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Educação Física
Licenciatura em
Volume 5
ISBN 978-85-68359-16-7
9 788568 359167
LICENCIATURA EM
EDUCAÇÃO FÍSICA
GOVERNO FEDERAL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM
EDUCAÇÃO FÍSICA
2014
REITORIA DESIGN GRÁFICO -
Orlando Afonso Valle do Amaral PROJETO EDITORIAL
Equipe de Publicação CIAR
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
Luiz Mello de Almeida Neto EDITORAÇÃO
Mateus Feitosa
DIRETORIA DA FACULDADE
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Anegleyce Teodoro Rodrigues
ILUSTRAÇÃO E IMAGEM
Elisa Guimarães
COORDENADOR GERAL DO CURSO Jonatas Ramos
DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA • EAD/ Leandro Abreu
ORGANIZADOR DO MATERIAL
Ari Lazzarotti Filho TRÁFEGO DE REVISÃO
Laryssa Tavares
APOIO TÉCNICO
Renato Mendes de Oliveira REVISÃO PEDAGÓGICA
Mara B. de Medeiros
AUTORES
Nilva Pessoa de Souza REVISÃO LINGUÍSTICA
Vanessa Helena Santana Dalla Déa Andelaide Lima
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
E COMUNICAÇÃO IMPRESSA
Ana Bandeira
ISBN: 978-85-68359-16-7
Natação 73
Apresentação 73
1. História das práticas aquáticas e sua evolução 74
2. Conceitos e informações básicas da natação 82
Conceitos básicos 82
Objetivos da natação 84
3. Aspectos psicossociais da prática corporal aquática: 95
Aspectos neurológicos do exercício aquático 96
Aspectos psicológicos do exercício aquático 98
Aspectos sociais do exercício aquático 100
4. Pressupostos básicos sobre a adaptação em meio líquido 101
Adaptação ao meio líquido 106
Metodologia de urso de adaptação ao meio líquido 110
5. Técnicas dos estilos da natação como 134
facilitador do deslocamento em meio líquido
Nado crawl 135
Nado costas 137
Nado peito 139
Nado borboleta 141
Viradas 143
6. Pressupostos básicos da Hidroginástica 145
Informações básicas para montar aulas de hidroginástica 146
7. Recreação aquática 150
Hidrorecreativa 151
Esportes aquáticos 151
Brincar na água 152
Atividades 152
8. Resgate e salvamento aquático 161
Resgate e salvamento aquático 165
Manobras de salvamento 168
Entrada na água 169
Aproximação 170
Desvencilhamento 171
Reboque 172
Traumatismo 173
Retirada do acidentao da água 174
RCP- reanimação ou ressuscitação cardiorrespiratória 175
Referências 179
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
Drª Nilva Pessoa de Souza
Apresentação
1. Handebol
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
Handebol é um esporte (jogo) coletivo em que há confronto direto entre duas equipes
pela luta da posse da bola. É jogado com sete jogadores em cada equipe, sendo que um
deles obrigatoriamente deve ser o goleiro. Cada equipe possui, ainda, mais nove jogadores
substitutos. O objetivo do jogo é manter a posse da bola e fazer gols. Durante o jogo é
necessária a utilização de várias ações técnicas e táticas que facilitam atingir o objetivo,
vencer a partida. É importante frisar também que o trabalho da defesa é fundamental
para a recuperação da bola e o impedimento do adversário de fazer gols.
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1.1 Modalidades do Handebol
Desde sua criação até os dias atuais, o Handebol conta com as seguintes modalida-
des (formas de jogar):
• Handebol de onze – jogado na grama, ainda praticado na Europa.
• Mini-handebol– adaptado para crianças de até 12 anos.
• Handebol de sete (indoor) – mais conhecido, jogado em quadras e ginásios.
• Handebol de praia (Beach Handball) – praticado na areia, popularmente nas praias.
• Handebol de quatro ou sete para cadeirantes – adaptado para pessoas com
deficiências e é jogado nos ginásios.
55m - 65m
7,32m
14m
13m
35m
Linha de tiro
20m
livre
6m
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
4m Linha de
7 metros
7m
Linha central
9m
Linha de fundo
Área do
goleiro
Linha lateral
12
27m área livre
linha lateral
linha de
fundo
12m
3m
linha
do gol
6m 15m 6m
área do gol área de substituição área do gol
Linha 3.00
5m de fundo
Área de
7m Linha da área
substituição
1.3 A técnica
A técnica é o gesto que o jogador realiza ou adota em cada uma das ações individuais
que são necessárias no desenvolvimento do jogo. As técnicas são conhecidas como as
ações práticas (mecânica do movimento) para a execução apropriada e racionalizada
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
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teúdos da técnica devem ser considerados como ponto de partida, e não como pon-
to final (objetivo final). Haja vista que é necessário considerar o poder de criação de
quem aprende.
Durante o processo inicial da formação na modalidade esportiva é necessário
oferecer atividades como jogos e brincadeiras para a assimilação dos gestos técnicos.
Posteriormente, de acordo com a evolução individual, o professor precisa desenvolver
outras possibilidades a partir da própria técnica básica, através de atividades em duplas
e pequenos grupos. Nesse sentido, como concepção metodológica, o professor valo-
rizará a assimilação dos gestos técnicos, com base nas perspectivas das técnicas básicas
e individual diferenciadas entre os sujeitos. A evolução gradativa dos jogadores deve
ser garantida através de uma oferta contínua e rica em conteúdos técnicos básicos,
que assegurem, por sua vez, a assimilação e o aperfeiçoamento em razão de outros
conteúdos (físicos e táticos). A naturalidade na execução e a economia de esforço
em qualquer gesto são aspectos que devem ser trabalhados constantemente pelos
professores e treinadores (MARTINI, 1981).
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Na defesa: A primeira linha é composta pelos jogadores mais próximos à sua
linha da área de gol. A segunda linha é constituída pelos jogadores mais próximos à
linha de tiro livre (nove metros). Caso tenha uma terceira linha, ela é a mais próxima
da linha central.
Os sistemas de jogo são ações táticas de equipe adotadas tanto na defesa quanto no
ataque. Popularmente são conhecidos por “jogadas”, ou seja, uma forma de jogar pré-
-definida, em que jogadores e bola seguem uma determinada posição ou trajeto.
A organização dos sistemas de jogo se denomina colocando em primeiro lugar o
algarismo correspondente ao número de jogadores que compõem a primeira linha,
em seguida, o correspondente ao número de jogadores situados na segunda linha, da
mesma forma quando há a terceira linha.
Posição básica é o gesto ou movimento que o jogador adota para desenvolver, a partir
de si mesmo, qualquer ação técnica defensiva e/ou ofensiva.
A responsabilidade do jogador de assumir qualquer postura inicia-se ao entrar na
quadra para jogar, seja no ataque ou na defesa. Contudo, o jogador precisa adotar de
imediato a posição básica utilizando-a antes e depois de qualquer deslocamento. Não
é uma atitude passiva, pelo contrário, é a parte essencial da ação necessária tanto para o
ataque quanto para a defesa, para que os movimentos sejam realizados com eficiência.
• O jogador deve adotar uma posição equilibrada e natural que facilite a sua interven-
ção em ações posteriores, de forma continuada, de acordo com a exigência do momento.
• Manter a concentração de forma continuada, predispondo assim o jogador para
uma ação posterior.
• A aquisição de um gesto técnico oferece melhores possibilidades, considerando
a velocidade de reação e a velocidade de contração muscular, facilitando o agir de
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
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articulação dos joelhos, separados comodamente e em posição assimétrica. É funda-
mental que o pé que está mais à frente seja o contrário à mão que deve controlar a bola.
Os pés devem estar apoiados totalmente no solo (quando o jogador não está em contato
direto com o adversário), e apoios consecutivos com um terço dos pés (quando estiver
em contato direto com o adversário). Cotovelos semiflexionados, com a borda radial
da mão orientada para cima, ligeiramente separados do tronco. As mãos em atitude
apropriada para receber a bola (MARTINI, 1981; BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
Figura 5. Posição básica de defesa. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.
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1.6.4 princípios comuns para as posições de base no
ataque e na defesa
1.6.5 Metodologia
A opção por uma metodologia de ensino deve ser pautada por uma abordagem
ou teoria educacional, uma vez que a teoria é que indicará o tipo de educação, de
formação, de sujeito, de escola e de prática pedagógica a ser tratada no decorrer do
Ensino do Handebol na escola.
Cabe ao professor, com base em uma teoria, considerar as condições físicas e
materiais da escola, o conhecimento do aluno, o projeto pedagógico da escola e o
seu próprio conhecimento e experiência. Contudo, é importante que o professor
mantenha-se atualizado acerca dos conhecimentos da área da educação física e do
próprio Handebol.
Devemos utilizar como meio (estratégias de ensino) exercícios, atividades, brinca-
deiras e jogos em que os alunos/jogadores possam executar movimentos, alternando
as posições básicas sem o contato direto do adversário. As estratégias privilegiadas
pelo professor devem ser sempre em função do aluno, de forma que a prática seja
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
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2. Adaptação à bola - domínio
É a ação de segurar e controlar a bola. Para isso, os pontos de contato das mãos com a
bola são os dedos e a parte palmar média das mãos (parte calosa), que a controlam e
constituem os pontos de contato fundamentais. As pontas dos dedos (falanges distais),
por possuírem maior sensibilidade, constituem a parte mais importante dos pontos de
contato das mãos com a bola. Esses pontos de contato possibilitam a segurança do
domínio da bola por parte dos jogadores. Isso facilita que o passe e o arremesso sejam
realizados com precisão na trajetória desejada, assim como a troca rápida de direção
(BÁRCENAS; ROMÁN, 1991)..
Figura 6. Pegada da bola (empunhadura) Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.
Não é recomendado formular normas rígidas quanto à posição das mãos, uma
vez que todo gesto depende das condições físicas de cada jogador, ou seja, das
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
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contato devem abarcar a maior superfície possível da bola, comodamente, sem
rigidez; as pontas dos dedos devem fazer uma ligeira pressão sobre a superfície da
bola, facilitando a realização dessa ação com mais força e assegurando a posse da bola;
o centro da palma da mão não possui contato com a bola (MARTINI, 1981).
Definição: Ação técnica individual que o jogador realiza desde o momento em
que controla a bola com uma ou as duas mãos, até o momento em que a bola seja pas-
sada, arremessada ou driblada. A ação pode ser executada estando o jogador parado
ou em deslocamento.
Durante o jogo, a maioria das ações dos jogadores é realizada com a mão
dominante. Entretanto, o jogador pode e deve executar ações com a outra mão,
desde que tenha controle da bola, certificando-se de sua posse e preparando-se
para ações posteriores.
O jogador é valorizado por suas qualidades físicas e pela variedade e qualidade de
sua técnica em realizar movimentos, deslocamentos e ações técnicas com velocidade,
agilidade e inteligência.
A pegada (adaptação à bola) é fator primordial para que o jogo flua. Assim, o
professor deve tratar os temas em profundidade, o que resultará na concepção técnica
e na formação do jogador.
Para que o jogador possa alcançar o domínio da bola, necessita fornecer na prática
os seguintes princípios: Efetuar os movimentos com eficácia, economia e utilidade.
Ou seja, a escolha dos movimentos deve ser de acordo com a habilidade e espon-
taneidade do jogador, coordenando os movimentos que entreveem em cada caso,
com a finalidade de poder trocar subitamente de lançamento, na velocidade que as
circunstâncias exijam, de forma continuada.
A pegada da bola pode ser executada a partir de movimentos dos membros supe-
riores (ombro, braço, antebraço e do punho). Os movimentos realizados podem ser
de extensão e flexão, acima e abaixo da cabeça, pronação e supinação, abdução, rotação
e, ainda, em circundução. Com o punho pode-se realizar movimentos de flexão e
extensão (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
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2.1.2 Metodologia
Manejo de bola é a ação técnica individual ofensiva em que o jogador pode manipular
a bola durante o jogo, sem infringir as regras (três segundos, três passos, condução da
bola). No Handebol, de acordo com as regras oficiais, temos três tipos de manejo de
bola: o drible, o batimento e o rolar ou rolamento da bola (Confederação Brasileira de
Handebol, 2010).
O drible é a ação técnica individual ofensiva em que o jogador após ter dominado
a bola, joga-a em direção ao solo e não a pega mais, continua de forma sucessiva a
impulsioná-la em direção ao solo, sempre com a mão aberta e frouxa. Entretanto, obri-
gatoriamente, a mão deverá sempre estar sobre a bola, no momento de impulsioná-la
em direção ao solo.
O batimento é a ação técnica individual ofensiva em que o jogador depois de
dominar a bola, joga-a em direção ao solo com um ou as duas mãos e a agarra-a nova-
mente, dominando-a, também com uma ou as duas mãos.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
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O rolar da bola ou rolamento é uma ação técnica individual ofensiva em que dois
jogadores disputam uma bola que está rolando no solo, um dos jogadores tentando
sobrepor ao outro, na tentativa de dominar a bola impulsiona-a com um movimento
com a mão aberta ou fechada, fazendo-a continuar a rolar, repetindo esse movimento
até que consiga dominar completamente a bola (recepção). Essa é uma ação rara-
mente vista nos jogos de handebol, ao ponto de muitas pessoas não saberem de sua
existência (MARTINI, 1981).
Explicações mais detalhadas sobre drible e rolar da bola serão dadas mais a frente
quando falarmos sobre a progressão com bola.
3. Os deslocamentos
O Handebol tem por base a ocupação de espaços no terreno de jogo, seja de for-
ma defensiva ou ofensiva. O tratamento dessa ação deve ser amplo e valorizado
durante o Ensino do Handebol. Trata-se de oferecer ao jogador uma pluralidade de
procedimentos, como por exemplo: variações nos equilíbrios, facilidade e econo-
mia de gestos, dinâmica nos movimentos, variedade de formas, a passagem de um
tipo de deslocamento para outro, a inter-relação temporal com as posições de base,
a transposição para ações posteriores, etc. Os mesmos devem ser motivos de análise,
de prática e de correções em todos os momentos de ensino do handebol (BÁRCE-
NAS; ROMÁN, 1991).
3.2 Metodologia
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sivos. Nesse caso, as brincadeiras de pique-pega, pique bandeira, beisebol adaptado,
barra manteiga, entre outras, podem e devem ser utilizadas.
A explosão durante a execução dos deslocamentos com bola deve ser executada
paralelamente ao gesto subsequente, ou seja: a empunhadura correta da bola já no
primeiro passo, em diferentes movimentos de ações táticas como os passes e arremessos;
o posicionamento do tronco em diferentes ações (rotação, flexão e extensão, etc.);
e a utilização permanente da atenção no uso dos espaços e manobras, amplos ou
reduzidos, durante as práticas de assimilação, em razão das intervenções dos defensores
(GARCIA, 1990).
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4.1 Observações quanto à técnica de progressão com bola
A técnica de deslocamento do jogador que tem a posse de bola está limitada às re-
gras do jogo. Existem várias formas de deslocamento com a bola, contudo, tratare-
mos aquelas que consideramos imprescindíveis para a aplicação específica no or-
denamento técnico e tático individual, respeitando, logicamente, as exigências das
regras do jogo.
Antes de falarmos propriamente das formas de progressão com bola, é de funda-
mental importância que seja ensinado o passo zero. O passo zero pode ser feito com
um ou os dois pés. Atualmente é executado somente no recebimento da bola vindo
de um companheiro. O recebimento da bola deve coincidir com a fase aérea do salto,
ou seja, o jogador/aluno deve receber a bola antes que um ou os dois pés toquem no
solo, ou ainda, ao mesmo tempo em que os pés tocarem no solo.
No Handebol temos quatro tipos de progressão com bola, que de acordo com as
regras do jogo, nos permite deslocar pela quadra sem perder a posse da bola. A utilização
das progressões com bola está diretamente relacionada com a organização das
ações ofensivas.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
4.2.1Trifásico
É uma ação técnica individual ofensiva em que o jogador realiza um ciclo de três
passos, um salto, e arremessa a baliza ou passa a bola para um companheiro. Pode ser
realizado a partir de um recebimento de bola ou após um batimento ou drible.
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Para destros (direitos): esquerdo – direito – esquerdo
Figura 10. Trifásico para destro – três passos, salto e arremesso. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza
2011, São Paulo.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
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Figura 12. Trifásico para sinistro (esquerdo). Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.
O jogador realiza três passos – um batimento – mais três passos, salto e arremesso
e/ou passe.
Destros/Direitos
Canhotos/Esquerdos
Figura 13. Duplo trifásico para destro e esquerdo
Tanto o trifásico quanto o duplo trifásico são deslocamentos com bola que
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
podem ser usados para arremessos à baliza, passes, e também como finta que antecede
o arremesso ou o passe.
4.2.3 Drible
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executado parado ou em deslocamento. É executado da seguinte forma: depois que o
jogador recupera a bola, ele a lança em direção ao solo e não a segura mais, e continua
a impulsioná-la em direção ao solo com uma das mãos, caracterizando batidas suces-
sivas da bola no terreno de jogo. A mão que impulsiona a bola em direção ao terreno
de jogo deve permanecer sempre “sobre a bola”, nunca de lado e nem por baixo da
bola, sem conduzi-la (MARTINI, 1981).
O drible no Handebol pode ser considerado um fundamento de recurso durante
um contra-ataque, para organizar o ataque (adotar uma posição) ou para se livrar de
um marcador, pois o uso exacerbado dele causa atraso nos movimentos ofensivos,
facilitando a recuperação da defesa.
Quando o jogador está em contra-ataque o drible deve ser feito à frente do corpo,
para facilitar o controle da bola e também do espaço de jogo. Para se livrar de uma
marcação, o drible deve ser feito com o corpo entre a bola e o marcador.
Em situações ocasionais em que o drible é utilizado para recompor o ataque ou
mesmo para deslocamento ofensivo, o aluno ou atleta deverá manter seu corpo entre
a bola e a baliza adversária.
Depois de realizado o drible, o jogador somente terá direito aos três segundos, três
passos, três segundos novamente e passar ou arremessar a bola.
Diante das situações apresentadas é imprescindível que no ensino do drible,
assim como no do passe, sejam utilizadas (realizados) as duas mãos. Nesse caso, não
importa qual é o lado dominante. O domínio do movimento deve ser igual tanto do
lado direito quanto do esquerdo.
Esse fundamento é tão pouco utilizado que quase ninguém sabe de sua possibili-
dade de execução. A regra para sua utilização é a mesma do drible. Sua execução é feita
quando em uma disputa de bola, em que ela está em contato com o terreno de jogo.
Um dos jogadores pode tocar na bola com a mão aberta ou fechada, fazendo com
que ela continue a rolar pelo terreno de jogo. Esse toque ou batida pode ser realizado
de forma continuada até o momento mais oportuno para dominar a bola com uma
ou duas mãos (pegada). Depois de realizados esses movimentos o jogador somente
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
terá direito aos três segundos, três passos, três segundos e a passar ou arremessar a
bola (MARTINI, 1981).
Durante o ensino dos deslocamentos com bola, o professor deve eleger estratégias
de ensino, considerando as situações que podem ocorrer durante o jogo. Assim, é
importante considerar a alternância dos diferentes: ciclos de passos; ritmos e amplitudes
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dos passos; a direção dos movimentos; orientação espacial e temporal; tipos de
recepção da bola; os movimentos dos membros superiores durante a recepção; ação
final do jogador (arremesso ou passe). E, ainda, variar os espaços a serem percorridos,
os números de defensores (oponentes) e a utilização de obstáculos.
5. A Recepção da bola
É uma ação técnica individual que consiste no ato de dominar (receber) a bola lança-
da por um companheiro. O domínio desta ação técnica (fundamento) supõe o êxito
em intervenções nos momentos oportunos e na velocidade que exige a movimenta-
ção ofensiva (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
O desenvolvimento de uma ação tática individual ou um procedimento tático
coletivo pode fracassar se os jogadores que intervêm perdem a bola por erro na recepção.
Inclusive, uma recepção mal feita pode ocasionar uma perda de tempo suficiente para
que a equipe não alcance o objetivo previsto, bem como facilitar o trabalho e a recu-
peração da bola pela defesa adversária.
Baseado no princípio da seguridade, o aspecto técnico é decisivo para determinar
a força dos passes e a velocidade dos alunos/jogadores em seus deslocamentos, antes
de tomar contato com a bola. É, portanto, necessário que a velocidade do jogador seja
realizada em função do grau de perfeição alcançado na recepção (MARTINI, 1981;
BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
Atender a esta parte da técnica é um fator inquestionável para dar continuidade ao
jogo. A realidade demonstra que, se a equipe perder a posse da bola no transcorrer de
uma partida, por erros de recepção, diminuem consideravelmente as oportunidades
para se conseguir gols. É sempre aconselhável a recepção da bola com as duas mãos,
pois este processo garante mais depressa o controle seguro da bola.
Seja qual for a posição adotada pelo jogador, ou posição de ataque, o jogador necessita
manter a posse da bola, assegurando sua recepção e o seu controle posterior, para po-
der optar por uma ação posterior com maior eficiência.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
O jogador precisa ampliar sua atenção de forma que perceba todos os elementos
que influenciam no jogo (companheiros, goleiros, espaços da quadra, adversários,
regras, bola, etc.), mas sempre procurando perceber o local em que está a bola.
Não obstante, considerando o princípio da seguridade, o receptor deve centrar seu
campo visual momentaneamente na trajetória da bola. Esta ação concentrada desa-
parece momentos antes de o jogador ter contato com a bola, sendo seu campo visual
ampliado para as condições do jogo.
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Com os adversários próximos, os receptores devem defender seu campo de
recepção, se posicionado entre o adversário e a bola. Além do que o receptor
precisa ir de encontro à bola para recebê-la, numa tentativa ainda maior de impedir a
intercepção do passe. Desta forma, devemos observar a relação intrínseca entre passe
e recepção, pois a eficiência de um é diretamente proporcional à eficiência do outro
(MARTINI, 1981).
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Figura 15. Recepção alta. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.
29
Figura 17. Recepção média. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza, 2011, São Paulo.
1 2
Figura 18. Recepção baixa.
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Figura 19. Recepção baixa próxima do solo. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza , 2011, São Paulo.
Quando a bola está em contato com o solo, a recepção (pegada) da bola pode ser
realizada com uma ou as duas mãos, depende da capacidade e do domínio de cada
aluno ou jogador. A mão deve envolver a bola acompanhando a sua curvatura, de
forma firme e segura.
Depois de qualquer tipo de recepção utilizado, o aluno ou jogador deve adotar uma
postura em que haja a proteção da bola, pois a manutenção da posse da bola garantirá a
sequência das jogadas posteriores, que objetivam levar ao arremesso à baliza.
Observações: Nas recepções a partir da posição parado, a perna que vai à frente
é a contrária ao braço executor, posição que favorece a continuidade imediata para
intervir em ações posteriores e necessárias ao momento do jogo. Contudo, há de se
observar que, em movimento, o aluno ou jogador deve lembrar-se de ir ao encontro
da bola para recebê-la. Nesse momento, qualquer perna pode ser levada à frente, man-
tendo o corpo de forma equilibrada, dando continuidade às ações posteriores exigidas
pela situação do jogo (BÁRCENAS; ROMAN, 1991).
Autores como Bárcenas; Roman (1991), Martini (1981), Garcia (1990) e Greco;
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
31
• A acomodação corpo e espaço em relação à orientação imposta pelo próprio jogo
não pode alterar-se pela recepção da bola. Está aí a importância de conseguir a dissocia-
ção membro superior-tronco da orientação dos pés e do deslocamento correspondente.
• Quanto ao ritmo da relação espaço e tempo de jogo não pode modificar-se na
recepção, e sim na exigência que o jogo exige, residindo aí a importância da velocidade
de uma boa recepção.
• A introdução permanente de variações nas práticas quanto a direções e altura
dos passes, orientação quanto aos receptores, distâncias, força e velocidade dos passes.
Atividades com defensores para aplicar o princípio da seguridade da bola e provocar
situações posteriores, é fundamental em todas as fases de aprendizagem e treinamento
do Handebol.
• Além disso, o aluno que irá passar a bola deve observar para quem irá passar, para
que seja definido o tipo de passe, velocidade e trajetória da bola, facilitando assim uma
boa recepção.
• Uma boa recepção depende 50% do tipo de passe, os outros 50% são de
responsabilidade de quem recebe, e dizem respeito às técnicas e meios escolhidos para
receber a bola.
• Uma boa recepção também depende de uma boa pegada da bola.
6. Os passes
Os passes são ações técnicas individuais ofensivas que objetivam fazer com que a bola
chegue até um companheiro, com segurança, através de um lançamento. “Os passes
abrangem uma quantidade de processos, ações e fundamentos técnicos, com a aju-
da dos quais a bola é passada de um jogador para o outro” (MARTINI, 1981, p. 22).
O passe pode ser executado com uma mão ou duas, parado, em descolamento
e/ou em salto.
A continuidade do jogo e o êxito de uma equipe dependem da segurança e exati-
dão do passe. Por isso, o princípio da segurança no passe deve ser sempre tomado em
atenção durante o aprendizado desse fundamento.
Para que o jogador saiba como resguardar o princípio da segurança, se faz neces-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
sário adquirir conhecimentos acerca das diferentes técnicas do passe, bem como da
pegada da bola.
A execução dos passes se constitui como elemento chave para a elaboração de táti-
cas de uma equipe no decorrer do jogo. Para que as táticas sejam eficazes, é necessário
que o passe seja executado observando os seguintes princípios: precisão, velocidade,
segurança e oportunidade.
Martini (1981) distingue cinco tipos de passes no Handebol. São eles:
• Ombro
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• Por baixo
• De anca (quadril)
• Pulso (punho) – com uma das mãos em posição superior, com uma das mãos
em posição inferior, peito com as duas mãos.
• Passes especiais – com a mão por detrás das costas, detrás da nuca, passe de pulso
por cima do ombro, por baixo da perna de apoio e em volta do corpo.
Bárcenas; Román (1991, p. 102) classificam os passes da seguinte forma:
Em contato com o solo (com uma mão)
• Clássico (de ombro - frontal e lateral).
• Altura intermediária, ombro-quadril (frontal e lateral).
• Altura baixa (frontal e lateral).
• Em pronação (frontais, laterais e atrás).
• Atrás (por trás – frontais e laterais).
• Por cima do ombro do braço executor.
Em contato com o solo (com as duas mãos).
• De peito.
• Por cima da cabeça.
Em suspensão (com uma mão).
• Frontais
• Laterais.
• Para trás. (tradução nossa).
O passador deve perceber a possibilidade de realizar o passe, sem, contudo, ficar olhando
diretamente para o receptor, no sentido de não chamar a atenção do defensor. Entretanto,
esse princípio se aplica somente na fase do jogo, quando os alunos/jogadores já dominam
completamente todos os fundamentos necessários para a compreensão do jogo.
33
• O passe deve ser dado observando a velocidade apropriada, bem como a
força precisa a ser regulada de acordo com quem vai receber e também em relação à
distância do receptor.
• A trajetória da bola deve ser de acordo com a posição do receptor e posição do
defensor (situação de jogo).
• O passador carece passar a bola de forma precisa, pois a precisão do passe facilita
a execução de ações continuadas posteriores por parte do receptor, permitindo-o se
sobrepor ao ataque do defensor.
• O passador deve dominar o maior número possível de passes, pois a sua variabili-
dade depende da situação de jogo, posição do receptor e das características individuais
do receptor.
Assim, cabe ao passador saber escolher adequadamente o tipo de passe a ser
executado, bem como a direção, altura e o momento exato de executá-lo. Um passe
bem executado pode desencadear ações posteriores (táticas coletivas) que
possibilitam um jogo ofensivo mais rápido e agressivo, finalizando com êxito os
arremessos à baliza.
34
(para frente, em direção ao receptor), com acentuada quebra de punho no momento
do lançamento da bola, os dedos são os últimos a deixá-la (esse movimento dá direção
e velocidade à bola).
Figura 21. Passe de ombro. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
35
• Passe em pronação
O passe em pronação é utilizado na armação do ataque (engajamento), em que os
alunos/jogadores estão próximos uns dos outros. Sua execução é: partindo da recep-
ção da bola, o jogador deverá empunhá-la (pegada ou empunhadura) com a mão do
lado que passará a bola. Depois disso, fará uma pronação da articulação do cotovelo,
soltando a bola com acentuada quebra de punho. Nesse momento, a articulação do
cotovelo deve estar estendida, membro superior (braço e antebraço) faz um ângulo de
aproximadamente 45º graus em relação ao tronco.
• Passe de punho atrás das costas
Também partindo da recepção, para iniciar o movimento de execução o jogador
deverá empunhar a bola com a mão do lado contrário que passará a bola. Depois dis-
so, deve-se fazer uma ligeira abdução do membro superior, um pouco atrás da linha do
tronco, faz-se uma flexão do cotovelo atrás das costas, lançando a bola com acentuada
quebra de punho.
Figura 23. Passe de punho atrás das costas. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
36
Em todos os tipos de passe, seja de ombro ou punho, os dedos são os últimos
a ter contato com a bola. São eles que darão aceleração, velocidade e direção à bola,
fazendo-a chegar até o receptor com segurança e precisão (MARTINI,1981).
Além de assimilar os diversos tipos de passe, o jogador precisa compreender que
o passe é o ato de lançar a bola para um companheiro e, se necessário for, ele pode
se utilizar de qualquer técnica, conhecida ou não, desde que o objetivo seja atingido.
Ou seja, desde que a bola chegue em segurança nas mãos de outro jogador (receptor).
Para que o objetivo do passe seja atingido, utilizando qualquer tipo de passe
conhecido, os alunos/jogadores precisam se lembrar dos seguintes princípios: precisão,
velocidade, segurança e oportunidade.
6.3 Metodologia
7. Os arremessos à baliza
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
37
Encontrar situação favorável para o arremesso é tarefa básica do jogo ofensivo.
A finalização do arremesso é de responsabilidade coletiva, ou seja, a responsabilidade
de um lançamento da bola à baliza é do jogador que possui a sua posse. Entretanto,
o jogador deve lembrar que, para que o arremesso ocorra, ele deve perceber se ele é
o melhor qualificado para isso. Essa qualificação é resultado das atividades criativas
da equipe, a exploração das habilidades técnicas e motoras dos jogadores, adequa-
ção aos deslocamentos e aproveitamento dos espaços, permitindo aos jogadores
desequilibrarem a defesa e conseguirem situações de arremessos com liberdade
(NÉ, BONNEFOY, LAHUPPE, 2000).
Nesse sentido, é importante que os alunos/jogadores tenham domínio das habilida-
des e meios técnicos individuais, de grupo e coletivos, os quais favorecem os acertos dos
arremessos à baliza. É fundamental que cada jogador, ao receber a bola, tenha a respon-
sabilidade de procurar fazer o gol. Para isso, é necessário escolher o tipo de arremesso,
considerando a zona de ataque em que o jogador está posicionado, a posição dos
defensores e ainda a postura adotada pelo goleiro ante ao ataque adversário
(MARTINI, 1981).
O Handebol é um esporte em que suas ações e fundamentos formam um conjunto
de gestos motores e técnicos, em que a coordenação, a potência, a velocidade, a agilidade,
dentre outras, ampliam e facilitam todas as possibilidades de êxito dos arremessos à baliza.
Os alunos/jogadores de handebol precisam dominar todos os tipos de arremessos.
Contudo, dependendo de sua posição no ataque (posto específico), devem ser espe-
cialistas em determinados tipos de arremessos.
Alguns fatores devem ser observados na realização dos arremessos. São eles:
utilizar o trajeto mais curto entre o arremessador e a baliza; proteger a bola; não
executar movimentos desnecessários; executar o arremesso em um mínimo espaço
de tempo e com máxima velocidade de execução; dominar vários tipos de arremessos
(MARIOT, 1995; GARCIA, 1990). Os princípios fundamentais (atributos) para a
execução do arremesso são: precisão, segurança e velocidade.
e com saltos.
38
7.1.2 Arremesso em suspensão – extensão e vertical
fator característico de quem ensina. Contudo, fazer com que o jogador saiba fazer
e conceituar as ações ou os movimentos que compõem a dinâmica do jogo é tam-
bém, preponderante para que o ensino e a aprendizagem ocorram em um ambiente
em que os princípios pedagógicos procedimentais, atitudinais e conceituais sejam
primados no decorrer das aulas e/ou treinos, de forma contextualizada, problema-
tizada e crítica.
39
7.2.1 Arremesso com apoio
Figura 24. Arremesso com apoio. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
40
do tronco para o mesmo lado da mão que executa o arremesso. Lembrando que toda
a movimentação de preparação para o arremesso é realizada na fase área do salto.
O pé de impulsão é contrário à mão que executa o arremesso.
Figura 25. Arremesso em suspensão na vertical. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
Figura 26. Arremesso em suspensão em extensão. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
41
7.2.3 Arremessos com queda
42
Figura 27. Arremesso com queda lateral. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
Figura 28. Arremesso com queda frontal. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
43
7.3 Metodologia
Para o ensino dos arremessos é necessário que o professor ajuste as fases de ensino
de acordo com os processos de assimilação e rendimento dos diferentes tipos de
arremessos em relação ao desenvolvimento das qualidades físicas e motoras dos alunos
e jogadores. Exigir execução antes do conveniente (especialização precoce) pode
levar os alunos e jogadores a terem resultados negativos psicologicamente, além
de provocar lesões. Outro problema a ser observado, e que também pode ser
considerado um erro pedagógico, é o professor desconsiderar o ensino dos arremessos
independentemente do resto das ações do jogo (MARIOT, 1995; NÉ; BONNEFOY,
LAHUPPE, 2000).
Assim, de alguma forma, o professor precisa estabelecer um processo de ensino
em que os arremessos à baliza se estruturem dentro de um desencadeamento de
ações que garantam a continuidade do jogo. Neste sentido, o jogador precisa, além do
domínio dos fundamentos e movimentos referentes ao arremesso, perceber a distância
do defensor, do goleiro e da baliza adversária.
8. Fintas
A finta é uma ação técnica individual ofensiva, em que o jogador provoca uma
determinada ação deliberada do defensor, com o objetivo de criar situações e espaços
vazios para sua ocupação e deslocamentos em vantagem, frente às ações do defensor.
Na maioria das vezes, o atacante tende a ocupar o espaço deixado pelo defensor.
O movimento de finta ocorre sempre em situações de um contra um, e pode ser
executado com ou sem bola (MARTINI,1981).
do jogo;
• Como as fintas se constituem em movimentos desconcertantes para o defensor,
o atacante deve procurar sempre variar o tipo de finta utilizada;
• O atacante deve eleger uma capacidade imediata e oportuna sobre as ações súbitas
do defensor. Isso exige velocidade de reação, troca de ritmo, variação na velocidade dos
movimentos e ainda, ter domínio do campo visual amplo.
44
8.2 Classificação das fintas
As fintas são executadas tanto com bola quanto sem a posse da bola. As fintas são
utilizadas com o objetivo de desvencilhar de uma marcação para receber a bola ou se
colocar em posição favorável para receber uma bola, ou ainda, provocar no defensor
um deslocamento propositadamente, para ocupar seu espaço próximo à linha da área
de gol, obtendo assim uma possibilidade bem sucedida de arremesso à baliza.
Podemos classificar as fintas de várias formas, uma delas é de acordo com Bárcenas;
Román (1991):
• Em função do movimento de recepção da bola, que pode ser em contato com o
solo e em suspensão;
• Em função da orientação prévia – de frente ao oponente, de costas ao oponente,
de lado para o oponente e de forma combinada (de frente e com saída de lado com giro);
• Em função do número de trocas de direção – finta simples (com uma troca de
direção), dupla finta (duas trocas de direção);
• Em função da trajetória de saída da finta – normal e falsa;
• Em função do momento de mudança de direção depois da finta – sem bola e
com bola: em um ponto certo, no primeiro passo, no segundo passo, no terceiro passo.
Já Martini (1981) classifica as fintas como:
Fintas sem bola:
Fintas de entrada – São realizadas sem bola. Estando o jogador de frente para
o defensor, esse realiza um passo para um dos lados e imediatamente a reação do
defensor realiza uma entrada para o lado oposto. Exemplo: um passo com a perna
esquerda para o lado, e imediatamente um passo com a direita para o lado oposto.
1
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
zero
(início)
45
Figura 30. Finta simples. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
Observação: A descrição das fintas abaixo foi realizada considerando que o lado
dominante do jogador seja o direito (jogador seja destro).
• Fintas de mudança de direção – O jogador aproxima-se do defensor com
dois ou três passos (fixação), e executa um passo em diagonal para um dos lados.
Com o deslocamento do defensor, o atacante dá mais um passo com o mesmo pé,
cruzando, mudando a direção para a direita. Depois mais um passo com o outro pé.
1
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
zero
(início)
Finta com bola: Os movimentos das fintas com bola são idênticos às fintas
sem bola. Estando em posse de bola, o jogador deve proteger a bola no momento
de realização da finta. Durante a realização dessas fintas é crucial que o jogador
46
fique atento ao limite de passos que pode dar estando ele em posse de bola (no
máximo três passos).
• Finta de entrada simples e com mudança de direção – A movimentação
dessas fintas segue os mesmos princípios das fintas sem bola.
• Finta com giro - O atacante recebe a bola com pés paralelos ou pé direito à
frente (passo zero). Depois, deve dar um passo com o pé esquerdo, cruzando para a
direita e simulando o arremesso. O defensor é levado a bloquear. Com isso, o atacante
executa um giro sobre o pé esquerdo, deslocando o pé direito para trás, dando um passo.
Já de frente para a baliza, executa com o pé esquerdo mais um passo, finalizando com
arremesso parado ou com salto.
zero
(início)
Figura 32 . Finta com giro.
Figura 33. Finta de braço. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
47
8.3 Metodologia
O ensino das fintas é de fundamental importância para se jogar handebol, uma vez
que, através delas, os alunos/jogadores podem se desvencilhar de um defensor com
maior facilidade, permitindo dar continuidade às ações ofensivas e defensivas no
jogo. As fintas sem bola podem ser usadas tanto por defensores quanto por atacantes.
No caso dos defensores, as fintas são utilizadas para induzir o atacante a seguir uma
determinada direção.
As atividades mais indicadas para se ensinar as fintas, de maneira natural, são as
brincadeiras de pique-pega. Nesse caso, o professor, depois de realizar essas brinca-
deiras, realiza a transposição didática para o ensino do handebol, incluindo a técnica
de execução dos diversos tipos de finta. Entretanto, é importante observar que essas
fintas são movimentos já conhecidos no Handebol. Assim, o professor precisa motivar
seus alunos/jogadores a criarem novas fintas a partir das já conhecidas, uma vez que
movimentos desconhecidos podem, em situações difíceis, fazer com que o atacante
sobreponha de maneira simples e rápida as ações dos defensores.
9. Ações táticas
48
9.1.2 Bloqueio
Écran é uma ação tática de grupo que serve para proteger da defesa um jogador
de meia-distância, cujo objetivo é conseguir executar livremente um arremesso em
suspensão. O écran mais utilizado encontra-se nos tiros livres (cortinas) próximos à
linha de 9 metros (tracejada) e em bloqueios realizados próximos à linha da área de
gol. As ações dos jogadores (dois ou três) atacantes são no sentido de bloquear ações
defensivas, facilitando o deslocamento do atacante em questão e, consequentemente,
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
9.1.4 Cortina
49
A cortina é mais utilizada
durante a execução de um tiro
livre próximo à linha de 9 metros
(linha de tiro livre). Nesse caso,
dois ou três jogadores atacantes se
colocam um ao lado do outro, sem
deixar espaço entre eles, e próxi-
mos à linha dos 9 metros (antes),
literalmente formando uma corti-
na. O tiro é executado por um dos
jogadores da cortina. Ao executar
o tiro livre para o arremessador, os
Figura 36. Cortina.
jogadores que formam a cortina se
deslocam para trás impedido a saída dos defensores. Nesse meio tempo, ao receber a bola,
o arremessador desloca-se para frente, salta e executa o arremesso, protegido e livre de
marcação. Com isso, há uma maior probabilidade de marcar um gol.
9.1.5 Fixação
A fixação é uma ação individual ofensiva, que tem por objetivo a permanência
temporária de um jogador atacante numa determinada posição que pode gerar fintas.
Tal ação leva o defensor a adaptar a sua própria posição à do adversário. Durante a
fixação podem ocorrer reações em dois defensores, sendo que eles são atraídos por
meio de movimentos hábeis realizados pelo atacante, surgindo assim uma superioridade
numérica que pode resultar em penetrações ou arremessos à baliza (MARTINI, 1981).
Tipos de fixação:
50
entre dois defensores, no sentido de cha-
mar a atenção deles, para dar liberdade
para que o companheiro possa receber
a bola e encontrar oportunidades de
penetrações, e arremessos à baliza.
Fixação par/impar - É a ação
tática individual ofensiva de um jogador
que tem por objetivo chamar a atenção
de dois jogadores adversários. O mo-
mento inicial deve ser em direção ao Figura 38. Fixação ímpar.
defensor que atua na zona em que o
atacante está, saindo em direção ao de-
fensor que está na zona defensiva mais
próxima. Desse modo, o movimento do
atacante provoca e chama a atenção de
dois defensores, causando uma reação
em cadeia de superioridade numérica.
Facilitando penetrações, recebimento
de bola e arremessos à baliza sem influ-
ência dos jogadores de defesa.
Figura 39. Fixação par/ ímpar.
9.1.6 Cruzamento
É uma ação tática de grupo realizada próxima à zona de tiro livre que tem por
objetivo criar situações de superioridade numérica, cujo resultado cria: uma posição
favorável a um arremessador de meia-distância; uma abertura para um arremesso ou
penetração de um companheiro de equipe; e ainda, provoca uma situação favorável
para um bloqueio ao adversário (GARCIA, 1990; MARTINI, 1981).
Durante o cruzamento, há uma troca de zonas ofensivas de atuação entre os
jogadores que o realizam, devendo o jogador que irá receber a bola passar, próximo,
nas costas do jogador que está com a bola e que iniciou o movimento do cruzamento.
Ao receber a bola, momentaneamente, o jogador fica livre de marcação, tendo
condições de realizar arremessos à baliza.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
51
Durante a realização do bloqueio, o ato de entregar e receber o adversário
quando os jogadores realizam ações defensivas é um fator complicador, pois
surgem confusões na marcação e bloqueios e os espaços abertos são difíceis de
serem recuperados.
Podemos dizer que existem fatores que são decisivos para a execução do cruzamento:
• Por parte do jogador que inicia o cruzamento - Perceber a possibilidade de realização
do cruzamento; atacar (fixação) no espaço entre dois jogadores; sempre procurar
arremesso a gol; causar desequilíbrio defensivo; observar a possibilidade de infiltração
ou arremesso; na realização do passe o jogador necessita saber o momento correto de
passar; a escolha do passe; o passe deve ser firme e protegido.
• O jogador que irá receber a bola - Deve se deslocar por trás do passador o mais
próximo possível; fazer uma recepção segura e firme; decidir se vai passar ou arremessar
a gol; e o jogador que inicia o cruzamento precisa decidir se vai bloquear ou buscar
uma posição favorável para um novo recebimento de bola.
9.1.7 Contra-ataque
52
O contra-ataque pode ser provocado por meio de:
• Arremessos mal sucedidos à baliza.
• Erros de passes ou interceptação de passes.
• Infração às regras do jogo.
Para o ensino das ações táticas ofensivas o professor precisa partir do princí-
pio que os movimentos realizados durante cada uma delas são complexos, ainda
mais por serem realizados com mais de uma pessoa. Isso necessita de um trabalho
sincronizado, em que o ajustamento de tempo, espaço e passe/arremesso sejam
organizados sistematicamente.
O professor, inicialmente, precisa eleger atividades que levem os alunos/joga-
dores a aprenderem o movimento específico de cada ação, cujo objetivo centra-se
na mecanização do movimento. Tais atividades devem conter os deslocamentos, os
passes e o ajuste espaço-temporal.
Depois de o jogador/aluno ter assimilado os movimentos e a mecânica do
cruzamento, o próximo passo é ensinar com atividades em que estejam presentes os
defensores, além de experimentar o cruzamento partindo de diferentes postos espe-
cíficos. Um fator importante a ser observando nesse momento é a postura adotada
pelos defensores, para eleger como e quando será realizado o cruzamento.
E, por último, as atividades de dois contra dois (2x2) são bastante indicadas para
a fase de limpeza de movimentos, resultando no aperfeiçoamento de todas as ações
necessárias para a realização do cruzamento, podendo o professor finalizar com jogo livre.
São indicadas para as primeiras atividades os jogos e brincadeiras tradicionais,
principalmente as conhecidas dos alunos/jogadores, podendo o professor fazer ajustes
para atender aos objetivos propostos. Em seguida, o professor deve trabalhar com
atividades de 2x2 ou 3x3 até chegar ao jogo real (7x7).
9.2 Ataque
Uma equipe está em ataque quando ela consegue a posse da bola. Ela entra em
posse de bola quando a sua defesa recuperá-la, na interceptação de passes, quando o
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
De acordo com Martini (1981) o ataque possui quatro fases, elas vão desde a
recuperação da bola até a finalização em um determinado sistema, cujo objetivo
centra-se no arremesso à baliza. As fases são:
53
Primeira fase – Contra-ataque simples
Segunda fase – Contra-ataque sustentado ou apoiado.
Terceira fase – Organização do ataque
Quarta fase – Ataque em um sistema determinado
Caso os dois ou mais jogadores não consigam realizar o arremesso por sofrerem
marcação. Devem utilizar de ações ofensivas, como a troca de passes e dribles, com o
intuito de esperar os demais jogadores atacantes se aproximarem da zona de ataque.
A organização do ataque se caracteriza pela colocação de todos os jogadores em suas
respectivas zonas de ataque, de acordo com o sistema que utilizarão.
54
9.2.1.4 Quarta fase – ataque em um sistema
Depois que cada jogador ocupou sua posição inicial, em uma determinada zona
de ataque, inicia-se a movimentação de acordo com o sistema escolhido. Ou seja, um
tipo de ataque posicional ou em circulação. É importante lembrar que nessa fase é que
acontece o maior número de ações ofensivas individual, de grupo e de equipe.
55
F
Sistema 3:3 com um pivô.
D
E A. Lateral esquerdo
F B. Central
A
D C. Lateral direito
E
B C
D. Extremo direito
E. Pivô
A C
B F. Extremo esquerdo
Sistema 4:2
F
E A. Lateral esquerdo
B. Central esquerdo
F
E D C. Central direito
A
B C D. Lateral direito
D E. Pivô
A
B C F. Extremo esquerdo
56
tática e coletiva e, ainda, organização no modo de utilizar as ações técnicas e táticas
para sobrepor a defesa adversária.
É um tipo de sistema que não possui rigidez no posicionamento dos jogadores, nem
na trajetória a ser percorrida pela bola. Contudo, devemos observar que o ataque precisa ter
amplitude e profundidade. Os atacantes devem constantemente apoiar seus companheiros,
utilizar de uma grande variedade de ações e mudanças de ritmos, bem como da utlização dos
espaços. A bola deve ser passada com rapidez e velocidade, percorrendo um trajeto mais curto.
A evolução do modo de jogar o handebol fez com que as técnicas defensivas se apri-
morassem mais, exigindo dos alunos/jogadores uma dedicação quanto à aprendiza-
gem e aperfeiçoamento das diferentes ações e táticas defensivas.
Qualquer ação defensiva parte do princípio de uma análise das diferentes ações
ofensivas. Cabe ressaltar que a defesa sempre joga em inferioridade em relação ao
ataque, uma vez que suas ações dependem da iniciativa dos movimentos ofensivos
de uma equipe.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
Figura 46. Movimentos defensivos. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
57
Segundo Martini (1981, p. 152 ), a forma de se defender abrange:
Essas bases táticas são consideradas princípios importantes para que a defesa
consiga utilizar de recursos motores, técnicos e táticos para sobrepunjar o ataque
adversário. Esses princípios devem ser executados de forma ágil e eficaz para aten-
cipar as ações ofensivas, no sentido de neutralizar jogadas, impedir arremessos e
recuperar a posse da bola.
As ações ofensivas em que os defensores utilizam um extenso conteúdo técnico
e uma riqueza de possibilidades, têm o privilégio de sobrepor a iniciativa do atacante.
Isto requer, por parte dos defensores, uma resposta necessária para evitar os movi-
mentos inesperados dos atacantes. Essa resposta necessita de uma grande variedade
de técnicas para que possam efetivamente anular ou reduzir os movimentos e táticas
do ataque (BÁRCENAS; ROMÁN, 1991).
Figura 47. Posicionamento defensivo frente ao ataque. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011,
São Paulo.
58
Controle visual
Defensor desequilibrado
Atacante estático, distante
da linha da área
Atacante frontal ou
de lado com apoio
Técnica Marcação em Evitar o
Atacante de costas
defensiva proximidade arressmo
Atacante em
suspensão
De frente para
os arremessos
Oponentes com apoio
com bola
Arremessos em
suspensão
Bloqueios e arremessos em
de bolas suspensão dos 6
metros
Interceptar a bola
Defesa diante
das fintas
59
9.4.1.1 Os deslocamentos
Os deslocamentos são realizados nas seguintes direções: para frente em linha reta
e diagonal; para trás em linha reta e diagonal, para o lado direito e esquerdo.
Os deslocamentos defensivos, quando realizados de acordo com o sistema
defensivo adotado pela equipe, devem ser executados tendo por base a posição e dire-
ção da bola. Normalmente, a movimentação do jogador é em forma de um triângulo.
É uma ação ou técnica que o jogador defensivo adota para mobilizar o adversário
com ou sem bola. Para que isso aconteça, é necessário adotar um posicionamento
que favoreça uma ação defensiva imediata, seja para interceptar a bola, impedir que
o jogador receba a bola, flutuar na cobertura de um companheiro, ou ainda, entrar na
luta direta pela posse da bola. Para isso, segundo Martini (1981), existem três tipos de
posicionamentos, que dependem da distância da bola e do jogador que está em sua
zona de defesa. São eles: posição alta média e baixa.
Alta – O jogador pode ficar de pé numa postura mais relaxada, sem, contudo,
perder de vista tanto a bola quanto o jogador que está na sua zona defensiva. Isso
ocorre quando a bola se encontra na zona oposta ou quando o jogador atacante está
longe, sem oferecer perigo para a defesa.
Média – O jogador fica em estado de alerta, podendo entrar em confronto com
o adversário a qualquer momento. A posição ideal é de pé, pés paralelos, com joelhos
ligeiramente fletidos. Mantendo sua atenção tanto para o jogador que ameaça entrar
em sua zona defensiva, quanto para a posição da bola.
Baixa – Acontece quando o jogador entra em contato direto com um adversário
que entra em sua zona defensiva com ou sem bola. Nesse momento, sua posição
deve adotar a seguinte postura: pés em afastamento anteroposterior numa distância
que acompanha a largura do ombro, joelhos fletidos e ligeira inclinação do tronco.
Quando o atacante está em posse de bola, uma das mãos deve entrar em contato com
o atacante na linha de cintura (centro de gravidade) e a outra deve procurar a bola.
O defensor precisa manter um contato de forma mais adequada, para que possa agir
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
60
espaço próximo à área de gol, uma recepção, um bom movimento de arremesso ou
um bom passe. Nesse caso, o defensor deve usar a marcação baixa (MARTINI, 1981).
É uma ação técnica individual defensiva em que o defensor tira a bola da mão do
atacante. Para tirar corretamente, de forma permitida pelas regras oficiais, a mão do
defensor deve estar aberta, sem bater, socar ou agarrar a bola, em qualquer direção
(CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL, 2010).
Quando o atacante estiver driblando a bola, o defensor também pode tirá-la.
O movimento deve ser pelo lado, nunca de cima para baixo, pois assim o defensor
atingirá a mão do atacante, cometendo uma infração. O atacante deve utilizar a mão
que está mais próxima do adversário. No momento em que a bola não estiver na mão
do atacante, o defensor pode tirar a bola com as duas mãos.
É uma ação tática defensiva de grupo entre dois ou três jogadores, que tem como
objetivo ocupar o espaço deixado pelo defensor que saiu para marcar um atacante
com posse de bola. Essa ação é conhecida como flutuação, que notadamente deixa
os defensores que estão mais próximos ao atacante com posse de bola em estado
de alerta, caso seja preciso entrar em contato com o mesmo. Essa ação de grupo
forma uma triangulação defensiva entre três defensores, além de uma diagonal
(MARTINI, 1981).
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
A troca de adversário é uma ação tática de defesa contra atacantes que entram,
cruzam ou trocam de lugar, durante ações táticas ofensivas. O atacante que troca,
entra ou cruza é recebido pelo defensor quando invade o seu espaço. Se o atacante
estiver com posse de bola, é estabelecido o contato físico com ele, que é acompanhado
de tal modo que o seu braço de arremesso fica fechado para a baliza. Aqui o defensor
61
move-se para o lado com pequenos passos de inversão, sem cruzar as pernas ou
saltar, tenta desviar ou bloquear o adversário, e entrega-o a seu companheiro
vizinho (MARTINI, 1981).
O bloqueio é uma ação tática de grupo, em que dois ou três defensores agem como
um bloco, na tentativa de interceptar o arremesso. Essa ação pode ser realizada em
comum acordo com o goleiro, ou seja, os defensores fecham um dos cantos (curto ou
longo), ficando o outro a cargo do goleiro. Quando o atacante tenta um arremesso, os
defensores devem levantar os braços formando um bloco fechado. Caso o arremesso
executado seja com salto, os defensores também devem saltar na tentativa de impedir
o arremesso. Deve-se evitar falhas, pois nesse momento o goleiro perde a visão da
bola, vendo-a somente quando já está na trajetória dentro da área de gol (GARCIA,
1990; MARTINI, 1981).
Durante o jogo de handebol, para que a equipe possa manter um equilíbrio defensivo
é necessário que os jogadores adotem atitudes e meios táticos que permitam o
atraso do ataque adversário, organização da equipe e ainda, a recuperação da bola.
As ações realizadas são distribuídas em quatro fases: volta rápida à defesa, marcação
individual ou zona temporária, organização da defesa e defesa em um sistema
(MARTINI, 1981).
Volta rápida à defesa – Depois da perda da posse da bola no ataque, seja por
uma violação às regras de jogo, arremesso mal sucedido ou ações de interceptação
da bola pelo adversário, os jogadores devem voltar rapidamente para a sua defesa,
utilizando-se do trajeto mais curto, independentemente da posição ocupada no
sistema defensivo.
Marcação individual ou zona temporária – Nessa fase, um ou mais
jogadores realizam marcação individual ou zona junto ao atacante que estiver com
a posse da bola, objetivando retardar a movimentação de ataque e/ou recuperar a
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
posse da bola.
Organização da defesa – Como nas fases anteriores os jogadores retornam
para a defesa e nem sempre para a sua zona ou local previamente definido, o jogador
defensivo aproveita momentos em que acontece uma parada ou organização do ataque
(cobrança de tiro livre, tiro de lateral, e/ou quando o jogador está longe do local em que
a bola se encontra) para retornar à sua zona ou local de defesa.
Defesa em um sistema – Depois que cada jogador se encontra em sua zona
defensiva, inicia-se a defesa em um sistema, seja ele por zona, individual ou mista.
62
Durante o processo de organização defensiva os jogadores devem atentar-se
para que toda a movimentação aconteça o mais rápido possível, sem, contudo,
fragilizar as ações coletivas, e ainda, terem uma maior atenção na zona em que se
encontra a bola.
No handebol existem três tipos de defesa: a individual, a por zona ou zonal e a mista.
63
Nesse tipo de defesa, os alunos/jogadores devem observar que, para se fazer uma
boa marcação, é necessário que eles se movimentem em bloco (como se fossem um
leque), uma vez que os jogadores na defesa se movimentam de acordo com a posição
e direção da bola.
O jogador defensivo somente abandona sua zona quando estiver fazendo um
acompanhamento e entrega de um atacante.
Segundo Martini (1981, p. 160):
1D
1D 1E
2D 1E
3D
2D 3E
3D 2E
3E
2E
zona apresentam de uma a três linhas defensivas. Vale ressaltar que a primeira linha
defensiva é aquela que está mais próxima à linha da área de gol. Desta forma, existem
cinco tipos de defesa por zona: 6:0, 5:1, 4:2, 3:3 e 3:2:1.
Esse tipo de defesa possui uma única linha defensiva, em que todos os jogadores
se posicionam próximos à linha da área de gol (seis metros). Possui amplitude, mas
64
não possui profundidade. Dificulta as infiltrações e o trabalho do pivô e dos pontas.
Por não possuir profundidade, quase não incomoda a movimentação da bola por
parte dos armadores e ainda, conta certa fragilidade aos arremessos de média e longa
distância e apresenta dificuldades na recuperação da bola, por não abandonar a área
próxima da linha da área de gol (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).
Sistema 6:0
2. Extremo esquerdo
3. Defesa lateral esquerdo
4. Defesa central esquerdo
5. Defesa central direito
6. Defesa lateral direito
7. Extremo direito
Figura 50. Marcação por zona 6:0. Fotografias de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
Esse tipo de defesa possui duas linhas defensivas. A primeira linha é composta
por cinco jogadores que atuam próximos à linha da área de gol, e apenas um jogador
defende na segunda linha, um pouco à frente da linha de tiro livre, na parte central.
Esse tipo de defesa por zona possui amplitude e profundidade. Tem por objetivo
dificultar as infiltrações e o trabalho dos armadores, impedindo os arremessos de curta
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
e média distância realizados na zona central. Nesse tipo de marcação o jogador central
da primeira linha de defesa quase que realiza uma marcação individual sobre o pivô.
O defensor central avançado (bico) tem por função evitar os passes entre os armadores,
impedir ou atrapalhar os arremessos de curta e média distância e interceptar passes,
evitar penetração em sua zona defensiva, realizar cobertura durante a marcação dos
laterais sobre os armadores direito e esquerdo e, ainda, iniciar um contra-ataque após
a recuperação da bola (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).
65
Sistema 5:1
1D 1E
1D 2D 2E 1E
3C
2D 2E
3C
3A
3A
Figura 52. Marcação por zona 5:1. Fotografias de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
Esse tipo de defesa possui duas linhas defensivas. A primeira linha é composta
por quatro jogadores que atuam próximos à linha da área de gol, e dois jogadores
defendem na segunda linha, um pouco à frente da linha de tiro livre. Essa defesa
66
possui amplitude e profundidade, e é utilizada principalmente contra o ataque tipo
2:4. Dificulta os arremessos de média distância. As zonas defensivas são bem maiores,
o que exige um bom deslocamento por parte dos defensores, e facilita a recuperação
da bola, por meio da interceptação de passes. A responsabilidade da marcação do
pivô recai sobre os jogadores centrais da primeira linha defensiva. Tem por objetivo
dificultar as infiltrações e o trabalho dos armadores, impedindo os arremessos de
curta e média distância realizados na zona central. Contudo, esse tipo de marcação
apresenta fragilidade no jogo 1x1, jogo com dois pivôs, e facilita o ataque dos pontas,
pela extensão da zona de ataque. Os jogadores centrais da primeira linha defensiva
juntamente com os dois avançados devem formar um paralelograma na zona central
defensiva (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).
1D 1E
2D 2E
3A 3A
Esse tipo de defesa aberta possui duas linhas defensivas. A primeira linha é composta
por três jogadores que atuam próximos à linha da área de gol, e três jogadores defendem
na segunda linha, um pouco à frente da linha de tiro livre. Esse tipo de defesa possui
amplitude e profundidade. Dificulta a armação do ataque entre os armadores, bem
como seus deslocamentos, evita os arremessos de meia e longa distância, e induzem
67
os atacantes ao erro (de passe, dos três segundos e dos passos). Os jogadores
da segunda linha de defesa podem sair mais rapidamente para o contra-ataque.
Essa defesa possui fragilidade junto à linha da área de gol, facilita o jogo com
dois pivôs, abre espaço para o jogo 1x1 e exige muito fisicamente dos defensores
(SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).
2. Extremo esquerdo
3. Defesa Central
4. Extremo direito
5. Avançado esquerdo
6. Avançado central
7. Avançado direito
4 2
3
4 2
5
7 3
6
5
7
6
Esse tipo de defesa possui três linhas defensivas. A primeira é composta por três
defensores próximos à linha da área de gol, a segunda linha é composta por dois
jogadores um pouco à frente da linha de tiro livre, e a terceira linha com um jogador
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
mais ou menos nos 12 metros, ou seja, três metros à frente da linha de tiro livre.
Essa defesa possui amplitude e profundidade. Ela é de fácil adaptação frente às
mudanças ocorridas no ataque durante o jogo. O atacante que possui a bola sempre
está sendo marcado por uma triangulação defensiva. Essa defesa dificulta o jogo dos
armadores na zona central de arremesso, é de fácil deslocamento dos jogadores para
o contra-ataque. Contudo, sua eficiência está ligada à eficiência dos movimentos dos
jogadores (deslocamentos, cobertura, marcação) e apresenta fragilidade com o jogo
com dois pivôs e bons pontas (SIMÕES, 2002; MARTINI, 1981).
68
2. Extremo esquerdo
3. Defesa central
4. Extremo direito
5. Lateral avançado esquerdo
6. Lateral avançado direito
7. Avançado central
4 2
3
5
6
Esse tipo de sistema defensivo resulta da combinação de uma defesa por zona
com a individual. A marcação individual ocorre geralmente sobre atacantes que se
destacam em suas equipes. A marcação individual é realizada no sentido de anular
a atuação ofensiva desse atacante, ou seja, impedi-lo de receber a bola, dificultar ou
impedir arremessos a gol, e ainda, impedir sua participação na organização do ataque.
Este tipo de sistema possui basicamente dois tipos de defesa: 5+1 e 4+2. Na marcação
5+1, cinco jogadores atuam próximos à linha da área de gol e um realiza a marcação
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
69
Figura 56. Defesa mista 5+1. Fotografia de Nilva Pessoa de Souza. 2011, São Paulo.
9.6.4 Metodologia
70
Referências
SANTOS, Ana Lúcia P. dos. Manual de mini handebol. São Paulo: Editora
Phorte, 2003.
PESQUISA E ENSINO EM HANDEBOL
71
NATAÇÃO
Drª Vanessa Helena Santana Dalla Déa
Apresentação
73
4. Apresentar e incentivar a pesquisa científica nas práticas aquáticas.
5. Conhecer, entender e descrever os estilos da natação, respectivas saídas e
viradas. Envolver os alunos em experimentações dos processos de aprendizagem do
controle motor e das habilidades físicas no meio líquido, fundamentados no desenvol-
vimento e crescimento da criança e do adolescente, com consciência da problemática
educacional e do trabalho realizado em ambientes não formais (clubes e academias).
6. Proporcionar conhecimentos básicos da hidroginástica, analisando provas e
funções musculares no meio aquático.
7. Apresentar informações básicas para a vivência e ensino do polo aquático.
8. Envolver os alunos na problemática do afogamento, apresentando informações
básicas de prevenção, resgate e salvamento aquático.
9. Apresentar as capacidades físicas e analisar seu desenvolvimento nas práticas
corporais aquáticas.
10. Contribuir para a formação de professores que entendam o ser humano
como um ser provido de diferenças, adequando as atividades a cada faixa etária,
interesses e necessidades.
74
Os arqueólogos calculam que a mais antiga ilustração (Figura 1) conhecida da
arte de nadar remonta de 9000 anos antes da nossa era e foi encontrada em uma
caverna das grutas do deserto da Líbia (CATTEAU e GAROFF, 1990).
Três mil anos antes da nossa era, o hieróglifo “nadar” (Figura 2) atesta um raro grau
de acabamento da técnica com pernas realizando movimentos alternados e braços em
circundução como no atual nado crawl (Catteau e Garoff, 1990).
(COSTA, 2010). Neste livro, o autor descreve o nado peito como a forma de nadar
que todos deveriam aprender.
75
Colwin (2000) relata que foram quatrocentos anos de predominância do nado
peito. Inicialmente, o nado peito era executado com os pés em flexão plantar, empur-
rando a água com o dorso do pé. Nos séculos XVI e XVII, a cabeça ficava fora da
água todo o tempo. No século XVII, Thevenot em seu livro recomendava o ensino
do movimento dos braços do nado peito em pé (Figura 3) com a água na altura dos
quadris, como se pode ver na figura abaixo. Apenas no século XIX começou-se a
utilizar a perna do nado peito com os pés em extensão plantar, empurrando a água
com a sola dos pés.
76
Na mesma época, na Alemanha, o ensino do movimento era feito pendurando o
praticante em barras paralelas com o corpo fixo por correntes que passavam no peito
e no abdômen do indivíduo, como se pode ver na figura 5. Tais procedimentos de
“natação a seco” mostravam-se ineficientes e nada agradáveis segundo Colwin (2000).
Em 1922, foi lançado um livro com
ilustrações de um aparelho desenvolvido
para que até dez praticantes executassem
ao mesmo tempo o movimento na água,
suspensos e presos por cordas e cinturões.
O aluno aprendia a nadar com o auxílio de
um cinto de couro que o mantinha em segu-
rança em cima da água, mas que, no entanto,
dava falsa liberdade e dificultava a movi-
mentação dos nadadores, proporcionando
segurança, mas não adaptava os nadadores
adequadamente. O nado era inicialmente
aprendido fora da água em quatro tempos
em pé (Figura 6), depois o nadador era preso
no aparelho que não o permitia sair do lugar Figura 5. Prática de ensino em correntes
(Figura 7) (CATTEAU e GAROFF, 1990). (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.40).
77
Figura 7. Aparelho para ensinar a nadar (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.43).
78
Figura 9. Aparelho de Trotzier (CATTEAU e GAROFF, 1990, p.44).
Em 1798, surge Guts Muths, alemão que popularizou o ensino da natação, passando
sua pedagogia para muitas pessoas ao mesmo tempo. Ele insiste no método com o uso
de artefatos para flutuação. Seu método era dividido em três partes: adaptação do
indivíduo na água, exercícios fora da água e exercícios específicos de natação dentro
da água (FERNANDES e COSTA, 2006).
Em 1797, o italiano De Bernardi mudou a visão da pedagogia da natação, voltando
seus estudos à flutuação, afirmando que os artefatos utilizados como auxílio na flutuação
e no aprendizado dos gestos desestimulavam os aprendizes (BONACELLI, 2004).
Hermann Ladebeck, em 1914, descreveu uma metodologia para iniciantes com
o objetivo de adaptá-los à água, com movimentos de saltos, saídas, movimentos de
pernadas em decúbito dorsal, antes da aprendizagem dos estilos de nado. Também
sem a utilização de aparelhos sustentadores, Kurt Wiessner, em 1925, da Alemanha,
pode ser considerado como um dos precursores de uma pedagogia mais moderna,
baseada na compreensão da capacidade natural do corpo em se sustentar na água
(FERNANDES e COSTA, 2006).
Catteau e Garoff (1990) desenvolveram um método fortemente influenciado
pela psicomotricidade, com claras preocupações utilitárias, onde o ensino da natação
é tratado com caráter menos tecnicista.
A primeira competição oficial de natação foi organizada pela Sociedade Britânica
de Natação, na Inglaterra, em 1837, na qual o estilo adotado pelos atletas era o
nado peito. No Brasil, somente em 1898, após a fundação dos primeiros clubes, foi
instituído o primeiro campeonato brasileiro, constituído de uma única prova (1.500
metros), disputada em águas abertas no Rio de Janeiro com regularidade até 1912
(FERNANDES e COSTA, 2006).
Colwin (2000) relata que a braçada do nado crawl já havia sido utilizada há
NATAÇÃO
muito tempo, no entanto, durante a Idade Média desapareceu da Europa, por causa
da crença de que epidemias poderiam ser disseminadas com os banhos ao ar livre.
79
Assim, as pessoas preferiam nadar peito com o rosto fora da água. Existem indícios
de que a braçada do nado crawl tenha sido criada por povos oceânicos, onde a maior
flutuabilidade proporcionada pela água salgada pode ter facilitado a recuperação
aérea do braço.
Em 1870, Arthur Trudgeon, um instrutor inglês de natação viajou para a América
Latina e observou o estilo alternado de nadar. E levou para a Inglaterra o nado “trudgeon”,
hoje conhecido como nado crawl com perna tesoura. Consistia de movimentos de cir-
cundução antero-posterior, alternada dos membros superiores (como no nado crawl)
e movimento de membros inferiores parecido com o executado no atual nado peito.
O nado costas que até hoje é o único nado oficial realizado em decúbito dorsal
(Figura 12) foi incluído nos Jogos Olímpicos de 1904. Inicialmente, o nado costas era
feito com movimentos dos braços simultâneos e pernada do peito. Em 1920, o nado
costas imitava o crawl em decúbito dorsal com pernas alternadas, como é até hoje, e
braços alternados, com fase aérea flexionados e fase aquática estendidos. Em 1930,
80
o nado costas era chamado de “crawl de costas de Kiefer”, com braçadas alternadas
com recuperação e puxada com braço estendido. Para só depois se transformar no
nado costas que conhecemos hoje (COLWIN, 2000).
E o nado borboleta (Figura 13) surgiu da evolução do nado peito apenas na década
de 1940, inicialmente com perna do nado peito, para depois se transformar no nado
borboleta moderno (COLWIN, 2000).
81
adota elementos comuns entre todas as formas de nado como a base do aprendizado:
as unidades de equilíbrio, de respiração e de propulsão.
No Brasil, começou-se a estabelecer uma visão do ensino da natação em 1978,
com a publicação do livro de Machado intitulado “Pedagogia da natação”, com a
descrição da etapa de adaptação ao meio líquido até então ignorada. Outra obra que
influenciou fortemente a pedagogia de ensino da natação no Brasil foi “A natação:
ciência e técnica para a preparação de campeões”, de Consilman , lançada no País em
1980, que tem sua data original de 1968.
A literatura sobre natação disponível hoje no Brasil apresenta dois enfoques prin-
cipais: livros com sequências pedagógicas prontas para serem copiadas ou livros que
tratam de treinamento desportivo para a natação competitiva.
Fernandes e Costa (2006) relatam que:
“Os maiores desafios enfrentados por cada professor de natação são: superar
a noção de que aprender a nadar se resume ao domínio técnico dos quatro
estilos; valorizar o aluno como alguém que já traz um saber consigo;
considerar o aluno membro ativo no processo de aprendizagem, mudar sua
postura diante dos objetivos a serem alcançados”.
82
Para Damasceno (1997), este conceito é reducionista tratando as práticas aquáticas
com caráter puramente mecanicista. As práticas aquáticas podem proporcionar uma
amplitude de experiências motoras, psicológicas, sociais e afetivas se tratada de forma
mais ampla, respeitando objetivos e necessidades além da natação competitiva,
aceitando as diversas formas de se nadar, recrear e deslocar em meio líquido. Muitas
vezes formas que estão muito mais presentes no cotidiano das pessoas do que os
quatro estilos da natação.
Ainda para Damasceno (1997) a natação:
Segundo Santana e Dalla Déa (2009), em uma visão mais generalizada, a natação
pode ser definida como: a habilidade de autopropulsão e autossustentação em meio
líquido. As autoras relatam que desta forma a natação se torna uma atividade inclusiva,
respeitando as individualidades e diferentes formas de nadar. Dizem ainda que as
informações referentes às técnicas dos quatro estilos são importantes para facilitar
a movimentação em meio líquido tornando-se um elemento de motivação para a
prática, e não um engessamento para a amplitude de diversidade possível de vivências
motoras no meio líquido.
NATAÇÃO
Figura 14. Fotografia de Vanessa Helena Santana Della Déa. Bebê nadando.
83
A maneira como o professor conceitua e considera a natação será determinante
para o tipo de intervenção que este irá proporcionar para seus alunos. O conceito mais
tecnicista leva a proposta didático-pedagógica, que visa prioritariamente à melhora da
técnica e do tempo, embasada na aprendizagem e aperfeiçoamento dos quatro estilos
da natação. Neste tipo de intervenção a busca pela técnica e menor tempo atropela
o respeito pelas características do praticante. Tal procedimento deveria ser utilizado
exclusivamente quando se busca a natação competitiva. No entanto, a natação
tecnicista e competitiva tem caráter de exclusão, pois são poucas as pessoas que tem
como objetivo a competição e que tenham condições físicas, sociais e psicológicas
de atingir os melhores tempos e a melhor técnica de movimento.
Se a natação for considerada como a habilidade de autopropulsão e autossusten-
tação em meio líquido este esporte se torna uma atividade de caráter inclusivo, assim,
mesmo um bebê (como na Figura 14) é capaz de nadar. Neste contexto, a técnica é
fundamental para melhorar a autopropulsão e a autossustentação no meio líquido.
No entanto, caso o aluno não obtenha a técnica considerada perfeita e o menor tempo,
o que é muito mais frequente do que o inverso, ele mesmo assim estará nadando.
Assim, pessoas com menor flexibilidade articular que não tenham condições físicas de
executar o movimento ótimo da braçada do nado crawl, como é o caso de grupos com
necessidades especiais, como idosos e sedentários. Ainda neste contexto, a natação
não se resume nos quatro estilos (crawl, costas, peito e borboleta) existem muitas
formas outras de autopropulção e autossustentação em meio liquido, proporcionando
uma vivência motora e psicológica muito rica e diversa.
A natação poder ter como foco principal alguns objetivos. Estes devem ser determinados
com bom senso dependendo das necessidades e anseios do praticante, podendo ter
como foco principal:
• Condicionamento físico: priorizando a melhora das capacidades físicas (força,
flexibilidade, resistência, coordenação e equilíbrio motor), com objetivo de melhorar
a aparência e a funcionalidade corporal.
• Competitivo: tem o objetivo de obter registros de tempo cada vez mais inferio-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
84
pessoas sem deficiência caracterizada que apresentam desvios motores, cognitivos
e/ou psicológicos.
• Recreativo: A atividade aquática recreativa pode ter duas vertentes: a natação
recreativa ou a recreação aquática. A natação recreativa tem como objetivo central
o ensino dos nados por meio de uma pedagogia lúdica. A recreação aquática tem
como objetivo brincar, se divertir por meio de atividades lúdicas sem a preocupação
de melhorar sua habilidade em meio líquido.
• Utilitário: o nado utilitário é aquele que busca uma forma de nadar com segu-
rança, isto é, nados que buscam evitar o afogamento por meio do autossalvamento.
Segundo Santana, Tavares e Santana (2003), o ensino da natação com aspecto utilitá-
rio maximiza o papel social do professor da educação física, tornando-o um colabo-
rador na prevenção de afogamentos. Proporcionar aos alunos a prática dos nados
utilitários possibilitará que eles vivenciem diferentes situações em meio líquido,
que poderão ser importantes se os mesmos se defrontarem com uma situação de
perigo, podendo inclusive diminuir o número de afogamentos.
Santana e Dalla Déa (2009) relatam algumas das muitas vantagens da prática
corporal aquática, como:
• Superfície instável e não rígida:
Na prática aquática o movimento é realizado sem que haja uma superfície
rígida e estável exigindo assim um controle de corpo diferenciado e uma vivência
corporal nova e específica.
• Resistência da água:
A resistência causada pelo meio líquido proporciona uma sobrecarga natural
ao movimento que é mil vezes maior que se o mesmo movimento fosse execu-
tado fora deste. Esta sobrecarga proporciona o implemento de força e equilíbrio
diferenciado.
• Redução do peso corporal:
Em uma piscina com profundidade onde a água atinja até o pescoço do indi-
víduo, a redução corporal é de 90%. Esta redução proporciona maior facilidade ao
movimentar-se, com maior mobilidade o praticante pode executar movimentos
difíceis ou impossíveis de serem executados fora do meio líquido, ampliando sua
vivência corporal.
• Retorno sanguíneo facilitado:
Como veremos ao estudar hidroestática, quando estamos em pé na piscina a
pressão hidrostática proporciona melhor retorno sanguíneo, aumentando a irrigação
NATAÇÃO
85
Principais mudanças ocorridas em meio aquático
Terra Água
Velasco (1997) relata que “estar e agir em meio aquático é diferente de estar e agir
em meio terrestre”.
86
Todas as alterações apresentadas anteriormente assim como os benefícios da
prática aquática são impostos pelas propriedades físicas do meio líquido.
Propriedades físicas do meio líquido
Hidrostática
Hidrostática são forças do meio líquido que agem sobre o corpo com a imersão
total ou parcial deste, mesmo que não haja movimento.
Inicialmente alguns conceitos podem auxiliar na compreensão, como a diferença
entre massa, peso e densidade corporal. Para Bonachela (2001), massa é a quantidade
de matéria que uma substância compreende que pode ser mensurada em centímetros
ou metros cúbicos, enquanto peso, é esta massa mais a força com a qual esta é atraída
no sentido do centro da Terra, isto é a massa mais a força da gravidade ou ainda é a
quantidade de peso quantificada em uma balança comum.
Já a densidade tem relação com o tipo de matéria que compreende a massa e é
calculado por meio da relação entre massa e volume (D=m/v). A densidade tem
relação direta com a flutuação, enquanto peso e massa, não. Por exemplo, um prego
com poucos gramas afunda rapidamente no meio líquido, enquanto toras de madeira
de mais de 100kg flutuam, isto se dá pelo fato de a madeira ser menos densa que o
ferro, apesar das toras serem muito mais pesadas que o prego (BONACHELA, 2001).
O mesmo acontece com uma pessoa obesa e outra hipertrofiada. Pode ser que
NATAÇÃO
estes dois indivíduos tenham exatamente o mesmo peso e a mesma altura, no entanto
a pessoa obesa flutuará com mais facilidade que a pessoa com grande quantidade
87
de tecido muscular. Isto acontece por que o tecido adiposo é menos denso que o
tecido muscular.
A água do mar tem maior densidade (1024 kg/m³) que a água piscina (1000 kg/m³),
assim, no mar é mais fácil flutuar que na piscina. A densidade do corpo humano é aproxi-
madamente 950 kg/m³ por isso flutua. No entanto, esta é uma média, existem pessoas com
maior densidade que 950 kg/m³ então afundam mais, e pessoas com menor densidade
que flutuam com maior facilidade.
Este fato também facilita a compreensão do por que as mulheres geralmente têm
maior flutuabilidade que os homens, a maior concentração de tecido adiposo disposta
nos quadris e abdômen facilitam a flutuação (Figura 15).
Dentre as leis da física no meio líquido as mais importantes e mais citadas pelos
autores (BONACHELA, 2001; CATTEAU e GAROFF, 1990; PALMER, 1990) são
o Princípio de Arquimedes e a Lei de Pascal.
Segundo Palmer (1990), um matemático grego chamado Arquimedes (287-212
aC) descobriu os fundamentos da flutuabilidade ao tomar banho em sua banheira
notou que quando entrava a água nas laterais aumentavam. Assim, o Princípio de
Arquimedes diz que: “Quando um corpo está completo ou parcialmente imerso em
um líquido, ele sofre um empuxo para cima, que atua em sentido contrário a força da
gravidade, igual ao peso do líquido deslocado”.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
88
Loss e Castro (2010) o empuxo, ou Princípio de Arquimedes, é a principal
força estática, e que este acontece por que a água, como qualquer outro fluido, fará
pressão sobre um corpo que nela tenha sido imerso, como se tentasse “ocupar o lugar
deste corpo”. Esta pressão é maior de baixo para cima, pois existe uma diferença
entre a profundidade onde se encontra a parte inferior e a parte superior do corpo,
empurrando-o para cima (Figura 16).
O empuxo age como se amarrássemos balões de hélio em um corpo fora da água.
Os balões puxam o corpo para cima, fazendo uma força contrária ao do peso deste
corpo, no entanto o peso não diminui. Da mesma forma, o peso de um corpo submerso
em meio líquido não diminui, mas o empuxo o empurra para cima. Se o peso for superior
ao empuxo este corpo afunda.
Para completar o entendimento das forças estáticas é preciso entender a Lei de
Pascal, também conhecida como pressão hidrostática, segundo ela: “A pressão do
líquido é exercida igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo imerso
em repouso, a uma determinada profundidade”.
Bonachela (2001) relata que a pressão hidrostática é aumentada de acordo com:
a densidade do líquido (salgado), profundidade da piscina em que o corpo se
encontra e profundidade que a parte do corpo se encontra. Se imerso em líquido
com maior densidade, como é o caso da água do mar, o corpo irá sofrer maior pressão
hidrostática do que se estivesse em um meio menos denso. Da mesma forma, quando
flutuamos em uma piscina de menor profundidade a pressão hidrostática é menor do
que o inverso. Assim, em piscinas onde permaneço verticalmente com o pé encostado
no fundo desta fazendo hidroginástica vivencio menor pressão hidrostática do que
quando estou na mesma posição com cinto flutuador fazendo aula de corrida em
flutuação em piscinas de grande profundidade. E ainda quanto mais fundo encontra-
-se uma parte do meu corpo maior será a pressão que este sofrerá. Assim, ao fazer aula
de hidroginástica em pé, meus pés sofrerão uma pressão maior em relação aos meus
joelhos, no entanto os joelhos sofrem pressão maior que os quadris, da mesma forma
os quadris sofrem maior pressão que o tórax e assim por diante. Esta pressão maior na
parte inferior do corpo e menor na parte superior proporciona a melhora do retorno
sanguíneo, como se fosse um trabalho de drenagem linfática.
Ao saltar na aula de hidroginástica, tanto o empuxo quanto a pressão hidrostática
proporcionam menor impacto nas articulações do que se estivesse saltando no solo.
O peso hidrostático é o resultado da diferença entre o peso corporal e todas as
forças que auxiliam a flutuação. Como vimos quanto mais imerso um corpo estiver no
meio líquido maior serão as forças estáticas que favorecem a flutuação, assim quanto
mais funda é a piscina em que o indivíduo está imerso e em pé, menor será seu peso
hidrostático. A tabela a seguir apresenta os valores de redução do peso corporal quando
NATAÇÃO
89
Altura da água Homem Mulher
Pescoço 90% 92%
Tornozelos 2% 2%
Loss e Castro (2010) relatam que outro fator importante, apesar de não ser uma
força, para entender a ação do meio líquido sobre o corpo é a chamada tensão super-
ficial. Esta tensão é como uma camada elástica que se forma na superfície da piscina
e está relacionada com a diferença de pressão entre os dois lados da interface. As
moléculas que ficam na parte interna da piscina interagem com as demais moléculas
em todas as direções. No entanto, as moléculas que se encontram na superfície da
piscina só interagem com as que estão do lado de dentro da piscina, sofrendo uma ação
de atração para dentro do líquido. Todas estas pressões fazem com que a resistência
oferecida a um corpo em movimento na água seja maior quando se está mais próximo
da tensão superficial. Assim, um nadador ao se impulsionar na borda sofrerá menos
resistência e deslocará com maior velocidade se mantiver o corpo completamente
submerso até iniciar os movimentos com membros superiores.
Hidrodinâmica
90
Quando os nadadores deslocam-se por meio da água, exercem forças contra
o arrasto que fazem com que o meio entre em movimento. Algumas destas forças
promovem a propulsão do corpo para frente e outras o retém.
Assim, a propulsão final será a diferença entre o arrasto resistivo (que a água e seus
movimentos oferecem) e as forças propulsivas (executadas pela força do movimento
do nadador).
Quanto mais denso for o líquido maior será o arrasto resistivo. No entanto, é
importante saber que o aumento do arrasto não se dá apenas em função da densidade
e do movimento da água, mas principalmente pela forma causada pelo movimento do
nadador. Este arrasto é chamado de arrasto de forma.
Maglisco (1999) relata que existem três categorias de arrasto: arrasto de forma,
arrasto de onda e arrasto friccional. O arrasto de forma é causado pelo porte e forma
do corpo dos nadadores em seu deslocamento propulsivo na água.
Os objetos com menos resistência de forma são objetos com forma afilada pois
provocam menor resistência ao se deslocar em meio líquido do que objetos com
cantos quadrados, mesmo que estes tenham a mesma área de superfície (Figura 17).
A parte afilada permite que a direção das moléculas da água ultrapassem o objeto
mudando de direção de forma muito gradual e o final afilado também permite que
as moléculas retornem a sua posição inicial sem que haja tanta turbulência. Os peixes
possuem forma ideal para deslocar em meio líquido.
+ - + -
pela da frente (MAGLISCO, 1999). Isto se dá por que a sucção posterior funciona
como uma esteira que puxa o nadador de trás, facilitando seu movimento.
91
Palmer (1999) relata que os melhores nadadores geralmente possuem ombros
largos e tórax profundos que convergem para um quadril estreito e para pernas
alongadas, o que caracteriza um corpo com menor resistência de forma.
Resistência frontal
Atrito epidérmico
Sucção posterior ou
resistência de esteira
92
Maglisco (1999) lembra que é preciso que os nadadores encontrem um meio
termo em manter o corpo em um alinhamento horizontal no entanto com pernadas
suficientemente profundas para ter contato adequado com o meio líquido para que
estas sejam eficientes, mas não tão profundas a ponto de aumentar desnecessariamente
a área ocupada pelo corpo. O mesmo autor relata que o alinhamento lateral também é
importante, que movimentos laterais excessivos do corpo também podem aumentar
a superfície de contato do corpo na água aumentando assim a arrasto de forma.
e um menor arrasto de forma, pois quanto mais se levanta a cabeça para respirar mais
as pernas afundam resultando em uma posição mais vertical.
93
Figura 21. Respiração lateral.
Loss e Castro (2010) relatam que nos Jogos Olímpicos de Pequim as roupas dos
nadadores foram projetadas na tentativa de minimizar o arrasto friccional, em sentido
contrário, nos Jogos Olímpicos de Sydney, ainda com a intenção de minimizar o
atrito da água com o corpo, o convencional tratamento de piscinas feito com cloro
foi substituído por um tratamento à base de ozônio, que diminuía a densidade da
água e, assim, a fricção desta no corpo do atleta.
Todas estas informações são utilizadas como base para o desenvolvimento
da técnica dos nados oficiais da natação. O professor de natação que conhece a
94
hidrostática e a hidrodinâmica é capaz de favorecer a vivencia em meio líquido de
forma a buscar o melhor movimento respeitando as características de cada aluno
e respeitando também estas leis.
95
Grupos muito heterogêneos procuram a atividade aquática pela busca da autoes-
tima, por indicação médica, para fugir do sedentarismo, para fazer amizades, ou por
outros diversos motivos. O que nos espanta é a capacidade desta atividade de suprir
tantos desejos e ainda de mostrar um caminho seguro para se alcançar o amor, conhe-
cimento pelo corpo, e o equilíbrio psicológico e motor. Le Bouch (1992) afirma que
“a imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras
e a sua maturidade”. Portanto a atividade aquática pode ser considerada como fator
agente na imagem corporal de seus praticantes. Acreditamos que a atividade aquática,
com todas as suas qualidades, possa ser um fator estimulante para as descobertas
corporais e consequentemente para a formação da imagem corporal.
Notamos que grupos de pessoas obesas permanecem na atividade aquática durante
mais tempo do que permaneceria em uma atividade terrestre. Podemos atribuir este
fato primeiramente às propriedades físicas da água, que facilita os movimentos e os
deslocamentos (na água com a profundidade ideal para a hidroginástica, uma pessoa
com 100kg pesará apenas 30kg (BONACHELA, 2001)); e, posteriormente, aos
benefícios psicológicos proporcionados pelo meio líquido que agirão diretamente na
imagem corporal destas pessoas.
Diversos autores, como Merleau Ponty, afirmam que o indivíduo só vai ser um
corpo inteiro quando ele se movimentar e descobrir suas deficiências e eficiências.
Transferimos este pensamento para as pessoas que tem dificuldades de mobilidade,
como é o caso dos obesos, das gestantes, dos idosos e da maioria da população que se
encontra no sedentarismo: é preciso que se movimentem e que descubram que apesar
de suas limitações, são muito eficientes e só precisam de um meio que os permitam
explorar-se, o meio aquático.
A piscina é um meio estimulador de sensações. Neste ambiente, estamos imersos
e acolhidos pela água por todos os lados, e, como já vimos, o corpo é apresentado
para nós através de sensações. Envoltos no meio líquido somos mais leves, ágeis e
as imperfeições são escondidas através do movimento da água o que nos faz ver um
corpo eficiente, e ainda sentimos o carinho e o relaxamento que um meio aquecido
e aconchegante pode nos proporcionar causando uma impressão de bem-estar físico.
No meio líquido não existem apoios fixos e a força gravitacional é quase nula, o que
favorece a execução dos movimentos mais amplos. Dentro da água, o corpo fica
mais leve, as articulações ficam mais livres de impactos, e podemos nos movimentar
com maior facilidade e segurança, beneficiando, dessa forma, uma ampla vivência e
percepção corporal com menor exigência motora.
Para Schilder (1980), a imagem corporal e suas mudanças vão depender de nossa
percepção. Quando percebemos um objeto ou quando construímos a percepção de
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um objeto, não agimos meramente como um aparelho perceptivo. Esta percepção vai
depender do novo modo de perceber e do modo que agiremos em relação a esta per-
cepção. Nossa percepção dependerá de nossas emoções, de nossa personalidade e das
zonas erógenas que fluem através do nosso corpo. E completando o pensamento de
Schilder (1980) precisamos de vivências perceptivas para desenvolver uma emoção
perante estas.
Os trabalhos da neurologia dividiram o cérebro em áreas de interpretação, como a
área primária e secundária visual, auditiva, gustativa. A imagem corporal é a junção des-
tas partes do cérebro (neurologia) com a plasticidade e a sensibilidade deste (psicologia).
Segundo Lapierre e Aucouturier (2004), o ponto de vista neurofisiológico nos
ensina que o ser humano é movido pela conexão de três sistemas:
• O sistema cérebro-espinhal, que compreende o córtex ou camada cerebral, os
centros subcorticais, a medula espinhal e as ramificações dos nervos raquidianos e
cranianos. Este sistema tem como receptor a musculatura estriada, os músculos da
vida de relação, encarregados de assegurar a mobilidade das diferentes partes do
corpo; ele também é a sede, em sua parte cortical, dos fenômenos de consciência,
de percepção e de memorização.
• O sistema simpático e parassimpático cujos receptores são os músculos lisos que
asseguram as grandes funções: nutrição, circulação, respiração.
• O sistema hormonal que, modificando a composição do meio interno, assegura
a regulação do conjunto.
97
EC – Área do Esquema Corporal: onde todos estes estímulos se encontram
influenciando a imagem corporal.
Para Rocha (s/d), a atividade aquática é uma ferramenta para atingir uma melhora
psicológica significativa, facilitando o desenvolvimento psicomotor, coordenação
motora e socialização.
Segundo alguns autores, como Vicente Bonachela (2001), a atividade aquática
promove os seguintes benefícios quanto aos aspectos psicológicos:
• Faz bem ao ego das pessoas, fazendo-as sentirem-se ativas, confiantes, capazes
de vencerem dificuldades.
• O bem estar físico e mental proporciona uma vida saudável.
• Proporciona a integração e a sociabilização.
• Estimula a autoconfiança, passando a sentir-se segura dentro da água.
• Diminui a ansiedade, está sempre de bem com a vida.
• O aprendizado de novas habilidades traz satisfação pessoal.
• Passa a conhecer melhor seu corpo, suas limitações.
• Passa a ter uma aparência mais jovial, fica mais descontraída e confiante.
A natação tem uma característica psicológica que é vista como um grande desafio
de vida para muitas pessoas: o MEDO. E é preciso muita sensibilidade ao desafiar o
medo das pessoas. É comum ouvirmos: “Se eu aprendi a nadar depois de adulto posso
fazer qualquer coisa”. Desta forma, as pessoas atribuem sua imagem corporal e todas
as suas possíveis realizações ao ato de aprender a nadar. Assim sendo, professor carrega
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
98
No relato de um aluno (J.C.C.), do curso de natação do Sesc, ele diz que enquanto
faz aula: “Me vejo como uma criança que engatinha para aprender a andar, no meu
caso aprender a nadar”. Podemos avaliar aqui a importância dada pelo aluno ao aprender
a nadar relacionando-a a uma atividade tão importante na vida de uma criança que é
aprender a andar.
Outra aluna da natação (L.F.S.A.) ressalta suas sensações: “Nas duas primeiras
aulas, me vi com muito medo, mas na última (3a.) já me senti segura. Não estou
preocupada se meus colegas estão mais adiantados que eu, o que importa é que estou
superando meus “limites”. A própria aluna coloca os “limites” entre aspas, o que
me leva a crer que ela está falando dos limites com uma generalização e não das
dificuldades na água.
Notamos que em alguns dos alunos envolvidos neste trabalho nas primeiras aulas
se sentem constrangidos e pouco à vontade em trajes de banho. Com o passar das
aulas, eles vão obtendo um melhor relacionamento com aquele corpo que não estava
acostumado a utilizar-se de poucas roupas. Observamos que os alunos nas primeiras
aulas andam rapidamente para a extremidade mais próxima da piscina e entram
rapidamente na água, nitidamente tentando se esconder. Agora alguns destes já se
permitem caminhar em volta da piscina para chegar ao local da aula, e após a aula vão
conversar com o professor fora da água se deixando mostrar. Acreditamos que o fato
de se sentirem bem na aula e no grupo os faça sentir melhor e relacionar-se melhor
com seu corpo, o que é uma mudança na autoimagem corporal. Buscaglia (1993)
afirma que a formação da autoimagem é criada a partir de noções que cada um tem
sobre seu corpo, mente, capacidades e incapacidades, preferências ou não preferências,
associadas a um número infinito de características aprendidas da personalidade, como
ser amoroso, exigente, compreensivo ou rejeitado. As pessoas aprendem e constroem
sua personalidade a todo momento, aprendem quem são através de experiências
individuais e com outras pessoas.
“Na água, a habilidade de um corpo flutuar é importante na maioria das atividades
aquáticas, fazendo com que o indivíduo diminua o seu peso hidrostático e, conse-
quentemente, as força compressivas que atuam nas articulações principalmente nas
de membro inferiores, reduzindo assim o estresse e provavelmente as lesões articulares”
(BONACHELA, 2001). Por conter tantos benefícios exercícios de flutuação (empuxo)
são utilizados constantemente na hidroginástica e é a base dos estilos da natação.
Quando flutuamos colocamos nosso corpo na posição horizontal, posição utilizada
quando dormimos. Porém, permanecer nesta posição, sem estar apoiado em nenhum
lugar fixo e ainda fazendo movimentos, é uma vivência corporal que só acontece
nestes exercícios. Por esta razão o corpo terá que se adaptar para obter o equilíbrio
e o controle corporal necessários para esta nova posição. Modificando o esquema
NATAÇÃO
corporal e causando uma imagem corporal específica. Velasco reforça esta afirmação
dizendo que “quando se aprende a nadar organiza-se em termos neuropsicomotores,
99
isto é, obtém significações das sensações proporcionadas pela motricidade aquática,
que causa uma resposta adaptativa que é mais emocional que cotical, então percebe-
mos as diferenciações da atividade aquática da cotidiana (terrestre) e nos adaptamos
a esta percepção”.
Segundo Nakamura (1998), o ambiente aquático atrai todas as idades, divertindo-
-os durante um tempo prolongado, por meio da recreação, quando se pratica como
atividade alegre e descontraída. Pudemos nos certificar do bem estar psicológico que a
água proporciona em uma pequena pesquisa realizada com os alunos do Sesc Campinas
quando perguntamos o que a água traz para estes, e as respostas foram as seguintes:
• Relaxamento, tranquilidade e disposição;
• Bem estar;
• Liberdade, alegria, o melhor remédio para mim;
• Leveza, bem estar, consigo dormir bem;
• Calma, relaxamento e firmeza nas articulações afetadas;
• Tranquilidade, relaxamento, coordenação;
• Alegria, bem estar e disposição;
• Bem estar e tranquilidade;
• Calma e tranquilidade;
• Prazer, relaxamento;
• Relaxante;
• Paz interior;
• A água me traz vida, me sinto bem antes, durante e depois da natação.
100
• O aluno professor: estão sempre prontos para ajudar e dar umas “dicas” para seus
amigos com mais dificuldades.
• O aluno “mãe”: toma conta dos que tem medo sempre que o professor se ausenta,
se preocupa e defende as pessoas com mais dificuldades.
• O aluno competitivo: pode estar executando o movimento errado, mas não
deixa de maneira alguma nenhum companheiro chegar à frente.
Observamos também que nas aulas de atividades aquáticas alguns estereótipos
estabelecidos socialmente são desmistificados.
Miller (1995) explica que um estereótipo é uma crença determinada por um
julgamento de um grupo da sociedade, que é transmitido amplamente para o res-
tante da sociedade, que caracteriza algumas pessoas como semelhantes e com certas
características. Como por exemplo: as loiras são sensuais ou que não são inteligentes.
Estas rotulações proporcionam e incentivam comportamentos como obsessão pela
aparência, racismo, preconceito, desigualmente e discriminação.
Muitas vezes o estereótipo que a sociedade cria para alguns grupos sociais mani-
festa-se, atribuindo-lhes um status inferior. Não os vemos como criaturas semelhantes
a nós, capazes de atender aos padrões normais da sociedade, ou pelo menos, não tão
quanto nós. Expressamos para eles, através de muitos meios depreciativos, mesmo
sem querer, sua posição inferior (BUSCAGLIA, 1993).
Assim as pessoas com necessidades especiais são consideradas menos capazes,
mas é comum ouvirmos a frase “Olha aquela velhinha como é boa na hidroginástica”.
A água permite que pessoas idosas, obesas, gestantes, com problemas musculares,
articulares e com outros “problemas terrestres” superem suas limitações e se torne
uma pessoa condicionada, sociabilizada, eficiente, satisfeita consigo mesmo e com
uma maturação de sua imagem corporal.
Na pesquisa realizada no Sesc observamos que algumas pessoas relatam que gos-
tam da atividade aquática porque na aula elas deixam de desempenhar papéis sociais
(mãe, mulher, trabalhadora) e são elas mesmas, isto é um descolamento dos papéis
sociais para ter um contato maior com o próprio corpo.
101
Técnica: É o padrão predeterminado econômico e eficaz para atingir deter-
minado objetivo
Habilidade: Ato que requer movimento, que é intencional e aprendido a fim de
ser executado corretamente.
Capacidade: Um conjunto de condições necessárias para realização de uma
atividade. As capacidades motoras têm forte componente genético, mas é um potencial
que pode ser desenvolvido. As capacidades motoras não têm zero na escala, isto é,
o aluno quando vem para a natação ou hidroginástica possui capacidades motoras,
mesmo que estas estejam abaixo do esperado, mas não é nula.
Weineck (1999) relata que as capacidades motoras básicas são: força, velocidade,
resistência, coordenaçao e flexibilidade. Para ele, força é entendida como a energia
(contração muscular) necessária para vencer uma resistência e pode ser dividida
em força geral ou específica. Um atleta de natação quando busca um trabalho com-
plementar de força na academia de musculação ou outros locais, pode trabalhar de
forma mais geral, trabalhando a força geral que é a contração muscular, que serve de
substrato para habilidades motoras. Ou pode fazer um trabalho mais específico para
melhorar a força específica, ou o desenvolvimento da contração muscular necessária
para execução de uma habilidade motora particular. Neste caso, vão ser feitos trabalhos
direcionados para a prática da natação e para os movimentos e exigências físicas
utilizados naquele momento.
Outra capacidade física relatada por Weineck (1999) é a flexibilidade, que é con-
ceituada como a capacidade e a característica de um atleta de executar movimentos
de grande amplitude. Na natação, a flexibilidade de ombros e de tornozelos pode
facilitar proporcionando um nado mais hidrodinâmico e mais eficiente. A flexibilidade
também pode ser trabalhada de maneira mais geral ou específica. Já a resistência é a
qualidade física que permite continuado esforço, proveniente de exercícios pro-
longados, durante determinado tempo. Como a natação é um movimento cíclico e
repetitivo, a resistência é uma capacidade física bastante desenvolvida com sua prática.
A velocidade é a qualidade física particular do músculo que permite a execuçao
de uma sucessão rápida de gestos que constituem uma ação. A velocidade está mais
presente na natação competitiva, onde seu objetivo nem sempre é saúde do partici-
pante. Quando trabahada de forma coerente e a velocidade pode trazer beneficios
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
102
habilidade motora “tem zero na sua escala” (WEINECK, 1999), isto é, a pessoa que
nunca vivenciou a natação não tem nenhuma habilidade natatória. Isto parece óbvio,
mas é desconsiderado por parte dos professores de natação. Quando uma pessoa
nunca fez natação, devemos passar por todos os processos de adaptação e aprendizagem
aquática, desde o equilíbrio estático vertical em meio líquido, este equilíbrio em des-
locamento, para só então entrar na posição horizontal, e só após proporcionar todas
as bases (de respiração, flutuação, e propulsão) iniciar o ensino dos estilos. É muito
comum, porém totalmente incorreto, iniciar um aluno na atividade aquática com o
batimento de pernas dos estilos, muitas outras habilidades devem ser desenvolvidas.
Estas habilidades são denominadas adaptação aquática.
As habilidades motoras podem ser consideradas como abertas ou fechadas. Para
Weineck (1999), as habilidades são abertas quando o ambiente é imprevisível
podendo influenciar no resultado como tênis, basquete, futebol. E são fechadas
quando o ambiente é previsível, não influência no resultado, como bicicleta ergomé-
trica, caminhada. A natação é considerada como uma habilidade fechada pela maioria
dos autores, no entanto, considerá-la desta forma resulta em uma pedagogia de ensino
que a aborde como fechada.
Existem alunos que após aprender a nadar os quatro estilos ainda passam por
dificuldades em meio líquido podendo até chegar ao afogamento. Vivenciamos em
nossa prática uma aluna adulta que entrou em nosso programa sabendo nadar os
quatro estilos razoavelmente, e, após constatar esse fato com um pequeno teste, esta
foi encaminhada para uma turma de aperfeiçoamento. No entanto, em um dia de
aula ao solicitar que ela nadasse o estilo crawl em determinada metragem, quando
ela estava na parte funda da piscina, uma criança jogou a prancha em sua frente.
Ao encostar na prancha a aluna achou que havia chegado na borda e a segurou.
No entanto, como a prancha não é um local fixo como a borda, esta afundou e a aluna
começou a entrar em afogamento. Neste momento, pulei na água e a retirei da piscina.
A aluna nos explicou que desde que entrou na natação não havia aprendido a flutuação
vertical ou horizontal nem ir até um pedaço da piscina e voltar sem segurar na borda.
Sempre nadou até o outro lado, segurava na borda e voltava. A aluna em questão não
havia passado por um adequado programa de adaptação a natação e já foi iniciada na
técnica dos estilos. Este é um exemplo claro de que ensinar os quatro estilos e adaptar
ao meio líquido são coisas diferentes.
Neste contexto, é importante saber que existem vivências aquáticas que são fun-
damentais para a segurança em meio líquido. As informações de adaptação aquáticas
deste capítulo foram baseadas em nosso livro lançado em 2003, intitulado “Nadar
com Segurança: prevenção de afogamento, adaptação aquática e resgate e salvamento
aquático” (SANTANA, TAVARES E SANTANA, 2003).
NATAÇÃO
103
distintas (FITTS e POSNER, 1967). Logo que uma nova habilidade é apresentada o
indivíduo passa pela fase cognitiva, esta fase é marcada por grande número de erros
grosseiros, os movimentos são difíceis de serem executados e o indivíduo tem que
se concentrar muito para conseguir executar o movimento. Nesta fase, o iniciante
consegue executar apenas um movimento por vez (de membro inferior ou superior),
algumas vezes, mesmo movimentos já automatizados são confundidos quando unidos
a novas habilidades. Ainda na fase cognitiva o indivíduo não apresenta feedback
intrínseco, isto é, não reconhece seus erros sozinho, é preciso que alguém aponte
onde estão os erros. Após repetir algumas vezes a nova habilidade os erros diminuem
e tendem a ocorrer apenas nos detalhes das habilidades, esta fase é denominada de
associativa. Nesta, o executante já apresenta algum feedback intrínseco, isto é, consegue
reconhecer alguns erros sem que outra pessoa aponte, mas não consegue corrigir seus
erros sem apoio externo. Já após mais repetições o indivíduo entra na fase autônoma.
Nesta, ele realiza a habilidade sem grande demanda de atenção, já consegue realizar
outra tarefa simultaneamente e pode detectar e corrigir seus próprios erros. Cada
pessoa tem seu tempo para passar de uma fase para outra. Este tempo depende de
experiências anteriores e de maior facilidade para a habilidade, assim, o número de
repetição de uma determinada habilidade para sua aprendizagem deve repetir as
necessidades individuais. Algumas pessoas aprendem os movimentos da natação
(habilidades aquáticas) com maior facilidade, passando pelas fases mais rapidamente
e automatizando o movimento antes. Outras demoram mais e necessitam de maiores
informações, paciência, bom senso e repetição da habilidade.
Tani et al (1988) relata que existem características presentes no aluno iniciante
que devem ser conhecidas e respeitadas no processo de aprendizagem motora.
A primeira é que o iniciante dirige sua atenção a um número demasiado de estímulos
ao mesmo tempo, faltando-lhe concentração para executar a nova habilidade com
tranquilidade, assim tem dificuldade de lidar com muitas informações ao mesmo tem-
po. Relatam que lhe falta habilidade de reconhecer sua performance, como já foi rela-
tado anteriormente. Falta-lhe confiança e segurança, o que certamente influenciará no
movimento, é importante que o professor de natação transmita segurança e confiança
para o iniciante para melhor performance. Quando se aprende uma nova habilidade é
comum executar mais contrações musculares do que as que seriam necessárias para o
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
104
o professor deve fazer as correções necessárias, no entanto, sempre “uma correção
de cada vez”. Proporcionando assim tempo para o raciocínio, para a incorporação do
movimento e uma aprendizagem prazerosa sem estresse.
Respeitar as fases da aprendizagem, as necessidades e possibilidades do aluno
iniciante são importantes formas de manter a motivação para a atividade. No entanto,
existem outras ações que podem ser tomadas no sentido de manter a motivação
no processo de aprendizagem. Uma delas é mostrar a importância da tarefa para a
evolução da habilidade e/ou capacidade motora. Existem exercícios que para o aluno
pode parecer inútil ou desnecessário, no entanto é fundamental para o processo,
explicando o objetivo deste, o professor contextualiza a prática tornando a execução do
exercício prazerosa e eficaz. Em qualquer processo de aprendizagem ou treinamento
é fundamental determinar metas, que devem ser traçadas a longo, médio e curto
prazo e estarem claras para o aluno, fazendo com que este acompanhe sua evolução
e se sinta motivado durante todo o programa. O aluno iniciante se desmotiva com
suas dificuldades, lembrar constantemente suas conquistas pode ser outra forma de
mantê-lo motivado, mesmo que estas sejam pequenas. Para a quebra da monotonia e
motivação constante é fundamental apresentar novos desafios, no entanto também é
fundamental que estes sejam realmente palpáveis, pois senão irão frustrar mais ainda o
aluno. A criatividade para variação dos movimentos é sempre muito bem vinda e uma
ação de motivação importantíssima. Com a criatividade, movimentos já conhecidos
e repetidos muitas vezes tomam uma aparência diferente. Mas a mais importante das
regras motivacionais é sempre respeitar as diferenças e a individualidade. Lembramos
que cada pessoa tem uma velocidade para ganho de capacidades e habilidades motoras
que dependem diretamente de diversos fatos, como genética, experiências anteriores,
deficiências, condições socioeconômicas, condições psicológicas, entre tantas outras.
Assim, planejamento, criatividade, bom senso e respeito são características básicas do
bom professor de práticas corporais aquáticas.
Outro fator importante quando se discute aprendizagem de movimento é a forma
como que se passa a informação para o aluno deste para sua execução. O tipo de infor-
mação mais usual é a informação verbal, na qual o professor apresenta uma imagem
do movimento a ser realizado por meio da fala, desde posição inicial dos membros à
postura, o que observar ou perceber, erros e acertos. No entanto, existem pessoas que
são muito mais visuais do que auditivas. Para estas, a informação verbal é muito mais
difícil de ser entendida do que a demonstração, ou seja, a informação visual. Assim,
se o professor falar o que quer que o aluno faça, e também demonstre corretamente,
irá facilitar o entendimento da nova habilidade física. Mas ainda existem dois outros
tipos de informação como a cinestésica ou proprioceptiva (SCHMIDT, 1993). Neste
tipo de informação o aluno sente em seu próprio corpo a posição das articulações, o
NATAÇÃO
movimento que deverá ser realizado pelo músculo, orientação espacial dos membros
e/ou do corpo. A informação cinestésica é transmitida quando o professor realiza o
105
movimento com o corpo do aluno. Por exemplo, no movimento do braço do nado
crawl o professor segura no cotovelo e na mão do aluno posicionando o braço deste
na posição do movimento que deseja que o aluno execute. Ainda pode-se citar a
informação tátil. Nesta, o aluno toca o professor que executa o movimento para sentir/
entender como este deverá ser executado. Este tipo de informação é bastante utilizado
no caso de ensino para pessoas com deficiência visual ou cegas. No entanto, pode ser
bastante útil para indivíduos que têm dificuldade em compreender o movimento.
Para Silva e Couto (1999) existem alguns princípios que devem ser considerados
em uma proposta didático-pedagógica que visa o ensino de novas habilidades motoras.
Entre elas, está iniciar a aprendizagem de um movimento já conhecido e ir progressi-
vamente dando complexidade até chegar ao movimento desconhecido, ou seja, na
habilidade que se pretende ensinar. Um exemplo é quando for iniciar a perna do nado
borboleta iniciar com a perna do nado crawl, indo de um movimento alternado já
conhecido para um movimento simultâneo desconhecido. Outro aspecto que deve
ser considerado no ensino de habilidades é partir sempre do movimento simples para
gradativamente chegar ao movimento complexo.
No entanto, sempre que se for ensinar qualquer novo movimento Santana e
Dalla Déa (2009) lembram que o princípio básico e mais importante é respeitar a
individualidade de cada aluno.
Conhecer os paradigmas de alguns autores de obras sobre natação nos faz refletir
de forma positiva sobre nossa própria prática, exigindo assim a conscientização e a
adequação do trabalho.
Segundo o livro “Metodologia da Natação” (MACHADO, 1978), a sequência
pedagógica do aprendizado da natação pode ser dividida em cinco unidades, que
podem ser desenvolvidas através de exercícios e jogos:
1. Ambientação ao meio líquido: tem o objetivo de que todos os alunos se
tornem amigos da água, com vontade de vê-la e senti-la, principalmente nesta fase os
jogos são bastante utilizados.
2. Flutuação: capacidade que tem um corpo de se manter na superfície de um
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
líquido sem nenhum auxílio. Os objetivos a atingir nesta fase são: imersão completa,
mas prolongada, prova de flutuação, flutuação em decúbito ventral e flutuação em
decúbito dorsal.
3. Respiração: objetivos desta fase: imersão completa com apneia, imersão
completa, mas prolongada, respiração aquática.
4. Propulsão: é a capacidade que tem o corpo de se locomover dentro da
água com os próprios recursos, depende do trabalho conjunto de pernas e braços.
Os objetivos desta fase são: noção de propulsão, propulsão de pernas e de braços.
106
5. Mergulho elementar: entrada na água de diversas maneiras: sentado, em
pé, mergulhos.
Para Palmer (1990), em “A ciência do ensino da natação”, antes de pensarmos qual
atividade aquática básica vamos ensinar primeiro, devemos principalmente, reconhecer
o fato de que, quando se entra na água, entramos em um ambiente estranho, por isso,
nossa primeira preocupação deve ser ensinar as pessoas a sobreviverem na água.
E diz ainda que, ser capaz de nadar um estilo básico, não significa estar seguro na água.
O autor chega a conclusão que existe algo mais na natação do que simplesmente saber
nadar algum estilo e que por isso, devemos levar em consideração algumas atividades
básicas de locomoção na água antes de ensinar os estilos mais formais.
Segundo o autor, o ensino da natação deverá ter a seguinte sequência pedagógica
quanto à fase de adaptação:
1. Exercícios de confiança: o autor dá várias sugestões de brincadeiras onde
o aluno irá realizar diversos movimentos dentro d’água, como andar, correr e saltitar.
Através dos jogos, o aluno aprenderá, subconscientemente a necessidade de dominar
e também usar a resistência natural da água;
2. Flutuação: o autor descreve várias maneiras de flutuação como: cogumelo
(grupada com a cabeça para baixo), pronada e supina;
3. Recuperação do pé na posição pronada e supina: antes do aluno realizar
diversos movimentos na parte rasa da piscina, o professor deve estar absolutamente
seguro que seus alunos sejam capazes de recuperar a posição em pé tanto da posição
de costas (supina), como da posição frontal (pronada);
4. Impulsão e deslizamento pronado e supino: os deslizamentos são rema-
nescentes das posições normais da natação. O nadador adota uma posição estendida e
aerodinâmica para um melhor resultado e, além disso, é fundamental para a realização
das saídas e viradas. Portanto, é importante que o aluno se habitue, desde o começo,
a estes movimentos;
5. Nado cachorrinho: o nado cachorrinho é importante, pois faz com que o
aluno, depois de ter passados pelas etapas anteriores, seja capaz de se sustentar com os
pés elevados e avançando pela superfície. Porém, antes de ensinar esse nado o professor
deve estar seguro que seus alunos se sentem razoavelmente “em casa” na água pois, mais
importante que isto, é o aluno saber como recuperar seus pés firmemente sobre o
fundo após uma atividade na piscina. Segundo o autor, o nado cachorrinho pode ser
realizado de frente (decúbito ventral) ou de costas (decúbito dorsal).
Em “Pré-escola da natação” Turchiari (1996), buscando uma natação cons-
ciente e segura, diz que devemos ter extremo cuidado com a iniciação a natação,
respeitando-se a potencialidade de aprendizado da criança na faixa dos três aos seis
anos. Chama a iniciação de “pré-escola de natação”, e diz que também poderá ser
NATAÇÃO
utilizada em adultos, adequando conforme a faixa etária. Essa fase é um dos pontos
mais importantes a serem desenvolvidos, a fim de que se realizem todas as suas
107
possibilidades e características voltadas para a ambientação ao meio, além de adquirir
habilidades complementares e básicas indispensáveis para o desenvolvimento global
em natação. O autor propõe a seguinte sequência:
1o. Reconhecimento do ambiente externo e interno da piscina: ambientação
do local em que irá desenvolver-se a aprendizagem, tanto externa (ao redor da piscina)
quanto ao meio líquido.
2o. Entrada na piscina: ensinar o aluno a entrar na piscina, assim como senti-la
primeiramente com os pés e sentados na borda.
3o. Reconhecimento da piscina: conhecer as profundidades da piscina.
4o.Controle respiratório: conscientização da respiração (entrada do ar nos pulmões
deverá ser feita pela boca – inspiração e a saída pela boca, nariz ou ambos – expiração).
5o. Contato com a água: exercícios utilizando a respiração para a adaptação a
água, podendo utilizar-se de materiais como canudos, copinhos, bolinhas de ping-
-pong para assoprar, etc.
6o.Submergindo a cabeça na água: o objetivo é afundar totalmente a cabeça
na água, pegar objetos no fundo da piscina é um exercício utilizado.
7o. Flutuação em decúbito ventral: assimilar a passagem da posição vertical (em
pé) à horizontal (decúbito ventral, “deitado de barriga para baixo”) retornando à vertical.
8o. Flutuação em decúbito dorsal: assimilar a flutuação de costas.
9o. Deslocamento sem auxílio de apoio dos pés no fundo: mediante exer-
cícios de execução simples e circulares com as mãos, similares aos realizados pelos
animais (ex.: cachorrinho, pedalar com as mãos).
10o. Adaptação e deslocamento em piscinas com maior profundidade:
fazer a adaptação e contato com profundidades variadas desenvolve na criança
uma maior autoconfiança.
Segundo Lima, em “Ensinando Natação” (1999), a sequência pedagógica para
a aprendizagem dos estilos pode ser enumerada em cinco itens, além disso, o autor
descreve mais três itens que devem ser levados em consideração na natação (saltos,
sobrevivência e salvamento).
1. Adaptação ao meio líquido: o professor deve explorar o máximo as fantasias,
principalmente através de músicas. A música tem como objetivo “quebrar o gelo” no rela-
cionamento entre aluno e o professor, é o elo de comunicação entre ambos e a motivação.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
108
3. Flutuação ventral – dorsal – vertical – lateral: quando o aluno pratica a
flutuação na realidade está percebendo e conhecendo o espaço que o seu corpo
ocupa no meio líquido. Quanto mais variamos o posicionamento do corpo, melhor
tanto para a percepção corpórea quanto para o relaxamento. Pode-se utilizar fantasias
colocando nomes como jacaré, foguetinho, lancha. É importante que o professor
progressivamente faça com que o aluno sinta o espaço que ocupa e a movimentação
das pernas e mãos para auxiliar o equilíbrio e a sustentação do corpo. A presença do
ar nos pulmões, motivo pelo qual o corpo flutua, poderá ser incentivada através
de brincadeiras, como pegar objetos no fundo, passar entre arcos submersos,
flutuação lateral ou imitação de “cachorrinho” durante um determinado tempo
bloqueando a respiração.
4. Propulsão das pernas: deslocamento livres ou exercícios com música na
posição vertical são importantes para a iniciação à pernada. Exercícios na vertical
desenvolvem a percepção global do movimento das pernas e a sensibilidade do aluno
de sentir a perna toda movimentando e a pressão dos pés, vencendo a resistência
da água. Segundo o autor, dificilmente o aluno sente a pressão nos pés quando nos
primeiros movimentos preconizamos a posição horizontal. Saltos na vertical, com os
pés no fundo da piscina, poderá dar noções aos alunos da pernada de peito. O impor-
tante é criarmos exercícios diferentes da posição horizontal, mais difíceis de executar e
perceber, é mais fácil o aluno executar o movimento de andar na posição de flutuação.
5. Propulsão dos braços: segundo o autor, um dos exercícios que ele gosta de
ministrar durante a fase do aprendizado da braçada é a movimentação das mãos para
os lados, através do afastamento lateral dos braços ou com variações, como afundar as
mãos e movimentando em todas as direções, lateral, para baixo ou para trás. Quando
solicitamos aos alunos realizar onda na piscina, objetivamos a variação das mãos nas
diferentes posições. Saltos para frente e mergulho empurrando a água para baixo e
para trás fazem com que o aluno tenha noção de resistência da água.
6. Coordenação das pernas e dos braços.
7. Respiração específica lateral – frontal.
8. Coordenação das pernas/braços e respiração (nado completo).
9. Saltos: atividades básicas do mergulho elementar, exercícios de saltar da borda,
sentado ou em pé, com objetivos de aprender a saltar.
10. Sobrevivência: ensinar os alunos a flutuar num lugar mais fundo do que a
sua estatura durante um tempo determinado. Flutuação nas diferentes posições, como
vertical, horizontal e dorsal. Nadar e alterar as posições. Por exemplo: 10 metros de
crawl, 05 metros de costas, 10 crawl. Deslocar-se na água com colete salva-vidas, de
roupa. Levar os alunos a locais com maior profundidade ou nadar no mar, rios, lagos
etc. Sempre com critérios e sob a orientação dos professores.
NATAÇÃO
109
flutuadores (auxiliar no salvamento). Noções sobre transporte e técnicas respiratórias,
desobstrução das vias respiratórias.
Segundo o livro “Natação Animal”, de Andries Jr (2002), executar os nados da
natação, ou seja, crawl, costas, peito e borboleta é consequência de uma boa relação com
o meio aquático. Fatores como dominar, respirar, flutuar e ter uma boa movimentação
na água são essenciais para nadar os estilos. Quanto mais experiências de adaptação
forem vivenciadas por um aluno que está iniciando, maiores serão as possibilidades
de ele desenvolver sua técnica desportiva ou simplesmente ter uma relação de prazer
com a água. Segundo o autor, estar adaptado ao novo meio significa relacionar-se
com ele, ou seja, entrar na água, envolver-se com ela, aproveitando principalmente o
que ela oferece, como situações de flutuabilidade. Para tanto, é necessário incorporar
novos mecanismos de respiração e de locomoção, bem como diversificar as maneiras
de entrar neste meio. Portanto, por ser um processo pedagógico, o autor divide a fase
de iniciação ao nadar em etapas: primeiros contatos com a água, respiração, flutuação,
propulsão e entrada na água. Com o objetivo de encarar a natação como um processo
lúdico, e para romper com conceitos formais e mecanicistas, relaciona as etapas da
aprendizagem com nomes de animais, criando personagens em cada etapa e, dessa
forma, tornar o processo de aprendizagem mais alegre e prazeroso. Ainda segundo
o autor, é necessário distinguirmos as estratégias que serão utilizadas com os adultos,
das estratégias que serão utilizadas com as crianças. Fica estranho falar a um adulto
para que “jogue água para cima e imagine que é a chuva”, como uma criança não
irá entender se lhe dissermos que entre na água devagar e ande apenas sentindo-a.
Para ela, provavelmente isto será desmotivante. As brincadeiras, os jogos, as músicas
e outros elementos lúdicos para a faixa etária infantil são comuns com uma estratégia
lúdica, mas nada impede que nas aulas de adultos não tenha algum jogo ou alguma
brincadeira para tornar a aula mais descontraída e divertida.
seu trabalho para as características do grupo envolvido, ao local das aulas, aos ma-
teriais disponíveis e ao número de participantes. Nem sempre temos as melhores
condições para o ensino, porém com um objetivo tão nobre: “a sobrevivência das
pessoas em caso de emergência”, devemos ser persistentes e executar nosso trabalho
da melhor forma possível.
Nossa atividade aquática visa o seu comprometimento social com as necessidades
dos indivíduos, proporcionando um processo de educação corporal, visando à ampliação
do repertório motor dos participantes, incentivando a prática autônoma e conscientiza
110
sobre a importância da inclusão de exercícios físicos na agenda diária, agregando valores,
mas que acrescentem qualidade de vida aos praticantes.
Valorizamos nossa atividade, pois elas não têm fim em si mesmo, isto é, não
ensinamos a natação pensando simplesmente no aprendizado de técnicas e sim em
valores que proporcionem mais condições de lazer (recreação aquática voluntária) e,
principalmente, segurança pessoal.
Apesar de não ser um trabalho direcionado para crianças, utilizamos como
soma do trabalho apresentando aqui elementos lúdicos em oposição aos índices de
resultados, mobilizando o desejo e o imaginário, dos procedimentos cognitivos à
emotividade dos participantes.
Por se tratar de uma atividade com excessivo envolvimento psicológico, por meio
de medo e ansiedade, acreditamos na importância de respeitar as individualidades.
Com bom senso, o profissional conseguirá um equilíbrio entre as aspirações indivi-
duais e as necessidades de sociabilização do seu público.
Com um número grande de vivências motoras aquáticas proporcionaremos a
possibilidade do autoconhecimento corporal, através da teoria e da prática, conheci-
mento este que influenciará na qualidade de movimento diário deste indivíduo.
Em nosso grupo de alunos, com a metodologia utilizada, estimulamos a participação
agrupando pessoas que tenham por interesse percorrer os caminhos da adaptação
aquática, permitindo, assim, a participação dos menos hábeis (física e tecnicamente)
com pessoas que já tenham alguma vivência no meio líquido, mas que buscam mais
conhecimento, entendendo assim a importância da inclusão de todos no programa de
uma atividade repleta de benefícios físicos e psicológicos: a natação.
Apesar de não utilizar o ensino dos quatro estilos da natação (crawl, costas, peito e
borboleta) como artifício único para a prática da natação, principalmente na adaptação
aquática, não descartamos a importância destes no desenvolvimento de habilidades
motoras na água. Dividimos nosso trabalho em duas vertentes: a adaptação ao meio
líquido, e o ensino e aperfeiçoamento dos quatro estilos, utilizando-os como maneira
de adquirir condicionamento físico necessário para uma maior qualidade de vida do
aluno. Esta divisão se mostra eficiente para um trabalho que respeita a individualidade
do praticante e atinge os objetivos do programa que podemos definir como:
1o. Adaptação ao meio líquido: constitui-se em um processo de alfabetização
aquática, voltado para pessoas que possuem fobia de piscinas ou que tenham dificul-
dades em determinados princípios da adaptação ao meio líquido. Com o objetivo de
proporcionar vivências motoras que levem à segurança, ou seja, à técnica de sobrevi-
NATAÇÃO
vência total em meio líquido. Nesta fase, o aluno vivenciará uma metodologia que visa
à adaptação ao meio líquido, transpondo o medo da água, com segurança, levando-o
111
ao prazer de estar em meio líquido. Proporcionar técnicas de sobrevivência aquática
individual, o deslocamento na posição decúbito dorsal e ventral com o ensino da
técnica dos nados crawl e costas e informações sobre prevenções de afogamentos.
Esta fase será descrita neste livro.
2o. Aperfeiçoamento da natação: A segunda fase desta proposta visa o
desenvolvimento das habilidades do aluno no meio líquido, através do aperfeiçoa-
mento do crawl e do costas, do ensino de viradas, de saltos e de vivências motoras
diversas (submersões, cambalhotas, bananeira, pegar objetos no fundo da piscina) do
ensino e aperfeiçoamento do peito e borboleta. Com objetivo de proporcionar uma
atividade que auxilie na melhora da qualidade de vida dos alunos, com o desenvol-
vimento de resistência, força, velocidade e flexibilidade proporcionando benefícios
físicos, psíquicos e sociais.
vezes nenhuma, porém ele sabe caminhar. Nós partimos da caminhada para o ensino
do crawl, já que estes dois elementos tem alguns aspectos em comum (movimentos
alternados, relaxados, pernas ligeiramente flexionadas).
Não podemos nos esquecer que nosso aluno passa a maior parte do tempo de sua
vida em pé, ou seja, na posição vertical, e que a posição utilizada na natação (horizontal)
é uma nova vivência para ele. Sabendo deste fato, criamos uma metodologia que visa
à busca progressiva da posição horizontal. Podemos, como na maior parte das meto-
dologias utilizadas, segurar nosso aluno nos braços e colocá-lo na posição da natação,
112
porém ele terá dificuldades para voltar à posição vertical e não saberá como “deitar na
água” novamente. Por esta razão, nosso trabalho consiste de exercícios progressivos
que induzem o praticante a conquistar a flutuação horizontal através de experiências
positivas e da conquista da segurança individual. Desta maneira, estamos respeitando
mais um dos princípios pedagógicos: do simples ao complexo.
113
4.2.4 Sugestão de divisão de aulas
114
06 Braço do 03- Caminhar e respiração (sapinho).
Crawl 17- Bate perna crawl com prancha.
27- Perna costas com prancha abraçada.
30- Cachorrinho.
31- Na borda: perna crawl e um braço.
32- Na prancha: perna crawl e um braço
33- Na borda: alterna braço crawl.
34- Na prancha: alterna braço crawl.
49- Crawl.
50- Crawl até o meio do percurso e volta sem colocar o pé no chão.
51- Golfinho.
115
11 Braço costas 17- Bate perna crawl com prancha.
e mudança 33- Na borda: alterna braço crawl.
de posição 46- Crawl na prancha (2X1).
49- Crawl.
52- Perna costas com prancha e um braço.
53- Perna costas e um braço.
54- Perna costas alterna braço.
55- Crawl até o meio, vira e perna costas até o final do percurso.
13 Crawl e
Estas aulas terão como objetivo automatizar
14 costas
os movimentos do crawl e do costas
e atender as necessidades individuais
15
Apresentações iniciais
116
Para que aconteça a adaptação do aluno é preciso que este confie e tenha segurança no
profissional. Um discurso evidenciando o profissionalismo e o comprometimento do
professor poderá ser decisivo para a confiança dos alunos no profissional.
• Apresentação dos alunos (descobrir objetivos individuais, cuidados especiais
com medos, respeitar individualidades e diferenças). Consideramos esta fase tão
importante quanto o aprendizado em si, pois através da apresentação individual dos
alunos descobrimos seus objetivos, histórias e possíveis fobias. Através daí, poderemos
conhecê-los melhor e respeitar sua individualidade, não transgredindo seus limites
sem o devido cuidado e assim podemos apagar lembranças negativas no meio líquido.
1. Caminhar: Deslocar pela piscina em diversas direções (frente, costas, zigue-
-zague), velocidades e intensidades (caminhando, correndo, saltando).
2. Respiração com pé no chão: Com os alunos em círculo para que o professor
possa visualizar melhor a execução, inspirar pela boca fora da água e expirar dentro da
água principalmente pelo nariz.
Figura 22.
Figura 23.
117
5. Caminhar com macarrão tirando os dois pés do chão: Esta atividade tem
como objetivo proporcionar a progressiva obtenção da posição de flutuação ventral.
Com o macarrão embaixo das axilas, tirar os pés do chão com a elevação dos dois joelhos,
a altura desta elevação vai depender do nível do aluno, devemos respeitar os seus limites.
Figura 24.
Figura 25.
A B
A B
C D
Figura 26. C D
118
8. Respiração com macarrão, flutuação ventral sem ajuda: Idem ao
anterior sem a ajuda do companheiro. Muitas vezes alguns alunos se soltam antes dos
outros, então devemos unir os alunos com dificuldade e permitir que continuem se
ajudando enquanto os outros fazem sozinhos.
9. Bate perna na borda: Para iniciar o movimento das pernas do crawl
utilizaremos o auxílio da borda da piscina, pois esta proporciona maior estabilidade
ao corpo. Com as mãos apoiadas na borda executar o movimento da perna do crawl
(pernas alternadas e semiflexionadas, com pés soltos e estendidos, movimento de
pequena amplitude e rápido). Incentivar o aluno a executar o movimento de forma
que seus pés não joguem água para cima, nem que fiquem muito abaixo da linha da
água, isto é, a planta dos pés aparece fora da água fazendo “espuma” na água.
Figura 27.
Figura 28.
119
11. Bate perna crawl no macarrão: Idem ao anterior com trabalho individual,
ou seja, sem o apoio do amigo.
Figura 29.
Figura 30.
A B C
Figura 31.
120
14. Perna costas no macarrão: Com o macarrão passando por trás do corpo e
embaixo das axilas, executar as pernas com movimentos alternados, pernas semiflexio-
nadas (soltas), com pés estendidos e soltos, com movimento de pequena amplitude e
veloz, com os pés fazendo “espuma” na água sem tirar os joelhos fora da água.
Figura 32.
Figura 33.
16. Bate perna crawl com prancha e com ajuda: A prancha é um material
muito útil no ensino da natação, pois além de proporcionar menos atrito, oferece um
menor apoio que o macarrão. Idem ao exercício anterior segurando na parte inferior
da prancha. Em duplas, o auxílio do companheiro vai ser fundamental para facilitar a
respiração e dar maior segurança para o praticante.
NATAÇÃO
121
Figura 34.
17. Bate perna crawl com prancha: Idem ao anterior sem a ajuda do
companheiro.
Figura 35.
18. Perna costas com prancha atrás da cabeça: Com o objetivo de adquirir
a progressiva conquista da flutuação dorsal, a perna do nado costas com a prancha
atrás da cabeça é um passo fundamental. Se for preciso podemos utilizar a ajuda do
companheiro.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 36.
122
19. “Tartaruga”: Como continuação do trabalho realizado no exercício número
05. Este exercício marca o início da independência total do praticante de qualquer
apoio, seja ele um dos materiais ou a ajuda do companheiro ou do professor, por esta
razão ele merece uma atenção especial para que acidentes não aconteçam e este se
torne um problema e não uma resolução para este objetivo. Para executar o exercício
o aluno deverá submergir o rosto na água, soltando o ar calmamente, elevar os joelhos,
abraçá-los e permanecer alguns segundos nesta posição enquanto executa a expiração,
soltar os joelhos, apoiar os pés no chão e elevar a cabeça para a inspiração. As dificuldades
individuais devem ser consideradas e respeitadas, alguns alunos irão abraçar comple-
tamente os joelhos deixando seu corpo na forma de uma “Tartaruga”, redondinho,
outros, porém, poderão sentir-se inseguros ainda e apenas encostar as mãos nos
joelhos e voltar rapidamente. O papel do professor responsável será respeitar este
limite e incentivá-los a conseguir o objetivo progressivamente.
Figura 37.
principalmente dos alunos que apresentam mais medo da água. Para recuperar
a posição vertical quando estamos na posição de deslize em decúbito ventral
123
(na horizontal), o movimento dos braços será de fundamental importância. Se ao dirigir
as pernas em direção ao chão utilizarmos os braços (que estão estendidos à frente) com
o mesmo movimento, ou seja, dirigindo as mãos em direção ao chão, adquiriremos
maior equilíbrio na água e o retorno à posição vertical será mais rapidamente.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 38.
124
o que explicamos. Para que se tenha total tranquilidade neste movimento, podemos
executá-lo em dupla, onde o auxiliar irá dar segurança apenas estando atento e próximo
para possível necessidade ou ajudando ativamente. O movimento consiste em aquisição
da posição horizontal do corpo, com braços e pernas estendidos, soltos e imóveis,
e posteriormente, transferindo para a posição vertical com os pés no chão da piscina.
23. Deslize sozinho: Idem ao exercício 22, sem o auxílio do professor ou
companheiro.
24. Respiração parafuso: Este exercício tem como objetivo proporcionar uma
nova vivência corporal no meio líquido, permitindo que o aluno “brinque” com as for-
ças da água. Inicialmente, o praticante deverá executar a expiração submersa na água, e,
enquanto expira, executar um giro em cima dos pés, utilizando-se dos braços e mãos.
Figura 39.
25. Perna costas com prancha abraçada com ajuda: Este exercício marca a
troca do apoio do macarrão para o menor apoio que a prancha oferece, caminhando
em direção à independência na flutuação dorsal. Em duplas, o auxiliar irá dar segurança
para o companheiro apoiando levemente em sua nuca. Instruir o auxiliar para ir dimi-
nuindo este apoio se for possível, isto é, sem permitir que seu amigo afunde o rosto
na água. A prancha deve ser posicionada sobre o abdômen, com os braços abraçando
esta, executando a perna da mesma forma explicada no exercício número 14.
26.Perna costas com prancha abraçada: Idem ao exercício anterior, sem o
auxílio do companheiro.
NATAÇÃO
Figura 40.
125
27. “Jacaré” (deslize com perna crawl): Com o corpo em flutuação na
posição horizontal e ventral, os braços estendidos à frente, mãos unidas, executar a
perna do crawl. Quando for respirar, colocar os pés no chão.
Figura 41.
Figura 42.
126
maiores dificuldades, com os pés apoiados no chão. O objetivo do curso de iniciação
à natação não é dar detalhes técnicos do melhor movimento, mas proporcionar infor-
mações básicas para um movimento eficiente e de fácil aprendizagem. Por esta razão,
não transmitiremos informações como as especificidades do movimento aquático
(movimento do “S”). No entanto, informaremos ao nosso aluno que se na fase aérea
mantermos os braços flexionados, com o cotovelo como a parte mais elevada, resultará
em um movimento mais suave sem exigir demais da articulação dos ombros; e que o
objetivo da fase aquática é apoiar o braço na água à frente da cabeça e empurrar esta
em direção das coxas. Executar algumas vezes o braço direito, depois repetir com o
braço esquerdo. Se tiver utilizado primeiramente este movimento com os pés no chão,
exercitá-lo com as pernas do nado crawl antes de passar para a próxima fase.
31. Na prancha: perna crawl e um braço: Idem ao exercício anterior (número
30), com o apoio da prancha.
32. Na borda: alterna braço crawl: Idem ao exercício número 31, alternando os
braços enquanto expira o ar na água.
33. Na prancha: alterna braço crawl: Idem ao exercício número 33, com o apoio
da prancha.
34. Flutuação dorsal com ajuda: Uma eficiente flutuação dorsal é fundamental
para a sobrevivência aquática sem muito gasto de energia. Algumas informações pode-
rão facilitar esta aprendizagem, como por exemplo: quando os pulmões estão cheios
de ar, o tronco funciona como uma poderosa boia, e o corpo com os músculos mais
relaxados ficam mais leves na água. O auxiliar será muito importante neste aprendizado,
diminuindo progressivamente o apoio que está proporcionando. Consideramos o
apoio na nuca e na lombar como o mais apropriado nesta ocasião.
Figura 43.
127
decúbito dorsal. Estar expirando no momento da recuperação irá evitar um possível
engasgamento no caso do rosto ser submerso. Repetir as informações dadas no exercí-
cio número 13 para facilitar a recuperação da posição vertical do corpo.
A B
C D
Figura 44.
companheiro: Esta atividade de fundo lúdico é recebida pelos nossos alunos com
muita diversão. Proporciona uma nova vivência corporal aquática já que a maioria
dos alunos em questão, antes do curso, nunca atingiu o fundo da piscina com a mão.
O exercício é executado em duplas, sendo que um dos participantes permanecerá
em pé com as pernas afastadas, e o outro se colocará à frente deste. O executante
deverá efetuar a expiração no meio líquido, permitir que o companheiro o direcione
para baixo de suas pernas afundando-o, e executar movimentos que o auxilie para
atingir seus objetivos.
128
36. Perna costas com ajuda: Em duplas, com o auxiliar segurando na nuca
do executante, corpo na posição horizontal, decúbito dorsal, braços ao lado do corpo,
executar o movimento das pernas do nado costas descrito no exercício número 14.
37. Perna costas: Idem ao anterior, sem o auxílio do companheiro.
38. Sobrevivência vertical: Esta atividade será fundamental para a sobrevivência
aquática, caso o nadador tenha que parar por qualquer motivo em um local em que a
profundidade não o permita colocar os pés no chão. Com o corpo na posição vertical,
utilizar movimentos circulares dos braços e pernas (perna de peito alternada). O ideal
é vivenciar diferentes movimentos de pernas e braços para descobrir qual é o melhor
movimento para cada indivíduo.
Figura 45.
Figura 46.
129
40. Uma mão na prancha: respiração lateral: Idem ao exercício anterior
(número 39), com o apoio de uma das mãos na prancha.
Figura 47.
130
A B
C D
Figura 48.
131
distância da piscina, transição da posição de decúbito ventral para dorsal passando
pela lateral, e perna do nado costas.
C
Figura 49.
53. Costas: Idem ao exercício 54, porém os braços deverão ter movimentos simultâ-
neos, sendo que quando um braço estiver ao lado do corpo o outro estará entrando na água.
54. Crawl até o meio e volta de costas sem colocar o pé no chão (mudança
de direção e de posição): Nadar crawl até uma determinada distância do percurso da
piscina e voltar com pernas de costas sem colocar os pés no chão.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
A B
C D
Figura 50.
132
Costas até o meio do percurso, vira, e crawl até o final (mudança de
direção): Nadar costas até determinado percurso da piscina, virar de decúbito
dorsal para ventral passando pela posição lateral sem colocar os pés no chão, e nadar
crawl até o final do percurso .
Figura 51.
ou exposição oral.
133
Texto adaptado do livro
SANTANA, V. H.; TAVARES, M. C.; SANTANA,V. E. Nadar com segurança. São Paulo:
Editora Manole, 2003 (Livro da professora formadora Vanessa H. Santana Dalla Déa).
responsáveis pela propulsão nos nados crawl, costas e borboleta. Apenas movimentando
os membros superiores a maioria dos nadadores atinge 90% de sua velocidade máxima.
O movimento de membro superior dos quatro estilos é composto por duas fases: aérea
e submersa. A fase aérea tem como objetivo a recuperação do posicionamento inicial
de forma rápida, utilizando pouco gasto energético, sem aumentar as forças resistidas,
com um posicionamento inicial que favoreça a busca pelo fluxo laminar. A fase submer-
sa ou aquática é responsável pela propulsão, tem o objetivo de satisfazer os princípios
hidrodinâmicos já citados nesta apostila e fornecer vantagem mecânica para ação dos
134
músculos. O papel dos membros superiores e inferiores na propulsão dos estilos da natação
variam. No nado crawl, costas e borboleta, os membros inferiores são importantes
agentes na sustentação adequada do corpo e auxiliam na propulsão. No nado peito, os
membros inferiores têm principal função de propulsores e auxiliam na sustentação.
A seguir, serão apresentadas as técnicas do movimento do nado crawl. Lembramos
mais uma vez que a técnica correta deve ser utilizada no sentido de favorecer a propulsão
do corpo, sempre respeitando as necessidades e condições individuais. As técnicas
dos nados não deve ser um engessamento de movimentos como único objetivo da
natação, como já foi dito. No entanto, o conhecimento destas propicia que o professor,
com bom senso, adéque o movimento do aluno, facilitando a propulsão e tornando
a natação uma prática mais prazerosa e eficiente.
Desenvolvimento técnico do
nado Crawl
Posicionamento do corpo: Em
decúbito ventral, o corpo permanece o
mais horizontalmente possível, realizan-
do movimentos de rolamentos laterais
em seu eixo longitudinal.
Posicionamento da cabeça: Na
expiração, o rosto permanece em contato
com a água, mantendo o nível da água
na parte superior da testa, direcionando
o olhar para a frente e para o fundo da
piscina. A expiração é realizada pela boca,
nariz ou boca/nariz. A expiração pelo
nariz auxilia para que o nadador execute
a virada, evitando a entrada da água
pelo mesmo.
O movimento para a inspiração é atra-
vés da rotação lateral do tronco e de uma
pequena rotação de pescoço. A inspiração
deve ser realizada pela boca e na onda de
Figura 52. proa, mantendo a boca o mais próximo
possível da água, e acontece no momento
NATAÇÃO
135
Técnica de Braçada
136
Técnica de pernada do nado crawl
Desenvolvimento técnico do
nado Costas
137
Técnica da braçada
Técnica da pernada
com que haja uma pequena elevação do joelho. Os pés deverão estar em flexão
plantar e em inversão.
Movimento ascendente: Na fase ascendente, a perna realizará uma extensão
rigorosa da perna, os pés deverão estar em flexão dorsal e em inversão, procurando
aproveitar bem a pressão realizada pelo dorso de pé e perna.
Coordenação: Para cada ciclo de braçada (dois braços) são realizados seis
movimentos de pernas.
138
5.3 Nado peito
Técnica de braçada
Técnica da pernada
Figura 55.
• A pernada do nado peito requer uma boa flexibilidade tíbio-társica, já que para
um bom posicionamento dos pés, no momento da flexão máxima das pernas e no
decorres da extensão, é necessário realizar dorsiflexão com eversão para que os mesmos
NATAÇÃO
139
• A flexão da coxa sobre o tronco deve ser o suficiente para que os pés não saiam
da água, já que, se houver um abaixamento grande das mesmas, ocorrerá uma grande
resistência frontal ao deslocamento, prejudicando a propulsão.
• A flexão da perna sobre a coxa deve ser máxima possível, aproximando os pés
dos glúteos, obtendo assim uma maior amplitude do movimento.
• Na flexão máxima das pernas, os joelhos devem se posicionar apontados para o
fundo da piscina, e não muito para os lados, ou seja, deve haver uma rotação medial
das coxas, para evitar um grande afastamento destes.
• A trajetória dos pés no movimento de extensão é: a primeira fase da extensão
que é a fase de maior apoio, na abdução das pernas, ao mesmo tempo em que os pés se
dirigem para o lado, também estarão aprofundando. Na segunda metade da extensão,
os pés estarão se dirigindo para dentro e ainda para o fundo (adução das pernas).
• Na finalização da pernada, quando as pernas se estenderem, os pés se unirão
com as plantas uma voltada para a outra, através da flexão plantar e inversão dos pés,
pressionando assim a massa de água presente no interior das pernas.
• O movimento de flexão das pernas (recuperação) deverá ser realizado mais
descontraído (com menor gasto calórico), e a extensão, onde se realiza o apoio
necessário para o deslocamento, deverá ser executada com vigor, maior potência.
Respiração: Durante ao apoio da braçada, isto é, fase inicial da abdução dos braços,
o nadador realizará a elevação frontal da cabeça até a retirada da boca da água e realizará a
inspiração. A expiração será realizada na recuperação dos braços, ou seja, enquanto estes
estão se estendendo à frente da cabeça.
Coordenação entre pernas e braços: A coordenação no nado peito
caracteriza-se por movimentos alternados:
• Apoio da braçada = pernas permanecem estendidas;
• Tração da braçada = pernas permanecem estendidas;
• Início da recuperação da braçada – início da ação das pernas;
• Final da recuperação da braçada = final da ação das pernas (extensão).
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
140
Figura 56.
141
Técnica da braçada
142
Técnica da pernada
5.5 Viradas
Cada um dos estilos da natação possui uma virada específica, no entanto, os nados
crawl e costas apresentam viradas parecidas, assim como o nado peito e borboleta.
A virada dos nados crawl e costas têm como base uma cambalhota realizada
próxima da borda, seguida por um empurrão executado pelos membros inferiores na
borda. No entanto, a propulsão após o empurrão no nado crawl acontece em decúbito
ventral e no costas em decúbito dorsal.
Na virada do peito e borboleta, o movimento básico consiste de encostar as mãos
na borda, depois levar os pés na borda para só então realizar o empurrão.
Após a virada do nado borboleta, realiza-se ondulações na fase de maior propulsão,
e só após inicia-se o movimento dos braços. Já após a virada do peito, realiza-se o
que chamamos de filipina, que consiste de um movimento mais amplo do que o
movimento realizado pelos membros superiores no nado peito e após o movimento
idêntico ao realizado pelos membros inferiores no nado peito.
Estes movimentos podem ser visualizados na figura abaixo.
143
Figura 58.
Figura 59.
144
6. Pressupostos básicos da hidroginástica
145
Pensando assim, propõe-se uma atividade que, além de proporcionar diversos bene-
fícios físico-psico-social, permite que pessoas diferentes entre si tenham a oportunidade
de participar de uma mesma modalidade que tem muitas características que a torna
inclusiva: a hidroginástica.
6.1.1 Empuxo
6.1.2 Flutuação
Flutuando não encostamos os pés no chão, portanto, desta forma, também prote-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
146
Se mudarmos de direção, teremos que vencer novamente a inércia desta massa
que tenderá a continuar se deslocando para a direção anterior.
Isso prova os benefícios de exercícios como correr em círculos em um deter-
minado tempo, depois mudar a direção do deslocamento, ou de deslocar-se para
frente e para trás.
147
6.1.6 Velocidade e/ou amplitude de movimento
148
• Aero/local: Consiste em dividir a parte principal em trabalho aeróbio e localiza-
do. Esta aula pode ser dividida em pré-aquecimento (+ou- 5 min.), trabalho aeróbio
(+ou- 20 min.), trabalho localizado (+ou- 20 min.) e volta à calma (+ou- 5 min.). Esta
também pode ser programada utilizando, por exemplo, de intercalar série localizada e
série aeróbia.
• Circuito: É uma aula composta de várias estações de exercícios, nas quais o
aluno permanece um determinado tempo e troca de estação. A direção das mudanças,
a formação dos exercícios, o tempo de trabalho, o tempo de descanso e os exercí-
cios utilizados são determinados pelo professor, desde que este não desrespeite a
programação do dia.
• Variação de velocidade: Como já diz o nome, nesta aula intercalamos
movimentos mais rápidos e mais lentos. Para que não caia a intensidade da aula
demasiadamente, temos que ter o cuidado de manter a amplitude dos movimentos.
• Intervalada: Esta aula utiliza-se de descanso ativo como intervalo. Podemos
oferecer este descanso através de alternância de grupos musculares ou de trabalhos
localizados e aeróbios.
• Alongamento: Tem como objetivo o relaxamento, alongamento e compensa-
ção de todos os grupos musculares, dando uma atenção especial aos músculos traba-
lhados com maior intensidade nos últimos dias.
• Abdominal: Esta é uma aula que visa o fortalecimento dos músculos abdominais.
Apresentamos, a seguir, um exemplo de quadro direcionador para o programa
de hidroginástica:
1ª Semana do Mês
3ª e 4ª 5ª e 6ª
Material: Luva Material: Macarrão
G.M.P bi / tri / qua G.M pe / co / pos
Método: local Método: Aero / Local
2ª Semana do Mês
3ª e 4ª 5ª e 6ª
149
Siglas
7. Recreação aquática
150
Recreágua – conteúdo proposto
Este trabalho aquático será dividido em quatro grupos de atividades que previlegiem
determinadas faixas etárias, porém, sem excluir pessoas de outras idades que estejam
interessadas em participar:
7.1 Hidrorecreativa
Esta atividade pode ser praticada por qualquer pessoa, mas é especialmente dirigida
para adolescentes e jovens, já que nesta fase a competição está à “flor da pele”. Cabe
aos professores de educação física transformar competição em cooperação por meio
de jogos recreativos, além de desenvolver a resistência, força e velocidade, respeitando
as dificuldades e valorizando as conquistas. Nesse período, os jogos aquáticos são
muito bem aceitos e funcionam como um educador muito eficiente. O polo aquático,
o basquete aquático, o biribol e muitos outros jogos podem ser utilizados com sucesso
no amadurecimento, na socialização e para agregar novas culturas.
O polo aquático é uma opção de atividade recreativa muito bem aceita por jovens
e adultos. É um esporte olímpico que tem regras parecidas com o handebol. As equi-
pes devem tentar jogar a bola dentro do gol adversário, defendido pelo goleiro. Este
jogo foi criado em Londres, na Inglaterra, por volta de 1870. O polo aquático oficial é
praticado em piscinas com no mínimo 20 e no máximo 30 metros de comprimento, no
NATAÇÃO
151
No entanto, o polo aquático recreativo pode sofrer adaptações e ser praticado em
qualquer piscina. Duas regras oficiais que são interessantes para serem mantidas
no polo recreativo são: a bola não pode ser segurada com as duas mãos juntas por
qualquer jogador, com exceção do goleiro; a bola não pode ser afundada por qualquer
jogador quando atacado. Existem dois tipos de bola: uma para as mulheres e outra
para os homens. A bola oficial de polo aquático tem entre 400 e 450 gramas, e perí-
metro entre 68 e 71 centímetros. A bola para o polo aquático recreativo pode ser de
plástico simples e leve, assim, o risco de lesões é menor.
7.3 Brincar na água
O sonho de qualquer criança é que o mundo seja uma brincadeira. E por que não
brincar de nadar? Anexamos, a seguir, uma gincana aquática que poderá ser utilizada
abrangendo todos os objetivos deste trabalho.
Brincar na água
PISCINA INSTRUTOR
MATERIAL PARTICIPANTES
7.4 Atividades
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
152
Figura 59.
Figura 61.
153
Figura 62.
Figura 63.
Figura 64.
154
Formação: Os alunos deverão estar em coluna.
Organização: O primeiro aluno da coluna deverá estar com uma esponja na mão,
posicionando a três metros da borda da piscina, em frente à tigela ou balde.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, a criança deverá andar com a esponja
molhada até a tigela que estará na borda da piscina. Deverá apertar a esponja dentro da
tigela, voltar e passar a esponja para o próximo, dirigindo-se ao final da fila.
Final: Ganha a equipe que encher de água sua tigela primeiro.
7.4.6 O túnel
Formação: Cada equipe deverá formar uma coluna com crianças que saibam
executar um mergulho prolongado (para maior segurança da atividade, o monitor
deverá formar colunas pequenas e, antes de iniciar, propor que os participantes nadem
um determinado percurso por baixo da água para verificar se são capazes de participar
desta brincadeira).
Figura 65.
7.4.7 O garçom
Figura 66.
155
Organização: O primeiro aluno deverá estar com uma prancha na superfície da
água e um ou mais copos sobre ela.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, a criança que está com a bandeja deverá
transporta-lá, andando, até o outro lado, voltar e passá-la para o segundo participante,
e assim, sucessivamente. Caso os copos caiam, o aluno deverá parar, enchê-los nova-
mente e continuar a corrida.
Final: Ganhará a equipe que terminar em menor tempo. (As duas equipes pode-
rão estar competindo ao mesmo tempo, ou sendo cronometrada a participação de
cada uma).
Figura 67.
Figura 68.
156
Organização: O monitor deverá verificar se nenhum dos participantes está
olhando para trás e jogar a ou as moedas na piscina.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, todos os participantes deverão ir à procu-
ra da ou das moedas.
Final: Ganha a equipe que achar mais moedas.
Obs.: Contar quantas moedas são jogadas na água e se todas são recuperadas, para
a segurança das crianças.
7.4.10 Ventania
Figura 69.
Organização: Os alunos deverão estar com as mãos para trás, não segurar a bolinha
e deixá-la na superfície da água, de frente para eles.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, o primeiro aluno de cada equipe deverá
assoprar a bolinha até o outro lado da piscina, bater a mão na borda e voltar levando-a
para o segundo participante. E assim, sucessivamente.
Final: Ganhará a equipe que terminar o percurso de todos os participantes
primeiramente.
Figura 70.
157
Organização: Uma das argolas deverá ser marcada com uma fita. As argolas deve-
rão ser distribuídas pela piscina.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, os alunos deverão cada um pegar uma
argola, sem saber que tem uma marcada, e levá-la ao professor.
Final: Ganhará a equipe cujo participante encontrar a argola marcada.
Figura 71.
Figura 72.
Organização: O primeiro aluno deverá estar com uma bola na mão, e todos no raso.
Desenvolvimento: Ao sinal do professor, o primeiro aluno deverá passar a bola
por cima da cabeça e assim, sucessivamente, até o último. Este, por sua vez, deverá se
158
dirigir à frente do primeiro e passar a bola da mesma forma, até que o participante que
iniciou a atividade volte ao seu lugar de origem.
Final: Ganhará a equipe que terminar a tarefa primeiro.
Formação: Cada participante da equipe deve chamar um adulto que poderá ser a
mãe, o pai ou qualquer outra pessoa, devendo formar uma dupla com esta. As duplas
deverão encostar na parede, sendo que o adulto deverá carregar a criança no colo.
Figura 73.
7.4.16 Espertinho
Figura 74.
chamar um número, o aluno de cada equipe que possuir o número chamado deverá
tentar pegar a bola o mais rapidamente possível.
159
Final: Após todos os números terem sido chamados (não em ordem numérica),
ganhará a equipe que mais vezes pegar a bola primeiro.
4.7.17 Estouradinho
Figura 75.
Figura 76.
160
Organização: Se houver coletes de dois times, determinar qual a cor de colete
será de cada equipe. Misturar os coletes em um “bolo”.
Desenvolvimento: Quando o monitor atirar os coletes na água, os participan-
tes deverão pegar um colete de sua cor, vesti-lo, sair da piscina e ficar em pé um
ao lado do outro.
Final: Ganhará a equipe que todos os integrantes estiverem vestidos e na
posição primeiro.
Obs.: Brincadeira ideal para adultos, podendo também ser executada por crianças.
Material: Garrafas plásticas com tampa e papel com mensagem.
Formação: Os participantes deverão estar encostados na borda e de costas para a
piscina, com as equipes misturadas.
Figura 77.
Organização: Dentro de cada garrafa deverá ter uma questão, que poderá ser
uma conta simples, ou do tipo palavra cruzada, ou adivinhações, dependendo dos
participantes. As garrafas deverão ser distribuídas pela piscina.
Desenvolvimento: Ao sinal do monitor, cada aluno deverá pegar uma garrafa e
levá-la para fora da piscina no menor tempo possível. Os participantes deverão levar
as respostas ao monitor, que deverá anotá-las e corrigi-las.
Final: Ganhará a equipe que acertar o maior número de respostas.
morte acidental dos 4 aos 14 anos, como se pode ver no quadro abaixo, não sendo
mais significante apenas que os acidentes de transporte.
161
Mil MORTALIDADE - CAUSAS GERAIS
BRASIL - 1997
Acidente de Transporte
Afogamento
Agressões
7 Leucemia
Infecção intestinal
6
Pneumonia
5 Congênita
4 Suicídio
3
2
1
0
1a4 5a9 10 a 14 15 a 19
Faixa etária
Imagem adaptada de: Szpilman D. - ano 2000
Figura 78. Adaptada
Dados de: Szpilman
elaborados D. 2000
com base no DATASUS - atestados de óbitos
Dados elaborados com base no DATASENSUS - atestados de óbitos
Estes dados apontam a necessidade de ações especiais para a prevenção do afo-
gamento. Como forma de sensibilizar os usuários das praias, o Corpo de Bombeiros
distribui um panfleto com o texto a seguir, que foi escrito por uma pessoa que passou
por uma situação de afogamento. O texto se inicia solicitando que a pessoa tente
prender a respiração e leia todo o texto. O texto é o seguinte:
“Os últimos segundos de quem está se afogando são mais ou menos assim:
a surpresa de não conseguir subir à tona é substituída imediatamente pela
realidade cruel do que está ocorrendo e que não deseja acreditar. Não, aquilo
não está acontecendo com ele. Alguém já virá salvá-lo e juntos rirão daqueles
momentos apavorantes. Na próxima festa ele já terá assunto para prender
a atenção dos convidados. Mas, naquele exato momento, a única coisa
que ele desejaria prender e não está conseguindo é a respiração. E o pior
é a falta de oxigênio que já não o está deixando raciocinar com calma e
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
162
abusar?”. Está se entregando e só espera por um milagre. Tenta gritar, mas é
inútil. Ninguém pode ouvir a sua voz engasgada com água salgada. Relaxa,
sente a derrota. Assume que vai morrer. Escuridão total”.
163
• Superestimar a própria condição técnica e física. Acontece quando o nadador
nada demais, vai para longe e não consegue retornar, ocorrendo principalmente com
os mais jovens que mais frequentemente têm dificuldades de reconhecer seus limites.
Segundo Szpilman (Timerman, 2000), quase 50% dos mortos no município do Rio
de Janeiro achavam que sabiam nadar;
• Cair de repente em água funda. Pode ocorrer com as pessoas que estão perto
da água, por exemplo, com pescadores amadores, ou mesmo no mar em locais que
há desníveis;
• Acidentes envolvendo barcos pequenos e médios;
• Emergências médicas, tais como ataques cardíacos;
• Acidente que pode surgir após uma refeição exagerada;
• Tentativa de salvamento de outra pessoa sem os conhecimentos técnicos
necessários;
• Outras causas de acidentes aquáticos podem ser citadas como o pânico, a hipo-
termia, e o “apagamento”, ou seja, um desmaio ocasionado pela hiperventilação antes
de atividades de submersão (AMARAL; ROCHA, s/d.).
A classificação do afogamento é utilizada no Hospital de Afogados do Rio de Janeiro
como uma forma rápida e eficaz para o guarda-vidas transmitir o quadro da vítima ao
médico que vai atendê-la. Esta ação proporciona atendimento de maior qualidade e
maior chance de vida para a vítima. Szpilman (2001) classifica o afogamento como:
Resgate: Vítima resgatada do meio líquido sem nenhuma manifestação clínica.
Grau I: Trata-se do afogado consciente, que apresenta tosse, sem espuma na
boca/nariz. Este caso não apresenta nenhum risco de vida.
Grau II: Esta vítima responde ao chamado, apresenta tosse e pequena quantidade
de espuma na boca/nariz. A mortalidade neste caso é de 0.6%.
Grau III: Neste caso, a vítima apresenta grande quantidade de espuma na boca/
nariz, a respiração está presente e o pulso radial é palpável. Temos aí 5.2% de mortes.
Grau IV: Consiste em respiração presente, grande quantidade de espuma na
nariz/boca e o pulso radial não é perceptível. Em 19.4% dos casos acontece a morte.
Grau V: Neste grau, a vítima não apresenta vestígios respiratórios, porém, existem
sinais de circulação (pulso carotídeo). A mortalidade neste caso é de 44%.
Grau VI: No grau 6, a vítima não apresenta sinais respiratórios, nem sinais circu-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
164
informações para que os alunos previnam em outros ambientes este acidente. O
apagamento, como é conhecido na área de salvamento aquático, é uma forma de
desmaio, que ocorre em exercícios de apneia em submersão, e caso a vítima não seja
retirada imediatamente pode ocorrer um quadro de asfixia violenta e aguda por afo-
gamento. Antigamente, ouvia-se falar sobre esses casos somente com mergulhadores
de caça submarina; hoje se sabe de casos em piscinas, onde, na maioria das vezes,
a pessoa competia consigo mesma ou com outros indivíduos para aumentar a distân-
cia percorrida debaixo d’água ou a duração de apneia subaquática. Hiperventilando,
ou seja, inspirando profundamente e por diversas vezes seguidas faz com que o
dióxido de carbono seja liberado, baixando o seu nível, diminuindo assim o reflexo
involuntário da respiração, e então o aviso da necessidade de respirar vem tarde e o
indivíduo “apaga”, ou seja, pode ocorrer uma forma de desmaio, denominado apaga-
mento. As investigações demonstram que esses indivíduos hiperventilam antes de
mergulhar, reduzindo sua pCO2 arterial a níveis em torno de 20 mmHg durante o
período de submersão. A pCO2 pode elevar-se apenas aos valores alveolares usuais de
40 a 44 mmHg, enquanto a pO2 arterial se precipita a níveis de 30 a 40 mmHg, daí
resultando hipóxia cerebral e perda de consciência. Essa prática de hiperventilação é,
pois, perigosa e deve ser desencorajada (LÓPEZ, 1979).
É importante que o professor de educação física saiba também que se a vítima
sobrevive aos cuidados imediatos, deverá ser acompanhada, pois nos próximos
minutos, horas ou dias poderá apresentar alguma complicação decorrente do afoga-
mento como: febre, pneumonia, coma, edema pulmonar, arritmia cardíaca, abscesso
pulmonar, entre outras. Eles devem ser internados e vigiados cuidadosamente. Duas
complicações importantes, que podem ser fatais, são: o edema agudo do pulmão e
as infecções respiratórias (pneumonia e broncopneumonia). Nos afogados em água
doce podemos assinalar hemólise com hemoglobinúria, que poderia ser a causa de
uma necrose tubular aguda. Havendo danos no sistema nervoso pela falta de oxigênio,
poderemos ter sequelas nervosas (ALVES, 1980). O mecanismo de morte no afoga-
mento é um ponto controvertido, e que pode depender de mais de um fator.
É um dever de todo profissional que lida com o meio aquático utilizar-se de algumas
medidas preventivas para minimizar os acidentes. O professor de educação física
poderá incluir em sua programação semestral um momento para proporcionar a
divulgação de medidas preventivas do afogamento utilizando de pedagogias próprias
para cada faixa etária.
Destacamos as seguintes medidas preventivas:
NATAÇÃO
1. Aprender nadar é a regra básica para prevenir acidentes na água. A água não é
o ambiente do homem, e essa inadaptação pode ser causa de acidentes. A prevenção
165
consiste principalmente no desenvolvimento de programas educacionais e de treina-
mento em natação, sobretudo nas escolas e clubes esportivos.
Figura 79.
não possuem noção do perigo, nem mesmo que seja uma poça. Segundo Szpilman
(2001), 89% das crianças afogadas não têm supervisão de adulto.
6. Boias de braço e objetos flutuantes proporcionam uma falsa sensação de
segurança na água.
7. Evite deixar brinquedos próximos da piscina, isto atrai as crianças.
8. Ensine as crianças a nadar com 2 anos ou o mais cedo possível.
9. Não mergulhar de cabeça sem colocar as mãos à frente. Se a água for pouco pro-
funda, a cabeça estará desprotegida, podendo machucá-la ou ainda prejudicar a coluna.
166
10. Conhecer a temperatura e as condições locais da água. É bom escolher locais
seguros para participar de atividades recreativas, verificando se pode haver perigo
como ondas, correntes, vida aquática, objetos debaixo d’água, diversas profundidades,
condições ruins do tempo, etc.
11. Não tentar percorrer grande distância a nado, a menos que um barco conten-
do uma boia ou um cinto salva-vidas acompanhe todo o percurso, pois poderá ocorrer
esgotamento físico.
12. Não realizar hiperventilação, para evitar o “apagamento”.
13. Conhecer algumas noções de socorros de urgência. De acordo com Szpilman
(2001), 40% dos responsáveis de piscinas não sabem realizar primeiros socorros.
14. Vestir-se apropriadamente para a atividade aquática. A sunga e o maiô são os
ideais. Nadar com roupas é mais difícil e cansativo, além de ficarem pesadas quando
estão molhadas.
15. Aprender a sair de situações de emergência individual, como por exemplo, a cãibra.
16. Saber como agir para ajudar a tirar outras pessoas destas situações, tomando
cuidado para também não se tornar uma segunda vítima, pois muitas pessoas
morrem desta forma.
17. Canos, boias, cordas, pranchas de salvamento devem ser sempre colocados à
vista e de fácil acesso para serem usados imediatamente em caso de necessidade.
18. Utilizar-se do colete salva-vidas em embarcações aquáticas, sabendo ou não
nadar, pois no caso da embarcação virar, alguém pode ficar inconsciente ou bater a
cabeça e, assim, é mais provável que se salve.
19. Como o afogamento é responsável por grande número de morte entre
epilépticos, estes devem receber uma atenção especial.
20. Barreiras adequadas em torno de piscinas, grades de 1.50 metros e 12 cm
isolando a piscina, diminuem em 50 a 70% o número de afogamento.
21. Na maioria dos casos, as primeiras pessoas a chegar ao local onde ocorreu o aci-
dente são amigos ou parentes da vítima, o que salienta a importância de se treinar uma
substancial parte da população nas técnicas de recuperação e de respiração boca a boca.
22. Conhecer e respeitar a regras locais.
23. Não superestimar sua capacidade, conhecendo suas limitações. Em 46.6% dos
casos de afogamentos, as vítimas achavam que sabiam nadar.
24. Só pedir ajuda quando realmente necessitar.
25. Não saltar, correr ou perseguir outros em volta da piscina para não correr o
risco de escorregar ou chocar-se com alguém.
26. Antes de mergulhar ou saltar na água, verificar se não há outros nadadores por
perto para não pular em cima deles e ocasionar acidentes.
27. O profissional deve preocupar-se sempre em adicionar conhecimentos sobre
NATAÇÃO
regras de uso e prevenções de acidentes em locais fora da piscina, como rios, praias,
lagos, etc. Passar aos alunos informações como essas são de grande importância.
167
8.2 Manobras de salvamento
Figura 80.
Se não tiver como alcançar a vítima de fora da água, o socorrista poderá atirar
algum objeto flutuante para a vítima e mantê-lo entre eles para evitar que seja agarrado.
Podemos utilizar outros materiais flutuantes, como uma prancha de isopor, material
próprio para surf, câmaras de ar infladas, boias, um pedaço de pau, tábua ou uma
corda, para que o acidentado se acalme até a chegada do socorrista. Para maior segu-
rança, o socorrista pode, no resgate, manter-se ligado a uma corda presa em algum
lugar ou em alguém na margem.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 81.
168
8.3 Entrada na água
Existem algumas formas de entrar na piscina, ou em outro local, para realizar o resgate
e salvamento aquático. O tipo de entrada deve depender da profundidade da água,
do conhecimento das condições do fundo, da claridade da água, da altura do local e
da distância da vítima.
Apesar do mergulho de cabeça proporcionar uma chegada mais veloz até a vítima,
pode ser fatal em águas turvas e/ou pouco profundas.
Existem outros três tipos de entrada na água. O primeiro é o abaixamento que
deve ser utilizado para não movimentar muito a água, é útil quando a vítima pode
submergir e tornar difícil encontrá-la, e quando há riscos de fraturas onde a movi-
mentação da água poderá agravar o caso. Este consiste em ir abaixando-se lentamente
até chegar à água, em seguida deve, se possível, caminhar ou nadar cuidadosamente
com a cabeça alta.
A segunda maneira de entrar na água é o salto com as pernas afastadas, tem a
vantagem de se conseguir manter a cabeça acima da água podendo continuar obser-
vando a vítima, inclusive no salto. Este consiste em saltar para frente como se tivesse
caminhando na água, com uma perna à frente da outra.
Figura 82.
169
Figura 83.
8.4 Aproximação
Figura 84.
170
O nado peito, apesar de mais lento, é menos cansativo e ideal para águas agitadas
porque permite uma maior visualização da vítima.
Uma das características da vítima é o desespero. Por esta razão, deve-se evitar o
“agarramento”, que será inevitável se o socorrista estiver ao alcance da mesma. Por isso,
é importante que a aproximação seja pelas costas. Algumas palavras de apoio podem
ajudar, transmitindo segurança e tranquilidade para o acidentado.
Existe outra maneira de aproximação: é em submersão pela frente, segurando por
fora e entre as pernas da vítima, virando-a de costas para o socorrista. Este movimento
é facilmente executado na água.
8.5 Desvencilhamento
NATAÇÃO
Figura 85.
171
Se tivermos os dois braços agarrados, podemos soltar um deles fazendo pressão
para baixo e para fora do lado de seu polegar. Esta técnica é muito utilizada no judô
e parte do princípio de que o dedo polegar é mais fraco do que a pegada dos outros
quatro dedos. Ao mesmo tempo utilizamos o outro braço que continua agarrado e
viramos a vítima de costas para rebocá-la.
Se a vítima agarrá-lo pela frente com os dois braços, o socorrista deverá passar uma
das mãos entre os braços da vítima e pressionar seu queixo para trás.
Figura 86.
Caso o agarre seja pelas costas com ambos os braços no pescoço, o socorrista
deverá agir segurando com uma das mãos no pulso e a outra no cotovelo do braço da
vítima que está por baixo, empurrando-o para cima. Nesta situação a vítima poderá
apertar o pescoço do socorrista, o que causaria uma dificuldade de respiração. Se o
socorrista virar o pescoço para a lateral estará se protegendo da asfixia.
8.6 Reboque
O indivíduo flutua naturalmente devido ao ar que está nos pulmões. É preciso colocá-
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
lo de costas, em posição horizontal, com a boca e o nariz fora da água para que ele
possa respirar e também para facilitar a flutuação.
Para transportar um acidentado inconsciente, a melhor técnica é o reboque de
peito cruzado que consiste em segurá-lo pela parte posterior do pescoço e na testa.
Se a vítima for um nadador cansado ou com cãibra, seria conveniente colocá-lo de
decúbito dorsal, com as pernas afastadas, prendendo as pernas no quadril do reboca-
dor e segurar em seus ombros com os braços estendidos, utilizando nesta situação o
nado peito como reboque.
172
Figura 87.
8.7 Traumatismo
173
8.8 Retirada do acidentado da água
Depois de ter rebocado a vítima é necessário assegurar que ela saia com segurança
da água. Existem dois tipos de retirada, uma que serve para o sujeito consciente e
prestativo e outra para o sujeito que esteja inconsciente.
O sujeito consciente e prestativo não requer muita habilidade do resgatador,
consiste em dar apoio para os pés da vítima auxiliando para que ela suba com
mais facilidade.
Figura 88.
174
Figura 89.
175
A sobrevivência da vítima dependerá do estado de saúde desta, da duração
da imersão, da quantidade de líquido aspirada e dos cuidados de emergência.
A ressuscitação cardiorrespiratória é um procedimento de emergência nos casos em
que existe parada cardiorrespiratória e o cérebro não recebe oxigenação, como pode
ocorrer no caso do afogamento.
Se a vítima apresentar rigidez cadavérica, estar em decomposição corporal
ou permanecer em submersão há mais de uma hora, nenhuma manobra será
eficiente (SZPILMAN, 2001).
Os procedimentos de ressuscitação cardiorrespiratória, ou ABC do socorro básico,
possui três etapas:
“A”- abertura das vias aéreas (desobstrução);
“B”- respiração boca a boca e;
“C”- circulação artificial (compressão torácica externa).
Quando a vítima está inconsciente, é preciso certificar-se de que tenha suas
vias aéreas desobstruídas. Para determinar se estão ou não, devemos seguir alguns
passos. Primeiro observar se há movimentos respiratórios, depois ouvir os sons da
respiração aproximando a cabeça do socorrista na da vítima, e sentir se o ar está
sendo expelido.
É essencial que não se esqueça da possibilidade de um traumatismo na coluna
cervical. Nestes casos, deve-se evitar a extensão do pescoço.
Caso a vítima esteja respirando, colocá-la na posição que permite maior drenagem:
deite-a em decúbito lateral com um dos braços sob a cabeça; se estiver inconsciente,
flexione a perna de cima da vítima para evitar que ela role.
Caso o paciente não esteja respirando, é necessário iniciar imediatamente a res-
piração artificial. A respiração boca a boca é de grande importância neste momento.
No entanto, a questão de segurança do socorrista tem que ser levada em conta. O uso
de bocarilha apropriada permite que o socorrista possa executar a respiração artificial
com conforto e segurança. No caso de uma pessoa conhecida e que o socorrista opte
pela respiração boca a boca sem bocarilha, deve-se inspirar profundamente, selar os
lábios da vítima firmemente com os seus, fechar o nariz desta, expirar observando se o
tórax da vítima se expande e afastar a cabeça observando a saída do ar.
Nas crianças (entre 1 a 8 anos de idade) deve-se ter o cuidado para não exceder a
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
quantidade de ar insuflado; para tal, assim que o tórax começar a erguer, cessar a insu-
flação. Nos bebês, envolver simultaneamente a boca e o nariz e insuflar os pequenos
pulmões apenas com o ar contido no interior de sua boca, através de um curto sopro
(CORPO DE BOMBEIROS, 1997).
Conforme os procedimentos utilizados pelo Corpo de Bombeiros em um paciente
adulto, deve-se executar a ventilação uma vez a cada 5 segundos. Se for uma criança
com idade de 1 a 8 anos, a cada 4 segundos, e se tratar de um bebê com idade de 0 a 1
ano será a cada 3 segundos (CORPO DE BOMBEIROS, 1997).
176
Após duas insuflações, permitindo que o tórax se esvazie totalmente entre cada
respiração, o socorrista deverá verificar se há frequência cardíaca. Se não houver,
deverá dar início à massagem cardíaca; caso haja pulsação, deverá continuar a respiração
artificial até que a vítima volte a respirar espontaneamente (EVANS, 1987).
Para verificação da frequência cardíaca, deve-se utilizar o pulso carotídeo, ou
femoral (no caso de existir ferimentos no pescoço). Utilizar os dedos indicador e
médio para esta verificação. No caso de bebês, utilizar o pulso braquial (CORPO
DE BOMBEIROS, 1997).
Se a frequência cardíaca estiver presente, a vítima somente necessitará de respiração
artificial, numa frequência de 12 a 16 por minuto. Quando o paciente passar a respirar
espontaneamente, colocá-lo na posição de drenagem (EVANS, 1987).
Caso a frequência cardíaca esteja imperceptível, a massagem cardíaca deve ser
executada com uma mão sobre a outra, apoiando a parte inferior da palma da mão,
fazendo compressões no tórax na altura do esterno, utilizando-se do peso do seu corpo.
Em crianças com idade entre 1 a 8 anos, a pressão deve ser exercida com uma das
mãos, e em bebês de 0 a 1 ano, a pressão é realizada com apenas 2 dedos (Corpo de
Bombeiros, 1997). As mãos devem estar posicionadas dois dedos acima da base do
processo xifóide, no esterno.
Quando a vítima necessita de respiração artificial e massagem cardíaca concomi-
tantemente, deverá utilizar-se de 30 compressões cardíacas para cada 2 respirações;
utiliza-se uma frequência de 80 a 100 vezes por minuto. A reanimação cardiopulmonar
ao se tratar de uma criança deve ser composta 100 vezes por minuto, e se for um bebê,
a frequência passa a ser de 100 a 120 por minuto (Corpo de Bombeiros, 1997).
Quando se dispõe de dois socorristas, um torna-se responsável pelas insuflações
pulmonares e o outro pelas compressões torácicas, podendo estes trocar de cargo para
tornar menos desgastante.
NATAÇÃO
Figura 90.
177
A reavaliação da presença da frequência cardíaca e da respiração espontânea é
aconselhada após 4 a 5 ciclos de compressão e ventilação, repetindo-se as reavaliações
a cada 5 minutos. Se as condições da vítima se estabilizarem, esta deverá ser colocada
na posição de drenagem.
Se o atendente for capaz e houver necessidade, a respiração artificial deverá ser
iniciada ainda dentro da água enquanto reboca a vitima. Szpilman (2001) relata que
a ventilação realizada ainda dentro da água diminui a mortalidade em quase 50%, no
entanto, é muito difícil de ser realizada.
A respiração artificial não deverá ser interrompida durante o transporte da vítima
ao hospital. Após iniciada a RCP, ela nunca deverá ser paralisada por mais de cinco
segundos consecutivos. Só deverá ser interrompida quando a circulação ou respiração
retornar, ou um médico assumir o caso (Corpo de Bombeiros, 1999).
É indispensável que a vítima passe por um médico para receber cuidados pos-
teriores após a reanimação, pois sem tratamento adequado esta poderá vir a sofrer
distúrbios cardíacos, circulatórios, pulmonares, renais e cerebrais. A síncope que
poderá acontecer após alguns minutos, horas ou dias à ressuscitação poderá causar
danos irreparáveis ao sistema nervoso.
Tanto o resgate quanto o procedimento de RCP exigem muito mais que um
estudo teórico para possibilitar a execução adequada dos mesmos. Desta forma,
consideramos que este treinamento teórico-prático deve ser estimulado como
aspecto integrante na formação de todo cidadão.
Mais do que qualquer treinamento ou técnica que o professor de educação
física deve dominar, consideramos o aspecto mais importante para qualquer ação
de primeiros socorros o respeito e o carinho pelo próximo.
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
178
REFERÊNCIAS
179
CORPO DE BOMBEIROS. Manual de Fundamentos de Bombeiros. São
Paulo: Corpo de Bombeiros, 1997.
180
MENEZEZ, M. T. N. de C. Ensino de natação ao principiante. Brasília, DF:
SEED, 1974.
181
SILVA, C. I.; COUTO, A. C. P. (Org.). Manual do treinador de natação-nível
treinee. Belo Horizonte: FAM, 1999.
182
Projeto Editorial: Centro Integrado de Aprendizagem em Rede • CIAR / UFG
Dimensão: 16 x 23 cm