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Cultura Organizacional e Terceiro Setor
Cultura Organizacional e Terceiro Setor
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Pesquisa realizada em 2001, sob a supervisão da Profª. Drª. Rosa Maria Fischer - FEA/USP.
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Autores:
Ademar Orsi, Administrador, Mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo, professor da Universidade Anhembi Morumbi e da Fundação
Dom Cabral. e-mail: orsiademar@ig.com.br;
Eduardo Marino, Zootecnista, Mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo, e-mail: eduardo.marino@uol.com.br;
Luiz Rossi, Administrador, Mestrando em Administração pela Escola de Administração da Fundação Getulio
Vargas de São Paulo, e-mail: luizrossi@aol.com;
Natacha Bertoia, Administradora, Mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo, e-mail: natacha@uol.com.br;
Roberto Shiniashiki. Psiquiatra, Doutorando em Administração pela Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade da Universidade de São Paulo, e-mail: rshinyashiki@uol.com.br.
Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005: 34 - 55
Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto
the following: different ways of OCSs work and the lack of criterion that could
define these institutions.
Key words: organizational culture; methodological proceedings; third sector.
pobreza. A UNE cria os Centros Populares de Cultura, que se engajam em levar as camadas
populares programas culturais (teatro, literatura, cinema etc.). Paralelamente a essas ações,
surgem iniciativas de instituições progressistas ligadas a Igreja Católica que passam a
oferecer treinamentos em desenvolvimento comunitário e liderança influenciados pela
ideologia Marxista. (Landin, 1993).
No final da década de 60 e durante a de 70, surgem os movimentos estudantis,
populares urbanos e rurais que se constituem em uma força revolucionária invisível que
luta pela democracia. Esses movimentos recebem o apoio das alas mais radicais da Igreja
Católica ligas a Teoria da Libertação. Esses grupos recebem apoio financeiro de entidades
de cooperação Européias. O trabalho de apoio aos pobres é mais uma vez assumido em boa
parte pela Igreja Católica, mais agora não mais na ótica caritativa e sim progressista.
Landin (1993) estima que no final da década de 70 haviam de 80.000 a 100.000
Comunidades Eclesiais de Base formando lideranças e fortalecendo movimentos sociais.
Após o final do regime militar observou-se uma explosão no número de
organizações sem fins lucrativos denominadas organizações não governamentais- ONGs,
marcando uma clara identidade de negação ao governo. A mobilização pelas diretas e
posteriormente o engajamento dessas instituições junto as parlamentares na fase da
elaboração asseguraram importantes vitórias no campo dos direitos civis. O Estatuto da
Criança e do Adolescente constitui-se em um marco no retorno da participação da
sociedade civil junto ao Estado. As mobilizações em torno das questões ligadas a crianças e
adolescentes com de instituições como o UNICEF, a campanha de mobilização contra a
fome conduzida por Betinho e a ECO 92, alavancaram uma grande mobilização da
sociedade civil.
Concomitante as ações sociais de indivíduos e grupos para lidar com os diferentes
problemas sociais, o setor empresarial também inicia ações sistemáticas de apoio a projetos
sociais. A Câmara Americana de Comércio de São Paulo desempenhou um importante
papel na mobilização do empresariado para o investimento em projetos e programas sociais
com o lançamento em 1982 do Prêmio Eco (Prêmio de Contribuição Empresarial) que
objetivava estimular e premiar projetos de ação social e relações comunitárias, em
benefício de do bem-estar social, desenvolvidas pela iniciativa privada. Em 1995 a Câmara
Americana divulgou um balanço dos 13 anos do prêmio. Neste período, foram investidos
pelas empresas brasileiras 800 mil dólares em 906 projetos sociais. (Rohden, 1996). Neste
período, a filantropia empresarial ganhou força e criou-se o GIFE – Grupo de Instituições e
Empresas, que congrega organizações privadas que destinam recursos privados para fins
públicos.
As profundas mudanças nas áreas econômica e social devido a globalização da
economia revisão por parte do Estado sobre o seu papel, no sentido de abandonar o modelo
do welfare state no Brasil e em outros países da América Latina. As atualmente
denominadas Organizações da Sociedade Civil - OSCs encontram-se diante de novos
desafios. “As organizações da sociedade civil – OSCs – atuantes nas mais diferentes áreas
(meio ambiente, educação, desenvolvimento comunitário, defesa de direitos da criança e
outras) também passam por profundo processo de mudança na sua relação com seus
patrocinadores privados e públicos alvo, sendo impelidas a melhorar a qualidade dos
serviços, expandir a capacidade de atendimento, aprimorar a eficácia no uso dos recursos e
prestar contas quanto ao seu uso. Todas essas demandas estão agrupadas em artigos,
METODOLOGIA
O objetivo geral deste trabalho é a análise de alguns padrões culturais que
permeiam as Organizações de Sociedade Civil.
A cultura organizacional pode ser estudada com base em várias perspectivas
teóricas e metodológicas. Algumas abordagens são de natureza antropológica, outras
sociológicas ou psicossociológicas. Quanto aos procedimentos metodológicos, também há
grande diversidade: técnica de diagnóstico organizacional, análise documental, observação
participativa, entrevistas e questionários aplicados e método de pesquisa-ação.
Cabe salientar, no entanto, que apesar de existirem alguns métodos mais utilizados
do que outros pelos pesquisadores, a escolha por uma técnica em detrimento de outras
deverá estar intimamente relacionada ao referencial teórico abordado.
Em termos de metodologia adotada, procuramos neste trabalho proceder
inicialmente a um levantamento bibliográfico existente sobre o assunto visando a
elaboração do referencial teórico conceitual, bem como, identificando algumas
características especiais das culturas organizacionais das Organizações da Sociedade Civil.
As OSCs atuam de diferentes formas e poucos estudos procuram definir com
clareza critérios para definir uma tipologia para essas instituições. Segundo Miguel Darcy
(1996), essas organizações podem ser dividas da seguinte forma:
- caritativas: aquelas voltadas para a assistência a áreas específicas, como
menor, mulher e idosos;
- desenvolvimentistas: aquelas que surgiram e cresceram, com mais ênfase, a
partir da ECO 92, cujo o foco é o meio ambiente;
- cidadãs: aquelas voltadas para a reivindicação dos direitos de cidadania,
criando redes de solidariedade ou atuando junto a minorias discriminadas;
- ambientalistas: são as ecológicas, que possuem mais visibilidade junto à opinião
pública.
Percebe-se, no entanto, que essa tipologia não resolve o problema básico da
delimitação desse universo de organizações. Desta maneira, Salamon e Anheir (1996)
sugerem uma nova proposta para caracterização das OSC denominada Classificação
Internacional de Organizações sem Fins Lucrativos (ICNPO), que apresenta os seguintes
grupos:
CULTURA ORGANIZACIONAL
Segundo Schein (1989), “cultura organizacional é o conjunto de pressupostos
básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os
problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente
para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de
perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas”.
Para Schein, a cultura de uma organização pode ser analisada em três aspectos
principais:
- Produtos visíveis: corresponde ao ambiente construído da organização, layout,
comportamentos visíveis das pessoas;
- Valores: são difíceis de serem observados diretamente, mas segundo o autor,
geralmente expressam o que as pessoas reportam ser a razão do seu
comportamento, o que na maioria das vezes são idealizações ou racionalizações;
- Pressupostos básicos: normalmente são inconscientes, mas determinam como os
membros de um grupo percebem, pensam e sentem.
Para Fleury (1989), a definição de Schein é válida, mas acredita que a dimensão
política deva ser inserida no conceito de cultura organizacional. Assim, Fleury propõe que
“a cultura organizacional é concebida como um conjunto de valores e pressupostos básicos
expresso em elementos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir
Estrutura da Sistema de
Organização comunicação
Práticas
administrativas
DIMENSÃO DA FORMAÇÃO
A dimensão da formação caracteriza-se pelas concepções relativas à filosofia e
missão da organização, além da sua estrutura organizacional.
Filosofia Organizacional e Missão
Sem dúvida nenhuma, a missão e a filosofia da organização reflete os motivos e os
objetivos de seu fundador. Os valores prioritariamente acordados no momento da
constituição da organização, poderão ser encontrados em muitos aspectos da estrutura
organizacional, atividades e no seu desenvolvimento. A missão da organização, tais como
originalmente definida e periodicamente reconsiderada, estabelece o foco dos esforços
totais da organização.
O estudo realizado por Ruckle (1993), sugere que o terceiro setor fornece meios
organizacionais para a expressão de valores que independem da preocupação com o lucro,
fundamental para as organizações empresariais, e das prioridades políticas do governo.
As organizações sociais pesquisadas se distinguem das do setor empresarial e do
governo pelo caráter do envolvimento dos membros. Nelas o envolvimento dos membros
inclui um componente moral e pessoal significativo.
Etzioni (1974) propôs uma teoria na qual diferenciava as organizações conforme
os tipos de utilização do poder e autoridade ou conforme o tipo de envolvimento existente
dos membros nas organizações.
Com relação ao envolvimento, Etzioni (1974) classificou três tipos:
- Alienativo: o indivíduo é forçado a continuar como membro.
- Calculativo: o envolvimento ocorre em troca de compensações financeiras.
- Moral: identificação com os valores e objetivos.
Etzioni (1974) afirma que o tipo de envolvimento do membro está correlacionado
com o tipo de poder ou autoridade usada pela organização.
A característica dos membros envolvidos nas organizações do terceiro setor
incluem uma componente notavelmente pessoal ou moral. Os membros estão envolvidos
com a organização porque eles se identificam com sua filosofia e missão.
Estrutura Organizacional
Uma particularidade das organizações do terceiro setor é que o conselho diretor é
formado por voluntários. O conselho é o responsável último pelo bem-estar e prosperidade
da organização. Por esta razão é que deve tomar todas as decisões estratégicas e assegurar
que a organização desenvolva seu potencial e que sejam consideradas as necessidades de
todos os membros e envolvidos.
Os membros do conselho proporcionam um vínculo essencial com o ambiente
externo à instituição. Trazem informações sobre o mundo exterior e promovem programas
e serviços institucionais. Desta maneira, os conselheiros servem como catalisadores de
mudanças, assegurando que a instituição esteja sensível às forças externas.
Quase todas as organizações têm um responsável executivo designado,
denominado presidente ou diretor executivo, cuja responsabilidade é trabalhar lado a lado
com o conselho na articulação da visão para o futuro e junto à equipe técnica, na realização
dessa visão.
Modelo gerencial
Existem dois tipos divergentes de modelos gerenciais. Nenhum deles é utilizado
conscientemente como um instrumento de política gerencial mas identificamos uma clara
divisão entre os que aderem há um ou outro modelo.
O modelo burocrático, ou mecanicista, aparenta ser apropriado à organização que
opera em ambiente com condições relativamente estáveis. O outro, orgânico, para ser
adequado em ambientes instáveis.
Os modelos que encontramos nas diversas organizações variam de um extremo
puramente burocrático ao orgânico, conforme quadro a seguir:
MODELO CARACTERÍSTICAS
Burocracia • Pressupõe estabilidade ambiental
rígida • poder decisório é individualizado e
centralizado
• operações e tarefas são bem identificadas
Burocracia • pressupõe ambiente estável com
conduzida por eventuais imprevistos
comitê • poder decisório é exercido por comitê
• existe variedade na condução das divisões
ou áreas
Burocracia • pressupõe necessidade de perspectiva
com times multi- interdepartamental
departamentais e • nível de comunicação é maior que nos
grupos-tarefa formatos anteriores
• lealdade aos grupos é condicionada aos
interesses dos departamentos
Organização • pressupõe balanceamento de poder entre
matricial funções/departamentos e processos
• busca garantir a convergência de esforços
MODELO CARACTERÍSTICAS
e otimizar a utilização de recursos
• exige maturidade dos líderes e liderados
para contornar os conflitos de interesse
Organização • pressupõe a busca de flexibilidade,
baseada em agilidade, criatividade e capacidade de
projetos inovação
• todas as tarefas mais importantes são
administradas ou realizadas por grupos
• coordenação é informal e
fundamentalmente ditada por visões
compartilhadas
Organização tipo • pressupõe existência de um grupo
rede orgânica estratégico central
• utiliza terceirização em larga escala
• não possui identidade clara, distinta e
duradoura
Etzioni (1974) considera em seus estudos três tipos de organizações, que diferem
em relação ao tipo de poder ou autoridade, possibilitando a comparação de diferentes
organizações: coercitiva, utilitarista e normativa.
No primeiro tipo predomina o poder coercitivo. No segundo o poder é exercido
através da autoridade racional-legal ou utilitarismo. Na terceira categoria, as organizações
buscam o envolvimento de seus membros através da autoridade normativa. Etzioni (1974)
considera que existem estruturas mistas de dois ou três tipos, mas sempre com a
predominância de um deles.
Com relação ao estudo do poder nas organizações, Galbraith (1984) também
apresentou algumas idéias relativas ao conceito de poder. Segundo sua teoria, existem três
tipos de poder: condigno, compensatório e condicionado.
O poder condigno obtém submissão pela capacidade de impor às preferências do
indivíduo ou do grupo uma alternativa desagradável ou dolorosa para levá-lo a abandonar
essas suas preferências. Por outro lado, o poder compensatório conquista a submissão
oferecendo uma recompensa positiva. O poder condicionado, por sua vez, é exercido
mediante a mudança de uma convicção, de uma crença.
Inicialmente, Galbraith (1984) acredita que seja necessário existirem as fontes, ou
seja, os elementos que sustentam o exercício de poder, qualquer que seja o tipo de poder.
São elas: personalidade, propriedade e organização.
Baseado nos estudos apontados pelo mesmo autor, fica evidente que nas
Organizações da Sociedade Civil, o poder condicionado é o que predomina devido sua
amplitude e de se tratar um aspecto inerente do desenvolvimento social.
Comparação da Teoria sobre o Poder: Etzioni e Galbraith:
ETZIONI GALBRAITH
Predominantemente Coercitivas Poder condigno
• Campos de concentração
• Prisões (maioria)
• Instituições corretivas (grande maioria)
• Hospícios
• Campos de prisioneiros de guerra
Predominantemente Utilitaristas Poder compensatório
• Indústrias
• Sindicatos patronais
• Organizações agrícolas
• Organizações militares em tempo de paz
Predominantemente Normativas Poder condicionado
ETZIONI GALBRAITH
• Organizações religiosas
• Organizações políticas
• Hospitais
• Sindicatos sociais
• Associações voluntárias
• Escolas
• Organizações profissionais
Estruturas Mistas -
• Normativa - coercitiva: unidades de combate
• Utilitária - normativa: maioria dos sindicatos
• Utilitária - coercitiva: algumas indústrias, algumas fazendas e
navios
Galbraith (1984) afirma que “... de tão sutil e penetrante, chega a ser tida como
parte natural e integrante da própria vida; dela não transparece nenhum esforço visível ou
específico para conquistar a pretendida crença e submissão...”.
Uma vez conquistada a crença, através do condicionamento explícito ou implícito,
a decorrente subordinação à vontade de outros é considerada como produto do senso moral
ou social do próprio indivíduo.
Por outro lado, pode-se perceber que nas Organizações da Sociedade Civil, a fonte
de poder mais evidente é a própria organização, principalmente quando analisamos a sua
própria definição como sendo “um número de pessoas ou grupos... unidos para algum
propósito ou trabalho”.
Os participantes submeteram-se aos objetivos da organização em busca de um
objetivo comum que, normalmente, requer a conquista da submissão de pessoas ou grupos
externos à organização.
DIMENSÃO CONTEXTUAL
A dimensão contextual proporciona uma construção para a análise das
características de como a organização se relaciona com seu ambiente, se desenvolvendo ou
falindo.
Existem dois aspectos fundamentais para análise: o relacionamento da organização
com a comunidade na qual está inserida e, a forma como é efetuada a prestação de contas
da organização para os órgãos provedores de recursos.
As organizações do terceiro setor são inteiramente dependentes de recursos de
terceiros e de políticas governamentais nem sempre previsíveis, e precisam se adaptar a
realidade de estarem num ambiente nunca estável.
Morgan (1996) nos oferece um quadro com relacionamentos congruentes e
incongruentes entre as organizações e o ambiente:
APLICAÇÃO
Conselho Conselho
Membros Membros
Modelo Gerencial
O modelo gerencial das entidades estudadas se aproxima mais do modelo descrito
para as organizações do tipo orgânico.
Os objetivos de cada um dos membros e as atitudes frente àquele que está sendo
atendido estão bem definidos, tendo a missão da entidade como base permanente, mas a sua
atuação deve ser adaptada a situações instáveis, dependentes das condições e da reação do
atendido.
Não pode ser focalizada a tarefa, mas o atendimento, em ambos os casos, do
objetivo de entreter. A interação com o atendido e com os pares - em um dos casos o
trabalho é realizado sempre em duplas - é que determina a forma e o método a ser adotado
naquele momento, naquela situação. As comunicações entre as pessoas , portanto, tendem a
ser de consulta lateral mais que comando vertical.
Essa característica também é comum aos níveis estratégicos. Apesar de existir uma
concentração de responsabilidade entre os conselheiros ou coordenadores, dependendo da
entidade, ela não é delimitada de forma a cercear iniciativas que venham contribuir para o
objetivo e a missão das organizações.
Poder
Vimos anteriormente que Etizioni (1974) propõe que as organizações se
diferenciam conforme o tipo de utilização do poder e autoridade - coercitivo, utilitarista e
normativa - e que Galbraith (1984) identifica três tipos de poder - condigno, compensatório
e condicionado. Vimos também que esses tipos quando comparados em pares - coercitivo e
condigno, utilitarista e compensatório, normativo e condicionado - podem ser considerados
análogos, sendo sutis as diferenças entre eles.
Etizioni (1974) acrescenta um outro componente relativo ao tipo de envolvimento
dos membros nas organizações - alienativo, calculativo ou moral - e que este está
correlacionado com o tipo de poder ou autoridade usado pela organização. Assim, o
envolvimento do tipo alienativo estaria vinculado ao poder do tipo coercitivo, o calculativo
ao utilitário e o moral ao normativo.
Pela sua própria natureza, as organizações estudadas não podem, em nenhum
momento, ser classificadas como valendo-se do poder coercitivo ou condigno, conforme o
autor citado, para suas ações. O envolvimento de seus membros não é do tipo alienativo,
pois tem total liberdade de adesão ou de desligamento da entidade. Em uma delas,
inclusive, eles são voluntários em esmagadora maioria.
O tipo de poder nessas entidades caracterizar-se-ia mais fortemente na terceira
categoria das duas classificações: como organizações que buscam o envolvimento através
da autoridade normativa, segundo Etizioni, ou, segundo Galbraith (1984), pelo poder
condicionado, exercido mediante a mudança de uma convicção, de uma crença.
Essa autoridade normativa é obtida e exercida a partir da clara definição de
princípios, regras, modelos de conduta que devem ser seguidos por todos, o que influencia
os seus membros, ou os condiciona, na consolidação e até mesmo na adoção da crença
expressa na missão da organização. Há certamente, por esses motivos, um envolvimento
moral, pela identificação com os valores e objetivos.
Por outro lado, há que se considerar que as entidades oferecem-se como
possibilidade para a realização de algum empreendimento considerado importante pelos
seus membros. Embora não se possa afirmar um envolvimento calculativo, decorrente,
segundo Etizioni (1974), da troca de compensações financeiras - ainda que estas existam
em um dos casos estudados - pode-se atribuir também um poder compensatório a essas
CONCLUSÕES
A partir das entrevistas e da análise detalhada da dimensão formação proposta por
Ruckle (1993), apesar de apresentar-se limitado para um estudo mais aprofundado de
aspectos da cultura organizacional, pudemos evidenciar alguns aspectos relacionados aos
padrões culturais que permeiam as OSC, principalmente no âmbito das duas organizações
estudadas.
Segundo a proposta de Schein (1989) que prevê três níveis de análise de cultura
nas organizações, o modelo de análise proposto por Ruckle (1993) preocupa-se apenas em
analisar a do primeiro deles que trata de aspectos visíveis das organizações pesquisadas
como o organograma, a descrição da forma como as atividades estão estruturadas, a forma
como a instituição foi fundada, etc. O segundo aspecto proposto por Schein que trata dos
valores, são difíceis de serem detectados pelos procedimentos metodológicos utilizados, já
que segundo o autor, as pessoas geralmente têm dificuldade em expressar a razão do seu
próprio comportamento ou também do comportamento das pessoas com quem trabalha.
Os achados em termos de padrões culturais comuns pelo presente trabalho que
talvez sejam pertinentes para um estudo mais aprofundado, são aqueles relacionados ao
papel que os dois fundadores desempenham nessas instituições, na estágio de
desenvolvimento que as duas organizações se encontram. As duas têm menos de dez anos
de operação e os dois fundadores ocupam um papel de idealizadores dessas organizações e
pioneiros em iniciativas dessa natureza no Brasil.
Schein (1989) aponta que no primeiro estágio de desenvolvimento de uma
organização as principais características culturais de uma organização são advindas das
crenças e pressupostos dos fundadores. “O paradigma cultural da organização torna-se
embebedado pelas crenças e valores de seu fundador e se por acaso a organização
sobreviver às suas primeiras tarefas, cria-se uma base de identificação para novos membros
e uma espécie de ‘cola’ psicológica agrega o grupo”. Nesta fase, há um esforço de
diferenciação do grupo em relação a outros e há um esforço para fazer com que a cultura se
explicite e ela é ensinada muito fortemente aos novos membros.
O autor alerta que organizações que são constituídas com a presença muito
marcante de seu fundador passam por dificuldades na transição do primeiro estágio para o
segundo que definido por ele como a fase de sucessão. Esta sucessão pode ser entendida
como a transferência da administração da organização para um administrador profissional.
Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 53
CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR
Segundo Schein, um fundador sente muita dificuldade de abrir mão de daquilo que ele
criou. Nesta fase, é comum emergirem entre os colaboradores da organização conflitos
entre os que são mais “conservadores” que querem preservar a cultura criada por influencia
do fundador e os “liberais” que querem que uma nova cultura se desenvolva. Em casos
extremos, fundadores com um perfil empreendedor muito exacerbado chegam a
inconscientemente desejar o fim da organização.
Este estudo possibilitou que comprovássemos que a cultura organizacional é
determinada pela história da organização, ou seja, é definida pelas decisões que os
indivíduos tomaram no passado, particularmente por pessoas importantes, como o
fundador; mas que com o tempo, as idéias e as crenças se desenvolvem e se tornam
influências claras no comportamento das pessoas.
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