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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
ZÂMBIA
RODÉSIA
XVI.
No grande Zimbabwe - depois da falha de ocupação que se seguiu ao
desaparecimento da cultura gokomere (Período I) - surge outro povo da idade do
ferro, o xona, que se espalhou por vasta área e que naquele local constituiu o
Período II dos arqueólogos, cujo estádio final foi datado de 1705 ± 150 d. C. Na
sua cerâmica, irregular e mal cozida, há vasos em forma de cabaça, sem
decoração, bem como tigelas hemisféricas. Desconheciam o polimento com
grafite. Aparecem estatuetas humanas estilizadas e modelações naturalistas do
gado.
MALAWI
ÁFRICA DO SUL
SUAZILÂNDIA
• + 50%= 0
• + 45%= 1
• + 40%= 2
• + 35%= 3
• + 30%= 4
• + 25%= 5
15
• + 20%=6
• + 15% = 7
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CAPITULO II
COMERCIANTES E NAVEGADORES
ASIÁTICOS NO OCEANO ÍNDICO
VIII, empreenderam uma expansão política e mercantil, apoiada por feitorias nos
litorais africano e industânico. Al-Massudi descreveu a rota de alto mar seguida
pelos pilotos persas para atingirem Zanzibar e Sofala, sem dúvida utilizando já a
orientação pelas estrelas. Foi o primeiro a fazer referência às navegações dos
Indonésios para Madagáscar e para a costa oriental africana, navegações que
parece terem tido o seu início nos primeiros séculos da Era Cristã. Visitou Sofala
em 926 d. C.
A emigração, para Quilua, do príncipe Ali bin Sultan el Hassan, filho do
Sultão de Xiraz e de uma escrava negra, parece ter tido lugar em 975.
Começam a abundar as referências escritas aos povos sitos ao Sul de Cabo
Delgado. Al-Baruni alude a Sofala, no princípio do Séc. XI. Al-Idrisi presta
interessantes informações cerca de 1154 d. C.
Mogadiscio, grande entreposto omanita na costa da Somália,
monopolizou durante séculos a vasta produção aurífera escoada por Sofala. No
Séc. XIII veio este cobiçado monopólio a cair em poder dos Sultões de Quilua. A
ele se deve, sem dúvida, a época de grande prosperidade comprovada pela
arqueologia. Recentemente foi encontrada no Grande Zimbabwe uma moeda
cunhada em Quilua, provavelmente no início do Séc. XIV. A independência de
Sofala, proclamada talvez no séc. XV, contribuiu decisivamente para o declino
daquela cidade árabo-persa.
Os Chineses parece haverem reatado a frequência regular do Oceano
indico no período do terceiro imperador Ming (1403-1424). Teve lugar na década
de 1430 o último dos grandes comboios anuais de juncos que passavam seis
meses na costa oriental africana adquirindo escravos, ouro, marfim, holutúrias,
peles de leopardo, carapaças de tartaruga, chifres de rinoceronte, etc. De
importante significado e apreciadas pelo próprio imperador seriam as girafas,
consideradas como animais celestiais.
Por seu lado, os Sultões abastados e belicosos da dinastia Nabhani,
então reinando em Oman, lançaram-se em acelerada expansão territorial, sendo
o limite meridional dos seus domínios constituído pelas minas de Quirimba. A
sua supremacia estendeu-se de 1350 a 1500. Kitab-al-Raude (1461 d. C.)
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CAPÍTULO III
Lovedos do Transval Norte descendia de uma das três grandes dinastias rozwis,
tendo atravessado o Limpopo provavelmente entre 1550 e 1625. Tornou-se
famosa por ser detentora da mais potente magia pluvial de toda a Africa Austral.
No início do séc. XIX ascendeu ao trono a rainha Mujaji que, graças aos seus
poderes sobrenaturais, foi sempre respeitada e consultada pelos diversos
monarcas vangunes.
Dois factores que se afiguram determinantes para compreender estes
movimentos migratórios em direcção ao litoral seriam as tripanossomíases e a
aridez do interior, com cerca de 400 mm de chuva por ano aumentando a
pluviosidade com a aproximação do oceano.
A escassês de gado bovino entre a generalidade dos Chopes
• a reduzida importância social e ritual que lhe era concebida, também
levam a suspeitar que os antepassados de origem langa que entraram na
composição étnica daquele povo tenham sido profundamente afectados pela
temível cintura de mosca tsé-tsé que, ao longo do curso médio do Limpopo, se
estendia entre os seus afluentes Marica e dos Elefantes e que, a crer na
hipótese de B. H. Dicke, pode também estar na origem da sua migração em
direcção ao litoral.
Na expansão tsonga - povo com toda a evidência composto por clãs de
origem sotho, langa e nguni - desempenhou papel fundamental a existência de
unidades políticas relativamente poderosas cujos dirigentes, ultrapassando as
limitações clânicas, manifestaram acentuada tendência para a conquista de
novos domínios, de modo a proporcionar poder e prestígio aos seus parentes,
descendentes e favoritos. Pode também ter acontecido que os movimentos
sothos e tsongas dos fins do séc. XVII fossem reflexo do expansionismo
militarista e predatório do Xangamire Dombo, que, na década de 1680, alargou o
Império Rozwi de modo a abranger grande parte da região compreendida entre
o Limpopo, o Save,
• Zambeze e o Oceano indico. Foram as suas conquistas que deram
origem à migração dos Vendas para a margem direita do Limpopo.
Nesta migração de povos tsongas em direcção ao litoral se devem
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GRUPO TSONGA
Ronga
Changana
Este sub-grupo ocupa uma larga faixa de território que tem no seu eixo o
rio Limpopo.
Depois de Sochangana decidir instalar a capital no vale do Limpopo, em
Chaimite, altura em que mudou o seu nome para Manukusse,, diversos grupos
tsongas emigraram para o Tranval Norte, entre 1835 e 1840. Pertenciam aos
clãs Nkuna, Hlangano, Loyi e Mavundja. Depois da prisão do último monarca em
1895, outros grupos de Vangunes de Gaza e de Tsongas angunizados
buscaram refúgio no Transval. Eram chefiados por diversos membros da família
real.
Embora a sua cultura tradicional não tenha sido objecto de estudos
profundos e sistemáticos, pode afirmar-se a grande influência exercida pelos
invasores vangunes, apesar da capital do Império de Gaza ter permanecido no
vale do Limpopo apenas de 1840 a 1858. Só mais tarde, de 1889 a 1895, o
último monarca, Gungunyane, voltou a fixar-se no Sul.
Tswa-Hlengwe
chuva retida nos troncos dos embondeiros. Do mesmo modo que os Tswas
praticavam a circuncisão, mesmo no seu limite norte com os povos de origem
xona. Cobriam-se de profusas escarificações.
No sul, entre os Tswas, o gado bovino desempenhava insignificante
papel.
Os Makwakwas foram, dentre todos, os que mais assimilaram a cultura
angune, como a organização regimental, as danças e trajos guerreiros, a coroa
de cera e a perfuração dos lóbulos auriculares. Pelo mesmo motivo
abandonaram a circuncisão e as escarificações.
GRUPO CHOPE
«,..a povoação de Zabute... era muito importante por ser nela que o
Binguane tinha as suas mulheres; as palhotas, que ainda se conservam de pé,
são grandes, circulares e todas revestidas de barro interior e exteriormente; as
portas têm relevos curiosos e pinturas extravagantes»;
do Xi-Chope e do Xi-Tsonga.
A economia dos Khokhas-(Bi)-Tongas tornou-se predominadamente
marítima e mercantil, como a dos povos islamizados do litoral norte. Também
adquiriram considerável importância económica as plantas alimentares
importadas, nomeadamente a cana de açúcar, o coqueiro, os citrinos (as
célebres tangerinas de Inhambane). A criação de gado, mesmo miúdo, nunca
assumiu relevância.
Na actividade piscícola utilizavam embarcações de tipo árabe e recorriam
à linha, a redes de arrasto e a armadilhas colocadas, durante as marés
vazantes, no ângulo agudo formado por duas sebes de varas entrançadas.
Até as tatuagens dependiam da vida marítima: as mulheres, com um jogo
de seis agulhas e tinta de lula, faziam na face e nos braços pequenas pintas
negras.
Já aludimos à provável existência de um sistema algo complexo de trocas
comerciais, em que se achavam envolvidos os Khokhas de Inhambane, sistema
que compreendia as rotas entre Sofala e as regiões auríferas do planalto interior,
dominadas pela aristocracia rozwi. É que o domínio português directo, ocorrido
em 1731, aliado à regular frequência da baía pela marinha da mesma
nacionalidade, conseguiu manter afastada a navegação estrangeira. Mesmo
antes dessa época sabe-se que os próprios povos da Manhiça preferiam
comerciar com Inhambane durante a ocupação holandesa de L. Marques de
1721 a 1730. Na segunda metade do séc. XVIII Inhambane conseguiu
ultrapassar Sofala em importância comercial, colocando-se a seguir a Sena na
quantidade de marfim exportado. Os escravos da região eram muito apreciados.
O diário da Missão de Mponda, na margem do Lago Niassa, refere-se a
mercadores de Inhambane que ali iam à procura de marfim. Deriva
provavelmente do santuário da Makewana (ver Grupo Marave) em Msinja,
(santuário que até 1890 foi importante entreposto de comércio de marfim) a
lenda narrada a Dora Earthy pelas mulheres valengues, em que surge uma
rapariga, Makhowana, casada com uma jibóia.
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CAPITULO IV
duma escarpa com trinta metros de altura, gesticulou para que os guerreiros
vangunes formassem na base. Depois de dançar, lançou-se no espaço e veio
baquear aos pés dos sitiantes. O seu séquito desapareceu a coberto da noite.
O Império Rozwi tinha atingido o seu fim. Mas muitos chefes zonas
continuaram a reconhecer a senioridade ritual dos sacerdotes rozwis, refugiados
nos Montes Matopos, os quais eram visitados por mensageiros oriundos das
áreas onde o culto tinha existência organizada.
Segundo cálculos de R. Summers, as 4000 minas exploradas desde o
séc. V até ao séc. XIX produziram entre 600 e 800 toneladas de ouro, na sua
maioria absorvidas pelos mercados asiáticos.
evitar que a chefia viesse a cair em plebeus sem sangue rozwi. A escolha
dessas rainhas era da competência do grande régulo Moribane. O relatório do
Governador de Sofala de 1795 já afirma que o seu título se tornara hereditário.
J. C. Paiva de Andrada, que visitou a região em 1885, citou as mulheres-chefes
Gomani e Mahondo, proibidas pelo direito consuetudinário de contrair
matrimónio.
Aquele relatório de 1795 também dá informações sobre os rituais que
cercavam o falecimento dos régulos rozwis: o cadáver suspenso e envolvido
numa pele de bovino, era deixado em decomposição longo tempo, apanhando-
se em vasos o líquido sagrado que escorria.
Ao que parece o reino de Quiteve ficou irremediavelmente dividido após a
morte do último monarca em 1803.
Em 1920 o régulo Moribane ainda era considerado superior a todos os
outros régulos descendentes dos Rozwis. Recebia o título de Zimbágué, tinha
direito a uma forma especial de cumprimento e quando bebia ou cheirava rapé
todos os presentes cobriam a face com as mãos. Era enterrado com outros de
origem rozwi num cemitério especial do Monte Maué. A propósito destas sepul-
turas reais não pode deixar de se citar a encontrada em Mavita no «Dombue ra
Marozui» cujos desenhos são apresentados por Pires de Carvalho.
*
Madanda foi uma das províncias orientais criadas nos fins do séc. XV,
pelo Mwene Mutapa II. O respectivo governador aliou-se ao Xangamire II. Há a
recordar que António Fernandes visitou o chefe Nyamunda, ao sul de Sofala, em
1518. Em pleno processo de independência expansionista, veio, pouco a pouco,
a apoderar-se de todas as rotas comerciais com aquele porto. Posteriormente
esta casa reinante tomou o título de Sedanda, poucas informações havendo a
seu respeito.
No séc. XIX os habitantes da região receberam dos invasores vangunes a
designação de Va-Ndaus, derivada da forma como cumprimentavam batendo
palmas e proferindo: «Ndawe! Ndawe! ».
O nome Danda é presentemente aplicado ao povo que vive nas florestas
situadas no sopé da grande cordilheira que se estende ao longo da fronteira.
Mas o clã dos chefes é Nkomu, associado ao clã Nyamunda.
Nas montanhas vivem os Tombodjis. As terras baixas são habitadas
pelos Govas. No litoral predominam os Xangas (e não Xanganas, como
erroneamente têm sido designados). Estiveram sob secular influência oriental.
*
Pela sua secular existência, pela importância de que veio a revestir-se na
historia de Moçambique e pelas estreitas ligações que manteve com Manicas,
Tongas e Tawaras, propositadamente deixámos para o fim o Reino do Báruè e a
respectiva dinastia Makombe. Data de 1506 a mais antiga citação portuguesa
em que aparece referido. Manteve-se leal ao Mwene Mutapa até fins do séc.
XVI. A região foi temporariamente submetida, em 1650, para a Coroa
Portuguesa, por António Lobo da Silva.
Tem-se afirmado que os monarcas reconheciam de algum modo a
soberania portuguesa e considerariam indispensável a confirmação baptismal da
sua investidura, apesar de serem apoiados pela aristocracia e pelos mediuns
mphondoro, guardiães dos espíritos dos reis defuntos. O historiador A.
Isaacman, na sequência de trabalhos de campo realizados na região, interpreta
essa água benta, a madzi-manga, não como um baptismo católico ou uma
prática religiosa sincrética mas como um meio tradicional pelo qual as
características, sagradas da monarquia eram transmitidas. O líquido seria
proveniente de Sena, considerada como Terra Santa, tendo a investidura lugar
em Missongue. Seria um símbolo de poder político efectivamente conseguido,
oferecendo o novo Makombe, graças à presença do emissário da Coroa
Portuguesa, prova da sua legitimação e aliança com um poder externo e
superior.
No que concerne os actuais Tongas do Baixo Zambeze, são decerto os
célebres Mongás que em 1572 atacaram a expedição de Francisco Barreto.
Sabe-se que, por volta de 1640, um chefe tonga, de nome Sanapache também
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gido Chibudo.
À morte do Makombe Chipatata, ocorrida em 1880, seguiu-se um longo
período de vazio político, de que tirou proveito o indo-português Manuel António
de Sousa, cognominado «Gouveia». Por uma série de incursões armadas e
manobras políticas que incluíram o seu casamento com uma das filhas do
Makombe falecido, apoderou-se do poder e passou a considerar o Báruè como
propriedade particular. Da sua união com a princesa báruè teve dois filhos que
foram educados em Portugal.
De 1874 a 1886 registaram-se importantes acontecimentos que, segundo
o historiador inglês M. D. D. Newitt conduziram à perda pelos Portugueses de
parte do território hoje pertencente à Rodésia.
Segundo uma versão, o reino de Manica teria sido invadido em 1874,
pelos seus vizinhos Makoni e Báruè. O atacado, súbdito de Muzila, solicitou-lhe
protecção militar. Mas os regimentos enviados pelo monarca de Gaza teriam
sofrido amarga derrota. O Mutassa fora então aconselhado pelos mediuns que
comunicavam com os espíritos dos antepassados dinásticos, a pedir auxílio a
Manuel António de Sousa. As forças por este enviadas teriam conseguido, na
verdade, repelir os invasores. Um pedaço de terra retirado da moradia do
medium-espírito Masina teria sido enviado àquele capitão-mor, simbolizando a
sua vassalagem. Paiva de Andrada, sua visita às terras do Xangamire em 1885,
ficou, na verdade, impressionado com a enorme influência exercida pelos
pondoros sobre os mambos. Seja ou não verídico este episódio, não há dúvidas
que Manuel António de Sousa, aliado a J. C. Paiva de Andrada, depois de
ocupar o Báruè e o vale do Punguè, tentou sem sucesso submeter o Chefe
Mtoko, na actual Rodésia. Convencidos que esta resistência ao seu avanço na
direcção ocidental era inspirada pela dinastia dos Vicente da Cruz, instalada em
Massangano, e que dera guarida aos descendentes da família real do Báruè,
nomeando um deles capitão, os dois aliados dirigiram as suas forças contra
aquela famosa aringa que conseguiram tomar, aliás sem esforço, no ano de
1887. Mas quando voltaram a sua atenção para os territórios ocidentais
planálticos já era tarde. A «British South Africa Company» tinha-se adiantado e
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legítimo monarca. Apoiado durante alguns meses pela grande maioria dos
Barwes, conseguiu, embora com dificuldade, adesão de Gossa, chefe dos
Tawaras. Serviu-se para isso da ancestral ascendência da dinastia dos
Makombes sobre essa etnia.
De maior importância foi, todavia, a aliança firmada entre Nongué e as
autoridades espirituais dos Barwes, nomeadamente os possessos com
características mediúnicas. Entre estes sobressaíram a adolescente a quem
tinha sido confiado o título hereditário de Ambuia, e que possuía ascendência
religiosa sobre os mphondoros tawaras que, sob o seu comando, incitaram o
povo à revolta. Os sucessivos reveses que Nongué-Nongué sofreu na luta
contra as tropas portuguesas contribuíram para a rápida queda do seu prestígio.
Nos últimos meses da rebelião, passou Makosse a ser considerado o legítimo
Makombe. Batido, procurou refúgio em Mtoko, na Rodésia do Sul, no mês de
Outubro de 1918.
Assim terminou a secular dinastia dos Makombes dos Barwes e do
mesmo modo, a dos Gossas dos Tawaras. A crer na relação dos Mwenes
Mutapas compilada por Stanford Smith, o seu último representante legítimo,
Chiuoka, reduzido à condição de pequeno régulo no Distrito de Tete, ao sul do
Zambeze, também foi deposto pela sua participação nessa revolta de 1917.
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CAPITULO V
SENAS e PODZOS
e sul, mas guardando certo particularismo. Os clãs podzos são, na verdade, das
mais diversas proveniências, Chinde, Mbadzo, Thundu, Botha, Ngawa, Singo,
Sase e Cowe (do norte); Chilendje, Marunga, Bande (do oeste) ; Simboti,
Nyangombe, Chirongo, Chifungo (do sul).
CHIKUNDAS e NYUNGWES
CAPITULO VI
GRUPO MARAVE
Este sistema fluído deu origem a uma grave disputa de sucessão. Undi,
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acontece entre esta etnia. Segundo E. Lupi, em Angoche, ainda nos princípios
do século, os mais importantes chefes tribais e clânico macuas se consideravam
descendentes dos invasores ma-rundo. Também em Moebaze sobrevive a
recordação duma invasão chefiada por Rondo. Mello Machado, na sua recente
monografia sobre a região de Angoche, concorda igualmente com a identificação
feita entre Zimbas
• Rondos. A memória escrita por um anónimo em 1794 identifica Maganja
com Ruindo. E também notável o nome de Maganja da Costa, nome que sugere
uma ocupação litoral por «manganjas» vindos do interior. Acontece também que
as danças de máscaras
• o culto pluvial de mbona, sito no território manganja, parece terem
sobrevivido na actual Maganja da Costa, segundo apurou T. Price e M. Dias. A.
S. Baptista, baseado no facto dos povos designados por Makuas e Lomwec - e
até mesmo os Aquirimas - insistiram na sua qualidade de «maraves», chega ao
ponto de propor que esta denominação passe a ser-lhes aplicada.
Seja por terem, em benefício de Ajauas e Bisas, perdido o monopólio do
tráfego comercial com o litoral, seja por qualquer outra razão, os Maraves
sofreram um processo de fragmentação política que conduziu à formação de oito
sub-grupos distintos. Os principais foram os Manganjas e Nyanjas, concentrados
sobretudo no vale do Chire, e os Chewas, a oeste do Lago Niassa. Entre cada
um destes sub-grupos distinguiam-se diversos chefes independentes com os
títulos hereditários de Lundo, Undi, Mekanda, Kanyenda e Mwaze Kazungo. O
seu poder era, no entanto, assaz reduzido como se infere, por exemplo, da
narrativa de Gamito sobre as dissenções internas do reino Undi.
Quanto aos representantes do grupo marave fixados na costa oriental do
Lago Niassa, A. J. Mazula recolheu, recentemente, a tradição da sua separação
dos reinos subalternos de Kanyenda e Mekanda, dominados respectivamente
pelos clãs Mwala e Mbewe, e, bem assim, das rotas migratórias que teriam
seguido.
A partir de 1820, o aumento de procura de marfim, em moda na Europa, e
de escravos para as plantações de Zanzibar, Pemba
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CAPITULO VII
GRUPO MAKUA-LOMWE
critério linguístico seja o mais acertado para traçar as suas sub-divisões. A. Pires
Prata, na sua gramática recente, divide o Makua propriamente dito em quatro
regiões:
CAPÍTULO VIII
CAPITULO IX
GRUPO MAKONDE
para Masasi, por volta de 1850. Teriam sido primitivamente expulsos do seu
país, entre Mataka e Unangu, pelos Angonis Masekos. Os Makuas destroçaram-
nos, então, dispersando-os uns para o norte, para Masasi, outros para sudoeste
do planalto dos Makondes elo Tanganhica e outros pelas margens do Baixo
Rovuma. É muito provável que nessa altura os Makondes se vissem obrigados a
intervir, contribuindo para essa dispersão dos Ajauas. É até de admitir que os
ataques atribuídos aos Makuas se devessem aos Makondes.
Foram os Gwangaras e os Mavitis os grupos Angonis que mais
influenciaram as populações do vale do Rovuma, com as suas constantes
investidas. A desorganização que causaram nas populações aí fixadas foi
espantosa. Alguns grupos foram exterminados ou dispersos. Os Matambwes,
que, segundo Livingstone, constituíam em 1866, um grupo numeroso,
estendendo-se as suas aldeias por uma vasta área, estavam praticamente
dizimados em 1882, quando Maples passou com a sua expedição através desta
região.
Os Makondes do Tanganhica também não foram capazes de resistir aos
ataques dos Angonis Maviti e tiveram de se refugiar na costa ou em algumas
ilhas do Rovuma. Isto mesmo fizeram os Matambwes sobreviventes, chegando
alguns a ter palhotas nas duas margens do rio, aproveitando-se da superstição
que limitava aos Angonis a travessia de grandes cursos de água.
Os Makondes de Moçambique conseguiram sempre escapar a estas
investidas, em parte pela sua agressividade em frente do inimigo, mas sobretudo
pela magnífica situação defensiva do planalto, com escarpas alcantiladas para o
norte, sul e oeste e pelo matagal espesso e impenetrável que resulta do bosque
secundário, depois de a floresta primitiva ser destruída. Além disso os Makondes
souberam tirar partido das condições naturais, escondendo as suas aldeias nos
lugares mais densos do mato e tornando os carreiros de acesso autênticos
labirintos onde qualquer estranho se perdia. O mato cerradíssimo servia de
protecção. Mas, para maior segurança, todas as aldeias se tornaram lugares
fortificados, cercados por paliçadas bem concebidas, com uma ou duas entradas
trancadas. Além disso, entre o mato circundante abriam muitas covas, dentro
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CAPÍTULO X
GRUPO NGUNI
ANGONIS (NGONI)
1898 este pediu o auxílio das autoridades portuguesas de Tete contra uma
incursão britânica que, efectivamente, retirou perante as forças comandadas
pelo tenente Francisco Augusto Trindade, das quais faziam parte os chikundas
do último Caetano Pereira, cognominado «Chinsinga».
Para evitar a recrudescência do poderio angoni o 2.° tenente da Armada
Real, António Júlio de Brito, quando ocupou definitivamente a região, decidiu
afastar temporariamente dos seus antigos domínios todos os cinco filhos de
Chikussi. Três deles, incluindo Mandala, faleceram durante a deportação. Rinze
ou Zintambira, após o seu regresso, foi nomeado régulo das terras onde havia
residido seu pai, embora sem autoridade legal sobre os restantes chefes.
As duas derradeiras vezes em que os regimentos angonis de
Moçambique foram mobilizados como forças activas de combate ocorreram em
1902 durante a campanha contra o «Chinsinga» e em 1917-1918 durante a
revolta dos monarcas Makombes do Báruè que se alastrou pela Chicoa e
Zumbo.
varões foram incorporados nos regimentos e casaram com mulheres dos grupos
a) e b).
O IMPÉRIO DE GAZA
Sochangana ou Manukusse:
chuvas, a região dos prazos ao Sul do Zambeze, exigindo tributos aos senhores
e aos habitantes livres. Os documentos portugueses fazem alusão à presença,
nesta região e nesta época, de Muzila, o sucessor de Manukusse.
Defendido pelo interior, de qualquer ataque dos boers - cujos cavalos não
sobreviviam à mosca tsé-tsé - Manukusse limitou-se a consolidar o seu império
e a expropriar o armentio autóctone.
A acreditar no relato de Erkine incitou os Dondulis, uma tribo tsonga do
vale do Rio dos Elefantes, a repelir uma força de guerreiros de Mzilikazi
obrigada pelos boers a bater em retirada. Como prémio da bravura que então
demonstraram, isentou-os do pagamento de qualquer tributo. Foi possivelmente
para evitar incidentes como este que os dois inkosis realizaram o acordo de
fronteiras que já referimos.
Em 1853, a escassa área sob domínio do Governo de Inhambane era
apenas habitada por 30 000 (Bi)-Tongas. O conquistador delegou em seus filhos
a governança dos territórios mais longínquos e mantinha relações amigáveis
com Swazis, Ndebeles e Portugueses, recebendo embaixadas de Sena, Sofala,
Inhambane e Lourenço Marques, vila que não via motivos para hostilizar pon-
derando, talvez, os benefícios que para os seus súbditos advinham das trocas
comerciais. Sabe-se que por duas vezes se vangloriou perante visitantes que
pessoalmente não sentia qualquer interesse pelos artigos trazidos do litoral.
Limitou-se, na verdade, a reduzir
• vassalagem e ao pagamento de um tributo anual os dispersos prazos e
estabelecimentos portugueses.
Faleceu em Chaimite no ano de 1858.
Muzila:
Erskine mediu assem as coordenadas da sua capital: 20° 23' lat. sul e 32° 30'
long. este. Parece que em 1874 se transferiu para Buchanibude, 14 milhas ao
sul do Monte Selinda. A sua última capital, aquela onde faleceu, em 1884, tenha
o nome de Moiamuhle. O missionário Depelcline passou nas suas proximidades
em 1880. Parece ter sedo Tchametchame que possuía o nome angune de
Ndwengo, e que passou a ser reservada às suas viúvas, revestindo por
conseguinte carácter sagrado.
As relações hostes que durante alguns anos manteve com o reino swazi
devido ao auxílio militar prestado a Mawewe parecem ter cessado graças ao
processo drástico a que recorreram outros soberanos angunes: a criação de
uma «terra-de-ninguém», completamente desabitada, com uma largura de
quatro dias de marcha, que seguia aproximadamente, os cursos dos rios Sabié e
Incomáti.
As formas regularizadas de intercâmbio diplomático foram particularmente
importantes na manutenção de relações estáveis com o vizinho reino Ndebele.
As respectivas esferas de influência eram separadas pelo rio Save. Ao contrário
do sucedido com outros grupos de origem angune que, como vemos,
constantemente se degladiavam entre se, os reinos de Gaza e Ndebele
conseguiram respeitar uma situação prolongada de coexistência pacífica. Pouco
depois de ter sucedido ao trono, em 1868, Lubengula enviou a Muzila uma
oferenda constituída por gado bovino. É possível, no entanto, que tivesse havido
ocasionais mal entendidos. Quando Erskine, em Outubro de 1873, visitou Muzila
e solicitou autorização para continuar caminho até à capital ndebele aquela foi-
lhe negada por se encontrarem em guerra aberta e o primeiro ser adverso à
abertura de quaisquer vias comerciais através dos seus domínios. Entre
parênteses diremos que a referência que nesta passagem faz a Mzelekaze
deve-se, decerto, ao desconhecimento da real situação interna do reino ndebele.
Na verdade, em 1873 já Lubengula havia sucedido a seu pai, falecido cinco anos
antes.
Todavia, logo em 1879, depois de longas negociações, Lubengula tomou
como sua principal mulher uma filha de Muzela, Kwalila. Esta partiu
96
acompanhada por uma grande embaixada da qual faziam parte várias outras
possíveis noivas, incluindo uma irmã do monarca de Gaza. Esta embaixada foi
faustosamente acolhida e acumulada de entretenimentos durante os meses que
precederam o casamento. O Pe. Law cruzou-se com ela em 14 de Setembro de
1879.
Dados os entendimentos tácitos ou explícitos mantidos com Swazis e
Ndebeles e as resistências surgidas contra o seu domínio nos territórios entre os
rios Pungué e Zambeze, não admira que Muzela tivesse procurado saquear,
avassalar e obrigar a tributos as populações que ocupavam o actual Transvaal
Norte. Erskene, quando em 1868 passou pelo território compreendido entre os
rios Limpopo e dos Elefantes, encontrou os súbditos do chefe Manjaje
constantemente saqueados por Muzila que lhes destruía as culturas e os
empobrecia de todos os modos; se possuíssem gado as visitas ainda seriam
mais frequentes. Nas povoações abandonadas as populações viviam
escondidas no mato temerosas dessas depredações. Também na cronologia de
Chinangana se encontra uma referência às razias efectuadas pelos regimentos
de Muzila, em 1870, entre os habitantes dos Montes Spelonken.
Outro relato recente e fidedigno refere-se às incursões lançadas contra os
povos do sudeste da actual Rodésia. O chefe Hodi Kufakweni conseguiu com os
seus súbditos resistir durante oito anos aos destacamentos enviados para o
destroçar. É que na sua juventude conhecera pessoalmente Zwanguendaba a
quem pedira que o treinasse nas tácticas militares vangunes. Só em 1873
sucumbiu, finalmente, a um ataque lançado por três regimentos de Gaza,
segundo um plano cuidadosamente preparado. O que conseguiu surpreendê-lo
seria comandado por N'yamande (o último cognome de Muzila? )
As suas relações com os Portugueses revestiram-se de carácter algo
ambíguo. Como em todo o vasto interior as autoridades portuguesas não
exerciam qualquer domínio efectivo, o chefe angune parece ter considerado
mera formalidade, sem repercussões políticas, o acto de vassalagem que
prestou em 1861. Sabe-se que os moradores de Sofala chegaram a cotizar-se
para lhe pagar o tributo que anualmente exigia. Por sua causa Sofala foi
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Gungunyane (N'Ghungunyane):
A revolta de Maguiguana: