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não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 27/03/2021 17:22:52

Alfabetização
para Autistas

Curso ministrado pela


Professora Dayse Serra
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Alfabetização para Autistas Professora Dayse Serra

Módulo 1
Aula 1 – Etapa 1
Levar uma criança que tem o transtorno do espectro autista até o momento da alfabe-
tização é a preocupação de muitos pais e professores e é sempre um caminho que
precisa ser percorrido com paciência, sem pressa e envolve muitas etapas. Por isso,
esse curso busca trazer algumas informações, sugestões e estratégias de avaliação de
alternativas de atividades para alfabetizar as nossas crianças.

Quando se trata de autismo há uma diversidade muito grande de características


envolvendo tanto os casos mais leves como os mais graves e para que as ações peda-
gógicas voltadas à alfabetização possam ser planejadas, é importante conhecer cada
um deles.

Então, a primeira etapa diz respeito a conhecer quem é seu personagem, quem é esse
aluno e quais são as suas características, a fim de entender se já é possível iniciar o
processo ou não. Em alguns casos, já se pode poder entrar com o trabalho vendo os
fonemas de imediato, mas em outros tem que se percorrer um longo caminho, cons-
truindo uma história até chegar na fase onde vai ser possível decodificar a leitura.

Nessa primeira aula, vamos tratar da identificação das alterações das habilidades que
envolvem o processo de aprendizagem e uma avaliação comportamental dos nossos
alunos, o que significa que existem habilidades prévias. No caso do TEA, com certeza é
porque é um processo que exige um amadurecimento da neurobiologia do cérebro.
Dessa forma, não podemos esperar que uma criança de 1 ano aprenda a ler, assim
como ela ainda não pode se alimentar com determinados alimentos. Logo, nós preci-
samos de habilidades prévias e se nós não as tivermos, o que vai acontecer é um insu-
cesso, fazendo com que e nós acreditemos que a criança com TEA não é capaz de
aprender a ler e, na verdade, não é isso. O que ocorre é que nós deixamos de cumprir
alguns elementos básicos, algumas histórias prévias que antecediam esse processo de
alfabetização.

Um aspecto extremamente importante e que é uma das dificuldades que configura o


autismo é exatamente o ponto central - a comunicação e a linguagem. Assim, esses são
justamente os aspectos avaliados no autismo, na deficiência intelectual e nas dificulda-
des adaptativas. Destacando que quando se tem dois problemas concomitantemente,
essa avaliação se torna ainda mais importante.

Dentro do processo de comunicação e linguagem, é necessário avaliar a criança desde


o nascimento, levando em consideração os precursores de linguagem no processo de
alfabetização, quais são esses precursores e a sua relação com a alfabetização.

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Alfabetização para Autistas Professora Dayse Serra

Às vezes nós nos surpreendemos quando a criança pronuncia a primeira palavra, pois
para nós a sensação é de que aquilo está começando naquele momento, mas na
verdade o ser humano começa a trabalhar as habilidades para falar e andar desde o
seu nascimento.

A causa do autismo ainda é desconhecida, o que nós temos são muitas hipóteses,
sendo que uma das possíveis causas diz respeito ao prejuízo qualitativo na área da
linguagem.

Por isso, dentro de uma visão desenvolvimentista, que considera a linguagem como
ponto central no estudo do autismo, é necessário voltar aos precursores de linguagem
- que nada mais é do que tudo aquilo que acontece desde o nascimento de um bebê
até o momento em que ele vai falar, expressar oralmente aquilo que ele deseja, ou
seja, onde surge a linguagem expressiva e compreensiva. Vejamos a seguir sobre esses
precursores.

Todo esse caminho que a criança percorre envolve o uso do olhar, sendo que a troca do
olhar com o cuidador é responsável pelo afeto e, consequentemente, pelo desenvolvi-
mento da inteligência. Isso, inclusive, é explicado pelas teorias desenvolvimentistas e
cognitivistas: a afetividade está presente na troca do olhar. Dessa forma, o olhar está
diretamente ligado a alfabetização, pois é através dele que a criança pode acompanhar
todas as atividades que lhe estão sendo fornecidas e é fundamental que esse olhar
seja um olhar de qualidade.

Nesse contexto, muitas pessoas ficam com dúvidas, uma vez que é muito falado que o
autista não olha nos olhos. No entanto, às vezes conhecemos portadores da síndrome
de asperger que olham nos olhos, sim. Nesses casos, o que é avaliado é a qualidade do
olhar, como que esse olhar se comunica, se tem uma duração socialmente aceita, se é
muito fixo, vazio, entre outros aspectos.

Em seguida, vem o sorriso responsivo no desenvolvimento da criança - não aquele


sorriso espontâneo, já que normalmente o bebê sorri porque você sorriu para ele, ou
seja, é uma resposta, um diálogo sem palavras. Porém, caso a criança ainda não tenha
desenvolvido sorriso responsivo, isso não é um obstáculo para alfabetização como é a
falta do uso do olhar.

Também há a questão da vocalização, que é os gritos que o bebê costuma dar no berço
ou no colo, que são sinais de saúde, de que a linguagem está tomando o percurso
adequado. está interpretando. Quando a criança vocaliza, isso facilita o processo de
alfabetização, pois é mais fácil fazer com que a ela repita os fonemas. Do contrário, isso
não representa um impedimento,, pois existe uma diversidade muito grande dentro
do autismo, tendo crianças não-verbais e com plenas capacidades de aprender a ler e
escrever.

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Mas, e como saber? Simples, porque elas interpretam, escrevem o que estão pensan-
do, você faz perguntas sobre o texto e ela mostra na gravura o que ela vê. Portanto, a
autista não-verbal também pode aprender a ler e escrever.

Um outro movimento precursor que a criança faz, lá pelos seus cinco ou seis meses de
vida, é o movimento antecipatório. Um exemplo disso é quando o bebê começa a jogar
os braços para manifestar a vontade de ir para o colo de alguém em que ele tem confi-
ança, antecipando um desejo dele. Essa questão interfere no processo de alfabetiza-
ção porque para a criança aprender qualquer coisa, ela precisa saber demonstrar o seu
desejo, saber se antecipar.

Em outro momento, é necessário perceber se a criança tem atenção conjunta e aten-


ção compartilhada. Esses são movimentos imprescindíveis e que vão preparar o ser
humano para o diálogo, porque é através da atenção conjunta que podemos perceber
a atenção humana, que tem, por exemplo, a capacidade de acompanhar o olhar.

Já na atenção compartilhada, a criança divide a sua atenção entre o seu interlocutor e


objeto, sendo uma preparação para uma mudança de turno, visto que no futuro ela vai
ter que prestar atenção no que está sendo falado em sala de aula, entre duas pessoas
ou entre duas pessoas e um objeto. Isso numa sala de aula é bastante interessante,
pois há muitos estímulos, sendo necessário fazer uma alternância no foco da atenção.

Juntamente com a atenção compartilhada e conjunta, também temos o uso do apon-


tar e do olhar, o qual começa a ser notado a partir dos 11 meses de vida e se caracteriza
pelo apontar de dedo. Este é um movimento fundamental da linguagem. Existem dois
tipos de apontar: o declarativo e o imperativo. No declarativo, a criança aponta somen-
te para compartilhar uma ideia. Já no apontar imperativo, ela aponta para pedir. Na
alfabetização, nós precisamos desse apontar, principalmente se a criança ainda ainda
não domina o movimento da escrita.

Outro fator que merece atenção, é a imitação arbitrária, que é quando a criança apren-
de a fazer uma imitação espontânea, sendo ela muito necessária para cópia, escrita,
para pronunciar os fonemas e repetir.

Também temos a fala referencial, que em geral antecede a fala fluente. Ou seja, é o
momento em que a criança começa a falar pedaços de palavras e apelidos. Assim, a
criança está iniciando uma verbalização e isso normalmente ocorre aos um ano e oito
meses de idade.

Portanto, quando todos esses precursores anteriormente citados acontecem de uma


maneira típica e com qualidade, significa que a criança não tem nenhum problema no
desenvolvimento. Por outro lado, quando algum desses precursores não existe ou
apresenta alguma falha, a resposta é um pouco preocupante, demonstrando que tem
algum atraso no desenvolvimento e o risco de autismo.

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No caso da alfabetização, é comum encontrar crianças com 6, 7, 8, 12 anos que não


tem esses precursores e por consequência, sem a fala, sem o olhar, sem o sorriso
responsivo e assim por diante.

Isso significa que antes de mais nada, para alfabetizar, é preciso desenvolver esses
precursores de linguagem, fazendo com que aquilo que não aconteceu naturalmente,
aconteça de uma forma artificial por meio de um acompanhamento terapêutico.

Desse modo, é fundamental fazer uma avaliação detalhada e fidedigna para que a
intervenção e as atividades sejam mais acertivas e apropriadas para as necessidades
da criança. Lembre-se que o trabalho no TEA envolve sempre o resgate do desenvolvi-
mento, da afetividade e da interação social para que as demais áreas possam ser
desenvolvidas.

Módulo 1 - Aula 1 – Etapa 2

Nesta etapa falaremos sobre como avaliar os precursores de linguagem, visto que
muitas vezes o professor pode ter dificuldades de pensar em quais atividades podem
ser realizadas para desenvolver essa habilidade ou mesmo identifica-la na criança.

Na aula anterior, tratamos sobre uma série de precursores e fizemos o caminho que o
bebê percorre até chegar à fala, ressaltando que nem todos eles que tocarão no pro-
cesso de alfabetização. As características que interferem diretamente no processo de
leitura e escrita, bem como a compreensão e a interpretação, são:

O USO DO OLHAR - Para avaliar essa característica, é preciso observar o olhar da


criança nos diversos planos. Sabemos que a criança com autismo tem certa dificuldade
de sustentar o “olho no olho” e acaba direcionando o olhar para a nossa boca. Essa
diferença é muito sutil e por isso deve ser avaliada com atenção. Ao sustentar o olhar
nos olhos do interlocutor, a criança tem a possibilidade de entender as sensações e
emoções que estão sendo passadas, o que fará diferença no futuro, em um estágio
mais avançado, deverão ser feitas perguntas sobre a emoção de um personagem,
sobre o que o autor quis dizer, quais foram os sentimentos expressos no determina-
dos parágrafos, entre outras questões de interpretação.

Para que essa avaliação seja mais precisa, é interessante que o interlocutor mova-se
verificando se a criança acompanha estes movimentos. Ainda, uma outra forma
importante de fazer essa observação é utilizar um objeto de interesse da criança
colocando-o no plano vertical e/ou no horizontal, verificando se existe a coordenação
visomotora, bastante necessária para a prática de escrever. É também muito impor-
tante avaliar se a criança possui a percepção dos detalhes, ao contar uma história ou
apresentar uma gravura, se acompanha e explora o objeto com o olhar.

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MOVIMENTOS ANTECIPATÓRIOS - Movimentos antecipatórios: São movimentos que


a criança faz, quando bebê, lançando o corpo ou esticando os braços ao pedir alguma
coisa. Durante a fase de alfabetização o que se espera é que a criança estique o braço
para buscar algo. É possível aproveitar esses momentos para trabalharmos também as
habilidades de nomeação. Ao percebermos que a criança gosta muito de determinado
objeto, podemos fazer um gesto pela metade, levando o objeto até o meio do caminho
estimulando o indivíduo a esticar o braço até alcançá-lo. Junto com o objeto desejado,
é interessante entregar à criança algo que esteja relaconado ao processo de escrita
que possibilite a familiarização com a possibilidade de desenhar, escrever, ouvir sons,
etc.

Incentivando esses movimentos antecipatórios, é um dos primeiros movimentos que


o ser humano faz em direção à interação social. O processo de alfabetização está
diretamente ligado à cultura que, por sua vez, está diretamente ligada ao processo de
interação entre as pessoas. Ao ensinarmos à criança o gesto de lançar-se em direção a
algo, estamos estimulando a interação social e, nesse contexto, produzindo cultura,
familiarizando-a com outras pessoas e abrindo as portas para a aprendizagem.

A alfabetização não deve ser um processo autônomo; a criança precisa da instrução de


alguém nesse processo, do contrário, não será uma leitura saudável. À medida que a
criança aprende os movimentos antecipatórios, ela terá ampliada a capacidade de
conviver.

ATENÇÃO CONJUNTA E COMPARTILHADA - Para fazer a avaliação dessa característi-


ca, costuma-se utilizar, por exemplo, lanternas que produzem imagens (animais,
objetos). Para isso, diminui-se a iluminação do ambiente movendo a luz da lanterna na
parede e observando se a criança acompanha esse movimento, exercitando o uso do
olhar num processo de atenção.

É importante lembrar que essa etapa é parte de uma sequência e somente poderá ser
desenvolvida depois for feita a avaliação do uso do olhar e os movimentos antecipató-
rios.

Após a utilização da lanterna, utiliza-se um objeto mais próximo da realidade escolar.


Por exemplo, podemos utilizar um papel grande em uma parede, riscando uma linha e
pedindo que a criança passe o dedo em cima, até que chegamos ao momento em que a
criança seja convidada pelo seu olhar (ou pelo seu dedo) a observar um objeto dispos-
to em um local diferente.

Crianças sem autismo olham para o local mostrado, enquanto que as crianças autistas
tendem a olhar para a ponta do seu dedo. Então, caso você não seja um avaliador
preparado, talvez não perceba a sutileza dessas diferenças. Por isso, é muito bom que
você faça essa avaliação em conjunto com outra pessoa, que possa fazer anotações
enquanto você observa ou vice-versa.

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Depois é necessário que a criança faça uma troca de olhares, compartilhando a aten-
ção. Esse gesto se relaciona com a formação do diálogo: no processo de leitura, quan-
do você apresenta uma letra ou um fonema e questiona qual a figura que se relaciona
com o som que você está produzindo, a criança deve fazer o uso do olhar no papel e
voltar o olhar para você. Uma forma de fazer isso é trabalhar com a criança sobre uma
mesa, trocando objetos de posição, observando se ela consegue alternar o olhar, ou
colocando algum objeto perto do seu rosto para que ela direcione o olhar para você, ou
chamando outra pessoa para o trabalho fazendo um jogo com bola, obrigando a
criança a olhar para você.

Outro excelente exercício para a atenção compartilhada é utilizar um barbante colori-


do, que pode ser feito com um número maior de pessoas em que cada um segura uma
parte do barbante e o joga aleatoriamente até que seja formada uma rede.

Todas as atividades sugeridas são utilizadas não somente para avaliar, como também
para intervir quando a criança não tem habilidade.

IMITAÇÃO ARBITRÁRIA - O que esperamos é que a criança faça uma imitação espontâ-
nea já por volta dos treze meses, quando a ensinamos a bater palminhas, por exemplo.
Em geral, uma criança autista com 6-7 anos não imita ou então tem uma imitação
atrasada, ou seja, aquela em que a criança ouviu uma frase há um tempo e acaba
repetindo fora de contexto.

A criança precisa repetir o fonema que você está emitindo, imite a escrita, pois a cópia é
uma forma de imitação. Um ótimo exercício para isso é utilizar o espelho. Se a criança é
muito refratária à questão da imitação, pode-se induzí-la imitando seus gestos: se a
criança bate na mesa, você bate também, colocando-se à frente dela como se fosse um
espelho ou uma sombra.

As imitações motoras são também bastante atrativas: brincar de bola, pular em uma
cama elástica, jogar bolinhas para o alto... Ensinar a criança a imitar coisas simples e
através da brincadeira, auxiliarão muito na imitação da escrita, que nada mais é do que
uma cópia.

Após a etapa de verificação desses primeiros percussores, deve-se observar o que o


paciente tem e o que não tem preservado e montar um plano de ação com atividades
para possibilitar o desenvolvimento do uso do olhar, os movimentos antecipatórias, a
atenção compartilhada e a imitação, que são habilidades indispensáveis a tudo que
virá depois.

Embora a recomendação seja de que não se tenha pressa durante as avaliações,


sabemos que essa etapa não demanda de muito tempo. Já o tempo para intervir é
imprevisível, pois depende de vários fatores, como o tempo que você passa com a
criança, a quantidade de vezes que as atividades se repetem... A sugestão é que sejam

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feitas pelo menos três tentativas a cada dez minutos, alternando as atividades para
evitar o cansaço e a perda de interesse da criança frente aos estímulos.

É muito importante que encaremos esse processo de forma científica, fazendo anota-
ções, produzindo relatórios sobre os resultados, observando quais são as falhas, o que
precisa ser melhorado.

Módulo 1 - Aula 2 – Etapa 1


Avaliação das competências e habilidades
que envolvem a leitura e a escrita
Nesta aula falaremos sobre um trabalho mais diretivo, voltado especificamente para a
alfabetização. Começaremos a aprender sobre a avaliação das competências e habili-
dades envolvidas na leitura e na escrita. Todas essas características foram investigadas
com crianças de qualquer natureza, ou seja, crianças típicas seguem este mesmo
padrão.

Para conseguir se apropriar da leitura e da escrita, a criança precisa possuir as seguin-


tes habilidades:

VISOESPACIAIS: É a forma como a criança se relaciona com o espaço e como a coorde-


nação visomotora funciona em relação a este espaço. Esta é uma habilidade extrema-
mente importante e na qual percebemos que crianças com autismo possuem dificul-
dades. Um exemplo comum é quando a criança escreve as palavras ou frases emenda-
das e sem espaço entre elas. Isso está diretamente relacionado com a coordenação
visoespacial e demonstra que a criança não entendeu os segmentos da fala e da leitura
e por isso apresenta a escrita irregular.

COMPREENDER E EXPRESSAR A LINGUAGEM - É necessário que a criança apresenta


a capacidade de linguagem compreensiva e expressiva, pois serão feitas solicitações à
ela (por exemplo, qual a imagem que começa com o som “A”?). Nesse caso, a criança
precisa compreender, processar essa informação e expressar-se de alguma maneira.

PERCEPÇÃO VISUAL E LOCALIZAÇÃO NO ESPAÇO - Outra característica extremamen-


te importante é a percepção visual, que está relacionada à habilidade visoespacial e
possibilita a diferenciação entre as letras p e b, por exemplo, pois a curva da letra P fica
em cima e a curva da letra B fica embaixo e a criança precisa entender o que é em cima
e embaixo, ter uma noção de direção e de continuidade.

SIMBOLIZAR, MEMORIZAR E EVOCAR A INFORMAÇÃO APRENDIDA - Essa é uma


outra habilidade importantíssima no que diz respeito à capacidade de ler, escrever e,
principalmente, de interpretar – para isso, a criança precisa simbolizar. Quando se tra-

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ta de uma criança com TEA, observamos o prejuízo na imaginação, o que é essencial


para poder interpretar e entender uma história, por exemplo. A habilidade de simboli-
zar se refere à capacidade que a criança tem de representar um som de forma escrita,
transformando o que ela ouve em uma palavra.

A memória é outra habilidade fundamental, pois a construção de qualquer aprendiza-


gem se dá em etapas, aumentando o repertório de aprendizagem: primeiro apresenta-
se um fonema, depois outro, que juntos formarão uma sílaba que se transformará em
uma palavra. Ou seja, se não existir a habilidade de memorização, certamente haverá
prejuízos no processo de leitura.

A evocação da informação aprendida é a capacidade da criança resgatar informações


obtidas em oportunidades anteriores, o que possibilita a ampliação do conhecimento.

HABILIDADES VISOESPACIAIS

- O aluno olha para o local adequado enquanto realiza a tarefa? -> Muito importan-
te, independente da idade do aluno.

- O olhar é sustentado? -> É normal que, durante uma aula, o aluno olhe para outros
lados, mas deve voltar o olhar para a atividade.

- Localiza o objeto solicitado quando é convidado a olhar pelo professor ou instru-


tor?

- Consegue mudar o olhar de plano sem perder a atenção? -> Observar se a criança
leva o olhar e retorna à atividade ou ela perde o foco e busca outras coisas.

Novamente, todas as atividades servem para avaliação e também para as intervenções


necessárias para corrigir o que ainda não está bom. Ao perceber que o aluno ou paci-
ente não executa adequadamente essas habilidades através das simples tarefas,
devemos proporcionar que ele aprenda a olhar para a tarefa e sustente o olhar, utili-
zando objetos de interesses da criança, intercalando com atividades de escrita.

HABILIDADE DE COMPREENDER E EXPRESSAR A LINGUAGEM

Esta segunda etapa de avaliação envolve a compreensão da linguagem e essa é uma


área de extrema importância, que é também observada ao suspeitar-se de que a
criança com TEA tenha uma deficiência intelectual associada.

Com relação à alfabetização, foram selecionadas questões que ao serem observadas,


auxiliam muito na prática da avaliação. São elas:

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- Demonstra compreender o significado de pelo menos 10 palavras? ->


Indispensável na condução de um exercício, que aponte o que é necessário e execute a
tarefa solicitada.

- Nomeia objetos? -> Se for verbal. Se não for, que a criança pelo menos saiba
demonstrar apontando aquilo que ela precisa ou quer.

- Ouve histórias ou relatos por pelo menos 5 minutos? -> Sabemos que existem
muitos problemas de comportamento envolvidos no TEA e vários deles estão em torno
da dificuldade de atenção e da ansiedade. Crianças muito ansiosas, por exemplo,
demonstram esteriotipias, não têm foco. Então é necessário que a criança que está se
propondo a aprender a ler e escrever seja capaz de ouvir por pelo menos 5 minutos.
Em primeiro lugar, pelo fato da qualidade da atenção, pois caso a criança não tenha
essa capacidade, não haverá percepção que se sustente ou memória que se concreti-
ze. Em segundo lugar, se a criança não suporta ouvir um relato de cinco minutos, pode
significar que ela não suporta interação com o outro.

Uma sugestão de atividade que tem dado muito certo na prática é procurar aumentar
o tempo de concentração da criança utilizando música. Por exemplo, proponha fazer
uma atividade enquanto a música está tocando. No decorrer do tempo, a duração da
atividade pode aumentar, com a execução da mesma tarefa enquanto a música toca
duas vezes.

- Compreende ordens? -> Toda vez que se deseja fazer com que a criança se torne
mais compreensiva do que está no seu entorno e esteja mais inserida no contexto, a
aprendizagem da linguagem oral se dá sempre pelos verbos, pois substantivos são
altamente arbitrários, enquanto os verbos são ações que podem ser demonstradas.
Então, a criança com autismo consegue aprender melhor a função e aplicação da
linguagem quando começamos pelos verbos (risque, coma, pule, pinte).

- Expressa pensamentos e desejos? -> É necessário que o avaliador tenha muita


sensibilidade nesse caso, pois na maioria dos casos a forma de se expressar não é
usual, ou seja, não se dá de forma verbal, mas sim com gestos ou atitudes. Mais ainda
há casos de maior amadurecimento intelectual em que o aluno se expressa falando
sobre o gosta, o que deseja fazer, como resolveu ou resolverá alguma situação.

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