Você está na página 1de 3

22/04/2019 A roleta retórica de Ultra direita, por Frederico Firmo - GGN

A roleta retórica de Ultra direita, por


Frederico Firmo
Na análise da Ultra Direita a luta é também contra a intelectualidade, afinal eles não gostam
daqueles brutos que não os aceitam.

Por Frederico Firmo - 22/04/2019

Este artigo foi motivado pelo Xadrez da Ultradireita do Nassif, versando sobre os ideólogos
da Ultradireita, fontes todos os jargões utilizados pelos twitters e políticos deste espectro.

Estamos de fato num momento histórico onde a retórica e a virtualidade tomaram conta.
Discursos sem nenhum respaldo na realidade se travestem de reflexão através de afirmações
e citações. Um análise mais detida de certos textos mostra uma enorme quantidade de
argumentações contraditórias, sem base fática, e vários deslizes lógicos. A verborragia
travestida de textos acadêmicos, também gera livros de auto ajuda ou de receitas,( Como
escrever a sua tese em dez dias) e se unem ao oceano de informações da internet onde
muitos se afogam. Textos como os de Avellar Coutinho e Olavo são logo absorvido pelos
twitters e comentários com poucas palavras e nenhum argumento se tornam a fonte de
novas citações. Seu papel é dar um verniz de aparente reflexão. Eles chegam a dar saudades
de Merchior.

O mundo intelectual e acadêmico se defronta com a surpresa de ver tantas figuras


medíocres com tanta voz e tanto espaço de divulgação e que se travestem de intelectuais e
acadêmicos. Mas a surpresa não deveria ser tão grande pois nos últimos tempos desfilaram
muitas sumidades de igual teor, que ganharam seus títulos em academias. Eles sabem citar,
têm referências e usam da retórica assim como de metodologias consagradas. Nada disto
faz seus textos se assentarem na realidade, pois dela pegam apenas excertos que torturam
para servirem de argumentação. Eles alimentam também o ódio à cultura e à reflexão.

Por exemplo, vem da academia os defensores de uma figura mítica chamada Mercado. O
Mercado é de fato o grande Cassino de Wall Street, que sintomaticamente pode ser traduzida
por, a rua do Muro. O tal mercado é apenas uma reunião de grupos monopolistas que
controlam o que chamam de economia livre. E assim, enquanto as oscilações do preço do
petróleo são definidas por meia dúzia de petroleiras, os ideólogos, falam em obedecer as leis
do mercado, que dizem ser livre e competitivo. Definitivamente estamos no mundo da retórica
ideológica. Aliás ideologia é atualmente um termo retórico e não um conceito.
Discursos como de Avellar,Coutinho, ou Friedman e nem vou citar Olavo são os nossos sofistas
modernos:

https://jornalggn.com.br/noticia/a-roleta-retorica-de-ultra-direita/ 1/3
22/04/2019 A roleta retórica de Ultra direita, por Frederico Firmo - GGN

“Para Aristoteles, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo


que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da
verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é
relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.” (por ironia citação
retirada do mundo da Educação na internet)

A pós modernidade tão difundida na academia foi fortalecendo o relativismo e a era do


discurso, sem saber que estava gestando com isto o monstro da anti intelectualidade e o vale
tudo intelectual. Cada vez mais o discurso foi se descolando da realidade e ficando no campo
das interpretações. Sob as escusas de uma luta contra o cientificismo se alimentou o
relativismo onde qualquer retórica é valida e o mundo é aquilo que eu digo que ele é. Hoje
temos um universo de bolhas sociais, cada uma falando de uma realidade toda sua. Dentro
das bolhas se retro alimentam reafirmando que estão com a verdade. E isto piora num
país onde a mídia se dedica a esconder a realidade através da desinformação
cuidadosamente planejada em nossos noticiários diários.

Por ironia Avellar Coutinho gerado por este relativismo interpretativo combate o relativismo
cultural e social. Porém enquanto a diversidade dá realidade relativismo social e cultural,
relativismo interpretativo é apenas negação da realidade.

Para além da retóricas, os sofistas de hoje tem objetivos claros de poder e lucro. Da
academia retiraram palavras e métodos e também uma sofisticada rede de nichos e ou bolhas
que se auto alimentam. Formaram seu conjunto de pares que estabelecem os padrões que
são posteriormente chamados de mérito.Vejamos por exemplo nosso nobre ministro da
Economia. Tem todos os galardões, e em toda entrevista fala disto. Todos os dias demonstra
sua ignorância, pois em todo o seu mandato nada falou sobre a realidade social e econômica
do pais. Não apresentou nenhuma proposta sobre a economia , sobre o desemprego, sobre a
retomada do crescimento industrial.O país está em em frangalhos, com um desemprego
estratosférico, e com uma economia cada vez mais abalada, mas o ministro se fixa no seu
objetivo único que é a Capitalização da Previdência. Guedes, discursa sua retórica liberal e
se preocupa com os acionistas de Wall Street. Jamais se refere ao papel do mercado interno.
Aliás se preocupa em manter a Petrobrás em conflito permanente com o seu mercado real,
que são os consumidores, caminhoneiros ou não. Guedes nas suas contas não faz menção à
concretude da matéria prima, à tecnologia da Petrobrás nem ao custo para extrair e refinar.
Estes dados da realidade não fazem parte do seu discurso, aliás numa súbita mudança de
realidade, os preços estão descolados dos custos e agora são definidos no tal Mercado. A sua
retórica tem objetivos claros e sórdidos, afinal transformaram a Petrobrás em Petrobrás da
Bolsa e não do país. Eles de fato pensam no dia em que o brasileiro começar a achar que a
Petrobrás já não lhe pertence. Isto a tornará presa mais fácil para sua privatização.

Dando suporte a Guedes, um conjunto enorme de economistas com muitos galardões e


muitos anos de serviço ao tal Deus Mercado repetem o mantra liberal que tentam legitimar
com seus títulos acadêmicos. A imprensa virtualiza a realidade reduzindo o país ao mundo
cão, de mortes, balas perdidas, catástrofes que, segundo eles, só vão parar de existir
depois que a Reforma passar no Congresso. Provavelmente se a Reforma passar, os nossos
noticiários só terão notícias boas sobre a economia etc.. No país da Reforma da Previdência e
do sucateamento da Educação e Saúde o intelectualizado Avellar é uma grande arma de
destruição. Afinal um sucateamento através de cortes de verbas uma Reforma anti
Gramsciniana obviamente favorecerá a privatização e a estupidez.

Se a análise Gramsciniana de Avellar Coutinho é para muitos acadêmicos risível, a análise de


Guedes ganha aplausos acadêmicos e com certeza gerará lucros enormes para aquela meia
duzia que comanda o cassino, também chamado de Livre Mercado . Seguido é claro por
aqueles que acham o máximo argumentos, como : os homens não são iguais, e a terra é
plana.

https://jornalggn.com.br/noticia/a-roleta-retorica-de-ultra-direita/ 2/3
22/04/2019 A roleta retórica de Ultra direita, por Frederico Firmo - GGN

Mas na análise da Ultra Direita a luta é também contra a intelectualidade, afinal eles não
gostam daqueles brutos que não os aceitam. Transpira nos textos o forte teor anti-
intelectualismo e anti-cultura.Tudo isto ocorre de forma paradoxal pois até sua retórica anti-
intelectualidade é escrito com um discurso pseudo intelectualizado. Pregam o fim da
academia mas querendo se afirmar como acadêmicos. Algo assim como os místicos quânticos
que falam contra a ciência e buscam legitimidade na mesma.

Recomendamos

https://jornalggn.com.br/noticia/a-roleta-retorica-de-ultra-direita/ 3/3

Você também pode gostar