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QUÍMICA E SOCIEDADE

Roberto R. da Silva, Geraldo A. Luzes Ferreira, Joice de A. Baptista e Francisco Viana Diniz

Neste artigo são abordados alguns aspectos da química dos dentifrícios, destacando sua composição variada,
bem como sua função na limpeza e prevenção das cáries dentárias. Também é feita uma pequena discussão
sobre as restaurações acrílicas e com amálgamas.

dentifrícios, higiene bucal, amálgamas

Recebido em 20/3/01, aceito em 10/4/01

Um pouco de história há cerca de quatro mil anos. Era um A função primordial dos dentifrícios
material à base de pedra-pomes pul- é atuar como agente auxiliar na esco-

A
preocupação em cuidar dos 3
verizada e vinagre, que era esfregado vação, visando à limpeza dos dentes.
dentes remonta às mais
nos dentes com pequenos ramos de A relação entre alimentação, higiene
antigas civilizações, a exemplo
dos gregos, romanos, árabes, maias arbustos. No século I da nossa era, os bucal e prevenção das cáries é o que
e chineses. Celso (25 aC - 50 dC), que romanos acrescentaram a essa pasta veremos a seguir.
viveu em Roma, preconizava a extra- mel, sangue, carvão, olhos de caran-
guejos, ossos moídos da cabeça de As cáries dentárias e a alimentação
ção de dentes de leite para facilitar a
erupção do dente permanente no lugar coelhos e urina humana, todos com a Na nossa boca existem milhares de
certo na arcada dentária. finalidade de deixar os dentes mais microrganismos. Por causa de sua
As atividades relacionadas aos tra- brancos. temperatura amena e constante de
tamentos dentários eram, inicialmente, O primeiro dentifrício comercial foi 36 °C, de sua umidade permanente e
exercidas por pessoas não qualifi- desenvolvido em 1850, nos Estados pelo fluxo de nutrientes (alimentos)
cadas (ambulantes, ciganos, barbei- Unidos. Inicialmente na forma de um durante alguns períodos do dia, a boca
ros, caixeiros-viajantes) e, posterior- pó, foi modificado pos- pode ser conside-
mente, já no século II da nossa era, por teriormente para a for- O primeiro creme dental rada como um am-
profissionais ligados à medicina. O ma de pasta, com o surgiu no Egito há cerca de biente ideal para a
aprendizado das práticas odontoló- nome comercial de quatro mil anos. Era um proliferação de mi-
gicas seguiu os moldes das corpora- “Creme Dentifrício do material à base de pedra- crorganismos.
ções medievais. O indivíduo que alme- Dr. Sheffield”. Um au- pomes pulverizada e Qual é a relação
java aprender um ofício associava-se mento da comercia- vinagre, que era esfregado entre estes microrga-
a um mestre que lhe ensinava os segre- lização das pastas de nos dentes com pequenos nismos, como por
dos desse ofício. Esta situação perma- dente ocorreu quando ramos de arbustos exemplo, as bacté-
neceu inalterada por muito tempo, pois elas começaram a ser rias e as cáries den-
a primeira escola de odontologia do embaladas em tubos metálicos flexí- tárias?
mundo foi criada nos Estados Unidos veis. A teoria que relaciona o apareci-
em 1840. Nos dias de hoje, os dentifrícios po- mento de cáries com o desenvolvi-
Entre as práticas usadas para a dem ser encontrados na forma de pó, mento de colônias de bactérias na bo-
conservação dos dentes, os dentifrí- de pasta (creme dental) e de líquido, ca foi formulada, em 1890, por um cien-
cios ocupam um papel importante. O embora os dentifrícios líquidos não se- tista americano chamado W.D. Miller.
primeiro creme dental surgiu no Egito jam muito comuns em nosso país. A experiência que mostrou o elo entre
bactérias e cáries foi a seguinte: Miller
A seção “Química e sociedade” apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relações entre ciência e sociedade, colocou um dente extraído em um tu-
procurando analisar o potencial e as limitações da ciência na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais. bo, adicionou um pouco de saliva e um

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pedaço de pão. Com o passar do tem- A mineralização e a desminerali- dos pelas bactérias cresce, aumentan-
po observou que o dente se corroía. zação podem acontecer com rapidez do a concentração dos íons H3O+(aq),
Quando ele aquecia a saliva, causan- diferentes. Durante a formação do segundo a equação:
do, portanto, a morte das bactérias, o dente (dentro do osso), ocorre somen-
R-COOH(aq) + H2O(l)
dente não se corroía. A partir destas e te a mineralização. Quando o dente é
H3O+(aq)+ R-COO–(aq)
de outras observações, Miller formulou exposto ao meio bucal, a desminera-
a hipótese de que a cárie resultava da lização passa a ocorrer. Nos adultos, Os íons H3O +(aq) podem reagir
produção de ácidos orgânicos pelas por sua vez, os dois processos podem com os íons OH–(aq), produzidos na
bactérias orais a partir de um alimento ocorrer com a mesma rapidez, isto é, desmineralização, levando à formação
fermentável, como, por exemplo, o atingem um equilíbrio. Uma condição de água:
pão. de equilíbrio acontece quando duas
H3O+(aq) + OH–(aq) → 2H2O(l)
Hoje sabe-se que as bactérias vão reações opostas entre si ocorrem com
lentamente formando um biofilme que a mesma rapidez. No entanto, em Os íons OH–(aq) são essenciais no
se deposita sobre a superfície do den- crianças ou em adultos, se a concen- processo de mineralização; sua neutra-
te. Alimentando-se do açúcar contido tração de ácidos tor- lização por íons
nos alimentos (ou formado pela ação da na-se muito elevada Alimentando-se do açúcar H3O+(aq) reduz consi-
saliva sobre outras substâncias), as em um determinado contido nos alimentos (ou deravelmente este pro-
bactérias vão se multiplicando rapida- ponto sobre a super- formado pela ação da cesso. Se a desmi-
mente, dando origem ao que se deno- fície do esmalte, a saliva sobre outras neralização se proces-
mina placa bacteriana. O açúcar, ao ser rapidez da desmi- substâncias), as bactérias sa com uma dada ra-
metabolizado pelas bactérias, é transfor- neralização pode ser vão se multiplicando pidez e a mineralização
mado em ácidos orgânicos. Um deles maior que a da mi- rapidamente, dando em uma rapidez muito
é o ácido lático. Os outros ácidos, em neralização, condu- origem ao que se menor, o resultado é
quantidades pequenas, são o acético, zindo à formação de denomina placa bacteriana uma perda de material
o fórmico e o succínico. Deve ser uma cárie dentária. do dente.
4 observado que mesmo em dietas Os principais fatores que determi- O pH normal da boca é em torno
pobres em açúcares constata-se tam- nam a estabilidade da apatita na pre- de 6,8; a desmineralização torna-se
bém a formação de placas bacterianas. sença da saliva são o pH e as concen- predominante a um pH abaixo de 5,5.
trações dos íons cálcio, fosfato e flúor A diminuição do pH na boca pode ser
em solução. A concentração dos íons causada diretamente pelo consumo de
H3O+(aq), que altera o pH da saliva, é frutas ácidas e bebidas, ou indireta-
uma das principais responsáveis pela mente pela ingestão de alimentos con-
deterioração dos dentes. À medida que tendo carboidratos fermentáveis que
a placa bacteriana cresce, a concen- permitem produção de ácidos pelas
tração dos ácidos orgânicos produzi- bactérias. No caso da ingestão de um
refrigerante contendo açúcar, o pH da
boca pode atingir um valor abaixo de
Os ácidos produzidos na fermenta- 5,5 após 10 minutos. Ele retorna ao seu
ção (metabolismo) do açúcar pelas valor normal após uma hora, quando
bactérias são os responsáveis pelas o açúcar é removido (ou consumido).
cáries. Mas como isso ocorre? O que pode ser feito para prevenir
O esmalte do dente (Figura 1) é o aparecimento de cáries? As pastas
constituído de um material muito pouco de dente desempenham um papel
solúvel em água e cujo principal importante nesse processo preventivo,
componente é a hidroxiapatita - como veremos a seguir.
Ca 5(PO 4) 3OH, um composto iônico
formado por íons Ca2+, PO43– e OH–. Os efeitos dos dentifrícios sobre os
Em um processo chamado desmine- dentes
ralização, uma quantidade muito pe- Há um ditado que diz: “Em dentes
quena de hidroxiapatita pode se dis- limpos não se formam cáries”. A lim-
solver, em processo descrito pela peza dos dentes envolve a escovação
equação: com uso de dentifrícios. Mas, do ponto
de vista da química, o que é um
Ca5(PO4)3OH(s) + H2O(l)
dentifrício?
5Ca2+(aq) + 3PO43–(aq) + OH–(aq)
Figura 1: O esmalte do dente é constituído A principal função do dentifrício é
Esse processo é normal e ocorre de hidroxiapatita. Logo abaixo do esmalte auxiliar na limpeza de superfícies aces-
naturalmente. O processo inverso, a está a dentina. Os nervos e os vasos síveis dos dentes, retirando manchas
mineralização, também é normal. sangüíneos estão localizados na polpa. e detritos e dificultando a formação da

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placa bacteriana. da pasta, permitindo a penetração nas bicarbonato de sódio - NaHCO3. Al-
A composição básica de dentifrício fissuras, e auxiliar na remoção dos de- guns dentifrícios contêm ingredientes
em pasta geralmente envolve substân- tritos da superfície do esmalte. O espu- que auxiliam na remoção das manchas
cias que desempenham as funções de mante mais comum empregado em causadas nos dentes pelo cigarro. Al-
abrasivo ou agente de polimento, pastas é o sulfato de sódio e laurila - gumas pessoas possuem dentes
corante, espumante, umectante, agluti- H3C[CH2]10CH2OSO3Na. hipersensíveis (sensação de dor cau-
nante, edulcorante, solvente e agente Os flavorizantes são óleos com sa- sada por alimentos quentes, frios ou
terapêutico. A composição típica dos bor que promovem um efeito refrescan- azedos); nestes casos, os dentistas
dentifrícios é ilustrada na Tabela 1. te (óleo de hortelã, por exemplo). recomendam o uso de dentifrícios con-
Além das substâncias com essas O solvente usado é a água. Ela pro- tendo nitrato de potássio (KNO3), ou
funções, outras podem ser adiciona- porciona a consistência desejada, citrato de sódio (C6H5O7Na3) ou cloreto
das: flavorizantes, espessantes, con- mantendo o dentifrício fluido; ao mes- de estrôncio (SrCl2). O agente terapêu-
servantes e aromatizantes. mo tempo solubiliza outros constituin- tico mais importante é um composto
Do ponto de vista da função do tes, como os corantes e os fluoretos. fluorado. Testes têm demonstrado que
dentifrício, os abrasivos são os ingre- O umectante é adicionado para im- o flúor ajuda a proteger os dentes con-
dientes mais importantes, por serem pedir a secagem do dentifrício (tal co- tra as cáries, como será visto adiante.
essenciais para a limpeza adequada. mo acontece quando a tampa não é
Os abrasivos são pós insolúveis em recolocada no tubo, após o uso) e me-
água, geralmente sintetizados em labo- lhora o aspecto e a consistência do
ratório para manter a uniformidade e produto. Os umectantes mais comu-
tamanho das partículas. Os abrasivos mente usados são a glicerina -
mais comumente usados são: monoi- C3H5(OH)3, o sorbitol - C6H8(OH)6 e o
drogenofosfato de cálcio (CaHPO4), polietilenoglicol - HOCH 2 CH 2 -
carbonato de cálcio (CaCO 3), piro- [OCH2CH2]n-OCH2CH2OH.
fosfato de cálcio (Ca2P2O7), dióxido de O aglutinante é incluído para impe-
silício (SiO 2 ), óxido de magnésio dir a separação dos componentes lí- O flúor e a prevenção da cárie 5
(MgO), metafosfato de sódio (NaPO3) quidos e sólidos e auxiliar na manuten-
e óxido de alumínio ção da consistência do O fato de que compostos contendo
(Al2O3). Um denti- dentifrício. No passado, flúor têm efeitos sobre o esmalte dos
Dentifrício em pasta
frício pode conter gomas naturais eram dentes é conhecido desde 1874. Na-
geralmente envolve
um ou mais tipos usadas para este fim. quela ocasião, um médico na Alema-
substâncias que
de abrasivos. Atualmente, são substi- nha observou mudanças nos dentes
desempenham as funções
A pasta de den- tuídas por materiais sinté- de cães quando compostos fluorados
de abrasivo ou agente de
te deve ser sufi- ticos. Um exemplo é a eram adicionados à alimentação. Em
polimento, corante,
cientemente abra- carboximetilcelulose. 1902, um farmacêutico holandês anun-
espumante, umectante,
siva para remover Os edulcorantes são ciou a venda de um composto fluorado
aglutinante, edulcorante,
manchas, mas não substâncias que confe- para fortalecer os dentes. Em 1908,
solvente e agente
para desgastar de- rem ao dentifrício o sabor dentistas norte-americanos obser-
terapêutico
mais o esmalte; doce. Sacarose (açúcar varam a presença de manchas nos
sua ação deve proporcionar uma su- comum) e outros carboidratos não po- dentes de crianças da cidade de Colo-
perfície limpa e polida. Diferentes abra- dem ser usados como edulcorantes rado Springs. Essas manchas foram
sivos promovem diferentes graus de porque são metabolisados por bacté- atribuídas à presença de grandes
polimento nos dentes. rias, originando ácidos. Os edulco- quantidades de compostos fluorados
O espumante é um detergente. Sua rantes mais comumente usados são o na água que abastecia a cidade.
função é diminuir a tensão superficial sorbitol C6H8(OH)6 e a sacarina. Daquela época até os dias de hoje,
muito se avançou na compreensão do
efeito dos compostos fluorados sobre a
Tabela 1: Composição típica de dentifrícios
(porcentagens em massa).
prevenção da cárie. O princípio ativo
nesse processo é o íon fluoreto, F–. Este
Componente % íon interfere no equilíbrio mineralização/
Abrasivo 20-55 desmineralização visto anteriormente:
Solvente (água) 15-25 Ca5(PO4)3OH(s) + H2O(l)
Umectante 20-35 5Ca2+(aq) + 3PO43–(aq) + OH– (aq)
Espumante 1-2 Na presença dos íons F–, um outro
Os agentes terapêuticos têm fun-
Aglutinante 1-3 equilíbrio se estabelece, a saber:
ções específicas nos dentifrícios.
Corante e edulcorante 1-2 5Ca2+(aq) + 3PO43–(aq) + F–(aq)
Alguns são bactericidas (formol e triclo-
Agente terapêutico 0-1 san). Outros são antiácidos, como o Ca5(PO4)3F(s)

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Nesse processo uma nova substân- Os dentifrícios, agindo em colabo- dentes, bom acabamento, preço aces-
cia é formada, a fluorapatita - ração com a escova, auxiliam na limpe- sível, etc. As restaurações de dentes
Ca5(PO4)3F. O esmalte passa a ser, en- za dos dentes e possibilitam a incorpo- são feitas hoje em dia usando basica-
tão, um material modificado. Os íons ração de íons fluoreto ao esmalte. mente dois tipos de materiais: os amál-
fluoreto não substituem todos os íons Essas duas ações têm contribuído for- gamas e as resinas poliméricas.
OH –. Uma pequena temente para a pre- Define-se como amálgama toda
incorporação de íons O flúor ajuda a proteger os venção das cáries. combinação do mercúrio metálico com
F – é suficiente para dentes contra as cáries, A Tabela 2 contém metais e/ou com ligas metálicas. Os
alterar as proprieda- pois o íon fluoreto exemplos de alguns amálgamas possuem excelentes pro-
des do esmalte, tor- interfere no equilíbrio dentifrícios comerci- priedades físicas e químicas (resistên-
nando-o menos sus- mineralização/ ais, indicando suas cia ao atrito, pouca expansibilidade,
cetível ao ataque por desmineralização que respectivas compo- reatividade lenta com ácidos); quanto
ácidos. Esse novo envolve o esmalte dos sições. à cor, eles deixam muito a desejar, por
material, contendo dentes Mesmo nos casos essa ser muito diferente da cor natural
uma mistura de hidro- em que a cárie acaba dos dentes. Os químicos desenvolve-
xiapatita - Ca5(PO4)3OH e fluorapatita - se formando, a química ainda tem ram e colocaram à disposição dos den-
Ca5(PO4) 3F, é denominado fluorohi- propostas para atuar em prol do con- tistas dezenas de ligas, cujos com-
droxiapatita. forto humano, como visto a seguir. ponentes principais estão indicados na
Os compostos de flúor mais usados Tabela 3.
são o fluoreto de sódio (NaF), o fluoreto Restauração dos dentes: amálgamas e Nessas ligas, a prata reage com o
de estanho II (SnF2) e o monofluor- polímeros estanho, formando o composto Ag3Sn,
fostato de sódio (Na4PO4F). A presença Uma vez formada a cárie, nosso or- segundo a reação:
deste último composto nos rótulos dos ganismo não é capaz de restaurar o
3Ag(s) + Sn(s) → Ag3Sn(s)
dentifrícios é identificada pela sigla tecido lesado. Assim sendo, os dentis-
MFP (do inglês, meta fluor phosphate). tas têm que retirar o tecido lesado, pre- A liga de prata-estanho (contendo
6 A quantidade de flúor presente nas parar e desinfetar bem a cavidade e, o composto Ag3Sn) é muito quebra-
pastas é geralmente indicada em par- então, tapá-la com um material que te- diça. Esta propriedade é alterada
tes por milhão (ppm). Assim, 1500 ppm nha propriedades tais como: boa adicionando-se quantidades variáveis
de flúor significam 1,500 mg de com- resistência física a atritos, boa resistên- dos metais cobre e zinco. Ao se mis-
posto fluorado por grama de pasta cia química a ácidos, pouca expansi- turar a liga prata-estanho com o mercú-
(1,500 mg/g). bilidade, cor próxima da cor natural dos rio, no momento de tapar a cavidade,

Tabela 2: Composição qualitativa de alguns dentifrícios comerciais.

Produto Aglutinante Agente terapêutico Aromatizante Conservante


Colgate carboximetil celulose monofluorofosfato de sódio; extrato de Eucaliptus globulus; extrato metilparabeno
(herbal) eugenol de mirra; extrato de manzanila; extrato
de melaleuca; extrato de salvia
Sensodine cellosize cloreto de estrôncio; aromas (não especificado) —
(original) carbonato de cálcio
Gessy carboximetil celulose monofluorofosfato de sódio óleo de hortelã formaldeído
(cristal) (sal de sódio)
Sorriso carboximetil celulose bicarbonato de sódio; presente e não especificado metilparabeno;
(ação total) triclosan; monofluorofosfato triclosan
de sódio

Produto Abrasivo Espumante Corante e edulcorante Solvente Umectante Espessante


Colgate silicato de sódio lauril sulfato de sacarina; sorbitol; água polietileno- carragenato;
(herbal) sódio verde 7 glicol goma celulosa
Sensodine óxido de titânio; igpon sacarina sódica; sorbitol; água glicerina —
(original) óxido de silício corante vermelho
Gessy carbonato de cálcio; lauril sulfato de sorbitol; sacarina água — —
(cristal) dióxido de silício; sódio e extrato
fosfato trisódico; de juá
silicato de sódio
Sorriso carbonato de cálcio; lauril sulfato de xilitol; sorbitol; álcool etílico; — —
(ação total) silicato de sódio sódio sacarina sódica água

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Tabela 3: Ligas metálicas mais comumente
usadas em odontologia e suas respectivas Curiosidades
composições (porcentagens em massa). • Uma lenda dos assírios (século sétimo antes de Cristo) dizia que uma
Metais % cárie era causada por uma minhoca que bebia o sangue contido nos
dentes e que retirava seu alimento pela raízes encrustadas no osso da
Prata 66,7 a 74,5
mandíbula.
Estanho 25,3 a 27,0 • O homem de Neanderthal usava palitos obtidos de gravetos.
Cobre 0,0 a 6,0 • Os romanos desenvolveram palitos refinados feitos de ouro e prata.
Zinco 0,0 a 1,9 • Marco Polo, em sua viagem à China em 1270, observou o hábito de homens
e mulheres cobrirem os dentes com ouro, moldado no formato dos dentes.
Não se sabe se a função era terapêutica ou apenas cosmética.
ocorre a seguinte reação : • O óxido nitroso (N2O) foi usado como anestésico pela primeira vez em
1844 na extração de um dente.
8Ag3Sn(s) + 37Hg(l) →
• O éter etílico (CH3-CH2-O-CH2-CH3) foi usado como anestésico pela
12Ag2Hg3(s) + Sn8Hg(s)
primeira vez também na extração de dentes em 1846.
O composto Ag3Sn é usado em • Se dermos uma mordida em um pedaço de papel alumínio colocado em
excesso. Assim, o amálgama é um cima de uma obturação de amálgama em um dente nosso, sentiremos
material complexo contendo os com- uma forte dor causada por uma corrente galvânica que pode chegar a até
postos metálicos Ag 3Sn (que não 30 µA.
reagiu por estar em excesso), Ag2Hg3,
Sn8Hg, além dos metais cobre e zinco.
A despeito da discussão sobre os la, obtido pela polimerização do meta- rização, e facilitar o acabamento final
efeitos tóxicos causados aos seres vi- crilato de metila e/ou de outros monô- após ser colocado na cavidade do den-
vos pelo mercúrio (vide Química Nova meros derivados do metacrilato (Figu- te. Os agentes de carga mais comuns
na Escola, n. 12, novembro de 2000), ra 2). são o vidro, a sílica, outros polímeros
pesquisas revelam que a contamina- Essa reação de polimerização ocor- etc., todos finamente pulverizados. As 7
ção proveniente de amálgamas é relati- re na presença de catalisadores. Há partículas têm forma definida e medem
vamente baixa. O amálgama propicia dois tipos de catalisadores usados: a de 1 µm a 20 µm de diâmetro (1 µm =
mais vantagens do que desvantagens, luz ultravioleta e o pe- 10-6 m).
principalmente no que diz respeito ao róxido de benzoila. O Pesquisas revelam que a As resinas polimé-
preço e à durabilidade. Isso faz do monômero é um lí- contaminação proveniente ricas têm muitas van-
amálgama um material de amplo uso quido viscoso e o polí- de amálgamas é tagens sobre o amál-
na odontologia atualmente. mero um sólido resis- relativamente baixa. O gama. A principal de-
O segundo tipo de material usado tente. Para modificar amálgama propicia mais las é a cor, que chega
nas restaurações é designado pelo as propriedades do vantagens do que a ser idêntica à dos
nome de resinas poliméricas ou sim- polímero, são mistu- desvantagens, dentes, pois o dentista
plesmente polímeros. O que são polí- rados ao monômero, principalmente no que diz pode alterar esta pro-
meros? Polímeros (do grego poli = antes da colocação respeito ao preço e à priedade pela adição
muitos, meros = partes) são compos- do catalisador, os cha- durabilidade de diferentes cargas.
tos de cadeias muito longas formados mados agentes de As principais desvan-
pela repetição de unidades molecu- carga. Estes são substâncias fina- tagens são o preço alto e sua menor
lares pequenas, chamadas de monô- mente pulverizadas, que servem para durabilidade.
meros. Um polímero muito usado em melhorar a resistência física e química, Além de serem usadas para a res-
odontologia é o polimetacrilato de meti- a cor, evitar expansão durante a polime- tauração de cáries dentárias, as resinas
poliméricas são empregadas na fabri-
cação de dentes artificiais e de denta-
duras.
Concluindo
A compreensão sobre o mecanis-
mo de formação das cáries permitiu o
desenvolvimento de procedimentos
para evitá-las, incluindo-se aí o uso de
dentifrícios como auxiliar na escovação
dos dentes.
A variedade de pastas de dentes é
muito grande. Qual pasta devemos
Figura 2: Reação de polimerização do metacrilato de metila. usar? É impossível uma única pasta

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atender a todas as necessidades das ingestão de alimentos é suficiente pa- cisco Viana Diniz, cirurgião dentista pela UnB, é aluno
pessoas. No entanto, entender um do programa de mestrado da Faculdade de Ciências
ra a prevenção das cáries.
da Saúde da UnB, área de concentração em Odonto-
pouco sobre sua composição e função Enfim, os dentifrícios são um mate- logia.
pode nos auxiliar em algumas deci- rial complexo, contendo substâncias
sões. Por exemplo, certas pessoas têm compatíveis (que não reagem entre si, Para saber mais
dentes com exposição da dentina, que ou que reagem muito lentamente) com
DUARTE, M. O livro das invenções. São
é muito mais macia e sensível que o a finalidade de auxiliar a higiene bucal, Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 81-82.
esmalte. Para essas pessoas é reco- com conseqüente redução das cáries LARA, E.H.G.; PANZERI, H.; OGASA-
mendável o uso de dentifrícios sem e também produzindo um hálito com WARA, M.S.; DEL CIAMPO, J.O. e MO-
abrasivos. Entretanto, é importante res- odor agradável. RAES, J.T. Avaliação laboratorial dos
saltar que os dentifrícios não são agen- dentifrícios comerciais. Revista da Asso-
tes milagrosos que resolverão todos os Roberto R. da Silva (bobsilva@unb.br), bacharel em ciação Brasileira de Odontologia, v. 4, n.
problemas da saúde bucal. Por outro química pela UFMG e doutor em química orgânica 3, p. 176-183, 1996.
pela USP, é docente do Instituto de Química da Uni- SOUZA, J.R. e BARBOSA, A.C. Conta-
lado, o fato deles conterem deter- versidade de Brasília (IQ-UnB). Geraldo A. Luzes
minadas substâncias com funções minação por mercúrio e o caso da Ama-
Ferreira, bacharel em química pela UFMG e doutor
zônia. Química Nova na Escola, n. 12,
específicas não os torna produtos de em química agrícola e ambiental pela Universidade
da Califórnia (Davis), é docente aposentado do IQ- p. 3-7, 2000.
consumo indispensáveis. De fato, para RING, M.E. História ilustrada da odon-
UnB. Joice de A. Baptista, licenciada em química pela
alguns dentistas o uso de dentifrícios Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São tologia. Trad. de F.G. do Nascimento.
é perfeitamente dispensável. Enten- Bernardo do Campo, mestre em educação pela UFMT São Paulo: Manole, 1998.
dem que uma boa escovação após a e doutoranda do IQ-UnB, é docente do IQ-UnB. Fran-

Abstract: Chemistry and the Conservation of Teeth - Some aspects of the chemistry of dentifrices are reviewed, highlighting their varied composition as well as their function in the cleaning of teeth and
prevention of dental caries. A small discussion is also made of acrylic and amalgam fillings.
Keywords: dentifrices, mouth hygiene, amalgams

Resenha
8
Física Mais Que Divertida normas básicas de segurança e onde tecnologia existem para promover o
encontrar itens menos familiares, como crescimento social, pessoal e econô-
Em um mundo onde as tarefas re-
glicerina, bastões de acrílico e tubos mico.
petitivas são cada vez mais relegadas
de cobre. É um livro dedicado a todos Física mais que divertida preenche
a robôs e a softwares, torna-se impres-
que acreditam que a ciência e a uma enorme lacuna de experimentos
cindível estimular crianças, jo-
de nossos livros didáticos dedi-
vens e o público em geral a des-
cados ao ensino de ciências.
cobrir a beleza da física e suas
aplicações práticas através do Seu enfoque lúdico alia riquesa
trabalho artesanal criativo. Física de imaginação, seleção cuida-
mais que divertida busca asso- dosa dos experimentos, rigor
ciar a ciência ao prazer da desco- científico e uma linguagem aces-
berta, com ênfase nos fenô- sível a leigos. Esta obra inova-
menos de nosso dia-a-dia. Trata- dora beneficiará um público
se de um enfoque totalmente bastante amplo e será particu-
inédito que visa instigar a criati- larmente útil a alunos e docen-
vidade, o trabalho em equipe e tes de nossas licenciaturas.
a inovação. São mais de 100 (Beatriz Alvarenga
experiências e protótipos envol- UFMG)
vendo robótica, foguetes, aque-
cimento solar, fibras ópticas, la- Física mais que divertida. In-
sers, aerodinâmica, antenas ventos eletrizantes baseados em
parabólicas, discos voadores materiais reciclados e de baixo
(hovercrafts), bolhas gigantes, custo. Eduardo de Campo Vala-
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truídos sobre como realizar os fone (31) 3499-4650; fax: (31)
experimentos levando em conta 3499-4768.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Química e conservação de dentes N° 13, MAIO 2001

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