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Há tanto para dizer sobre a Grécia antiga, o “berço da civilização”, pois, a Grécia
está presente em nossas vidas desde muito cedo, a mesma Grécia que inventou e
viu nascer através de alguns dos seus expoentes máximos como Sófocles e
Ésquilo, o gênero tragédia. Sinais dos tempos.
Este trabalho quer ser um pouco diferente somente em sua introdução, não
deixar de lado, ao mesmo tempo em que o foco principal reside no passado
desse país, comentar ligeiramente os momentos atuais, concomitantemente
falar da Grécia e as suas importantes contribuições para a civilização, e também
através de alguns “flashs” mostrar sobre a necessidade de ficarmos atentos aos
problemas que atingem outros países, até pelo simples fato de que hoje,
principalmente no terreno da macroeconomia, tudo acaba, mais cedo ou mais
tarde, repercutindo pelo mundo afora. E até nisso, a Grécia ainda pode ensinar-
nos alguma coisa.
O objetivo maior seguirá sendo, ao longo do trabalho, falarmos um pouco da
civilização grega e daquilo que, sem deixar de levar em consideração os prós e os
contras, realmente podemos considerar como contribuição dessa mesma
civilização para a Maçonaria.
Antes, como forma de mostrar um panorama geral das contribuições da Grécia à
humanidade, passo à reprodução de alguns trechos referentes ao editorial que o
filósofo Lúcio Packter escreveu para um número especial da revista “Filosofia”, e
que versou sobre a Grécia:
Como saber a real dimensão do que a Maçonaria teria bebido dessas fontes, e o
quanto nós Maçons sabemos dos tesouros do conhecimento grego?
A Grécia deixou três legados fundamentais para o mundo, entre outros tantos,
conforme o que foi citado anteriormente pelo filósofo Lúcio Packter. Mas,
vejamos sob outro ângulo: a Filosofia, a Democracia e o Teatro. Na Filosofia há
a liberdade de pensar sem ter de obedecer às imposições de cunho religioso. Na
Democracia, podemos conviver socialmente de forma que os opostos se
reconheçam e se respeitem. No Teatro, podemos vivenciar os horrores desta
vida, com base na representação, sem que haja a culpa ou o risco de sequelas.
(Vasconcellos, pág. 3, Jornal ZH, 21.07.2015)
De volta à Grécia
O Irmão José Castellani, em artigo publicado com o titulo de “Influência da Antiga Civilização
Grega na Simbologia Maçônica”, construiu uma bela e sucinta introdução sobre o que a cultura
grega produziu, e que transcrevo a seguir, com o intuito puro e simples de que a mesma
refresque as nossas memórias ou sirvam de passagem para a nossa máquina do tempo em sua
viagem pelo mundo grego, onde veremos as influências todas que direta ou indiretamente foram
assimiladas pela doutrina maçônica.
“Os grandes legados da civilização helênica, a todos os povos, foram, principalmente,
baseados na ciência, nas artes, na literatura e na religião. A poesia, heroica e religiosa,
surgiu na Trácia e em Delfos, no Templo de Apolo; constituíram-se os ciclos poéticos,
inspirados nos fatos históricos, derivando, dessas fontes, os imortais poemas “A ILÍADA” e “A
ODISSEIA”, de Homero. O período clássico da literatura grega desenvolve-se entre os séculos
V e IV a.C., quando a literatura dramática adquire a potência máxima e o teatro evolui,
deixando de ter a sua expressão apenas nas festas dedicadas ao deus Dionísio; a tragédia é
moldada com Pratinas, Frínico e Téspis, alcançando a perfeição com Sófocles, Ésquilo e
Eurípedes; a comédia toma formas com Epicarmo, Sofron e, principalmente, Aristófanes.
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Platão dizia que os Mistérios foram estabelecidos por homens de grande talento que, no início
dos tempos, se esforçaram para ensinar a pureza, para superar a crueldade da raça, para
exaltar sua moral e refinar seus modos e para conter a sociedade por meio de vínculos mais
fortes do que aqueles impostos pelas leis humanas. Sendo esses os seus propósitos, aquele que
se importa com a vida do homem, em geral, entrará em seus santuários desaparecidos com
compaixão; e se nenhum Mistério mais se liga ao que eles ensinaram – nem mesmo a sua
antiga alegoria da imortalidade -, há interesse permanente em seus ritos, em sua dramatização
e em seus símbolos empregados no ensinamento da sábia, virtuosa e bela Verdade. Estamos
cada vez mais seguros em afirmar que a ideia e o uso da iniciação, são tão antigos quanto a
Casa dos Homens da sociedade primitiva, pois eram universais e assumiram formas diferentes
em territórios diferentes.”
Comentários
A título de ilustração, e baseado em outro tanto no que até aqui foi exposto, considerando ainda
o trabalho que precedeu este, atentemos para alguns detalhes importantes que deveremos ter em
mente:
Os Mistérios eram praticados por vários povos da antiguidade, não era um privilégio
dos gregos, tanto que, aos Mistérios de Elêusis tem sido atribuídas várias origens, entre
elas, a egípcia, a cretense, a tessálica ou trácia.
Os Mistérios de Elêusis são considerados os mais importantes, ainda restando o
Pitagorismo, e esse, sem dúvida, por ter sido liderado por Pitágoras, bastante familiar aos
Maçons em virtude dos ensinamentos de Pitágoras serem constantes na Ordem
Maçônica. Havia outros Mistérios, com certeza. Ouçamos o Irmão Luiz Vitório Cichoski,
que à pág. 86 do seu livro, “Fundamentos da Iniciação”, diz assim: “Nos relatos
históricos da Maçonaria menções à Grécia são uma constante. São sempre lembrados os
Mistérios relativos às sociedades Eleusina, Órfica, Pitagórica, Dionisíaca.”
No que tange aos Mistérios Gregos, a prioridade então, é abordar somente aqueles que
possuem ligações mais perceptíveis com a Maçonaria no que se refere a sua herança, e
onde o Pitagorismo, com certeza, tem sua devida importância.
Quem foi Pitágoras?
Antes, vejamos uma biografia do filósofo e matemático Pitágoras, com dados extraídos do
“Dicionário de Maçonaria”, esse que já é um clássico do Irmão Joaquim Gervásio de
Figueiredo:
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Vou fazer um comentário bem sucinto, até pelo fato de possuir um trabalho, que foi publicado
pela revista “A Trolha” em sua edição de nº 325, Novembro/2013, que se intitulava
“Comentário e Síntese do Grau mais Histórico e Intelectual da Maçonaria: o de Companheiro
Maçom”. Pois é, lendo as considerações do Irmão Theobaldo Varoli Filho, principalmente
quando ele menciona que os ensinamentos pitagóricos tem maior alcance na doutrina maçônica
e que são estudados no Grau de Companheiro Maçom, eu me remeto àquele trabalho, onde entre
outras coisas eu escrevi: “Se existem poucas sessões de Companheiro, desculpa muito utilizada,
mas, verdade verdadeira, não poderá ser um impeditivo para que sejam montados grupos de
estudos em períodos pré-sessão, ou num outro dia, previamente escolhido, onde Companheiros
possam ouvir aos seus Mestres instrutores, sobre as questões todas que os afligem e assim
crescerem em conhecimento, bebendo da história, da ritualística, da filosofia e da ciência tão
presentes nesse que é o Segundo Grau da Maçonaria Simbólica.” Sem generalizar, mas,
Pitágoras, nem é tão falado assim, muito menos estudado como deveria.
O Pitagorismo
“O Pitagorismo não foi um movimento efêmero, mas muito sério; a prova disso é o seu extenso
período de influência; uma Escola que dava início às novidades provindas do intelecto. Seus
conhecimentos incursionavam pela filosofia, geometria, astronomia, matemática e música.
Primeiro desvendador da alma e precursor da psicologia, o seu saber envolvia misticismo,
verdades e fantasias. Pitágoras foi inovador em alguns princípios considerados tabus na
época, como o heliocentrismo, unidade invisível de Deus, igualdade de condições entre os
sexos, na transmigração das almas, ou metempsicose; na dissociação entre astronomia e
astrologia, a química com a alquimia e, sobretudo o amplo significado dos números. Afirmava
‘que todas as coisas são números’. É aqui que a Maçonaria encontra guarida de vez que
valoriza os números e com eles tece a tênue fusão entre o pensamento e a divindade. A Arte
Real dimensiona o Grande Arquiteto do Universo, usando a Geometria.
(…) Uma boa parte da religião e filosofia dos egípcios parece ter sido construída quase
totalmente sobre a ciência dos números; por isso, cada coisa na Natureza era explicada com
base neles. Os Pitagóricos os tinham em tão elevada opinião que chegavam a considerá-los
como a origem de toda as coisas, admitindo mesmo que o conhecimento dos números era
equivalente ao conhecimento de Deus. Os sacerdotes egípcios ensinaram a Pitágoras que,
enquanto a Mônada – número 1 – possuía a natureza de causa eficiente, dualidade era
meramente matéria passiva.
Um ‘ponto’ correspondia à Mônada, sendo ambos indivisíveis; e como a Mônada era o
princípio dos números, também o ponto, a sua vez, era das linhas. Uma linha, diz com
dualidade, sendo ambas consideradas como ‘transições’. A linha é um comprimento sem
largura, estendendo-se entre dois pontos. Uma superfície liga-se a tríade porque, em adição
ao dual, isto é, o comprimento e a largura, possuem a terceira propriedade, que é efetivada
pela atribuição de três pontos, sendo dois opostos entre si e o terceiro na junção das linhas
feitas pelos outros dois. Um sólido ou cubo representa a tétrada; se se dispuser três pontos em
forma triangular e colocar-se um quarto ponto central sobre eles, ter-se-á um corpo sólido na
forma de uma pirâmide, que tem três dimensões – comprimento, largura e altura.
Expressando sua opinião sobre os Corpos Regulares de Platão, os pitagóricos arguiam que
o mundo era feito por deus ‘em pensamento e não no Tempo’, e que havia Ele começado Sua
Obra com fogo e o 5º Elemento; por isso, há cinco figuras de corpos sólidos que são expressões
matemáticas. E dizem que a terra foi feita de um cubo, o fogo de uma pirâmide, o ar, de um
octaedro, a água de um icosaedro (20); e a Esfera do Universo, de um dodecaedro. E assim
foram deduzidas as combinações da Mônada com princípio de todas as coisas. Da Mônada
veio a dualidade indeterminada; delas duas vieram os números; dos números os pontos; dos
pontos, as linhas; das linhas, as superfícies; das superfícies, os sólidos; destes, os corpos
sólidos cujos elementos são quatro – fogo, água, ar e terra. De todos eles sob várias
transmutações, foi criado o mundo.
Pitágoras ensinou a seus discípulos a Geometria, da qual podiam ser capazes de deduzir uma
razão para todos os seus pensamentos e ações, bem como averiguar a verdade ou a falsidade
de qualquer proposição através do infalível processo de demonstração matemática. Assim
sendo, capazes de contemplar a realidade das coisas e detectar o embuste e a fraude
declarava-se estar no caminho que levava à felicidade perfeita. Tal era o ensino e a disciplina
das Confrarias Pitagóricas.”
Os Mistérios Dionisíacos
“Miticamente, e de acordo com Heródoto, Dionísio (Baco) era filho de Zeus e da mortal
Sêmele, filha do rei Cadmo e Harmonia. Essa ligação provocou em Hera um ciúme patológico
que a levou a convencer Sêmele de solicitar de Zeus uma prova de sua divindade, pois sabia ela
que tal evento eliminaria a rival. E assim deu-se. Percebendo Zeus que a amante estava
grávida, aninhou o prematuro ser na sua coxa até que se completasse o tempo, quando então o
heterogêneo divino-humano ser nasceu e recebeu o nome de Dionísio – dis (dois) + ónisos
(nascido). Desde então passou a ocultar-se de Hera que mantinha o desejo de eliminá-lo como
o fizera com sua mãe. Vários episódios compõem sua biografia onde perece e é ressuscitado
pelo pai, o Senhor do Olimpo.
É reconhecido como o Deus do vinho – que os romanos chamavam de Baco – e o
comportamento dos seus seguidores, envolvidos pelos efeitos etílicos, demonstra o lado
irracional, violento e incontrolável da libação. Sua corte, seus seguidores – as Mênades ou
Bacantes – são tomadas de surtos maníacos ferozes, durantes os quais cometem os maiores
desatinos.
Causa estranheza a associação deste Deus, ligado à lascívia e à depravação, com muitos vícios
com a Maçonaria que se propõe a combatê-los. Tal associação é vista por alguns através de
diversos Símbolos com grande representação negativa: o bode, o tirso, serpentes, o desasseio.
Por sinal, os festejos públicos deste Deus acabaram proibidos em Roma a partir de 186 a.C.
Deixando de lado os aspectos mitológicos, maçonicamente, encontramos razão de estudarmos
este estranho Deus grego, visto ter ele, assim como outros deuses agrários, completado uma
Viagem Iniciática ao submundo, isto é, ao inferno de Hades para resgatar sua mãe, Sêmele, e
entronizá-la entre os deuses do Olimpo. Portanto, pelo fato de haver morrido e ressuscitado
diversas vezes e, também, descido ao reino de Hades, é possível associar este Deus com o Mito
do eterno retorno, isto é, do nascimento, morte e ressurreição.”
Ainda:
“(…) Uma das principais fontes relativas ao culto de Dionísio está em ‘As Bacantes’, de
Eurípedes. É nesta tragédia que o autor sugere que os folguedos noturnos – com sua
agressividade, selvageria e mania – exemplificam um rito secreto:
‘Penteu: – Dessas orgias por ti obtidas, qual a natureza?
Dionísio: – Aos não iniciados vedadas estão as coisas secretas.’
É a partir desta compreensão que se associa o culto de Dionísio com as sociedades secretas e,
daí, com a Maçonaria. Haveria em tudo que vimos caracterizar o Rito e o Mito deste Deus
grego elementos encontrados nos Ritos e Mitos da Maçonaria Especulativa Moderna?
Pois o relato do Mito e Ritual de Dionísio-Zagreu pode ser a chave para um dos preconceitos
mais arraigados associado com a Maçonaria Moderna. Este enredo foi trazido ao
conhecimento ocidental pelos autores cristãos da antiguidade. No referido enredo, Hera, ainda
enciumada com o filho de Sêmele, enviou titãs para encontrarem e exterminarem a criança.
Para se aproximarem do infante sem despertar suspeita, presenteiam-lhe com diferentes mimos
– chocalhos, espelho, ossinhos, pião, na sequência agarram-no, esquartejam-no colocando os
pedaços em um caldeirão para assarem e comê-los. Contudo, o coração da criança acaba nas
mãos de Atena (ou Reia, ou Deméter) que o entrega a Zeus e este, então, traz Dionísio outra
vez à vida. Um aspecto acabará proporcionando uma espécie de redenção destes mitos
macabros quando se der a aproximação do culto de Dionísio com o Orfismo, que admitia a
imortalidade e a reencarnação da alma pela purificação – contribuindo com a representação
do renascimento purificado.”
Comentários
Com relação ao Orfismo, nosso próximo Mistério, ainda que, ligado ao Culto de
Dionísio, faremos uma breve explanação, já que, não foram encontradas influências
diretas desse Mistério para com a Maçonaria.V
Antes, porém de adentrar no tema, é importante frisar sobre o que já foi dito sobre as
ressalvas necessárias. No trabalho anterior, fizemos questão de repassar o
pensamento de Frau Abrines, colhido pelo Irmão Nicola Aslan, sobre a questão de não
existir qualquer conexão histórica entre os mistérios antigos e a Maçonaria, e isso é
altamente relevante para nós.
Por isso, e somente por isso, ouçamos também o que disse o grande estudioso Alec
Mellor (ele estava se referindo ao que Ramsay havia defendido em seu discurso):
“Sob uma forma diferente, mas igualmente inaceitável, outros usaram desde o século XVIII, o
simbolismo comparado, ou, com maior exatidão, abusaram, a fim de procurar título ao Ritual
Maçônico. Raciocinaram por paralogismo, valorizaram semelhanças fortuitas, admitiram
analogias muito vagas, apresentaram como certezas comparações forçadas com muita
enfatuação, mas com bem pouco simples bom-senso, na falta de conhecimento históricos. (…)
O erro capital de alguns foi o de acreditar que os mistérios antigos comportavam um
ensinamento altamente filosófico destinado a uma elite de pensadores e, depois, de transportar
essa falsa hipótese no quadro da Maçonaria e mais particularmente nos Altos Graus. O erro
remonta, aliás, a uma época mais remota…”
O Orfismo
Era um culto de natureza religiosa e filosófica que teria sido instituído por Orfeu e teve
uma grande expansão nos séculos VII e VI a.C, na Grécia. Conforme o “Vade-Mécum
Maçônico”, os principais elementos que constituem a doutrina órfica são:
“I. No homem há um princípio divino, uma alma que caiu em um corpo para corrigir uma
imperfeição;
II. Essa alma não só preexiste ao corpo como também sobrevive a ele, estando destinada a
reencarnar em corpos sucessivos até que consiga depurar-se das imperfeições e dos erros que
a fazem voltar ao mundo.”
Ainda conforme o disposto no “Vade-Mécum Maçônico”, importante é levarmos em
consideração, o seguinte:
“De um modo geral, a mensagem órfica é a de que todos somos deuses, por herança divina. E
deveremos voltar a estar junto a Deus. Sem o orfismo não se explicaria a filosofia e a doutrina
de Pitágoras, nem a de Empédocles e, sobretudo, não se explicaria Sócrates e boa parte do
pensamento de Platão, bem como toda a tradição que deriva de ambos.”
O Irmão Luiz Vitório Cichoski, em seu excelente livro, já citado anteriormente,
intitulado “Fundamentos da Iniciação”, faz um relato da lenda em seus mínimos detalhes,
que não irei transcrever aqui por razões de espaço, mas, os seus comentários
posteriores, em parte, reproduzo na sequência:
“Modernamente, principalmente após a descoberta (1962), estudo e publicação (2005) dos
papiros de Darveni, na Macedônia, reconhece-se no orfismo ‘uma das mais antigas religiões
de mistérios grega… de influência persa, zoroastriana’. (…) Um de seus feitos fundamentais
guarda estreita relação com a Maçonaria, pois, é tido como ‘fundador das Iniciações’ e de
mistérios; para tanto se valia da catarse e de purificações. Contudo, ‘ignoramos o essencial da
Iniciação que se considerava fundada‘ por Orfeu. Dela conhecem-se apenas as exigências
preliminares: vegetarianismo, ascetismo, purificação, instrução religiosa (hierì lógoi, livros).
Dela também se conhecem as pressuposições teológicas: a transmigração e, por conseguinte, a
imortalidade da alma’.
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Mais uma vez é preciso comparar as características do orfismo com a Maçonaria de nossos
dias. Quais os pontos de aproximação? Qual a possível herança órfica encontrada em nossa
Instituição? Recordando que os dois pontos fundamentais da teogonia órfica eram: a)
transmigração das almas e, b) a imortalidade das almas. (…) Tanto o orfismo como o
pitagorismo defendiam além da dupla consideração para com a alma – imoralidade e
transmigração – com a punição no Inferno e o retorno final ao Céu; mais ainda, o
vegetarianismo, necessidade de purificações, ascetismo.
(…) Outra característica importante em um estudo pareado com a Maçonaria, é a
possibilidade de se reconhecer nos ‘órficos’ os sucessores dos grupos iniciatórios que, na
época arcaica, exerciam diferentes funções sob o nome de cabiros, telchines, curetes,
coribantes, dáctilos, grupos cujos membros guardavam ciosamente certos ‘segredos de ofício’
(eram metalúrgicos e ferreiros, mas também curandeiros, adivinhos, Mestre de Iniciação, etc.).
Os ‘segredos de ofício’ relacionados a diferentes técnicas que buscavam o domínio sobre a
matéria tinham simplesmente cedido lugar aos segredos’ referentes ao destino da alma depois
da morte’.”
Comentários
Os Mistérios Gregos, com certeza, não se esgotam aqui, há muito mais para ser
descoberto para aqueles que se interessem pelo assunto. O objetivo proposto era
mesmo abordar em parte, e em específico aqueles “Mistérios” que guardam uma
relação (e isso, me parece que mais em função de analogias) com alguns aspectos
das nossas Iniciações.
O Irmão Luiz Vitório Cichoski descreve ainda em seu livro, o culto de Átis e Cibele.
Para encerrar o assunto “Mistérios Gregos”, resolvo transcrever uma nota daquele que
foi um grande escritor e estudioso maçom, o Irmão Theobaldo Varoli Filho, que consta
em seu “Curso de Maçonaria Simbólica”, no volume primeiro, direcionado para o
Aprendiz, em seu capítulo X, todo ele concernente à Grécia, na parte reservada aos
Mistérios Gregos. Ninguém é obrigado a concordar na íntegra com o teor do texto que
vem a seguir, como eu mesmo não concordo em sua totalidade, mas, é sempre bom
ouvi-lo e tirar nossas próprias conclusões. Eis o que ele escreveu:
“NOTA DO AUTOR AO APRENDIZ – Por mais enfadonho que seja este nosso trabalho, ele
revela a nossa intenção de desmascarar certos mistificadores que nas lojas apregoam o caráter
‘maçônico’ dos mistérios dionisíacos e outros como os de Elêusis e de Orfeu. A Maçonaria
contemporânea prepara o aprendiz para a verdade e procura expurgar a Sublime Ordem dos
poucos mestres da mentira que ainda restam nas lojas. Uma coisa é estudar a evolução da
iniciática, outra coisa é anotar os títulos das lombadas de certos livros e inventar origens da
maçonaria, como o fizeram, lamentavelmente, muitos escritores maçons, abusando da boa-fé
de irmãos desavisados e, assim, encontrando acolhida e projeção de obras fundadas na
falsidade. Isso precisa ter fim e, aliás, foi uma das causas de afastamento de intelectuais da
Sublime Instituição.
O maçom de hoje pode reconhecer a origem iniciática do teatro grego, pois isso tem sérios
fundamentos. Pode haurir das obras de Sófocles os ensinamentos que inspiram ‘Antígona’,
‘Electra’, ‘As Trequinianas’, ‘Édipo-Rei’, ‘Ajax’, ‘Filoctetes’, ‘Édipo em Colona’, etc. Pode
admirar-se das peças de Eurípedes, como ‘Efigênia em Táurida’, ‘Efigênia em Áulis’,
‘Electra’, ‘Hipólito Coroado’, ‘As Troainas’ e outras. Pode supor que Eurípedes era um
iniciado, como sugere o citado verso das ‘Bacantes’. Pode maravilhar-se com Aristófanes, que
em ‘As Rãs’ previu a Lei de Gresham (a moeda má expele a boa) e em ‘As Nuvens’ se pôs a
criticar impiedosamente e mediocremente a filosofia de Sócrates, como criticou a outros
filósofos, inclusive os sofistas, os costumes gregos, a política, a religião, a guerra e a vaidade
ateniense, em outras suas obras como ‘As Vespas’, ‘As Aves’, ‘Lisístrata’, etc. Pode supor que
Ésquilo tenha sido iniciado em Elêusis, ainda que pouco se logre inferir do que restou dos
oitenta dramas que escreveu, entre os quais ‘Prometeu Agrilhoado’, ‘Os Persas’, ‘Os Sete
Chefes diante de Tebas’, ‘Agamenon’, ‘Coéforas’, ‘As Eumênidas’ e ‘As Suplicantes’. O que
não pode nem deve permitir é essa fantasia pela qual a Maçonaria seria filha e sucessora de
todas as organizações iniciáticas que passaram pelo mundo.”
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Eu diria que o texto acima é sempre atual, ainda que não admitamos concordar com o
mesmo ao pé da letra. Mesmo hoje, com toda a informação disponível, com todas as
pesquisas maçônicas que decorreram da época em que o Irmão Varoli escreveu o
texto até os dias de hoje, muita coisa ainda é publicada sem critérios exigentes, muitas
teorias fantasiosas continuam aparecendo, muitas conclusões pouco fundamentadas
idem. Ao realizarmos as pesquisas que os nossos trabalhos exigem, nos deparamos
volta e meia com textos circulando na Internet, ou até mesmo livros que foram
publicados recentemente, onde falta a devida sustentação. Eu acho que
fundamentalmente, o Irmão Varoli se referiu nessa sua nota aos Aprendizes, na base
de um alerta sobre a importância da boa leitura, da instrução maçônica ser bem
alicerçada, sem titubeios, e com certeza ele na essência do que proferiu, insinuou
sobre a velha questão de saber separar o joio do trigo.