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Ijuí – RS
2018
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Ijuí – RS
2018
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AGRADECIMENTO E DEDICATÓRIA
RESUMO
RESUMEN
La temática de este trabajo enfoca "El modelo del cerebro triuno en interfaz con el
psicoanálisis y otras teorías triárquicas de la mente". La cuestión fundamental que
orienta la investigación es: "Después de todo, ¿qué quieren los humanos?" Se trata
de una investigación bibliográfica sobre la etiología de los conflictos internos que
acometem los humanos y que nos llevan a tomar decisiones irracionales sin saber el
motivo. Describimos conceptos de la Teoría del Cerebro Triuno (1990 [1970]), de
Paul D. MacLean, y de la teoría psicoanalítica (más específicamente freudiana y
lacaniana), con énfasis en el estudio de los artículos sobre la aplicación del modelo
macleaniano a la psicología infantil, sobre las jerarquías neurales y mentales y sobre
otra propuesta de integración entre la psicoanálisis y la neurología. Investigamos la
posibilidad de la integración de la Triune Brain Theory (1990 [1970]) con el
psicoanálisis y con otras teorías triárquicas de la mente localizadas en las
psicologías, las literaturas, las mitologías, las filosofías y las religiones. Con el auxilio
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ABSTRACT
The theme of this work focuses on "The triune brain model in interface with
psychoanalysis and other triarchic theories of the mind". The key question guiding
research is: "What do humans want after all?" It is a bibliographic research about the
etiology of the internal conflicts that affect humans and that lead us to make irrational
decisions without knowing the reason. We describe concepts of Paul MacLean’s
Triune Brain Theory and psychoanalytic theory (more specifically Freudian and
Lacanian), with emphasis on the study of articles on the application of the MacLean
model to child psychology, on neural and mental hierarchies, and on another
proposal of integration between psychoanalysis and neurology. We investigated the
possibility of integrating the Triune Brain Theory (1990 [1970]) with psychoanalysis
and other triarchic theories found in psychologies, literatures, mythologies,
philosophies, and religions. With the help of the hermeneutic tool, we are taking a
closer look at the new integrative path that we glimpse at the horizon of different
theories, which can help men and women (and even children) better cope with their
intrapsychic conflicts inherent in all of us humans. As an example of this conciliatory
view, we present the perspective of a brazilian psychotherapist on the treatment of
phobias and fears. The answer seems to be in the question itself – as always –
because we know that we do not know for sure what we want. Now (after Freud and
MacLean) we know at least that there are very real reasons for these blatant
contradictions, inconsistencies and internal incongruities that we carry with us as
mortal beings (onto and phylogenetically). In the face of this privileged information, it
is up to us to value much more in our decisions that rational instance of which we are
endowed and that is still very much influenced by drives of our older brain centers
and directed to the basic instincts and the mammalian emotions.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
1 O MODELO DO CÉREBRO TRIÚNICO, A PSICANÁLISE E OS CONFLITOS
INTERNOS DO SER HUMANO .................................................................... 10
1.1 As bases neurobiológicas da conduta humana, o jogo entre o cérebro instin-
tivo – emocional e o cérebro racional ........................................................... 11
1.2 O estudo sobre as hierarquias neurais e mentais ....................................... 21
1.3 Uma proposta integrativa para a psicanálise e a neurofisiologia .................. 23
1.4 A psicanálise segundo Freud e Lacan: três instâncias e três registros ........ 37
1.5 O projeto de Freud para uma Psicologia Científica ...................................... 59
1.6 Outros artigos localizados nas bases da dados PubMed, BVS e Scielo ...... 66
2 O MODELO DO CÉREBRO TRIÚNICO EM INTERFACE COM A PSICANÁ-
LISE E OUTRAS TEORIAS TRIPARTITES DA MENTE .............................. 83
2.1 Princípios norteadores de Freud e do evento “Nós Outros Gaúchos” .......... 83
2.2 Breve articulação entre as teorias de MacLean e de Freud (psicanálise) .... 85
2.3 Os efeitos dessa integração nos adultos ...................................................... 116
2.4 O exemplo do tratamento das fobias e dos medos ...................................... 121
2.5 Outras conexões teóricas possíveis ............................................................. 132
2.6 A visão judaico-cristã da saúde mental e dos conflitos humanos ................ 180
3 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS ................................................................ 197
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 222
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 228
APÊNDICE A – VESTÍGIOS DO TRIUNE BRAIN EM “HOMEM DOS RATOS”.. 241
APÊNDICE B – A TERCEIRA LÂMINA (ZÉ RAMALHO) .................................... 245
9
INTRODUÇÃO
Nessa dúvida que externou, Freud referia-se, no entanto, talvez mais à vida
sexual das mulheres adultas (vista por ele como um “continente negro”, em sua obra
“A questão da análise leiga”) do que propriamente à psicologia e à alma femininas.
(FREUD, 1996 [1926], p. 205-206).
Outra questão, além das que embasam nosso tema central de pesquisa é a
seguinte: por que um ser humano, mesmo sabendo ser má escolha para seu jeito de
ser, sente atração por outro ser humano com perfil mais para cafajeste 2 do que para
confiável com o objetivo de manter um relacionamento estável de longo prazo?
Buscando explicar esse comportamento humano incoerente e incongruente,
o psiquiatra, psicoterapeuta e escritor paulista (falecido em 2016) Flávio Gikovate3
teoriza sobre a associação entre sexo e agressividade, em seu livro “A libertação
sexual: rompendo o elo entre o sexo, o poder e a agressividade” (2001):
2 Cafajeste: ou, nos termos da teoria gikovateana, o perfil psicológico mais conhecido como “egoísta”
(referência à obra de Flávio Gikovate: “O mal, o bem e mais além: egoístas, generosos e justos”.
São Paulo: MG Editores, 2005).
3 Flávio Gikovate: médico, psiquiatra e psicoterapeuta paulista, formado pela USP em 1966, autor e
conferencista consagrado, com várias obras publicadas – inclusive no exterior – que somam mais
de um milhão de livros vendidos, lamentavelmente falecido em 2016, cuja teoria audaciosa foi
pouco valorizada pelos seus pares brasileiros que atuam na área da saúde mental. Prestamos aqui
nossa sincera homenagen à sua obra (in memorian).
11
pela ousadia dele: tem grande inveja de sua capacidade de ser desleal,
raiva por ser traída e, por outro lado, se sente muito atraída sexualmente.
Por intermédio dele, exerce uma faceta de sua personalidade que ela
talvez nem sequer se permita saber da existência. Ao mesmo tempo,
pode se achar explorada e um tanto mártir, o que determina certo tipo de
excitação sexual relacionado com o masoquismo essencial ao qual já me
referi. A mulher inteligente e bem formada poderá preferir um
companheiro desleal – e por isso mesmo atraente – em vez de alguém de
caráter similar ao seu, mas que não lhe seja sexualmente excitante. (...)
Não devemos nos surpreender com o inverso. Muitos homens se excitam
demais por terem parceiras exuberantes e nada leais. [grifo nosso].
(GIKOVATE, 2001, p. 143-144).
Há uns nove anos tomamos contato com a teoria do cérebro triúnico4 (ou
trino), de Paul MacLean (1990 [1970]), que fala sobre a evolução, no estilo
darwiniano, de três cérebros que foram sobrepondo-se uns aos outros, a partir do
mais primitivo: o reptiliano (instintivo, físico), incluídos nele o cerebelo, o tronco
encefálico e o sistema reticular.
Na origem, o modelo da serpente5 (espinha dorsal e um micro cérebro, útil
mais para a luta/fuga, sobrevivência, alimentação, procriação/sexualidade). Ele lida
com as funções (conhecidas das neurociências) do cerebelo e adjacências: muitas
delas do sistema nervoso autônomo parassimpático (respiração, frequência
4
Referência à obra de MACLEAN, P. D. The triune brain in evolution: role in paleocerebral functions.
New York: Plenum Press, 1990.
5 Aliás, curiosamente, na Bíblia Sagrada (Gênesis 3,15), há menção a Maria pisando sobre a
serpente (talvez no sentido da espiritualidade e da racionalidade imperando sobre a
irracionalidade?); serpente essa que, portanto, já consta da história bíblica sobre o paraíso e a
origem do homem e da mulher. (BÍBLIA, 2001).
12
cardíaca, etc.), como escreve a pediatra Inés Merino Villenueve6 (2016), em seu
artigo “Una nueva vacuna: la vacuna del autoconocimiento. Bases neurobiologicas
de la conducta humana. El juego entre el cerebro instintivo-emocional y el cerebro
racional”.
Diz Robert Lent em seu livro “Cem Bilhões de Neurônios”:
Fonte: “Neural and mental hierarchies” (WIEST, 2012). Image courtesy of Springer Verlag.
7 Fort Da – conceito psicanalítico que refere-se aos jogos de ausência e presença (brincadeira infantil
de aparecer/desaparecer) entre mãe e bebê (FREUD, 1996 [1920]).
15
This means that the vanishing of primitive reflexes is closely related with the
maturation of the nervous system, in particular the frontal cortex, which
obviously exerts an inhibitory effect on these instinctual reflexes. The
gradual replacement of inherited and automatic movements by intentional
and goal-directed movements reminds one of Haeckel’s proposal that in
human development ontogeny recapitulates phylogeny, at least to some
extent (Haeckel, 1866, 1874). This developmental peculiarity confirms, on
the other hand, that motor development and motor organization obeys
hierarchical principles, i.e., that higher or mature motor systems control or
inhibit lower and automatic ones. (WIEST, 2012, p. 2).
8 Referência que lembra o termo criado pela releitura da teoria freudiana feita pelo psicanalista
francês Jacques Lacan – “O inconsciente é o discurso do Outro” (LACAN apud COLLIN et. al., 2012,
p. 123) e também as ideias do psicólogo russo Lev Vygotsky (para o qual nossas experiências
formativas são sociais: “Construímos nossa identidade pela relação com os outros” (VYGOTSKY
apud COLLIN et. al., 2012, p. 270).
9 Como referimos em nota anterior.
16
Tenho um amigo que come muito açúcar. Um dia perguntei a ele se já tinha
ouvido falar no Sugar Blues, do William Dufty, um livro sobre açúcar
completamente radical. Ele disse que já. “Mas não quero ler, não”, explicou.
“É uma porrada muito forte. Eu adoro tudo que é doce, bala, porcaria. No
cinema gasto mais com os bombons do que com a entrada. Em casa,
quando não tem um doce na geladeira eu fico louco. Já saí altas
madrugadas rodando pela cidade atrás de um pudim de leite. Agora: se eu
leio um livro desse, tô perdido. Porque eu vou ficar sabendo que faz um mal
danado, vou me sentir obrigado a tentar parar e a minha vida vai virar um
inferno porque eu não vou conseguir. Pode crer. Não vou conseguir viver
sem açúcar”. (HIRSCH, 2009 [1984], p. 18-19).
Quem é esse “eu” que adora tudo que é doce, que não quer ler o livro, que
fica louco quando não tem um doce na geladeira, que sái dirigindo alucinado pela
cidade atrás de um pudim de leite e que não vai conseguir viver sem açúcar?
E isso explica, de maneira singela, a (vista como) eterna dúvida freudiana
ainda não respondida pela psicanálise desde o mestre: “Afinal, o que querem as
mulheres?” – pergunta que deveria ser reescrita, talvez, como segue: “Afinal, o que
querem os humanos?”. Freud percebe, ao registrar essa sua famosa frase, os
diferentes projetos evolutivos desses núcleos neurológicos em conflito?
Simples: esses cérebros estão servindo a dois senhores (de novo a letra
da Bíblia Sagrada, livro dos mais antigos da história da humanidade). Estão agindo a
partir de centros cerebrais descoordenados entre si e com agendas diferentes. E
“quem manda” são os dois mais antigos. Fica difícil explicar certas condutas e ações
humanas racionalmente, de fato. Não sabem, pois, os humanos, bem ao certo o que
querem, agem contra seus próprios interesses, por não saberem integrar esses três
cérebros (curiosamente, de modo contrário ao que ensinam as ciências orientais da
Yôga e da Meditação Chinesa, por exemplo, sobre o alinhamento dos chacras ou
centros de energia corpo-mente).
10 Novamente, mesmo sabendo ser tal conduta prejudicial ao nosso organismo (que se mantém
mesmo em casos severos como o de pessoas com câncer de pulmão que seguem fumando).
17
12 Assim, talvez não seja uma ideia tão boa falar em “ética da psicanálise” no sentido de dar livre
vazão ao “desejo” humano (do inconsciente), que por sinal parece ser uma interpretação
equivocada da ideia lacaniana – LACAN, 2008 [1986]. Os psicanalistas que posicionam-se como
ortodoxos “acreditam no Inconsciente” (e isso aproxima-se muito de uma reverência religiosa;
neste caso, de um sistema neuronal primitivo, voltado à agressividade e ao egoísmo originais). O
inconsciente de fato existe, talvez localizado no sistema instintivo-emocional, mas dar livre vazão
ao “desejo” é dar livre curso ao sexo e à pulsão de morte no nível individual e no social, com as
desastrosas consequências que temos acompanhado atualmente. A propósito, essa é uma
interpretação equivocada da psicanálise autêntica. Por outro lado, equilibrar e integrar os instintos
(ou as pulsões), as emoções e a razão pode ter efeitos, inclusive sociais, mais saudáveis. É o que
pensamos. É o que Freud pensava.
13 Referência à obra de FRANKL, V. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração.
São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008.
14 Referência à obra de COVEY, S. R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. São Paulo:
Editora Best Seller, 2002, p. 263-304.
15 Teria isso a ver com a ideia que o nosso imaginário ocidental popular tornou notória: de que temos
no ombro direito um diabinho (o mal) e no esquerdo um anjinho do bem (ou vice-versa) que nos
confundem no momento de fazer escolhas? Ou isso teria relação mais com os hemisférios
19
dirigirá nossas vidas? “El sistema instintivo emocional, o los lobos prefrontales?”.
Cita, então, conhecimento, educação, prática, paciência e perseverança como
armas para ajudar nossas crianças a aprenderem a responder de modo não
automático (tudo aquilo que os antigos filósofos e os grandes e velhos livros da
humanidade sempre disseram e que as tradições racionais e espirituais sempre
apontaram). (VILLENEUVE, 2016).
Achamos interessante transcrever a história do livro de Philip Dunn (2003),
“A arte da paz: equilíbrio e conflito em A arte da guerra, de Sun-Tzu”, de pequeno
capítulo em que trata sobre a consciência, porque a transcrição ipsis litteris preserva
nossa perspectiva e também a intenção dele (na espada, o instintivo-emocional; na
consciência: o instinto, a emoção e a razão integradas):
O que é conhecido não tem valor, o que foi visto não é precioso, o que foi
ouvido não tem relevância – a não ser por meio da consciência e do amor.
esquerdo (mais racional) e direito do cérebro (mais criativo)? – e com a especialização hemisférica
(LENT, 2001, p. 706-707).
20
16 Gerard Wiest: Department of Neurology, Medical University and Vienna Psychoanalytical Society,
Vienna, Austria.
17 Referência ao artigo de WIEST, G. Neural and mental hierarchies. In: Frontiers in Psychology.
Vienna, Austria. November, 2012, Vol. 3, Article 516.
18 Frenologia. s. f. Estudo do caráter e das funções intelectuais do homem, baseado na conformação
do crânio (doutrina hoje abandonada). (NOVO DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO LUSO-
BRASILEIRO, 1958).
19 Hughlings Jackson: neurologista britânico, um dos pais fundadores da neurologia clínica.
20 Referência à obra de PANKSEPP, J. Affective Neuroscience: The Foundations of Human and
Animal Emotions. New York: Oxford University Press, 70, 1998.
22
21 Referência aos textos de PRICE, J. The dominance hierarchy and the evolution of mental illness
(1967); e PRICE, J. The triune brain, escalation, de-escalation, strategies, and mood disorders
(2002). Além de outra publicação com outros autores: PRICE et. al. The social competition
hypothesis of depression (1994). E também FEINBERG, T. E. Altered egos: How the brain creates
the self. (2001); FEINBERG, T. E.; ROANE, D. M. Anosognosia, completion and confabulation: the
neutral-personal dichotomy. (1997); FOTOPOULOU, A. The affective neuropsychology of
confabulation and delusion. (2010); KOPELMAN, M. D. Varieties of confabulation and delusion.
(2010); FEINBERG, T. E. From axons to identity: neurological explorations of the nature of the self.
(2009); SOLMS, M. Happy reading for a psychoanalyst. (2010); SALAS, C.; TURNBULL, O. H. In
self-defense: disruptions in the sense of self, lateralization, and primitive defenses. (2010);
FOTOPOULOU, A. et. al. Mirror-view reverses somatoparaphrenia: dissociation between first- and
third-person perspectives on body ownership. (2011).
23
Fonte: http://justwriteonline.typepad.com/.a/6a0120a55c9cd1970c01b8d13eb787970c-pi
22 Andréa Pereira de Lima: Universidade Federal de Uberlândia (UFU), União Educacional de Minas
Gerais (Uniminas). Graduação em Ciências Biológicas e em Psicologia, Mestre e Doutora em
ciências – Fisiologia.
23 Localizado com o auxílio da professora doutora Lála C. L. Nodari, que ministrou no primeiro
semestre de 2018 a disciplina “Seminário de pesquisa em psicologia” (Curso de Psicologia,
UNIJUÍ), em que foi elaborado o projeto deste trabalho de conclusão do curso de psicologia.
24
24 Referência à obra de KANDEL, E. R. Biology and the future of psychoanalysis: a new intelectual
framework for psychiatry revisited. (2000).
25 Referência à obra de SOUSSUMI Y. Tentativa de integração entre algumas concepções básicas
da psicanálise e da neurociência. (2006).
26
emocional, ou lymbic system – de modo que, por isso, relacionamos (neste trabalho
de conclusão do curso de psicologia) a função egóica a esse núcleo do modelo
macleaniano. (LIMA, 2010, p. 285).
A doutora Andréa ainda liga o Superego freudiano à estrutura cerebral
denominada núcleo central da amígdala, por que este nos permite aprender que
uma determinada situação é perigosa e pode trazer consequências ruins (LIMA,
2010, p. 285). Neste ponto, também discordamos de sua interpretação, porque a
função do Superego estaria, pensamos, mais conectada às atividades cognitivas
superiores e à capacidade de reflexão crítica executadas pelo cérebro lógico-
racional (a amígdala pode até acionar parte do mecanismo descrito por Freud como
superegóico, de fato o cérebro está interconectado em praticamente todas suas
funções, mas sem a razão tal evolução humana em relação aos animais não seria
possível). Até porque decidir sobre os complexos casos cotidianos que envolvem um
juízo moral dependem da razão e da lógica. O Superego é um “freio inibitório”.
Inibitório do quê? Do livre curso, em sociedade (em relação ao ambiente grupal), dos
primitivos desejos reptilianos e do descontrole emocional.
Acreditamos que é melhor vermos o quadro todo de uma perspectiva mais
ampla, como o modelo do triune brain, de Paul MacLean, e absorvermos o Superego
entre outras tantas importantes funções desempenhadas pelo nosso extraordinário
cérebro lógico-racional (ou sistema, para Villeneuve), do que procurarmos
mecanismos mais específicos para fazermos essa comparação neuropsicanalítica.
Talvez o Superego não seja exatamente um dos três centros de comando do
ser humano, pode ser uma das funções da razão que emerge do fato de termos,
nós, os humanos, um neocórtex poderosíssimo.
Todavia, em respeito ao trabalho aprofundado em fisiologia e psicologia da
professora, psicóloga e bióloga Andréa Pereira de Lima (área em que é mestre e
doutora), temos que reconhecer que ela está em melhores condições do que nós
para posicionar-se com segurança em relação ao conhecimento específico de todas
essas localizações e funções cerebrais, de modo que citamos in verbis um exemplo
que traz em seu artigo sobre sua forma de ver a conexão entre as instâncias
freudianas do aparelho psíquico e a neurociência. Ela pode, com efeito, estar certa
em sua corajosa abordagem:
iriam gostar. A ideia nos agrada muito e votamos pela compra (diz o cérebro
emocional, ou o paleomammalian brain, um pouco mais sofisticado).
– Agora não! Vamos avaliar a situação toda e chegar a um consenso,
colegas. Não podemos comprar meros objetos por impulso. Temos que fazer
cálculos e estudar a hipótese da aquisição desse veículo (censuram e posicionam-
se partes do conciliador cérebro emocional – paleomammalian brain, e do meditativo
cérebro lógico-racional, ou o neoomammalian brain, ou neocórtex encefálico).
“Divertida Mente” (Inside Out, 2015) é o nome de um desenho animado (da
Disney e da Pixar) que surgiu recentemente e que apresenta algo semelhante a
essa ideia do diálogo que criamos a partir da situação hipotética sobre a compra de
um automóvel trazida por Lima (2010) em seu artigo (porém, nesse filme, apenas
quanto ao aspecto emocional) para exemplificar nossa interpretação – grosseira e
superficial – do funcionamento e estrutura da mente humana (com base em Paul
MacLean e no seu modelo neurológico). Esse filme tem sido assistido em sessões
de estudo em universidades, inclusive do Curso de Psicologia da UNIJUÍ. O enredo
desenrola-se dentro da cabeça de uma menina de 11 (onze) anos, na “torre de
comando”, onde cinco emoções (conflitantes e complementares entre si): Alegria,
Medo, Nojo, Raiva e Tristeza são responsáveis por processar as informações,
armazenar as memórias, operar os movimentos, as decisões e reações.
Neurologistas e psicólogos ajudaram o autor Peter Docter na preparação do roteiro.
Já sabemos, hoje, que as lembranças são fixadas no cérebro junto com um estado
de humor: “Todas as recordações que temos, sejam elas boas ou ruins, trazem
consigo sentimentos”, explica a neuropsicóloga Cleide Lopes, do Centro de
Longevidade do Hospital 9 de Julho, de São Paulo, ao comentar o assunto em
entrevista à Revista Saúde. (SAÚDE, 2016).
Sobre o mesmo filme, o psicanalista paulista Christian Dunker escreveu
artigo com o título “A mente da pixar – Divertida Mente nos ensina sobre o valor da
tristeza, mas também ele quer ser uma espécie de manual de neurologia universal
da mente governada por emoções” (2015). O autor escreve que esse desenho
animado transmite didaticamente a ideologia contemporânea a respeito do “mal-
estar com a felicidade” (típica de nossa época consumista), por trazer a Alegria
como protagonista. Pensamos que não necessariamente a presença de alegria e de
otimismo nos humanos pressupõe o comportamento mentiroso e mascarado de
alguns usuários de redes sociais, por exemplo, que tentam sempre mostrar-se
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sorrindo e na posse de muitos bens de consumo (esses são uma parte da população
seduzida pelo poder das aparências e da superficialidade comum a todas as épocas
da história). O que o filme procura mostrar mais, cremos nós, é uma postura
(otimista) governada por emoções positivas (quando presentes de forma verdadeira)
e pela sua influência equilibrante das ações humanas, reconhecendo, como não
poderia deixar de ser, a existência de momentos de tristeza (raiva, medo, e outros
estados emocionais) – de modo que não seja dada a um estado depressivo a
primazia da condução da vida (como é o caso da opção pessimista típica da obra de
diferentes filósofos e pensadores que foram sucedendo-se ao longo da civilização)29.
Por outro lado, concordamos com o psicanalista brasileiro (e professor da USP),
quando escreve que o filme nos faz pensar nas nossas individualidades a partir da
“gramática básica e universal das emoções”, uma expressão reduzida de uma
“geografia particular”, em que os conflitos nos são internos:
Pensamos que esse curioso filme ajuda-nos a termos uma ideia aproximada
da realidade dos nossos conflitos internos, utilizando-se apenas de cinco emoções –
que dizer então da realidade conflituosa de nossa mente que tem que atender em
tempo real aos nossos mais variados sentimentos, pensamentos, raciocínios,
emoções, crenças, moções, impulsos, instintos, pulsões, desejos, necessidades,
reações, comportamentos, censuras, etc.?
E isso nos faz voltarmos a pensar na ética da psicanálise, com a psicanalista
Maria Rita Kehl (2002), que questiona, em seu livro “Sobre ética e psicanálise”, a
“ética tradicional” (da tradição, religiões, educação, mitologias) que tenta garantir
certa estabilidade simbólica. Questiona o “discurso capitalista” para o qual o gozo
ultrapassa o corpo e pela lógica do mercado busca a satisfação nos objetos banais e
29 Sobre o tema, referimo-nos, à obra “Lógica do Pior” (1989), que, apesar do título, aborda essa
questão e os três modos de filosofar, mas coloca o autor e filósofo francês Clément Rosset entre
os pensadores afirmativos que pregam a aceitação alegre e incondicional da realidade. Para ele, a
filosofia só raramente consegue “arrancar o homem das suas manias”, porém tem eficácia ainda
um pouco além dos resultados obtidos até o momento pela medicina, pela psicologia, ou pela
psicanálise. (ROSSET, 1989).
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mercadorias. Mas nossa realidade humana neste Planeta concreto exige objetos, e
ela é pautada pela lógica econômica (seja ela capitalista ou do bem-estar social).
Claro que o objeto do desejo é “inexistente” (conforme a visão lacaniana de
que está perdido para sempre) e isso gera repetição de comportamentos no
humano. A psicanálise faz função terapêutica de preencher vazios de angústia e
mal-estar (mal-estar, este, que a sociedade quer eliminar). Há um imperativo de
renúncia ao gozo e o gozo pleno é tão impossível de se realizar quanto sua renúncia
absoluta. Tal condição é constitutiva do humano: supor a falta de um objeto
imaginário de que o sujeito se supõe privado (pelo Outro) e que quer recuperar a
qualquer custo. A psicanálise de Freud “revelou ao Século XX” o preço de controlar
excessivamente os impulsos. Desmoralizou tabus e restrições dos “burgueses”. Ela
é a “prática da dúvida” e nada prescreve. Freud propõe tolerar falhas alheias e agir
com humildade, porque para o inconsciente o mal não existe e a moral não importa
(KEHL, 2002, p. 7-38).
Apesar disso, durante a análise, o sujeito é “responsabilizado pelo seu
inconsciente” e percebe que é melhor investigar o seu desejo do que manifestar
sintomas: “quem mais, além de mim, pode se responsabilizar por algo que, embora
eu não controle, não posso deixar de admitir como parte de mim mesmo?” (FREUD
apud KEHL, 2002, p. 32).
Pela palavra, as representações inconscientes ganham acesso (ainda que
precário) à consciência (e isso é efetivo na técnica da terapia psicanalítica, de fato).
(KEHL, 2002, p. 108-109).
Kehl cita Espinoza (2002, p. 127), para quem “é inevitável que as paixões
nos afetem, já que estamos vivos.” Certo. A essência da ética desse filósofo é que “a
passividade que as paixões produzem no sujeito traz escravidão e tristeza, enquanto
a atividade da alma livre das paixões traz alegria e expansão”. Antes de Freud,
Espinoza pergunta o que fazer com o destino das pulsões. Boa pergunta.
Perguntamos se há como integrarmos essas paixões ou pulsões no ser
humano como um todo? É possível a nós, os humanos, integrarmos nossos
aspectos reptilianos (físicos), emocionais (afetivos), racionais (intelectuais) – e, por
que não, espirituais? É possível chegarmos ao meio termo aristotélico, sem o viés
moral que ele dá à sua percepção filosófica do fenômeno humano?
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pela riqueza do mundo social e cultural do qual a criança irá participar). Processo
similar (edipiano), com inversões das figuras de desejo e identificação, ocorre com
as meninas (BOCK, 1999).
Primeiro, muito colado à mãe, depois iniciando relações com o mundo
externo (via identificação com o pai) e, então, já adaptado ao ambiente sócio-
cultural: réptil, emocional, lógico (os três cérebros e suas influências formadoras
sequenciais).
Mais uma vez, precisamos atentar para a relação triangular (▲) do conflito
edipiano (os três ângulos dessa figura geométrica: filho, mãe, pai podem estar a
representar simbolicamente os períodos evolutivos – filo e ontogenéticos – dos
cérebros reptiliano, mamífero e neocortical).
Em “Sobre o narcisismo: uma introdução” (FREUD, 1996 [1914]), Freud
ensina que há três espécies de “energia psíquica”. Ele destaca a libido nas pulsões
autoeróticas (estado inicial da energia sexual) – o cérebro réptil? Diferencia-as das
pulsões do ego (no narcisismo: conceder ao ego catexia primária da libido) – cérebro
mamífero? E das pulsões dirigidas ao objeto (libido objetal, no narcisismo
secundário) – cérebro lógico-racional? (FREUD, 1996 [1914]).
Assim, o autoerotismo é o estado inicial da libido. As pulsões autoeróticas
estão ali desde o início (réptil?) e é necessário adicionar algo ao autoerotismo (nova
ação psíquica) para provocar o narcisismo. A diferença é que o Ego tem que ser
desenvolvido, não existe no indivíduo desde o começo – cérebro emocional?
(FREUD, 1996 [1914]).
No narcisismo primário, a retirada da libido dos objetos, pessoas e coisas do
mundo externo teria relação com problemas de ordem emocional (cérebro
paleomammalian) – como nos parafrênicos: esquizofrenia, demência precoce,
megalomania?
Nas induções de catexias objetais (do narcisismo secundário) entraria em
funcionamento um cérebro executivo lógico-racional mais bem desenvolvido, porém
em conflito ainda com o sistema instintivo-emocional – como no caso das neuroses
obsessiva e histérica?
Isso explicaria a afirmação psicanalítica – atribuída a Freud – de que somos
“todos” neuróticos? Porque sempre há conflitos no Homo Sapiens. O estado de
“normalidade”, assim, seria, no mínimo, a neurose.
39
Pode ser que a neurose de todos nós, humanos, decorra, então, da própria
constituição triárquica de nossos cérebros evoluídos.
Boas questões, em vocabulário psicanalítico, para a meditação da
comunidade estudiosa do psiquismo humano.
A psicanálise também é uma teoria tripartite da mente.
Resumidamente, Freud apoiou seu aparelho psíquico, na sua versão final,
nos três conceitos: Id, Ego e Superego (lembrando que ele inicialmente escreveu
sobre o inconsciente, o pré-consciente e o consciente, concepções triárquicas muito
semelhantes àquela da perspectiva macleaniana, antes referida) – FREUD, 1996
[1932]).
A primeira concepção freudiana sobre a estrutura e o funcionamento
psíquicos foi apresentada na obra “A interpretação dos sonhos”, em 1900. O
inconsciente é composto por conteúdos ausentes do campo atual da consciência e
reprimidos por censuras internas e tem suas leis próprias de funcionamento (não há,
por exemplo, noções de passado e presente). No pré-consciente estão conteúdos
acessíveis à consciência. Já o consciente, por sua vez, é o sistema que recebe
simultaneamente informações do mundo interior e exterior, destacando-se a
percepção, a atenção e o raciocínio. A maioria dos desejos reprimidos teriam como
origem conflitos de ordem sexual na vida infantil. (BOCK, 1999).
Sigmund escreveu, mantendo o mesmo vocabulário (sistemas ) do seu
“Projeto para uma psicologia científica” (1996 [1895]), em “A interpretação dos
sonhos” (1996 [1900]):
40
“O Ego é, afinal, apenas uma parte do Id, uma parte que foi adequadamente
modificada pela proximidade com o mundo externo, com sua ameaça de perigo.”
(FREUD, 1996 [1932]).
Da percepção do externo surge a consciência (e o Ego age como escudo
protetor contra estímulos do ambiente). Sua função é fazer relação entre o mundo
externo e o Id (para este não se destruir satisfazendo suas pulsões de modo cego).
Tem função de teste da realidade, exclui os excessos das forças internas de
excitação do Id e controla o acesso à motilidade deste. É um mediador entre a
necessidade e a ação, usando a experiência para destronar o princípio do prazer
(que domina o curso dos eventos no Id) e substituí-lo pelo princípio da realidade.
Tem noção de tempo. Combina e unifica processos mentais – o Ego evolui da
percepção dos instintos para o controle deles. Às vezes, o cavaleiro (Ego) só guia
o cavalo31 (Id) por onde este quer ir (“situação não propriamente ideal”, nas
palavras de Freud). O Ego serve a três senhores ao mesmo tempo (severos,
ameaçadores, perigosos): o mundo externo, o Superego e o Id. E tenta
harmonizá-los em seus sempre divergentes reclamos e exigências incompatíveis
(como mediador). Desta pressão, surge ansiedade (moral: do Superego – confinado;
realística: do mundo externo – repelido; ou neurótica: das paixões fortes do Id –
31 Essa referência ao cavalo e seu guia será retomada novamente, mais adiante, neste trabalho, nas
palavras de Platão, de Arthur Koestler e na figura do mítico Centauro.
42
pulsões). O Ego usa em sua mediação a razão e o bom senso 32. O Ego admite sua
fraqueza. (FREUD, 1996 [1932]).
O Superego tem origem na longa dependência dos pais (e em sua influência
moral, severidade) e no Complexo de Édipo (conflito pai, mãe e filho). Tem função
proibidora e punitiva, de consciência (fazer o que dá prazer gera remorsos), de
manter o ideal, de auto-observação (preliminar da atividade de julgar). É uma
instância severa e “observadora” do Ego. Exige deste certos padrões de conduta,
sem importar-se com suas dificuldades em mediar o meio externo e os imperativos
do Id. Se tais padrões não são obedecidos, o Superego 33 pune o Ego com culpa e
sentimentos de inferioridade (FREUD, 1996 [1932]).
São funções do Superego a moral e os ideais, decorrentes da internalização
das proibições, dos limites e da autoridade – essa instância tem como conteúdo
exigências sociais e culturais:
32 Interessante notar (como abordaremos mais adiante) que Freud vai modificando as “localizações”
dessas instâncias em seu aparelho psíquico ao longo dos anos: em ilustração do modelo mais
recente, ele posiciona o Superego como “lateral” ao Ego e ao Id, invadindo os domínios das outras
duas instâncias. (FREUD 1996 [1932]).
33 Este termo “Super-Ego” também tem curiosa relação com a teoria macleaniana, pois poderia ser
traduzido literalmente como “Sobre-Ego”. Assim, teríamos Id – Ego – Sobre-Ego. Instâncias
sobrepostas umas às outras? Réptil – Mamífero – Intelectual (reptilian brain – paleomammalian
brain – neomammalian brain).
43
nosso cérebro é mais evoluído do que nos demais mamíferos, como já vimos antes.
Talvez ele seja (um pouco) mais evoluído naqueles indivíduos da espécie que, pela
educação (familiar ou formal), apropriaram-se de uma competência intelectual
“superior” (superior apenas no sentido do desenvolvimento de estrito respeito ao
próximo e às regras morais de convivência em sociedade) – naqueles cidadãos que
sofrem ao acreditar que, por seus atos ou omissões, podem eventualmente ter
causado danos aos direitos dos outros; cuja postura é contrária àquela dos
indivíduos que permanecem fixados num estágio evolutivo (egoísta) mais primitivo,
sem sentir culpa (ou sentindo-a em doses ínfimas), e preocupados em “levar
vantagem em tudo”, como sugere a publicamente notória “lei de Gerson” brasileira,
ou seja, a malandragem e o “jeitinho” (DAMATTA, 1991, p. 94-105). Voltaremos ao
tema da “universalidade” do Superego no capítulo seguinte.
Tais conceitos encontramos melhor detalhados na Conferência XXXI, “A
dissecção da personalidade psíquica”, na obra freudiana “Novas conferências
introdutórias sobre psicanálise”. (FREUD, 1996 [1932]).
Jacques Marie Émile Lacan, por sua vez, médico francês, desenvolveu
uma série de conceitos psicanalíticos relevantes: “todavia, foi expulso da Associação
Internacional de Psicanálise, em 1953, após acirradas discussões sobre a sua
‘perversa’ prática de conduzir sessões de terapia mais curtas.” (COLLIN et. al., 2012,
p. 123).
Um desses conceitos foi o do “estádio do espelho” (dividido em três
momentos), que o autor viu como contemporâneo ao prenúncio do período do
complexo de Édipo, no processo de maturação da criança (DOR, 1992).
Esse estádio do espelho está relacionado a um certo tipo de identificação
com base na alienação específica com a mãe. A criança irá conquistar a imagem de
seu corpo e estrutura do “eu” (DOR, 1992).
Tem três tempos: o primeiro, em que a criança confunde-se com o outro
(orienta-se pelo outro, criança assujeitada ao registro imaginário); o segundo tempo,
em que ela descobre que o outro no espelho não é um outro real, mas uma imagem
(distingue a imagem do outro da realidade do outro); e o terceiro tempo, em que fica
convicta de que trata-se de imagem no espelho, e imagem dela mesma (unifica a
dispersão de um corpo esfacelado) – DOR, 1992.
Sim, réptil que crê ser parte do outro; paleoammalian que começa a relação
emocional com o mundo externo ao ver que existe o ambiente externo e a realidade
44
do outro; lógico-racional que fica convicto de ver sua própria imagem nesse
espelho? Talvez.
Essa fase do espelho é identificatória. Segue relação de “indistinção quase
fusional com a mãe, mas se esboça um sujeito.” (DOR, 1992, p. 80-81).
Lacan prossegue com o número três (3), ao retomar os três momentos do
Édipo. No primeiro momento, a criança quer ser o falo da mãe, o objeto de seu
desejo (o que supõe faltar a ela). Criança assujeitada ao desejo materno
(problemática fálica: dialética do ser: “ser ou não ser o falo”). (DOR, 1992, p. 81).
Réptil novamente, fusão indistinta com a mãe.
No segundo momento, há intrusão paterna e o registro da castração (que
interdita, frustra e priva a criança). A lei do pai entra em jogo (lei do outro). O desejo
da mãe é visto como submetido ao desejo do outro (pai). Surge a dialética do ter ou
não ter o falo (da mãe). Agora a criança não é o falo e não o tem (nem a mãe o tem).
(DOR, 1992).
Aqui entra uma relação com o mundo externo e seus limites (DOR, 1992, p.
82-87). O cérebro emocional (mamífero) mais operante.
No terceiro e último momento do Édipo em Lacan, a criança caminha em
direção à conquista do falo, com o declínio desse complexo edipiano – com a
conclusão da rivalidade fálica em torno da mãe. Aqui, o pai deve intervir como
aquele que tem o falo e não como aquele que o é. Nesta etapa há simbolização da
lei, que garante a plena significação da criança (estruturação). (DOR, 1992, p. 88).
O menino engaja na dialética do ter o falo, identificando-se com o pai. A
menina pode identificar-se com a mãe e ir buscar o falo, já que a mãe sabe onde ele
está (DOR, 1992, p. 88).
Repor o falo em seu lugar estrutura a criança. É passagem do registro do ser
ao do ter. Instala-se a metáfora paterna (outro conceito lacaniano) e o respectivo
mecanismo intrapsíquico do recalque originário (DOR, 1992, p.88).
Passa a operar aqui o cérebro lógico-racional, pela maturação do neocórtex?
Nesta fase (da metáfora paterna), inaugura-se a alienação do desejo na
linguagem e o acesso da criança à dimensão simbólica (sujeito desejante e cativo da
linguagem). O desejo segue em busca de objetos substitutivos ao objeto perdido.
Gera demanda. Divide o sujeito e cria o inconsciente (se tiver sucesso). Ou cria a
psicose (se fracassar). (DOR, 1992, p. 94).
45
Não é por nada, sem dúvida, que elas são três. Deve haver aí uma lei
mínima que a geometria não faz, aqui, mais do que encarnar, a saber, que
se vocês destacam no plano do real alguma aba que se introduza numa
terceira dimensão, não poderia fazer nada de sólido senão com duas outras
abas, no mínimo. (LACAN apud DARMON, 1994, p. 227).
Esse Real, ensina Safatle, “não deve ser entendido como um horizonte de
experiências concretas acessíveis à consciência imediata”, porque não se liga a
descrição objetiva das coisas, “diz respeito a um campo de experiências subjetivas
que não podem ser simbolizadas ou colonizadas por imagens fantasmáticas.”
(SAFATLE, 2007, p. 74).
O Imaginário pode ser compreendido como “(...) aquilo que o homem tem
em comum com o comportamento animal. Trata-se de um conjunto de imagens
ideais que guiam tanto o desenvolvimento da personalidade do indivíduo quanto sua
relação com seu meio ambiente próprio”. Segundo Safatle, o imaginário em Lacan é
fundamentalmente narcísico. (SAFATLE, 2007, p. 30-31).
O Simbólico é, para Lacan, o sistema linguístico que estrutura o campo da
experiência (SAFATLE, 2007, p. 43).
34 Estruturalismo: teoria fundada grosso modo, sobre a ideia de que o verdadeiro objeto das ciências
humanas são as “estruturas sociais” que determinam o homem e não ele mesmo como centro
intencional de ação e produtor de sentido (SAFATLE, 2007, p. 42).
35 Já vimos que, em Freud, o inconsciente abrange partes do Id, do Ego, do Superego.
50
Muita gente gosta de pensar que não somos animais. E podem dizer que eu
avilto a nossa espécie quando a descrevo em rudes termos animais. Posso
apenas afirmar que não é essa a minha intenção. Outros ofender-se-ão pelo
fato de um zoólogo se intrometer nos seus campos especializados. Mas eu
admito que essa perspectiva poderá ter grande valor e que, apesar de todos
os defeitos, introduzirá novos (e de certa maneira inesperados)
esclarecimentos sobre a natureza complexa da nossa extraordinária
espécie. (MORRIS, 1996, p. 10).
estado Freud fascinado com a imagem da cabeça de Janus36 (ou Jano, o Deus
romano das mudanças e transições):
36 Janus é a divindade dos pórticos (que dá nome ao mês de Janeiro), olha para o ano que passou e
para o que se anuncia, representação grega imagética da unidade dividida e da dualidade una,
melhor representante do sujeito do inconsciente, avesso à possibilidade de representação.
(JORGE, 2008, p. 99).
54
Real. al. Reale (das); esp. real; fr. réel; ing. real.
citações gerais (focadas mais propriamente apenas nos Capítulo I e II dessa obra) já
são suficientes.
Freud fala desde logo nas “discrepâncias existentes entre os pensamentos
das pessoas e suas ações” e sobre a “diversidade de seus impulsos plenos de
desejo” (FREUD, 1997 [1929], p. 9). Nossos conflitos internos.
Uma inserção oportuna, neste ponto. Ao escrever sobre a “Psicopatologia do
comportamento organizacional: organizações desorganizadas, mas produtivas”,
Cecília Whitaker Bergamini e Rafael Tassinari citam Cloke e Goldsmith (2008,
Prefácio, p. XIV): “Quando se está em conflito, é comum dizer coisas que não se
pretende e pretender coisas que não se diz.”
Sobre o cérebro réptil, uma observação freudiana, em “O mal-estar na
civilização”, nos impressiona em particular:
“Ainda vive entre nós” e “no domínio da mente” o “elemento primitivo” segue
“preservado, ao lado da versão transformada que dele surgiu” (FREUD, 1997 [1929],
p. 14). “Grandes sáurios” e o seu legítimo representante moderno: o “crocodilo”.
Incrível, mas Freud antecipou as neurociências e a teoria de Paul MacLean
em 40 anos. Talvez não intencionalmente, pois procurava pistas sobre o
inconsciente. Talvez o tenha feito (até mesmo) inconscientemente (neurologista que
era), dados os recursos limitados de sua época. E ele não para por aí. Utiliza-se de
sua técnica analógica predileta: as metáforas.
Ele escolhe o passado de uma cidade (Roma) para compará-lo com o
passado da mente. Na vida mental, diz ele, “nada do que uma vez se formou pode
perecer”, referindo-se ao inconsciente. Fala sobre sítios remanescentes da Roma
Antiga, hoje mesclados com a confusão de uma grande metrópole, que se
desenvolveu nos últimos séculos, a partir da Renascença. Mas há muitas coisas
antigas enterradas no solo da cidade. (FREUD, 1997 [1929], p. 15-16).
57
Por fim, Freud não praticou Yôga, mas a criticou, sendo que tal prática
oriental pode ser (segundo um amigo dele lhe confidenciou) uma das formas de
evocarmos em nós mesmos “sensações e cenestesias, consideradas estas como
regressões a estados primordiais da mente que há muito foram recobertos” – esse
mesmo amigo lhe informou ter visto “nesses estados uma base, por assim dizer
fisiológica, de grande parte da sabedoria do misticismo”. (FREUD, 1997 [1929], p.
20).
Os sonhos, no entanto, linguagem do inconsciente, também regressão a
estados primordiais da mente, interessaram-lhe muito.
Mais adiante, ainda sobre a Yôga, ele afirma que “podemos, portanto, ter
esperanças de nos libertar de uma parte de nossos sofrimentos, agindo sobre os
impulsos instintivos”, ao procurarmos “dominar as fontes internas de nossas
necessidades”. Freud vê, entretanto, a Yôga como “aniquilamento dos instintos” (a
quietude), “forma extrema” prescrita pela sabedoria do mundo peculiar ao Oriente.
Mas reconhece que o controle (ou “doma”, em palavra dele) dos instintos primitivos
nos traz certa felicidade, podendo ser realizado por meio de “agentes psíquicos
superiores, que se sujeitaram ao princípio da realidade”. (FREUD, 1997 [1929], p.
28).
Que “agentes psíquicos superiores” seriam esses, sujeitos ao princípio da
realidade? O sistema lógico-racional seria um deles? Seria a “doma” dos instintos ou
o seu “controle” o melhor caminho?
59
37 Afasia: distúrbio da memória (lato sensu) e da linguagem (stricto sensu); afasia sensorial, afasia
motora. (GARCIA-ROZA, 2008, p. 19).
61
Que: “(...) o sistema não tem acesso direto à realidade externa (...)”
(GARCIA-ROZA, 2008, p. 172).
Que: “(...) Freud divide o sistema em duas partes: o pallium (ou manto) e
o núcleo. Os neurônios do pallium são investidos a partir de , e os neurônios do
núcleo são investidos a partir das fontes endógenas.” (GARCIA-ROZA, 2008, p.
121). Sendo que nessa mesma página, o autor de “Introdução à metapsicologia
freudiana” escreve (em nota de rodapé) que: “(...) Essa distinção entre núcleo e
pallium correspondia, na época, à distinção entre camadas do córtex cerebral, o
pallium correspondendo à camada mais externa e o núcleo correspondendo a
camada mais central do córtex”. Se isso não se refere à anatomia cerebral...
E que: “(...) os signos de qualidade são enviados pelo sistema (...)”
(GARCIA-ROZA, 2008, p. 174).
Garcia-Roza finaliza escrevendo que: “Quando Freud distingue os três
sistemas de neurônios, ele não pretende estar emitindo juízos de existência, mas
64
Querido Wilhelm,
(...) Como você sabe, estou trabalhando com a hipótese de que nosso
mecanismo psíquico tenha-se formado por um processo de
estratificação sucessiva, pois de tempos em tempos o material presente
sob a forma de traços mnêmicos experimenta um reordenamento segundo
novos nexos, uma retranscrição [Umschrift]. Assim, o que há de
essencialmente novo em minha teoria é a tese de que a memória não
preexiste de maneira simples, mas múltipla, está registrada em
diversas variedades de signos. Há algum tempo atrás (Aphasia) postulei
a existência de uma espécie semelhante de reordenamento com respeito as
vias que chegam a partir da periferia [do corpo até o córtex cerebral].
Não sei quantas dessas transcrições existem. Pelo menos três,
provavelmente mais. [grifo nosso]. (FREUD apud GARCIA-ROZA, 2008, p.
197).
freudiano. A autora ainda cita outros autores que explicam a tentativa de Freud (com
o seu “Projeto para uma psicologia científica”) de construção de um modelo da
mente humana apoiado nos mecanismos neurobiológicos até então conhecidos. As
teses inovadoras que desenvolveu “em seu esforço de elaborar uma psicologia que
se aproximasse das ciências naturais” permanecem até hoje como base teórica da
psicanálise. Ela ainda registra em seu artigo que “(...) muitos de seus conceitos
inovadores ficaram relegados por muito tempo ao campo da metapsicologia.”
(WINOGRAD apud LIMA, 2010, p. 281).
A publicação do Projeto ocorreu em 1950, póstuma ao falecimento de
Sigmund Freud (1939).
Em 1949, com sua publicação “Psychosomatic disease and the ‘visceral
brain’”, Paul Maclean iniciou seus estudos sobre seu conceito pioneiro do “Cérebro
Triúnico”, a partir de astutas observações de sinais e sintomas psiquiátricos. Após
esse artigo, em 1952, publicou outro: “Some psychiatric implications of physiological
studies on frontotemporal portion of lymbic system (visceral brain)”. (PLANCK, 2003).
Seus estudos foram mais tarde aprofundados em sua obra “The triune brain
in evolution: role in paleocerebral functions”. (MACLEAN, 1990 [1970]). E
prosseguiram, com “Triune brain in conflict”. (MACLEAN, 1977).
Paul Maclean faleceu em Dezembro de 2007.
Dr. MacLean's "triune brain" model attempted to explain the evolution of the
human brain by proposing in 1964 that it was actually three brains in one,
each with its own intelligence, subjectivity, sense of time, space and
memory. [grifo nosso]. (SULLIVAN, 2008).
Fonte: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/01/10/AR2008011003840.html
1.6 Outros artigos localizados nas bases de dados PubMed, BVS e Scielo
39 Maria Isabel Fabrini de Almeida: Graduada em Psicologia pela PUC/SP, Mestre em Psicologia
pela USP, Doutora em Psicologia Experimental pela USP.
68
We often forget Freud's share for zoology. Many primary ideas are issued
from "Expression of Emotions in Man and Animals". The general attitude is
evolutionistic, with his reasoning in becoming, fixation-regression, ontogeny
and history in Man. This attitude is found again on its neurological side in
MacLean and his verbal translation of cerebral levels. (CYRULNIK, 1994).
Outro artigo que localizamos é de autoria de John Price et. al., cujo título é
“Can depression, anxiety and somatization be understood as appeasement
displays?”. Esses autores apresentam pesquisa sobre desordens somáticas,
estados de humor ansiosos e depressivos e sua relação com expressões
adaptativas de apaziguamento e submissão a outros membros da mesma espécie,
cujas hipóteses utilizam-se das formulações da soluções de conflitos por meio da
teoria do jogo e da teoria do cérebro triúnico de MacLean. (PRICE, 2004).
Também localizamos interessante artigo de Detlev W. Ploog, que dedica-se
ao tema “The place of the Triune Brain in psychiatry”. O autor investiga a trajetória
da teoria de MacLean e seu pioneiro conceito sobre o cérebro triúnico, que surgiu
em 1949, sendo seguido por uma evolução de suas ideias para além dos estudos
psiquiátricos e das patologias (sua observação das emoções e sentimentos
descontrolados e dos comportamentos motores bizarros e sua ligação ao cérebro
visceral ou sistema límbico). Com base no modelo do cérebro triúnico, nova
abordagem da psicopatologia está tomando forma: a perspectiva evolucionista das
doenças mentais, tais como a psicose, a anorexia nervosa, os distúrbios de
ansiedade também as doenças cerebrais, como o Parkinson e a doença de
Huntington. O artigo de Ploog visa revelar as conexões entre as ciências naturais e
sociais, com base no conceito macleaniano, que nos traz um insight para a
69
(KOESTLER, 1967). Platão, por sinal, fez a mesma afirmação, a seu modo e à sua
época (como antes referimos).
Pesquisadores do Department of Science Humanities e do Departament of
Medicine, University Telematica Pegaso of Naples, Italy, Corona et. al., escreveram
artigo entitulado “The Triune Brain: Limbic Mind, Mind Plastic, Emotional Mind”, em
que abordam a teoria do cérebro triúnico de Paul MacLean para o fim de investigar o
quão desconcertante é o fato de que a natureza tenha sido capaz de conectar os
cérebros reptiliano, emocional e intelectual e estabelecer uma espécie de
comunicação entre eles, ao longo da evolução. Focaram o estudo nas substâncias
químicas que regulam a atividade dos neurônios (neuromoduladores de
comportamento – porque a intervenção deles influencia nossas ações). Utilizaram,
então, o método TMS (transcranial magnetic stimulation), técnica não invasiva de
neuroestimulação e neuromodulação, com a qual puderam compreender o momento
preciso em que uma região cerebral contribui para a realização de certa tarefa e
mapear a conectividade funcional entre diferentes regiões do cérebro, identificando
as relações causais entre cérebro, cognição e comportamento. Já é reconhecida a
proposição de que pensamentos e experiências mudam a configuração das
conexões cerebrais, mas pelo mesmo princípio, os sistemas de indução são
capazes de alterar a matéria cerebral para fins terapêuticos, reabilitativos ou
educativos – com base nas premissas do fenômeno chamado aprendizado hebbiano
(Hebbian learning), que altera quimicamente as células e sinapses (CORONA et. al.,
2011).
O estudo de Corona, Perrotta e Cozzarelli é importante, porque ocupa-se de
outra técnica que pode vir a auxiliar (por meio da estimulação magnética não
invasiva) essa tríade cerebral a comunicar-se melhor entre si (já que a base dos
conflitos humanos pode estar localizada exatamente nessas falhas de
comunicação):
Using the present terminology, the three subunits of the brain could be
considered biological computers, each with its own specific form of
subjectivity, his intelligence, his measure of time, its memory function, motor
and other related to them.
The whole organization of the brain seems to fall into two central
apparatuses of which the cerebral cortex is the younger, while the older one
is represented by the ganglia of the forebrain which have still maintained
some of their phylogenetically old original functions. (FREUD, 1891 apud
NASCIMENTO, 2017).
I shall entirely disregard the fact that the mental apparatus with which we are
here concerned is also known to us in the form of an anatomical preparation,
and I shall carefully avoid the temptation to determine psychical locality in
74
remontando sua origem à antiguidade grega (como já referido por outro autor – Chris
Smith – em artigo já antes mencionado neste mesmo subcapítulo). Nascimento
informa que Smith alega que esses autores ocidentais podem ter sido culturalmente
condicionados a aceitar o número três e esquemas tripartites (pela sua experiência
com estratificações sociais tripartites), porém, conforme sua pesquisa41, outra
hipótese apresenta-se com igual credibilidade:
45 Referência ao livro de BEAUPORT, E. Las tres caras de la mente. Orquesta tu energia com las
múltiples inteligencias de tu cérebro triuno. (1994).
46 Referência ao trabalho de DEMYER, W. E. Neuroanatomy. (1988).
47 Referência ao livro de SMITH, E. The natural subdivision of the cerebral hemisphere. (1901).
77
48 Referência ao documentário de Gilles Thérien, Montreal, Quebec. The triune brain: a film. (1984).
49 Referência à obra de JAKOB, C. Elementos de neurobiología. Volume I: Parte teórica. (1923).
50 Referência à obra de STERNBERG, R. J. The triarchic mind: a new theory of human intelligence.
(1988).
51 Referência à publicação de EDINGER, L. Die Beziehungen der vergleichenden Anotomie zur
vergheichenden Pschologie, Neue Aufgaben. (1908).
52 Referência à obra de KNOPP, W. Man’s tripartite brain and psychosomatic medicine. (1970).
53 Referência ao trabalho de POPPER, K. R.; ECCLES, J. C. The Self and its brain. (1977).
78
58 Noologia: s. f. (gr. Noós. espírito, e lógos. tratado). Ciência que se ocupa do espírito humano.
(NOVO DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO LUSO-BRASILEIRO, 1958).
59 Referência à obra de GELL-MANN, M. The Quark and the Jaguar. (1994).
80
Hay tres regentes del chasis neural. El más arcaico de ellos circunda el
mesencéfalo (y está constituido, en su mayor parte, por lo que los
neuroanatomistas llaman estría olfativa, cuerpo estriado y globo pálido).
Compartimos eso con los mamíferos y reptiles. Probablemente, su
desarrollo se procesó en varias centenas de millones de años, que
podemos denominar complejo reptiliano o complejo-R. Circundando el
complejo-R, se encuentra el sistema límbico, así llamado porque se limita
con el cerebro subyacente y el superior, como un anillo o puente. Tenemos
el sistema límbico en común con otros mamíferos, pero lo mismo no ocurre,
en su elaboración total, con los reptiles. Probablemente se desarrolló hace
más de 150 millones de años. Finalmente, envolviendo lo restante del
cerebro, y, evidentemente, la adquisición evolutiva más reciente, tenemos el
neocórtex. (MACLEAN, 1970 apud DE GREGORI, 1999).
70 Conforme material de leitura indicado na disciplina Filosofia e Psicologia II, ministrada pelo
professor Valdir G. Kinn, durante o segundo semestre de 2017, Curso de Psicologia, UNIJUÍ.
85
Será que nos é lícito fazer uma breve correlação entre todas essas grandes
ideias, como já estivemos fazendo no Capítulo 1 (e como pretendemos continuar
fazendo ao longo de todo o texto seguinte)?
Não ficará mais fácil para o público público leigo se a psicologia moderna
procurar integrar-se, utilizando-se de termos mais simples, visando a ética, a
compreensão e a clareza em primeiro lugar, antes das vaidades intelectuais dos
teóricos ou da rigidez ideológica?
O ID poderia ser o cérebro RÉPTIL? Com o perdão da possível heresia.
O EGO poderia ser o cérebro EMOCIONAL? Idem.
O SUPEREGO poderia ser o cérebro RACIONAL? Idem.
O REAL poderia ser o cérebro INSTINTIVO? Idem.
O IMAGINÁRIO poderia ser o cérebro MAMÍFERO? Idem.
O SIMBÓLICO poderia ser o cérebro LÓGICO? Idem.
Fonte: http://psicoativo.com/wp-content/uploads/2017/04/iceberg_inconsciente_
preconsciente_consciente_id_ego_superego_psicanalise_freud.jpg
Isso. al. Es; esp. ello; fr. ça; ing. Id. Termo introduzido por Georg
Groddeck em 1923 e conceituado por Sigmund Freud no mesmo ano, a
partir do pronome alemão neutro da terceira pessoa do singular (Es),
para designar uma das três instâncias da segunda tópica freudiana, ao
lado do eu e do supereu. O isso é concebido como um conjunto de
conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente. A tradução
francesa foi introduzida por Édouard Pichon e a inglesa, por James
Strachey. No Brasil também se usa “id”.
(...) [Freud] enunciou sua célebre frase “Wo Es war, soll Ich werden”, que
daria margem a diversas leituras, por sua vez articuladas com as
modalidades de interpretação da segunda tópica. Uma primeira leitura, a
da Ego Psychology, privilegiou o papel do eu, considerado como tendo
que dominar o isso ao término de uma análise bem conduzida.
Inversamente, Jacques Lacan forneceu da frase freudiana uma tradução
baseada em sua teoria da linguagem. Enfatizou a emergência dos
desejos inconscientes para os quais a análise deve abrir caminho, em
oposição às defesas do eu, posição esta que ele recapitulou em 1967 por
meio de uma formulação que se tornou famosa: “isso fala!” [grifo nosso].
(ROUDINESCO, 1998).
Fonte: Adaptação do desenho que fizemos durante diálogo com colega do curso de psicologia,
em 2014, no intervalo de aula da disciplina “Estrutura do sujeito psíquico”.
74 Boa pergunta que nos foi direcionada no intervalo de aula da disciplina “Estrutura do sujeito
psíquico”, em 2014, pelo professor Doutor Gustavo Héctor Brun, enquanto trocávamos ideias com
colega do curso de psicologia, rascunhando no quadro o modelo do triune brain com o pincel
atômico.
93
O homem não tem somente uma alma, mas três: a alma racional, a alma
irascível e a alma concupiscível. Elas se encontram respectivamente na
cabeça, no peito e no ventre. A alma racional é como o cocheiro. Ora, um
dos cavalos é bom e belo (a alma irascível), o outro é mau e feio (a alma
concupiscível); o cavalo bom é obediente ao cocheiro, o outro é rebelde e
dá muito trabalho ao companheiro de jugo e ao cocheiro.” [grifo nosso].
(MONDIN, 1981, p. 68).
O “Tao Te Ching: o livro que revela Deus”, de Lao Tsé (Poema 42, “A auto-
realização do Ser”) também ensina que: “De Tao veio o Um. Do Um veio o Dois. Do
Dois veio o Três. E o Três gerou os Muitos.” (TSÉ, 2003, p. 109).
Há muito mais referências assim na literatura e na ciência que podem ser
localizadas em pesquisa mais aprofundada.
A propósito, muito interessantes também são as íntimas conexões da
psicanálise com a literatura (e os indícios do triune brain também presentes nessas
ligações), pois Freud mesmo reconheceu que a psicanálise praticamente nasceu do
interesse dele pelos grandes escritores de todos os tempos, em especial Goethe,
Shakespeare e Dostoievski, cujas obras esquadrinhou em busca de elementos
psicológicos estruturantes da personalidade humana. (CAMPOS, 2013).
Considerava os escritores ingleses e escoceses os seus verdadeiros
mentores (MANNONI 1994 apud CAMPOS, 2013).
Sigmund via nesses escritores criativos uma capacidade extraordinária de
compreensão da mente humana, que antecedeu em muito a psicanálise. Ele era um
grande leitor dos clássicos. Neles encontrou metáforas, imagens, arquétipos e
conceitos. Na clínica e na arte (literatura), o inconsciente aflora. Ambas sondam a
subjetividade. Para Freud, a mente é um produtor de poesia. (ROSENBAUM, 2012).
Seu objetivo central era encontrar fórmulas psicológicas nos personagens e ilustrar
suas teorias e conceitos nascentes (suas concepções psicológicas e, em especial, a
ideia do “inconsciente”). (FRANÇA, 2014).
Ele escreve em “A interpretação dos sonhos” (1900), quando analisa Hamlet:
Freud deixa clara a sua percepção dos três cérebros macleanianos, a nosso
ver, quando refere no trecho acima: a luta na alma (mente) do herói, o sofrimento, as
tragédias do amor (emocional), o conflito entre amor e dever (lógico-racional, da
cultura e convenções), os devaneios eróticos (reptilianos e sexuais).
Freud (1996 [1905] apud FRANÇA, 2014, p. 275) lembra que: a “luta que
provoca o sofrimento é travada na própria mente do herói” (ele utiliza o termo
“mente” em lugar de “alma”, com base em outra tradução das obras freudianas). De
fato. E esta é uma afirmação muito relevante para nosso estudo.
França (2014, p. 275) escreve que essa é uma “luta entre impulsos, desejos,
valores sociais internalizados, culpa, renúncia e prazer”. Desse drama psicológico
98
O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de
fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande
quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida entre
o mesmo e a realidade. A linguagem preservou essa relação entre o
brincar infantil e a criação poética. [grifo nosso]. (FREUD, 1996 [1907]),
p. 135-136).
angústia nelas; e em todos nós, humanos. No mundo de Alice, todos querem falar,
poucos escutam. No nosso também.
A linguagem e a lógica infantis utilizadas por Carroll e pelos outros mestres
da literatura infantil nos parecem muitos similares às do sistema instintivo-afetivo (ou
do inconsciente).
Nessas fantasias, tramas e sonhos das histórias infantis: “O timão está nas
mãos de determinações inconscientes.” O sonho, em certas ocasiões, pode ser uma
saída de emergência, “para aliviar-se da opressão do clima de pesadelo”. (CORSO,
2011, p. 245-261).
Outro autor que escreveu sobre os contos de fadas, Tolkien, relata que “na
fantasia existem vontades e poderes que não dependem das mentes e intenções
dos homens”. Ele pensa que é bom “deixar aberto um canal para se crer que em
outro lugar, em outra época” seja possível acessar as criaturas fantásticas, dragões
e bruxas, territórios encantados. (CORSO, 2011, p. 245-261).
Verdade. O mundo adulto tenta colocar uma venda nos olhos do sistema
réptil-emocional e viver somente nos domínios do lógico-racional. Isso gera muitos
sintomas.
O ser humano precisa viver em sonhos o acesso aos conteúdos delirantes
que nos visitam – com a garantia de que são situações inverídicas, falaciosas e
delimitadas. Nossa mente racional resiste à fantasia em outras formas. (CORSO,
2011, p. 245-261).
A psicanálise sabe que a lógica dos sonhos é de difícil acesso e que eles
têm uma tradução, que eles são “deformações, realizadas pela censura, de tramas
organizadas a partir de nossos desejos e de nossos traumas”. A psicanálise, através
dos sonhos vai (por um atalho direto ao inconsciente) ao cerne dos problemas que
atormentam o ser humano. (CORSO, 2011, p. 245-261).
Da mesma forma que a arte e a fantasia, o sonho permite contato com a
loucura, mesmo para quem não padece de quadros psíquicos graves, em
experiências nas quais se perde o controle consciente e racional. Os conteúdos
inconscientes são inaceitáveis para o pensamento racional e se expressam por meio
de subterfúgios. Com o portal aberto ao mundo onírico, por meio da ficção e dos
sonhos, das fantasias pessoais e das alheias, temos recursos para conhecer nossos
desejos e fazer algo com nossas motivações inconscientes. (CORSO, 2011, p. 245-
261).
103
Nesse parágrafo fica claro para nós o que a psicanálise (ao menos
lacaniana, cuja doutrina permeia a obra desses autores) entende como desejo:
anseios secretos e íntimos, de conteúdos nada nobres, pensamentos inadequados.
Nos parecem atividade mental típica do sistema réptil-afetivo villeneuviano.
Segundo os autores, seguimos (por vivermos num mundo “positivista” de
poucas relações com nossos sonhos) “não querendo saber de certas partes de nós
mesmos”, que só se abrigam nos sonhos (que por isso “podem ser ao mesmo tempo
íntimos e sinistros”). (CORSO, 2011, p. 245-261).
Certas partes de nós mesmos. Sonhos íntimos e sinistros.
E Corso e Corso não para por aí:
claro, pois todos nós, os humanos, temos essas três instâncias freudo-lacan-
macleanianas em nossos encéfalos).
Já escrevemos sobre os quatro arquétipos humanos básicos jungianos
(MOORE, 1993), e pensamos que não há por que darmos a entender que os Magos
e/ou os Poetas (Amantes) – mais relacionados ao lado direito do cérebro – sejam,
pela criatividade, percepção, intuição, observação, introversão, desfrute de prazeres
sensuais, compaixão e empatia que lhes são peculiares, melhores do que os
Guerreiros e Reis – perfis mais relacionados ao lado esquerdo do cérebro. As
pessoas são mesmo diferentes e singulares. Pode ser, isso sim, que às nossas
sociedades ditas modernas (e alvos fáceis de quadrilhas de narcotráfico, prostituição
e corrupção interfronteiras) estejam faltando mais das qualidades destes últimos
dois tipos psicológicos: organização, sensatez, racionalidade, estabilização da
emoção caótica e dos comportamentos descontrolados, pensamento realista,
equilíbrio, integridade, discernimento, ordem, treinamento e estudo dedicado,
lucidez, senso de dever, pensamento positivo, coragem, controle da mente e do
corpo, compromisso, lealdade.
Falamos em equilíbrio entre centros cerebrais desequilibrados.
O problema está na não integração desses perfis psicológicos na
personalidade e na sociedade humanas (no desequilíbrio em favor de uns e outros
desses caracteres). É possível desenvolver uma personalidade equilibrada que
reúna habilidades do Rei, Guerreiro, Mago, Amante em um só indivíduo. Isso exige
autoconhecimento e muito trabalho psicológico.
Respeitamos a importância da ficção, da psicanálise e da literatura, como já
deixamos claro em parágrafos anteriores, sabemos que há pessoas que preferem
viver mais no mundo prático. Concordamos com os autores, quando explicam que a
ficção ajuda a simularmos vivências e emoções e a aprendermos com a experiência
alheia; que as histórias imaginadas potencializam as aventuras, os lugares e as
personagens com quem é possível travar contato; e que a “fantasia é (...) a
oportunidade de reviver um modo antigo de operar”.
A experiência com a fantasia é importante. O problema está em que tipo de
fantasia e se vai ou não haver estímulos ao seu desenlace nem sempre saudável e
construtivo (individual e coletivamente). Aquela fantasia das imagens subliminares
(sexuais, violentas, competitivas) que estão sendo inseridas atualmente, sem prévia
consulta, nas mentes dos filhos da humanidade? Qual dos três cérebros iremos
108
humana segue limitada praticamente aos avanços que foram obtidos pelos grandes
pensadores de priscas eras. Infelizmente.
Por sinal, nessa mesma passagem de “Ensaios sobre o amor e a solidão”
em que faz menção à antiguidade grega, Gikovate escreve que somos “criaturas
contraditórias, pressionadas por duas tendências antagônicas de intensidade igual”,
o que torna a aventura de viver não tão fácil assim (uma nos arrasta no sentido da
individualidade e outra no sentido da integração). Isso lhe parece, no entanto,
estimulante para a busca do conhecimento: com a inteligência, resolvemos
problemas. Os problemas (conflitos?) gerados no interior de um ser “fracionado em
dois” e “puxado em duas direções antagônicas” são quase insolúveis e servem de
eterno entretenimento para essa mesma mente (GIKOVATE, 2006 [1998], p. 219).
Mente essa que, pensamos com MacLean, é a geradora dos próprios
conflitos internos apontados por Gikovate (já que desde a origem desenvolve-se
sobre um triunvirato ou triarquia intracerebral).
Devido a essa mesma inquietação definitiva, o ser humano esforça-se para
entender e dominar o mundo físico que o circunda, por meio de sua invenção: as
ciências da natureza. Entender a nós mesmos já é mais complicado. Estamos nesse
aspecto ainda mais próximos de nossas antepassados: não avançamos em
evolução interior e em nossa subjetividade, embora os avanços técnicos e domínio
do habitat que obtivemos. (GIKOVATE, 2006 [1998], p. 219).
78 Conforme resposta fornecida pela professora Mestre Normandia C. G. Castillo, à nossa questão
sobre ela “acreditar ou não em alguma entidade divina ou criadora do Universo”, em aula proferida
em Ijuí, em novembro de 2017, durante a disciplina “Seminário em psicologia e processos clínicos
II”.
113
sistema instintivo-emocional, mas dar livre vazão ao “desejo” é dar livre curso ao
sexo e à pulsão de morte no nível individual e no social, com as desastrosas
consequências que temos acompanhado atualmente.
O “desejo” diferencia-se conceitualmente da “vontade” do indivíduo (mas
esses termos acabam tendo, na prática, um só significado para os leigos e para
alguns profissionais da psicologia). Por outro lado, equilibrar e integrar os instintos
(ou as pulsões), as emoções e a razão pode ter efeitos, inclusive sociais, mais
saudáveis. É o que pensamos.
Kehl ensina que a análise é o novo destino da pulsão (para o sujeito
investigar-se) e que a “ética da psicanálise é a ética da clínica psicanalítica.” (KEHL,
2002, p. 33), como já havíamos mencionado anteriormente.
A ética da psicanálise na concepção lacaniana nada tem a ver com moral
social (não lida com o comportamento, não é prescritiva, é a ética do desejo, lida
mais com atuação – ação – do que com comportamento).
Escreve o professor Doutor Gustavo Héctor Brun, em seu artigo “Real peso
imaginário” (2015), explicando a ideia de sujeito suposto saber e o objetivo da
psicanálise de “não educar, nem curar”, ao tempo em que mostra-se de confissão
lacaniana ortodoxa, pelo vocabulário e posições de seu discurso.
O “psicólogo” que o Doutor Brun refere no trecho que destacamos, por certo,
é o de formação estrita lacaniana (da escuta) – então, antes de psicólogo seria um
psicanalista lacaniano que não tem a intenção de educar, nem curar o seu paciente.
Por outro lado, pensamos que os conflitos do triune brain são também legítimos,
muito mais do que aqueles que o mundo externo (como o jurídico) nos impõe, e que
requerem a busca de soluções equilibradas.
114
79 E também com base em informações fornecidas pela professora Mestre Normandia C. G. Castillo,
em aula proferida em Ijuí, em novembro de 2017, durante o componente curricular “Seminário em
psicologia e processos clínicos II”.
115
Investigar é preciso. Evoluir é preciso. Por que motivo uma teoria tem que
“rejeitar” a outra, ou “resistir” a ela? E são tantas e com tantos conceitos úteis!
Integrar é preciso80.
80 Referência ao estilo de escrita do professor Mario Osório Marques, no livro “Escrever é preciso”
(MARQUES, 2001).
117
81 Referência ao livro de Paul Maclean, “The triune brain in conflict” (MACLEAN, 1977).
118
pensam no povo que representam). O cérebro emocional pode ser visto como a
parte de nós humanos que deseja receber e dar amor e afeição e receber e dar
aprovação relativamente a nossos semelhantes (a rejeição é algo muito
desprazeroso e chega a acionar os mesmos centros encefálicos da dor física,
conforme WEIR, 2012). O cérebro pensante, por sua vez, é uma densa rede
neuronal que lida com conceitos abstratos, é objetivo e racional, planeja, utiliza
ferramentas mentais como a matemática e a linguagem mais complexa.
No entanto, nossas poderosas emoções (desencadeadoras de uma química
fortíssima nas sinapses cerebrais e por vezes também decorrentes dessa mesma
química – em círculos vicioso ou virtuoso – por ocasião das respostas aos estímulos
do meio), por exemplo, podem tomar conta desse último cérebro (mais moderno e
racional) e sobrepor ou manipular toda a lógica de nossas mentes, em situações de
crise (principalmente). Idem o réptil desejoso por sexo, por exemplo.
O Doutor Matt Ridley, de Oxford, biólogo investigador, antes de tornar-se
autor de obras premiadas do jornalismo científico (“Genoma”, “The Origins of Virtue”
e “Nature via nurture”), escreve no capítulo oitavo de seu livro “A Rainha de Copas –
O sexo e a evolução da natureza humana”, após muita teorização e utilização
também da psicobiologia animal comparada (etologia), dois parágrafos (um que ele
mesmo classifica como banal, e outro como inflamatório):
Ridley (2004 [1993]) acredita que tais asserções são verdadeiras, pois os
dois capítulos anteriores de sua obra demonstram que, durante longos períodos de
tempo, homens e mulheres enfrentaram diferentes pressões evolutivas, tendo sido
bem sucedidos aqueles indivíduos cujos cérebros produziram comportamentos
adequados para o enfrentamento das dificuldades vivenciadas por cada qual.
119
Homens e mulheres são mais idênticos do que diferentes, porém são diferentes,
conforme as evidências científicas hoje inegáveis.
Essa realidade biológica e milenar do desenvolvimento masculino e feminino
sobre o Planeta continua influenciando as decisões “racionais” tomadas atualmente.
Eis a posição de Paul Ekman, professor americano doutorado em psicologia
clínica e estudioso do inexplorado território da psicologia das emoções:
83 O estudo sobre o caso de Phineas Gage é clássico nas neurociências. Foi também abordado por
Oliver Sacks, em seu livro “Um antropólogo em Marte” (SACKS, 2000) e mereceria uma análise
mais detida do ponto de vista do modelo do cérebro triúnico macleaniano (1990 [1970]), também,
caso ainda não tenha sido realizada.
84 De cujo pensamento procuramos trazer um breve extrato neste estudo, mais adiante
(BRAUNSTEIN, 2003).
123
No caso específico das fobias, por exemplo, a psicologia profunda vai buscar
as causas inconscientes e investigar por longo tempo a história pessoal, infantil e
sexual do paciente (mediante atenta e sempre necessária escuta). Encontra por
certo explicações e motivos para esse medo. Porém, as pessoas procuram hoje,
mais do que na época de Freud, soluções mais rápidas. Desejam resultados mais
rápidos (na cultura do imediatismo contemporânea) e não explicações detalhadas,
mesmo que estas possam permitir a cura definitiva no longo prazo (e não o mero
deslocamento de sintomas, como argumentam os psicanalistas). (GIKOVATE,
2012).
Encontramos, novamente em “Sobre o início do tratamento (novas
recomendações sobre a técnica da psicanálise I)”, comentário freudiano no seguinte
sentido:
Para falar claramente, a psicanálise é sempre questão de longos períodos
de tempo, de meio ano ou de anos inteiros – de períodos maiores do que o
paciente espera. É nosso dever, portanto, dizer-lhe isso antes que ele se
decida finalmente sobre o tratamento.
(...) Abreviar o tratamento analítico é um desejo justificável, e sua
realização, como aprenderemos, está sendo tentada dentro de várias
orientações. Infelizmente, opõe-se-lhe um fator muito importante, a saber, a
lentidão com que se realizam as mudanças profundas na mente – em última
instância, fora de dúvida, a ‘atemporalidade’ de nossos processos
inconscientes. (...) Dividem seus achaques e descrevem alguns como
insuportáveis e outros como secundários, e então dizem: ‘Se apenas o
senhor me aliviasse deste (uma dor de cabeça ou um medo específico, por
exemplo), eu poderia lidar com o outro sozinho, em minha vida normal’.
(FREUD, 1996 [1913], p. 145).
85 Em uma de suas citações mais repetidas, conforme artigo “Legado de Freud é cultuado e debatido
após 150 anos” (In: TERRA EDUCAÇÃO, 2006).
86 Esse aforismo é atribuído apocrifamente a Freud – alvo de muitas citações na literatura, inclusive
psicanalítica. “Com esta frase, Freud quereria impor um limite às suas teorias da psicanálise,
dizendo que, por vezes, é necessário travar interpretações analíticas excessivas. Por vezes, um
charuto não é passível de qualquer interpretação fálica. Por vezes, um charuto é apenas um
charuto.” (VALA, 2015).
125
Gikovate ensina que, em sua vasta experiência clínica (de 1966 a 2016),
aprendeu que a coragem (potência psíquica racional) é a força necessária para
enfrentar e combater o medo. Ele utilizou em sua forma de agir como terapeuta
sempre aquilo que lhe trouxe bons resultados: se a questão está mais ligada ao
cérebro racional, a cognição; se mais voltada ao cérebro emocional, talvez a
comportamental; se muito relacionada ao reptiliano instintivo-afetivo, talvez a
comportamental e a psicologia profunda; embora o Doutor Flávio nada tenha
registrado sobre a teoria do cérebro triúnico, especificamente – registramos acima
aquilo que concluímos pela leitura e escuta atentas de seus relatos e ensinamentos
sobre a psicologia (eclética e não ortodoxa) que praticou em sua Clínica (mais
artesanal, como a denominou), tendo obtido resultados positivos. (GIKOVATE,
2012).
rosto de uma pessoa que alguma vez nos causou uma experiência
ameaçadora, o ruído de uma freada associado a uma colisão iminente, o
cheiro de um cachorro que alguma vez nos tenha mordido, e assim por
diante. Os seres humanos têm também medos “implícitos”, isto é, aqueles
cuja causa não podem descrever com precisão, porque não foram capazes
de percebê-la conscientemente quando foram expostos a ela em
associação a alguma situação ameaçadora ou apenas desagradável.
(LENT, 2001, p. 721-722).
cirurgias cardiovasculares” (no qual ela cita diversas pesquisas recentes realizadas
com significativo número de pacientes – com suporte em artigos científicos). A
Medicina está avançando na investigação do aspecto espiritual do humano.
No contexto dos pacientes cardiopatas é preciso levarmos em conta
aspectos técnicos, sociais e psíquicos. Para um prognóstico favorável, aceitação e
adaptação à doença são essenciais. O coping religioso-espiritual (religião,
espiritualidade e fé) é potente influenciador do comportamento dos pacientes (para a
compreensão da doença e para o enfrentamento das adversidades). Pioneiros
nesse estudo, Oxman et. al. (1995 apud RIBEIRO, 2017) descobriram taxa de
mortalidade pós-revascularização do miocárdio três vezes menor no grupo
praticante de coping religioso (em um total de 232 pacientes, seis meses após a
intervenção)90.
Mais recentemente, em outra pesquisa envolvendo 177 pacientes
submetidos à revascularização do miocárdio, Al Ai et. al. (2009 apud RIBEIRO,
2017), concluíram que os que oravam com frequência no pré-operatório foram 45%
menos suscetíveis a complicações no período pós-operatório91.
Al Ai et. al. (2013 apud RIBEIRO, 2017) também descobriram que o coping
religioso pode prever (para além da influência na dimensão física) uma mudança
positiva de comportamento nos trinta meses após o evento cirúrgico cardíaco –
crescimento pós-traumático92.
Em razão de “incertezas religiosas” (sentir-se alvo da doença por punição
divina), por outro lado, alguns pacientes podem não desenvolver os aspectos
positivos do coping religioso. O enfrentamento otimista do sofrimento e o suporte
social são ainda mais importantes nesses casos. Assim, o sucesso cirúrgico não
depende somente de uma anatomia cardíaca favorável e da técnica cirúrgica
adequada, mas da multidimensionalidade do paciente (sua condição psíquica: seus
anseios, crenças e emoções). (RIBEIRO, 2017).
90 Referência à pesquisa de OXMAN, T.; FREEMAN, D.; MANHEIMER, E. Lack of social participation
or religious strength and comfort as risk factors for death after cardiac surgery in the elderly.
Psychosomatic Medicine, v. 57, n. 1, p. 5-15, 1995.
91 Referência à pesquisa de AI, A. et al. Prayer and reverence in naturalistic, aesthetic, and socio-
moral contexts predicted fewer complications following coronary artery bypass. Journal of
Behavioral Medicine, v. 32, n. 6, p. 570-581, 2009.
92 Referência à pesquisa de AI, A. et al. Posttraumatic growth in patients who survived cardiac
surgery: the predictive and mediating roles of faith-based factors. Journal of Behavioral Medicine,
v. 36, n. 2, p. 186-198, 2013.
131
muitos outros que já responderam essa questão do humano, com base nessa teoria.
Não são lidos. Não são ouvidos. São isolados e desconsiderados e desqualificados
sumariamente.
É isso que precisa mudar na psicologia. E a integração é um caminho futuro
inevitável. Não estamos aqui atacando a psicanálise (ou o autor A ou B), pensamos
que o rigor e a honestidade e a clareza epistemológicas vêm antes dos ativismos e
ideologias. Estamos com Freud, quando escreveu sobre uma psicanálise não
tendenciosa.
Já destacamos algumas das referidas interligações teóricas neste artigo.
Porém, há muitas outras detectadas ao longo do curso de psicologia que podem ser
também relacionadas entre si (teorias de Vygotsky, Luria, Piaget, entre outros) e
com o modelo macleaniano (oportunamente, para evitar-se a prolixidade neste
estudo introdutório).
A propósito, na teoria Jean Piaget encontramos também três estágios que
ele identifica como quatro (dos quais um é pré-operacional) do desenvolvimento
infantil: o sensório-motor (em que as crianças aprendem sobre o mundo por meio
dos órgãos dos sentidos e pela ação física – de 1 a 2 anos de idade), o pré-
operacional (em que organizam objetos, símbolos internos, imagens e linguagem –
de 2 a 4 anos), o operacional concreto (em que realizam operações lógicas com
objetos concretos) e o operacional formal (estágio do raciocínio verbal e do
pensamento hipotético). (PIAGET apud COLLIN et. al., 2012, p. 266-267).
Mesmo para Lev Vygostky, autor do construtivismo social, o
desenvolvimento humano se dá em três níveis: individual, interpessoal e cultural.
(COLLIN et. al., 2012, p. 270).
Vygotsky escreveu que “as habilidades necessárias para raciocinar,
compreender e memorizar têm origem na vivência da criança com pais, professores
e colegas.” (VYGOTSKY apud COLLIN et. al., 2012, p. 270).
Seu discípulo Alexander Luria observou que um dos pilares do pensamento
vygotskyano é a “ideia de que as funções mentais superiores são construídas ao
longo da história social do homem”. (OLIVEIRA, 1997, p. 83-87).
Por outro lado, o próprio Vygotsky registrou que “as atividades sociais
desempenhadas durante o desenvolvimento” promovem “nossas capacidades
cognitivas inatas” (VYGOTSKY apud COLLIN et. al., 2012 p. 270). Inatas.
134
Sim. Isso não significa que não existem propriedades naturais do sistema
nervoso. O ambiente interfere (e nele estão a cultura, a política, o social, etc.).
Luria – que foi, dentre os colaboradores de Vygotsky, quem dedicou-se
intensamente ao estudo das funções psicológicas relacionadas ao sistema nervoso
central – fala de um sistema funcional e, embora negue sua localização em pontos
específicos, refere articulação de áreas diferentes do cérebro em um sistema
complexo. Interessa-nos destacar especificamente o momento em que ele
aprofunda sua obra sobre a estrutura básica cerebral e distingue três (3) grandes
unidades de funcionamento. A primeira regula a atividade cerebral e o estado de
vigília (nível adequado de atividade). A segunda é a unidade de recebimento, análise
e armazenamento de informações (sensações do mundo externo, visão, percepção).
A terceira é a unidade para programação, regulação e controle da atividade
(intenções, programa de ação em atos exteriores – motores, ou interiores –
mentais). (OLIVEIRA, 1997, p. 83-87).
“A segunda unidade trabalha com informação vinda do ambiente” e a
terceira unidade “regula a ação – física e mental – do indivíduo sobre o ambiente”
(OLIVEIRA, 1997, p. 87). Três unidades novamente. Réptil, mamífero, macaco
intelectual.
Por fim, “qualquer forma de atividade psicológica é um sistema complexo
que envolve a operação simultânea das três unidades funcionais.” (LURIA apud
OLIVEIRA, 1997, p. 87).
Para Alexander Luria, neurologista e psicólogo russo, “a neuropsicologia é
uma área interdisciplinar, que envolve as disciplinas de neurologia, psiquiatria,
fonoaudiologia, linguística, e outras correlatas, e que tem como objetivo estudar
as interrelações entre as funções psicológicas humanas e sua base biológica.”
[grifo nosso]. (LURIA apud OLIVEIRA, 1997, p. 83).
Já Leontiev – outro colaborador muito próximo de Vygotsky, que trabalhou
com ele no projeto de construção da “nova psicologia” na Rússia pós-revolucionária
– vê um homem orientado por objetivos e distingue três (3) níveis de funcionamento
da atividade humana: a atividade propriamente dita (finalidades conscientes e ação
coletiva), as ações (dirigidas por metas) e as operações (aspecto prático da
realização das ações – os procedimentos e as condições ambientais). Para esse
autor, “o funcionamento humano não pode, pois, ser compreendido sem referência
ao contexto em que ocorre.” (OLIVEIRA, 1997, p. 98). Há paralelo entre esses três
135
Três vestidos, três bailes. Na Branca de Neve, três vezes a madrasta vai à
casa dos anões (na primeira, com o cinto de fitas, na segunda, com o pente,
na terceira, com a maçã). Três são as filhas em A bela e a fera e na Gata
Borralheira, como três são as irmãs nos Três cisnes e nas Três plumas.
evolutivos indicados por MacLean em sua triune brain theory, que comunicam-se
com extrema dificuldade. É claro que são linguagens distintas.
A conexão entre as teorias freudiana e macleaniana é inevitável
principalmente porque têm uma origem comum na realidade encefálica e no modelo
de Hughlings Jackson (como já abordamos neste trabalho).
A hermenêutica profunda “esclarece a incompreensibilidade específica da
comunicação sistematicamente distorcida” e consegue lidar com esses (ao menos)
“dois graus de organização simbólica” pois permite uma “pré-compreensão
sistemática que abarca as linguagens como um todo”, a partir da “des- e re-
simbolização”, da “invasão de elementos paleossimbólicos na linguagem” e da
“excomunhão desses invasores”, assim como por meio da “integração linguística dos
conteúdos simbólicos pré-linguísticos” (o modelo de instâncias que Freud
desenvolveu em seu aparelho psíquico). “A ‘tradução’ controlada da simbologia pré-
linguística para a linguagem afasta confusões (Unklarheiten)”. (HABERMAS, 1987,
p. 56-57).
Habermas escreve claramente que:
Autorreflexão. Razão.
A psicoeducação exige o uso da razão, que é tão inerente à condição
humana quanto as nossas emoções e instintos, de acordo com Aristóteles e
Gikovate (como antes referimos).
O psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate (falecido em Outubro de 2016)
ensina que dissociar é o oposto de associar e que nos fixamos em certo padrão de
comportamento por meio de associações, obtendo respostas quase de reflexo
condicionado. Ele cita Ortega y Gasset: “o processo de dissociação requer grande
‘potência intelectual’”, no sentido de que “exige uma razão forte e determinada que
não se contrói de um dia para o outro.” (GIKOVATE, 2007, p. 104-105).
142
Mais vale uma potente razão que nos impulsione corajosamente para a
frente, em busca de experiências novas. Uma experiência nova e bem
sucedida (“experiência emocional corretiva” nas palavras de Franz
Alexander) pode ser o que necessitamos para deslanchar. [grifo nosso].
(GIKOVATE, 2007, p. 105).
peixe é o símbolo de Cristo (as iniciais gregas de “Jesus Cristo, Filho de Deus” são
lidas como ictos, ou peixe).
Seguindo a pesquisa, a página 21 (BRUCE-MITFORD, 2002) traz elementos
do Hinduísmo, entre os quais a sílaba sagrada Om, que acredita-se ser a semente
de todos os mantras (que são palavras ou sons divinos): o som A-U-M (que tem três
letras), “seria o único eterno, em que o passado o presente e o futuro
coexistem”.
Registro, à página 22 (BRUCE-MITFORD, 2002), explica que existem Três
Grandes Verdades que modelaram o pensamento chinês: o Confucionismo
(Confúcio), o Taoísmo (Lao-Tsé) e o Budismo (Buda; além disso, consta também
que as três bases do Budismo são a não-violência, a compaixão e a caridade e que
a serpente Muchalinda ergueu o seu Ser Sagrado e protegeu Buda durante uma
tempestade enquanto ele meditava profundamente, “envolvendo-o com seus vários
capelos”.
O Confucionismo apresenta-se em três bases doutrinárias: lealdade e dever
para com o os pais, o clã e o Estado (BRUCE-MITFORD, 2002, p.27).
Há imagens mais impressionantes para o fim de nossa pesquisa que
conecta a Triune Brain Theory às diferentes psicologias, às psicanálises, às
literaturas, às filosofias, quando buscamos vestígios de sua realidade conflituosa
também nos mitos e nas religiões (entre outras simbologias da civilização humana),
como as da página 28 (BRUCE-MITFORD, 2002), que ilustram seres míticos (meio
animais, meio humanos, que “representam tanto os instintos como o
intelecto”): entre eles, o Minotauro: metade homem, metade touro da cintura
para cima, que representa “os instintos mais básicos do homem”; a serpente
de duas cabeças, mito de várias culturas americanas, associada à chuva,
provedora da vida, que fazia parte do culto ao deus asteca Tlaloc; a imagem de
produção artística francesa, com três personagens, chamada “O Leão e o
Unicórnio” (1500), em que o leão representa o masculino e o sol, o unicórnio
representa a essência feminina e a lua, e a virgem, entre eles segura o espelho da
verdade (que significa a sabedoria do autoconhecimento) para o puro e
incorruptível unicórnio; e, por fim, na mesma página, estão a Hidra – que é uma
serpente (de nove cabeças) associada à naja de várias cabeças da Índia, por vezes
com corpo de cão, que simboliza os obstáculos no caminho da verdade e o
Centauro – com cabeça e torso humanos, corpo de cavalo, mesclando a “natureza
145
iluminação espiritual, de modo que os jardins das delícias eram alegoria do amor
cortesão, com símbolos de beleza, amor e outros prazeres); Jardim de
Versalhes (representa a civilização, ordenação da natureza, significado político,
supremacia, posição social de Luis XIV em Paris, símbolo consciente do poder
da monarquia absoluta); Poço dos desejos (“símbolo do princípio feminino
provedor da vida, cre-se que o poço tem qualidades mágicas. A moeda jogada
nele pode fazer um desejo tornar-se realidade”). Labirinto (gerava confusões e
esconderijos para encontros amorosos a partir da renascença, nos jardins,
acolhedor dos espíritos maus, jornada das trevas para a luz ou a revelação da
sabedoria secreta, uma vez vencidos certos desafios).
prece que subia até Deus e a ascenção de Cristo (na Europa Medieval); ao
retorno da alma dos mortos de volta ao Sonho (na Austrália), na águia marinha;
ao poder e à força na águia americana; ao trovão, emblema de Júpiter, na águia
de Napoleão. (BRUCE-MITFORD, 2002, p. 66).
A Coruja é pássaro da noite, de mau augúrio, seu grito prenuncia a morte e
infelicidade; para os gregos era consagrada a Atena, deusa da sabedoria e da
noite; os celtas a viam como bruxa da noite, ligada aos cadáveres; os africanos a
associavam à magia e usavam sua cabeça em feitiços. O Rouxinol tem canto doce
e queixoso (símbolo do amor, saudade e dor, na Pérsia; e do anseio da alma por
Jesus, entre os cristãos, por anunciar cantando o amanhecer). A Codorna, no
folclore russo, simboliza o sol; entre os chineses e romanos, era símbolo de coragem
e vitória em batalha (ou da alma prisioneira do corpo, se engaiolada); também se
relaciona em certos lugares à boa sorte, e à natureza extremamente amorosa
(com simbologia sexual). O Melro era pássaro sagrado na Grécia pelo seu canto
fascinante e símbolo das tentações da carne (representa o mal em alguns
escritos cristãos, com plumagem preta). O Abutre, por seu turno, vem representar
deuses egípcios (figura feminina e instinto materno); para os zoroastrianos são
“purificadores cheios de compaixão” por comerem cadáveres (temidos por terem
apetite carnívoro). (BRUCE-MITFORD, 2002, p. 67).
Há interpretação simbólica em grande parte do que as pessoas fazem (trajes
cerimoniais, por exemplo), nossos corpos são microcosmos do universo e os rituais
refletem a nossa relação com a natureza. Todas as culturas tiveram deuses
relacionados ao simbolismo sexual: “O linga é a forma de Shiva mais venerada: um
pilar em forma de falo representa o deus como princípio criativo masculino”. Na
imagem hindu, ele aparece posicionado “sobre o yoni, elemento feminino em
forma de vulva. Juntos, representam fertilidade e criação”. Na mesma imagem,
aparecem as três listras do culto a Shiva, cujo rosto é protegido por duas
cobras. [grifo nosso]. (BRUCE-MITFORD, 2002, p. 70).
Nas páginas 71-75 (BRUCE-MITFORD, 2002), localizamos mais símbolos
interessantes para pensarmos nossa pesquisa do triune brain: a Deusa da
Fertilidade (imagem em ouro da deusa cananéia da fertilidade Astarté, datado do
século XVI a.C., muito estilizada, com o triângulo púbico no interior de outro
maior e com órgãos sexuais bem definidos; o Santuário que tudo vê (estupa do
Nepal com quatro pares de olhos, com o olhar de Buda voltado a todas as direções,
154
tendo acima de cada par de olhos um terceiro olho, que evoca a clarividência
de Buda – sabedoria e onisciência – o olho simboliza o sol, o “olho que tudo vê”
de Deus, a sentinela eterna, assim como o poder do mal, janela da alma e luz do
corpo); o Cérebro está identificado com o intelecto, localizado no crânio, na
cabeça, a sede da inteligência na cultura do Ocidente; já a Boca (faz
julgamentos e simboliza a palavra, representando “a terra devoradora ou uma
porta para os domínios do inconsciente”); o Coração (no cristianismo é fonte de
amor, alegria, tristeza e compaixão; para os gregos era o centro das ideias, do
sentimento e da vontade; no islã é o foco espiritual; flecha do Cupido ao atingí-
lo gera na vítima prazer e dor do desejo); um Pilar egípcio representa a espinha
de Osíris e a estabilidade do poder faraônico e do céu (a coluna vertebral é o
suporte central do corpo que simboliza o eixo do mundo); e, por fim, o símbolo
de três pernas formando um círculo, significando rapidez do sol para nascer e se
pôr de novo, sorte, regeneração pelo ciclo contínuo de suas pegadas (emblema
da Sicília e da ilha britânica de Man).
santos) os faz girarem até o êxtase e a unidade com o eixo da terra em órbita do
sol, simbolizando a espiral do universo. Algo semelhante ocorre na dança da maia,
que ocorre em volta de uma mastro (eixo da terra e símbolo fálico) com fitas greco-
romanas que celebram a primavera, na Inglaterra. Shiva, o senhor da dança, em
frenesi, representa morte e renascimento e usa um tambor para marcar o pulso do
universo e do coração. Na Grécia antiga, o teatro era um retrato poderoso e
simbólico das emoções e do comportamento humanos (ciúme, amor e incesto,
ansiedade, terapia pela identificação com as personagens). A dança clássica
indiana traz gestos de mão que representam estados de espírito, ações e objetos
ou criaturas (e cada movimento tem significado próprio). No Japão, máscaras de
madeira pintada são usadas representando masculino, feminino, velhice,
divindades, monstros e emoções – as máscaras nô. Entre os dançarinos da tribo
kwatiutl, norte-americanos, as máscaras da transformação permitem apresentar
faces cambiantes (uma máscara se abre sob a outra) – na imagem do livro há
uma que tem, por fora, a imagem de uma águia e, por dentro, um rosto humano
expressando emoções negativas.
A pesquisa realizada nesse mundo mágico, mitológico, imaginário e artístico
do livro em estudo permitiu-nos obter mais insights sobre vestígios do triune brain na
cultura humana do que as pesquisas direcionadas aos artigos e livros científicos. É
claro que não há como trazer neste breve trabalho de conclusão do curso de
psicologia nossos comentários detalhados sobre cada um deles, por isso deixamos
essa tarefa a cargo daqueles(as) que aventurarem-se na leitura de nosso texto.
Muitas coisas permanecem sem explicação e envoltas em mistérios mesmo
no mundo adulto, quando passamos do período infantil em que nos interessamos
por contos de fadas, magia e rituais – há “forças que nos afetam e que não
podemos controlar”. Benzeduras e simpatias são a opção de muitas pessoas, em
busca da cura, do amor ou da vingança contra inimigos – a autora analisa os
talismãs e a magia (BRUCE-MITFORD, 2002, p. 78-79). No feng chui, os chineses
desejam criar harmonia da vida com o ambiente. “O espelho simboliza verdade
divina e sabedoria do universo”. As poções do amor (como na pintura trazida pelo
livro, “A poção do amor”, de Evelyn de Morgan, 1903) são um recurso à magia
para os apaixonados não-correspondidos tentarem cativar o objeto de sua
afeição (nelas há ingredientes fálicos, afrodisíacos e feitiços com palavras
mágicas). Os amuletos prometem proteger o corpo dos perigos e das doenças e
156
nosso triune brain. Um caçador veste roupas simples e usa utensílios (entre eles
uma lança) que mostram seu estilo de vida. Alguns tecidos representam luxo
(seda), privilégio (renda), simplicidade (algodão). Calçados podem simbolizar
status (o desejo humano de “falar de cima” plasmado no sapato plataforma),
delicadeza (tamanco japonês), verdade e transformação (sapatinho de cristal de
Cinderela), a informalidade do atleta bem preparado fisicamente (tênis). Em
países muçulmanos radicais, mulheres somente saem de casa com o chador com
véu para não atrair o desejo masculino. Há chapéus de formatura (símbolo de
erudição). Há as boinas associadas tanto à guerra como à paz (representando
trabalho, valor, excelência militar). (BRUCE-MITFORD, 2002).
Jóias são um presente tradicional (prova de amor). Têm simbolismo ligado
mais ao objeto dado do que à sua forma. Há, entre os exemplos de Miranda Bruce-
Mitford (2002, p. 86-87) para esse aspecto da cultura e dos costumes dos humanos,
uma imagem de um colar em forma de cobra (1870). Contas africanas são
decorativas e uma forma de comunicação (as meninas fazem cartas amorosas
em colarzinhos). Num bracelete, cuja foto aparece nessa obra, há uma ferradura, um
poço dos desejos, um macaquinho, um peixe e a rã da fertilidade (são braceletes
fetiche, um talismã completo – os de prata protegem o seu portador). O anel do
amor, popular no século XVIII, era feito de peças interligadas que fechavam-se
sobre um coração (o simbolismo romântico deles está na impossibilidade de
separar suas peças). “Bodas de 30 anos: símbolo de beleza e perfeição, há muito
as pérolas representam o amor. Se o diamante é o ‘rei das joias’, ela é a rainha.
Costuma-se dar uma jóia com pérolas no aniversário de 30 anos de casamento”.
Forte simbolismo existe na instituição da realeza (direito divino, semideus,
microcosmos do universo nas cortes, e o trono no centro dos palácios – a
montanha sagrada do eixo do mundo – em países asiáticos). Coroa (soberania e
honra – indica a parte mais nobre da pessoa, a cabeça, sede do intelecto), cetro
(responsabilidade pela prosperidade e magia), trono (autoridade), manto (proteção e
mistério), orbe (o mundo nas mãos). O rei é consciência que controla as pulsões
inconscientes, e é o poder máximo. A rainha (contraparte feminina do rei, e com
ele representa a união perfeita dos opostos, duas metades do todo, sol e lua,
dia e noite). O cavaleiro (um homem superior sobre o cavalo, velocidade, ordem
no reino, coragem, devoção ao dever, nobreza, invencível). Príncipe e princesa
(ele, coragem e ação moral, herói; ela, supremo bem e beleza) – o príncipe “enfrenta
158
a adversidade para mudar uma situação ou salvar uma princesa: isso representa
que o caminho da verdade só pode ser atingido pela luta espiritual”. Os
palácios tem vários cômodos (alguns secretos, que escondem tesouros e
representam o inconsciente e as verdades espirituais) – residências reais,
simbolizam o céu e o coração do reino. (BRUCE-MITFORD, 2002, p. 88-89).
Ferramentas e armas também fazem parte do nosso mundo real, imaginário
e simbólico ao longo da história humana sobre a terra. São objetos de uso prático,
com forte significado para o mundo interior ou espiritual. Deuses são
associados a utensílios, que representam fertilidade, morte e guerra, poder,
proteção e destruição, derrota da ignorância e libertação, ou a superação de
conflito pelo deus ou herói. Balança da justiça (personificada em forma feminina
para os romanos, tem a espada da força e balança da imparcialidade, uma em
cada mão). A escada (é o anseio de nos elevarmos da ignorância para a luz,
Buda subiu por uma escada ao paraíso). A roca de fiar, símbolo do universo (tece a
vida com fios masculinos e femininos unidos em harmonia), é o instrumento das
Parcas, as três deusas gregas do destino (que regem o nascimento, a vida e a
morte). O emblema sikh (Nishan Sahib) se assemelha ao caduceu (em nossa
opinião), porque possui uma espada vertical de lâmina dupla (verdade e justiça),
outras duas cruzadas (poder divino) – similares às serpentes enrodilhadas num
bastão – e uma arma circular (quoit) no centro. A lança (tem forma fálica, evoca a
guerra, poder e fertilidade – entre os cristãos artistas “um animal empalado
por uma lança representa o vício derrotado”). Figuras que personificam a
virtude geralmente portam lanças. A lança também é o eixo do mundo (e símbolo
da paixão de Cristo). A bigorna é vista como a contraparte feminina do martelo
(símbolo do trovão) e é receptiva – juntos representam as forças opostas e
complementares do ativo e do passivo. O arado (fálico) é a fecundação da terra
pelos deuses, sendo os sulcos receptivos – simboliza o ato da Criação, quando a
matéria primordial deu origem à vida. Espada é poder, coragem, honra,
cerimonial, purificação (limpa a alma do cavaleiro) vitória, autoridade, “separa o
bem do mal e retalha a ignorância”. (BRUCE-MITFORD, 2002, p. 90-91).
Morte e luto são dois temas abordados também nessa obra ilustrada – a
certeza da morte que une os humanos, “independentemente de condição social”,
e o medo do desconhecido. Os rituais são distintos: para uns, união do corpo com
a Mãe Terra, para outros ocorre a reintegração da alma com o oceano cósmico, ou
159
como o yin e o yang, pois dois pode gerar discórdia e conflito, ou equilíbrio e
casamento. Na filosofia hindu, há círculos interiores, ou sete chacras no corpo
humano, que são os níveis da consciência – e vão desde os inferiores
(sobrevivência física) até os superiores (iluminação espiritual). (BRUCE-
MITFORD, 2002, 102-103).
Há universalidade em certas formas e padrões (BRUCE-MITFORD, 2002,
104-105): simetria (ordem), mistérios (nós e laços), caminho certo (labirintos),
quadrilátero (solidez da terra) de um templo com cúpula circular (domo e céu). Nas
mandalas hindus há formas geométricas, triângulos de ponta para cima (princípio
masculino) e que apontam para baixo (feminino) que “se entrelaçam para
representar a atividade criativa do cosmo” – yantras para foco de meditação,
com círculos (que ligam os triângulos opostos) e quadrados (portas por onde a
mente entra no centro). A imagem de Shou é uma das três formas de simbolizar a
longevidade (imortalidade), e vem junto de outros símbolos de longa vida: tartaruga
e pinheiro. Nos labirintos (do mediterrâneo, indianos, egípcios, celtas) precisa-se
alcançar o conhecimento para encontrar o caminho correto – no centro reside
a verdade (nos sonhos o labirinto representa a indecisão). A crença no fluir da
energia em espirais simboliza as forças masculina e feminina (sol e lua), poder dos
redemoinhos e furacões, movimento do céu – energia da natureza manifesta
ligada à poderosa imagem da serpente e do movimento circular da alma (que
retorna ao centro, a verdade). O triskele é um tambor chinês com uma insígnia
tripla que simboliza a boa sorte e o movimento do sol pelo céu.
Conforme o mesmo livro e autora, as cores provocam impacto visual e
associações emocionais e simbólicas de grande poder. Vermelho (sangue),
verde (natureza), preto e branco (morte); vermelho (estimulante), azul (calmante),
arco-íris com todo o espectro (indica sorte). Verde é primavera e juventude,
esperança e alegria (e indica a Santíssima Trindade para os cristãos), além de
ser hoje a cor da ecologia, mas também da inveja. Vermelho pode ser também
símbolo de posição social (viril, perigo, sexualidade, esportividade e sucesso
masculino em países ricos); o Diabo (ou Satanás) é vermelho, desde a Idade
Média, pela cor do fogo do inferno, da paixão incontrolável, da luxúria. Azul é
calma, intelecto e reflexão, cor do céu e da água, infinito e vácuo de onde derivou
toda a vida. O amarelo representa sabedoria e bom conselho (dourado), luz e sol,
163
usados). Esses gestos com as mãos, por exemplo, podem significar ofensas,
emoções, reflexão e prece, atração, etc. – e também podem ter significados
diferenciados aqueles gestos executados com os braços ou com a boca, com os
olhos, com a cabeça, os cumprimentos e mesmos os beijos trocados entre
pessoas.
Nas conexões que nos são lícitas fazermos com “O livro ilustrado dos
símbolos” encontramos várias menções aos cérebros lógico-racional, emocional e
instintivo – especialmente entre os animais míticos, meio animais, meio humanos.
Não é só no domínio das ciências neurológicas que o triune brain tem o seu lugar e
deixa os seus registros; o mesmo vale para as alusões, nem sempre conscientes, ao
número três.
Outra dessas interessantes conexões possíveis com a teoria do cérebro
triúnico macleaniano tem a ver com o Capítulo VI da obra freudiana “Análise
terminável e interminável” (FREUD, 1996 [1937]), relativamente à proximidade do
pensamento freudiano com o de uma das “mais notáveis figuras da civilização
grega”, o filósofo Empédocles94. Segue o trecho completo, como escrito pelo próprio
Freud, por muito relevante:
94 A teoria desse autor assemelha-se muito ao que encontramos no “I Ching – o livro das
mutações”). (WILHELM, 2009).
167
95 Referência ao livro de GIKOVATE, F. “O mal, o bem e mais além – egoístas, generosos e justos”
(2005), uma nova visão (com base em sua experiência clínica de atendimento de casais) sobre
esse tema que foi motivo da reflexão desse autor por décadas – a atração entre perfis psicológicos
opostos – tendo ele estendido esse estudo da moral à esfera social.
96 Referência ao livro NIETZSCHE, F. “Para além do bem e do mal”. (2007 [1886]).
97 Livro indicado pela professora Doutora Ana Paula Pillatt (na disciplina de Psiconeurofisiologia, em
2017, Curso de Psicologia, UNIJUÍ), assim como os livros “Cem bilhões de neurônios – conceitos
fundamentais em neurociências” (LENT, 2001) e “Neurociências – desvendando o sistema
nervoso” (BEAR, 2002).
169
Uma vez “acordado”, uma vez que o córtex de Greg ganhava vida, via-se
que sua própria animação tinha uma estranha qualidade – uma qualidade
desinibida e ardilosa do tipo que se costuma ver quando as porções orbitais
dos lobos frontais (ou seja, as porções adjacentes aos olhos) foram lesadas,
a chamada síndrome órbito-frontal. Os lobos frontais são a parte mais
complexa do cérebro, concernidos não com as funções “inferiores” do
movimento e sensação, mas com as mais superiores, de integração de todo
juízo e comportamento, toda imaginação e emoção, numa identidade única
que costumamos chamar de “personalidade” ou o “eu”. (...)
psicoemocionais), em geral, o faz sob o domínio dos “cérebros inferiores” (ou mais
antigos).
Muitas vezes ambos aceitam e “desejam” permanecer nessas relações sem
futuro (ou com futuro previsivelmente caótico e conflitante), mesmo sabendo que
não são saudáveis e que tais violências tendem a repetir-se. Lógica e racionalmente,
ambos rejeitam a ideia de seguir nelas. Questionados98, homem e mulher
respondem que não sabem por que motivo continuam "querendo" estar em relações
de violência física, emocional, psicológica e verbal. Homens e mulheres agressores
podem ser orientados e informados sobre esses fatos biológicos na prisão e em
atendimentos psicológicos.
São infinitas as possibilidades de associação dessas teorias com as
condutas humanas incongruentes.
Também, três cérebros com objetivos diferentes agindo ao mesmo tempo
(em um só organismo) em pleno século XXI só podem resultar nisso: foram mais
úteis, em tempos passados, para sobreviver e procriar. A saída parece ser o
alinhamento desses "centros" de comando cerebrais.
A psicoeducação (desde as escolas infantis) pode ser uma saída,
paralelamente à psicoterapia e outras terapias psicomédicas.
Os vícios entram na mesma possibilidade de análise: decorrem de
sensações agradáveis ao sistema instintivo-emocional (conforme Villeneuve, 2016),
mesmo estando o adicto racionalmente informado de que sofrerá com os prejuízos
decorrentes de suas más escolhas (isso vale para as toxicomanias e para os
recentes avanços tecnológicos que rapidamente dominaram idosos, adultos e
crianças: os jogos, redes sociais e outros softwares disponíveis em Ipads e
celulares).
A obesidade e o “comer compulsivo” parecem decorrer da influência desses
cérebros mais antigos, igualmente. As dietas são apontadas como tendo melhores
resultados no curto e médio prazos, fazendo com que os praticantes voltem
rapidamente a comer em excesso e a recuperar o peso perdido no longo prazo. Por
98 Também, resta saber como é que em um casal poderá ser possível alinhar os desejos conflitantes
de 6 (seis) cérebros distintos... A doutora pediatra Inés Villeneuve, o terapeuta sobrevivente dos
campos de concentração Victor Frankl, Aristóteles, Freud, Flávio Gikovate, os filósofos epicuristas
e estóicos e outros sábios ocidentais e orientais sugerem-nos algumas formas de contornarmos
essa “maldição” evolutiva. Também o psiquiatra e psicanalista italiano Contardo Calligaris, no
artigo “A ressaca do Prozac e os milagres da fala” (CALLIGARIS, 1996), ao escrever sobre as
terapias da fala e a medicamentosa, ambas influenciando os mecanismos químicos cerebrais.
Atos e palavras também modificam nosso cérebro.
171
99 Além da tripartição em cérebros réptil, emocional e lógico (como já referimos) temos também a
bipartição em dois hemisférios cerebrais. Máquina complexa esse encéfalo humano (que ainda
conta com lobos cerebrais com funções especializadas: como é o caso do lobo occipital, que
repousa sobre a tenda do cerebelo e está associado à visão).
174
Até hoje ninguém fez uma associação entre esses mitos e esse câncer das
sociedades que se dizem “modernas”: a eterna disputa entre ideologias
supostamente opostas. Comunismo e capitalismo (que nem existem nas nações em
seu estado puro). Ou já escreveram sobre isso?
Teríamos desde sempre um grupo de guerreiros (lógicos e realistas) aliados
a reis (lógicos e meditativos) disputando o “poder” de influência social com um grupo
de magos (criativos e ativistas) e amantes (criativos e poéticos)?
Integrar também esses núcleos cerebrais sociais é preciso.
175
100 Taxionomia. Termo grego para referir sistema de classificação de eventos ou entidades em grupos
ou categorias específicas. (ZANELLI et. al., 2004, p. 246).
179
Sapiens pode sim “pensar sem agir”. E pode também “sentir sem agir”. Essas
atitudes talvez não sejam compartilhadas pela grande maioria dos animais e podem
ser o diferencial de que falam Frankl (2008), Villeneuve (2016) e os grandes
pensadores da civilização humana (desde a Antiguidade).
As coincidências são tão gritantes a ponto de não parecerem mais meras
coincidências. Toda ação humana envolve os três domínios.
Novas articulações entre as teorias, para não nos tornarmos prolixos,
poderão ser estabelecidas no futuro, caso este texto suscite a curiosidade dos
mestres estudiosos da psicologia humana.
101 Pois, em verdade, não há férias para o estudante e pesquisador interessado na sua área de
aprendizado contínuo e permanente. Aprendemos o tempo todo, em todos os lugares.
102 Muito comum no meio acadêmico e, suspeitamos, interferência constante na obra de muitos dos
assim considerados grandes autores nas áreas tanto da psicologia como da psicanálise, como nos
parece ser o caso, por exemplo, de Jacques Lacan (pouco compreensível em sua totalidade
mesmo entre os mestres da área psicanalítica, conforme muitos deles mesmos o reconhecem).
181
103 Referência ao livro de PETEET, J. R. Depression and the soul – A guide to spirituality integrated
treatment. New York: Taylor & Francis Group, 2010.
104 Referência ao livro de VAILLANT, L. M. Changing character: short-term anxiety-regulating
psychotherapy for restructuring defenses, affects, and attachment. New York: Basic Books, 1997.
184
uma vida mais saudável através do controle emocional”), nós, os humanos, somos
ensinados desde pequenos a comer, a trabalhar, ir à escola, a ler, a escrever, a
fazer a higiene pessoal, a orar (alguns de nós). Quem nos ensina a dominar nossos
sentimentos? Existe alguma disciplina escolar que nos ensina como devemos lidar
com nossas emoções e pensamentos? Os pais podem ensinar (educar) os seus
filhos sobre como lidar com os seus sentimentos, também. É possível aprendermos
a ter autocontrole e a viver em harmonia. Mudamos mediante aprendizado e prática.
Um conceito de insanidade é o de repetirmos os mesmos comportamentos e
esperarmos resultados diferentes. Maturidade (e inteligência) emocional é viver
emoções fortes e administrá-las ao mesmo tempo, sem agredir o outro. O controle
emocional pode ser obtido: quando aceitamos que essa falta de controle existe em
nós (por imitação de modelos paternos ou por herança genética); quando
assumimos a responsabilidade e não culpamos os outros pela nossa conduta;
quando (cultivamos a ideia de e) decidimos mudar de fato; e quando ficamos prontos
para mudar (decididos mesmo, por um desejo profundo e pessoal de melhorar como
pessoas) – o auxílio de profissionais da área da psicologia pode ser necessário.
Termos as emoções não é o problema; o problema é deixarmos que elas nos
dominem. Quando ainda não aprendemos bem o controle emocional, é possível
descarregarmos nosso nervosismo praticando atividade físicas (por exemplo, rachar
lenha, subir morros, fazer ginástica). Não podemos mudar as pessoas que vivem em
descontrole emocional (elas é que devem desejar e buscar essa mudança).
(CONTROLE EMOCIONAL, 2017).
Nesse episódio do programa “Claramente” (veiculado semanalmente na TV
Novo Tempo), César V. Souza cita novamente um pensamento bíblico, como
suporte para suas preleções psicológicas, extraído de Provérbios 16,32: “Mais vale
controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade.” (BÍBLIA, 2001 apud
CONTROLE EMOCIONAL, 2017). Não nos parecem prescrições muitos distantes
daquelas de Platão, Freud e Koestler: ter o Ego (para Villeneuve, 2016, o sistema
lógico-racional) a cavaleiro das demais instâncias.
Em outro programa Claramente, chamado “Neurose, o encolhimento do eu –
neurose, o que é e como podemos ter uma mente mais saudável”, Cesar ensina que
buscar o autoconhecimento é esforço que pode ajudar-nos a seguirmos rumo a uma
melhor qualidade de vida (ao nos aprimorarmos como pessoa, ao aprendermos a
lidar com a dor, amadurecemos). Ninguém está livre de sentir angústia, ansiedade
186
excessiva, nem de viver problemas psicológicos de algum tipo. Ele explica que a
raiva, por exemplo, nos defende de abusos e que não é errado sentirmos raiva; ela
nos protege, como um escudo, de invasões danosas para nossa vida emocional.
Todas as emoções tem uma função, aprendemos com elas. A pessoa mentalmente
saudável controla e aprende com as emoções. É o caso do medo (que protege todo
ser humano, e que em excesso pode gerar o pânico). (NEUROSE, O
ENCOLHIMENTO DO EU [2], 2017).
O programa “Claramente” transmite sua mensagem (cristã e psicoeducativa)
de que pessoas saudáveis não permitem que suas emoções as conduzam a um
comportamento destrutivo. Saúde mental é saber dosar adequadamente a forma
pela qual lidamos com a nossa natureza (temperamento). Neurose é modo reativo
(sempre aceitando tudo; ou reagindo agressivamente, sem pensar). No excesso,
estão os transtornos emocionais. O neurótico não apresenta exageradas alterações
do pensamento racional, não fica desorientado no tempo e no espaço, não tem
delírios, nem alucinações – como ocorre com o indivíduo psicótico (gravemente
perturbado). (NEUROSE, O ENCOLHIMENTO DO EU [2], 2017).
Esse canal televisivo e essa religião adventista (cristã) está praticando uma
forma de psicoeducação muito clara, de fato, sem apelos típicos religiosos, sem
excessos espirituais e místicos, trazendo ao conhecimento do seu público
telespectador diferentes teorias psicológicas, a psicanálise, a psiquiatria, a medicina,
de forma quase imparcial (a nosso ver).
O programa televisivo “Claramente” visa oferecer informações científicas
para melhorar a qualidade de vida afetiva dos seus telespectadores (na área física,
mental – pensamentos, sentimentos e volição, e espiritual). César Souza, no
episódio “Saúde mental na visão cristã (1) – qual é a visão cristã sobre a saúde
mental? Quais são as dimensões que compõem o ser humano?”, na condição de
psiquiatra cristão, diz acreditar que há dimensões que esta perspectiva cristã traz
que não são oferecidas por outras teorias. A visão cristã restabelece a necessidade
do cuidado e do desenvolvimento espiritual para alcançar a saúde mental – por meio
da psicoterapia, do estudo, da leitura, da atividade física, da saúde espiritual. Essa
perspectiva vê a religião não como neurótica, ou desagradável, ou como ópio do
povo (reconhece que pode até ser vivida assim, de fato) – como a descreveu Freud
em “O mal-estar na civilização” (1996 [1914]) e em “Totem e Tabu” (1996 [1913]),
mas como um instrumento para ajudar a encontrar saídas para as situações que a
187
105 Referência ao livro de WHITE, E. G. Child Age and Education – Spirit of prophecy compilation.
Tellico Plains, TN, USA, 2011.
188
deixe a raiva ter você. Podemos ter as emoções e não deixar que elas tomem conta
de nosso comportamento. Isso é saúde mental. A Bíblia fala que devemos buscar o
fruto do espírito (a temperança, o equilíbrio). Cesar cita o livro de Gálatas 5,22: “Ao
contrário, o fruto de Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade,
bondade, fidelidade.” (BÍBLIA, 2001 apud SAÚDE MENTAL NA VISÃO CRISTÃ [2]).
A temperança é domínio próprio (administrar emoções) e não apenas
controlar o quê e quanto comemos. Para Ellen G. White, os verdadeiros princípios
da psicologia se encontram nas sagradas escrituras. (WHITE, 2011 apud SAÚDE
MENTAL NA VISÃO CRISTÃ [3], 2017).
Nessa visão cristã da saúde mental, afirma César Souza, qualquer ser
humano tem conflitos em sua estrutura mental (seja ele de qualquer filosofia
religiosa ou ateu). Também faz menção ao método psicanalítico freudiano, ao
afirmar que a escuta terapêutica (técnica) ajuda muito (a palavra influencia o
processo de cura). Há necessidade de falar, desabafar. (BÍBLIA, 2001 apud SAÚDE
MENTAL NA VISÃO CRISTÃ [3], 2017).
As referências que fazemos a esses programas “Claramente” são aleatórias.
Não temos interesse em fazer neste trabalho pregações religiosas de nenhum tipo.
Assim como encontramos elementos do triune brian nas obras freudianas, também
encontramos nelas influências da mitologia, da literatura, da Bíblia e de outras
religiões. Este subcapítulo vem, portanto, repisar a importância das posições
claramente psicológicas de um livro dos mais antigos da humanidade (e de
relevância central na cultura ocidental).
Outro texto bíblico de Jeremias 3,15, diz: “Dar-vos-ei pastores segundo o
meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria.” Falar ajuda
a curar – a Bíblia incentiva a fala no Velho e no Novo Testamentos. (BÍBLIA, 2001
apud SAÚDE MENTAL NA VISÃO CRISTÃ [3], 2017). Psicólogos, padres e pastores
escutam confissões e lamentações de seus fiéis.
A psicanálise de Freud também sustenta-se sobre a fala, sobre a associação
livre de ideias, sobre a escuta flutuante (técnicas básicas do método).
A escuta nasce, pensamos, na mesma cena inaugural da associação livre
(que Freud utilizará como regra fundamental da psicanálise por toda a sua vida),
quando a moça Emmy Von N. repete (várias vezes) sua fórmula protetora: “Fique
quieto! – Não diga nada! – Não me toque!”, como consta em seu livro “Estudos
sobre a histeria”. (FREUD, 1996 [1893-1895], p. 89).
190
Ou seria essa prática uma versão da antiga “confissão cristã” (bem mais
antiga), em que o fiel fala e o padre somente escuta, para em seguida prescrever
uma forma de obter-se perdão? Embora, evidentemente, neste caso esteja presente
a ideia de pecado, de culpa, de temor de Deus107.
Há categorias diferentes de sofrimentos emocionais. É importante termos
consciência do tipo de dor que estamos sentindo em determinado momento da vida
(aflição por viver situação difícil, agressividade e impulsividade por descontrole
emocional, tristeza profunda por perda real ou imaginária). Psicoeducação é orientar
as pessoas para que possam compreender o seu sofrimento. Ansiedade, fobia,
depressão. Problemas diferentes, com abordagens diferentes, com especialidades
diferentes. O que estamos sentindo e que nos incomoda? Culpa, medo, tristeza,
irritação? É preciso pararmos para pensar sobre a dor emocional. O que vai mudar o
nosso sofrimento emocional não é a medicação, mas o que nós vamos fazer a partir
da compreensão do que está acontecendo. O psiquiatra Cesar Souza (no programa
“Ansiedade é diferente de depressão [2] – Pelas sensações e sintomas, é possível
diferenciar os dois casos”) declama trecho de um samba de um festival da canção
do Rio de Janeiro (que chamou-nos muito a atenção, por ter conexão com o
mecanismo do triune brain: “(...) eu não posso parar, se eu paro, eu penso, se eu
penso, eu choro (...)”. Parar para pensar sobre o que nos faz sofrer não é fácil, mas
é o caminho! É um momento de reflexão e autoanálise. (ANSIEDADE É DIFERENTE
DE DEPRESSÃO [2], 2017).
Não poder parar (compulsão e atividade motora réptil); parar para pensar
(atividade cognitiva, lógico-racional); pensar e chorar (atividade emocional).
Novamente, o Doutor Cesar cita o apóstolo Paulo e a passagem da Bíblia de
II Coríntios, 13,5: “Examinai-vos a vós mesmos.” Algumas pessoas violam a
consciência o tempo todo (na política, no casamento, com os filhos). Isso também
gera angústia. Transgredir a própria consciência gera uma forte repercussão interna
(conflito). O caminho é escolher uma das muitas dificuldades que temos e começar a
trabalhar com esse aspecto de nossa personalidade a ser aprimorada, orienta seus
telespectadores o psiquiatra apresentador. Agir assim, dar o primeiro passo, por si
107 Como bem observou sobre esse nosso mesmo comentário, à época, o professor Doutor Gustavo
Héctor Brun, em nossa décima-quarta reunião de supervisão. Referência a parágrafo e nota de
rodapé (com adaptações) de nosso “Relatório do estágio básico em psicologia I”, cujo título foi “A
escuta dos velhos – Formação do psicólogo no Lar do Idoso. Escuta, memória e perda como
elementos fundamentais da formação”, Curso de Psicologia, UNIJUÍ (Julho de 2016).
191
só, vai fazer algo mudar em nossa saúde emocional. Vai ajudar a melhorarmos
psiquicamente. Em Salmos 119, 50, encontramos o preceito religioso: “O único
consolo em minha aflição é que vossa palavra me dá vida.” [grifo nosso]. (BÍBLIA,
2001 apud ANSIEDADE É DIFERENTE DE DEPRESSÃO [2], 2017).
A palavra. A linguagem. No início, era o Verbo.
Em “As origens”, consoante o que consta no Gênesis, 1, 24-31, no sexto dia
da Criação dos céus e da terra, Deus criou os seres vivos da terra:
Deus disse: ‘Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie: animais
domésticos, répteis e animais selvagens (...) da mesma forma todos os
animais que se arrastam sobre a terra (...) Façamos o homem à nossa
imagem e semelhança. Que ele reine sobre (...) todos os répteis que se
arrastam sobre a terra (...) criou o homem e a mulher (...) enchei a terra e
submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e
sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra (...)’. [grifo nosso].
(BÍBLIA, 2001).
Se um livro, seja qual for a sua “classificação” por parte dos críticos,
conseguir trazer-nos ao menos uma boa ideia, já terá surtido seu efeito de
comunicação e compartilhamento do conhecimento (é o que pensamos).
Emoções e seu papel crucial: representam como o cérebro reage ao que nos
ocorre. Para Donald Winnicott110:
110 Referência à obra de Donald Woods Winnicott (1896-1971), pediatra e psicanalista inglês.
194
(...) Caim ficou extremamente irritado (...) seu semblante se tornou abatido
(...) Por que estás irado? (...) Se praticares o bem, sem dúvida alguma
poderás reabilitar-te. Mas se procederes mal, o pecado estará à tua porta,
espreitando-te; mas tu deverás dominá-lo. Caim disse então a Abel, seu
irmão: “Vamos ao campo.” Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se
sobre seu irmão e matou-o. (BÍBLIA, 2001).
irritação.” Em Eclesiastes 7,29: “Somente encontrei isto: Deus criou o homem reto
mas é ele quem procura os extravios [as astúcias]”. Em Salmos 18,13: “Quem pode,
entretanto, ver as próprias faltas? Purificai-me das que me são ocultas.” [grifo
nosso]. (BÍBLIA, 2001).
Purificai-me das faltas que me são ocultas? Nosso eu desconhece as
próprias faltas? O conceito de inconsciente já estava escrito no Velho Testamento
da Bíblia Sagrada?
3 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS
111 Freud e a origem da psicanálise na literatura, conforme FRANÇA, 2014; CAMPOS, 2013; e
ROSENBAUM, 2012.
198
112 “Aos quinze anos decidi aprender. Aos trinta, estava firme na vida. Aos quarenta não tinha mais
dúvidas. Aos cinquenta, compreendi a lei do Céu. Aos sessenta, o meu ouvido estava
perfeitamente afinado. Aos setenta, eu agia conforme mandava o meu coração.” (CONFÚCIO
apud DE MASI, 2014, p. 15).
199
113 Estes últimos quatro parágrafos foram adaptados do nosso “Relatório de estágio supervisionado e
seminário em psicologia e processos clínicos I” (Curso de Psicologia, UNIJUÍ, Julho de 2017, sob
a supervisão da professora Mestre Ana Maria de Souza Dias), por bem representarem nossa
posição pessoal sobre a integração de diferentes teorias.
200
Esta letra grega Ψ (PSI) está também na composição das palavras que
indicam as três áreas do conhecimento que ocupam-se mais diretamente da psique,
201
Conforme “O livro ilustrado dos símbolos”, a união dos opostos está também
presente no símbolo chinês Yin (negativo, feminino, escuro) e Yang (positivo,
masculino e brilhante), que representam as forças contrárias, complementares e
universais do taoísmo, essenciais no I Ching:
Um dos meios de o ser humano obter um acordo entre esses três centros
“desejantes” intracranianos pode ser, de fato, ensinarmos as crianças e os adultos
sobre o autoconhecimento, sobre seu hardware e software cerebrais (desde logo) –
para, novamente, utilizarmos a terminologia (neologismo) de Flávio Gikovate (2012)
– talvez com a forma apresentada pelo pensamento de Victor Frankl (2008), como
bem propõe Villeneuve (2016); talvez com uma forma que respeite todas as teorias
da psicologia até hoje trazidas à luz (indistintamente) e que respeite a colcha de
retalhos que são a mente e a “psique do ser humano” (sempre um ser singular).
(REGO, 2000).
Relembremos alguns trechos do primeiro capítulo deste trabalho.
Em seu breve artigo, a médica pediatra conta a história de um lobo bom e
outro mau, a partir de um conto indígena. A qual deles iremos alimentar? Quem
dirigirá nossas vidas? “El sistema instintivo emocional, o los lobos prefrontales?”.
Cita, então, conhecimento, educação, prática, paciência e perseverança como
armas para ajudar nossas crianças a aprenderem a responder de modo não
automático (tudo aquilo que os antigos filósofos e os grandes e velhos livros da
humanidade sempre disseram e que as tradições racionais e espirituais sempre
apontaram). (VILLENEUVE, 2016).
Para a pesquisadora Villeneuve, as crianças podem ser ensinadas a respeito
desses três cérebros (e dos conflitos entre os objetivos deles) por meio de jogos, e
podem aprender a dar mais valor às decisões mediadas pelo cérebro racional,
deixando aos poucos, por meio da mudança de hábitos, os cérebros instintivo e
emocional em segundo plano, quando estes estiverem se excedendo em suas
funções (essenciais que são, igualmente, para a vida humana na Terra).
(VILLENEUVE, 2016).
Como já referimos anteriormente, Freud não praticou Yôga, mas a criticou,
sendo que tal prática oriental pode ser (segundo um amigo dele lhe confidenciou)
uma das formas de evocarmos em nós mesmos “sensações e cenestesias,
207
muito bem e obtém bons resultados (mesmo com foco específico na alma humana).
Há vários outros métodos e técnicas integrativas, inclusive a dança, a acupuntura, a
massagem e as artes marciais em geral (a ginástica acrobática, a meditação ativa, o
Tai Chi Chuan, etc.). O fato é que temos um corpo físico (cuja existência é evidente
e que não pode ser negado). É preciso que ele e seu poderoso representante no trio
cerebral (o cérebro reptiliano ou instintivo) estejam sendo ativados e trabalhados
paralelamente aos demais cérebros: emocional e racional (e, conforme artigos
científicos da cardiologia citados neste trabalho, talvez ao aspecto espiritual) para a
saúde mental e física integral do organismo humano. Nesse contexto, a ciência da
nutrição desempenha papel chave também.
O nosso sistema nervoso subdivide-se em central (encéfalo e medula
espinhal) e periférico. O sistema nervoso periférico subdivide-se em somático
(controle voluntário) e autônomo (controle involuntário, visceral, vegetativo). E o
sistema nervoso periférico autônomo, por seu turno, subdivide-se em simpático
(ação, luta e fuga) e parassimpático (repouso e recuperação). (BEAR, 2002; LENT,
2001).
Curiosamente, os subsistemas do sistema nervoso autônomo (simpático e
parassimpático) apresentam reações semelhantes às dos “pares de opostos
complementares” que vimos estudando neste trabalho: de um lado, a produção da
bioquímica hormonal adequada para a ação, a luta e a fuga (simpático); de outro, da
bioquímica hormonal específica para o repouso e a recuperação do organismo
humano (parassimpático).
Podemos estar despertos para a lógica, sonâmbulos para certas emoções;
em contato com nossas emoções e sonâmbulos para nossas condutas e ações;
podemos agir de modo reflexo e reativo e viver como sonâmbulos irracionais (e
assim por diante).
É possível tornarmos o nosso ambiente de tal modo preparado para que o
resultado que desejamos obter ocorra de uma forma ou de outra (inevitabilidade),
como é o caso de manter em casa apenas alimentos saudáveis, quando queremos
controlar o peso, ou manter bom condicionamento físico e saúde. É possível
combinar com um amigo ou colega de trabalho que, caso não consigamos nos
controlar pela nossa própria força da vontade, evitando comer certos alimentos
gordurosos e prejudiciais à nossa saúde integral, iremos pagar a ele determinada
quantia (mantendo-o informado por email sobre nosso cotidiano alimentar – uma
209
114
Procrastinação: do latim pro, que significa para; e cras, que significa amanhã. (ARIELY, 2008, p. 90).
210
também que: “Os homens é que devem escolher em qual lado lutar. [Se] do lado da
serpente ou se do lado da semente da Mulher – Maria – Mãe de Jesus Cristo, mas
também de cada um.” (RICARDO, 2012).
Muita semelhança com nossa escolha entre darmos livre curso à agenda
primitiva do sistema instintivo-emocional ou tomarmos decisões mediadas pelo
sistema lógico-racional. Muita semelhança com o alerta “é impossível servir a dois
senhores ao mesmo tempo” (freudiano e bíblico) – assunto de que já nos ocupamos
neste trabalho de conclusão do curso de psicologia.
E, nestes momentos, mitologia e religiões, ciência e filosofia unem-se por
não estarem assim tão distantes umas das outras, já que o fenômeno humano é um
só, com várias facetas. Nem o criacionismo parece tão afastar-se tanto assim do
evolucionismo ou de outras teorias sobre a origem do Universo e da vida (esta pode
ser efeito da “criação” de microorganismos que “evoluíram” sobre a Terra, por
exemplo). Não sabemos ainda.
Quem sabe se nossa razão não necessita inspirar-se em aprendizados
ainda mais elevados, de cunho espiritual, como sugerem as grandes religiões
milenares da humanidade? E como, aliás, vêm demonstrando (sobre os efeitos das
práticas espirituais) as recentes pesquisas, antes referidas, da medicina
cardiológica.
Existe uma batalha invisível entre a bipartição e a tripartição cerebral que
nos impede de evoluirmos em compreensão na (e da) condição humana? Parece
que sim.
E a escrita do próprio Freud, em seu texto “Uma dificuldade no caminho da
psicanálise” (1996 [1917]), apóia essa visão hierárquica da mente, ao comentar os
três severos golpes que o narcicismo (egoísmo) da humanidade sofreu das
pesquisas científicas (sendo o primeiro, que a Terra não está no centro do Universo
– com Copérnico, Século XVI; o segundo, que, nós, os humanos, temos
ascendência animal – com Darwin; e o terceiro golpe no amor-próprio do homem – o
que mais fere – é que “o Ego não é o senhor de sua própria casa”:
O homem difere dos seres inferiores pela sua capacidade de criar contextos
explicativos do meio e do universo. Não vive, pois, como os animais, no
mesmo plano que as coisas. O mundo em que realiza sua existência é mais
psíquico que material. A propósito o Pe. Placide Tempels no seu livro La
Philosophie Bantoue nos cita o dito de um baluba, indígena do interior do
Congo: “Pode-se possuir a riqueza, a prosperidade, ter uma numerosa prole
e no entanto, em alguns dias, fica-se atormentado por ‘pensamentos’
(kalunga) ou preso de ‘nostalgia’ (bulanda) e fica-se kuboko pa lubanga, isto
é, com a cabeça apoiada sobre as mãos, sem saber por quê, a não ser
que o coração não está satisfeito”. [grifo nosso]. (ENCICLOPÉDIA BARSA,
1967, v. 6, p. 201).
115
Doutor pela Universidade de Chicago (1958), professor de Harvard e de Yale.
213
explicar que há pessoas que não sentem culpa (divergindo, nisso da teoria
psicanalítica). Kohlberg escreve que, nos dois primeiros estágios (pré-
convencionais), a conduta moral respeita punição, recompensa e reciprocidade; nos
dois seguintes, considera o que as outras pessoas julgam correto (em respeito à lei
e manutenção da ordem); nos estágios pós-convencionais, o indivíduo é juiz da sua
conduta moral, com sustentação na própria consciência e em princípios morais
universais (não somente a partir de normas sociais). (KOHLBERG apud COLLIN et.
al., 2012, p. 292-293).
É uma observação sobre as pessoas, segundo o que lhes serve de freio
para impedir certas ações tidas como inadequadas. Sobre a culpa, Gikovate
acrescenta que há pessoas que não a sentem. Ele identifica os mesmos seis
estágios de Kohlberg, com adaptações: o primeiro grupo caracteriza-se pela
ausência de medo – podem matar, roubar, agir com violência (por volta de 0,5% da
população); o segundo grupo tem medo de represálias externas, mas não sente
culpa, não tem freio subjetivo, mente com facilidade (cerca de 10% da população); o
terceiro, teme represálias externas e divinas, tem medo de punição, não rouba
mesmo quando não observado (talvez 15% da população); o quarto, tem medo de
represálias e concorda com os valores sociais também pela vergonha e pelo medo
da humilhação (uns 25% da população); o quinto incorporou o “contrato social”, com
valores e regras rígidas da comunidade em que vive, sente dolorosa sensação de
culpa116 quando transgride o combinado (aproximadamente 20% da população); e o
sexto grupo (cerca de 30% das pessoas) entendeu como foi construído o contrato
social, tem efetivo sentido moral e é capaz de “interpretar as leis e adequá-las a
cada situação específica”, possui valores internalizados como o quinto grupo, sendo
parte da metade da população que Gikovate crê ser portadora de uma instância
moral introjetada (ou o Superego freudiano), que sente culpa. Essas pessoas podem
calar-se diante de uma agressão, ou reagir, dependendo das “peculiaridades de
cada caso”. Têm grande domínio de si mesmas, são criaturas justas e determinadas,
que respeitam as demais, mas agem firmemente em defesa de seus direitos.
(GIKOVATE, 2002, p. 33-44).
Esse nos parece um bom corpo teórico sobre a culpa e a moral, somando-se
esse ao trabalho aristotélico, freudiano, piagetiano, entre outros.
116 Culpa: “(...) corresponde a uma tristeza íntima relacionada à ideia de que fomos os causadores de
algum sofrimento imposto indevidamente a outra criatura”. (GIKOVATE, 2002, p. 39).
214
(...) Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou
endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua
sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca
forma de autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e
por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação. Os
atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos
nos quais não existem defesas. (...) Mas, o ator tem que se conscientizar de
que é um Cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma
condenação do que uma dádiva. (...) É preciso que o ator tenha muita
coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor
215
A história era assustadora e imaginativa, mas não era nova. Muito antes de
Édipo Rei, de Sófocles, e de Macbeth, de Shakespeare, a guerra entre o
bem e o mal interiores tem sido assunto de mitos, religiões e literaturas. Em
termos freudianos, cada um de nós abriga um ser de trevas, um Id, um
bruto que pode imprevisivelmente, roubar os controles do Superego. Assim,
um vizinho agradável, amistoso, tomado pela ira na estrada, enterra o carro
em uma van. Um adolescente pega um revólver e atira nos amigos. Um
padre estupra um menino. Todas essas pessoas, boas em outras situações,
presumem que entendem a si mesmas, mas, no calor da paixão, de
repente, com o acionamento de algum interruptor interno, muda tudo.
(ARIELY, 2008, p. 80).
Roy acha que sabe como se comportará quando excitado, mas seu
entendimento é limitado. Ele não entende bem que, quando a motivação
sexual fica mais intensa, pode jogar o cuidado pela janela. Pode arriscar-se
a contrair doenças sexualmente transmissíveis e a uma gravidez indesejada
em troca de gratificação sexual. Quando é tomado pela paixão, as emoções
podem embaçar o limite entre o certo e o errado. Na verdade, nem imagina
que é tão selvagem, pois quando está em um estado e prevê o
comportamento em outro estado, ele erra. (ARIELY, 2008, p. 81).
Zweig e Wolf explicam também que todos tentamos nos mostrar inocentes,
corteses, lindos, jovens, inteligentes e gentis para o mundo (como o personagem de
Oscar Wilde em “O retrato de Dorian Gray”), e que “empurramos para a caverna
escura do inconsciente os sentimentos que nos provocam desconforto – ódio, raiva,
ciúmes, ganância, competição, luxúria, vergonha”, além dos comportamentos
219
Assim, Platão nos ensinou, ao falar das três partes da alma humana (na
metáfora dos cavalos: a alma racional, a alma irascível e a alma concupiscível,
221
CONCLUSÃO
Apesar de poder ser criticado por isso, pois sei que esta visão não está em
voga, penso que se trata de uma boa forma de pensar, esta de que temos
sim uma alma que surge da autonomia do pensamento em relação ao
cérebro. Na já citada metáfora da informática, o cérebro seria o hardware, e
a alma, o software. A interrelação entre eles é óbvia, e é evidente que
minha preocupação aqui não é saber se a alma, esse elemento imaterial
que nos caracteriza e nos permite todo tipo de ação diferenciada, é ou não
imortal. Ela nasce do corpo, e se ela morre com o corpo ou não, saberemos
oportunamente. (GIKOVATE, 2005, p. 56).
emotividade requerida para esse tipo de aglomerado animal, como é o caso dos
mamíferos inferiores, por exemplo, e de vários outros bandos de animais (entre os
quais nossos parentes primatas). Ele ajuda a trabalhar e a mediar o que se passa no
meio exterior com o que se passa no interior do organismo (permite socialização).
(VILLENEUVE, 2016).
Somos seres ambientais (mamíferos, sociais, políticos, histórico-culturais,
comportamentais). Poderíamos dizer, com Lacan: “ou eu não sou, ou então eu não
penso” (penso onde não sou, sou onde não penso). (LACAN, 2008 [1966-67], p.
105). Sou onde não penso racionalmente.
Poderíamos dizer: “sinto, logo existo”, como escreveu o psicólogo gaúcho
Doutor Deroní Sabbi, estudioso das emoções humanas e da inteligência emocional –
que, com nomenclatura diferente daquela do inconsciente freudiano, aposta na
existência de uma instância que denomina subconsciente (SABBI,1999). Sinto, logo
existo como mamífero.
Recobrindo esse cérebro emocional, desenvolveu-se o terceiro cérebro, o
lógico-racional (o cérebro executivo, o neocórtex): essa área que nos permite o
pensamento, a razão, a decisão, o controle dos impulsos, as estratégias e táticas, a
linguagem, a motivação. (VILLENEUVE, 2016).
Somos seres racionais (lógicos, intelectualizados, cognitivos). Poderíamos
dizer, com Descartes: “penso, logo existo”. (DESCARTES, 2009). Penso, logo existo
como um ser humano mais evoluído intelectualmente (do que um simples mamífero,
como um primata mais evoluído do que um macaco).
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241
cérebros em conflito (triune brain macleaniano), porque lida com três níveis bem
nítidos de interferências que se interpenetram e se intercruzam dentro do paciente,
gerando ideias e atos obsessivos, defesas, medidas protetivas – o “básico”
instintual, o “intermediário” emocional, o nível “superior” lógico-racional (além de um
plus espiritual supersticioso, que provém da devoção religiosa do paciente, não
verificável assim tão claramente, como Freud nos mostrou, na histeria ou na
psicose).
O neurótico obsessivo nos parece ainda mais confuso em virtude da questão
espiritual (devoção religiosa) conflitando diretamente com os meros desejos e
sentimentos do animal humano (sistema instintivo-afetivo), do que pelo conflitos
destes últimos com o sistema lógico-racional. Nele, a importância de Deus parece
ser central (embora sua poderosa “razão humana” tente negar suas crenças
metafísicas, elas permanecem ativas).
Destacamos o pensamento de Friedrich Nietzsche citado por Bruno
Bettelheim na epígrafe ao Capítulo 22 (“Tornar-se civilizado”) do livro “Uma vida para
seu filho – pais bons o bastante”: “O objetivo de toda civilização é transformar o
homem, uma fera predadora, num animal manso e civilizado”. [grifo nosso].
(NIETZSCHE apud BETTELHEIM, 1988, p. 265).
Se o paciente era devoto, mesmo pensando ser mais racional em sua nova
fase de deslumbramento com o pensamento filosófico (por vezes ateu), tais crenças
não desapareceram assim tão rapidamente.
As culturas e as religiões impõem proibições (“Os dez mandamentos” e os
“Os sete pecados capitais”, por exemplo). O “cérebro réptil” não gosta de limites
externos aos seus desejos (que são muitos, sendo o principal o sexual/agressivo,
pelo qual a biologia concede ao organismo a energia necessária para impor-se no
ambiente externo).
Ocorre que em alguns indivíduos se estabelece um conflito interno muito
intenso. No caso do militar obsessivo, sua razão também não aceitava
completamente deixar-se ser proibida por regras culturais e religiosas (quando
reduziu-se nele sua característica de devoto). Aliaram-se, provavelmente, o cérebro
instintual, emocional e racional na luta contra essas proibições, embora, ao mesmo
tempo estivessem essas três instâncias em permanente conflito (como sempre estão
confrontando-se elas em todos nós, humanos).
244
Na voz de um cantador
118 Música de autoria do compositor e cantor brasileiro Zé Ramalho, disponível em Cifra Club, site
Terra, inserta neste trabalho de conclusão do curso de psicologia como adendo artístico e poético,
em homenagem ao músico brasileiro, cuja interpretação, à luz da teoria do cérebro triúnico de
Paul Maclean (1990 [1970]) deixamos a critério daqueles(as) que tiveram a paciência de ler este
texto. (RAMALHO, 2018 [1981]).