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ANÁLISE REAL

AULA 5 – LIMITES DE FUNÇÕES PROF. TEÓFILO VITURINO

Aula 5 – Limites de Funções

Objetivos
Definir formalmente o limite de uma função em um ponto, limites laterais, limites no
infinito e limites infinitos, bem como estudar os principais resultados e propriedades.
Compreender o conceito de continuidade de uma função.

Assuntos
▪ Limites de Funções.
▫ Definição informal.
▫ Definição Formal.
▫ Representação Geométrica.
▫ Principais Teoremas e Propriedades.
▪ Limites Laterais.
▪ Limites no Infinito.
▪ Limites Infinitos.
▪ Expressões Indeterminadas.
▪ Continuidade de Funções
▫ Continuidade em um Ponto.
▫ Continuidade em todo o Domínio.

Introdução
O conceito de limite de funções é uma parte muito importante dos fundamentos da
Análise Real e não compreendê-lo totalmente pode gerar muitas dificuldades na hora
de tentar dar sentido a conceitos como continuidade e derivadas de funções. Muitos
matemáticos trabalharam com tais limites em diferentes épocas, com diferentes
abordagens e muitas vezes com obstáculos que levaram muito tempo para serem
superados. Apesar do conceito de limite ser bem antigo, a sua definição formal é bem
recente. Ela foi elaborada no século XIX pelo matemático alemão Karl Weierstrass
(1815-1897).
Aulixiados pela definição de limite iremos explorar as possíveis respostas para a
seguinte questão: Dada uma função real 𝑓 o que acontece com o valor de 𝑓(𝑥) quando
𝑥 se aproxima de um ponto 𝑎 sem, entretanto assumir o valor de 𝑎?

Definições
Consideremos uma função 𝑓: 𝑋 → ℝ, definida em um conjunto 𝑋 ⊂ ℝ (isto é, o
subconjunto real 𝑋 é o domínio de 𝑓). Nosso interesse é saber o que acontece com 𝑓(𝑥)
quando 𝑥 se aproxima de 𝑎 ∈ 𝑋, para cada 𝑥 ∈ 𝑋. Para que 𝑥 aproxime-se de 𝑎, uma
condição necessária é que 𝑎 tem que ser um ponto de acumulação do conjunto 𝑋. Esta
condição significa que 𝑎 ∈ ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑋 − {𝑎} (este é o conjunto complementar de 𝑋 em relação a
𝑎), ou seja, que existe uma sequência (𝑥𝑛 )𝑛∈ℕ ⊂ 𝑋 − {𝑎}, que converge para 𝑎. Com
base nessas ideias, podemos enunciar uma definição preliminar de limite de uma
função:

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Definição 1: Limite de uma função (Informal)


Seja 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 um ponto de acumulação de 𝑋. Dizemos que o limite de 𝑓(𝑥), quando
𝑥 se aproxima de 𝑎, é igual a 𝐿, se for possível tornar os valores de 𝑓(𝑥) tão próximos
de 𝐿 quanto se queira, considerando 𝑥 suficientemente próximo de 𝑎 (𝑥 aproxima-se de
𝑎 tanto à esquerda quanto à direita, mas nunca assume o valor de 𝑎), e escrevemos:

lim 𝑓(𝑥) = 𝐿.
𝑥→𝑎

De modo mais formal, podemos reescrever a Definição 1, como se segue:

Definição 2: Limite de uma função (Formal)


Sejam 𝑋 ⊂ ℝ, 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 um ponto de acumulação de 𝑋. Dizemos que o número real
𝐿 é o limite de 𝑓(𝑥) quando 𝑥 tende para 𝑎, e escrevemos lim 𝑓(𝑥) = 𝐿, quando, para
𝑥→𝑎
todo 𝜖 > 0 dado arbitrariamente, obtemos 𝛿 > 0 tal que se tem |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖 sempre
que
𝑥 ∈ 𝑋 e 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿. Simbolicamente,

lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 . ≡ . ∀𝜖 > 0 ∃𝛿 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹ |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖.


𝑥→𝑎

Geometricamente teríamos o seguinte:

Figura 1: Representação geométrica do limite de uma função

Observações:

1. A restrição 0 < |𝑥 − 𝑎| significa que a distância entre 𝑥 e 𝑎 é um valor maior que


zero. Assim 𝑥 ≠ 𝑎 e, portanto, a variável 𝑥 não assume o valor de 𝑎.

2. Quando se quer determinar o valor de 𝐿, o valor de 𝑓(𝑎) não importa. O que


importa é o comportamento de 𝑓(𝑥) quando 𝑥 se aproxima de 𝑎, com 𝑥 ≠ 𝑎.

3. Na Figura 1, o intervalo (𝑎 − 𝛿, 𝑎 + 𝛿) significa que |𝑥 − 𝑎| < 𝛿, isto é, que 𝑎 −


𝛿 < 𝑥 < 𝑎 + 𝛿, ou seja, que 𝑥 ∈ (𝑎 − 𝛿, 𝑎 + 𝛿). Assim, quanto menor for o valor
de 𝛿, mais perto 𝑥 vai estar de 𝑎.

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4. O mesmo ocorre em (𝐿 − 𝜖, 𝐿 + 𝜖). Esse intervalo aberto indica que |𝑓(𝑥) − 𝐿| <
𝜖, isto é, 𝐿 − 𝜖 < 𝑓(𝑥) < 𝐿 + 𝜖. Assim, podemos observar que 𝑓(𝑥) ∈ (𝐿 − 𝜖, 𝐿 +
𝜖). Portanto, quanto menor for o valor de 𝜖, mais perto 𝑓(𝑥) vai estar de 𝐿.

5. Lembrar que 𝑋′ é o conjunto dos pontos de acumulação de 𝑋.

Teorema 1
Considere 𝑓: 𝑋 → ℝ, 𝑔: 𝑋 → ℝ, 𝑎 ∈ 𝑋 ′ , lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 e lim 𝑔(𝑥) = 𝑀. Se 𝐿 < 𝑀, então
𝑥→𝑎 𝑥→𝑎
existe 𝛿 > 0 tal que 𝑓(𝑥) < 𝑔(𝑥) ∀𝑥 ∈ 𝑋, com 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿.

A ideia subjacente ao Teorema 1 refere-se ao fato de que, se os limites quando 𝑥 tende


para 𝑎 por duas funções definidas nos mesmos conjuntos, obedecerem a uma ordem
(neste caso, 𝐿 < 𝑀), então todas as imagens de valores próximos de 𝑎, obedecem à
mesma ordem (𝑓(𝑥) < 𝑔(𝑥)). Um esboço gráfico pode ser visto na Figura 2, a seguir:

Figura 2: Esboço gráfico das condições do Teorema 1

Demonstração:
(𝐿+𝑀)
Considere 𝑁 o valor médio entre 𝐿 e 𝑀, ou seja, 𝑁 = . Seja 𝜖 a distância entre 𝑁 e
2
𝐿, e entre 𝑁 e 𝑀, dada por 𝜖 = 𝑁 − 𝐿 = 𝑀 − 𝑁. Pela Definição 2 de limite, podemos
afirmar que existe 𝛿1 > 0, tal que 𝑥 ∈ 𝑋 e 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿1 ⇒ 𝐿 − 𝜖 < 𝑓(𝑥) < 𝑁. Do
mesmo modo, existe 𝛿2 > 0, tal que 𝑥 ∈ 𝑋 e 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿2 ⇒ 𝑁 < 𝑔(𝑥) < 𝑀 + 𝜖.
Portanto, se escolhermos 𝛿 = min{𝛿1 , 𝛿2 }, concluímos que 𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹
𝑓(𝑥) < 𝑁 < 𝑔(𝑥), o que garante que 𝑓(𝑥) < 𝑔(𝑥), como queríamos demonstrar. ∎

Observação:

6. A escolha de 𝛿 = 𝑚𝑖𝑛{𝛿1 , 𝛿2 }, que é o menor valor entre 𝛿1 e 𝛿2 , garante que,


nessas condições, as imagens 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) estão situadas no mesmo intervalo.

Teorema 2: (Teorema do sanduíche)


Sejam as funções 𝑓: 𝑋 → ℝ, 𝑔: 𝑋 → ℝ e ℎ: 𝑋 → ℝ, 𝑎 ∈ 𝑋′ e ainda lim 𝑓(𝑥) =
𝑥→𝑎
lim 𝑔(𝑥) = 𝐿 . Se 𝑓(𝑥) ≤ ℎ(𝑥) ≤ 𝑔(𝑥), para todo 𝑋 − {𝑎}, então lim ℎ(𝑥) = 𝐿.
𝑥→𝑎 𝑥→𝑎

Este teorema refere-se a três funções 𝑓, 𝑔 e ℎ definidas em um mesmo conjunto, em


que as imagens 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) encontram-se ordenadas, como no Teorema 1. O nome
sanduíche é popularmente utilizado por que, nas condições do enunciado, 𝐿 é o limite
das funções 𝑓 e 𝑔, e, como ℎ(𝑥) está situada entre 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) (o que “caracteriza” o
sanduíche), o resultado enunciado é que o limite da função ℎ também é igual a 𝐿. Esse
teorema também é conhecido como Teorema do Confronto.

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Demonstração:
Queremos mostrar que lim ℎ(𝑥) = 𝐿. Como existe lim 𝑓(𝑥) = lim 𝑔(𝑥) = 𝐿, da
𝑥→𝑎 𝑥→𝑎 𝑥→𝑎
definição de limite temos que, dado 𝜖 > 0 qualquer:

i) existe 𝛿1 > 0 tal que 𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿1 ⇒ |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖, e ainda

ii) existe 𝛿2 > 0 tal que 𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿2 ⇒ |𝑔(𝑥) − 𝐿| < 𝜖.

Podemos argumentar que, em ambos os casos, as imagens 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) tendem para 𝐿
quanto menor for o valor de 𝜖. Seja então 𝛿 = 𝑚𝑖𝑛{𝛿1 , 𝛿2 }. Assim, temos que

𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹ 𝐿 − 𝜖 < 𝑓(𝑥) < 𝐿 + 𝜖,

e que 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹ 𝐿 − 𝜖 < 𝑔(𝑥) < 𝐿 + 𝜖, (Ver observação 4), isto é,

𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹ 𝐿 − 𝜖 < 𝑓(𝑥) ≤ 𝑔(𝑥) < 𝐿 + 𝜖.

Como 𝑓(𝑥) ≤ ℎ(𝑥) ≤ 𝑔(𝑥), por hipótese, podemos afirmar que

𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹ 𝐿 − 𝜖 < 𝑓(𝑥) ≤ ℎ(𝑥) ≤ 𝑔(𝑥) < 𝐿 + 𝜖,

e assim lim ℎ(𝑥) = 𝐿, como queríamos demonstrar. ∎


𝑥→𝑎

Teorema 3
Sejam 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 ∈ 𝑋′. Para que se tenha lim 𝑓(𝑥) = 𝐿, é necessário e suficiente que,
𝑥→𝑎
para toda sequência de pontos 𝑥𝑛 ∈ 𝑋 − {𝑎}, tal que lim 𝑥𝑛 = 𝑎, tenha-se lim 𝑓(𝑥𝑛 ) = 𝐿.
𝑛→∞ 𝑛→∞

Como consequência do Teorema 3, é possível enunciar os seguintes resultados:

Teorema 4 (Unicidade do limite)


Sejam 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 ∈ 𝑋′. Se lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 e lim 𝑔(𝑥) = 𝑀, então 𝐿 = 𝑀.
𝑥→𝑎 𝑥→𝑎

Demonstração:
Como 𝑎 é ponto de acumulação de 𝑋, podemos considerar uma sequência de pontos
𝑥𝑛 ∈ 𝑋 − {𝑎}, tal que lim 𝑥𝑛 = 𝑎. Então, temos que lim 𝑓(𝑥𝑛 ) = 𝐿 e lim 𝑔(𝑥) = 𝑀.
𝑛→∞ 𝑛→∞ 𝑥→𝑎
Sabemos (Ver capítulo 2) que o limite de uma sequência, quando ele existe, é único,
portanto, podemos concluir, pela unicidade do limite da sequência (𝑓(𝑥𝑛 )), que 𝐿 = 𝑀.

Teorema 5: (Operações com limites)


Sejam 𝑓, 𝑔: 𝑋 → ℝ, 𝑎 ∈ 𝑋′, lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 e lim 𝑔(𝑥) = 𝑀. Então:
𝑥→𝑎 𝑥→𝑎

i) lim[𝑓(𝑥) ± 𝑔(𝑥)] = 𝐿 ± 𝑀;
𝑥→𝑎

ii) lim[𝑘. 𝑓(𝑥)] = 𝑘. 𝐿, sendo 𝑘 uma constante;


𝑥→𝑎

iii) lim[𝑓(𝑥). 𝑔(𝑥)] = 𝐿. 𝑀 ;


𝑥→𝑎

𝑓(𝑥) 𝐿
iv) lim 𝑔(𝑥) = 𝑀.
𝑥→𝑎

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É um bom exercício tentar fazer a demonstração dos itens desse teorema.

Limites Laterais

Estabeleceremos inicialmente algumas definições preliminares. Para as definições


anteriores, de limite de uma função, necessitávamos que 𝑎 fosse ponto de acumulação
de 𝑋, isto é 𝑎 ∈ 𝑋′. No caso de limites laterais, consideraremos que 𝑎 seja um ponto de
acumulação lateral, ou seja, um ponto de acumulação tomado à direita ou à esquerda
de 𝑋 ⊂ ℝ , que definiremos a seguir:

Definição 3: Pontos de acumulação lateral


Seja 𝑋 ⊂ ℝ. Um ponto 𝑎 ∈ ℝ é chamado de ponto de acumulação à direita de 𝑋 ⊂ ℝ
(𝑎 ∈ 𝑋+′ ) quando toda vizinhança de 𝑎 contém algum ponto 𝑥 ∈ 𝑋, tal que 𝑥 > 𝑎.
Equivalentemente, 𝑎 ∈ ℝ é chamado de ponto de acumulação à esquerda de 𝑋 ⊂ ℝ
(𝑎 ∈ 𝑋−′ ) quando toda vizinhança de 𝑎 contém algum ponto 𝑥 ∈ 𝑋, tal que 𝑥 < 𝑎.

Observação:
7. Os símbolos 𝑋−′ e 𝑋+′ representam, respectivamente, o conjunto de todos os
pontos de acumulação à esquerda e à direita de 𝑋.

Definição 4: Limite à direita


Sejam 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 ∈ 𝑋+′ . Dizemos que 𝐿 ∈ ℝ é limite à direita de 𝑓(𝑥) quando 𝑥 tende
para 𝑎, notação lim+ 𝑓(𝑥), quando, para todo 𝜖 > 0 arbitrário, podemos obter 𝛿 > 0 tal
𝑥→𝑎
que |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖 sempre que 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝑎 < 𝑥 < 𝑎 + 𝛿, ou seja, 0 < 𝑥 − 𝑎 < 𝛿.
Simbolicamente,

lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 . ≡ . ∀𝜖 > 0 ∃𝛿 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋 ∩ (𝑎, 𝑎 + 𝛿) ⇒ |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖.


𝑥→𝑎 +

Definição 5: Limite à esquerda


Sejam 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 ∈ 𝑋−′ . Dizemos que 𝐿 ∈ ℝ é limite à esquerda de 𝑓(𝑥) quando 𝑥
tende para 𝑎, notação lim− 𝑓(𝑥), quando, para todo 𝜖 > 0 arbitrário, podemos obter 𝛿 >
𝑥→𝑎
0 tal que |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖 sempre que 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝑎 − 𝛿 < 𝑥 < 𝑎, ou seja, −𝛿 < 𝑥 − 𝑎 < 0.
Simbolicamente,

lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 . ≡ . ∀𝜖 > 0 ∃𝛿 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋 ∩ (𝑎 − 𝛿, 𝑎) ⇒ |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖


𝑥→𝑎 −

Observações:

8. É possível estabelecer as mesmas propriedades gerais dos limites para os


limites laterais, tomando o cuidado de restringir o domínio da função ao conjunto
em que 𝑎 é ponto de acumulação lateral.

9. Dado 𝑎 ∈ 𝑋+′ ∩ 𝑋−′ , então existe lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 se, e somente se, os limites laterais
𝑥→𝑎
à direita e à esquerda existem e são iguais:

lim 𝑓(𝑥) = lim− 𝑓(𝑥) = 𝐿.


𝑥→𝑎 + 𝑥→𝑎

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Exemplo 1:
𝑥
A função 𝑓: ℝ − {0} → ℝ, tal que 𝑓(𝑥) = |𝑥|, não possui limite quando 𝑥 → 0, mas os
limites laterais existem. Vejamos:

lim 𝑓(𝑥) = 1, pois 𝑓(𝑥) = 1 se 𝑥 > 0.


𝑥→0+

lim 𝑓(𝑥) = −1, pois 𝑓(𝑥) = −1 se 𝑥 < 0.


𝑥→0−

ATIVIDADE:
1. Pesquise e dê exemplo de uma função que não possui limites laterais.

2. Pesquise as definições de:

a) Função monótona não-crescente;


b) Função monótona não-decrescente;
c) Função crescente;
d) Função decrescente.

Teorema 6
Sejam 𝑓: 𝑋 → ℝ uma função monótona limitada, 𝑎 ∈ 𝑋+′ e 𝑏 ∈ 𝑋−′ . Então existem

lim 𝑓(𝑥) = 𝐿 e lim 𝑓(𝑥) = 𝑀.


𝑥→𝑎 + 𝑥→𝑎

Em outras palavras, este teorema diz que os limites laterais de uma função monótona
limitada sempre existem.

Limites no Infinito, Limites Infinitos e Expressões


Indeterminadas

Consideremos um conjunto 𝑋 ⊂ ℝ, ilimitado superiormente, e uma função 𝑓: 𝑋 → ℝ.


Escrevemos o limite no infinito de 𝑓 como

lim 𝑓(𝑥) = 𝐿,
𝑥→+∞

quando 𝐿 satisfaz a seguinte condição:

∀𝜖 > 0, ∃ 𝐴 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋, 𝑥 > 𝐴 ⇒ |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖 .

Analogamente, podemos definir lim 𝑓(𝑥) = 𝐿, quando o domínio de 𝑓 é ilimitado


𝑥→−∞
inferiormente:
∀𝜖 > 0, ∃ 𝐴 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋, 𝑥 < −𝐴 ⇒ |𝑓(𝑥) − 𝐿| < 𝜖 .
Observações:

10. É possível estabelecer as mesmas propriedades gerais e os principais


resultados dos limites para os limites no infinito, tomando o cuidado de fazer as
devidas adaptações.

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11. Os limites para 𝑥 → +∞ e 𝑥 → −∞ são um tipo especial de limites laterais. Basta


considerar que o primeiro é um limite à esquerda e que o segundo é um limite à
direita.

12. O limite de uma sequência é um caso particular de limite no infinito. Podemos


observar que lim 𝑥𝑛 = lim 𝑓(𝑥), onde 𝑓: ℕ → ℝ.
𝑥→+∞

Exemplo 2:
1 1
a) lim 𝑥
= lim 𝑥
= 0.
𝑥→+∞ 𝑥→−∞

b) lim 𝑒 𝑥 = 0.
𝑥→−∞

c) lim 𝑒 𝑥 não existe.


𝑥→+∞

ATIVIDADE:
1. Pesquise, construa e justifique cada uma das afirmações do Exemplo 2.

Definição 6: Limite infinito


Sejam 𝑋 ⊂ ℝ, 𝑓: 𝑋 → ℝ e 𝑎 ∈ 𝑋 ′ . Definimos o limite infinito, lim 𝑓(𝑥) = +∞ quando,
𝑥→𝑎

∀ 𝐴 > 0, ∃𝛿 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⇒ 𝑓(𝑥) > 𝐴.

Analogamente, definimos lim 𝑓(𝑥) = −∞ quando,


𝑥→𝑎

∀ 𝐴 > 0, ∃𝛿 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋, 0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⇒ 𝑓(𝑥) < −𝐴.

Exemplo 3:
1 1
a) lim = +∞, pois, dado 𝐴 > 0 e tomando 𝛿 = , temos que:
𝑥→𝑎 (𝑥−𝑎)2 √𝐴

1 1
0 < |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⟹ 0 < (𝑥 − 𝑎)2 < ⇒ > 𝐴.
𝐴 (𝑥−𝑎)2

1
b) Analogamente, lim − (𝑥−𝑎)2 = −∞.
𝑥→𝑎

Em ambos os casos do Exemplo 3, a partir de um valor de 𝛿 adequado, pudemos aplicar


a definição de limites infinitos, o que torna válidas as igualdades.

Frequentemente, é possível que nos deparemos com expressões indeterminadas


para os limites de uma função, sobretudo no caso de funções quocientes. Normalmente
não é possível fazer afirmações sobre o valor do limite, que pode assumir um valor real
ou não existir. Para ilustrar este fato, apresentaremos alguns exemplos a seguir:

Exemplo 4:
Dado 𝑐 ∈ ℝ, sejam 𝑓(𝑥) = 𝑐𝑥 e 𝑔(𝑥) = 𝑥. Então, lim 𝑓(𝑥) = lim 𝑔(𝑥) = 0. Ainda,
𝑥→0 𝑥→0
𝑓(𝑥)
lim 𝑔(𝑥) = 𝑐.
𝑥→0

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Exemplo 5:
1
Sejam 𝑓(𝑥) = 𝑥. 𝑠𝑒𝑛 ( ) , (𝑥 ≠ 0), e 𝑔(𝑥) = 𝑥. Temos então que lim 𝑓(𝑥) = lim 𝑔(𝑥) = 0.
𝑥 𝑥→0 𝑥→0

𝑓(𝑥)
Entretanto, não existe o limite lim 𝑔(𝑥).
𝑥→0

Para as situações que geram indeterminações, recomenda-se utilizar a Regra de


L’Hospital para o cálculo dos limites. Como isso é exaustivamente abordado em cursos
de Cálculo, não nos aprofundaremos nesse tema.

Funções Contínuas

A partir dos principais conceitos estudados nas seções anteriores, vamos tratar de
algumas ideias fundamentais para desenvolvermos os conteúdos subsequentes.
Estudaremos o conceito de continuidade, que é amplamente utilizado para as definições
de derivadas e integrais, dentre outras, no Cálculo e na Análise Matemática.

Definição 7: Função contínua em um ponto


Seja 𝑓: 𝑋 → ℝ, com 𝑋 ⊂ ℝ. Dizemos que 𝑓 é contínua no ponto 𝒂 ∈ 𝑿 quando,

∀𝜖 > 0, ∃𝛿 > 0; 𝑥 ∈ 𝑋, |𝑥 − 𝑎| < 𝛿 ⇒ |𝑓(𝑥) − 𝑓(𝑎)| < 𝜖.

Em outras palavras, a definição acima afirma que uma função é contínua em um ponto
do seu domínio quando ocorrem simultaneamente as três asserções seguintes:

i) O lim 𝑓(𝑥) existe;


𝑥→𝑎

ii) 𝑓(𝑎) existe;

iii) lim 𝑓(𝑥) = 𝑓(𝑎)


𝑥→𝑎

Quando a função não é contínua no ponto 𝑎, dizemos que é descontínua nesse ponto.
Podemos generalizar o conceito de continuidade para todo o domínio da função, como
se refere o teorema a seguir:

Definição 8: Função contínua


Uma função 𝑓: 𝑋 → ℝ é uma função contínua, quando é contínua em todos os pontos
𝑎 ∈ 𝑋.
Alternativamente, podemos reescrever a Definição 7 em função de limites laterais, como
se segue:

Definição 9: Continuidade lateral e continuidade em um ponto


a) Uma função 𝑓 é contínua à esquerda no ponto 𝑎 se lim− 𝑓(𝑥) = 𝑓(𝑎).
𝑥→𝑎
b) Uma função 𝑓 é contínua à direita no ponto 𝑎 se lim+ 𝑓(𝑥) = 𝑓(𝑎).
𝑥→𝑎
c) Uma função 𝑓 é contínua no ponto 𝒂 ∈ 𝑿 se é contínua à esquerda e à direita
de 𝑎.

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A continuidade de uma função também pode ser definida em relação ao seu domínio.
Para as funções definidas em um conjunto 𝑋 ∈ ℝ, o caso de maior interesse é o que
considera 𝑋 como um conjunto compacto (Ver definição no capítulo 4). Apresentamos
um dos principais resultados de continuidade em um compacto, a seguir:

Teorema 7: (Weierstrass)
Seja 𝑓: 𝑋 → ℝ contínua em um conjunto compacto 𝑋 ⊂ ℝ. Então ∃ 𝑥0 , 𝑥1 ∈ 𝑋 tais que
𝑓(𝑥0 ) ≤ 𝑓(𝑥) ≤ 𝑓(𝑥1 ), ∀𝑥 ∈ 𝑋. Em outras palavras, este teorema afirma que toda função
contínua num compacto assume um valor máximo e um valor mínimo nesse conjunto.

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Exercícios Propostos
1
1. Mostre que lim 𝑠𝑒𝑛 (𝑥) não existe.
𝑥→∞

2. Seja 𝑓: 𝑋 → ℝ uma função monótona. Mostre que, se existe uma sequencia (𝑥𝑛 ) em
𝑋, com 𝑥𝑛 > 𝑎, e ainda lim 𝑥𝑛 = 𝑎 e lim 𝑓(𝑥𝑛 ) = 𝐿, então lim+ 𝑓(𝑥) = 𝐿.
𝑥→𝑎

3. Mostre que

𝑥 + 𝑦 + |𝑥 − 𝑦| 𝑥 + 𝑦 − |𝑥 − 𝑦|
max{𝑥, 𝑦} = 2
e min{𝑥, 𝑦} = 2

4. Dadas 𝑓, 𝑔: 𝐴 ⊂ ℝ → ℝ contínuas, então ℎ, 𝑡: 𝐴 ⊂ ℝ → ℝ dadas por ℎ(𝑥) =


max{𝑓(𝑥), 𝑔(𝑥)} e 𝑡(𝑥) = min{𝑓(𝑥), 𝑔(𝑥)} são contínuas.

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Soluções dos Exercícios Propostos


1 1
1. Considere as sequências 𝑥𝑛 = 2𝑛𝜋 e 𝑦𝑛 = 2𝑛𝜋+𝜋 ·
2

Temos que lim 𝑥𝑛 = lim 𝑦𝑛 = 0.


1 1 𝜋
Além disso, 𝑠𝑒𝑛 (𝑥 ) = 𝑠𝑒𝑛(2𝑛𝜋) = 0 e 𝑠𝑒𝑛 (𝑦 ) = 𝑠𝑒𝑛 (2𝑛𝜋 + 2 ) = 1.
𝑛 𝑛

1
Como esses limites são distintos, temos que lim 𝑠𝑒𝑛 (𝑥) não existe. ∎
𝑥→∞

2. Suponha 𝑓 não-decrescente. Vamos mostrar que 𝐵 = {𝑓(𝑥); 𝑥 ∈ 𝑅; 𝑥 > 𝑎} é um


conjunto limitado inferiormente.

Dado 𝑥 arbitrário e fixo tal que 𝑥 > 𝑎 existe 𝑥𝑛 > 𝑎 que satisfaz 𝑥 > 𝑥𝑛 > 𝑎, pois lim 𝑥𝑛 =
𝑎, 𝑓 não-decrescente implica 𝑓(𝑥) ≥ 𝑓(𝑥𝑛 ). Como (𝑓(𝑥𝑛 )) é convergente, vale que tal
sequência é limitada inferiormente, portanto existe 𝑀 tal que 𝑓(𝑥𝑛 ) > 𝑀, ∀𝑛 ∈ ℕ, e daí
𝑓(𝑥) ≥ 𝑓(𝑥𝑛 ) > 𝑀 para 𝑓(𝑥) ∈ 𝐵 arbitrário. Logo 𝐵 é limitado inferiormente.

Por 𝐵 ser limitado inferiormente, ele possui ínfimo.


Seja 𝐿′ = inf 𝐵 = inf{𝑓(𝑥); 𝑥 ∈ ℝ; 𝑥 > 𝑎}. Então, temos que vale lim 𝑓(𝑥) = 𝐿′.
x→a

Pelo Teorema 4 (unicidade do limite), podemos concluir que 𝐿′ = 𝐿.

Com um raciocínio análogo chega-se ao mesmo resultado para 𝑓 não-crescente, o que


conclui a demonstração. ∎

𝑥+𝑦+𝑥−𝑦 𝑥 + 𝑦 + |𝑥 − 𝑦|
3. Se 𝑥 ≥ 𝑦 então 𝑥 − 𝑦 = |𝑥 − 𝑦|, além disso, 2
= 𝑥, logo 2
= 𝑥.
Da mesma forma:
𝑥 + 𝑦−(𝑥 – 𝑦) 𝑥 + 𝑦−|𝑥 – 𝑦|
2
=𝑦⟹ 2
= 𝑦.

Podemos ainda observar que max{𝑥, 𝑦} + min{𝑥, 𝑦} = 𝑥 + 𝑦.

Portanto,

𝑥 + 𝑦 + |𝑥 − 𝑦|
max{𝑥, 𝑦} = e
2
𝑥 + 𝑦 − |𝑥 − 𝑦|
min{𝑥, 𝑦} = .∎
2

4. De acordo com o resultado anterior temos que:

𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) + |𝑓(𝑥) – 𝑔(𝑥)|


ℎ(𝑥) = max{𝑓(𝑥), 𝑔(𝑥)} = e
2

𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) − |𝑓(𝑥) – 𝑔(𝑥)|


𝑡(𝑥) = min{𝑓(𝑥), 𝑔(𝑥)} = .
2

Como 𝑓 e 𝑔 são contínuas por hipótese, essa construção garante que ℎ e 𝑡 também são
contínuas. ∎

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