Acesso em: 26 abr. 2012.

2.1 OS PRINCIPAIS CLIMAS DO MUNDO

A classificação climática nos ajuda a compreender o clima do mundo.


Existem diferentes propostas de classificação, entre as quais a organizada pelo
alemão Wladimir Peter Köppen, baseada nas características de precipitação e
temperatura:

QUADRO 5 – CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DE PETER KÖPPEN

Clima Características
Durante o ano inteiro apresenta altos índices de evaporação
e temperaturas que variam entre 24ºC e 27ºC. A amplitude
Equatorial térmica (variação entre a temperatura mínima e a máxima)
é baixa durante o ano inteiro. Apresenta pluviosidade alta,
atingindo mais de 2000 mm por ano.
Apresenta elevados índices pluviométricos (entre 1000 mm
Tropical e 2000 mm por ano), com duas estações bem definidas: seca
e chuvosa.
As temperaturas variam regularmente ao longo do ano,
com média acima de 10°C. Apresenta quatro estações bem
definidas. É dividido em temperado oceânico (inverno
Temperado
menos rigoroso devido à influência da umidade oceânica)
e temperado continental (menor influência dos mares e
oceanos, provocando maiores amplitudes térmicas).
Marcado por verão quente e chuvas distribuídas pelo ano
Subtropical todo. As temperaturas podem chegar a 0ºC em alguns dias
do outono e do inverno.

43
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

No inverno, a temperatura é mais amena, por causa das


correntes marítimas quentes. O verão é quente e seco.
Mediterrâneo
Nas áreas costeiras, os verões são mais amenos, devido às
correntes frias do oceano.
Temperaturas médias negativas no inverno, alcançando em
Frio (subpolar)
torno de 10ºC no verão.
Frio de A redução da temperatura está condicionada ao aumento da
montanha altitude, ocorrendo até mesmo na zona tropical.
As temperaturas médias são muito baixas, em torno de –30
ºC. No verão chegam aos –10 ºC; no inverno, podem alcançar
Polar ou glacial –50 ºC. Ocorre no Ártico, incluindo a Groenlândia e o Alasca,
e na Antártida. O índice pluviométrico é muito baixo (menos
de 200 mm anuais).
Pequeno volume de precipitação (menor do que 250 mm
por ano) e grande amplitude térmica diária. Ocorre tanto
Desértico em áreas tropicais como em temperadas: norte da África,
Oriente Médio, oeste dos EUA, norte do México, litoral do
Chile e do Peru, Austrália e noroeste da Índia.
Clima com altas temperaturas (média de 27 ºC) e chuvas
irregulares, entre 300 mm e 800 mm/ano. Clima típico do
Semiárido Nordeste do Brasil, que sofre influência da massa Tropical
atlântica (mTa), que, ao chegar à região, já apresenta pouca
umidade.

FONTE: Disponível em: <http://www.edicoessm.com.br/backend/public/recursos/Reproducao_


SP_Geografia_2_unidade_1_capitulo_1.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2012.

3 AS RELAÇÕES ENTRE CLIMA E TURISMO


Mas, e as relações do clima com o turismo? Sabemos que existem diversos
tipos de turistas pelo mundo e muitas motivações para deslocamentos. Sabe-se
que, historicamente, o turismo de sol e praia é responsável por grande parte do
turismo mundial. Se acrescentarmos as estâncias termais, o turismo de montanhas,
temos ainda um incremento significativo na demanda por viagens para regiões
que têm o clima como um de seus atrativos.

Um outro termo, que você já conhece, tem uma relação grande com o
clima: a sazonalidade. A maioria dos destinos litorâneos depende do clima para
o incremento da demanda no turismo. Em casos excepcionais, como no Caribe,
muitos meios de hospedagem – e outros integrantes da oferta turística – chegam a
fechar as portas durante os períodos de tempestades e furacões. Vale a pena lembrar
ainda dos destinos atingidos por tsunamis. A demanda, ao menos por um certo

44
TÓPICO 4 | CLIMA E TURISMO

tempo, foi muito menor do que antes da tragédia – impactando significativamente


as regiões atingidas –, sem falar, é claro, das perdas humanas irrecuperáveis.

Martin (1999) estudou os principais aspectos na relação entre clima e turismo.


São eles:

1 O clima afeta o ambiente em que as atividades turísticas serão desenvolvidas.

2 O clima exerce uma grande influência na sazonalidade.

3 O tempo incide sobre a própria atividade turística – especialmente se for


realizada ao ar livre.

4 As condições climáticas influenciam na arquitetura e na infraestrutura turística.

5 As condições climáticas influenciam o bom funcionamento dos transportes e


das comunicações, facilitando o deslocamento.

6 As condições climáticas influenciam na sensação de segurança do turista.

7 As características climáticas e meteorológicas influenciam na percepção de


bem-estar do turista e na saúde dos turistas.

8 As condições climáticas e meteorológicas de um local podem servir como


atrativo turístico e elemento de publicidade.

9 As condições climáticas e meteorológicas influenciam no nível de satisfação do


turista.

De acordo com Martin (2005 apud MACHETE, 2011, p. 143), “o clima


existe independentemente da sua exploração por parte dos agentes turísticos,
transformando-se num recurso ao ser incorporado num bem ou na prestação de
um serviço”. O clima é um recurso com características particulares – é renovável, ou
seja, o turismo não esgota esse recurso, ainda que haja uma evidente apropriação
(MACHETE, 2011). O clima está sujeito a grande variabilidade temporal (não
podemos garantir que terá sol ou que nevará, mesmo que em anos anteriores,
naquela época do ano, tenha ocorrido); não é passível de ser transferido ou
armazenado.

“Matzarakis (2006) enfatiza a influência do clima e do estado do tempo


nas três fases de uma viagem: antes, durante e depois” (MACHETE, 2011, p. 144).
Isto é válido para os turistas e para quem trabalha no trade. “O clima expectável
influi na decisão de viajar e na escolha do destino. Durante a estadia é, contudo, o
estado do tempo que vai determinar a experiência do turista” (MACHETE, 2011,
p. 144) (possivelmente um turista deixaria de visitar um lugar de mergulho numa
época de chuvas, quando as águas podem ficar turvas).

45
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

“Uma importante parte dos equipamentos relacionados com a atividade


turística e de recreação – hotéis, estâncias de esqui, marinas, campos de golfe
ou outros – exige grandes investimentos em capital fixo. A realização destes
investimentos implica uma confiança no retorno” (MATZARAKIS, 2006 apud
MACHETE, 2011, p. 144).

Segundo Christofoletti (1980 apud BENTO; RODRIGUES, 2009, p. 60), “a


geomorfologia fluvial estuda os processos e as formas relacionadas com a ação
dos rios, haja vista que estes são os agentes mais importantes no transporte,
erosão e sedimentação de detritos”.

Bento e Rodrigues (2009, p. 57) afirmam que “emerge um novo segmento


turístico, que tem os aspectos geológicos e geomorfológicos como seus atrativos
– o geoturismo”.

Dentro das potencialidades exploradas pelo geoturismo, formas


topográficas erosivas de ambientes fluviais, como as quedas d’água,
são muito procuradas devido sua beleza cênica e também pela
oportunidade que gera de proporcionar ao turista um entendimento da
geologia e geomorfologia locais. A Geomorfologia Fluvial é, portanto,
um ramo da Geomorfologia que tem íntima relação com o geoturismo,
fornecendo conhecimentos para a identificação, classificação,
aproveitamento e gestão de belezas naturais relacionadas à dinâmica
dos rios (BENTO; RODRIGUES, 2009, p. 57).

O clima de uma região tem uma profunda relação com a atividade turística
– e a partir do clima, muitas questões relacionadas com a segmentação do turismo
surgem.

46
TÓPICO 4 | CLIMA E TURISMO

LEITURA COMPLEMENTAR

ECOTURISMO, PAISAGEM E GEOGRAFIA

José Bueno Conti

O ecoturismo pode ser entendido como uma forma de desfrutar de visitas


a áreas naturais, promovendo, ao mesmo tempo, sua conservação e apelando
para o envolvimento das populações locais. Entre as práticas desse tipo de
turismo incluem-se caminhadas, percursos em bicicleta ou a cavalo, contatos com
a população residente, além de outras atividades. Evidentemente, essa prática
passa pela educação dos que a exercem, no sentido de respeitar a natureza,
reduzindo ao mínimo o consumo de recursos não renováveis. Em nosso país,
as Unidades de Conservação são áreas que reúnem diversas condições para o
exercício do ecoturismo.

O contato direto com o meio pressupõe uma reflexão sobre a ideia de


paisagem, cujo conceito é apresentado de tantas formas por inúmeros setores do
conhecimento, denotando variadas maneiras de pensar. [...]

A paisagem é uma realidade viva e, nesse sentido, seria adequado designá-


la de tecido ecológico que recobre a superfície das terras emersas. E o turismo,
como prática social de nosso tempo, pode ser considerado, legitimamente, da
Geografia, porque diz respeito ao espaço e, por conseguinte, ao conjunto das
paisagens.

Zonalidade e turismo - A atratividade das diferentes faixas de latitude

A zonalidade, entendida como a vinculação das características do espaço


às faixas de latitude, é uma consideração de macroescala que constitui, em muitos
casos, o ponto de partida para as análises geográficas. [...]

No caso do estabelecimento de fluxos turísticos entre diferentes faixas de


latitude, a diferenciação das condições geográficas se torna fator muito relevante
e, muitas vezes, um forte atrativo. Por exemplo, o habitante das latitudes altas e
médias sente-se motivado para conhecer as regiões tropicais, com suas elevadas
temperaturas médias e exuberante manifestação de biodiversidade.

Áreas de grande riqueza faunística, como o Pantanal, que ocupa cerca


de 270.000 km quadrados no centro-oeste brasileiro e no território boliviano, são
verdadeiras relíquias geográficas das baixas latitudes. O inverso é igualmente
verdadeiro, podendo-se citar, como ilustração, o interesse do habitante das baixas
latitudes em sentir a experiência do sol da meia noite, só possível além do paralelo
de 66º33’.

47
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

O Continente Antártico, com sua acentuada especificidade ambiental, é


objeto de interesse não só de estudiosos, mas também de viajantes que apenas
querem satisfazer seu apetite de conhecimentos. O turismo, portanto, pode ser
muito estimulado com esse intercâmbio de caráter zonal.

Geomorfologia e turismo - O encanto produzido pelas formas exóticas

O relevo é uma característica geográfica muito significativa e um dos


componentes da identidade regional, podendo associar-se à atividade turística
de várias maneiras. A beleza cênica, a suntuosidade de sua configuração e até
mesmo seu componente simbólico constituem atrativos nada desprezíveis, que
podem se transformar em mercadorias a serem vendidas. Em nosso país, o Rio
de Janeiro é o exemplo mais conhecido. Nas regiões cujas irregularidades do
terreno apresentam expressivos contrastes altimétricos, especialmente as altas
montanhas, onde se verifica acúmulo de neve no inverno e a conformação dos
vales e encostas é adequada à prática do esqui e de outros esportes de inverno, a
prática do turismo é extraordinariamente desenvolvida, demonstrando, mais uma
vez, a importância do componente natural. Na zona intertropical, os planaltos
e superfícies elevadas, situadas acima de 1.000 metros sobre o nível do mar,
abrigam importantes centros turísticos, por apresentarem melhores condições de
conforto térmico e beleza natural a ser apreciada.

As características litológicas e geomorfológicas de determinadas áreas


também podem vir a ser um atrativo. O calcário é um tipo de rocha que produz
formas muito singulares. Ali domina um processo erosivo chamado de erosão
por dissolução que produz vales profundos ou canyons, depressões ovaladas de
contornos sinuosos - as dolinas. [...] O processo de dissolução cria numerosas
cavidades subterrâneas, as grutas ou cavernas, muito procuradas por apreciadores
de raridades naturais como estalactites e estalagmites. O ecoturismo está sempre
presente nessas regiões. Em nosso país tais áreas são pontos turísticos muito
visitados, como o Vale do Ribeira, em São Paulo, as grutas de Maquiné e da
Lapinha, em Minas Gerais, a de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, que é, também, um
centro religioso, e vários outros nos demais estados. [...]

As regiões areníticas e quartzíticas, de cimento silicoso, quando trabalhadas


pela erosão pluvial, evoluem para formas bastante originais, denominadas de
ruiniformes, e podem se tornar objeto de visitas. Os exemplos mais conhecidos,
entre nós, são os arenitos de Vila Velha (PR), as encostas da Chapada dos
Guimarães (MT) e as Sete Cidades do Piauí, na região de Piracuruca, todas já
incluídas nos roteiros turísticos nacionais. [...]

O clima nos caminhos do turismo

Para o turismo, no sentido lato, e a prática do ecoturismo propriamente


dito, o clima é um recurso natural nada desprezível. Embora seja um procedimento
reducionista e incorreto apresentar temperatura como sinônimo de clima, não
há dúvida de que esse elemento é um dos mais significativos para o conforto

48
TÓPICO 4 | CLIMA E TURISMO

humano e a sensação de bem ou de mal-estar. O ideal térmico para o organismo


humano varia conforme a latitude de origem do grupo considerado. A maioria
dos estudiosos admite que, para as populações das latitudes médias, os limites
oscilam entre 18ºC e 22ºC. [...] Isso significa que, desse ponto de vista, regiões
subtropicais ou mediterrâneas, numa posição transicional entre as médias e as
baixas latitudes, são as mais propícias, exercendo, por esse motivo, uma espécie
de poder de sedução.

Há outro elemento do clima que favorece essa região: a duração do brilho


solar (ou seja, ausência de nebulosidade) que, nessa faixa, exibe valores médios
muito elevados. [...] Em nosso país, assinala-se o contraste entre Apodi, na região
semiárida do Rio Grande do Norte, 3.000 horas, e São Paulo, capital, com 1.732
horas. Os totais anuais e a sazonalidade da precipitação também apontam para
essa mesma zona, uma vez que os dados médios, aí, são moderados, variando de
500 a 700 milímetros anuais (exemplo: Marselha, 548 mm) e a estiagem ocorre no
verão, beneficiando todo tipo de atividade ao ar livre. [...] A chuva inoportuna,
isto é, a que ocorre durante o dia, é um fenômeno meteorológico indesejável para
a atividade turística. [...] Os países escandinavos possuem, há várias décadas,
empresas que oferecem seguro contra o mau tempo, isto é, mediante um sistema
de compensações, indenizam o turista que não tenha podido desfrutar de um
roteiro de lazer em virtude de condições meteorológicas desfavoráveis.

Na faixa intertropical, as áreas situadas acima de 1.000 metros constituem,


quase sempre, refúgios de salubridade pela boa qualidade do ar (elevada
concentração de ozônio), pressão atmosférica mais baixa e temperaturas médias
anuais variando entre 15 e 20ºC. Quando localizada a alguma distância do
oceano, especialmente em encostas protegidas dos ventos dominantes (posições
de sotavento), tais sítios são caracterizados por umidade relativa baixa que inibe a
propagação de complexos patogênicos (Sorre). No passado tornaram-se cidades-
sanatório e, atualmente, são centros turísticos de montanha, podendo mencionar-
se, entre nós, como exemplos mais expressivos, Campos do Jordão, Teresópolis e
Poços de Caldas, no Sudeste, e Garanhuns e Guaramiranga, no Nordeste.

Latitude, altitude, distância do oceano e situações de sotavento podem


combinar-se e produzir espaços muito favoráveis à prática de atividades de lazer.
O turismo de grande escala está atento a essas características naturais e as vem
aproveitando com sucesso, em vários pontos do globo, notadamente nos citados
domínios mediterrâneos e nos litorais tropicais beneficiados pelos ventos alísios.

O contato terra/oceano e o papel de outras paisagens

A linha de contato que separa terras e águas, seja dos grandes blocos
continentais, seja de pequenas ilhas, pode se apresentar de forma muito variada,
desde escarpas abruptas até planícies abertas e restingas, limitadas por praias
que, frequentemente, apresentam grande beleza paisagística, além de oferecerem
variadas opções de lazer.

49
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Uma das mais espetaculares manifestações da natureza nessa interface


terra/oceano é a Grande Barreira de Coral, afloramento de recifes que se estende
por mais de 1.000 km ao largo da costa nordeste da Austrália, sustentada sobre
a plataforma continental e rodeada de águas transparentes, excelentes para a
prática do mergulho.

A zona intertropical, beneficiada por intensa radiação solar, especialmente


aquela de moderada ou escassa nebulosidade, é muito apropriada à prática do
turismo de praia. Enquadram-se nesse particular o Caribe, a maior parte das ilhas
da Polinésia e o litoral brasileiro, de Santos para o norte.

[...] A palavra paisagem pode ter vários significados. Por exemplo, um


quadro de paisagem não é a mesma coisa que paisagem geográfica. O quadro é a
representação pictórica, fruto da percepção, imaginação ou criação do artista. A
paisagem geográfica é uma certa porção do espaço relativamente ampla, definida
pela pessoa que observa, cujas escalas espacial e temporal dependem do que se
quer estudar. Ela possui características físicas e culturais homogêneas, apresenta
relativa identidade e pode ser cartografável.

Paisagem geográfica e atividades turísticas

Há sítios litorâneos que, em virtude de um conjunto de processos tais como


atuação de ventos constantes (alísios, por exemplo), grande amplitude de maré e
significativo estoque de areia, propiciaram a formação de campos de dunas. No
Brasil a ocorrência mais espetacular é a dos “Lençóis Maranhenses”. [...]

As redes hidrográficas apresentam imenso potencial de atração para


as atividades de lazer e, nesse particular, destacam-se os altos cursos onde os
desníveis são acentuados, propícios à formação de quedas d’água. Os exemplos
mais grandiosos são as cataratas de Iguaçu, Niágara e Vitória, situadas,
respectivamente, nas altas bacias do Paraná (Brasil/Argentina), São Lourenço
(EUA/Canadá) e Zambeze (Zimbabwe/Zâmbia), para citar apenas três casos.
Da mesma forma, é nos cursos superiores que estão as maiores extensões de
corredeiras, apropriadas para a prática da canoagem, muito difundida em
diferentes faixas de latitude.

Os lagos, em todo o mundo, vêm sendo aproveitados para as diferentes


modalidades de esportes aquáticos e a navegação de recreio. Da mesma forma, as
características da biogeografia de cada região do globo podem oferecer condições
estimulantes, como a flora e a fauna insulares, que apresentam espécies raras
em consequência do isolamento geográfico. [...] No território brasileiro, o melhor
exemplo é o Pantanal Matogrossense, enorme planície de extensão estimada
em 200.000 km², formada pelo rio Paraguai e intensos processos de erosão e
acumulação. Está situada no centro do continente sul-americano, em altitudes
que não ultrapassam 110 m sobre o nível do mar. Por ocasião das cheias, os rios

50
TÓPICO 4 | CLIMA E TURISMO

que divagam por essa área horizontalizada extravasam suas calhas, compondo
um imenso lago e lagoas menores, deixando emersas algumas áreas mais
elevadas. Essas condições favorecem uma excepcional concentração de nutrientes,
permitindo a existência de uma das maiores riquezas faunísticas do planeta.

Nas florestas tropicais úmidas (“rain forests”) já se desenvolve com sucesso


o que se chama de turismo de selva, que permite admirar as manifestações mais
exuberantes de biodiversidade e, mesmo as áreas de menor riqueza de vida e
maior fragilidade ecológica, como as savanas e os domínios áridos e semiáridos,
seduzem os visitantes pela singularidade de seus aspectos.

À guisa de conclusão

Em sua caminhada pela superfície do globo ao longo da história, o ser


humano vem procurando satisfazer sua infinita curiosidade de conhecer cada
recanto do planeta, a fim de explorá-lo em seu benefício, daí resultando a
interação sociedade/natureza e a organização do espaço com todo seu aspecto
multifacetado.

Os geógrafos sempre estiveram atentos a essa dinâmica e a aproveitam


como mais um subsídio para a realização de sínteses regionais.

O turismo moderno surgiu como fruto da sociedade industrial e das


conquistas sociais. Os períodos de descanso (fins de semana ou férias anuais)
são os grandes alimentadores das atividades turísticas, as quais, por sua vez,
estimulam a economia, especialmente o setor secundário ou de serviços.

[...] O turismo é um processo que interessa à sociedade e à natureza e,


por essa razão, está vinculado de forma muito estreita aos objetivos da Geografia
enquanto ciência que se propõe a interpretar os arranjos espaciais da superfície
terrestre e a decodificar toda a complexidade de seu dinamismo.

FONTE: Conti (1997, p. 33-42)

51
RESUMO DO TÓPICO 4
Com o estudo deste tópico:

● Observamos os principais conceitos de clima e as profundas relações que


existem com a atividade turística.

● Estudamos que as condições climáticas influenciam antes, durante e depois da


viagem.

● Vimos que o clima pode ser um catalisador de um determinado segmento do


turismo numa região. O clima tem influência direta na motivação de viajar
das pessoas e na oferta turística local ou, ainda, com infraestrutura e bens
facilitadores, como gastronomia, arquitetura, serviços para turistas, segurança,
entre outros.

52
AUTOATIVIDADE

Relacione dez destinos turísticos brasileiros nos quais o turismo possui sua
atratividade relacionada diretamente com os elementos ou fatores climáticos.

53
54
UNIDADE 1
TÓPICO 5

RELEVO E TURISMO

1 INTRODUÇÃO
Neste momento apresentaremos a você como se dá a caracterização do
turismo, por meio das diversas formas da superfície da crosta terrestre. Estas
formas interferem na gestão do turismo dos diversos destinos turísticos do
mundo, pois espelham a organização socioeconômica destes destinos. Assim,
a tomada de decisão do gestor de turismo, no cenário público ou privado,
deve interpretar a paisagem geográfica, com foco ao relevo, para identificar as
possibilidades turísticas do local.

Para tanto, apresentaremos a você reflexões sobre o conceito de relevo, além


de caracterizar o relevo brasileiro. Por fim, apontaremos alguns destinos turísticos
que possuem as características climáticas e do relevo como representantes dos seus
principais atrativos turísticos.

2 CONCEITO DE RELEVO
No Ensino Fundamental ou no Ensino Médio, todo mundo conhece o
tema “relevo”. É provável que você se lembre!

Primeiro vamos ao conceito formal:

Guerra (1997, p. 526) diz que relevo “é a diversidade de aspectos da


superfície da crosta terrestre, ou seja, o conjunto de desnivelamentos da superfície
do globo”. Ele diz também que o relevo é formado pelas forças endógenas (dobras,
falhas, vulcões, terremotos) e exógenas (desgastes e acumulação).

A geomorfologia tem o relevo como seu objeto de estudo.

Quando se fala em geografia, sempre devemos ter em mente que a


relação da natureza com o homem é parte fundamental de seu objeto de estudo,
para “reconhecer de que maneira sua influência se manifesta na organização
socioespacial” (BERTOLINI; VALADÃO, 2009, p. 2).

55
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

3 O RELEVO BRASILEIRO
A primeira classificação do relevo brasileiro foi elaborada nos anos 1940,
por Aroldo de Azevedo. Em 1958 é substituída pela tipologia do grande geógrafo
Aziz Ab’Sáber (falecido em 2012), que acrescenta duas novas unidades de relevo.
Uma das classificações mais recentes (1995) é a de Jurandyr Ross (PORTAL SÃO
FRANCISCO, 2012).

De acordo com Ross (2003), o relevo brasileiro é formado, principalmente,


por planaltos, planícies e depressões. A classificação tem 28 unidades de relevo
e insere as depressões, que não estavam contidas nas classificações anteriores.

Os planaltos são terrenos planos, localizados em altitudes mais elevadas


(e suas chapadas, que são elevações íngremes de topo plano). No Brasil são 11
planaltos, divididos em quatro grupos.

As planícies são áreas planas formadas a partir da vinda de sedimentos


e detritos de áreas mais altas, como as do Pantanal, do Rio Amazonas, e as
litorâneas. No Brasil existem seis planícies divididas em dois grupos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/relevo-brasileiro/relevo-


brasileiro-6.php>. Acesso em: 28 maio 2012.

Depressões são áreas mais baixas do que as áreas ao seu redor, pois elas
estão sempre fazendo fronteira com planaltos. Na divisa entre eles costumam
surgir escarpas (“paredões”) (IBGE, 2012).

No quadro a seguir estão destacados os tipos de depressões, planaltos e


planícies:

QUADRO 6 – TIPOS DE DEPRESSÃO, PLANALTOS E PLANÍCIES

TIPOS DE DEPRESSÃO
estabelecidas nas regiões de contato entre estruturas
Periférica:
sedimentares e cristalinas.
estabelecidas em áreas mais baixas em relação aos
Interplanáltica:
planaltos que as circundam.
margeiam as bordas de bacias sedimentares, escul-
Marginal:
pidas em estruturas cristalinas.
TIPOS DE PLANALTOS
constituídos por rochas sedimentares e circundados
Em bacias sedimentares:
por depressões periféricas ou marginais.

56
TÓPICO 5 | RELEVO E TURISMO

originados pela erosão sobre os antigos dobramen-


Dos cinturões orogênicos: tos sofridos na Era Pré-Cambriana pelo território
brasileiro.
estruturas que, embora isoladas e distantes umas
Em núcleos cristalinos
das outras, possuem a mesma forma, ligeiramente
arqueados:
arredondada.
Em intrusões e coberturas formações antigas da era Pré-Cambriana que pos-
residuais da plataforma suem grande parte de sua extensão recoberta por
(escudos): terrenos sedimentares.
TIPOS DE PLANÍCIES
encontradas no litoral, como as planícies e tabuleiros
Planícies costeiras:
litorâneos.
situadas no interior do país, são consideradas pla-
Planícies continentais:
nícies as terras situadas junto aos rios.
FONTE: Adaptado de: Pacheco (2011, s.p.) a partir da classificação de Ross

O mapa do relevo brasileiro aplicando a classificação de Ross (PAIVA, 2008)


é o seguinte:

FIGURA 8 – BRASIL – RELEVO

FONTE: Paiva (2008)

57
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

4 TURISMO E RELEVO
Seja pelas paisagens existentes em determinadas regiões, pela aventura
ou pela motivação de atingir um objetivo, como um pico de uma montanha, por
exemplo, os relevos possuem papel significativo em relação aos atrativos turísticos.

4.1 MUNDO
Principalmente pelo desafio, muitos turistas escalam montanhas pelo
mundo. A cadeia montanhosa do Himalaia é uma das mais famosas, por conter
o Monte Everest, o mais alto do mundo, com quase 9.000 metros de altitude. O
Himalaia passa por cinco países: Índia, China, Butão, Nepal e Paquistão, tem mais
de 400 km de comprimento e quase 2 km de largura (foto).

FIGURA 9 – CORDILHEIRA DO HIMALAIA

FONTE: Diário do Himalaia (2012)

Mas vamos falar outros nomes que talvez você conheça, começando pelo
Aconcágua. Ele fica em Mendoza, na Argentina, e faz parte da Cordilheira dos
Andes. É o ponto mais alto do mundo localizado fora da Ásia. Várias expedições
de aventureiros do mundo todo, em especial das Américas, chegam todos os
anos ao Aconcágua.

Mas falar em turismo de montanha não é, necessariamente, falar de


caminhada ou escalada. Podemos falar também de paisagens belas, hotéis
confortáveis e descanso.

A Áustria é um dos principais destinos turísticos do mundo. São mais


de 30 milhões que anualmente visitam o país (ICEX, 2011) e, segundo Panrotas
(2010), já são mais de 55 mil brasileiros que viajam para lá a cada ano. Além de
Viena, que sempre está entre as 10 cidades do mundo que mais sedia eventos
internacionais, Innsbruck, capital do Tirol, é outro destino consagrado.
58
TÓPICO 5 | RELEVO E TURISMO

Na Suíça, a região de Jungfrau-Aletsch (menos de 20 km de Interlaken,


grande destino turístico) recebeu o título de Patrimônio Mundial Natural da
Unesco (figura a seguir). “Em seu coração está o impressionante maciço rochoso
do Eiger, Mönch e Jungfrau e a paisagem glacial que rodeia a grande geleira
Aletsch (a maior geleira dos Alpes, com 23 km)” (MY SWITZERLAND, 2012).

FIGURA 10 – JUNGFRAU-ALETSCH

FONTE: My Switzerland (2012)

Você se aventuraria a caminhar, como o pessoal da foto a seguir?

FIGURA 11 – JUNGFRAU-ALETSCH

FONTE: My Switzerland (2012)

59
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

Nos Estados Unidos, um dos principais destinos de neve, montanha e


esqui do mundo é Aspen, no Estado do Colorado, que recebe milhares de turistas
ao ano, sendo que os brasileiros são os terceiros em número de visitantes (e o
primeiro em gastos) (FOLHA, 2006). Algumas celebridades têm casas lá, como
Jack Nicholson e Kurt Russel,l e grandes grifes internacionais têm lojas lá, além
de dezenas de grandes resorts e estações de esqui (figura a seguir), com grandes
estruturas de apoio.

FIGURA 12 – ESTAÇÃO DE ESQUI EM ASPEN, COLORADO

FONTE: Snow Trip USA (2012)

Mas, falando de relevo... lembramos de montanha... e falando de turismo


em montanha... não há como não falarmos um pouco sobre esqui na neve! Vários
destinos mundialmente conhecidos têm no esqui na neve o seu principal atrativo:
para nós, brasileiros, Bariloche é um destino muito conhecido.

Na Itália, o principal destino é Cortina d’Ampezzo, que fica no nordeste,


no Vêneto. Grandes hotéis, de ótima qualidade, oferecem conforto e comodidade
aos turistas.

Um momento: quem disse que turismo na montanha tem que ser duro?
Reparem na figura a seguir, um hotel em Cortina D’Ampezzo.

60
TÓPICO 5 | RELEVO E TURISMO

FIGURA 13 – HOTEL DE LUXO, EM CORTINA D’AMPEZZO

FONTE: Hotel Cristallo Spa & Golf (2012)

E o Brasil, no “turismo de montanha?” Somente 3% do território brasileiro


estão acima de 1.000 metros, “portanto não se pode falar em turismo de montanha
no Brasil”. (ALMEIDA, 2006, p. 26).

Para Almeida (2006), as elites brasileiras descobriram a serra para fugir


do calor (e a instalação do Palácio Imperial, em Petrópolis, inicia um processo
de valorização das serras). Depois de um certo tempo, com a popularização do
automóvel e a construção ou melhoria das estradas, os refúgios serranos passaram
a ser frequentados por camadas da classe média. Os destinos nas serras eram
utilizados para repousos e tratamentos de saúde.

Alguns destinos turísticos brasileiros em que a montanha é a vedete:

Pedra Grande, em Atibaia (SP), Bragança Paulista (SP), Cambuí (MG) e o


Pico do Cristal (MG).

Mas, quando falamos em montanhas, uma curiosidade natural é saber as


alturas, certo?

No Brasil, o Pico da Neblina (figura a seguir), na tríplice fronteira (Brasil,


Venezuela e Colômbia), é o ponto mais alto, com quase 3.000 metros de altitude
em relação ao nível do mar. Apesar de ter algum movimento turístico, a região
tem problemas de infraestrutura (acesso, lixo, desmatamento e poluição – via
garimpeiros) e relacionamento conturbado entre turistas e indígenas (yanomamis,
que são guias de quem se aventura).

61
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

FIGURA 14 – PICO DA NEBLINA

FONTE: Disponível em: <http://lancamentos.moderna.com.br/ensino-fundamental-2/


atlas/wp-content/uploads/2011/10/Atlas-Geogr%C3%A1fico-Pico-da-Neblina-2.jpg>.
Acesso em: 30 maio 2012.

QUADRO 7 – DEZ PICOS MAIS ALTOS DO BRASIL

Altura
Pico Localização Características
(metros)

Acesso precário, infraestrutura de apoio


praticamente inexistente, guiamento re-
Da Serra do Imeri
1 2998,78 alizado por índios yanomamis. Presen-
Neblina (AM)
ça de garimpeiros – provocando grande
impacto ao meio ambiente.

Usado principalmente para atingir o


Pico
Serra do Imeri cume do Pico da Neblina, porém pos-
2 31 de 2.972,66
(AM) sui beleza própria, com muitas bro-
Março
mélias e samambaias no caminho.
A mais acessível montanha nacional
(três horas de caminhada, 16 km por
uma trilha íngreme dentro do Parque
Nacional do Caparaó). Seu nome ad-
Pico da Serra do
3 2.891,98 vém de uma bandeira colocada por
Bandeira Caparaó (MG)
ordem de D. Pedro II, no século XIX
(achava-se que era o ponto mais alto
do território brasileiro). A temperatura
pode chegar a menos 10 graus Celsius.
Serra do
Pico do Trilha demarcada, fácil acesso (para
4 2.849 Caparaó (divisa
Calçado quem tem bom preparo físico).
MG e ES)

62
TÓPICO 5 | RELEVO E TURISMO

Subida íngreme, altíssima, que torna


Serra da
a caminhada bem lenta. Seu relevo é
Pedra da Mantiqueira
5 2798,39 ondulado, e algumas depressões são
Mina (divisa SP e
tão fundas que não permitem ver o
MG)
pico da montanha.
A montanha está situada na parte alta
do Parque Nacional do Itatiaia. Seu
cume é atingido com cerca de cinco
horas de caminhada em terreno ro-
choso, exigindo um bom preparo fí-
Serra da sico e algumas técnicas verticais em
Pico das
Mantiqueira alguns trechos. Lá nasce o Rio Preto,
6 Agulhas 2.792,66
(divisa entre RJ com 200 quilômetros de extensão e
Negras
e MG) faz a divisa natural dos Estados do
RJ e MG. De seu cume é possível ter
uma ampla visão de toda a região ao
redor, como a Represa do Funil, a Ser-
ra Fina, a região de Visconde de Mauá
e a vasta região do Vale do Paraíba.
Parque Nacional do Caparaó (divisa
de Minas Gerais e Espírito Santo), na
mesma região do Pico da Bandeira e
Pico do Serra do do Pico do Calçado. Seu nome é pela
7 2.769,76
Cristal Caparaó (MG) sua formação, em quartzo. Sua trilha
é relativamente fácil e bem demarca-
da, coberta com vegetação de médio
e pequeno porte.
Apenas 10% do pico fica em territó-
rio brasileiro, localizado na Serra de
Pacaraima, em Roraima, no extremo
Norte do Brasil. Seu topo é plano,
com cerca de 90 quilômetros de ex-
tensão. Além disso, do monte escor-
rem inúmeras cachoeiras. Seu cume
pode ser alcançado por expedições a
Monte pé, e pode levar até dois dias somente
8 2.734,06 Roraima
Roraima para alcançar o cume. Normalmente,
as expedições se iniciam na aldeia in-
dígena de Parai Tepuy, no município
venezuelano Santa Helena de Uairén.
De lá até o topo são aproximadamen-
te 22 quilômetros de caminhada. Toda
a expedição, com visitação a vários
pontos do cume, geralmente leva sete
dias, incluindo a subida e descida.

63
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

A montanha é de fácil acesso, pos-


suindo trilhas bem conservadas e de-
Morro Parque
marcadas - As únicas dificuldades são
9 do 2680 Nacional
algumas pedras no caminho. Muitas
Couto Itatiaia (RJ)
vezes é usado como prévia para se es-
calar o Pico das Agulhas Negras.
Seus vales e penhascos imensos são
impressionantes, possuindo também
muitas cachoeiras e grutas. A monta-
nha é muito procurada por pratican-
tes dos esportes de aventura e oferece
alguns trechos para a prática de rapel
e escaladas. Para se atingir o topo da
Pedra do Sino é preciso enfrentar uma
trilha longa e demorada, de aproxima-
damente 11 quilômetros. Uma vanta-
gem é que, apesar de longa, a trilha
não é muito íngreme, não exigindo,
Parque
assim, muita técnica. Mas o caminho
Nacional da
Pedra do é muito bonito, repleto de pássaros,
Serra dos
10 Sino 2670 orquídeas, bromélias e raras flores al-
Órgãos e da
pinas. Uma das atrações da montanha
cidade de
é a cachoeira Véu da Noiva, em épo-
Teresópolis (RJ)
cas cheias (verão, por exemplo), pos-
sui uma queda d'água alta, com mais
de 10 metros. Ao longo do caminho
é possível parar em uma das muitas
plataformas de observação, que ofe-
recem uma visão panorâmica de toda
região. A visão de seu topo é incrível,
permitindo avistar a Baía de Guana-
bara, a cidade de Rio de Janeiro, Ni-
terói, Teresópolis, Friburgo, Parque
dos Três Picos e boa parte do Parque
Nacional da Serra dos Órgãos.

FONTE: Adaptado de: Bueno (2009)

Assim como no exterior, alguns destinos brasileiros localizados em locais


altos não têm na caminhada ou escalada seu principal atrativo. Localizados
em locais altos, como serras (gaúcha, paulista, por exemplo), grandes destinos
nacionais atraem turistas pela sofisticação, aliados ao clima e aos serviços
disponíveis.

Gramado e Canela, na Serra Gaúcha, e Campos do Jordão, na Serra da


Mantiqueira, são destinos referência no Brasil. O relevo é um dos ingredientes,
aliados ao clima e a suas construções socioespaciais ao longo de anos.

64
TÓPICO 5 | RELEVO E TURISMO

Mas a serra não está somente relacionada aos destinos citados acima.
Você já esteve ou já ouviu falar de Bonito, no Mato Grosso do Sul? Bonito fica na
Serra da Bodoquena, local em que fica o Parque Nacional da Serra da Bodoquena.

Saímos das montanhas, das serras e vamos falar um pouco sobre as


chapadas. As mais conhecidas e utilizadas turisticamente no Brasil são:

a) Chapada Diamantina (Bahia) – (figura a seguir) local do Parque


Nacional da Chapada da Diamantina. É considerado um dos
ecossistemas mais ricos do mundo, comparável à Mata Atlântica.
Diversos tipos de orquídeas e bromélias, cactos, begônias, trepadeiras
e sempre-vivas, que podem ser apreciadas de abril a agosto. A
variedade de animais também é imensa, principalmente as aves, que
são mais de 250 espécies. “Nas matas chapadenses também vivem
o tamanduá- bandeira, o macaco-prego, a jaguatirica e muitos outros
animais”. Escalada, canoagem, trekking, rapel, tirolesa são algumas das
atividades de aventura que podem ser feitas por lá. (GUIA CHAPADA
DIAMANTINA, 2012).

FIGURA 15 – CHAPADA DIAMANTINA

FONTE: Freitas (2012)

b) Chapada dos Veadeiros (Goiás) – (figura a seguir) fica no cerrado,


em cinco municípios: Alto Paraíso, Cavalcante, Colinas do Sul, São
João D’Aliança e Teresina. Abriga o Parque Nacional da Chapada
dos Veadeiros, reconhecido como Patrimônio Natural Mundial pela
Unesco. É um local rico em flora e fauna, com trilhas entre serras,
rios, canyons, cachoeiras e águas termais. É um dos pontos do planeta
que reflete a luz do sol com maior intensidade, visto do espaço por
suas formações de quartzo que compõem a geologia da região, a mais
antiga do continente e uma das mais antigas do planeta (CHAPADA
DOS VEADEIROS, 2012).

65
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO

FIGURA 16 – CHAPADA DOS VEADEIROS

FONTE: Chapada dos Veadeiros (2012)

c) Chapada dos Guimarães – a pouco mais de 70 km de Cuiabá (MT).


As principais atrações encontradas na região fazem parte do Parque
Nacional da Chapada dos Guimarães. Estrutura de apoio como guias,
lojas e centro de informações turísticas, com banheiro, está à disposição
do turista. Cachoeiras, trilhas e a maior caverna de arenito do Brasil
(cerca de 1.400 metros de comprimento, a Caverna Aroe Jarí - com
várias piscinas, como a Lagoa Azul – figura a seguir). Outro atrativo
é o Mirante Geodésio, local equidistante entre os oceanos Atlântico e
Pacífico, com visual belíssimo e, dizem os esotéricos, um “corredor
eletromagnético”.

FIGURA 17 – CAVERNA AROE JARÍ – LAGOA AZUL, CHAPADA DOS GUIMARÃES

FONTE: Espaço Turismo (2012)

Já sabemos que todos os espaços turísticos devem ser sustentáveis. Nas


chapadas, montanhas, serras ou qualquer outro tipo de formação, o conceito
permanece.

66
RESUMO DO TÓPICO 5
Com o estudo deste tópico:

● Estudamos o conceito de relevo e concluímos que ele é o objeto de estudo da


Geomorfologia.

● Entendemos que o relevo é a representação das diversas formas da crosta


terrestre.

● Refletimos que o relevo caracteriza os tipos de turismo.

● Apontamos que os destinos turísticos internacionais atraem turistas devido à


configuração de seu relevo.

● Identificamos que os gestores de turismo devem observar o relevo como o


elemento decisivo na identificação de tipos de turismo de um determinado
destino turístico.

67
AUTOATIVIDADE

1 O relevo é um dos fatores naturais que caracterizam o turismo local. Dessa


forma, apresente o conceito de relevo.

2 O Brasil, por ser um país de dimensões continentais, possui uma paisagem


diversificada, orientada pelos seus planaltos e planícies. Sendo assim,
caracterize a Chapada dos Guimarães.

68
UNIDADE 2

ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO


URBANO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer os conceitos e características de espaço urbano e turismo urbano;

• conhecer elementos urbanos, como equipamentos e mobiliários;

• aprender sobre revitalização de centros urbanos, especialmente para uso


turístico;

• conhecer estratégias de citymarketing e imagem de cidades;

• aprofundar-se em tipos de turismo urbano, como o de eventos e o cultural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o/a ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – ESPAÇO URBANO

TÓPICO 2 – TURISMO URBANO

TÓPICO 3 – TIPOS DE TURISMO URBANO

TÓPICO 4 – IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ESPAÇO URBANO

1 INTRODUÇÃO
O que é “turismo urbano”? É o que acontece num espaço urbanizado.
Mas o que é um espaço urbanizado? Já sabemos que o espaço geográfico é a
natureza modificada pelo homem. Pode-se dizer que o turismo urbano é aquele
realizado nas cidades. Nele estão inseridos o turismo cultural – e em muitos casos
o religioso –, o de negócios, o de eventos e outros.

2 CONCEITOS DE ESPAÇO URBANO


Já conhecemos, na Unidade 1 da disciplina, alguns tipos de espaço, você
se recorda?

Os espaços descritos por Beni (2001) são:

● espaço real: totalidade da superfície do planeta e a biosfera que o envolve;

● espaço potencial: destinar ao espaço real uso diferente do atual. Possibilidades


de uso de um território;

● espaço cultural: parte em que a ação do homem mudou a fisionomia original;

● espaço natural adaptado: espécies naturais sob as condições que o homem


fixou;

● espaço artificial: tudo o que foi feito pelo homem;

● espaço natural virgem: sem vestígios da ação humana;

● espaço turístico: resultado da presença e distribuição territorial dos atrativos


turísticos.

Conhecemos também os espaços descritos por Montejano (2001):

● espaço de influência heliotrópica e talassotrópica: o sol e as praias são os fatores


que desencadeiam a corrente turística;

71
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

● espaços naturais: motivação e atrativo são atrativos naturais, que permitem


estar em contato com a natureza e aproveitá-la para desenvolver atividades
relacionadas com este meio;

● espaços culturais: onde a história e a arte deixaram vestígios;

● espaços antropológicos: onde o homem desenvolveu uma série de atividades


culturais e antropológicas relacionadas com o artesanato, a gastronomia, o
folclore;

● espaços urbanos constituídos por núcleos urbanos grandes, médios ou


pequenos, com muitos núcleos turísticos (polinucleares ou multiproduto),
como é o caso de Paris, Londres, Nova York; ou mononucleares ou produto
único, com um núcleo turístico, a exemplo de cidades de peregrinação como
Lourdes, Fátima, entre outras.

Para Castrogiovanni (2000 apud SIVIERO, 2005, p. 9):

[...] a ordenação urbana compreende o processo de organização


dos elementos que compõem o espaço urbano de acordo com o
estabelecimento de relações de ordem, com base na construção de
uma hierarquia de valores, no caso, com o objetivo de facilitar o
desenvolvimento das atividades turísticas. A ordenação turística é a
busca conveniente dos meios existentes no espaço para o sucesso das
propostas relativas às atividades turísticas. A cidade é, portanto, o
espaço apropriado pelas sociedades, e este espaço deve ser visto como
um fator de evolução social, produzido e reproduzido constantemente.
As cidades são, ainda, partes representativas da complexidade do
espaço geográfico. Embora turismo e espaço não apresentem o
mesmo significado, ambos se complementam, e a reflexão sobre suas
características particulares permite uma futura e melhor compreensão
do chamado espaço turístico.

Segundo Boullón (2002, p. 79), “o espaço turístico [...] é a matéria-prima


do turismo. Este elemento do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a
infraestrutura turística, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país”.

De acordo com Steinberger (2001, p. 10):

O espaço urbano pode comportar territórios maiores ou menores do


que os limites da cidade. Maiores, quando o espaço urbano se espraia
e se confunde com o regional ou com o rural e adquire contornos
geográfico-administrativos, como o de uma bacia hidrográfica, uma
região metropolitana ou um município; menores, quando o espaço
urbano se relaciona a um bairro, uma comunidade, um assentamento
habitacional ou uma “tribo”.

Lynch (1997) analisa como os elementos físicos do espaço urbano influenciam


a imagem urbana – sem se esquecer de considerar que aspectos abstratos, como fatos
históricos, contribuam para a construção desta imagem. Ele propôs a classificação dos
elementos físicos do espaço urbano em cinco tipos, caracterizados no quadro a seguir.

72
TÓPICO 1 | ESPAÇO URBANO

QUADRO 8 – ELEMENTOS FÍSICOS DO ESPAÇO URBANO

ELEMENTO CARACATERIZAÇÃO
são os locais por onde as pessoas se deslocam na cidade
e, muitas vezes, são os elementos predominantes na sua
Vias imagem, em virtude da organização dos elementos em suas
estruturas e pela observação que as pessoas podem fazer da
cidade à medida que se deslocam nelas.
são elementos lineares que representam rupturas na estrutura
Limites física da cidade, podendo ser naturais ou desenvolvidos
pelos homens.
Bairros são regiões urbanas percebidas pelos cidadãos como lugares.
representam pontos estratégicos na cidade por onde as
Cruzamentos pessoas se deslocam e que podem, também, se transformar
em símbolos
configuram-se como referências externas ao observador,
Elementos marcantes
representando pontos de direção.

FONTE: Disponível em: <http://biblioteca.igc.ufmg.br/monografias/Turismo/2010/TICIANE%20


FLAVIA%20MARTINS%20DA%20CRUZ/tcc93.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2012.

Vamos discutir as características do espaço urbano e seu uso para o


turismo?

3 A CIDADE
A cidade é um fato histórico, geográfico e social. Surgiu muito recentemente,
no final da pré-história, há cerca de 6.000 anos.

As cidades são o resultado da interferência do homem no espaço ao


longo do tempo, revelando-se como o retrato de processos histórico-sociais que
dialogam com o seu cotidiano e com sua estrutura física. Cabe ressaltar, aqui, que
o tempo destas transformações não é estático, ou seja, as mudanças no espaço das
cidades continuam no presente (CARLOS, 2004).

FONTE: Disponível em: <http://biblioteca.igc.ufmg.br/monografias/Turismo/2010/TICIANE%20


FLAVIA%20MARTINS%20DA%20CRUZ/tcc93.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2012.

Na pré-história o homem vivia em estado selvagem, caracterizado por


uma economia de caça, pesca e coleta de alimentos, produzindo artesanato,
instrumentos de pedra lascada e ossos de forma rudimentar. Viviam em aldeias
móveis, mudando-se conforme a necessidade – eram nômades.

73
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Ao sair do estado selvagem para o bárbaro (neolítico, com o surgimento


de documentos escritos e protocidades – aldeias rurais), o homem passa a cultivar
o solo (irrigar, arar, selecionar sementes, perceber quais os melhores momentos
para a plantação, e desenvolveu técnicas agrícolas), domesticar animais, polir
pedras e fabricar objetos de cerâmica. Passa a colher excedentes agrícolas e torna-
se sedentário, passando a praticar o escambo (troca, permuta), pois a prática da
agricultura e do pastoreio no mesmo local torna-se incompatível e os pastores e
agricultores criam postos de troca de seus produtos, mas o aglomerado pré-urbano
ainda muda de lugar com a exaustão do solo com menor frequência. Para registrar
estas trocas (na falta de uma das mercadorias) surgiu a escrita, para representar
palavras e números das negociações. Para facilitar a troca surgiu a moeda.

A cidade surgiu quando se descobriu o uso dos metais (pelos pastores).


Assim, quem possuía armas mais poderosas que as de pedra (no caso, de metal)
dominou as populações agrícolas, pedindo tributos e subserviência em troca de
segurança (cidades fortificadas).

A cidade, ao mesmo tempo em que se constitui em uma nova técnica de


dominação, dá à produção organização, através da divisão e especialização do
trabalho.

São as formas de produção (agricultura, mineração, industrial etc.) que


ditam as organizações sociais, que por consequência ditam as organizações
espaciais. O homem age no meio, o meio é um sistema de ações (fluxos) e objetos
(fixos); no destino dos fluxos (demanda), criam-se fixos (oferta).

Antes de procurar diferenciar espaço urbano e espaço turístico, é


preciso primeiramente distinguir os conceitos de espaço urbano e
cidade. Segundo Santos (1988) e Lefébvre (1999), a cidade é a forma,
é a materialização de determinadas relações sociais, enquanto que o
espaço urbano é o conteúdo, é a materialização no espaço das próprias
relações sociais. Entretanto, não se pode fazer uma separação absoluta
entre espaço urbano e cidade. Souza (2003) faz referência a esta
interdependência: para ele a cidade é o concreto, o conjunto de redes,
enfim a materialidade visível do urbano, enquanto que este é o abstrato,
porém o que dá sentido e natureza à cidade (SIVIERO, 2005, p. 53).

A cidade, salienta Cavalcanti (2001) e Lynch (1997), é muito mais que


simplesmente um arranjo de objetos tecnicamente orientado, ela expressa no
lugar a existência das pessoas que ali vivem, moram, trabalham, se divertem,
pensam, se locomovem, produzindo nos espaços urbanos identidades muitas
vezes únicas. A identidade de uma cidade, sua originalidade, seus hábitos e
costumes aguçam o interesse do visitante a interpretar e conhecer tal espaço.
O espaço urbano é produto da interação entre agentes sociais, pertencentes
à iniciativa privada, ao poder público e à sociedade civil. Segundo Carlos
(1994), Lopes (1998), Souza (2005), tal interação ocorre para que a sociedade
possa produzir um espaço que atenda suas necessidades, visando ao
funcionamento do ciclo do capital e à produção humana. Desta feita também

74
TÓPICO 1 | ESPAÇO URBANO

o turismo se beneficia, consolidando-se como uma atividade de promoção do


desenvolvimento social e econômico.

FONTE: Aguiar et al. (2011, p. 12)

Segundo Ferrari (1991), as cidades crescem de duas maneiras:

a) Por urbanização difusa da periferia: área urbana invade a zona rural de


maneira desordenada, obedecendo em linhas gerais aos modelos orgânicos de
crescimento. Exemplo: modelos de círculos.

b) Por urbanização controlada: cidade cresce segundo uma estrutura regular,


concebida de forma espontânea ou de forma planejada, artificial.

Palhares (2008, p. 9) analisa os tipos de crescimento e observa que:

No crescimento por urbanização difusa da periferia, a cidade é


ampliada pelo aumento desordenado da região periférica, a área
urbanizada invade a zona rural. Na urbanização controlada,
a expansão pode ocorrer a partir de uma estrutura planejada;
crescimento planejado ou artificial; ou controlada pelos traços
urbanos (ruas ortogonais, por exemplo); crescimento espontâneo
ou natural. A maioria das cidades brasileiras tem o seu crescimento
de forma espontânea, o centro delas é comercial e financeiro, e os
subúrbios são formados com ausência de regras.

Cada época contou com cidades com características próprias: a cidade da


antiguidade; o burgo medieval europeu; a cidade industrial dos séculos XIX e XX;
e para alguns autores, a cidade pós-industrial.

Na Antiguidade, a cidade desempenhava três papéis principais:


primeiro, um papel militar, uma vez que, no Império Romano, o
recrutamento dos exércitos ocorria nas cidades. Segundo, uma função
administrativa e política. E por fim, uma função econômica, restrita
ao consumo e sem ligação com a produção, uma vez que esta estava
restrita às grandes propriedades rurais.
Na primeira metade da Idade Média, com o desenvolvimento do
feudalismo, as cidades sofreram mutações. A antiga vocação militar
declina, surgindo o castelo fortificado, cercado de muralhas e fossos,
que se torna o centro do poder, implantado principalmente nos
campos do norte da França.
A partir do século XII, e, sobretudo no século XIII, período em que
justamente ocorreu o que estamos chamando de ‘gênese do Estado
moderno’, aquele status quo sofreu uma reviravolta. Primeiramente
houve a integração das cidades no sistema monárquico nacional. A
principal mudança foi que as cidades se transformam, também, em
centros de produção, coisa que não eram na Antiguidade. Foi assim
que a Idade Média assistiu ao desenvolvimento do artesanato. Esta é
uma das características da cidade medieval. Ainda que ele já existisse
nas pequenas aglomerações, irá se difundir principalmente nas cidades
e utilizar – para moer os grãos e prensar os fardos de lã – a primeira

75
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

máquina desenvolvida no Ocidente: o moinho. Poderosos moinhos


hidráulicos, os primeiros a movimentar riachos, rios e grandes cursos
d’água. Só mais tarde, a partir do final do século XII, é que aparecem
os moinhos de vento. (LE GOLF, 2005, p. 23).

A seguir estudaremos os equipamentos urbanos que caracterizam as


cidades contemporâneas.

4 EQUIPAMENTOS URBANOS
Segundo a NBR 9284 (ABNT, 1986, p. 1), define-se equipamento urbano:
“todos os bens públicos ou privados, de utilidade pública, destinados à prestação
de serviços necessários ao funcionamento da cidade, implantados mediante
autorização do poder público, em espaços públicos e privados.”

A norma define como categorias:

- Circulação e transporte.
- Cultura e religião.
- Esporte e lazer.
- Infraestrutura.
- Sistema de comunicação.
- Sistema de energia.
- Sistema de iluminação pública.
- Sistema de saneamento.
- Segurança pública e proteção.
- Abastecimento.
- Administração pública.
- Assistência social.
- Educação.
- Saúde.

Vamos falar um pouco sobre os usos institucionais do solo urbano?

Instituição social é o complexo de ideias, padrões de comportamento,


normas de vida, relações entre pessoas que se destina a assegurar a unidade, a
continuidade e o desenvolvimento das comunidades ou sociedades, depois de
adquirirem formas estáveis tradicionais. Exemplos: casamento, a propriedade, a
igreja, a educação, a recreação, o lazer, o Estado, o exército etc.

Distinguem-se na instituição social dois aspectos:


76
TÓPICO 1 | ESPAÇO URBANO

a) O conjunto imaterial: as ideias, padrões, normas, regras, deveres e obrigações.

b) O conjunto material ou equipamento: é a materialização da instituição, é o


que lhe dá sobrevivência física. Como exemplo, a instituição educação possui
equipamentos característicos: escolas, laboratórios, bibliotecas etc.

Ao planejador interessa muito o conhecimento dos equipamentos


materiais das instituições para localizar e dimensionar corretamente os mesmos.

As áreas do espaço urbano ocupadas pelos equipamentos das instituições


denominam-se uso institucional do solo, sejam públicos ou privados.

A seguir são apresentados os usos institucionais mais comuns:

● Uso institucional educacional: escolas, universidades, faculdades, centros de


ensino, associações educacionais etc.

● Uso institucional social: creches, asilos, retiros, centros de ação social, centro
médico, hospitais, postos de saúde, pronto socorro, clínicas de recuperação,
maternidade, SPAs etc.

● Uso institucional cultural: centros culturais, bibliotecas, museus, cinemas,


teatros, conchas acústicas, espaços para shows, circos, planetários etc.

● Uso institucional cultual: templos religiosos, centros paroquiais e episcopais,


capelas, cemitérios etc.

● Uso institucional de lazer: conjunto de atividades realizadas objetivando o


divertimento, o repouso, o desenvolvimento físico e cultural desinteressados.
É um poderoso instrumento de integração social das populações.

De modo geral, no Brasil o governo preocupa-se com a recreação infantil,


ainda que na maioria das vezes sem nenhum planejamento quanto à localização
e dimensionamento, deixando o lazer de adultos a cargo da iniciativa privada
e excluindo a participação das classes mais pobres, embora tenhamos visto
mais recentemente algumas ações para a terceira idade, como, por exemplo, as
academias ao ar livre.

Existem diversos conceitos e classificações relativos a lazer, vamos dividi-


lo em três: ativo, educativo e contemplativo:

● Lazer ativo: atividades dinâmicas, caracterizadas pela participação ativa, livre e


espontânea do ser humano como agente do lazer. Exemplos de espaços: pátios
de recreio (playground), campos de jogos, estádios desportivos, arquibancadas
de esportes náuticos, parques, parques de diversão, parques temáticos, clubes
desportivos e sociais, autódromos, hipódromos etc.

77
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

● Lazer educativo: oferecem entretenimento e educação. Exemplos de espaços:


cinemas, rádio e TV, jardins zoológicos, jardins botânicos.

● Lazer contemplativo: espaços geralmente verdes destinados à meditação, ao


repouso, à admiração despreocupada, à observação. O participante, neste caso, é
agente passivo. Exemplos de espaços: jardins públicos, parques regionais (áreas
exclusivas), mirantes, reservas e parques ambientais, bosques naturais e artificiais,
áreas tratadas à beira de rios e lagos.

UNI

As áreas verdes públicas podem ser áreas de lazer, mas nem toda área de lazer
é verde. As áreas verdes devem constituir um sistema de integração do espaço urbano com
o sistema viário.

O caráter da paisagem urbana depende das relações de cheios e vazios,


constituídos por espaços construídos, espaços verdes e áreas de circulação. Os
parques de recreação devem se distribuir por todo o espaço urbano, uniformemente.

Para os grandes espaços de uso público não faz sentido termos jardins
sofisticados com alto custo de manutenção. Para esses espaços, por meio de
árvores, o verde atinge seus objetivos mais amplos dentro de custos baixos: com
vegetação de grande porte conseguem-se locais de menos ou mais sombras,
espaços mais abertos ou mais abrigados de ventos fortes, poeira, ruídos.

Não se pode esquecer a arborização de vias públicas, estacionamentos,


praças, considerando-se as condições de trânsito de veículos e de pedestres, de
pavimentação, das edificações, das redes aéreas de eletricidade ou lógica.

● Uso institucional administrativo: instituição Estado ou governo. Equipamentos:


municipais (prefeitura, câmara de vereadores, secretarias e departamentos
municipais), estaduais (palácio do governo, assembleia legislativa, tribunal de
justiça e fórum, central de polícia ou delegacia, presídios, cadeias e penitenciária,
corpo de bombeiros, secretarias de estado) e federais (polícia federal, repartições
ministeriais, guarnições militares). Naturalmente, a existência desses espaços
edificados vai depender da importância da cidade.

● Uso institucional de serviços públicos: saneamento básico, drenagem, coleta


de lixo, iluminação pública, telefonia, correios e telégrafos, transporte coletivo
etc. São executados e/ou explorados, direta ou indiretamente, pelo poder
público. Equipamentos: terminais urbanos de transporte coletivo, estações de
transbordo, rodoviárias, aeroportos, portos marítimos e hídricos, estações de
tratamento de água e esgoto, estações de energia elétrica, usinas, entre outros.

78
TÓPICO 1 | ESPAÇO URBANO

Os serviços públicos servem indiretamente ao turismo e conforme a


variação da demanda fazem-se necessárias ampliações, caso contrário prejudica
a atividade. Algumas deficiências nos serviços públicos não afetam o turista.

A análise destes equipamentos deve envolver seus aspectos quantitativos,


qualitativos, localizacionais, tendências de evolução, importância e dimensão
para o turismo.

QUADRO 9 – DESCRIÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS QUE ATENDEM INDIRETAMENTE AO TURISMO

SERVIÇOS
DESCRIÇÃO
PÚBLICOS

é fundamental não somente para a proteção da saúde, como


também para o desenvolvimento econômico, social e cultural local,
Abastecimento melhorando o conforto e a segurança coletiva. A água é matéria-
de água prima de muitas indústrias ou meio de operação, como para o
turismo, em que é indispensável para os hotéis e equipamentos
receptivos.

as águas servidas precisam ser afastadas para não poluir o solo, as


águas superficiais e freáticas, disseminando doenças, principalmente
em cidades da orla marítima e junto ao leito de rios. Além de poluir
e agredir o meio ambiente, provocam o risco constante à saúde do
Coleta e homem e a destruição da flora e da fauna, comprometendo a prática
disposição de de atividades de lazer e recreação. Assim, a coleta e disposição
esgotos de esgotos tem objetivos sanitários e econômicos (melhoria da
produtividade, conservação de recursos naturais, valorização de
terras e propriedades, implantação e desenvolvimento de indústrias
e equipamentos turístico-recreativos, como hotéis, colônias de
férias).

Energia
elétrica e contribui para a segurança dos equipamentos sociais, do tráfego
iluminação noturno de veículos e pessoas nos logradouros públicos.
pública

asseio e conforto da população por meio da remoção de resíduos


Limpeza
de espaços públicos e privados. Os padrões são: coleta, transporte
pública
e disposição final do lixo, evitando moléstias, mau cheiro etc.

deslocamento rápido, seguro, econômico e eficiente para


equipamentos sociais e de trabalho. Nas áreas de destinação
Transporte
turístico-recreativa e de interesse histórico, artístico e cultural, para
coletivo
manter o deslocamento, independentemente dos serviços receptivos
e da realização de tours pelas operadoras.

79
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

possibilita à população residente e flutuante a comunicação


rápida de emergência, como de serviços de assistência médica e
Comunicações de segurança pública, permitindo também comunicação postal,
telefônica, telegráfica e internet aos setores comerciais, industriais
e de turismo.

proporcionar à população a aquisição de gêneros alimentícios de


Abastecimento
boa qualidade a preços convenientes. Ex: feira livre.

Conservação
assegurar condições de tráfego nas vias públicas, transpor obstáculos
de
como rios, vales; proporcionar conforto através da diminuição de
logradouros
poeira, ruído.
públicos

sem condições de acesso e meio de transporte, o turismo não pode


existir. Se é precário, é mais um fator preocupante para o morador,
Sistema
para o turista e para o turista em potencial. Um exemplo de
viário e de
dificuldade que pode inibir o deslocamento pode ser uma ponte que
transportes
caiu e era o único acesso para determinada localidade ou, ainda, uma
rodovia extremamente movimentada e com alto índice de acidentes.

FONTE: Adaptado de: Beni (2001)

As estradas devem ser construídas para seu pleno aproveitamento (tipo de


pavimentos, largura transitável, normas de segurança e sinalização, levantamento
do tipo de veículo que nela trafegará, postos de abastecimento, locais para
alimentação, sem esquecer de ligar de maneira rápida regiões e a produção local).
Aliás, todos os elementos do transporte devem ser contemplados no processo de
planejamento, vias – ruas, estradas, avenidas; terminais (rodoviárias, aeroportos,
portos, píeres); veículos e força motriz (qual combustível possibilita a cada
veículo a movimentação). Um estudo importante sobre os modais de transporte
– terrestre, aéreo, aquaviário – deve ser feito durante o processo de planejamento
de um destino, localidade, região ou roteiro turístico.

No Brasil a maior parte da movimentação turística ocorre pelo modal


terrestre, mais especificamente pelo rodoviário. Devem ser tratados com a
importância necessária os diversos serviços intermediários relacionados com o
transporte rodoviário, como os postos de abastecimento de combustíveis, centrais
de informações turísticas, restaurantes, paradouros, borracharias, entre outros.
Além disso, a intermodalidade no destino é fundamental para moradores e
turistas, facilitando o deslocamento. Imaginemos alguém que vá andando até o
ponto de ônibus, salte no terminal urbano e já consiga entrar num trem ou metrô.
Em muitos aeroportos de grandes cidades, as pessoas já embarcam diretamente
do aeroporto em trens.

80
TÓPICO 1 | ESPAÇO URBANO

Saímos um pouco das questões de transporte internas à cidade somente a


título de informação, mas tais estudos sobre os elementos do transporte podem
ser realizados também no ambiente da cidade, em especial durante as discussões
relativas a zoneamento do município.

5 MOBILIÁRIO URBANO
São aqueles “objetos” que fazem parte das utilidades urbanas, como
lixeiras, fontes, bancos, floreiras, árvores, entre outros, e que podem ter função
somente estética na paisagem urbana.

De acordo com o Dicionário de Urbanismo (FERRARI, 1991, p.128),


mobiliário urbano é o “conjunto de elementos materiais localizados em logradouros
públicos ou em locais visíveis desses logradouros e que complementam as funções
urbanas de habitar, trabalhar, recrear e circular”.

No Brasil, a Lei no 10.098/2000 (BRASIL, 2000) define o termo mobiliário


urbano como um “conjunto de objetos presentes nas vias e espaços públicos,
superpostos ou adicionados aos elementos da urbanização ou da edificação”.

Já para a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 9283,


mobiliário urbano são “todos os objetos, elementos e pequenas construções
integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados
mediante autorização do poder público em espaços públicos e privados” (ABNT,
1986, p.1).

Vejamos alguns exemplos práticos:

● Sinalização: trânsito (placas, pórticos, totens, semáforos e lombadas) e indicativa


(urbana, turística e comercial).

● Telefonia: cabines, armários e orelhões.

● Coletor de lixo.

● Bancos: praças, bulevar, calçadões, mirantes.

● Protetores de árvores: golas, tutores.

● Pisos: calçadas, ruas de pedestres, escadarias.

● Comércio de espaço público: floricultura, banca de revista, quiosque.

● Transporte: abrigo de ônibus, ponto de táxi, cais/trapiche.

● Sanitários.

81
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

● Bebedouros.

● Floreiras.

● Postes: sinalização, luminárias.

● Caixas de correio.

● Segurança: cabine de trânsito, salva-vidas.

● Playground: brinquedos.

● Parques: brinquedos, equipamentos esportivos.

● Utilidade pública: relógios, termômetros, mapas.

● Agradabilidade estética: paisagem construída e os caminhos, facilidade de


fluxo de pessoas e veículos, serviços urbanos – água, esgoto, iluminação,
equipamentos de apoio (restaurantes, teatros...)

Segundo Passos e Emídio (2009, p. 21), “o desenho de uma cidade, e dos


elementos que a constituem, é a materialização de sua identidade e expressão cultural,
política e socioeconômica”. Ou seja, o mobiliário urbano é a “cara” da cidade.

82
RESUMO DO TÓPICO 1
No primeiro tópico da unidade você viu alguns conceitos e elementos
de espaços urbanos que servirão para os próximos tópicos da unidade. Além
disso, pudemos destacar:

● Os usos institucionais do solo e os equipamentos urbanos foram descritos e


explicitados, incluindo aspectos básicos que fazem parte da oferta turística,
como vias, abastecimento de água, serviço de coleta e tratamento de esgoto,
comunicação e transportes.

● Os mobiliários urbanos fornecem subsídios para a formação da imagem de


uma cidade e são muito importantes para o turismo.

83
AUTOATIVIDADE

Os usos institucionais das cidades são viabilizados pelos equipamentos


urbanos que compõem a paisagem local. Cite e descreva três tipos de usos
institucionais

84
UNIDADE 2 TÓPICO 2

TURISMO URBANO

1 INTRODUÇÃO
Falamos no tópico anterior sobre o espaço urbano, as cidades, os
equipamentos e o mobiliário urbano. Vamos entrar no turismo urbano? Mas o
que é turismo urbano? Conheceremos os conceitos de turismo urbano, além do
papel do turismo na chamada “regeneração urbana”.

2 CONCEITO DE TURISMO URBANO


Para Page (1995), turismo urbano pode ser descrito, de forma simples,
como a prática que os turistas têm de visitar cidades e utilizar os seus serviços.

Segundo Tyler, Guerrier e Robertson (2001), o turismo urbano trata dos


processos sociais de mudança e dos processos de decisão de políticas
que ditam a natureza dessa mudança e que identificam ganhadores
e perdedores. Trata-se da busca dos meios pelos quais a mudança
afeta os processos sociais da cidade e da necessidade de gerenciar a
inevitabilidade do turismo urbano (SIVIERO, 2005, p. 6).

Cabe ainda lembrarmos alguns conceitos relacionados com o local em que


o turismo é praticado:

a) turismo em áreas naturais (ecoturismo, turismo ecológico e turismo de


natureza);
b) turismo em espaços rurais (turismo rural);
c) turismo e cidade (turismo urbano).

Vamos falar um pouco mais sobre este último, “turismo e cidade”.

Esse tipo de turismo apresenta o maior fluxo turístico, atualmente,


gerando uma grande concentração de serviços relacionados a essa atividade,
como hotéis, hospitais, bancos, comércio, locadoras, parques, bares, restaurantes)
e com as melhores vias de acesso (rodoviárias, aeroportos, rodovias, portos).

O processo de urbanização, na grande maioria das vezes, é anterior aos


fluxos turísticos, pois o processo de urbanização está ligado a outras atividades
econômicas. Mas há casos em que a atividade turística gera um processo de

85
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

urbanização, na medida em que esta atividade vai se desenvolvendo, como nos


casos de Cancun (México), Las Vegas (Estados Unidos) e Porto Seguro (Brasil).
(CRUZ, 2003).

Segundo Cruz (2001, p. 24), existe uma diferença fundamental entre o


espaço urbano produzido pelo turismo e o espaço urbano. É que, “(...)
no primeiro caso, trata-se da criação de um novo espaço produtivo”. O
espaço urbano em si constitui-se suporte e, ao mesmo tempo, atrativo
para o turismo (SIVIERO, 2005, p. 9).

“Gerir o turismo urbano remete inevitavelmente à busca pela compreensão


dos processos de reestruturação e valorização do espaço urbano, com os desafios
de uma economia globalizada e competitiva verificados em um espaço dinâmico,
como o espaço urbano em questão.” (SIVIERO, 2005, p. 6).

As cidades assumem o papel de serem emissoras e receptoras. “Este


fenômeno intensificou-se a partir de 1970, data na qual as cidades deixaram de ser
somente polos emissores de turistas, o que ficou a dever-se, em parte, ao fato do
turismo se ter convertido num caminho para a inversão do declínio das mesmas”
(HENRIQUES, 2003, p. 38-39).

Trazendo para a questão turística, o turismo poderia ser pensado como uma
forma de urbanização orientada para o consumo de bens, de serviços e de lazer.

O turismo aparece, assim, como uma resposta aos processos de


pós-industrialização, intensificados nos anos 1990 em toda a Europa. Um
exemplo é o caso do Museu Gugenheim, localizado em Bilbao, Espanha (mais
especificamente no País Basco). O museu tornou-se um instrumento de atração
turística e de reinvenção da própria cidade num contexto de globalização.

Há uma diferença, segundo Pérez (2009), entre “cidades turísticas” e


“cidades com turistas”. No primeiro modelo, as “cidades turísticas” obedecem
a processos de “turistificação” e monumentalização que transformam a cidade
num espaço só orientado para o turismo, no qual os habitantes locais se
subordinam aos interesses do turismo. Um exemplo disto é quando os locais
e os comércios tradicionais são convertidos em locais só para visitantes, o
que implica um risco de tensões e conflitos entre locais e turistas. Além do
mais, estes tipos de cidades parecem-se cada vez mais umas às outras, fruto
também do processo de homogeneização mundial e do “fachadismo” ou
pura materialidade da fachada, que serve de suporte a novas hierarquias e
segregações espaciais.

Já uma “cidade com turistas” integra o turismo como mais uma atividade,
não de uma maneira monofuncional, mas sim polifuncional e multifuncional,
evitando, assim, os riscos de uma economia urbana de excessiva dependência à
atividade turística. Neste tipo de cidades o turismo é entendido como um efeito
colateral. O primeiro objetivo será sempre construir uma cidade habitável e o
resultado será atrair turistas que colaborem nesse objetivo.

86
TÓPICO 2 | TURISMO URBANO

Já ouvimos que “uma cidade boa para o turista deve ser uma cidade
boa para a população local”, certo?

Nesta perspectiva, podemos afirmar que “o melhor museu da cidade é


a própria cidade”. E, de qualquer forma, todas as cidades são históricas! Desde
as mais conhecidas até uma pequena cidade no interior.

FONTE: Adaptado de: Pérez (2009, p. 288-289)

Mas o que é um turista urbano? Pérez (2009) faz uma analogia com o
imigrante, dizendo que este último viaja muitas vezes para servir; já o turista,
para ser servido.

“O turista é um consumidor que consome ‘erres’ (recuperação, reabilitação,


recriação) e cidades ‘históricas’” (DELGADO, 2000; DE LA CALLE VAQUERO,
2002 apud PÉREZ, 2009 p. 289).

Cruz e Pinto (2008) nos contam que a relação entre cidade e turismo
esteve até há pouco tempo focada como espaço apenas emissor de turistas. Tal
pensamento foi formado nos anos 1950 e 1960, em virtude da urbanização do
mundo, com o estilo de vida urbano se tornando maioria na Europa e em parte
da América do Norte. O turismo era visto como uma fuga do urbano – que estava
ligado às indústrias, ao estresse.

Como nos colocam Cruz e Pinto (2008, p. 10):

A partir da década de 1970 começou a construir-se a imagem da


cidade que compatibilizava a emissão e atração de turistas. A cidade
enquanto destino turístico constituiu uma política com vista à
inversão do processo de declínio que muitas atravessavam. Os anos
80 e 90 consolidam o turismo urbano como atividade com impacto
importante na dinâmica econômica, geradora de emprego e riqueza,
revitalizadora da imagem e valorização funcional das cidades. Vários
fatores, como a revitalização de centros históricos, diversificação de
práticas culturais, interesse pelo patrimônio e urbanismo, procura de
animação, diversão e consumo, catapultaram a cidade para um lugar
destaque no turismo. As cidades podem assumir-se como um destino
turístico capaz de oferecer um grande leque de bens e produtos
turísticos.

Vamos ver o que Henriques (2003 apud CRUZ; Pinto, 2008, p.10) nos conta
sobre algumas tendências da atividade turística:

a maior parte das previsões na evolução do turismo revela um grande


otimismo relativamente à capacidade de expansão nos segmentos
associados ao turismo urbano: visitas a centros históricos, eventos
desportivos e culturais, visitas de incentivos e congressos e compras,
todos ligados aos novos paradigmas de viagens de curta duração
facilitadas pelo aumento de participação no mercado de companhias
aéreas das empresas de baixo custo/baixa tarifa.

87
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Vejamos os tipos de cidades turísticas propostas por Page (1995). Ele


dividiu as cidades turísticas urbanas “de acordo com os seus recursos patrimoniais,
históricos e culturais, bem como outros recursos locativos e a sua diversidade em
termos de prestação de serviços” (CRUZ; PINTO, 2008, p. 10).

Cidades Capitais e Capitais Culturais - Londres, Paris, Nova York, Roma.


Cidades Históricas dentro de Muralhas e Pequenas Cidades - Canterbury, York.
Grandes Cidades Históricas - Oxford, Cambridge, Veneza.
Áreas no Centro das Cidades - Manchester.
Revitalização de Frentes de Rio - Docas de Londres, Sidney Darling Harbour.
Cidades Industriais - Bradford.
Resorts Marítimos e Desportos de Inverno – Lillehammer.
Complexos de Diversão Turísticos - Disneyland, Las Vegas.
Centros de Serviços Turísticos Especializados – Lurdes.
Cidades de Arte/Culturais – Florença.

FONTE: Baseado em Henriques (2003, p. 44-45 apud CRUZ; PINTO, 2008, p. 10)

3 TURISMO E REGENERAÇÃO URBANA


Vamos iniciar esta parte com um texto da pesquisadora Gagliardi (2008, p.
2). O texto é bastante crítico e pode nos fazer refletir bastante:

Apropriado por determinadas políticas urbanas, o turismo torna-se


um ambíguo instrumento capaz de manter desigualdades e reforçar
dominação, na medida em que faz escolhas a despeito da relação
da população com sua cidade. Entretanto, o mesmo turismo pode
promover a revisão de valores históricos e afetivos, inserindo novos
sujeitos na história e considerando aspectos subjetivos e identitários
marginalizados. Ao possibilitar tais reencontros com a história,
considera-se, portanto, a propriedade crítica presente no turismo, já
que torna visíveis aspectos que o cotidiano esquece. Ele retorna às
cidades elementos que trazem, antagonicamente em si, a capacidade
de aproximar cidadãos de suas próprias cidades, ao mesmo tempo em
que, elegendo ícones como representantes identitários dos lugares,
pode selecionar sentidos da história em sutis processos de exclusão,
divisão de territórios e processos de privilegiamento de determinadas
identidades com a consequente exclusão de outras.
Por fim, destaca-se a característica de fenômeno apropriador presente
no turismo, já que o que quer que se venha chamar de turístico será
sempre uma invenção e, nesta dinâmica, ele pode assumir tantas
conotações quantas sejam as políticas que dele se utilizem. No contexto
da reabilitação de centros históricos, se disséramos que as opções
políticas tendem a privilegiar o turista em detrimento ao citadino,
não se pode atribuir essa característica excludente como aspecto

88
TÓPICO 2 | TURISMO URBANO

inerente ao turismo. Da mesma maneira, produzir enclaves turísticos


com o discurso de que são necessários para satisfazer as demandas
contemporâneas por um lazer seguro é excluir deste universo todas
as outras possibilidades ainda não realizadas. Sua capacidade de
apropriar-se dos espaços dando a eles novos e múltiplos significados o
tornam um fenômeno cujos mecanismos estão a ser apreendidos e cujo
sentido dependerá sempre do ambiente onde ocorre e dos objetivos
de quem o promove, sem esquecer que, em algum grau, há sempre o
imprevisível.

Segundo o Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas


Sociais (2012):
Cinco características básicas devem estar presentes nas intervenções
de revitalização de centros urbanos:
a) Humanização dos espaços coletivos produzidos.
b) Valorização dos marcos simbólicos e históricos existentes.
c) Incremento dos usos de lazer.
d) Incentivo à instalação de habitações de interesse social.
e) Preocupação com aspectos ecológicos e
f) Participação da comunidade na concepção e implantação.

Para o mesmo instituto são diversos tipos de intervenção possíveis, dentre


os quais destacam-se:

a) Reabilitação de áreas abandonadas.


b) Restauração do patrimônio histórico e arquitetônico.
c) Reciclagem de edificações, praças e parques.
d) Tratamento estético e funcional das fachadas de edificações,
mobiliário urbano e elementos publicitários.
e) Redefinição de usos de vias públicas.
f) Melhoria do padrão de limpeza e conservação dos logradouros.
g) Reforço da acessibilidade por transporte individual ou coletivo,
dependendo da situação.
h) Organização das atividades econômicas (INSTITUTO DE ESTUDOS,
FORMAÇÃO E ASSESSORIA EM POLÍTICAS SOCIAIS, 2012).

Pense num centro histórico. Pode ser São Paulo, Rio de Janeiro, Recife,
Fortaleza ou ainda outra grande cidade brasileira. Além de construções antigas
– geralmente uma empresa, uma praça, o comércio antigo, muitos veículos,
paisagem cinzenta, podemos pensar também em pichações, usuários de drogas,
sem-teto, certo? Concordamos que todo centro histórico guarda muita história e,
para o turista – especialmente o turista “de experiência” –, é “um prato cheio”.
Nesta parte vamos falar um pouco sobre as revitalizações de centros urbanos.

Os centros históricos das grandes cidades começaram a ficar abandonados


em meados da década de 1960, em virtude de processos de planejamento urbano
e aspectos econômicos – especialmente baseados na indústria – que exigiam
maiores espaços. Os centros das cidades eram espaços com terrenos mais caros e
suas construções, muitas vezes, não poderiam comportar as novas ou reformadas
indústrias.

89
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Mas, e o centro? E os serviços que lá existiam? E o abandono da região? E


a criminalidade? O que fazer com tais espaços? No Brasil:

Há muitas razões que levaram a isto e a principal foi a política


habitacional do país, que sempre privilegiou o financiamento para novas
moradias, esquecendo-se da solução de reformar e da moradia de segunda
mão. Isto provocou a procura por terras de menores custos, localizadas nas
periferias das cidades.

[...]

Para os setores de menor renda, a alternativa do loteamento ou conjunto


habitacional (lotes, apartamentos ou casas próprias) nas periferias consagrou-
se como o modelo hegemônico, justificado pelo preço mais barato dos terrenos
na franja externa e pela impossibilidade dos setores de menor renda arcarem
com os custos dos aluguéis nas áreas mais consolidadas.

[...]

Outro fator que colabora com o esvaziamento de atividades do centro


urbano é a alteração dos padrões de consumo, com o surgimento, por exemplo,
dos shoppings centers e seus fartos estacionamentos.

[...]

O automóvel é um dos principais meios catalisadores dessas profundas


alterações. Durante a década de 1970, por exemplo, várias cidades investiram
em calçadões para pedestres nas áreas centrais, servidas pelo transporte
coletivo. Paralelamente foram feitos investimentos em aberturas de vias para os
automóveis interligando bairros e novas centralidades, propiciando a fuga da
parcela mais abastada da população da zona central tradicional.

[...]

O fenômeno do esvaziamento é bastante complexo e cada cidade


tem suas peculiaridades. Porto Alegre, por exemplo, não sofreu um forte
esvaziamento de habitações. Este centro apresenta algumas áreas mais
degradadas, mas ainda é local de moradia e eventos culturais de um número
expressivo de habitantes.

Lá o centro sofre com problemas como poluição sonora, visual,


atmosférica, o que pode descaracterizar a região, possível de, mais tarde, se
tornar uma área vazia.

Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, apesar de possuírem problemas


semelhantes no que diz respeito ao esvaziamento e subaproveitamento
de seus patrimônios edificados, além de questões relativas ao comércio

90
TÓPICO 2 | TURISMO URBANO

ambulante e moradores de rua, apresentam e devem ter formas de intervenção


completamente diferentes.

[...]

Atualmente, as seguintes cidades elaboram seus planos de reabilitação


de centros com o apoio técnico e financeiro do Ministério das Cidades: São Luís
(MA); Recife e Olinda (PE) em projeto integrado; Porto Alegre (RS); Salvador
(BA); Belo Horizonte (MG); Natal (RN); Fortaleza (CE); Vitória (ES), além de
Amparo e Piracicaba (SP), Pelotas (RS), Aracaju (SE).

FONTE: Brasil (2005, p. 13-15)

A participação comunitária em tais processos é fundamental. Para


Rischbieter (2007, p. 37):

Tem-se visto diversos trabalhos, que partem de boas ideias e propósitos


promissores, naufragarem em descrédito por negligenciarem a
comunidade para a qual ou na qual o projeto foi implementado. O
caso do Pelourinho, em Salvador/BA, foi estudado e analisado por
diversos autores, com diferentes enfoques que vão desde a questão
arquitetônica relacionada à revitalização do patrimônio, ao turismo,
passando pela questão cultural relacionada à mercantilização da
cultura. Reformado e revitalizado por uma intervenção que começou
em 1993, e que teve como objetivo explícito transformá-lo em polo de
atração turística, o Pelourinho, em Salvador (BA), é um dos casos mais
notórios de conflito entre população pobre e o poder público.

No final da década de 1970, a Inglaterra diagnosticou problemas nos


centros históricos, como:

● Declínio econômico – taxas de desemprego elevadas e decadência industrial.

● Declínio físico – falta de qualidade do alojamento e abandono dos edifícios.

● Problemas sociais – concentração de pobres.

● Minorias étnicas – aglomeração sem o necessário apoio.

● Causas de índole local – elevada taxa de desemprego.

A nova política descrita na “Inner Urban Areas Act”, de 1978, para a


Inglaterra, País de Gales e Escócia, inserida no “Urban Programme”, promovia a
regeneração urbana, cujos fins deveriam ser atingidos através de uma estratégia
de planejamento, em que o Estado liderasse o processo, mas que incluísse a
formação de parcerias, com incidência em programas, entre o setor público em
nível nacional e local, as empresas públicas, as agências de desenvolvimento e
o setor privado (MORRIS, 1997, p. 189).

91
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

[...]

Os objetivos a atingir com o referido programa eram:

● Reforçar a economia do centro da cidade com o fim de criar oportunidades


para os seus residentes.

● Melhorar o ambiente físico dos centros das cidades para torná-los mais
atrativos.

● Aliviar os problemas sociais.

● Assegurar um novo equilíbrio entre o centro da cidade e o resto da região


urbana, em termos de população e emprego.

FONTE: Ferreira (2003a, p.160-161)

E quais são as vantagens da reabilitação urbana? São várias:

● A reabilitação urbana é uma estratégia alternativa à destruição do


patrimônio arquitetônico urbano.
● Constitui uma terceira via entre a renovação e a expansão.
● Tem custos menores do que a expansão da cidade periférica.
● Trava e inverte o processo de obsolescência, física, funcional, de
imagem e de localização.
● Facilita a valorização dos edifícios, visto que, além de importância
histórica, são bens escassos.
● Permite responder aos problemas da deterioração dos tecidos
urbanos.
● Procura fazer a ponte entre o passado e o futuro.
● Proporciona eficácia financeira apesar dos custos inerentes à sua
realização e manutenção.
● Facilita a revitalização que permite a utilização ativa da área.
● Concorre para a manutenção de elementos do estilo de vida local –
densidade elevada, contatos pessoa a pessoa e utilização mista do solo.
● Melhora o ambiente urbano e cria uma imagem positiva, que atrai
investidores, residentes e visitantes, o que permite a rentabilização
econômica de espaços e edifícios.Os atuais centros das cidades
guardam um conjunto apreciável de edifícios antigos que devem ser
reabilitados para o desempenho de novas funções. A preservação
da identidade e a manutenção da diversidade social e econômica
exigem uma ocupação permanente dos imóveis, quer com atividades
tradicionais, quer com novas funções, de modo que as antigas e as
novas se misturem. FERREIRA (2003a, p.179-180).

A seguir tem-se o desdobramento desta reflexão, que visa compreender a


relação entre o turismo e a regeneração urbana.

92
TÓPICO 2 | TURISMO URBANO

4 E O TURISMO NA REGENERAÇÃO URBANA?


A partir dos anos 80, o turismo passou a desempenhar um papel de
relevo na regeneração dos centros históricos das cidades industriais
britânicas [...]. Embora se tivesse generalizado a ideia de que o turismo
constituía um suporte muito considerável para a regeneração dos
centros históricos, os estudos desenvolvidos não manifestavam uma
visão integrada dos temas em análise (FERREIRA, 2003a, p. 170).

Alguns impactos do turismo na regeneração urbana são listados a seguir:

QUADRO 10 – IMPACTOS DO TURISMO NA REGENERAÇÃO URBANA

● As cidades são destinos turísticos “naturais”.


● O turismo é muitas vezes complementar das outras funções,
como centro de serviços, local de encontro e sede do governo.
● A força de trabalho é local.
Impactos positivos
● O turismo é uma atividade relativamente “limpa”, quando
comparado com as tradicionais atividades industriais
(produtiva e extrativa).
● Ajuda a diversificar a economia.

● Os preços dos terrenos podem ser forçados a subir.


● Os salários podem subir.
● Desenvolve uma procura excessiva, se não forem tomadas
medidas cautelares.
Impactos negativos ● Os espaços passam a ser muito disputados, ficando por
vezes como que a prêmio.
● As lojas para turistas podem ser mais rentáveis, pelo que
a oferta tradicional, para satisfazer as necessidades locais,
tende a desaparecer.

FONTE: Beckman (2008, p. 8)

Diante desta perspectiva Ferreira (2003a, p. 180) aponta como exemplo de


regeneração urbana a seguinte atitude:

No bairro de Soho, em Londres, a reabilitação teve início com a


nova procura de produtos e serviços, por parte de membros da nova
classe média, que conduziu ao aparecimento de restaurantes e lojas
especializadas, os quais, por sua vez, atraíram firmas ligadas às artes
e às indústrias culturais, seguindo-se por fim a ocupação para fins
residenciais.
[...]

93
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Esta mensagem foi transmitida através da mídia, enquanto se foram


instalando as firmas de publicidade, de relações públicas, as indústrias
culturais ligadas à produção de filmes e à edição de livros. Mais tarde,
e já por pressão dos moradores, os equipamentos e as atividades de
lazer e entretenimento (FERREIRA, 2003a, p. 180).

Liverpool – terra dos Beatles – “utilizou como estratégia para a sua


regeneração a música” (FERREIRA, 2003a, p. 177). Manchester, grande cidade
industrial, “conseguiu desenvolver uma oferta baseada na indústria cultural
cinematográfica, através da criação de um itinerário denominado Manchester’s
Hollywood of the North, que permite reconstruir a imagem da cidade através do
seu passado e do seu presente cinematográfico [...]” (FERREIRA, 2003a, p. 177).

Vindo para a América do Sul, podemos citar a região de Puerto Madero,


em Buenos Aires. Vieira e Castrogiovanni (2010, p. 17) informam que sua
revitalização:

[...] iniciou-se em 1989, quando a Corporación Antiguo Puerto Madero


S.A. foi fundada, assumindo o domínio da área e a revitalização do
local. Em 1991 iniciaram-se as obras da primeira fase, constituindo 16
docas na borda oeste dos quatro diques. As construções da segunda
fase, por sua vez, iniciaram-se no ano de 1996, na grande área da borda
leste dos diques; nesse mesmo ano, essas duas áreas foram instituídas
como o bairro Puerto Madero.

Região portuária, com alto índice de criminalidade, atualmente é um dos


principais atrativos turísticos da cidade, contando com dezenas de restaurantes
de alto nível, como o famoso “Cabaña Las Lilas”, e monumentos imponentes.
Embora existam muitas críticas – falta de participação da comunidade no processo,
fragmentação, distanciamento das origens do espaço, empreendimentos focados
no turista ou no portenho de alto poder aquisitivo etc.

O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, é outro exemplo.


Construído na Praia de Iracema em 1999, tradicional região turística do município
e próxima de uma grande favela, o Centro Dragão do Mar, que possui museus,
salas para exposições e outros eventos e cinemas, dentre outros espaços (são mais
de 30 mil metros quadrados), gerou diversos empregos, possibilitou a restauração
de casarios históricos (a partir de leis de incentivo) e agregou possibilidades
aos atrativos da capital cearense – que tem no clima, no sol, na praia e no mar
seus principais geradores de fluxo turístico. De acordo com Carneiro e Falcão
(2007), 83% dos moradores de uma favela vizinha ao empreendimento disseram
conhecer atrações gratuitas disponíveis no Centro Dragão do Mar.

94
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico abordamos:

● Alguns impactos – positivos e negativos – da regeneração urbana e seu uso


para o turismo, com casos que ocorreram no mundo e no Brasil.

● Problemas de esvaziamento, empobrecimento e declínio de centros urbanos


foram e são uma realidade em boa parte das cidades.

● Existe uma necessidade de se fazer algumas coisas para amenizar os problemas


– moradia, drogas, violência urbana, desemprego, entre outras ameaças e fatos
negativos. Mas não é simples. Envolvem muitas pessoas, recursos financeiros,
interesses públicos e privados, mudanças nas funções anteriores dos edifícios
antigos (gerando a descaracterização) – ao mesmo tempo em que as soluções
podem trazer muitos benefícios a tais áreas. O assunto é delicado e não existem
soluções prontas, uma vez que cada local possui suas próprias realidades.

95
AUTOATIVIDADE

A prática da atividade turística gera modificações no cenário urbano. Cite três


impactos positivos e três negativos do turismo sobre o espaço urbano.

96
UNIDADE 2 TÓPICO 3

TIPOS DE TURISMO URBANO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico iremos abordar alguns tipos de turismo urbano. Optamos
pelos principais em termos de movimentação no mundo, como o cultural, o
religioso e o de eventos.

2 TURISMO CULTURAL
Vamos falar de cultura? Mais especificamente de turismo cultural?
Quando se fala de turismo cultural, este é realizado, principalmente, nas cidades,
certo? Portanto, pode ser considerado um tipo de turismo urbano.

O turismo cultural pode ser compreendido como todo movimento


de pessoas motivado por atrações culturais fora dos seus lugares
normais de residência, com a intenção de adquirir novas informações
e experiências para satisfazer suas necessidades culturais. Ao longo
dos anos o turismo cultural vem se revigorando, intensificando
e diversificando equipamentos e serviços, de modo a alentar a
diversidade cultural. (BRENNER, 2004).

Gallicchio (2001, p. 61) afirma que “ao turismo cultural com perspectiva
antropológica importa a identidade e o cotidiano local, promovendo o
intercâmbio e a experiência como uma espécie de estranhamento, de aventura
exótica”, viabilizando uma interação cultural.

Neste caso, quando falamos de turismo cultural, nos referimos aos


interesses concretos que determinados turistas têm ao visitar e conhecer certos
lugares e adentrar no patrimônio humano e cultural de outros países e regiões.
O turismo cultural se relaciona intimamente com a vida cotidiana do destino
turístico que se quer conhecer. Para Moletta (1998), turismo cultural é o acesso
à cultura, história e o cotidiano de uma comunidade. Em estudos feitos sobre o
turismo cultural, Andrade (1995) afirma que as características básicas deste tipo
de turismo não se expressam pela viagem em si, mas por suas motivações, cujos
alicerces se situam na disposição e no esforço de conhecer, pesquisar e analisar
dados, obras ou fatos, em suas variadas manifestações. A Carta Internacional
sobre turismo cultural - ICOMOS (Comitê Científico Internacional de Turismo
Cultural) define turismo cultural da seguinte forma:

97
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo,


entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios histórico-
artísticos. Exerce um efeito realmente positivo sobre estes, tanto
quanto contribui para satisfazer seus próprios fins - a sua manutenção
e proteção. Esta forma de turismo justifica, de fato, os esforços que
tal manutenção e proteção exigem da comunidade humana, devido
aos benefícios socioculturais e econômicos que comporta para toda a
população implicada (ICOMOS, 1976).

FONTE: Rischbieter; Dreher (2006, p. 7-8)

Mas o que é patrimônio cultural?

Para Pellegrini Filho (1997), podemos definir como patrimônio cultural


o amplo conjunto de produções ou manifestações voluntárias, individuais ou
coletivas, que expressam as crenças, costumes, tradições e conhecimentos de
um determinado grupo social ou nação.

[...] O termo “patrimônio cultural” não se restringe apenas aos


monumentos arquitetônicos e, por isso, sua conservação não deve ser realizada
somente pelo poder público. [...]. Desse modo, devemos incluir sob o termo
“patrimônio cultural” não só os monumentos arquitetônicos de cunho histórico,
mas, também, todas as representações e produções culturais produzidas pelo
homem.

Segundo Pellegrini Filho (1997), em 1972, numa conferência realizada


pela Unesco em Paris, definiu-se e especificou-se definitivamente o que é
“patrimônio cultural” em nível mundial:

1. Monumentos: obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais,


elementos ou estruturas de caráter arqueológico, inscrições, cavernas e
grupos de elementos que tenham um valor universal excepcional do ponto
de vista da história, da arte ou da ciência.

2. Conjuntos: grupos de construções, ilhadas ou reunidas, cuja arquitetura,


unidade e integração na paisagem lhes deem um valor universal excepcional
do ponto de vista da história, da arte ou da ciência.

3. Lugares: obras do homem ou obras conjuntas do homem e da natureza,


assim como zonas incluindo sítios arqueológicos que tenham um valor
universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou
antropológico.

A essas definições se deve acrescentar outra, de oito anos antes, em que


a Unesco definia o que se constitui em “bem cultural”:

98
TÓPICO 3 | TIPOS DE TURISMO URBANO

“Se consideram bens culturais os bens imóveis e imóveis de grande


importância no patrimônio cultural de cada país, tais como as obras de arte
e de arquitetura, os manuscritos, os livros e outros bens de interesse artístico,
histórico ou arqueológico, os documentos etnológicos, os espécimen-tipos da
flora e da fauna, as coleções científicas e as coleções importantes de livros e
arquivos, incluindo os arquivos musicais.” (13ª Reunião da Unesco, Paris, 21/
nov./1964).

FONTE: Disponível em: <http://cms-oliveira.sites.uol.com.br/patrimonio-01.html>. Acesso em:


28 abr. 2012.

UNI

Resumindo: O patrimônio cultural é constituído por bens materiais e imateriais,


que foram herdados e são transmitidos a gerações futuras. Os bens materiais, concretos,
podem ser móveis (obras de arte e artesanato) e imóveis (igrejas, praças, monumentos).
Enquanto que os bens culturais imateriais são caracterizados pelas tradições, expressões,
línguas, festas, saberes, dentre outros aspectos intangíveis.

Vejamos um aspecto paradoxal do turismo cultural, descrito por Brenner


(2004):

A singularidade dos espaços naturais e as diferenças culturais marcadas


pelo patrimônio material e imaterial edificam os pilares do turismo
cultural e constituem o grande atrativo para o desenvolvimento
turístico local.
Se por um lado o turismo cultural reafirma identidades locais, ao
promover uma oferta diferenciada, essencialmente baseada em
informações e representações decorrentes do resgate da memória
da comunidade local, por outro lado impulsiona a evolução do
sistema cultural local, ao promover o contato entre diferentes
culturas, evidenciando novos elementos culturais que serão ou não
incorporados pela comunidade.
Em muitos casos o crescimento do turismo está afeto à deterioração
do patrimônio e à degradação ambiental. Entretanto, um
desenvolvimento turístico norteado pela sustentabilidade ambiental
e social pode garantir a preservação do ambiente e da história local,
além de permitir às comunidades se apropriarem do conhecimento de
seus bens patrimoniais.
O turismo cultural sustentável não somente reconhece o valor
da diversidade cultural, senão que considera indispensável o
reconhecimento dos direitos das culturas anfitriãs dizer não ao
turismo ou de impor-lhes princípios e diretrizes.

No quadro a seguir é detalhada a oferta de turismo cultural e suas atrações.

99
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

QUADRO 11 – RELAÇÃO TURISMO CULTURAL E SUAS ATRAÇÕES

- O maior atrativo para os turistas culturais.


- Representa uma cultura através de vários elementos, imagens,
objetos e símbolos.
Patrimônio - Mostra a identidade cultural de um grupo humano.
cultural - Sítios históricos e naturais (ex.: centros históricos).
- Sítios arqueológicos.
- Monumentos.
- Museus.
- Atraem visitantes pelo seu atrativo histórico, artístico ou literário.
Lugares de - Lugares de acontecimentos como batalhas, revoluções etc.(Laguna,
recordação e Santa Catarina).
memórias - Lugares que recordam a vida de artistas ou intelectuais (ex.: Viena,
Freud).
- Servem para alargar as estadias dos turistas (ou podem ser o atrativo
em si).
Artes - Ópera, dança, teatro, música etc.
- Festivais famosos: Rock in Rio, Loolapalooza, Edimburgo etc.
- Teatros como o Scala de Milão, a Ópera de Viena ou Sidney etc.

FONTE: Disponível em: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_10419/artigo_sobre_


turismo,_patrimonio_e_desenvolvimento_em_cabo_verde>. Acesso em: 28 abr. 2012.

Para Margarita Barretto, um dos graves problemas do turismo baseado


no patrimônio histórico-arquitetônico é sua falta de planejamento.

Como condição básica para o aproveitamento turístico de prédios


e construções (ou ruínas) históricas, deve haver o cuidado com os seguintes
pontos:

● preservação do prédio original (fachada);

● adoção de políticas coerentes de administração do bem patrimonial;

● restrição do número de visitantes (avaliação rigorosa da capacidade de


carga).

Após o estabelecimento destas precondições, também é preciso que


se siga uma certa ordem na elaboração e planejamento dos roteiros históricos
para exploração turística:

1. pesquisa fundamentada cientificamente sobre a história do monumento ou


do conjunto de monumentos que se pretende incluir no roteiro;

100
TÓPICO 3 | TIPOS DE TURISMO URBANO

2. pesquisa sobre o cotidiano da comunidade que abriga o monumento e sua


relação cotidiana com ele (história oral/ crônicas);

3. elaboração de um roteiro que mantenha uma sequência espaço-temporal


lógica;

4. estudo detalhado sobre a capacidade de carga dos locais a serem visitados no


roteiro, incluindo avaliações técnicas (feitas por engenheiros e arquitetos);

5. estudo sobre a acessibilidade/deslocamento entre os monumentos incluídos


no roteiro, levando-se em consideração a existência de vias de acesso,
pavimentação, necessidade de uso de veículos especiais, possibilidade de
deslocamento a pé etc.;

6. contratação de guias/monitores com formação (de preferência acadêmica)


nas áreas de história, arte ou arquitetura, pois a profundidade e fidelidade
de informações históricas e artísticas são as bases de um bom desempenho
do roteiro;

7. conhecimento da legislação relativa ao tombamento de monumentos


arquitetônicos.

FONTE: Disponível em: <http://cms-oliveira.sites.uol.com.br/patrimonio-03.html>. Acesso em:


28 abr. 2012.

Para Swarbrooke, o turismo cultural não pode ser considerado uma


atividade sustentável, especialmente pelo motivo de que, de modo geral, sua
organização não se dá com a participação da população local, sendo imposta
por ‘planejadores’ e operadores da área turística.

Da maneira como está organizado atualmente, o ‘sistema’ de turismo


cultural é composto pelos setores público e privado e pelo voluntariado
(Swarbrooke se refere à realidade europeia), sofrendo variações de acordo com
as regiões geográficas em que ocorre, concentrando-se preferencialmente nas
áreas urbanas.

É possível identificar dois principais tipos de ameaças ao turismo


cultural:

1. o conjunto de pressões existente sobre a diversidade cultural (onde se


incluem a homogeneização da cultura em nível mundial; a redução das
motivações para se conhecer outras culturas; o aumento da ênfase dada à
educação baseada no ensino técnico e não no ensino humanista em toda
a Europa; a tendência a preservar-se culturas antigas em detrimento de
culturas emergentes; a crescente transformação das áreas rurais em regiões
de férias sazonais devido ao êxodo rural);

101
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

2. o conjunto de pressões existentes sobre o futuro do turismo cultural


(incluindo a concorrência de outras atividades de lazer; o constante risco de
sobrecarga do turismo cultural; a tendência de padronização do 'produto
turístico' cultural, a falta de qualidade no 'produto turístico' cultural; as
questões ligadas à segurança; a excessiva comercialização de 'produtos
turísticos' culturais, que leva-os a uma exaustão mercadológica).

Para Swarbrooke, o turismo cultural ainda não pode ser considerado


uma atividade sustentável por uma série de fatores, tais como a superutilização
de sítios culturais e localidades, a falta de controle destas atividades pela
população local, a perda de autenticidade dos bens culturais, a ‘fossilização’
de culturas e a tendência de se evitar a abordagem de temas polêmicos e/
ou moralmente problemáticos, tal como a pobreza ou os conflitos étnicos,
encobrindo-os.

Para que o turismo cultural se torne uma atividade mais sustentável,


Swarbrooke propõe algumas abordagens potenciais:

1. o uso de antimarketing, com o objetivo de não sobrecarregar o acesso a locais


cuja sobrevivência depende da conservação física, tal como monumentos
históricos e eventos culturais cuja importância para a população local é
muito grande;

2. o incentivo de iniciativas locais, através das quais a população local se engaje


em atividades econômicas e culturais voltadas para o turismo;

3. a implantação de projetos inovadores no setor público;

4. a celebração e o incentivo de culturas emergentes, especialmente aquelas


intelectualizadas e urbanas, ao invés de um direcionamento único para a
cultura popular tradicional;

5. a maximização consciente, em primeiro lugar, de benefícios para a população


local, sejam eles sociais ou econômicos;

6. a cobrança de um preço justo pelo acesso aos bens culturais, de modo que
sua exploração turística não fique direcionada apenas aos turistas de maior
poder aquisitivo.

FONTE: Disponível em: <http://cms-oliveira.sites.uol.com.br/patrimonio-06.html>. Acesso em:


28 abr. 2012.

O turista atual mostra um encantamento maior por produtos de


dimensão cultural dos destinos que seleciona para seu tempo de lazer.
Autenticidade, tradição e patrimônio são valores que caracterizam e
diferenciam os destinos turísticos, indo ao encontro dos interesses de
uma clientela cada vez mais diversificada e exigente. Por isso, novas

102
TÓPICO 3 | TIPOS DE TURISMO URBANO

discussões apontam para a necessidade da utilização do patrimônio


cultural, não para ser simplesmente consumido pelo turista, mas para
servir-lhe de elemento de reflexão e de interação com a comunidade
visitada (FUNARI; PINSKY, 2001). Viajar é trocar, levar e buscar
conhecimento e “[...] a essência do turismo cultural está em envolver
o visitante em um novo universo de experiências.” (GOODEY, 2002,
p.137). O turismo cultural, ao propor ações de promoção e de divulgação
do patrimônio cultural, procura, simultaneamente, contribuir para o
fortalecimento das identidades culturais e para o desenvolvimento
econômico e social das comunidades locais (RISCHBIETER; DREHER,
2006, p. 8).

O turismo cultural deve estar comprometido e ser compatível com


a identidade local, com a preservação da memória e do patrimônio
cultural. Deve envolver desde a formatação dos produtos turísticos até
as suas implicações sociais em termos de identidade e memória, pois nos
mostra os laços históricos que unem o passado ao presente, permitindo
que o conhecimento deste passado sirva para a melhor compreensão
do presente, auxiliando no entendimento das transformações
econômicas, políticas, sociais e culturais. (RISCHBIETER, 2007, p. 80).

Não é fácil contemplar todos os aspectos que envolvem o turismo cultural,


não é mesmo?

3 TURISMO DE EVENTOS
Os eventos estão no nosso cotidiano. Uma pequena quermesse, uma festa
típica, uma competição esportiva, um grande congresso.

A indústria de eventos reúne um complexo mix de atividades, como


hotelaria, alimentação fora do lar, construção civil, empresas de consultoria e
assessoria, transportes, entretenimento, montagem de estandes, organização
de eventos, locação de equipamentos, serviços gerais, educação no setor, entre
outras. (DE LUCCA FILHO; SANTOS; BASTOS, 2010).

A participação do Estado também deve ser observada, uma vez que


ele se envolve – nas três esferas – federal, estadual e municipal – por meio de
investimentos diretos e indiretos na atividade.

Alguns fornecedores/prestadores de serviço que atuam no turismo de


lazer também atuam no turismo de eventos. A diminuição da sazonalidade em
destinos turísticos é um trunfo protagonizado muitas vezes pelos eventos.

A Revolução Industrial impulsionou a realização de feiras e exposições.


Assim como ocorre atualmente, as feiras eram um veículo para expor e
comercializar os produtos que estavam sendo produzidos pelas indústrias. As
exposições internacionais tinham por objetivo demonstrar a competitividade
industrial e avanços tecnológicos dos países participantes.

103
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

As feiras e exposições deram um novo impulso ao segmento do turismo


de eventos e propiciaram a movimentação de um grande número de pessoas.
Além disso, para atender as demandas dessa atividade emergente, diversos
espaços foram adaptados e construídos.

As duas guerras mundiais foram períodos de interrupção do


desenvolvimento do turismo de eventos. Entretanto, as diversas modificações
na economia e sociedade ocorridas após esse período aumentaram
vertiginosamente o número de eventos realizados, tais como:

● Aumento do número de empresas das mais diversas atividades [...].

● Desenvolvimento de estudos e pesquisas nas áreas acadêmicas, científicas


e tecnológicas; eventos utilizados como meios para debater e informar
descobertas e tendências.

● Aumento da escolaridade; mais pessoas buscando eventos como forma de


aprimorar seus conhecimentos.

● Crescimento da renda; provendo de condições financeiras uma maior parcela


de público potencial de eventos.

Dentre os facilitadores que possibilitaram o aumento quantitativo e


qualitativo do turismo de eventos no Brasil e no mundo nas últimas décadas estão
o desenvolvimento dos meios de transporte, diversificação e modernização dos
meios de hospedagem, o avanço das comunicações e tecnologia da informação,
criação de centros de convenções e profissionalização da mão de obra dos
setores de turismo e eventos.

FONTE: Rangel (2008, p. 16-17)

Informação importante é dada por De Lucca Filho, Santos e Bastos (2010,


p. 5):

Segundo pesquisa do Sebrae Nacional e do Fórum Brasileiro dos


Convention & Visitors Bureaux (2002), aconteceram em 2001, no
Brasil, mais de 330 mil eventos, com quase 80 milhões de participantes,
que geraram uma receita de R$ 37 bilhões - o que correspondia a
3,1% do PIB brasileiro - e criaram cerca de três milhões de empregos
diretos, terceirizados e indiretos. Realizada em 120 cidades brasileiras,
a pesquisa constatou que o setor gerava R$ 4,2 bilhões em impostos,
em 320 mil eventos anuais. Ressalta-se ainda que o país captou dois
megaeventos nos últimos anos: a Copa do Mundo de Futebol, que será
realizada em 2014, em 12 capitais brasileiras; e os Jogos Olímpicos, que
serão realizados no Rio de Janeiro em 2016.

Os mesmos pesquisadores falam sobre os fatores que ajudam na captação


de eventos por parte dos destinos:

104
TÓPICO 3 | TIPOS DE TURISMO URBANO

Diversos fatores influenciam a escolha de uma localidade para sediar


eventos: questões políticas relacionadas com entidades de classe
promotoras dos eventos, apoio governamental (a ser capitalizado
por parte dos governantes em retribuições em épocas de campanha
e associação da imagem a esportes, conhecimento e “pujança
econômica”, entre outras questões), espaço para eventos, infraestrutura
básica – segurança, saneamentos, acessos até o destino e no destino,
sinalização - preços, imagem da região, características do aglomerado
industrial da região, serviços no destino – taxistas, transportes
coletivos, hospedagem, alimentação, entretenimento, lazer, atrativos
turísticos, custo, patrocínios potenciais na região, itinerância e outros.
(DE LUCCA FILHO; SANTOS; BASTOS, 2010, p. 5).

Conforme De Lucca Filho, Santos e Bastos (2010, p. 6), existe o contraponto


em relação aos benefícios advindos dos eventos:

Os grandes investimentos públicos – especificamente no setor –, como


no asfaltamento de grandes trechos para equipamentos como parques
temáticos e hotéis de luxo – estruturas que também realizam eventos,
ou na construção de grandes espaços para eventos ou ainda por meio
de patrocínios milionários a grandes eventos - geram “encantamento”
pela maioria da sociedade, que vislumbra em obras custeadas pelos
seus tributos a possibilidade do progresso de suas regiões, incluindo a
perspectiva de que venham a ter oportunidades de trabalho.

A ICCA - International Congress and Conference Association divulgou o


ranking dos países que mais receberam eventos internacionais em 2009. O Brasil
ficou em sétimo lugar no mundo, sendo as cidades de São Paulo (SP), Rio de
Janeiro (RJ), Florianópolis (SC), Brasília (DF), Porto Alegre (RS) e Foz do Iguaçu
(PR) as de maior destaque. (MERCADO E EVENTOS, 2009).

As localidades que mais sediam ou captam eventos são cidades que


contam com infraestrutura adequada, além de atrativos importantes. Embora
muitos destinos localizados em espaço rural ou natural tenham conseguido
captar eventos, tais espaços são preparados em termos de meio de hospedagem,
transportes, comunicação (telefonia e internet) e serviços – gastronomia e lazer
(muitas vezes disponíveis no próprio local do evento) – meios de hospedagem
e – em geral – estão localizados em locais próximos a centros urbanos.

A relação entre os aglomerados industriais e a realização de eventos


também merece destaque. A Bacia de Campos (RJ), por exemplo, gera ou
capta eventos relacionados ao aglomerado industrial petrolífero. Da mesma
forma, Campina Grande (PB), que atinge os eventos da área de software. Em
Santa Catarina, no Vale do Itajaí, a indústria têxtil e a cultura germânica são as
principais geradoras dos eventos – sejam feiras têxteis ou festas populares (ou
festas de apelos populares). Ou seja, o arranjo socioeconômico e espacial das
regiões age na determinação do tipo de evento que será captado ou criado em
sua área.

[...]

105
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

São Paulo realiza quase 90 mil eventos ao ano, segundo o São Paulo
Convention & Visitors Bureau. São 6,5 milhões de turistas anualmente, 57%
dos quais vêm a negócios, permanecendo na cidade, em média, 2,24 dias e
movimentando cerca de R$ 5,5 bilhões. Segundo a ABIH-RJ – Associação
Brasileira da Indústria de Hotéis -, os eventos no Estado do Rio de Janeiro
respondem por 66% da ocupação hoteleira local. Em 2001 a cidade sediou 67,5
mil eventos, tendo os gastos dos participantes com alimentação, transporte,
hospedagem, lazer e compras atingido R$ 4,8 bilhões. (REVISTA DOS
EVENTOS, 2005).

[...]

É inegável que a realização de eventos traz benefícios às cidades. Mesmo


que de forma indireta, são gerados renda e trabalho e eventualmente melhorias
em infraestrutura são realizadas nas localidades. Os investimentos privados
recebem contrapartidas do Estado para serem concretizados – quando não são
integralmente realizados por ele. O desenvolvimento urbano é encontrado em
diversas cidades, a partir de ações privadas e/ou do poder público (DE LUCCA
FILHO, SANTOS E BASTOS, 2010, p. 5-7).

A realização de eventos impacta social, cultural, política e economicamente


qualquer região em que se faz presente. Naturalmente que tais impactos são
positivos e negativos para as localidades – os negativos nem sempre notados
pela grande massa, manobrados pela espetacularização dos eventos e pela
possibilidade de terem entretenimento.

As significativas mudanças que ocorreram em Barcelona (1992), Atlanta


(1996) e em Sidney (2000) são exemplos de como megaeventos podem transformar
os centros urbanos de grandes cidades.

O turismo de eventos é, essencialmente, turismo urbano.

4 TURISMO RELIGIOSO
Apesar de poder ser considerado uma forma de turismo cultural, pois
está arraigado em aspectos históricos, o turismo religioso possui características
próprias. Alguns destinos eminentemente religiosos se sobressaem no mundo,
como o Vaticano, Jerusalém, Santiago de Compostela e Lourdes. No Brasil,
podemos lembrar rapidamente de Aparecida do Norte (SP), Nova Trento (da
Santa Paulina, em Santa Catarina), Juazeiro do Norte (do Padre Cícero, no Ceará)
e Bom Jesus da Lapa (BA) entre outros.

Mesmo em destinos que não são eminentemente religiosos, é difícil


encontrarmos turistas que não visitem igrejas (não com motivação religiosa, mas

106
TÓPICO 3 | TIPOS DE TURISMO URBANO

histórico-arquitetônica), como, por exemplo, em Paris (Catedral de Sacre Coeur,


no bairro artístico de Montmartre, ou a Catedral de Notre Dame, na Íle de La
Cité – conhecida entre outras coisas pelo Quasímodo – “o corcunda”). Outras
grandes cidades europeias têm entre seus atrativos mais famosos catedrais e
igrejas, como Barcelona (a inacabada Catedral da Sagrada Família, de Gaudi) ou
ainda as góticas em Milão (Itália) e Colônia (Alemanha).

Vamos nos ater mais aos destinos eminentemente religiosos:

QUADRO 12 – DESTINOS TURÍSTICOS RELIGIOSOS

A área total desse complexo católico, localizado entre São Paulo


e o Rio, é de 400 mil metros quadrados e já chegou a receber 231
mil visitantes em um único dia. No local, uma homenagem à
Aparecida do Norte padroeira do Brasil, o visitante encontra uma excelente estrutura
com diversas salas dedicadas a passagens religiosas; um shopping
com 684 lojas; e áreas de entretenimento, como parque de diversão
e aquário.
Local do Círio de Nazaré. O encontro religioso, que ocorre no
segundo domingo de outubro, é uma homenagem à mãe de
Jesus e atrai mais de dois milhões de romeiros, que acompanham
Belém a imagem da Virgem de Nazaré no trecho de 3,6 quilômetros
entre a Catedral Metropolitana da cidade e a Praça Santuário de
Nazaré. A corda do Círio, o simbólico elo entre os fiéis e a Santa,
é a 'atração' mais disputada da caminhada.
No Vale do Cariri, uma extensa área que passa pelo Ceará,
pela Paraíba e por Pernambuco, temos um centro religioso que
guarda a imagem de Padre Cícero (Padim Ciço, pelo sotaque
Juazeiro do Norte
característico da região). A quase 600 quilômetros de Fortaleza,
a cidade recebe fiéis a partir de 30 de outubro, que saem em
romarias que duram quatro dias.
As principais romarias ao Santuário do Bom Jesus da Lapa
Bom Jesus da
acontecem normalmente a partir de julho. Grutas para oração
Lapa (777 km de
e a Sala dos Milagres são os destaques desse local sagrado com
Salvador)
mais de 300 anos de história.
A cerca de uma hora de Florianópolis, tem como principal
Nova Trento
atrativo turístico e religioso o Santuário de Madre Paulina, santa
canonizada em 2002.
Na cidade das 365 igrejas católicas, o que predomina é a cultura
negra do candomblé. O sincretismo religioso da capital baiana se
Salvador materializa em festas tradicionais, como a Lavagem do Bonfim e
a Festa de Iemanjá, na Praia do Rio Vermelho.

107
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Essa cidade localizada a apenas 54 quilômetros da capital paulista


conta com um extenso calendário de romarias durante 11 meses
Pirapora do Bom por ano, uma vez que recebe a visita de romeiros de várias cidades
Jesus da região do Médio-Tietê. Mas a atração mais esperada são os
tapetes coloridos que enfeitam as ruas do centro histórico durante
as comemorações de Corpus Christi.
A Estrada Real, a principal via de acesso, desde o século 17, entre
Ouro Preto e o litoral, cruza cidades mineiras ricas em detalhes
Cidades históricas
históricos. De Ouro Preto a Tiradentes, passando por Mariana e
mineiras
São João del Rey, o turista 'fiel' encontra construções religiosas
barrocas e casarões coloniais.
A parada final do trem que sai de Curitiba é a cidade que sedia
o Santuário de Nossa Senhora do Rocio e vem investindo para
receber fiéis não apenas no período da Festa do Rocio, em
Paranaguá
novembro. Até 2011, uma área de 25 mil metros quadrados deve
estar disponível para os religiosos, com casa de apoio, gruta para
oração, marinas e bosque.

FONTE: SOMANDA TUR. Turismo religioso. Disponível em <http://www.smdtur.com.br/religioso.


htm>. Acesso em: 10 abr. 2012.

Embora os valores relacionados com o turismo religioso cresçam a cada


ano, é um tipo de turismo menos profissional que outros.

Embora o turismo seja a atividade que está no topo da economia


mundial e o Brasil acompanha essa tendência, crescendo e
movimentando 15 milhões de pessoas todos os anos no segmento de
turismo religioso (o que corresponde à movimentação financeira de R$
6 milhões/ano, com tendência a elevação progressiva), excetuando-se
as metrópoles e os grandes centros turísticos religiosos, como Belém e
Aparecida, a prática turística do segmento religioso está pulverizada
e distribuída pela forte peculiaridade das culturas regionalistas, com
balizamento na própria complexidade geográfica do país, e pelas
microrregiões, marcada por um turismo predominantemente amador,
informal (VITARELLI, 2001, p. 23).

De acordo com Dias (2003), o turismo religioso é uma viagem em que a


fé é o motivo principal, mas que pode traduzir motivos culturais em conhecer
outras manifestações religiosas. “Turismo religioso é aquele empreendido por
pessoas que se deslocam por motivações religiosas e/ou para participarem em
eventos de caráter religioso. Compreende romarias, peregrinações e visitação a
espaços, festas, espetáculos e atividades religiosas” (DIAS, 2003, p.17).

108
TÓPICO 3 | TIPOS DE TURISMO URBANO

Considerando a realidade brasileira, Dias (2003) elaborou uma


classificação de atributos de atrativos turísticos e religiosos, levando em
consideração a área de destino, o objetivo final e a motivação da viagem.
Classificou esses atributos em seis diferentes tipos:

1. Santuários de peregrinação: locais de valor espiritual, com datas devocionais


especiais. Aparecida do Norte.

2. Espaços religiosos de grande significado histórico-cultural: podem ser


considerados atrações turístico-religiosas. Igrejas nas cidades históricas de
Minas Gerais.

3. Encontros e celebrações de caráter religioso: têm como objetivo atividades


confessionais. Encontro de carismáticos da Igreja Católica.

4. Festas e comemorações em dias específicos: eventos dedicados a


determinados símbolos de fé, calendários litúrgicos ou manifestações de
devoção popular. Círio de Nazaré, Lavagem da Igreja do Bonfim.

5. Espetáculos artísticos de cunho religioso: caracterizados por encenação de


eventos religiosos. Encenação da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém (PE).

6. Roteiros de fé: caminhadas de significado espiritual, pré-organizadas em


um itinerário turístico-religioso. Rota Caminho da Fé, com 415 km, entre
Tambaú (SP) e Aparecida (SP); e o Caminho do Sol, com 209 km, entre
Santana do Parnaíba e São Pedro (SP).

É importante observar que essa classificação não envolve apenas


o sentido religioso e espiritual do viajante, mas também o conhecimento
histórico, o cultural, o patrimonial, o artístico e o natural, reafirmando o caráter
multifuncional do turismo religioso.

FONTE: Maio (2004, p. 55-56)

Uma crítica contundente à “mercantilização da fé” é descrita por Ouriques


(2006), em relação à localidade de Nova Trento, interior de Santa Catarina. Além
da venda de artigos como santas em miniatura, chaveiros, bonés e outros artigos,
a especulação imobiliária e a falta de planejamento urbano impactam de forma
significativa – e negativa – os destinos.

109
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico:

● Conhecemos um pouco mais sobre turismo cultural e sobre seus conceitos


básicos, como patrimônio material e imaterial.

● Os eventos agregam diversas atividades relacionadas ou não com o turismo.


São capazes de gerar muitos empregos. Assim como a maioria das atividades
possui aspectos positivos e negativos.

● Devemos ter uma visão crítica das questões. O turismo religioso atrai fiéis – ou
simplesmente turistas – em todo o mundo.

● Conhecemos alguns destinos famosos no mundo e no Brasil.

● O conceito essencial é que destinos turísticos urbanos possuem atrativos


turísticos religiosos (não necessariamente o principal, mas ainda assim, mais
um componente da oferta).

110
AUTOATIVIDADE

Percebe-se, na atualidade, que a diversidade cultural do Brasil é


pouco experimentada pelos turistas e também pelos moradores. Políticas
públicas são necessárias para valorizar a cultura brasileira. O turismo
cultural contribui com esta ideia. De acordo com as reflexões apontadas
nesse Caderno de Estudos, defina turismo cultural.

111
112
UNIDADE 2
TÓPICO 4

IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

1 INTRODUÇÃO
Vamos falar sobre imagem. O ser humano possui imagens – mesmo que
inconscientemente – para tudo: produtos, serviços, pessoas, destinos.

Lynch (1982) observa que cada pessoa tem uma imagem individual da
cidade que, de alguma forma, se assemelha com sua imagem pública.
Referindo-se à percepção do cidadão, o autor afirma que este sempre
se envolve com alguma parte do ambiente citadino e que, portanto,
sua percepção será influenciada por suas memórias e sentidos (CRUZ,
2010, p. 27).

Existe uma diferença entre dizer que uma cidade funciona e dizer
que ela é atraente. Usamos o termo atrações para nos referir às características
físicas e eventos que atraiam cidadãos, novos moradores, visitantes, negócios
e investidores. Uma cidade que pretende ter seu desenvolvimento calcado no
turismo tem que possuir atrativos.

2 IMAGEM
Entende-se como imagem da cidade os aspectos físicos e culturais que
causam boa ou má impressão a seus habitantes e/ou visitantes.

Construir uma boa imagem de uma cidade não é uma simples tarefa de
marketing. Existem algumas atrações que podem contribuir para a construção da
imagem positiva de uma cidade.

- beleza e características naturais;


- história e personagens famosos;
- mercados;
- atrações culturais e étnicas;
- recreação e entretenimento;
- equipamentos esportivos;
- eventos e ocasiões;
- edifícios, monumentos e esculturas.

113
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Na criação da imagem da cidade é necessário qualificá-la através de:

- plano de comunicação visual;


- mobiliário urbano de qualidade;
- eficiente sinalização;
- iluminação cênica;
- eliminar espaços urbanos degradados;
- símbolo e slogan perenes;
- aplicar com rigor o código de postura (letreiros, calçadas, comércio ambulante,
terrenos baldios etc.).

Philip Kotler (1994, p. 38-40), em Marketing Público, coloca as seguintes


situações de imagem de um local:

QUADRO 13 – CATEGORIAS DE IMAGEM DE UM LOCAL

algumas cidades, regiões e países são abençoados com imagens


positivas. Veneza e Cingapura, por exemplo, possuem imagens
positivas para a maioria das pessoas. Embora cada localidade tenha
Imagem positiva certos defeitos e não atraia a todos como ponto de parada local para
viver ou fazer negócios, pode ser representada positivamente para
outros. Eles não exigem mudança de imagem, mas sim que esta seja
ampliada e divulgada para mais grupos-alvo.
certos locais não são muito conhecidos porque são pequenos, não
têm atrações ou não promovem sua imagem. Se quiserem mais
Imagem pobre visibilidade, precisam criar algumas atividades e promovê-las.
Outros locais podem ter características atraentes, entretanto evitam
fazer publicidade porque não querem ser invadidos por turistas.
muitos locais se veem estigmatizados com uma imagem negativa.
[...]. Esses locais querem, acima de tudo, reprimir a divulgação de
sua imagem. Gostariam de chamar menos atenção dos noticiários.
Imagem negativa
No entanto, se um local divulgar uma nova imagem, mas continuar
a ser o local que deu origem à antiga imagem, a estratégia não será
bem-sucedida.
a maioria dos locais tem uma mistura de elementos positivos e
Imagem mista negativos. Os locais com imagens mistas enfatizam o positivo e
evitam o negativo quando preparam suas campanhas.

114
TÓPICO 4 | IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

certos locais transmitem imagens contraditórias, ou seja, as pessoas


têm perspectivas diferentes a respeito do local. [...]. Nesse caso, o
Imagem
desafio da estratégia é salientar o positivo, de forma que as pessoas,
contraditória
no futuro, parem de acreditar na imagem oposta, que não é mais
verdadeira. No entanto, é muito difícil reverter uma imagem.
alguns locais são amaldiçoados por ter atratividade demais, e
Imagem
podem ser destruídos se forem muito promovidos. [...]. Em alguns
demasiadamente
casos extremos, as cidades, na verdade, fabricam e divulgam uma
atraente
imagem negativa para desestimular visitantes.

FONTE: Philip Kotler (1994, p. 38-40)

Para a construção ou modificação de uma imagem, muitos destinos optam


por produzir slogans, como qualquer produto.

Embora um bom slogan possa chamar atenção, ele não é capaz de


realizar todo um trabalho de marketing de imagem. A imagem de um
local tem de ser válida e transmitida de várias maneiras por diversos
canais, se quiser ser bem-sucedida e se firmar. As imagens não são
fáceis de ser elaboradas ou mudadas. Isso exige pesquisa sobre como os
moradores e os visitantes veem o local. É preciso identificar elementos
verdadeiros e falsos, bem como seus pontos fortes e fracos; isso requer
inspiração e a capacidade de escolher entre imagens conflitantes. A
escolha será por consenso e necessitará de verba significativa para
divulgá-la (KOTLER, 1994, p. 40-41).

Além da mudança de imagem, melhorá-la não é suficiente para garantir a


prosperidade de um local. Ele precisa de características especiais para satisfazer
seus moradores e atrair pessoas de fora. Alguns locais têm a sorte de possuir
atrações naturais. Outros se beneficiam de uma extraordinária herança de edifícios
históricos. Existem também locais que investiram na construção de monumentos
famosos, e outros atraem por estarem banhados por água.

Outro aspecto a ser observado são as pessoas. Um local pode possuir


uma boa infraestrutura e muitas atrações e mesmo assim não ser bem-sucedido,
devido à imagem que os visitantes têm de seus moradores. A hospitalidade dos
seus residentes pode afetar a atratividade do local de diversas maneiras.

3 CITYMARKETING
Segundo Sánchez (1999, p.115), “citymarketing” constitui-se na orientação
da política urbana à criação ou ao atendimento das necessidades do consumidor,
seja este empresário, turista ou o próprio cidadão”.

115
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Em outras palavras, é uma promoção da cidade que objetiva atingir


os seus próprios habitantes, bem como os possíveis e eventuais
investidores, que busca a construção de uma nova imagem da cidade,
dotada de um forte impacto social. A cidade passa a ser vista como
um espetáculo. No Brasil, Curitiba é a cidade que melhor retrata esse
processo: “Curitiba: a cidade que não para de inovar”, que nos anos
1970 era a “Cidade Modelo”, nos anos 1980 a “Capital da Qualidade
de Vida”, nos anos 1990 a “Capital Ecológica” e hoje a “Capital
Tecnológica”. (PINTO, 2001, p.18).

Tratando especificamente dos turistas, Bessa, Teixeira e Vieira Filho (2005,


p. 541) observam que “é preciso lembrar que a relação do turista com o destino
é passageira”. Portanto, as ações não podem estar pautadas neles, mas sim na
população da localidade. Entretanto, os mesmos autores utilizam o conceito de
marketing territorial de Cidrais (2001apud BESSA; TEIXEIRA; VIEIRA FILHO,
2005, p. 541):

a análise, a planificação, execução de controle e processos


concebidos pelos atores de um território, de modo mais ou menos
institucionalizado, que visa, por um lado, responder às necessidades e
expectativas das pessoas e das entidades, e, por outro lado, melhorar
a qualidade e a competitividade global de uma cidade (e do território
adjacente) no seu ambiente concorrencial.

Para Marques e Moreira (2007), a prática do citymarketing consiste em


um mecanismo institucional de promoção e venda da cidade. Onde a venda da
cidade seria benéfica para o governo, visto que atrairia novos investimentos
e esses investimentos gerariam divisas e empregos para o município. Para
Compans (2005) apud Marques e Moreira (2007), a venda da cidade envolve a
manipulação simbólica na construção de uma “imagem marca”.

FONTE: Adaptado de: <http://egal2009.easyplanners.info/area05/5448_Pinon_de_Oliveira_


Marcio.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2012.

Para Mascarenhas (2007), o investimento no esporte no Pan-2007


foi claramente uma estratégia de citymarketing, uma vez que não ocorreram
investimentos no esporte amador.

Pereira (2001, p. 4) observa que:


o termo citymarketing passou a significar promoção ou, até mesmo,
competitividade da cidade como um todo. Em um mercado urbano, o
planejamento estaria, assim, inseparavelmente ligado ao citymarketing,
especialmente através da sua paisagem (i)material, que orienta a
concepção das propostas de turismo cultural.

Ferreira (2003b, p. 1) diz que:


“a imagem da cidade-global” vem sendo reforçada nos meios
acadêmicos, governamentais, na mídia e no mercado imobiliário como
uma nova configuração urbana supostamente capaz de dar às cidades
as condições necessárias à sua inserção competitiva no “novo mundo”.

116
TÓPICO 4 | IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

O citymarketing ou a imagenharia é quem determina os investimentos


para eventos. A transformação da paisagem da cidade - e não as possíveis
conquistas socioespaciais advindas da atividade - é ditada pelos gestores da
“cidade-empresa”. O evento é julgado por sua “qualidade” a partir do retorno
do investimento por parte dos investidores privados e não pela melhoria na
qualidade de vida da população (especialmente as pobres), acentuando as
diferenças de classes.

Para Vainer (2000), a cidade é uma mercadoria e como tal é vendida num
mercado em que concorre com outras cidades. Daí a importância da criação de
imagens positivas. A crítica do autor e de seus parceiros na organização da obra
“A Cidade do Pensamento Único”, Arantes e Maricato (2000), vai no sentido de
que o mercado e as relações público-privado acabam por privilegiar a visão de
mercado no processo de planejamento – e consequentemente sobre os resultados
concretizados. Segundo Vainer (2000), o discurso do planejamento estratégico,
a produtividade e a competitividade, próprias da economia global, constituem
a nova questão urbana em contraposição à questão urbana relacionada com o
crescimento desordenado, o consumo coletivo e os movimentos sociais urbanos.
Neste novo contexto, as cidades devem enfrentar questões semelhantes às
vividas pelas empresas: a necessidade de competir entre si.

4 A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A construção da imagem é o resultado de um processo bilateral entre


o observador e o ambiente. Para Silva, Ley e Reis (2003), o ambiente contém
elementos dos quais o observador seleciona, organiza e atribui significado àquilo
que vê.

A ideia mais aceita relativa à imagem está relacionada com representação


(BIGNAMI, 2004). “A ideia pode ser associada a um conjunto de percepções a
respeito de algo, a uma representação de um objeto ou ser, a uma projeção
futura, a uma lembrança ou recordação passada” (BIGNAMI, 2004, p. 12).

Para Boullón (1978, p. 49), a imagem significa “estereótipo, norma,


mapa, plano de ação, conceito, autoconceito, tem também a ver com mapas
mentais e espaços perceptivos”. Já para Coriolano (2003), a imagem projetada
- estereotipada - apresentada nos meios de comunicação passa para o plano do
imaginário, criando espaços abstratos e mapas mentais.

A relação entre informação e imagem das localidades é íntima, pois os


fluxos de informação entre localidade e possível turista determinam a avaliação
do último em relação ao primeiro.

[...]

117
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Sobre a formação de imagens, Bignami (2004, p. 29) observa que ela


ocorre “por meio de processos de conhecimento, em que ocorre uma interação
entre o indivíduo e a realidade”, sendo que essa realidade possui um caráter
social cultural, relacionado aos valores e preceitos que cada indivíduo possui.

Leal (2002, p. 1) percebeu que o número de estudos internacionais sobre


a imagem de destinações é bastante volumoso e que as primeiras pesquisas
foram realizadas ainda na década de 1970. O autor cita ainda dois trabalhos
com os primeiros modelos de escolha de destinação, o de Woodside e Lysonski
(1989) e o de Um e Crompton (1990). Segundo Leal (2002, p. 1), “os modelos
englobam diferentes visões e foram elaborados por pesquisadores de áreas
distintas. Entretanto, todos destacam a importância da imagem das destinações
para a possível escolha das mesmas por parte de potenciais turistas”.

A indústria do turismo gasta grandes somas de dinheiro tentando


construir uma imagem de seus locais de destino (ROSS, 2001). Crompton
apud Ross (2001, p. 88) definiu as imagens de locais de férias como “a soma
de crenças, ideias e impressões que uma pessoa tem de um local de destino”.
Hunt apud Ross (2001, p. 88) concluiu que as imagens do local de destino têm
tanta ou mais relação com “a área de projeção de imagens de turistas quanto os
recursos mais tangíveis do destino”.

Segundo Gândara (2004), a percepção que os turistas têm de um destino


é um fator fundamental na escolha do mesmo. O autor ainda ressalta que a
percepção é uma simplificação das informações e experiências que o turista
possui em relação àquele destino turístico.

Para Giacomini Filho (2001, p. 214), “o controle da imagem necessita


de uma rotina mercadológica contínua e de qualidade, já que a imagem é
componente importante no sucesso organizacional”.

Leal (2002) finaliza seu trabalho observando que a imagem de destinações


é uma área de pesquisa pouco abordada no Brasil. Afirma ainda que a imagem
influencia o processo de escolha de destinações – “e que o tema pode ser de
grande valia para as regiões onde a atividade turística se desenvolve. A correta
utilização de modelos referenciais e metodologias apropriadas para a medição
destas imagens pode se transformar em uma grande vantagem competitiva
para as destinações” (LEAL, 2002, p. 5).

Para Lemos (2001), o turista começa a definir a imagem de uma localidade


através de processos de sinalização, sendo que riscos de segurança, lugares
saturados ou em decadência representam uma sinalização negativa. Já a rede
de informações que uma localidade estabelece com as operadoras, e estas com
as agências, aumenta o grau de sinalização positiva que os turistas potenciais
armazenam.

118
TÓPICO 4 | IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

O assunto foi abordado por Yázigi apud Bignami (2002, p. 51) quando
afirmou que “a promoção turística não é só uma questão de publicidade, mas,
sobretudo, de construções em longo prazo”.

FONTE: De Lucca Filho (2005, p. 48-51)

LEITURA COMPLEMENTAR

OS ENCONTROS E DESENCONTROS ENTRE TURISMO


E CULTURA NA ‘CIDADE DO SOL’

Antonio Jânio Fernandes

O turismo, pela capacidade que tem de se incorporar aos mais diversos


contextos socioculturais e espaciais, as mais diversas paisagens naturais e saber
interligar a esfera local às mais diversas esferas, vem se constituindo numa das
atividades mais promissoras para uma economia globalizada. Como parte de
um conjunto de elementos que consiste no que denominamos de prática social,
o turismo enquanto atividade econômica reproduz de forma muito mais sutil
e intensa as contradições atuais do sistema capitalista, baseado principalmente
numa economia flexível e de serviços.

Nesse sentido, é necessário destacar ainda que o turismo é uma das


práticas sociais que, por assim dizer, permite relações mais intensas, diretas, entre
pessoas de culturas diferentes e que, portanto, promove processos que interferem
de forma mais rápida no cotidiano, nas subjetividades das populações receptoras,
causando impactos reais na identidade local.

Com base nessas premissas, destaca-se como objetivo desse trabalho


analisar quais são as consequências socioculturais que Natal – enquanto
principal sítio urbano do Rio Grande do Norte – vem sofrendo em decorrência
da implantação de uma política de turismo que privilegia primordialmente o
segmento Sol e Mar.

Turismo e cultura: interfaces de um processo

O turismo enquanto prática humana, por mais que seja tida como uma
das atividades econômicas mais promissoras da atualidade, é, essencialmente,
uma prática cultural, pois educa, influencia e transforma pessoas e contextos.

Diferentemente de outras práticas ou atividades humanas, só ocorre a


partir de um processo que promova uma profunda inter-relação entre diversos
atores sociais, entre diversos contextos e entre diversas outras práticas sociais. Por

119
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

uma característica que lhe é peculiar, o turismo, para existir, está cada vez mais
abrangendo inúmeros e diversos setores da economia, promovendo o surgimento
de outros, transformando dinâmicas organizacionais em todos os contextos
sociais, econômicos, políticos e culturais. Por esta característica, ao mesmo tempo
em que reproduz as contradições do sistema capitalista, também as sublima, na
medida em que surge como mecanismo de desenvolvimento local e de melhoria
da qualidade de vida.

No entanto, a compreensão que se tem elaborado sobre a relação entre


cultura e turismo muitas vezes tem caído num reducionismo onde a cultura passa
a ser estratificada como parte daquelas manifestações artísticas que sejam capazes
de se transformar em produto turístico.

Como nos afirma Velho (apud LAGO, 1996, p. 17), a cultura não é,
em nenhum momento, uma entidade acabada, mas sim uma linguagem
permanentemente acionada e modificada por pessoas que não só desempenham
“papéis” específicos, mas que têm experiências existenciais particulares.

Partindo desta observação, Gastal (2001) ressalta ainda que é fundamental


que a cultura deixe de ser apresentada exclusivamente do ponto de vista do lugar,
do sedentário, como algo acabado, como produto de consumo.

Com o avanço do processo de globalização, o turismo foi colocado como


uma das principais atividades econômicas que poderia promover de forma mais
rápida o desenvolvimento de regiões consideradas atrasadas, à medida que
propiciaria o surgimento de um vasto mercado de trabalho, a geração de renda e
a melhoria da qualidade de vida destas populações. (OURIQUES, 2005).

Mas, nas últimas décadas, as críticas quanto aos efeitos negativos do


turismo de massas, principalmente sobre as comunidades mais frágeis, menos
desenvolvidas, já se destacam como uma das principais preocupações de
estudiosos de diversas áreas do conhecimento. Muitos se colocam céticos quanto
às potencialidades do turismo como uma ferramenta para o desenvolvimento e
o crescimento e como meio de maximizar o bem-estar das populações nativas.
(ARCHER e COOPER apud THEOBALD, 2002). Para Krippendorf, (1989, p.
99), Salvà Tomàs (1999, p. 189), a destruição do meio ambiente, o processo de
segregação das comunidades nativas e a exclusão dos autóctones de todas as
fases de implantação da atividade turística destacam-se, dentre outras, como as
que têm causado os efeitos mais negativos.

Os impactos gerados pelo turismo de massa e sem a participação ativa


das populações locais geralmente são irreversíveis. Desconfiguram, fetichizam a
identidade da comunidade receptora. (MARTINS, 2003).

É neste contexto que se insere o Nordeste do Brasil (BENEVIDES, 1998)


e, consequentemente, a cidade de Natal (FURTADO, 2005), a capital do Rio
Grande do Norte. Cidade tipicamente caracterizada pelo atraso econômico e por

120
TÓPICO 4 | IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

uma pobreza extrema, mas que, por outro lado, também dispõe de um grande
potencial turístico pelas vastíssimas áreas de litoral consideradas como “vazios
litorâneos” e inúmeras belezas naturais exóticas quase intocadas.

O patrimônio cultural, que em muitos aspectos é ainda singular para a


construção da identidade nacional, como manifestações tipicamente potiguares,
ainda não foi concebido como elemento significativo para a atividade turística.

A cidade de Natal: seus atos e atores

Para que se compreenda o porquê dos encontros e desencontros entre


turismo e cultura na cidade de Natal, é necessário desvelar o processo histórico
do surgimento desta cidade, destacando suas formas e funcionalidades. Faz-se
necessário também descortinar como ocorreu a formação das classes sociais e as
relações que estas mantinham e mantêm, e que conseguintemente resultou na
construção de sua identidade.

Natal, assim como a grande maioria das cidades litorâneas brasileiras


surgidas no período colonial, passou a desempenhar funções que influenciaram
significativamente a cidade a construir uma estrutura social segregativa, de
apartação socioespacial (e cultural), que ainda se perpetua até os dias atuais.
(SILVA, 2003).

Esse processo resultou em uma cidade que foi se constituindo pela nítida
separação entre os bairros dos ricos (Cidade Alta e Ribeira) e os bairros dos pobres
(Rocas, Paço da Pátria e Alecrim). Os primeiros ocupavam as áreas mais nobres da
cidade e se caracterizavam por uma infraestrutura urbana moderna, decorrente
das aspirações das elites locais (composta pelas oligarquias rurais e uma burguesia
emergente) que almejavam acompanhar as tendências manifestas em cidades da
Europa e nas capitais de outros estados brasileiros. (OLIVEIRA, 2000). Já os bairros
mais populares vão se transformando em áreas periféricas da cidade.

Com essa forma de ocupação do espaço, resultou que a cidade foi sendo
também estratificada do ponto de vista cultural.

A cultura erudita como parte das manifestações das elites locais e mais
aberta às influências estrangeiras vai se consolidando como hegemônica e se
consubstanciando na própria expressão do novo projeto urbanístico da cidade,
caracterizado, como nos afirma Furtado (2005), por “um novo estilo de morar: com
ruas largas e arejadas, distantes das classes populares e das condições ambientais
que afetavam na época a parte antiga da cidade”. Assim, surge todo um aparato
público que vai permitir que as elites desfrutem de sua cultura. A construção
do Teatro Municipal no início do século XX (1904) representa o momento áureo
desse processo, acompanhado da fundação do Liceu, do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte, dentre outros.

121
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Para as esferas sociais desprovidas de condições financeiras (geralmente


oriundos do sertão, área que sofria com grandes períodos de estiagem) restava
a realização dos festejos populares. Estes aconteciam geralmente nas ruas, em
logradouros públicos ou nos pátios das matrizes, e traziam, com a exceção
do Carnaval, uma conotação significativamente religiosa, na medida em que
ocorriam em consonância com as festas de padroeiros.

Mas com a inclusão de Natal como ponto estratégico no segundo


grande conflito mundial, pela primeira vez, em mais de três séculos, a cultura
local, aqui entendida em todas as suas manifestações, passa a sofrer profundas
transformações.

As influências dos contingentes militares, tanto os nacionais como os


estrangeiros que aqui se instalaram, se faziam notar tanto nos aspectos morais
valorativos, como nos hábitos e costumes, como ainda, em suas manifestações
artísticas e culturais. (TRINDADE, 2007; MONTEIRO, 2007). É deste período
que a praia é descoberta como espaço de lazer, que se alterou o modo de vestir
e a cultura local passou a sofrer um profundo processo de “estrangeirização”.
(CASCUDO, 1984).

O novo traçado urbano que se alterava para atender às necessidades


estruturais do conflito e as consequências deste foram outro aspecto também visível
como consequência deste período. Com o conflito ocorreu o desenvolvimento
do comércio e dos serviços e um significativo aumento da população urbana.
(CLEMENTINO, 1995). Este processo, no entanto, apesar de permitir certa
mobilidade social, não alterou a característica principal da cidade, a de ser um
espaço estratificado, de visível segregação social e cultural.

O surgimento do novo bairro, denominado “Cidade Nova” (atualmente


Petrópolis e Tirol), teria sido, segundo Furtado (2005, p. 103), “A “entrada”
da praia na cidade”, e conclui afirmando que esses teriam “sido concebidos e
dotados com infraestrutura de pavimentação, eletrificação pública e transporte
coletivo. Além da arborização, que os tornavam aprazíveis para viver. Habitados
pela elite natalense, simbolizavam status”. Nos vazios entre o novo bairro e as
dunas desenvolveu-se como consequência o aglomerado urbano de Mãe Luíza e
Guanabara, tipicamente popular.

Passado o conflito, a cidade entra num processo de decadência econômica.


As tentativas de promover o desenvolvimento local, com a instalação de plantas
industriais a partir de 1959, pela Sudene, não resultaram nas expectativas
esperadas.

As características, entretanto, da cidade de Natal como um lugar de clima


aprazível, de belezas naturais únicas (que já haviam sido motivo de destaque
nos jornais internacionais desde a década de 1920) e de que se encontrava num
ponto estratégico que viabilizava sua inserção nas rotas internacionais de aviação

122
TÓPICO 4 | IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

(CASCUDO, 1984), associada às expectativas que o turismo de massa já despertava


interna e externamente como mecanismo de desenvolvimento, influenciaram
significativamente os governos estaduais e municipais, pós-conflito mundial, a
implantarem uma infraestrutura urbana que permitisse dar maior visibilidade ao
potencial natural que Natal dispunha.

A construção do primeiro hotel de porte internacional (Hotel Reis Magos,


na década de 1960) na Praia do Meio, local onde as elites se encontravam para
desfrutar do lazer, assim como as obras de urbanização que se direcionavam
primordialmente do centro em direção ao litoral sul (destino para onde também
já se encaminhava boa parte das elites locais à busca do descanso), induziram
Natal a vincular-se primordialmente ao segmento de turismo de Sol e Mar.

Dessa forma, como nos afirma Furtado (2005, p. 122), “ao se produzir
para sua elite, a cidade já se preparava para a chegada de uma atividade que
se apropriaria de sua beleza natural, bem como de seu espaço produzido
socialmente”.

A partir dos anos oitenta, com a implantação do projeto “Parque das


Dunas/Via Costeira”, considerado o marco mais importante do turismo para o
Estado (SOUZA, 1999), Natal consolida a sua imagem como sendo essencialmente
um destino turístico de natureza, de sol e mar.

As duras críticas referentes aos impactos que esse projeto causaria numa
faixa de 8,5 km de litoral ocupada por um conjunto de dunas e ecossistema
de mata atlântica de vital importância para a cidade, assim também como os
impactos que causariam às duas comunidades litorâneas Mãe Luíza e Guanabara
– surgidas entre o litoral e os bairros de Petrópolis e Tirol –, apesar de resultar
em algumas adaptações, não alteraram o objetivo final, que era integrar Natal ao
circuito turístico nacional e internacional. (CAVALCANTI, 1993).

Os desdobramentos desta política para o sítio urbano de Natal resultaram


numa nova racionalidade de estratificação dos espaços, voltados a atender
não só mais às demandas das classes hegemônicas locais, mas os interesses
destas consubstanciadas aos complexos interesses de segmentos empresariais e
financeiros vinculados a uma economia em intenso processo de globalização.

De uma forma mais explícita, esta conjuntura passa a ser percebida


quando a cidade de Natal é inserida no Programa de Desenvolvimento do
Turismo – Prodetur. Entretanto, nesta nova etapa “de um mesmo jogo”, o desenho
socioespacial, expresso urbanisticamente, já mostra esgotamento (verticalização,
especulação imobiliária) e as consequências culturais resultantes deste processo
espraiadas em diversas conjecturas (violência, prostituição, drogas, desagregação
familiar), denunciando os encontros e desencontros entre turismo e cultura na
cidade de Natal.

123
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

Encontros e desencontros da cultura e do turismo na construção da identidade


local da cidade de Natal

A conformação física geográfica de onde se localizou o sítio urbano de


Natal muito contribui para a definição de sua imagem turística, já anunciada
desde o início do século XX pela imprensa europeia como sendo um lugar de
clima aprazível e de grandes belezas naturais.

Com pouca faixa de praia e cortada ao longo por um cordão de dunas


que se distribui por quase todo o seu litoral, Natal foi obrigada a se desenvolver
enquanto núcleo urbano nos vales que se formavam entre as dunas, o mar e o rio
Potengi.

No entanto, as relações socioespaciais que foram se constituindo ao


longo de seu desenvolvimento enquanto centro político e administrativo,
caracteristicamente baseado por uma profunda estratificação socioespacial e
consequentemente cultural, na medida em que vai reforçando essa ideia de
“paraíso natural”, vão paulatinamente também desconsiderando a diversidade
cultural que a compunha.

A cidade de Natal enquanto produto turístico ainda continua sendo


enfaticamente apresentada pelo discurso das elites locais. No marketing turístico
local, nos discursos dos gestores públicos e da tríade à hegemonia desta perspectiva
vem sendo desconsiderado o potencial da cultura local na sua diversidade.
Dessa forma, ainda apresenta-se significativamente caracterizado pelo discurso
hegemônico. A perspectiva cultural é citada apenas de forma complementar,
como um apêndice no discurso oficial.

Nesse sentido, a atual política de turismo é o reflexo de um contexto


maior, onde os investimentos em educação, em cultura, além de insuficientes,
são utilizados de forma indevida. Onde não se valorizam as expressões mais
identitárias locais, por serem estas manifestações tipicamente vinculadas às
camadas populares.

Das manifestações culturais populares, a única que ainda dispõe de


incentivos fiscais e tem sido utilizada como forte aliado na construção da imagem
de Natal como destino turístico é o artesanato. Contudo, é perceptível que este
tem perdido muito as características que o identificavam como uma expressão
local, como manifestação espontânea de uma prática tradicional, se tornando
também uma mercadoria.

A partir desta perspectiva é que ficam perceptíveis as distâncias entre


turismo e cultura em Natal, assim como no Rio Grande do Norte, o que ressalta o
motivo pelo qual o turismo não tem conseguido crescer, apesar de o seu potencial
local ser imensamente maior que em muitas outras localidades.

124
TÓPICO 4 | IMAGEM DA CIDADE E TURISMO

Referências

ARCHER, Brian; COOPER, Chris. “Os impactos positivos e negativos do


turismo”. In: THEOBALD, William F. (Org). Turismo global. 2. ed. São Paulo:
SENAC, 2002.

BENEVIDES, Irenelo Porto. Turismo e Prodetur: dimensões e olhares em parceria.


Fortaleza: EUFC, 1998.

CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2. ed. Natal:


Fundação José Augusto; Rio de Janeiro: Achiame, 1984.

CAVALCANTI, Keila Brandão. “Estado e política de turismo: o caso da via


costeira da cidade de Natal”. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais), UFRN,
1993.

CLEMENTINO, Maria do Livramento M. Economia e urbanização. O Rio Grande


do Norte nos anos setenta. Natal: UFRN-CCHLA, 1995.

FURTADO, Edna Maria. “A onda do turismo na cidade do sol: a reconfiguração


urbana de Natal”. Tese (doutorado em Ciências Sociais). Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais, UFRN, Natal, 2005.

GASTAL, Suzana. “Turismo & Cultura: por uma relação sem diletantismos”. In:
GASTAL, Suzana (Org.). Turismo: nove propostas para um saber-fazer. Porto
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KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo. Para uma nova compreensão do


lazer e das viagens. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1989.

LAGO, Mara Coelho de Souza. Modos de vida e identidade. Sujeitos no processo


de urbanização da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: EdUFSC, 1996.

MARTINS, Clerton. Turismo, cultura e identidade. São Paulo: ROÇA, 2003.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte. 3.


ed. ver. ampl. Natal: EDUFRN, 2007.

OLIVEIRA, Giovana Paiva de. De cidade a cidade: o processo de modernização


de Natal 1889/1913. Natal: EDUFRN, 2000.

OURIQUES. Helton Ricardo. A produção do turismo: fetichismo e dependência.


Campinas, SP: Alínea, 2005.

TRINDADE, Sérgio Luís Bezerra. Introdução à história do Rio Grande do Norte.


Natal: Sebo Vermelho, 2007.

125
UNIDADE 2 | ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO

SALVÀ TOMÀS, P. “Las implicaciones socioculturales del turismo en el


Mar Mediterraneo”. In: Lemos, Amália Ines G. (Org.). Turismo: impactos
socioambientais. 2. ed. São Paulo: Ed. Hucitec, 1999.

FONTE: FERNANDES, Antonio Jânio. Os encontros e desencontros entre turismo e cultura na


‘Cidade do Sol’. Artigos & Ensaios, v. XIX, n. 21, p. 50/57, jan./jun. 2011. Disponível em: <http://
www.cmu.unicamp.br/seer/index.php/resgate/article/view/293/300>. Acesso em: 2 maio 2012.

126
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico estudamos que:

● A imagem de destinos é um componente do marketing turístico e deve ser


trabalhada para evitar a imagem negativa.

● A imagem é uma formação abstrata na mente do possível turista e varia de


acordo com experiências passadas, contato com a mídia ou com amigos,
parentes, formadores de opinião etc.

● Abordamos conceitos de citymarketing e alguns casos brasileiros.

● A formação da imagem de destinos foi abordada no tópico e impacta na escolha


de destinos.

127
AUTOATIVIDADE

A imagem turística de um destino é o resultado da qualidade dos


produtos e serviços turísticos ofertados. Cite três exemplos que contribuem
positivamente com a imagem de um destino turístico.

128
UNIDADE 3

TURISMO E SUSTENTABILIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer os conceitos e características relacionados com sustentabilidade


no turismo;

• aprender sobre revitalização de centros urbanos, especialmente para uso


turístico;

• aprofundar-se em tipos de turismo urbano, como o de eventos e o cultural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o/a ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

TÓPICO 2 – CERTIFICAÇÃO E TURISMO

TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS

TÓPICO 4 – DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA

TÓPICO 5 – REDES E TURISMO

129
130
UNIDADE 3
TÓPICO 1

TURISMO E SUSTENTABILIDADE

1 INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos muito se tem falado sobre sustentabilidade. Proteção
ao meio ambiente, consumo responsável. Ações aparecem em nossos cotidianos;
cobranças pelo uso de sacolas plásticas, diminuição dos gases que provocam a
destruição da camada de ozônio, entre outras coisas. As primeiras coisas que
aparecem na maioria das mentes quando o assunto é “sustentabilidade” são:
natureza, ecologia, verde, matas, certo?

A sustentabilidade vai além do componente ambiental. Nela também


estão inseridas outras questões, como a sustentabilidade social e a econômica.
Somente com uma abordagem que busque os três fatores – ambiental, social e
econômico – é que o desenvolvimento sustentável pode ocorrer.

No Tópico 1 vamos buscar compreender conceitos e a origem da


sustentabilidade de uma forma mais ampla. Nas próximas unidades do caderno
é que iremos adentrar nas relações do turismo com a sustentabilidade.

2 CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE
Existem diversos conceitos para o termo “sustentabilidade”. Segundo o
Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo - USP (2012, s.p),
sustentabilidade é:

um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos


econômicos, sociais, culturais e ambientais globais. Permite que se
mude a forma de se relacionar com o meio, propondo outras formas
de configurar a civilização e atividade humanas, de tal maneira que a
sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as
suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente e, ao
mesmo tempo, preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais,
planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção
indefinida desses ideais.

Sachs (1993) aborda o tema “sustentabilidade” dividindo-o em cinco


dimensões e sustentando que os olhares sobre cada uma delas devem ser
simultâneos:

131
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

a) sustentabilidade social: tem por objetivo uma distribuição de renda entre ricos
e pobres de forma menos desigual;

b) sustentabilidade econômica: com o objetivo de “eficiência econômica”, ou seja,


uma gestão eficiente de recursos, com investimentos públicos e privados;

c) sustentabilidade ecológica: com o objetivo de conservar a biodiversidade por


meio de medidas como redução do consumo de recursos não renováveis (como
a água e o petróleo), diminuição de resíduos e definição de normas de proteção
ambiental;

d) sustentabilidade espacial: com o objetivo de uma relação territorial urbano-


rural mais equilibrada;

e) sustentabilidade cultural: refere-se às mudanças culturais nas localidades, às


raízes autóctones e de soluções próprias para o local (e não importadas).

Para o Laboratório de Sustentabilidade da USP (2012), a imagem do tripé


(aspectos econômicos, ambientais e sociais) é a ideal para irmos um pouco mais a
fundo na questão. Vejamos o que eles dizem:

No tocante ao aspecto social, é o capital humano de uma empresa, a


comunidade, a sociedade. Tudo dentro da lei, com remuneração justa, condições
de trabalho adequadas. Sobretudo, verificar como a comunidade é impactada.

Na questão ambiental, é o capital natural do empreendimento ou


da sociedade. Partindo do pressuposto de que toda organização impacta
negativamente – por menor que seja – o ambiente, cada ação deve planejar e agir
para minimizar tais impactos.

Na terceira parte do tripé, a questão econômica. Lucro sem devastar –


meio ambiente e sociedade como um todo.

Beni (2004, s.p) observa que “sustentabilidade pretende refletir uma


política e estratégia de desenvolvimento econômico e social contínuo, sem prejuízo
do ambiente e dos recursos naturais, de cuja qualidade depende a continuidade
da atividade humana e do desenvolvimento”.

O quadro a seguir, adaptado de Beni (2004, s.p), de Ramos, Silva e


Vieira Filho (2006) e de Rocha (2011), informa sobre fatos que ocorreram e que
possuem relação com a questão da sustentabilidade, fornecendo uma cronologia
importante para os temas que estamos tratando:

132
TÓPICO 1 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

QUADRO 14 – FATOS IMPORTANTES SOBRE A TEMÁTICA SUSTENTABILIDADE

Data Fato e comentários


MIT (Massachusetts Institute of Technology), solicitado pelo Clube de
Roma, elabora um informativo sobre os limites de crescimento, e traz como
1968-1970
conclusão questões de como chegar a ser uma sociedade materialmente
suficiente, socialmente equitativa e ecologicamente contínua.
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano em Estocolmo -
primeira iniciativa do gênero para examinar a questão de maneira global
1972
e coordenada na busca de soluções aos problemas existentes e definir
linhas de ação para a problemática ambiental.
Ignacy Sachs e sua equipe interdisciplinar, sediada no CIRED – Centre
International de Recherche sur l’Environnment et le Dévéloppement,
1974
reelaboram a questão do ecodesenvolvimento, criada em Estocolmo em
1972, ampliando e diversificando seus horizontes.
Com a Declaração de Cocoyoc de 1974, e o Relatório Que Faire apresentado
no final de 1975 pela Fundação Dag Hammarskjold, por ocasião da 7ª
Conferência Extraordinária das Nações Unidas, reutilizaram as ideias de
1974/1975
Sachs e sua equipe, sem utilizar, contudo, o termo ecodesenvolvimento
de forma explícita, mas as expressões um outro desenvolvimento e
desenvolvimento sustentado.
Em Nairóbi, Quênia, sede do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – PNUMA, realizou-se reunião comemorativa do 10º aniversário
1982 da Conferência de Estocolmo, quando se procedeu à avaliação dos
resultados até então obtidos e a um exame da mudança de percepção da
problemática ambiental.
Em resposta a uma decisão da Assembleia Geral da ONU, foi estabelecida
a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
presidida pela norueguesa Gro Brundtland. O objetivo amplo foi
reexaminar a questão ambiental, inter-relacionando-a com a questão do
desenvolvimento, e propor programas de ação. Quatro anos depois se
1983
elaborou o relatório final da comissão, intitulado Nosso Futuro Comum,
conhecido também como Relatório Brundtland. Desse relatório surge
com mais força a expressão desenvolvimento sustentável, com intenção
de despertar a conscientização pública e evidenciar a necessidade de um
melhor gerenciamento do meio ambiente para sustentar o planeta Terra.
Muitas das ideias e percepções do Relatório Brundtland foram discutidas
na Rio-92. Entre as principais destacam-se: a Carta da Terra, uma
declaração de princípios básicos a serem seguidos por todos os povos
1992
com respeito ao meio ambiente e ao desenvolvimento; e a Agenda 21,
um plano de ação com as metas aceitas universalmente para o período
pós-1992 e entrando pelo século 21.

133
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Por iniciativa da ONU, realiza-se a Primeira Conferência sobre Turismo


Sustentável, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (deu origem ao documento
intitulado “Carta Mundial de Turismo Sustentável”, neste documento
aparecem 18 estratégias de gestão, dirigidas a todos os setores envolvidos
com a atividade turística.). Foi copatrocinada pelo Programa Ambiental
1995 dessa mesma organização e pelo Programa sobre o Homem e a Biosfera
da Unesco e pela OMT. No mesmo ano foi lançada a publicação, pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), do
“Guia para um Turismo Ambientalmente Responsável”, documento que,
pela primeira vez, trouxe um estudo propositivo para compatibilizar os
interesses do setor turístico com a preservação do meio ambiente.
Código Mundial de Ética do Turismo, em evento realizado em Santiago do
Chile e elaborado pela Organização Mundial do Turismo. Este recomenda,
em seu artigo terceiro, que “Todos os tipos de desenvolvimento turístico
1999 que permitam economizar os recursos naturais raros e preciosos (...) e que
venham a evitar, na medida do possível, a produção de dejetos, devem
ser privilegiados e encorajados pelas autoridades públicas” (OMT, 1999:
In DIAS, 2003, p. 64).
Das recomendações oriundas da Conferência Mundial do Ecoturismo,
realizada em 2002 na cidade de Quebec, a recomendação nº 25 proposta
ao setor privado ressalta: “que o setor privado utilize crescentemente
materiais e produtos, bem como recursos logísticos e humanos próprios
2002 do lugar em suas operações, com o objetivo de manter a autenticidade
global do produto de ecoturismo e aumentar a porcentagem de benefícios
econômicos e de outro tipo que revertam ao destino. Para obtê-lo, os
operadores privados deverão investir na formação de mão de obra local”
(OMT, 2002).
O Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável, criado em 2002 em parceria
com o WWF-Brasil e a Fundação SOS Mata Atlântica, adota alguns
princípios de turismo sustentável, como a conservação do Ambiente
Natural, e onde cita que o turismo deve adotar práticas de mínimo impacto
2002
sobre o ambiente natural, de forma a contribuir para a manutenção das
dinâmicas e processos naturais em seus aspectos físicos e biológicos,
considerando o contexto cultural e socioeconômico existente (DIAS,
2003, p. 70).
Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável realizada em
2002 Johannesburgo – elaborado e assinado pelos participantes um termo para
redução de gases nocivos à atmosfera.
Protocolo de Kioto, termo para redução de gases nocivos à atmosfera -
2005
elaborado e assinado por quase todos os participantes.

FONTE: Adaptado de: Beni (2004, s.p); Ramos; Silva; Vieira Filho (2006, p. 6-7); Rocha (2011, p.
383)

134
TÓPICO 1 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Para Cruz (2002, p. 3-4), na Eco-92 a sustentabilidade ganhou “conceitos


e formas concretas, levando a novas concepções de como desenvolver o turismo
[...] de forma sustentável”.

Cruz (2002, p. 3-4) ainda nos conta sobre os resultados da Cúpula de


Especialistas em Ecoturismo:

evento que teve a participação de mais de mil pessoas, de diversas


origens profissionais, com resultados como o reconhecimento de
que o ecoturismo, pelo seu conceito, é turismo sustentável, pois
contribui para a conservação dos aspectos naturais e culturais, inclui
as comunidades locais. Reconheceram também que a atividade é
complexa e que possui aspectos positivos e negativos em termos de
impacto às comunidades e ao meio ambiente. (Cabe um comentário
nosso sobre citarmos sempre “impacto às comunidades e ao meio
ambiente”. Em tese, impacto ao meio ambiente já é um impacto à
comunidade, não é?)

Outro termo que ouvimos falar com bastante frequência é a expressão


“desenvolvimento sustentável”. Atualmente, em qual campanha política não
ouvimos isso? Ou em muitos telejornais, não? O termo “desenvolvimento” não
fala apenas em crescimento econômico, mas estava, de certa forma, “vinculado”,
sobretudo, aos aspectos econômicos.

Para o Instituto EcoDesenvolvimento (2012, s.p):

O conceito ecodesenvolvimento nasceu durante os anos 70, por causa


da polêmica gerada na primeira Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente, em Estocolmo, entre aqueles que defendiam o
desenvolvimento a qualquer preço, mesmo pondo em risco a própria
natureza, e os partidários das questões ambientais. O termo foi proposto
por Maurice Strong e, em seguida, ampliado pelo economista Ignacy
Sachs, que, além da preocupação com o meio ambiente, incorporou as
devidas atenções às questões sociais, econômicas, culturais, de gestão
participativa e ética. Como uma derivação do conceito, surgiu a ideia
de desenvolvimento sustentável.

O termo desenvolvimento sustentável se deu de forma ampla em 1987,


com a publicação do Relatório “Nosso Futuro Comum”, da Comissão Mundial de
Ambiente e Desenvolvimento (Relatório de Brundtland). O termo foi usado para:

trazer juntos os conceitos aparentemente discrepantes de


desenvolvimento econômico e conservação ambiental [...] um
desenvolvimento econômico que não estava preocupado simplesmente
em atingir um crescimento econômico máximo [...] mas também
permitir a equidade das gerações atuais com as gerações futuras.
(MACIEL, PAOLUCCI E RUSHMANN, 2008, p. 43).

O conceito é válido para todas as atividades, inclusive para o turismo.


Com os princípios do desenvolvimento sustentável e suas aplicações no turismo,
surge o termo “turismo sustentável”, que, para Godfrey (apud SCHLÜTTER,
2002, p. 215), “é o turismo amigável para o ambiente”.

135
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

FIGURA 18 – RESÍDUO NA PRAIA

FONTE: Disponível em: <http://envolverde.com.br/sociedade/cidadania/na-


tailandia-turista-recolhe-lixo-ate-debaixo-d%E2%80%99agua/>. Acesso em: 20
maio 2012.

Sampaio, Gândara e Mantovanelli Júnior (2003, p. 5) sugerem, a partir de


diversos autores, incluindo a OMT, a forma como as localidades devem gerenciar
sua região:

Os recursos locais devem ser geridos pelos próprios espaços locais.


Os espaços locais são verdadeiros incubadores das atividades
econômicas, sociais e ambientais, simulando uma perspectiva global
(Sampaio, 1996). Cada localidade deve aprender a brigar cada uma
com o calo que lhe dói: o hotel que despede funcionários em massa,
o êxodo rural ou urbano, a indústria que está matando o rio local, o
nível de educação das escolas (DOWBOR, 1990; 1994). Para promover
o empreendedorismo turístico do tipo endógeno deve-se iniciá-lo
através de agendas 21 para o turismo (OMT, 2002). O desenvolvimento
endógeno deve ser considerado como um instrumento de
fortalecimento dos destinos turísticos frente a um mercado cada vez
mais globalizado, pois somente os destinos em condições de competir
neste mercado de forma cooperada, com produtos de qualidade e
diferenciados, serão competitivos e, consequentemente, sustentáveis
(GANDARA, 2001).

Na sequência, vamos um pouco mais a fundo sobre o tema “turismo


sustentável”.

3 TURISMO SUSTENTÁVEL
O clichê de que o turismo é uma “indústria sem chaminés” ainda é
utilizado, mas, convenhamos, não deve ser utilizado, pois um dos efeitos
negativos da atividade é a poluição.

136
TÓPICO 1 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Barretto (1997) observa que o turismo de massa permite a exploração


de atrativos por indivíduos que adotam comportamentos inadequados,
podendo vir a comprometer as condições desses atrativos, além de
delimitar a interação do turista com o cidadão residente, não permitindo
o aprofundamento da convivência entre eles, gerando visitas apenas aos
lugares “pasteurizados” (DE LUCCA FILHO, 2005, p. 28).

Os impactos (positivos e negativos) desse movimento são rapidamente


sentidos nos locais receptores. Positivamente, há melhorias de infraestrutura
urbana, na rede de transportes, na rede gastronômica, na oferta de empregos e
na geração de novos negócios. No entanto, a chegada de populações flutuantes,
principalmente no período de férias escolares e feriados, gera transtornos
às populações locais, causando danos ao patrimônio local e ao ambiente
(KRIPPENDORF, 1989; MOSER; MÜLLER, 2002).

Segundo Krippendorf (1989), as recentes transformações da sociedade


determinam a diminuição da importância dos aspectos puramente econômicos
das coisas. Há um aumento da curiosidade pelos valores não materiais (saúde,
ambiente, natureza, saber, cultura) e a necessidade do indivíduo se personalizar,
libertando-se das normas e dos constrangimentos sociais.

FONTE: Adaptado de: <http://www.revistaturismo.com.br/artigos/posindustrial.html>. Acesso


em: 30 maio 2012.

Lins (2000, p. 66) diz que:

[...] se o turismo agrava problemas existentes (e produz novos


problemas) e se esse agravamento representa ameaça tanto à qualidade
de vida da população quanto à sustentabilidade do próprio turismo,
promover o combate aos efeitos deletérios da sua expansão constitui
processo fundamental. A noção a ser incorporada no universo turístico
[...] é a do turismo sustentável, querendo-se com a expressão designar
um tipo de prática turística cuja existência não represente risco para
a sua continuidade no futuro, tendo em vista que a preservação das
condições que subjazem à atividade torna-se a palavra de ordem.

Vamos abordar alguns destinos turísticos e as relações com a


sustentabilidade.

Um grande destino localizado na América do Sul é Bariloche, responsável


por grande parte do fluxo de turistas internacionais na Argentina. Com o objetivo de
transformar São Carlos de Bariloche num destino turístico internacional, em 1994
foi criado o Serviço de Parques Nacionais da Argentina. Tal Serviço preocupou-
se principalmente com o Parque Nacional Nahuel Huapi, na Patagônia. Várias
ações foram tomadas para incrementar o fluxo turístico na região: foi finalizada
a construção de uma estrada de ferro ligando Buenos Aires à cidade, construção
e reformas de hotéis, melhorias na infraestrutura – em especial na parte de
saneamento e construção de pistas de esqui. (SCHLÜTER, 2002).

137
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Para oferecer produtos aos turistas – ou aos integrantes da cadeia, como


hotéis e pistas de esqui –, as fazendas próximas à cidade começaram a produzir
leite, queijo, manteiga, ovos e frutas. “Pequenos produtores frequentemente
transformavam seus estabelecimentos em restaurantes e alojamentos”
(SCHLÜTER, 2002, p. 223). “A indústria de suvenires também apareceu, com
produtos como geleias, chocolate, cerâmica, tapetes, agasalhos de tricô, esculturas
e cosméticos”. (SCHLÜTER, 2002, p. 224). Para Schlüter (2002), se na Espanha o
turismo destruiu a produção agrícola, na Argentina o turismo forneceu as bases
para tal produção.

Você conhece os Sherpas, no Nepal? Provavelmente não. Os Sherpas são


uma tribo que vive em remotas montanhas no Himalaia. Eles fizeram do turismo
em sua região um sucesso – são os melhores guias montanheses do mundo,
levando milhares de turistas por ano ao Monte Everest. A partir deles, começou-
se a discutir o ingresso de outras tribos, como os Botias, no Vale Bhyundar, na
Índia (SINGH; SINGH, 2002). A partir do fracasso de outras tribos na atividade
turística, os Botias, comunidade simples, eminentemente pastoril (ovelhas),
oferecem aos turistas que se aventuram a chegar em suas terras, acomodações
rurais, simples, incrementando sua renda. Destaca-se o seguinte fato: não houve
mudanças nos hábitos comunitários: seus festivais continuam sendo realizados,
seus pratos tradicionais continuam a ser servidos e sua arquitetura permanece
inalterada.

Schalch (2007) abordou a questão dos resíduos sólidos e a relação com o


turismo sustentável, destacando a diferença entre tipos de resíduos sólidos (de
acordo com a ABNT), além de apontar a necessidade de se trabalhar a questão,
tendo em vista o aumento dos resíduos sólidos gerados.

Mas o que os destinos e os empreendimentos turísticos podem fazer para
serem “mais sustentáveis”?

O turismo rural de base comunitária é um exemplo interessante para


responder a essa questão. Em Santa Catarina existe uma ação, que é promovida
pela Associação Acolhida na Colônia, na região das Encostas da Serra Geral/
SC (municípios de Anitápolis, Santa Rosa de Lima, Rancho Queimado, Grão
Pará e Gravatal, região que recebeu grande influência da colonização alemã)
(INSTITUTO VIRTUAL DE TURISMO, 2011).

A sede da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia é em


Santa Rosa de Lima (figura a seguir), a 96 km de Florianópolis [...]. O
projeto é baseado no modelo Accueil Paysan de agroturismo, surgido
no Sul da França nos anos 1980. Por aqui, iniciou em 1999, em Rancho
Queimado, Anitápolis, Santa Rosa de Lima, Gravatal e Grão Pará
(projeto piloto), motivado pela necessidade dos agricultores familiares
de diversificar as atividades dentro das suas propriedades.
[...]

138
TÓPICO 1 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

O objetivo do projeto é consolidar a Acolhida na Colônia como


referência nacional no turismo rural de base comunitária e fortalecer
a Rede Turisol, organizando propriedades rurais para o mercado,
capacitando agricultores familiares em termos de hospitalidade,
realizando troca de experiências com agricultores de outros projetos,
ampliando o número de propriedades associadas, diversificando a
oferta turística das propriedades/municípios, desenvolvendo um
sistema de gestão (reservas e monitoramento do fluxo turístico)
para a entidade e monitorando a execução do projeto. O trabalho
desenvolvido pelos agricultores familiares da Acolhida na Colônia está
fundamentado no turismo de base comunitária, no trabalho de longo
prazo (com evolução gradual e adaptação das estruturas existentes),
na qualidade, no respeito ao meio ambiente e na parceria entre meio
urbano e rural. Para tanto, são realizadas palestras de sensibilização e
seminários de capacitação. Os serviços turísticos vinculados ao projeto
incluem compartilhar o modo de vida e o patrimônio cultural e natural
a partir de serviços como hospedagem, alimentação, lazer e venda de
produtos produzidos nas propriedades (INSTITUTO VIRTUAL DE
TURISMO, 2011).

FIGURA 19 – SANTA ROSA DE LIMA (SC)

FONTE: Ascari (2012)

As operadoras, por exemplo, podem criar seus produtos a partir de


parceiros sustentáveis, buscando meios de hospedagem certificados, trilhas
certificadas, papel reciclado na promoção – além de fugirem de – e denunciarem
– parceiros que usem mão de obra escrava, prostituição infantil e trabalho de
menores de 18 anos, por exemplo. As agências devem seguir o mesmo caminho,
trabalhando com parceiros sustentáveis.

Os meios de hospedagem devem ter preocupações e ações relativas


a menor consumo de energia, de água, de uso de detergentes biodegradáveis,
que se preocupem com a legalidade nas suas construções e reformas, que não
pratiquem negócios suspeitos com governos, enfim, um sistema de gestão
ambiental, certificações e demais ações efetivas. De uma forma ampla, que seja
um meio de hospedagem socialmente responsável.

139
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Com relação aos impactos negativos dos eventos, percebe-se que muitos
deles possuem relação com questões sustentáveis (em todas as suas dimensões).
Como aponta De Lucca Filho (2012), encontram-se na literatura questões sobre a
inflação, a criminalidade (PAGE; BARGER; MAYER, 2001; THOMPSON, 1999),
a falta de compromisso com os aspectos socioambientais, o não cumprimento
das leis em vigor, os gastos de manutenção dos equipamentos construídos, as
desapropriações (OLDS, 1998), corrupção (via superfaturamento), especulação
imobiliária, a retirada de população de rua das regiões próximas dos corredores
de transporte ou próximos dos locais do evento (SHAPCOTT, 1998) (ocorrido nas
Olimpíadas de Atlanta em 1996) e o desperdício de dinheiro público (ou o mau
uso do mesmo), a apropriação do esporte e da cultura por parte de organizações
privadas – e a consequentemente mercantilização de manifestações culturais –
entre outras.

Separar o lixo em grandes eventos é “básico”. Dickson e Arcodia (2010


apud DE LUCCA FILHO, 2012) levantam os aspectos relacionados com a
sustentabilidade ambiental dos eventos, destacando o papel fundamental que
as entidades de classe realizam. É fato que, no Brasil, cada vez mais empresas
utilizam brindes ecologicamente corretos e socialmente responsáveis, como
produtos em madeiras certificadas e linha de papelaria reciclável. As promotoras
e organizadoras começam a optar por empresas de eventos que utilizem alimentos
orgânicos, os estandes são cada vez mais elaborados com madeira certificada,
material reciclado ou reciclável e o uso de lixeiras com coleta seletiva é prática
frequente nos eventos.

O passo adiante seria os promotores de eventos e as organizadoras


poderem transformar seu evento em “lixo zero”, a partir de armazenamento,
seleção e destinação adequada dos resíduos, além das tradicionais compensações
de carbono a partir de reflorestamento.

A Couromodas de 2007 foi o primeiro evento de moda no Brasil que


inseriu a variável da sustentabilidade e responsabilidade social, e
como forma de garantir a legalidade do processo envolveu diversas
instituições que possuem credibilidade para atuar dentro de sua
especialidade, garantindo assim o processo de destinação de resíduos
produzidos, gerando trabalho e renda para cooperativas de reciclagem,
promoção da neutralização de carbono com ação carbon free, por
meio do plantio de árvores para compensar o gás carbônico emitido.
Segundo Graça Lara (CRISPIM, 2007), seriam necessárias 697 árvores
para neutralização de todo o carbono emitido pelo evento, mas foram
plantadas mil mudas. O plantio das árvores foi realizado pela Fundação
SOS Mata Atlântica, junto à Bacia do Rio Tietê, no Estado de São Paulo,
por meio do programa Florestas do Futuro. (BARBOSA, 2009, p. 8).

Ainda dentro da questão da sustentabilidade, sob a ótica da participação


comunitária, existem poucas pesquisas sobre as reações das comunidades em
relação aos impactos dos eventos que foram realizados. Com relação aos impactos
sociais, Hall, Sellwood e McKewon (1995 apud DE LUCCA FILHO, 2012), em

140
TÓPICO 1 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

estudo de caso de um grande evento, observaram o aumento da criminalidade, do


uso de drogas e da prostituição. Entretanto, no Pan 2007 (GAFFNEY, 2010 apud
DE LUCCA FILHO, 2012), durante os jogos a criminalidade diminuiu (como já
havia ocorrido com a Eco 92, também realizada no Rio de Janeiro).

A empresa Novo Ciclo, de Florianópolis (SC), atua com gestão ambiental


em eventos e disponibiliza cartilhas para expositores e promotores de eventos,
tendo como meta conceder a certificação “Lixo Zero”.

O programa é implementado com os objetivos de definir processos e


procedimentos gerenciais, através da disponibilização de soluções para a redução
da geração de lixo em todas as fases do evento. Além disso, são calculadas as
emissões atmosféricas provenientes da realização do mesmo. A empresa utiliza o
Princípio dos Rs – “Reduzir, reutilizar, reciclar e repensar”.

A empresa divide cada evento em quatro partes: 1) fase de projeto (com


ênfase na construção dos estandes); 2) fase de montagem (que inclui separação
pelos expositores dos resíduos para contêiner de acondicionamento); 3) fase do
evento e; 4) fase de desmontagem. Em linhas gerais, a empresa destaca ainda o uso
de contêineres e residuários e a parte do treinamento com todos os envolvidos,
expositores, pessoal responsável pela limpeza do evento, montadoras, empresas
de serviço de bufê e os visitantes do evento.

A Alcântara Machado realiza ações para neutralizar as emissões de gás


carbônico de seus eventos, como após as feiras AMBIENTAL EXPO e FENATRAN
2009. A empresa plantou 4.300 mudas de árvore em região de preservação
ambiental para compensar o que gerou de emissão nos dias das feiras. (REVISTA
DOS EVENTOS, 2006).

4 A CAPACIDADE DE CARGA
Segundo o Centro de Estudios Ambientales y Politicas (1992 apud
SOLDATELLI, 2004, p. 1), “o conceito de capacidade de carga teve sua origem
baseada em técnicas de manejo de vida silvestre, utilizadas para estimar e indicar
em termos quantitativos o nível ótimo de utilização de um determinado sistema,
sem causar a degradação do mesmo”.

De acordo com Maciel, Paolucci e Ruschmann (2008, p. 46):

no turismo, foi definido por Wagar no trabalho The carrying Capacity


of Wild lands for Recreation, de 1964 (apud PIRES, 2005), como “o
nível de uso que uma área pode suportar sem afetar a sua qualidade”,
e aplicado em trabalhos de manejo de visitantes em parques e reservas
naturais protegidas.

141
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Para Maciel, Paolucci e Ruschmann (2008, p. 46), “a maioria das


metodologias hoje utilizadas na determinação da capacidade de carga turística
em ambientes naturais faz uso em diferentes medidas de quatro esferas de
componentes”:

QUADRO 15 – METODOLOGIAS

Componente Descrição
Biofísicos: são aqueles relacionados aos recursos naturais;
levam em conta os impactos do turismo sobre a população local;
Socioculturais:

relacionam-se ao número máximo de visitantes para os quais


Psicológicos dos
uma área está apta a oferecer uma experiência turístico-
visitantes:
recreativa satisfatória num determinado período;
referem-se ao nível de visitação que pode ser controlado numa
determinada área, e estão relacionados com a disponibilidade
De manejo e gestão:
de infraestrutura e de recursos humanos para a gestão da área
em questão.

FONTE: Adaptado de: Maciel; Paolucci; Ruschmann (2008, p. 48)

De uma forma simples, podemos dizer que a capacidade de carga


turística é o número máximo de pessoas que determinado local pode suportar,
sem provocar efeitos negativos na área e sem que diminua a possibilidade de
usufruto por parte do turista ou, ainda, afete os moradores daquela região – tanto
nos aspectos culturais quanto econômicos.

Vários parâmetros devem ser observados – de acordo com o método de


mensuração da capacidade de carga:

Alguns dos parâmetros básicos utilizados na determinação da


capacidade de carga são: o tipo de atividade; a sazonalidade; o horário
de uso; o estado de conservação dos recursos da área natural; as
facilidades e as instalações existentes; o grau de satisfação do usuário,
entre outros (BÁEZ y ACU, 1998 apud SOLDATELLI, 2004, p. 3).

É fato que “a massificação de um lugar turístico, assim, representaria um


risco em potencial máximo para a degradação do ambiente natural e a ruína do
próprio turismo” (SPERB, 2006, p. 2).

Temos alguns exemplos de mensurações de capacidade de carga no


mundo e no Brasil. Swarbrooke (2000) fala do estudo da capacidade de carga em
Veneza, sugerindo a diminuição, em especial de excursionistas.

No Brasil, a capacidade da Ilha João da Cunha (a Ilha de Porto Belo–


SC) foi elaborada na década de 2000, pela UNIVALI – Universidade do Vale do
142
TÓPICO 1 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Itajaí (1.879 pessoas por dia, que permanece até hoje). Outro exemplo é o voucher
único, de Bonito (MS), que permite conter um número maior do que o possível na
localidade em determinado período, ou ainda, Fernando de Noronha (PE), que
pode receber no máximo 675 pessoas por dia.

DICAS

Para saber mais sobre os projetos realizados na Ilha de Porto Belo, sugerimos
a leitura de: RUSCHMANN, Dóris; ROSA, Rafaela. A sustentabilidade como estratégia de
desenvolvimento em empreendimentos turísticos: o caso da Ilha de Porto Belo/SC. In:
SEMINÁRIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, UCS, 2006, Anais... Caxias do Sul,
RS, jul. 2006.

Para Pires (1998), a extrapolação dos limites de capacidade de carga


faz aumentar os riscos de saturação do equipamento turístico, de degradação
do meio ambiente e de redução da qualidade da experiência turística, ou seja,
aspectos extremamente negativos para qualquer localidade.

Chegar a um “número mágico” de capacidade de carga turística e


impedir que mais turistas ingressem nos atrativos ou nos destinos não é tarefa
fácil, segundo ROCHA (2011). Os problemas para a definição da capacidade se
devem, basicamente, a dois aspectos: o político-econômico e o técnico, conforme
aponta Rocha (2011):

a) Em relação ao aspecto político-econômico, é a visão distorcida do que é a CCT.


Em alguns casos, a CCT é obtida a partir do número de leitos disponíveis nos
meios de hospedagem da região. Ou seja, quando o número está perto de se
encontrar com a demanda, os empreendedores simplesmente providenciam
novas construções ou reformas.

b) Outro problema é implantar a CCT em locais em que a atividade turística já


está consolidada. Como definir um número limite de visitantes? Certamente o
trade pressionará. Além disso, a questão de estabelecer um limite pode gerar
uma vontade ainda maior na demanda de visitar o local.

c) Aspecto técnico:
c1) dificuldade de encontrar técnicos especializados;
c2) tempo (pode levar décadas);
c3) recursos financeiros para as despesas de equipamentos e honorários.

Outro problema seria a forma de trabalho/ideologia dos especialistas,


com realidades diferentes das da localidade. Para que a CCT seja respaldada, a
comunidade não pode ficar alijada do processo.
143
RESUMO DO TÓPICO 1

No primeiro tópico desta unidade você estudou:

● Alguns conceitos relacionados à sustentabilidade, como desenvolvimento


sustentável e turismo.

● Conceitos e exemplos sobre capacidade de carga.

● A temática sustentabilidade não condiz apenas com o viés ambiental, sendo


que outros aspectos devem ser observados.

● Existem diversos estudos, em diversas áreas, como turismo, geografia, biologia


e outras, que pesquisam a relação do turismo com a natureza.

● As questões da sustentabilidade no turismo são delicadas, uma vez que as


motivações dos turistas invariavelmente “esbarram” na vida das comunidades
– descaracterização cultural, poluição, devastação do meio ambiente, trânsito
e, portanto, devem ser tratadas com extrema seriedade e de modo pensado,
discutido, envolvendo a sociedade.

● Pode parecer utopia que uma comunidade consiga demover um grande grupo
a realizar determinados investimentos. Porém, um planejamento turístico
adequado e sustentável deve ter a participação de todos os envolvidos, de
forma participativa.

144
AUTOATIVIDADE

Por que a sustentabilidade não abrange somente o componente ambiental?

145
146
UNIDADE 3
TÓPICO 2

CERTIFICAÇÃO E TURISMO

1 INTRODUÇÃO
Como saber se aquele destino ou empreendimento é sustentável? É bom
quando compramos algum produto e sabemos que ele é de qualidade, certo? A
certificação pode servir, em muitos casos, como uma garantia de qualidade. É
isso que iremos trabalhar no Tópico 2 do caderno: a certificação e o turismo.

2 CARACTERÍSTICAS DA CERTIFICAÇÃO
As normas para a qualidade se originaram durante a Segunda Guerra
Mundial, devido a uma necessidade de padronização entre as forças aliadas,
que precisavam ter equipamentos compatíveis uns com os outros, mesmo sendo
de diferentes países. Além disto, a qualidade dos suprimentos, principalmente
armamentos e munições, era fundamental para o sucesso. Assim, essas primeiras
normas eram totalmente voltadas para o controle do produto final.

Os grandes avanços dos últimos anos nos sistemas de comunicação


e transportes, contribuindo fortemente para a globalização da economia,
resultaram no estímulo ao comércio internacional. A negociação dos bens e
serviços depende, cada vez mais, da qualidade e de sua garantia.

FONTE: Disponível em: <http://www.voy.com/19210/2/276.html>. Acesso em: 30 maio 2012.

A certificação não deve ser realizada pela empresa que vende e nem pela
que compra. Pela que compra os testes são outros, podendo ser exigida uma
certificação, de um terceiro.

A certificação pode ser a partir da própria empresa que quer ser certificada,
com objetivos de mercado (voluntária) ou obrigatória (compulsória), quando exigida
pelo governo, por associação ou, ainda, por um comprador para efetuar a compra.

Algumas certificações são bem conhecidas dos brasileiros, como o Selo


de Pureza ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café, sobre pureza dos
cafés produzidos. Só quem tem determinado nível de pureza no café pode usar a
certificação – em geral usada na embalagem, para venda em varejo – e usada na
documentação – para exportação (muitas vezes por exigência dos compradores).

147
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Outros selos conhecidos são o selo Procel, que indica o nível de consumo
de energia elétrica de determinado aparelho e a certificação de madeira de
reflorestamento da FSC.

Muitos produtores de alimentos orgânicos fazem uso da certificação


e utilização de selos e rótulos ambientais e sociais, como forma de
garantir que seus produtos são cultivados sem o uso de fertilizantes
químicos ou defensivos agrícolas, com técnicas de produção orgânica
que visam incentivar a conservação do solo, da água, reduzir a poluição,
promover o bem-estar do ser humano e o equilíbrio com a natureza
(SOUZA e RESENDE, 2003). Segundo o Instituto Biodinâmico (IBC,
2009), a produção de alimentos orgânicos no Brasil cresce 30% ao ano
e ocupa atualmente uma área de 6,5 milhões de hectares de terras,
colocando o país na segunda posição dentre os maiores produtores
mundiais de orgânicos, principalmente devido ao extrativismo
sustentável da castanha, açaí, pupunha, látex, frutas e outras espécies
das matas tropicais, principalmente da Amazônia. Cerca de 75% da
produção nacional de orgânicos é exportada, principalmente para a
Europa, Estados Unidos e Japão, sendo liderada pela soja, o café e o
açúcar. No mercado interno os produtos mais comuns são as hortaliças,
seguidos de café, açúcar, sucos, mel, geleias, feijão, cereais, laticínios,
doces, chás e ervas medicinais (IBD, 2009). (BARBOSA, 2009, p. 6).

Nas licitações (modalidade de compra governamental) que ocorrem no


Brasil é comum observarmos necessidades de certificações para que o governo
faça a compra, exigindo da empresa determinada certificação. Na hotelaria, por
exemplo, em alguns editais de licitação é exigido que o meio de hospedagem
tenha determinada categoria (estrelas) para contratação do serviço.

3 VANTAGENS DA CERTIFICAÇÃO
Certificar exige investimentos das organizações. Dinheiro, tempo, esforço.
Muitas vezes a certificação demora meses, até anos, pois é um processo que prevê
adequações, melhorias, um processo contínuo. Mas será que certificar vale a pena?

As vantagens da certificação para as empresas são (SEBRAE/ABNT, 1993


apud BARBALHO, 1996, s. p):

a) benefícios para a implantação de sistemas de garantia pela


qualidade e, portanto, prestação de serviços e fabricação de bens mais
competitivos;
b) possibilita a assinatura de acordos de reconhecimento de marcas e
certificados;
c) facilita e barateia a certificação de bens;
d) facilita a implantação pela qualidade total nas organizações;
e) evita avaliações de diferentes clientes e fornecedores;
f) aumenta os argumentos comerciais.

Para Salvati (2001 apud SANT’ANNA; ZAMBONIM, 2002, p. 6):

148
TÓPICO 2 | CERTIFICAÇÃO E TURISMO

os programas de certificação no turismo têm por objetivo orientar


o consumidor na escolha de produtos com diferencial ambiental
e social, entre outros, bem como motivar empresas a atingir, com
responsabilidade, a eficiência na qualidade de produtos e serviços,
na segurança do trabalho e na suavização do impacto ambiental,
entre outras atitudes, mediante o cumprimento de padrões e normas
preestabelecidos.

Mas quando falamos em certificação, uma das primeiras coisas que vem à
mente são as normas ISO, não? Vamos abordá-las.

3.1 NORMAS ISO


Quando se fala em certificação, a mais conhecida em termos mundiais é
a ISO. ISO significa International Organization for Standardization (Organização
Internacional para Normalização) e seu objetivo é promover o desenvolvimento de
normas, testes e certificação, com o intuito de facilitar o intercâmbio internacional
de bens e serviços. Ela é uma federação mundial de organismos nacionais de
normalização, fundada em 1947. Esta organização é formada por representantes
de dezenas de países, cada um representado por um organismo de normas, testes
e certificação. Estas normas podem ser utilizadas por qualquer tipo de empresa,
seja ela grande ou pequena, de caráter industrial, prestadora de serviços ou
mesmo uma entidade governamental.

Dentre as normas ISO, as da série 9000 são as mais conhecidas. Elas


dizem respeito apenas ao sistema de gestão da qualidade de uma empresa,
e não às especificações dos produtos fabricados por esta empresa. Ou seja, o
fato de um produto ser fabricado por um processo certificado não significa que
este produto terá maior ou menor qualidade que um outro similar. Significa
apenas que todos os produtos fabricados segundo este processo apresentarão
as mesmas características e mesmo padrão de qualidade.

FONTE: Adaptado de: <http://www.coladaweb.com/administracao/iso-9000>. Acesso em: 30


maio 2012.

3.2 COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA ISO 9000


O conjunto de normas da ISO 9000 relativas à gestão e à garantia da
qualidade, assim como a terminologia da qualidade, é denominado Família ISO
9000. A Família ISO 9000 é composta pelas seguintes normas:

a) ISO 9001 – conjunto de normas padrão que abordam desde a identificação e


rastreabilidade do produto até o treinamento de pessoal.

b) ISO 9002 – modelos de qualidade para produção, instalação e serviços


associados.

149
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

c) ISO 9003 – modelo para garantia da qualidade em inspeção.

d) ISO 9004 – Gestão da Qualidade e Elementos do Sistema da Qualidade. A


norma ISO 9004-2 engloba as diretrizes para as empresas de serviço, incluindo
diretrizes para o processo de marketing, de concepção do serviço, de provisão
de serviço e análise e melhoria de serviço.

3.3 A ISO 14000


A ISO 14000 e a 14001 tratam do controle do impacto da atividade da
empresa no meio ambiente. É cada vez mais comum a implantação dessa
certificação em meios de hospedagem. Para obtê-la, os meios de hospedagem
devem lidar com uma série de assuntos, como gestão adequada dos recursos
naturais (água, gás e luz), gestão dos resíduos sólidos, além da comprovação do
atendimento às legislações, planos de emergência e plano de metas de melhorias,
entre outros.

“O processo de certificação pode ser uma alternativa positiva para garantir


a preservação, evitando o esgotamento dos recursos naturais e o tratamento
adequado dos resíduos gerados pelo setor de turismo” (PETKOW; CURY; DE
GRANDE, 2003, p. 3).

4 OUTRAS CERTIFICAÇÕES UTILIZADAS NO SETOR


TURÍSTICO
Neste item discutiremos outras certificações que são utilizadas no setor
turístico. Acompanhe!

4.1 O PROGRAMA HÓSPEDE DA NATUREZA


A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) iniciou em 1999
um modelo de gerenciamento ambiental denominado de Hóspedes da Natureza,
baseado no Enviromental Action Pack produzido pela Iniciativa Internacional
para Hotéis e o Meio ambiente (IHEI) em parceria com a Associação Internacional
de Hotéis e Restaurantes (IH&RA) e com o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (UNEP). Trata-se de um programa ambiental voltado a
empreendimentos hoteleiros (ABIH, 2004).

Amorim e Ramos (2003) pesquisaram sobre certificação ambiental,


especificamente sobre o Programa Hóspede da Natureza, lançado pela ABIH –
Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Tal programa é um ponto de partida
para a obtenção da certificação ISO 14000. Amorim e Ramos (2003) mostram
claramente os objetivos e as metas do “Programa Hóspede da Natureza”, que
pode render ao hotel uma economia de até 30% em energia elétrica e 20% em
água. Bom para todos, não é?
150
TÓPICO 2 | CERTIFICAÇÃO E TURISMO

Como apontam Amorim e Ramos (2003, p. 3):

O objetivo do programa é fomentar nos empresários hoteleiros a cultura


de investir em ações socioambientais, demonstrando que revertem em
benefícios econômicos, sociais e ambientais para o empreendimento
em si e para a comunidade em geral, com efetiva participação de
hóspedes e funcionários. O Programa Hóspede da Natureza era
composto por três fases: 1) conscientização, sensibilização e adesão,
capacitação do empreendedor e de seus funcionários; 2) realização de
diagnósticos; e, 3) desenvolvimento de programas ambientais. As três
fases levariam em média dois anos para serem completadas.

Esse modelo inicial foi reestruturado pelo Instituto Brasileiro de Qualidade


e Produtividade (IBQP), adequando-o mais à realidade brasileira e incluindo
questões relacionadas à responsabilidade social.

QUADRO 16 – ETAPAS DO FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA HÓSPEDES DA NATUREZA

Os interessados preenchem o termo que possibilitará à


TERMO DE INTERESSE
coordenação do programa a apresentação da proposta
PRÉVIO DE ADESÃO
técnica financeira.
Em comum acordo, o hotel e a ABIH assinam um contrato
COMPROMISSO em que serão estabelecidos os direitos e responsabili-
dades das partes.
O hotel preenche um questionário que tem duas
funções básicas: subsidiar o trabalho dos consultores de
BASE DE DADOS
forma eficiente e serve para a montagem de dados inicial,
que estabelece parâmetros de acompanhamento.
AGENDAMENTO A coordenação agenda a visita do consultor, o que permite
PERSONALIZADO ao hotel se preparar adequadamente para o diagnóstico.
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL INICIAL
SUPORTE CONTÍNUO
Entre 90 e 180 dias após a realização do diagnóstico am-
SOLICITAÇÃO DO SELO
biental inicial é realizada a auditoria ambiental.
AUDITORIA AMBIENTAL
Os administradores do hotel indicam os membros internos
IMPLANTANDO AS
da equipe responsáveis para implantar as ações planeja-
ADEQUAÇÕES
das do curso de RQAs.
O consultor apresenta o conjunto de recomendações que
CAPACITAÇÃO permitem aos administradores do hotel planejar e aval-
iar as ações que precisam ser desenvolvidas.
A avaliação diagnóstica é feita por um consultor qualifica-
SOLUÇÕES do, designado pela ABIH para checar aspectos da gestão
ambiental.
Fonte: ABIH (2007)

151
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Dreher (2004, p. 64), explicando questões relativas aos Hóspedes da


Natureza, informa que:

Para comprovar a evolução dos indicadores ambientais e receber o


selo anualmente, os hoteleiros recebem os auditores indicados pelo
programa, que observam os seguintes aspectos:
• Desenvolvimento da política ambiental do empreendimento.
• Resíduos sólidos.
• Eficiência no consumo de água e energia: racionalização e
gerenciamento.
• Gerenciamento das reservas e fontes naturais de água.
• Política de relacionamento com fornecedores.
•Motivação do staff para participação em programas de relacionamento
com a comunidade.
• Política de armazenamento para substâncias perigosas.
• Uso do solo.
• Uso de transporte.
• Arquitetura e design.
• Ruído.
• Parcerias em programas de desenvolvimento sustentável.
• Monitoramento dos programas e práticas ambientais do
empreendimento, que inclui também a revisão dos documentos e
procedimentos, entrevistas com os funcionários e participantes do
programa.

Posteriormente ao recebimento do segundo selo Responsabilidade


Ambiental, o empreendimento estaria apto para passar por um processo de
certificação internacional, tal qual a ISO 14000 (ABIH, 2007).

A marca Ibis, do grupo Accor, foi a primeira marca hoteleira com a


certificação ISO 9002. Todos os hotéis da bandeira Ibis possuem certificação ISO
9002.

Na Europa, a certificação foi entregue em 1997, concedida pelo BVQI


(Veritas Quality International Board). Esta certificação diz respeito
aos procedimentos de controle de qualidade implantados pela rede
dos hotéis Ibis no que se refere ao processamento de reservas, o
acolhimento 24 horas por dia, a hospedagem, as opções de café da
manhã “Madrugador” e “Fora de hora” e ao serviço Menu Express.
(AMAZONAS, 2005, s.p.).

4.2 CERTIFICAÇÃO PARA TURISMO DE AVENTURA


Foi criado em 2006 o Sistema Brasileiro de Certificação em Turismo de
Aventura. Com o intuito de desenvolver as normas técnicas para certificação de
profissionais, foi celebrado convênio entre a ABNT – Associação Brasileira de
Normas Técnicas, o Ministério do Turismo e o Instituto de Hospitalidade. Foi
realizado um mapeamento da situação nacional e internacional do Turismo de
Aventura para elaboração de diagnóstico sobre os aspectos críticos e requisitos
de segurança para a sua operação. A partir do diagnóstico do setor, o Sistema

152
TÓPICO 2 | CERTIFICAÇÃO E TURISMO

Brasileiro de Certificação em Turismo de Aventura gerou o Programa Brasileiro


de Certificação em Turismo de Aventura, que visa capacitar e credenciar os
profissionais que atuam nesse setor.

Outras certificações são usadas por empresas desse setor de atuação.


Prandi (2001) cita que a primeira operadora de turismo de aventura e ecoturismo
no Brasil (e segunda no mundo) que recebeu a ISO 14001 foi a “Mata A’Dentro”,
de Brotas (interior de São Paulo).

Fennell (2002) sugere que o profissionalismo e a certificação no ecoturismo


vão continuar à frente das discussões ligadas à regulamentação e ao controle
como um meio de dar destaque a uma indústria quase impossível de se limitar
(em termos de expansão). A certificação oferece a oportunidade de melhorar os
padrões da indústria do turismo, enquanto garante, ao mesmo tempo, serviços e
programas de alta qualidade em um mercado muito competitivo.

4.3 CERTIFICAÇÃO E EVENTOS


Os gases de efeito estufa são resultado da queima de combustíveis fósseis
usados pelos meios de transporte e outras atividades, “como a queima de matéria
orgânica (queimada das florestas, fornos industriais), agropecuária, agricultura,
na geração de energia elétrica, entre outras”. (ROCHA, 2003 apud BARBOSA,
2009, p. 20).

Em 2007, no Brasil, cerca de 150 eventos e empresas praticaram ações carbon


free, as quais são coordenadas pela ONG Iniciativa Verde. Outras instituições,
como a Fundação SOS Mata Atlântica, também realizaram ações para compensar
os GEEs emitidos por eventos (CRISPIM, 2007 apud BARBOSA, 2009).

A EcoEventos, uma empresa do Grupo Eco, oferece produtos e serviços


diferenciados e que envolvem responsabilidade social e ambiental, para a área de
eventos.

Com o primeiro bufê orgânico do Brasil, certificado pelo IBD (Instituto


BioDinâmico), a empresa ganhou o Prêmio Caio – principal premiação da
área de eventos no Brasil – de 2005. O Bufê Orgânico é oferecido como Café
da Manhã, Coffee-Break, Brunch e Coquetel, todos preparados com alimentos e
bebidas orgânicos. Além desses produtos, a empresa oferece diferenciais - como
as bandejas feitas com madeira de reflorestamento (certificada pela FSC) e de
modo artesanal produzidas por membros de comunidades tradicionais (como
quilombolas, ribeirinhos e pescadores), coleta seletiva de resíduos durante o
evento e a elaboração dos alimentos.

A principal novidade para certificação no setor de eventos é a ISO 20121


– que se originou da Norma BS – British Standards 8901 – Sustentabilidade para
eventos (EMPRESA VERDE, 2011).

153
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Segundo o site Empresa Verde (2011), a norma “requer que as organizações


identifiquem e compreendam os efeitos que suas atividades têm no meio ambiente,
na sociedade e na economia, tanto dentro da organização como na economia em
geral; e coloquem em prática medidas para minimizar os efeitos negativos”.

Quem quiser ser certificado com a norma 20121 deverá se organizar em


assuntos como:

Política de sustentabilidade
• Identificação e avaliação de problemas.
• Identificação e engajamento dos acionistas.
• Objetivos, metas e planos.
• Atuação contra os princípios do desenvolvimento de sustentabilidade.
• Controles operacionais.
• Competência e treinamento.
• Gestão da cadeia de suprimentos.
• Comunicação.
• Monitoramento e medição.
• Ação corretiva e preventiva.
• Auditoria de sistemas de gestão.
• Análise da gestão.
(EMPRESA VERDE, 2011).

4.4 CERTIFICAÇÃO E ALIMENTAÇÃO


Diversos certificados na área de higiene e segurança alimentar são
necessários para os estabelecimentos da área de alimentação. Os empregados
devem possuir certificados de cursos de higiene e manipulação de alimentos,
o espaço físico deve possuir alvarás dos órgãos públicos responsáveis, entre
outros. Mas, além das certificações compulsórias – determinadas pela legislação
-, os estabelecimentos podem obter outras certificações – voluntariamente –
que agregam valor ao local. Um exemplo é o Programa “Qualidade na Mesa”,
coordenado pela ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, que
auxilia os associados a se adequarem à legislação, além de capacitar os gestores a
técnicas de gestão financeira e operacional.

Outro exemplo de certificação voluntária na área de alimentação é o
da cidade de Campinas, em São Paulo. É o Selo de Qualidade Alimentar, um
certificado fornecido em conjunto pela Ceasa-Campinas e pela Prefeitura, por
meio da Secretaria de Saúde; pelo Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e
Similares; e pelo GDR, Grupo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Segurança
Alimentar. O selo faz parte do Programa de Segurança Alimentar da Prefeitura
Municipal de Campinas e é uma forma de atestar aos consumidores que os
estabelecimentos estão em conformidade com as exigências e normas higiênico-
sanitárias (CAMPINAS, 2006).

154
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você teve a oportunidade de:

● Aprender sobre certificação, suas características e usos no setor de turismo.

● Verificar que a certificação possui cada vez mais importância, tendo em vista o
mercado cada vez mais competitivo, as exigências por parte dos compradores
– cada vez mais bem informados e com visão socialmente responsável.

155
AUTOATIVIDADE

Você conhece alguma empresa certificada? E do setor turístico? Você


acha que uma empresa certificada é melhor do que uma não certificada? Por
quê? Para você, certificar uma empresa é importante?

156
UNIDADE 3
TÓPICO 3

RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS

1 INTRODUÇÃO
Existe uma relação direta entre a sustentabilidade, tema central do
caderno, com a responsabilidade social das empresas turísticas? Sim! E neste
tópico você terá a oportunidade de apreender sobre a responsabilidade social
das empresas turísticas, a sua relação com a sociedade e com o ambiente em que
ela está inserida. As empresas turísticas deverão não somente se preocupar em
analisar sua capacidade de oferta e demanda, mas também se comprometer a
desenvolver projetos e campanhas comunitárias, melhorando assim sua imagem
no mercado. E mais do que isso. A organização focada somente no lucro perde
espaço nos mercados, no mundo todo. O consumidor – cada vez mais – compra
de quem possui envolvimento com a comunidade, não usa trabalho escravo, se
preocupa com o meio ambiente e com as questões culturais regionais. A atitude
mais ética e responsável das empresas mostra que elas não se preocupam somente
com o lucro, mas também com o seu exercício de cidadania empresarial.

2 ASPECTOS QUE CONTRIBUEM PARA QUE AS EMPRESAS


TURÍSTICAS ALCANCEM NÍVEIS DE SUSTENTABILIDADE
Precisamos conhecer um pouco mais sobre o termo “responsabilidade
social” e, portanto, vamos ao conceito:

Para o Instituto Ethos (2012, s.p.), responsabilidade social é:

A forma de gestão que se define pela relação ética e transparente


da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e
pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a
diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

157
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

NOTA

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, organização sem


fins lucrativos fundada em 1998, tem como associadas algumas centenas de empresas em
operação no Brasil, de diferentes portes e setores de atividade. A entidade tem como missão
mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente
responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade mais próspera e justa. O
Instituto Ethos dissemina a prática da responsabilidade social por intermédio de atividades de
intercâmbio de experiências, publicações, programas e eventos voltados para seus associados
e para a comunidade de negócios em geral.
FONTE: Instituto Ethos (2012)

A responsabilidade social ocupa uma posição fundamental no


gerenciamento e no planejamento das políticas públicas, sociais, culturais
e ambientais. Sendo assim, as empresas turísticas deverão não somente se
preocupar em analisar sua capacidade de oferta e demanda, mas também se
comprometer em desenvolver projetos e campanhas comunitárias, melhorando
assim sua imagem no mercado.

Para Ramos, Silva e Vieira Filho (2006, s.p):

A responsabilidade social vai muito além das ações filantrópicas,


exigindo que a empresa abrace os projetos com o apoio de todos os
colaboradores, clientes, fornecedores e acionistas em prol da melhoria
da qualidade de vida da comunidade em que se insere. Por isso, é
preciso envolver todos os agentes da cadeia produtiva num processo
de transformação efetiva da sociedade. Faz parte desse processo
exigir políticas públicas coerentes e evitar a prática assistencialista
de somente angariar alimentos, agasalhos ou doação em dinheiro.

A atitude mais ética e responsável das empresas mostrará que elas não se
preocupam somente com o lucro, mas também com o seu exercício de cidadania
empresarial. E este exercício implica a adoção de códigos de conduta que, bem
vivenciados, conduzem as empresas a conquistar credibilidade no mercado e a ter
bons negócios em longo prazo, pois o comportamento socialmente responsável é
mais sustentável do que o comportamento oportunista.

Uma empresa turística que pretenda desenvolver atitudes sustentáveis


será notada através das suas relações com o meio ambiente e com a comunidade.
E vai um pouco além disso, como observa Giacomini Filho (2000, p. 65), quando
diz que “[...] a responsabilidade social da empresa turística não somente se
faz necessária no sentido de ser aceita no mercado, como também se torna
condição para não sofrer processos indenizatórios, condicionando sua própria
sobrevivência”.

158
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS

A temática da responsabilidade social é uma das principais vertentes da


administração de uma empresa. Para uma administração mais contemporânea
e comprometida com o desenvolvimento econômico e sustentável, defendido
por um mercado que exige um maior envolvimento das organizações em relação
às questões ambientais e socioculturais, não há como deixar de exigir que as
empresas, nos mais diversos setores da economia, efetivamente exerçam a sua
responsabilidade social, a partir de planejamentos e metas que contemplem a
sustentabilidade.

O conceito de responsabilidade social está fortemente relacionado


ao conceito de desenvolvimento sustentável. As visões de desenvolvimento
sustentável e responsabilidade social podem ser definidas e qualificadas
separadamente, contudo, quando estão juntas, a sinergia entre elas expressa uma
convergência entre os conceitos ecológicos, econômicos e sociais, como vimos no
início.

A empresa socialmente responsável (aqui expressa pelas empresas


turísticas), para adquirir credibilidade e uma boa imagem no mercado,
principalmente com os seus clientes e fornecedores, deverá desenvolver padrões
éticos de conduta perante a sociedade. Dessa forma, para ser reconhecida como
socialmente responsável, alguns elementos são de suma importância, tais como
os explicados a seguir.

Valores e transparências: nas relações internas e externas das empresas,


o código de ética se torna um instrumento de comunicação e pode estar contido
de valores como honestidade integridade, lealdade, solidariedade, respeito ao
próximo, justiça, entre outros, vindo a orientar a conduta e fundamentando
a missão social da empresa. Outro fator de importância, que vem integrar o
conjunto de práticas das empresas socialmente responsáveis, é o estabelecimento
de “relações transparentes” com a sociedade.

ATENCAO

As relações de comissionamento – nem sempre às claras, para escolha de


parceiros comerciais, com oferta de comissionamento diretamente para o vendedor e não
para a empresa – ou ainda a tentativa por parte de destinos durante o processo de captação
de um evento, são questões éticas complexas e que devem ser observadas pelos envolvidos.

159
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Meio ambiente: o desafio desta relação entre meio ambiente e as empresas


turísticas, sem dúvida alguma, é atingir níveis de sustentabilidade aceitáveis para
que tanto o setor econômico como o ambiente natural não sejam prejudicados.

A questão ambiental está intrinsecamente relacionada às questões


de cunho social. Ao ver a vida humana como pertencente ao ecossistema, os
problemas advindos da falta de cuidados com o meio ambiente atingem a vida
humana em saúde e qualidade de vida. Cabe também à empresa, diante da sua
responsabilidade referente às gerações futuras, realizar campanhas, projetos e
programas educativos voltados para seus funcionários, a comunidade, os turistas
e públicos mais amplos, além de envolver-se em outras iniciativas que reforcem
a educação ambiental. Esta responsabilidade com as gerações futuras significa a
manutenção da sustentabilidade entre o uso dos recursos naturais no presente e
a conservação no futuro.

Também a empresa poderá participar e apoiar projetos educacionais em


parceria com organizações ambientalistas, como, por exemplo, o Projeto Tamar/
ICMBio, das tartarugas marinhas (idealizado na Praia do Forte, na Bahia), de
proteção da fauna e flora. Esta participação pode ser feita através de contribuições
financeiras aos projetos e programas para a melhoria ambiental. Os hotéis-fazenda,
pousadas e parques temáticos construídos geralmente próximos de espaços
naturais, como áreas agropastoris e praias, possuem uma responsabilidade social
ainda maior, dadas suas características e localização.

O importante é saber administrar a coleta seletiva de lixos e o tratamento


do saneamento e esgotos, evitando o acúmulo de dejetos nas margens dos
caminhos e das trilhas, nas praias, e a contaminação das fontes de água doce e
mar perto destes equipamentos turísticos, a enfatizar a responsabilidade social
(frente às gerações futuras).

Comunidade: a integração com a comunidade é fundamental para


a empresa, pois ela é recompensada pela infraestrutura e o capital social
representado pelos seus empregados, que são oferecidos pela comunidade. Daí
a importância de a empresa estar envolvida com os demais atores que agem
na comunidade, apoiando projetos sociais, adotando estratégias que valorizem
a qualidade destes projetos, contribuindo para causas sociais. Além dessas
ações, a empresa, com o intuito de se aproximar mais ainda da comunidade
de seu interesse, deve incentivar seus funcionários a participarem de trabalho
voluntário e de projetos de caráter social.

Certamente, empresas que adotam e incentivam os programas de


voluntariado aumentam sua lucratividade e principalmente melhoram a sua
imagem institucional perante a comunidade. Portanto, é importante que as empresas
ligadas ao setor do turismo, para cumprirem e exercerem sua responsabilidade
social perante a comunidade, realizem as seguintes tarefas: participar
ativamente com outras empresas na discussão dos problemas comunitários e
no encaminhamento de sugestões e soluções; apoiar várias entidades através

160
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS

de doações e financiamento de projetos e/ou desenvolver projetos próprios que


beneficiem a comunidade local; disponibilizar suas instalações para reuniões com
alguns setores da comunidade, envolvendo-se em projetos de parceria; incluir no
orçamento projetos para a comunidade; oferecer e estimular oportunidades de
trabalho voluntário para seus funcionários nos projetos sociais que desenvolve
ou apoia; desenvolver uma política de recursos humanos que valorize a mão de
obra local, promovendo cursos técnicos de capacitação e treinamento profissional;
desenvolver programas de conscientização para preservação do patrimônio
cultural e natural com a comunidade.

NOTA

“De pouco vale o conhecimento técnico e científico sem o compromisso do


conhecimento ético. Despertar para a ética é acudir a todas as demais necessidades do
homem no espaço e suas inter-relações com o meio ambiente, mesmo porque as melhorias
necessárias na ética do turismo produzirão inevitavelmente uma acirrada competição de
ideias neste século”. (BENI, 2004, s.p).

O movimento Fair Trade (comércio justo – figura a seguir) é uma prática de


comércio que iniciou na década de 1960 na Europa e nos Estados Unidos, quando
os consumidores mais conscientes, motivados pelo clima de mudanças sociais
e políticas, começaram a exigir produtos responsáveis, ou seja, que não tenham
sido desenvolvidos a partir da exploração de trabalhadores e que tivessem um
preço justo, com princípios éticos em toda a sua cadeia produtiva (RIBAS, 2005
apud BARBOSA 2009).

Para Johnson (2004), as práticas do comércio justo buscam estabelecer


relações entre produtores e consumidores, com base na equidade,
parceria, confiança e interesses compartilhados, perseguindo
objetivos em dois planos: obter condições mais justas para grupos
de produtores marginalizados e fazer evoluir práticas e regras do
comércio com o apoio dos consumidores (...) é uma modalidade de
comércio que estabelece preços justos, considerando que toda cadeia
produtiva deve se beneficiar de maneira justa com padrões sociais e
ambientais respeitados. Para Johnson (2004), as marcas que possuem
registros internacionais de comércio justo se baseiam em um controle
vertical da cadeia de produção e comercialização dos produtos e
mercadorias cujas cadeias produtivas e comerciais podem ser objeto
de acompanhamento e controle. (...) as práticas do comércio justo
buscam estabelecer relações entre produtores e consumidores, com
base na equidade, parceria, confiança e interesses compartilhados,
perseguindo objetivos em dois planos: obter condições mais justas
para grupos de produtores marginalizados e fazer evoluir práticas
e regras do comércio com o apoio dos consumidores. (BARBOSA,
2009, p. 6).

161
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

FIGURA 20 – CERTIFICAÇÃO “FAIR TRADE”

FONTE: Green Life Style Magazine (2012)

Vimos no tópico anterior certificações relacionadas com o turismo.


Veremos aqui algumas certificações relativas à responsabilidade social:

Segundo Melo Neto (1999 apud RAMOS; SILVA; QUADROS FILHO,


2006, s.p):

A primeira norma de certificação social - “Social Accountability 8000”-


foi criada em 1997 pelo “The Council on Economic Priorites Acreditation
Agency – CEPAA. (...) A norma internacional visa implementar códigos
sociais de conduta com o intuito de melhorar as condições de trabalho,
como saúde e segurança, liberdade de associação, remuneração justa,
dentre outras, tanto na empresa auditada como em sua cadeia de
fornecedores. Criada em 1999 pelo Institute of Social and Ethical
Accountability, a AA 1000 apresenta diretrizes focadas na transparência,
comunicação e relacionamento com as partes interessadas, tanto quanto
outras iniciativas. “A norma AA 1000 ampliou o escopo de avaliação
social da empresa. Seu objetivo é monitorar as relações entre a empresa
e a comunidade onde está inserida.

A ABNT lançou em 2004 a NBR 16001, que “estabelece os requisitos


mínimos relativos a um sistema de gestão da responsabilidade social” (ABNT,
2004, p. 1), levando em conta os requisitos legais e outros, seus compromissos
éticos e sua preocupação com a promoção da cidadania, com a promoção do
desenvolvimento sustentável e com a transparência das suas atividades.

A norma prevê ainda que os objetivos e metas tenham relação com (ABNT,
2004, p. 4-5):

a) boas práticas de governança;


b) combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção;
c) práticas leais de concorrência;
d) direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho
infantil;

162
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS

e) direitos do trabalhador, incluindo o de livre associação, de


negociação, a remuneração justa e benefícios básicos, bem como o
combate ao trabalho forçado;
f) promoção da diversidade e combate à discriminação (por exemplo:
cultural, de gênero, de raça/etnia, idade, pessoa com deficiência);
g) compromisso com o desenvolvimento profissional;
h) promoção da saúde e segurança;
i) promoção de padrões sustentáveis de desenvolvimento, produção,
distribuição e consumo, contemplando fornecedores, prestadores de
serviço, entre outros;
j) proteção ao meio ambiente e aos direitos das gerações futuras;
k) ações sociais de interesse público.

Indo além da ISO 16001, a ISO 26000, lançada em 2010, cobre todos
os elementos corporativos de responsabilidade social (social, econômica e
ambiental), composta por sete temas centrais em relação à participação das partes
interessadas. Já a SA 8000 abrange o domínio de responsabilidade social (trabalho
e condições de trabalho), tais como: “práticas de trabalho, discriminação, saúde e
segurança, remuneração, jornada de trabalho, disciplina e sistema de gestão para
recursos humanos”. (BUREAU VERITAS, 2012, s.p).

Segundo o Instituto Eco Desenvolvimento (2012, s.p), os sete princípios da ISO


26000 são:

• Responsabilidade.
• Transparência.
• Comportamento ético.
• Consideração pelas partes interessadas.
• Legalidade.
• Normas internacionais.
• Direitos humanos.

Além dos princípios, os temas centrais do documento envolvem as áreas


de Direitos Humanos; Práticas de Trabalho; Meio Ambiente; Práticas Leais de
Operação; Combate à Corrupção e Propina; Consumidores e Desenvolvimento
aliado à participação comunitária.

Hora do café. Sim. Vamos falar da famosa mundialmente Starbucks


Coffee Company. Em 2006 a organização informou que a quantidade de grãos de
café comprados por ela, por intermédio da C.A.F.E. (Coffee and Farmer Equity
Practices), “um guia de diretrizes socialmente responsáveis por ela criado para a
compra de café, dobrou em relação ao ano anterior” (STARBUCKS, 2007).

A lógica da empresa era – e continua sendo – a de pagar mais aos


produtores que produzem café com qualidade. Tal atividade é realizada em 24
países, contribuindo para o sustento de milhares de comunidades.

“Café de qualidade”, para a Starbucks (2007), é aquele cultivado e


processado de um modo sustentável e a empresa paga mais que o “normal” por
isso. Mas não é fácil para o produtor. O produtor deve demonstrar “investimento
social na comunidade, transparência econômica para garantir pagamento justo
para as colheitas e responsabilidade com o meio ambiente” (STARBUCKS, 2007).

163
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você pôde:

● Aprender sobre a responsabilidade social, que constitui atualmente um


importante aspecto a ser considerado na administração das empresas
turísticas no que diz respeito ao gerenciamento em relação estabelecida com as
comunidades com as quais possuem laços.

● Para uma administração contemporânea e comprometida com a


sustentabilidade, é necessário um envolvimento ainda maior das empresas em
relação às questões ambientais, sociais, culturais e econômicas, preocupando-
se com a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

● A responsabilidade social não é um modismo.

● As empresas atualizadas não devem ter o foco somente no lucro, mas também
na luta em favor da melhoria da qualidade de vida das comunidades em que
estão inseridas (e não somente na visão economicista e liberal do “eu gero
empregos e pago impostos”).

164
AUTOATIVIDADE

1 Você conhece algumas empresas que praticam a responsabilidade social?


Quais? E quais são as ações de responsabilidade social que elas praticam?

2 O que as empresas turísticas devem fazer para serem reconhecidas como


socialmente responsáveis?

165
166
UNIDADE 3
TÓPICO 4

DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
O consumo é parte da vida humana. Produtos e serviços sempre foram
e sempre serão consumidos por nós. A atividade turística também é uma forma
de consumo – sendo bens materiais ou imateriais. Mas não consumimos bens e
serviços por si sós. Consumimos imagens, símbolos. A produção e o consumo
conscientes têm tudo a ver com a sustentabilidade. Nos últimos anos, uma outra
forma de olhar o turismo – e especialmente o seu consumo - é o turismo de
experiência.

2 CONSUMO
Sem uma produção mais limpa e um consumo mais responsável, é
impossível termos uma economia mais sustentável. E é difícil alterar os padrões de
produção e consumo de uma hora para outra, certo? Sem dúvida. Em centenas de
anos – e mais especificamente no século XX, com o incremento da industrialização
e da produção em série – e também pelo aumento do número de assalariados, o
consumo médio de produtos, de uma maneira geral, aumentou.

Mas o que são “produção sustentável” e “consumo sustentável”?

Segundo o Processo de Marrakesh – PNUMA – Programa das Nações


Unidas para o Meio Ambiente (BRASIL, 2011, p.17):

Consumo sustentável é o uso de bens e serviços que atendam às


necessidades básicas, proporcionando uma melhor qualidade de vida,
enquanto minimizam o uso dos recursos naturais e materiais tóxicos,
a geração de resíduos e a emissão de poluentes durante todo o ciclo de
vida do produto ou do serviço, de modo que não se coloque em risco as
necessidades das futuras gerações”.
Produção sustentável é a incorporação, ao longo de todo o ciclo de vida
de bens e serviços, das melhores alternativas possíveis para minimizar
custos ambientais e sociais. Acredita-se que esta abordagem preventiva
melhore a competitividade das empresas e reduza o risco para saúde
humana e meio ambiente. Vista numa perspectiva planetária, a
produção sustentável deve incorporar a noção de limites na oferta de
recursos naturais e na capacidade do meio ambiente para absorver os
impactos da ação humana.

167
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

E
IMPORTANT

O Brasil aderiu ao Processo de Marrakesh em 2007, tendo se comprometido


a elaborar seu Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), que foi
desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Comitê Gestor de Produção e
Consumo Sustentável (CGPCS).

Nos últimos anos o Estado brasileiro tem construído uma legislação que
vai ao encontro de tais questões, como, por exemplo:

a Lei Nacional de Recursos Hídricos, em 1998, o Sistema Nacional


de Unidades de Conservação, de 2002, da estruturação do próprio
SISNAMA, da Política Nacional de Educação Ambiental, em 1999, e
outras, que buscam oferecer parâmetros e amparo legal para novos
e mais ousados passos. Mais recentemente, a Política Nacional sobre
Mudança do Clima, de 2009, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
em 2010, colocaram mais dois importantes pilares no conjunto
de políticas brasileiras que visam orientar cada vez mais a nossa
economia e a nossa sociedade para o desenvolvimento sustentável.
(BRASIL, 2011, p. 9).

O PPCS – Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis elencou


seis prioridades para serem trabalhadas. Essas prioridades são (BRASIL, 2011):
educação para o consumo sustentável; compras públicas sustentáveis; agenda
ambiental na administração pública; aumento da reciclagem de resíduos sólidos;
varejo sustentável – para discutir a percepção do setor varejista a respeito da
inserção de práticas de sustentabilidade nas suas operações e o seu papel na
promoção do consumo sustentável por meio de ações condizentes com as
premissas e objetivos do PPCS; construções sustentáveis.

Diversas entidades atuam na área da sustentabilidade. Uma das mais


conhecidas é o Instituto Akatu, que propõe 12 princípios relacionados com o
consumo sustentável, que vão desde planejar nossas compras para adquirirmos
somente o essencial, levar em conta se o produto comprado impacta o meio
ambiente, reutilização de embalagens (quantas vezes jogamos fora alguma coisa
que podemos reutilizar?), separar o lixo, usar o crédito de forma consciente,
valorizar as empresas socialmente responsáveis, não comprar produtos piratas
ou fruto de contrabando e divulgar o consumo consciente, entre outros.

168
TÓPICO 4 | DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA

NOTA

O Instituto Akatu é uma ONG que conta com o apoio de dezenas de grandes
empresas. O Instituto prega – e tem como slogan - o consumo consciente para um futuro
sustentável.

3 GLOBALIZAÇÃO E TURISMO
É necessário abordarmos a questão da globalização para discutirmos as
questões de consumo e, posteriormente, a economia da experiência. Embora
a troca de mercadorias entre povos seja comum há centenas, até milhares de
anos, em alguns momentos da história da humanidade ela é mais frequente,
como nos momentos de dominação/colonização, com as grandes navegações e,
ultimamente, com a revolução informacional e com o incremento tecnológico nos
transportes.

A globalização é uma referência constante nas discussões que estão


ocorrendo nos últimos anos, envolvendo diferentes aspectos, como o social, o
econômico, o financeiro e o tecnológico. Do ponto de vista econômico, está
relacionada com a abertura das economias nacionais, a unificação dos mercados e
a concorrência em nível mundial, que são possibilitadas pelo avanço tecnológico
nas comunicações e nos transportes (TOLEDO et al., 2001).

Ortiz (1994, p. 150) escreve sobre as empresas transnacionais, estruturas


de importância incontestável na realidade globalizada:

[...] a corporação transnacional, ao tomar o planeta como mercado


único, redimensiona suas prioridades. Não é a parte que determina
o todo, mas o inverso. Sua operacionalidade é ditada pela competição
global. As especificidades nacionais são, neste caso, secundárias, sendo
levadas em conta apenas quando as políticas totalizantes estiverem
traçadas de antemão.

Grandes conglomerados multinacionais dirigem as unidades de bens e


serviço, em geral organizações que possuem suas matrizes em países localizados
na tríade formada por Estados Unidos, o Japão e a Europa Ocidental (ORTIZ,
1994; DREIFUSS, 1996).

Dentro da realidade globalizada se tem propagado uma visão que


restringe o fenômeno turístico, que passa a ser identificado pelas empresas
do setor como um momento de consumo intensivo. Viajar a passeio torna-se
sinônimo de consumir cartões de crédito, pacotes turísticos, automóveis, brindes
etc. Coriolano (1997) afirma que a viagem é hoje um dos grandes consumos da
sociedade, criada principalmente pela mídia globalizada.

169
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Dreifuss (1996, p. 138) interpretou o crescente número de pessoas que


viaja para fora dos seus países de forma generalizada, retratando somente a face
alienada dos turistas:

[...] uma população mundial que, a despeito das suas diferenças


históricas (culturais, sociais, nacionais e religiosas) e das distâncias
físicas, consome e reconhece como seus os mais diversos objetos e
procedimentos: marcas e tipos de refrigerantes em lata e em garrafas
sem retorno, medicamentos e comidas industrializadas, cartões de
crédito e músicas na parada de sucessos, relógios e cosméticos, roupas
de grifes, massa e envases, personagens do esporte e do cinema. Gente
que utiliza os intercomunicantes subsistemas financeiros, que paga
com cartões plásticos (a maioria pertencente a três grandes bandeiras,
Visa, MasterCard e American Express), reconhecidos no mundo
inteiro, e contabiliza seus gastos e compras em dólares.

Segundo Mattelart (apud TRIGO, 1999), no turismo, os grandes grupos –


hotéis, agências de viagens ou locadoras de carros – estão presentes nos países
do terceiro mundo, em geral evidenciando o fosso econômico e social, de modo
que os turistas acabam se tornando um modelo a ser seguido pela população
autóctone.

Atualmente se observa o extremo de padronizar os odores em aeroportos


internacionais, aviões e cadeias de hotéis, tentando justamente propiciar ao
viajante a sensação de familiaridade, conforto. (BENI, 2003; MOLINA, 2003). De
Masi (2000) expõe que em qualquer parte do mundo onde se tome um táxi se
escuta no rádio rock americano; na Amazônia, em qualquer bar existe coca-cola.
Pelo mundo são usados os mesmos guias turísticos – como Foddor’s e Frommer’s.

Machado e Siqueira (2008, p. 4) observam que:

A mercantilização de culturas é um tema que sempre se destacou


nos estudos da sociologia e da antropologia sobre o turismo, os quais
tiveram início na década de 1960 (anos marcados por uma enorme
euforia internacional em virtude do expressivo crescimento da
atividade).

Numa crítica à globalização e à homogeneização (também chamada de


pasteurização), notadamente presentes nas características do turismo de massa
– aeroportos parecidos, hotéis (de rede) padronizados –, Praxedes (2002, p. 8) faz
um alerta aos riscos de tal tipo de turismo:

antes de encararmos o turismo como uma forma de implementar a


internacionalização de usos e costumes e de um modelo consumista
e concentrador de riquezas, podemos pensá-lo como uma forma de
resistência à globalização, que pode ocorrer a partir do desenvolvimento
de alternativas socioculturais e ambientais, como exemplificam
algumas modalidades de ecoturismo e de turismo rural, propícias ao
envolvimento de comunidades marginalizadas pela modernização
capitalista, que estão ansiosas por reafirmar suas identidades, frente à
ameaça de homogeneização cultural e exclusão social.

170
TÓPICO 4 | DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA

A pausterização não faz bem ao turismo! Tudo igual? Será que valerá a
pena viajar se tudo ficar cada vez mais parecido?

4 TURISMO DE EXPERIÊNCIA
Sentiu? Guardou na memória? É inesquecível? Bem mais que um serviço
bem prestado, eis o turismo de experiência.

Fazendo parte do setor de serviços, o turismo tem estado inevitavelmente


associado ao desenvolvimento de novas tecnologias e relacionado à inovação
organizacional e estrutural. Existe uma tendência de flexibilização do produto
turístico, passando de massificado para personalizado. (STAMBOULIS;
SKAYANNIS, 2003 apud DE LUCCA FILHO, 2005).

Em todo o mundo, diversas transformações vêm sendo observadas no


padrão de consumo do produto turístico a partir de mudanças oriundas da
sociedade da informação. As experiências únicas, autênticas, culturais, estão
na mira de significativa parcela de turistas – e tal fatia deve aumentar (BRASIL;
SEBRAE; IMT, 2007).

Tal fato advém do surgimento do conceito “Economia da Experiência”,


que emergiu a partir de 1999 com a obra do dinamarquês Rolf Jensen
intitulada “A sociedade dos sonhos”. Além disso, o estudo intitulado
“Economia da Experiência”, de James Gilmore e Joseph Pine, foi
sendo incorporado pelo turismo, anunciando novos valores ao
mercado. O conceito traz a concepção de “inovação”, com vistas a
agregar valor à oferta turística e qualificar destinos para atender às
expectativas dos consumidores, a cada dia mais exigentes. Está sendo
seguida por aqueles que querem inovar nos processos de formatação
e comercialização de produtos, especialmente na atividade turística.
Esse fenômeno atual faz com que o componente emocional, os valores
e os sentimentos adquiram maior relevância que o componente
racional. Os produtos e serviços turísticos tendem, com isso, a priorizar
a promoção e venda de experiências únicas como fator diferencial para
sua comercialização. (BRASIL, 2010, p. 24-25).

NOTA

Jensen esteve no Brasil no Salão Brasileiro de Turismo, em junho de 2006, em


São Paulo, palestrando sobre o tema.

171
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Para Morgan, Lugosi e Ritchie (2010), pessoas não compram produtos ou


serviços. Elas compram as experiências que os produtos e serviços proporcionam.
Uma gestão experiente deve ajustar a competitividade em mercados em que a
globalização e a tecnologia transformaram produtos e serviços em commodities.

Pine e Gilmore (1999 apud GUZMÁN; VIEIRA JÚNIOR; SANTOS, 2011,


s.p), em seu livro The Experience Economy, dizem que as experiências são
“ofertas econômicas diferenciadas, sendo divergentes dos serviços, pois, para
alguns economistas e empresários, o conceito de experiência é como se fosse uma
simples forma de agregar valor na prestação de serviços”.

Falcão (s.d) aponta os pilares da economia da experiência, a partir de Pine


e Gilmore (1999):

O primeiro é haver algum tipo de educação envolvida na experiência.


O segundo é proporcionar entretenimento. O terceiro é fazer com que
a experiência tenha uma estética que maravilhe, como quando vemos
uma paisagem belíssima. E o quarto é o que Pine e Gilmore chamam
de "evasão", aquele momento em que estamos tão absorvidos que
perdemos a noção do tempo!

Cheiro de café, adrenalina das atividades de aventura, o som da bateria


de uma escola de samba... isso é experiência. E um pouco mais além. A conversa
com outros turistas na cozinha de um albergue, o odor de uma torta de uma
confeitaria francesa, tirar o leite da vaca numa fazenda – também são experiências
que podem ser marcantes numa viagem. Vai além da prestação de um ótimo
serviço. Vai além daquele turista - simplesmente - hedonista.

A ordem, no turismo de experiência, é contar histórias e vivenciar emoções,


sentimentos:

Na cidade de Belém/PA, a aplicação do conceito “Economia


da Experiência” na atividade turística possibilitou ao destino a
formatação de produtos turísticos que valorizassem a interação com
sua cultura, história e costumes locais. Empreendimentos do destino
desenvolveram a oferta de experiências únicas com base na valorização
da história e da singularidade local por meio, por exemplo, da
culinária regional, com vistas a inovar os produtos turísticos ofertados
e melhorar seu posicionamento no mercado. (BRASIL, 2010, p. 26).

172
TÓPICO 4 | DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA

FIGURA 21 – TURISTAS PISANDO EM UVAS PARA ELABORAÇÃO DE VINHO

FONTE: Ceratti (2011)

A Starbucks (que chegou ao Brasil em 2006), que vimos no Tópico 3, tem


a “The Starbucks Experience”, que consiste em cinco pontos principais: aja como
se fosse o dono, tudo importa, surpresa e encantamento, abrace a oposição (em
relação aos clientes que reclamam), deixe sua marca. O princípio principal da
Starbucks é: “Faça algo de bom para as pessoas à sua volta, clientes, funcionários
e comunidade” (MICHELLI, 2006, p. 40).

Em relação à hotelaria, Mondo (2010, p. 283-284) demonstra as cinco


determinantes da qualidade em serviços e a sua relação com o turismo de
experiência.

QUADRO 17 – RELAÇÃO DAS DETERMINANTES DE QUALIDADE EM SERVIÇOS E A


EXPERIÊNCIA NA HOTELARIA

Determinantes
da Qualidade em A experiência através do turismo na hotelaria
Serviços

Os hóspedes buscam segurança no serviço que compraram.


Assim, as experiências vivenciadas no hotel devem satisfazer
Confiabilidade
às expectativas. Quanto maior a expectativa, maior deve ser a
confiabilidade que o hotel transmite aos hóspedes.
O quadro de funcionários do hotel deve prestar os serviços da
melhor maneira possível, proporcionando ao cliente a vivência
Responsividade
plena do que o hotel está oferecendo e se colocando à disposição
do hóspede sempre.

173
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

O hotel deve ter pleno conhecimento do que está oferecendo.


Segurança Saber dos riscos e das possibilidades que o serviço oferece ao
cliente. Deve utilizar tal conhecimento para encantar o hóspede.
A atenção personalizada ao cliente é requisito básico em qualquer
atividade do segmento de serviços. No hotel, o atendimento e a
Empatia cortesia devem ser base para qualquer ato de interação. Muitas
vezes o hóspede interioriza a experiência de maneira mais fácil
e melhor quando o atendimento é de qualidade.
As instalações físicas do hotel, a idade dos equipamentos,
a disposição de utensílios e móveis, enfim, os aspectos
Aspectos tangíveis
mensuráveis do serviço estão diretamente ligados à satisfação
e vivência do hóspede.

FONTE: Mondo (2010, p. 283-284)

174
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico estudamos que:

● O consumo pelo consumo não contribui em nada para a sociedade.

● O ritmo do consumo atual já se mostrou incompatível com um futuro promissor


para o planeta.

● A mundialização foi discutida no âmbito do turismo.

● Em contrapartida, o turismo de experiência foi apresentado como perspectiva


para estudo da demanda.

175
AUTOATIVIDADE

1 Escolha um empreendimento turístico. Imagine-se o gestor. Qual experiência


marcante você poderia oferecer?

2 Reflita: você é consumista? Tudo o que você consome é, de fato, necessário


para sua vida?

176
UNIDADE 3
TÓPICO 5

REDES E TURISMO

1 INTRODUÇÃO
Cooperação? Como atuar em rede? O que são alianças estratégicas? Vamos
conhecer o conceito, os tipos e as principais alianças entre empresas relacionadas
com turismo. As alianças são formas de cooperação entre empresas – algumas
vezes até concorrentes – para gerar alguns benefícios mútuos, principalmente
redução de custos e economia na produção.

A atuação em redes faz parte de uma nova visão de relacionamento


comercial – embora, no turismo, o relacionamento empresarial é condição
essencial para a realização dos negócios desde os primórdios da atividade.
Conforme De Lucca Filho (2004, p. 15), “na atividade turística as alianças podem
ser consideradas premissas para o estabelecimento dos negócios. A relação entre
empresas de transporte, hospedagem e agências é uma condição básica para a
própria existência dos negócios na atividade turística”.

2 REDES
Conceituando redes, Castells (1999, p. 447) diz que:

redes são instrumentos para a economia capitalista baseada na


inovação, globalização e concentração descentralizada; para o
trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e
adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução e reconstrução
contínuas; para uma política destinada ao processamento instantâneo
de novos valores e humores públicos; e para uma organização social
que vise à suplantação do espaço e invalidação do tempo.

Para De Lucca Filho (2005, p. 35):

Cury (2004, p. 22) observa que “o produto turístico é o resultado de uma


rede coordenada de relações de negócio para negócio (business to business), em que
o atacadista constrói uma rede de relacionamentos entre empresas especializadas
para produzir um produto sinérgico que nenhuma organização produziria
sozinha”. Para Bignami (2004, p. 170), o que ocorre “é uma trama de relações
entre empresas, indivíduos e entidades [...]. O produto turístico é [...] uma cadeia
de ofertas, na qual cada ponto interfere no resultado final”.

177
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Em se tratando de atuação em rede, uma das formas mais discutidas nos


últimos anos foi a estratégia de clusters.

Para Beni (2003, p. 74), um cluster turístico é:

1.Conjunto de atrativos com destacado diferencial turístico,


concentrado num espaço geográfico delimitado, com equipamentos e
serviços de qualidade, de eficiência coletiva, coesão social e política, de
articulação da cadeia produtiva e de cultura associativa, com excelência
gerencial em redes de empresas que geram vantagens estratégicas
comparativas e competitivas. (ex: Caribe, Bariloche, Cancún, Foz do
Iguaçu).
2. Forma mais bem-sucedida de articulação (integração e interação)
de um modelo gestor de destinação turística, envolvendo promoção,
comercialização, desenvolvimento e cooperação entre os agentes
econômicos, culturais, políticos e sociais de uma região.

Para Lins (2000 apud DE LUCCA FILHO, 2003, p. 28), “clusters são
concentrações geográficas de empresas, pertencentes a um mesmo setor ou a
setores conexos, que, beneficiadas por atividades de apoio e pela presença de
instituições, geralmente atuam de forma especializada e complementar”.

Para Michael Porter (2003, p. 13), estudioso de estratégias, clusters são:

aglomerados de atividades produtivas afins, localizadas em


determinado espaço geográfico e desenvolvidas por empresas
autônomas de pequeno, médio e até de grande porte, intensamente
articuladas, constituindo ambiente de negócios onde prevalecem
relações de recíproca confiança entre as diferentes partes envolvidas.
Tais empresas são apoiadas por instituições provedoras de recursos
humanos, de recursos financeiros, de infraestrutura etc.

Em artigo do Professor Luiz Ernesto Brambatti, “A Territorialidade no


Planejamento do Turismo” (2001, s.p.), o autor coloca o significado de cluster
intimamente relacionado com o conceito de cadeia produtiva:

Uma atração, por si, não faz um roteiro. São necessários vários
equipamentos encadeados, ligados uns aos outros, formando uma
cadeia, que, no turismo, pertencem a classes econômicas distintas, como
hotéis, restaurantes, lojas comerciais, artesanato, prestadores de serviços
de transportes, guias, o que caracteriza um cluster uma cadeia produtiva.

Um dos mais conceituados autores nacionais da área do turismo, Prof. Dr.


Mário Carlos Beni, elaborou diversos artigos sobre o assunto, em especial sobre
clusters. Em vários artigos publicados ele salienta que é necessário:

discutir como formatar um modelo de desenvolvimento, gestão e


controle do turismo que resulte uma ação imediata que deverá ser
compartilhada entre Estado e iniciativa privada, sabendo-se que
estrutura e recursos dos primeiros se encontram extremamente
fragilizados. A política de globalização nos coloca diante dos espaços
para a formação de megaestruturas de turismo como os clusters,
onde o Brasil se torna um país imensamente atrativo para esses
empreendimentos. (BENI, 1999, s.p.).
178
TÓPICO 5 | REDES E TURISMO

A formação de cluster está alicerçada na integração, possibilitando a


regionalização dos destinos turísticos.

O que diferencia clusters das outras formas de organização em turismo


(Consórcio de Municípios, Corredores Turísticos, Redes de Cooperação Turística
e Polos) é basicamente o caráter da abrangência e horizontalidade. Os clusters são
conglomerados de várias empresas, de vários setores e tamanhos, com diferentes
ramos de atuação, mas que complementem a produção de um produto ou serviço
(BRAGHIROLLI, 2003).

QUADRO 18 – COMPARAÇÃO ENTRE POLO E CLUSTER

Atividade desenvolvida Tipo


Polo Cluster
Segmentos específicos.
Integrada para satisfazer
Oferta. Dispersa. expectativas do turista.
Produtos planejados/
integrados.
Qualificada, clientes
Demanda. Não qualificada.
sofisticados.
Marco legal detalhado e
Competidores. Predatórios.
motivador.
Colaboração - uso e
Individual e orientada ao distribuição compartilhada
Tecnologia.
processo. pelos agentes. Orientada ao
cliente.
Forte, construtiva, alianças
Estratégia competitiva. Destrutiva. estratégicas - escala regional e
mundial.
Planificada e integrada ao
Estratégia cooperativa. Não existe. cliente. Iniciativa pública,
privada e não governamental.
Estratégia de Não existe ou o Integrada para o cluster.
relacionamento com os individual por alguns Planificada para cada agente
turistas. agentes. e sociedade local.
Sustentabilidade do Altamente planificada e
Não existe.
desenvolvimento. regulamentada.
Relacionamento dos
É obrigatório para o cluster e
setores público, privado Poucos agentes realizam.
para alguns agentes.
e não governamental.
Do cluster em conjunto.
Imagem. De cada agente.
Regional e mundial.

179
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Ciclo da atividade Produtos integrados e


Fragmentada.
turística. diversificados.
Diagnósticos e Em conjunto e individual.
Individual.
consultorias. Periódica.

Indispensável. Empresas
Definição das políticas
Não existe. e governo alinhados nos
de ação e marco legal.
objetivos.

Estratégia para o
A longo prazo, em conjunto e
desenvolvimento. A curto prazo e
individual. Empresas e cluster
Planejamento individual.
com objetivos mundiais.
estratégico.
Educação, capacitação Algumas
Em conjunto e individual.
e cultura. individualmente.
Execução e promoção. Individual. Em conjunto e individual.
Avaliação e
Não existe. Detalhada e obrigatória.
retroalimentação.
Certificação da
Não existe. Se exige.
sustentabilidade.
Agências e articulações
Agências no exterior. Embaixada do país.
próprias do cluster.
Investigação, I+D. Individual. Em conjunto e individual.
Participação social. Não existe. Exigida e planejada.
Fomento e incentivo a
Altamente planificada e
investimentos nacionais Individuais.
articulada em todo o mundo.
e estrangeiros.
Se trabalha com metodologia
Enfoque e planejamento
Não existe. e técnicos específicos
intersetorial.
(horizontal e verticalmente).

FONTE: Toledo et al. (2001)

Beni (2003 apud BRAGHIROLLI, 2003, p. 16) cita os objetivos de um


cluster:

180
TÓPICO 5 | REDES E TURISMO

- Gestão compartilhada.
- Participação mútua em custos.
- Definição de programas e produtos de promoção turística que
superem modos tradicionais de fazê-la.
- Elaboração e promoção de produtos que conjuguem sua oferta com
sua própria rentabilidade.
- Percepção de que todo projeto de desenvolvimento local/regional
desencadeia um processo de reconstrução/re-apropriação de um
determinado território, entendido este como o espaço apropriado. Este
processo implica uma nova ordenação territorial. O que se propõe é
que essa reordenação territorial seja sustentável e alavancada a partir
dos interesses coletivos da comunidade local e da região.
- Pretende-se que esse processo de nova ordenação sustentável venha
a traduzir-se num novo padrão de desenvolvimento, obedecendo
não mais à racionalidade da acumulação e do consumismo, mas
principalmente da qualidade de vida a curto, médio e longo prazo.

3 ALIANÇAS ESTRATÉGICAS
Hamel e Doz (1999, p. 23 apud DE LUCCA FILHO, 2004) conceituam
aliança como sendo “uma associação, de curta ou longa duração, entre duas ou
mais companhias que tenham interesses comuns. Em uma aliança, as empresas
cooperam em função de uma necessidade mútua e compartilham habilidades e
riscos para atingir um fim comum”.

Na atividade turística, as alianças podem ser consideradas premissas


para o estabelecimento dos negócios. A relação entre empresas de transporte,
hospedagem e agências é uma condição praticamente sine qua non para a efetivação
dos negócios.

As definições de Hamel e Doz (1999, p. 24 apud DE LUCCA FILHO, 2004)


para aliança estratégica e demais termos relacionados podem ser:

Aliança estratégica - associação com uma estratégia de negócios fundamental,


que dá forma e estrutura à aliança. Possui uma visão que orienta sua gestão e
evolução e conta com uma infraestrutura interna que a sustenta.

Aliança horizontal - associação que se estabelece com outras companhias para


se ter acesso a competências complementares. Essas competências costumam
estar vinculadas às informações, à pesquisa e ao desenvolvimento e são
importantes para aproveitar alguma oportunidade específica de negócios.

Aliança transacional - acordo de alcance limitado e com um objetivo comum.


Por exemplo, nas áreas de compras, marketing ou publicidade cooperada de
mais de uma empresa.

181
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Aliança vertical - associação que se estabelece dentro de uma mesma cadeia


de valor, com sócios que apresentam maior economia de escala em certos
processos. Por exemplo, um dos sócios pode ter um processo mais eficiente
para fabricação, distribuição ou vendas de um produto.

Beni (2003 apud DE LUCCA FILHO, 2003), explicando de modo simples


o porquê de tantas alianças na década de 1990 no setor turístico, afirma que
os governos dos países desenvolvidos promovem hoje a competitividade
internacional, enfraquecendo as empresas, que tentam se manter por meio de
fusões, associações estratégicas e parcerias.

As alianças estratégicas no turismo proporcionaram uma grande


movimentação no sentido de integração vertical e horizontal entre as empresas
que atuavam na indústria turística. A integração vertical foi empregada
principalmente pelas grandes companhias aéreas nos anos setenta, que partiram
para a aquisição de redes de hotéis já existentes ou formaram novas cadeias
hoteleiras:

A American Airlines fundou a rede American Hotels; a Air France, os hotéis


Méridien; a British Airways associou-se à Swissair, Lufthansa e Alitalia para a
formação da cadeia European Hotel Corporation; a TWA assumiu o controle dos
hotéis Hilton International; a United Airlines, o controle da Trans-International
Hotels e da cadeia Meliá; e a Varig adquiriu a rede Tropical de hotéis. (GAZETA
MERCANTIL, 1999 apud DE LUCCA FILHO, 2004).

A redução de custos e a diminuição das tarifas aéreas é o que justifica


a constituição das alianças entre companhias aéreas, assim como a
possibilidade das diversas operadoras de transporte aéreo poderem
oferecer aos seus clientes um mais vasto leque de destinos a preços
mais reduzidos. O fator crítico é saber escolher, para cada aliança,
os parceiros certos. As empresas aéreas selam alianças com diversas
empresas do mesmo setor para – principalmente – minimizarem
assentos vazios e para propiciarem aos clientes opções quando ocorrem
atrasos nos voos ou overbookings (DE LUCCA FILHO, 2003, p. 18).

São quatro as grandes alianças mundiais entre companhias aéreas, onde o


domínio pertence à Oneworld, criada em 1998. A Star, por sua vez, foi a primeira
aliança a ser criada (1997) e é a segunda maior em nível mundial. Em terceiro
lugar surge a Qualiflyer, a aliança liderada pela Swissair, da qual faz parte ainda
a Portugália, a TAP, a Sabena, a Turkish Airlines, a Grossair, a Air Littoral e a Air
Europe. Sendo que a Air France e a Delta Airlines aliaram-se à New Alliance,
estando à procura ainda de mais parceiros, com vista à criação de uma aliança que
dispute a liderança do mercado mundial da aviação (GO, 2001 apud DE LUCCA
FILHO, 2004).

182
TÓPICO 5 | REDES E TURISMO

A integração entre empresas especializadas na oferta de serviços


complementares, como as companhias aéreas e redes hoteleiras, é uma estratégia
que aproveita a potencial sinergia entre os setores. Mas essa forma de integração
não ficou restrita apenas a estes setores: na década de setenta, a própria Air France,
além de proprietária da cadeia de hotéis Méridien, ainda possuía uma operadora
de turismo, a Jet Tours, tinha participação acionária em outra, a Airtour, e ainda
era dona de uma companhia de aviação especializada em voos fretados, a Air
Charter International (BUHALIS, 2003).

As grandes operadoras turísticas também empreenderam aquisições de


companhias aéreas especializadas em voos charter, com a finalidade de assegurar
os assentos necessários à elaboração de seus pacotes turísticos (SCHERTLER
apud PRÖLL, 2000). A integração vertical foi consequência da fusão de empresas
que atuavam em níveis distintos da cadeia turística, inclusive nos negócios de
vendas, como as agências de viagens.

Para Bezerra (2006, p. 350), a integração horizontal (competidores)


“também foi muito comum nos negócios turísticos, com alianças entre
empresas que ofereciam produtos competitivos, como hotéis e companhias
aéreas que faziam a mesma rota”. O propósito deste tipo de integração era o
ganho de escala nas operações dessas empresas. Em alguns casos, buscava-se
a conquista de mercados complementares, pois a sazonalidade gera elevadas
restrições para empresas que são especializadas em apenas determinados
produtos turísticos. Um exemplo de estratégia deste tipo é descrita por Tribe
(apud BEZERRA, 2006), quando afirmou que o interesse da Skibound - uma
operadora de esportes de inverno - em assumir o controle de uma operadora
que comercializa pacotes para férias de verão demonstra a busca por um
equilíbrio ao longo de todo o ano.

As inovações lançadas pelas operadoras hoteleiras resultaram em


grandes mudanças na gestão empresarial dos hotéis. Eles passaram a contar com
a força da padronização dos serviços oferecidos, assegurada pela disseminação
de técnicas de gerenciamento. A preocupação das operadoras envolvia detalhes
como estado dos equipamentos e utensílios utilizados e a qualidade da mão de
obra empregada. A conduta empresarial inovadora era observada também no
âmbito do tratamento com fornecedores e clientes dos estabelecimentos hoteleiros
administrados por essas operadoras. Ocorreu um ganho de escala acentuado que
favoreceu o crescimento do nível de rentabilidade dos hotéis sob a administração
das operadoras, e tornou financeiramente vantajoso para os hotéis independentes
- geridos por seus proprietários - filiarem-se a estas empresas, mediante a
formalização de contratos de gestão. Estes contratos estipulavam os percentuais
de remuneração da operadora com base na taxa de administração e participação
nos lucros brutos (CORIOLANO, 1999).

183
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Dentro da proposta de padronizar os serviços oferecidos, as operadoras


criaram marcas para assinalar os tipos de recursos disponíveis aos seus hóspedes.
Deste modo, uma mesma operadora hoteleira poderia gerenciar distintas marcas
(bandeiras) destinadas a atender variados segmentos do mercado. Pôr em ação
esta estratégia implicava diversificar os projetos arquitetônicos dos hotéis,
diferenciar os serviços oferecidos em seus múltiplos estabelecimentos e fixar
valores correspondentes para suas tarifas.

Questões operacionais também podem servir de exemplo de alianças.


Imaginemos uma pousada que, individualmente, faça poucas compras de
determinado produto. Consequentemente, há pouco poder de barganha em
relação ao vendedor. Não pode exigir prazo longo de pagamento, descontos ou
outro benefício. Agora imagine se tal pousada se une com outras cinco pousadas,
da mesma região, nas mesmas condições, especificamente para fazer compras.
Certamente o poder de barganha irá aumentar.

Não há como falar de redes no turismo e não falar especificamente sobre


redes hoteleiras. Santos (2011) mostrou o ranking das redes hoteleiras no Brasil,
sendo que em número de quartos, os dez primeiros são: Accor, Atlantica, BHG,
Blue Tree, Nacional Inn, Sol Meliá, Windsor, Othon, IHG -InterContinental Hotels
e Intercity.

184
TÓPICO 5 | REDES E TURISMO

LEITURA COMPLEMENTAR

PELA EUROPA DE TREM OU AVIÃO?

SAIBA AVALIAR QUANDO CADA UMA DAS POSSIBILIDADES É MAIS


VANTAJOSA

Marie Fava

Se no Brasil a malha ferroviária é precária e praticamente inexistente, em


diversas regiões, na Europa o trem está entre os mais modernos (e utilizados)
meios de transporte. Mas os preços também costumam competir com empresas
aéreas de baixo custo como Ryanair e EasyJet, o que pede uma pequena análise
da viagem e suas possibilidades antes de comprar o bilhete de embarque. Veja
algumas dicas:

Viagens de curta distância (até quatro horas de viagem)

Neste caso, a melhor pedida é ir de trem. Em primeiro lugar porque é


mais econômico no quesito tempo, já que não precisa chegar com horas de
antecedência para embarcar, o check-in é mais simples e, na maioria das vezes,
as estações estão localizadas em áreas centrais (ao contrário dos aeroportos, que
podem ficar até fora das principais capitais europeias).

Outra vantagem é que a chance de o trem partir fora do horário é


praticamente nula. Quer mais? Nada de ficar esperando pela mala na esteira
comum do aeroporto.

Em uma simulação de viagem feita por um agente da britânica Virgin,


uma viagem de quatro horas, por exemplo, corresponde a, mais ou menos, uma
hora de voo. Na Europa ocidental, o trecho pode custar até três vezes menos que
o mesmo percurso de avião, se comprado com antecedência. O site da Bahn, a
moderna e funcional ferrovia alemã, permite calcular a duração das viagens por
praticamente todo o continente europeu.

Além de economizar tempo e dinheiro, viajar de trem é uma excelente


oportunidade de apreciar as vistas fabulosas das paisagens europeias, além de
aproveitar para conhecer vilarejos e outros locais das paradas entre um destino
e outro.

A passagem de trem é prática e pode ser flexível, perfeita para quem quer
viajar, mas ainda não tem certeza de exatamente para aonde ir (sim, é possível
decidir na hora dependendo do tipo de bilhete comprado).

185
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

A Virgin dá a dica: quando passagens avulsas são mais baratas? De


Londres para Paris e Bruxelas é praticamente obrigatória a viagem de trem.
Porém, em datas como Natal e Ano Novo, as tarifas estão entre as mais altas,
podendo custar até três vezes o preço da viagem de avião.

Vai para o leste? Evite o trem. As estações e trilhos ainda são muito
inferiores quando comparados aos da Europa ocidental. Se gosta de emoções
fortes, faça a viagem de Praga a Budapeste, mas não assuste se alguns passageiros
apresentarem comportamento suspeito e estiverem portando garrafas de vodca
e absinto. Prefira fazer essa viagem de dia. À noite, além da “bagunça” a bordo,
há o risco de o trem ser parado diversas vezes para fiscalizações, pois o tráfico de
drogas e imigrantes ilegais é intenso.

Onde comprar?

Praticamente todas as ferrovias europeias permitem compra pela internet


e, quando não entregam os tickets em casa, possibilitam a retirada momentos
antes da viagem, tendo o cartão de crédito da usado na compra como documento
necessário.

As principais empresas ferroviárias europeias são:

- Espanha - Renfe
- França - SNCF
- Itália - Trenitalia
- Alemanha - Bahn
- Suíça - SBB 
- Inglaterra - Raileurope (para passagens do Eurostar com origem em Londres).
A Raileurope tem ainda uma versão em português, para facilitar a vida do
brasileiro. 

Viagens de mais de cinco horas: vá de avião

Viajar de trem, principalmente se for sua primeira (e talvez única) vez, pode
ser uma experiência magnífica nas primeiras horas. Apesar da modernidade e
do conforto, é praticamente impossível não chegar extremamente cansado e com
dores musculares após uma viagem de trem noturno de, por exemplo, oito horas.

Engana-se quem acha que as viagens de Portugal à Espanha ou de


Barcelona a Roma, por exemplo, compensam ser feitas de trem. As tarifas de
avião, nas companhias chamadas low-cost (baixo custo) estão entre as mais baratas

186
TÓPICO 5 | REDES E TURISMO

e as distâncias europeias podem enganar. Antes de decidir, veja quantas horas a


viagem leva e avalie se a paisagem é realmente de tirar o fôlego, principalmente
se passar pela Suíça.

O avião é uma boa aposta para quem tem pouco tempo de viagem e
pretende conhecer o maior número de países possível. Para isso, não deixe
para comprar o tíquete na última hora. Tenha um roteiro planejado e compre
as passagens com meses de antecedência pela internet. É possível, por exemplo,
viajar de Londres a Berlim por 9,99 euros (R$ 26 aproximadamente). Uma viagem
de Londres a Roma, em uma simulação feita pela Virgin, encontrou passagens de
ida e volta por 13 euros por pessoa.

Mas é preciso lembrar que essas companhias normalmente operam em


aeroportos menores e fora das grandes cidades. Assim, acrescente o tempo e o
custo do deslocamento em sua avaliação.

Onde comprar?

Os mais planejados e organizados podem sair do Brasil já com todos os


trechos comprados e incluídos no principal (Brasil – Europa). Essa opção pode
sair mais barata do que o esperado. Antes de fechar a passagem, peça ao agente
para fazer uma simulação e faça as contas.

Para os aventureiros, a Ryan Air, a easyJet e a Last Minute são as


melhores opções para achar voos baratos. Mas esqueça o conforto. Os lugares
mal são numerados. Encare o espírito aventureiro e economize na bagagem: os
voos entre países da Europa permitem apenas uma mala de 20 kg (e uma mala de
mão bem pequena).

Pegadinha

Apesar de tentadora, a ideia de economizar fazendo viagens noturnas


(principalmente de trem) pode acabar dando mais prejuízos do que vantagens.
Muitas companhias ferroviárias disponibilizam o chamado couchette, que é uma
cama no vagão leito e pode custar até 30 euros (R$ 80 aproximadamente) por
pessoa (fora o preço da passagem).

A bagagem fica no corredor, ou em compartimentos especiais, longe de


sua visão por toda a noite. Além disso, a movimentação nos trens é intensa a
toda hora, principalmente nas paradas. Sem contar que o vagão “sacode” tanto
ou mais que o avião com turbulência. Ou seja: querendo ou não, quem optar por
viajar assim, vai dormir mal.

187
UNIDADE 3 | TURISMO E SUSTENTABILIDADE

É possível achar hotéis e albergues (hostel) pelo mesmo valor que o


couchette e até mais baratos, dependendo do quanto antes a reserva for feita.

FONTE: FAVA, Marie. Europa de trem ou avião? Saiba avaliar quando cada uma das possibilidades
é mais vantajosa. Disponível em: <http://turismo.ig.com.br/destinos-internacionais/2012-05-14/
pela-europa-de-trem-ou-aviao.html>. Acesso em: 20 maio 2012.

188
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico vimos:

● As alianças estratégicas e as redes no turismo.

● Para o perfeito funcionamento da cadeia produtiva do turismo é necessário


que haja sinergia entre todos os envolvidos.

● É imprescindível a consciência do empreendedor quanto às condições da


atividade: infraestrutura de apoio (acessibilidade, energia, saneamento básico
etc.), questões ambientais, fluxo de turistas, concorrência, dentre outros, que são
itens essenciais para o desenvolvimento do turismo, lembrando que não é mais
tolerada uma postura passiva diante das carências existentes e da escassez dos
recursos, partindo para uma postura mais proativa, onde não compete mais ao
Estado a viabilização dos equipamentos e serviços de infraestrutura de apoio,
devendo a iniciativa privada também ser provedora e administradora desses
serviços.

189
AUTOATIVIDADE

Quais alianças estratégicas um hotel pode fazer?

190
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ANOTAÇÕES

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