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A Herança Grega na Maçonaria – 1ª Parte

A Grécia e as suas influências. Qual é a herança grega para a


Maçonaria? O que são os Mistérios? As religiões de Mistérios e os
Mistérios de Elêusis
“A contribuição da mística, da filosofia e da mitologia dos antigos gregos é de
real importância na doutrina e na ciência maçônicas; estilos arquitetônicos,
atributos dos deuses, de sua mitologia e o cerne do pensamento filosófico da
Grécia antiga são encontrados em toda a extensão dos catecismos
maçônicos.” (Passagem extraída do verbete GRÉCIA, que consta no “Vade-
Mécum Maçônico” de autoria do Irmão João Ivo Girardi)
Introdução
Vários motivos ensejaram uma vontade minha em escrever sobre a Grécia, e
talvez o principal deles resida no fato do bombardeio com o nome Grécia, que
vínhamos sofrendo, via meios de comunicação, em virtude de acontecimentos
recentes. Uma coisa puxa a outra, e o nome Grécia, que nos últimos tempos tem
ocupado as manchetes dos jornais do mundo todo, em vista dos seus problemas
de ordem econômica, que, aliás, se arrastam desde o ano de 2010, faz com que,
pensemos na Grécia de uma forma solidária, afinal, como não levarmos em
conta, ou não pesarmos e sopesarmos tudo o que a civilização grega legou à
humanidade. Quem um dia, não estudou, ou no mínimo ouviu falar, quando da
nossa passagem pelos bancos escolares e estendendo-se até a faculdade, sobre
os feitos e as contribuições dos gregos? Diante dos fatos mais recentes, e dos
seus desdobramentos, é até possível detectarmos o velho espírito helênico
presente, em virtude da resposta dos gregos aos poderosos, que foi a de um povo
que não quis ser submetido aos ditames da austeridade, traduzidas nas
imposições da Comissão Europeia.

Mas, em tempos de crise mundial, a Grécia atualmente vive a sua verdadeira


tragédia contemporânea.

Há tanto para dizer sobre a Grécia antiga, o “berço da civilização”, pois, a Grécia
está presente em nossas vidas desde muito cedo, a mesma Grécia que inventou e
viu nascer através de alguns dos seus expoentes máximos como Sófocles e
Ésquilo, o gênero tragédia. Sinais dos tempos.

Este trabalho quer ser um pouco diferente somente em sua introdução, não
deixar de lado, ao mesmo tempo em que o foco principal reside no passado
desse país, comentar ligeiramente os momentos atuais, concomitantemente
falar da Grécia e as suas importantes contribuições para a civilização, e também
através de alguns “flashs” mostrar sobre a necessidade de ficarmos atentos aos
problemas que atingem outros países, até pelo simples fato de que hoje,
principalmente no terreno da macroeconomia, tudo acaba, mais cedo ou mais
tarde, repercutindo pelo mundo afora. E até nisso, a Grécia ainda pode ensinar-
nos alguma coisa.
O objetivo maior seguirá sendo, ao longo do trabalho, falarmos um pouco da
civilização grega e daquilo que, sem deixar de levar em consideração os prós e os
contras, realmente podemos considerar como contribuição dessa mesma
civilização para a Maçonaria.
Antes, como forma de mostrar um panorama geral das contribuições da Grécia à
humanidade, passo à reprodução de alguns trechos referentes ao editorial que o
filósofo Lúcio Packter escreveu para um número especial da revista “Filosofia”, e
que versou sobre a Grécia:

“O Islã não tinha então uma teologia desenvolvida; o aprofundamento veio da


mesma fonte onde o cristianismo buscara sua inspiração: o pensamento
grego. Já entre as tradições que chegam ao ocidente, o direito ao voto é um
dos elementos mais notórios. (…) Também a História nos foi deixada por
Heródoto como mais uma contribuição grega. (…) Os gregos inovaram nas
ciências e na matemática conferindo um rigorismo pouco usual se os
compararmos com a matemática babilônica, por exemplo. A herança grega
afeta em diferentes graus desde o modo como hoje pensamos, nosso vestuário,
nossas relações com religião e religiosidade, a ciência, a Filosofia, a cultura, as
relações sociais, a educação, e avança em direção a elementos como
Arquitetura, Física, Biologia. Dificilmente encontraremos uma área das
atividades humanas que seja deserta das inclinações gregas.”
A título de ilustração: dois brilhantes comentários, o do
professor Roberto S.  Kahlmayer–Mertens e do professor
Fernando Gay da Fonseca
Conforme havia prenunciado antes, mais motivos se somaram para que eu fosse
compelido a escrever sobre a Grécia. A leitura que havia feito a alguns meses, de
uma entrevista com o Doutor em Filosofia e Professor Roberto S. Kahlmayer-
Mertens, que em uma análise do cenário da filosofia no Brasil, aproveitou para
fazer um convite ao estudo dos gregos. Antes, porém, o professor Kahlmeyer-
Mertens citou uma passagem folclórica envolvendo o grande filósofo alemão
Martin Heidegger. Resumidamente é o caso de um jovem que perguntou a
Heidegger o que seria necessário para se fazer filosofia, ao que ele teria
respondido: “Leia os gregos e não vá à universidade.” O episódio em si
denotaria as críticas pesadas de Heidegger ao academicismo de sua época.
Porém, após a sua leitura, o que não me saiu da cabeça é que no conselho dado
por parte do grande Heidegger ao jovem aluno, esteve implícita
terminantemente a ideia de que ler os gregos é fundamental, e ao que o Prof.
Kahlmeyer-Mertens após, reforçou, como sendo um saudável conselho, embora
revelasse também possuir dúvidas quanto a parte em que Heidegger
desaconselha a ida à universidade. Fica disso tudo, porém, não o que Heidegger
teria dito, mas a maneira com que o Prof. Kahlmeyer-Mertens rematou a
questão: “Leia os gregos e vá à universidade”.
Comentários
Confesso que sendo Maçom, e sendo apaixonado pela leitura e pelo estudo, não
conseguiria visualizar o perfeito entendimento daquilo tudo que até aqui
assimilei nessa caminhada (e que falta muito ainda), do conhecimento que julgo
ter adquirido, das analogias, principalmente, que pude estabelecer, enfim da
própria facilitação do que ouvi e aprendi ao longo da estrada maçônica, sem ter
recorrido aos gregos, sem ter contado com a ajuda dos gregos, sem ter lido
alguns dos gregos ou não ter bebido das fontes gregas. Quem poderia refutar a
assertiva de que somos dependentes dos pensamentos dos filósofos gregos, e em
todos os momentos das nossas vidas estamos mergulhados no universo de um
ou de outro desses filósofos? O que nos direciona também, para o universo
maçônico, pois, são muitos os canais de ligação. Portanto, leiam os gregos, meus
Irmãos!

Prosseguindo com os comentários dos professores citados, agora é a vez de


outro professor, que escreve eventualmente artigos em jornais, Fernando Gay
da Fonseca, em um artigo recente que intitulou “A dívida da Grécia e a dívida
com a Grécia”, onde comentou a rejeição do povo grego, na consulta popular
que foi realizada para que respondessem sobre se aceitariam ou não as
condições a serem impostas pelos seus credores, e do qual destaco essa
passagem:
“Na consulta popular, saiu vitorioso o “não” por mais de 60%. Não entendo de
microeconomia, quanto mais de uma macroeconomia, mas sei o que é
galhardia e independência. Nesta decisão o povo grego honrou essas
qualidades. A velha Grécia está sempre jovem pela riqueza da sua história, na
qual temos a presença de pensamentos dos seus maiores filósofos, como
Anaxímenes, Anaxágoras, Heráclito, seguindo na direção de Sócrates, com
sua maiêutica, Platão e o seu mundo das ideias que foi traduzido para o
cristianismo por Santo Agostinho. E o grande Aristóteles, preceptor
de Alexandre, que foi a luz que iluminou o pensamento de São Tomás de
Aquino. Tudo isso reporta a esse povo que disse não a uma limitação que
queriam que fosse aceita, limitando a sua liberdade de avaliação. Essa gente é
aquela que busca o húmus debaixo das pedras, para plantar suas oliveiras, e
dança quebrando pratos, como querendo destruir tudo o que lhe é adverso.
Eles continuam fiéis à mensagem de um Paulo de Tarso, que pregou, por todos
os cantos do seu território, a história do Deus desconhecido. Atenas, o seu
Partenon, Ágora e tantos outros monumentos refletem no povo que fez história
e conta histórias, como a do Minotauro, para alimentar firmeza. Os credores
buscam elementos para retomar negociações. Como disse inteligentemente um
presidente francês, a Europa sem a Grécia não é Europa.”
Esses motivos já valem por si sós, uma viagem no tempo pela Grécia, aquela
para rememorarmos o muito que representa da sua contribuição para a
humanidade, ainda que, como já disse, o foco maior é tudo aquilo que possa
guardar referência ao que a Maçonaria pôde colher, assimilar ao longo da sua
existência e reparte hoje com os seus adeptos.

Como saber a real dimensão do que a Maçonaria teria bebido dessas fontes, e o
quanto nós Maçons sabemos dos tesouros do conhecimento grego?

A Grécia deixou três legados fundamentais para o mundo, entre outros tantos,
conforme o que foi citado anteriormente pelo filósofo Lúcio Packter. Mas,
vejamos sob outro ângulo: a Filosofia, a Democracia e o Teatro. Na Filosofia há
a liberdade de pensar sem ter de obedecer às imposições de cunho religioso. Na
Democracia, podemos conviver socialmente de forma que os opostos se
reconheçam e se respeitem. No Teatro, podemos vivenciar os horrores desta
vida, com base na representação, sem que haja a culpa ou o risco de sequelas.
(Vasconcellos, pág. 3, Jornal ZH, 21.07.2015)

Com certeza, o Teatro exprime a liberdade, e como na Filosofia e na Democracia


essa liberdade está implícita, conforme o exposto acima, podemos dizer então,
que a Grécia nos deixou áreas bem definidas para que exercitemos as ideias
sobre o que seja ou o que se imagine que seja a liberdade.

Há muito para ser avaliado no que se refere às contribuições extraordinárias da


civilização grega para o progresso da humanidade, e no que tange aos
ensinamentos maçônicos, o Irmão Theobaldo Varoli Filho, já se manifestava
escrevendo sobre o cabedal que interessa à Maçonaria e que é proveniente dessa
civilização, aliás, isso envolveria assuntos tão variados como: a filosofia, as três
ordens arquitetônicas, a mitologia, a iniciática, o desenvolvimento da
democracia, o simbolismo e o alegorismo, as artes, os templos e as construções.
Frente a isso tudo, a vontade seria mesmo poder abordar cada um dos tópicos
que foram elencados acima. De alguns deles já estamos falando desde o começo,
seja nas entrelinhas, seja diretamente: democracia, liberdade… O resto virá,
durante o desenvolvimento do trabalho, e não necessariamente na ordem
disposta.

A Herança Grega na Maçonaria


Muitos dos nossos Irmãos estudiosos se debruçaram sobre o assunto,
desenvolvendo pesquisas mais amplas e detalhadas sobre as influências que a
Maçonaria recebeu da Grécia antiga, reconhecendo a dimensão disso tudo, e
melhor ainda, com as devidas ressalvas, publicaram seus resultados. Disse o
Irmão Theobaldo Varoli Filho:

“As boas lojas maçônicas do mundo contemporâneo já não se limitam a recitar


para os obreiros as ininteligíveis instruções e não mais ocultam as fontes
gregas que os maçons aceitos do passado foram rebuscar, para introduzi-las
nos rituais. A maçonaria moderna não engana. Demonstra desde logo a
verdade e deixa as conjecturas para quem quiser. Assim, por exemplo, quando
os maçons tenham de referir-se aos quatro elementos – ar, água, terra e fogo,
que os antigos consideravam corpos simples e fundamentais da formação do
universo, não deixarão de mencionar o hilozoísmo e o panteísmo da escola
jônica de Tales de Mileto (624-428 a.C.), Anaximandro (611-547 a.C.),
Anaxímenes (588-524 a.C.), e a notável evolução para os ensinamentos de
Heráclito (535-475 a.C.), Empédocles (495-435 a.C.) e Anaxágoras (500-428
a.C.). Não mais apresentarão certas teorias como segredos, como faziam, por
exemplo, com a tétrada pitagórica, figura mencionada em qualquer livro de
história da filosofia. O simbolismo maçônico não mais comporta
licenciosidade de interpretações e ocultação das origens nas quais se inspirou.
Essa verdade pode desagradar a muitos maçons que precisam dormir para
sempre, se não quiserem acompanhar a verdadeira maçonaria. A mitologia é
relevada pelos maçons, não só como fonte de inspirações alegóricas,
simbólicas e éticas, como também pelo fato de representar uma das grandes
fases na evolução das crenças e fornecer elementos de comparação entre
diversas religiões. Sendo a maçonaria uma ordem a serviço da democracia,
nada mais seria preciso dizer em abono da recomendação que se faz aos
maçons, no que tange às conquistas populares e democráticas da antiga
Hélada.”
Os Mistérios Gregos
Não saberia dizer até onde nós Maçons temos isso que poderia ser classificado
como um conhecimento razoável sobre o que eram os Mistérios e como
funcionavam. A iniciática grega, digamos assim, acho que não é um tema
abordado regularmente, e mesmo possibilidades de se fazerem analogias ou
referências com as nossas Iniciações, não são aproveitadas, ou pelo menos, não
me lembro de haver presenciado qualquer coisa nesse sentido em Loja, sendo
assim, tomo a liberdade de dizer que dependendo do Mistério e mesmo no caso
dos que guardam supostamente semelhanças com passagens dos rituais
maçônicos, não são de domínio dos Irmãos encarregados de ministrarem
instruções, e não são mais explorados pelo próprio desconhecimento, onde
podem ser incluídos aí, um certo desinteresse e a falta de leituras mais
aprofundadas. Então, a título de ilustração, é importante que tenhamos uma
noção de como eram, e é importante frisar, dos seus significados maiores, para
entendermos as origens das nossas próprias iniciações. No mínimo, devemos
abordar aqui, ainda que sucintamente, os mais importantes deles. E sempre
com as devidas ressalvas.

Mas, o que são mesmo os Mistérios?


Sempre que me deparei com a palavra “Mistérios”, presente nos títulos de
textos, livros ou até mesmo de filmes eu quis desvendá-los. Uma propensão que
eu diria é dada a todo ser humano. A palavra por si só, atrai. Quando comecei a
me deparar com ela, e não foram poucas as situações, lembro particularmente
das pesquisas para os trabalhos maçônicos, por ter me utilizado bastante do
“Dicionário Maçônico” do Irmão Joaquim Gervásio de Figueiredo, (era o único
que eu possuía tempos atrás) onde seguido dava com a palavra Mistério, já que
há quase trinta páginas na obra citada se referindo ao assunto e verbetes
desfilando ao longo delas contendo a palavra Mistérios. Há coisa de alguns
meses atrás, andei incursionando por ali e, escrevendo sobre os “Mistérios
Judaicos’, mas, eu não me detive no trabalho respectivo em fazer maiores
esclarecimentos sobre o que significam os Mistérios, isso eu pretendo fazê-lo a
partir de agora. Depois, iremos penetrar nos Mistérios Gregos que, me parece,
envolvem mais detalhes, assim como parecem ter exercido maiores influências
que os outros. Começarei definindo o que são os Mistérios, então.
Do “Dicionário Enciclopédico do Pensamento Esotérico Ocidental”, e do que
consta no verbete MISTÉRIOS, retiramos as seguintes passagens:
“Situados entre os mais famosos aspectos da antiga religião grega e romana,
os Mistérios eram rituais tradicionais de iniciação, muitos deles transmitidos
desde épocas bem mais remotas. O mundo grego tinha uma rica variedade de
Mistérios, e no passado alguns estudantes de misticismo tinham por hábito
serem iniciados no maior número possível de mistérios. Os Mistérios mais
famosos eram os Mistérios Eleusianos, realizados uma vez ao ano na pequena
cidade de Elêusis. (…) Estavam associados ao mito da procura de Deméter por
sua filha Perséfone. (…) Os ritos de iniciação dos Mistérios eram secretos, e só
restaram referências esparsas e imagens para que os estudiosos modernos
arrisquem palpites sobre o seu conteúdo. (…) A maioria dos Mistérios
estabelecia apenas um estágio de iniciação. Os Mistérios Eleusianos eram
diferentes porque tinham duas fases, a Myesis, ou Mistérios menores, e os
Teletai, ou Mistérios Maiores. (…) Os Mistérios eram um importante aspecto
da religião pagã do mundo antigo, e, como a maioria dos outros aspectos do
paganismo clássico, aparentemente se extinguiram quando o cristianismo
assumiu o controle do mundo romano e as práticas pagãs tornaram-se ilegais.
Certos elementos dos Mistérios foram preservados em círculos mágicos, como
atestam os papiros mágicos greco-egípcios. (…) Como muitos dos magos,
gregos e romanos mais filosóficos também eram iniciados nos Mistérios, esses
empréstimos eram possíveis, e podem ter permitido que fragmentos das
práticas dos Mistérios passassem para as tradições mágicas posteriores.
Tentativas de identificar os trechos específicos dos Mistérios no ocultismo
posterior, porém, tem sido bem problemáticas. Parece que pouca atenção foi
dada aos Mistérios durante a Idade Média e o Renascimento, mas o
aparecimento da Maçonaria no século XVIII tornou os rituais de iniciação um
tema de grande interesse. Tal interesse se manifestou de diversas maneiras.
Primeiro, foram feitas tentativas de demonstrar (sem muitas evidências) que a
Maçonaria ou alguma outra ordem fraternal seria a descendente direta de
uma tradição específica de Mistérios, ou então dos Mistérios como um todo.
Em seguida, foram criados novos rituais de lojas baseados nos fragmentos de
informação restantes sobre os Mistérios, um projeto que pode ter atingido o
zênite com a invenção do Sétimo Grau dos Patrons of Husbandry (The
Grange). Uma tentativa vitoriana de reencenar os Mistérios Eleusianos. Em
terceiro, os Mistérios foram interpretados com a leitura dos hábitos e
tradições das lojas fraternais dos séculos XVIII e XIX nas antigas Grécia e
Roma. Esses três elementos tiveram um importante efeito sobre o
desenvolvimento da história mítica do ocultismo no período moderno.”
Uma verdadeira introdução ao assunto Mistérios, e ainda, sobre as possíveis
conexões com a Maçonaria, usando do equilíbrio que o assunto requer, consta
no “Grande Dicionário Enciclopédico…” do Irmão Nicola Aslan, de onde extraio
o seguinte:
“Segundo Frau Abrines, os mistérios da antiguidade consistiam em uma série
de símbolos, de parábolas e de sentenças obscuras, cujo conhecimento era
reservado às classes sacerdotais e que se transmitiam por tradição e através
de uma série de iniciações. A iniciação era uma escola na qual eram ensinadas
as verdades da religião primitiva, a existência e os atributos de um Deus
único, a imortalidade da alma, os castigos e as recompensas de uma vida
futura, os fenômenos da natureza, as artes, as ciências, a moral, a legislação,
a filosofia, a beneficência, o magnetismo animal, etc. Em todos os mistérios
eram apresentados ao iniciado, por meio de imagens, a felicidade do justo e a
desgraça do mal, depois da morte; as provas a que era submetido
impressionavam o seu espírito temperando-o, para que fosse capaz de
compreender as grandes verdades.
Grande parte do Cerimonial Maçônico de Iniciação tira a sua origem dos
mistérios da antiguidade. Este Cerimonial foi adaptado às circunstâncias e
exigências modernas. Na Maçonaria, dá-se o nome de mistérios às
Cerimônias, figuras alegóricas e emblemas da Maçonaria, como também aos
Sinais, aos Toques, e às Palavras por serem coisas que não devem ser
divulgadas. Não existe porém, qualquer conexão histórica entre os mistérios
antigos e a Maçonaria. Como todas as corporações medievais ou operativas
tinham um cerimonial de recepção, diferente da Iniciação Maçônica
moderna.”
O Irmão João Anatalino Rodrigues em seu livro “O Tesouro Arcano” escreveu o
seguinte:
“Sabemos que, como estrutura arquetípica, a Maçonaria é contemporânea das
primeiras civilizações. Desde os tempos mais antigos, os povos que
alcançaram os mais altos estágios civilizatórios cultivam a tradição de
preservar sua cultura, seus conhecimentos e suas conquistas mediante a
reunião de grupos específicos de indivíduos que comungam de interesses
mútuos. Esses grupos se formam por cooptação, procurando aglutinar, na
forma mais nivelada possível, os ‘iguais’ dentro de uma sociedade,
fundamentados na crença de que aqueles que estão mais envolvidos com
determinado sistema é que tem maior interesse em preservar seus valores. É
nesse amplo espectro, que funde religião, política, mitologia e história, que
iremos encontrar, por exemplo, as antigas manifestações culturais conhecidas
como Mistérios, que vários autores maçons costumam invocar como sendo as
estruturas mais antigas da Maçonaria.”
Comentários
Como podemos ver, ainda que subentendida, e após a leitura dos textos acima, a
herança dos Mistérios Gregos pode ser bem maior sobre as ciências ocultas do
que mais diretamente sobre a própria Maçonaria. Sem dúvida, seria o caso de
discutir, quais os ritos que absorveram ou tiveram maiores adaptações em seus
rituais se utilizando daquilo que teria sobrevivido dos tempos em que eram
praticados, e que pelo que pudemos ver, não foi muito não. É um terreno
perigoso, sem dúvidas, para apontar com certeza as dimensões dessas
influências, e como sabemos alguns autores fazem questão de ver isso tudo com
uma clareza que uma maioria não vê.

Os Mistérios Gregos e a  Maçonaria: o dicionário


de Joaquim Gervásio de Figueiredo
Do clássico “Dicionário de Maçonaria” do Irmão Joaquim Gervásio de
Figueiredo, extraímos a primeira parte, digamos assim, da sua definição, e que
vem ajudar em nossos propósitos:
“MISTÉRIOS. Termo genericamente aplicado a antigas religiões e escolas
ocultas pré-cristãs, dos egípcios, persas, gregos, judeus, romanos, celtas e
escandinavos. Homens e mulheres de qualquer posição e cultura podiam
solicitar sua iniciação nos diversos mistérios, que se dividiam em Menores
(exotéricos) e Maiores (esotéricos).”
Retornamos ao Dicionário de Aslan, para utilizarmo-nos de uma descrição
utilizada por ele, creditada a Albert Pike, que diz assim:
“Onde começaram os Mistérios? Ninguém o sabe. Supõe-se que vieram da
Índia, passaram para a Caldeia, o Egito, de onde foram transportados para a
Grécia. Qualquer que seja o lugar das suas origens foram praticados em todas
as nações da antiguidade, e, como era o comum, os habitantes da Trácia, os
cretenses, os atenienses disputaram a honra de tê-los inventado e cada um
desses povos pretendeu nada ter tirado do outro. (p.159)”
Já no tocante, especificamente, aos Mistérios Gregos, também extraímos
algumas passagens do “Dicionário de Maçonaria”, do Irmão Joaquim Gervásio
de Figueiredo, com ênfase para aquelas onde o autor estabelece as presumidas
ligações com a Maçonaria:
MISTÉRIOS GREGOS
1 – Origens – Atribui-se sua origem a Orfeu, que se calcula haver vivido uns
sete mil anos antes de Cristo. Os mais importantes e conhecidos foram os
Eleusinos, cuja influência e excelência foram sempre proclamadas não só por
seus iniciados como pelos maiores homens da era clássica, como Píndaro,
Sófocles, Isócrates, Plutarco, Heródoto, Platão, Cícero e muitos outros.
Todavia, muito escasso é o conhecimento do mundo moderno sobre seus
sistemas, métodos e doutrinas, pois sempre foram mantidos sob rigoroso e
juramentado sigilo, a ponto de a opinião pública, que os respeitava e
reverenciava, infligir terríveis penalidades a quem os violasse. Reduzidas são,
pois, as informações obtidas diretamente das fontes chamadas pagãs; a sua
maioria nos chegou através de antigos escritores cristãos, como Hipólito,
Clemente de Alexandria, Orígenes, Arnóbio e outros.(…) Além do mais, tudo
quanto a seu respeito (Mistérios Eleusinos, grifo meu) que se conhece hoje,
restringe-se à cerimônias e provas externas então aplicadas aos candidatos, e
às instruções administradas ao público através de vários mitos, parábolas e
alegorias. E quando os profanos de então insistiam por informações que os
oficiais não desejavam adiantar, só lhes prestavam as estritamente permitidas
e necessárias.
2 – Mistérios Menores. Estes eram celebrados no Templo de Deméter e Coré ou
Kore (Virgem), em Agra, perto de Atenas, no mês de março, pelo equinócio da
primavera. Os ensinamentos que ali se davam, giravam em torno da vida
póstuma no mundo intermediário ou astral, o Hades, e neste sentido se pode
equiparar estes mistérios ao 1º Grau maçônico, enquanto difiram as
respectivas cerimônias. (…)
3 – Mistérios Maiores – Celebravam-se estes no mês de setembro
(Boedromion), pelo equinócio do outono, tendo por centro a cidade de Elêusis,
distante de Atenas cerca de 20 quilômetros. Nessa época toda a Grécia
entrava em férias, e realizavam-se pomposas procissões públicas, com a
participação dos iniciados de todas as classes sociais. Estas procissões foram
detalhadamente descritas por escritores seus contemporâneos, mas afora
estas descrições exotéricas, nada se sabe dos Mistérios Maiores no mundo
externo, a não ser através de poucas e obscuras insinuações. Tais procissões
duravam toda uma semana, partindo de Elêusis dia 13 de setembro até o
Eleusinion no sopé da Acrópole, cidadela cercada de altos muros, como a
matriz de Elêusis, e aonde só os iniciados podiam entrar. No dia 19,
completadas todas as cerimônias, a procissão retornava a Elêusis, sempre
com grande imponência. Os Mistérios Maiores, cujas instruções sobre a vida
depois da morte abrangiam o mundo-céu, os Campos Elíseos, correspondiam,
de certo modo, ao atual 2º Grau maçônico.
(…) A Maçonaria não herdou diretamente a sucessão eleusina, porém algo de
sua inspiração e influência foi transmitido às escolas místicas da Idade Média.
Todavia, seus ritos visam a mesma finalidade, relacionam-se com os mesmos
mundos invisíveis e prepararam Almas para a mesma augusta realidade
oculta por trás de todos os verdadeiros sistemas de Mistérios. ”
As influências dos Mistérios na Maçonaria na visão do
estudioso Hervé Masson
Corroborando, a importância desses Mistérios como um todo, vejamos um
trecho do “Manual-diccionário de Esoterismo” de Hervé Masson:
“Las ‘religiones de misterios’ de la antiguedad se han extinguido. Privadas de
su soporte esotérico, perdieron su carácter de necesidad iniciática. Pero el
mensaje que habián recibido y que constituía su contenido primordial, ha
pasado a otras manos. Hoy como hace miles de años, la via inicática discurre
por los mismos sítios, con variantes, claro está, pero inspirada por el mismo
espíritu y persiguiendo un propósito idêntico. Mitos parecidos (como la
leyenda de Hiram en la Masonería), ritos análogos y un proceso palingenésico
semejante caracterizan a la iniciación de hoy y a la del pasado. No ha existido
una verdadera fractura entre una y outra. En primerísimo lugar, el
esoterismo de las ‘religiones de misterios’ se prolongó en las asociaciones de
oficio, tanto en Grecia como en Roma. Se sacralizaba el trabajo por la
afiliación a este o aquél rito, por la práctica de una iniciación. En estrecho
paralelismo com la obra divina de la creación, la labor humana se elevaba al
plano demiúrgico. Se convertia, también ella, en una ‘creación’. Hemos visto
que ciertas confraternidades y corporaciones estaban afiliadas a los ‘misterios’
de Dionysos. Los metalúrgicos fueron particularmente dionisíacos.Acaso los
ocultos ritos de las Cabirias legendarias, ancestros de la alquimia guardaban
relación con el culto de Dionysos, o del Zagreo órfico? Más tarde, en Roma, las
corporaciones de talladores de piedra y obreros de la construcción, invocaban
el patronazgo de Jano bifronte. La afiliación a los ‘collegia’ presentaba un
carácter eminentemente iniciático, que será transmitido hasta nuestros días
mediante el Compagnonnage y la Masonería. (Grifo meu) Es evidente que las
formas esotéricas, el soporte religioso, e incluso cultural, han cambiado
profundamente. Pero el mismo esoterismo, los mismos temas iniciáticos, han
resistido a la prueba del tiempo con una simple y transparente transposición.
Intangibles, reaparecen en pleno siglo XX en el seno de las sociedades
iniciáticas modernas especulativas y operativas. La leyenda de Hiram que
resumimos en su capítulo, es un ejemplo de esta vocación iniciática del mito
palingenésico.”
Os Mistérios de Elêusis – Existe uma herança na
Maçonaria? A opinião do irmãos e estudioso Theobaldo
Varoli Filho
Em primeira instância, tendo tomado conhecimento do que eram propriamente
os Mistérios de Elêusis, já é possível a partir desta leitura, perceber as analogias
decorrentes que poderão ser feitas com relação à Iniciação Maçônica. Para isso,
transcrevo o trecho referente a estes mistérios em particular, constante no
verbete MISTÉRIOS GREGOS do “Vade-Mécum Maçônico” da autoria do irmão
João Ivo Girardi:
“Nos Mistérios de Elêusis encontramos: o culto agrário da deusa Deméter, que
ensina o cultivo do trigo, e o culto de sua filha Perséfone, ou Core (Prosérpina,
para os romanos). Deméter, deusa das colheitas amava, de maneira intensa,
sua filha Perséfone, que foi raptada certo dia, enquanto colhia flores no
campo, por Hades, (Plutão para os romanos), deus dos infernos. Após
procurá-la pelo mundo interior, Deméter se encontra com Apolo (o Sol), que a
informa de tudo. Deméter, tomada de cólera contra a Terra, não permite que
nela, cresçam os grãos e os frutos. Diante de tal situação, Zeus resolve
interferir junto a Hades, afim de que devolva Perséfone. Estabelece,
entretanto, uma condição: a de que poderia voltar ao Olimpo, caso não
houvesse ingerido nenhum alimento. Como ela havia ingerido os grãos de uma
romã, não pode voltar, sendo-lhe permitido, somente, que passasse seis meses
do ano com sua mãe e os outros seis meses no inferno. A lenda nos mostra,
assim, Perséfone simbolizando as sementes, que, sob a terra, permanecem
durante a metade do ano, frutificando depois sobre a mesma. Representa,
esotericamente, a eternidade e a imortalidade, segredos que os Mistérios de
Elêusis transmitiam aos iniciados e que, sem dúvida vieram a influenciar o 3º
Grau maçônico, quando apresenta a lenda da morte e da ressurreição de
Hiram-Abif. Os Mistérios de Elêusis dividiam-se em dois Graus: os Mistos –
onde eram dados ensinamentos relativos à vida depois da morte, no mundo
astral, como que intermediário entre o material e o espiritual. Os Epoptas –
representava um Grau mais elevado – recebiam instruções mais profundas
sobre a origem do homem e do Universo, e mais sobre o domínio da mente. O
símbolo do Grau era uma espiga de trigo. Nos Mistérios de Elêusis
encontramos algumas analogias com a Iniciação Maçônica. Nesta, as provas,
que representam a morte física do Iniciado e o seu renascimento num plano
superior, são iguais aos ensinamentos ministrados aos Iniciados no culto de
Deméter sobre os mistérios da morte e da ressurreição. No 1º Grau – Mistos –
deparamos com uma grande relação com o 1º Grau Maçônico – Aprendiz. Em
ambos, por exemplo, o Iniciado se dedica ao estudo da evolução racional da
espécie humana e da formação do universo, de acordo com as Doutrinas
Iniciáticas. No 2º Grau – Epoptas – dos Mistérios de Elêusis , bem como o 2º
Grau Maçônico – Companheiro – o símbolo é o mesmo: a renovação constante
da vida, através da imortalidade da alma, tão difundidos na Doutrina Mística
da Maçonaria.”
À página 164, do seu “Curso de Maçonaria Simbólica”, escreveu o Irmão
Theobaldo Varoli Filho:
“Certos escritores ditos ‘ocultistas’ encarecem os mistérios de Elêusis, como
outros, e fazem conjecturas, as quais, apresentadas com uma certa
magnificência literária, parecem exprimir a verdade. Nas bibliotecas
maçônicas sobejam livros dessa espécie. Muitos deles chegam a afirmar que os
próprios maçons não entendem a Maçonaria. Acautelem-se os Aprendizes
contra essa literatura que a Maçonaria repele. A Sublime Instituição abomina
o obscurantismo e a superstição. Quanto a pretender que a Maçonaria derive
também dos ‘Mistérios de Elêusis’, constitui um atestado de crassa ignorância
ou um propósito de mistificação. O culto a Elêusis foi duradouro, mas instável,
como todos os anteriores ao do Grande Arquiteto do Universo.”
O Irmão Theobaldo Varoli Filho tece suas considerações, sem se deixar levar por
simples influências. Uma pergunta que ele formula sobre os Mistérios de Elêusis
e que ele mesmo responde, é digna de figurar aqui pelo seu teor. Vejamos:

“Os cultos de Elêusis estariam para Ceres ou Deméter assim como o culto da


atual Maçonaria mística estaria para o Grande Arquiteto do Universo?
Assim entendem muitos maçons místicos. Essa comparação, entretanto, não
passa de exagero. Ceres era uma divindade especialíssima, conforme veremos,
e o G.’.A.’.D.’.U.’. é a denominação dada pelo maçons a Deus, Criador
Supremo, conhecido e venerado por vários nomes em diversas religiões. A
diferença é tão grande que não se pode estabelecer comparação. Além disso, a
iniciática maçônica consiste em integrar o iniciado na ética universal e não em
preparar o maçom para alcançar o céu. Este mister a maçonaria deixa aos
cuidados dos próprios crentes das diversas religiões, todas elas respeitadas
pela Sublime Instituição.”
Para fechar este bloco, voltamos a recorrer ao Irmão João Anatalino Rodrigues,
com suas sábias considerações sobre o assunto:

“A Influência na Maçonaria – Eis por que tanto os Antigos Mistérios


egípcios quanto os Mistérios de Elêusis são constantemente invocados nos rito
maçônicos, pois ambos evocam a necessidade de uma morte ritual e uma
regeneração do recipiendário, como condição essencial a sua passagem de um
estado de consciência profana para uma consciência superior de iniciado. A
cerimônia de iniciação na Maçonaria tem sido comparada à recepção do
neófito nos Pequenos Mistérios e a cerimônia de elevação ao Grau de Mestre
na Maçonaria Simbólica é, para muitos autores maçônicos, numa corruptela
da iniciação nos Grandes Mistérios. Há inclusive autores que acreditam que a
lenda de Hiram tenha sido diretamente adaptada dessa fonte, pois que o
arquiteto do Templo de Salomão, assassinado por três companheiros
traidores, cumpre idêntico papel ao de Osíris nos Mistérios Egípcios e de
Perséfone nos Mistérios Eleusinos. Essas comparações e analogias são, a
nosso ver, um tanto licenciosas. Todavia a instituição que existia por trás
dessas práticas iniciáticas se assemelha bastante ao que hoje praticamos na
Maçonaria Moderna.”

Grega na Maçonaria – 2ª Parte

A Herança Grega na Maçonaria: o Pitagorismo, os Mistérios

Dionisíacos e o Orfismo. A Iniciática Grega e sua relação com

a Maçonaria na visão de Theobaldo Varoli Filho

De volta à Grécia

O Irmão José Castellani, em artigo publicado com o titulo de “Influência da Antiga Civilização
Grega na Simbologia Maçônica”, construiu uma bela e sucinta introdução sobre o que a cultura
grega produziu, e que transcrevo a seguir, com o intuito puro e simples de que a mesma
refresque as nossas memórias ou sirvam de passagem para a nossa máquina do tempo em sua
viagem pelo mundo grego, onde veremos as influências todas que direta ou indiretamente foram
assimiladas pela doutrina maçônica.
“Os grandes legados da civilização helênica, a todos os povos, foram, principalmente,
baseados na ciência, nas artes, na literatura e na religião. A poesia, heroica e religiosa,
surgiu na Trácia e em Delfos, no Templo de Apolo; constituíram-se os ciclos poéticos,
inspirados nos fatos históricos, derivando, dessas fontes, os imortais poemas “A ILÍADA” e “A
ODISSEIA”, de Homero. O período clássico da literatura grega desenvolve-se entre os séculos
V e IV a.C., quando a literatura dramática adquire a potência máxima e o teatro evolui,
deixando de ter a sua expressão apenas nas festas dedicadas ao deus Dionísio; a tragédia é
moldada com Pratinas, Frínico e Téspis, alcançando a perfeição com Sófocles, Ésquilo e
Eurípedes; a comédia toma formas com Epicarmo, Sofron e, principalmente, Aristófanes.
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Na filosofia distinguem-se: Euclides e a Escola de Megara, Anaxágoras, Demócrito,


Antístenes e a Escola Cínica, Fédon e a Escola de Élis e, principalmente, Aristóteles e o Liceu,
Platão e a Academia. A história, cujo principio está em Heródoto, é cultivada por Filistos,
Tucídedes, Éforo, Xenofonte e Teopompo; a geografia é impulsionada por Eratóstenes, Nearco
e Polemon.
Na matemática e na astronomia, destacam-se Euclides e Arquimedes, enquanto que
a filologia tem como seus expoentes, Aristarco, Calímaco e Zenódoto, tudo isso ao par com os
ensinamentos dos pensadores jônicos, como Tales de Mileto, Pitágoras de Samos e Heráclito
de Éfeso. A arquitetura, especialmente a dos Templos, sempre foi muito desenvolvida, desde a
Grécia arcaica, de maneira geral, nas concepções religiosas pertinentes aos deuses olímpicos,
semideuses e heróis, e especificamente no culto a Dionísio, nos Mistérios de Elêusis, no
Orfismo e no Pitagorismo. O gênio grego, grande influenciador na cultura do mundo antigo,
através de Roma, chegou até ao mundo contemporâneo ainda com grande influência moral,
intelectual e artística, e ao qual, a riqueza da Simbologia Maçônica não poderia escapar.”
De volta à civilização grega então, vamos conhecer quais os outros Mistérios que faziam parte
desse universo. Antes, um trecho acerca dos mesmos, extraído da obra “MAÇONARIA – Escola
de Mistérios – A Antiga Tradição e seus Símbolos” do Irmão Wagner Veneziani Costa:
“De Pitágoras a Plutarco, os professores do passado testemunharam em favor dos Mistérios,
até Cícero, que declarou que ‘o aprendizado do homem na morada do lugar Oculto o compelia
ao desejo de viver de maneira nobre e suscitava pensamentos felizes para a hora de sua morte’.
O homem vivia sua época majestosa; eles não eram somente sublimes e nobres mas, também,
elevados e sutis.
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Platão dizia que os Mistérios foram estabelecidos por homens de grande talento que, no início
dos tempos, se esforçaram para ensinar a pureza, para superar a crueldade da raça, para
exaltar sua moral e refinar seus modos e para conter a sociedade por meio de vínculos mais
fortes do que aqueles impostos pelas leis humanas. Sendo esses os seus propósitos, aquele que
se importa com a vida do homem, em geral, entrará em seus santuários desaparecidos com
compaixão; e se nenhum Mistério mais se liga ao que eles ensinaram – nem mesmo a sua
antiga alegoria da imortalidade -, há interesse permanente em seus ritos, em sua dramatização
e em seus símbolos empregados no ensinamento da sábia, virtuosa e bela Verdade. Estamos
cada vez mais seguros em afirmar que a ideia e o uso da iniciação, são tão antigos quanto a
Casa dos Homens da sociedade primitiva, pois eram universais e assumiram formas diferentes
em territórios diferentes.”
Comentários

A título de ilustração, e baseado em outro tanto no que até aqui foi exposto, considerando ainda
o trabalho que precedeu este, atentemos para alguns detalhes importantes que deveremos ter em
mente:

 Os Mistérios eram praticados por vários povos da antiguidade, não era um privilégio
dos gregos, tanto que, aos Mistérios de Elêusis tem sido atribuídas várias origens, entre
elas, a egípcia, a cretense, a tessálica ou trácia.
 Os Mistérios de Elêusis são considerados os mais importantes, ainda restando o
Pitagorismo, e esse, sem dúvida, por ter sido liderado por Pitágoras, bastante familiar aos
Maçons em virtude dos ensinamentos de Pitágoras serem constantes na Ordem
Maçônica. Havia outros Mistérios, com certeza. Ouçamos o Irmão Luiz Vitório Cichoski,
que à pág. 86 do seu livro, “Fundamentos da Iniciação”, diz assim: “Nos relatos
históricos da Maçonaria menções à Grécia são uma constante. São sempre lembrados os
Mistérios relativos às sociedades Eleusina, Órfica, Pitagórica, Dionisíaca.”
 No que tange aos Mistérios Gregos, a prioridade então, é abordar somente aqueles que
possuem ligações mais perceptíveis com a Maçonaria no que se refere a sua herança, e
onde o Pitagorismo, com certeza, tem sua devida importância.
Quem foi Pitágoras?

Antes, vejamos uma biografia do filósofo e matemático Pitágoras, com dados extraídos do
“Dicionário de Maçonaria”, esse que já é um clássico do Irmão Joaquim Gervásio de
Figueiredo:
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“PITÁGORAS (580-500? A.C.). Célebre filósofo grego, nascido na ilha de Samos e fundador


da escola Pitagórica, depois de haver estado no Egito, onde foi iniciado no santuário de Tebas,
e na Caldeia e Índia, onde estudou astronomia, astrologia e ciências matemáticas, esotéricas,
etc. No último destes países é conhecido com o nome de Yavanâchârya (‘O Mestre Jônio’). À
sua escola afluíam as melhores inteligências dos centros civilizados, e seus discípulos se
tornaram lendários por seus conhecimentos sobre conduta social, fidelidade a seus princípios,
e exemplar espírito de solidariedade e fraternidade. Foi o primeiro a ensinar o sistema
heliocêntrico, sendo considerado o maior matemático, geômetra, astrônomo e metafísico da
antiguidade histórica, e professou a doutrina da reencarnação ou metempsicose, mas sem as
distorções que alguns lhe adicionam. Uma conjuração política suscitada em Crotona,
encabeçada por Cylon, cuja admissão fora recusada na Ordem por ter sido julgado ambicioso
e cruel, voltou-se também contra essa Escola, destruiu-a e massacrou muitos de seus membros.
Pitágoras desapareceu então misteriosamente e nunca se encontrou seu corpo. De sua doutrina
restam os ‘Versos Áureos de Pitágoras’, que ainda percorrem o mundo, e muitos Irmãos
consideram ser a Ordem Maçônica uma sua continuadora. Segundo uma lenda, ele chegou a ir
às Gálias para iniciar-se ali também nos Mistérios Druídicos.”
Aliás, sobre esses mesmos Versos Áureos temos um comentário verdadeiramente esclarecedor
do Irmão Theobaldo Varoli Filho:
“(…) A propósito, é muito lamentável que certas lojas maçônicas costumem exibir, nos seus
salões de PP.’.PP.’., certas versões dos ‘Versos Áureos’ ou ‘Carmen Aureum’, traduzidas do
latim e deturpadas por tradutores maçons, os quais, por sua vez, atribuíram o canto
diretamente a Pitágoras, quando deveriam esclarecer-lhe a verdadeira procedência. Esses
versos resultaram de uma síntese de várias e poucas máximas apregoadas por discípulos da
escola itálica ou pitagórica. ‘Venera os deuses de acordo com a sua condição, cumpre a tua
palavra, honra os heróis e os gênios que estão debaixo da terra’(ctônicos), eis alguns trechos
dos Versos Áureos, proclamados como mandamentos. No mais, é quase despido de importância
o que esse versos possam oferecer à filosofia do simbolismo maçônico, pois os ensinamentos
pitagóricos tem muito maior alcance na doutrina da Maçonaria, a partir do conceito do Uno e
a seguir, na interpretação dos números das figuras geométricas, na iniciática da díada e dos
opostos, estudada no grau de companheiro e originalmente inspirada na Tábua das Oposições
(contrastes) atribuída ao médico Alcmon. Este discípulo de Pitágoras foi aquele que em
primeiro lugar proclamou que o cérebro é o centro de sensibilidade.”
Comentários

Vou fazer um comentário bem sucinto, até pelo fato de possuir um trabalho, que foi publicado
pela revista “A Trolha” em sua edição de nº 325, Novembro/2013, que se intitulava
“Comentário e Síntese do Grau mais Histórico e Intelectual da Maçonaria: o de Companheiro
Maçom”. Pois é, lendo as considerações do Irmão Theobaldo Varoli Filho, principalmente
quando ele menciona que os ensinamentos pitagóricos tem maior alcance na doutrina maçônica
e que são estudados no Grau de Companheiro Maçom, eu me remeto àquele trabalho, onde entre
outras coisas eu escrevi: “Se existem poucas sessões de Companheiro, desculpa muito utilizada,
mas, verdade verdadeira, não poderá ser um impeditivo para que sejam montados grupos de
estudos em períodos pré-sessão, ou num outro dia, previamente escolhido, onde Companheiros
possam ouvir aos seus Mestres instrutores, sobre as questões todas que os afligem e assim
crescerem em conhecimento, bebendo da história, da ritualística, da filosofia e da ciência tão
presentes nesse que é o Segundo Grau da Maçonaria Simbólica.” Sem generalizar, mas,
Pitágoras, nem é tão falado assim, muito menos estudado como deveria.
O Pitagorismo

O “Vade-Mécum Maçônico” do Irmão João Ivo Girardi dá-nos as seguintes informações


sobre o Pitagorismo (pág. 503):
O Pitagorismo foi um movimento de reforma do Orfismo grego, que era uma religião de
contornos vagos, mais uma disposição de espírito do que uma doutrina racional, a qual
concebia um ideal de vida purificada, ascética e virtuosa, insistindo na oposição da alma e
do corpo e na responsabilidade individual.”
Ainda, em sua pág. 419, no item 3 do verbete “Mistérios Gregos”, temos:
“Pitágoras: foi buscar os princípios de sua doutrina filosófica na Índia e no Egito, depois
de haver sido iniciado nos Mistérios Gregos. Sempre encobriu a sua filosofia com o véu
dos Mistérios – tinha um cuidado especial na escolha de seus discípulos. Dividia-os em três
categorias:
 I – Ouvinte (Alkoustikoi) – deveria demonstrar três anos em meditação, ocasião em que se
lhes prescrevia certos trabalhos intelectuais, cujos resultados, se satisfaziam o Mestre,
facultavam a ascensão à segunda etapa;
II – Matemático (Mathematikoi) – nesta etapa, que durava cinco anos, o candidato devia
permanecer em profundo silêncio, ouvindo a voz do Mestre através de um véu que ocultava a
entrada do Santuário. Como já se encontra numa fase mais avançada devia por em prática o
cerne da doutrina pitagórica: relacionar os diversos ramos da matemática com a música,
descobrindo as correspondências entre as ciências;
III – Físico (Physikoi) – ao alcançar este estágio estava apto a receber o perfeito conhecimento
da doutrina sagrada. A física era conhecida não no sentido atual do termo, porém como era
usado na Grécia Clássica: o estudo da natureza.
Os iniciados entregavam-se ao estudo místico dos mistérios da natureza e da vida interior do
homem. O símbolo distintivo da comunidade criado por Pitágoras era uma estrela de cinco
pontas, que representa em sua posição normal – vértice para cima – o homem em sua alta
espiritualidade, pois, nela, pode-se inscrever uma figura humana, com a cabeça ocupando a
ponta superior e os membros superiores e inferiores as demais pontas. Por isso, ela é chamada
de Estrela Hominal, representando a sabedoria, a gnose e a espiritualidade, com todos os seus
atributos.
(…) Diz José Castellani: ‘Os três Graus maçônicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre)
representam as três grandes fases da evolução do pensamento do homem; intuição, análise e
síntese; de maneira geral, os três estágios das escolas pitagóricas seguem também, essa
evolução. Além disso, os Ouvintes do pitagorismo, guardavam absoluto silêncio, durante o seu
aprendizado, limitando-se a ouvir e aprender, situação muito similar a da Maçonaria, onde o
Aprendiz, simbolicamente, é uma criança e, portanto, não fala, limitando-se, também, a ouvir
os Mestres. Os Mestres na maçonaria possuem também, no simbolismo de seus trabalhos,
semelhança com os Físicos do pitagorismo, pois, ambos tem o escopo de estudar os mistérios
da natureza e a vida interior do homem’.”
Muito oportuno é registrar o trecho que dá sequência, já que ajuda a cumprir um dos
objetivos principais do presente trabalho que é mostrar as heranças da Maçonaria e do
quanto ela está impregnada com essas mesmas influências:

“A tradição de Pitágoras foi transmitida para as Escolas Neoplatônicas. Seus ensinamentos


internos vieram a influenciar nos ensinamentos cristãos e formaram, também, a base de muitas
escolas de instrução mística, aparecendo atualmente em muitos Graus Maçônicos superiores.
Em Loja Maçônica composta – tal como temos na atualidade – encontramos perfeitamente a
teologia grega, na representação de vários cargos.”
E também:

“O Pitagorismo não foi um movimento efêmero, mas muito sério; a prova disso é o seu extenso
período de influência; uma Escola que dava início às novidades provindas do intelecto. Seus
conhecimentos incursionavam pela filosofia, geometria, astronomia, matemática e música.
Primeiro desvendador da alma e precursor da psicologia, o seu saber envolvia misticismo,
verdades e fantasias. Pitágoras foi inovador em alguns princípios considerados tabus na
época, como o heliocentrismo, unidade invisível de Deus, igualdade de condições entre os
sexos, na transmigração das almas, ou metempsicose; na dissociação entre astronomia e
astrologia, a química com a alquimia e, sobretudo o amplo significado dos números. Afirmava
‘que todas as coisas são números’. É aqui que a Maçonaria encontra guarida de vez que
valoriza os números e com eles tece a tênue fusão entre o pensamento e a divindade. A Arte
Real dimensiona o Grande Arquiteto do Universo, usando a Geometria.
(…) Uma boa parte da religião e filosofia dos egípcios parece ter sido construída quase
totalmente sobre a ciência dos números; por isso, cada coisa na Natureza era explicada com
base neles. Os Pitagóricos os tinham em tão elevada opinião que chegavam a considerá-los
como a origem de toda as coisas, admitindo mesmo que o conhecimento dos números era
equivalente ao conhecimento de Deus. Os sacerdotes egípcios ensinaram a Pitágoras que,
enquanto a Mônada – número 1 – possuía a natureza de causa eficiente, dualidade era
meramente matéria passiva.
Um ‘ponto’ correspondia à Mônada, sendo ambos indivisíveis; e como a Mônada era o
princípio dos números, também o ponto, a sua vez, era das linhas. Uma linha, diz com
dualidade, sendo ambas consideradas como ‘transições’. A linha é um comprimento sem
largura, estendendo-se entre dois pontos. Uma superfície liga-se a tríade porque, em adição
ao dual, isto é, o comprimento e a largura, possuem a terceira propriedade, que é efetivada
pela atribuição de três pontos, sendo dois opostos entre si e o terceiro na junção das linhas
feitas pelos outros dois. Um sólido ou cubo representa a tétrada; se se dispuser três pontos em
forma triangular e colocar-se um quarto ponto central sobre eles, ter-se-á um corpo sólido na
forma de uma pirâmide, que tem três dimensões – comprimento, largura e altura.
Expressando sua opinião sobre os Corpos Regulares de Platão, os pitagóricos arguiam que
o mundo era feito por deus ‘em pensamento e não no Tempo’, e que havia Ele começado Sua
Obra com fogo e o 5º Elemento; por isso, há cinco figuras de corpos sólidos que são expressões
matemáticas. E dizem que a terra foi feita de um cubo, o fogo de uma pirâmide, o ar, de um
octaedro, a água de um icosaedro (20); e a Esfera do Universo, de um dodecaedro. E assim
foram deduzidas as combinações da Mônada com princípio de todas as coisas. Da Mônada
veio a dualidade indeterminada; delas duas vieram os números; dos números os pontos; dos
pontos, as linhas; das linhas, as superfícies; das superfícies, os sólidos; destes, os corpos
sólidos cujos elementos são quatro – fogo, água, ar e terra. De todos eles sob várias
transmutações, foi criado o mundo.
Pitágoras ensinou a seus discípulos a Geometria, da qual podiam ser capazes de deduzir uma
razão para todos os seus pensamentos e ações, bem como averiguar a verdade ou a falsidade
de qualquer proposição através do infalível processo de demonstração matemática. Assim
sendo, capazes de contemplar a realidade das coisas e detectar o embuste e a fraude
declarava-se estar no caminho que levava à felicidade perfeita. Tal era o ensino e a disciplina
das Confrarias Pitagóricas.”
Os Mistérios Dionisíacos

Do “Vade-Mécum Maçônico”, também transcrevemos o verbete DIONÍSIO, onde de


forma resumida há menção ao culto também. Diz assim:
“DIONÍSIO: Deus grego (Baco para os romanos), era filho de Zeus (Júpiter para os romanos)
e, além de ser o protetor da vegetação e das vinhas, era, também, o deus dos mortos, através
das promessas de ressurreição. O culto a Dionísio apresentava muitos aspectos, pois, pelas
promessas de ressurreição, despertava grande fervor religioso, entre o povo, por deter o
segredo da imortalidade. A lenda do assassinato de Dionísio, pelo Titã, seguido do seu
esquartejamento e de sua ressurreição dentre os mortos, corresponde, intimamente, à lenda de
Osíris e era ensinada com o mesmo significado desta. Estas duas lendas e mais a do deus
sumeriano Dumuzi, contribuíram par a lenda do 3º Grau Maçônico.”
Por sua vez, o Irmão Luiz Vitório Cichoski, já citado anteriormente, contribui com
algumas informações sobre Dionísio e também com as suas ponderações, no
mínimo instigantes, sobre as associações que são feitas em âmbito maçônico com tal
divindade. Vejamos o que ele diz:

“Miticamente, e de acordo com Heródoto, Dionísio (Baco) era filho de Zeus e da mortal
Sêmele, filha do rei Cadmo e Harmonia. Essa ligação provocou em Hera um ciúme patológico
que a levou a convencer Sêmele de solicitar de Zeus uma prova de sua divindade, pois sabia ela
que tal evento eliminaria a rival. E assim deu-se. Percebendo Zeus que a amante estava
grávida, aninhou o prematuro ser na sua coxa até que se completasse o tempo, quando então o
heterogêneo divino-humano ser nasceu e recebeu o nome de Dionísio – dis (dois) + ónisos
(nascido). Desde então passou a ocultar-se de Hera que mantinha o desejo de eliminá-lo como
o fizera com sua mãe. Vários episódios compõem sua biografia onde perece e é ressuscitado
pelo pai, o Senhor do Olimpo.
É reconhecido como o Deus do vinho – que os romanos chamavam de Baco – e o
comportamento dos seus seguidores, envolvidos pelos efeitos etílicos, demonstra o lado
irracional, violento e incontrolável da libação. Sua corte, seus seguidores – as Mênades ou
Bacantes – são tomadas de surtos maníacos ferozes, durantes os quais cometem os maiores
desatinos.
Causa estranheza a associação deste Deus, ligado à lascívia e à depravação, com muitos vícios
com a Maçonaria que se propõe a combatê-los. Tal associação é vista por alguns através de
diversos Símbolos com grande representação negativa: o bode, o tirso, serpentes, o desasseio.
Por sinal, os festejos públicos deste Deus acabaram proibidos em Roma a partir de 186 a.C.
Deixando de lado os aspectos mitológicos, maçonicamente, encontramos razão de estudarmos
este estranho Deus grego, visto ter ele, assim como outros deuses agrários, completado uma
Viagem Iniciática ao submundo, isto é, ao inferno de Hades para resgatar sua mãe, Sêmele, e
entronizá-la entre os deuses do Olimpo. Portanto, pelo fato de haver morrido e ressuscitado
diversas vezes e, também, descido ao reino de Hades, é possível associar este Deus com o Mito
do eterno retorno, isto é, do nascimento, morte e ressurreição.”
Ainda:

“(…) Uma das principais fontes relativas ao culto de Dionísio está em ‘As Bacantes’, de
Eurípedes. É nesta tragédia que o autor sugere que os folguedos noturnos – com sua
agressividade, selvageria e mania – exemplificam um rito secreto: 
‘Penteu: – Dessas orgias por ti obtidas, qual a natureza?
Dionísio: – Aos não iniciados vedadas estão as coisas secretas.’
É a partir desta compreensão que se associa o culto de Dionísio com as sociedades secretas e,
daí, com a Maçonaria. Haveria em tudo que vimos caracterizar o Rito e o Mito deste Deus
grego elementos encontrados nos Ritos e Mitos da Maçonaria Especulativa Moderna?
Pois o relato do Mito e Ritual de Dionísio-Zagreu pode ser a chave para um dos preconceitos
mais arraigados associado com a Maçonaria Moderna. Este enredo foi trazido ao
conhecimento ocidental pelos autores cristãos da antiguidade. No referido enredo, Hera, ainda
enciumada com o filho de Sêmele, enviou titãs para encontrarem e exterminarem a criança.
Para se aproximarem do infante sem despertar suspeita, presenteiam-lhe com diferentes mimos
– chocalhos, espelho, ossinhos, pião, na sequência agarram-no, esquartejam-no colocando os
pedaços em um caldeirão para assarem e comê-los. Contudo, o coração da criança acaba nas
mãos de Atena (ou Reia, ou Deméter) que o entrega a Zeus e este, então, traz Dionísio outra
vez à vida. Um aspecto acabará proporcionando uma espécie de redenção destes mitos
macabros quando se der a aproximação do culto de Dionísio com o Orfismo, que admitia a
imortalidade e a reencarnação da alma pela purificação – contribuindo com a representação
do renascimento purificado.”
Comentários

Com relação ao Orfismo, nosso próximo Mistério, ainda que, ligado ao Culto de
Dionísio, faremos uma breve explanação, já que, não foram encontradas influências
diretas desse Mistério para com a Maçonaria.V

Antes, porém de adentrar no tema, é importante frisar sobre o que já foi dito sobre as
ressalvas necessárias. No trabalho anterior, fizemos questão de repassar o
pensamento de Frau Abrines, colhido pelo Irmão Nicola Aslan, sobre a questão de não
existir qualquer conexão histórica entre os mistérios antigos e a Maçonaria, e isso é
altamente relevante para nós.

Por isso, e somente por isso, ouçamos também o que disse o grande estudioso Alec
Mellor (ele estava se referindo ao que Ramsay havia defendido em seu discurso):

“Sob uma forma diferente, mas igualmente inaceitável, outros usaram desde o século XVIII, o
simbolismo comparado, ou, com maior exatidão, abusaram, a fim de procurar título ao Ritual
Maçônico. Raciocinaram por paralogismo, valorizaram semelhanças fortuitas, admitiram
analogias muito vagas, apresentaram como certezas comparações forçadas com muita
enfatuação, mas com bem pouco simples bom-senso, na falta de conhecimento históricos. (…)
O erro capital de alguns foi o de acreditar que os mistérios antigos comportavam um
ensinamento altamente filosófico destinado a uma elite de pensadores e, depois, de transportar
essa falsa hipótese no quadro da Maçonaria e mais particularmente nos Altos Graus. O erro
remonta, aliás, a uma época mais remota…”
O Orfismo

Era um culto de natureza religiosa e filosófica que teria sido instituído por Orfeu e teve
uma grande expansão nos séculos VII e VI a.C, na Grécia. Conforme o “Vade-Mécum
Maçônico”, os principais elementos que constituem a doutrina órfica são:
“I. No homem há um princípio divino, uma alma que caiu em um corpo para corrigir uma
imperfeição;
II. Essa alma não só preexiste ao corpo como também sobrevive a ele, estando destinada a
reencarnar em corpos sucessivos até que consiga depurar-se das imperfeições e dos erros que
a fazem voltar ao mundo.”
Ainda conforme o disposto no “Vade-Mécum Maçônico”, importante é levarmos em
consideração, o seguinte:
“De um modo geral, a mensagem órfica é a de que todos somos deuses, por herança divina. E
deveremos voltar a estar junto a Deus. Sem o orfismo não se explicaria a filosofia e a doutrina
de Pitágoras, nem a de Empédocles e, sobretudo, não se explicaria Sócrates e boa parte do
pensamento de Platão, bem como toda a tradição que deriva de ambos.”
O Irmão Luiz Vitório Cichoski, em seu excelente livro, já citado anteriormente,
intitulado “Fundamentos da Iniciação”, faz um relato da lenda em seus mínimos detalhes,
que não irei transcrever aqui por razões de espaço, mas, os seus comentários
posteriores, em parte, reproduzo na sequência:
“Modernamente, principalmente após a descoberta (1962), estudo e publicação (2005) dos
papiros de Darveni, na Macedônia, reconhece-se no orfismo ‘uma das mais antigas religiões
de mistérios grega… de influência persa, zoroastriana’. (…) Um de seus feitos fundamentais
guarda estreita relação com a Maçonaria, pois, é tido como ‘fundador das Iniciações’ e de
mistérios; para tanto se valia da catarse e de purificações. Contudo, ‘ignoramos o essencial da
Iniciação que se considerava fundada‘ por Orfeu. Dela conhecem-se apenas as exigências
preliminares: vegetarianismo, ascetismo, purificação, instrução religiosa (hierì lógoi, livros).
Dela também se conhecem as pressuposições teológicas: a transmigração e, por conseguinte, a
imortalidade da alma’.
REPORT THIS AD
Mais uma vez é preciso comparar as características do orfismo com a Maçonaria de nossos
dias. Quais os pontos de aproximação? Qual a possível herança órfica encontrada em nossa
Instituição? Recordando que os dois pontos fundamentais da teogonia órfica eram: a)
transmigração das almas e, b) a imortalidade das almas.  (…) Tanto o orfismo como o
pitagorismo defendiam além da dupla consideração para com a alma – imoralidade e
transmigração – com a punição no Inferno e o retorno final ao Céu; mais ainda, o
vegetarianismo, necessidade de purificações, ascetismo.
(…) Outra característica importante em um estudo pareado com a Maçonaria, é a
possibilidade de se reconhecer nos ‘órficos’ os sucessores dos grupos iniciatórios que, na
época arcaica, exerciam diferentes funções sob o nome de cabiros, telchines, curetes,
coribantes, dáctilos, grupos cujos membros guardavam ciosamente certos ‘segredos de ofício’
(eram metalúrgicos e ferreiros, mas também curandeiros, adivinhos, Mestre de Iniciação, etc.).
Os ‘segredos de ofício’ relacionados a diferentes técnicas que buscavam o domínio sobre a
matéria tinham simplesmente cedido lugar aos segredos’ referentes ao destino da alma depois
da morte’.”
Comentários

Os Mistérios Gregos, com certeza, não se esgotam aqui, há muito mais para ser
descoberto para aqueles que se interessem pelo assunto. O objetivo proposto era
mesmo abordar em parte, e em específico aqueles “Mistérios” que guardam uma
relação (e isso, me parece que mais em função de analogias) com alguns aspectos
das nossas Iniciações.

O Irmão Luiz Vitório Cichoski descreve ainda em seu livro, o culto de Átis e Cibele.

Para encerrar o assunto “Mistérios Gregos”, resolvo transcrever uma nota daquele que
foi um grande escritor e estudioso maçom, o Irmão Theobaldo Varoli Filho, que consta
em seu “Curso de Maçonaria Simbólica”, no volume primeiro, direcionado para o
Aprendiz, em seu capítulo X, todo ele concernente à Grécia, na parte reservada aos
Mistérios Gregos. Ninguém é obrigado a concordar na íntegra com o teor do texto que
vem a seguir, como eu mesmo não concordo em sua totalidade, mas, é sempre bom
ouvi-lo e tirar nossas próprias conclusões. Eis o que ele escreveu:
“NOTA DO AUTOR AO APRENDIZ – Por mais enfadonho que seja este nosso trabalho, ele
revela a nossa intenção de desmascarar certos mistificadores que nas lojas apregoam o caráter
‘maçônico’ dos mistérios dionisíacos e outros como os de Elêusis e de Orfeu. A Maçonaria
contemporânea prepara o aprendiz para a verdade e procura expurgar a Sublime Ordem dos
poucos mestres da mentira que ainda restam nas lojas. Uma coisa é estudar a evolução da
iniciática, outra coisa é anotar os títulos das lombadas de certos livros e inventar origens da
maçonaria, como o fizeram, lamentavelmente, muitos escritores maçons, abusando da boa-fé
de irmãos desavisados e, assim, encontrando acolhida e projeção de obras fundadas na
falsidade. Isso precisa ter fim e, aliás, foi uma das causas de afastamento de intelectuais da
Sublime Instituição.
O maçom de hoje pode reconhecer a origem iniciática do teatro grego, pois isso tem sérios
fundamentos. Pode haurir das obras de Sófocles os ensinamentos que inspiram ‘Antígona’,
‘Electra’, ‘As Trequinianas’, ‘Édipo-Rei’, ‘Ajax’, ‘Filoctetes’, ‘Édipo em Colona’, etc. Pode
admirar-se das peças de Eurípedes, como ‘Efigênia em Táurida’, ‘Efigênia em Áulis’,
‘Electra’, ‘Hipólito Coroado’, ‘As Troainas’ e outras. Pode supor que Eurípedes era um
iniciado, como sugere o citado verso das ‘Bacantes’. Pode maravilhar-se com Aristófanes, que
em ‘As Rãs’ previu a Lei de Gresham (a moeda má expele a boa) e em ‘As Nuvens’ se pôs a
criticar impiedosamente e mediocremente a filosofia de Sócrates, como criticou a outros
filósofos, inclusive os sofistas, os costumes gregos, a política, a religião, a guerra e a vaidade
ateniense, em outras suas obras como ‘As Vespas’, ‘As Aves’, ‘Lisístrata’, etc. Pode supor que
Ésquilo tenha sido iniciado em Elêusis, ainda que pouco se logre inferir do que restou dos
oitenta dramas que escreveu, entre os quais ‘Prometeu Agrilhoado’, ‘Os Persas’, ‘Os Sete
Chefes diante de Tebas’, ‘Agamenon’, ‘Coéforas’, ‘As Eumênidas’ e ‘As Suplicantes’. O que
não pode nem deve permitir é essa fantasia pela qual a Maçonaria seria filha e sucessora de
todas as organizações iniciáticas que passaram pelo mundo.”
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Eu diria que o texto acima é sempre atual, ainda que não admitamos concordar com o
mesmo ao pé da letra. Mesmo hoje, com toda a informação disponível, com todas as
pesquisas maçônicas que decorreram da época em que o Irmão Varoli escreveu o
texto até os dias de hoje, muita coisa ainda é publicada sem critérios exigentes, muitas
teorias fantasiosas continuam aparecendo, muitas conclusões pouco fundamentadas
idem. Ao realizarmos as pesquisas que os nossos trabalhos exigem, nos deparamos
volta e meia com textos circulando na Internet, ou até mesmo livros que foram
publicados recentemente, onde falta a devida sustentação. Eu acho que
fundamentalmente, o Irmão Varoli se referiu nessa sua nota aos Aprendizes, na base
de um alerta sobre a importância da boa leitura, da instrução maçônica ser bem
alicerçada, sem titubeios, e com certeza ele na essência do que proferiu, insinuou
sobre a velha questão de saber separar o joio do trigo.

Autor: José Ronaldo Viega Alves

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