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Daniel Aarão Reis Filho, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto Sá Motta (orgs.).

A
ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe de 1964. Rio de Janeiro: Zahar,
2014.

O aparato repressivo: da arquitetura ao desmantelamento – Mariana Joffily


Antes do golpe de 1964 já existia um aparato repressor no Brasil, que seria
considerado insuficiente pelos militares e ampliado no contexto da ditadura. Havia a
Polícia Civil desde os anos 1950, violenta, habituada a torturar prisioneiros, que
fornecia os componentes para os esquadrões da morte. O novo regime também poderia
apoiar-se nos Departamentos de Ordem Política e Social (Dops), criados entre os anos
1920-30, subordinados às Secretaria de Segurança Pública dos Estados. No contexto do
Estado Novo e da Guerra Fria, os efetivos do Dops foram aumentados. Dentro das
Forças Armadas, o único órgão era o Serviço de Informações da Marinha, fundado em
1955, que foi reformulado como Cenimar em 1957. Todas estas instituições foram
consideradas insuficientes pelos militares, que criaram novos órgãos cujo raio de
atuação extrapolava o âmbito estadual. (p. 158-159)
Uma das primeiras preocupações do novo regime foi criar um órgão que
reunisse as informações de indivíduos e organizações potencialmente perigosos – o SNI
foi criado em junho de 64 por Castello Branco e dirigido pelo general Golbery do Couto
e Silva. A partir de julho de 67, passou a contar com as informações recolhidas pela
DSIs, ligadas aos ministérios civis, e pelas ASIs, que atuavam nas universidades e
empresas estatais. Somava-se o Ciex, encarregado da função de monitoras as atividades
políticas de brasileiros do exterior e de estrangeiros dentro do país, a partir de 66. (p.
159-60)
“À coleta e ao armazenamento de informações sempre foi atribuída grande
importância na esfera das tomadas de decisão governamentais. Nos anos 1960, porém,
houve uma multiplicação dos esforços nesse sentido, derivada da centralidade que a a
guerra contrarrevolucionária assumiu na legitimação do novo regime.” (p. 160) Dois
aspectos são fundamentais, segundo a autora: as independências na África e Ásia e a
Guerra Fria.
1967 – Centro de Informações do Exército
1968 – Centro de Informações da Aeronáutica, em 1970 Cisa
2º Companhia da Polícia de Exército – Operação Bandeirante em 1969
Para a autora, de toda a estrutura repressiva pode-se depreender algumas
características do sistema repressivo da ditadura militar (p. 163):
- Militarização: membros do exército ocupavam vários cargos ligados à segurança
pública e área de informações
- Especialização na montagem de um sistema coercitivo voltado principalmente ao
combate do crime político
- Centralização das operações repressivas em órgãos criados para esse fim ->
importância do crime política para a ditadura
Além destes órgãos, o sistema dispunha de toda a estrutura das Forças Armadas
e das polícias, bem como de uma vasta rede de instituições complementadores,
cúmplices do que se fazia nos órgãos repressivos, como institutos médico-legais,
hospitais, auditorias de Justiça, cemitérios etc. (p. 163-164)
Em seguida, a autora analisa os métodos empregados pelas forças da repressão e
a extensão territorial da repressão política, concluindo que houve diferenças regionais
significativas e uma concentração da violência registrada nos estados do RJ e de SP. (p.
165-168)
“Conquanto a repressão política tenha sido no mais das vezes eficaz, houve
discordâncias e conflitos em sua implementação. Ao mesmo tempo que membros das
distintas forças militares e policiais conviviam nos DOI-Codis, os diferentes códigos de
conduta produziam desconfiança mútua entre civis e militares. Idealmente, a divisão de
tarefas entre os DOI-Codis e os Dops consistia na detenção e interrogatório pelo
primeiro e oficialização da prisão, até então clandestina, e abertura de um inquérito,
pelo segundo.” (p. 168)

“Incidentes relacionados à quebra de hierarquia e aos métodos de atuação dos


órgãos repressivos também criaram atritos entre as forças militares e policiais que não
estavam envolvidas no combate à repressão e os membros da comunidade de
informação. Em determinados contextos, os assuntos relacionados à perseguição
política tiveram primazia sobre outros, de modo que as informações não seguiam
necessariamente o devido fluxo hierárquico. E nem sempre a cadeia de comando era
respeitada, pois os membros do sistema de informações e segurança gozavam de um
regime, em vários aspectos, especial.” (p. 169)

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