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SOCIEDADE E APRENDIZAGEM – UMA VISÃO SUCINTA, NO TRANSCORRER

DA HISTÓRIA.

Ivan Bim Requena1

RESUMO

A humanidade tem sua história dividida em fases nas quais se detectaram níveis diferenciados
de necessidade da educação formal e da própria forma com que tal processo educativo sofreu
tantas transformações, adaptando-se, a cada período de tempo, em conformidade com as
demandas sociais por conhecimento e pelo estabelecimento de princípios e valores
comportamentais e relacionais. Pretende-se realizar uma abordagem histórica concisa sobre o
processo evolutivo do processo educacional humano em função, também, das demandas
sociais por novas descobertas que significassem melhoria da qualidade de vida, condições
mais adequadas de relacionamento em todos os níveis, etc. As fases anteriormente citadas são
identificadas como Fase Primordial, Idade Antiga Oriental e Clássica, Alta Idade Média,
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, sendo que em cada uma delas,
traços muito específicos são percebidos como nos próprios métodos de pesquisa, de produção
e disseminação do conhecimento, de gestão educacional, de focos distintos que atendiam às
demandas educacionais em conformidade com as especificidades de cada região e cultura.
Dentre as intenções do presente artigo de revisão está ainda a possibilidade de se estabelecer
uma relação direta ou indireta entre os tipos de sociedade que significam respectivos tipos de
educação e os consequentes resultados sociocomportamentais, revelando-se, com isto,
algumas perspectivas distintas da educação e da sociedade, hoje propagadas.

Palavras-chave: Sociedade. Educação. Aprendizagem. Evolução cognitiva.

ABSTRACT
Humanity has its history divided into phases in which different levels of the need for formal
education have been detected and the very way in which this educational process has
undergone so many changes, adapting itself, at each period of time, in accordance with the
social demands for knowledge and by establishing behavioral and relational principles and
values.It is intended to carry out a concise historical approach to the evolutionary process of
the human educational process in function of the social demands for new discoveries that
would mean an improvement in the quality of life, better conditions of relationship at all
levels. The phases mentioned above are identified as the Primordial Phase, Eastern and
Classical Old Age, High Middle Ages, Low Middle Ages, Modern Age and Contemporary
Age, and in each of them, very specific traits are perceived as in the research methods
themselves. production and dissemination of knowledge, of educational management, of
distinct focuses that met the educational demands in accordance with the specificities of each
region and culture.Among the intentions of this review article is the possibility of establishing
a direct or indirect relationship between the types of society that signify their respective types
of education and the consequent socio-behavioral results, thus revealing some different
perspectives of education and of society, now propagated.

Key-words: Society. Education. Learning. Cognitive evolution.

1
. Doutor em Ciencias de laeducación – FICS; Mestre em Engenharia de Produção – UFSC, Especialista em Gestão empresarial e
Gestão de Pessoas e em Metodologia do Ensino Superior – UNIR. Bacharel em Administração – UNICESUMAR.
INTRODUÇÃO
Distorções sociais de grande abrangência e impactos comprometedores, têm
provocado a necessidade de pesquisas e estudos mais amplos e significativos sobre os
componentes constitutivos das sociedades, com ênfase, principalmente, na educação. Na
busca por maiores elucidações pertinentes ao tema, será apresentado um breve retrospecto
histórico que tem por finalidade situar os processos de ensino e aprendizagem através do
tempo e suas implicações no desenvolvimento social, fruto da consequente elevação dos
níveis cognitivos.
As “educações” ministradas no transcorrer da história foram suficientes para
estabelecer o equilíbrio social? Todas as conquistas decorrentes da ampliação e disseminação
do conhecimento trouxeram inovações relevantes para a melhoria da qualidade de vida, no
entanto, essas mesmas “educações”, principalmente a educação das Idades Moderna e
Contemporânea, não foram responsáveis pelo acentuado senso de libertação de eventuais
amarras conservadoristas, levando a sociedade a determinar que as grandes lideranças
promovessem uma abertura (até mesmo legalizada), para comportamentos ditos escusos e
comprometedores?
O objetivo maior é identificar características fundamentais e papéis no âmbito da
educação formal e sociofamiliar em relação à educação como um todo e à constituição da
sociedade. Pretende-se, com isto, percorrer, de forma objetiva e concisa, os corredores da
história, de modo a detectar as influências da aprendizagem e da educação na formação das
coletividades. A pesquisa dar-se-á pelo método de revisão, contemplando-se teóricos de
relevância para o tema, sendo consideradas, assim, algumas fontes secundárias.

1. APRENDIZAGEM E CONHECIMENTO NOS PRIMÓRDIOS DA


HUMANIDADE.
Conforme exposto de forma bastante ampla pelas ciências, os primórdios da
humanidade são marcados por alguns fenômenos singulares. Inicialmente as pessoas
dedicavam-se com plena ênfase a atividades básicas que lhes fossem suficientes para a
manutenção da vida, ou seja, atividades de subsistência, podendo-se destacar a caça, a pesca,
a moradia e alguns sistemas rudimentares de ataque e defesa quanto a outros clãs e animais
selvagens. Em seguida, com alguns avanços ferramentais, vem o domínio da agricultura, do
uso de tração animal e a mineração.
Quanto à fixação do clã em algum ponto geográfico, esta não prevalecia, sendo que o
nomadismo em campos e florestas era a melhor opção, já que tão-somente os elementos de
subsistência eram o principal foco: alimento, água e segurança, principalmente. Esse modelo
perdurou por muito tempo, antes que o homem decidisse por estabelecer domínio regional
com a construção de sedes que vieram a tornar-se cidades. (COTRIM, 2007).
Ora, para esse período preliminar da humanidade, a educação formal simplesmente
inexistia, sendo que o aprendizado transmitido de uma a outra geração, era limitado à
compreensão dos meios mais eficazes para a manutenção do clã em termos de alimentos (caça
e pesca), bem como da habitação e segurança. Conforme demonstrado pelo registro histórico,
até mesmo a transmissão de conhecimentos dava-se mais amplamente pela oralidade e por
alguns registros denominados rupestres. Assim, pode-se concluir que a aprendizagem de
subsistência era a “atividade educativa” mais recorrente.
De acordo com Childe (1960), o ser humano pode ser considerado uma criatura
extremamente criativa e desbravadora, sendo que essa característica foi suficiente para que
novas descobertas alterassem sensivelmente os meios de subsistência, passando até mesmo à
possibilidade de negociação entre tribos, dos itens que excediam ao consumo do grupo. O
avanço dessa complexidade intra e intergrupal levou, de forma natural, a que esses
antepassados aprimorassem seus métodos, inovassem e agregassem novas formas de pensar e
estabelecer a melhoria da qualidade de vida.
Com isto, passa a ser necessário, em determinado tempo, a constituição de meios mais
bem elaborados de manutenção e perpetuação dos saberes acumulados, sendo esta demanda o
início mais “formal” da preparação de pessoas que viessem a operar melhor os meios de
produção, de armazenagem e transporte, de pessoas melhor preparadas para enfrentamentos
“militares”, entre outros. Lembrando bem, um exemplo tradicional dessa evolução da
aprendizagem de operacionalidades para a subsistência, a conservação de alimentos, foi um
processo a ser aprendido e ensinado, que se tornou vital para esse e outros avanços e
aprimoramentos sociais.
A História demonstra ainda que com as expansões geográficas e demográficas, novos
métodos e processos ainda viriam a ser criados e/ou aprimorados e, nesse caso, entraria em
cena outra evolução científica: a educação formal efetiva. Haverá um salto agora, de alguns
séculos, saindo dos patamares da aprendizagem para a subsistência/sobrevivência para a
educação revolucionadora. Tem-se aqui uma realidade muito distinta da primeira, pois agora
o homem se valerá de instituições científicas de ensino e aprendizagem, para que o avanço
seja cada vez mais intenso e profícuo.
O nomadismo dá lugar ao sedentarismo (o homem nas grandes e pequenas cidades),
sendo que as inovações são o principal foco. Elas são amplamente percebidas na medicina,
nas comunicações, nos transportes, nas engenharias, na astronomia, na produção (de artesanal
para industrial mecânica, em série), no militarismo, e em outros campos das ciências
conhecidas. Acompanham este processo social as expansões geográficas intercontinentais; as
normatizações morais do convívio em sociedade; são estabelecidos governos oficialmente
constituídos, enfim, a aprendizagem para sobreviver dá lugar à aprendizagem para
revolucionar. (COTRIM, 2007).
Assim, pode-se deduzir que nos primórdios da humanidade, prevalecia um sistema
incipiente e informal de “educação” simplista, com foco exclusivo na capacitação do
indivíduo para permanecer vivo, o que indica a presença da condução indutiva do mesmo,
com abordagens micro existenciais significativamente despretensiosas no que diz respeito a
concepções mais complexas, havendo, assim, apenas requintes muito elementares na
normatização para a convivência.
Nesse caso, seja aqui denominadaessa fase primordial de SR-Sociedade Rudimentar.
A produção e o acúmulo de conhecimento desenvolviam-se lentamente, de forma
básica, indutiva, ametódica e assistemática, com predominância, inclusive, da cultura mítica
que, como não podia ser diferente, acentuava ainda mais a imposição de limites significativos
para o avanço da produção e disseminação do conhecimento. Acredita-se que esta limitação
estava relacionada, também, às próprias demandas de subsistência daquela população, ou seja,
“tudo o que é preciso para sobreviver está nesse ambiente e, portanto, não é necessário e nem
se deve ir além”. Platão traz uma ilustração bem apropriada quando escreve o Mito da
Caverna, no qual apresenta essas tais limitações que muitas vezes são impostas pela própria
pessoa, quando identifica no seu ambiente próximo, o único e suficiente para preservar a
existência. Como que se afirmasse que não haviaqualquer outro ambiente, por vezes a
explorar; tudo o que está em nossa mira e mais próximo a nós é o que verdadeiramente existe.
(SCHNEEBERGER, 2006).
2. ABORDAGEM SOBRE SOCIEDADE, EDUCAÇÃO ECONHECIMENTO NA
IDADE ANTIGA ORIENTAL E CLÁSSICA.
Com a elevação quantitativa e qualitativa das demandas gerais da humanidade, e já
com muitas civilizações bastante organizadas (no Norte da África e na Ásia, os chineses,
indianos, babilônios, persas, sumérios, egípcios, entre outros, e na Europa, os romanos,
gregos, etc.), percebem-se avanços muito significativos para que a educação convencional se
consolide. Enquanto nas eras anteriores prevalecia a transmissão oral do conhecimento, o
surgimento da escrita melhora, dissemina mais amplamente e preserva o conhecimento nessa
espécie de “arquivo” tangível que começa com a pedra/argila, por alguns metais e madeira,
passando pelo papiro, o pergaminho e chegando ao papel.
Higounet(2003), assim se refere à importância da escrita para a humanidade:

A escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir
de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas
imensas eras: antes e a partir da escrita. (...). Vivemos os séculos da
civilização da escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se sobre o
escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu a
convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E,
sobretudo não existe história que não se funde sobre
textos.(HIGOUNETapud GOMES,2003,p.2)

Tal é o grau de elevação da potencialidade humana a partir da escrita, como sendo ela
um avanço extraordinário nas possibilidades de mais desenvolvimento. Tal descoberta e
implementação contribuiu significativamente para a evolução da cultura, da economia, das
relações políticas, do vindouro processo educacional e da própria sociedade.
Conforme visto anteriormente, os grandes conhecimentos das eras anteriores à
modernidade eram construídos em torno de demandas limitadas, as quais passaram a ser de
maior dimensão, exigindo uma equivalente ampliação desses mesmos conhecimentos. O que
antes se restringia a dominar técnicas de caça, pesca e afins, agora passa a exigir técnicas mais
elaboradas e complexas, como otimização de produção, armazenamento e transporte,
segurança, etc.
Novas técnicas e conhecimento passam a ser demandados como a alquimia, a
metalurgia, a agricultura e pecuária mais aprimoradas, e até mesmo estudos mais avançados
na astronomia e na física, por exemplo. Isto remete a população da Idade Antiga Oriental e
Clássica a comporem e estabelecerem os grandesalicerces dos saberes da Filosofia e da
Matemática; ademais dos pressupostos científicos teóricos e/ou práticos da Química,
Astronomia, Física, Medicina, Engenharia, Direito, e Artes, entre outros. Há aqui um avanço
significativo no conhecimento e na educação.
Assim, da invenção da escrita até o Século V d.C., as bases da educação formal são
lançadas, sendo as poucas “escolas” existentes de acesso muito restrito, dificultando uma
expansão mais substancial da produção e disseminação do conhecimento.
A prevalência no avanço cognitivo ainda se dá por meios ametódicos e assistemáticos,
evoluindo, no entanto, para as possibilidades da dedução, somada à da indução, destacando
também que o empirismo filosófico detém a força maior nas elucidações mais aceitas à época,
com os grandes filósofos e pensadores gregos e romanos assumindo a dianteira no
estabelecimento de teorias e leis gerais. Isto se faz coerente, pois com os avanços obtidos e
com o “brilho” demonstrado pelas grandes descobertas do homem, questões mais complexas
passam a requerer respostas, como a origem, a composição e o sentido da vida e do próprio
cosmos, bem como o futuro de todos esses elementos.
Esses avanços e conquistas do pensamento humano em busca de mais elevados níveis
de conhecimento lançam os fundamentos históricos de um desvencilhamento preliminar em
relação às imposições do Pensamento Mítico, trazendo em sua sombra aprofundamentos
reflexivos de volume até ali incomparáveis e expandindo os domínios cognitivos mais
adequados para a promoção da melhoria da qualidade de vida em muitos aspectos. As
pretensões dos pensadores e pesquisadores passaram a ser mais impactantes, ampliando as
possibilidades dorerumcognoscere causas.
Com isto, muitos fundamentos para a implementação de uma sociedade mais justa e
igualitária foram firmados, como por exemplo, os grandes conceitos e bases doéthos, da pólis
e do Direito, bem como da valoração mais elevada das artes e da cultura em geral. Essas
significativas contribuições trouxeram não só uma outra visão da vida, como também do
próprio cosmos, sendo ensinamentos úteis até os dias atuais.
Consolida-se, então, outra perspectiva quanto ao avanço cognitivo da humanidade, já
que, quanto às possibilidades de explorações e observações, os limites deixam de existir, e
também as construções passam a ser, além de indutivas, também dedutivas, pois os
questionamentos do geral para o específico ganham mais atenção e espaço.
A essa fase histórica da sociedade em relação à educação e ao conhecimento, se
atribuirá o título deSPC-Sociedade Promissora não Complexa, tendo em vista que apesar
dos grandes avanços obtidos na construção e na difusão de novos saberes, as comunidades em
si, ainda mantinham muito do status quo dos períodos antecedentes, sendo poucos os
elementos de complexidade acumulados até então, e “não complexa”, principalmente em
relação à idade moderna e contemporânea, onde as variáveis que elevam o convívio social
para graus muito mais elevados de complexidade tomam lugar.
Dando agora um salto na História e analisando, a seguir, alguns elementos marcantes
que compõem as sociedades moderna e contemporânea, e que as tornam altamente
complexas, ficará mais fácil concordar com a denominação de SPC, para este período em
análise (Idade Antiga Oriental e Clássica):
a) A explosão demográfica global;
b) A expressiva carga de normas, códigos e leis que se impõem às sociedades atuais,
como meio de normatização para as relações, por exemplo, de trabalho e produção,
consumo, globalização/parcerias internacionais, política e economia, entre outras;
c) Os quase incomensuráveis avanços tecnológicos em todas as grandes áreas do
conhecimento; muitos deles que, inclusive, alteraram sensivelmente as relações
humanas, fazendo com que se perdesseboa parte da identidade afetiva intra,
interpessoal e intergrupal; em função das sofisticadas tecnologias de comunicação no
apogeu do mundo virtual.
d) A ressignificação das identidades culturais/relacionais, pela desconstrução e
reconstrução de valores e regras de convívio, principalmente quanto a
comportamentos discriminatórios;
e) A degradação ambiental atualmente percebida.
f) A perceptível instabilidade político-econômico-militar entre as nações, indicando que
as grandes propostas filosófico-políticas até então apresentadas como solução para a
estabilidade global, não alcançaram seus bem-intencionados objetivos.

Referindo-se a essa evidente “crise de convivência”, Martins, assim se expressa:

A crise com que convivemos desde a última década do século XX,


pela ausência de um futuro harmônico entre povos, conceitos,
convicções e responsabilidades, de tal sorte, faz camuflar o espírito de
integração virtual pelo ocaso de um tempo tecnológico. De tal
maneira, isso faz as pessoas se refugiarem em grupos e guetos,
eximindo-se da afeição de qualquer política comum, preferindo a
defesa de seus próprios interesses; é o que nos leva a admitir que a
democracia deva ser repensada, não apenas como um mero modelo
sócio-político, mas, acima de tudo, como um estado de espírito, que,
pela diversidade cultural dos povos e sociedades, possa servir como
alicerce para um novo direcionamento da ordem política e econômica
do globalismo neoliberal.MARTINS (2017, p.22)Grifos nossos.

O “novo direcionamento” apresentado pelo autor, pode muito bem representar essa
condição de instabilidade social que se avolumou na sociedade global e que, como
consequência, impôs a concepção e a implementação de novos caminhos que permitissem ao
ser humano um convívio influenciado muito mais pela libertação comportamental plena, que
pelas imposições e limitações das eras anteriores. Aqui está, portanto, uma nova Sociedade
Complexa, diferente da anterior que, apesar dos avanços, ainda se mantinha com menor índice
de complexidade em relação ao que hoje se vê.
As políticas e ações econômico-sociais das sociedades moderna e contemporânea
indicam, também, que se vive, sim, numa coletividade muito mais complexa que as
anteriores, bastando um olhar até mesmo rápido nos índices de demandas sociais pelos
serviços públicos e/ou privados abaixo indicados, para se confirmar tal realidade:Educação,
Saúde e previdência, Segurança, Justiça, Transporte, Comunicação,
Trabalho/Produção/Consumo, entre outros.
De qualquer forma, a fase denominada Idade Antiga Oriental e Clássica tem méritos
próprios para ser considerada como que um “grande berço” da educação e do conhecimento
para as eras futuras. Resta administrar com sabedoria esse grande legado e aplicar muitos dos
seus ensinamentos para que a juventude, educação e sociedade sejam cada vez mais profícuas.

3. EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO NA ALTA IDADE MÉDIA


Nesse impressionante período da história humana e, de forma mais destacada para a
fragmentação do Império Romano, teve como elemento também de destaque, a ascensão da
Igreja como possível vetor de convergência dessas “novas nações” ali instaladas, bem como
de outros povos por ela “conduzidos”, para o eventual impedimento do caos social presente à
época. Assim, a Igreja se posiciona como a mais forte e sólida referência remanescente do
extinto Império Romano Ocidental – Séc. V – e, como tal, pretensiosamente assume, num
primeiro momento, a “condução cognitiva da humanidade” para, na sequência, influenciar
também nas relações políticas e econômicas – Séculos VI-X.
O ensino e a aprendizagem formais estavam presentes nessa época, mas de forma
extremamente restrita, sendo muito limitados os acessos da população às letras, aos cálculos e
às pesquisas em geral, de maneira mais acentuada ao buscar-se aprofundamentos quanto aos
fenômenos da natureza. A educação que outrora se dava na “academia” da Grécia Antiga,
agora é transferida para o padrão da Escolástica, constituído e estabelecido pela Igreja, que
passa a controlar de maneira ferrenha os avanços da produção do conhecimento. Na
Escolástica, implanta-se um método bastante distinto da proposta clássica grega. Trata-se do
método medieval onde o mestre expõe verbalmente seus ensinamentos e os alunos
simplesmente ouvem, tonando-se passivos no processo.
Com isto, os parcos avanços científicos identificados nessa época não advinham das
massas populares e nem a elas se destinavam como possíveis soluções sociais. Poucas
aberturas foram mantidas para as artes, sendo a escrita e distribuição de livros praticamente
proibida, ficando as obras existentes condenadas ao fogo ou então confinadas a mosteiros de
difícil acesso. (FRIED, 2015).
Assim, a Alta Idade Média fica marcada por uma comprometedora involução
científica, cultural e social, que imerge a humanidade em um obscuro mundo que volta a ser
dominado, pelo menos nas classes sociais menos favorecidas, pelo Pensamento Mítico. Uma
aparente reversão do quadro parece ser vislumbrada no horizonte, com a criação de algumas
instituições de ensino (escolas e universidades), sendo que não se constatou uma ampliação
social desses recursos educacionais, mas sim a mesma limitação e restrição de acesso a essas
unidades, já que as mesmas sempre estiveram sob rigoroso controle dos detentores do poder
econômico e religioso do período (Séculos VI-X).
Nessa época de reprimido avanço científico (e educacional, obviamente), as parcas
observações científicas existentes dos fenômenos naturais e sociais mantiveram na
aplicabilidade dos métodos indutivo e dedutivo, o predomínio da visão empírico-filosófico-
teológica, sendo todo esse movimento destinado não à elevação dos níveis cognitivos da
sociedade em geral, mas apenas como forma de se ampliar e consolidar o poder da própria
Igreja e de seus “benfeitores”. Assim, as produções cognitivas mais expressivas restringiam-
se aos “iniciados” desse privilegiado conjunto de pessoas, as quais naturalmente compunham
comunidades de grupos altamente secretos. De forma quee as produções dogmáticas míticas
destinavam-se à massa popularesca, também denominada “goiym”, como forma de repressão
e controle absoluto, restando-lhe uma baixa qualidade de vida, derrocando a uma ínfima
perspectiva de vida limitada de três a quatro décadas.
Tudo isso levou a humanidade a uma convivência social altamente vigiada e uma
acentuada escassez de direitos com um não correspondente excesso de deveres e
obrigações.Assim como nas fases anteriores, também será atribuído à sociedade desse período
um título, denominando-a (com predominância para o Ocidente), de SRC-Sociedade
Reprimida não Complexa; sendo que sua não-complexidade se deve, também, aos fatores
identificados no subtítulo anterior.

4. EDUCAÇÃO NA BAIXA IDADE MÉDIA


Fried (2015) acentua que o momento histórico em que o feudalismo entra em declínio,
constatam-se algumas possibilidades de expansões na educação formal, sendo essas
expansões percebidas tanto na própria produção do conhecimento como em sua disseminação.
As restrições às ciências e às artes, desde às letras aos cálculos matemáticos, como um todo
começam a desmoronar, proporcionando-se à sociedade alguns esclarecimentos até então
quase inacessíveis.
Somente após dez séculos de história, surgem as primeiras possibilidades de
modificação da matriz educacional escolástica, para algo mais expansivo, sendo que René
Descartes (1596-1650), introduz um pensamento mais avançado (Pensamento Concreto ou
Cartesiano), propondo um modelo educacional que levasse o aprendiz a adsorver
conhecimentos básicos nos ciclos iniciais, para somente depois avançar para conhecimentos
mais complexos. Trata-se da implementação do currículo educacional composto de um nível
básico, um intermediário e um avançado, onde cada nível contempla disciplinas encadeadas
de forma lógica e progressiva. Tem-se aí a base curricular educacional prevalecente até os
dias de hoje.
Os avanços científicos, culturais e sociais percebidos nos Séculos XI-XIV são
oriundos, também, das fortes incursões do novo fenômeno econômico-social denominado
Capitalismo, que vem para substituir as até então prevalências repressivas do Feudalismo,
sendo que isto acentua ainda mais a necessidade de relevantes ampliações dos estudos e das
pesquisas científicas, os quais levarão a humanidade, inclusive, em alguns séculos à frente, a
promover a Revolução Industrial. As expansões da educação e do Capitalismo promovem,
não só o início das conquistas de novos continentes (isto, é claro, no âmbito das ciências
geográficas e náuticas), mas também das mais significativas elucidações do cosmos, pela
Astronomia, que ganha um impulso muito mais expressivo.
Esses grandes fenômenos sociais da Alta Idade Média foram imprescindíveis para que
a sociedade global despertasse para um novo e mais vigoroso processo socioeducativo e,
como não poderia deixar de ser, não só as amarras do Feudalismo, mas também as do
dogmatismo eclesiástico repressor foram desatadas. Ora, se os avanços educacionais e
científicos em prol da produção e consumo em massa culminaram com a Revolução Industrial
nos séculos XVII a XIX, também conduziram o pensamento humano para a busca de
respostas quanto àquele vigente estado de repressão da espiritualidade e da religiosidade,
sendo que já no Século XIV surge na Inglaterra o precursor desse gigantesco movimento, que
abalaria as estruturas do mundo de então, por todos os séculos vindouros: a Reforma
Protestante, que vai eclodir de forma mais impactante no Século XV, com o monge alemão
Martin Luther. Essa “revolução” inicia uma ferrenha luta da sociedade medieval pela
libertação das pressões míticas dogmáticas, pretendendo, também, a incursão da humanidade
no caminho do desenvolvimento.
São avanços bem pontuais, mas de extrema relevância no sentido de colocar a
sociedade no caminho da Idade Moderna. Portanto, resta atribuir uma identificação também
adequada à sociedade dessa fase tão esperançosa da humanidade, e ela será denominadaSEC-
Sociedade Expansiva não Complexa, sendo que sua não complexidade fundamenta-se,
ainda, nos mesmos pressupostos citados no subtítulo 1.3.
A expansividade desse período histórico do Ocidente deve-se muito, então, à força do
Capitalismo, às próprias incursões em novos espaços geográficos (as grandes navegações
europeias), bem como à invenção da imprensa por tipos móveis, assinada por Johannes
Gutenberg, em 1439, o que possibilitou uma disseminação ainda mais acentuada das
produções científicas, culturais e religiosas. (COSTA, 2016).
Ainda considerando esse período da história, não se pode deixar de mencionar o fato
de que toda essa desaceleração educacional predominou abundantemente na Europa, pois em
outras civilizações, como a árabe, por exemplo, não era esse o quadro. Os cruzados (europeus
enviados para aquelas efervescentes batalhas), deparavam-se com avanços culturais e
científicos impressionantes na sociedade árabe e, tudo isto, em função da repressão aos
estudos e pesquisas determinada pela Igreja na Europa, em contraste com a significativa
abertura do mundo árabe à pesquisa e às leituras (inclusive de livros dos grandes filósofos
gregos), o que os colocava na vanguarda do pensamento educacional. Os árabes estavam
muito mais avançados em ciências mais complexas como a própria filosofia, a medicina, a
astronomia e a matemática.
Schneeberger (2006), p.100), considera que “a cultura clássica greco-romana da
antiguidade pode sobreviver. As traduções árabes, estudadas na Europa medieval, propiciaram
a continuidade do pensamento greco-romano, que originaria mais tarde o Renascimento”.
Foi tamanha a pressão exercida sobre a Igreja pelos que retornavam das batalhas que
já a partir do Século XI, começam a surgir as primeiras universidades europeias:Bologna
(1088), Paris (1090), Oxford (1096), Modena (1175), Cambridge (1209), Salamanca (1218) e
Coimbra (1290).
De acordo com Fried (2015), como resultado de toda essa revolução educacional, ao
menos em termos de abertura de instituições de ensino, começa a consolidar-se um dos
maiores movimentos da história, denominado de Renascimento - precisamente entre os
Séculos XV e XVI - justamente pelo fato de promover a retomada do pensamento grego e
muitos marcos da sua estética artística, literária, cultural e sócio-política.
Comenius (1592-1670) apresenta-se como precursor de uma retomada imprescindível
para a melhoria do sistema educacional vigente. Declara ele. Em sua Didactica Magna,
publicada em 1638, que é necessário desenvolver um método Máximo e mínimo de ensino, ou
seja: em que os professores lecionem menos para que os alunos possam aprender mais.

5. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE NA IDADE MODERNA


Na chamada Idade Moderna, atinge-se uma considerável expansão cognitiva da
humanidade em todos os campos das grandes ciências. O número de instituições de ensino se
multiplica, trazendo, é claro, o enriquecimento das pesquisas científicas, as quais culminam
em prodigiosas descobertas em áreas sociais vitais como saúde, transporte e comunicação.
Apesar de inicialmente serem avanços ainda limitados, em função da própria conjuntura
econômica global, carente de novas propostas de produtos e serviços para uma elevação mais
consistente do poder aquisitivo da população em geral, tudo isto conduziu a humanidade a um
período marcado por profundas revoluções a partir do Século XVIII. Isto nos permite deduzir
que realmente os momentos mais marcantes e “revolucionários” do mundo passaram,
necessariamente, pela produção, evolução e maior disseminação do conhecimento (educação
e aprendizagem fazendo a diferença).
Conforme citado anteriormente, a invenção da imprensa, na Alemanha, ampliou de
forma significativa o leque de opções para a impressão e distribuição dos conhecimentos
registrados nessas tão valiosas obras para a educação científica e cultural dos povos.
Acompanhando esta relevante expansão impressa do conhecimento, há que se considerar
ainda a enorme atividade de trocas de experiências promovidas pelas aproximações de povos
distantes, ou seja, as grandes navegações tornaram-se mais um meio de ensino e
aprendizagem que passou a ser explorado com maior eficácia, por meio das idas e vindas de
novas culturas, novos meios de produção, armazenamento, transporte e consumo, novas
formas de convívio social e de regulação do mesmo, novas tecnologias, novos acordos bi e
multilaterais, entre outros.
Até mesmo as Cruzadas promovidas pela civilização europeia a partir do Século XI,
com aval e apoio da Igreja, tornou-se um meio de ensino e aprendizagem, já que por dois
séculos inúmeras viagens e enfrentamentos bélicos promoveram ricas trocas de experiências
culturais e também sociais.
Costa, ressalta alguns dos importantes avanços obtidos com o Renascimento, ao
afirmar que:

O Renascimento foi placo de inegáveis avanços, especialmente


artísticos – na pintura, na escultura, na arquitetura - mas também
científicos e culturais. A criação da imprensa pelo alemão Gutenberg
revolucionou a produção do livro. O resgate da Antiguidade Clássica
manifestou-se na leitura e na poesia e um clima de florescimento e
erudição urbanos desenvolveu-se, principalmente entre a nobreza e a
alta burguesia das cidades italianas e alemãs. É a era de Lorenzo de’
Medici, Rafael Sanzio, Leonardo da Vinci, Hans Holbein, o Jovem, e
Maquiavel. COSTA (2016, p.4).
A denominação “Renascimento” muito bem explica esses fatos históricos que levaram
a sociedade europeia e posteriormente a global a níveis nunca vistos de engrandecimento
científico, cultural e social. Trata-se da sociedade Pré-industrial (no sentido da efetivação da
própria Revolução Industrial nos Séculos XVII a XIX), que encontra no a) Capitalismo, toda
sustentação econômico-financeira para as expansões a serem conquistadas, e b) senso de
liberdade ampla e quase irrestrita (oriundo da educação ampliada), as bases para
definitivamente romper com as “repressões” ainda vigentes. Surgem as maiores revoluções de
toda história, com a mais famosa de todas: A Revolução Francesa, da qual emergem muitos
denominados direitos plenos, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
estabelecida pela Assembleia Nacional Constituinte Francesa, em 1789.
Assim, a Idade Moderna (Séculos XV-XVIII) foi decisiva para a expansão dos meios e
métodos educacionais, sendo um tempo de grandes revisões das propostas filosóficas
clássicas e mais conservadoras, com o consequente advento de novos filósofos e pensadores,
com suas novas formulações filosóficas que se somariam a todo contexto vigente como das
mais relevantes “molas propulsoras” de grandes transformações sociais, destacando, entre
tantos, nomes como:Bacon, Berkeley, Bodin, D’Alembert, Descartes, Diderot, Engels,
Erasmo, Espinosa, Fichte, Galilei, Hegel Hobbes, Kant (Sapereaude), Leibniz, Locke,
Maquiavel, Montaigne, Montesquieu, Pascal, Rousseau, Schopenhauer, Smith eVoltaire, entre
outros.
Ainda na linha de raciocínio de que a Idade Moderna foi uma era de consideráveis
avanços científicos e culturais, surgem outras mentes brilhantes nesse contexto, trazendo
contribuições muito expressivas, em relação ao que até então se constatou, principalmente no
que diz respeito à quantidade de pessoas de elevado padrão intelectual que surgiu nessa época
de muito desenvolvimento:Beethoven, Celsius, Comenius, Copérnico, Da Vinci, Franklin,
Hume, Kepler, Lavoisier, Michelangelo, Mozart, Newton, Rafael, Rembrandt, Robespierre,
Shakespeare e Wesel, entre outros.
A Idade Moderna se caracteriza, enfim, pela excelência nas investigações científicas
que, na medida do que era possível, proporcionaram descobertas incríveis, as quais
significaram extraordinária melhoria na qualidade de vida da sociedade. Nessas pesquisas e
estudos mais aprofundados, prevaleceram os princípios da dedução e indução, da metodização
e sistematização, com abordagens empíricas e eminentemente científicas. Para Le Goff
(2015), na Idade Moderna houve uma abertura para que as pessoas pudessem aprimorar
melhor sua personalidade, já que se encontravam “libertas” das restrições impostas pela
Igreja, bem como por algumas limitações sociais.
Seria bastante coerente propor como identificação para a sociedade ocidental da Idade
Moderna (Séculos XV-XVIII), o título de SEC-Sociedade Expansiva Complexa, sendo
possível conjecturar que a essência de complexidade mais elevada desse período da
humanidade, acompanha de forma equivalente, a própria expansão do conhecimento, ou seja,
sociedades com acesso mais amplo à educação formal tendem a ser mais complexas quanto ao
seu “gerenciamento” social, haja vista a mais acentuada carga de saberes acumulados, que
conduz a um senso maior de liberdade e de autossuficiência, o qual por sua vez provoca a
rejeição à autoridade e às prescrições éticas estabelecidas em coletividade. Em outras
palavras, uma maior amplitude de alcance da educação formal incentiva boa parte das pessoas
a nunca deixar de apresentar seus questionamentos e pleitos por mais e mais liberdade
comportamental.

6. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE NA IDADE CONTEMPORÂNEA


A partir do Século XVIII, porém com maior ênfase para o final do Século XIX e o
transcorrer do Século XX, o mundo passa a respirar e transpirar conhecimento, sendo que a
sociedade global faz eclodir extraordinárias descobertas, e realizações científicas quase
inimagináveis.
A Idade Contemporânea é marcada principalmente pela disseminação massificada do
ensino/aprendizagem; pelas inovações e aceleração das tecnologias de comunicação em massa
(satélites, rede mundial de computadores, transmissões televisivas em tempo real e a um custo
bastante acessível para a população, etc.); pelas inovações da Era Digital/Virtual; entre outras.
Chegou-se à Era da Informação e do Conhecimento, passando esses dois elementos, a serem
tidos como os principais ativos de qualquer pessoa e/ou organização.
Nos primórdios da Idade Contemporânea, e parte da Idade Moderna, fortes correntes
filosóficas, políticas, econômicas, religiosas e científicas estabelecem um novo modus vivendi
em muitas sociedades ocidentais e orientais:Humanismo, Iluminismo, Relativismo,
Socialismo, Evolucionismo, Espiritismo, Ecumenismo, Maçonaria Moderna (Albert Pike),
Nova Ordem Mundial, entre outros.
A sociedade contemporânea assume um grauelevado de complexidade, principalmente
após a Segunda Guerra Mundial, sendo que novas e plurais ideologias passam a ocupar maior
destaque nos clamores sociais por mais liberdade de expressão e de conduta, bem como se
elevam também o ceticismo, as crises políticas e econômicas, as ações terroristas e outras
disfunções sociais, que culminam na proposta e instalação na Nova Ordem Mundial.
O Iluminismo surge como proposta de solução para as recorrentes decadências da
humanidade, em função de sua omissão educadora (de oferta de uma educação que
promovesse as perspectivas de otimismo pelo progresso), mas, em dois séculos fica
evidenciado que a proposta falhou, pois a humanidade está imersa, já no século XX, em um
processo degenerativo de princípios e valores consagrados como reais forças convergentes
para o bem comum. As duas grandes guerras indicam esse ciclo de declínio humano, onde
milhões de vítimas inocentes foram simplesmente desconsideradas em detrimento de ânsias
de alguns poucos pela hegemonia do poder (LE GOFF, 1990).
Outra característica de destaque no que diz respeito à educação na Idade
Contemporânea, é que países de primeiro mundo têm mantido elevados padrões de qualidade
nos seus programas educacionais e que, por outro lado, nações subdesenvolvidas têm
encontrado dificuldades econômicas para realizarem os investimentos necessários em prol de
uma educação mais efetiva. No entanto, destaca-se um fenômeno que independe desses níveis
qualitativos de educação, qualquer que seja o país. Trata-se dos impactantes clamores sociais
pela prevalência do Relativismo como sustentáculo das pretensões por um maior liberalismo
comportamental sociocultural.
Com o acentuado avanço desse novo conceito de convívio coletivo, constata-se uma
comprometedora degradação de princípios e valores éticos e morais altamente consagrados
nos últimos séculos, colocando em risco uma das mais sérias estruturas celulares da sociedade
em geral: a família. Esse contexto influencia também as estruturas políticas na pessoa das
instituições públicas constituídas, o que acaba por promover um certo descontrole político,
econômico e social de amplitude global.
Nessa fase histórica da humanidade, a Idade Contemporânea, os avanços culturais,
científicos e educacionais dispensam maiores apresentações, pois são explícitos. Mentes
brilhantes desses últimos séculos têm lançado as bases para uma nova ideia de educação e
sociedade, das quais destacam-se:Bauman, Beauvoir, Dali, Derrida, Dewey, Edison, Einstein,
Foucault, Freud, Habermas, Hawking, Heidegger, Montessori, Peirce, Piaget, Sartre, Smith,
Stainer, Twain (“Não deixe a escola interferir na sua educação”), Vygotsky, Wallon, Weber,
entre outros.
A essa fase propõe-se a denominação de SAUC-Sociedade Avançada Ultra-
complexa, já que se trata de um período de constantes melhorias que nem sempre levam a um
comportamento individual e coletivo saudável. Apesar de consideráveis avanços na educação,
por exemplo, os investimentos públicos em saúde e segurança, tanto externa quanto interna,
parecem não ter fim e, para dificultar ainda mais a situação, esses investimentos são elevados
a cada ano a patamares impressionantes. Uma reflexão consciente quanto ao fluxo abaixo,
revelaria ser o mesmo uma incoerência?

FIGURA 1 – EDUCAÇÃO E DESESTABILIZAÇÃO SOCIAL

Fonte: O autor, (2017).

Uma análise elaborada por Vizentini, quanto ao terceiro milênio, demonstra


exatamente a preocupação aqui levantada, de que os rumos da sociedade contemporânea
carecem de urgentes ajustes:
Quais são as tendências do século que se inicia? Com o colapso do
socialismo no leste europeu, formulou-se uma série de previsões
triunfalistas que assinalavam o início de uma Nova Ordem Mundial,
fundada na paz, na prosperidade e na democracia. Os problemas
pendentes em pouco seriam resolvidos, e muitos articulistas
destacaram que o século XXI, que inaugurou o Terceiro Milênio em
2001, deveria trazer a consolidação desta nova sociedade globalizada.
A estabilidade do novo mundo seria garantida pela mão invisível do
mercado que, no final, coloca todas as coisas em seu devido lugar.
Contudo, dez anos depois de tais profecias, o planeta parece
mergulhado em incertezas e problemas ainda maiores, e os princípios
enunciados não se cumpriram, ou apenas se cumpriram
superficialmente. VIZENTINI (2004, p.4)

Toda essa conjuntura aparentemente favorável para a sociedade, de uma educação


ampla e teoricamente irrestrita, mas que ainda assim não provê a mentalidade social de
subsídios suficientes para um convívio mais equilibrado e pacífico, são propostos diversos
modelos educacionais, por grandes pensadores da educação, como forma de se aprimorar o
processo, transformando a sociedade em coletividades menos dispersivas e mais coesas e
equilibradas, com base na transformação a partir do sujeito aprendiz:Construtivismo,
Aprendizagem Mediada, Problematização, Problem-based Learning, Prática Reflexiva,
Metacognição, Aprendizagem Experimental, Construtivismo Social, Aprendizagem
Situacional, Aprendizagem Adaptativa, Peerinstruction, entre outros.
Cada uma dessas alternativas vem como uma contribuição que, a) coloque o aluno
como agente central e ativo no processo e aprendizagem, e b) possa ampliar a eficácia
educacional de modo a minimizar a elevadíssima complexidade da sociedade contemporânea.
Está acontecendo?
Em nível global, algumas decisões políticas têm alterado significativamente os rumos
da educação básica e superior, tendo em vista o preocupante nível de complexidade social
vigente, onde se faz necessário até mesmo estabelecer que as pessoas precisam aprender a
aprender, ou seja, a própria metodologia de ensino e aprendizagem até pouco tempo
consagrada e aceita como mais eficaz vai-se “escapando” ao controle, ao ponto de se incluir
no processo educacional essa inegável demanda social. As pessoas não estão sendo capazes
de simplesmente “aprender” e até mesmo isto lhes deve ser reensinado.
A UNESCO, que tem como missão estabelecer os parâmetros globais para a educação,
a ciência, a tecnologia, a comunicação e a cultura, através da “generalização do
conhecimento”, estabeleceu quatro grandes pilares de sustentação para a educação efetiva e a
consequente transformação social global. Tais colunas, ilustradas na Figura 2, indicam a longa
caminhada a ser percorrida no sentido de se alcançar resultados satisfatórios para a condução
dos rumos da humanidade.

FIGURA 2 – BASES PARA A EDUCAÇÃO MUNDIAL

Fonte: Adap. de UNESCO (2017).

Nas duas primeiras colunas surgem as recomendações para que haja instrução
educacional suficiente de forma que todos aprendam a aprender ou a conhecer e que
aprendam a fazer. Nesses casos, as exigências metodológicas e processuais para os governos,
as comunidades em geral e as instituições de ensino (seus dirigentes, professores e demais
profissionais envolvidos), são de complexidade teoricamente baixa (pelo menos em relação às
outras duas colunas). Isto porque se trata de amplitudes com menores demandas cognitivas.
Na primeira instância (Aprender a Aprender), pretende-se basicamente que as pessoas sejam
ensinadas a dominarem conhecimentos essenciais (o volume de informações e saberes é
extraordinariamente gigantesco), de forma que saibam discernir e filtrar os conhecimentos
que mais se adequem à sua realidade (foco nas essencialidades). Aprender de forma eficiente
e eficaz durante toda existência, já que o conhecimento possui duas características que não
podem ser desconsideradas: a multiplicidade e a alta velocidade).
Já o “Aprender a Fazer” destina-se a proporcionar uma aprendizagem técnica e/ou
profissionalizante também eficaz, diante de um quadro de profundas transformações nos
meios de produção. O que antes requeria maior emprenho físico, por exemplo, agora demanda
maior empenho mental, já que o trabalhador comandará equipamentos que façam acontecer as
tarefas braçais. Os profissionais do Século XXI devem ser preparados para atuar de forma
polivalente e multifuncional, para conquistar espaços de trabalho mais amplos e garantidos.
Qualificações profissionais com suas competências e habilidades são um bem cada vez mais
valioso para cada trabalhador e, portanto, esse deve compreender de maneira segura, tais
condições que lhe são impostas pelo novo mercado de trabalho.
No entanto, quando se deve planejar um trabalho educacional no sentido de “Ensinar a
Ser”, todos deparam-se com uma situação de complexidade mais elevada, já que as próprias
estruturas não só cognitivas, mas também culturais, hereditárias ou não, emocionais e também
espirituais, deverão compor o foco dos programas de ensino e aprendizagem. No processo de
“Ensinar a Ser”, pretende-se, entre outras coisas relevantes, que haja uma consciência de
autovalorização do indivíduo, independentemente das suas condições sociais, étnicas,
ideológicas, etc. Com isto, entende-se que cada pessoa estando ciente de suas aptidões, de
suas possibilidades e de seus direitos, possa crescer e desenvolver-se com as equivalentes
autonomia e liberdade.
Assim se expressa Werthein, quanto à educação para o saber ser:
Todo ser humano deve ser preparado para a autonomia intelectual e
para uma visão crítica da vida, de modo a poder formular seus
próprios juízos de valor, desenvolver a capacidade de discernimento e
como agir em diferentes circunstâncias da vida. A educação precisa
fornecer a todos, forças e referências intelectuais que lhes permitam
conhecer o mundo que os rodeia e agirem como atores responsáveis e
justos. Para tanto, é imprescindível uma concepção de
desenvolvimento humano que tenha por objetivo a realização plena
das pessoas, do nascimento até a morte, definindo-se como um
processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se
abrir, em seguida, a relação com o outro.WERTHEIN (2000, p.23).

Essa possibilidade de o indivíduo ampliar e consolidar seu autoconhecimento, muito


contribuirá para um amadurecimento mais substancial da sua personalidade, permitindo-lhe
explorar ao máximo todas as capacidades e trazendo para si e sua comunidade, influências
construtivas.
Com a nítida intenção de contribuir para uma convivência mais harmoniosa, o
documento da UNESCO para a educação traz ainda um quarto pilar de sustentação:
“Aprender a Conviver”, que é tido pela própria organização global como o de maior
dificuldade de implementação, como algo desafiador para nações, governantes, educadores e
a própria sociedade. Viveu-se, em todos os tempos, inumeráveis momentos de animosidade e
conflitos, os quais nos classificam como eminentemente divergentes e bastante propensos a
enfrentamentos, os quais, muitas vezes, não têm o menor sentido.
Diz o Relatório Delors - UNESCO (1998), quando ao comportamento humano frente
aos seus “outros”:
[...] os seres humanos têm tendência para sobrevalorizar as suas
qualidades e as do grupo a que pertencem e a alimentar preconceitos
desfavoráveis em relação aos outros. Da mesma forma, o clima de
elevada competição que se apoderou dos países agrava a tensão entre
os mais favorecidos e os pobres.

O foco dos estudos da Comissão Delors (UNESCO) foi centrado justamente nas
relações dos níveis interpessoais às internacionais, sendo concluído que a educação do Século
XXI deve promover no indivíduo o senso e a percepção mais ampla do “outro”, bem como
incentivá-lo a que tenha iniciativa para cooperação em projetos comuns, de forma mais
solidária. Isto, por si só já indica o elevado grau de complexidade que se há de considerar para
a implementação desses ideais. Trata-se de mudança radical do comportamento individualista,
materialista, egocêntrico, para uma perspectiva pessoal centrada no bem-estar de todos.
Ao que tudo indica, a educação para a humanidade deverá ser moldada essencialmente
na simplificação da gestão global, a qual requererá, ações que transcendam aos paradigmas
vigentes e que sejam determinísticas:Eliminar barreiras socioideológicas, religiosas, bem
como as “fronteiras” político-econômico-financeiras; reordenar a sociedade global; alinhar
bases científicas e, até onde possível, culturais; unificar processos.
Cícero (106-43 a.C.)demonstrou que o real sentido do termo humanitas está
relacionado a comportamentos mais saudáveis para o convívio social que propriamente para
designar uma determinada raça. Para o eminente filósofo e político, características como a
bondade, a gentileza e a cortesia, bem como a própria civilidade é que determinam a essência
do que é ser “humano”. O contrário disto, está para a violência desenfreada e desmedida
(brutalidade), que pode levar o “homem”, aos caminhos da irracionalidade plena.
Costas (2006) na trilha de Cícero, ainda acrescenta que no Império Romano, o próprio
conceito de “humano” está diretamente relacionado àquele ser devidamente educado pela
sociedade, sendo que os que não possuem esse diferencial social ainda figuravam no campo
da barbárie. Com isto, reflita-se nessas três questões:
a) Deve a sociedade contemporânea rever os conceitos atribuídos ao “ser” (verbo)
humano?
b) Tem a educação a prerrogativa de retirar a pessoa do nível de homines barbari e
coloca-la no degrau mais elevado do homo humanus?
c) A sociedade organizada e a educação por ela implementada ao longo dos séculos e
milênios da história da humanidade têm promovido essa “elevação de categoria”,
tornando o homem menos brutal (agressivo, violento, opressor), desordenado,
involuído?

A sociedade da Idade Contemporânea está diante de um quadro de mudanças


emergenciais, que podem significar sua própria sobrevivência ou não. Portanto, o título de
SAUC-Sociedade Avançada Ultra-complexa lhe é bastante adequado. Mudar o
comportamento cultural de umas pessoas, de algumas equipes de pessoas ou até mesmo de
uma comunidade local será um desafio superável. Porém, alterar comportamentos culturais
com séculos e até milênios de enraizamento, beira as margens da utopia. Alguns pensadores
atuais têm trazido propostas que parecem apetecíveis aos líderes globais, como Nicolesco
(2000), que recomenda ações bastante agressivas na educação da humanidade, entendendo
que a transdisciplinaridade deve entrar em cena como base todo-capaz de permitir tal
conquista. Neste contexto, o autor informa que a fragilização, bem como a própria extinção de
todos os empecilhos para o convívio harmonioso e pacífico entre as nações deve ser uma
realidade muito breve, e ações como as demonstradas a seguir poderão suprir de forças todo
processo, pois tais ações pretendem uma elevação significativa de um dos comportamentos
menos recorrentes na atualidade, a tolerância:Transculturalidade, Transreligiosidade e
Transnacionalidade
Obviamente que as conexões entre pessoas e organizações e também entre nações,
pelas vias do comércio internacional, do turismo, das trocas de tecnologias, entre outras, são
colaborativas para que essas três ações se consolidem, mas nenhuma delas será capaz de
acelerar o processo como as vias da educação. Nelson Mandela afirmou como slogan
universal que “a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”.
O quadro de ascendência global da fome, das doenças e da violência tem suscitado
grandes preocupações. Ora, conforme acentuado anteriormente, o fenômeno da educação
formal não foi suficiente para colocar o homem em um estado de integração construtiva, pelo
contrário, o homem passou a ser cada vez menos sociável, o que indica que algo efetivamente
está faltando. Vive-se hoje na contramão do que recomendou Pitágoras ao instruir: “Educai as
crianças e não será preciso castigar os homens”. Dar-se-á o caso de se estar castigando os
homens por não havermos educado suficientemente as crianças?
Esta indagação,cada um deve responder. A sociedade não tem mais tempo para
experimentos educacionais. “Se a educação não for libertadora, o sonho do oprimido será
tornar-se o opressor”. Paulo Freire. Ao que tudo indica, a resposta não está tão longe,
afinal:Educação Plena Libertadora, que poderá conter algumas características que todos já
conhecem:
a) Educação propedêutica dotada de compostos éticos e morais inibidores de
comportamentos nocivos em relação ao “outro”.
b) Ensino médio dotado de compostos éticos e morais inibidores de comportamentos
nocivos em relação ao “outro”.
c) Saberes técnico-profissionalizantes que também contemplem o bem-estar coletivo,
em detrimento do individual.
d) Formação superior que consolide esse principal vetor formativo da pessoa: respeito
mútuo e cooperação.

A educação libertadora, pretendida por Paulo Freire, é aquela em que o sujeito recebe
tal carga de esclarecimentos diversos quanto à vida e suas demandas por competências e
habilidades, que por si só, e não por outro, ele poderá realizar-se enquanto pessoa e cidadão.
Seus saberes acumulados são-lhe como que uma chave para abertura das algemas de uma
eventual alienação. No entanto, há que se ponderar que essa educação deverá sim, contemplar
ingredientes de formação ética, moral e cívica. Essa educação deverá, inclusive, libertar o
sujeito de possíveis influências ideológicas que venham a significar uma disfunção
comportamental. Ora, assim, o sujeito só será efetivamente liberto se o processo educativo
contemplar as seguintes “chaves”:
a) Possibilitar, pela educação formal e pela educação sociofamiliar, que o aprendente
receba, sem restrições, as respectivas e cíclicas cargas de instruções formativas;
b) Permitir que o sujeito, esclarecido e blindado contra influências ideológicas
nocivas, sejam elas quais forem, realize suas as próprias análises críticas dos
conhecimentos adquiridos;
c) Instrumentalizar de forma que, liberto de quaisquer influências por ele não
admitidas, o indivíduo possa construir sua existência pessoal e coletiva,
devidamente dotado de capacidade de decisões e escolhas pessoais;
d) Manter, na educação continuada, os mesmos padrões “libertadores” em que o
aprendente não se sinta coagido a aceitar ou recusar esta ou aquela influência
ideológica.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996):


Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,
nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,
predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a
prática social.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Brasil
(1996) (Grifos nossos).

Com essa perspectiva legal do Estado brasileiro quanto à concepção geral de educação
e suas finalidades precípuas, surgem pontos de desequilíbrio entre o ideal e o real na
sociedade e na educação brasileiras que significam um desalinhamento entre intenções e
realizações. O Quadro 1 apresenta algumas disparidades que podem confirmar tal assertiva.

QUADRO 1 – INTENÇÕES OFICIAIS X REALIDADES SOCIAIS


INTENÇÃO OFICIALIZADA REALIDADE VIVENCIADA
“vida familiar” Apesar dos grandes esforços de muitas iniciativas, a estrutura familiar na
sociedade enfrenta sua maior crise de identidade. Há movimentos
implícitos e explícitos (até mesmo projetos de lei de alguns legisladores
atuais) que pretendem erradicar o conceito tradicional de “família”.(*)
“convivência humana” Aprender hoje com a convivência humana está sendo um desafio
alarmante. Das pessoas mais simples da sociedade às mais abastadas, todas
sabem que o “conviver” tornou-se um “quase pesadelo”. Violência,
corrupção, desestruturação familiar, desatendimento estatal, etc. Essa
“escola social” pode ser classificada como desorientadora.
“trabalho” -As empresas mais dedicadas a proporcionar um ambiente motivacional
para o seu trabalhador têm promovido inovações instrutivas de grande
amplitude. A Educação Corporativa é uma realidade que tem beneficiado
milhões de trabalhadores pelo mundo a fora. A iniciativa privada fazendo
considerável diferença.
-Na maioria das organizações ainda prevalece o modelo taylorista e
fordista, que vê no trabalhador muito mais uma força motriz que força
pensante estratégica.
Os elevados índices de desemprego colocam uma parcela significativa da
população fora de ambientes profissionais educativos.
“instituições de ensino e pesquisa” -Na iniciativa privada, as instituições têm apresentado elevados índices de
excelência, inclusive na modalidade à distância.
-Instituições públicas sofrem com a falta de recursos e investimentos,
quadro defasado de docentes e pesquisadores (inclusive com cortes
assustadores nos recursos destinados à pesquisa), parque de máquinas e
equipamentos também defasado, etc.
“movimentos sociais” Movimentos sociais não têm sido uma prioridade da sociedade brasileira.
“organizações da sociedade civil” Na maioria dos casos têm feito um grande trabalho em prol da educação
no Brasil. Iniciativas como as Universidades Corporativas, são um bom
exemplo.
“manifestações culturais” O Brasil tem uma cultura riquíssima, também. por se tratar de um território
continental que abriga multiculturas de várias partes do mundo. Muitas
manifestações culturais são de grande relevância para a educação.
Algumas manifestações culturais no Brasil, principalmente nessa década,
têm corroborado com ideologias de ordem político-sociais, que acentuam
as já fragilizadas estruturas sociais como a família, a religiosidade, a
educação, a infância, etc.
Fonte: O autor, (2017).
(*) Firestone (1972), defensora de uma ideologia de extinção da estrutura familiar,
assim se expressa em suas conclusões da obra referenciada:
Eis aqui algumas sugestões para o sistema alternativo: 1) A libertação
das mulheres da tirania da sua biologia reprodutiva por todos os meios
disponíveis e a ampliação da função reprodutiva e educativa a toda
sociedade globalmente considerada [...]. Estamos falando de uma
mudança radical. Libertar as mulheres de sua biologia significa
ameaçar a família, que é a unidade social organizada em torno da
reprodução biológica e da sujeição das mulheres ao seu destino
biológico. 2) A total autodeterminação, incluindo a independência
econômica tanto das mulheres quanto das crianças. [...]. É por isso que
precisamos falar de um socialismo feminista. [...]. Com isto, atacamos
a família em frente dupla, contestando aquilo em torno do que ela está
organizada: a reprodução da espécie pelas mulheres, e sua
consequência, a dependência física das mulheres e das crianças.
Eliminar essas condições já seria suficiente para destruir a família, que
produz a psicologia do poder. Contudo, nós a destruiremos ainda
mais.FIRESTONE (1972, p.206 e 207).

A proposta explícita de se “destruir a estrutura familiar” ganha força em muitas nações


(de forma mais acentuada nos países desenvolvidos), colocando em situação conflituosa, as
próprias propostas educacionais elencadas em diversos documentos oficiais como a LDB e os
documentos internacionais da UNESCO para a educação global. Se a família e a sociedade
devem unir-se ao Estado para proporcionar uma educação plena, algo está faltando nessa
“conta”.
Que a sociedade contemporânea está contagiada por inúmeras fragilidades
comportamentais é fato, bastando uma análise das estatísticas atuais quanto aos índices de
situações comprometedoras. Kant, sobre o progresso na história, já enfatizava que a
humanidade estava caminhando a passos largos nos descaminhos da desordem e iminente
destruição, pela manutenção de distúrbios coletivos cada vez mais acentuados. O filósofo,
inclusive, indica sua preferência pelas condições dos seres irracionais, às condições da própria
civilização, se esta não alcançar progressos nos seus aspectos de moralidade, já que se está
auto enganando, sob a aparência de condições saudáveis, quando na verdade estaria em rápida
degeneração pela corrosão provocada pela pobreza, pelos assustadores índices de atos
violentos (tanto nos enfrentamentos militares quanto nas ações criminosas urbanas) e pelas
condições opressoras da própria sociedade, sendo que tais condições desfavoráveis seriam,
inclusive, fatores oriundos do processo de desenvolvimento da humanidade.
Enfim, este é o contexto macro em termos de educação e sociedade na Idade
Contemporânea. A juventude, de um modo geral, espera soluções imediatas, consistentes e
convincentes, já que o futuro a ela pertence e o tempo não espera. A qualificação de
educadores competentes para a formação saudável (mental, física e comportamental) de seus
alunos é uma das variáveis de grande complexidade dessa equação, devendo as nações se
debruçarem sobre o tema e apresentarem soluções definitivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dos primórdios da humanidade até a Idade Contemporânea, o homempassou por
distintos níveis quanto à demanda por aprendizagem. Começou a aprender as competência e
habilidades mais relacionadas à sobrevivência e chegou a níveis quase inacreditáveis de
expansão científica e cultural. A Figura 3 demonstra em escala bastante resumida, essa
ascendência cognitiva, revelando, no entanto, que na atualidade é preciso reaprender a se
manter a vida, já que o planeta apresenta sensíveis fragilidades em todos os seus ecossistemas.

FIGURA 3 – FASES DE EVOLUÇÃO COGNITIVA DA HUMANIDADE

Fonte: O autor, (2018).

Nesse breve retrospecto histórico, mais enfatizado na relação “aprendizagem e novas


conquistas da humanidade”, foi possível vislumbrar, de maneira resumida, os avanços da
humanidade no que diz respeito à constituição de sociedades mais elaboradas, da melhoria da
qualidade de vida, da elaboração e implementação de códigos e leis que regrassem os
comportamentos, enfim, a todo um contexto de convívio e desenvolvimento individual e
coletivo.
Das imediações mais próximas, o homem chegou à exploração do espaço sideral, ou
seja, aqueles que, inicialmente, procuravam aprender e transmitir às gerações futuras apenas
ações para a sobrevivência, agora pesquisam e aprendem a como conhecer e ousadamente
explorar novos mundos. É óbvio que a educação formal está inserida nesses avanços,
principalmente a partir da Idade Moderna, o que resultou em pesquisas e reflexões mais
aprofundadas quanto aos próprios métodos educativos. Em outras palavras, a educação passou
a ser alvo de estudos e pesquisa pela própria educação:Como ensinar melhor?Como aprender
melhor?É preciso aprender a aprender, a desaprender e a reaprender novos conceitos.
(TOFFLER, 1993).
Os estudos até aqui desenvolvidos demonstram que há uma forte relação entre o
pensamento educacional e a realidade vigente em termos de participação social nos rumos
dessa coletividade. Na Grécia Antiga, por exemplo, prevalecia o modo político de se analisar
coletivamente propostas, debater, votar e decidir em cada cidade-estado que, a exemplo da
própria nação, não contava com monarquias estabelecidas (Democracia na essência). Logo, a
educação desse período deveria corresponder ao mesmo procedimento político, ou seja,
deveria ser feita a partir de análises, discussões e debates, de modo reflexivo, a partir de um
mestre altamente qualificado.
Nesse modelo educacional, o instrutor (tendo como exemplo, Sócrates), tinha como
principal estratégia, levar o aprendiz à reflexão profunda da sua própria pergunta,
incentivando-o, assim, a gerar e conceber novas ideias e soluções que redundassem na própria
resposta esperada (Maiêutica). Com Sócrates, Platão e Aristóteles, consolida-se o Método
Dialético de educar, onde mestre e aprendentes entram em profundos diálogos investigativos,
o que significa, também, que o aluno tem participação plenamente ativa não só nesse processo
de investigação empírica, como também na própria construção do conhecimento. Aluno
constrói o conhecimento; professor atua tão-somente como facilitador e ambos, facilitadores e
aprendentes “saem para decidirem juntos”. Resultado? Cidadania plena em um contexto
democrático absoluto.
A base de construção de toda sociedade é a educação, sendo natural que os níveis
qualitativos da educação vão significar os níveis qualitativos da própria sociedade que a
planejou, ofertou e ministrou, desde a etapa denominada Básica, até a Superior, sem falar nas
disposições educativas não formais.
A presente pesquisa ainda salienta que a educação formal não conseguiu conduzir a
humanidade (pelo menos em “bloco”), a níveis adequados de relacionamentos pessoais,
coletivos e internacionais. A prevalência de valores culturais e de interesses descabidos pelo
poder impediram que as sociedades contemporâneas (sociedades ainda não alinhadas e
unificadas), atingissem um grau satisfatório de convivência equilibrada e pacífica.
Sendo que o caminho mais curto entre o estado atual e o estado ideal é
necessariamente a educação, ela mesma deve passar por mudanças significativas, como sendo
mais uma tentativa de se promover o equilíbrio tão desejado.
Ainda como forma de se promover uma reflexão a mais quanto ao valor da educação
plena para a sociedade global, apresenta-se, na Figura 4, a escala evolutiva das relações
humanas, principalmente quanto aos sistemas de produção e distribuição de bens de consumo.
Toffler (1993), propõe uma ascendência em ondas, das fases mais marcantes, atribuindo a
cada uma sua denominação e características principais.

FIGURA 4 – AS ONDAS DE ALVIN TOFLER


Fonte: Adap. de Tofler, Alvin. (1993)

Fica evidente na demonstração acima, que as pessoas, nos primórdios da história, se


dedicavam de forma mais enfática, a conquistar quantidades de bens tangíveis, ou seja, de
coisas do seu uso pessoal e coletivo. Na primeira fase, denominada Revolução Rural, que tem
predominância até o Século XVI, bem como na segunda fase, denominada Revolução
Industrial, que se situa entre os Séculos XVII e XX, a grande massa (os trabalhadores,
principalmente), eram tidos como mera força motriz, sendo-lhes negada a possibilidadede
pensar, criticar, sugerir, inovar, etc. Ora, nessas condições sociais, a educação “libertadora”
ainda encontra resistências muito fortes de governantes e industriais, mas mesmo assim,
avança de forma impactante e transformadora.
Na terceira onda, o autor introduz a nova fase evolutiva da cognição humana, sendo
esta denominada Revolução Digital, na qual a produção intelectual passa a predominar, onde
imperou a produção física. O próprio capital que antes era avaliado muito mais pelas
quantidades de bens, como terras, escravos, máquinas e equipamentos, indústrias, operários,
etc., agora é desmaterializado e passa a ser de caráter mais intangível. É a Era da Informação
e do Conhecimento, que, pela própria conjuntura mais expanssiva do potencial educacional,
deixa as pessoas mais exigentes e determinadas a exigir mais a qualidade que a quantidade.
O computador pessoal é identificado como grande propulsor dessa nova realidade
existencial, já que de forma muito mais rápida e volumosa faz transitar infindáveis quantidade
de dados, que se tornam em informações, as quais, por sua vez, serão convertidas em
conhecimento consolidado. Aliado a esse recurso incrível, surge a Rede Mundial de
Computadores, popularmente denominada Internet. Isso intensifica e acelera a Revolução
Digital, a qual engloba também processos e meios educacionais virtuais, ampliando
consideravelmente a conquista de novos saberes em todas as comunidades globais.
Um dos maiores avanços promovidos por essa revolução é a nova perspectiva que os
empregadores são levados a ter dos seus colaboradores (até mesmo a expressão
“colaboradores” indica uma relação mais humana e ética), que passam a ser considerados
capital intangível, em função de serem, além de força motriz, uma força estratégica pensante.
Esse trabalhador, agora, tem o direito de “ser”, “aprender” e “inovar”, através de aberturas
organizacionais e institucionais para seu potencial criativo.
A educação formal básica e superior, e a educação profissionalizante ampliaram de
forma muito significativa as possibilidades de todos poderem questionar, criticar, avaliar, e
propor novas soluções. Requena, (2003), propõe que este novo contexto levou a sociedade a
propor uma nova revolução comportamental: a Revolução Relacional. Nesse caso, aquelas
empresas encarregadas de produzir os bens de consumo e bens duráveis, devem, agora, ter
outra preocupação, além da quantidade adequada e da qualidade mínima aceitável: a produção
e comercialização feitas com elevada responsabilidade socioambiental.
As relações entre produção e consumo passam, nos tempos atuais, pelo crivo popular
do monitoramento do ecologicamente correto. Selos específicos são outorgados a empresas
responsáveis, são propostas reduções de impostos, bem como simplificados alguns processos
burocráticos e o mais importante, a empresa continua produzindo e vendendo bem. É a
produção socialmente responsável, na qual o meio ambiente sofre mínimos impactos, direitos
trabalhistas são preservados, crianças não atuam profissionalmente, resíduos sólidos ou
líquidos recebem tratamento e destinação adequados, entre outras atitudes socialmente
corretas e ambientalmente aceitáveis.
A educação tem a prerrogativa da capacidade transformadora da sociedade. No
entanto, o que se constata é uma sociedade permissiva, com governantes e poderosos que
sempre procuraram suprimir os ideais libertadores da educação plena, na qual o sujeito da
aprendizagem é o construtor do conhecimento, sendo conduzido por seu mestre a tal
conquista (pensamento grego até Rousseau). Tudo isto está para o nascimento do
Construtivismo, em mais uma tentativa de se estabelecer definitivamente o resgate dos ideais
clássicos para a educação.
Resta optar pelos métodos e conteúdos mais adequados para que a transformação
ocorrida não seja para patamares mais baixos em termos de qualidade nas relações gerais.

REFERÊNCIAS

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WEBLIOREFERÊNCIAS

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