Você está na página 1de 287

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

BEHAVIORISMOS:
REFLEXÕES HISTÓRICAS E
CONCEITUAIS

DIEGO ZI LIO
KESTER CARRARA
organizadores

VOLUME 1

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Behaviorismos: reflexões históricas e conceituais, volume I / Diego Zilio,


Kester Carrara (organizadores). - São Paulo : Paradigma Centro de Ciências e
Tecnologia do Comportamento, 2016.

Vários autores
ISBN 978-85-69475-02-6

1. Behaviorismo (Psicologia)l
2. Psicologia - Filosofia
3. Psicologia - História I. Zilio, Diego. II. Carrara, Kester.

16-06338 CDD-150.9

índices para catálogo sistemático:


1. Behaviorismos: Psicologia : História 150.9

editor Paradigma Centro de Ciências e


Tecnologia do Comportamento

projeto gráfico e diagramação Mila Santoro

Agosto de 2016

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

AUTORES

Alexandre Dittrich
Professor Associado da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutor em
Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Graduado em Psicologia
pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB).

Bruno Angelo Strapasson


Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutor em Psicologia
Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em Psicologia
do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) -
Bauru. Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Diego Zilio
Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Doutor em
Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre
em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Marília. Graduado em
Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru.

Emilio Ribes Inesta


Professor do Centro de Estudos e Investigações sobre Conhecimento e
Aprendizagem Humana da Universidade Veracruzana. Doutor em Filosofia pela
Universidade Nacional Autônoma do México. Mestre em Psicologia Experimental
pela Universidade de Toronto. Graduado em Psicologia pela Universidade Nacional
Autônoma do México.

Isaias Pessotti
Professor Titular da Universidade de São Paulo (USP) - Ribeirão Preto. Doutor em
Ciência (Psicologia) pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em
Filosofia da Ciência pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) - São Paulo.
Graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo.

Jay Moore
AUTORES

Professor Emérito da Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Doutorem Psicologia


Experimental pela Universidade da Califórnia - San Diego. Mestre em Psicologia
Experimental pela Universidade de Western Michigan. Graduado em Psicologia pelo
BEHAVIORISMOS |

Kenyon College.

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

John C. Malone
Professor da Universidade do Tennessee - Knoxville. Doutor em Psicologia
Experimental pela Universidade de Duke. Graduado em Psicologia pela Universidade
Estadual de Nova York (5UNY) - Albany.

José Antônio Damásio Abib


Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Doutor em
Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em
Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Graduado
em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB).

Kester Carrara
Professor Livre-Docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru.
Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Marília. Mestre
em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru. Bolsista
de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Maria do Carmo Guedes


Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Doutora
em Ciências Humanas - Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de
São Paulo. Especialista em Psicologia Social e Experimental pela Universidade de São
Paulo (USP) - São Paulo. Graduada em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP)
- São Paulo.

Renato Ferreira de Souza


Professor Adjunto da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Doutor em Psicologia
Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Mestre em Psicologia
Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Graduado em
Psicologia pelo Centro Universitário Newton Paiva.

Ricardo Pérez-Almonacid
Professor do Centro de Estudos e Investigações sobre Conhecimento e
Aprendizagem Humana da Universidade Veracruzana. Doutor em Ciências do
AUTORES

Comportamento pela Universidade de Guadalajara. Mestre em Psicologia pela


Universidade Nacional da Colômbia. Graduado em Psicologia pela Universidade
Nacional da Colômbia.
BEHAVIORISMOS |

Robert H. Wozniak
Professor do Bryn Mawr College. Doutor em Psicologia do Desenvolvimento pela
Universidade de Michigan. Graduado em Psicologia pelo College of the Holy Cross.

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

SUMÁRIO

PREFÁCIO 11

APRESENTAÇÃO 15

1 O ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990) 19


Kester Carrara

2 I. M. SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO 33


CÉREBRO"
Isaias Pessotti

3 I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS 55


ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES
Diego Zilio

4 J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO 83


DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO
BEHAVIORISMO
Alexandre Dittrich

5 E. LTH O R N D IK E (1874-1949): REVOLUÇÃO E 113


CONTRARREVOLUÇÃO
José Antônio Damásio Abib

6 O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON 131


(1878-1958)
Bruno Angelo Strapasson

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

7 A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF 159

HUM AN BEHAVIOR
Robert H. Wozniak

8 G. H. MEAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS 175


POSSIBILIDADES
Renoto Ferreira de Souza
Maria do Carmo Guedes

9 E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR 199


EVERYONE
John C. Malone

10 THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE 223


(1907-1967)
Jay Moore

11 LA PSICOLOGIA INTERCONDUCTUAL DE 255


J.R. KANTOR (1888-1984)
Emilio Ribes Ihesta
Ricardo Pérez-Almonacid

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

PREFÁCIO

Conta a lenda que Newton, o físico, sugeria que suas importantes descobertas
haviam acontecido porque seus conhecimentos encontravam-se "em pé" sobre
ombros de gigantes. Essa ideia foi literalmente trazida para o campo da Análise do
Comportamento por Skinner, na afirmação de uma ciência capaz de dar conta do
Comportamento Humano (Skinner, 1953, Capítulo 2). Esses gigantes a quem eles -
Newton e Skinner - faziam referência eram outros cientistas que tinham olhado para
a realidade e feito sobre ela algumas declarações a partir do método científico. Tais
declarações, reunidas em obras, ocupariam o papel de ombros, e ao mesmo tempo
de base, para que a visibilidade atual do objeto de estudo de qualquer ciência fosse
mais ampla no horizonte científico.
Anteriormente, o próprio Skinner (1945) já havia afirmado que a Ciência não
era uma declaração da verdade: ela nada mais é do que o comportamento verbal
dos cientistas. Um comportamento verbal que "se dá" possível em seu tempo de
ocorrência, registrado por uma série de declarações permitidas ao cientista por seu
método de estudo. Declarações estas que poderiam ser melhores ou piores sobre a
realidade, segundo alguns critérios, mas certamente sempre parciais e acumulativas.
O que Skinner propõe é uma análise científica do comportamento verbal, inclusive do
próprio cientista, para que possamos entender o avanço do conhecimento científico.
Behoviorismos é uma obra brilhantemente organizada por Diego Zilio e Kester
Carrara que cumpre exatamente essas funções. Em um tempo, nos dá plena
consciência de qual é nossa base, ou seja, sobre quais ombros nosso conhecimento
atual sobre o comportamento científico repousa. Faz-nos parar momentaneamente
de olhar os horizontes do nosso objeto de estudo - o comportamento - e passa a
fazer-nos conhecer nossas raízes do conhecimento. A sensação resultante da leitura
do livro é a de que agora podemos seguir em frente, em nossa busca de novas
PREFÁCIO

declarações, com firmeza!

11

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Em outro tempo, Behaviorismos apresenta uma análise muito mais do que


histórica ou filosófica de toda a trajetória e vida dos gigantes-autores que nos
permitiram olhar o horizonte mais ao longe e além. Destaca ainda as grandes
contribuições e pinça as declarações verbais mais importantes desses autores
primordiais. Projeta, a partir do crescimento do conhecimento construído até então,
melhores direções e melhores focos para onde movimentarmos e inquietarmos
nosso olhar.
Para essa tarefa, os organizadores reuniram uma plêiade de autores experts
em outros autores, que nos arremessam, por meio da leitura deste livro, em uma
verdadeira Terra de Gigantes estudiosos do comportamento. Conseguem fazer-nos
olhar para as bases e argumentam o quanto as raízes do nosso conhecimento estão
fincadas numa terra firme à qual alguns denominaram um dia de Ciência Natural,
e dentro dela um território que nos é tão caro chamado por muitos de Psicologia.
Analisam, destrincham e interpretam com uma nova e surpreendente metabase
aquilo que já foi projetado como cânone de interpretação do comportamento
humano - neste caso especial, o comportamento verbal daqueles cientistas que
construíram os behaviorismos.
O livro é aberto por um texto de Kester Carrara sobre B. F. Skinner (Capítulo 1). É
o prenúncio de qual é a Roma a que todos os caminhos irão levar: os capítulos de
Behaviorismos argumentam sobre os ombros de quem Skinner fincou suas bases e de
quem alçou voo a partir de seus ombros.
Tomando impulso na análise do papel de fisiólogos, e apontando tanto para a
delimitação do objeto de estudo quanto para o desenvolvimento de conceitos e
métodos de conhecimento sobre o comportamento, Isaías Pessotti e Diego Zilio
apresentam e analisam as obras de Sechenov (Capítulo 2) e Pavlov (Capítulo 3),
respectivamente. Na mesma linha, mostrando a importância da "exploração das
fronteiras entre fisiologia e psicologia", Alexandre Dittrich apresenta a vida e a obra de
Loeb (Capítulo 4). Este teria exercido uma importante influência na obra de Skinner
além de ter sido um orientador intelectual importante para Watson (Capítulo 6), que
tem sua história contada para nós por Bruno Strapasson. Watson, ao declarar seu
Manifesto Behaviorista, causou impacto e estabeleceu as bases de compromisso com
que parte significativa dos autores abordados neste livro estariam comprometidos
em suas obras.
PREFÁCIO

Nesse caminho para localizar e firmar a psicologia entre as ciências naturais, outro
autor relevante é trazido para o foco: contemporâneo de Watson, Weiss (Capítulo 7)

12

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

nos é apresentado via sua busca de encontrar, conforme Robert H.Wozniak,"a relação
entre as bases fisiológicas e a relevância social do comportamento".
O momento histórico contado até aqui já tem o behaviorismo declarado.
No entanto, histórias paralelas de chegada a pontos semelhantes são então
desdobradas. Inspirado em elementos históricos "próximos, mas distantes" do
behaviorismo de Watson, José Antonio Damásio Abib se ocupou da trajetória
"inovadora e revolucionária" de Thorndike (Capítulo 5). Este teria chegado mais
claramente ao estudo do comportamento humano via Darwin, propondo a
interpretação do comportamento instrumental e da Lei do Efeito. Conduzido pelo
mesmo caminho darwinista, Mead (Capítulo 8) tem suas propostas de interpretações
de se/f social mente construído analisadas neste livro por Renato Ferreira de Souza e
Maria do Carmo Guedes.
Em seguida, algumas outras bases do behaviorismo - podemos dizer,
compartilhadas com o behaviorismo radical - poderão ser encontradas nas propostas
de Guthrie (Capítulo 9), com sua predileção pela matemática, sua concepção sobre
aprendizagem e a psicopatologia vista como normal. Este autor teve sua obra
traçada neste livro por John Malone, que ainda ressalta os contornos contextualistas
de sua obra.
A história de Behaviorismos aqui contada segue em frente retomando a veia
respondente do behaviorismo. A linha watsoniana, via Hull, é representada aqui pelo
neo-behaviorismo de Spence (Capítulo 10). Jay Moore esmiúça as contribuições
desse autor, especialmente, por meio dos conceitos de transposição no controle de
estímulos e da redução de drive, tanto nas interpretações sobre o comportamento
respondente quanto no instrumental positivo e negativo.
Fechando este volume, Emilio Ribes lhesta e Ricardo Pérez-Almonacid apresentam
o interbehaviorismo de Kantor (Capítulo 11), um autor reconhecido pelo próprio
Skinner como uma influência em sua obra, mas que se afasta dele, segundo os
autores, por rupturas marcantes. Uma delas, de caráter lógico, quando Kantor rompe
com o modelo de análise e explicação molecular do comportamento e propõe a
lógica de campo, que identifica todo fenômeno psicológico como um campo de
relações interdependentes dos elementos que o compõem.
Como pode ser depreendido da leitura até aqui, Behaviorismos é mais que uma
obra de filosofia ou de história de parte da Ciência Psicológica; trata-se de uma
PREFÁCIO

verdadeira árvore genealógica de pensamentos. Explica e delineia nossas origens.


Esclarece e sossega e a partir da sua leitura podemos dizer "de onde viemos". E nos

13
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

assegura de que estamos incorporados em uma cultura que prioriza um "olhar


especial"para o comportamento que leva a um conhecimento nunca antes alcançado
sobre o outro e sobre nós mesmos.

Roberto Alves Banaco


Inverno de 2016

Referencias
Skinner, B. F. (1945). The operational analysis of psychological terms. Psychological
PREFACIO

Review, 52,270-277.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: MacMillan.

14

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

APRESENTAÇÃO

A proposta de publicação deste livro decorre do convívio acadêmico dos


organizadores com a identificação, debate e desenvolvimento de pressupostos,
princípios e conceitos que contextualizaram o surgimento da versão skinneriana
da filosofia de ciência behaviorista e da própria ciência consolidada como Análise
do Comportamento. Pelo menos uma razão compatível com a sólida formação de
analistas do comportamento justifica a apresentação do conteúdo subsequente,
qual seja a impossibilidade concreta da compreensão de grande parte da proposta
behaviorista radical sem um razoável contato com o espírito de época que
acompanhou o desenvolvimento histórico antecedente à formulação da proposta
do behaviorismo atual.
É compreensível que na maioria dos conteúdos curriculares oferecidos nos
cursos de Psicologia não estejam detalhadamente presentes as construções teórico-
epistemológicas que historicamente embasaram abordagens e escolas psicológicas,
incluídas as que pereceram, as que sobreviveram e aquelas que deixaram suas
indeléveis marcas no cenário contemporâneo dos principais debates científico-
filosóficos acerca das atividades dos organismos vivos. Inevitavelmente, o estudante
e o estudioso de Psicologia, ao optarem e se empenharem no domínio de uma das
mediações teóricas à sua escolha, são confrontados com a irrenunciável tarefa de
recuperar influências, estudar trajetórias e compreender em maior profundidade
tanto as transformações gradativas quanto as mudanças radicais derivadas do caráter
dinâmico do entorno científico, acadêmico e social de sua área de interesse.
Não foi diferente com o behaviorismo. Não se formularam repentinamente e
isentas de importantes influências as propostas de Watson e Skinner, do mesmo
modo como não tiveram origem única em Hume ou Mach algumas das mais
APRESENTAÇÃO

importantes reflexões sobre o fazer ciência. Em adição, para além de Skinner,


seguramente o autor behaviorista mais lido e discutido (especialmente na literatura
analítico-comportamental brasileira), são vários e variados os autores que foram

15
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

relevantes para a construção e o estabelecimento das práticas culturais behavioristas


no contexto geral da psicologia científica. Pode-se dizer que não há apenas uma
configuração possível de behaviorismo. Existem behaviorismos.
Isso posto, e cientes de que sempre serão inesgotáveis e múltiplas as fontes
marcadamente indispensáveis para uma compreensão consistente do behaviorismo
contemporâneo, reunimos neste volume parte relevante das influências e
convivências conceituais associadas à formulação e consolidação da Análise
do Comportamento através da apresentação de alguns autores historicamente
importantes, cujas obras foram aqui descritas e analisadas sucintamente por
profissionais referenciados na literatura da área.
Este primeiro volume inicia-se com capítulo de Kester Corraro dedicado a B.
F. Skinner, no qual é ressaltado o desafio de discorrer sobre a personagem mais
celebrada e polêmica do movimento behaviorista a fim de delimitar os possíveis
elementos centrais de seu behaviorismo radical.
Em seguida, Isoios Pessotti escreve sobre I. M. Sechenov, fisiólogo russo responsável
por criar um dos primeiros modelos sistemáticos de explicação do comportamento a
partir do conceito de reflexo.
Considerado o precursor do estudo fisiológico do comportamento na Rússia,
Sechenov foi influência notável na formação de I. P. Povlov, foco de análise de Diego
Zilio. Em seu capítulo, são traçadas algumas das principais características da proposta
pavloviana tendo como pano de fundo considerações de Skinner sobre Pavlov, haja
vista que o segundo foi uma das principais influências na formação do primeiro.
Alexandre Dittrich, por seu turno, dedica capítulo a J. Loeb. Tendo sido professor
de Watson e influência direta (através de seus escritos) e indireta (pela mediação
de W. J. Crozier) na formação de Skinner, Loeb é peça central para compreender o
behaviorismo enquanto proposta de ciência natural do comportamento.
E. L Thorndike é outro autor cuja relevância para o desenvolvimento da ciência
do comportamento é costumeiramente negligenciada. José Antônio Damásio
Ablb reflete em seu capítulo sobre o legado de Thorndike e o seu lugar entre os
comportamentalistas, fazendo contraponto entre o aspecto revolucionário de sua
lei do efeito e de sua metodologia de pesquisa experimental e as características
conservadoras e ideológicas de sua filosofia social e projeto educacional.
APRESENTAÇÃO

Bruno Angelo Strapasson, por sua vez, discorre sobre J. B. Watson. Considerado por
alguns como o fundador do behaviorismo, Watson talvez seja um dos autores mais
citados da Psicologia, ainda que se possa conjecturar que ele, ao mesmo tempo, seja

16

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

também um dos autores menos lidos apropriadamente. Nesse contexto, o capítulo


dedicado ao autor cumpre a função de apresentar os principais elementos filosóficos,
conceituais e metodológicos do behaviorismo clássico de Watson.
Robert H. Wozniak aborda em seu capítulo o behaviorismo de A R Weiss.
Contemporâneo de Watson, Weiss talvez seja um dos principais (senão o principal)
proponentes do behaviorismo que, nos estágios iniciais do movimento, dedicou parte
considerável de sua obra aos desdobramentos filosóficos de sua adoção na Psicologia.
Renato Ferreira de Souza e Maria do Carmo Guedes tratam de outro autor usualmente
associado ao behaviorismo, mas cuja importância é majoritariamente reconhecida
apenas em textos de história da psicologia social: G. H. Mead. Considerado um dos
fundadores da psicologia social norte-americana, Mead é um daqueles autores difíceis
de classificar: Seria behaviorista? Pragmatista? Interacionista simbólico? Diante dessa
situação, o capítulo de Souza e Guedes pretende apresentar elementos históricos,
biográficos e conceituais da teoria meadiana a fim de prover um ponto inicial de
contato com a sua obra.
E. R. Guthrie é o autor abordado no capítulo de John C. Malone. Caracterizada
como uma forma elegante (pela sua simplicidade) e sofisticada (pelo seu alcance
explanatório) de associacionismo, a teoria da aprendizagem de Guthrie é apresentada
em seus detalhes por Malone, que também dá atenção especial à sua aplicação em
diversas dimensões da análise do comportamento.
O neobehaviorismo de K. W. Spence é o tema do capítulo de JayMoore. De modo
geral, o neobehaviorismo é caracterizado pelo uso de explicações que incluem
eventos mediacionais hipotéticos para além das relações observadas entre estímulos
e respostas. Os neobehavioristas mais conhecidos são L. Hull, E. C.Tolman e Spence
(os dois primeiros serão tratados no segundo volume deste projeto). Ao lado de Hull,
Spence foi responsável por desenvolver modelos teóricos sobre aprendizagem e
motivação que ainda hoje são utilizados em análises comportamentais.
O presente volume é finalizado com capítulo de Emilio Ribes lhesta e Ricardo
Pérez-Almonacid dedicado a J. R. Kantor. Outro contemporâneo de Skinner, sua
obra abrange estudos minuciosos da história da psicologia, epistemologia, lógica,
gramática, cultura, fisiologia e, até mesmo, a tragédia humana (como fenômeno
artístico, social e natural).
APRESENTAÇÃO

Aproveitamos para agradecer a todos os colaboradores que gentilmente acederam


ao convite para escrever sobre a trajetória histórica do comportamentalismo.
Agradecemos também ao Núcleo Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do

17

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Comportamento; especialmente a Roberto Banaco, por ter acreditado no projeto


quando ainda era um breve rascunho com os nomes dos"behavioristas"e dos possíveis
colaboradores que participariam, e a Roberta Kovac, responsável pela editora do
Núcleo Paradigma, que conduziu o processo editorial de maneira exemplar, sempre
cuidadosa e atenciosa.
Por fim, gostaríamos de dedicar este livro a todos aqueles que, no passado,
contribuíram para a criação e manutenção das contingências sociais fomentadoras
da prática cultural científica analítico-comportamental.
APRESENTAÇÃO

18

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

1 O ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990)

Kester Carrara

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Ocupa-me a responsabilidade de escrever sobre o mais polêmico quanto


celebrado dos behavioristas. Fazê-lo implica um trânsito cuidadoso entre minúcias
de sua extensa obra e dimensões contextuais imprescindíveis a uma interpretação
criteriosa dos pressupostos básicos de seu pensamento científico.
De muitas maneiras se pode escrever e já se escreveu sobre B. F. Skinner, seja
recuperando sua biografia, destacando as polêmicas ensejadas por sua obra e seu
posicionamento teórico diante delas, resenhando ou analisando seus achados
científicos. Entretanto, este ensaio, por sua própria finalidade e movido pela existência
de ampla e consistente literatura sobre os aspectos já mencionados, tenciona explicitar
dimensões essenciais e irrenunciáveis do Behaviorismo Radical e da Análise do
Comportamento, apenas incidentalmente se detendo em detalhes de sua trajetória
histórica. O leitor não encontrará nele sequer um breve sinal dos intrincados detalhes
que por vezes atravessam sua obra. Não se trata, naturalmente, de uma exposição de
princípios comportamentais, o que já foi feito, desde Keller e Schoenfeld (1950), de
modo bastante competente por outros analistas. Além disso, o cenário histórico que
precedeu, e por vezes ensejou o aparecimento do Behaviorismo Radical de Skinner, é
descrito de modo preciso nos próximos capítulos por colegas altamente qualificados.
O que poderá, então, o leitor encontrar na sequência, senão apenas as impressões de
um profissional interessado, desde 1969, pela obra de Skinner? Que critérios, ademais,
poderiam remeter ao que é imprescindível em seu trabalho?
Para conduzir uma análise do que se constitua indispensável sem, contudo,
transformar este ensaio em reunião de escolhas pessoais, adotarei um roteiro que,
1 | 0 ESSENCIAL EM B.F. SKINNER (1904-1990)

embora arbitrário, destaca ofundamental da obra Skinner segundo algumas categorias


formuladas no âmbito geral da avaliação de matrizes conceituais da Psicologia:
pressupostos filosóficos; formulações conceituais; aplicações; implicações políticas,
éticas e ideológicas do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento.
Adotadas essas categorias, a organização do texto distribui sistematicamente o
conjunto da obra skinneriana em aspectos considerados fundamentais no contexto
desta coletânea, ao mesmo tempo em que facilita ao leitor o acesso crítico à agreste
tarefa de examinar tão extensa e valiosa obra com a responsabilidade de proceder à
escolha do que seja menos ou mais relevante.

21

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

"Critérios" para escolha de conceitos seminais


Evidentennente, nãoéa frequência de ocorrência determos e conceitos em sua obra
que, necessariamente, delimita o que é mais importante no contexto paradigmático
da proposta de Skinner. De todo modo, um contraexemplo no mínimo coincidente
pode ser encontrado tomando-se Science and Human Behavior (1953) como texto
representativo do conjunto produzido pelo autor: ali, encontramos 1145 repetições
de control e suas variantes; 156 de contingencies; 72 de functional; 56 de relations; 662
de reinforcement; 208 de consequences e mais de 2000 de behavior. Curiosamente,
entretanto, apenas nove de selection e nenhuma de radical ou de behaviorism.
Se, por um lado, o critério de frequência de ocorrência não parece ser decisivo
para considerar quais palavras sugerem diretamente o centro das reflexões
skinnerianas, tais termos ensejam chegar a expressões ou arranjos sistemáticos
de formulações organizadas de tal modo a expressar princípios indispensáveis
da Análise do Comportamento construída com apoio filosófico do Behaviorismo
Radical. Naturalmente, tal como ocorre com a maioria dos grandes nomes da Ciência,
Skinner fez contato, durante toda a extensão de sua formação, com amplo (mas, a um
só tempo, seletivo) grupo de autores. Listar as influências intelectuais que recebeu
passaria pela inclusão de Francis Bacon, David Hume, Ivan Pavlov, William James, Ernst
Mach e inúmeros outros, sem que o rol pudesse algum dia ser considerado completo,
já que seus textos revelam um domínio importante de História, Antropologia, Filosofia,
Psicologia, Biologia e Literatura, passando pelos gregos e por nomes e interesses
intelectuais tão variados quanto os representados por Bronisfaw Malinowski,
Ludwig Wittgenstein, John B. Watson, Charles Darwin e mesmo Johann W. Gõethe
e William Shakespeare. Entretanto, tome-se em conta que sua leitura seletiva é, aqui,
instrumentalmente orientada pela finalidade de construção de uma ciência (natural)
do comportamento. Mesmo quando se considera o físico austríaco Mach como
| 0 ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990)

uma das influências mais decisivas para a formulação conceitual-epistemológica


comportamentalista de Skinner, parece necessário contextualizá-la e considerá-la no
âmbito de finalidades e características de uma ciência suigeneris como a sua Análise
do Comportamento.
É nesse cenário que Skinner escreve vários artigos desde a conclusão de sua tese
de doutorado (1930/31) até a publicação de seu primeiro livro (1938). Neste, aparecem
alguns conceitos que serão mais adiante retocados ou abandonados por ele (drive
e força do reflexo são exemplos memoráveis). No entanto, embora seja possível
polemizar frequentemente sobre algumas formulações fundamentais de Skinner (as

22

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

noções de comportamento, cultura e sobrevivência da cultura, por exemplo), é notável


a consistência interna dos princípios básicos (propriamente derivados de uma análise
experimental) entre si e destes em relação a conceitos desenvolvidos indiretamente
com auxílio de reflexões teóricas (como em Verbal Behavior, 1957).
Essa coerência conceitual-experimental majoritária em Skinner adquire uma
importância adicional quando se considera que sua obra não deriva, simplesmente,
de mero somatório de influências múltiplas de outros pensadores na história da
Ciência. Resulta, diferentemente, de uma articulação profícua e rigorosa, durante
aproximadamente 60 anos de trabalho (1930-1990), das relações entre pesquisa
empírica e desenvolvimento teórico, o que, na metade final desse período, já suscitava
o interesse e dedicação adicionais de muitos pesquisadores sensibilizados com os
prognósticos de um promissor futuro para a Análise do Comportamento.
O cenário em que se revela a importância da obra skinneriana, portanto, tem
características únicas, especialmente no âmbito da Psicologia. Diferencia-se em
relação a outras (relevantes) abordagens, justamente, por fazer avançar suas bases
para além de uma estrita tarefa conceituai ou de uma descontextualizada tarefa
experimental, reunindo-as sob acurada análise de coerência e compatibilidades.
Terá sido em parte por essas razões que Skinner, ao ser apontado nos anos
quarenta como ateórico e anti-teórico, esclarece, pacientemente, em artigo de 1950
{Are theories oflearning necessary?), as exatas condições sob as quais admitirá "teorizar".
Como explicitamos em outra ocasião:

Skinner inicialmente recupera alguns conceitos acerca da questão para


explicar que o termo teoria a que se refere [e desaprova em suas críticas] é
o que inclui em seu significado a explicação de um fato observado com
apelo a ações que ocorrem noutro lugar, noutro nível de observação e cuja
1 | O ESSENCIAL EM B.F. SKINNER (1904-1990)

mensuração se faz em conformidade com outras dimensões que não as


derivadas da própria situação e do próprio comportamento envolvidos. É
essencialmente a esse tipo de teoria que ele faz as restrições que justificam
o título de seu controvertido artigo. É nessa perspectiva que Skinner objeta a
três tipos de teorias: as neurofisiológicas, as mentalistas e as conceituais que,
respectivamente, ou (1) apelam à explicação do comportamento com base
numa concepção não empírica de funcionamento do sistema nervoso central,
ou (2) fazem referência a causas do comportamento localizadas na mente (para
ele um constructo hipotético constantemente associado a razões teleológicas

23
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

para o comportamento) ou, finalmente, (3) movem-se num campo onde não
há fatos observáveis diretamente.
(Carrara, 1994, p. 43)

Já nessa época, as objeções de Skinner sinalizam sua segurança em relação à


possibilidade de consolidar sua proposta conceituai em bases que não aceitavam o
apelo a estruturas hipotéticas destinadas à explicação das atividades dos organismos
em suas interações com o ambiente. Nesse aspecto, o Behaviorismo Radical enseja
um conjunto de pressupostos, de regramento lógico e de condições sine qua non
ao projeto empírico da Análise do Comportamento que, embora possam vir a ser
remodelados por esta, não os distorce, deles não desvia, não infringe regras no
âmbito da filosofia de ciência escolhida. O liame entre filosofia de ciência e ciência
é claro o suficiente para garantir consistência interna entre o que explicar e como
fazê-lo. O que explicar não é o comportamento (no sentido rigoroso de que não
propõe uma ciência do comportamento, mas uma ciência interessada nas relações
entre organismo e ambiente). Todavia, explicar necessita uma sistematização
que, embora orientada filosófica e teoricamente, só pode ser construída e
testada empiricamente. Para tal, o experimento é a escolha típica da Análise do
Comportamento skinneriana. Mas o que revelam os experimentos? Uma resposta
à tradicional pergunta sobre "o que é"ou "por que existe"certo fenômeno natural?
Skinner segue lógica diversa e opta, coerentemente, pela alternativa dada pela
questão sobre "como" ocorrem os fatos (transformados metodologicamente em
variáveis) e compreende, com Mach, que descrevê-los nas suas relações é a mais
legítima estratégia para responder a tal pergunta.
Consolidar a lógica e as estratégias de desenvolvimento que lhe seriam
correspondentes não constituiu, certamente, uma história linear, razão pela qual
1 I 0 ESSENCIAL EM B. F.SKINNER (1904-1990)

Skinner é recorrente, em toda a sua obra, na discussão de vários conceitos que segue
formulando, incluindo o de comportamento (1938, p. 6 e ss.). Isso se dá não somente
porque o escopo temático é complexo, mas porque a comunidade de analistas
se amplia e há uma crescente retroação discursivo-explicativa sobre os conceitos
emitidos por Skinner. Além disso, e sobretudo, porque ciência não consiste em
mero acúmulo indiscriminado de achados, mas em acúmulo que ora descarta, ora
incorpora novos princípios e resultados empíricos.
Assim, não há drástica ou grave incoerência, por exemplo, quando nosso autor
pontua inicialmente os conceitos de drive e força do reflexo e, mais tarde, praticamente

24

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

os abandone. 0 pesquisador, via de regra, vê-se à frente de questões para as quais


utiliza a lógica explicativa, cuja tradição conviveu ou tem convivido academicamente.
Só o tempo e a experiência proporcionam confrontos com a descoberta acidental e
com aquelas decorrentes do esforço de estudo intenso das relações funcionais entre
fenômenos por vezes tão aparentemente complexos.
Não há, também, que se argumentar sobre as possíveis "falhas conceituais”
de Skinner ao longo da construção de seu edifício teórico. Por exemplo, aos que
minuciosamente procuram diminuir a importância do autor porque ele teria
tido uma compreensão distorcida do fenômeno da deriva continental (quando
da explicação da evolução das espécies), resta o convite para que, a despeito das
distorções interpretativas que incidentalmente se apresentem no caminho agreste
do fazer científico, reflitam parcimoniosamente sobre a relevância do conjunto da
obra e suas contribuições para a compreensão do mundo fenomênico. Skinner teria
se equivocado (à luz das explicações contemporâneas sobre a evolução das espécies)
em relação a uma precisa e desejável elaboração dos seus três "níveis” de variação
e seleção, que suscitam a aparência de processos entre si distintos. Além disso, é
certo que deixou lacunas diversas sobre a lógica de articulação entre a ontogenia do
operante e as transmissões filogenética e cultural. No entanto, a meu ver, conquanto
a parceria com a biologia evolutiva possa contribuir para novas modulações teóricas
e ajustes de precisão conceituai, seria seguramente injusto diminuir a contribuição
de Skinner em função desses e outros episódios incidentais tão comuns nas nossas
reflexões em busca de conhecimento confiável. A importância de Skinner, como de
Pavlov, Mach e Watson, segue para muito além de seus conhecimentos substantivos
sobre certos meandros do fazer científico, do mesmo modo que transcende (como no
caso de Malinowski) uma avaliação simplesmente idiossincrática (em contraposição
a histórica) de valores ético-morais adotados por muitos dos mais importantes
1 | 0 ESSENCIAL EM B.F. SKINNER (1904-1990)

personagens da ciência e da filosofia.


Isto posto, seguimos para um arbitrário rol e um aligeirado e superficial conjunto
de comentários sobre os ingredientes essenciais da Análise do Comportamento
como ciência estabelecida com apoio nos pressupostos do Behaviorismo Radical.
0 objetivo é justamente este: identificar os princípios e pressupostos centrais e
imprescindíveis que agregam a proposta skinneriana. Os pormenores de tal proposta
já não pertencem mais unicamente a Skinner, mas a seus contemporâneos e ao
domínio público, de modo que podem, hoje, ser consultados em milhares de artigos
de seus comentadores.

25
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Convicções irrenunciáveis
Está próximo do possível poder aquilatar com relativa segurança alguns
enunciados, princípios, pressupostos, talvez certos cânones da obra skinneriana.
Escolhemos dez, embora seja possível expandi-los para centenas ou reduzi-
los radicalmente a apenas um (por exemplo, a seleção pelas consequências), a
depender de nossas finalidades. Serão eles examinados (superficialmente) na
sequência. Para Skinner:

1. Torna-se crucial que uma ciência do comportamento interessada em mudar


o leme da história da Psicologia, conduzindo-a ao âmbito das ciências
naturais, considere o determinismo como pano de fundo para inserção de
sentenças afirmativas sobre a maneira pela qual se podem explicar fatos da
natureza humana. Skinner toma o cuidado de que esse determinismo seja
probabilístico e não outro qualquer. Vez que lidará com o mundo empírico do
comportamento e do ambiente, o autor adota o pressuposto de um cenário
indizível mediante verdades absolutas. O probabilismo, especialmente no que
respeita às formulações conceituais derivadas da experimentação, é um dos
fatores de correção para o que antes se buscava enquanto realidade das ações
humanas explicada em razão de estruturas (quer físicas ou conceituais, porém
sempre intraorganísmicas) postuladas até o início do século XX. Aduz-se a essa
lógica a consideração de que a dimensão substantiva do empírico se restringe
apenas à condição monista e acrescenta-se igualmente a ela a compreensão
de que as explicações buscadas excluem certas formulações hipotéticas
(mente, intencionalidade, propósito) e privilegiam observação direta (embora
não se excluam os estudos teóricos) de relações funcionais entre variáveis.
2. Restaura a introspecção não como método, procedimento ou estratégia de
1 I 0 ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990)

investigação, mas como forma de reconhecer o mundo privado das atividades


humanas, colocando-as no mesmo patamar de funcionalidade em que
situou o operante e as demais modalidades de comportamento aberto. Em
1945, no Simpósio sobre Operacionismo (Skinner, 1945a; 1945b) ele próprio
nomeia a diferença contundente do seu Behaviorismo Radical em relação ao
Behaviorismo Metodológico atribuído a Edwin G. Boring e Stanley S. Stevens.
Embora faça ressalvas quanto ao status de dado científico atribuído aos
relatos verbais, reconhece-os como fonte que pode levar a um conhecimento
aproximado (literalmente, uma abordagem) do pensar e dos repertórios

26

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

comportamentais sob domínio das pessoas (não como algo "depositado" em


um arquivo mnemónico, mas como alterações na forma com que o corpo
responde a mudanças do ambiente que atuaram e funcionaram como alguma
consequência efetiva nas ações dos indivíduos).
3. Ocupa-se de manter aberta uma janela de discussões sobre vários dos
conceitos que propõe, dentre eles o de comportamento, proposto sobre
bases relacionais desde 1938. Nesse sentido, a Análise do Comportamento
não se constitui pautada pela finalidade de estudar o comportamento em si
(seja como evento, atributo ou, ainda menos, objeto físico que se aloja nas
entranhas de um sistema nervoso complexo), mas o comportamento no
âmbito das relações entre o organismo e seu ambiente. O caráter aberto
das formulações skinnerianas, contudo, não pode ser entendido como um
sinal de fragilidade do sistema, porque há uma característica inalienável
na evolução do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento,
compreendida pelo estilo de elaboração, desenvolvimento e consolidação
de conhecimento seguro nessa seara. Skinner se comprometeu, no início de
sua carreira, a verticalizar inicialmente estudos experimentais para, só depois,
arriscar-se em discussões teóricas e desdobramentos conceituais complexos
e, adicionalmente, retardar aplicações dos seus achados. Naturalmente, a
história revela que nem sempre isso se pôde cumprir, uma vez que, via de
regra, grandes e inevitáveis debates, seja na comunidade científica ou na
imprensa, exigiram respostas decisivas do autor.
4. Sob esses pressupostos, talvez a pedra angular de sua obra se constitua no
processo de seleção pelas consequências, que para alguns é limitadamente
descrito em seu artigo de 1981. No entanto, ali, com um texto telegráfico,
mas correto, Skinner explicita a essência dos conceitos de contingências de
1 | O ESSENCIAL EM B.F. SKINNER (1904-1990)

reforçamento (em metáfora que inclui as quatro operações fundamentais


da consequenciação) e de sobrevivência. Herança parcial de Darwin, a
seleção pelas consequências inclui a dimensão ontogênica do operante,
que Skinner considera um "retrato" pormenorizado do que acontece em
milhares de anos de evolução filogenética e em dezenas de anos de evolução
cultural. O que há de novo e importante na proposta do operante sob essa
perspectiva é justamente a possibilidade de que as atividades humanas não
sejam mais "explicadas" em termos de dimensões iniciadoras demarcadas
por uma mente impalpável, mas por relações com o ambiente que podem

27
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

ser claramente descritas e mensuradas. Incidentalmente, o fato de que


Skinner tenha escolhido o delineamento de sujeito único (com status que
permita replicações) não pode ser entendido, sequer por analistas, como
uma característica distintiva que identifica os profissionais da área. A escolha
do tipo de delineamento não torna ninguém um analista. Skinner fez essa
escolha, certamente (como ele próprio informa), pelo fato de que as medidas
de tendência central (as médias, modas, medianas) dizem pouco ou quase
nada sobre o comportamento individual. Também a fez em função de que o
indivíduo que mais se parece consigo mesmo é o próprio indivíduo e, nesse
sentido, compará-lo a partir de condições anteriores e posteriores à introdução
de algum procedimento fornece medidas bastante precisas sobre os efeitos
de variáveis independentes a serem avaliadas. Adicionalmente, note-se que
Skinner aponta uma justa e oportuna conveniência para escolher organismos
simples e criar um aparato experimental razoavelmente livre de muitas das
variáveis estranhas disponíveis no ambiente natural. Fosse Skinner buscar o
desenvolvimento de todos os princípios que produziu experimentalmente
mediante pesquisas em situação natural, é provável que não tivesse
produzido um décimo do que conseguiu, seja sozinho ou em colaboração
com Ferster (1957) e tantos outros. Para exemplificar, vez mais, que a essência
da proposta de Skinner não está, evidentemente no modelo de delineamento
que prioritariamente se adota, basta buscar em periódicos qualificados, como
JABA e JEAB, experimentos realizados por analistas usando outros formatos
de procedimentos de pesquisa, que incluem o uso de estatística inferencial
para análise de dados. O que Skinner traz, bastante mais relevante que uma
forma econômica e funcional de pesquisar, é uma lógica central subjacente
e aplicável a quaisquer instâncias onde comportamento e ambiente estejam
1 I 0 ESSENCIAL EM B.F.SKINNER (1904-1990)

ligados por um nexo designado como relações funcionais. Compreender e


exercer atividades sob essa compreensão lógica da natureza é o que torna o
profissional um analista do comportamento.
5. A esse cenário contextualizador de sua obra, Skinner acrescenta outras
tonalidades. Dentre elas, sua convicção de que uma ciência do comportamento
tal como a que propõe deve estar baseada em alguma viabilidade funcional.
Aos poucos, a aplicabilidade dos princípios que formula vai se tornando mais
reconhecida (embora jamais tacitamente aceita), de modo que o autor declara
compartilhar com a escolha ética de uma ciência que não apenas descreva

28

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

regularidades, mas que permita certo otimismo quanto à resolução de


questões relevantes tanto na dimensão clínica individual quanto na dimensão
cultural que afeta comunidades inteiras. Assume, assim, um pragmatismo
moderado, embora a ideia do successful working aparentemente o torne
desconfortável diante da lentidão de mudanças sociais por ele esperadas com
maior celeridade e apontadas em várias entrevistas. Tem sido informalmente
sugerido, em contrapartida, que a Análise do Comportamento se apresenta
como uma ciência otimista (ou "para cima", como por vezes se veicula),
em contrapartida a uma ciência psicológica "do conflito", que partiria de
pressupostos frequentemente apoiados em variáveis individuais ou coletivas
que caracterizariam um mal-estar inerente à vida social a ser superado com
necessário sofrimento. Todavia, tais ponderações não parecem se apoiar em
quaisquer dados concretos, senão em impressões ou vieses fortuitos.
6 . Demarcados seus principais pressupostos, Skinner inscreve no cenário central
de sua obra, em construção ágil, o que se conhece por princípios básicos da
análise comportamental (são 60 anos de publicações, o que até mesmo pode
ser considerado um período curtode tempo-não para a pessoa do pesquisador
- quando se estima a vida de uma nova ciência; nesse período, consistente
e ampla construção de conhecimento foi alcançada, fundamentalmente por
conta da sólida formação de Skinner e de suas características de excelente
planejador experimental). Por Skinner (1935; 1937), acordada com Jerzy
Konorski e Stefan Miller, surge a confirmação da existência de um novo tipo
de condicionamento além do respondente. O operante é revelado e passa a
ser o foco principal das investigações do autor. Experimentação é cabalmente
a vida científica de Skinner nesse momento, culminando com a publicação
do denso Schedules of Reinforcement (1957), com Charles B. Ferster. O texto
1 | O ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990)

revela em minúcias as manipulações diferenciais dos dois pesquisadores em


relação às variáveis de tempo e frequência de ocorrência como decisivamente
influentes na caracterização dos esquemas de reforçamento em intervalo
e razão, fixo ou variável. Reconhecer e descrever os inúmeros esquemas,
compreender de que maneira a privação e outras operações antecedentes
alteram a probabilidade do responder e examinar criteriosamente os diversos
procedimentos de extinção passam a ser tarefas imprescindíveis rumo à
consolidação da Análise do Comportamento enquanto sistema em busca de

29

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

respostas para os principais quesitos da funcionalidade das relações entre


comportamento e ambiente.
7. A essa altura, a seminal constituição do paradigma (stricto sensu) da
contingência de três termos já se tornara mais um dentre os mais caros
conceitos sobejamente testados em situação experimental. Sob condições
antecedentes (contextuais) específicas, uma resposta é seguida por alguma
consequência. A mudança que suas similares futuras eventualmente exibem
sinaliza o tipo de consequência recebida, dentre aquelas tipicamente possíveis
no quadrante dos procedimentos de reforçamento positivo e negativo e
punição por apresentação de reforço negativo ou retirada de reforço positivo. O
repertório alterado do organismo que se comporta diante de um dos múltiplos
arranjos possíveis dessas condições é avaliado em termos de um continuum
(generalização-discriminação), cuja racional é aplicada a inúmeras situações
da vida cotidiana, independentemente de qual espécie de organismo vivo
ali esteja e corroborando as características comportamentais em situações
parecidas ou diferentes daquelas em que se instalou a resposta original.
8 . Em diversas passagens, inclusive naquelas que dizem respeito à preservação e
generalidade aplicativa do paradigma da contingência de três termos, Skinner
assevera que não lhe parecia necessária a criação de novos conceitos no
âmbito de seu sistema. De fato, em seus exercícios de análise de questões
sociais várias e das agências de controle, de modo geral, o autor dá conta,
com muita competência, da descrição funcional das práticas culturais típicas
de seu tempo (Skinner, 1953).
9. Permeou a evolução dos conceitos essenciais uma série de outros agora
consolidados: modelagem ou reforçamento diferencial por aproximações
sucessivas, modelação, noção de cultura sob o viés comportamental, práticas
1 | O E S S E N C IA LE M B . F. SKINNER (1904-1990)

culturais, planejamento ou delineamento cultural, comportamento social,


comportamento verbal (mando, tacto, intraverbal, autoclítico, etc.) e inúmeros
outros. Os achados e princípios derivados do ramo central da obra de Skinner
podem ser localizados a partir de listas de referência como as de Carrara (1992)
e Epstein (1995).
10. O Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento, portanto, se por um
lado derivam a experiência de seu proponente principal em parte da influência
de sólida literatura por este absorvida, por outro lhe devem tributo por duas

30

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

virtudes especiais: sua competência como exímio pesquisador experimental;


sua capacidade como intelectual consistente e seguro da sistematização que
deu ao conjunto de conceitos que torna completo e coerente o nexo entre
filosofia de ciência e a própria ciência comportamentalista.

Como se pode notar, Skinner construiu um legado considerável, a respeito do qual


se pode manter dissensões profundasou compartilhamento teoricamente sustentável.
Todavia, se por um lado concordâncias ou discordâncias são perfeitamente possíveis
e naturais, parece inadmissível ignorar Skinner como um dos relevantes artífices da
Psicologia como ciência.

Referências
Carrara, K. (1992). Acesso a Skinner pela sua própria obra: publicações de 1930 a 1990.
Didática, 2 8 ,195-212.
Carrara, K. (1994). Implicações dos conceitos de teoria e pesquisa na Análise do
Comportamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 100), 41 -47.
Epstein, R. (1995). An updated bibliography of B. F. Skinner's works. In J. T. Todd & E.
K. Morris (Eds.), Modern perspectives on B. F. Skinner and contemporary behaviorism.
Westport: Greenwood Press.
Ferster, C. B.( & Skinner, B. F. (1957). Schedules of reinforcement. New York: Appleton-
Century-Crofts.
Keller, F. S., & Schoenfeld, W. N. (1950). Principles of psychology: A systematic text in the
science of behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1935). Two types of conditioned reflex and a pseudo type. Journal of
General Psychology, 12,66-77.
Skinner, B. F. (1937). Two types of conditioned reflex: a reply to Konorski and Miller.
1 | O ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990)

Journal of General Psychology, 16, 272-279.


Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1945a) The operational analysis of psychological terms. Psychological
Review, 52, 270-277.
Skinner, B. F. (1945b). Rejoinders and second thoughts. Psychological Review, 52, 291-
294.
Skinner, B. F. (1950). Are theories of learning necessary? Psychological Review, 57(4),
193-216.

31

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: MacMillan.


Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century Crofts.
Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 273(4507), 501-504.
1 I O ESSENCIAL EM B.F. SKINNER (1904-1990)

32

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

2 I. M . .SECHENOV (1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E OS
"REFLEXOS DO CÉREBRO"1

Isaias Pessotti

1 Capítulo publicado originalmente no livro Pré-história do condicionamento. São Paulo: Hucitec-Edusp,


1976.

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Em 1849, ano do nascimento de Ivan Pavlov, morria um importante especialista


em fisiologia experimental, Alexei M. Filomafitsky, cujo nome está ligado à história de
Pavlov por três motivos: a) por ter sido professor de Rabbi A. Bossov, autor da primeira
fístula estomacal, isto é, da primeira abertura feita no estômago de um animal para
observar in vivo processos fisiológicos em curso; b) por ter sido professor de Evgueni
S. Botkine, companheiro de pesquisas de Ivan M. Sechenov em Paris e o primeiro
a oferecer um trabalho "permanente" a Pavlov; c) por ter sido contemporâneo de
Orlovsky e de Inotzentzev, especialistas em atividades tróficas do sistema nervoso,
que convidaram Sechenov a participar de seus programas de pesquisas em fisiologia
nervosa. O primeiro trabalho publicado por Sechenov foi executado na clínica de
Inotzentzev.
Quando Filomafitsky morreu, Sechenov, nascido na antiga província de Simbirsk
(hoje Ulyanovsk) em 1829, tinha vinte anos e estava procurando seu caminho,
primeiro como militar na Escola de Engenharia Militar de Petrogrado e, depois, como
aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de Moscou.
Tendo-se diplomado, aos trinta anos de idade, Sechenov pôs-se a viajar pela
Europa em companhia de dois famosos personagens do tempo: o compositor | !.M . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"

Aleksandr P. Borodin, autor de Príncipe Igor, e o químico Dmitri I. Mendeleiev (futuro


mestre de Pavlov que, nesse tempo, tinha apenas sete anos e estudava russo com
uma senhora "exigente"de Riazan).
Em 1860, foi publicada a tese de Sechenov com o título Dados para a Futura
Fisiologia da Intoxicação Alcoólica. Nesse trabalho, seu pensamento já começa a
maturar-se ao redor da ideia de uma fisiologia que explique o funcionamento do
organismo como parte de uma unidade maior, incluindo o próprio organismo e as
forças ambientais que operam sobre ele (Sechenov, 1860/1960a).
Esse princípio ficou formulado mais claramente no ano seguinte, na sua Primeira
Aula publicada pela Meditzinsky Vestnik (1861/1960b):"O organismo não pode existir
sem o ambiente externo que o mantém; por consequência, uma definição científica
do organismo deveria incluir também o ambiente que atua sobre ele" (p. 242).
2

35

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Os ulteriores efeitos dessa ideia se encontrarão mais abertamente na idealização,


por parte de Pavlov, do “método crônico" para o estudo da fisiologia da digestão,
como veremos adiante.
Koshtoyants (1956/1960), em uma biografia de Sechenov, afirma: "este postulado
está na base de suas descobertas em fisiologia. Em todos os seus experimentos, ele
partia do pressuposto da decisiva importância da percepção dos estímulos externos,
através de elementos sensoriais definidos, para a atividade reflexa do sistema nervoso
central" (p.11).
Em 1856, Sechenov realizou novas descobertas no famoso laboratório de Claude
Bernard em Paris, onde, além de se beneficiar da valiosa influência deste, entrou em
contato com Botkine; os dois cientistas exerceram, com o seu empenho experimental,
uma influência decisiva nas atividades futuras de Sechenov.
Nesse tempo, o livro de Spencer 4s BGses do Psicologia (julho de 1855) já havia
sido publicado e suas ideias sobre as relações entre evolução e origem da faculdade
psíquica impressionaram Sechenov (Frolov, 1937/1965).
Em 1862, ele voltou ao laboratório de Claude Bernard, três anos após a publicação
revolucionária de Darwin /I Origem das Espécies. Nessa segunda estadia em Paris,
estudou os centros nervosos que inibem os movimentos reflexos.
É nesse período que Sechenov descobre a inibição de determinados movimentos
reflexos em rãs espinais com a aplicação de cristais de sal ou corrente elétrica no
cérebro médio. É a partir desses estudos, da influência de Claude Bernard, Hermann
Helmholtz e Botkine, da leitura de Darwin e do conhecimento dos escritos de John
| I.M . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO“

Locke, ao qual o seu trabalho se refere mais de uma vez, que Sechenov dá forma à sua
publicação de 1863: Os Reflexos do Cérebro (Sechenov, 1863/1960c).
Locke, já em 1690, no seu An Essay Concerning Eluman Understanding, havia
formulado o princípio das "associações" para explicar uma extrema variedade de
comportamentos nos quais, ainda que não expressa como princípio de aprendizagem,
encontra-se já a substituição dos estímulos como origem de gostos, desgostos, desejos
e outros aspectos constitutivos da assim dita "vida psíquica" (Locke, 1690/1948).
O primeiro título do trabalho de Sechenov, mais adaptado ao seu estilo de
pesquisa e de vida e substituído por exigência da censura governamental, era:
Uma Tentativa de Estabelecer as Bases Fisiológicas dos Processos Psíquicos. Esse título
mostra que Sechenov, longe da Rússia por vários anos e todo compenetrado nas
suas pesquisas, não tinha calculado quanto de provocação continha sua obra para a
2

36

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

igreja-estado russa de então, e quanto era difícil opor-se à doutrina oficial da época
que considerava a alma como princípio único para explicação da "vida psíquica".
Nessa época, o número de cientistas expulsos do país era considerável; as
agitações populares contra o estado czarista eram frequentes e o controle das
publicações tornou-se, como consequência, mais severo. Daí surgiu, para Sechenov,
uma notável dificuldade para divulgar as ideias que desejava "comunicar ao mundo".
A censura estatal, na verdade, impôs não somente que o título da publicação
fosse trocado, mas também que fosse impressa como parte de uma revista médica
especializada e, portanto, não acessível ao povo, em forma de livro barato, conforme
era intenção do autor.
O trabalho foi publicado em fascículos semanais na Meditzinsky Vestnik, com
o título Os Reflexos do Cérebro, no ano de 1863. Mais tarde, apareceu em um único
volume, em 1866, e se atinha na forma de exposição ao Discurso Sobre o Método, de
René Descartes (Frolov, 1937/1965). O trabalho versava sobre pesquisas e estudos
feitos por Sechenov já em 1860 e expostos na sua tese de doutoramento sobre a qual
comentou:

A dissertação que eu escrevi para o meu doutorado em 1860 continha as


seguintes duas teses: 'Todos os movimentos conhecidos em fisiologia como
movimentos voluntários são movimentos reflexos no sentido estrito da palavra',
e 'o aspecto mais geral da atividade normal do cérebro (expressa em forma
de movimento) é a desproporção entre a excitação e o efeito (movimento)
2 I I.M . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"
gerado por ela. A primeira destas duas teses é bastante clara e a outra requer
alguma explicação. Na falta de qualquer influência do cérebro, as estimulações
sensoriais e os movimentos reflexos provocados por elas, correspondem
um ao outro quanto à intensidade, ou seja, estimulações suaves provocam
movimentos débeis e vice-versa. Todavia, dada a influência do cérebro, tal
conformidade não se observa: uma fraca estimulação pode provocar um
movimento muito forte (por exemplo, todo o corpo que se agita por causa
de um pequeno golpe) e, inversamente, um estímulo muito forte pode não
provocar nenhum movimento (como no caso de um indivíduo que, por causa
de um grande medo, fica imóvel). (Sechenov, 1860/1960a, p. 579)

Em outro texto, continuou Sechenov:

37

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Se a isso se acrescenta que, nesse tempo, eu preparava minha dissertação


e podia não ter presente os três elementos que compreendem os outros
reflexos, não obstante o significado psicológico dos elementos intermediários
dos atos que terminam em movimentos voluntários, aparece claro que a
ideia de determinar o substrato fisiológico dos fenômenos psíquicos no que
concerne ao mecanismo da sua formação veio-me à mente já no tempo de
minha permanência no exterior. Não há dúvida de que conceitos deste gênero
amadureciam na minha mente também durante a minha estadia em Paris,
porque lá eu estava ocupado em experiências que envolviam diretamente atos
de consciência e de vontade. (Sechenov, 1945/1952, p. 113)

O conceito principal do livro de Sechenov era que a "vida psíquica"e a psiquê não
são independentes do corpo, mas somente uma função do sistema nervoso central,
principalmente do cérebro.
O plano geral do livro procurava demonstrar que a "vida psíquica" não era senão
um arco reflexo muito complexo, compreendendo estimulações, processos centrais
e efetuação de respostas.
Sechenov sustenta que todas as atividades (voluntárias ou não) dos organismos,
não são senão movimentos musculares de respostas, independentemente do
"conteúdo psíquico"que os acompanha. Assim, por exemplo,

(...) o sorriso de uma criança ao contemplar um brinquedo, ou o sorriso de


2 | I. M .SECHENOV (1829-1905 ) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"

Garibaldi, quando perseguido pelo excessivo amor à sua pátria, ou o tremor de


uma donzela ao primeiro pensamento de amor, ou ainda Newton ao idealizar
as suas leis universais e ao escrevê-las sobre as folhas, o fato último é, em todos
os casos, o movimento muscular. (Sechenov, 1863/1960c)

Doutra parte, todas essas respostas musculares são os resultados finais de


processos nervosos centrais que, por sua vez, têm origem nos órgãos sensoriais.
Portanto, todas as atividades humanas têm início em ocorrências percebidas pelos
órgãos dos sentidos e as mesmas atividades cerebrais têm, por sua vez, a sua origem
na estimulação de receptores internos ou externos.
No campo da fisiologia dos órgãos sensitivos, Sechenov se valia da sua grande
experiência adquirida com a ajuda de Helmholtz, por ele definido como "o maior
fisiologista deste século", referindo-se à sua obra de óptica fisiológica. Não somente

38

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

sensações simples dão origem ao arco reflexo que corresponde aos atos psíquicos,
mas também associações de sensações produzidas por diversos receptores. Frolov
(1937/1965) afirma, referindo-se a esse ponto:

Sechenov prestou um imenso serviço à ciência com a sua teoria sobre o


funcionamento da atividade associada dos órgãos sensoriais, na formação
dos assim chamados conceitos superiores de espaço e de tempo, sob a forma
de particulares estímulos complexos, dado que muitos sentidos participam
contemporaneamente na formação de tais reações, (p. 13)

Além da influência de Helmholtz, nota-se também a de Locke, que aparece


nitidamente na afirmação de que não existe pensamento ou emoção que não
derive de uma estimulação sensorial (de órgãos receptores). Assim, o pensamento
e a emoção são os processos intermediários entre as estimulações sensoriais e os
movimentos musculares de efetuação motora ou verbal.
Sechenov desenvolve brilhantemente as primeiras duas partes do seu modelo,
isto é, a ilustração da natureza muscular dos comportamentos que revelam a "vida
psíquica"e a lúcida exposição da origem sensorial de pensamentos e emoções. No que
interessa ao terceiro problema, ou seja, a explicação do pensamento e das emoções
como processos intermediários entre as sensações e as respostas musculares, a
segurança de Sechenov é menor, seja porque somente alguns anos mais tarde Pavlov
demonstrará experimentalmente a atividade reflexa do córtex cerebral, ou também
2 j I M. SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"
porque, como faz notar Frolov (1937/1965), as pesquisas de Sechenov se "apoiavam
sobre bases metodológicas ainda muito incertas".
Contudo, a solução teórica de Sechenov é digna de admiração, dada a clareza com
que é formulada: a emoção seria um processo de excitação da atividade muscular,
enquanto o pensamento seria um processo de inibição de algumas atividades. Esse
esquema teórico inclui dois princípios desenvolvidos precedentemente pelo mesmo
Sechenov: a inibição do córtex e os "traços ocultos de estímulos" (Frolov, 1937/1965).
A solução, muito avançada, não foi, todavia, construída de todo especulativamente,
porque, algum tempo antes, no laboratório de Claude Bernard, Sechenov se dedicara
a estudos sobre a atividade dos centros nervosos, principalmente daqueles que
inibem os movimentos reflexos. Com efeito, Sechenov, em 1863 "descobriu (...) um
fato novo sobre a atividade cerebral dos animais, a inibição de certos movimentos
reflexos (...) a assim chamada inibição central" (Frolov, 1937/1965).

39
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

O pensamento é justamente um processo central que priva o arco reflexo da


sua parte final. O pensamento corresponde, então, a um "reflexo inibido", como diz
Frolov. Mas a vida psíquica não se refere somente à inibição dos reflexos originários de
sensações imediatas:"Não se deve subestimar, com efeito, a excepcional contribuição
de Sechenov por haver trazido à luz os assim chamados troços ocultos de estímulo nas
regiões superiores do sistema nervoso humano" (Frolov, 1937/1965). Continuando
com Frolov (1937/1965): "Sechenov considerava esses traços como um fator que
regula o nosso sistema superior do reflexo (ele interpretava neste modo toda a
vida psíquica humana) em um mesmo nível com os estímulos externos efetivos e
concretos" (p. 13). Essa afirmação amplia muito o esquema de Sechenov, porque
permite explicar também as respostas motoras ou verbais não correlacionadas a uma
particular excitação presente em qualquer órgão sensorial.
No seu trabalho de 1878, publicado na Vestnik Evropy, sob o título Os Elementos do
Pensamento, Sechenov dedica cerca de 150 páginas a analisar o pensamento como
processo do sistema nervoso central, intermediário entre a sensação (imediata ou sob
a forma de troços de estímulo) e o efeito motor ou verbal submetido a processos de
inibição mais ou menos duráveis (Sechenov, 1878/1960d).
O que expusemos não tem o escopo de resumir os conceitos fundamentais de Os
Reflexos do Cérebro, mas quer simplesmente sublinhar como Sechenov via no reflexo
uma unidade mínima de comportamento, válida ao mesmo tempo como unidade de
análise experimental e como instrumento metodológico para explicar unidades de
comportamento mais complexas. Ele mesmo, reconhecendo quanto de hipotético
2 | I. M. SECHENOV (1829-1905 ) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"

sua obra ainda contivesse, não quis descuidar das vantagens metodológicas que
implicava, como também as sugestivas possibilidades de controle experimental das
hipóteses propostas.
Deixemos o próprio Sechenov (1863/1960c) resumir os conceitos do seu trabalho:

Em todo caso, por ocasião do meu retomo de Paris a Petrogrado, estas ideias
tomaram forma nas seguintes proposições, em parte provadas e em parte
hipotéticas: em sua vida consciente ou inconsciente de todo o dia, o homem
jamais é livre das influências sensoriais devidas ao ambiente e levadas a ele
através dos seus órgãos sensoriais, e nem mesmo das sensações que partem do
seu próprio organismo (os seus próprios sentimentos); são estes os fatores que
mantêm íntegra a sua vida psíquica com todas as respectivas manifestações
motoras, pois a vida psíquica não é concebível quando os sentidos estão

40

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

perdidos (esta observação foi confirmada faz vinte anos, através da observação,
em casos muito raros, de pacientes que haviam perdido quase todos os seus
sentidos), (p. 580)

Nesse trecho de Sechenov está resumida a sua teoria relativa à primeira parte do
arco reflexo aplicado às atividades ditas psíquicas. O autor deixa entender claramente
que o primeiro elemento do reflexo não é necessariamente a sensação produzida por
estímulos externos; esses estímulos fazem disparar processos reflexos que terminam
em movimentos; mas também os desejos funcionam como excitantes internos com
respeito à vida psíquica.
Diz a propósito Sechenov (1863/1960c): "Assim como os movimentos do homem
são determinados pelas indicações dos órgãos sensoriais, também o modo de
comportar-se na sua vida psíquica é determinado por seus desejos e suas aspirações"
(p. 580); e "O início do reflexo é sempre causado por uma certa influência sensorial
externa; o mesmo se verifica, muitas vezes imperceptivelmente, em toda a nossa
vida psíquica (dado que na ausência das influências sensoriais a vida psíquica é
impossível)" (p. 580).
Quanto ao terceiro elemento do reflexo aplicado aos atos da vida psíquica, a
efetuação final, mais ou menos manifesta, Sechenov (1863/1960c) não é menos claro:

Na maior parte dos casos, os reflexos terminam em movimentos: existem,


porém, também reflexos que se concluem com a supressão do movimento;
a mesma coisa se pode observar nos atos psíquicos: a maior parte deles se
2 | I.M . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO’

exterioriza através de manifestações mímicas e ações, mas, em muitíssimos


casos a sua parte final é suprimida, com o resultado de que, em lugar de três
elementos, o ato é representado somente por dois; o lado meditativo da vida
tem, portanto, esta forma. (p. 580)

Nessa passagem se resume não só a aguda intuição de Sechenov, mas também a


sua preocupação em utilizar o reflexo como um instrumento de análise mais que de
descrição da vida psíquica, por simples analogia com os movimentos reflexos.
Pode-se dizer, segundo a teoria acima descrita, que o pensamento é um reflexo
inibido. Falta, porém, a explicação da emoção, outro processo intermediário entre a
excitação e a resposta. Sechenov (1863/1960c) a explica do modo seguinte:

41
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

As emoções são fundamentadas, direta ou indiretamente, sobre os assim ditos


sentidos sistêmicos, que podem desenvolver-se em fortes desejos (sensações
de fome, instintos de autopreservação, desejo sexual, etc.) e que são expressos
em ações impetuosas; por esta razão esses podem ser incluídos na categoria
dos reflexos com uma terminação intensificada, (p. 580)

As emoções são, portanto, também elas, uma "categoria de reflexos". Era necessário
um perfeito conhecimento da fisiologia nervosa e uma boa dose de coragem para
publicar essas ideias na Rússia de 1863, controlada atentamente pela igreja-estado
czarista.
Como o primeiro título do trabalho, Uma Tentativa de Estabelecer as Bases
Fisiológicas dos Processos Psíquicos, devia ser substituído por imposição do
Departamento de Censura, Sechenov (1863/1960c) o trocou e declarou a respeito;
"Assim eu troquei o título para Os Reflexos do Cérebro. Fui acusado de ser um
involuntário propagador de imoralidade e de princípios de filosofia niilista"(p. 580).
E ainda:

Os meus mais acérrimos opositores podem de fato acusar-me de afirmar que


qualquer ação, independentemente do seu conteúdo, é pré-determinada pela
natureza de um dado indivíduo; qualquer ação é causada por um determinado
estímulo externo, por vezes insignificante; a ação em si mesma é inevitável
e, sendo assim, também o pior criminoso não é responsável pelos seus atos.
2 | I. M. SECHENOV (1829-1905 ) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"

Podem sustentar, ainda, que os meus ensinamentos dão caminho livre a


atividades vergonhosas enquanto persuadem pessoas depravadas de que não
são responsáveis por seus atos. (Sechenov, 1863/1960c, p. 580)

Muito mais tarde, Skinner (1955/1961), referindo-se a algumas declarações de


Dean Acheson e outros opositores da análise experimental do comportamento,
afirmará;

Isto não é outra coisa senão a remanescência da posição assumida por outras
instituições empenhadas no controle dos homens, para as quais, determinadas
formas de conhecimento são um mal em si mesmas. (...) Chegamos assim tão
longe somente para concluir que pessoas bem intencionadas não podem

42

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

estudar o comportamento humano sem se tomarem tiranos ou que pessoas


informadas não podem dar prova de boa vontade? (p. 17)

Em outro trabalho, Skinner (1956) escreveu:

Se o advento de uma poderosa ciência do comportamento causa incômodo,


isto não será devido a ser a ciência uma inimiga, em si mesma, do bem-estar
humano, mas a que as velhas concepções não são facilmente superadas. Nós
esperamos resistências à aplicação das novas técnicas de controle por parte
daqueles que fizeram ingente investimento nas antigas, mas não temos razão
nenhuma em ajudá-los a preservar uma série de princípios que não são fins em
si mesmos, mas meios, já fora de moda, para um objetivo, (p. 32)

Não é, pois, de se estranhar que na Rússia czarista da segunda meta do século XIX,
as afirmações de Sechenov sobre o determinismo do comportamento provocassem
resistências.
Na sua autobiografia (1945/1952), Sechenov assim escreve:

Não havia necessidade alguma de discutir no meu tratado o problema do bem


e do mal; o meu objetivo consistia em analisar as ações em geral e o meu ponto
de vista era que, dadas determinadas condições, não só as ações, mas também
a sua inibição são inevitáveis, e obedecem à lei da causa e do efeito. Seria isto
2 | i. M. SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"
uma apologia da imoralidade? (p. 116)

Após ter publicado a sua obra na revista semanal Meditzinsky Vestnik, em 1863,
Sechenov foi denunciado perante o procurador local de censura. A denúncia, datada
de 9 de junho de 1866, julga Os Reflexos do Cérebro deste modo:

Esta teoria materialista reduz até o que há de melhor nos homens ao nível
de uma máquina privada de autoconsciência e de livre vontade e que age
automaticamente. Esta teoria elimina o bem e o mal, a responsabilidade
moral, o mérito das boas obras e a responsabilidade das más ações: arruina
profundamente os alicerces morais da sociedade e, com a sua ação, tende
a destruir a doutrina religiosa da existência ultraterrena; é uma teoria que

43
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

contrasta com o Cristianismo e com o código penal e, por consequência,


conduz à corrupção de toda moral. (p. 581)

A luta travada por Sechenov não foi inútil e são numerosos os grandes nomes
da cultura e da ciência que reconheceram a grande influência recebida de sua obra.
Entre eles estão llya I. Mechnikov, KlimentTmiriatzev, Nicolai E. Wedensky, Aleksandr
F. Samoilov e, sobretudo, Ivã Petrovich Pavlov. Gellerstein (1960), numa nota de
comentários sobre Os Reflexos do Cérebro, diz que a sua publicação teve um efeito
formidável nos círculos progressistas da sociedade russa: "Tornou-se o manual das
pessoas jovens nos anos que seguiram a 1866 (...) e foi assunto de vivas discussões;
e enquanto conquistava muitos apreciadores, atraía a inimizade no ambiente dos
idealistas reacionários"(p.581).
É nesse campo que Pavlov, por sua vez, encontrará as maiores resistências. Para
esclarecer melhor o quanto a obra de Sechenov penetrou no campo da explicação
do comportamento voluntário, a partir do conceito de reflexo, examinemos ainda
alguns trechos de Os Reflexos do Cérebro:

O homem de elevados princípios (...) age como age somente porque é guiado
por nobres princípios por ele adquiridos no decurso da vida; acostumado a tais
princípios, ele não pode agir de outra maneira: a sua atividade é o resultado
inevitável de tais princípios. (Sechenov, 1863/1960c, p. 136)
2 | I. M .SECH EN O V (1829-1905 ) E OS “REFLEXOS D O CÉREBRO'

Esse exemplo poderia muito bem ser incluído em trabalhos de Skinner pós 1950
para ilustrar o conceito de"história de reforço", tão grande é a perspicácia de Sechenov.
A atitude antimetafísica de Sechenov representa o nascimento de um pensamento
materialístico na explicação do comportamento, que já então é considerado como
produto das experiências anteriores dos organismos ou, mais exatamente, de
processos de inter-relações entre as condições de vida impostas pelo ambiente
externo agindo sobre a estrutura do organismo.
A psicologia, para Sechenov, é a análise experimental de tais processos: mas
ele, como fisiologista, vê na fisiologia nervosa o caminho para a explicação do
comportamento, admitindo, contudo, que a origem primária de toda atividade,
"aberta" ou interna, traduzida ou não em ação muscular, é sempre a estimulação
externa ao organismo.

44

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Com efeito, as condições internas que ele admite como determinantes do


comportamento "voluntário" têm sempre um ponto de partida na estimulação
sensorial. Essas condições internas dependem sempre quer das meras sensações
captadas pelos órgãos periféricos ou pelos receptores internos, os assim chamados
"órgãos do sentido muscular", quer dos vestígios resultantes da excitação (desses
diversos receptores) no sistema nervoso central.
Essa proposição fica mais clara à luz de outra afirmação de Os Reflexos do Cérebro:

Repito: do ponto de vista do procedimento, não há diferença nenhuma


entre uma efetiva impressão com suas próprias consequências e a memória.
Essencialmente, esta é um só e mesmo reflexo psíquico, com um idêntico
conteúdo psíquico, mas provocado por estímulos diferentes. Eu vejo um
homem enquanto a sua imagem é efetivamente focalizada na retina do meu
olho e e u o lembro porque na minha mente está impressa a imagem da porta
ante a qual ele estivera. (Sechenov, 1863/1960c, p. 108)

Para Sechenov, a experiência passada, implicada no referido exemplo do homem


de elevados princípios morais, é um sinônimo de repetição de atos e de sensações.
Os princípios morais por ele adquiridos revelam-se, em última análise, como
repetição de comportamentos e experiências sensoriais: "O leitor pode agora
ter uma ideia da importância da repetição frequente de um mesmo ato sobre
o desenvolvimento psíquico: a repetição é a mãe da aprendizagem" (Sechenov, 2 I I.M . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS D O CÉREBRO”
1863/1960c). É esse o significado que se deve atribuir às afirmações feitas mais
adiante:

Dadas as mesmas condições internas e externas, a atividade do homem será


semelhante. A escolha entre um ou outro dos muitos completamentos possíveis
de um determinado reflexo psíquico é absolutamente impossível: a aparente
possibilidade de escolha é somente uma ilusão da autoconsciência. A essência
deste ato complexo é que evidentemente um mesmo reflexo, com o mesmo
conteúdo psíquico, é reproduzido na consciência do homem em forma de
pensamento; acontece, porém, que este reflexo se apresenta em condições
mais ou menos diferentes e é, por conseguinte, explicitado em diferentes
formas. Se um dos seus completamentos é de natureza mais emocional, você
agirá em conformidade. (Sechenov, 1863/1960c, pp. 135-136)

45
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Em outras palavras, esse trecho pode ser interpretado assim: dada uma certa
excitação, desenvolve-se no sistema nervoso central um processo de análise dessa
mesma estimulação, e uma simultânea combinação com as outras que chegam (ao
mesmo tempo) dos receptores periféricos ou internos; uma tal elaboração central da
excitação é grandemente influenciada pelos vestígios precedentemente fixados no
sistema nervoso central, de maneira que, das muitas respostas possíveis à estimulação
inicial, efetuar-se-á uma ou outra como efeito reflexo necessário desta complexa
elaboração central: a resposta é portanto inevitável.
Sechenov (1863/1960c) prossegue: "Se ao invés surge na vossa mente uma
imagem mais forte, mas menos emocional, que vos impele para a direção oposta (isto
é, para a não efetuação da resposta) o reflexo terá um completamento diferente no
vosso pensamento" (p. 136). Pode-se assim ver como aqui a ideia central é a natureza
reflexa das ações voluntárias: o curso do reflexo só teoricamente é múltiplo, em nível
central; se em tal nível intervém um processo emotivo, o curso da ação é determinado
por este último. Na prática,

(...) nós vemos que, na metade dos casos, não agimos segundo as nossas
intenções. Mesmo os que acreditam firmemente na voz da autoconsciência,
dizem nestes casos que se perdeu o controle das condições externas. Mas
segundo a nossa opinião, isto demonstra claramente que a causa inicial de
toda atividade humana reside fora do homem. (Sechenov, 1863/1960c, p.l 36)
I I. M. SECHENOV (1829-1905 ) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"

É fácil perceber como essas ideias tiveram influência notável nos estudos de
Pavlov; com efeito, vemos nelas o impulso para uma profunda investigação das
atividades reflexas do córtex, a ênfase sobre a repetição como determinante das
respostas reflexas, a insistência sobre a ação dos estímulos também após o seu
desaparecimento físico, sobre o processo de inibição central das respostas reflexas
e sobre a existência de respostas resultantes do efeito combinado da excitação
simultânea de diversos receptores periféricos ou da associação entre estímulos
presentes e traços de estímulos precedentes.
O que acabamos de expor permite ver como Sechenov tinha desenvolvido já no
seu primeiro grande trabalho, Os Reflexos do Cérebro, as bases metodológicas para uma
análise experimental do comportamento, simples ou complexo, animal ou humano:
uma análise que tem o reflexo quer como instrumento operativo, quer como unidade
última da decomposição experimental.
2

46

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Como bom fisiologista, Sechenov considera reflexo o que, do ponto de vista da


psicologia experimental, é definido "arco reflexo", conforme a distinção de Skinner
(1931) e de Keller e Schoenfeld (1950).
Os esquemas teóricos de Sechenov não são consequência de mera intuição, mas
encontram apoio nos seus estudos sobre a fisiologia do sistema nervoso central, o
que lhe permitia interpretar o cérebro como um verdadeiro centro de conservação
e de organização do múltiplo e contínuo fluxo de impulsos aferentes; e, ainda, como
sede de processos de elaboração da reação eferente entendida em dois aspectos:
resposta muscular periférica ou interna e inibição do impulso eferente.
Para Sechenov, a fisiologia pode muito bem chegar a explicar não só os
movimentos voluntários (como Pavlov em seguida também sustentará), através de
uma análise cuja unidade elementar é o reflexo, mas está também em condição de
justificar porque tal análise e tal unidade seriam também aplicáveis aos atos psíquicos
que não são movimentos como, por exemplo, as emoções e os pensamentos.
O esquema de Sechenov é, em sua maior parte, fruto de hipóteses, mas os
fundamentos experimentais disponíveis são, no quadro geral, perfeitamente
aproveitados.
Entre essas fontes experimentais estão seus estudos Os Órgãos da Sensação
Muscular e Os Órgãos da Memória, referidos em O Aspecto Fisiológico do Pensamento
Sobre Objetos (1894/1960e, pp. 464-465), nos quais são explorados exaustivamente os
dados referentes aos traços de estímulos relativos às sensações visuais e táteis.
Examinemos agora o que entende Sechenov por órgãos da sensação muscular
2 | I.M . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO'
e da memória. Estes correspondem, em substância, a um tipo mais sutil que os da
sensação muscular. O assunto foi tratado numa conferência sobre O Aspecto Fisiológico
do Pensamento Sobre Objetos, publicado pela primeira vez na Ruskaya Mysl (Sechenov,
1894/1960e). O autor (1894/1960e) afirma:

Desde os tempos de Kant, difundiu-se a ideia de que o homem tem um órgão


especial, uma espécie de vista interna apta a perceber as relações espaciais
e as relações de sucessão, um órgão que fornece à consciência as relações
supramencionadas. Essa ideia parece, num certo sentido, justificável porque
de fato existe tal órgão, podendo ser definido como o órgão da sensação
muscular, (p. 462)

47
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Sechenov (1894/1960e) prossegue com um exemplo referente à sua área predileta,


a da percepção visual em que se havia especializado no laboratório de Helmholtz
muitos anos antes:

Qualquer pessoa sabe por experiência pessoal que (...) (na observação de um
objeto em movimento e de um objeto parado) os movimentos dos olhos e da
cabeça enviam diretamente à consciência informações sobre a posição de um
ponto observado em relação a outro ponto observado anteriormente, isto é,
indicam se ele está mais alto ou mais baixo, à direita ou à esquerda, mais longe
ou mais perto de quem observa. Por isso, devido aos movimentos dos olhos
e da cabeça, a imagem visual complexa é dividida em componentes que são
postos em relação por meio de relações espaciais; é o sentido muscular que
une todos os elementos num único grupo espacial. Os músculos dos olhos e da
cabeça que intervêm nos atos da visão desenvolvem o papel de goniómetros,
capazes de fornecer à consciência os diversos índices goniométricos com base
na localização de um dado ponto no espaço, ou — o que é a mesma coisa —
com base na direção e na extensão dos movimentos da cabeça e dos olhos
(...) fornecem também indicações sensoriais a respeito da velocidade dele.
(1894/1960e, p. 462)

Quando seguimos com os olhos o voo de um pássaro, tomamos conhecimento


de sua direção graças às indicações goniométricas fornecidas pelos sentidos
2 | I. M. SECHENOV (1829-1905 ) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"

musculares e (tomamos consciência) da velocidade do voo em virtude do


ritmo com o qual os nossos olhos e a nossa cabeça se deslocam para seguir o
voo. (1894/1960e, p. 462)

Não é difícil reconhecer nesse trecho a síntese do que Frolov (1937/1965) define:
"A função da atividade associada dos órgãos sensoriais na formação dos supracitados
conceitos superiores de espaço e de tempo" (p. 13). É verdadeiramente excelente a
explicação da função proprioceptiva dos movimentos dos olhos e a subsequente
combinação, em nível central, das indicações goniométricas daqueles movimentos.
Em outras palavras, a organização perceptual das sensações múltiplas produzidas por
um objeto em movimento, ou por objetos complexos, é totalmente dependente das
sensações produzidas pelos movimentos supra-acenados, ou seja, pela intervenção
dos "órgãos do sentido muscular". Tais órgãos seriam chamados muito mais tarde de

48

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

receptores proprioceptivos e a sua análise experimental era muito limitada no tempo


de Sechenov, como ele mesmo admitia em 1863, na primeira e hostilizada edição de
Os Reflexos do Cérebro.
Há também entre os órgãos da sensação muscular os que são atualmente definidos
como receptores cinestésicos e os da "sensibilidade subjetiva". Essa expressão não
implica nenhuma referência a conceitos metafísicos, como observa Gellerstein
(1960) numa nota especial: "Sechenov considera subjetivas as sensações que são
causadas pela ação exercida sobre os órgãos sensoriais por estímulos localizados no
nosso organismo ou pelas mudanças que se verificam no interior dele (as sensações
conhecidas no presente como interoceptivas e proprioceptivas)"(p. 585).
Sechenov, portanto, inclui as sensações musculares na categoria das sensações
subjetivas. Para ele, as sensações visuais e auditivas são objetivas porque os estímulos
que as determinam são objetos situados fora do organismo (na terminologia
moderna, essas sensações são definidas como"exteroceptivas").
"Deve-se lembrar", afirma Sechenov (1863/1960c), "que as sensações musculares
acompanham sempre o processo de contração de um músculo assim como o estado
contraído dele" e é desse modo que tais sensações musculares efetuam no nível
central uma síntese entre as sucessivas sensações proprioceptivas discretas.
A ligação cortical entre sensações isoladas no tempo ou no espaço (segundo
o particular receptor periférico que é considerado) é, portanto, assegurada pelas
sensações musculares que chegam ao sistema nervoso central também nos intervalos
entre uma estimulação sensorial e a sucessiva. A esse liame, Sechenov chama
2 | I.M. SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"
de troço e é justamente com as funções de traços que os órgãos da sensibilidade
muscular contribuem (ao lado do efeito da repetição das sensações periféricas) para
a explicação da memória e do pensamento, bem como, da organização perceptual.
De fato, é nessa última função que se baseia a validade da aplicação de um
modelo tão simples como o arco reflexo à análise de comportamentos complexos.
Passemos agora a examinar, brevemente, as ideias fundamentais de
Sechenov acerca da memória na sua tentativa de estender a análise científica aos
comportamentos voluntários, aqueles cuja estimulação inicial parece partir de algum
misterioso fundo, ao contrário do que ocorre com as respostas reflexas típicas, mais
elementares.
Antes de tudo é preciso ter presente que o conceito de traço da estimulação
tem para Sechenov o caráter de fenômeno material que persiste no cérebro
como resultado da ação do estímulo no aparelho sensorial. Esse esclarecimento é

49
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

importante, como fez notar Gellerstein (1960), pois "a teoria dos traços ou dos assim
chamados engramas era usada também pelos psicólogos idealistas, gue distinguem
os processos de traços das mudanças no substrato material que acompanham cada
sensação".
Sechenov (1863/1960c) tenta nesse campo apoiar-se nas evidências experimentais
disponíveis "sobre esta capacidade, existente na fisiologia dos nervos" (p. 99) e
descreve um exemplo expressivo do seu campo preferido, a percepção visual:

(...) qualquer estimulação do nervo óptico obtida pela luz, não importa de
qual duração, deixa sempre um vestígio bem pronunciado que persiste sob
forma de uma sensação real por um período mais ou menos longo, conforme
a duração e intensidade da estimulação efetiva, (p. 99)

Esse efeito será em seguida utilizado pelos "gestaltistas" para demonstrar


a propriedade de "forma", sob o nome de post-imagem, enquanto Sechenov
(1863/1960c) o utilizará para explicar a memória das imagens visuais que "se formam
na consciência dos homens sem a participação das imagens e sons correspondentes
do mundo externo".
Se os homens, como é sabido, "pensam por imagens, palavras ou outras
sensações" (p. 101), a capacidade de pensar através destas imagens e sons mesmo
depois do desaparecimento dos estímulos efetivos visuais ou auditivos constitui o
problema fundamental na explicação do pensamento e da memória. A análise de
I I.M .S E C H E N O V (1829-1905 } EOS "REFLEXOS DO CÉREBRO'1

Sechenov (1863/1960c) concentra-se, por conseguinte, sobre o objetivo de elucidar o


pensamento realizado através de imagens e sons sem os correspondentes substratos
externos, porque é na análise desse fenômeno que, para ele, deve ser procurada a
explicação da "capacidade de reproduziras sensações": "Como o início da lembrança
é a própria preservação das citadas imagens e sons'em estado latente no aparelho
nervoso', daí provém que não haveria nada a ser lembrado se, uma vez afastado o
substrato externo, acabasse também a sensação" (Sechenov, 1863/1960c, p. 78).
Sechenov insiste muitas vezes sobre a natureza nervosa dos traços entendida
como persistência da "excitação do nervo" mesmo depois do desaparecimento da
sensação:

Os traços, uma vez estabelecidos, sofrem um processo de consolidação e


aperfeiçoamento devido à frequência com que se repete a efetiva excitação
2

50

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

do receptor periférico. Essas repetições permitem durações mais longas dos


traços graças ao fato de que elas tornam mais clara a sensação. (Sechenov,
1863/1960c; p. 101)

É justamente em virtude desse processo de consolidação e aperfeiçoamento que


'uma estimulação externa muito insignificante é suficiente para reproduzir a sensação
original" (Sechenov, 1863/1960c, p. 101)
Em seguida, Sechenov procura estender o conceito de um modo que lembra as
eis menores de Edward Thorndike, que seriam publicadas algumas décadas mais
tarde. De fato, descontada a ênfase sobre a repetição como causa da consolidação
dos traços, Sechenov (1863/1960c) afirma que "uma sensação forte produz traços
mais marcados que uma sensação mais fraca"e, além disso, que "quanto mais recente
é uma sensação tanto mais forte será a memorização da mesma" (p. 101).
Diversamente de Thorndike, que nasceria oito anos mais tarde, Sechenov
apresenta uma exposição que visa demonstrar como essas duas variáveis da
memória encontram fundamento na capacidade fisiológica do aparelho nervoso
aferente, neste caso o nervo óptico. Ele apresenta também um exemplo de traços
relativos à excitação do tato em uma rã decapitada, capaz de apresentar por certo
tempo a flexão reflexa de uma pata, eliciada por contato feito sobre a pele: "a flexão
desaparece só gradualmente no espaço de uma hora, o que nos indica claramente
que todo o reflexo da pele ao músculo é conservado como traço na medula espinal"
(Sechenov, 1863/1960c, p. 103).
| I. M. SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"
É mesmo notável a importância dessas ideias de Sechenov para a neurofisiologia
dos anos subsequentes. Na leitura dos seus trabalhos podemos entrever os
fundamentos das investigações que ocuparão, mais tarde, Pavlov, Vladimir Bechterew
e os seus discípulos, já munidos de recursos metodológicos mais refinados para uma
análise experimental das hipóteses apresentadas por Sechenov e reconhecidas como
tais na conclusão de Os Reflexos do Cérebro (1863/1960c):

Para os naturalistas não há nada de incomum nestas hipóteses dos traços


latentes da excitação nervosa, especialmente porque os fenômenos da
memória, assim como os temos apresentados, são, na maior parte, estritamente
semelhantes aos dos traços perceptuais da luz que aparecem depois de
qualquer verdadeira estimulação óptica.
2

51
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Ainda sobre o conceito de traço, em Os Elementos do Pensamento, Sechenov


esclarece dois termos que mencionamos nas páginas precedentes:

O termo estabilidade se refere aqui à capacidade do traço de ficar na mente


(...): na forma de pensamento através de imagens, palavras ou outras sensações
(...) por um longo tempo, enquanto clareza indica a capacidade da imaginação
sensorial de tornar-se mais definida como resultado de repetições da sensação.
(Sechenov, 1878/1960d, p. 292)

Para explicar em termos de neurofisiologia essas afirmações, o autor chega


praticamente a definir os reflexos incondicionados com termos que fazem pensar
imediatamente em ConditionedReflexes, de Pavlov (1927). Diz Sechenov (1878/1960d):
"Não é difícil expressar isto em termos de excitação nervosa se, como fazem os
fisiologistas, admitimos que em correspondência a uma sensação verifica-se um
processo de excitação nervosa no sistema nervoso, que se irradia ao longo de vias
inatas [Inborn pathways]".
Sechenov (1878/1960d) nos oferece, ainda em Os Elementos do Pensamento, uma
síntese da sua teoria da memória e do pensamento:

Qualquer objeto ou fenômeno externo é fixado na memória e reproduzido na


consciência nas seguintes três direções principais: como membro de um grupo
espacial, como membro de uma cadeia de (elementos em) sucessão e, enfim,
2 | I. M. SECHENOV (1829-1905 ) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO”

como membro de uma cadeia de (elementos) semelhantes, (p. 328)

Para concluir esta sumária exposição das geniais intuições de Sechenov


(1894/1960e), é significativa sua referência aos órgãos da memória:"Eu digo os órgãos
da memória e não o órgão, porque do ponto de vista fisiológico o conceito inclui os
aparelhos acessórios centrais dos órgãos dos sentidos e de todos os movimentos
complexos adquiridos".
Abre assim Sechenov o caminho para a análise experimental desses "aparelhos
centrais"aos quais são transmitidas as excitações dos órgãos periféricos dos sentidos,
bem como as que têm origem em atividades complexas não inatas.
O estudo experimental de tais "aparelhos centrais acessórios" e das suas funções
deverá, todavia, ser adiado até o princípio do século XX, quando aparecerá na cena da
fisiologia dos centros nervosos, Pavlov.

52

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Referências
Frolov, Y. R (1965). Introduzione o Povlov e Ia sua scuolo (G. Beretta, Trad.). Firenze:
Editrice Universitária. (Obra original publicada em 1937).
Gellerstein, S. (1960). Note to the edition. In G. Gibbons (Ed.). Selected physiological and
psychological works. Moscow: Foreign Languages Publishing House.
Keller, F. S., & Schoenfeld, W. N. (1950). Principles o f psychology: A systematic text in the
science of behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.
Koshtoyants, K. (1960). Ivan Sechenov. In G. Gibbons (Ed.). Selected physiological and
psychological works. Moscow: Foreign Languages Publishing House. (Obra original
publicada em 1956).
Locke, J. (1948). An essay concerning human understanding. In W. Dennis (Ed.),
Readings in the history of psychology (pp. 55-68). New York: Appleton-Century-
Crofts.
Sechenov, I. M. (1952). Autobiographical notes. Washington: American Institute of
Biological Sciences. Moscow-Leningrad, U.R.S.S. Academy of Sciences. (Obra
original publicada em 1945).
Sechenov, I. M. (1960a). Data for the future physiology of alcoholic intoxication. In
G. Gibbons (Ed.). Selected physiological and psychological works. Moscow: Foreign
Languages Publishing House. (Obra original publicada em 1860).
Sechenov, I. M. (1960b). First class. Meditsinsky Vestnik, n. 26. In G. Gibbons (Ed.), /.
Sechenov, Selected physiological and psychological works. Moscow: Foreign
Languages Publishing House. (Obra original publicada em 1861). 2 I I. M. SECHENOV (1829-1905) E OS"REFLEXOS DO CÉREBRO"

Sechenov, I. M. (1960c). Reflexes of the brain. In G. Gibbons (Ed.), I. Sechenov, Selected


physiological and psychological works. Moscow: Foreign Languages Publishing
House. (Obra original publicada em 1863).
Sechenov, I. M. (1960d). The elements of thought. In G. Gibbons (Ed.), I. Sechenov,
Selected physiological and psychological works. Moscow: Foreign Languages
Publishing House. (Obra original publicada em 1878).
Sechenov, I. M. (1960e). The physiological aspect of object thinking. In G. Gibbons
(Ed.), I. Sechenov, Selected physiological and psychological works. Moscow: Foreign
Languages Publishing House. (Obra original publicada em 1894).
Skinner, B. F. (1931). The concept of the reflex in the description of behavior. Journal of
General Psychology, 5, 427-458.

53
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Skinner, B. F. (1956). Some issues concerning the control of human behavior. Science,
New Series, 724(3231), 1057-1066.
Skinner, B. F. (1961) Freedom and the control of men. In B. F. Skinner. Cumulative record
(2a. ed.,pp. 3-18). New York: Appleton-Century-Crofts. (Obra original publicada em
1955).
| I. M. SECHENOV (1829-1905 ) E OS"REFLEXOS D O CiiREBRO"
2

54

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

3 I. P. PAVLOV (1 849 -19 36): DO REFLEXO


SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS
SUPERIORES

Diego Zilio

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Aprenda o ABC da ciência antes de tentar escalar os seus picos. Nunca


embarque no que vem depois antes de dominar o que vem antes. Nunca tente
esconder as lacunas do seu conhecimento, até mesmo com as hipóteses e
presunções mais audaciosas. Não importa o quanto essa bolha possa deleitar
os olhos com a sua profusão de cores, ela está fadada a estourar, e você ficará
com nada além de confusão. (Pavlov, 1955a, p. 54)

Não há, provavelmente, autor que tenha recebido mais reconhecimento por
parte de B. F Skinner do que Ivan Pavlov. Seu livro, Conditioned Reflexes, em conjunto
com Philosophy de Bertrand Russell e Behaviorism de John B. Watson, serviu de base
preparatória para a carreira em Psicologia que Skinner estava por iniciar em Harvard

3 | I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


(Skinner, 1979). Logo no início de seus estudos, Skinner presenciou o "Congresso
Internacional de Fisiologia", do qual Pavlov fora o convidado especial. Na ocasião,
adquiriu uma foto autografada do fisiologista russo que o acompanharia pelo
resto de sua carreira, em suas salas nas Universidades de Indiana e Harvard e, por
fim, em sua própria casa, ao lado de fotos da família (Skinner, 1979). Catania e Laties
(1999) afirmam que "para o jovem Skinner, Ivan Petrovich Pavlov não foi apenas uma
influência: Pavlov foi o seu herói" (p. 455).
Pavlov é também o autor mais citado no primeiro livro de Skinner (1938/1966b),
The Behovior ofOrgonisms, contando 44 menções. À guisa de comparação, Charles
S. Sherrington, o segundo mais citado, é mencionado apenas 14 vezes (Catania
& Laties, 1999). Talvez não seja de modo algum exagerado afirmar, embora nos
faltem evidências concretas para isso, que a própria estrutura do livro de Skinner
(1938/1966b) deixa transparecer a influência da obra de Pavlov (1927/1960). Ambos
os livros possuem organização semelhante: são iniciados por um capítulo acerca
dos conceitos e dos fundamentos metacientíficos do trabalho; em seguida ambos
descrevem minuciosamente as técnicas e os aparatos utilizados nas pesquisas; e, por
fim, há uma extensa, quase exaustiva, apresentação de dados empíricos.

57
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

A influência de Pavlov é indiscutível, principalmente, no que concerne


ao posicionamento metodológico defendido por Skinner em sua ciência do
comportamento. Nas palavras do próprio autor (1966a):

Provavelmente a lição mais importante que aprendi com ele [o livro Conditioned
Reflexes], sendo uma facilmente ignorada, foi o respeito pelo fato. Em 15 de
dezembro de 1911, exatamente à 1h55 da tarde, um cão secretou nove gotas
de saliva. Acatar esse fato com seriedade, e fazer com que os leitores também o
acatassem com seriedade, não foi realização pequena.Também foi importante
que se tratava de fato sobre um organismo único. A psicologia animal naquele
tempo estava primariamente preocupada com o comportamento do rato
normal [average rat]. As curvas de aprendizagem que apareciam em livros-
texto eram geradas por grandes grupos de organismos. Pavlov estava falando
do comportamento de um organismo por vez. Ele também enfatizou as
condições de controle. Seu laboratório à prova de som, cuja imagem aparece
no livro, impressionou-me significativamente, e o primeiro aparato que construí
consistiu em uma câmara à prova de som e uma caixa-de-saída silenciosa. (...) O
| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVARÁS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

lema desta sociedade é extraído de Pavlov: "Observação e observação". Pavlov


quis dizer, claro, observação da natureza, e não de algo que alguém escreveu
sobre a natureza, (p. 76)

Algumas das principais características da filosofia da ciência proposta por Skinner


já estavam em Pavlov. Os autores compartilhavam o respeito pelos fatos, mesmo que
estes parecessem, à primeira vista, irrelevantes ao planejamento da pesquisa. Skinner
(1956) sustenta que as descobertas por puro acaso, por "serendipity", constituiriam
um dos principais fatores no desenvolvimento científico. O caso de Pavlov é um
exemplo claro. Fisiologista de formação, Pavlov não possuía nenhuma relação com a
Psicologia (Konorski, 1970). Grande parte de sua carreira fora dedicada ao estudo da
digestão, até que, um dia, um fato curioso chamou a sua atenção: os cães utilizados
nos experimentos sobre digestão salivavam na presença de estímulos associados,
por conta da própria rotina de atividades no laboratório, à comida. Mesmo não
fazendo parte de sua agenda de pesquisa, Pavlov não ignorou o fato e logo se viu
estudando o que seria denominado, no início, de salivação "psíquica" (Babkin, 1949).
Outra característica do modelo pavloviano que também influenciou o modo de
se fazer pesquisa na análise do comportamento foi o estudo com sujeito único,
3

58

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

em detrimento das análises estatísticas com grande amostragem que poderiam


ocultar nuances do comportamento individual em favor do sujeito ideal "normal"
(Sidman, 1960). Em adição, assim como Pavlov, Skinner era bastante preocupado
com o controle experimental das variáveis independentes e do próprio ambiente
laboratorial. Utilizava aparatos mecânicos, tendo criado inclusive alguns deles,
sendo os principais o registro cumulativo e a caixa-problema que, posteriormente,
levaria seu nome (Skinner, 1979). Finalmente, Skinner (1966a) afirma que Pavlov
também foi responsável por ensiná-lo sobre a importância da observação direta da
natureza. Caberia aos fatos observados na natureza, e não à atividade racionalista
pura, responder as grandes questões científicas. Konorski (1970) afirma que uma das
frases mais repetidas por Pavlov durante a sua vida foi: "O Senhor Fato resolve todos
os nossos argumentos e ele é o mestre que devemos servir e obedecer" (p. 242).
É nesse último ponto, o respeito pelo "Senhor Fato" observado na natureza,
que encontramos a principal crítica de Skinner a Pavlov. Para Skinner, a teoria
neurológica de Pavlov não era "fatual" pois o autor não havia estudado aspectos
fisiológicos do comportamento, mas sim o comportamento em si mesmo. A extensa
quantidade de dados presentes em seu ConditionedReflexes dizia respeito às relações

I I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


comportamentais, e era a esse "Senhor Fato" que Pavlov deveria prestar contas. Dar
à obra o subtítulo An Investigation of the Physiological Activity ofthe Cerebral Córtex
não tornaria os dados menos comportamentais ou mais fisiológicos. Para Skinner
0 938/1966b), Pavlov estudava comportamento e não fisiologia:"Os dados fornecidos
[por Pavlov] eram obviamente acerca do comportamento de cães praticamente
intactos, e o único sistema nervoso sobre o qual ele discorreu era conceituai" (p. 426).
Apenas três dos capítulos de seu Conditioned Reflexes mencionavam manipulações
fisiológicas, especificamente, lesões ou extirpações completas de áreas do córtex
do cão a fim de avaliar seus efeitos na formação de reflexos. Ainda assim, Pavlov
(1927/1960) mostrou-se cauteloso ao ressaltar a simplicidade e limitação do método:

Esse método naturalmente sofre de desvantagens fundamentais, já que


ele envolve as formas mais rudimentares de interferência mecânica e o
desmembramento grosseiro de um órgão cuja estrutura e função são das
mais intrincadas. Imagine que tenhamos que acessar a atividade de uma
máquina incomparavelmente mais simples criada pelas mãos humanas
e que, desconhecendo as suas partes distintas, ao invés de desmontá-la
cuidadosamente, nós pegamos uma serra e cortamos fora um ou outro pedaço
3

59

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

dela, esperando obter conhecimento exato do seu funcionamento mecânico!


(p. 320)

A partir do estudo sistemático das relações entre estímulos e respostas, Pavlov


inferiu toda uma teoria da dinâmica cerebral; teoria essa que não seria derivável
apenas de estudos simples com lesões cerebrais. São dois os critérios principais, e
complementares, na caracterização do sistema nervoso conceituai (Zilio, 2015). O
primeiro é a observação: Pavlov não observou o sistema nervoso "real", isto é, não
estudou diretamente o seu funcionamento ainda que tenha realizado estudo com
lesões ou extirpações. Tais estudos apontavam apenas correlações entre a ocorrência
de reflexos específicos e tais lesões ou extirpações. A dinâmica fisiológica dos
processos neurais superiores não foi estudada. O segundo é o objeto de estudo: Pavlov
não estudou a fisiologia do organismo, mas as relações entre estímulos ambientais
e respostas reflexas. Por meio do estudo do reflexo condicional (objeto de estudo
não-fisiológico), Pavlov desenvolveu uma teoria neurológica que não era amparada
por fatos da neurofisiologia "real" (e observável) do organismo, mas consistia em
inferências derivadas da observação do comportamento do organismo.
| I. P. PAVLOV (1849-1936): D O REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

Aos olhos de Skinner (1966a), Pavlov era acima de tudo um cientista do


comportamento e não um fisiologista. Ao que parece, para Skinner, é o objeto
de estudo, e não propriamente os métodos herdados de suas pesquisas iniciais
em fisiologia, o que definiria a área na qual se enquadraria o cientista Pavlov. Ao
mudar o foco de estudo dos mecanismos relacionados à digestão para a análise
da salivação "psíquica", Pavlov saíra da fisiologia e entrara no campo da ciência do
comportamento. É justamente no bojo da tese de que Pavlov estaria praticando
ciência do comportamento e não fisiologia que outra crítica de Skinner se forma:

(...) para fortalecer sua afirmação de que a psicologia era uma ciência, e para
preencher o seu livro-texto, [Watson] recorreu à anatomia e fisiologia, e
Pavlov tomou o mesmo caminho ao insistir que seus experimentos sobre o
comportamento eram na verdade "uma investigação da atividade fisiológica
do córtex cerebral", ainda que nenhum deles pudesse apontar para qualquer
3

60

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

observação direta do sistema nervoso que lançou luz sobre o comportamento.


(Skinner, 1974, p. 6 )1

Pavlov teria falhado em vislumbrar a possibilidade de uma ciência do


comportamento autônoma e livre da fisiologia. Pelo contrário, ele teria recorrido
à fisiologia, sua área de atuação nas pesquisas sobre digestão, para validar
cientificamente o estudo da salivação "psíquica". Skinner (1966a), assim como Boakes
(1984) e Pessotti (1979), pondera que essa posição seria um produto do materialismo
vigente na Rússia do século XIX. Nas palavras do autor (1966a):

Uma forma diferente de materialismo surgiu na história quando os soviéticos


fizeram de Pavlov um herói nacional. Não há dúvidas de que o sistema nervoso
é material; quando decompõe, ele cheira mal, e poderia alguém pedir por
melhor prova? O comportamento, por outro lado, é evanescente. Falar sobre
ele sem mencionar o sistema nervoso é correr o risco de ser acusado de
idealista, (p. 77)

| I. P. PAVLOV (1849-1936): CO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


Nas seções que se seguem, as considerações críticas de Skinner sobre Pavlov
serão utilizadas como pedra de toque para a discussão da obra pavloviana.

Monismo materialista e método mecanicista


À luz da crítica de Skinner segundo a qual Pavlov teria recorrido à fisiologia para
validar sua prática como científica, ao invés de assumir a possibilidade de uma ciência
do comportamento autônoma, consideremos o que Pavlov escreveu sobre a questão
logo no início de ConditionedReflexes:

Que atitude deve o fisiologista adotar? Talvez ele deva antes de tudo estudar
os métodos dessa ciência da psicologia e, só depois, esperar estudar os
mecanismos fisiológicos dos hemisférios? Isso envolve uma dificuldade séria.
É lógico que, em suas análises das várias atividades da matéria viva, a fisiologia
deva basear-se nas ciências mais avançadas e exatas - Física e Química. No

1 Nota-se aqui que Skinner também dialoga com Watson e este é também alvo da mesma crítica
dirigida a Pavlov: recorrer à fisiologia, mesmo que conceituai, para validar cientificamente a psicologia
(Zilio, 2016).
3

61

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

entanto, se tentarmos a abordagem dessa ciência da psicologia ao problema


que confrontamos, nós iremos construir nossa superestrutura tendo como
base uma ciência que não tem nenhuma pretensão de exatidão, até mesmo
se comparada à fisiologia. Na verdade, ainda está aberto à discussão se a
psicologia é uma ciência natural ou se ela pode ser considerada, de fato,
uma ciência. (...) Até mesmo os defensores da psicologia não olham para a
sua ciência como sendo em qualquer sentido exata. O eminente psicólogo
americano William James recentemente referiu-se à psicologia não como uma
ciência, mas como uma promessa de ciência. Outro exemplo claro é oferecido
por Wundt (...). Pouco antes da Guerra (1913), na ocasião da discussão sobre a
divisão das cátedras de Filosofia e Psicologia na Alemanha, Wundt se opôs à
separação, um de seus argumentos sendo a impossibilidade de se estabelecer
uma agenda de pesquisa comum na psicologia, já que cada professor tinha
uma ideia própria sobre o que seria realmente a psicologia. Tais testemunhos
mostram claramente que a psicologia não pode assumir o status de ciência
exata. Se é esse o caso, não há motivo para o fnsiologista ter que recorrer à
psicologia. ( 1927/ 1960, pp. 3-4)
| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

O primeiro ponto a ser ressaltado nessa passagem diz respeito a qual "Psicologia"
Pavlov se opunha. O autor cita James e Wundt como autores da Psicologia que,
mesmo sendo da área, não a classificavam necessariamente como "ciência". Dessa
forma, Pavlov não negava necessariamente a possibilidade de uma ciência do
comportamento autônoma, tal como a desenvolvida posteriormente nos moldes
behavioristas por Skinner. Pavlov era crítico da Psicologia de sua época - introspectiva
e mentalista (García-Hoz, 2004). Diz o autor (1909/1955c) sobre a psicologia do
mundo "interno": "A psicologia como o conhecimento do mundo interno ainda está
em busca de seus próprios métodos reais" (p. 208).
Precisamente, Pavlov era contra qualquer tipo de explicação que apelasse para
eventos mentais, sobrenaturais ou místicos, e que fossem impassíveis de verificação
experimental (Boakes, 1984; Fearing, 1930; Konorski, 1970; Pessotti, 1976, 1979).
Pavlov era, acima de tudo, um monista materialista (Windholz, 1997) e estendeu essa
perspectiva filosófica ao estudo da salivação "psíquica". Fearing (1930) situa Pavlov no
contexto da fisiologia mecanicista, ao lado de Jacques Loeb,Theodor Beer, Albrecht
Bethe e Jakob J. von Uexküll. O mecanicismo de Pavlov é evidente em sua obra, como
é possível notar nesta passagem:
3

62

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

0 homem é claramente um sistema, - a grosso modo, uma máquina - como


qualquer outro sistema na natureza sujeito às uniformes e inescapáveis leis da
natureza. (...) Nessa perspectiva, o método de investigação do sistema homem
é precisamente o mesmo de qualquer outro sistema. (1932, pp. 126-127)

O homem é uma máquina e, como qualquer outra máquina, está fadado a curvar-
se às leis da natureza. Não há espaço para qualquer tipo de explicação não natural
do comportamento do homem-máquina. Além disso, não há motivos para crer que
o método de estudo dessa máquina deva ser diferente do método de estudo de
qualquer outra:"(...) decomposição em partes, estudo do significado de cada parte,
da conexão entre as partes, das relações com o ambiente e, finalmente, a partir disso,
a interpretação de suas atividades gerais e administrativas, se isso estiver dentro das
capacidades do homem"(Pavlov, 1932, pp. 127).
É correto supor que o posicionamento de Pavlov acerca da Psicologia de sua época,
e o ponto de vista monista materialista inerente à sua abordagem metodológica
mecanicista, seriam compatíveis com o movimento behaviorista norte-americano.
Ora, tal movimento foi uma reação às psicologias da "consciência" - estruturalistas e

| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


funcionalistas - que utilizavam a introspecção como método de estudo (O'Donnell,
1985). Essa sintonia de ideias, provavelmente, contribuiu para a adoção, pelos
behavioristas, do modelo pavloviano do reflexo condicional como unidade básica na
formação de"associações"(Fearing, 1930; Malone, 1991). Porém, talvez termine aqui as
concordâncias entre as agendas de pesquisa do movimento behaviorista e de Pavlov.

Estudo do reflexo condicional: meio para um fim


A influência de Pavlov na psicologia experimental de língua inglesa foi restrita aos
âmbitos metodológico e metacientífico (Boakes, 2003; Ruiz, Sánchez & de la Casa,
2003). Entretanto, mesmo nesse caso, não podemos dizer que Pavlov foi uma figura
essencial para o surgimento do movimento behaviorista. O manifesto de Watson
(1913), visto como a obra fundacionai do movimento, não faz menção a Pavlov.
Watson trabalhou a questão da aprendizagem essencialmente a partir da ideia de
formação de hábitos. Apenas mais tarde, quando o conceito de hábito se mostrou
obscuro, o autor passou a adotar a perspectiva pavloviana (Brozek & McPherson,
1973). Em resumo, a influência de Pavlov na psicologia da aprendizagem, incluindo
o movimento behaviorista, é seletiva, abarcando seus métodos de estudo do reflexo
3

63

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

condicional e o seu arcabouço conceituai na descrição do fenômeno. A sua teoria


neurológica foi amplamente ignorada (Ruiz, Sánchez & de la Casa, 2003).
Nesse ponto,encontramos oquetalvezseja a principal diferença entrea abordagem
de Pavlov e a da psicologia da aprendizagem americana que havia adotado o modelo
do reflexo condicional: Pavlov via o estudo do reflexo condicional como um meio
para desvendar o funcionamento do "sistema nervoso superior". Por outro lado, para
a psicologia da aprendizagem, o estudo do reflexo condicional era um fim em si
mesmo. Malone (1991) afirma que"(...) a resposta condicional significava muito mais
para Pavlov do que isso. Era a chave para desvendar os segredos do cérebro; não era
ela mesma o segredo" (p. 56). Konorski (1970), em texto retrospectivo sobre Pavlov, diz
que"(...) o estudo experimental dos reflexos condicionais era totalmente subordinado
ao problema do que poderíamos aprender sobre os processos correspondentes
no cérebro a partir de tal resposta comportamental" (p. 245). O próprio Pavlov
(1934/1955g) assume explicitamente essa distinção ao criticar os experimentalistas
que se detinham no estudo do reflexo sem levar adiante as investigações para o nível
fisiológico:
| I. P. PAVLOV (1849-1936): D O REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

(...) tal fenômeno [o reflexo condicional] há muito tem sido observado por
numerosos pesquisadores (...), mas por uma razão ou outra eles pararam
o estudo em seu início e não utilizaram o conhecimento desse fenômeno
para o propósito de elaborar um método fundamental de estudo fisiológico
sistemático das atividades superiores no organismo animal, (p. 247)

Assim, a crítica de Skinner sobre a prática científica de Pavlov não deve ser aceita
sem uma análise cuidadosa. A questão não é tão simples. Não podemos assumir que
Pavlov recorreu à fisiologia e, por extensão, ao sistema nervoso conceituai, como forma
de validação da sua teoria. Essa crítica de Skinner faz sentido se direcionada às teorias
mentalistas, que assumem a existência de algo (a "mente", "cognição", "consciência"),
estudam esse algo a partir de métodos próprios (e.g., introspecção), mas também
supõem que esse algo é um produto do "cérebro". Pavlov, por outro lado, está mais
próximo de uma visão eliminativista, de acordo com a qual não existe a "mente"como
algo distinto da substância física. O homem é uma máquina fisiológica que, enquanto
tal, deve ser estudado pelos métodos da fisiologia. Resta-nos, então, analisar por que
Pavlov parecia não concordar com o estudo do reflexo como um fim em si mesmo,
isto é, com a possibilidade de uma ciência do comportamento autônoma.
3

64

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

A resposta mais simples e talvez verdadeira para essa questão é fornecida por
Konorski (1970): "Pavlov foi um biólogo e um fisiologista e não tinha nenhuma
ligação com a psicologia" (p. 244). O contato acadêmico de Pavlov com a fisiologia
teve início na Academia Médico-Cirúrgica (renomeada, posteriormente, de "Militar-
Médica") da Universidade de São Petersburgo, na qual se graduou em 1879 e, logo
em seguida, iniciou seus estudos de pós-graduação entre os anos de 1880 e 1884
(Babkin, 1949). Sua tese de doutorado foi sobre o sistema cardiovascular, tema que
seria o foco de suas pesquisas por mais de dez anos (Babkin, 1949). Mas foram seus
trabalhos sobre o sistema digestivo que lhe renderam reconhecimento no campo
da fisiologia, inclusive com o seu prêmio máximo, o Nobel de Fisiologia ou Medicina,
com o qual Pavlov foi agraciado em 1904 (Babkin, 1949). Em poucas palavras, Pavlov
era fisiologista de formação e, por isso, estava distante do contexto da Psicologia. Essa
formação em fisiologia é essencial para entendermos a sua proposta de estudo do
reflexo condicional em termos fisiológicos.
Nesse contexto, Pessotti (1976) apresenta algumas condições essenciais para
entendermos a estratégia de Pavlov no estudo do reflexo quando ele se deparou
com o fenômeno da salivação "psíquica" que deturpava seus experimentos sobre

| I. P. PAVLOV 0 849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATiVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


digestão. Em primeiro lugar, Pavlov possuía uma extensa experiência técnica em
pesquisa fisiológica, fruto de seus trabalhos sobre os sistemas cardiovascular e
digestivo. Era inclusive, e esse é o nosso segundo ponto, especialista no método
"crônico". Em contraposição ao método "agudo", que consistia no estudo de partes
do órgão digestivo preparadas post mortem ou da observação do processo em
animais anestesiados ou mutilados, o método "crônico" permitia estudar as funções
fisiológicas do organismo vivo sem afetar, pelo menos não de modo drástico, a sua
condição de integridade (Pessotti, 1976). No caso do estudo da digestão, o método
crônico envolvia uma técnica dominada com maestria por Pavlov: a das "fístulas" ou
"janelas" abertas no corpo dos animais. Essa técnica permitia a retirada de fluídos
corporais (como suco gástrico ou saliva) e a observação direta da atividade fisiológica
do organismo vivo. Outro ponto ressaltado por Pessotti (1976) diz respeito à manifesta
influência da teoria de Ivan Sechenov na obra de Pavlov. Anos antes da própria teoria
neurológica de Pavlov, Sechenov (1863/1965) propôs um modelo de explicação da
atividade "psíquica" ou "mental" baseada, essencialmente, na teoria reflexa. Para o
autor, os processos mentais não passariam de reflexos cerebrais. Finalmente, Pessotti
(1976) também apresenta a posição monista materialista defendida por Pavlov, e
3

65

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

sobre a qual discutimos anteriormente, como fator essencial no entendimento de


sua estratégia para o estudo do reflexo.
Em síntese, temos um fisiologista de formação, com vasto conhecimento técnico
de sua área, principalmente no que diz respeito ao método "crônico" de estudo do
organismo vivo e integral, que defende posição metacientífica monista materialista,
o que o leva a classificar como inadequado qualquer tipo de explicação que recorra
a fenômenos inobserváveis e/ou não físicos, e que, por fim, está familiarizado com as
teorias reflexas do sistema nervoso. É esse o Pavlov que se depara, durante os estudos
sobre a digestão, com o fenômeno da salivação "psíquica".

A fisiologia das atividades nervosas superiores


Tendo em vista o conjunto de condições descrito anteriormente, não é difícil de
entender por que Pavlov percorreu o caminho fisiológico em suas pesquisas sobre o
reflexo condicional; caminho esse que levou, nas palavras do autor (1934/1955g), à"(...)
criação de um novo campo na fisiologia dos animais - a fisiologia da atividade nervosa
superior"(p. 245). A teoria neurológica de Pavlov é, sem sombra de dúvidas, o aspecto
de sua obra menos explorado. Textos de história da Psicologia e da Fisiologia, quando
| I. P. PAVLOV 0 849 -19 36): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

falam de Pavlov, invariavelmente apresentam o seu método e a sua teoria do reflexo


condicional (e.g., Boakes, 1984; Boring, 1929/1950; Fearing, 1930; Finger, 1994, 2000;
Ochs, 2004; Pessotti, 1976)2, deixando intocadas as suas hipóteses sobre a atividade
nervosa superior. Contudo, se para Pavlov os estudos sobre reflexo condicional era
apenas um meio para se chegar ao conhecimento do sistema nervoso superior, e
Skinner criticou justamente essa estratégia quando atribuiu à teoria pavloviana
o status de sistema nervoso conceituai, então parece-nos apropriado tomar esse
caminho em nossa exposição. Para tanto, cabe iniciarmos com as ideias de Pavlov
acerca da relação entre o organismo e o ambiente, pois é nela que encontramos a
principal função do reflexo:

O organismo animal, enquanto sistema, existe na natureza que o cerca graças à


equilibração contínua desse sistema com o ambiente, i.e., por conta das reações
definidas do sistema vivo às estimulações que o atingem de fora, o que, em
animais superiores, é efetuado principalmente através do sistema nervoso na
forma de reflexos. Essa equilibração e, consequentemente, a integridade tanto

2 Uma exceção é Malone (1991), que faz uma análise da teoria neurológica de Pavlov.
3

66

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

do organismo quanto de sua espécie, são asseguradas primeiramente pelos


mais simples reflexos incondicionais (...). No entanto, o equilíbrio alcançado por
esses reflexos é completo apenas quando há constância absoluta do ambiente
externo. Porém, uma vez que o último é altamente variável e está sempre
flutuando, as conexões incondicionais ou constantes não são suficientes; elas
precisam ser suplantadas pelos reflexos condicionais ou conexões temporárias.
(1934/1955g, p. 249)

Pavlov (1909/1955c) também afirma que"(...) a vida como um todo, dos organismos
mais simples aos mais complexos, incluindo, obviamente, o homem, é uma longa
série de equilibrações com o ambiente" (p. 218). Para Pavlov, o homem é uma
máquina, um sistema que interage com o ambiente, e essa interação acaba por afetar
o seu estado de equilíbrio. 0"equilíbrio"descrito por Pavlov pode ser associado à ideia
de milieu intérieur proposta por Claude Bernard que, por sua vez, foi desenvolvida
por Walter Cannon sob o nome de"homeostase"(Babkin, 1949). A impossibilidade de
manutenção do estado de equilíbrio de um organismo resulta em sua deterioração.
O organismo vive em constante adaptação às mudanças ocorridas no ambiente ao

| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


seu redor. O organismo responde às mudanças ambientais e, assim, o seu equilíbrio
interno é restabelecido, e essas respostas são, para Pavlov, reflexas.
Há um conjunto de respostas reflexas inatas, constantes, que auxiliam o organismo
na manutenção de seu equilíbrio. No entanto, essas respostas só são úteis na medida
em que o ambiente permanecer constante. Como esse não é caso, já que o ambiente
está em estado perpétuo de mudança, o que exige do organismo respostas e
adaptações sempre diferentes, outro tipo de mecanismo adaptativo se faz necessário.
Esse mecanismo, para Pavlov, é o do reflexo condicional ou, em sua terminologia
neurológica, o das conexões temporárias. Nas palavras do autor (1932/1955f):

A função fisiológica básica dos hemisférios cerebrais durante toda a vida


individual consiste na adição constante de vários estímulos condicionais
sinalizadores ao limitado número inicial de estímulos incondicionais inatos,
em outras palavras, a complementação constante dos reflexos incondicionais
pelos reflexos condicionais, (p. 273)

Há duas considerações dignas de nota. A primeira é que Skinner (1971,


1984) se valeu de argumento semelhante quando discutiu sobre o valor seletivo
3

67

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

do condicionamento operante. Para o autor, o condicionamento operante é


extremamente útil à sobrevivência do organismo quando este vive em um ambiente
instável, sempre em estado de mudança, e que, por isso, demanda flexibilidade
comportamental de sua parte. Pavlov, por sua vez, atribuiu - corretamente, diga-se -
a mesma função aos reflexos condicionais. A outra é que Pavlov, assim como Skinner
(1953/1965), também parece aceitar a ideia de que as relações entre organismo e
ambiente ocorram em fluxo contínuo. As mudanças ambientais e as respostas
adaptativas do sistema-organismo estão em constante e ininterrupta interação em
uma dinâmica de equilíbrio-desequilíbrio que só cessará quando o organismo morrer.
É a partir dessa perspectiva mecanicista e adaptativa que Pavlov analisa a função
do reflexo condicional e do sistema nervoso que, então, fundem-se como um só
mecanismo adaptativo. A definição de reflexo proposta pelo autor (1927/1960) já
indica essa característica:

Nosso ponto de partida tem sido a ideia de Descartes de reflexo nervoso. Essa
é uma concepção científica genuína, pois implica necessidade. Ela pode ser
resumida da seguinte maneira: um estímulo interno ou externo atinge algum
| I. P. PAVLOV (1849-1 936): DO REFLEXO SALIVAR À5 ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

receptor nervoso e dá início ao impulso nervoso; esse impulso nervoso é


transmitido ao longo das fibras nervosas até o sistema nervoso central e, ali,
em função das conexões nervosas existentes, ele dá início a um novo impulso
que percorre as fibras nervosas eferentes até o órgão ativo, onde excita uma
atividade especial das estruturas celulares. Assim, parece haver conexão
necessária do estímulo a uma resposta definida, como causa e efeito, (p. 7)

Sob influência cartesiana, Pavlov descreve o reflexo como uma sequência de


eventos causalmente interconectados iniciada pela ocorrência de um estímulo
interno ou externo ao organismo que afeta algum nervo receptor e dá início ao
impulso neural. O impulso é transmitido pelas fibras neurais até o sistema nervoso
central, originando ali novos impulsos neurais eferentes que, eventualmente, irão
excitar áreas musculares e/ou dos órgãos do organismo, causando, assim, as suas
atividades. Não há lacunas nessa cadeia causal e os elementos que a constituem
estão conectados por uma relação de necessidade. Por conta desse fato, as relações
entre os elos iniciais e terminais da cadeia, isto é, as relações estímulo-resposta, são do
tipo causa-efeito. É essa característica, segundo Pavlov, que dá ao conceito de reflexo
a sua cientificidade. Nota-se também que, na definição de Pavlov, os elementos
3

68

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

comportamentais (estímulos e respostas) e os fisiológicos (nervos receptores, fibras


nervosas, etc.) são imanentes. Não há definição de reflexo sem o aspecto fisiológico,
pois é a fisiologia que estabelece a conexão necessária entre estímulo e resposta.
Não há novidade na definição fisiológica de reflexo descrita por Pavlov, já que
essa era adotada por diversos estudiosos do chamado "arco reflexo", tais como Charles
Sherrington e Otto Magnus (Fearing, 1930; Pavlov, 1927/1960; Skinner, 1931/1961).
Pavlov, no entanto, amplia a função do conceito ao utilizá-lo, provavelmente a
exemplo de Sechenov, nas explicações da atividade nervosa "superior". Esse passo
essencial da teoria neurológica pavloviana fica evidente nesta passagem do autor
(1917/1955d):

Como se sabe, a rota completa percorrida pela excitação nervosa em um


reflexo incondicional inato é chamada de arco reflexo. Três partes desse arco
são corretamente distinguidas no sistema nervoso central inferior: o receptor
(aparato de recepção), o condutor (aparato de condução) e o efetor (aparato
de efetivação da ação). Se adicionarmos ao "receptor" o termo "analisador"
(o aparato decompositor) e ao "condutor" o termo "contactor" (o aparato de

| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


acoplamento), temos um substrato anatômico similar para as duas funções
básicas da parte superior do sistema nervoso central, (p. 222)

A distinção entre os sistemas nervosos "inferior" e "superior" está no fato de


que o primeiro não envolveria as atividades dos hemisférios superiores, isto é, do
córtex cerebral (Pavlov, 1934/1955g). Pavlov também descreve nessa passagem
quais seriam as duas principais funções dos hemisférios superiores. A primeira seria
a função dos mecanismos "analisadores", encarregados de receber e decompor as
estimulações ambientais. Nas palavras de Pavlov (1909/1955c): "Um analisador é um
mecanismo nervoso complexo que tem início em um aparato receptor externo e
termina no cérebro, tanto em sua parte inferior quanto em sua parte superior" (p.
215). Além do aparato receptor, os sistemas analisadores também envolveriam
"(...) a decomposição pelo organismo da complexidade do ambiente externo em
seus elementos separados" (1917/1955d, p. 221). A lógica de Pavlov é a seguinte: o
ambiente é complexo, composto por elementos diversificados, mas nem todos esses
elementos atuam como estímulos eliciadores de respostas reflexas. Os mecanismos
analisadores são responsáveis pela decomposição do ambiente em seus elementos
constitutivos básicos. Em suma, os mecanismos analisadores seriam os órgãos dos
3

69

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

"sentidos". Entretanto, Pavlov optou por denominá-los de "analisadores" para evitar


qualquer aspecto mentalista que poderia estar presente nessa descrição psicológica.
Em seu turno, a segunda principal função do sistema nervoso superior seria
estabelecer novos caminhos neurais através de conexões temporárias: "(...) uma
conexão temporária dos caminhos condutores entre o fenômeno do mundo externo
e as respostas de reação do organismo animal"(Pavlov, 1909/1955c, p. 209). A formação
de novas conexões seria condição essencial para o surgimento de respostas reflexas
condicionais. Mas como ocorreria o processo? Tomemos o reflexo salivar como
exemplo. A estimulação externa da glândula salivar causaria impulsos nervosos que,
por sua vez, percorreriam as fibras neurais até chegar à medula, resultando, por fim,
na resposta reflexa incondicional. Os circuitos neurais pré-estabelecidos, a exemplo
do reflexo salivar, seriam responsáveis pelos reflexos inatos e, por isso, incondicionais.
Estímulos neutros, para adquirirem função eliciadora, precisariam antes construir
seus caminhos através do sistema nervoso superior. Primeiramente, eles deveriam
passar pelos centros receptores - os mecanismos analisadores. Pavlov acreditava que
para cada sistema receptor (olfato, tato, visão, audição, paladar) haveria um centro
correspondente no córtex. Após a passagem pelos mecanismos analisadores, o
3 | I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

próximo passo seria a construção de novos caminhos neurais até a glândula salivar
para que os estímulos fossem, então, capazes de eliciar respostas condicionais de
salivação. A questão central, nesse ponto, se torna a seguinte: como as conexões são
construídas? Deixemos Pavlov (1917/1955e) responder:

Com eu disse antes, o reflexo comum é formado da seguinte forma: há um


caminho nervoso definido através do qual a estimulação proveniente da
parte periférica é conduzida ao órgão efetor, neste caso, a glândula salivar.
Esse caminho de condução é, por assim dizer, um circuito elétrico. Mas o que
acontece nesse caso? Aqui devemos adicionar que o sistema nervoso não é
apenas um aparato de condução, como é geralmente assumido, mas também
um aparato de conexão, (p. 398)

O sistema nervoso, para Pavlov, não seria apenas um mero mecanismo de


condução de impulsos neurais. Além de condução, há também a função conectiva:
o sistema nervoso é responsável pelo estabelecimento de novos caminhos de
condução. Pavlov (1927/1960, 1934/1955g) associa tal processo ao conceito de
Bohnung, termo alemão cujo significado, no contexto de sua fisiologia, diz respeito à

70

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

formação e consolidação de novos caminhos neurais através da sua própria ativação


constante. Nesse ponto, Pavlov defende a existência de um princípio da atividade
neurológica: o princípio de conexão. No entanto, postular a sua existência é apenas o
ponto de partida para o desenvolvimento da teoria pavloviana da dinâmica cerebral.
Dando continuidade às suas reflexões fisiológicas:

Como se forma a conexão temporária ou reflexo condicional? Para que


isso ocorra, é necessário que novo agente externo indiferente coincida
temporalmente uma ou mais de uma vez com a ação do agente já conectado
ao organismo, i.e., que faz surgir no organismo esta ou aquela atividade. Dada
esta coincidência, o novo agente penetra na mesma conexão e se manifesta
na mesma atividade que o já conectado. No sistema nervoso superior,
onde o processo de formação de reflexos condicionais ocorre, o seguinte
procedimento tem seu lugar: se um novo estímulo, previamente indiferente,
ao entrar nos hemisférios cerebrais, encontrar no sistema nervoso um foco de
excitação forte, ele passa a se concentrar em direção a este foco e daí para o
órgão correspondente; assim ele se torna um estímulo para aquele órgão. Por

3 I I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


outro lado, quando não há tal foco, ele [o estímulo] se dispersa nas massas
dos hemisférios cerebrais sem produzir nenhum efeito pronunciado. Esta é,
então, a formulação da lei fundamental da parte superior do sistema nervoso.
(1909/1955c, p.211)

No primeiro momento, Pavlov descreve o processo de condicionamento


respondente. O estímulo neutro deve ser pareado ao estímulo incondicional para
que, posteriormente, adquira função eliciadora. Para Pavlov, o estímulo, antes neutro
ou, em suas palavras, "indiferente" passa a fazer parte das mesmas "conexões" que
o estímulo incondicional. O autor, então, prossegue com a sua descrição, focando
agora as ocorrências no sistema nervoso superior, o lugar onde ocorreria a formação
de reflexos condicionais.
As excitações geradas pelas estimulações podem ou irradiar pelo córtex
ou se concentrar em centros corticais específicos. Os princípios de irradiação e
concentração fundamentam toda a dinâmica da atividade neurofisiológica (Pavlov,
1909/1955c, 1917/1955d, 1927/1960, 1932, 1934/1955g). As estimulações causam
a excitação dos centros receptores corticais divididos de acordo com a natureza
do estímulo. A ocorrência do estímulo neutro gera excitação no centro do córtex

71
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

correspondente à sua recepção, mas essa excitação logo se dispersa ou, nos termos
de Pavlov, "irradia" pela massa cortical, já que não haveria caminhos neurais a
serem percorridos entre a estimulação e as respostas reflexas. Dessa forma, não há
manifestação de resposta reflexa associada ao estímulo neutro. Porém, quando há a
ocorrência pareada do estímulo incondicional, um forte foco de excitação no centro
cortical correspondente à sua recepção é gerado. Esse foco de excitação acaba por
atrair os impulsos neurais correspondentes à excitação gerada pelo estímulo neutro,
que, então, ao invés de dispersarem, concentram-se em direção ao caminho neural
que, por fim, resultará na resposta reflexa. A cada passo em que esse processo se
repete, a excitação gerada pelo estímulo se torna cada vez mais concentrada em um
centro específico e o caminho entre estímulo neutro e resposta reflexa incondicional
se fortalece. Ao final, um novo caminho é construído e o estímulo e a resposta deixam
de ser, respectivamente, neutro e incondicional, tornando-se, enfim, condicionais. No
processo de formação do reflexo condicional, diz Pavlov (1932),"(...) a passagem de
uma onda de excitação da célula cortical correspondente ao centro de concentração
do estímulo incondicional é exatamente a condição fundamental que firma o padrão
de um ponto ao outro"(p. 93).
| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

Pavlov descreveu com mais detalhes quais seriam os princípios da atividade


neurofisiológica que tornariam possível a consolidação de novas relações reflexas. As
atividades neurais seriam fundamentalmente de dois tipos: excitatórias e inibitórias
(Pavlov, 1909/1955c, 1917/1955d, 1927/1960, 1932, 1934/1955g). Essas atividades
ocorreriam no córtex através da irradiação e da concentração. O processo de
estabelecimento de novas conexões - de novos reflexos condicionais - descrito
acima envolveu atividades excitatórias que, primeiramente, irradiavam pelo córtex
e, em seguida, concentravam-se em centros específicos. Logo, resta-nos descrever a
atividade cortical inibitória.
De acordo com Pavlov, a função das atividades corticais inibitórias seria justamente
a de auxiliar no processo de seleção de reflexos. Nas palavras do autor (1909/1955c):

(...) já que o centro dos reflexos condicionais está localizado na parte superior do
sistema nervoso, onde a colisão de inumeráveis influências do mundo externo
está sempre ocorrendo, é compreensível que uma luta interminável entre os
vários reflexos condicionais ocorra, ou a seleção deles a qualquer momento.
Consequentemente - casos constantes de inibição desses reflexos, (p. 213)
3

72

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

É a partir de um exemplo experimental descrito por Pavlov (1927/1960) que


podemos observar claramente a lógica argumentativa que levou o autor a inferir a
existência de atividades corticais inibitórias. Cinco aparatos de estimulação tátil foram
arranjados em localizações distintas da pata (região após a munheca, onde estão as
falanges) e da perna (região que engloba coxa, joelho, jarrete e boleto) posteriores
de um cão. O primeiro foi colocado sobre a pata e os restantes na perna, com as
respectivas distâncias de 3, 9, 15 e 22 centímetros em relação ao aparato colocado
na pata. A estimulação tátil das áreas da perna foi pareada com a apresentação de
comida, o estímulo incondicional, enquanto que a estimulação tátil da pata não era
pareada com o estímulo incondicional. Assim, de acordo com Pavlov (1927/1960), as
estimulações das áreas da perna adquiriam função excitatória, já que resultavam em
resposta reflexa condicionada, ao passo que a estimulação da pata adquiriu função
inibitória. Mas por que assumir que a estimulação da pata adquiriu tal função? Afinal,
tendo em vista a própria teoria pavloviana, não poderíamos supor que não houve a
criação de um caminho neural entre o centro cortical relacionado à estimulação da
pata e o centro que gera a resposta de salivação, visto que não houve pareamento
entre estímulos?

I I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


Pavlov (1927/1960) infere a aquisição de propriedades inibitórias ao analisar
os efeitos da estimulação da pata não pareada com o estímulo incondicional
sobre as propriedades eliciadoras dos outros estímulos condicionais localizados
na perna. Estimulações nos quatro lugares da perna produziam, após o período
de condicionamento, respostas reflexas de salivação de magnitudes semelhantes
(medidas pela quantidade secretada de saliva). No entanto, estimulações
prévias, sucessivas e não reforçadas3 da pata foram suficientes para influenciar as
características excitatórias das estimulações nas áreas da perna que, como dissemos,
foram alocadas a 3, 9,15 e 22 centímetros em relação à área estimulada da pata.Tais
mudanças ocorreram em ordem inversamente proporcional à distância entre os locais
estimulados na perna e na pata: quanto menor a distância entre as áreas estimuladas,
maior foi o efeito inibitório. Dessa forma, a estimulação da área da perna que estava a
3 centímetros da área estimulada da pata não eliciou nenhuma resposta de salivação,
havendo, assim, inibição total do reflexo condicional por conta da estimulação prévia
da pata. A estimulação da perna no lugar posicionado a 9 centímetros da pata eliciou

3 Pavlov (1927/1960) utiliza o termo "reforço" para indicar os estímulos incondicionais que, no caso,
reforçariam os caminhos neurais entre estímulos e respostas.
3

73
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

apenas parcialmente as respostas de salivação - cerca de metade da quantidade de


saliva secretada se comparada à situação sem exposição prévia à estimulação da
pata. Os lugares posicionados a 15 e 22 centímetros da pata, por sua vez, quando
estimulados, mantiveram o mesmo poder de eliciação. Ou seja, a estimulação prévia
da pata não afetou a capacidade excitatória dessas áreas.
Portanto, para Pavlov (1927/1960), a estimulação não reforçada da pata não teria
apenas uma consequência negativa, a saber, o não fortalecimento do caminho neural
entre o centro cortical receptor relacionado à pata e os centros relacionados à resposta
de salivação. Haveria, também, uma consequência positiva: a estimulação não
reforçada acabaria por desencadear processos inibitórios no córtex cerebral. O autor
(1927/1960) apresenta da seguinte maneira os desdobramentos neurofisiológicos
desse experimento:

A importância deste experimento é clara. Deve-se considerar que os diferentes


locais sensoriais na pele são projetados para áreas correspondentes no córtex
dos hemisférios. Dessa forma, é razoável supor que o processo inibitório,
iniciado em um ponto específico do córtex pela estimulação tátil dos locais
3 j I. P. PAVLOV 0 8 4 9 -1 9 3 6 ): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

inibitórios, irradia à área ao seu redor, produzindo um efeito inibitório menor


com o aumento da distância do ponto inibitório e tornando-se indistinguível
nos pontos mais distantes, (p. 154)

A estimulação não reforçada da pata desencadeia atividades inibitórias no córtex


cerebral.Tendo como ponto inicial o centro receptor responsável pela área estimulada,
essa atividade é irradiada pelo córtex, dissipando-se até acabar por completo. Nesse
processo de irradiação/dissipação, a sua força inibitória se torna cada vez menor à
medida que se distancia do centro de origem. Em adendo, Pavlov também acredita
que áreas de estimulação próximas possuem centros corticais receptores próximos.
Sendo assim, as áreas da perna localizadas a 3 e 9 centímetros da pata possuem
centros receptores mais próximos do centro receptor da estimulação, enquanto os
centros receptores relacionados às áreas localizadas a 15 e 22 centímetros da pata
estão mais distantes. Quando há estimulação prévia e não reforçada da pata, forças
inibitórias originam-se em seu centro receptor cortical. Essas forças são irradiadas
pelo córtex, atingindo os centros receptores relativos às áreas da perna localizadas
a 3 e 9 centímetros da pata. Como consequência, há o efeito comportamental
observado por Pavlov: a ausência completa da resposta de salivação (estimulação

74

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

a 3 centímetros) e diminuição significativa da magnitude da resposta (estimulação


a 9 centímetros). Por outro lado, graças a maior distância entre os centros receptores
das áreas da perna localizadas a 15 e 22 centímetros da pata e o centro no qual se
originou a atividade inibitória, as respostas reflexas de salivação não são afetadas,
já que a força inibitória durante o processo de irradiação é dissipada, tornando-se
insuficiente para inibir a atividade excitatória.
Para Pavlov (1909/1955c, 1917/1955d, 1927/1960, 1932/1955f, 1934/1955g), os
centros correspondentes aos reflexos inatos e, por isso, incondicionais possuiriam
força de atração e excitação mais forte. É justamente por isso que os reflexos
condicionais são estabelecidos com a "ajuda" dos incondicionais. Entretanto, além
do aspecto hierárquico de organização dos centros corticais, Pavlov também foi
capaz de discernir a existência de características e predisposições inatas que davam
a cada sistema nervoso uma dinâmica própria. Essas características inatas foram
divididas de acordo com três categorias classificatórias: (a) Força: a predisposição
para atividades corticais excitatórias e inibitórias - sujeitos com sistemas nervosos
com predisposição para atividades excitatórias seriam "fortes" enquanto os com
predisposições para atividades inibitórias seriam "fracos"; (b) Equilíbrio: a interrelação

3 | I. P. PAVLOV (Í8 4 9 -1 9 3 6 ): DO REFLEXO SALIVAR AS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


das atividades excitatórias e inibitórias - quando há atividade equivalente de ambas
o sujeito é "equilibrado"e, quanto não há, "desequilibrado"; (c) Mobilidade: o alcance e
a velocidade de dissipação dos processos inibitórios e excitatórios através do sistema
nervoso - pouco alcance resultaria em sujeitos"quietos"e grande alcance em sujeitos
"vívidos". Para Pavlov (1932/1955f, 1934/1955g, 1938/1955h), essas características
inatas seriam responsáveis pelos traços de temperamento ou, em termos mais atuais,
de "personalidade" dos sujeitos.
Haveria quatro tipos de personalidade ou temperamentos (Pavlov, 1938/1955h).
Sistemas nervosos fracos estariam associados à personalidade melancólica. Tipos
fortes e desequilibrados resultariam em personalidade colérica. Fortes, equilibrados e
quietos produziriam temperamentos fleumáticos. Fortes, equilibrados e vívidos, por
fim, estariam associados às personalidades sanguíneas. Como é possível notar, Pavlov
associou a sua teoria da personalidade às ideias de Hipócrates. Em sua descrição:

O estudo dos reflexos condicionais em cães levou gradualmente à ideia de


diferentes sistemas nervosos em diferentes animais até que, finalmente,
dados suficientes foram coletados para sistematizar o sistema nervoso a
partir de algumas de suas propriedades básicas. Provou-se existir três dessas

75
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

propriedades: a força dos processos neurais básicos (excitatórios e inibitórios),


seu equilíbrio e sua mobilidade. As combinações existentes entre essas três
propriedades produzem quatro tipos de sistemas nervosos mais ou menos
pronunciados fortemente. A depender da força, os animais são divididos entre
tipos fortes e fracos; no quesito equilíbrio, os animais fortes são divididos entre
equilibrados e desequilibrados; e os animais fortes e equilibrados são divididos
entre vívidos e quietos. Essa [classificação] coincide aproximadamente com
a clássica sistematização dos temperamentos. Assim, há animais fortes, mas
desequilibrados, nos quais ambos os processos nervosos são fortes, embora
o processo excitatório seja mais predominante sobre o inibitório; este é o tipo
excitável, impetuoso, ou colérico, de acordo com Hipócrates. Em adição, há
animais fortes, razoavelmente equilibrados, mas inertes; este é o tipo quieto,
preguiçoso ou fleumático, de acordo com a classificação de Hipócrates. Então,
temos os animais fortes, razoavelmente equilibrados, mas lábeis: este é tipo
ativo, vívido ou sanguíneo para Hipócrates. Finalmente, há o tipo fraco, que é
equivalente ao tipo melancólico de Hipócrates; a característica mais comum
e predominante desse tipo é rápida inibição devido à inibição interna, que
3 | I. P. PAVLOV( 1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

é sempre fraca e erradia facilmente, e especialmente à inibição externa sob


a ação de vários, até mesmo insignificantes, estímulos externos secundários.
(1934/1955g, pp. 259-260)

Para Pavlov (1938/1955h), a concordância entre a sua proposta, baseada em


estudos sobre reflexo condicional em cães, e a de Hipócrates, direcionada aos seres
humanos, seria evidência de sua veracidade: "Parece-me que essa coincidência de
tipos em animais e seres humanos é prova convincente de que tal sistematização está
de acordo com a realidade"(p. 482). Essa suposta evidência, por sua vez, seria relevante
para a sua agenda de pesquisa em psicopatologia experimental, posto que sugeria
certa continuidade entre espécies acerca de suas atividades nervosas superiores
e traços de personalidade (Pavlov, 1938/1955h). O desarranjo das características
dinâmicas do sistema nervoso que levam às personalidades distintas seria o principal
fator causal dos problemas psicopatológicos. A partir dessa ideia, Pavlov iniciou um
programa de pesquisa em psicopatologia cujo propósito era desenvolver quadros
patológicos em animais a partir do manejo de contingências reflexas a fim de criar
traços de temperamentos usualmente associados às psicopatologias (Dews, 1981;
Pavlov, 1935/1955b).

76

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Considerações finais
Pavlov iniciou suas pesquisas fisiológicas tendo como objetos de estudo o coração
e, principalmente, o sistema digestivo. Durante a sua trajetória, o autor se deparou
com o fenômeno da salivação "psíquica"e passou a estudá-lo. Pavlov queria, em certa
medida, dar continuidade às ideias de Sechenov: desenvolver uma teoria materialista
do sistema nervoso superior e, consequentemente, dos processos ditos "mentais",
baseada na concepção de reflexo. Mas, ao contrário de Sechenov, Pavlov possuía
o programa de pesquisa que o levaria a essa teoria, o da investigação dos reflexos
condicionais. A partir desse programa, o autor desenvolveu a sua teoria neurológica.
O sistema nervoso superior possuiria mecanismos analisadores e conectores,
não sendo apenas uma via condutora de impulsos neurais. Suas atividades seriam
excitatórias e inibitórias, e a propagação dos impulsos neurais seguiria a dinâmica
da irradiação e concentração. Pavlov, até mesmo, propôs uma tipologia neurológica
a partir de sua teoria; tipologia que servia de explicação para as diferenças de
temperamento (ou "personalidade") dos sujeitos. E mais, o autor teorizou que o
desequilíbrio entre os aspectos da atividade neurológica que serviu de base para
as categorias classificatórias de sua tipologia seria a principal causa das patologias

I I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


psiquiátricas. Nota-se que Pavlov percorreu um longo caminho desde os estudos dos
processos digestivos até a sua "patologia experimental"do sistema nervoso superior.
Iniciamos este capítulo apresentando brevemente os comentários críticos
de Skinner à teoria neurológica pavloviana. A principal delas é a de que Pavlov
desenvolveu uma teoria "conceituai" do sistema nervoso, já que o autor não estudou
processos fisiológicos propriamente ditos. Pavlov inferiu não só a dinâmica (fisiologia)
da atividade neurofisiológica, mas também uma anatomia do sistema nervoso
superior baseado em seus dados experimentais sobre o reflexo condicional. Skinner
não é o único a ressaltar essa característica da teoria pavloviana. Grimsley e Windholz
(2000) chegaram à mesma conclusão: "A teoria de Pavlov da atividade nervosa
superior pode ser considerada uma teoria neurofisiológica conceituai, derivada do
comportamento de sujeitos animais em situações controladas"(p. 154).
As explicações neurológicas de Pavlov ofuscaram a linha divisória entre o que
de fato se sabia, e o que não se sabia, acerca do sistema nervoso. Pavlov ofereceu
uma lógica argumentativa bastante perspicaz. Todavia, o juízo final sobre a validade
de uma teoria não seria dado pelo "Senhor Pavlov", mas sim pelo "Senhor Fato", e
Pavlov parecia insensível aos fatos quando o assunto era a sua teoria do sistema
nervoso superior. Aqui, encontramos talvez uma contradição em sua trajetória: de
3

77
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

um lado, temos a importância dada ao fato e ao método de análise experimental


que influenciou diretamente Skinner e sua análise experimental do comportamento;
de outro lado, temos a teoria neurológica pavloviana, criada a partir de estudos
sobre reflexo condicional, mas incompatível com os fatos da fisiologia real (i.e., não
conceituai). Que elementos contribuíram para essa insensibilidade aos fatos no
campo fisiológico? Só podemos conjecturar. Talvez as contingências do ambiente
científico do qual Pavlov era figura central possam ter contribuído:"(...) existia um tipo
de servilismo em relação a Palvov entre os seus colegas de trabalho. Era dado como
certo que Pavlov estava correto e as pessoas tentavam compreender as suas ideias ao
invés de criticá-las"(Konorski, 1970, p. 243). Ou seja, priorizava-se o"Senhor Pavlov"em
detrimento do "Senhor Fato". Porém, a ausência de interlocutores críticos não pode
ser vista como único fator relevante. Novamente com Konorski (1970):

Devemos nos lembrar que Pavlov foi um fisiologista geral e nunca um


neurofisiologista. Em 1906, quando o famoso livro de Sherrington, Integrative
Action of Nervous System, foi publicado, este livro já continha todas as ideias
essenciais da neurofisiologia moderna que poderiam servir de base para os
| I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

conceitos de Pavlov. Infelizmente, Pavlov não assimilou essas ideias e, assim,


desenvolveu a sua própria teoria dos processos corticais completamente
não relacionada aos já conhecidos conceitos sobre a organização do sistema
nervoso. (...) A meu ver, a negligência de Pavlov dos princípios dos processos
nervosos foi uma tragédia para o desenvolvimento posterior da fisiologia da
atividade nervosa superior, (p. 246)

Ao que parece, a teoria neurológica de Pavlov já nasceu ameaçada por dados


neurofisiológicos reais que a contradiziam e que foram negligenciados pelo autor.
Talvez essa seja uma das razões pela quais ela seja amplamente ignorada, até mesmo
em livros de história da fisiologia (Finger, 1994, 2000; Ochs, 2004; Shepherd, 1991,
2010). No entanto, não podemos avaliar a importância de Pavlov apenas pela sua
teoria neurológica, ainda que o próprio autor visse nela a sua principal realização.
Pavlov deve também ser lembrado e celebrado, talvez a seu contragosto, pelas suas
contribuições metodológicas e conceituais para o estudo do comportamento. Nas
palavras de Boakes (1984):"(...) ainda que tenha sempre insistido em chamar a si
mesmo de fisiologista, a maior conquista de Pavlov foi no campo da psicologia, ao
descobrir muitos dos princípios básicos da aprendizagem" (p. 110).
3

78

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Referências
Babkin, B. P. (1949). Pavlov: a biography. Chicago: The University of Chicago Press.
Boakes, R. A. (1984). From Darwin to behaviourism: psychology and the minds of
animals. London: Cambridge University Press.
Boakes, R. A. (2003). The impact of Pavlov on the psychology of learning in English-
speaking countries. The Spanish Journal of Psychology 6(2), 93-98.
Boring, E. G. (1950). A history of experimental psychology (2a. ed.). New York: Appleton-
Century-Crofts. (Obra original publicada em 1929).
Brozek, J., & McPherson, M. W. (1973). Pavloviana in the USA: arquives of the history of
American psychology, University of Akron. Conditional Reflex, 8(4), 236-244.
Catania, A. C, & Laties, V. G. (1999). Pavlov and Skinner: two lives in science (An
introduction to B. F. Skinner's "Some responses to the stimulus'Pavlov'"). Journal of
the Experimental Analysis of Behavior, 72(3), 455-461.
Dews, P. B. (1981). Pavlov and psychiatry. Journal of the History of Behavioral Sciences,
77,246-250.
Fearing, F. (1930). Reflex action: a study in the history of physiological psychology.
Baltimore: The Williams &Wilkins Company.

I I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


Finger, S. (1994). Origins of neuroscience: a history of explorations into brain function.
New York: Oxford University Press.
Finger, S. (2000). Minds behind the brain: a history of the pioneers and their discoveries.
New York: Oxford University Press.
García-Hoz, V. (2004). A note on Skinner and Pavlov's physiology. The Spanish Journal
of Psychology, 7(2), 153-160.
Grimsley, D. L., & Windholz, G. (2000). The neurophysiological aspects of Pavlov's
theory of higher nervous activity: in honor of the 150th anniversary of Pavlov's
birth. Journal of the History of the Neurosciences, 9(2), 152-163.
Konorski, J. (1970). Pavlov and contemporary physiological psychology. Conditional
Reflex, 5(4), 241 -248.
Malone, J. C. (1991). Theories of learning: a historical approach. Belmont: Wadsworth
Publishing Company.
Ochs, S. (2004). A history of nerve functions: from animal spirits to molecular mechanisms.
New York: Cambridge University Press.
O'Donnell, J. M. (1985). The origins of behaviorism: American psychology, 1870-1920.
New York: New York University Press.
3

79
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Pavlov, I. P. (1932). The reply of a physiologist to psychologists. The Psychological


Review, 39(2), 91-127.
Pavlov, I. P. (1951). [Some more general centers in the mechanics of the higher parts
of the central nervous system as clarified in study of conditioned reflexes]. In
Airapet'iant ESh (Ed.), I. P. Pavlov: polnoe sobranie sochinenii (2a. ed., vol. 3, book
1, pp. 86-89). Moscow: Izdatel'stvo Akademii Nauk SSSR. (Obra original de 1908).
Pavlov, I, P. (1955a). A letter to the youth. In J. Gibbons (Ed.), /. P. Pavlov:selected works (S.
Belsky,Trad., pp. 54-55). Moscow: Foreign Languages Publishing House.
Pavlov, I, P. (1955b). Experimental pathology of the higher nervous activity. In J.
Gibbons (Ed.), I. P. Pavlov: selected works (S. Belsky, Trad., pp. 459-480). Moscow:
Foreign Languages Publishing House. (Obra original de 1935).
Pavlov, I, P. (1955c). Natural science and the brain. In J. Gibbons (Ed.), /. P Pavlov:selected
works (S. Belsky,Trad., pp. 206-219). Moscow: Foreign Languages Publishing House.
(Obra original de 1909).
Pavlov, I, P. (1955d)."Pure physiology"of the brain. In J. Gibbons (Ed.), I. P. Pavlov:selected
works (5. Belsky,Trad., pp. 220-230). Moscow: Foreign Languages Publishing House.
(Obra original de 1917).
I I. P. PAVLOV {1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES

Pavlov, I, P. (1955e). Physiology and psychology in the study of the higher nervous
activity of animals. In J. Gibbons (Ed.), /. P. Pavlov: selected works (S. Belsky, Trad., pp.
391-408). Moscow: Foreign Languages Publishing House. (Obra original de 1917).
Pavlov, I, P. (1955f). Physiology of the higher nervous activity. In J. Gibbons (Ed.), I. P.
Pavlov: selected works (S. Belsky, Trad., pp. 271-286). Moscow: Foreign Languages
Publishing House. (Obra original de 1932).
Pavlov, I, P. (1955g).The conditioned reflex. In J. Gibbons (Ed.), I. P. Pavlov:selected works
(S. Belsky, Trad., pp. 245-270). Moscow: Foreign Languages Publishing House.
(Obra original de 1934).
Pavlov, I, P. (1955h). Types of higher nervous activity, their relationship to neuroses and
psychoses and the physiological mechanism of neurotic and psychotic symptons.
In J. Gibbons (Ed.), I. P. Pavlov:selected works (S. Belsky,Trad., pp. 481-486). Moscow:
Foreign Languages Publishing House. (Obra original de 1938).
Pavlov, I. P. (1960). Conditioned reflexes: an investigation of the physiological activity of
the cerebral cortex (G. V. Anrep,Trad.). New York: Dover Publications. (Obra original
de 1927).
Pessotti, I. (1976). Pré-história do condicionamento. São Paulo: Hucitec-Edusp.
Pessotti, I. (1979). Introdução. In I. Pessotti (Org.), Pavlov (pp. 7-33). São Paulo: Ática.
3

80

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Ruiz, G., Sanchez, N., & De la Casa, L. G. (2003). Pavlov in America: a heterodox approach
to the study of his influence. The Spanish Journal of Psychology, 6(2), 99-111.
Sechenov, I. M. (1965). Reflexes of the brain: an attempt to establish the physiological
basis of psychological process (S. Belsky, Trad.). Cambridge: The MIT Press. (Obra
original publicada em 1863).
Shepherd, G. M. (1991). Foundations of the neuron doctrine. New York: Oxford University
Press.
Shepherd, G. M. (2010). Creating modern neuroscience: the revolutionary 1950s. New
York: Oxford University Press.
Sidman, M. (1960). Tactics of scientific research: evaluating experimental data in
psychology. Boston: Authors Cooperative, Inc., Publishers.
Skinner, B. F. (1956). A case history in scientific method. The American Psychologist,
77(5), 221-233.
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1961).The concept of reflex in the description of behavior. In B. F. Skinner.
Cumulative Record: A Selection of Papers (2a ed., pp. 319-346). New York: Appleton-
Century-Crofts. (Obra original publicada em 1931).

I I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES


Skinner, B. F (1965). Science and Human Behavior. New York: The Free Press. (Obra
original publicada em 1953).
Skinner, B. F. (1966a). Some responses to the stimulus "Pavlov". Conditional Reflex: A
Pavlovian Journal of Research & Therapy, 7(2), 74-78.
Skinner, B. F. (1966b). The Behavior of Organisms: An Experimental Analysis. New York:
Appleton-Century-Crofs. (Obra original publicada em 1938).
Skinner, B. F. (1971). Beyond freedom and dignity. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B. F. (1979). The shaping of a behaviorist: part two of an autobiography. New
York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B. F. (1984). The evolution of behavior.Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 41 (2), 217-221.
Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. The Psychological Review,
20,158-177.
Windholz, G. (1997). Pavlov and the mind-body problem. Integrative Physiological and
Behavioral Science, 32(2), 149-159.
3

81
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Zilio, D. (2015). Sobre as críticas de Skinner à fisiologia: Indicadoras de orientação


antifisiológica ou contribuições relevantes? Acta Comportamentalia, 23(4),
465-482.
Zilio, D. (2016). Who, what and when: Skinner's critiques of neuroscience and his main
targets. The Behavior Analyst, doi: 10.1007A40614-016-005 3-x
I I P. PAVLOV (1849-1 936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES
3

82

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

4 J. LOEB (1859-1924): O
COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS
NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

Alexandre Dittrich

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

0 biólogo e fisiólogo Jacques Loeb foi um cientista inovador, defensor infatigável


da experimentação e explorador das fronteiras entre fisiologia e psicologia. Seus
experimentos formaram "a base da moderna biologia do desenvolvimento, tanto
no laboratório (...) quanto na clínica" (Weissmann, 2006, p. 1031), e são considerados
precursores da engenharia genética, do Projeto Genoma Humano e da medicina
regenerativa (Maienschein, 2009, p. 222). Pesquisador enérgico e prolífico, Loeb
publicou mais de 400 artigos e livros entre 1884 e 1924.1Suas realizações científicas lhe
renderam várias indicações ao prêmio Nobel - embora jamais tenha sido agraciado.

4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTORIA DO BEHAVIORISMO


Loeb também exerceu notória influência no desenvolvimento do behaviorismo,
tanto diretamente (foi professor de John. B. Watson) quanto indiretamente (B. F.
Skinner reconheceu a importância da leitura das obras de Loeb em sua formação,
e foi profundamente influenciado por W. J. Crozier - este, por sua vez, tendo sido
influenciado por Loeb). Embora fosse biólogo e físiólogo, seus experimentos
frequentemente abordavam fenômenos comportamentais.

Breve biografia
Loeb nasceu em 7 de abril de 1859 na pequena cidade alemã de Mayen.
Primogênito de uma família judaica, perdeu os pais bastante cedo - tinha 13 anos
quando sua mãe, Barbara, faleceu em decorrência de uma pneumonia, e 16 quando
seu pai, Benedict, sucumbiu à tuberculose. Após a morte do pai, começou a trabalhar
em um banco de propriedade de um tio em Berlim, a fim de garantir seu sustento.
Nascido Isaak, "secularizou" seu nome aos 20 anos, abandonando publicamente a
herança judaica. No mesmo período, entrou para a Universidade de Berlim, na qual
se formou em Medicina, dedicando-se especialmente aos estudos sobre a fisiologia
cerebral (Pauly, 1987). A formação científica de Loeb se deu em um momento de
efervescência das ciências fisiológicas na Europa, particularmente na Alemanha.
Sob a influência de lideranças científicas como Claude Bernard e Johannes Müller,

1 Uma lista completa desses trabalhos encontra-se em Osterhout (1930).

85
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

jovens estudantes dedicavam-se entusiasticamente ao campo da pesquisa, e novas


descobertas aconteciam com frequência.
Em 1886, Loeb tornou-se assistente de Adolf Fick no instituto de Fisiologia da
Universidade de Wurzburgo. Ali, tomou contato com o fisiólogo Julius von Sachs, que
então estudava um fenômeno que impressionou o jovem Loeb: os tropismos - isto é,
o crescimento ou movimento de um organismo em direção a um estímulo ambiental.
Em 1888, transferiu-se para a Universidade de Estrasburgo, tornando-se assistente do
fisiólogo Friedrich Goltz. Participou das pesquisas de Goltz sobre a fisiologia cerebral
em cães, que consistiam na extirpação de partes do cérebro dos animais com a
posterior observação de seus efeitos. A longa controvérsia sobre a localização das
funções cerebrais surgiu com intensidade nesse período, e Loeb - seguindo os passos
de Goltz-tornou-se um"anti-localizacionista"resoluto, apresentando uma"concepção
dinâmica"da fisiologia cerebral (Loeb, 1900; Wozniak, 1993).
Em 1890, durante uma visita à casa do fisiólogo Justus Gaule, na Suíça, Loeb
4 | J. LOEB 0 8 5 9 -1 9 2 4 ): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISM OS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

conheceu a jovem estadunidense Anne Leonard, que há pouco havia obtido


doutorado em filologia pela Universidade de Zurique. Jacques e Anne se casariam
em outubro do mesmo ano. O casamento precipitou uma decisão que Loeb já
considerava há algum tempo: mudar-se da Alemanha para os Estados Unidos. Os
motivos para isso eram tanto científicos quanto políticos. Loeb sentia que seu pendor
para a experimentação não se ajustava ao"estilo morfológico prevalecente na Biologia
alemã" (Fangerau, 2007, p. 728), e que "não podia viver em um regime de opressão tal
como Bismarck havia criado"(Rasmussen &Tilman, 1998, p. 44).
Loeb chegou aos Estados Unidos em 1891 - apenas um entre os mais de 113
mil alemães que emigraram para o país somente naquele ano (Fangerau & Müller,
2005). Inicialmente, trabalhou por um breve período como instrutor no Bryn Mawr
College, na Pensilvânia, sendo convidado no ano seguinte para atuar na Universidade
de Chicago como professor de fisiologia e biologia experimental. Em 1902, atraído
pelo "clima ameno e pela possibilidade de trabalhar com material marinho durante
todo o ano"(Osterhout, 1930, p. 324), aceitou convite para atuar na Universidade da
Califórnia, em Berkeley. Por fim, em 1910, foi convidado pelo patologista Simon Flexner
para estabelecer um laboratório de biologia experimental no Rockefeller Institute for
Medicai Research, em Nova York. Lá teve, de acordo com Maienschein (2009), "o que
muitos considerariam um trabalho de sonho [dream job], sem responsabilidades de
ensino e com a permissão explícita para conduzir qualquer pesquisa que quisesse. A
única pressão era para ser inovador e produzir algum tipo de resultado" (p. 221). Loeb

86

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

aproveitou a oportunidade, ajudando a elevar o Instituto a uma posição de destaque


no cenário científico estadunidense. Em 1918, fundou o Journal of General Physiology,
até hoje publicado (Andersen, 2005). Loeb atuou no Rockefeller Institute até falecer,
vítima de problemas cardíacos, em 11 de fevereiro de 1924, aos 64 anos. Em seu
túmulo está gravado o seguinte dito de Louis Pasteur: "Heureux celui quiporte en soi
un dieu, un idea! de beaute, et qui lui obéit" ("Felizes daqueles que carregam em si um
deus, um ideal de beleza, e que o obedecem"). Que tais palavras encerrem a trajetória
de Loeb guarda certa ironia, dado seu declarado ateísmo e sua objeção a explicações
internalistas para fenômenos fisiológicos e comportamentais.

A postura científica de Loeb: A experimentação como


método de controle dos fenômenos naturais
A trajetória de Loeb foi marcada pela defesa da experimentação - não apenas
enquanto um método importante para a ciência, mas como o único verdadeiramente

4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


científico. Loeb foi um experimentador dedicado e rigoroso, disposto a repetir e variar
seus experimentos sempre que houvesse necessidade: "Ele eliminava erros devidos
à variação em organismos executando numerosos experimentos com inumeráveis
controles, repetindo de novo e de novo, até que a possibilidade de erro parecesse
eliminada" (Osterhout, 1930, p. 364). A concepção de Loeb sobre o assunto fica clara
em uma carta enviada à revista TheNation em 1918:

Há hoje apenas um método conhecido na ciência pelo qual o conhecimento


pode aumentar, que é o método da experimentação quantitativa, usado
geralmente por físicos e químicos, usado ocasionalmente na ciência natural e
na psicologia, e ao conhecimento deste que escreve não usado em absoluto
na antropologia. (Rasmussen &Tilman, 1998, p. 30)

Por esse critério, para Loeb, "psico-análise" e "teorias da evolução" por exemplo,
não poderiam ser consideradas "acréscimos ao nosso conhecimento" (Rasmussen
& Tilman, 1998, p. 30). A desconfiança em relação aos métodos não experimentais
levou Loeb (1916) a apresentar reservas, inclusive, em relação à teoria darwiniana
da evolução das espécies: "Não podemos considerar provada qualquer teoria da
evolução a não ser que nos permita transformar como desejarmos uma espécie em
outra, e isso ainda não foi feito" (p. 6). Essa passagem aponta para outra característica
importante da concepção de Loeb sobre o método experimental: compreender

87

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

um processo natural via experimentação significa adquirir controle sobre ele. Esse
foi um aspecto marcante da postura de Loeb: para ele, a Biologia deveria ser uma
ciência que permitisse a manipulação dos fenômenos naturais - uma posição que se
opunha à tradição da Biologia europeia, mais voltada para a descrição e classificação
de tais fenômenos. Enquanto experimentador, Loeb (1903) via a si mesmo como um
engenheiro, cujo objetivo era controlar os processos que estudava: "Não podemos
permitir qualquer barreira no caminho de nosso completo controle, e portanto
compreensão dos fenômenos da vida. (...) O controle dos fenômenos naturais
[constitui] o problema essencial da pesquisa científica" (p. 25). Conforme aponta
Pauly (1987), "o programa de Loeb não era ciência aplicada. Era um redirecionamento
da própria investigação biológica para o que Loeb concebia como a atividade do
engenheiro" (p. 51). A ciência, para Loeb, era tecnologia. Em carta enviada para Ernst
Mach em 1890, Loeb expressa seu ideal científico de forma arrojada:
| J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISM OS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

Paira agora diante de mim a ideia de que o próprio homem pode agir como
um criador até mesmo na natureza viva, formando-a por fim de acordo com
sua própria vontade. O homem pode ao menos ser bem sucedido em uma
tecnologia da substância viva {einerTechnikder lebenden Wesen).
(Pauly, 1987, p. 51)

O trabalho com os tropismos deu a Loeb a primeira grande oportunidade


para demonstrar sua engenhosidade enquanto experimentador e sua capacidade
de controlar processos biológicos. Inicialmente inclinado para a Filosofia, Loeb
rapidamente concluiu que esta disciplina não poderia responder a questão
fundamental que o acompanhou durante toda a vida, e em grande medida definiu
sua carreira: existe a "vontade livre"? (Osterhout, 1930, p. 319). Loeb viu nos tropismos
a possibilidade de atacar o problema cientificamente. O conceito de tropismo era,
inicialmente, restrito ao campo da botânica. As pesquisas de Sachs, professor de Loeb
na Universidade de Wurzburgo, eram realizadas apenas com vegetais. Sachs havia
demonstrado poder controlar os movimentos de plantas alterando certos estímulos
em seu ambiente. Seria possível fazer o mesmo com animais?
Em seus experimentos iniciais, Loeb demonstrou a existência de fototropismo
em larvas de traças. As larvas rastejavam até o topo das árvores, onde é mais fácil
encontrar alimento, e tal habilidade era às vezes atribuída à sua "inteligência", ou
mesmo ao "desejo da traça pelas estrelas". Com técnicas experimentais simples,
4

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Loeb demonstrou que as larvas seguiam as fontes de luz automaticamente,


mesmo quando havia alimento disponível perto delas. Em suma, as larvas eram
"máquinas fotoquímicas", cujo comportamento podia ser facilmente controlado pelo
experimentador. Para Loeb, tal descoberta punha em xeque a distinção estrita entre
"instinto" e "inteligência" (Osterhout, 1930).
A progressiva capacidade de controlar o comportamento de animais em seus
experimentos confirmava, para Loeb, uma concepção determinista, que se coadunava
com seu perfil enquanto experimentador:

Onde quer que eu tenha até agora investigado a causa de tais movimentos
"voluntários''ou"instintivos"em animais eu descobri, sem exceção, circunstâncias
em ação, assim como são conhecidas na natureza inanimada, determinando os
movimentos. Com a ajuda de tais causas é possível controlar os movimentos
"voluntários" de um animal vivo tão seguramente e inequivocamente quanto

| J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


um engenheiro tem sido capaz de controlar os movimentos da natureza
inanimada. (Loeb, 1905/2013, p. 107)

O propósito maior de Loeb no controle dos processos vitais era a própria criação
da vida por meios experimentais. Era preciso "determinar se podemos ou não produzir
matéria viva artificialmente" (Pauly, 1987, p. 92).
Experimentador com postura de engenheiro, sempre buscando controlar os
processos que estudava, Loeb também via nos resultados de seus experimentos a
comprovação de sua posição mecanicista em relação aos fenômenos naturais. O
problema da "vontade livre"tinha uma solução científica, que consistia em "encontrar
as forças que determinam os movimentos dos animais, e descobrir as leis de acordo
com as quais essas forças agem" (Loeb, 1912, p. 36). Para Loeb (1906), "organismos
vivos podem ser chamados de máquinas químicas" (p. 1). As explicações para todos
os fenômenos naturais deveriam ser mecânicas, e restritas a processos materiais. Em
carta ao físico sueco Svante Arrhenius, datada de 1917, Loeb afirma que "todos os
fenômenos da vida são determinados por leis rígidas, e (...) tais leis podem ter uma
expressão matemática" (Rasmussen &Tilman, 1998, p. 37). Loeb combatia qualquer
sugestão de que fosse necessário invocar processos "metafísicos" ou "místicos" para
explicar os fenômenos naturais. Osterhout (1930), amigo e colega de trabalho de
Loeb, observou que ele tinha "fé" e "convicção" na explicação estritamente mecânica
4

89
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

de qualquer processo natural, uma "causa para a qual consagrou sua vida" e que
"chegou quase a um dogma"(p. 365).
No livro The Orgonism as a Whole: From a Physicochemical Viewpoint (1916),
Loeb aponta que, embora a explicação puramente físico-química de processos
biológicos individuais (metabolismo, digestão, contração muscular) já fosse
comumente aceita por fisiólogos, a situação era diferente no que concernia às
"ações do organismo como um todo". Muitos fisiólogos (Loeb menciona Bernard,
Hans Driesch e, especialmente, Jakob von Uexküll) ainda achavam necessário
explicar tais ações como "a expressão de agentes não físicos" (pp. 1-2). O livro foi
escrito em contraposição a esses autores, aos quais Loeb chamava de "vitalistas"2.
Tais autores argumentavam que processos aparentemente teleológicos (por
exemplo, a transformação de um ovo em um animal, a regeneração dos
organismos, diversas ações instintivas, a origem da vida e a ocorrência da
morte) de fato eram orientados para certas finalidades, e não poderiam ser
4 | J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

compreendidos exclusivamente de um ponto de vista físico-químico. A fim de


explicar tais processos, esses autores mencionavam "propósitos", "forças diretivas",
"vontade", "enteléquia", etc. O livro de Loeb, como sugere seu título, propunha-se a
demonstrar, por meio de experimentos (muitos realizados pelo próprio Loeb), que
mesmo esses fenômenos poderiam ser explicados por processos físico-químicos.
Tratava-se, portanto, de substituir explicações teleológicas por físico-químicas: "As
reações e estruturas dos animais são consequências de forças químicas e físicas,
que não servem um propósito mais do que as forças responsáveis pelos sistemas
solares" (p. 319).
Como vimos até aqui, Loeb buscava produzir explicações para os fenômenos
naturais em termos materiais e mecânicos, afirmando que tais fenômenos eram
estritamente determinados - e, mais do que isso, que sua explicação deveria
ser progressivamente reduzida ao nível físico-químico e expressa através de leis
quantitativas para que pudesse de fato ser considerada científica. O termo "ambiente",
que Loeb considerava vago, deveria ser compreendido a partir das "forças físicas e
químicas individuais" que o constituem, e a descrição da influência dessas forças
sobre os organismos deveria se dar por meio de "leis físico-químicas simples"
(1916, p. 286). A ciência deve explicar fenômenos complexos analisando-os desde

2 Rasmussen eTilman (1998) apontam o filósofo francês Henri Bergson, muito famoso à época e"o
principal expoente europeu do vitalismo", como o acadêmico a quem Loeb se opunha de forma mais
veemente: "Loeb via Bergson como um místico e, pior, um charlatão"(p. 25).

90

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

os fenômenos mais simples que os compõem, e a explicação científica "consiste


somente na apresentação de um fenômeno como uma função inequívoca das
variáveis pelas quais é determinado" (p. 58). Com isso, não restaria qualquer espaço
para a "interferência de uma'força diretiva' do vitalista" (p. 317).
No livro The Mechanistic Conception of Life (1912), Loeb apresenta exemplos de
explicações físico-químicas com o objetivo declarado de convencer os leitores de
que "a soma de todos os fenômenos da vida" poderia ser"inequivocamente explicada"
nesses termos (p. 3). A vida e a morte, por exemplo, deveriam ser compreendidas de
acordo com essa forma de explicação. A humanidade, em seu período "pré-científico",
adotou várias explicações "antropomórficas" para tais fenômenos; por exemplo, a
vida começaria quando um "princípio de vida" adentrasse o corpo, e a morte nada
mais seria do que a partida de tal princípio. Loeb aponta, porém, que do ponto de
vista científico a vida possivelmente começa "com a aceleração da taxa de oxidação
no óvulo”, e termina "quando cessa a oxidação no corpo". O início e o fim da vida,

| J. LOEB 0 8 5 9 -1 9 2 4 ): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


portanto, são problemas "físico-quimicamente claros" (pp. 14-15).

Loeb e o estudo de fenômenos psicológicos


Vários dos estudos e especulações de Jacques Loeb lidavam diretamente com
processos comportamentais. Loeb sabia que seus estudos tinham interesse direto
para o campo psicológico. A palavra "psicologia" surge explicitamente no título de
Comparative Physiology of the Brain and Comparative Psychology (1900), e um dos
capítulos de The Mechanistic Conception ofLife (1912) é dedicado à "significância dos
tropismos para a Psicologia". Loeb acreditava que mesmo comportamentos humanos
complexos poderiam ser explicados por meio dos tropismos. Como os tropismos, por
sua vez, poderiam ser explicados em termos físico-químicos, isso completaria a tarefa
de compreender cientiftcamente o comportamento humano.
Para Loeb (1900), havia pouca distinção entre reflexos, tropismos e instintos: todas
as palavras descrevem reações dos organismos diante de certos estímulos (externos
ou internos), variando apenas em sua complexidade. Reflexos descrevem reações
envolvendo apenas partes do organismo, enquanto tropismos envolvem reações
do organismo como um todo, que podem ser compreendidas como conjuntos
coordenados de reflexos. Os comportamentos ditos instintuais, em última análise,
poderiam ser compreendidos como tropismos: "Se a teoria dos tropismos sobre a
conduta animal se justifica deve ser possível mostrar que instintos são reações
tropísticas" (Loeb, 1918, p. 156). Os tropismos descrevem os movimentos dos animais
4

91

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

em relação a vários estímulos: luz (fototropismo), temperatura (termotropismo),


eletricidade (galvanotropismo), substâncias químicas (quimiotropismo), gravidade
(geotropismo), etc. Os instintos, por sua vez, são descritos por suas consequências
funcionais: alimentação, reprodução, proteção, etc. Embora Loeb reconhecesse que
os instintos podiam sofrer a ação da aprendizagem, ele "parecia confiante de que
nada mais do que a física e a química comuns poderiam lidar com tais complicações"
(Herrnstein, 1972/1998, p. 79).
Loeb sempre buscou compreender os processos psicológicos mais complexos
(designados por palavras como consciência, memória, inteligência, etc.) a partir de
processos psicológicos mais simples (reflexos e tropismos). Esse seria, porém, apenas
um passo inicial na tarefa reducionista da ciência. Loeb era otimista em relação à
possibilidade - que ele admitia estar ainda distante - de explicar todos os fenômenos
"psíquicos" (incluindo nossa "vida interior") de uma maneira estritamente físico-
química, dado que alguns fenômenos comportamentais, como os tropismos, já
4 I J. I 01 B {1 859 1924): 0 COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

podiam ser explicados dessa forma:

Nossos desejos e esperanças, desapontamentos e sofrimentos, têm sua fonte


em instintos que são comparáveis ao instinto de luz dos animais heliotrópicos.
A necessidade e a luta por alimento, o instinto sexual com sua poesia e
sua cadeia de consequências, os instintos maternais com a felicidade e o
sofrimento causados por eles, o instinto de trabalho [workmanship], e alguns
outros instintos são as raízes a partir das quais nossa vida interior se desenvolve.
Para alguns desses instintos a base química está pelo menos suficientemente
indicada para despertar a esperança de que sua análise, de um ponto de vista
mecânico, é apenas uma questão de tempo. (Loeb, 1912, p. 30)

Alguns experimentos envolvendo os processos usualmente chamados de


"conscientes" apontariam direções promissoras para sua compreensão. Segundo
Loeb (1900), a consciência se resume à "memória associativa" (ou simplesmente
"associação"), e a presença desta é verificada quanto um organismo é capaz de
aprender:"Se um animal pode ser treinado, se ele pode aprender, ele possui memória
associativa" (p. 12). Por exemplo, se um animal "responde ao ouvir seu nome ser
chamado"ou"pode ser treinado a ir para o local no qual é usualmente alimentado ao
ouvir um certo som", ele apresenta memória associativa (p. 218). Como exemplo de
memória associativa em humanos, Loeb (1918) comenta que "a imagem e o odor de

92

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

uma rosa podem invocar a memória de pessoas ou situações que estavam presentes
em uma ocasião anterior quando a imagem ou o odor da rosa nos afetou" (p. 165).
Desvendar os mecanismos físico-químicos da memória associativa é, portanto, a
principal tarefa da fisiologia cerebral e da psicologia - um problema cuja solução,
Loeb ressalta (1900), "provavelmente será encontrada no campo da físico-química"
(p. 214)3.
Loeb descreve os experimentos de Pavlov sobre reflexos condicionados (1918, cap.
19), e afirma que o método utilizado é o único até então que "satisfaz as demandas
da ciência quantitativa" para estudar os efeitos das "associações de memória" (p.
165). Ele utiliza o termo "imagem de memória" para designar estímulos internos que
supostamente direcionariam o comportamento dos organismos capazes de realizar
tais associações - mas faz questão de ressaltar que a "influência de uma memória
associativa" é mensurável, e que "o que chamamos de uma imagem de memória não
é um agente 'espiritual', mas físico" (p. 167). Por exemplo: uma vespa cava um buraco

4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÔRIA DO BEHAVIORISMO


ao qual posteriormente retornará. Como ela consegue reencontrar o buraco? Loeb
classifica tal comportamento como "o efeito tropístico ou orientador da imagem de
memória do local desse buraco, significando, portanto, que a imagem de memória
do local do buraco faz o animal retornar ao local" (p. 169). Além disso, acrescenta:

Não basta dizer que o animal possui memória associativa e retorna ao buraco;
devemos acrescentar que a imagem cerebral4 da região do buraco torna-
se a fonte de uma orientação forçada do animal - de um tropismo especial

3 Mesmo admitindo que em sua época o"mecanismo de ação do cérebro"era "inteiramente


desconhecido", pois ainda não era possível "olhar dentro do cérebro ativo" (1912, p. 79), Loeb não se
furtava a levantar hipóteses analógicas sobre o assunto. Tentando explicar a memória associativa,
Loeb (1900) comenta que processos que ocorrem no sistema nervoso central deixam nele "uma
impressão ou traço", e que dois processos que "ocorram simultaneamente ou em rápida sucessão
deixarão traços que se fundem, de modo que se posteriormente um dos processos se repete, o outro
vai necessariamente se repetir também" (p. 213). Loeb observa também que, após os experimentos
de Pavlov com o condicionamento de reflexos,"não parece mais estranho para nós que aquilo
que o filósofo chama um a'ideia'seja um processo que pode causar mudanças químicas no corpo"
(1912, p. 62). Em outro momento, contudo, Loeb (1900) ataca o "peculiar híbrido entre metafísica e
anatomia"contido na hipótese de que"imagens de memória"são depositadas em células ganglionares
"vazias": "Essa concepção trata a imagem de memória como se ela fosse algo substancial, /. e., algo
caracterizado por massa" (p. 277).
4 É curioso salientar, nesse exemplo, que Loeb utiliza o termo "imagem cerebral", aparentemente de
forma intercambiável com o termo "imagem de memória" utilizado no restante do livro.

93

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

adicionado - compelindo o animal a retornar à região correspondente à


imagem, (p. 170)

O fenômeno da "memória associativa" acaba sendo incorporado por Loeb (1918)


na classe dos tropismos, sugerindo a existência de "tropismos condicionados": "Não
devemos, portanto, nos surpreender em descobrir que tais imagens de memória ou
'reflexos condicionados' podem variar e multiplicar o número das reações tropísticas
possíveis" (p. 167).
Loeb combatia com veemência o uso de certos tipos de explicação do
comportamento que considerava antropomórficas, ou típicas do "psicólogo
introspectivo", e que não seriam compreensíveis de um ponto de vista físico e
experimental. Tentativa e erro, "estados fisiológicos" vagos, entidades mentais (prazer
e dor, curiosidade, propósito) - todas essas formas de explicação são condenadas por
Loeb (1918, pp. 16-18). Verifica-se que insetos, por exemplo, depositam seus ovos em
4 | J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

materiais nutritivos para a prole que em breve nascerá, e nesse caso o quimiotropismo
que explica tal comportamento substitui "o aspecto místico do cuidado instintivo dos
insetos pelas futuras gerações" (1918, p. 160).
É possível encontrar na obra de Loeb vários outros exemplos de sua objeção a
explicações de fenômenos fisiológicos e comportamentais em termos de entidades
internas inferidas. À sua própria maneira, Loeb combatia o que um behaviorista
contemporâneo chamaria genericamente de "mentalismo" na explicação de tais
fenômenos. Para Loeb (1916), seria "tanto injustificado quanto desnecessário" tentar
explicar os tropismos como produtos de emoções ou sentimentos hipotéticos (pp.
284-285). Por exemplo, Loeb era um especialista no estudo do fototropismo5, que
ocorre em várias plantas e insetos. O fototropismo, argumenta Loeb (1916), pode ser
compreendido em termos puramente físico-químicos: ele seria, "em última análise, a
expressão da lei Bunsen-Roscoe de reações químicas"6. No entanto, como apontou
Loeb,"a'atração'ou'repulsão'deanimais pela luztem sido explicada pelos biólogos de

5 Embora o termo genérico "fototropismo" já fosse comum na literatura da época, Loeb preferia o
Termo "heliotropismo" para designar o movimento de organismos em direção a qualquer fonte de
luz. Contemporaneamente, costuma-se reservar o termo "heliotropismo" para os movimentos de
organismos orientados em relação ao sol. Os tropismos podem ser positivos (o organismo se move em
direção ao estímulo) ou negativos (o organismo se move em direção contrária ao estímulo).
6 Lei proposta por dois químicos, o alemão Robert Bunsen e o inglês Henry Roscoe, segundo a qual "a
reação de qualquer pigmento sensível à luz, incluindo um pigmento visual na retina do olho, é uma
função multiplicativa da intensidade da exposição à luz e sua duração"(Colman, 2009, p. 107).

94

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

jma maneira antropomórfica, ao atribuir-se aos animais uma 'afeição' [fondness] por
:uz ou por escuridão" (p. 256). Loeb (1912) comenta que alguns cientistas no campo
da botânica buscam explicar reações tropísticas em plantas por meio de analogias
com o comportamento de animais, afirmando que elas possuiriam "órgãos dos
sentidos" ["sense-organs"], ou mesmo uma "alma" ou "inteligência" - quando deveriam
derivar tal explicação "tão diretamente quanto possível da lei de ação das massas ou
da lei de Bunsen e Roscoe"(p. 58). Para Loeb (1900), as"concepções metafísicas"(alma,
vontade, consciência), dificultam a tarefa de compreensão de fenômenos biológicos,
e deveriam ser substituídas por "processos fisiológicos reais" (p. V).
A possibilidade de estender a teoria dos tropismos para explicar comportamentos
humanos permitiria também compreender por que humanos e animais superiores
"parecem possuir liberdade de vontade":

Os efeitos tropísticos das imagens de memória e a modificação e inibição de

4 I J. LOEB (1859-1924): 0 COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


tropismos pelas imagens de memória7tornam o número de reações possíveis
tão grande que a previsão se torna quase impossível, e é sobretudo esta
impossibilidade que dá origem à doutrina do livre-arbítrio. (1918, p. 171 )

Essa doutrina, de acordo com Loeb (1918), não é sustentada por físicos, mas por
"verbalistas" (p. 171). Tanto as ações ditas instintivas quanto aquelas ditas livres são
determinadas; a diferença é que, no primeiro caso, podemos identificar claramente
as fontes do controle, o que não ocorre no segundo: "A palavra 'vontade animal'
[ianimal wilí] era apenas a expressão de nossa ignorância sobre as forças que
prescrevem aos animais a direção de seus movimentos aparentemente espontâneos
tão inequivocamente quanto a gravidade prescreve os movimentos dos planetas"
(Loeb, 1912, p. 36). Concebemos que os humanos têm livre-arbítrio, porque nosso
conhecimento das forças que determinam o comportamento é incompleto, e isso se
deve "puramente ao infinito número de possíveis combinações e inibições mútuas do
efeito orientador de imagens de memória individuais" (1918, p. 172).
A despeito da complexidade dos processos envolvidos, porém, o problema da
"vontade livre" é suscetível ao tratamento experimental. É preciso identificar as
variáveis que determinam o comportamento, manipulá-las e, assim, demonstrar

7 É digno de nota que Loeb tenha eximido o conceito de imagem de memória de sua própria crítica
contra as explicações baseadas em eventos mentais hipotéticos.

95

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

controle sobre ele. Ao argumentar nessa direção, Loeb expõe sua postura determinista
de forma austera e exigente:

Experimentalmente, a solução do problema da vontade deve consistir em


forçar, por agentes externos, qualquer número de indivíduos de um certo
tipo de animais a mover-se em uma direção definida por meio de seu aparato
locomotor. Apenas se conseguirmos isso teremos o direito de assumir que
sabemos a força que, sob certas condições, parece ao leigo ser a vontade do
animal. Mas se apenas uma parte dos animais se move nessa direção definida
e a outra não, nós não conseguimos encontrar a força que inequivocamente
determina a direção de seu movimento. (1912, p. 36)

Uma carta de Loeb endereçada ao filósofo e psicólogo William James, datada


de 1888, é bastante reveladora da postura reducionista de Loeb em relação aos
4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-IIISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

fenômenos psicológicos:"Qualquer coisa que nos apareça como inovações, sensações,


fenômenos psíquicos, como são chamados, eu procuro conceber reduzindo-os
- no sentido da física moderna - à estrutura molecular e atômica do protoplasma"
(Rasmussen &Tilman, 1998, p. 5). Ao final do capítulo no qual explica a "significância
dos tropismos para a Psicologia", Loeb (1912) declara: "Para mim é uma questão de
tornar os fatos da psicologia acessíveis à análise por meio da físico-química" (p. 61).
Além disso, sugere que o desenvolvimento da "psicologia comparativa" caberá mais
aos "biólogos treinados em físico-química do que aos especialistas em psicologia ou
zoologia, pois em geral é difícil esperar que zoólogos e psicólogos, que não têm um
treinamento físico-químico, se sentirão atraídos ao tema dos tropismos" (pp. 61-62).
As interpretações de Loeb sobre as implicações de seus experimentos para o
comportamento dos seres humanos, eventualmente, avançavam sobre questões
éticas e políticas, assumindo até mesmo um caráter prescritivo. Há uma clara
continuidade entre a engenharia biológica pretendida por Loeb e suas esperanças
de uma reforma social cientificamente fundamentada. Para Loeb (1912), caso a
explicação dos fenômenos vitais em termos físico-químicos fosse de fato possível,
"nossa vida social e ética terá que ser posta em uma base científica e nossas regras
de conduta precisarão ser colocadas em harmonia com os resultados da biologia
científica" (p. 3). A base da explicação do comportamento ético dos seres humanos
estaria nos instintos, que seriam "tão hereditários quanto a forma de nosso corpo".
Os seres humanos são "apenas mecanismos químicos", que "comem, bebem e se

96

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

reproduzem não porque a humanidade tenha chegado a um acordo de que isso


é desejável, mas porque, como máquinas [machine-like], somos compelidos a isso"
por "processos em nosso sistema nervoso central". Instintos explicam também
porque somos ativos ("instinto de trabalho") e porque mães cuidam de seus filhos
("instinto de cuidar dos jovens"); buscamos a companhia de outros seres humanos e
lutamos pela justiça e pela verdade, "porque somos instintivamente compelidos a ver
nossos semelhantes felizes". Eventualmente, podem surgir "mutantes" nos quais "um
ou outro instinto desejável se perca"; caso a prole desses mutantes seja "numerosa
o bastante", ela pode "reduzir o status ético de uma comunidade" (p. 31). Como
vimos, porém, Loeb reconhecia que a aprendizagem tinha um papel importante no
comportamento humano. Para ele, isso significava que reflexos e instintos poderiam
ser modificados pela ação da "memória associativa", devendo haver um equilíbrio
entre a manutenção de certos instintos e a inibição de outros. Comportamentos
antiéticos seriam produzidos por "condições econômicas, sociais e políticas" ou por

| J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


"ignorância e superstição", que teriam o efeito de inibir ou deformar nossos instintos
virtuosos (1912, p. 31).
Embora não admitisse "livre-arbítrio [free-wilf] metafísico", Loeb (1900) não negava
a "responsabilidade pessoal". Atos eticamente reprováveis são produto ou de uma
"deficiência orgânica"ou de uma "educação insuficiente". A educação ética dos jovens
é uma tarefa social indispensável: «Podemos encher a memória da nova geração com
associações que venham a prevenir as más ações ou o desregramento». A punição,
por produzir «associações inibitórias», seria «talvez justificável», mas não deveria ser
exagerada ou cruel (p. 234).
Embora reconhecesse que a ciência ainda precisaria avançar muito para subsidiar
com segurança decisões governamentais, Loeb via nela o único caminho para a
solução dos problemas sociais, éticos e políticos da humanidade:"As descobertas das
ciências poderiam ser aplicadas aos problemas humanos por um corpo educado de
experts que fariam decisões sociais cotidianas com base no conhecimento científico"
(Rasmussen &Tilman, 1998, p. 165). Loeb considerava a educação científica essencial
para vencer a superstição e o misticismo, para gerar riquezas e orientar a política e
a economia. De acordo com Loeb, "a riqueza das nações modernas (...) não se deve
aos seus homens de estado ou às suas guerras, mas às realizações dos cientistas"
(Fangerau, 2007, p. 728). Não apenas as massas, mas também políticos e legisladores
deveriam aprender sobre a ciência. Em carta enviada ao presidente americano
Theodore Roosevelt, em 1909, Loeb afirmou que"a transição da gestão estatal passada
4

97

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

para a moderna é marcada pela substituição da burocracia e jurisprudência estéril, ou


dos horizontes limitados dos homens de negócios, pela ciência fértil" (Rasmussen &
Tilman, 1998, p. 86).

Loeb e a filosofia da ciência


Loeb manteve uma relação ambígua com a filosofia da ciência. Seus escritos
demonstram claramente seu enfado em relação às discussões conceituais e filosóficas:
ele frequentemente as considerava vazias e inúteis, contrapondo-lhes a precisão e a
segurança da ciência e atacando "metafísicos" e "especuladores". Seria preciso evitar
"os erros do metafísico", buscando explicações baseadas "em fatos, não em palavras"
(1900, p. 12). Ao comentar um texto que discutia se animais possuem inteligência,
Loeb (1900) observa de forma desdenhosa que "a resposta a tais questões varia com a
definiçãoda palavra inteligência,e portantotaisdiscussões resultam em uma discussão
de palavras e definições". Tais discussões teriam caráter "escolástico", servindo apenas
| J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

para defender "dogmas" e "opiniões". Desde Galileo Galilei, contudo, a ciência teria
se livrado desse "estéril método escolástico": "O objetivo da biologia moderna não
é mais discutir palavras, mas controlar os fenômenos da vida"(p. 287). Loeb acusava
"teólogos, filósofos e o resto dos escritores não-científicos"de dificultar para o público
comum a distinção entre verbalismo especulativo e fatos experimentais - ou entre
"certeza e mero discurso vago"(Rasmussen &Tilman, 1998, p. 29). Ao contrário do que
ocorreria em "algumas ciências mentais", nas quais "tudo se apoia na argumentação
ou na retórica", e em "ciências descritivas como paleontologia e zoologia", nas quais
as teorias se sucedem uma após a outra, a Biologia contemporânea seria uma ciência
"fundamentalmente experimental" e não "descritiva" ou "retórica", produzindo assim
verdades mais sólidas (Loeb, 1912, pp. 3-4). A ciência, para Loeb (1916),"não é o campo
das definições, mas de previsão e controle"(p. 349). Em suma, como aponta Pauly,"ele
buscou uma abordagem da ciência que o libertasse da complexidade de argumentar
sobre problemas que pareciam sem solução. Sua identificação com o engenheiro o
permitiu ignorar o processo de debate teórico que parecia a ele sem sentido"(p. 53).
Embora seja possível identificar com razoável clareza as posições epistemológicas
de Loeb, ele frequentemente negava que seu trabalho tivesse qualquer relação
com a Filosofia. Em certa ocasião, Loeb leu o rascunho de um texto biográfico a seu
respeito, que afirmava que alguns de seus escritos tratavam de problemas filosóficos
e psicológicos. Em uma carta datada de 1922, ele objetou fortemente contra
essa caracterização, alegando que suas contribuições consistiam "puramente em
4

98

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

experimentos físico-químicos. Eu nunca me prestei a escritos filosóficos".Tentativas de


explicar fenômenos naturais em termos psicológicos e filosóficos eram "antiquadas,
puramente especulativas", e deveriam ser substituídas pela experimentação científica.
Não se trava mais, assim, de lidar com questões psicológicas ou filosóficas, mas com
fatos "físico-químicos" (Rasmussen &Tilman, 1998, p. 9).
A despeito de tais demonstrações de rejeição à Filosofia, Loeb encontrou em
Mach algo como um porto seguro, que lhe provia toda a fundamentação que ele
considerava necessária para seu trabalho científico. Nesse caso, é certamente
revelador o fato de Mach ter sido, antes de filósofo, um físico. Ele falava a "linguagem"
dos cientistas:"Mach apresentou seus livros como discussões de temas gerais escritos
por um cientista praticante para outros cientistas, independente das complexidades
da filosofia acadêmica" (Pauly, 1987, p. 42).
Loeb manteve extensa correspondência com figuras importantes da ciência
em sua época - entre elas, os físicos Albert Einstein e Svante Arrhenius, o filósofo

I J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


e psicólogo William James e o economista e sociólogo Thorstein Veblen. Mach era
um de seus interlocutores mais frequentes, embora nunca tenham se encontrado
pessoalmente. Em sua correspondência com Mach, Loeb sentia-se à vontade para
tratar de "questões estratégicas, filosóficas e epistemológicas" (Fangerau & Müller,
2005, p. 207). Mais do que apenas um colega cientista, Mach era para Loeb um
ídolo intelectual. Por ocasião da publicação de Comporotive Physiology of the Brain
and Comparative Psychology, Loeb dedicou seu livro ao físico. E assim como Mach,
via a ciência e a tecnologia como aspectos contínuos e integrados de um mesmo
empreendimento. A ciência tem como objetivo prever e controlar experimentalmente
os fenômenos que estuda, e com isso permitir o domínio dos fenômenos naturais a
fim de satisfazer as necessidades humanas. A ciência, em suma, confere poder. Se
Loeb é hoje reconhecido como um pioneiro em conceber a biologia como uma
"engenharia da vida" (Pauly, 1987; Maienschein, 2009; Weissmann, 2006), certamente
isso se deve em grande medida à influência de Mach.
Para Loeb, assim como para Mach, descobrir as variáveis que controlam um
fenômeno equivale a explicá-lo cientificamente. Seria necessário, de acordo com
Loeb (1907), "controlar as reações do animal antes de explicá-las, dado que apenas o
controle das reações oferece um teste suficiente para a correção de nossa análise" (p.
152). Loeb tratava tanto os reflexos quanto os tropismos como relações de controle
observáveis entre estímulos e respostas, como sugeria a noção de relação funcional
de Mach. Além disso, seguindo o exemplo de Mach, Loeb evitava o apelo a entidades
4

99

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

hipotéticas internas na explicação dos fenômenos fisiológicos e psicológicos. Ele


considerava problemáticas não apenas explicações que apelavam para entidades
mentais (vontade, inteligência, instinto, etc), mas também aquelas que recorriam
a mecanismos neurais hipotéticos - e o motivo principal para isso era de ordem
prática: a inacessibilidade de tais entidades impossibilitava o controle experimental.
Como apontou Pauly (1987), "Loeb sustentou explicitamente que o critério para a
acessibilidade era se 'um engenheiro' poderia 'fazer uso de tais causas no mundo
físico"'(p. 47).

Loeb e a manipulação da vida sob o olhar público


Em sua época, Loeb tornou-se um dos mais famosos cientistas dos Estados Unidos,
aparecendo com regularidade em matérias de jornais e revistas populares. Ele foi uma
das primeiras celebridades científicas, um dos símbolos de uma ciência que, ao se
traduzir em tecnologia e manipular a vida, tornou-se objeto de controvérsia pública
4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

- fazendo lembrar a polêmica hoje suscitada por técnicas de clonagem e engenharia


genética. De fato, aplicações científicas como a fertilização in vitro e os contraceptivos
orais derivam das pesquisas pioneiras de Loeb (Pauly, 1987).
A demonstração experimental da partenogênese artificial é sem dúvida a
realização científica mais conhecida de Loeb, e foi o estopim para as controvérsias
envolvendo seu trabalho. Durante vários anos, Loeb frequentou o Marine Biological
Laboratory, em Woods Hole, Massachusetts, realizando experimentos variados com
invertebrados marinhos. Desde sua fundação, em 1888, o laboratório promovia
programas de pesquisa em biologia reprodutiva. Foi ali que Loeb produziu
"artificialmente" a partenogênese - isto é, o desenvolvimento de embriões sem a
necessidade de fertilização. No experimento de Loeb (1899), óvulos de ouriços-do-
mar progrediram para o estado larval sem a presença de esperma, por meio tão-
somente da introdução de soluções de sal inorgânico na água que envolvia os óvulos.
Com a partenogênese artificial, a ciência demonstrava, de maneira eloquente, sua
capacidade de manipular a vida - e Loeb, experimentador-engenheiro, não se furtava
a defender publicamente sua concepção de ciência como tecnologia e a confirmar
seu potencial. Durante o anúncio de sua realização, em outubro de 1899, Loeb sugeriu
a possibilidade de reproduzir a partenogênese em "mamíferos" - e mesmo que não
tenha mencionado diretamente a espécie humana, a opinião pública compreendeu
imediatamente o alcance da descoberta; dúvidas, previsões e preocupações se
multiplicaram. Diversos jornais anunciaram o feito. O Boston Herald, por exemplo,

100

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

trouxe a seguinte manchete: "Criação da Vida. Espantosa Descoberta do Prof. Loeb.


Animais Inferiores Produzidos por Meios Químicos. Processo Pode se Aplicar à Espécie
Humana. Concepção Imaculada Explicada. Experimentos Maravilhosos Conduzidos
em Woods Hole" (Pauly, 1987, p. 100). Especulava-se sobre as consequências da
possibilidade de que mulheres gerassem filhos sem a participação dos homens. A
expressão "concepção imaculada", que havia sido utilizada pelo próprio Loeb, produziu
uma interpretação previsível, mas que o desagradou profundamente: a concepção de
Jesus pela Virgem Maria poderia ser cientificamente explicada. Comentários irônicos
davam conta de que "donzelas" estariam evitando banhos de mar após a descoberta
de Loeb, a fim de prevenir a gravidez (Pauly, 1987).
Em uma entrevista concedida para a McClure's Magazine em 1902, Loeb
expressou-se da seguinte forma:

Eu quis tomar a vida em minhas mãos e jogar [play] com ela (...). Eu quis

I J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


manipulá-la em meu laboratório como faria com qualquer outra reação
química - iniciá-la, pará-la, variá-la, estudá-la sob cada condição, direcioná-la de
acordo com a minha vontade! (Pauly, 1987, p. 102)

Ainda hoje tais palavras soam fortes e ousadas. No início do século 20, o impacto
conjunto das descobertas e das declarações de Loeb sobre a opinião pública foi
extraordinário. Em tom dramático, Loeb foi comparado a Fausto e a Frankenstein
(Pauly, 1987), e acusado de "transgredir os limites da ciência (...). Bebês sem pais
violavam a lei natural, o plano divino havia sido rompido, e Loeb foi acusado de
propor a'hipótese ateista'de que a vida teve uma origem físico-química"(Weissmann,
2006, p. 1032).

A influência de Loeb sobre o behaviorismo


Loeb foi uma importante referência intelectual para diversos cientistas - entre
eles, os dois behavioristas mais conhecidos: John B. Watson e B. F. Skinner. É possível
notar várias similaridades filosóficas e metodológicas entre a biologia de Loeb e
as de Watson e Skinner: a opção pelo "organismo como um todo" como objeto de
estudo, a importância do controle experimental, a busca por variáveis independentes
manipuláveis, a tendência ao determinismo, a precedência dos dados em relação
à teorização, a concepção de integração entre ciência e tecnologia, a pretensão
de construir uma tecnologia do comportamento, a sugestão de reformas sociais
4

101
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

fundamentadas nessa tecnologia e, por fim, a oposição ao dualismo. Osterhout


(1930) aponta, além disso, que as obras de Loeb "deram um enorme ímpeto ao
estudo experimental do comportamento animal e encorajaram a expectativa de que
ele poderia ser posto sob controle do experimentador"(p. 334).

Loeb e Watson
Loeb foi professor de fisiologia e biologia experimental na Universidade de
Chicago durante dez anos, entre 1892 e 1902. O jovem Watson ingressou como
aluno na mesma universidade em 1900, aos 22 anos, e ficou impressionado com as
aulas e experimentos de Loeb. À época, Loeb estava interessado na aprendizagem
por "memória associativa", e realizava experimentos com cães. Watson chegou a
considerar a possibilidade de realizar sua dissertação para a obtenção do título de
Ph.D. sob orientação de Loeb, mas foi dissuadido pelo psicólogo James Angell e pelo
neurologista Henry Donaldson, que acabaram por orientá-lo conjuntamente. Watson
4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

(1936) relatou que Angell e Donaldson não achavam que Loeb fosse "um homem
muito'seguro'para um candidato novato ao Ph.D."(p. 273).
De acordo com Buckley (1989), Watson "sentiu que sua ideia do reflexo e a
noção de Loeb do tropismo eram conceitos similares" (p. 203). Watson certamente
conferiu à interação dos organismos com o ambiente uma importância muito
maior do que aquela concedida por Loeb, e viria mesmo a rejeitar o conceito de
instinto (Watson, 1925). Contudo, cabe notar que os instintos assumem um papel
proeminente no primeiro livro de Watson (1914), e são tratados como "uma série de
reflexos concatenados" (p. 106), lembrando a definição de Loeb para os tropismos
como conjuntos coordenados de reflexos. A concepção de Loeb de que o controle
dos processos naturais sob estudo deveria ser o objetivo final da pesquisa foi
completamente absorvida por Watson (Buckley, 1989, p. 41), e a proposição do
behaviorismo como um "ramo puramente objetivo e experimental da ciência
natural", rejeitando a "interpretação em termos de consciência" e a noção de uma
"linha divisória entre homens e animais"(Watson, 1913/1995, p. 24) certamente deve
muito a Loeb.

102

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Também é possível identificar em Watson um mecanicismo semelhante àquele


presente na obra de Loeb8 Se para Loeb (1906) os organismos eram "máquinas
químicas" (p. 1), Watson (1914) se expressou em termos igualmente claros: "Que
o organismo é uma máquina é tomado como certo em nosso trabalho" (p. 52).
Contudo, Watson não subscrevia o que considerava um reducionismo exacerbado
de Loeb em sua tentativa de explicar os processos comportamentais apenas em
termos físico-químicos. Em uma resenha do livro The Dynamics of Living Matter, de
Loeb, Watson (1907) nota que o autor"em todos os seus artigos está constantemente
atacando o psicólogo, que ele chama de metafísico" (p. 291), e que ele "ainda
falha em compreender o princípio fundamental da psicologia - isto é, que uma
descrição físico-química do comportamento nunca pode interferir com, nem
substituir uma descrição psicológica" (p. 293). Watson (1914, pp. 52-55) identifica
uma "forte tendência da parte de muitos biólogos em assumir que os mecanismos
[do comportamento] são excepcionalmente simples", e menciona diretamente

4 | J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÔRIA DO BEHAVIORISMO


a partenogênese artificial ao afirmar que "estudos físico-químicos" não oferecem
prejuízo à investigação do comportamento. Embora declare que "ninguém acredita
de modo mais pleno na completa natureza físico-química de todas as respostas" do
que ele próprio, Watson observa que os biólogos, quando descrevem respostas que
ocorrem sem a necessidade de aprendizagem, eventualmente podem concluir "que
a mecânica da resposta foi explicada por uma simples base físico-química, que não
há mais nenhuma necessidade premente de estudar as reações dos animais". Se há
um reducionismo em Watson, ele se restringe ao nível comportamental. Para Watson,
a análise dos processos comportamentais tem como fim "a redução de formas de
resposta complexas, congênitas (instinto) e adquiridas (hábito), a reflexos simples";
tal análise, contudo, deve ser complementada por uma síntese que permita "a
construção de hábitos a partir de reflexos simples". Watson defendia a independência
da ciência do comportamento em relação à zoologia, fisiologia e física e, ao mesmo
tempo, conclamava ao "constante intercâmbio" entre tais ciências.
Sabe-se, por fim, que Watson foi uma figura pública importante, que buscava levar
o conhecimento científico para além dos círculos acadêmicos, impulsionado pela
perspectiva de sua aplicação para a resolução de problemas sociais. Também nesse
aspecto é possível reconhecer em Loeb um predecessor relevante. Buckley (1989),

8 Hackenberg (1996) aponta, contudo, que "chamar-se um mecanicista nos tempos de Loeb era
chamar-se um cientista. (...) O termo mecanicista nos tempos de Loeb era honorífico, não o termo tão
vilipendiado que se tornou em alguns círculos atuais” (p. 300).

103
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

por exemplo, afirma que "sem dúvida o sucesso de Loeb em escrever sobre ciência na
imprensa popular inspirou os posteriores esforços similares de Watson"(p. 41).

Loeb e Skinner
Skinner reconheceu em diversas ocasiões a importância de Loeb no
desenvolvimento de seu repertório científico, citando-o extensivamente em sua
autobiografia. Durante seus estudos no Hamilton College, Skinner, por recomendação
de seu professor de Biologia, leu duas obras de Loeb: ComparativePhysiologyoftheBrain
and Comparative Psychologyi 1900) e The Organism as a Whole: From a Physicochemical
Viewpoint (1916). Além disso, Skinner foi aluno e amigo de W. J. Crozier em Harvard
- este, por sua vez, tendo sido influenciado por Loeb, cuja concepção de ciência
defendeu dedicadamente9
Embora a leitura dos livros de Loeb o tenha deixado, de início, "impressionado
pelo conceito de tropismo10" (Skinner, 1976/1984, p. 295), Skinner logo viria a notar
| J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

as limitações do conceito para a explicação do comportamento de organismos


complexos: "O ambiente estimulador que me importava pouco poderia ser descrito
como um campo de força, ou o comportamento simplesmente como orientação ou
movimento" (1979/1984, pp. 45-46; ver também Skinner, 1938, p. 435). Os reflexos
pareciam constituir um campo de estudos mais promissor. Contudo, vários aspectos
da postura de Loeb enquanto pesquisador, em grande medida reproduzidos por
Crozier, tiveram um importante impacto sobre Skinner.
Crozier chefiou o Departamento de Fisiologia da Universidade de Harvard a partir
de 1925, estendendo as pesquisas sobre tropismos dos "animais inferiores" para
os mamíferos. Em 1928, aos 24 anos, Skinner passou a frequentar o laboratório de
Crozier - que, de acordo com Bjork (1997), "no fim dos anos 20 e início dos anos 30
(...) se tornou uma meca para pesquisadores das ciências biológicas" (p. 77). Crozier
era um "forte defensor da metodologia de pesquisa intra-sujeito, com sua ênfase

9 A afirmação genérica de que Crozier foi "estudante"ou "discípulo” de Loeb é frequente na literatura.
Contudo, conforme aponta Morris (2016),"Crozier não foi literalmente estudante de Loeb, mas ele foi
estudante de Loeb figurativamente". Embora Crozier tenha sido significativamente influenciado por
seu trabalho, não há evidências de que tenha sido formalmente ensinado ou orientado por Loeb.
Morris atribui o problema a uma reprodução de afirmações equivocadas inicialmente feitas por Skinner
- especialmente sua asserção de que Crozier "estudou sob Loeb [hadstudied under Loeb]" (Skinner,
1956/1972, p. 103).
10 Vale lembrar que a primeira publicação de Skinner (Barnes & Skinner, 1930) relatou experimentos com
geotropismo em formigas, realizados no laboratório de Crozier.
4

104

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

no controle experimental ao invés de estatístico" (Hackenberg, 1995, p. 228) - uma


característica que Skinner viria a assimilar. No laboratório de Crozier, Skinner pôde
realizar experimentos com reflexos, produzindo-os "no organismo intacto ao invés de
em um músculo ou glândula cirurgicamente isolado, como faziam os behavioristas
pavlovianos" (Bjork, 1997, p. 78). Como aponta Hernnstein (1972/1998), o problema
da variabilidade comportamental interessava tanto a Crozier quanto a Skinner:"Como
explicar a variabilidade em comportamento que presumivelmente era puramente
reflexo?" (p. 100). Tratamentos estatísticos da variabilidade não constituíam uma
solução adequada, apenas retardando a busca por variáveis que permitissem sua
previsão e controle.
Skinner relata que Crozier o auxiliou de várias formas durante sua carreira
acadêmica, e transmitiu a ele "a concepção de Jacques Loeb do organismo como um
todo e a possibilidade de estudar seu comportamento à parte do resto de sua fisiologia"
(1983/1984, p. 91; ver também Skinner, 1977/1980, p. 192). As reservas de Skinner em

| J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


relação à utilização do sistema nervoso como forma de explicação do comportamento,
certamente, podem ser traçadas à influência de Loeb e Crozier. Skinner afirma que
ambos, em seus estudos do "organismo como um todo", "ressentiam-se do sistema
nervoso"(1979/1984, p. 45), e"falavam sobre comportamento animal sem mencionar
o sistema nervoso. (...) Eles eliminaram a teorização fisiológica de Pavlov e Sherrington
e assim clarificaram o que restava do trabalho desses homens como os princípios
de uma ciência independente do comportamento" (1956/1972, p. 104). Com Loeb e
Crozier, portanto, Skinner (1983/1984) aprendeu a "analisar o comportamento por seu
próprio direito" (p. 367). Skinner (1987/1989b) aponta também que Loeb, ao estudar
organismos de pequeno porte que exibiam respostas simples, foi um pioneiro não
apenas em pesquisar o comportamento de organismos integrais, mas em abdicar
as "explicações internas" para o mesmo (p. 61). Ao comentar o processo de redação
do livro The Behavior of Organisms (1938) por ocasião dos 50 anos de sua publicação,
Skinner identificou Loeb como uma das "fontes" de sua posição teórica no livro,
destacando especificamente que, como Loeb, ele queria "evitar referências ao sistema
nervoso" e comentando:

Eu não acredito que eu tenha cunhado o termo behoviorismo radical, mas


quando perguntado o que queria dizer com ele, eu sempre disse, "a filosofia de
uma ciência do comportamento tratado como objeto em seu próprio direito,
independente de explicações internas, mentais ou fisiológicas’'. (1989a, p. 122)
4

105
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Herrnstein (1972/1998) descreve a biologia loebiana, conforme ensinada por


Crozier, como "mais ocupada com o comportamento como comportamento ao invés
de como uma manifestação de algo além (como um sistema nervoso)", e afirma
gue"a linha de descendência behaviorista no que concerne à pesquisa passa mais
conspicuamente de Loeb via Crozier para Skinner, do que via Watson"(p. 99). Para seu
biógrafo Daniel Bjork (1997), Skinner relatou, em 1990, que "sua própria genealogia
intelectual podia ser traçada de Mach para Loeb para o fisiologista de Harvard William
Crozier" (p. 65). Bjork (1997) observa ainda que "para Skinner, assim como para Crozier
e Loeb, o controle tornava a ciência científica" (p. 87).
Dada a reconhecida influência do "positivismo descritivo, indutivo, não lógico"
(Smith, 1995, pp. 39-40) de Mach sobre Skinner (Bjork, 1997; Day, 1980; Smith, 1986,
1995; Skinner, 1989a), não surpreende que Loeb compartilhe com Skinner diversas
posições que certamente derivam de Mach. Smith (1995) menciona, entre as
características machianas da postura científica de Skinner, a importância do método
| J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISM OS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

experimental como fundamento da teorização, a economia conceituai na descrição


dos dados experimentais, a rejeição à postulação de entidades internas hipotéticas, a
inadequação do vocabulário popular na fundamentação da linguagem científica e a
proximidade entre ciência e tecnologia - todas elas facilmente identificáveis também
em Loeb". Assim como Smith (1995), Hackenberg (1995) nota que tanto Loeb
quanto Skinner representam uma tradição científica que pode ser traçada até Francis
Bacon, "preocupada com conhecimento produtivo, adquirido ativamente por meio
de observação e experimentação, ao invés de com conhecimento contemplativo,
adquirido passivamente por meio de classificação e descrição" (p. 231 )1
12. Skinner
(1976/1984) sugere inclusive que Loeb o teria feito perceber a "possiblidade de
aplicações tecnológicas" de uma ciência do comportamento (p. 299).
Não surpreende que cientistas que descendam dessa tradição se lancem também
na realização de prescrições sociais, éticas e políticas, como ambos fizeram. Em

11 Essa identificação não parece tão simples em relação à outra proposta de Mach adotada por
Skinner: a substituição da noção de causa pela de relações funcionais entre classes de eventos, e a
identificação da explicação científica com a descrição de tais relações. Como aponta Blackmore (1972),
embora o próprio Loeb tenha afirmado que "toda 'explicação'consiste somente na apresentação de
um fenômeno como uma função inequívoca das variáveis pelas quais é determinado", vários outros
trechos de sua obra tornam sua posição "inconsistente" em relação esse tema (p. 131).
12 Moxley (1992) nota, porém, que Loeb discordava da oposição de Mach sobre o mecanicismo, e que
embora Skinner credite ambos como influências, ele não parecia estar ciente do "conflito fundamental"
(p. 1302) entre o mecanicismo de Loeb e o funcionalismo de Mach.
4

106

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Skinner, contudo, tais prescrições surgem de modo consideravelmente mais explícito


e articulado (e. g., 1948/1976, 1971, 1978, 1987), a despeito de qualquer julgamento
que se possa fazer sobre sua pertinência. Loeb limitava-se a fazer observações
genéricas sobre a necessidade de aplicar o conhecimento científico aos problemas
humanos, eventualmente sugerindo de forma vaga os contornos básicos de tal
aplicação. Em ambos, porém, percebe-se claramente a confiança de que os valores e
as descobertas da ciência poderiam contribuir dramaticamente para o enfrentamento
dos problemas humanos.
Embora as semelhanças entre Loeb e Skinner sejam notáveis, também há, é
claro, diferenças relevantes. Há que se considerar, inicialmente, as transformações no
posicionamento dos dois cientistas ao longo do tempo. Moxley (1996) argumenta
que as semelhanças entre Loeb e Skinner dizem respeito, em especial, à fase inicial
de suas carreiras, e que as diferenças são mais facilmente identificáveis conforme se
acompanha seus avanços. Por exemplo, Moxley nota que Loeb, que inicialmente via

| J. LOEB (1 8 5 9 1 9 2 4 ): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


o controle dos processos naturais como o único objetivo da biologia experimental,
posteriormente assumiu uma postura mais contemplativa. Tal perspectiva é
confirmada por Pauly (1987), para quem a visão de Loeb sobre a ciência sofreu uma
gradual transformação entre 1910 e 1918:"Ele não via mais os cientistas como líderes
na transformação do mundo, mas como figuras solitárias, afastadas da sociedade,
buscando conhecimento puro"(p. 130). No que Pauly (1987) chama de"único ensaio
explicitamente filosófico de sua carreira", Loeb "rejeitou publicamente as concepções
de seu ídolo intelectual, Ernst Mach, concernentes à natureza e propósito da ciência"
(p. 130): "É a tarefa da ciência proporcionar uma visualização correta e completa
de todos os fenômenos naturais, dado que são todos aparentemente mecânicos
em seu caráter" (Loeb, 1915, p. 769). É um contraste notável em relação ao cientista
que antes via como único objetivo da ciência o controle dos fenômenos naturais.
Embora importante, tal controle não se mostrava mais suficiente na produção de
explicações científicas.
Loeb, contudo, parece ter sido consistente, ao longo de sua carreira, em relação
ao mecanicismo e ao determinismo. Se é possível detectar indícios de mecanicismo
no início da carreira de Skinner, sua permanência posterior é no mínimo discutível,
para não dizer duvidosa. Moxley (1996) sugere que o gradual desenvolvimento de
uma visão pragmatista e selecionista por parte de Skinner viria a eliminar qualquer
necessidade de apelo ao mecanicismo. No seminal artigo Seleção por Consequências,
por exemplo, Skinner (1981/2007) afirma que o modelo que propõe "substitui
4

107
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

explicações baseadas nos modos causais da Mecânica Clássica"(p. 129). Moxley (1996)
sustenta, além disso, que embora Skinner tenha "feito afirmações que sugerem que
ele aceitou o determinismo científico ou mecanicista como central e fundamental,
este determinismo se tornou progressivamente periférico, mesmo não tendo
desaparecido completamente" (p. 295). Além disso, afirma que para Loeb o controle
experimental implicava "necessidade inequívoca", enquanto para Skinner tratava-se
apenas de "uma mudança empírica na probabilidade" (p. 295). Por fim, como talvez já
seja evidente, a obra de Skinner, quando comparada à de Loeb, apresenta notáveis
progressos nas possibilidades de explicação dos fenômenos comportamentais. Vistas
hoje, as explicações de Loeb, em especial ao tratar do comportamento humano, soam
simplistas, eventualmente expressando um reducionismo biológico que percorre
toda a sua obra. Variáveis filogenéticas ganham uma importância exagerada, e a ação
das variáveis ambientais ontogenéticas e culturais é tratada de forma rudimentar.
A despeito de tais diferenças, não restam dúvidas sobre a importância de Loeb
| J. LO EB (1859-1924); O COMPORTAMENTO DOS ORGANISM OS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

na formação do repertório científico de Skinner - e, por extensão, da análise do


comportamento. É razoável afirmar que uma parte considerável das características do
behaviorismo radical e da análise do comportamento se deve à influência de Loeb.
Destacamos, anteriormente, o impacto de Loeb sobre a percepção pública da
ciência nos Estados Unidos. Menciona-se corriqueiramente como demonstração
desse impacto o fato de que o personagem Max Gottlieb, presente no romance
Arrowsmith (1925), escrito pelo ganhador do prêmio Nobel de Literatura Harry Sinclair
Lewis, foi inspirado em Loeb. Curiosamente, Skinner não apenas leu o romance, como
o apontou como decisivo para sua escolha profissional, mencionando Gottlieb - um
cientista experimental, assim como Loeb - como seu personagem favorito na trama.
A leitura do livro ocorreu quando Skinner enfrentava uma difícil escolha profissional.
Seu pai havia lhe oferecido um emprego bem remunerado como gerente de um
escritório de seguros, que Skinner acabou por recusar. Dois anos depois, ele entraria
em Harvard como estudante de Psicologia. Em uma carta para Arthur Saunders,
datada de 1926 (Bjork, 1997, p. 64), Skinner comenta sobre a importância do romance
em sua escolha: "E se não tivesse Sinclair Lewis captado tão bem a inevitável batalha
para escolher entre uma vida convencional razoavelmente complacente e a estrada
caótica para ser HONESTO consigo mesmo?".
4

108

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Referências
Andersen, 0. S. (2005). A brief history of The Journal of General Physiology. Journal of
General Physiology, 725(1), 3-12.
Barnes,! C , & Skinner, B. F. (1930).The progressive increase in the geotropic response
of the ant Aphoenogaster. Journal of General Psychology, 4 ,102-112.
Bjork, D. W. (1997). B. F. Skinner: A life. Washington, DC: American Psychological
Association.
Blackmore, J. T. (1972). Ernst Mach: His work, life and influence. Berkeley, CA: University
of California Press.
Buckley, K. W. (1989). Mechanical man: John Broadus Watson and the beginnings of
behaviorism. New York: Guilford Press.
Colman, A. M. (2009) (Ed.). Dictionary of psychology (3a. ed.). Oxford: Oxford University
Press.
Day, W. F., Jr. (1980). The historical antecedents of contemporary behaviorism. In R.W.

I J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISM OS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


Rieber & K. Salzinger (Eds.), Psychology: Theoretical-historical perspectives (pp. 203-
262). New York: Academic Press.
Fangerau, H. (2007). Biology and war: American biology and international science. In
M. Kokowski (Ed.), The Global and the local: The history of science and the cultural
integration of Europe. Proceedings of the 2ndInternational Conference of the European
Society for the History of Science (pp. 727-732). Cracdvia: Polish Academy of Arts and
Sciences.
Fangerau, H., & Müller, I. (2005). National styles? Jacques Loeb's analysis of German and
American science around 1900 in his correspondence with Ernst Mach. Centaurus,
47(3), 207-225.
Hackenberg, T. D. (1995). Jacques Loeb, B. F. Skinner, and the legacy of prediction and
control. The Behavior Analyst, 78(2), 225-236.
Hackenberg,! D. (1996). When being a mechanist wasn't so bad: Reply to Moxley. The
Behavior Analyst, 79(2), 299-300
Herrnstein, R. J. (1998). Nature as nurture: Behaviorism and the instinct doctrine.
Behavior and Philosophy, 26, 73-107. (Original publicado em 1972)
Loeb, J. (1899). On the nature of the process of fertilization and the artificial production
of normal larvae (plutei) from the unfertilized eggs of sea urchins. The American
Journal of Physiology, 3 ,135-138.
4

109
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Loeb, J. (1900). Comparative physiology of the brain and comparative psychology. New
York: Putnam.
Loeb, J. (1903,6 de março). Phenomena of life. Daily Californian, p. 25.
Loeb, J. (1906). The dynamics of living matter. New York: Columbia University Press.
Loeb, J. (1907). Concerning the theory of tropisms. The Journal of Experimental Zoology,
4 ,145-156.
Loeb, J. (1912). The mechanistic conception of life. Chicago: University of Chicago Press.
Loeb, J. (1915). Mechanistic science and metaphysical romance. Yale Review, 4,
766-785.
Loeb. J. (1916). The organism as a whole: From a physicochemical viewpoint. New York:
Putnam.
Loeb, J. (1918). Forced movements, tropisms, and animal conduct. Philadelphia, PA: J. B.
Lippincott.
Loeb, J. (2013). Studies in general physiology (Vol. 15). London: Forgotten Books.
I J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO 8EHAVIORISMO

(Original publicado em 1905)


Maienschein, J. (2009). Controlling life: From Jacques Loeb to regenerative medicine.
Journal of the History of Biology, 42(2), 215-230.
Morris, E. K. (2016). W. J. Crozier and Jacgues Loeb: A case study in claims about "students"
and "teachers". Manuscrito em preparação.
Moxley, R. A. (1992). From mechanistic to functional behaviorism. American
Psychologist, 47(11), 1300-1311.
Moxley, R. A. (1996). Prediction and control in Loeb's visualization and Skinner's
contingencies: Response to Hackenberg. The Behavior Analyst, 19, 293-297.
Osterhout, W. J. V. (1930). Biographical memoir of Jacques Loeb (1859-1924). In
National Academy of Sciences (Ed.), Biographical memoirs (Vol. 13, pp. 316-401).
Washington, DC: National Academy of Sciences.
Pauly, P. J. (1987). Controlling life: Jacgues Loeb and the engineering ideal in biology. New
York: Oxford University Press.
Rasmussen, C , &Til man, R. (1998). Jacgues Loeb: His science and social activism and their
philosophical foundations. Philadelphia, PA: American Philosophical Society.
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1971). Beyond freedom and dignity. New York: Alfred A. Knopf.
4

110

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Skinner, B. F. (1972). A case history in scientific method. In B. F. Skinner (Ed.), Cumulative


record: A selection of papers (pp. 101-124). New York: Appleton-Century-Crofts.
(Original publicado em 1956)
Skinner, B. F. (1976). Walden two. Indianapolis, IN: Hackett. (Original publicado em
1948)
Skinner, B. F. (1978). Reflections on behaviorism and society. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.
Skinner, B. F. (1980). The experimental analysis of operant behavior: A history. In R. W.
Rieber & K. Salzinger (Eds.), Psychology: Theoretical-historical perspectives (pp. 191-
202). New York: Academic Press. (Original publicado em 1977)
Skinner, B. F. (1984). Particulars of my life: Part one of an autobiography. New York: New
York University Press. (Original publicado em 1976)
Skinner, B. F. (1984). The shaping of a behaviorst: Part two of an autobiography. New
York: New York University Press. (Original publicado em 1979)

I J. LOEB (1859-1924): O COM PORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO


Skinner, B. F. (1984) A matter of consequences: Part three of an autobiography. New York:
New York University Press. (Original publicado em 1983)
Skinner, B. F. (1987). Upon further reflection. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
Skinner, B. F. (1989a). The Behavior of Organisms at 50. In B. F. Skinner (Ed.), Recent
issues in the analysis of behavior {pp. 121-135). Columbus, OH: Merrill.
Skinner, B.F. (1989b). Whatever happened to psychology as the science of behavior?
In B. F. Skinner (Ed.), Recent issues in the analysis of behavior (pp. 59-71). Columbus,
OH: Merrill. (Original publicado em 1987)
Skinner, B. F. (2007). Seleção por consequências. Revista Brasileira de Terapia
Comportamento!e Cognitiva, 9(1), 129-137. (Original publicado em 1981)
Smith, L. D. (1986). Behaviorism and logical positivism: A reassessment of the alliance.
Stanford: Stanford University Press.
Smith, L. D. (1995). Inquiry nearer the source: Bacon, Mach, and The Behavior of
Organisms. In J.T.Todd & E. K. Morris (Eds.), Modern perspectives on B. F. Skinner and
contemporary behaviorism (pp. 39-50). Westport, CT: Greenwood Press.
Watson, J. B. (1907). The Dynamics of Living Matter - Jacques Loeb [Resenha],
Psychological Bulletin, 7, 291-293.
Watson, J. B. (1914). Behavior: An introduction to comparative psychology. New York:
Henry Holt.
4

111
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Watson, J. B. (1995). Psychology as the behaviorist views it. In W. Lyons (Ed.), Modern
philosophy of mind (pp. 24-42). London: Everyman Library. (Original publicado
em 1913)
Watson, J. B. (1925). Behaviorism. London: Kegan Paul, Trench, Trubner & Co..Watson,
J. B. (1936). Autobiography. In C. Murchison (Ed.), A history of psychology in
autobiography (Vol. 3, pp. 271-281). Worcester, MA: Clark University Press.
Weissmann, G. (2006). Stem cells, in vitro fertilization, and Jacques Loeb. The FASEB
Journal, 2 0 ,1031-1033.
Wozniak, R. H. (1993). Jacques Loeb, Comparative Physiology of the Brain, and
Comparative Psychology [Introdução]. In J. Loeb, Comparative physiology
of the brain and comparative psychology (pp. vii-xxiii). London: Routledge/
Thoemmes Press.
4 I J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS O RG ANISM OS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO

112

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

1 ..........
5 E. L T H O R N D IK E (1874-1949):
REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO

José Antônio Damásio Abib

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Edward Lee Thorndike (1874-1949) mudou radicalmente a visão dos psicólogos


experimentais sobre o estudo do comportamento animal. Por esse motivo é
considerado um psicólogo inovador e até mesmo revolucionário (Chance, 1999;
Dewsbury, 1998; Galef, 1998). Por outro lado, há os que afirmam que, na verdade, ele
não tinha muitas ideias originais (Postman, 1947;Tomlinson, 1997).
Inicialmente, Thorndike se interessou pela literatura e não pela ciência, mas,
depois, redirecionou seus interesses para a psicologia ao ler alguns capítulos dos
Princípios de psicologia de William James e assistir um curso dele (Boring, 1950;
Woodworth, 1953). Mas não se sabe muito bem quais foram as razões que o levaram
a se interessar pelo estudo do comportamento animal (Goodwin, 2005). Goodwin
aventa a hipótese dele ter assistido às palestras não só de James, sobre a psicologia
humana e animal de Wilhelm Wundt, mas também, talvez, as de Lloyd Morgan sobre
psicologia comparada.
O estudo do comportamento animal ganhara um novo alento no período de
1882 a 1901, sob influência da teoria evolucionária, quando Thorndike defendeu sua
famosa tese de doutorado em 1898 na qual apresentava o que já seria o coração da lei I E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO

do efeito (Mackenzie, 1977; Postman, 1947). Na verdade, quando Thorndike defendeu


sua monografia, o cerne da lei do efeito não só já estava em voga na psicologia inglesa,
como também revelava seus vínculos com um contexto fascinante de discussão
teórica, centrado na teoria evolucionária, no associacionismo e no hedonismo (Bolles,
1979; Postman, 1947).
A inserção da lei do efeito nesse contexto teórico afigura-se como um convite para
ser revisitá-lo com vistas a compreender o âmago da lei em seu ambiente original.
Visitaremos brevemente esse contexto e, em seguida, examinaremos o programa de
pesquisa e o legado de Thorndike (1898/1971,1898/1998,1911/1971,1914).
5

115
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

O contexto teórico
A teoria evolucionária finca suas raízes na obra de Charles Darwin. Foi uma
revolução, pois o cientista inglês defendeu, em sua famosa teoria, a continuidade
das espécies, desferindo desse modo um duro golpe em uma das mais acalentadas
crenças do ser humano: o livre-arbítrio. Desde então, o homem foi deslocado de seu
lugar privilegiado na natureza, passando a ocupar um assento bem mais próximo
dos animais, dessas"máquinas biológicas, simples autômatos, cujo comportamento é
controlado por reflexos e instintos" (Bolles, 1979, p. 4).
Os defensores da tese da continuidade não só travaram um debate com os
defensores da tese da descontinuidade como também se envolveram internamente
com duas estratégias distintas de investigação: a de brutalizar os humanos e a de
humanizar os animais (Bolles, 1979). De um lado, os humanos passaram a ser vistos
como máquinas biológicas, e de outro, os animais passaram a ser dotados de atributos
humanos, como inteligência e senso moral.
A teoria hedonista finca suas raízes na filosofia grega, nas obras de Platão
(s.d./1986), Aristóteles (s.d./1985) e Epicuro (s.d./1997). Platão reconhecia que as ações
humanas são motivadas por prazer, e embora não tivesse maior apreço por essa ideia,
dedicou-lhe um longo diálogo: Filebo, oudoprozer. Aristóteles, em seu clássico Ético a
Nicômacos, chegou a aproximar o prazer do bem supremo. O filósofo com a palavra:
"Realmente, o fato de todos os seres - tanto os animais irracionais quanto as criaturas
humanas - buscarem o prazer é um indício de que ele é de algum modo o bem
| E .L.THO RN DIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO

supremo" (p. 149). Epicuro, em sua Corta sobre o felicidade (o Meneceu), escreveu que
"o prazer é o início e o fim de uma vida feliz"(p. 37).
Segundo Postman (1947), a elaboração mais sistemática do hedonismo encontra-
se na doutrina do utilitarismo de Jeremy Bentham. Com efeito, Bentham (1789/1984)
escreveu que "a natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois senhores
soberanos: a dor e o prazer. Somente a eles compete apontar o que devemos fazer" (p.
3). E o que devemos fazer? Bentham com a palavra: "Oprincipio de utilidade reconhece
esta sujeição e a coloca como fundamento desse sistema, cujo objetivo consiste em
construir o edifício da felicidade através da razão e da lei" (p. 3). Em outras palavras,
devemos fazer o que contribuir para o "edifício da felicidade".
Uma teoria que relaciona o prazer não só com a motivação da ação humana, mas
também com o bem supremo e a felicidade, encontra na relevância de sua temática
a razão, talvez, de sua perenidade, independentemente do valor das respostas
5

116

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

conhecidas até agora. Uma coisa parece certa até então, como James expressou
em seu estilo inimitável no capítulo sobre teoria do autômato de seus Princípios de
Psicologia: "Mas se prazeres e dores não têm eficácia, não se vê (...) porque os atos
mais nocivos, como se queimar, não poderiam dar frêmitos de deleite, e os mais
necessários, tais como respirar, causar agonia" (1890/1950, p. 144). James reconheceu
que "as exceções à lei são numerosas", mas observou que elas "são relacionadas a
experiências que ou não são vitais ou não são universais" (p. 144).
A teoria associacionista também finca suas raízes na filosofia grega. Aristóteles
(s.d./l 984) disse, em Sobre a memória, que "atos de recordar devem-se ao fato de que
um movimento [pensamento] tem por natureza outro ato que o sucede" (p. 717).
Disse ainda que de dois movimentos assim conectados, a experiência do anterior
será acompanhada da experiência do posterior. E elas são conectadas pelas três leis
básicas da associação: contigüidade, semelhança e contraste.
Em Aristóteles (s.d./l 985), o associacionismo é uma teoria da memória que
só adquire o sentido mais amplo de teoria do conhecimento com a chegada dos
filósofos modernos (Abbagnano, 2000; Mora, 1986; Herrnstein & Boring, 1971). Os
filósofos modernos argumentam que a mente consiste em um entrelaçamento
complexo de ideias sustentado pelas leis de associação, que são, por sua vez,
derivadas da experiência. A teoria associacionista é baseada, portanto, no empirismo,
representado por autores como John Locke, George Berkeley, David Hume, David
Hartley, James Mill, John Stuar Mill e Alexander Bain (Abbagnano, 2000; Mora, 1986;

| E.L.THO RNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO


Herrnstein & Boring, 1971).
A título de ilustração do funcionamento da mente sob a perspectiva da teoria
associacionista, mais especificamente da doutrina de associação de idéias de Locke
(1700/1971), apresentamos este elucidativo texto do filósofo inglês:

Um homem recebe uma injúria considerável de outro, pensa repetidamente


no homem e nessa ação, e, pelo fato de repeti-las fortemente, ou muito,
em sua mente, liga de tal forma essas duas ideias, que quase as transforma
numa só; nunca pensa no homem sem que com ele venham à sua mente a
dor e o desgosto que sofreu, de forma que dificilmente as distingue, e tem
tanta aversão a uma quanto à outra. Assim os ódios são frequentemente
engendrados em situações leves e quase inocentes, e as disputas se propagam
e continuam no mundo. (p. 415)
5

117
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Postman (1947) disse que as teorias evolucionária, associacionista e hedonista


convergiam nas análises de Herbert Spencer para o que em substância já seria a lei do
efeito. Realmente, segundo Spencer (1872/1971), prazer correlaciona-se com ações
que são benéficas para as espécies e para os organismos; e dor correlaciona-se com
ações que são prejudiciais às espécies e aos organismos. Na verdade, a argumentação
de Spencer é mais radical: prazer é responsável pela existência e dor é responsável
pela extinção das espécies e dos organismos. Por exemplo, espécies e organismos
que insistirem não só em ações danosas, mas também em evitar ações benéficas,
desaparecerão. A associação acontece entre ações prazerosas e sobrevivência e entre
ações dolorosas e extinção.

O programa de pesquisa

Esse contexto teórico impregnou o programa de pesquisa de Thorndike


(1898/1971, 1898/1998, 1911/1971). Em sua tese de doutorado, ele disse que seu
objeto de estudo consistia nos processos associativos tais "como estão presentes nas
mentes dos animais e tais como são revelados em seus atos" (1898/1998, p. 1125). E
prosseguiu dizendo que"o principal propósito do estudo da mente animal é conhecer
o desenvolvimento da vida mental no sentido descendente através do filo (phylum)
para traçar em particular a origem da faculdade humana" (p. 1125). Disse ainda que
para explicar "a origem e o desenvolvimento da faculdade humana devemos olhar
| E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÂO

para os processos de associação nos animais inferiores" (p. 1125). E esclareceu, então,
a expressão faculdade humana: Dos "processos associativos surgiu de algum modo a
consciência humana com suas ciências, artes e religiões" (p. 1125).
À medida que desenvolveu seu programa de pesquisa, Thorndike (1898/1998)
teceu sua crítica à psicologia comparada. Os focos de sua diatribe foram o método
anedótico e o panegírico (eulogy). O método anedótico narra histórias breves, curiosas,
jocosas, anedotas sobre o comportamento maravilhoso e inteligente dos animais. De
acordo com Thorndike, trata-se de testemunhos imprecisos e preconceituosos não
somente de terceiros, mas também de psicólogos, testemunhos de primeira mão,
que não contribuíam significativamente para corrigi-los. Eis aqui alguns exemplos:
"Aranhas são aficionadas por música (...) escorpiões se suicidam quando cercados
pelo fogo (...) pássaros são dotados de solidariedade e fidelidade conjugal (...) castores
demonstram (...) apreciação intelectual pelos princípios arquitetônicos da construção
de represas" (Goodwin, 2005, pp. 163-164).
5

118

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Esses exemplos, que Goodwin retirou de George Romanes, ilustram como os


animais são maravilhosos e inteligentes. Mas são narrativas preconceituosas, porque
não dizem nada sobre a estupidez animal. Referindo-se a livros de psicologia animal,
Thorndike comentou que a maioria deles "não nos dá uma psicologia do animal, mas
um panegírico (...) todos têm sido sobre inteligência animal, nunca sobre estupidez
animal" (pp. 1125-1126).Thorndike exemplificou:"Gães perdem-se centenas de vezes
e ninguém percebe ou envia uma apreciação para uma revista cientifica. Mas suponha
que ele encontre seu caminho do Brooklyn a Yonkers e o fato torna-se imediatamente
uma anedota circulante" (p. 1126).
O método anedótico não somente atribui qualidades humanas aos animais,
como também envolve os processos associativos com essas qualidades de um
modo inespecífico, pois não diz com clareza quais são os conteúdos mentais que
são associados (Thorndike, 1898/1998). Thorndike comentou que para o senso
comum é suficiente dizer que o gatinho associa o som 'gatinho','gatinho'com leite,
sem especificar, contudo, os conteúdos mentais que supostamente são associados.
Passando-lhe a palavra: "O gato sente, som da chamada, imagem-memória do leite em
um pires, pensamento de correr para dentro da casa, um sentimento, finalmente, de 'Eu
correrei'?" (p. 1125). Thorndike perguntou: "Talvez ele sinta somente o som da sineta
e um impulso para correr?" (p. 1125), e concluiu: "É evidente a importância para a
psicologia comparada, em geral, de uma apreciação mais científica dos processos
de associação em animais" (p. 1125). Thorndike, então, fechou o cerco à psicologia

I E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO


comparada apontando-lhe em sua diatribe mais três defeitos: ela estuda somente
um caso, a observação não é repetida e a história prévia do animal não é conhecida.
A crítica de Thorndike à psicologia comparada é demolidora, haja vista que, para ele,
não se trata de uma psicologia, mas de um panegírico. Em uma leitura radical, isso
equivale a dizer que depois de sua crítica, a psicologia animal teria aparentemente
retornado ao marco zero. Seria necessário começar de novo.
O ponto de partida desse novo início seria a sua famosa tese de doutorado,
intitulada Inteligência Animal: Um Estudo Experimental dos Processos Associativos nos
Animais, publicada em 1898. Ao modo dos psicólogos comparatistas, Thorndike
(1898/1998) estava interessado no estudo dos processos associativos dos animais. Até
aí não havia muita novidade. Mas seu método de pesquisa, o método experimental,
era, argumentava Thorndike, radicalmente superior ao anedótico.
Thorndike (1898/1998) seguia a cartilha da retórica deliberativa que permeia os
debates científicos (Czubaroff, 1989). Seguir à risca essa cartilha contribuiria para
5

119
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

evitar incompetência retórica em tais debates. Thorndike não só dirigiu uma crítica
sólida ao programa de pesquisa da psicologia comparada, como também apresentou
um programa de pesquisa alternativo, exaltando suas virtudes superiores em relação
ao programa vigente.
É chegada a hora de descrever brevemente o estudo experimental dos processos
associativos realizado por Thorndike (1898/1998). Seguimos aqui a descrição que
ele chamou de seu método geral e que consistia em colocar animais privados de
alimento - gatos, por exemplo - em uma caixa de onde eles podiam ver o alimento
colocado do lado de fora, e o qual podiam acessar com um ato simples como puxar
um laço de corda, pisar em uma plataforma, pressionar uma alavanca, abrir uma porta
e escapar da caixa. Thorndike registrava o tempo que o animal ficava na caixa até
realizar o ato bem sucedido. Esse procedimento era repetido: o animal era recolocado
na caixa após cada ato bem sucedido até que "tivesse formado uma associação
perfeita (...) quando a associação era assim perfeita, o tempo tomado para escapar
era, naturalmente, praticamente constante e muito curto" (p. 1127).
A associação perfeita à qual Thorndike (1898/1998) se referia ocorre "entre a
impressão sensorial do interior da caixa e o impulso que conduz ao movimento bem-
sucedido" (p. 1127). Thorndike (1898/1971) esclareceu:

O ponto de partida para a formação de qualquer associação é, nesses casos, o


conjunto de atividades instintivas que são provocadas quando um gato não
I E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO

se sente bem na caixa, seja por causa do aprisionamento, seja por causa de
um desejo de alimento. Esse mal estar, mais a impressão dos sentidos de uma
parede circundante e limitadora, se exprime, antes de qualquer experiência,
por gritos, patadas, mordidas. Entre esses movimentos, um é escolhido pelo
seu êxito. (p. 667)

Em outro trecho, Thorndike (1898/1998) afirmou que as associações "significam


simplesmente a conexão de certo ato com certa situação e o prazer resultante" {p. 1127,
grifo nosso). Aparentemente, a linguagem de Thorndike mudou: de associação entre
impressão sensorial e impulso, ele passou a falar de associação entre situação e ato.
Além disso, o resultado bem-sucedido (escapar da caixa e comer o alimento) envolve
o prazer resultante, que seria a causa do fortalecimento de atos bem-sucedidos. Nas
palavras de Thorndike: "A causa de tal fortalecimento e enfraquecimento é o prazer
resultante em um caso e o desconforto nos outros" (Catania, 1999, p. 427).
5

120

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Esses são os componentes da lei do efeito, mostrando que as associações


envolvem situações, atos, resultados bem ou mal sucedidos, prazeres e desconfortos.
O conteúdo do que é associado não envolve, portanto, ideias. Referindo-se à lei do
efeito, ainda sem nome no texto de 1898, Cumming (1999) comenta que "ideias
não foram associadas, mas antes um 'impulso' (leia 'resposta') foi associado com uma
situação" (p. 430).
Segundo Cumming (1999), Thorndike só nomeou a lei que pesquisava com a
expressão'lei do efeito'em 1905. Passando-lhe a palavra: "Postman (1947) cita o livro
Inteligência Animo! (1911) de Thorndike como a declaração inicial da lei do efeito.
Realmente, uma lei com esse nome 'efeito'já havia sido declarada em 1905 nos
Elementos de Psicologia de Thorndike" (p. 432).
A lei do efeito implícita na monografia de 1898 envolve tanto o associacionismo
quanto o hedonismo. Mas em 1911 ocorre uma mudança. Eis como Thorndike
(1911/1971) formulou a lei do efeito:

Das várias respostas que ocorrem na mesma situação, aquelas que são
acompanhadas ou seguidas de perto pela satisfação do animal serão, sendo os
outros fatores iguais, mais estreitamente conectadas com a situação, de modo
que, quando essa situação voltar a se apresentar, elas terão mais probabilidade
de voltar a ocorrer; as que são acompanhadas ou seguidas de perto pelo
desconforto do animal terão, sendo os outros fatores iguais, suas conexões

I E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO


àquela situação enfraquecida, de modo que, quando essa situação voltar a se
apresentar, elas terão menos probabilidade de voltar a ocorrer. Quanto maior
a satisfação ou o desconforto, maior o fortalecimento ou enfraquecimento do
vínculo, (p. 143)

Thorndike (1911/1971) definiu um estado satisfatório e um estado de desconforto


em termos de comportamento, o primeiro como um estado de coisas que o animal
não só nada faz para evitar, como também tenta alcançar e preservar; o segundo
como um estado de coisas que o animal tenta não só evitar, como também
abandonar. Thorndike comentou que, embora estados satisfatórios e estados de
desconforto sejam, respectivamente, favoráveis e desfavoráveis à vida das espécies e
das pessoas, não são sinônimos. De fato, condições que não favorecem a vida podem
ser satisfatórias (por exemplo, drogas, álcool, cigarro, sedentarismo, açúcar, excessos
5

121
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

alimentares etc) e condições que favorecem a vida podem não ser satisfatórias (por
exemplo, uma vida dedicada exclusivamente à aquisição de bens materiais).
Thorndike (1911/1971) referiu-se a estado satisfatório e estado de desconforto: a
linguagem hedonista foi ignorada. Segundo Bolles (1979),Thorndike raramente usava
a linguagem hedonista, bem como tentava substituí-la por uma mais objetiva. Uma
linguagem comportamental. Segundo Postman (1947), Thorndike comprometeu-se
inicialmente com o hedonismo, rejeitando-o posteriormente.
Thorndike (1898/1998) recusou a estratégia de humanizar os animais e acolheu
a de brutalizar os humanos. Aceitou que os humanos são máquinas biológicas; que
"a consciência humana com suas ciências, artes e religiões surgiu dos processos
associativos" (p. 1125); que desses processos surgiram a "imaginação, a memória, a
abstração, a generalização, o julgamento, a inferência"(p. 1125); que"a consciência tem
se modificado não somente em quantidade, mas também em qualidade" (p. 1125).
Donahoe (1999) comenta que "Thorndike acreditava que comportamentos
complexos poderiam ser compreendidos como um produto emergente da ação
cumulativa de processos relativamente simples" (p. 451, grifo nosso). O termo
emergente refere-se à teoria da evolução emergente, que afirma que cada nível do
ser, matéria, vida, consciência, tem uma qualidade irredutível com respeito ao nível
anterior (Mora, 1986).
Lattal (1998) comenta queThorndike dizia, à contracorrente da teoria dominante,
quer na psicologia, quer na biologia evolucionária, que a inteligência humana é
5 | E. L.THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO

diferente da animal. Segundo Lattal, Thorndike investigou se humanos e animais


solucionavam problemas de acordo com processos comportamentais similares. Se,
por um lado, a resposta fosse positiva, as diferenças de inteligência seriam mais de
ordem quantitativa do que qualitativa; e, por outro, se a resposta fosse negativa, as
diferenças de inteligências seriam mais de ordem qualitativa do que quantitativa.
Lattal comenta os resultados deThorndike:"Seus encontros consistentes favoráveis
à aprendizagem por tentativa-e-erro e não por raciocínio e imitação forneceram
credenciais à afirmação de que há diferenças essenciais entre o comportamento
humano e o comportamento animal"(p. 329). Os comportamentos dos humanos e
dos animais parecem similares, mas os processos comportamentais são diferentes.
Lattal observa, no entanto, que Thorndike não foi rigoroso em suas comparações,
pois se, por um lado, fez experimentos sistemáticos sobre aprendizagem animal,
por outro,

122

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(...) a suposição de que raciocínio e processos relacionados eram necessários


na apreciação do comportamento humano não foi submetida porThorndike
ao mesmo escrutínio meticuloso como foram os processos pelos quais o
comportamento animal foi avaliado. Ao invés disso, ele simplesmente assumiu
que esses processos foram essenciais à aprendizagem e inteligência humana.
(p. 329)

O legado revolucionário
A lei do efeito é reconhecida pelos psicólogos experimentais como o principal
legado deThorndike. Não se trata, entretanto, de uma herança sem atribulações, pois
ao longo de sua história, foi diversas vezes submetida ao crivo de severas críticas. Uma
das mais incômodas questionou a lógica da retroação do efeito: a ação do efeito sobre
uma conexão que já aconteceu (Postman, 1947). Em um texto intitulado Teoria da ação
do pós-efeito de uma conexão sobre ela própria, Thorndike (1933) explicou como isso é
possível. Dito brevemente, ele afirmou que uma conexão entre uma situação e uma
ação seria acompanhada de um equivalente fisiológico que continuaria presente por
ocasião da ocorrência do efeito. Logo, o efeito agiria sobre o equivalente fisiológico,
fortalecendo, consequentemente, a conexão. Postman comentou que o pós-efeito
fisiológico fecharia o vazio temporal entre a conexão e o efeito.
Há também uma segunda crítica que se referiu ao caráter subjetivo da lei do efeito
(Garrett, 1959). Garrett comentou que a lei do efeito é uma lei da aprendizagem por

5 I E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO


tentativa e erro que, ao se desvincular do hedonismo, tornou-se menos suscetível
à crítica de psicólogos experimentais que enxergavam no princípio prazer-dor a
presença de um elemento subjetivo. De qualquer modo, a refutação do princípio
prazer-dor não teria sido suficiente para eliminar completamente os vestígios
subjetivos da lei do efeito, haja vista que os psicólogos experimentais continuaram a
acusar a presença de um elemento subjetivo nos termos estado satisfatório e estado
de desconforto.
Uma terceira crítica envolveu controvérsias no campo das teorias da aprendizagem:
teorias cognitivas versus teorias estímulo-resposta. Uma crítica famosa argumentou
que a aprendizagem pode ocorrer sem a necessidade do efeito. Os experimentos
sobre aprendizagem latente fornecem evidências para esse argumento. Tolman e
Honzik (1930/1965) mostraram que a experiência prévia de contato com o labirinto
(aprendizagem "latente") resulta em aprendizagem mais rápida em ocasião posterior,
onde há prêmios contingentes ao comportamento alvo.

123
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Outra crítica famosa argumentou que os animais aprendem por insight e não por
tentativa e erro. Os experimentos de Köhler (1925/1977) fornecem evidências para
esse argumento. Köhler mostrou que a aprendizagem consiste na percepção súbita
de relações envolvendo problemas e soluções.
O legado de Thorndike (1898/1998) não se resume à lei do efeito nem às
polêmicas que a acompanham no âmbito da lógica, da tensão objetivo-subjetivo e
das controvérsias em torno das teorias da aprendizagem. Um legado que contribuiu
para conferir credibilidade empírica à lei do efeito é de ordem metodológica. De
acordo com Galef (1998), Thorndike introduziu o método experimental no estudo
do comportamento animal e revolucionou não somente a psicologia comparada,
mas também o estudo do comportamento em geral. De acordo com Chance (1999),
o ponto de partida da análise experimentai do comportamento foi o ano em que
Thorndike defendeu sua dissertação doutoral: 1898. E, de acordo com Lattal (1998), os
métodos de pesquisa e a lei do efeito são um legado para a análise do comportamento.
Tais vínculos teóricos e metodológicos, não só com a análise experimental do
comportamento, mas também com a análise do comportamento, estimularam
a pergunta sobre qual seria o lugar de Thorndike (1898/1998) na história do
comportamentalismo. Alguns autores aproximam claramente Thorndike do
comportamentalismo. Cumming (1999) comenta que Herrnstein estranhou que
chamemos Watson de comportamentalista e não façamos o mesmo com Thorndike.
Bolles (1979) escreveu que "Thorndike era relativamente cuidadoso em proteger seu
i E .LT H O R N D IK E (1874-1949 ): REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO

comportamentalismo de conceitos ou explicações mentalistas" (p. 10, grifo nosso).


Bolles refere-se aos esforços de Thorndike para desvincular o hedonismo da lei do
efeito. Nas palavras de Bolles: "Em última análise, para Thorndike, a explicação do
comporta mento encontra-se na regularidade do comportamento e não em conceitos
mentalistas como prazer edor"(p. 10). Mas, prossegue Bolles, comoThorndike assumiu
explicações fisiológicas, não pode ser considerado um "comportamentalista puro" (p.
11). Smith (1986) afirma que os antecedentes intelectuais do comportamentalismo
consistem na pesquisa de Thorndike sobre aprendizagem por temtativa e erro, na
investigação de Pavlov sobre reflexos condicionados e no polêmico Manifesto de
Watson em defesa do comportamentalismo. Mackenzie (1997) vai mais longe e
afirma que essas três publicações ou pesquisas "podem ser tomadas conjuntamente
como fundação do comportamentalismo" (p. 5).
Esses comentários que aproximam Thorndike (1898/1971,1898/1998,1011/1971)
do comportamentalismo, ou que até mesmo já o definem como sendo um
5

124

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

comportamentalista, ganharam relevo em um simpósio que celebrou o centenário


da monografia deThorndike no ano de 1998 em São Francisco (Catania, 1999). Alguns
textos desse simpósio foram utilizados neste trabalho e, realmente, chama à atenção o
contraste com relação a alguns textos sobre história do conceito de comportamento. A
título de ilustração vejamos dois exemplos. Danziger (1997) explica que o conceito de
comportamento tem cinco camadas de formação e desenvolvimento, representadas
pela psicologia comparada, pela psicologia de McDougall, pelo comportamentalismo
de Watson, pelos neocomportamentalismos e, enfim, pelo uso generalizado da
expressão ciência do comportamento. O que chama a atenção nessa explicação é que
o nome deThorndike não aparece em nenhuma dessas camadas, nem mesmo na
mais antiga, a da psicologia comparada. E Leary (2004), em seu exame da história
do conceito de comportamento, refere-se rapidamente a Thorndike no contexto
da psicologia comparada. As reflexões mais recentes que foram apresentadas no
simpósio comemorativo dos cem anos da Inteligência animal, bem como algumas
leituras mais antigas, aproximandoThorndike do comportamentalismo, representam,
certamente, um forte apelo para reservar um lugar de destaque para Thorndike como
um dos fundadores do comportamentalismo.

O legado contrarrevolucionário
Há, enfim, o legado que revela a fisionomia conservadora deThorndike (Beatty,
1998; Danziger, 1994; Thorndike, 1914; Tomlinson, 1997). Certamente, parece

| E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO


haver uma contradição entre essa afirmação e o perfil do psicólogo revolucionário
que esboçamos acima. Porém, essa impressão se desfaz quando verificamos que
Thorndike é revolucionário em sua pesquisa experimental do comportamento animal
e conservador no campo da filosofia.
A filosofia social de Thorndike (1914) tem fundamento na eugenia. Em sua
contribuição para uma coletânea de textos sobre o assunto, Thorndike afirmou
que os seres humanos diferem por natureza. Ele reconheceu que as circunstâncias
ambientais, bem como a maturidade, desempenhavam algum papel no campo
das diferenças individuais, mas atribuiu-lhes pouca importância. Boa parte de sua
argumentação baseou-se em evidências experimentais, mostrando que os efeitos
da equalização de oportunidade, bem como de treinamento, são insignificantes
no sentido de atenuar as diferenças individuais. Em suas palavras:"Descobre-se por
experimentos que tais equalizações as reduzem muito pouco, se é que o fazem"
(p. 323). Ele disse ainda que, ao contrário, os indivíduos superiores em algum traço,
5

125

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

tornam-se ainda melhores. Baseado em evidências desse tipo, ele escreveu que:
"Se igualdade de oportunidade não tem efeito equalizador em um traço alterável
tão facilmente, como rapidez na operação de adição, seguramente tem pouco
poder em traços como energia, estabilidade, poder intelectual geral, coragem e
generosidade" (p. 324).
Se Thorndike (1914) tivesse se limitado a apreciar e comentar a dicotomia 'inato-
aprendido', ele não poderia, evidentemente, ser acusado de ser defensor da eugenia.
Mas Thorndike deu um passo adicional e disse como o gênero humano poderia ser
melhorado. De acordo com Tomlinson (1997), Thorndike herdou a filosofia social
de Francis Galton: herdou não só a "eugenia positiva", mas também a negativa. Ele
não só estimulou a reprodução dos "mais talentosos", como também desestimulou a
reprodução dos "intelectualmente inferiores". Thorndike com a palavra:

Pela seleção de linhagens em ambientes adequados podemos ter um mundo


em que todos os homens alcançarão igualmente o topo em vez dos dez por
cento atuais. Um serviço seguro do capaz e bom é procriar e cuidar da prole
e outro serviço seguro (quase o único) que o inferior e vicioso pode realizar é
impedir que seus genes sobrevivam. (Tomlinson, 1997, p. 370)

Cabe registrar ainda que as evidências experimentais de Thorndike (1914)


contrárias à importância do ambiente foram obtidas sob a falsa pressuposição de que
| E. L.THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÀO

equalizar oportunidades para desiguais produz igualdade. Na verdade, trata-se do


contrário, equalizar oportunidades para desiguais reproduz a desigualdade. Um teste
experimental adequado teria sido tratar desigualmente os desiguais porque é nisso
em que consiste a igualdade, propiciando mais oportunidades e mais treinamento
para os mais necessitados ou desfavorecidos. Na ausência de testes que tratem
desigualmente os desiguais, as conclusões de Thorndike não são verdadeiras, não
têm uma base científica: é ideologia.
De acordo com Beatty (1998), a filosofia social de Thorndike tem também um
fundamento antidemocrático. Beaty afirma que a meritocracia levou Thorndike a
reverenciar a ciência contra a democracia. A ciência, escreveu Thorndike, "rebela-se
contra contar os votos de imbecis e ignorantes. Que não conhecem o que é para
seu próprio bem, e muito menos o que é para o bem dos outros" (Beatty, 1998, p.
1150). De acordo com Tomlinson (1997), a história da educação nos Estados Unidos
no século XX só pode ser compreendida quando se constata que o projeto para a
5

126

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

educação de John Dewey foi derrotado pelo projeto deThorndike. Um projeto para
a educação como o de Dewey, que tentava conciliar a ciência com a democracia, foi
derrotado por um projeto antidemocrático que relacionava a ciência com a eugenia
e a meritocracia.
Segundo Danziger (1994), um projeto educacional como o de Thorndike
desenvolveu-se na contramão dos grandes projetos para a educação que estavam
em curso nos Estados Unidos. Danziger comenta com mais detalhes, dizendo que um
projeto como o deThorndike representa

(...) uma ruptura decisiva com o tipo de psicologia educacional que fora
imaginada pelos gigantes pioneiros da psicologia americana, por James,
Baldwin, Hall e Dewey. A visão mais ampla desses pioneiros foi substituída
por uma concepção muito mais estreita e puramente instrumental do que a
psicologia poderia realizar, (pp. 104-105)

Conclusão
Thorndike descontinuou duas vezes sua prática de pesquisa com relação às que já
estavam em curso na psicologia. São duas rupturas, uma progressiva, outra regressiva;
uma revolucionária, outra contrarrevolucionária.
A primeira ruptura ocorreu na esfera da metodologia e refere-se à aplicação
sistemática e cuidadosa do método experimental no estudo do comportamento

5 I E. L.THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO


animal. Essa guinada representa uma verdadeira revolução ao abandonar a
subjetividade do método anedótico e acolher a objetividade do método experimental.
Thorndike continuou alinhado ao associacionismo (apesar de criticá-lo), vinculando
desse modo a revolução que operou no campo metodológico com uma visão de
mundo mecanicista e uma epistemologia determinista, reducionista e atomista
(Abbagnano, 2000; Bolles, 1979; Pepper, 1942/1970).
A segunda ruptura ocorreu na esfera do projeto educacional e refere-se a uma
prática psicológica carregada de ideias conservadoras, para não dizer reacionárias,
que derrotaram os projetos educacionais progressistas de filósofos e psicólogos
pragmatistas. Há nessa guinada uma verdadeira contrarrevolução que não só
interrompeu ocursode projetos educacionais democráticos, como também contribuiu
durante todo o século XX para a formação de uma sociedade comprometida com
ideais e valores reacionários.

127

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Não deixa de ser impressionante verificar a prática generalizada de responsabilizar


o pragmatismo pela formação da cultura norte-americana, quando o projeto
educacional pragmatista foi derrotado no século XX por um projeto eugenista e
antidemocrático. Mas os projetos educacionais dos gigantes pioneiros norte-
americanos estão aí, prontos para serem retomados, com William James, por
exemplo, com suas palestras (1899/1983) para professores e estudantes sobre alguns
ideais da vida.

Referências
Abbagnano, N. (2000). Dicionário de filosofia (A. Bosi,Trad.). São Paulo: Martins Fontes.
Aristóteles (1985). On memory (J. J. Bearem Trad.). In J. Barnes (Ed.). The complete works
of Aristotle (pp. 714-720). New Jersey: Princeton University Press. (Originalmente
publicado em s.d.).
Aristóteles (1999). Ética a Nicômacos (M. da G. Cury, Trad.). Brasília: Editora da
Universidade de Brasília. (Originalmente publicado em s.d.).
Beatty, B. (1998). From laws of learning to a science of values: Efficiency and morality
in Thorndike's educational psychology. American Psychologist, 53(10), 1145-1152.
Bentham, J. (1984). Uma introdução aos princípios da moral e da legislação (L. J.
Baraúna, Trad.). In Os pensadores: Jeremy Bentham e John Stuart Mill, (pp. 2-68). São
Paulo: Abril Cultural. (Originalmente publicado em 1789).
Bolles, R. C. (1979). Learning theory. New York: Holt, Rinehart and Winston.
I E. L.THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO

Boring, E. G. (1950). A history of experimental psychology. New York: Appleton-


Century-Crofts.
Catania, A. C. (1999). Thorndike's legacy: learning, selection, and the law of effect.
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 72(3), 425-428.
Chance, P. (1999). Thorndike's puzzle boxes and the origins of the experimental
analysis of behavior. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 72(3), 433-440.
Cumming, W. W (1999). A review of Geraldine Jonçich's the sane positivist: A
biography of Edward L.Thornd ike .Journal of the Experimental Analysis of Behavior,
72(3), 429-432.
Czubaroff, J. (1989). The deliberative character of strategic scientific debates. In H. W.
Simons (Ed.). Rhetoric in the human sciences (pp. 28-47). London: Sage Publications.
Danziger, K. (1994). Constructing the subject: Historical origins of psychological research.
Cambridge: Cambridge University Press.
5

128

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Einziger, K. (1997). Naming the mind: How psychology found its language. London:
Sage Publications.
Dewsbury, D. A. (1998). Celebrating E. L.Thorndike a Century after Animal Intelligence.
American Psychologist, 53(10), 1121 -1124.
Donahoe, J. W. (1999). Edward L.Thorndike: The selectionist connectionist. Journal of
the Experimental Analysis of Behavior, 72(3), 451 -454.
Epicuro (1997). Carta sobre a felicidade: a Meneceu (A. Lorencini & E. Del Carratore,
Trads.). São Paulo: Unesp. (Originalmente publicado em s.d.).
Galef Jr., B. G. (1998). Edward Thorndike: Revolutionary psychologist, ambiguous
biologist. American Psychologist, 53(10), 1128-1134.
Garrett, H. E. (1959). Grandes experimentos da psicologia (M. da P. P. de Toledo, Trad.).
São Paulo: Companhia Editora Nacional.
Goodwin, C. J. (2005). História da psicologia moderna (M. Rosas, Trad.). São Paulo:
Editora Cultrix.
Herrnstein, R. J„ & Boring, E. G. (1971). Textos básicos de história da psicologia (D. M.
Leite,Trad.). São Paulo: Editora Herder.
James, W. (1950). The principles of psychology. New York: Dover Publications.
(Originalmente publicado em 1890).
James, E. (1983). Talks to teachers on psychology and to students on some of life's ideals.
Cambrigde: Harvard University Press. (Originalmente publicado em 1899).
Köhler, W. (1957). The mentality of apes. London: Penguin Books. (Originalmente

I E. L.THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO


publicado em 1925).
Lattal, K. A. (1998). A century of effect: legacies of E. L. Thorndike's Animal Intelligence
Monograph. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 70(3), 325-336.
Leary, D. E. (2004). On the conceptual and linguistic activity of psychologists:The study
of behavior from the 1890s to the 1990s and beyond. Behavior and Philosophy, 32
(1), 13-35.
Locke, J. (1971). Um ensaio concernente do entendimento humano (D. M. Leite,Trad.).
In R. J. Herrnstein & E. G. Boring (Orgs.). Textos básicos de história da Psicologia (pp.
411-418). São Paulo: Editora Herder. (Originalmente publicado em 1700).
Mackenzie, B. D. (1977). Behaviourism and the limits of scientific method. London:
Routledge & Kegan Paul.
Mora, J. F. (1986). Diccionario de filosofia. Madrid: Alianza Editorial.
Pepper, S. C. (1970). World hypotheses: A study in evidence. Berkeley: University of
California Press. (Originalmente publicado em 1942).
5

129

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Platão (1986). Filebo, o del placer (F. de P. Samaranch,Trad.). In Platón: Obras completas
(pp. 1218-1264). Madrid: Aguilar. (Originalmente publicado em s.d.).
Postman, L. (1947). The history and present status of the law of effect. Psychological
Bulletin, 44 (6), 489-563.
Smith, L. D. (1986). Behaviorism and logical positivism: A reassessment of the alliance.
Stanford: Stanford University Press.
Spencer, H. (1971). On pleasure and pain. In D. Bindra & J. Stewart (Orgs.). Motivation
(pp. 139-142). England: Penguin Books. (Originalmente publicado em 1872).
Thorndike, E. L. (1914). Eugenics: with special reference to intellect and character. In L.
J. Wilson (Org.). Eugenics: twelve university lectures (pp. 319-342). New York: Dodd,
Mead and Company.
Thorndike, E. L. (1933). A theory of the action ofthe after-effects of a connection upon
it. Psychological Review, 40(5), 434-439.
Thorndike, E. L. (1971). A aprendizagem animal (D. M. Leite,Trad.). In R. J. Flermstein &
E. G. Boring (Orgs.). Textos básicos de história da psicologia (pp. 659-672). São Paulo:
Editora Plerder. (Originalmente publicado em 1898).
Thorndike, E. L. (1971). The law of effect. In D. Brinda & J. Stewart (Orgs.). Motivation
(pp. 143-147). England: Penguin Books. (Originalmente publicado em 1911).
Thorndike, E. L. (1998). Animal intelligence: An experimental study ofthe associate
processes in animals. American Psychologist, 53(10), 1125-1127. (Originalmente
publicado em 1898).
5 | E. L. THORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO ECONTRARREVOLUÇÃO

Tolman, E. C. & Flonzik, C. FI. (1965). Introduction and removal of reward and maze
performance in rats. In H. Goldstein, D. L. Krantz & J. D. Rains (Orgs.). Controversial
issues in learning (pp. 104-118). New York: Appleton-Century-Crofts. (Originalmente
publicado em 1930).
Tomlinson, S. (1997). Edward Lee Thorndike and John Dewey on the science of
education. Oxford Review of Education, 23(3), 365-383.
Woodworth, R. S. (1952). Edward Lee Thorndike (1874-1949): A biographical memoir.
Washington: National Academy of sciences.
Young, P.T. (1971). Affective processes and motivation. In D. Bindra &J. Stewart (Orgs.).
Motivation (pp. 195-204). England: Penguin Books.

130

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

6 O BEHAVIORISM O CLÁSSICO DE
J. B. WATSON (1 878 -19 58)

Bruno Angelo Strapasson

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Indicado por alguns como o fundador do behaviorismo (e.g., Bergmann, 1956;


Buckley, 1989) e por outros criticado como uma figura que mais atrapalhou do
que ajudou o desenvolvimento desse movimento (e.g., Marr, 2013), John Broadus
Watson foi, certamente, uma figura marcante na história do movimento behaviorista
em específico e da psicologia em geral. Buckley (1994) sugere que Watson,
provavelmente, foi o psicólogo mais influente de sua geração. Aos 36 anos, Watson
era chefe do departamento de psicologia de uma das mais prestigiadas universidades
estadunidenses, a Johns Hopkins University, foi eleito presidente da American
Psychological Association e tinha sido editor de alguns dos mais importantes jornais
de psicologia da época, como Animai Behavior, Psychological Bulletin e Psychological
Review (em 1915, ele também fundaria o Journal of Experimental Psychology). A
essa altura, Watson havia publicado mais de 65 textos em periódicos científicos
renomados e revistas de divulgação (Morris &Todd, 1999), dentre eles aquele que
ficou conhecido como manifesto behaviorista, considerado o artigo mais importante
publicado nos primeiros 50 anos da Psychological Review (Langfeld, 1994). Além
disso, Korn, Davis e Davis (1991), entrevistando historiadores da psicologia e chefes
de departamento de universidades estadunidenses, encontraram indicações de
6 ! O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

que Watson estaria entre os cinco psicólogos mais importantes de toda a história
da psicologia e, a partir de uma revisão de citações em periódicos acadêmicos,
citações em livros texto de psicologia e mais de 1700 entrevistas com psicólogos,
Haggblom et al. (2002) elencaram Watson na 17a posição entre os psicólogos mais
importantes de todo o século 20 (ver também Tortosa, Pérez-Delgado, Carbonell, &
López-Latorre, 1991). Hoje, dificilmente alguém conseguirá encontrar um livro de
história da psicologia mundial que não dedique algumas páginas a apresentar o
behaviorismo clássico de Watson.
Apesar de sua reconhecida importância, o behaviorismo clássico ainda é muito
mal caracterizado tanto na literatura leiga como nos livros de introdução e de história
da psicologia. São diversos os erros presentes na literatura no que diz respeito à
caracterização do behaviorismo de Watson ou à descrição e interpretação de seus

133
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

estudos específicos. Neste capítulo não analisaremos esses erros. O que se propõe
aqui é apenas uma apresentação de Watson que evite tais erros. O leitor interessado
em conhecer os problemas de caracterização mencionados poderá recorrer à
literatura especializada (Strapasson & Carrara, 2008; Morris &Todd, 1992;Todd, 1994;
Tortosa, Calatayud, & Pérez-Garrido, 1996). Cabe ressaltar, também, que este texto
não tem a pretensão de constituir avaliação historiográfica sobre o desenvolvimento
do movimento behaviorista em geral ou do behaviorismo clássico em específico.
Tal empreendimento exigiria acesso a fontes de informação (e.g., cartas, entrevistas
com pessoas relevantes, etc.) hoje inacessíveis ao autor. O que se propõe é apenas a
apresentação do behaviorismo clássico e da obra de Watson tomando como base
informações advindas dos próprios escritos de Watson e do trabalho de historiadores
que se dedicaram ao tema.

John B. Watson: Biografia


John Broadus Watson era filho de Emma e Pickens Watson e nasceu em 9 de
Janeiro de 1878, em uma área rural isolada de Greenville, na Carolina do Sul. Quando
Watson tinha perto de 12 anos, sua mãe vendeu a pequena fazenda que tinha e a
família se mudou para a área urbana, em uma cidade que vivia a franca expansão do
"novo sul" estadunidense. Aos 16 anos, Watson tornou-se sub-freshman da Furman
University, ainda em Greenville, e, em 1899, aos 21 anos, se formou mestre em filosofia
na mesma universidade. Sua adolescência se passou numa cidade que passava por
um rápido processo de industrialização, e a experiência na Furman University mostrou
a Watson o universo de possibilidades que se criou nos Estados Unidos da América
6 I O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958)

da virada do século: um universo que valorizava a ambição por reconhecimento e


sucesso individuais. Watson, tal como muitos em sua geração, ajustou-se facilmente
a esses ideais (Buckley, 1989).
Três semanas após a morte de sua mãe e depois de um ano atuando como diretor
de uma pequena escola do interior da Carolina do Sul, Watson se vê insatisfeito
com as oportunidades que sua vida trazia e decide investir em sua formação numa
grande universidade. Por meio da intervenção do reitor da Furman University, Watson
consegue uma bolsa de estudos e se muda para Illinois, para estudar na University
of Chicago sob orientação de James Angell (1869-1949). Em Chicago, Watson estuda
filosofia com John Dewey (1859-1952) e, seguindo um conselho de Angell, obtém
um minor degree em neurologia sob orientação de Henry Donaldson (1857-1938) e
Jacques Loeb (1859-1924) (Buckley, 1989; Morris &Todd, 1999).

134

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Em 1903, Watson defende sua tese de doutorado na qual avalia a relação entre
o desenvolvimento neurológico de ratos brancos e a aprendizagem associativa
(Watson, 1903). Watson permanece mais cinco anos nessa universidade como
assistente de pesquisa de Angell. Nesse período, casou-se com Mary Amélia Ickes
(1885-1973), com quem teve dois filhos.
Em 1908, James M. Baldwin (1861-1934) o convida para trabalhar como full
professor da Johns Hopkins University e Watson se muda para Baltimore. Durante
os anos como professor assistente em Chicago, Watson estuda exclusivamente
0 comportamento animal. Como um grande defensor da utilização do método
experimental na psicologia (e.g., Watson, 1904, 1905), Watson desenvolve estudos
em psicologia comparada (Watson, 1903), percepção (Carr & Watson, 1908; Watson,
1907a, 1907b) e psicofísica (Watson & Watson, 1913; Watson, 1909; Yerkes & Watson,
1911), além de realizar estudos típicos do que seria conhecido futuramente como
etologia (Watson, 1907c, 1910a, 1910b).
Watson descreve as propostas de psicologia dessa época, em especial o
estruturalismo de E. B. Titchener (1867-1927) e o funcionalismo americano, como
psicologias mentalistas, que em última instância tomavam a consciência como objeto
de estudo, adotavam a introspeção como método e eram comprometidas com
alguma espécie de dualismo, mais especificamente com variações do paralelismo
psicofísico1. Tais tradições seriam problemáticas, porque não era possível o acordo
entre observadores em seus experimentos; apenas o próprio sujeito teria acesso à
própria consciência, e as replicações seriam incapazes de reproduzir resultados,
sendo julgadas a partir da diferença no treinamento dos sujeitos. As pesquisas de
6 | O BEHAVIORiSMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958)

Watson, por outro lado, ocorreram de forma bastante indutiva e o modo descritivo
com que apresentou seus estudos e resultados o permitiu evitar subjetivismos
desnecessários (Boakes, 1994; Dewsbury, 2013; Morris &Todd, 1999;Todd & Morris,
1986). Estudando animais, Watson encontrou respostas cientificamente consistentes
para perguntas similares àquelas que alguns dos psicólogos introspeccionistas faziam,
mas sem precisar recorrer à introspecção ou ao subjetivismo. Em sua autobiografia,
ele descreve o efeito desses estudos sobre ele: "cada vez mais eu me perguntava 'será
que, observando seu comportamento [dos animais], não posso descobrir tudo aquilo
que meus colegas estão descobrindo quando usam [sujeitos humanos]?'" (Watson,

1 A avaliação de Watson era, na verdade, demasiado generalizada. Parte da pesquisa dos funcionalistas
não dependia da introspeção e James (1904), por exemplo, havia defendido que a consciência não
existia.

135
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

1936, p. 274). Sua confiança na possibilidade de se produzir uma ciência objetiva do


comportamento (Buckley, 1989) e seu conhecimento de diversas críticas publicadas
a respeito da psicologia introspeccionista, incentivaram Watson (1913) a publicar o
artigo Psychology as the Behaviorist Views It, que ficou conhecido como o manifesto
behaviorista (Woodworth, 1959). O manifesto foi, na verdade, a transcrição editada
da primeira de uma série de conferências ministrada na Columbia University poucos
meses antes da sua publicação. Nele, Watson defendeu uma psicologia objetiva,
empiricista, antimentalista, que negava a introspecção como método confiável para
produção de conhecimento e que seria parte das ciências naturais. A publicação do
manifesto, em 1913, tem sido indicada como o marco histórico do surgimento do
behaviorismo2. Com ele Watson tornou públicas as bases de sua proposta para uma
psicologia científica.
As proposições apresentadas no artigo de 1913 eram, entretanto, essencialmente
especulativas, de modo que ainda era necessária a demonstração de que elas
eram viáveis na produção de uma psicologia científica. À época, Watson já havia
desenvolvido com êxito pesquisas comportamentais com animais não humanos,
demonstrando que descrições objetivas de preparações experimentais poderiam
explicar aspectos complexos do comportamento animal. Entretanto, nas primeiras
décadas do século XX, nos Estados Unidos, a psicologia buscava sua autonomia
em relação à filosofia e à fisiologia, e encontrou na aplicação do conhecimento
psicológico uma via importante para demarcar essa autonomia (O'Donnell, 1985).
Nesse contexto, era natural que Watson dedicasse os anos seguintes na Johns
Hopkins University à busca de demonstrações de que a psicologia científica poderia
6 I 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

incluir diversos aspectos da vida humana. Na tentativa de validar sua teoria, Watson se
engaja em uma série de estudos envolvendo o comportamento humano. Em 1913,
publica um estudo em coautoria com Karl S. Lashley (1890-1958) sobre o efeito do
treino sobre performance em arco e flecha (Lashley & Watson, 1913). Watson iniciou
também uma série de estudos sobre desenvolvimento infantil na Phipps Clinic
da Johns Hopkins (e.g., Watson & Morgan, 1917) que culminou na publicação do

2 A proposição de qualquer marco histórico é uma ação arbitrária do historiador e, portanto, suscetível
a debates e controvérsias (cf. Malone, 2014; Marr, 2013). Não desenvolveremos uma análise dessas
controvérsias, mas é importante que o leitor tenha claro que sua ocorrência não é nem definitiva (no
sentido de identificar um marco inequívoco) nem revolucionária (no sentido de ser independente
de outros acontecimentos anteriores que poderiam igualmente ser indicados como marcos de
surgimento do behaviorismo).

136

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

famoso estudo do "pequeno Albert" sobre condicionamento de emoções (Watson &


Rayner, 1920). Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mais especificamente
entre 1917 e 1918, Watson trabalhou como major na divisão de inteligência do U.5.
Army Signal Corps, onde desenvolveu atividades de recrutamento de pessoas e
treinamento de pessoal (Buckley, 1989; Woodworth, 1959). Lá, ele realizou pesquisas
sobre o efeito da privação de oxigênio no desempenho da escrita (Watson, 1918)
e sobre a relação entre filmes a respeito de doenças venéreas e educação sexual
(Lashley & Watson, 1920; Watson & Lashley, 1920). Esse conjunto de pesquisas não
foi suficiente para fundamentar inequivocamente seu projeto científico, mas Watson
não teve a oportunidade de desenvolver melhor o suporte empírico de sua teoria em
razão de problemas pessoais.
No ano de 1920, a então esposa de Watson, Mary Ickes, descobre que sue marido
está tendo um caso com uma de suas alunas, Rosalie Rayner (1898-1935). Rayner,
além de uma aluna da universidade, era neta de um dos maiores benfeitores da
Johns Hopkins University, e a esposa de Watson era irmã de um advogado e político
conhecido, que viria a ser secretário do interior no governo Roosevelt. O potencial
escândalo que decorreria da publicização do caso levou Frank Goodnow (1859-
1939), o então presidente da Johns Hopkins University, a pedir, em meados de 1920,
que Watson se demitisse (Buckley, 1989, 1994). Watson deixa então a Johns Hopkins
University, e em novembro de 1920, o caso de seu divórcio (e traição) tornam-se
públicos, de modo que Watson não consegue novas posições para trabalho integral
no meio acadêmico.
Watson recorre, então, a um antigo conhecido, William I. Thomas (1863-1947),
6 I 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958)

que conseguiu contatos na J. Walter Thompson, uma das maiores multinacionais


americanas da área do marketing, o que garantiu sua nova carreira profissional.
Watson trabalhou em diversos setores da J. Walter Thompson e tornou-se vice-
presidente da empresa em 1924. Durante essa época, as únicas ligações de Watson
com a academia parecem ter sido uma série de palestras na New School for Social
Research de Nova York e a supervisão do estudo em que Mary Cover Jones (1897-
1987) "descondicionou" o medo de coelhos do pequeno Peter (Jones, 1924/1991),
estudo esse que ficou conhecido como um dos pioneiros na terapia comportamental.
Em 1935, após a morte de Rayner, Watson deixa a J. Walter Thompson e ingressa na
William Esty Company, outra empresa de publicidade, de onde saiu apenas para se
aposentarem 1945.

137
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Apesar do distanciamento da academia e, em especial, a despeito de não ter


produzido novos dados que sustentassem suas proposições teóricas, foi depois de
sair da Johns Hopkins University que Watson escreveu a maior parte dos seus textos
sobre behaviorismo. Nesse período, publicou as duas edições do livro Behaviorism
(Watson, 1924, 1930), a segunda edição de Psychology From the Standpoint of a
Behaviorist (Watson, 1919), urn debate feito com McDougall e publicado em livro
como The Battle of Behaviorism: An Exposition and an Exposure (Watson, 1929a), urn
livro sobre como cuidar de crianças (Watson & Watson, 1928) e uma coletânea de
textos de sua autoria sobre variados tópicos no behaviorismo (Watson, 1928). Além
disso, publicou pelo menos dez artigos em revistas acadêmicas, quase 40 em revistas
de divulgação (como a The Nation, Scientific Monthly, Dial e Harper's Magazine) e sua
autobiografia (Todd, Dewsbury, Logue, & Dryden, 1994).
As publicações de Watson após 1920 tornaram-se, entretanto, cada vez mais
polêmicas e menos baseadas em dados, especialmente aquelas direcionadas ao
público leigo (Logue, 1994). Watson defendeu, por exemplo, que os pais não deveriam
mimar seus filhos para não criar adultos manhosos e dependentes, que o contato
físico entre mãe e criança deveria se resumir a procedimentos de higiene, apertos
de mão, tapinhas nas costas e, em casos extremos, um beijo na testa antes de dormir
(Watson & Watson, 1928). Afirmou também que a vida no mundo dos negócios
tornaria a mulher inapta para o casamento, que seria tolo por parte dela gastar seus
melhores anos no escritório "afiando" seu cérebro quando essas habilidades seriam
pouco úteis em sua vida emocional (Watson, 1927); e que antes da década de 1940,
"homens e mulheres perceberão que (...) o casamento é obsoleto e desperdiça nossos
6 I 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

poucos anos de felicidade" (Watson, 1929b, p. 106). Alegações como essas foram
frequentemente apresentadas por Watson como contribuições valiosas da ciência do
comportamento, mas não havia qualquer suporte empírico para fundamentar tais
prescrições. Adicionalmente, o estilo agressivo da escrita de Watson, que se acentuou
com sua saída da academia, vem sendo descrito pelos seus comentadores como
sendo messiânico (Buckley, 1989), inflamado (Logue, 1994), propagandista (Buckley,
1989), polemicista e extravagante (O'Donnell, 1985), com a função última de se
manter presente aos olhos do público (Buckley, 1989, 1994; Logue, 1994). Watson
parecia estar consciente das limitações de suas proposições. Em Behaviorism (Watson,
1924), pondera sobre sua fundamentação: "permita ao behaviorista interpor uma
palavra de cautela. Todas as suas conclusões são agora baseadas em poucos casos e
alguns poucos experimentos". Em sua autobiografia, Watson admitiu que sua escrita

138

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

foi programada para impactar seus leitores, e afirmou se arrepender de escrever


seu livro sobre criação de filhos porque "não sabia o suficiente para escrever o livro
que eu queria escrever" (Watson, 1936, p. 280). Em uma análise das duas edições de
Behaviorism, Carpinteiro (2004) sugere que

Behaviorism, como tem sido frequentemente indicado, foi mais um bestseller


popular que uma monografia científica. Seu autor já estava profundamente
envolvido com a prática da publicidade e o efeito de tais procedimentos,
interesses sociais e pressões podem ser detectados [no livro] (...) Behaviorism
não é meramente uma contribuição conceituai em ciência, mas um produto
da retórica, (p.l 99)

O estilo provocativo de Watson, a falta de fundamentação empírica para muitas


de suas proposições (especialmente aquelas feitas no período pós 1920) e o
radicalismo com que foram propostos seus compromissos teóricos (apresentados
mais adiante neste capítulo) acabaram produzindo mais críticas do que acolhimento
na comunidade acadêmica (Samelson, 1981). O'Donnell (1985) sugere que"na década
de 1920, Watson manteve apenas um punhado de seguidores (...) obviamente, seus
contemporâneos percebiam a distinção entre Watsonismo e Behaviorismo"(p. 207).
O behaviorismo clássico, entretanto, serviu de base para o surgimento de diversas
novas formas de behaviorismo (O'Donohue & Kitchener, 1999 e os demais capítulos
deste livro). Nenhuma delas, contudo, comprometida com todos os princípios básicos
defendidos por Watson. No prefácio do seu último livro, publicado dez anos após
6 I O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958)

ele deixar a academia, Watson se mostra sensível à situação: "apesar de tudo, ainda
que o behaviorismo não tenha sido aceito abertamente, sua influência foi profunda"
(Watson, 1930, p. x)3. Ainda que o behaviorismo clássico de Watson não tenha se
consolidado como forma de behaviorismo, sua influência na psicologia americana é
inquestionável, seja na popularização da possibilidade de uma psicologia científica
que tenha o comportamento como objeto de estudo, seja no desenvolvimento de

3 Boring (1950) e Schoenfeld (1983) sugerem que, em algum momento, toda a psicologia americana se
tornou behaviorista depois deWatson. Isso não significa uma adoção imediata da teoria (verColeman,
1988; Samelson, 1981) e nem que a psicologia se tornou um behaviorismo watsoniano, mas os
princípios do movimento behaviorista tornaram-se largamente disseminados na cultura acadêmica da
psicologia norte-americana.

139

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

uma base conceituai em relação a qual iriam se desenvolver - e em muitos casos se


contrapor - as demais formas de behaviorismo.

O behaviorismo clássico e o estudo do comportamento


Como não poderia deixar de ser, em uma ciência behaviorista, o objeto de estudo
que Watson propõe é o comportamento. Em Behoviorism (Watson, 1930) ele afirma
que "o objeto de estudo da psicologia humana é o comportamento do ser humano"
(p. 2, itálico do original), e uma ciência que tem o comportamento como objeto tem
como tarefa principal identificar as leis que determinam o funcionamento desse
objeto: "como uma ciência, a psicologia coloca diante de si a tarefa de revelar os
fatores envolvidos no desenvolvimento e regulação do comportamento humano,
desde sua infância até a velhice" (Watson, 1917, p. 336).
No behaviorismo clássico, o comportamento deveria ser entendido como objeto
próprio de estudo e não como um meio para se acessar outros eventos, os conteúdos
mentais:

(...) parece razoavelmente claro que algum tipo de compromisso precisa ser
estabelecido: ou a psicologia precisa mudar seu ponto de vista para assimilar
os fatos do comportamento, tendo eles relevância ou não para os problemas
da 'consciência', ou o comportamento deve se estabelecer sozinho como uma
ciência completamente separada e independente. (Watson, 1913, p. 159)

Das opções apresentadas, Watson optou pela transformação da psicologia


6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958)

e não pela criação de uma ciência alternativa. Watson achava que a psicologia
introspecionista e o estudo da consciência constituíam um erro, e não uma
perspectiva viável alternativa à sua. Partindo dessa concepção, Watson incluiu na
noção de comportamento também os eventos internos e privados:

Por que não fazemos do que podemos observar o real campo da psicologia?
Vamos nos limitar às coisas que podemos observar, e formular leis sobre
apenas essas coisas. Agora, o que podemos observar? Bem, podemos observar
comportamento - aquilo que o organismo faz ou fala. E permita-me propor o
ponto fundamental de uma só vez: que faiar é fazer - isso é, comportar-se.
Falar abertamente ou para nós mesmos (pensamento) é apenas um tipo de

140

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

comportamento tão objetivo quanto beisebol. (Watson, 1930, p. 6, itálico do


original)

O comportamento, para Watson, é um evento físico e se refere ao ajuste ou


adaptação do organismo ao seu ambiente. Apesar disso o conceito foi proposto de
modo a garantir certa independência entre o behaviorismo e as ciências biológicas:

O trabalho do behaviorista, ainda que intimamente relacionado ao do zoólogo


e do fisiólogo é, apesar disso, independente (...). É pouco provável que os
estudos físico-químicos possam minar nossa obra sobre a formação de hábitos,
sobre a eficácia de métodos de aprendizagem ou sobre as relações mútuas
entre seres humanos (problemas éticos etc). (Watson, 1914, pp. 30,52)

Sendo o behaviorismo "um ramo experimental puramente objetivo das


ciências naturais (...) [tem como] seu objetivo teórico (...) a previsão e controle do
comportamento" (Watson, 1913, p. 158). Alinhado com o pragmatismo americano,
Watson estabelece e modifica gradativamente sua proposição sobre previsão
e controle ao longo de sua obra. Inicialmente, ele parece se referir à investigação
sistemática dos fenômenos comportamentais e à manipulação deles em ambiente
controlado. Ao avançar em sua carreira, entretanto, ele passa a indicar que esses
termos se referem também à previsão e ao controle do comportamento humano
em ambiente aplicado, desenvolvendo uma espécie de engenharia social (Morris,
Todd, & Midgley, 1993). À época em que Watson reivindica a previsão e o controle
6 I 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

como objetivos da psicologia, tais noções já eram comuns em outras ciências e já


apareciam veladas na própria psicologia (Marr, 2013), mas Samelson (1981) atribui a
Watson o mérito de ser o primeiro a explicitar e defender tais objetivos na psicologia
estadunidense. A despeito do debate sobre sua originalidade na defesa da previsão
e controle do comportamento como objetivos de sua ciência, esses objetivos se
expressam muito claramente na obra de Watson, de modo que ele foi considerado
um crítico da sociedade americana de sua época (Gondra, 2014) e insistiu em
defender o que ele considerava serem soluções que a psicologia poderia dar para a
vida cotidiana. Previsão e controle, tomados como objetivos, tornaram-se também
parâmetros para a avaliação do desenvolvimento do behaviorismo: "o psicólogo (...)
tendo escolhido o comportamento humano como seu material, sente que progride
apenas na medida em que consegue manipulá-lo e controlá-lo" (Watson, 1924).

141

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Idealmente, em "um sistema psicológico totalmente elaborado, dada uma resposta


o estímulo pode ser predito; dado o estímulo a resposta pode ser predita" (Watson,
1913, p. 167).

A metafísica do behaviorismo clássico


Aplicar um projeto como esse implicou um distanciamento radical da psicologia
introspeccionista. O apelo para se tomar o comportamento como objeto veio
acompanhado de uma postura antimentalista e materialista que se consolidou
ao longo da carreira acadêmica de Watson. O antimentalismo watsoniano, que
consistia na negação da mente e da consciência como objetos de estudo4, é uma das
características mais ressaltadas do seu sistema teórico (e.g., Bergmann, 1956). Skinner
(1959) sugere que uma das principais contribuições de Watson foi aplicara psicologia
humana as noções de que somos animais, e que nossos processos mentais podem
ser explicados sem recorrer à mente enquanto entidade. No manifesto, Watson
apresenta sua crítica: "parece ter chegado a hora em que a psicologia deve descartar
toda referência à consciência; de deixar de se iludir pensando que está fazendo dos
estados mentais o objeto de observação" (Watson, 1913, p. 163) e em The Battleof
Behaviorism ele complementa:

Nunca houve uma descoberta na psicologia subjetiva; houve apenas


especulação medieval. O behaviorista inicia sua formulação do problema da
psicologia varrendo de lado toda concepção medieval. O behaviorista retira
do seu vocabulário científico todos os temos subjetivos como sensação,
6 I O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878 1958)

percepção, imagem, desejo, propósito, e mesmo pensamento e emoção tal


como eles foram definidos originalmente. (Watson, 1929a, p. 17)

É importante notar, entretanto, que "descartar" ou "abandonar" termos subjetivos


não significa que os processos aos quais tais palavras se referem foram ignorados.
É o caráter mental e cientificamente inacessível deles que é questionado. Watson
inclui em seus textos explicações sobre as emoções, o pensamento, a imaginação,
o "planejamento mental", ideação suicida, desejos sexuais e outros. A título de
exemplo, vejamos como Watson tratava o pensamento. Em Is Thinklng Merely the
Action of Longuage Mechonism? (Watson, 1920, p. 10), ele sugere que pensamento

4 Para Watson, esses termos eram ficções explanatórias (Watson, 1913,1919,1924,1929a).

142

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

"é em grande medida um processo verbal; ocasionalmente movimentos expressivos


são substituíveis por movimentos verbais (gestos, atitudes, etc.) que entram como
partes do fluxo geral de atividade implícita". Além de afastar o status misterioso e
mental do pensamento, Watson o circunscreve como um evento comportamental e
físico, o que remete a outra característica de sua metafísica: o compromisso com um
fisicalismo materalista.
Watson, por diversas vezes, evitou definir seus compromissos metafísicos. Em
sua autobiografia (Watson, 1936), admite certa aversão à filosofia e, no mesmo
texto em que discute sua compreensão do pensamento, pede uma concessão
ao leitor: "o behaviorista gostaria de apresentar [suas premissas], sem discutir suas
muitas implicações metafísicas" (Watson, 1920, p. 94). Ainda que Watson tenha sido
reticente em assumir o fisicalismo (cf. 1913, p. 175,1914, p. 26,1920, pp. 93-94,1926b,
p. 723), ele acaba admitindo esse compromisso, e em Behoviorism afirma que "toda
a psicologia exceto o behaviorismo é dualista" (Watson, 1924, p. 4), deixando claro
que sua rejeição à mente e à consciência não é apenas um apelo metodológico
(relacionado a uma eventual inacessibilidade direta desses fenômenos), mas também
um apelo metafísico: a mente, como entidade imaterial, não existe para Watson, ele
rechaça toda espécie de dualismo de substâncias.
A explicitação tardia de seus compromissos metafísicos é um aspecto da
obra de Watson que parece ter contribuído para a disseminação das polêmicas
a respeito de sua teoria (Morris & Todd, 1999; Strapasson, 2012), mas tanto seus
contemporâneos (e.g., Lashley, 1923; Pepper, 1923; Pratt, 1922; Weiss, 1920) quanto
alguns historiadores da psicologia (e.g., Bergmann, 1956; Marx & Hillix, 1978)
6 | 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B . WATSON (1878-1958)

sugerem que o fisicalismo adotado por Watson, em especial do modo efusivo


como foi proposto, foi uma das características de sua teoria que mais a tornou
polêmica e radical (Schneider & Morris, 1987).

O desafio metodológico do behaviorismo clássico


Ao fim da primeira década do século passado, Watson já havia se estabelecido
como um grande nome da psicologia animal nos Estados Unidos (Buckley, 1989), e os
primórdios de uma psicologia objetiva já estavam expressos em seus experimentos
com animais. Em Studying theM indof Animais, Watson deixa claro como o cientista
deve lidar com os com porta mentos implícitos:"se nós pensarmos cu idadosamente
sobre descobrir o que os [animais] estão pensando, não podemos deixar de ficar
impressionados com o fato de que o nosso único método para a obtenção de

143
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

tais informações é observar seu comportamento" (Watson, 1907d, p. 421). À


época do manifesto, entretanto, ele ainda não havia desenvolvido um programa
consistente de pesquisa com humanos que o permitisse ir, nesse âmbito, além
de um apelo genérico pelo abandono da introspeção, que não estaria gerando
condições para um conhecimento científico, e pelo desenvolvimento de
estratégias objetivas de estudo do comportamento. Tais estratégias, contudo,
variavam em suas diferentes publicações.
Em quase todos os seus livros (1914,1919,1924a, 1924b, 1930), Watson inclui uma
seção para discussão dos métodos apropriados no estudo do comportamento. As
estratégias específicas para esse estudo, contudo, variam ao longo da sua obra. Dentre
elas estão o uso de labirintos e de caixas problema, o método da discriminação, o
condicionamento pavloviano de respostas motoras ou viscerais, o uso de testes
psicológicos como forma de se obter relatos verbais, o arranjo de condições sociais
específicas e verificação das respostas produzidas por essas situações (experimentação
social) e a observação do comportamento no ambiente natural. O que há de comum
nesses métodos específicos é o seu embasamento na observação direta, além de
certa preferência por arranjos experimentais.
A variedade de métodos adotados é coerente com interesses amplos no
estudo do comportamento. Afinal, o behaviorismo clássico incluía a ambiciosa
pretensão de "revelar os fatores envolvidos no desenvolvimento e regulação do
comportamento humano, desde sua infância até a velhice" (Watson, 1917, p. 336).
Watson não restringiu seu programa de pesquisas, por exemplo, a análises molares
ou moleculares do comportamento. Ainda que por vezes tenha sugerido que os
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B.W ATSO N (1878-1958)

estímulos seriam eventos fisiológicos simples, como a excitação de ondas de luz


ou de contato táctil, e que situações complexas "poderiam ser decompostas em
um grupo complexo de estímulos" (Watson, 1917, p. 338), ele também indicou que
apenas em situações experimentais artificias conseguimos isolar esses estímulos. No
cotidiano, por outro lado, a estimulação é extremamente complexa, e temos que lidar
com "a massa total de fatores estimulantes que levam o homem a se comportar como
uma totalidade" (Watson, 1917, p. 339); para ele, "o behoviorista está interessado na
integração e na atividade total do indivíduo" (Watson, 1919, p. 40, itálico do original).
Watson complementa que o nível de análise deve ser decidido a partir dos objetivos
de quem analisa:

144

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

[Na análise de] ocupações e atividades nós geralmente não paramos para
reduzir a atividade total ao movimento de músculos. Nós podemos fazê-lo se
necessário e o fazemos quando se torna necessário estudar a reação das várias
partes (...) [mas] a psicologia objetiva pode estudar a alvenaria, a construção de
casas, o jogar jogos, o casamento e a atividade emocional sem ser acusada de
reduzir tudo a movimentos dos músculos ou secreções das glândulas.
(Watson, 1919, p. 40)

A análise de padrões tão amplos como aqueles que chamamos de personalidade,


por exemplo, implica a investigação não apenas dos conjuntos complexos dos
eventos em curso, mas também da história de vida do indivíduo, e Watson não
negava essa possibilidade. Na análise das possíveis origens de "problemas de atitude",
Watson sugere que "estudando a história de vida de qualquer pessoa, nós podemos
ver como elas têm muitas vezes favorecido ou dificultado sua carreira e perturbado
seu equilíbrio pessoal" (Watson, 1919). Watson era, portanto, relativamente eclético
do ponto de vista metodológico. Qualquer estratégia não-mentalista que permitisse
acordo entre observadores, independente de essas estratégias fazerem referência
a eventos molares ou moleculares, de exigirem ou não a referência à história do
indivíduo ou de sua espécie, ou apenas a referência ao ambiente imediato, poderia
ser usada na busca da compreensão de como os organismos se adaptam.

Behaviorismo clássico, adaptação e hábito


Gondra (1991) sugere que o behaviorismo de Watson se estabelece como um
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958)

meio termo entre o funcionalismo americano e o estruturalismo de Titchener. No


funcionalismo, Watson teria se inspirado para buscar a compreensão da adaptação
do organismo ao ambiente; e do estruturalismo ele teria emprestado o interesse
pela descoberta das unidades básicas que permitem essa adaptação, no seu caso
representadas pelas noções de estímulo, resposta e reflexo - que, por sua vez,
explicariam a formação de hábitos. Contudo, ambos, funcionalismo e estruturalismo,
foram rejeitados por Watson em razão do uso da introspecção e pela análise mentalista
e dualista dos fenômenos.
Tal como muitos dos aspectos do seu sistema teórico, a teoria sobre a formação
de hábitos de Watson foi modificada durante sua carreira (Gondra, 1994). O hábito era,
para Watson (1924), uma espécie de integração de reflexos em sistemas complexos
de ação, que constituiria a maior parte do repertório do ser humano. Inicialmente,

145
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Watson (1914) entendia que as ações humanas eram divididas em hábitos e instintos.
Esses tipos de comportamento diferiam quanto à sua origem: instintos eram herdados
e hábitos eram aprendidos. Em ambos os casos, entretanto, tratava-se de conjuntos
coordenados de estímulos e respostas: reflexos. Porém, os instintos ganharam
progressivamente menos importância em sua obra (Watson, 1912,1930) enquanto a
formação de hábitos foi entendida como "provavelmente o tema mais importante no
estudo do comportamento" (Watson, 1914).
Para Watson, os animais são equipados com uma série de reflexos aleatórios
que pela ação do ambiente se organizam e se estabelecem como hábitos
simples. A integração destes produziria os hábitos complexos, que caracterizam o
comportamento humano. Para explicar comportamentos complexos seria necessário,
portanto, identificar como uma série de reflexos aleatórios se consolida em um hábito
que adapta o sujeito ao seu ambiente. Watson conhecia as proposições anteriores
sobre aprendizagem (de Angell, Pillsbury e Thorndike, por exemplo), mas discordava
delas pelo caráter mentalista que apresentavam. Na sua primeira formulação, Watson
sugere que os hábitos se formavam por meio de procedimentos de tentativa e
erro, que se consolidavam em função das características de recência e frequência
das respostas apresentadas pelo organismo. Para ilustrar sua proposição, Watson
(1914) oferece o exemplo de um animal tentando abrir uma caixa problema. Pede
ele que suponhamos que 50 diferentes respostas poderiam ser apresentadas tendo
a caixa como estímulo, mas apenas uma abriria a caixa. Em uma situação como
essa é provável que o animal apresente as diferentes respostas disponíveis até que
consiga abrir a caixa. A cada tentativa, o animal emitiria uma série diferente de
6 | 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. 6. WATSON (1878-1958)

respostas, finalizando a com a resposta efetiva. Presumivelmente, ao se continuarem


as tentativas, a série de respostas emitidas mudaria e se tornaria mais curta; o animal
apresentaria progressivamente menos respostas para abrir a caixa novamente, até
que com apenas uma ele a abriria5. Nesse procedimento, a resposta efetiva, aquela
que abre a caixa, seria a única que estaria presente em todas as tentativas e, portanto,
a mais frequente. Além disso, ela seria a que está temporalmente mais próxima da
solução do problema, ou seja, a resposta mais recente emitida em relação à solução.
Para Watson, frequência e recência caracterizam o processo "pelo qual certos reflexos
são selecionados dentre muitos outros reflexos possíveis" (Watson, 1924).

5 A similaridade do exemplo com as caixas problema de Thorndike não é fortuita. Trata-se de uma
tentativa explicita de propor um modelo explicativo alternativo que não recorra a conceitos mentais
como satisfação ou semelhantes (Gondra, 1994).

146

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Os hábitos, como conjuntos complexos e organizados de reflexos, formariam-se


com a mudança das relações entre estímulo e resposta produzidas pela recorrência
dos reflexos em ordem e contexto semelhantes. O exemplo usado porWatson (1919)
para ilustrar esse processo é o de uma pessoa que aprende a usar uma máquina
de escrever. Inicialmente, ela olha para a série de letras a ser digitada, vê a primeira
letra, busca a tecla correspondente, pressiona a tecla e verifica se o resultado foi
correto; então, ela olha a segunda letra, busca novamente a tecla correspondente
e a pressiona, seguindo o processo até terminar a escrita desejada. Com a repetição
dessa atividade, entretanto, não precisamos mais olhar cada letra a ser digitada,
pois a repetição formaria cadeias de resposta, de modo que o mesmo movimento
que constitui a resposta de teclar a primeira letra se estabelece como estímulo para
pressionar a letra seguinte. Assim, o reflexo que antes precisava ser produzido por um
estímulo visual, passa agora a ser produzido por um estímulo cinestésico.
Em sua proposta explicativa, Watson (1914) assumia que os princípios de recência
e frequência não eram os únicos a explicar o comportamento. À época, ele já conhecia
os experimentos sobre condicionamento clássico6, mas ainda considerava o"método
de condicionamento pavloviano" menos geral que sua proposta, pois, segundo
ele, era aplicável apenas a poucos tipos de animais e porque não era tão preciso
como consideravam os estudantes de Pavlov. Sua noção de hábito, até então, era
essencialmente uma versão modificada daquela proposta por William James (1890;
Rilling, 2000, ver também Gondra, 1990,1994). Gradativamente, entretanto, o reflexo
condicionado ganhou posição central em seu sistema teórico. No pronunciamento
como presidente da American Psychological Association, feito em dezembro de 1915,
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON 0 8 7 8 -1 9 5 8 )

sugere que

(...) se lembrarmos que o método do reflexo pode ser usado sobre o homem,
sem modificações (...) nós devemos admitir, creio eu, que ele tomará um lugar
muito importante entre os métodos psicológicos. (...) Ainda que aqui eu não
possa entrar na amplitude da aplicação do método, estou certo de que é um
campo mais amplo do que eu havia indicado. (Watson, 1916, p. 105)

6 O primeiro texto que apresenta Pavlov nos Estados Unidos da América foi um artigo de Yerkes e
Morgulis em 1909. Yerkes foi um dos colaboradores de Watson durante sua carreira acadêmica e o
artigo mencionado foi publicado no mesmo ano em que Watson passa a editorar o Psychological
Bulletin, de modo que ele conhecia esse texto.

147
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Em Psychology From theStandpointofa Behaviorist, Watson (1919) ainda menciona


os princípios de frequência e recência, mas em sua última versão de Behaviorism, o
reflexo condicionado domina como princípio explicativo da formação de hábito:

(...) a relação teórica entre os casos mais simples de condicionamento que


viemos estudando e as mais complexas, integradas e ordenadas, espacial e
temporalmente, parece ser bastante simples. Aparentemente é a que se dá
entre a parte e o todo. Isso é, que o reflexo condicionado é a unidade da qual é
formada o todo do hábito. (Watson, 1930, p. 207)

É interessante notar que Watson, mesmo tendo contato com a proposta


de Thorndike que incluía o efeito das consequências na determinação do
comportamento, e que partia não do funcionalismo introspecionista, mas do estudo
experimental do comportamento de animais, tenha negado essa teoria na explicação
do comportamento. Aparentemente, a rejeição ao mentalismo e ao hedonismo (que
para Watson tinha ares de antropomorfismo) da proposta de Thorndike pesaram
mais do que as eventuais contribuições que sua teoria poderia trazer. A proposta de
avaliação de reflexos condicionados de Pavlov, por outro lado, não compartilhava
dessas características e ainda proporcionava um mecanismo explicativo que foi útil a
Watson (Gewirtz, 2001).
Ao tomar o comportamento como objeto de estudo, Watson incluiu tanto
comportamentos imediatamente observáveis, explícitos, como potencialmente
observáveis, implícitos. Para estudar os comportamentos implícitos seria
6 | 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON ( 1878-1 958)

necessário usar instrumentos especiais (disponíveis ou a serem desenvolvidos)


(Watson, 1917). Dentre os comportamentos implícitos estariam tanto a secreção
de glândulas e movimentos viscerais, como o pensamento, a imaginação e as
demais atividades cognitivas dos seres humanos. Watson, portanto incluía o
pensamento e a linguagem em seu sistema teórico, e o modo como ele explicava
esses fenômenos ilustra bem uma característica marcante de seu behaviorismo,
que tem sido chamada de periferalismo.
Para Watson, a linguagem é um das características que nos diferencia dos demais
animais. Essa diferença ocorre não por qualquer natureza diferenciada da linguagem,
mas porque o ambiente humano (cultural) é mais complexo:

148

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

[a fala e o pensamento compõem] um grande campo de atividades aprendidas


em que o bruto não consegue nem entrar, muito menos competir nele.
Esse é o campo dos hábitos de linguagem - hábitos que, quando exercidos
implicitamente, por trás das portas fechadas dos lábios, nós chamamos de
pensamento. (Watson, 1930, p. 225)

Como um hábito, a fala seria aprendida da mesma forma que os demais


comportamentos, e envolveria as mesmas estruturas físicas (Watson, 1920). Watson
achava que todo comportamento implícito era executado por meio da movimentação
em pequena escala (imperceptível ao observador externo) do aparelho motor ou
visceral envolvido no mesmo comportamento explícito correspondente. Nesse
sentido, se o pensamento fosse verbal, o aparelho fonador estaria em movimento; se
o sujeito estivesse imaginando a si mesmo jogando golfe, a musculatura usualmente
utilizada para se jogar golfe estaria em movimento; e se o sujeito estivesse sentindo
uma tristeza privadamente, sem demonstrá-la a um observador externo, as vísceras
e os músculos envolvidos na expressão explícita dessa tristeza estariam também em
movimento, ainda que em dimensões ínfimas. Nesses exemplos há certa ênfase em
alguns grupos musculares ou viscerais, mas como em todo comportamento "nós
pensamos e planejamos com o corpo todo" (Watson, 1930, p. 200). A concepção
de Watson do pensamento como atividade corporal foi o modo que ele encontrou
para explicar fenômenos humanos complexos sem abandonar seu fisicalismo e seu
compromisso com o acordo entre observadores na produção de conhecimento. Sua
insistência, entretanto, em vincular os comportamentos implícitos aos movimentos
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

dos músculos e das glândulas, e não ao sistema nervoso central - seu periferalismo -,
parece ter se dado em razão de que em sua época conhecia-se pouco sobre o cérebro,
e as referências a ele consistiam em inferências tão especulativas quanto aquelas
feitas sobre a mente (Watson, 1926a). Para Watson, pareceu mais razoável sugerir que,
no estágio de desenvolvimento da ciência da época, acessaríamos eventos como
o pensamento apenas indiretamente, mas que no futuro, com o desenvolvimento
de novas tecnologias e instrumentos, teríamos uma melhor compreensão desse
fenômeno:

Se algum dia formos aprender mais sobre a natureza íntima do pensamento


para além do que pode ser obtido observando seus resultados finais - isso
é, observando o comportamento expresso abertamente e verbalmente ou

149

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

as ações corporais abertas que se seguiram - nós teremos que recorrer à


instrumentação. O tempo em que isso será possível parece longe. Enquanto
espera, o behaviorista tem muito com o que se ocupar.
(Watson, 1920, p. 97)

O behaviorismo clássico, portanto, é uma proposta de psicologia fisicalista,


antimentalista, que assume o comportamento como objeto legítimo de estudo e a
previsão e o controle desse comportamento como objetivos. Para este behaviorismo
tornar-se completo, deveríamos compreender como os organismos se adaptam ao
seu ambiente - como formam reflexos e hábitos - e só conseguiríamos fazer isso
cientificamente adotando métodos objetivos de estudo, que permitissem acordo
entre observadores. Os eventos subjetivos, privados ou cognitivos, não seriam
misteriosos. Enquanto aos conjuntos de eventos corporais, poderíamos estudá-
los indiretamente por meio dos comportamentos expressos aos quais eles estão
associados ou desenvolver instrumentos para acessá-los diretamente.

Decorrências culturais do behaviorismo clássico


O behaviorismo de Watson ficou bastante conhecido na comunidade acadêmica
e leiga nos Estados Unidos da América. A maior parte de suas proposições, entretanto,
não eram originais. Como bem demonstram O'Donnell (1985), Marr (2013) e Samelson
(1981), as características mais marcantes do behaviorismo clássico de Watson (como
o apelo por uma psicologia objetiva, pelo abandono da introspecção como método,
pela adoção do comportamento como objeto de estudo, por uma defesa de que
6 I O BEHAVIORISMO CLÁSSICO D E J .B . WATSON (1878-1958 )

comportamento é essencialmente reflexo e pela adoção da previsão e controle como


objetivos teóricos e práticos) já estavam presentes na literatura acadêmica antes
da publicação do manifesto. O behaviorismo de Watson parece ter se consolidado
mais porque era coerente com o Zeitgeist da época do que por ter provocado uma
revolução científica na psicologia (Carrara, 2005; Leahey, 1992; O'Donnell, 1985). É
nesse sentido que Leahey (2000) apresenta sua opinião sobre o papel de Watson e do
manifesto no desenvolvimento do movimento behaviorista:

Watson não foi um pensador original, mas, como bem demonstrado em


sua carreira na publicidade, ele foi um porta-voz efetivo. Quando se separa a
retórica de Watson das suas propostas substantivas [percebe-se] que ele disse
pouco de novo, mas o disse poderosamente. (...) [o] manifesto de Watson (...)

150

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

simplesmente marca o momento em que o behaviorismo se torna ascendente


e autoconsciente criando para os behavioristas ulteriores um'mito da origem'.
(p. 400)

As abordagens críticas da contribuição de Watson para o desenvolvimento do


behaviorismo têm sugerido que as afirmações mais ofensivas e menos baseadas em
dados (especialmente aquelas produzidas durantes seus anos como profissional do
marketing) foram em grande parte responsáveis pelos preconceitos que existem em
relação a todo o movimento behaviorista ainda hoje. Logue (1994), por exemplo,
sugere que

(...) nós nunca saberemos se, caso Watson nunca tivesse feito suas afirmações
mais ultrajantes, o behaviorismo ainda teria perdido sua popularidade
(...) em qualquer caso, as publicações de Watson, o primeiro behaviorista,
são certamente uma mina de ouro para aqueles que querem criticar o
behaviorismo. (p. 122)

Marr (2013) é ainda mais incisivo em sua avaliação crítica: "todos os behaviorismos
científicos modernos - metodológico, radical, teleológico - quaisquer que sejam,
de fato, pouco devem, metodologicamente, empiricamente ou conceitualmente a
Watson e, provavelmente, seriam algo próximo do que são hoje - e seriam melhor
vistos - se Watson nunca tivesse existido" (p. 35). Por outro lado, independente
de Watson ter ou não sido caracterizado corretamente como o fundador do
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

behaviorismo, e dos eventuais efeitos nefastos que sua retórica particular podem
ter exercido no desenvolvimento histórico do movimento, é inegável que a posição
em que ele se encontrava deu grande visibilidade para as reivindicações sobre a
necessidade de uma psicologia objetiva que tomasse o comportamento como seu
objeto legítimo de estudo e que abandonasse o mentalismo em benefício de uma
avaliação funcional do seu objeto. Além disso, foi ele que uniu as características que
constituem o behaviorismo clássico sob o mesmo rótulo. Nesse sentido, Watson
parece ter sido um "catalisador" do movimento behaviorista (Tortosa, Pérez, Civera, &
Pastor, 2001). Ainda que possamos concordar com a afirmação de Skinner de que "as
insuficiências da proposta de Watson [são]... de interesse principalmente histórico"
(Skinner, 1974, p. 5), no sentido de que não há behavioristas watsonianos hoje (Pérez-
Garrido, Calatayud, & Pastor, 1998), é preciso notar que ser de interesse histórico não

151

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

é pouco. O leitor familiarizado com o movimento behaviorista, ou que tenha lido os


demais capítulos deste volume, perceberá facilmente que há muitas semelhanças
entre as propostas específicas de Watson e as demais formas de behaviorismo; e
de certo modo, após a proposição do behaviorismo clássico e sua disseminação na
cultura norte-americana, todos os behaviorismos foram obrigados a se pronunciar
sobre ele, concordando ou não com suas proposições, mesmo que nem sempre
assumindo-o como fonte de inspiração. Uma compreensão mais clara das propostas
de John B. Watson e do seu behaviorismo clássico podem ajudar a compreender os
limites e as inovações dos behaviorismos subsequentes, bem como as representações
do behaviorismo no contexto cultural mais amplo, ontem e hoje.

Referências
Bergmann, G. (1956). The contribution of John B. Watson. Psychological Review, 63(4),
265-276.
Boakes, R. (1994). John B. Watson's early scientific career: 1903-1913. In J.T.Todd & E. K.
Morris (Eds.). Modern Perspectives on John B. Watson and Classical Behaviorism (pp.
144-150). Westport: Greenwood Press.
Boring, E. G. (1950). 4 history of experimental psychology (2nd ed.). New York: Appleton-
Century-Crofts.
Buckley, K. W. (1989). Mechanical man: John Broadus Watson and the beginnins of
behaviorism. New York: The Guilford Press.
Buckley, K. W. (1994). Misbehaviorism: The case of John B. Watson's dismissal from
Johns Hopkins University. In J. T. Todd & E. K. Morris (Eds.). Modern Perspectives on
6 I 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

John B. Watson and Classical Behaviorism (pp. 19-36). Westport: Greenwood Press.
Carpintero, H. (2004). Watson's Behaviorism: A comparison of the two editions (1925
and 1930). History of Psychology, 7(2), 183-202.
Carr, H., & Watson, J. B. (1908). Orientation in the white rat. Journal of Comparative
Neurology and Psychology, 18{ 1), 27-44.
Carrara, K. (2005). Behaviorismo Radical: Crítica e metacritica (2nd ed.). São Paulo:
Editora da UNESP.
Coleman, S. R. (1988). Assessing Pavlov's impact on the American conditioning
enterprise. Pavlovian Journal of Biological Science, 23(3), 102-106.
Dewsbury, D. A. (2013). John B. Watson's early work and comparative psychology.
Revista Mexicana de Andlisis de la Conducta, 39(2), 10-33.

152

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Gewirtz, J. L. (2001). J. B. Watson's approach to learning: Why Pavlov? Why not


Thorndike? Behavioral Development Bulletin, 70(1), 23-25.
Gondra J. M. (1990). La influencia de James en las teorias conductistas del pensamiento.
Revista de Historia de la Psicologia, 77,109-122.
Gondra, J. M. (1991). La definicion conductista de la psicologia. Anuário de Psicologia,
57,47-65.
Gondra, J. M. (1994). El hábito y el condicionamiento en Ias explicaciones dei
aprendizaje propuestas por Watson. Revista de Historia de Ia Psicologia, 75(3-4),
105-115.
Gondra, J. M. (2014). Behaviorist, publicist and social critic: The evolution of John B.
Watson. Revista de Historia de Ia Psicologia, 35(1), 13-36.
Haggbloom, 5. J., Warnick, R., Warnick, J., Jones, V., Yarbrough, G., Russell,!, Borecky, C.,
McGahhey, R., Powell III, J., Beavers, J., & Monte, E. (2002). The 100 most eminent
psychologists of the 20th century. Review of General Psychology, 6 ,139-152.
James, W. (1890). The Principles of psychology. New York: Holt.
James, W. (1904). Does "consciousness" exist? Journal of Philosophy, Psychology, and
Scientific Method, 7,447-491.
Jones, M. C. (1924). A laboratory study of fear: The case of Peter. Pedagogical Seminary,
37,308-315.
Korn, J. H., Davis, R., & Davis, S. F. (1991). Historians'and chairpersons'judgments of
eminence among psychologists. American Psychologist, 46(7), 789-792.
Langfeld, H. S. (1994). Jubilee of the Psychological Review: Fifty volumes of the
Psychological Review. Psychological Review, 707(2), 200-204.
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO D E J.B . WATSON (1878-1 958}

Lashley, K. S. (1923). The behavioristic interpretation of consciousness. I. Psychological


Review, 30(4), 237-272.
Lashley, K. S., &Watson, J. B. (1913). The effect of the amount and frequency of practice
in learning archery. Carnegie Institution of Washington Yearbook, 12,180-181.
Lashley, K. S., &Watson, J. B. (1920). A psychological study of motion pictures in relation
to venereal disease campaigns. Social Hygiene, 7,181 -219.
Leahey, T. H. (1992). The mythical revolutions of American psychology. American
Psychologist, 47(2), 308-318.
Leahey, T. H. (2000). A history of modern psychology (2nd ed.). New York: Pearson.
Logue, A. W. (1994). Watson's behaviorist manifesto: Past positive and current negative
consequences. In J. T. Todd & E. K. Morris (Eds.). Modern Perspectives on John B.
Watson and Classical Behaviorism (pp. 109-123). Westport: Greenwood Press.

153
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Malone, J. C. (2014). Did John B. Watson really "found" behaviorism? The Behavior
Analyst, 27(1), 1-12.
Marr, M. J. (2013). "It is not elementary, my dear Watson": The strange legacy of the
behaviorist manifesto. Mexican Journal of Behavior Analysis, 39(2), 34-47.
Marx, M. H., & Hillix, W. A. (1978). Sistemas e teorias em psicologia. São Paulo: Cultrix.
Morris, E. K., & Todd, J. T. (1999). Watsonian Behaviorism. In W. O'Donohue & R. F.
Kitchener (Eds.), Handbook of Behaviorism (pp. 15-69). San Diego: Academic Press.
Morris, E. K.,Todd, J.T., & Midgley, B. D. (1993). The prediction and control of behavior:
Watson, Skinner, and beyond. Mexican Journal of Behavior Anlaysis, 19(Monographic
issue), 103-131.
O'Donnell, J. M. (1985). The origins of Behaviorism: American psychology; 1870-1920.
New York: New York University Press.
O'Donohue, W., & Kitchener, R. F. (1999). Handbook of Behaviorism. San Diego:
Academic Press.
Pepper, S. C. (1923). Misconceptions regarding behaviorism. The Journal of Philosophy,
20(9), 242-4.
Pérez-Garrido, A., Calatayud, C., & Pastor, J. C. (1998). ?Existe una tradición watsoniana
en la psicologia contemporânea? Revista de Historia de la Psicologia, 19(4), 523-541.
Pratt, J. B. (1922). Behaviorism and Consciousness. The Journal of Philosophy, 79(22),
596-604.
Rilling, M. (2000). Flow the challenge of explaining learning influenced the origins and
development of John B. Watson's behaviorism. American Journal of Psychology,
773(2), 257-301.
6 | 0 BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

Samelson, F. (1981). Struggle for cientific authority: The reception of Watson's


behaviorism, 1913-1920. Journal of the History of the Behavioral Sciences, 77(3),
399-425.
Schneider, S. M., & Morris, E. K. (1987). A history of the term radical behaviorism: From
Watson to Skinner. The Behavior Analyst, 10(1), 27-39.
Schoenfeld, W. N. (1983). The contemporary state of behavior theory. Mexican Journal
of Behavior Analysis, 9(1), 55-82.
Skinner, B. F. (1959). John Broadus Watson: Behaviorist. Science, 729(3343), 197-198.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Strapasson, B. A. (2012). A caracterização de John B. Watson como behaviorista
metodológico na literatura brasileira: possíveis fontes de controle. Estudos de
Psicologia (Natal), 77(1), 83-90.

154

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Strapasson, B. A., & Carrara, K. (2008). John B. Watson: Behaviorista metodológico?


Interação Em Psicologia, 12( 1), 1-10.
Todd, J. T. (1994). What psychology has to say about John B. Watson: Classical
behaviorism in psychology textbooks, 1920-1989. In J.T.Todd & E. K. Morris (Eds.).
Modern Perspectives on John B. Watson and Classical Behaviorism (pp. 75-107).
Westport: Greenwood Press.
Todd, J. T , Dewsbury, D. A., Logue, A. W., & Dryden, N. W. (1994). John B. Watson:
A bibliography of published works. In J. T. Todd & E. K. Morris (Eds.), Modern
Perspectives on John B. Watson and Classical Behaviorism (pp. 169-178). Westport:
Greenwood Press.
Todd, J. T, & Morris, E. K. (1986). The early research of John B. Watson: Before the
behavioral revolution. The Behavior Analyst, 9(1), 71-88.
Todd, J. I , & Morris, E. K. (1992). Case histories in the great power of steady
misrepresentation. American Psychologist, 47(11), 1441 -1453.
Tortosa, F„ Calatayud, C , & Pérez-Garrido, A. (1996). <;Hechos o ficciones para una
identidad disciplinar? J.B. Watson en los manuales. Revista de Historia de la
Psicologia, 77(3-4), 235-246.
Tortosa, F., Pérez-Delgado, E., Carbonell, E., & López-Latorre, M. J. (1991). John B.
Watson y su generación en la psicologia contemporânea. Revista de Historia de la
Psicologia, 72(3-4), 157-170.
Tortosa, R, Pérez, A., Civera, C, & Pastor, J. C. (2001). Conductismo, historiografia e
identidades. <;Unidad entre las diversas imágenes de John Broadus Watson?
Revista de Historia de la Psicologia, 22(2), 227-255.
6 | O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J.B. WATSON (1878-1958)

Watson, J. B. (1903). Animal education: An experimental study ofthe psychical development


of the white rat, correlated with the growth of its nervous system. Chicago: University
of Chicago Press.
Watson, J. B. (1904). Some unemphasized aspects of comparative psychology. Journal
of Comparative Neurology and Psychology, 14, 360-363.
Watson, J. B. (1905). Review of "Behavior of Lower Organisms" by H. S. Jennings.
Psychological Bulletin, 2, 288-291.
Watson, J. B. (1907a). Kinaesthetic and organic sensations: Their role in the reactions
of the white rat to the maze. The Psychological Review: Monograph Supplements,
8(2), i-101.
Watson, J. B. (1907b). Kinaesthetic sensations: Their role in the reactions of the
white rat to the Rlampton Court Maze. In Proceedings of the fifteenth annual

155
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

meeting of the American Psychological Association (Vol. IV, pp. 211-212). New
York: Psychological Bulletin.
Watson, J. B. (1907c). Report of John B. Watson on the condition of the noddy and
sooty tern colony, Bird Key,Tortugas, Florida. Bird Lore, 9, 307-316.
Watson, J. B. (1907d). Studying the mind of animals. The World Today, 12,421-426.
Watson, J. B. (1909). Some experiments bearing upon color vision in monkeys. Journal
of Comparative Neurology and Psychology, 79(1), 1-28.
Watson, J. B. (1910a). Further data on the homing sense of noddy and sooty terns.
Science, 32(823), 470-473.
Watson, J. B. (1910b). Report of Prof. John B. Watson on the work on Bird Key. Carnegie
Institution ofWashington Yearbook, 9 ,144-146.
Watson, J. B. (1912). Instinctive activity in animals: Some recent experiments and
observations. Harper’s Monthly Magazine, 124, 376-382.
Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20(2),
158-177.
Watson, J. B. (1914). Behavior: An introduction to comparative psychology. New York:
Henry Holt and Company.
Watson, J. B. (1916). The place of the conditioned reflex in psychology. Psychological
Review, 23(2), 89-116.
Watson, J. B. (1917). An attempted formulation of the scope of behavior psychology.
Psychological Review, 24(5), 329-352.
Watson, J. B. (1918). Preliminary report of the effect of oxygen hunger upon
handwriting function. In Manual of the Medical Research Laboratory Division of
6 I O B E H A V IO R IS M O C LA S S IC O D E J.B . WATSON (1878-1958)

Military Aeronautics (pp. 182-185). Washington: Government Printing Office.


Watson, J. B. (1919). Psychology from the standpoint of a behaviorist. Philadelphia: J. B.
Uppincott Co..
Watson, J. B. (1920). Is thinking merely action of language mechanisms? British Journal
of Psychology, 77(1), 87-104.
Watson, J. B. (1924). Behaviorism. New York: Norton.
Watson, J. B. (1926a). How we think: A behaviorist's view. Harper's Monthly Magazine,
153,40-45.
Watson, J. B. (1926b). What is behaviorism? Harper's Monthly Magazine, 152, 723-729.
Watson, J. B. (1927). The weakness of women. The Nation, 125, 9-10.
Watson, J. B. (1928). The ways of behaviorism. New York: Harper and Brothers.

156

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Watson, J. B. (1929a). Behaviorism: The modern note in psychology. In J. B. Watson &


W. McDougall (Eds.), The bottle of behaviorism: An exposition and an exposure (pp.
7-39). New York: W.W. Norton.
Watson, J. B. (1929b). Men won't marry fifth years from now. Hearst's International
Cosmopolitan, 71.104.106.
Watson, J. B. (1930). Behaviorism (2nd ed.). New York: Norton.
Watson, J. B. (1936). John Broadus Watson. In C. Murchison {id.). A history of psychology
in autobiography (vol. 3, pp. 271-281). Worcester: Clark University Press.
Watson, J. B„ & Lashley, K. S. (1920a). A consensus of medical opinion upon questions
relating to sex education and venereal disease campaigns. Mental Hygiene, 4,
769-847.
Watson, J. B., & Morgan, J. J. (1917). Emotional reactions and psychological
experimentations. The American Journal of Psychology, 28(2), 163-174.
Watson, J. B„ & Rayner, R. (1920). Conditioned emotional reactions. Journal of
Experimental Psychology, 3(1), 1-14.
Watson, J. B., & Watson, M. I. (1913). A study of the responses of rodents to
monochromatic light. Journal of Animal Behavior, 3(1), 1-14.
Watson, J. B., & Watson, R. R. (1928). The Psychological care of infant and child. New
York: Norton.
Weiss, A. P. (1920). Review of "Psychology from the standpoint of the behaviorist"by
John B. Watson. Psychological Bulletin, 77(8), 266-270.
Woodworth, R. S. (1959). John Broadus Watson: 1878-1958. The American Journal of
Psychology, 72(2), 301-310.
6 | O BEHAVIORISMOCLASSICO DEJ. B. WATSON (1878-1958)

Yerkes, R. M., & Morgulis, 5. (1909). The method of Pawlow in animal psychology.
Psychological Bulletin, 6(8), 257-273.
Yerkes, R. M., & Watson, J. B. (1911). Methods of studying vision in animals. Behavior
Monographs, 7(2), vi—90.

157
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

7 A. P. WEISS U 8 7 9 -1 9 3 IJ: A
THEORETICAL BASIS OF H U M A N
B E H A V IO R 1

Robert H. Wozniak

1 Capítulo publicado originalmente como introdução ao livro A Theoretical Basis o f Human Behavior, de A.
P. Weiss, em edição organizada por R. Wozniak (Londres: Routledge/Thoemmes Press, 1994).

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Born in Steingrund, Schlesien, Germany in 1879, Albert P. Weiss (1879-1931) was


brought to America as an infant2. His parents, German Lutherans, settled in St. Louis
where his father worked as an architect. Little else is known about either his family
or his early years beyond a report that he came from a happy and affectionate home
whose members participated actively in the German/American cultural life of St.
Louis. Indeed, as a young man, Weiss himself belonged to a club that met to discuss
philosophy (Esper, 1968). Perhaps this early philosophical interest was one factor that
led to his dissatisfaction with an engraving career and decision, at a relatively late age
(approximately 27), to enroll in the University of Missouri.
At Missouri, he studied physics, mathematics, and philosophy before turning
to coursework in psychology. His encounter with psychology occurred literally by
chance. One day he happened into a room in which Max F. Meyer (1873-1967) was
unsuccessfully attempting to adjust a complex piece of apparatus. When Weiss
succeeded in making the adjustment, Meyer hired him as his laboratory assistant, a
position he retained throughout his work for the A. B. (artium baccalaureus or Bachelor

| A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M AN BEHAVIOR


of Arts, in 1910) and M. A. (Master of Arts, in 1912) degrees. After 1912, when Weiss
accepted a position as laboratory instructor under George Frederick Arps (1874-1939)
at Ohio State, he continued to return to Missouri at periodic intervals to complete
his doctoral work under Meyer. In 1916, he became Meyer's first and only doctoral
student with a dissertation entitled Apparatus and Experiments on Sound Intensity
(Weiss, 1916).

2 Biographical details are drawn primarily from: Bloomfield (1931), Elliott (1931) and Renshaw (1932).
7

161

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Formative years: Meyer's influence on Weiss


Meyer had arrived at Missouri in 19003 after studying with Carl Stumpf and
Herman Ebbinghaus in Berlin. Like Stumpf, Meyer concentrated much of his research
in audition. He published important theoretical papers on the psychology of music
(Meyer, 1900b) and on the nature of cochlear function in hearing (Meyer, 1899,1900a,
1900c), and pursued experimental studies on the aesthetics of final tones, musical
intonations, and quartertone music (Meyer, 1903). Although Weiss also worked for a
time in this area, it was not primarily Meyer's research, but his theoretical orientation
— his objectivism, physiological reductionism, concern with the objective translation
of subjective terms, emphasis on the social significance of behavior, and analysis of
language and thinking - that was to exert a lasting influence on Weiss. As Erwin Esper
summed up the relationship between the two men:

There were strong bonds between Meyer and Weiss: Weiss had been born in
Germany and (...) spoke German in the home of his parents; his personality
was most engaging: honorable, unassuming (...) eager in interest in all matters
of scientific and humane import, humorous; well trained in physics, chemistry,
biology, mathematics, and philosophy - subjects in which Meyer found most
of his American students deficient; ingenious in devising and constructing
apparatus. In his early publications Weiss followed Meyer in research on tonal
7 | A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

intensity and'vocality,'and in applying Meyer's hydraulic theories of the ear and of


the nervous system to sensory discrimination and learning. In his later publications
he enlarged upon Meyer's two main philosophical - or rather, methodological,
doctrines: that psychology should deal only with objective data and only with
behavior having social import. Meyer has said,'I have had very little - almost no
- influence on American psychology directly, but perhaps a good deal through
mediation by students ofWeiss.'Meyer produced one doctor of philosophy: Weiss;
Weiss produced twenty-five. (Esper, 1967, pp. 113-114)

3 A position he was to retain until 1929. In 1929, however, a questionnaire assessing attitudes toward
extramarital sexual relations had been distributed to students with Meyer's tacit approval. Public outcry
over the questionnaire led to Meyer's receiving a one-year, unpaid suspension from the University. In
1930, upon his return, Meyer had the poor judgment to engage in public criticism of the members
of the University Board of Curators who had been responsible for his suspension. As a result, he was
summarily dismissed from the University and never again held a regular faculty appointment. For an
informative discussion of the entire affair see Esper (1967).

162

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

In 1909, Meyer was one of America's most consistent, most radical objectivists.
Under the influence of Max Planck (1858-1947), who had assumed the Chair in
Theoretical Physics at Berlin in 1889 and who served on Meyer's dissertation
committee, Meyer drew a sharp distinction between the internal and the external
points of view. While the internal, psychological point of view may yield direct,
personal knowledge of psychological states, these states are accessible to others only
through external manifestations in action. From the external, physiological point of
view, a satisfactory understanding of behavior can be obtained in terms of neural
processes without postulating the intervention of any particular mental force (Planck,
1950, pp. 59-75).
This objectivism and commitment to seeking the fundamental explanation of
human behavior in properties of the nervous system served as cornerstones of Meyer's
psychology. In 1909, when Weiss stumbled upon Meyer and into psychology, Meyer
was incorporating these ideas into the manuscript for an introductory textbook, The
Fundamental Laws of Human Behavior, which was to appear in 1911. In its conception,
The Fundamental Laws is a remarkable book (Wozniak, 1993). Appearing two years
before John Broadus Watson (1878-1958) issued his famous "behaviorist manifesto,"
(Watson, 1913) it has been called the first "completely behavioristic explanation of
human action" (Pillsbury, 1929, p. 290) and to some extent it was.
Meyer rejects the explanatory use of mental states except as shorthand for the
operation of complex nervous processes, emphasizes the importance of behavior,
and limits the scientific value of introspection solely to "the fact that it aids us in 7 | A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

discovering the laws of nervous function" (Meyer, 1911, p. 239). With such views
Meyer's objectivism was both more and less extreme than the behaviorism that
Watson was to make famous. On the one hand, unlike Watson, Meyer was an
uncompromising neurophysiological reductionist. For Meyer, the explanation of
behavior depends directly on what goes on in the organism - on nervous processes
that link stimuli to behaviors and that correlate with mental states. His "behaviorism,"
therefore, was not that of the Watsonian prediction/control, stimulus/response,
empty organism variety that was eventually carried to its logical extreme by B. F.
Skinner (1904-1990) (Skinner, 1938).
On the other hand, despite his explanatory objectivism, Meyer retained the
descriptive use of mental terms, at least if they could be given an objective denotation.
One of the best statements of Meyer's position in this regard appeared in an attack
on William McDougall's (1871-1938) Body and Mind: A History and a Defense of Animism

163

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(McDougall, 1911). Criticizing McDougall for reintroducing consciousness as an


unknown in the equation relating stimulation to behavior, Meyer (1912) argued that:

We need to establish definite relations between our subjective and our


objective terms, so that, instead of mixing them up, we can translate the one
into the other. Then only will it be possible to utilize the advances made at
the present time (...) for the advancement of an objective science of human
behavior. We must try to establish definite nervous correlates for all the specific
mental states and mental functions which are used in and seemingly can
not be spared from our descriptions of human life in the mental and social
sciences, (p. 371)

Psychology, in other words, retains a descriptive use of mental terms, despite its
need to find objective explanation in the nervous system, because psychology deals
with human life - human life as it is described in the mental and the social sciences.
Here, in embryo, is another critical component of Meyer's overall view, one that would
be worked out in greater detail between 1911 and 1921, when he published another
introductory text, Psychology of the Other-One (Meyer, 1921). This component involves
Meyer's strong belief that psychology deals with behavioral phenomena in both their
physiological and their social significance. As Meyer (1921) himself put it:
7 | A. P.WEISS (1879-1931): ATHEO RETIC AL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

We psychologists must often hear the (unjustified) reproach that our


psychology is nothing but physiology or neurology (...). But we psychologists
have no difficulty in distinguishing our interests from those of other biological
departments. We study the organism as an organism, it is true, but only in so far
as its functions have distinctly social significance, (p. 405)4

Of all such functions, the one with greatest"social significance" is that by which one
organism signals to another. In human beings, this generally takes the form of speech.
As a young man, Meyer had read and been influenced by Lazarus Geiger's (1829-
1870) Der Ursprung der Sprache. Following Geiger, Meyer had developed the view
that all thinking (including abstraction and generalization) involved "innere Sprache

4 Esper (1968) suggests that the "social significance" criterion may have been worked out, at least in part,
in the running scientific correspondence between Meyer and Weiss.

164

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

['internal speech'] (...) that speaking had its origin in the necessity for human beings
to cooperate in muscular activity (...) [and that] since all skeletal muscular activity is
governed neurologically (...), all thinking is governed neurologically by mediation
of speech" (Esper, 1968, p. 344). At the same time, however, speech and thinking
clearly also have social significance. Abstractions and generalizations formed in inner
speech by one individual can be communicated in oral or written speech to others.
In this way, the behavior of one individual can be influenced by the "thoughtfulness"
of another.
These are powerful ideas and each was taken to heart by the young A. P. Weiss.
Indeed, Weiss's A Theoretical Basis of Human Behavior, published in 1925, and by far
the most iconoclastic text in the literature of early behaviorism (the works of Meyer
excepted), can easily be read as an extension of Meyer's views. This is not, of course,
to belittle the importance of Weiss's contribution. In Weiss, ideas barely sketched
out by Meyer (e.g., continuity between psychology and the other natural sciences,
the relation between the physiological basis and social significance of behavior, the
need to provide objective denotations for subjective terms, and the social import of
language as a mechanism of both thought and reciprocal stimulation) receive careful,
systematic attention.

A Theoretical Basis of Human Behavior


A Theoretical Basis of Human Behavior is divided into three large sections prefaced
by an introduction. In the introduction, Weiss defines behaviorism and indicates j A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

the overall problematic in terms reminiscent of Meyer. "Behaviorism at present," he


suggests, "is merely a convenient term which more or less definitely separates those
psychologists who believe that the so-called mental states cannot be classified as
physical states, from those psychologists who believe that they can" (1925, p. 5). "If
awareness, mind, will, desire, are not to be regarded as a form of energy which in
some way exerts a selective action upon the situation with which I am confronted and
upon my responses to them, what is the behavioristic eguivalent of the conditions
for which these terms stand?" (p. 7). Behaviorism in the Meyer/Weiss mode, in other
words, recognizes the existence of conditions for which mental terms are employed
but strives to represent these conditions in terms of their objective equivalents.
The introduction is followed by six chapters (slightly more than one-third
of the book) elaborating the fundamental principles and postulates underlying the
Meyer/Weiss vision. The first two chapters are devoted to establishing physicalism
7

165
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

- the basis for continuity between psychology and the physical sciences - and the
essence of this foundational view is nicely summarized by Esper (1968):

From electrons and protons organized into atoms to cells organized into men to
men organized, ultimately, into a league of nations, the universe is to be viewed
as a continuously evolving series of more and more complex and complete
integrations (...) the phenomena studied by psychology are complications of
those studied by physics, chemistry, and biology; the principle of determinism
applies in psychology as in the other natural sciences; the phenomena studied
by psychology depend upon the properties of the human nervous system in its
interactions with the environment; the principle of evolutionary development
applies not only to biological phylogenesis but to the history of individuals and
of social institutions; the data of psychological research are responses to sense-
organ stimulation, or to the aftereffects of such stimulation - responses which
are observable, recordable, and - ideally - quantifiable, (pp. 175-176)

The following four chapters are then concerned with characterizing psychology's
specific place among the natural and social sciences, a characterization that Weiss
grounds in a novel distinction between the biophysical and the biosocial. Weiss writes:
7 | A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

Behavioristic psychology occupies an intermediate position [between the


physical and social sciences], on the one hand investigating the effect of
physical conditions on sensori-motor functions, and on the other, the effects
of sensori-motor function on social organization (...) Thus there arise two
criteria with respect to which human movements may be classified: (a) as
neuromuscular effects of preceding movements, (b) as neuromuscular causes
of subsequent movements. I have differentiated these two classes by the terms
biophysical and biosocial. (Weiss, 1925, pp. 55-56)

Biophysically, responses are equivalent when, "as neuromuscular effects (...)


the physiological conditions of sensitivity, conductivity, and contractility (...) in
corresponding receptors, neurons, and effectors" (Weiss, 1925, p. 79) are equivalent.
Biosocially, responses are equivalent when they serve in similar ways as stimuli
for other individuals or for the self. On this analysis, it should be evident that two
biophysically equivalent responses (e.g., identical movements of the facial muscles;

166

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

may differ biosocially and that one and the same biosocial effect can be produced by
responses differing biophysically (e.g., writing and speaking the same message). "If
the study of human behavior is to achieve a scientific status,"Weiss (1925) argues,"(...)
both the biophysical and biosocial properties must be studied" (p. 80).
This is a very significant analysis. In suggesting that movement enters into two
different sets of constitutive relationships - as neuromuscular effect and as social
stimulus - Weiss is, in effect, distinguishing levels of theoretical discourse. Although
every biosocially relevant response (i.e., response serving as a stimulus for others) is
also a neuromuscular effect (i.e., can and must also be viewed biophysically), biosocial
analysis cannot be reduced to the biophysical. Suppose, Weiss (1925) asks,

(...) that instead of the recent discovery of the undisturbed tomb ofTut-Ankh-
amen and its contents, we had found a complete set of neuro-myograms
of representative Egyptians of this period (...). Would this type of record be
regarded (...) as an adequate substitute for the contents of the tomb as a means
for revealing the behavior or cultural history of this period? (...) I do not believe
that any neurological insight alone will enable us to determine what the
stimulating effects of a given neuro-muscular configuration will be upon other
individuals, (pp. 81-82)

7 I A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR


Here, in short, we have psychology clearly and systematically distinguished from
physiology in terms of variation in level of discourse introduced by psychology's need
to focus on movements both as neuromuscular effect and as social stimulus. Indeed,
for Weiss (1925), when behavior is viewed from the biosocial perspective,

(...) the neuro-muscular character of a response is relatively unimportant as


compared with its effect as a stimulus for other individuals (...) [and] physical
units of measurements... are relatively inadequate to measure this stimulating
effect (...) the individual is [therefore] classified not on the basis of physical or
physiological properties but on the basis of his co-operative status in the social
organization of which he is a unit. (p. 142)

This is a theoretically sophisticated view. The second large section of Weiss's text
also consists of six chapters and takes up about one third of the book. The first four
chapters reintroduce and reemphasize the possibility of analyzing human response

167
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

either into its anatomico-physiological elements (Weiss devotes a chapter to a


fairly standard, peripheralist account of receptor, effector, and central conducting
mechanisms) or its stimulating effect on others (classified as "educational, vocational,
administrative, recreational, and personal (...) in accordance with their resemblances
for producing similar behavior in others" [Weiss, 1925, pp. 191-192]). The final two
chapters, one on"consciousness,"the other on "mind," are designed to set the stage for
analyses of specific response categories that constitute the final section of the book.
In discussing consciousness, Weiss follows Watson in asserting that psychology
defined as a science of consciousness is in trouble. "In natural science," he points
out, "controversy tends to establish agreement" (1925, p. 228). In psychology it has
led to ever greater disagreement over the nature and status of consciousness and
even the validity of its introspective technique. As Weiss (1925) puts it, "Such terms as
consciousness, mind, mentality, etc., are used with great liberality by everyone except
those who have tried to understand what they mean"(p. 248). Certainly, if psychology
wishes to be a science, it must eschew any conception of consciousness as "some
kind of non-material force or entity, which has no physical properties but which
nevertheless acts on the nervous system of man in some unknown way, so as to
control his behavior in conformity with some teleological plan" (Weiss, 1925, p. 230).
Unlike Watson, however, Weiss does not entirely reject either the term or the fact
of "consciousness" itself. Rather, he retains that which is of value in "consciousness" by
| A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

redefining it."The behaviorist,"he (1925) writes,"concludes, that if mental or conscious


processes are regarded as particular types of chemical or physical processes of as
yet unknown composition then only one entity or one system of events need be
assumed" (1925, p. 234). Consciousness is simply "a series of speech habits that one
learns in a psychological laboratory" (p. 240). When taken in this limited sense, as
"an indirect function of the unrealizable stimulation of obscure receptors [implicit
reactions] and not [as] a description of a psychical process" (p. 241), introspective
consciousness has a role to play in scientific research: "At the present time the type of
terminology and the technique of the introspective method may help to localize and
describe obscure stimuli and sensori-motor conditions more effectively than through
the use of the precision instruments of the physicists" (p. 245).
Indeed, for Weiss, it is just these "obscure stimuli and sensorimotor conditions"
for which one might also employ the term "mind.""Stimuli acting on sense organs",
he notes,
7

168

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(...) initiate sensori-motor processes which not only terminate in the effectors
of observable biophysical or biosocial responses but also in many other internal
effector systems which are obscure in the sense that they cannot be localized
by the self-observer nor recorded by an observer (...). The implicit response is
primarily a residual effect of sensori-motor variations that have occurred at
some earlier time as biosocial responses. (Weiss, 1925, pp. 260-261)

"No matter how complex and involved human achievements may become," in
other words, for Weiss (1925),"they are in the last analysis the functioning of contractile
elements in the individual's body"(p. 282).
Weiss's Theoretical Basis concludes with a final section (five chapters) analyzing
specific response categories and summarizing his behaviorist postulates. Accepting
the challenge implicit in Meyer's doctrine of the translatability of subjective into
objective terms and ever mindful of the need to operate at both the biophysical and
biosocial levels of analysis, Weiss first provides a behavioristic analysis of the explicit
and implicit language response in their biosocial import. He then attempts to redefine
traditional categories of mental analysis (e.g., thinking, purpose, motive) in terms of
the biosocial outcomes of implicit response and subvocal speech. So consistent is
his application of this approach that, as he tells us, "implicit reactions and subvocal
speech seem to explain everything" (Weiss, 1925, p. 253).
The language reaction, for Weiss, involves the production of particular sounds or
written characters that: a) are both a response to a stimulus (frequently implicit) and 7 | A. P. WEISS (1879-1931): ATHEO RETIC AL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

a stimulus to a response (for others and for the self); and b) provide the mechanism
underlying abstraction and generalization. "The actual muscles that produce the
sounds, characters, or symbols", in other words, "are relatively unimportant" (Weiss,
1925, p. 288). "Because the word response is independent of the sensory nature of the
stimulus," in his view,

(...) many different stimuli may release the same word reaction. This form of
behavior is known as generalization, and the process may be described as the
generalizing function of language. As a behavior category generalization is a
type of sensori-motor mechanism in which many different receptor patterns
representative of many different sensory situations and relations, are connected
to the same language response and through this common path the individual
may react in a specific manner to all the objects, situations, and relations thus

169
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

connected, even though there is very little sensory similarity between them.
(Weiss, 1925, p. 297)

Thinking makes use of such generalizations. Indeed, much of what takes place
in thinking involves subvocal, language reactions. This is not, however, what defines
"thinking" for Weiss. Thinking, from his perspective, is a relatively standardized
response, or more properly series of responses, to a problem situation yielding a
relatively conventionalized outcome. Thinking, in other words, is defined in terms
of the biosocial nature of the problem solution. As he puts it, "The individual
stimulus-response series is constantly being standardized by the teacher, parents,
colleagues. As a result, the biosocial stimulating conditions under which we live
establish conventionalized and standardized responses (...) which are more or
less common to many members of the community" (Weiss, 1925, pp. 324-325).
Fundamentally, therefore, thinking is a biosocial process yielding a biosocial
product with a biosocial meaning.
Purpose is similarly defined by Weiss in terms of both implicit response and
biosocial outcome: "Purpose or purposive behavior refers to the fact that (...) there
is (...) an organization between the various response series belonging to a given
individual, which conforms to a traditional or conventional sequence" (Weiss, 1925,
p. 346). Thus, for example, doctors or lawyers act in a purposeful fashion when they
act in accordance with the routines that are appropriate to doctors or lawyers. Such
7 | A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

"sequences form parts of longer behavior life history series. The terminal responses of
the sequences (...) are designated as the purpose or aim of the antecedent activities"
(Weiss, 1925, p. 352).
Finally, motives are also biosocially defined:

The behavioristic conception of motivated behavior reduces itself to the


following biophysical and biosocial conditions: (a) a complex stimulating
condition, which (b) releases alternative implicit behavior series, (c) the
intensification of one specific series which is an essential antecedent of (d) the
biosocial category that has been intensified (...). The so-called motive is the
behavior which is arbitrarily designated as the end result.
(Weiss, 1925, pp. 365-367)

170

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

It is interesting to note that on this account it is almost impossible to distinguish


among thinking reactions, purposive behaviors, and motivated responses. Human
action, for Weiss, is a complex biosocial stimulus for others precisely because it is
purposive, motivated, and thoughtful. Truly, as he indicates, "implicit reactions and
subvocal speech seem to explain everything"(Weiss, 1925, p. 253).
In 1929, Weiss reissued A Theoretical Basis in a second, revised edition. Treatment
of the relationship between behaviorism and metaphysics, the distinction between
the biophysical and biosocial, the nature of the human response and of language
reactions were all expanded in response to "the many criticisms directed against
the 1925 edition" (Weiss, 1929, p. ix). Despite revision, however, the fundamental
problematic remains the same. Criticizing those who attempt to give both a
mentalistic and a behaviorist account, Weiss once again asks whether"the concept of
mind or consciousness is a necessary concept in the scientific investigation of human
behavior and human achievement?" (Weiss, 1929, p. ix). And once again, his answer
is the same:

If an attempt were made to define the term mental as carefully as the term
behavior is defined, there would be no objection. But this is not done. Such
terms as mind, mental process, consciousness, image, etc. suddenly appear
in the context of psychological writing without any attempt at definition. It

| A. P. WEISS (1879-1931): ATHEO RETIC AL BASIS OF HU M AN BEHAVIOR


is assumed that the reader knows exactly what the writer means by these
terms. Is this a safe and scientific assumption to make? I do not think we can
evade this question by referring it to philosophy or metaphysics. It is a purely
psychological problem and requires that we formulate the fundamental
postulates upon which our science rests. As long as we do not undertake the
task, psychology will be designated a pseudoscience. (Weiss, 1929, pp. ix-x)

Two years later, Albert Paul Weiss was dead at the age of 51. During the final years
of his life, he had been bedridden with a degenerative heart ailment (Bloomfield,
1931, p. 221). His premature death deprived the Meyer/Weiss perspective of its most
articulate spokesman; it deprived behaviorism of one of its most systematic, most
philosophically sophisticated adherents; and it deprived psychology of a leading
proponent of the objective, biosocial definition (rather than abandonment) of mental
7

171

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

terms. One wonders what the future of behaviorism might have been like had Weiss
lived to continue this work5.

References
Bloomfield, L. (1931). Albert Paul Weiss. Language, 7, 219-221.
Elliott, R. M. (1931). Albert Paul Weiss: 1879-1931. American Journal of Psychology, 43,
707-709.
Esper, E. A. (1967). Max Meyer in America. Journal of the History of the Behavioral
Sciences, 3(2), 107-131.
Esper, E. A. (1968). Mentalism and objectivism in linguistics: The sources of Leonard
Bloomfield's psychology of language. New York: American Elsevier.
McDougall, W. (1911). Body and mind: A history and a defense of animism.
London: Methuen.
Meyer, M. (1899). ZurTheorie des Horens. Pflugers Archiv fur die gesamte Physiologie,
78, 346-362.
Meyer, M. (1900a). E. ter Kuile's Theorie des Horens. Pflugers Archiv fur die gesamte
Physiologie, 87,61-75.
Meyer, M. (1900b). Elements of psychological theory of melody. Psychological Review,
7 ,241-273.
Meyer, M. (1900c). Karl L. Schafer's"Neue Erklarung der subjectiven Combinationstone".
Pfluger's Archiv fur die gesamte Physiologie, 81,49-60.
7 | A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF H U M A N BEHAVIOR

Meyer, M. (1903). Experimental studies in the psychology of music. American Journal


of Psychology, 14,192-214.
Meyer, M. (1911). The fundamental laws of human behavior. Boston: R.G. Badger.
Meyer, M. (1912). The present status of the problem of the relation between mind and
body. Journal of Philosophy, Psychology and Scientific Methods, 9, 365-371.
Meyer, M. (1921). Psychology of the other-One: An introductory text-Book of psychology.
Columbia, MO: The Missouri Book Company.
Pillsbury, W. B. (1929). The History of Psychology. New York: W. W. Norton.
Planck, M. (1950). Scientific autobiography and other papers. London: Williams &
Norgate.

5 It is, of course, important to note in this regard that the objective definition of mental terms (albeit
via operations of measurement rather than specification of the nature of implicit response) remained
a central feature of behaviorism - see, for example, the purposive, neobehaviorist analyses of Tolman
(1932).

172

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Renshaw, S. (1932). A. P. Weiss (1879-1931). Journal of General Psychology, 6, 3-7.


Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Tolman, E. C. (1932) Purposive behavior in animals and men. New York: Appleton-
Century-Crofts.
Weiss, A. P. (1916). Apparatus and experiments on sound intensity. Princeton and
Lancaster: Psychological Review Company. [PsychologicalMonographs, No. 95],
Weiss, A. P. (1925). A Theoretical Basis of Human Behavior. Columbus, OH: R. G.
Adams & Co.
Weiss, A. P. (1929). A Theoretical Basis of Human Behavior (2nd ed., rev.). Columbus, OH:
R.G. Adams and Company.
Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20(2),
158-177.
Wozniak, R. H. (1993). Max Meyer and The Fundamental Laws of Human Behavior: An
Introduction. In M. Meyer. The fundamental laws of human behavior: lectures on the
foundations of any mental or social science. London: Routledge/Thoemmes Press.

I A. P. WEISS (1879-1931): ATHEO RETICAL BASIS OF H U M AN BEHAVIOR


7

173
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

G. H. M EAD (1 863 -19 31): U M AUTOR,


DIVERSAS POSSIBILIDADES

Renoto Ferreiro de Souzo


Maria do Carmo Guedes

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Sempre que se menciona George Herbert Mead, algumas dúvidas costumam


povoar a reflexão dos interlocutores que versam sobre o autor. Está-se a falar de um
filósofo, sociólogo ou psicólogo? Mead foi um psicólogo social ou um behaviorista?
O que se entende ao considera-lo representante do pragmatismo filosófico norte-
americano? É um precursor do Interacionismo Simbólico? E mais, em quais áreas
das ciências sociais e humanas seus conhecimentos e reflexões tornaram-se
fundamentações teóricas que contribuíram para a sistematização e corroboração
epistemológica das mesmas?
Em todo caso, para quem tem esse tipo de dúvidas, supõe-se um prévio
conhecimento sobre o autor e sua proficuidade teórica. No entanto, o quadro agrava-
se quando se percebe que, por vezes, a própria história da psicologia negligencia a
vida, a obra e o trabalho do autor, perpetuando assim essa confusão.
O presente capítulo, portanto, intenta debruçar-se sobre a biografia e os principais
pontos da teoria meadiana, além de apontar as inserções profissionais que fizeram de
George Herbert Mead um autor, de certa forma, incógnito na história da Psicologia.
Cabe ressaltar, como em todo trabalho que se pretende histórico, que as 8 I G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

informações aqui descritas não objetivam abarcar todas as nuances e detalhes


da vida e obra do autor. O recorte aqui produzido é intencional e conta com
um viés ideológico e científico condizente com as pressuposições teóricas e
analíticas dos seus autores. Com isso, alerta-se que a história sempre deverá
ser (re)contada e (re)construída na tessitura de distintas narrativas; pois é aqui
compreendida enquanto produção humana coletiva que se processa objetiva e
dinamicamente no fluxo do tempo.
Para Antunes (1998), esse modo abrangente e cauteloso de compreender a
pesquisa histórica é útil, pois explicita as bases metodológicas que permitem uma
maneira de se fazer a análise histórica considerando as múltiplas determinações que
o movimento da sociedade, em suas épocas, traz à psicologia. Não se encontram as
psicologias, seus produtores e reprodutores isolados no tempo e no espaço, nem
estão acima das ideias e práticas que permeiam a sociedade da qual fazem parte, e

177
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

longe estão da outrora propagada neutralidade. Compreender essas relações é tarefa


que se impõe à história da psicologia (Massimi & Guedes, 1998).
Por isso, o referencial metodológico escolhido para a construção do capítulo foi o
da abordagem social em história da psicologia, que leva em conta a vida e biografia do
autor entrelaçadas aos acontecimentos políticos, históricos, econômicos, científicos
e culturais de sua época. Concorda-se com Antunes (1998) que a compreensão
histórica da psicologia implica captá-la no bojo das relações que estabelece com o
todo do qual faz parte na dinâmica do tempo.
Essa perspectiva é especialmente interessante por permitir a combinação das
abordagens internalista e externalista: ao descrever a evolução do pensamento do
autor, a ênfase recai sobre o ponto de vista internalista; ao abordar as relações entre o
autor e a comunidade ou a época, é possível observar a interação entre sua atividade
científica e seu contexto social e cultural.
Soma-se à abordagem social em história da psicologia o modo descritivo e
analítico, segundo o qual determinada teoria, proposta por seus indicadores, é
analisada, se possível, em comparação com abordagens alternativas. Esse modelo
parece propício ao entendimento do autor em questão, pois, como vimos, George
Mead é um personagem multifacetado por pensamentos e reinvindicações distintas.
Nota-se que o estudo das controvérsias é particularmente importante na descrição
do desenvolvimento de uma ciência. Aproxima-se, assim, da proposição de Lakatos
(1989) acerca dos programas de investigação rivais: a controvérsia é justamente o
momento em que são reveladas as explicações alternativas e as teorias em conflito,
8 | G .H . M EAD (1863-1931): U M AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

e nelas é possível avaliar em profundidade o argumento e a lógica de cada modelo.


Daí a exigência de integração de três diferentes, mas não exclusivos, níveis de
análise: (1) interno; (2) de fundamentação filosófica; e (3) de contexto.

O nível internodeanáliserefere-seaoestudoda psicologia,ou mais propriamente


de suas múltiplas manifestações particulares (em função de sua vasta e
complexa constituição), abrangendo suas definições, conceitos, pressupostos,
estrutura, métodos, coerência interna etc. Esses elementos, porém, não são
isolados ou autônomos, mas fundamentados em bases epistemológicas que
lhes dão sustentação e são definidoras de sua conformação específica. Assim,
o primeiro nível de análise não se esgota em si mesmo, mas se complementa
e se radica nesse segundo plano analítico. A síntese, porém, só é possível após
a integração com esse terceiro nível de análise, quando os elementos acima

178

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

materializam-se no tempo e no espaço, no seio das relações engendradas na


dinâmica social. (Antunes, 1998, p. 372)

Dessa forma, na combinação proposta através das três fases descritas, tem-se que
a compreensão histórica da psicologia implica, portanto, a compreensão da trama
de relações na qual ela se insere e se desenvolve. Assim, faz-se necessário buscar o
entendimento de suas múltiplas manifestações, abarcando as multideterminações
das quais ela é produto e também produtora.

Biografia
George Herbert Mead nasceu no dia 27 de fevereiro de 1863, em New England,
Massachusetts, Estados Unidos da América. Era o segundo filho do clérigo protestante
Hiram Mead com a professora Elizabeth Storrs Billings.
Seu pai, pastor e professor de homilética, fora designado para trabalhar em New
Hampshire, mudando-se com a família em 1867. Dois anos depois, ingressou na
Faculdade de Oberlin onde permaneceu lecionando até sua morte, em 1881.
Mead estudou na mesma faculdade onde seu pai trabalhava. Já no início da
juventude, apareceram os primeiros conflitos com as reivindicações religiosas em
prover uma explicação dogmática do mundo. De acordo com Joas (1997), à época,
o modelo confessional dominava as universidades norte-americanas ideológica e
administrativamente. Consequência desse conflito foi a aproximação de Mead com a
Teoria da Evolução de Charles Darwin. Esse fato foi crucial para Mead se aproximar de 8 I G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

uma visão científica, mas sempre com intento de aplica-la à Sociedade.

Esse período da vida de Mead é caracterizado por um interesse em encontrar


a sua própria identidade desenfreada através de preceitos morais, um interesse
que o conduziu à literatura e à psicologia, por uma compreensão semelhante
à dos filósofos esclarecidos, e pela fé nos efeitos libertadores dos métodos
científicos. (Joas, 1997, pp. 15-16)

Após a morte do pai, Mead pagava com seu trabalho os estudos em Oberlin.
Trabalhou como professor de escola secundária, mas logo foi dispensado por
problemas disciplinares, terminando seu vínculo trabalhista e seu primeiro ciclo
universitário na instituição em 1883, aos 20 anos. "Sobre sua formação intelectual,

179
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Mead disse certa feita que levou vinte anos para desaprender o que lhe haviam
ensinado em seus primeiros vinte anos" (Sass, 2004, p. 18).
Nos anos seguintes, passou a trabalhar como agrimensor em construção de
ferrovias para diferentes companhias ferroviárias. Essa experiência técnica solidificou
seu interesse pelas ciências naturais, apesar de não lhe agradar. "Ele lamentou sua
inabilidade para embarcar em uma carreira burguesa e se tornar um animal de fazer
dinheiro" (Joas, 1997, p. 16).
A perda da fé cristã convergia com a perda de toda certeza de um significado
metafísico que explicasse a existência do mundo e do homem. O sentimento de
que a vida é ilógica provocou uma crise existencial longa e duradoura em Mead,
deixando-o sem orientação tanto para a escolha de uma nova profissão como de
possíveis planejamentos futuros para sua vida. Quando pensava em exercer o ensino
da filosofia nas escolas, esbarrava no problema do controle clerical dentro das
melhores instituições de ensino e pesquisa do país.
Seguindo o conselho de seu amigo mais íntimo, Henry Castle, contemporâneo na
Faculdade de Oberlin, e guiado tanto pelo desejo de achar significância e um sentido
ativo e socialmente útil, Mead decidiu entrar na Universidade de Harvard em 1887,
apesar de todos os riscos financeiros concernentes a essa empreitada (Joas, 1997).
Em Harvard, Mead se tornou aluno destacado de Josiah Royce, filósofo americano
que desempenhou importante papel na divulgação de Hegel na América, em fins
do século XIX, e na elaboração da vertente norte-americana do neohegelianismo.
Essas bases filosóficas apresentadas por Royce despertaram em Mead um claro
8 I G. H. M E A D (1863-1931): U M AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

descontentamento com o tratamento meramente especulativo e o distanciamento


que a filosofia e a ciência mantinham dos problemas sociais, que não lhe possibilitavam
uma melhor compreensão e interpretação da vida e cultura americanas.
Hegel, com sua filosofia dialética, exerceu notável influência com a proposta de
não dirigir suas preocupações a aspectos específicos da vida humana, suas origens
ou inserção no mundo. "Seu sistema revela preocupação mais ampla, voltada ao
direito, à história, à política, enquanto âmbitos diversos da realização do homem em
seu mundo, esta sim o foco primordial" (Andery, Micheletto & Sério, 2004, p. 363). Nas
palavras de Joas (1997):

Em 1888, Mead tomou a decisão de se especializar em psicologia fisiológica e


não mais em filosofia. A decisão estava por um lado incentivada pela ideia de
que só a pesquisa empírica poderia conduzi-lo para além da"mera"elucidação

180

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

de conceitos e reflexões teóricas. Havia, porém, um segundo motivo: Mead


pensou que no campo da psicologia fisiológica seria possível procurar suas
ideias e interesses sem entrar continuamente em conflito com as igrejas Cristãs
que ainda quase totalmente controlavam as universidades, financeiramente
e também ideologicamente, que poderiam impedir sua pesquisa científica.
Assim, a psicologia fisiológica era, para ele, um meio conscientemente
escolhido para disfarçar suas ideias filosoficamente rebeldes, além de oferecer
a vantagem de poder colocá-las à prova. (p. 17)

A Alemanha era o centro da pesquisa fisiológica e do desenvolvimento da


psicologia experimental, principalmente em Leipzig, onde um primeiro laboratório
de psicologia havia sido criado por Wilhelm Maximilian Wundt, em 1879. Mead
estudou na Universidade de Leipzig em 1888/89, mas tinha dificuldades em relação
à língua alemã. Por isso, segundo Joas (1997), seus planos de estudo mudaram e,
mais uma vez, voltou-se para os estudos filosóficos, matriculando-se no cursos
de Wundt, "Fundamentos de metafísica", de Hanns Heinz Ewers, "A História mais
recente da filosofia moderna", e de Rudolf Seydel,"A Relação da Filosofia alemã até o
Cristianismo desde Kant".
Robert Farr (1996) considera que Mead foi fortemente influenciado pela
Völkerpsychologie de Wundt, mais do que por sua famosa psicologia fisiológica, com
base em uma análise dos quatro primeiros volumes (1904-1906) da Psychological
Review, revista cientifica dirigida por Wundt. Esse contato de Mead com a psicologia 8 | G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

social ou "dos povos", como propunha o próprio Wundt, seria crucial para suas
circunspecções futuras sobre o se/f construído socialmente.
Depois de um semestre em Leipzig, Mead se transferiu para Berlim, centro com
maiores possibilidades para o estudo filosófico. Novamente com Joas (1997):

Como mostram os registros de inscrições nos arquivos da Universidade de


Berlim, Mead se tornou um estudante de Dilthey, Ebbinghaus, Paulsen e
Schmollen Esse fato é de crucial importância para compreendermos as raízes
da intelectualidade de Mead, pois por meio desses professores, ele foi alertado
para um conflito que logo emergiria gerando uma famosa controvérsia na
fundamentação da psicologia enquanto ciência: era o embate entre uma
"psicologia explicatória", orientada para as ciências naturais, empregando
procedimentos reducionistas com o intuito da precisão positivista, e tendo

181

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Ebbinghaus como representante, e a "psicologia descritiva", que propunha


trabalhar com métodos interpretativos das ciências humanas, representada
por Dilthey. As preocupações de Mead não o colocaram em acordo pleno com
nenhum dos lados. Esse debate resultaria, posteriormente, na separação entre
o fenomenológico e a psicologia experimental, (pp. 18-19)

Nessa fase de sua vida, Mead começou a problematizar de forma consistente suas
inquietações acerca da relação entre homem e natureza e o consequente processo
constitutivo do self. Inferiu, por exemplo, a partir desse ponto de vista processual e
científico, que a universalidade cognitiva não seria garantida pelo "dom orgânico"
comum a todos e a todas; seria mais uma tarefa que deveria ser levada a cabo de
uma maneira ativa e construída socialmente. Isso pode explicar, de certa forma, sua
aproximação profissional com os assuntos, debates, escritos e trabalhos práticos na
área de Educação (Souza, 2006).
Além dessas influências mencionadas, havia outra experiência que o marcaria
em seus tempos de Berlim: sua impressão positiva do movimento alemão social-
democrático trabalhista. Para Joas (1997), seu socialismo chegava a ser influenciado
pelos ideais do "Cristianismo Royciano", e pela esperança de que pudesse alcançar
a realização prática desses ideais na vida cotidiana por meio da sua atividade como
intelectual "reformista".
Em 1891, Mead recebeu uma oferta de trabalho da Universidade de Michigan para
o cargo de professor do Departamento de Filosofia, convite efetivado pelo famoso
8 | G. H. M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

filósofo e pedagogo, John Dewey, um dos expoentes máximos do pragmatismo


filosófico. Assim, Mead deixou Berlim precipitadamente, mas não antes de se casar
com Henle Castle, irmã do amigo Henry, que havia falecido em um acidente de
carruagem no começo daquele ano (Joas, 1997).
Após o regresso da Europa, sua nova posição como professor de psicologia o fez
dar cursos em psicologia fisiológica, história da filosofia, sobre Kant e sobre a teoria
da evolução. É nessa época que, pela primeira vez, Mead tenta tirar da teoria da
evolução suas implicações para a psicologia e fazer da relação entre um organismo
e seu ambiente o modelo básico para a pesquisa psicológica. Fato crucial para sua
denominação futura enquanto autor behaviorista social. "Era adepto da Teoria da
Evolução proposta por Darwin; em função de seu vasto conhecimento acerca do
evolucionismo, compreendia de forma profunda e detalhada a Psicologia Comparativa
que sofreu fortes influências de Darwin e Wundt"(Farr, 1996, p. 80).

182

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Em solo americano, Mead se interessou pela pesquisa experimental, por


problemas de atenção, cognição e educação; porém não queria fazer uma pesquisa
fortuita e expressou por várias vezes sua preocupação e necessidade de buscar uma
clarificação teórica fundamental para seu ponto de vista sobre questões sociais (Joas,
1997). Procurou alcançar esse intento por meio do estudo completo do pensamento
de Hegel, tendo para essa empreitada o auxílio de dois colegas hegelianos eminentes
em Michigan: John Dewey e Alfred Lloyd, de quem se tornara amigo.
Para Sass (2004), o contato de Mead com as ideais hegelianas é fundamental para
suas futuras concepções em psicologia social; é desse contato direto com a obra
hegeliana que Mead retira seu substrato para pensar o sujeito psicológico como
inapelavelmente social.
Segundo Joas (1997), no mesmo ano da chegada de Mead à Michigan, Dewey o
apresentou a Charles Cooley, PhD em economia que, por sua vez, o apresentou às
ideias de Adam Smith, por meio das quais Mead obteve inspiração para produzir a
teoria que trata da questão do indivíduo "assumir o papel do outro" em seu processo
constitutivo; suas ideais básicas começaram a ganhar corpo e consistência teórica
nesse período.
Em 1894, o respeitado professor John Dewey é convidado a chefiar o Departamento
de Filosofia e Psicologia da recém-fundada Universidade de Chicago. Uma de suas
condições de aceite seria a contratação de Mead como professor assistente. Como se
percebe hoje, essa mudança traria em curto espaço de tempo um impacto profundo
para a história da psicologia e da sociologia norte-americanas e, consequentemente, 8 | G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

mundiais (Souza, 2011).


Assim começa o trabalho de ambos em uma das mais ambiciosas universidades
da época, inserida numa cidade gigantesca e conturbada. Chicago era uma
das metrópoles de industrialização capitalista; a maioria de sua população era
constituída por imigrantes de primeira geração, trabalhadores inexperientes
ou semiqualificados e seu crescimento era tão rápido que todas as tentativas de
planejamento frustravam-se. "Programadamente, a nova universidade foi orientada
fortemente para tarefas práticas como a análise científica e solução de problemas na
comunidade local" (Joas, 1985, p. 22), e filósofos e psicólogos como Mead e Dewey
firmaram muitos compromissos.
Nesse mesmo período, Mead se comprometeu fortemente na luta pelos direitos
da mulher e para a reforma do código penal juvenil, além de trabalhar diretamente
em assentamentos para desabrigados. Era sócio de vários comitês de arbitragem de

183

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

greve e também atuava em diversas comissões públicas que visavam reformas sociais
(Joas, 1997).
Durante décadas, Mead foi sócio do Clube da Cidade, chegando a presidi-
lo em determinada época. O Clube era uma associação de notáveis intelectuais e
homens de negócios muito influentes na política local, que se preocupavam com
as reformas para a inclusão e participação política dos imigrantes, a democratização
do planejamento urbano e a reforma dos serviços de saúde municipal. À frente do
Clube, Mead se preocupou com problemas educacionais, publicando um relatório
em forma de livro para o treinamento vocacional nos Estados Unidos. Segundo Joas
(1997), seus artigos dessa época apontam para a ideia de um treinamento vocacional
público integrado à educação formal; o intuito era que os trabalhadores tivessem
certa autonomia em suas escolhas futuras.

Ele estava, sem reservas, interessado por todas as perguntas de educação


e políticas educacionais. Durante algum tempo, Mead foi editor do Jornal
do Professor de Escola Primária. Ele ensinou no Laboratório da Escola da
Universidade de Chicago, onde a reforma educacional foi implementada com
ênfase nas atividades da criança e no "grupo de vida informal"com a finalidade
de desenvolver o intelecto dos aprendizes e suas habilidades práticas e sociais.
Também presidiu uma escola experimental para crianças com transtornos
emocionais. (Joas, 1997, p. 23)
8 I G. H. M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

Experiências essas que impactaram decisivamente seus constructos teóricos.

George Herbert Mead e John Broadus Watson: próximos,


mas distantes
Em 1900, atuando há seis anos como professor na Universidade de Chicago, Mead
começou a ministrar seu curso anual de Psicologia Social. "Ele empregou o termo
'psicologia social' muito antes que outros o tivessem feito. Esse era o título de seu
curso em 1900-1901, uns oito anos antes que o termo aparecesse nos títulos de livros
escritos por McDougall (1908) e Ross (1908)" (Farr, 1996, p. 105). Ou seja, apesar de
pouco reconhecido nesse sentido, Mead também foi um precursor da psicologia
social, não só por ser pioneiro em utilizar a denominação, mas principalmente por
produzir de fato o que hoje se considera como tal.

184

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Foi também em 1900 que Watson mudou-se para Chicago a fim de iniciar sua
tese de doutorado, sob a orientação de Dewey; mas, conforme Farr (1996), em
virtude da incompatibilidade propositiva entre ambos, Watson preferiu mudar de
orientador, passando a trabalhar diretamente com o professor funcionalista James
Rowland Angell.
Até então, Mead e todos os outros profissionais mencionados eram do
Departamento de Filosofia da Universidade de Chicago, que incluía os cursos de
Psicologia e Educação. No entanto, quando John Dewey, em 1904, recebeu novo
convite profissional para se transferir para a Universidade de Columbia, os psicólogos
do Departamento de Filosofia se organizaram e, sob a direção de Angell, criaram
um Departamento de Psicologia, separando-o da Faculdade de Filosofia. Esse fato
explicará, em parte, o desconhecimento de George Flerbert Mead na história da
Psicologia (Souza, 2011).
Mead permaneceu com os filósofos, enquanto Watson transferiu-se para o novo
departamento. "Como consequência desse episódio, muitos psicólogos deixaram de
recomendar o curso de psicologia social organizado e ministrado por Mead, o qual
começou a ser frequentado por sociólogos" (Farr, 1996, p. 82).
De acordo com Farr (1996), os sociólogos de Chicago, especialmente desde
a chegada do professor Ellsworth Faris, em 1920, para a coordenação da pós-
graduação, consideravam a série de palestras sobre psicologia social ministrada por
Mead importante e decisiva para o desenvolvimento da sociologia em Chicago.
Albion Small, mais tarde patrono da cadeira de Sociologia em Chicago, foi quem
8 | G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

continuou recomendando o curso de psicologia social de Mead para seus alunos


da pós-graduação. Flerbert Blumer assumiu essa herança após a morte de Mead em
1931 (Martins, 2013).
John Watson, que havia sido aluno de Mead e ganhou espaço e credibilidade
no meio acadêmico com suas premissas comportamentais, deixou Chicago e logo
em seguida foi nomeado presidente da American Psychological Association (APA). No
mesmo período em que esteve na presidência da instituição (1912-1915), lançou seu
manifesto behaviorista, que tinha por objetivo eliminar as noções de consciência,
selfe mente, rejeitando as abstrações e destinando à Psicologia a análise de objetos
observáveis e sujeitos a experimentação. George Mead, contudo, em sua psicologia
social, utilizava e pesquisava exaustivamente esses conceitos, considerados por ele
indispensáveis à compreensão do fenômeno humano (Farr, 1996).

185
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Watson partiu da premissa de que só usaria conceitos que pudessem ser


operacionalizados e objetivamente definidos com a finalidade de prever e controlar o
comportamento. Era o esforço de construção de uma psicologia tão científica como
a física, por exemplo, pois todo mentalismo e subjetivismo estariam fora. Ao contrário
das contribuições de Wundt e Edward Titchener, em que os sujeitos eram observados
e observadores, no Comportamentalismo de Watson eles são somente observados
pelos experimentadores.
Em seu raciocínio, Watson destacava a influência do ambiente sobre o
comportamento dos organismos; com isso, desenvolveu a ideia de Ivan Pavlov do
reflexo condicionado como processo de conexão entre um estímulo e uma resposta
específica de um organismo - excelente método para produzir relações entre as
condições estimuladoras e as atividades dos indivíduos.
As ideias de Watson se propagaram por diversos círculos intelectuais, sendo
adotadas por diferentes teóricos e estudiosos da Psicologia.

Uma das provas do sucesso da cruzada de Watson é que a definição de James


de psicologia como ciência da vida mental rapidamente se tornou obsoleta.
Os psicólogos seguiram Watson, do mesmo modo como os habitantes de
Hamelin seguiram o tocador de flauta. (Farr, 1996, p. 88)

A Psicologia em vigor apropriou-se dos procedimentos metodológicos próprios


do experimentalismo positivista. Por essa razão, Watson defendeu que esse campo
8 | G .H .M E A D (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

do conhecimento, para adquirir o caráter científico, deveria ser um ramo das ciências
naturais que adotasse para a compreensão dos seres humanos métodos objetivos de
pesquisa. Desse modo, ao invés de focar em relatos introspectivos, seria imprescindível
a observação direta de seus comportamentos.
Mead, entretanto, acreditava que a pesquisa deveria centrar-se na linguagem, o
que tornava a psicologia uma ciência social. Além de analisar a linguagem em suas
múltiplas formas de expressão, Mead deteve-se no problema da mente humana.
Watson, por sua vez, interessado na objetividade de todos os fenômenos humanos,
dispensou-a, por considerá-la inalcançável pela observação. Diz ele sobre Mead, em
texto de 1936:

Eu não o compreendia em aula, mas durante anos Mead teve um grande


interesse em minha experimentação animal, e ele e eu passamos muitos

186

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

domingos no laboratório olhando meus ratos e macacos. Nessas exibições


amigáveis e em sua casa eu o entendia. Um homem mais gentil, e de mais fino
trato, eu jamais encontrei. (Watson, 1936, p. 274, citado em Farr, 1996, p. 81)

No fim da década de 1920, Mead, como chefe do Departamento de Filosofia


em Chicago, envolveu-se em brigas políticas com o então reitor da Universidade.
Joas (1997), após ter lido um sumário dos arquivos de Miller (1973) que continha as
explicações dessa ruptura, comenta que "esta disputa veio à tona com a indicação
de um neotomista, Mortimer Adler, para ser professor em Chicago, contra os desejos
expressos do departamento e de seu chefe"(p. 221). O reitor Robert Maynard Hutchins
e o recém-contratado Adler "se tornaram figuras importantes para os emigrantes
conservadores do Terceiro Reich, para quem a Universidade de Chicago se tornou
um lugar de encontro, claramente em contraste com as tradições dessa universidade
durante décadas"(Farr, 1996, p. 90).
Nesse mesmo período, em 1931, John Dewey visita George Mead, que já estava
doente, e o convence a trocar Chicago pela Universidade de Columbia. Contudo
Mead não teve tempo de assumir mais esse posto.
Depois de ensinar durante quase quarenta anos naquela Universidade (Chicago),
Mead morreu no dia 26 de abril de 1931, quase desconhecido, estimado por
alguns colegas e estudantes como um pensador extraordinário e profundamente
amargurado pelas mudanças controversas nas políticas internas da universidade."Tão
grande era a amargura de Mead que, pouco antes de sua morte, ele decidiu deixar a 8 | G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

instituição e a cidade que tinham sido o seu campo de ação"(Joas, 1997, p. 28).
Mead escreveu, no período de 1894 a 1931, mais de sessenta artigos nas
mais diversificadas áreas, da Física à Filosofia. Deixou valiosas contribuições para
a Psicologia e para Sociologia. Já seus livros foram publicados apenas após sua
morte, fruto de anotações de seus ex-alunos, principalmente Charles Morris, que
editou e prefaciou Mind, Selfand Society: From the Stondpoint ofo Social Behaviorist,
considerada sua obra principal.

187
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

A concepção teórica de George Herbert Mead: A construção


psicosocio-comportamenta! do s e lf
George Mead, com o histórico profissional de ter sido aluno e revisor dos primeiros
quatro volumes da Völkerpsychologie de Wilhelm Wundt, elaborou e iniciou seu curso
de Psicologia Social em 1900, na Universidade de Chicago, que perduraria até seu
penúltimo ano de vida em 1930.
Desde então, opunha-se ao reducionismo proposto pelo modelo behaviorista
de Watson, aclamado à época pelos psicologistas e que excluía "mentalismos" e
"subjetivismos" de quaisquer análises, pois eram impossíveis de ser capturados pela
lente positivista da ciência. Mead transitava pela filosofia, sociologia e psicologia,
tentando a todo custo demonstrar ser possível e necessário dirimir as dicotomias
entre indivíduo-sociedade, cultural-biológico, mente-corpo, tão difundidas e basilares
da psicologia naquele momento (Portugal, 2006).
No afã de desenvolver seu postulado de compreensão da gênese da
personalidade humana (Mead, 1934/1972), Mead colocou a referência a uma
segunda pessoa como sendo fundamental para qualquer autorreferência.
Esse seria seu pressuposto inicial para a construção teórica da formação social
do self: a significação. Esta surgiria no momento da reação da segunda pessoa ao
comportamento (gesto) da primeira, sendo que essa reação significaria, ao mesmo
tempo, "adaptação"do segundo organismo ao primeiro; estímulo para a readaptação
desse primeiro organismo à reação do segundo e, também, a resultante do ato
G. H. M EAD (1863-1931 ); UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

social que foi iniciado por ambos os organismos envolvidos. "Podemos dizer que
essa é uma definição comportamental de um behaviorista social (como, de fato, se
autodenominava o autor)"(Portugal, 2006, p. 466).
Essa interação inicial entre os indivíduos é o primeiro foco de análises e
observações de Mead. Para Martins (2013), o Interacionismo Simbólico, abordagem
microsociológica desenvolvida na Universidade de Chicago que considera crucial a
influência, na interação social, dos significados particularizados de cada membro da
interação social, conta, sem dúvida, com George Mead como um de seus precursores.
Em artigo datado de 1910, Social Consciousness and the Consciousness ofMeaning,
Mead destacou que a consciência não se faz a partir de uma relação instrumental de
um sujeito isolado, ressaltando a importância da dimensão social na relação de vários
organismos de uma mesma espécie.

00

188

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Para essa conclusão, Mead (1934/1972) partiu da análise da interação mediada por
gestos entre animais da mesma espécie, especialmente em família de vertebrados
mais desenvolvidos. Ele percebeu que certas ações de um organismo provocavam
respostas instintivas por parte de outros, estabelecendo-se uma "relação de troca",
ou melhor, de adaptação dos gestos e reações de um para com o outro. Faz sentido
Watson (1936) ter mencionado que Mead se interessava pelas suas experimentações
com animais no laboratório, tendo inclusive acompanhado diretamente algumas
delas (Farr, 1996).
Transpondo para a experiência humana essa dinâmica da conversação de gestos
entre animais, Mead, citado por Mendes (2000), demonstrou que o gesto também
aparece como sendo um mecanismo básico mediante o qual se leva a cabo o
processo social, uma vez que torna possível as"reações em cadeia". Isso significa que o
ato social é caracterizado, primordialmente, por um processo de ação e adaptação de
cada indivíduo, por meio dos gestos, às ações e reações dos outros indivíduos. Mead
(1972) procurou demonstrar que, a partir dos gestos, surgem os sinais, os símbolos e,
posteriormente, as convenções semânticas válidas intersubjetivamente, inaugurando
a linguagem como algo que faz parte da conduta social.
Para Jürgen Flabermas (1988), Mead foi o primeiro a tomar o enfoque performativo
da primeira pessoa em relação à segunda -"e principalmente a relação simétrica fu­
me - como chave para a sua crítica ao modelo do espelho, isto é, a autorrealização
do sujeito que se objetiva a si mesmo" (p. 197). "A ideia com a qual Mead rompe
esse círculo da reflexão auto-objetivadora impõe a passagem para o paradigma da 8 | G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

interação mediada simbolicamente"(Habermas, 1988, p. 205).


Na pesquisa de Souza (2006), percebe-se que Flabermas é um dos principais
autores que têm resgatado a importância dos estudos de George Mead para o
entendimento da socialização e da individuação humanas:

No meu entender, a única tentativa promissora de apreender conceitualmente


o conteúdo pleno do significado da individualização social encontra-se na
psicologia social de G. H. Mead. Ele coloca a diferenciação da estrutura de
papéis em contato com a formação da consciência e com a obtenção de
autonomia de indivíduos que são socializados em situações cada vez mais
diferenciadas. Em Flegel, a individuação depende da subjetivação crescente
do espírito, ao passo que em Mead ela resulta da internalização das instâncias

189

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

controladoras do comportamento, que de certo modo imigram de fora para


dentro. (Habermas, 1988, p. 185)

Os sociólogos Peter Berger e Thomas Luckmann também utilizam a teoria


meadiana em seus constructos teóricos, dando especial ênfase ao processo de
socialização. Na obra A Construção Socioi da Realidade: Tratado de sociologia do
conhecimento, ressaltam: "Nossos pressupostos sócio-psicológicos, especialmente
importantes para a análise da interiorização da realidade social, são grandemente
influenciados por George Herbert Mead" (Berger & Luckmann, 1966/2004, p. 32). Os
autores cunharam também um conceito denominado "outro significativo", que se
tornou crucial em suas análises e conjecturas teóricas, pois explica a forma pela qual
na socialização o mundo objetivo tornar-se-ia subjetivo. Num processo de mediação,
os "outros significativos" têm a incumbência de retransmitir, principalmente na
socialização primária, todo o repertório histórico-cultural, afetivo e relacional
(normas, crenças, costumes, hábitos, tradições etc.), para que os novos indivíduos
possam se tornar membros funcionais das sociedades às quais pertencem. Sobre
esse fato consideram:

O ser humano em desenvolvimento não somente se correlaciona com um


ambiente natural particular, mas também com uma ordem cultural e social
específica, que é mediatizada para ele pelos outros significativos que o têm
a seu cargo. (...) O termo outro significativo foi tomado de Mead. (Berger &
8 | G .H .M E A D (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

Luckmann, 1966/2004, p. 71)

Percebe-se hoje com mais clareza que as contribuições de Mead foram


fundamentais na superação da dicotomia existente entre o entendimento do
indivíduo e da sociedade. No prefácio de Espíritu, Persona y Sociedad: Desde el Punto
de Vista dei Conductivismo Social, Germani (1972) destaca três aspectos decisivos
que possibilitaram a Mead tal compreensão: (a) a anterioridade da história sobre o
indivíduo e o consequente impacto disso em sua autoconsciência; (b) o fato de o
indivíduo nascer em uma matriz social dada, tendo que obrigatoriamente adotar
essas premissas regentes em sua constituição; e (c) a internalização sociocultural
advinda desses processos psicossocio-comportamentais.
Para elucidar suas conjecturas sobre a formação social intersubjetiva do self,
Mead elaborou alguns conceitos que se tornaram clássicos em sua teoria. Um

190

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

dos mais importantes é o "outro generalizado", que exerceria um papel crucial na


teoria meadiana e alcançaria diversas formulações teóricas em distintas áreas do
conhecimento, passando por autores da Escola de Frankfurt, como Habermas e
Axel Honneth, pelos sociólogos Berger e Luckmann, Erving Goffman e Jessé Souza,
pelos interacionistas simbólicos, como por exemplo, Herbert Blumer, pela feminista
Nancy Fraser, pelos estudiosos da identidade como Zygmunt Bauman, Charles Taylor,
Antonio Ciampa, Anthony Giddens, dentre tantos outros autores, referências em suas
áreas de atuação.
Elemento essencial de sua teoria do self, Mead descreve o outro generalizado da
seguinte forma:

A comunidade ou grupo social organizado, que proporciona ao indivíduo sua


unidade do 'self', pode ser chamada 'o outro generalizado'. A atitude do outro
generalizado é a atitude de toda a comunidade. Assim, por exemplo, no caso
de um grupo social como o de uma equipe de futebol, a equipe é o outro
generalizado, na medida em que intervém - como processo organizado ou
atividade social - na experiência de qualquer um de seus membros. (Mead,
1972. p. 154)

Somente na medida em que o indivíduo puder adotar as atitudes gerais de "todos


os outros" envolvidos nos processos sociais de sua comunidade, acordando com
a totalidade das relações experienciais das instituições e grupos de seu ambiente 8 | G .H . M EAD 0 8 6 3 -1 9 3 1 ): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

comunitário, é que esse indivíduo poderá desenvolver um self completo. Podemos


dizer que o outro generalizado é uma espécie de influência da socialização na
constituição do self, ou seja, na individuação.

É na forma do outro generalizado que os processos sociais influenciam na


conduta dos indivíduos envolvidos neles e que os levam a cabo, i.e., que a
comunidade exerce controle sobre a conduta de seus membros individuais;
pois dessa maneira o processo ou comunidade social entra como um fator
determinante no pensamento do individuo. No pensamento abstrato, o
indivíduo adota a atitude do outro generalizado. (Mead, 1934/1972, p. 155)

Em todo esse processo, percebe-se a dinâmica psicossocial formativa da mente e


do Eu. Para Mead, o indivíduo é constituído pelo efeito de suas experiências e não como

191

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

seu próprio produtor. Nesse sentido, ele é capaz de usar sua mente (experiência) para
si, pois a pessoa é ao mesmo tempo agente e objeto nesse processo. A construção
de um Eu ocorre necessariamente de forma paulatina e a partir do ponto de vista
dos outros eus do seu grupo social. "Nessa concepção, a mente não é um produto
espontâneo de um indivíduo, mas a expressão de formas organizadas de experiências
sociais" (Portugal, 2006, p. 468). Para Sass (2004), esse é o terceiro ardil humano, que
"permite ao homem internalizar conscientemente o mundo exterior, e suplantar a
si mesmo, convertendo a si mesmo, como consciência de si, no seu outro. É o que
Mead, e outros autores denominam diálogo interiorizado" (p. 205).
Vejamos como o próprio Mead define essa postulação sobre a formação da mente
e do pensamento:

Pelo pensamento abstrato o indivíduo assume para si a atitude do outro


generalizado, sem referência à expressão que esse outro generalizado possa
assumir para qualquer outro indivíduo particular; e pelo pensamento concreto
assume essa atitude em que é expressa nas atitudes para o seu comportamento,
por parte daqueles outros indivíduos com quem está envolvido na situação ou
no ato social. Mas, unicamente adotando a atitude do outro generalizado para
si, por uma dessas maneiras, pode o indivíduo pensar, porque apenas assim
pode se dar o pensamento. E somente através da apropriação pelos indivíduos
da atitude ou das atitudes do outro generalizado para si mesmo que pode
8 I G. H. M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

existir um universo de discurso, como um sistema de significados comuns ou


sociais que o pensamento pressupõe. (Mead, 1934/1972, pp. 155-156)

Compreende-se, então, que em Mead o self só aparece enquanto atitude da


comunidade direta ou indiretamente manifestada, sendo que o outro generalizado
é uma espécie de instrumento do controle social introjetado pelo self, que, por sua
vez, reflete a formulação abstrata do ethos da comunidade ou sociedade à qual
pertence o indivíduo.
Nesse sentido, o outro generalizado pode ser desde um indivíduo que encarne
uma função da sociedade (um personagem de destaque como um ídolo ou um
"ícone", por exemplo), um agrupamento social (familiar, religioso, profissional,
esportivo, institucional, cultural, político, midiático etc.) e também o mundo físico
dos objetos.

192

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Para Mead (1972), a cultura material não deve ser considerada um conjunto de
objetos que se destacam apenas por sua utilidade cotidiana. É, antes de tudo, um
sistema de signos e símbolos construídos socialmente, mediados por produtos
coletivos, que participam da elaboração da teia social. A materialidade é, pois,
revestida de um simbolismo social impregnado de significados que se proliferam
e surgem da interação do indivíduo com os objetos físicos. Portanto, nessa relação
de confronto e adequação entre o homem e as entidades físicas, os objetos
tornam-se realidade, passam a ser algo, adquirem significados sociais, sendo
percebidos pela coletividade como uma produção do grupo. O indivíduo, por sua
vez, ao aproximar-se das coisas, compreende e descobre a si mesmo, conseguindo
distinguir o "eu" do "outro".
Quando o homem começa a tocar, perceber e manipular as coisas que o cercam,
o mundo torna-se um ambiente social e físico propício à existência humana. O corpo
que possibilita o contato físico com as coisas (as mãos, por exemplo) concedendo-lhes
forma e contorno físicos, inaugura um mundo material, o que, por sua vez, assegura a
constituição do self, delimitando-o e separando-o das coisas que o cercam. À medida
que o homem se relaciona com as materialidades que circulam a sua volta, o seu self
paulatinamente se constitui, assumindo uma forma corporificada e encarnada, que
o torna um "eu" físico. Ocorre, portanto, a materialização da persona, a encarnação
de um self originariamente sem forma e sem contornos físicos. O contato com as
entidades materiais fornece ao indivíduo os limites do seu próprio corpo, que o
separa das coisas externas. Por isso, para Mead, o mundo físico e material é também 8 | G .H . M EAD 0 8 6 3 -1 9 3 1 ): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

uma espécie de outro generalizado, pois decisivo no processo constitutivo do self.


Como percebido na teoria meadiana, o indivíduo socializado integrado à realidade
social, necessariamente, possuirá um self, cuja manifestação se dará na afirmação
de si ou na identificação do sujeito com sua comunidade. O self, desse modo, será
assegurado à medida que incorporar as atitudes sociais comungadas coletivamente
por sua sociedade em seu tempo.
Para pertencera um grupo social, todo indivíduo precisa, de certo modo, reproduzir
gestos, valores e símbolos compartilhados pela coletividade na qual se insere. Mesmo
aquele que nega a atitude coletiva e se recusa a adotá-la termina por internalizar
alguns padrões sociais de conduta. A persono, adquirida por todo aquele que se
apropria continuamente do comportamento social, permite a identificação com
a comunidade, adaptando-se a ela, mas afirmando-se como indivíduo autônomo,
lutando contra a coletivização massificada. O sujeito que se dispõe a afirmar-se no

193

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

grupo, apresentando, além das atitudes generalizadas, novas ações, provoca uma
série de novas reações no outro, contribuindo para transformações nas redes sociais.
Para explicar essa possibilidade da diferenciação e individuação em meio à força
dos influxos sociais, Mead, didaticamente, divide o se/fem dois componentes: o "mim"
e o "eu". Para Mead, esses dois componentes são indissociáveis. O "mim" consiste na
"reprodução" de reações socialmente construídas e organizadas, na internalização
do outro generalizado e das regras sociais, e na identificação do sujeito com sua
comunidade cultural. É a presença do outro na consciência do indivíduo.
Não obstante, há outra característica marcante que se expressa no outro
elemento que lhe é constitutivo: o "eu". O "eu" é a reação inusitada do sujeito às ações
da sociedade, transformando-a; representa as atitudes novas assumidas e criadas
pelo indivíduo diante das reações sociais formalizadas. É a emergência do novo, da
espontaneidade, do que não estava anteriormente presente na experiência individual,
que surge como resistência às atitudes coletivas, modificando a teia social. O "eu" é a
fase do self que exterioriza, reagindo à atitude dos outros.
Enquanto o "mim" exprime a convencionalidade, a tradição e a adaptação, o "eu"
indica a novidade, a originalidade e a criatividade.
O "eu" é a reação do organismo às atitudes dos outros; o "mim" é o conjunto
organizado das atitudes dos outros que o indivíduo adota para si mesmo. As atitudes
dos outros constituem o mim organizado e então o indivíduo reage a elas como um
"eu"(Sass, 2004, p. 265).
8 | G .H .M E A D (1863-1931 ): U M AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

Mesmo adotando a conduta dos outros, o indivíduo expressa a si mesmo,


revestindo o comportamento coletivo de características pessoais, até então
desconhecidas. O self, portanto, agrega em si o "outro", que confere ao sujeito o título
de membro da comunidade, detentor de direitos legítimos, e o "eu" o distingue dos
outros, privilegiando suas particularidades.
Dessa forma, o indivíduo, para pertencer a um grupo e socializar-se, precisa assumir
pautas comuns de condutas, reproduzindo-as. Entretanto, ele não apenas recebe
passivamente os conteúdos sociais; reage ativamente aos atos alheios, produzindo
novas reações e, consequentemente, transformando a si e a totalidade.
Ao que tudo indica, Mead parecia não acreditar na possibilidade da negação
extrema do sistema de ações sociais (socialização) que impediria o sujeito de apropriar-
se do repertório relacional e comportamental de sua comunidade, subvertendo
completamente os laços sociais convencionais; essa rejeição do nexo das reações
coletivas culminaria com a não interiorização dos códigos partilhados coletivamente.

194

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Para o autor, por exemplo, qualquer tipo de indignação social repousaria em alguma
espécie de adaptação e aceitação dos ditames sociais, pois somente assim poderia
fazer algum sentido.
Em todo caso, é importante ressaltar que para Mead, o indivíduo não se encontra
completamente preso às determinações grupais. Há brechas nas pautas de conduta
coletiva organizada que lhe permitem modificar o que está estabelecido, construindo
novas formas de ser e agir. É a possibilidade de perceber-se distinto da massa, de
dialogar consigo mesmo e de refletir sobre as atitudes sociais constitutivas da
estrutura de sua identidade e da sociedade humana, que pode contribuir para o
surgimento de mudanças no espaço coletivo.
Finalizando esta incursão pela teoria meadiana, ainda um exemplo que destaca
a proíicuidade teórica desses constructos e a possibilidade criativa de conjugação
dos mesmos. Sass (2004) destaca um aspecto importante advindo da noção de
self, formulada por Mead: a possibilidade de se pensar na contribuição do conceito
para o entendimento dos chamados comportamentos patológicos. Já que o self é
produzido pelo confronto do'eu'com o'mim', o que deveria resultarem uma unidade
nem sempre ocorre; unidade esta que, por razões externas ou internas ao indivíduo,
pode se desfazer. Quando essa coerência entre as instâncias do self não é possível,
caracterizam-se as dissociações da personalidade. "A união das fases do self expressa
o que chamamos de comportamento racional; a completa desunião evidencia o que
poderíamos chamar de origem social da loucura" (Sass, 2004, p. 275).
8 | G .H . M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

Considerações Finais
Pelo exposto, crê-se demonstrado o quão interessante, didática e profícua pode
ser a interlocução da teoria de George Herbert Mead com a ciência psicológica,
principalmente com o behaviorismo e com a psicologia social. Nesse sentido,
torna-se crucial compreender e difundir sua história e teoria. Suas produções
conceituais embasam e continuam a fazer parte de trabalhos em diferentes áreas
de conhecimento. Seria contumaz e injustificável a psicologia não se aproximar, e de
certa forma, também não se apropriar de uma obra pioneira em vários aspectos do
entendimento acerca da correlação entre o homem e a sociedade.
Concorda-se com Portugal (2006) que definir George Mead como psicólogo,
filósofo ou sociólogo seria uma captura imobilizante, haja vista a abrangência e
inserção teórica de sua obra nos referidos campos do saber.

195
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Ressalta-se, por fim, de acordo com Sass (2004) e Souza (2011), que foi descabida
e um disparate a ausência por tanto tempo de traduções brasileiras dos textos
originais de Mead, principalmente seu texto clássico, Mind, Selfond Society: From the
Standpoint ofo Social Behaviorist (1934). Só muito recentemente (2010) foi traduzido,
mas com a imperfeição de ser difícil encontrá-lo, pois nos descritores e catalogações
bibliográficas aparece apenas o nome do organizador da obra, Charles W. Morris
[2010, (1934)], sem menção a Mead, o que acaba contribuindo decisivamente para
sua pouca difusão na psicologia nacional.

Referências
Andery, M. A., Micheletto, N., & Sério, T. M. A. P. (2004). Para compreender a ciência: Uma
perspectiva histórica (13a Ed.). Rio de Janeiro: Gramond; São Paulo: Educ.
Antunes, M. A. M. (1998). Algumas reflexões acerca dos fundamentos da abordagem
social em história da psicologia. In J. Brozek, & M. Massimi (Orgs.). Historiografia da
psicologia moderna - versão brasileira (pp. 363-372). São Paulo: Loyola.
Berger, P. L, & Luckmann, T. (2004). A construção social da realidade: Tratado de
sociologia do conhecimento (F. S. Fernandes, Trad.). Petrópolis: Vozes. (Obra original
publicada em 1966).
Farr, R. M. (1996). As raízes da psicologia social moderna (P. A. Guareschi, & P. V. Maya,
Trads.). Rio de Janeiro: Vozes.
Germani, G. (1972). Presentación de la edición castellana. In G. Mead. Espíritu, persona
y sociedad: Desde el punto de vista dei conductismo social (F. Mazía, Trad., 3. Ed.).
8 | 6 . H. M EAD (1863-1931 ): ÜM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

Buenos Aires: Paidós Básica.


Massimi, M. & Guedes, M. C. (1998). História e historiografia da psicologia: Revisões e
novas pesquisas. São Paulo: Educ.
Habermas, J. (1988). Pensamento pós-metafísico: Estudos filosóficos. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro.
Joas, H. (1997). G. H. Mead: A contemporary re-examination ofhis thought. Cambridge:
The MIT Press.
Lakatos, I. (1989). La metodologia de los programas de investigación científica.
Madrid: Alianza Ed.
Martins, C. B. C. (2013). O legado do departamento de sociologia de Chicago (1920-
1930) na constituição do interacionismo simbólico. Sociedade & Estado, 28(2),
217-239.

196

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Mead, G. H. (1910). Social Consciousness and the Counsciousness of Meaning.


Psychological Bulletin, 7, 397-405.
Mead, G. H. (1972). Mind, self & society: From the standpoint of a social behaviorist. (C.
W. Morris, Ed.). Chicago: The University of Chicago Press. (Obra original publicada
em 1934).
Mendes, R. F. (2000). Individuação e socialização em Jürgen Habermas: Um estudo sobre a
formação discursiva da vontade. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: Unicentro
Newton Paiva.
Miller, D. L. (1973). George Herbert Mead: Self, language and the world. Austin, Texas:
University ofTexas Press.
Morris, C. W. (2010). Mente, self e sociedade (M. S. Mourão, Trad.). Aparecida, SP:
Ideias & Letras.
Portugal, F.T. (2006). Psicologia social em George Herbert Mead, na Escola de Chicago
e em Erving Goffman. In A. M. Jacó-Vilela, A. A. L. Ferreira, & F.T. Portugal (Orgs.).
História da psicologia: Rumos e Percursos. Rio de Janeiro, Nau Ed.
Sass, 0. (2004). Crítica da razão solitária: A psicologia social segundo George Herbert
Mead. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco.
Souza, R. F. (2006). George Herbert Mead: Contribuições para a psicologia social.
Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, Brasil.
Souza, R. F. (2011). George Herbert Mead: Contribuições para a História da Psicologia
Social. Psicologia & Sociedade, 23(2), 369-378. 8 | G. H. M EAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES

Watson, J. B. (1936). John Broadus Watson. In C. Murchison (Ed.). A history of psychology


in autobiography {Vol. 3, pp. 271-281). Worcester: Clark University Press.

197
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

9 E. R. GUTHRIE (1 88 6 -1 9 5 9 ): A
BEHAVIORISM FOR EVERYONE

John C. Malone

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

A good starting point for the consideration of mainline behaviorism is the theory
of Edwin R. Guthrie, a writer who showed the mathematician's preference for elegant
simplicity. His theory is eminently useful, but its apparent simplicity meant that it is
like Zen - easy to describe, but difficult to grasp. It is a sophisticated associationism,
more general and more subtle than the crude S-R version familiar to us. In fact,
Guthrie's behaviorism is better suited to be a basis for modern behavior therapy than
is the extremely-simplified version of Skinner's psychology that is currently assumed
to form the basis for applied behavior analysis.
Behaviorism became a generic label long ago and, like "grass", "meat" and "mind",
it refers to many things; there are many kinds of behaviorism1. B. F. Skinner's popular
writings have made his name synonymous with the word "behaviorism" in the eyes
of the general public, though almost no one fully grasps his real vision and even he
seemed to lose his grip on it in his last years (Malone, 1975, 1999, 2009). Skinner had
momentous insights in the 1930s: he defined the reflex of Sherrington in operational
terms (1931) and extended the reflex definition to behavior in general (1935).
He introduced a plan for the study of psychology as behavior in 1938 and in 1945
explained how a radical behaviorism could treat mental entities in a satisfying way.
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

Finally, in 1974, About Behaviorism rendered the basics of radical behaviorism clear to
any educated reader. Or one would think.
For the average lay reader (and for almost all applied behavior analysts), he may
as well have been writing in Jabuti or Welsh, since his subtlety could not begin to
compete with the folk psychology that permeates society. His later popular writings
only strengthened this interpretation. Accompanying those writings, a caricatured
version of that subtle and profound interpretation of behavior has become the basis
for the mammoth applied behavior analysis industry, a version almost as influential
as was Mao's "Little Red Book." The three-term contingency, stimulus-response-
reinforcement (S-R-X), banal as it is, along with a few ancillary concepts, is the basis

1 The same applies to "cognitive" and to "neuro" psychology, of course.

201
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

for behavior therapy (aka applied behavior analysis) and is Skinner's behaviorism in
the opinion of most people. The reader need only examine an issue of the Journal
of Applied Behavior Analysis to see that this is true. I think that behaviorism needs a
better representative.
In fact, there is a behaviorism that is tied to the history that Skinner rejected and
that explains behavioral phenomena in a satisfying way, offers many applications
and better describes what is actually done in behavior analysis without the aura of
simple-mindedness that accompanies the three-term contingency. I argued long ago
(Malone, 1978) for Edwin Guthrie's theory as a step-up for applied behavior analysis
and I have not changed my mind over the years.

Who was Edwin Guthrie?


Edwin Ray Guthrie was born in 1886 in Lincoln, Nebraska, and graduated from
the University of Nebraska with a degree in mathematics and philosophy. He taught
high school mathematics for several years and then went to graduate school at the
University of Pennsylvania.
After graduation, Guthrie spent his career at the University of Washington where
he served both as Professor of Psychology and, for a time, Dean of the Graduate School.
His theory is simple but powerful, at least in his hands. He published comparatively
little and he had few well-known followers, only Virginia Voeks, Fred Sheffield, and
perhaps William Kaye. Estes, could possibly be called Guthrians. However, his theory
remains current and it is the rare learning or history and systems textbook that does not
devote some space to discussion of his views. Guthrie's theory of"one-trial contiguity
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959 ): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

learning" can be summarized in the single noun habit. In a real sense he represents a
continuation of the practical associationist psychologies of the 19th century and as
I showed elsewhere (Malone, 2014), those psychologies are more modern than we
usually acknowledge.

Guthrie summarizes his theory


In 1944 Guthrie published a chapter on personality that appeared in a volume on
personality edited by Joseph McVicker Hunt, a fellow Nebraskan. There he described
what he meant by behavior, acts, personality traits, habit, and stereotyping and it
provided a good introduction to his thought. Psychology is ultimately the activities of
our bodies, but that is not the way we ordinarily describe it.

202

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

In the strict sense all human behavior consists in muscular contraction and
glandular secretion (...). But almost no one is interested in his neighbor's
muscles and glands (...). What really interest him are the probable changes in
his own situation that may result from his neighbor's activity. Most words for
his neighbor's activity name not patterns of muscular contraction but common
and typical effects of such patterns. (Guthrie, 1944, p. 50)

These "interesting" activities are called acts and they are named for their
consequences:

Going to lunch, driving home, putting a coin in a slot, telling a story - there are
achievements that might in each case be brought about by a wide variety of
movements. You can go to lunch in a wheelchair, or by inducing someone to
carry you. Tne coin could be put in the slot with the teeth or the toes, or the
right or left hand. (Guthrie, 1944, p. 50)

Guthrie went on to say that the name of the act does not include a description
of specific muscles involved or of their order and extent of contraction and is
therefore vague.
Personality traits are even less specifically defined in muscle movements, as is
clear when we say that someone is "likable," or "honest," or "irascible".

Honesty does not name a pattern of muscular response but a large indefinite
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

class of responses whose common property is that their verbal description will
not excite widespread condemnation. There are a million ways to be honest in
any situation - not a million names of ways but a million or an infinity of actual
patterns of movement. (Guthrie, 1944, p. 50)

The "act" of honesty may occur in countless separate actions. Like Zing-Yang Kuo
(1921), Guthrie opposed using accounts that seem to explain, but only classify in
terms of what we interpret as goals. Most behavior is not goal directed and we are
misled if we treat it as if it were, though we watch the child put dirt in its mouth and
reach for the flame, just as we make the same errors time after time.
Personality theorists like Gordon Allport and Kurt Lewin, who Guthrie criticized,
ignored the most important part of personality - the role of learning in the

203
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

development of personality traits. And learning has to apply to what we actually do,
not to names for complex activities that we can see only as more or less "adaptive".

Learning is doing: Not necessarily “improvement"


It seems too simple to be true, but life is a series of variations on a central principle:
stereotypy. Whatever we do in a specific situation is what we will do when next in
that situation. But it is more complicated than it seems; since literal repetition of a
situation is impossible, endless variation in behavior is possible. But there is another
complication. Once a habit is attached to a situation, the cues produced in the making
of the movements may render the habit independent of the external situation: "A
habit is a movement pattern that is self-facilitating. The initial parts of the movement
have become cues for the rest" (Guthrie, 1944, p. 50). For example, a woman may be
wearing a tight collar while giving her first speech and she may pull at it while talking.

This mannerism may remain for years though all subsequent collars have been
larger. The movement was originally started and guided by the pressure of
collar on the neck. It now guides itself and can be started by odd components
of the situation "beginning a speech". (...) Our style and manner of greeting
acquaintances, telling an anecdote, making love, eating a meal, driving a car,
selling an insurance policy, of doing anything that we do often, become more
characteristic of us than of the situations we confront. (Guthrie, 1944, p. 55)

Stereotypy is the fabric of our lives, applying not only to our overt movements,
9 | E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

but to our entire mental life as well. If we are astute enough we can see it in our
own behavior, in the behavior of our colleagues, friends, and students, and in
psychopathology. The best part is that we need not posit hypothetical and vague
sources of"reinforcement"to do this.

Guthrie and psychopathology as normal


What seems insane at first glance can be seen as normal behavior in its context,
the context of past behavior in similar situations. If the present situation replicates
the past in every detail, then the behavior will replicate as well. But situations do not
repeat as precise duplicates of the past and neither does behavior.
Consider Guthrie's explanation for compulsive behavior. He first noted that we
are made uncomfortable when our teeth are unbrushed, when a rug is out of place,

204

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

when a faucet is dripping, when a problem in arithmetic is unsolved, when one's


clothing is too different from that of one's peers, or when a word is mispronounced.
Originally it may have been scolding from a parent or teacher or friend that caused the
discomfort, but soon corrective actions occur to signs of the troublesome situation.
We don't fail to brush our teeth or leave the faucet handle loose. The unfinished
job, the unachieved result, is a substitute for the scolding and we act to change the
situation. This may become compulsion:

The compulsive act in abnormal psychology is only a misplaced or embarrassing


example of the same mechanism. When the sight of the hands instead of the
sight of the dirt on the hands becomes a stimulus for anxiety which is relieved
by washing them, we have a compulsion. (Guthrie, 1944, p. 56) 2

We could refer to reinforcement and punishment and conditioned aversive


stimuli if we absolutely must have jargon, but there is no need to do it. Guthrie's
behaviorism applies in a more straightforward way to many specific applications in
behavior therapy, as we will see in subsequent sections.

Guthrie e x p la in e d reward and punishment


Guthrie was concerned with the most general principles, not with special and
derivative cases. He also was opposed to explanations cast in terms that required an
agent that worked in ways not understood. God works in wondrous ways and we
don't understand them, so an explanation that refers to them or to God is insufficient.
9 | E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

Similarly, we don't understand adaptiveness well enough to use it as an explanation,


as Kuo (1921) showed us long ago and "contingencies of reinforcement" is a similarly
uninformative expression and often appears only as a literary device (Malone, 1975).
Reward, punishment, purpose, motives, and intentions are jargon that refer to
higher-order behavior that is defined with respect to goals. For most psychologists
that is fine, since it seems obvious that our activity is goal directed. Guthrie disputed

2 This and other of Guthrie’s (1944) examples remind us of Gordon Allport's (1938) arguments for the
functional autonomy of motives. The concept of functional autonomy has been attributed by Allport
to Edward Tolman and byTolman to William McDougall. We find it in the writings of John Gay and
could probably trace it back further. Curiously, Allport and Guthrie frequently criticized one another,
particularly regarding Guthrie's interpretation of the law of effect. See Guthrie (1952).

205
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

this, pointing out that much that we do is not purposive, but aimless, useless, and
often maladaptive.
No one denies that rewards and punishers are important and obvious determinants
of some of what we do and think. What Guthrie denied was the primacy of rewards
and punishers - he did not view them as primary and unanalyzable events. When
something acts to change a situation so as to preserve the association between the
previous situation and the last act done, that is a case of reward, or reinforcement3.
A rat turns right in a T-maze and comes into contact with a food dish. It begins to
eat, leaving the "previous situation", the sights and smells of the maze, connected
to turning right at the choice point. Someone asks me the date of the fall of the
Byzantine Empire. I respond "1936?" and am told "no." So I continue proposing dates
until I say "1453,"followed by "right."The last thing that I said was the response most
likely to recur the next time that the situation occurs. The situation recurrence will not
be an exact duplicate nor will my response.
Punishment, like reward, is also what Guthrie called a "mechanical arrangement"
that constitutes another variation on one-trial contiguity learning. Rewards end a
series of activities, preserving the association between the situation and the last act
before the situation changes - food may act as a reward for coming when called.
But the "reward" aspect does not lie in the object that is nominally the reward; rather,
it lies in what it makes the subject do. Eating is a behavior different from walking
and pressing a lever, so it may serve as situation change and leave intact the relation
"situation-coming when called". But this is not because food is always rewarding!
Food may act as a punisher, as when we are forced to eat when sated or when we
9 | E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

are prepared to do something else. Rewards stop what we are doing and preserve
its association to the situation. Punishers prod us to act and so preserve the new
behavior they produce, such as flinching or withdrawing, rather than the behavior
preceding the prod.

Guthrie the contextualist


Guthrie (1942/1976) told the story of a colleague's wife who visited Norway, from
whence had come her parents many years before.

3 It may seem curious to some readers to learn that Guthrie's interpretation of reinforcement and
punishment was endorsed by Skinner, though not publicly (Verplanck, 1994). I learned of it through
a personal communication from Bill Verplanck on several occasions, as well as through reading the
transcript of his talk.

206

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

She had not spoken Norwegian since the death of her grandmother when
she was five and believed that she had forgotten the language. But during
her stay in Norway she astonished herself by joining in the conversation. The
language and atmosphere of her childhood revived words and phrases she
could not remember in her American home. But her conversation caused
much amusement among her relatives because she was speaking with a facile
Norwegian"baby talk."If her family in America had continued to use Norwegian,
this "baby talk" would have been forgotten; its associations with the language
destroyed by other phrases. (Guthrie, 1942/1976, p. 40)

She spoke the Norwegian that she spoke last, now aroused by "the language and
atmosphere of her childhood". And that language, of course, was baby talk.
To say that we do in a situation whatever we did last in the "same" situation is to
say that our responses depend on context.This often means combinations of aspects
of past situations, so that, for example,"walking on ice"is a combination of two classes
of stimuli. There are those that have accompanied normal walking and another set
that have accompanied falling. Thus, the altered pattern of walking is a mixture of
normal walking and protective movements that occurred when we fell in the past. By
the same token, when we "read while fatigued,"we learn something new because the
fatigue prevents us following as we read - we learn to read without following, as we
discover when we try to recall what was read.

Expectations, anticipations, and intentions


9 | E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

Guthrie proposed that intentions, readinesses and expectations were all fractional
parts of complete reactions evoked because part of a stimulus complex was now
present. This is pretty much what Edward L. Thorndike meant by "readiness" and
it may consist of motor behaviors, vocalizations, imaginings, and any other of our
activities. To appreciate what he meant, consider reading when we do it for pleasure
versus when it is done in preparation for an examination an hour away. Or when we
are called on to recite, it is much easier when we expect it than when we are taken by
surprise4 Part of the reason for this lies in the fact that when we expect something we

4 Both humans and rats prefer to receive signaled, rather than unsignaled aversive events. Oddly,
however, several lines of evidence suggest that signaled electric shock is judged more painful than
unexpected shock. SeeTurkkan (1989).

207
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

are already "doing it," at least in part. Thus, we may be partially reciting, in the form of
insignificant body movements, when we know that we will be called upon.

Perception, imagery and memory


For Guthrie, perceiving is activity and percepts are habits. They are always
evoked by some present cue and they are specific. The associationists of the 18th
and 19th centuries held the same view and, in many ways, Guthrie's theory is the
20th-century version of James Mill's Analysis of the Phenomena of the Human Mind
(Malone, 1990, p. 122).
Perception, imagery, memory, fantasy and dreaming all depend upon present
cues and upon reintegration, or the calling up of a compound by a cue which is part
of the compound. Guthrie viewed this process as synonymous with conditioning.
I sense the odor of food, stuffiness, perspiration, and urine and immediately am
transported back to elementary school, where those odors dwelt. For a moment I
can see the low water fountains and hear children's shrieks. Or, as Francis Hutcheson
wrote in the 18th Century, the light through the church window brings up all kinds of
religious associations.
Guthrie's treatment of memory was essentially correct, at least as both earlier
and later research showed (Barnes & Underwood, 1959; Tulving & Thomson, 1973).
Forgetting is not simply the fading away of memories - it is replacement by new
memories. For example, I have a set of movements that allow me to type, but if I do
not type for several months or years I lose my skill. That is because those movements
are used in a host of other activities and thus become attached to new cues. On the
9 i E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

other hand, I can ride a bicycle and play chess, activities that are not easily forgotten.
The movements involved are shared by fewer other activities and are thus less likely
to become attached to new cues.
Guthrie's view of forgetting as replacement has received a mass of empirical
support, as is evident in the cognitive psychology textbooks of the late 20th century.
His replacement theory is also called the theory of associative interference, the view
that forgetting amounts to the interfering influence of new material on that already
learned, or vice versa. The originator of the interference theory was, of course Georg
E. Muller, summarized in his 1900 monograph with Alfons Pilzecker.

208

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Need all behavior be movement?


John B. Watson had emphasized muscle contractions and glandular secretions
as characteristics of all behavior, so that when we see, hear or think, the whole body
participates5. Guthrie believed that even mental activity involves bodily movement:
when we picture something there are detectable eye movements. And when we think
seriously, there is a lot of verbal (talking) content. But is all of experience reducible to
movement, as the "motor theories" of consciousness held early in the 20th century6?
Guthrie did not insist that this was the case, but he was pretty sure that it was.

It is my belief, though certainly it is not an established fact, that all thought trains
depend on movement trains, and that in all instances the association of ideas
is an association of successive movements through conditioning. St. Augustine
(Dedivin. Daemon.) was of this opinion for he explained the fact that the devil,
though he was not omniscient, could so well read human intentions and
thoughts by the fact that all thoughts are accompanied by slight appropriate
movements and the devil's skill was in the recognition of these movements.
(Guthrie, 1952, pp. 91-92)

Guthrie's writings are replete with arguments for the close relation between
muscle movements and thought and he often cited (E.g., 1952, pp. 91, 184) the
persuasive case made over more than a 50-year span by Edmund Jacobson, best
known for his (1929) Progressive Relaxation, which was a hallmark in so-called
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

"psychosomatic" medicine.

Guthrie as behavior therapist: Changing habits


Guthrie proposed several methods for changing habits, each of which has
been used in behavior therapy. These are usually called the toleration method, the
exhaustion method, and the method of incompatible stimuli, sometimes called
counterconditioning. The last method is that used by Joseph Wolpe (e.g., 1958). A
stimulus provoking a phobic reaction, such as a spider, is gradually introduced,

5 Bain's "Principle of Diffusion" was presented in the late 1800s and was contested by no one. See Malone
(2014). Of course, John B. Watson held the same view regarding the whole-body as a resonator to
stimuli.
6 For example, Margaret Floy Washburn, first woman to receive a PhD in psychology in America and
Titchener's first PhD student, as well as Flugo Munsterberg.

209
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

countered by stimulation producing muscular relaxation, whether through use of


drugs or deep muscle relaxation.
The toleration method is actually a part of the method of incompatible stimuli
and is comparable to training a horse to saddle by beginning with a light blanket
placed on its back and gradually increasing the weight until the weight of saddle and
rider is borne quietly. The same applies to elimination of a child's fear of the dark or
a phobia connected with spiders. We want to change the behavior in the presence
of the feared cues, but we are hampered by the violent reactions of the individual
when the cues are presented. Hence, we introduce darkness and spiders in a slow and
graded series, so that violent reactions do not occur.
The exhaustion method is comparable to the bronco-busting method of training
horses - the rider mounts the horse, which bucks until exhausted or until the rider
is thrown. The exhausted horse no longer bucks - it walks or stands with a rider and
has learned a new habit to replace the old habit of bucking when weight is placed
on its back.
To treat human problem habits, the procedure is straightforward. Place the child
in darkness and the phobic in a cage filled with spiders. Eventually the agitation will
cease and something other than fear and violence will be learned. This technique is
called emotional flooding today and must be used with caution, of course. Not only
could a patient suffer a heart attack, but Guthrie would quickly point out that such
treatment is bound to be strongly situation specific.
Another method proposed by Guthrie was sidetracking, later called "thought
stopping". When the cues for a bad habit, such as smoking or overeating, or a
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

maladaptive thought, such as defeatism, appear, the individual emphatically rejects


the beginning of the act involved. "Practice the beginning of the act with rejection
instead of acceptance," (1952, p. 117) is a method that may be helpful but which
leaves the bad habit system intact and connected to countless stimulus situations
ready to surprise us one day. Consequently, it is far better to dismantle the bad habit
with toleration, exhaustion, or counterconditioning.

Guthrie's methods are used today


By the 1960s, behavior modification had become synonymous with the "analysis
of behavior" of B. F. Skinner. However, as we saw above, the origin of the methods
commonly used lies in Guthrie's writings, as I argued in 1978 (Malone, 1978).This was
clear at that time in a government paper published in 1975 and authored by Stephanie

210

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Stoltz and two colleagues at the National Institute of Mental Health (NIMH) (Stoltz,
Wienkowski, & Brown, 1975). Among the methods they described were reinforcement
and punishment, systematic desensitization (Guthrie's counterconditioning and
toleration methods), overcorrection, and assertiveness training. The last two
applications deserve some comment.
The overcorrection method entails forcing the author of a misdeed to atone by
substituting the proper behavior for an improper one. A child or a mental patient may
be required to repeatedly make a bed if the misdeed was messing up the bed and
a child who throws food may have to repeatedly clean it up. As ever, such practice
ensures that whatever was the last act performed in a situation is the one that is
preferred by society.
Assertiveness training is best done through role playing, so that in a sham situation
where someone pushes ahead of you in line, you speak up and demand your rights.
Such a method exemplifies Guthrie's emphasis on action done in situations where we
want new behavior to occur. All of the verbal counseling in the world and all of the
soliloquies on "rights"are without meaning unless behavior also changes.
Self-injurious behavior has been a focus of interest over the past few decades
and a Guthrian interpretation applies to it as well. I will show how toward the end
of this chapter in a broader research context to which it belongs. First, a simple
misunderstanding and resulting criticism of Guthrie's theory needs a few words of
clarification and reproof.

Guthrie and Horton's misinterpreted experiment


9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

Guthrie and a colleague, George. P. Horton, published the results of a famous set
of experiments in 1946, though the data were collected in the 1930s. Cots in o Puzzle
Box was a kind of replication of Thorndike's 1898 experiments, but with a different
aim in view. Thorndike was simply trying to show that ideas are not necessary for the
mediation of what appears to be purposeful behavior - escape from a puzzle box.
Guthrie and Horton, on the other hand, wanted to determine whether the details of
such behavior are as predictable as the end result. They were not concerned with the
learning to get out of the box, but with precisely what went on inside the box.
Ironically, their work was criticized in 1979 by authors who misinterpreted their
intent and their data. Moore and Stuttard (1979) provided an example of what has
occurred repeatedly in the history of science: the misinterpretation of a position so
that it becomes a straw man and the subsequent refuting of the "straw position".

211
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Consider what Guthrie and Horton actually did in their classic research and then see
how the theoretical climate of the late 1970s predisposed many to accept Moore and
Stuttard's critique as valid.
Guthrie and Horton (1946) used a box with a large glass front and a pole mounted
vertically on the floor or, in some cases, hanging from the ceiling of the box. A total of
800 escapes by 50 cats were observed. In each case, the cat was inserted into the rear
of the box by means of a smaller box, so that it was not touched by hand. After a wait
of from ten seconds to a minute in the entry box, the cat was released into the large
box. For the first three trials the glass front door was open and the cat could leave the
box and eat from a saucer of salmon. On remaining trials, it was up to the cat to get
out of the box on its own.
To open the door, the cat was required to apply pressure to the pole (or to the
tube), leading subsequent writers to believe that it was the learning of this one act -
any response that applied pressure to the pole - was the focus of the experimenter's
interest. They were wrong, as was clear in Guthrie and Horton's writing.
The cats were watched and sometimes filmed as they made their escapes. If not
filmed, a written record of the cat's behavior was made. After an average of fifteen
minutes of exploration, the cat usually hit the post and the glass door was raised. But
usually the post was the last feature of the box to be examined. First the cat spent a
lot of time examining the barrier and the periphery of the box. After its escape, the
cat was replaced in the box until it escaped again, at which time it was placed back
in the box and so on. Naturally, the time required for successive escapes decreased.
What was surprising and difficult to convey to readers, as Guthrie noted, was the
9 | E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

tremendous amount of stereotypy shown during the entire period that the cat was
in the box. Each cat showed a "startling repetition of movements" during its whole
stay in the box - a matter of minutes, usually. Stereotypy was not restricted to the
movements that led to escape. For example, it was common for a cat to repeat a
triple tour of the periphery, including frequent stops, in detail from one trial to the
next. Further, the "unsuccessful" movements, those that did not contribute to escape,
did not fade. In fact, they were often as frequent during the last trials as they were
at the beginning.
Guthrie and Horton wrote that they were unable to predict the behavior of a given
cat on the first trial, but "after watching the cat through one trial we can bet rather
heavy odds that the second trial will repeat the routines of the first". Let us consider
another class of findings where Guthrie's theory seems to apply uniquely.

212

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Guthrie, hunger, and satiation


Gordon Allport proposed that motives may become"functionally autonomous", so
that scrimping and saving because of economic necessity may become miserliness,
scrimping continued during good times simply since it has become habitual. John
Gay proposed such a theory in the early 18th century noting that people may come
to value the having of money to the extent that they "sell their happiness for Money"
(Malone, 2009, p. 204). Both Gay and Allport were proposing that means may become
ends simply because habits are established. That is very Guthrian.
Morgan (1974) and Mackintosh (1983) reviewed findings that provide strong
support for functional autonomy and thus for Guthrie. The experiments reviewed
show that behavior that was originally established and maintained by food or water
rewards often persists, even when the "reward" is no longer of value to the subject.
As Guthrie would say, behavior may become stereotyped and attached to the cues
of the training situation. This has important implications for what we call "hunger"
and "satiation"
For example, Skinner (1938) gave rats food for lever presses during one stimulus
and not during a second. He then allowed the rats to eat their fill in the presence of
the second stimulus. Naturally pressing did not occur when the second stimulus was
present, especially after satiation with food. However, when the first stimulus was
presented, pressing occurred, because that is what the rats had done when it was
last present. As Guthrie would say, satiation is to a large degree stimulus specific.
When the first stimulus was last present, the rats were not sated and they pressed -
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1 959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

so they still do.


Many others have found similar effects, often classified as the "contrafreeloading
effect" or the "Protestant ethic" effect. For example, Davidson (1971) trained four rats
to press a lever ten times for each food pellet received. After training, the rats were
given all the food they wanted for eight days and placed back in the lever box, with
free food present. The free food was ignored and all four subjects pressed the lever
and ate the resulting food "rewards". Why did they press? Evidently, because pressing,
initially done only as a means to getting food, became autonomous, self-maintaining,
stereotyped7. The stereotypy of behavior and its growing independent of rewards

7 Allport (1938) listed examples of what we call contrafreeloading dating back to 1917. Notice that
the phenomenon of functional autonomy applies to cases of conditioned reinforcement and that
contrafreeloading could be interpreted as showing that conditioned reinforcement may become
independent of the primary reinforcers that support it.

213
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

and needs and drives and whatever originally engendered it applies to human
psychopathology, of course. William Hunt and his colleagues (1979) described effects
similar to those described above but occurring in human patients and they noted the
relevance of Guthrie's theory to such data.

The "superstition experiment"


B. F. Skinner published Superstition in the Pigeon in 1948 and his findings and
interpretation quickly became part of the folklore of psychology. In brief, he observed
a hungry pigeon that had been magazine trained, accustomed to eating mixed grain
from a food dispenser. During the experiment the food magazine operated-time (FT)
12s schedule. That is, the food magazine offered a few seconds access to food every
12 seconds, independent of the bird's behavior - there was no response requirement
and a wise bird would simply hover over the food dispenser and eat when it operated.
Of course that is not what happened.
The bird quickly became very active and within a few food deliveries it showed
strangely stereotyped movements that persisted for a time and then changed to a
different stereotyped movement, on and on. The schedule need not be FT 12s; it
could be a shorter or longer interval and the interval between food deliveries could
be variable. Skinner made much of this, likening the effect to human superstitious
behavior and arguing that it is the mere coincidence of food accompanying whatever
behavior had just occurred, since "conditioning takes place even though we have
paid no attention to the behavior (...)" (1948, p. 168). For example, if the bird had
9 | E.R. GUTHRIE 0 886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

turned to the left when the magazine operated it would then turn repeatedly to the
left and likely be doing so when the magazine operated again. Eventually another
behavior, such as preening, would be paired with a "stop", and preening would recur
until another adventitious behavior took its place. What better illustration ofGuthrian
stereotypy could exist? Rather than think of food reinforcement as "reward", which
is commonly the case in behavior analyst's commentary, where we see reference
to comments such as "wherever they find their reinforcers". Guthrie's interpretation
shields us from such inadvertent slips into folk psychology and keeps us fixed on what
actually occurs.
A similar illustration was a focus of interest a few decades ago, when Harvard
researchers showed the overriding influence of stereotypy in schedules of
"reinforcement" even when the reinforcers were not appetitive (Morse & Kelleher,
1977). Their findings were not reported in textbooks or by the popular press since

214

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

they featured unattractive procedures that included normally-aversive stimuli.


Nonetheless, the findings are too important to ignore.

Apparently self-injurious behavior


A variety of organisms, including humans, may come under the control of
contingencies that result in their self-administering painful consequences daily
over weeks, months or indefinitely. More than other examples, these effects show
that Guthrie's principle of stereotypy provides explanations and guides to behavior
change that leave simple-minded three-term-contingency accounts useless. A
thorough account of this research appears in Morse and Kelleher (1977) and I can
only give a brief summary here.
As is well known, a behavior that is well established and maintained by specific
consequences may remain strong even though those consequences are altered. For
example, if a fixed-interval schedule leads to the characteristic scallop-patterned
responding, with a pause following each food delivery, that pattern may remain even
when powerful electric shock is substituted for food once per session. If shocks then
occur at the end of two intervals several sessions later, the pattern of fixed-interval
(FI) responding can survive that and survive the gradual addition of more shocks until
they have replaced all of the food deliveries. Since the FI schedule remains in effect,
no shock occurs without a response, yet rhesus monkey subjects continue the now-
stereotyped pattern of responding over many sessions.
Larry Byrd (1969) showed that cats that are originally trained to avoid electric shock
by pressing a button that prevents shock for one minute continue responding when
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

an extra shock occurs every 10 minutes. Once responding stabilized the procedure
was changed so that only a fixed-interval 10 minute schedule was in effect and the
only consequence was electric shock. The record of responding was common to all FI
schedules - a several-minute pause after "reinforcement" and increased response rate
(a scallop pattern) as the interval end approached. If the cats did not respond when
the FI requirement was met, no shock would ever occur, yet they continued showing
the FI response pattern for more than 80 daily sessions!
Many more examples could be given, but the principle was made clear by Morse
andKelleher .They maintained that behavior depends on three factors, in this order
of importance: ongoing behavior, schedule contingencies, and least important, the
event scheduled as a consequence. Guthrie would say that a consequence preserves
the link between the situation and whatever behavior was occurring and that no

215
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

consequence is always rewarding or punishing - the details are important. As a


final example, if each response postpones shock for 30 seconds, responding will
occur regularly enough to avoid it. But if the postponement (the response/shock
interval) decreases gradually, responding will increase until shock is immediate. At
that time the schedule may be changed to FI 5 minutes and a fixed-interval pattern
of response will develop as the subject responds to produce the shock (Morse &
Kelleher, 1977). The child who repeatedly bangs its head on the wall shows behavior
that has become maintained by apparently "aversive" consequences, but that
behavior previously had far different effects, such as producing care and attention.
The paradox of conditioned reinforcement requires similar scrutiny and a related
explanation once cast in proper form.

The paradox of conditioned reinforcement


There is a vast literature on acquired reinforcement that has been labeled
"conditioned reinforcement". Suffice it to say that tokens, praise, money, attention,
and many other things act as reinforcers after the individual has had some kind of
experience with them. Acquired reinforcers are real enough, but their genesis is not
well understood by most. They do not gain their power through pairing with food,
water, or other already-effective reinforcers, despite endless textbook testimonials to
that effect!
The simple truth is that pairing a light or a tone (or whatever) with food or candy
(or whatever) lends only transient and weak reinforcing power to the light or tone.
This has been clearly known for a long time (for example, see Gollub, 1977). To be
| E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

brief, there is very fragile evidence that new reinforcers are established through
association of some sort with already-potent reinforcers. The aggregate of laboratory
research shows that the pairing of new stimuli with known reinforcers lends only
feeble power to those stimuli. Yet, tokens (including money) work well in controlling
behavior. How can that be?
The answer lies in our mistaken assumption that some things (food, water, sex)
have inherent value while other things (tokens, praise) have no value in themselves,
only because they are associated with something else. Every time that a child is
reluctant to turn in tokens for candy and every time that we work on a paper while
tired and hungry, the plausibility of the traditional account is called to question. It is
odd that conditioned reinforcers may be more powerful than the real reinforcers from
which there power derives, but it is commonly true.
9

216

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

If we take a Guthrian look at what happens when new reinforcers are formed, we
see that they do have something to do with current reinforcers. But it is not because
they predict food, water, warmth, or other "real" reinforcers. Reinforcers con be
acquired but it is not because they are associated with current reinforcers or because
they predict them, at least, not in a straightforward way. Here is how they work and
Guthrie's theory may be the best in explaining the effect.
Neuringer and Chung (1967) found that new stimuli, such as brief darkness or
tones, could act as potent reinforcers when presented in a specific way. In the simplest
case, they reinforced pigeons'key pecks according to a variable-interval (VI) schedule
of reinforcement - on average, once a minute a key peck produced brief access to
food. After baseline levels of responding were established, conditions were changed:
now every eleventh response produced some consequence. In some conditions the
consequence was a brief tone and in others the chamber was briefly darkened. In
others the key light was briefly turned off - the exact nature of the consequence
didn't matter, as long as each eleventh response produced something.
Thus, the birds were getting food on the average of once a minute, since the VI
one minute schedule was still in effect, and every eleventh peck produced a tone (for
example). What did the added tones (or flashes or other brief stimuli) do to response
rates? There was no effect, of course - all that the added and so-far meaningless
stimuli that followed every eleventh peck could do is momentarily distract. But that
effect would be short lived.
But a slight change in procedure produced strong effects. Programming
equipment determined when a peck would produce food and that was on the
| E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

average of once a minute. But now something else was added - something happened
after every eleventh peck! If the VI timer programmed a food delivery during the
time the 11 pecks occurred, food was given after the 11th peck. Otherwise, a tone
sounded, or in other conditions, a light flashed or the chamber briefly darkened -
something happened after every 11th peck and only after every eleventh peck. So, the bird
would peck along and receive a brief stimulus, such as a tone, and go on until another
11 pecks occurred and receive another tone. But sometimes (15% of the time) the
11 th peck was followed by food. In sum, something always happened after 11 pecks
following the last tone or food and 85% of the time it was another tone, while 15% of
the time it was food. Response rates almost immediately doubled. Why?
Consider something else. When the same pattern of food and other stimuli was
scheduled, no change in responding occurred. So birds receiving brief blackouts or
9

217
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

tones or other brief stimuli following every 11th response but who received food
for the first response after the VI programmer schedule reinforcement showed no
change in responding. Added brief stimuli produced large increases in responding when
they were produced in exactly the same way that food was produced - by 11 responses
or according to some other rule. The same effect occurred when a fixed-interval-like
requirement was added to the VI schedule of food delivery.
Is this the key to acquired reinforcement, or at least to many instances of it? It
doesn't refer to "neutral" events that come to predict consequences that are already
reinforcers, since the brief stimuli don’t really predict food - they predict no food, at
least for the short run. What they do is confirm the effectiveness of responding in a
certain way; something always happened after 11 responses and sometimes that was
food delivery.
There are several ways to interpret this effect, but the best may be in Guthrie's
terms. That is, once a behavior is established by whatever consequences, it shows a
stereotypy that can be maintained by other consequences, or"stops". It is plausible that
tokens, money, praise, and attention, as well as criticism and putative "punishment"
may maintain already-stereotyped behavior. When an infant is good, it is petted and
stroked; later the same class of behavior produces attention and praise and later it
produces a dollar. If good behavior and hard work were followed only by the smell
of perspiration and the feeling of sore muscles, wouldn't the occurrence of such
behavior change? But when hard work is occasionally followed by an improvement
in circumstances, or money or praise, which are already effective, perspiration and
soreness may serve to maintain the hard work.
9 | E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

For practical purposes, the implications are clear. Anything, be it a word, a token,
the opportunity to do something, or even verbal criticism, may become an acquired
reinforcer if it is made available according to the same contingencies that produce
a Iready-effective reinforcers. Serious studying by a high school student may result
in good grades on an examination or by parental praise day by day. Given such a
history, suppose that we substitute a different stimulus once in a while. Instead of the
customary praise, we say, "you've done such a good job studying - I'm going to let
you clean the bathroom tomorrow!". Assuming that bathroom cleaning has not been
used as a punishment in the past, and that praise ordinarily occurs on such occasions,
we might establish a new acquired reinforcer.

218

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Conclusion
I suggested long ago that Guthrie's conception of learning was more applicable
to practical situations than is the better known theory of B. F. Skinner (Malone, 1978)
and maintained that view through the writing of a textbook on learning theories
(Malone, 1990) and through the preparation of a history of psychology textbook
(Malone, 2009). Guthrie's was the real contextualism, relying on situations as cues for
actions. Guthrie never gained the following that Skinner and Hull eventually enjoyed
and it is likely that even Watson and Tolman attracted more attention. Further, it is
almost certain that derivatives of Skinner's view, what might be called molar behavior
analysis8, are more useful in understanding behavior in general than is Guthrie's one-
trial contiguity learning. Applied behavior analysis has a far narrower focus and when
it comes to practical matters, such as changing our own habits or those of others,
Guthrie's principle is unbeatable. But it does require careful attention to specifics
of both situations and behaviors, especially concerning expert identification of the
behavior at the last instant in that situation.

References
Allport, G. W. (1938). Personality: A psychological interpretation. New York: Holt, Rinehart
and Winston.
Barnes, J. M., & Underwood, B. J. (1959). "Fate" of first-list associations in transfer theory.
Journal of Experimental Psychology, 58, 97-105.
Baum, W. M. (1997). The problem with time. In L. J. Hayes, & P. M. Ghezzi (Eds.,),
| E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

Investigations in behavioral epistemology (pp. 47-59). Reno, NV: Context Press.


Byrd, L. D. (1969). Responding in the cat maintained under response-independent
electric shock and response-produced electric shock. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 12,1-10.
Davidson, A. B. (1971). Factors affecting keypress responding by rats in the presence
of free food. Psychonomic Science, 24(3), 135-137.
Gollub L. (1977). Conditioned reinforcement: Schedule effects. In W. K. Honig, & J. E. R.
Staddon (Eds.), Handbook of operant behavior (pp. 288-312). Englewood Cliffs, NJ:
Prentice Hall.
Guthrie, E. R. (1944). Personality in terms of associative learning. In J. M. Hunt (Ed.),
Personality and the behavior disorders (pp. 49-68). New York: Ronald Press.

8 See Baum (1997) or Rachlin (2013), for example.


9

219
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Guthrie, E. R. (1952). The psychology of learning (rev. ed.). New York: Harper & Row.
Guthrie, E.R. (1976). Conditioning: A theory of learning. In W. S. Sahakian (1976).
Psychology of Learning: Systems, models, and theories. Chicago: Markham. (Original
work published 1942).
Guthrie, E. R„ & Horton, G. P. (1946). Cats in a puzzle box. New York: Rinehart.
Hunt, W. A., Matarazzo, J. D., Weiss, S. M., & Gentry, W. D. (1979). Associative learning,
habit, and health behavior. Journal of Behavioral Medicine, 2 ,111-124.
Jacobson, E. (1929). Progressive relaxation. Chicago, IL: University of Chicago Press.
Kuo, Z. Y. (1921). Giving up instincts in psychology. Journal of Philosophy, 17,645-664.
Mackintosh, N. J. (1983). Conditioning and associative learning. New York: Oxford
University Press.
Malone, J. C. (1975). William James and B. F. Skinner: Behaviorism, reinforcement, and
interest. Behaviorism, 3 ,140-151.
Malone, J. C. (1978). Beyond the operant analysis of behavior. Behavior Therapy, 9,
584-591.
Malone, J. C. (1991). Theories of learning: A historical approach. Belmont, CA: Wadsworth.
Malone, J. C. (1999). Operants were never "emitted", feeling is doing, and learning
takes only one trial: A review of B. F. Skinner's (1989) Recent issues in the analysis
of behavior. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 7 1,115-120.
Malone, J. C. (2009). Psychology: Pythagoras to present. Cambridge, MA: MIT Press.
Malone, J. C. (2014). Did John B. Watson really "found" behaviorism? The Behavior
Analyst, 37(1), 1-12.
Moore, B. R., & Stuttard, S. (1979). Dr. Guthrie and felis domesticus or: tripping over the
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

cat. Science, 205(4410), 1031 -1033.


Morgan, M. J. (1974). Resistance to satiation. Animal Behavior, 22,449-466.
Morse, W. H„ & Kelleher, R.T. (1977). Determinants of reinforcement and punishment.
In W. K. Honig, & J. E. R. Staddon (Eds.), Handbook of operant behavior. Englewood
Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
Müller, G. E., & Pilzecker, A. (1900). Experimentelle Beiträge zur Untersuchung des
Gedächtnisses. Zeitschrift für Psychologie, Ergbd. 1.
Neuringer, A. J. & Chung, S-H. (1967). Quasi-reinforcement: Control of responding
by a percentage reinforcement schedule. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 10,45-54.
Rachlin, H. (2013). About teleological behaviorism. The Behavior Analyst, 36, 209-222.

220

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Skinner, B. F. (1931).The concept of the reflex in the description of behavior. Journal of


General Psychology, 5 ,427-458.
Skinner, B. F. (1935). The generic nature of the concepts of stimulus and response.
Journal of General Psychology, 12,40-65.
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1945). The operational analysis of psychological terms. Psychological
Review, 52, 270-277.
Skinner, B. F. (1948).'Superstition'in the pigeon. Journal of Experimental Psychology, 38,
168-172.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Knopf.
Stoltz, S. B„ Wienkowski, L. A. & Brown, B. S. (1975). Behavior modification: a perspective
on critical issues .American Psychologist, 30,1027-1048.
Turkkan, J. S. (1989). Classical conditioning: The new hegemony. Behavioral and Brain
Sciences, 12,121-179.
Tulving, E., & Thomson, D. M. (1973). Encoding specificity and retrieval process in
episodic memory. Psychological Review, 80(5), 352-373.
Verplanck, W. S. (1994). Fifty-seven years of searching among behaviorisms: A memoir.
Paper presented attheThird International Congress on Behaviorism and Behavioral
Science, Palermo, Italy.
Wolpe, J. (1958). Psychotherapy by reciprocal inhibition. Stanford, CA: Stanford
University Press.
9 | E.R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE

221

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

10 THE NEOBEHAVIORISM OF
K .W . SPENCE (1 907 -19 67)

Joy Moore

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Kenneth W. Spence (1907-1967) was a distinguished neobehaviorist in mid-20th


century American learning theory. Neobehaviorism is characterized by explanations
that include mediating, hypothetical structures and processes, beyond the observable
S-R (stimulus-response) relations of earlierforms of behaviorism. As a graduate student
at Yale, Spence was introduced to the neobehaviorist learning theory of Clark Hull,
and then sought to clarify, refine, and extend certain features of that theory during
the remainder of his own extraordinary career. The resulting theoretical system is
often referred to as the Hull-Spence system, recognizing that many contemporary
experimental psychologists who identify themselves as advocates of this approach
might argue the approach has continued to evolve, just as Hull and Spence thought
it should, and its contemporary form differs appreciably from that of the middle
of the 20th century. This chapter reviews Spence's contributions in the areas of (a)
transposition, (b) such cognitive factors as instructions and awareness, (c) such
emotional drives as frustration and anxiety, and (d) incentive motivation.

Biography
Kenneth Wartinbee Spence was born in Chicago, Illinois, in 1907 and moved with
his family when he was four to Montreal, Quebec, Canada. He attended high school in
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

Montreal, where he participated in basketball, tennis and track. After high school, he
enrolled in McGill University in Montreal but injured his backduring track competition.
While convalescing, he lived with his grandmother in LaCrosse, Wisconsin. There,
he attended LaCrosse Teachers College and majored in physical education. He also
met his first wife, Isabel Temte, with whom he had two children, Shirley Ann Spence
Pumroy and William James Spence. After his convalescence, he returned to McGill,
where he switched his major to psychology and earned a BA (Bachelor of Arts) in 1929
and MA (Master of Arts) in 1930.
Upon completing his studies at McGill, Spence continued his graduate studies
at Yale University, where he served as a research assistant to Robert M. Yerkes, noted

225

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

comparative psychologist and primatologist. He took his PhD under Yerkes in 1933
with a dissertation on visual acuity in chimpanzees.
During Spence's time at Yale, he was also greatly influenced by the behavior
system of Clark L. Hull. As was much of the world, America was experiencing the Great
Depression, and the credibility of many societal institutions was sorely challenged.
According to Smith (1986), in 1929 the Rockefeller Foundation awarded a $ 10 million
grant to Yale to establish an interdisciplinary research institute that would develop
a coherent research program unifying the social and biological sciences, and to
some extent restore confidence in societal institutions. The research institute came
to be named the Institute of Human Relations (IHR). Yale recruited Hull as a research
professor, and Hull set about developing IHR programs. As a research professor, Hull
had no formal teaching duties, but usually conducted a two-hour graduate seminar
each week to review some problem in systematic behavior theory. Among the
concerns over the years were how to translate concepts from other approaches to
psychology, ranging from Hermann Ebbinghaus on memory to Sigmund Freud on
personality and psychopathology, into the language of experimental psychology
and concepts of conditioning processes. Spence participated in Hull's seminars,
and quickly became affiliated with the approach to conditioning, learning, behavior,
motivation, and methodology that Hull sought to develop. Also while at Yale,
Spence worked on a project that tested some implications of the Hullian approach
to analyzing maze learning in the rat. This project expanded Spence's background
from sensory processes to actual behavior, the latter as viewed through the lens of
the Hullian system, although Spence's interests in sensory processes remained active
throughout his career. More is said throughout this chapter about the important
10 I THE NEOBEHAVIORISM o r K.W. SPENCE (1907-1967)

relation between Hull and Spence.


After Spence completed his doctoral degree in New Haven, he left for a fellowship
at the Yale Laboratories of Primate Biology in Orange Park, Florida, where he remained
forfouryears. Following a one-yearappointmentatthe University ofVirginia, he moved
to the State University of Iowa, where he spent the next 26 years of his professional
career, serving as department head for 22 of those years. Spence and Isabel ultimately
divorced and he married former student and continuing collaborator Janet Taylor in
1960. The Spences moved to the University of Texas in 1964, where Kenneth died
from cancer early in 1967.
As a graduate student at McGill, Spence received two research awards,
presaging his many scholarly contributions. In 1953, he was elected to the Society

226

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

of Experimental Psychologists and awarded the Howard Crosby Warren Medal for his
record of outstanding research. In 1955, Yale University invited Spence to deliver the
Silliman Lectures. According to Kendler (1967), the Silliman Lectures were

[A] prestigious series which up to that time had been given by distinguished
physical and biological scientists the likes of Ernest Rutherford, Enrico Fermi
and Charles Sherrington. To Spence this was not only a personal honor but
also a recognition of the maturity of the science he represented. (...) The
lectures, later published as Behavior Theory and Conditioning (1956), reveal the
intimate and fruitful reciprocal relationship between Spence's theorizing and
experimentation, (p. 339)

In 1956 Spence received the Distinguished Scientific Contribution Award from


the American Psychological Association, the very first year it was awarded. Myers
(1970) reported that in the six-year period between 1962 and Spence's death in 1967,
Spence wasthe most frequently cited psychologist in the 14 most prestigiousjournals
in the field. The Psychology laboratories at Iowa are named in his honor. Seventy-
five students obtained the PhD under his supervision (Kendler, 1967, p. 341). Often
Spence's students identified their field as "theoretical-experimental psychology," to
reflect the methodological as well as laboratory aspects of their experience with
Spence. He was as demanding of himself as he was of others, and took great pride in
his teaching as well as research accomplishments.
Spence and Hull corresponded and collaborated during the 1940s and until
Hull's death in 1952. Although they didn't have a lengthy record of joint authorship
| THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

on publications, Hull explicitly recognized Spence's contributions to his theorizing in


many of his works. Spence saw Hull's second major book, Essentials of Behavior (1951),
through to completion when ill health prevented Hull from doing so. Despite some
theoretical differences between the two, the approach is often referred to as the Hull-
Spence system, reflecting their mutual and reciprocal influence.
10

227
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Neobehaviorism
Kenneth Spence was a neobehaviorist. What then is neobehaviorism? To answer,
we can identify both chronological and epistemological characteristics.

Chronological Characteristics
Chronologically, neobehaviorism is a successor to and hence a newer form of
behaviorism than classical S-R behaviorism. In this regard, classical behaviorism is
often identified with John B. Watson (1913, 1925), and thought to be restricted to
only observables (e.g., Bergmann, 1956). However, closer analysis of Watson's position
suggests he did not restrict himself to observables (Moore, 2008). Regardless of
Watson's position on observables or that of other classical S-R behaviorists, what makes
neobehaviorism a successor to classical S-R behaviorism, rather than a continuation?
The answer is that neobehaviorism unselfconsciously admitted nonbehavioral
unobservables into its theories and explanations of behavior as mediating theoretical
terms. By mediation is meant that the observable stimulus triggers the hypothesized
underlying mechanism, the hypothesized mechanism then assumes some state
in which it generates some specific output and, in turn, the output triggers the
observable response. The permissibility of these sorts of unobservables followed from
developments in philosophy of science and scientific epistemology during the 1920s.
Thus, more important than chronology to an understanding of neobehaviorism are
its epistemological characteristics, to which we now turn.

Epistemological Characteristics
For neobehaviorists, the vocabulary of science consisted of three kinds of terms:
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

observational terms, logical terms, and theoretical terms. Observational terms were
the traditional independent and dependent variables in scientific research. Examples
of independent variables in psychology include amount of reinforcement, rate of
reinforcement and strength of a stimulus. Examples of dependent variables include
rate of responding, probability of responding, latency of responding and number
of trials to extinction. Logical terms came from the discipline of logic in philosophy:
conjunction, disjunction, if and only if, and so on.
What then about theoretical terms? Here we begin to see more of the basis for the
epistemological distinctions between classical S-R behaviorism and neobehaviorism.
By definition, theoretical terms did not referto variables that were not directly observed.
The aforementioned nonbehavioral unobservables were regarded as theoretical

228

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

terms. But how could psychologists avoid the errors of introspective structuralism
and functionalism if they included unobservables? How could psychologists generate
the necessary intersubjective consistency and agreement about the meaning of
their analytical and explanatory theoretical terms? For neobehaviorists, the answer
was through an operational definition (Spence & Bergmann, 1941). According to the
neobehaviorist interpretation, operationism specifies the observable measures that
stand for an unobservable term, concept, or construct.The observable measures yield
the necessary intersubjective agreement regarding the meaning of the theoretical
terms and allow for an intellectually respectable science.
As suggested above, for neobehaviorists operationism is a technique for clarifying
the meaning of unobservable terms and concepts in scientific theories. It is not a
technique for legislating how a theory should be devised or evaluated. How a theory
is devised is a matter of the ingenuity of the scientist. How a theory is evaluated
is a matter of its coherence with respect to the data. In turn, explanation consists
of establishing a deductive argument with one or more covering laws as major
premise(s), and one or more statements of initial or antecedent conditions as minor
premise(s) (Kendler& Spence, 1971).The covering law itself follows from the theory.
Ideally, the deduction (or prediction, if the conclusion is stated in the future tense)
is expressed quantitatively. At issue then is the extent to which the conclusion
agrees with observations. If the conclusion does agree with observations, then
the event is considered to be explained or predicted. Research strategy consists
of adhering to these theory-testing practices, sometimes called the hypothetico-
deductive approach.
More formally, then, neobehaviorist theories and explanations of learning and
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)

behavior consist of a set of propositions concerning one or more interrelated natural


behavioral phenomena and involving symbolic representations of (a) observable
relations among observable behavioral events, (b) observable mechanisms and
structures underlying observable behavioral relations,and (c) unobservable but inferred
mechanisms and structures intended to mediate the relation between observable
independent variables, on the one hand, and observable dependent variables, on the
other. The covering laws embody the inferred mediating mechanisms. If observations
do agree with predictions, then the covering law and its inferred mechanisms are
presumed to be validated. In sum, the admission, and indeed advocacy, of symbolic
representations of unobservable but inferred, mediating, nonbehavioral mechanisms

229
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

as theoretical terms and concepts is an important epistemological characteristic that


separates neobehaviorism from the historically prior classical behaviorism.
Neobehaviorism began in American psychology in the 1930s. Among the first
neobehaviorists was E. C.Tolman.Tolman had become acquainted with the European
school of logical positivist philosophy, especially regarding scientific epistemology,
during the 1920s and adapted it to his own theorizing (Smith, 1986). Particularly
important in this scientific epistemology and theorizing was the inclusion of
theoretical terms to represent concepts that were not directly observed but that
could nevertheless contribute to the analysis and explanation of behavior. The
American learning theorist Clark Hull also adapted the neobehaviorist orientation
to his theorizing, and Spence is sometimes identified as having brought to Hull's
attention the appropriateness of theoretical terms in the analyses, explanations, and
theories of behavior that Hull sought to develop. Tolman's approach differed in many
respects from Hull's. For example, Tolman drew many of his analytic and explanatory
concepts from informal observations of everyday behavior. Vicarious-trial-and-error,
represented by an organism's apparent indecision at a choice point in a maze by
perhaps starting to go one direction then reversing to go the other direction, is a
convenient example. In contrast, Hull sought to develop a quantitatively based,
mechanical system for explaining behavior, with a formal, hierarchical system of
postulates, theorems, and corollaries resembling Euclid's geometry and Newton's
Principia. We may now turn our attention to the sense and use of theoretical terms
that Spence brought to the neobehaviorist approach.
Stated simply, Spence sought to clarify, refine, and extend certain features of Hull's
system. Whereas Hull sought to develop theoretical terms that could be expressed
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

mathematically, Spence thought it was useful to adopt a much more flexible,


pragmatic approach.This is not to say that Spence was any less rigorous than Hull, just
less tightly bound to, say, quantitative inferences about the capacities and operating
characteristics of the underlying physiology of the organism. For Spence, it was
important that the theoretical terms contributed to system making. Whereas CNS
usually referred to the Central Nervous System, in many respects those letters were
reinterpreted in the Hull-Spence approach to imply a Conceptual Nervous System
with just the properties necessary to account for some form of observed behavior.
The set of unobservable, underlying mechanisms that are inferred to mediate
behavioral relations have historically been abbreviated simply as O.The result is that
the whole approach in mid-20th century American learning theory, if not psychology

230

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

more broadly, may be referred to as mediational S-O-R neobehaviorism. In a sense,


the 0 suggests underlying mechanisms that are inferred to be inside the organism,
but that in any case are neither environmental nor behavioral, even in principle.
Hullian theory did conceive of many of them as representing mechanisms inside
the organism. For example, some of Hull's theoretical terms concerned inhibition.
Inhibition might be understood as the build-up of fatigue in the nervous system
from having made many effortful responses. However, other cases in Hullian theory
are less clear. Another of Hull's theoretical terms concerned an oscillation factor. An
oscillation factor was an additional factor that was hypothesized to vary randomly and
was only estimated after the fact, to account for a discrepancy between prediction
and observation. In contrast, Spence conceived of theoretical concepts in purely
hypothetical terms. Of course, scientists had to operationally define such terms to
generate agreement, but for Spence they were somewhat more flexible than for Hull.
Indeed, they even approached the flexibility that Tolman advocated for them.
Because the meaning of theoretical terms was established through operational
definition, debates about their ontology could be set aside. For Spence, any concern
about theoretical terms revolved around their instrumental role in systematization.
Some theoretical terms might have their source in physiology, whereas others might
have their source in cognitive or mental language. Nevertheless, the jobs of the
neobehaviorist were simply to ensure the theoretical terms commanded agreement
and could then be used to generate accurate explanations (i.e., predictions) about
the data, as elements in a coherent theoretical account of the behavioral phenomena
in question (Spence, 1944, 1948). An ongoing debate at the time was whether
the operational definition of a theoretical term should be exhaustive or partial
NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

(MacCorquodale & Meehl, 1948). By exhaustive is meant that the term is simply a
summary term for use in one particular situation without any implication that it refers to
a mechanism that actually exists.This is called the intervening variable interpretation.
By partial is meant that the term is flexible with multiple uses in a variety of situations.
Any single use only partially represents the complete nature of the mechanism, and
other uses are possible.This interpretation, called the hypothetical construct, implies
that the term refers to a mechanism that does actually exist, and might therefore
play a role in a various instances of behavior. Theoretical terms in the Hull-Spence
system subscribe to both interpretations, but always with the instrumental aim of
THE

contributing to a coherent explanation of the data.


10 |

231
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

As a final point, we note that Spence's position, as well as many other forms of
neobehaviorism at this time, may also be identified as a form of methodological
behaviorism. These forms advocated admitting only observables into the science of
behavior, in order to generate intersubjective agreement. At the same time, however,
they embraced unobservable concepts, with the justification that unobservables were
nevertheless permissible because they were operationally defined in terms of observables.

Stimulus control and the nature of discrimination learning:


Relational vs absolute stimulus learning and the matter of
transposition
One of Spence's earliest contributions to the literature was in the area of stimulus
control, specifically on the problem of how to understand the phenomenon of
transposition. At issue was whether stimulus control should be understood as the
result of learning based on (a) relations among stimuli or (b) the absolute properties
of the stimuli. Spence's contribution in this area was in keeping with his early
interest in sensory processes, for example, while he was a graduate student at Yale.
Representative research in this area, and its bearing on transposition, is as follows.
Let's suppose we train subjects on a simultaneous discrimination problem
with two stimuli (Kohler, 1918). The stimuli in question are two cards that lie on a
continuous stimulus dimension ranging from very dark grey through progressively
lighter shades of grey to white. A dark grey card is the negative stimulus (S-), meaning
that responding to it does not yield food for a hungry subject. A lighter grey card is
the positive stimulus (S+), meaning that responding to it yields food. Not surprisingly,
we observe that subjects choose the S+ and not the S-. However, in a subsequent
I THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

test, let's suppose we present subjects with a choice between the former S+ and
a new, even lighter grey card in a probe test. In this test, the former S+ is now the
darker of the two. We observe that this time, subjects choose the new grey card,
even though they had never seen it before, and the former S+, responding to which
had previously yielded food, was present as the alternative. Indeed, this result was
observed with a variety of species, from chickens to chimpanzees. At issue was how
to understand why subjects chose a stimulus they had never seen before, rather than
the stimulus that was previously associated with food.
Behaviorism in its classical S-R form was influential in psychology around this time.
According to a reasonably straightforward interpretation of this form of behaviorism,
10

in original training subjects should have learned which stimulus was the S+ on the

232

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

basis of its absolute properties, such as its shade of grey. In subsequent probe tests, it
follows that subjects should always choose that same stimulus because its properties
were associated with food. Thus, as described in Kohler (1918) and elsewhere, the
subjects in such research did not respond according to a behaviorist explanation.
Gestalt psychologists such as Kohler said it was perfectly understandable why
subjects did not respond according to a behaviorist explanation: the behaviorist
explanation was simply wrong. Gestalt psychologists argued that in the original
training, subjects did not learn to respond on the basis of the absolute properties of
the stimuli. Rather, subjects learned to respond on the basis of the relations between
the stimuli. Thus, for Gestalt psychologists it was not correct to say, as behaviorists
did, that in the original training, subjects learned to pick a card of a certain greyness.
Rather, what was correct was to say subjects learned to pick the lighter of the two
grey cards. In the subsequent probe test, the subjects simply demonstrated what
they had previously learned, namely, to pick the lighter of the two grey cards. The
learning that occurred was relational, not based on the absolute properties of the
stimulus. The term transposition was applied to this phenomenon in recognition of a
comparable effect in music: a melody might be transposed into a different key, but the
relations among the individual notes were unaffected.This phenomenon challenged
behaviorist explanations of behavior and suggested that mental explanations might
be suitable after all.
Spence (1936, 1937) published two articles that reclaimed the adequacy of a
behaviorist explanation of this effect, albeit in neobehaviorist terms. In these articles,
Spence argued that in the original training, a hypothetical positive, excitatory gradient
built up around the S+, and a hypothetical negative, inhibitory gradient built up around
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

the S-. The idea of gradients followed from Hullian theory at the time. The algebraic
summation of these two gradients, one positive and the other negative, produced a
net gradient whose highest point was shifted away from the S- and toward the lighter
card. Thus, when that new lighter card was presented for choice with the original S+,
subjects responded to the new card because it had the greater net strength, even as
compared with the original S+.This analysis didn't disprove relational learning in any
formal sense, rather only that a behaviorist approach could adequately explain what
had been a thorny problem, thought to be beyond the scope of behaviorist theory.
Figure 1 below, taken from Spence (1937, p. 433), graphically represents Spence's
analysis. Note that the units of the x-axis, designating the continuous stimulus
dimension, are now expressed as size in cm- of a square on a stimulus card, rather

233
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

than greyness of a stimulus card. In addition, the specific values correspond to an


equal-interval scale as expressed in log units, rather than cm2.

Figure 1. Diagrammatic representation of relations between the hypothetical


generalization curves, positive and negative, after training on the stimulus
combination 256 (+) and 160 (-)

Here, subjects might be trained with an S- of 160 cm2 and an S+ of 256 cm2. An
inhibitory gradient (dashed line) is generated around the 160 cm2 stimulus, and an
excitatory gradient (solid line) is generated around the 256 cm2stimulus.The response
strength at any point along the continuum is the algebraic summation or the net of
the excitatory strength minus the inhibitory strength. When a 256 cm2 stimulus is
then pitted against a 409 cm2 stimulus in a test trial, subjects can be expected to
choose the stimulus with the greater net strength, which no longer exists at 256 cm2,
but rather at 409 cm2.Thus, the theoretical prediction is consistent with observations.
The training situation described above is known as a "near" problem, in the sense
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

that the new stimulus chosen for testing (409 cm2) lies near the original S+ (256 cm2)
on the continuum. One question that arises from Spence's analysis is what happens
in a "far" problem. In a far problem, suppose we again train with an S- of 160 cm2 and
an S+ of 256 cm2. In the test, we present subjects with a choice between the 256 cm2
and 1049 cm2 stimuli. Here, the properties of the new stimulus place it distant on the
continuum, far from the original S+. The relational learning prediction from Gestalt
theory is that subjects should again choose on the basis of the relations between the
stimuli.Therefore, they should again choose the new stimulus. However, research has
found subjects choose the 256 cm2 stimulus, consistent with Spence's prediction that
subjects choose on the basis of the greater net excitatory strength of this stimulus.

234

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

One possible limitation of Spence's analysis isthe"intermediate-stimulus problem".


In this problem, subjects are trained originally with three stimuli on the continuum.
One is an S+ that lies in between, or intermediate between, a first S- that lies below it
on the continuum and a second S- that lies above it. The test condition here involves
presenting three stimuli. One is the former S+. A second is the S- from original training
that lies higher on the continuum. A third is a new stimulus that lies even higher on
the continuum.
According to Spence's analysis, the resulting net gradient remains highest for
the original, training S+. In other words, the stimulus with the greatest net excitatory
strength doesn't shift. Hence, the prediction is that subjects should continue to choose
the training S+, validating stimulus control based on absolute stimulus properties.
In contrast, according to Gestalt theory, in original training the subjects learn
to choose the middle or intermediate stimulus. The prediction is that they should
transpose this learning in the test condition and choose the middle stimulus again,
which is the S- that was employed in original training and lies just beyond the S+
on the continuum.
Spence (1942) argued in favor of his analysis. However, others, and perhaps the
majority of cases, have found relational not absolute learning (Gonzalez, Gentry, &
Bitterman, 1954). At present, it appears that whether subjects learn on the basis of
absolute stimulus properties or relations between or among stimuli is a far more
complex question than originally thought. Results depend on the nature of the
stimuli, training procedures, and perhaps even the species of subjects.
Spence did not restrict his theorizing about the nature of discrimination learning
to non-human subjects. Indeed, advocates of the Hull-Spence approach sought to
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

apply comparable analyses to a broad range of human conditions, including anxiety,


Freudian psychopathology and human development. Transposition is a case in point.
Kuenne (1946) trained groups of children on a size discrimination problem. The
children were then tested for transposition on a near test and a far test. The mental
ages of the children ranged from 3 to 6 years. On the near test, all transposition scores
were very similar. However, on a far test, the children with the higher mental ages
gave higher transposition scores. In addition, children who were able to describe the
relation between the stimuli showed transposition on 100% of the trials, in contrast
to those who could not describe the relation responded only at chance levels. Reese
(1968) presents an authoritative summary of such research.

235
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

One further implication of Spence's approach is that learning is continuous,


rather than discontinuous. In other words, for Spence it is appropriate to attribute
changes in behavior in terms of successive increments in response strength arising
from experience, rather than in terms of a nonbehavioral, pre-solution period during
which subjects mentally and vicariously weigh hypotheses about particular courses
of action, after which they adjust their behavior accordingly. To be sure, a subject's
behavior may appear to change abruptly through saltatory nonbehavioral processes,
as Tolman and his students argued, but to so conclude is mistaken. Subjects may
only be responding with respect to different stimuli across a series of trials, which
is not necessarily reflected in response measures. Overall, questions about the basis
for discrimination learning continue to be heavily investigated in experimental
laboratories around the globe, and owe much to Spence's early work in the field.

Procedural interlude: Classical and instrumental conditioning


As we have seen, Hull sought to develop a comprehensive logical, mechanical
approach to the explanation of behavior. He argued that the fundamental motivating
force for behavior was the drive created by aversive stimulation or deprivation related
to the metabolic, biological necessities for life. For example, the hunger drive was
assumed to increase as hours of food deprivation increased. Reinforcement consisted
in drive reduction or, as later expressed, drive stimulus reduction. He then argued that
all learning was attributable to the reinforcement provided by the reduction of the
drive or the stimuli associated with the drive.
Hull distinguished between classical and instrumental conditioning, but purely
on procedural grounds. Reinforcement was necessary for learning, but only one
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

underlying process was assumed: reinforcement by drive reduction, regardless of


whether the procedure was called classical or instrumental conditioning. Thus, Hull
did not distinguish between "respondents" and "operants" as two different types of
behavior caused by two different processes. Moreover, he did not use different terms
like''elicit"and"emit"to characterize two (or more) different processes. Rather, he used
just one term — evoke — because he felt there was only one underlying process that
caused behavior. Behavior was learned when a stimulus was present, a response was
made and the response was followed closely in time by drive reduction. The measure
of learning was an increased tendency of the stimulus to evoke the response when
the stimulus was next presented. The learned behavior was then performed when

236

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

the subject was motivated by being under a drive state and in the presence of an
appropriate stimulus.
At this point, it is useful to review how reinforcement by drive reduction is
conceivably involved in both classical and instrumental conditioning with both
appetitive and aversive stimuli, as the review will help us to understand several Hull-
Spence research examples reviewed later in this chapter. As suggested above, Hull
held a drive reduction view in all of these four cases. Early in his career, Spence also
held a drive reduction view in the four cases. Later, be continued to hold a drive
reduction view on the two cases involving classical conditioning, but introduced
modifications to the processes that were involved in instrumental conditioning. We
will review Spence's modifications later in this chapter.

Drive reduction in classical conditioning with an appetitive US


Suppose we use Pavlov's dogs to illustrate the case of classical conditioning
involving an appetitive US (unconditional stimulus). The US is food, the response is
salivation and the CS (conditional stimulus) is a tone. First, we induce a hunger drive in
the dog by depriving it of food. Then, we present a tone a short time before delivering
food. When the dog is in a drive state, its natural reaction to the food is to salivate.This
response is a fractional anticipatory goal response and part of what was called the
rg-sg mechanism in Hull-Spence theory. According to this concept, subjects have an
innate tendency to respond in particular ways when they are about to encounter goal
objects. For example, they may salivate or make small movements with the mouth
and tongue. Thus, the tone is present when the food is given to the dog and when
the dog begins to salivate. The dog then eats the food, thereby reducing its hunger
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K. VV. SPENCE (1907-1967)

drive. The three elements necessary for conditioning are all involved: a stimulus (the
tone), a response (salivation) and reinforcement through drive reduction (the hunger
drive is reduced when the dog eats the food).Thus, learning occurs, as reflected by an
increased tendency for the stimulus to evoke the response: the dog salivates when
the tone is next presented.

Drive reduction in classical conditioning with an aversive US


Now, suppose we consider a case of classical conditioning involving an aversive
US, such as eyeblink conditioning. The US is a puff of air to the eye, the response is a
blink and the CS is a tone. Indeed, Spence favored eyeblink conditioning in much of
his human research. The procedure involves presenting the tone a short time before

237
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

delivering the puff of air to the eye. We induce a drive state, i.e., of pain, by delivering
the puff of air to the eye. The drive state lasts until the air puff ends. The natural
reaction to the puff is to blink. Thus, the tone is present when the air puff is given
and the subject blinks. Drive is reduced when the air puff ends. All three elements
are involved: a stimulus (the tone), a response (the blink) and reinforcement through
drive reduction (the pain drive is reduced when the puff ends).Thus, learning occurs,
as reflected by an increased tendency for the stimulus to evoke the response: the
person blinks the next time the tone is presented. Comparable events take place in
human galvanic skin response (GSR) conditioning, when we induce a drive state by
delivering a shock as the US.
Note that in these the two cases above involving classical conditioning, Spence
is not saying that the response must actually produce the food or terminate the air
puff. Moreover, the response is not purposive: the subject need not salivate in order to
get the food or blink in order to terminate the air puff. If the response does have this
consequence, so much the better for the subject, but the important relation is purely
that of temporal contiguity: given that a stimulus is present, is a response followed by
drive reduction in the presence of the stimulus? If so, then reinforcement has taken
place, and learning occurs, as reflected by an increased tendency for the stimulus to
evoke the response.

Drive reduction in instrumental conditioning with a positive


reinforcement procedure
The application of drive reduction to instrumental learning involving positive
and negative reinforcement procedures is relatively straightforward. Let us consider
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

learning involving a positive reinforcement procedure. In the first illustration, suppose


we use a straight alley or maze as the apparatus. We induce a hunger drive by depriving
a rat of food. The rat receives a food pellet in the goal box of the apparatus. Various
stimuli, both inside of the apparatus (the feel of the floor, the look of the sides, stripes
or figures on stimulus cards at choice points of the apparatus) and outside (overhead
lights, windows, walls), are present at the time the animal runs into the goal box and
gets the food. All three elements are involved: stimuli (those inside and outside of the
apparatus), a response (running through the apparatus) and reinforcement through
drive reduction (the hunger drive is reduced when the rat eats the food). Learning
occurs, as reflected by an increased tendency for the stimuli associated with the

238

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

apparatus to evoke the response: the rat runs through the apparatus the next time it
is placed in the apparatus.
In a second illustration, suppose we use a familiar operant chamber with a light
over a response lever. When the light is on, the rat presses the lever, produces a food
pellet and then eats it. When the light is off, responses do not produce a food pellet.
Again, all three elements are involved: a stimulus (the light over the lever), a response
(the lever press) and reinforcement through drive reduction (the hunger drive is
reduced when the rat eats the food). As before, learning occurs, as reflected by an
increased tendency for the stimulus to evoke the response: the rat presses the lever
when the light is next illuminated.
Important to note in these illustrations is that for Hull-Spence theory as it
is described here, all reinforcement is of the kind that B. F. Skinner later called
negative reinforcement. For example, the animal is in an important sense under a
drive to "escape" from the aversive stimulation of hunger. Hull-Spence theorists
would argue that to consider the behavior a function of positive reinforcement is to
comprehensively misunderstand what is going on.

Drive reduction in instrumental conditioning with a


negative reinforcement procedure
Now let us consider learning involving a more explicit negative reinforcement
procedure. In the first illustration, suppose we use a straight alley or maze. We induce
a pain drive by administering electric shock to the paws of a rat in the start box and
runway of the apparatus. The rat must run through the apparatus to get to a goal box
that is safe from the shock, i.e., escape the pain induced by the shock. As with positive
| THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

reinforcement, various stimuli, both inside the apparatus (the feel of the floor, the
look of the sides, stripes or figures on cards) and outside (overhead lights, windows,
walls), are present at the time the animal reaches safety. Again, all three elements
are involved: stimuli (both inside and outside of the apparatus), a response (running)
and reinforcement through drive reduction (the pain drive is reduced when the rat
reaches the safe place). Learning occurs, as reflected by an increased tendency for
the stimuli associated with the apparatus to evoke the response: the rat runs through
the apparatus to the safety of the goal box the next time it is placed in the apparatus.
In a second illustration, suppose we use an operant chamber with a light over a
response lever. As before, we induce a pain drive by administering electric shock to
10

the paws of a rat. When the light is on, a lever press terminates the shock. When the

239
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

light is off, a lever press has no effect. Again, all three elements are involved: a stimulus
(the light), a response (a lever press) and reinforcement through drive reduction (the
pain drive is reduced when the shock is terminated). Learning occurs, as reflected
by an increased tendency for the stimulus to evoke the response: the rat presses the
lever when the light is next illuminated.
In the typical case of instrumental conditioning, the response is responsible for
the drive reduction. However, the cause-effect relation between the response and
the offset of the shock or the apparent "purposiveness" of the response is incidental.
Again, the important relation is one of temporal contiguity: is drive reduced when a
response is made in the presence of a stimulus? If so, then reinforcement has taken
place, and learning occurs, as reflected by an increased tendency for the stimulus to
evoke the response. The instrumental conditioning procedure is just an especially
good method for ensuring that in the presence of some stimulus the response
produces a food pellet and the hunger drive is reduced, or that in the presence of
some stimulus the response terminates the shock and the pain drive is reduced.
Spence worked within the procedural framework described above for much of his
career, but eventually introduced his own modifications. Some of these modifications
concerned the nature of drive, which Spence conceived of in broader terms than did
Hull. Others concerned the role of food reinforcement in instrumental conditioning
procedures, which Spence conceived of in terms of incentive motivation. We now
turn to these topics.

Spence on the nature of drive


As we have seen, drive was the primary motivator of behavior for Hull. However,
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

Hull modified his original conception of reinforcement to bring in the sense of drive
stimulus reduction.This modification brought the conception of reinforcement in line
with such experimental results as Sheffield and Roby (1950), who demonstrated that
a non-nutritive substance such as saccharine would serve as a reinforcer. If it was non­
nutritive, it didn't have any calories. If it didn't have any calories, how could it reduce
a metabolic drive? According to Hull's modified ideas, when a subject was deprived
of food, it was also deprived of things that tasted good. It was therefore experiencing
stimulation from a drive to consume things that tasted good. Saccharine tasted good,
and would therefore serve as a reinforcer, even though strictly speaking it had no
caloric content and therefore couldn't reduce a metabolic drive.

?40

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Spence continued to recognize the importance of drive (stimulus) reduction,


but added a sense of cognitive cues and emotional drives. We have already seen
cognitive cues having to do with verbal processes: children who can verbalize the
relation between two stimuli do show the transposition effect, whereas those who
cannot verbalize the relation show the effect to a much lesser extent, if at all. Spence
had comparable ideas about the role of instructions, since they can also obviously
influence conditioning.
We may now consider two cases of emotional drives. The first concerns the role of
frustration as an emotional drive in extinction and the partial reinforcement extinction
effect. The second concerns the role of anxiety as an emotional drive in conditioning.

Emotional drive: Extinction, the partial reinforcement effect,


frustration, and lN
In the original Hullian system, behavior came about because responses had been
previously reinforced and the subject was currently motivated. The more trials that
had ended with reinforcement, the stronger was the behavior. Extinction came about
through inhibition, the Hullian terms for which were IR (reactive inhibition) and SIR
(conditioned inhibition). Subjects made responses that were no longer reinforced,
and eventually inhibition increased so as to cancel any excitatory tendencies from
previous reinforcement.
One challenge to this approach was the partial reinforcement effect (PRE). Here,
extinction was examined first with subjects who had a history of reinforcement on
100% of N trials, and then with subjects who had a history of reinforcement on a
random 50% of N trials. Note that all subjects had an equal number of trials, but
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

an unequal number of reinforcements. The first group had twice as many. Then all
subjects were trained without reinforcement, until responding ceased. Some research
was done with human subjects using eyeblink conditioning (Humphreys, 1939), and
some was done with nonhuman subjects. In each case, at issue was which group
made more responses in extinction. This measure was one of the conventionally
accepted measures of the strength of conditioning. If subjects in the 100% group had
twice as many reinforcements as the 50% group, their response strengths should have
been greater, and they should make more responses in extinction. However, results
clearly showed that subjects in the 50% group made more responses in extinction. At
issue was how to explain this seemingly paradoxical effect.

241
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Spence argued for a solution by suggesting that extinction, as a process of non­


reinforcement, creates an emotional drive of frustration that becomes conditioned to
the experimental apparatus. When subjects are placed in the apparatus after a series
of extinction trials, the subjects are motivated to get away. For example, suppose
we have a hungry rat that is trained in a runway with food in the goal box. If the rat
runs down the runway but doesn't get food, the rat is said to become frustrated. The
frustration generalizes back from the goal box to the start box. When the rat is placed
in the start box, it escapes from the frustration by doing something incompatible with
running toward the goal box, such as climbing out of the start box and running in the
opposite direction.
An explanation of the PRE follows from this approach. Relatively early during
training, a rat in the 50% group experiences frustration when it is not given food on
some particular trial. However, the frustration is not assumed to be strong enough
to evoke incompatible behavior, such as running away from the goal box. Then, say
on the next trial, the rat runs down to the goal box and receives food. The stimuli
from being frustrated on the previous trial are present at the time of reinforcement
on the following trial, and in an interesting way these stimuli actually acquire some
positive or excitatory strength.This pattern continues during training. When the 50%
group is switched to extinction, the rat experiences the stimuli from being frustrated
on trials without reinforcement, but these stimuli have previously acquired an
excitatory strength. The result is that these frustration cues lead the rat to persist
in the response. Eventually, of course, IN does become strong enough and the rat
does cease running toward the goal box. A rat in the 100% group does not have the
benefit of the frustration cues contributing positively to response strength, with the
NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

result that this rat stops responding much sooner. Amsel (1958) provides a summary
of this general approach.
Spence's approach to extinction appeals to inhibition through non-reinforcement,
or lN, rather than Hullian reactive inhibition, or lR. Given Spence's theoretical
assumptions and license to postulate unobservable mechanisms that will help
explain the data, the concept of lNworks reasonably well for, say, a rat running down
a runway. Less obvious is how l[; applies to human conditioning. How reasonable is it
to say that in human eyeblink conditioning, humans are frustrated when they don't
experience a puff of air to the eye? How reasonable is it to say that in human GSR
THE

conditioning, humans are frustrated when they don't experience a shock? We can
I 10

add assumptions that humans prepare themselves for either the puff of air or the

242

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

shock, and when the stimulus in question doesn't occur on an extinction trial, they
become frustrated, but the merit of such ad hoc assumptions is somewhat doubtful.

Emotional drive: Eyeblink conditioning and TMAS


Studies of human eyeblink conditioning reveal another interesting finding that
pertains to emotional drives (Taylor, 1951). First, some subjects condition better than
others on a simple eyelid conditioning procedure (e.g., with a single stimulus, CS+).
Second, the subjects who condition better on a simple procedure, condition poorly
on a complex procedure (e.g., a successive discrimination between two stimuli,
CS+ and CS-). Third, the subjects who condition less well on a simple procedure,
condition about the same way on both simple and complex procedures. How can
we explain these results?
Interestingly, the subjects who condition poorly on the complex procedure do
so because they respond too much to the CS-. Even more interestingly, we can use a
paper-and-pencil test to identify the two types of subjects. We can extract questions
related to anxiety on a well-known personality test, the Minnesota Multiphasic
Personality Inventory (MMPI), and call them theTaylor Manifest Anxiety Scale (TMAS).
The individual who carried out this project is Janet Taylor, one of Spence's students
and later his wife. Subjects who condition better than others on a simple procedure
but poorly on a complex procedure have high anxiety scores on the TMAS, whereas
subjects who condition about the same on the two procedures have lower scores.
The interpretation of these data is that anxiety is an emotional drive that increases
total drive in a conditioning procedure. More drive evokes more responding to
CS+ in a simple procedure, which accounts for better conditioning, but also more
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)

responding to CS- in complex/discrimination procedure, which accounts for poorer


conditioning. Analogous results might occur if conditioning was carried out in
one case when the subjects were seated in a comfortable armchair vs seated in
a dentist's chair. The dentist's chair could conceivably be a source of anxiety that
influenced conditioning.

243
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Incentive motivation

Latent learning
The decades of the 1930s to the 1950s were known for their intense theoretical
debates. Of particular theoretical importance was the topic of latent learning.
According to Kimble (1961),

The term latent learning refers to the fact that, under certain circumstances,
animals apparently can acquire habits which are not immediately translated
into performance, either because of the absence of reward or because the
animal is not motivated for a reward which is present, (p. 237)

This topic was a direct challenge to the Hullian system, which in its raw form
held that learning occurred when a subject made a response in the presence of an
antecedent stimulus that was followed by drive reduction. In other words, subjects
should exhibit no evidence of learning if they had not made a response that was
followed by drive reduction.
Tolman and his students had conducted a wide variety of experiments showing
that apparently subjects do show evidence of learning, even though they had not
made a response followed by drive reduction. Tolman viewed these experiments as
indicating that subjects learn stimulus-stimulus relations, according to something
resembling Gestalt principles, rather than stimulus-response relations, according
to behaviorist principles. Latent learning experiments can be organized into
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

as many as five different types, based on the procedures that were employed
(Thistlethwaite, 1951). It is beyond the scope of this chapter to analyze all five types.
Accordingly, we will simply summarize in fairly general terms one representative
example to illustrate the controversy.
In one of the most widely recognized types, in phase 1 of training rats that were
not food deprived were allowed to explore a maze (Tolman & Honzik, 1930). In phase
2 of training, the rats were then food deprived and returned to the maze. The rats
now found food in the goal box of the maze after they had completed it. At issue
were how readily and with how many errors did these rats learn to run the maze?
The results indicated that these rats learned to navigate the maze in fewer trials and
with fewer errors than did control rats that did not have the preliminary opportunity

244

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

to explore the maze.Tolman interpreted these results as indicating that in phase 1 of


training, the rats had indeed learned something about the maze, even though their
responses weren't followed by drive reduction because the rats weren't under a drive
state. Again, this interpretation was a direct challenge to the Hullian system.
Spence sought to explain the overall pattern of results in a way that was consistent
with Hullian theory. To do so, he emphasized the concept of incentive motivation.
Hull had included the term K for incentive motivation in his theory, and a common
understanding is that he did so in recognition of Spence's initial contributions in
this area. Remember, Spence's first name was Kenneth. Spence then expanded
the concept of incentive through the 1940s. When it came to latent learning
experiments, Spence emphasized the rc-sq mechanism in connection with incentive
motivation. The rg-sg mechanism involves the fractional anticipatory goal response,
which we have previously encountered. These small-scale motor responses have
proprioceptive or kinesthetic stimulus properties that acguire discriminative
and motivational stimulus functions in the subject's life. It is this latter function
that applies to incentive motivation. Thus, in a latent learning experiment, a non-
deprived rat runs through a maze and finds food in the goal box.The food in the goal
box evokes the rg-sg mechanism, which then generalizes back to stimuli at the start
box through classical conditioning relations. When the rat is now food deprived and
finds food in the goal box, the incentive to respond is greater because of the food,
and the r -sn mechanism is in already place because of the rat's previous experience.
The r -s mechanism serves as a kind of associative glue to connect stimuli and
responses, as well as to motivate and effectively guide behavior as that behavior
occurs sequentially in some particular context. Thus, rats may well show evidence
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K. VV. SPENCE (1907-1967)

of enhanced learning because the rg-sq mechanism was already in place. The ry-sg
mechanism was hypothetical, but served to account for an otherwise perplexing set
of data. The cognitive notion of expectancy, prominent in Tolman's theorizing, could
then be accommodated throuqh the r -s mechanism.

The relation between D and K


A related phenomenon occurs when the magnitude of reinforcement is shifted.
For example, suppose hungry rats are trained to run a maze with a small number of
pellets in the goal box. Then, the magnitude of the reinforcement is increased, such
that the rats find a larger number of pellets. These rats very quickly run the maze in

245
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

as short a time as rats that had received the larger number of pellets all along (Crespi,
1942; Zeaman, 1949). At issue is how a theoretical model should take parameters
of reinforcement into account. If magnitude of reinforcement is a learning variable,
there shouldn't be this rapid change. Thus, such research suggests that parameters
of reinforcement should be interpreted in terms of incentive (K) and as performance
variables, rather than as learning variables.
Why was this interpretation significant? Hull held that D and K were independent
terms that contributed to reaction potential through a multiplicative relation [sE r
= s H r x D x K x ...]. Spence agreed that D and K were independent terms, but in
contrast to Hull, believed they should be added together to produce an aggregate
quantity ("incentive"). This aggregate quantity then contributed to overall reaction
potential [sE r = s H r x (D + K) x .. ,].The next question is how to decide between these
two theoretical models, which specified different relations between D and K. The
answer is that we must devise some crucial experiment that generates differential
predictions (i.e., deductions) on the basis of the implications of the quantitative
relations specified by each theoretical position. Then, the data will decide which
prediction, and which theoretical model, is correct. The hypothetico-deductive
approach will solve the problem.
The design of one such experiment would be to give subjects a choice
between large and small amounts of reward when they are under Lo-D, then
the same choice when they are under Hi-D. Both the additive and multiplicative
models predict that animals will prefer a large reward over a small one in both
cases.The crucial question is whether preference for the larger reward under Hi-D
is greater than, or remains approximately the same as, that under Lo-D. The results
10 I I HE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)

will tell us whether the relation between D and K is multiplicative, as Hull thought,
or additive, as Spence thought.
The differential predictions follow from an understanding of how the theoretical
concept of reaction potential is calculated in each case. In any given test, if a subject
prefers alternative X over alternative Y, say by going to one goal box rather than
another in a T-maze, then the reaction potential for X is greater than for Y by some
amount. In another test, if a subject prefers X over Y even more than it did in the
first test, then the reaction potential for X is greater than for Y by an even greater
amount than in the first test. According to the algebra of the multiplicative model,
D does contribute to the difference between the reaction potentials. Thus, if D and
K multiply, there will be some difference between the reaction potentials in favor of

246

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

the large reward under Lo-D, but the difference in favor of the large reward should
be even greater under Hi-D.The prediction based on the multiplicative model is that
animals under Hi-D should have a higher preference for the larger reward than those
under Lo-D. According to the algebra of the additive model, D does not contribute
to the difference between the reaction potentials. Thus, if D and K add, the difference
between reaction potentials under Hi-D and Lo-D should remain approximately
the same. The prediction based on the additive model is that animals under Hi-D
should have approximately the same preference for the larger reward as those under
Lo-D. Note that drive is still important in both models. At issue is how it's treated
guantitatively, and what that guantitative treatment implies for the theoretical
relations in the model.
Bower (1964) carried out such an experiment testing the relation between D
and K. This experiment involved two groups of rats: one is the Lo-D group, which
was maintained on a daily ration of 15g of food in the period immediately prior to
beginning the experiment; the other is the Hi-D group, which was maintained on a
daily ration of 9g in the period immediately prior to beginning the experiment.
The rats were then given a series of free and forced choice trials in a T-maze.
The first trial in any given session is free. On the next trial, animal is forced to go to
opposite alternative. Four pellets of food (large reward) are given in one goal box, and
three pellets (small reward) are given in the other.
Note that in this procedure, by the end of training, the rats had received an equal
number of reinforced trials to each goal box. This series of free and forced choice
trials is necessary as a procedural control to equate the habit strengths of stimuli
associated with each goal box.
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

Bower (1964) then gave the rats a series of only free choice trials. The experimental
question is whether, on these free choice trials, the preference for the larger reward
among the Hi-D rats was greater than, or approximately equal to, that among the
Lo-D animals. If it was greater, then the multiplicative model originally proposed by
Hull is supported. If the preference of the Hi-D animals was approximately equal to
that of the Lo-D animals, then the additive model proposed by Spence is supported.
Bower's (1964) results indicated that the Lo-D animals preferred the larger reward
on about 84% of the trials, and the Hi-D animals preferred the larger reward on about
83% of the trials, not a significant difference. Because the preference for the larger
reward shown by the Hi-D rats was approximately equal to that shown by the Lo-D
rats, these data tend to support the additive model proposed by Spence.

247
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

This approach to research typifies the approach taken in Hull-Spence theory. First,
the experimental question is reduced to a testable prediction, where by testable
is meant lending itself to a quantitative decision-making process. Then, a crucial
experimental test is devised, such that if one outcome obtains, then one answer to
the theoretical question is supported, but if another outcome obtains, then another
answer to the theoretical question is supported. Such research was taken to be of
the highest order and significance in learning theory of the time, and legions of Hull-
Spence students followed this procedure to tease out what were taken to be the
critical theoretical relations.
These modifications to incentive motivation meant that Spence's conception
of how reinforcement contributed to learning and performance in classical and
instrumental conditioning procedures differed from Hull's. For Hull, learning in both
classical and instrumental conditioning procedures (s H r) was based on the number
of trials in which there was reinforcement by drive reduction. For Spence, learning
in a classical conditioning procedure remained based on reinforcement by drive
reduction, as it had been for Hull. However, learning in an instrumental conditioning
procedure was based on temporal contiguity — the number of pairings — between
stimulus and response. The actual delivery of food was a matter of incentive, which
affected performance and s E r. Drive contributed to the aggregate motivational
complex, but in an instrumental conditioning procedure, reinforcement by drive
reduction was technically no longer necessary for learning.

Summary and conclusions: Spence's learning theory and


Spence's neobehaviorism
10 I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W. SPENCE (1907-1967)

As research was carried out during the heyday of the Hullian system (late 1930s
into the 1950s), four research findings became particularly challenging. These were:
(a) the importance of such "cognitive factors" as instructions and expectancies; (b) the
PRE; (c) the latent learning experiments; and (d) the manipulations of reinforcement
parameters. Hull had devoted much effort to deal with these findings, but no one was
really satisfied. Spence modified aspects of the Hullian system during the 1950s and
1960s to better explain these findings.
First, Spence included cognitive cues and emotionally-based drives. Cognitive
cues might be those associated with verbal stimuli, such as instructions and
awareness. Emotional drives might be those of frustration from non-reinforcement
and anxiety, in addition to Hull's metabolic, physiologically-based drives. Second,

248

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Spence emphasized the contribution of incentive, especially through the roles of K


and the rg-sg mechanism. The rg-sg mechanism also provided fora way to incorporate
expectancies, which Tolman argued was critical to understanding effects like latent
learning. These modifications, which again were driven by such research findings
as reviewed previously in the chapter, meant that Spence's conception of how
reinforcement contributed to learning and performance in classical and instrumental
conditioning procedures differed fundamentally from Hull's.
Hull adopted a one-process approach to learning: drive reduction. Spence actually
adopted a two-process approach. For Spence, reinforcement through drive reduction
was responsible for learning in a classical conditioning procedure (as it was for Hull),
but not for learning in an instrumental conditioning procedure. There, learning was
a matter of temporal contiguity between stimulus and response. For Spence, in an
instrumental learning procedure the food presentation was nevertheless important
for two reasons: (a) as incentive motivation and (b) as the means for getting the
response to occur in the first place. It was just that the food presentation itself was
related to performance rather than learning.
In comparison, we can mention B. F. Skinner. Skinner wasn't interested in
theoretically partitioning the supposed differences between learning and
performance. Rather, he was interested in the practical question of how to get an
organism to engage in the desired behavior at the desired time. For Skinner, the
consequence of a response called reinforcement governed operant but not classical
conditioning.To be sure, early in his career, Skinner (1938) did appeal to the concept
of"drive,"but he later dropped his emphasis of it. In addition, Skinner's concept of the
reinforcement of operant behavior wasn't linked to drive reduction. When it came
I THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967)

to the elicited, classically conditioned response, this response could be understood


in terms of the contingent, temporal contiguity involving CS and US, rather than
the consequence of the response. Table 1 below summarizes the differences among
Hull, Spence and Skinner.
10

249
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

TABLE 1 . Differences among Hull, Spence and Skinner

Theorist Classical Conditioning Instrumental Conditioning

Hull Reinforcement by drive reduction Reinforcement by drive reduction

Spence Reinforcement by drive reduction Contiguity between S and R

Skinner Contingency and contiguity involving Operant reinforcement and selection


CS and US by consequences*

*not necessarily related to drive reduction.

Spence was a neobehaviorist to which we can add "of the highest order."
Neobehaviorists sought to improve on classical S-R behaviorism by incorporating
hypothetical mediating states, mechanisms, processes, structures, and the like in
theoretical accounts of behavior. The result was an S- O-R formulation of behavior,
where the 0 variables represented the hypothetical or theoretical entities. Because
the entities were hypothetical, they were not directly observable, but they were
nevertheless presumed to underlie observable behavioral phenomena and to
mediate the relation between S and R. Neobehaviorists argued that simple S-R
accounts based purely on observables were sterile and fell short of being genuinely
explanatory. Hence, to secure explanations of sufficient richness, it was necessary
to incorporate hypothetical entities. The meaning of the hypothetical, theoretical
entities could be agreed upon through operational definitions, which allowed
neobehaviorists to claim they were avoiding the problems that structuralists and
functionalists created when they appealed to introspection of unobservables.
Neobehaviorists generally sidestepped discussions of the ontology of the theoretical
I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)

entities, arguing that designating them as theoretical was sufficient. Debates about
their ontology were unnecessary if the entities were instrumental in generating
testable predictions. Theories were attributed to the ingenuity and creative insight
of the theorists themselves. Tolman, Hull and Spence are probably the best known
neobehaviorists. Their conceptions of the mediating variables differed, but all agreed
on the importance of developing a rich set of mediating theoretical variables in
what amounted to an S-O-R orientation, in order to overcome what they saw as the
shortcomings of classical S-R behaviorism.
Overall, Spence emerged as the principal successor to and advocate of the
neobehaviorist system launched by Clark Hull, such that the system is now often
known as the Hull-Spence approach.To be sure, we use the designation Hull-Spence
10

250

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

approach advisedly, as many contemporary experimental psychologists who identify


themselves as advocates of this approach might argue the approach has continued
to evolve, just as Hull and Spence thought it should, and its contemporary form
differs appreciably from that of the middle of the 20th century. Spence was roughly
a contemporary of B. F. Skinner. However, Spence differed sharply from Skinner in
his views of both the subject matter and methods of psychology. Spence was an
experimental psychologist who advocated a traditional approach that involved
theory testing, hypothetical entities, and group-statistical designs. Skinner was
an experimental psychologist who advocated a more thoroughgoing behavioral
approach that did not appeal to hypothetical entities and methods based on group
designs and statistical inference. Indeed, Skinner (1966/1991) disparaged the invention
of mediating terms such as found in the Hull-Spence approach by suggesting that
they served "no other function than to account for failure to relate (...) objective
terminal events in a meaningful way" (pp. xiii-xiv). Instead, Skinner emphasized direct
experimental control and replication within and across a comparatively small number
of subjects, without assertions that inferential statistics justified appeals to mediating
events and entities belonging somewhere else, at some other level of observation,
and measured if at all in different dimensions. For Skinner, theoretical knowledge
was surely a worthy goal of a psychology concerned with conditioning, learning,
and behavior more generally. However, that theoretical knowledge consisted in an
economical, abstract description of facts, reduced to a minimal number of terms,
rather than appeals to hypothetical mediating mechanisms with nonbehavioral
dimensions. Thus, in Skinner's system both the means of producing this theoretical
knowledge and the ultimate form of that knowledge differed substantially from Hull-
10 | THE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)

Spence neobehaviorism.

References
Amsel, A. (1958).The role of frustrative nonreward in noncontinuous reward situations.
Psychological Bulletin, 55,102-119.
Bergmann, G. (1956). The contribution of John B. Watson. Psychological Review, 63,
265-276.
Bergmann, G., & Spence, K. W. (1941). Operationism and theory in psychology.
Psychological Review, 4 8 ,1-14.
Bower, G. H. (1964). Drive level and preference between two incentives. Psychonomic
Science, J, 131-132.

251
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Crespi, L. P. (1942). Quantitative variation of incentive and performance in the white


rat. The American Journal of Psychology, 55,467-517.
Gonzalez, R. C., Gentry, G. V., & Bitterman, M. E. (1954). Relational discrimination of
intermediate size in the chimpanzee. Journal of Comparative and Physiological
Psychology, 47, 385-388.
Hull, C. L. (1951). Essentials of behavior. New Haven: Yale University Press.
Humphreys, L. G. (1939). The effect of random alternation of reinforcement on the
acquisition and extinction of conditioned eyelid reactions. Journal of Experimental
Psychology, 25(2), 141-158.
Kendler, H. H. (1967). Kenneth W. Spence: 1907-1967. Psychological Review, 74,335-341.
Kendler, H. H., & Spence, J.T. (1971). Tenets of neobehaviorism. In H. H. Kendler, & J.T.
Spence (Eds.), Essays in neobehaviorism: A memorial volume to Kenneth W. Spence
(pp. 11-40). New York: Appleton-Century-Crofts.
Kimble, G. A. (1961). Hilgard and Marquis' Conditioning and Learning (2nded.). New York:
Appleton-Century-Crofts.
Kohler, W. (1939). Simple structural functions in the chimpanzee and the chicken. In W.
D. Ellis (Ed.), A source book of Gestalt psychology (pp. 217-259). New York: Harcourt,
Brace. (Original work published 1918).
Kuenne, M. R. (1946). Experimental investigation of the relation of language to
transposition behavior in young children. Journal of Experimental Psychology, 36(6),
471-490.
MacCorquodale, K., & Meehl, P E. (1948). On a distinction between hypothetical
constructs and intervening variables. Psychological Review, 55, 95-107.
Moore, J. (2008). Conceptual foundations of radical behaviorism. Cornwall-on-Hudson,
I THE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)

NY: Sloan.
Myers, C. R. (1970). Journal citations and scientific eminence in contemporary
psychology. American Psychologist, 25(11), 1041 -1048.
Reese, H. W. (1968). The perception of stimulus relations: Discrimination learning and
transposition. New York: Academic Press.
Sheffield, F., & Roby, T. (1950). Reward value of a non-nutritive sweet taste. Journal of
Comparative and Physiological Psychology, 43(6), 471-481.
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1991). Preface to the seventh printing [of The Behavior of Organisms].
Acton, MA: Copley. (Original work published 1966).
10

252

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Smith, L. D. (1986). Behaviorism and logical positivism: A reassessment of the alliance.


Stanford, CA: Stanford University Press.
Spence, K. W. (1936). The nature of discrimination learning in animals. Psychological
Review, 43(5), 427-449.
Spence, K. W. (1937). The differential response in animals to stimuli varying within a
single dimension. Psychological Review, 44(5), 430-444.
Spence, K. W. (1942). The basis of solution by chimpanzees of the intermediate size
problem. Journal of Experimental Psychology, 3/(4), 257-271.
Spence, K. W. (1944). The nature of theory construction in contemporary psychology.
Psychological Review, 5 /(1), 47-68.
Spence, K. W. (1948). The postulates and methods of behaviorism. Psychological
Review, 55,67-78.
Spence, K. W. (1956). Behavior theory and conditioning. New Haven: Yale University Press.
Taylor, J. (1951). The relationship of anxiety to the conditioned eyelid response. Journal
of Experimental Psychology, 41, 81-92.
Thistlethwaite, D. (1951). A critical review of latent learning and related experiments.
Psychological Bulletin, 48(2), 97-129.
Tolman, E. C., & Honzik, C. H. (1930). Introduction and removal of reward, and maze
performance in rats. University of California Publications in Psychology, 4, 257-275.
Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20(2),
158-177.
Watson, J. B. (1925). Behaviorism. New York: Norton.
Zeaman, D. (1949). Response latency as a function of the amount of reinforcement.
Journal of Experimental Psychology, 39(4), 466-483.
| THE NEOBEHAVIORISM OF K.W . SPENCE (1907-1967)
10

253
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

11 LA PSICOLOGIA INTERCO NDUCTUAL


DE J. R. KANTOR (1 888 -19 84)

Emilio Ribes Inesta


Ricardo Pérez-Almonacid

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

La obra de Jacob Robert Kantor es quizás el intento más sistemático y completo


de desarrollar una filosofía naturalista para la psicología. Su obra no es en sí misma un
sistema psicológico, como disciplina, sino una propuesta categorial y conceptual para
una psicología científica que supere los sesgos dualistas y mecanicistas que le han sido
connaturales. Este interés lo ha ubicado históricamente como un representante del
conductismo. Sin duda, él se sentía cercano a esta forma de concebir la psicología pero
también ofreció serias críticas al conductismo dominante, surgidas principalmente al
adoptar su modelo de campo como herramienta analítica (cf. Kantor, 1970a).
Lo prolífico de su obra, sin embargo, no ha sido proporcional a su difusión e
impacto (cf. Morris, 1982; Hayes & Fredericks, 1999). Posiblemente el carácter tan
teórico-filosófico de su obra, comparado con el programa disciplinar experimental
de las escuelas conductistas de la época, pueda ser la razón principal. A la obra de
Kantor usualmente llegan estudiosos del comportamiento con intereses filosóficos
y conceptuales, especialmente relacionados con el comportamiento humano, y que
no encuentran satisfacción en la alternativa skinneriana, principalmente.
El presente capítulo pretende mostrar brevemente en qué consistió su propuesta 11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

y en qué medida es diferente de las demás escuelas conductistas. Al final ofreceremos


una apreciación personal de sus contribuciones y una bibliografía selecta con la
totalidad de sus libros, capítulos y artículos.

Consideraciones históricas generales


Kantor nació el 8 de agosto de 1888 en Harrisburg, Pennsylvania, Estados Unidos.
Era el mayor entre los hombres de los 7 hijos que tuvieron sus padres, un rabino alemán
y una mujer lituana de recién inmigración. Kantor (1976d) recordaba su infancia como
una época en la que pudo conocer y contrastar diversas manifestaciones culturales,
religiosas, políticas y económicas en su entorno. De esa experiencia, surgió su interés
en estudiar y comprender la diferencia entre los eventos naturales y lo que la gente
decía y creía sobre ellos (cf. p. 121), pues notaba cómo eso era la principal fuente
de conflictos entre las personas, y cómo la incongruencia entre lo que se decía y se

257

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

hacía estaba presente incluso en su padre y en su gente de confianza (Mountjoy &


Cone, 2006).
A los 11 años murió su padre y se trasladó junto con su familia a Chicago en medio
de una situación económica exigente, que no fue obstáculo para que culminara
su bachillerato en el Valparaíso College e ingresara a la Universidad de Chicago
en 1911. Ingresó a estudiar filosofía como opción principal y psicología como
opción secundaria, en un momento privilegiado, pues justo la psicología se estaba
separando institucionalmente de la filosofía a raíz de la consolidación de programas
científico-experimentales que la dotaban de una identidad disciplinar que no tenía.
Fue en ese lugar y en ese momento en el que se encontraba en mayor apogeo el
funcionalismo norteamericano representado por James Rowland Angelí (Boring,
1950/1990), presidente de la American Psychological Associatino en 1906 y maestro
de John Watson. De hecho, Kantor tomó un curso con Watson en 1914 y luego, en
1920, éste lo invitaría a dictar una conferencia en el New School of Social Research, en
Nueva York (Morris, 1982).
En 1914 se inscribió en el programa doctoral de la misma universidad y cubrió una
vacante en la Universidad de Minnesota entre 1915 y 1917. Según comenta (Kantor,
1976d), fue una época muy estimulante, pues se obligó a aclarar su postura sobre la
psicología y la lógica, lo cual culminó en su disertación doctoral titulada Lo naturaleza
funcional de las categorías filosóficast que le mereció una mención magna cum laude.
Los cursos que impartió en la Universidad de Minnesota sobre introducción a la
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

psicología, psicología experimental y psicología anormal, le permitieron reflexionar y


fijar su postura frente a diversos tópicos que bien pueden resumirse como un rechazo
abierto al dualismo; en su lugar, propuso centrarse en los ajustes de los organismos,
como unidades totales, a condiciones ambientales y analizar esto como un campo
de relaciones (cf. Kantor, 1976d, p. 122). Esto sería el comienzo de la psicología
organism o, como la denominó inicialmente, o psicología interconductual, como
finalmente fue denominada.
Ese trabajo le valió una plaza en su universidad, la de Chicago, entre 1917 y 1920,
época en la que nació su hija Helene Juliette, fruto de su matrimonio con Helen
Rich, con quien había contraído nupcias en 1916. En 1920 aceptó una plaza en la
Universidad de Indiana en Bloomington, en donde permanecería hasta 1959. Esas
casi cuatro décadas concentraron la mayor parte de su producción intelectual, con
la fiel compañía y el valioso apoyo de su esposa quien fallecería en el otoño de 1956.

258

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

La Universidad de Indiana tenía un gran renombre en psicología durante esa


época porque tenía el segundo laboratorio de psicología experimental de Estados
Unidos, tenía una altísima producción académica y contaba con una de las primeras
clínicas psicológicas (Hearst & Capshew, 1988). En la primera época de su producción
intelectual se interesó por el tema de la percepción lo cual le facilitó distinguir
conceptos centrales como estímulo, de objeto de estímulo, función de estímulo y
medio de estimulación (Kantor, 1920c, 1922a). Este tipo de distinciones sutiles
se convertirían en su forma distintiva de proceder, con un interés permanente
de poner las categorías y conceptos psicológicos en su lugar apropiado. El
resultado de esas primeras disquisiciones se plasmaron sistemáticamente en su
primera gran obra: Principies of Psychology, en 1924. En adelante, su producción
continuó en medio de varios sabáticos que aprovechó para hacer estancias en
Europa, Asia y Medio Oriente, en una de las cuales visitó a Luria, a quien respetaba
académicamente (Mlountjoy & Cone, 2006).
Durante ese período también ocupó cargos institucionales: fue fundador y gestor
de la editorial Principio Press en 1932, así como la revista Psychological Record en 1937.
Entre 1941 y 1945 fue jefe de Departamento y en su último año invitó a B. F. Skinner
para asumir la jefatura, quien aceptó hasta 1947; ambos se habían conocido en
Minnesota y por razones editoriales. Con la llegada de Skinner se incorporaron otros
académicos entre los que destacaban W.K Estes y W. Verplanck. Fue una época de un
ambiente intelectual muy estimulante. Posteriormente Kantor asumiría el interinato
que dejó el retiro de Skinner en 1947 y luego otro en 1952. | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J.R. KANTOR (1888-1984)

Kantor era principalmente un académico, un pensador y un maestro. Verplanck


(1983) lo recuerda trabajando asiduamente en su oficina, atestada de libros y revistas.
Wolf (1984) cuenta cómo los estudiantes lo recordaban por un estilo pedagógico
socrático principalmente alrededor de la distinción entre eventos y constructos.
Hyneman (1965, como se cita en Hearst & Capshew, 1988) decía que como ningún
otro había despertado en él un respeto por la evidencia y una disposición permanente
a probar los supuestos del pensamiento. Rué Comwell, un estudiante de la época,
comentó que en las tutorías de investigación él no solía trabajar de forma colaborativa
y exigía un estándar de desempeño tremendamente alto (Hayes & Fredericks, 1999).
Una pregunta inevitable, y más en el contexto del presente libro, es sobre
la relación personal y académica entre Kantor y Skinner, dada su coincidencia
histórica e institucional. Además del contacto editorial, el escenario que los convocó
explícitamente fue el Seminario de Posgrado sobre Construcción Teórica en Psicología
11

259
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

llevado a cabo en la Universidad de Indiana en 1946 (Verplanck, 1983; Hearst &


Capshew, 1988). En ese espacio se reunían profesores y estudiantes de diversas
orientaciones teóricas pero especialmente kantorianos y skinnerianos. Según escriben
los testigos, la interacción entre ambos era cordial y el debate se despertaba más
entre sus estudiantes que entre ellos mismos. Los principales asuntos de discusión
eran la importancia relativa de la experimentación controlada, las aplicaciones
derivadas de la investigación y la necesidad de desarrollar categorías más sensibles
a las especificidades de la conducta humana (sobre esto último, Morris, 1982). Estos,
entre otros asuntos, aún distinguen a las comunidades kantorianas y skinnerianas.
Skinner (1938) citó a Kantor cuando se refirió a la imposibilidad de definir un
estímulo funcional sin referencia a una respuesta. Así mismo, Skinner (1967) confesó
su gran aprecio por la extraordinaria calidad académica de Kantor y por haberlo
convencido de que aún no había exorcizado todos los "fantasmas" (spooks) de su
pensamiento. Más adelante, Skinner (1974) reconoció la influencia decisiva de
Kantor para dejar de hablar de pulsión (drive). Y finalmente (Skinner, 1979) afirmó lo
siguiente:"Nunca fui capaz de acercarme a la forma de pensar de Robert Kantor sobre
la conducta, aunque nuestras diferencias eran triviales comparadas con nuestras
semejanzas" (p.325). Verplanck (1983) considera que Skinner realmente nunca se
Interesó en trabajar con Kantor a pesar de su sintonía intelectual por dos razones:
la primera, es que en ese período de cercanía institucional Skinner estaba logrando
la consolidación de su pensamiento (nada más nótese que en 1947 se organizó la
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

primera conferencia sobre Análisis Experimental de la Conducta); y la segunda, es


que Kantor no ofrecía una alternativa o interlocución a varios de los temas que a
Skinner le fascinaban, como era el aparataje experimental, los pichones, las medidas,
etc., que están detrás del robusto programa de Investigación que emprendió, que
todavía sigue dando frutos, y que atrapó a toda una sociedad pragmatista como la
norteamericana (cf. Morris, 1982). Ciertamente, Kantor sólo publicó un experimento
como co-autor (David & Kantor, 1935) sobre la resistencia eléctrica de la piel bajo
una condición de hipnosis y otra de inducción de sueño. Hayes y Fredericks (1999)
señalan, acertadamente, que eso no fue ni un accidente ni una debilidad ni una falta
de oportunidad; sólo no fue su vocación. Él era un filósofo de la ciencia psicológica.
Kantor habría resaltado la semejanza de su pensamiento con el de Skinner pero
también que no compartía las categorías reflexológicas sobre las que se había
construido éste (Mountjoy, 1985). Así mismo, alguna vez le dijo al primer autor que
respetaba académicamente a Skinner y su habilidad experimental, pero también que

260

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

al final se había dejado seducir por las vanidades del mundo académico y que se
había convertido en una especie de"showman".
Su retiro de la Universidad de Indiana significó un traslado de regreso a Chicago,
junto con su hija, como profesor emérito de la universidad de esta ciudad. Fue un
período de mucho alimento cultural en el cual emprendió varios viajes a diversos
lugares de Interés histórico. También fue profesor visitante de varias universidades,
hasta que su sordera, producto de una enfermedad de Menlére, se lo permitió.
Al final de la década de los sesentas, habría publicado los dos volúmenes de su
invaluable libro de historia de la psicología, TheScientificEvolution ofPsychology. Con
el apoyo de quien sería uno de sus colaboradores y promotores más sobresalientes,
Noel W. Smlth, se fundó en 1969 una publicación The Interbehaviorist, en la que se
publicaban reflexiones derivadas de su obra. Desde 1968 publicó bajo el seudónimo
Observer y A Mitsorg.
Desde la década de los setentas, su trabajo se orientó a precisar cómo sus sistema
de pensamiento podría aplicarse a varias áreas, publicando textos sobre psicología
y lenguaje, psicología cultural, arte, entre otros. Incluso, definió un sistema filosófico
aplicable no sólo a la psicología, sino a otros dominios humanos, el ¡nterbehaviorism
(Morris, 1982).También desde esta década de los setenta, inició una relación personal
y académica con Emilio Ribes, psicólogo mexicano, quien conocía su trabajo desde
1967. Producto de esa relación, Kantor visitó México en varias ocasiones para impartir
seminarlos sobre diversos temas de interés psicológico, incluyendo la enseñanza de
la psicología (Ribes, 1984). Los últimos años de su vida los pasó en su casa con su hija. 11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J.R. KANTOR (1888-1984)

Nunca dejó de leer, ahí o en la biblioteca de la Universidad. Murió el 2 de febrero de


1984, a los 95 años.

Definición del objeto de estudio


Kantor (1933a) definió de la siguiente manera el objeto de estudio de la psicología:
"(...) el estudio de las Interacciones de losorganismosy las cosas, o más exactamente las
Interacciones de las respuestas y los estímulos"(p. 1), lo cual denominó interconducta,
para marcar un contraste con la noción de conducta como acción o movimiento.Tales
interacciones de Interés psicológico se conciben en la forma de funciones estímulo-
respuesta, es decir, una relación interdependlente entre la actividad de un organismo
y la actividad de objetos, que se construyen durante su ontogenia. A diferencia de las
interacciones físicas que son conmutativas en términos de Intercambios energéticos,
y de las Interacciones biológicas que son reactivas (y que por ende son las que se

261
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

describen con la relación estímulo —» respuesta), las interacciones psicológicas son


ajustes, es decir, la interacción se va adecuando dinámicamente en función de las
interacciones previas en situaciones análogas durante la historia individual, de
manera que es una relación históricamente construida en la vida individual (cf. Kantor,
1933a). En lugar de ser un fenómeno reactivo, es decir, constituido de respuestas ante
estímulos, los ajustes psicológicos son exploratorios, manipulativos y orientativos:
los organismos buscan el contacto, exploran el mundo, lo manipulan, se orientan,
etc., y eso difícilmente queda capturado con la relación estímulo —> respuesta
heredada de la fisiología. A eso el autor añade que las interacciones psicológicas
son diferenciales (específicas), integrativas, variables, modificables, susceptibles de
demora y de inhibición, propiedades que en muchos sentidos no se encuentran en
las interacciones biológicas.
Esto tiene implicaciones que pueden pasar desapercibidas a simple vista, y
además, si se considera que cualquier proyecto conductista pone su acento en
relaciones funcionales entre la actividad de los individuos (usualmente considerada
como la conducta) y eventos ambientales externos a ella. La principal implicación es
que la función estímulo-respuesta incluye la actividad del objeto y por tanto ésta no
se aísla como variable causal o responsable de la actividad del organismo, tal y como
se asume en el modelo clásico, al considerar la conducta como "variable dependiente"
de los eventos ambientales (cf. Kantor, 1957,1970c).
Que el objeto de estudio sea la ¡nterconducta y no la conducta como actividad
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

individual, permite con mayor naturalidad que se estudien fenómenos psicológicos


tan diversos y elusivos para el análisis conductista tradicional como el razonamiento,
el fantaseo, la percepción, etc., pues en estos difícilmente pueden reconocerse
morfologías de respuesta características y sus propiedades relevantes difícilmente
quedan capturadas con las relaciones funcionales características de la teoría del
condicionamiento.

Características ontológicas y epistemológicas


Con respecto a las consideraciones ontológicas en la obra de Kantor pueden
reconocerse dos facetas complementarias: a) una reflexión ontológica propiamente
dicha, en tanto filósofo (e.g., Kantor, 1919b); y b) una propuesta de segmentación
analítica de la realidad, de cara al trabajo científico, en tanto filósofo de la ciencia y de
la psicología (e.g., Kantor, 1957).

262

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Sin duda, la reflexión ontológica fue definitiva en su pensamiento y casi una


obsesión, como lo ilustra la nota que se encontró sobre su escritorio por los días de
su muerte: "No hoy espíritus, espectros, duendes, fantasmas, noúmenos, supersticiones,
trascendentales, místicos, vínculos invisibles, creador supremo, ángeles, demonios (..
Kantor (1963b) trazó la evolución desde lo que sería el pensamiento naturalista
desde la época de los griegos clásicos, caracterizada por una concepción
del mundo centrada en cosas y eventos ordinarios y sus relaciones, hasta el
surgimiento de una época (iniciada con el desplazamiento cultural de Grecia por
Roma) que desplazó a la observación de los eventos a un segundo lugar y, en su
lugar, enfatizó la creación de constructos verbales indirectamente relacionados
con ellos; es decir, transformó los eventos en apariencias de una realidad absoluta
incognoscible. Esto fue la raíz de varias dicotomías sostenidas por Occidente:
natural-sobrenatural, terrenal-divino, corporal-mental, objetivo-subjetivo, público-
privado, objeto-sujeto, externo-interno, entre otros.
La relación entre eventos y constructos fue el problema ontológico que mayor
peso tuvo para el desarrollo de su alternativa filosófica en psicología (Kantor, 1957).
Su principal observación fue que en la ciencia se impusieron constructos culturales
y filosóficos sobre los eventos o acontecimientos. La consecuencia de tal imposición,
en el caso de la psicología, es que ésta se erigió sobre constructos autistas o muy
distantes de los acontecimientos, considerándolos como inútiles o inválidos. Ejemplos
de esos constructos son mente, sensación, pulsión, memoria, conciencia, entre otros.
11 | LA PSICOLOGÍA iNTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)
Los psicólogos, entonces, se dedicaron a estudiar construcciones verbales inútiles e
inválidas, en lugar de estudiar eventos naturales libres de cargas culturales y filosóficas
milenarias. En el conductismo también es posible encontrar esos constructos: por
ejemplos, las variables intervinientes de Tolman, que mediaban entre estímulos y
respuestas en un esquema causal lineal, los procesos neurales hipotéticos en el caso
de Hull, el drive en el trabajo inicial de Skinner, entre otros.
La creación indiscriminada de constructos en psicología ha generado dos
problemas: a) la sustitución de eventos de interés, y b) el rol causal que se le asigna
en un sistema explicativo. La alternativa de Kantor a ambos problemas es la adopción
de un modelo de campo (1959; Kantor & Smith, 1975). En lugar de considerar los
eventos psicológicos como constructos potencialmente ubicables en el organismo
(como la memoria, las respuestas o la conducta) y su explicación en eventos
dentro o fuera de él (estímulos, motivaciones, eventos neurales, etc.), tales eventos

263
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

psicológicos pueden considerarse como campos de relaciones. El razonamiento es


más o menos el siguiente:

1. Como cualquier otra ciencia, a la psicología le interesa estudiar eventos


naturales y por eso la concibe como una psicología naturalista que guarda
continuidad con las demás disciplinas que estudian la naturaleza (Kantor,
1959). Tal continuidad se identifica en la inclusión histórica de un tipo de
eventos en otros: los eventos físico-químicos incluyen a los eventos orgánicos
y estos a los psicológicos.
2. Los eventos naturales que interesan a la psicología pueden ser denominados
eventos psicológicos. Ejemplos de tales eventos son el aprender, el recordar, el
pensar, el imaginar, etc. Estos tradicionalmente se describieron con constructos
culturales y filosóficos surgidos en un esquema dualista que los ubicaba
como procesos dentro de los organismos, obligando a que se estudiaran con
métodos no propios de las ciencias naturales, y que se expliquen como efecto
o correlación de/con otros constructos en el organismo o fuera de él.
3. Tales eventos psicológicos pueden entenderse como una relación
interdependiente entre la actividad de los organismos y los objetos,
desarrollada en cada historia individual, o interconducta. No son, entonces,
ubicables dentro o fuera de un organismo ni son sustancias ni acciones
discretas; son relaciones. Si los eventos psicológicos fueran la conducta en
| LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J.R .K A N TO R (1888-1984)

sí misma como acción, entonces forzosamente su explicación tendría que


encontrarse en eventos externos a ella, incorporando el modelo de causación
lineal o mecánica estímulo —> respuesta, el cual funciona relativamente bien
para la fisiología pero no para las características de los fenómenos psicológicos
mencionados en el anterior apartado.
4. El carácter relacional de los eventos psicológicos obliga a que la herramienta
analítica para estudiarlos ubique a esa relación en el contexto de otras
relaciones y hacer esto, es aproximarse según un modelo de campo. En la
medida en que la interconducta es un ajuste, es decir, un progresivo acomodo
de la relación organismo-objeto en la ontogenia, es un flujo ininterrumpido,
y la única forma de estudiarla científicamente es haciendo cortes analíticos
(Kantor, 1933a). Estos se denominaron segmentos interconductuales (Kantor &
Smith, 1975) y fueron considerados la unidad de análisis del objeto de estudio,
11

264

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

la ¡nterconducta. Los autores precisaron en qué consistía esta unidad de la


siguiente manera:

Los segmentos de conducta [de interconducta] constituyen campos en los


que los organismos interactúan con otros organismos y objetos. Las acciones
de ambos factores de estímulo y respuesta constituyen una sola unidad.
Para distinguir entre un campo o segmento de conducta y otro, podemos
encontrar conveniente a veces aislar primero el factor de estímulo pero con
igual frecuencia el aislamiento del campo ¡nterconductual se efectúa al ubicar
primero el factor de respuesta, (p.33)

El segmento ¡nterconductual, entonces, es la herramienta conceptual para


aislar al evento psicológico de su flujo y analizar las relaciones involucradas en
el establecimiento de la interconducta como relación de interdependencia
ontogenética, que a su vez es el núcleo definitorio del segmento. Kantor
simboliza esta relación de interdependencia así: E <-*■ R, para indicar su carácter
de funcionalidad recíproca; esta es distinta de la relación reactiva biológica e —►r,
así como de la relación más general entre organismo y objeto. Así, una cosa es un
objeto, otra un estímulo y otra una función de estímulo, por un lado; por otro, una
cosa es un organismo, otra una respuesta y otra una función de respuesta. Sólo el
nivel de la función de estímulo y de respuesta, que es el que se construye en la
historia individual, es de interés psicológico. A la combinación de varios segmentos 11 I LA PSICOLOGIA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

interconductuales se le denomina situaciones interactivas, y corresponden con el


análisis más molar de la conducta.
El análisis de las relaciones psicológicas defmitorias de un segmento
¡nterconductual como campo de relaciones en un intervalo de tiempo, tiene en
cuenta lo siguiente (ver Kantor, 1933a, 1959; Kantor & Smith, 1975):

1. La distinción de los componentes de estímulo y de respuesta: este puede ser más o


menos molar. A cada unidad de acción en la que se descompone una respuesta,
Kantor la denomina sistema reactivo. Por ejemplo, observar un cuadro es para él
un ejemplo de tal componente de respuesta y puede componerse en sistemas
reactivos posturales, movimientos diversos, etc. La respuesta más simple es la
que involucra un solo sistema reactivo y las más complejas implican patrones
o secuencias de varios tipos de sistemas reactivos. Así mismo, y en estricta

265
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

relación, se consideran los objetos de estímulo y sus funciones actualizadas


por el ejercicio de los sistemas reactivos. Aunque las funciones de estímulo
que interesan son siempre individuales, éstas pueden ser idiosincrásicas o bien
compartidas con otros individuos de forma universal o culturalmente limitadas.
Así mismo, algunas funciones pueden ser directas, otras sustituías, auxiliares,
etc. (ver detalles, Kantor & Smith, 1975, p. 42-44), lo cual puede marcar una
diferencia cualitativa en el análisis del comportamiento humano.
2. La identificación de las condiciones habilitadoras o posibilitadoras de la
interacción: Kantor (1922a) se vio impelido a distinguir el concepto de estímulo
de las condiciones que permiten que algo lo sea para evitar confusiones
conceptuales. A estas las denominó medio de contacto, cuya clasificación
depende de los sistemas reactivos sensoriales implicados en la interacción.
Por ejemplo, la luz, el aire, etc., son condiciones que posibilitan el contacto con
el objeto pero no son en sí mismos estímulos.
3. El análisis del escenario de la interacción: corresponde a todos los factores que
inciden sobre el objeto de estímulo, el individuo reactivo y la interacción en sí
misma. Ejemplos de los primeros pueden ser condiciones cromáticas, térmicas,
materiales, etc.; del segundo pueden ser estados de fatiga, sueño, salud, etc.;
de los terceros puede ser el lugar en el que se encuentra el individuo y los
otros organismos o personas presentes, etc.
4. La consideración de la historia interconductual: El carácter de ajuste progresivo
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

de la conducta obliga a tener en cuenta que el segmento que se analiza está


precedido y precede a su vez a otros segmentos. La evolución interconductual
puede analizarse en la biografía reactiva, o desarrollo de las respuestas y sus
funciones, así como de la evolución del estímulo, o desarrollo de las funciones
de estímulo en objetos u organismos particulares. Esto condiciona también las
capacidades, preferencias, estilos y otros atributos de carácter disposicional.

Tal herramienta analítica permite al investigador recorrer el siguiente camino


en su proceder científico (cf. Kantor, 1959, cap. 11); a) descripción, que consiste en la
cualificación y cuantificación del campo de relaciones, y que permite ir avanzando
hacia la formulación de hipótesis sobre nuevas relaciones; b) interpretación, en donde
se avanza hacia el planteamiento de teorías sobre tales relaciones en la forma de
proposiciones de mayor nivel; y c) explicación, en la que se logra el planteamiento de
leyes, es decir, proposiciones de mayor abstracción, precisión y estabilidad.

266

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Síntesis de las consideraciones ontológicas y


epistemológicas

1. Las entidades primarias del análisis son un organismo, un objeto, sus eventos
y relaciones de afectación cambiante. Estas definen una unidad analítica a la
que debe traducirse cualquier evento psicológico de interés. Esta idea ubica la
psicología kantoriana dentro del espectro de la familia conductista.
2. Ninguna segmentación conceptual de las relaciones entre el organismo y los
objetos asume una responsabilidad causal sobre la actividad del organismo
o sobre la interacción misma, pues se estaría cometiendo una violación
categorial. Al hablar de las variables intervinientes como un ejemplo de tal
segmentación conceptual, Kantor (1957) señala que incluso suponiendo que
son procesos neurales, no hay garantía de que una parte de la acción del
organismo sea determinante del campo completo de relaciones; si además
son constructos hipotéticos, la misma noción de causalidad o intervención es
completamente inútil. Esta idea aleja a Kantor de las ideas de Hull yTolman, así
como de la tradición cognoscitiva contemporánea.
3. El análisis del campo de relaciones se beneficia de considerarlo en sí mismo
como unidad molar de análisis. Esto implica considerar diversas cualidades de
interacción, dependiendo de las configuraciones particulares de funciones de
estímulo y respuesta, historias individuales diversas, escenarios de interacción
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)
más o menos complejos, entre otros. Al ser tal unidad molar el objeto de
interés, y no la conducta como actividad, se distancia de las concepciones
más cercanas al conductismo watsoniano y skinneriano. Kantor (1957)
critica la fractura del campo de relaciones entre variable independiente y
dependiente porque impone una mirada causal lineal reductiva, al margen de
que se consideren varias variables independientes (la concepción de campo
no equivale a una concepción "multivariable"). Así mismo, Kantor (1970), en su
crítica al Análisis Experimental de la Conducta subrayó que la consecuencia
de tal fractura es la simplificación de toda la conducta a un solo tipo de
relaciones: las del reforzamiento, y la consecuente especialización en un tipo
de procedimientos, técnicas y medidas, con el riesgo de considerar que esos
son los eventos psicológicos que pueden y deben ser estudiados.

267
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Características metodológicas
El tercer punto de la síntesis anterior llama la atención en que para Kantor no hay
necesariamente una metodología adecuada para investigar el campo interconductual,
aunque reconoce (1959) que la experimentación es la más sofisticada y madura. Al
Análisis Experimental del Comportamiento de Skinner lo invita a ampliar su horizonte
de investigación: "El análisis no debería estar confinado a variables en situaciones
controladas arbitrariamente sino amplificado de modo que cubra una muestra más
generosa de eventos psicológicos" (p. 108).
Kantor (1933a) propuso dos tipos de metodología para el estudio de los eventos
psicológicos: las observaciones de campo, las cuales consideró prioritarias para
hacer justicia con la intrincación de las interacciones psicológicas, pues deben ser
estudiadas "justo como suceden y donde suceden" (p. 13); y las observaciones de
laboratorio, que permiten un mayor control, especialmente para las formas más
simples de interacción.
Las ideas metodológicas distintivas y más interesantes que nos ofrece Kantor
(1959) son las siguientes:

1. Los procedimientos no son un fin en sí mismo sino medios para solucionar


problemas significativos. Esto excluye la utilidad de elegir LA medida del
comportamiento (v.gr. la tasa de respuesta) como representante de todos
los eventos psicológicos. Proceder de esta forma corre el riesgo de reducir
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J.R .K A N TO R (1888-1984)

la significatividad de lo que se estudia o forzar a que un evento psicológico


complejo se descomponga en unidades que le restan sentido.
2. La relación funcional entre una actividad y un evento estimulativo R = f (e) es
un artefacto pragmático que se justifica operacionalmente pero no debe ser
confundido con el nivel teórico de definición del fenómeno que se estudia.
Es decir, los eventos psicológicos no son variables dependientes de otros
eventos externos.
3. La metodología debe adaptarse a la naturaleza del evento psicológico y no
a la inversa, por lo que los métodos no experimentales también pueden ser
útiles, por lo menos en las primeras fases de la indagación.

268

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Sistema psicológico
Kantor no ofreció un sistema psicológico en sí mismo, como sí se encuentra en
Hull, Tolman y Skinner, por ejemplo, con un programa de investigación, paradigmas
experimentales, medidas y formas de representación características y líneas de
evidencia alrededor de problemas empíricos. Sin embargo, sí propuso lo que serían
coordenadas categoriales y conceptuales para el desarrollo de uno, como es el caso
del sistema desarrollado por Ribes y López (1985) inspirado en la propuesta kantoriana.
Lo que desarrollamos en los tres apartados anteriores fueron los conceptos
fundamentales para un sistema psicológico: conceptos sobre la interconducta como
el objeto de estudio y su relación con el de otras ciencias, de modo que guarde
continuidad pero tenga especificidad; el concepto de campo como unidad de
análisis y herramienta analítica; los conceptos metodológicos o investigativos, que se
adecúan a los anteriores; y finalmente, los conceptos referidos a teorías y leyes. A esos
conceptos le preceden otros de mayor nivel categorial referidos a los supuestos sobre
la ciencia (protoproposiciones), a los supuestos sobre cómo deben ser los sistemas
científicos específicos (metaproposiciones), y le proceden conceptos de menor
nivel que Kantor denomina subslstémlcos, referidos a áreas o formas específicas del
proceder científico en psicología (por ejemplo, subsistema de datos, subsistema de
desarrollo, o subsistemas aplicados, como la psicoeducación).
Kantor (1933a) y la versión actualizada de Kantor y Smith (1975) ofrecieron, sin
embargo, un análisis más vasto y específico sobre áreas tradicionales de interés
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J.R. KANTOR (1888-1984)
psicológico como la personalidad, la atención, la percepción, el intelecto, los
sentimientos, las emociones, el recuerdo, el aprendizaje, la conducta lingüística, la
imaginación, la conducta social, entre otros. Todo su análisis fue consistente con la
unidad de análisis propuesta a pesar de que no reorganizó la geografía lógica de esas
nociones del lenguaje ordinario, como sí se hizo en el sistema derivado citado (Ribes
y López, 1985). No obstante, resaltó aspectos muy propios de cada tipo de evento
psicológico y logró mostrar las sutilezas analíticas que implicaba cada uno, sugiriendo
la necesidad de desarrollar y adecuar alternativas metodológicas para estudiarlas en
su justa dimensión.
Para ilustrar el punto, haremos una breve exposición de la forma como Kantor y
Smith (1975) abordan el recuerdo, un típico fenómeno de interés psicológico, cargado
de connotaciones mentalistas y cognoscitivas. Un ejemplo es hacer una cita con un
amigo, al día siguiente a las dos de la tarde, y en efecto llegar. Los autores proponen
que el segmento interconductual útil analíticamente para estudiar el recuerdo (no

269
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

la remembranza, que tiene características que exigen otras adecuaciones), es uno


que se extiende temporalmente y que puede dividirse en tres fases: inicial, demora
y consumatoria. En la fase inicial se establece una relación de sustitución entre
estímulos, de modo que en un momento posterior, la persona haga lo que no ha de
hacer ahora. En el caso de la cita, anota en un calendario, activa una alarma, etc. En
la fase de demora, se da una aproximación gradual a la fase consumatoria, actuando
eventualmente con relación al estímulo sustituto y disponiendo las cosas para que
nada interfiera con el cumplimiento del acto. Finalmente, en la fase consumatoria se
lleva a cabo la acción demorada ante el estímulo sustituto. Los autores señalan cómo
los estímulos sustitutos no necesariamente tienen que ser productos formales sino
que la disposición del ambiente ordinario y más ante eventos habituales, permite
el desarrollo de eventos con esa función estimulativa. Los factores históricos y del
escenario, que cumplen funciones disposicionales, son los parámetros críticos que
permiten que en efecto se recuerde la cita, es decir, la persona se comporte en
función de lo que acordó previamente.
Más allá de las obvias reflexiones y precisiones adicionales que pueden hacerse
al breve esquema propuesto, el punto que quiere ilustrarse es cómo Kantor pensaba
que podían abordarse los eventos psicológicos como el recordar. Además, notar
que implicaría cosas diferentes al estudio del rememorar, por ejemplo, estando aun
relacionados conceptualmente. De ese esquema podrían derivarse preparaciones
experimentales sensibles a las tres fases propuestas, con medidas diversas y adecuadas
| LA PSICOLOGIA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

a su naturaleza. Este trabajo experimental, sin embargo, no se realizó históricamente


pero es una empresa factible aún de realizarse.

Conclusiones: Las contribuciones de J. R. Kantor


En esta última sección nos proponemos destacar las principales contribuciones
de J.R. Kantor para la construcción de una nueva psicología. A diferencia del resto
de los teóricos que formaron parte de ese amplio movimiento denominado
genéricamente 'conductismo', Kantor sobresale por dos razones que, en cierta
manera, han sido determinantes en su "aislamiento" histórico respecto del conjunto.
En primer lugar, Kantor no fue un teórico en la psicología sino que fue un teórico
de la psicología, es decir, un filósofo de la psicología. No desarrolló un sistema,
metodología o propuestas específicas para abordar empíricamente los fenómenos
psicológicos. En realidad, Kantor propuso un modelo lógico-epistemológico para
la psicología, es decir, desarrolló una teoría sobre la naturaleza de la disciplina
11

270

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

psicológica, su objeto de estudio, sus conceptos, sus métodos y sus relaciones con
los campos de la biología y la ciencia social. En segundo lugar, Kantor, de manera
tajante, se aparta de la tradición reflexológica conformada en una u otra forma de
teoría del condicionamiento o teoría del hábito en el funcionalismo. Esta postura
le permitió cancelar los problemas derivados de la dicotomía interno-externo,
inherentes a lo que denominó concepciones organocéntricas de lo psicológico. La
definición de lo psicológico como una interrelación eliminó, como falsos problemas
empíricos y metodológicos, las tradicionales distinciones referidas a lo subjetivo-
objetivo, público-privado e implícito-explícito, como equivalencias incorrectas de la
dicotomía interno-externo.
Kantor delimitó un objeto de estudio para la psicología que, influido por el
conductismo y el funcionalismo, superó los problemas lógicos de estas perspectivas,
y la confusión de límites entre la biología, la psicología y la ciencia social. Mientras que
el funcionalismo destacó al hábito y a la mente como actividad propositiva (Angelí,
1907), el conductismo hizo énfasis en el comportamiento como hacer y decir como
objeto de conocimiento de la psicología (Skinner, 1938; Watson, 1913). Sin embargo, la
identificación del comportamiento con el movimiento de los organismos no permitió
que el conductismo formulara una lógica de conocimiento propia: mantuvo a los
reflejos (respuestas) y al hábito como conceptos centrales de sus diversos desarrollos
teóricos. Ambos conceptos identificaban lo psicológico como movimiento (incluida
la fonación), cuya funcionalidad dependía de los estímulos en el ambiente con los
cuales se asociaba. Todos los tipos de conductismo incorporaron, de manera directa 11 | LA PSICOLOGIA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

o velada, el reflejo condicional pavloviano como unidad conceptual, ya fuera como


paradigma de contigüidad entre eventos, o como contigüidad incluyente de un
efecto consolidador-motivacional: el reforzamiento (término introducido por Pavlov,
1927, para describir la función del estímulo incondicional). Watson (1930) y Hull (1943)
consideraron el reflejo condicional como el "mecanismo" (o proceso) explicativo de
la formación de hábitos, mientras que Guthrie (1952) y Tolman (1925) adoptaron
sólo la contigüidad, con el reforzador o meta con funciones puramente de cierre o
límite del episodio que se "aprendía". Skinner (1938) asumió dos tipos de reflejos, uno
por contigüidad en la provocación de la respuesta (conducta respondiente) y otro
por contigüidad de las consecuencias (conducta operante). En todos los tipos de
conductismo, el dato a explicar fue el movimiento o actividad del organismo y, en esa
medida, lo psicológico se confundió con lo biológico: el organismo, como cuerpo,
constituía el locus de dicha actividad o movimiento.

271
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

El rompimiento epistemológico de Kantor con el conductismo histórico yace en


su definición del fenómeno psicológico, y en la distinción entre comportamiento
biológico y comportamiento psicológico. El término comportamiento no es un
término específico o exclusivo de la psicología. Las distintas ciencias empíricas se
plantean el estudio del comportamiento de sus respectivos objetos de conocimiento:
los cuerpos y partículas, las moléculas, las células, tejidos y organismos, y los grupos
e instituciones, solo para mencionar algunos. La conducta biológica se identifica
en todos los cambios y movimientos que tienen lugar en y por el organismo. La
conducta psicológica, por su parte, se identifica en la relación entre el organismo y
un objeto en el entorno. Tan psicológicos son los cambios en el organismo como los
cambios en el objeto de estímulo que entran en contacto en un medio determinado.
Lo psicológico es la relación entre el comportamiento biológico del organismo, como
punto de referencia, y el comportamiento físico-químico, biológico o socio-lingüístico
del objeto de estímulo. Al identificar al fenómeno psicológico en la relación entre el
organismo individual y un objeto de estímulo construida en la ontogenia, Kantor dota
de un locus empírico a lo psicológico, distinto al del resto de las ciencias empíricas,
especialmente al de las limítrofes. La conducta biológica siempre participa en todo
fenómeno psicológico pero es sólo un componente de ella. La conducta psicológica
no puede reducirse a la biológica y, obviamente, como lo establece la lógica de campo
que propone, tampoco puede "causarla" o explicarla. Esta concepción de la conducta
psicológica, además, cancela como falsos problemas las distinciones entre lo externo
| LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J.R .K A N TO R (1888-1984)

y lo interno, pues no hay nada que predicar como interno o externo a la relación
establecida como contacto. Se requiere de una funcionalidad biológica reactiva
que posibilite contactos diferenciales y demorados con los objetos de estímulo
del ambiente, pero lo psicológico, precisamente, se construye como ampliación,
modificación, innovación y transformación de las formas puramente biológicas de
¡nteractuarcon las circunstancias del ambiente. Kantor propuso, después de los años
40, el concepto de interconducta para identificar el comportamiento psicológico
como un fenómeno interactivo, relacional. Al hacerlo, lógica y epistemológicamente
superó todas las formas de dualismo que han lastrado a la psicología. No se requiere
de mente porque lo psicológico no radica dentro del organismo, y tampoco se requiere
atribuir al cerebro la causalidad del funcionamiento de dicha mente para dotarla de
un sustrato material.
La segunda ruptura de Kantor con el conductismo histórico es de naturaleza
lógica. El conductismo histórico adoptó, de manera explícita o implícita, el paradigma
11

272

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

del reflejo como lógica de análisis y explicación del comportamiento. Aun cuando se
abandonó el término reflejo por el de respuesta, no se abandonó la lógica subyacente.
Como ya se ha analizado previamente (Ribes, 1999; Ribes & López, 1985), la lógica
del reflejo destaca eventos moleculares (estímulos y respuestas), que se afectan
linealmente por contacto directo o mediado (relaciones causales eficientes en las
que la conducta constituye la llamada "variable dependiente") con base en criterios
composicionales aditivos o multiplicativos. Kantor propuso una lógica de campo,
que representó a la vez un modelo específico de comprensión de los fenómenos
psicológicos, en contraste con la tradición todavía vigente de importar modelos de
otras disciplinas, ajenos a la naturaleza propia del comportamiento psicológico. El
modelo de campo, como ya se ha examinado previamente, identifica todo fenómeno
psicológico como un campo de relaciones ¡nterdependientes de los elementos que
componen un segmento determinado en situación. En un campo psicológico no
hay causas ni efectos: hay interrelaciones, cuya descripción funcional constituye su
explicación. Dependiendo del tipo y nivel de descripción se tendrán distintos tipos
de explicaciones. El modelo de campo de Kantor incluye tres tipos de propiedades
lógicas en las categorías explicativas: las de posibilitación (el medio de contacto y
parcialmente los sistemas reactivos), las disposicionales como probabilizadores (la
historia interactiva y los factores situacionales), y las de función (la función estímulo-
respuesta) como contacto interactivo inseparable. Estas propiedades lógicas en el
análisis del campo son interdependientes unas de otras, como lo son las propiedades
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)
funcionales de todos los elementos en relación. Describir las complejas interrelaciones
que tienen lugar, incluso en los fenómenos psicológicos más simple, es la forma de
explicarlos y comprenderlos.
A diferencia de las taxonomías de conducta que han caracterizado los desarrollos
teóricos del conductismo, Kantor propuso un análisis alternativo. Las clasificaciones de
la conducta siguieron criterios morfológicos u operacionales. De entre los primeros se
destaca la distinción entre conductas mediadas por el sistema nervioso central o por
el sistema nervioso autónomo, así como aquella entre conducta verbal (producción
de sonidos) y conducta no verbal (movimientos). De entre los segundos criterios,
podemos señalar la distinción entre conducta respondiente (provocada) y conducta
operante (emitida), o las dicotomías entre conducta pública y conducta privada, o
la de conducta moldeada por las contingencias y conducta gobernada por reglas.
Todas estas clasificaciones, de carácter morfológico u operacional, sustentaban a su
vez una clasificación de "procesos" en correspondencia, subrayando la naturaleza

273
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

organocéntrica de los fenómenos psicológicos. Kantor (1923e), en cambio, propuso


una clasificación de respuestas de carácter funcional, en la que las respuestas siempre
forman parte de un patrón que las comprende, patrón que se identifica como
sistema reactivo con base en el contacto en el que participa el organismo (individuo).
Las respuestas podían ser de tres tipos, en términos de su función en el contacto:
inefectivas, como en el caso de las respuestas sensoriales que constituyen reacciones
ante las propiedades de los objetos de estímulo y sus cambios, como ver, escuchar
y oler, sin efectos sobre dichos objetos de estímulo; afectivas, que al igual que las
inefectivas, no tienen ninguna consecuencia sobre los objetos del entorno, pero que
sí afectan al propio organismo, como es el caso de la interocepción, la viscerocepción
y las formas de comportamiento lingüístico en las que el propio individuo se lee,
se observa y se escucha; y, finalmente, las respuestas efectivas, que tienen efectos
siempre sobre el entorno, de tipo acústico, óptico, mecánico, olfativo, y otros más.
Esta clasificación permite superar las distinciones morfológicas y operacionales
tradicionales, las cuales pueden quedar comprendidas parcialmente en algunas de
las formas funcionales de reactividad como respuesta.
Finalmente, es conveniente subrayar que Kantor fue un teórico sobre la psicología,
no un investigador. De hecho, solo publicó un experimento y en colaboración. En una
disciplina como la psicología, con anemia y malformaciones teóricas, cuestionar a
Kantor por no haber realizado experimentos, es no entender en absoluto el sentido,
alcances y profundidad de sus contribuciones.
| LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

Referencias
(Las citas de Kantor se encuentran en la Bibliografía)
Angelí, J. R. (1907). The province offunctional psychology. Psychological Review, 14,
61-91.
Boring, E. G. (1990). Historio de lo psicología experimental. México: Trillas. (Original
publicado en 1950).
Guthrie, E.R. (1952). The psychology of learning: revised Edition. Harper Bros:
Massachusetts.
Hayes, L. J.&Fredericks, D.W. (1999). Interbehaviorism and interbehavioral psychology.
In W. O'Donohue, & R. Kitchener (Eds.), Hondbook of behoviorism (pp. 73-96). San
Diego: Academic Press.
11

274

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Hearst, E., & Capshew, J. H. (1988). Psychology at Indiana University: A centennial review
and compendium. Bloomington: Indiana University Department of Psychology.
Extraído de: http://psych.indiana.edu/tradition/Hearst_and_Capshew_1988.pdf
Hull, C. (1943). Principles of behavior: An introduction to behavior theory. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Morris, E. (1982). Some relationships between interbehavioral psychology and radical
behaviorism. Behaviorism, 10,2,187-216.
Mountjoy, P.T. (1985). Conversation hour with J. R. Kantor.Third Annual Convention of
the Midwest Association for Behavior Analysis, Blackstone Hotel, Chicago, Illinois,
15 May 1977. The interbehaviorist, 73(4), 28-32.
Mountjoy, P. T, & Cone, D. M. (2006). A biographical sketch of Jacob Robert Kantor.
In B. D. Midgley, & E. K. Morris (Eds.), Modem perspectives on J. R. Kantor and
interbehaviorism. Reno: Context Press.
Pavlov, I. (1927). Conditioned reflexes. An investigation of the physiological activity of the
cerebral cortex. (G.V. Anrep,Trad.) New York: Dover publications.
Ribes, E. (1984). Obituário: J.R. Kantor (1888-1984). Revista Mexicana deAnálisisde
laConducta, 10,13-34.
Ribes, E. (1999). Teoria delcondicionamientoy lenguaje. Un análisis históricoy conceptual.
México: Taurus-Universidad de Guadalajara.
Ribes, E., & López, F. (1985). Teoria de la conducta. Un análisis de campo y paramétrico.
México: Trillas.
11 | LA P S IC O LO G ÍA IN TE R C O N D U C TU A LD E J.R . KANTOR (1888-1984)
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1967). B. F. Skinner. In E. G. Boring, & G. Lindzey (Eds.), A history of
psychology in autobiography. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B. F. (1979). The shaping of a behaviorist. New York: A.A. Knopf.
Smith, N. W. (2006). Bibliography of J.R. Kantor's published works. In B. D. Midgley y
E. K. Morris (Eds.), Modern perspectives on J.R. Kantor and interbehaviorism. Reno:
Context Press.
Tolman, E. C. (1925). Purpose and cognition: The determiners of animal learning.
Psychological Review, 32, 285-297.
Verplanck, W. S. (1983). Preface. In N. W. Smith, P. T. Mounjoy, & D. H. Ruben (Eds.).
Reassessment in psychology. The interbehavioral alternative. Washington: University
Press of America.

275
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20,2,
158-177.
Watson, J. B. (1930). Behaviorism (Ed. Rev.). New York: People's Institute.
Wolf, I. 5. (1984). J. R. Kantor, 1888-1984. The Psychological Record, 34,451 -453.

Bibliografia selecta de J. R. Kantor


(Todos sus artículos y libros, excepto resenas y obituários. Editada, corregida
y completada a partir del listado de Smith, 2006).
(1917). The functional nature of the philosophical categories. Tesis doctoral. Chicago:
University of Chicago.
(1918a). Conscious behavior and the abnormal. Journal of Abnormal Psychology, 13,
158-167.
(1918b). The ethics of internationalism and the individual. International Journal of
Ethics, 29, 29-38.
(1919a). Human personality and its pathology. Journal of Philosophy, Psychology,
Scientific Method, 76,236-246.
(1919b). Instrumental transformism and the unrealities of realism. Journal ofPhilosophy,
Psychology, Scientific Method, 17, 449-461.
(1919c). Psychology as a science of critical evaluation. Psychological Review, 26, 1-15.
(1920a). Afunctional interpretation of human instincts. Psychological Review, 27,50-72.
(1920b). Intelligence and mental tests. Journal of Philosophy, Psychology, Scientific
11 | LA PSICOLOGÍA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

Method, 17, 260-268.


(1920c). Suggestions toward a scientific interpretation of perception. Psychological
Review, 27, 191-216.
(1920d).The role of psychological factors in digestion. Science, 52, 200-201.
(1921a). A tentative analysis of the primary data of psychology, Journal of Philosophy,
Psychology, Scientific Method, 18, 253-269.
(1921b). An attempt toward a naturalistic description of emotions I. Psychological
Review, 28, 19-42.
(1921c). An attempt toward a naturalistic description of emotions II. Psychological
Review, 2 8 ,120-140.
(1921 d). An objective interpretation of meanings. American Journal of Psychology, 32,
231-248.
(1921 e). Association as a fundamental process of objective psychology. Psychological
Review, 28, 385-424.

276

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1921 f). How do we acquire our basics reactions? Psychological Review, 28, 328-356.
(1921 g).The twenty-ninth annual meeting of the American Psychological Association.
Journal of Philosophy, Psychology, Scientific Method. 18,185-192.
(1922a). An analysis of psychological language data. Psychological Review, 29,267-309.
(1922b). An essay toward an institutional conception of social psychology. American
Journal of Sociology, 27, 611 -627, 758-779.
(1922c). Can the psychophysical experiment reconcile introspectionists and
objectivists? American Journal of Psychology, 33,481-510.
(1922d). Memory: a triphase objective action. Journal of Philosophy, 19, 624-639.
(1922e). The evolution of psychological textbooks since 1912. Psychological Bulletin,
79,429-442.
(1922f). The integrative character of habits. Journal of Comparative Psychology, 2,
195-226.
(1922g). The nervous system, psychological fact or fiction? Journal of Philosophy, 19,
38-49.
(1922h).The psychology of reflex action. American Journal of Psychology, 33, 19-42.
(1922-1923). How is a science of social psychology possible? Journal of Abnormal and
Social Psychology, 77,62-78.
(1923a). An objective analysis of volitional behavior. Psychological Review, 30, 116-144.
(1923b). Concerning some faulty conceptions of social psychology. Journal of
Philosophy, 20,421-433.
11 | LA PSICOLOGiA IN TE R C O N D U C rU AL D t J . R. KANTOR (1888-1984)
(1923c). Does psychology need a new conception of personality? Psychological
Bulletin, 20, 80-81.
(1923d). The organismic versus the mentalistic attitude toward the nervous system.
Psychological Bulletin, 20, 684-692.
(1923e). The psychology of feeling or affective reactions. American Journal of
Psychology, 34,433-463.
(1923f). The psychology of the ethically rational. International Journal of Ethics, 33,
316-327.
(1923g). What are the data and problems of social psychology? Journal of Philosophy,
20, 449-457.
(1923-1924). The institutional foundation of scientific social psychology. American
Journal of Sociology, 29, 674-687.
(1923-1924). The problem of instinct and its relation to social psychology. Journal of
Abnormal and Social Psychology, 18, 50-77.

277
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1924). Principles of psychology. Vol. I. New York: Knopf.


(1924-1925). The institutional foundation of scientific social psychology. Journal of
Abnormal and Social Psychology, 19, 46-56.
(1925a). Anthropology, race, psychology, and culture. American Anthropologist, 27,
267-283.
(1925b). Die Sozialpsychologie als naturwissenshaft. Zeitschrift für Völkerpsychologie
und Soziologie, 1,113-128.
(1925c).The significance of the Gestalt conception in psychology. Journal ofPhilosophy,
22, 234-241.
(1926). Principles of psychology, Vol. II New York. Knopf (Re-editado por Principia Press,
1949.)
(1928). Can psychology contribute to the study of linguistics? Monist, 38, 630-648.
(1929a). An anthropological basis for psychology. Psychological Bulletin, 2 6 ,136-137.
(1929b). An outline of social psychology. Chicago: Follett.
(1929c). L'etat actuel du behaviorisme. Revue de Psychologie, Concrète, 1,2, 215-226.
(1929d). La psychologie organique. Revue de Psychologie, Concrète, I, 75-88.
(1929e). Language as behavior and as symbolism. Journal of Philosophy, 2 6,150-159.
(1929f). Philosophical implications of organismic psychology. En T. V. Smith & W. D.
Wright (eds.). Essays in Philosophy. Chicago: Open Court.
(1932). Logic and superstition. Journal of Philosophy, 29, 232-236.
(1933a). A survey of the science of psychology. Bloomington: Principia Press.
11 j LA PSICOLOGiA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

(1933b). In defense of stimulus-response psychology. Psychological Review, 40,324-336.


(1935a). Man and machine in seien ce. Journal of Philosophy, 32,673-684.
(1935b). The evolution of mind. Psychological Review, 42,455-465.
Davis, R. C. & Kantor, J. R. (1935). Skin resistance during hypnotic states. Journal of
General Psychology, 13, 62-81.
(1936a). An objective psychology of grammar. Bloomington: Indiana University Press.
(Re-editado por Principia, 1952).
(1936b). Concerning physical analogies in psychology.American Journal of Psychology,
48,153-164.
(1937a). Interbehavioral psychology and the social sciences. Journal of Social
Philosophy, 3 ,39-53.
(1937b). Interbehaviorism, social psychology, and sociology. Kwartalnik
Psychologiczny, 1-12.

278

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1937-1938). Character and personality: their nature and interrelations. Journo! of


Personality, 6,4,306-320.
(1938a). The nature of psychology as a natural science. Acta Psychologio, 4 ,1-61
(1938b). The operational principle in the physical and psychological sciences. The
Psychological Record, 2, 3-32.
(1938c). The role of language in logic and science. Journal of Philosophy 35,449-463.
(1939a). Interbehavioral psychology and scientific operations. Kwartalnik
Psychologiczny, 11, 5-29.
(1939b). The current situation in social psychology. Psychological Bulletin, 36, 307-360.
(1940) . Postulates for a logic of specificity. Journal of Philosophy 37, 29-42.
(1941) . Current trends in psychological theory. Psychological Bulletin, 38,29-65.
(1942a). Jamesian psychology and the stream of psychological thought. En B.
Blanshard y H.W. Schneider (eds.). Commemoration of William James, 1842-1942. (p.
143-156). New York: Columbia University Press.
(1942b). Preface to interbehavioral psychology. Psychological Record, 5, 173-193.
(Reimpreso en M. H. Marx (Ed.), Psychological Theory, MacMillan, 1951).
(1942c). Toward a scientific analysis of motivation. Psychological Record, 5 ,225-275.
(1943). An interbehavioral analysis of propositions. Psychological Record, 5, 309-339.
(1945a). Problems and paradoxes of physiological psychology. Psychological
Record, 5, 355-394.
(1945b). Psychology and logic.yol. I. Bloomington: Principia Press.
(1946) . The aim and progress of psychology. American Scientist, 34, 251-263. 11 | LA P S IC O LO G iA IN T E R C O N D U C T U A L D E J.R . KANTOR (1888-1984)

(1947) . Problems of physiological psychology Bloomington: Principia Press.


(1950a). Goethe's place in modern science. In Goethe Bicentennial Studies. Indiana
University, Humanities Series, 22,61-82.
(1950b). Psychology and logic. Vol. II. Bloomington: Principia Press.
(1953). The logic of modern science. Bloomington: Principia Press.
(1955) . Die interbehavioristische logik und die zeitgenössische physik. Physikalische
Blätter,! 1,3,101-109; 4 ,148-158. (Re-impreso porOld Plead Books & Collections).
(1956) . Interbehavioral psychology and scientific analysis of data and operations.
Psychological Record, 6,1-5.
(1957) . Events and constructions in the science of psychology; philosophy: banished
and recalled. Psychological Record, 7, 55-60. (Re-impreso en: M. Pi. Marx (Ed.),
Theories in Contemporary Psychology. New York: McMillan, 1963).

279
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1958) . Interbehavioral psychology: A sample of scientific system construction.


Bloomington: Principia Press. 2da. ed. 1959. (Version en castellano: Traducida
por M. Varela. Psicologia interconductual: Un ejemplo de construcción científica
sistemática. México:Trillas. 1978).
(1959) . Evolution and the science of psychology. Psychological Record, 9 ,131-142.
(1960) . History of science as scientific method. Psychological Record, 10,187-189.
(1962). Psychology: scientific status-seeker. Psychological Record, 12, 351-357.
(1963a). Behaviorism: Whose image? Psychological Record, 13, 499-512.
(1963b). The scientific evolution of psychology. Vol. I. Chicago: Principia Press.
(1964). History of psychology: What benefits? Psychological Record, 14, 433-443. (Un
segmento re-impreso en: V. S. Sexton & H. Misiak (Eds.), Historical Perspectives in
Psychology: Readings. Brooks/Cole, 1971).
(1966). Feeling and emotions as scientific events. Psychological Record, 16, 377-404.
(1968a). Behaviorism in the history of psychology. Psychological Record, 18,151-166.
(1968b). Descriptive relevance of psychological language. The Psychological Record,
18, 111-113. (Observer)
(1968c). Psychology: An interdisciplinary science. The Psychological Record, 18, 267-
268. (Observer)
(1968d).The ambivalence of psychology toward philosophy. The Psychological Record,
18, 641-643. (Observer)
(1968e). The era of learning, and its aftermath, in American psychology. The
11 I LA PSICOLOGIA INTERCONDUCTUAL DE J.R. KANTOR (1888-1984)

Psychological Record, 18,475-477. (Observer)


(1969a). Certitude and reality in psychology. The Psychological Record, 19, 345-347.
(Observer)
(1969b). On the reduction of psychology to physics. The Psychological Record, /9, 515-
518. (Observer)
(1969c). Scientific psychology and specious philosophy. Psychological Record, 19,15-27.
(1969d). The basis fallacy in psychology. The Psychological Record, 19, 645-648.
(Observer)
(1969e). The conditioned reflex and scientific psychology. The Psychological Record, 19,
143-146. (Observer)
(1969f). The scientific evolution of psychology. Vol. II. Chicago: Principia Press.
(1970a). An analysis of the experimental analysis of behavior (TEAB). Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 13,101-108.

280

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1970b). Innate intelligence: Another genetic avatar. The Psychological Record, 20,
123-130. (Observer)
(1970c). Interaction: Transaction: Which? Interbehavioral Psychology Newsletter, 5, 1;
4-5. (Mitsorg).
(1970d). Newton's influence on the development of psychology. Psychological Record,
20, 83-92.
(1970e). Wanted: A better direction for linguistic psychology. The Psychological Record,
20, 263-265. (Observer)
(1970f). What social, what psychology, is social psychology. The Psychological Record,
20,403-407. (Observer).
(1971a). Belief and faith in science. The Psychological Record, 20, 545-552. (Observer).
(1971b). Disunity in science: Inconcinnity in psychology. The Psychological Record, 21,
565-569. (Observer).
(1971c). Revivalism in psychology. The Psychological Record, 21, 131-134. (Observer)
(1971 d). The aim and progress of psychology and other sciences: A selection of papers by
J. R. Kantor. Chicago: Principia Press.
(1971 e). Toward an improved linguistic model. The Psychological Record, 21, 429-444
(Observer)
(1971 f). Words, words, words. The Psychological Record, 21, 269-271.
(1972). Nevertheless, the earth is flat: A review. Interbehavioral Psychology Newsletter,
Summer, 3,3, 7-8. (A. Mitsorg).
| LA P S IC O LO G ÍA IN T E R C O N D U C T U A LD E J.R . KANTOR (1888-1984)
(1973a). A propos Watson's hyperbola. Interbehavioral Psychology Newsletter, Summer,
4,4, 3-7.
(1973b). Private data, raw feels, inner experience, and all that. The Psychological Record,
23, 563-565. (Observer)
(1973c). Segregation in science: An historico-cultural analysis. Psychological Record,
23, 335-342.
(1973d). System structure and scientific psychology. Psychological Record, 23,451-458.
(1973e).The hereditarian manifesto (politics in psychology). The Psychological Record,
23, 417-422. (Observer)
(1974a). Eppur si muove. The Psychological Record, 2 4 ,131-134 (Observer)
(1974b). Interbehavioral Psychology: How related to the Experimental Analysis
of Behavior. En: Sociedad Mexicana de Análisis de la Conducta. Aportaciones
al Análisis de la Conducta: Memórias del Primer Congreso. (p. 15-22). México:
Trillas. (1974).
11

281
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1974c). Lest we forget. The Psychological Record, 24,419-422. (Observer)


(1974d). On retaining the person in personality. The Psychological Record, 24, 569-572.
(Observer)
(1974e).The role of chemistry in the domain of psychology. The Psychological Record,
24, 267-270. (Observer)
(1975a). Antibehaviorism: Counterrevolution or semantic confusion. The Psychological
Record, 2 5 ,139-145. (Observer)
(1975b). Education in psychological perspective. The Psychological Record, 25,315-323.
(1975c). History of psychology: What scientific benefits? The Psychological Record, 25,
583-589. (Observer)
(1975d). In dispraise of indiscrimination. The Psychological Record, 25, 437-440.
(Observer)
(1975e). On reviewing psychological classics. The Psychological Record, 25, 293-308.
(Observer)
(1975f). Psychological Linguistics. Mexican Journal of Behavior Analysis, 1,2, 249-268.
(1975g). Psychology, physics, and metaphysics. Revista Mexicana de Analisis de la
Conducta, 1, 31-38.
Kantor, J.R. & Smith, N.W. (1975). The science of psychology: An interbehavioral survey.
Chicago: Principia Press.
(1976a). Behaviorism, behavior analysis, and the career of psychology. Psychological
Record, 26, 305-312.
11 | LA PSICOLOGfA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR ( 1 8 8 8 -1984)

(1976b). Cultural institutions and psychological institutions. The Psychological Record,


26, 557-560. (Observer)
(1976c). Perennial problems of biopsychology. The Psychological Record, 26, 135-9.
(Observer)
(1976d).The origin and evolution of interbehavioral psychology. Revista Mexicana de
Analisis de la Conducta, 2 ,120-136.
(1976e). The science of psychology 1976. What progress? The Psychological Record,
1976, 26, 289-296. (Observer)
(1976f). What meaning means in linguistics. The Psychological Record, 26, 441-445.
(Observer)
(1977a). Adaptation as events and as theory. Revista Mexicana de Analisis de la
Conducta, 3 ,139-150.
(1977b). Concerning cognitive reversionism in psychology. The Psychological Record,
27, 351-354. (Observer)

282

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1977c). Concerning laws in psychology and other sciences: Can there be laws in
psychology? The Psychological Record, 27,627-632. (Observer)
(1977d). Evolution and revolution in the philosophy of science. Revista Mexicana de
Analisis de la Conducta, 3, 7-16.
(1977e). Psychological linguistics. Chicago: Principia Press.
(1977f). Stimulus and stimulation: Problems concerning terms and events. The
Psychological Record, 27,503-508. (Observer)
(1977g).The immortality of the soul: A psychohistorical continuance. The Psychological
Record, 27, 791-794. (Observer)
(1978a). Cognition as events and as psychic constructions. Psychological Record, 28,
329-342.
(1978b). Experimentation: The acme of science. Revista Mexicana de Analisis de la
Conducta, 4, 5-15.
(1978c). Man and machines in psychology: Cybernetics and artificial intelligence.
Mexican Journal of Behavior Analysis, 4, 575-583.
(1978d). Myths concerning man. The Psychological Record, 28,639-642. (Observer)
(1978e). The principle of specificity in psychology and science in general. Revista
Mexicana de Analisis de la Conducta, 4 ,117-132.
(1978f).The recycling of cognition and psychology. The Psychological Record, 2 8 ,157-
160. (Observer)
(1978g). Wundt and experimental psychology: 1979-1979. The Psychological Record,
11 | LA P S IC O LO G iAIN TE R C O N D U C TU A LD E J. R. KANTOR (1888-1984)
2 8 ,175-179. (Observer)
(1979a). Culturalization and the a priori in psychology. The Psychological Record, 29,
135-140. (Observer)
(1979b). Observations on the history of psychology. The Psychological Record, 29,567-
571. (Observer)
(1979c). Psychology in the service of mankind. The Psychological Record, 29, 419-422.
(Observer)
(1979d). Psychology: Science or nonscience? Psychological Record, 2 9 ,155-163.
(1979e). The role of cognitive institution in psychology and other sciences. Revista
Mexicana de Analisis de la Conducta, 5, 7-20.
(1979f). What future for psychology? The Psychological Record, 29, 297-300. (Observer)
(1979g). Wundt, Experimental Psychology and Natural Science. Revista Mexicana de
Analisis de la Conducta, 5 ,2 ,117-130.

283
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1980a). Economic determinism and psychology. The Psychological Record, 30, 283-
288. (Observer)
(1980b). Manifesto of interbehavioral psychology. Revista Mexicana de Analisis de la
Conducta, 6 ,117-128.
(1980c). Mythopsychology and its history. The Psychological Record, 30, 429-432.
(Observer)
(1980d). Perceiving as science and as traditional dogma. Revista Mexicana de Analisis
de la Conducta, 6 ,3-16.
(1980e). Progress in general science and psychology. The Psychological Record, 30,581-
586. (Observer)
(1980f). Theological psychology vs. scientific psychology. The Psychological Record, 30,
131-133. (Observer)
(1981a). Axioms and their role in psychology. Revista Mexicana de Analisis de la
Conducta, 7 ,5-11.
(1981 b). Interbehavioral philosophy. Chicago: Principia Press.
(1981 c). Interbehavioral psychology and the logic of modern science. The Psychological
Record, 31, 3-11.
(1981 d). Concerning the principle of psychological privacy. The Psychological Record,
31, 101-106. (Observer)
(1981 e). Priority and the pace of scientific progress. The Psychological Record, 31,285-
292. (Observer)
11 | LA PSICOLOGiA INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR (1888-1984)

(1981 f). Reflections upon speech and language. Revista Mexicana de Analisis de la
Conducta, 7,2, 91-105.
(1981 g). Surrogation: A process in psychological evolution. The Psychological Record,
31,459-466. (Observer)
(1981 h). Words and their misuse in science and psychology. The Psychological Record,
31, 599-605. (Observer)
(1982a). Cultural psychology. Chicago: Principia Press.
(1982b). Immense learning: Discrepant knowledge. The Psychological Record, 32, 567-
573. (Observer)
(1982c). Objectivity and subjectivity in science and psychology. Revista Mexicana de
Analisis de la Conducta, 8, 3-10.
(1982d). Psychological retardation and interbehavioral maladjustment. Psychological
Record, 32,305-313.

284

INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!

(1982e). Reflections on the nature of human nature. Revista Mexicana deAnalisis de la


Conducta, 8, 73-85.
(1982f). Structure and function categories in civilization and science. The Psychological
Record, 3 2 ,127-135. (Observer)
(1982g). Unity and disunity in science and in psychology. The Psychological Record, 32,
291-295.
(1983a). Explanation: Psychological nature, role in scientific investigation. Revista
Mexicana deAnalisis de la Conducta, 9, 1, 29-38.
(1983b). Meanings as events and as constructions in psychology and linguistics. The
Psychological Record, 33,433-440. (Observer)
(1983c). Psychological comments and queries. Chicago: Principia Press.
(1983d). Reflections concerning psychological historiography. The Psychological
Record, 33,131-138. (Observer)
(1983e). System analysis in science and psychology. Psychological Record, 33, 301-311
(1983f). The role of tabula metaphors in psychology and in language study. The
Psychological Record, 33, 279-284. (Observer) (1983). Tragedy and the event
continuum. Chicago: Principia Press.
(1984a). Scientific unity and spiritistic disunity. Psychological Record, 44,69-71.
(1984b). Selected writings in philosophy, psychology and other sciences, 1929-1983 byJ. R.
Kantor. Chicago: Principia Press.
(1984c). The relation of scientists to events in physics and in psychology. The
Psychological Record, 34, 165-173. 11 | LA PSICOLOGI'A INTERCONDUCTUAL DE J. R. KANTOR 0 888-1984)

(1987). What qualifies interbehavioral psychology as an approach to treatment?


En: D. H. Ruben & D. J. Delprato (Eds.). New ideas in therapy: Introduction to an
interdisciplinary approach. Westport: Greenwood.

285
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
Conta a lenda que Newton, o físico, sugeria gigantes-autores que nos permitiram olhar o
que suas importantes descobertas haviam horizonte mais ao longe e além. Destaca ainda
acontecido porque seus conhecimentos as grandes contribuições e pinça as declarações
encontravam-se "em pé" sobre ombros de verbais mais importantes desses autores
gigantes. Essa ideia foi literalmente trazida primordiais. Projeta, a partir do crescimento
para o campo da Análise do Comportamento do conhecimento construído até então,
por Skinner, na afirmação de uma Ciência melhores direções e melhores focos para onde
capaz de dar conta do Comportamento movimentarmos e inquietarmos nosso olhar.
Humano. Esses gigantes a quem eles - Para essa tarefa, os organizadores reuniram
Newton e Skinner - faziam referência uma plêiade de autores experts em outros
eram outros cientistas que tinham olhado autores, que fazem-nos olhar para as bases
para a realidade e feito sobre ela algumas e argumentam o quanto as raízes do nosso
declarações a partir do método científico. conhecimento estão fincadas numa terra firme
Tais declarações, reunidas em obras, à qual alguns denominaram um dia de Ciência
ocupariam o papel de ombros, e ao mesmo Natural, e dentro dela um território que nos é
tempo de base, para que a visibilidade atual tão caro chamado por muitos de Psicologia.
do objeto de estudo de qualquer ciência Analisam, destrincham e interpretam com uma
fosse mais ampla no horizonte científico. nova e surpreendente metabase aquilo que já
foi projetado como cânone de interpretação
Anteriormente, Skinner já havia afirmado
do comportamento humano - neste caso
que a Ciência não era uma declaração
especial, o comportamento verbal daqueles
da verdade: eia nada mais é do que o
cientistas que construíram os behaviorismos.
comportamento verbal dos cientistas. O que
Skinner propõe é uma análise científica do
comportamento verbal, inclusive do próprio Roberto Alves Banaco
cientista, para que possamos entender o
avanço do conhecimento científico.

Behaviorismos é uma obra brilhantemente


organizada por Diego Zilio e Kester Carrara
que cumpre exatamente essas funções.
Em um tempo, nos dá plena consciência
de qual é nossa base, ou seja, sobre quais
ombros nosso conhecimento atual sobre
o comportamento científico repousa e faz-
nos conhecer as raízes deste conhecimento.
Em outro tempo, Behaviorismos apresenta
uma análise muito mais do que histórica
ou filosófica de toda a trajetória e vida dos

Você também pode gostar