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Vitor da Fonseca
(1999). 2ª Ed. Lisboa: Âncora Editora.
Índice
PREFÁCIO DA 2. ^ EDIÇÃO... 7
INTRODUÇÃO 13
CAPÍ'I'ULO 1
PASSADO E PRESENTE NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM... . . 17
Os grandes pioneiros... 17
Perspectivas lesionais e cerebrais... ... ... . . 22
Perspectivas perceptivo-motoras das DA 24
Perspectivas de linguagem... ... . 29
Perspectivas neuropsicológicas das DA. 63
Perspectiva de integração... ... . . 65
Algumas perspectivas actuais... . g2
Modelo interaccional, de Adelman... ... . . g3
Teoria integrada da informação, de Senf g4
Teoria do desenvolvimento das capacidades perceptivas e cognitivas, de Satz
e Van Nostrand... . . g6
Teoria do atraso de desenvolvimento da atenção selectiva, de Ross... ... . 88
Hipótese do défice verbal, de Vellutino g9
Hipótese do educando inactivo, de Torgesen... . . 90
Modelo hierarquizado, de Wiener e Cromer... . 92
CAPÍTI. TLO 2
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: ANÁLISE CONTEXTUAL E NOVOS
DESAFIOS... . . 93
Definição de DA 95
Expectativas sobre as DA 97
Modelos de avaliação das DA... 9g
Método de intervenção nas DA. 1Q
Novos desafios para as DA... ... . . 101
Problemática da définição da criança com dificuldades de áprendizagem 105
Modelos teóricos das dificuldades de aprendizagem... ... 113
CAPÍTULO 3
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM... .
1I 9
565
CAPÍTULO 4
VISÃO INTEGRADA DA APRENDIZAGEM 163 Aprendizagem e comportamento. :. 163
Teorias da aprendizagem. 164 Aprendizagem humana e aprendizagem animal 166
Aprendizagem, estímulo, reflexo e condicionamento... 167 Aprendizagem e
motivação... . . 168 Aprendizagem, habituação e reforço... . 168 Aprendizagem e
encadeamento 168 Aprendizagem e discriminação 168 Aprendizagem e memória... ... .
. 169 Aprendizagem, noção de desenvolvimento, noção de deficiência e de dificuldade
de aprendizagem... ... . 170 Condições de aprendizagem: neurobiológicas,
socioculturais e psicoemocionais 175 Sistemas psiconeurológicos de aprendizagem. .
177
CAPÍTULO 5
CONTRIBUIÇÕES DA PSICONEUROLOGIA PARA AS DIFICULDADES
DE APRENDIZAGEM. . 189
Relações entre o cérebro e o comportamento e entre o cérebro e a aprendizagem 189
Interdependência das capacidades psiconeurológicas da aprendizagem 206 Alguns
factores psiconeurológicos implicados nas DA 224
CAPfTULo 6
TAXONOMIA DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 243 Definições. 244
Dificuldades e incapacidades de aprendizagem (agnosias, afasias e apraxias)... 249
Dificuldades de aprendizagem não verbais... . . 251 Dificuldades de aprendizagem
primárias e secundárias 273 Taxonomia das DA e hierarquia da linguágem 277
CAPÍTULO 7
NECESSIDADES DA CRIANÇA EM IDADE PRÉ-ESCOLAR... ... . . . 303
Introdução... . . . 303
Necessidades da criança em idade pré-escolar . 305
Algumas reflexões práticas para a criança em idade pré-escolar . 314
CaPírULo 8
DESPISTAGEM E IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DE DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM . 323
CAPÍTULO 9
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E APRENDIZAGEM... ... . . . 347
Factores psicodinâmicos e sociodinâmicos... ... . 350
566
ÍNDICE
567
PREFÁCIO DA 2. " EDIÇÃO
10
11
O AUTOR
12
INTRODUÇÃO
13
14
INTRODUÇÃO
IS
da investigação. É este o futuro desafio, e vai ser neste sentido que vamos dirigir o
nosso esforço continuado, mesmo que momentaneamente seja rejeitado ou
incompreendido.
A todos os nossos alunos do IAACF e do ISPA um obrigado especial
a preparação das suas aulas, bem como pelas reflexões e debates que nelas surgiram.
A todos os professores primários e secundários, professores do ensino es ial e
psicólogos, que vão tendo a atenção, a paciência e a curiosidade pe o que vamos
transmiúndo em inúmeras acções de formação, outro obrigado pelos subsídios que
deixam nos nossos diálogos realizadores. Aos nossos colegas de trabalho e amigos
Nelson Mendes, Maria Ceci ia Corrêa Mendes, Arquimedes Silva Santos, Ramos
Lampreia, Olga Miranda, Helena Se ueira, Vítor Soares e mais elementos do ex-
Gabinete de Estudos e In rvenção Psicopedagógica do ISPA, um agradecimento
significativo pela dinâmica das nossas conversas e das nossas realizações, bem como
pelas sugestões de alteração do texto, que em muito permitiram o alargamento, o
refmamento e o aprofundamento das ideias que agora se materializam.
16
CAPÍTULO 1
PASSADO E PRESENTE
NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Os grandes pioneiros
17
Condiçdes externas
ENSINO
T smis o I
Assimila ão
CRIANÇA i
DISLEXIA - PROFESSOR DISPEDAGOGIA Processo de i
Sistema de ensino
aprendizagem
A comodação Aquisição
APRENDI7AGEM
Condiçdes intemas
18
19
20
21
que emigraram para os Estados Unidos após o regime nazista. O primeiro, psiquiatra e
professor da Universidade de Heidelberg, o segundo, psicólogo e professor da
Universidade de Hamburgo. Súauss passou por Barcelona de 1933 a 1936, onde
desenvolveu intensa actividade no campo, tendo abandonado a Espanha em plena
guerra civil, para se flxar no Michigan como psiquiatra investigador do Wayne Country
Training School. Werner passou pela Holanda e flxou-se mais tarde também em
Michigan. Ambos, e com diferentes perspectivas, iniciaram um trabalho de investigação
no âmbito das lesões cerebrais e da deflciência mental, aproveitando magistralmente
os dados e as conceptualizações dos trabalhos de Head (1926) e de Goldstein (1939).
22
23
Estes sete autores, quatro dos quais já abordámos deferencialmente noutro livro
(Fonseca e Mendes 1978), são reconhecidos como os defensores das teorias
perceptivo-motoras no campo das DA.
CRUICKSHANK
24
KEPHART
Kephart, com o seu livro The Slow Learner in the Classroom, apresenta um
contributo filogenético no processo de aprendizagem humana, tomando como alicerce
duas teorias de Hebb: a da proporção entre o córtex associativo e o córtex sensorial
(A/S ratio), e a da função associativa do córtex (cell assembly).
Segundo o mesmo autor, e de acordo com Hebb, Hunt, Pribram, Kendlery, etc. ,
o organismo humano, devido à grande diferença entre o córtex associativo e o córtex
sensorial, ou entre os sistemas cerebrais intrínsecos ou extrínsecos, é capaz de atingir
comportamentos muito complexos, mas só quando estão adquiridos comportamentos
mais elementares e cumulativos. Tais aquisições evidenciam a hierarquia e a
interacção entre os processos sensóriomotores e os processos perceptivo- motores,
naturalmente pondo em relevo o papel da estimulação precoce e das oportunidades de
aprendizagem no desenvolvimento intelectual posterior.
ECEPÇÃO Presente EXPRESSÃO Input INTEGRAÇÃO Output Estímulo
Resposta
Passado
Feedback
25
GETMAN
BARSCH
FROSTIG
Frostig, reconhecida como desenvolvimentalista, é criadora de testes e de
processos de reeducação, tendo já sido abordada num dos nossos livros (Mendes e
Fonseca 1978) e num dos projectos de investigação (Fonseca e colaboradores 1978):
26
c
pTfVO ou SENSORIAL Cleitu al
1 SNO ou MOTOR (es l COMPETÈNCIA
COMP EN C COMPEl NCIA COMPETENCiA TÁCIlL
VISUAL
AUDITIVA
MOBILm E LINGUAGEM IpNUAL
Leitura de palavras com Compreende Identifica objectos y
Escreve com uma com a mão 0
Vocabulátìo o olho dominante va u) "o e frases dominante
5up r:o (5) Uúlização de uma adequado mão, de aco rio om Co o ade9
do
0 % m l%a) donunan e Idenúficaçáo " "r" pelo tacto
2QQO palavras Função bimanual stmbolos visuais de 2000 P av s
M o "'
V E - 28m br os em balanç p avr gilateralidade '1
L ompree
IV M -16m n
braços afastados p reCi ão da
L - 2a m A reciação de sons p
pteensão de objectos Apr<<iação dos psigni0caúvos
sensação gnó
Criação de sons
L - li m mãos e oen percepção n 't""" sensaçóv ss %t!
Choro vital em Larga objectos gestalts estranhos
pOI 5- t m Rep çao relação a situações b
II M Z, 5m 5im t"Ca de neaça Rellexo de Babinski
L - 4, 5m Reflexo à luz Reflexo de Moro
Choro ReOexo de pr nsão
I MEDULA Nascimemo Movime ó 5bra os
Figura 3- Perf Il de desenvolvimento neurológico
INSUCESSO ESCOIAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
DOMAN E DELACATO
zy
3
[ Figura 4- Esquema de organização neuroló gica. Os números
identificam os níveis neuro I lógicos inferiores que afectam os níveis
i superiores, que em contrapartida são afectados
[ por aqueles. A inoperância de um nível supe rior torna dominante
o nível imediatamente
inferior (Doman e Delacato)
s.
28
Perspectivas de finguagem
Samuel Orton, Katrina de Hirsch, Samuel Kirk e Helmer Myklebust
SAMUEL ORTON
29
30
ESQUERIlO 2 - 2. e 3. 8i - temOoraliscentro de
compreensão das palavras e da5 frases
I
I-lEMISFÉRIO DIREITO
31
32
do cérebro e de factores hereditários. O seu credo (Orton's credo) aponta para que
cada desordem tenha o seu método específico de reeducação: se efectivamente
formos suficientemente perspicazes no diagnóstico e se provarmos que somos
suficientemente "inteligentes" para desenvolvermos métodos de treino adequados para
satisfazer as necessidades de cada caso particular, então os problemas podem ser
superados".
Orton, ao contrário de Strauss e Werner, não atraiu tantos discípulos; no
entanto, a sua obra foi reconhecida após a sua morte com a criação da Orton Society
(OS).
A OS é uma das organizações mais dedicadas ao estudo das dificuldades
específicas da linguagem (DEL) e das dificuldades de aprendizagem (DA). Estes dois
conceitos, todavia, não devem ser confundidos. As DEL consideram os aspectos
receptivos, integrativos e expressivos da linguagem. As DA podem compreender
aspectos mais globais, i. e. , não verbais, práxicos e outros aspectos cognitivos e
simbólicos, como por exemplo as aquisições (skills) necessárias ao cálculo.
A sociedade criada em nome de Samuel Orton, a quem se deve um dos
primeiros trabalhos de investigação neste domínio, compreende como mem bros não
só educadores como médicos, psicólogos, pais, isto é, todos os que se interessam em
proporcionar oportunidades educacionais às crianças com problemas de linguagem e
de aprendizagem.
A sociedade tem vários ramos espalhados pela maioria dos estados da América
do Norte, que são perfeitamente autónomos cientificamente. A sociedade mantém um
boletim anual e outras monografias de grande pro fundidade científica, reconhecidos
inclusivamente nos países socialistas, como provam os inúmeros artigos publicados no
boletim por autores russos, checos, polacos, etc.
Outro aspecto importante da sua acção compreende a realização de
conferências anuais iniciadas a partir de 1949, para as quais são convidados
especialistas de todo o mundo.
A função da Orton Society é predominantemente científica e não propagandista
ou reducionista, no sentido de defender um sistema reeducativo oficial ou especial.
Procura ver as necessidades da criança quanto ao processo de aprendizagem e não
defender um processo exclusivo de reeducação. A OS defende que a sua
sobrevivência depende do convívio e da comunicação científica entre proftssionais que
directa ou indirectamente se interessem pelos problemas de aprendizagem da
linguagem. Um dos seus objectos fundamentais é a promoção da investigação e dos
meios de prevenção e identificação precoces, quer no campo do diagnóstico, quer no
campo da intervenção pedagógica, quer ainda no campo das DEL, que são designadas
correntemente por dislexia (DL). Este interesse científico tem crescido e evoluído, e
para isso têm contribuído inúmeros investigadores, psicólogos, pedagogos e
educadores que anualmente nas conferências divulgám e debatem os seus resultados,
exemplo que em vários campos culturais devia ser seguido.
33
A DL é uma condição, não uma doença, que deve ser atendida e compreendida
por todos, e principalmente por pedagogos. As crianças com DL não podem aprender
com métodos tradicionais, ou em moda. Estas crianças, se não forem identificadas
precocemente, encontram-se em risco. Tendem ao insuces
34
35
sada nos gabinetes. É urgente, como meio preventivo de DA, criar em Portugal
um ensino pré-primário com um cumculo pensado à luz de uma investigação
psicopedagógica e que tenha como base os processos de maturação psicológica e os
processos de informação e des nvolvimento percepávo (auditivo e visual), linguístico
(fonético, semântico e sintáxico), motor (global e fino) e emocional (confiança, iniciativa,
autonomia, segurança, etc. );
2) O cuidado especial que deve merecer a alimentação das
crianças em situação de aprendizagem. Uma carência caloricoproteica pode afectar
gravemente as condições de escolarização. A escola primária portuguesa deveria
pensar num suplemento nutritivo, principalmente às crianças de meios desfavorecidos
e que devem igualmente ser educadas em função das suas necessidades. Muitos
problemas de atenção, hiperactividade e comportamento seriam rapidamente
resolvidos com uma nutrição mais qualitativa;
3) Outro problema importante põe em destaque o insucesso escolar
pro vocado por repetências crónicas, cujo efeito na higiene mental das crianças ou dos
jovens pode ser causador de sentimentos de inferio ridade, de autodesvalorização, etc.
O gosto pela cultura contrói-se na escola primária, na medida em que a cultura deve
ser vista não como uma forma selectiva de oportunidades, mas como meio de
libertação e realização das crianças. Daqui decorre uma transformação de currículos
escolares proporcionando nos casos em risco" programas individualizados de
aprendizagem e de enriquecimento curricular, evitando formas desumanas e pouco
dignas de segregação e de humilhação;
4) A necessidade de uma formação universitária dos professores
primá rios, pois não trabalham com coisas ou objectos, mas com seres humanos
candidatos à hominização. A dignidade de um país passa pela sua cultura vivida e
multiplicada e os primeiros a fazê-la têm de ser bem estimados e acarinhados, a flm de
se lhes exigir níveis de intervenção mais qualificados cientificamente. É pelos
professores primários que se pode combater o analfabetismo funcional (de crianças e
de adultos) que entre nós é assustador e comprometedor em várias dimensões
socioculturais e socioeconómicas.
KATRINA DE HIRSCH
Outro impo tante vulto no estudo das DA é Katrina de Hirsch. Com a influência
dos gestaltistas (Goldstein, Werthein, etc. ) e com formação em Patolngia da Fala, no
Hospital de Doenças Nervosas de Londres, K. de Hirsch desenvolve intensa actividade
com crianças afásicas, com uma grande prática nos domínios das disfunções
neurológicas. Tendo sido a fundadora
36
Para além destes aspectos, marcados essencialmente pela sua formação inicial,
K. de Hirsch também se debruçou sobre variáveis psicomotoras das crianças
disléxicas, caracterizando-as com um perfil diferenciado nas seguintes dificuldades:
desorientação espacial; problemas visuomotores e de figura e fundo; hiperactividade e
padrões motores primitivos. A autora é da mesma opinião que Bender, associando
estes aspectos ora a uma disfunção do sistema nervoso central (SNC), ora a
problemas de desenvolvimento e de imaturidade.
K. de Hirsch, noutra publicação editada na Europa (Folia Phoniatria), encontrou
na criança disléxica os seguintes factores não linguísticos:
37
SAMUEL KIRK
Uma das flguras mais relevantes do campo das DA é sem dúvida Samuel Kirk,
que iniciou a sua carreira no âmbito da deficiência mental. Doutorado em Psicologia
pela Universidade de Chicago, este autor conseguiu sempre aliar à sua formação a
experiência de professor numa escola de adolescentes delinquentes e de deficientes
mentais, caso único na história das DA, diga-se de passagem. É conhecida a sua
dedicação pedagógica a um caso de um rapaz de 10 anos diagnosticado como aléxico
(world blind - cego para palavras), tendo utilizado com êxito um método de intervenção
que o notabilizou e que inspirou o seu célebre e famosíssimo ITPA (The I!linois Test of
Psycholinguistic Abilities).
38
,
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ir "' , ---
, ; t auditiva i
39
40
Exemplos
Da recepção auditiva:
Os rapazes brincam? Sim ou Não As cadeiras brincam? Sim ou Não As
cadeiras comem? Sim ou Não Os cães comem? Sim ou Não
Da recepção visual:
`e
Y"
41
Exemplos
Da associação auditiva:
O pai é grande; o bebé é O pássaro voa no ar; o peixe nada no O pão é para
comer; o leite é para Eu durmo numa cama; eu sento-me numa
Da associação visual:
Apontar para a figura central. O que é que fica bem com esta imagem?
Exemplos
Da expressão verbal:
São dados cinco objectos (prego, bola, cubo, envelope e botão). Pede- se ao
observado:
uDiz-me tudo o que sabes sobre -
Da expressão manual:
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Mostra-se várias figuras (martelo, chávena e cafeteira, guitarra, faca e garfo, etc.
) e solicita-se ao observado a demonstração do uso em termos de gestos intencionais.
Exemplos
44
Associação
z2aó
7I
ó a 8D c
z
I I I
b 9 d
E e 0
Esúmulo Resposta
visual e verbal e
auditivo motora
45
Independentemente das críticas que têm sido publicadas sobre o ITPA, umas
com enfoque estatístico, outras na base dos problemas que se levantam ao nível
reeducativo, não restam dúvidas de que o ITPA é um instrumento valioso no que
respeita à articulação indispensável entre o diagnóstico e os programas de intervenção.
a) Dificuldades de leitura;
b) Desordens da fala; c) Deficiência mental;
d) Trissomia 21;
e) Grupos étnicos;
j) Crianças com paralisias cerebrais;
g) Crianças com deficiências visuais e auditivas, etc.
46
47
HELMER MYKLEBUST
48
= Idade expectativa
IM+IC+IEsc=IExp. 3
Idade expectativá
= Quociente de aprendizagem Idade de leitura (escrita, cálculo)
= QA IL
Por exemplo, uma criança com a idade expectativa de 10 anos e lendo um texto
para uma criança de oito anos obtém um QA de 80 na leitura. Reconhecendo a
natureza arbitrária da determinação do ponto onde o QA é sinónimo de uma DA,
Myklebust no entanto fixa-o em 89 (cutoff score).
A criação do seu conceito psiconeurológico das DA" resulta da sua não-
concordância com as definições mais populares, pois defende uma posição etiológica.
Mesmo referindo que o termo consubstancia uma etiologia de lesão cerebral (brain
injury)', Myklebust adopta a designação para envolver manifestações de
comportamento e de aprendizagem.
O interesse que Myklebust pretende evocar situa-se na relação entre o cérebro
e o comportamento, particularmente no que respeita à aprendizagem (wny main
intérest for more than a decade now has been the relationship between brain and
behaviour particularly as these pertain to learningH 1972).
49
Segundo o autor, nos Estados Unidos, durante muitos anos, imensas crianças
com DA (e com aspectos de ajustamento social concomitantes) eram classificadas
como deficientes mentais, deficientes sensoriais ou emocionalmente perturbadas. Este
panorama foi posteriormente combatido, tendo-se chegado à conclusão de que um
número significativo de crianças não aprendia nas escolas públicas,
independentemente da sua inteligência normal, das suas ade quadas visão, audição e
motricidade e do seu ajustamento socioemocional.
A partir destes factos (que subsistem perigosamente no sistema escolar
português por falta de uma definição e uma clarificação concisas), foi necessário
desenvolver um intenso trabalho de investigação para se adoptar uma classificação
mais apropriada e significativa. Tal classificação teria de discriminar claramente
crianças deficientes mentais, crianças com lesões mínimas cerebrais e crianças com
dificuldades de aprendizagem.
De acordo com Myklebust, trata-se de detectar crianças com disfunções no
cérebro (disfunções psiconeurológicas), que não manifestam grandes anomalias
neurológicas (gross neurological anormalities), mas que frequentemente apresentam
défices complicados na aprendizagem e no comportamento, mesmo que se verifiquem
nelas potenciais intelectuais médios ou elevados.
Foi necessário, e ainda hoje é preciso, encontcar dados e factos que pernútam
obter uma defnição mais refinada e precisa da condição das DA e dos seus efeitos
específicos. O critério para o diagnóstico diferencial não é puramente uma questão de
hostilidade entre vários profissionais - está em causa a felicidade de futuros cidadãos,
daí que muitos investigadones se esforcem para o obter.
O complicado problema da definição foi e é uma preocupação deste autor'' de
facto, Myklebust começa por colocar o problema considerando que a população total
das pessoas lesadas cerebralmente inclui: paralisia cerebral, deficientes mentais e
talvez (o sublinhado é nosso) outros. Nuns, os efeitos na aprendizagem e no
comportamento são visíveis e óbvios; noutros, o problema requer diagnósticos mais
sofisticados e diferenciados, e dentro desta categoria Myklebust integra as lesões
mínimas do cérebro e as DA.
1 Sabe-se igualmente que uma pequena disfunção numa dada área do cérebro
pode provocar grandes efeitos no comportamento, enquanto uma grande ou extensiva
disfunção noutra área resulta em alterações de comportamento mínimas. A questão
está em saber quando é mínima a lesão, o que nos parece, para o conbecimento
actual, muito difícil de defmir, até porque, como afnmou Orton, a área e a sua
localização funcional específica são mais importantes do que a quanti dade de tecido
cerebral lesado.
50
APRFNDIZAGEM NORMAL
Integração da experiência
Funções intersensoriais
Funções intra-sensoriais
Capacidades psiconeurológicas
51
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r DiFICULDADES DE APRENDI7AGEM '
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; Desintegração da experiência ,
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I , Funções intersensoriais
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(dis)Capacidades psiconeurológicas ;
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L-- --J
52
53
54
gia, reforça o autor, tem a vantagem de indicar que a desordem da apren dizagem é
um tipo de desvio comportamental, ao mesmo tempo que encerra um problema de
aprendizagem e não um problema de incapacidade de aprendizagem (afasia, alexia,
agrafia, etc. ).
Muitos problemas subsistem quanto à terminologia, ao critério e à definição que
envolve o conceito de DA. Enquanto não se clarificar a complexidade do problema, não
vemos como se poderá, consequentemente, desenvolver programas educacionais
apropriados às necessidades específicas das crianças.
Cada vez mais a escola se encontra confrontada com crianças com DA. A
excepção à regra, nos nossos dias, são as crianças sem DA, ou melhor, sem distúrbios
ou problemas de aprendizagem. Tais crianças mal definidas são raramente detectadas
ou identificadas, e como resultado dessa atitude negligente e indolente surgem os
evitáveis estigmas escolares do insucesso e do inêxito.
Modificações estruturais, legais, educacionais e científicas têm de ser
implementadas na escola e muitas dessas alterações colocam em questão estes
problemas de clarificação.
O critério, a definição ou a clarificação destas crianças é urgente, como afirma
Myklebust. Urge estabelecer por consenso tal critério essencial, salvaguardando
implicitamente os direitos da criança, na medida em que a clarificação da definição
pode contribuir seguramente para a planificação, a estruturação, a organização e a
criaçãó de serviços e de técnicos, encorajando o desenvolvimento de programas de
identificação e de métodos de intervenção.
Myklebust não omite este tipo de repercussões sobre o problema das desordens
psiconeurológicas; por isso, desenvolveu intensa actividade investigativa no sentido da
criação de processos de identificação (ver exemplo da escala de identificação de DA) e
de métodos de intervenção pedagógica.
Num dos seus estudos de identificação, Myklebust apurou que 75% a 85% das
crianças com DA manifestavam sinais neurológicos evidentes, e que tais sinais
poderiam, em muitos casos, obter confirmação pelo elec t nencefalograma. Mais, o seu
trabalho de identificação, que envolveu toda a população escolar dum distrito (cerca de
dois milhões de crianças), mostrou que um mínimo de 5% de crianças em idade
escolar evidencia DA resultantes de distúrbios no cérebro. Outros autores, a este
respeito, avançam com cifras muito maiores. No mesmo trabalho, este autor demonstra
que os problemas são cinco vezes mais comuns nos rapazes do que nas raparigas,
sugexindo que provavelmente alguns tipos de DA derivam etiologicamente de um factor
genossómico.
Cada vez mais é possível encontrar factos que confirmam as relações entre o
cérebro e a aprendizagem, e neste sentido a obra de Myklebust é um marco inequívoco
e primordial para a compreensão das DA, apenas pecando por falta de uma análise
interaccionista do tipo biossocial.
55
56
57
58
LNlGUAGEM ESCRITA
afa5ia afa5ia
dexia agrafia disgratiaexpressiva disfasia
59
60
61
62
ARTUR BENTON
63
RALPH REITAN
Ralph Reitan, por outro lado, sofre uma iniluência muito grande de um autor
raramente considerado nestes assuntos. Trata-se de Ward Halstead, que na
Universidade de Chicago, por volta de 1935, realizou importantes trabalhos no âmbito
das lesões cerebrais em adultos. O trabalho de Halstead- Brain and Intelligence - é um
estudo qualitativo acerca dos lóbulos frontais que muito motivou o trabalho de Reitan
na Universidade de Indiana, onde criou a sua interessante bateria de testes
neuropsicológicos (Reitan Indiana Neuropsychological Test Batery for Children, 1955).
64
A título informativo, podemos acrescentar que essa bateria muito extensa tinha
os seguintes subtestes: categorização, realização táctil, ritmo, perce Ção de sons,
oscilação digital, sentido do tempo, dextralidade, forma e cor, iguras progressivas,
combinação de figuras, visuoespaeialidade, ângulos e egrodução de desenhos.
Com este instrumento, Reitan realizou estudos de muito interesse em crianças
com LCM e em crianças afásicas, sendo um dos autores que entra na célebie
discussão dicotómica e contraditória das funções dos dois hemisférios - o erdo, mais
associado a capacidades verbais, e o direito, às não verbais.
Entramos aqui no debate inconcluso sobre a localização funcional e id
isfuncional, em que os dados atingidos com os adultos são muitas vezesacáapolados
para as crianças, o que não tem sido inequivocamente demons rdo, dada a grande
inconsistência dos resultados obtidos neste tipo de mvestigação que neeessariamente
impede o avanço e o progresso de estudos neuropsicológicos relevantes para a
educação.
'va de integração
r William Gaddes, Barbara Bateman, Cynthia Deutsch e Florence Schumer,
Douglas Wiseman, Grace Fernald e Wayne Otto e R. McMenemy
BARBARA BATEMAN
65
Os testes estandardizados devem ser usados para identificar áreas fracas (weak
areas) a estudar cuidadosamente. Bateman sugere a análise das funções de
linguagem, quer receptivas, quer expressivas, e também os processos intermédios de
organização, categorização e generalização da informação, bem como os processos de
armazenamento e rememorização da informação.
É inegável, neste aspecto, a influência de Kirk nos seus trabalhos,
nomeadamente sobre os resultados a que chegou no ITPA, que são um marco
histórico no terreno das DA, dada a preocupação em adquirir do diagnóstico a
reformulação necessária para a clarificação da intervenção.
4. " Estádio: preparar uma hipótese clara e precisa do diagnóstico tendo em
consideração os aspectos passados e os futuros. O bom diagnóstico para Bateman é o
que:
1) evita termos técnicos;
2) tem fundamentos para caracterizar as dificuldades detectadas; 3) encontra
padrões e relações de problemas, em vez de simplesmente
descrever as dificuldades;
4) recomenda reeducações específicas.
66
L Determinação do problema
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Problemas
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67
a) factores etiológicos;
b) processos de diagnóstico;
c) práticas reeducativas em cada uma das seguintes áreas:
psicomotricidade, comunicação e leitura. Cada um destes tópicos tem sido subdividido
por sua vez em três grandes orientações profissionais: médica, psicológica e
educacional ou pedagógica. O modelo, no
68
DOUGLAS WISEMAN
69
L-- -JI Ì - J
GRACE FERNALD
Fernald é uma figura notável no campo das DA, sendo também defensora de
uma abordagem caracterizada por uma relação interdependente entre o diagnóstico e a
intervenção. Fundadora de uma das primeiras clínicas (Clinic Scholl, na Universidade
da Califórnia em Los Angeles - UCLA), é
70
reconhecida como uma das autoras da pedagogia científica. Para ela, todas as
dificuldades de aprendizagem podem ser compensadas por técnicas adequadas
através de modelos de diagnóstico e de estratégias de tratamento descritas no seu livro
Remedial Techniques in Basic School Subjects.
Fernald fornece sugestões para intervir no âmbito do insucesso escolar e dos
problemas emocionais concomitantes. Dentro delas aponta as seguintes:
1) Não dar atenção a situações com carga emocional;
2) Não utilizar métodos pelos quais as crianças não aprendem; 3) Não sujeitar
as crianças a situações que lhes possam causar dificuldades; 4) Dirigir a atenção da
criança para as tarefas que sabem fazer e não para
as que não sabem fazer.
71
so
Rncesso Processo Ç Proceseo
vsual auditivo (cognidvo) motor
O diagnóstico intensivo, para estes autores, só deve ser utilizado quando for
necessário, e quando a informação obtida a partir do diagnóstico for útil â intervenção
pedagógica subsequente; caso contrário o diagnóstico não passa de um exercício
puramente académico.
72
73
i Íi'I
. a, s
vocalizaç s
Silabações
. Linguagem convencional Comunicação verbal
U ' posNras
i Movimentos Automáticos
! i Movimentos Voluntá os
i Imitação
Ç ' . Gestos s;mb6licos
RECEPTIVAS
Sinais
(/nput) Linguagem gesNal
, . sf açgo en gia Pantomimas
. T missdo da informação '
75
Este esquema pode ser simplificado com base na integridade dos processos de
recepção, de integração e de expressão, que subentendem a aprendizagem humana
dita normal>>.
A aprendizagem normal>> reflecte, portanto, a integridade total entre os três
processos acima indicados, ou seja:
- - - - Processo de transdução - - - -,
Processo ; Processo
de - --I <esso de integração ->--- de
recepção , expressão
++ +
-I
Feed-6ack
76
PROCESSO DE INTEGRAÇÃO
PROCESSO PROCESSO
DE DE
RECEPÇÃO EXPRESSÃO __ ____ _ _
Modelo de multideficiência
Modelo de deficiência
d e comunicação e de deficiência motora (ou de afasia motora)
77
INSUCESSO ESCOIAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
OPERAÇÕES
PRODUTOS
CONTEÚDOS
78
79
1) Os maus leitores não diferem dos bons leitores na fase perceptiva; 2) Os bons
leitores são significativamente melhores na fase de codifieação. Daqui se conclui que
não basta abordar as DA pela via per
80
81
A teoria da DCM está assim em causa em relação à etiologia das DA. De facto,
a teoria não é imune à sua desaprovação; daí os problemas de
ordem metodológica.
A teoria psicolinguistica das DA, proposta por Kirk e McCarthy 1961,
embora adequada, merece outras críticas relevantes, à semelhança de teoria da DCM
que focámos atrás. A teoria psicolinguística que se alicerça no ITPA precisa de ser
refinada, e as suas validade e fidedignidade necessitam de ser inequivocamente
aprofundadas. O ITPA não avalia as características essenciais da linguagem, segundo
Berry 1969. O ITPA, ao permitir a organização de testes psicolinguísticos, facilita
extraordinariamente a compreensão do problema, e esse é talvez o seu grande valor,
pois induz a criação de grupos de crianças e de estratégias de reeducação de
inexcedível interesse.
A teoria da integração intersensorial, proposta por Birch e Belmont 1964,
é incompleta quanto às funções cognitivas que incidem particularmente na
aprendizagem da leitura ou da escrita. Freids 1974 demonstrou que é difícil o controlo
das funções intramodais, dado que são uma concomitância das funções intermodais,
daí que a proposta de Birch e Belmont mereça algumas críticas, na medida em que as
variáveis utilizadas exigem aquisi ções conceptuais e verbais.
A mediação verbal da equivalência entre a audição e a visão colocada
pelos materiais levanta outro problema metodológico, ainda acrescido por funções de
memória, que vêem criar consequentemente mais confusão às suas propostas.
Dizer-se que os bons leitores obtêm resultados na integração auditivo i -
visual não é suflciente, visto que o atraso na leitura não é apenas o resultado de
problemas de integração intersensorial (audição-visão). A hipótese ì avançada por
estes autores precisa de ser aperfeiçoada no futuro, quer meto dologicamente, quer
conceptualmente.
82
interaccional, de Adelman
" Para este autor o sucesso ou o insucesso escolar da criança são função :. a
interacção entre as suas áreas fortes (strengths) e as suas áreas fracas -veaknesses),
para além das limitações e dos factores específicos e situacida classe, incluindo as
diferenças individuais dos professores e dos seus diferentes métodos de instrução.
O modelo proposto por Adelman 1971 rejeita a lúpótese de o insucesso lar recair
totalmente numa desordem da criança. A interacção entre a iança e o programa de
instrução é o enfoque primordial deste modelo, na
do qual, segundo o proponente, se deve encarar o sucesso ou o insuso escolar.
Quanto maior for a discrepância ou o desajustamento entre as caracterís"ticas da
criança (que obviamente devem ser conhecidas e identificadas) e as
terfsticas ou exigências do programa, tanto maior será a falta de apro citamento
escolar.
Para Adelman, a despersonalização do programa escolar constitui um etor
determinante no processo de aprendizagem da criança. O programa não
ser imposto à criança, provocando ou originando comportamentos desa stados,
desinteresse ou desmotivação.
83
84
Senf acrescenta ainda outras razões causadoras das DA, como por exemplo a
inadequada actividade de orientação receptiva (problemas de atenção) que se
manifesta secundariamente a partir das desordens do processo da n ormação. Quer
dizer, como o processo de informação se encontra perturo, esta condição, segundo
Senf, reflecte-se na atenção, prejudicando-a e oo sequentemente desorganizando-a.
Para este autor o processo de infórmação é activamente estruturado e zado
pelo próprio indivíduo. O indivíduo (neste caso, a criança) actua a informação
assimilando-a no seu anteriorl repertório cognitivo-experiencial. Trata-se de reconhecer
o processo de informação e, evidentemente,
85
Processo Processo
sensorial Processo cognitivo motor
VISUAL --l - MOTOR
000
AUDITIVO -- VOCAL
- (fala)
86
FASES DA
APRENDIZAGEM DA LEITURA
87
Para Ross a atenção selectiva é uma variável que diferencia claramente o nível
de realização entre a criança normal e a criança com DA.
A partir do trabalho de Senf, que vimos atrás, este autor dá maior ênfase à
capacidade de recodifica ão (recode), ou seja, à reorganização da informação e sua
subsequente, imediata e precisa rechamada, para efeitos de expressão ou de
produção.
Na base das suas investigações, Ross demonstrou que as funções de
rememorização e de reorganização da informação dependem de factores de
desenvolvimento e de maturação consubstanciados numa atenção selectiva mais
controlada e intencional.
Tendo em conta que o êxito académico ou escolar depende da aquisição de
dados aprendidos anteriormente que resultam na passagem de uma classe ou fase
para outra, Ross argumenta que a criança com DA tem mais problemas porque as
aquisições mais simples, i. e. , das fases anteriores, não estão suficiente e
consolidadamente aprendidas.
A este problema de reorganização da informação aprendida naturalmente que
se vêm juntar problemas de personalidade (autoconceito, etc. ), acumulados nas
frequentes situações de frustração e de insucesso.
De acordo com a proposta de Ross, a atenção selectiva depende
significativamente de uma variável cognitiva, variando directamente com a sua
complexidade. Nesta perspectiva, o autor recomenda o exagero na distinção de
pormenores de pares de letras ou de pares de palavras em que
88
Vellutino 1977 representa a nova vaga das DA. A sua hipótese do défice verbal
nos maus leitores, ou melhor nas crianças com DA, surge como a nifestação de uma
dificuldade na rememorização e na renomeação de palavras, provocada, segundo o
autor, por uma falta ou carência de informação disponível. Esta falta de informação
repercute-se na reduzida e limitada capacidade de utilização e de produção,
confirmando um défice linguistico e uma eerta lentidão na identificação e no uso das
palavras.
Vellutino desenvolveu vários trabalhos experimentais de linguística, tendo
coneluído que as crianças com DA apresentam défices fonológicos, semânticos e
sintácticos associados a problemas de memória de curto ternto e de eodificação,
sintese, e subsequentemente, de rechamada da informação.
A chamada da informação é fundamental para a sua expressão. Nela estão
ineluídos complexos mecanismos e processos de selecção da palavra e das suas
estruturas componentes.
Para além destes processos de mobilização e de formulação activas, que
pneparam e planificam á expressão (quer falada, quer escrita), é necessário que se
observe processos de preeisão e fluência.
89
90
91
CAPÍTULO i.
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM:
ANÁLISE CONTEXTUAL E NOVOS DESAFIOS
93
lnsucesso escolar No s
Disfunção
cerebral mfnima
Ensino especial
Dificuldades de aprendizagem
; As crianças e os jovens com DA, para serem identificados como tal, deveriam
implicar a observância de uma gama de atributos e características cognitivos e
comportamentais que constituiriam uma taxonomia educacional e consubstanciar com
propriedade uma definição teórica testável.
/ rr, A
30 - -
/ ESPANHA III 'RANÇA 20 PORTUGAL
10
0 -'
o Sxundário
94
de DA
95
96
Expectativas sobre as DA
A luta contra o insucesso escolar tem sido, e continua sendo, uma das p
oridades do sistema escolar português, tendo levado mesmo à criação do grograma
interministerial para promoção do sucesso escolar (PIPSE 1988), programa inovador
hoje extinto que, contudo, não foi avaliado e aperfeiçoado, científica e
pedagogicamente, na totalidade das suas componentes estruturais, para efectivamente
atacar as causas e os efeitos das DA.
Baseados no relatório Warnock 1978, vários responsáveis do Ministério da
Educação adoptaram para os estudantes com DA o conceito abrangente de
necessidades educativas especiai3 (Decreto-Lei n. o 319/91), outra medida que reflecte
uma expectativa positiva sobre o assunto, sem porém atingir a mesma profundidade
em termos de estratégias de diagnóstico e intervenção, e concomitantes coordenadas
de formação permanente da parte dos professores.
A designação DA, constitui, todavia, uma simples designação que é útil por um
lado, mas por outro não, na medida em que encerra uma significação sociopolítica e
sociocultural. Ela evoluiu da necessidade de fornecer serviços educacionais a uma
população escolar que foi, e ainda é, subservida e negligenciada. Trata-se de uma
questão que, em última análise, ilustra o insucesso escolar, e nunca o insucesso
individual do estudante, porque, num dado contexto, cada dislexia é sinónimo de uma
dispedagogia. A denominação revela elegibilidade, mas nenhuma verdadeira e óbvia
identificação elínica. As DA são um assunto conceptualmente confuso, decorrente de
uma investigação teórico-prática ainda incipiente, contraditória e demasiado complexa
nas suas variáveis e nos seus pressupostos.
Em síntese, as DA referem-se, como sabemos, a uma população heterogénea,
que inclúi vários subtipos de dificuldades, idades e desordens. Para Ysseldyke 1983,
não há características nem eomportamentos específicos para as DA, isto é, as
características que exibem as crianças e os jovens com DA são semelhantes às dos
éstudantes sem DA, o que obviamente torna mais difícil o seu objecto de estudo e os
limites da sua definição.
97
I atributos específicos do indivíduo com DA (Jonhson 1990). Por outro lado, é ',
estimulante ver profissionais de muitas disciplinas envolvidos na investigação
das DA, e simultaneamente perturbador observar tão reduzida interacção de
dados e resultados entre eles. As investigações dos vários protagonistas tendem a ser
paralelas, em vez de integradas, o que em si tende a uma fraca validade (descritiva e
predictiva) em termos de relevância educacional. ? Como regra geral, os que têm
trabalhado só com crianças ou jovens ditos
98
99
100
O sistema de ensino tem de enfrentar uma série de desafos para ajudar crianças
e os jovens com DA; caso contrário, ser-lhes-ão negados os seus itos e oportunidades
educacionais. Se os professores especializados em A não se dedicarem aos desafios,
as grandes esperanças de pais e pioneiros educação e na pesquisa das DA terão os
seus sonhos e esforços desfeitos (Cruickshank 1985). Em termos de pensamento
estratégico, perspectivamos os seguintes desaf ios para o campo das DA:
Desafio n. o I
101
Desafio n. o 2
102
Desafio n. o 3
Desafio n. o 4
Desafio n. o 5
103
Desafio n. o 6
Desafio n. o 7
Desafio n. " 8
104
Desa, o n. o 9
í Desafio n. o 10
:, t Finalmente, há necessidade de editar uma revista que seja benéfica para ìla
práticos de educação e para as crianças e os jovens com DA a quem têm I at, ender.
, ; :-. Q tores do futuro devem produzir ensaios que possam servir de basedc
referência a quem intervém nas DA, e fornecer programas realistas e quecidos nas
componentes de aprendizagem. A dimensão criativa de ' tos professores deve ser cada
vez mais disseminada, mas para tal tameles terão de escrever mais sobre a sua
experiência transcendente.
r; Os vectores da futura investigação, sublinhados nestes 10 desafios que
ntámos, fornecem uma pesada agenda de trabalho e de reflexão para
tns investigadores, professores, administradores e gestores de educação. mos
votos de que eles se tomeìn realidade para bem do futuro de muitos vens e crianças
com DA.
105
i A aprendizagem, encarada aqui como um processo dinâmico, onde o ' aluno joga um
papel activo, em constante interacção com o envolvimento e I com o grupo da turma
onde está integrado, muda as suas noções, os seus 'i, ideais, atitudes e aquisições,
mas também deve mudar as condições do envoli
;i vimento onde ela tem lugar.
'! A aprendizagemn não pode ser vista como mera acumulação de conheci mentos ou
aquisições, mas como uma construção activa e uma transformação
106
107
108
109
IDADE
Il O
TESTES
DISFUNÇÕES COGNITIVAS
111
TESTES
DISFIINÇÕES COGNITIVAS
COMENTÁRIOS
Quanto a nós, trata-se do problema central das DA, área deveras complexa e
extremamente difícil de avaliar. As DA sugerem um comprometimento no processo de
informação (input, integração, elaboração e output), subtil desordem psiconeurológica
que afecta a função cognitiva (Feuerstein 1%85, Fonseca 1987, 1990 e 1992).
Como o cérebro aprende é um dos grandes enigmas da ciência actual, pois não
sabemos precisamente como o faz - apenas se presume inferências e conhecimentos
clínicos de casos patológicos inerentes ao importante capítulo das incapacidades de
aprendizagem (ex. : agnosias, afasias, apraxias), sem o qual a compreensão das DA
pode ser concebida.
112
Factores de exclusão
- Modelo funcional;
- Modelo evoluúvo;
- Modelo envolvimental;
- Modelo ecológico-clínico;
- Modelo educacionai e subtipos de DA.
li3
Modelo funcional
114
Modelo evolutivo
Este modelo foca e explora um modelo evolutivo e longitudinal, com tmflexo para
os diferentes períodos etários, com referências às DA nas clasprimárias devidas a
disfunções perceptivas, psicomotoras e intersenso ais, e às DA dos pré- adolescentes
e adolescentes que so&em de aquisições linguísácas insuficientes e de problemas de
processamento da informação verbal (exs. : Satz, Radin e Ross 1971; Vellutino,
Stegger e Pruzek 1973; etc. ).
Tenta mostrar os resultados controversos das hipóteses do défice perceptivo,
uma vez que as amostras de crianças com idades superiores a nove anos (3. ano
de escolaridade) não permitem evocar problemas perecptivos nelas que, ao contrário,
tendem a emergir em idades mais baixas to é, nos l. " e 2. " anos de
escolaridade.
Alguns estudos reforçam o modelo evolutivo; todavia, os estudos longitudinais,
que mais provam a sua validade, são extremamente raros e a uentam metodologias
questionáveis.
Um dos estudos longitudinais mais prestigiados (Belmont e Belmont 1980)
mostrou três tipos fundamentais de dificuldades de aprendizagem:
I) Os que apresentavam um nível académico normal à entrada para a
escola, e que tenderam a deteriorar gradualmente os seus potenciais de
aprendizagem;
2) Os que apresentavam DA evidentes já no l. o ano e persitiram em
tais dificuldades durante a infância e a adolescência;
3) Os que apresentavam um progresso irregular e imprevisíveis
fIutuações entre os níveis médios e inframédios de aproveitamento escolar.
Modelo envolvimental
115
contrário, mais colocadas em classes de apoio e estando por esse facto mais
frequentemente integradas.
O ciclo vicioso dos sistemas de ensino tende obviamente a recair mais
segregativa e penosamente, sobre as crianças e os jovens das classes desfavorecidas.
Os problemas ligeiros de aprendizagem: lenta maturação, lesão mínima do
cérebro, sinais de risco no parto, disfunções perceptivas, irregularidades na relação
mãe-fllho, condições objectivas de desenvolvimento, desnutrição, história clínica,
dispedagogia, etc. , etc. , que não são resolvidos e/ou tratados num meio
desfavorecido, podem redundar num potencial educacional pobre e vulnerável no
momento da entrada para a escola, sendo posteriormente agravado pela contínua
negligência do sis ema educacional e do sistema sociofamiliar, com um ensino
inadequado difi culdade de ensino - DE) que lança mão a métodos inadequados às
necessidades específicas das crianças e dos jovens, e tende a promover
baixas expectativas quer ao nível dos professores, quer ao dos responsá' veis
administrativos (orientadores, inspectores, directores de turma, coordenadores
pedagógicos, directores-gerais, etc. ).
Modelo ecológico-clinico
O modelo ecológico-clínico, recentemente proposto, decorre do
extraordinário estudo epidemiológico da ilha de Wight da autoria de Rutter e Yule 1973.
Nesse estudo riúnucioso foram detectados essencialmente dois tipos de I DA:
116
Modelo educacional
117
118
caPfruto 3
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
1) Hiperactividade;
2) Problemas psicomotores;
3) Labilidade emocional;
4) Problemas gerais de orientação;
5) Desordens de atenção;
6) Impulsividade;
7) Desordens na memória e no raciocínio;
8) Dificuldades específicas de aprendizagem: dislexia, disgrafia,
disortografia e discalculia;
119
i
- 0, 5% a 2% de crianças com DA com lesões mínimas do cérebro;
120
Pringle 1966 obteve 10% de crianças com sete anos que ainda não tinham
riciado o processo de aprendizagem da leitura e 38% a necessitarem de apoio
suplementar. Juntado estas duas percentagens, ronda os 50% a popuieçâo escolar que
não conseguiu atingir aos sete anos a aquisição básica da endizagem simbólica.
As diferenças estabelecem-se de escola para escola e mesmo entre o meio rural
e o meio urbano. Ainda segundo o mesmo estudo, no meio rural, e difieuldades de
leitura cifram-se entre 0% e 25%, e as dificuldades da escrita entre 0% e 51 %. No
meio urbano, as percentagens variam entre 0% e 60%.
Com estes números, alguns dos quais assustadores (e supervalorizados),
podemos concluir que as escolas com 300 crianças tendem a apresentar 15 e 30
crianças com DA. Numa classe de 30, a priori, existirão sempre três crianças que
precisam de apoio extra-escolar. O problema é crítico, pois nestas populações poderão
estar futuros génios.
Numa escola de ensino secundário de 1500 crianças, os professores terão de se
preparar para dar respostas diferentes a cerca de 75 a 150 crianças, o que exige, por si
só, cinco professores especializados nas aquisições de lei ra, escrita, cálculo e
cognição. Não podemos esquecer que estas percentagens envolvem critérios
selectivos relativizados, muitas vezes, sob o ponto de vista científico, até demasiado
tolerantes. Muitos dos valores estão dependentes do grau de exigência imposto pelas
autoridades, não raras vezes sem eonhecimento da problemática.
Estudos longitudinais (follow-up) identificaram crianças com problemas colares
aos nove anos que se mantiveram até ao im do ensino secundário (Moms 1966). Outro
autor, Clark 1970, identificou crianças aos sete anos que mantiveram os mesmos
problemas até aos 10 anos.
Estes estudos colocam a urgência da identificação precoce e de programas de
intervenção compensatórios e sistematizados, modificando, pelo menos para as
crianças com DA; o ensino, que cada vez mais se deve centrar na criança e no jovem e
não nos métodos, por mais modernos que sejam.
Os professores terão de aceitar que não há métodos bons e métodos maus. Há
sim métodos que servem para umas crianças e não para outras. Não é porque uma
criança não aprende por um método que se tem de concluir que ela não aprenderá.
Não podemos aceitar a imposição do método, pois podemos facilmente cair em
profecias que defendem qué o método é de Deus ou da Ciência, e que a criança é de
Satanás".
A escola recebe cada vez mais crianças com perfis de imaturidade e
desnfaturidade, e tal é válido quer para o ensino primário, quer para o ensino
seeundário.
Só uma pequena percentagem de crianças não tem problemas de
aprendizagem. A escola e os professores têm de se preparar para esta nova rea
121
que inclui o conceito de idade esperada (expectancy age), que mais não é do
que a média entre a idade mental (obtida pelo WISC - Wechsker
122
123
124
125
126
127
12
Variável Variável
sociocultural neurobiológica
(classes soci is, (indução ao nível
valores, atitudes, da disfunção cerebral,
! expectativas, da privação de estímulos
experiências, etc. ) e da malnutáção, etc. )
i
I
,
i
6 3
Varikvel Variável
sociopsicológica psicológica
socializaÇão, problemas
desenvolvimento psicomotores
dos valores, das aútudes, e cognitivos do
dos comportamentos desenvolvimento, etc.
i
i i
i
5 4
Variável Varikvel
ocupacional pedagógica
ou educacional
redução do estatuto
socioeconómico, dislexias
baixo salário, e insucessos
selecção material, etc. escolares, etc.
i
L J
128
Malnutrição
Atraso mental Ahaso na estatura ffsica
Condições sociais
Matnutrição
129
/NSUCESSO ESCOlAR - ABORDAGEM PSlCOPEDAGÓGlCA
11 1
Funções Funçóes Funções
genéúcas H de H de
desenvolvimento sociabilização
Factores Factores
Factores H ne H culturais
cerebrais psicológicos e
envolvimentais
131
Sociais
Emocionais
(EEG)
Neumlogistas
Médicas
PsiquiaVas
Pmblemas psicomEVicos Teorias PediaVas
e educacionais Sociais
Linguísúcas
Familiares Psicológicas
Emocionais
CritErios de Apoio ( ) Pedagógicas
selecção QI In%n % Neurol
i( ) escolar
132
133
nnM ~, a.
nb n m G 3 p' É o. Q I
135
Universo de
estudó
Grupos prineipeis
sub 'upos
i36
DISFUNÇÃO CEREBRAL
meio
org%nismo
CsMmOI m Cd Hti7 Çg0
Dificuldade de aprendizagem
" Figura 4 - Interacção etiológica da disfunção cerebral e das DA I
f genéticos
fls factores genéticos, por vezes negligenciados em muitos trabalhos e los, por
outros exageradamente considerados, permitem notar, todavia, algumas DA (dislexia)
são de natureza familiar. O método que lhes está
" líoito permite a descoberta de factores que governam distribuições, bem saber
se esses factores são devidos directa ou indirectamente aos efei as dos genes (Finucci
1979).
Enquanto o meio pode actuar como faciiitador do desenvolvimento, não
podemos esquecer que o potencial de aprendizagem também é parcialmente
. Com o mesmo envolvimento favorável, sabe-se que os talenbosse diferenciam
e que essa diferenciaçãò pertence a factores gené cos muito complexos, embora não
expliquem tudo.
Os primeiros estudos eáológicos são devidos a Morgan 1869, a Kerr 1'897, e a
Stephenson l904, médicos ingleses que se interessaram pelos primeiros casos de
cegueira das palavras (word-blindness).
i37
138
139
referem dificuldades na leitura ou na escrita em mães, tios, av6s, etc. Em vários casos,
a DA transmite-se em três e mais gerações (Drew 1956, Hof e Guldenpenning 1972, e
Hallgren 1950).
Hallen 1950 concluiu, no seu estudo de árvores genealógicas múltiplas, que a
dislexia se manifestava em 47% dos rapazes e em 35% das raparigas, ao mesmo
tempo que se manifestava nos pais em 47% e nas mães em 38%. A incidência da
dislexia foi superior no sexo masculino em todos estes estudos, sugerindo um factor de
transmissão hereditácia autossómica dominante de proporções mendelianas.
Todos estes estudos demonstram um alto grau de agregação familiar e reforçam
a influência genéúca nas DA, não deixando muitas dúvidas de que a transmissão
biológica desta condição é pelo menos relevante e respeitável, não se podendo com
estes dados, de alguma forrna, minimizar o papel dos factores do envolvimento.
140
' A noção de prematuridade é hoje mais c nte definida como o nascimento antes
das 37 semanas de estação.
141
N -back Codificeção
Processamento i i i i
Fecd-backs - -
142
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFlCULDADES DE APRENDI7t GElK
tir do estudo educacional de crianças com lesões cerebrais (brain injured children),
como atestam os trabalhos clássicos de A. Strauss, L. Lehtinen e Kephart que vimos
atrás.
Em inúmeros trabalhos de investigação se reconhece a correlação significativa
entre as lesões orgânicas cerebrais e as capacidades perceptivas, cognitivas e
motoras. O caso das crianças com paralisia cerebral (espásticas, atetósicas, atáxicas,
etc. ) e os acidentes e traumas cerebrais são disso ns provas concludentes e
inequívocas.
Para além de afectarem os processos receptivos (input) integrativos
(associativos) e expressivos (output), as lesões cerebrais interferem com variadissimos
subprocessos de tratamento e ordenação de informação, base principal, como
sabemos, da aprendizagem simbólica, a lembrar que ela só é possível num verdadeiro
e complicado órgão que só funciona quando determinadas integridades estão em
presença.
Como nos elucidou Luria 1975, na sua brilhante e extensiva obra, a disfunção
cerebral altera não só a aprendizagem mas também o comportamento omocional, daí
nascendo relações de causa e efeito que se tornam cada vez mais complexas à
medida que o processo de desenvolvimento se desenrola.
Por outro lado, não se verificando determinadas condições de maturação do
cérebro, o desenvolvimento fica comprometido, gerando consequentemente disfunções
que dificultam as mudanças de comportamento provocadas pelas aprendizagens
(Benton 1964).
Hallahan e Cruickshank 1973 demonstraram que não são só as lesões mínimas
no cérebro que provocam disfunções na aprendizagem. Para além destas, há a
considerar a malnutrição, as carências afectivas, a falta de estimulação precoce e
mediatização, etc. , a que não podem estar alheias a privação socioeconómica, a
pobreza e a miséria, que axiomaticamente afecf tm o desenvolvimento do sistema
nervoso central (SNC).
Schulman e Leviton 1979 demonstraram que a malnutrição produz efeitos ao
desenvolvimento cognitivo e Klein, Forbs e Nader 1975 especificaram
metodologicamente as implicações da malnutrição nas dificuldades da leitura, surgindo
como um factor de risco adicional.
Dentro destas linhas de estudo, outros factores se encontram igualmente t
lacionados com as DA, como o hospitalismo (admissão num hospital por mais
de uma semana, entre os seis meses e os quatro anos) e a adopçâo.
Dayton 1969 apresentou uma hipótese de desenvolvimento do SNC em três
fases:
143
DESENVOLVIMENTO rnov g
2meses g7
6meses 378-382
recém-nascido
908
1ano... gg3
2anos (entrada na pré-primária)...
1124
3anos. 1234
4anos. 1242
5anos. 1322
6anos (en ada na escola primária)... ... . .
10anos (fim da escola primária)... 1344
Figura 49- Peso do cérebro e desenvolvimento, segundo Brieley
144
causadas por H. In, fluenzae, cinco por meningococos e cinco por pneumococos. No
estudo das variáveis psicopedagógicas, 54% atingiram resultados mais baixos do que
as crianças do grupo de controlo no teste de Durrell (Durrell Analysis ofReading Di culty
Test). Diferenças significati encontradas no ITPA, DTVP, no Peabody Picture
Vocabulary Test Teste de Vocabulário e Imagem-Dun) e em testes motores e
psicomotores. De acordo com os professores, as crianças que tiveram meningite
apresentavam sinais de baixa maturação e de fraca autoconfiança, quando
comparadas com as outras crianças do grupo de controlo.
Outros estudos (Gregg 1941, Witte 1969, Ames 1970, Chess 1971) com
crianças cujas mães tiveram rubéola e ficaram com subsequentes défices congénitos
(surdez, cardiopatia, cataratas, etc. ) surgem com outros importantes contributos. Em
todos os casos se verificava que as implicações congénitas eram mais severas quando
a infecção materna ocorria no primeiro trimestre da gravidez. Por outro lado, em todos
estes casos, o potencial intelectual encontrava-se afectado. Também outros aspectos
se encontravam relacionados com a rubéola, como por exemplo: baixo peso, reduzido
perímetro cefálico, atraso neonatal e psicomotor, etc. (Weinberger e colaboradores
1979, Lej aga e Pickham 1974).
Outros autores ainda associam a condição da rubéola intrauterina a autismo,
comportamento reactivo, ansiedade, dependência, agressividade, atraso de linguagem,
etc. , sendo cada vez mais significativas as sequelas de acordo com a cronologia da
infecção congénita, pois parece ter-se veriflcado que as sequelas eram mais ligeiras
quanto maior fosse a idade gestacional.
Estas são algumas evidências etiológicas que se deve igualmente
considerar nos factores neurológicos, a flm de proporcionar uma perspectiva dialéctica,
indutiva e recíproca, entre os factores causais, biológicos e sociais encontrados no
campo das DA.
146
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICULDADES DE APRENDl7 AGEM
147
148
149
ou social, ia-se no entanto mantendo uma estabilidade familiar, uma higiene adequada
na habitação e uma aceitação incondicional dos fllhos.
Esta realidade, não raras vezes característica dos bairros degradados urbanos
ou suburbanos, objectiva lamentavelmente a desvantagem cultural das familias das
classes mais desfavorecidas.
A falta de variedade de estimulação ou a estimulação excessiva e
desorganizada, por vezes inadmissível, observada nos bairros pobres pode ser outra
faceta da privação cultural. A qualidade da estimulação interfere indubitavelmente nas
condições mínimas requeridas para uma escolaridade adequada.
Uzgiris 1973 observou que as crianças desfavorecidas são bombardeadas por
estímulos mais perturbadores, e ao mesmo tempo privadas de uma estimulação
auditiva e linguística consistente. Em resumo, as dificuldades de processamento da
informação auditiva, da atenção selectiva, da discriminação, da identificação, da
segmentação fonética, da sequencialização, da retenção, etc. tendem a prejudicar o
desenvolvimento da linguagem e a elaboração de estruturas cognitivas.
Ignorando esta realidade social, a escola, feita para os mais aptos e
favorecidos, pouco tem realizado para compensar ou combater esta desigualdade
humilhante.
A escola persiste na função de reprodução das desigualdades sociais.
Antes da democratização do ensino, surgem outras modalidades de democraticidade
na saúde, na nutrição, na habitação, no bem-estar, na cultura, etc. que necessitam de
ser envolvidas. Sem esta visão sociopolítica do problema, não podemos encarar
medidas nem soluções no âmbito das DA.
150
151
,
programas e currículos de facilitação da linguagem e das pré-aptidões
adequadas às crianças sfavorecidas.
; As múltiplas privações culturae psicossociais actuam inibitoriamente I' em relação ao
desenvolvimento intelectual, como acabámos de ver. A privação cultural parece
envolver uma complexa interacção entre
152
153
Classes sociais
154
etária da amostra ia dos cinco aos 14 anos (idade média de seis anos). Realizaram-se
entrevistas com a fam ia, para obter dados anamnésicos sobre história familiar, história
pré-natal, peso ao nascimento, complicações da gravidez e do parto e outros
problemas de desenvolvimento. Kappelman ainda se serviu de relatórios médicos
cedidos por clínicas e outras instituições hospitalares.
No seu estudo, a população das crianças com DA apresentou significativamente
mais histórias familiares de deficiência mental, e mais problemas de comportamento,
de fala, de audição e de visão. Quarenta das mães das crianças com DA apresentavam
pré-eclâmpsia (pressão sanguínea exagerada nos segundo e terceiro trimestres da
gravidez), enquanto as mães das crianças sem DA apresentavam este episódio pré-
natal em apenas 15 casos. Os pesos inferiores a 2 kg foram notados nove vezes mais
nas crianças com DA, em comparação com os das do grupo de controlo. Dez
nascimentos das crianças com DA foram de apresentação pélvica, enquanto se
registou, no outro grupo, apenas um caso. Vinte e duas mães das crianças com DA,
comparadas com 10 das crianças sem DA, terminaram a sua educação antes do 9 ó
ano de escolaridade. Quarenta e oito mães das crianças do outro grupo vinham de
familias com fratrias de mais de nove filhos. Setenta e sete crianças sem DA e 46
crianças com DA viviam com os dois pais biológicos. Treze crianças com DA e duas do
grupo de controlo viviam com a mãe e com um homem não relacionado familiarmente.
Finalmente, 18 crianças com DA, e cinco sem DA viviam numa casa com a sua mãe
biológica.
Estes dados, obtidos num estudo com controlo da variável socioeconómica,
permitem diferenciar a importância dos efeitos independentes das covariáveis
socioculturais e socioeconómicas. Quer dizer: mesmo que as crianças estudadas
venham do mesmo estrato socioeconómico desfavorecido, ainda são identificadas
diferenças significativas nas suas histórias pré, peri e pós-natais, bem como são
detectadas diferenças nas suas condições de vida. De alguma maneira, por este
estudo se prova que as DA não são só dependentes da classe social - algumas das
dificuldades podem ser atribuídas, pelo menos em parte, a factores biológicos de risco.
Eisenberg 1966, estudando também dois grupos de crianças com DA, um de
brancos de zonas suburbanas de trabalhadores de serviços (classes médias), e outro
de negros de zonas rurais pobres, encontrou, em ambos os grupos, maior percentagem
de rapazes do que de raparigas, o que suporta a ideia de que subsiste uma diferença
sexual significativa, mesmo quando é controlada a classe social.
Num estudo que envolveu 31000 escolas nos Estados Unidos utilizando um
critério psicopedagógico de que às crianças com DA só seriam seleccionadas se
acusassem alguns problemas na compreensão auditiva, no pensamento, na falá, na
leitura, na escrita, e no ditado - excluindo portanto todas as crianças privadas
culturalmente ou com problemas físicos e emocionaischegou-se aos seguintes
resultados: as escolas urbanas localizadas em áreas populacionais de baixòs salários
(low-income areas) apresentavam sempre percentagens três vezes superiores às
escolas urbanas localizadas noutras áreas.
155
156
157
envolvido.
158
159
1b0
161
rI'
c fruLo 4
1) Aprendizagem e comportamento;
2) Teorias de aprendizagem;
3) Aprendizagem humana e aprendizagem animal;
4) Aprendizagem, estímulo, reflexo e condicionamento;
5) Aprendizagem e motivação;
6) Aprendizagem, habituação e reforço;
7) Aprendizagem e encadeamento; 8) Aprendizagem e discriminação;
9) Aprendizagem e memória;
10) Aprendizagem, noção de desenvolvimento, noção de deficiência e
de dificuldade de aprendizagem;
ll) Condições da aprendizagem: neurobiológicas, socioculturais e
psicoemocionais;
12) Sistemas psiconeurológicos de aprendizagem: sistemas de
processamento de conteúdo; sistemas de processamento sensorial e sistemas de
processamento cognitivo.
Aprendizagem e comportamento
163
Teorias da aprendizagem
Várias teorias têm sido advogadas para nos esclareeer sobre a proble máúca da
aprendizagem. As teorias conexionitas estimulo-resposta, em que ressaltam os
trabalhos de Thorndike e Hull, defenderam que a aprendizagem depende da relação
compreendida entre o esúmulo e a resposta. O primeiro autor especificou a
aprendizagem em três leis: a do exercício, a da aptidão e a do efeito. O segundo
equacionou a aprendizagem em modelos matemáúcos, entrando em linha de conta
com o número de tentativas, a quanúdade de reforço, a intensidade do estímulo, a
inibição reacúva e a inibição condicionada, eomo funções predictivas do potencial de
aprendizagem.
Guthrie, outro behaviortsta avançou com vários postulados: o da associação
entre o estímulo e a resposta; o da adaptação positiva, isto é, a lei de frequência de
Watson; o do hábito e da ocorrêneia e, por último, o do
16
165
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
Escolhe uma entre várias hipóteses possíveis. Compara várias formas para
alcançar um fim ou um resultado. Elabora planos, executa-os e avalia os resultados
obtidos. Descobre a solução antes de a aplicar, utilizando para o efeito uma
planificação antecipada das acções exigidas pelas tarefas.
A mente humana alcançou, assim, a maior aventura em que alguma vez esteve
envolvida, encontrando de facto um processo de comunicação e exprimindo-se por
meio da linguagem articulada (tradição oral).
Foi preciso outro longo processo histórico para que a linguagem falada fosse
materializada numa linguagem escrita, permitindo o acesso à leitura, como processo
receptivo, e à escrita, como processo expressivo.
166
167
Aprendizagem e motivação
Aprendizagem e encadeamento
A noção de encadeamento demonstra que a aprendizagem se opera mais
eficientemente por sucessivas aproximações à resposta desejada. A aprendizagem,
por mais simples que seja, decompõe-se nos seus elementos, organizados e
combinados por complexidade crescente. Esta noção pressupõe a programação
cuidadosa de todas as fases de aprendizagem de qualquer tarefa, (task analysis),
evitando, tanto quanto possível, a evocação de respostas incorrectas. Por outro lado,
esta noção de encadeamento implica a utilização de um reforço adequado à medida
que o repertório de comportamentos se vai diferenciando. Trata-se de um processo
lento, mas de certa forma compensador, por permitir uma aprendizagem de sucesso
em sucesso.
168
VISÃO IMEGRADA DA APRENDDrlGEbl
qualquer dos casos, a resposta desejada perante os estímulos em jogo implica umas
vezes a sua facilitação, outras vezes a sua inibição. Os estímulos devem agora ser
analisados no seu todo e nas suas partes. Os seus aspectos críticos deverão ser
integrados, a fim de que o indivíduo possa diferenciar entre pares de estímulos ou de
objectos que se distinguem pela cor, pelo tamanho, pela forma ou por outros atributos e
características relevantes.
Sem se integrar este aspecto do domínio perceptivo, que compreende a função
de descodificação de pares de estímulos visuais, auditivos ou tactiloquinestésicos, as
funções cogniúvas de conservação e de combinação da informação encontram-se
consequentemente alteradas.
Aprendi em e memórie
i69
Novas a Prendizagens
EXPRESSÃO
PENSAMENTO I I RESPOSTAS
ARMAZENAMENTO
REMEMORIZAÇÃO
Este dado é válido até mesmo para a aprendizagem da linguagem falada. A sua
aquisição requer que a informação auditiva seja armazenada e conservada, depois de
ter sido compreendida (linguagem interior). Só a partir daqui a linguagem é integrada e
formulada, para ser posteriormente exprimida.
A memória associa, portanto, as funções de recepção e as funções de
expressão, pois estas não se dão sem as funções de armazenamento, compreensão,
integração e formulação (rememorização).
Esquecer é desaprender. Esquecer coisas é provavelmente o resultado de as
não ter aprendido, ou de as não ter organizado de forma suficiente interiormente.
Está provado por investigações que a dificuldade em adquirir novas
recordações, ou em se lembrar de nomes e acontecimentos, interfere
significativamente com a aprendizagem e com as suas transferências proactivas. Da
mesma forma se sabe hoje que a memória envolve a função do hipocampo e do ciclo
de Papez, para além do sistema límbico. Quer dizer: a memória é um sistema
funcional, e inter-hemisférico, extremamente complexo, que afecta a aprendizagem,
principalmente no que respeita à memória de curto termo. Cada vez mais a memória
tem de ser dinamicamente (e não mecanicamente) colocada em situação, pois parece
estar provado que a sua treinabilidade facilita a aprendizagem.
170
171
172
173
174
175
NEUROBIOLÓGICOS SOl'IOf'ULTURAIS
Privação sensorial
% Interacção mãe-filho
(insuficiência, distorção
e discontinuidade)
Desenvolvimento perceptivo
Padrões de adaptação
Funções cognitivas
Ansiedade - self eoncept
Desenvolvimento
da personalidade
176
177
v or S/MBOI. IZA 0
5 o IMAGEM
51<V o PERCEP AO
5p TQ
55
o ~
e
A. -, TQ Y EZ
A I TQ
DE 5 :"'
PROCESSAMENTO
SENSORIAL
178
179
NÃO VE NÃO
RgqL, VERBAL l> Sistema Sistema
LbBUw c. tn. o
FRONTAL pq r
(3' uniAaD<) (2' uniC e)
` xia ` In
` Linguegcm expnssive v Somewgnosie
` Pleaificeçáo des ' ` E egido-Fspeço
ncç8es c 08linguegem t1, 5 mp e
` latzo social 5t ` Autotopo
` fonunlo e regul ` I7i ' tnctiloex ve AUDTTIVA q
` Gnosie t6cW 0os oDjutos
VlSUAL e
MOTORA LbB -
TRONCO C
CEREBRAL
(1' uniAede)
` i RKDCIO ' IntCgfBÇBo isu8
` Figura-funCo
` l'onsr ncia da fonna
c. óBtn. o ' " sv o
. ` Atençáo
` vigil9ncie
` Inte eçeo neums` Ime eaditiva n "
`m ` IIIC BÇBO IÓOiCB
C 9CqIle008aC 500s
` Soqu2ncie dc mmos
181
Processos
Processos expressivos
receptivos
SNC
TQ
. Auditivo (A) Verbal
. Visual (V) P )-Motor
. Tactilo- lNPIlT
quinestésico (TQ)
A V
Codificação
Descodificação
182
SISTEMA ACTIVIDADE
Intraneurossensorial
Auditivo Repetir palavras
Visual Copiar uma figura
Tactiloquinestésico Comparar texturas
Intemeurossensorial
Auditivo para visual Ditado
Auditivo para tácúl Seleccionar texturas a partir de instruções orais
Visual para auditivo I. eitura oral
Visual para tácúl Seleccionar texturas a partir de direcções visuais
Táctil para auditivo Descrever oralmente objectos (gnosia táctil)
Táctil para visual Desenhar um objecto depois de ter sido explorado
tactilmente
Integrativo
Visual para auditivo e para Experiência total, envolvendo audição, visão e sentido
tacúloquinestésico tactiloquinestésico para adquirir significação
183
IM
Conceptualização
Simbolização afasias ~ I
Sensação Percepção D
--
184
185
o
ATENÇÃO - Percepção selutiva e t e4
Q
Registo sensorial 5
T
D
ae 5
II - O 0
QáN 0
VISÃO AUDIÇÃO TACTO a Q
QUINESTÉSICO 40 ô ó
Q
0
Estimulação
Q4
RECEPTORES
l NPUT
Concluindo, é perante este tipo de modelos que julgamos, no futuro, ser possível
educar todas as crianças independentemente das suas condições adaptativas e
psicossociais, pois acreditamos que nenhuma crian a é ineducável.
Por meio deste modelo podemos rever os processos de diagnóstico mais
utilizados, permitindo observar as crianças no seu todo e enquadrá-las dentro de um
perfl intraindividual dinâmico de aptidões (áreas fortes) e de difi
186
187
s i Ii i
t:i
É sI : I
F r
CAPÍTULO 5
CONTRIBUIÇÕES DA PSICONEUROLOGIA
PARA AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
189
O psicólogo escolar não poderá ignorar o papel dos factores etiológicos das DA,
reforçando a exclusividade dos aspectos psicossociais ou subestimando os aspectos
psicobiológicos, ou vice-versa. Por outro lado, os educadores e os professores não
podem continuar a evitar aspectos neurobiopsicológicos e flcar apenas, na sua
formação, por uma psicologia-do-ego que tende a esgotar, abusivamente, as
concepções sobre as DA.
190
CONTRIBUI ÕES DA PSICONEUROLOGIA PARA AS DIFICULDADES DE
APRENDI7AGEM
191
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
192
CON7RIBUIÇÕES DA PSICON£UROI4GIA PARA AS DIFICULDADES DE APRENDD
AGElf
193
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
194
CONTRIBUIÇÕES DA PSICONEUROI C7GIA PARA AS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
195
FtssuRA
DEROLANDO
Lb Buto
PARIETAL
Fala
Lb BULO
l EMPORAL
CEREBELO
1%
I 97
dos seus múltiplos pormenores e substratos neurológicos e, por outro lado, a síntese
plástica e modificável dos componentes do código, isto é, processos de descodificação
e de codificação que importa ter em linha de conta quando se aborda problemas de
aprendizagem.
Segundo Nation e Alam 1978, os processos da linguagem têm três com
ponentes:
R R iR i 0 N 0 A p
A A A R Ai0i linguagem i 0 iI R N R Ó
N N N E N G 0 o"
C Aii i R iC D S D p,
S A S E LiA [anatomia
AiIEMU
Ú L Ú P I Á ocessos) i Á Ç Á S Á
o S Ç Ç S,
uÇ Ã EiÇ i Ç ,A Ç S 0
A E A 0 iÃi i à i0 à Ã
0 0 0 H Membúa i 0 i 0 0 u
Eventos i
bistória
PROCESSO PROCESSO
AUDITIVO PROCESSO p N0 C EXPRESSIVO
(PAR1 lPVE)
` DiscúminsçgoSimbolização ` Respirsção
` Idenúficaçgo ` Integração ` Fonação
, zaçgog ` Ressonância
` Completamento ' a l fão
` Sintexe ' a
` Sign csção ZI
. pra gI;ca ` Seguir insh'uções
. ", g"úca ` Selecção sint8cúca . Controlo motor
` Fonologia (lfngua, lábios
` Semgnúca fonolbgics , I. . )
Figura 63 - Processos da linguagem
198
Ló Bu Lo
' ARIETAL
ÁREA PARIETAL
Lósu Lo
OCCIPITAL
3i
ÁREA
PROMOTORA (expressão)
LóBuLõ A A
o TEMPORAL (recepção)
Lósu Lo
TEMPORAL
MEDULA
Sabe-se, pór outro lado, que a articulação (output) é impossível sem uma
análise acústica dos fonemas ou sem uma organização quinestésica dos movimentos
orais (articulemas). Há, assim, como que uma transição plástica entre as funções de
descodificação (input) e as de codificação (output) que estão na base da melodia
cinética da linguagem (Luria).
199
É agora possível perceber, com Luria, porque é que uma lesão numa área
produz efeitos diferentes dos produzidos quando a lesão se dá noutra área. A
destruição do córtex temporal toma a selecção de fonemas impossível e,
consequentemente, produz a afasia sensorial (Luria 1977). A destruição das partes
inferiores pós-centcais (aferentes) impGca quebra nos articulemas e,
concomitantemente, provoca distúrbios secundários nafala. Os distúrbios nas zonas
inferiores premotoras (eferentes) resultam na perda da melodia quinestésica e na
inércia patológica das aquisições motoras, provocando assim a afasia motora.
Outros processos lógicos-gramaúcais exigem a participação das zonas terciárias
parieto-occipitais, também ehamadas associativas, onde se processa a análise e a
síntese espacial dos componentes da linguagem. Por este facto, a lesão nestas zonas
implica uma quebra de aquisição e de utilização (compe tência e realização) da
linguagem, onde se encontram diferenciadas as várias relações gramaticais.
Por estes exemplos, Luria demonstra claramente que uma localização directa
dos processos linguisticos é impossivel. Devido a este fundamento, torna-se urgente
uma análise psieológica mais cuidadosa de todos os factores envolvidos nos diferentes
processos linguísticos.
Entre cada um dos processos passam-se estados neurodinâmicos dife rentes
que fazem reeurso a processos de selectividade e de plasticidade.
200
COMRIBUI ÕES DA PSICONEUROLOGIA PARA AS DIFICUIDADES DE APREHDn
AGF Jlt
2tll
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
I) Testes sensoriais
Visuais
Teste de Retenção Visual de Benton Teste de Retenção Visual Dinâmico de
Gaddes Teste de Figuras Embutidas de Benton-Spreen
Auditivos
Teste de Reconhecimento de Sons de Spreen
Teste de Memória Tonal Seashore
Teste de Percepção da Fala de Halstead Teste de Percepção de Consoantes de
Meikle Teste de Repetição de Frases de Spreen-Benton Teste de Audição Dicótica
Tácteis
Teste de Realização Táctil de Halstead
Teste de Exterognosias em Duas Dimensões de Benton Teste de Exterognosias
em Três Dimensões de Reitan Sensibilidade Táctil (aestesiómetro)
Teste de Discriminação de Klove
202
VI) Miscelânia
Teste de Dominância Lateral de Harris
Inventário de Lateralidade de Benton
203
estudos das lesões intra e mter-hemisféricas, das lesões anteriores e posteriores, das
lesões corticais superlocalizadas na criança e da sua posterior reeuperação, dos
problemas resultantes de múlúplas privações, etc.
Embora a tendência actual seja a de se verificar que as cria ças com DA não
têm disfunções cerebrais, não há dúvida, como afirmam Myklebust e Boshes 1%9, de
que o envolvimento neucológico cresce na razão directa da severidade do problema de
aprendizagem. A revelação de sinais neurológicos subtis e ténues (sofi signals) é
quase sempre evidente nos casos das crianças com DA, quando efectivamente se
respeita as definições mais aceites internacionalmente, não esquecendo obviamente
aqui o efeito do meio cultural envolvente.
Quer sejam localizadas, quer difusas, as lesões produzem efeitos no
eomportamento. Umas são mais facilmente idenúficadas; outras são mais difíeeis de
detectar ou até mesmo impossíveis de isolar (Bireh 1964, e MeCarthy 1969).
O problema é deveras complexo, dado que os testes de inteligência mais
frequentemente utilizados exigem a memória cerebral de longo termo (Gaddes 1977),
pois estão saturados de vocabulário e de informa ão, aquisições (skills) estas que
variam em termos sociais e que resistem aos efeitos das lesões eerebrais nas áreas
cerebrais específicas da fala. Por isso, tais testes são insensíveis a disfunções
cerebrais. A inteligência obtida cam os testes psicométricos é, até ao momento, poueo
discriminativa no âmbito das DA:
Halstead 1947 e Reitan 1956 já tinham proposto a noção de inteligência
biológica (biological intelligence) por nascer de um modelo neuropsicológico. Tal
modelo pode permiúr a detecção de aquisições que são sensíveis a disfunções
cerebrais (Reitan 1955 e Reld 1968) e, por isso, significativamente importantes para o
estudo das DA. Isto independentemente de, mesmo neste modelo, não se entrar em
linha de canta eom factores intrínsecos da aprendizagem humana (Eceles 1952).
A problemática da resposta em á cri ção de um mosaico signifieaúvo de dados
(Cruickshank 1966, e Gaddes 1977) récolhidos de várias áreas: neurológica,
psicológica, educacional e comportamental
Sem esta preocupação, muitos aspectos estarão ausentes, aspeetos esses
tendentes a reflecúrem-se na banalidade do diagnóstico e na ineficácia dos mét os de
intervenção ou de reeducação.
Conhecendo as áreasfortes da criança com DA, bem como as suas áreas
fracas, em ternzos neuropsicológicos de aprendizagem, estamos em condições ideais
para preferir métodos de intervenção que permitam optimizar e maximizar áreas fortes
e, dessa forma, reforçar aquisições que a ajudem a superar as áreas fracas, mantendo
assim níveis moúvacionais mais adequados às tarefas educacionais.
O modelo neuropsicológico e psiconeurológico das DA deve preocupar- se em
reunir uma amostra de funções mentais envolvidas na aprendizagem simbólica e
obviamente correlacionadas com a organização funcional do eérebro.
204
205
206
207
oo
LÓBULO FRONTAL POSTERIOR ANTERIOR LÓBULO PARIETAL
210
211
Discriminação visual de
símbolos gráficos
OPTEMAS
Análise Selecção e identificação
e dos equivalentes
i tradução auditivos
/ FONEMAS
Síntese
comparação
(Área de Broca)
Motoneurõnios superiores frontais Transformação da linguagem i nterior em
lingu gem expressiva
ORALU7ADE
212
213
direito e o esquerdo, relação essa estabelecida pelo corpo caloso, como afirma
Gazzaniga 1967. Esta estrutura do corpo caloso, segundo Sperry, assume igualmente
funções de memória e de integração intra e inter-hemisférica, quer no plano posterior
(sensorial), quer no plano anterior (motor), como provaram as investigações de Luria
1975.
A desconexão inter-hemisférica pode ser provocada por alterações do corpo
caloso. No plano posterior afecta as relações entre as informações sensoriais e
perceptivas; no plano anterior afecta a coordenação dos movimentos e a dextralidade.
Ayres 1972 e Whittrock 1975 conduziram experiências com crianças que
permitiram objectivar a repercussão da integração dos estímulos auditivos, vestibulares
e somatossensoriais no desenvolvimento da linguagem. Na nossa experiência clínica
temos verificado que as sessões psicomotoras têm algum reflexo no desenvolvimento
da linguagem dos nossos reeducandos, provavelmente porque se estabelece com a
simbolização e a verbalização do movimento um melhor diálogo entre os hemisférios
cerebrais, facilitando assim as funções inter- hemisféricas e o trânsito de relações
funcionais através do corpo caloso e aperfeiçoando, por consequência, os sistemas
neuropsicológicos da aprendizagem.
Nesta unidade funcional passam-se também os processamentos mais
fundamentais da visão, da audição e do sistema tactiloquinestésico. Funções de
discriminação, identificação, imagem, figura-fundo, memória de curto, médio e longo
termo, rechamada (recall), sequencialização etc. têm lugar em cada um dos sistemas,
quer intraneurossensorial quer interneurossensorialmente.
Não é por acaso que muitos destes distúrbios são identificados em crianças com
DA e, por esse facto, a reaprendizagem deverá criar tarefas educacionais que reforcem
especificamente estes sistemas e subsistemas de aprendizagem, podendo afinar e
reprecisar os seus processos e, consequentemente, os seus produtos (output). Aqui
estará, provavelmente, o desafio dos novos métodos de reaprendizagem, na medida
em que o conhecimento da neuropsicologia trará, no futuro, novos subsídios a estes
problemas.
Por último, a DA pode resultar de disfunções na terceira unidade (terceiro bloco),
que se ocupa especialmente da programação e da planificação da informação a ser
emitida, expedida e dirigida. Trata-se de uma unidade que se encontra dependente das
outras. O input (recepção da informação) está antes do output (expressão da
informação, ou seja, a transformação); daí o seu grau de inter-relação e
interdependência funcional.
Os planos e as intenções geridas pelo pensamento jogam-se também na leitura.
Para o adulto, a leitura satisfaz necessidades de curiosidade, de cultura, de
conhecimento, de interesse profissional, etc. À criança, a leitura vai permitir a
descoberta e a apropriação da cultura do grupo social onde está inserida.
É portanto neste bloco funcional que se regulam e verificam as funções
linguísticas expressivas, a leitura pelo processo oral e a escrita pelo processo motor. A
fala e a escrita são controladas pelo córtex pré-motor e motor e reguladas e
modificadas por processos de feed-back.
214
215
216
217
218
isto é, pode tratar-se de uma alexia sem agrafia. Aqui, como o circuito visuolinguístico
se encontra afectado, o indivíduo lesado não pode ler; mas como o circuito auditivo-
linguístico-grafomotor está intacto, pode escrever.
Se, todavia, a hemorragia for na artéria cerebral média esquerda, que cobre
quase todo o hemisfério esquerdo, o indivíduo lesado não lê nem escreve, isto é, dá-se
uma alexia com agrafia. Sendo as áreas visuais (posteriores) e as áreas auditivas e
tactiloquinestésicas (médias), isto é, as áreas associativas, as afectadas, há
simultaneamente incapacidade de leitura e de escrita.
O modelo traumático, substancialmente diferente no caso das crianças, oferece
outras indicações de interesse. Nas crianças, e de acordo com a extensão da lesão, a
recuperação pode ser espectacular, dependendo este aspecto da localização da lesão,
quer seja dentro, quer fora das áreas da linguagem.
Este modelo patológico oferece, concomitantemente, outros dados mais
precisos. A objectividade dos casos não oferece dúvidas. No caso dos modelos de
atraso de maturação neurológica - neurological maturational lagSatz, 1973 e
colaboradores -, não é difícil estabelecer uma analogia, pelo menos para perceber que
o sucesso na leitura ou na escrita (aprendizagem) depende da função normal nos
circuitos cerebrais que as realizam. Neste âmbito, não podemos negligenciar, ou até
mesmo ignorar, o papel do envolvimento, pois uma estimulação pobre ou poucas
oportunidades de mediatização podem implicar uma desaceleração na maturação dos
circuitos nervosos que superintendem a hierarquização das aprendizagens simbólicas.
Se o problema se passa quanto às lesões posteriores, médias e anteriores do
hemisfério esquerdo, que impedem a leitura e a escrita, clinicamente também se
podem apresentar casos em que as lesões se situam no hemisfério direito, daí
resultando acalculias.
Somar e subtrair são operações repetitivas, automatizadas, especializadas e
processadas por aquisições visuomotoras, e estas são preferencialmente reguladas no
hemisfério direito. Com a complexidade das operações aritméticas, os cálculos tendem
a envolver funções hemisféricas bilaterais; por isso as crianças mais velhas (nove-12
anos), ao contrário das mais jovens (sete/oito anos), apresentam, para além de
dificuldades de leitura, dificuldades em tarefas conceptuais.
Vários investigadores têm defendido que o conhecimento da disfunção cerebral
pode ajudar o psicólogo escolar (psicopedagogo) e o professor em geral. A
colaboração médica neste sector é imprescindível. Muita frustração se pode combater
e, consequentemente, reduzir.
Não pretendemos utilizar uma explicação orgânica sobre as DA (ou o insucesso
escolar), pois ela encerra em si um perigo. Porém, o perigo parece ser o mesmo, se
não utilizarmos este conhecimento na nossa prática clinicopedagógica.
219
220
221
222
-z"
z "! D
interpretação significação visão recodificação (análise do
(correspondência) optema) optema-fenoma)
audição
SISTEMA SEMÂNTLCO
( 3)
lNP SISTEMA I VISUAL
(l)
223
Hemisfério C Ler (L) esquerdo ' ' Escrever (E) ( ) F ( ) vr' Fal (F
224
225
226
227
SNC
PROGRAMAÇÃO REGULACÃO
CONDUTA
-T
MEIO q, RM AMEKfO V 'KAÇÃO
LPJGUAGEM
-T
INFORMAÇÃO
ANALISE
fo DECISÃO
aniculemas ACÇÃO
ss'r IuI. AçÃo T
RECEPÇÃO TRANSDUÇÃO \I/ EXECUÇÃO pRODUÇÃO
DADOS
s TRANSMISSÃO TRANSMIssÃO DE
A E SONSNA
LEfNRA
SI'IUAÇÃO OR' "
S PROflUÇÃO
DE GRAFEMAS
NA EsCRITA
+I
E
eram as seguintes: associação auditiva (ex. : pN + éN faz = pé; bH + ao faz = bo; Kh,
+ a = la; bola, etc. ) e no ditado oral (dizer oral e sequencialmente com que letras se
escreve as palavras: prato; barba; árvore, etc. ) Tallal 1976 mostrou, noutro estudo, que
os disléxicos apresentam dificuldades no processamento auditivo primário, pois
evidenciam dif Iculdades em organizar e integrar estímulos auditivos rápidos, embora
não manifestem dificuldades nas mesmas tarefas quando os estímulos são
apresentados de uma forma lenta. Razão pela qual os métodos fõnicos não se
adaptam para crianças ciisléxicas auditivas (disfonéticos).
As investigações que utilizam técnicas de audição dicótica - apresentação
simultânea de diferentes informações auditivas para cada ouvido (por exemplo, para o
ouvido direito entra a informação b-f-h, para o esquerdo entra 1-3-8) - têm demonstrado
que as crianças disléxicas revelam dificuldades nestas situações.
Dados de investigação demonstram que os números, as letras e as pala vras se
processam preferencialmente no hemisfério esquerdo, desde que a entrada da
informação se faça peio ouvido direito. Vários trabalhos de investigação têm sido
unânimes em evidenciar que a população de disléxicos é
228
ORDENAÇÀO
SEQUENCIA1. QAÇÃO
RE T E Nç Ão
A. V. TQ.
0 i i I i E i F i
R R N
X E
I E i T i
E i C E p E
i R i i
N E G LINGUAGEM
i i i E i i
T i P i R i S i g i
A Ç A
i i i S i A i
ç , A ç
à i 0 i à à i C i
i 0 i X i
0 ! ! 0 ! ! !
11
, gem çgo )u Resposia imediaia moni oriz Selecçào dos esUmulos relevanus
Associação com informação prtvia (inte )
. Reco<daçào (rerrrwo!) da informa- Resposts nlevante parn objeaivos e
ç8o mkvan e fins RAtingir um fim, um resW
- Selução de sequ2ncis apropriadas
de int ão
229
230
A - O processo antigravítico
B - O processo de localização corporal C - O processo de identificação D - O
processo auditivoverbal
231
INSUCESSQ ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
PERCEPÇÃO VISUAL
FIGURA POSIÇÃO
E NO
F( NDO ESPAÇO
CONSTÂNCIA
DA
FORNfA
232
233
234
amostragem 1
2 3 imagens ' retira-se as fichas e a criança reproduz, com
as respecùvas ficMas, as
palavras palavras l a morango '
235
2 - APTIDÕES DA LElTURA
2. 1- Leitura Oral
2. 1. 1- Pronúncia... ... . .1 2 3
2. 1. 2- Confusões, repetições e hesitações (proc " auditivo)... ... ... . .1 2
3
2. 1. 3- Omissõés, inversões, adições e substituições (proc ó visuaI) .I 2
3
2. 1. 4- Velocidade da leitura (tempo)... . .1 2 3
2. 1. 5- Pontuação... ... . . 1 2 3
2. 1. 6- Expressão... ... . . . 1 2 3
2. 1. 7- Postura corporal . I 2 3
2. 1. 8- Compreensão e interpretação... . . ..1 2 3
2. 1. 9- Desenvolvimeto de conclusões. . ..1 2 3
2. 1- Leitura Silenciosa
2. 2. 1- Postura corporal. 1 2 3 2. 2. 2- Atenção e segurança... . . 1 2 3 2. 2. 3-
Compreensão e intérpretação... . . 1 2 3 2. 2. 4- Desenvolvimeto de conciusões... 1 2 3
O O bev a d o r
236
MF
Nome Sexo D 0 Fase de aprendizagem Data de observação
Data de nascimento i
anos meses
4 - Síntese auditiva
5 - CompIetamento de palavras
6 - Completamento de frases 7 - Associação auditivovìsua I
8 - Memória auditiva de números e sflabas
9 - Memória de palavras e frases
IO - Associação auditiva
TOTAL DE ÊXITOS:
Recomendações
O Observador
237
Em resumo:
Processo
H Processo
H de
output
u verbal
auditivo
i
i i
i i
i i
i i
DAPA
J
238
PROCESSO AUDITIVO
% êxitos % inêxitos
239
3 - Identificação Fonética
4 - Sintese Auditiva
Respostas Respostas
1. Tetliativa 2. a Tentativa
4. 1- /pl - Yé/ (pé-fé-sé)
4. 2- /k/ - /a/ - /m/ - /a/ (gama-cama-ama) 4. 3- /v/ -/a/ - /c/ - /a/ (faca-vaca-
maca)
4. 4- /b/ - /o/ - /t/ - /e1 (pote-lote-bote)
4. 5- lr/ - /o/ - /d/ - /a/ (moda-roda-poda) 4. 6- /p/ - /ão/ (pão-cão-não)
4. 7- /g/ - /a/ - /t/ - /o/ (pato-gato-rato) 4. g - /p/ - / - lp/ - /a/ (bica-pica-pipa)
4. 9- /p/ - /ól (pó-nó-mó)
4. 10- /e/ - /s/ - /c/ - /o/ - N - /a/ (esmola-escola-estola)
% êxitos % êxitos % inêxitos % inêxitos
5- Completamento de Palavras
Completa as palavras...
5. 1- garra (garrafa)
5. 2- avi (avião)
5. 3- bana (banana)
5. 4- chupe (chupeta)
5. 5- tele são (televisão)
5. 6- es dote (escadote)
5. 7- es - la (escoia)
5. 8- re çado (rebuçado)
5. 9- ge do (gelado)
5. 10- bi cleta (bicicleta)
% êxitos % inêxitos
240
6 - Completamento de Frases
6. 1- O João foi à praia (nadar, pescar, etc. ) 6. 2 - A Sara foi brincar (bonecos,
pessoas, etc. ) 6. 3 - O Rodrigo gosta (brincar, jogar, etc. ) 6. 4 - A casa tem e e(portas
e janelas, etc. ) 6. 5 - A boneea tem e e (cara e mãos, ete:) 6. 6 - O carro tem e e(rodas
e motor, etc. ) 6. 7 - O Joãocinema - (foi ao, vai ao, etc. ) 6. 8 - A Sarajogar à malha
(gosta de, quer, etc. ) 6. 9 - O Rodrigo piscina (nada, brinea, etc. ) 6. 10 - O cão gato
(corre atrás do, etc. )
% êxitos % inêxitos
7- Associação Auditivovisual
7. 1- relógio 7. 12- observar
7. 2- ambulância 7. 13- jogar
7. 3- avião 7. 14- dirigir
7. 4- brinquedos 7. 15- esperar
7. 5- sinal de trânsito 7. 16- transpone
7. 6- árvores 7. 17- conduzir
7. 7- guindaste 7. 18- passear
7. 8- chuva 7. 19- anunciar
7. 9- peões 7. 20- socorrer
7. 10- marco do correio % êxitos
7. 11- construir % inêxitos
24I
242
CAPÍTULO 6
243
- Problemas psicomotores;
- Disfunção psiconeurológica (Myklebust 1967);
- Dificuldades específicas da linguagem (Orton Society 1969);
- Problemas emocionais e de comportamento (McCarthy, 1973,
Schaefer 1978);
- etc.
Não podendo aqui rever todas as definições que têm sido adiantadas por
eminentes investigadores, vejamos algumas delas pela sua importância e a sua
aceitação internacional.
244
Outros autores avançam com outras definições, das quais destacamos, pelo seu
interesse, as seguintes:
245
246
247
249
250
gridade global. Ela não é deficiente mental, porque não apresenta uma inferioridade
inteleetual generalizada. Não é deficiente visual nem deficiente auditiva, porque não
apresenta problemas de acuidade sensorial. Não deficiente motora, porque não
apresenta alterações na sua motricidade. Não é emocionalmente perturbada, porque
apresenta um ajustamento comportamental.
Em resumo, a criança com DA apresenta um perfil motor adequado. Não
diremos perfil psicomotor porque entendemos que a psicomotricidade é uma função
básica da aprendizagem e da apropriação simbólica. O perfil psicomotor está
normalmente afectado nas crianças com DA, pois frequentemente apresenta
problemas no controlo vestibular e proprioceptivo associados a dificuldades na
lateralização, na direccionalidade, na imagem do corpo e na praxia (Fonseca 1995).
Apresenta ainda: uma inteligência média (QI > 80-90), adequadas visão e audição e
uma adequada adaptação emocional e comportamental, que, em conjunto com uma
dificuldade de aprendizagem, constituem a base do seu perfil psiconeurológico
intraindividual (PPI).
251
252
Em termos académieos, por outro lado, tendem a apresentar mais diflculdades nas
ciências em comparação com as línguas, reforçando mais uma vez as suas áreas
fracas em termos de competências não verbais.
Dados clínicos apontados por outros autores (Foss 1991, McCarthy e McCarthy
1974) referem que estes casos evidenciam problemas de imaginação, de criatividade,
de combinação de imagens, etc. , funções mais adstritas às disfunções do hemisfério
direito. Outros autores ainda apontam uma etiologia poligenética nas DANV, enquanto
outros se referem a anomalias do cromossoma 6 e a problemas do foro imunológico
que podem provocar problemas nas migrações eelulares e no desenvolvimento de
camadas no sistema nervoso cental, bem como ectopias e displasias, não no
hemisfério esquerdo, como na dislexia (Galaburda 1989, Dennis e Whitaker 1977), mas
sim no hemisfério direito. Algumas imagens obtidas por meio da ressonância magnética
e da TAC (tomografia axial computadorizada) dão igualmente algumas evidências
inequívocas nesse sentido.
Tais sinais disfuncionais têm sido considerados evolutivos e susceptíveis de
persistirem na idade adulta, sendo reconhecíveis, com sinais mais ou menos óbvios,
em muitas doenças neurológicas e neuroendócrinas, nomeadamente em traumatismos
do hemisfério direito (Rourke, Bakker, Fisk e Strang 1983), na hidrocefalia (Fletcher et
al. 1995), na agénese do corpo caloso (Smyth e Rourke 1995), no hipotiroidismo
congénito (Rovet 1995), na sindroma de Williams (Anderson e Rourke 1995), na
sindroma de Asperger (Klin e colaboradores 1995) e em muitos outros processos
patológicos, que exibem virtualmente a maioria das disfunções identificadas nas DANV.
Estas disfunções explicam em parte porque as DANV podem ser consideradas mais
vulneráveis, em termos de desenvolvimento e de aprendizagem, do que as DA
simbólicas mais comuns.
A descrição dos detalhes clínicos das DANV que apresentamos no modelo
seguinte emerge dos pressupostos da organização inter-hemisférica, na perspectiva da
teoria piagetiana e de inúmeras pesquisas que a sustentam (Rourke 1989, 1995);
porém, ainda não existem explicações claras para estes efeitos, mas as observações
clínicas apontam para uma estreita associação entre a experiência não verbal e a
aquisição da significação.
Apesar de bastante simplificado, o quadro da síndroma das DANV pode ser
explicado se observamos que a palavra laranja não tem significado se anteriormente o
indivíduo não tiver experimentado e vivenciado a fruta, a sua forma, a sua textura, o
seu sabor ou a sua cor. Quando a criança evidencia um défice na aprendizagem não
verbal, trata-se de reconhecer que o significado e a integração da sua própria
experiência estão comprometidos; por esse facto, ela apresenta uma dificuldade de
aprendizagem não verbal (DANV).
Antes de conúnuar a definir este tipo de déflce na aprendizagem, e de referir
algumas formas de intervenção, há que realçar a importância de uma aproximação
multidisciplinar, incluindo a vantagem de relacionar vários pontos de vista.
253
==
&a
254
de processamento de informação. É esta uma das razões, ao lado de outras, por que
as crianças com défices não verbais se encontram, em termos mentais, abaixo da sua
ídade cronológica e da sua maturidade social (Doll 1953, McCarthy e McCarthy 1974).
255
A forma como as palavras são utilizadas nas crianças com DANV fornece
algumas pistas para a compreensão do problema. Elas soam a vazio; evidenciando
uma espécie de vacuidade semântica, o que leva a pensar que a facilidade com que
são usadas é apenas superfieial e não significativa e integrada. Parece que nelas
ocorre uma linguagem inintencional, pois usam palavras sem percepcionarem os seus
sentido e transcendência.
No processo de aprendizagem normal, cada palavra assume um signi ficado que
foi apreendido, uma anuidade de experiência não verbal que é simbolizada. A criança
com DANV é parecida com uma criança que não tem capacidade para distinguir as
cores (apercepção das cores). Ela não tem dificuldade em aprender a palavra <<azul,
mas não adquire a experiência <<azul e por isso não a distingue das experiências
<<verde ou <<amarelo Quando utiliza a palavra <<azul diariamente, esta é conotada
por uma vaga e confusa ideia, e muitas vezes não se relaciona com as circunstâncias
do momento. As manifestações não verbais são, de facto, distorções da percepção, da
imagem e da representação mental da experiência no meio envolvente.
Tal como as dificuldades na aprendizagem verbal, os distúrbios não verbais
podem ser de vários tipos, e ocorrerem dentro dos limites do moderado e do severo.
Mas, como ainda se tem pouco conhecimento nesta área, apenas se tem reconhecido
os casos mais evidentes, como os casos verbais.
256
257
258
Os défices posturais nas crianças que manifestam DANV têm sido referidos por
insignes autores, como Critchley 1970, Benton e Pearl 1978, Denckla 1985, Ayres
1977, 1978, Levison 1985, todos eles pondo em relevo o papel do sistema postural
como base funcional do organismo e como instrumento crucial do ajustamento
comportamental ao envolvimento ecológico, onde persiste a força gravitacional, por
meio da qual a totalidade do corpo, decorrente de uma integração vestibular,
cerebelosa e tónica complexa, interage com os objectivos, com os obstáculos e com os
outros.
O sistema postural, essencialmente na fase ontogenética, depende da
integridade da formação reticulada, do cerebelo (gigantesco ordenador sensoriomotor)
e do sistema extrapiramidal (Fonseca 1995), substractos de uma rede neurofuncional
que contém inúmeros programas motores adaptativos, essen
259
260
encontra em interacção com a realidade, para nela agir com harmonia e eficácia. Este
invariante postural do indivíduo é indispensável a todas as fornzas de aprendizagem,
sejam elas verbais ou não verbais.
A percepção de si mesmo e a percepÇão social não são sinónimas. No entanto,
é difícil considerar o processo de autopercepção isolado, sem conotações sociais;
trata-se de uma noção que integra uma dimensão singular e uma dimensão social, não
uma exploração solitária do indivíduo, mas antes uma apropriação cultural mediatizada.
Em defniúvo, a somatognósia é o instrumento simbólico de significação
existeneial e de identidade pessoal, em suma, um instrumento de aprendizagem por
excelência e de excelência; sem ele, as DANV emergem e comprometem as DAV
(difculdades de aprendizagem verbais: leitura, escrita e cálculo).
A autopercepção implica uma facilidade em percepcionar as várias partes do
próprio corpo, uma das facetas da percepção social e um aspeeto muito importante
para fazer e conswir representações apropriadas sobre as intenções, os desejos e os
propósitos das acções dos outros, uma espécie de condição prévia da comunicação
interpessoal e da linguagem, como evocam os grandes teóricos da teoria da mente
(Baron-Cohen 1995, Humphrey 1993).
A somatognósia não se esgota numa concepção anatomofuncional - ela é
indutora de sentido e significado experienciais, ou seja, consútui-se como um processo
de comunicação básico, processo não verbal vital, centro de diálogo consigo próprio e
com o mundo social e contextual.
Como substracto da personalidade, consubstancia uma linguagem interior e
corporal, filogenéúca e ontogenética, que explica a evolução do gesto à palavra na
espécie humana e na criança (Fonseca 1989, 1997).
Os modelos elínicos patológicos, desde o membro-fantasma às anosognósias,
aos sentimentos de perda e de mutilação, às hemiassomatognósias, às aloestesias, às
anosodiaforias, à síndroma de Anton-Babinski, ete. , mais conotados com as patologias
do hemisfério direito (mais envolvido nas DANV), explicam, por si sós, a importância da
somatognósia no desenvolvimento do potencial de aprendizagem. As
autotopoagnósias, a síndroma de Gerstmann, as alexias, agrafias e acalculias, mais
características das lesões do hemisfério esquerdo (mais envolvido nas DAV),
emprestam, sem dúvida, um valor acrescentado no que significa a somatognósia ou a
dissomatognósia nas aprendizagens simbólicas superiores (Kolby e Whishaw 1986).
Existem vários tipos de distúrbios na autopercepção. Um deles diz respeito à
díficuldade com que a criança percepciona as várias partes do seu corpo, e também as
dos outros. A agnósia digital é um exemplo (Jonhson e Myklebust 1967, Myklebust
1975). Se a criança não reconhece os seus próprios dedos, oú os dedos de outra
pessoa, ela não consegue funcionar normalmente em vários aspectos quantitaúvos
experienciais.
261
262
263
264
Muitas vezes não é suficiente dizer apenas às crianças para pararem com
determinado comportamento, associando uma ordem ou um comando verbalpor vezes
é necessário intervir corporalmente, por exemplo, agarrando-lhe a mão. Uma coisa é a
atenção como processo eognitivo superior, a chamada atenção voluntária, outra coisa
é a atenção automática, neurologicamente definida como vigilância (arousal), que é
mais básica, emocional e elementar, mais proprioceptiva, táctil, vesúbular e
quinestésica, de onde emerge subsequentemente a atenção intencional, mais
exteroceptiva, auditiva, visual e simbólica.
A excessiva actividade motora, que caracteriza a hiperacúvidade, resulta em
parte da dissociação e da desintegração destes dois úpos de atenção que envolvem
complexos processos neurológicos de facilitação e inibição reticular, subtalâmica e
subcorúcal. Se a actividade motora só por si fosse importante, então a hiperacúvidade
seria reveladora de um alto rendimento ou de uma prestação adaptada na
aprendizagem, mas o que se sabe é que o movimento pelo movimento ou o exercício
físico repeútivo em si, que observamos em muitas crianças hiperactivas com
incontinência motora, sem que envolva processos de atenção, de regulação e de
planificação motora mediatizados ou simbolizados, é sinónimo do contrário, pois muitas
delas revelam complexas DANV.
A criança impulsiva mostra-se ora apática e sonolenta, ora excitada e explosiva,
podendo passar muito tempo a olhar fixamente para um deterrninado ponto da sala de
aula, ou através da janela, sem realizar tarefas, quando não agindo de forma agitada
sem mobilização tonicoenergética adequada, produzindo respostas motoras e não
verbais imprecisas, imperfeitas, dissociadas e ansiosas a muitas situações.
Quer o baixo nível de vigilância, como na apatia e na preguiça, quer o alto nível
de vigilância, como na dispersão, na desconcentração ou na desplanificação, o que
envolve estados tónicos-limites (hipo ou hipertónicos), ambos são indutores de fraco
desempenho na adaptação e na aprendizagem.
A aprendizagem eficaz, como consequência, envolve uma modulação energética
e uma harmonização tónica, denominada eutonia, por meio da qual a atenção crítica,
selectiva e dirigida actua. Daqui resulta uma ilação muito importante para a
aprendizagem, pois quer as tarefas muito dificeis (que produzem um nível de vigilância
não optimal, ansiedade ou excesso de entusiasmo), quer as tarefas muito fáceis (que
igualmente interferem com a tonicidade optimal, porque baixam os níveis atencionais),
podem produzir perturbações nos procedimentos inerentes ao acto mental que a
resolução das tarefas sugere.
Esta lei de Yerkes-Dodson (Yerkes e Dodson 1908) põe em realce as relações
tarefa-sujeito, onde a resultante coloca em jogo um baixo nivel de vigilância optimal,
nível este difícil de mobilizar ou controlar em crianças impulsivas e hiperactivas, que
frequentemente usam altos níveis de vigilância para realizarem as suas tarefas - daí a
excessiva energia, a torpeza ou a brutalidade das suas acções ou das suas palavras,
que não são devidamente inibidas, contidas ou reguladas.
265
O alto nível de vigilância serve perfeitamente para tarefas motoras básicas e não
delicadas, para essas tarefas a vigilância acrescida é adequada; por isso, as crianças
hiperactivas têm algum sucesso em tarefas de jogo, de aventura e de recreio. O
problema muda de figura quando as tarefas de aprendizagem exigem níveis de
regulação mais económica, estável, escrutinada, prolongada e organizada, onde as
crianças impulsivas, instáveis e ansiosas falham por imperícia tonicomotora.
Em síntese, as tarefas simples como a cópia ou fazer somas de números podem
ser realizadas com tensão, velocidade, instabilidade ou impulsividade, ou seja, com
altos níveis de vigilância, onde menos informação se pode manipular ao mesmo tempo
e onde a memória de trabalho lida com poucos dados. ao contrário, a baixa vigilância
das tarefas complexas de compreensão da leitura ou da resolução de problemas
matemáticos, para serem realizadas, requerem mais flexibilidade, mais plasticidade,
mais disponibilidade, menos ansiedade, com a memória de tcabalho a lidar com maior
número de dados, onde a informação é mais vasta e diversificada. Quando a vigilância
se distancia desse estado optimal, planificar e combinar informação torna-se mais difícil
de exprimir com eficácia, e esta é uma das características das crianças com DANV.
Estas crianças não completam os seus trabalhos, e é preciso estar sempre a
lembrar-lhes para continuarem, pois não conseguem manter a atenção mais do que
alguns minutos. Outras não conseguem esperar para iniciar o trabalho, e depois
cometem erros devido às suas respostas imediatas. Outras ainda, devido à pressão, ao
stress e à ansiedade de um exame ou de um teste, não lêem os dados dum problema
com vigilância optimal, ficam em branco", sem acesso à memória de trabalho, não
fazendo uso da informação que conhecem e dominam. Uma hora antes do exame,
menos tensas, estas crianças, e também jovens e adultos, lembram-se dos conteúdos
perfeitamente, mas no exame produzem níveis altos de vigilância e não se lembram da
matéria. Lamentavelmente, muitos exames encorajam altos níveis de ansiedade, daí
resultando altos níveis de vigilância que prejudicam os altos níveis de processamento
cognitivo exigidos pelas tarefas de exame.
A impulsividade e a instabilidade podem ser reduzidas se se estabelecer rotinas,
tanto em casa como na escola. Quando a criança conhece a sequência dos
acontecimentos, o seu comportamento é menos impulsivo e mais organizado. Por isso,
o recurso a programas de enriquecimento psicomotor, cogni tivo e metacognitivo que
desenvolvam funções de integração, elaboração e planificação de informação são
recomendáveis para as crianças com DANV.
266
TAXONOMIA DAS DIFICULDADES DE APRENDfl AGEM
268
TAXONOMIA DAS DIFICULf7AflES DE APRENDl7 AGE
269
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
INTERVENÇÃO E MEDIATIZAÇÃO
270
Talvez ainda de forma mais básica, a criança deva ser ajudada a desenvolver a
capacidade de tomar conta dela própria, promovendo a sua auto-suficiência: higiene,
alimentação, vestir-se, fazer recados, seguir instruções e orientar- se no seu
ecossitema residencial.
A perspectiva da intervenção e da mediatização é produzir um
redesenvolvimento das funções de aprendizagem desde as mais básicas às mais
complexas, conforme o modelo seguinte.
Numa fase posterior, os procedimentos de intervenção devem ajudar o indivíduo
a associar rótulos e descrições verbais a objectos concretos, acções e experiências.
271
272
273
(1) Quando não se idenúf Ica uma causa orgâ- (1) Quando resultam de condições,
desordens,
nica especifica. limitações ou deficiências devidamente
diagnosticadas em: deficiência visual,
deficiência auditiva, deficiência mental,
deficiência motora, deftciência emocional
ou privação cultural.
(2) Compreendem penurbações nas aquisi- (2) Compreendem perturbações nas
aquisições especificamente humanas, isto ó, prá- ções não especificamente
humanas. As
xicas e simbólicas, como: a linguagem DA são a consequência secundária de
falada (recepúva e expressiva), a lingua- def Iciências nervosas, sensoriais,
psíquigem escrita (receptiva e expressiva) e a cas ou ambientais.
linguagem quantitaúva.
(3) O potencial sensorial, intelectual, motor e (3) O potenciat sensorial, intelectual,
motor e
social está intacto, é portanto normal. social 8atfpico e desviante.
(4) Se há perturbações, elas dependem de alte- (4) Se há perturbações, elas
dependem
rações mfnimas, tão mínimas que não são secundariamente de defciências
sensodetectadas pelos exames médicos (pediá- riais, neurológicas, pslquicas ou
envoltricos, neurolbgicos, psiquiátricos, etc. ), vimentais (ou ambientais, como por
psicológicos (clfnicos, pedagógicos, etc. ) exemplo: privação cultural,
desvantagem
tradicionalmente mais utilizados, porque socioeconómica, factores ecológicos,
eles são insuficientes para se identificar malnutrição, envolvimento afectivo,
facidistúrbios simbólicos e problemas no pro- lidades de estimulação precoce;
expectacesso de informação intra e interneuros- tivas, etc. ).
sensorial.
(5) As aquisições da linguagem falada, da lin- (5) As aquisições da linguagem falada,
da linguagem escrita e da linguagem quantita- guagem escrita e da linguagem
quantitativa estão primariamente perturbadas. tiva estão secundariamente
perturbadas.
274
Muitas causas podem produzir as DA I e II, aliás como muitas causas podem
originar a deficiência aúditiva. Dentro das causas das DA, Quirós 1978 menciona: as
congénitas (imaturidade do girus angular); as hereditárias (gene autossómico); as
disfuncionais (disfunção cerebral mínima); as bioquimicas (metabolismo das aminas:
serotonina, dopamina, noroepinefrina, etc. ) e as patológicas (lesões cerebrais).
Factores como a prematuridade, a anoxia neonatal, as viroses, os problemas de
metabolismo, os traumas, e outras causas que envolvam directa ou
275
276
277
_ _ _ _ _ _ _ _ LINGUAGEM LINGUAGEM C
LOVGUAGEM LINGUAGEM EsCRITA QUANTITATIVA M
i
INTERIOR FALADA
0
Desenvolvimento Linguagem Linguagem Linguagem Linguagem
Marmonioso cotporel auditive visuel conceptual
não verbal Pmcesso auditivoverbal Processo visuomotor
Desenvolvimento Perlodo Periodo Perfodo operacional Perlodo
à IUz de sensoriomotor prE-operacionel formel
Pieget
sis no t" - b
(ntielinização)
sistemas sistemas sistemas
de intranettmssen- intemeUrossenso- b
eptendizegem sorieis s Sistemas ~
integrativos
Áreas cetebrais Área motora Área motora da fale 0
implicadas no Ána sensoriel Area psicomotora as associativas visUo-
1
Ideia T I ia
F 'i
I I
C EMISSOR RECEPTOR C SNC (E) (R) SNC
ONDAS
FALAR OUVIR I
. Aparelho fooador SONORAS ' Sistema auditivo j (ommoùvidade)
ONDAS
CODIHlCAÇÃO DESCODIÈICAÇÃO
Sistemas de output Sistemas de input
279
/ 7 7 I. . bbulo occipit z 1
A 5 I 6 V VISÃO AUDIÇÃO
I . . bbulo temporal
280
Ç
1
.o rr
m9 O
c
P
A
iO 1d
V IÌ
1
o
I ça
I Ç
I
AUDIÇÃO Input -1 Linguagemfalada Output QUINESTÉSICO
281
LINGUAGEM VERBAL
Auditiva e Visual
r
LINGUAGEM VISUAL EXPRESSIVA
Escrita DISFUNÇÕES
r
LINGUAGEM VISUAL RECEPTIVf1 disgrafa
Leitura
r '
LINGUAGEM AUDITIVA EXPRESSIVA dislexia
Fala
r dislalia
LINGUAGEM AUDITIVA RECEPTIVA
Compreensão disfasia
r
LINGUAGEM INTERIOR
Não verbal e verbal
r
0
282
283
a tua boca"; Mostra-me, nestas figuras, aquela que serve para comer"; Com
a tua mão esquerda mostra-me o teu olho direito"; Põe esta caixa à esquerda daquela
jarra etc. ).
Dentro da classificação das DA e relacionado estritamente com a
linguagem não verbal de cariz tactiloquinestésico podemos incluir um tipo de dispraxia,
que constitui uma dificuldade em planific g e executar um gesto intencional tendo em
vista a obtenção de um flm inte rado simbolicamente.
284
285
286
LINGUAGEM LOYGUAGEM
FALADA ESCRITA
iI
OUVIR FALAR LEg V
Z' Grafemss
Entoaç8es Compoaeates ' fomotores
Segmentaçdes Componentes visuomotores
Fonemss
Le
Palavres ms
Pelavrss
Conceptuetizsção a
X Significação
AnBlise-sfntese
Formulsção
287
288
289
i
290
I
291
s
Para escrever é necessário que sejam observadas inúmeras operações
cognitivas resultantes da integração dos níveis anteriores da hierarquia da linguagem.
Vejamos esquematicamente com Hermann 1959, Nielsen 1962, Osgood
1957 e Penfield 1963 tais operações:
1) Intenção;
2) Formulação de ideias com recurso à linguagem interna, apelando à
rememorização das unidades de significação que se deseja expressar;
3) Chamada das palavras à consciência (factor semântico); 4) Colocação das
palavras segundo regras gramaticais (factor sintáctico); 5) Codificação com apelo à
sequência das unidades linguísticas (relação
todo + partes);
' 6) Mobilização dos símbolos gráficos equivalentes aos
símbolos fonéticos (conversão fonema-grafema);
7) Chamada dos padrões motores (conversão visuotactiloquinestésica);
, I
8) Praxia manual e escrita propriamente dita.
292
293
LINGUAGEM QUANTITATIVA
;: :
294
ou melhor, a manipulação dos objectos, não envolve apenas acções, mas inclui
igualmente noções, operações, representações e verbalizações. Da manipulação de
objectos resultam inúmeras facetas da integração da experiência, como por exemplo:
percepções, identificações, associações arbitrárias, simbolizações, operações,
abstracções, análises, sínteses, conservações, sequencializações, classificações,
generalizações, etc.
A experiência, provocando a formação de estruturas mentais, vai implicar a
planificação e a expressão de ideias muito antes de se atingir a noção do número, que
embora sendo o aspecto mais importante da matemática, se baseia numa lógica
constituída (período do pensamento pré-operatório, pré-lógico e intuitivo) a partir de
manipulações práticas.
Antes de avançarmos nas dificuldades de aprendizagem inerentes a esta
linguagem, torna-se necessário distinguir a matemática da aritmética. A matemática é a
ciência abstracta do espaço e do número que respeita a configuração do espaço e as
inter-relações e abstracções do número. A aritmética é um ramo da matemática que
respeita às relações com números reais e com a sua computação. A peculiaridade dos
números, e esse é um aspecto crucial na compreensão dos novos métodos de
aprendizagem ( matemática moderna, ), é a de que eles representam entidades
concretas.
A matemática envolve, portanto, estruturas e relações que devem emergir de
experiências concretas. As tarefas da aprendizagem da matemática envolvem
inúmeras componentes que têm a sua raiz na hierarquia da experiência e nos estádios
do desenvolvimento psicomotor e do pensamento quantitativo.
Vejamos esquematicamente os estádios de desenvolvimento do pensamento
quantitativo segundo Piaget 1965 e Dawes 1977:
295
Por aqui podemos confirmar a hierarquia das tarefas matemáticas avan çada por
Browell e Hendrickson 1950 e subdividida em quatro tipos de aprendizagem:
1) Associações arbitrárias
\
Lápis azuis
Lápis vermelhos
O O
OU
2) Conceitos
II OO
O
3 O 5 3) Generalização
(3+5=5+3) a+b=b+a (3+5=5+0)
(Propriedade comutativa do problema)
4) A solução do problema
3+5=8lápis
Resposta - A Maria tem 8 lápis.
296
297
298
299
300
301
CAPÍTULO 7
Introdução
Quase toda a gente avança com imensos conceitos sobre o papel da educação
pré-escolar, desde estudiosos a pais, desde professores a políticos, mas na essência
nuclear dos mesmos estamos muito próximos do provérbio todos falam mas ninguém
tem razão, A coerência de tais conceitos, a profundidade das sínteses conteudísticas
apresentadas em vários artigos de revistas ou nos mass-media e, de certa forma, a
carência de uma metateoria sobre o desenvolvimento da criança em idade pré-escolar
são habitualmente acompanhadas de uma exiguidade de informação empírica, não
oferecendo no seu conjunto uma perspectiva biopsicossocial que nos permita desenhar
um curriculo psicoeducacional abrangente e de qualidade para a educação pré-escolar
(Badian 1982).
303
,.
NECESSIDADES DA CRIANÇA EM IDADE PRÉ-ESCOIAR
- Cognitiva;
- Psicomotora;
- Psicolinguísúca;
- Socioemocional.
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
306
NECESSIDADES DA CRIAN A EM IDADE PRÉ-ESCOIAR
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
307
1l1
DESENVOLVIMENTO PSICOLINGUISTICO
309
: i, i i
PSICOPEDAGÓGICA
, nem identificam, não investigam pormenores em figuras e que depois,
quando se confrontam cas superiores, também não descodificam sím: -, - ?
preendem
.,
ExPAnrsaoe ri av o
LINGUAGE
EXPRES A no + verbos
IMITA S
mo ento da boca + sons da fala
INCU O N RBAL
EENSAO tJAÇOES
acçees
310
DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL
311
312
313
Todos estes aspectos naturalmente vão ter de exigir da parte dos edu cadores
competências de observação ou de diagnóstico com recurso a modelos muito simples
(screening devices - modelos de identifica ão precoce), com a finalidade de detectar
problemas desviantes que a criança possa revelar na área socioemocional, na área
psicolinguística, na área psicomotora e na área cognitiva.
Com recursos a escalas de prontidão (Masland e Masland 1988) rela tivamente
simples, podemos detectar e ter condições de encaminhar as crianças para programas
de compensação evolutiva e proporcionar na educação pré-escolar as tais condições
de igualdade de oportunidades e de materialização da democracia cognitiva.
Não basta, como medida de democracia educacional, generalizar a edu cação
pré-escolar - é urgente pôr em prática também uma democracia cognitiva que permita a
todas as crianças aprender a ler, a escrever e a contar de forma a que elas se
adaptem com mais facilidade a uma sociedade da informação em mutação tecnológica
acelerada.
Dentro das necessidades-chaves que acabámos de analisar, podemos afirmar
de uma maneira consensual que a criança vai ter de desenvolver um conjunto de
aquisições ou competências que são a transição para ela aprender com êxito e com
prazer, porque a aprendizagem sem prazer e segurança pode constituir um processo
complexo de relação dela com o mundo exterior, e dela com os companheiros e com a
própria famlia.
As dificuldades de aquisição de tais competências na educação pré-esco lar
podem redundar em dificuldades de aprendizagem (DA), muitas delas indutoras de
bloqueios emocionais e cognitivos que podemos observar em muitas crianças no l. o
ano de escolaridade do ensino regular (Myklebust 1972-1983).
Não se trata de crianças com potenciais de aprendizagem inferiores aos das
outras, apesar de apresentarem diferenças culturais, como podem ser exemplo as
crianças desfavorecidas ou oriundas de culturas diferentes como as de Cabo Verde,
da Guiné ou mesmo crianças ciganas.
Não se pode partir do princípio de que essas crianças, à partida, já estão
condenadas ao insucesso escolar e social. É de facto um erro extremamente grave, e
uma medida de segregação subtil e de exclusão social velada estigmatizar crianças
com necessidades ducativas especiais (NEE), sem adoptar uma educação pré-
escolar consentânea com as necessidades evolutivas que acabámos de apresentar,
pois não as respeitando tais dificuldades de desenvolvimento podem repercutir-se de
forma mais negativa no processo de aprendizagem da criança (Vaughn e Bos 1988).
Provavelmente, nestas idades as diferenças interindividuais são mais evidentes
do que noutros períodos de desenvolvimento e é muito importante que sejam
identificadas cedo, porque uma DA com três, quatro ou cinco anos
314
QUINESTESICO G f STj A
C RP Z d no t ratura
dança s
mesaruca ,
u eomunieaçao
hobbies r d'o; tea o
I unagm ao eáleulo l i GICO
PESSOAL mdepend ncsa ctencta E j A j IC
pnvacidade ' '
orçamentns
auto eonhecimento quanufieação
cooperaçaa atte
Uderança escultu a
IN trab de upo musica decoração
PESSOAL 'nteracçao ntmo filmes
composição diagramas jS U
MUSICAL -ESPACIAL
. . as inteligêncras multiplas do cerebro humano
315
316
317
318
319
Se a criança não tiver um pe l psicomotor intacto, como é que ela vai explorar
os espaços lúdicos (play grounds)? Como é que ela vai ter competências para explorar
brinquedos ou objectos indispensáveis ao seu desenvolvimento integral?
Para tirar proveito das aprendizagens simbólicas, a criança em idade pré-
escolar deve dispor de competências não simbólicas, de funções básicas de auto-
suficiência, de confono táctil e quinestésico do seu co po e do seu Eu (Freud 1930,
1962), para que os produtos da sua integração sensoriomotora possam suportar com
robustez as exigências neurofuncionais das aprendizagens escolares.
Sem a essência do sistema psicomotor humano (Fonseca 1989, 1995), sem
uma óptima coordenação oculomanual, sem um bom nível de percepção visual, sem
um bom poder grafomotor, sem uma boa capacidade de a mão ser o periférico da
inteligência, a criança não estará apta, nem terá relações equilibradas com os seus
colegas, nem interagirá de forma harmoniosa com o processo de aprendizagem.
A criança tem de dispor de uma excelente organização da sua imagem corporal,
que é fundamental, não só no desenho, mas também na representação e na
projecção no espaço, e conseguir relacionar o espaço fora do corpo com o espaço
dentro do seu corpo. Essa fronteira vai criar a noção do eu e do não-eu (Sperry 1979,
Schilder 1963). Por falta desta aquisição socioemocional essencial à aprendizagem,
há muitas crianças com problemas socioemocionais com muitas dificuldades de
aprendizagem e com baixo nível de frustação, de onde emanam grandes problemas
de irritabilidade e impulsividade. Por via destas disfunções, os seus rendimentos
escolares são baixos, não porque a sua inteligência seja restrita, mas porque as
eswturas cognitivas, psicomotoras, psicolinguísticas e socioemocionais estão
fragilizadas.
320
321
CAPÍTULO 8
323
1) Linguagem;
2) Psicomotricidade;
3) Percepção auditiva e visual; 4) Comportamento emocional.
Os mesmos estudos apresentam os sinais de riscos mais importantes nas áreas
da linguagem, nos aspectos quer receptivos, quer expressivos.
325
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSlCOPEDAGÓGICA
1 ) Linguagem auditivoverbal:
- Reprodução automática e sequencial;
- Compreensão;
- Formulação:
a)Semântica - objectos, lateralidade, partes do corpo, símbolos; b)
Sintáctica/gramatical;
c) Pragmática; d) Prosódica.
- Articulação.
2) Descodificação táctil:
- Percepção de estimulações duplas do mesmo lado do corpo;
- Percepção de estimulações duplas dos dois lados do corpo;
- Reconhecimento de objectos (exterognosias);
- Reconhecimento de objectos com transfer inter-hemisférico (da
esquerda para a direita, da direita para a esquerda);
- Reconhecimento quinestésico e táctil da lateralidade do corpo;
- Reconhecimento de partes do corpo (dedos).
3) Descodificação visual:
- Percepção de estimulações homólogas bilaterais;
- Reconhecimento de objectos;
- Reconhecimento do objecto por apresentação de algumas partes
do mesmo;
- Reconhecimento de:
a) Partes do corpo (esquerda-direita, em si, nos outros); b) Reconhecimento da
divisão esquerda-direita do corpo; c) Formas geométricas (figuras e partes);
d) Orientação espacial (esquerda-direita; cima-baixo, perto- longe);
localização, direcção, relações, dimensões;
e) Figura-fundo;
d) Símbolos.
- Reminiscências de:
a) objectos;
b) partes do corpo;
c) orientação espacial;
d) símbolos.
326
5) Codificação visuomotoquinestésica:
- Praxia fina manual;
- Praxia ideacional;
- Praxia construtiva: a) por cópia visual; b) por reminiscência.
- Praxia ideatória.
6) Funções globais:
- Leitura;
- Escrita criativa;
- Cálculo;
- Conhecimento;
- Abstracção;
- Lógica.
ASSOCIAÇÀO
NP OUTPUT i nGemodal intermodel --. I
cmssomodal ntramodal
327
AO PROFESSOR
Algumas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem que as dife
renciam de outras crianças da sua classe (ou da sua turma ou grupo). A Escala de
Identificação de Potencial de Aprendizagem (EIPA) foi desenvolvida e construída no
sentido de permitir a identificação ou a despistagem precoce e simples de tais crianças.
Só por meio de uma identificação precoce das dificuldades de aprendi zagem
das crianças podemos orientar uma intervenção pedagógica adequada às verdadeiras
necessidades das mesmas. Parte-se do princípio de que se deve conhecer na
globalidade as crianças, antes de as educar. Conhecer primeiro e educar depois, é o
objectivo pedagógico da EIPA, no sentido de valorizar a intervenção do professor e de
optimizar as condições pedagógicas que facilitem a aprendizagem da criança.
O professor terá de identificar a criança em cinco áreas de comporta mento,
todas elas relacionadas com os vários factores de aprendizagem: Compreensão
Auditiva, Linguagem Falada, Orienta ão Espaciotemporal, Psicomotricidade e
Sociabilidade. A escala está elaborada em cinco categorias, sendo a média de 3. A
classificação de 1 corresponde ao resultado mais baixo, e a de 5 ao resultado mais
elevado. A classificação deve ser indicada com um círculo à volta do número que
representa a avalição (ou a observação) do nível de comportamento da criança.
Quando se procede à avaliação, apenas uma área de comportamento deve ser
considerada. Não esquecer também que uma criança pode aprender bem numa área,
mas apresentar problemas de aprendizagem noutras áreas de comportamento.
A finalidade da EIPA é detectar crianças com problemas e dificuldades de
aprendizagem. Não pode ser considerada como indicador de um potencial básico
intelectual baixo, nem como um indicativo de falta de oportunidade cultural. É
importantíssimo que se considere a EIPA apenas nos factores de comportamento
apresentados e discriminados na escala.
Antes de utilizar a escala é necessário um estudo detalhado do manual e ao
mesmo tempo a criação de condições concretas que permitam longos periodos de
observação das crianças.
328
CARACTERÍSTICAS DE COMPORTAMENTO
1. COMPREENSÃO AUDITIVA
COMPREENSÃO DO SIGNIFICADO DAS PALAVRAS ESCALA
- Nível extremamente imaturo de compreensão 1
- Dificuldade em captar o significado de palavras simples, má compreensão
de palavras do seu nível de escolaridade... . 2
- Boa captação de vocabulário próprio da idade e da escolaridade... ... ... . 3
- Compreensão do vocabulário do seu nível de escolaridade, bem como do
significado de palavras de nível superior... . 4
- Compreensão de vocabulário de nível superior; compreende muitas palavras
abstractas... ... 5
EXECUÇÃO DE INSTRUÇÕES
- Incapaz de seguir instruções, confunde sempre... ... ... . 1
- Segue habitualmente instruções simples, mas necessita muitas vezes de
reforço individual 2
- Segue inswções familiares e pouco complexas... ... ... 3
- Segue inswções extensas e prolongadas... . . 4
- Excepcionalmente dotado em lembrar e seguir inswções... ... 5
COMPREENSÃO DE CONVERSAS NA AULA
- Incapaz de seguir e compreender as conversas na aula, sempre desatento. . 1
- Ouve, mas raramente percebe bem, muitas vezes divaga... ... . . 2
- Ouve e segue discussões em conformidade com a idade e o grau de escolaridade. .
3
- Compreende bem; úra conclusões da discussão... ... ... . 4
- Participa nas discussões; mosaa boa compreensão da informação discutida 5
RETENÇÃO DA INFORMAÇÃO
- Pouca capacidade de evocar; fraca memória 1
- Retém ideias simples e inswções, se repetidas... . . 2
- Retenção normal de informação; memória adequada à idade e ao nível de
escolaridade... ... . . 3
- Retém informação de várias fontes, boa evocação quer imediata, quer remota 4
- Memória superior para pormenores de conteúdo... ... . 5
RESULTADO
2. LINGUAGEM FALADA
VOCABULÁRIO ESCALA
- Usa sempre vocabulário pobre é imaturo. . 1
- Vocabulário limitado; substantivos simples, poucas palavras precisas e descritivas...
2
- Vocabulário adequado à idade e ao grau escolar... ... . 3
- Vocabulário acima da média; usa numemsas palavras descritivas e precisas 4
- Altó nível de vocabulááo; utiliza palavras complexas 5
GRAMÁTICA
- Usa frases incompletas com erros gramaticais... ... ... . .
- Usa frequentemente frases incompletas; numerosos erros gramaticais... .
- Construção gramatical correcta; poucos erros no uso de
proposições, tempos de verbos e pronomes
329
MEMÓRIA VERBAL
- Incapaz de recordar a palavra exacta...
- Exprime-se com hesitação na uúlização das palavras... ... .
3. ORIENTAÇÃO ESPACIOTEMPORAL
APRECIAÇÃO DO TEMPO ESCALA
- Falha na apreciação do tempo, sempre atrasado ou confuso... ... . . I
- Fraca concepção do tempo, tende a perder tempo, frequentemente atrasado 2
- Apreciação do tempo dentro da média, adequado para a idade... 3
- Pontual, atrasado só com razão justificada... ... . . 4
- Realiza correctamente as tarefas no tempo, bem planeadas e organizadas. . 5
ORIENTAÇÃO ESPACIAL
- Sempre confuso; incapaz de se orientar na escola, no recreio e na vizinhança.
- Perde-se frequentemente em locais relaúvamente familiares... ... ...
- Movimenta-se em locais familiares; capacidade média para a idade... ... .
- Acima da média, raramente se perde ou confunde... ...
- Boa adaptação a novas situações e locais; nunca se perde... ... . .
APRECIAÇÃO DE DIRECÇÕES
- Altamente confuso; incapaz de distinguir esquerda-direita, norte- sul, este-
oeste... ... . .
330
4. PSICOMOTRICúlADE
5. SOCIABILmADE - SOCIALIZAÇÃO
(desenvolvimento pessoal-social)
COOPERAÇÃO ESCALA
- Intenupções contínuas na sala de aula; incapaz de inibir e controlar respostas... .
I
- Perdas frequentes de atençao, frequentes mtervençoes fora da sua vez... 2
- Espera a sua vez; comportamento adequado às suas idade e escolaridade. . 3
- Acima da média; coopera bem... ... . . 4
- Excelente aptidão; coopera sem o reforço do adulto. . 5
ATENÇÃO
- Nunca está atento; muito distraído e hiperactivo... ... 1
- Raramente ouve; atenção frequentemente alterada... ... 2
- Atenção adequada à idade e à escolaridade. 3
- Atenção acima da módia; quase sempre atento e concentrado. . 4
- Sempre atento nos aspectos importantes; longo perfodo de atenção... ... . 5
ORGANIZAÇÃO
- Bastante desorganizado; muito desleixado... 1
- Frequentemente desorganizado na maneira de trabalhar; inexacto e descuidado... . .
2
331
ACEITAÇÃO SOCIAL 1
- Rejeitado pelos outros
- Tolerado pelos outros 2
- Aceite pelos outros; comportamento adequado às suas idade e escolaridade 3
RESPONSABlLIDADE
- Rejeita a responsabilidade, nunca toma a iniciativa... ... 1
CUMPRIMENTO DE TAREFAS
- Nunca acaba mesmo com ajuda... . 2
- Algumas vezes termina, mas com ajuda
- Realização adequada das tarefas; finahza as tarefas... ... 3
- Realizaçâo acima da média; completa as tarefas sem pressa 4
AJUSTAMENTO - DISCERNIMENTO 1
- Sempre impertinente
- Desrespeita os sentimentos alheios... 2
- Discernimento médio; por vezes comportamento social desajustado... 3
332
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333
NOME:
IDADE
anos meses
Escala de pontuação
1- Dificuldades; 2 - Evolução satisfatória; 3 - Boa evolução
C ) C ) (+)
ÁREAS DE COMPORTAMENTO
I. COMPREENSÃO AUDITIVA
2. LINGUAGEM FALADA
2. 1-Vocabulário. . I 2 3
2. 2- Organização de frases I23
2. 3- Contar histórias... ... . 123
123
2. 4- Informação...
2. 5- Formulaçao de ideias (ideação) 123
2. 6- Comunicação verbal... I23
3 - ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO
334
4. PSICOMOTRICIDADE
4. 1 -Equih'brio ... ... 1 2 3
4. 2 - Coordenação geral (andar, correr, saltar, trepar, etc. ) ... ... 1
2 3
4. 3 - Noção do corpo. . , ... 1 23
4. 4 - Lateralidade (relação esquerda/direita) FJD. . ... . 1 2
3
4. 5 - Manipulação de objectos. ... ... I 2 3
4. 6 -Grafismo ... . 1 23
4. 7 - Receber e passar (exemplo; receber e passar ou atirar unia bola ou um
objecto). ... . 1 23
5. CRIATIVIDADE
5. 1 - Curiosidade... ... . . ... 1 2 3
5. 2 -Exploraçao ... . 1 23
5. 3 -Espontaneidade... ... 1 2 3
5. 4 -Dramatização... . . ... . . 1 2 3
5. 5 -Modelação ... . . 1 23
5. 6 - Pintura e desenho imaginativo... ... . ... 1 2 3
5. 7 - Invenção de histórias... ... . . ... . . 1 2 3
6. COMPORTAMENTO SOCIAL
6. 1 -Cooperaçao ... . 1 2 3
6. 2 -Atenção. . ... 1 23
6. 3 -Independência... . ... . . I 2 3
6. 4 -Organizaçao ... . . 1 2 3
6. 5 - Adaptação a novas experiências... ... ... . 1 2 3
6. 7 - Aceitação social no grupo . . 1 2 3
6. 8 - Relação com o adulto... ... ... . 1 2 3
6. 9 - Noção de responsabilidade ... 1 2 3
6. 10- Finalização de tarefas... . . ... . 1 2 3
6. 1I - Agressividade... . ... . 1 2 3
6. 12- Impulsividade... ... ... . 1 2 3
6. 13- Inibição. . .. 123
TOTAL DE PONTOS
Rubrica do observador
335,
IDADE
Rubrica do observador
336
OBSERVAÇÕES :
DATA DE OBSERVAÇÃO:
ESCRITA
Prefere pintar...
Dificuldade em seguir o traço pedido... ... . . Inclina-se para a frente enquanto escreve.
. Não copia do quadro para o papel... ... ... . Copia as letras numa orientação errada...
. . Não desenha formas geométricas básicas. . lnclina demasiado as letras/palavras...
... .
Espaços inapropriados entre letras
Mantém a cabeça numa posição incorrecta enquanto
escreve
Esquece formação das letras/palavras... ... . Dificuldade em escrever nas Gnhas... ... ...
. Segura no lápis inapropriadamente... ... ... . Troca palavras/leaas enquanto escreve...
.
CÁLCULO
Não conhece as horas... . Não conhece os minutos
337
DITADO
Incapaz de desenhar figura humana em proporção. . Coloca as letras fora de ordem
quando ditadas... ... .
Esquece rapidamente palavras ditadas... ... .
Escreve palavras de duas maneiras diferentes no mesmo
texto.
Confunde os sons das si abas... .
Ortografa inferior ao nível da classe... ... ...
Tem problemas de linguagem (pronúncia, articulação,
substituição). .
TOTAL DE PONTOS... . .
Rubrica do observador
338
1) Orientação de pais;
2) Detecção de sinais que escapam ao exame médico e psicológico e que têm
importância para o processo dialéctico da aprendizagem;
3) Predicção do potencial de aprendizagem visando a sua maximização; 4)
Recomendação edùcacional precoce;
5) Experimentação de processos de cooperação e de formação interdisciplinar
entre vários técnicos;
6) Evolução e desenvolvimento de processos e métodos pedagógicos; 7)
Prevenção de problemas de desenvolvimento;
8) Diminuição da dispedagogia, reduzindo o abismo entre o que o professor
oferece e aquilo que a criança pode revelar;
9) Investigação sobre as variáveis receptivas, integrativas e expressivas da
aprendizagem;
10) Formulação de objectivos pedagógicos para satisfazer as necessidades da
criança compensando as áreas fracas e reforçando as fortes, etc.
339
A identificação precoce das DA não pode ficar por intenções, muitas vezes
assinaladas por negligências e ignorâncias que persistem dramaticamente e podem
condicionar a evolução cognitiva de muitas crianças. A identificação precoce não pode
realizar-se em termos casuais circunstanciais ou assistemáticos, não pode persistir
acientífica ou desumana.
A identificação das DA, nalguns casos, não oferece problemas pela sua
obviedade; porém, noutros casos, só por investigações, que urge desenvolver
longitudinalmente, se pode atingir uma identificação mais rigorosa. O diagnóstico
grosseiro é perigoso, assim como uma identificação baseada em empirismos; daí que
ele se tenha de basear em investigações mais criteriosas e intensivas. Efectivamente,
quanto mais se souber de um dado domínio da aprendizagem, mais significado se irá
dando a determinados sinais, sinais que actuam eomo avisos ou alertas e que podem
ser modificados, desde que se equacione alternativas educacionais a tempo. Quanto
mais estudos práticos, tanto mais facilmente se chegará aos sinais que prevejam ou
induzam DA no futuro. Atribuir-se-á assim o valor e a importância que é necessário
reconhecer em tais sinais, podendo, a partir daí, determinar a natureza dos
problemas condicionantes da aprendizagem das crianças.
O progresso em DA tem muito a ver com o progresso dos meios de identificação
e de diagnóstico precoce, ou seja, com a evolução pré-escolar. Sem tal esforço, que
caberá à investigação psicopedagógica, deixamos escapar sinais e problemas de
difícil solução no fim do ensino primário ou no preparatório.
A fmalidade da identificação precoce não pode ser confundida com mais uma
situação de alarme ( etiqueta" ou rótulo) para os pais, para os educadores ou para
os professores. O flm deve ser outro: compreender a criança na sua totalidade,
estudar o seu perfll intraindividual, diferenciar as suas áreas fortes, hesitantes e fracas
e desenhar um programa educacional individualizado (PEI). Parece que nesta
abordagem a problemática da identificação precoce só interessa aos educadores, mas
a nossa perspectiva engloba também os sectores médicos e psicológicos, que por
vezes deixam escapar sinais de risco. Em certa medida, a identificação precoce,
quando implementada, não pode esquecer a sua componente de formação em
exercício, que urge implementar em médicos, psicólogos e professores ligados à
educação.
A adopção de atitudes de deixar andar esperar e ver; dê tempo ao tempo"
a criança há-de falar e de aprender" são por vezes comuns, deixando passar o período
precioso durante o qual seria mais eficaz intervir.
A localização e a identiftcação de sinais de risco devem sugerir medidas de
intervenção dos meios médicos (pediatras, enfermeiros, etc. ) e educacionais que
obviamente se devem coordenar mais adequadamente. Não interessa enviar as
crianças aos serviços quando se pensa que já nada se pode fazer por elas.
340
341
342
Aceitação da DA
1 I
Investigação sobre Identificação
a DA da DA por --/
áreas e subáreas
DA identificada
i Intervenção
e DA não
reavaliação
identificada
Sucesso
L-- J Insucesso
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Fi ura 104- Estraté ias de identifcação precoce
343
1) Individualização do problema;
344
345
caPfrui. o 9
347
348
349
a que certas crianças estão sujeitas. A aprendizagem não é uma aquisição puramente
instrumental - ela encerra em si uma significação pessoal e social que não se pode
esquecer.
Atingir o sucesso na aprendizagem exige a satisfação de determinadas
integridades básicas. A criança aprende normalmente quando certas condições estão
presentes e quando são proporcionadas oportunidades adequadas.
Três tipos de integridades devem ser considerados:
INTEGRIDADES DA APRENDIZAGEM
350
351
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353
ESTIMULAÇÃO
354
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Aprendizagem intraneurossensorial
Aprendizagem interneurossensorial
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Aprendizagem integrativa
358
359
CAPÍTULO 1 O
361
Problemas de atenção
362
363
Problemas perceptivos
364
365
366
367
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368
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373
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s. outro ortuo out o oro u uotrco
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lo. nunca nu na nu ca nnuca cunan
374
375
376
Problemas emocionais
377
378
Problemas de memória
379
380
batidos ou marchados, de gestos dos braços, das mãos ou dos dedos (imitação), etc.
, apresentados quer por estímulos auditivos ou visuais, quer por estímulos
tacúloquinestésicos.
A reprodução de silabas, de palavras, de frases e pequenas histórias, noutros
casos, é igualmente difícil naquelas crianças. Mais difícil é a transferência da
informação de uma modalidade sensorial (ex: imagens) para outra (ex. : fichas com os
respectivos nomes), a confirmar outros problemas de memória crossomodal e de
equivalência psiconeurossensorial.
Segundo as investigações de Kirk 1964, com o seu Teste de Habilidades
Psicolinguisticas (ITPA), verificou-se que os maus leitores evidenciavam mais
dificuldades na reprodução automática da informação do que nas provas de maior
complexidade cognitiva. Por estes dados, podemos afirmar que os problemas da
memória se reflectem no êxito ou no inêxito da aprendizagem, razão pela qual se deve
identificar tais sinais com a finalidade de sobre eles intervir sistematicamente. As
memórias sequenciais auditiva e visual devem constituir uma pré-aptidão das
aprendizagens simbólicas, moúvo pelo qual deverão fazer parte de um currículo
preventivo ou reeducativo, como provaram os estudos de Klein e Schawart 1977.
Na identificação informal de problemas de meniória em crianças com DA
devemos ter em conta: a natureza e a quantidade de material a reter; a forma eomo a
criança reproduz preferencialmente a informação e os diferentes tipos de respostas que
se deseja ver executados; a forma como as tarefas de memória são apresentadas; a
qùantidade de prática educacional necessária para a aprendizagem do material
apresentado; as estratégias de revisão, etc. Devemos também estar atentos à
velocidade de reprodução; à queda de reprodução devido ao número de elementos a
reter; à perda de informação aprendida perante a aprendizagem de informação nova; à
alteração, à substituição, à omissão e à adição de elementos contidos nas tarefas de
memorização; à selecção, ao armazenamento e à rechamada de informação; à
especificação da difieuldade de memorização nos planos visual, auditivo ou
tactiloquinestésico, etc.
A característica das crianças com DA de se esquecerem com muita facilidade
pode ter a sua explicação não só em termos de atenção e de motivação, mas também
em termos de processamento de informação. Esquecer é também sinónimo de
desaprender, provavelmente porque não se operou uma organização interna que
envolve processos neurológicos determinados. Os estímulos que estão na base da
aprendizagem precisam de ser identificados e discriminados, mas também
armazenados, para que possam estar disponíveis e acessíveis para as funções
expressivas.
Antes da expressão da informação como produto, dão-se, antecipadamente,
inúmeros processos de organização intema, baseados na memória (banco de dados).
Quer dizer, a memória é um disposiúvo-chave, eswturante e estruturador de
várias funções cognitivas invariantes da aprendizagem, motivo
381
383
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
Problemas cognitivos
384
aa'avés de vários processos cognitivos que tentaremos, por agora, apenas explorar.
As letras e as palavras impressas são interiorizadas a partir de aquisições
cognitivas básicas que em muitas crianças com DA se encontram fragilmente
consolidadas e estruturadas.
-- A. Inùtação -
Sistema
( Leitura) Optemas Visão mo Grafemas (Ortografia)
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385
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389
Com base nesta recategorização, o mesmo autor verificou que as crianças com
DA obtêm melhores resultados na Categoria Espacial e os mais baixos na Categoria
Sequencial, com resultados intermédios na Categoria Conceptual.
O que quererá isto dizer em termos de problemas cognitivos para as crianças
com DA?
390
391
O problema parece centrar-se mais quando transferem a informação do veF bal para o
não verbal e vice-versa. As dificuldades nestes processos co _ tivos intra-hemisférios
ou inter-hemisféricos implicam um conjunto problemas que interferem com a
eompreensão, a inferência de significaçõa e a interpretação da informação contida na
leitura e é neste parâmetro qts: temos detectado, na nossa prática clínica, vários
problemas cognitivos crianças com DA.
Nos processos sensoriais, quer numa modalidade (intrassensorial), qsr em
duas (intersensorialmente), quer nomeadamente em três, como por exemplo no acto
da escrita em que estão envolvidos simultaneamente a visão ' (optemas), a audição
(fonemas) e o sentido tactiloquinestésico (grafemas), as crianças com DA evidenciam,
igualmente, vários problemas cognitivos de transferência de informação.
É frequente identificar as DA com problemas intrassensoriais auditivos,
nomeadamente dificuldades de identificação fonética, de discriminação de pares de
palavras, de sequencialização de silabas ou de memória de curto termo de repetição
de palavras ou frases, etc. Os problemas intrassensoriais visuais também são
frequentes, inclusivamente os de identificação de pormenores em imagens, de
completamento (closure) de desenhos, de inúmeros problemas de figura e fundo e da
constância da forma, da posição e da relação espacial, como vimos atrás nos
problemas perceptivos deste capítulo.
Na base dos problemas perceptivos estão os conceptuais, razão pela qual as
crianças com DA evidenciam problemas naformação de conceitos. Efectivamente, tais
crianças acusam também dificuldades de classificação, na medida em que não
localizam nem retiram pormenores, atributos, comparações, contrastes, estruturas e
funções das percepções dos objectos e dos acontecimentos e, por esse motivo, têm
dificuldades em obter associações ou em formar abstracções dos mesmos.
Na nossa experiência clínica temo-nos dado eonta das dificuldades dos nossos
reeducandos quanto à identificação e à exploração de pormenores em imagens, ou
suas sequências, bem como em histórias. Fixam-se em descrições diseretas,
contíguas e simples, por vezes exageradamente concretas e sintagmáticas.
Raramente identiflcam semelhanças ou propriedades invariantes e comuns em
objectos diferentes. Carecem de processos de escrutínio, de pesquisa e análise
sistemática e de estruturas paradigmáticas.
Dentro deste parâmetro de dificuldades cognitivas, não podemos esquecer a
resoluÇão de problemas (problem solving) que, de certa forma, também está ligada
ao que estivemos a abordar. A resolução de problemas é uma actividade em que a
experiência anterior é utilizada para reorganizar as componentes de uma situação
problemática, a fim de atingir um dado objeetivo. Compreende a rememorização, a
estratégia e a táctica de raciocínio (dedutivo ou indutivo), a chamada, a selecção e a
organização dos dados para formular princípios, relações e associações que envolvem
a própria solução dos problemas. Também aqui, as crianças com DA
392
393
Por esta análise podemos aperceber-nos dos problemas cognitivos das crianças
com DA que evidenciam certas dificuldades nestes sistemas, dificuldades essas que
se reflectem nos processos receptivos e expressivos e suas interacções sistemáticas
concomitantes, daí resultando os diversos tipos e subtipos de dislexias e de
disortografias.
Nesta fugaz análise dos problemas cognitivos das crianças com DA falta-nos
abordar os processos de hierarquização da aprendizagem. De facto, a leitura envolve
todos os níveis do sistema da aprendizagem: percepção (discriminação grafética e
fonética); imagem (categorização grafema-fonema, bases do processo de
descodificação); simbolização (abordagem-processual ou ataque de palavras,
compreensão, fixação da ideia principal e localização de pormenores, etc. ); e
conceptualização (conclusões, deduções, comparações, interpretações, níveis
criativos e críticos, manipulações das ideias e proposições e sua relação com os
diferentes contextos passados e presentes, etc. ).
Visto que se trata de um sistema com várias fases e níveis de processamento, é
claro que qualquer disfunção ou dificuldade num nível pode afectar todo o
encadeamento sistemático dos restantes níveis. Se efectivamente for possível isolar a
disfunção (ou as disfunções) por meio de um diagnóstico (intra ou interníveis), talvez
se possa vir a compreender melhor qual o tipo de intervenção a implementar
posteriormente.
Problemas perceptivos implicam inequivocamente problemas cognitivos,
perturbando o reconhecimento integral das palavras. Problemas de imagem ou de
memória de curto termo vão, evidentemente, intervir com o armazenamento da
informação, dificultando o processamento simbólico concomitante. Se por sua vez
este se encontrar afectado, os níveis de compreensão logo sofrem, perdendo-se a
riqueza e a inter-relação das operações concretas e abstractas intrínsecas do acto da
leitura.
Por aqui se conclui que a leitura, aliás como as restantes aprendizagens
simbólicas (escrita e cálculo), integra uma série de complexas combinacões cognitivas,
parecendo ser neste quadro que surgem os problemas das crianças com DA.
Atenção selectiva, organização perceptiva visual e auditiva, orientação espacial
superior-inferior e esquerda-direita, discriminação graféticofonética, vocabulário visual,
identificação fonética, silabação, memória de curto termo, recognição visual e
auditiva, etc. , são algumas das múltiplas pré-aptidões da leitura. Da rede das suas
combinações cognitivas resulta a compreensão que se retira dos símbolos impressos.
Na leitura, os símbolos visuais recebidos são convertidos em equivalentes
auditivos por um processo intermodal. Para passar da modalidade auditiva à fala na
leitura oral de novo se exige um processo intermodal que envolve então a rechamada
(reauditorização) dos articulemas, que, uma vez formulados interiormente, irão
proporcionar a correcta expressão vocal (oromotora), ou seja, uma leitura oral sem
repetições nem hesitações, sem omis
394
INPUT I OUTPUT
395
mais ou menos claro que uma análise cognitiva das tarefas que envolvem a leitura
pode ajudar quem se dedica ao diagnóstico e à reeducação das DA.
Sem identificarmos dinamicamente nem especificarmos cognitivamente as áreas
fortes (integridades da aprendizagem) e as áreas fracas (dificuldades de
aprendizagem) da criança com DA estaremos, provavelmente, longe do programa
educacional apropriado a cada caso, ou longe dos pré-requisitos cognitivos a
desenvolver.
Em resumo: as capacidades eognitivas - atenção, percepção, proces samento,
memória, planificação - são básicas e essenciais para que uma criança aprenda a ler e
a eserever rápida e facilmente.
O desenvolvimento destas capacidades engloba todo o processo da
aprendizagem em que a eonsciencialização linguística, o processamento flexível e
plástico da informação auditiva e visual, a abstracção de regras convencionais e o uso
hierarquizado léxicossintácticos são capacidades perceptivas e cognitivas
indispensáveis para se extrair significações (ou redes e sistemas de significações) dos
processos da leitura e da escrita.
Problemas psicolinguísticos
396
397
23
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399
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
400
401
Francis 1972 sugeriu que a confusão das crianças com DA se situa na falta de
familiarização com uma abordagem analítica da linguagem, O isolamento dos fonemas
nas palavras constitui uma pré-aptidão fonética necessária para aplicar estratégicas de
descodificação visual nas palavras, tornando assim relevante a capacidade de separar
sons numa palavra. A análise da composição de sons que compõem uma palavra
parece ser um pré-requisito da leitura, área onde a criança com DA revela algumas
dificuldades (Menyuk 1968, Wepman 1960, de Hirsch, Jansky e Langford 1966).
A consciencialização linguistica (linguistic awareness) e a metalinguística
materializada pelo domínio e a manipulação multissensorial do alfabeto parecem
representar vantagens na aprendizagem da leitura. A criança deve conhecer ex
licitamente como os segmentos da fala são representados gra ficamente. A análise de
palavras e de si abas pelos fonemas na fala vai corresponder na leitura a análise das
palavras e das silabas pelos grafemas.
A segmenta ão silábica, e posteriormente a segmenta ãofonética, surgem
significativamente diferenciadas entre as crianças disléxicas e as não disléxicas.
Problemas psicomotores
402
403
404
405
CAPÍTULO 11
407
delos incoerentes, etc. , que reflectem, no fundo, um paradigma ainda obscuro entre
a normalidade e a excepcionalidade e são indiciadores de outros subparadigmas como
os da paranormalidade" e ou da paraexcepcionalidade".
As DA retratam, em síntese, uma grande diversidade de problemas
educacionais e clínicos com uma tal míriade de eventos ecológicos de enormes
repercussões socioculturais que se torna difícil atingir um consenso na matéria,
exactamente porque as DA emergiram mais de pressões, contextos e necessidades
socioeducacionais do que de dados científicos mais defensáveis.
O entendimento multidisciplinar que envolve o estudo das DA dificulta o
surgimento de uma definição inequívoca, coerente e sólida, apenas à base de critérios
psicométricos ou de discrepâncias verbais e de realização (ditas de performance) à luz
do quociente intelectual, e muito menos à base de puros critérios médicos selectivos
de acuidade auditiva ou visual, ou simplesmente de restritas medidas de prestação
motora.
O estudo das DA parece situar, antes, questões de processamento, integração
e comunicação de informação, pois muitas crianças com DA ouvem bem mas não
escutam, vêem bem mas não captam, nem escrutinam ou observam dados, movem-
se funcionalmente mas exibem dispraxias, equacionando, consequentemente, mais
problemas dos sistemas funcionais da aprendizagem (Luria 1966 e 1973) do que
problemas das funções sensoriais ou motoras.
O grande interesse por este campo de estudo faz com que os projectos de
investigação sejam desenvolvidos a partir de diferentes perspectivas, às quais não
escapam, por inerência, os estudos mais enfocados nas variáveis da motricidade.
Em síntese, a investigação corrente nas DA é fragmentada e dispersa; por
consequência, as pesquisas sobre a motricidade ou a psicomotricidade das crianças
com DA sofre da mesma fragilidade experimental.
A polémica vigente sobre o assunto não permite a total compreensão etiológica
ou epidemiológica das DA, nem tão-pouco o questionamento dos problemas
psicomotores nos complexos processos de aprendizagem simbólica da leitura, da
escrita e do cálculo.
Sendo a criança um objecto de estudo extremamente difícil, quando
investigamos algumas variáveis da sua aprendizagem simbólica depara-se-nos uma
área de pesquisa ainda conceptualmente pouco definida (Torgesen 1977, Ross 1979,
Vellutino 1979, Quirós e Schrager 1980, Myers e Hammill 1982, Kirk e Gallagher
1987, Wallace e MacLoughlin 1988, Mercer e col. 1990 e Fonseca 1984 e 1992), o
mesmo se passando, talvez ainda com maiores indefmições, quando se pretende
estudar as variáveis da sua motricidade, frequentemente confundida com a
psicomotricidade.
408
PROFICIÊNCIA MOTORA
409
410
PROFICIENCIA MOTORA
411
REVISÃO DA LITERATURA
412
Ayres 1982, Kohen-Raz 1979 e 1981, Bundy 1987; Byl, Byl e Rosenthal 1989,
Gallahue 1989 e Swanson 1990 demonstraram que existem múltiplas relações entre os
domínios do comportamento cognitivo e do comportamento motor de crianças com DA,
nomeadamente nas con elações que encontraram entre a proficiência na leitura e na
escrita e as variáveis de equilbrio estático, da lateralidade, da noção do corpo, da
estruturação espacial e da planificação motora, tendo eles acrescentado que as suas
habilidades espaciais e perceptivas, que obviamente participam nas aprendizagens
escolares, melhoraram substancial- mente com programas adequados (diagnostic-
teaching strategies).
Certamente que tais métodos de intervenção não poderão ter como objectivo o
reforço dos factores anatomofisiológicos de execução motora (exemplo: força,
velocidade, resistência cardiorrespiratória, endurance muscular, destreza, etc. )
como tem sido tradicional das intervenções da educação física, da actividade motora
adaptada ou da fisioterapia.
414
PROFICIÊNCIA MOTORA
416
METODOLOGIA
417
418
PROFICIENCIA MOTORA
Amostra
QUADRO I
DA
g Repetentes 8 masculino 2 á ano 8, 0 15
7 feminino
Crianças normais \ 15
Crianças com DA 15
419
420
421
MOTRICIDADE GLOBAL
1. Velocidade de Corrida
e Agilidade 6 2. Equil brio 0 3. Coordenação Bilateral 06
4. Força 6 COMPONENTE MOTRICIDADE GLOBAL 000
Soma
5. Coorden. Membros
Superiores 00
MOTRICIDADE FINA
6. Velocidade de Reacção 7 7. Visuomotdcidade 8. Velocidade dos
Membros
Superiores e Destreza 20 COMPONENTE MOTRICIDADE RNA 0 0
Soma
FORMA REDUZIDA
(SHORT FORM) 98 - 0
422
PROFICIÊNClA MOTORA
1. mde de Agilidade
13. 7 nelros
BUBTESTE 2: EOUILÍBRIO
máx. t0se9. por tentetiva)
peme dominante em e5uillbrio sobre a bana l
1. Ficar pé ne
Tentetiva 1: se9- Te^tatNB 2:
) "
s 0
Velor ReferBncie = 0 12 3 4 56 7 8 10
12345 6
Result. em Pontos = 0
2. dgr tocendo com a po
n do pg no cakenhar do outro pé sobre e berra de eçuilíbrio (6pessos máx. por
tentetiva)
Tgntativa 1: I I I I I passos Tentetiva 2: I I I I I passos
13 4 5 6 0
Velor ReterBncia = 0 I
1234
Result. em Pontos 0
SUBTESTE 3: COORDENAÇÃO BILATERAL
1. 88ter com a po
^ta dos pés, altemadamente, enquanto fez círculos com os dedos idicadores.
(máx. 90 se9. )
Resuft. em Pontos = I 0 I 1
;
Resuft. em Pontos = 1 2 3 4 5
0
BUBTESTE 4: FORÇA
I Resuft. em Pontos = I I 0 0 1
423
424
PROFICIÉ'NCIA MOTORA
MAIS DE
Valor ReferBncia = 6 6 2-5 1 0 Resultado em Ponlos = 0 1 2 3 4
Resultado:
Valor ReferBncia = 0 1 2 Resultado em Pontos = 0 1 2
Re B Ui Bd O:
Valor ReferBncia = 0 1 2 Resuhado em Pontoe = 0 1 2
RM, NM 1990)
425
Ii
- motricidade global;
- motricidade composta; e,
- motricidade fina,
426
QUADRO II
Estrutura da forma reduzida do TPMBO (1978)
Subteste l: Subteste 6:
Conida de agilidade MOTROCIDADE COMPllSTA Velocidade de reacção
Subteste 2: (GLOBAL E FINA) Subteste 7:
Equil rio Subteste 5: Coordenação dos u no
Subteste 3: membros superiores Subteste 8:
Coordenação bilateral Velocidade e precisão
dos membros
Subteste 4: superiores
Força e dextralidade
427
CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
QUADRO III
Caracterização da Amostra
Corrida de agilidade 8. 63 1. 78 9. 33 1. 40 7. 93 1. 84
Equilfbrio 7. 10 1. 76 7. 73 1. 57 6. 47 1. 71
Coordenação bilateral 2. 63 0. 95 3. 07 0. 68 2. 20 0. 98
Força 6. 07 1. 41 6. 60 0. 88 5. 53 1. 63
Componentes motricidade
global 24. 47 4. 63 26. 73 3. 45 22. 20 4. 55
Coord. mb. super.
Componentes motricidade
composta 4. 53 0. 96 4. 87 0. 88 4. 20 0. 91
Velocidade de reaeção 5. 10 2. . 17 6. 33 1. 99 3. 87 1. 54
Visuomotricidade 5. 87 1. 56 6. 93 1. 06 4. 80 1. 22
Dextralidade 8. 53 1. 82 9. 47 2. 06 7. 60 0. 80
Componentes motricidade
fina 19. 57 4. 54 22. 73 3. 75 16. 40 2. 65
Proficiência motora 48. 17 8. 73 53. 67 6. 47 42. 67 7. 08
Médias e desvios-padrões (DP) para a totalidade da amostra, para o grupo de crianças
N e para
o grupo de crianças com DA.
Em primeiro lugar são apresentados os valores da motricidade global, em
seguida os valores da motricidade composta, os valores da motricidade fina,
e por último, os valores totais da proficiência motora para a totalidade das
variáveis da forma reduzida do TPMBO.
Numa rápida análise, verif Icamos que os resultados de todas as componentes da
motricidade estudadas são superiores nas crianças N em comparação
com as crianças com DA. Os resultados ilustram uma superioridade das
crianças N em comparação com as crianças com DA em todas as medidas
das componentes da motricidade, quer globais (Gráfico 1), quer finas
(Gráf Ico 2), quer da prof Iciência motora (Gráf Ico 3) na totalidade das variáveis
estudadas.
428
PROFICIÊNCIA MOTORA
GRÁFICO I
Mouicidade global
10
M 8
d 6
i 4
a 2
s
0 I
Comda Equib'brio Coordenação Força
de agilidade bilateral
Variáveis TPMBO Ì
Normais ~- DA
I
GRÁFICO 2
Motricidade fna
10
M 8
d 6
i4 Y
2
GRÁFICO 3
Profciência motora
é6
, *
d*
4 '
a2
0IIli
429
Numa análise global e sincrética dos dados, o grupo das crianças N revelou,
em todas as variáveis da proficiência motora, uma superioridade clara em relação ao
grupo das crianças com DA, reforçando o papel da proficiência motora no
aproveitamento escolar em termos de presença ou ausência de repetência no 2. o ano
de escolaridade.
As crianÇas N, ao nível das componentes da motricidade global, correm mais
depressa, equilibram-se em termos unipedais e dinâmicos durante mais tempo,
coordenam melódica e cinestesicamente as extremidades de forma mais rápida e
precisa, evidenciam mais força dos membros inferiores e saltam mais a pés juntos.
Nas componentes da motricidade composta, demonstram mais eficácia na
coordenação oculomanual receptiva e propulsiva e, finalmente, nas componentes da
motricidade fina, apresentam uma velocidade reactiva superior, revelam uma
visuomotricidade com menos inêxitos e com um transporte visual mais consentâneo e
pormenorizado com as figuras copiadas e, por último, apresentam uma
microdextralidade dominante mais eficaz em duas tarefas de velocidade-precisão.
Em resumo, a sua proficiência motora, combinando o nível de eficácia nas
variáveis motoras globais, compostas e finas, é claramente superior à das crian as
com DA.
As crianÇas com DA da nossa reduzida amostra evidenciaram resultados mais
baixos em todas as variáveis da proficiência motora, sugerindo um perfil motor mais
vulnerável, quer nas componentes mais globais, quer nas mais finas, o que pode
trazer alguma compreensão à problemática da maturação motora e funcional no
potencial de aprendizagem, independentemente de muitas crianças com DA revelarem
uma integridade motora global, e mesmo por compensação, ou por efeitos ecológicos
específicos, um perfil motor adequado.
Perante os resultados globais do TPMBO, as crianças N revelaram valores
acima da média, enquanto as crianças com DA demonstraram valores abaixo da
média.
430
PROFlCIÊNCIA MOTORA
QUADRO IV
Análise da variância para comparação dos grupos de crianças N e de crianças com DA.
431
QUADRO V
Variáveis que caracterizam significativamente o grupo de crianças N e o
grupo de crianças com DA
(Clusrer analysis - Critério t Student que compara a média do grupo com a média
geral).
432
PROFICIENCIA MOTORA
librio e nafor a, marcando uma diferença nos perfis de proficiência motora dos grupos,
privilegiando o grupo das crianças N nas componentes motoras mais complexas e
hierarquizadas em termos neurofuncionais, obviamente mais interligadas com o
aproveitamento e/ou o rendimento nas aprendizagens escolares.
A constatação de que o grupo de crianças com DA se caracteriza mais
significativamente pelas componentes da motricidade composta e da motricidade global
sugere que a sua proficiência motora é mais vulnerável e neurofuncionalmente menos
estruturada e cuja repercussão em termos de repetência escolar parece fornecer
alguma razão causal. Em síntese, a análise dos dados demonstra que os grupos
estudados são significativamente diferentes na proficiência motora, sugerindo mesmo
subtipos motores específicos.
QUADRO VI
Matriz de correlação para a totalidade da amostra
Cocrida de agilidade 1. 00
Equil'brio 0. 27 1. 00
Coordenaçãobilateral 0. 61 0. 62 1. 00
Força 0. 69 0. 35 0. 56 10. 00
Motricidadeglobal 0. 77 0. 77 0. 84 0. 78 1. 00
Motricidadecomposta 0. 54 0. 50 0. 50 0. 36 0. 61 1. 00
Velocidade de reacção 0. 44 0. 48 0. 55 0. 52 0. 62 0. 68 1. 00
Visuomotricidade 0. 43 0. 35 0. 39 0. 60 0. 42 0. 33 0. 42 1. 00
Dextralidade 0. 27 0. 31 0. 36 0. 42 0. 42 0. 33 0. 420. 441. 00
Motricidade fina 0. 46 0. 47 0. 54 0. 62 0. 65 0. 56 0. 870. 840. 751. 00
Proficiência motora 0. 71 0. 68 0. 74 0. 76 0. 91 0. 67 0. 790. 710. 630. 871. 00
433
Conclusões
434
PROFICIÊNCIA MOTORA
Denckla 1973 e 1974, e aos estudos mais recentes de Dobbins e Rarick 1975, Benton
e Pearl 1978, Krus e Bruininks 1981, Denckla 1979 e 1985 e de Bruininks 1974,
1977, 1978 e 1989, que verificaram nas suas pesquisas diferenças relevantes na
prestação motora entre crianças normais e crianças com DA.
Em relação à verifica ão das hipóteses nulas definidas, para uma probabilidade
de erro de 0. 05, três das quatro são rejeitadas, visto terem sido encontradas
diferenças significativas entre os dois grupos, quer nas variáveis da motricidade global
e fina, quer, igualmente, nas variáveis totais da proficiência motora.
Em termos de proficiência motora, e à luz do tratamento estatístico efectuado,
as crianças com DA exibem diferenças significativas quando comparadas com crianças
normais da mesma idade.
O estudo sugere que as diferen as significativas entre os dois grupos de
crianças em todas as componentes da proficiência motora medidas segundo o TPMBO
constatam nelas padrões de proficiência motora distintos, substanciando nas crianças
com DA défices motores especi cos na motricidade composta e global, e,
fundamentalmente, na motricidade fina, componente esta mais envolvida nos
processos de aprendizagem simbólica, tendo em atenção os trabalhos de pesquisa
revistos.
Os resultados apurados na motricidade composta e global do TPMBO suportam
os dados de Denckla 1985 e Levison 1985, que identificaram nas crianças com DA
défices vestibùlares e cerebelosos observáveis igualmente na prestação inferior da
nossa amostra, acusando aquelas frequentes quedas, reequilibrações abruptas pouco
económicas e reguladas, distonias, descontrolo e insegurança gravitacional. Os
resultados do nosso estudo parecem demonstrar que as crianças com DA evidenciam
problemas de integração vestibular, tonicopostural e proprioceptiva
(tactiloquinestésica), a sugerirem problemas de integração não só sensorial, como
psicomotora, a que não serão estranhas certamente as suas repercussões nos
processos de atenção e de recepção, elaboração e expressão de informação
exteroceptiva (auditiva e visual), obviamente mais envolvidos na aprendizagem dos
processos simbólicos da leitura, da escrita e do cálculo.
Foram igualmente confirmados os estudos de Benton e Pearl 1978, na medida
em que as crianças com DA revelaram movimentos da mão mais lentos e pobres, quer
na velocidade de reacção, quer na visuomotricidade e na dextralidade, reforçando
nelas o surgimento de uma coordenação oculomanual e de uma micromotricidadè mais
tensas e dismétricas. A lentidão entre os processos de input e de output da prova de
reacção com a queda vertical da régua, as distorções visuomotoras e visuoespaciais
verificadas nas cópias de figuras geométricas, a preensão imprecisa e insegura do
lápis, a tríade instável, as hesitações entre a mão iniciativa e a mão auxiliar na
distribuição de cartas e as sincinésias, as mioclonias, as disquinésias flutuantes e
descoordenadas, os tremores distais na marcação de pontos, etc.
435
436
437
438
PROFICIÊNCIA MOTORA
439
INSUCESSO ESCOl AR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
440
CAPÍTULO 12
A expressão disfunção cerebral mínima (DCM) tem sido usada para designar
distintas condições na criança cuja disfunção cerebral não produz grandes défices
sensoriais ou motores, ou mesmo uma deficiência intelectual generalizada, mas que,
em contrapartida, exibe e revela alterações restritas pouco óbvias e disfunções
específicas, quer no comportamento, quer na aprendizagem.
Um conjunto de excelsas individualidades (Paine, Birch, Clements, Eisenberg,
Kunstadter, Lis, Maslànd, Halstead, Perlstein, Myklebust, e outros) integradas num
grupo de trabalho patrocinado pela Sociedade Nacional de Pessoas Deficientes e pela
Sociedade Americana de Doenças Neurológicas e Sensoriais, em 1964, definiram a
DCM nos seguintes tennos:
441
Máximos (severos)
1 ) Paralisia cerebral
2) Epilepsia;
3) Autismo ou outras desordens mentais e de comportamento; 4) Deficiência
mental;
5) Deficiência visual, deficiência auditiva e afasias severas.
A DCM, em termos globais, não pode ser confundida com deficiência sensorial,
motora ou mental, na medida em que evidencia uma capacidade intelectual adequada,
demonstra processos sensoriais e motores funcionais e revela estabilidade emocional;
todavia, possui défices específicos nos processos per ceptivos, integrativos e
expressivos que se repercutem de forma difusa e variada na adaptação
comportamental e na eficácia de aprendizagem.
A DCM inclui, portanto, um conjunto considerável de crianças que apresentam
dificuldades específicas de comportamento e de aprendizagem, onde têm sido
inseridas determinadas condições como: os défices perceptivos, as lesões cerebrais
mínimas, as afasias evolutivas, as dislexias, as disortografias, as disgrafias, as
discalculias, etc. Ela, em resumo, não pode incluir crianças com dificuldades de
comportamento ou aprendizagem que são devidas prioritariamente a deficiências
visuais, auditivas, mentais, motoras, emocionais ou, eventualmente, a
desvantagens envolvimentais e a privações socioculturais.
Nesta, como noutras condições desviantes, a identificação e a intervenção
precoces (Fonseca 1989 e 1991) são cruciais, na medida em que estas crianças
necessitam de formas especiais de intervenção pedagogicoterapêutica e de plena
integração escolar e social sem as quais, efectivamente, não se pode atingir o
desenvolvimento maximal dos seus potenciais de aprendizagem.
442
professores, etc. ) com significados diferentes; daí uma certa confusão conce tual e um
certo caos semântico, aliás também característicos de outros u pversos de
conhecimento como o presente, em que contornos de definição entre o normal e o
patológico não são aindmmuito q osdizer que
Por se tratar de uma disfunção cerebral mín não careça de maiores cuidados de
diagnóstico; pelo contrário: a atenção ao diagnóstico deve ser mais aprimorada uma
vez que e 1 uercformamai DCM pmites da normalidade do que na deflciência. De qu q
ode comprometer o ajustamento à vida, o processo de desenvolvimento e o nível de
realização e de prestação dos indivíduos por ela afectados.
pIauLauv= r----- Y
comportamentais, tendo como referência a sua ill Glu
444
445
é o ponto de panida para uma inter enção pedagogicoterapêutica total e eficaz, razão
pela qual os diagnósticos médicos e psicoeducacionais se devem complementar.
revenir o desenvolvimento ou
O diagnóstico médico é essencial para P
as capacidades da criança e
ue não odendo ser integradas nem nos pa euos em crianças com DCM
q, P m gue atingem prestações com um quoda deficiência mental, na medida e p
ciente intelectual próximo da média (QI ? 80), nem nos parâmetros da a rendizagem
dita normal (Fonseca 1984 e 1992), que muito do trabalho educacional dos pioneiros
das DA se construiu. Em certa medida, a DCM está ligada ao surgimento das DA
(Strauss 1947).
446
- caracterização psicomotora;
- caracterização socioemocional e comportamental;
- caracterização cognitiva.
Caracterização psicomotora
447
448
449
450
451
Em suma, a dispraxia, não sendo uma neuropatia, nem uma miopaúa, nem
mesmo uma deficiência motora, nem tão-pouco uma disfunção dos motoneurónios
inferiores, sugere porém um défice de controlo e de planificação motora que
normalmente earacteriza uma disfunção do lóbulo frontal, a que a criança com DCM
não escapa, evocando eventualmente problemas ao nível da elaboração e da
antecipação consciente da acção que traduzem as funções do córtez ' motor
associaúvo (áreas secundárias e terciárias contendo os centros visuais frontais) e da
área suplementar motora, verdadeiros subsistemas neomotores, únicos da espécie,
como são as áreas 6, 8 e 9, e profundamente ligados à produção de competências de
aprendizagem da mais elaborada complexidade.
Em termos de organização funcional do cérebro, e à luz de Luria, trata-se da
função da terceira unidade funcional, que tem por função a programação, a regulação
e a verificação da actividade consciente, unidade produtora de intenções, de planos e
de estratégias, portadora de múltiplos centros de reaferenciação e de retroalimentação
que permitem a inspecção, abena e permanente, da sua realização, regulando
portanto todo o comportamento, de forma a estar conforme com os fms para que foi
organizado.
Nesta unidade funcional, crucial para a organização práxica e para qual- quer
tipo de aprendizagem não simbólica ou simbólica, depois da regulação da actividade,
passa-se também à função cibernética de comparação dos ã efeitos, à qual está
associada a capacidade plástica de desprogramar e de i reprogramar, consoante as
novas necessidades introduzidas pela situação envolvente.
É óbvio que, único portador desta enteléquia práxica, o ser humano podia
tornar-se o verdadeiro vertebrado dominante, cuja capacidade de aprendi- zagem se
conservaria, se renovaria e perpetuaria constantemente ao longo da ' evolução,
condição esta extremamente difícil, embora possível, que se apre- senta ao futuro da
criança com DCM, tendo em consideração os sinais
452
453
INSUCESSO ESCOIAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
454
ALGUNS ASPECTOS DA CARACTERIZA(ÃO PSICONEUROLÓGICA
Caracterização cognitiva
- Disfunções de input;
- Disfunções de elaboração;
- Disfunções de output; que passaremos a caracterizar de forma sumána.
455
456
DISFUNCÕES DE OUTPUT
457
I I I
CAPÍ'TIlLO 13
459
dão significado ao quociente intelectual (QI) e não o inverso (Zazzo 1968), conceito
este que assenta numa norma imposta por um grupo social dominante.
Não somos contra o diagnóstico do potencial intelectual básico, apenas
combatemos o seu uso ideológico em termos de prática pedagógica.
Só por si, não saber ler representa uma injusúça social. Os ue não sabem ler
ficarão condenados irremediavelmente à incultura, à ignorância, ao analfabetismo e à
manipulação social.
O perigo de uma sociedade analfabeta, dependente, imatura e inculta é um
terceno propício a desigualdades e a opressões de vária ordem.
- Imaturidade sensorial;
- Imaturidade psicomotora;
- Imaturidade psicolinguística;
- Privação cultural;
- Má qualidade de vida familiar;
- Inoportunidade pedagógica;
- Perturbações no desenvolvimento psicobiológico;
460
- Carências instrumentais;
- Dificuldades de processamento da informação visual e auditiva;
- Imaturidade psicomotora, com problemas de imagem do corpo,
de lateralidade e de orientação no espaço e no tempo;
- Defi iente desenvolvimento da linguagem ou imaturidade psicolin
uística expressão limitada, vocabulário diminuto, consW ão sint tica pobre,
problemas de comunicação verbal), etc ç
.,
- Problemas orgânicos e genéticos que se pcdem reflectir na
dificuldade de aprendizagem, como sejam, por exemplo: problemas do SNC,
disfunções cerebrais, diabetes, anomalias enzimáticas, afecções congénitas dos
elementos eonstituintes do sangue, etc. ;
- Hipersensibilidade, superestimulação e hiperactividade com
problemas globais de atenção (Ong l968).
As duas causas não surgem isoladas uma da outra. As causas exó enas e as
sas endógenas não se opõem, aliás como a hereditariedade e o mei ou como o
biológico e o social. Há entre elas uma dinâmica dialéctica que convém des' <ar,
umas são condições das outras. Nenhuma causa se reduz à outra6 na suá
reciproeidade mútua e com lexa que se situam os roblemas da ndizagem humana. P
P
Uma coisa é a criança que não quer aprender a ler outra é a crian a que não
pode aprender a ler com os métodos pedagógicos tradicionais. N :podemos assumir
atitudes reducionistas que afirmam que a dislexia não
461
existe. De facto, a dislexia é muito mais do que uma dificuldade na leitura. A dislexia,
normalmente, não aparece isolada - ela surge integrada numa constelação de
problemas que justificam uma deficiente manipulação do comportamento simbólico que
trata de uma aquisição simbólica exclusivamente humana.
Processo de leitura
462
PROCESSO DE LEITURA
pondo em destaque uma sequência espacial dos grafemas com uma sequência
temporal dos fonemas que dá origem a um sinal auditivo familiar: barco", já integrado
e memorizado. Aqui está, de uma forma didáctica, o aspecto analiticossintético do
processo de leitura. É aliás aqui que se retrata a evolução da linguagem escrita em
termos antropológico-históricos, que começou por ser representada por figuras,
desenhos e grafismos significando situações, acontecimentos, etc. ; depois da figura,
passou-se ao sinal que representava uma palavra ou uma ideia, isto é, do pictórico ao
ideográfico. O passo histórico seguinte foi usar um sinal por cada silaba, separando
assim as unidades fonéticás. A lista destes sinais é o alfabeto, cujo domínio exige
uma certa evolução simbólica e mental.
463
INTEGRAÇÃO VISUAL
INTEGRAÇÃO segundo sistema AUDITIVA simbblico
INTEGRAÇÃOprimeiro sistema
DA EXPERIÈNCIA simbblico
NÃO VERBAL
464
465
2) Factores psicomotores
Estes factores compreendem: a maturidade neuropsicomotora global, o
desenvolvimento psicobiológico da criança; a organização cerebral da postura; a
estabilização da lateralidade; a consciencialização da imagem do corpo; a actividade
rítmica; a orientação no espaço e no tempo; a dissociação, a diferenciação e a
coordenação práxica global e essencialmente fina; a visão; a audição e o
funcionamento dos órgãos da linguagem articulada, etc.
4) Factores intelectuais
Estes factores incluem a capacidade global, as aptidões perceptivo e
psicomotoras, a discriminação auditiva e visual e os seus processos sequenciais e
simultâneos de tratamento de informação e as capacidade de raciocínio e de resolução
de problemas que traduzem o comportamento adaptativo da criança, onde se
associam os aspectos da comunicação verbal e da comunicação não verbal.
466
1 ) Acuidade
Frequência e decibéis;
Duração e velocidade do estímulo;
Transdução do siríal acústico em sinal auditivo.
2) PercepÇão
Discriminação de sons;
Discriminação fgura-fundo de sons;
Sequencialização de dados.
3) Descodificação
Análise; Síntese. 4) Reten ão
Extensão do estímulo;
Automatização;
Curto termo - longo termo.
5) Imagem
6) Interpretação e integração
Relação do estímulo auditivo com os outros estímulos (visuais, tácteis,
quinestésicos, etc. ) e sua associação interneurossensorial.
467
3) Percep ão
Fusão;
Posição no espaço; Relações de espaço;
Consistência da forma;
Figura-fundo.
4) Lateralidade ocular
Olho dominante e seu funcionamento com o olho auxiliar.
6) RetenÇão
Curto e longo termo;
Sequência;
Automatização.
7) Descodifica ão
Análise; Síntese.
8) Interpretação e integra ão
Relação do estímulo visual com os outros estímulos e sua associação
interneurossensorial.
- Visão;
- Audição;
- Tactiloquinestésica.
469
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
470
DISSECA ÃO DO CONCEITO DE DISLEXIA
Caracteristicas do comportamento
471
Caracteristicas do comportamento
472
473
I I III
CAPÍTULO 14
ALGUNS FUNDAMENTOS PSICONEUROLÓGICOS
E PSICOMOTORES DA DISLEXIA
475
476
A linguagem libertou-se das condições a partir das quais -ela se pode perceber
(input auditivo ou output tactiloquinestésico e oromotor do aparelho fonador), bem
como das condições de comportamento que a acompanham (Bruner 1974).
Para se ilustrar tal dependência recíproca da acção e da linguagem, ou seja, da
motricidade e da intencionalidade, o extremo-limite é o da linguagem escrita, que se
liberta espacial e temporalmente das condições motoras e sensoriais que permitem a
sua materialização. Na evolução da linguagem, depara-se-nos o facto de ela nascer
da acção (acção sequencializada, ou produção metódica sequencializada ou produção
metódica de sequências de marcas), para progressivamente se libertar e se tornar
independente das condições sensoriomotoras da sua utilização.
A condição de sequencializar, de seriar, de ordenar temporalmente as acções
é, para muitos autores (Luria 1966, 1969 e 1975, Das, Kirby e Jarman 1975), um
processo mental imprescindível à compreensão, à elaboração e à expressão da
linguagem.
A organização da linguagem, em termos psiconeurológicos, parece assim
subentender substractos neurológicos que estão por detrás da organização, das
praxias.
Piaget 1960, sobre esta questão, defme praxia como um sistema de
movimentos coordenados (sequencializados, dizemos nós) em função de um resultado
ou de uma intenção. É este o sentido da coordenação e da sequencialização, que
queremos realçar na sintaxe da acção como alicerce da linguagem humana. Piaget
1960 e 1973 vai mais longe, quando evoca que tais sistemas de movimentos não são
reflexos, nem automáticos, mas sim movimentos coordenados numa sequência
espaciotempora! intencional.
477
478
479
ltmbico
481
482
483
Sindroma de hemialexia
Descrito em primeiro lugar por Treseher e Ford 1973, o indivíduo afectado tinha
uma visão normal em ambos os campos do espaço, mas só compreendia a linguagem
escrita na metade direita e não na esquerda. Verificou-se, poste ormente, que existia
uma destruição numa porção particular do corpo caloso terminal posterior, isto é, o
splenium.
Quando uma palavra era apresentada só no campo visual esquerdo do paciente,
ela chegava ao córtex visual direito. No sentido de ser compreendida como linguagem,
a palavra devia ser transferida para o hemisfério esquerdo, mas tal transferência não
era possível devido à destruição do corpo caloso. O paciente lia normalmente no
campo visual direito. Como conciusão, podemos assegurar que o hemisfério esquerdo
é um substrato essencial para ler.
484
QUADRO VII
ia rior
Alexia literal
Ditado A Alexia total Alexia verbal
a severa g
Có ia Aa severa Sem aga
Pobre e dis ica Pobre Muito bre
Nomeação de letras Anonúa severa
Compreensão de Anomia severa Relativarr n a
palavras ditadas Algum sucesso
Ditado or l I êxito Rn
i /
Como conclusão, parece que alguma por ão do girus angular está claramente
relacionada com o processo de leitura.
Chiarello, Knight e Mandel 1982 descrevem-nos um caso de um paci ente
deficiente auditivo congénito que se tornou afásico depois de uma lesão no girus
angular esquerdo. Embora tendo descrito o caso como uma afasia de Wernicke,
Geschwind 1985 reconhece-o como uma alexia com agrafia, uma vez que o paciente
não podia ler (compreender) nem escrever (fazer os gestos manuais adequados) em
linguagem gestual. Tal suporta a ideia de que aprender a linguagem gestual é, de
certa forma, equivalente a aprender a ler.
486
Afasia de Wernicke
Afasia de Broca
A lesão envolve a porção inferior do lobo frontal, situada no plano anterior à
área da face do córtex motor. O paciente produz uma fala afásica, escreve mal e
repete palavras incorrectamente. Pode, no entanto, compreender bem a linguagem
falada (o input está intacto) e a linguagem escrita, muitas vezes com dificuldade em
nomear letras e em processar dados gramaticais, em termos quer de fala, quer de
escrita.
Daqui se conclui que a área de Broca está envolvida em pelo menos alguns
aspectos da leitura.
Com base nestas condições disfuncionais, os substractos neurológicos da
leitura parecem ser: o hemisfééo esquerdo e o direito, o corpo caloso, o girus angular,
a área de Wernicke e a área de Broca, todos eles trabalhando segundo uma
constelação sistémica e consubstanciando que, de facto, não há um ucentro de leitura
no cérebro.
O processo de leitura implica, consequentemente, a participação de
subprocessos visuais, auditivos e cognitivos como um sistema aberto, cuja inter-
relação filogenética e ontogenética com o material impresso forma um todo funcional e
uma constelação de trabalho espalhado pelo cérebro, como acabámos de ver com a
ajuda das lesões cerebrais que podem afectar a leitura no indivíduo que a tinha
integrado e apropriado.
O processo de leitura (existem quase tantos modelos quantos os investigadores)
possui obviamente várias propriedades e qualidades:
487
i I
488
Estfmulo
AVP
RGP - RAL - AG
DM
RS
RA I/ I CGF
CM AF
Resposta
489
INSUCESSO ESCOLAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
Por se saber que se recupera bem uma lesão unilateral na criança, tal não quer
dizer que quanto mais cedo ocorrer tal lesão, melhor será o prognós
490
I I
, ;y
Y ' . i 1 Sy
AUDIÇÃO \ AUDIÇÃO
__ :
. :r` ' i W,
çk r\ \ I
,: Planum
V F tem orale
Planum
temporale
. VOZ '
Figura 136 - Assimetrias anatómicas dos dois hemisférios cerebrais humanos, e sua
relação com os temtórios de Brodmann. (Sy = Fissura de Silvius; B = Área de Broca;
W = Áréa de Wernicke V = Aquisições visuoconstrutivas (lesões nesta área produzem
desordens visuoconstrutivas); F = Reconhecimento de faces (lesões nesta área
produzem prosopagnosia). O planum temporal da área associativa auditiva é
visivelmente maior à esquerda. A fissura de Silvius à direita é mais angularizada
diagonalmente do que à esquerda, que é, em si, mais horizontalizada. Tais
assimeú'ias têm algo a ver com o processo da leitura
491
cercam.
Os componentes da síndroma de Gerstmann, por exemglo, são
caraeterísticos. No adulto, esta síndroma resulta da lesão do girus angular esquerdo e
consiste em dificuldades no cálculo, na orientação esquerda-direita, na identificação e
no reconhecimento dos dedos e na escrita.
Os distúrbios na escrita dos disléxicos são universais, mas outras
características nem sempre surgem na dislexia, o que pode sugerir um padrão
492
493
494
495
- I:
psicomotores em crianças com dificuldades de aprendizagem na leitura (
disléxicas, ). Muitos estudos apontam nas crianças disléxicas as seguintes
características:
I
Efectivamente, os resultados de Duffy 1980 são consentâneos com as
concepções mais actuais da planificação do movimento voluntário introduzidas
496
por Eccles 1985, Allen e Tsukahara 1974, Brinkman e colaboradores 1979, 1983,
Kornhuber e colaboradores 1979, Roland e colaboradores 1980; e muitos outros.
Figura 137 - Esquema simplificado dos resultados dos estudos de EEG e dos
potenciais evocados em crianças disléxicas. As zonas indicadas no esquema
indicam as diferenças notáveis nas quatro regiões: uma zona média frontal
(área suplementar motora); uma pequena zona auterolateral frontal no hemisfério
esquerdo (área de Broca); uma zona temporal centcal situada à esquerda; uma grande
zona pós-lateral que se situa no hemisfério esquerdo, segundo Duffy
497
u v
Área cortical ' :, K 5 a e
superior da linguagem " " L5 c
(motora suplementar) = 5 Área cortical
... . :. r :: posterior da linguagem
)
(Wernicke
A ASM, descoberta por Penfteld 1959, quando estimulada, não permite obter
respostas localizadas como constam da área 4 do córtex motor, onde está
representando o homúnculo invertido Pelo contrário, segundo Eccles 1985, quando
se estimula a ASM observa-se padrões de movimento associados a sons incoerentes,
parecendo evocar engramas complexos que envolvem uma atenção e uma
concentração continua, algo que caracteriza as funções do lobo frontal (Luria 1965 e
Damásio 1979).
As experiências de Rolland com xenon radiactivo para medir a circulação
cerebral, relacionada com a precisão da actividade das células nervosas da
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dificuldades no plano da linguagem escrita. O que se passa então? Será que haverá
sistemas visuais transientes e completamente diferenciados quando os dados são
simbólicos ou não simbólicos?
Nafigura complexa de Rey, que aplicamos no nosso centro, temos observado
que as crianças disléxicas em idade primária (oito-10 anos) têm com frequência
dificuldades, quer na cópia, quer na memória, embora por vezes esta última surja
mais estruturada em configurações do que a primeira. Quase todos apresentam
dificuldades em reproduzir os detalhes internos e os elementos de articulação mútua e
raramente apresentam uma estratégia sequencializada de reprodu ão primeiro do
esqueleto da figura, (rectângulo, duas diagonais e duas perpendiculares), e
posteriormente dos detalhes externos e internos. A assistematização grafomotora é
frequentemente compatível com uma grande dificuldade em verbalizar
(antecipadamente ou posteriormente) a sequência grafomotora que a figura complexa
do autor suíço reclama.
De acordo com Denckla 1985, quer no Bender, quer no Rey, temos observado
uma preensão fina do lápis ou da caneta, quase sempre imprecisa e insegura; a tríade
não é estável, o indicador não coordena a estabilidade do polegar e do médio, e
quase sempre os feed-backs visuais foneais (fonea) não se operam, para já não falar
na quase ausência que as crianças disléxicas apresentam da melodia cinestésica.
Tremores, desincronizações, mioclonias, disquinésias e sincinésias, etc. emergem
nestas operações micromotoras com mais frequência.
A qualidade do traço, a implementação sequencializada, precisa e perfeita de
ângulos, alinhamentos, detalhes, pormenores, localizações, relações, orientações e
projecções de dados espaciais são nitidamente mais flutuantes, e sincronizadas,
descontroladas, impulsivas e desorganizadas. Na nossa experiência clínica, temos
detectado que a coordenação motora em termos de observação psicopedagógica não
tem muito a ver com a coordenação motora em jogos ou actividades de ar livre ou nas
actividades desponivas. Nos disléxicos, pelo menos, temos dado por essa distinção.
A micromotricidade, sistema mais complexo do que a macromotricidade, tem, talvez,
em termos de mecanismos cerebrais, outras exigências de controlo neurológico; daí a
necessidade de as discriminar em termos de observação, uma vez que, e isso é
indiscutível, a micromotricidade está mais relacionada com as apropriações léxicas.
Rolland 1984 vai ao ponto de diferenciar um campo frontal da visão (frontal eye field) e
Luria 1966 destaca a área 8 como adstrita à função de coordenação e
sequencialização dos movimentos dos olhos, durante a fixação da atençáo e durante a
manipulação de objectos (e naturalmente, na realização de desenhos) que exigem
controlo visual. Cenamente que estas áreas motoras bem delimitadas por fluxos
sanguíneos (Larsen er al. 1978 e Rolland e Friberg 1984) estão envolvidas e inter-
relacionadas com a área suplementar motora (ASM); por isso, é relevante o trabalho
de Duffy, que detectou, nos disléxicos, uma actividade eléctrica ilustrativa de uma
cena desorganização naquela região frontal.
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ser um factor de risco, uma vez que cria mais problemas à criança; daí a importância
da integração psicomotora na aprendizagem da leitura. O problema da lateralização
cruzada parece implicar competição de engramas e, portanto, problemas de
organização inter-hemisférica (Quirós e Schrager 1975 e 1978), pondo uanalisadores
motores e sistemas oculomotores em dessincronização nas zonas anteriores do
córtex (ASM). A dificuldade de processar informação parece advir da descoordenação
entre a actividade oculomotora controlada predominantemente pelo hemisfério direito,
e o controlo motor, predominantemente localizado no hemisfério esquerdo.
Estudos de análise de computador de EEG (Sklar, Hanley e Simmon's 1973 e
Leisman e colaboradores 1980) aplicados em crianças disléxicas mostraram menor
coerência funcional inter- hemisférica, algo que vem dar, mais uma vez, reforço à
deficiente cooperação inter-hemisférica que ilustra o atraso neurológico nalgumas
crianças disléxicas.
A organização progressiva do cérebro, como órgão de aprendizagem e como
órgão de comunicação, coloca a importância da especialização hemisférica na
evolução da espécie humana.
Sem esta especialização, o ser humano não se teria desenvolvido e organizado
em termos simbólicos, e a criança não atingiria a capacidade da leitura fluente. Uma
vez mais, o cérebro tem de organizar primeiro as sensações e os movimentos, antes
de organizar os símbolos; por isso, o hemisfério esquerdo, para funcionar bem, tem
de inibir o hemisfério direito, integrando as suas funções noutras de maior
complexidade, como são as requeridas pela aprendizagem da leitura.
Hécaen e Ajuriaguerra 1964, Dimond 1973, Kimura 1961, Benton 1979 e
Speny 1969 demonstraram que a perfeita organização do cérebro implica uma
coordenação inter-hemisférica, e essa coordenação inter-hemisférica é vital à
aprendizagem da leitura.
Quirós e Schaager 1975 levantam a ideia de que a especialização hemisférica
se desenvolve até ao ponto de o hemisfério direito ser responsável pela integração
postural e motora (não verbal e não simbólica), libertando o hemisfério esquerdo para
assumir outras funções, nomeadamente as funções verbais e simbólicas nas quais se
inclui, necessariamente, a aprendizagem da leitura. A intercomunicação e a
cooperação dos dois hemisférios coloca em actividade o sistema do corpo caloso,
substrato essencial à leitura, como vimos atrás. A transmissão posta em prática pelo
corpo caloso (calosal transmission) é o ponto de partida para a criança ascender às
funções superiores de aprendizagem. O acesso à complexidade cognitiva impõe uma
clareza e não uma confusão na relação entre os dois hemisférios, uma vez que
também aqui se aplicam os princípios de organização do cérebro: o da reduplicação e
o da dominância hierárquica. O hemisfério esquerdo reduplica, representa o
hemisfério direito, e por isso submete-o à sua função superior. Quando estes
princípios forem postos em causa, no exemplos de crianças ambidextras ou com
lateralidade cruzada, é possível que
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i 1
CAPÍTlILO 1 S
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
VERSUS INSUCESSO ESCOLAR
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De uma vez para sempre, a escola tem de compreender e reconhecer que 15%
das crianças não podem aprender pelos métodos tradicionais. Não nos parece justo
que cerca de 15% das crianças sejam marginalizadas porque não aprendem pelo
método, ou ao ritmo, imposto pelos professores ou pelos currícuios. Quantas crianças
consideradas maus alunos>> e urepetentes em Portugal, mas com potenciais
intelectuais adequados, se perderam e se conúnuarão a perder?
O insucesso escolar é a explicação de uma sociedade iletrada. A percentagem
do analfabetismo funcional é problemáúca e ameaçadora. O número de analfabetos
que chegam ao serviço militar já foi alguma vez apurado? A que tipo de
desenvolvimento económico podemos aspirar com tão elevada percentagem de
indivíduos que não sabem ler nem escrever?
Que fazer?
Não pretendendo avançar com soluções definiúvas, parece-me que teremos de
começar pela formação universitária dos professores pri nááos. Quem tem medo de
professores primários cultos, dinâmicos e insatisfeitos com a realidade cultural
ponuguesa?
É evidente que tal formação não pode continuar nas mãos de uma universidade
passiva e conformista, centrada em professores desactualizados normalmente sem
experiência pedagógica concreta e profunda com crianças. Na formação, os
processos magistrais devem dar lugar a experiências de campo e a uma maior
interacção entre os vários intervenientes do processo, bem como dar acesso à
utilização de meios audiovisuais e de materiais pedagógicos adequados. Também
aqui, a formação científica interdisciplinar deve ocupar um lugar prioritário. O
professor não pode continuar a desconhecer que a aprendizagem da criança se opera
no seu sistema nervoso, segundo conexões interiorizadas de estímulos e de respostas
envolvidas numa dialéctica e numa socialização progressivas.
Será que, por paternalismo, não vemos estes problemas? Se a toda a hora se
põe em causa a formação universitária de médicos, engenheiros e advogados, porque
não pôr em causa a dos professores? Temos de reconhecer que muitas crianças
faiham porque têm medo e se encontram confundidas. Têm medo de falhar ou de
desapontar os mais velhos, muitas vezes com expectativas utópicas e ultra-
ambiciosas. Estão confundidas, porque aquilo que lhes pedem na escola não as
motiva nem lhes permite desenvolver a sua inteligência e os seus talentos.
O insucesso escolar é corolário de muitos problemas que têm por denominador
comum a não-satisfação das necessidades reais da criança.
A aprendizagem é, por natureza, uma situação que desestabiliza
emocionalmente as crianças. Se o professor não tiver em conta este aspecto, é
evidente que as situações escolares serão vividas numa tensão tal que jamais
proporcionarão as reláções interiorizadas (recepúvas, integraúvas e expressivas)
características do processo da aprendizagem humana.
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I 514
Nenhuma criança gosta que lhe chamem estúpida (assim como nenhum adulto
gosta que lhe chamem incompetente"). A escola não pode continuar a insultar
potencialidades e tendências. A criança deve experimentar o erro sem interiorizar o
sentimento de incompetência que está implícito no poder coercivo de uma
aprendizagem repressiva.
A escola tem de ter novos professores, novos materiais, novas metodologias,
para ter no futuro novos cidadãos aptos a construir uma sociedade mais justa, culta e
humanizada.
O insucesso escolar não se compadece nem com análises sociopedagogizantes
nem biopsicologizantes. O professor não pode continuar a ignorar factores
neurobiológicos e psicoemocionais do desenvolvimento da criança. Dominar métodos
sem saber o que se passa, de facto, no cérebro da criança, não é suficiente. A
prática por si só não é aprendizagem. A aprendizagem é significativa, e esse privilégio
dá-se no sistema nervoso central da criança.
É nesta aspiração científica e transformacional que podemos entender o
combate ao insucesso escolar. O professor deve, ele próprio, desenvolver meios de
identiflcação, observação e avaliação pedagógica, ao mesmo tempo que tem de
lançar mão a um grande repertório de materiais e de métodos de aprendizagem. Um
só método, um só processo de aprendizagem não bastam: há que contar com os
estilos de aprendizagem que variam de criança para criança.
O nosso ponto de vista é que a criança normal não nasce com dificuldades
escolares - ela é transformada numa criança com problemas. A sociedade, a famflia e
a escola têm, em primeiro lugar, responsabilidade no processo.
O insucesso escolar da criança é, antes do mais, um insucesso social. A
transformação desta realidade não pode dar- se na criança. Cabe ao adulto resolver
os problemas, quer nos aspectos politicoeducacionais, quer nos aspectos
cientificopedagógicos. Só considerando estes aspectos numa visão dialéctica se
poderá no futuro reduzir o número assustador de crianças que tendem para o
insucesso na vida.
Não vale a pena constatar o insucesso escolar e sublinhar o conformismo que
lhe é inerente. E preciso partir para planos preventivos e profilácticos.
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: IE
, .
;a a a,
s :
IE a
..r '
3) O IE é uma subcategoria das DA. (Todas as crianças com IE t m DA, mas nem
todas as crianças com DA têm IE. )
4) As DA são uma subcategoria do IE. (Todas as crianças com DA têm IE, mas
nem todas as crianças com IE são crianças com DA. )
IE
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I
I
caPírcrto 16
(IN)CONCLUSÕES
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(Feuerstein 1985); por outro lado, sabe-se hoje que quanto pior é a história
i social, melhor é o prognóstico para a mudança (Clark e Clark 1976).
i Com Feuerstein 1975, consideramos o organismo humano um sistema
aberto e a inteligência" um processo auto-regulado, e não fixo ou imutável.
A abordagem sociologicopsiquiátrica, embora de inestimável importância,
Í é, por vezes, encantatória. Encantatória, na medida em que assume que as
I DA são mais um reflexo de problemas emocionais e pessoais; de problemas
t familiares; de problemas de classe social; da pobreza; da discriminação
Í cultural; da privação linguística, etc. É conveniente equacionar que, inde
pendentemente das condições envolvimentais serem adversas para muitas
crianças, principalmente as mais desfavorecidas, há ainda factores inerentes
à sua estrutura cognitiva e ao próprio sistema educacional que não só cau sam
muitos problemas de aprendizagem, como acentuam e complicam os
problemas que as crianças já trazem para a escola.
Independentemente das extraordinárias contribuições da psicanálise, do
behaviorismo" e da psicometria, não restam dúvidas de que estas correntes
pouca importância deram, em termos de aprendizagem, ao maior atributo
humano, isto é, a capacidade para pensar, ou seja, a cognição.
A cogni ão, é quanto a nós, o ponto fulcral da aprendizagem, não obs tante
aquelas correntes de pensamento não terem aprofundado os seus estudo
e desenvolvimento.
A psicanálise mantém-se no plano de considerar que o comportamento,
e como tal a aprendizagem, são largamente dependentes de factores não inte
lectuais (inconscientes e emocionais) que determinam a cognição. A sua
influência, determinante no âmbito da educação pré-primária e primária, pôs
acento tónico nos factores emocionais e na sua modificabilidade, à custa,
quanto a nós, do esvaziamento e da irrelevância dos factores cognitivos, não
reconhecendo aqui, inexplicavelmente, a sua modificabilidade. Em vez de
estabelecer um balanço, a psicanálise não reconheceu que as dificuldades
cognitivas e emocionais podem produzir problemas concomitantes em cada
uma delas.
0 behaviorismo", emergindo como reacção anti-introspectiva à psica; nálise,
acabou por cair nos princípios da associação, com estímulos e respostas
observáveis vistos como únicas fontes de informação. Também aqui se impe
diu o avanço das estruturas cognitivas, equacionadas como ficções científicas
inacessíveis, como assegura de novo Feuerstein 1975. Foi possível, então,
atingir a aprendizagem programada, as máquinas de ensino, etc. , mas inexi
plicavelmente pouca atenção se deu às operações cognitivas.
Por último, a psicometria levou a ver a criança na base de testes, pondo
enfoque e ênfase na predicção aritmética. Independentemente dos inegáveis
( avanços estatísticos, o QI foi criado para medir a inteligência, considerando[
-a estável e constante, o que é quanto a nós, demasiado restritivo e limita tivo,
na medida em que se trata de uma faculdade humana intrinsecamente
modificável.
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(IN)CONCLUSÕES
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(IN)CONCLUSÕES
lhes deparam. Assim como o médico se põe ao lado do paciente para vencer a
doença, o professor e a professora deviam colocar-se ao lado do estudante (cliente)
para superar a sua DA.
Os que falham na escola tendem a ser isolados na sociedade. Atrás do
insucesso encobrem-se angústias, frus ç s, mentos, etc. A escola e os seus
professores devem, portanto, ansformar-se pedagogicamente e humanamente até ao
ponto de pernútirem às crianças a identificação com os valores culturais e com os
valores humanos que lhes são inequivocamente inerentes.
Nenhuma escola e nenhum professor se pode justificar quando fazem
lembrar a qualquer criança que ela é uma falhada. A razão da escola justifica-se pela
transformação das crianças em seres humanos autónomos, independentes e
pensadores, ou seja, capazes de iniciarem, elaborarem e pragmatizarem ideias.
A escola precisa de trabalhar cada vez mais no sucesso da aprendizagem,
qualquer que seja o potencial da criança. Quando alguma criança aprende, ela jamais
está isolada; ao contrário, ganha reconhecimento social, maturidade, respeito, amor
e identidade positiva. A escola do sucesso é sempre bem sucedida, ao contrário da
escola do insucesso, onde não é possível o desenvolvimento da responsabilidade
social e da autovalorização. É óbvio que ninguém pode aprender responsabilidade
social ou pensar, quando falha, dado que não possui a autoconfiança necessária para
superar as situações pelas exigências escolares. Independentemente de pais,
professores, políticos, administrativos e especialistas acreditarem firmemente no que
é melhor para as crianças, o problema do insucesso escolar e das DA prolifera.
As profecias consubstanciadas criam expectativas que se reflectem no
aproveitamento escolar das crianças, motivo por si justifcativo da mudança do sistema
educacional. Não é possível continuar a solucionar as questões do insucesso escoiar e
das DA com classes especiais, classes de apoio, classes de repetentes ou classes
homogéneas. À esc la cabe a responsabilidade de impedir o insucesso escolar,
sinónimo de insucesso social, eliminando a filosofia da separação e da segregação
das crianças que falham, impedindo-as de interagir com as crianças que sucedem e
privando-as de oportunidades de socialização, numa palavra, subtiimente
excluindo=as. Sem sucesso académico os problemas de comportamento não se
superam. nem mesmo com i ntervenções psiquiátricas directas. A mudança do
sistema educacional deve operar-se o mais p cocemente possível.
A mudança não pode continua a ser vista como ameaça. O seu efeito é
necessário para dar respostas adaptadas às novas exigências escolares e sociais. A
política de educação deve incentivar a mudança e não ó conservadorismo. Os
professores não podem continuar a resistir à mudança porque receiam que o seu
trabalho se torne mais difícil. A sua função social deve ser reconceptualizada, ná
medida em que não podem mudar o sistema se continuarem inseguros e ameaçados
por aqueles que sugerem mudanças básicas nos métodos de ensino, nos conteúdos
cumculares ou nos processos de formação
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(IN)CONCLUSÕES
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(IN)CONCLUSl SES
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(IN)CDNCLUSÕES
vez de esperar que a criança ultrapasse o nível de exigência das tarefas educacionais,
seria preferível que o nível de dificuldade fosse simplificado ou subdividido em
componentes altamente motivadoras e susceptíveis de serem resolvidas, por
aproximações sucessivas, através das competências inerentes às crianças em
dificuldade.
Baseando o programa em processos que promovam o êxito e de sucesso em
sucesso, as crianças com DA poderiam ter outras experiências pedagógicas bem mais
gratificantes.
É necessário encontrar o método que permite à criança aprender. É o método
que se adapta à criança e não o contrário.
Utilizar planos detalhados e espeeíficos; prever altemativas; seleccionar
materiais; trabalhar com objectivos; escrever objectivos em termos operacionais;
verificar se estão a ser ou não alcançados; acompanhar permanentemente a evolução
da criança com processos de registo intra e interindividuais; aplicar reforços positivos;
sistematizar a aprendizagem com base numa sequência hierarquizada; generalizar e
transferir as aquisições já aprendidas para novas situações; procurar e criar materiais e
recursos que se ajustem às necessidades das crianças; encorajar e entusiasmar a
conduta das crianças; etc. , devem ser outras tantas características da mudança a
imprimir.
Para aprender a ler e a escrever, certamente as aquisições mais importantes no
sucesso escolar, a criança necessita de um grande repertório de aquisições.
Enquanto estas aquisições não fizerem parte do repertório de cada criança à entrada
da escola primária, muito diflcilmente ela poderá aprender a ler ou a escrever; daí a
urgência de medidas de organização educacional.
Em termos esquemáticos, podemos destacar as aquisições essenciais à
aprendizagem simbólica. (Figura 141. )
Para implementar algumas destas medidas num sistema educacional
centralizador, tornar-se-ia necessário organizar, a nível regional (udistrito escolar"),
um modelo dinâmico de intervenção compatível com as necessidades locais, evitando
as colocações e os encaminhamentos ineficazes.
De uma forma esquemática, vejamos algumas das medidas a equacionar. O
recrutamento de professores para acções de identificação e avaliação teria de ser
coordenado com processos de formação devidamente planificados na base de créditos
académicos. A criação de facilidades de sistemas de informação e de recursos, etc. ,
teria de ser igualmente perspectivada, dado que as crianças não poderiam beneficiar
dos meios proporcionados pelas classes normais.
Os madelos de identificação, por mais simplificados que fossem, deveriam ser
experimentados durante a formação, permitindo treinar professores na detecção de
problemas de aprendizagem e de comportamento, de sinais de distractibilidade, de
problemas perceptivomotores, de problemas conceptuais e de sinais de instabilidade
emocional.
Os programas a adoptar deveriam cobrir as classes de apoio e as classes
especiais, abrangendo alternativas de integração. A relação professor-aluno,
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nos casos das crianças com DA, deveriam ser de mais ou menos 12 crian ças
por professor, pois só assim a individualização e a qualidade do ensino se poderiam
materializar.
A cobertura da intervenção no campo das DA não se poderia circuns
crever apenas ao ensino primário - haveria que equacionar intervenções no ambito do
ensino pré-primário e no ensino secundário dando prioridade às estruturas já formadas,
minimizando problemas familiares e resolvendo problemas de transporte.
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(IN)CONCLUSÕES
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que nível educacional elas funcionam. A partir daí, construir um curriculo, planificar as
sessões, reforçar as respostas desejáveis e reavaliar a eficácia do programa
educacional individualizado: tais são, em nosso entender, as armas pedagógicas do
futuro, para combater o insucesso escolar e as DA.
Noutros volumes, que temos intenção de escrever, se efectivamente tal
satisfizer os leitores interessados, procuraremos dar exemplos de modelos de
identificação, observação e intervenção no campo das DA, e ao mesmo tempo
fornecer alguns resultados sobre as nossas investigações, para além de ilustrações de
casos de dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia e respectivas estratégias
educacionais.
Eis pois, em (in)conclusão, o nosso pequeno contributo para o estudo das DA.
Concentrámo-nos no estudo dos factores e das condições em que se desenrola
a aprendizagem normal e atípica, procurando sempre uma análise interdisciplinar,
aberta e sistémica.
Concluímos uinconclusivamente" esta abordagem com uma série de sugestões
que temos intenção de aprofundar noutros trabalhos. Em resumo, procurámos
caracterizar o campo das DA, apresentámos processos de controlo dessa realidade
complexa e sugerimos processos de transformação, sempre com a ideia de que é
possível ultrapassar o insucesso escolar e as DA e, ao mesmo tempo, salvaguardar o
potencial de todas as crianças e todos os jovens que temos a responsabilidade de
educar cada vez melhor.
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SIGLAS E ACRÓNIMOS
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Fim