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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE

Curso de Formação Profissional Para Ingresso nos Cargos de Médico Perito Legista 1ª Classe, Perito Legista 1ª Classe,
Perito Criminal 1ª Classe e Auxiliar de Perícia 1ª Classe da Perícia Forense do Estado do Ceará - PEFOCE
DIREITO PENAL

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Curso de Formação Profissional Para Ingresso nos Cargos de Médico Perito Legista 1ª Classe, Perito Legista 1ª Classe,
Perito Criminal 1ª Classe e Auxiliar de Perícia 1ª Classe da Perícia Forense do Estado do Ceará - PEFOCE
DIREITO PENAL

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

DELCI Carlos TEIXEIRA


SECRETÁRIO DA SSPDS

PERÍCIA FORENSE DO CEARÁ

MAXIMIANO Leite Barbosa Chaves


PERITO GERAL DA PERÍCIA FORENSE DO ESTADO DO CEARÁ

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

José Herlínio DUTRA – Cel PM


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

ELIANA Maria Torres Gondim - DPC


SECRETÁRIA EXECUTIVA DA AESP|CE

DOUGLAS Afonso Rodrigues da Silva – Ten Cel PM


COORDENADOR GERAL DE ENSINO DA AESP|CE

NEYLA Adriano de Santana


ORIENTADORA DA CÉLULA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA DA AESP|CE

CURSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA INGRESSO NOS CARGOS DE MÉDICO PERITO LEGISTA 1ª CLASSE,
PERITO LEGISTA 1ª CLASSE, PERITO CRIMINAL 1ª CLASSE E AUXILIAR DE PERÍCIA 1ª CLASSE DA PERÍCIA FORENSE
DO ESTADO DO CEARÁ - PEFOCE

DISCIPLINA
DIREITO PENAL

CONTEUDISTA
Jeovânia Maria Cavalcante Holanda - DPC

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – Sd PM

• 2015 •

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
UNIDADE I .....................................................................................................................................................................4
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL .....................................................................................................4
1.1 Princípio da Legalidade e Irretroatividade da Lei Penal .....................................................................................5
1.2 Lex Previa ou Princípio da Anterioridade da lei penal ........................................................................................5
1.3 Lex Scripta ..........................................................................................................................................................5
1.4 Lex Stricta ...........................................................................................................................................................5
1.5 Lex Certa ............................................................................................................................................................6
1.6 Princípios da Verdade Real, Presunção de Inocência e in dúbio pro reo ............................................................6
UNIDADE II ....................................................................................................................................................................7
INFRAÇÃO PENAL ..........................................................................................................................................................7
2.1 Conceito, classificação e elementos de composição .........................................................................................7
UNIDADE III ...................................................................................................................................................................9
DOS CRIMES ..................................................................................................................................................................9
3.1 Homicídio - Genocídio - Homicídio qualificado pela tortura - Tortura seguida de morte ..................................9
Matar ........................................................................................................................................................................9
3.2 - Violência Doméstica: Código Penal e Lei 11.340/2006................................................................................11
3.3 Calúnia, Difamação e Injúria ............................................................................................................................14
3.4 - Desacato .......................................................................................................................................................17
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................................................19

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DIREITO PENAL

DIREITO PENAL

INTRODUÇÃO

O presente material didático fora elaborado para o Curso de Formação Profissional com vistas ao
Ingresso na Polícia Judiciária do Estado do Ceará, ano 2015, com base nos limites impostos pela carga horária de
18 horas, do presente componente curricular.
Tratará de alguns temas de Direito Penal, sob as diretrizes do Direito Constitucional, como assim é
imperioso.
Tais conteúdos são necessários para o desempenho eficiente e seguro da atividade de Polícia Judiciária –
pesquisar e provar a verdade sobre o fato delituoso, marcando o início da persecução penal, de competência do
Poder Executivo. Este, através da Polícia Judiciária, repito, deve apurar o fato e suas circunstâncias, tão logo ele
aconteça, fornecendo às demais autoridades incumbidas do dever de punir, o indispensável lastro probatório.
Tal qual às tintas de uma aquarela, as provas, com o passar do tempo vão perdendo a nitidez, suas cores
se tornam opacas, ao ponto de comprometer o reconhecimento da figura. A Polícia Judiciária é a instituição mais
próxima ao fato, quem primeiro colhe os vestígios probatórios deixados pelos envolvidos, e assim, melhor
visualiza e provar suas circunstâncias, justamente pela oportunidade de olhar o quadro ainda com a tinta fresca.
Essa pesquisará restará compilada nos autos do Inquérito Policial, o qual instruirá todo o processo criminal.
Importante ressaltar que se trata de conteúdo restrito diante da amplitude do Direito Penal, portanto,
sequer ousamos pensar em esgotar os temas afetos à Polícia Judiciária. E, após a apreensão dos conteúdos,
apenas com a constância na leitura, qualquer profissional superará o efeito danoso que a ação do tempo provoca
na memória e, consequentemente nos conhecimentos um dia adquiridos.
Assim desejamos um excelente estudo.

A conteudista
UNIDADE I

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

A Constituição da República Federativa do Brasil vigente, ao tratar da Segurança Pública atribui à Polícia
Judiciária a pesquisa e prova da autoria e materialidade das circunstâncias pertinentes às infrações penais. Para
tanto, como as demais instituições incumbidas da persecução penal, a Polícia Judiciária deve agir em permanente
obediência ao ordenamento jurídico pátrio, seus princípios e regras. Os fundamentos constitucionais e
infraconstitucionais do ordenamento jurídico brasileiro delimitam as atribuições da Polícia Judiciária e sua forma
de atuação
Todas as regras legais que fixam a atuação da Polícia Judiciária, no cumprimento do dever punitivo
estatal estão subordinadas aos Princípios Constitucionais, haja vista os mesmos estarem no ápice da pirâmide que
representa a hierarquia das normas do ordenamento jurídico do Brasil. Assim, descumprir um princípio fere mais
o ordenamento jurídico do que descumprir uma regra.
Estes princípios constitucionais têm em comum, o objetivo de promover o respeito à dignidade da
pessoa humana, valor principal adotado pela Constituição Federal de 1988. Assim, os princípios que fundamentam
o sistema das liberdades e da atividade punitiva do Estado, impõem aos seus agentes públicos, no exercício do
poder de punir, o dever de agir restritamente no campo delimitado pela legalidade. Os princípios constitucionais
pertinentes à atividade punitiva do Estado serão a partir de agora expostos.
A definição da palavra princípio tem origem na geometria e significa “verdades primeiras”.1. As normas
jurídicas são gênero onde são espécies os princípios jurídicos e as regras jurídicas, dentre estas as leis.
Os princípios jurídicos têm como características a generalidade e superioridade hierárquica. Os princípios
são normas gerais que exigem a criação de regras legais para sua concretização. Por exemplo: A liberdade religiosa
é um princípio, onde é regra jurídica, a conduta descrita no artigo 208 do Código Penal, o qual tipifica como crime
a ação de quem perturba cerimônia religiosa. Os princípios estão para o ordenamento jurídico, como os alicerces
estão para as edificações: ambas fundamentam suas respectivas estruturas. Ferir um princípio jurídico é por em
risco a segurança do Estado Democrático de Direito.

“Los princípios generales Del Derecho em El pensamiento de F. de Castro”, in Anuário de Dereccho Civil, t. XXXVI, fasc. 3º, outqdez. 1983, PP.1.267 e 1.268.

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De acordo com os fins estabelecidos para o Curso de Formação desta ano de 2015 passaremos a
analisar - de forma panorâmica – alguns princípios constitucionais pertinentes ao Direito Penal, com incidência
direta na atividade de Polícia Judiciária.

1.1 Princípio da Legalidade e Irretroatividade da Lei Penal

Iniciaremos com o Princípio da legalidade, por sua imperiosa presença para a existência do Estado
Democrático de Direito, e, por assegurar o respeito aos direitos fundamentais. Na Constituição Federal esse
princípio está positivado no art. 5º, II, o qual preceitua que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa se não em virtude de lei. Daí decorre, no âmbito do direito penal, especificamente no artigo 1º do
Código Penal, a determinação de que, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal.
Referido princípio estabelece a lei ordinária como única fonte de norma penal incriminadora, ou
seja, só por meio desta espécie de lei são definidos os comportamentos delituosos e fixadas as respectivas
sanções, uma vez que, as fontes mediatas, como os costumes e a jurisprudência, não originam, nem revogam
referidos preceitos. É o legislador federal quem define os elementos integrantes dos comportamentos criminosos
e suas sanções.
As tintas do princípio da legalidade para o particular são de uma cor e para a administração pública são
de outra. Os particulares podem fazer tudo que os Princípios e as leis não proíbam, vigora o princípio da
autonomia da vontade, ponderado pelo princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
Já os integrantes da Administração Pública só podem fazer o que a lei expressamente permite. Aqui
vigora o princípio da legalidade estrita. Por exemplo, se um particular presencia um furto, vai optar entre prende o
autor ou não, denunciar o autor ou não. Já o policial tem o dever de agir.
Os preceitos primários e secundários da lei penal incriminadora têm por fim prevenir o crime -
advertindo os indivíduos para que não cometam as condutas proibidas ou não deixem de agir diante das
exigências legais. Mas, se a simples previsão hipotética da lei não for suficiente para evitá-lo, impõe-se a
necessidade de sua concretização. Trata-se da prevenção secundária com a aplicação da punição.
A lei ordinária institui o tipo penal e sua sanção - Princípio da Reserva Legal. Caso Lei complementar o
faça, passa a ter natureza de norma ordinária, podendo, lei ordinária posterior, revogá-la. Medida Provisória, por
ser ato unilateral não pode criar tipo penal. A reserva legal pode ser absoluta ou relativa. Em regra o Brasil adotou
a reserva absoluta, que traz toda a conduta descrita pelo legislador no tipo penal.

1.2 Lex Previa ou Princípio da Anterioridade da lei penal

Como pressuposto necessário do crime, a norma penal deve anteceder o mesmo, sendo tal exigência
baseada no Princípio da Anterioridade. Sem lei anterior não há crime, nem sanção. É uma garantia do indivíduo
contra possíveis ações arbitrárias do Estado. A lei penal tem que estar em vigor antes dos fatos. A Constituição
Federal também preceitua em seu art5º, inciso XL que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Em
regra a lei penal é irretroativa. Princípio da Irretroatividade da Lei Penal.

1.3 Lex Scripta

A lei tem que estar escrita, pois o crime é um ente jurídico. Conseqüências: Costumes não criam crimes.
Exemplo: Incesto.

1.4 Lex Stricta

Lei Penal deve ser interpretada restritivamente. Ao interprete é proibido ampliar a incidência do tipo
penal. Ex: Mata alguém configura homicídio. Ao interprete é defeso empregar qualquer sentido conotativo à
palavra alguém.

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1.5 Lex Certa

Lei Penal deve ser taxativa, no sentido de trazer todos os elementos de sua definição de forma clara e
objetiva. As palavras devem ser precisas, sem ambiguidade, interpretação de duplo sentido ou qualquer tipo de
indefinição. Os tipos devem ser fechados. Exemplo: Matar alguém.

1.6 Princípios da Verdade Real, Presunção de Inocência e in dúbio pro reo

Há diversas garantias do indivíduo contra possíveis arbitrariedades do Estado. Este por meio do Poder
Judiciário, só pode sentenciar com base nas provas, mormente nos processos criminais, onde vigoram, dentre
outros, os princípios o do in dubio pro reo, da Verdade Real e o Princípio da Presunção de Inocência.
As provas acerca da materialidade e autoria do fato criminoso devem ser consistentes, não podem
deixar qualquer vestígio de dúvida, caso contrário, o juiz absolverá o acusado, por determinação legal e
acatamento aos três princípios constitucionais acima citados.
O objeto do pedido no processo penal gravita em torno de bens indisponível, como a liberdade e a
segurança, sendo, portanto, imprescindível, que a sentença penal condenatória reste fundamentada em provas
consistentes, sob pena do magistrado ter a obrigação legal de absolver o acusado.
A natureza pública do interesse repressivo consagra a necessidade de um sistema que assegure o
império da verdade, ainda que contra a vontade das partes. A pesquisa dessa verdade se inicia na Polícia
Judiciária, onde a apuração dos fatos é materializada e colecionada nos autos do Inquérito Policial – presidido pelo
Delegado de Polícia – como estabelece a Constituição Federal de 1988.
Esta fase da persecução penal tem por fim provar a materialidade e autoria do fato criminoso, e assim,
fornecer - para todas as autoridades incumbidas do dever de punir – o lastro probatório para que desempenhem
suas respectivas atribuições.
José Armando da Costa ao analisar as atribuições do Delegado de Polícia retrata o alcance do poder
decisório da autoridade policial sobre os diretos fundamentais e sua inalterabilidade a nível administrativo:

Deslocando-se para o campo específico das atribuições jurídico-legais dos Delegados de Polícia Civil,
notadamente no campo do exercício da atividade de polícia judiciária (consistente em apurar o crime e sua
autoria), verifica-se que essa autoridade, por força dos princípios processuais atinentes, e até mesmo como
um imperativo do Estado de direito democrático, não se subordina, em suas convicções fático-jurídicas, aos
seus chefes imediatos ou mediatos. Não há sequer subordinação ao Poder Judiciário. A autoridade policial se
curva diante das determinações judiciais não por questão de hierarquia, e sim porque – como de resto todas
as demais autoridades – se encontra sujeita ao controle constitucional de legalidade. Controle esse que é
exercido exclusivamente pelo Poder Judiciário, uma das expressões da soberania nacional (art. 5º, inciso
XXXV,da Constituição Federal). A judicatura, material ou formal, não comporta subordinação nem mesmo
dentro da organização da função jurisdicional. Por isso é que um Juiz do primeiro grau não está obrigado a
adotar o entendimento do órgão do segundo grau (tribunais). A não ser que se trate de súmula vinculante.
No exercício de polícia judiciária, a autoridade policial, em alguns momentos em que é escalado legalmente
para decidir, realiza excepcionalmente função judicante material. Isso ocorre quando deva decidir se o caso
que lhe é apresentado define-se, ou não, como flagrancial, nos termos do art. 302 do Código de Processo
Penal. Competindo-lhe ainda dizer o enquadramento típico da infração penal, aferir se o caso é ou não
afiançável (de acordo com o art. 322 e seguintes do diploma legal referido). Determinar, nos termos dos
artigos 201, parágrafo único, do CPP, a condução coercitiva de pessoas envolvidas na prática de crime. Bem
como a determinação de outras medidas que gere algum constrangimento ao indivíduo. (COSTA, José
Armando da. Responsabilidade Penal ou disciplinar do Delegado de Polícia no eventual exercício de
judicatura material, Fortaleza; Doutrina Predominante nº04,2008.Disponível em www.sspds.ce.gov.br/
acessado em: 08 de fevereiro de 2010)

O princípio do in dubio pro reo também está refletido no Código de Processo Penal, em seu artigo 386, o
qual impõe a absolvição do acusado por insuficiência de provas acerca: da existência do fato; da participação do
réu na infração penal; da existência de excludentes ou dirimentes ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência; finalmente, se não existir prova suficiente para a condenação.
Todas essas hipóteses estabelecidas pela lei tratam da insuficiência ou falta de provas, as quais têm na
impunidade, sua desembocadura, demonstrando de plano e de forma inconteste, a relevância das atribuições
constitucionais da Polícia Judiciária para a concretização de uma Justiça criminal eficaz.

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Outro Princípio Constitucional com incidência na persecução criminal, é o da presunção de inocência,


que vige, em razão da adesão do Brasil à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, sendo signatário do
Pacto de São José da Costa Rica, Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992.
Segundo este princípio, toda pessoa acusada da autoria de um crime, tem em seu favor, o dever do
Estado considerá-lo inocente, até que a sentença penal com trânsito em julgado, o considere culpado. Também
nominado de Estado ou Situação Jurídica de Inocência.
Esse princípio impõe às instituições públicas encarregadas da persecução penal, duas obrigações em
suas relações com o acusado: 1) Estabelece que todo o ônus de provar a existência do fato e sua autoria recai
exclusivamente sobre a acusação. A defesa teria o ônus de provar, caso alegue alguma excludente de ilicitude ou
culpabilidade; 2) Durante todo o trajeto desse caminho – iter persecutório – o acusado, só pode sofrer lesão ou
ameaça de lesão aos seus direitos, fundadas, apenas, na possibilidade de sua culpa.
Tanto é assim, que desde 2009 o Supremo Tribunal Federal, por meio do informativo 535 tratando das
prisões processuais penais declarou que só poderá haver cerceamento da liberdade de ir, vir, ou permanecer,
afora os casos de prisão em flagrante e temporária, quando presentes - em concreto - os requisitos do art. 312 do
Código de Processo Penal, ou seja: para garantir a Ordem Pública; a ordem Econômica; a conveniência da
Instrução Criminal e para assegurar a aplicação da lei penal.
Os citados requisitos em concreto assim serão adjetivados, tão somente se, qualquer uma das
quatro hipóteses aventadas tiver como lastro, provas da existência do crime e indícios suficientes de autoria.
Ou seja, o estado de inocência proíbe a antecipação do pior resultado final do processo -
prisão - permitindo-a cautelarmente, apenas quando houver concomitantemente prova da existência do fato,
indício de autoria e sua extrema necessidade para a instrução penal ou efetividade da lei penal, o que mais uma
vez ratifica a imprescindibilidade das atribuições da Polícia Judiciária para a concretização de uma Justiça Criminal
eficaz.

Exercício de Fixação

1 - Os Princípios Constitucionais ocupam qual posição, na pirâmide que representa a hierarquia das
normas da Ordem Jurídica do Brasil? Qual seu reflexo para o policial, no cumprimento de suas atribuições?
2 - Quanto ao Princípio da Legalidade explique a interpretação restritiva da Lei Penal.
3 - Qual princípio constitucional estabelece que o texto da lei penal deverá usar termos precisos e
claros?
4 - Em que consistem os Princípios da Verdade Real, Presunção de Inocência e in dúbio pro reo? Qual a
relação dos mesmos com as atribuições da Polícia Judiciária do Estado do Ceará?

UNIDADE II

INFRAÇÃO PENAL

2.1 Conceito, classificação e elementos de composição

Infração Penal é gênero onde são espécies: crimes, delitos e contravenções. No Brasil crimes e delitos
são expressões sinônimas, a contravenção é outra espécie. Diferentemente da França e Espanha - onde vigora o
critério tripartido – no Brasil vigora o critério bipartido. Crime é a infração penal a que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, isoladas, cumuladas ou alternadas com a pena de multa; Contravenção é a infração
penal a que a lei comina pena de prisão simples ou multa.
Não existe um conceito de crime fornecido pela lei, daí a doutrina tê-lo construído. Surge o conceito
analítico de crime, o qual identifica os elementos que compõem a infração penal. A maioria da doutrina nacional e
internacional define crime como um fato típico, antijurídico e culpável. Passemos à análise os elementos que
compõem o fato típico.

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O Fato típico é constituído pela - conduta - resultado - nexo causal e tipicidade.

a) Conduta para a teoria finalista é a ação ou omissão humana consciente e voluntária dirigida a
determinado fim. Há uma vontade consciente dirigida a um fim (aspecto psíquico) e a manifestação dessa
vontade, através de um movimento, atuação ou abstenção (aspecto físico/mecânico/muscular). A vontade
determina a conduta que pode ser dolosa ou culposa. A conduta é consubstanciada em uma ação ou comissão –
movimento corpóreo, um fazer, um agir, comportamento ativo. Exemplos: atirar; subtrair; ofender. Omissão - é a
inatividade, a abstenção do movimento, não fazer algo que é devido, como por exemplo, a mãe que não alimenta
seu filho.
No crime omissivo a ação é exigida pela lei, porém não é realizada. Há o crime omissivo próprio - quando
a inação é prevista na descrição do crime. Por exemplo, o crime de omissão de socorro previsto no art.135 do
Código Penal. Há o crime comissivo impróprio ou comissivo por omissão onde a omissão é o meio de alcançar o
resultado previsto em um crime comissivo. Matar alguém, em regra precisa de uma ação, mas pode ocorrer que
sujeito ativo utilize como meio de alcançar esse resultado - a omissão. Exemplo: mãe que deixa de alimentar o
filho, livre e conscientemente, com o fim de alcançar a morte do mesmo. Nesses casos para que o agente
responda pelo crime é preciso que tenha o dever jurídico de agir. O Código Penal estabelece em seu artigo13 as
pessoas que têm o dever de agir.

b) Resultado é o segundo elemento do fato típico. Quanto ao resultado os crimes são classificados em
crimes materiais, formais e de mera conduta. Nos crimes materiais – o texto legal exige um resultado material,
naturalístico, para que o crime seja consumado. Exemplo: O crime tipificado como homicídio só se configura com
a morte da vítima. Nos crime formais – também chamados de crimes de consumação antecipada, o resultado é
normativo e não naturalístico, assim a norma penal antecipa o resultado. O resultado se dá ao mesmo tempo em
que ocorre a conduta. Pode até acontecer que o resultado ocorra, mas ele não é condição para a consumação do
crime. Exemplos: Ameaça e Injúria. Nos crime de Mera Conduta – a lei não exige qualquer resultado contenta-se
com a ação ou omissão do agente. Ex. Violação de Domicílio e Condescendência Criminosa.

c) Nexo Causal é a relação de causalidade, figurando como outro elemento necessário para que o fato
seja qualificado como típico. O nexo causal é a ligação entre a causa e o resultado. O Código Penal estabelece no
Art.13: O resultado de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-
se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Aqui causa e condição se equivale, todas as
condutas que contribuíram para o resultado criminoso são consideradas causas. Sem uma delas o fato não teria
ocorrido – conditio sine qua non. O código adota a teoria da equivalência das condições ou teoria da equivalência
dos antecedentes. Para que se possa identificar se a conduta é causa do resultado, utiliza-se o processo hipotético
de eliminação – segundo o qual causa é todo antecedente doloso ou culposo, que não pode ser suprimido, in
mente, do contexto, sem afetar o resultado. Exemplo: G emprestou sua arma para que T matasse C. O empréstimo
da arma também é causa. Já o fabricante da arma não compõe a cadeia causal. O limite da teoria da equivalência
é o dolo ou a culpa.

d) Tipicidade é o último elemento do fato típico. A tipicidade é a exata correspondência entre o fato que
ocorrera na realidade e o fato descrito hipoteticamente na lei penal. Todos os elementos descritos
hipoteticamente no tipo penal – elementos objetivos, subjetivos e normativos – devem existir no fato concreto.
Faltando um dos elementos previstos na lei, não ocorrerá a subsunção e, consequentemente não se configura a
tipicidade. O tipo penal pode ser composto de elementos objetivos, elementos subjetivos e elementos
normativos. Elementos objetivos – são aqueles puramente descritivos identificados simplesmente com a
interpretação literal do texto. Ex: matar alguém. Tanto o elemento matar quanto o elemento alguém são
descritivos, dispensam juízo de valor. Elementos normativos – termos ou expressões que só adquirem sentido, a
partir de um juízo de valor das normas legais ou das normas ético sociais. Ex: Funcionário Público, propriedade,
dignidade, decoro. Nesses casos para identificar se há ou não tipicidade é imperioso que se busque nos costumes
ou na lei o significado de tais elementos. Elementos subjetivos – são os elementos do psiquismos do agente, de
sua consciência e vontade. Os motivos do crime, os objetivos do crime, a forma como o crime foi praticado, o
ânimo do agente no momento da atuação, etc. Exemplo: Art.134 CP – o agente tem que ter abandonado o recém-
nascido com o fim de ocultar uma desonra própria. Existe a tipicidade direta quando o tipo penal contém todos os
elementos que o compõem, não sendo necessário recorrer a outras normas contidas na parte geral. Na tipicidade

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indireta se faz necessário à tipicidade que se complete o tipo penal com outras normas contidas na parte geral.
Ex: tentativa art14, II e concurso de agentes art.29, ambos do Código Penal. No momento de analisar se o fato é
ou não criminoso, e decidir acerca da existência ou não do estado de flagrância, a primeira operação mental feita
pelo Delegado de Polícia é acerca da subsunção.

Exercício de Fixação

1 - Explique o conceito de tipicidade e apresente dois exemplos.

UNIDADE III

DOS CRIMES

Ao tratar da tipicidade – último elemento do fato típico – fora ressaltado seu conceito, como a perfeita
correspondência entre o fato real, supostamente criminoso, e o fato descrito hipoteticamente, no preceito
primário da lei penal. Constata-se a imprescindível existência de todos os elementos descritos na lei penal –
elementos objetivos, subjetivos e normativos, para a configuração do tipo. Faltando um deles, não ocorrerá a
subsunção, e, consequentemente a tipicidade.
Para Miguel Reale Júnior tipicidade, é a “congrência entre a ação concreta e o paradigma legal ou a
configuração típica do injusto”2 Assim, a cada caso concreto, no momento de analisar o fato apresentado, e decidir
acerca da existência ou não do estado de flagrância, o Delegado de Polícia - num raciocínio de análise e
constatação – pesquisa, tanto elementos deste, como os elementos da subsunção.
O Delegado de Polícia deve dissecar o fato visando rastrear a existência de todos os elementos
estabelecidos pela lei penal. Para tanto, parte do conhecimento de que o tipo penal pode ser composto de
elementos objetivos, elementos subjetivos e elementos normativos. Revisemos com constância a lição de
Francisco de Assis Toledo3: no item d) do tópico 2.3 acima.

3.1 Homicídio - Genocídio - Homicídio qualificado pela tortura - Tortura seguida de morte

Dentre os crimes contra a vida o Código Penal estabelece em seu artigo 121:

Art. 121 - Matar alguém:


Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.

Matar

Matar é a conduta do ser humano, de eliminar a vida de outro ser humano. A Lei 9.434/97 determina
que a vida humana resta eliminada no instante da morte encefálica. Trata-se o verbo matar de um elemento
objetivo descritivo. O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de praticar o verbo do
tipo. A modalidade culposa é tipificada no §3º do mesmo artigo.
O art.1° da Lei 2.889/56 tipifica como crime de genocídio, e não homicídio, a conduta de matar outro(s)
com a intenção específica de exterminar grupo nacional, grupo étnico, grupo racial ou grupo religioso, ainda que,
eliminando cada integrante, de um em um.
Com a segunda guerra mundial o planeta assiste atrocidades de seres humanos contra seres humanos –
o massacre de 6 milhões de judeus pelos nazistas.

2
REALE Júnior. Miguel. Parte Geral do Código Penal – Nova Interpretação. RT, 1988 pg.21
3
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ªed. Editora Saraiva, São Paulo.2002

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Para que possamos entender melhor do que estamos falando e de certa forma entender o real
significado das atrocidades praticadas naquela guerra, válido observar o vídeo abaixo.

Video 1 – Holocausto
Em: www.youtube.com/watch?v=sfXLz8AtPD0

Com a Lei 9.455/97 resta delimitada a distinção entre o crime de homicídio qualificado pela tortura - o
crime de tortura seguida de morte e o crime autônomo de tortura. Inicialmente tratemos acerca da tipificação do
crime de tortura.
A tortura caracteriza-se por sua finalidade, ou motivo. O sujeito ativo da tortura usando como
instrumento violência física ou moral, causa dor física ou mental.

Sobre o Hediondo Crime de Tortura

Foto em:direitoshumanos.epbjc.pedome.net/tag/tortura

O torturador tem como finalidade ou meta:

1 – obter informação – declaração ou confissão da vítima ou de terceiro;


2 - provocar ação ou omissão criminosa;
3 - castigar

Também caracteriza a tortura o motivo pelo qual o agente pratica a tortura, no caso da legislação
brasileira em razão de discriminação religiosa ou racial.

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Vejamos: I) homicídio qualificado pela tortura - aqui o sujeito ativo tem a vontade livre e consciente de
eliminar a vida da vítima por meio da tortura, ou seja, a tortura é o caminho, o instrumento usado para atingir o
fim, no caso, a morte da vítima; II) crime de tortura seguida de morte - já aqui, o objetivo do sujeito ativo não é
matar, e sim torturar a vítima, porém, esta vem a falecer em razão da tortura; III) crime de tortura - esse crime
autônomo caracteriza-se por sua finalidade, ou motivo. o sujeito ativo usa como instrumento, a violência física ou
moral, e causa à vítima, dor física ou mental. Caracteriza o crime de tortura o motivo ou a finalidade do autor,
dentre estas – obter informação – declaração ou confissão da vítima ou de terceiro; - provocar ação ou omissão
criminosa; 3 – castigar a vítima. Também caracteriza a tortura, o motivo pelo qual o agente a pratica, no caso da
legislação brasileira, em razão de discriminação religiosa ou racial.
A Constituição da República Federativa do Brasil vigente estabelece em seu art.5º, inciso III, que
ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Consagrou assim o Princípio a
inviolabilidade física e moral do ser humano, como um direito absoluto, insuscetível de relativizações. As
constituições brasileiras passadas não consagravam esse direito. O constituinte de 1988 também extirpou, além
da tortura, qualquer tratamento desumano ou degradante, com o fito de extinguir práticas de crueldade e
selvageria.

Alguém:

Trata-se de expressão que remete exclusivamente ao ser humano. No contexto do crime de homicídio,
ao ser humano com vida extrauterina. Dependendo das circunstâncias e autoria, o crime poderá ser de
infanticídio e não homicídio.

Consumação:

O crime em análise, quanto ao momento da consumação é classificado como instantâneo, ou seja, se


consuma no momento em que ocorre a morte da vítima. Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada,
e o jus puniend ocorre independentemente da vontade dos representantes da vítima.

Inquérito Policial:

Se, o Delegado de Polícia constatar a presença de todos os elementos de composição do tipo penal em
estudo, bem como o estado de flagrância, determinará a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão da
pena máxima estabelecida no preceito secundário do tipo. Caso não haja estado de flagrância, mas a autoridade
policial identifique a presença de todos os elementos de composição do tipo penal em estudo, instaurará o
Inquérito Policial por portaria.

3.2 - Violência Doméstica: Código Penal e Lei 11.340/2006

Dentre os crimes contra a integridade física, o Código Penal estabelece em seu artigo 129 que a conduta
de ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem tem pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Trata-se em regra de crime apurado por meio de termo circunstanciado de ocorrência. No contexto das lesões
corporais, analisaremos com mais vagar, o tipo penal previsto no parágrafo 9º do citado tipo penal.

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou
de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Não raras vezes o crime aqui tipificado resta confundido com os crimes e os procedimentos previstos na
Lei 11. 340 de 7 de agosto de 2006. Infelizmente os conflitos domésticos e familiares, com frequência, emergem
nas Delegacias de Polícia em busca de soluções.
O parágrafo 9º traz uma nova modalidade de lesão qualificada. Veja que a lesão corporal leve tem pena
de três meses a um ano, enquanto a lesão de violência doméstica passou a ter pena de três meses a três anos.
Percebe-se numa interpretação teleológica que o legislador pretendeu combater com mais rigor as agressões
ocorridas no lar – primeiro núcleo social onde se deveria aprender sobre paz.

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Este tipo é subsidiário aos crimes previstos na Lei 11.340 de 2006, logo, imperioso que conheçamos
estes, para, por exclusão saber daqueles. Nos crimes previstos na Lei 11.340/2006, as vítimas sempre são
mulheres. Nos crimes previstos no Código Penal as vítimas podem ser homens ou mulheres, se no caso concreto,
as circunstancias não atendam os requisitos exigidos pela Lei 11.340 de 2006. Desconsiderando a provável idade
dos personagens, a figura 1, abaixo reflete caso não tipificado na Lei 11.340 de 2006.
Trata-se de discriminação Positiva. Segundo a doutrina, a lei 11.340 de 2006 é uma lei de gênero, a qual
tutela determinado grupo vulnerável, como o faz o Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como a lei de
proteção aos idosos - pessoa social, histórica ou economicamente vulneráveis. O fim social da lei é proteger esse
grupo vulnerável.
A ilustração abaixo mostra um pouco dessa “violência”: A L a

www.google.com.br/search?q=gibi+da+monica+com+monica+batendo+no+cebolinha+antes+de+entrar+no+clu
blinho&espv=2&biw

Tais leis trazem uma discriminação positiva, ou seja, o legislador trata de forma desigual grupos
desiguais, grupos vulneráveis com ações afirmativas do Estado. O que o legislador não pode fazer é editar leis que
discriminem de forma negativa.

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Para a Lei 11.430 a vulnerabilidade resta materializada nos termos de seu art. 5o:

Art.5º - Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Constata-se que para a configuração do crime de violência doméstica ou familiar contra a mulher devem
coexistir, inicialmente, requisitos do art. 5º e art.7º da lei 11.340 de 2006, ou seja: I - uma conduta (ação ou
omissão) baseada no gênero; II – que cause à mulher dano ou ameaça de dano à: 2.1 – Vida, e/ou; 2.2 -
Integridade Física e/ou; 2.3 - Integridade Psíquica, e/ou; 2.4 - Integridade Moral, e/ou; 2.5 - Liberdade Sexual,
e/ou; 2.6 - Integridade Patrimonial. Mas, tais requisitos do caput devem estar inseridos num dos contextos
previstos pelo inciso I, II ou III. Analisemos cada um.

I – NO AMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA – aqui o legislador exige que agressão ou ameaça de agressão
ocorra num espaço de convívio permanente da vítima e do autor, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas. No âmbito da unidade doméstica não há exigência de vínculo familiar. O que importa
é o espaço em que o crime ocorreu - espaço de convívio permanente. Exemplo: caso da empregada doméstica que
é agredida pelo patrão.

Unidade Doméstica

II – NO ÂMBITO DA FAMÍLIA - a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram


aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. Neste contexto não importa onde
o crime aconteça – o que caracteriza o crime de violência doméstica e familiar contra a mulher é a existência de
laços familiares entre agressor e vítima, diferentemente do inciso I, a conduta aqui analisada pode ocorrer em
qualquer lugar. A Lei Maria da Penha admitiu laços familiares no sentido latou: pai e filha (cosanguineo); cunhado
e cunhada ou genro e sogra (afinidade); adoção e casamento (vontade expressa). Exemplo do STJ (5ª T.Resp
1.239/850/DF – 16.2.2012).

III – QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO – este inciso exige como requisito que o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Observemos a diferença entre convivência e
coabitação. Veja que é prescindível a habitação em comum e permanente dos envolvidos.

A Lei Maria da Penha não será aplicada, em todos os casos de violência, em que a mulher for vítima. Os
danos, aos bens jurídicos das mulheres, devem ter como contexto a unidade doméstica, o âmbito familiar ou uma
relação íntima de afeto presente ou passada. Caso a violência à mulher, não reste tipificada como violência
doméstica e familiar pela lei 11.340 de 2006, poderá haver subsunção da conduta ao art129,§9º do Código Penal,
por exemplo.

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São modalidades de Violência Doméstica da Lei 11.340 de 2006:


o
Art. 7 São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; .
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
V - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Quanto ao caput, o legislador teria sido mais preciso com a técnica gramatical portuguesa, se, ao invés
da conjunção aditiva “e”, tivesse usado a conjunção alternativa “ou”.; O inciso I deste art. 7º trata da violência
física, vis corporalis, a qual atinge tanto a integridade física como a saúde da mulher. São exemplos da primeira
fratura, fissuras, queimadura, e da segunda provocações de vômito. São exemplos do inciso II o crime de ameaça e
constrangimento ilegal do Código Penal. Quanto à violência sexual prevista no inciso III podemos exemplificar com
a conduta do marido que abriga a mulher a participar de swing e com o crime de estupro.
A Corregedoria Geral de Justiça no comunicado nº117/2008 do Tribunal de Justiça de São Paulo -
conclusão Nº 08 informa que, a Lei Maria da Penha não é aplicada se a vítima é homem, ainda que em situação de
vulnerabilidade. Nestes casos a vítima encontra amparo no Código Penal e legislação extravagante pertinente.

Consumação

Já vimos que o crime de homicídio se consuma no momento em que ocorre a morte da vítima, mas, caso
isto não ocorra poderá restar tipificada a conduta como crime de tentativa de homicídio ou lesão corporal, em
qualquer uma de suas diversas modalidades. O parágrafo faz referência ao ato de ofender a integridade corporal
ou a saúde das pessoas elencadas.

Inquérito Policial/Termo Circunstanciado de Ocorrência

O tipo penal não mais pertence ao rol dos crimes de menor potencial ofensivo, o que tem reflexo direto
nos processos pertinente à primeira fase da persecução penal, que ocorre no Poder Executivo, com a Polícia
Judiciária.
A ação deixa de ser pública condicionada e passa a ser incondicionada, e assim, a apuração da lesão leve
nas circunstâncias do §9º segue o procedimento do Inquérito Policial – iniciando inclusive, por meio do auto da
prisão em flagrante.
Trata-se de ação penal pública incondicionada, a partir da Lei Nº 11.340/2006 e da ADI 4.424/DF, mesmo
que se trate de lesões corporais leves.
O Delegado de Polícia constatando a presença de todos os elementos de composição do tipo penal em
estudo, bem como o estado de flagrância, determinará a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão da
pena máxima estabelecida no preceito secundário do tipo.

3.3 Calúnia, Difamação e Injúria

Tem importância singular a percepção de que, muita das vezes, os crimes mais graves têm como uma de
suas causas, a indevida ou inexistente, repressão jurídica e policial aos crimes de menor potencial ofensivo. Esta é
a razão pela qual, todos os crimes contra a honra, previstos no Código Penal, serão estudados

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Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de 6 (seis)
meses a 2 (dois) anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala
ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

Honra

Honra é o conjunto de atributos de uma pessoa - sua credibilidade e respeitabilidade sociais. Trata-se de
bem jurídico tutelado constitucionalmente. A ofensa à honra de qualquer pessoa tem consequência criminal e
civil, podendo gerar indenização por danos morais.
A doutrina criou a figura da honra objetiva e da honra subjetiva. Honra objetiva é o conceito que uma
pessoa tem em seu meio social, é a forma como alguém é visto por terceiros, é a reputação de uma determinada
pessoa, é a perspectiva das pessoas com relação a ela. A honra objetiva é o modo como terceiros qualificam
aquela pessoa.
O tipo penal da calúnia – protege a honra objetiva. Por exemplo: A falsamente acusa B, investigador de
polícia, de ter cometido o crime de corrupção passiva, denegrindo a imagem de B em seu meio profissional.

Consumação

O crime de calúnia - por tutelar a honra objetiva, apenas se consumará quando o outrem sabe da falsa
imputação. Como o crime de injúria protege a honra subjetiva, o autoconceito do ofendido, a consumação se dá
quando, o próprio ofendido toma conhecimento da ofensa. Na maior parte das vezes os crimes contra a honra não
admitem tentativa, mas não se trata de uma regra geral, devendo ser analisado cada caso concreto. Exemplo: X
posta um vídeo na internet acusando B de ter praticado um crime, mesmo sabendo que a acusação é falsa.
Enquanto ninguém tiver conhecimento do vídeo, não haverá consumação, mas todos os atos de execução foram
praticados.
Tal qual a calúnia, a consumação do crime de difamação ocorre com o conhecimento do fato por um
terceiro, justamente porque ambos protegem a honra objetiva. Diferente do que ocorre com a calúnia e
difamação, na injúria a consumação se dá com o conhecimento da ofensa pelo ofendido. Só haverá injúria se o
contato foi feito cara‐a-cara com o ofendido, ou ao telefone ou, ainda, em uma carta encaminhada ao ofendido. .

Calunia

Há calúnia quando se imputa a alguém fato falso e específico, definido pelo ordenamento jurídico como
crime. A definição e delimitação dos fatos devem ser precisas. Exemplo: B afirmar que o servidor A é corrupto
porque desviou recursos de sua repartição no dia X, no valor de Y, através da condição W e pelo motivo Z. Neste
caso, sendo a acusação falsa, pode‐se enquadrar a atuação de B como calúnia. Não há calúnia se alguém é
acusado de explorar a contravenção do jogo de azar, Mesmo que, a acusação seja delimitada e específica, pois o
jogo de azar é contravenção. Poderia haver subsunção na modalidade difamação.

Calúnia x Difamação

Na difamação o fato imputado não é criminoso, mas tem a capacidade de ofender sua reputação da
pessoa. Exemplo: Policial A chega todos os dias na Delegacia com a roupa suja e amassada. Policial B que trabalha
na mesma repartição, e com o objetivo de manchar sua reputação, começa então a propalar pela repartição o
comportamento de A. B não criou falsas afirmações sobre A. No entanto, o ato de propalar com a intenção de
ofender a reputação de A torna B sujeito ativo do crime de difamação.
Outra diferença é que no crime de calúnia o §1o do artigo 138 do CP determina que quem propalar ou
divulgar a calúnia feita por terceiro, sabendo falsa a imputação, também responderá pelo crime. Já no crime de
difamação não existe previsão semelhante, todavia, se terceiro narra/propala a difamação com o mesmo animus

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do sujeito ativo original (qual seja, o de ofender a honra), também comete crime de difamação.

Calúnia e Denunciação Caluniosa

Na denunciação caluniosa o sujeito ativo dá causa a instauração de investigação policial ou processo


judicial contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. A pena é de reclusão, de dois a oito anos, e
multa. A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. Será
diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

Injúria

As expressões “dignidade ou decoro” representam o sentimento e os atributos que cada um de nós


acredita ter. Regra geral, o crime de injúria é praticado a partir de gestos, expressões ou palavras que ofendam
este sentimento de dignidade. Exemplo: expressões pejorativas como ladrão, vagabundo, safado, baleia, burro,
corno, rapariga, viado, boiola, macaco, entre outras. Em seu elemento subjetivo implícito (animus injuriandi) traz o
propósito de ofender humilhar e menosprezar. Como é de forma livre pode ser praticado com gestos, como, por
exemplo, cuspir na cara de uma pessoa.
No §2º do mesmo artigo há a previsão de um tipo penal especial chamado pela jurisprudência de injúria
real. É assim denominada porque muitas vezes a ofensa ultrapassa o limite das palavras e gestos, e o sujeito ativo
pratica atos que adentram a esfera da violência real ou das vias de fato.
Importante, ainda, que o ato que ultrapasse a esfera das palavras seja aviltante. Por isso alguns dos
exemplos clássicos de injúria real é o tapa na cara, o puxão de cabelo, o cuspe, entre outros do mesmo tom.
Entende‐se que o ato de violência praticado na injúria real não tem a intenção de agredir a integridade física, da
pessoa, o móvel das modalidades de injúrias é humilhar/desprezar a pessoa, mesmo que através de atos de
violência. Portanto, a intenção não é causar lesão física ou dor, mas sim ver a humilhação da vítima ofendendo de
forma mais intensa a honra subjetiva da vítima.
Necessário observar que se o meio violento escolhido causar alguma consequência (sofrimento ou
lesão), o responsável pelo ato responderá pela pena correspondente à violência; ficando, todavia, a contravenção
penal (como considera a maior parte da doutrina sobre as vias de fato) absorvida pela injúria real.
Em todos os casos, se houver lesão corporal (que no caso da injúria tendem a ser leves, eis que lesões
graves e gravíssimas seriam incompatíveis com o tipo), haverá concurso material em razão da já mencionada
ressalva para aplicação cumulativa das penas correspondentes à violência.
No § 3º a figura da injúria racial - ou preconceituosa, ou qualificada, uma vez que o aspecto racial não é
o único elemento a motivar a conduta do agente. Trata-se de crime com pena mais alta e de ação penal pública
incondicionada. Característica central da injúria qualificada é a utilização instrumental de determinada
característica de uma pessoa para a prática da ofensa. Exemplo: Chamar uma pessoa negra de macaca com o fim
de menosprezar o indivíduo em razão da cor.
Nas injúrias em geral, o consentimento da pessoa em relação à ofensa sofrida acaba por excluir o crime,
pois há um componente subjetivo determinante: se a vítima não se sente ofendida ou se permite/consente ser
chamada por uma determinada característica que no meio social poderia ser considerada ofensiva, mas para ela
não o é, ocorrerá exclusão da tipicidade do crime de injúria e, com mais razão ainda, de injúria preconceituosa.
O Estatuto do Idoso inseriu neste parágrafo a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, e
determina:

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de
transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio o instrumento necessário ao exercício da
cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por
qualquer motivo.
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade
do agente.

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3.4 - Desacato

Dentre os crimes praticados por particulares contra a administração pública, o Código Penal estabelece
no artigo 331 o desacato.

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de 6
(seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Para fixar melhor o conteúdo válido assistir o vídeo abaixo que apresenta cena compatível com os
elementos que compõem o tipo penal do desacato.

Vídeo 2 – Chamando o Policial de Palhaço


Em: https://www.youtube.com/watch?v=ji_ZhT4deo4

Desacatar:

É a conduta de desrespeitar a pessoa humana que exerce a função pública. O desacato pode materializa-
se em palavras ou gestos desrespeitosos, grosseiros, humilhantes ou acintosos. No desacato verbal imperioso
analisar o tom em que as palavra foram pronunciadas, bem como, os gestos corporais e faciais que as
acompanharam. Não constitui o crime de desacato observações, críticas ou reclamações fundamentadas, sem tom
irônico, sarcástico ou pejorativo.

Funcionário Público

A maioria da jurisprudência entende que podem ser sujeitos passivos do crime de desacato, todas as
pessoas elencadas no art.327 do Código Penal. (TRF, 4ª Região, HC 1999.04.01.43627-RS, Turma de Férias, rel.
Vilson Darós, 15.07.1999, v.u., RT772/721). Trata-se de um elemento objetivo normativo, cujo conceito resta
delimitado no diploma penal, o qual estabelece ser funcionário público, para os efeitos penais, quem exerce cargo,
emprego ou função pública, mesmo que transitoriamente ou sem remuneração, ainda que em entidade
paraestatal.
As entidades paraestatais não executam serviços públicos, mas serviços de interesse público, sob
administração privada e sob normas e controle do Estado. São as empresas Públicas, como a Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos e a Caixa Econômica Federal. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA, como por exemplo, o
Banco do Brasil S. A. e PETROBRÁS. Por fim as fundações.
O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de praticar o verbo do tipo. Não
existe desacato culposo. Também não se exige dolo específico.

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No exercício da função ou em razão dela:

O funcionário público deve estar desempenhado suas atribuições públicas, e caso não esteja, como nas
férias ou período de descanso, a ofensa elaborada pelo sujeito ativo do crime deve ter pertinência com a citada
função. Por exemplo: Oficial da Polícia Militar do Estado do Ceará, em suas férias é convidado para aniversário,
onde, na sua presença o anfitrião afirma, com intensão de humilhar, em alto e bom som que todo policial é
ladrão. Trata-se em tese do crime de desacato em razão da função pública. Nesse crime a primeira vítima é o
Estado. Para que se configure se faz necessário que o funcionário esteja presente e, capte, por meio de seus
sentidos a conduta desrespeitosa.4

Consumação

O crime em análise, quanto ao momento da consumação é classificado como instantâneo, ou seja, se


consuma quando ocorre a conduta desrespeitosa na presença do funcionário público. Como o crime é de ação
penal pública incondicionada, em regra, se configura independentemente da vontade a vítima. Nucci defende que
“se o funcionário público demonstra completo desinteresse pelo ato ofensivo proferido pelo agressor, não há que
se falar em crime, pois a função pública não chegou a ser desprestigiada.

Termo Circunstanciado de Ocorrência:

Se o Delegado de Polícia constatar a presença de todos os elementos de composição do tipo penal em


estudo, bem como o estado de flagrância, determinará a lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência, em
razão da pena máxima de dois anos estabelecida no preceito secundário do tipo.
Findo o conteúdo programático previsto para esta disciplina, desejamos que tenha conseguido
compreender e aprofundar melhor a contextualização dos Fundamentos do Direito Penal.
Obviamente que o tema não se esgota nestas 18horas de aula. Certamente durante sua vida profissional
deverá estudar cada vez mais para que possa exercer com extrema segurança e sabedoria a belíssima profissão
que em breve irá abraçar.
Sendo assim, ao tempo em que desejamos excelente desempenho no curso, na profissão e na vida,
convidamos para que faça o exercício de fixação último como forma de materializar ainda mais o aprendizado.

Grata pela atenção.

A conteudista.

Exercício de Fixação.

1 - Distinga o crime de genocídio do crime de homicídio.


2 - Defina os elementos de composição do crime de tortura
3 - Elenque a(s) diferença(s) entre o crime de Injúria e o crime de Desacato.
4 - Em que consiste a injúria racial?
5 - Diferencie o crime de calúnia, difamação e injúria quanto aos elementos de composição do tipo
peal.
6 - X cometeu o crime de desacato. Sua autuação será por meio de Inquérito Policial ou Termo
Circunstanciado de Ocorrência. Explique.

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NUCCI. Guilherme de Sousa. Código Penal Comentado.14ªed.Editora Forense. Rio de Janeiro.2014.pág1329

18
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
Curso de Formação Profissional Para Ingresso nos Cargos de Médico Perito Legista 1ª Classe, Perito Legista 1ª Classe,
Perito Criminal 1ª Classe e Auxiliar de Perícia 1ª Classe da Perícia Forense do Estado do Ceará - PEFOCE
DIREITO PENAL

BIBLIOGRAFIA

NUCCI. Guilherme de Sousa. Código Penal Comentado.14ªed.Editora Forense. Rio de Janeiro.2014.


BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 6ªed.São Paulo:Saraiva, 2011.
COSTA, José Armando da. Responsabilidade Penal ou disciplinar do Delegado de Polícia no eventual exercício de
judicatura material, Fortaleza; Doutrina Predominante nº04,2008.Disponível em www.sspds.ce.gov.br/ acessado
em: 08 de fevereiro de 2010)
JESUS, Damásio de. Direito Penal - Parte Geral. 33ªed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.vol.1
PICAZO, Luís Diez.“Los princípios generales Del Derecho em El pensamiento de F. de Castro”, in Anuário de
Dereccho Civil, t. XXXVI, fasc. 3º, outqdez. 1983, PP.1.267 e 1.268.

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