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Flávia Maria Cheganças

3º ano Jornalismo – Matutino

Resenha Crítica do livro:


“Cidadania no Brasil: o longo caminho” – José Murilo de Carvalho

O livro Cidadania no Brasil: o longo caminho foi escrito pelo cientista


político, professor e historiador José Murilo de Carvalho. O autor se destaca
por sua grande produção científica em que aborda temas como a cidadania,
justiça e liberdade referentes à história brasileira.

Através de 236 páginas o leitor pode refletir sobre qual é o verdadeiro


significado de cidadania, e quais as características e requisitos fazem de uma
pessoa um cidadão. Para fazer essa reflexão, Carvalho analisa 178 anos da
história do país, já que durante esse período os direitos pela cidadania
sofreram variações. A pesquisa começa em 1822 com a independência,
seguida pela abolição da escravatura, proclamação da república e os governos
sequentes, destacando Getúlio, o início do período militar, e o processo de
redemocratização até o fim do século XXI.

Ele aponta três direitos que são essenciais para a construção da


cidadania: o direito civil, o político e o social. Os direitos civis estão ligados aos
direitos fundamentais de liberdade, vida, propriedade, igualdade, presentes no
Art.5º da Constituição e cuja garantia se baseia em uma justiça acessível e
eficiente a todos. Os direitos políticos dizem a respeito do autogoverno, ou
seja, sobre a participação do cidadão no governo da sociedade, através da
construção de partidos e principalmente do direito ao voto. Os direitos sociais,
por sua vez, garantem a participação na riqueza coletiva, como direito à
educação, ao trabalho, à saúde, reduzindo as desigualdades e garantindo
justiça a todos, assim como o bem-estar.

O autor dá continuidade ao texto dividindo-o cronologicamente em


quatro capítulos, em que cada um mostra problemas e fatos sociais
necessários para a construção da cidadania no Brasil ao longo da história.

Carvalho afirma que para o progresso da cidadania no período de 1822


até 1930, a única alteração importante foi a abolição da escravidão, em 1888,
pois incorporou aos ex-escravos os direitos civis. Ele também acrescenta que
durante esse tempo faltava aos brasileiros o sentimento nacionalista
necessário na luta pela conquista de direitos, e que a forma mais intensa de
envolvimento dos cidadãos com a nação foi a que se deu durante a Guerra do
Paraguai. Mas, que pelo lado positivo, houve eleições ininterruptas neste
período (a exceção de casos excepcionais como as guerras), mesmo que o ato

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 2001
de votar fosse restrito a poucos e durante as votações houve por muito tempo
violência e o voto de cabresto.

Segundo ele, o ano de 1930 foi um “divisor de águas para a história do


país” (página 87), pois houve a aceleração das mudanças políticas e o
progresso dos direitos sociais, principalmente com a criação do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio. Outro marco descrito pelo autor foi a ascensão
de Getúlio Vargas a presidência da república em 1937, que rompeu com a
política café com leite e trouxe a tona discussões principalmente no que se
refere aos direitos sociais, implantando diversas leis trabalhistas, como o
salário mínimo adotado em 1940.

O governo de Vargas, de acordo com autor, também ajudou a despertar


o sentimento de nacionalismo da população. No entanto, os direitos civis não
foram respeitados, visto que o regime ditatorial privava a população de ter
liberdade de expressão. Segundo o autor, os direitos políticos também
sofreram grande retrocesso, já que o ato de votar era questionável, pois
existiam apenas dois partidos políticos, a ARENA e o MDB e a censura calava
a voz daqueles que iam contra o governo.

Com o término da ditadura houve uma redemocratização e os direitos à


cidadania, mais precisamente os políticos puderam ser restabelecidos. A
Constituição Cidadã de 1988, as eleições diretas de 1989 para presidente e o
impeachment de Collor foram vistos como avanços democráticos. Entretanto,
muitos problemas sociais e civis permaneceram. Na economia havia a
desigualdade e desemprego, e na área social, educação, serviços de saúde e
saneamento continuavam precários.

Carvalho ainda dá exemplos de progressos para a cidadania como a


criação do Movimento dos Sem Terras (MST), aumento da alfabetização,
queda da mortalidade e criminalização do racismo. Porém, afirma que é visível
a desigualdade, já que as garantia dos direitos civis se restringem quase que
inteiramente à população de maior renda. Além disso, os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário não estão em sintonia. Para o autor, o Executivo é
valorizado, o Legislativo desvalorizado e o Judiciário só é eficaz quando se
trata de assuntos ligados a parcela da sociedade que tem um alto poder
aquisitivo.

Para concluir, o autor afirma que a desigualdade é o câncer que impede


a constituição de uma sociedade democrática, mas que enquanto prevalecer a
democracia e se houver uma organização da sociedade será possível diminuir
essas desigualdades e consolidar os direitos civis, políticos e sociais essenciais
para a construção da cidadania.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 2001
É importante salientar que os progressos são inegáveis, mas foram
lentos e não escondem o longo caminho que falta percorrer para a conquista
da democracia e para o fim dos problemas como pobreza e desigualdade no
país. Ao realizar a leitura, uma pessoa pode perceber essas constatações, no
entanto, a grande maioria da população não consegue ter essa visão
minuciosa por falta de estudo e de práticas do governo e da indústria de
entretenimento que favorecem a alienação do povo.

As inquietudes e manifestações que assolam o país atualmente, mesmo


que consideradas insuficientes podem ser o primeiro passo para a conquista da
cidadania, basta a população brasileira não desacreditar e cobrar os que estão
no poder por melhorias e mudanças. E também puni-los quando eles fizerem
algo incompatível com o bem-estar de toda a sociedade.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 2001

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