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1.

Pesquisa e ensino em Handebol Licenciatura em


2. Natação

Educação Física

Licenciatura em
Volume 5

Educação Física • Volume 5

ISBN 978-85-68359-16-7

9 788568 359167
LICENCIATURA EM
EDUCAÇÃO FÍSICA
GOVERNO FEDERAL

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

LICENCIATURA EM
EDUCAÇÃO FÍSICA

2014
REITORIA DESIGN GRÁFICO -
Orlando Afonso Valle do Amaral PROJETO EDITORIAL
Equipe de Publicação CIAR
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
Luiz Mello de Almeida Neto EDITORAÇÃO
Mateus Feitosa
DIRETORIA DA FACULDADE
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Anegleyce Teodoro Rodrigues
ILUSTRAÇÃO E IMAGEM
Elisa Guimarães
COORDENADOR GERAL DO CURSO Jonatas Ramos
DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA • EAD/ Leandro Abreu
ORGANIZADOR DO MATERIAL
Ari Lazzarotti Filho TRÁFEGO DE REVISÃO
Laryssa Tavares
APOIO TÉCNICO
Renato Mendes de Oliveira REVISÃO PEDAGÓGICA
Mara B. de Medeiros
AUTORES
Nilva Pessoa de Souza REVISÃO LINGUÍSTICA
Vanessa Helena Santana Dalla Déa Andelaide Lima

DIREÇÃO DO CENTRO INTEGRADO DE 


APRENDIZAGEM EM REDE • CIAR
Leonardo Barra Santana de Souza

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
E COMUNICAÇÃO IMPRESSA
Ana Bandeira

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


GPT/BC/UFG

Universidade Federal de Goiás.


B823l Licenciatura em Educação Física: v. 5 / Universidade Federal de
Goiás. Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR) / Org.
Ari Lazzarotti Filho - Goiânia: Gráfica UFG / CIAR UFG, 2014.
184 p.

ISBN: 978-85-68359-16-7

1. Educação física – Estudo e ensino 2. Prática de ensino 3.


Educação física – Licenciatura. I. Souza, Nilva Pessoa. II. Déa,
Vanessa Helena Santana Dalla. III. Universidade Federal de Goiás.
IV. Título.
CDU 796.01:378
MINICURRÍCULOS

Nilva Pessoa de Souza Possui graduação em Educação Física pela Escola


Superior de Educação Física de Goiás (1984),
mestrado em Educação Física pela Universidade
Estadual de Campinas (2003) e Doutorado em
Educação Física (área de Ciências do Desporto) pela
Universidade Estadual de Campinas (2007).
Atualmente é tecnica desportiva da Universidade
Federal de Goiás. Tem experiência na área de
Educação Física, com ênfase em Educação Física
Escolar, atuando principalmente nos seguintes temas:
educação física, ludico; esporte; educação infantil e
formação academica.

Vanessa Helena Docente da Faculdade de Educação Física e professora


Santana Dalla Déa do Mestrado em Direitos Humanos da Universidade
Federal de Goiás - UFG. Possui Bacharelado em
Educação Física (1999), mestrado em Educação
Física (2003) e é doutorado em Educação Física,
Adaptação e Saúde pela Universidade Estadual de
Campinas (2009). Tem experiência de 27 anos na
área de Educação Física, atuando principalmente nos
seguintes temas: atividade aquática, atividade física para
pessoas com necessidades especiais, inclusão e direitos
humanos. Autora do livro "Nadar com Segurança";
Editora Manole (2003), do livro "Síndrome de
Down: informações, caminhos e histórias de amor";
Editora Phorte (2009) e do livro "Envelhecimento e
Movimento"; Editora Phorte (No Prelo). É professo-
ra do Programa de Mestrado em Direitos Humanos
da UFG.
SUMÁRIO

Pesquisa e ensino em Handebol 11


Apresentação 11
1. Handebol 11
Modalidades do Handebol 12
Espaços de jogo 12
A técnica 13
Terminologias utilizadas no Handebol 14
Os sistemas de jogo e postos específicos dos jogadores 15
Posições básicas 15
2. Adaptação à bola - Domínio 18
Pegada da bola 18
Manejo de bola 20
3. Os deslocamentos 21
Classificação dos deslocamentos 21
Metodologia 21
4. Progressão com Bola (Deslocamento com Bola) 22
Observações quanto à técnica de progressão com bola 23
Tipos de progressão com bola 23
Orientações quando ao ensino das progressões com bola 26
5. A recepção da Bola 27
Princípios fundamentais para a aprendizagem da recepção 27
Tipos de recepção 28
Descrição do gesto técnico 28
Considerações metodológicas 31
6. Os Passes 32
Princípios fundamentais para a aprendizagem dos passes 33
Tipos de passes 34
Metodologia 37
7. Os arremessos à baliza 37
Tipos de arremessos 38
Descrição gesto técnico 39
Metodologia 44
8. Fintas 44
Princípios fundamentais 44
Classificação das fintas 45
Metodologia 48
9. Ações táticas 48
Ações táticas ofensivas 48
Ataque 53
Sistemas ofensivos 55
Ações defensivas 57
As fases da defesa 62
Tipos de defesa 63
Referências 71

Natação 73
Apresentação 73
1. História das práticas aquáticas e sua evolução 74
2. Conceitos e informações básicas da natação 82
Conceitos básicos 82
Objetivos da natação 84
3. Aspectos psicossociais da prática corporal aquática: 95
Aspectos neurológicos do exercício aquático 96
Aspectos psicológicos do exercício aquático 98
Aspectos sociais do exercício aquático 100
4. Pressupostos básicos sobre a adaptação em meio líquido 101
Adaptação ao meio líquido 106
Metodologia de urso de adaptação ao meio líquido 110
5. Técnicas dos estilos da natação como 134
facilitador do deslocamento em meio líquido
Nado crawl 135
Nado costas 137
Nado peito 139
Nado borboleta 141
Viradas 143
6. Pressupostos básicos da Hidroginástica 145
Informações básicas para montar aulas de hidroginástica 146
7. Recreação aquática 150
Hidrorecreativa 151
Esportes aquáticos 151
Brincar na água 152
Atividades 152
8. Resgate e salvamento aquático 161
Resgate e salvamento aquático 165
Manobras de salvamento 168
Entrada na água 169
Aproximação 170
Desvencilhamento 171
Reboque 172
Traumatismo 173
Retirada do acidentao da água 174
RCP- reanimação ou ressuscitação cardiorrespiratória 175
Referências 179
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
Drª Nilva Pessoa de Souza

Apresentação

Caro acadêmico, seja bem-vindo(a) à disciplina Pesquisa e Ensino em Handebol,


que compõe o módulo 05. Nesse texto, serão apresentados os fundamentos, ações,
técnicas e táticas do handebol, com vistas a sua utilização no ensino da Educação Fí-
sica na escola. Além do conhecimento específico dessa modalidade esportiva, tive-
mos o cuidado de apontar sugestões metodológicas que pudessem nortear tanto
a sua aprendizagem, como subsidiar seu trabalho docente. Contudo, salientamos que
a aprendizagem dessa modalidade esportiva vai além do aprender e ensinar a jogar,
haja vista que o handebol possui uma riqueza de movimentos, gestos e ações que po-
dem contribuir para a formação corporal, cultural e social do sujeito que o pratica.

1. Handebol
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

Handebol é um esporte (jogo) coletivo em que há confronto direto entre duas equipes
pela luta da posse da bola. É jogado com sete jogadores em cada equipe, sendo que um
deles obrigatoriamente deve ser o goleiro. Cada equipe possui, ainda, mais nove jogadores
substitutos. O objetivo do jogo é manter a posse da bola e fazer gols. Durante o jogo é
necessária a utilização de várias ações técnicas e táticas que facilitam atingir o objetivo,
vencer a partida. É importante frisar também que o trabalho da defesa é fundamental
para a recuperação da bola e o impedimento do adversário de fazer gols.

11
1.1 Modalidades do Handebol

Desde sua criação até os dias atuais, o Handebol conta com as seguintes modalida-
des (formas de jogar):
• Handebol de onze – jogado na grama, ainda praticado na Europa.
• Mini-handebol– adaptado para crianças de até 12 anos.
• Handebol de sete (indoor) – mais conhecido, jogado em quadras e ginásios.
• Handebol de praia (Beach Handball) – praticado na areia, popularmente nas praias.
• Handebol de quatro ou sete para cadeirantes – adaptado para pessoas com
deficiências e é jogado nos ginásios.

1.2 Espaços de jogo


90m - 110m

55m - 65m
7,32m

14m
13m

35m

Figura 1. Campo de jogo do Handebol de onze.


Zona de substituição Linha de limitação
do goleiro

Linha de tiro
20m

livre

6m
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

4m Linha de
7 metros
7m
Linha central

9m
Linha de fundo

Área do
goleiro

Linha lateral

Figura 2. Quadra de Handebol de sete (indoor).

12
27m área livre

linha lateral

linha de
fundo
12m

3m
linha
do gol

6m 15m 6m
área do gol área de substituição área do gol

Figura 3. Quadra de handebol de areia (Beach handball).


20m

Linha lateral 4.45 m

Marca do Linha de tiro


Linha
goleiro 3m livre
do gol
Linha Baliza
gol Marca de 6m central 1.60 x
13m

Linha 3.00
5m de fundo
Área de
7m Linha da área
substituição

Figura 4. Quadra do Mini-Handebol.

O Handebol em cadeiras de rodas é jogado na mesma quadra do Handebol


indoor (sete), sendo que a baliza é diminuída na altura em 4 metros.

1.3 A técnica

A técnica é o gesto que o jogador realiza ou adota em cada uma das ações individuais
que são necessárias no desenvolvimento do jogo. As técnicas são conhecidas como as
ações práticas (mecânica do movimento) para a execução apropriada e racionalizada
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

dos gestos específicos do handebol (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991). Entretanto, não


se deixa de valorizar novas possibilidades de execução do jogador com o intuito de
enriquecer seu repertório, objetivando a melhoria de suas ações em relação aos gestos
técnicos. Ou seja, trata-se de executar o gesto de acordo com os princípios estabele-
cidos, mas, com flexibilização na execução, aproveitando as características psicofísicas
próprias do executor, para conseguir que o movimento seja mais espontâneo e mais
natural possível. Essa linha de reflexão nos leva a afirmar que os princípios e os con-

13
teúdos da técnica devem ser considerados como ponto de partida, e não como pon-
to final (objetivo final). Haja vista que é necessário considerar o poder de criação de
quem aprende.
Durante o processo inicial da formação na modalidade esportiva é necessário
oferecer atividades como jogos e brincadeiras para a assimilação dos gestos técnicos.
Posteriormente, de acordo com a evolução individual, o professor precisa desenvolver
outras possibilidades a partir da própria técnica básica, através de atividades em duplas
e pequenos grupos. Nesse sentido, como concepção metodológica, o professor valo-
rizará a assimilação dos gestos técnicos, com base nas perspectivas das técnicas básicas
e individual diferenciadas entre os sujeitos. A evolução gradativa dos jogadores deve
ser garantida através de uma oferta contínua e rica em conteúdos técnicos básicos,
que assegurem, por sua vez, a assimilação e o aperfeiçoamento em razão de outros
conteúdos (físicos e táticos). A naturalidade na execução e a economia de esforço
em qualquer gesto são aspectos que devem ser trabalhados constantemente pelos
professores e treinadores (MARTINI, 1981).

1.4 Terminologias utilizadas no Handebol

No Handebol existem algumas terminologias (BÁRCENAS; ROMAN, 1991) que


são utilizadas para compreender a dinâmica e a forma de se estruturar as ações e fun-
damentos do Handebol, são elas:
Posição: Postura que o jogador adota para realizar as ações técnicas seja de
ataque e/ou defesa.
Posto específico: Zona ou terreno de jogo ocupado pelo jogador, correspon-
dente ao sistema específico elegido, tanto em ataque com em defesa.
Técnica: Domínio do gesto motor que o jogador executa nas ações individuais
e em grupo, no jogo de ataque e na defesa.
Tática individual: Escolha de uma ação apropriada em cada situação de jogo,
tanto em ataque como em defesa.
Tática coletiva: Ações de dois ou mais jogadores utilizando procedimentos
e ações adequadas para alcançar os objetivos de ataque e/ou de defesa.
Sistema de jogo: Formação escolhida pela equipe distribuindo os jogadores em
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postos específicos para conseguir os objetivos próprios de ataque e de defesa.


Linhas de jogo: Quando as equipes estabelecem um sistema de jogo (forma-
ção) no ataque e na defesa, com situação estática ou em deslocamento dos jogadores.
Os jogadores estão representados em seu conjunto mediante linhas que denominamos
de primeira, segunda e terceira, de acordo com os seguintes detalhes:
Em ataque: A primeira linha é composta pelos jogadores situados próximos à
linha central. A segunda linha é formada pelos jogadores que estão próximos à linha
da área de gol.

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Na defesa: A primeira linha é composta pelos jogadores mais próximos à sua
linha da área de gol. A segunda linha é constituída pelos jogadores mais próximos à
linha de tiro livre (nove metros). Caso tenha uma terceira linha, ela é a mais próxima
da linha central.

1.5 Os sistemas de jogo e postos específicos dos jogadores

Os sistemas de jogo são ações táticas de equipe adotadas tanto na defesa quanto no
ataque. Popularmente são conhecidos por “jogadas”, ou seja, uma forma de jogar pré-
-definida, em que jogadores e bola seguem uma determinada posição ou trajeto.
A organização dos sistemas de jogo se denomina colocando em primeiro lugar o
algarismo correspondente ao número de jogadores que compõem a primeira linha,
em seguida, o correspondente ao número de jogadores situados na segunda linha, da
mesma forma quando há a terceira linha.

1.6 Posições básicas

Posição básica é o gesto ou movimento que o jogador adota para desenvolver, a partir
de si mesmo, qualquer ação técnica defensiva e/ou ofensiva.
A responsabilidade do jogador de assumir qualquer postura inicia-se ao entrar na
quadra para jogar, seja no ataque ou na defesa. Contudo, o jogador precisa adotar de
imediato a posição básica utilizando-a antes e depois de qualquer deslocamento. Não
é uma atitude passiva, pelo contrário, é a parte essencial da ação necessária tanto para o
ataque quanto para a defesa, para que os movimentos sejam realizados com eficiência.

1.6.1 Orientações fundamentais para a posição básica

• O jogador deve adotar uma posição equilibrada e natural que facilite a sua interven-
ção em ações posteriores, de forma continuada, de acordo com a exigência do momento.
• Manter a concentração de forma continuada, predispondo assim o jogador para
uma ação posterior.
• A aquisição de um gesto técnico oferece melhores possibilidades, considerando
a velocidade de reação e a velocidade de contração muscular, facilitando o agir de
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forma rápida e eficiente por parte do jogador, quando as circunstâncias o exigirem


(BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).

1.6.2 Posição básica no ataque

Descrição do gesto: A cabeça deve estar erguida com naturalidade. O tronco


ligeiramente inclinado para frente. Membros inferiores ligeiramente fletidos pela

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articulação dos joelhos, separados comodamente e em posição assimétrica. É funda-
mental que o pé que está mais à frente seja o contrário à mão que deve controlar a bola.
Os pés devem estar apoiados totalmente no solo (quando o jogador não está em contato
direto com o adversário), e apoios consecutivos com um terço dos pés (quando estiver
em contato direto com o adversário). Cotovelos semiflexionados, com a borda radial
da mão orientada para cima, ligeiramente separados do tronco. As mãos em atitude
apropriada para receber a bola (MARTINI, 1981; BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).

1.6.3 Posição básica na defesa

Descrição do gesto: Os membros inferiores podem estar colocados de forma


assimétrica ou simétrica. Na posição assimétrica dos membros inferiores, o pé que
vai à frente é o contrário à mão de arremesso do atacante. As mãos devem estar
abertas, com as palmas voltadas para frente, objetivando contato com a bola e ata-
cante, os dedos abertos com firmeza. A separação dos membros superiores é mais
acentuada que na posição básica de ataque. A escolha pela colocação dos membros
inferiores de forma assimétrica ou simétrica depende das características individuais
de cada jogador, pois essa posição deve ser na medida em que cause conforto e
prontidão para que ele tenha condições de realizar novas ações que a situação de
jogo requer.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 5. Posição básica de defesa. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.

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1.6.4 princípios comuns para as posições de base no
ataque e na defesa

• Com a posição indicada da cabeça, o jogador pode obter um melhor campo


visual de forma continuada.
• O jogador deve inclinar seu tronco de modo que o peso do corpo esteja equili-
bradamente sobre os dois pés.
• Se a posição dos pés estiver de forma simétrica, ao inclinar o tronco, isso produzi-
rá um desequilíbrio, dificultando as ações posteriores. Assim, quando o jogador entrar
em contato com o adversário, diminuirão, igualmente, as possibilidades de ele realizar
qualquer tipo de deslocamento. Facilmente ele será marcado ou fintado.
• Se o jogador mantiver os membros inferiores estendidos se verá obrigado a
flexioná-los ligeiramente durante o deslocamento. A extensão dos joelhos realizada
durante o deslocamento atrasa a imediata realização de uma ação subsequente.
Assim, a adoção correta da posição básica no ataque e na defesa permite ao
jogador agir de forma antecipada, beneficiando a execução dos movimentos de forma
rápida e precisa.

1.6.5 Metodologia

A opção por uma metodologia de ensino deve ser pautada por uma abordagem
ou teoria educacional, uma vez que a teoria é que indicará o tipo de educação, de
formação, de sujeito, de escola e de prática pedagógica a ser tratada no decorrer do
Ensino do Handebol na escola.
Cabe ao professor, com base em uma teoria, considerar as condições físicas e
materiais da escola, o conhecimento do aluno, o projeto pedagógico da escola e o
seu próprio conhecimento e experiência. Contudo, é importante que o professor
mantenha-se atualizado acerca dos conhecimentos da área da educação física e do
próprio Handebol.
Devemos utilizar como meio (estratégias de ensino) exercícios, atividades, brinca-
deiras e jogos em que os alunos/jogadores possam executar movimentos, alternando
as posições básicas sem o contato direto do adversário. As estratégias privilegiadas
pelo professor devem ser sempre em função do aluno, de forma que a prática seja
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

prazerosa e significativa para a sua formação enquanto sujeito social.


A preocupação em relação à metodologia gira em torno do fato de que o aluno
necessita aprender os movimentos, compreender seus significados (conceitos) e, a
partir disso, ter autonomia para saber quando e como usar as práticas associadas ao
Handebol. Outro fator bastante relevante é desenvolver no aluno a consciência e a
responsabilidade de se trabalhar com o outro e contra o outro, pois essa relação desen-
cadeará a aquisição de valores necessários ao convívio coletivo.

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2. Adaptação à bola - domínio

É de extrema necessidade a realização da adaptação à bola. Ela é considerada uma


técnica (ou meio) ofensiva, pois as possibilidades de intervir em ações de forma
segura e continuada dependem da segurança dos alunos/jogadores ao tomar
contato com a bola.

2.1 Pegada da bola

É a ação de segurar e controlar a bola. Para isso, os pontos de contato das mãos com a
bola são os dedos e a parte palmar média das mãos (parte calosa), que a controlam e
constituem os pontos de contato fundamentais. As pontas dos dedos (falanges distais),
por possuírem maior sensibilidade, constituem a parte mais importante dos pontos de
contato das mãos com a bola. Esses pontos de contato possibilitam a segurança do
domínio da bola por parte dos jogadores. Isso facilita que o passe e o arremesso sejam
realizados com precisão na trajetória desejada, assim como a troca rápida de direção
(BÁRCENAS; ROMÁN, 1991)..

Figura 6. Pegada da bola (empunhadura) Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.

Não é recomendado formular normas rígidas quanto à posição das mãos, uma
vez que todo gesto depende das condições físicas de cada jogador, ou seja, das
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dimensões de suas mãos. Trata-se, portanto, de um processo de adequação e adap-


tação à bola para suas mãos. Contudo, mesmo atentando ao pressuposto acima,
devemos considerar como norma fundamental que as mãos devem se posicionar
ligeiramente em concha, com os dedos abertos sem rigidez, antes de tomar contato
com a bola, obtendo uma antecipação postural que beneficia a rapidez e a segurança
na adaptação à bola.
Na prática do Handebol se utiliza habitualmente uma só mão quando o jogador
tem que passar a bola. Nesse caso, é imprescindível considerar que: os pontos de

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contato devem abarcar a maior superfície possível da bola, comodamente, sem
rigidez; as pontas dos dedos devem fazer uma ligeira pressão sobre a superfície da
bola, facilitando a realização dessa ação com mais força e assegurando a posse da bola;
o centro da palma da mão não possui contato com a bola (MARTINI, 1981).
Definição: Ação técnica individual que o jogador realiza desde o momento em
que controla a bola com uma ou as duas mãos, até o momento em que a bola seja pas-
sada, arremessada ou driblada. A ação pode ser executada estando o jogador parado
ou em deslocamento.
Durante o jogo, a maioria das ações dos jogadores é realizada com a mão
dominante. Entretanto, o jogador pode e deve executar ações com a outra mão,
desde que tenha controle da bola, certificando-se de sua posse e preparando-se
para ações posteriores.
O jogador é valorizado por suas qualidades físicas e pela variedade e qualidade de
sua técnica em realizar movimentos, deslocamentos e ações técnicas com velocidade,
agilidade e inteligência.
A pegada (adaptação à bola) é fator primordial para que o jogo flua. Assim, o
professor deve tratar os temas em profundidade, o que resultará na concepção técnica
e na formação do jogador.
Para que o jogador possa alcançar o domínio da bola, necessita fornecer na prática
os seguintes princípios: Efetuar os movimentos com eficácia, economia e utilidade.
Ou seja, a escolha dos movimentos deve ser de acordo com a habilidade e espon-
taneidade do jogador, coordenando os movimentos que entreveem em cada caso,
com a finalidade de poder trocar subitamente de lançamento, na velocidade que as
circunstâncias exijam, de forma continuada.
A pegada da bola pode ser executada a partir de movimentos dos membros supe-
riores (ombro, braço, antebraço e do punho). Os movimentos realizados podem ser
de extensão e flexão, acima e abaixo da cabeça, pronação e supinação, abdução, rotação
e, ainda, em circundução. Com o punho pode-se realizar movimentos de flexão e
extensão (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).

2.1.1 Princípios fundamentais quanto à pegada da bola

• Sem a adequada adaptação à bola é impossível o jogador realizar outras ações


PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

exigidas durante o jogo de Handebol (drible, arremessos, passes, fintas).


• O controle da bola e a possibilidade de manejar a bola se baseiam na melhor
adaptação, ao mesmo tempo em que se deve cuidar para que a palma da mão não
toque na bola, uma vez que esse fato reduz a apreensão e pressão da mão sobre a bola,
além do que reduziria ostensivamente a possibilidade de realizar outras ações do
handebol como o passe e o arremesso.

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2.1.2 Metodologia

O professor deve promover atividades, exercícios e/ou jogos em que o jogador


possa efetuar repetições dos diversos tipos de movimentos. Os exercícios, atividades e
jogos utilizados para o aprendizado da pegada e manejo da bola devem ser executados
com bolas de diferentes tamanhos. As atividades devem variar a forma, velocidade e
direção, com o objetivo de vivenciar situações que podem ocorrer durante o jogo de
Handebol. O professor deve considerar sempre a individualidade de cada aluno, bem
como o tempo pedagógico de cada um. Todo processo metodológico deve exigir dos
alunos o desenvolvimento da prática das atividades com ambas as mãos. Outro fator
importante que deve ser considerado é a relação corpo e bola, principalmente em
relação a ações posteriores à recepção da bola como: deslocamentos, saltos, passes,
arremessos, etc.

2.2 Manejo de bola

Manejo de bola é a ação técnica individual ofensiva em que o jogador pode manipular
a bola durante o jogo, sem infringir as regras (três segundos, três passos, condução da
bola). No Handebol, de acordo com as regras oficiais, temos três tipos de manejo de
bola: o drible, o batimento e o rolar ou rolamento da bola (Confederação Brasileira de
Handebol, 2010).
O drible é a ação técnica individual ofensiva em que o jogador após ter dominado
a bola, joga-a em direção ao solo e não a pega mais, continua de forma sucessiva a
impulsioná-la em direção ao solo, sempre com a mão aberta e frouxa. Entretanto, obri-
gatoriamente, a mão deverá sempre estar sobre a bola, no momento de impulsioná-la
em direção ao solo.
O batimento é a ação técnica individual ofensiva em que o jogador depois de
dominar a bola, joga-a em direção ao solo com um ou as duas mãos e a agarra-a nova-
mente, dominando-a, também com uma ou as duas mãos.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 7. Batimento. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.

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O rolar da bola ou rolamento é uma ação técnica individual ofensiva em que dois
jogadores disputam uma bola que está rolando no solo, um dos jogadores tentando
sobrepor ao outro, na tentativa de dominar a bola impulsiona-a com um movimento
com a mão aberta ou fechada, fazendo-a continuar a rolar, repetindo esse movimento
até que consiga dominar completamente a bola (recepção). Essa é uma ação rara-
mente vista nos jogos de handebol, ao ponto de muitas pessoas não saberem de sua
existência (MARTINI, 1981).
Explicações mais detalhadas sobre drible e rolar da bola serão dadas mais a frente
quando falarmos sobre a progressão com bola.

3. Os deslocamentos

O Handebol tem por base a ocupação de espaços no terreno de jogo, seja de for-
ma defensiva ou ofensiva. O tratamento dessa ação deve ser amplo e valorizado
durante o Ensino do Handebol. Trata-se de oferecer ao jogador uma pluralidade de
procedimentos, como por exemplo: variações nos equilíbrios, facilidade e econo-
mia de gestos, dinâmica nos movimentos, variedade de formas, a passagem de um
tipo de deslocamento para outro, a inter-relação temporal com as posições de base,
a transposição para ações posteriores, etc. Os mesmos devem ser motivos de análise,
de prática e de correções em todos os momentos de ensino do handebol (BÁRCE-
NAS; ROMÁN, 1991).

3.1 Classificação dos deslocamentos

• Frontais para frente


• Frontais para trás
• Laterais para o lado direito e esquerdo
• Diagonais para direita e esquerda para frente
• Diagonais para direita e esquerda para trás

Os deslocamentos podem ser executados andando, em corrida, com passo-sobre-


-passo, com deslizamento, com troca de direção e ou sentido.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

3.2 Metodologia

Os exercícios, atividades e/ou jogos devem promover variedade de direções, mudan-


ças de direção, trabalhar todos os sentidos, paradas bruscas, alternar velocidade, pro-
mover trocas, alternando a posição básica. Devem, ainda, trabalhar com atividades de
oposição, no sentido de desenvolver os deslocamentos tanto defensivos quanto ofen-

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sivos. Nesse caso, as brincadeiras de pique-pega, pique bandeira, beisebol adaptado,
barra manteiga, entre outras, podem e devem ser utilizadas.

4. Progressão com bola (deslocamento com bola)

É importante que professores e técnicos de handebol entendam que o deslocamento


com a bola está diretamente relacionado com a posse da bola no ataque. Portanto, de-
vem observar durante o seu ensinamento as regras do jogo, ou seja, o que o jogador
pode e não pode fazer estando em posse de bola. É necessário explorar todas as pos-
sibilidades que o jogador possui desde o momento em que recebe a bola e quais as
ações possíveis ele pode executar.
O equilíbrio corporal deve traduzir-se em um dinamismo com ritmos va-
riados, com força em sua expressão, com ótima coordenação entre os membros
inferiores e outras partes do corpo (membros superiores e tronco). Em linhas
gerais, o jogador deve ter um repertório de movimentos que lhe permita dar
respostas mediante as situações que aparecem no decorrer do jogo (BÁRCENAS;
ROMAN, 1991).
Em qualquer situação os movimentos devem ser executados de forma segura,
principalmente quando há o confronto direto com o adversário (defesa), situação essa,
que reduz os espaços de movimento, exigindo diferentes ações por parte do jogador
atacante (com posse de bola). Assim, a metodologia adotada deve privilegiar propostas
que relacionem os diversos movimentos e ações exigidas para o deslocamento com
bola de forma segura e eficaz.
O professor precisa preocupar-se com as correções, uma vez que o jogador em
formação necessita conscientizar-se que poderão ocorrer desajustes corporais que
dificultam a execução dos vários movimentos e deslocamentos. As vivências
em relação a esse aprendizado devem acontecer sempre com correções para
consolidar o aprendizado da técnica básica. As trocas de ritmos e mudança de
direção durante o ensino devem ser introduzidas em todas as atividades, pois
as mesmas são fundamentais para facilitar, posteriormente, a formação tática
(GRECO; ROMERO, 2012).
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A explosão durante a execução dos deslocamentos com bola deve ser executada
paralelamente ao gesto subsequente, ou seja: a empunhadura correta da bola já no
primeiro passo, em diferentes movimentos de ações táticas como os passes e arremessos;
o posicionamento do tronco em diferentes ações (rotação, flexão e extensão, etc.);
e a utilização permanente da atenção no uso dos espaços e manobras, amplos ou
reduzidos, durante as práticas de assimilação, em razão das intervenções dos defensores
(GARCIA, 1990).

22
4.1 Observações quanto à técnica de progressão com bola

A técnica de deslocamento do jogador que tem a posse de bola está limitada às re-
gras do jogo. Existem várias formas de deslocamento com a bola, contudo, tratare-
mos aquelas que consideramos imprescindíveis para a aplicação específica no or-
denamento técnico e tático individual, respeitando, logicamente, as exigências das
regras do jogo.
Antes de falarmos propriamente das formas de progressão com bola, é de funda-
mental importância que seja ensinado o passo zero. O passo zero pode ser feito com
um ou os dois pés. Atualmente é executado somente no recebimento da bola vindo
de um companheiro. O recebimento da bola deve coincidir com a fase aérea do salto,
ou seja, o jogador/aluno deve receber a bola antes que um ou os dois pés toquem no
solo, ou ainda, ao mesmo tempo em que os pés tocarem no solo.

Figura 8. Passo zero depois de um recebimento (recepção) com os dois pés.

4.2 Tipos de progressão com bola

No Handebol temos quatro tipos de progressão com bola, que de acordo com as
regras do jogo, nos permite deslocar pela quadra sem perder a posse da bola. A utilização
das progressões com bola está diretamente relacionada com a organização das
ações ofensivas.
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4.2.1Trifásico

É uma ação técnica individual ofensiva em que o jogador realiza um ciclo de três
passos, um salto, e arremessa a baliza ou passa a bola para um companheiro. Pode ser
realizado a partir de um recebimento de bola ou após um batimento ou drible.

23
Para destros (direitos): esquerdo – direito – esquerdo

Figura 9. Trifásico para destro.

Figura 10. Trifásico para destro – três passos, salto e arremesso. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza
2011, São Paulo.
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Para sinistros (esquerdos ou canhotos): direito – esquerdo – direito

Figura 11. Trifásico para sinistro (esquerdo).

24
Figura 12. Trifásico para sinistro (esquerdo). Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.

4.2.2 Duplo trifásico

O jogador realiza três passos – um batimento – mais três passos, salto e arremesso
e/ou passe.

Destros/Direitos

Canhotos/Esquerdos
Figura 13. Duplo trifásico para destro e esquerdo

Tanto o trifásico quanto o duplo trifásico são deslocamentos com bola que
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podem ser usados para arremessos à baliza, passes, e também como finta que antecede
o arremesso ou o passe.

4.2.3 Drible

O drible é uma ação técnica individual ofensiva, utilizada para se deslocar no


terreno de jogo, sem infringir as regras dos três segundos ou três passos. Ele pode ser

25
executado parado ou em deslocamento. É executado da seguinte forma: depois que o
jogador recupera a bola, ele a lança em direção ao solo e não a segura mais, e continua
a impulsioná-la em direção ao solo com uma das mãos, caracterizando batidas suces-
sivas da bola no terreno de jogo. A mão que impulsiona a bola em direção ao terreno
de jogo deve permanecer sempre “sobre a bola”, nunca de lado e nem por baixo da
bola, sem conduzi-la (MARTINI, 1981).
O drible no Handebol pode ser considerado um fundamento de recurso durante
um contra-ataque, para organizar o ataque (adotar uma posição) ou para se livrar de
um marcador, pois o uso exacerbado dele causa atraso nos movimentos ofensivos,
facilitando a recuperação da defesa.
Quando o jogador está em contra-ataque o drible deve ser feito à frente do corpo,
para facilitar o controle da bola e também do espaço de jogo. Para se livrar de uma
marcação, o drible deve ser feito com o corpo entre a bola e o marcador.
Em situações ocasionais em que o drible é utilizado para recompor o ataque ou
mesmo para deslocamento ofensivo, o aluno ou atleta deverá manter seu corpo entre
a bola e a baliza adversária.
Depois de realizado o drible, o jogador somente terá direito aos três segundos, três
passos, três segundos novamente e passar ou arremessar a bola.
Diante das situações apresentadas é imprescindível que no ensino do drible,
assim como no do passe, sejam utilizadas (realizados) as duas mãos. Nesse caso, não
importa qual é o lado dominante. O domínio do movimento deve ser igual tanto do
lado direito quanto do esquerdo.

4.2.4 Rolamento ou rolar da bola

Esse fundamento é tão pouco utilizado que quase ninguém sabe de sua possibili-
dade de execução. A regra para sua utilização é a mesma do drible. Sua execução é feita
quando em uma disputa de bola, em que ela está em contato com o terreno de jogo.
Um dos jogadores pode tocar na bola com a mão aberta ou fechada, fazendo com
que ela continue a rolar pelo terreno de jogo. Esse toque ou batida pode ser realizado
de forma continuada até o momento mais oportuno para dominar a bola com uma
ou duas mãos (pegada). Depois de realizados esses movimentos o jogador somente
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terá direito aos três segundos, três passos, três segundos e a passar ou arremessar a
bola (MARTINI, 1981).

4.3 Orientações quanto ao ensino das progressões com bola

Durante o ensino dos deslocamentos com bola, o professor deve eleger estratégias
de ensino, considerando as situações que podem ocorrer durante o jogo. Assim, é
importante considerar a alternância dos diferentes: ciclos de passos; ritmos e amplitudes

26
dos passos; a direção dos movimentos; orientação espacial e temporal; tipos de
recepção da bola; os movimentos dos membros superiores durante a recepção; ação
final do jogador (arremesso ou passe). E, ainda, variar os espaços a serem percorridos,
os números de defensores (oponentes) e a utilização de obstáculos.

5. A Recepção da bola

É uma ação técnica individual que consiste no ato de dominar (receber) a bola lança-
da por um companheiro. O domínio desta ação técnica (fundamento) supõe o êxito
em intervenções nos momentos oportunos e na velocidade que exige a movimenta-
ção ofensiva (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
O desenvolvimento de uma ação tática individual ou um procedimento tático
coletivo pode fracassar se os jogadores que intervêm perdem a bola por erro na recepção.
Inclusive, uma recepção mal feita pode ocasionar uma perda de tempo suficiente para
que a equipe não alcance o objetivo previsto, bem como facilitar o trabalho e a recu-
peração da bola pela defesa adversária.
Baseado no princípio da seguridade, o aspecto técnico é decisivo para determinar
a força dos passes e a velocidade dos alunos/jogadores em seus deslocamentos, antes
de tomar contato com a bola. É, portanto, necessário que a velocidade do jogador seja
realizada em função do grau de perfeição alcançado na recepção (MARTINI, 1981;
BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
Atender a esta parte da técnica é um fator inquestionável para dar continuidade ao
jogo. A realidade demonstra que, se a equipe perder a posse da bola no transcorrer de
uma partida, por erros de recepção, diminuem consideravelmente as oportunidades
para se conseguir gols. É sempre aconselhável a recepção da bola com as duas mãos,
pois este processo garante mais depressa o controle seguro da bola.

5.1 Princípios fundamentais para a aprendizagem da recepção

Seja qual for a posição adotada pelo jogador, ou posição de ataque, o jogador necessita
manter a posse da bola, assegurando sua recepção e o seu controle posterior, para po-
der optar por uma ação posterior com maior eficiência.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

O jogador precisa ampliar sua atenção de forma que perceba todos os elementos
que influenciam no jogo (companheiros, goleiros, espaços da quadra, adversários,
regras, bola, etc.), mas sempre procurando perceber o local em que está a bola.
Não obstante, considerando o princípio da seguridade, o receptor deve centrar seu
campo visual momentaneamente na trajetória da bola. Esta ação concentrada desa-
parece momentos antes de o jogador ter contato com a bola, sendo seu campo visual
ampliado para as condições do jogo.

27
Com os adversários próximos, os receptores devem defender seu campo de
recepção, se posicionado entre o adversário e a bola. Além do que o receptor
precisa ir de encontro à bola para recebê-la, numa tentativa ainda maior de impedir a
intercepção do passe. Desta forma, devemos observar a relação intrínseca entre passe
e recepção, pois a eficiência de um é diretamente proporcional à eficiência do outro
(MARTINI, 1981).

5.2 Tipos de recepção

Os tipos de recepção podem variar de acordo com a direção e orientação do


receptor e ainda pela altura e trajetória da bola (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
Podem ser realizados parados ou em deslocamentos. Quanto à direção e orientação
do receptor, podem ser:
• Frontais
• Diagonais
• Laterais
Quanto à altura da bola, podem ser:
• Alta – Acima da cabeça
• Média e intermediária – Desde a cabeça até o peito
• Baixa – Abaixo da linha da cintura

5.3 Descrição do gesto técnico

O recebimento da bola pode ser realiza-


do tanto parado como em deslocamento.
Recepção frontal alta: Os membros supe-
riores se flexionarão pela articulação do
ombro (acima da cabeça), acompanhan-
do a bola em sua trajetória, e seguirão
elevados (flexionados) até alcançar prati-
camente a vertical. Colocação das mãos –
na posição indicada para a pegada da bola
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(mãos em forma de concha), com os de-


dos orientados para cima. O contato com
a bola se dará aproximadamente na me-
tade da trajetória da bola (2), compreen-
dida entre a primeira flexão do ombro (1)
(membros superiores elevados) e a posi-
Figura 14. Recepção alta. ção vertical (3).

28
Figura 15. Recepção alta. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.

Recepção frontal média: Movimentos dos membros superiores (braços e


antebraços) – flexão do ombro (90º), com os membros superiores em direção à bola.
De forma continuada, o receptor flexionará os membros superiores pela articulação
do cotovelo, acompanhando a bola em sua trajetória. Colocação das mãos – a posição
indicada para receber a bola deve ser com as mãos em forma de concha, com os dedos
voltados para cima. Os dedos indicadores e polegares formarão a figura de um “W”
ou de um losango (◊). Tomada de contato com a bola – aproximadamente na meta-
de da trajetória compreendida entre os movimentos de flexão do ombro e flexão dos
cotovelos (MARTINI, 1981).

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Figura 16. Recepção média.

29
Figura 17. Recepção média. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.

Recepção frontal baixa: Movimentos dos membros superiores (braços e


antebraços) – Os membros superiores estendidos, levemente fletidos pelos cotove-
los e inclinados para baixo. Colocação das mãos - as palmas das mãos voltadas para
frente, os dedos mínimos próximos um do outro e formando com os anelares um
“M”. Tomada de contato com a bola – aproximadamente na metade da trajetória
compreendida entre os movimentos de extensão e flexão dos braços pela articulação
dos cotovelos. A velocidade da bola é interceptada para baixo por meio de um afrou-
xamento dos braços (MARTINI, 1981).

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1 2
Figura 18. Recepção baixa.

Nas recepções cujas trajetórias são diagonais e laterais, os princípios adotados


para os movimentos das recepções alta, média e baixa são os mesmos. Contudo,
a modificação ocorrida em relação ao corpo é a rotação do tronco em direção à
trajetória da bola.

30
Figura 19. Recepção baixa próxima do solo. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza , 2011, São Paulo.

Quando a bola está em contato com o solo, a recepção (pegada) da bola pode ser
realizada com uma ou as duas mãos, depende da capacidade e do domínio de cada
aluno ou jogador. A mão deve envolver a bola acompanhando a sua curvatura, de
forma firme e segura.
Depois de qualquer tipo de recepção utilizado, o aluno ou jogador deve adotar uma
postura em que haja a proteção da bola, pois a manutenção da posse da bola garantirá a
sequência das jogadas posteriores, que objetivam levar ao arremesso à baliza.
Observações: Nas recepções a partir da posição parado, a perna que vai à frente
é a contrária ao braço executor, posição que favorece a continuidade imediata para
intervir em ações posteriores e necessárias ao momento do jogo. Contudo, há de se
observar que, em movimento, o aluno ou jogador deve lembrar-se de ir ao encontro
da bola para recebê-la. Nesse momento, qualquer perna pode ser levada à frente, man-
tendo o corpo de forma equilibrada, dando continuidade às ações posteriores exigidas
pela situação do jogo (BÁRCENAS; ROMAN, 1991).

5.4 Considerações metodológicas

Autores como Bárcenas; Roman (1991), Martini (1981), Garcia (1990) e Greco;
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

Romero (2012) defendem que para a aprendizagem satisfatória da recepção é


necessário que durante as aulas o professor e/ou técnico considerar alguns quesitos
ao ensinar a recepção para os alunos/jogadores. São eles:
• A relação do corpo e bola através dos movimentos dos braços, de acordo com a
altura da recepção.
• A movimentação inicial do corpo e bola através das extensões e flexões e do
amortecimento realizado.

31
• A acomodação corpo e espaço em relação à orientação imposta pelo próprio jogo
não pode alterar-se pela recepção da bola. Está aí a importância de conseguir a dissocia-
ção membro superior-tronco da orientação dos pés e do deslocamento correspondente.
• Quanto ao ritmo da relação espaço e tempo de jogo não pode modificar-se na
recepção, e sim na exigência que o jogo exige, residindo aí a importância da velocidade
de uma boa recepção.
• A introdução permanente de variações nas práticas quanto a direções e altura
dos passes, orientação quanto aos receptores, distâncias, força e velocidade dos passes.
Atividades com defensores para aplicar o princípio da seguridade da bola e provocar
situações posteriores, é fundamental em todas as fases de aprendizagem e treinamento
do Handebol.
• Além disso, o aluno que irá passar a bola deve observar para quem irá passar, para
que seja definido o tipo de passe, velocidade e trajetória da bola, facilitando assim uma
boa recepção.
• Uma boa recepção depende 50% do tipo de passe, os outros 50% são de
responsabilidade de quem recebe, e dizem respeito às técnicas e meios escolhidos para
receber a bola.
• Uma boa recepção também depende de uma boa pegada da bola.

6. Os passes

Os passes são ações técnicas individuais ofensivas que objetivam fazer com que a bola
chegue até um companheiro, com segurança, através de um lançamento. “Os passes
abrangem uma quantidade de processos, ações e fundamentos técnicos, com a aju-
da dos quais a bola é passada de um jogador para o outro” (MARTINI, 1981, p. 22).
O passe pode ser executado com uma mão ou duas, parado, em descolamento
e/ou em salto.
A continuidade do jogo e o êxito de uma equipe dependem da segurança e exati-
dão do passe. Por isso, o princípio da segurança no passe deve ser sempre tomado em
atenção durante o aprendizado desse fundamento.
Para que o jogador saiba como resguardar o princípio da segurança, se faz neces-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

sário adquirir conhecimentos acerca das diferentes técnicas do passe, bem como da
pegada da bola.
A execução dos passes se constitui como elemento chave para a elaboração de táti-
cas de uma equipe no decorrer do jogo. Para que as táticas sejam eficazes, é necessário
que o passe seja executado observando os seguintes princípios: precisão, velocidade,
segurança e oportunidade.
Martini (1981) distingue cinco tipos de passes no Handebol. São eles:
• Ombro

32
• Por baixo
• De anca (quadril)
• Pulso (punho) – com uma das mãos em posição superior, com uma das mãos
em posição inferior, peito com as duas mãos.
• Passes especiais – com a mão por detrás das costas, detrás da nuca, passe de pulso
por cima do ombro, por baixo da perna de apoio e em volta do corpo.
Bárcenas; Román (1991, p. 102) classificam os passes da seguinte forma:
Em contato com o solo (com uma mão)
• Clássico (de ombro - frontal e lateral).
• Altura intermediária, ombro-quadril (frontal e lateral).
• Altura baixa (frontal e lateral).
• Em pronação (frontais, laterais e atrás).
• Atrás (por trás – frontais e laterais).
• Por cima do ombro do braço executor.
Em contato com o solo (com as duas mãos).
• De peito.
• Por cima da cabeça.
Em suspensão (com uma mão).
• Frontais
• Laterais.
• Para trás. (tradução nossa).

Independente da classificação, os passes podem ter como trajetória da bola:


picado ou quicado, reto e em parábola. A escolha por uma dessas trajetórias depende
da situação de jogo, ou seja, distância e características individuais do receptor, distância e
posicionamento do defensor. Entretanto, em princípio, a bola deve percorrer o caminho
mais curto entre o passador e o receptor, o que dará velocidade e continuidade no ataque.

Figura 20. Trajetórias da bola na execução dos passes e arremessos.


PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

6.1 Princípios fundamentais para a aprendizagem dos passes

O passador deve perceber a possibilidade de realizar o passe, sem, contudo, ficar olhando
diretamente para o receptor, no sentido de não chamar a atenção do defensor. Entretanto,
esse princípio se aplica somente na fase do jogo, quando os alunos/jogadores já dominam
completamente todos os fundamentos necessários para a compreensão do jogo.

33
• O passe deve ser dado observando a velocidade apropriada, bem como a
força precisa a ser regulada de acordo com quem vai receber e também em relação à
distância do receptor.
• A trajetória da bola deve ser de acordo com a posição do receptor e posição do
defensor (situação de jogo).
• O passador carece passar a bola de forma precisa, pois a precisão do passe facilita
a execução de ações continuadas posteriores por parte do receptor, permitindo-o se
sobrepor ao ataque do defensor.
• O passador deve dominar o maior número possível de passes, pois a sua variabili-
dade depende da situação de jogo, posição do receptor e das características individuais
do receptor.
Assim, cabe ao passador saber escolher adequadamente o tipo de passe a ser
executado, bem como a direção, altura e o momento exato de executá-lo. Um passe
bem executado pode desencadear ações posteriores (táticas coletivas) que
possibilitam um jogo ofensivo mais rápido e agressivo, finalizando com êxito os
arremessos à baliza.

6.2 Tipos de passes

Os passes são executados, estando o passador parado, em descolamento e em salto.


Tecnicamente os passes mais conhecidos no handebol são: de ombro e de punho.
A variação deles ocorre a partir da altura e direção em relação ao corpo do passador.
O passe de ombro é considerado o passe clássico do Handebol. Historicamente,
é o tipo de passe mais utilizado no decorrer do jogo. Contudo, a dinâmica e a veloci-
dade empregada no jogo nos últimos anos fez com que os jogadores adotassem tipos
de passes que minimizassem os movimentos desnecessários para dar maior velocidade
ao jogo. Há de se observar que, desde a sua criação e o surgimento de estudos (livros
e artigos) a respeito da técnica do handebol, as mudanças mais consideráveis, que
modificaram o modo de jogar, foram a especialização da força e da velocidade, tanto
na dinâmica do jogo quanto nos corpos dos jogadores (especialização física).

6.2.1 Passe de ombro


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O passe de ombro é executado da seguinte forma: Na posição inicial, os membros


inferiores devem estar com abertura anteroposterior, sendo que o pé que vai à frente
é contrário à mão que executa o passe. Haverá abdução do membro superior (linha
horizontal em relação ao ombro), flexão da articulação do cotovelo, ficando braço
e antebraço com um ângulo de 90º graus, a mão fica ligeiramente voltada para fora,
com os dedos voltados para cima, com leve rotação do tronco para o lado da mão
executora. No momento da execução há uma volta do tronco, com rotação do ombro

34
(para frente, em direção ao receptor), com acentuada quebra de punho no momento
do lançamento da bola, os dedos são os últimos a deixá-la (esse movimento dá direção
e velocidade à bola).

Figura 21. Passe de ombro. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

6.2.2 Passe de Punho

Diferentemente de várias publicações na área técnica do handebol, através de


observações e vivências nesse esporte há mais de 30 anos, chegamos à conclusão que
os demais passes do handebol podem ser considerados como passes de punho, uma
vez que sua ênfase na execução recai no movimento do punho. Dessa forma, teremos os
passes de punho: lateral a altura do ombro, em pronação, atrás das costas e atrás
da cabeça.
• Passe de punho lateral à altura do ombro
Esse tipo de passe é um dos mais
usados atualmente no handebol, durante a
movimentação de ataque (engajamento),
pelo fato de gastar menos tempo e
menos movimentos em sua preparação.
Ele é executado da seguinte forma: a
partir da recepção com as duas mãos, o
jogador empunha (pegada) a bola com
a mão do mesmo lado que irá passar a
bola, e realiza uma flexão de cotovelo
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(de dentro para fora e por cima), fazendo


uma extensão do cotovelo, terminando o
movimento com uma acentuada quebra
de punho. Nesse momento, o braço e
Figura 22. Passe de punho a altura do ombro.
antebraço estão no alinhamento do ombro Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011,
(abdução do ombro). São Paulo.

35
• Passe em pronação
O passe em pronação é utilizado na armação do ataque (engajamento), em que os
alunos/jogadores estão próximos uns dos outros. Sua execução é: partindo da recep-
ção da bola, o jogador deverá empunhá-la (pegada ou empunhadura) com a mão do
lado que passará a bola. Depois disso, fará uma pronação da articulação do cotovelo,
soltando a bola com acentuada quebra de punho. Nesse momento, a articulação do
cotovelo deve estar estendida, membro superior (braço e antebraço) faz um ângulo de
aproximadamente 45º graus em relação ao tronco.
• Passe de punho atrás das costas
Também partindo da recepção, para iniciar o movimento de execução o jogador
deverá empunhar a bola com a mão do lado contrário que passará a bola. Depois dis-
so, deve-se fazer uma ligeira abdução do membro superior, um pouco atrás da linha do
tronco, faz-se uma flexão do cotovelo atrás das costas, lançando a bola com acentuada
quebra de punho.

Figura 23. Passe de punho atrás das costas. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

• Passe de punho atrás da cabeça


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Esse passe é considerado um passe especial, pouco usado no decorrer do jogo.


É utilizado mais em situações entre armadores e pivôs, no sentido de fintar os defensores.
Sua execução também parte de uma recepção em que o jogador deverá empunhar
a bola com a mão do lado contrário que passará a bola. Depois disso, deverá fazer
uma abdução do membro superior que estiver com a bola, até que fique na linha do
ombro (lateralmente), fazendo uma flexão do cotovelo, com o antebraço ficando atrás
da cabeça. A finalização do passe é realizada com o lançamento da bola com acentuada
quebra de punho.

36
Em todos os tipos de passe, seja de ombro ou punho, os dedos são os últimos
a ter contato com a bola. São eles que darão aceleração, velocidade e direção à bola,
fazendo-a chegar até o receptor com segurança e precisão (MARTINI,1981).
Além de assimilar os diversos tipos de passe, o jogador precisa compreender que
o passe é o ato de lançar a bola para um companheiro e, se necessário for, ele pode
se utilizar de qualquer técnica, conhecida ou não, desde que o objetivo seja atingido.
Ou seja, desde que a bola chegue em segurança nas mãos de outro jogador (receptor).
Para que o objetivo do passe seja atingido, utilizando qualquer tipo de passe
conhecido, os alunos/jogadores precisam se lembrar dos seguintes princípios: precisão,
velocidade, segurança e oportunidade.

6.3 Metodologia

No que se refere ao ensino dos passes, é necessário observar que, naturalmente, ao


ensinar o passe devemos ensinar também a recepção, pois um é totalmente dependente
do outro. Outro fator importante de ser observado é que a base inicial para uma boa
execução do passe é ter o domínio da pegada da bola, pois sem ela praticamente o
jogador não conseguirá realizar nenhum tipo de passe.
Assim, durante o processo de ensino, o professor precisa privilegiar atividades
para que tanto a pegada, o passe e a recepção sejam assimilados. Entendemos que
os jogos e as brincadeiras devem ser utilizados nessa fase de aprendizagem, haja vista
que são atividades do cotidiano das crianças e fazem parte do repertório de ações que
compõem o universo de desenvolvimento e aprendizagem delas.
Quando o jogador já dominar bem a pegada da bola e já conseguir desenvolver
de forma satisfatória a recepção e o passe, pode o professor introduzir as técnicas cor-
retas dos movimentos, biomecanicamente, lembrando que os tipos de passes devem
ser ensinados de forma gradativa. Outro ponto relevante a ser lembrado é que esses
fundamentos necessitam ser apreendidos, aperfeiçoados e treinados, não interessando
em que nível de aprendizado os alunos/jogadores estejam, pois é isso que dá plastici-
dade e dinâmica ao jogo de Handebol.

7. Os arremessos à baliza
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

O arremesso é uma ação técnica final do jogo ofensivo, culminando com o


lançamento da bola à baliza na tentativa de fazer um gol. O arremesso é o produto
resultante da coordenação de ações coletivas e posicionamento técnico dos
alunos/jogadores em ataque, que direcionam esforços para a efetivação do gol.
O arremesso à baliza é considerado como o objetivo fundamental (essência) do
jogo de Handebol.

37
Encontrar situação favorável para o arremesso é tarefa básica do jogo ofensivo.
A finalização do arremesso é de responsabilidade coletiva, ou seja, a responsabilidade
de um lançamento da bola à baliza é do jogador que possui a sua posse. Entretanto,
o jogador deve lembrar que, para que o arremesso ocorra, ele deve perceber se ele é
o melhor qualificado para isso. Essa qualificação é resultado das atividades criativas
da equipe, a exploração das habilidades técnicas e motoras dos jogadores, adequa-
ção aos deslocamentos e aproveitamento dos espaços, permitindo aos jogadores
desequilibrarem a defesa e conseguirem situações de arremessos com liberdade
(NÉ, BONNEFOY, LAHUPPE, 2000).
Nesse sentido, é importante que os alunos/jogadores tenham domínio das habilida-
des e meios técnicos individuais, de grupo e coletivos, os quais favorecem os acertos dos
arremessos à baliza. É fundamental que cada jogador, ao receber a bola, tenha a respon-
sabilidade de procurar fazer o gol. Para isso, é necessário escolher o tipo de arremesso,
considerando a zona de ataque em que o jogador está posicionado, a posição dos
defensores e ainda a postura adotada pelo goleiro ante ao ataque adversário
(MARTINI, 1981).
O Handebol é um esporte em que suas ações e fundamentos formam um conjunto
de gestos motores e técnicos, em que a coordenação, a potência, a velocidade, a agilidade,
dentre outras, ampliam e facilitam todas as possibilidades de êxito dos arremessos à baliza.
Os alunos/jogadores de handebol precisam dominar todos os tipos de arremessos.
Contudo, dependendo de sua posição no ataque (posto específico), devem ser espe-
cialistas em determinados tipos de arremessos.
Alguns fatores devem ser observados na realização dos arremessos. São eles:
utilizar o trajeto mais curto entre o arremessador e a baliza; proteger a bola; não
executar movimentos desnecessários; executar o arremesso em um mínimo espaço
de tempo e com máxima velocidade de execução; dominar vários tipos de arremessos
(MARIOT, 1995; GARCIA, 1990). Os princípios fundamentais (atributos) para a
execução do arremesso são: precisão, segurança e velocidade.

7.1 Tipos de arremessos

Os arremessos à baliza podem ser executados: com apoio (parado), em deslocamentos


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e com saltos.

7.1.1 Arremesso com apoio

• Altura do ombro do membro executor


• Altura do quadril
• Retificado lado contrário ao membro executor com e sem queda
• Retificado pelo mesmo lado do membro executor com e sem queda

38
7.1.2 Arremesso em suspensão – extensão e vertical

• Arremesso com salto e queda


• Arremesso com queda para frente
• Arremesso com giro e queda
• Arremesso com queda lateral
• Arremesso com queda e rolamento
De acordo com Bárcenas; Román (1991), considerando as linhas de ataque e as
posições dos jogadores no ataque, os arremessos podem ser identificados como:
Primeira linha de ataque:
• Altura do ombro e quadril
• Com apoio
• Retificado pelo lado contrário ao membro executor com e sem queda
• Retificado pelo mesmo lado do membro executor com e sem queda
Primeira e segunda linha de ataque:
• Em suspensão – extensão e vertical
• Com salto e queda
Segunda linha de ataque:
• Retificado lado contrário ao membro executor com e sem queda
• Retificado pelo mesmo lado do membro executor com e sem queda
• Arremesso em suspensão em extensão
• Arremesso salto e queda
• Arremesso com queda para frente
• Arremesso com giro e queda
• Arremesso com queda lateral
• Arremesso com queda e rolamento
Arremesso de 7 metros:
• Com apoio
• Com queda para frente

7.2 Descrição gesto técnico

Saber descrever uma posição, ação ou fundamento do handebol é considerado um


PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

fator característico de quem ensina. Contudo, fazer com que o jogador saiba fazer
e conceituar as ações ou os movimentos que compõem a dinâmica do jogo é tam-
bém, preponderante para que o ensino e a aprendizagem ocorram em um ambiente
em que os princípios pedagógicos procedimentais, atitudinais e conceituais sejam
primados no decorrer das aulas e/ou treinos, de forma contextualizada, problema-
tizada e crítica.

39
7.2.1 Arremesso com apoio

Também conhecido como arremesso de ombro, sua execução é feita partindo da


posição do recebimento da bola, com as pernas em abertura anteroposterior, sendo
que o pé que vai à frente deve ser o contrário da mão dominante, que está com a bola.
O jogador deve realizar uma abdução do membro superior (que estiver com a bola),
fazendo uma angulação próxima a 135 graus em relação ao tronco. O cotovelo deve
estar levemente fletido, a mão que empunha a bola precisa estar com a palma voltada
ligeiramente para o lado e os dedos voltados para cima. Deve-se fazer uma rotação do
tronco para o mesmo lado da mão que executa o arremesso. No momento, em que o
jogador inicia o lançamento, ele deve fazer uma rotação do ombro à frente, terminando
com o membro superior (braço e antebraço) na posição de flexão do ombro (à frente
do corpo), com acentuada quebra de punho, sendo que os dedos são os últimos a ter
contato com a bola, os quais são responsáveis pela direção e aceleração.

Figura 24. Arremesso com apoio. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

7.2.2 Arremesso com salto ou suspensão

Os arremessos em suspensão ocupam aproximadamente 50% dos arremessos


durante uma partida de Handebol (MARTINI, 1991; GARCIA, 1990). O arremesso
em suspensão pode ser executado com a realização de um, dois ou três passos.
Isso depende da distância entre arremessador e defensor, arremessador e baliza.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Assim, podem ser realizados em extensão e altura (vertical). Os arremessos em suspensão


em extensão são utilizados quando não há jogadores defensores entre o atacante e a
baliza, tendo o arremessador que enfrentar somente as ações defensivas do goleiro.
Os arremessos em suspensão na vertical ou altura são realizados quando existe um ou
mais defensores entre o arremessador e a baliza, tendo ele que se sobrepor à defesa dos
jogadores e ainda às ações defensivas do goleiro.
Em princípio, a execução do gesto técnico dos arremessos em suspensão é igual
ao do arremesso com apoio. A única diferença é que há uma maior rotação (torção)

40
do tronco para o mesmo lado da mão que executa o arremesso. Lembrando que toda
a movimentação de preparação para o arremesso é realizada na fase área do salto.
O pé de impulsão é contrário à mão que executa o arremesso.

Figura 25. Arremesso em suspensão na vertical. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

Figura 26. Arremesso em suspensão em extensão. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

41
7.2.3 Arremessos com queda

Os arremessos com queda se caracterizam pelo movimento de lançamento da


bola à baliza ser realizado no momento em que o corpo do arremessador estiver o
mais paralelo possível em relação ao solo. Eles podem ser realizados com queda para
frente e para os lados, partindo da posição de apoio ou salto.
Os arremessos com queda se subdividem em queda para frente, lateral e rolamento.
Os jogadores que mais utilizam esses tipos de arremessos são os pivôs e os extremos
(alas, pontas).
Os arremessos com queda para frente são utilizados com maior frequência
durante a execução de um tiro de sete metros. A sequência do movimento é a
seguinte: o jogador segura a bola à frente do tronco (posição básica), com afastamento
anteroposterior dos membros inferiores, sendo que o pé que vai à frente é o contrário
da mão que realiza o arremesso. O movimento começa com a flexão do joelho (como
se fosse ajoelhar) e inclinação do tronco à frente, com o movimento do membro
superior da mesma forma que no arremesso com apoio. No momento do lançamento,
o arremessador deve estender a articulação do joelho, soltando a bola quando o corpo
estiver o mais paralelo possível do solo. Depois do lançamento, o arremessador deve
projetar os membros superiores à frente, para apoiá-los no solo, amortecendo a queda.
Durante a queda, o jogador deve distribuir o peso do corpo entre os quatro apoios,
mãos e pés, fazendo uma rotação da cervical para um dos lados, para impedir que
o queixo bata de encontro ao solo (MARTINI, 1981).
Os arremessos com queda e rolamento partem da mesma posição inicial que o
arremesso com queda para frente, contudo, imediatamente depois que lança a bola
à baliza, o jogador deve executar um rolamento no eixo longitudinal do corpo. Nesse
sentido, depois que a bola deixa a mão do arremessador, o rolamento deve ser feito
sobre o ombro do mesmo lado da mão que executa o arremesso. Os arremessos com
queda também podem ser executados precedidos de um giro.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

42
Figura 27. Arremesso com queda lateral. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

Figura 28. Arremesso com queda frontal. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

7.2.4 Arremessos retificados


PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

Os arremessos retificados podem ser executados do mesmo lado dominante,


como do lado oposto. Eles são utilizados tanto para buscar um melhor ângulo
de arremesso, quanto para sair do bloqueio de um defensor. Também são considera-
dos arremessos de ombro, sua movimentação técnica é a mesma do arremesso com
apoio. Contudo, durante a realização do arremesso há uma inclinação do tronco
para um dos lados.

43
7.3 Metodologia

Para o ensino dos arremessos é necessário que o professor ajuste as fases de ensino
de acordo com os processos de assimilação e rendimento dos diferentes tipos de
arremessos em relação ao desenvolvimento das qualidades físicas e motoras dos alunos
e jogadores. Exigir execução antes do conveniente (especialização precoce) pode
levar os alunos e jogadores a terem resultados negativos psicologicamente, além
de provocar lesões. Outro problema a ser observado, e que também pode ser
considerado um erro pedagógico, é o professor desconsiderar o ensino dos arremessos
independentemente do resto das ações do jogo (MARIOT, 1995; NÉ; BONNEFOY,
LAHUPPE, 2000).
Assim, de alguma forma, o professor precisa estabelecer um processo de ensino
em que os arremessos à baliza se estruturem dentro de um desencadeamento de
ações que garantam a continuidade do jogo. Neste sentido, o jogador precisa, além do
domínio dos fundamentos e movimentos referentes ao arremesso, perceber a distância
do defensor, do goleiro e da baliza adversária.

8. Fintas

A finta é uma ação técnica individual ofensiva, em que o jogador provoca uma
determinada ação deliberada do defensor, com o objetivo de criar situações e espaços
vazios para sua ocupação e deslocamentos em vantagem, frente às ações do defensor.
Na maioria das vezes, o atacante tende a ocupar o espaço deixado pelo defensor.
O movimento de finta ocorre sempre em situações de um contra um, e pode ser
executado com ou sem bola (MARTINI,1981).

8.1 Princípios fundamentais:

• Os movimentos do defensor devem ser executados sempre em velocidade, com


qualidade e clareza do momento oportuno;
• É importante que o atacante saiba quando, como e qual finta utilizar no decorrer
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

do jogo;
• Como as fintas se constituem em movimentos desconcertantes para o defensor,
o atacante deve procurar sempre variar o tipo de finta utilizada;
• O atacante deve eleger uma capacidade imediata e oportuna sobre as ações súbitas
do defensor. Isso exige velocidade de reação, troca de ritmo, variação na velocidade dos
movimentos e ainda, ter domínio do campo visual amplo.

44
8.2 Classificação das fintas

As fintas são executadas tanto com bola quanto sem a posse da bola. As fintas são
utilizadas com o objetivo de desvencilhar de uma marcação para receber a bola ou se
colocar em posição favorável para receber uma bola, ou ainda, provocar no defensor
um deslocamento propositadamente, para ocupar seu espaço próximo à linha da área
de gol, obtendo assim uma possibilidade bem sucedida de arremesso à baliza.
Podemos classificar as fintas de várias formas, uma delas é de acordo com Bárcenas;
Román (1991):
• Em função do movimento de recepção da bola, que pode ser em contato com o
solo e em suspensão;
• Em função da orientação prévia – de frente ao oponente, de costas ao oponente,
de lado para o oponente e de forma combinada (de frente e com saída de lado com giro);
• Em função do número de trocas de direção – finta simples (com uma troca de
direção), dupla finta (duas trocas de direção);
• Em função da trajetória de saída da finta – normal e falsa;
• Em função do momento de mudança de direção depois da finta – sem bola e
com bola: em um ponto certo, no primeiro passo, no segundo passo, no terceiro passo.
Já Martini (1981) classifica as fintas como:
Fintas sem bola:
Fintas de entrada – São realizadas sem bola. Estando o jogador de frente para
o defensor, esse realiza um passo para um dos lados e imediatamente a reação do
defensor realiza uma entrada para o lado oposto. Exemplo: um passo com a perna
esquerda para o lado, e imediatamente um passo com a direita para o lado oposto.

1
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

zero
(início)

Figura 29. Finta simples.

45
Figura 30. Finta simples. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

Observação: A descrição das fintas abaixo foi realizada considerando que o lado
dominante do jogador seja o direito (jogador seja destro).
• Fintas de mudança de direção – O jogador aproxima-se do defensor com
dois ou três passos (fixação), e executa um passo em diagonal para um dos lados.
Com o deslocamento do defensor, o atacante dá mais um passo com o mesmo pé,
cruzando, mudando a direção para a direita. Depois mais um passo com o outro pé.

1
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

zero
(início)

Figura 31. Finta com mudança de direção.

Finta com bola: Os movimentos das fintas com bola são idênticos às fintas
sem bola. Estando em posse de bola, o jogador deve proteger a bola no momento
de realização da finta. Durante a realização dessas fintas é crucial que o jogador

46
fique atento ao limite de passos que pode dar estando ele em posse de bola (no
máximo três passos).
• Finta de entrada simples e com mudança de direção – A movimentação
dessas fintas segue os mesmos princípios das fintas sem bola.
• Finta com giro - O atacante recebe a bola com pés paralelos ou pé direito à
frente (passo zero). Depois, deve dar um passo com o pé esquerdo, cruzando para a
direita e simulando o arremesso. O defensor é levado a bloquear. Com isso, o atacante
executa um giro sobre o pé esquerdo, deslocando o pé direito para trás, dando um passo.
Já de frente para a baliza, executa com o pé esquerdo mais um passo, finalizando com
arremesso parado ou com salto.

zero
(início)
Figura 32 . Finta com giro.

• Finta de braço - O atacante recebe a bola com os pés paralelos ou o pé direito à


frente (passo zero). Em seguida, dá um passo com a perna esquerda na diagonal rente
ao adversário, ao mesmo tempo em que o braço de arremesso realiza um movimento
de circundução, fugindo do adversário. Numa ação continuada, o jogador realiza
um passo com a perna direita e outro com a esquerda, finalizando com arremesso.
O membro superior realiza uma circundução e meia sem quebra de movimento.
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Figura 33. Finta de braço. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

47
8.3 Metodologia

O ensino das fintas é de fundamental importância para se jogar handebol, uma vez
que, através delas, os alunos/jogadores podem se desvencilhar de um defensor com
maior facilidade, permitindo dar continuidade às ações ofensivas e defensivas no
jogo. As fintas sem bola podem ser usadas tanto por defensores quanto por atacantes.
No caso dos defensores, as fintas são utilizadas para induzir o atacante a seguir uma
determinada direção.
As atividades mais indicadas para se ensinar as fintas, de maneira natural, são as
brincadeiras de pique-pega. Nesse caso, o professor, depois de realizar essas brinca-
deiras, realiza a transposição didática para o ensino do handebol, incluindo a técnica
de execução dos diversos tipos de finta. Entretanto, é importante observar que essas
fintas são movimentos já conhecidos no Handebol. Assim, o professor precisa motivar
seus alunos/jogadores a criarem novas fintas a partir das já conhecidas, uma vez que
movimentos desconhecidos podem, em situações difíceis, fazer com que o atacante
sobreponha de maneira simples e rápida as ações dos defensores.

9. Ações táticas

As ações táticas (meios, processos, fundamentos) são movimentos realizados de


forma combinada para atingir um determinado objetivo. Podem ser individuais, de
grupo e coletivas (GRECO; ROMERO, 2012, MARTINI, 1981).

9.1 Ações táticas ofensivas

9.1.1 Passa e Vai

É um tipo de ação tática individual


ofensiva em que os jogadores realizam
B
C
ações individuais e de grupo combinando
(3)
tipos de passes, recepções, fintas, desloca-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

A mentos, fixação, dentre outros, objetivando


(2)
chegar rapidamente à baliza, com pouca
B
ou nenhuma ação defensiva. Os atacantes
A
(1)
C
devem se deslocar, ocupando os espaços
B
da quadra no sentido de provocar reações
nos defensores, trabalhando a posse da
bola, com o intuito de chegar com mais
Figura 34. Exemplo de passa e vai. facilidade até a baliza adversária.

48
9.1.2 Bloqueio

É uma ação tática de grupo, em


que um ou mais atacantes impedem ou
dificultam, por meio de um movimento
correto, a movimentação de um ou
vários defensores, cujo objetivo final é
conseguir a desmarcação de um jogador,
penetração e possibilidade de arremesso.
Durante a realização do bloqueio o
jogador atacante deve tomar o cuidado
de não cometer faltas de ataque. Assim,
seu deslocamento necessita ser preciso,
Figura 35. Bloqueio.
parando antes de chocar com o defensor
(MARTINI, 1981).
O bloqueio pode ser: Direto com a bola - quando o jogador que tem o controle da
mesma realiza um bloqueio a favor do seu companheiro de equipe, que está prestes a
receber a bola. Direto sem bola - quando um jogador atacante recebe uma marcação
individual, seu companheiro de equipe realiza um bloqueio no seu marcador para que
possa se livrar da marcação e receber a bola. E ainda, pode ser indireto – quando dois
jogadores de ataque (sem bola) realizam o bloqueio para que outro jogador possa
receber a bola livremente e arremessar à baliza.
É importante observar que em todos os bloqueios, as ações podem ser realizadas
pela frente, lateral e/ou pelas costas.

9.1.3 Écran (bloqueio)

Écran é uma ação tática de grupo que serve para proteger da defesa um jogador
de meia-distância, cujo objetivo é conseguir executar livremente um arremesso em
suspensão. O écran mais utilizado encontra-se nos tiros livres (cortinas) próximos à
linha de 9 metros (tracejada) e em bloqueios realizados próximos à linha da área de
gol. As ações dos jogadores (dois ou três) atacantes são no sentido de bloquear ações
defensivas, facilitando o deslocamento do atacante em questão e, consequentemente,
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

um arremesso em suspensão por cima do écran e do adversário (MARTINI, 1981).

9.1.4 Cortina

A cortina (considera um tipo de écran) serve para proteger da defesa um jogador


atacante da meia distância, para que consiga executar livremente um arremesso à
baliza, em suspensão.

49
A cortina é mais utilizada
durante a execução de um tiro
livre próximo à linha de 9 metros
(linha de tiro livre). Nesse caso,
dois ou três jogadores atacantes se
colocam um ao lado do outro, sem
deixar espaço entre eles, e próxi-
mos à linha dos 9 metros (antes),
literalmente formando uma corti-
na. O tiro é executado por um dos
jogadores da cortina. Ao executar
o tiro livre para o arremessador, os
Figura 36. Cortina.
jogadores que formam a cortina se
deslocam para trás impedido a saída dos defensores. Nesse meio tempo, ao receber a bola,
o arremessador desloca-se para frente, salta e executa o arremesso, protegido e livre de
marcação. Com isso, há uma maior probabilidade de marcar um gol.

9.1.5 Fixação

A fixação é uma ação individual ofensiva, que tem por objetivo a permanência
temporária de um jogador atacante numa determinada posição que pode gerar fintas.
Tal ação leva o defensor a adaptar a sua própria posição à do adversário. Durante a
fixação podem ocorrer reações em dois defensores, sendo que eles são atraídos por
meio de movimentos hábeis realizados pelo atacante, surgindo assim uma superioridade
numérica que pode resultar em penetrações ou arremessos à baliza (MARTINI, 1981).

Tipos de fixação:

Fixação par - É a ação tática


individual ofensiva que tem por
objetivo chamar a atenção do
marcador correspondente, ou seja,
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aquele que defende a zona em que


o atacante executa a fixação.
Fixação ímpar - É a ação
tática individual ofensiva de um
atacante que tem por objetivo
chamar a atenção de um marcador
indiretamente. O deslocamento
Figura 37. Fixação par. realizado é em direção ao espaço

50
entre dois defensores, no sentido de cha-
mar a atenção deles, para dar liberdade
para que o companheiro possa receber
a bola e encontrar oportunidades de
penetrações, e arremessos à baliza.
Fixação par/impar - É a ação
tática individual ofensiva de um jogador
que tem por objetivo chamar a atenção
de dois jogadores adversários. O mo-
mento inicial deve ser em direção ao Figura 38. Fixação ímpar.
defensor que atua na zona em que o
atacante está, saindo em direção ao de-
fensor que está na zona defensiva mais
próxima. Desse modo, o movimento do
atacante provoca e chama a atenção de
dois defensores, causando uma reação
em cadeia de superioridade numérica.
Facilitando penetrações, recebimento
de bola e arremessos à baliza sem influ-
ência dos jogadores de defesa.
Figura 39. Fixação par/ ímpar.
9.1.6 Cruzamento

É uma ação tática de grupo realizada próxima à zona de tiro livre que tem por
objetivo criar situações de superioridade numérica, cujo resultado cria: uma posição
favorável a um arremessador de meia-distância; uma abertura para um arremesso ou
penetração de um companheiro de equipe; e ainda, provoca uma situação favorável
para um bloqueio ao adversário (GARCIA, 1990; MARTINI, 1981).
Durante o cruzamento, há uma troca de zonas ofensivas de atuação entre os
jogadores que o realizam, devendo o jogador que irá receber a bola passar, próximo,
nas costas do jogador que está com a bola e que iniciou o movimento do cruzamento.
Ao receber a bola, momentaneamente, o jogador fica livre de marcação, tendo
condições de realizar arremessos à baliza.
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É importante salientar que a valorização da posse da bola é garantida pela pegada


segura e passe adequado. Os passes mais indicados são os passes de punho, executados
para imprimir velocidade e força.
O bloqueio bem realizado permite ao jogador que recebe a bola realizar arremessos
à baliza sem a ação do defensor, e dá liberdade ao pivô - pois chama a atenção de um
segundo defensor – permitindo-o realizar passes para companheiros que estão em
melhores chances de arremesso.

51
Durante a realização do bloqueio, o ato de entregar e receber o adversário
quando os jogadores realizam ações defensivas é um fator complicador, pois
surgem confusões na marcação e bloqueios e os espaços abertos são difíceis de
serem recuperados.
Podemos dizer que existem fatores que são decisivos para a execução do cruzamento:
• Por parte do jogador que inicia o cruzamento - Perceber a possibilidade de realização
do cruzamento; atacar (fixação) no espaço entre dois jogadores; sempre procurar
arremesso a gol; causar desequilíbrio defensivo; observar a possibilidade de infiltração
ou arremesso; na realização do passe o jogador necessita saber o momento correto de
passar; a escolha do passe; o passe deve ser firme e protegido.
• O jogador que irá receber a bola - Deve se deslocar por trás do passador o mais
próximo possível; fazer uma recepção segura e firme; decidir se vai passar ou arremessar
a gol; e o jogador que inicia o cruzamento precisa decidir se vai bloquear ou buscar
uma posição favorável para um novo recebimento de bola.

9.1.6.1 Tipos de cruzamento

Os cruzamentos podem ser:

• Simples - Realizado entre


dois jogadores. A bola pode sair
com qualquer um dos jogadores.
Geralmente são realizados entre
os jogadores armadores.
• Duplo - Pode-se dizer
que é a continuação natural do
cruzamento simples. Em grupos
de três jogadores, a bola sai com
o jogador que está no centro (B
cruza com A, que cruza com C).
Este cruzamento traz uma dificul-
dade ainda maior para a defesa.
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Figura 40. Cruzamento simples.

9.1.7 Contra-ataque

O contra-ataque é a passagem rápida da defesa para o ataque, com dois ou mais


jogadores, ele resulta da perda da posse da bola pelo adversário. O contra-ataque tem
como objetivo a obtenção de gol rapidamente sem a oposição de um defensor.

52
O contra-ataque pode ser provocado por meio de:
• Arremessos mal sucedidos à baliza.
• Erros de passes ou interceptação de passes.
• Infração às regras do jogo.

9.1.8 Metodologia para as ações táticas ofensivas

Para o ensino das ações táticas ofensivas o professor precisa partir do princí-
pio que os movimentos realizados durante cada uma delas são complexos, ainda
mais por serem realizados com mais de uma pessoa. Isso necessita de um trabalho
sincronizado, em que o ajustamento de tempo, espaço e passe/arremesso sejam
organizados sistematicamente.
O professor, inicialmente, precisa eleger atividades que levem os alunos/joga-
dores a aprenderem o movimento específico de cada ação, cujo objetivo centra-se
na mecanização do movimento. Tais atividades devem conter os deslocamentos, os
passes e o ajuste espaço-temporal.
Depois de o jogador/aluno ter assimilado os movimentos e a mecânica do
cruzamento, o próximo passo é ensinar com atividades em que estejam presentes os
defensores, além de experimentar o cruzamento partindo de diferentes postos espe-
cíficos. Um fator importante a ser observando nesse momento é a postura adotada
pelos defensores, para eleger como e quando será realizado o cruzamento.
E, por último, as atividades de dois contra dois (2x2) são bastante indicadas para
a fase de limpeza de movimentos, resultando no aperfeiçoamento de todas as ações
necessárias para a realização do cruzamento, podendo o professor finalizar com jogo livre.
São indicadas para as primeiras atividades os jogos e brincadeiras tradicionais,
principalmente as conhecidas dos alunos/jogadores, podendo o professor fazer ajustes
para atender aos objetivos propostos. Em seguida, o professor deve trabalhar com
atividades de 2x2 ou 3x3 até chegar ao jogo real (7x7).

9.2 Ataque

Uma equipe está em ataque quando ela consegue a posse da bola. Ela entra em
posse de bola quando a sua defesa recuperá-la, na interceptação de passes, quando o
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adversário comete alguma infração ou erra uma finalização à baliza.

9.2.1 Fases do ataque

De acordo com Martini (1981) o ataque possui quatro fases, elas vão desde a
recuperação da bola até a finalização em um determinado sistema, cujo objetivo
centra-se no arremesso à baliza. As fases são:

53
Primeira fase – Contra-ataque simples
Segunda fase – Contra-ataque sustentado ou apoiado.
Terceira fase – Organização do ataque
Quarta fase – Ataque em um sistema determinado

9.2.1.1 Primeira fase – contra-ataque simples

Após a recuperação da bola, os extremos (pontas) saem em deslocamentos


rápidos, em linha reta até o centro da quadra, em seguida se deslocam em diagonal em
direção à linha de sete metros. Quando ele está no deslocamento em diagonal recebe
a bola, que é lançada pelo goleiro ou por outro companheiro (normalmente um dos
armadores). Assim, depois de receber a bola, se aproxima da área de gol para realizar o
arremesso, livre de marcação.

9.2.1.2 Segunda fase – contra-ataque apoiado ou sustentado

Se o adversário consegue evitar a marcação de um gol, pelo extremo no contra-


-ataque, ainda há a possibilidade de realizar o arremesso, uma vez que a defesa ainda
não está completa e nem organizada. Desta forma, o extremo (ponta) deve passar a
bola para outro companheiro que o acompanha no contra-ataque. Geralmente esse
outro jogador é o outro extremo, contudo, uma vez que a bola já está em uma ação
ofensiva, os demais jogadores devem apoiar o contra-ataque, se deslocando para
a meia quadra ofensiva. Durante a segunda fase do ataque podem ocorrer algumas
ações, como: passes rápidos, passa e vai, cruzamentos e fintas.
Na segunda fase do ataque ocorre a seguinte sequência de movimentos:
• Início da corrida de contra-ataque do extremo;
• Passe realizado pelo goleiro para o extremo;
• Extremo recebe a bola e uma marcação do adversário;
• Corrida de outro jogador livre de marcação próximo à linha da área de gol;
• Passe do extremo para o companheiro que está próximo à linha da área de gol;
• Arremesso à baliza, utilizando de um dos mais variados tipos de arremessos.
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9.2.1.3 Terceira fase – organização do ataque

Caso os dois ou mais jogadores não consigam realizar o arremesso por sofrerem
marcação. Devem utilizar de ações ofensivas, como a troca de passes e dribles, com o
intuito de esperar os demais jogadores atacantes se aproximarem da zona de ataque.
A organização do ataque se caracteriza pela colocação de todos os jogadores em suas
respectivas zonas de ataque, de acordo com o sistema que utilizarão.

54
9.2.1.4 Quarta fase – ataque em um sistema

Depois que cada jogador ocupou sua posição inicial, em uma determinada zona
de ataque, inicia-se a movimentação de acordo com o sistema escolhido. Ou seja, um
tipo de ataque posicional ou em circulação. É importante lembrar que nessa fase é que
acontece o maior número de ações ofensivas individual, de grupo e de equipe.

9.3 Sistemas ofensivos

No Handebol existem três tipos de sistemas ofensivos: posicional, circulação e livre.


Atualmente, as equipes de alto rendimento tem utilizado uma gama de variação nos
sistemas ofensivos, no sentido de sobrepor a especialização defensiva. Contudo, para a
aprendizagem dos sistemas aconselha-se utilizar o ataque posicional, uma vez que ele
é o ponto de partida à aprendizagem do ataque em circulação.
Segundo Greco e Romero (org.), sistema de jogo em ataque é “conjunto de medidas
(técnico-táticas individuais e táticas coletivas) que o treinador seleciona e ordena pra
serem colocadas em prática por parte dos jogadores (2012, p. 189)”, em que busca-se
a distribuição dos jogadores em zonas de ataque de forma dinâmica e equilibrada.

9.3.1 Ataque posicional

No ataque posicional, que é


considerado um dos sistemas uti-
lizados na quarta fase do ataque,
os jogadores possuem postos
específicos, podendo a bola ter
ou não uma trajetória previa-
mente definida. A movimentação
mais conhecida no ataque
posicional é o engajamento, que
resulta do conjunto de fixação por
parte dos jogadores atacantes. Esse
tipo de ataque tem por finalidade
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

desequilibrar a defesa para reali-


zar penetrações, criar situações
de superioridade numérica e, Figura 41. Ataque posicional.
ainda, criar situações favoráveis
através de combinações de ações como o bloqueio, cruzamento e fintas. O ataque
posicional pode ser realizado com um ou dois pivôs.

55
F
Sistema 3:3 com um pivô.
D
E A. Lateral esquerdo
F B. Central
A
D C. Lateral direito
E
B C
D. Extremo direito
E. Pivô
A C
B F. Extremo esquerdo

Figura 42. Ataque posicional 3:3.

Sistema 4:2
F
E A. Lateral esquerdo
B. Central esquerdo
F
E D C. Central direito
A
B C D. Lateral direito
D E. Pivô
A
B C F. Extremo esquerdo

Figura 43. Sistema Posicional 4:2.


Sistema 2:4
C
C
A. Lateral esquerdo
F
B. Lateral direito
F
E D C. Extremo direito
E D
D. Pivô direito
E. Pivô esquerdo
A
A
B
B
F. Extremo esquerdo

Figura 44. Sistema Posicional 2:4.

9.3.2 Ataque em circulação


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O ataque em circulação também é utilizado na quarta fase do ataque


(ataque em um sistema) Sua principal característica reside no fato de tanto
os atacantes quanto a bola possuírem uma trajetória previamente definida.
A movimentação parte do ataque posicional e em determinado momento inicia-se
a jogada, ou seja, a circulação dos jogadores por todas as zonas de ataque. O ataque em
circulação possibilita a mobilização e o desequilíbrio dos defensores e, consequente-
mente, a criação de espaços e infiltrações entre eles, resultado em arremessos livres
de intervenção. Esse tipo de ataque exige certa coordenação de ações, disciplina

56
tática e coletiva e, ainda, organização no modo de utilizar as ações técnicas e táticas
para sobrepor a defesa adversária.

Figura 45. Ataque em circulação 6 e 9 metros.

9.3.3 Ataque livre

É um tipo de sistema que não possui rigidez no posicionamento dos jogadores, nem
na trajetória a ser percorrida pela bola. Contudo, devemos observar que o ataque precisa ter
amplitude e profundidade. Os atacantes devem constantemente apoiar seus companheiros,
utilizar de uma grande variedade de ações e mudanças de ritmos, bem como da utlização dos
espaços. A bola deve ser passada com rapidez e velocidade, percorrendo um trajeto mais curto.

9.4 Ações defensivas

A evolução do modo de jogar o handebol fez com que as técnicas defensivas se apri-
morassem mais, exigindo dos alunos/jogadores uma dedicação quanto à aprendiza-
gem e aperfeiçoamento das diferentes ações e táticas defensivas.
Qualquer ação defensiva parte do princípio de uma análise das diferentes ações
ofensivas. Cabe ressaltar que a defesa sempre joga em inferioridade em relação ao
ataque, uma vez que suas ações dependem da iniciativa dos movimentos ofensivos
de uma equipe.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

Figura 46. Movimentos defensivos. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

57
Segundo Martini (1981, p. 152 ), a forma de se defender abrange:

[...] todas as acções individuais, de táctica de grupo e de equipa, na luta com o


ataque adversário. As bases da táctica defensiva: segurança de um equilibrio
defensivo; recuperar a tempo para a defesa; distribuição dos adversários;
ataque firme adversário que está na posse da bola.

Essas bases táticas são consideradas princípios importantes para que a defesa
consiga utilizar de recursos motores, técnicos e táticos para sobrepunjar o ataque
adversário. Esses princípios devem ser executados de forma ágil e eficaz para aten-
cipar as ações ofensivas, no sentido de neutralizar jogadas, impedir arremessos e
recuperar a posse da bola.
As ações ofensivas em que os defensores utilizam um extenso conteúdo técnico
e uma riqueza de possibilidades, têm o privilégio de sobrepor a iniciativa do atacante.
Isto requer, por parte dos defensores, uma resposta necessária para evitar os movi-
mentos inesperados dos atacantes. Essa resposta necessita de uma grande variedade
de técnicas para que possam efetivamente anular ou reduzir os movimentos e táticas
do ataque (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).

As virtudes de natureza psicológica como a vontade, a concentração dentre


outras, são necessidades imperiosas, mas, não são suficientes se o jogador
não domina a base técnica das ações defensivas que devem ser utilizadas em
situações infinitas que surgem (Ibidem, p. 210, tradução nossa).
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 47. Posicionamento defensivo frente ao ataque. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011,
São Paulo.

Bácenas e Román (1991) defendem que, independentemente do sistema de


marcação, na técnica defensiva é importante considerar a marcação do atacante à
distância e em proximidade. Para melhor explicar isso, eles apresentam um quadro
contendo os conteúdos do jogo defensivo. Veja abaixo:

58
Controle visual

Marcação a Situação do defensor


distância Posicionamento de base
Deslocamentos
Implica controle físico

Defensor na linha do arremesso

Defensor desequilibrado
Atacante estático, distante
da linha da área

Oponentes Atacante estático, próximo


sem bola da linha área de gol

Atacante em progressão, em função da


distância e das trajetórias escolhidas.

Atacante frontal ou
de lado com apoio
Técnica Marcação em Evitar o
Atacante de costas
defensiva proximidade arressmo
Atacante em
suspensão
De frente para
os arremessos
Oponentes com apoio
com bola
Arremessos em
suspensão
Bloqueios e arremessos em
de bolas suspensão dos 6
metros

Interceptar a bola
Defesa diante
das fintas

Fonte: BÁRCENAS; ROMÁN (1991, p. 211, tradução nossa.)

9.4.1 Ações técnicas defensivas


PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

São ações individuais que permitem aos alunos/jogadores se movimentarem


no terreno de jogo, com a finalidade de adotarem uma posição favorável, de forma a
colaborarem com a equipe durante as ações defensivas.
No transcorrer das fases da defesa, os jogadores precisam dominar alguns meios
técnicos e táticos que permitam a eficiência do trabalho individual e coletivo e,
consequentemente, a recuperação da bola. São eles:

59
9.4.1.1 Os deslocamentos

Os deslocamentos são realizados nas seguintes direções: para frente em linha reta
e diagonal; para trás em linha reta e diagonal, para o lado direito e esquerdo.
Os deslocamentos defensivos, quando realizados de acordo com o sistema
defensivo adotado pela equipe, devem ser executados tendo por base a posição e dire-
ção da bola. Normalmente, a movimentação do jogador é em forma de um triângulo.

9.4.2 Marcação direta ao adversário

É uma ação ou técnica que o jogador defensivo adota para mobilizar o adversário
com ou sem bola. Para que isso aconteça, é necessário adotar um posicionamento
que favoreça uma ação defensiva imediata, seja para interceptar a bola, impedir que
o jogador receba a bola, flutuar na cobertura de um companheiro, ou ainda, entrar na
luta direta pela posse da bola. Para isso, segundo Martini (1981), existem três tipos de
posicionamentos, que dependem da distância da bola e do jogador que está em sua
zona de defesa. São eles: posição alta média e baixa.
Alta – O jogador pode ficar de pé numa postura mais relaxada, sem, contudo,
perder de vista tanto a bola quanto o jogador que está na sua zona defensiva. Isso
ocorre quando a bola se encontra na zona oposta ou quando o jogador atacante está
longe, sem oferecer perigo para a defesa.
Média – O jogador fica em estado de alerta, podendo entrar em confronto com
o adversário a qualquer momento. A posição ideal é de pé, pés paralelos, com joelhos
ligeiramente fletidos. Mantendo sua atenção tanto para o jogador que ameaça entrar
em sua zona defensiva, quanto para a posição da bola.
Baixa – Acontece quando o jogador entra em contato direto com um adversário
que entra em sua zona defensiva com ou sem bola. Nesse momento, sua posição
deve adotar a seguinte postura: pés em afastamento anteroposterior numa distância
que acompanha a largura do ombro, joelhos fletidos e ligeira inclinação do tronco.
Quando o atacante está em posse de bola, uma das mãos deve entrar em contato com
o atacante na linha de cintura (centro de gravidade) e a outra deve procurar a bola.
O defensor precisa manter um contato de forma mais adequada, para que possa agir
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

prontamente em ações futuras, como mobilizar o adversário ou tirar a bola.


Sempre que estiver em contato direto com o adversário, o jogador deve observar
o que é permitido pelas regras oficiais, no sentido de evitar as punições progressivas.

9.4.3 Mobilização do corpo do atacante

A mobilização do corpo do atacante com posse de bola é um processo ou meio


técnico com a ajuda do qual o defensor impede a execução de uma ocupação de

60
espaço próximo à área de gol, uma recepção, um bom movimento de arremesso ou
um bom passe. Nesse caso, o defensor deve usar a marcação baixa (MARTINI, 1981).

9.4.4 Bloqueio da corrida do adversário

É uma ação tática individual defensiva utilizada pelo defensor no sentido de


impedir o atacante de prosseguir na direção desejada. Para isso, o jogador se utiliza de
seu corpo, sem molestar o adversário com braços e pernas. Basicamente, a partir da
posição básica, o defensor deslocar-se fechando com seu corpo o espaço do atacante.
Pode-se utilizar os membros superiores, desde que estejam fletidos pelo cotovelo.

9.4.5 O tirar da bola

É uma ação técnica individual defensiva em que o defensor tira a bola da mão do
atacante. Para tirar corretamente, de forma permitida pelas regras oficiais, a mão do
defensor deve estar aberta, sem bater, socar ou agarrar a bola, em qualquer direção
(CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL, 2010).
Quando o atacante estiver driblando a bola, o defensor também pode tirá-la.
O movimento deve ser pelo lado, nunca de cima para baixo, pois assim o defensor
atingirá a mão do atacante, cometendo uma infração. O atacante deve utilizar a mão
que está mais próxima do adversário. No momento em que a bola não estiver na mão
do atacante, o defensor pode tirar a bola com as duas mãos.

9.4.6 Ajuda (flutuação – triangulação defensiva)

É uma ação tática defensiva de grupo entre dois ou três jogadores, que tem como
objetivo ocupar o espaço deixado pelo defensor que saiu para marcar um atacante
com posse de bola. Essa ação é conhecida como flutuação, que notadamente deixa
os defensores que estão mais próximos ao atacante com posse de bola em estado
de alerta, caso seja preciso entrar em contato com o mesmo. Essa ação de grupo
forma uma triangulação defensiva entre três defensores, além de uma diagonal
(MARTINI, 1981).
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

9.4.7 Troca de adversário (recepção – acompanhamento – entrega)

A troca de adversário é uma ação tática de defesa contra atacantes que entram,
cruzam ou trocam de lugar, durante ações táticas ofensivas. O atacante que troca,
entra ou cruza é recebido pelo defensor quando invade o seu espaço. Se o atacante
estiver com posse de bola, é estabelecido o contato físico com ele, que é acompanhado
de tal modo que o seu braço de arremesso fica fechado para a baliza. Aqui o defensor

61
move-se para o lado com pequenos passos de inversão, sem cruzar as pernas ou
saltar, tenta desviar ou bloquear o adversário, e entrega-o a seu companheiro
vizinho (MARTINI, 1981).

9.4.8 Bloqueio aos arremessos

O bloqueio é uma ação tática de grupo, em que dois ou três defensores agem como
um bloco, na tentativa de interceptar o arremesso. Essa ação pode ser realizada em
comum acordo com o goleiro, ou seja, os defensores fecham um dos cantos (curto ou
longo), ficando o outro a cargo do goleiro. Quando o atacante tenta um arremesso, os
defensores devem levantar os braços formando um bloco fechado. Caso o arremesso
executado seja com salto, os defensores também devem saltar na tentativa de impedir
o arremesso. Deve-se evitar falhas, pois nesse momento o goleiro perde a visão da
bola, vendo-a somente quando já está na trajetória dentro da área de gol (GARCIA,
1990; MARTINI, 1981).

9.5 As fases da defesa

Durante o jogo de handebol, para que a equipe possa manter um equilíbrio defensivo
é necessário que os jogadores adotem atitudes e meios táticos que permitam o
atraso do ataque adversário, organização da equipe e ainda, a recuperação da bola.
As ações realizadas são distribuídas em quatro fases: volta rápida à defesa, marcação
individual ou zona temporária, organização da defesa e defesa em um sistema
(MARTINI, 1981).
Volta rápida à defesa – Depois da perda da posse da bola no ataque, seja por
uma violação às regras de jogo, arremesso mal sucedido ou ações de interceptação
da bola pelo adversário, os jogadores devem voltar rapidamente para a sua defesa,
utilizando-se do trajeto mais curto, independentemente da posição ocupada no
sistema defensivo.
Marcação individual ou zona temporária – Nessa fase, um ou mais
jogadores realizam marcação individual ou zona junto ao atacante que estiver com
a posse da bola, objetivando retardar a movimentação de ataque e/ou recuperar a
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

posse da bola.
Organização da defesa – Como nas fases anteriores os jogadores retornam
para a defesa e nem sempre para a sua zona ou local previamente definido, o jogador
defensivo aproveita momentos em que acontece uma parada ou organização do ataque
(cobrança de tiro livre, tiro de lateral, e/ou quando o jogador está longe do local em que
a bola se encontra) para retornar à sua zona ou local de defesa.
Defesa em um sistema – Depois que cada jogador se encontra em sua zona
defensiva, inicia-se a defesa em um sistema, seja ele por zona, individual ou mista.

62
Durante o processo de organização defensiva os jogadores devem atentar-se
para que toda a movimentação aconteça o mais rápido possível, sem, contudo,
fragilizar as ações coletivas, e ainda, terem uma maior atenção na zona em que se
encontra a bola.

9.6 Tipos de defesa

No handebol existem três tipos de defesa: a individual, a por zona ou zonal e a mista.

9.6.1 Defesa individual

É um tipo de marcação em que cada defensor é responsável por um determinado


atacante, durante todo o tempo em que estiver acontecendo o ataque adversário.
Nesse tipo de marcação alguns princípios devem ser observados: o defensor deve
ficar sempre entre o adversário e a própria baliza; o adversário deve estar sempre sob
controle visual; observar a bola e o jogo na sua totalidade; surpreender um atacante
que escapou, com bola, à marcação. A marcação individual é muito utilizada nas
categorias iniciais do handebol, principalmente no mini-handebol, e em ocasiões es-
peciais como necessidade de saldo de gol e/ou vitória. Os movimentos aprendidos na
marcação individual são básicos para a aprendizagem dos outros sistemas defensivos
(CURELLI; LAUDURÉ, 1999; SANTOS, 2003; SIMÕES, 2002).

9.6.2 Defesa por zona ou zonal

Na defesa por zona, diferente da de-


fesa individual, cabe a cada jogador uma
determinada zona defensiva, ficando 1D 1E

sob sua responsabilidade o atacante que,


por ventura, venha a ocupar essa referida 2D
3D 3E
2E

zona. Quando entra em contato direto


com um atacante, o defensor necessita
usar de uma combinação de ações técni-
cas e táticas, no sentido de anular as ações
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

do adversário. Sua obrigação termina


quando o atacante passa a ocupar outra
zona de ataque. Contudo, o defensor
jamais pode deixar de observar a zona
onde se encontra a bola, e atacantes que
estiverem próximos à sua zona de defesa Figura 48. Zonas defensivas
(SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

63
Nesse tipo de defesa, os alunos/jogadores devem observar que, para se fazer uma
boa marcação, é necessário que eles se movimentem em bloco (como se fossem um
leque), uma vez que os jogadores na defesa se movimentam de acordo com a posição
e direção da bola.
O jogador defensivo somente abandona sua zona quando estiver fazendo um
acompanhamento e entrega de um atacante.
Segundo Martini (1981, p. 160):

É característica para a defesa à zona e muito vantajoso que no local onde


se encontra a bola possa ser formado um “centro de gravidade” da defesa e
pelo menos dois ou mesmo três defensores estejam preparados para actuar.
Um defensor ataca o possuidor da bola e o outro ou os outros protegem-no
ou ajudam-no.

Para melhor visualização observe a Figura 49 a seguir:

1D

1D 1E
2D 1E
3D
2D 3E
3D 2E
3E
2E

Figura 49. Centro de gravidade (triangulação defensiva).

9.6.2.1 Tipos de defesa por zona

Os tipos de defesa são denominados de acordo com o número de linhas


defensivas e posicionamento dos jogadores. No handebol, os sistemas defensivos por
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

zona apresentam de uma a três linhas defensivas. Vale ressaltar que a primeira linha
defensiva é aquela que está mais próxima à linha da área de gol. Desta forma, existem
cinco tipos de defesa por zona: 6:0, 5:1, 4:2, 3:3 e 3:2:1.

A defesa por zona 6:0

Esse tipo de defesa possui uma única linha defensiva, em que todos os jogadores
se posicionam próximos à linha da área de gol (seis metros). Possui amplitude, mas

64
não possui profundidade. Dificulta as infiltrações e o trabalho do pivô e dos pontas.
Por não possuir profundidade, quase não incomoda a movimentação da bola por
parte dos armadores e ainda, conta certa fragilidade aos arremessos de média e longa
distância e apresenta dificuldades na recuperação da bola, por não abandonar a área
próxima da linha da área de gol (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

Sistema 6:0

2. Extremo esquerdo
3. Defesa lateral esquerdo
4. Defesa central esquerdo
5. Defesa central direito
6. Defesa lateral direito
7. Extremo direito

Figura 50. Marcação por zona 6:0. Fotografias de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

A defesa por zona 5:1

Esse tipo de defesa possui duas linhas defensivas. A primeira linha é composta
por cinco jogadores que atuam próximos à linha da área de gol, e apenas um jogador
defende na segunda linha, um pouco à frente da linha de tiro livre, na parte central.
Esse tipo de defesa por zona possui amplitude e profundidade. Tem por objetivo
dificultar as infiltrações e o trabalho dos armadores, impedindo os arremessos de curta
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

e média distância realizados na zona central. Nesse tipo de marcação o jogador central
da primeira linha de defesa quase que realiza uma marcação individual sobre o pivô.
O defensor central avançado (bico) tem por função evitar os passes entre os armadores,
impedir ou atrapalhar os arremessos de curta e média distância e interceptar passes,
evitar penetração em sua zona defensiva, realizar cobertura durante a marcação dos
laterais sobre os armadores direito e esquerdo e, ainda, iniciar um contra-ataque após
a recuperação da bola (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

65
Sistema 5:1

1E. Extremo esquerdo


2E. Defesa lateral esquerdo
3C. Defesa central
2D. Defesa lateral direito
1D. Extremo direito
3A. Avançado

1D 1E

1D 2D 2E 1E
3C

2D 2E
3C
3A

3A

Figura 51. Zonas de marcação no sistema 5:1.


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 52. Marcação por zona 5:1. Fotografias de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

A defesa por zona 4:2

Esse tipo de defesa possui duas linhas defensivas. A primeira linha é composta
por quatro jogadores que atuam próximos à linha da área de gol, e dois jogadores
defendem na segunda linha, um pouco à frente da linha de tiro livre. Essa defesa

66
possui amplitude e profundidade, e é utilizada principalmente contra o ataque tipo
2:4. Dificulta os arremessos de média distância. As zonas defensivas são bem maiores,
o que exige um bom deslocamento por parte dos defensores, e facilita a recuperação
da bola, por meio da interceptação de passes. A responsabilidade da marcação do
pivô recai sobre os jogadores centrais da primeira linha defensiva. Tem por objetivo
dificultar as infiltrações e o trabalho dos armadores, impedindo os arremessos de
curta e média distância realizados na zona central. Contudo, esse tipo de marcação
apresenta fragilidade no jogo 1x1, jogo com dois pivôs, e facilita o ataque dos pontas,
pela extensão da zona de ataque. Os jogadores centrais da primeira linha defensiva
juntamente com os dois avançados devem formar um paralelograma na zona central
defensiva (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

1E. Extremo esquerdo


2E. Central esquerdo
2D. Central direito
1D. Extremo direito
3A. Avançado esquerdo
3A. Avançado direito

1D 1E

2D 2E

3A 3A

Figura 53. Marcação por zona 4:2.


PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

A defesa por zona 3:3

Esse tipo de defesa aberta possui duas linhas defensivas. A primeira linha é composta
por três jogadores que atuam próximos à linha da área de gol, e três jogadores defendem
na segunda linha, um pouco à frente da linha de tiro livre. Esse tipo de defesa possui
amplitude e profundidade. Dificulta a armação do ataque entre os armadores, bem
como seus deslocamentos, evita os arremessos de meia e longa distância, e induzem

67
os atacantes ao erro (de passe, dos três segundos e dos passos). Os jogadores
da segunda linha de defesa podem sair mais rapidamente para o contra-ataque.
Essa defesa possui fragilidade junto à linha da área de gol, facilita o jogo com
dois pivôs, abre espaço para o jogo 1x1 e exige muito fisicamente dos defensores
(SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

2. Extremo esquerdo
3. Defesa Central
4. Extremo direito
5. Avançado esquerdo
6. Avançado central
7. Avançado direito

4 2
3
4 2
5
7 3
6
5
7
6

Figura 54. Marcação por zona 3:3.

A defesa por zona 3:2:1

Esse tipo de defesa possui três linhas defensivas. A primeira é composta por três
defensores próximos à linha da área de gol, a segunda linha é composta por dois
jogadores um pouco à frente da linha de tiro livre, e a terceira linha com um jogador
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

mais ou menos nos 12 metros, ou seja, três metros à frente da linha de tiro livre.
Essa defesa possui amplitude e profundidade. Ela é de fácil adaptação frente às
mudanças ocorridas no ataque durante o jogo. O atacante que possui a bola sempre
está sendo marcado por uma triangulação defensiva. Essa defesa dificulta o jogo dos
armadores na zona central de arremesso, é de fácil deslocamento dos jogadores para
o contra-ataque. Contudo, sua eficiência está ligada à eficiência dos movimentos dos
jogadores (deslocamentos, cobertura, marcação) e apresenta fragilidade com o jogo
com dois pivôs e bons pontas (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

68
2. Extremo esquerdo
3. Defesa central
4. Extremo direito
5. Lateral avançado esquerdo
6. Lateral avançado direito
7. Avançado central

4 2

3
5
6

Figura 55. Marcação por zona 3:2:1.

9.6.3 Defesa mista ou combinada

Esse tipo de sistema defensivo resulta da combinação de uma defesa por zona
com a individual. A marcação individual ocorre geralmente sobre atacantes que se
destacam em suas equipes. A marcação individual é realizada no sentido de anular
a atuação ofensiva desse atacante, ou seja, impedi-lo de receber a bola, dificultar ou
impedir arremessos a gol, e ainda, impedir sua participação na organização do ataque.
Este tipo de sistema possui basicamente dois tipos de defesa: 5+1 e 4+2. Na marcação
5+1, cinco jogadores atuam próximos à linha da área de gol e um realiza a marcação
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

individual. Da mesma forma, na marcação 4+2, quatro jogadores atuam próximos à


linha da área de gol e dois realizam marcação individual. Os jogadores que atuam na
marcação individual devem ter domínio dos deslocamentos defensivos, boa preparação
física (rápidos e ágeis) e saber evitar os bloqueios ofensivos. Devem estar atentos para
depois da recuperação da bola pela sua equipe, realizarem saídas rápidas para o
contra-ataque (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).

69
Figura 56. Defesa mista 5+1. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.

9.6.4 Metodologia

Para ensinar os sistemas defensivos para os alunos/jogadores, o professor necessita,


primeiramente, iniciar com o ensino dos movimentos e deslocamentos defensivos.
Depois disso, deve se preocupar em ensinar o sistema defensivo individual, uma vez
que todos os movimentos, deslocamentos e ações que são utilizadas para realizar
a marcação individual são utilizados também para os demais tipos de marcação.
O professor deve eleger atividades, jogos e/ou brincadeiras em que possam ser traba-
lhadas as situações 1x1, 2x2, 3x3, e com inferioridade numérica como 1x2, 2x3, 3x4 até
chegar ao jogo real. É necessário ainda, que o professor saiba inculcar em seus alunos
a ideia da importância do ato de defender, pois uma boa defesa garante a recuperação
da bola e facilita a transição para o ataque.
Na defesa, mais que no ataque, deve prevalecer o jogo coletivo, de ajuda e princi-
palmente de responsabilidade, pois cabe a cada jogador defensivo a responsabilidade
por uma tarefa a ser cumprida em uma determinada posição defensiva (seja uma zona
ou um atacante especificamente), além de o defensor ter que estar pronto para agir,
cobrindo sempre o companheiro que está a seu lado.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

70
Referências

BÁRCENAS, D.; ROMAN, J. de Dios. Balonmano – tecnica y metodologia.


Madrid: Gymnos, 1991.

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL. Regras do jogo, 2010.


Disponível em: <www.brasilhandebol.com.br>. Acesso em: 22 set. 2012.

CURELLI, Jean-Jacques & LAUDURÉ. O handebol – as regras, a técnica,


a táctica. Lisboa: Estampa, 1999.

GARCIA, Juan L. Antón. Balonmano – fundamentos y etapas de apren-


dizaje. Madri: Gymnos, 1990.

______. Balonmano: metodología y alto rendimiento. Barcelona:


Paidotribo, [s.d.].

GRECO, P. J.; ROMERO, J.J.F. (Orgs.) Manual de handebol – da iniciação


ao alto nível. São Paulo: Phorte Editora, 2012.

LATISKEVITS, L. A. Balonmano. Barcelona: Paidotribo, [s.d.].

MARIOT, Jacques. Balonmano – de la escuela... a las asociaciones des-


portivas. Lérida: Deportiva Agonos, 1995.

MARTINI, K. O Andebol: técnica/tática/metodologia. Lisboa: Publicações


Europa-América, 1980.

NÉ, Robert; BONNEFOY, Georges; LAHUPPE, Henri. Enseñar balonmano


para jugar en equipo. Barcelona: INDE, 2000.

SANTOS, Ana Lúcia P. dos. Manual de mini handebol. São Paulo: Editora
Phorte, 2003.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL

SIMÕES, A. C. Handebol defensivo – conceitos técnicos e táticos.


São Paulo: Phorte, 2002.

71
NATAÇÃO
Drª Vanessa Helena Santana Dalla Déa

Apresentação

Este texto é fruto de estudos, pesquisas e de mais de 23 anos de experiência na prática e


ensino da natação. No entanto, abrange mais do que informações técnicas e específicas
da natação, apresenta-se aqui conceitos básicos sobre a prática corporal aquática nas
modalidades natação e hidroginástica, além de outras informações relacionadas
a temas como recreação aquática, resgate e salvamento aquático, e prática corporal
aquática para grupos com necessidades especiais.
Buscou-se aqui apresentar conhecimentos básicos para o desenvolvimento de uma
pedagogia de ensino das práticas aquáticas, onde foca-se e respeitam-se as características
psicossociais e motoras do praticante. Neste processo, a técnica e a padronização do
movimento é um instrumento para auxiliar o indivíduo a se movimentar e deslocar
em meio líquido e não um fim em si mesmo.
Assim, este texto tem como objetivo:
1. Contextualizar o histórico e evolução das práticas aquáticas pelos tempos até hoje.
2. Apresentar aspectos fisiológicos e psicossociais proporcionados pela prática da
atividade motora aquática.
3. Proporcionar, por meio do vocabulário motor básico e específico da locomoção
no meio aquático, conhecimentos relativos aos princípios hidrodinâmicos, pedagó-
NATAÇÃO

gicos e metodológicos (estratégias e progressões pedagógicas) de ensino básico e da


iniciação esportiva.

73
4. Apresentar e incentivar a pesquisa científica nas práticas aquáticas.
5. Conhecer, entender e descrever os estilos da natação, respectivas saídas e
viradas. Envolver os alunos em experimentações dos processos de aprendizagem do
controle motor e das habilidades físicas no meio líquido, fundamentados no desenvol-
vimento e crescimento da criança e do adolescente, com consciência da problemática
educacional e do trabalho realizado em ambientes não formais (clubes e academias).
6. Proporcionar conhecimentos básicos da hidroginástica, analisando provas e
funções musculares no meio aquático.
7. Apresentar informações básicas para a vivência e ensino do polo aquático.
8. Envolver os alunos na problemática do afogamento, apresentando informações
básicas de prevenção, resgate e salvamento aquático.
9. Apresentar as capacidades físicas e analisar seu desenvolvimento nas práticas
corporais aquáticas.
10. Contribuir para a formação de professores que entendam o ser humano
como um ser provido de diferenças, adequando as atividades a cada faixa etária,
interesses e necessidades.

1. História das práticas aquáticas e sua evolução

“Tudo indica que as origens da natação se confundem com as origens


da Humanidade. Raramente por temeridade, mais freqüentemente por
necessidade, às vezes, por prazer, o homem entrou em contato com o
elemento líquido” (CATTEAU e GAROFF, 1990, p. 21).

Desde os primeiros indícios da existência do homem já existem sinais de que


este fazia práticas corporais aquáticas. Os primitivos nadavam como forma de
sobrevivência: para pescar, fugir de predadores e chegar até locais onde se tinha
que atravessar rios ou lagoas.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 1. Arte de nadar (CATTEAU e GAROFF, 1990).

74
Os arqueólogos calculam que a mais antiga ilustração (Figura 1) conhecida da
arte de nadar remonta de 9000 anos antes da nossa era e foi encontrada em uma
caverna das grutas do deserto da Líbia (CATTEAU e GAROFF, 1990).
Três mil anos antes da nossa era, o hieróglifo “nadar” (Figura 2) atesta um raro grau
de acabamento da técnica com pernas realizando movimentos alternados e braços em
circundução como no atual nado crawl (Catteau e Garoff, 1990).

Figura 2. “Arte de Nadar” (CATTEAU e GAROFF, 1990).

Os militares certamente foram importantes para o desenvolvimento da natação,


não existe inimigo maior do que um rio ou lago para quem não sabe nadar. Assim,
o ensino sistemático da natação aos soldados influenciou na pedagogia da natação
(CATTEAU e GAROFF, 1990).
Os romanos por volta de 300 a.C. já tinham o hábito de nadar em rios e lagos, e
foi na Roma que surgiram as primeiras piscinas dentro de termas. Tais termas tinham
piscinas de diversas temperaturas com objetivo terapêutico e de lazer. Após os jogos e
lutas os homens entravam em piscinas quentes e iam passando para piscinas mais frias
progressivamente (BONACHELA, 2001).
Se para os primitivos nadar era questão de sobrevivência, para os romanos tinha
a conotação de educação. Quando os romanos queriam referir-se à falta de educação
e de requinte social das pessoas diziam: “é tão ignorante que não sabe nem nadar”.
Na Grécia, na Lei 689 de Platão, está prescrito que “todo cidadão educado é aquele
que sabe ler e nadar” (DAMASCENO, 1997).
Na Idade Média a prática da natação ficou restrita à nobreza. Mas, no final deste
período, nadar era uma obrigação e quem não soubesse era considerado ignorante.
Os professores eram aqueles que apresentavam melhor performance na água.
Por meio da Idade Média a natação se difundiu, mas ainda sem caráter esportivo
(FERNANDES e COSTA, 2006).
Segundo Colwin (2000), “como seres eminentemente terrestres, nossos movi-
mentos de natação iniciais são rústicos, comparativamente ineficazes e longe de ser
compatíveis com uma verdadeira eficiência na água”. Assim, o homem foi buscando
formas de aperfeiçoar seus movimentos no meio líquido.
O primeiro manual de natação foi publicado por Nicolas Wynmann, em 1538
NATAÇÃO

(COSTA, 2010). Neste livro, o autor descreve o nado peito como a forma de nadar
que todos deveriam aprender.

75
Colwin (2000) relata que foram quatrocentos anos de predominância do nado
peito. Inicialmente, o nado peito era executado com os pés em flexão plantar, empur-
rando a água com o dorso do pé. Nos séculos XVI e XVII, a cabeça ficava fora da
água todo o tempo. No século XVII, Thevenot em seu livro recomendava o ensino
do movimento dos braços do nado peito em pé (Figura 3) com a água na altura dos
quadris, como se pode ver na figura abaixo. Apenas no século XIX começou-se a
utilizar a perna do nado peito com os pés em extensão plantar, empurrando a água
com a sola dos pés.

Figura 3. Nado peito em pé (Colwin, 2000, p.08).

A pedagogia do ensino do nado inicialmente era realizada com o treinamento do


movimento do nado peito fora da água. Na França, o ensino era realizado em bancos
ou tamboretes onde o professor auxiliava o movimento manualmente na frente e atrás
do nadador (COLWIN, 2000). Para facilitar a compreensão do movimento, este
era dividido em quatro tempos, como se pode ver na figura 4, retirada de manual
utilizado por professoras primárias na França, editado em 1887 (CATTEAU e
GAROFF, 1990).
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 4. Tamborete utilizado para ensino (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.42).

76
Na mesma época, na Alemanha, o ensino do movimento era feito pendurando o
praticante em barras paralelas com o corpo fixo por correntes que passavam no peito
e no abdômen do indivíduo, como se pode ver na figura 5. Tais procedimentos de
“natação a seco” mostravam-se ineficientes e nada agradáveis segundo Colwin (2000).
Em 1922, foi lançado um livro com
ilustrações de um aparelho desenvolvido
para que até dez praticantes executassem
ao mesmo tempo o movimento na água,
suspensos e presos por cordas e cinturões.
O aluno aprendia a nadar com o auxílio de
um cinto de couro que o mantinha em segu-
rança em cima da água, mas que, no entanto,
dava falsa liberdade e dificultava a movi-
mentação dos nadadores, proporcionando
segurança, mas não adaptava os nadadores
adequadamente. O nado era inicialmente
aprendido fora da água em quatro tempos
em pé (Figura 6), depois o nadador era preso
no aparelho que não o permitia sair do lugar Figura 5. Prática de ensino em correntes
(Figura 7) (CATTEAU e GAROFF, 1990). (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.40).

Figura 06. Ensino do nado em pé (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.42).


NATAÇÃO

77
Figura 7. Aparelho para ensinar a nadar (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.43).

Em 1852, Chevalier cria um carrossel (figura 8) que permite a execução do nado


em movimento, no entanto fora da água, o que segundo Catteau e Garoff (1990) foi
uma inegável regressão no plano técnico e pedagógico.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 8. Carrossel de Chavalier (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.43).

Nesta época, a influência militarista induzia as pessoas que se propunham a


ensinar a natação criar métodos coletivos, onde um número maior de pessoas
aprendesse o movimento ao mesmo tempo (Figura 9). Nesta perspectiva, mais um
aparelho foi criado, o aparelho Trotzier permitia que mais pessoas participassem ao
mesmo tempo do processo de ensino, onde os alunos faziam movimento ao mesmo
tempo em sincronia com o comando do professor.

78
Figura 9. Aparelho de Trotzier (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.44).

Em 1798, surge Guts Muths, alemão que popularizou o ensino da natação, passando
sua pedagogia para muitas pessoas ao mesmo tempo. Ele insiste no método com o uso
de artefatos para flutuação. Seu método era dividido em três partes: adaptação do
indivíduo na água, exercícios fora da água e exercícios específicos de natação dentro
da água (FERNANDES e COSTA, 2006).
Em 1797, o italiano De Bernardi mudou a visão da pedagogia da natação, voltando
seus estudos à flutuação, afirmando que os artefatos utilizados como auxílio na flutuação
e no aprendizado dos gestos desestimulavam os aprendizes (BONACELLI, 2004).
Hermann Ladebeck, em 1914, descreveu uma metodologia para iniciantes com
o objetivo de adaptá-los à água, com movimentos de saltos, saídas, movimentos de
pernadas em decúbito dorsal, antes da aprendizagem dos estilos de nado. Também
sem a utilização de aparelhos sustentadores, Kurt Wiessner, em 1925, da Alemanha,
pode ser considerado como um dos precursores de uma pedagogia mais moderna,
baseada na compreensão da capacidade natural do corpo em se sustentar na água
(FERNANDES e COSTA, 2006).
Catteau e Garoff (1990) desenvolveram um método fortemente influenciado
pela psicomotricidade, com claras preocupações utilitárias, onde o ensino da natação
é tratado com caráter menos tecnicista.
A primeira competição oficial de natação foi organizada pela Sociedade Britânica
de Natação, na Inglaterra, em 1837, na qual o estilo adotado pelos atletas era o
nado peito. No Brasil, somente em 1898, após a fundação dos primeiros clubes, foi
instituído o primeiro campeonato brasileiro, constituído de uma única prova (1.500
metros), disputada em águas abertas no Rio de Janeiro com regularidade até 1912
(FERNANDES e COSTA, 2006).
Colwin (2000) relata que a braçada do nado crawl já havia sido utilizada há
NATAÇÃO

muito tempo, no entanto, durante a Idade Média desapareceu da Europa, por causa
da crença de que epidemias poderiam ser disseminadas com os banhos ao ar livre.

79
Assim, as pessoas preferiam nadar peito com o rosto fora da água. Existem indícios
de que a braçada do nado crawl tenha sido criada por povos oceânicos, onde a maior
flutuabilidade proporcionada pela água salgada pode ter facilitado a recuperação
aérea do braço.
Em 1870, Arthur Trudgeon, um instrutor inglês de natação viajou para a América
Latina e observou o estilo alternado de nadar. E levou para a Inglaterra o nado “trudgeon”,
hoje conhecido como nado crawl com perna tesoura. Consistia de movimentos de cir-
cundução antero-posterior, alternada dos membros superiores (como no nado crawl)
e movimento de membros inferiores parecido com o executado no atual nado peito.

Figura 10. Nado peito.

Percebeu-se que a pernada do peito dificultava a execução e a propulsão do nado


Trudgeon. Assim, após algum tempo na Austrália o nado crawl foi realizado sem
movimentos de pernas para só depois iniciar a utilização das pernadas alternadas e
contínuas como é o nado crawl hoje (COLWIN, 2000).
A natação mostra-se um esporte de grande importância nas sociedades, prova
disso é que já estava incluída nas Olimpíadas desde a primeira disputa em Atenas,
1896, onde disputaram os nados peito (Figura 10) e crawl (Figura 11).
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 11. Nado crawl.

O nado costas que até hoje é o único nado oficial realizado em decúbito dorsal
(Figura 12) foi incluído nos Jogos Olímpicos de 1904. Inicialmente, o nado costas era
feito com movimentos dos braços simultâneos e pernada do peito. Em 1920, o nado
costas imitava o crawl em decúbito dorsal com pernas alternadas, como é até hoje, e
braços alternados, com fase aérea flexionados e fase aquática estendidos. Em 1930,

80
o nado costas era chamado de “crawl de costas de Kiefer”, com braçadas alternadas
com recuperação e puxada com braço estendido. Para só depois se transformar no
nado costas que conhecemos hoje (COLWIN, 2000).

Figura 12. Nado costas.

E o nado borboleta (Figura 13) surgiu da evolução do nado peito apenas na década
de 1940, inicialmente com perna do nado peito, para depois se transformar no nado
borboleta moderno (COLWIN, 2000).

Figura 13. Nado borboleta.

Os estilos novos e suas alterações surgiam quase sempre por modificações de


estilos já existentes, que aconteciam e eram permitidos por brechas nas regras da natação.
As pedagogias para o ensino da natação muitas vezes se confundem com o ensino
dos quatro estilos competitivos. Catteau e Garoff (1990) classificaram as diferentes
correntes pedagógicas surgidas através dos tempos para o ensino da natação em corrente
global, corrente analítica e corrente moderna. A mais antiga é a corrente global, nela
o aprendizado não é sistematizado, vai ocorrendo na medida em que o sujeito se
aproxima do meio líquido por meio de um confronto individual com as dificuldades
que lhe são impostas no contato com este meio. Na corrente analítica, diferente da
global, existe a tentativa de racionalizar a aprendizagem. Nesta, os movimentos são
fracionados, os estilos da natação são conduzidos passo a passo pelo professor e
predomina a etapa de natação em seco e a utilização dos aparelhos que já foram
descritos neste texto. A concepção analítica foi muito aceita nos meios militares e
também influenciou fortemente, além do ensino da natação, a educação física escolar
NATAÇÃO

no Brasil. Finalmente, com críticas à fragmentação e ao mecanicismo da corrente


analítica, surge a corrente moderna. Nesta, o aprendizado é feito diretamente na água e

81
adota elementos comuns entre todas as formas de nado como a base do aprendizado:
as unidades de equilíbrio, de respiração e de propulsão.
No Brasil, começou-se a estabelecer uma visão do ensino da natação em 1978,
com a publicação do livro de Machado intitulado “Pedagogia da natação”, com a
descrição da etapa de adaptação ao meio líquido até então ignorada. Outra obra que
influenciou fortemente a pedagogia de ensino da natação no Brasil foi “A natação:
ciência e técnica para a preparação de campeões”, de Consilman , lançada no País em
1980, que tem sua data original de 1968.
A literatura sobre natação disponível hoje no Brasil apresenta dois enfoques prin-
cipais: livros com sequências pedagógicas prontas para serem copiadas ou livros que
tratam de treinamento desportivo para a natação competitiva.
Fernandes e Costa (2006) relatam que:

“Os maiores desafios enfrentados por cada professor de natação são: superar
a noção de que aprender a nadar se resume ao domínio técnico dos quatro
estilos; valorizar o aluno como alguém que já traz um saber consigo;
considerar o aluno membro ativo no processo de aprendizagem, mudar sua
postura diante dos objetivos a serem alcançados”.

Hoje a pedagogia da natação ainda enfrenta problema. Não se utiliza mais os


artefatos de sustentação, no entanto a fragmentação do movimento e o ensino baseado
apenas na técnica do movimento são frequentes. As pedagogias atuais se baseiam
quase sempre no ensino dos quatro estilos da natação (FERNANDES e COSTA,
2006), sem, no entanto considerar quem é o aprendiz, qual sua idade, suas condições
motoras, sociais, políticas, emocionais e suas reais necessidades.

2. Conceitos e informações básicas da natação

2.1 Conceitos básicos

2.1.1 Deslocamento da água x domínio da mecânica dos quatro estilos


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Natação pode ser conceituada como desporto estruturado e regulamentado que


busca obter registros de tempo cada vez mais inferiores, por meio de treinamento
metódico, individualizado e específico, exigindo o domínio das técnicas, conheci-
mento de ritmo e adequada preparação física e motora (DAMASCENO, 1997).
A natação é tratada desta forma na maioria das bibliografias produzidas sobre esta
modalidade como em Counsilman (1980), Maglisco (1999) e Colwin (2000), com
uma ênfase tecnicista.

82
Para Damasceno (1997), este conceito é reducionista tratando as práticas aquáticas
com caráter puramente mecanicista. As práticas aquáticas podem proporcionar uma
amplitude de experiências motoras, psicológicas, sociais e afetivas se tratada de forma
mais ampla, respeitando objetivos e necessidades além da natação competitiva,
aceitando as diversas formas de se nadar, recrear e deslocar em meio líquido. Muitas
vezes formas que estão muito mais presentes no cotidiano das pessoas do que os
quatro estilos da natação.
Ainda para Damasceno (1997) a natação:

“deve proporcionar o inter-relacionamento entre o prazer e a técnica, através


de procedimentos pedagógicos criativos, principalmente sob a forma de
jogos, que facultem comportamentos inteligentes de interação entre o
indivíduo com o meio líquido, visando ao seu desenvolvimento”.

Segundo Santana e Dalla Déa (2009), em uma visão mais generalizada, a natação
pode ser definida como: a habilidade de autopropulsão e autossustentação em meio
líquido. As autoras relatam que desta forma a natação se torna uma atividade inclusiva,
respeitando as individualidades e diferentes formas de nadar. Dizem ainda que as
informações referentes às técnicas dos quatro estilos são importantes para facilitar
a movimentação em meio líquido tornando-se um elemento de motivação para a
prática, e não um engessamento para a amplitude de diversidade possível de vivências
motoras no meio líquido.

NATAÇÃO

Figura 14. Fotografia de Vanessa Helena Santana Della Déa. Bebê nadando.

83
A maneira como o professor conceitua e considera a natação será determinante
para o tipo de intervenção que este irá proporcionar para seus alunos. O conceito mais
tecnicista leva a proposta didático-pedagógica, que visa prioritariamente à melhora da
técnica e do tempo, embasada na aprendizagem e aperfeiçoamento dos quatro estilos
da natação. Neste tipo de intervenção a busca pela técnica e menor tempo atropela
o respeito pelas características do praticante. Tal procedimento deveria ser utilizado
exclusivamente quando se busca a natação competitiva. No entanto, a natação
tecnicista e competitiva tem caráter de exclusão, pois são poucas as pessoas que tem
como objetivo a competição e que tenham condições físicas, sociais e psicológicas
de atingir os melhores tempos e a melhor técnica de movimento.
Se a natação for considerada como a habilidade de autopropulsão e autossusten-
tação em meio líquido este esporte se torna uma atividade de caráter inclusivo, assim,
mesmo um bebê (como na Figura 14) é capaz de nadar. Neste contexto, a técnica é
fundamental para melhorar a autopropulsão e a autossustentação no meio líquido.
No entanto, caso o aluno não obtenha a técnica considerada perfeita e o menor tempo,
o que é muito mais frequente do que o inverso, ele mesmo assim estará nadando.
Assim, pessoas com menor flexibilidade articular que não tenham condições físicas de
executar o movimento ótimo da braçada do nado crawl, como é o caso de grupos com
necessidades especiais, como idosos e sedentários. Ainda neste contexto, a natação
não se resume nos quatro estilos (crawl, costas, peito e borboleta) existem muitas
formas outras de autopropulção e autossustentação em meio liquido, proporcionando
uma vivência motora e psicológica muito rica e diversa.

2.2 Objetivos da natação

A natação poder ter como foco principal alguns objetivos. Estes devem ser determinados
com bom senso dependendo das necessidades e anseios do praticante, podendo ter
como foco principal:
• Condicionamento físico: priorizando a melhora das capacidades físicas (força,
flexibilidade, resistência, coordenação e equilíbrio motor), com objetivo de melhorar
a aparência e a funcionalidade corporal.
• Competitivo: tem o objetivo de obter registros de tempo cada vez mais inferio-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

res por meio de um treinamento metódico, individualizado e específico, exigindo o


domínio das técnicas, conhecimento de ritmo e adequada preparação física e motora,
como já dito anteriormente.
• Terapêutico: Natação que visa terapia busca o melhor estar do indivíduo.
A maioria das vezes é relacionada para pessoas com deficiência, no entanto pode
ser direcionada para qualquer pessoa. As pessoas com deficiência podem ter como
objetivo a natação competitiva, a recreativa, condicionamento físico ou a natação
utilitária, e não necessariamente terapêutica. Da mesma forma, existem diversas

84
pessoas sem deficiência caracterizada que apresentam desvios motores, cognitivos
e/ou psicológicos.
• Recreativo: A atividade aquática recreativa pode ter duas vertentes: a natação
recreativa ou a recreação aquática. A natação recreativa tem como objetivo central
o ensino dos nados por meio de uma pedagogia lúdica. A recreação aquática tem
como objetivo brincar, se divertir por meio de atividades lúdicas sem a preocupação
de melhorar sua habilidade em meio líquido.
• Utilitário: o nado utilitário é aquele que busca uma forma de nadar com segu-
rança, isto é, nados que buscam evitar o afogamento por meio do autossalvamento.
Segundo Santana, Tavares e Santana (2003), o ensino da natação com aspecto utilitá-
rio maximiza o papel social do professor da educação física, tornando-o um colabo-
rador na prevenção de afogamentos. Proporcionar aos alunos a prática dos nados
utilitários possibilitará que eles vivenciem diferentes situações em meio líquido,
que poderão ser importantes se os mesmos se defrontarem com uma situação de
perigo, podendo inclusive diminuir o número de afogamentos.

Algumas vantagens da atividade aquática sobre a terrestre

Santana e Dalla Déa (2009) relatam algumas das muitas vantagens da prática
corporal aquática, como:
• Superfície instável e não rígida:
Na prática aquática o movimento é realizado sem que haja uma superfície
rígida e estável exigindo assim um controle de corpo diferenciado e uma vivência
corporal nova e específica.
• Resistência da água:
A resistência causada pelo meio líquido proporciona uma sobrecarga natural
ao movimento que é mil vezes maior que se o mesmo movimento fosse execu-
tado fora deste. Esta sobrecarga proporciona o implemento de força e equilíbrio
diferenciado.
• Redução do peso corporal:
Em uma piscina com profundidade onde a água atinja até o pescoço do indi-
víduo, a redução corporal é de 90%. Esta redução proporciona maior facilidade ao
movimentar-se, com maior mobilidade o praticante pode executar movimentos
difíceis ou impossíveis de serem executados fora do meio líquido, ampliando sua
vivência corporal.
• Retorno sanguíneo facilitado:
Como veremos ao estudar hidroestática, quando estamos em pé na piscina a
pressão hidrostática proporciona melhor retorno sanguíneo, aumentando a irrigação
NATAÇÃO

sanguínea nos órgãos vitais.

85
Principais mudanças ocorridas em meio aquático

A natação é uma atividade que requer adaptação, pois diversas alterações


acontecem quando estamos nadando se comparado quando estamos caminhando.
Na natação, pode-se verificar diferenças de prevalências para o equilíbrio, propulsão
e movimentos respiratórios em relação a maioria dos movimentos realizados em solo.
Damasceno (1997) e Santana e Dalla Déa (2009) relatam que para a manuten-
ção do equilíbrio quando se está caminhando utiliza-se movimentos dos membros
superiores. Na natação, os membros inferiores fazem esta mesma função na maioria
dos casos. Para propulsão ao caminhar utiliza-se membros inferiores, na natação os
membros superiores são os principais propulsores para o deslocamento. A realização
dos movimentos respiratórios nos exercícios de solo tem como predominância a
respiração nasal, enquanto na natação a respiração é predominantemente bucal,
para que se tenha controle deste movimento sem inspirar água. No exercício de solo,
a inspiração é reflexa, ou seja, não é preciso raciocinar para executá-la e a expiração
é passiva, bastando o relaxamento dos músculos respiratórios e a pressão da caixa
torácica para que o ar seja expelido. Já na natação a inspiração torna-se automática, isto
é, inicialmente é cognitiva, necessitando de aprendizagem e um período de treinamento
para se tornar automática. Como já foi dito a água é muito mais resistente que o ar,
sendo assim, para executar a expiração submersa em meio líquido, o indivíduo terá
que realizar determinada força, assim executa-se uma expiração ativa, o que pro-
porciona o fortalecimento da musculatura respiratória e minimização de problemas
como asma e bronquite.
Todas estas modificações estão apresentadas no quadro apresentado por
Fernandes e Costa (2006)

Terra Água

Equilíbrio Membros superiores Membros inferiores

Propulsão Membros inferiores Membros superiores

Respiração Nasal Bucal


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Inspiração Reflexa Automática

Expiração Passiva Ativa

Propriedades físicas da água

Velasco (1997) relata que “estar e agir em meio aquático é diferente de estar e agir
em meio terrestre”.

86
Todas as alterações apresentadas anteriormente assim como os benefícios da
prática aquática são impostos pelas propriedades físicas do meio líquido.

Propriedades físicas do meio líquido

Seguramente, pode-se afirmar que ao nadar o corpo não desloca-se na água e


sim contra esta. Existem diversas forças resistivas que dificultam a movimentação do
corpo no meio líquido. Mas também existem forças estáticas que facilitam a flutuação
do corpo na água.
Quando se está nadando a propulsão é o resultado do equilíbrio entre as forças
propulsivas e as forças resistivas, e o objetivo de uma melhor técnica nos nados da
natação é maximizar as forças propulsivas e minimizar as resistivas.
Na hidroginástica, parte-se do princípio contrário, quanto maior as forças resistivas,
maior será a sobrecarga durante o exercício, assim se terá como resultado maior ganho
de força, resistência muscular localizada e resistência cardiorrespiratória.
Para entender como melhor se movimentar em meio líquido para maior propulsão
e menor resistência na natação, ou o contrário na hidroginástica, é necessário que se
compreenda as forças que atuam em um corpo imerso no líquido, podendo estas
serem divididas em dois grupos: as forças estáticas ou hidrostática e as forças dinâmicas
ou hidrodinâmica (LOSS e CASTRO, 2010).

Hidrostática

Hidrostática são forças do meio líquido que agem sobre o corpo com a imersão
total ou parcial deste, mesmo que não haja movimento.
Inicialmente alguns conceitos podem auxiliar na compreensão, como a diferença
entre massa, peso e densidade corporal. Para Bonachela (2001), massa é a quantidade
de matéria que uma substância compreende que pode ser mensurada em centímetros
ou metros cúbicos, enquanto peso, é esta massa mais a força com a qual esta é atraída
no sentido do centro da Terra, isto é a massa mais a força da gravidade ou ainda é a
quantidade de peso quantificada em uma balança comum.
Já a densidade tem relação com o tipo de matéria que compreende a massa e é
calculado por meio da relação entre massa e volume (D=m/v). A densidade tem
relação direta com a flutuação, enquanto peso e massa, não. Por exemplo, um prego
com poucos gramas afunda rapidamente no meio líquido, enquanto toras de madeira
de mais de 100kg flutuam, isto se dá pelo fato de a madeira ser menos densa que o
ferro, apesar das toras serem muito mais pesadas que o prego (BONACHELA, 2001).
O mesmo acontece com uma pessoa obesa e outra hipertrofiada. Pode ser que
NATAÇÃO

estes dois indivíduos tenham exatamente o mesmo peso e a mesma altura, no entanto
a pessoa obesa flutuará com mais facilidade que a pessoa com grande quantidade

87
de tecido muscular. Isto acontece por que o tecido adiposo é menos denso que o
tecido muscular.
A água do mar tem maior densidade (1024 kg/m³) que a água piscina (1000 kg/m³),
assim, no mar é mais fácil flutuar que na piscina. A densidade do corpo humano é aproxi-
madamente 950 kg/m³ por isso flutua. No entanto, esta é uma média, existem pessoas com
maior densidade que 950 kg/m³ então afundam mais, e pessoas com menor densidade
que flutuam com maior facilidade.
Este fato também facilita a compreensão do por que as mulheres geralmente têm
maior flutuabilidade que os homens, a maior concentração de tecido adiposo disposta
nos quadris e abdômen facilitam a flutuação (Figura 15).

Figura 15. Centro de gravidade na flutuação

Dentre as leis da física no meio líquido as mais importantes e mais citadas pelos
autores (BONACHELA, 2001; CATTEAU e GAROFF, 1990; PALMER, 1990) são
o Princípio de Arquimedes e a Lei de Pascal.
Segundo Palmer (1990), um matemático grego chamado Arquimedes (287-212
aC) descobriu os fundamentos da flutuabilidade ao tomar banho em sua banheira
notou que quando entrava a água nas laterais aumentavam. Assim, o Princípio de
Arquimedes diz que: “Quando um corpo está completo ou parcialmente imerso em
um líquido, ele sofre um empuxo para cima, que atua em sentido contrário a força da
gravidade, igual ao peso do líquido deslocado”.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 16. Princípio de Arquimedes

88
Loss e Castro (2010) o empuxo, ou Princípio de Arquimedes, é a principal
força estática, e que este acontece por que a água, como qualquer outro fluido, fará
pressão sobre um corpo que nela tenha sido imerso, como se tentasse “ocupar o lugar
deste corpo”. Esta pressão é maior de baixo para cima, pois existe uma diferença
entre a profundidade onde se encontra a parte inferior e a parte superior do corpo,
empurrando-o para cima (Figura 16).
O empuxo age como se amarrássemos balões de hélio em um corpo fora da água.
Os balões puxam o corpo para cima, fazendo uma força contrária ao do peso deste
corpo, no entanto o peso não diminui. Da mesma forma, o peso de um corpo submerso
em meio líquido não diminui, mas o empuxo o empurra para cima. Se o peso for superior
ao empuxo este corpo afunda.
Para completar o entendimento das forças estáticas é preciso entender a Lei de
Pascal, também conhecida como pressão hidrostática, segundo ela: “A pressão do
líquido é exercida igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo imerso
em repouso, a uma determinada profundidade”.
Bonachela (2001) relata que a pressão hidrostática é aumentada de acordo com:
a densidade do líquido (salgado), profundidade da piscina em que o corpo se
encontra e profundidade que a parte do corpo se encontra. Se imerso em líquido
com maior densidade, como é o caso da água do mar, o corpo irá sofrer maior pressão
hidrostática do que se estivesse em um meio menos denso. Da mesma forma, quando
flutuamos em uma piscina de menor profundidade a pressão hidrostática é menor do
que o inverso. Assim, em piscinas onde permaneço verticalmente com o pé encostado
no fundo desta fazendo hidroginástica vivencio menor pressão hidrostática do que
quando estou na mesma posição com cinto flutuador fazendo aula de corrida em
flutuação em piscinas de grande profundidade. E ainda quanto mais fundo encontra-
-se uma parte do meu corpo maior será a pressão que este sofrerá. Assim, ao fazer aula
de hidroginástica em pé, meus pés sofrerão uma pressão maior em relação aos meus
joelhos, no entanto os joelhos sofrem pressão maior que os quadris, da mesma forma
os quadris sofrem maior pressão que o tórax e assim por diante. Esta pressão maior na
parte inferior do corpo e menor na parte superior proporciona a melhora do retorno
sanguíneo, como se fosse um trabalho de drenagem linfática.
Ao saltar na aula de hidroginástica, tanto o empuxo quanto a pressão hidrostática
proporcionam menor impacto nas articulações do que se estivesse saltando no solo.
O peso hidrostático é o resultado da diferença entre o peso corporal e todas as
forças que auxiliam a flutuação. Como vimos quanto mais imerso um corpo estiver no
meio líquido maior serão as forças estáticas que favorecem a flutuação, assim quanto
mais funda é a piscina em que o indivíduo está imerso e em pé, menor será seu peso
hidrostático. A tabela a seguir apresenta os valores de redução do peso corporal quando
NATAÇÃO

se está imerso em uma piscina com a profundidade equivalente parte do corpo.

89
Altura da água Homem Mulher
Pescoço 90% 92%

Ombros 82% 86%

Xifóide 67% 71%

Umbigo 52% 57%

Joelhos 11% 12%

Tornozelos 2% 2%

Loss e Castro (2010) relatam que outro fator importante, apesar de não ser uma
força, para entender a ação do meio líquido sobre o corpo é a chamada tensão super-
ficial. Esta tensão é como uma camada elástica que se forma na superfície da piscina
e está relacionada com a diferença de pressão entre os dois lados da interface. As
moléculas que ficam na parte interna da piscina interagem com as demais moléculas
em todas as direções. No entanto, as moléculas que se encontram na superfície da
piscina só interagem com as que estão do lado de dentro da piscina, sofrendo uma ação
de atração para dentro do líquido. Todas estas pressões fazem com que a resistência
oferecida a um corpo em movimento na água seja maior quando se está mais próximo
da tensão superficial. Assim, um nadador ao se impulsionar na borda sofrerá menos
resistência e deslocará com maior velocidade se mantiver o corpo completamente
submerso até iniciar os movimentos com membros superiores.

Hidrodinâmica

Segundo Palmer (1990), hidrodinâmica é o estudo dos corpos em movimento


na água ou em fluídos em movimento. Na natação, a hidrodinâmica oferece conhe-
cimentos para aplicação dos elementos de propulsão e resistência, para análise da
mecânica dos nados.
A água consiste de moléculas de hidrogênio e oxigênio que tendem a flutuar em
correntes regulares e contínuas, que são compactas umas sobre as outras, recebendo o
nome de fluxo laminar. Caso um objeto sólido interrompe o fluxo regular e contínuo
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

da água, torna o fluxo turbulento. Quando um corpo interrompe o fluxo tornando-o


turbulento as moléculas da água se separam repicando umas nas outras em direções
aleatórias. As moléculas da água em turbulência vão progressivamente invadindo
outros fluxos laminares, causando um padrão crescente de turbulência, observável
pelas ondas que se propagam, até que este perda a força.
Maglisco (1999) relata que a água exerce um efeito retardador muito profundo
nos objetos que se deslocam por meio dela, e que esta resistência ao movimento é
chamada de arrasto.

90
Quando os nadadores deslocam-se por meio da água, exercem forças contra
o arrasto que fazem com que o meio entre em movimento. Algumas destas forças
promovem a propulsão do corpo para frente e outras o retém.
Assim, a propulsão final será a diferença entre o arrasto resistivo (que a água e seus
movimentos oferecem) e as forças propulsivas (executadas pela força do movimento
do nadador).
Quanto mais denso for o líquido maior será o arrasto resistivo. No entanto, é
importante saber que o aumento do arrasto não se dá apenas em função da densidade
e do movimento da água, mas principalmente pela forma causada pelo movimento do
nadador. Este arrasto é chamado de arrasto de forma.
Maglisco (1999) relata que existem três categorias de arrasto: arrasto de forma,
arrasto de onda e arrasto friccional. O arrasto de forma é causado pelo porte e forma
do corpo dos nadadores em seu deslocamento propulsivo na água.
Os objetos com menos resistência de forma são objetos com forma afilada pois
provocam menor resistência ao se deslocar em meio líquido do que objetos com
cantos quadrados, mesmo que estes tenham a mesma área de superfície (Figura 17).
A parte afilada permite que a direção das moléculas da água ultrapassem o objeto
mudando de direção de forma muito gradual e o final afilado também permite que
as moléculas retornem a sua posição inicial sem que haja tanta turbulência. Os peixes
possuem forma ideal para deslocar em meio líquido.

+ - + -

Figura 17. Objeto com menor e maior resistência em meio líquido

O objeto com cantos quadrados proporciona o aumento do que Consilman


(1980) chamou de sucção posterior ou resistência de esteira. Após um corpo ou
objeto deslocar-se pelo meio líquido este fará um vazio ou “buraco” que será preen-
chido novamente após sua passagem. A sucção posterior é produzida pela água que
não é capaz de preencher o vazio que fica por trás das partes pouco aerodinâmicas ou
com maior resistência de forma, dificultando a propulsão com o arrasto de um certo
número de moléculas (Figura 5).
Se uma pessoa nadar logo atrás da outra pode-se dizer que está sendo arrastada
NATAÇÃO

pela da frente (MAGLISCO, 1999). Isto se dá por que a sucção posterior funciona
como uma esteira que puxa o nadador de trás, facilitando seu movimento.

91
Palmer (1999) relata que os melhores nadadores geralmente possuem ombros
largos e tórax profundos que convergem para um quadril estreito e para pernas
alongadas, o que caracteriza um corpo com menor resistência de forma.

Resistência frontal
Atrito epidérmico

Sucção posterior ou
resistência de esteira

Figura 18. Resistência, atrito e sucção produzidas pela propulsão

No entanto, é importante lembrar que a forma do corpo do nadador pode ser


modificada com sua técnica. Enquanto o indivíduo nada seu corpo adquire uma
forma que pode ser mais ou menos hidrodinâmica. Counsilman (1990) relata que
quanto mais horizontal o corpo for mantido no momento da execução do movimento
dos nados menor arrasto de forma terá e maior será sua propulsão. A figura a seguir
apresenta exemplos de movimentos mais aerodinâmicos.
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Figura 19. Posições de maior e menor resistência

92
Maglisco (1999) lembra que é preciso que os nadadores encontrem um meio
termo em manter o corpo em um alinhamento horizontal no entanto com pernadas
suficientemente profundas para ter contato adequado com o meio líquido para que
estas sejam eficientes, mas não tão profundas a ponto de aumentar desnecessariamente
a área ocupada pelo corpo. O mesmo autor relata que o alinhamento lateral também é
importante, que movimentos laterais excessivos do corpo também podem aumentar
a superfície de contato do corpo na água aumentando assim a arrasto de forma.

Figura 20. Arrasto de forma

Quando um objeto se desloca em meio líquido causa uma turbulência na superfície


da água formando o arrasto de onda (MAGLISCO, 1999). A forma mais comum de
arrasto de onda é a onda de proa, a pressão que o corpo do nadador faz contra a água
para invadi-la e progredir resulta em uma onda que se forma na frente da cabeça do
nadador. Esta onda também pode ser observada em barcos à frente da proa. Quanto
maior a velocidade do objeto que desloca na água maior será a onda de proa. Por esta
razão, muitas vezes não conseguimos enxergar a boca do nadador do estilo crawl
em competições, pois este respira no “buraco” formado antes da onda de proa. Este
fato pode ser observado na foto do nadador e campeão brasileiro Cesar Cielo onde
parece que a água esta invadindo sua boca e ele não está respirando (Figura 20). Mas
na verdade existe um espaço entre sua cabeça e a onda de proa que o permite virar
menos para respirar. Este fato acaba melhorando a posição horizontal do seu corpo,
NATAÇÃO

e um menor arrasto de forma, pois quanto mais se levanta a cabeça para respirar mais
as pernas afundam resultando em uma posição mais vertical.

93
Figura 21. Respiração lateral.

Maglisco (1999) lembra ainda que existem piscinas em que o movimento do


nadador resulta em maior quantidade e tamanho de ondas que outras. Quando em
uma competição ou treino vários indivíduos nadam ao mesmo tempo, a onda que
o corpo de um nadador forma invade o espaço em que outro nadador esta se deslo-
cando. Estas ondas fazem marolas grandes principalmente nas raias mais próximas da
borda da piscina, pois na maioria das piscinas as ondas batem na borda e voltam para
o centro desta. As piscinas e raias são atualmente projetadas para minimizar este fato,
uma vez que as raias são em forma de rodas como moinho de vento, para que a onda
chegue até esta e seja redirecionada para o fundo da piscina, sem invadir a raia do outro
nadador. Da mesma forma, existem piscinas que permitem que a onda passe por cima
da borda lateral e caia em um buraco que retorna esta água para a piscina pela bomba.
Counsilman (1980) diz que o corpo do praticante de natação faz um atrito
de fricção na água. O atrito de pele e/ou maiô e a água causam o arrasto friccional
(MAGLISCO, 1999). Esta fricção pode ser minimizada com a depilação dos pelos
do corpo do nadador, entretanto, lembra Counsilman (1980) que não há evidências
válidas para apoiar a depilação, mas que esta prática amplia a sensibilidade do nadador
ao tato e pressão da água proporcionando uma melhor coordenação dos movimentos.
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Loss e Castro (2010) relatam que nos Jogos Olímpicos de Pequim as roupas dos
nadadores foram projetadas na tentativa de minimizar o arrasto friccional, em sentido
contrário, nos Jogos Olímpicos de Sydney, ainda com a intenção de minimizar o
atrito da água com o corpo, o convencional tratamento de piscinas feito com cloro
foi substituído por um tratamento à base de ozônio, que diminuía a densidade da
água e, assim, a fricção desta no corpo do atleta.
Todas estas informações são utilizadas como base para o desenvolvimento
da técnica dos nados oficiais da natação. O professor de natação que conhece a

94
hidrostática e a hidrodinâmica é capaz de favorecer a vivencia em meio líquido de
forma a buscar o melhor movimento respeitando as características de cada aluno
e respeitando também estas leis.

3. Aspectos psicossociais da prática corporal aquática

A atividade aquática vem se mostrando uma eficiente estratégia para a busca do


bem estar físico, psíquico e social de muitas pessoas que buscam qualidade de vida.
Esta atividade age proporcionando uma atenção à apropriação de uma imagem do
corpo específica no indivíduo, no sentido de construir um processamento sensorial
diferenciado, que lhe coloque em jogo o surgimento de respostas adaptativas às
múltiplas condições e situações do meio aquático, proporcionando o ajustamento do
seu corpo e do cérebro na água (VELASCO, 1997).
Segundo Velasco (1997), “Estar e agir no meio aéreo não é igual que estar e agir
no meio aquático. Há várias propriedades físicas da água que interferem na ação direta
e indiretamente, não só no corpo, mas em todo nosso universo da vida. Apesar do ser
humano ter estado cerca de 9 meses no meio líquido, ao nascer, passando para o meio
aéreo, muitas coisas transformam-se, a começar da respiração”.
A adaptação a esta atividade proporciona importantes e diferentes experiências
motoras e psicológicas. Enquanto a adaptação terrestre exige a integração tônica
da gravidade do qual decorreu uma das mais relevantes adaptações hominídeas –
a postura bípede – a adaptação aquática, atenua a função da gravidade, razão pela qual
algumas pessoas com deficiência motora atingem na água uma profunda sensação de
liberdade e expandem a sua autoestima e autossegurança; quando em terra, a gravidade
os aprisiona e impede de se locomoverem com autonomia (VELASCO, 1997).
Segundo Miller (1995), a autoestima é a habilidade de realizar coisas, sentir-se
competente e no controle (ao menos de algumas coisas em sua vida), bem como de
estabelecer algumas prioridades para aquilo que você valoriza e de planejar como
gastará seu tempo.
Autoestima é a forma que sentimos acerca de nós mesmos e esta:

“afeta crucialmente todos os aspectos da nossa existência desde a maneira


como agimos no trabalho, no amor e no sexo, até o modo como atuamos
como pais, e até aonde provavelmente subiremos na vida. Nossas reações
aos acontecimentos do cotidiano são determinadas por quem e pelo que
pensamos que somos. Os dramas da nossa vida são reflexos das visões mais
íntimas que temos de nós mesmos. Assim, a auto-estima é a chave para o
NATAÇÃO

sucesso ou para o fracasso. É também a chave para entendermos a nós


mesmos e aos outros”.

95
Grupos muito heterogêneos procuram a atividade aquática pela busca da autoes-
tima, por indicação médica, para fugir do sedentarismo, para fazer amizades, ou por
outros diversos motivos. O que nos espanta é a capacidade desta atividade de suprir
tantos desejos e ainda de mostrar um caminho seguro para se alcançar o amor, conhe-
cimento pelo corpo, e o equilíbrio psicológico e motor. Le Bouch (1992) afirma que
“a imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras
e a sua maturidade”. Portanto a atividade aquática pode ser considerada como fator
agente na imagem corporal de seus praticantes. Acreditamos que a atividade aquática,
com todas as suas qualidades, possa ser um fator estimulante para as descobertas
corporais e consequentemente para a formação da imagem corporal.
Notamos que grupos de pessoas obesas permanecem na atividade aquática durante
mais tempo do que permaneceria em uma atividade terrestre. Podemos atribuir este
fato primeiramente às propriedades físicas da água, que facilita os movimentos e os
deslocamentos (na água com a profundidade ideal para a hidroginástica, uma pessoa
com 100kg pesará apenas 30kg (BONACHELA, 2001)); e, posteriormente, aos
benefícios psicológicos proporcionados pelo meio líquido que agirão diretamente na
imagem corporal destas pessoas.
Diversos autores, como Merleau Ponty, afirmam que o indivíduo só vai ser um
corpo inteiro quando ele se movimentar e descobrir suas deficiências e eficiências.
Transferimos este pensamento para as pessoas que tem dificuldades de mobilidade,
como é o caso dos obesos, das gestantes, dos idosos e da maioria da população que se
encontra no sedentarismo: é preciso que se movimentem e que descubram que apesar
de suas limitações, são muito eficientes e só precisam de um meio que os permitam
explorar-se, o meio aquático.
A piscina é um meio estimulador de sensações. Neste ambiente, estamos imersos
e acolhidos pela água por todos os lados, e, como já vimos, o corpo é apresentado
para nós através de sensações. Envoltos no meio líquido somos mais leves, ágeis e
as imperfeições são escondidas através do movimento da água o que nos faz ver um
corpo eficiente, e ainda sentimos o carinho e o relaxamento que um meio aquecido
e aconchegante pode nos proporcionar causando uma impressão de bem-estar físico.

3.1 Aspectos neurológicos do exercício aquático


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No meio líquido não existem apoios fixos e a força gravitacional é quase nula, o que
favorece a execução dos movimentos mais amplos. Dentro da água, o corpo fica
mais leve, as articulações ficam mais livres de impactos, e podemos nos movimentar
com maior facilidade e segurança, beneficiando, dessa forma, uma ampla vivência e
percepção corporal com menor exigência motora.
Para Schilder (1980), a imagem corporal e suas mudanças vão depender de nossa
percepção. Quando percebemos um objeto ou quando construímos a percepção de

96
um objeto, não agimos meramente como um aparelho perceptivo. Esta percepção vai
depender do novo modo de perceber e do modo que agiremos em relação a esta per-
cepção. Nossa percepção dependerá de nossas emoções, de nossa personalidade e das
zonas erógenas que fluem através do nosso corpo. E completando o pensamento de
Schilder (1980) precisamos de vivências perceptivas para desenvolver uma emoção
perante estas.
Os trabalhos da neurologia dividiram o cérebro em áreas de interpretação, como a
área primária e secundária visual, auditiva, gustativa. A imagem corporal é a junção des-
tas partes do cérebro (neurologia) com a plasticidade e a sensibilidade deste (psicologia).
Segundo Lapierre e Aucouturier (2004), o ponto de vista neurofisiológico nos
ensina que o ser humano é movido pela conexão de três sistemas:
• O sistema cérebro-espinhal, que compreende o córtex ou camada cerebral, os
centros subcorticais, a medula espinhal e as ramificações dos nervos raquidianos e
cranianos. Este sistema tem como receptor a musculatura estriada, os músculos da
vida de relação, encarregados de assegurar a mobilidade das diferentes partes do
corpo; ele também é a sede, em sua parte cortical, dos fenômenos de consciência,
de percepção e de memorização.
• O sistema simpático e parassimpático cujos receptores são os músculos lisos que
asseguram as grandes funções: nutrição, circulação, respiração.
• O sistema hormonal que, modificando a composição do meio interno, assegura
a regulação do conjunto.

Qualquer estímulo ou excitação que atingir um dos sistemas irá repercutir em


todos. Esta conexão se faz em nível de mesencéfalo, onde também se resultam
as diferentes vias sensoriais como visão, audição, olfato, paladar, tato, cinestesia.
É assim que todas as percepções sensitivas desencadeiam respostas motoras e
funcionais adaptativas.
Direcionando este raciocínio a atividade aquática, podemos incluir neste
mapeamento os estímulos que a aula de atividade aquática poderá proporcionar,
como por exemplo:
SG – Sensibilidade Geral: Temperatura da água e fora dela, pressão causada pelo
meio líquido, tato nos materiais utilizados e na própria água, relaxamento muscular
através da hidromassagem, dor proveniente da manipulação muscular.
Eq – Equilíbrio: Diferenciação do equilíbrio com menos efeitos gravitacionais,
equilíbrio de flutuação com ou sem o auxílio de materiais.
Gu – Gustativo: gosto da água.
Vi – Visual: estimulação do movimento da água, companheiros no mesmo movi-
mento, vários níveis de participantes, imagem visual do corpo, cores e formas de materiais.
NATAÇÃO

Au – Auditiva: Ritmos musicais, barulho relaxante da água, voz do professor,


comunicação entre colegas, materiais com som, entre outros.

97
EC – Área do Esquema Corporal: onde todos estes estímulos se encontram
influenciando a imagem corporal.

Para Le Bouch (1983), a observação, o manuseio, a inspeção e o contato com


os objetos externos é feita por meio do corpo. Relata ainda que “o próprio corpo é
o habito primordial, o que condiciona todos os outros e no qual eles se englobam”.
Para que o nosso aluno seja receptivo aos muitos estímulos positivos do meio
líquido e dos movimentos da natação um aspecto importante é que proporcione
prazer, para isso se faz necessário que as atividades sejam muito bem escolhidas e
que tenham fundo lúdico.

3.2 Aspéctos psicológicos do exercício aquático

Para Rocha (s/d), a atividade aquática é uma ferramenta para atingir uma melhora
psicológica significativa, facilitando o desenvolvimento psicomotor, coordenação
motora e socialização.
Segundo alguns autores, como Vicente Bonachela (2001), a atividade aquática
promove os seguintes benefícios quanto aos aspectos psicológicos:
• Faz bem ao ego das pessoas, fazendo-as sentirem-se ativas, confiantes, capazes
de vencerem dificuldades.
• O bem estar físico e mental proporciona uma vida saudável.
• Proporciona a integração e a sociabilização.
• Estimula a autoconfiança, passando a sentir-se segura dentro da água.
• Diminui a ansiedade, está sempre de bem com a vida.
• O aprendizado de novas habilidades traz satisfação pessoal.
• Passa a conhecer melhor seu corpo, suas limitações.
• Passa a ter uma aparência mais jovial, fica mais descontraída e confiante.
A natação tem uma característica psicológica que é vista como um grande desafio
de vida para muitas pessoas: o MEDO. E é preciso muita sensibilidade ao desafiar o
medo das pessoas. É comum ouvirmos: “Se eu aprendi a nadar depois de adulto posso
fazer qualquer coisa”. Desta forma, as pessoas atribuem sua imagem corporal e todas
as suas possíveis realizações ao ato de aprender a nadar. Assim sendo, professor carrega
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uma responsabilidade muito grande.


Garof (1988) afirma que mais comumente o medo está ligado à consequências
desagradáveis de uma atividade anterior e podemos diferenciar:
• O estado ligado a uma experiência infeliz vivida fisicamente;
• O estado ligado a uma experiência infeliz da qual o indivíduo perdeu a lembrança,
mas que deixou traços subconscientes;
• O estado ligado a uma “experiência” não vivida fisicamente mas formada por
referências verbais, pela atitude dos próximos.

98
No relato de um aluno (J.C.C.), do curso de natação do Sesc, ele diz que enquanto
faz aula: “Me vejo como uma criança que engatinha para aprender a andar, no meu
caso aprender a nadar”. Podemos avaliar aqui a importância dada pelo aluno ao aprender
a nadar relacionando-a a uma atividade tão importante na vida de uma criança que é
aprender a andar.
Outra aluna da natação (L.F.S.A.) ressalta suas sensações: “Nas duas primeiras
aulas, me vi com muito medo, mas na última (3a.) já me senti segura. Não estou
preocupada se meus colegas estão mais adiantados que eu, o que importa é que estou
superando meus “limites”. A própria aluna coloca os “limites” entre aspas, o que
me leva a crer que ela está falando dos limites com uma generalização e não das
dificuldades na água.
Notamos que em alguns dos alunos envolvidos neste trabalho nas primeiras aulas
se sentem constrangidos e pouco à vontade em trajes de banho. Com o passar das
aulas, eles vão obtendo um melhor relacionamento com aquele corpo que não estava
acostumado a utilizar-se de poucas roupas. Observamos que os alunos nas primeiras
aulas andam rapidamente para a extremidade mais próxima da piscina e entram
rapidamente na água, nitidamente tentando se esconder. Agora alguns destes já se
permitem caminhar em volta da piscina para chegar ao local da aula, e após a aula vão
conversar com o professor fora da água se deixando mostrar. Acreditamos que o fato
de se sentirem bem na aula e no grupo os faça sentir melhor e relacionar-se melhor
com seu corpo, o que é uma mudança na autoimagem corporal. Buscaglia (1993)
afirma que a formação da autoimagem é criada a partir de noções que cada um tem
sobre seu corpo, mente, capacidades e incapacidades, preferências ou não preferências,
associadas a um número infinito de características aprendidas da personalidade, como
ser amoroso, exigente, compreensivo ou rejeitado. As pessoas aprendem e constroem
sua personalidade a todo momento, aprendem quem são através de experiências
individuais e com outras pessoas.
“Na água, a habilidade de um corpo flutuar é importante na maioria das atividades
aquáticas, fazendo com que o indivíduo diminua o seu peso hidrostático e, conse-
quentemente, as força compressivas que atuam nas articulações principalmente nas
de membro inferiores, reduzindo assim o estresse e provavelmente as lesões articulares”
(BONACHELA, 2001). Por conter tantos benefícios exercícios de flutuação (empuxo)
são utilizados constantemente na hidroginástica e é a base dos estilos da natação.
Quando flutuamos colocamos nosso corpo na posição horizontal, posição utilizada
quando dormimos. Porém, permanecer nesta posição, sem estar apoiado em nenhum
lugar fixo e ainda fazendo movimentos, é uma vivência corporal que só acontece
nestes exercícios. Por esta razão o corpo terá que se adaptar para obter o equilíbrio
e o controle corporal necessários para esta nova posição. Modificando o esquema
NATAÇÃO

corporal e causando uma imagem corporal específica. Velasco reforça esta afirmação
dizendo que “quando se aprende a nadar organiza-se em termos neuropsicomotores,

99
isto é, obtém significações das sensações proporcionadas pela motricidade aquática,
que causa uma resposta adaptativa que é mais emocional que cotical, então percebe-
mos as diferenciações da atividade aquática da cotidiana (terrestre) e nos adaptamos
a esta percepção”.
Segundo Nakamura (1998), o ambiente aquático atrai todas as idades, divertindo-
-os durante um tempo prolongado, por meio da recreação, quando se pratica como
atividade alegre e descontraída. Pudemos nos certificar do bem estar psicológico que a
água proporciona em uma pequena pesquisa realizada com os alunos do Sesc Campinas
quando perguntamos o que a água traz para estes, e as respostas foram as seguintes:
• Relaxamento, tranquilidade e disposição;
• Bem estar;
• Liberdade, alegria, o melhor remédio para mim;
• Leveza, bem estar, consigo dormir bem;
• Calma, relaxamento e firmeza nas articulações afetadas;
• Tranquilidade, relaxamento, coordenação;
• Alegria, bem estar e disposição;
• Bem estar e tranquilidade;
• Calma e tranquilidade;
• Prazer, relaxamento;
• Relaxante;
• Paz interior;
• A água me traz vida, me sinto bem antes, durante e depois da natação.

3.3 Aspectos sociais do exercício aquático

Em seu trabalho, Schilder (1980) ainda estuda o impacto na imagem do corpo


em várias situações como na socialização, ao ser tocado, ao parecer bravo, ao não
ser atrativo, ao rir ou chorar, na intimidade sexual, ao vestir certos tipos de roupas,
máscaras ou jóias. Ele admite a grande influência das formas de convivência da vida
social na imagem corporal.
A socialização é o processo de interação e de aprendizagem contínua, e este
processo acontece através de regras estabelecidas que se apresentam na forma de com-
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portamentos. Como as atividades aquáticas são ministradas para grupos de pessoas,


o convívio entre estas é um dos pontos fortes da aula. Observamos na aula de natação
vários comportamentos sociais diferentes, como por exemplo:
• O aluno quieto: presta atenção no que está acontecendo, porém conversa pouco
e toma cuidado para não colidir-se com ninguém.
• O aluno comunicativo: sabe o nome da maioria, brinca com todos, se diverte
com uma colisão inesperada, conta todas as suas dificuldades e se diverte com elas.

100
• O aluno professor: estão sempre prontos para ajudar e dar umas “dicas” para seus
amigos com mais dificuldades.
• O aluno “mãe”: toma conta dos que tem medo sempre que o professor se ausenta,
se preocupa e defende as pessoas com mais dificuldades.
• O aluno competitivo: pode estar executando o movimento errado, mas não
deixa de maneira alguma nenhum companheiro chegar à frente.
Observamos também que nas aulas de atividades aquáticas alguns estereótipos
estabelecidos socialmente são desmistificados.
Miller (1995) explica que um estereótipo é uma crença determinada por um
julgamento de um grupo da sociedade, que é transmitido amplamente para o res-
tante da sociedade, que caracteriza algumas pessoas como semelhantes e com certas
características. Como por exemplo: as loiras são sensuais ou que não são inteligentes.
Estas rotulações proporcionam e incentivam comportamentos como obsessão pela
aparência, racismo, preconceito, desigualmente e discriminação.
Muitas vezes o estereótipo que a sociedade cria para alguns grupos sociais mani-
festa-se, atribuindo-lhes um status inferior. Não os vemos como criaturas semelhantes
a nós, capazes de atender aos padrões normais da sociedade, ou pelo menos, não tão
quanto nós. Expressamos para eles, através de muitos meios depreciativos, mesmo
sem querer, sua posição inferior (BUSCAGLIA, 1993).
Assim as pessoas com necessidades especiais são consideradas menos capazes,
mas é comum ouvirmos a frase “Olha aquela velhinha como é boa na hidroginástica”.
A água permite que pessoas idosas, obesas, gestantes, com problemas musculares,
articulares e com outros “problemas terrestres” superem suas limitações e se torne
uma pessoa condicionada, sociabilizada, eficiente, satisfeita consigo mesmo e com
uma maturação de sua imagem corporal.
Na pesquisa realizada no Sesc observamos que algumas pessoas relatam que gos-
tam da atividade aquática porque na aula elas deixam de desempenhar papéis sociais
(mãe, mulher, trabalhadora) e são elas mesmas, isto é um descolamento dos papéis
sociais para ter um contato maior com o próprio corpo.

4. Pressupostos básicos sobre a adaptação em meio líquido

Ensinar a nadar é apresentar ao indivíduo movimentos bastante diferentes dos


executados cotidianamente, como pudemos ver nos capítulos anteriores.
Inicialmente é importante abordar alguns conceitos básicos de capacidade,
habilidade e aprendizagem motora.
Magill (1998) apresenta alguns termos que são básicos:
NATAÇÃO

Movimento: Qualquer ato de deslocamento de um segmento do corpo humano.

101
Técnica: É o padrão predeterminado econômico e eficaz para atingir deter-
minado objetivo
Habilidade: Ato que requer movimento, que é intencional e aprendido a fim de
ser executado corretamente.
Capacidade: Um conjunto de condições necessárias para realização de uma
atividade. As capacidades motoras têm forte componente genético, mas é um potencial
que pode ser desenvolvido. As capacidades motoras não têm zero na escala, isto é,
o aluno quando vem para a natação ou hidroginástica possui capacidades motoras,
mesmo que estas estejam abaixo do esperado, mas não é nula.
Weineck (1999) relata que as capacidades motoras básicas são: força, velocidade,
resistência, coordenaçao e flexibilidade. Para ele, força é entendida como a energia
(contração muscular) necessária para vencer uma resistência e pode ser dividida
em força geral ou específica. Um atleta de natação quando busca um trabalho com-
plementar de força na academia de musculação ou outros locais, pode trabalhar de
forma mais geral, trabalhando a força geral que é a contração muscular, que serve de
substrato para habilidades motoras. Ou pode fazer um trabalho mais específico para
melhorar a força específica, ou o desenvolvimento da contração muscular necessária
para execução de uma habilidade motora particular. Neste caso, vão ser feitos trabalhos
direcionados para a prática da natação e para os movimentos e exigências físicas
utilizados naquele momento.
Outra capacidade física relatada por Weineck (1999) é a flexibilidade, que é con-
ceituada como a capacidade e a característica de um atleta de executar movimentos
de grande amplitude. Na natação, a flexibilidade de ombros e de tornozelos pode
facilitar proporcionando um nado mais hidrodinâmico e mais eficiente. A flexibilidade
também pode ser trabalhada de maneira mais geral ou específica. Já a resistência é a
qualidade física que permite continuado esforço, proveniente de exercícios pro-
longados, durante determinado tempo. Como a natação é um movimento cíclico e
repetitivo, a resistência é uma capacidade física bastante desenvolvida com sua prática.
A velocidade é a qualidade física particular do músculo que permite a execuçao
de uma sucessão rápida de gestos que constituem uma ação. A velocidade está mais
presente na natação competitiva, onde seu objetivo nem sempre é saúde do partici-
pante. Quando trabahada de forma coerente e a velocidade pode trazer beneficios
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como melhora da agilidade motora, mesmo para atetas. A coordenação motora


é um processo de controle dos movimentos com máxima eficiência e economia.
A coordenação é a base para o aprendizado de novas habilidades esportivas e correção
de movimentos já automatizados. Assim, o desenvolvimento desta capacidade deve
ser objetivado em alguns momentos no programa de natação.
As habilidades motoras, como já foi dito, representa um ato que requer movimento,
que é intencional e aprendido a fim de ser executado corretamente. Os movimentos
dos estilos da natação são exemplos de habilidades motoras. É importante frisar que

102
habilidade motora “tem zero na sua escala” (WEINECK, 1999), isto é, a pessoa que
nunca vivenciou a natação não tem nenhuma habilidade natatória. Isto parece óbvio,
mas é desconsiderado por parte dos professores de natação. Quando uma pessoa
nunca fez natação, devemos passar por todos os processos de adaptação e aprendizagem
aquática, desde o equilíbrio estático vertical em meio líquido, este equilíbrio em des-
locamento, para só então entrar na posição horizontal, e só após proporcionar todas
as bases (de respiração, flutuação, e propulsão) iniciar o ensino dos estilos. É muito
comum, porém totalmente incorreto, iniciar um aluno na atividade aquática com o
batimento de pernas dos estilos, muitas outras habilidades devem ser desenvolvidas.
Estas habilidades são denominadas adaptação aquática.
As habilidades motoras podem ser consideradas como abertas ou fechadas. Para
Weineck (1999), as habilidades são abertas quando o ambiente é imprevisível
podendo influenciar no resultado como tênis, basquete, futebol. E são fechadas
quando o ambiente é previsível, não influência no resultado, como bicicleta ergomé-
trica, caminhada. A natação é considerada como uma habilidade fechada pela maioria
dos autores, no entanto, considerá-la desta forma resulta em uma pedagogia de ensino
que a aborde como fechada.
Existem alunos que após aprender a nadar os quatro estilos ainda passam por
dificuldades em meio líquido podendo até chegar ao afogamento. Vivenciamos em
nossa prática uma aluna adulta que entrou em nosso programa sabendo nadar os
quatro estilos razoavelmente, e, após constatar esse fato com um pequeno teste, esta
foi encaminhada para uma turma de aperfeiçoamento. No entanto, em um dia de
aula ao solicitar que ela nadasse o estilo crawl em determinada metragem, quando
ela estava na parte funda da piscina, uma criança jogou a prancha em sua frente.
Ao encostar na prancha a aluna achou que havia chegado na borda e a segurou.
No entanto, como a prancha não é um local fixo como a borda, esta afundou e a aluna
começou a entrar em afogamento. Neste momento, pulei na água e a retirei da piscina.
A aluna nos explicou que desde que entrou na natação não havia aprendido a flutuação
vertical ou horizontal nem ir até um pedaço da piscina e voltar sem segurar na borda.
Sempre nadou até o outro lado, segurava na borda e voltava. A aluna em questão não
havia passado por um adequado programa de adaptação a natação e já foi iniciada na
técnica dos estilos. Este é um exemplo claro de que ensinar os quatro estilos e adaptar
ao meio líquido são coisas diferentes.
Neste contexto, é importante saber que existem vivências aquáticas que são fun-
damentais para a segurança em meio líquido. As informações de adaptação aquáticas
deste capítulo foram baseadas em nosso livro lançado em 2003, intitulado “Nadar
com Segurança: prevenção de afogamento, adaptação aquática e resgate e salvamento
aquático” (SANTANA, TAVARES E SANTANA, 2003).
NATAÇÃO

A adaptação aquática, a natação e os esportes aquáticos são compostos de habili-


dades motoras, a para a aprendizagem de uma habilidade o indivíduo passa por fases

103
distintas (FITTS e POSNER, 1967). Logo que uma nova habilidade é apresentada o
indivíduo passa pela fase cognitiva, esta fase é marcada por grande número de erros
grosseiros, os movimentos são difíceis de serem executados e o indivíduo tem que
se concentrar muito para conseguir executar o movimento. Nesta fase, o iniciante
consegue executar apenas um movimento por vez (de membro inferior ou superior),
algumas vezes, mesmo movimentos já automatizados são confundidos quando unidos
a novas habilidades. Ainda na fase cognitiva o indivíduo não apresenta feedback
intrínseco, isto é, não reconhece seus erros sozinho, é preciso que alguém aponte
onde estão os erros. Após repetir algumas vezes a nova habilidade os erros diminuem
e tendem a ocorrer apenas nos detalhes das habilidades, esta fase é denominada de
associativa. Nesta, o executante já apresenta algum feedback intrínseco, isto é, consegue
reconhecer alguns erros sem que outra pessoa aponte, mas não consegue corrigir seus
erros sem apoio externo. Já após mais repetições o indivíduo entra na fase autônoma.
Nesta, ele realiza a habilidade sem grande demanda de atenção, já consegue realizar
outra tarefa simultaneamente e pode detectar e corrigir seus próprios erros. Cada
pessoa tem seu tempo para passar de uma fase para outra. Este tempo depende de
experiências anteriores e de maior facilidade para a habilidade, assim, o número de
repetição de uma determinada habilidade para sua aprendizagem deve repetir as
necessidades individuais. Algumas pessoas aprendem os movimentos da natação
(habilidades aquáticas) com maior facilidade, passando pelas fases mais rapidamente
e automatizando o movimento antes. Outras demoram mais e necessitam de maiores
informações, paciência, bom senso e repetição da habilidade.
Tani et al (1988) relata que existem características presentes no aluno iniciante
que devem ser conhecidas e respeitadas no processo de aprendizagem motora.
A primeira é que o iniciante dirige sua atenção a um número demasiado de estímulos
ao mesmo tempo, faltando-lhe concentração para executar a nova habilidade com
tranquilidade, assim tem dificuldade de lidar com muitas informações ao mesmo tem-
po. Relatam que lhe falta habilidade de reconhecer sua performance, como já foi rela-
tado anteriormente. Falta-lhe confiança e segurança, o que certamente influenciará no
movimento, é importante que o professor de natação transmita segurança e confiança
para o iniciante para melhor performance. Quando se aprende uma nova habilidade é
comum executar mais contrações musculares do que as que seriam necessárias para o
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

movimento, esta é uma característica básica da falta de coordenação motora, assim o


aluno gasta energia desnecessariamente, chegando à fadiga mais rapidamente do que
outra pessoa que já possua tal habilidade.
Tani (1998) lembra que para a aprendizagem de uma nova habilidade motora
é preciso proporcionar ao iniciante liberdade de errar, sem causar insegurança ou
desmotivação. Assim, correções excessivas e antes mesmo da execução apenas atra-
palham o processo. O ideal é deixar o iniciante executar o movimento com o mínimo
de informações em um primeiro momento, após a execução e confirmação do erro

104
o professor deve fazer as correções necessárias, no entanto, sempre “uma correção
de cada vez”. Proporcionando assim tempo para o raciocínio, para a incorporação do
movimento e uma aprendizagem prazerosa sem estresse.
Respeitar as fases da aprendizagem, as necessidades e possibilidades do aluno
iniciante são importantes formas de manter a motivação para a atividade. No entanto,
existem outras ações que podem ser tomadas no sentido de manter a motivação
no processo de aprendizagem. Uma delas é mostrar a importância da tarefa para a
evolução da habilidade e/ou capacidade motora. Existem exercícios que para o aluno
pode parecer inútil ou desnecessário, no entanto é fundamental para o processo,
explicando o objetivo deste, o professor contextualiza a prática tornando a execução do
exercício prazerosa e eficaz. Em qualquer processo de aprendizagem ou treinamento
é fundamental determinar metas, que devem ser traçadas a longo, médio e curto
prazo e estarem claras para o aluno, fazendo com que este acompanhe sua evolução
e se sinta motivado durante todo o programa. O aluno iniciante se desmotiva com
suas dificuldades, lembrar constantemente suas conquistas pode ser outra forma de
mantê-lo motivado, mesmo que estas sejam pequenas. Para a quebra da monotonia e
motivação constante é fundamental apresentar novos desafios, no entanto também é
fundamental que estes sejam realmente palpáveis, pois senão irão frustrar mais ainda o
aluno. A criatividade para variação dos movimentos é sempre muito bem vinda e uma
ação de motivação importantíssima. Com a criatividade, movimentos já conhecidos
e repetidos muitas vezes tomam uma aparência diferente. Mas a mais importante das
regras motivacionais é sempre respeitar as diferenças e a individualidade. Lembramos
que cada pessoa tem uma velocidade para ganho de capacidades e habilidades motoras
que dependem diretamente de diversos fatos, como genética, experiências anteriores,
deficiências, condições socioeconômicas, condições psicológicas, entre tantas outras.
Assim, planejamento, criatividade, bom senso e respeito são características básicas do
bom professor de práticas corporais aquáticas.
Outro fator importante quando se discute aprendizagem de movimento é a forma
como que se passa a informação para o aluno deste para sua execução. O tipo de infor-
mação mais usual é a informação verbal, na qual o professor apresenta uma imagem
do movimento a ser realizado por meio da fala, desde posição inicial dos membros à
postura, o que observar ou perceber, erros e acertos. No entanto, existem pessoas que
são muito mais visuais do que auditivas. Para estas, a informação verbal é muito mais
difícil de ser entendida do que a demonstração, ou seja, a informação visual. Assim,
se o professor falar o que quer que o aluno faça, e também demonstre corretamente,
irá facilitar o entendimento da nova habilidade física. Mas ainda existem dois outros
tipos de informação como a cinestésica ou proprioceptiva (SCHMIDT, 1993). Neste
tipo de informação o aluno sente em seu próprio corpo a posição das articulações, o
NATAÇÃO

movimento que deverá ser realizado pelo músculo, orientação espacial dos membros
e/ou do corpo. A informação cinestésica é transmitida quando o professor realiza o

105
movimento com o corpo do aluno. Por exemplo, no movimento do braço do nado
crawl o professor segura no cotovelo e na mão do aluno posicionando o braço deste
na posição do movimento que deseja que o aluno execute. Ainda pode-se citar a
informação tátil. Nesta, o aluno toca o professor que executa o movimento para sentir/
entender como este deverá ser executado. Este tipo de informação é bastante utilizado
no caso de ensino para pessoas com deficiência visual ou cegas. No entanto, pode ser
bastante útil para indivíduos que têm dificuldade em compreender o movimento.
Para Silva e Couto (1999) existem alguns princípios que devem ser considerados
em uma proposta didático-pedagógica que visa o ensino de novas habilidades motoras.
Entre elas, está iniciar a aprendizagem de um movimento já conhecido e ir progressi-
vamente dando complexidade até chegar ao movimento desconhecido, ou seja, na
habilidade que se pretende ensinar. Um exemplo é quando for iniciar a perna do nado
borboleta iniciar com a perna do nado crawl, indo de um movimento alternado já
conhecido para um movimento simultâneo desconhecido. Outro aspecto que deve
ser considerado no ensino de habilidades é partir sempre do movimento simples para
gradativamente chegar ao movimento complexo.
No entanto, sempre que se for ensinar qualquer novo movimento Santana e
Dalla Déa (2009) lembram que o princípio básico e mais importante é respeitar a
individualidade de cada aluno.

4.1 Adaptação ao meio líquido

Conhecer os paradigmas de alguns autores de obras sobre natação nos faz refletir
de forma positiva sobre nossa própria prática, exigindo assim a conscientização e a
adequação do trabalho.
Segundo o livro “Metodologia da Natação” (MACHADO, 1978), a sequência
pedagógica do aprendizado da natação pode ser dividida em cinco unidades, que
podem ser desenvolvidas através de exercícios e jogos:
1. Ambientação ao meio líquido: tem o objetivo de que todos os alunos se
tornem amigos da água, com vontade de vê-la e senti-la, principalmente nesta fase os
jogos são bastante utilizados.
2. Flutuação: capacidade que tem um corpo de se manter na superfície de um
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

líquido sem nenhum auxílio. Os objetivos a atingir nesta fase são: imersão completa,
mas prolongada, prova de flutuação, flutuação em decúbito ventral e flutuação em
decúbito dorsal.
3. Respiração: objetivos desta fase: imersão completa com apneia, imersão
completa, mas prolongada, respiração aquática.
4. Propulsão: é a capacidade que tem o corpo de se locomover dentro da
água com os próprios recursos, depende do trabalho conjunto de pernas e braços.
Os objetivos desta fase são: noção de propulsão, propulsão de pernas e de braços.

106
5. Mergulho elementar: entrada na água de diversas maneiras: sentado, em
pé, mergulhos.
Para Palmer (1990), em “A ciência do ensino da natação”, antes de pensarmos qual
atividade aquática básica vamos ensinar primeiro, devemos principalmente, reconhecer
o fato de que, quando se entra na água, entramos em um ambiente estranho, por isso,
nossa primeira preocupação deve ser ensinar as pessoas a sobreviverem na água.
E diz ainda que, ser capaz de nadar um estilo básico, não significa estar seguro na água.
O autor chega a conclusão que existe algo mais na natação do que simplesmente saber
nadar algum estilo e que por isso, devemos levar em consideração algumas atividades
básicas de locomoção na água antes de ensinar os estilos mais formais.
Segundo o autor, o ensino da natação deverá ter a seguinte sequência pedagógica
quanto à fase de adaptação:
1. Exercícios de confiança: o autor dá várias sugestões de brincadeiras onde
o aluno irá realizar diversos movimentos dentro d’água, como andar, correr e saltitar.
Através dos jogos, o aluno aprenderá, subconscientemente a necessidade de dominar
e também usar a resistência natural da água;
2. Flutuação: o autor descreve várias maneiras de flutuação como: cogumelo
(grupada com a cabeça para baixo), pronada e supina;
3. Recuperação do pé na posição pronada e supina: antes do aluno realizar
diversos movimentos na parte rasa da piscina, o professor deve estar absolutamente
seguro que seus alunos sejam capazes de recuperar a posição em pé tanto da posição
de costas (supina), como da posição frontal (pronada);
4. Impulsão e deslizamento pronado e supino: os deslizamentos são rema-
nescentes das posições normais da natação. O nadador adota uma posição estendida e
aerodinâmica para um melhor resultado e, além disso, é fundamental para a realização
das saídas e viradas. Portanto, é importante que o aluno se habitue, desde o começo,
a estes movimentos;
5. Nado cachorrinho: o nado cachorrinho é importante, pois faz com que o
aluno, depois de ter passados pelas etapas anteriores, seja capaz de se sustentar com os
pés elevados e avançando pela superfície. Porém, antes de ensinar esse nado o professor
deve estar seguro que seus alunos se sentem razoavelmente “em casa” na água pois, mais
importante que isto, é o aluno saber como recuperar seus pés firmemente sobre o
fundo após uma atividade na piscina. Segundo o autor, o nado cachorrinho pode ser
realizado de frente (decúbito ventral) ou de costas (decúbito dorsal).
Em “Pré-escola da natação” Turchiari (1996), buscando uma natação cons-
ciente e segura, diz que devemos ter extremo cuidado com a iniciação a natação,
respeitando-se a potencialidade de aprendizado da criança na faixa dos três aos seis
anos. Chama a iniciação de “pré-escola de natação”, e diz que também poderá ser
NATAÇÃO

utilizada em adultos, adequando conforme a faixa etária. Essa fase é um dos pontos
mais importantes a serem desenvolvidos, a fim de que se realizem todas as suas

107
possibilidades e características voltadas para a ambientação ao meio, além de adquirir
habilidades complementares e básicas indispensáveis para o desenvolvimento global
em natação. O autor propõe a seguinte sequência:
1o. Reconhecimento do ambiente externo e interno da piscina: ambientação
do local em que irá desenvolver-se a aprendizagem, tanto externa (ao redor da piscina)
quanto ao meio líquido.
2o. Entrada na piscina: ensinar o aluno a entrar na piscina, assim como senti-la
primeiramente com os pés e sentados na borda.
3o. Reconhecimento da piscina: conhecer as profundidades da piscina.
4o.Controle respiratório: conscientização da respiração (entrada do ar nos pulmões
deverá ser feita pela boca – inspiração e a saída pela boca, nariz ou ambos – expiração).
5o. Contato com a água: exercícios utilizando a respiração para a adaptação a
água, podendo utilizar-se de materiais como canudos, copinhos, bolinhas de ping-
-pong para assoprar, etc.
6o.Submergindo a cabeça na água: o objetivo é afundar totalmente a cabeça
na água, pegar objetos no fundo da piscina é um exercício utilizado.
7o. Flutuação em decúbito ventral: assimilar a passagem da posição vertical (em
pé) à horizontal (decúbito ventral, “deitado de barriga para baixo”) retornando à vertical.
8o. Flutuação em decúbito dorsal: assimilar a flutuação de costas.
9o. Deslocamento sem auxílio de apoio dos pés no fundo: mediante exer-
cícios de execução simples e circulares com as mãos, similares aos realizados pelos
animais (ex.: cachorrinho, pedalar com as mãos).
10o. Adaptação e deslocamento em piscinas com maior profundidade:
fazer a adaptação e contato com profundidades variadas desenvolve na criança
uma maior autoconfiança.
Segundo Lima, em “Ensinando Natação” (1999), a sequência pedagógica para
a aprendizagem dos estilos pode ser enumerada em cinco itens, além disso, o autor
descreve mais três itens que devem ser levados em consideração na natação (saltos,
sobrevivência e salvamento).
1. Adaptação ao meio líquido: o professor deve explorar o máximo as fantasias,
principalmente através de músicas. A música tem como objetivo “quebrar o gelo” no rela-
cionamento entre aluno e o professor, é o elo de comunicação entre ambos e a motivação.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

A movimentação do aluno na água através de pequenos jogos, músicas ou livremente,


desde que não perca o contato com o fundo da piscina, tem como objetivo a procura de
novas formas de adaptação, equilíbrio e noção do espaço que ocupa no meio líquido.
2. Respiração geral: a utilização de músicas: material flutuante e exercícios
como assoprar a água são importantes, passando posteriormente para colocação do
rosto e cabeça na água e procura de objetos no fundo da piscina. Os movimentos de
flexão de pernas, braços para a lateral, realizados espontaneamente são importantes
para a globalização e futuros movimentos de pernas e braços.

108
3. Flutuação ventral – dorsal – vertical – lateral: quando o aluno pratica a
flutuação na realidade está percebendo e conhecendo o espaço que o seu corpo
ocupa no meio líquido. Quanto mais variamos o posicionamento do corpo, melhor
tanto para a percepção corpórea quanto para o relaxamento. Pode-se utilizar fantasias
colocando nomes como jacaré, foguetinho, lancha. É importante que o professor
progressivamente faça com que o aluno sinta o espaço que ocupa e a movimentação
das pernas e mãos para auxiliar o equilíbrio e a sustentação do corpo. A presença do
ar nos pulmões, motivo pelo qual o corpo flutua, poderá ser incentivada através
de brincadeiras, como pegar objetos no fundo, passar entre arcos submersos,
flutuação lateral ou imitação de “cachorrinho” durante um determinado tempo
bloqueando a respiração.
4. Propulsão das pernas: deslocamento livres ou exercícios com música na
posição vertical são importantes para a iniciação à pernada. Exercícios na vertical
desenvolvem a percepção global do movimento das pernas e a sensibilidade do aluno
de sentir a perna toda movimentando e a pressão dos pés, vencendo a resistência
da água. Segundo o autor, dificilmente o aluno sente a pressão nos pés quando nos
primeiros movimentos preconizamos a posição horizontal. Saltos na vertical, com os
pés no fundo da piscina, poderá dar noções aos alunos da pernada de peito. O impor-
tante é criarmos exercícios diferentes da posição horizontal, mais difíceis de executar e
perceber, é mais fácil o aluno executar o movimento de andar na posição de flutuação.
5. Propulsão dos braços: segundo o autor, um dos exercícios que ele gosta de
ministrar durante a fase do aprendizado da braçada é a movimentação das mãos para
os lados, através do afastamento lateral dos braços ou com variações, como afundar as
mãos e movimentando em todas as direções, lateral, para baixo ou para trás. Quando
solicitamos aos alunos realizar onda na piscina, objetivamos a variação das mãos nas
diferentes posições. Saltos para frente e mergulho empurrando a água para baixo e
para trás fazem com que o aluno tenha noção de resistência da água.
6. Coordenação das pernas e dos braços.
7. Respiração específica lateral – frontal.
8. Coordenação das pernas/braços e respiração (nado completo).
9. Saltos: atividades básicas do mergulho elementar, exercícios de saltar da borda,
sentado ou em pé, com objetivos de aprender a saltar.
10. Sobrevivência: ensinar os alunos a flutuar num lugar mais fundo do que a
sua estatura durante um tempo determinado. Flutuação nas diferentes posições, como
vertical, horizontal e dorsal. Nadar e alterar as posições. Por exemplo: 10 metros de
crawl, 05 metros de costas, 10 crawl. Deslocar-se na água com colete salva-vidas, de
roupa. Levar os alunos a locais com maior profundidade ou nadar no mar, rios, lagos
etc. Sempre com critérios e sob a orientação dos professores.
NATAÇÃO

11. Salvamento: ensinar regras básicas de salvamento, como – noções sobre


profundidade, correntezas dos rios e praias, aprender a nadar com nadadeiras e

109
flutuadores (auxiliar no salvamento). Noções sobre transporte e técnicas respiratórias,
desobstrução das vias respiratórias.
Segundo o livro “Natação Animal”, de Andries Jr (2002), executar os nados da
natação, ou seja, crawl, costas, peito e borboleta é consequência de uma boa relação com
o meio aquático. Fatores como dominar, respirar, flutuar e ter uma boa movimentação
na água são essenciais para nadar os estilos. Quanto mais experiências de adaptação
forem vivenciadas por um aluno que está iniciando, maiores serão as possibilidades
de ele desenvolver sua técnica desportiva ou simplesmente ter uma relação de prazer
com a água. Segundo o autor, estar adaptado ao novo meio significa relacionar-se
com ele, ou seja, entrar na água, envolver-se com ela, aproveitando principalmente o
que ela oferece, como situações de flutuabilidade. Para tanto, é necessário incorporar
novos mecanismos de respiração e de locomoção, bem como diversificar as maneiras
de entrar neste meio. Portanto, por ser um processo pedagógico, o autor divide a fase
de iniciação ao nadar em etapas: primeiros contatos com a água, respiração, flutuação,
propulsão e entrada na água. Com o objetivo de encarar a natação como um processo
lúdico, e para romper com conceitos formais e mecanicistas, relaciona as etapas da
aprendizagem com nomes de animais, criando personagens em cada etapa e, dessa
forma, tornar o processo de aprendizagem mais alegre e prazeroso. Ainda segundo
o autor, é necessário distinguirmos as estratégias que serão utilizadas com os adultos,
das estratégias que serão utilizadas com as crianças. Fica estranho falar a um adulto
para que “jogue água para cima e imagine que é a chuva”, como uma criança não
irá entender se lhe dissermos que entre na água devagar e ande apenas sentindo-a.
Para ela, provavelmente isto será desmotivante. As brincadeiras, os jogos, as músicas
e outros elementos lúdicos para a faixa etária infantil são comuns com uma estratégia
lúdica, mas nada impede que nas aulas de adultos não tenha algum jogo ou alguma
brincadeira para tornar a aula mais descontraída e divertida.

4.2 Metodologia de curso de adaptação ao meio líquido

4.2.1 Ideias norteadoras do trabalho

A principal característica de um bom professor de natação é ser capaz de adaptar


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

seu trabalho para as características do grupo envolvido, ao local das aulas, aos ma-
teriais disponíveis e ao número de participantes. Nem sempre temos as melhores
condições para o ensino, porém com um objetivo tão nobre: “a sobrevivência das
pessoas em caso de emergência”, devemos ser persistentes e executar nosso trabalho
da melhor forma possível.
Nossa atividade aquática visa o seu comprometimento social com as necessidades
dos indivíduos, proporcionando um processo de educação corporal, visando à ampliação
do repertório motor dos participantes, incentivando a prática autônoma e conscientiza

110
sobre a importância da inclusão de exercícios físicos na agenda diária, agregando valores,
mas que acrescentem qualidade de vida aos praticantes.
Valorizamos nossa atividade, pois elas não têm fim em si mesmo, isto é, não
ensinamos a natação pensando simplesmente no aprendizado de técnicas e sim em
valores que proporcionem mais condições de lazer (recreação aquática voluntária) e,
principalmente, segurança pessoal.
Apesar de não ser um trabalho direcionado para crianças, utilizamos como
soma do trabalho apresentando aqui elementos lúdicos em oposição aos índices de
resultados, mobilizando o desejo e o imaginário, dos procedimentos cognitivos à
emotividade dos participantes.
Por se tratar de uma atividade com excessivo envolvimento psicológico, por meio
de medo e ansiedade, acreditamos na importância de respeitar as individualidades.
Com bom senso, o profissional conseguirá um equilíbrio entre as aspirações indivi-
duais e as necessidades de sociabilização do seu público.
Com um número grande de vivências motoras aquáticas proporcionaremos a
possibilidade do autoconhecimento corporal, através da teoria e da prática, conheci-
mento este que influenciará na qualidade de movimento diário deste indivíduo.
Em nosso grupo de alunos, com a metodologia utilizada, estimulamos a participação
agrupando pessoas que tenham por interesse percorrer os caminhos da adaptação
aquática, permitindo, assim, a participação dos menos hábeis (física e tecnicamente)
com pessoas que já tenham alguma vivência no meio líquido, mas que buscam mais
conhecimento, entendendo assim a importância da inclusão de todos no programa de
uma atividade repleta de benefícios físicos e psicológicos: a natação.

Natação: um trabalho completo

Apesar de não utilizar o ensino dos quatro estilos da natação (crawl, costas, peito e
borboleta) como artifício único para a prática da natação, principalmente na adaptação
aquática, não descartamos a importância destes no desenvolvimento de habilidades
motoras na água. Dividimos nosso trabalho em duas vertentes: a adaptação ao meio
líquido, e o ensino e aperfeiçoamento dos quatro estilos, utilizando-os como maneira
de adquirir condicionamento físico necessário para uma maior qualidade de vida do
aluno. Esta divisão se mostra eficiente para um trabalho que respeita a individualidade
do praticante e atinge os objetivos do programa que podemos definir como:
1o. Adaptação ao meio líquido: constitui-se em um processo de alfabetização
aquática, voltado para pessoas que possuem fobia de piscinas ou que tenham dificul-
dades em determinados princípios da adaptação ao meio líquido. Com o objetivo de
proporcionar vivências motoras que levem à segurança, ou seja, à técnica de sobrevi-
NATAÇÃO

vência total em meio líquido. Nesta fase, o aluno vivenciará uma metodologia que visa
à adaptação ao meio líquido, transpondo o medo da água, com segurança, levando-o

111
ao prazer de estar em meio líquido. Proporcionar técnicas de sobrevivência aquática
individual, o deslocamento na posição decúbito dorsal e ventral com o ensino da
técnica dos nados crawl e costas e informações sobre prevenções de afogamentos.
Esta fase será descrita neste livro.
2o. Aperfeiçoamento da natação: A segunda fase desta proposta visa o
desenvolvimento das habilidades do aluno no meio líquido, através do aperfeiçoa-
mento do crawl e do costas, do ensino de viradas, de saltos e de vivências motoras
diversas (submersões, cambalhotas, bananeira, pegar objetos no fundo da piscina) do
ensino e aperfeiçoamento do peito e borboleta. Com objetivo de proporcionar uma
atividade que auxilie na melhora da qualidade de vida dos alunos, com o desenvol-
vimento de resistência, força, velocidade e flexibilidade proporcionando benefícios
físicos, psíquicos e sociais.

4.2.2 Postura do professor de educação física



Nosso público alvo é de pessoas que têm dificuldade na relação com o meio líquido,
que na maioria dos casos já passaram por alguma situação que lhes proporcionou a
hidrofobia. O profissional envolvido com adaptação aquática tem o dever de estar
próximo do seu aluno, ou seja, dentro da água, para auxiliar e proporcionar a segurança
necessária para o aprendizado.
O tipo de informação que o profissional irá utilizar para transmitir os ensinamentos
com total compreensão do aluno poderá apresentar-se na forma verbal, visual ou ainda
tátil. Quanto mais recursos forem utilizados melhor será a qualidade do aprendizado,
isto é, o profissional não deverá restringir-se a informação oral e sim demonstrar o
movimento e se preciso através do toque executar no aluno.
Silva e Couto (1999) nos lembram que qualquer que seja a proposta pedagógica
utilizada, sua base deve apoiar-se nos conhecimentos de alguns princípios metodo-
lógicos como: partir do conhecido para o desconhecido e do simples ao complexo.
Em nosso trabalho procuramos seguir estes princípios, pois visam o mais fácil e
eficiente aprendizado, sendo assim, para o ensino de uma nova técnica, utilizamos
algum conhecimento do aluno. Por exemplo, quando nosso aluno esta iniciando o
curso de adaptação ao meio líquido, ele traz consigo poucas vivências aquáticas, ou às
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

vezes nenhuma, porém ele sabe caminhar. Nós partimos da caminhada para o ensino
do crawl, já que estes dois elementos tem alguns aspectos em comum (movimentos
alternados, relaxados, pernas ligeiramente flexionadas).
Não podemos nos esquecer que nosso aluno passa a maior parte do tempo de sua
vida em pé, ou seja, na posição vertical, e que a posição utilizada na natação (horizontal)
é uma nova vivência para ele. Sabendo deste fato, criamos uma metodologia que visa
à busca progressiva da posição horizontal. Podemos, como na maior parte das meto-
dologias utilizadas, segurar nosso aluno nos braços e colocá-lo na posição da natação,

112
porém ele terá dificuldades para voltar à posição vertical e não saberá como “deitar na
água” novamente. Por esta razão, nosso trabalho consiste de exercícios progressivos
que induzem o praticante a conquistar a flutuação horizontal através de experiências
positivas e da conquista da segurança individual. Desta maneira, estamos respeitando
mais um dos princípios pedagógicos: do simples ao complexo.

4.2.3 Metodologia proposta

Discutiremos neste capítulo a metodologia que utilizamos na fase de adaptação


ao meio líquido que se destina a adultos que tenham medo da água ou que preten-
dam ter maiores conhecimentos sobre as técnicas básicas de sobrevivência aquática.
Este curso poderá ser desenvolvido também para crianças, porém, aconselhamos o
profissional responsável a acrescentar mais elementos lúdicos a fim de torná-lo mais
agradável e adequado a idade.
Com um público muito grande nas mãos com necessidade de adaptação aquáticas,
encontramos no curso rápido de iniciação a natação a solução para o nosso caso.
Com o curso de 16 aulas com 1 hora de duração atingimos nossos objetivos com
sucesso. Acreditamos estar auxiliando assim na prevenção de acidentes aquáticos e
prestando papel fundamental para a população de Campinas. Assim, em pouco tempo,
mais pessoas estarão adaptadas ao meio líquido, aptas a participar com segurança
de atividades lúdicas que este meio poderá proporcionar e menos disponíveis ao
perigo de afogamento.
O curso de iniciação a natação utiliza-se de uma metodologia específica que foi
desenvolvida através da observação das necessidades dos alunos com influência da
pesquisa bibliográfica anteriormente apresentada.
Para o trabalho descrito a seguir utilizamos os seguintes materiais: aquatub
(macarrão, ou espaguete) e prancha para natação.
Como trabalhamos com um número de alunos razoavelmente grande (20 alunos
iniciantes), os exercícios em duplas, com um aluno auxiliando o outro, torna o curso
mais divertido, mais seguro e mais produtivo.
Apresentaremos a seguir a programação que utilizamos como direcionamento
do trabalho, porém, esta será adaptada conforme as necessidades e condições do
grupo em questão. Em turmas com maiores vivências aquáticas poderemos modificar
a sequência, passando mais rapidamente pelas etapas iniciais e proporcionando
maiores detalhes técnicos dos estilos crawl e costas, porém não deixando para trás
nenhuma das etapas da adaptação aquática. Nosso trabalho tem como principal
preocupação acrescentar à adaptação aquática atividades de sobrevivência individual.
Buscando muito mais do que o ensino mecânico da técnica de estilos, através de
NATAÇÃO

diversas vivências aquáticas que tornarão nossos alunos autossuficientes na luta


contra o afogamento.

113
4.2.4 Sugestão de divisão de aulas

Programação do curso de iniciação à natação em 16 aulas

Aula Objetivos da Atividades apresentadas na aula:


n° Aula

01 Respiração e Apresentações iniciais.


Adaptação 1- Caminhar.
2- Respiração com pé no chão.
3- Caminhar e respiração (sapinho).
4- Caminhar e respiração com macarrão.
5- Caminhar com macarrão tirando os dois pés do chão.
6- Caminhar com macarrão tirando os dois pés do chão e
respiração.

02 Flutuação e 3- Caminhar e respiração (sapinho).


Propulsão 7- Respiração com macarrão, flutuação ventral com ajuda
ventral (recuperação).
8- Respiração com macarrão, flutuação ventral sem ajuda.
9- Bate perna na parede.
10- Bate perna crawl no macarrão com ajuda.
11- Bate perna crawl no macarrão.
12- Bate perna crawl no macarrão com respiração.

03 Propulsão 3- Caminhar e respiração (sapinho).


ventral e 11- Bate perna crawl no macarrão.
início da 13- Recuperação da flutuação dorsal.
flutuação 14- Perna costas no macarrão.
dorsal 15- Bate perna crawl no macarrão segurando só a mão.
16- Bate perna crawl com prancha com ajuda.
17- Bate perna crawl com prancha.
18- Perna costas com prancha atrás cabeça.

04 Flutuação 19- Tartaruga.


ventral sem 20- Tartaruga estende corpo, flexiona e desce.
apoio e 21- Deslize com ajuda.
recuperação 22- Ensinar como recuperar corpo usando braços.
do corpo 23- Deslize com semiajuda.
24- Deslize sozinho.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

05 Revisão e 03- Caminhar e respiração (sapinho).


vivência 11- Bate perna crawl no macarrão.
aquática 17- Bate perna crawl com prancha.
(cachorrinho) 18- Perna costas com prancha atrás cabeça.
24- Deslize sozinho.
25- Respiração parafuso.
26- Perna costas com prancha abraçada com ajuda.
27- Perna costas com prancha abraçada.
28- Jacaré (deslize com perna crawl).
29- Jacaré com cachorrinho para respirar.

114
06 Braço do 03- Caminhar e respiração (sapinho).
Crawl 17- Bate perna crawl com prancha.
27- Perna costas com prancha abraçada.
30- Cachorrinho.
31- Na borda: perna crawl e um braço.
32- Na prancha: perna crawl e um braço
33- Na borda: alterna braço crawl.
34- Na prancha: alterna braço crawl.

07 Recuperação 03- Caminhar e respiração (sapinho).


e Propulsão 17- Bate perna crawl com prancha.
dorsal 27- Perna costas com prancha abraçada.
30- Cachorrinho.
32- Na prancha: perna crawl e um braço
35- Flutuação dorsal com ajuda.
36- Ensinar recuperação da posição dorsal sem ajuda.
37- Mergulho na superfície.
38- Perna costas com ajuda.
39- Perna costas.

08 Revisão e 3- Caminhar e respiração (sapinho).


sobrevivência 12- Bate perna crawl no macarrão com respiração.
vertical 14- Perna costas no macarrão.
17- Bate perna crawl com prancha.
18- Perna costas com prancha atrás cabeça.
19- Tartaruga.
24- Deslize sozinho.
27- Perna costas com prancha abraçada.
29- Jacaré com cachorrinho para respirar.
30- Cachorrinho.
34- Na prancha: alterna braço crawl.
39- Perna costas.
40- Sobrevivência vertical.

09 Respiração 3- Caminhar e respiração (sapinho).


lateral e início 17- Bate perna crawl com prancha.
da mudança 27- Perna costas com prancha abraçada.
de posição 41- Uma mão apoiada na borda: respiração lateral.
42- Uma mão na prancha: respiração lateral.
43- Na borda: respiração lateral e um braço.
44- Na prancha: respiração lateral e um braço.
45- Crawl na parede (2X1).
46- Crawl na prancha (2X1).
47- Perna costas, vira de frente para parar.

10 Crawl e 3- Caminhar e respiração (sapinho).


Submerso 19- Tartaruga.
28- Jacaré (deslize com perna crawl).
42- Uma mão na prancha: respiração lateral.
44- Na prancha: respiração lateral e um braço.
46- Crawl na prancha (2X1).
48- Crawl-um braço espera o outro a frente.
NATAÇÃO

49- Crawl.
50- Crawl até o meio do percurso e volta sem colocar o pé no chão.
51- Golfinho.

115
11 Braço costas 17- Bate perna crawl com prancha.
e mudança 33- Na borda: alterna braço crawl.
de posição 46- Crawl na prancha (2X1).
49- Crawl.
52- Perna costas com prancha e um braço.
53- Perna costas e um braço.
54- Perna costas alterna braço.
55- Crawl até o meio, vira e perna costas até o final do percurso.

12 Costas e 03- Caminhar e respiração (sapinho).


mudanças de 17- Bate perna crawl com prancha.
direção e de 19- Tartaruga.
posição 24- Deslize sozinho.
34- Na prancha: alterna braço crawl.
39- Perna costas.
46- Crawl na prancha (2X1).
49- Crawl.
54- Perna costas alterna braço.
56- Costas.
57- Crawl até o meio e volta de perna costas sem colocar o pé
no chão.
58- Costas até o meio do percurso, vira e crawl até o final.

13 Crawl e
Estas aulas terão como objetivo automatizar
14 costas
os movimentos do crawl e do costas
e atender as necessidades individuais
15

16 Revisão e 03- Caminhar e respiração (sapinho).


Mergulho 17- Bate perna crawl com prancha.
19- Tartaruga.
24- Deslize sozinho.
34- Na prancha: alterna braço crawl.
39- Perna costas.
46- Crawl na prancha (2X1).
49- Crawl.
54- Perna costas alterna braço.
55- Costas até o meio do percurso, vira e crawl até o final.
59- Mergulho.
60- Medidas preventivas (informativo).
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

4.2.5 Atividades apresentadas nas aulas

Apresentações iniciais

Esta fase será dividida em três momentos igualmente importantes:


• Apresentação do curso (objetivos e vertentes): deixar claro quais são os objetivos
do curso, isto é, onde queremos chegar, é fundamental para a motivação dos alunos.
• Apresentação do professor (segurança, profissionalismo e comprometimento).

116
Para que aconteça a adaptação do aluno é preciso que este confie e tenha segurança no
profissional. Um discurso evidenciando o profissionalismo e o comprometimento do
professor poderá ser decisivo para a confiança dos alunos no profissional.
• Apresentação dos alunos (descobrir objetivos individuais, cuidados especiais
com medos, respeitar individualidades e diferenças). Consideramos esta fase tão
importante quanto o aprendizado em si, pois através da apresentação individual dos
alunos descobrimos seus objetivos, histórias e possíveis fobias. Através daí, poderemos
conhecê-los melhor e respeitar sua individualidade, não transgredindo seus limites
sem o devido cuidado e assim podemos apagar lembranças negativas no meio líquido.
1. Caminhar: Deslocar pela piscina em diversas direções (frente, costas, zigue-
-zague), velocidades e intensidades (caminhando, correndo, saltando).
2. Respiração com pé no chão: Com os alunos em círculo para que o professor
possa visualizar melhor a execução, inspirar pela boca fora da água e expirar dentro da
água principalmente pelo nariz.

Figura 22.

3. Caminhar e respiração (sapinho): Esta atividade consiste no mesmo


movimento do exercício anterior, porém, com deslocamento. Tem como objetivo
treinar o movimento respiratório com deslocamento através de caminhada ou saltito.
Através deste exercício trabalharemos a automatização da respiração executada em
meio líquido, que é diferente da executada normalmente fora d’água. Por esta razão
esta atividade será utilizada em muitas aulas.
4. Caminhar e respiração com macarrão: Com o macarrão por trás do corpo,
passando embaixo das axilas, deslocar-se caminhando pela piscina executando a respi-
ração acima apresentada.
NATAÇÃO

Figura 23.

117
5. Caminhar com macarrão tirando os dois pés do chão: Esta atividade tem
como objetivo proporcionar a progressiva obtenção da posição de flutuação ventral.
Com o macarrão embaixo das axilas, tirar os pés do chão com a elevação dos dois joelhos,
a altura desta elevação vai depender do nível do aluno, devemos respeitar os seus limites.

Figura 24.

6. Caminhar com macarrão tirando os dois pés do chão e respiração:


Idem ao anterior com a expiração na água quando tirar os pés do chão.

Figura 25.

7. Respiração no macarrão com flutuação ventral com ajuda: Esta atividade


completa o trabalho iniciado no exercício número 05 levando o aluno à flutuação ventral.
Com o macarrão embaixo das axilas e o companheiro segurando na extremidade do
macarrão: flexionar as pernas subindo os joelhos, deitar na água em decúbito ventral,
flexionar as pernas e recuperar a posição vertical com pés no chão.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

A B

A B

C D

Figura 26. C D

118
8. Respiração com macarrão, flutuação ventral sem ajuda: Idem ao
anterior sem a ajuda do companheiro. Muitas vezes alguns alunos se soltam antes dos
outros, então devemos unir os alunos com dificuldade e permitir que continuem se
ajudando enquanto os outros fazem sozinhos.
9. Bate perna na borda: Para iniciar o movimento das pernas do crawl
utilizaremos o auxílio da borda da piscina, pois esta proporciona maior estabilidade
ao corpo. Com as mãos apoiadas na borda executar o movimento da perna do crawl
(pernas alternadas e semiflexionadas, com pés soltos e estendidos, movimento de
pequena amplitude e rápido). Incentivar o aluno a executar o movimento de forma
que seus pés não joguem água para cima, nem que fiquem muito abaixo da linha da
água, isto é, a planta dos pés aparece fora da água fazendo “espuma” na água.

Figura 27.

10. Bate perna crawl no macarrão com ajuda: Continuando o trabalho


progressivo da obtenção da flutuação e propulsão através da perna do crawl, utilizaremos
o macarrão na frente do corpo, passando por baixo das axilas. Para dar maior segurança
para o aluno iniciante, este trabalho deverá ser executado em dupla, com o auxiliar
segurando no macarrão perto das mãos do companheiro, evitando assim que suas vias
aéreas sejam submersas e ele se desespere. NATAÇÃO

Figura 28.

119
11. Bate perna crawl no macarrão: Idem ao anterior com trabalho individual,
ou seja, sem o apoio do amigo.

Figura 29.

12. Bate perna crawl no macarrão com respiração: Acrescentar ao exercício


anterior a respiração já aprendida no exercício número 02, ou seja, inspira pela boca e
expira pelo nariz e boca.

Figura 30.

13. Recuperação da flutuação dorsal: ensinar primeiramente que para a


recuperação mais fácil e rápida do corpo da posição horizontal para a vertical, a melhor
maneira é flexionar as pernas e executar uma leve pressão dos quadris para baixo
(como se fosse sentar em um banco). Com o macarrão passando por trás do corpo
e embaixo das axilas, retirar os dois pés do chão, flexionar os joelhos, elevando-os até
que apareçam na superfície da água e depois recuperar a posição vertical.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

A B C

Figura 31.

120
14. Perna costas no macarrão: Com o macarrão passando por trás do corpo e
embaixo das axilas, executar as pernas com movimentos alternados, pernas semiflexio-
nadas (soltas), com pés estendidos e soltos, com movimento de pequena amplitude e
veloz, com os pés fazendo “espuma” na água sem tirar os joelhos fora da água.

Figura 32.

15. Bate perna crawl no macarrão segurando só as mãos: Em busca da


total independência do material de apoio, passaremos a utilizar o macarrão apenas
com o apoio das mãos, tirando-o debaixo das axilas. Executar o movimento da perna
do crawl e a respiração. Se necessário utilizar este mesmo movimento primeiramente
em duplas para auxílio.

Figura 33.

16. Bate perna crawl com prancha e com ajuda: A prancha é um material
muito útil no ensino da natação, pois além de proporcionar menos atrito, oferece um
menor apoio que o macarrão. Idem ao exercício anterior segurando na parte inferior
da prancha. Em duplas, o auxílio do companheiro vai ser fundamental para facilitar a
respiração e dar maior segurança para o praticante.
NATAÇÃO

121
Figura 34.

17. Bate perna crawl com prancha: Idem ao anterior sem a ajuda do
companheiro.

Figura 35.

18. Perna costas com prancha atrás da cabeça: Com o objetivo de adquirir
a progressiva conquista da flutuação dorsal, a perna do nado costas com a prancha
atrás da cabeça é um passo fundamental. Se for preciso podemos utilizar a ajuda do
companheiro.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 36.

122
19. “Tartaruga”: Como continuação do trabalho realizado no exercício número
05. Este exercício marca o início da independência total do praticante de qualquer
apoio, seja ele um dos materiais ou a ajuda do companheiro ou do professor, por esta
razão ele merece uma atenção especial para que acidentes não aconteçam e este se
torne um problema e não uma resolução para este objetivo. Para executar o exercício
o aluno deverá submergir o rosto na água, soltando o ar calmamente, elevar os joelhos,
abraçá-los e permanecer alguns segundos nesta posição enquanto executa a expiração,
soltar os joelhos, apoiar os pés no chão e elevar a cabeça para a inspiração. As dificuldades
individuais devem ser consideradas e respeitadas, alguns alunos irão abraçar comple-
tamente os joelhos deixando seu corpo na forma de uma “Tartaruga”, redondinho,
outros, porém, poderão sentir-se inseguros ainda e apenas encostar as mãos nos
joelhos e voltar rapidamente. O papel do professor responsável será respeitar este
limite e incentivá-los a conseguir o objetivo progressivamente.

Figura 37.

20. “Tartaruga”, estende corpo, flexiona e desce: Para atingir a posição de


flutuação ventral sem apoio nenhum, este exercício tem se mostrado muito importante
nos cursos que oferecemos em Campinas. Inicialmente, o praticante deverá executar o
movimento acima descrito (exercício número 19), estender o corpo para a aquisição
da flutuação ventral, voltar na posição da “tartaruga” e recuperar os pés no chão.
21. Deslize com ajuda: Em duplas, um dos participantes segura nas mãos do
outro, que irá executar o movimento. Segurando na mão do companheiro, o aluno
deverá colocar o rosto na água, expirando o ar, dar um leve impulso no chão da piscina
e projetar seu corpo para frente em posição horizontal.
Ensinar como recuperar o corpo usando os braços: O aluno ter a certeza
que irá conseguir recuperar a posição vertical para retirar o rosto da água e inspirar
o ar, acreditamos ser o passo mais importante para que ele esqueça de seus medos,
inseguranças e, algumas vezes, de seus traumas e se permita uma convivência prazerosa
com o meio líquido. Para atingir este propósito, esta atividade deve ter grande atenção
do professor, utilizando-se de uma explicação clara e acompanhamento individual,
NATAÇÃO

principalmente dos alunos que apresentam mais medo da água. Para recuperar
a posição vertical quando estamos na posição de deslize em decúbito ventral

123
(na horizontal), o movimento dos braços será de fundamental importância. Se ao dirigir
as pernas em direção ao chão utilizarmos os braços (que estão estendidos à frente) com
o mesmo movimento, ou seja, dirigindo as mãos em direção ao chão, adquiriremos
maior equilíbrio na água e o retorno à posição vertical será mais rapidamente.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 38.

22. Deslize com semiajuda: Na atividade acima temos a explicação detalhada


do movimento que tem se mostrado mais eficiente para a transição segura da posição
horizontal para a vertical do corpo. Nesta nova atividade iremos colocar em prática

124
o que explicamos. Para que se tenha total tranquilidade neste movimento, podemos
executá-lo em dupla, onde o auxiliar irá dar segurança apenas estando atento e próximo
para possível necessidade ou ajudando ativamente. O movimento consiste em aquisição
da posição horizontal do corpo, com braços e pernas estendidos, soltos e imóveis,
e posteriormente, transferindo para a posição vertical com os pés no chão da piscina.
23. Deslize sozinho: Idem ao exercício 22, sem o auxílio do professor ou
companheiro.
24. Respiração parafuso: Este exercício tem como objetivo proporcionar uma
nova vivência corporal no meio líquido, permitindo que o aluno “brinque” com as for-
ças da água. Inicialmente, o praticante deverá executar a expiração submersa na água, e,
enquanto expira, executar um giro em cima dos pés, utilizando-se dos braços e mãos.

Figura 39.

25. Perna costas com prancha abraçada com ajuda: Este exercício marca a
troca do apoio do macarrão para o menor apoio que a prancha oferece, caminhando
em direção à independência na flutuação dorsal. Em duplas, o auxiliar irá dar segurança
para o companheiro apoiando levemente em sua nuca. Instruir o auxiliar para ir dimi-
nuindo este apoio se for possível, isto é, sem permitir que seu amigo afunde o rosto
na água. A prancha deve ser posicionada sobre o abdômen, com os braços abraçando
esta, executando a perna da mesma forma explicada no exercício número 14.
26.Perna costas com prancha abraçada: Idem ao exercício anterior, sem o
auxílio do companheiro.
NATAÇÃO

Figura 40.

125
27. “Jacaré” (deslize com perna crawl): Com o corpo em flutuação na
posição horizontal e ventral, os braços estendidos à frente, mãos unidas, executar a
perna do crawl. Quando for respirar, colocar os pés no chão.

Figura 41.

28. Jacaré com “cachorrinho” para respirar: Idem ao exercício anterior,


com a utilização do “cachorrinho” (exercício número 30) para respirar e volta ao
“jacaré” (exercício número 28).
29. “Cachorrinho”: Este movimento é uma ótima opção de técnica de sobre-
vivência, e é muito utilizado por pessoas que não tem conhecimento das técnicas
dos nados da natação como meio de deslocamento no meio líquido. Consiste no
movimento das pernas semelhantes ao do nado crawl, e os braços flexionados,
alternados, embaixo da cabeça, executando pequenos movimentos circulares para
baixo e para trás (como se estivesse “cavando” a água) e cabeça elevada frontalmente
todo o tempo.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 42.

30. Na borda: perna crawl e um braço: Para iniciar o movimento técnico do


braço do crawl, a borda é um ótimo e estável apoio. Este movimento será executado
com uma das mãos permanentemente apoiada na borda, e a outra se desligando da
parede para que o braço possa movimentar-se, com o rosto submerso. Poderemos
praticar este movimento combinando com a perna do crawl, ou se os alunos tiverem

126
maiores dificuldades, com os pés apoiados no chão. O objetivo do curso de iniciação
à natação não é dar detalhes técnicos do melhor movimento, mas proporcionar infor-
mações básicas para um movimento eficiente e de fácil aprendizagem. Por esta razão,
não transmitiremos informações como as especificidades do movimento aquático
(movimento do “S”). No entanto, informaremos ao nosso aluno que se na fase aérea
mantermos os braços flexionados, com o cotovelo como a parte mais elevada, resultará
em um movimento mais suave sem exigir demais da articulação dos ombros; e que o
objetivo da fase aquática é apoiar o braço na água à frente da cabeça e empurrar esta
em direção das coxas. Executar algumas vezes o braço direito, depois repetir com o
braço esquerdo. Se tiver utilizado primeiramente este movimento com os pés no chão,
exercitá-lo com as pernas do nado crawl antes de passar para a próxima fase.
31. Na prancha: perna crawl e um braço: Idem ao exercício anterior (número
30), com o apoio da prancha.
32. Na borda: alterna braço crawl: Idem ao exercício número 31, alternando os
braços enquanto expira o ar na água.
33. Na prancha: alterna braço crawl: Idem ao exercício número 33, com o apoio
da prancha.
34. Flutuação dorsal com ajuda: Uma eficiente flutuação dorsal é fundamental
para a sobrevivência aquática sem muito gasto de energia. Algumas informações pode-
rão facilitar esta aprendizagem, como por exemplo: quando os pulmões estão cheios
de ar, o tronco funciona como uma poderosa boia, e o corpo com os músculos mais
relaxados ficam mais leves na água. O auxiliar será muito importante neste aprendizado,
diminuindo progressivamente o apoio que está proporcionando. Consideramos o
apoio na nuca e na lombar como o mais apropriado nesta ocasião.

Figura 43.

Ensinar recuperação da posição dorsal sem ajuda: Da mesma maneira


NATAÇÃO

que facilitamos a recuperação da posição horizontal para vertical em decúbito ventral


(exercício número 21), algumas informações serão fundamentais para a recuperação

127
decúbito dorsal. Estar expirando no momento da recuperação irá evitar um possível
engasgamento no caso do rosto ser submerso. Repetir as informações dadas no exercí-
cio número 13 para facilitar a recuperação da posição vertical do corpo.

A B

C D

Figura 44.

35. Mergulho na superfície: Submerso, passando no meio da perna do


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

companheiro: Esta atividade de fundo lúdico é recebida pelos nossos alunos com
muita diversão. Proporciona uma nova vivência corporal aquática já que a maioria
dos alunos em questão, antes do curso, nunca atingiu o fundo da piscina com a mão.
O exercício é executado em duplas, sendo que um dos participantes permanecerá
em pé com as pernas afastadas, e o outro se colocará à frente deste. O executante
deverá efetuar a expiração no meio líquido, permitir que o companheiro o direcione
para baixo de suas pernas afundando-o, e executar movimentos que o auxilie para
atingir seus objetivos.

128
36. Perna costas com ajuda: Em duplas, com o auxiliar segurando na nuca
do executante, corpo na posição horizontal, decúbito dorsal, braços ao lado do corpo,
executar o movimento das pernas do nado costas descrito no exercício número 14.
37. Perna costas: Idem ao anterior, sem o auxílio do companheiro.
38. Sobrevivência vertical: Esta atividade será fundamental para a sobrevivência
aquática, caso o nadador tenha que parar por qualquer motivo em um local em que a
profundidade não o permita colocar os pés no chão. Com o corpo na posição vertical,
utilizar movimentos circulares dos braços e pernas (perna de peito alternada). O ideal
é vivenciar diferentes movimentos de pernas e braços para descobrir qual é o melhor
movimento para cada indivíduo.

Figura 45.

39. Uma mão apoiada na borda - respiração lateral: Como no movimento


do braço (exercício número 31), novamente utilizaremos a borda como apoio eficiente
por ser fixo e estável. Um braço à frente com a mão na borda da piscina, outro estendido
e solto do lado do corpo. O aluno deverá expirar o ar com o rosto submerso, olhando
para o chão da piscina, e inspirar pela boca, direcionando seu rosto para o lado do
braço que está na lateral do corpo, mantendo a parte lateral do rosto encostada na
água. Como no exercício número 31, poderemos praticar este movimento com os
pés no chão ou com a perna do nado crawl. Treinar algumas vezes para o lado direito,
depois para o lado esquerdo. A respiração bilateral deve ser incentivada desde a apren-
dizagem do nado crawl, pois ela proporciona o equilíbrio das forças, flexibilidade
e coordenação dos dois lados do corpo.
NATAÇÃO

Figura 46.

129
40. Uma mão na prancha: respiração lateral: Idem ao exercício anterior
(número 39), com o apoio de uma das mãos na prancha.

Figura 47.

41. Na borda - respiração lateral e um braço: Com o auxílio da borda,


executar o movimento do braço do crawl com a respiração lateral simultaneamente,
ao expirar as duas mãos deverão estar apoiadas na borda da piscina.
42. Na prancha - respiração lateral e um braço: Idem ao exercício anterior
(número 43), com o apoio da prancha.
43. Crawl na parede (2x1): Ainda com o apoio da borda da piscina, alternar
os braços do nado crawl, realizando a respiração lateral (inspiração) juntamente com
o movimento de um dos braços e expirar com o rosto na água juntamente com o
movimento do outro braço. Trabalhar a respiração bilateral.
44. Crawl na prancha (2x1): Idem ao exercício anterior, com o apoio da prancha.
45. Perna costas vira em decúbito ventral para parar: Este exercício tem
como objetivo preparar o aluno para executar a mudança de posição, isto é, decúbito
dorsal para ventral e vice-versa. Acreditamos que esta vivência é pertinente para a
segurança do nosso aluno. O movimento consiste na perna do costas até determinada
distância, virar o corpo decúbito ventral assim que os pés encostem no chão e, só
então, ficar em pé (posição vertical do corpo).
46. Crawl - um braço espera o outro à frente: Consiste no movimento do
crawl (braços, pernas e respiração lateral), executando um braço de cada vez, ou seja,
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

uma mão encontrando na outra à frente do corpo.


47. Crawl: Movimento do nado crawl (braços alternados com movimentos de
pernas e respiração lateral devidamente coordenados).
48. Crawl até o meio do percurso e volta sem colocar o pé no chão
(mudança de direção): Este é outro movimento que tem como objetivo asse-
gurar a sobrevivência aquática do aluno. Consiste do movimento do nado crawl até
determinada distância da piscina, voltar para o local de início do exercício passando pela
flutuação vertical, faz parafuso de 180O. para virar e volta de crawl.

130
A B

C D

Figura 48.

49. “Golfinho”: O “golfinho” é o mesmo movimento que executamos para


passar por baixo da perna do companheiro. Consiste em um pequeno salto vertical,
direcionando as mãos para o fundo da piscina, bater perna do crawl, permanecer alguns
segundos com o corpo deslocando submerso perto do fundo, e voltar à posição
vertical para inspirar.
50. Perna costas com prancha e um braço: Abraçar a prancha com um dos
braços e executar a perna do nado costas, e com o outro braço executar o movimento
do braço. Na fase aérea do braço do nado costas o braço permanece estendido, sendo
que o dedo polegar é o primeiro a deixar a água e o dedo mínimo é o primeiro a entrar
acima da cabeça. A fase aquática tem como objetivo puxar a água de cima para baixo
(coxa). Executar o exercício com o outro braço.
51. Perna costas e um braço: Idem ao anterior com um dos braços parado ao
lado do corpo, sem o apoio da prancha.
52. Perna costas alterna braço: Idem ao anterior alternando os braços, sendo
que o aluno deverá executar um braço de cada vez para maior atenção ao movimento.
Crawl até o meio, vira, e perna costas até o final do percurso (mudança
NATAÇÃO

de posição): Este exercício visa à mudança de posição do corpo muito importante


para a sobrevivência aquática. Consiste do movimento do nado crawl até determinada

131
distância da piscina, transição da posição de decúbito ventral para dorsal passando
pela lateral, e perna do nado costas.

C
Figura 49.

53. Costas: Idem ao exercício 54, porém os braços deverão ter movimentos simultâ-
neos, sendo que quando um braço estiver ao lado do corpo o outro estará entrando na água.
54. Crawl até o meio e volta de costas sem colocar o pé no chão (mudança
de direção e de posição): Nadar crawl até uma determinada distância do percurso da
piscina e voltar com pernas de costas sem colocar os pés no chão.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

A B

C D
Figura 50.

132
Costas até o meio do percurso, vira, e crawl até o final (mudança de
direção): Nadar costas até determinado percurso da piscina, virar de decúbito
dorsal para ventral passando pela posição lateral sem colocar os pés no chão, e nadar
crawl até o final do percurso .

Figura 51.

55. Mergulho: Aprender ou não o mergulho de fora da piscina para dentro é


uma opção do adulto que participa do curso de iniciação à natação. Muitos são os
métodos que poderão ser utilizados. Na nossa concepção de natação como sobre-
vivência aquática, o ensino do mergulho em pé é fundamental para entrar em águas
onde se desconhece a profundidade do local, sem se expor a um possível acidente.
Para o ensino do mergulho “de ponta”, onde as mãos são as primeiras a adentrar na
água e os pés os últimos, poderemos passar pelas seguintes fases: mergulho sentado
na borda da piscina, mergulho a partir da posição de joelhos na borda da piscina e,
só então, em pé. Informar os alunos dos perigos de mergulhar em locais rasos e de
pouca visualização.
56. Medidas preventivas (informativos): Sistematizar a apresentação de me-
didas preventivas de acidentes aquáticos, podendo ser através de informativo escrito
NATAÇÃO

ou exposição oral.

133
Texto adaptado do livro

SANTANA, V. H.; TAVARES, M. C.; SANTANA,V. E. Nadar com segurança. São Paulo:
Editora Manole, 2003 (Livro da professora formadora Vanessa H. Santana Dalla Déa).

5. Técnicas dos estilos da natação como facilitador


do deslocamento em meio líquido

A técnica dos quatro estilos é um conteúdo importante da natação, pois apresenta


formas diferentes de se locomover no meio líquido. Além disso, a técnica dos nados
é resultado de muitos estudos e experiências que resultam na forma mais eficiente de
se deslocar em meio líquido. No entanto, é sempre importante lembrar que os quatro
estilos não devem ser o único conteúdo abordado em um programa de natação.
A adaptação ao meio líquido, os nados utilitários, atividades recreativas e jogos
aquáticos são algumas das muitas atividades que devem ser desenvolvidas em um
programa de práticas corporais aquáticas.
A maioria dos livros sobre natação apresenta os estilos na ordem: crawl, costas,
peito e borboleta. No entanto, a ordem da aprendizagem deve sempre levar em
consideração o aprendiz! Assim, se eu tenho um aluno que tem muita dificuldade em
colocar o rosto na água, posso iniciar o processo de aprendizagem pelo nado costas.
Se tiver um aluno que é peitista nato, ou seja, que tem muita facilidade em executar o
nado peito, devo começar por este estilo. Se não for nenhum destes casos, posso iniciar
com o nado crawl, pois é a forma mais eficiente de se locomover em meio líquido.
Apenas não devo iniciar o processo de aprendizagem dos estilos pelo nado borboleta,
pois este apresenta uma exigência física muito grande para um iniciante, podendo
causar lesões. Assim, todo programa de práticas corporais aquáticas deve ter como
informação básica em sua formulação as características do aluno, considerando suas
eficiências e dificuldades, e todas as suas características psicológicas, motoras e sociais.
Antes da descrição dos estilos, informações sobre a predominância de utilização
de partes do corpo devem ser conhecidas. Os membros superiores são os principais
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responsáveis pela propulsão nos nados crawl, costas e borboleta. Apenas movimentando
os membros superiores a maioria dos nadadores atinge 90% de sua velocidade máxima.
O movimento de membro superior dos quatro estilos é composto por duas fases: aérea
e submersa. A fase aérea tem como objetivo a recuperação do posicionamento inicial
de forma rápida, utilizando pouco gasto energético, sem aumentar as forças resistidas,
com um posicionamento inicial que favoreça a busca pelo fluxo laminar. A fase submer-
sa ou aquática é responsável pela propulsão, tem o objetivo de satisfazer os princípios
hidrodinâmicos já citados nesta apostila e fornecer vantagem mecânica para ação dos

134
músculos. O papel dos membros superiores e inferiores na propulsão dos estilos da natação
variam. No nado crawl, costas e borboleta, os membros inferiores são importantes
agentes na sustentação adequada do corpo e auxiliam na propulsão. No nado peito, os
membros inferiores têm principal função de propulsores e auxiliam na sustentação.
A seguir, serão apresentadas as técnicas do movimento do nado crawl. Lembramos
mais uma vez que a técnica correta deve ser utilizada no sentido de favorecer a propulsão
do corpo, sempre respeitando as necessidades e condições individuais. As técnicas
dos nados não deve ser um engessamento de movimentos como único objetivo da
natação, como já foi dito. No entanto, o conhecimento destas propicia que o professor,
com bom senso, adéque o movimento do aluno, facilitando a propulsão e tornando
a natação uma prática mais prazerosa e eficiente.

5.1 Nado crawl

Desenvolvimento técnico do
nado Crawl

Posicionamento do corpo: Em
decúbito ventral, o corpo permanece o
mais horizontalmente possível, realizan-
do movimentos de rolamentos laterais
em seu eixo longitudinal.
Posicionamento da cabeça: Na
expiração, o rosto permanece em contato
com a água, mantendo o nível da água
na parte superior da testa, direcionando
o olhar para a frente e para o fundo da
piscina. A expiração é realizada pela boca,
nariz ou boca/nariz. A expiração pelo
nariz auxilia para que o nadador execute
a virada, evitando a entrada da água
pelo mesmo.
O movimento para a inspiração é atra-
vés da rotação lateral do tronco e de uma
pequena rotação de pescoço. A inspiração
deve ser realizada pela boca e na onda de
Figura 52. proa, mantendo a boca o mais próximo
possível da água, e acontece no momento
NATAÇÃO

em que um braço estiver na fase de apoio e o outro na finalização da braçada. A respiração


é classificada de acordo com o número de braçadas (2X1, 3X1 ou bilateral, 4X1...).

135
Técnica de Braçada

O movimento dos braços do crawl consiste em circundução antero-posterior


alternada dos mesmos. Para melhor entender o movimento, dividiremos a braçada
em: entrada, apoio, tração, finalização e recuperação.
Entrada: Deve ser feita à frente da cabeça, entre a linha central desta e a linha da
direção do ombro. O braço deve estar ligeiramente flexionado, com o cotovelo acima
da mão, de modo que as pontas dos dedos sejam a primeira parte do braço a entrar
na água. Ela deve deslizar para dentro da água, à frente, de lado, com a palma da mão
ligeiramente voltada para fora.
Apoio: Consiste em uma puxada para baixo, em direção ao fundo, com o braço
estendido, não deixando haver uma abertura significativa. Neste momento acontece
uma pequena rotação do tronco, posicionando um dos ombros à frente e, assim,
colocando o braço em uma posição em que terá maior apoio na água.
Tração: É o momento em que começará
a existir maior eficiência da braçada, onde
podemos observar uma flexão do antebraço em
relação ao braço. Fase em que a mão, cotovelo e
ombro deverão estar alinhados sob o corpo. Irá
até o antebraço e a mão chegarem na direção do
umbigo. Neste movimento, a direção da mão será
primeiramente para fora, até passar a direção do
ombro, e para dentro, em direção à linha Alba, ou
seja, perto do umbigo.
Finalização: Consiste em um empurrão
final realizando uma aproximação do braço e
cotovelo ao tronco, através de uma quase-extensão
do antebraço em relação ao braço, retirando-se a
mão da água próxima ao quadril.
Recuperação: Deverá ser feita através da
elevação do cotovelo, flexionando o antebraço
e projetando a mão à frente. Os braços e as
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

mãos deverão estar o mais relaxados possíveis.


O cotovelo estará mais alto que a mão durante
todo o percurso e a mão passará próxima da água.
Direção do movimento: Durante a fase
Figura 53. aquática do braço (entrada, apoio, tração, finali-
zação), a mão percorrerá um trajeto chamado de
movimento em “S”. Segundo pesquisas na área de hidrodinâmica, este é o movimento
que proporciona maior apoio do braço, antebraço e mão na água.

136
Técnica de pernada do nado crawl

Os movimentos de pernas do nado crawl são realizados alternadamente, com


trajetórias descendentes, ascendentes e laterais (de acordo com o rolamento do tronco).
Movimento descendente: A fase descendente é iniciada quando o calcanhar
está alinhado com a superfície da água, momento este em que acontecerá uma
pequena flexão da articulação coxo-femural e do joelho, fazendo com que haja um
pequeno abaixamento do joelho para uma posterior extensão rigorosa da perna.
Os pés deverão estar em flexão plantar e em inversão. Este movimento deverá ter uma
profundidade de aproximadamente 30 a 35 centímetros abaixo da superfície da água.
Movimento ascendente: O pé estará ainda em flexão plantar e a perna retornará
à posição inicial estendida, porém, relaxada.
Coordenação entre braços e pernas:
Existem alguns tipos de classificação em relação a esta coordenação:
• Crawl dois tempos: para cada ciclo de braçada, correspondem a dois movimen-
tos de perna (semelhante ao andar);
• Crawl quatro tempos;
• Crawl seis tempos (mais utilizado em provas de fundo).

5.2 Nado costas

Desenvolvimento técnico do
nado Costas

Posicionamento do corpo: O corpo


permanece o mais horizontalmente possível,
em decúbito dorsal, realizando movimentos de
rolamentos laterais em seu eixo longitudinal.
Posicionamento da cabeça: A cabeça
deverá permanecer apoiada na água, com o
nível desta passando por sua parte posterior
ou mediana das orelhas.
Respiração: A inspiração do nado costas de-
veráserfeitapelabocanomomentoemqueumdos
braços estiver iniciando a recuperação e o outro,
o apoio. A expiração deverá ser feita de prefe-
rência pelo nariz, evitando assim o desconforto
de possível entrada de água neste. E geralmente
NATAÇÃO

a expiração é realizada quando um dos braços


Figura 54. estiver na direção do rosto.

137
Técnica da braçada

O movimento dos braços do crawl consiste em circundução postero-anterior


alternada dos mesmos. Da mesma forma como no nado crawl, dividiremos a braçada
em: entrada, apoio, tração, finalização e recuperação.
Entrada: Deve ser feita entre a direção da cabeça e o ombro. O braço deve estar
estendido, com a palma da mão voltada para fora, de modo que a ponta do dedo mínimo
seja a primeira parte a entrar na água.
Apoio: Consiste de uma puxada para baixo e ligeiramente para o lado em direção
ao fundo da piscina e com o braço estendido.
Tração: É o momento onde começará a existir uma maior eficiência da braçada, em
que podemos observar uma flexão do antebraço em relação ao braço (em torno de 90o.),
fase em que a mão e o cotovelo deverão estar alinhados, com o braço perpendicular ao
corpo, e o cotovelo apontando para o fundo da piscina.
Finalização: Da passagem da tração, para o empurrão final, haverá uma aproxi-
mação do braço e cotovelo ao tronco, com extensão do antebraço, projetando a mão
em direção ao fundo, fazendo com que haja um rolamento do corpo para o lado oposto
a esse braço, e uma consequente saída do ombro, do mesmo lado.
Recuperação: Deverá ser feita através da retirada do braço estendido da água,
sendo que o dedo polegar será o primeiro a deixar a água. Os braços deverão estar
estendidos, mas, no entanto, relaxados. Aproximadamente acima do rosto realizamos
a rotação do braço para que este esteja pronto para iniciar um novo ciclo.

Técnica da pernada

Os movimentos de pernas do nado crawl são realizados alternadamente, com


trajetórias descendentes, ascendentes e laterais (de acordo com o rolamento do tronco).
Movimento descendente: A fase descendente é iniciada quando o dorso de
um dos pés está alinhado com a superfície da água, com a perna estendida, posição
em que permanecerá até o final da fase descendente. Ao final da fase descendente
acontecerá uma pequena flexão da articulação coxo-femural e do joelho, fazendo
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com que haja uma pequena elevação do joelho. Os pés deverão estar em flexão
plantar e em inversão.
Movimento ascendente: Na fase ascendente, a perna realizará uma extensão
rigorosa da perna, os pés deverão estar em flexão dorsal e em inversão, procurando
aproveitar bem a pressão realizada pelo dorso de pé e perna.
Coordenação: Para cada ciclo de braçada (dois braços) são realizados seis
movimentos de pernas.

138
5.3 Nado peito

Técnica de braçada

Os movimentos dos braços do nado peito são simultâneos e caracteriza-se por


haver maior ênfase na lateralidade dos movimentos. Dividiremos o movimento em
apoio, tração e recuperação.
Apoio: Partindo com os braços estendidos à frente da cabeça, mãos juntas, o início
da braçada é realizado com pressão para os lados e ligeiramente para o fundo, sem grande
abertura para que, no momento da tração, as mãos não ultrapassem a linha dos ombros.
Tração: É a fase em que acontece o movimento de aproximação dos braços
ao corpo. Nesta fase, o antebraço é o grande responsável pela pressão na água, com
abdução dos braços e flexão do antebraço sobre o braço até um ângulo aproximado
de 90o, alinhando ombro, cotovelo e mão. Após o braço, realizará uma adução unindo
mãos e posteriormente cotovelos.
Recuperação: As mãos permanecerão unidas com os cotovelos o mais próximos
possíveis, estendendo os braços para a posição inicial (estendidos à frente da cabeça).

Técnica da pernada

O movimento da perna do nado peito é conhecido como chicotada, devido sua


trajetória. É realizado em um movimento em que os pés desenhem a seguinte figura:
• O início do movimento se dará com as pernas estendidas e com os pés em flexão
dorsal e em inversão.

Figura 55.

• A pernada do nado peito requer uma boa flexibilidade tíbio-társica, já que para
um bom posicionamento dos pés, no momento da flexão máxima das pernas e no
decorres da extensão, é necessário realizar dorsiflexão com eversão para que os mesmos
NATAÇÃO

executem um eficiente apoio na água, com as plantas dos pés.

139
• A flexão da coxa sobre o tronco deve ser o suficiente para que os pés não saiam
da água, já que, se houver um abaixamento grande das mesmas, ocorrerá uma grande
resistência frontal ao deslocamento, prejudicando a propulsão.
• A flexão da perna sobre a coxa deve ser máxima possível, aproximando os pés
dos glúteos, obtendo assim uma maior amplitude do movimento.
• Na flexão máxima das pernas, os joelhos devem se posicionar apontados para o
fundo da piscina, e não muito para os lados, ou seja, deve haver uma rotação medial
das coxas, para evitar um grande afastamento destes.
• A trajetória dos pés no movimento de extensão é: a primeira fase da extensão
que é a fase de maior apoio, na abdução das pernas, ao mesmo tempo em que os pés se
dirigem para o lado, também estarão aprofundando. Na segunda metade da extensão,
os pés estarão se dirigindo para dentro e ainda para o fundo (adução das pernas).
• Na finalização da pernada, quando as pernas se estenderem, os pés se unirão
com as plantas uma voltada para a outra, através da flexão plantar e inversão dos pés,
pressionando assim a massa de água presente no interior das pernas.
• O movimento de flexão das pernas (recuperação) deverá ser realizado mais
descontraído (com menor gasto calórico), e a extensão, onde se realiza o apoio
necessário para o deslocamento, deverá ser executada com vigor, maior potência.
Respiração: Durante ao apoio da braçada, isto é, fase inicial da abdução dos braços,
o nadador realizará a elevação frontal da cabeça até a retirada da boca da água e realizará a
inspiração. A expiração será realizada na recuperação dos braços, ou seja, enquanto estes
estão se estendendo à frente da cabeça.
Coordenação entre pernas e braços: A coordenação no nado peito
caracteriza-se por movimentos alternados:
• Apoio da braçada = pernas permanecem estendidas;
• Tração da braçada = pernas permanecem estendidas;
• Início da recuperação da braçada – início da ação das pernas;
• Final da recuperação da braçada = final da ação das pernas (extensão).
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

140
Figura 56.

5.4 Nado borboleta

Posição do corpo: Permanece na horizontal em decúbito ventral e caracteriza-se


por ações simultâneas de braços e pernas.
Posicionamento da cabeça: O rosto fica em contato com a água mantendo o
nível da água na parte posterior da cabeça, com uma maior aproximação do queixo no
peito do que no nado crawl.
Respiração: Durante o momento em que o rosto permanece na água, o nadador
executa a expiração através da boca e/ou nariz. A inspiração deve ser feita logo após
a expiração através de uma ligeira elevação frontal da cabeça, mantendo-se o queixo
apoiado na água.
NATAÇÃO

A respiração pode ser classificada com o número de braçadas: 1X1,


2X1 ou 3X1.

141
Técnica da braçada

Os braços realizam uma circundução


antero-posterior simultaneamente.
Entrada: Deve ser feita à frente da
cabeça, entre a linha central desta e a linha
da direção do ombro. Os braços devem estar
ligeiramente flexionados, com rotação medial,
com os cotovelos um pouco acima das
mãos, de modo que as pontas dos dedos
sejam a primeira parte a entrar na água.
As mãos devem deslizar para dentro da água,
à frente, de lado, com a palma das mãos
voltadas para fora.
Apoio: Consiste em uma puxada para o
lado, com os braços estendidos, não deixando
haver uma abertura exagerada.
Tração: Podemos observar uma flexão
dos antebraços em relação aos braços, com
uma trajetória das mãos em direção à linha
mediana do corpo e para o fundo.
Empurrão: É o momento em que
começará a existir maior eficiência da braçada,
quando podemos observar uma flexão do
antebraço em relação ao braço, fase em que
as mãos, cotovelos e ombros deverão estar
alinhados sob o corpo. A partir daí, haverá
uma aproximação do braço e cotovelo ao
Figura 57. tronco, passando a existir uma maior pressão
de movimento em relação às fases anteriores.
Finalização: No empurrão final haverá uma extensão vigorosa do antebraço,
retirando-se, logo a seguir, as mãos da água, próximas do quadril.
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Recuperação: Deverá ser feita através da elevação dos cotovelos, flexionando


os antebraços e projetando as mãos à frente, com os braços passando pela lateral,
paralelos à superfície da água. Os braços e mãos deverão estar o mais relaxado possível.
Direção do movimento: Como no nado crawl, durante a fase aquática dos
braços (entrada, apoio, tração, finalização), as mãos percorrerão um trajeto chamado
de movimento em “S”. Segundo pesquisas na área de hidrodinâmica, este é o
movimento que proporciona maior apoio do braço, antebraço e mão na água.

142
Técnica da pernada

Os movimentos de perna são realizados simultaneamente com trajetórias


ascendentes e descendentes.
Movimento descendente: A fase descendente é iniciada quando o calcanhar
está alinhado com a superfície da água, momento este em que acontecerá uma
pequena flexão da articulação coxo-femural e do joelho, fazendo com que haja um
pequeno abaixamento do joelho para uma posterior extensão rigorosa da perna.
Os pés deverão estar em flexão plantar e em inversão, procurando aproveitar bem a
pressão realizada pelo dorso dos pés e pernas na água. Este movimento deverá ter uma
profundidade de aproximadamente 40 a 50 centímetros abaixo da superfície da água.
Movimento ascendente: O pé estará ainda em flexão plantar e a perna retornará
à posição inicial estendida, porém, relaxada.
Coordenação entre pernas e braços: No nado borboleta, a cada ciclo de
braçadas realizam-se duas pernadas: uma no início (apoio) da braçada e outra no
empurrão final da mesma.

5.5 Viradas

Cada um dos estilos da natação possui uma virada específica, no entanto, os nados
crawl e costas apresentam viradas parecidas, assim como o nado peito e borboleta.
A virada dos nados crawl e costas têm como base uma cambalhota realizada
próxima da borda, seguida por um empurrão executado pelos membros inferiores na
borda. No entanto, a propulsão após o empurrão no nado crawl acontece em decúbito
ventral e no costas em decúbito dorsal.
Na virada do peito e borboleta, o movimento básico consiste de encostar as mãos
na borda, depois levar os pés na borda para só então realizar o empurrão.
Após a virada do nado borboleta, realiza-se ondulações na fase de maior propulsão,
e só após inicia-se o movimento dos braços. Já após a virada do peito, realiza-se o
que chamamos de filipina, que consiste de um movimento mais amplo do que o
movimento realizado pelos membros superiores no nado peito e após o movimento
idêntico ao realizado pelos membros inferiores no nado peito.
Estes movimentos podem ser visualizados na figura abaixo.

Virada do nado crawl e costas


NATAÇÃO

143
Figura 58.

Virada do nado peito e borboleta


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 59.

144
6. Pressupostos básicos da hidroginástica

A divulgação dos muitos benefícios da hidroginástica tem levado um número grande


de pessoas para as academias e clubes. Porém, a permanência destas na aula vai depender
quase que exclusivamente do professor. É preciso ter sensibilidade para descobrir o
que as pessoas procuram e lidar com esta pretensão da melhor forma possível.
Como já foi dito, a água favorece a mobilidade e seu domínio beneficia a confiança
e aumenta a autoestima, portanto, a atividade aquática é uma ferramenta para atingir
uma melhora psicológica significativa, facilitando o desenvolvimento psicomotor,
a coordenação motora e a socialização. No meio líquido não existem apoios fixos e
a força gravitacional é quase nula, o que favorece a execução dos movimentos mais
amplos. Dentro da água, o corpo fica mais leve, as articulações ficam mais livres
de impactos, e podemos nos movimentar com maior facilidade e segurança, bene-
ficiando, dessa forma, uma ampla vivência e percepção corporal com uma menor
exigência motora.
A água é 1000 vezes mais resistente que o ar. Ao mesmo tempo que a atividade
aquática facilita a movimentação, o meio líquido apresenta uma resistência capaz
de auxiiar na preparaão da musculatura do participante para suas atividades de vida
diária, melhorando assim sua qualidade de vida.
É importante lembrar que a piscina é um meio estimulador de sensações, pois
estamos imersos e acolhidos pela água por todos os lados. Além disso, envoltos no
meio líquido somos mais leves, ágeis e as imperfeições são escondidas através do
movimento da água, o que nos faz ver um corpo eficiente, e ainda sentimos o carinho
e o relaxamento que um meio aquecido e aconchegante pode nos proporcionar,
causando uma impressão de bem-estar físico.
Uma das características que pode ser observada na hidroginástica que é fabulosa:
é a condição de favorecimento da participação de grupos bastante heterogêneos
fazendo a mesma atividade, propicie a inclusão. Uma sociedade que aprende a conviver
dentro da diversidade humana, aceita e valoriza as diferenças individuais através da
compreensão e da cooperação (Cidade e Freitas, 1997).
Em uma mesma aula pode-se verificar a presença de jovens, adultos, idosos, ges-
tantes, pessoas com deficiência e atletas atingindo o objetivo de todos e respeitando
as dificuldades e eficiências de cada um. Sassaki (1997) relata que a inclusão é um
processo amplo, com transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos
e na mentalidade de todas as pessoas, inclusive da própria pessoa com deficiência,
que contribui para uma sociedade melhor. Estas só poderão ocorrer se propiciarem
atividades que permitam a convivência entre pessoas deficientes e pessoas da sociedade
em geral. Assim, ambas as partes poderão conhecer as eficiências e deficiências que
NATAÇÃO

possuem, aprendendo a se respeitar, se despindo de preconceitos.

145
Pensando assim, propõe-se uma atividade que, além de proporcionar diversos bene-
fícios físico-psico-social, permite que pessoas diferentes entre si tenham a oportunidade
de participar de uma mesma modalidade que tem muitas características que a torna
inclusiva: a hidroginástica.

6.1 Informações básicas para montar aulas de hidroginástica

O treinamento aquático deverá ser prescrito levando-se em consideração as mudanças


fisiológicas que ocorrem nesta situação. Estas são diferentes das mudanças ocorridas
no treinamento convencional em terra, então, deveremos explorar algumas
características do meio aquático para otimizar os exercícios da hidroginástica.
Citamos a seguir as características que consideramos mais relevantes como
informações para criar aulas seguras e eficazes. Apesar de parte destas informações
já terem sido apresentadas em outros textos, foram repetidas para que se entenda
melhor a hidroginástica.

6.1.1 Empuxo

“Um corpo completo ou parcialmente imerso em meio líquido sofre um


empuxo de baixo para cima, proporcional ao peso do líquido por ele deslocado”
(Princípio de Arquimedes).
Segundo este princípio, quanto mais seu corpo estiver submerso mais água será
deslocada e maior será a força do empuxo (contrária à gravidade, ou seja, para cima).
Então, nos exercícios aonde o movimento vai em direção da superfície, o empuxo
facilita sua execução, portanto, é interessante que, neste caso, utilizemos materiais que
aumentem a superfície de contato ou aumentem a velocidade de execução.
É a força de empuxo que diminui o impacto do corpo no solo, protegendo as
articulações que sustentam o corpo.

6.1.2 Flutuação

Flutuando não encostamos os pés no chão, portanto, desta forma, também prote-
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gemos as articulações e conseguimos uma variedade maior de movimentos.


Para aumentar a resistência em exercícios de flutuação devemos executar o
movimento contra esta flutuação.

6.1.3 Inércia da água

Na hidroginástica, quando você se desloca pela piscina, movimentará toda


uma massa de água que estava em inércia na mesma direção do deslocamento.

146
Se mudarmos de direção, teremos que vencer novamente a inércia desta massa
que tenderá a continuar se deslocando para a direção anterior.
Isso prova os benefícios de exercícios como correr em círculos em um deter-
minado tempo, depois mudar a direção do deslocamento, ou de deslocar-se para
frente e para trás.

6.1.4 Área de superfície de contato

Na natação, os movimentos com o corpo na posição horizontal visam diminuir


a resistência ao avanço e aumentar a velocidade. Enquanto que na hidroginástica
podemos utilizar o princípio contrário ao da natação para aumentar a intensidade
do movimento.
Quanto maior for a superfície do corpo teremos que movimentar uma massa
maior de água, portanto, a resistência oferecida será relativamente maior.
Podemos utilizar complementos como luvas, aquafins, halteres e outros mate-
riais com grande superfície para intensificar o trabalho.

6.1.5 Posição de trabalho

A hidroginástica oferece uma quantidade muito grande de variedade de movi-


mentos e se soubermos utilizar esta característica teremos aulas motivantes
e eficazes.
Para isso, deve-se utilizar as quatro posições básicas para exercícios:
1. Saltitamentos: Em determinado momento, os dois pés encontram-se
fora do chão. Ao contrário do que muitos pensam, o saltitamento não é necessaria-
mente a forma mais intensa de movimento. Exemplo de saltitamento: o polichinelo.
2. Posição neutra: Os pés permanecem no chão e a flutuação auxilia o
movimento. Neste caso, o corpo não é impulsionado para cima e para fora da
água, proporcionando movimentos mais suaves e com menor impacto. Exemplo
de exercício na posição neutra é a adução e abdução das pernas, arrastando os pés
no chão, como um polichinelo sem saltitamento.
3. Posição suspensa: Os pés não tocam o chão em momento nenhum.
Este movimento pode acontecer com ou sem o auxílio de materiais flutuantes.
O corpo pode permanecer em posição vertical, em decúbito dorsal ou em decú-
bito ventral, trabalhando toda musculatura postural, anterior, posterior e eliminar
o impacto sobre as articulações.
4. Posição ancorada: Um dos pés estará sempre em contato com o chão.
Isso acontece em caminhadas e em movimentos que requerem equilíbrio, com
NATAÇÃO

um dos pés no chão e o outro elevado.

147
6.1.6 Velocidade e/ou amplitude de movimento

Quanto maior a velocidade do movimento maior será o esforço exigido, desde


que não diminua a amplitude do movimento. Para que isso não aconteça, devemos
estar atentos e alertar constantemente o aluno.

6.1.7 Acentuação de diferentes fases do exercício

Na ginástica fora da água um exercício, tanto na saída da posição inicial como


no retorno do movimento utiliza a mesma musculatura. Por exemplo, a flexão e
extensão do braço sobre o antebraço trabalha o bíceps, tanto na fase concêntrica
como na excêntrica.
Na hidroginástica sem material, na saída da posição inicial os músculos motores
primários farão papel de agonistas e no retorno os seus antagonistas assumirão esta
função. No mesmo exemplo anterior na hidroginástica, a flexão do braço sobre o
antebraço é feita pelo bíceps braquial e a extensão, pelo tríceps. Podemos acentuar o
trabalho de um dos grupos musculares utilizando-se de equipamentos. No exemplo
utilizado, se acrescentarmos o uso dos halteres flutuantes estaremos dando ênfase
ao trabalho do tríceps, e se utilizarmos um halteres cheio de areia ou água estaremos
enfatizando o bíceps.

6.1.8 Preparação da aula

É impossível dar boas aulas de hidroginástica sem um planejamento prévio e com


uma programação mensal. O professor deverá seguir uma programação, que de prefe-
rência deve ser utilizada por todos os profissionais da academia, que poderá determinar o
tipo de aula a ser dada (localizada, aeróbia, suspensão, deep), método de aula (intervala-
do, contínuo...), os grupos musculares predominantes a serem utilizados, uma sugestão
de estilo de música, o material utilizado ou qualquer outro elemento que os profes-
sores julguem importantes.
Em nossa programação temos alguns tipos ou métodos de aulas:
• Local ou convencional: É uma aula que tem como objetivo principal o
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trabalho localizado, tendo como partes o pré-aquecimento (+ou- 5 min.), que é


composto por aquecimento articular e alongamentos, o aquecimento com exercí-
cios aeróbios (de 10 a 15 min.), a parte principal (+ou- 25 min.) e a volta à calma
(+ou- 5 min.).
• Aero: Tem como objetivo principal uma maior queima calórica, sendo com-
posta de exercícios aeróbios. Este pode ser feito através de saltitamentos, através de
movimentos de batimento de perna ou através de exercícios de baixo impacto. A parte
aeróbia pode vir logo após o pré-aquecimento e ir até a volta à calma.

148
• Aero/local: Consiste em dividir a parte principal em trabalho aeróbio e localiza-
do. Esta aula pode ser dividida em pré-aquecimento (+ou- 5 min.), trabalho aeróbio
(+ou- 20 min.), trabalho localizado (+ou- 20 min.) e volta à calma (+ou- 5 min.). Esta
também pode ser programada utilizando, por exemplo, de intercalar série localizada e
série aeróbia.
• Circuito: É uma aula composta de várias estações de exercícios, nas quais o
aluno permanece um determinado tempo e troca de estação. A direção das mudanças,
a formação dos exercícios, o tempo de trabalho, o tempo de descanso e os exercí-
cios utilizados são determinados pelo professor, desde que este não desrespeite a
programação do dia.
• Variação de velocidade: Como já diz o nome, nesta aula intercalamos
movimentos mais rápidos e mais lentos. Para que não caia a intensidade da aula
demasiadamente, temos que ter o cuidado de manter a amplitude dos movimentos.
• Intervalada: Esta aula utiliza-se de descanso ativo como intervalo. Podemos
oferecer este descanso através de alternância de grupos musculares ou de trabalhos
localizados e aeróbios.
• Alongamento: Tem como objetivo o relaxamento, alongamento e compensa-
ção de todos os grupos musculares, dando uma atenção especial aos músculos traba-
lhados com maior intensidade nos últimos dias.
• Abdominal: Esta é uma aula que visa o fortalecimento dos músculos abdominais.
Apresentamos, a seguir, um exemplo de quadro direcionador para o programa
de hidroginástica:

1ª Semana do Mês

3ª e 4ª 5ª e 6ª
Material: Luva Material: Macarrão
G.M.P bi / tri / qua G.M pe / co / pos
Método: local Método: Aero / Local

Obs: aque.lugar/abd.borda Obs: aque.desl./abd.centro

2ª Semana do Mês

3ª e 4ª 5ª e 6ª

Material: Pesinho Material: Caneleira

G.M.P ad / del / Ad / Ab G.M Pr.

Método: var. veloc. Método: Local


NATAÇÃO

Obs: aque.bor./abd.centro Obs: aque.desl./pr.e abd.borda

149
Siglas

G.M.P.=grupo muscular preferencial – Br=braço – pr=perna – adb=abdômen


Ab=abdutor pr. – ab=abdutor br. – Del=deltóide – pe=peitoral – co=dorsais –
po=posterior coxa – qua=quadríceps – bi=bíceps – tri=tríceps – Ad=adutor pr. – var.
vel.=variação veloc.

7. Recreação aquática

A atividade aquática normalmente desperta o prazer nas pessoas. As características


físicas do meio aquático proporcionam a sensação de acolhimento, leveza, liberdade
e eficiência. Quando inserimos aspectos lúdicos nas atividades aquáticas, tornamos
estas ainda mais prazerosas, acrescentando a este meio tão fabuloso e convidativo
novos valores.
A palavra lúdico é originada do latim ludus, que se refere tanto ao brincar quanto
ao jogar. Sabe-se que o lazer é reconhecido por muitos autores. Marcelino (1996)
relata duas constatações para a prática de atividades com base no lazer: “A primeira
que o lazer é um veículo privilegiado de educação. A segunda porque para a prática das
atividades de lazer é necessário o aprendizado, o estímulo, a iniciação aos conteúdos
culturais, que possibilitam a passagem de níveis menos elaborados, simples, para
níveis mais elaborados, complexos, procurando superar o conformismo pela
criticidade e criatividade”.
Segundo Olivier (1999, p. 23):

“Reconhecer o lúdico é reconhecer a especificidade da infância: permitir que


as crianças sejam crianças e vivam como crianças; é ocupar-se do presente,
porque o futuro dele decorre; é esquecer o discurso que fala da criança e
ouvir as crianças falarem por si mesmas”.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Santiago e Tahara (2007) realizaram um estudo objetivando investigar os motivos


que favorecem a adesão de crianças, matriculadas por seus pais, em escolas de natação.
Os resultados indicam a existência de um momento alegre e descontraído, com a
prática saudável da natação associada ao aprendizado por meio das brincadeiras. Este
trabalho mostra a importância do brincar ao ensinar a nadar.
Assim, este texto tem como objetivo apresentar uma proposta de atividades
aquáticas recreativas.

150
Recreágua – conteúdo proposto

Este trabalho aquático será dividido em quatro grupos de atividades que previlegiem
determinadas faixas etárias, porém, sem excluir pessoas de outras idades que estejam
interessadas em participar:

7.1 Hidrorecreativa

Os benefícios da hidroginástica em si já justificam esta atividade, no entanto,


acrescentando aspectos recreativos, estas justificativas aumentam muito.
Nestas aulas, o meio lúdico virá através de elementos musicais que tragam uma
contribuição e um tema para a aula. Um exemplo é uma aula chamada “Volta ao
Mundo”. Nesta aula, cada música é retirada de um determinado país, juntamente com
passos de dança dos países originários. Outro exemplo é a “Hidrojunina”, que consiste
na quadrilha na água, além da “Hidronatal”, “Hidrocarnaval”. Além destas aulas festivas,
pode-se proporcionar aulas com predomínio de um ritmo, por exemplo, country,
samba, afro, forró, anos 60.
Outro aspecto presente nestas aulas é a socialização, onde atividades em duplas,
trios ou grupos proporcionam uma relação entre as pessoas.
Através destas dinâmicas, pode-se tornar o as aulas mais prazerosas e ainda apre-
sentar, de uma maneira diferenciada, uma atividade física que tem conquistado muitos
adeptos, graças aos muitos benefícios físicos, psíquicos e sociais: a hidroginástica.

7.2 Esportes aquáticos

Esta atividade pode ser praticada por qualquer pessoa, mas é especialmente dirigida
para adolescentes e jovens, já que nesta fase a competição está à “flor da pele”. Cabe
aos professores de educação física transformar competição em cooperação por meio
de jogos recreativos, além de desenvolver a resistência, força e velocidade, respeitando
as dificuldades e valorizando as conquistas. Nesse período, os jogos aquáticos são
muito bem aceitos e funcionam como um educador muito eficiente. O polo aquático,
o basquete aquático, o biribol e muitos outros jogos podem ser utilizados com sucesso
no amadurecimento, na socialização e para agregar novas culturas.
O polo aquático é uma opção de atividade recreativa muito bem aceita por jovens
e adultos. É um esporte olímpico que tem regras parecidas com o handebol. As equi-
pes devem tentar jogar a bola dentro do gol adversário, defendido pelo goleiro. Este
jogo foi criado em Londres, na Inglaterra, por volta de 1870. O polo aquático oficial é
praticado em piscinas com no mínimo 20 e no máximo 30 metros de comprimento, no
NATAÇÃO

mínimo 10 e no máximo 20 metros de largura e a profundidade mínima de 2 metros.

151
No entanto, o polo aquático recreativo pode sofrer adaptações e ser praticado em
qualquer piscina. Duas regras oficiais que são interessantes para serem mantidas
no polo recreativo são: a bola não pode ser segurada com as duas mãos juntas por
qualquer jogador, com exceção do goleiro; a bola não pode ser afundada por qualquer
jogador quando atacado. Existem dois tipos de bola: uma para as mulheres e outra
para os homens. A bola oficial de polo aquático tem entre 400 e 450 gramas, e perí-
metro entre 68 e 71 centímetros. A bola para o polo aquático recreativo pode ser de
plástico simples e leve, assim, o risco de lesões é menor.

7.3 Brincar na água

O sonho de qualquer criança é que o mundo seja uma brincadeira. E por que não
brincar de nadar? Anexamos, a seguir, uma gincana aquática que poderá ser utilizada
abrangendo todos os objetivos deste trabalho.

Brincar na água

Nesta etapa do texto serão apresentadas atividades recreativas para piscinas


com objetivo de socialização, passatempo, ludicidade, além do desenvolvimento de
capacidades como coordenação e adaptação em meio líquido.
Para melhor desenvolvimento da gincana, sugere-se que as equipes sejam previa-
mente definidas e determinadas através de fitas coloridas, como por exemplo, a equipe
vermelha e a amarela. O professor deverá posicionar-se de maneira que acompanhe e
dê melhor atenção aos participantes.

Gráfico das atividades

PISCINA INSTRUTOR

MATERIAL PARTICIPANTES

7.4 Atividades
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

7.4.1 Telefone submarino

Formação: Em fileiras, divididos em dois grupos e sentados na borda da piscina.


Um grupo de frente para o outro.

152
Figura 59.

Desenvolvimento: O professor falará em voz baixa uma palavra, frase ou oração


ao primeiro aluno das fileiras. Este aluno deverá nadar por baixo da água ou andar até o
primeiro aluno da fileira à sua frente, transmitir o que lhe foi dito e sentar. Este segundo
aluno deverá voltar nadando ou andando e transmitir para o próximo, e assim, suces-
sivamente, até o último aluno. Este, por sua vez, deverá falar em voz alta o que lhe foi
transmitido. Observar se a palavra, frase ou oração foi fiel à original.
Final: Ganha a equipe que disser o mais próximo do que foi dito pelo professor.

7.4.2 Acertar alvos

Material: Caixa de plástico e bolas pequenas.


Formação: Em colunas.

Figura 61.

Organização: O monitor deverá segurar a caixa (de refrigerante, ex.) fora da


água. O primeiro aluno da fileira deverá estar em uma determinada distância da caixa.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, o primeiro aluno, sem se locomover,
tenta acertar o alvo. Cada criança deverá atirar a bola três vezes. Conta-se o número
de acertos e troca a equipe.
Final: Ganha a equipe que acertar mais vezes a caixa.

7.4.3 Dona porca

Material: Objetos que afundem ou não.


NATAÇÃO

Formação: Crianças deverão estar encostadas na borda com as equipes misturadas.

153
Figura 62.

Organização: Os alunos deverão estar na borda, no raso e de costas para os materiais.


Desenvolvimento: O professor deverá contar uma estória de que a Dona Porca
era uma mulher que não tinha higiene e jogava lixo por todos os lugares. Então, as
crianças deverão dar o exemplo recolhendo todo o lixo que a Dona Porca jogou.
Final: Ganha a equipe que recolher todos os objetos em melhor tempo.
Obs.: O mesmo jogo pode ser feito ganhando quem pegar mais material. Neste
caso, as duas equipes participam ao mesmo tempo.

7.4.4 Duro ou mole

Formação: Os alunos deverão estar distribuídos na piscina de modo que o


monitor visualize todos.

Figura 63.

Desenvolvimento: Ao sinal do professor, as crianças deverão ficar em pé, imóveis


ou agachar, com o queixo na água. Ao ouvir a palavra “duro”, as crianças deverão ficar
em pé. E a palavra “mole”, as crianças deverão agachar.
Final: As crianças serão eliminadas da brincadeira quando errarem. Ganhará a
equipe que pertencer a última criança.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

7.4.5 Tigela cheia

Material: Tigela ou balde e esponja.

Figura 64.

154
Formação: Os alunos deverão estar em coluna.
Organização: O primeiro aluno da coluna deverá estar com uma esponja na mão,
posicionando a três metros da borda da piscina, em frente à tigela ou balde.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, a criança deverá andar com a esponja
molhada até a tigela que estará na borda da piscina. Deverá apertar a esponja dentro da
tigela, voltar e passar a esponja para o próximo, dirigindo-se ao final da fila.
Final: Ganha a equipe que encher de água sua tigela primeiro.

7.4.6 O túnel

Formação: Cada equipe deverá formar uma coluna com crianças que saibam
executar um mergulho prolongado (para maior segurança da atividade, o monitor
deverá formar colunas pequenas e, antes de iniciar, propor que os participantes nadem
um determinado percurso por baixo da água para verificar se são capazes de participar
desta brincadeira).

Figura 65.

Organização: O primeiro aluno deverá ficar a um metro de distância da coluna e


de frente para eles, os demais deverão estar com as pernas afastadas.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, o primeiro aluno deverá passar por baixo
das pernas de seus colegas e ficar em pé, com as pernas afastadas, atrás do último aluno
da sua coluna.
O segundo aluno irá ocupar o lugar do primeiro e repetir a atividade, e assim,
sucessivamente.
Final: Ganhará a equipe que passar todos os participantes mais rapidamente.

7.4.7 O garçom

Material: Prancha de natação e copos de plástico com água.


Formação: Em fileira, na parte rasa, encostados na borda da piscina.
NATAÇÃO

Figura 66.

155
Organização: O primeiro aluno deverá estar com uma prancha na superfície da
água e um ou mais copos sobre ela.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, a criança que está com a bandeja deverá
transporta-lá, andando, até o outro lado, voltar e passá-la para o segundo participante,
e assim, sucessivamente. Caso os copos caiam, o aluno deverá parar, enchê-los nova-
mente e continuar a corrida.
Final: Ganhará a equipe que terminar em menor tempo. (As duas equipes pode-
rão estar competindo ao mesmo tempo, ou sendo cronometrada a participação de
cada uma).

7.4.8 Visão aquática:

Material: Objetos coloridos.


Formação: Em fileira, encostados na borda da piscina, intercalando uma criança
de cada equipe. O professor deverá estar dentro da água.

Figura 67.

Organização: O professor deverá estar com alguns objetos coloridos em um


saquinho e de frente para o participante.
Desenvolvimento: O monitor deverá mostrar em baixo da água, para cada aluno,
um dos objetos coloridos. O aluno deverá afundar e dizer a cor mostrada.
Final: O monitor deverá ir contando os acertos de cada equipe e dar como vence-
dor a equipe que acertar mais cores.

7.4.9 Moeda perdida

Material: Uma ou mais moedas.


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Formação: Os participantes deverão estar encostados na borda e de costas para a


piscina, com as equipes misturadas.

Figura 68.

156
Organização: O monitor deverá verificar se nenhum dos participantes está
olhando para trás e jogar a ou as moedas na piscina.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, todos os participantes deverão ir à procu-
ra da ou das moedas.
Final: Ganha a equipe que achar mais moedas.
Obs.: Contar quantas moedas são jogadas na água e se todas são recuperadas, para
a segurança das crianças.

7.4.10 Ventania

Material: Bolinhas de pingue-pongue ou de isopor.


Formação: Em fileira, encostados na borda da piscina.

Figura 69.

Organização: Os alunos deverão estar com as mãos para trás, não segurar a bolinha
e deixá-la na superfície da água, de frente para eles.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, o primeiro aluno de cada equipe deverá
assoprar a bolinha até o outro lado da piscina, bater a mão na borda e voltar levando-a
para o segundo participante. E assim, sucessivamente.
Final: Ganhará a equipe que terminar o percurso de todos os participantes
primeiramente.

7.4.11 Argola premiada

Material: Argolas coloridas que afundem na água.


Formação: Os participantes deverão estar encostados na borda e de costas para a
piscina, com as equipes misturadas.
NATAÇÃO

Figura 70.

157
Organização: Uma das argolas deverá ser marcada com uma fita. As argolas deve-
rão ser distribuídas pela piscina.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, os alunos deverão cada um pegar uma
argola, sem saber que tem uma marcada, e levá-la ao professor.
Final: Ganhará a equipe cujo participante encontrar a argola marcada.

7.4.12 Bola quente

Material: Uma bola grande.


Formação: Os participantes devem permanecer em círculo, intercalando um de
uma equipe e um de outra.

Figura 71.

Organização: O monitor estará de costas para os participantes e dirá: “Bola


quente, quente, quente,... Queimou!” e repetirá até quando desejar a palavra “quente”.
Quando o monitor disser a palavra “Queimou”, quem estiver com a bola na mão
deverá sair da brincadeira e ir para fora da piscina e tomar o lugar do monitor. Quando
o segundo participante for queimado, ele passará para o lugar do primeiro e o primeiro
sairá da brincadeira.
Final: Ganhará a equipe de qual pertencer o último a ser queimado.

7.4.14 Vai e vem

Material: Duas bolas.


Formação: As equipes deverão estar em coluna.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 72.

Organização: O primeiro aluno deverá estar com uma bola na mão, e todos no raso.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, o primeiro aluno deverá passar a bola
por cima da cabeça e assim, sucessivamente, até o último. Este, por sua vez, deverá se

158
dirigir à frente do primeiro e passar a bola da mesma forma, até que o participante que
iniciou a atividade volte ao seu lugar de origem.
Final: Ganhará a equipe que terminar a tarefa primeiro.

7.4.15 Fórmula 1 de colinho

Formação: Cada participante da equipe deve chamar um adulto que poderá ser a
mãe, o pai ou qualquer outra pessoa, devendo formar uma dupla com esta. As duplas
deverão encostar na parede, sendo que o adulto deverá carregar a criança no colo.

Figura 73.

Organização: As duas equipes deverão ter o mesmo número de participantes.


Com as equipes misturadas, todos os adultos com as crianças no colo deverão, ao sinal
do monitor, correr até a outra borda, encostar-se nela e voltar correndo.
Final: Ganhará a equipe da qual pertencer a dupla que for mais rápida.

7.4.16 Espertinho

Material: Uma bola.


Formação: Duas fileiras, uma equipe em cada lado, sentados na borda da piscina.

Figura 74.

Organização: Enumerar cada participante de uma equipe e a mesma numeração


deverá ser iniciada para a outra equipe. As equipes deverão estar sentadas numerica-
mente uma de frente à outra.
Desenvolvimento: O monitor lançará uma bola ao centro da piscina e quando
NATAÇÃO

chamar um número, o aluno de cada equipe que possuir o número chamado deverá
tentar pegar a bola o mais rapidamente possível.

159
Final: Após todos os números terem sido chamados (não em ordem numérica),
ganhará a equipe que mais vezes pegar a bola primeiro.

4.7.17 Estouradinho

Obs.: Esta brincadeira é semelhante à anterior.


Material: Bexigas cheias de ar.
Formação: Duas fileiras, uma equipe em cada lado, sentados na borda da piscina.

Figura 75.

Organização: Enumerar cada participante de uma equipe e a mesma numeração


deverá ser iniciada para a outra equipe. As equipes deverão estar sentadas numerica-
mente uma de frente à outra.
Desenvolvimento: O monitor lançará uma bexiga ao centro da piscina e quando
chamar um número, o aluno de cada equipe que possuir o número chamado deverá
tentar pegar e estourar a bexiga o mais rapidamente possível.
Final: Após todos os números terem sido chamados (não em ordem numérica),
ganhará a equipe que mais vezes estourar a bexiga primeiro.

4.7.18 Troca de roupa

Material: Camisetas ou coletes de time.


Formação: Os participantes das duas equipes deverão estar espalhados na piscina.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 76.

160
Organização: Se houver coletes de dois times, determinar qual a cor de colete
será de cada equipe. Misturar os coletes em um “bolo”.
Desenvolvimento: Quando o monitor atirar os coletes na água, os participan-
tes deverão pegar um colete de sua cor, vesti-lo, sair da piscina e ficar em pé um
ao lado do outro.
Final: Ganhará a equipe que todos os integrantes estiverem vestidos e na
posição primeiro.

7.4.19 Garrafa do pirata

Obs.: Brincadeira ideal para adultos, podendo também ser executada por crianças.
Material: Garrafas plásticas com tampa e papel com mensagem.
Formação: Os participantes deverão estar encostados na borda e de costas para a
piscina, com as equipes misturadas.

Figura 77.

Organização: Dentro de cada garrafa deverá ter uma questão, que poderá ser
uma conta simples, ou do tipo palavra cruzada, ou adivinhações, dependendo dos
participantes. As garrafas deverão ser distribuídas pela piscina.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, cada aluno deverá pegar uma garrafa e
levá-la para fora da piscina no menor tempo possível. Os participantes deverão levar
as respostas ao monitor, que deverá anotá-las e corrigi-las.
Final: Ganhará a equipe que acertar o maior número de respostas.

8. Resgate e salvamento aquático

O número de afogamentos é bastante significante em todo o mundo. Em média,


morrem 150.000 pessoas por ano, segundo dados do Corpo de Bombeiros. Em
1998, ocorreram, no Brasil, 7.183 mortes por esta causa. Mais de 10 milhões de
crianças são hospitalizadas e 1 a cada 35 morrem. O afogamento é a segunda causa
NATAÇÃO

morte acidental dos 4 aos 14 anos, como se pode ver no quadro abaixo, não sendo
mais significante apenas que os acidentes de transporte.

161
Mil MORTALIDADE - CAUSAS GERAIS
BRASIL - 1997

Acidente de Transporte
Afogamento
Agressões
7 Leucemia
Infecção intestinal
6
Pneumonia
5 Congênita
4 Suicídio
3
2
1
0
1a4 5a9 10 a 14 15 a 19

Faixa etária
Imagem adaptada de: Szpilman D. - ano 2000
Figura 78. Adaptada
Dados de: Szpilman
elaborados D. 2000
com base no DATASUS - atestados de óbitos
Dados elaborados com base no DATASENSUS - atestados de óbitos


Estes dados apontam a necessidade de ações especiais para a prevenção do afo-
gamento. Como forma de sensibilizar os usuários das praias, o Corpo de Bombeiros
distribui um panfleto com o texto a seguir, que foi escrito por uma pessoa que passou
por uma situação de afogamento. O texto se inicia solicitando que a pessoa tente
prender a respiração e leia todo o texto. O texto é o seguinte:

“Os últimos segundos de quem está se afogando são mais ou menos assim:
a surpresa de não conseguir subir à tona é substituída imediatamente pela
realidade cruel do que está ocorrendo e que não deseja acreditar. Não, aquilo
não está acontecendo com ele. Alguém já virá salvá-lo e juntos rirão daqueles
momentos apavorantes. Na próxima festa ele já terá assunto para prender
a atenção dos convidados. Mas, naquele exato momento, a única coisa
que ele desejaria prender e não está conseguindo é a respiração. E o pior
é a falta de oxigênio que já não o está deixando raciocinar com calma e
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

lucidez, porque o desespero trouxe um elemento novo naquele momento


aterrorizante: a agonia de ter sugado água salgada pelo nariz. Não é só o
gosto estranho, mas também o desconforto de ter engasgado com aquela
água que já não lhe permite lembrar mentalmente fazer uma oração.
As pessoas que ele mais amava e que apareciam e desapareciam do seu
pensamento também já são sombras. Sua visão está escurecendo. Nesse
exato momento, ele só pensa em salvar o fio de vida que ainda lhe resta.
Mas está sem forças. Uma pergunta martela a sua mente: “Por que eu fui

162
abusar?”. Está se entregando e só espera por um milagre. Tenta gritar, mas é
inútil. Ninguém pode ouvir a sua voz engasgada com água salgada. Relaxa,
sente a derrota. Assume que vai morrer. Escuridão total”.

O panfleto é finalizado com a informação de que se o leitor conseguiu executar


a leitura de todo o texto segurando a respiração, talvez em uma situação real ele não
consiga. Iniciativas como esta são muito bem-vindas e de grande valor, uma vez que
tem como objetivo evitar a morte de pessoas. No entanto, em qualquer manual de pre-
venção de afogamento “aprender a nadar” consta como a principal ação de prevenção.
Assim, o professor de educação física que trabalha com natação tem papel social muito
especial. Porém, como vimos em outros textos, para ensinar a nadar proporcionando
menor probabilidade de afogamento é necessário ensinar mais do que os quatro estilos.
As técnicas que consideramos importantes foram publicadas em Santana, Tavares e
Santana (2003), e apresentadas no texto anterior a este sobre adaptação ao meio líquido.
Podemos citar o nado cachorrinho, nado crawl com a cabeça fora da água, a flutuação
dorsal, flutuação vertical, mudança de posição, mudança de direção, entre outros.
Existem dois tipos de afogamento: o primário e o secundário. O afogamento
primário é o tipo de afogamento mais frequente, e é denominado primário quando
não houver nenhum fator antecedente para o acidente acontecer. Nesta perspectiva,
existem três tipos de afogamentos primários. O primeiro é a “síncope de imersão”,
o qual é normalmente chamado de “choque térmico”. É causado pela diferença exis-
tente entre as temperaturas do corpo e da água, levando à morte súbita. Esta síncope
desencadeia uma arritmia do tipo bradi ou taquiarritmia, e acontece com a súbita
exposição do corpo em águas com temperatura apenas 5 graus abaixo da corporal. Isto
quer dizer, uma piscina com 31o.C pode ocasionar este acidente. Como prevenção,
podemos molhar a face e cabeça antes de entrar na água. O segundo tipo de afoga-
mento é “hipotermia”, que é causada pela permanência na água fria, levando o corpo
a menos de 35,5o.C retal e ocasionando a morte por hipotermia. E o terceiro e último
tipo é o afogamento causado por pânico e luta para manter-se na superfície. Sendo que
em 2% destes casos o espasmo da glote está presente, e em 98% existe a aspiração de
líquido pulmonar, ambos podendo levar à morte. Já o afogamento secundário ocorre
em 13% dos casos. É caracterizado por ser causado por alguma patologia associada
que precede o afogamento, como por exemplo: uso de álcool e outras drogas (36,2%),
crise convulsiva (18,1%), traumas (16,3%), doenças cardiopulmonares (14,1%),
mergulho livre ou autônomo (3,7%), e outros, como homicídio, suicídio, lipotimias,
câimbras, hidrocussão (11,6%).
As principais causas de afogamento são:
• Não saber nadar;
NATAÇÃO

• Abuso de álcool e drogas durante a natação recreativa;


• Saltos de cabeça em locais desconhecidos ou em águas rasas;

163
• Superestimar a própria condição técnica e física. Acontece quando o nadador
nada demais, vai para longe e não consegue retornar, ocorrendo principalmente com
os mais jovens que mais frequentemente têm dificuldades de reconhecer seus limites.
Segundo Szpilman (Timerman, 2000), quase 50% dos mortos no município do Rio
de Janeiro achavam que sabiam nadar;
• Cair de repente em água funda. Pode ocorrer com as pessoas que estão perto
da água, por exemplo, com pescadores amadores, ou mesmo no mar em locais que
há desníveis;
• Acidentes envolvendo barcos pequenos e médios;
• Emergências médicas, tais como ataques cardíacos;
• Acidente que pode surgir após uma refeição exagerada;
• Tentativa de salvamento de outra pessoa sem os conhecimentos técnicos
necessários;
• Outras causas de acidentes aquáticos podem ser citadas como o pânico, a hipo-
termia, e o “apagamento”, ou seja, um desmaio ocasionado pela hiperventilação antes
de atividades de submersão (AMARAL; ROCHA, s/d.).
A classificação do afogamento é utilizada no Hospital de Afogados do Rio de Janeiro
como uma forma rápida e eficaz para o guarda-vidas transmitir o quadro da vítima ao
médico que vai atendê-la. Esta ação proporciona atendimento de maior qualidade e
maior chance de vida para a vítima. Szpilman (2001) classifica o afogamento como:
Resgate: Vítima resgatada do meio líquido sem nenhuma manifestação clínica.
Grau I: Trata-se do afogado consciente, que apresenta tosse, sem espuma na
boca/nariz. Este caso não apresenta nenhum risco de vida.
Grau II: Esta vítima responde ao chamado, apresenta tosse e pequena quantidade
de espuma na boca/nariz. A mortalidade neste caso é de 0.6%.
Grau III: Neste caso, a vítima apresenta grande quantidade de espuma na boca/
nariz, a respiração está presente e o pulso radial é palpável. Temos aí 5.2% de mortes.
Grau IV: Consiste em respiração presente, grande quantidade de espuma na
nariz/boca e o pulso radial não é perceptível. Em 19.4% dos casos acontece a morte.
Grau V: Neste grau, a vítima não apresenta vestígios respiratórios, porém, existem
sinais de circulação (pulso carotídeo). A mortalidade neste caso é de 44%.
Grau VI: No grau 6, a vítima não apresenta sinais respiratórios, nem sinais circu-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

latórios. No entanto, permaneceu em submersão por menos de 1 hora e não apresenta


rigidez cadavérica, decomposição corporal e/ou livores. A mortalidade é bastante alta,
93% dos casos.
Já cadáver: Não apresenta nenhum sinal de funções cardiorrespiratórias e
possui mais de uma hora de submersão, com rigidez cadavérica e decomposição
corporal e/ou livores.
Conhecer informações sobre o que é e como acontece o apagamento pode
ser útil para que o professor de educação física o evite em suas aulas e proporcione

164
informações para que os alunos previnam em outros ambientes este acidente. O
apagamento, como é conhecido na área de salvamento aquático, é uma forma de
desmaio, que ocorre em exercícios de apneia em submersão, e caso a vítima não seja
retirada imediatamente pode ocorrer um quadro de asfixia violenta e aguda por afo-
gamento. Antigamente, ouvia-se falar sobre esses casos somente com mergulhadores
de caça submarina; hoje se sabe de casos em piscinas, onde, na maioria das vezes,
a pessoa competia consigo mesma ou com outros indivíduos para aumentar a distân-
cia percorrida debaixo d’água ou a duração de apneia subaquática. Hiperventilando,
ou seja, inspirando profundamente e por diversas vezes seguidas faz com que o
dióxido de carbono seja liberado, baixando o seu nível, diminuindo assim o reflexo
involuntário da respiração, e então o aviso da necessidade de respirar vem tarde e o
indivíduo “apaga”, ou seja, pode ocorrer uma forma de desmaio, denominado apaga-
mento. As investigações demonstram que esses indivíduos hiperventilam antes de
mergulhar, reduzindo sua pCO2 arterial a níveis em torno de 20 mmHg durante o
período de submersão. A pCO2 pode elevar-se apenas aos valores alveolares usuais de
40 a 44 mmHg, enquanto a pO2 arterial se precipita a níveis de 30 a 40 mmHg, daí
resultando hipóxia cerebral e perda de consciência. Essa prática de hiperventilação é,
pois, perigosa e deve ser desencorajada (LÓPEZ, 1979).
É importante que o professor de educação física saiba também que se a vítima
sobrevive aos cuidados imediatos, deverá ser acompanhada, pois nos próximos
minutos, horas ou dias poderá apresentar alguma complicação decorrente do afoga-
mento como: febre, pneumonia, coma, edema pulmonar, arritmia cardíaca, abscesso
pulmonar, entre outras. Eles devem ser internados e vigiados cuidadosamente. Duas
complicações importantes, que podem ser fatais, são: o edema agudo do pulmão e
as infecções respiratórias (pneumonia e broncopneumonia). Nos afogados em água
doce podemos assinalar hemólise com hemoglobinúria, que poderia ser a causa de
uma necrose tubular aguda. Havendo danos no sistema nervoso pela falta de oxigênio,
poderemos ter sequelas nervosas (ALVES, 1980). O mecanismo de morte no afoga-
mento é um ponto controvertido, e que pode depender de mais de um fator.

8.1 Resgate e salvamento aquático

É um dever de todo profissional que lida com o meio aquático utilizar-se de algumas
medidas preventivas para minimizar os acidentes. O professor de educação física
poderá incluir em sua programação semestral um momento para proporcionar a
divulgação de medidas preventivas do afogamento utilizando de pedagogias próprias
para cada faixa etária.
Destacamos as seguintes medidas preventivas:
NATAÇÃO

1. Aprender nadar é a regra básica para prevenir acidentes na água. A água não é
o ambiente do homem, e essa inadaptação pode ser causa de acidentes. A prevenção

165
consiste principalmente no desenvolvimento de programas educacionais e de treina-
mento em natação, sobretudo nas escolas e clubes esportivos.

Figura 79.

2. Conscientização dos riscos da prática de natação e esportes aquáticos após


ingestão de drogas e bebidas alcoólicas. Além de produzir a incoordenação dos atos de
defesa, propicia condições especiais, metabólicas, que facilitam o êxito asfíxico.
3. Não nadar após refeição exagerada, em pleno período de digestão. Após uma
refeição exagerada, grande quantidade de sangue acumula-se nos vasos do aparelho
digestivo. O esforço físico exigido na natação aumentará as necessidades de oxigenação
do corpo, que não será suficiente, principalmente ao cérebro, devido à sobrecarga
funcional dos órgãos digestivos. Poderá ocorrer um desmaio resultante da deficiência
no funcionamento normal do cérebro. A asfixia decorrente do afogamento vai agravar
o quadro, aumentando ainda mais a deficiência de oxigênio ao cérebro e daí sobrevir
lesões graves ou a morte. Segundo Szpilman (2001) 89% dos afogamentos ocorrem
na hora do almoço ou logo após.
4. Nunca nadar sozinho. Pode acontecer algum imprevisto como cãibra, problema
cardíaco, por exemplo, e não haverá ninguém para ajudar ou pedir por socorro.
5. Crianças não devem ser deixadas à vontade em locais onde exista água, elas
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

não possuem noção do perigo, nem mesmo que seja uma poça. Segundo Szpilman
(2001), 89% das crianças afogadas não têm supervisão de adulto.
6. Boias de braço e objetos flutuantes proporcionam uma falsa sensação de
segurança na água.
7. Evite deixar brinquedos próximos da piscina, isto atrai as crianças.
8. Ensine as crianças a nadar com 2 anos ou o mais cedo possível.
9. Não mergulhar de cabeça sem colocar as mãos à frente. Se a água for pouco pro-
funda, a cabeça estará desprotegida, podendo machucá-la ou ainda prejudicar a coluna.

166
10. Conhecer a temperatura e as condições locais da água. É bom escolher locais
seguros para participar de atividades recreativas, verificando se pode haver perigo
como ondas, correntes, vida aquática, objetos debaixo d’água, diversas profundidades,
condições ruins do tempo, etc.
11. Não tentar percorrer grande distância a nado, a menos que um barco conten-
do uma boia ou um cinto salva-vidas acompanhe todo o percurso, pois poderá ocorrer
esgotamento físico.
12. Não realizar hiperventilação, para evitar o “apagamento”.
13. Conhecer algumas noções de socorros de urgência. De acordo com Szpilman
(2001), 40% dos responsáveis de piscinas não sabem realizar primeiros socorros.
14. Vestir-se apropriadamente para a atividade aquática. A sunga e o maiô são os
ideais. Nadar com roupas é mais difícil e cansativo, além de ficarem pesadas quando
estão molhadas.
15. Aprender a sair de situações de emergência individual, como por exemplo, a cãibra.
16. Saber como agir para ajudar a tirar outras pessoas destas situações, tomando
cuidado para também não se tornar uma segunda vítima, pois muitas pessoas
morrem desta forma.
17. Canos, boias, cordas, pranchas de salvamento devem ser sempre colocados à
vista e de fácil acesso para serem usados imediatamente em caso de necessidade.
18. Utilizar-se do colete salva-vidas em embarcações aquáticas, sabendo ou não
nadar, pois no caso da embarcação virar, alguém pode ficar inconsciente ou bater a
cabeça e, assim, é mais provável que se salve.
19. Como o afogamento é responsável por grande número de morte entre
epilépticos, estes devem receber uma atenção especial.
20. Barreiras adequadas em torno de piscinas, grades de 1.50 metros e 12 cm
isolando a piscina, diminuem em 50 a 70% o número de afogamento.
21. Na maioria dos casos, as primeiras pessoas a chegar ao local onde ocorreu o aci-
dente são amigos ou parentes da vítima, o que salienta a importância de se treinar uma
substancial parte da população nas técnicas de recuperação e de respiração boca a boca.
22. Conhecer e respeitar a regras locais.
23. Não superestimar sua capacidade, conhecendo suas limitações. Em 46.6% dos
casos de afogamentos, as vítimas achavam que sabiam nadar.
24. Só pedir ajuda quando realmente necessitar.
25. Não saltar, correr ou perseguir outros em volta da piscina para não correr o
risco de escorregar ou chocar-se com alguém.
26. Antes de mergulhar ou saltar na água, verificar se não há outros nadadores por
perto para não pular em cima deles e ocasionar acidentes.
27. O profissional deve preocupar-se sempre em adicionar conhecimentos sobre
NATAÇÃO

regras de uso e prevenções de acidentes em locais fora da piscina, como rios, praias,
lagos, etc. Passar aos alunos informações como essas são de grande importância.

167
8.2 Manobras de salvamento

A rapidez no socorro é importante, porém, qualquer precipitação poderá frustrar o


salvamento e colocar a vida do socorrista em perigo.
Se uma pessoa que não tem condições, ou não sabe nadar, localizar uma vítima, deve-
rá anotar o local exato onde ela se encontra e procurar ajuda, preservando assim sua vida.
Se possível, deve-se alcançar a vítima da margem com a mão, toalha, corda ou
bastão, ou ainda o aquatubs (macarrão ou minhocão), que é um material utilizado na
natação e na hidroginástica, como se pode ver na figura abaixo.

Figura 80.

Se não tiver como alcançar a vítima de fora da água, o socorrista poderá atirar
algum objeto flutuante para a vítima e mantê-lo entre eles para evitar que seja agarrado.
Podemos utilizar outros materiais flutuantes, como uma prancha de isopor, material
próprio para surf, câmaras de ar infladas, boias, um pedaço de pau, tábua ou uma
corda, para que o acidentado se acalme até a chegada do socorrista. Para maior segu-
rança, o socorrista pode, no resgate, manter-se ligado a uma corda presa em algum
lugar ou em alguém na margem.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 81.

168
8.3 Entrada na água

Existem algumas formas de entrar na piscina, ou em outro local, para realizar o resgate
e salvamento aquático. O tipo de entrada deve depender da profundidade da água,
do conhecimento das condições do fundo, da claridade da água, da altura do local e
da distância da vítima.
Apesar do mergulho de cabeça proporcionar uma chegada mais veloz até a vítima,
pode ser fatal em águas turvas e/ou pouco profundas.
Existem outros três tipos de entrada na água. O primeiro é o abaixamento que
deve ser utilizado para não movimentar muito a água, é útil quando a vítima pode
submergir e tornar difícil encontrá-la, e quando há riscos de fraturas onde a movi-
mentação da água poderá agravar o caso. Este consiste em ir abaixando-se lentamente
até chegar à água, em seguida deve, se possível, caminhar ou nadar cuidadosamente
com a cabeça alta.
A segunda maneira de entrar na água é o salto com as pernas afastadas, tem a
vantagem de se conseguir manter a cabeça acima da água podendo continuar obser-
vando a vítima, inclusive no salto. Este consiste em saltar para frente como se tivesse
caminhando na água, com uma perna à frente da outra.

Figura 82.

O terceiro caso é classificado de salto compacto, que será mais aconselhável


quando você tiver que saltar de uma altura maior. Como podemos observar na
figura 83, o corpo adquire uma posição vertical (em pé, com os pés unidos, com os
braços junto ao corpo ou abduzidos na lateral para aumentar o equilíbrio e saltar
para cima e para frente).
NATAÇÃO

169
Figura 83.

8.4 Aproximação

É muito importante manter a calma na aproximação e executar movimentos com


segurança e destreza. Algumas características importantes para uma aproximação
eficiente são: chegar rapidamente até a vítima para que o caso não se agrave mais e
manter a vítima à vista para que possa localizá-la com precisão, caso haja sua submersão.
Para aproximar-se da vítima, pode-se utilizar o nado crawl com a cabeça alta,
como no polo. Ele permitirá uma ótima visualização e uma chegada rápida até a vítima,
porém, é extremamente cansativo. Com o intuito de diminuir a resistência causada
pela água e não cansar tanto, pode-se utilizar o crawl com a cabeça baixa e levantá-la
de vez em quando para não perder a vítima de vista.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 84.

170
O nado peito, apesar de mais lento, é menos cansativo e ideal para águas agitadas
porque permite uma maior visualização da vítima.
Uma das características da vítima é o desespero. Por esta razão, deve-se evitar o
“agarramento”, que será inevitável se o socorrista estiver ao alcance da mesma. Por isso,
é importante que a aproximação seja pelas costas. Algumas palavras de apoio podem
ajudar, transmitindo segurança e tranquilidade para o acidentado.
Existe outra maneira de aproximação: é em submersão pela frente, segurando por
fora e entre as pernas da vítima, virando-a de costas para o socorrista. Este movimento
é facilmente executado na água.

8.5 Desvencilhamento

Desvencilhamento é a técnica que o salva-vidas utiliza para se soltar da vítima


em pânico, imobilizá-la e rebocá-la até o local desejado. A vítima tenta respirar de
qualquer maneira e agarra qualquer coisa que esteja ao seu alcance. Isso acontece
pelo seu instinto de conservação, tendo suas forças redobradas pelo pânico. Quando
agarrados, teremos a preocupação de nos livrar sem machucar a vítima. Deve-se tentar
se livrar da vítima sem piorar a situação. Socos, puxão de cabelo, tentativas de provocar
inconsciência e outras agressões devem ser evitadas.
Caso a vítima agarre o socorrista em um dos braços, este poderá utilizar-se deste
agarre para rebocá-lo, utilizando o outro braço para nadar.
Uma das maneiras de desvencilhamento seria ir em direção ao fundo. Como a
intenção da vítima é ir à procura de oxigênio, ela não irá acompanhá-lo.

NATAÇÃO

Figura 85.

171
Se tivermos os dois braços agarrados, podemos soltar um deles fazendo pressão
para baixo e para fora do lado de seu polegar. Esta técnica é muito utilizada no judô
e parte do princípio de que o dedo polegar é mais fraco do que a pegada dos outros
quatro dedos. Ao mesmo tempo utilizamos o outro braço que continua agarrado e
viramos a vítima de costas para rebocá-la.
Se a vítima agarrá-lo pela frente com os dois braços, o socorrista deverá passar uma
das mãos entre os braços da vítima e pressionar seu queixo para trás.

Figura 86.

Caso o agarre seja pelas costas com ambos os braços no pescoço, o socorrista
deverá agir segurando com uma das mãos no pulso e a outra no cotovelo do braço da
vítima que está por baixo, empurrando-o para cima. Nesta situação a vítima poderá
apertar o pescoço do socorrista, o que causaria uma dificuldade de respiração. Se o
socorrista virar o pescoço para a lateral estará se protegendo da asfixia.

8.6 Reboque

O indivíduo flutua naturalmente devido ao ar que está nos pulmões. É preciso colocá-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

lo de costas, em posição horizontal, com a boca e o nariz fora da água para que ele
possa respirar e também para facilitar a flutuação.
Para transportar um acidentado inconsciente, a melhor técnica é o reboque de
peito cruzado que consiste em segurá-lo pela parte posterior do pescoço e na testa.
Se a vítima for um nadador cansado ou com cãibra, seria conveniente colocá-lo de
decúbito dorsal, com as pernas afastadas, prendendo as pernas no quadril do reboca-
dor e segurar em seus ombros com os braços estendidos, utilizando nesta situação o
nado peito como reboque.

172
Figura 87.

A técnica de reboque mais utilizada é chamada de reboque de peito cruzado, que


propicia uma permanência da cabeça do acidentado mais alta. Esta técnica consiste
em colocar a vítima de costas para o socorrista em decúbito dorsal passando o braço
por cima do ombro do rebocado, no peito e por baixo do braço contrário. Deverá
nadar com o braço livre, lateralmente e pernas com movimento de tesoura, ou com o
movimento que tiver maior facilidade.

8.7 Traumatismo

A principal preocupação quando uma pessoa cai ou mergulha em águas rasas é o


traumatismo. Em caso de dúvida, devemos considerar que há uma lesão na coluna
vertebral com possível trauma medular. Assim, não devemos movimentar o
pescoço da vítima.
Szpilman (2001) diz que sempre que for realizar um salvamento com vítima
inconsciente em água rasa, deve-se imobilizar a coluna cervical e tomar todas as medidas
como se houvesse uma fratura. Caso a vítima esteja inconsciente e com ferimentos ao
redor da cabeça e da face, causado pelo contato de algum objeto, ela também deverá
ser tratada como se estivesse com lesão na coluna. Caso a vítima esteja consciente é
importante perguntar se ela apresenta falta de sensibilidade nas extremidades, sofre
paralisia ou formigamento de braços e pernas.
Se a vítima estiver inconsciente ou paralisada, ou ainda se queixando de dor no
pescoço, deve-se utilizar para retirá-la da água uma tábua comprida e larga, que poderá
ser uma prancha de surf ou um banco de madeira. Enquanto a vítima flutua, colocar
este objeto por baixo dela. Depois a transporte para fora da água sobre a prancha.
Caso o socorrista não tenha nenhuma tábua ou qualquer material semelhante,
deverá utilizar ajuda de três ou mais pessoas para segurar ao longo do corpo da vítima
(nuca, vértebras torácicas, quadril, fêmur, pernas e pés) para removê-la ou, caso não
NATAÇÃO

tenha ajuda e o estado da vítima esteja estável, deverá aguardá-la, mantendo o


fraturado flutuando na água.

173
8.8 Retirada do acidentado da água

Depois de ter rebocado a vítima é necessário assegurar que ela saia com segurança
da água. Existem dois tipos de retirada, uma que serve para o sujeito consciente e
prestativo e outra para o sujeito que esteja inconsciente.
O sujeito consciente e prestativo não requer muita habilidade do resgatador,
consiste em dar apoio para os pés da vítima auxiliando para que ela suba com
mais facilidade.

Figura 88.

No segundo caso, o resgatador deverá auxiliar a flutuação da vítima apoiando-a


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

na perna, colocando-a de frente para a borda da piscina, colocar as mãos do aciden-


tado na borda, uma em cima da outra. O resgatador deve apoiar sua mão acima das
mãos da vítima para que ela não volte a cair na água, saindo da piscina sem soltá-la.
Ao puxá-la para fora, os braços da vítima deverão estar cruzados e serão descruzados
ao subi-la, virando-a de costas para a borda e colocando-a deitada próximo à piscina.
A grande vantagem desta saída é que a vítima estará em posição que beneficia as
manobras de ressuscitação.

174
Figura 89.

8.9 RCP – reanimação ou ressuscitação cardiorrespiratória

A vítima consciente não precisará da ressuscitação cardiorrespiratória (RCP), esta


deve ser encorajada a tossir para remover qualquer obstrução. A tosse permite que a
NATAÇÃO

vítima utilize seus músculos brônquicos e da parede torácica, produzindo pressão no


ar que ainda permanece nos pulmões, desobstruindo as vias aéreas.

175
A sobrevivência da vítima dependerá do estado de saúde desta, da duração
da imersão, da quantidade de líquido aspirada e dos cuidados de emergência.
A ressuscitação cardiorrespiratória é um procedimento de emergência nos casos em
que existe parada cardiorrespiratória e o cérebro não recebe oxigenação, como pode
ocorrer no caso do afogamento.
Se a vítima apresentar rigidez cadavérica, estar em decomposição corporal
ou permanecer em submersão há mais de uma hora, nenhuma manobra será
eficiente (SZPILMAN, 2001).
Os procedimentos de ressuscitação cardiorrespiratória, ou ABC do socorro básico,
possui três etapas:
“A”- abertura das vias aéreas (desobstrução);
“B”- respiração boca a boca e;
“C”- circulação artificial (compressão torácica externa).
Quando a vítima está inconsciente, é preciso certificar-se de que tenha suas
vias aéreas desobstruídas. Para determinar se estão ou não, devemos seguir alguns
passos. Primeiro observar se há movimentos respiratórios, depois ouvir os sons da
respiração aproximando a cabeça do socorrista na da vítima, e sentir se o ar está
sendo expelido.
É essencial que não se esqueça da possibilidade de um traumatismo na coluna
cervical. Nestes casos, deve-se evitar a extensão do pescoço.
Caso a vítima esteja respirando, colocá-la na posição que permite maior drenagem:
deite-a em decúbito lateral com um dos braços sob a cabeça; se estiver inconsciente,
flexione a perna de cima da vítima para evitar que ela role.
Caso o paciente não esteja respirando, é necessário iniciar imediatamente a res-
piração artificial. A respiração boca a boca é de grande importância neste momento.
No entanto, a questão de segurança do socorrista tem que ser levada em conta. O uso
de bocarilha apropriada permite que o socorrista possa executar a respiração artificial
com conforto e segurança. No caso de uma pessoa conhecida e que o socorrista opte
pela respiração boca a boca sem bocarilha, deve-se inspirar profundamente, selar os
lábios da vítima firmemente com os seus, fechar o nariz desta, expirar observando se o
tórax da vítima se expande e afastar a cabeça observando a saída do ar.
Nas crianças (entre 1 a 8 anos de idade) deve-se ter o cuidado para não exceder a
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

quantidade de ar insuflado; para tal, assim que o tórax começar a erguer, cessar a insu-
flação. Nos bebês, envolver simultaneamente a boca e o nariz e insuflar os pequenos
pulmões apenas com o ar contido no interior de sua boca, através de um curto sopro
(CORPO DE BOMBEIROS, 1997).
Conforme os procedimentos utilizados pelo Corpo de Bombeiros em um paciente
adulto, deve-se executar a ventilação uma vez a cada 5 segundos. Se for uma criança
com idade de 1 a 8 anos, a cada 4 segundos, e se tratar de um bebê com idade de 0 a 1
ano será a cada 3 segundos (CORPO DE BOMBEIROS, 1997).

176
Após duas insuflações, permitindo que o tórax se esvazie totalmente entre cada
respiração, o socorrista deverá verificar se há frequência cardíaca. Se não houver,
deverá dar início à massagem cardíaca; caso haja pulsação, deverá continuar a respiração
artificial até que a vítima volte a respirar espontaneamente (EVANS, 1987).
Para verificação da frequência cardíaca, deve-se utilizar o pulso carotídeo, ou
femoral (no caso de existir ferimentos no pescoço). Utilizar os dedos indicador e
médio para esta verificação. No caso de bebês, utilizar o pulso braquial (CORPO
DE BOMBEIROS, 1997).
Se a frequência cardíaca estiver presente, a vítima somente necessitará de respiração
artificial, numa frequência de 12 a 16 por minuto. Quando o paciente passar a respirar
espontaneamente, colocá-lo na posição de drenagem (EVANS, 1987).
Caso a frequência cardíaca esteja imperceptível, a massagem cardíaca deve ser
executada com uma mão sobre a outra, apoiando a parte inferior da palma da mão,
fazendo compressões no tórax na altura do esterno, utilizando-se do peso do seu corpo.
Em crianças com idade entre 1 a 8 anos, a pressão deve ser exercida com uma das
mãos, e em bebês de 0 a 1 ano, a pressão é realizada com apenas 2 dedos (Corpo de
Bombeiros, 1997). As mãos devem estar posicionadas dois dedos acima da base do
processo xifóide, no esterno.
Quando a vítima necessita de respiração artificial e massagem cardíaca concomi-
tantemente, deverá utilizar-se de 30 compressões cardíacas para cada 2 respirações;
utiliza-se uma frequência de 80 a 100 vezes por minuto. A reanimação cardiopulmonar
ao se tratar de uma criança deve ser composta 100 vezes por minuto, e se for um bebê,
a frequência passa a ser de 100 a 120 por minuto (Corpo de Bombeiros, 1997).
Quando se dispõe de dois socorristas, um torna-se responsável pelas insuflações
pulmonares e o outro pelas compressões torácicas, podendo estes trocar de cargo para
tornar menos desgastante.

NATAÇÃO

Figura 90.

177
A reavaliação da presença da frequência cardíaca e da respiração espontânea é
aconselhada após 4 a 5 ciclos de compressão e ventilação, repetindo-se as reavaliações
a cada 5 minutos. Se as condições da vítima se estabilizarem, esta deverá ser colocada
na posição de drenagem.
Se o atendente for capaz e houver necessidade, a respiração artificial deverá ser
iniciada ainda dentro da água enquanto reboca a vitima. Szpilman (2001) relata que
a ventilação realizada ainda dentro da água diminui a mortalidade em quase 50%, no
entanto, é muito difícil de ser realizada.
A respiração artificial não deverá ser interrompida durante o transporte da vítima
ao hospital. Após iniciada a RCP, ela nunca deverá ser paralisada por mais de cinco
segundos consecutivos. Só deverá ser interrompida quando a circulação ou respiração
retornar, ou um médico assumir o caso (Corpo de Bombeiros, 1999).
É indispensável que a vítima passe por um médico para receber cuidados pos-
teriores após a reanimação, pois sem tratamento adequado esta poderá vir a sofrer
distúrbios cardíacos, circulatórios, pulmonares, renais e cerebrais. A síncope que
poderá acontecer após alguns minutos, horas ou dias à ressuscitação poderá causar
danos irreparáveis ao sistema nervoso.
Tanto o resgate quanto o procedimento de RCP exigem muito mais que um
estudo teórico para possibilitar a execução adequada dos mesmos. Desta forma,
consideramos que este treinamento teórico-prático deve ser estimulado como
aspecto integrante na formação de todo cidadão.
Mais do que qualquer treinamento ou técnica que o professor de educação
física deve dominar, consideramos o aspecto mais importante para qualquer ação
de primeiros socorros o respeito e o carinho pelo próximo.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

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Projeto Editorial: Centro Integrado de Aprendizagem em Rede • CIAR / UFG

Tipografia: Alte Haas Grotesk, Gotham, Arno Pro

Dimensão: 16 x 23 cm

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