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Premissas básicas da ACT aplicadas à dor cronica segundo Joanne Dahl , Tobias

Lundgren em

Living Beyond Your Pain: Using Acceptance & Commitment Therapy to Ease Chronic Pain.
Newharbinger, 2006

A dor é algo de normal. E um sinal vital que todos temos. Nos não podemos de maneira
deliberada eliminar totalmente a nossa dor, só a podemos eliminar temporarimente.
Quando tentamos eliminar totalmente a dor acabamos por causar a nós próprios mais
sofrimento a longo prazo.

Na ACT, o sofrimento é mais que a propria dor. Ele é visto também como a luta contra
emoções dificeis, pensamentos, memórias desagradáveis, sensações não desejadas.
Como se a dor não bastasse, a pessoa pensa nela, procupa-se acerca da dor, sente ter
dor, anticipa a dor futura e aterroriza-se ao pensar numa vida com dor.

A dor e o sofrimento são dois estados diferentes do ser. Nós não temos que nos identificar
com o sofrimento e se nós o fazemos estamos a causar-nos ainda mais sofrimento. Aceitar
a nossa dor é um passo para escapar do nosso sofrimento. “Como uma espécie de vitória
atravez da rendição”. A ACT pode ajudar-nos a viver uma vida a que damos valor, a
começar de seguida, mesmo quando ainda estamos a experimentar a dor.

Na maior parte das terapias da dor nós só obtemos resultados parciais. Este facto leva a
que as pessoas vivam com dores apesar dos diferentes tratamentos, médicos ou outros, e
a ter sentimentos de depressão e de desespero – o que torna mais dificil lidar com a
situação.

As pessoas que têm dores precisam de saber, em primeiro lugar, que elas não estão sós e
que não são as únicas que se sentem frustradas com o tratamento da gestão da dor.

Os estudos mostram que os métodos utilizados para a gestão da dor não funcionam com
todas as pessoas e que por vezes até podem provocar mais problemas. Isto significa que
o sentimento de desespero aprendido que as pessoas sentem é legitimo e claramente
baseado na realidade.

O facto da nossa sociedade promover o desejo de uma vida sem dor - já sem falar da
possibilidade de isso poder vir a acontecer - é uma das razões pelas quais nós temos este
sentimento de desepero aprendido. Se tudo o que nos rodeia nos transmite uma
mensagem que nós não deveríamos sentir dor, se ao longo do dia somos influenciados
pela publicidade que nos propõe pípulas milagrosas para termos uma vida sem dor e que
ainda sentimos dor, então se sentir desesperado é perfeitamente normal.

Deveríamos estar atentos às mensagems que podemos retirar do facto de termos


tentamos já tantas vezes eliminar a dor sem resultado. A primeira é que as tentativas para
acabar com a dor podem ser tão desesperantes como a propria experiência de ter dor.
Seria útil então estar atentos ao seguinte: são as tentativas para se livrar da dor que são
desesperantes, não o individuo com dor ou a própria experiência da dor.

A segunda mensagem é que a energia que nós gastamos quando estamos a tentar acabar
com a dor, não é gasta ao serviço de coisas mais importantes na nossa vida. Lutamos
numa batalha desesperada em vez de nos empenharmos em algo que amamos, o que
posse ser deveras deprimente.

Isto léva-nos à terceira mensagem, a mais importante, que o desespero nos envia. Não é
por nada que nós tentamos nos livrar da dor. Nós tentamos libertar-nos da dor porque
desejamos viver o que tinhamos projetado para nós. Nós queremos que a dor vá embora
para podermos continuar a nossa vida. Nós não nos sentiríamos deprimidos ou
desesperados se não quizessemos a nossa vida de volta. Os sentimentos de desespero
podem ser o sinal de alerta e ajudar-se a escolher que é importante exigir a nossa vida de
volta.

Por estas razões, nós deveríamos tentar evitar ou aliviar o desespero aprendido. Nós
devemos deixar que ele nos ajude à sua maneira. Levar sériamente em conta esse
sentimento é o primeiro passo para nos pôr de novo em condições para avançar. A
pergunta é: será que sofri suficientemente? Se a resposta for sim, então é provavelmente
o momento de abandonar essa luta e começar a viver.

Por outro lado, os estudos mostram que quanto mais nos tentamos livrar da dor mais ela
se amplifica e se ramifica e mais vamos pôr de lado o que mais estimamos na vida. Perder
a vida que nós queremos viver pode levar à depressão. Se acreditarmos no mito cultural
de que “uma boa vida é uma vida sem dor” estamos a entrar num combate que não
podemos ganhar.

Como a dor fisica e a dor psicológica parecem alimentar-se uma à outra, o que parece
originar ainda mais dor, como reconciliar então estes dois aspectos?

Na perspectiva da terapia aceitação e compromisso, a dor física e a dor psicológica ( algo


que pode ir duma ferida dos tecidos a um coração destroçado) são consequências
inevitáveis de estar em vida. A unica maneira de podermos evitar a dor é não estarmos
vivos. Nenhum de nós quer ter uma doença ou ser abandonado por alguém que nós
amamos, mas estes são os riscos que corremos na nossa vida. Não podemos ter um sem
o outro. Se queremos ter a possibilidade de amar e sermos amados temos que correr o
risco da rejeição. Se queremos ter uma boa forma física pela pratica de um desporto,
temos que fazer certos exercícios e arriscar a ter um ferimento um dia.

A ACT não nos vai ajudar a evitar a dor. O que ela nos propõe é uma mudança na nossa
maneira de gerir as nossas experiências pessoais. As dores físicas e mentais não podem
ser resolvidas como o faríamos com uma máquina avariada, ou concertadas como o nosso
carro. O facto de tentar eliminar totalmente estas dores leva a mais sofrimento da nossa
parte e daqueles que nos rodeiam. Tentar consertar o que não pode ser concertado é a
raíz do problema, para além do facto dessa tentativa ter custos pessoais e sociais muito
elevados.

A aceitação do “que é” é o primeiro passo para sofrer menos e para dar valor ao que é
importante na nossa vida.

A ACT permite que nos afastemos do mito cultural acima indicado, ajudando-nos a nos
focalizar de novo na vivência da vida e nas coisas que mais estimamos, enquanto que
aceitamos que a dor é um facto.
Essencialmente trata-se de aprender a viver de maneira enriquecedora com a dor.

Constatamos que o sentimento de desespero está omnipresente, não só nos clientes mas
também nas pessoas que lidam com eles: médicos, psicólogos, conselheiros vocacionais,
e até mesmo as companhias de seguros. Quando se trata de dor crónica, a medicina
ocidental não funciona tão bem e parece que ninguém sabe muito bem o que fazer com
essa constatação.

A ACT aborda a gestão da dor de uma maneira completamente diferente, sugerindo que
nós aceitemos a dor que não pode ser eliminada. Em vez disso, nós ajudamos a pessoa
que sofre a utilizar os seus recursos para se reposicionar na corrente principal da sua vida.

Temos que lembrar que o sofrimento é mais causado pela nossa luta contra a situação de
dor que pela propria dor. Quando a dor é inevitável ela é suportável; e quando nós a
tentamos evitar ela torna-se insuportável. A ACT aborda a dor como algo que está para
além do nosso controle, mas identifica o sofrimento como algo que nós podemos controlar.
De notar que os profissionais sofrem do mesmo desespero que os seus clientes quando
tentam resolver problemas sem solução.

A ajuda da ACT, no que concerne a dor crónica, necessita um compromisso de prática.


Como as competências comportamentais trabalhadas na terapia são muitas vezes contra
intuitivas para a algumas pessoas, só a sua prática regular permite que elas façam parte
integrante da nossa vida. A melhor maneira de limitar os efeitos dos obstáculos que vamos
encontrar no nosso quotidiano é a anticipação e a procura : “procurar o Sr. Desconforto” é
uma maneira efectiva de fortalecer as nossas capacidades. À medida que continuamos a
recuperar a nossa vida, estamos atentos àqueles pensamentos e sentimentos que surgem
de repente, que nos alertam para o perigo e que tentam pôr-nos fora da corrida. Olhemos
para eles com compaixão e com curiosidade. Eles fazem parte de nós e trazem à nossa
lembrança acontecimentos passados que caíram no esquecimento. Aceitemos que somos
criaturas de hábitos e que por vezes vamos voltar a comportar-nos como antigamente.
Esta aceitação e observação do sucedido (voltar ao hábito) é também uma aprendizagem
que nos permite perceverar e recuperar os nossos objectivos. Afinal temos que escolher a
nossa vida centenas de vezes por dia.

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