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CDD 616.891425
2022
Obra originalmente publicada sob o título
Functional Analytic Psychotherapy Made Simple –
A Practical Guide to Therapeutic Relationships
GARETH HOLMAN
Há muitas pessoas que ajudaram a criar este livro, não apenas modelando
as palavras e as ideias que estão nele, mas também me ajudando a crescer
nos últimos anos. Compilando essa lista, sinto-me um homem de muita
sorte: Jen Loser, por apresentar a ideia de que a criatividade é um ato
de amor no momento certo. Jonathan Bricker, por oferecer segurança
— quando eu estava decidindo se deveria ou não assumir este projeto
— de que o livro poderia oferecer uma contribuição digna, apesar da
ausência de uma forte base de evidências para a FAP. “Será lindo como
um guia clínico.” Neil Kirkpatrick — o terapeuta comportamental mais
eficaz (ou pelo menos opinativo) que conheço —, por organizar o pri-
meiro rascunho cabeludo do Capítulo 1 de maneira profundamente útil.
Yvonne Barnes-Holmes, Carmen Luciano, Niklas Törneke, Joe Oliver,
John Boorman, Miles Thompson, Nic Hooper, Kelly Wilson e Louise
McHugh, por me inspirarem com a clareza e a paixão do seu trabalho
durante a conferência da ACBS em 2015, em Berlim. O livro se crista-
lizou em grandes saltos durante aquela semana. Tien Mandell, pelo seu
trabalho original e seu desafio de esclarecer e tornar a teoria da FAP útil.
Michael Vurek, Tore Gustafsson e Marie Blom, pelos seus comentá-
rios e apoio em alguns capítulos iniciais. Marie Blom, em particular, por
encontrar a maravilhosa citação de Virginia Woolf que abre a Parte 2.
Fabian Olaz, por compartilhar sua amizade e seu crescimento comigo.
x Agradecimentos
JONATHAN KANTER
Agradeço a Alessandra Villas-Bôas e Glenn Callaghan pelas importantes
contribuições para o meu pensamento sobre a FAP e pelo apoio pessoal
que me deram; à minha esposa, Gwynne Kohl, por todo amor e apoio;
e à Zoe Kanter, minha inspiração para ver alegria e beleza em todas as
coisas, grandes e pequenas.
Agradecimentos xi
MAVIS TSAI
Agradeço aos meus coinstrutores da FAP na University of Washington
ao longo dos anos — Mary Plummer Loudon, Gareth Holman, Andrew
Fleming, Julia Hitch, Hilary Mead e Daniel Maitland — por me aju-
darem a criar um profundo ambiente de aprendizado, em que as feridas
de todos são validadas, e nossos talentos, nutridos. Laura Brown, Julie
Gottman, Barbara Johnstone, Kelly Koerner, Linda Luster, Joanne Stein-
wachs e Jennifer Waltz são irmãs de alma. Sou incrivelmente grata aos
supervisionados e estudantes que moldaram quem eu sou — muitos de
vocês se tornaram poderosos companheiros de FAP que inspiram minha
mente e coração. E para Bob: você é o amor e a luz da minha vida, e isso
nunca vai mudar.
ROBERT KOHLENBERG
Pensando nos relacionamentos de tempos atrás que plantaram as semen-
tes e definiram as condições que, eventualmente, levaram à FAP: Loren
Acker, Ivar Lovaas, Steven C. Hayes e Barbara Kohlenberg. Vocês, que
conhecem a história da FAP, também sabem como o sagrado relaciona-
mento entre Mavis e eu estava e está em seu centro. Também quero agra-
decer pelas contribuições dos meus coautores, Jonathan e, claro, Mavis
novamente, e sobretudo de Gareth, que foi a força motriz inspiradora e
o principal contribuinte para este livro.
Apresentação à edição brasileira
Fátima Conte
Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP).
Analista do Comportamento com Acreditação Honorária e Vitalícia pela Associação
Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC). Professora Associada aposentada da
Universidade Estadual de Londrina (UEL). Sócia-fundadora do Instituto Continuum,
onde coordena o curso on-line de Formação e Especialização em Terapias Contextuais.
Apresentação à edição brasileira xvii
REFERÊNCIAS
Rogers, C. R. (1961). On becoming a person. Houghton Mifflin.
Skinner, F. B. (1953). Science and human behavior. Macmillan.
Tsai, M. & Kohlenberg, R. (1987). Functional analytic psychotherapy. In N.
S. Jacobson (Ed). Psychotherapists in clinical practice: cognitive and behavioral
perspectives (pp. 388-443). Guilford Press.
Prefácio
Tratando as pessoas com
consciência, coragem e amor
Steven C. Hayes
Professor fundador e diretor de treinamento clínico
University of Nevada
Sumário
Introdução.................................................................................... 1
PARTE 1: AS IDEIAS.............................................................. 17
1 Conexão social e relação terapêutica como contextos para
mudanças................................................................................... 19
Conclusão................................................................................. 351
Referências................................................................................ 359
Indíce....................................................................................... 367
Introdução
Você chega ao seu consultório e se traz consigo. Mas o que mais você
traz?
Talvez você traga uma má noite de sono ou o estresse da segun-
da-feira de manhã. Você pode trazer um bom café e o compromisso
de fazer o bem. Você está em um momento de altos ou baixos na sua
carreira? Você está aprendendo um novo método ou consultando co-
legas fantásticos? Ou você está se perguntando o que fará em seguida,
pois muitas semanas se tornaram “blé” ultimamente? Você está lutan-
do para gostar de algumas das pessoas que você verá esta semana?
Que deleite você trouxe consigo? Quais medos? Quais esperan-
ças? Quais vulnerabilidades?
Que vergonha você trouxe consigo? Você ainda está um pouco
dolorido de uma sessão lancinante na sexta-feira? Você está se sentin-
do desconectado de um amigo devido a algo que aconteceu no fim de
semana? Você está com medo de alguma coisa?
Ao iniciar o dia, com que firmeza você se apega ao que represen-
ta como terapeuta? Como você está resistindo? Você está realmente
olhando para as suas fraquezas como terapeuta? Você está tentando
demais?
O que você está evitando enfrentar em sua vida agora? Onde
você está vulnerável?
E como todas as variáveis citadas afetam a maneira como você
atua como terapeuta hoje? Como elas afetarão seus clientes?
Seu cliente — talvez ele seja um cliente novo, digamos que seu
nome é Tom — também traz a si mesmo e sua história para a sessão.
Tom acorda ansioso para a consulta com você. As mãos dele tremem
enquanto ele serve o café.
Ele imagina que você estará sentado em frente a ele, silenciosa-
mente profissional e cheio de avaliação. Ele se imagina se contorcen-
do. Ele ensaia o que vai dizer para poder soar pelo menos semicoe-
rente. Ele sente o pânico subindo em seu peito.
Ele se lembra de uma série de médicos sem nome questionan-
do-o. Embora bem-intencionados, todos eles o colocaram no limite.
E então você e Tom se encontram. O que acontece quando os
seus históricos, vulnerabilidades e perspectivas interagem? O que ele
Psicoterapia analítica funcional descomplicada 3
vai tirar da interação? Como você vai encorajá-lo? Como você vai su-
tilmente desencorajá-lo? Envergonhá-lo? Como você vai convidá-lo a
se abrir? Por sua vez, como ele vai envergonhar você? Desapontá-lo?
Como você servirá a ele? Ou, se agir para preservar seu senso de
especialização e competência, você vai sutilmente ou não tão sutil-
mente esquecer de Tom e negligenciar os principais problemas que
precisam de atenção?
Cada cliente não é apenas um caso, e você não é apenas um te-
rapeuta. Você e seu cliente são duas pessoas se engajando em uma
dança de conexão (esperançosamente curativa) com uma fundação
que envolve centenas de milhares de anos de evolução humana. Isso
é muito para uma segunda-feira de manhã!
4 Introdução
passiva. Você reagirá aos seus clientes. E, às vezes, essas reações serão in-
fluenciadas mais pela sua própria história do que pelos próprios clientes.
Desse modo, você deve ser capaz de identificar quais de suas reações são
principalmente sobre você e sua história, e, portanto, não fornece infor-
mações amplamente úteis sobre o cliente envolvido.
Esses aspectos citados descrevem a postura que pedimos a você
como terapeuta da FAP. Um conjunto ligeiramente diferente de pon-
tos que definem a postura que nós convidamos você a adotar durante
o aprendizado da FAP pode ser encontrado ao ler este livro. A seguir,
confira algumas sugestões específicas sobre como aproveitar esta obra
ao máximo.
Encontre parceiros de treino. Em virtude do foco da FAP nas inte-
rações interpessoais, provavelmente não será uma surpresa que alguns
dos exercícios deste livro envolvem a interação com outras pessoas. Mui-
tos deles podem ser realizados com clientes, mas será útil fazer certos
exercícios com outras pessoas. Aqui e agora, no início, tente identificar
algumas pessoas que possam estar dispostas a participar de conversas pro-
fundamente sinceras com você ou a experimentar alguns jogos divertidos
de psicologia experiencial. As pessoas escolhidas podem ser colegas, mas
também podem ser amigos ou familiares.
Liberte-se do perfeccionismo e abrace o desconforto. Espere sentir-se
desconfortável enquanto se envolve em muitos dos exercícios deste livro,
além de aprender a análise funcional (se ela é nova para você) enquanto
pratica a FAP em geral. Não há problema em se sentir desajeitado e an-
sioso. Você está praticando algo novo. Mesmo com toda a experiência, os
autores deste livro continuam a se sentir ansiosos muitas vezes ao praticar
a FAP ou treinar terapeutas na FAP. Você pode achar útil pensar no seu
desconforto dessa maneira: na verdade, ele representa a sua sintonização
e sensibilidade à dança da abertura até outra pessoa, a sua capacidade de
se relacionar com os clientes a partir de uma fundação de humanidade
compartilhada, em vez de a partir de uma experiência desconectada. Dis-
cutimos essa ideia em profundidade mais adiante. Agora, basta focar em
Psicoterapia analítica funcional descomplicada 13
esta obra ofereça ideias importantes para você ponderar, exercitar e pro-
cessar no seu próprio ritmo, workshops, treinamentos on-line e supervisão
individual fornecerão uma maior profundidade de aprendizagem expe-
riencial sobre a FAP, de maneiras que vão além do escopo possível em
um livro.
ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
Este livro está organizado em duas partes. A Parte 1 (Capítulos 1 a 5)
abrange os princípios essenciais da FAP, ao passo que a Parte 2 (Capítulos
6 a 13) aborda a prática clínica. O Capítulo 1 apresenta uma aborda-
gem contextual da visão comportamental da conexão social, descreven-
do, a partir dessa perspectiva, como o funcionamento social influencia
os problemas psicológicos e como as relações terapêuticas funcionam.
O Capítulo 2 se aprofunda na perspectiva comportamental contextual
na raiz da FAP. O Capítulo 3 introduz os princípios fundamentais da
análise funcional aplicados à FAP. O Capítulo 4 descreve o modelo de
consciência, coragem e amor, uma estrutura para a análise funcional das
conexões sociais que podem ser aplicadas às relações terapêuticas, bem
como a outros contextos sociais. Por fim, o Capítulo 5 conecta todos
os tópicos anteriores para descrever o processo terapêutico no centro da
FAP, encapsulado nas cinco regras da FAP.
A Parte 2 causa uma sensação ligeiramente diferente da Parte 1 por
uma razão simples: embora a teoria seja a espinha dorsal da FAP, ter uma
noção teórica não é o suficiente para você se tornar um clínico eficaz da
abordagem. Um conjunto particular de habilidades — pessoais, interpes-
soais e clínicas — é necessário para colocar a teoria em uso. Vamos tratar
disso um pouco mais amplamente no Capítulo 6, com a apresentação
de alguns exercícios que os terapeutas podem fazer para desenvolver au-
toconsciência e flexibilidade interpessoais, que apoiam as habilidades da
FAP. O Capítulo 7 apresenta os elementos da FAP em jogo no início
da terapia e estabelece como fortalecer a base para o trabalho nessa fase
inicial. O Capítulo 8 aprofunda o processo de evocar e explorar o que
Psicoterapia analítica funcional descomplicada 15
As ideias
1
Conexão social e relação
terapêutica como contextos
para mudanças
a sensação permanente de que algo estava errado com ele. Ele experi-
menta baixos níveis de ansiedade e de reticência, que se instalam em
seu corpo sempre que ele está perto de pessoas que teme que o avaliarão
de modo negativo. Mark lidou com seu senso de inadequação, tornan-
do-se muito direcionado a agradar os outros, de modo que a maioria
das pessoas pensa que ele é um cara legal. Ainda assim, como se lhe
pedissem para falar uma língua que nunca aprendeu, ele tem poucas
palavras para expressar suas próprias necessidades ou sentimentos; ele
só sabe que se sente “mal”. À medida que sua depressão se aprofun-
dava, ele se tornava cada vez mais oprimido por telefonemas e e-mails
de amigos e familiares. Para ele, foi mais fácil evitar a proximidade do
que sentir a dor de falar com eles. Agora, ele está congelado em um
torturante isolamento, alternando entre vários estados aversivos: seve-
ra autocrítica e desespero; culpa por seu contínuo afastamento, que
ele sabe que preocupa profundamente a sua família; e distanciamento
entorpecido, girando em torno do sono, da televisão e da pornografia,
que apenas reforça a sua crença de que ele é inútil.
Ou considere Joan, que sofre de dor crônica relacionada com uma
lesão no trabalho que ocorreu há vários anos. Embora a causa mais óbvia
de sua dor seja a própria lesão, o sofrimento de Joan, no contexto atual,
envolve muitas outras pessoas. Ela se sente culpada por ser um fardo para
o seu marido, que não apenas está mantendo a família financeiramente,
mas também cuidando de todas as tarefas domésticas. Conduzida pela
culpa, Joan periodicamente se esforça demais em casa, exacerbando a sua
dor. Quando seu fisioterapeuta prescreveu exercícios que eram muito
difíceis, ela estava muito envergonhada para dizer isso a ele, de modo
que, em vez disso, cancelou várias sessões seguidas. Em geral, Joan evita
buscar por amigos ou ex-colegas de trabalho, pois ela está envergonhada
e frustrada e não quer que as pessoas a vejam “assim”. Ocasionalmente,
ela expressa sua frustração por meio de comentários hostis aos filhos ou
ao marido. Ao longo de vários meses, ela passou a atender aos critérios
de depressão.
Psicoterapia analítica funcional descomplicada 29
APRENDIZAGEM SOCIAL
Agora, do ponto de vista da CBS, vamos considerar um pouco mais de
perto como as interações sociais modelam o comportamento. A perspec-
tiva da CBS constitui a base da postura terapêutica na FAP, e existem
alguns princípios gerais da CBS que se aplicam às nossas relações sociais.
Aqui, vamos apresentar apenas alguns conceitos básicos, que serão
aprofundados no próximo capítulo — novamente, não em virtude da
teoria em si, mas porque a perspectiva da CBS é um elemento-chave nas
ferramentas clínicas práticas da FAP.
USANDO O RELACIONAMENTO
TERAPÊUTICO COMO CONTEXTO
PARA MUDANÇA
Compreender a relação entre conexão social e problemas psicológicos, e
como a melhora da conexão social pode levar a uma melhora no bem-
-estar, leva a uma conceituação muito particular da função e do signifi-
cado da relação terapêutica. O relacionamento terapêutico é fonte de in-
fluência para o comportamento do cliente — influência exercida no aqui
e agora. Quando os clientes procuram tratamento, sobretudo quando
seus problemas psicológicos envolvem dificuldades em relação a outras
pessoas, o relacionamento terapêutico apresenta tanto uma oportunida-
de quanto uma responsabilidade.
34 Conexão social e relação terapêutica como contextos para mudanças
sugiro que nós coloquemos na agenda”. Ou “Eu noto que você parece
bastante cético sobre muitas das coisas que eu digo”.
A aprendizagem experiencial também pode significar revelar aspec-
tos mais vulneráveis de nós mesmos ou de nossas reações aos clientes.
Por exemplo, podemos expressar nossa frustração para um cliente per-
sistentemente atrasado, sabendo que ele tende a evitar o contato com as
consequências negativas de suas ações. Podemos pedir-lhe para entrar em
contato com a nossa reação. Podemos convidá-lo a perceber que emoções
ou sensações surgem para ele como resultado.
Em virtude dessas interações serem complexas, diferenciadas e in-
dividuais, é importante que elas sejam genuínas, o que significa que o
terapeuta está operando no contexto de suas experiências e reações reais
para a situação. Por quê? Em primeiro lugar, porque qualquer uma ou
todas as reações exercidas podem ser relevantes para a terapia, uma vez
que o relacionamento terapêutico não deve ser mais simples do que um
relacionamento real. Em segundo lugar, porque os seres humanos estão
equipados com uma capacidade refinada para detectar falta de genuini-
dade — quando os outros estão escondendo respostas ou reações. Quan-
do a falta de genuinidade é detectada, ela não é um fato neutro. Embora
possa não desencadear uma sensação primordial de ameaça, pelo menos
desencadeará precaução, o que pode minar a qualidade da relação tera-
pêutica. Essa reação é especialmente provável para clientes que foram
prejudicados ou traídos por outros.
RESUMO
• Uma conexão social pobre representa tanto risco de mortalidade
quanto o tabagismo.
40 Conexão social e relação terapêutica como contextos para mudanças