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COMPORTAMENTAL
CLÍNICA
A532 Análise comportamental clínica [recurso eletrônico] : aspectos
teóricos e estudos de caso / Ana Karina C. R. de-Farias &
colaboradores. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010.
ANÁLISE
COMPORTAMENTAL
CLÍNICA
aspectos teóricos e estudos de caso
2010
© Artmed Editora S.A., 2010
SÃO PAULO
Av. Angélica, 1091 - Higienópolis
01227-100 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333
Alysson B. M. Assunção
Especialista em Análise Clínica do Comportamento pelo Instituto Brasiliense de
Análise do Comportamento (IBAC). Graduado em Psicologia pela Universidade
Católica de Goiás (UCG). Psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em
Catalão (GO).
Andréa Dutra
Pós-graduada em Terapia Comportamental pela Universidade Católica de Goiás (UCG).
Professora do Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC). Psicóloga
Clínica (Brasília).
Cristiano Coelho
Doutor em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Professor da Universidade
Católica de Goiás.
Geison Isidro-Marinho
Mestre em Processos Comportamentais pela Universidade de Brasília (UnB). Professor
do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Professor do Instituto São Paulo de
Análise do Comportamento (INSPAC). Psicólogo Clínico (Brasília).
Luc M. A. Vandenberghe
Doutor em Psicologia pela Université de Liège (Bélgica). Professor da Universidade
Católica de Goiás (UCG). Psicólogo Clínico (Goiânia).
Autores ix
Luciana Freire Torres
Especialista em Análise Clínica do Comportamento pelo Instituto Brasiliense de
Análise do Comportamento (IBAC). Graduada em Psicologia pela Universidade
Católica de Goiás (UCG). Psicóloga Clínica (Goiânia).
Agradecimentos 13
Prefácio 15
Parte I
Aspectos teórico-conceituais
1. Por que “análise comportamental clínica”? Uma
introdução ao livro 19
Ana Karina C. R. de-Farias
Parte II
Estudos de caso
9. Caso clínico: formulação comportamental 171
Denise Lettieri Moraes
Agradecimentos
A algumas das pessoas que participaram, em maior ou menor grau, dos trabalhos
que culminaram neste livro: Alessandra da S. Souza, Arthur Tadeu Curado,
Cyntia S. Dias, Elenice S. Hanna, Goiandira Curado, Helioenai Araújo, Hya Dias, João
Ricardo Siqueira, José Rangel, José Roberto M. Pinto, Josele Abreu-Rodrigues,
Luciana de Lima, Luciana Verneque, Ludimilla O. Souza, Márcio B. Moreira, Maria
Eliana Lustosa, Rachel Nunes da Cunha, Ruth do P. Cabral, Regina M. Bernardes e
Vivian de Paula Figueiredo.
Em especial, aos clientes que nos “emprestaram” parte de sua história, assim como
muito conhecimento acerca do comportamento humano.
Aspectos
teórico-conceituais
Capítulo 1
1
A autora agradece a Alessandra da S. Souza pelos comentários na primeira versão deste capítulo.
2
Consulta realizada no dia 22 de julho de 2008, no site http://www.jornaldepoesia.jor.br/facam39.html.
como um todo, e não os comportamentos- 2003; Matos, 2001b; Pinheiro, 2003; Silva,
problema ou “sintomas” trazidos como 2003; Skinner, 1974/1982; Weber, 2002. O
queixas iniciais. Os capítulos, portanto, Capítulo 14, também aborda rapidamente
visam permitir que profissionais, professores esse tema).
e alunos possam levantar e discutir outras A partir de minha experiência em sala de
possíveis análises.5 aula, corroborada por afirmações de vários
A preocupação em ressaltar a outros professores da área, os alunos de
complexidade dos fenômenos graduação em Psicologia chegam às
comportamentais, a possibilidade de disciplinas ministradas por analistas do
diferentes tipos de análise de cada caso e o comportamento com diversos preconceitos.
respeito à individualidade de nossos clientes Infelizmente, nossa prática não tem sido
decorre das errôneas críticas, ainda tão suficiente para fazer com que, nessas
presentes, à Análise do Comportamento. disciplinas, os alunos realmente
Dentre elas, podem-se destacar as afirmações compreendam a filosofia behaviorista e a
de que o Behaviorismo Radical (filosofia da prática analítico-comportamental.6 Dessa
ciência na qual a Análise do Comportamento constatação,7 surgiu o interesse pela
se baseia) é mecanicista, ignora a publicação deste livro. O maior propósito é
consciência e os sentimentos, reduz o apresentar a Análise do Comportamento
homem a um ser autômato, não tenta como uma visão que objetiva entender o
explicar os “processos cognitivos” (ou “organismo como um todo”, em sua
“processos mentais superiores”) nem as interação passada e atual com um ambiente
intenções e propósitos, negligencia a complexo. Por sua vez, esse ambiente só
unicidade/subjetividade e consiste em uma pode ser entendido em relação ao organismo
Psicologia estímulo-resposta (Skinner, que nele opera; portanto, a Análise do
1974/1982). Comportamento exige uma análise
Diversos trabalhos podem ser apontados bidirecional. A descrição de casos clínicos
para que o leitor interessado busque essas pode consistir em uma forma de apresentar
críticas e as possíveis respostas a elas. os conceitos analítico-comportamentais de
Dentre as possíveis explicações para críticas maneira mais interessante aos alunos,
não pertinentes, pode-se apontar o fato de o diminuindo as críticas de que a Análise do
Behaviorismo Metodológico (fundado por Comportamento só é capaz de lidar com
Watson) ter sido o precursor do queixas específicas ou, pior, com os ratinhos
Behaviorismo Radical (de Skinner); sua de laboratório (Ruas, 2007).
terminologia específica; a preocupação O real entendimento dos casos aqui
constante por parte dos analistas do discutidos só será possível àqueles que
comportamento com a experimentação e com tenham claras as definições operacionais
o controle de variáveis, assim como sua dos termos utilizados por analistas do
esquiva de suposições/afirmações que não comportamento.
estejam baseadas numa cuidadosa análise
científica dos comportamentos (Barros, Apropriamo-nos, então, da fala de um
5 Pesquisadores e clínicos de outras instituições foram 6 Deve-se ressaltar que estou me referindo apenas à
convidados a contribuir com suas análises. Infelizmente, compreensão, e não à aceitação ou defesa desta filosofia
muitos não puderam neste momento. Espera-se que e prática.
outras obras como esse livro sejam produzidas, a fim de 7 Ver Moreira (2004) para uma discussão acerca do
fortalecer nossa área. ensino de Análise do Comportamento.
Análise Comportamental Clínica 25
Por sinal, são esses efeitos sobre eficazes. Dessa forma, não faz
si e sobre os outros que servirão de sentido uma pessoa fazer terapia por
parâmetros para o indivíduo meses ou anos e não ter a menor
estabelecer juízos de valor sobre noção sobre por que se comporta da
seus comportamentos. Nesse forma como tem se comportado
sentido, todas as ações, as ideias e os (incluindo emoções e sentimentos).
sentimentos que o cliente apresenta Isso, infelizmente, não é incomum.
são coerentes, pertinentes com o que Todo comportamento é determinado,
ele viveu e está vivendo. Um mesmo que por vezes não estejam
sentimento pode ser desagradável, claras quais variáveis o
mas não é incoerente. O determinaram.
comportamento pode não estar
sendo “funcional” para produzir ou
afastar diversos reforçadores ou
O COMPORTAMENTO COMO
estímulos aversivos importantes, INTERAÇÃO ORGANISMO-
mas, certamente, não se estabeleceu AMBIENTE
“do nada”. Essa postura terapêutica A definição de comportamento no
contribui bastante para uma boa Behaviorismo Radical difere de
formação de vínculo entre terapeuta outras visões na Psicologia, no
e cliente, aumentando as senso-comum e até em outras
possibilidades de o cliente se formas de Behaviorismo. No
autodescrever21 de forma mais primeiro, o comportamento é aquilo
confiável, com maior que o organismo faz,
correspondência verbal/não verbal22, independentemente de ser público
mesmo que às vezes seja difícil ou privado (Catania, 1979). As
relatar aspectos de si que sejam demais posições, incluindo o
considerados reprováveis ou Behaviorismo Metodológico de
desagradáveis. 23
Watson, referem-se ao
A investigação dos comportamento como ações
determinantes dos comportamentos públicas, passíveis de observação
clínicos relevantes do cliente direta (Matos, 2001). Para Skinner
caracteriza-se como uma tarefa fun- (1945/1988), os fatores
tradicionalmente conhecidos como
damental na clínica. O entendimento mentais (pensar, sentir, raciocinar,
dessas variáveis possibilita imaginar, fantasiar, etc.) também são
direcionamentos terapêuticos mais comportamentos. Essa consideração
enfraquece a concepção dualista,
21 Na Análise do Comportamento, a internalista e mecânica de
autodescrição não se refere apenas ao que o
cliente faz (seus comportamentos), mas causalidade tipo mente →
também em quais contextos ocorre o comportamento-observável, pois se
comportamento e quais efeitos produz. os “eventos mentais” também são
22 Para maior compreensão do tema
“correspondência verbal/não verbal na
comportamentos, eles devem ser
clínica”, sugere-se o texto de explicados como tal, a partir de suas
23 Costumo passar aos meus alunos, relações com o ambiente.
supervisionandos e de especialização clínica,
que a terapia desperta no cliente “a dor da
lucidez”.
Análise Comportamental Clínica 37
Beckert (2004).
entre eventos ou, mais Uma pessoa pode ficar “liberando
especificamente, em Psicologia, sentimentos” durante anos num
entre comportamentos e eventos consultório e sua “fonte” nunca se
ambientais. O comportamento é esgotar! Isso porque as
também um fenômeno histórico, não contingências que os estão eliciando
é algo que possa ser isolado, ainda continuam presentes em sua
guardado. Não é matéria em si, mas vida. Se o comportamento é um
uma relação entre eventos naturais. fenômeno histórico, o clínico
Como dito anteriormente, segundo behaviorista radical procura
Skinner (1974/1993), o organismo entender em quais condições ocorreu
não armazena experiências, é e não onde ou como ele estaria
modificado por elas. Cabe então ao armazenado. O mais importante é
cientista registrar a ocorrência do identificar quais variáveis são
comportamento e observar sob quais responsáveis por esses sentimentos e
condições ocorre ou é modificado. o que seria necessário fazer para
A definição de comportamento modificá-las.
como interação desfaz a ideia de um Sendo o comportamento uma
organismo passivo em relação ao relação bidirecional entre organismo
ambiente, como frequentemente e ambiente, ressalta-se que a forma
apontam algumas críticas. Conforme como o organismo afeta o mundo é
afirmou Skinner (1957/1978), “os por meio das ações, ou melhor, do
homens agem sobre o mundo, comportamento operante. A terapia
modificam-no e por sua vez são analítico-comportamental é voltada
modificados pelas consequências de para a ação do cliente sobre a sua
suas ações” (p. 15). vida, ou seja, sobre as contingências.
São as ações que modificam o
mundo! Seja mudando o contexto
Implicações clínicas
em que está inserido, seja buscando
A compreensão de como um cliente
contextos mais favoráveis, o
se comporta é feita por meio de um
indivíduo é ativo. Por mais intensos
raciocínio interacionista. Por
que sejam nossos sentimentos, eles
exemplo, um clínico de orientação
não afetam o ambiente diretamente.
analítico-comportamental não tenta
Mesmo os pensamentos, apesar da
“liberar” os sentimentos da pessoa,
sua natureza verbal operante, não
“colocá-los para fora”. “Liberar”
mudam as nossas experiências
sentimentos nada mais seria do que
diretamente; é necessário ações
comportar-se, ou seja, apresentar
públicas para isso. O pensar pode
comportamentos públicos na
entrar no controle direto de ações
presença de sentimentos específicos.
24 No sentido técnico, contingência ressalta como sendo a probabilidade de um evento que pode
ser afetada ou causada por outros eventos (Catania, 1979).
38 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
19
ser: a) foi pouco contrariado ao
As somatizações, também conhecidas como
longo da vida; b) as coisas em casa
psicossomatizações, são alterações orgânicas
produzidas por respostas emocionais intensas eram sempre conforme sua vontade;
ou frequentes eliciadas por eventos c) seu comportamento foi muito
ambientais específicos (para saber um pouco reforçado e pouco punido quando se
mais sobre o assunto, sugere-se Millenson, tornava agressivo em relações
1967/1975).
próximas; etc.
tar que essas “atitudes” estão lhe Uma observação importante é
sendo que as VIs são fundamentais não
prejudiciais e que haveria interesse apenas para explicar a aquisição dos
em mudança. Antes de estabelecer comportamentos. Elas são
quaisquer estratégias ou alternativas necessárias para explicar a sua
nesse sentido, o clínico deveria manutenção, servem de parâmetros
saber o que determina suas para avaliar a motivação para
ocorrências. Vejamos as seguintes mudanças e são também os próprios
opções: a) fica nervoso; b) sente um instrumentos de mudança (Marçal,
ca normalmente não ocorre em linguagem técnica; é comum o terapeuta usar
termos do cotidiano na comunicação com o seu cliente.
c
O ALCANCE DA ANÁLISE DO o
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COMPORTAMENTO NA ÁREA c
e
CLÍNICA p
Existem muitas concepções ç
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enganosas do que vem a ser Análise e
Comportamental Clínica ou Terapia s
Analítico-Comportamental. A maior s
parte dessas interpretações é ã
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decorrente de (a) um forte
desconhecimento37 do que vem a ser l
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3 -
73 38 E
73 nec
73 ess
73 ári
73 o.
48 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
(
) Não está obtendo reforçadores também era acomodado.
relacionados ao lazer. ( ) Tinha preguiça de fazer as coisas
( ) Perde oportunidades (reforçadores) quando criança.
valiosas por só querer coisas perfeitas. ( ) É ( ) Seu irmão, três anos mais velho,
determinada, consegue o que quer. fazia e resolvia quase tudo para ele
D) Recursos terapêuticos – Identifique quais (cliente).
dos recursos ou estratégias terapêuticas ( ) Mãe facilitadora.
exemplificados abaixo corresponderiam a VIs ( ) Foi pouco exigido na vida.
responsáveis por mudanças: ( ) Era quieto desde criança.
( ) Seu signo revela uma pessoa
( ) Precisa aprender a relaxar. acomodada.
( ) Mudar o pensamento: “nem tudo na ( ) Nunca teve força de vontade.
vida é perfeito”.
( ) Acesso a muitos reforçadores sem muito
( ) Estar em situações reforçadoras que não esforço.
tenham demandas por desempenho.
( ) Insucesso ao tentar fazer algumas coisas
( ) Vivenciar contextos reforçadores em que por si.
haja boa probabilidade de ocorrerem
( ) Sempre foi inseguro.
imperfeições sem consequências
( ) Tinha baixa autoestima.
punitivas.
( ) Não se cobrar tanto. B) Manutenção – Assinale, dentre os
exemplos abaixo, VIs atuais que contribuiriam
II – O comodismo e a falta de iniciativa
para manter o padrão comportamental:
também são padrões comportamentais
frequentes que trazem problemas na vida de ( ) Não tem energia dentro de si.
alguns clientes. Assim como no perfeccionismo, ( ) Regra: “se pudesse, passava o dia com as
os comportamentos que caracterizam esses garotas”.
padrões foram ou são funcionais em muitos ( ) Recebe boa mesada dos avós.
contextos e não foram ou não são em outros. A ( ) Acha que é preguiçoso.
seguir, alguns exemplos de comportamentos ( ) Não há contingências aversivas na vida
que poderiam caracterizar o comodismo e a que leva atualmente.
falta de iniciativa: ( ) Acha que não deve ser diferente.
• Espera as coisas acontecerem na vida; ( ) Família reforça sua capacidade
• Age apenas quando solicitado ou persuasiva para ter o que quer.
mesmo obrigado; C) Motivação para a mudança – Assinale
• Raramente inicia um novo projeto; quais dos itens abaixo seriam determinantes
• Tende a permanecer em condições (VIs) para motivar mudanças:
aversivas, mostrando passividade;
( ) Acha que está na hora de mudar sua
• Sente-se inseguro ou sem vontade postura.
para iniciar algo novo. ( ) Mãe deixou de facilitar sua vida.
A) Aquisição – Assinale, entre os exemplos ( ) Está perdendo reforçadores importantes
abaixo, quais poderiam ser VIs históricas para a (punição negativa) por não tomar
aquisição (ou para a manutenção ao longo dos iniciativa para adquiri-los.
anos) desse padrão comportamental: ( ) Concorda com o irmão quando este diz
que ele está acomodado.
( ) Avô, com quem nunca teve contato,
( ) Sente que está mais corajoso.
52 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
(
( ) Namorada, que amava, terminou com comportamento não é
ele, pois achava que ele não imediatamente reforçado.
progrediria na vida.
A) Aquisição – Assinale, dentre os exemplos
( ) Passou a morar só, em outra cidade,
abaixo, quais poderiam ser VIs históricas para a
onde mal conhece as pessoas. ( ) Quer ser
aquisição (ou para a manutenção ao longo dos
igual ao irmão.
anos) desse padrão comportamental:
D) Recursos terapêuticos – Identifique quais ( ) História de acesso fácil e frequente a
dos recursos terapêuticos abaixo reforçadores importantes, sem
corresponderiam a VIs responsáveis por precisar ser persistente.
mudanças:
( ) É impulsivo desde criança.
) Terapeuta encerra a sessão no horário
( ) Nunca foi paciente para esperar.
inicialmente previsto, mesmo o
( ) Teve vários empregados à disposição
cliente chegando 40 minutos atrasado
quando criança. ( ) Era hiperativo.
e sem uma justificativa adequada.
( ) Suas exigências eram frequentemente
( ) Vivenciar contextos reforçadores em que
reforçadas pelos adultos.
haja contingência específica para a
( ) Poucas frustrações nas relações
produtividade.
sociais próximas.
( ) Identificar o lado bom de ter
( ) Sempre foi parecido com o pai nos
iniciativa, ser produtivo.
comportamentos.
( ) Aprender a se virar.
( ) Ter mais força de vontade. B) Manutenção – Assinale, dentre os exemplos
( ) Estar em situações em que as coisas abaixo, VIs atuais que contribuiriam para
dependam de si. manter o padrão comportamental:
( ) Inserir-se ou manter-se em ambientes ( ) No trabalho, tem muito poder e
exigentes, que punam o comodismo, comanda várias pessoas dispostas a
mas que também disponibilizem atendê-lo prontamente.
reforçadores importantes. ( ) Há pressão no trabalho por
III – A impulsividade e o imediatismo também resultados imediatos.
são padrões comportamentais frequentemente ( ) Tem TDAH (Transtorno do Déficit de
identificados em clientes. Os comportamentos Atenção e Hiperatividade).
que os caracterizam foram ou são funcionais ( ) Fica irritado com a lentidão dos
em muitos contextos, e não foram ou não são outros.
em outros. A seguir, alguns exemplos de ( ) Explosivo quando contrariado.
comportamentos que poderiam caracterizar a ( ) É ansioso.
impulsividade e o imediatismo: ( ) Não se “dá mal” quando age de forma
considerada impulsiva.
• Fala coisas sem pensar e depois se
arrepende; C) Motivação para a mudança – Assinale quais
• Não consegue esperar por algo, tem dos exemplos abaixo seriam determinantes
que ser agora; (VIs) para motivar (ou não) mudanças nesse
padrão comportamental:
• Pouca persistência, pouco
autocontrole; ( ) Brigou duas vezes na rua após gritar com
• Baixa tolerância à frustração; outros. Foi bem-sucedido.
• Desiste das atividades em que seu ( ) As coisas na vida continuam como na
infância: muito poder.
Análise Comportamental Clínica 53
(
( ) Namora uma pessoa que lhe é Carrara, K. (1998). Behaviorismo Radical: Crítica
submissa. e metacrítica. Marília: Unesp Marília
publicações; São Paulo: FAPESP.
( ) Considera-se explosivo, gostaria de
Carrara, K. (2001). Implicações do Contextualismo
mudar.
pepperiano no Behaviorismo Radical: Alcance e
( ) Dois amigos, dos quais gostava muito, limitações. Em H. J. Guilhardi, M.
afastaram-se dele. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz, M. C. Scoz & C.
( ) Reconhece que suas atitudes são, às Amorim (Orgs.), Sobre Comportamento e
vezes, inadequadas. Cognição: Vol. 8. Expondo a variabilidade
( ) Tem sentido vontade de mudar. (pp. 205-212). Santo André: ESETec.
Carrara, K. (2004). Causalidade, relações funcionais
D) Recursos terapêuticos – Identifique quais e contextualismo: algumas indagações a partir
dos recursos terapêuticos exemplificados do behaviorismo radical. Interações, 9, 29-54.
abaixo corresponderiam a VIs responsáveis por Carrara, K. & Gonzáles, M. H. (1996).
mudanças: Contextualismo e mecanicismo: implicações
conceituais para uma análise do
( ) Estar em ambientes reforçadores, mas
Comportamento. Didática, 31, 199-217.
que lhes confiram pouco poder.
Catania, A. C. (1979). Learning. New Jersey:
( ) Atividades em que o acesso ao Prentice Hall.
reforçador dependa da persistência. Carvalho Neto, M. B. (1999). Fisiologia &
) Acreditar que pode mudar. Behaviorismo Radical: Considerações sobre a
( ) Estabelecer etapas para uma caixa preta. Em R. R. Kerbaury & R. C.
mudança gradativa. Wielenska (Orgs.), Sobre Comportamento e
( ) Terapeuta não atende prontamente à Cognição: Vol. 4. Psicologia comportamental e
cognitiva: da reflexão teórica à diversidade na
sua solicitação para mudança de
aplicação (pp. 262-271). Santo André: ESETec.
horário (cliente não gosta muito do
Chiesa, M. (1994). Radical Behaviorism: The
horário em que está). philosophy and the science. Boston: Authors
( ) Aprender a relaxar e se controlar. Cooperative.
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Marçal, J. V. S. (2006a). Refazendo a história de
vida: quando as contingências passadas
55 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
M Capítulo 3 direcional,
valorizando
apenas as
técnicas para
Habilidades Terapêuticas o tratamento
uitas são as críticas ao Behaviorismo, de patologias específicas. Seus terapeutas
demonstrando, muitas vezes, passaram a ser designados com expressões
uma confusão entre Behaviorismo do tipo “engenheiros comportamentais” ou
Metodológico e Behaviorismo Radical. O “máquinas de reforçamento social”
Behaviorismo veio para se contrapor ao (Barcellos e Haydu, 1998; Conte e Brandão,
mentalismo e à introspecção. Foi Watson, em 1999; Edelstein e Yoman, 2002; Follette e
1913, com seu Manifesto Behaviorista, quem Callaghan, 1995, citado por Silveira e
despertou grande interesse no estudo do Kerbauy, 2000; Rangé, 1998), tendo como
comportamento, negando a possibilidade de fundamental tarefa a modificação de
investigação científica dos eventos privados comportamento (Wilson e Evans, 1977,
(ou encobertos). Skinner, por sua vez, faz citado por Silveira e Kerbauy, 2000).
uma reinterpretação desses eventos, No entanto, foi verificado que apenas o
propondo uma nova metodologia de estudo uso de “técnicas certas para o problema
(Matos, 2001; Sant’Anna, 2003; Skinner, certo” não era o suficiente para se obter êxito
1974/1993, 1989/1991). na terapia (Franks, 2002). Começouse, então,
Este último passou a considerar os a hipotetizar as variáveis que pudessem estar
eventos privados como sendo de fundamental ligadas à relação estabelecida entre terapeuta
importância para a realização de análises e cliente (Gavino, 2002; Keijsers, Hoogduin
funcionais, nomeando sua filosofia de e Shaap, 1994, citado por Meyer, 2001;
Behaviorismo Radical. Ao contrário de Otero, 1998).
explicar o comportamento por meio de O termo “relação” tem como significado:
entidades abstratas, como ocorre nas teorias conexão, afinidade, entendimento ou laços
psicológicas tradicionais, o Behaviorismo entre pessoas, grupos, nações. E o termo
Radical propõe explicar o comportamento “terapêutico” significa arte ou ciência de
humano por meio de relações organismo- curar (Sacconi, 1996). Assim, a relação
ambiente (Kohlenberg e Tsai, 1991/2001; terapêutica diz respeito tanto ao terapeuta
Skinner, 1953/1989, 1974/1993, 1989/1991). quanto ao cliente, havendo uma
Essa nova explicação de interação conexão/interação entre os dois (Beitman,
organismo-ambiente propiciou o 1989, citado por Rangé, 1998).
desenvolvimento de técnicas de modificação
comportamental que produziam rápidas 1
O presente trabalho é parte da monografia de conclusão
alterações nos problemas apresentados pelos do curso de graduação em Psicologia, na Universidade
clientes. A terapia comportamental era, nesse Católica de Goiás, defendida pela primeira autora, sob
momento, vista de maneira uni- orientação dos demais autores.
tado por Campos, 1998) e Strupp (1982, ao fato de que o terapeuta, como uma
citado por Gavino, 2002), dentre as quais, “pessoa comum”, também teve uma história
empatia, autenticidade e aceitação podem ser de reforçamento e punição, e seus efeitos
destacadas. Outros autores ressaltam que o constituem uma característica relevante no
terapeuta deve ter habilidades para instruir o processo psicoterapêutico (Banaco, 1993;
cliente, ouvir, observar, estar seguro de si, ser Kohlenberg e Tsai, 1991/2001; Rangé, 1998).
diretivo, ser disponível, usar de forma Nesse sentido, o supervisor poderá, em
criteriosa o humor e ser criativo (p. ex., algumas ocasiões, verificar que “o aluno (...)
Rangé, 1995; Seligman, 1998, citado por saiu da sessão, além de bastante ansioso,
Meyer, 2001; Silvares e Gongora, 1998). frustrado por não ter conseguido captar o
Banaco e Zamignani (1999) declaram cliente e deixou escapar várias chances de
que o terapeuta deve saber praticar tais fazer intervenções ou as fez em momentos
habilidades, além de escutar com atenção o absolutamente inadequados” (Banaco, 1993,
que o cliente está dizendo. O terapeuta ainda p. 71-72).
deverá possuir uma boa formação conceitual Deve-se ressaltar que tal situação não
da abordagem que escolheu seguir. Se for depende apenas do aluno, mas também da
comportamental, deverá compreender com instituição e do quadro curricular no qual o
clareza conceitos como aprendizagem estágio ocorre (Campos, 1989; Castanheira,
clássica e operante; saber identificar as 2003; Kubo e Botomé, 2003; Marinho e
técnicas e usá-las e, fundamentalmente, Silveira, 2004; Silvares e Gongora, 1998;
analisar funcionalmente todo o processo Zaro et al., 1977/1980). Muitas vezes, os
terapêutico (ver também Kohlenberg e Tsai, alunos passam da teoria para a prática sem
1991/2001). haver um treino suficiente, e a falta de
Todas essas habilidades muitas vezes não experiência controla respostas de medo e de
são diretamente treinadas durante a ansiedade. As grades institucionais e
graduação, deixando o terapeuta iniciante curriculares precisam de mudanças que
com “inseguranças” e “medos”, pois, ao incluam disciplinas práticas responsáveis
chegar ao estágio, depara-se pela primeira proporcionar uma alteração na forma de
vez com o papel de terapeuta e deverá ensino-aprendizagem. Os terapeutas
comportar-se como tal (Castanheira, 2003; iniciantes deveriam ter treino de habilidades
Zaro et al., 1977/1980). Os alunos de profissionais antes de realizarem os
Psicologia são obrigados a assumir papéis atendimentos clínicos (Campos, 1998;
contraditórios e ambíguos, concomitantes à Castanheira, 2003; Falcone et al., 1998;
supervisão – terapeuta, estudante, cliente, Rangé, 1998; Zaro et al., 1977/1980). De
supervisionando e colega – o que acaba, por acordo com Shoock e colaboradores (1995),
fim, gerando mais ansiedade (Olk e Silvares e Gongora (1998), os terapeutas que
Friedlander, 1992, citado por Campos, 1998). recebem treinamento oferecem maior ajuda a
A fim de treinar o terapeuta iniciante no seus clientes do que terapeutas não treinados.
desenvolvimento das habilidades necessárias Somado a isso, Gonçalves (1994) afirma que
para o sucesso psicoterapêutico, o supervisor deveria haver um aumento na carga horária
deverá evocar seus comportamentos privados dos estágios, proporcionando, assim, um
(sentimentos, pensamentos, emoções), ou maior contato entre o aluno e a prática.
seja, aqueles que não são observados Guilhardi (1987), Silvares (1997) e Ulian
diretamente pelo supervisor durante as (2002) entendem que a experiência clínica
supervisões (Castanheira, 2003). Isso se deve antes da atuação é de fundamental
Análise Comportamental Clínica 59
importância e que isso pode ser oferecido ao etc.), antes e após as sessões realizadas com
aluno desde muito cedo, dando a ele a seus clientes.
chance de se integrar em uma equipe de MÉTODO
estudantes de vários níveis. O aluno pode
Participantes
participar de sessões de supervisão ou
Responderam a um questionário 78 alunos
aprender por meio da observação de vídeos
do curso de Psicologia da Universidade
em que estudantes mais graduados possam
Católica de Goiás, de ambos os sexos e
servir de modelos.
idades entres 17 e 50 anos. Desses alunos, 30
Além disso, é de fundamental
cursavam as disciplinas de Pré-Estágio (8º
importância que os modelos estudados
período), 25 estavam no Estágio I (9º
estejam adequados à realidade: ao se estudar,
período) e 23, no Estágio II (10º período). O
os modelos e os exemplos são geralmente
critério de inclusão para os participantes era
elitizados; quando se chega à prática de
de que estivessem cursando ou pretendendo
estágio, o que encontramos é uma população
cursar o estágio na área clínica,
carente. Como consequência, tem-se a
independentemente da abordagem escolhida.
impressão de que o que aprendeu não
Além disso, uma terapeuta em
funciona, tendo que abandonar o modelo
treinamento (estagiária), em Análise
aprendido e procurar outro, ao invés de
Comportamental, da Universidade Católica
aperfeiçoar o que aprendeu durante a
de Goiás, sexo feminino, casada, 31 anos,
graduação (Guilhardi, 1998). Em suma, é de
três filhos, registrou em um diário seus
fundamental importância para uma adequada
eventos privados relacionados a duas
formação do psicoterapeuta a interação entre
clientes. As clientes atendidas foram MV
informações teóricas, prática em atendimento
(nome fictício), 29 anos, sexo feminino, duas
e supervisão (Ulian, 2002).
filhas, divorciada; e EY (nome fictício), 28
Diante do relatado acima, torna-se
anos, sexo feminino, dois filhos, divorciada.
relevante a observação das necessidades
De modo geral, as principais queixas das
apresentadas pelos terapeutas iniciantes.
clientes foram: baixa autoestima, diminuída
Diversas questões sobre aliança terapêutica
habilidade social, dificuldade em discriminar
têm sido apresentadas. No entanto, o tema é
seus próprios sentimentos, falta de confiança
bastante complexo e, por isso, exige uma
e depressão. Afirmavam que a origem de
maior investigação (Meyer, 2004). O
seus problemas residia no outro, ou seja,
objetivo deste trabalho foi chamar a atenção
naqueles com quem conviviam, e não
para as possíveis dúvidas e dificuldades dos
conseguiam relatar a necessidade de
terapeutas iniciantes e para a necessidade de
transformações em si mesmas.
treinar, no decorrer da graduação, as
habilidades terapêuticas. Para tanto, foi
aplicado um questionário que levantava as Ambiente e material
habilidades existentes e inexistentes nos Utilizou-se um questionário com 28
terapeutas iniciantes em três momentos questões, sendo 25 destas, parte de uma
diferentes: Pré-Estágio, Estágio I e Estágio escala Lickert com a variação de 1 a 4, que
II. Foi também analisado um diário escrito foi aplicado nos alunos da UCG, referente a
por uma estagiária em Análise habilidades necessárias a um bom terapeuta,
Comportamental, no qual ela anotava assim como às principais dificuldades
diariamente as ocorrências de seus eventos encontradas no início da profissão (ver
privados (ansiedade, medo, expectativas, Anexo 1). Com relação às sessões, foram
60 Ana Karina C. R. de-Farias
Pode-se notar que, nas sessões terapêuticas para estabelecer uma eficiente
intermediárias, houve uma acentuada relação terapêutica.
diminuição dos sentimentos positivos e uma A estagiária discriminou mais
manutenção dos sentimentos negativos em sentimentos negativos do que sentimentos
relação à sessão, a si mesma e à clien- positivos, tais como: “dó” pelo fato de a
te. Nesse conjunto de sessões, observa-se cliente haver encontrado inúmeras
uma mesma razão de sentimentos positivos e oportunidades de mudança e não ter
negativos. conseguido; desmotivação, pois a cliente não
Razão sentimentos positivos/negativos
fazia as
tarefas e
4 sessões
EY sempre
3,5 apresentava
3 justificativas;
2,5 falta de
interesse, o
2
que impedia
1,5 a terapeuta
1 de emitir
1 3 5 7 9 1 1 1 1 1 2 23 25
0,5
1 3 5 7 9 1
si mesma
cliente
0 Sessões
teve a oportunidade de ser ouvinte de quarta cliente a ser atendida pela estagiária,
supervisão durante um semestre (2º de 2004), que já havia adquirido um repertório para
quando pôde aprender, por modelação e guiar as sessões iniciais a partir dessa prática
regras por parte da supervisora e das colegas, inicial.
como atender aos clientes e sobre aspectos Em relação às sessões intermediárias, as
importantes a serem destacados na clínica. supervisões e a exposição às contingências
Considera-se tal oportunidade de grande foram de fundamental importância para que
importância para que os comportamentos os sentimentos descritos acima diminuíssem
como medo, frustração e ansiedade em frequência e em intensidade, e assim,
diminuíssem sua intensidade/ frequência já habilidades terapêuticas antes não
ao longo das primeiras sessões de observadas foram emergindo. Habilidades
atendimento. como compreensão, empatia, autenticidade e
Na noite anterior ao primeiro criatividade que eram evocadas e treinadas
atendimento, a estagiária mal conseguiu durante as supervisões começaram a ser
dormir, pensando em como seria. Havia observadas. A estagiária procurou priorizar a
planejado um roteiro com tópicos que não relação terapêutica, mas surgiram algumas
poderia deixar de informar à cliente, tais dúvidas, tais como: “o terapeuta poderá
como dia, horário, duração da sessões e compartilhar de um ‘riso’ de ‘alguma coisa’
regras do CEPSI. Tudo o que havia planejado engraçada trazida pelo cliente ou deve
não ocorreu, pois a cliente chorou e falou manter uma postura mais séria?”, dúvidas
durante toda a sessão. A estagiária saiu da estas discutidas no grupo de supervisão.
sessão bastante frustrada, pois não havia A estagiária observou e expôs aos
conseguido cumprir o planejado. Então, supervisores que, quando os clientes estavam
pensava: “será que conseguirei ajudar a desmotivados ou desinteressados, ou seja,
cliente? E se ela me perguntar “tal coisa”, o quando apresentavam baixa adesão ao
que e como devo responder?”. Esses eventos processo, ela também ficava desmotivada,
privados controlaram respostas de medo, de com baixo interesse nos estudos, sem
ansiedade e de frustração na estagiária (como criatividade e com as seguintes dúvidas:
apontado por Banaco, 1993). “pode um terapeuta se comportar de tal
Essas questões ficaram claras nas maneira? Isso é correto? O terapeuta deve ou
primeiras sessões com a cliente MV, não expor tal fato para o cliente?”; “pode o
marcadas por ansiedade relacionada ao fato terapeuta sair da sessão com raiva do cliente
de não conseguir ajudar a cliente, de achar por este evocar alguns aspectos da história de
que não sabia nada da teoria, de temer estar reforçamento ou punição do próprio
na área errada (clínica), bem como temer terapeuta? O terapeuta deve estar em
determinadas perguntas que a cliente poderia terapia?”. Durante as supervisões, tais
fazer. Além disso, a estagiária experenciou dúvidas foram sendo sanadas e a estagiária,
frustrações por não ter conseguido fazer adquirindo segurança e habilidades antes não
perguntas na hora oportuna, por ter ignorado observadas.
relatos importantes e, até mesmo, pelas faltas Nas sessões finais, a estagiária, por ter
dos clientes à sessão. sido submetida a reuniões nas quais seus
Por outro lado, as sessões iniciais com a supervisores faziam intervenções e
cliente EY foram inicialmente positivas. Esse observações precisas e eficazes, conseguiu
desenvolvimento inicial das sessões deve-se, adquirir novos comportamentos privados:
primordialmente, ao fato de que essa era a segurança quanto à sua escolha de atuação;
66 Ana Karina C. R. de-Farias
QUESTIONÁRIO – PARTE I
QUESTIONÁRIO – PARTE II
(Deve-se ressaltar que o termo terapia está sendo
usado como sinônimo de psicoterapia. Portanto, o
termo terapeuta é sinônimo de psicoterapeuta.)
Responda às seguintes questões marcando um X de
acordo com a escala abaixo.
(1) Discordo totalmente
Análise Comportamental Clínica 71
A experiência do terapeuta é fator crucial para o Os casos clínicos estudados durante a Graduação são adequados à
bom andamen- 1 2 3 4 nossa realidade social.
to da terapia.
Para alguns tipos de problemas, algumas
abordagens terapêuti- 1 2 3
4 cas são mais bem-sucedidas que as outras.
Um terapeuta pode ser melhor para certos tipos de
clientes.
2
4
Capítulo 4
H istoricamente,
empreendimentos de cunho
comportamental na clínica
os também buscam apoio em postulados
psicodinâmicos. Dessa forma, surge
a FAP – Psicoterapia Analítica
relegaram a relação terapêutica a um Funcional (do inglês, Functional
segundo plano. Ferster (1972) é o Analytic Psychotherapy) –, que tem
primeiro autor de origem analítico- grande aceitação entre os
comportamental a chamar a atenção psicoterapeutas analítico-
para importância da relação comportamentais na atualidade.
terapêutica como instrumento de O presente trabalho pretende
mudança. Por outro lado, realizar um exame mais minucioso
contribuições de teorias como as da relação terapêutica como um todo,
humanistas são inegáveis quando se além de avaliar a proposta de
fala em relação terapêutica. Ainda, as intervenção clínica da FAP, suas
abordagens psicodinâmicas também aplicabilidades e fragilidades,
trataram da importância do tema sob baseado nas premissas do
o rótulo de relação de transferência e Behaviorismo Radical e nos
contratransferência. conceitos da Análise do
A despeito das distinções Comportamento Humano.
teóricas e epistemológicas das Para abordar o tema, o presente
abordagens em questão, um ponto trabalho discute, inicialmente, a
que parece comum a todas elas é a importância da utilização da relação
ênfase dada às dificuldades de terapêutica como instrumento de
interação social de muitos clientes. mudança na clínica
Dessa forma, consideram a analíticocomportamental.
possibilidade da emergência dessas Posteriormente, trata da importância
dificuldades dentro do consultório, do uso do conceito de reforçamento
sendo a relação terapêutica utilizada diferencial dentro do contexto
para reelaborar e aperfeiçoar as clínico, além de ressaltar a
formas de interação empregadas problemática do uso do controle
pelos clientes em seu convívio aversivo na prática clínica. E, por
social, principalmente com as fim, elucida algumas regras de
pessoas significativas. intervenção psicoterapêuticas da
Baseados nas ideias de Ferster e FAP, sugerindo alternativas
em consonância com a filosofia complementares de intervenção.
Análise Comportamental Clínica 73
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Capítulo 6
R1 Modificação ambiental R2
Manipular variáveisProbabilidade
Ambientais alterada
Sr
Manipular VariáveisProbabilidade
Ambientaisalterada
Sr
Rc1
Quadro 7.1
Transtornos de Ansiedade segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-IV): Análise de estímulos, respostas e comportamentos (Fontes: APA, 2002;
Banaco e Zamignani, 2004; Kaplan, Sadock e Grebb, 1997).
Código Estímulo Resposta Eliciada / Comportamento
Diagnóstico Diagnóstico Desencadeador Evocada Operante
(Continua)
(Continua)
(Continua)
Análise Comportamental Clínica 159
vez que essa resposta estabelece a ocasião na acabar eliciando os mesmos respondentes e,
qual a emissão do comportamento possui alta em caso de a senhora ser novamente
probabilidade de ser reforçado (item 4 em amparada, a consequência (amparo) mais
Figura 7.1) (Banaco e Zamignani, 2004). uma vez selecionaria os mesmos
No exemplo hipotético da Figura 7.1, comportamentos e contextos para uma
tem-se uma mulher que, ao quase ser próxima apresentação do comportamento.
atropelada, grita sobressaltada e fica imóvel Nesse sentido, tem-se a explicação para o
diante do carro que freia bruscamente, mas possível desenvolvimento da fobia específica,
ainda desliza em sua direção. Ela, pálida, como apontado por Watson e Rayner (1920).
tremendo, com batimentos cardíacos Para o exemplo hipotético, a situação é
acelerados e respiração ofegante, após o composta tanto por seu componente
ocorrido, permanece inquieta, desconfortável, respondente quanto operante.
agitada, etc. Ao chegar ao trabalho, todos a Por uma questão de contiguidade
acalmam, dão a ela um copo de água e (estarem presentes ao mesmo tempo em que
reservam um local calmo para ela sentar-se e as respostas analisadas anteriormente), as
repousar. Após explicar o ocorrido, seu respostas encobertas de medo (desconforto,
superior permite que ela volte ao trabalho tão inquietação, etc.) também foram selecionadas
logo se sinta melhor. Entretanto, os pela contingência operante. Uma vez que
respondentes demoram a passar e, quando outros estímulos condicionados ou
seu superior vai ver como ela está, diante do incondicionados podem eliciar essas
relato de que continua desconfortável e muito respostas encobertas de medo/ansiedade e
mobilizada, libera-a para voltar ao trabalho devido ao fato de terem sido selecionadas por
só no dia seguinte. Aqui, duas possibilidades uma contingência operante, tem-se uma
de reforçamento foram apresentadas complexa situação, na qual existe a possível
simultaneamente, selecionando o generalização das respostas ansiosas a outros
comportamento da mulher em questão. A estímulos/ contextos. Diante de outros
primeira consequência seria reforço positivo estímulos condicionados (p. ex., crítica e
(reforçamento social), e a segunda ameaça de demissão vinda de seu patrão, por
consequência age como reforço negativo pelo esse já ser o terceiro dia em que ela pede
adiamento de uma atividade, nesse caso dispensa do trabalho por não estar passando
hipotético, não desejada (trabalho). bem), a senhora apresenta sentimentos de
Os antecedentes eliciaram a resposta desconforto. Uma vez que essas respostas
incondicionada de medo, que se relacionou a passaram por um treino no qual, diante de sua
uma contingência operante, na medida em apresentação, gerava-se reforçadores, esse
que as consequências dessa resposta foram, responder passou a sinalizar a probabilidade
além de preparar o organismo para um evento de reforço (liberação do trabalho). Assim,
aversivo (razão filogenética do essa senhora aprendeu, por um processo
comportamento), produzir os estímulos histórico, que respostas encobertas de
atenção, cuidado e dispensa do trabalho. A desconforto sinalizam a probabilidade de
consequência gerada seleciona não só os reforço de respostas públicas de
comportamentos antecedentes (públicos ou medo/ansiedade, e ela emite essas respostas
privados), como “seleciona” também o públicas, tendo como consequências a
contexto antecedente no qual ocorreram. liberação do trabalho e amparo social. 82
Assim, particularidades do contexto (cor
vermelha, trabalho, trânsito, etc.) podem 82 Uma situação experimental que explicaria esse
fenômeno é amplamente utilizada pela Farmacologia
164 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
estavam presentes (cor vermelha do carro ou ditos ansiosos somente quando está ao lado
amarela do vestido, tipo específico de de pessoas da família ou do trabalho (nesses
calçado que a mulher usava, som da freada termos, teríamos essas pessoas como
ou do trânsito, sua companhia a caminho do estímulos que sinalizam a probabilidade de
trabalho, etc.), além do que outras respostas reforçamento – atenção e amparo – quando
públicas (grito, etc.) ou privadas da ocorrência da resposta ansiosa). Por fim,
(desconforto, agitação, etc.) também foram deve-se lembrar ainda que, assim como
evocadas/ eliciadas durante esse evento. descrito para as respostas públicas, as
Virtualmente, qualquer estímulo apresentado respostas privadas emitidas pelo sujeito
no momento do medo, bem como respostas podem passar pelo mesmo processo, de
que o indivíduo emitiu, podem, por maneira tal a adquirir função de estímulos
emparelhamento, adquirir a função de eliciadores condicionados e/ou
estímulo aversivo condicionado e/ou discriminativos (o desconforto provocado por
estímulo discriminativo para a emissão das qualquer outra situação pode eliciar respostas
respostas de fuga-esquiva. Nesse sentido, a de medo e/ou sinalizar a probabilidade de
cor vermelha (do carro e de sangue) pode reforçamento dada à ocorrência dos
eliciar respostas de medo/ansiedade – função comportamentos de respostas públicas de
eliciadora – e/ou sinalizar a probabilidade de ansiedade, isto é, comportamentos de fuga-
reforço no caso da emissão de esquiva). Em resumo, temos aqui alguns
comportamentos operantes – função processos nos quais se observa a
discriminativa. As funções eliciadoras e generalização de respostas a estímulos e a
discriminativas desses estímulos podem, por generalização dos estímulos para uma
sua vez, ser transferidas para outros estímulos determinada classe de respostas, favorecendo
por meio de novos emparelhamentos (o a constituição do que alguns profissionais de
trabalho pode passar a ser aversivo ou tornar- orientação nomotética chamarão de
se mais aversivo uma vez que foi “Transtornos de Ansiedade Generalizada”.
emparelhado com outros estímulos aversivos Outro exemplo, este clínico, apontado
como a cor vermelha – que supomos ter por Knapp e Caminha (2003), também
adquirido função eliciadora e/ou contribui para a compreensão do controle de
discriminativa) pelo processo de estímulos na ansiedade e a generalização das
generalização de estímulos (não somente a respostas a novos contextos. Em seu estudo,
cor vermelha adquiriria função eliciadora os autores descrevem um cliente que, em um
e/ou discriminativa, mas cores próximas à sequestro relâmpago, foi preso no porta-
vermelha – rosa, vinho, magenta – também o malas de seu carro após agressão física. O
fariam), ou por meio da formação de classes assalto ocorreu à noite, em uma rua pouco
equivalentes de estímulos (a palavra movimentada. No porta-malas do carro, o
“vermelho”, sangue, a palavra “sangue”, um cliente sentia cheiro de óleo queimado do
batom, equipamentos médicos ou outros escapamento e o forro do interior do porta-
estímulos da mesma classe evocada pelo malas friccionando sua pele, enquanto os
estímulo mais geral “cor vermelha”). Além assaltantes dirigiam em alta velocidade. Ele
disso, ressalta-se a função discriminativa dos relatou que sentia medo, suava muito e
estímulos que sinalizam a probabilidade de apresentou outros respondentes classificados
reforçamento dada à emissão de respostas de pelos autores como “reações semelhantes a
medo/ansiedade, como seria o caso de essa um episódio de pânico” (p. 34). Após o
mulher apresentar esses comportamentos transcorrido, alguns estímulos presentes no
166 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
esses respondentes, como, por exemplo, que também pode ter um caráter operante) de
sempre que tem de tomar o elevador seus diagnósticos. Como exemplo têm-se o
(suponhamos que começou um novo trabalho experimento de Rosenhan (1994), o qual
em um escritório no 12° andar), o clínico aponta oito pseudopacientes que relatavam
facilmente o diagnosticaria como sintomas específicos de entidade nosológica
claustrofóbico. Por sua vez, se o cliente exibe (psicose existencial) e foram diagnosticados
alguma espécie de ritual antes de entrar no erroneamente após serem admitidos em
elevador para afugentar os pensamentos e hospitais psiquiátricos (um recebeu
sentimentos ansiosos que ocorrem sempre diagnóstico de esquizofrenia e os outros de
que ali entra, esse provavelmente seria esquizofrenia em regressão). Após admissão
diagnosticado como tendo Transtorno no hospital – já não mais manifestando os
Obsessivo-Compulsivo. Enfim, as variantes sintomas específicos – receberam alta, em um
são quase infinitas. O que resta de período que variava de 7 a 52 dias.
aprendizado sobre o TAG é essa sua pequena
particularidade em relação aos outros
PSICOBIOLOGIA
diagnósticos; entretanto, isso não ajuda o
A Psicobiologia tem apontado algumas
processo terapêutico. Em verdade, somente
relações entre o organismo, o ambiente e a
aponta a necessidade de se resgatar
manifestação de comportamentos relativos ao
historicamente como podem ter ocorrido
TAG. A exemplo da perspectiva
esses processos com a finalidade de melhor
comportamental, psicobiólogos apontam a
elaborar sua intervenção, bem como
relação entre medo e ansiedade, e as mesmas
predispor o cliente à mudança (Aló, 2005;
distinções supracitadas (perigo real versus
Lattal e Neef, 1996). A única informação
perigo potencial) são vistas pela literatura
distinta que esse diagnóstico pode dar a um
psicobiológica (Graeff, 1989, 1999). Ainda
analista do comportamento é que, como o
em comum com a
nome sugere, ocorreu um processo de
literatura psiquiátrica e psicológica, dizse que
generalização de estímulos para o
as reações de ansiedade têm sua raiz
estabelecimento do quadro de Transtorno de
filogenética na reação de defesa dos animais,
Ansiedade Generalizada, isto é, as mesmas
verificada em resposta a perigos encontrados
respostas são controladas por um ampla
comumente no meio ambiente. Infelizmente,
classe de estímulos.
psicobiólogos têm extrapolado seus dados ao
Não é de se admirar, portanto, a alta
adotarem explicações mentalistas para o
comorbidade entre os diagnósticos de
fenômeno da ansiedade, como se vê em
transtornos de ansiedade com depressão ou
Graeff (1999), ao apontar que:
outros transtornos de ansiedade, como
apontado por Kaplan e colaboradores (1997). A interpretação de um estímulo ou
Em situações não previstas pelo DSM situação como sendo perigosa depende
(agorafobia secundária a um TAG, por de operações de natureza cognitiva.
exemplo), o cliente receberia dois Mesmo nos animais destituídos de
diagnósticos (300.22 e 300.02), dando-se linguagem, a capacidade de processar
pouca atenção ao fato de que a agorafobia estímulos e contextos físicos e de
não seria diferente, em termos funcionais, de compará-los com expectativas formadas
outras respostas de fuga-esquiva do próprio a partir de informações arquivadas nos
TAG. Essa medida somente “patologizaria” bancos de memória, levando em conta
ainda mais o cliente, tornando-o vítima (o também os planos de ação formulados
170 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
pelo animal, são fundamentais para a formas de interações), ela adquire o status de
detecção do perigo e para a avaliação de queixa clínica (Banaco e Zamignani, 2004;
intensidade e iminência. Também na Guilhardi, 2004). A ansiedade, portanto, seria
escolha da estratégia de defesa a ser compreendida como estados emocionais
adotada, bem como no controle de sua desprazerosos, relativos ao futuro e que
execução, intervêm operações possuem uma ligação com outra emoção – o
cognitivas” (p. 137). medo. Por vezes, esse estado emocional é
desproporcional com a real ameaça e com o
Salvo essas extrapolações dos achados de desconforto somático produzido.
pesquisa, em resumo, a Psicobiologia tem Segundo Kaplan e colaboradores. (1997),
apontado a relação de estruturas cerebrais e as teorias do aprendizado têm gerado os
neurotransmissores na manifestação de tratamentos mais eficientes em relação aos
comportamentos de medo, ansiedade e o transtornos de ansiedade e, como já visto,
TAG. Algumas estruturas como o hipocampo uma explicação genérica sugere o
e amígdala, juntamente com o condicionamento clássico, ou pavloviano,
neurotransmissor serotonina, têm sido com algumas variáveis de contexto que
implicados no processo de aprendizagem a podem (ou não) ter se generalizado para
estímulos aversivos crônicos (Graeff, outros estímulos do ambiente. Nesses termos,
Guimarães, Andrade e Deakin, 1996). Além tem-se que o sujeito pode apresentar
desses, a literatura (Brandão et al., 1999; respostas ditas ansiosas diante de estímulos
Carobrez, 2003; Graeff, 1999 e Pandossio e anteriormente neutros e que passaram a
Brandão, 1999) tem apontado o eliciar algumas respostas, isto é, tornam-se
envolvimento de outros neurotransmissores, estímulos condicionados após o
neurormônios, receptores e estruturas nesse emparelhamento de estímulos. Esse exemplo
processo, correlacionando esse aparato torna-se claramente entendido quando se
biológico com eventos ambientais e pensa no Transtorno de Estresse Pós-
transtornos de ansiedade, mostrando uma Traumático, no qual após um “trauma”
imbricada teia de relações. (condição na qual ocorreu o
emparelhamento), outros estímulos (locais
TRATAMENTO DO TAG: A TERAPIA fechados, multidões, etc.) passam a eliciar os
ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL E A respondentes de ansiedade (para
exemplificação, ver Knapp e Caminha,
FARMACOTERAPIA 2003).
Em um elucidativo texto acerca dos
transtornos de ansiedade, Banaco e
Zamignani (2004) destacam que a Os estudos de controle de estímulos,
comunidade verbal conceitua ansiedade associado a todos os outros fatores
como eventos diferentes que variam desde apontados como correlacionados à
manifestação de comportamentos ditos
estados interiores verbalizados pelo falante
ansiosos, têm apontado o amplo grau de
aos processos comportamentais que
controle desses comportamentos.
produzem esses estados. Nesses termos,
muitos eventos descritos como prazerosos
envolvem sentimentos de ansiedade, Nesses termos, tem-se que o
sobretudo se ocorre expectativa. Contudo, comportamento-alvo para trabalho é
quando a ansiedade se refere a relações com multideterminado, de tal sorte que o uso de
eventos aversivos (nas suas mais diversas apenas uma técnica para lidar com
Análise Comportamental Clínica 171
repertórios de ansiedade pode não ser aponta-se que a falta de uma ampla análise
justificada. A ansiedade é um fenômeno que funcional e da consideração da história de
demandaria uma análise caso a caso (análise vida do indivíduo abre a possibilidade para a
idiográfica) das contingências envolvidas em substituição de sintomas e pode ofuscar o
seu controle (Banaco e Zamignani, 2004; papel de variáveis ambientais importantes,
Sturmey, 1996). uma vez que a função daquele
De fato, uma das principais estratégias comportamento não foi trabalhada (Banaco e
interventivas tem sido a adoção de Zamignani, 2004; Sturmey, 1996).
procedimentos de exposição aos estímulos Entretanto, cabe o alerta de que da mesma
eliciadores e prevenção de respostas. A maneira que o uso indiscriminado de técnicas
exposição geralmente é feita de forma pode ser contraproducente no trabalho
gradual (dessensibilização sistemática). Pode terapêutico, a negação completa de sua
ser feita de forma imaginária até chegar in utilidade pode ser igualmente
vivo, sendo o cliente incentivado a se expor a contraproducente. Técnicas não são ruins ou
situações idênticas nos intervalos entre boas, mas, em caso de serem utilizadas, deve-
sessões (Banaco e Zamignani, 2004). A se ter um propósito para tal (Banaco e
apresentação dos estímulos também pode ser Zamignani, 2004).
feita ao mesmo tempo em que se faz O modelo de supressão condicionada
contracondicionamento com uso de (Estes e Skinner, 1941) aponta como
relaxamentos e treino respiratório (Kaplan et fundamental para o desenvolvimento da
al., 1997 e Moreira e Medeiros, 2007). ansiedade o emparelhamento entre estímulo
Outros procedimentos também são pré-aversivo (o estímulo condicionado, na
utilizados, tais como o fading out. Em presença do qual ocorrem os comportamentos
conjunto com as técnicas anteriormente de fuga-esquiva, quando possível, ou a
mencionadas, o terapeuta pode acompanhar o supressão de outros comportamentos
cliente em algumas situações aversivas (p. operantes e respostas fisiológicas quando a
ex., exposição pública no shopping) e faz fuga-esquiva é impossível) com o estímulo
alguns passeios com ele nesse ambiente aversivo. Contudo, se ao longo do tempo
(exposição in vivo e prevenção de respostas). nenhum emparelhamento ocorrer, a conexão
Durante essas jornadas, o terapeuta também entre ambos os estímulos pode ser
apresenta modelos e modela gradualmente o enfraquecida (extinção respondente) e as
repertório de cliente, de maneira tal que, em contingências operantes responsáveis pelas
sessões posteriores, os passeios no shopping respostas de fuga-esquiva ou a supressão do
passam a ter cada vez menos a presença do comportamento e as respostas eliciadas
terapeuta. Nesse exemplo, a terapêutica é também podem se enfraquecer. Porém, as
baseada nas contingências de reforço e o respostas podem continuar ocorrendo sob
comportamento do cliente passa a ficar sob controle das consequências adicionais
controle de consequências reforçadoras (reforçamento positivo) (Banaco e
naturais (Guilhardi, 2004). Zamignani, 2004). Em outras palavras, a
Cabe lembrar que, na inexistência de ocorrência dos comportamentos públicos de
uma ampla análise funcional, a utilização fuga-esquiva nos transtornos ansiosos pode
exclusiva de técnicas de modificação do se dar como resultado desse tipo de operação
comportamento pode ser ineficaz. O uso reforçadora, independentemente da
desmesurado de técnicas para alterações ocorrência de respostas privadas de medo e
comportamentais tem sido criticado, e ansiedade. A operação comportamental
172 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
relativa à emissão dessas respostas envolveria dos mesmos transtornos. Isso explicaria
apenas estímulos ambientais precedentes e a pacientes refratários ao uso de
sua consequência reforçadora que segue a medicamentos, como é evidenciado no caso
resposta pública, não necessariamente descrito por Guilhardi (2004).
ocorrendo respostas privadas de medo, Vários são os fármacos utilizados para o
ansiedade ou obsessões. tratamento de transtornos ansiosos, dentre
Uma consequência que o analista do eles cita-se o propanolol (antagonista de
comportamento deve atentar quando se fala receptores adrenérgicos) e benzodiazepínicos
de comportamentos de esquiva é que esses (agonistas gabaérgicos) ou alguns fármacos
podem continuar ocorrendo mesmo após a de ação agonista serotonérgica, como é o
relação entre estímulo condicionado (pré- caso da buspirona e alguns antidepressivos
aversivo) e estímulo aversivo ter se rompido. (Andreatini, Boerngen-Lacerda e Frussa-
Assim, as respostas de esquiva podem ser Filho, 2001; Graeff, 1989; Kaplan et al.,
mantidas por regras ou autorregras, mais do 1997). Esses fármacos atuam de formas
que propriamente pelas contingências, dado a específicas em estruturas distintas e isso dá a
evidência de que a resposta de esquiva afasta eles potenciais terapêuticos diferentes. O
o sujeito do contato direto com a propanolol, por exemplo, atua bloqueando
contingência, na medida em que a receptores adrenérgicos do sistema periférico,
consequência de seu comportamento é não principalmente, do coração. Assim, pessoas
produzir consequência (Moreira e Medeiros, sob efeito desse medicamento têm a
2007; Skinner, 1953/2000). frequência respiratória diminuída em função
Por fim, ampliações de repertórios social, da ação antagonista do medicamento, de
de auto-observação, assertivo, etc., têm maneira tal que pacientes que fiquem sob
funcionado, bem como intervenção em controle desse estímulo como discriminativo
pacientes que precisam modelar ou refinar para emissão de comportamentos ansiosos
esses comportamentos. Essas estratégias passam não mais a apresentar essas
aumentam a variabilidade comportamental e, manifestações. Por outro lado, se o controle
com isso, a probabilidade de reforço. Assim, do comportamento ansioso não residir na
tem-se potencialmente a diminuição da função discriminativa dos respondentes, o
privação de contatos sociais, o que cliente em questão pode ser refratário ao uso
novamente potencializa a variabilidade de propanolol.
(Banaco e Zamignani, 2004; Gimenes, Outros medicamentos atuam desinibindo
Andronis e Layng, 2005; Sidman, o comportamento provavelmente por uma
1989/2001). Esse tipo de intervenção função inibitória de estruturas que se
ampliaria o repertório de maneira que as relacionam com a aprendizagem a eventos
consequências provavelmente não seriam aversivos. Assim, comportamentos
suficientes para manter o comportamento anteriormente suprimidos por punições
“ansioso” se o cliente tivesse em seu passam a ocorrer como se não existisse tal
repertório respostas alternativas para obter contingência, como se houvesse uma
seus reforçadores. dissociação entre a consequência e a emissão
Assim como uma única técnica do comportamento; a dissociação entre
comportamental pode não ser eficaz para o eventos aversivos e suas consequências
tratamento dos transtornos de ansiedade, em emocionais permitiria ao sujeito
função de sua multideterminação, um único desempenhar suas atividades habituais
fármaco pode não ser eficaz no tratamento (Graeff, Guimarães, de Andrade e Deakin,
Análise Comportamental Clínica 173
Estudos de caso
Capítulo 9
Caso Clínico
Formulação
Comportamental
A Análise
Comportamento
tem como objeto de estudo
do casos, sugerir formas de
alterar as relações
estabelecidas. O terapeuta,
o comporta- como parte do ambiente do
mento, ou seja, ela analisa cliente, tem condições de
relações entre um observar o seu
indivíduo que se comporta comportamento e
e o ambiente no qual ele contingenciá-lo de forma a
está inserido. A terapia desenvolver um repertório
derivada dessa abordagem que proporcione ao cliente
busca a explicação para a o estabelecimento, em seu
origem e manutenção dos dia a dia, de interações
problemas menos aversivas que
comportamentais, assim aquelas preexistentes
como as condições para (Zamignani, 2000).
alterá-los, nessas relações. O presente artigo
Se todo comportamento é discorre a respeito de um
considerado como caso clínico e traz análises
selecionado e mantido e considerações teóricas
pelas relações que o com base na terapia
indivíduo estabelece com o analítico-comportamental.
ambiente, não há porque É uma tentativa de aliar
considerar um teoria e prática na busca de
comportamento como mais qualidade de vida
patológico, já que a reação para o cliente. Isso porque
do indivíduo é sempre o fato de comportamentos
adaptativa (Banaco, 1997). mais “adeDenise Lettieri
É importante ressaltar Moraes
que grande parte do
trabalho realizado pelo
terapeuta analista do quados” (aqueles que
comportamento é baseada trazem menos sofrimento
em relatos trazidos pelo ao cliente e/ou a outras
cliente sobre suas relações pessoas) serem ensinados,
com o meio. Procura-se treinados e executados
analisar os eventos oportuniza uma maior
relatados e, em alguns harmonização entre o
de-Farias e Cols.
modelando o que alguém diz do que para exercer controle sobre algo, é
o que alguém faz. necessário conhecê-lo (para maior
No contexto clínico, a discussão acerca da relação entre
correspondência verbal-não verbal autoconhecimento e autocontrole,
pode ser fortalecida, com a mediação ver o capítulo Nery e de-Farias neste
do terapeuta, por meio de reforço livro). Segundo Skinner (1953/2000),
diferencial do repertório verbal do o autocontrole consiste no
cliente, e tal reforçamento pode se estabelecimento de contingências
reverter em autoconhecimento. O pela própria pessoa de modo a alterar
autoconhecimento refere-se à a probabilidade de ocorrência de
habilidade de tatear as variáveis das determinado comportamento. No
quais o comportamento não verbal autocontrole, existem duas respostas
(público ou privado) é função relevantes e distintas: a controladora,
(Beckert, 2002; Tourinho, 2001). É emitida pelo sujeito que manipula
importante destacar que o variáveis ambientais, e a controlada,
autoconhecimento tem origem social, que altera a probabilidade de
ou seja, o que o sujeito sabe a ocorrência de um dado
respeito de si é construído por comportamento. O Behaviorismo
intermédio do outro, membro da Radical não atribui causalidade
comunidade verbal. interna ao autocontrole; este é
concebido de maneira contextual, em
Os falantes não apreendem o interação com o ambiente. O
mundo e o descrevem com autocontrole pode ser considerado
palavras; eles respondem ao como um operante, ou seja, um
mundo, dependendo das comportamento analisado a partir das
maneiras como as respostas contingências de reforçamento e
foram modeladas e mantidas por punição e deve ser explicado por
contingências especiais de variáveis que se localizam fora do
reforçamento. Os ouvintes não próprio indivíduo (Beckert, 2000).
extraem informação ou Pode-se afirmar, portanto, que a
conhecimento das palavras, correspondência verbal-não verbal
compondo cópias de segunda relaciona-se ao autoconhecimento e
mão sobre o mundo; eles ao autocontrole. Estudos que
respondem aos estímulos verbais relacionam esses temas entre si
segundo as maneiras com que vinculam cadeias fazer-dizer ao
foram modelados e mantidos por autoconhecimento e dizer-fazer ao
outras contingências de autocontrole (Beckert, 2002).
reforçamento. Ambas as
contingências são mantidas por
um ambiente verbal DIAGNÓSTICO E
desenvolvido ou cultural. INTERVENÇÃO ANALÍTICO-
(Skinner, 1989/1991, p. 53-54) COMPORTAMENTAL
O autoconhecimento mostra-se O diagnóstico tradicional em
também uma condição importante, Psicologia, baseado no modelo
porém não única e suficiente, para a médico, é mentalista e internalista,
obtenção de autocontrole, visto que, na medida em que atribui a
216 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
Variáveis históricas
Dados da cliente Histórico Familiar: Família extensa,
Identificação: Florinda (nome com pai falecido, mãe e seis irmãos,
fictício), 30 anos, sexo feminino, dentre eles quatro homens e duas
negra, ensino médio completo, nível mulheres. Ficou responsável por
socioeconômico baixo, noiva e administrar o dinheiro de sua mãe
católica praticante. após o falecimento do pai, o que
Queixa: No processo de triagem, a gerava pedidos corriqueiros de
cliente relatou as seguintes queixas: empréstimo de dinheiro por parte dos
choro frequente, tristeza, crises parentes, que não pagavam e, às
depressivas recorrentes, dificuldades vezes, Florinda contraía dívidas em
financeiras e histórico de abuso decorrência disso. Ela se recusava a
sexual. emprestar, inicialmente, mas
No decorrer dos atendimentos terminava cedendo à insistência.
iniciais, explicitou mais algumas Como exemplo dessa situação,
queixas, como a falta de relatou uma dívida contraída com
autoconhecimento – “Quero entender compra de material de construção
por que eu choro tanto”, “Por que as para levantar o barraco em que a mãe
pessoas têm pena de mim?”, “Eu não morava. Enquanto todos os outros
entendo porque eu não impedi que irmãos contribuíam com o
eles fizessem isso (abuso sexual) pagamento do material, a cliente
comigo” – e inassertividade – “Eu cobria o rombo mensal deixado pelo
não sei dizer não para as pessoas... irmão (que cometeu o abuso sexual)
Meus irmãos e cunhados sempre que, além de não arcar com a parte
que lhe cabia, ainda retirava produtos
Análise Comportamental Clínica 219
Quadro 10.1
Exemplos de Análises Funcionais (Análise Micro) realizadas a partir do relato da cliente.
AntecedentesComportamentoConsequências
Quadro 10.1
(Continuação)
AntecedentesComportamentoConsequências
Ouvir algo do noivo que a Fazer “cara feia”, responder Reforço positivo (do
desagradava (por exemplo, ao (por exemplo: “Você não me comportamento agressivo):
dizer que iria à excursão para ver conhece o suficiente!”) e recebia desculpas, atenção e
o papa, ele comentou: “só vão propor que eles só conversem carinho do noivo, e ele atendia à
pessoas jovens nessa excursão”, no outro dia sua solicitação de conversarem
o que a desagradou) no dia em que ela estipulou.
Presença do noivo Contar seus “problemas” e Reforço positivo: recebia escuta
chorar atenciosa do noivo e palavras de
conforto.
Conflito com a chefe no antigo Falar: “Você não se valoriza... Punição negativa: demissão do
emprego Mesmo sendo bonita, não vale emprego.
nada!”; “Sua filha não merece a
mãe que tem!”
Término da sessão, não havendo Choro na sala de espera da Extinção do comportamento de
tempo de falar tudo o que clínica – CRB 11 chorar e reforço diferencial de
gostaria para a terapeuta outros comportamentos pela
terapeuta, que lhe sinalizava
essas ações, sorria, indicava
avanços conquistados, etc.
Situações relacionadas aos Esquecer-se de datas e de Evitava entrar em contato com
abusos sexuais vividos no situações. sentimentos relacionados às
passado pela cliente “Não sei”. situações dolorosas e aversivas
“Não lembro” – CRB 1 envoltas ao abuso.
Não reforçamento de tal
verbalização na clínica (extinção)
e investimento em
autoconhecimento.
Sessão de atendimento Pontuar limite claro na sessão Durante o processo terapêutico,
psicoterápico sobre até onde trabalhar em evitou entrar em contato, de
um tema específico, como, por forma excessiva, com
exemplo, o abuso – CRB 2 sentimentos/ lembranças
associadas ao abuso, utilizando-
se da assertividade com a
terapeuta, visando preservar a
sua integridade física e
emocional.
Tarde calorenta Ser colocada em situação de Reforço positivo: ter sua decisão
escolha pelo terapeuta (ar- atendida, dispondo-se do
condicionado ligado ou elemento reforçador, ar-
desligado?) e preferir por ele condicionado.
Análise Comportamental Clínica 225
Quadro 10.1
ligado, em baixa temperatura –
CRB 2
1
CRB é a sigla para Comportamentos Clinicamente Relevantes (em inglês, Clinical Relevant Behaviors), descritos
por Kohlenberg e Tsai (1991/2001). CRB 1 refere-se aos comportamentos-problema do cliente, aqueles
relacionados à sua queixa. CRBs 2 são comportamentos de mudanças, melhoras observadas no repertório do
cliente. Por sua vez, CRB 3 consistem em interpretações de comportamento, por parte do cliente.
(Continua)
(Continuação)
Antecedentes Comportamento Consequências
Necessidade de uma sessão Solicitar à terapeuta uma Reforço positivo: ter sua
adicional sessão extra – CRB 2 solicitação acolhida, havendo
disponibilidade de uma sessão
extra.
Necessidade de ter uma sessão Pedir uma sessão com a Reformulação do mando
conjunta com o noivo presença do noivo, com uso de disfarçado pela terapeuta (“Você
mando disfarçado (“Seria bom gostaria de ter uma sessão junto
que meu noivo estivesse aqui, com seu noivo?”) e, depois, ter a
agora, escutando isso”) – CRB 2 recompensa esperada, ou seja, a
sessão com o noivo.
lembrar o exemplo, em um dos empregos poucas pessoas que ainda reforçavam seus
que teve, de ter expressado sua opinião de comportamentos agressivos era o noivo,
modo agressivo e pessoal a uma das chefes, pois fornecia carinho e atenção nesses
o que culminou em sua demissão. Em outra momentos.
situação, ao ouvir um comentário Em geral, ao longo de sua história de
desagradável da mãe, chamou-a de cínica e vida, seus familiares reforçaram também
teve como consequência o choro da mãe e outros padrões passivos, ou seja, quando ela
vários dias de silêncio desta com a cliente. solicitava algo de forma indireta, obtinha
Em outra ocasião, o irmão abusador como consequência o atendimento de seu
perguntou-lhe grosseiramente, enquanto ela pedido (reforço positivo). Nesse sentido, em
fazia a comida, o que havia para comer, e curto prazo, emitir mandos disfarçados era
ela respondeu: “Se quiser saber, abra as reforçado. Em médio e em longo prazo,
panelas!”. Ele respondeu: “Vou abrir todavia, esse padrão comportamental da
mesmo!”, pegando a carne e o arroz com as cliente implicava a perda de reforçadores
mãos. É relevante pontuar que, na maior sociais e a manutenção de um repertório
parte das vezes em que a cliente comportou- comportamental empobrecido. Tendo em
se agressivamente, seu comportamento foi vista a baixa densidade de reforçadores
punido positiva e negativamente, o que positivos, sua variabilidade comportamental
reduziu a frequência dessa classe de mantinha-se reduzida.
respostas. O reforço, mesmo que Diversos autores têm apontado que a
negativamente, era liberado quando ela aprendizagem por regras diminui a
emitia comportamentos passivos, e isso sensibilidade às contingências
favoreceu o estabelecimento e a manutenção (Albuquerque, 2001; Castanheira, 2001;
desse padrão comportamental. Uma das Nico, 1999). No contexto familiar, o uso
226 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
Quadro 10.1
extensivo de regras parece ter favorecido o
estabelecimento de um repertório
comportamental restrito e pouco sensível às
contingências. Essa baixa sensibilidade se
evidenciava na generalização do mesmo
padrão de comportamento – depressivo,
inassertivo – em contextos diversos (igreja,
trabalho), caracterizados por contingências
distintas daquelas disponíveis no contexto
familiar.
Em suma, Florinda apresentava padrão
comportamental inassertivo, com baixa
variabilidade, com alta frequência de
comportamentos de esquiva e fuga e baixa
densidade de reforçadores positivos.
Objetivos Terapêuticos: Florinda relatou
dois objetivos para a terapia: “enten-
Análise Comportamental Clínica 227
que ela detalhasse e descrevesse melhor o chances de aprovação e ela apontou ler o
que dizia e o que lhe ocorria, de forma a edital e estudar.
contextualizar seus comportamentos. Outro aspecto trabalhado na terapia foi a
A “Ficha de Coerência” colaborou, emissão de mandos disfarçados, que
também, para a promoção de mudanças do remetiam a padrões impulsivos
repertório não verbal. A partir desse material, (comportamentos que produzem reforços
houve a negociação da substituição da imediatos, porém de menor valor),
estratégia de autorregistros diários pelo uso contrapondo-se aos autocontrolados (que
maior da sessão terapêutica como promotora envolvem a emissão de comportamentos que
de autoconhecimento. A respeito das produzem reforços atrasados, mas de maior
caminhadas, admitiu a atividade física como valor). Como exemplo de mando disfarçado
uma forma de lazer, a qual lhe ajudaria por ocorrido fora do ambiente clínico, pode-se
mantê-la um pouco fora de casa, pelo contato citar seu comentário com uma colega que
social, etc. Esse comportamento de engajar- não tinha conseguido local para a realização
se em caminhadas foi gradativamente de seu chá de panela e tal colega cedeu sua
aumentando de frequência. casa para o evento (reforçou o mando
Com relação aos atrasos, eles foram disfarçado). Na terapia, comparou a
informados à cliente com a apresentação das terapeuta anterior com a atual, para “pedir”
datas e dostempos. Ela surpreendeu-se com a que ligasse semanalmente em sua casa para
quantidade de anotações referentes à demora perguntar sobre seu estado. A terapeuta não
para chegar ao consultório e comprometeu-se foi responsiva à comparação (extinção) e fez
em pegar um ônibus mais cedo. Outra esclarecimentos sobre a terapia
estratégia utilizada consistiu em encerrar a comportamental e sobre o processo
sessão no horário previsto, mesmo que isso terapêutico.
incorresse em uma sessão menos produtiva e Além de submeter os mandos
de menor duração, de modo que Florinda disfarçados ao processo de extinção, foi feita
pudesse entrar em contato com prejuízos também, em terapia, a diferenciação, dos
decorrentes dos atrasos. A partir disso, ela pedidos diretos (mandos puros) dos
passou a chegar pontualmente nas sessões. disfarçados (mandos indiretos),
Com relação ao comportamento de proporcionado, por meio de
procurar empregos, foram investigadas as questionamentos, o contato com as situações
formas habitualmente usadas pela cliente. nas quais realizava solicitações indiretas, de
Identificou-se que se restringiam, modo a discriminá-las.
basicamente, a divulgar a colegas que estava
Análise Funcional: Fazer análise funcional
interessada em um emprego e que a
pressupõe que, diante de um comportamento,
avisassem ou a indicassem caso soubessem
são verificados os antecedentes, isto é, a
de algum. Investiu-se no estabelecimento de
ocasião em que o comportamento ocorre e as
outros comportamentos relacionados ao
consequências produzidas pelo mesmo.
emprego que aumentariam a probabilidade
Florinda chegou à terapia com algumas
de consegui-lo, tais como deixar currículos,
explicações causais de seus comportamentos,
procurar em jornais e em agências de
tais como: “sou sensível e choro muito; por
emprego e fazer concursos. A cliente fez a
isso, tenho depressão”; “esqueço as coisas
inscrição em um concurso, porém não
por causa dos remédios”. A realização de
estudou e imaginava-se com uma possível
análises funcionais favoreceu a quebra da
aprovação. Foi discutido o que aumentaria as
interpretação de certos eventos como “causas
Análise Comportamental Clínica 233
questionamentos e investigações, ela trazia tempo em que lhe eram analisadas situações
alguns elementos. Através dessa situação, nas quais comportava-se de alguma dessas
evidenciou-se a esquiva experiencial por maneiras.
parte da mesma. A verbalização “não sei... Alguns progressos quanto à
Não lembro” não foi reforçada pela assertividade, à iniciativa e à tomada de
terapeuta, no sentido de que não era decisão, que foram alcançados com o auxílio
encerrado o assunto com essa emissão; pelo da terapia fora da clínica, foram:
contrário, instigava-se até que a mesma
(a) A cliente passou a não cobrir os
falasse sobre o que foi perguntado. No
desfalques cometidos pelo irmão
decorrer do processo psicoterápico, discutiu-
abusador e teve uma conversa com os
se esse “esquecimento” e constatou-se o
demais irmãos para fazerem uma conta
quão difícil era falar sobre isso (“Dói muito o
em separado para compra dos materiais
coração”). Foi apontada a necessidade de
de construção, sem inclusão desse
entrar em contato com essas questões, de
irmão.
modo a não haver esquiva da experiência em
(b) Decisão de morar em outro local com o
nível privado (sentimentos, pensamentos,
noivo, mesmo após uma decisão
lembranças), visando estabelecer contato
contrária da parte dos familiares de que
com o evento aversivo para construir
ela permanecesse na casa da mãe.
alternativas de mudança comportamental.
(c) Ir à casa de cada conhecido da
Treino em Assertividade: Foi utilizado como vizinhança solicitar ajuda para o chá de
recurso o treino em assertividade na terapia panela e para o casamento. A cliente
ao colocá-la em situações de escolha, como, relatou que foi à casa de vizinhos
por exemplo, quanto à preferência do ar- conhecidos, pedindo colaboração para o
condicionado ligado ou desligado, visando chá de panela e para o casamento e
desenvolver a assertividade, primeiro no entregou os convites para o evento. A
ambiente terapêutico e depois fora dele. A terapeuta pediu para que ela
princípio, respondia que aceitaria o que a representasse como realizou esses
terapeuta preferisse, denotando pedidos, os quais ocorreram como
passividade/inassertividade. Com o passar do emissão de mandos puros, representando
tempo, foi realizando pequenas escolhas, um avanço para a terapia.
dentro da sessão, por meio de um trabalho (d) Convidar a terapeuta anterior para o
progressivo que envolveu o desenvolvimento casamento e planejar a ida dela. Ao
de uma relação terapêutica reforçadora e não encontrar a antiga terapeuta, convidou-a
coercitiva. Ao emitir comportamentos de para o casamento, mas a mesma não
escolha, de iniciativa, de manifestação de sabia chegar ao local; então, a cliente
opinião e de pedidos, recebia reforços pensou em formas de auxiliá-la, como,
positivos, tendo sua solicitação atendida. por exemplo, seguindo o carro de
Além disso, foram fornecidas informações a outrem.
respeito de padrões comportamentais
privilegia seus direitos em detrimento dos interesses
passivo, agressivo e assertivo89, ao mesmo
alheios e de seus próprios deveres. O assertivo seria o
equilíbrio entre o comportamento passivo e o agressivo,
89 Comportar-se passivamente envolve receber ordens o que tem sensibilidade à mudança das pessoas e do
e, em seguida, obedecê-las, concordância às colocações ambiente, sabe dizer “sim” e “não” conforme requer a
dos outros, não defesa de seus direitos, submeter-se ao situação, pois o “não” não é para a pessoa e sim para o
que lhe é imposto. O comportamento agressivo refere-se assunto ou para a ideia que está sendo colocada em
a um padrão impositivo, questionador, controlador, que vigor no momento (Conte e Brandão, 2007).
Análise Comportamental Clínica 235
radical. Além disso, quando a pessoa evita operante, e os estímulos envolvidos também
entrar em contato com suas emoções, ela exercem funções antecedentes que afetam o
perde os benefícios do autoconhecimento, comportamento por meio dos processos de
visto que as emoções sinalizam o tipo de eliciação, de indução e de modulação
contingência em operação. (Hineline, 1984, citado por Cameschi e Abreu-
A partir do contato do indivíduo com a Rodrigues, 2005). Esses processos incluem
comunidade verbal, os eventos privados são efeitos emocionais que, quando resultantes do
verbalmente elaborados e não simplesmente controle aversivo, têm implicações clínicas
descobertos e discriminados. Em outras extensas, pois, como já mencionado, surgem
palavras, o autoconhecimento é um produto como os motivos centrais das queixas das
social, resultado da exposição a pessoas.
contingências sociais. As emoções adquirem Para distinguir o comportamento de
funções de eventos organizados em quadros esquiva do comportamento de fuga, Catania
relacionais, sendo construídas e relacionadas afirma: “fugimos de circunstâncias aversivas
a demais eventos, de modo que as emoções presentes, mas nos esquivamos de
adquirem funções motivacionais e circunstâncias potencialmente aversivas que
discriminativas para a fuga e a esquiva ainda não ocorreram” (1998/1999, p. 117). A
(Hayes, 1987). diferença central então está no fato de que, na
Percebe-se que parte do processo que contingência de fuga, o estímulo aversivo está
auxiliaria na instalação do repertório de presente, já o mesmo não ocorre na
autoconhecimento proporciona também a contingência de esquiva.
autodecepção e a esquiva das próprias Uma pessoa esquiva-se de um estímulo
reações aos estímulos aversivos, e não aversivo quando emite um comportamento que
somente a fuga dos estímulos aversivos em impede ou retarda a ocorrência desse estímulo.
si. Organismos não humanos esquivam de No comportamento humano, a maior parte do
estímulos aversivos (por exemplo, o controle aversivo tende a ser exercida por
choque); já os humanos, seres verbais, estímulos aversivos condicionados90 (ou
esquivam de suas próprias reações aos estímulos pré-aversivos), isto é, estímulos que
estímulos aversivos, e esse processo ocorre precedem o evento aversivo em si. Esse desvio
graças à capacidade de elaborar e relacionar de controle para os estímulos aversivos
eventos verbalmente (Hayes, 2000). condicionados ocorre pelo fato de que a maior
Assim sendo, as pessoas geralmente parte do controle aversivo é previsível na
atribuem a causa da esquiva aos sentimentos, sociedade (Ferster, Culbertson e Boren Perrot,
mas essa associação é equivocada, já que 1977).
tanto o comportamento de esquiva quanto os Como pode a ausência de um evento afetar
sentimentos são evocados pelos mesmos o comportamento de uma pessoa? Essa
estímulos aversivos. De acordo com questão, chamada paradoxo da esquiva,
Cameschi e Abreu-Rodrigues (2005), as segundo Cameschi (1997), gera grandes
condições corporais sentidas, as observações controvérsias. Na tentativa de explicar o
introspectivas e os comportamentos públicos paradoxo, importantes estudos foram
alteram-se devido não aos sentimentos, mas realizados dentro de três linhas gerais de
às contingências aversivas que são causas pensamento: a Teoria Bi-fatorial (Mowrer,
comuns da condição sentida, das mudanças 1947, citado por Cameschi,
nos sentimentos e no comportamento.
As contingências de reforço e punição 90 O termo “condicionado”, frequentemente usado no
presente texto, é sinônimo de aprendido por meio da
desenvolvem e mantêm o repertório
relação organismo-ambiente.
240 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
para um conceito similar ao de aceitação, por não estar suportando mais e tinha resolvido
que é o de rendição. A promoção da “pôr fim a todo o sofrimento”.
aceitação refere-se ao abandono da luta de Marisa dedicava todo seu tempo aos
mudar coisas que não podem ser mudadas. cuidados da casa, do marido e dos filhos.
Quando o cliente luta com seus eventos Apresentava características obsessivas
privados, ele terá mais danos do que bens. relevantes relacionadas à limpeza da casa e à
Linehan e Kehrer (1999), direcionam suas alimentação da família. Tinha uma empregada,
intervenções com o objetivo de ajudar seus mas ainda assim gastava muito tempo com os
clientes a renderem-se a essa luta. Render-se, cuidados da casa e somente ela fazia as
nesse contexto, é um CRB 2, um exemplo de refeições da família. Constatou-se uma vida
comportamento produtivo para o cliente, social bastante restrita, com contatos
principalmente quando lutar com um esporádicos com colegas de trabalho do marido
problema leva à esquiva do seu próprio que, por sua vez, era um homem bem-
mundo privado. Entretanto, rendição para sucedido, com uma carga horária de 12 horas
algumas pessoas pode ser uma estratégia que diárias e muitas viagens a trabalho.
elas têm adotado como conduta em situações Era uma mãe e uma patroa exigente no que
aversivas em que assertividade, honestidade se referia aos comportamentos de higiene e de
e expressão seriam mais produtivas. Em tais estudo. A relação com os filhos era considerada
casos, rendição seria um CRB 1. “boa” por ela, com exceção do filho mais velho
A seguir, será ilustrado o caso de Marisa que era muito distante (ambos evitavam o
(nome fictício), que procurou terapia contato físico e verbal). A relação com o
apresentando muito sofrimento e uma marido era apontada como satisfatória. Marisa
dificuldade em relatar o que estava gerando expressava muita admiração pelo marido.
tal sofrimento. A cliente foi categórica ao afirmar que o
único evento que gerava sofrimento atualmente
QUANDO O CONTATO COM era a distância do filho mais velho e a própria
dificuldade de se aproximar do mesmo. Ao ser
CONTINGÊNCIAS AVERSIVAS questionada sobre eventos do passado, Marisa
HISTÓRICAS LEVA A UMA LUTA afirmava não conseguir relatá-los, o que
PESSOAL: UM CASO QUE ILUSTRA O indicava uma aversividade importante desses
PADRÃO DE ESQUIVA EXPERIENCIAL eventos. Na quinta sessão, a cliente apresentou
Marisa, 48 anos (idade aproximada), dona de muita resistência em falar do seu passado e
casa, casada há 23 anos, três filhos. A queixa muito sofrimento; ficou por minutos chorando
inicial foi assim expressa: “Sinto-me um e a terapeuta ficou em silêncio, optando em não
monstro, uma pessoa estranha e diferente de bloquear a esquiva naquele momento.
todas as outras”. Sentia e pensava muitas As próximas três sessões seguiram com a
coisas terríveis; achava-se uma “farsa no relação de Marisa com o filho mais velho
mundo”, já que todos imaginavam que ela sendo o tema principal. Nessas ocasiões, foi
fosse uma mulher muito feliz, pois “tenho observado pela cliente e pela terapeuta o
um marido maravilhoso (bom pai, bem- quanto ela foi uma mãe exigente e punitiva
sucedido e carinhoso), recursos financeiros e com esse filho, o que gerou tal distanciamento.
filhos inteligentes. No entanto, sinto-me um Tal constatação gerou alívio, já que Marisa
monstro, não merecedora de tudo isso, muito ficou sensível à sua forma de se comportar com
angustiada e infeliz”. Afirmou que não seria seu filho e expressou a motivação em mudar a
fácil confiar na terapeuta, pois esperava forma de tratá-lo.
sempre o pior das pessoas. Procurou ajuda Na nona sessão, a terapeuta perguntou
248 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
algumas humilhações por parte do avô reforçamento negativo, e ela tornou-se sensível
paterno. a isso. Posteriormente, Marisa identificou as
2. Sentimento de pena e raiva da mãe: contingências de reforçamento em operação no
muito submissa e dedicada seu casamento.
à casa e à família. Costurava para Ao longo de sua vida, Marisa foi
ajudar nas despesas da casa. O pai comparada à irmã mais velha, sendo colocada
era exigente com a mãe e a numa posição de inadequação. Na relação com
responsabilizava pelos os pais, Marisa adquiriu um repertório de fuga-
comportamentos das filhas. esquiva (mentia e escondia-se) e contracontrole
3. Sentimento de culpa pela morte da mãe: (desobedecia, reclamava, xingava e brigava
morreu devido a um câncer e seu com a mãe). Isso produziu muita culpa em
diagnóstico foi tardio (sentimento que Marisa após a morte da mãe. A partir do
será mais bem explicado a seguir). contato, Marisa também entendeu e aceitou sua
4. Raiva das tias e dos tios: era chamada de forma de ter se comportado na relação com os
moleque, acusada e punida por tudo de pais, diminuindo o sentimento de culpa e
errado que acontecia na rua; privada de autorrepugnação.
atenção e de presentes e constantemente Somente após o enfraquecimento do
comparada à irmã mais velha: “ela era padrão de esquiva experiencial e o aumento da
uma bonequinha e eu, a moleque”. tolerância emocional, foi possível o manejo das
contingências em operação na vida da cliente.
As quatro sessões que foram utilizadas
A terapeuta entendeu como as contingências
para a exploração das fotos possibilitaram,
atuais entraram em operação. O contato com
para a cliente e para a terapeuta, o contato
eventos privados, produtos de sua história, teve
com sua história de reforçamento. Marisa, ao
o efeito de alterar as funções de estímulos
entrar em contato com tais contingências e
desses mesmos eventos. Marisa parou de lutar
com os sentimentos associados, sofreu
consigo mesma.
muito. A terapeuta ficou atenta para bloquear
Após quatro meses de terapia, Marisa
comportamentos de fuga durante essas
estava com o repertório de autoconhecimento
sessões e dispôs estímulos que levaram
mais refinado e começou a relatar, de forma
Marisa a observar e descrever o que sentia,
mais funcional, as contingências em operação e
sem se culpar. Juntas analisaram e
a fazer planos para o futuro: voltar para a
interpretaram funcionalmente tais
faculdade.
contingências, a partir de estímulos verbais
dispostos pela terapeuta. Marisa resistiu. A
terapeuta validou seus sentimentos como CONSIDERAÇÕES FINAIS
coerentes com as contingências vividas. Segundo Kohlenberg e Tsai (1991/2001),
A história de vida de Marisa foi lembrar e relatar um trauma antigo pode ser
predominantemente marcada por punição útil, e isso consiste em um exemplo de
verbal e física. No contexto atual, Marisa promoção da aceitação. Uma vez que o trauma
ainda convivia com todos os produtos tenha sido lembrado e relatado, o cliente pode,
colaterais dessas contingências, já que não então, formular uma regra que possa ajudar a
teve exposição a outros contextos marcados melhorar o funcionamento na vida diária. Mais
por reforçamento positivo. Marisa se importante que simplesmente lembrar, isso
comportava de forma muito semelhante à ajuda a reduzir a aversividade dos estímulos
sua mãe; assim, seu casamento era evitados no presente, o que auxilia o aumento
predominado por contingências de do contato com eles e permite a aprendizagem
250 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
Rupturas no Relacionamento
Terapêutico Uma Releitura Analítico-
Funcional92
N as últimas duas décadas, o
relacionamento entre terapeuta e
cliente tem recebido atenção cada vez
proporcionar a discussão de temas
fundamentais à terapia. Devido à
importância de uma aliança sólida na
maior dentro da teoria e pesquisa em terapia para o resultado subseAlysson B.
psicoterapia. Estudiosos se voltaram M. Assunção
para aspectos da prática clínica que não Luc M. A. Vandenberghe
dependem de técnicas específicas, mas
que são tão ou mais importantes. Desde
então, a aliança terapêutica – ou quente, é importante esclarecer os
relacionamento terapêutico – tem sido fatores envolvidos no estabelecimento e
vista como uma variável integrativa do na reparação das rupturas (Martin,
processo psicoterápico comum a todas Garske e Davis, 2000; Safran, 2002;
as abordagens terapêuticas (Kohlenberg Safran, Muran, Samstag e Winston,
e Tsai, 1991/2001; Safran, 2003; Safran 2005). O referencial utilizado será a
e Muran, 1996). Psicoterapia Analítica Funcional (FAP),
Embora o uso do termo aliança que nasceu de uma leitura contextualista
terapêutica seja originário da teoria do Behaviorismo Radical na década de
psicanalítica (Freud, 1912/1980 e 1980 (Kohlenberg e Tsai, 1991/2001).
1913/1980), sua conceituação é
relativamente recente. Bordin, em 1979,
VÍNCULO TERAPÊUTICO NA
a define como sendo o laço colaborativo
e afetivo entre terapeuta e cliente, cujo TERAPIA COMPORTAMENTAL
estabelecimento está relacionado a três Os modelos iniciais de Terapia
fatores: a tarefa ou o papel que se espera Comportamental incorporaram muito da
que o cliente assuma, o elo colaborativo tradição da ciência moderna, calcada no
com o terapeuta e os objetivos da determinismo e na exatidão, que nutria
psicoterapia. Estima-se que a qualidade certa antipatia pelos contextos e pelo
da aliança seja função da concordância olhar sobre as consequências (Moxley,
em relação a objetivos e tarefas (Bordin, 1999, 2001). Nesse período, Eysenck
1979; Safran, 2002; Safran, Muran, (1959) opinou que as teorias que
Samstag e Stevens, 2002). abordavam o papel curativo do
Este capítulo pretende refletir sobre relacionamento terapeutacliente não
as rupturas ou flutuações na qualidade eram organizadas segundo metodologias
do relacionamento terapêutico, no verificáveis. Ele apontou que pesquisas
sentido de que esses eventos possam empíricas indicavam que psicoterapias
mantido a conversa, ela cruzou os T1: Você acha que isso pode ter a ver
braços, franziu as sobrancelhas e os com seus últimos relacionamentos
músculos faciais: íntimos?
C: Odeio quando você aponta o que C: Sim, totalmente. Acho que todo o
faço errado. Vontade de sair daqui... tempo eu tento provar para você que
(Rup 1/CCR1). posso ser melhor (CCR1/CCR3).
Quando não faço tudo certo, espero o
T1: Você sente que estou fazendo
pior de você.
você se sentir assim agora?
T1: Camila, saiba que não espero que
C: Ah, não! Lá vem você querendo
você faça tudo certo. Na verdade, quero
“discutir a relação”... (como ela
que você fale dos seus erros, sim, mas
chamou as metacomunicações na
para podermos aprender.
sessão. O terapeuta considerou
como Rup 5/ CCR1 e bloqueou a C: Ahnm? Como assim, aprender?
esquiva). T1: Você acha que precisa estar sempre
T1: Sim, estou, vamos pensar em certa, para assim evitar o sofrimento?
como se sente quando faço essas C: Sim, por isso eu sou sempre franca e
perguntas. correta em tudo (Rup 6/CCR1).
C: Fico achando que você me acha T1: Eu não preciso que você seja
errada por não ter dado chance a ele sempre certa comigo. Quero que você
(CCR1). saiba que erra e que pode descobrir
T1: Você sabe que minha intenção onde melhorar. Você acha que isso pode
não é ofendê-la ou mesmo julgá-la. acontecer?
C: Sim, eu sei. Mas é que eu C: É... é por isso que eu estou aqui.
sempre faço tudo certo; sou franca T1: Você viu o que aconteceu quando
e honesta, não dou margem para sentiu que agiu errado com esse rapaz?
ninguém falar nada de mim (Rup C: Tratei-o mal para evitar me
6/CCR1) e... sentir mal com a situação.
T1: (Interrompendo) Como é quando T1: O que acontece quando você
você se relaciona com homens? tenta se esquivar desses
C: Eu me sinto estranha, como se eu sentimentos?
tivesse que tentar ser melhor, provar C: Faço coisas horríveis só para
que eu sou melhor que ele. Isso não sentir, para ter controle da
acontece aqui com você (CCR1), e você situação (CCR3).
acha isso errado.
T1: Viu como, tentando controlar
T1: Acho? Eu não te disse que você seus sentimentos, você perde o
estava errada... controle deles?
C: É... Eu que acho que fiz errado; e C: Sim. Nossa, eu estou me
não aguento falar disso. Parece a todo sentindo mais aberta com vocês
tempo que você está me avaliando. Eu agora (CCR2).
fico esperando você brigar comigo
Durante o tratamento, a cliente
(CCR1).
apresentou também consentimento em
264 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
ambientais, a letra “B” representa assegure de que terá mais tempo com
eventos privados (“cognitivos”) e a o mesmo. O terapeuta deve apresentar
letra “C”, as ações públicas um padrão comportamental diferente
(Kohlenberg e Tsai, 1991/2001). da comunidade verbal na qual o
Na intervenção baseada no cliente está inserido, ficando atento
paradigma A – B – C, seria enfatizado para não punir a fala do mesmo.
o campo “B”, relacionado aos mandos Assim, diante dessa audiência não
e aos tatos direcionados a si mesmo. punitiva, o cliente poderá emitir
Esses operantes verbais são vistos comportamentos anteriormente
como comportamentos privados, punidos, juntamente com respostas
sendo analisados funcionalmente. O emocionais, tornando possível a
trabalho consiste em evocá-los durante extinção dos subprodutos do controle
a terapia, durante a sessão, trabalhando aversivo.
o aqui-e-agora. Outra forma de É interessante também a reflexão
trabalho consiste na inclusão de que Guedes (2001) faz sobre esse
técnicas da Terapia Cognitiva: tema. Segundo ela, há uma incoerência
apresentação de argumentos lógicos, no trabalho do terapeuta, pois, ao
questionamento das evidências e mesmo tempo em que instrui o cliente
apresentação de instruções para a interagir com as contingências, para
mudança de crenças, o que é, que o comportamento do mesmo possa
basicamente, dar regras ao cliente. O ser diretamente modelado por elas, a
ideal também é expor o cliente às instrução se faz de forma que esse
contingências que poderiam levá-lo a estímulo verbal passa a funcionar
uma mudança de comportamento, como regra, ou seja, o terapeuta
fortalecendo o estabelecimento de um reforça o comportamento de seguir
novo repertório comportamental. regras do cliente. Portanto, a autora
De acordo com essa abordagem, a expõe o paradoxo nos quais os
dificuldade existe quando o terapeutas estão inseridos.
comportamento do cliente muda Tendo em vista a dificuldade e a
porque está sob controle do relevância da discussão referente ao
comportamento verbal do terapeuta, papel das regras no ambiente
não sendo reforçado naturalmente por terapêutico, o presente trabalho
contingências presentes em seu dia a objetivou ilustrar um caso de
dia. A FAP, apesar de utilizar comportamento predominantemente
argumentação lógica nesses casos, não governado por regras e suas
se restringe a dar regras aos clientes. implicações no cotidiano do indivíduo,
Relacionado a isso, Skinner (1953/ assim como descrever os
1998) descreve alguns procedimentos procedimentos terapêuticos utilizados.
importantes na terapia. O terapeuta, Foi realizado em função de um
como um agente controlador, deve atendimento psicoterapêutico,
atentar-se sobre a forma como utilizará realizado no Instituto Brasiliense de
seu poder. Oferecer reforçadores Análise do Comportamento (IBAC). O
positivos, como acolhimento, tema central do caso clínico foi o
promessa de alívio, escuta, são comportamento de seguir regras,
importantes para garantir a volta do emitido em alta frequência pela
cliente, assim como tudo o mais que o cliente, sendo esta uma mulher de 22
Análise Comportamental Clínica 279
Diante de alguma situação que Falar de assuntos banais; esquivar-se das críticas;
envolva ser criticada abandonar a situação (desistir, preservação de sua imagem;
não perseverar) sensação de alívio
Diante da falta de carinho Procurar o namorado ou a mãe; companhia do namorado, mais
materno e paterno; da isolar-se (momentos de atenção e carinho do mesmo;
desatenção do namorado “baixos”) preocupação de algumas
pessoas: mãe e irmã
Diante das queixas da mãe; da Calar-se; fazer o que a mãe diminuição do tempo de fala da
sogra solicita (respondentes como mãe e da sogra (alívio)
ansiedade, raiva)
Análise Comportamental Clínica 283
Relação Terapêutica em um
Aquelas que tem maior charme, aquilo
afinidade com você. que o torna único e
Ao lado dessas original. Seja feliz
pessoas você poderá agora, pois o tempo é
ser feliz. um eterno presente.
Gente não se faz 1
dentro de uma forma.
Seja livre. A liberdade Caso de
está em você. Ser livre
é sentir-se livre. Na
verdade, ninguém
Fobia
pode impedi-lo de ser
você mesmo. Quando
Social
parece que os outros Luciana Freire Torres
nos impedem, é Ana Karina C. R. de-
porque estamos Farias
guardando medo,
acomodação ou
insegurança. Quando
disserem que você
precisa ser mais sério,
H
estudos
á um grande
número
sobre
de
a
mais isso ou aquilo, natureza dos
perceba: você só Transtornos de
precisa ser mais você! Ansiedade. A
Mas ser livre também ansiedade caracteriza-
significa respeitar o se pela presença dos
direito das pessoas seguintes sintomas:
serem diferentes e até tensão, preocupação,
discordarem de você. irritação, angústia,
Não cobre que os dificuldade de
outros sejam da concentração,
mesma forma que tonturas, cefaleia e
você. dores musculares. O
Por fim, brinque, indivíduo com
sorria, cante, dance, intensas “crises de
aprenda sempre, com ansiedade” (ou
tudo; Aceite a vida. melhor, alterações
Desfrute do que ela comportamentais,
lhe oferece. O que como as citadas) evita
Análise Comportamental Clínica 295
por mês: “eu ia dançar, ter casos social, profissional e a relação com sua
extraconjugais rápidos”. Não tinha mais que esposa) foi levantada por meio de entrevistas
um ou dois encontros com uma mesma semiestruturadas e de tarefas de casa. Foi
mulher por ter “medo de não ter assunto, não solicitado a Paulo que fizesse anotações
saber o que conversar”. Afirmou que, sobre as situações que lhe causavam medo,
sozinho, não saberia como lidar com seu apontando seus comportamentos, públicos e
problema e tinha medo de “chegar ao fim”. privados, diante de tais situações.
Questionado sobre o que era esse “fim”, foi Na segunda fase do processo, foram
respondido que seria o momento onde não utilizadas técnicas comportamentais:
haveria mais solução. reforçamento diferencial, biblioterapia, treino
de habilidades sociais e de solução de
problemas, ensaio comportamental, escrita
Ambiente e materiais
terapêutica e registro de seus
As sessões foram realizadas no Centro de
comportamentos privados. O objetivo geral
Estudos, Pesquisa e Prática Psicológica, da
era desenvolver, em Paulo, um repertório de
Universidade Católica de Goiás, em um
análises funcionais precisas.
consultório padronizado para atendimento
terapêutico, que continha uma porta, uma
janela, um armário, uma mesa com duas Discussão do caso
cadeiras e duas poltronas. No início do processo terapêutico, foram
Durante as sessões, foram utilizadas feitas algumas entrevistas com fins
folhas de papel A4 para registros de avaliativos de sua queixa e o que ele fazia
comportamentos, lápis, canetas, jornais, CDs para enfrentamento das situações. O cliente
e textos para biblioterapia. Em uma sessão de expôs sua problemática como:
acompanhamento psicoterápico, a terapeuta
acompanhou o cliente a um restaurante, Meu caso começou quando eu tinha 14
próximo à universidade, onde almoçaram. anos95, no interior do Tocantins, quando
eu fazia a 4ª série e a professora me
mandava fazer leitura em voz alta para
Procedimento toda turma. Tentava fugir, indo ao
Havia uma ou duas sessões semanais banheiro, mas ela sempre me esperava.
(dependendo da disponibilidade e da (...) Pensava que ia desmaiar, suava
necessidade do cliente), com duração de 50 muito, parecia que ia morrer, me dava
minutos, nas quais foram realizadas análises taquicardia e me dava vontade de sair
funcionais de seus comportamentos. O total correndo dali, tinha muito medo! (...) Por
de sessões, até o momento em que este isso, saí do Tocantins para ir trabalhar no
trabalho foi redigido, era de 40. garimpo, pois pensava que ia diminuir
Nas primeiras sessões, foi realizada uma meu medo de me expor, pois acreditava
apresentação da terapia comportamental, com que rodando o mundo ia perder o medo
o objetivo de criar um ambiente de confiança
e, consequentemente, estabelecer um vínculo 95 O cliente nunca deixou claro o motivo de seu atraso
na escola – geralmente, as crianças cursavam a 4ª série
terapêutico. Foi também estabelecido o
do ensino fundamental com 10 ou 11 anos. Pode-se
contrato terapêutico, deixando claras as hipotetizar que parte de suas dificuldades sociais poderia
normas da instituição e o método a ser ser explicada pela diferença de idade em relação aos
trabalhado nas sessões. outros alunos, por dificuldades de aprendizagem
A história de vida do cliente (familiar, propriamente ditas, por críticas de outrem devido à idade
avançada, etc.
Análise Comportamental Clínica 301
verbais do cliente acerca de suas queixas levou, duas vezes, uma comparação,
lanches para a para cada uma de
InícioObjetivosRespostas do Cliente
sessão, com o suas queixas e
Entrevistas iniciais. objetivo de manejar
Conhecimento da “queixa”, objetivos, entre o
aspectos históricos e contingências sociais que se observou no
familiares e repostas apara futuras início da terapia e o
medicamentos. generalizações, momento em que o
realizando presente trabalho foi
observação do escrito (quando a
comportamento do terapeuta solicitou
cliente e exposição que Paulo fizesse
gradual a situações uma avaliação da
estressoras. terapia).
Solicitar ao cliente registro Posteriormente, foi
Conhecer seus reforçadores, Essa
de seus comportamentos, positivos e negativos, agendado
com um comparação nos
almoço
sendo de início os mais e os familiares, esposa, colegas em permite afirmar que
menos prazerosos. restaurante
de trabalho, em atividades o processo
frequentado
que Paulo executava todos por terapêutico estava
os dias. pessoas de classe sendo bem sucedido
média, muito em alcançar seus
frequentado por objetivos. Vale ainda
estudantes ressaltar que a
universitários. “Me terapeuta conseguiu
Solicitação ao cliente que senti
Coleta de dados; observação melhor, fazer com que o
continuasse a relatar as das respostas frente aoimportante. Fiquei cliente estabelecesse
situações que considerava terapeuta, consistindotrêmulo
em no começo, contato com o
mais estressoras. um treino de fala paramas fiquei te psiquiatra que lhe
futuras exposições; observando e parei. mandava, há mais de
estabelecimento de um Percebi que as três anos, as receitas
melhor vínculo terapêutico,
pessoas não ficam de Bromazepan e
devido à ausência de observando as outras Fluoxetina mesmo
punição. comerem, então sem consultá-lo. O
fiquei à vontade”. cliente deixou de
Após essa sessão, o fazer uso desses
comportamento de medicamentos no
Solicitar que Paulo diga “oi” Observar a reação dascomer em público decorrer do processo
para alguma pessoa pessoas, expor-se às tornou-se mais terapêutico e
desconhecida. frequente.
contingências sociais fora do relatava sentir-se
ambiente terapêutico. O Quadro 14.2 bem.
A terapeuta convida Paulo Treino de habilidades enfatiza algumas
a subir e descer de sociais. mudanças de
CONSIDERAÇÕES
elevador várias sessões comportamentos de
Paulo no decorrer FINAIS
consecutivas.
das sessões. Esse O diagnóstico
direita, pois aí minha bonita”.
proposto pelo
letra vai sair mais A terapeuta quadro consiste em
Análise Comportamental Clínica 303
Humano (J. C.
Todorov & R.
Azzi, trads.). São
Paulo: Martins
Fontes.
Skinner, B. (1974/1993).
Sobre o
Behaviorismo (M.
da P. Villalobos,
trad.). São Paulo:
Cultrix.
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estudar. Em R. R.
Kerbauy & R. C.
Wielenska (Orgs.),
Sobre
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Cognição: Vol. 4.
Psicologia
comportamental e
cognitiva: da
reflexão teórica à
diversidade de
aplicação (pp. 13-
22). Santo André:
ESETec.
Capítulo 15
Receio de sair de casa após o “Consegui ir à festa, onde tinha Ainda ocorriam alguns
assalto ocorrido em sua cidade. várias pessoas, e não fiquei comportamentos de esquiva,
nervoso.” porém Marcelo apresentava
uma evolução acentuada
quando se tratava de entrar em
Análise Comportamental Clínica 313
Apresentava um nível expressivo “Outro dia, na escola, antes de Percebeu-se nas sessões que
de ansiedade quando tinha de apresentar um seminário, fiz o Marcelo diminuiu
se expor em público. Isso era exercício de relaxamento que expressivamente o nível de
evidenciado por você me ensinou e consegui ansiedade. Antes de iniciar a
comportamentos observados na apresentar sem muito sessão semanal, ele não
sessão (tremores nas pernas, problema”. apresentava mais tremores nem
sudoreses e voz trêmula). sudorese.
Quando solicitado que Marcelo “Esqueci de trazer as folhas”. O cliente demonstrava-se
realizasse determinadas tarefas, “Não vi o filme”. constrangido (abaixava a cabeça
o cliente não se mostrava “Não convidei ninguém para e ficava em silêncio) em não
cooperativo, inventando sair”. trazer a tarefa de casa. Isso
desculpas para a não realização. “Não peguei o número de extinguiu, por certo tempo, o
telefone dos meus colegas”. comportamento da terapeuta
em refazer a proposta de novas
tarefas.
Por orientação da terapeuta, “Eu nunca fiz uma agenda O cliente ligou para parentes em
Marcelo deveria anotar os telefônica. Não tenho o número Tocantins para saber notícias do
números de telefones dos do telefone do meu irmão de avô e dos demais familiares. E
colegas para eventuais contatos. Brasília”. pediu o telefone do irmão em
Ao solicitar tal tarefa, foi Brasília.
percebida uma dificuldade
maior que a prevista na
avaliação da linha de base.
Confrontação. A terapeuta “Ah, não. Não vamos encerrar. Marcelo passou a ser mais
disse a Marcelo que, se ele não Eu quero continuar a sessões, participativo, realizando as
participasse mais ativamente eu ainda tenho que melhorar tarefas propostas durante a
314 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
sua alimentação, fato que poderia ter início três meses após a acentuação
engatilhado o começo de desmaios. de sua ansiedade. As sessões (em um
No início da terapia, pesava 63 kg e total de 61) se deram uma ou duas
media 1,72 m. vezes por semana, de acordo com a
Nove meses após o término do necessidade e a disponibilidade da
namoro e o trabalho escolar, passou a cliente, com duração de 50 minutos
demonstrar uma ansiedade cada. Normalmente, iniciavam-se
acentuada. Chegou a pensar em com a tarefa de casa estabelecida na
suicídio, apesar de não ter havido sessão anterior.
nenhuma tentativa. Dizia-se muito Depois, partia-se para a análise
nervosa, sem paciência com tudo e funcional de suas relações com o
todos, o que acabava resultando em ambiente ou para o uso de outros
discussões com as pessoas. Começou instrumentos. Feito isso, ao final da
a comer e a purgar, fazendo uso do sessão, cliente e terapeuta faziam um
vômito autoinduzido (era resumo do ocorrido durante a mesma.
característico o sinal de Russel em Logo em seguida, a terapeuta
sua mão direita). Bia não sabia estabelecia uma nova tarefa de casa e
discriminar as sensações de ter fome pedia um feedback para a cliente de
e de estar saciada. Quando ficava todo o processo.
menos em casa, se estivesse distraída, As primeiras sessões se
ocupada, cansada e/ou tranquila, ela destinaram ao estabelecimento do
comia menos e, consequentemente, rapport, confiança, contrato,
também purgava menos. socialização da cliente na
O pai praticava esportes “e psicoterapia, coleta de dados,
ninguém das minhas irmãs gosta levantamento de hipóteses
assim... só eu gosto de malhar. Ele é diagnósticas, informações à cliente
atleta... o sonho dele é que uma de sobre seu transtorno e
nós praticasse algum esporte”. A mãe desenvolvimento de algumas metas
era estilista, tinha uma confecção e, (ver Fairburn e Cooper, 1997;
portanto, encontrava-se Ribeiro, 2001, para uma descrição
frequentemente envolvida com o das etapas da Terapia
mundo da moda. As irmãs (assim Comportamental).
como a mãe) sempre se preocuparam A intervenção propriamente dita
em manter a forma fazendo uso de envolveu (i) informações sobre o
algumas dietas e, às vezes, algum transtorno alimentar; (ii) análise
medicamento apropriado, que funcional; (iii) treinamento em
auxiliasse no emagrecimento. Ela se habilidades sociais; (iv) aplicação de
comparava muito com as irmãs, tanto técnicas comportamentais –
no que deveria quanto no que não biblioterapia, dessensibilização
deveria fazer. Não se permitia sistemática, treino respiratório,
cometer os mesmos erros das outras relaxamentos progressivo e
duas, por menores que fossem. sugestivo, ensaio comportamental,
Dentre os familiares, Bia tinha maior tarefas de casa e monitoração
afinidade com a avó materna (que era alimentar e de pensamentos e
calma, falava baixo, etc.). sentimentos “disfuncionais”, assim
O processo terapêutico teve como de situações mais ou menos
Análise Comportamental Clínica 329
O que pensou? “Em nada. Comi correndo para “Os bolinhos de arroz têm muita
ir ao colégio.” gordura e a batata também
engorda.”
O que sentiu? (1-10) “Depois me senti cheia (7). Não “Nada.”
dava conta nem de respirar.”
Consequência? “Vômito, sensação de alívio.” “Não devia ter comido o tanto
que comi, pois já tinha comido
muito de manhã.
Arrependimento.”
em um período de alimentação algo salgado.
ponderada (ou seja, não impulsiva Após a 7ª sessão, Bia fez uma
e/ou não em grande quantidade), cirurgia (miniplástica) no abdômen:
demonstrou uma “eu sempre quis... estou muito feliz
insatisfação/arrependimento com o agora! É tudo que eu queria!
que havia comido. A “insatisfação” Comecei a engordar com 11, 12 anos,
parece ter funcionado como um e a barriga já incomodava”.
estímulo aversivo condicionado, do Observou-se maior aceitação dessa
qual ela fugiu quando o vômito foi parte de seu corpo depois da cirurgia;
induzido. O segundo registro no entanto, ainda estava insatisfeita:
assemelhou-se ao primeiro. “queria que ela ficasse totalmente
No terceiro registro, apresentado retinha!”. Após a cirurgia, o que mais
no Quadro 16.2, pôde-se perceber a incomodava em seu corpo, numa
que Bia, em um período de ordem crescente de desconforto,
superalimentação, demonstrou uma eram: espinhas, olheiras, cor
falta de controle diante dos amarelada da pele (excesso de
alimentos, seguido por indução do betacaroteno, vitamina A), pouco
vômito, o que novamente lhe trouxe seio, braço grosso, perna grossa,
alívio (reforçamento negativo), e bumbum grande, cabelo ondulado,
houve, depois disso, uma tentativa de quadril largo e os pés.
jejum, segundo seus relatos. No Entre a 16ª e a 17ª sessões,
332 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
O que pensou? “Estou com fome, mas não “Como não comi comida
quero comer muito... mas comi, salgada, posso comer doce.”
fiquei beliscando...”
O que sentiu? (1-10) “Raiva (9). Eu estava com raiva “Estava me sentindo
da minha irmã!” incomodada (9). Não conhecia
ninguém.”
Consequência? “Vômito, no banho. Sensação de “Achei melhor não fazer nada.
alívio.” Não vomitei.”
proibidas, tais como: sanduíches, mostraram-se relevantes para coleta
doces e refrigerantes, e a não purgar de dados e intervenção. Na sessão 43,
necessariamente após todas as vezes ela afirmou que sua
em que comia algo do tipo. Isso mãe era um “modelo de boa mãe”
aconteceu depois de, (“Ela é atenciosa, pode até faltar uma
aproximadamente, cinco meses de conversa ou outra, mas ela gosta de
terapia. todas [as filhas] do mesmo jeito”). O
Começou a ser medicada por um mesmo foi dito em relação ao pai
gastroenterologista, logo antes de (“só que ele quer me ajudar, mas não
fazer a sua cirurgia plástica. Usaram faz do jeito certo. Quando me vê
Logot® (para úlcera duodenal chorando, ele diz: ‘isso chora! Chora
gástrica, pós-operatória), Motílium® mesmo!’; ele é mais seco, não faz
(para refluxos e vômitos) e carinho”). Quanto às irmãs, a cliente
Triptanol® (antidepressivo que, relatou que:
segundo a nutricionista e a psiquiatra C: Eu queria conversar mais com
Análise Comportamental Clínica 333
quando chorava fácil –, que estava sempre dizia isso aos prantos. Logo
cansada e tinha acabado de fazer a que isso foi sinalizado, ela se deu
inscrição para o vestibular de uma conta de que poderia ter mais de um
universidade federal, o que lhe sentimento ou emoção com relação
reavivou todas as suas autocobranças. ao mesmo fato. E que, inclusive,
Bia começou a compreender que poderia ter alguns sentimentos ruins,
existia uma preocupação muito como tristeza, inveja, etc., sem que
grande com o que os outros (família e isso representasse “falha de caráter”.
pessoas novas) poderiam pensar ou Foi retirado um trecho da sessão
dizer a seu respeito, principalmente 54, o qual exemplifica a dificuldade
com relação à sua forma física. Ela de Bia comportar-se de forma
relatou ter sido uma criança socialmente habilidosa diante de uma
gordinha, sem vaidades, e com inferência feita sobre como ela se
dificuldades no estudo. Em sentia. A partir disso, ela pôde
contrapartida, quando começou a se identificar porque seus pais
cuidar e emagreceu, já no início da pensavam da forma que pensavam a
adolescência, entrou em contato com respeito dela.
vários reforçadores positivos. Dentre
T: Como seus pais se comportam
esses, começou a fazer atividade
quando você faz algo de forma
física e a modelar o seu corpo,
adequada? Eles lhe fazem
recebeu elogios da família e dos
carinho, dão beijos, abraços?
amigos, fez mais amizades, a vida
C: Eles se surpreendem, eles
social tornou-se mais ativa, com
falam, elogiam. Eu me acho
festas, shows e reuniões. Houve uma
carinhosa, mas eles me acham
maior aceitação por parte de todos
fria, sistemática… É, não sei… e
com relação à moda, a como vestir-
às vezes não posso demonstrar.
se, houve uma maior variabilidade de
Quando minha irmã adoeceu,
roupas que lhe caíam bem, etc.
minha outra irmã chorava, e eu
A cliente relatou uma dificuldade
sentia, sofri, mas não mostrava…
para discriminar o que sentia. As
pessoas normalmente faziam T: Então, já que eles não
inferências sobre como ela se sentia e poderiam ver como você se
o que ela queria. “Sou perfeccionista, sentia, não seria natural eles
sistemática, desconfiada e tenho a acharem que você fosse fria ao
personalidade forte. É o que dizem, e invés de carinhosa, como você
eu fico confusa.... acabo seguindo os diz ser?
outros e não a mim!”. Ela não se C: É… pode ser, né?!
permitia ter sentimentos e emoções
negativas, com medo de magoar ou T: Mas de alguma forma
decepcionar as pessoas. Então, uma precisava extravasar, não é
ótima oportunidade surgiu para que mesmo?
pudesse trabalhar essas questões: um C: É… acho que o problema na
amigo passou no vestibular, antes do minha boca (ATM) é isso.
final do ensino médio, e deixou de
frequentar as aulas com ela. Ela dizia T: É! Ansiosa e com os músculos
que estava muito feliz por ele, mas do corpo todo tensionados, você
Análise Comportamental Clínica 337
teve problemas com a ATM. Bia também obteve ganhos. Ela foi a
Provavelmente, foi o que você alguns lugares a pé ou de táxi; foi
deu conta de fazer com o seu capaz de fazer compras no
sofrimento. supermercado sozinha; levou a
cachorra ao veterinário; foi à
T: E comer e vomitar, também
farmácia comprar remédio quando
não seria uma forma de
precisou, etc.
extravasar?
Como Bia estava cursando o 3o
C: É… pode ser! ano do ensino médio, por falta de
Bia aprendeu a valorizar o que tempo, não pôde ir à academia,
pensava e sentia e começou a agir de ficando sem atividade física. Somado
acordo com isso. Um exemplo disso a isso, ansiosa e com os músculos de
é o contato com uma amiga, com a todo o corpo tensionados, ela teve
qual não concordava em alguns “problemas com a articulação
pontos, achando-a mimada e temporomandibular” (ATM). Bia,
imediatista. Porém, mesmo pensando estando ansiosa, voltou a comer mais,
assim e discordando de algumas e como não conseguia abrir a boca
opiniões, continuava calada, passiva para purgar, assim como também não
e acabava sofrendo muito. Certo dia, conseguia fazer uma atividade física,
sua amiga lhe procurou, como de ficou ainda mais ansiosa e voltou a
costume, e opinou com relação a algo restringir sua alimentação.
que Bia discordava. Ela conseguiu Programava dietas de baixa caloria, o
dizer o que achava e conseguiu que se mantinha também pela
manter a sua opinião e ouvir, pela proximidade de sua formatura e pela
primeira vez, um pedido de desculpas necessidade de se “preparar”
que não tivesse partido dela. Foi (fisicamente) para participar. Ela
embora satisfeita com o seu mesma foi capaz de fazer essas
desempenho, por ter se expressado análises funcionais, identificando as
adequadamente, respeitando-se e ao causas de sua fase de baixo
outro também, levando em conta os rendimento em relação ao processo
seus direitos e deveres perante os (terapêutico) como um todo, assim
outros. Então, observar que a como a sua autocobrança.
consequência de seu comportamento O trecho abaixo (sessão 56)
foi extremamente reforçadora e que exemplifica a autocobrança de Bia,
ela foi socialmente habilidosa, fez comportando-se de forma a não se
com que ela se comportasse assim permitir errar, assim como também
mais vezes, e em diferentes contextos em corrigir os erros que suas irmãs
(generalização). E foi o que ela fez cometessem. Da mesma forma, esse
com outros amigos, e também com as mesmo trecho, mostrou claramente
irmãs. No que se refere à relação um momento em que o
terapêutica, ela já havia conseguido comportamento da mãe foi
negociar um melhor horário para a extremamente reforçador para a
sessão, recusar pedidos, dizer não e manutenção do comportamento de
mantê-lo; sugerir, dar sua opinião e Bia de comer/purgar, como uma
fazer convites. forma de manter o peso.
Com relação à independência, T: Há ou houve momentos de
338 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
Quando estava sob efeito da cliente e o ambiente foram, cada vez mais,
medicação, ele relatava uma substancial contribuindo para que seu estado ansioso
melhora no tempo relativo que demorava a aumentasse.
ejacular. Contudo, devido à demora em Diante de uma classe de estímulos
conseguir consultas no Posto de Saúde, presentes no ambiente, estímulos os quais
eventualmente ele parava de tomar o caracterizam uma situação em que a
remédio por falta de receitas. Esse tipo de probabilidade da relação sexual é elevada,
medicação, ao ser interrompida o cliente emitia suas respostas operantes
bruscamente, leva a um estado de que eram moduladas pela enormidade de
ansiedade aumentado, o que, nesse caso, seus comportamentos respondentes. Tais
piorava ainda mais a condição sexual. respostas acabavam por formar uma
Ronaldo relatava haver outras situação consequente desagradável. Muitas
oportunidades para ter uma relação sexual; vezes, tal situação era punitiva negativa112,
contudo, devido a uma ansiedade muito pois eram retirados os reforçadores, de
grande, acabava por ejacular precocemente ordem primária e condicionada, que
(para maior discussão acerca do papel da poderiam ter consequenciado
ansiedade nas diferentes disfunções positivamente suas respostas naquela
sexuais, ver, por exemplo, Carvalho, situação. A exposição continuada a essa
2001). Conseguiu realizar sua primeira contingência resultou na falta de
relação sexual com idade entre 20 e 21 modelagem de comportamentos adaptados
anos. Seus comportamentos sexuais foram à situação e os estímulos característicos do
selecionados tardiamente e, devido à ambiente que precedem a relação sexual
ansiedade, como já dito, adquiriram um adquiriam função de estímulos pré-
caráter aversivo. aversivos (sinalizando a contingência
punitiva que estaria por vir). A Figura 17.2
C: O que, até essas datas, eu tive, acho
ilustra esse condicionamento.
que só uma oportunidade antes, que no
Várias exposições às contingências
esfrega-esfrega, eu acabei ejaculando,
sexuais ocorreram com consequências
e aí tipo, já era... acho que o principal
aversivas para o cliente, sendo simples
não foi falta de vontade, nem falta de
perceber que a situação antecedente, como
oportunidade (...).
um todo, da relação sexual adquiriu um
C: Me senti, logo como a M [terapeuta caráter extremamente aversivo, de modo
anterior] falou, me senti, falei assim: que passou a eliciar cada vez mais
‘porra, se não tivesse gozado eu teria comportamentos respondentes de
feito relação com a menina’. É um ansiedade e, ocasionando a ejaculação
prazer gozar, mas eu queria continuar e precoce e mais um insucesso na relação
sem ejacular para fazer o serviço sexual.
completo, por assim dizer.
C: Ficava desapontado, né. Aí que eu
O caráter aversivo das relações sexuais falei “pô, tem alguma coisa errada
malsucedidas começou a ser selecionado
em sua história ontogenética desde os 112 Punição consiste em diminuição na frequência da
primeiros contatos com as contingências resposta que produz (i) a adição de estímulos
sexuais, visto que, quanto maior era seu aversivos (ou estímulos reforçadores negativos),
insucesso, maior era sua ansiedade e mais quando se denomina “punição positiva” ou (ii) a
retirada/adiamento de estímulos reforçadores
rápido ele ejaculava. As relações
positivos, quando se denomina “punição negativa”
funcionais entre as respostas emitidas pelo (Catania, 1998/1999; Skinner, 1953).
352 Ana Karina C. R. de-Farias e Cols.
A cultura na qual ele se inseria tinha casamento dela; tanto comigo quanto
um papel fundamental em lhe “apresentar” com qualquer outra pessoa, era uma...
os contextos nos quais deveria emitir promessa dela.... também para uma
determinada resposta e as consequências disciplina familiar. Aí, começamos a
que poderia esperar. Dessa maneira, ficar mais íntimos, o namoro começou
durante toda sua história de reforçamento, a ficar um pouco mais quente.
ele se expôs muito pouco a contextos nos
Em vários momentos levantou-se a
quais não teria repertório adequado para se
hipótese de o cliente ter procurado alguém
inserir. Pouquíssimos comportamentos
que justamente não lhe fizesse uma
seus haviam sido modelados (ou seja,
demanda comportamental à qual ele não
Ronaldo apresentava baixa variabilidade
poderia corresponder. Vê-se que encontrou
comportamental); o responder pelo
alguém que não liberava muitas
controle instrucional era sempre a
consequências aversivas para seus
“melhor” e mais provável alternativa.
comportamentos “inadequados”. Contudo,
O controle instrucional de como suas
sua esposa também pouco produzia
respostas deveriam ser era tão presente,
consequências reforçadoras positivas para
que após um mês de namoro (com sua
seus comportamentos; desse modo, não
atual esposa), a resposta que seu ambiente
ocorriam quaisquer seleções quanto a um
e cultura ditavam ser correta era que eles
repertório adequado à relação sexual.
firmassem um compromisso. A partir de
diversos relatos de Ronaldo, pôde-se C: A mulher, apoio ela, mas estava a
inferir que os motivos que o levaram a ponto de largar... Talvez se minha
iniciar tal relacionamento pouco tinham a esposa tivesse alguma experiência
ver com a simpatia ou o afeto que ele anterior, com algum outro homem, eu
nutria pela mulher, mas sim com o fato de “estaria lascado”; nosso namoro teria
seu ambiente social proporcionar estímulos durado pouco... Até eu achar uma
reforçadores condicionados generalizados virgem para eu poder me casar.
(p. ex., elogios, atenção, evitar críticas). Após algumas sessões de análise das
C: Isso. Então, aí, eu..... como estava contingências presentes na história de vida
ficando com ela há um mês e meio, do cliente, bem como as em operação no
pedi ela em namoro. Então, depois eu momento da terapia, pôde-se constatar
depositei um pouco mais de confiança algumas que selecionaram e mantiveram os
em mim, depois de quase um mês a padrões comportamentais que ele
gente ficando... por isso, eu estava apresentava:
conhecendo ela mais.... sabendo que Na sua história de vida, o cliente:
ela não era daqui, era do Nordeste, e 1. Seguia as regras determinadas pela
falava para mim que era virgem... família.
bom, isso daí eu não posso negar...
2. Quando as regras não eram seguidas,
uma menina de 22 anos..... uma coisa o comportamento era punido,
meio rara... não é impossível, mas
produzindo comportamentos de
meio raro uma mulher nessa idade esquiva e sentimentos de culpa.
estar virgem ainda. Bonito de se ver,
3. Não apresentava variabilidade
né?.
comportamental, desenvolvendo um
C: E ela sempre falava para mim que repertório restrito e estereotipado.
nunca ia transar comigo; só depois do 4. A família descrevia os
Análise Comportamental Clínica 355
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Capítulo 18
Intervenções Comportamentais em
uma Paciente com Insônia Crônica114
P odemos entender o sono como
uma função biológica com papel
fundamental na consolidação da
14 ao final do primeiro mês. No sexto
mês, o tempo total de sono é de
aproximadamente 12 horas. A partir
memória, visão binocular, função dessa idade, o tempo de sono da
termorregulatória, conservação e criança diminui 30 minutos por ano até
restauração da energia (Reimão, 1996), os 5 anos, quando há a Mônica Rocha
ou como responsável pela restauração Müller
do metabolismo energético cerebral
(Ferrara e De Gennaro, 2001). Devido
a essas importantes funções, as modificação em seu ambiente,
perturbações do sono podem acarretar geralmente na fase de ingresso na pré-
alterações ou prejuízos no escola. Dessa forma, a influência dos
funcionamento físico, ocupacional, fatores externos na quantidade do sono
cognitivo, interpessoal e psicológico, é percebida desde a infância.
que comprometem a qualidade de vida Com o avanço da idade, o sono
do indivíduo. sofre interferências negativas em sua
De acordo com Martinez (1999), o duração, manutenção (Ferrara e De
sono é um fenômeno de rotina desde o Gennaro, 2001) e qualidade (Tribl et
nascimento do homem e, talvez por al., 2002). Muitas vezes, essas
esse motivo, sua importância não seja interferências são condições médicas
considerada por muitos indivíduos. A comuns na terceira idade, que rompem
necessidade do sono faz com que o o sono pelo efeito da dor, de
homem se recolha para dormir, e sua medicações ou pela consequência
privação o incapacita para o trabalho e direta da condição clínica (McCrae et
para as atividades de lazer. al., 2003).
O sono normal sofre variações ao Os distúrbios do sono
longo do desenvolvimento humano, comprometem a qualidade de vida e a
quanto à duração, distribuição de segurança pública ao contribuírem para
estágios e ritmo circadiano (Poyares e acidentes industriais e de tráfego,
Tufik, 2003; Thorleifsdottir et al., muitas vezes fatais (Martinez, 1999).
2002). De acordo com Ferrara e De Em revisão da literatura, Ferrara e De
Gennaro (2001), é durante a infância Gennaro (2001) encontraram que as
que as variações na quantidade de sono estimativas sobre o índice de acidentes
são mais intensas. Nos primeiros dias e mortes causados por sonolência ou
de vida, um bebê dorme em média 16 cansaço variam de 2 a 41%, com alto
horas por dia, que são reduzidas para custo financeiro e em termos de vida.
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13-19.
Capítulo 19
• Tirava as melhores notas da escola. • Muito acostumada a fazer tudo bem feito.
• Pais muito exigentes quanto ao desempenho. • Sempre gostou de ser a melhor em tudo.
• Estudou em colégios exigentes. • Preferia atividades que exigiam muito.
• Premiada por elevado desempenho. • Sempre sentiu necessidade de fazer bem
• Valorizada pelos pais apenas em função do feito.
desempenho. • Muito autoexigente.
• Ambiente familiar competitivo e comparativo.
b) Condições atuais que ajudariam a manter o padrão comportamental
Variáveis Independentes (VIs) Variáveis Dependentes (VDs)
• É proprietária e gerencia uma empresa que • Pensa que só quem faz bem feito progride na
sofre grande concorrência. vida.
• Têm grande prestígio entre os colegas de • Incomoda-se quando vê algo malfeito.
profissão; estes esperam muito dela. • Quer continuar sendo assim.
• Mãe reforça-a diferencialmente pelo
desempenho.
c) Motivação para a mudança
d) Recursos ou estratégias terapêuticas
Variáveis Independentes (VIs) Variáveis Dependentes (VDs)
• Seu irmão, três anos mais velho, fazia e • Tinha preguiça de fazer as coisas quando
resolvia quase tudo para ele (cliente). criança.
• Mãe facilitadora. • Era quieto desde criança.
• Foi pouco exigido na vida. • Nunca teve força de vontade;
• Acesso a muitos reforçadores sem muito • Sempre foi inseguro.
esforço. • Tinha baixa autoestima.
• Insucesso ao tentar fazer algumas coisas por
si.
Obs. Nem VI e nem VD:
• Seu avô, com quem nunca teve contato, também era acomodado; • Seu
signo revela uma pessoa acomodada.
b) Condições atuais que ajudariam a manter o padrão comportamental
• Recebe boa mesada dos avós. • Não tem energia dentro de si.
• Não há contingências aversivas na vida que • Regra: “Se pudesse, passava o dia com as
leva atualmente. garotas”.
• Família reforça sua capacidade persuasiva para • Acha que é preguiçoso.
ter o que quer. • Acha que não tem que ser diferente.
336 Ana Karina C. R. de-Farias
• Mãe deixou de facilitar sua vida. • Acha que está na hora de mudar sua postura;
• Está perdendo reforçadores importantes • Concorda com o irmão quando este diz que
(punição negativa) por não tomar iniciativa ele está acomodado.
para adquiri-los. • Sente que está mais corajoso.
• Namorada, que amava, terminou com ele, • Quer ser igual ao irmão.
pois achava que ele não progrediria na vida.
• Passou a morar só, em outra cidade, onde
mal conhece as pessoas.
d) Recursos ou estratégias terapêuticas
Variáveis Independentes (VIs) Variáveis Dependentes (VDs)
• Terapeuta encerra a sessão no horário • Identificar o lado bom de ter iniciativa, ser
inicialmente previsto, mesmo o cliente produtivo.
chegando 40 minutos atrasado, mas sem uma • Aprender a se virar.
justificativa adequada. • Ter mais força de vontade.
• Vivenciar contextos reforçadores em que haja
contingência específica para a produtividade;
• Estar em situações em que as coisas
dependam de si.
• Inserir-se ou manter-se em ambientes
exigentes, que punam o comodismo, mas que
também disponibilizem reforçadores
importantes.
Item 3 – Impulsividade e imediatismo
a) Aquisição, história de vida
Variáveis Independentes (VIs) Variáveis Dependentes (VDs)
• No trabalho, tem muito poder, comanda • Tem TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção/
várias pessoas dispostas a atendê-lo Hiperatividade);
prontamente. • Há pressão no trabalho por • Fica irritado com a lentidão dos outros.
resultados imediatos. • Explosivo, quando contrariado.
• Não se “dá mal” quando age de forma • É ansioso.
considerada impulsiva.
c) Motivação para a mudança
Variáveis Independentes (VIs) Variáveis Dependentes (VDs)
• Brigou duas vezes na rua por gritar com • Considera-se explosivo, gostaria de mudar.
outros. Foi bem-sucedido. • Reconhece que suas atitudes são às vezes
• As coisas na vida continuam como na infância: inadequadas.
muito poder. • Tem sentido vontade de mudar.
• Namora uma pessoa que lhe é submissa.
Análise Comportamental Clínica 395
C D
Comportamento governado por regras 231-249 Disfunções sexuais e repertório comportamental
caso clínico 238-245 demais encontros 239 295-308 descontrole ejaculatório
história de vida 240-245 297-308
primeiro encontro 238-239
Comportamento governado por regras na clínica
comportamental 95-110 caso clínico 299-308 história 300-
regras 97-109 não seguimento 102-105 305 intervenção 305-307
correspondência entre dizer e fazer 104-105
distorção do tato 103-104 queixa 300 resultados 307-308
formulação da autorregra “sou incompeten-
te” 102-103
resistência 104 outras discussões sobre as regras E
105-109 condições especiais de fornecimento 105-
Esquiva 201-214, 263-271 experiencial na relação
M
terapêutica 201-214 comportamento de esquiva e o
Medo da morte na infância 321-332
padrão de esquiva experiencial 201-204
caso clínico 326-329
controle aversivo no contexto terapêutico 204-
análise do caso e o processo terapêutico 327-
206 bloqueio do comportamento de esquiva
328
206-
atividades de desenho e fantoche 329 cliente
208 tolerância emocional 208-210 contato com
326-327 entrevista com a criança 327
contingências aversivas levando a luta pessoal 210-
entrevista com a família 327 leitura e
213
confecção de boneca 328-329
e ansiedade 263-271
queixa 327
Estratégias interventivas, descrição da diversidade de,
diagnóstico a partir de 179-198 Morte, medo na infância 321-332
F P
FAP. Ver Psicoterapia analítica funcional Pacientes autistas e quadros assemelhados, atendimento
Fobia social e relação terapêutica 252-261 domiciliar 153-165
fatores políticos e sociais 154-156 manuais para
Formulação comportamental 171-178
treino de habilidades em pessoas
caso clínico 171-178
autistas 162-164
ambiente 171 cliente 171 formulação
transtorno autista 156-158 treino de pais e
comportamental 173-178
estagiários como coterapeutas
procedimento 171-172 resultados 172-173
161-162
Fuga e esquiva em um caso de ansiedade 263-271
treino e generalização de novos repertórios verbais em
pessoas autistas 158-161
caso clínico 265-269 ambiente e materiais 265-266 Prática clínica e behaviorismo radical. Ver Behaviorismo
cliente 265 evolução da terapia 266-269 radical e prática clínica
procedimento 266 Psicoterapia analítica funcional 25, 66, 71, 74, 77,
81, 83-85, 88, 89, 91, 92, 190, 196, 205-207,
209, 210, 212, 215-220, 222, 227, 228, 233,
H 238, 260
Habilidades terapêuticas, investigação das 49-59
análise de registros em diário 54-56 discussão 56-58
aplicação do questionário 56-57 considerações quanto R
a si mesma, às sessões e às clientes 57-58 Relação terapêutica 66-93, 201-214, 252-261
método 52-53 ambiente e material 52-53 e esquiva experiencial 201-214
participantes 52 e fobia social 252-261
procedimento 53 caso clínico 254-258 ambiente e materiais
questionário utilizado 62-65 resultados 53-54 255 cliente e histórico de queixa 254-255
análise das respostas do questionário 53-54 discussão do caso 255-258 procedimento 255
perspectiva analítico-comportamental 66-93 controle
aversivo no contexto terapêutico 77-
I 84
Insônia crônica 311-318 caso clínico 316-318 influência dos behaviorismos 66-68 intervenção
controle de estímulos 316-317 educação em higiene 84-91 atenção aos CRBs, 1ª regra 84 reforçar os
do sono 317 CRBs, 3ª regra 85-89 observar os efeitos dos
intervenções 316 restrição do sono 317-318 comportamentos potencialmente reforçadores, 4ª regra
resultados 318 89
consequências dos distúrbios do sono 313-315 fornecer interpretações de variáveis que afetam o
prevalência dos distúrbios do sono 313 tratamento da comportamento, 5ª regra 89
insônia, intervenções comporta- reforçamento diferencial 89-91
mentais 315-316 evocar CRBs 84-85, 2ª regra psicoterapia analítico-
comportamental (PAC)
68-69 reforçamento diferencial na relação
terapêutica
73-77 relação terapêutica
69-73
Relato verbal e descrição da diversidade de estratégias
interventivas, diagnóstico a partir de 179-198
Rupturas no relacionamento terapêutico, releitura
analítico-funcional 215-229
estrutura conceitual das rupturas 218-221
explorando rupturas na prática clínica 219
marcadores de ruptura 219-220 resolvendo rupturas
220-221 ruptura como objeto de estudo na FAP
218-
219 estudo de caso 221-227
método 221-222 ambiente e materiais 221
participantes 221 procedimento 221-222 resultados
222-227 explorando e resolvendo rupturas 223-227
Análise Comportamental Clínica 341
S
Sono, distúrbios. Ver Insônia crônica
T
Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) 130-
150 análise comportamental do TAG 144-146 medo,
ansiedade fisiológica, transtorno de ansiedade,
conceitos 130-138
agorafobia sem história de transtorno do pânico 135
fobia específica 134 fobia social 135 transtorno de
ansiedade devido a condição médica geral 134
transtorno de ansiedade generalizada 137 transtorno
de ansiedade induzido por substância 134
transtorno de ansiedade sem outra especificação 137
transtorno de estresse agudo 136 transtorno de
estresse pós-traumático 136 transtorno de pânico com
agorafobia 135 transtorno de pânico sem agorafobia
135 transtorno obsessivo-compulsivo 136
psicobiologia 146-147
etiologia do TAG 138-144 classes de resposta de
ordem superior 143-144 controle de estímulos 141-143
operações estabelecedoras 144 tratamento do TAG 147-
149 famacoterapia 149
terapia analítico-comportamental 147-149
Transtornos alimentares 273-278