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1.5.

1 SEMENTEIRA DIRECTA
1.5.2 TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

Lisboa 2001
Ficha Técnica

Título: Manual de Divulgação Sementeira Directa e Técnicas de Mobilização Mínima


Autor: Mário de Carvalho
Direcção gráfica: Atelier Ana Filipa Tainha
Revisão: Laurinda Brandão
Edição: Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural (DGDRural)
Distribuição: DGDRural/Divisão de Documentação e Tratamento da Informação
Av. Defensores de Chaves, 6-r /c – 1049-063 Lisboa
Impressão: Tipografia Peres
Tiragem: 3000 exemplares
ISBN: 972-8693-00-1
Depósito legal: 165.895/01
ÍNDICE

7 1. INTRODUÇÃO

10 2. ADAPTAÇÃO DOS DIFERENTES SOLOS E CULTURAS À SEMENTEIRA


DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

13 3. TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA


E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA
14 3.1 Semeadores de sementeira directa
14 3.1.1 Tipos de órgãos abridores
14 3.1.1.1 Semeadores de bicos
16 3.1.1.2 Semeadores de disco simples
17 3.1.1.3 Semeadores de disco duplo desfasado
18 3.1.1.4 Semeador de disco triplo
19 3.1.1.5 Semeadores de fresas
23 3.1.2 Tipos de órgãos controladores da profundidade e de compressão
23 3.1.2.1 Órgão único de controlo da profundidade e compressão
23 3.1.2.2 Controlo da profundidade por roda ou aro laterais
24 3.1.2.3 Órgãos de compressão
26 3.2 Regulação dos semeadores de sementeira directa
27 3.3 Alfaias de mobilização do solo em sistemas de mobilização mínima
29 3.4 Sistemas de mobilização na linha

32 4. O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA


E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA
32 4.1 Monda de pré-sementeira
35 4.1.1 Equipamento e sua regulação
36 4.2 Mondas de pós-sementeira
37 4.2.1 Aplicadores especiais
38 4.3 Métodos preventivos auxiliares
6 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

ÍNDICE (cont.)

38 4.3.1 Rotação de culturas


38 4.3.2 Culturas de cobertura

41 5. O COMBATE DE PRAGAS E DOENÇAS

42 6. ASPECTOS PARTICULARES DA FERTILIZAÇÃO EM SEMENTEIRA


DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

43 7. DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS


DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA
45 7.1 Sistemas de culturas de sequeiro
50 7.2 Sistemas de culturas arvenses de regadio
INTRODUÇÃO 7

1. INTRODUÇÃO
Existe alguma confusão nos termos «sementeira directa» e «mobilização míni-
ma» que convém esclarecer.

Neste manual, entende-se por sementeira directa um sistema de mobilização do


solo em que não existe passagem de alfaia antes da sementeira. É o próprio
semeador que mobiliza uma estreita faixa do terreno, apenas a necessária para
o enterramento da semente, ficando a entrelinha não perturbada. O combate às
infestantes de pré-sementeira é feito pela aplicação de um herbicida e a superfí -
cie do terreno permanece coberta pelos resíduos aí existentes (restos da cultura
anterior, infestantes mortas, etc.), a fim de proteger o solo contra a erosão.
Assim, ficam excluídos da sementeira directa sistemas em que o semeador está
associado a uma alfaia de mobilização do solo, por exemplo uma fresa ou grade
rotativa que, numa só passagem, prepara toda a superfície do terreno e realiza a
sementeira da cultura.

A definição de sistema de mobilização mínima é um pouco mais difusa e


outros termos são usados com o mesmo significado, como é o caso de siste-
mas de mobilização reduzida. Neste documento, como mobilização mínima
compreende-se um sistema que, utilizando alfaias de mobilização do solo,
limita ao mínimo necessário a sua utilização, quer em relação ao número de
passagens, quer em relação à profundidade de trabalho, quer ainda à super-
fície afectada do terreno. Se bem que o grau de protecção da superfície do
solo seja inferior ao conseguido na sementeira directa, é intenção destes sis-
temas manter parte dos resíduos na sua superfície, conferindo uma protecção
parcial ao solo contra os processos erosivos. A utilização de charruas e alfaias
rotativas (fresas) ficam proibidas neste contexto e as grades de discos só
deverão ser utilizadas em situações em que uma grande quantidade de resí-
duos o exija, mas sempre na condição de a superfície do solo permanecer
parcialmente coberta. As alfaias típicas destes sistemas são as de mobilização
vertical (escarificadores, incluindo os pesados). Com muita frequência estes
sistemas recorrem também à utilização de herbicidas de pré-sementeira, como
forma de garantir um bom combate às infestantes com um número mínimo
de operações de mobilização do solo.

Há muitas e boas razões para a alteração dos sistemas tradicionais de mobili-


zação do solo, particularmente para a adopção de sistemas de mobilização míni-
8 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

ma e sementeira directa, que vão desde a conservação do solo e da água à


redução dos custos de produção.

A perda de solo por erosão é, eventualmente, o problema ambiental mais grave


provocado pelo sector agrícola em Portugal.

GRÁFICO

Escorrimento superficial e perda de solo por erosão durante a cultura de trigo. Évora
(valores médios para 85/86 e 86/87). SD – Sementeira Directa; MM – Mobilização Mínima;
MT – Mobilização Tradicional.

Os dados do Gráfico mostram que a mobilização mínima, e particularmente a


sementeira directa, são uma forma muito eficaz de reduzir as perdas de água
por escorrimento superficial e as perdas de solo por erosão. O controlo da
erosão do solo representa um benefício para o agricultor, pois evita a perda da
fertilidade do solo que lhe está associada, e representa um grande benefício
social pelos danos que evita nas infra-estruturas públicas (estradas, redes de
drenagem, albufeiras, etc.) e na contaminação das águas superficiais, uma vez
INTRODUÇÃO 9

que os carrejos transportados durante a erosão do solo são a principal contri-


buição do sector agrícola para a poluição destas águas. Estes sistemas de mobi-
lização do solo, com especial destaque para a sementeira directa, trazem ainda
outras vantagens a médio prazo, como o aumento do teor de matéria orgânica
do solo e a melhoria da sua estrutura, as quais, associadas à redução da perda
de solo por erosão, permitem um aumento do potencial produtivo do solo a
médio prazo.

Do ponto de vista económico, a sementeira directa e a mobilização mínima per-


mitem uma redução dos custos de produção, que para a cultura de trigo pode
chegar a cerca de vinte mil escudos por hectare.

Os benefícios referidos em relação ao solo, que a sementeira directa e a


mobilização mínima permitem, não são atingidos de imediato, sendo preciso
algum tempo (2 a 4 anos) para se tornarem evidentes. São necessários
alguns anos para que se verifique um aumento do teor de matéria orgânica
do solo e o consequente aumento da estabilidade da estrutura, assim como
o estabelecimento de uma rede intensa e contínua de porosidade biológica,
resultante da actividade das raízes das diferentes culturas que se vão suce-
dendo no terreno e da fauna do solo. Nos primeiros anos poderão aparecer
dificuldades várias, resultantes não só desta demora em relação à melhoria
da estrutura do solo, como também em relação à aprendizagem necessária
para uma correcta utilização destes novos sistemas. Naturalmente, a
adopção destas novas tecnologias exige precauções várias no processo pro-
dutivo das culturas, como a escolha e regulação das alfaias a utilizar, o com-
bate de infestantes, pragas e doenças e a fertilização azotada, aspectos estes
que se pretendem abordar neste manual. Infelizmente, nem todas as situações
de solo, cultura e sistemas praticados podem ser aqui previstas. Procurar-se-á
fornecer a informação sobre os princípios gerais de funcionamento destes sis-
temas, alertar o utilizador para eventuais riscos destas novas tecnologias e formas
de os minorar, chamando desde já à atenção que só se aprende verdadeira-
mente fazendo.
10 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

2. ADAPTAÇÃO DOS DIFERENTES SOLOS E CULTURAS


À SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

A transição de sistemas de mobilização do solo tradicionais, baseados na charrua


de aivecas, para sistemas de mobilização mínima e, principalmente, de semen-
teira directa não apresenta o mesmo grau de dificuldade em todos os solos e cul-
turas. Que a transição seja eventualmente mais difícil na sementeira directa é
fácil de perceber, uma vez que, neste caso, a intervenção sobre o solo é mínima
e a presença de resíduos sobre a superfície do terreno é elevada. No entanto, a
melhoria das condições do solo a médio prazo são maiores na sementeira directa,
pois confere-lhe maior protecção contra a erosão e permite uma maior acumu-
lação de matéria orgânica.

Numa primeira fase, quando se implementam estes sistemas, verifica-se um


aumento da densidade aparente nas camadas superficiais do solo, o que pode
dificultar a penetração das raízes. Por outro lado, ao aumentar-se a infiltração e
reduzir-se a evaporação pela presença de resíduos na superfície do terreno,
podem agravar-se as condições de encharcamento da camada superficial do
solo. No entanto, ao fim de alguns anos (2 a 4), a acumulação de matéria orgâ-
nica na camada superficial do solo, assim como o desenvolvimento de uma
intensa rede de macroporos contínuos de origem biológica, resultantes do cres-
cimento das raízes e da actividade da fauna do solo, contrariam o aumento da
densidade aparente, facilitando o crescimento das raízes em profundidade e a
drenagem nos solos sujeitos à sementeira directa.

Os solos que mais facilmente se podem submeter a estes sistemas são os de


textura mediana bem (ou medianamente) estruturados e todos os solos que
apresentem bom fendilhamento durante o período de secagem. São exemplos
todos os solos derivados de calcário (que sem problemas de carbonatos são
produtivos no sistema tradicional), os solos aluvionares e coluviais, muitos dos
solos derivados de xisto (cartografados como Px e Vx na carta de solos de
Portugal), os solos mediterrâneos para-barro (Pm, Vm, etc.) e os solos de barro
(Bvc, Bp, Bpc, etc.).

Os solos de textura grosseira são solos nos quais é fácil iniciarem-se os sistemas
de sementeira directa e mobilização mínima, uma vez que apresentam normal-
mente elevada macroporosidade. No entanto, são solos que se deixam compac-
ADAPTAÇÃO DOS DIFERENTES SOLOS E CULTURAS À SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 11

tar com alguma facilidade e, uma vez compactados, por não apresentarem fen-
dilhamento durante a sua secagem, dificilmente ultrapassam a situação. Assim,
para este tipo de solos a utilização da mobilização mínima, e especialmente da
sementeira directa, deve ser acompanhada de medidas que evitem a compac-
tação do solo. Estas medidas serão abordadas mais adiante, mas incluem evitar
o tráfego de máquinas pesadas em situação de solo húmido e a manutenção de
uma cobertura vegetal viva durante o Inverno no caso de sistemas de regadio.
Neste último caso o pastoreio com animais durante o Inverno também deve ser
evitado, a não ser que o terreno esteja semeado com pastagem.

Os solos mais difíceis para se iniciarem estes novos sistemas são os solos mal dre-
nados de textura mediana ou fina. Nestes solos é de todo desaconselhável fazer-
-se uma alteração imediata do sistema de mobilização tradicional para a semen-
teira directa. No entanto, são também os solos que, uma vez ultrapassadas as
dificuldades iniciais, mais podem beneficiar com a implementação destes novos
sistemas. Se a sua utilização estiver a ser feita com culturas de Primavera/Verão,
dever-se-á iniciar a alteração recorrendo primeiro a sistemas de mobilização
mínima, particularmente os designados por sistemas de mobilização na linha,
que mais à frente se explicarão. Neste caso, é também muito importante a
sementeira de uma cultura de cobertura durante o Inverno, cultura esta que
deve ser tolerante ao encharcamento, de forma a manter estáveis os canais dei-
xados pelas raízes da cultura de Verão (se possível até aumentá-los) e a permitir
um aumento mais rápido do teor do solo em matéria orgânica.

Em relação às culturas, também as dificuldades na fase inicial de transição para


os novos sistemas, particularmente na sementeira directa, não são idênticas em
todas elas. De uma forma geral, a transição é mais fácil em culturas de raízes
fasciculadas (gramíneas e muitas culturas forrageiras), em culturas de Outo-
no/Inverno e em culturas regadas. As culturas de raízes aprumadas realizadas
de Outono/Inverno ou em regadio apresentam uma dificuldade intermédia. As
culturas de Primavera de sequeiro de raiz aprumada, como o girassol, são as
mais sensíveis a qualquer compactação do solo que se possa desenvolver nos
primeiros anos de transição do sistema de mobilização do solo. A maior dificul-
dade deste tipo de culturas ao aumento inicial da compactação da camada
superficial do solo, que se verifica quando este é submetido à sementeira direc-
ta pela primeira vez, é fácil de perceber. O crescimento rápido das raízes das
culturas em solos sujeitos a este sistema depende de uma ampla rede de poro-
sidade biológica contínua no solo, de diâmetro igual ou superior ao das raízes
12 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

em crescimento. Numa fase inicial, tal rede não existe e tem de ser criada ao
longo de alguns anos. Durante a fase da sua criação, é importante que as raí-
zes encontrem o solo húmido, de forma a ser menor a sua resistência à pene-
tração e a não penalizar a cultura com eventuais deficiências hídricas. No caso
de culturas de Primavera de sequeiro com raízes aprumadas, o seu diâmetro é
maior, o solo encontra-se mais seco (com maior resistência à penetração) e
qualquer atraso no crescimento radicular em profundidade pode agravar a defi-
ciência hídrica da cultura.

No caso da cultura da beterraba, estão a dar-se os primeiros passos no estudo da


sua adaptabilidade a sistemas de sementeira directa e mobilização mínima, não
havendo, portanto, informação segura. No entanto, será de prever que seja uma
cultura de dificuldade média, dado tratar-se de uma cultura regada e os resulta-
dos preliminares assim o indicam.

Em resumo, as dificuldades iniciais que possam surgir na transição do sistema


convencional de mobilização do solo para sistemas de mobilização mínima e,
principalmente, de sementeira directa, dependem do tipo de solo e das culturas
praticadas. Em solos mais difíceis, particularmente os de textura mediana ou fina
mal drenados, a fase de transição deve contemplar sistemas de mobilização míni-
ma e utilização de culturas de cobertura antes de se poder submeter o solo, com
segurança, a sistemas de sementeira directa. Qualquer que seja o solo, deve ini-
ciar-se a sementeira directa por culturas menos sensíveis a eventuais compac-
tações iniciais da camada superficial. Por ordem crescente de sensibilidade tere-
mos: gramíneas forrageiras, cereais (cevada, aveia, trigo, triticale, milho e sorgo),
leguminosas forrageiras, leguminosas para grão e oleaginosas. Deve também
ter-se sempre em atenção que é mais fácil iniciar-se o processo por culturas de
Outono/Inverno e de Primavera/Verão regadas, sendo o grupo das culturas de
Primavera/Verão de sequeiro o mais difícil.

Independentemente destas considerações de carácter geral, a adopção de siste-


mas de mobilização mínima e sementeira directa deve ser sempre precedida da
observação das condições do solo. Deve dar-se particular atenção a problemas
de compactação que existam no perfil do solo, particularmente nos primeiros 30
a 40 cm, e à homogeneidade da superfície do terreno.

A primeira observação (compactação), embora trabalhosa, é bastante simples.


Basta abrir perfis no solo (em diferentes situações topográficas) e interpretar o
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ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

que o crescimento das raízes da cultura anterior e/ou infestantes nos dizem. Se
nesta camada existir um crescimento radicular vigoroso, em que as raízes cres-
cem de forma mais ou menos rectilínea, então o solo está em condições de entrar
directamente em sementeira directa. Caso exista alguma zona em que o cresci-
mento das raízes é muito escasso ou ausente, ou se torna muito tortuoso, então
é de suspeitar da presença de uma camada compactada. Assim, é recomendável
que, num primeiro ano, se proceda à descompactação desta camada, por recur-
so a alfaias de mobilização vertical, antes de se entrar definitivamente em siste-
mas de mobilização mínima superficial ou em sementeira directa. Uma outra
recomendação importante é verificar se a limitação ao crescimento radicular é de
natureza física ou, eventualmente, de natureza química, como a toxicidade de
alumínio, necessitando-se para tal do recurso a análises químicas do solo. Para
culturas anuais é muito duvidoso que seja vantajoso ou economicamente viável
a eliminação, através da mobilização do solo, de camadas compactadas que se
encontrem abaixo dos 30-40 cm.

A uniformidade da superfície do solo é fundamental na sementeira directa e


tem de ser analisada em função do semeador disponível. Embora os semeado-
res de sementeira directa tenham órgãos individuais, por cada linha, de con-
trolo da profundidade de sementeira, a sua capacidade de lidar com uma ele-
vada irregularidade depende do tipo de semeador e para todos eles existem
limites. Casos estes sejam ultrapassados recomenda-se que, no primeiro ano,
se proceda a uma mobilização superficial do solo, a mínima necessária para
regularizar a sua superfície, antes de se iniciarem os sistemas de sementeira
directa.

3. TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE


SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

Naturalmente as alfaias a utilizar nestes novos sistemas de mobilização do solo,


sejam os semeadores em sistemas de sementeira directa, sejam as alfaias de
mobilização e os semeadores em sistemas de mobilização mínima, têm que
estar adaptadas a estas novas situações. Em primeiro lugar, a quantidade de
resíduos presente na superfície do terreno é sempre mais elevada. Em segundo
lugar, e no que diz respeito aos semeadores, é-lhes exigida uma grande capaci-
dade de penetração no solo, uma grande robustez e a capacidade de controlar,
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individualmente por cada linha, a profundidade de sementeira. Existem várias


soluções diferentes, tanto em termos dos órgãos abridores dos sulcos como dos
órgãos controladores da profundidade. Existem também diferenças no peso
total dos semeadores de sementeira directa e sua robustez, assim como, à
semelhança dos semeadores convencionais, de outras características como o
sistema de distribuição e condução da semente, capacidade e número das tre-
monhas, etc. As diferentes soluções conduzem a custos diferenciados. Interessa
aqui discutir apenas as características que conduzem a diferente desempenho
nas condições específicas destes novos sistemas, como os órgãos abridores e os
de controlo de profundidade, deixando de lado todas as opções que, influen-
ciando a qualidade dos semeadores, não são específicas para a sementeira
directa, como será o caso do sistema de distribuição da semente ou o volume e
número das tremonhas.

3.1 Semeadores de sementeira directa

3.1.1 Tipos de órgãos abridores: os órgãos abridores, que abrem o sulco no


terreno onde é depositada a semente, utilizados em semeadores de sementeira
directa são dos seguintes tipos: bicos, disco simples, disco duplo desfasado, disco
triplo e rotativos. Infelizmente, todos eles apresentam vantagens e inconvenien-
tes, não sendo possível recomendar um sistema que seja a melhor solução para
todas as situações. Caberá ao utilizador, em função das condições de trabalho
mais frequentes, a escolha final.

3.1.1.1 Semeadores de bicos: conforme o nome indica e se pode visualizar nas


fotografias 1, 2 e 3, o órgão abridor do sulco é um bico. A conformação do
braço, o desafogo existente entre braços e a altura do quadro ao solo, assim
como o tipo de bico, diferenciam o desempenho destes semeadores. Basicamen-
te existem modelos destes semeadores para culturas em linhas, mas não para se-
meadores de precisão.

Os semeadores de bicos apresentam várias vantagens importantes. A sua capa-


cidade de penetração é elevada, quando comparada com as soluções de disco,
o que permite um menor peso do semeador. Podem encontrar-se no mercado
pesos por linha, para este tipo de semeadores, entre os 60 e os 180 kg, e todos
eles trabalham com pressões do bico sobre o solo entre os 50 e 60 kg/bico, o
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 15

que se pode considerar muito baixo. As versões mais pesadas destes semeado-
res são capazes de semear em solos secos (é necessário peso para o semeador
não sair do solo), o que é uma vantagem para a sementeira de pastagens e
forragens e mesmo para aveias de aptidão dupla (pastoreio de Inverno e pro-
dução de grão). O desempenho destes semeadores em condições de solo húmi-
do é também boa, melhor que a maioria dos semeadores de disco, na condição
de estarem equipados com bicos estreitos (fotografia 3). Os bicos com asas apre-
sentam uma maior capacidade de fragmentação do solo ao nível do rego, o que
é uma vantagem em solos mal estruturados, mas apresentam uma pior capaci-
dade de penetração em solo seco e um pior desempenho em condições de humi-
dade elevada. Uma outra vantagem importante dos semeadores de bicos é
serem pouco afectados em solos pedregosos, sendo capazes de manter relativa-
mente constante a profundidade de trabalho, uma vez que afastam as pedras da
linha de sementeira.

O grande inconveniente dos semeadores de bicos é a normalmente fraca capa-


cidade em lidar com os resíduos existentes na superfície do terreno. Se, por um
lado, têm a vantagem de afastar estes materiais do fundo do rego, onde colo-
cam a semente, por outro empapam-se facilmente, mesmo com quantidades
relativamente modestas de resíduos (restolhos não pastoreados ou mesmo mal
pastoreados) (fotografia 1). Para ultrapassar esta dificuldade é necessário um
desenho especial do semeador, o que naturalmente o encarece. O desafogo,
quer entre braços quer ao solo, assim como o desenho do braço são fundamen -
tais. Para se conseguir o desafogo necessário é preciso um grande comprimento
do semeador, o que inviabiliza a condução da semente, entre os órgãos dis-
tribuidor e de enterramento, por gravidade. Será então necessário recorrer à
condução pneumática, que é mais cara (fotografia 2). O formato do braço é
também fundamental. Ele deverá ser direito, ou mesmo com curvatura à reta-
guarda, e as molas de pressão devem ser colocadas de tal forma que impossibi-
litem a acumulação de resíduos entre elas e o braço. Braços com curvatura para
a frente tendem a acumular as palhas, o que é agravado pela colocação das
molas de pressão à frente do braço (fotografia 3). A inclusão de discos frontais
pode, de alguma forma, melhorar o desempenho com resíduos, mas diminui a
capacidade de penetração do semeador.

Resumindo, as vantagens que se podem apontar aos semeadores de bicos são:


– Boa capacidade de penetração em solo seco e desempenho aceitável em solo
húmido.
16 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

– Semeadores relativamente leves, normalmente mais baratos e que exigem


menos potência dos tractores (que os de discos).
– Bom desempenho em solos pedregosos.

A grande desvantagem destes semeadores diz respeito à dificuldade com que


lidam com resíduos da cultura anterior. A pior situação é a dos semeadores em
que os braços apresentam a curvatura à retaguarda, particularmente se a mola de
tensão estiver montada à frente do braço. Neste caso, as palhas da cultura ante-
rior não podem permanecer no terreno e é conveniente um bom pastoreio do res-
tolho. Se os braços forem direitos ou com a curvatura à retaguarda e as molas de
tensão montadas atrás dos braços, o desempenho melhora consideravelmente e
o pastoreio do restolho deixa de ser necessário. No entanto, a palha de cereais
deve ainda ser enfardada. Para se poder deixar a palha de cereais sobre o terre-
no, esta tem de estar sempre bem traçada e torna-se necessário um grande desa-
fogo do semeador (entre os braços e ao solo), que obriga a semeadores muito
compridos. Neste caso, a condução da semente tem de ser pneumática, tornan-
do estes semeadores, pelo menos, tão caros como os semeadores de discos.

Qualquer que seja a versão do semeador de bicos, os resíduos da cultura ante-


rior devem estar sempre finamente traçados e bem espalhados no terreno.
A colheita deve ser feita o mais baixo possível, de forma a que o tamanho do
restolho também seja pequeno.

3.1.1.2 Semeadores de disco simples: nestes semeadores o sulco da semente é


cortado por um disco, que apresenta um ligeiro ângulo com a direcção de deslo-
cação do tractor, sendo a sua abertura complementada por um sulcador através do
qual a semente é colocada no fundo do rego (fotografia 4). Os modelos disponíveis
destes semeadores são apenas para culturas em linhas, mas não para sementeiras
de precisão.

A capacidade de penetração destes semeadores é fraca, o que exige que o seu


peso seja muito elevado, podendo chegar a 250 kg/linha de sementeira. Com
excepção das versões mais pesadas, a sementeira em solo seco é restrita a solos
de textura grosseira. O desempenho destes semeadores em solo húmido é tam-
bém muito deficiente. Devido ao ângulo de ataque do disco e à presença do sul-
cador, o sulco para a colocação da semente fica com uma largura muito grande
em condições de solo plástico, tornando-se praticamente impossível de fechar,
quaisquer que sejam os órgãos que o semeador possua para este efeito. Assim,
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 17

o desempenho destes semeadores só é bom em solos arenosos ou em solos de


textura mediana a fina no período de sazão.

A capacidade dos semeadores de disco simples em lidarem com resíduos da cul-


tura anterior é também limitada. Para conseguirem um bom corte é necessário
que o resíduo seja quebradiço (por exemplo, caules de girassol) e que o solo se
encontre firme. No caso de palhas flexíveis, como as dos cereais de pragana,
estes semeadores tendem a empurrá-la para o fundo do rego, colocando a
semente em cima da palha. Este aspecto é extremamente negativo, podendo
provocar grandes falhas na germinação.

Dado o grande peso deste tipo de semeadores, só se devem utilizar versões rebo-
cadas, pois nas versões montadas a potência do tractor necessária é muito maior.

Este tipo de semeadores poderá ter interesse em solos de textura grosseira e


em sistemas de culturas que deixem poucos resíduos no terreno ou estes
sejam facilmente quebráveis. Em todas as outras situações apresentam limi-
tações sérias, como só fazerem um bom enterramento e cobertura da semen-
te com o solo em sazão e terem uma má capacidade de lidarem com resíduos
das culturas.

3.1.1.3 Semeadores de disco duplo desfasado: existem versões destes semea-


dores para culturas em linhas e para sementeiras de precisão. Nestes semeado-
res, o órgão abridor do sulco é composto por dois discos de diâmetro diferente
(fotografia 5). É esta diferença de diâmetro que garante uma elevada capacida-
de de corte dos resíduos, assegurando que a semente é colocada em contacto
directo com o solo, o que lhe possibilita um elevado sucesso na germinação
(fotografia 6). Os discos não apresentam ângulo de ataque em relação à direcção
de deslocação, conferindo uma capacidade de penetração a estes semeadores
maior que a dos semeadores de disco simples. No entanto, exigem também um
peso elevado para garantir uma boa penetração em solo seco, que pode chegar
a cerca de 200 kg/linha de sementeira.

Os semeadores de disco duplo desfasado apresentam uma boa capacidade de


semearem em solo húmido. A ausência de ângulo de ataque, permitindo a aber-
tura de um sulco de pouca largura, possibilita o seu fecho mesmo em condições
de solo ligeiramente plástico. Estes semeadores são assim muito versáteis, quer
em termos da quantidade e tipo de resíduos que permitem, quer em relação ao
18 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

teor de humidade do solo em que podem operar. O seu elevado peso aconselha
também a optar-se sempre por versões rebocadas.

Em solos pedregosos este semeador apresenta desvantagens em relação à solução


de bicos. Para além do desgaste dos discos, estes tendem a rolar por cima das
pedras, impedindo um bom controlo da profundidade de sementeira. No entan-
to, este inconveniente pode ser ultrapassado por uma despedrega, operação que
deve ser sempre ponderada em sistemas de sementeira directa uma vez que, reti-
rada a pedra do terreno e não havendo mais mobilizações do solo, o problema
fica definitivamente solucionado. Um outro inconveniente destes semeadores
será o seu preço, principalmente se comparado com o dos semeadores de bicos.
Contudo, nas versões destes últimos capazes de lidarem com idênticas quantida-
des de resíduos, devido ao sistema de condução da semente por fluxo de ar, o
preço dos dois tipos de semeadores equipara-se.

3.1.1.4 Semeador de disco triplo: modelos destes semeadores podem ser encon-
trados para culturas em linhas e sementeiras de precisão. O órgão abridor destes
semeadores é composto por um disco frontal, no alinhamento do qual trabalha
um disco duplo em V (fotografia 7). Estes semeadores têm uma capacidade de
lidar com resíduos intermédia, entre o semeador monodisco e o de disco duplo
desfasado. Um bom desempenho destes semeadores em situações de grande
quantidade de resíduos, como por exemplo todas as palhas de uma cultura,
exige que estes sejam quebradiços e o solo se encontre firme. No entanto, a
inclusão de rodas dentadas frontais, de forma a retirar os resíduos da linha de
sementeira, melhoram muito o desempenho destes semeadores (fotografia 8).
Infelizmente, isto só é possível para culturas de grande entrelinha (beterraba,
milho, etc.). A capacidade de penetração do semeador de disco triplo é relativa-
mente fraca, inferior à do disco duplo desfasado, uma vez que por cada linha de
sementeira há três discos sobre os quais se distribui o peso do semeador. Assim,
são semeadores pesados, pelo que só se devem utilizar versões rebocadas. O tra-
balho destes semeadores é prejudicado em terreno declivoso, uma vez que há a
tendência para ocorrer um desalinhamento entre o disco frontal e o disco duplo,
dificultando o trabalho de enterramento da semente por parte deste. Em con-
dições de solo húmido há a dificuldade de se conseguir um bom encerramento
do rego e há a tendência para o espelhamento das paredes do rego pelo disco
duplo. Assim, este tipo de semeadores será melhor utilizado em solos de textu-
ra grosseira a mediana, em sistemas que não deixem quantidades muito eleva-
das de resíduos.
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 19

3.1.1.5 Semeadores de fresas: só existem versões destes semeadores para cul-


turas de precisão. São constituídos por uma pequena fresa independente por
cada linha de sementeira, com o objectivo de enterrar resíduos e fragmentar o
solo numa estreita faixa, seguindo-se um órgão de enterramento da semente,
com muita frequência um patim (fotografia 9). Estes semeadores têm um bom
desempenho com elevadas quantidades de resíduos e uma boa capacidade de
penetração em condições de solo seco. Estes semeadores conseguem também
uma boa regulação da profundidade de sementeira, uma vez que mobilizam o
solo numa estreita faixa, dentro da qual trabalham os órgãos de enterramento
da semente e de controlo da profundidade. Os grandes inconvenientes destes
semeadores prendem-se com o desgaste das facas e com o seu desempenho em
condições de solo húmido. O desgaste das facas torna o custo de operação deste
semeador elevado, particularmente em solos abrasivos e em solos com pedras.
Em condições de solo húmido, particularmente em solos de textura mediana e
fina, para além do tamanho dos torrões resultantes do trabalho da fresa, a com-
pactação no fundo do rego é muito elevada, podendo comprometer o cresci-
mento inicial das raízes.

Quadro Resumo de Semeadores de Sementeira Directa

Tipo Capacidade Trabalho Trabalho Trabalho Textura Peso Custo


de Lidar com em Solo em Solo em Solo mais
Resíduos Seco Húmido Pedregoso Indicada
Bicos Má Bom Bom Bom Todas Baixo Baixo
(excepto (excepto
modelos modelos
especiais) especiais)
Disco Fraca Fraco Fraco Susceptível Grosseira Elevado Médio
Simples a Média a Elevado
Disco Boa Razoável Bom Susceptível Todas Elevado Médio
Duplo a Elevado
Desfasado
Triplo Fraca Fraco Fraco Susceptível Grosseira Elevado Elevado
Disco a Média
Fresa Boa Bom Mau Muito Grosseira Baixo Elevado
susceptível e Média
20 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

SEMEADORES DE BICOS

1 - Semeador de sementeira
directa de bicos. O pequeno
desafogo entre os braços
limita a capacidade de lidar
com resíduos

2 - Semeador de sementeira
directa de bicos. O grande
desafogo entre os braços
permite semear em
condições de muitos
resíduos. No entanto, obriga
à condução pneumática da
semente

3 - Diferentes tipos de braços


e bicos. Em cima, à
esquerda: braço direito com
bico largo. Em cima, à
direita: braço com curvatura
à retaguarda e bico estreito.
Em baixo, à esquerda: braço
com curvatura adiante (mola
em posição frontal) e bico
estreito. Em baixo, à direita:
inclusão de um disco frontal
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 21

SEMEADORES DE DISCOS

4 - Esquema de disco simples


mais sulcador (à esquerda)
e semeador de disco simples
em trabalho

5 - Semeador de disco duplo


desfasado. O diâmetro
diferente dos dois discos
garante um bom corte das
palhas

6 - Exemplo da capacidade
de corte de um semeador
de disco duplo desfasado
a semear uma cultura de
milho (à esquerda) e a
mesma cultura já nascida
(à direita)
22 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

7 - Semeador de disco triplo

8 - Inclusão de pequenas
rodas dentadas para afastar
os resíduos da zona da linha
de sementeira

9 - Semeador de fresas
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 23

3.1.2 Tipos de órgãos controladores da profundidade e de compressão: confor-


me se referiu, os semeadores de sementeira directa apresentam órgãos de con-
trolo da profundidade individuais por cada linha de sementeira, uma vez que a
superfície do terreno tende a apresentar maior irregularidade nestes sistemas.
É também frequente a presença de órgãos de compressão por cada linha de
sementeira, que têm como objectivo auxiliar o encerramento do rego de semen-
teira e a compressão do solo contra a semente. Nalguns semeadores este órgão
compressor serve também para regular a profundidade de sementeira.

3.1.2.1 Órgão único de controlo da profundidade e compressão: neste caso, o


órgão de compressão serve simultaneamente para fechar o rego e controlar a
profundidade de sementeira, estando ligado ao órgão de enterramento, seja de
discos (fotografia 10) seja de bicos (fotografia 11), por uma mola. É a pressão
desta mola que permite regular a profundidade de enterramento do órgão abri-
dor e, assim, a profundidade de sementeira. Este sistema apresenta dois grandes
inconvenientes. Em primeiro lugar, a distância entre os dois órgãos (abridor e
compressor) diminui a precisão no controlo da profundidade, particularmente
nos semeadores de discos. Quando o órgão abridor se desloca sobre alguma ele-
vação do terreno, o órgão compressor situa-se num plano inferior, aumentando-
-se assim a profundidade de sementeira. Quando no momento seguinte o órgão
compressor se situa na elevação, estando agora o órgão de enterramento num
plano inferior, a profundidade de sementeira diminui, podendo mesmo a semen-
te ficar desenterrada. Esta situação é particularmente evidente num terreno que
tenha algum pisoteio de animais ou que contenha pedra à superfície. O segun-
do grande inconveniente deste sistema acontece em situação de solo húmido.
Para se reduzir a profundidade de sementeira aumenta-se a pressão da mola que
liga os dois órgãos, o que aumenta a compactação exercida pela roda compres-
sora, numa situação em que se pretende que ela seja mínima.

3.1.2.2 Controlo da profundidade por roda ou aro laterais: nesta situação o


órgão de controlo da profundidade é independente do órgão compressor, e
tanto podem ser rodas (simples – fotografia 12, ou duplas fotografia 13) ou aros
(fotografia 14) montados lateralmente ao disco de enterramento. Este sistema
apresenta as vantagens de, por um lado, aproximar o órgão de controlo da pro-
fundidade do de enterramento e, por outro, permitir uma regulação indepen-
dente do órgão de compressão da semente. A solução do aro apresenta a van-
tagem de ser mais robusta que a solução de roda, mas esta é mais fácil de mudar
no campo.
24 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

3.1.2.3 Órgãos de compressão: no caso dos órgãos de compressão serem inde-


pendentes dos órgãos de controlo da profundidade, eles são normalmente colo-
cados em posição lateral à linha de sementeira, quer sejam duplos (em V), quer
sejam simples (fotografia 15). Quando o órgão de compressão é simultanea-
mente o de controlo da profundidade ele tem de ser colocado sobre a linha de
sementeira, podendo ser de perfil liso ou de perfil ondulado (fotografia 16).
A colocação lateral do órgão compressor é uma vantagem por duas razões. Em
primeiro lugar, é mais eficaz no encerramento do rego de sementeira, particular-
mente em situação de solo plástico. Em segundo lugar, comprime a terra contra
a semente sem compactar o solo por cima desta, facilitando a emergência da cul-
tura. Sistemas independentes para o controlo da profundidade e sementeira e
compressão do solo são pois vantajosos, não só por permitirem um controlo da
profundidade mais preciso (menor distância para o disco), mas também por ser
mais eficaz o trabalho do órgão de compressão.

ÓRGÃOS DE CONTROLO DA PROFUNDIDADE

10 - Semeador de discos
com órgão único de
compressão e regulação de
profundidade (à esquerda)
e pormenor do conjunto
disco e órgão compressor
(à direita)

11 - Semeador de bicos com órgão único de compressão e regulação da profundidade


TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 25

12 - Semeador de disco
com roda lateral de controlo
da profundidade

13 - Semeador de disco
com roda lateral de controlo
da profundidade

14 - Semeador de disco
com aro lateral de controlo
da profundidade
26 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

ÓRGÃOS DE COMPRESSÃO

15 - Órgãos de compressão
da semente que actuam
lateralmente à linha de
sementeira: duplos (em V)
do lado esquerdo e simples
do lado direito

16 - Órgãos de compressão que actuam por cima da linha de sementeira.


Roda lisa do lado esquerdo e roda com perfil ondulado do lado direito

3.2 Regulação dos semeadores de sementeira directa

Os semeadores de sementeira directa exigem, para além das regulações nor-


mais da densidade de sementeira e adubação, uma atenção muito especial na
regulação da profundidade de sementeira. A profundidade de sementeira vai
depender da capacidade de penetração do semeador, a qual não poderá nunca
ser o factor limitante, e da regulação dos órgãos próprios de controlo da pro-
fundidade.
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 27

A capacidade de penetração do semeador depende do modelo (peso do semea-


dor e tipo de órgãos abridores). Para cada modelo, a capacidade de penetração
poderá ser ajustada no sistema hidráulico, na horizontalidade do semeador e nas
molas de tensão existentes em cada linha de sementeira. Preferencialmente
dever-se-á ajustar a capacidade de penetração do semeador através destas
molas, trabalhando com a máxima pressão no sistema hidráulico. Eventual-
mente, as linhas por detrás das rodas do tractor poderão necessitar de uma
tensão acrescida das molas, a fim de compensar a maior compactação do solo.
Só se deverá limitar a capacidade de penetração do semeador no sistema hidráu-
lico em situações de solo muito húmido, como forma de evitar uma pressão
muito elevada do semeador sobre o solo. No entanto, sementeiras nestas con-
dições só deverão ser realizadas em casos extremos. Alterar a horizontalidade do
semeador é também uma solução de recurso. Poder-se-á inclinar ligeiramente o
semeador para a frente (abicar) em casos de solo muito coeso (falta de pene-
tração do semeador), ou inclinar o semeador ligeiramente à retaguarda em casos
de solo muito húmido. No entanto, volta-se a frisar que a tensão das molas que
regulam a pressão dos órgãos abridores é a forma ideal de controlar a sua capa-
cidade de penetração.

Uma vez garantida a capacidade de penetração do semeador, a profundidade de


sementeira é controlada através dos órgãos próprios existentes em cada linha,
cujas soluções foram referidas anteriormente.

3.3 Alfaias de mobilização do solo em sistemas de mobilização mínima

Os sistemas de mobilização mínima baseiam-se em alfaias de mobilização vertical


(escarificadores). Estas alfaias podem trabalhar a profundidades muito variáveis,
desde escarificações superficiais até subsolagens, mas deve-se deixar sempre uma
quantidade apreciável dos resíduos da cultura anterior na superfície do terreno,
com o objectivo principal de proteger o solo contra a erosão. Assim, a sua capa-
cidade de lidar com quantidades importantes de resíduos é fundamental. Para se
conseguir atingir este objectivo há três aspectos fundamentais: o maneio dos resí-
duos, a alfaia e a sua velocidade de trabalho. No caso das alfaias verticais, a co-
lheita deve ser realizada o mais baixo possível (restolho curto) e as palhas devem
ser bem traçadas e uniformemente distribuídas na superfície do terreno. A neces-
sidade de cortar a palha baixa deve-se ao facto de os restolhos altos se atraves-
sarem mais facilmente entre os braços da alfaia, facilitando o empapamento
28 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

desta. A velocidade de trabalho deve ser ajustada ao nível de resíduos, tendo pre-
sente que o aumento da velocidade de trabalho facilita o desempenho da alfaia
quando a sua quantidade é elevada. Assim, nestes casos deve trabalhar-se com
velocidades próximas dos 10 km/h. No entanto, caso a presença de resíduos à
superfície seja pequena, a velocidade de trabalho deve ser menor a fim de pro-
mover uma menor mistura com o solo (protecção contra a erosão).

Os aspectos da alfaia mais importantes são o tipo de braço, o seu perfil e o seu
ângulo de ataque, assim como o desafogo entre braços e ao solo.

Na fotografia 17 estão representados vários braços supostamente adaptados a


trabalhar com uma elevada quantidade de resíduos na superfície do solo.
Repare-se que, em todos eles, as molas estão montadas de forma a não possibi-
litar a acumulação de resíduos entre elas e os braços. No entanto, o desempe-
nho dos braços A e B é muito superior ao dos outros três devido à sua confor-
mação e ao elevado ângulo de ataque que apresentam. Os braços C, D e E, pela
curvatura à retaguarda que apresentam, facilitam a acumulação de resíduos,
empapando-se com mais facilidade. Os braços A e B apresentam um elevado
ângulo de ataque o que, conjugado com o facto de serem direitos, permite bons
desempenhos, mesmo com elevada quantidade de resíduos. Outra característica
fundamental das alfaias de mobilização mínima é o grande afastamento entre
braços e da distância do quadro ao solo, de forma a facilitar o fluxo dos resíduos.

A inclusão de discos frontais (fotografia 18) permite o corte dos resíduos no ali-
nhamento dos braços, facilitando o trabalho destes em casos de muitos resíduos,
particularmente se estes estiverem mal traçados.

Em resumo, para um bom desempenho das alfaias de mobilização mínima as


recomendações são:
– Fazer o corte da cultura anterior de forma a deixar o restolho curto e proce-
der em simultâneo ao seu traçamento e espalhamento.
– Utilizar escarificadores de braços direitos, com elevado ângulo de ataque
(entre 60 e 90º) e molas de pressão colocadas de forma a não impedirem o
fluxo dos resíduos.
– Utilizar alfaias com um grande desafogo entre braços e ao solo.
– Se necessário, e nos escarificadores pesados, colocar discos frontais aos
braços, de forma a facilitar o corte dos resíduos.
– Utilizar velocidades de trabalho elevadas.
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 29

3.4 Sistemas de mobilização na linha

Os sistemas de mobilização na linha aplicam-se a culturas de entrelinha larga


(por exemplo, milho e beterraba) e podem considerar-se como intermédios entre
a sementeira directa e os sistemas de mobilização mínima acima considerados.
Neste sistema existe uma primeira operação de mobilização do solo, realizada
com um escarificador pesado ou subsolador especial, com a mesma entrelinha da
cultura a semear. Esta alfaia caracteriza-se por apresentar um braço direito e
muito fino, com um disco frontal associado (fotografia 20 A). Assim, consegue
simultaneamente um bom corte dos resíduos e descompactar o solo na linha de
sementeira, sem levantar torrões (fotografia 20 B). A sementeira é realizada
sobre esta zona descompactada. Naturalmente, o semeador utilizado tem de ser
capaz de semear nestas condições, pelo que terá de ser um semeador de semen-
teira directa (fotografia 20 C).

Os sistemas de mobilização na linha permitem atingir os mesmos benefícios


ambientais que a sementeira directa, nomeadamente a protecção do solo contra
a erosão, a diminuição do escorrimento superficial e o aumento do teor do solo
em matéria orgânica. É evidente que apresentam um custo, quer de investimen-
to quer de execução, superior ao da sementeira directa, mas têm a vantagem de
garantir a descompactação do solo na zona da linha de sementeira. Assim,
poderão ter um contributo precioso em várias situações. Em solos mal estrutura-
dos à partida, particularmente em solos com má drenagem, a passagem do siste-
ma tradicional de mobilização do solo para a sementeira directa acarreta normal-
mente, durante alguns anos, diminuições significativas da produção. Os sistemas
de mobilização na linha podem então ser usados como uma fase intermédia, até
que a melhoria da estrutura do solo permita a adopção da sementeira directa sem
riscos de perda de produção. Mesmo em solos com boa estrutura há culturas em
que a sementeira directa tem dificuldades. O exemplo mais evidente será o da
beterraba, cultura para a qual não existe experimentação, em relação à sua
produção, em sementeira directa em Portugal. Em rotações em que esta cultura
esteja incluída e se a estrutura do solo assim o permitir, será de considerar a
sementeira directa das culturas em relação às quais existe informação segura e a
mobilização na linha para a beterraba. É de referir que o semeador necessário para
a sementeira directa pode ser utilizado nos sistemas de mobilização na linha, pelo
que o investimento suplementar diz respeito apenas ao escarificador pesado (sub-
solador). Em sistemas de culturas que incluam o pastoreio durante o Inverno, os
sistemas de mobilização na linha poderão também ter uma aplicação privilegiada.
30 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

ALFAIAS VERTICAS PARA MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

A B C D E

17 - Tipos diferentes de braços de escarificadores desenvolvidos para sistemas de mobilização


mínima

18 - Escarificador pesado
com discos frontais para
auxiliar o corte dos resíduos

19 - Exemplos de trabalho
de escarificadores em
sistemas de mobilização
mínima etractores
equipados com pneus
de baixa pressão
TIPO DE ALFAIAS A UTILIZAR EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 31

SISTEMA DE MOBILIZAÇÃO NA LINHA

20 - Sequência da
mobilização na linha:
A – subsolagem na linha
com alfaia especial;
B – pormenor da linha
depois da passagem do
subsolador;
C – sementeira em cima do
C trabalho do subsolador.
32 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

4. O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE


SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA
Existem várias diferenças na estratégia de controlo de infestantes entre os siste-
mas tradicionais de mobilização do solo e os sistemas de sementeira directa e
mobilização mínima. A ausência de mobilização do solo (sementeira directa) ou
a mobilização com alfaias verticais (mobilização mínima) obrigam à aplicação de
uma monda de pré-sementeira, de forma a eliminar as infestantes já nascidas à
data da sementeira das culturas. Em segundo lugar, estes novos sistemas alteram
as condições de germinação das infestantes, particularmente a sementeira direc-
ta, por várias razões. Não havendo mobilização do solo não há transporte de
sementes ao longo do perfil, e a quantidade de resíduos na superfície do terre-
no é mais elevada. A alternância dos períodos de humedecimento e secagem da
camada superficial do solo é menor, assim como é menor o nível de luminosida-
de que chega à sua superfície. Tudo isto altera a germinação das infestantes,
provocando uma modificação da sua composição. De uma forma geral, há a
informação de que diminui a pressão das infestantes anuais e aumenta a das
infestantes de multiplicação vegetativa. Entre as infestantes anuais, há a tendên-
cia para uma menor expressão das monocotilidóneas, particularmente as de
semente grande como os balancos, uma vez que estas tendem a germinar pri-
meiro e são mais susceptíveis aos herbicidas normalmente utilizados nas mondas
de pré-sementeira. Uma outra alteração evidente é a eficácia da monda de pré-
-emergência em sistemas que mantêm elevadas quantidades de resíduos na
superfície. A distribuição uniforme dos herbicidas na superfície do solo não é
possível e, excepto em sistemas de rega por expressão, a sua eficácia fica preju-
dicada. Também a persistência e distribuição no perfil do solo dos herbicidas resi-
duais fica alterada, o que tem de ser ponderado em termos de efeitos residuais
para a cultura seguinte.

4.1 Monda de pré-sementeira

Normalmente a realização desta monda é indispensável em sistemas de se-


menteira directa e mobilização mínima. Só em situações excepcionais, confor-
me analisado no Capítulo 7, se poderá evitar esta aplicação de herbicida. Esta
monda substitui o trabalho do solo no sistema tradicional de combate às infes-
tantes.
O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 33

Na monda de pré-sementeira utilizam-se, normalmente, herbicidas totais não


residuais, de absorção foliar, quer sistémicos quer de contacto. Que o herbicida
seja total justifica-se por esta ser uma oportunidade de eliminar, de forma não
discriminada, as infestantes presentes, uma vez que a cultura ainda não foi ins-
talada. Que o herbicida seja não residual é uma necessidade, pois de outra
forma a cultura seria afectada. São três as substâncias activas disponíveis no
mercado e que cumprem estas características: Glifosato, Paraquato e Glufo-
sinato-Amónio. O primeiro é um herbicida sistémico e os dois últimos são her-
bicidas de contacto.

Nas culturas de Outono/Inverno, esta monda deve ser realizada o mais próximo
possível da data de sementeira (um a dois dias), de forma a aumentar o núme-
ro de infestantes germinadas à data da sua aplicação. No entanto, nas culturas
de Primavera, caso a infestação seja muito elevada e, principalmente, com infes-
tantes em diferentes estratos, pode ser recomendável a antecipação da monda
(cerca de um mês) em relação à sementeira, de forma a permitir uma segunda
aplicação caso as infestantes dos estratos inferiores não tenham sido eficazmen-
te controladas.

No caso de se utilizar o herbicida sistémico (Glifosato), a sua eficácia aumenta


de forma muito significativa com o aumento da sua concentração na calda,
tanto para infestantes anuais como vivazes. É então recomendável a sua apli-
cação a baixo volume. O volume a aplicar depende da massa foliar das infes-
tantes presentes. No caso de aplicações de Outono/Inverno (infestantes jovens),
aplicações entre os 50 e 60 litros/ha são as mais eficazes, conseguindo-se neste
caso um controlo eficaz das infestantes anuais com doses de 180 a 360 g de
substância activa por hectare, doses estas muito inferiores às recomendadas nos
rótulos dos produtos comerciais. No caso de aplicações de Primavera/Verão, é
normalmente recomendável aumentar tanto o volume de aplicação como a
dose do produto. Neste caso, poderão ser necessários volumes de calda entre
os 80 e os 120 litros/ha, sendo também preciso aumentar a dose do produto
para 360 a 540 g de substância activa por hectare para o controlo de infestan-
tes anuais.

Deve-se ter em atenção que a susceptibilidade das infestantes a este herbici-


da não é idêntica para todos os grupos. As infestantes anuais são mais sus-
ceptíveis que as vivazes e, dentro das anuais, as monocotilidóneas são, de
uma forma geral, mais susceptíveis que a dicotilidóenas e, dentro destas, as
34 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

compostas costumam ser as mais tolerantes. Assim, as doses a aplicar devem


ser ajustadas a estas diferenças, como também deve ser ponderada a adição
de outras substâncias activas no combate de infestantes particularmente difí-
ceis.

São várias as infestantes perenes que podem aumentar a sua presença em siste-
mas de sementeira directa e mobilização mínima se não forem tomadas as neces-
sárias precauções. É então indispensável que o herbicida total utilizado seja sisté-
mico (Glifosato) e que as doses de aplicação sejam reforçadas, de acordo com a
espécie em causa e o seu estado de desenvolvimento. As infestantes perenes são
combatidas de forma mais eficaz quando são jovens e se encontram em cresci-
mento activo ou quando começam a acumular substâncias de reserva (à floração
ou no Outono, antes das primeiras geadas, quando a planta se começa a prepa-
rar para o repouso invernal), uma vez que a translocação de hidratos de carbono
para os órgãos de reserva arrasta consigo o herbicida, conseguindo-se uma boa
penetração no sistema radicular.

Uma outra questão fundamental no combate de infestantes perenes nestes


sistemas é ter em atenção que o seu aparecimento começa a dar-se em
pequenas manchas. Assim, é fundamental que o seu controlo se inicie logo
nesta altura, com aplicações localizadas, para evitar que o problema se alastre
e os custos aumentem. Sendo as doses de Glifosato a aplicar consideravel-
mente superiores para o controlo destas infestantes, se elas forem combatidas
quando ainda se apresentam em pequenas manchas os custos mantêm-se
controlados.

As principais infestantes perenes cuja presença tende a aumentar em sistemas


de sementeira directa e mobilização mínima dependem da rotação de cultu-
ras. No entanto, pode afirmar-se que serão de vigiar as seguintes espécies:
Malva spp., Convolvulus arvensis, Ecballium elaterium, Cynodom dactilon e
Sorgum halepense. As doses para o seu controlo variam entre os 2160 e os
2520 g de Glifosato/ha, aplicadas sempre em baixo volume (100 a 150 l/ha).
A Malva será provavelmente a infestante que mais rapidamente aparecerá em
sistemas de culturas de sequeiro. Para o seu combate há estratégias específi-
cas que podem ser de grande auxílio. Em estados muito jovens poder-se-á
aplicar uma mistura de 720 g de Glifosato + 48 g de Oxifluorena/ha quando
a Malva tem até duas folhas, e 1080 g de Glifosato + 72 g de Oxifluorena/ha
quando as plantas têm de duas a quatro folhas. Uma outra estratégia muito
O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 35

eficaz e económica é a sementeira directa de uma aveia antes do início das


chuvas. Depois do nascimento da aveia e até à Malva ter duas folhas, aplica-
-se um herbicida hormonal (2,4D ou MCPA), que, juntamente com a capaci-
dade de competição da aveia, resolvem normalmente o problema. A cultura
da aveia pode ser simplesmente uma cultura de cobertura ou destinar-se à
produção de forragem.

Tanto para as infestantes anuais como para as perenes, a rotação de culturas e a


utilização de culturas de cobertura são métodos preventivos auxiliares muito
importantes no seu combate, tema que se tratará mais adiante.

4.1.1 Equipamento e sua regulação: para a aplicação da monda de pré-semen-


teira em baixo volume são importantes várias precauções, quer em termos do
equipamento, quer da sua regulação. Para se conseguir atingir volumes de apli-
cação baixos é necessário utilizar bicos de diâmetro reduzido. A título de exem-
plo dá-se de seguida a referência para algumas das marcas mais utilizadas: Albuz
– APG 110 (cor amarela); Hardi – F-01-110 (cor-de-laranja); Lurmark – AN0.5,
AN 0.75. Naturalmente, sendo o diâmetro de saída dos bicos muito pequeno, o
sistema de filtragem do pulverizador deve merecer especial atenção. Na foto-
grafia 21 apresenta-se a situação ideal, sendo muito recomendável a existência
do sistema de filtros de linha, após a bomba, com uma malha idêntica à dos fil-
tros de linha (malha 100).

A aplicação a baixo volume pode também implicar um aumento da velocidade


de trabalho, pelo que a estabilidade da barra é importante. Assim, os sistemas de
suspensão da barra em trapézio (fotografia 22 A) trazem a vantagem de permi-
tir uma maior estabilidade desta em relação aos movimentos do tractor, contri-
buindo para uma maior uniformidade na aplicação da monda de pré-sementei-
ra (fotografia 22 B).

A existência de marcadores de espuma (fotografia 23 A), que evitem falhas na


sobreposição de passagens consecutivas do pulverizador, também é um auxiliar
importante nestas aplicações (fotografia 23 B). É preciso ter em atenção que o
sucesso da cultura em sementeira directa depende muito da eficiência da monda
de pré-sementeira, pelo que se deve evitar a existência de faixas sem aplicação de
herbicida.
36 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

A pressão da bomba deve ser baixa (1,5 a 2 bares), por dois motivos. Em pri-
meiro lugar, pretendendo-se aplicar um volume de calda baixo, torna-se
necessário reduzir o débito dos bicos. Em segundo lugar, menores pressões de
aplicação dão origem a gotas de maior dimensão e, assim, menos sujeitas ao
arrastamento provocado pelo vento. Este arrastamento, para além de prejudi-
car a eficácia da monda, é muito perigoso para culturas vizinhas, uma vez que
se está a aplicar um herbicida total.

Em resumo, as precauções a ter na aplicação da monda de pré-sementeira a


volume de calda baixo são as seguintes:
1. Utilizar bicos de diâmetro apropriado.
2. Instalar um sistema de filtragem eficiente.
3. Utilizar pressões de aplicação baixas (1,5 a 2 bares).
4. Utilizar marcadores de espuma que garantam uma sobreposição correcta nas
passagens consecutivas do pulverizador.
5. Utilizar suspensões da barra em trapézio, de forma a aumentar a sua estabili-
dade em trabalho.

4.2 Mondas de pós-sementeira

As mondas de pós-sementeira compreendem as de pré-emergência e as de pós-


-emergência.

A presença de resíduos na superfície do terreno prejudica a eficácia das mon-


das de pré-emergência, pois impede uma distribuição uniforme destes herbici-
das sobre o terreno. Assim, esta opção só deve ser encarada nas seguintes
situações:

1. Em sistemas de rega por aspersão, quando é possível regar logo após a sua
aplicação.
2. Em culturas em que a disponibilidade de herbicidas de pós-emergência é redu-
zida, particularmente para o controlo de infestantes do mesmo grupo (infes-
tantes de folha larga em culturas de folha larga ou infestantes de folha estrei-
ta em culturas de folha estreita).
3. Quando a quantidade de resíduos sobre o terreno é baixa (restolhos pastorea-
dos).
O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 37

Quando a opção é a utilização de mondas de pós-emergência, também se


devem tomar as seguintes precauções:

1. Só fazer a sua aplicação depois das folhas das infestantes terem rompido atra-
vés da camada de resíduos.
2. Utilizar herbicidas de absorção foliar.

4.2.1 Aplicadores especiais: existem máquinas especiais capazes de aplicar, de


forma selectiva, herbicidas totais. Torna-se assim possível o controlo de infestan-
tes para as quais não existem herbicidas selectivos ou, quando existem, estes são
muito caros. Naturalmente estes equipamentos têm aplicação em qualquer sis-
tema de mobilização do solo mas, para os sistemas de sementeira directa e mobi-
lização mínima, em que o combate das infestantes fica dependente da utilização
de herbicidas, estes aplicadores poderão ser um auxiliar precioso.

Existem basicamente dois sistemas: aplicadores de contacto e pulverizadores


para aplicação em culturas de entrelinha larga (milho, girassol, etc.).

Os aplicadores de contacto só funcionam com herbicidas sistémicos e baseiam o


seu princípio de funcionamento na diferença de altura entre a infestante a com-
bater e a cultura. O herbicida, em estado puro ou muito concentrado, é pulveri-
zado sobre uma superfície absorvente (rolo) (fotografia 24 A). A altura deste rolo
ao solo é regulável, de modo a poder eliminar as infestantes que cresçam acima
da cultura. Este sistema poderá ter uma grande aplicação em pastagens de longa
duração, para controlo de infestantes arbustivas (fotografia 25).

Os pulverizadores para aplicação de herbicidas não selectivos em culturas de


folha larga (fotografia 26) dispõem de sistemas que impedem a deriva do herbi-
cida, garantindo a sua aplicação apenas sobre a entrelinha. Naturalmente, as
infestantes que se encontram na linha da cultura também não são afectadas.
Assim, este sistema é utilizado de forma mais eficaz se, durante a sementeira da
cultura, for aplicado um herbicida residual na linha.
38 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

4.3 Métodos preventivos auxiliares

Qualquer que seja o sistema de mobilização do solo, o combate às infestantes é


uma luta sem fim e com elevados encargos económicos e ambientais. É assim
fundamental que exista uma estratégia global de combate que envolva métodos
preventivos, de forma a minimizar a utilização dos métodos directos de comba-
te (mobilização do solo e aplicação de herbicidas). São muitos os métodos auxi-
liares que se podem e devem introduzir numa estratégia integrada de combate
das infestantes que, dada a natureza deste manual, não podem ser aqui abor-
dados. No entanto, dada a sua importância e aplicação, nomeadamente nos sis-
temas de sementeira directa e mobilização mínima, não podem deixar de ser tra-
tados os aspectos relacionados com a rotação de culturas e o uso de culturas de
cobertura.

4.3.1 Rotação de culturas: as múltiplas vantagens da rotação de culturas no


combate às infestantes são sobejamente conhecidas, mas interessa aqui realçar
as mais pertinentes para a sementeira directa e mobilização mínima, uma vez
que nestes sistemas não há reviramento do solo.

Em primeiro lugar, a rotação de culturas deve permitir uma boa rotação de her-
bicidas, ou seja, deve alternar culturas de folha estreita (monocotiledóneas) e
culturas de folha larga (dicotiledóneas).

Para o combate de infestantes anuais é importante que a rotação praticada per-


mita regularmente aplicações tardias da monda de pré-sementeira (de Dezembro
para a frente), de forma a poder-se utilizar o herbicida total no combate das
infestantes de Outono/Inverno de germinação tardia ou escalonada.

Para o combate de infestantes perenes, a rotação de culturas deve ser tal que
permita a aplicação do herbicida total, numa época em que estas sejam mais sen-
síveis (muito jovens, à floração ou antes do repouso invernal quando começam
a acumular substâncias de reserva nos órgãos subterrâneos).

4.3.2 Culturas de cobertura: as culturas de cobertura podem desempenhar um


papel muito importante a vários níveis relacionados com a protecção do solo e
O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA 39

da água. Mas, para além destas vantagens, elas podem desempenhar um papel
importante no combate das infestantes, sempre que o solo se encontrar sem cul-
tura durante o período de Outono/Inverno. As infestantes tendem então a proli-
ferar, agravando o problema para a cultura seguinte. A presença de uma cultura
de cobertura servirá, através da competição que impõe, como forma de combate
das infestantes. Os princípios que devem nortear a escolha da cultura de cober-
tura e a sua técnica cultural serão, então, os seguintes:

• Escolher uma cultura com grande capacidade de competição (crescimento ini-


cial vigoroso tanto da parte aérea como da raiz), adaptada ao solo em questão
(por exemplo, drenagem) e cujo preço da semente seja baixo.

• Semear a cultura antes do início da estação das chuvas, de preferência em


sementeira directa, com uma entrelinha pequena e uma boa densidade de
sementeira.

Caso exista alguma infestante cujo combate seja prioritário, escolher uma cultu-
ra que permita a aplicação de um herbicida selectivo, eficaz em relação a essa
infestante.

ASPECTOS IMPORTANTES NUM PULVERIZADOR PARA APLICAÇÕES


A BAIXO VOLUME NAS MONDAS DE PRÉ-SEMENTEIRA

21 - Diferentes sistemas de filtragem que se devem introduzir num pulverizador para


aplicação a baixo volume e malha dos respectivos filtros
40 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

A B

22 - Suspensão em trapézio da barra do pulverizador (A)


e estabilidade da barra em trabalho (B). Repare-se que mesmo
em terreno inclinado a barra se mantém paralela ao solo

A B

23 - Marcador de espuma na
ponta da barra (A) e resultado de
uma falha na sobreposição de
passagens consecutivas durante a
monda de pré-sementeira (B)

MÁQUINAS PARA APLICAÇÃO SELECTIVA DE HERBICIDAS TOTAIS

24 - Aplicador de contacto
de herbicidas sistémicos
totais de absorção foliar.
O herbicida concentrado é
pulverizado sobre um rolo
absorvente de altura
regulável
O COMBATE DE INFESTANTES EM SISTEMAS DE SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA/ 41
/O COMBATE DEPRAGAS E DOENÇAS

25 - Controlo de estevas
em pastagens de trevo
subterrâneo 26 dias após
a aplicação de Glifosato
(concentração de 30%)
através de um aplicador
de contacto

26 - Pulverizador para
aplicação de herbicidas não
selectivos na entrelinha

5. O COMBATE DE PRAGAS E DOENÇAS

A pressão das pragas e doenças em sistemas de sementeira directa e mobilização


mínima tanto pode ser maior como menor que a verificada em sistemas con-
vencionais.

A presença de grandes quantidades de resíduos sobre o solo serve de abrigo a


muitos insectos e outras pragas, assim como pode concorrer para uma maior
perpetuação das estruturas fúngicas causadoras de doenças nas culturas. No
entanto, estas mesmas condições servem também de abrigo a muitos antago-
nistas destas pragas e agentes patogénicos, pelo que as referências que se
42 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

encontram são muito díspares. Contudo, pode dizer-se que, de uma forma geral,
quando se verifica um aumento da incidência de pragas e doenças em sistemas
de sementeira directa e mobilização mínima, o problema tende a atenuar-se ao
longo do tempo à medida que a biodiversidade que estes sistemas favorecem se
vai instalando.

As medidas de protecção integrada, tanto de pragas como de doenças, que


devem ser adoptadas independentemente do sistema de mobilização utilizado,
devem ser tidas em especial atenção nestes novos sistemas. De entre todas as
medidas preconizadas, a rotação de culturas é aquela que assume importância
relativa maior na sementeira directa e sistemas de mobilização mínima. Uma
rotação que introduza diversidade no sistema, não só contribui directamente
para uma diminuição da pressão das pragas e doenças por ausência dos hospe-
deiros, como contribui para potenciar a biodiversidade que estes novos sistemas
permitem. Naturalmente, todos os outros conselhos relativos à prevenção são
igualmente importantes: selecção de variedades resistentes ou tolerantes, com-
bate das infestantes que podem servir de hospedeiros alternativos, utilização de
sementes sãs, manutenção de um nível adequado de fertilidade do solo, esco-
lha da data de sementeira mais adequada, etc. Recomenda-se aqui um maior
nível de vigilância e, sempre que for necessário aplicar um pesticida, em siste-
mas de sementeira directa e mobilização mínima, deve utilizar-se como primei-
ra opção o tratamento da semente, a aplicação do pesticida na linha como
segunda e o tratamento em toda a cultura como último recurso (sempre que
possível a um baixo volume de calda), a fim de preservar a biodiversidade gera-
da por estes sistemas.

6. ASPECTOS PARTICULARES DA FERTILIZAÇÃO EM


SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

Há dois aspectos que merecem atenção especial no que respeita à fertilização das
culturas nestes novos sistemas de mobilização do solo, particularmente na
sementeira directa. Por um lado, a menor taxa de mineralização da matéria orgâ-
nica e, por outro, o facto de os adubos serem aplicados na camada superficial do
solo, sem nunca se verificar a sua incorporação no solo por alfaias de mobili-
zação.
ASPECTOS PARTICULARES DA FERTILIZAÇÃO EM SEMENTEIRA DIRECTA E MOBILIZAÇÃO MÍNIMA/DIFICULDADES E 43
VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA

A menor taxa de mineralização permite aumentos do teor de matéria orgânica


que, a médio prazo, poderão significar uma redução das necessidades de adu-
bação. No entanto, nos primeiros anos em que se submete um solo à semen-
teira directa haverá menor libertação de nutrientes a partir da matéria orgânica,
particularmente o azoto. Assim sendo, é necessário vigiar com maior atenção o
estado nutritivo da cultura, sendo provável a necessidade de um reforço da
adubação azotada e da antecipação da data da primeira adubação de cober-
tura.

A aplicação continuada dos adubos na camada superficial do solo pode condu-


zir a um aumento da sua acidez nos primeiros 10 cm. Este aspecto pode ser preo-
cupante em solos que à partida apresentem um valor do pH em água abaixo de
5,5. Nesta situação, será recomendável acompanhar a evolução da acidez do
solo na camada superficial (0-10 cm) e, caso se verifique um decréscimo, dever-
-se-á aplicar quantidades modestas de calagem, apenas a necessária para com-
pensar a descida verificada nesta camada.

O aumento do teor de fósforo na camada superficial dos solos sujeitos a semen-


teira directa não se tem revelado problemático na nutrição das culturas. De facto,
a grande concentração de raízes da cultura nesta zona enriquecida do solo
garante a absorção de todo o fósforo que a cultura necessita. No entanto, em
solos pobres em fósforo e mal estruturados será recomendável, nos primeiros
anos de sementeira directa, que a adubação de fundo seja localizada junto da
linha de sementeira, para prevenir deficiências neste nutriente, caso haja limi-
tação ao crescimento inicial do sistema radicular.

7. DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS


DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA

As dificuldades que se apresentam à realização continuada da sementeira direc-


ta, assim como as possibilidades e formas de as ultrapassar, não são idênticas em
todos os sistemas de culturas.

Se analisarmos a informação disponível nas zonas do mundo em que se pratica


e se estuda a sementeira directa, verificamos que as dificuldades deste sistema
44 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

variam com as condições. A compactação excessiva do solo, o combate a infes-


tantes, pragas e doenças e o maneio dos resíduos das culturas são, sem dúvida,
as dificuldades mais frequentemente referidas.

É impossível, nos dias de hoje, pensar-se na produção agrícola sem submeter o


solo a pressões várias, seja por parte das máquinas (tractores, colhedoras, etc.),
das alfaias ou do pastoreio dos animais. No entanto, o problema da compac-
tação excessiva só se coloca quando a pressão exercida excede a capacidade de
suporte do solo e, simultaneamente, provoca danos que os mecanismos naturais
existentes não conseguem ultrapassar. A capacidade de suporte de um solo
depende do seu teor de humidade e da sua coesão. Quanto mais húmido esti-
ver o solo ou quanto mais solto se encontrar por acção de alfaias de mobilização,
menor será a pressão que poderemos exercer sobre ele a fim de evitar a com-
pactação. É de referir que um solo sujeito a sementeira directa apresenta uma
elevada coesão e, assim, maior resistência à compactação. Os mecanismos natu-
rais de recuperação da estrutura são vários, como: o crescimento das raízes das
culturas, a actividade da fauna do solo e o fendilhamento provocado durante os
processos de secagem do solo.

As dificuldades no combate às infestantes, doenças e pragas está muito depen-


dente da rotação de culturas utilizada, sendo sabido que, independentemente
do sistema de mobilização utilizado, quanto mais homogénea a utilização do
solo (sendo a monocultura o exemplo extremo) maiores são as dificuldades
encontradas. No referente à pressão de doenças e pragas em sementeira direc-
ta, encontra-se informação muito contraditória, havendo casos em que ela
aumenta e casos em que diminui. De uma forma geral, esta situação parece
estar dependente da rotação de culturas praticada. No caso de rotações muito
homogéneas ou de monocultura, a pressão das doenças e pragas parece ser
maior na sementeira directa. No entanto, no caso de rotações mais equilibra-
das, a situação inversa ocorre frequentemente. A explicação adiantada é a de
que, neste caso, a biodiversidade que a sementeira directa possibilita funciona
como um mecanismo natural de combate. Contudo, no caso de utilizações da
terra pouco diversificadas, a biodiversidade nunca é suficiente para ser um
efectivo mecanismo de controlo e as lavouras que se efectuam periodicamen-
te no sistema tradicional de mobilização do solo contribuem para a destruição
de inoculos de doenças, particularmente fungos da parte aérea da planta, e de
posturas das pragas. Em relação ao combate às infestantes, é reconhecido uni-
versalmente que a sementeira directa aumenta as dificuldades no combate das
DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA 45

infestantes vivazes de multiplicação vegetativa, mas diminui as relativas às


infestantes anuais de reprodução por semente. O combate das infestantes
anuais é mais difícil nos sistemas com mobilização do solo porque esta, ao trans-
portar sementes ao longo do perfil do solo, confere um mecanismo de sobre-
vivência a este grupo de infestantes. As sementes colocadas em profundidade
não germinam, escapando assim a posteriores aplicações de herbicidas. Por
outro lado, cada vez que se mobiliza um solo, para além de se matarem as infes-
tantes já germinadas, promove-se o transporte de novas sementes para a super-
fície do terreno, provocando uma nova vaga de germinação. O combate de
infestantes vivazes de multiplicação vegetativa é mais difícil na sementeira
directa, uma vez que a ausência de mobilização do solo não destrói os órgãos
subterrâneos de propagação.

O problema de quantidade excessiva de resíduos raramente se coloca no


ambiente mediterrânico, em primeiro lugar porque a quantidade de resíduos das
culturas é relativamente baixa e, em segundo lugar, porque o Verão longo e seco
permite a redução da sua quantidade pelo pastoreio dos animais. Mesmo em
condições de regadio, em que a biomassa total produzida é maior, este proble-
ma raramente se coloca.

7.1 Sistemas de culturas de sequeiro

Em condições de sequeiro, no ambiente mediterrânico, muitos dos inconvenien-


tes anteriormente referidos não ocorrem, ou são fáceis de ultrapassar.

– Compactação do solo: a principal causa de compactação dos solos agrícolas é


a colheita durante períodos em que estes se encontram húmidos. Dadas as
características do nosso clima, a colheita das culturas, seja de Outono/Inverno
seja de Primavera/Verão, dá-se numa época em que o teor de humidade do solo
é, normalmente, muito baixo.

A compactação do solo resultante das operações de mobilização não se verifica


em sistemas de sementeira directa. Nestes sistemas, o trânsito de tractores sobre
o terreno apenas se verifica para a aplicação de herbicidas, de adubos e da pró-
pria sementeira. Estas operações não exigem tractores de grande potência (cerca
de 50 hp para a monda e adubações de cobertura e entre 70 a 90 hp para a
46 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

maioria dos semeadores de sementeira directa). Se o tractor estiver correcta-


mente dimensionado e atendendo a que a coesão do solo em sementeira direc-
ta é elevada, o risco de compactação é mínimo. No entanto, será de aconselhar
a utilização de pneus de baixa pressão como medida suplementar para evitar ris-
cos de compactação e uma correcta pressão de enchimento dos pneus, em
função das condições de trabalho. Esta deve ser a norma em todas as operações
destes sistemas, com particular destaque para as operações de monda e adu-
bação de cobertura durante o Inverno. Uma nota suplementar diz respeito ao
modelo de semeador. Sempre que possível, deve-se optar por versões rebocadas,
uma vez que exigem sempre uma potência do tractor muito inferior à versão
montada do mesmo semeador.

Uma outra causa de compactação do solo nestes sistemas pode resultar do pas-
toreio dos animais durante Invernos chuvosos. No entanto, se esta situação
ocorrer em folhas semeadas de pastagem, particularmente após o primeiro ano
da sua implementação, o pisoteio dos animais não provoca compactação que
preocupe, uma vez que a densidade de raízes é muito elevada, o que confere
grande resistência ao solo. A compactação pelo pisoteio dos animais apenas se
torna um problema quando estes pastoreiam resíduos da cultura anterior,
durante o Inverno. Nesta situação, a densidade de plantas é normalmente baixa
(apenas as infestantes que entretanto surgiram), não existindo assim um siste-
ma radicular denso que confira resistência ao solo. É, assim, recomendável que
se evite esta situação. O restolho das culturas deve ser pastoreado apenas
durante o Verão e o início do Outono mas, assim que chover o suficiente para
o pisoteio dos animais causar dano à estrutura do solo, o pastoreio deve ser
interrompido.

Em sistemas de mobilização mínima, o risco de compactação do solo durante


as operações de preparação do terreno também pode ser mínimo. Tratando-
-se de operações superficiais realizadas com escarificadores, o esforço de
tracção exigido é muito baixo, pelo que a largura de trabalho das alfaias e a
velocidade podem ser elevadas. Isto significa grande capacidade de trabalho
e, assim, a possibilidade de se trabalharem grandes áreas no período de sazão
do solo, altura em que o resultado das operações é óptimo e o risco de com-
pactação é mínimo. A utilização de pneus de baixa pressão é também reco-
mendável.

Em resumo, para evitar riscos de compactação deve-se ter em atenção:


DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA 47

– Utilizar tractores com a potência mínima necessária para a operação em


causa.
– Utilizar pneus de baixa pressão e uma correcta pressão de enchimento.
– Nos sistemas de mobilização mínima, para tirar partido do baixo esforço
de tracção, utilizar alfaias de grande largura e elevadas velocidades de tra-
balho.
– Evitar o pastoreio dos restolhos durante o Inverno.

– Combate de infestantes: nas nossas condições de sequeiro, as infestantes que


dominam são as anuais de multiplicação por semente. As infestantes vivazes de
multiplicação vegetativa só aumentam a sua expressão em solos mal drenados,
ou em rotações que envolvam pousios de grande duração. Atendendo a que os
sistemas de sementeira directa são mais eficazes no controlo das infestantes
anuais que os sistemas tradicionais, este aspecto não é normalmente limitante à
implementação de sistemas de sementeira directa de longa duração no ambien-
te mediterrânico, em condições de sequeiro. No entanto, existem particularida-
des em alguns sistemas que convém ter em atenção, até porque a presença de
resíduos na superfície do solo limita, normalmente, a eficácia dos herbicidas resi-
duais de pré-emergência.

Em sistemas de culturas anuais sem pousios ou pastagens semeadas, a pre-


sença de infestantes vivazes é menos provável e as infestantes que mais
poderão preocupar são as anuais de germinação escalonada, pois as infestan-
tes que germinam depois da sementeira escapam à acção do herbicida total de
pré-sementeira. Caso apareçam, ao fim de alguns anos, infestantes que esca-
pem aos mecanismos de controlo utilizados, sejam anuais sejam vivazes, reco-
menda-se que se realize periodicamente uma cultura que, deixando o terreno
livre na época em que essa infestante é mais susceptível, permita a aplicação
de um herbicida total não residual. A rotação de culturas de folha estreita com
culturas de folha larga (mono e dicotiledóneas, respectivamente) permite uma
alternância de herbicidas, o que é um grande auxiliar no combate de todas em
infestantes, incluindo as de germinação tardia. A data de sementeira das cul-
turas que integram a rotação tem, assim, uma importância decisiva na pre-
venção. A introdução de culturas de sementeira tardia (por exemplo, cevada
nas culturas de Outono/Inverno ou trigo de ciclo curto) ou culturas de Pri-
mavera (por exemplo, o linho ou o girassol) são uma garantia de se poder apli-
car a monda de pré-sementeira numa época em que a maioria das infestantes
já germinaram, evitando-se assim que as infestantes de germinação tardia se
48 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

tornem uma praga ao longo do tempo. No caso de culturas de sementeira


temporã, em que não se deseja ou não se possam aplicar herbicidas de pós-
-sementeira (por exemplo, forragens e aveia para grão), o número de infes-
tantes nascidas à data da sementeira é normalmente muito baixo, a não ser em
anos em que o início da estação das chuvas comece muito cedo. Nestas cultu-
ras a eficácia da monda de pré-sementeira será, normalmente, baixa. Uma
recomendação possível será a sementeira destas culturas em seco, antes da
germinação das infestantes, com um reforço da densidade de sementeira (20
a 30%). A cultura germinará assim após as primeiras chuvas, antes das infes-
tantes, aumentando-se a sua capacidade competitiva. Para as restantes cultu-
ras da rotação (normalmente cereais para grão), recomenda-se que se atrase a
sua sementeira, até que as infestantes estejam bem nascidas, de forma a pode-
rem ser eliminadas pela monda de pré-sementeira. Caso isto não seja possível,
então deve-se prever a aplicação de uma monda de pós-emergência, com her-
bicidas de absorção foliar, assim que a cultura o permita e as folhas das infes-
tantes rompam através da camada de resíduos existente na superfície do terre-
no. Esta solução será preferível ao recurso a uma monda de pré-emergência, a
não ser que a quantidade de resíduos na superfície do terreno seja muito pe-
quena.

Caso a rotação contenha culturas em que os herbicidas selectivos de pós-


-emergência disponíveis sejam muito escassos (ou muito caros) e, portanto, a
utilização de mondas de pré-emergência seja de todo recomendável (por
exemplo, grão-de-bico), então aconselha-se a que se reduza a quantidade de
resíduos sobre o terreno, deixados pela cultura anterior, pelo seu pastoreio
intenso durante o Verão. Deve-se ainda seleccionar um herbicida residual sis-
témico de absorção radicular (são menos afectados por uma distribuição
menos uniforme) não volátil (uma vez que não pode ser incorporado no solo).

Em sistemas de culturas anuais que envolvam pousios ou pastagens temporárias


semeadas, a pressão das infestantes é maior e a presença de infestantes vivazes,
incluindo arbustivas, é mais provável. As recomendações que se podem fazer
neste caso são duas. A primeira cultura após o pousio ou pastagem deve permi-
tir uma aplicação muito eficaz da monda de pré-sementeira. Assim, deve ser
escolhida uma cultura de sementeira tardia para permitir uma boa germinação
das infestantes. O controlo das infestantes vivazes, incluindo as arbustivas, deve
ser feito no último ano do pousio ou pastagem, na época em que essas infes-
tantes forem mais susceptíveis ao herbicida total utilizado.
DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA 49

Em resumo, para um eficaz combate de infestantes em sementeira directa reco-


menda-se, em condições de sequeiro:
– Conceber a rotação de modo a combater de forma eficaz as infestantes anuais
de germinação tardia através da monda de pré-sementeira (introdução de cul-
turas de sementeira tardia) e da alternância de herbicidas (culturas de folha
estreita e culturas de folha larga).
– Após a sementeira, dar preferência às mondas de pós-emergência com herbi-
cidas de absorção foliar.
– Nas culturas que se deseje semear cedo e não se possa ou se queira utilizar
monda de pós sementeira, semear antes da germinação das infestantes,
reforçando a densidade de sementeira.
– Nas culturas em que não existam (ou sejam muito caros) herbicidas de pós-
-emergência que garantam um bom combate de infestantes, deve reduzir-se
a quantidade de resíduos da cultura anterior, por pastoreio intenso durante o
Verão, e seleccionar-se um herbicida de pré-emergência sistémico de absorção
radicular. Nunca aplicar herbicidas voláteis.
– Após pousios ou pastagens temporárias, instalar uma cultura de sementeira
tardia.
– As infestantes vivazes após pousios ou pastagens devem ser controladas no
último ano, na época em que essas infestantes forem mais susceptíveis ao her-
bicida total utilizado.
– Caso apareçam infestantes problema, incluir temporariamente uma cultura
que permita a aplicação de um herbicida total não residual na época mais
favorável ao seu controlo.

– Maneio dos resíduos: o maneio de resíduos em condições de sequeiro não


oferece nenhuma dificuldade. Normalmente é a situação contrária que existe,
ou seja, não existem resíduos suficientes para um melhor controlo da erosão
do solo e um aumento mais rápido do teor do solo em matéria orgânica. No
entanto, caso exista pontualmente alguma dificuldade, a solução será o pasto-
reio intensivo durante o período de Verão, de forma a evitar a compactação do
solo. Caso o agricultor deseje deixar as palhas dos cereais sobre o terreno,
estas devem ser espalhadas uniformemente na superfície do terreno, de pre-
ferência pela própria ceifeira debulhadora durante o processo de colheita. Se o
semeador de sementeira directa disponível não apresentar boa capacidade de
corte das palhas (semeadores de bicos ou de disco simples) estas, para além de
espalhadas, devem ser traçadas. Outra precaução importante para um bom
desempenho destes semeadores é realizar a colheita de forma a que o resto-
50 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

lho fique curto, a fim de evitar que seja ele a causa de empapamento do se-
meador.

7.2 Sistemas de culturas arvenses de regadio

As considerações que a seguir se fazem são dirigidas aos sistemas de culturas


arvenses regadas por aspersão. No caso de sistemas de rega por gravidade, con-
tinua a ser possível a realização de sementeira directa ou sistemas de mobilização
mínima, mas colocam-se dificuldades suplementares. Por um lado, é preciso
implementar um sistema de tráfico controlado, de forma a que o rodado das
máquinas trabalhe sempre dentro do rego, o que obriga a que a bitola dos trac-
tores e máquinas de colheita seja compatível com a distância entre regos. Em
segundo lugar, os semeadores têm de ser adaptados de forma a que as rodas tra-
balhem também no fundo do rego. No entanto, existe investigação a decorrer
em Portugal, para a adaptação destes sistemas à sementeira directa e mobili-
zação mínima, com resultados muito promissores. Para o caso das culturas hor-
tícolas, não existe experimentação realizada em Portugal que permita a sua reco-
mendação aos agricultores.

Os sistemas de culturas arvenses regados por aspersão apresentam vantagens


e inconvenientes em relação aos sistemas de sequeiro. Sendo as produções
obtidas em regadio muito mais elevadas, é mais rápida a acumulação de
matéria orgânica no solo, assim como é mais rápido o desenvolvimento de
uma rede de porosidade biológica ao longo de perfil do solo. No entanto, a
maior quantidade de resíduos exige maiores precauções no seu maneio e na
escolha e regulação do semeador, apresentando uma dificuldade suplementar
nos sistemas de mobilização mínima. A probabilidade da realização da colhei-
ta em condições de solo húmido aumenta, pelo que maior atenção tem de ser
dada ao risco de compactação. A presença de infestante vivazes de multipli-
cação vegetativa aumenta, sendo necessário maior rigor no controlo de infes-
tantes.

– Compactação do solo: as recomendações feitas em relação à escolha da potên-


cia dos tractores, tipo de rodado e pressão de enchimento, feitas para os siste-
mas de sequeiro, continuam válidas para estes sistemas.
DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA 51

No caso de sistemas de sementeira directa, o pastoreio durante o Inverno do res-


tolho das culturas de Verão não pode ser realizado. Se se pretender aproveitar o
terreno durante o Inverno para a produção de uma cultura forrageira, esta deve
ser aproveitada para feno ou silagem. O seu aproveitamento para pastoreio
directo só poderá ser considerado em anos de Inverno seco e após alguns anos
de funcionamento da sementeira directa, de forma a evitar a compactação intro-
duzida pelo pisoteio dos animais. Caso não se pretenda seguir estas recomen-
dações, têm de ser adoptados sistemas de mobilização mínima para a instalação
da cultura de Primavera/Verão.

O risco de compactação durante a colheita será tanto maior quanto mais tarde
esta se realizar. Dada a rapidez com que se pode instalar a cultura em sistemas
de sementeira directa, a primeira recomendação será a de semear cedo, sem ser
demasiado ambicioso na duração do ciclo da variedade, de forma a antecipar a
data de colheita. Este procedimento, para além de permitir uma menor compac-
tação do solo durante a colheita, garante um menor teor de humidade do grão,
evitando custos com a sua secagem. A data da última rega deve também evitar
humidade excessiva do solo à colheita. A segunda recomendação diz respeito à
organização do trabalho, de forma a evitar o trânsito desnecessário do equipa-
mento de transporte (tractores, reboques, camiões) sobre o terreno. Também
aqui o rodado assume particular importância, assim como a pressão de enchi-
mento dos pneus.

Quando após a cultura de Verão não está prevista uma cultura de Outo-
no/Inverno, a realização de uma cultura de cobertura é um auxiliar precioso no
combate da compactação do solo. O crescimento activo de raízes no solo,
durante uma época em que o seu teor de humidade é elevado e, assim, a sua
resistência à penetração das raízes é baixa, é uma forma de garantir elevados
níveis de porosidade para a cultura de Verão seguinte. A realização desta cultu-
ra de cobertura tem ainda vantagens complementares como a protecção do
solo contra a erosão, a recuperação de nutrientes que normalmente são perdi-
dos por lavagem, um aumento de fornecimento de matéria orgânica ao solo e
um aumento da cobertura do solo durante a cultura de Verão, o que contribui
para a redução das perdas de água por evaporação e escorrimento superficial.
Há assim muitas razões para se recomendar a instalação de culturas de cober-
tura, sendo a sua realização muito importante sempre que a colheita da cultu-
ra de Verão tenha provocado compactação do solo. A cultura de Outo-
no/Inverno a utilizar dependerá da drenagem do solo. No caso de solos mal
52 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

drenados recomenda-se uma cultura tolerante ao encharcamento (por exem-


plo, um azevém).

Há sistemas de culturas regadas em que entram, como cultura principal, culturas


de Outono/Inverno como o trigo. Neste caso existe a possibilidade de se reali-
zar uma cultura de cobertura durante o Verão. No caso de solos mal estrutura-
dos, particularmente solos mal drenados, esta é uma oportunidade valiosa de
melhorar a sua estrutura em profundidade. Utilizando uma cultura de cobertura
resistente à secura (por exemplo, sorgo ou girassol), e um número muito reduzi-
do de regas, obriga-se a cultura a utilizar água, de horizontes que normalmente
não são explorados em sistemas de regadio. A perda de humidade destas cama-
das e consequente fendilhamento irá servir para uma rápida penetração das raí-
zes da cultura seguinte da rotação.

Em resumo, para evitar riscos de compactação nos sistemas de culturas arvenses


de regadio, deve-se ter em atenção:
– Utilizar tractores com a potência mínima necessária para a operação em
causa.
– Utilizar pneus de baixa pressão e uma correcta pressão de enchimento em
todas as máquinas, incluindo as que transitam no terreno durante as ope-
rações de colheita.
– Evitar o pastoreio dos restolhos durante o Inverno. No caso de se realiza-
rem culturas de Inverno forrageiras, utilizá-las para corte. O pastoreio di-
recto só deverá ser realizado ao fim de alguns anos em sementeira directa,
depois do solo estar suficientemente bem consolidado, e apenas em Inver-
nos secos.
– Evitar a colheita com o solo húmido (data de sementeira, escolha da varieda-
de e data da última rega).
– Organizar o trabalho durante as operações de colheita de forma a evitar o
trânsito desnecessário sobre o terreno.
– Utilizar culturas de cobertura durante o Inverno. Esta recomendação é tanto
mais importante quanto maior a compactação exercida durante a colheita da
cultura de Verão.
– No caso de solos mal drenados, caso a rotação inclua culturas de Inverno
como cereais, praticar culturas de cobertura, resistentes à secura, durante o
Verão.
DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA 53

– Combate das infestantes: a presença de infestantes vivazes de multiplicação


vegetativa aumenta a sua presença nestes sistemas, independentemente do
sistema de mobilização utilizado. Naturalmente, nos sistemas de sementeira
directa e mobilização mínima, por não haver reviramento do solo, as pre-
cauções devem ser redobradas, de forma a não aumentar os encargos com
herbicidas específicos para o seu combate. A rotação de culturas é um auxiliar
precioso nesta prevenção. A inclusão de culturas de Inverno não só permite
que o solo seque durante o Verão (dificultando a sobrevivência destas infes-
tantes), como também permite, caso seja necessário, a aplicação de um herbi-
cida total sistémico após a sua colheita. A rotação de culturas de folha estreita
com culturas de folha larga (mono e dicotiledóneas, respectivamente) permite
uma alternância de herbicidas, o que é um grande auxiliar no combate de todas
as infestantes, incluindo as vivazes. Actualmente, o aparecimento no mercado
de máquinas capazes de aplicar herbicidas totais na entrelinha de culturas como
o milho, sem qualquer dano para esta, é mais um método auxiliar no combate
das infestantes, incluindo as vivazes, em qualquer sistema de mobilização do
solo.

No caso de culturas regadas por aspersão, a aplicação de herbicidas de pré-


-emergência, em sistemas de sementeira directa e mobilização mínima, tem
eficácia idêntica à que se obtém em sistemas tradicionais de mobilização do
solo, na condição de se realizar uma rega logo após a sua aplicação. Poderá,
ao fim de alguns anos, com o aumento do teor de matéria orgânica da cama-
da superficial do solo, diminuir a persistência destes herbicidas nos sistemas de
sementeira directa e mobilização mínima. No entanto, isto não se traduz nor-
malmente num prejuízo para a cultura e é certamente uma vantagem ambien-
tal. Contudo, nos primeiros anos de implementação da sementeira directa,
caso se pretenda realizar uma cultura de Outono/Inverno (de cobertura ou
para colher) não se deve aplicar a dose máxima recomendada para os herbici-
das residuais. Não havendo mobilização do solo e não havendo ainda acumu-
lação de matéria orgânica que permita acelerar a decomposição do herbicida,
a sua acumulação na superfície do solo pode ser tóxica para a cultura a insta-
lar no Outono.

Em resumo, de forma a prevenir possíveis aumentos de encargos com herbicidas


específicos para o controlo de infestantes vivazes em culturas de regadio, reco-
menda-se:
54 MANUAL DE DIVULGAÇÃO SEMENTEIRA DIRECTA E TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO MÍNIMA

– A inclusão na rotação de culturas de Inverno e a alternância de culturas de


folha estreita com culturas de folha larga.
– Ponderar a utilização de pulverizadores especiais, capazes de aplicarem herbi-
cidas de absorção foliar totais na entrelinha da cultura.
– Nas mondas de pré-emergência, regar logo após a sua aplicação. No caso de
a seguir à cultura de Verão se realizar uma cultura de Inverno, reduzir as doses
de aplicação a fim de evitar possíveis efeitos tóxicos.

– Maneio dos resíduos: a quantidade de resíduos existentes no caso das cultu-


ras regadas é normalmente muito elevada. Estes resíduos apresentam grandes
vantagens agronómicas como o aumento do teor do solo em matéria orgânica,
a protecção contra a erosão, a diminuição do escorrimento superficial e a
redução das perdas por evaporação directa. No entanto, o seu maneio requer
atenção especial, de forma a não prejudicar o desempenho do semeador nem a
instalação da cultura.

O maneio apropriado destes resíduos começa no momento da colheita. A pri-


meira preocupação, independentemente do tipo de cultura em causa, deve ser
espalhar, o mais uniformemente possível, as palhas e moinhas. Isto deve ser feito
pela própria ceifeira debulhadora, através da inclusão de espalhadores apropria-
dos. Se esta operação é realizada posteriormente, o espalhamento nunca é per-
feito, particularmente no que diz respeito às moinhas, o que pode prejudicar gra-
vemente a germinação das sementes.

A necessidade de traçar a palha vai depender do tipo de resíduo (sua resistência


ao corte) e do tipo de semeador disponível. No caso de palhas que ofereçam
grande resistência ao corte, como as de milho, o seu traçamento é importante,
qualquer que seja o semeador disponível. No caso de palhas flexíveis, o procedi-
mento mais adequado depende do semeador. No caso de semeadores de bicos
ou de semeadores de disco simples, a palha deve ser traçada pois, caso contrá-
rio, impede o bom desempenho do semeador. No caso do semeador de bicos
pelo seu empapamento e, no caso dos semeadores de disco simples, porque
haverá a tendência para o seu enterramento dentro da linha de sementeira,
impedindo o contacto entre o solo e a semente. Se o semeador disponível for de
disco duplo desfasado ou triplo disco, então a palha pode ser deixada inteira,
uma vez que a capacidade de corte destes semeadores permite um bom desem-
penho nestas condições. Caso haja necessidade de traçar a palha, então esta
operação deverá também ser feita no próprio acto da colheita, pela inclusão de
DIFICULDADES E VANTAGENS DOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTURAS EM RELAÇÃO À SEMENTEIRA DIRECTA 55

um traçador de palha na ceifeira debulhadora. É importante não esquecer que,


caso o semeador disponível seja de bicos, a ceifeira deve trabalhar com o pente
de corte em posição baixa, de forma a que o próprio restolho tenha uma
dimensão curta.

No caso de sistemas de mobilização mínima, uma vez que se privilegia a utili-


zação de alfaias de mobilização vertical (escarificadores e escarificadores pesa-
dos), os resíduos devem ser sempre traçados, para além de uniformemente
espalhados, de forma a reduzir o risco de empapamento das alfaias. No caso de
a quantidade existente ser de tal forma elevada que impeça o funcionamento
destas alfaias, poder-se-á utilizar uma passagem prévia com grade de discos, mas
sempre de forma a deixar uma quantidade apreciável à superfície do terreno
(pelo menos 30% da superfície do solo coberto).

Resíduos não flexíveis de culturas, mas sem elevada resistência ao corte, como é
o caso da palha de girassol, só precisam de ser traçados se o semeador disponí-
vel for de bicos.

Em resumo, o maneio adequado dos resíduos, que devem ser sempre mantidos
na superfície do terreno, exige:
– O espalhamento uniforme de palhas e moinhas, em todas as situações.
– A necessidade de traçar a palha vai depender do tipo de cultura e do semea-
dor disponível. No caso da sementeira directa com semeador de bicos e no
caso de sistemas de mobilização mínima, a palha deve ser sempre traçada.

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