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*PhD, Pesquisador CNPq e Professor do Mestrado em Geografia da UFBa, do Departamento de Geografia e do Mestrado em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Social da UCSAL. E-mail: pospq@ucsal.br
140 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 22, 2007 VASCONCELOS, P. de A.
segregariam os mais humildes (p.51). Essa distribuição desigual dos equipamentos culturais
compreensão instiga uma problematização na cidade.
sobre diferentes concepções da noção de
O capítulo quinto, sobre a “natureza e
segregação, o que nos leva a perguntar se a
intersubjetividade”, é bastante original na
prioridade a locais não periféricos seria um fator
medida em que resulta, em grande parte, da
de segregação ou, do contrário, tratar-se-ia
análise das respostas de 40 entrevistas
simplesmente de um dos indícios de abandono
realizadas com freqüentadores dos jardins,
e pouca prioridade do Estado e da sociedade.
parques, florestas e outras áreas de lazer em
O autor chama a atenção, por outro lado, para
Viena e no seu entorno, procurando apreender
a expulsão dos residentes como conseqüência
a percepção subjetiva dos frequentadores sobre
da renovação dos bairros populares de Paris.
a natureza, com apoio, inclusive, de textos de
Quanto a Salvador, a localização periférica dos
C. Jung. Uma das respostas interessantes é da
conjuntos habitacionais é criticada, assim como
experiência de uma senhora de “caminhar na
a ausência de amenidades físicas nos mesmos.
paisagem” (p.125), expressão que pode ser
A “Visibilidade” é o título do terceiro e entendida na medida que na língua alemã, a
mais longo capítulo, elaborado em co-autoria noção de paisagem tem tanto sentido horizontal
com Francine Deloisy-Barthe. Ele é dividido em (como região) quanto vertical. A questão da
duas partes. Na primeira, como resultado do natureza em si é discutida conceitualmente no
estágio pós-doutoral, são analisados os início do capítulo.
parques públicos de Paris, com a crítica do autor
O sexto capítulo, que trata da cultura e
de que os projetos não destacam a valorização
da participação popular, é iniciado com a
imobiliária que resulta de sua implantação. A
discussão sobre a opinião pública, trazendo
segunda parte é voltada para os espaços
referências de autores como Rousseau, Kant,
públicos “de natureza” em Salvador, na qual os
Tocqueville e Marx. A questão do que é cultura
parques e jardins públicos são examinados a
e seu entendimento pelos moradores dos
partir da discussão da sustentabilidade. Sete
bairros populares de Salvador é tratada a
destes parques e jardins são examinados, assim
seguir. O autor discute a noção de “entre-lugar”
como os seus gradientes de visibilidade. Além
como “arenas para expressão dos conflitos e
deles, as praias de Salvador também foram
contradições inerentes à diversidade de
analisadas, incluindo as festas profanas e
culturas nas cidades contemporâneas” (p.143).
religiosas realizadas nas mesmas. O capítulo é
Também são analisadas as rádios comunitárias
concluído com a discussão da insegurança nos
existentes nos bairros populares da capital
parques e jardins públicos da cidade.
baiana, que são apontadas como uma
O capítulo quatro aborda a interessante “possibilidade de construção de entre-lugares
questão do turismo e da espetacularização, para o encontro de diferentes, subvertendo as
quando são utilizados os conceitos de “cidade- práticas das culturas dominantes e a produção
festiva”, “festa-mercadoria” e “consumo de hegemonias universais” (p.148).
cultural”. Inicialmente o patrimônio é comentado
As manifestações da cultura popular são
como “cenário” para a festa e para o turismo.
elencadas no sétimo capítulo. O texto apóia-se
Um destaque é dado ao carnaval de Salvador,
em entrevistas realizadas nos bairros populares
uma das maiores festas de rua do país, mas
de Plataforma, Ribeira e Curuzu, na cidade de
cujo caráter popular está sendo ameaçado
Salvador. São comentadas a religiosidade e as
pelos “blocos de trio” e pelos camarotes, cujo
festividades dos bairros a partir do exame tanto
acesso é restrito à maior parte da população
do catolicismo popular quanto das tradições
da cidade. O capítulo é concluído com a crítica
afro-brasileiras. No primeiro bairro as atividades
da transformação da Bahia e de sua capital em
da Associação dos Moradores da Plataforma
produtos turístico-publicitários, com a
O espaço público na cidade contemporânea, pp. 139 - 141 141
Notas
1
Professor Associado, Departamento de Geografia UFBa; Professor Permanente do Mestrado em
Geografia da UFBa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBa. Pesquisador CNPq.