RESENHA Milton Santos

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Resenha Milton Santos – A Natureza do Espaço

Discente Kássia Pedrosa

SANTOS, M.A Natureza do Espaço: técnica tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec,
1996. (Capítulos 2 e 3)

Esta resenha pretende discorrer sobre o livro A Natureza do Espaço –


Tempo e Técnica, Razão e Emoção, especificamente sobre os capítulos II O
Espaço: Sistemas de Objetos, Sistemas de Ação; e capítulo III O Espaço
Geográfico, Um Híbrido.
Milton Santos começou sua formação acadêmica como bacharel em
Direito na Universidade Federal da Bahia, posteriormente fez doutorado em
geografia. O autor se apresenta como referência teórica com os seguintes
temas: território, migrações e geografia urbana. A resenha redigida é referente
ao livro A Natureza do Espaço: técnica tempo, razão e emoção em que se
dedicou desenvolver contribuições epistemológicas da ciência da geografia do
espaço.

Primeiramente gostaria de descrever brevemente sobre como o autor


estrutura suas ideias. Através de recursos linguísticos, como pelo próprio título
dos capítulos percebemos a forte influência da teoria estruturalista no texto. Ao
longo do capítulo 2, a exposição redigida aponta para a compreensão do real
em estruturas que constrói e influenciam a realidade. Entretanto, quando
refletimos com mais cautela sobre o que está sendo dito, é observado que o
autor defende ponto de vista mais fenomenológico. Dando enfoque mais ao
fenômeno, e capacidade interpretativa do evento do que necessariamente uma
perspectiva linear estruturalista.

No segundo capítulo o autor desenvolve de maneira epistemológica a


discussão sobre o espaço e o que compõe este ambiente. Resgata a discussão
clássica, do porquê estuda-se geografia, e justifica através da perspectiva de o
espaço geográfico ser um local ocupado por objetos. Estes objetos possuem
habilidade de serem pontos fixos ou fluidos, esta habilidade é possível também
devido a interferência humana, mas não exclusiva. A maleabilidade dos objetos
altera a configuração do espaço, e modifica relações, assim como as relações
modificam o espaço. É importante estar atento a este tópico, pois como o
próprio autor indica o espaço é atravessado por objetos fixos, esta
permanência desenvolve interpretações díspares e limitadas da realidade.
Agora sobre os itens flexíveis estes possuem a capacidade de se deslocarem,
modificando não apenas esteticamente, mas alterando o significado do espaço.

Milton Santos ressalta a distinção entre objetos e coisas, elementos que


ocupam este espaço constituindo significados e significantes. O autor esclarece
que coisas são elementos provenientes da Natureza, elas existem sem
interferência humana, geralmente são morros, montanhas, pradarias, etc.
Agora em referência aos objetos o autor nos chama atenção para o fator do
trabalho, ação social, compondo o espaço, por exemplo: barragens, pontes,
estradas, edifícios.

O autor nos convida a refletir sobre o campo interpretativo dos objetos, a


influência que estes atribuem a estrutura, e a capacidade de modificar e serem
modificados. Quando Santos indica a correlação entre arqueólogos e
geógrafos, é interessante a comparação, pois ambos buscam elementos
explicativos entre objetos e a atividade social, contextualizando a comunidade
em questão.

Sobre o conceito do Sistemas de Ação o autor menciona teóricos como


Weber e Giddens e resgata termos que contribuem para o desenvolvimento da
ação social do ponto de vista geográfico. Como citado nos parágrafos
anteriores o Sistema de Objetos só consegue alcançar sua realização
totalizante quando este objetos e coisas são afetados por uma ação humana. É
a partir deste ponto que Santos desenvolve a perspectiva da racionalidade,
motivação e afetos possíveis para interpretar a ação que interferem, constrói e
é absorvido pela estrutura espacial geográfica.

No capítulo seguinte o autor desenvolve porquê o espaço geográfico é


híbrido, e esta discussão possui estreita relação com os sistemas de objetos e
sistemas de ação. Santos desponta como o argumento da intencionalidade das
ações, e como a motivação e a realização de atos promovem transformações
em relação aos objetos e consequentemente ao espaço. Nesta parte do texto é
possível identificar referências à dinâmica de proximidade entre objeto e
sujeito. E também nesta parte que a categoria de sujeito aparece mesmo de
forma tímida.

No capítulo é citado uma longa lista de sociólogos, filósofos,


epistemólogos e até psicanalistas que debruçaram diante à tarefa de
conceituação da ação social. Por isto, cabe destacar o pensamento de Georg
Simmel, pois ele diz que para ação realizar sua manifestação, carece
necessariamente do objeto, e este objeto precisa sofrer uma interferência
humana, pois se não se destitui o sentido da ação social.

A discussão deste capítulo é para consolidar a abordagem do sistema


de ações e sistema de objetos, que o espaço geográfico é um objeto híbrido.
Através das argumentações utilizadas, identifica-se o empenho do autor em
complexificar o sistema de análise sob a perspectiva dialética.

Em síntese observamos que o autor desenvolve sua teoria com forte


influência estruturalista apesar de rejeitar a concepção mecanicista,
normalmente atribuída a esta corrente. Observamos que ele se empenha em
apresentar os conceitos de modo crítico, analisando as possíveis fissuras entre
a estrutura, mas há uma negação evidente da capacidade de os sujeitos
interferirem diante de tal modelo de organização social. Talvez este seja o
ponto delicado da teoria de Santos, a ausência da capacidade de
agenciamento entre os indivíduos e desmitificação das categorias prontas.

Por fim, o texto possui diversos elementos para compreender a


composição do espaço geográfico. Além de apontar possíveis caminhos de
análise conjuntural, referente a nossa sociedade, e natureza, como estes
grandes temas, dialogam entre si, recursos naturais e sujeitos. É de relevância
fundamental as contribuições epistemológicas que o Santos nos oferece,
conduzindo críticas reflexões sobre o espaço geográfico.

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