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Resumo. Este trabalho tem por objetivo listar os benefícios da utilização do FMEA, devido a sua eficiência na
garantia da qualidade e confiabilidade dos produtos, serviços e processos. Isto tem sido uma exigência cada vez
maior na indústria automobilística, causada pelo intenso esforço na redução de custos e eliminação de
desperdícios, resultantes da prática da Produção Enxuta e do cumprimento de normas como a QS-9000. Além
disso, serão mostradas as dificuldades que ocorrem durante a implementação do FMEA. Para isso, foi realizado
um estudo de caso na Eaton Ltda - Divisão Transmissões, onde foi feito uma pesquisa entre os participantes de
duas equipes diferentes de FMEA, na intenção de compará-las. Tais respostas serão analisadas
estatisticamente, separadas por afinidade e em seguida dispostas em um diagrama de relação, o qual
identificará qual o fator que tem maior influência na implementação do FMEA.
1. INTRODUÇÃO
A indústria em geral e em particular a automobilística mundial vem passando, há alguns anos, por processos
de mudanças profundas na sua administração (Mattar, 1997). Essas mudanças, iniciadas na indústria
automobilística japonesa, visam basicamente ao aumento da produtividade e da qualidade e a redução de custos,
mediante a aplicação de técnicas desenvolvidas no Japão, a partir de teorias americanas, denominadas, no seu
conjunto, de Produção Enxuta.
Logo após o fim da segunda grande guerra, os japoneses iniciaram a produção de carros de passeio. A
princípio desejavam utilizar métodos da produção em massa, que haviam sido estudados por diversos
administradores japoneses nos Estados Unidos (Womack, 1992). No entanto, a tentativa em produzir automóveis
em larga escala esbarrou numa série de problemas: o mercado japonês era limitado e demandava diversos
modelos diferentes de automóveis, sendo que cada modelo não possibilitava escala para produção em massa; a
força de trabalho nativa do Japão se organizou formando sindicatos fortes que exigiam maiores garantias de
emprego, conseguindo restringir bastante os direitos das empresas de demitir empregados, o que ocorre com
freqüência na produção em massa; e a economia do país, devastada pela guerra, não dispunha de recursos para
realizar os altos investimentos necessários para a implantação da produção em massa.
Premidas por essas dificuldades, a Toyota, inicialmente, e a Nissan, posteriormente, criaram novos métodos
de produção e administração, conseguindo, simultaneamente, produzir modelos em pequena escala e diminuindo
os custos. O conjunto desses métodos foi denominado de Produção Enxuta. Após algum tempo, as diversas
montadoras mundiais passaram a trabalhar desta forma.
Segundo Slack (1997), a Produção Enxuta visa atender à demanda instantaneamente, com qualidade
perfeita e sem desperdício. A qualidade deve ser alta porque distúrbios na produção devido a erros de qualidade
irão reduzir o fluxo de materiais, reduzir a confiabilidade interna de fornecimentos, além de gerar o
aparecimento de estoques, caso os erros reduzam a taxa de produção em algum ponto da operação. A
confiabilidade é um pré-requisito para um fluxo rápido.
Para garantir a qualidade de seus produtos a indústria automobilística desenvolveu normas para seus
A metodologia de Análise de Modo e Efeitos de Falha Potencial (do inglês Failure Mode and Effect Analysis
- FMEA), é uma ferramenta que busca, em princípio, evitar, por meio da análise das falhas potenciais e propostas
de ações de melhoria, que ocorram falhas no projeto do produto ou do processo. Este é o objetivo básico desta
técnica, ou seja, detectar falhas antes que se produza uma peça ou produto. Pode-se dizer que, com sua utilização,
se está diminuindo as chances do produto ou processo falhar, ou seja, estamos buscando aumentar sua
confiabilidade (Horita, 2002).
Esta dimensão da qualidade, a confiabilidade, tem se tornado cada vez mais importante para os
consumidores, pois, a falha de um produto, mesmo que prontamente reparada pelo serviço de assistência técnica e
totalmente coberta por termos de garantia, causa, no mínimo, uma insatisfação ao consumidor ao privá-lo do uso
do produto por determinado tempo. Além disso, cada vez mais são lançados produtos em que determinados tipos
de falhas podem ter conseqüências drásticas para o consumidor, tais como aviões e equipamentos hospitalares nos
quais o mau funcionamento pode significar até mesmo um risco de vida ao usuário.
Apesar de ter sido desenvolvida com um enfoque no projeto de novos produtos e processos, a metodologia
FMEA, pela sua grande utilidade, passou a ser aplicada de diversas maneiras. Assim, ela atualmente é utilizada
para diminuir as falhas de produtos e processos existentes e para diminuir a probabilidade de falha em processos
administrativos. Tem sido empregada também em aplicações específicas tais como análises de fontes de risco em
engenharia de segurança e na indústria de alimentos.
A norma QS 9000 especifica o FMEA como um dos documentos necessários para um fornecedor submeter
uma peça ou produto à aprovação da montadora. Este é um dos principais motivos pela divulgação desta técnica.
Deve-se, no entanto implantar o FMEA em uma empresa, visando-se os seus resultados e não simplesmente para
atender a uma exigência da montadora.
Apesar de sempre terem sido realizadas análises semelhantes a FMEA nos projetos e processos de
manufatura, a primeira aplicação formal do FMEA foi uma inovação da indústria aeroespacial dos nos 60. A partir
dos anos 80, passou a ser utilizada na indústria automobilística, estendendo-se posteriormente para seus
fornecedores na indústria de autopeças.
Stamatis (1995) cita quatro tipos de FMEA:
− FMEA de Sistema: usado para analisar sistemas e subsistemas no estágio de projeto. Um FMEA de
sistema foca os modos de falhas potenciais entre as funções do sistema causadas por deficiências do
sistema;
− FMEA de Projeto: usado para analisar produtos antes de serem lançados para a manufatura. Um FMEA
de projeto foca modo de falhas potenciais causadas por falhas de projeto;
− FMEA de Processo: usado para analisar processos de manufatura e montagem, analisando seus
respectivos modos de efeitos e falhas potenciais;
− FMEA de Serviço: usado para analisar serviços antes deles atingirem o consumidor, analisando falhas
causadas por deficiências do sistema ou processo.
No caso da indústria, o mais comum é utilizar os FMEAs de projeto e de processo. Neste trabalho, é feito a
análise do FMEA de processo.
Stamatis (1995) diz que existem dificuldades relacionadas tanto às equipes quanto aos indivíduos que
fazem parte das mesmas, capazes de comprometer a eficiência de sua implementação.
Dificuldades individuais:
− Pessoas que falam muito;
− Pessoas que falam muito pouco;
− Pessoas que dizem coisas não relacionadas com a reunião em si.
Há 41 anos com a implantação da indústria automobilística no Brasil, surgia a necessidade de empresas que
fornecessem autopeças para este novo segmento do mercado. Vinha então, para o Brasil, uma subsidiaria da
empresa norte-americana CLARK Equipament Company fundada em 1903 pelo engenheiro mecânico Eugene
Bradley Clark, fornecedor internacional de caixas de câmbio para a GM e Ford, a Clark passaria a atendê-las
também no Brasil.
Tudo começou com a Clark Piratininga S. A., fundada em 1958, em São Paulo, para fabricar empilhadeiras
e equipamentos de movimentação de materiais que o mercado começava a exigir.
A Via Anhanguera - SP 330, inaugurada em 1948, já despontava como o principal corredor viário do
Estado de São Paulo. Com visão futurista, a Clark veio instalar-se no quilômetro 84 desta rodovia, dando início à
construção de uma grande empresa. Valinhos foi a cidade escolhida e, em 04 de novembro de 1959, era
inaugurada oficialmente a Equipamentos Clark Ltda., que iria produzir e fornecer às montadoras os mais
variados tipos de transmissões.
A partir de 1994, a Equipamentos Clark Ltda., após ter suas ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova
York, desvinculou-se da matriz norte-americana. Daí por diante, as ações da companhia foram controladas pelo
holding Capco.
Em novembro de 1995, a Eaton mostrou-se interessada em adquirir as ações da Clark e estas negociações
seguiram seu curso obedecendo a rigorosos dispositivos legais de forma que, após criteriosa análise, foram
concluídas no dia 27 de marco de 1996, integrando a Equipamentos Clark Ltda. a Eaton Corporation.
Atualmente sua planta é composta de cinco fábricas distintas empregando ao todo cerca de 2500 funcionários.
Atualmente, a Eaton (ex Clark) ocupa uma área total de 346 mil m2, sendo que destas, 89 mil m2 são de área
construída. Seus principais produtos comercializados são:
- transmissões mecânicas para carros de passeio, caminhões leves e médios;
- transmissões para veículos considerados fora de estrada, tais como tratores agrícolas;
- transmissões power-shift para equipamentos industriais e de construção;
- peças de reposição.
Seus principais clientes são:
Agrale, Cummins, Daimler Chrysler, Eaton - Greenfield, Eaton - China, Ford, General Motors,
International, Iveco, Renault, Volkswagen.
A Eaton exporta seus produtos para países como:
Estados Unidos, Argentina, México, Turquia, Inglaterra, Bélgica, entre outros.
4. METODOLOGIA
5. RESULTADO DA PESQUISA
Tabela 1 – Resultado das dificuldades teóricas na implementação do FMEA - Dados coletados em setembro de
2002.
L. de montagem Engrenagens
Dificuldades individuais: Entrevistados Entrevistados
1 2 3 4 Média 1 2 3 4 Média
• Pessoas que falam muito; 2 3 4 1 2,50 2 3 2 3 2,50
• Pessoas que falam muito pouco; 1 3 3 1 2,00 2 5 5 1 3,25
• Pessoas que dizem coisas não relacionadas com a reunião em si. 3 3 5 2 3,25 4 2 3 2 2,75
No teste de hipótese, realizado pelo software Minitab, foram comparadas as médias das notas de cada item
do questionário. O teste utilizado foi o paired t, que é um caso especial de comparação de duas médias, onde os
resultados das duas amostras constituem dados emparelhados, pois estão relacionados dois a dois segundo algum
critério que introduza uma diferença marcante entre os diversos pares, mas que influa igualmente sobre os
elementos de cada par (Werkema, 1996). Desta maneira, é eliminada esta fonte adicional de variação. Este teste
foi escolhido devido ao fato de existirem diferentes dificuldades, onde suas médias seriam comparadas
isoladamente, entre as duas equipes.
Foram feitos dois testes distintos: um com as dificuldades relacionadas às equipes e outro com as
dificuldades relacionadas aos indivíduos, conforme o check list citado anteriormente.
Na hipótese H0 , afirma-se que a média das respostas são iguais entre as duas equipes, enquanto que na
hipótese H1 diz-se que as médias são diferentes.
A tabela 2 ilustra os resultados calculados pelo Minitab.
Equipes Indivíduos
P-Value 0,030 0,678
Analisando a tabela anterior, verifica-se que em relação às equipes, o p-value calculado pelo Minitab foi
igual a 0,030. Desta forma, a hipótese inicial (médias iguais entre as duas equipes) deve ser rejeitada, pois o p-
value teve um valor significativo, a um nível de significância de 5%. Isto quer dizer a que as dificuldades
encontradas pelas duas equipes podem ser consideradas estatisticamente diferentes.
Em relação aos problemas individuais, como o p-value foi de 0,630. Como este valor não é significativo,
aceita-se a hipótese inicial. Ou seja, os indivíduos das duas equipes apresentam as mesmas dificuldades.
No gráfico 1, estão apresentadas as principais dificuldades em relação às equipes que ocorrem com
freqüência na execução de um FMEA complexo.
Tarefas vagas
Para uma melhor avaliação de qual dos grupos de afinidade teve maior influência nos resultados obtidos,
foi feito um diagrama de relação (Figura 1), o qual foi validado com os participantes da pesquisa, sendo capaz de
priorizar as ações a serem tomadas.
0/2 3/0
Dificuldades em relação Propósito do
aos dados FMEA.
2/1
0/2
Organização e preparo
Trivialidades
das equipes
Isto indica que as principais causas das dificuldades na implementação do FMEA são as relacionadas com o
propósito de sua realização, pois se não houver um propósito sério, na tentativa de utilizá-lo como uma
ferramenta preventiva de falhas e não apenas para “cumprir tabela” devido às exigências das auditorias (como a
da QS-9000, por exemplo), é lógico que não haverá uma grande preocupação em relação à organização e ao
preparo das equipes, o que trará por conseqüência dificuldades em relação aos dados e problemas relacionados a
trivialidades (repetição de velhas informações e assuntos triviais discutidos).
Através do teste de hipótese das médias emparelhadas (paired t), observa-se que as dificuldades
encontradas pelas duas equipes são diferentes. Porém, tratando-se das dificuldades individuais, a variação não foi
estatisticamente significativa, ou seja, os indivíduos de ambas as equipes apresentam as mesmas dificuldades.
Pela observação dos gráficos 1 e 2, conclui-se que para implementar qualquer tipo de FMEA deve-se ter
preocupação com as seguintes dificuldades:
– Falta de tempo ou vontade para lidar com o inesperado;
– FMEA feito somente para “cumprir tabela”.
Nos FMEAs complexos, além destes problemas, outros foram citados: repetição de velhas informações;
tarefas vagas; propósito da reunião não claro; equipes não preparadas; dados incompletos devido à dificuldade de
preencher o questionário. Tais problemas são justificados devido à própria complexidade do FMEA e a falta de
experiência da equipe.
Em relação aos FMEAs simples, um grande problema, além dos dois que foram citados inicialmente, é a
necessidade de obtenção de dados adicionais. Isto ocorre devido ao fato de, diversas vezes, o FMEA não ser
executado como uma ferramenta de melhoria, o que ocasiona falta de empenho na sua condução.
Com a divisão das dificuldades em grupos de afinidade e sua utilização no diagrama de relação, ficou
notável que a causa que apresenta o maior peso nas dificuldades de implementação de um FMEA está
relacionado ao seu propósito, que pode ter dois enfoques diferentes:
– O FMEA pode ser executado somente com a finalidade de aprovação em auditorias propondo-se a
conquista de certificações de qualidade, com a QS-9000, por exemplo. Neste caso, não se obtém todas as
vantagens em utilizar o FMEA como meio de prevenção e busca da melhoria contínua dos processos e produtos,
bem como sua qualidade e confiabilidade. Esta causa é a grande responsável pelo surgimento das demais, com
pode ser observado no diagrama de relação, representado pela Figura 1;
– O FMEA pode ser realmente executado com um propósito “mais nobre”, visando a prevenção e melhoria
contínua dos produtos e processos. Isto implica em uma melhor organização e preparo das equipes, minimizando
as demais dificuldades.
Portando, chega-se a conclusão que o FMEA deve ser conduzido não só com a intenção de certificações, e
sim vislumbrando a melhoria contínua (Kaizen), devido as crescentes exigências do mercado em relação à
qualidade dos produtos, principalmente nas empresas que adotaram a Produção Enxuta como um modelo
produtivo, que tem por meta a qualidade perfeita e sem desperdício, pois sem isto é impossível atender a
demanda instantaneamente.
REFERÊNCIAS
Horita, F., Trabalho de FMEA, [On Line] Disponível na Internet via www.fge.if.usp.br/~fhorita/FMEA.htm.
Acesso em Outubro de 2002.
Mattar, F. N.; Aquino, P., 1997, A produção Enxuta no Brasil, O Caso Ford, [On Line] Disponível na Internet
via www.fauze.com.br/artigos04.htm, Acesso em Outubro de 2002.
Slack, N.; Chambers, S.; Harland, C., 1997, Administração da Produção, Editora Atlas S. A., São Paulo, Brasil.
Stamatis, D. H., 1995, Failure Mode and Effect Analysis, FMEA from Theory to Execution, ASQC Quality
Press, Wisconsin, USA, First Edition.
Womack, J. P.; Jones, D. T.; Roos, D., 1992, A Máquina que Mudou o Mundo, Editora Campus, Rio de Janeiro,
Brasil, Sexta Edição.
Werkema, M. C. C., 1996, Como estabelecer conclusões com confiança: entendendo inferência estatística,
Fundação Cristiano Ottoni, Minas Gerais, Brasil.
Neto, P. L. O. C., 2002, Estatística, Editora Edgard Blucher Ltda, São Paulo, Brasil, Segunda Edição.