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12/11/2015
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Compreendendo a prática do
INDEX
analista do comportamento
BOOKS
GROUPS
INDEX
Marco Giulietti
Nivaldo Nale
Oswaldo Mário Serra Truzzi (Presidente)
Roseli Rodrigues de Mello
Rubismar Stolf
Sérgio Pripas
Vanice Maria Oliveira Sargentini
BOOKS
GROUPS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Editora da Universidade Federal de São Carlos
Via Washington Luís, km 235
13565-905 - São Carlos, SP, Brasil
Telefax(i6) 3351-8137
www.editora.ufscar.br
edufscar@ufscar.br
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Facebook: facebook.com/editora.edufscar
INDEX
Compreendendo a prática do
analista do comportamento
BOOKS
Liércio Pinheiro de Araújo
Heloisa Helena M otta Bandini
(Organizadores)
GROUPS
EdU FSC ar
São Carlos, 2015
© 2 0 1 5 , dos autores
Capa
Ion F. de las Heras
Projeto gráfico
Vítor Massola GonzaJes Lopes
Editoração eletrônica
Guilherme José Garbuio Martinez
INDEX
Apoio
Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Sociedade Brasileira de Neurociência e Cognição Humana - Núcleo Alagoas
BOOKS
Ficha catalográüca elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar
GROUPS
ISBN: 978-85-7600-399-1
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do
titular do direito autoral.
INDEX
BOOKS
GROUPS Dedicamos este livro aos estudiosos da Análise do
Comportamento no Brasil e a todos os que se in
teressam, mesmo que ainda de form a tímida, por
-
esta Ciência.
SU M Á R IO
A presentação 9
Prefácio 13
Capítulo í
Um a introdução ao Behaviorism o e à Análise do
Com portam ento: da teoria à prática 17
Alexandre D ittrich e Jocelaine Martins da Silveira
INDEX
Capítulo 2
Contribuições da Análise do Com portam ento para
o ensino de pessoas com necessidades educacionais
especiais 47
Daniela M endonça R ibeiro
Capítulo 3
A Análise do C om portam ento e o trabalho com
BOOKS
indivíduos com problem as de conduta 77
A lex Eduardo Gallo
Capítulo 4
O trabalho do analista do com portam ento em
Psicoterapia 97
Juliana Cristina D onadone
Capítulo 5
GROUPS
U sando a Análise do Com portam ento no trabalho
ju n to à com unidade 123
Ana Carolina Sella e Daniel Schober
Capítulo 6
Análise C om portam ental da cultura e im plicações
para a saúde 149
Cam ila M u ch on de M elo
INDEX
BOOKS
GROUPS
Apresentação
INDEX
Nos últimos anos ministrando aulas sobre a filosofia do Beha-
viorismo Radical ou sobre a ciência da Análise do Comportamento,
vimos nos deparando com um comportamento bastante comum entre
os alunos dos Cursos de Graduação em Psicologia ou de outras áreas
do conhecimento: em uma sala de aula, a maioria dos alunos (às vezes
todos!) diz não se identificar com a prática do analista do comporta
mento (ou com o Behaviorismo Radical) e menciona que esta forma
BOOKS
de pensar a atuação profissional não faz parte, de modo algum, do
leque de opções para o seu trabalho ao final da graduação. O mais
curioso é que, em algumas dessas salas de aula, muitos dos alunos que
não se identificam com a prática do analista do comportamento o fa
zem sem saberem, de fato, como este trabalho é feito. Na maior parte
dos relatos dos alunos, o analista do comportamento é visto como um
terapeuta “breve” que lida com questões “superficiais” do ser humano
GROUPS
ou como um pesquisador que trabalha predominantemente com ani
mais em laboratório.
Esta experiência é, de fato, muito intrigante. Isso porque é difícil
de compreender como uma abordagem que produz tantos avanços
nas mais diversas áreas do conhecimento, que tem a cada dia mais
revistas de publicação de trabalhos científicos e que fundamenta o
trabalho de tantos professores, pesquisadores e profissionais da Psico
logia e de outras áreas no Brasil e no mundo, seja tão hostilizada por
alunos que ainda estão em formação.
INDEX
para um aluno em formação. Além disso, nos parece que nós mesmos,
analistas do comportamento, temos uma parcela de culpa neste pro
cesso de marginalização, pois, ao longo dos anos, falamos e escrevemos
pouco para os profissionais de outras áreas e talvez para os próprios psi
cólogos de outras abordagens e não ocupamos espaço muito significa
tivo na grande mídia (jornais, revistas e televisão). Sendo assim, nosso
trabalho é pouco conhecido tanto para os leigos, que no futuro ingres
BOOKS
sarão nas universidades e serão nossos alunos, quanto para colegas de
universidade que às vezes trabalham muito próximos, mas não sabem
exatamente o que fazemos. Mais do que isso, por muito tempo no
Brasil, a escrita behaviorista se dedicou muito mais à elaboração de ar
tigos especializados do que à escrita de artigos didáticos, que pudessem
ser lidos de forma fácil por alunos iniciantes nos cursos de graduação.
Apesar de todos estes motivos, nos parece que atualmente esta
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história vem mudando. Além dos congressos científicos e eventos si
milares de grande porte para a comunicação dos trabalhos científicos,
como, por exemplo, o Encontro da Associação Brasileira de Psicologia
e Medicina Comportamental (ABPMC), muitas Jornadas de Análise
do Comportamento têm sido feitas por alunos de Graduação em Psi
cologia, nas mais diversas regiões do país. Além disso, alguns autores
têm dedicado mais do seu tempo para a escrita de textos ou livros que
sejam direcionados ao aluno em formação e, sendo assim, que têm
uma linguagem acurada, mas simples e acessível. Ao mesmo tempo,
mais sites ou blogs têm sido criados na internet para a discussão e di
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Apresentação
INDEX
ser um profissional restrito ao consultório psicológico ou à pesquisa
animal: a abordagem pode fundamentar o trabalho de psicólogos, pe
dagogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e tantos outros pro
fissionais que queiram entender e trabalhar com pessoas. Ao mesmo
tempo, este livro também deseja que o aluno de graduação tenha con
tato com os conceitos básicos do Beh avio ris mo Radical e da Análise do
Comportamento, de forma fácil, mas cuidadosa, com um texto rigoro
so conceitualmente, mas produzido e pensado para o aluno iniciante.
BOOKS
Sendo assim, cada capítulo deste livro abordará uma área de atua
ção do analista do comportamento. Todos foram escritos por profissio
nais que têm grande experiência nas áreas que abordaram e, sendo as
sim, oferecem informações seguras e relevantes aos leitores. Além disso,
todos os capítulos oferecem, em seu final, dicas de novas leituras e links
úteis para o aluno ampliar as informações sobre aquele assunto.
Agradecemos aos amigos autores que entenderam a nossa propos
GROUPS
ta e escreveram, de fato, este livro. São eles os autores dos capítulos que
virão, que, a nosso ver, cumpriram e se sobrepuseram a todas as nossas
expectativas. Sendo assim, gostaríamos de deixar pública a nossa gra
tidão aos professores Alexandre Dittrich, Jocelaine Martins da Silvei
ra, Daniela Mendonça Ribeiro, Alex Eduardo Gallo, Juliana Cristina
Do nado ne, Ana Carolina Sella, Daniel Scfiober e Camila Muchon de
Melo, por entrarem nessa empreitada conosco. Agradecemos também
ao Professor Romariz Barros, que escreveu o prefácio desta obra e nos
incentivou a publicá-la. Para nós, foi extremamente importante e hon
roso o incentivo de alguém tão importante na área.
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
Carmen Bandini
(Centro Universitário C esmac e
Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas)
Lidia Postalli
(Universidade Federal de São Carlos)
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BOOKS
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Prefácio
INDEX
Há cerca de cem anos, John B. Watson, um psicólogo americano,
fez uma importante contribuição para a fundação de uma Psicologia
Comportamental, Em 1913, Watson tornou público seu ponto de vis
ta sobre como deveria ser a Psicologia no artigo intitulado “A Psico
logia como um comportamentalista a vê”. Àquele tempo, havia sérias
dúvidas sobre qual deveria ser o objeto de estudo da Psicologia, qual o
método mais apropriado de investigação, quais as vinculaçôes filosó
BOOKS
ficas mais profícuas para essa nova ciência. Nesses cem anos, embora
essas questões continuem colocadas para a Psicologia como todo, um
longo caminho foi percorrido e imensas contribuições foram feitas na
direção de deixar mais claro esse terreno.
Embora não se possa cometer o erro de pensar que a fundação da
Psicologia Comportamental é devida ao artigo de Watson, é útil pen
sar que o estabelecimento da Psicologia Comportamental e o próprio
GROUPS
artigo de Watson são parte de um produtivo processo coletivo de con
vergência entre pontos de vista filosóficos, metodológicos e interesses
científicos em torno da compreensão do comportamento: o mesmo
processo que nos trouxe até aqui. Cem anos depois, estamos felizes de
testemunhar o lançamento do livro Compreendendo a prática do analis
ta do comportamento. Essa é uma prova de que a Psicologia Comporta
mental se consolidou e se disseminou pelo mundo, tendo encontrado
no Brasil terreno fértil para se desenvolver.
De fato, o Brasil é hoje um dos países onde a Psicologia Com
portamental mais se desenvolve no mundo, sendo uma referência na
INDEX
é um primoroso produto do avanço e da disseminação da Psicologia
Comportamental no Brasil. Há dois fatos importantes sobre o con
texto desta publicação. O livro é organizado por uma jovem geração
de já bem consolidados pesquisadores-professores: Carmen Bandini,
Lidia Postalli, Liércio Araújo e Heloísa Bandini. O outro fato é que o
livro é publicado por uma editora paulista, a EdUFSCar, mas tem a
maior parte da equipe que o idealizou e o organizou sediada em Ma
BOOKS
ceió, como prova de que em todo o Brasil brotam novos ramos dessa
frondosa Psicologia Comportamental. O livro é um produto concre
to da descentralização do crescimento da Psicologia Comportamental
no Brasil e da capacidade de articulação do Comportamentalista com
uma diversidade de campos de conhecimento e atuação.
No primeiro capítulo, Alexandre Dittrich e Jocelaine Martins da
Silveira trazem “Uma introdução ao behaviorismo e à Análise do Com
GROUPS
portamento: da teoria à prática” . De forma muito precisa e didática,
abordam os fundamentos da Psicologia Comportamental e a definição
de termos importantes para a continuidade da leitura de todo o livro.
Daniela Mendonça Ribeiro, então, acrescenta “Contribuições da
Análise do Comportamento para o ensino de pessoas com necessida
des educacionais especiais”, que historicamente tem sido um dos cam
pos onde a Psicologia Comportamental encontrou mais espaço para
crescer. Daniela traz uma visão ampla e bem aberta desse campo de
atuação, mostrando muitas possibilidades de intervenção prática, para
14
INDEX
vocos comuns sobre essa atuação do Comportamentalista.
No capítulo "Usando a Análise do Comportamento no traba
lho junto à comunidade”, a inserção da Psicologia Comportamental
no trabalho junto à comunidade é trazida por Ana Carolina Sella e
Daniel Schober. Essa é uma contribuição preciosa porque a vocação
da Psicologia Comportamental para abordar o comportamento do
ponto de vista individual nos fez crescer pouco até aqui na busca da
BOOKS
perspectiva grupai.
A abordagem de uma perspectiva grupai é continuada no capí
tulo seguinte, “Análise Comportamental da cultura e implicações para
a saúde”, trazido por Camila Muchon de Melo. De forma concisa e
clara, aprofunda elementos e questões essenciais, como o conceito de
cultura, a seleção natural e evolução das culturas e, é claro, as implica
ções de uma análise cultural para trabalhos que objetivem a promoção
GROUPS
da saúde dos indivíduos.
Esses dois últimos capítulos apontam numa direção em que a
Psicologia Comportamental tende agora a crescer muito. Há exemplos
de iniciativas no passado longínquo que indicaram que a Psicologia
Comportamental é promissora para a compreensão de comportamen
to grupai e há estudos recentes que tendem a fortalecer o instrumental
comportamental para esse fim.
Não há dúvidas de que o leitor, já iniciado ou em iniciação na
Psicologia Comportamental, se beneficiará muito da leitura de Com
preendendo a prática do analista do comportamento. O presente livro é
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Romariz Barros
Universidade Federal do Pará
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Capíiulo í
U m a introdução ao Behaviorism o e à
Análise do Com portam ento: da teoria
à prática
A lexandre D it t r ic h
Jo c e l a i n e M a r t in s d a S il v e ir a
INDEX
O su rg im e n to do B e h a v io rism o
BOOKS
para lidar com ele?
Entre as várias respostas possíveis para essas perguntas, uma delas
surgiu em 1913, por meio de John Broadus Watson: o Behaviorismo.
Como a palavra sugere, para Watson o objeto de estudo da Psicologia
deveria ser o comportamento, sempre considerado em suas relações
com o ambiente. As relações entre o que um organismo faz e seu am
biente —vamos chamá-las a partir de agora de relações comportamen-
GROUPS
tais - constituem um objeto de estudo muito complexo. A palavra
“objeto”, aliás, pode ser enganosa: a Psicologia nunca estuda “coisas”
ou “objetos”, mas sim processos e relações. Watson sugeriu que a Psi
cologia deveria estudar relações comportamentais.
Os métodos para o estudo das relações comportamentais ainda
eram incipientes na época de Watson, e os processos estudados por
ele e pelos primeiros behavioristas eram relativamente simples. Mas
é importante notar que, mesmo para Watson, os processos geralmen
te chamados de “mentais”, “cognitivos” ou “subjetivos” também eram
R e la ç õ e s c o m p o rta m e n ta is reflex a s
INDEX
tamento que até hoje chamamos de reflexo (ou respondenté). Etimologi-
camente, reflexo significa “voltar” ou “rebater” : um estímulo qualquer
ocorre no ambiente e uma resposta ocorre no organismo exposto a esse
estímulo. Há inúmeros exemplos disso no nosso cotidiano. Afastamos
um braço ou uma perna ao encostá-los em um fogáo muito quente,
ou na ponta de uma faca ou agulha. Suamos quando está muito quen
te, trememos quando está muito frio. Vertemos lágrimas ao cortar as
BOOKS
cebolas para o almoço. Surpreendidos por um barulho muito alto, nos
assustamos, e ficamos em estado de alerta.
Originalmente, as respostas reflexas são o que costumamos cha
mar de uma “herança genética”: elas ocorrem de maneira natural dian
te de certos estímulos, como se já nascéssemos “preparados” para rea
gir a eles de uma determinada forma. Se você observar novamente os
exemplos que apontamos há pouco, verá que todas as respostas reflexas
GROUPS
que citamos servem de alguma forma para preservar nossa saúde, nos
so organismo, nossa integridade física. Elas são, nesse sentido, uma
herança darwiniana: com raras exceções, todos os membros da nossa
espécie apresentam essas respostas, porque elas favoreceram a própria
sobrevivência da espécie. As pesquisas de Watson exploraram o fato
(também notado antes dele pelo fisiólogo russo Ivan Pavlov) de que es
sas respostas, original mente inatas, podiam ser condicionadas: dadas as
condições ambientais adequadas, um organismo (humano ou não) po-
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INDEX
É claro que os reflexos constituem apenas uma parte do com
portamento de organismos e pessoas - contudo, nem sempre se per
cebe que eles são mais importantes do que pode parecer à primeira
vista. Reflexos podem ser condicionados no nosso dia a dia da mesma
forma como são condicionados durante um experimento de labora
tório, e compreender isso é muito importante para explicar muitas
de nossas emoções e sentimentos. Podemos flcar com medo, ansiosos
BOOKS
e angustiados diante de eventos que nos lembrem de situações ex
tremas como assaltos ou acidentes, mas também na preparação para
uma cirurgia, na sala de espera do dentista, na presença de um che
fe que nos trata de maneira aversiva, antes de falar em público...
Muitos problemas comportamentais na infância e na adolescência
envolvem situações de medo e ansiedade geradas por pais, paren
tes ou professores que abusam das crianças ou as ridicularizam. Isso
GROUPS
também pode acontecer entre as próprias crianças - atualmente, usa
mos o termo bullying para descrever esse fato. É normal que crianças
que sofrem bullying na escola apresentem medo e ansiedade quando
precisam ir para lá; algumas delas tremem, suam e sentem náuseas.
Como esse exemplo mostra bem, o condicionamento respondente
nos ajuda a entender porque geralmente sentimos medo ou ansie
dade também antes de entrar em contato com certas situações. Pes
soas que sofreram ataques de pânico tendem a ficar com medo dos
locais ou situações nos quais tiveram os ataques. Os efeitos podem
ser devastadores: a pessoa não quer mais sair de casa e não tem mais
INDEX
Watson não tratavam de assuntos triviais. Pelo contrário: elas inclusive
inspiraram a criação de algumas técnicas de psicoterapia utilizadas até
hoje para ajudar a lidar com problemas emocionais muito sérios. Ape
sar disso, o campo do comportamento respondente está longe de lidar
com tudo o que nos interessa na Psicologia. Vamos retomar a história
do desenvolvimento do Behaviorismo e ver como ela continua.
BOOKSR e la ç õ e s c o m p o rta m e n ta is o p e ra n te s
GROUPS
so que hoje é tido por muitas pessoas praticamente como sinônimo
de Behaviorismo. Contudo, Skinner foi muito além de ser um mero
seguidor de Watson. As pesquisas e as concepções filosóficas e metodo
lógicas de Skinner constituíram uma verdadeira revolução dentro do
Behaviorismo e da Psicologia.
O aspecto mais importante dessa revolução, sem dúvida, foi a ex
ploração experimental do comportamento operante. O comportamento
respondente estudado por Pavlov, Watson e seus colegas era, como
seu nome sugere, um fenômeno relativamente simples: algo ocorre
no ambiente (chamamos isso de estímulo) e o organismo ou pessoa
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dois motivos: (1) náo estamos mais lidando apenas com estímulos
que antecedem respostas, mas também com estímulos que se seguem a
elas; (2) mesmo os estímulos antecedentes passam a ter uma função
diferente quando relacionados ao comportamento operante: eles náo
mais “disparam” automaticamente uma resposta, mas apenas alteram
sua probabilidade de ocorrência.
E verdade que os analistas do comportamento usam até hoje as
BOOKS
palavras estimulo e resposta para definir, respectivamente, aspectos do
ambiente e das ações de uma pessoa ou de um organismo. Mas, como
veremos em seguida, as relações comportamentais descritas com a aju
da desses termos são muito mais complexas do que aquelas descritas
pelas pesquisas com o comportamento respondente. Embora utilize os
termos estímulo e resposta (e muitos outros!), a Análise do Comporta
mento não é uma “Psicologia estímulo-resposta”!2
GROUPS
Comecemos por algumas definições para entender o que é o
comportamento operante. Por que usamos essa palavra, operante? Ela
tem suas origens no latim: opus ê trabalho, operari é trabalhar, execu
tar, fazer algo; quando uma pessoa age e com isso provoca mudan
ças no ambiente, isso é comportamento operante. E não só: nosso
2 Aí palavras “estímulo” e "resposta" Foram originalmente usadas nas pesquisas fisiológicas. Diante disso,
algumas pessoas acabam concluindo que a Análise do Comportamento é uma ciência reducionista, “bíolo-
gicista” ou algo do tipo - o que está iongc de ser verdade. Essas palavras devem ser entendidas de maneira
ampla: “O vocabulário do estímulo classifica os aspectos do ambiente, do mesmo modo que o vocabulário
da resposta classifica os aspectos do comportamento” (C ataNia , 1999, p. 402).
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Com preendendo » prática do analista do comportamento
INDEX
fizeram e continuam fazendo pesquisas com animais não humanos (hu
manos também são animais, é claro). Isso é fonte de alguns preconceitos
infundados. Em primeiro lugar, não é verdade que os analistas do com
portamento só fazem pesquisas com animais não humanos. A pesqui
sa com humanos sempre fez parte da tradição experimental da Análise
do Comportamento, e gera uma quantidade riquíssima de dados. Além
disso, há alguns fenômenos (principalmente envolvendo comportamen
BOOKS
to verbal) que só podem ser apropriadamente estudados com humanos.
Há vários bons motivos para se fazer pesquisas com não humanos, e não
teremos espaço para apresentá-los aqui. Mas é importante notar que,
embora haja exceções importantes, os processos comportamentais bási
cos se mostram surpreendentemente parecidos entre sujeitos humanos
e não humanos.
Vamos começar com um rato, e ver se podemos aprender algo
GROUPS
com ele. Ele está no que se tornou conhecido como “caixa de Skinner”
(um nome que não agradava muito ao próprio Skinner). A caixa é
um aparato especialmente preparado para estudar relações comporta
mentais - relações entre o que o rato faz, o contexto no qual faz e as
consequências do que faz. Chamamos as instâncias particulares do que
o rato faz de respostas; chamamos os elementos do ambiente que cons
tituem o contexto no qual o rato se comporta de estímulos antecedentes-,
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Capítulo 1 - Uma introdução ao Behaviommo..
INDEX
tanto a apresentação de um estímulo (nesse caso qualificamos o reforço
ou a punição como “positivos”) quanto sua remoção (nesse caso quali
ficamos o reforço ou a punição como “negativos”). A Tabela 1 ajuda a
visualizar melhor essas distinções.
BOOKS
ItcIllÇ Ã O ( l » l l S C t J l K / I M . 1.1 1 l l itl) M > i > I V .1 1 U t [ ( K ‘ I K i.L
GROUPS
Cabe aqui uma observação importante: o uso desses termos é
estritamente técnico - não tem nada a ver com ética ou moral. Quan
do classificamos uma relação comportamental com as palavras positivo
ou negativo, estamos apenas descrevendo um aspecto dessa relação (a
apresentação ou remoção de um estímulo após a resposta), e não di
zendo que algo nela é bom ou ruim. Da mesma forma, a palavra pu
nição costuma ser imediatamente associada a procedimentos éticos ou
morais. Mas aqui, ela deve servir apenas para descrever o fato de que as
respostas de uma classe diminuem de frequência.
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Com preendendo a prática do analista do com portam ento
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do o que podemos chamar genericamente de comportamento explo
ratório: respostas variadas, como andar pela caixa, arranhar e cheirar
diferentes panes dela, etc. Ele só conseguirá comida se apertar uma
barra no canto direito da caixa. Essa é a contingência estabelecida pelo
experimentador: nesta situação específica, se o rato apertar a barra, um
pedacinho de comida é liberado logo abaixo dela. Contudo, como ele
nunca foi exposto antes a essa contingência, não teve nenhuma opor
BOOKS
tunidade para aprender isso. Mas podemos ajudá-lo. Para aumentar
a probabilidade de que ele faça isso, precisamos modelar seu reper
tório de respostas (este processo chama-se modelagem). Literalmente,
selecionamos aquelas respostas que se aproximem mais da resposta de
apertar a barra, A mera aproximação à barra pode servir, num primeiro
momento. Caso ele se aproxime, damos a ele um pedacinho de co
mida. Progressivamente, ele tenderá a emitir respostas mais próximas
GROUPS
daquela que programamos, desde que continuemos reforçando essas
aproximações. Enfim, ele aperta a barra, e descobre “por si mesmo”
como produzir comida, sem que o experimentador precise intervir.
Com isso, a frequência das respostas dessa classe (que produz comida)
tende a aumentar dramaticamente. Tecnicamente, isso significa que a
comida serve como estímulo reforçador para as respostas dessa classe.
Falamos em “classe” porque reconhecemos que cada resposta é úni
ca, singular, irrepetível. Reforçadores sempre reforçam a probabilidade
das respostas que compõem uma classe, e nunca uma resposta. O con
ceito de classe - que é aplicável também aos estímulos - permite lidar
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Capítulo 1 - U m a introdução ao Hehaviorismo...
INDEX
professor, treinador...), por um manual, por um vídeo na internet...
O ponto comum a todas as regras é que elas dizem o que fazer para
produzir certos resultados, facilitando e acelerando o processo de mo
delagem. Tecnicamente, dizemos que as regras especificam contingências
de reforço: se você fizer isso, acontece aquilo.
Qual a diferença relevante em relação ao caso do rato? Obviamen
te, ele não apresenta um repertório especial, que chamamos de compor
BOOKS
tamento verbal. Ele não fala, não entende quando alguém fala, e, por
tanto, não pode ter seu comportamento governado por palavras que
alguém diga a ele. Essa é, sem dúvida, uma característica muito especial
dos seres humanos. Outras espécies apresentam comportamentos ver
bais rudimentares (especialmente primatas), mas só as pessoas apresen
tam o grau de complexidade e refinamento que verificamos em nosso
comportamento verbal. Por isso, os analistas do comportamento vêm
GROUPS
fazendo pesquisas sobre o comportamento verbal há muitas décadas, e
elas têm revelado e esclarecido aspectos importantes desse fenômeno.
O comportamento verbal serve a muitas outras funções, além mera
mente de enunciar e seguir regras. Nomeamos e classificamos objetos,
pedimos algo, perguntamos, sugerimos, elogiamos, censuramos, pen
samos, usamos metáforas, fazemos poesia... Tudo isso e muito mais
só pode ser feito porque dominamos o comportamento verbal. Como
qualquer outro repertório, o comportamento verbal também é apren
dido durante nossas vidas. E como qualquer comportamento, os ope-
rantes verbais sempre acontecem em situações específicas e produzem
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comida se apertar a barra em uma situação especifica —por exemplo, se
uma luz na caixa estiver acesa. Se ele apertar a barra com a luz apaga
da, nada de mais acontece. Diante disso, o rato aprende rapidamente
a discriminar as diferentes situações. Quando a luz estiver acesa, isso
terá função de estimulo discriminativo para que ele emita respostas de
pressão à barra. A probabilidade de que ele aperte a barra aumentará
quando a luz estiver acesa, e diminuirá quando ela estiver apagada.
BOOKS
Houve algo importante aqui: em linguagem comum, poderia
mos dizer que o rato “sabe o momento certo” de agir - e também o de
não agir. O que muda de um momento para o outro, é claro, são os
estímulos discriminativos. Chamamos esse processo de discriminação.
Mais uma vez, temos aqui uma relação comportamental que ocorre
em nossas vidas o tempo todo. Os exemplos vão dos mais óbvios aos
mais sutis. Uma pessoa para no sinal vermelho e segue no verde; di
GROUPS
gita um texto porque está diante de seu computador; age de formas
diferentes em casa e no trabalho; sabe diferenciar o sabor de um vinho
merlot de um shiraz; sabe diferenciar um Picasso de um Dali - talvez
até um Dali verdadeiro de um falso; sabe diferenciar uma sinfonia de
Chopin de uma de Beethoven... Para aprender tudo isso, é claro, pre
cisamos de uma comunidade verbal que estabeleça e reforce diferencial-
mente as respostas verbais ou não verbais adequadas a cada situação.
Como qualquer outro estímulo, “luz acesa” é algo que pode va
riar em algumas dimensões: a luz pode ser mais forte ou mais fraca, ou
pode ter cores diferentes, por exemplo. Assim, podemos ensinar nosso
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Capítulo 1 —U m a introdução ao Behaviorism o...
rato não apenas a discriminar entre “luz acesa” e “luz apagada”, mas
também * generalizar entre diferentes intensidades de luz. Ele apertará
a barra com uma luz forte e também com uma luz fraca. Esse processo
se chama generalização: estímulos que partilham algumas proprieda
des com outro estímulo podem adquirir o poder de aumentar a pro
babilidade de respostas semelhantes àquelas que foram emitidas na
presença do estímulo original. No caso do rato, isso significa que há
uma classe de estímulos “luz acesa” que pode aumentar a probabilidade
de que ele aperte a barra.
Parece complicado? Bem, mais uma vez, estamos diante de um
processo comum a todos nós. Usamos nosso computador, mas pode
INDEX
mos usar vários outros sem muitas dificuldades: eles têm propriedades
comuns. Dirigimos nosso próprio carro, mas podemos dirigir outros.
Usamos caixas eletrônicos em vários locais diferentes. Alguns equipa
mentos eletrônicos atuais (tablets, celulares) vêm com manuais de ins
truções (regras para utilização), mas muitas vezes preferimos poupar
nosso precioso tempo: simplesmente ligamos o aparelho e deixamos
que nosso comportamento seja diferencialmente selecionado pelas
BOOKS
consequências do que fazemos ao manejá-lo. É por isso que as empre
sas que fabricam esses aparelhos se esforçam para torná-los cada vez
mais “intuitivos” : elas se aproveitam de nosso repertório comporta-
mental prévio e da possibilidade de generalizá-lo para novas situações
e tentam nos poupar da necessidade de ler um extenso conjunto de
regras para aprender novos repertórios discriminarivos.
Esses são casos simples de generalização, mas há outros mais su
GROUPS
tis. O comportamento verbal dá vários exemplos. Crianças que estão
aprendendo a falar podem chamar gatos (ou outros animais) de “au-
-au”, antes de aprender a discriminá-los de maneira mais refinada. Há
algum tempo, um dos autores viu uma criança que gosta muito de
mexer em computadores e jogos eletrônicos dizer que iria “clicar” o
botão de um elevador. Chamamos de “mouse” um dispositivo para
manejar computadores que guarda certa semelhança visual com um
rato. Metáforas, presentes tanto na nossa linguagem cotidiana como
na literatura e na poesia, também são exemplos de generalização. Elas
ocorrem quando algum estímulo possui uma ou mais propriedades
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INDEX
de respostas no repertório do rato. Qualquer resposta que acenda a luz
(por exemplo, puxar uma corrente) tenderá a aumentar de frequência.
É possível estender bastante essa cadeia comportamental, incluindo
vários passos preliminares - e, é claro, vários reforçadores condiciona
dos adicionais.
Essa é uma constatação muito importante, e ajuda a explicar mui
tos fenômenos humanos complexos. Aprendemos a “valorizar” várias
BOOKS
coisas porque elas acompanharam ou precederam outras coisas das
quais gostamos. O exemplo mais comum é o dinheiro. Costuma-se
utilizá-lo como principal exemplo de um estímulo reforçador generaliza
do - isto é, um reforçador que foi condicionado na presença de vários
outros reforçadores. O dinheiro sinaliza a oportunidade de conseguir
diversos bens e serviços dos quais precisamos ou gostamos (por sorte,
nem todos fazem “tudo por dinheiro”, mas ele é indubitavelmente um
GROUPS
reforçador generalizado poderoso). Da mesma forma, nosso comporta
mento é reforçado não apenas por assistir a um filme no cinema, mas
também por conseguir os ingressos para o filme; não apenas por fazer
uma viagem, mas por conseguir as passagens - em resumo, não apenas
por fazer algo que precisamos ou gostamos de fazer, mas por qualquer
objeto ou evento que sinalize que poderemos fazer isso. Cadeias com-
portamentais muito amplas podem ser estabelecidas por meio desse
processo.
E quanto à punição? Geralmente, quando falamos em punição,
imaginamos uma pessoa punindo outra. Mas a relação comportamen-
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Capitulo 1 - U m a introdução ao Behaviorism o...
INDEX
ção. A educação das crianças por pais, professores e outras autoridades
ainda recorre, em grande parte, a procedimentos punitivos. Patrões
punem o comportamento de empregados, professores punem o com
portamento de alunos, governos punem o comportamento de cida
dãos - tudo visando diminuir ou eliminar certas classes de respostas.
A eficiência relativa e os efeitos indesejáveis da punição têm sido dis
cutidos pelos analistas do comportamento há décadas. Skinner, em
BOOKS
especial, era veementemente contrário à sua utilização,4 e todos os
analistas do comportamento concordam pelo menos quanto ao fato
de que a punição, se necessária, deve ser utilizada com cautela. Para
avaliar a adequação dos procedimentos que empregam, os analistas do
comportamento estão interessados nos resultados que eles produzem
no repertório comportamental das pessoas, considerados em toda a
sua complexidade.
GROUPS
Essa é uma pequena amostra de alguns princípios comportamen-
tais básicos descobertos nas pesquisas feitas por analistas do compor
tamento. Há muitos outros princípios importantes, e todos eles, a
exemplo dos que abordamos, ajudam a compreender a complexidade
do comportamento humano de maneira cada vez mais aprofundada.
Usamos o exemplo do rato como base para nossas explicações porque
ele é mais simples e familiar - mas esperamos ter mostrado que os
princípios estudados na pesquisa com animais não humanos, via de
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
Bem, no mínimo porque não há nenhuma regra universalmente aceita
sobre qual é o objeto de estudo da Psicologia, e sobre quais os méto
dos adequados para estudá-lo. Nesse sentido, o Behaviorismo Radical
é uma proposta filosófica entre muitas outras na Psicologia. Enquanto
tal, ele sugere as relações comportamentais como objeto de estudo, e
privilegia a análise experimental do comportamento como procedimento
de estudo (embora não se restrinja a ele, mas esse assunto nos levaria
BOOKS
muito longe).
Uma característica importante do Behaviorismo Radical enquanto
filosofia é a afirmação de que as relações comportamentais compreen
dem tudo o que pode interessar a um psicólogo. Isso inclui fenômenos
que outras psicologias chamam por nomes como mente, consciência,
inconsciente, cogniçao, sentimentos, etc. Essas palavras designam uma
gama muito ampla de processos comportamentais, e todos esses proces
GROUPS
sos são estudados pelos analistas do comportamento. H á várias frentes
de pesquisa na Análise do Comportamento que estudam os fenômenos
designados por essas palavras: resolução de problemas, escolhas, auto-
conhecimento e autocontrole, emoções, comportamento verbal, com
portamento simbólico, regras e autorregras, entre outras. Não há como
abordar todas essas pesquisas aqui, mas o ponto a destacar é que a Aná
lise do Comportamento tem feito avanços importantes na compreen
são de fenômenos que outras psicologias chamariam de “subjetivos” ou
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Capítulo 1 —U m a introdução ao Behaviorism o...
“mentais”. O primeiro passo para que esses avanços fossem possíveis foi
tão somente tratar esses fenômenos como relações comportamentais.
O adjetivo “Radical” aplicado após a palavra “Behaviorismo”
é mais uma daquelas palavras que pode causar certa confusão, e até
mesmo despertar preconceitos contra essa filosofia. Algumas pessoas
pensam que “Radical” significa que os analistas do comportamento
se afastam “radicalmente” do estudo dos eventos “mentais” ou “sub
jetivos”, preferindo estudar apenas os eventos comportamentais (que
seriam, nessa visão, somente os eventos publicamente observáveis).
Nada poderia estar mais longe da verdade! De fato, o que ocorre é
exatamente o oposto disso. O "radicalismo” do Behaviorismo Radical
INDEX
consiste justamente em considerar tudo o que um ser humano faz,
pública ou privadamente, como relações comportamentais. Os behavio-
ristas radicais rejeitam qualquer sugestão de dualidade entre mente e
corpo, ou mente e comportamento. Isso não significa que estamos “re
duzindo a mente ao comportamento”. Estamos simplesmente tratan
do os fenômenos ditos “mentais” como coisas que as pessoas fazem em
suas relações com o mundo - como processos comportamentais, e náo
BOOKS
como processos inacessíveis, separados e independentes das relações
que estabelecemos com o mundo físico e social. O objeto de estudo
dos analistas do comportamento são organismos (humanos e não hu
manos) que interagem com seus ambientes, estabelecendo assim rela
ções comportamentais, das mais simples às mais complexas. Algumas
dessas relações eventualmente são qualificadas por outras psicologias
como “mentais” - mas para o Behaviorismo Radical não há nenhum
GROUPS
motivo para pensar que estamos lidando com processos de natureza
diferente dos processos comportamentais.
Um resultado importante disso é que os analistas do comporta
mento se interessam por todo e qualquer fenômeno comportamental —
não importa em qual situação, náo importa com que linguagem seja
descrito. Psicanalistas, fenomenólogos, existencialistas, humanistas,
construtivistas, sócio-históricos —para um behaviorista radical, to
dos os psicólogos estudam relações comportamentais, seja qual for
a sua fundamentação filosófica. Isso faz com que os behavioristas
radicais tenham uma gama muito ampla de interesses, e também
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CCompreendendo a prática do analista do comportamento
S e le ç ã o p o r c o n se q u ê n c ia s
INDEX
Como vimos, há alguns preconceitos comuns em relação ao Beha-
viorismo Radical. Um deles diz que os behavioristas radicais são meca-
nicistas. Embora não seja simples definir a palavra “mecanicismo”, ela
caracteriza, de modo geral, uma preferência por um certo tipo de expli
cação causai: algo acontece no mundo, e isso causa algum evento poste
rior. O próprio conceito de “causa” foi criticado por Skinner6 e por ou
tros behavioristas radicais.7 Os behavioristas radicais tendem a preferir
BOOKS
expressões como “relações funcionais” ou “relações comportamentais”
para lidar com os fenômenos que estudam. Iguaimente, Skinner e ou
tros behavioristas radicais frequentemente se mostram críticos da ado
ção de um modelo mecanicista para a explicação do comportamento.8
A alternativa dos behavioristas radicais a um modelo mecanicista
é um modelo selecionista: o comportamento humano é selecionado por
suas consequências, em três níveis que interagem entre si: filogenético,
GROUPS
ontogenético e cultural.9 O nível filogenético diz respeito ao processo
de seleção de nossa herança comportamental genética. Como mem
bros singulares de uma espécie, temos características genéticas únicas
(a não ser, é claro, que sejamos gêmeos univitelinos). Essas caracterís
ticas resultam de uma história que selecionou nos membros de nossa
espécie tendências comportamentais que permitiram sua sobrevivên-
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C ap ítulo 1 — U m a introdução 10 B eh aviorism o...
da. É nesse sentido que temos seleção pelas consequências nesse ní
vel: características comportamentais que favorecem a sobrevivência e
a reprodução dos membros de uma espécie tendem a ser selecionadas
simplesmente porque permitem a sobrevivência e a reprodução. Essas
características são transmitidas para as gerações seguintes da espécie
através dos genes.
Os reflexos fazem parte dessa herança genética.10 E também faz
parte dela a grande suscetibilidade ao condicionamento operante que nossa
espécie apresenta. É dessa suscetibilidade e de seus efeitos que trata o ní
vel ontogenético, o segundo nível seletivo. Os seres humanos são especiaí-
mente sensíveis às consequências do que fazem, Como interagimos com
INDEX
o ambiente o tempo todo e somos continuamente afetados pelas conse
quências do que fazemos, nosso comportamento está sempre sujeito a
mudanças, a transformações. E claro que isso também se aplica a outras
espécies (só por isso podemos estudá-las em nossos experimentos), mas
nenhuma tem um repertório comportamental cão flexível, tão maleável
quanto os seres humanos. Assim, o nível ontogenético lida com a nossa
história singular de interação com o ambiente - ou, em palavras mais
BOOKS
comuns, com a nossa “história de vida”, com todas as suas peculiarida
des. Gêmeos univitelinos apresentam a mesma herança genética, mas
podemos afirmar com certeza que absolutamente nenhum ser humano
tem uma história de vida igual à de outro. Os analistas do comporta
mento compreendem essa história de vida como uma história de trans
formação seletiva contínua do nosso repertório comportamental.
Por fim, temos o nível cultural. Os analistas do comportamento
GROUPS
sempre demonstraram interesse em compreender (e intervir sobre) fe
nômenos sociais e culturais. Podemos mesmo dizer que a Análise do
Comportamento é uma Psicologia inerentemente social, pois é impos
sível compreender o amplo repertório comportamental humano sem
analisar suas interações sociais e a evolução de suas culturas. O terceiro
nível seletivo lida exatamente com essa evolução: culturas têm histó
rias particulares de interação com seus ambientes (incluindo interações
10 Como vimos antes, os reflexos também podem ser condicionados —isto é, podem passar a ocorrer em
várias outras situações além daquelas que os eliciam naturalmence. Mas, apesar disso, eles são originalmen-
tc inatos.
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Com preendendo a prática do analista do com pottamento
INDEX
vez mais o contato entre diferentes culturas, suas influências mútuas e
sua variabilidade. A definição do que é “uma cultura” sempre foi con
troversa, e talvez se torne ainda mais. Não obstante, é evidente a im
portância de compreender as formas pelas quais as culturas evoluem,
se relacionam e se transformam - e as formas pelas quais transformam
as pessoas que fazem parte delas.
O modelo de seleção por consequências é a versão Behavioris-
BOOKS
ta Radical do que algumas psicologias chamariam de um modelo
“biopsicossocial” do ser humano. E uma maneira produtiva de lidar
com o fato de que tanto variáveis biológicas quanto culturais são
indispensáveis para explicar nossa singularidade. Por isso, os beha-
vioristas radicais estão sempre atentos aos avanços produzidos petas
ciências biológicas e sociais, e buscam estabelecer intercâmbios pro
dutivos com os cientistas dessas áreas.
GROUPS
A a p lic a ç ã o d a A n á lise do C o m p o rta m e n to
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Capítulo 1 - Unia introdução ao Behaviorism o...
INDEX
princípios comportamentais.
BOOKS
de ensinar é usada dependendo das necessidades. Já tivemos oportu
nidade de falar sobre a modelagem. A modelação é usada quando a
modelagem é muito custosa ou inviável. Ela consiste na imitação de
um modelo. Então, repetindo o exemplo citado por Skinner,12 é bem
mais fadl alguém ensinar o origami deixando que o aprendiz observe e
repita os gestos do mestre do que esperar até que uma resposta próxi
ma da esperada ocorra. Esse e muitos outros tipos de aprendizagem são
GROUPS
difíceis de acontecer sem imitação. Alguns repertórios mais complexos
vão sendo aprendidos primeiramente com modelação, passando depois
a uma modelagem. Segundo Skinner, “mostrar e dizer são maneiras de
‘incitar comportamentos, de levar pessoas a se comportarem de uma
dada maneira pela primeira vez, de modo que se possa reforçar seu
comportamento” .13
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
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posições variadas, viradas para trás, de joelhos ou conversando com
o colega. A professora vai então apresentando consequências para o
comportamento desejado - sentar-se em silêncio, de frente para o qua
dro e olhando para ela. As consequências podem ser a apresentação de
algum atrativo no quadro ou de um fantoche falando cada vez mais
baixinho e logo o comportamento desejado torna-se instalado - man
tido por suas consequências naturais ver e ouvir o que está aconte
BOOKS
cendo na frente da sala de aula. Enfim, se olhamos para nossa própria
história de vida, podemos identificar processos de modelagem que es
tão atrás das atitudes mais simples até daquelas que mais caracterizam
nosso jeito de ser.
As regras podem ter função de “pontapé inicial” para um com
portamento e podem também ser muito úteis quando não há tempo
de aprender via modelação e tampouco via modelagem. Aprendemos
GROUPS
desde cedo a respeitar os avisos do tipo “Cuidado! Alta tensão”. As re
gras são valiosas para instalar um responder rápido e eficaz em situações
nas quais bastaria uma única exposição para um efeito letal, ou para
que a pessoa se ressentisse de um dano irreversível. No cotidiano, a
modelação, a modelagem e as regras se combinam, resultando no que
chamamos de aprendizagem.
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Capítulo 1 - U m a introdução ao Behaviorism o...
A tríplice contingência
INDEX
de reforço”.w
BOOKS
sobre operações estabelecedoras), a água não guarda propriedades re
forçadoras em si, e tampouco o faz qualquer outro estímulo. Ela ad
quire função reforçadora na inter-relação com uma condição na qual
o rato está privado de água.
A tríplice contingência, portanto, descreve combinações de even
tos. Isto quer dizer que o analista do comportamento não decompõe o
mundo em partes para entendê-lo, ele simplesmente procura relações:
GROUPS
como um universo indiferenciado foi se combinando com o responder
de uma pessoa, tornando-se então, para ela, ambientei O analista do
comportamento atua com base na chave interpretativa da seleção por
consequências, considerando como eventos consequentes e anteceden
tes foram sendo combinados entre si e com o responder.14
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
C o n te x to s de a tu a ç ã o d o A n a lista d o
C o m p o rta m e n to
INDEX
daquelas já bastante difundidas: Clínica, Organizacional e Escolar. Pou
cas orientações em Psicologia têm influência aplicada tão penetrante no
campo da Educação, sobretudo da Educação Especial, do tratamento
de transtornos alimentares, do tratamento do tabagismo, dos transtor
nos de ansiedade e humor e da orientação de pais, como a Análise Com-
portamental Aplicada. Alguns assuntos aplicados originários de outras
tradições em Psicologia gradativamente passaram a ter o enfoque com-
BOOKS
portamental - como, por exemplo, a orientação profissional.
A tríplice contingência baliza ações do analista do comportamen
to, que podem ser interpretativas, estratégicas, táticas, técnicas e o que
podemos chamar de reflexivas. Na prática, todas as ações acontecem de
modo integrado.
A interpretação
GROUPS
Ao interpretar, o analista do comportamento fàz uso do modelo
de seleção por consequências para explicar o comportamento. Assim,
o analista do comportamento leva em conta as consequências que de
ram origem ao nosso organismo, ao nosso repertório comportamen-
tal individual e às práticas culturais, a fim de oferecer a explicação do
comportamento humano. Para interpretar, não é preciso verificação ou
evidência, é necessário que haja uma relação razoável, segundo a teoria,
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Capítulo 1 - Um a introdução ao Behaviorism o,.,
INDEX
ou de que foi demitido de um emprego, ou de que sofreu outras perdas
importantes. E então, o analista do comportamento no contexto clíni
co segue compondo sua interpretação do problema do cliente. Como
se pode notar, a interpretação é o apelo à teoria —ela requer amplo co
nhecimento de dados advindos de pesquisas feitas com animais e com
seres humanos, além do domínio de conceitos. A interpretação requer
intimidade com um sistema de pensamento consistente, que inclui
BOOKS
evidências empíricas relacionadas a uma visão única da relação entre
seres humanos e seu mundo —a visão behaviorista radical. Interpretar
é a ação central do analista do comportamento, e consiste em explicar
uma situação em termos de relações comportamentais, para só então
pensar em estratégias, adotar táticas e aplicar técnicas.
As estratégias
GROUPS
A interpretação dá origem a um plano para alcançar os resultados
desejados - isto é, dá origem a uma estratégia. Imaginemos uma comu
nidade pobre, na qual muitos adolescentes moram com pais e paren
tes que são traficantes ou têm problemas com a polícia e com outros
traficantes. Os comportamentos ligados à delinquência e prostituição
iníàntil são altamente prováveis nesse contexto. São aprendidos por mo-
delação, por modelagem ou instrução e muitas vezes mantidos por es
quemas de reforço negativo (quando o responder elimina ou adia um
‘ *
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Compreendendo a prática do analista do com portam ento
evento aversivo). Por exemplo, Carlinhos foi instruído pelo tio a mentir
para a polícia, afirmando que o tio não estava no barraco e que não sabia
se havia droga ali. Ver o tio morto por um traficante rival ou capturado
pela polícia, ou até mesmo morto em troca de tiros com a polícia, seria
um evento aversivo para Carlinhos e que, entretanto, poderia ser evita
do com uma mentira para a polícia. Mentir para a polícia e ficar ansioso
em relação a ela são respostas mantidas por um esquema de reforço ne
gativo. O contexto mais amplo da yida de Carlinhos não parece oferecer
esquemas concorrentes com esse. rede social de Carlinhos é precária,
e ele conta com a amizade de outro^ meninos e meninas que vivem uma
realidade parecida. Juntos, realizam trabalhos eventuais, vigiando carros
INDEX
em feiras ou vendendo bugigangas 40 trânsito. Confrontar ou driblar a
polícia tem valor de sobrevivência, e pequenos furtos e roubos são apro
vados socialmente, além de render'coisas pelas quais seria difícil pagar:
tênis de marca, smartphones, etc. Asjsumindo que essa seja uma interpre
tação aceitável para os comportanientos transgressores de Carlinhos e
de seu grupo de amigos, todos em situação de risco de delinquir, o ana
lista do comportamento passa da interpretação para a estratégia —isto
BOOKS
é, a um plano geral para alcançar um resultado esperado. O resultado
desejado é que Carlinhos e seus amigos respondam em esquemas con
correntes com esses esquemas em vigor. Para isso, uma estratégia pode
ria contemplar o fomento dos comportamentos de: 1) adequação a con
textos sociais diversos (relacionados com habilitações para o mercado de
trabalho, habilidades sociais, aproximação habilidosa de pares afetivos,
etc.); 2) autoproteçáo (alternativos a ficar contra a polícia e contra a
GROUPS
lei); 3) autoconhecimento (descrevendo as variáveis controladoras das
respostas envolvidas em expor-se ao risco de morte e descrevendo o que
está fazendo pelo seu futuro); e ainda, 4) autocontrole.
N a inspiradora tese de doutoramento de Conte,'5 o leitor pode
conhecer um projeto universitário da Universidade Estadual de Lon
drina, no Paraná, que reuniu esforços de empresas, as quais ofere
ciam estágios para meninos como Carlinhos, de analistas do com
portamento, envolvidos em ações estratégicas como a descrita aqui,15
15 Conte (1996).
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As táticas
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a estratégia. Permanecendo no exemplo de Carlinhos, o analista do
comportamento podería treinar multiplicadores para, na Sede da Co
munidade do Bairro, monitorar a realização das tareias escolares e re
forçar comportamentos considerados virtuosos (solidariedade, fideli
dade, respeito, amor, disciplina, etc.). Os analistas do comportamento
poderíam, por exemplo, conduzir atendimentos grupais e/ou indivi
duais na sede comunitária para tratar de comportamentos de auto
BOOKS
controle para cada adolescente em seu contexto de vida; monitorar a
inscrição e o comparecimento às oficinas que capacitam para o mer
cado de trabalho; e reforçar relações interpessoais cordiais no estágio
oferecido por empresas.
Na literatura, há relatos interessantes do aproveitamento das con
dições infraestruturais para prevenir a ocorrência de comportamentos
indesejáveis. Por exemplo, em um projeto estadunidense, as futuras
GROUPS
mães, ao ingressarem no sistema de saúde para atendimento obstetrí-
cio, receberam também orientações para evitar comportamentos opo
sitores em seus filhos, os quais são comuns aos dois anos de idade, o
que resultou na prevenção desses comportamentos.16
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Com preendendo a prática do analista do com portam ento
As técnicas
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-filosófico. Havendo consistência nesse ponto, o analista do compor
tamento sente-se à vontade para tomar emprestadas técnicas de outras
tradições em Psicologia, desde que sejam compreendidas e validadas
de um ponto de vista comportamental. Por exemplo: podemos usar as
técnicas de role-playing, associação livre ou outras advindas de práticas
distintas em Psicologia, desde que sejam convenientes a uma interven
ção fundamentada em interpretações estritamente comportamentais.
BOOKS
Há um ditado que diz: “Se seu único instrumento é um martelo,
tudo para você é prego” . Ele alerta para o apego indesejável às técni
cas, e o quanto isso pode obscurecer a realidade que o profissional tem
à sua frente. Assim, o analista do comportamento busca ser criativo,
curioso, explorador e eclético quando o assunto são as técnicas.
A reflexão
GROUPS
Não poderiamos escrever sobre a atuação do analista do com
portamento sem mencionar a reflexão que ele faz sobre sua prática. A
própria posição epistemológica (pragmatista) do analista do compor
tamento o obriga a admitir que sua prática seleciona e é selecionada
por eventos de seu contexto de atuação. Refletir sobre isso é a única
possibilidade de romper com tendências inconsistentes com os valores
de um analista do comportamento. O principal valor do analista do
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S kínner, B. E [1953]. Ciência e comportamento humano. Tradução de João
Carlos Todorov et al. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______ . [1974]. Sobre o behaviorismo. Tradução de Maria da Penha Villa
lobos. São Paulo: C ultrix/ED U SP, 1982.
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Capítulo 1 —U m a introdução ao Behaviorism o...
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Capítulo 2
Contribuições da Análise do
Com portam ento para o ensino
de pessoas com necessidades
educacionais especiais
D á n ie l a M e n d o n ç a R ib e ir o
INDEX
A pesquisa em Análise Experimentai do Comportamento resul
tou em descrições dos princípios que regem o comportamento huma
no. A compreensão desses princípios, por sua vez, estabeleceu condi
ções para que a Análise do Comportamento individual fosse aplicada a
problemas de comportamento socialmente relevantes, tais como atra
sos intelectuais, crimes, doenças mentais e educação.2 A aplicação dos
princípios comportamentais a essas demandas sociais caracterizou o
BOOKS
início da Análise Aplicada do Comportamento, já comentada breve
mente no primeiro capítulo deste livro.
Tanto a pesquisa básica ou experimental quanto a pesquisa aplica
da em Análise do Comportamento têm contribuído significativamente
para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem e para o de
senvolvimento de programas de ensino de diferentes habilidades para
diversas populações, especialmente para pessoas com deficiências ou
GROUPS
necessidades educacionais especiais.3 Dessa maneira, encontra-se uma
vasta literatura nacional e internacional sobre a aplicação dos princí
pios comportamentais à Educação e à Educação Especial. O objetivo
deste capítulo é apresentar as principais contribuições da Análise do
Comportamento para o ensino, com ênfase no ensino de pessoas com
necessidades educacionais especiais. Inicialmente, serão apresentadas a
1 À época da redação do capítulo, a autora escava afiliada à Universidade Federal de São Carlos.
2 Baer, Wolf e Risley (1968).
3 Para compreender quem são os alunos com necessidades educacionais especiais no sistema educacional
brasileiro, ver a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inelusiva (B rasil, 2008).
O p ro c e sso d e e n sin o -a p re n d iz a g e m
INDEX
tivas foi realizada por Thorndike no final do século XVIII. A partir de
estudos de comportamentos de gatos, cachorros e pintinhos famintos
em caixas-problema, Tliorndike formulou a Lei do Efeito4 e foi o res
ponsável por fazer da aprendizagem, particularmente aprendizagem
por consequências recompensadoras, um conceito central em Psicolo
gia. Sua teoria influenciou o trabalho de Skínner, no entanto seu suces
sor discordava de sua ênfase em sensações agradáveis e desagradáveis
BOOKS
como elemento de fixação de respostas.
Para estudar experimentalmente os efeitos das consequências
do comportamento de animais, Skinner desenvolveu um aparelho,
que, como vimos no primeiro capítulo deste livro, ficou conhecido
como “caixa de Skinner” . Com essas caixas, foi possível explorar a
unidade básica de Análise do Comportamento, a tríplice contingên
cia e identificar os princípios que embasam a sua mais importante
GROUPS
descoberta, o condicionamento operante.5 A definição dos princí
pios, como reforçamento, punição e extinção, representou um avan
ço no conceito de aprendizagem, proposto por Thorndike.6
4 De acordo com a Lei do Efeito, a aprendizagem è principal mente uma questão de gravar respostas
corretas e eliminar respostas incorreras, a partir de suas consequências agradáveis ou desagradáveis, isto é, de
recompensas ou punições. Para uma descrição mais detalhada das caixas-problema de Thorndike e de seus
estudos que levaram à formulação da Lei do Efeito, ver Catanía ([1998] 1999).
5 O condicionamento opecante foi descrito no livro O comportamento dos organismos ( S k in n e r , 1938).
6 Para uma descrição mais completa dos avanços do conceito de condicionamento operante em relação
à Lei do Efeito de Thorndike, ver Skinner ([1933] 2003).
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Capítulo 2 - Contribuições da Análise do Comportamento...
INDEX
C o n trib u iç õ e s d a A n á lise d o C o m p o rta m e n to
p a r a o en sin o
A tecnologia do ensino
BOOKS
re-se ao fato de que, na escola, os objetivos a serem atingidos não são
claramente definidos, o que impede saber por onde começar, onde
chegar e como avaliar até onde o aluno chegou. Outra falha é que não
se aplicam métodos que considerem as leis da aprendizagem como um
planejamento de ensino de acordo com o repertório e o ritmo de cada
aluno e a apresentação de consequências reforçadoras contingentes aos
comportamentos a serem ensinados.9
GROUPS
As insatisfações de Skinner com os métodos tradicionais, asso
ciadas ao conhecimento dos princípios do comportamento humano,
motivaram-no a propor sua tecnologia de ensino,10 a mais conhecida
aplicação educacional de seu trabalho. Sua proposta consiste na aplica
ção dos métodos de modificação comportamental no desenvolvimento
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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(por exemplo, livros e computadores) e apresentar diferentes materiais
de ensino (o que depende do conteúdo a ser ensinado), sua aplicação
é orientada por alguns princípios básicos. Segundo Holland,13 esses
princípios são: (1) reforçamento imediato: que previne a perda da efe
tividade da consequência como reforçadora; (2) o material é planejado
de modo que o aluno esteja sempre correto: ele necessariamente emi
tirá uma resposta correta, que será reforçada, criando condições para a
BOOKS
aprendizagem; (3) progressão gradual para o estabelecimento de reper
tórios complexos: o programa de ensino evolui em uma sequência de
passos cuidadosamente planejados, cujo grau de complexidade vai do
simples para o complexo. Cada passo deve ser tão pequeno de modo
a obter-se sucesso e, ao mesmo tempo, avançar para um pouco mais
perto do comportamento desejado. A máquina assegura que esses pas
sos sejam dados em uma ordem cuidadosamente prescrita; (4) esvane-
GROUPS
cimento gradual de dicas (descrito mais detalhadamente no subtópico
procedimentos de ensino); (5) controle sobre comportamentos de ob
servação e ecoicos: a máquina mantém o aluno atento, pois ele segue
adiante apenas após a conclusão de um passo de ensino; (6) ensino de
discriminações complexas, como a formação de conceitos e abstração;
e (7) o aluno é quem direciona o programa de ensino: o planejamen
to do material deve estar sob o controle das respostas do aluno, Se o
1] Para uma descrição mais detalhada da tecnologia do ensino de Skinner, ver Bandini e de Rose (2006).
12 Skinner (1968).
13 Holland (1960).
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de outro não serve a objetivo algum quando são usadas máquinas de
ensinar. Além disso, o professor passa a ser o responsável pela elabo
ração do programa de ensino apresentado pela máquina. O programa
de ensino, portanto, é o verdadeiro material instrucional e é dele que
depende o sucesso das máquinas.
A aplicação da tecnologia comportamcntal ao ensino inspirou o de
senvolvimento de metodologias baseadas nos princípios da instrução pro
BOOKS
gramada. Encontram-se descrições de métodos de ensino direcionados a
cursos completos de educação básica e superior, assim como para o ensino
de habilidades acadêmicas, de linguagem e de vida diária para crianças pe
quenas e pessoas com deficiências. Para ilustrar uma dessas metodologias,
será apresentado o Sistema de Ensino Personalizado.14
GROUPS
O Sistem a de Ensino Personalizado (PSI)
14 Traduzido do inglês Persorialized System c f Instruction (PSI). Também é denominado O Plano K iüer
ou O M étodo KtlU r, uma vez que Fred Keller foi o mais ardente defensor do PSI (Fax, 2004). A escolha do
PSI deu-se por pelo menos duas razões. A primeira delas é que o PSI foi desenvolvido no Brasil e marca a
introdução da Análise do Comportamento no país. A segunda razão refere-se ao fato dele ter sido eleito um
dos quatro métodos de ensino que possuem vasta evidência empírica de sua eficiência para ser incluído no
livro Evtdm ct-based tducational m ttbods (M oran; M alott, 2004). Os outros três métodos apresentados na
obra são: D irect Instruction, Com putcrixed Teaching e Precision Teaching.
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gostam mais da experiência acadêmica proporcionada por ele do que
a pelo ensino tradicional. Para exemplificar, uma revisão comparativa
entre 400 artigos sobre PSI e cursos em formato tradicional mostrou
que em 398 trabalhos o índice de aprendizagem, bem como a opinião
dos alunos sobre a metodologia, foi favorável ao PSI.16
Em seu artigo seminal sobre o método, Keller17 descreveu as
cinco características básicas do PSI, que o distinguem dos métodos
BOOKS
de ensino tradicionais: (1) ritmo próprio de aprendizagem: o aluno
avança pelo programa em uma velocidade adequada a suas habili
dades e a outras demandas de seu tempo; (2) exigência de domínio
do conteúdo: o avanço para um novo passo depende do domínio do
passo anterior; (3) aulas expositivas e de demonstrações como fontes
de motivação, e não como veículos de transmissão de informação,
para que os alunos estudem e extraiam do material o seu conhecimen
GROUPS
to; (4) ênfase na palavra escrita: todas as orientações e conteúdos são
apresentados na forma escrita; e (5) a participação de monitores, que
fornecem feedback imediato para os alunos e fomentam os aspectos
sociais do processo de ensino-aprendizagem.
Essas características são derivadas do objetivo geral do PSI, de
promover ao aluno o domínio do conteúdo do curso. Domínio não
significa responder com perfeição, mas minimizar erros fundamentais
15 Fox (2004). Para mais detalhes da aplicaçáo do PSI na UnB, verTodorov e Hanna (2010).
16 Kulik (1976).
17 Keller (1968).
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aluno domina um passo de ensino.
Outra característica revolucionária do PSI está relacionada ao pa
pel do professor, que, além de ser o responsável por acompanhar a
aprendizagem de cada aluno e planejar o programa de ensino, tem
a função de supervisionar o trabalho de monitores. Os alunos esta
rão em contato constante com eles e ocasionalmente com o professor,
podendo este contato ser presencial ou virtual, quando a internet for
BOOKS
utilizada. Pode-se programar grupos de estudos entre os alunos, assim
como contingências para que os alunos com melhor desempenho aju
dem seus colegas.1819
De acordo com Todorov, Moreira e Martone,1!) a flexibilidade do
PSI é uma de suas qualidades mais atraentes, pois permite o uso de uma
variedade de recursos educacionais, tradicionais ou não. Potencialmen
te, disciplinas e cursos de quaisquer áreas de conhecimento podem ser
GROUPS
elaborados a partir do PSI. O essencial é que o material seja cuidadosa
mente reformulado de maneira a incluir resumos explicativos, recursos
audiovisuais, textos auxiliares, roteiros de estudo, pequenos testes que
podem ser feitos e corrigidos várias vezes, entre outros recursos, de acor
do com os objetivos da disciplina. Essa reelaboração do material didá
tico melhora sua qualidade e permite que todas as informações críticas
18 Moreira (2004),
19 Todorov, Moreira e Marrone (2009).
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A m e to d o lo g ia d e en sin o p a ra p e sso a s c o m
n e c e ssid a d e s e d u c a c io n a is e sp e c ia is
BOOKS
a superação de déficits e excessos comportamentais seja alcançada por
meio da manipulação de condições ambientais, o que faz do ensino
direcionado a essa população um terreno fértil para a aplicação dos
princípios comportamentais.
Além dos princípios da instrução programada, essa abordagem
contribui para o desenvolvimento de programas de ensino para alunos
com necessidades educacionais especiais por meio de estratégias para a
GROUPS
seleção dos objetivos comportamentais, sua avaliação e a identificação
de reforçadores, assim como para o ensino de novos comportamentos
e a redução de comportamentos-problema.
20 Id. ibid.
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para o ensino de conceitos matemáticos que corresponde à sequência
natural da aquisição desses conceitos pelas crianças. Para definir os ob
jetivos de ensino desse programa, os autores propuseram uma defini
ção operacional de conceito de número na lorma de um conjunto de
comportamentos que permitem a inferência de que a criança tem o
conceito de número. Eles identificaram a seguinte sequência de obje
tivos, que foram apresentadas na forma de passos a serem ensinados:
BOOKS
1) contar até 5; 2) contar até 10; 3) discriminação receptiva e leitura
de numerais escritos até 5; 4) discriminação receptiva e leitura de nu
merais escritos até 10; 5) comparar tamanhos de conjuntos; 6) ordenar
os numerais; 7) realizar as operações de adição e subtração; 8) resol
ver equações; 9) contar até 20; e 10) discriminação receptiva e leitura
de numerais escritos até 20. Após a identificação desses objetivos, fo
ram identificados os componentes, assim como os pré-requisitos para
GROUPS
a aprendizagem de cada um deles. Em relação aos passos 1 e 2, foram
identificados os seguintes componentes: a) recitar os numerais em or
dem; b) dado um conjunto de objetos, contar os objetos, removendo-
-os do conjunto à medida que se conta; c) dado um conjunto de obje
tos com ordem fixa, contar os objetos; d) dado um conjunto de objetos
sem ordem fixa, contar os objetos; e) diante de um numeral ditado e
de um conjunto de objetos, contar o número especificado; 0 diante de
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
Avaliação
INDEX
nentes de cada um dos passos de um programa, deve-se conhecer o
que o aluno é capaz de fazer. Para isso, podem ser aplicados testes que
verifiquem o desempenho do aluno em cada objetivo de ensino. Os
testes devem ser direcionados para a emissão do comportamento des
crito no objetivo e conduzidos sempre na ausência de reforçamento. Se
o objetivo é contar objetos, por exemplo, o professor pode apresentar
conjuntos de objetos e instruir o aluno a contar.
BOOKS
O teste informa a presença ou ausência do comportamento-alvo.
Dessa forma, os testes refletem diretamente os objetivos do programa
e definem muito explicitamente o que se espera que o aluno aprenda.
Há duas maneiras de se testar os objetivos de ensino. Uma delas é
aplicar um teste em que sejam avaliados alguns componentes de cada
passo de ensino. O aluno pode avançar ou falhar em cada passo, sen
do que, nos passos em que o aluno falhar, deve-se testar cada um dos
GROUPS
componentes para determinar exatamente quais objetivos devem ser
ensinados. Outra maneira de se testar os objetivos é testar todos os
componentes do primeiro passo e seguir pelos passos subsequentes até
que o aluno pare de avançar pelos testes. Esse é o momento em que o
ensino começa.23
Quando o aluno alcança o critério em um passo, ele é retestado e,
se necessário, reensinado. A medida que o aluno avança ao longo dos
passos de ensino, um teste do próximo passo a ser ensinado garante
23 íd. ibid*
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Capítulo 2 —Contribuições da Análise do Comportamento.
que objetivos que ele tenha aprendido sem ensino direto náo sejam
ensinados novamente. Os testes repetidos possibilitam o acompanha
mento constante da aprendizagem do aluno. Além disso, fornecem
elementos para avaliação e monitoramento do programa de ensino.
INDEX
e consequências que façam com que esse comportamento reapareça em
condições semelhantes. As condições para o surgimento de novos com
portamentos são criadas a partir da apresentação de dicas e da utilização
de procedimentos de ensino, que serão descritos abaixo. As condições
para a manutenção do comportamento, por sua vez, referem-se à rela
ção entre o comportamento e consequências reforçadoras.
Ao se planejar um programa de ensino, é necessário conhecer
BOOKS
quais consequências funcionam como reforçadoras para o aluno. Ex
ceto no caso dos estímulos reforçadores primários, que funcionam
como reforçadores para todas as pessoas, as propriedades reforçado
ras de outras consequências funcionam de maneira diferente. Elas são
aprendidas de acordo com nossas experiências individuais, sendo que
não é possível dizer a priori que uma consequência será reforçadora
para o aluno. Por isso, deve-se conduzir um levantamento dos itens de
GROUPS
preferência. Esse levantamento não garante que os itens sejam de fato
reforçadores, mas produz uma variedade de itens que podem desem
penhar essa função de maneira efetiva e facilitar o processo de ensino.
O teste final do valor reíòrçador será o quanto cada item fortalece a
relação entre ele e o comportamento que o precedeu, o que será veri
ficado pelo aumento da frequência do comportamento em condições
semelhantes às quais ele ocorreu inicial mente.
Especialmente no ensino de alunos com necessidades especiais, é
importante conduzir um teste sistematizado para que o aluno entre em
contato com os itens que serão apresentados como consequências para
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Compreendendo 3 prática do analista do comportamento
suas respostas corretas durante o ensino e para que esses itens sejam
organizados em uma hierarquia de preferência. H á diversas maneiras
de se realizar esse levantamento, sendo que duas delas, o procedimen
to de escolha forçada24 e o de múltiplos estímulos,25 têm sido as mais
recomendadas para essa população.
Ambos procedimentos são iniciados com uma entrevista com o
aluno ou com seus pais ou responsáveis. Durante essa entrevista, de
vem-se identificar itens comestíveis, brinquedos e atividades de inte
resse do aluno, assim como seu interesse por reforçadores sociais (por
exemplo, elogios, abraços, cócegas). Os itens indicados nas entrevistas
são categorizados e testados por meio de um dos procedimentos. No
INDEX
procedimento de escolha forçada, cada item de uma categoria é apre
sentado em par com cada um dos demais itens da mesma categoria, e
o aluno é instruído a escolher o de sua preferência. Sugere-se que, após
a primeira escolha de cada item, o aluno tenha contato com ele por
um breve período de tempo. Após a apresentação de todos os pares, os
itens são classificados em níveis alto, médio e baixo de preferência. No
procedimento com múltiplos estímulos, todos os itens de uma catego
BOOKS
ria são apresentados simultaneamente e o aluno é instruído a escolher
um deles. Após a escolha de um item, o aluno também deve entrar em
contato com ele. Em seguida, esse item é removido, os itens restantes
são reorganizados e o aluno é instruído a escolher um novo item, o que
é repetido até que reste apenas um item disponível para escolha. Todo
o procedimento deve ser repetido por pelo menos três vezes, para se
calcular a porcentagem de preferência de cada item. O cálculo é feito
GROUPS
através da divisão do número de vezes em que o item foi escolhido
pelo número de objetos disponíveis na tentativa, e as porcentagens são
ordenadas da mais alta para a mais baixa preferência. Sugere-se que os
reforçadores estejam sempre disponíveis e que sua apresentação seja
variada durante o ensino.
Independentemente do procedimento escolhido para ensinar
uma habilidade, inicialmente, todas as respostas corretas devem ser
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tamento de sua ocorrência em ambiente natural, onde nossos com
portamentos não mais produzem consequências reforçadoras em cada
uma de suas ocorrências. A aprendizagem do aluno é demonstrada
nos testes, que são conduzidos na ausência de reforçamento após o
ensino de cada passo do programa. A falha no teste, assim como na
aquisição do comportamento durante o ensino, pode ocorrer porque
as consequências não estão exercendo sua fúnçio reforçadora. Nesses
BOOKS
casos, novos testes de preferência devem ser conduzidos, inclusive com
itens novos, e o ensino deve ser reintroduzido, substituindo as conse
quências reforçadoras.
GROUPS
Além da manipulação das consequências, responsáveis pela ma
nutenção dos comportamentos ensinados, o planejamento de ensino
envolve a seleção de procedimentos que levem à primeira emissão do
comportamento desejado.
As d icas e o esvanecimento. A utilização de dicas é uma das ma
neiras de se estabelecer novas relações entre estímulos discriminativos
e comportamentos. As dicas são incorporadas aos procedimentos de
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INDEX
de prestar atenção às atividades acadêmicas.2M
O esvanecimento é um procedimento que promove uma apren
dizagem sem erros, por promover mudanças graduais, tanto em pro
priedades físicas dos estímulos quanto na sobreposição de estímulos,
as quais partem de pistas mais salientes até sua total retirada, quando o
aluno passa a responder aos estímulos em suas formas finais.29 O início
do ensino ocorre por meio do reforçamento de uma relação entre um
BOOKS
estímulo e um comportamento que o aluno já conheça ou possa apren
der facilmente. Em seguida, os estímulos são gradualmente alterados até
chegar à relação entre estímulo e comportamento que se deseja ensinar.
Em um dos estudos pioneiros sobre o esvanecimento, Ribes-Ines-
ta30 descreveu um procedimento para ensinar um dos componentes do
repertório de leitura, a relação entre palavras ditadas e palavras impres
sas, também denominada leitura receptiva, para alunos com atraso no
GROUPS
desenvolvimento cognitivo, que combinava procedimentos de escolha
de acordo com o modelo (matching-to-sample - M TS) e de esvaneci
mento. Um dos objetivos do estudo foi avaliar se a discrepância de
cores entre os estímulos comparação correto e incorreto serviría como
estímulo discriminativo para o aluno selecionar a palavra correta. Ini
cial mente, as palavras apresentadas com a função de estímulo modelo
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Capitulo 2 - Contribuições da Análise do Comportamento...
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era possível propor um número maior de passos de esvanecimento.
Além do esvanecimento de dicas visuais durante o ensino de habi
lidades de leitura receptiva,31 o esvanecimento dc dicas na forma de ro
teiros impressos tem sido utilizado no ensino de habilidades sociais para
crianças com autismo32 e no ensino, manutenção e generalização de ha
bilidades de vida diária para pessoas com deficiência intelectual leve.33
M odelação ou im itação. Outra maneira de se provocar o apare
BOOKS
cimento de um comportamento pela primeira vez é através da mode
lação ou imitação.34 A imitação é um tipo de aprendizagem por obser
vação, que é a habilidade de adquirir novas respostas como resultado
da observação do comportamento de um modelo. O comportamento
de imitar ocorre porque a probabilidade das pessoas serem reforçadas
pelas mesmas consequências que reforçam o comportamento do mo
delo geralmente é alta.35
GROUPS
No entanto, o reforçamento direto de comportamentos imitati-
vos é necessário para que eles sejam (re) produzidos e mantidos. Baer,
Peterson e Sherman36 demonstraram que, após o reforçamento de al
gumas respostas imitativas, outras podem ser evocadas sem que sejam
reforçadas. Esta generalização de respostas foi denominada imitação
31 Id. ibid.
32 Nicolino c Malcrbi (2011).
33 Cuvoetal. (1992).
34 Skinner (1968).
35 Kel ler e Schoenfeld (19 30).
36 Bacr, Peierson c Sherman (1967).
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
Grande parte da aprendizagem da criança e do adulto ocorre por
meio da imitação. Como estratégia de ensino, a imitação é conside
rada eficaz e econômica em sala de aula,37 quando outras formas de
ensino podem produzir consequências muito aversivas. Estudos têm
demonstrado que a imitação pode ser utilizada como procedimento
para o ensino de discriminações condicionais para participantes com
deficiência intelectual38 e de linguagem para crianças com autismo39 e
BOOKS
como estratégia de correção para respostas incorretas durante ensino
através de modelagem.40
Encadeam ento. O princípio básico do encadeamento reside no
fato de grande parte do nosso repertório comportamental consistir em
séries de respostas e não em unidades isoladas de comportamento, nas
quais uma resposta em geral produz o estímulo para outra. Muitas de
nossas atividades de vida diária, como escovar os dentes, tomar banho,
GROUPS
lavar louças, manusear um caixa eletrônico, assim como ordenar os
elementos em uma frase e resolver problemas matemáticos, requerem a
emissão de uma sucessão de respostas, sendo que a emissão insatisfató
ria de uma resposta pode comprometer a execução de toda a atividade.
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Capítulo 2 - Contribuições da Análise do Comportamento...
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ordenação completa. No encadeamento para trás, ensina-se primeira-
mente a última resposta da cadeia, aquela mais próxima do reforçador
final, e as demais respostas são ensinadas gradativamente, do final para
o início da sequência completa de respostas.
O encadeamento tem se mostrado eficaz no ensino de habilidades
de vida diária,42 motoras43 e de sequências numéricas para pessoas com
atraso no desenvolvimento.4445
BOOKS
Equivalência de estím ulos, O paradigma de equivalência de
estímulos43 tem sido utilizado para investigar empiricamente formas
complexas de linguagem e contribuído para o desenvolvimento de
procedimentos de ensino para pessoas de todas as idades, com ou sem
necessidades educacionais especiais. De acordo com Sidman,46 a equi
valência de estímulos é o resultado direto de contingências de refor-
çamento, que produzem pelo menos dois tipos de resultado: unidades
GROUPS
analíticas e relações de equivalência.
A unidade analítica de quatro termos (estímulo condicional, es
tímulo discriminativo, resposta e consequência) é denominada discri
minação ou relação condicional. O procedimento utilizado para gerar
discriminações condicionais é o de M TS. Nesse procedimento, dois ou
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
vra impressa CACH ORRO (C l) diante da palavra ditada “cachorro”
(A l) são seguidas por consequência reforçadora. D a mesma maneira, a
seleção da figura de um gato (B2) ou da palavra impressa GATO (C2)
diante da palavra ditada “gato” (A2) são seguidas por consequência re
forçadora. A relação entre o estímulo modelo e o estímulo comparação
pode ser de identidade, quando as características físicas dos estímulos
são idênticas, e simbólica ou arbitrária, quando os estímulos modelo e
BOOKS
comparação são fisicamente diferentes.47
Após o ensino de pelo menos duas relações entre os estímulos,
como AB e AC, por exemplo, as demais relações devem ser testa
das (BC e CB). As relações entre os estímulos são consideradas uma
relação de equivalência se apresentarem as três propriedades de sua
definição matemática: reflexividade, simetria e transitividade. A re-
flexividade refere-se a uma relação entre um estímulo A e ele mesmo,
GROUPS
quando A é apresentado juntamente com outros estímulos. Esse res
ponder ilustra uma relação de identidade entre os estímulos. A sime
tria refere-se à reversibilidade das discriminações condicionais. Essa
propriedade é demonstrada quando, após o ensino das relações AB
e AC, observa-se a emergência de BA e de CA. A transi tividade de
monstra a substitutibilidade mútua entre os estímulos A, B e C e é
evidenciada pela emergência das relações BC e C B.48
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Capítulo 2 - Contribuições da Análise do Comportamento...
INDEX
impressas quando a figura correspondente era apresentada (BC) e de
selecionar cada uma das figuras quando a palavra impressa correspon
dente era apresentada (CB). O fato de essas relações terem emergido
demonstra que o participante formou classes de estímulos envolvendo
cada palavra impressa juntamente com as respectivas figuras e palavras
ditadas. O participante também era capaz de nomear (D) as figuras
antes do estudo, e, após a formação das classes de estímulos, as pala
BOOKS
vras impressas passaram a exercer também controle sobre a resposta
de nomear, de modo que o participante tornou-se capaz de ler as 20
palavras impressas. Esses resultados mostram que se um desses estímu
los já exerce controle sobre uma resposta, os novos membros da classe
também adquirem controle sobre essa resposta.
A emergência de relações entre os estímulos e de respostas não di
retamente ensinadas representa a principal contribuição do paradigma
GROUPS
de equivalência de estímulos: a economia de ensino. Segundo Stromer,
Mackay e Stoddard,50 são três os aspectos de economia de ensino: 1) a
rede de relações condicionais permite que se identifiquem quais relações
já estão presentes no repertório do aluno e quais estão ausentes e devem
ser ensinadas, dessa maneira, não se repete o ensino das relações existen
tes; 2) ao ensinar duas relações entre os estímulos, observa-se a emergên
cia de outras relações, que não precisam ser diretamente ensinadas, mas
49 Sidman (1971).
50 Stromer, Mackay e Stoddard (1992).
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
devem ser testadas para se ter certeza de que elas realmente emergiram; e
3) as classes de estímulos já formadas podem ser expandidas e, em casos
de expansão, não é necessário associar o novo estímulo a todos os estí
mulos daquela classe, mas a apenas um de seus membros.
Desde o estudo inicial de Sidman,51 uma vasta corrente da li
teratura tem se preocupado em identificar os estímulos, assim como
as relações, que compõem repertórios acadêmicos e de linguagem. A
caracterização desses repertórios como uma rede de relações permite
com que se planeje a ordem de apresentação das relações durante as
etapas de ensino e de teste, identificando-se assim os pré-requisitos
para o estabelecimento do repertório final desejado. Esses estudos têm
INDEX
contribuído para o desenvolvimento de programas individualizados de
ensino de leitura e de escrita para crianças com dificuldades na apren
dizagem desses repertórios52 e de conceitos e de operações matemáticas
para pessoas com deficiência intelectual.53
Ensino p o r exclusão. No início da década de 1970, Vincent-
-Smith, Bricker e Bricker54 demonstraram que crianças pequenas
aprenderam discriminações condicionais entre palavras e objetos facil
BOOKS
mente em um contexto em que objetos não familiares foram apresen
tados juntamente com objetos familiares. Esses resultados inspiraram
estudos subsequentes sobre o que passou a ser denominado como fe
nômeno da exclusão55 e aprendizagem por exclusão.56
Os estudos sobre exclusão geralmente usam o procedimento de
M TS para ensino de relações arbitrárias entre estímulos auditivos e
visuais. Em tais procedimentos, o participante aprende inicialmente a
GROUPS
selecionar estímulos comparação visuais, como objetos, figuras e pala
vras impressas, condicionalmente às palavras ditadas como estímulos
modelo. As relações ensinadas geralmente são denominadas familiares,
considerando que tenham sido instaladas por meio de contingências de
reforçamento. Durante o procedimento de exclusão, um estímulo não
51 Sidman (1971).
52 de Souza e de Rose (2000).
53 Rossit e Ferreira (2003).
54 Vincent-Smilh, Bricker e Bricker (1974).
55 Dixon (1977).
56 Mcílvane e Stoddard (1981).
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Capítulo 2 - Contribuições da Análise do C om portam ento...
INDEX
de exclusão também tem sido comparado a procedimentos baseados
em tentativa e erro e demonstrado menor número de erros no ensino
de relações entre estímulos auditivos e visuais e da nomeação de estí
mulos visuais.61
BOOKS
inadequados
GROUPS
emissão de comportamentos-problema, tais como esquiva de tarefas,
ataques de raiva, autoagressão ou agressão em relação aos colegas, que
podem comprometer a segurança de todos os alunos e prejudicar se
riamente o processo de ensino e aprendizagem.
57 Dixon (1977).
58 de Rose, de Souza e Hanna (1996).
59 Medeiros, Monteiro e Silva (1997).
60 Dixon (1977).
6L Ferrari, de Rose e Mellvane (1993).
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
pondo que a criança é agressiva. Uma avaliação funcional do com
portamento pode identificar que esse comportamento ocorre sempre
que a professora propõe uma atividade a ser realizada em sala de aula.
Como consequência de atirar o material no chão, a professora mostra
preocupação e fornece atenção para o aluno. Além disso, ele consegue
diminuir ou atrasar as atividades acadêmicas propostas pela professora.
A literatura descreve pelo menos três formas de se conduzir uma
BOOKS
análise funcional: entrevistas, observação direta e manipulações experi
mentais.64 As entrevistas podem ser realizadas com os pais ou responsá
veis, amigos e professores do aluno. As observações devem ser feitas em
momentos em que o comportamento tem probabilidade de ser emiti
do. Durante a observação, deve-se identificar e registrar aspectos como:
onde e quando o comportamento ocorre, com quem ocorre, com que
frequência e o que acontece antes e depois que o comportamento ocor
GROUPS
re. Essas informações devem ser registradas em folhas planejadas de
maneira a conter três colunas, em que são especificados os anteceden
tes, os comportamentos e as consequências. As manipulações experi
mentais consistem na modificação de antecedentes e consequentes para
determinar as características do ambiente que predizem e influenciam
o comportamento-problema. Geralmente, os fatores responsáveis pela
manutenção desses comportamentos podem ser categorizados em duas
INDEX
um avanço na compreensão e no tratamento de comportamentos-
-problema e levaram a uma diminuição no uso da punição.69 Após
a condução da análise funcional e a identificação da função do com
portamento-problema, o passo seguinte é suspender a consequência
reforçadora para se reduzir a frequência do comportamento, operação
denominada extinção.70
Além da suspensão da consequência reforçadora que mantém o
BOOKS
comportamento-problema, é necessário também ensinar comporta
mentos adequados que possam substituí-lo. Por exemplo, no caso da
criança que joga objetos no chão para chamar a atenção da professora,
como comportamento alternativo, pode-se ensiná-la a pedir a atenção
de outra pessoa de maneira adequada. De maneira análoga, no caso de
comportamentos-problema controlados por esquiva, um comporta
mento alternativo pode ser alguma forma de o aluno pedir ajuda para o
GROUPS
professor durante a execução de tarefas difíceis. Uma vez que a atenção
é fornecida, a tarefa não será mais aversiva e, como consequência, os
comportamentos de esquiva diminuirão.71
65 Sailoretal. (1968).
66 Wahler (1969).
67 Carr e Durand (1985),
68 Iwata et al. (1982), Carr e Durand (1985).
69 Pelios et al. (1999).
70 Catania ([1998] 1999).
71 Carr e Durand (1985).
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Compreendendo a prática do analista do com portam ento
INDEX
C o n sid e ra ç õ e s fin ais
BOOKS
especiais. Sáo dois os aspectos fundamentais dessas contribuições: elas
implicam na sistematização do ensino, que permite que se acompanhe
individualmente a aprendizagem dos alunos, e possuem uma vasta evi
dência empírica de sua eficácia no ensino de pessoas com deficiência.
Nos dias atuais, o reconhecimento da eficácia da aplicação dos
princípios comportamentaís, especialmente no ensino de crianças com
autismo, levou diversos estados americanos e províncias canadenses a
GROUPS
financiar tratamentos educacionais baseados na Análise do Comporta
mento. Em todo o mundo, surgiram muitas instituições de ensino que
seguem os princípios comportamentaís. No Brasil, as escolas mais co
nhecidas estão localizadas no Estado de Sáo Paulo e são: o Centro Ann
Sulivan em Ribeirão Preto, a Associação de Amigos do Autista (AMA)
em São Paulo e o Centro de Estudos e Desenvolvimento do Autismo
e Patologias Associadas (C edap ), pertencente à A pae de Pirassununga.
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Sugestões de leitura
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Capítulo 3
A Análise do C om portam ento e
o trabalho com indivíduos com
problem as de conduta
A l e x E d u a r d o G a llo
INDEX
Questões relacionadas à violência são diariamente apresentadas
pela imprensa, o que evidencia um problema de saúde pública, pois
várias pessoas morrem, assim como de segurança pública, uma vez que
0 Estado precisa manejar e coibir tais ocorrências. Não deixa de ser
também um problema de educação, se for considerada a trajetória de
vida que levou pessoas a praticarem crimes.
Violência pode ser definida de diversas formas. Williams1 su-
BOOKS
mariza as diversas definições existentes apontando que violência está
relacionada à agressão. Em sua revisão, essa autora aponta que, para
Hacker e Loeber e Stouthamer-Loeber,2 agressão seriam atos que in
fligem danos corporais ou psicológicos menos sérios, enquanto vio
lência seriam atos agressivos que causam danos graves. Para Wistedt e
Freeman,3 agressão seria mais ampla que violência, pois incluiría pala
vras ou ações ameaçadoras e irritabilidade. Para Parke e Sawin,4 agres
GROUPS
são seria um rótulo cultural, resultado de um julgamento social por
parte do outro, e Chauí5 define violência como uma realização deter
minada das relações de força, tanto em termos de classes sociais quanto
em termos interpessoais. Já Sidman e Andery e Sério6 relacionam a de
finição de violência com coerção. Esses poucos exemplos mostram que
1 Williams (2002).
2 Hacker (1973), Loeber e Stouthamer-Loeber (1998).
3 Wistedt e Freeman (1994).
4 Parke e Sawin (1997).
5 Chauí (1985).
6 Sidman (1989), Andery e Sério (1998).
INDEX
contexto onde ela ocorreu (na escola, no trânsito, no estádio ou na
residência). Em todos os casos, essa violência pode ter sido física, psi
cológica ou sexual, o que implica em classes de comportamentos que
causam danos físicos, psicológicos ou de natureza sexual.
O que leva uma pessoa a praticar tais atos agressivos? O compor
tamento humano é muito complexo e não é determinado por um sim
ples conjunto de variáveis, mas multideterminado por relações entre
BOOKS
variáveis biológicas, ambientais e culturais.8 Em uma análise funcio
nal9 é possível identificar de quais variáveis o comportamento é fun
ção. Isto é, identificar quais variáveis controlam o responder agressivo.
Esse processo é fundamental para se definir estratégias de intervenção
específicas para cada caso.
Dessa forma, modelos de intervenção com indivíduos com pro
blemas de conduta requerem estratégias diferentes, considerando as
GROUPS
funçóes dos comportamentos apresentados.
C a u sa s d a a g re ssã o
78
INDEX
comparada à de gêmeos fraternos é devida a fatores genéticos e que
estes sem dúvida influenciam o surgimento de conduta agressiva.
Estudos genéticos ainda são poucos e os resultados não são con
clusivos. Após a conclusão do projeto G enom a ,13 que tinha como ob
jetivo mapear toda a cadeia de D NA humano, os estudos começaram
a investigar as funções de cada gene, ou seja, quais proteínas seriam
sintetizadas e metabolizadas sob controle de genes específicos. Esses
BOOKS
estudos ainda estão no começo, com resultados apontando a possível
correlação entre alterações em alguns genes específicos e a ocorrência
de comportamentos agressivos.14
Apesar dos possíveis determinantes biológicos do comportamen
to agressivo, fatores ambientais teriam uma expressão maior. Em rela
ção aos fatores ambientais, a American Psychological Society15 enume
rou vários, como punição extrema, estressores relacionados à pobreza,
GROUPS
problemas na família e uso de álcool e drogas.
Adolescentes com vínculos pouco efetivos com a família têm maior
probabilidade de se envolverem em infrações. A disciplina pouco con
sistente e ineficiente está relacionada ao comportamento delituoso.16
10 Webster-Stratton (1998).
11 Gallo c Williams (2005).
12 Cbrisciansen e Knussmann (1987).
13 International Human Genome Sequendng Gonsortium {[2001] 2014).
14 Gallo e Williams (2005).
15 American Psychological Society (1997).
16 Gomide (2003), Silva (2000).
79
INDEX
qual a pessoa revida com objetivo de destruir a fonte aversiva.
Pessoas de qualquer classe social estão sujeitas à violência domésti
ca, embora as famílias mais favorecidas economicamente tenham mais
facilidade de esconder seus comportamentos abusivos, A primeira in
fluência importante para a criança é a família, mas esta é membro inte
rativo de um sistema maior de instituições sociais, como escolas, traba
lho, sistema de saúde e serviços de cuidados às crianças.18 Portanto, in
BOOKS
tervenções com a família são prioritárias em se tratando de prevenção.
Cicchetti1'’ afirma que os maus-tratos à criança têm mostrado,
de modo consistente ao longo de 30 anos de pesquisa, uma influência
negativa sobre o desenvolvimento muito acima dos efeitos da pobreza.
A pobreza não é causa em si dos maus-tratos, mas o estresse provocado
por ela é um forte fator de risco.
Gallo e Williams20 apontam que a coerção no ambiente familiar
GROUPS
tem sido relacionada a vários estressores, como conflitos familiares,
conjugais e dificuldades econômicas. Adolescentes com histórico de
problemas de conduta geralmente vivem em famílias monoparentais,
como apontado por Gallo e Williams e Lopes.21 A mulher, na maio
ria das vezes chefiando essas famílias, lida com o estresse de prover
17 Sidman (L989).
18 Zicgl er, Taussig e Black (1992).
IV Cicchecri (2004).
20 Gallo e Williams (2005).
21 Id. ibid., Lopes (2012).
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Capítulo 3 - A Análise do Com portam ento e o trabalho co m ...
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ficuldades de socialização podem levar à rejeição por parte dos pais
e/ou negligência, caracterizada por ciclos cada vez maiores de disci
plina coercitiva, vitimização e exposição à violência doméstica, sen
do que esta pode levar à ocorrência de comportamentos agressivos,
incompetência social, rejeição por parte dos colegas, dificuldades
acadêmicas (especialmente compreensão de leitura e matemática).
Essas dificuldades acadêmicas podem levar a problemas de discipli
BOOKS
na, afilíação a grupos de pessoas violentas ou transgressoras, abuso
de substâncias, gerando mais violência doméstica, que por sua vez
podem levar a atividades parentais inadequadas de supervisão, con
flitos coercitivos entre os pais e adolescentes. A consequência pode
ser a exposição a ambientes violentos de alto risco para a família e a
vizinhança, o que resulta em envolvimento com o sistema judiciário.
Apesar dos fatores de risco contribuírem para a determinação de
GROUPS
comportamentos agressivos, muitas crianças e jovens, mesmo sob a
influência de tais fatores, se desenvolvem sem apresentar comporta
mentos violentos, sendo adaptadas a lidar com os estressores ambien
tais. Esse processo decorre da atuação dos fatores de proteção.23 Fato
res de proteção são entendidos como condições ou variáveis que dimi
nuem a probabilidade do indivíduo desenvolver problemas.24 Acesso
a cuidados médicos, inclusive no pré-natal e pós-parto, moradia de
22 Meichenbaum (2001).
23 Gallo e Williams (2005). Werner (1998).
24 Guralnick (1997).
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
O a d o le sc e n te em co n flito co m a le i
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rantiram, inclusive, a manutenção da cultura.
Apesar da importância íilogenética, na sociedade contemporânea
a agressividade não pode ser unicamente explicada pela nossa herança
genética, mas pela modelagem, em nível ontogenético. Dessa forma,
o comportamento agressivo, como o bater, pode ser reforçado nega
tivamente. Na presença de algum estímulo aversivo, responder agres
sivamente provoca a remoção da estimulação aversiva. Um compor
BOOKS
tamento agressivo também pode ser reforçado positivamente quando
provoca o ganho de um estímulo apetitivo, porque a definição de estí
mulo reforçador depende do aumento da probabilidade de ocorrência
de uma dada resposta, o que pode ser constatado posteriormente, após
se verificar que houve efetivamente aumento da frequência da resposta.
Diante de uma situação de privação, a criança pode responder
agressivamente; morder, bater ou chutar pode resultar no ganho de
GROUPS
alimento, brinquedos ou atenção. Diante de uma situação aversiva, a
criança pode bater ou chutar e afastar a outra criança que a estava im
portunando. Nesse último caso, bater é reforçado negativamente. Por
quê? Em uma situação aversiva, como outra criança importunando,
provocando, “tirando sarro” , ao bater, afasta-se esse estímulo aversivo,
o que pode ter como subproduto a sensação de alívio.
Nesses casos, as famílias intervém, muitas vezes punindo o com
portamento agressivo. Assim, a criança vai aprendendo outras formas
25 Cicchetci (2004).
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Capítulo 3 - A Análise do Com portam ento e o trabalho co m ,..
INDEX
e estatísticas oficiais apontam que a maioria é do sexo masculino (em
torno de 80%), com idade média de 16 anos.
Grande parte dos adolescentes em conflito com a lei é primá
ria, ou seja, é a primeira vez que passam pelo sistema de justiça. Isso
não implica que seja a primeira vez que praticam uma infração, mas
somente a primeira vez que foram “pegos" pela polícia. O fato de a
maioria ser primária também n&o implica que as intervenções realiza
BOOKS
das no processo socioeducativo sejam efetivas, implicando na não rein
cidência, mas em uma lacuna no sistema, sendo que, a próxima vez em
que forem presos, possivelmente sejam maiores de idade, passando por
outro sistema de justiça, como adultos, não entrando nas estatísticas
sobre adolescentes.
Infrações variam de acordo com as características da instituição
onde se encontram, ou seja, se estão cumprindo medida socioeduca
GROUPS
tiva em meio aberto, como liberdade assistida e prestação de serviços
à comunidade, a infração mais comum seria furto; se estiverem cum
prindo medida em regime fechado ou semiaberto, as infrações mais
comuns seriam tráfico de drogas e roubo.
Ainda, a grande maioria não frequentava a escola e apresentava
baixa escolaridade. O número de jovens vivendo em famílias mo-
noparentais fica entre 50% e 70% . Assim como os filhos, os pais
apresentam baixa escolaridade e exercem funções laborativas pouco
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
um conjunto de estratégias que os pais usam para educar, socializar e
controlar os comportamentos dos filhos.
Dentre as práticas parentais, que serão mais bem discutidas adian
te, a família define regras e limites. Regras são, segundo Paracampo e
Albuquerque,29 estímulos antecedentes verbais que podem descrever
contingências, isto é, o comportamento a ser emitido, as condições sob
as quais ele deve ser emitido e suas prováveis consequências. Além de
BOOKS
a família definir regras, é necessário estabelecer consequências diferen
ciais para o cumprimento e o não cumprimento dessas regras.
O comportamento de seguir regras também é importante no am
biente escolar. Estudantes que não seguem as regras acadêmicas aca
bam sendo reprovados, não adquirem os repertórios e conhecimentos
definidos no currículo, podendo se comportar de forma disruptiva em
sala de aula. Por essa razão, são frequentemente excluídos do sistema
GROUPS
de ensino. Desistem porque não conseguem aprender, sendo que o
ambiente fora da escola se torna mais reforçador ou porque estão en
volvidos em conflitos e sendo punidos e ameaçados.
Após essa breve trajetória da família para a escola, pode-se anali
sar estratégias de intervenção.
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Capítulo 3 - A Análise do Com portam ento e o trabalho c o m ...
In te rv e n ç ão n o s c a so s d e c o m p o rta m e n to
ag re ssiv o
INDEX
conflito com a lei, que apresenta diversos comportamentos agressivos
bem instalados, a intervenção com a família pode ajudar a amenizar
os conflitos (nível terciário). Quando a criança ou adolescente é enca
minhado pela escola, com queixa de problemas de comportamento,
especialmente agressividade, a intervenção com os pais pode resolver
esses problemas (nível secundário). Quando a criança não apresenta
problemas, mas os pais procuram aprender estratégias mais efetivas, o
BOOKS
trabalho com a família é em nível primário de prevenção.
Além disso, trabalhando com a família no desenvolvimento de
repertórios de seguir regras do adolescente, tais repertórios poderíam
generalizar para outros contextos, como o escolar, o que refletiría no
nível de escolaridade dessas crianças e adolescentes.
O que trabalhar com os pais? Estudos sobre práticas parentais
em diferentes contextos têm mostrado bons resultados.30 Gallo et ai.31
GROUPS
avaliaram os efeitos de um programa de intervenção que teve como
objetivo ensinar práticas parentais a oito mães de crianças com quei
xas clínicas de problemas de comportamento. Tal programa foi uma
replicação de Gallo e Williams,32 que originalmente foi feito com
mães de adolescentes em conflito com a lei. Vários temas foram traba
lhados, como o estabelecimento de regras e limites e análise funcional
dos comportamentos dos filhos.
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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filho faz algo desejado, ele “não teria feito mais que a obrigação”. Des
sa forma, eles não estariam provendo consequências adequadas, que
reforçariam comportamentos desejáveis, colocando-os em extinção.
Diferentemente, quando os filhos fazem algo errado, há reclamações,
broncas, brigas e até mesmo agressões físicas e psicológicas. Segundo
Gomide,34 tal atenção, mesmo parecendo ser aversiva, pode ser refor-
çadora, mantendo os comportamentos antissociais.
BOOKS
Em revisão de literatura sobre programas de intervenção envol
vendo a família, com o objetivo de estabelecer estratégias funcionais
para manejo de comportamentos inadequados dos filhos, os seguintes
temas aparecem com frequência:35
D ificuldades em lid a r com o estresse. Muitos pais que procu
ram serviços especializados para lidarem com comportamentos ina
dequados dos filhos apresentam queixas de estresse, assim como pos
GROUPS
sivelmente estejam submetidos a condições aversivas, potencialmente
estressoras. E importante ensinar estratégias para lidar com o estresse,
incluindo relaxamento.
A nálise fu n cion al de com portam entos. Os comportamentos
antissociais que crianças e adolescentes apresentam são mantidos por
reforçadores. Especificamente, em cada caso, sob controle de quais
contingências esses comportamentos ocorrem? Os pais, aprendendo
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Capítulo 3 - A Análise do Com portam ento e o trabalho c o m ...
INDEX
regra. Diferentes famílias apresentam um conjunto específico de re
gras, portanto não existem regras a priori para serem estabelecidas. É
importante que cada família discuta quais regras seriam válidas para
seu contexto.
M elhor uso de disciplina pelos p ais. Após aprender a discutir
e definir as regras adequadamente, os pais precisam aprender como
consequenciar diferencialmente o cumprimento e o não cumprimen
BOOKS
to das regras. Isto é, quando os filhos respondem adequadamente, os
pais fornecem elogios e benefícios, e quando os filhos não respeitam as
regras, a disciplina a ser utilizada precisa ser adequada, e nunca devem
ser usados castigos físicos e/ou humilhantes.
O q u e sã o p rá tic a s p a re n ta is?
GROUPS
Práticas parentais são entendidas como um conjunto de práticas
que os pais utilizam para socializar e controlar os comportamentos dos
filhos.36 Teoricamente, as práticas são divididas em sete, sendo duas
consideradas positivas, que promovem comportamentos pró-sociais,
e cinco negativas, que promovem comportamentos antissociais. As
práticas positivas são a monitoria positiva e o comportamento moral.
Monitoria positiva significa os pais terem conhecimento da rotina dos
36 Gomide (2004).
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INDEX
D isciplin a relaxada. Falta de estabelecimento de regras e apli
cação de consequências diferenciais para o seu cumprimento e não
cumprimento.
Punição inconsistente. Dependente do estado de humor dos
pais, independendo do comportamento da criança,
No trabalho do analista do comportamento, quando se traba
lham as práticas parentais, são discutidas com os participantes as dife
BOOKS
renças entre cada prática. São dados exemplos de cada uma das variá
veis, explicando as consequências.
Quando existe punição inconsistente, as crianças aprendem a
discriminar o humor dos pais, e a consequenciação de seus compor
tamentos independe do que tenham feito. Com a disciplina relaxada,
os filhos aprendem que seus comportamentos inadequados não serão
punidos e sempre existirá uma forma de evitarem (se esquivarem das)
GROUPS
as punições. A monitoria negativa ensina os jovens a mentirem em
função das relações estressantes com os pais.
R egras
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Capítulo 3 - A Análise do C om portam ento e o trabalho co m ...
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tênis”, “guardar os brinquedos" e assim por diante. Ainda assim, ar
rumar a cama envolve uma série de respostas, como esticar o lençol,
colocando as pontas por debaixo do colchão, cobrir com a coicha e ou
tras. O entendimento dessas classes de respostas depende da idade dos
filhos. Para um adulto, um mando verbal “arrume a cama" é facilmen
te seguido, pois a comunidade verbal já o ensinou. Uma criança pe
quena pode ter dificuldades em seguir essa regra, portanto a descrição
BOOKS
precisaria ser mais precisa, detalhando as respostas esperadas. Além da
descrição utilizada, é importante considerar o custo de resposta. Não
seria apropriado uma criança pequena fazer faxina na casa, mas ela
poderia lavar o copo, por exemplo. Regras que para seu cumprimento
exigem respostas com alto custo seriam inadequadas.
Depois das regras apresentadas, ou seja, os comportamentos ade
quadamente descritos, levando-se em conta o custo de resposta, é ne
GROUPS
cessário definir as consequências. Estudos sobre controle aversivo39
têm apresentado efeitos diferentes para punição positiva em relação
à negativa, ou punição positiva versus negativa. Não é objetivo deste
capítulo apresentar discussões teóricas sobre o assunto, o que reque
rería mais estudos. Porém, uma análise superficial indica proposições
37 Sidtnan (1989).
38 Gomide (2003).
39 Gongora, Mayer e Mona (2009). Wielewicki, Santos e Costelini (2011).
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
uma semana sem televisão também seria difícil de cumprir, pois os pais
irão assistir à T V (a não ser que eles também se privem), e quem irá
controlar o acesso a ela quando os filhos estiverem sozinhos? Retirada
de benefícios, como sair com amigos, o programa de T V preferido,
acesso a redes sociais ou comunicadores, incluindo celular, pode ser
mais viável. Perda de sobremesa, doces, mas nunca de refeições básicas,
também pode ser um tipo de castigo viável.
BOOKS
Após discutir as consequências, levando-se em consideração as
preferências dos filhos (não adianta dizer que ficará sem bicicleta se o
filho raramente a usa) e o tempo de duração do castigo, a regra está
concluída. Agora, os comportamentos foram descritos, as condições
nas quais eles seriam apresentados e as consequências, aceitas. Nes
se processo, é sempre importante os pais saberem negociar. Os filhos
podem não concordar com uma semana sem acesso à internet e argu
GROUPS
mentar no sentido de se mudar o prazo ou acesso restrito a algumas
funções para trabalhos escolares somente.
Outro ponto relevante, além de definir as consequências para o
não cumprimento das regras, é a necessidade de valorizar o seguimen
to adequado. Consequências sociais são gratuitas e podem ser usadas
abundantemente, como elogiar os comportamentos socialmente ade
quados e valorizar o empenho dos filhos. Biscouto42 aponta relatos
40 Sidman (1989).
41 Gongora, Mayer e Motta (2009).
42 Biscouto (2012).
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S o b re a p u n iç ã o físic a
Por que punição física não deve ser utilizada? Alguns pais dizem
INDEX
“é claro que não vou machucar, mas um tapa é necessário”. Como de
finir que um tapa não machuca? Seria a intensidade ou a força do tapa?
Então, qual seria a força suficiente para ser aversiva, mas não machu
car? E o outro problema: como administrar essa força precisamente?
Não é possível responder a essas questões e esta é uma das razões
pelas quais punição física não deve ser utilizada. Além disso, a punição
é aplicada quando os filhos fazem algo errado, gcralmente "tirando os
BOOKS
pais do sério”; então, na hora da raiva, a punição tende a ser muito mais
severa. Gomide43 sugere que os pais nunca consequenciem os compor
tamentos inadequados quando estão bravos ou com raiva. Nesse caso,
deixar o filho no quarto enquanto os pais se acalmam, para depois apli
carem as punições negociadas anteriormente, seria uma boa estratégia.
Uso da punição física ensina duas coisas às crianças: bater em ou
tra pessoa ou qualquer outra forma de agressão é socialmente aceitável
GROUPS
em caso de comportamentos inadequados e é possível usá-lo como
estratégia de resolução de problemas. Bater é reforçado pelas conse
quências naturais do comportamento, ou seja, eu posso conseguir algo
quando agrido uma pessoa (reforço positivo) ou posso eliminar uma
fonte aversiva (reforço negativo). Weber, Viezzer e Brandenburg44 dis
cutem as opiniões dos filhos em relação a punição física por parte dos
pais, apontando que dos 472 participantes, 75,2% concordaram que,
43 Gomide (2003).
44 Weber, Viezzer e Brandenburg (2004).
91
E stu d o s e m p íric o s
INDEX
Intervenção com os país pode ser suficiente para reduzir proble
mas de comportamento. Gallo e Williams e Gallo et al.45 apontam
bons resultados desse tipo de intervenção. Gallo e Williams, ensinan
do habilidades parentais a mães de adolescentes em conflito com a lei,
identificaram que as poucas sessóes de intervenção foram suficientes
para as participantes aprenderem habilidades parentais, porém os re
sultados não foram significativos para aumentar as práticas adequadas,
BOOKS
somente diminuir as inadequadas.
Gallo et al.46 obtiveram resultados semelhantes aos do estudo de
Gallo e Williams,47 porém com características diferentes. No estudo
de 2010, participaram pais de crianças com problemas de comporta
mento e não adolescentes em conflito com a lei (estudo de 2010). Um
dos problemas enfrentados nos dois estudos foi a baixa adesão, ou seja,
grande parte dos participantes desistiram da intervenção antes do seu
GROUPS
término, com a justificativa de falta de tempo, mas Gallo e Williams48
apontaram que a baixa adesão foi decorrente do interesse dos pais,
pois eles buscavam atendimento para os filhos e não tinham motivação
para aprenderem a lidar e, consequentemente, manejarem os compor
tamentos das crianças.
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
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Instituto Zero a Seis. Disponível em: <http://www.zeroaseis.org.br/>. Aces
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<http://www.laprev.ufscar.br/fotosslideshow>. Acesso em: 15 jul. 2014.
Rede "Não Bata, Eduque”. Disponível em: <http://www.naobataeduque.
org.br/>. Acesso em: 15 jul. 2014.
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Capítulo 4
O trabalho do analista do
com portam ento em Psicoterapia
J u l ia n a C r i s t i n a D o n a d o n e
INDEX
Neste capítulo, pretende-se apresentar de forma sucinta o tra
balho do analista do comportamento na psicoterapia analítico-com-
portamental. Sendo assim, e também com o intuito de desmistiiicar
alguns equívocos comuns, trataremos de fazer: (a) um breve histó
rico da terapia analítico-comportamental e da pesquisa em clínica;
(b) uma recapitulação dos princípios básicos da Análise do Com
portamento; (c) a apresentação dos principais aspectos da terapia
BOOKS
analítico-comportamental, da avaliação diagnóstica e da interven
ção; (d) uma breve explicação do método da análise funcional do
comportamento; e (e) uma análise do papel do psicólogo e da relação
terapêutica desenvolvida na clínica.
GROUPS
-c o m p o r ta m e n ta l e p e sq u isa em c lín ic a
INDEX
plo. Após inúmeras discussões, chegou-se ao uso do termo “terapia
analítico-comportamental”. Segundo Meyer,3 a escolha de tal termo
se deve ao fato de que ao utilizá-lo há uma identificação imediata da
fundamentação teórica na qual essa terapia é baseada e, além disso, já
vem sendo utilizado há muito tempo em diferentes áreas para referir-se
a outras práticas baseadas na Análise do Comportamento.
Observa-se que o trabalho clínico na abordagem comportamen
BOOKS
tal é muito recente e encontra-se ainda em processo de transformação.
Zamignani et al.4 apontam que os primeiros relatos de intervenções
clínicas comportamentais advêm de trabalhos realizados em ambien
tes “fechados”, mais especificamente em instituições, A escolha por tais
ambientes deveu-se ao fato de que nesses ambientes os terapeutas/pes-
quisadores tinham melhor acesso e maior controle das variáveis ambien
tais que produziam os comportamentos dos indivíduos que sofriam a
GROUPS
intervenção. Supunha-se que tais ambientes fechados eram similares aos
laboratórios de pesquisa básica, onde ao se modificar o ambiente seria
modificado também o comportamento, o que permitiría uma maior
generalização dos resultados para o ambiente natural do indivíduo. Não
é de se estranhar que críticas a respeito da artificialidade das interven
ções rapidamente surgissem.
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Capítulo 4 - 0 trabalho do analista do comportamento em Psicoterapia
INDEX
condução de análises de comportamento experimentais ao afirmar que
BOOKS
que uma relação funcional específica não siga
leis, nem que o comportamento que ocorre
em qualquer dada situação não é totalmente
determinado. Isto simplesmente significa que
nós precisamos ter certeza de que levamos em
conta todas as variáveis relevantes ao fazer uma
previsão ou ao conrrolar o comportamento.6
GROUPS
Meyer et al. apontam duas possíveis conclusões a respeito da pes
quisa em clínica. A primeira delas é que
5 Id. ibid.
6 Skinner 0 9 5 7 . p. 228).
99
INDEX
lidade externa. Ou seja, ao se isolar variáveis,
os casos estudados diferem muito da prática
clínica usual. Isso não quer dizer que estudos
experimentais, especialmente os com delinea-
mento de caso único, não devam ser condu
zidos sobre a prática clínica. A sistematização
do que um clínico faz e o estabelecimento de
BOOKS
quais práticas produzem resultados considera
dos satisfatórios têm importância e utilidade.
Mas essa tarefa não é de fácil execução, e mes
mo quando o controle de variáveis é feito, a
generalidade dos dados para a prática clínica
é baixa, uma vez que o controle e manipula
ção de variáveis tendem a tornar o contexto da
GROUPS
pesquisa clínica numa situação artificial.7
100
INDEX
o trabalho com uma classe ampla de respostas
produzirá maior generalidade e manutenção
de resultados terapêuticos. Também observa
mos e testamos o efeito de múltiplas variáveis.8
BOOKS
amplo conhecimento dos princípios básicos e filosóficos deve ser ad
quirido. O próximo tópico fará uma revisão breve de tais princípios.
GROUPS
Segundo Meyer et al.,9 a grande contribuição de B. F. Skinner foi
desenvolver uma filosofia (Behaviorismo Radical) e a ciência do com
portamento (denominada de Análise do Comportamento). Como vi
mos no capítulo 1, a Análise do Comportamento é entendida como um
campo do saber que integra produções filosóficas, reflexivas, interpreta-
tivas, empíricas (experimentais e não experimentais) e aplicadas. Esses
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Compreende tido a prática do analista do comportamento
BOOKS
que se comporta e o ambiente no qual está inserido; ou dito de ou
tra maneira, “comportamento é entendido como a interação recíproca
que existe entre o organismo e o ambiente”.10
Nesta afirmação, tais autores ressaltam que é a partir dessa rela
ção interadonal que tanto o organismo quanto o ambiente passam a
produzir efeitos um sobre o outro, o que faz com que se modifiquem
mutuamente, ou seja, o organismo “origina alterações no ambiente e é
GROUPS
modificado por essas mudanças” .11
Observa-se, então, que o objeto da Análise do Comportamento
não é apenas o comportamento em si, mas o comportamento em in
teração com o ambiente. Isolar apenas o comportamento e ignorar a
interação com o ambiente é tão pouco útil quanto rótulos arbitrários
ou constructos hipotéticos para explicar algo.
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Capítulo 4 - 0 trabalho do analista do comportamento em Psicoterapia
INDEX
de seu ambiente e de si mesmo. Não se trata,
entretanto, dc um indivíduo onipotente, já
que ele é determinado pelas consequências de
seu comportamento e não tem total controle
sobre estas consequências; ele pode modifi
car seu ambiente, mas é um produto deste
ambiente.13
BOOKS
A m biente
GROUPS
E no ambiente que se estabelece a ocasião (antecedente) para a ação
(resposta) do indivíduo, verbal ou não verbal, que então produz conse
quências no ambiente, que determinam a probabilidade de ocorrência
de novas ações do indivíduo.
Para uma análise de relação comportamento/ambiente, então,
devemos levar em consideração três processos de seleção, já comen
tados no capítulo 1, que sobrepostos e associados determinarão as
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Compreendendo a prática do analisei do comportamento
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ração entre aprendizagem respondente e operante. É basicamente na
ontogênese que o terapeuta analítico-comportamental mais enfocará
sua atuação, já que neste nível de seleção a possibilidade de produzir
mudanças e observá-las é maior do que no caso da fílogênese (náo
há como mudar estruturas fisiológicas e genéticas) e cultura (que se
modifica de geração em geração). O último processo de seleção a de
terminar a ação do organismo é a cultura. Segundo Skinner,15 práticas
BOOKS
culturais correspondem a casos especiais de aplicação do conceito de
comportamento operante, uma vez que o efeito é sobre o grupo e não
sobre membros individuais. Esse autor também salienta que novas
práticas culturais têm origem na variação do comportamento indivi
dual, mas são selecionadas por suas consequências para o grupo.
A partir da compreensão do que se refere à Análise do Compor
tamento ao falar de comportamento e ambiente, assume-se uma com
GROUPS
preensão selecionista do comportamento, ou seja, assume-se que todo
o comportamento (por mais bizarro que possa parecer) desempenha
uma função. Se o comportamento náo tivesse uma função, este não se
manteria no repertório do indivíduo.
15 Skinner (1981).
104
V isão m onista de h om em
INDEX
que determinam tanto as queixas como as condições de mudança do
cliente. Sendo assim, o analista do comportamento estuda o papel que
o ambiente desempenha sobre as respostas do cliente (um ambiente
em que é possível interferir), ao invés de supor a existência de eventos
mentais com possíveis funções causais.
Entender o homem a partir da visão monista altera a forma de
atuar do terapeuta analítíco-comportamental, uma vez que se afasta
BOOKS
a possibilidade de explicar comportamentos a partir de psiquismos
ou estruturas adjacentes às quais não há possibilidade de acesso ou
modificação. Skinner17 critica as explicações que consideram que as
causas dos comportamentos e dos problemas emocionais encontram-
-se no interior do indivíduo (ou em seu psiquismo), explicações estas
adotadas por diversas psico terapias. O conceito de modelagem, como
processo por meio do qual o comportamento é moldado, tomando
GROUPS
forma a partir de reforçamento de aproximações sucessivas, é central
para a compreensão da instalação e da transformação do repertório ao
longo da vida.18
105
INDEX
públicos) devem ser explicados com base nos determinantes ambien
tais, de natureza material.
Segundo Tourinho et al.,’9 eventos privados podem participar
de uma diversidade de fenômenos comportamentais, com diferentes
graus de complexidade, em um continuum que pode envolver desde
fenômenos de base estritamente filogenética até fenômenos compor
tamentais complexos.
BOOKS
Assim, tanto os comportamentos públicos quanto os privados,
nesse caso, os sentimentos e pensamentos, merecem especial atenção
na psicoterapia, não só por fornecerem ao terapeuta informações valio
sas sobre o cliente, mas, conforme Abreu e Guilhardi, porque “o com
portamento de sentir assume enorme importância, pois o cliente, em
grande parte do tempo, fala sobre sentimentos”.1920 Segundo Skinner,
“os terapeutas preocupam-se tanto com o que as pessoas fazem quanto
GROUPS
com o que elas sentem” ,21 e ainda:
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Capítulo 4 - 0 trabalho do analista do com portam ento em Psicoterapia
INDEX
caso.25 Este, então, é o motivo de terapeutas analítico-comportamen-
tais realizarem intervenções únicas com seus clientes.
BOOKS
ensinar aos indivíduos a aquisição e manutenção de comportamentos
mais adaptativos, buscando promover seu bem-estar e o da socieda
de. Para que isso seja possível, todo o processo requer do terapeuta
a coleta de informações, a identificação e análise funcional do pro
blema, o planejamento e programação da intervenção e, também, a
avaliação dos resultados. Abreu e Guilhardi relembram que os pro
dutos de análise do terapeuta comportamental são os componentes
da tríplice contingência:
GROUPS A situação antecedente (a relação entre a res
posta e os estímulos que a antecedem e que
estavam presentes na ocasião em que ela foi
consequenciada), a resposta e a consequência
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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siste, não em levar o paciente a descobrir a solução para o seu proble
ma, mas em mudá-lo de tal modo que seja capaz de descobri-la”.29
Para Tourinho e Luna, o que se espera do terapeuta, numa psi-
coterapia de abordagem analítico-comportamental, é que ele seja um
bom observador, estando atento aos comportamentos que são emiti
dos dentro ou fora do ambiente clínico, como, por exemplo, em casa,
na escola ou no trabalho - que são fontes tão valiosas quanto os relatos
BOOKS
verbais trazidos nas sessões, e tudo sem deixar de prestar atenção “à for
ma com que o cliente interage com ele durante a sessão terapêutica”.30
Segundo estes autores:
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Capítulo 4 - 0 trabalho do analista do comportamento em Psieoterapia
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tando hipóteses para, posteriormente, testar a validade de diferentes
formas de intervenção. Assim sendo, espera-se que ele exerça a criati
vidade, frente a todos os recursos disponibilizados pelo modelo con
ceituai e experimental do Behaviorismo Radical e da Análise do Com
portamento, tal como a sensibilidade para com as particularidades de
cada caso, por mais que a atuação terapêutica seja conceicualmente
sistemática. Portanto, “a terapia analídco-comportamental é uma for
BOOKS
ma de prestação de serviços que utiliza o arcabouço teórico da Análise
do Comportamento e o conhecimento de pesquisas básicas e aplicadas
para a solução de problemas humanos” .32
GROUPS
O terapeuta comportamental busca compreender a função dos
comportamentos por meio da análise de contingências (estímulo an
tecedente - resposta - estímulo consequente), que fornece a ele um
quadro geral do caso clínico do cliente e é, também, a base central para
suas intervenções.33 Mas, antes de falar-se em intervenção, é preciso ter
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
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sendo emitidos e mantidos para, em seguida, compreender quais tipos
de consequências eles produzem.
Sturmey36 reforça esse conceito ao apontar que diferentemente da
abordagem médica, em que os indivíduos sáo enquadrados em grupos
que apresentam os mesmos sintomas e medicamentados, na aborda
gem analítico-comportamental o interesse do terapeuta não recai no
diagnóstico em si, mas na compreensão dos determinantes ambientais
BOOKS
que causam, controlam e mantêm os comportamentos do indivíduo.
De modo geral, conforme Rangé e Silvares,37 um diagnóstico
comportamental de caso visa estabelecer, uma vez determinado um
ponto de partida, os objetivos a serem seguidos e metas a serem alcan
çadas no decorrer da terapia, estabelecendo-se como um instrumento
dinâmico, descritivo e que pode ser modificado na medida em que
novas informações a respeito do cliente surgirem.
GROUPS
O mais importante é que a análise funcional não é utilizada uni
camente como um instrumento para a construção do diagnóstico de
um caso, mas também no processo de intervenção e avaliação da te
rapia. Isso quer dizer que o instrumento tanto de diagnóstico como
de intervenção é o mesmo. Assim, a intervenção na terapia analítíco-
-comportamental, tal como o processo diagnóstico, é realizada a partir
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Capítulo 4 - 0 trabalho do analista do comportamento em Psieotetapia
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com a participação de eventos (estímulos e res
postas) públicos e privados. Para isso, a análi
se de contingências é o instrumento básico e
imprescindível, seja na avaliação da queixa do
cliente, seja no delineamento, aplicação e ava
liação da própria intervenção. A intervenção
pode ser dirigida a diferentes componentes da
BOOKS
tríplice contingência, ou seja, mudanças po
dem ser propostas para alterar antecedentes,
respostas ou consequentes. Os comportamen
tos do terapeuta durante as sessões para atingir
tais objetivos podem ser classificados como for
necimento de regras, favorecimento de autorre-
gras, fornecimento de estimulação suplementar
38 Id. ibid.
39 Tourinho e Luna (2010, p. 172).
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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Embora haja uma literatura empírica relativamente ampla sobre
análise funcional na Psicologia Clínica, os desenvolvimentos teóricos e
a análise conceituai do termo têm recebido surpreendentemente pou
ca atenção explícita e não têm sido bem conhecidos. Algumas revisões
clássicas são as de Owens e Ashcroft, Samson e McDonnell, McDon-
nell e Samson, Jones e Owens e Sturmey.41
Para Skinner, as variáveis externas das quais os comportamentos
BOOKS
são função dão origem ao que pode ser chamado de análise funcional.
40 Id. ibid.
41 Owens e Ashcroft (1982), Samson e McDonnell (1990), McDonnell e Samson (1992), Jones e Owens
(1992), Srurmey (1996).
42 Skinner ({1974] 1982, p. 38).
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Capítulo 4 —0 trabalho do analista do comportamento em Psicoterapia
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tos sobre o comportamento de interesse; e (f) testar essas prediçóes.
Ainda para Meyer,43 seguir estes passos é importante principal
mente para os terapeutas iniciantes que ainda não estão amplamente
familiarizados com tal instrumento, sendo a análise funcional de extre
ma importância no trabalho do clínico.
Meyer44 também destaca que há inúmeras vantagens em se rea
lizar análises funcionais na prática clínica. Entre elas, estão: (a) iden
BOOKS
tificar as variáveis importantes para a ocorrência de um fenômeno, e
permitir intervenções futuras; (b) planejar condições para a generali
zação e a manutenção de fenômenos; e (c) ao identificar em que classe
de comportamentos uma determinada resposta se inclui, ou em que
classe de estímulos uma determinada mudança ambiental se situa, po
demos trabalhar com respostas e/ou estímulos equivalentes.
Assim, se a resposta identificada não for adequada, podemos
GROUPS
substituí-la por outra mais aceitável, e que, por pertencer à mesma
classe, continuará a produzir os mesmos reforçadores que a respos
ta anterior; além disso, se uma condição ambiental não estiver mais
disponível, podemos recorrer à outra condição ambiental equivalente,
na certeza de que esta nova condição continuará a exercer o controle
desejado sobre a resposta em questão; ainda via uma análise funcional,
pode-se até mesmo planejar esta transferência de funções de estímulos
43 Meyer (2005).
44 Id. ibid.
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e, por fim, tais análises podem ser realizadas a longo prazo, isto é, entre
eventos que estão separados por um intervalo de tempo entre si. Deve-
-se ressaltar também que análises funcionais, por não estarem funda
mentadas em aspectos estruturais, permitem uma explicação histórica,
e protegem os analistas do comportamento de conceitos mediacio-
nistas como memória, informação, trauma, decodificação, complexos,
etc. Ou seja, uma análise funcional nada mais é do que uma análise das
contingências responsáveis por um comportamento ou por mudanças
nesse comportamento.
INDEX
O p a p e l do p sic ó lo g o e a re la ç ã o te ra p ê u tic a
BOOKS
com o cliente têm acesso à história de vida, formas de relações estabe
lecidas entre indivíduos e o mundo e as consequências dessas relações.
É decorrente, então, daí a importância da relação terapêutica.
GROUPS
Prado e Meyer46 afirmaram que, na literatura sobre terapia com-
portamental, há, de fato, um consenso — por parte da maioria dos
autores - sobre a importância da relação terapêutica para o progresso
na terapia, embora, para muitos, o papel por ela empenhado ainda
seja secundário no processo de mudança. Talvez, porque, de acordo
com Meyer et al,, “não é em todos os casos que respostas de acolhi
45 Banaco (2000).
46 Prado e Meyer (2004).
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Capítulo 4 - 0 trabalho do analista do comportamento em Psícoterapia
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amostra dos padrões de interação que ele es
tabelece com o seu ambiente social e que, ao
interagir com o terapeuta, são desenvolvidos
novos padrões de interação. A modelagem de
repertório social, por meio do reforço dife
rencial na interação terapêutica, seria então a
principal estratégia a ser empregada pelo tera
BOOKS
peuta. Para isso, supõe-se o terapeuta como al
guém que pode dispor de reforçadores sociais
em que o cliente é (ou se torna, ao longo da
terapia) sensível.49
GROUPS
tes, que acreditam que ela tem um grande peso para sua melhora.50
Horvath e Greenberg51 demonstraram, em pesquisas realizadas sobre a
relação terapêutica, que uma boa aliança tra2 resultados positivos para
a terapia, tanto que este tema passou a ser um conceito-chave investi
gado nas duas últimas décadas.
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C o n sid e ra ç õ e s fin ais
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desânimo em relação à Análise do Comportamento aplicada. Um bom
observador deve ter notado que não há exemplos clínicos ao longo do
texto. Essa escolha da presente autora de certa forma foi proposital,
pois modelos de como proceder não existem. Meyer et al. apontam que
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Capítulo 4 O trabalho do analista do comportamento em Psicoterapia
INDEX
extrema importância. Deve-se levar em consideração também a recen-
ticidade da análise comportamental aplicada além do caráter idiossin
crático de cada análise.
R e fe r ê n c ia s b ib lio g rá fic a s
BOOKS
Abreu , C . N.; G uilhardi, H. J, Terapia comportamental e cognitivo-com -
portamentah práticas clínicas. São Paulo: Roca, 2004.
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Sugestão de leituras
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Links úteis
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<www.terapiaporcontingcncias.com.br/>. Acesso em: 14 jul. 2014.
BOOKS
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GROUPS
Capítulo 5
U sando a Análise do Com portam ento
no trabalho ju n to à com unidade*
A n a C a r o l in a S e l l a
D a n ie l S c h o b e r
INDEX
Quando você abrir um periódico ou um livro sobre interven
ções baseadas na Análise do Comportamento, descobrirá que não há
muita informação sobre trabalhos desta abordagem junto à comuni
dade. Isto porque diversos analistas do comportamento clínico focam
suas intervenções no indivíduo, nas contingências ontogenéticas das
quais o comportamento daquele organismo é função. Contingências
culturais e aquelas que afetam o grupo23como um todo não possuem
BOOKS
destaque. Além disso, visto da perspectiva daqueles que querem se
guir rigorosamente os métodos da Análise do Comportamento em sua
prática diária, trabalhar com a comunidade implica em perder contro
le experimentaP: intervenções individuais realizadas dentro de labora
tórios (humanos e infra-humanos), da clínica, de hospitais, de salas
desocupadas na escola, entre outros ambientes restritivos, permitem
um maior controle de cada passo da intervenção.4 Quando se passa
GROUPS
do indivíduo para o grupo, de ambientes restritivos para ambientes
naturais, saber exatamente o que funcionou em sua intervenção se tor
na mais complexo e difícil de identificar em meio às diversas variáveis
* Os autores deste capítulo agradecem a Carla Suzana Oliveira e Silva, Jaume Ferran Aran Cebria e
Morgana de Fátima Agostini Marcins pelo auxílio com a pesquisa acerca do Inventário de levantamento de
Interesses (Concem Report M ethod ).
1 A época da redação do capítulo, a autora cra membro do grupo de Instruetiom l Designers da Heads-
prout, em Seattle, nos Estados Unidos da América.
2 Para fontes primárias de informações teórico-conceituais acerca do comportamento do grupo, vide
Skinner (1953).
3 Fawcett ((1991] 2014), Holland (1978), Wolf (1978).
4 Cone (1978), Lang et al. (2008).
INDEX
oferecer em relação a trabalhos com a comunidade? Quais são os prin
cípios que costumam guiar analistas do comportamento quando tra
balham com a comunidade?
Antes de tudo, é preciso definir o que entenderemos como co
munidade no presente capítulo. Segundo o Committee on Assuring
the Health o f the Public in the 21st Century,7 comunidade pode ser
definida como um grupo de pessoas que compartilham uma ou vá
BOOKS
rias das seguintes características: região geográfica (por exemplo, ser
brasileiro), senso de pertencer a um determinado grupo (por exem
plo, ser estudante de Psicologia); cultura ou linguagem (por exemplo,
falar espanhol); normas, interesses e/ou valores morais (ser cidadão
do Estado de São Paulo, portanto não poder fumar em lugares pú
blicos); e riscos ou condições de saúde (por exemplo, ser uma pessoa
com diabetes). Em resumo, uma comunidade pode ser definida por
GROUPS
diferentes características e sua definição dependerá dos interesses e
recursos do profissional.
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Capítulo 5 —Usando a Análise do Comportamento no trabalho...
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residenciais9 e prevenção de câncer de pele.10123
Dentre as contribuições oferecidas pela Análise do Comporta
mento para a atuação na comunidade, aquelas que mais se destacam
na atualidade tiveram origem nos Estados Unidos e hoje são adotadas
em outros países. Nos parágrafos a seguir, três destas intervenções se
rão brevemente descritas e sua influência em diversos países será con-
textualizada: o Teaching-Family Model,u o PositiveBehavioralSuppor^1
BOOKS
e a Community ToolBox.^
O Teaching-Family Model é um programa residencial para grupos
de meninos e de meninas que emitiram comportamentos considerados
delinquentes e acabaram tendo interações negativas com a polícia e
com o juizado de menores. Para intervir em relação a estes comporta
mentos delinquentes, o programa baseia-se em um modelo de família
em que um casal ensina relações positivas (por exemplo, compaixão,
GROUPS
respeito, dignidade e limites para relações interpessoais), habilidades
(para lidar com situações difíceis e de estresse) e autocontrole (por
exemplo, ser responsável por suas escolhas) para grupos de seis a oito
adolescentes que cometeram algum tipo de crime. Este modelo tem
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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aos procedimentos a serem implementados e aos resultados esperados.
O SCP tem sido utilizado com famílias,14 escolas15 e até mesmo com
todas as escolas de certos estados.1^ O SCP possui exemplos de imple
mentações em países como o Brasil17 e em diversos países da Europa
(por exemplo, Europe Positive Behavior Support).
Finalmente, a Community Tool Box (CTB) foi criada para tornar
disponível uma série de ferramentas para auxiliar tanto o profissional
BOOKS
como membros da comunidade na busca por soluções de problemas.
A C T B oferece: (a) informações acerca de competências necessárias
para a atuação junto à comunidade; (b) informações acerca de tarefas
a serem realizadas para aprender tais competências; (c) ajuda na reso
lução de problemas específicos através de seu website\ (d) informações
acerca de intervenções baseadas em evidência que já foram utilizadas
em outras comunidades; (e) formas de conectar-se com outras pessoas
GROUPS
fazendo o mesmo tipo de trabalho e/ou com conselheiros que possam
responder a perguntas. A C T B é utilizada em países como EUA e Mé
xico. Ela já foi traduzida para o espanhol (além do original em inglês)
e está disponível online sem qualquer custo (<http://ctb.ku.edu/en/
default,aspx>). No momento, está sendo traduzida para o português,
para o francês e para o árabe. Para os que estão iniciando uma emprei
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Capitulo 5 - Usando a Análise do Comportamento no trabalho...
É tic a n a a tu a ç ã o ju n to à c o m u n id ad e
BOOKS
Schwartz e Baer, Wolf,1819entre outros, oferecem regras (ou princípios)
de conduta que podem facilitar e manter a ética de trabalho quando o
analista do comportamento se envolve na comunidade. É sempre uma
boa ideia refletir sobre estes princípios quando se inicia um projeto
junto a um grupo.
Primeiramente, quando se decide trabalhar com uma comuni
dade para auxiliá-la na resolução de problemas locais, é importante
GROUPS
lembrar que a comunidade provavelmente já conhece seus próprios
problemas e já possui sugestões de soluções para os mesmos. Normal
mente, as dificuldades encontradas pela comunidade se referem à orga
nização e implementação das mudanças. Então, antes de qualquer coi
sa, o profissional deve ouvir e respeitar aquilo que a comunidade tem a
dizer. Isso inclui ouvir a opinião da comunidade durante a formulação
de objetivos a serem alcançados com a intervenção.'1' Após os objetivos
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
as expectativas enquanto profissional e aquelas de quem você está ser
vindo é importante para que todos os envolvidos tenham sua opinião
respeitada. E o profissional deve lembrar-se de celebrar todas as metas
que forem conquistadas.21
Quando o processo chega ao fim, o profissional deve avaliar se
a comunidade ficou satisfeita com o trabalho e se os envolvidos reco
nhecem que os objetivos que haviam sido traçados foram atingidos.
BOOKS
Conforme destacado por Fawcett, Wolf e Schwartz e Baer,22 é impor
tante receber o fcedback de forma positiva e buscar modificar futuras
intervenções baseando-se nos resultados de cada novo trabalho: o que
funciona, permanece; o que não deu certo, deve mudar.
De forma geral, é importante lembrar que, ao trabalhar com a
comunidade, o profissional tem o dever de organizar o processo de
forma ética, respeitando a cultura do grupo com que está trabalhando.
GROUPS
Ao mesmo tempo, o profissional deve oferecer soluções baseadas
em estratégias que tenham mostrado ser eficientes na promoção do
bem-estar em situações semelhantes àquela em que se está trabalhan
do. Mas a decisão final é conjunta.
20 Wolf (1978).
21 Fawcett ([1991] 2014). Nagy (2012).
22 Fawcett ([1991] 2014). Wolf (1978). Schwartz e Baer (1991).
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Capítulo 5 - Usando a Análise do Comportamento no
A sp e c to s g e ra is p a ra a c o m p re e n sã o d o
trab a lh o c o m a co m u n id a d e
INDEX
que se descreva e se compreenda o processo de trabalho junto à comu
nidade: as avaliações que devem ser realizadas antes, durante e depois
das intervenções; o desenvolvimento das intervenções; e como avaliar
os resultados obtidos com elas.
Para que você, leitor, compreenda todas estas questões, serão
apresentados dois estudos de caso neste capítulo. O primeiro estudo de
caso descreverá a tradução e adaptação de um método de levantamen
BOOKS
to de interesses e como a utilização de tal método possibilitou levan
tar os principais problemas e as principais qualidades da realidade de
professores da Educação Infantil de um município do Centro-Oeste
brasileiro. O segundo estudo de caso descreverá uma intervenção para
a promoção de prática de atividades físicas junto a crianças obesas de
uma comunidade urbana composta de minorias étnicas (latino-ame
ricanos) nos Estados Unidos. Esta intervenção foi realizada em con
GROUPS
junto com as famílias das crianças e envolveu criar objetivos e metas
relacionados à prática de atividade física os quais as famílias julgassem
apropriados e alcançáveis.
pode ser que tenha reconhecido alguns deles como não sendo da Aná
lise do Comportamento, porém não se lembra onde os viu antes. A
questão é que muitos dos valores relacionados a condutas éticas, descri
tos anteriormente, derivam da chamada pesquisa de ação participativa
(ou pesquisa-ação participante). Apesar do nome, a pesquisa de ação
participativa pode ser adotada pelo profissional quando este está ava
liando as condições da comunidade c desenvolvendo intervenções para
resolver possíveis problemas. Pesquisas de ação participativa (abreviadas
comumente como PAR) fazem parte de uma abordagem que envolve
a colaboração com a comunidade para se obter informações acerca de
comportamentos de interesse e para resolver questões que sejam social
INDEX
mente importantes. A PAR é definida como uma investigação sistemáti
ca que conta com a colaboração das pessoas afetadas pela questão sendo
estudada e que possui propósitos educacionais, de tomada de ação ou
de geração de mudanças sociais.23 Baum, MacDougall e Smith24 afir
mam que a PAR envolve o pesquisador (ou profissional) dividir o poder
de decisão acerca da intervenção com os participantes da comunidade.
Por isso, a PAR facilita a tomada de ações como parte do processo de
BOOKS
pesquisa e de intervenção. Frequentemente, as ações envolvem questões
como a promoção de educação igualitária, saúde para todos ou mudan
ças para assegurar uma comunidade socialmente justa.
A PAR emergiu de diversas perspectivas e paradigmas de pesquisa.
Segundo Minkler,25 Kurt Lewin, um psicólogo dos Estados Unidos, foi
um dos primeiros pesquisadores cuja abordagem era participativa e orien
tada à ação. Lewin26sentia que os indivíduos sendo pesquisados deveriam
GROUPS
estar diretamente envolvidos no processo. Diversos outros pesquisadores,
de diversas regiões do mundo, estiveram envolvidos em pesquisas par
ticipativas e colaboraram para o desenvolvimento da PAR como uma
abordagem de pesquisa. Por exemplo, Tandon e Kanhere27 usaram a PAR
na índia para resolver questões relacionadas aos direitos das mulheres;
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Capítulo 5 - Usando a Análise do Com portam ento no trabalho.
INDEX
do Comportamento: apesar de serem poucos os analistas do comporta
mento que afirmem ter a PAR como ponto de partida de suas pesquisas,
o uso da PAR torna mais provável (a) que as questões a serem pesquisa
das e ou resolvidas sejam socialmente relevantes; (b) que os dados acerca
dos comportamentos sejam interpretados de forma mais exata; (c) que
as necessidades dos participantes e ou clientes sejam resolvidas.34
BOOKS
Avaliações presentes no trabalho co m a com unidade
GROUPS
recebendo o tratamento e para a sociedade em geral; (b) ser ético; e (c)
obter resultados que satisfaçam os envolvidos no processo.35 Conforme
ressaltado por Nunes e Nunes Sobrinho e por Schwartz e Baer,36 de
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
forma geral, a validade social pode ser entendida como uma pesquisa
de satisfação do consumidor: se os envolvidos não julgam a interven
ção e as mudanças importantes e satisfatórias, não se pode considerar
que um estudo possua validade social.
A validade social pode (e deve) ser avaliada de diversas formas, em
diversos níveis e momentos da intervenção. E importante lembrar que
para cada grupo de envolvidos é necessário avaliar a relevância social
de forma específica, pois diferentes grupos possuem diferentes papéis
em uma mesma comunidade. A validade social comumente é avaliada
na forma de questionários, porém escalas de avaliação, observações
diretas e entrevistas também podem ser utilizadas.37 O importante é
INDEX
programar avaliações de validade social não apenas para o final da pes
quisa - quando tudo já está terminado e não há como mudar o que
foi feito —, mas também antes de seu início e durante o processo de
implementação, para que o profissional receba o fiedback de todos os
envolvidos e para que ele possa fazer modificações que sejam viáveis.
Além de instrumentos específicos para medir a validade social,
é possível aumentar a validade social de um estudo ao se envolver os
BOOKS
participantes de forma ativa em todas as fases do processo. Fawcett et
al.,38 por exemplo, descreveram o chamado Método de Informe de
Interesses (Concems Report Methods —CRM ) como forma de alcançar
esse objetivo. Esse método tem sua base em princípios da Análise do
Comportamento, adicionados a idéias da teoria das pesquisas partici
pativas de Paulo Freire.39 Este método possibilita o levantamento de
informações relevantes acerca de problemas únicos de uma comuni
GROUPS
dade e incentiva a participação de todos os que estão diretamente en
volvidos com o problema. Este método faz com que os participantes
da pesquisa ajudem a identificar as questões mais importantes a serem
tratadas em seu grupo ou comunidade, o que os torna mais ativos e
engajados no processo. Este engajamento dos participantes em todos
os momentos da intervenção torna esta mais socialmente válida.
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Capítulo 5 —Usando a Análise do Com portam ento no trabalho...
INDEX
tamentais na comunidade: apesar de não ser comumente discutida na
literatura analítico-comportamental brasileira, a fidedignidade de imple
mentação (ou integridade de implementação) é um elemento que favo
rece a confiabilidade nos dados obtidos. Fidedignidade de implemen
tação não deve ser confundida com fidedignidade de observações, que
se refere ao registro de respostas-alvo por um segundo observador (tam
bém chamada de concordância entre observadores). Fidedignidade de
BOOKS
implementação se refere ao “grau com que tratamentos são implemen
tados conforme o planejado, delineado, ou intencionado e se refere a
acurácia e consistência com que as intervenções são implementadas”.40
Isto significa que, para ter mais certeza de que foi a intervenção que
gerou mudanças no comportamento-alvo, ela tem de ser implemen
tada exatamente como foi planejada. Se o procedimento diz que você
deve seguir um passo de forma exata, o passo deve ser seguido à risca.
GROUPS
Quando as pessoas começam a mudar a intervenção, achando que ne
nhum mal está sendo feito, a evidência de que a intervenção planejada
e descrita foi efetiva deixa de existir, pois, na verdade, você executou
uma intervenção diferente do que estava no papel.
Conforme ressaltado anteriormente, ao sair de ambientes mais
restritivos para ambientes nos quais há diversas ameaças ao contro
le experimental (devido às inúmeras variáveis que podem exercer
controle sobre o comportamento-alvo), é muito difícil saber o que
133
D esen v o lv en d o in te rv e n çõ e s
INDEX
O que é uma intervenção* O termo já foi utilizado no presente
capítulo e algumas intervenções “famosas” já foram descritas anterior
mente. E você provavelmente já ouviu esta palavra, que pode ser uti
lizada em diversos contextos e com diferentes significados. Na Análise
do Comportamento, uma intervenção é utilizada para mudar compor
tamento. Analistas do comportamento pensam em intervenções como
variáveis independentes que sáo manipuladas para produzir mudanças
BOOKS
fidedignas no comportamento.42 Por exemplo, uma intervenção pode-
ria consistir em algo tão simples como fornecer encorajamento verbal
para uma criança. Vamos dizer que um analista do comportamento
está trabalhando com uma criança para aumentar a duração de com
portamentos de brincar cooperativo. Ele podería apresentar encoraja
mento verbal (intervenção) a cada 30 segundos, nos quais a criança
brinca cooperativamente com outras crianças, e, ao mesmo tempo,
GROUPS
não apresentar tais verbalizações se a criança não brincar cooperativa
mente com outras crianças por pelo menos 30 segundos. Neste caso,
a variável independente sendo manipulada é a presença ou ausência
de encorajamento verbal e a mudança de comportamento desejada é a
duração do brincar cooperativo.
Isto provavelmente soa simples, como se qualquer um pudesse fa
zê-lo. Porém, a maior parte das intervenções é complexa, especialmente
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Capítulo 5 —Usando a Análise do C om portam ento no trabalho...
INDEX
de agências governamentais. Conseguir estabelecer e manter este tipo de
intervenção exige do profissional não apenas habilidades profissionais
relacionadas à Psicologia, mas também habilidades políticas para man
ter o programa aberto e recebendo os recursos financeiros necessários.
De forma geral, para desenvolver intervenções, analistas do com
portamento sistematicamente observam o comportamento de interes
se, examinam estudos anteriores em que comportamentos similares
BOOKS
foram modificados e conduzem avaliações comportamentais para des
cobrir variáveis que podem estar mantendo o comportamento. Inicial
mente, entrevistas e inventários comportamentais são boas ferramen
tas para coletar pistas acerca do que será trabalhado. Ê necessário obter
o máximo de informações possíveis para que haja uma maior possibi
lidade da intervenção resultar em resultados satisfatórios.
Outro ponto importante no desenvolvimento de intervenções é o
GROUPS
comportamento-alvo. O comportamento-alvo é o comportamento que
o profissional está tentando mudar com a intervenção. Conforme men
cionado anteriormente, o comportamento-alvo é a “mudança fidedigna
de comportamento” conforme o desejado.44 Portanto, é preciso ter cla
reza acerca dos comportamentos que serão abordados na intervenção.
É importante ressaltar que nem todas as intervenções visam au
mentar a frequência, duração ou magnitude dos comportamentos-alvo.
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
tos-alvo de forma bastante cuidadosa, levando em consideração diver
sas avaliações comportamentais. Além disso, autores como Cooper,
Heron e Heward43 ressaltam que comportamentos-alvo (a) devem
possuir importância social para o participante da intervenção (por
exemplo, para as crianças que você quer ensinar a brincar coopera
tivamente) e (b) devem ser viáveis: esforço, tempo de intervenção,
custo, possibilidades de ser medido e de ser mantido pelo ambiente
BOOKS
natural do cliente devem ser elementos considerados na escolha de
comportamentos-alvo. Ser cuidadoso na escolha de avaliações, com
portamentos-alvo e intervenções deve ser parte do repertório de qual
quer analista do comportamento, inclusive daqueles que trabalham
em ambientes menos restritivos, como na comunidade.
45 [d- ibid.
46 O método e os dados completos destes estudos de caso estão sendo preparados para publicação em
periódicos, com o auxílio de coautores.
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Estudo de caso 1
Levantam ento de interesses e a Análise do
C o m portam en to
INDEX
pesquisas e intervenções de países estrangeiros. Como a Análise do
Comportamento teve início (e tem a maioria de seus profissionais)
nos EUA, muito do que é utilizado em terapias e pesquisas compor-
tamentais foi traduzido do inglês para a língua portuguesa e adaptado
para a realidade do Brasil, Exemplos incluem a Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT) e a Psicoterapia Analítico-Funcional (FAP). Da
mesma forma, a tradução do Método de Informe de Interesses para a
BOOKS
língua portuguesa foi o primeiro passo para sua construção e aplicação.
Como em qualquer outro projeto de tradução, após a primeira versão
ter sido construída, esta foi revisada e reescrita de modo a garantir a
adequação, coerência e compreensão do texto na língua portuguesa,
bem como os exemplos contidos nos textos originais foram modifi
cados para refletirem a realidade brasileira. Um total de 12 seções da
chamada Community Tool Box foram traduzidas de forma a assegurar
GROUPS
informações suficientes para a construção de um inventário de levan
tamento de interesses que pudesse ser utilizado junto à comunidade.
Escolheu-se uma população de professores da Educação Infan
til de um município do Centro-Oeste por compreender-se que inter
venções educacionais são mais efetivas se realizadas em níveis iniciais
do ensino. Desta forma, descobrir o que as professoras julgavam ser
questões a serem resolvidas em seu contexto de trabalho possibilitaria
47 Scllaecal. (2010).
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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Tabela 1 Exemplos de itens apresentados no inventário de interesses.
1 Minha sala de aula contém o número
adequado de alunos.
. 2 As carteira.1! da sala de aula são adequadas
para os alunos.
3 A iluminação da sala de aula é apropriada.
0
0
l
1
2
2
2
3
3
4
4
0
0
t
1
2
2
3
3
4
BOOKS
4 Sinto total liberdade em fàhr com o(a)
0 1 2 3 4 0 í 2 3 4
dfrebdal íobre questóès dá escola.
GROUPS
mas. Os resultados obtidos com a aplicação do inventário mostraram
que, para as professoras, os pontos mais importantes e com os quais
elas estavam mais satisfeitas eram o apoio de diretores c coordenadores
da escola. Os resultados também mostraram que os pontos considera
dos menos importantes e com os quais as professoras se sentiam menos
satisfeitas diziam respeito aos recursos materiais disponíveis nas escolas.
Conforme sugerido pelo Método de Levantamento de Interesses,
o próximo passo no processo teria sido a devolutiva dos resultados para
48 O nome do município não será fornecido, para evitar que esre possa ser identificado.
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Estudo de caso 2
Intervenção co m fam ílias para prom over a prática
de atividades físicas em crian ças obesas em u m
am biente urbano
Este estudo49 teve como objetivo: (a) educar os pais sobre a neces
sidade da prática de atividades físicas para crianças; (b) auxiliar os pais
BOOKS
no estabelecimento de metas para eles se tornarem mais fisicamente
ativos junto com seus filhos; (c) ensinar aos pais como reforçar com
portamentos relacionados à prática de atividade física de seus filhos;
e (d) fornecer feedback aos pais em relação às melhores imensidades e
durações da prática de atividades físicas para seus filhos.
A obesidade entre crianças e adolescentes representa um dos
maiores problemas de saúde na atualidade. Mais especificamente no
GROUPS
Brasil, segundo o IBGE,50 uma em cada três crianças está acima do
peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Crianças obe
sas estão mais propensas não apenas a se tornarem adultos obesos, mas
também a desenvolverem doenças crônicas como diabetes, problemas
cardíacos e pressão alta enquanto ainda são crianças.51
Esse estudo de caso descreve como um analista do comportamen
to desenvolveu e testou um programa de intervenção para promover
49 Schober (2012).
50 IBGE ([2010] 2012).
51 World Health Organizalion ([2010] 2014).
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INDEX
BOOKS
GROUPS
Durante a primeira visita à casa da criança, o analista do compor
tamento pediu aos pais que garantissem que a criança utilizaria o acele
rômetro todos os dias durante a primeira semana, começando na hora
em que acordassem de manhã até à hora em que fossem para a cama,
à noite. Os dados obtidos com o uso do acelerômetro nesta primeira
semana foram utilizados como linha de base da intensidade e duração
da prática de atividade física de cada criança.
140
INDEX
necessariamente sabiam ler. Já os pais completaram um questionário
acerca de suas preferências.
Ainda nesta mesma reunião, após a coleta de linha de base, o
analista do comportamento ensinou aos pais como estabelecer metas
diárias de atividade física para as crianças. Os pais foram instruídos
a estabelecer metas diárias envolvendo: (a) uma ou mais atividades
físicas com a criança (por exemplo, caminhar juntos); (b) quem iria
BOOKS
realizar a atividade com a criança (por exemplo, a mãe ou o pai, ou
ambos); (c) a que horas eles realizariam a atividade (por exemplo, às
8 h ou às 15 h); e (d) a quantidade de minutos em que seriam ativos
(por exemplo, 10 minutos).
Além disso, os pais foram ensinados a desenvolver contratos com-
portamentais com seus filhos (acordos semanais, por escrito, relaciona
dos à prática de atividade física). Parte do acordo semanal envolvia o que
GROUPS
seria utilizado como consequência (possível reforço) das atividades físi
cas. Em cada contrato, os pais especificavam um reforçador que a crian
ça recebería ao final de cada semana, caso alcançasse a meta de atividade
física. Exemplos de reforçadores incluíram brinquedos baratos, idas a
piscinas e lanchinhos saudáveis (por exemplo, uma fruta que a criança
gostasse bastante ou biscoitos e bolachas feitos com grãos integrais).
Finalmente, ao término desta primeira sessão, após a linha de
base, o analista do comportamento pediu que cada criança utilizasse
52 Schober (2012).
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
mento fornecia aos pais um registro do nível de atividade física diário
de seu filho (estes dados vinham do acelerômetro que a criança usava).
Ler o registro dos dados junto com o experímentador fornecia aos
pais a oportunidade de verificar o desempenho da criança. Este evento
também dava ao analista do comportamento a oportunidade de rever
as recomendações de níveis de atividade física junto aos pais. Além
disso, estas reuniões semanais permitiam que o analista do compor
BOOKS
tamento fizesse duas coisas: (1) fornecer feedback aos pais acerca dos
comportamentos de atividade física da criança (feedback é uma ferra
menta importante para a Análise do Comportamento) e (2) fornecer
instruções adicionais aos pais acerca do estabelecimento délnetas, con
tratos comportamentais e outras partes da intervenção. A cada reu
nião, o analista do comportamento auxiliava os pais a estabelecerem
as metas e a escreverem um contrato comportamental para a próxima
GROUPS
semana. Ao final da intervenção, quatro das cinco crianças se tomaram
mais fisicamente ativas. Todos os pais e as crianças relataram estar se
divertindo mais ao realizarem atividades físicas e relataram interesse
em continuar a ser fisicamente ativos.
Intervenções como esta, baseadas na Análise do Comportamen
to, as quais se utilizam de avaliações de preferência e contratos com
portamentais, e de instrumentos que possibilitam medidas repetidas
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comunidade apresenta diversas dificuldades para o trabalho do ana
lista do comportamento devido a questões como a perda de controle
experimental em decorrência da presença de diversas variáveis confun
didas presentes em ambientes náo restritivos. Todavia, trabalhar com
a comunidade gera inúmeras possibilidades de ação e colaboração, e
qualquer efeito positivo da intervenção atingirá um grupo de pessoas,
ao invés de um indivíduo.
BOOKS
Além disso, se as intervenções forem realizadas (a) levando-se em
consideração a opinião dos envolvidos e o conhecimento já produzido
na área, (b) escolhendo-se cuidadosamente as variáveis independentes
e dependentes e (c) realizando avaliações do processo antes, durante e
depois da intervenção (enfatizando-se fidelidade de implementação),
há grandes possibilidades de o profissional realizar mudanças social
mente relevantes na vida de diversas pessoas.
GROUPS
Neste capítulo, discutiu-se questões relacionadas ao foco indi
vidual das intervenções advindas da Análise do Comportamento. Ao
mesmo tempo, apresentou-se importantes contribuições da Análise do
Comportamento para o trabalho com a comunidade. Enfatizou-se a
necessidade de uma ética de colaboração quando se realiza este tipo de
trabalho, juntamente com a importância de se atentar a avaliações e
ao desenvolvimento das intervenções. Finalizou-se com dois estudos
de casos exemplificando o trabalho do analista do comportamento na
comunidade. O fato de no Brasil não haver muitas informações acerca
do trabalho do analista do comportamento na comunidade deveria
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
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Capítulo 6
Análise C om portam ental da cultura e
im plicações para a saúde
C a m il a M u c h o n d e M e l o
INDEX
Como vimos no capítulo 1 deste livro, o Behaviorismo Radical
de B. F. Skinner, assim como teorias behaviorístas de autores ante
riores a ele, assumiu o comportamento como o objeto de estudo de
uma ciência do comportamento. Vimos também que no Behavioris
mo skinneriano o modelo de seleçáo pelas consequências foi estabe
lecido como o modelo explicativo que relaciona o comportamento à
ocorrência de outros eventos. Além disso, vimos que, em seus aspec
BOOKS
tos gerais, o comportamento foi conceituado não apenas como uma
resposta ou uma ação de um organismo, mas como a própria relação
existente entre o organismo e seu ambiente. O comportamento huma
no deve ser compreendido, então, como o produto de interações entre
contingências filogenéticas (ou a história da espécie), ontogenéticas (a
história compreendida no tempo de vida de um indivíduo) e culturais
(a história de sua cultura ou de um grupo particular).
GROUPS
Ao propor o modelo de seleção pelas consequências, Skinner1
apresentou uma explicação para o comportamento humano que in
cluía o papel das variáveis culturais e que possibilita uma explicação
para a evolução da cultura humana. Para os objetivos deste capítulo,
teremos que nos aprofundar em alguns conceitos e questões essen
ciais, tais como: (a) o conceito de cultura para Skinner; (b) o paralelo
da evolução da cultura com a seleção natural e seus desdobramentos,
como a noção de sobrevivência das culturas; e (c) as implicações de
1 Skinner (1981).
O c o n c e ito de c u ltu ra p a ra Sk in n er
INDEX
gar as variações e as contingências seletivas presentes em grupos sociais.
A variação no terceiro nível de seleção refere-se às práticas cul
turais, ou seja, são as práticas culturais que constituem as unidades
sujeitas à seleção. Segundo Skinner,2 as práticas de uma cultura com
preendem a maneira como um povo cuida de suas crianças, cultiva
seus alimentos, produz seu tipo de habitação ou vestuário, como se
diverte, como forma seu governo, sua religião, suas instituições, entre
BOOKS
outras características.
Para Skinner,3 a cultura podería ser entendida como o conjunto
relacionado de costumes de um grupo, e costumes ou práticas cultu
rais são comportamentos de indivíduos em grupo. Na perspectiva da
Análise do Comportamento, as idéias e os valores de um grupo não
pertencem a um nível diferente de observação do proposto por uma
ciência natural. Ao analisar os fenômenos sociais, os comportamentos
GROUPS
de indivíduos são investigados na relação com o comportamento de
outros indivíduos, e, nesse sentido, são investigadas as práticas cultu
rais. As “idéias” de uma cultura são entendidas como as contingências
sociais ou os comportamentos produzidos por essas contingências, e
os “valores” de uma cultura podem ser identificados, em certo sentido,
com aquilo que é reforçador para determinado grupo social.
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Capítulo 6 - Análise Comportamental da cultura e implicações...
INDEX
ser transmitidos como parte de um ambiente social. Terceiro, para que
um conjunto de operantes possa ser caracterizado como práticas cul
turais, há a transmissão entre diferentes gerações. Isto ocorre quando
os membros de uma cultura são ensinados a “praticar a prática” e, além
disso, “ensinados a ensinar” a prática.4
O interessante da cultura é que uma prática cultural não precisa
ser transmitida apenas para próximas gerações, elas podem ser trans
BOOKS
mitidas para gerações anteriores (quando ensinamos nossos pais e avós
a manipular o computador e a internet, por exemplo) ou para grupos
de uma mesma geração. Sampaio e Andery5salientam ainda que quan
do práticas culturais são transmitidas para os membros de uma mesma
“geração” , essas práticas constituem aquilo que rotulamos como uma
“moda”. O tipo de vestimenta de um grupo particular, mesmo que por
um período curto de tempo, pode, segundo tais autores, constituir-se
GROUPS
como uma prática cultural.
Segundo Dittrich,6 práticas culturais surgem primeiramente de
operantes. Ou seja, os operantes constituem a fonte primária de varia
ção das práticas culturais, mas sobre operantes vigoram contingências
de reforço; por outro lado, somente sobre as práticas culturais operam
as contingências culturais.
4 Dittrich (2004).
5 Sampaio e Andery (2010).
6 Dittrich (2004).
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Compreendendo a prática dn analista do comportamento
INDEX
dora para o grupo e o comportamento transmitido aos novos integran
tes dessa cultura, permanecendo entre sucessivas gerações, o operante
inicial de um indivíduo passou a ser uma prática cultural e como tal
passa a ser unidade de seleção na cultura. Assim, a formação da prática
cultural se dá por um processo que se inicia no nível do indivíduo e
posterior mente torna-se unidade de seleção intra e através das gerações.
BOOKS
P arale lo d a ev o lu ção d a c u ltu ra c o m a se le ç ã o
n a tu ra l
GROUPS
dos aspectos relevantes para o estudo da cultura.8
Skinner baseou-se na teoria da seleção natural de Darwin e elabo
rou um paralelo da variação e seleção para o segundo nível, o individual,
e para o terceiro nível, o da cultura.
Assim, ao tratar da cultura como um terceiro nível dos processos
de variação e seleção, Skinner9 traçou um paralelo da evolução da cul
tura com a seleção natural. Vejamos tais aspectos.
7 Id. ibid.
8 Skinner ([1948] 2005, [1953] 1965, 1957, [1971] 2002, [1974] 1976, 1978).
9 Id. ([1971] 2002, 1981).
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Capítulo 6 - Análise Comportamental da cultura e implicações...
INDEX
sumir mais fast food, abandonando relativamente o consumo do nosso
prato tradicional de “arroz com feijão”, e essa mudança de prática, ou
essa nova variação, tem produzido problemas na saúde da população.
Entretanto, a variação não ocorre somente “ao acaso” . A variação
em todos os três níveis pode ser planejada. Podemos introduzir novas
práticas em uma cultura deliberadamente, principalmente quando es
tamos no campo do planejamento cultural. Ao ensinar novos compor
BOOKS
tamentos para um indivíduo, produzimos variabilidades programadas.
Quando o governo brasileiro, em alguns estados, estabeleceu contingên
cias para que as pessoas não pudessem mais fumar em locais fechados,
estabeleceu deliberadamente novas contingências, por meio de sanções e
multas, que geraram novas práticas culturais. As pessoas deixaram de fu
mar nesses locais, o que pôde favorecer a saúde do grupo como um todo.
Nesse aspecto, pode-se defender que Skinner e analistas do com
GROUPS
portamento têm uma preocupação em promover um planejamento de
práticas culturais por meio de uma Tecnologia do Comportamento
que aumente a probabilidade do comportamento produzir consequên
cias que fortaleçam uma cultura em equilíbrio com o bem-estar de
seus membros.
Retornando ao paralelo entre a seleção natural e a seleção de prá
ticas culturais, no que se reporta à transmissão, ele é “perdido”. No
caso da seleção natural, traços ou características que foram importan
tes para a sobrevivência dos membros de uma espécie são transmiti
dos para os membros das futuras gerações por meio de uma herança
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
membros. O autor salienta que a competição entre culturas, ou a com
petição entre diferentes espécies, no caso da seleção natural, desempe
nha apenas uma pequena função na sobrevivência:
BOOKS
pécie é relacionada com a respiração, a ali
mentação, a manutenção de uma temperatu
ra adequada, a sobrevivência ao perigo, a luta
contra a infecção, procriação e assim sucessi
vamente. Apenas uma pequena parte é rela
cionada com o sucesso em lutar com outros
membros da mesma espécie ou de outras es
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Capítulo 6 - Análise Comportamenta] da cultura e implicações...
INDEX
ses dominantes, subsídios agrícolas que favorecem a produção de países
economicamente mais desenvolvidos, etc. Esses são exemplos que nos
levam a questionar a posição skínneriana de que a “competição” entre
culturas exerce apenas uma pequena Junção na sua evolução.
Outro aspecto importante no paralelo entre evolução da cultura e
da seleção natural refere-se à manutenção das práticas de uma cultura.
Segundo Skinner,12 as contingências culturais parecem permitir uma
BOOKS
espécie de “autoperpetuaçáo” de suas práticas - da mesma maneira que
um indivíduo exposto às contingências sociais adquire novas formas
de comportamento, ao se comportar, participa da manutenção das
práticas sociais. É como se formasse uma rede de relações: ao mesmo
tempo em que as contingências culturais modelam e mantêm compor
tamentos nos indivíduos, os indivíduos também modelam e mantêm
padrões semelhantes de comportamentos em outros indivíduos, o que
GROUPS
contribui para a transmissão das práticas culturais e, por consequência,
a sobrevivência das culturas.
Desse modo, como ocorre com as espécies, uma cultura pode
sobreviver ou perecer. Ou seja, a definição de cultura no Behaviorismo
Radical de Skinner necessariamente implica em conceituá-la como um
processo de variação e seleção.
INDEX
Entretanto, Dittrich salienta que a sobrevivência da cultura como
uma consequência do conjunto e das relações de suas práticas não
é uma consequência que possa exercer papel reforçador nas contin
gências de reforçamento: “a escala temporal através da qual podemos
aferir a sobrevivência da cultura (décadas ou séculos) é muito dife
rente da escala temporal na qual ocorre o reforço do comportamento
operante” 14 (tempo de vida de um indivíduo). Portanto, possivelmen
BOOKS
te, quando trabalhamos em prol da cultura, não o fazemos porque
sua sobrevivência nos é reforçadora, mas porque outras consequências
mais imediatas nos levam a agir dessa forma.
Vejamos um exemplo citado por Skinner: “Um melhor modo
para fazer uma ferramenta, cultivar alimentos ou ensinar uma crian
ça é reforçado por suas consequências - a ferramenta, o alimento, ou
o ajudante útil, respectivamente” .15 É nesse sentido que dizemos que
GROUPS
quando agimos pelo “bem da cultura” ou em benefício das futuras ge
rações, o que controla nosso comportamento são, na maioria das vezes,
consequências suplementares mais imediatas ou mesmo sociais, Se o
grupo reforça nosso comportamento quando agimos em benefício da
cultura, esse comportamento tende a aumentar sua frequência. Portan
to, Skinner defendeu, ao longo de sua obra, o planejamento de contin
13 Dittrich (2004).
14 W. (2003, p. 19).
15 Skinner (1981, p. 502).
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Capítulo C) - Análise Com portam e ntal da cultura e implicações...
INDEX
o "bem” da cultura (sua sobrevivência). Tais valores podem ser tradu
zidos em práticas culturais diversas de acordo com as especificidades
sociais e históricas de cada comunidade. Entretanto, esses valores nun
ca devem ser perseguidos como fins em si mesmos, mas estar sempre
a serviço do valor fundamental, que é a sobrevivência da cultura. No
caso de um planejamento cultural, deve-se investigar em que medida
as práticas culturais traduzidas nesses valores contribuem para o for
BOOKS
talecimento de uma cultura. Segundo esse mesmo autor, os valores
secundários são sempre provisórios e flexíveis, estão sempre sujeitos a
revisão, modificação e substituição de acordo com a sua efetiva contri
buição para a sobrevivência da cultura.
Planejar contingências para que os indivíduos ajam de forma que
seus comportamentos resultem em consequências que fortaleçam a
cultura significa em última instância comportar-se de modo a pro
GROUPS
duzir também consequências de longo prazo. Entretanto, além disso,
para que essas consequências fortaleçam a cultura, elas devem ter va
lor de sobrevivência positivo. Ou seja, não é suficiente produzirmos
consequências de longo prazo, elas precisam ser efetivas no fortaleci
mento da cultura. Desse modo, a grande dificuldade no planejamento
cultural, de acordo com uma perspectiva skinneriana, consiste no fato
que este visa, além do bem-estar dos membros que vivem em uma
16 Abib (2001, 2002), Casrro e de Rose (2008), Dittrich (2003, 2004,2008a, 2008b), Melo (2008), Melo
e de Rose (2012).
17 Dittrich (2003).
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
podemos nos deparar com práticas de uma cultura que foram selecio
nadas, embora não tivessem contribuído para sua sobrevivência, isso
provavelmente ocorreu porque as práticas com valor de sobrevivência
negativo foram selecionadas juntamente com práticas com valor de
sobrevivência positivo, e, como resultado, a cultura sobreviveu.
Todavia, Skinner19 enfatizou que certas características permitem
uma maior probabilidade de sobrevivência de uma cultura. Assim, para
BOOKS
o autor, uma cultura tem maior probabilidade de transmitir suas prá
ticas e sobreviver se for ao mesmo tempo estável e produzir mudanças.
Ou seja, deve possibilitar o surgimento de novas práticas que, como va
riações, podem contribuir para a sua sobrevivência, mas também deve
possibilitar que práticas efetivas sejam perpetuadas pelos seus membros.
Portanto, a força da cultura depende, em parte, de como seus
membros “trabalham” por sua sobrevivência, mas depende também a
GROUPS
quais contingências será exposta e, em decorrência disso, se seus mem
bros serão hábeis em solucionar os problemas ocasionados, principal
mente, por contingências que náo foram previstas. Desse modo, o feto
de uma cultura sobreviver por muitos anos não nos habilita a julgar
que essa cultura seja melhor do que outras que já se extinguiram.
Por conseguinte, a sobrevivência de uma cultura ocorre por meio.
de processos de variação e seleção, e, sendo assim, as contingências
18 Melo (2005).
19 Skinner {[1971] 2002).
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Capítulo 6 - Análise Comportamental da cultura c implicações...
O c o n c e ito d e c o m p o rta m e n to so c ia l p a r a B .
INDEX
F. Sk in n er
BOOKS
turas. Para trabalhar com políticas públicas que promovam a saúde dos
membros de uma cultura, o analista do comportamento deve se preocu
par também em como o grupo afeta o comportamento dos indivíduos.
Skinner conceitua o comportamento social como “o comporta
mento de duas ou mais pessoas, uma em relação à outra ou em con
junto com respeito a um ambiente comum” .21 No comportamento
social, outros membros de um grupo são parte da relação que constitui
GROUPS
o comportamento. Sendo assim, o comportamento dos membros de
um grupo pode passar a ter a função de estímulos discriminativos ou
de consequências nas relações comportamentais entre os membros de
uma cultura. Assim, Skinner22 aponta algumas diferenças entre o com
portamento considerado social do comportamento “não social” .
Uma primeira diferença consiste no fato de que as condições em
que se encontra o agente reforçador podem alterar a maneira como
20 Id. (1990).
21 Id. ([1953] 1965, p. 297).
22 Id. ibid.
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
dor) não adianta pedir para que brinque de bola com ela, mas aos sá
bados, quando o pai está descansado (outra condição momentânea do
agente reforçador), ele sempre aceita brincar de bola e jogar vários jo
gos com a criança; como resultado, a criança acaba por pedir para o pai
brincar com ela mais aos sábados do que durante os dias da semana.
Uma segunda diferença relaciona-se com os esquemas em que
o comportamento social é modelado e/ou mantido: frequentemen
BOOKS
te o comportamento social é mantido em esquemas intermitentes.
Ou seja, em uma interação social, o ambiente é muito mais instável
do que quando lidamos com o ambiente não social. Desse modo, o
efeito observado em comportamentos sociais é a maior resistência
desse comportamento à extinção do que em comportamentos cujo
reforço não é mediado por outras pessoas.24 Se um pai brinca com
seu filho apenas alguns dias da semana, variando —brinca às vezes na
GROUPS
segunda-feira, às vezes na sexta-feira, às vezes no sábado (esquema
intermitente de reforço) —, e em um período, por algum motivo, ele
para de brincar com a criança, esta apresentará o comportamento de
pedir para que o pai brinque por um bom tempo até que o compor
tamento extinga-se completamente.
Uma terceira diferença ocorre quando as contingências de refor-
çamento estabelecidas em um ambiente social mudam lentamente e,
23 Id. ibid.
24 Id. ibid.
160
INDEX
“A” pode ser uma fonte de variáveis que afetem o comportamento de
uma pessoa “B” e, no mesmo sentido, o comportamento de B em fun
ção do comportamento de A pode também ser uma fonte de variáveis
para o comportamento de A. A análise funcional das interações com
por tamen tais entre A e B permite a descrição de um episódio social.
Nesse sentido, Skinner27 define que, no comportamento social, temos
contingências entrelaçadas de reforçamento. Ou seja, o comportamen
BOOKS
to do outro pode ter tanto a função de estímulos discrimi nativos como
de consequência para o comportamento do indivíduo.
A espécie humana tem como principal exemplo de episódio so
cial os episódios verbais. Segundo Skinner,28 o comportamento verbal
fornece-nos inúmeros exemplos de como o comportamento de uma
pessoa produz efeitos no comportamento de outra pessoa em um am
biente “não mecânico”, ou seja, em um ambiente social. E importante
GROUPS
salientar que um episódio social ou verbal pode ser analisado com as
mesmas “ferramentas” que se utilizam para a análise de comportamen
tos “não sociais” . Para Skinner,29 não há qualquer diferença de natureza
entre os comportamentos considerados sociais ou não sociais.
25 Id. ibid.
26 Id. ([1953J 1965,1957).
27 Id. ([1953] 1965).
28 Id. ibid.
29 Id. ibid.
161
INDEX
debater valores secundários a serem perseguidos, Skinner enfatizou que
a saúde é melhor do que a doença. Em condições ideais de uma cultura,
propagar a saúde de seus membros contribuí para a sobrevivência dos
mesmos e, por conseguinte, da própria cultura. Para uma cultura so
breviver é preciso que seus membros sobrevivam. Logo, propagar a saú
de é uma prática cultural que apresenta valor de sobrevivência positivo.
O analista do comportamento pode trabalhar com a saúde dos
BOOKS
indivíduos através de pelo menos duas diretrizes: ao analisar e mani
pular variáveis do comportamento individual {como no trabalho de
psicoterapeutas) ou ao analisar e manipular variáveis de um grupo ou
de uma cultura. No trabalho com indivíduos, as variáveis culturais
também devem fazer parte das variáveis investigadas, entretanto, o ob
jetivo deste texto é discorrer como a Análise do Comportamento, ao
tratar de fenômenos sociais, investiga e propõe intervenções que possi
GROUPS
bilitem uma promoçio da saúde da população.
Como dito ao longo do capítulo, a saúde foi considerada por
Skinner31 como um importante valor a ser perseguido por uma cul
tura. Ou seja, o analista do comportamento deve engajar-se também
no planejamento de práticas culturais que favoreçam a saúde de seus
membros. Assim, estabelecer arranjo de contingências mais amplas
que proporcionem práticas culturais que promovam a saúde é tarefa
162
INDEX
tos de uso, propriamente dito, dessas tecnologias.
Um exemplo clássico é o controle de natalidade em uma popula
ção. No Brasil, por exemplo, há a disponibilidade de métodos contra-
ceptivos para a população em geral. Tais métodos foram desenvolvidos
por outras áreas do conhecimento e eles estão disponíveis nas redes
públicas de saúde. Entretanto, a falta de utilização adequada de tais
métodos é um problema que persiste em nosso país, acarretando uma
BOOKS
alta taxa de natalidade, principalmente nas classes econômicas menos
favorecidas. Portanto, esse é um problema de comportamento.
Assim, observa-se que contingências culturais têm um papel sig
nificativo na prevalência de uma variedade de comportamentos rela
cionados com a saúde dos membros de uma cultura. Algumas culturas
promovem contingências que podem facilitar ou prevenir comporta
mentos saudáveis ou não. Comportamentos que são prevalecentes en
GROUPS
tre os membros de uma cultura são os que têm alta probabilidade de
ocorrência devido aos estímulos discrimi nativos culturais (Sd) e man
tidos por contingências culturais amplas. São comportamentos que
compõem práticas culturais. Da mesma forma, os comportamentos
que são inaceitáveis e pouco frequentes entre os membros de um gru
po étnico são aqueles que são “inibidos” pelos estímulos discriminati-
vos culturais. Desse modo, a aprendizagem no nível do grupo étnico é
semelhante à aprendizagem no nível individual, na medida em que os
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Compreendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
que são correlacionados com embriaguez. A questão que se coloca ao
analista do comportamento é: quais seriam as contingências que pro
duzem tal resultado? De acordo com tais autores, essas diferenças po
pulacionais estão correlacionadas ao número significativamente maior
e densidade de bares, lojas de bebidas, álcool e outdoors em classes eco
nomicamente inferiores se comparadas com bairros de classe média.
Seriam algumas das contingências ambientais que favorecem o estabe
BOOKS
lecimento de práticas que não promovem a saúde.35
Em relação à prática de atividade física, por exemplo, minorias
étnicas e pobres tendem a ser menos ativas fisicamente do que os indi
víduos de classe média. Novamente, a questão reside na identificação
das contingências culturais que produzem essa prática. Estudos têm
sugerido que pessoas que residem em bairros perigosos ou em bairros
com pouca iluminação, poucas calçadas, tráfego elevado e poucas áreas
GROUPS
de lazer são significativamente menos propensas a se envolver em ati
vidade física e brincar ao ar livre do que as que residem em áreas mais
seguras, onde há apoio aos exercícios.36 Ou seja: há contingências am
plas estimadas em “bairros que dão suporte à prática de exercício” versus
“bairros em que há um proibitivo”.
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Capítulo 6 —Análise Comportamento] da cultura e im plicações...
INDEX
individual, no atendimento clínico, no atendimento de pessoas que
necessitam de cuidados especiais, em processos educacionais, como o
estabelecimento de sistemas personalizados de ensino. Entretanto, mu
danças em alguns tipos de comportamento podem ocorrer de forma
efetiva apenas quando há mudanças em contingências culturais. Um
exemplo está com o comportamento de fumar. Intervenções que focam
o nível individual para restringir o fumo podem falhar devido a podero
BOOKS
sas campanhas de publicidade que continuam a incentivar o tabagismo.
Essas campanhas estabelecem contingências culturais mais amplas.38
Alguns trabalhos em Análise do Comportamento sugerem que
uma alternativa é restringir a publicidade ao tabaco que estimula o ta
bagismo (alterando os estímulos discriminativos para o fumar), proibir
o fumo em uma gama maior de contextos (estabelecendo contextos
onde o fumar é punido) e aumentar significativamente o preço do
GROUPS
tabaco (estabelecimento de contingências), mudando assim o signifi
cado social do fumo, do glamour a uma prática cara e não glamorosa.39
O trabalho de Dagen e Alavosius,40 por exemplo, tratou da pro
blemática dos acidentes provocados entre a colisão de ciclistas e moto
ristas, um problema que afeta a saúde da população e que muitas vezes
provoca lesões que prejudicam o estado geral do organismo. Os autores
37 Id. ibid.
38 Id.ibid.
39 Biglan (1995). Lamal (1991,1997).
40 Dagen e Alavosius (2008 ).
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
INDEX
faz-se necessário o planejamento de contingências adicionais.
A análise das possíveis variáveis que determinam colisões entre
motoristas e ciclistas sugere que ambos têm seus comportamentos sob
o controle de diferentes variáveis, assim como entre os ciclistas dife
rentes variáveis afetam o comportamento de cada indivíduo. O u seja,
contingências múltiplas e desconexas existem entre o comportamento
de motoristas e ciclistas. H á diferenças também no campo tecnológi
BOOKS
co: o desenvolvimento de equipamentos de segurança evoluiu con
sideravelmente no caso de motoristas, mas náo no caso de ciclistas;
além disso, uma parte das tecnologias de segurança não é utilizada por
motoristas e ciclistas.
Frequentemente, motoristas e ciclistas transitam nas mesmas vias,
fato que produz um ambiente comum para ambos e aumenta a inci
dência de acidentes. Sendo assim, engenheiros de trânsito têm propos
GROUPS
to a construção de vias exclusivas para ciclistas. Entretanto, ambientes
totalmente distintos para ciclistas e motoristas apresentam custos ele
vados à sua construção. Por outro lado, soluções comportamentais náo
requerem a separação dos ambientes e os altos custos associados com a
engenharia ambiental de larga escala. Dagen e Alavosius42 defenderam
a elaboração de uma agenda de pesquisa que pudesse prescrever ante
cedentes e consequentes para aumentar a probabilidade de comporta
41 Id. ibid.
42 Id. ibid.
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Capitulo fi - Análise Comportamc-tital da cultura e implicações...
INDEX
acidentes causados na interação entre motoristas e ciclistas foca nas
atitudes e crenças individuais e direciona explicações para traços men
tais hipotéticos. Para os autores, a problemática requer a manipulação
das variáveis antecedentes e consequentes relevantes para que as inter
venções sejam efetivas.
Segundo os autores, uma avaliação de políticas públicas, como,
por exemplo, a obrigatoriedade do uso de capacetes, frequentemente
BOOKS
baseia-se em medidas de níveis molares (por exemplo, as taxas de coli
são) e pode, assim, obscurecer dados relevantes em níveis moleculares
(por exemplo, a variabilidade na performance de condução da bicicle
ta, estímulos generalizados e manipulação de consequências no com
portamento dos indivíduos). Análises molares envolvem contingências
mais amplas, como contingências culturais ou contingências históricas
(das culturas ou dos comportamentos dos indivíduos), e análises mo
GROUPS
leculares envolvem contingências atuais e imediatas (no caso das cul
turas e em relação aos mantenedores atuais dos comportamentos dos
indivíduos). Assim, uma agenda de pesquisa apropriada deve incluir
medidas comportamentais cada vez mais precisas e melhores sistemas
de rastreamento de dados de interações complexas entre muitos indiví
duos, fazendo uso da articulação entre análises molares e moleculares.
Os autores concluem que os trabalhos em Análise do Compor
tamento relacionados com a segurança de indivíduos em sociedade
frequentemente analisam o comportamento individual de forma
isolada do contexto social. Eles propõem que pesquisadores devem
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Compreendendo a prática do amlista do com portam ento
INDEX
lineamentos culturais e o estabelecimento de práticas saudáveis.
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terceiro nível de seleção pelas consequências. Nesse contexto, Skin
ner43 realizou o paralelo entre seleção natural e evolução da cultura, e
colocou o comportamento social, principalmente o comportamento
verbal, como o campo de análise dos fenômenos sociais. Ao colocar a
cultura como um terceiro nível seletivo, Skinner analisou questões di
retamente relacionadas aos fenômenos sociais (liberdade, responsabili
dade, ética, sistemas governamentais, planejamento cultural, etc.), co
a análise da cultura.
GROUPS
locando a Análise do Comportamento como disciplina legítima para
43 Skinner (1981).
168
R e fe r ê n c ia s b ib lio g rá fic a s
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Capitulo 6 - Análise Comportam ental da cultura e im plicações...
Su gestão de leituras
Links úteis
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Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. Disponí
vel em: <http://abpmc.org.br/site/>. Acesso em: 15 jul. 2014.
Revista Brasileira de Análise do Comportamento. Disponível em: <http://
www.periodicos.ufpa.br/index.php/rcbao. Acesso em: 15 jul. 2014.
Revista Perspectivas em Análise do Comportamento. Disponível em: <http://
www.revistaperspectivas.com.br/ojs/index.phpPjournalsperspectivas>.
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Acesso em: 15 jul. 2014.
Revista sobre Análise do comportamento e questões sociais (Behavior and
Social Issues). Disponível em: <http://journals.uic.edu/ojs/index.php/bsi>.
Acesso em: 15 jul. 2014.
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INDEX
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Sobre os autores
INDEX
Carmen Silvia Motta Bandini (organizadora)
Possui graduação em Psicologia (com formação de psicóloga) pela
Universidade Federal de São Carlos e realizou mestrado e doutora
do em Filosofia pela mesma Universidade. Tem experiência na área
de Psicologia Experimental, principalmente em projetos que envol
vem aquisição de comportamento verbal. Atualmente, é professora e
pesquisadora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Ala
BOOKS
goas e do Centro Universitário C esmac de Maceió. É coordenadora
do curso de pós-graduação lato sensu em Teorias e Técnicas Com-
portamentais: educação, pesquisa e terapia, na mesma instituição. E
membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Com
portamento Cogniçáo e Ensino e editora associada do periódico Acta
Comportamentalia.
GROUPS
Lidia Maria Marson Postalli (organizadora)
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de São Car
los, mestrado e doutorado em Educação Especial pela mesma Univer
sidade. E atualmente professora adjunta do Departamento de Psico
logia da Universidade Federal de São Carlos. Também é professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação Especial na mesma institui
ção. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Educação
Especial, atuando principalmente nos seguintes temas: programação
de ensino, controle de estímulos, ensino de leitura e escrita, equiva
lência de estímulos.
INDEX
Alagoas/FAPEAL/Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia. Tem
experiência na área de Psicologia, com ênfase cm Psicologia Cogni
tiva e Processos de Aprendizagem, Gestão do Comportamento Or
ganizacional, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos
cognitivos, gestão do comportamento, aprendizagem organizacional
e psicologia da violência.
BOOKS
Heloísa Helena Motta Bandini (organizadora)
Possui graduação em Fonoaudiologia pela Universidade de São Paulo
(1997), mestrado e doutorado em Educação Especial pela Universida
de Federal de São Carlos (2003) e pós-doutorado pela mesma Univer
sidade. Atualmente, é professora adjunta da Universidade Estadual de
Ciências da Saúde de Alagoas (U ncisal ). Também é membro do Ins
tituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento Cog-
GROUPS
niçio e Ensino e coordenadora do Centro Especializado em Reabili
tação da U ncisal . Tem experiência na área de Educação, com ênfase
em Educação Especial, atuando principalmente nos seguintes temas:
deficiência auditiva, aparelhos de amplificação sonora individual, lei
tura e escrita.
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Sobre os autores
INDEX
versidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de Psicologia,
com ênfase em História da Psicologia e Teorias e Sistemas em Psi
cologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Behaviorismo
Radical e Análise do Comportamento, epistemologia da Psicologia,
história da Psicologia, ética, política e Psicologia. E membro do gru
po de trabalho Investigações Conceituais e Aplicadas em Análise do
Comportamento da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Gradua
BOOKS
ção em Psicologia.
GROUPS
fessor doutor Caio Miguel, e de pós-doutorado no Instituto Nacional
de Estudos sobre Comportamento Cognição e Ensino, sob a supervi
são da professora doutora Deisy das Graças de Souza. Atualmente, é
professora adjunta do Centro de Educação da Universidade Federal
de Alagoas (U fal). Tem experiência nas áreas de Educação Especial
e Análise do Comportamento, atuando principalmente nos seguintes
temas: comportamento verbal, nomeação, programação de ensino, en
sino informatizado, autismo e deficiência intelectual.
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Com preendendo a prática do analista do comportamento
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com mestrado e doutorado em Educação Especial pela mesma Univer
sidade, com período no Centre for Children and Families in the Justi
ce System, na University o f Western Ontario, Canadá. É, atualmente,
professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina, com linha
de pesquisa em psicologia forense e desvios da conduta, trabalhando
especificamente nos temas de violência intrafamiliar e adolescente em
conflito com a lei.
BOOKS
Ana Carolina Selia (autora)
Tem graduação em Psicologia pela Universidade Estadual de Londri
na, especialização em Filosofia Política e Jurídica, mestrado em Edu
cação Especial pela Universidade Federal de São Carlos e em Applied
Behavioral Science pela University o f Kansas e doutorado em Educa
ção Especial pela Universidade Federal de São Carlos. Foi membro do
GROUPS
grupo de Instructtonal Designers da Headsprout e é pós-doutoranda na
University o f Nebraska Medicai Center, no Center for Autism Spec-
trum Disorders.
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Sobre os autotes
INDEX
Federal de São Carlos, Atualmente, é professora adjunta do Departa
mento de Psicologia e Análise do Comportamento da Universidade
Estadual de Londrina e é professora credenciada no Programa de Pós-
-Graduação em Análise do Comportamento desta mesma universida
de. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Epistemolo-
gia da Psicologia e Fundamentos do Behaviorismo Radical, atuando
principalmente nos seguintes temas: Behaviorismo Radical, evolução
BOOKS
da cultura, ciência, ética, tecnologia do comportamento.
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INDEX
BOOKS
GROUPS
Este livro foi impresso em março de 2 0 1 5 pela Gráfica Compacta em São Carlos/SP.
INDEX
não se torna propício para que os fu
turos profissionais considerem a
abordagem comportamental como
uma possível fundamentação de sua
atuação. Pensando em colaborar
para uma mudança neste cenário,
BOOKS
este livro é uma coletânea de capítu
los escritos por professores de res
peitadas instituições de ensino supe
rior do Brasil e do exterior e tem o
objetivo de apresentar ao aluno ini
ciante a prática do psicólogo analista
comportamental em diferentes
GROUPS
áreas e com diferentes populações,
bem como os aspectos teóricos da
Análise do Comportamento que em-
basam tais práticas.
INDEX
conceitualmente, mas de fácil
compreensão, por ter sido
produzido e pensado para iniciantes.
0 livro traz informações
teórico-práticas sobre o trabalho do
analista do comportamento na
educação de crianças com
BOOKS
necessidades especiais, na
psicoterapia, em comunidades, no
planejamento de práticas
sustentáveis e com indivíduos com
problemas de conduta.
GROUPS
EdUFsc&r
INDEX
BOOKS
GROUPS