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Genealogia da Moral: noção de “bem e mal”, má-consciência e

ideais acéticos.

Genealogia da moral foi publicada em 1886-7; a mesma quer dizer valor das
origens ou origem dos valores. Ela se divide em três teses, a primeira dissertação
vem tratar sobre a noção de “bem e mal”, a segunda “má-consciência” e a terceira
“ideal ascético”. Genealogia da moral foi escrita por Nietzsche com o propósito de
responder alguns questionamentos que se levantaram acerca da moral de cunho
não teológico, partindo de uma análise que perpassa os valores ocidentais desde
Sócrates.

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em Rock, Alemanha, em 15 de outubro


de 1844. Com avós luteranos, tinha como futuro certo torna-se pastor, escolhendo
seu destino ao descobrir sua vocação filosófica, transformando-se num dos
pensadores mais importantes do século XIX. Aos 24 anos já lecionava filologia na
Universidade de Baselia. Em 1879 teve que afastar-se por debilitação na saúde.
Desde de então passou a levar uma vida assinalada de crises constantes. Em 1882
começou a escrever sua obra mais famosa, Assim Falava Zaratustra. Os períodos
seguintes foram de intensa produção, suspenso em 1889 por uma crise de loucura
que durou até sua morte, em 25 de agosto de 1900. Algumas principais obras são:
Além do Bem e Mal (1886), Assim Falava Zaratustra (1883), Gaia Ciência (1882),
Aurora (1881), humano demasiado humano (1878), Crepúsculo dos Ídolos (1888),
Ecce Homo (1888), Anticristo (1888), O caso Wagner (1888), Vontade de Potência
(1901), A origem da Tragédia (1872), O viajante e sua sombra (1879).

Toda a composição textual desta valiosa obra (Genealogia da Moral) nos é


relevante, pois tal fundamentação fenomenológica sobre os comportamentos, as
escolhas e os processos do pensamento nos dá um acervo de informações do ser
na realidade e do ser como próprio mundo, e que tais valores não são de caráter
inerente ao homem, ou seja, aquilo que o homem aplica como a religião, a moral, a
verdade, a ciência é uma própria invenção do homem, e a investigação filosófica
nesta obra mostra os processos de degeneração, negação de si e o ressentimento
que o homem interiorizou a parti destas aplicações. A importância de sua reflexão é
trazer na humanidade o retorno de sua natureza sensível, ou instintivas, que se
desfez enquanto processo histórico, pois segundo o autor a razão da moral cristã, e
a razão metafisica do ocidente se institucionalizou como princípio dogmático e
inerente ao homem.

Na obra o filosofo apresenta em seu prólogo todos os caminhos que sua tese
percorre; “Aonde estiver seu tesouro, aí estará também seu coração” esta frase está
no início do prólogo e da alusão a busca que o ser humano tem de se afirmar no
mundo, e esta afirmação se dá a partir dos valores e dos sentidos que concebemos
a cada escolha que tomamos. Quantas vezes paramos para entender por que estes
valores e sentidos os são como são, quais seus significados e suas procedências?
Pensando nisso, Nietzsche, questionou-se sobre as “vivencias” e percebeu que por
trás destas tem sempre uma moral que se afirma. Esta moral tem por conceitos
vinculados o “Bem e mal”, “Consciência” e um “ideal”. Deixando bem claro sua
procedência aos preconceitos morais, na qual teve origem desde seus treze anos
de idade e, seu impulso a esta via consolidou-se ainda mais ao ler um livresco de
Pal Reé, do ano de 1877, que constatava sobre uma genealogia, o livro
denominava-se “A origem das impressões morais”.

De certo, seu exercício não era aplicar a moral uma resolução de hipóteses,
ou dar um parecer utilitário acerca de suas reflexões ou de outros, mas sim trazer
um confronto de modo genealógico sobre o valor que os valores tem, visto que os
filósofos e os psicólogos até seu posicionamento não conseguiam explorar tal
fundamento, dando a estes valores uma ideia de “si”, ou seja, pertencente a si
mesmo; aplaudindo e adorando o não-egoísmo, a compaixão, a abnegação, os
sacrifícios, e que conservam a negação da vida e de si mesmo. Deste modo, o
escritor traz a neutralidade, como o mesmo diz uma cor cinzenta, isto é, uma nova
crítica aos valores morais, o próprio valor desses valores posto em questão. E para
tanto é preciso expor toda as circunstancia sobre os quais ela se desenvolveu e se
modificou, uma moral como consequência, sintoma, máscara, doença, mas também
como causa, medicamento, estimulante, inibição e veneno.

A saber, o que é a moral? É a decisão sobre a vida, na qual exige sempre


uma escolha de valor, adornada pelos sentidos. Todavia, para Nietzsche a moral é
um sintoma de forca vital, ou de fraqueza vital, que tem sempre um interesse por
trás, ou melhor dizer, a moral é sempre a moral de alguém, e segundo ele, ela não
comporta coisas em si, e que existem pessoas que pregam esses valores, que
querem coisas. Ao analisar a história da humanidade constatou-se que o que existia
era uma moral dos fortes (senhores, ou aristocrata) e uma moral dos fracos
(escravos). A natureza do ser humano é sempre a busca de sua preservação, e este
luta constantemente por sua adaptação, característica de sua animalidade.

Quando esses homens tentam lutar pela parte do mundo, o mais forte
fisiologicamente vence a luta contra os fracos, o que gera na sociedade duas castra
ja mencionada a cima e este que ganhou subjuga sobre os inferiores, no momento
que isso acontece os superiores passam a emitir juízos sobre a vida, e
subsequentemente sobre os subjugados. É a partir daí que entra o conceito de bom,
ele nasce na pré-história; o conceito de bom é o julgamento dos fortes sobre os
seus atos, o aristocrata define o valor do Bom segundo ele mesmo. O ser humano
tem instintos e o mesmo não pode ser anulado, os instintos para Nietzsche é a
vontade de poder, de dominar, na obra crepúsculo dos ídolos está o exame
detalhado deste conceito.

Como os instintos não podem ser anulados, e que a vontade do ser humano
é dominar, sucede que a castra mais forte duelam entre si, e dentre eles surgem os
vencedores e assim predomina a subjugação sobe os fortes que perderam, quando
esses perdedores tiveram sua expressão negada, não podendo anular seus
instintos a saída deles foram internaliza-lo. O homem com seus instintos
internalizados é a casta sacerdotal, os sacerdotes sem potência para lutar no
mundo, e com o mundo, ele anula a vida, os sentidos e manda para o nada. Os
sacerdotes viam sua força anulada assim como as dos escravos, e começa a pregar
a todos os valores dos servos, unindo-se aos escravos, estipulam um processo de
reatividade, em oposição a atividade. Um ser ativo explode seus instintos, o reativo,
vive de um não-ser. Dessa forma na pré-história o conceito bom e mau, serviu para
distinguir o que era superior do inferior, quando os sacerdotes unem se aos
escravos, e obtêm-se uma nova inversão desses conceitos.

A inversão dos valores sucede quando eles começam a dizer que somente os
miseráveis são bons, os pobres, os impotentes, os enfermos, os pequenos, os feios,
somente estes são os bem aventurados, os escolhidos e abençoados por Deus. No
final de tudo os sacerdotes almejam uma vingança sobre os guerreiros, os fortes. A
revolução dos sacerdotes é chamada de cristianismo, mas o que prega o
cristianismo a ponto de a mais de dois mil anos se viver com tanta veracidade a
necessidade de conduzir-se a essa integridade cristã? O “novo amor”, um amor que
se transformou em carne e que se sacrificou para salvar as almas que não vencia o
mundo, uma forma sedutora sacerdotal de impor seu instrumento de vingança, a
ponto de sacrifica-lo, visto que os judeus negaram Cristo, uma manipulação
psicológica encima de seus inimigos.

A castra sacerdotal tirou a vida da carne e osso todos os sentimentos e


valores, e lançou ao nada, onde ali eles serão os que subjugaram e viveram suas
vontades, assim nesta moral cristã, o nada (Deus) passa a conduzir a vida correta.
Então enquanto os aristocratas vivem para afirma-se no mundo, segundo seus
próprios atributos, os escravos se opõe a um não, a tudo o que não é seu.
Nietzsche mostra que essa mudança total dos valores, de orientação exterior em
lugar do retorno para si evidencia precisamente o ressentimento, termo bem
colocado para explicar os sentimentos que não podem ser descarregados para fora
e se voltam para o interior do homem, onde- não digerido- ficam sendo ressentido,
ou que ficam sendo sentindo mesmo quando ele não existe mais.

O bom para o homem do ressentimento é aquele que não usa da brutalidade,


não agride, não usa de represálias, espera a vingança de Deus, que vive culto,
aquele que evita toda a maldade; de maneira geral, exige pouco da vida, sempre
com sintomas, sempre paciente, humilde e justo; por trás dessas mórbidas palavras
existe um sentido, que eles vão chamar como por exemplo, o não uso da represália
em “bondade”, a pouca exigência da vida de “humildade”, a submissão a autoridade
( aqueles que eram enviado de Deus), em “obediência”, esperar a vingança em “
paciência”, e como resposta de consolo para todos os mártires que passam nesta
vida, todo o sofrimento lançaram para um fim, um juízo final, pois, eles que não
aceitam a adversidade da vida, e que tudo aquilo que os atingem tem que pagar,
deve ser vingado, mas enquanto isso não acontece eles vivem, na “fé”, no “amor” e
na “esperança”. Os bem-aventurados no reino celeste verão as penas dos
condenados, para que sua beatitude os torne mais feliz. Assim os conceitos “bom e
mau”, “bem e mal” travam uma luta durante milhares da anos, e embora o segundo
valor se há muito tempo preponderante, ainda existe aqueles que tentam viver
segundos sua afirmação, “bom”, uma característica de natureza superior.
Para entender a definição de má consciência na filosofia nietzschiana
necessita-se antes de mais nada abstrair a concepção de mundo e afeto. O mundo
para Nietzsche não é uma transcendência, mas uma natureza submetida as suas
forças e leis subterrâneas, e subsequentemente, o homem para ele é parte dessa
força e desta lei, não há nada que separe o homem deste mundo, logo, isso obriga
o homem há está em constante contato com o mundo, pois para o pensador ele
também é o mundo.

A relação do homem e o mundo é representado por uma competição, por


uma vontade de dominar, e isto é inseparável de sua natureza, como sua qualidade
é a vontade de poder, o homem tenta impor-se sobre o mundo, em outros termos, o
homem tenta transfigurar mais dele no mundo, porém as outras parte mundo,
igualmente, expressa sua vontade sobre o homem que está sujeito a dominação
desta parte. Essa luta de forças terá um nome para Nietzsche, aumento e
diminuição de poder.

Quando o corpo do homem percebe que ele estabeleceu sua vontade sobre
uma determinada parte do mundo, ele nota que seu poder aumentou, se ao
contrário, o mundo estabeleceu sua vontade sobre ele, sua força diminui. A
compreensão desse fundamento é importante pois, assim entenderemos que são os
afetos, ou sentidos, que interpretar essas forças que o homem impõe no mundo e
recebe do mundo, mas o que são os afetos? É a analise que o corpo dá há
determinadas parte do mundo que os atingem e provoca essa diminuição e aumento
de poder. Acontece que o nosso corpo tem aparelhos nervosos que sentem o
mundo, esse aparelho sensor é uma espécie de membrana coletora que recebe
esses estímulos. Todavia, esses estímulos não ficam nesta membrana, ela é
apenas um local de passagem que manda esses estímulos para o inconsciente, e o
inconsciente irá determinar os comportamentos para o corpo.

Este local de passagem chama-se pensamento. O pensamento é a imagem


dos afetos, das ideias que produzimos a partir do contato que temos com mundo,
assim segundo o autor, o bom funcionamento do pensamento é aquele que deixa
correr os afetos. Nós estamos constantemente recebendo estímulos do mundo e
mandando para o pensamento, o mesmo lançando-o para o inconsciente, nesta
linha de reflexão, compreende-se que o pensamento precisa se esvaziar, quem faz
essa limpeza é o esquecimento, um atributo, segundo Nietzsche, de grande
relevância, pois o mesmo permite que o pensamento esteja sempre limpo para
novas sensações, isso é sinônimo de rejuvenescimento.

Quando o esquecimento não consegue se livrar dos afetos, e este fica preso
no pensamento e não se encaminha para o inconsciente, forma-se a memória, a
memória não é visto com apreço ao filosofo, porém foi uma faculdade que todo o
homem criou. O autor define a memória do aristocrata como capacidade de
prometer, pois eles subjugam sobre sua memória, deixando influenciar todo a sua
externalização, seus juízos é promover no mundo mais de si, enquanto as dos
escravos é uma memória ressentida, engajada na auto preservação, proteção.
Tanto o homem ativo e reativo criaram uma memória da vontade, mas sua utilização
é diferente.

A origem da culpa como valor moral tem descendência no valor da


responsabilidade e na confiança, sendo assim, na capacidade de prometer e
executar sua promessa. O ser humano é o único capaz de pendurar no futuro uma
lembrança do passado. Essa capacidade de prometer é uma totalidade do homem,
ou seja, a promessa tem por objetivo uniformiza-lo, deixa-lo constantes e confiáveis.
O valor da confiança e da responsabilidade está ligado a uma dívida e alicerçada
em uma obrigação, por isso que a memória exige uma cristalização desses juízos.
Sinal de doença para Nietzsche, pois se este cristaliza na memória estímulos, não
se permite experimentar novos impulsos, e assim deixa de viver.

A obrigação não executada gera um conflito entre credor e devedor, o credor


exige que o seu devedor pague pelo dano. A culpa seria nesse caso uma condição
de dá ao credor o direito de castigar o seu devedor, mas somente no sentindo de
querer reparar uma necessidade causada, e sim pela satisfação de fazer sofrer. Os
ressentidos como cultivos de forças reativas, ínfimos de sua potência exigem que os
demais sejam também, é nesse pretexto que emerge a justiça, e não obstante, a
gênese desse termo é a crueldade. Todos têm prazer pelo sofrimento, já dizia o
autor: “ver-sofrer faz bem, fazer sofrer mais bem ainda -eis uma frase dura, mas um
velho e sólido axioma humano demasiado humano.” (GENEALOGIA DA MORAL, §
6)
A necessidade da culpa é um valor dos ressentidos, pois carecem ver todos
os que são diferentes de si pagarem, impondo o castigo como forma de restituição
lançada ao outro, necessitam de justiça, de verdades, de guerra a todos que não
constantes. Diferentemente, os ativos não precisam de reparação, vivem suas vidas
de acordo a sua capacidade de superação, encorajamento.

A má- consciência é uma profunda doença que o homem teve que contrair
sobre a exigência das mais radicais mudanças, tais mudanças que sobreveio no
momento quando ele se viu definitivamente encerrado na esfera da sociedade e da
paz. Os instintos antes sentidos por uma consciência limpa e renovadora agora
inibisse. Uma auto sabotagem de si, hostilidade, vingança reativa, um salto para o
futuro, aniquilamento de seu corpo, em prol de uma consciência, que ele mesmo
inventou. Portanto, se na sociedade aristocrata a dor era externalizada para que a
vida fluísse, nesta sociedade cristã, o fundamento se volta para a mente do sofredor
que passa a se martirizar. E os dois tem como foco uma plateia para que sua arte
seja expressada, a diferença é que numa está na humanidade e a outra está no
nada (Deus), no transcendental.

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