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(EJA)
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SUMÁRIO
UNIDADE I - EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ........................................................................................................... 5
CARACTERIZAÇÃO DA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO ......................................................... 5
O MOBRAL......................................................................................................................... 20
Ampliando a concepção de alfabetização .......................................................................22
NOVOS RUMOS NA EDUCAÇÂO DE JOVENS E ADULTOS.................................................. 23
Paulo Freire: Alguns Pontos para Reflexão ....................................................................28
Medidas ...................................................................................................................................78
Geometria................................................................................................................................78
Introdução à Estatística .......................................................................................................78
ESTUDOS DA SOCIEDADE E DA NATUREZA...................................................................... 79
O Educando e o Lugar de Vivência ....................................................................................79
O Corpo Humano e Suas Necessidades ..........................................................................80
Cultura e Diversidade Cultural ...........................................................................................80
Os Seres Humanos e o Meio Ambiente...........................................................................81
As Atividades Produtivas e As Relações Sociais ...........................................................81
Cidadania e Participação .....................................................................................................81
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................................................................................102
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Dessa forma, esta disciplina tem como objetivo propiciar o estudo sobre a Educação
de Jovens e Adultos na realidade brasileira, bem como refletir sobre os processos de
ensino e aprendizagem que o envolvem, contribuindo para a construção da cidadania
como elemento da emancipação.
O professor deve ser considerado um facilitador, e como tal, sua relação com os
alunos é primordial para ensino aprendizagem, tendo como principal característica o
diálogo, o respeito, a colaboração e a confiança. O clima propício para a aprendizagem,
segundo o modelo andragógico, tem como características o conforto, a informalidade
e o respeito, garantindo que o aluno se sinta seguro e confiante.
CONCEPÇÃO METODOLÓGICA
Os cursos da EJA devem pautar-se pela flexibilidade, tanto de currículo, quanto de
tempo e espaço, de forma a atender às funções reparadora, qualificadora e
equalizadora, previstas para os alunos jovens, adultos e idosos dessa modalidade de
ensino, através de uma proposta pedagógica baseada na pedagogia emancipadora,
do diálogo, que compreenda a necessidade de contínuo desenvolvimento de
capacidades e competências necessárias para enfrentar as transformações do mundo
atual, de modo a permitir percursos individualizados e conteúdos significativos
através de:
Entretanto, após a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, ocorreu uma
desorganização do ensino, que voltou a ser ordenado somente no Império. Ao
saltarmos para o século XX, segundo informações do IBGE, em 1910, ―o direito a ler
e escrever era negado a quase 11 milhões e meio de pessoas com mais de 15 anos‖.
Logo, alguns grupos sociais mobilizaram-se para organizar campanhas de
alfabetização chamadas de ―Ligas‖.
De acordo com Ribeiro (1997), foi apenas a partir da década de 30, quando começou
a se consolidar um sistema público de educação elementar no país, que a educação
básica de adultos teve seu lugar inserido na história da educação brasileira.
Estudos e Pesquisa (INEP) instituiu o fundo nacional do ensino primário que tinha o
dever de promover programas progressivos de ampliação na educação primária:
Passos decisivos para a colocação da educação de Adultos como problema nacional foram
dados na década de 1940 com a criação do Fundo Nacional do Ensino Primário e sua
regulamentação em 1945, que destinava 25% dos recursos do fundo para a Educação de
Adultos e adolescentes analfabetos, a criação do Serviço de Adultos em 1947 e com a
aprovação de um Plano Nacional de Educação Supletiva, ainda em 1947 (CORREIA, pp. 21
e 22).
Por meio dessa estrutura e desses recursos foram promovidas diversas Campanhas
contra o analfabetismo, destacando-se a Campanha de Educação de Adultos e
Adolescentes em 1947 e a Campanha Nacional de Educação Rural em 1952.
Isso tudo fez com que houvesse uma maior preocupação com relação à educação dos
adultos, a qual, segundo Ribeiro (1997, p. 20) definiu sua identidade a partir de uma
Campanha de Educação de Adultos, lançada em 1947:
Pretendia-se, numa primeira etapa, uma ação extensiva que previa a alfabetização
em três meses, e mais a condensação do curso primário em dois períodos de sete
meses. Depois, seguiria uma etapa de ― ação em profundidade‖, voltada à
capacitação profissional e ao desenvolvimento comunitário.
No início, a campanha teve ótimos resultados, quando foram criadas diversas escolas
supletivas. Dela, também suscitaram discussões, no campo teórico-pedagógico,
sobre o analfabetismo, que era considerado como a causa do fracasso em que se
encontrava a situação econômica, social e cultural do país. Dessa forma, o adulto
analfabeto era visto como incapaz e marginal.
sim o foco do estudo. As sílabas deveriam ser memorizadas e remontadas para formar
outras palavras. As primeiras lições também continham pequenas frases montadas com
as mesmas sílabas. Nas lições finais, as frases compunham pequenos textos contendo
orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e mensagens de
moral e civismo (RIBEIRO, 1997, pp. 21-22).
Em Paulo Freire, vida, pensamento e obra se juntam. Pensa a realidade e a ação sobre
ela, trabalhando teoricamente a partir dela. Segundo ele, as questões e problemas
principais de educação não são somente questões pedagógicas, ao contrário, são
políticas. Sua proposta, a pedagogia crítica, como práxis cultural, contribui para revelar
a ideologia encoberta na consciência das pessoas. Seu trabalho revela dedicação e
coerência aliados à convicção de luta por uma sociedade justa, voltada para o
processo permanente de humanização entre as pessoas, onde ninguém é excluído ou
posto à margem da vida. Paulo Freire provou que é possível educar para responder
aos desafios da sociedade, nesse sentido, a educação deve ser um instrumento de
transformação global do homem e da sociedade, tendo como essência a dialogicidade.
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil está muito ligada a Freire. Seu sistema de
ensino foi desenvolvido em 1960 e com o sucesso da experiência, ficou conhecido em
todo o Brasil, sendo praticado por diversos grupos da cultura popular. Com ele, veio
uma mudança de paradigma teóricopedagógico na EJA.
Por essa nova concepção, educador e educando devem interagir, são criados novos
métodos de aprendizagem por meio dos quais o alfabetizador trabalha o conteúdo a
ser ensinado: a escrita. Com a preocupação de que seus alunos estejam
compreendendo o sentido para o sistema de escrita, a partir de temas e palavras
geradoras ligadas às suas experiências de vida.
É nos anos 60 que aparecem Paulo Freira e sua equipe de trabalho, que dão uma virada no
enfoque da educação popular, ao propor que os processos metodológicos para a
alfabetização de adultos transcendam as técnicas e centrem-se em elementos de
conscientização. Lançam seu manifesto contra a educação bancária que desumaniza o
homem e o converte num depósito de conteúdos; e propõem como saída a Educação
Problematizadora. O desafio proposto por Freire era conceber a alfabetização de adultos
para além da aquisição e produção de conhecimentos cognitivos, mesmo sendo estes
necessários e imprescindíveis (MEDEIROS, 2005, p.3).
Segundo ele, a visão ingênua que os indivíduos têm da realidade tornaos escravos, na
medida em que, não sabendo que podem transformá-la, sujeitam-se a ela. Essa
descrença na possibilidade de intervenção na realidade é alimentada pelas cartilhas e
manuais escolares que colocam homens e mulheres como observadores e não como
sujeitos ativos dessa realidade.
Conforme a autora, a partir dessas práticas, o analfabetismo deixou de ser visto como
causa da pobreza e da marginalização e ― passou a ser interpretado como efeito da
situação de pobreza gerada por uma estrutura social não igualitária‖ (RIBEIRO, 1997,
p. 23).
TI - JO – LO
TA - TE - TI - TO – TU
JA - JE - JI - JO – JU
LA - LE - LI - LO – LU
A-E-I-O-U
Em suma, o trabalho de Paulo Freire é mais do que um método que alfabetiza, é uma
ampla e profunda compreensão da educação que tem como cerne de suas
preocupações a sua natureza política. Vale a pena você conhecer as obras desse
importante educador.
Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez, no Centro de Cultura Dona
Olegarinha, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular (Recife). Foi
aplicado, inicialmente, com 5 alunos, dos quais três aprenderam a ler e escrever em
30 horas, outros 2 desistiram antes de concluir.
Porém, com o Golpe de 64, toda essa mobilização social foi reprimida, Paulo Freire foi
considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, infelizmente, esse grande
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projeto foi abandonado. Em seu lugar, surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a
alfabetização, porém, visceralmente distinta dos ideais freirianos. O golpe militar de
1964 encerrou as atividades da Comissão Nacional da Alfabetização encabeçada por
Freire e do Programa Nacional de Alfabetização de Adultos. Por um lado, o golpe
militar tentou acabar com práticas pedagógicas que vinham contrárias aos ideais
políticos, mas por outro, a Educação de Jovens e Adultos não poderia ser abandonada
pelo aparelho do Estado. Não havia como justificar para a comunidade nacional e
internacional a criação de um país com altos índices de analfabetismo.
O MOBRAL
Com significativos recursos, o Mobral instalou comissões municipais por todo o país
que executavam as atividades de alfabetização, enquanto controlavam supervisão,
orientação pedagógica e produção de materiais didáticos. Organizado a partir do golpe
militar, ele tinha o intuito de chegar a quase todos os municípios do país e deveria
atestar às classes populares o interesse do governo pela educação do povo.
Neste momento, o Brasil contava com 33% de brasileiros acima de cinco anos
analfabetos e o Mobral ampliou sua atuação durante a década de 1970. Entretanto, a
crítica pelos níveis de aprendizagem e a dúvida quanto aos indicadores apresentados
ampliou seu descrédito, sendo extinto em 1985.
O MOBRAL foi criticado pelo pouco tempo destinado a alfabetização e pelos critérios
empregados na verificação de aprendizagem. Mencionava-se que, para evitar a regressão,
seria necessária uma continuidade dos estudos em educação escolar integrada, e não em
programas voltados a outros tipos de interesses como, por exemplo, formação rápida de
recursos humanos (PIERRO, 2000, p.116).
Sua função era de articular o subsistema de ensino e a política nacional de jovens e adultos,
fomentar o atendimento nas séries iniciais do Ensino de 1° grau, promover a formação e
aperfeiçoamento de professores, produzir material didático e supervisionar e avaliar as
atividades (CORREIA, 2008, p. 24).
Para Ribeiro (1997), o MOBRAL seria a resposta do regime militar à situação, ainda
grave, do analfabetismo no Brasil. Em 1969, foi lançada uma campanha massiva de
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A expansão do MOBRAL pelo país se deu durante a década de 70, variando sua
atuação. Alguns grupos que se opunham à ditadura procuraram seguir as propostas
mais críticas, com base no Método Paulo Freire, os quais puderam se ampliar na
década de 80, com o início da abertura política.
O MOBRAL não exigia frequência e a avaliação era feita em 2 módulos, uma ao final
do módulo e outra pelo sistema de educação. O fato de não exigir frequência,
possibilitava o elevado índice de evasão que se estabeleceu nesse nível.
Quanto aos materiais didáticos, Ribeiro salienta o fato de que seguiram muitos
procedimentos consagrados nas experiências realizadas no início da década de 60,
porém eram destituídos de sentido crítico e problematizador. Assim, de acordo com
Ribeiro (1997, p. 26),
Assim, em 1985, o MOBRAL foi extinto, por estar desacreditado nos meios políticos e
educacionais. Conforme Ribeiro (1997, p.27-28), ― seu lugar foi ocupado pela
Fundação Educar, que abriu mão de executar diretamente os programas, passando a
apoiar financeira e tecnicamente as iniciativas de governos, entidades civis e
empresas a elas conveniadas‖.
Um tempo maior, de um, dois ou até três anos dedicados à alfabetização e pós-
alfabetização, de modo a garantir que o jovem ou adulto atinja maior domínio dos
instrumentos da cultura letrada, para que possa utilizá-los na vida diária ou mesmo
prosseguir seus estudos, completando sua escolarização.
Para a autora, a maioria das pessoas que procuram os programas para jovens e
adultos já tiveram passagens fracassadas pela escola. Muitos adolescentes e jovens
foram recém excluídos do sistema regular. Dessa forma,
Assim, percebemos que o MOBRAL foi extinto no ano de 1985 pelos políticos que não
mais acreditavam nele, no seu lugar ficou o ensino supletivo que foi regulamentado e
os seus fundamentos são bem desenvolvidos trazendo à tona a visão de um novo
conhecimento na escola. Após ser extinto no período da nova república, foi substituído
pela Fundação Educar e os educadores tinham que enfrentar com poucos recursos
sua tarefa.
As práticas pedagógicas informadas pelo ideário da educação popular, que até então
eram desenvolvidas quase que clandestinamente por organizações civis ou pastorais
da Igreja, retomaram espaços nos ambientes universitários e passaram a influenciar
programas públicos e comunitários de alfabetização de jovens e adultos.
Contudo, a partir dos anos de 1990, a EJA começou a perder espaço nas ações
governamentais. Em março de 1990, com o início do governo Collor de Melo a
fundação Educar foi extinta e todos os seus funcionários colocados em
disponibilidade. Em nome do enxugamento da máquina administrativa, a União foi se
afastando das atividades da EJA e transferindo as responsabilidades para os estados
e municípios.
Neste mesmo pacote de medidas foi retirado o mecanismo que facultava às pessoas
jurídicas direcionar voluntariamente 2% do valor do imposto de renda às atividades de
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alfabetização de adultos, recursos esses, que nas duas décadas anteriores haviam
financiado o MOBRAL e a Educar.
A seção dedicada à educação básica de jovens e adultos resultou curta e pouco inovadora:
seus dois artigos reafirmam o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao ensino básico
adequado às suas condições peculiares de estudo, e o dever do poder público em oferecêlo
gratuitamente na forma de cursos e exames supletivos. A única novidade dessa seção da
Lei foi o rebaixamento das idades mínimas para que os candidatos se submetam aos
exames supletivos, fixadas em 15 anos para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino
médio. A verdadeira ruptura introduzida pela nova LDB com relação à legislação anterior
reside na abolição da distinção entre os subsistemas de ensino regular e supletivo,
integrando organicamente a educação de jovens e adultos ao ensino básico comum
(HADDAD, 2000, p. 122).
A atual LDBN abriga no seu título V, capítulo II, a seção V denominada de educação de
jovens e adultos. Logo, a EJA constitui-se numa modalidade da Educação básica, nas
suas etapas fundamental e média.
Para alcançar essa meta foi lançado o programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual
o Governo Federal contribuirá com os estados e municípios, instituições de ensino
superior e organizações sem fins lucrativos que desenvolvam projetos de
alfabetização. Neste programa, a assistência será direcionada ao desenvolvimento de
projetos com as seguintes ações: alfabetização de jovens e adultos e formação de
alfabetizadores.
Art. 60, § 4.º do ADCT: ―§ 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos a que se
refere o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á em conta a totalidade das matrículas no
ensino fundamental e considerar-se-á para a educação infantil, para o ensino médio e para
a educação de jovens e adultos 1/3 (um terço) das matrículas no primeiro ano, 2/3 (dois
terços) no segundo ano e sua totalidade a partir do terceiro ano‖ (Emenda Constitucional
n° 53/06).
Apesar de muitas vezes não haver continuidade dos programas ou ideias para a
erradicação do analfabetismo em nosso país, ao longo dos tempos, a Educação de
Jovens e Adultos está sempre sendo buscada, com o objetivo de realmente permitir o
acesso de todos à educação, independente da idade. Fica claro o caminho que a EJA
percorreu em nosso país até os dias atuais. Muito já foi feito, mais ainda há caminhos
a percorrer. Não se pode acomodar com os avanços alcançados, é necessário
vislumbrar novos horizontes na busca da total erradicação do analfabetismo em
nosso país, pois a educação é direito de todos.
Para Paulo Freire, a luta pelo direito do ser humano, pelo trabalho livre, pela afirmação
dos homens como pessoas só é possível porque a desumanização não é um destino
dado, mas resultado de uma ordem injusta que gera a violência dos opressores.
Assim, Freire mostra a opressão contida na sociedade e no universo educativo, em
especial na EJA.
A opressão é apresentada por Freire (1987) como problema crônico social, uma vez
que as camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam por aceitar o que lhe é
imposto. Por isso, a Pedagogia do Oprimido não é aquela que parte dos interesses
individuais, egoísta, é uma pedagogia problematizadora, que se apresenta como
pedagogia humanista.
Uma das características dos oprimidos, segundo Freire (1987, p. 28), é a autodesvalia,
que resulta da introjeção que eles fazem da visão que os opressores têm deles. Assim,
―de tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que não
podem saber, que são enfermos, indolentes, que não produzem em virtude de tudo
isto, terminam por se convencer de sua ‗incapacidade‘‖.
30
Conforme o autor:
Essa pedagogia humanizadora só é possível, para Freire (1987), a partir da união entre
teoria e prática, em que a liderança revolucionária, ao invés de sobrepor aos oprimidos
e continuar mantendo-os como quase "coisas", com eles estabelecem uma relação
dialógica. Ao alcançarem esse saber da realidade, na práxis, descobrem-se como seus
refazedores permanentes.
Logo, Freire postula sobre a dialogicidade como prática da liberdade, em que o diálogo
não é apenas uma relação entre duas pessoas, é o encontro dos homens,
mediatizados pelo mundo. Por isso, para o autor, não há diálogo sem amor ao mundo
e aos homens.
não podemos chegar aos operários, urbanos ou camponeses, estes, de modo geral, imersos
num contexto colonial, (...) à maneira da concepção ― bancária‖, entregar-lhes ―
conhecimento‖ ou impor-lhes um modelo de bom homem, contido no programa cujo
conteúdo nós mesmos organizamos.
Freire cita como exemplo um plano de educação de adultos, em uma área camponesa,
na qual há alto índice de analfabetismo. Nesse plano, estariam incluídas a
alfabetização e a pós-alfabetização, a partir da investigação das palavras e dos temas
geradores. De posse do resultado dessa investigação, caberia ao educador elaborar
seu plano de educação, por meio de metodologias diversas, que envolvam os
educandos, transformandoos. Um dos recursos didáticos citado pelo autor seria a
leitura e discussão de artigos de revistas ou jornais sobre o tema gerador, iniciando-
se pela discussão do contexto de produção do gênero a ser lido (quem é o autor, qual
é a finalidade do texto, onde é veiculado etc.), propiciando um debate antes da leitura
propriamente dita, a qual poderia também ser iniciada por trechos dos textos.
O autor ainda discute sobre as teorias da ação cultural que se desenvolvem a partir
das matrizes antidialógica e dialógica. Para Freire, a primeira é opressora e busca a
reificação humana, já a segunda é revolucionário-libertadora e busca a transformação
do mundo união colaborativa dos sujeitos.
Assim como o opressor, para oprimir, precisa de uma teoria da ação opressora, os
oprimidos, para se libertarem, igualmente necessitam de urna teoria de sua ação.
O opressor elabora a teoria de sua ação necessariamente sem o povo, pois que é contra
ele.
O povo, por sua vez, enquanto esmagado e oprimido, intro-jetando o opressor, não pode,
sozinho, constituir a teoria de sua ação libertadora. Somente no encontro dele com a
liderança revolucionária, na comunhão de ambos, na práxis de ambos, é que esta teoria se
faz e se refaz (FREIRE, 1987, p. 107).
Para Freire (1996), educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do
determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um tempo de possibilidades.
Assim, ensinar é algo profundo e dinâmico, que considera a questão de identidade
cultural, a qual atinge a dimensão individual e a classe dos educandos.
Ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito
criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem
discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não
se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender.
aluno. Portanto, não podemos considerar o professor como superior ou como melhor
que o educando, porque aquele domina conhecimentos e este ainda não os domina,
mas como participante do mesmo processo de construção da aprendizagem.
Segundo Freire, ensinar também exige a convicção de que é possível realizar uma
mudança, a partir da ação político-pedagógica do professor, pois, conforme o autor
―Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. (...)
A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão,
escolha, intervenção na realidade‖ (FREIRE, 1996, p. 46).
Para tanto, o professor precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas
momentos de liberdade para falar, debater, possibilitando a voz e a vez dos alunos.
Para isso, é preciso que ele goste de seu trabalho, de seu educando, já que, segundo
o autor, ensinar também é uma especificidade humana. Entretanto, não se trata de
um gostar ingênuo, que permite atitudes erradas e não impõe limites, ou que sente
pena da situação de menos experiente do aluno, ou ainda que deixe tudo como está
que o tempo resolve, mas um querer bem pelo ser humano em desenvolvimento que
34
Conforme o autor, ensinar exige, ainda, compreender que a educação é uma forma de
intervenção no mundo. Essa intervenção vai além do conhecimento dos conteúdos,
pois implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante, como o seu
desmascaramento. Assim, a prática do professor não é neutra e, por isso, exige dele
uma definição, uma tomada de posição, uma escolha entre uma ou outra ideologia,
pois, para Freire (1996, p. 63), ―Não posso ser professor a favor de quem quer que
seja‖.
Essas são algumas das considerações sobre a prática docente que o autor cita em sua
obra. Assim, após essa reflexão, apontamos algumas relações que nunca podem ser
desenlaçadas, para que a pedagogia da autonomia seja aplicável:
b) Prática x teoria.
c) Autoridade x liberdade.
e) Ensinar x aprender.
Ana Maria Araújo Freire, viúva de Paulo Freire, educadora, historiadora, ex-professora
da PUC e da Cátedra Paulo Freire e organizadora dessa obra, deixa-nos a seguinte
mensagem na apresentação do livro:
Entregar aos leitores e leitoras de Paulo Freire o livro que ele escrevia quando nos deixou,
em 2 de maio de 1997, é um momento de grandes emoções. Certamente não só para mim,
mas também para aqueles e aquelas que acreditavam que entre dezembro de 1996,
quando publicou a Pedagogia da autonomia, e maio de 1997, Paulo não teria ficado sem
pôr no papel as suas sempre criativas idéias. Não teria, por quase um semestre, deixado de
expressar por escrito a sua preocupação de educador-político. Não se enganaram os que
assim pensaram e esperaram. Agora, se não passadas todas as angústias, dúvidas,
expectativas e tristezas por ele não estar mais entre nós, podemos comemorar com alegria
a sua volta às editoras e livrarias, inicialmente, com o seu último trabalho (FREIRE, 2000,
p. 8).
Ler e escrever a palavra só nos faz deixar de ser sombra dos outros quando, em relação
dialética com a ― leitura do mundo‖, tem que ver com o que chamo a ― reescrita‖ do
mundo, quer dizer, com sua transformação. Daí a natureza política, não necessariamente
partidária, da educação em geral, da de adultos e da alfabetização em particular (FREIRE,
2000, p. 40).
Freire (2001, p. 41-42) aponta alguns problemas que desafiam aqueles que pensam
e discutem a prática educativa:
Se, de um lado, a educação não é a alavanca das transformações sociais, de outro, estas
não se fazem sem ela. Se de meu projeto de ação política, por exemplo, excluo a ação
educativa porque só depois da transformação é que posso me preocupar com educação,
inviabilizo o projeto. Se, por outro lado, enfatizo apenas a educação com programas de
natureza técnica e/ou espiritual e moral não mobilizo e organizo forças políticas
indispensáveis à mudança, o projeto se perde em bla-bla-blá ou vira puro assistencialismo.
Vale dizer: não importa se o projeto é de alfabetização de adultos, se de educação sanitária,
se de cooperativismo, se de evangelização, a prática educativa será tão mais eficaz quanto,
possibilitando aos educandos o acesso a conhecimentos fundamentais ao campo em que
se formam os desafie a construir uma compreensão crítica de sua presença no mundo.
Nessa perspectiva, Freire adota como ponto de partida não só para a educação de
adultos, mas para a educação geral, a constatação de que ―mudar é difícil, mas é
possível‖ (FREIRE, 2000, p. 42). Dessa forma, ele postula que a educação de hoje não
é aquela que treina os educandos para certas destrezas, mas a que melhor os adapte
ao mundo, à sociedade moderna.
Por isso, desde a década de 60, em seu projeto de alfabetização de adultos, Freire
debatia sobre o conceito de cultura, a partir de uma compreensão mais crítica do
mundo da natureza e do mundo da cultura. Para o autor, intervindo no mundo da
natureza, criamos o mundo da cultura. Logo, ele afirma que é tão cultura o
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instrumento com que os camponeses cavam o chão quanto um poema, ou uma obra
de arte e relata:
Assim, Freire acredita que a educação de adultos precisa estar voltada para um
trabalho conscientizador, democrático, que valorize a cultura, que ensine o aprendiz a
pensar, a ser crítico, indagador e que esteja pronto para as surpresas trazidas pelo
impacto da modernização tecnológica. Ele critica a educação do treino, a educação
bancária, em que o educador realizava ― depósitos‖ nas cabeças ― vazias‖ dos
educandos e aposta numa educação libertadora, em que o erro não é condenado, pois
faz parte do processo de ensino e aprendizagem.
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O perfil deste adulto que busca do acesso a esta modalidade não é o universitário ou
o trabalhador qualificado que frequenta cursos de formação continuada, mas
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Isso não significa que a educação básica de jovens e adultos deva reproduzir as formas de
organização, currículos, métodos, e materiais da educação básica infanto-juvenil. Muito ao
contrario, a experiência internacional recomenda flexibilizar currículos, meios e formas de
atendimento, integrando as dimensões de educação geral e profissional, reconhecendo
processos de aprendizagem informais e formais, combinando meios de ensino presenciais
e a distancia de modo a que os indivíduos possam obter novas aprendizagens e a
certificação correspondente mediante diferentes trajetórias formativas (PIERRO, 2001,
p.71).
Para pensar sobre a educação de jovens e adultos é necessário refletir sobre como
esses jovens e adultos pensam e aprendem. Isso implica reflexão sobre três aspectos:
a condição de não criança, a condição de excluído da escola e a condição de
determinados membros culturais
Mas embora nos falte essa exploração, podemos afirmar algumas características
específicas desta faixa etária: a primeira delas seria que o adulto está inserido no
mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente do da criança
e do adolescente. Traz consigo uma história mais longa de conhecimentos,
experiências acumuladas e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e as
outras pessoas.
A questão é discutir sobre a adequação da escola para um grupo que não é o alvo
principal. Currículos, programas e métodos de ensino foram originalmente concebidos
para crianças e adolescentes que percorreriam o caminho da escolaridade regular.
Isso implica um pensamento em que jovens e adultos muitas vezes estão em
40
É preciso que a sociedade compreenda que os alunos da EJA vivenciam problemas como
preconceito, vergonha, discriminação, críticas dentre tantos outros. E que tais questões são
vivenciadas tanto no ambiente familiar como na comunidade. Mister se faz evidenciar que
a EJA é uma educação possível e capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa,
permitindo-lhe reescrever sua história de vida (LOPES, 2009, p. 2).
Apesar deste quadro dramático, nos últimos anos, os sistemas de ensino têm
desenvolvido esforços para propiciar a jovens e adultos um atendimento mais aberto
no que se refere ao acesso à escolaridade obrigatória.
Seguindo esta linha de raciocínio, coloca-se como primordial uma reflexão acerca do
que o parecer 11/2000 sobre a educação de jovens e adultos traz acerca das funções
da EJA: a função reparadora, equalizadora e qualificadora.
De acordo com o parecer, essa função é justificada pelo alto número de analfabetos
ainda presentes em nossa sociedade. O parecer reconhece os avanços nas políticas
públicas em garantir a universalização da educação, mas ao mesmo tempo considera
que condições histórico-sociais comprometem o empenho dos poderes públicos em
assegurar uma educação básica para todos.
Neste sentido, o parecer indica algumas ações que podem propiciar um atendimento
mais aberto a adolescentes e jovens como: classes de aceleração, programas de renda
negativa como a bolsa-família. Sabemos, no entanto, que mesmo considerando os
esforços de correção idade/série e permanência das crianças na escola, as estatísticas
educacionais brasileiras mostram um número significativo de analfabetos. Para
esses, o documento apresenta a EJA como forma de acabar com o analfabetismo,
considerado uma dívida social.
Seguindo essa linha de raciocínio, nota-se que a ideia central da função reparadora da
EJA é a inclusão. Por meio dela, busca-se a inclusão de alunos no sistema educacional
daqueles que estão fora da escola, a ideia é que pela inclusão escolar, estaríamos
paulatinamente diminuindo as diferenças sociais. Não podemos, no entanto,
fazermos uma leitura ingênua dessas diferenças, pois
43
A partir dessas questões, a ideia da chamada inclusão social via escola baseia-se em
um reduciocismo, uma vez que a escolarização na atual fase do desenvolvimento
capitalista é utilizada para justificar a seletividade no mercado de trabalho, já que não
há lugar para todos.
Diante disto, o parecer 11/2000 que aponta a função reparadora da EJA como dívida
para com aqueles que não tiveram oportunidade no tempo apropriado de concluir
seus estudos, colabora com a ideia de que, por meio da escola, a inserção profissional
e a melhoria das condições de vida do indivíduo, que vê nas suas características
pessoais a responsabilidade pelo fracasso escolar e profissional.
A eqüidade é a forma pela qual se distribuem os bens sociais de modo a garantir uma
redistribuição e alocação em vista de mais igualdade, consideradas as situações
específicas. Segundo Aristóteles, a eqüidade é a retificação da lei onde esta se revela
insuficiente pelo seu caráter universal. (Ética a Nicômaco, V, 14, 1.137 b, 26). Neste sentido,
os desfavorecidos frente ao acesso e permanência na escola devem receber
proporcionalmente maiores oportunidades que os outros. Por esta função, o indivíduo que
teve sustada sua formação, qualquer tenha sido a razão, busca restabelecer sua trajetória
escolar de modo a readquirir a oportunidade de um ponto igualitário no jogo conflitual da
sociedade (PARECER 11/2000, p.10).
44
Desta forma, percebe-se a educação como uma chave indispensável para o exercício
da cidadania na contemporaneidade. Ela apresenta-se como possibilidade do
indivíduo jovem e adulto retomar seu potencial, desenvolver habilidades, bem como
alcançar um nível maior na competência técnica profissional mais qualificada.
Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA. Ela tem como base o caráter
incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se
atualizar em quadros escolares ou não escolares . Mais do que nunca, ela é um apelo para
a educação permanente e criação de uma sociedade educada para o universalismo, a
solidariedade, a igualdade e a diversidade (PARECER 11/2000, p. 11).
A partir deste raciocínio, a educação de jovens e adultos passa a ser vista como meio
de conscientização e de mobilização de grupos sociais excluídos, afirmadas pela ideia
de Paulo Freire que propõe uma educação com o homem e não para o homem. Nesta
perspectiva, cria-se uma nova concepção de alfabetização e de educação: educação
enquanto prática libertadora.
pessoal e social dos sujeitos. O jovem e o adulto, ao buscar a escola, procuram outro
tipo de conhecimento, novos saberes, que se somam à sua vida.
Nossa sociedade apresenta uma perspectiva sobre as diversas fases da vida. Ser
reconhecido como criança, adolescente, jovem e adulto faz parte de importantes
significações relativas ao indivíduo e à cultura na qual está inserido. Aos estudiosos
não pode passar que da idade decorrem a assinalação de direitos e deveres e que suas
demarcações demonstram uma relação com os níveis de estratificação social. Muitos
alunos da EJA têm origem em quadros de desfavorecimento e suas experiências
familiares e sociais e suas expectativas, muitas vezes, divergem dos conhecimentos
e aptidões veiculados pela escola.
Identificar, conhecer, distinguir e valorizar tal quadro é princípio metodológico a fim
de se produzir uma atuação pedagógica capaz de produzir soluções justas e eficazes.
A contextualização se refere aos modos como estes estudantes podem dispor de seu
tempo e de seu espaço. Por isso a heterogeneidade do público da EJA merece consideração
cuidadosa. A ela se dirigem adolescentes, jovens e adultos, com suas múltiplas experiências
de trabalho, de vida e de situação social, aí compreendidos as práticas culturais e valores
já constituídos (PARECER 11/2000, p. 61).
Se cansaço e fadiga não são exclusividades da EJA, também métodos ativos não são
específicos de outro turno. Assim, demonstra-se a possibilidade de atuação na EJA
com métodos ativos e envolventes, que promovam realmente formação humana.
Sabemos, entretanto, que o estado é o mentor das políticas públicas e somente por
meio de decisões políticas sérias é que alcançaremos patamares mais elevadas
quanto a universalização da educação básica, principalmente no que diz respeito a
educação de jovens e adultos.
Na atuação pedagógica deve ser acrescentada a dimensão educativa, que lhe é imputada
por força de sua própria definição institucional. O Professor é um educador... e, não
querendo sê-lo, torna-se um deseducador. Professor-Instrutor qualquer um pode ser dado
que é possível ensinar relativamente com o que se sabe; mas Professor/ Educador nem
todos podem ser, uma vez que só se educa o que se é (ROMÃO, 2001, p.61 ).
A formação é uma pratica de conhecimento e todo conhecimento nasce com uma pergunta.
A pergunta é o primeiro passo do conhecimento. As perguntas surgem na ação, em sua
grande maioria. Tentar responder as perguntas antes que elas surjam na cabeça do
alfabetizador é, no mínimo, pouco racional. No entanto, isto que acontece nas formações
que antecedem à ação. Temos, então, o absurdo de responder a perguntas não formuladas
e depois, quando elas aparecem, não ter um momento de formação para respondê-las
(BARRETO, 2001, p.81 ).
Paulo Freire (1987) propõe que seja trabalhada a conscientização como forma de
resgatar as pessoas da condição de vida que se encontram, isso implicaria numa
transformação total da teoria e prática, que é abordado a necessidade da
conscientização com objetivo de libertar os oprimidos da violenta opressão a que
estão submetidos conduzindo para um viver generosamente autêntico, crítico.
De acordo com Freire (1987) é usada uma concepção apontada por ― Educação
Bancária‖, como instrumento de opressão às classes menos favorecidas, que seriam
libertas mediante o fundamental papel da educação. Na Educação Bancária, o
educando é visto como indivíduo que não sabe de nada, alguém que recebe
conhecimento dos educadores que julgam saber de tudo, onde o educando é aquele
que recebe depósitos na mente e os armazena.
Quanto mais se deixem docilmente ―encher‖ tanto melhores educandos serão (FREIRE,
1987, p.58).
Para superar a Educação Bancária que é a prática que produz o falso saber tornando
o educando um sujeito não critico, e poder conseguir trabalhar a educação como
prática e tendo liberdade, é sugerido a Educação Problematizadora, onde a realidade
é inserida no contexto educativo, sendo valorizado o diálogo, a reflexão e a
criatividade, de modo a construir a libertação.
Em verdade, não seria possível à educação problematizadora que rompe com os esquemas
verticais característicos da educação bancária, realizar-se como prática da liberdade, sem
superar a contradição entre o educador e os educandos. Como também não lhe seria
possível fazê-lo fora do dialogo (FREIRE, 1987, p.68).
Freire (1987) diz que a teoria da ação dialógica escrita pela organização e síntese
cultural é forte arma de combate à manipulação se usada pela liderança
revolucionária. O diálogo é necessário na educação como prática da liberdade,
estando presente em todos os momentos ensino-aprendizagem, da busca e opção
pelos conteúdos, métodos, temas geradores e seus significados até as relações
homens-mundo.
Nos dia de hoje, a idade jovem e adulta veio ser reconhecida e é constituída e exigidos
saberes, habilidades, socializações, informações, conhecimentos, valores, que são
próprios dessas idades, independentemente dos anos de escolarização tidos na
infância, saberes que são construídos no conjunto de relações e experiências e que
são exigidos para lidar com o trabalho, e a sua cultura, tornando-se importante que a
educação oferecida aos alunos jovens e adultos seja dotada de estatuto teórico-
metodológico próprio.
53
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um
no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque
busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando,
intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p.29).
Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples
gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força
formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo (FREIRE, 1996, P.42).
Portanto, ensinar exige bom senso, observando como os educadores estão agindo ao
cobrar os conteúdos das suas disciplinas, o exercício ou a educação do bom senso vai
superando o que há nele de tendência natural na avaliação que é feita. O educador
que pensa certo deixa manifestar aos educandos que a beleza de se estar no mundo
54
Com isso, o educando deve ser civilizado e determinado a lutar pelos direitos dos
professores, apoiando sua luta por salários mais justos e respeito por sua profissão.
O responsável da classe deve priorizar o empenho da formação permanente dos
quadros do magistério como tarefa altamente política e repensar a prática das greves,
inventando uma nova maneira de lutar que seja mais eficaz.
A maioria dos educadores luta pela dignidade de sua função, não sendo somente
importante como pode ser interpretada como uma prática ética. Quanto às
comunidades carentes, a mudança é difícil, mas é possível, baseando-se neste saber
fundamental, é que a ação político-pedagógica poderá ser programada com
esperança, respeito e conscientização, não impondo a população expulsada e sofrida
que se revolte, que se mobilize ou se organize para se defender.
Mas sim trata de mostrar aos demais grupos populares um desafio para que
percebam a violência e a profunda injustiça que caracterizam sua situação, desta
forma a educação se faz presente como interferir no mundo.
[...] nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor não
que não leve a serio sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura
de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não
significa, porém, que a opção e a pratica democrática do professor ou da professora sejam
determinadas por sua competência científica. Há professores e professoras cientificamente
preparados mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a incompetência
profissional desqualifica a autoridade do professor (FREIRE, 1996, pp. 91-92).
Seguindo esta linha de raciocínio é importante que o educador tenha autoridade, mas
não seja autoritário:
Educar não é transferir conhecimento e sim criar possibilidades para sua produção
ou sua construção, não existe educador sem educando em uma sala de aula
esperando para ter o conhecimento desejado, no entanto o educando é a única razão
para o educador estar ali, o educador não pode deixar escapar nenhum detalhe de seu
educando devendo sempre despertar e instigar a curiosidade e capacidade critica,
exigindo pesquisa para conhecer e o que ainda não conhece comunicar a novidade.
Segundo Paulo Freire (1996), o professor deverá ensinar a pensar certo, sendo a
prática educativa a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo e a utilização de um
critério para alargar o ensino antigo, estando presente a rejeição a qualquer tipo de
descriminação. Ainda destaca a importância de propiciar condições aos educando, em
56
Noutro momento deste texto me referi ao fato de não termos ainda resolvido o problema
de tensão entre a autoridade e a liberdade. Inclinados a superar tradição autoritária, tão
presente entre nos resvalamos para formas licenciosas de comportamento e descobrimos
autoritarismo onde só houve o exercício da autoridade (FREIRE, 1996, p.104).
Na maioria das vezes, o educador tem que saber escutar o educando, pois é somente
escutando, crítica e pacientemente, que se é capaz de falar. O educador como um ser
histórico, político, pensante, crítico e emotivo deve procurar mostrar o que pensa,
indicando diferentes caminhos sem conclusões acabadas e prontas, para que o
educando construa assim a sua autonomia.
57
Escutar é obviamente algo que vai mais além das possibilidades auditiva de cada um.
Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do
sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro.
Isto não quer dizer, evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua
redução ao outro que fala (FREIRE, 1996. p.119).
Para Freire (1996), ensinar exige querer bem aos educandos, expressando a
afetividade. A atividade docente é uma atividade também de caráter afetivo, porém
de uma formação científica séria, juntamente com o esclarecimento político dos
educadores.
58
Jovens e adultos que não sabem ler e escrever convivem em uma sociedade letrada,
porém, sua participação nela é, muitas vezes, restrita. Vários são excluídos e se
tornam alvo de fácil manipulação, pois seus conhecimentos são considerados
inferiores em relação aos apresentados por pessoas escolarizadas.
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
De acordo com Tfouni (1995), nem sempre os termos escrita, alfabetização e
letramento têm sido enfocados, Educação a Distância pelos estudiosos, como um
conjunto, já que muitos consideram a escrita como um produto cultural e a
alfabetização e o letramento como processos de aquisição de um sistema escrito.
Para a autora, a escrita ―é o produto cultural por excelência‖ (Tfouni, 1995, p.10) e
pode ser vista como uma das principais causas do surgimento das civilizações
modernas, associando-se ao desenvolvimento científico, tecnológico, cultural,
cognitivo e social dos povos. Além disso, ela se relaciona com os jogos de poder e
dominação que estão por trás da utilização de um código escrito.
Dessa forma, conforme Tfouni (1995, p. 15), a partir de uma visão sociointeracionista,
―a alfabetização, enquanto processo individual, não se completa nunca, visto que a
sociedade está em contínuo processo de mudança, e a atualização individual para
acompanhar essas mudanças é constante‖. Por isso, a autora prefere falar em níveis
de alfabetização.
Quanto ao termo letramento, podemos dizer que é um vocábulo novo nas áreas da
Educação, da Linguística e da Linguística Aplicada, o que causa certa polêmica quanto
à sua definição.
Para Kleiman (1995, p. 19), letramento é definido como ―conjunto de práticas sociais
que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos
específicos, para objetivos específicos.
tecnológicos.
Moita-Lopes (2004) postula que o letramento tem sido considerado apenas como
habilidades de decodificação ou de cognição, sem considerar o sujeito letrado e as
práticas sociais em que ele está envolvido. Logo, para o autor, o termo é entendido
como práticas discursivas, ou seja, modos de usar a linguagem e fazer sentido, tanto
na fala, como na escrita. Para ele, essas práticas discursivas estão diretamente
ligadas à constituição da identidade das pessoas, assim, mudar de prática discursiva
significa mudar de identidade.
Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde
a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Magda Becker
Soares, professora titular da Faculdade de Educação da UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais) e doutora em educação, explica que ao olharmos historicamente
para as últimas décadas, poderemos observar que o termo alfabetização, sempre
entendido de uma forma restrita como aprendizagem do sistema da escrita, foi
ampliado.
Já não basta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da
alfabetização funcional (denominação dada às pessoas que foram alfabetizadas, mas
não sabem fazer uso da leitura e da escrita). O sentido ampliado da alfabetização, o
letramento, de acordo com Magda, designa práticas de leitura e escrita.
Afinal, a professora defende que, para a adaptação adequada ao ato de ler e escrever,
―é preciso compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura‖. O
letramento compreende tanto a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto
esse aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da escrita. 5
Uma observação interessante apontada pela educadora Magda Soares diz respeito à
possibilidade de uma pessoa ser alfabetizada e não ser letrada e vice-versa. ―No
Brasil as pessoas não leem. São indivíduos que sabem ler e escrever, mas não
praticam essa habilidade e alguns não sabem sequer preencher um requerimento.‖
Este é um exemplo de pessoas que são alfabetizadas e não são letradas. Há aqueles
que sabem como deveria ser aplicada a escrita, porém não são alfabetizados. Como
no filme Central do Brasil – alguns personagens conheciam a carta, mas não podiam
escrevê-la por serem analfabetos. Eles ditavam a carta dentro do gênero, mesmo
sem saber escrever. A personagem principal, a Dora (interpretada pela atriz Fernanda
63
O LETRAMENTO CRÍTICO
Terzi (2003, p. 228) define como letramento crítico ―a relação que indivíduos e
comunidades estabelecem com a língua escrita. Essa relação inclui: relação de uso
cultural da escrita; relação de conhecimento da escrita; relação de valorização da
escrita, e relação com a escrita permeada por crenças e valores‖, conforme
comentamos a seguir.
Na relação de uso cultural da escrita, a autora aponta para o fato de que algumas
comunidades utilizam-se mais da língua escrita que outras, devido a fatores
econômicos, políticos, socioculturais e históricos. Assim, Terzi cita como exemplo a
diferença dessa utilização em grandes e pequenos centros. Nas grandes cidades, o
apoio na língua escrita é uma questão de sobrevivência, na identificação de um ônibus
para se locomover, na identificação dos nomes das ruas, na procura por um emprego,
a partir de ofertas afixadas em cartazes etc., já nas cidades pequenas, essa
necessidade é bem menor.
Porém, a relação do sujeito com a escrita não ocorre apenas pelo seu uso. As
pesquisas mostram que há uma grande diversidade no conhecimento que cada um
traz da escrita. Logo, conforme a autora, os jovens e os adultos não escolarizados já
trazem um conhecimento da escrita, a partir de sua vivência. Para Terzi (2003, p. 230):
Mesmo aqueles que nunca tiveram oportunidade de ter nas mãos um jornal sabem que
ele traz notícias. No outro extremo, temos o jardineiro analfabeto que diariamente leva, da
casa em que trabalha, o jornal para que sua esposa o leia para ele (...) e surpreende ao
participar de discussões sobre o conflito no oriente médio, sobre o terrorismo nos Estados
Unidos ou sobre as eleições no Brasil.
indivíduos escolarizados, a autora cita como exemplo pessoas com nível superior de
educação que não leem jornais, livros, manuais de instrução antes de utilizar um
aparelho etc., usando a escrita somente nas ocasiões em que ela se faz muito
necessária. Entre as pessoas não escolarizadas, também há diferença de valorização
da escrita: para algumas, ela pode ser importante apenas para a assinatura de um
documento, para outras, pode significar maiores oportunidades de emprego, ou
realização pessoal a partir do acesso à informação.
O letramento crítico também abrange a relação com a escrita permeada por crenças
e valores do indivíduo ou da comunidade em que ele vive, como por exemplo, uma
comunidade em que palavra dada e honra não se distinguem. Conforme a autora,
contribui para a formação do cidadão letrado, ou seja, capaz de fazer uso da língua
escrita para a sua participação na sociedade.
Dessa maneira, muitos desses cidadãos acabam encontrando formas para driblar as
situações que precisam enfrentar em seu dia a dia, como, por exemplo:
― Que ônibus é este? Esqueci meu óculos em casa!‖ ― Podes me dizer o preço deste
produto? Não consigo compreender esta letra!‖ ― Podes escrever este bilhete para mim?
Minha letra é muito ruim!‖ ― Podes ler esta carta para mim? Hoje acordei com muita dor
de cabeça!‖
Logo, o educador precisará levar em conta essas memórias trazidas por esses alunos,
mas, aos poucos, ―desconstruir‖ essa concepção de escola neles arraigada. Contudo,
a autora alerta para o fato de que ressignificar essa bagagem não significa diminuir as
exigências da produção escrita e da leitura, ou seja, não significa mudar ―de uma
escola na qual só se copiava para uma escola na qual só se conversa‖ (MOLL, 2004a,
p. 14).
Nesse contexto de formação do cidadão letrado, Ribeiro (1997, pp. 4748) sintetiza os
objetivos gerais da EJA, dizendo que, a partir dela, os educandos devem ser capazes
de:
Um dos graves problemas que enfrentamos é que há pessoas que se preocupam com
alfabetização sem se preocupar com o contexto social em que os alunos estão
inseridos. ―De que adianta alfabetizar se os alunos não têm dinheiro para comprar
um livro ou uma revista?‖ A escola, além de alfabetizar, precisa dar as condições
necessárias para o letramento.
―Onde elas aprendem o código, a mecânica, mas depois não saberão usar‖.
Um ponto importante para letrar, diz Magda, é saber que há distinção entre
alfabetização e letramento, entre aprender o código e ter a habilidade de usá-lo. Ao
mesmo tempo em que é fundamental entender que eles são indissociáveis e têm as
suas especificidades, sem hierarquias ou cronologia: pode-se letrar antes de
alfabetizar ou o contrário.
Para ela, essa compreensão é o grande problema das salas de aula e explica o fracasso
do sistema de alfabetização na progressão continuada. ―As crianças chegam ao
68
segundo ciclo sem saber ler e escrever. Nós perdemos a especificidade do processo‖,
diz. A educadora argumenta que o educando precisa ser alfabetizado convivendo com
material escrito de qualidade. Para os professores que trabalham com alfabetização,
Magda recomenda:
O papel fundamental que o poder local pode desempenhar nesse processo, avançando em
relações que permitam a ampliação da esfera pública, sem levar ao descomprometimento
governamental, pode estar relacionado à leitura do universo dos sujeitos da educação de
jovens e adultos, para além de sua designação como dados estatísticos anônimos (MOLL,
2004b, p. 22).
Esse profissional que atua na EJA, além de muito bem preparado, precisa atentar-se
para questões curriculares que vão determinar os conhecimentos, os conteúdos,
objetivos e metas que serão necessários ser perseguidos na organização do trabalho
pedagógico nesta Modalidade de Ensino.
LÍNGUA PORTUGUESA
A área de Língua Portuguesa abrange o desenvolvimento da linguagem oral e a
introdução e desenvolvimento da leitura e escrita. Com relação à linguagem oral, o
ambiente escolar deve propiciar situações comunicativas que possibilitem aos
educandos a ampliação de seus recursos linguísticos. Em outras palavras, os
educandos devem aprender a planejar e adequar seu discurso a diferentes situações
formais e informais.
Por isso, além dos tópicos que normalmente compõem os currículos de Língua
Portuguesa, esta proposta curricular traz indicações de como trabalhar com textos
escritos de modo a possibilitar que os educandos conheçam e experienciem suas
diferentes modalidades. A aprendizagem da escrita exige ainda o desenvolvimento da
capacidade de análise linguística e o aprendizado de palavras que servem para
descrever a linguagem. Esses aspectos compõem os blocos de conteúdo da área.
LINGUAGEM ORAL
Os modos de falar das pessoas analfabetas ou pouco escolarizadas são a expressão
mais forte de toda a bagagem cultural que possuem, de suas experiências de vida.
72
Entretanto, deparamos também com aqueles que têm seu discurso marcado por
experiências de privação, humilhação e isolamento, que se expressam de forma
fragmentada e têm dificuldade de se fazer entender.
Para a sala de aula, o professor deve planejar estratégias para que os alunos
experimentem e ampliem suas formas de expressão, promover momentos em que os
educandos se expressem em pequenos grupos, em grupos maiores, em conversas
com o professor.
LINGUAGEM ESCRITA
Numa sociedade letrada, mesmo os jovens e adultos que nunca passaram pela escola
têm conhecimentos sobre a escrita. Muitos conhecem algumas letras e sabem
assinar seu nome. Todos já se defrontaram com a necessidade de identificar placas
escritas, preencher formulários, lidar com receitas médicas ou encontrar o preço de
mercadorias.
Entretanto, a escrita não é uma mera transcrição da fala. Não escrevemos do mesmo
jeito que falamos, pois a comunicação escrita têm outras exigências e utiliza-se de
73
outros recursos. Quando escrevemos, nosso leitor não está presente, por isso temos
de assegurar que a mensagem seja eficiente e para tanto é preciso usar recursos
próprios de organização do discurso. A escrita é utilizada, muitas vezes, para registrar
mensagens que devem perdurar no tempo ou atravessar grandes distâncias, por isso
ela não pode ser tão flexível quanto à fala, obedecendo a normas mais rígidas de
organização.
Para que os alunos leiam e escrevam com autonomia, precisam familiarizar-se com a
diversidade de textos existente na sociedade. Precisam reconhecer as várias funções
que a escrita pode ter (informar, entreter, convencer, definir, seduzir), os diferentes
suportes materiais onde pode aparecer (jornais, livros, cartazes etc.), as diferentes
apresentações visuais que pode adquirir e suas características estruturais
(organização sintática e vocabulário). O objetivo central em Língua Portuguesa é
74
formar bons leitores e produtores de textos, que saibam apreciar suas qualidades,
encontrar e compreender informações escritas, expressar-se de forma clara e
adequada à intenção comunicativa.
Portanto, atividades que envolvam leitura e produção de textos são essenciais para
alcançar esse objetivo. Para aprender a escrever é preciso escrever, e o mesmo vale
para a leitura. Na interação com este objeto de conhecimento — o texto — e com a
ajuda do professor, o aluno poderá realizar essas aprendizagens.
O trabalho com a linguagem escrita deve estruturar-se, desde o início, em torno de
textos. Para as turmas iniciantes, podem ser selecionados textos mais curtos e
simples, como listas, folhetos, cartazes, bilhetes, receitas, poesias, anedotas,
manchetes de jornal, cartas, pequenas histórias e crônicas. Quanto maior o domínio
do sistema de representação, maiores as possibilidades de ler e escrever textos mais
longos e complexos.
O professor de jovens e adultos deve ter um cuidado especial com a busca e seleção
de textos para trabalhar com os alunos, já que ele não conta com a abundância de
materiais didáticos já elaborados disponíveis para a educação infantil. Além dos
textos literários, outros podem ser usados em sala de aula: receitas culinárias, textos
jornalísticos, artigos de divulgação científica, textos de enciclopédias, cartas, cartazes,
folhetos informativos ou textos elaborados pelos próprios alunos. O professor deve
dispor de uma boa coletânea de textos, organizar pequenas bibliotecas na sala de aula
ou levar seus alunos a bibliotecas.
Para isso, será essencial a ajuda do professor, orientando-os na análise dos sons da
fala e dos sinais escritos, chamando-lhes a atenção para as regularidades e
irregularidades. No processo de aprendizagem, entretanto, os modelos não são
simplesmente copiados, sem um trabalho de reelaboração do educando. O professor
75
deve procurar compreender esse processo de elaboração da escrita dos alunos para
poder prestar-lhes uma ajuda adequada.
Para isso, é preciso criar situações em que os alunos possam colocar em jogo aquilo
que sabem, expor suas elaborações sobre a linguagem escrita, discutir sua produção
com outros colegas, sentir a necessidade de melhorá-la. O professor não pode
simplesmente rejeitar os erros dos alunos, pois é baseando-se neles que se pode
saber que tipo de ajuda oferecer. É a análise de seus próprios erros que possibilita aos
novos escritores avançar para produções escritas cada vez mais adequadas. Na sala
de aula, a produção de um texto deve ser compreendida como um processo que passa
por várias reescritas, até que o produto seja satisfatório.
Uma boa forma de organizar o trabalho com a escrita é articulá-lo com o da leitura,
dentro de uma mesma modalidade textual. À medida que leem e analisam modelos
variados de cartas, por exemplo, os educandos podem ser encorajados a escrever
suas próprias cartas, inicialmente ainda com bastante ajuda do professor,
paulatinamente com maior autonomia, fazendo e refazendo, relendo e comparando
e, finalmente, enviando suas cartas, experimentando o poder e o prazer da escrita em
situações reais de comunicação.
A ANÁLISE LINGUÍSTICA
A alfabetização implica, desde suas etapas iniciais, um intenso trabalho de análise da
linguagem por parte do aprendiz. Nesse processo, ele acabará aprendendo e
servindo-se de palavras e conceitos que servem para descrever a linguagem, tais
como letra, palavra, sílaba, frase, singular, plural, maiúscula, minúscula etc.
Mais adiante, ele poderá ainda aprender outros conceitos mais complexos, como as
classificações morfológicas (substantivo, adjetivo etc.) e sintáticas (sujeito, predicado
etc.). É necessária uma proposta curricular que sugere atividades de análise linguística
que estejam voltadas para a reflexão sobre a produção do texto, ajudando os alunos
a melhorarem cada vez mais a forma de escrever.
76
MATEMÁTICA
Saber Matemática torna-se cada vez mais necessário no mundo atual, em que se
generalizam tecnologias e meios de informação baseados em dados quantitativos e
espaciais em diferentes representações. Também a complexidade do mundo do
trabalho exige da escola, cada vez mais, a formação de pessoas que saibam fazer
perguntas, que assimilem rapidamente informações e resolvam problemas utilizando
processos de pensamento cada vez mais elaborados.
Como acontece com outras aprendizagens, o ponto de partida para a aquisição dos
conteúdos matemáticos deve ser os conhecimentos prévios dos educandos. Na
educação de jovens e adultos, mais do que em outras modalidades de ensino, esses
conhecimentos costumam ser bastante diversificados e muitas vezes são encarados,
equivocadamente, como obstáculos à aprendizagem. Ao planejar a intervenção
didática, o professor deve estar consciente dessa diversidade e procurar transformá-
la em elemento de estímulo, explicação, análise e compreensão.
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Para que a aprendizagem da Matemática seja significativa, ou seja, para que os
educandos possam estabelecer conexões entre os diversos conteúdos e entre os
procedimentos informais e os escolares, para que possam utilizar esses
conhecimentos na interpretação da realidade em que vivem, sugere-se que os
conteúdos matemáticos sejam abordados por meio da resolução de problemas.
Uma situação-problema pode ser entendida como uma atividade cuja solução não
pode ser obtida pela simples evocação da memória, mas que exige a elaboração e
execução de um plano. Não se pode confundir essa ideia com os problemas que são
tradicionalmente trabalhados nas salas de aula ou que aparecem nos livros didáticos,
nos quais a situação é apresentada por um texto padronizado que, por sua vez, evoca
uma resposta também padronizada, como neste exemplo: João tinha 35 reais, gastou
22 reais, com quanto ele ficou? 35 - 22 = 13.
compreender o problema;
executar o plano;
justificar a solução;
comunicar a resposta.
MEDIDAS
Este bloco de conteúdos reúne conhecimentos de grande utilidade prática, que
também podem ser articulados com o estudo do espaço, das formas, dos números e
das operações. Os conteúdos deste bloco envolvem a noção de medida e de
proporcionalidade, de unidade de medida e das relações entre suas diferentes
representações. Tais noções são desenvolvidas a partir do estudo e utilização de
diferentes sistemas de medida: tempo, massa, capacidade, comprimento, superfície
e valor (sistema monetário).
GEOMETRIA
O eixo ―Geometria‖ trata da construção das noções espaciais por meio da percepção
dos próprios movimentos e da representação gráfica do espaço. As figuras
bidimensionais e tridimensionais são exploradas a partir da observação das formas
dos objetos e também de representações que possibilitam a identificação de
semelhanças e diferenças, além de algumas propriedades dessas figuras.
INTRODUÇÃO À ESTATÍSTICA
Aqui, reúnem-se conteúdos relacionados a procedimentos de coleta, organização,
apresentação e interpretação de dados, leitura e construção de tabelas e gráficos.
Esses conteúdos, que não costumam aparecer nos currículos de Matemática das
séries iniciais, justificam-se pela sua grande utilidade prática, como potentes recursos
para descrever e interpretar o mundo à nossa volta.
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Os caminhos para atingir esses objetivos são vários, assim como vários são os
fenômenos sociais e naturais que podem ser estudados. Nessa proposta, tratamos
de organizar blocos de conteúdos de modo a auxiliar os educadores na seleção,
organização e integração de temas a serem abordados.
Por esse motivo, esse conceito deverá emergir constantemente no trato dos
conteúdos desta área. Para desenvolver o sentido crítico dos alunos em relação aos
conhecimentos, é fundamental que eles reconheçam que, enquanto produtos
culturais, os conhecimentos são dinâmicos, transformam e diferenciam-se no tempo
e de um grupo social para outro.
CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO
Aqui, o foco é a dimensão política da vida humana, visando-se aprimorar a consciência
cidadã dos educandos. Aí estão implicados a adesão a valores democráticos e o
conhecimento da organização social e política do país, dos direitos políticos, sociais e
trabalhistas que a posição de cidadãos lhes confere, dos espaços e formas de
organização e participação na sociedade.
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O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Aprender exige tempo, paciência e participação em situações reais de interlocução,
você concorda comigo? O aluno aprende a ler e a escrever interagindo com pessoas e
com ―objetos‖ escritos. Desse modo, quanto maior for sua familiaridade com a língua
escrita (jornais, livros, poemas etc.) e sua reflexão sobre os modos e usos da
linguagem escrita, maior será a probabilidade de que rapidamente compreenda o
funcionamento deste complexo sistema de representação que é a escrita.
OS SIGNIFICADOS DA ALFABETIZAÇÃO
Para iniciar o trabalho com essa unidade, gostaria de fazer a você algumas perguntas:
Quais fatores levam jovens e adultos a iniciarem ou reiniciarem seus estudos?
Muitos são os fatores que contribuem com essa busca pela escolarização, entre elas,
tomar um ônibus, escrever cartas, ler a Bíblia etc. é o desejo de muitos jovens e
adultos não escolarizados. 7
Normalmente, o analfabetismo é visto por eles como uma mancha, que os impede de
progredir social ou economicamente e, por isso, sentem-se culpados. Garcia (2005)
realizou uma pesquisa em que mostra os diferentes significados da alfabetização para
jovens e adultos. A partir de relatos de alunos, a pesquisadora categorizou esses
significados em:
[...] pra trabalhar na Comlurb, para colher lixo na rua tem que ter o 2º. grau ou senão a 4ª.
série, 5ª. série... E qualquer servicinho que vai fazer hoje tem que ter a 5ª. série, né!? [...] Eu
não consegui trabalhar em prédio porque eu não sei assim anotar recado, essas coisas de
portaria, né? Aí tem que encarar esse serviço [...] É muito difícil hoje em dia, pra viver sem
estudo tá difícil. (PAULO, 46 anos, gari) (GARCIA, 2005, p. 5).
Para atender a essas expectativas, conforme Soares (2002, p. 73, apud GARCIA, 2005,
p.6),
A escola precisa estar comprometida com a luta contra as desigualdades para assim
garantir a aquisição dos conhecimentos e habilidades que possam instrumentalizar as
classes populares para que elas participem no processo de transformação social, ou seja,
uma escola transformadora, que dê aos alunos condições de reivindicação social.
Trabalhei de 1985 até o ano 2000 no grupo Gerdau, saí aposentado. Descansei um pouco,
achei que era tempo de voltar ao colégio para tentar cumprir um sonho que sempre, quando
iniciei, eu iniciei com esse sonho... Forçar, ver se consigo chegar a eletro-técnico [...] Se a
senhora me der um esquadro, eu esquadreio um prédio desse, mas não posso assinar um
projeto. Eu sei com qual material começa e como termina. Mas como vou assumir se não
tenho a base para assinar um papel? Não posso. (...).(DALTO, 51 anos, aposentado) (GARCIA,
2005, p. 6).
Eu hoje estou aposentado [...] mas é muito importante a gente aprender cada vez mais.
Enquanto estou vivo, vou aprendendo cada vez mais porque abre espaço para novos
relacionamentos [...] Cada vez eu me aprofundo mais. O meu grupo aí é o terceiro. Eles
acham que eu sou muito sabido, mas não sou. Eu procuro me aprofundar e vou embora.
Enquanto estiver vivo vou, entendeu? [...] Eu já com essa idade... os mais jovens então, esses
adolescentes então têm que se aprofundar [...]. (ANTÔNIO, 70 anos, aposentado) (GARCIA,
2005, pp. 6-7).
Eu quero falar que estou muito satisfeito com o estudo. Eu quero continuar porque é muita
dificuldade a gente ler o nome de uma rua, uma vista de um ônibus, entendeu? Porque por
muitas das vezes eu passei dificuldade de chegar numa loja, comprar assim um rádio, umas
coisas assim, uma roupa, que pedia pra assinar o nome, coisa e tal que eu não sabia e agora
graças a Deus que hoje em dia eu sei fazer esse tipo de coisa, sei ler, sei escrever, não é
tanto, um pouco [...] (SIMÃO, 32 anos, lancheiro) (GARCIA, 2005, p. 7).
Você vai numa festa cheia de gente falando bem e você fica lá, sentado. Aí perguntam: -
―Por que você não fala‖? – Ah, eu não quero falar não. -―Ah, mas por que não quer falar
não‖? Mas só você sabe por que você está com vergonha de falar, né? Então você
estudando, não, você vai aprendendo, vai desenvolvendo, vai falando um monte de coisa.
(NEIDA, 34 anos, doméstica) (GARCIA, 2005, p. 8).
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Dessa forma, é preciso levar em conta a diversidade linguística com que os alunos
chegam à escola e colocá-los em contato com outras variedades, inclusive a padrão,
mostrando-lhes que, dependendo da situação comunicativa, eles poderão se dispor
de uma ou de outra variedade.
Assim, não podemos aceitar o preconceito linguístico, que, segundo Britto (2003,
p. 39, apud GARCIA, 2005, p.9), não tem sido combatido:
―Quando se ridiculariza em público uma pessoa por seu jeito de falar, o agente do
preconceito é avaliado positivamente, como se fosse culto, inteligente, enquanto o
agredido é avaliado negativamente, como se fosse ignorante, estúpido‖.
[...] Porque eu já sei ler, escrever, eu já sei tudo, então como eu fico muito em casa, assim,
à noite, então eu achei melhor, em vez de ver novela, né! Então agora, nessa idade, é que
eu resolvi estudar para aprender mais, mais é conta, o resto das coisas eu sei, entendeu?
[...] todo mundo até pergunta: nem parece que você nem estudou o segundo ano, porque eu
sempre fui muito desembaraçada. (STELA, 53 anos, manicure) (GARCIA, 2005, pp. 9-10).
Então agora eu sou viúva, fiquei sozinha, só com meu filho. Meu filho sai pra trabalhar...
mas ficar sozinha é muita solidão, aí passei a voltar pra estudar, pra eu sair dessa,
entendeu?(ZILÁ, 52 anos, passadeira) (GARCIA, 2005, p. 10).
O(a) aluno(a) jovem e adulto chega à sala de aula repleto de teorias, explicações e
hipóteses. Sua família, a comunidade onde vive, seu trabalho e sua religiosidade
permitiram-lhe construir um sem-número de saberes. Cabe ao(à) professor(a)
descobrir qual é esse corpo de conhecimentos, feito de pura experiência e percepção
para, a partir dele, convidar seus alunos a acederem outras formas de pensar, explicar,
fazer e agir.
Devemos trabalhar para que, além de tornarem-se companheiros nessa busca pelo
saber, os alunos de um mesmo grupo tornem-se parceiros, reais colaboradores
comprometidos a chegar juntos ao seu objetivo. Um grupo se constrói pela constância
do diálogo, pela produção em equipe, pela expressão individual, garantindo o direito à
voz.
Na sala de aula, o(a) professor(a) é aquele(a) que provoca e facilita esse diálogo, essa
produção e essa expressão individual. Ele(a) auxilia na resolução dos conflitos,
favorece as trocas e as ajudas mútuas. Nas classes de EJA, a homogeneidade quanto
à origem muitas vezes facilita a aproximação das pessoas e a construção de elos entre
elas. E dessa homogeneidade podem nascer os temas de estudo que vão unir e
integrar o grupo. Por outro lado, a diferença de idade dos alunos e a diversidade de
crenças, de valores e gênero podem constituir, inicialmente, obstáculos à formação
do grupo.
É muito comum que os mais velhos critiquem os mais jovens e que estes se recusem
a trabalhar com aqueles. É comum, também, que pela crença religiosa alguns alunos
não aceitem realizar determinadas propostas, como assistir a um filme, aprender
matemática por meio de jogos, e que essa postura desencadeie conflitos entre estes
e outros alunos. Acontece, ainda, de as mulheres não gostarem de formar grupo com
homens, temendo o ciúme de seus companheiros.
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Essas resistências dos alunos constituem muitas vezes obstáculos à vida em grupo
e à aprendizagem, mas à medida que todos vão se conhecendo melhor, a situação vai
se modificando e o sentimento de grupo vai nascendo e se fortalecendo. Entretanto,
para que a sala de aula se torne um espaço verdadeiro de trocas e aprendizagens, é
fundamental a forma de agir do(a) professor(a).
Há aqueles que se saem melhor em situações que requerem uso da lógica; há outros
que circulam com sucesso por atividades mais convencionais, como realizar
operações matemáticas. Daí a importância das atividades propostas, num mesmo dia
ou ao longo de uma semana, serem diversificadas. Se propusermos seguidamente o
mesmo tipo de situação didática, corremos o risco de favorecer apenas uma parte de
nossos alunos. Além disso, a diversidade permite que os alunos acompanhem um
mesmo conteúdo sob diferentes olhares, por diferentes caminhos, o que permite a
eles ter uma visão mais global sobre o que estão aprendendo.
Por fim, é preciso considerar que os alunos da EJA chegam à escola, todos os dias,
depois de uma jornada de trabalho e que a diversidade pode contribuir para o
dinamismo da aula, para o despertar do interesse, da atenção e do envolvimento. É
bom lembrar que diversificar as atividades, na rotina da sala de aula, não significa ter
a responsabilidade de criar uma novidade a cada aula, a cada dia. Falamos de uma
diversidade de caminhos, tempos, lugares e de olhar; pensamos numa aula onde a
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lógica didática mais tradicional dê lugar à experiência inteira do aprender: ver, agir,
pensar, fazer, experimentar, com todos os sentidos acionados.
Uma pergunta feita a um grupo de professores da EJA sobre o que costumam ―ver‖
nos seus alunos, teve variadas respostas. As mais frequentes foram: A observação
que está sendo alvo da nossa atenção vai além desse ver espontâneo: quer saber mais
para interferir melhor. No fundo, todo(a) professor(a) observa seus alunos de alguma
forma. Entretanto, na maioria das vezes, são observações espontâneas que quase
nada mudam na prática que fazem.
De uma maneira bem objetiva, o(a) professor(a) observa tudo que considera
importante para iluminar a sua prática, tudo que chama sua atenção, que faz pensar
e querer saber mais.
Como ferramenta básica do seu fazer, a observação está presente nas diferentes
atividades de um(a) professor(a): na busca de compreender cada vez melhor seus
alunos.
Neste sentido, a observação busca saber como trabalham na sala de aula, quais seus
interesses, suas dificuldades e facilidades, sua forma de relacionar com os colegas,
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NO ACOMPANHAMENTO DO PLANEJAMENTO
Ao acompanhar o desenvolvimento das ações planejadas, o(a) professor(a) avalia sua
própria ação, notando os aspectos onde planejou de acordo com a realidade de sua
classe e nos momentos onde se afastou dela.
Para isso, é preciso saber o que falta ao(à) aluno(a) e qual é a melhor forma de intervir
adequadamente. Só é possível aprender a observar, observando. Não há outro
caminho. O mesmo acontece com todas as outras práticas. Mas além do exercício de
observar, o(a) professor(a) aprende quando comenta suas observações com outros
91
Questões relativas ao que o(a) aluno(a) percebeu que aprendeu; o que lhe foi mais
significativo; em que aspecto quer aprofundar o estudo, como foi sua participação no
grupo.
- O do aprendizado individual e/ou coletivo, onde seu olhar vai procurar o que
foi mais significativo aprender para os alunos e para ele(ela). 7
Nesse ponto, pode ser objeto de observação do(a) educador(a) a forma como
trabalhou, como respeitou os diferentes ritmos dos alunos e como socializou suas
descobertas com os outros professores e professoras.
Observar os três pontos, ao mesmo tempo, cria uma complexidade que acaba
interferindo no próprio ato de observar, principalmente, quando se está no começo
dessa prática. Assim, é preferível escolher um dos aspectos para observar.
- Ter um caderno com algumas páginas dedicadas a cada um dos alunos. Nele
serão anotados os fatos significativos que caracterizam a forma de aprender, de
conviver de cada um, com as datas das observações.
- Dar atenção às perguntas feitas pelos alunos. Elas sempre têm um sentido
para quem pergunta.
- Em algumas situações, onde o fazer pode dizer mais que o falar ou escrever, é
interessante se valer de outras linguagens para apresentar questões significativas
para o grupo. O desenho, as dramatizações, os painéis são bons exemplos destas
linguagens.
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O REGISTRO
Uma das formas que temos para ir sempre aprendendo mais e melhor é pensar. Mas,
o pensar que ajuda a aprender não é um pensar qualquer, solto sem uma direção e
sem compromisso. É um pensar organizado, um pensar que pergunta e vai atrás das
respostas.
Dizia o grande educador brasileiro, Paulo Freire, que a gente pensa melhor quando
pensa a partir do que faz, da prática. Mas pensar sobre a prática sem registrá-la tem
muitas limitações.
Além disso, como toda escrita, o texto pode ser revisto, ter algumas das suas ideias
aprofundadas e outras corrigidas. Tudo isso faz com que o(a) professor(a), ao registrar
suas reflexões, vá se tornando autor(a) do que pensa e, em consequência, autor(a) do
seu jeito de fazer. Quando isso não ocorre, ele(a) está destinado(a) a ser um(a) copista
da teoria dos outros. E, pior: se a teoria dos outros não for refletida, os copistas não
alcançarão os sucessos obtidos pelos seus autores.
É importante dizer que as teorias dos outros são de grande validade para o(a)
professor(a) quando estabelece um diálogo entre seu pensamento e o dos outros
teóricos. Diálogo que, certamente, será muito produtivo no avanço do pensar do(a)
professor(a) e, consequentemente, no seu jeito de atuar. É próprio dos seres humanos
registrarem o que vivem, o que pensam e a realidade onde se encontram.
Escritos ou não, todos os registros falam das experiências humanas e por meio deles
é possível reconstruir a própria história da humanidade. Os registros expressam como
seus autores observam, sentem e pensam sua participação no mundo. Quando temos
contato com esses registros, nosso modo de olhar e de sentir ―conversa‖ com o do
autor e com os dos outros leitores compondo uma memória que deixa de ser só de
quem fez o registro, para se tornar coletiva. O registro escrito guarda partes do nosso
tempo que consideramos dignas de permanecerem vivas.
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Poderá descobrir atitudes que deveriam ter sido tomadas, destacar as alternativas
adequadas que foram utilizadas e todo um conjunto de procedimentos que levariam
a melhores resultados. Além disso, o registro da prática do(a) professor(a) quando
comunicado a outros educadores sugere novas práticas pedagógicas.
O exercício da escrita, como registro das observações feitas pelos professores, além
de documento que pode ser consultado, possibilita também ampliar o domínio da
linguagem escrita e dinamizar o potencial de criatividade próprio de cada um. As
prováveis dificuldades iniciais quanto ao que e como escrever, falta de inspiração e
descoberta dos momentos mais adequados para começar serão minimizadas no
decorrer do processo, a medida que seja criado maior envolvimento com o ato de
registrar.
Noutra rodinha, podemos ouvir uma conversa animada sobre o envolvimento dos
alunos numa produção de cartazes que são mostrados com muito orgulho. Estes são
alguns exemplos de situações nas quais os professores estão, informalmente,
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No início, ela serve para dar aos professores os elementos fundamentais para a
realização do seu planejamento. Para isso informa: quem são os alunos, que
conhecimentos trazem, quais suas curiosidades frente ao saber, seus desejos etc.
Durante o trabalho de sala de aula, ela oferece os dados para que o(a) professor(a)
possa agir como um(a) orientador(a) sempre atento(a) para que todos consigam
chegar, com ele(a) até a meta esperada.
Para isso 'puxa pela mão' os que ficam atrasados, diminui os passos para ter certeza
que o grupo está conseguindo acompanhá-lo(a), imagina formas para diminuir as
dificuldades encontradas, levando todos a se envolver e se ajudar. Para desenvolver
esse papel, o(a) professor(a) precisa da avaliação para estar atento(a) ao que acontece
com seus alunos. Estamos chamando de avaliação inicial aquela que se dá no começo
do trabalho escolar, quando começamos a saber quem são as alunas e alunos, os
colegas professores e a realidade que envolve a todos nós.
Na EJA, muitas vezes, a avaliação tem seu começo na formação das turmas. Todos os
anos chegam à escola alunos e alunas em diferentes níveis de escolaridade. Nem
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sempre é fácil definir qual a série ou etapa mais adequada para cada um deles. Tem
gente que traz no histórico escolar uma escolaridade que o passar do tempo em
grande parte já apagou da memória de quem traz o documento. Muitos são
pessimistas, acreditam não saber quase nada, quando isso não corresponde à
verdade. Outros não foram à escola, mas tiveram algum parente ou amigo que
desempenhou junto a eles, o papel de professor.
A avaliação faz parte da ação do(a) professor(a) desde o seu primeiro contato com os
alunos. Os primeiros dias de aula são de grande importância para ―quebrar‖ as
possíveis resistências e começar a construção de uma relação de confiança. São,
também, momentos propícios para, por exemplo, conhecer o grupo quanto às
experiências escolares já vividas; as profissões que, atualmente, desempenham ou a
forma como ganham a vida; as cidades de origem; os grupos familiares, as
expectativas em relação ao futuro etc.
Por isso, nessa unidade, tecemos uma reflexão teórico-prática sobre o projeto
interdisciplinar e suas contribuições para a educação de jovens e adultos.
O PROJETO INTERDISCIPLINAR
A necessidade de romper com a tendência fragmentadora e desarticulada do
processo do conhecimento, justifica-se pela compreensão da importância da
interação e transformação recíprocas entre as diferentes áreas do saber.
Vários são os exemplos de projetos a partir dos gêneros discursivos, os quais também
podem envolver outras disciplinas: a organização de uma coletânea de poemas; a
elaboração de um jornal mural; a implantação de uma campanha de publicidade
comunitária; a elaboração de um álbum legendado com fotos antigas e modernas da
cidade ou do bairro etc.
Quando se fala em educação de adultos, devemos também falar das relações de trabalho
e das relações de produção. Devemos levar em conta os saberes que o aluno vem
acumulando ao longo de sua vida, e que formam a sua visão de mundo, para, a partir dela,
podermos construir juntos um caminho que leve à subjetividade e desenvolva o
pensamento crítico acerca das relações cotidianas do aluno e do universo em que está
inserido.
A prática das autoras em programas como o já citado revela que os alunos da EJA
―precisam entrar em contato com conteúdos e atividades que favoreçam a aquisição
de conhecimentos por meio da observação, da análise, da comparação, da
generalização, da reflexão e do pensamento crítico, visando sempre ao
desenvolvimento de ações criativas‖ (BORGES; CORRÊA, 2005, p. 35).
alunos em seu local de moradia, com o objetivo de levar esses alunos a se situarem
como agentes (e não espectadores) em sua própria comunidade.
O autor aponta diversos subtemas propostos para o trabalho com os alunos, dos
quais destacamos:
- O que se escuta na vila à noite, de dia, nos fins de semana? Mais coisas alegres
do que tristes?
Para o trabalho com a língua materna, o autor propõe a ressignificação social das
práticas de leitura e escrita, sua variedade de usos e funcionalidades, a partir de
atividades com gêneros como: cartas, contracheques, rótulos, receitas, jornais,
revistas, placas de comércio, letras de músicas etc.
De acordo com Vital Júnior (2006, p. 108), o que não podemos nos esquecer, ao
pensarmos em práticas interdisciplinares junto a jovens e adultos é:
REFERÊNCIAS
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89.
Parâmetros
Artmed, 2005.
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HEIDRICH, Gustavo. Histórias de jovens adultos. Nova Escola on-line, São Paulo:
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