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NASCIMENTO, D. T.; BURSZTYN, M. A. A. Análise de conflitos socioambientais: atividades minerárias...

Análise de conflitos socioambientais: atividades minerárias em


comunidades rurais e Áreas de Proteção Ambiental (APA)
Environmental Conflict Analysis: Mining Activities in Rural
Communities and Environmental Protected Areas (APA)

Daniel Trento NASCIMENTO*


Maria Augusta Almeida BURSZTYN**

RESUMO
Este artigo busca analisar um conflito socioambiental que ocorre nas comunidades rurais de Santa Cruz
e Esperança, no município de Içara, SC. O local do conflito também é uma área de proteção ambiental
(APA) e a disputa se dá com uma grande mineradora de carvão que tenta se instalar no local. A análise
do caso se deu com base na hipótese de que o acirramento dos conflitos socioambientais é um dos fato-
res determinantes para o fortalecimento das ações ambientais e formação de estruturas de governança
ambiental local e, consequentemente, para institucionalização da gestão ambiental municipal. Para
tanto, após a revisão teórica sobre conflitos socioambientais e mineração de carvão na região, foram
identificados os principais atores e condicionantes que moldaram a disputa. Por fim, com base na análise
do conflito, foi elaborado um mapeamento do mesmo e identificados os principais desdobramentos que
corroboram a hipótese da pesquisa.
Palavras-chave: conflitos socioambientais; gestão ambiental; Sul catarinense.

ABSTRACT
This article explores an environmental conflict that occurs in rural communities of Santa Cruz and Espe-
rança in the city of Içara, Santa Catarina State. The site of the conflict is also an environmental protected
area (APA) and the dispute is with a large coal mining company that is trying to be installed in the same
area. The case analysis was developed on the assumption that the increasing of environmental conflicts
is one of the determining factors for the strengthening of environmental actions and for the formation of
local environmental governance structures, and, consequently, for the institutionalization of the municipal
environmental management. Therefore, after a theoretical review of environmental conflicts and coal
mining in the region, the main actors and conditions that shaped the dispute were identified. Finally,
based on conflict analysis, a conflict mapping was designed and the main outcomes of the conflict that
confirms the research hypothesis were identified.
Key-words: environmental conflicts; environmental management; southern Santa Catarina State.

*
 Doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB). Técnico do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Email: danieltn@gmail.com
**
 Doutora em Ciências da Água – Gestão Ambiental (Universidade de Paris VI). Professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília
(CDS/UnB). Email: dute.cds@gmail.com

Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 65-82, jul./dez. 2010. Editora UFPR 65


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Apresentação e seus posicionamentos ao longo do processo, bem como


as condicionantes que moldaram a disputa. Além disso, de
forma a avançar nas análises e identificar elementos que
Este artigo busca analisar um conflito socioambiental
corroboram a hipótese da pesquisa, foram identificados os
envolvendo a instalação de uma empresa mineradora de
desdobramentos do conflito.
carvão numa comunidade rural instalada em uma Área
Para o levantamento dos dados, foram realizadas
de Proteção Ambiental (APA1). A hipótese norteadora da
pesquisas de campo na região nos meses de junho, julho e
pesquisa se baseia na ideia de que o acirramento dos con-
dezembro de 2008 e janeiro e julho de 2009. Foram feitas
flitos socioambientais é, em grande parte, um dos fatores
entrevistas abertas, não estruturadas, com atores-chave2 no
determinantes para o fortalecimento de ações ambientais
processo envolvendo lideranças comunitárias, empresas mi-
e para a formação de estruturas de governança local e,
neradoras, políticos, técnicos e funcionários das respectivas
consequentemente, para a institucionalização da gestão
prefeituras, órgãos ambientais, entre outros.
ambiental local.
É importante registrar que durante a realização da pes-
Esse pressuposto corrobora com a visão que Dahren-
quisa também foram visitadas na mesma região localidades
dorf (1992) tem dos conflitos, ou seja, os conflitos são
com atividades de mineração de carvão, mas sem conflitos
formas de evolução e aprendizado para corrigir o que,
e com praticamente nenhum processo de fortalecimento
possivelmente, está errado e encontrar novos caminhos e
da gestão ambiental em curso, diferentemente do que foi
possibilidades de desenvolvimento para a sociedade.
encontrado no caso selecionado, reforçando a hipótese da
Nesse sentido, foi selecionado um caso no Sul ca-
pesquisa.
tarinense, região de intensa atividade de exploração do
carvão mineral e, como consequência, palco de vários casos
de conflitos socioambientais envolvendo comunidades e Conflitos socioambientais
empresas mineradoras.
O caso estudado ocorre nas comunidades agrícolas
de Santa Cruz e Esperança, no município de Içara, SC. Os mecanismos de resolução de conflitos tiveram
O conflito se dá entre agricultores familiares da região, avanço com os gregos e romanos. Entretanto, naquela
estabelecidos no local há mais de 100 anos e com uma época, os conflitos eram frutos de disputas entre territórios,
atividade agrícola bem sucedida, e uma grande mineradora, sendo que hoje a análise de conflitos se dá tanto no âmbito
a Indústria Carbonífera Rio Deserto, com sede em Criciú- das relações diplomáticas e territoriais como em relações
ma, SC (cidade vizinha) e proprietária de várias minas de internas, regionais, locais e até individuais, sendo este
carvão na região. último objeto de estudo da psicanálise.
O conflito nasce quando a indústria consegue o Na sociedade moderna, os conflitos tendem a ser
direito de explorar o carvão no subsolo da área agrícola, internos e a própria sociedade passa a criar e recriar
que também é uma área de proteção ambiental (APA). Os espaços institucionalizados de decisão e resolução de
agricultores, com medo dos impactos ambientais, econômi- conflitos. Röling (1966) tratou de analisar os conflitos pela
cos, sociais e relacionados à saúde pública, se posicionam importância da lei. Para ele, a função mais importante da lei
veementemente contra a atividade. é a prevenção de conflitos por conseguir impor respeito às
Dessa forma, por meio da análise de conflitos so- suas regras. Entretanto, nem todos conflitos podem ser evi-
cioambientais, buscou-se identificar os principais atores tados; dessa forma, os conflitos que surgem, independente

1
 De acordo com a Lei do SNUC, n.º 9.985 de 2000, Área de Proteção Ambiental (APA) é considerada uma unidade de conservação de uso sustentável e seu objetivo
é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Conceitualmente, uma APA é uma área em geral extensa, com
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações. Seus objetivos básicos são: proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
2
 Antônio Matiola (agricultor); José Baldissera (Agricultor); Egídeo Frasson (Agricultor); Alvino Budni (Agricultor); Joelson Machado (Agricultor); Evandro
Della Bruna (Agricultor); Gilmar Axé (ambientalista); Wlaterney Réus (advogado); Ricardo Lino (Fundai); Giovanna Serafim Couto (MPF); Superintendência da
FATMA regional Criciúma; Derlei De Lucca (professora); Felipe (jornalista jornal Agora); Lucas (jornal Agora); jornal Agora; Simone Guidi (advogada empresa
Rio Deserto); Rosimeri Redivo (gerente da empresa Rio Deserto); Murialdo Gastaldon (Unesc).

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de sua natureza, também podem ser considerados conflitos enxerga o conflito como algo inerente ao sistema social, mas
legais e sua origem pode se dar de três formas: (a) aqueles como uma distorção do mesmo. Para ele, a ideia de siste-
que surgem de diferentes visões e interpretações das leis; ma integrado das funções sociais acaba levando à crença
(b) aqueles que surgem pelo não cumprimento da lei ou pelo de existência de uma sociedade sem conflitos e isso pode
confronto à lei vigente; e (c) quando as leis são mudadas ser perigoso, pois pode levar à anomia e ao consequente
de acordo com interesses e circunstâncias do grupo com o autoritarismo, pois com o uso da força pode-se impedir o
poder de aplicá-las. surgimento de conflitos. De acordo com Dahrendorf, não
Nas ciências sociais, vários autores abordaram con- existe certeza sobre todas as coisas e é justamente esta
flitos. Para Durkheim (1999), que viveu entre 1858 e 1917, incerteza que faz surgir a divergência de opiniões e posi-
os conflitos e crises eram transitórios e faziam parte de cionamentos perante casos concretos. Por isso, na visão
um processo mais amplo, inerente à natureza reformista e dele, os conflitos são formas de evolução e aprendizado
evolutiva da sociedade. De acordo com seu pensamento, as para corrigir o que possivelmente estava errado e buscar
crises e conflitos eram consequências da estrutura social em novos caminhos para a sociedade.
momentos de fraqueza e ausência de regras, leis e normas. Outra linha de estudo dos conflitos abrange o
Um dos autores mais relevantes no tema dentro da estudo da lógica da ação coletiva (OLSON, 1999) e a
sociologia é Simmel (1858-1918). Simmel foi um dos análise institucional dos Commom Pool Resources - CPR
responsáveis pelo surgimento da sociologia alemã junta- (OSTROM, 1990), que lidam com as disputas e conflitos
mente com Weber e Marx. Na visão de Simmel (1969), por recursos e bens de interesse comum. O artigo mais
os conflitos são formas de interação social capazes de emblemático dessa linha é o trabalho de Hardin (1968),
modificar grupos de interesse, unidades e organizações. The Tragedy of the Commons.
O conflito existe como forma de resolver divergências De acordo com Hess e Ostrom (2007), bens comuns
adquirindo algum tipo de unidade, mesmo que para isso são relacionados aos sistemas difíceis de limitar o acesso e
seja necessário anular uma das partes envolvidas. O con- o onde o uso do recurso por uma pessoa não impede o uso
flito tem sempre um lado positivo e um lado negativo, mas por outra pessoa como, por exemplo, no caso da informação
ambos estão integrados, sendo possível apenas separá-los disponível no mundo digital. Por outro lado, os bens naturais
conceitualmente, mas nunca empiricamente. de uso comum são de certa forma abundantes, mas não
A análise da teoria do conflito de Simmel juntamente infinitos, sendo assim importante e possível definir quem
com a teoria funcionalista foi feita pelo norte americano são seus usuários reconhecidos e também excluir o acesso a
Lewis Coser (1913-2003). Seu trabalho focou nas funções outros usuários com alto potencial de causar desequilíbrios
do conflito social. Para Coser (1961), conflitos com outros sociais, ambientais ou econômicos.
grupos sociais aumentam a coesão interna e ajudam a de- Em sistemas de governança, onde é necessário decidir
finir a estrutura do grupo, bem como levam à formação de como os recursos serão alocados, alguns conflitos relaciona-
alianças. Os conflitos ajudam na função de comunicação, dos às políticas, regras e administração são bem susceptíveis
ou seja, contribuem para o esclarecimento dos posiciona- de ocorrerem. Sistemas que ignoram essa possibilidade de
mentos dos atores. Se antes de um conflito não se sabe ao conflito estão automaticamente aumentando a possibilidade
certo a posição e interesses diretos dos adversários, com o dos mesmos ocorrerem e isto pode eventualmente resultar
conflito tudo vem à tona. em problemas maiores. O estabelecimento de sistemas hie-
Dos autores mais recentes, é válido citar Dahrendorf, rárquicos rígidos pode aumentar a velocidade das decisões,
discípulo de Karl Popper, sociólogo e filósofo alemão nas- mas, ao mesmo tempo, pode ignorar os interesses de alguns
cido em 1929 e que faleceu em 2009. Seu trabalho foca no dos participantes do processo e colocar em risco o próprio
conflito de classes da sociedade industrial e na transição para sistema. Dessa forma, é essencial elaborar uma estrutura
os movimentos sociais organizados. Para Dahrendorf (1992, de governança com ações voltadas aos diferentes graus de
p. 61), quando tratando do conceito de classes e conflitos, envolvimento dos atores de maneira a facilitar a descoberta
“a desigualdade e o poder continuam a ser fatores influentes rápida de conflitos e identificar formas efetivas de resolução
que conduzem a interesses divergentes e ao confronto”. dos impasses (OSTROM, 2008).
Diferentemente de Coser, Dahrendorf (1992) critica Dentro da perspectiva de estudo dos conflitos socio-
a explicação dos conflitos pela teoria funcionalista, que não ambientais, também é importante mencionar o movimento

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de justiça ambiental. Originado nos EUA na década de 1980, seus posicionamentos, da dinâmica e das relações cruciais
este movimento busca alertar para a situação recorrente de inerentes ao processo de disputa. Não pretende solucionar
comunidades pobres em áreas de risco ambiental e social. os problemas, pois são muitas variáveis que os envolvem,
O conceito de justiça ambiental, de acordo com a mas busca apresentar elementos-chave e definidores dos
Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA, 2009), busca mesmos de forma clara, possibilitando uma melhor tomada
denunciar a lógica que define os locais onde serão instalados de decisão.
os grandes empreendimentos de mineração, as barragens De acordo com Nascimento (2001, p. 95), os conflitos
das hidrelétricas, a passagem de linhas de transmissão de reúnem um conjunto de atores e posicionamentos que se
eletricidade, de oleodutos e outras obras, como depósito de articulam ou se opõem. Os atores movimentam-se e posicio-
lixos tóxicos ou de resíduos químicos. A injustiça ambiental nam-se, mas nem sempre com discursos coerentes com suas
ocorre quando o desrespeito ao meio ambiente é acrescido ações. Nem sempre são perceptíveis em seus movimentos e
pelo desprezo às populações mais pobres e vulneráveis. isso torna a análise de conflitos difícil. Dentro dessa ideia, os
A definição acima se confunde com a definição de atores de um conflito podem ser indivíduos, grupos sociais,
ambientalismo ou ecologismo dos pobres, mas de acordo organizações, coletividade e Estados e podem ocupar os
com Martinez-Alier (2007), o conceito inicial de justiça am- seguintes posicionamentos perante o conflito:
biental cunhado nos EUA está mais relacionado à sociologia a) promoção: dispostos a se movimentar com todos
ambiental e ao estudo das minorias do que à ética ambiental. os seus recursos para que haja um determinado
Martinez-Alier (2007) chama de ecologia dos pobres desfecho;
as mobilizações comunitárias e sociais de agricultores b) apoio: quando têm uma posição favorável a de-
familiares e campesinos pelo direito de acesso comum aos terminadas inciativas ou desfecho, mas não estão
recursos naturais contra atividades de alto impacto ambien- dispostos a se jogar com todas as suas forças no
tal que podem restringir sua subsistência. É um movimento processo;
diferente do movimento ambientalista tradicional, pois tem c) neutralidade: quando por alguma razão não têm
na conservação do meio ambiente a manutenção das suas ou não querem assumir posição;
necessidades básicas como alimentação e abrigo. d) oposição: quando se colocam contra determinadas
A ecologia dos pobres tem a luta contra a pobreza iniciativas, mas não estão dispostos a utilizar todos
como seu mote central e a conservação dos recursos naturais seus recursos;
como um meio de sobrevivência. São grupos que, na busca e) veto: quando utilizam todos os seus recursos pos-
pela manutenção de sua atividade tradicional, enfrentam síveis para impedir que o conflito caminhe em um
grupos poderosos política e economicamente. Um dos determinado sentido.
exemplos mais emblemáticos da ecologia dos pobres ci- O campo do conflito é o espaço de movimento dos
tados por Martinez-Alier eram os “empates” liderados por atores. Em relação ao objeto de disputa, este pode ser
Chico Mendes, no Acre, onde comunidades da floresta que “material ou simbólico, divisível ou indivisível, laico ou
dependiam da manutenção dos seringais para sobreviver profano, real ou irreal. Os objetos podem variar de natureza,
enfrentavam os poderosos madeireiros. mas são sempre bens ou recursos escassos, ou vistos como
De forma geral, os conflitos socioambientais são tais” (NASCIMENTO, 2001, p. 96).
parecidos com os outros conflitos sociais existentes; en- A respeito do objeto de disputa, Nascimento (2001)
tretanto, os conflitos socioambientais têm a característica ainda ressalta para o fato de que a percepção sobre o objeto
de englobar coletividades em torno de bens difusos e, ge- é diferenciada entre os atores. Sua leitura, compreensão
ralmente, com leis e instituições ainda incipientes ou por e valorização são distintas para cada um dos envolvidos.
serem construídas (THEODORO, 2005). Um conflito apresenta, de forma geral, três fases prin-
cipais: preparação, embate e conclusão (NASCIMENTO,
Análise de conflitos socioambientais 2001). Outros autores apresentam um detalhamento maior
inserindo as seguintes fases: preparação, anúncio, desen-
volvimento, agudização, estagnação, institucionalização,
A análise dos conflitos apresenta esquemas analíti- negociação, acordo (pacto ou resolução).
cos que ajudam na compreensão das ações dos atores, dos

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Sobre essa percepção diferenciada, Adams et al. prós e contras, sem tomar partido ou apresentar
(2003) colocam que é justamente quando os diferentes atores uma solução definitiva. É um procedimento mais
revelam suas interpretações e percepções sobre o objeto de brando e que considera mais os aspectos legais
disputa que o debate em torno de novas políticas e decisões envolvidos no conflito. Indicado apenas para crises
se torna mais produtivo. Obviamente que isso não garante menos intensas.
um resultado onde todos ganham, mas ao menos pode servir O caso do conflito na mineração é de sobreposição
como um início de decisões pactuadas e consensuais. direta. As comunidades locais requerem o direito sobre
Os conflitos socioambientais não são simples, pois suas terras e os mineradores estão interessados nos recursos
os caminhos para a solução dependem, entre vários fato- naturais do subsolo sem considerar quem tem o controle da
res, da percepção dos seus protagonistas. As políticas para superfície, bem como os impactos que surgirão para estes
melhorar a gestão geralmente assumem que os problemas (LITTLE, 2001).
são autoevidentes, mas, na realidade, uma consideração Na maioria das vezes, os grupos que fazem as inter-
cuidadosa e transparente nas formas que os diferentes atores venções alterando o ambiente são os principais beneficiários
entendem e percebem os problemas é essencial para iniciar econômicos de tal atividade e não são estes que arcam com os
um diálogo efetivo (ADAMS et al., 2003). impactos negativos da exploração dos recursos naturais, ou
Devido à complexidade dos conflitos, é importante seja, os grupos que não recebem os benefícios, são aqueles
não se perder a noção de que tais conflitos não são resolvidos que ficam com os impactos gerados e os geradores dos im-
por procedimentos binários: bem x mau, heróis x vilões, pactos são os que ficam com os benefícios (LITTLE, 2001).
legal x ilegal, formal x informal (THEODORO, 2005). É justamente isso que ocorre no caso em análise.
Dentro dessa visão, a percepção sobre os problemas Em geral, os conflitos socioambientais mais difíceis tendem
de uso dos recursos pode ser formada com base em três tipos a acontecer onde há um choque entre diferentes sistemas
de conhecimento: conhecimento do contexto empírico; co- produtivos. No caso analisado neste trabalho, os agriculto-
nhecimento das leis, regras e instituições; e crenças, mitos, res têm sua subsistência baseada numa relação direta com
valores e ideias (ADAMS et al., 2003, p. 1916). o ecossistema onde vivem, diferentemente dos sistemas
No que diz respeito aos tratamentos e formas de fabris e industriais.
mediação dos conflitos, Theodoro (2005) coloca que os Nesta pesquisa, o conflito é visto como um elemento
principais mecanismos que têm sido utilizados no Brasil, contribuinte para a evolução institucional para a melhor
além dos meios jurisdicionais públicos, muitas vezes limi- governança ambiental3 local e criação de instrumentos
tados, são: conciliação, arbitragem e mediação. de gestão ambiental municipal. Considera-se que sem o
a) Conciliação: meio extrajudicial de tratamento dos conflito essa estrutura institucional levaria mais tempo para
conflitos onde as partes já se polarizaram sobre surgir ou mesmo não existiria.
o objeto de disputa e há identificação clara do
problema. Sua solução pode resultar em três hipó-
teses: a desistência de uma das partes, a submissão
A mineração de carvão no Sul catarinense
ou a transação negociada;
b) arbitragem: meio em que as partes escolhem um A região Sul catarinense passou por vários ciclos de
árbitro para resolver o conflito pautado por limites desenvolvimento ao longo de sua história, tendo seu início
estabelecidos por uma cláusula arbitral e ao final as no final do século XIX, com a vinda de imigrantes europeus,
decisões ficam vinculadas a uma sentença arbitral; principalmente italianos, que tiveram a primeira base na
c) mediação: é um meio de tratamento autocompo- região de Urussanga. No início do século XX, a região teve
sitivo em que o mediador não decide, mas facilita seu maior impulso econômico com o começo da exploração
o diálogo. O papel do mediador é explicitar os do carvão mineral e a consequente construção da estrada de
fatos que lhe foram narrados pelas partes, seus ferro Dona Tereza Cristina, já na década de 1920.

3
 Governança ambiental diz respeito ao conjunto de processos regulatórios, mecanismos e organizações pelos quais atores políticos buscam influenciar as ações
ambientais e seus resultados (LEMOS; AGRAWAL, 2006).

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Com as minas de carvão, as companhias mineradoras ISO 14.000 para algumas unidades. A principal utilização
construíram as vilas operárias, que impactaram considera- do carvão mineral hoje é na geração da energia elétrica
velmente a aglomeração populacional no espaço da região. produzida pela Tractebel, que administra a termoelétrica
É interessante perceber que em algumas cidades, como Jorge Lacerda (mais de 90% do carvão produzido na região
Criciúma, as vilas operárias tiveram energia elétrica antes é utilizado na geração de energia).
do centro da cidade. A região chegou a ter mais de cem A participação do carvão mineral na matriz energética
minas em operação no início do século XX, todas de forma nacional é inferior a 2% e a contribuição brasileira mun-
muito rudimentar e, como todas outras áreas, sem nenhuma dialmente não representa 0,3% na produção mundial do
preocupação com o meio ambiente (HÜLSE, 2008). carvão mineral. As reservas brasileiras são inexpressivas
No período da Segunda Guerra Mundial, o carvão e de baixo aproveitamento, tanto para geração de energia
catarinense foi muito demandado internacionalmente, como para fins siderúrgicos.
mesmo tendo baixa qualidade, pois a escassez no mercado O carvão brasileiro das minas do sul tem altíssimos
internacional favorecia. Em outro período, na década de teores de cinza e enxofre, o que o torna de baixíssima qua-
1970, a crise do petróleo fez aumentar o interesse pelo lidade. Sua combustão com as tecnologias atuais é de baixa
carvão da região. Também nessa época, a exploração era eficiência energética e emite grande quantidade de óxido
muito desordenada e sem nenhuma preocupação ambiental sulfuroso (SO2) e de óxido nitroso (NO2), que, em contato
(HÜLSE, 2008). com a atmosfera, se transformam em ácido sulfúrico e
A lavagem do carvão com devolução direta nos cursos ácido nítrico, causadores da chuva ácida (VIANNA, 2001).
d’água e os rejeitos depositados a céu aberto contribuíram Além disso, é importante considerar o fato de o car-
muito para a poluição de quase toda bacia hidrográfica da vão ser poluente tanto na extração e beneficiamento como
região (mais de 70% comprometida). no transporte e na sua queima. Emite dióxido de carbono,
Em 1980, tendo em vista os impactos ambientais dióxido de nitrogênio, enxofre e destrói os solos, reduz
causados pela mineração em todo Sul catarinense, a re- a biodiversidade, polui os recursos hídricos e o ar. É um
gião foi considerada, por intermédio do decreto federal produto que consegue ser poluente em todas as etapas de
n.º 85.206/80, como área crítica nacional para efeitos de sua cadeia produtiva.
controle da poluição e melhoria da qualidade ambiental.
Os impactos ambientais da exploração desordenada
do minério estão presentes nas principais bacias hidrográ- Conflitos entre comunidades rurais e
ficas da região, completamente poluídas, bem como nas mineradoras na região
muitas nascentes que desapareceram sob o patrocínio das
empresas de mineração. Também o poder público pouco fez O conflito em análise não é o primeiro que ocorre
para evitar os danos, pois agia de forma omissa e inoperante na região envolvendo comunidades rurais e mineradoras
(CORRÊA, 2002). de carvão. De acordo com Freitas (1998), em 1988, no
De acordo com estudos elaborados pela Agência de município de Siderópolis, houve um conflito envolvendo
Cooperação Internacional do Japão (JICA, 1998), eram a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) com moradores
aproximadamente 4.700 hectares degradados. Atualmente da localidade rural de Montanhão.
existe um Termo de Compromisso de Ajustamento de Con- Em 1994, ocorreu um conflito entre a Companhia
duta (TAC) e está sendo constatado que existem mais áreas Carbonífera Belluno, que resolveu abrir uma mina numa
que o referido estudo não havia incluído, chegando próximo área rural, também no Sul catarinense, o que acabou na
de 6.000 ha a área da degradação causada pelo carvão. mobilização de aproximadamente 200 agricultores que pres-
Hoje a mineração no Sul catarinense é feita por 10 sionaram a Câmara de Vereadores do município, resultando
indústrias, gerando um total de 4.000 empregos diretos. As na transformação da área em uma APA.
empresas em atividade são as carboníferas Belluno, Cata- No município de Urussanga, em 1995, de acordo com
rinense, Criciúma, Metropolitana, Rio Deserto, Minageo, Catâneo (2009), a Associação Comunitária do Alto Rio
Siderópolis, Coperminas, Comin e Gabriela. Molha (Acarimo) conseguiu avanços contra o assoreamento
De acordo com Hülse (2008), todas possuem Siste- dos rios e áreas degradadas pela mineração de carvão da
mas de Gestão Ambiental (SGA) e a Rio Deserto possui mineradora Treviso.

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Em Criciúma, teve o caso do Morro Albino e Morro GE, 2006). Na agricultura, o fumo é o principal produto,
Estevão, ocorrido em 1996. Nessa localidade, os morado- tendo também produção de feijão, milho, morango e arroz.
res conseguiram se articular para a criação de uma APA Na indústria, destaca-se o setor de descartáveis plásticos, um
com o objetivo de impedir a instalação de mineradoras na dos maiores da América Latina (GOVERNO DO ESTADO
localidade. DE SANTA CATARINA, 2009).
Em 1999, no município de Siderópolis, uma comuni- Há ocorrência de jazidas de carvão mineral no mu-
dade passou a protestar contra perturbações nas moradias nicípio e vários poços já foram explorados. Hoje, porém,
e incômodos nas pessoas e animais devido à lavra iniciada todos já estão desativados, não havendo mais mineração,
na Mina Trevo, operada pela Indústria Carbonífera Rio mas apenas áreas degradadas e outras em processo de
Deserto. Os principais problemas, conforme relatam recuperação. Também existem várias olarias e cerâmicas
Ribeiro e Ferreira (2007), eram relacionados à fuga das que exploram a argila em diversos pontos do município.
águas superficiais devido ao rebaixamento do lençol fre- A cobertura vegetal do município tem somente 6%
ático, com consequente diminuição do nível da água em da área intacta (SOS MATA ATLÂNTICA, 2005). Os da-
alguns córregos e poços da zona rural local. Além disso, a dos apontam para todo o município apenas 279,24 ha de
comunidade se queixava muito das vibrações sentidas com mata virgem. O fragmento de maior relevância se localiza
as detonações. Com base em negociações, a comunidade justamente na área de estudo.
conseguiu alguns avanços.
De acordo com Ribeiro e Ferreira (2007), o papel
exercido pela população local é de grande importância para Área do conflito
o monitoramento e fiscalização das atividades da empresa,
visto que um programa contínuo de monitoramento dos O conflito se dá nas localidades rurais de Santa Cruz
eventos de detonação de uma mina é inviável para os órgãos e Esperança, onde vivem aproximadamente 300 famílias,
fiscalizadores devido à falta de pessoal, de equipamentos e totalizando mais de 1.000 pessoas. Há mais de 100 anos
de verbas para isso. já existiam famílias no local trabalhando com agricultura
familiar. Atualmente são 174 propriedades que tiram seu
sustento exclusivamente da atividade agrícola, podendo
Contextualização da área de estudo
manter um bom padrão de vida comparado a outros peque-
nos agricultores na região. O tamanho médio das proprie-
O município de Içara localiza-se no litoral Sul do dades é de 20 hectares. A maior parte das residências é de
Estado de Santa Catarina, nas coordenadas 28º42’12” de alvenaria, com acesso a telefone, internet, energia elétrica e
latitude Sul e 49º16’54” de longitude Oeste. Içara está a 10 a grande maioria tem um veículo para locomoção. Em suma,
km da cidade de Criciúma e a 190 km ao Sul da capital do a agricultura familiar na área é bem sucedida e boa parte
Estado, Florianópolis. O município é pertencente à Asso- dos agricultores tem 2.° grau completo e alguns concluíram
ciação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC) a faculdade (AGRICULTORES, 2009).
e faz parte da APA federal da Baleia Franca. A renda familiar anual bruta na localidade é equiva-
Sua população é de 54.070 habitantes (IBGE, 2007) lente a R$ 13.600.000,00. Os cultivos principais são o fumo,
e, por ser uma cidade litorânea, apresenta uma população arroz e flores, além da apicultura e da criação de peixes e
flutuante de aproximadamente 150.000 habitantes no verão. gado. De acordo com Matiola et al. (2003), existem rema-
Seu território ocupa uma área de 292.779 km², com uma nescentes de Mata Atlântica bem preservados com uma
densidade populacional de 192,5 habitantes por km². grande diversidade de espécies da flora e fauna.
No que diz respeito aos indicadores econômicos, Içara
possui um PIB de R$ 589.558 mil (IBGE, 2006), com renda
per capita de R$  10.449,00 e um IDH de 0,78 (PNUD, Dinâmica cronológica do conflito
2000). O município tem diversas atividades econômicas,
mas o destaque é para a apicultura, sendo um dos maiores Em um conflito socioambiental, as interações po-
produtores de mel do Brasil. São aproximadamente 20.000 líticas são muitas e, consequentemente, as mudanças de
colmeias produzindo até 600 toneladas de mel ao ano (IB- posicionamento de alguns atores envolvidos no conflito não

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FIGURA 1 – IMAGEM DE SATÉLITE DO MUNICÍPIO DE IÇARA COM DESTAQUE PARA ÁREA DO CONFLITO. FONTE: CIASC
(2009) E ABREU (2009).

são raras. Dessa forma, busca-se apresentar neste item as audiência pública, mas em análises posteriores identificaram
principais dinâmicas do conflito de forma cronológica, in- 45 irregularidades no documento.
cluindo os posicionamentos dos diversos atores. De acordo Em 2004, os agricultores ingressaram com uma ação
com Little (2001), o tratamento adotado perante um conflito popular na Comarca de Içara solicitando a suspensão do
(confrontação, repressão, manipulação política, negociação/ licenciamento até que algumas questões não resolvidas
mediação e diálogo/cooperação) pode variar de acordo no EIA/Rima fossem esclarecidas. Entretanto, o Juiz da
com cada situação e momento. A seguir é apresentada uma Comarca extinguiu a ação alegando que objeto da ação,
descrição dos principais momentos da dinâmica do conflito o licenciamento, ainda estava em curso e não poderia ser
numa ordem cronológica. julgado. Entretanto, alguns meses depois, a licença prévia
Em 2002 foi quando se falou publicamente sobre a foi suspensa devido a várias irregularidades. A empresa
possibilidade de instalação da mina em Içara, mas foi em teve de refazer o EIA/Rima e foram feitas alterações no
2003 que a comunidade local passou a tomar conhecimento, projeto. Grande parte do processo de produção do carvão
pois foi quando foi realizada a primeira audiência pública foi transferida para o município de Siderópolis, SC, ficando
para tratar do assunto. A audiência contou com mais de 500 apenas a extração restrita à região.
participantes, sendo a grande maioria mineiros levados pelo Em novembro de 2004, a comunidade conseguiu
sindicato do setor (AXÉ, 2009; SANTOS, 2008). Logo após o que pode ser considerado mais uma conquista, ou seja,
a audiência pública, a comunidade passou a se organizar, a foi aprovado um projeto de lei na Câmara de Vereadores
realizar as primeiras reuniões locais e a formar grupos de transformando a área em disputa numa Área de Proteção
trabalho para estudar o caso. De acordo com Axé (2009), a Ambiental (APA). Por outro lado, assim que foi encerrada
comunidade não teve tempo de analisar o estudo antes da a eleição municipal, os vereadores apresentaram uma

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proposta de emenda na lei de criação da APA de forma cia de ser concluído o acordo, a comunidade retrocedeu e
a permitir atividade de mineração na área. Após isso, os firmou posição contra a instalação da mina. O movimento
agricultores protestaram contra o projeto de emenda com não aceitou o acordo principalmente pelo fato de a caução
um “tratoraço” no centro da cidade e, em dezembro de em dinheiro referente a futuros danos ambientais ofertada
2004, o movimento dos agricultores entrou com uma ação pela empresa estar muito aquém do valor real dos imóveis.
direta de inconstitucionalidade (Adin) contra a alteração No dia seguinte, a empresa Rio Deserto emitiu nota
da lei da APA, baseado no fato de a alteração proposta ser à imprensa local externando seu posicionamento frente ao
menos restritiva que a Lei Federal. fracasso da conciliação. Na sequência do imbróglio, a Rio
Em fevereiro de 2005, foi expedida a Licença Am- Deserto conseguiu uma liminar para se instalar.
biental Prévia (LAP: n.º 005/05) mesmo tendo o EIA/Rima Em maio de 2008, a empresa conseguiu licença de
apontado alguns pontos que não garantiam a viabilidade instalação e construiu um galpão na área. No dia 20, um
do empreendimento. No entanto, em maio do mesmo ano, incêndio criminoso ocorreu nas instalações da mina 101
o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) concedeu e a polícia iniciou perícia e investigação criminal para
medida liminar, suspendendo os efeitos da LAP e, assim, identificar e punir os culpados. De acordo com a assesso-
impedindo qualquer atividade relacionada à instalação na ria de imprensa da empresa, os prejuízos se aproximaram
região do empreendimento. Em dezembro de 2005, a em- de R$  300.000. No dia 28 de maio, um vídeo apócrifo
presa apresentou um novo EIA/Rima, mas foi novamente acusando os agricultores do crime foi postado no site da
rechaçado pela comunidade por não ter sido apresentado internet youtube.
com antecedência para que pudessem analisá-lo. Por fim, Em julho de 2008, organizações da sociedade civil
em fevereiro de 2006, a Fatma concedeu a LAP e, em abril do município se organizaram e passaram a apoiar com
de 2006, concedeu a Licença Ambiental de Instalação (LAI). maior força o movimento dos agricultores. O que era cha-
Nesse meio tempo, corria no TJSC o processo de Adin mado movimento pela vida passou então a ser chamado
impetrado pelos agricultores. No entanto, decorridos quase de Movimento Içara pela Vida (MIV). Entre as mais de 70
dois anos da ação, no dia 18 de fevereiro de 2008, foi ini- instituições que oficializaram sua participação estavam a
ciado o julgamento. Mais de 1.000 pessoas se posicionaram Câmara de Dirigentes Lojistas de Içara (CDL), a Associa-
em frente ao Tribunal, em Florianópolis, capital do Estado, ção Comercial e Industrial de Içara (ACII) e a União das
e o TJSC decidiu pela improcedência da Adin e concluiu Associações Comunitárias de Içara (UACI).
que a lei de alteração da APA estava embasada legalmente. Em outubro de 2008, ocorreram as eleições munici-
O fato de a lei de alteração da APA estar embasada pais e o candidato que se posicionou contrário à instalação
legalmente não implicava na autorização de instalação da da mina foi eleito. Já em abril de 2009, um dos últimos
mineradora, que ainda teria de cumprir os requisitos para acontecimentos relacionados ao conflito registrados para
receber a Licença Ambiental de Operação. Assim, em mais esta pesquisa foi o fato de que o Ministério Público Fede-
uma tentativa de frear o processo e impedir a instalação ral conseguiu uma liminar obrigando a Fatma a conceder
da mina, o movimento de agricultores articulou junto à licenças somente com parecer técnico de vários profis-
sociedade do município um projeto de lei de iniciativa sionais (engenheiro químico industrial, agrimensor, civil,
popular propondo a alteração do artigo que veio a permitir agrônomo, sanitarista, de minas, geólogo e um biólogo).
atividade de mineração na APA. No entanto, o projeto foi
arquivado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
de Vereadores (CCJ). Análise do conflito
Após isso, em março de 2008, após vários movimen-
tos e ações de ambos os lados e acirramento do conflito, com Marco inicial e objeto de disputa
a invasão e destruição da guarita dentro do terreno previsto
para instalação da mina, o Procurador Federal, Darlan O projeto da mina é de autoria da Indústria Carboní-
Dias, se apresentou para mediar e tentar uma conciliação e fera Rio Deserto, a mais antiga mineradora da região, criada
conseguiu chegar a um acordo formal onde havia 15 itens em 1918, contando hoje com 15 unidades empregando 700
propostos pela comunidade. Destes 15, apenas três não pessoas. A extração do carvão não é a única atividade da em-
foram aceitos pela empresa e no dia 13 de abril, na iminên- presa, que atua em outros segmentos (RIO DESERTO, 2009).

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A unidade relacionada ao conflito é a unidade de para melhor conhecer os novos procedimentos adotados. Ao
extração 101. Este nome é referência à localização do mesmo tempo, os agricultores procuraram Axé para se orga-
projeto, às margens da rodovia BR-101. Entretanto, essa nizarem e ver como poderiam conhecer melhor o projeto, os
mudança de nome já é fruto do conflito. Anteriormente, riscos e os caminhos que a comunidade poderia tomar para
o nome da unidade seria Mina Santa Cruz, em alusão ao ter sua voz ouvida. Na semana seguinte, mais de 100 pessoas
nome da localidade, mas a comunidade solicitou a mudança. da comunidade se reuniram para tratar do assunto. Alguns ve-
Também já foi chamada de Mina Esplanada, bem como de readores e lideranças locais também participaram da reunião.
Mina Esperança. Um dos primeiros manifestos lançados pelos agricul-
Em 2003, o projeto foi orçado em R$ 12 milhões e tores tinha vários argumentos contrários à implantação da
prevê a extração de 360.000 toneladas de carvão vendável mina, como se observa em Matiola et al. (2003): a boca da
ao ano. O principal cliente é a Tractebel, empresa res- mina foi demarcada numa área de plantação de milho junto
ponsável pelas três unidades da usina termoelétrica Jorge à BR-101; o depósito de pirita (rejeito) será numa área de
Lacerda. Estima-se um tempo de vida útil de 14 anos e sua plantação de arroz; a concessão da empresa é de 19.000
jazida possui 1.255 ha, com extração subterrânea em área hectares, embora a empresa alegue que vai minerar “apenas”
de 900 hectares, sendo que na superfície a área operacional 900 hectares; desconfiança dos mineradores; e medo que
ocupará 4,7 ha (MOREIRA, 2006). ocorra na localidade o mesmo que ocorreu nas outras áreas
De acordo com os cálculos da empresa, com base mineradas, ou seja, alteração no lençol freático, diminuição
em valores de 2002, a implantação da mina aumentará a das águas de superfície, contaminação dos rios, o cultivo do
renda per capita do município de Içara em R$ 332,31 ao arroz ficará inviabilizado e as famílias terão de ir embora.
ano e gerará uma massa salarial no valor de R$ 4,2 milhões Fica evidente que o que está em jogo é a manutenção
anuais (MOREIRA, 2006). Da CFEM, seriam gerados da área e da atividade agrícola na comunidade preservando
aproximadamente R$ 220.000,00 ao ano. a qualidade de vida atual versus a inserção de uma nova
No que diz respeito ao ICMS, de acordo com Gastal- atividade econômica, com alto potencial de alteração da
don (2009), com base nos dados fornecidos pela mineradora, vida local, podendo gerar impactos nos recursos naturais,
o retorno anual de ICMS ficaria em R$ 180.660,00. Esse solo e subsolo, bem como alterar a estrutura social da loca-
valor, segundo ele, é um valor baixo, pois a receita munici- lidade e provocar aumento do tráfego de veículos no local.
pal é de R$ 60 milhões ao ano. Isso significa um acréscimo A própria empresa reconheceu mais tarde (2009) que
de pouco mais de 0,5% nas receitas municipais. uma das falhas foi não ter tido um maior diálogo com a
O marco inicial do conflito pode ser considerado a população local antes de apresentar o projeto na primeira
primeira audiência pública destinada a discutir o EIA/Rima audiência pública (REDIVO, 2009).
para o licenciamento da mina. De acordo com Axé (2009), A disputa se dá em função de impactos possíveis. De
nenhum morador da região ficou sabendo da audiência um lado, a empresa esforça-se para mostrar à comunidade
pública com antecedência. que a mineração de hoje é diferente da que ocorria décadas
Como coloca Axé (2009), em agosto de 2003 a comu- atrás, quando boa parte da região foi impactada, incluindo
nidade foi convidada para participar de uma reunião com fauna, flora, recursos hídricos e a sociedade em geral, com
os moradores das localidades de Esperança e Santa Cruz. problemas de saúde. E, por outro lado, a comunidade teme
Estavam presentes ao evento mineiros, mineradores, políti- impactos variados oriundos da atividade mineira que ocor-
cos, além de moradores da comunidade. Todos elogiavam o reu e ainda ocorre em algumas minas na região. Percebe-se
projeto e falavam dos benefícios que a implantação da mina que o passado impactante da exploração de carvão na região
traria para a localidade. Entretanto, um dos agricultores ainda está bem presente no imaginário da população local.
começou a questionar os impactos que as atividades cau- De acordo com os agricultores (2009), o principal ob-
sariam na água e na manutenção das atividades agrícolas. jeto de disputa é a água, pois, com a mineração a 30 metros
Gilmar Axé, ambientalista que estava na reunião, também de profundidade, o lençol freático corre sérios riscos de ser
mostrou descontentamento com o projeto. contaminado, prejudicando toda atividade agrícola na região.
Ao término da audiência, devido aos muitos questiona- Além disso, como argumenta Luiz (2004), outro
mentos, os representantes da empresa mineradora convidaram problema da exploração na área é a sua proximidade com
Axé e outros agricultores a visitar algumas minas na região o mar e o consequente risco das águas do lençol marinho

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invadirem o espaço antes ocupado pela água doce durante sociedade local. Muito embora o movimento
o processo de bombeamento da água das galerias. Isso começasse pequeno, em razão dos vários eventos,
provocaria salinização dos rios e nascentes. Entretanto, na como os “tratoraços”, hoje é uma força política e
visão de Redivo (2009), a água será 100% tratada e a região social respeitada não só no município, como em
possui uma espécie de argila selante, o que impede a mistura toda região;
da água subterrânea com a água da superfície. São posições b) Associações comerciais, industriais e terceiro setor
conflitantes como estas que ajudam a agravar o conflito. do município – representação formal da classe.
Forte influência na sociedade devido à sua represen-
Natureza e abrangência do conflito tatividade e pluralidade na composição, que conta
com mais de 70 instituições da sociedade civil;
c) Ambientalistas e representantes das universidades
Como já se pode perceber, este conflito é de natureza – baixo poder de expressão, mas com força junto
econômica, social e ambiental: (a) econômica, pelo interesse aos membros do movimento devido ao aporte
da exploração da atividade de mineração e pela manutenção técnico e intelectual;
da atividade econômica da comunidade, a agricultura; (b) d) Políticos contrários à instalação da mina – expres-
social, pelo envolvimento de toda comunidade, não só da são política formal pelos cargos que ocupavam e
localidade, mas também de toda a sociedade civil do mu- ocupam e informal por exercerem liderança em
nicípio, bem como da região; (c) ambiental, pela evidente alguns bairros e setores da sociedade local;
confrontação entre exploração de carvão dentro de uma e) Advogado – poder de representar legalmente
APA, bem como outras questões que afloraram durante o as demandas do movimento com forte poder
conflito, como o maior cuidado que os próprios agriculto-
de influência, visto que elaborava os pareceres
res devem ter com o meio ambiente durante suas práticas
jurídicos que têm traçado o rumo do movimento.
agrícolas. Também existiram impactos na vida política do
Informalmente também exerce sua influência pelo
município, visto que o resultado da eleição municipal sofreu
conhecimento de causa e da própria sociedade
forte influência em virtude de posicionamentos favoráveis
local;
e contrários à mina.
f) MIV – movimento social que ganhou força e
O conflito que iniciou com a mobilização local rapi-
damente envolveu comunidades vizinhas e toda a cidade. representatividade regional.
Ao longo do conflito, várias questões foram decididas na g) Imprensa local (marginal6) – Apenas um jornal de
capital do Estado (TJSC) e contaram com ampla cobertura circulação local e um canal de TV davam espaços
da mídia estadual, ampliando o caráter do conflito de local iguais tanto para a empresa como para a comuni-
para regional. dade. Entretanto, ao longo do conflito, o canal de
TV (Canal 19) foi comprado por um grupo ligado
à mineradora e acabou com o espaço de discussão.
Identificação dos atores: interesses,
posicionamento e identificação das cotas de Pró-mineradora:
poder4 (formal e informal) de cada grupo5
a) Empresa Rio Deserto – Forte influência política
local, regional e até nacional. Apoia praticamente
Contrários à instalação da mina:
todos os meios de comunicação da região;
a) Agricultores – Atores principais com poder infor- b) Departamento Nacional de Produção Mineral
mal de mobilização dos agricultores e da própria (DNPM) – Poder formal por ser uma instituição

4
 Em seu significado mais geral, poder significa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos, de influenciar tanto indivíduos e grupos humanos como
fenômenos (adaptado de BOBBIO, 2004, p. 933).
5
 Informações coletadas nas pesquisas de campo realizadas pelo pesquisador em junho, julho e dezembro de 2008 e janeiro e julho de 2009.
6
 Utiliza-se aqui a expressão marginal apenas para diferenciar dos veículos com maior poder econômico e abrangência na sociedade local.

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federal dedicada à pesquisa e produção mineral e muita contestação quanto à atuação do órgão na
tem o interesse no aumento da atividade mineraria; região: “A Fatma, que é estadual, pouco resolve e a
c) Políticos pró-instalação da mina – Poder de in- todo instante está envolvida em escândalo por dar
fluência formal e local devido ao cargo ao qual licenças ambientais fora da lei. É uma instituição
ocupam e forte influência informal em todas as que, apesar do esforço de seu corpo técnico, tem
esferas da administração pública (federal, estadual baixíssima credibilidade. No município temos a
e municipal), visto que a mineradora possui boa Fundai, que foi criada faz poucos anos. Nossa
relação com deputados estaduais, federais e até preocupação é evitar que a Fundai se transforme
senadores; no que é a Fatma hoje”.
d) Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do b) Fundai: Poder formal moderado, visto que a deci-
Estado de Santa Catarina (Siecesc) – Forte influên- são final sempre coube à Fatma; entretanto, teve
cia regional e nacional, com moderada força local forte influência ao expedir a anuência municipal
devido à ausência de mineração no município. para a atividade. Expediu o alvará que condicio-
e) Sindicato dos Mineiros – Forte influência na nava a licença.
região, tendo sempre peso nas eleições para de-
putados e fraco no município de Içara devido à
ausência de mineração no município;
Mediadores7:
f) Imprensa local (central) – Jornais e canais de co-
municação (TV e rádio) que recebem patrocínio Muito embora o posicionamento desses órgãos deva
da Empresa Rio Deserto (interessada na questão). ser de neutralidade, na prática nem sempre isto ocorre.
Influência moderada na formação de opinião regio- Mesmo que embasada por lei, a tomada de decisão favorável
nal, visto que os leitores, na maioria das vezes, já a uma ou outra parte acaba fazendo com que os chamados
identificam os canais como porta-vozes de alguns mediadores tomem um posicionamento no conflito. É
setores. justamente este posicionamento que se tenta descrever nas
linhas que seguem.
a) Ministério Público Federal (MPF) – Poder formal
Órgãos ambientais: expressivo e adquiriu considerável legitimidade.
Para os agricultores, o Procurador tem buscado
À primeira vista, o posicionamento dos órgãos garantir algumas conquistas para a comunidade.
ambientais (Ibama, Fatma, Fundai) tende a ser em prol Posição de mediador. Tentou conduzir vários
da APA, visto que esta foi criada com o fim de proteger acordos. É visto pela empresa com uma atuação
uma determinada área considerada importante ambiental imparcial e coerente, buscando sempre privile-
e socialmente. Entretanto, por diversos fatores, o posi- giar o debate e o consenso. Já os agricultores o
cionamento de alguns dos órgãos em questão variou de percebem como favorável à instalação da mina,
neutralidade para oposição ao conflito, como se observa mas procurando minimizar os impactos para a
mais detalhadamente na sequência. comunidade e o ambiente.
a) Fatma: Poder formal relevante, pois é o órgão b) Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) –
responsável pela emissão da licença ambiental. Poder formal nas decisões em que foi acionado.
Concedeu todas as licenças. Como se pode ob- Participou do processo na votação da validade da
servar no comentário de Gastaldon (2009), existe Adin e deu parecer favorável à mineradora.

7
 A escolha do termo mediador para estes órgãos se deu pelo fato de não terem interesse explícito no conflito, pois foram acionados pelos trâmites judiciais e pas-
saram a agir dentro do papel que lhes é cabido. Conforme já visto neste trabalho, com base em Theodoro (2005), o papel do mediador é explicitar os fatos que lhe
foram narrados pelas partes, seus prós e contras, sem tomar partido ou apresentar uma solução definitiva. Entretanto, neste caso, os mediadores tomam decisões,
pois são acionados para dirimir problemas de interpretação da lei per se, mas na ausência de qualquer outra forma parecida com mediador, conciliador ou árbitro,
resolveu-se adotar este termo para designar os atores em questão.

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Resumo do conflito qual seja, de que os conflitos socioambientais contribuem


para a evolução institucional.
A – Práticas e processos revistos: (a) O processo de
Com base na matriz de análise de conflito de The- licen­ciamento foi revisto diversas vezes pela comunidade,
odoro (2005), na sequência é apresentado um resumo do professores e ambientalistas que apoiam o movimento. (b)
conflito analisado: Na localidade também existe extração de argila. Antes do
a) natureza do conflito: econômica, social e ambiental; conflito, a grande maioria estava em situação irregular.
b) objeto de disputa: recursos naturais. Minério por Entretanto, como a localidade passou a ter maior exposição
parte da empresa e água e serviços ambientais com o conflito, os moradores começaram a se conscientizar
por parte da comunidade. Também está em jogo a dos danos ambientais e denunciar a extração ilegal e as
manutenção da qualidade de vida e da agricultura empresas legalizadas passaram a corrigir suas práticas. (c)
familiar; Os próprios agricultores modificaram suas práticas, dimi-
c) campo do conflito: local e regional; nuindo a aplicação de agrotóxicos. É consenso entre eles
d) atores principais: Mineradora; Siecesc; Sindicato que existe maior conscientização ambiental.
dos Mineiros; Comunidade de Agricultores; MIV; B – Leis, normas, acordos e regulamentos: (a)
Fatma; FUNDAI; MPF. Uma das grandes conquistas do movimento foi conseguir
Atualmente o conflito persiste. A empresa está se aprovar a lei que criou a Área de Proteção Ambiental. Ainda
instalando no local e aguardando a licença de operação. Ao é preciso implementar seu conselho gestor, mas a APA foi
mesmo tempo, o movimento segue mobilizado buscando as criada. (b) Após uma alteração na Lei da APA para permitir
alternativas jurídicas cabíveis. O advogado do movimento atividade de mineração, desde que com licença ambiental, a
assumiu a Procuradoria do Município e posicionou-se comunidade tentou alterar novamente e conseguiu mais de
contra a instalação da mina. 4.600 assinaturas de eleitores do município e enviou para a
Em suma, existe uma situação onde o poder executivo Câmara Municipal um projeto de lei de iniciativa popular.
é contrário à instalação da mina e o legislativo é favorável. Muito embora o projeto tenha sido arquivado pela CCJ,
Como se pode observar no comentário de Gastaldon (2009): é importante reconhecer o avanço que foi a proposição
“Na Câmara existe a bancada ‘mineirista’. O poder finan- do projeto. (c) Ministério Público Federal conseguiu
ceiro da mina é muito grande. O único declaradamente a liminar obrigando a Fatma a conceder licenças somente
favor do meio ambiente é o Ver. Diego Vitorassi (PDT)”. com parecer técnico de vários profissionais (engenheiro
Como complemento, de forma a apresentar uma sín- químico industrial, agrimensor, civil, agrônomo, sanita-
tese da dinâmica do conflito, foi elaborado um mapeamento rista, de minas, geólogo e um biólogo). O MPF solicitou
geral e as interações mais marcantes ao longo do processo.
suspensão da licença prévia, visto que todo o estudo do
Como o conflito ainda não se encerrou, também se procurou
EIA/Rima não estava concluído quando da emissão da
fazer um exercício para traçar os possíveis cenários, como
se observa na Figura 2.
LAP. (d) Após reiterados conflitos, o MPF foi o responsável
por iniciar um espaço de diálogo entre as partes e conse-
guiu intermediar um acordo inédito no setor com 15 itens.
Desdobramentos do conflito Entretanto, a comunidade rejeitou o acordo nos finais da
negociação, mas o espaço de diálogo e as propostas aceitas
e acatadas pela empresa podem ser considerados avanços
Neste tópico busca-se identificar os desdobramentos
no setor. A empresa mudou a localização, se comprometeu a
institucionais do conflito mais importantes e significativos.
não minerar no subsolo das propriedades, bem como alterou
Tendo em vista a definição de instituição tomada por base
o nome da mina. (e) Suspensão da LAI e modificação do
neste estudo (OSTROM, 1990; NORTH, 1990; BAREM-
projeto. Com a pressão da comunidade e as sucessivas reu-
BLITT, 1996), de que instituições são leis, regulamentos,
niões, a comunidade conseguiu alterar boa parte do projeto,
condutas, práticas costumeiras e reconhecimento social das
como a mudança do local de beneficiamento do carvão,
estruturas que garantem a efetividade das condutas, abaixo
que a partir de então deixaria de ser feito na comunidade,
são apresentados os desdobramentos do conflito que ajudam
bem como a localização da entrada da mina foi alterada e o
a corroborar com a hipótese levantada no início da pesquisa,
transporte não seria mais feito pelo interior do bairro, mas

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FIGURA 2 – MAPEAMENTO DO CONFLITO E CENÁRIOS FUTUROS. FONTE:


ELABORAÇÃO PRÓPRIA, 2009.

pela BR-101. O lavador do carvão não seria mais instalado reconhecimento e fortalecimento junto à sociedade local
no local, assim como o rejeito (pirita) não seria depositado e regional. O MIV é composto por mais de 70 entidades
no local. (g) Conselho Gestor da APA: com a criação da da sociedade civil organizada do município. No início do
APA, a Fundai trabalhou para a formalização do Conselho imbróglio, o posicionamento “do centro” da cidade era
Gestor da mesma, o que teria sido também um avanço, pois favorável à mina, desconhecia as implicações do conflito;
o Conselho tinha uma composição paritária (LINO, 2008); mas, após as manifestações, eventos e “tratoraços” organi-
C – Conquistas sociais e aprendizado: (a) A criação zados pelos agricultores, os dois lados do caso começaram
do movimento de resistência à instalação da mina e seu a ser expostos para a sociedade. De acordo com Matiola

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(2009), no início eram tratados como quatro colonos de- mineral. Entretanto, os impactos gerados pela exploração
sequilibrados que não sabiam o que era desenvolvimento. do carvão são regulados pelo órgão ambiental do estado
Com o passar do tempo e o conhecimento da situação, boa (Fatma), que é o responsável pelo licenciamento do em-
parte da sociedade civil organizada do município passou preendimento.
a apoiar o movimento. (b) O aprendizado social e a troca Com os desdobramentos do conflito, ficou evidente
de experiências e informações com outras localidades em que a Prefeitura era contra a instalação da mina, muito
situações parecidas. Tanto a comunidade de Santa Cruz, no embora a Câmara de Vereadores se posicionou de forma
início de sua mobilização, foi aprender com a comunidade favorável à instalação em vários momentos do conflito.
do Morro Albino, em Criciúma, que já tinha passado por um Diante desse imbróglio, é possível tirar várias lições para
processo parecido, como algumas comunidades passaram a governança ambiental local e a institucionalização da
a visitar os agricultores do bairro Santa Cruz em busca de gestão ambiental municipal.
informações. É o caso da comunidade de São Roque, que Fica claro que grande parte das forças políticas e
já procurou o movimento, pois existe uma mineradora em econômicas regionais é favorável ao setor de mineração.
vias de instalação no bairro. (c) A comunidade de agricul- Como o órgão responsável pela licença é estadual e não
tores considera que os seis anos de luta já significam uma municipal, percebe-se que o que ainda predomina na deci-
vitória, pois conseguiram atrasar o início das atividades. (d) são é a manutenção das estruturas políticas e econômicas.
Uma das grandes conquistas foi a conscientização sobre a Com base em Ibama (2006), para que se alcance
força que a comunidade tem quando se mobiliza em prol de maior efetividade na gestão ambiental local, a definição
objetivos comuns. O empoderamento da comunidade nesse de mecanismos que dificultem a alteração dos objetivos e
processo é algo reconhecido como uma das conquistas e diretrizes gerais da Política Municipal de Meio Ambiente e
avanços. do Plano Diretor junto à Câmara de Vereadores é primordial,
D – Desdobramentos políticos: (a) O resultado das de forma a evitar ações oportunistas.
eleições majoritárias no pleito de 2008 pode ser atribuído Tendo em vista que o órgão ambiental estadual con-
ao posicionamento dos candidatos favoráveis ou contrários cedeu a licença, este conflito traz para debate o princípio
à mina. O candidato que apoiou a comunidade foi eleito. da precaução. Se em toda região o impacto ambiental e de
(b) Conscientização também dos políticos que viram que a saúde pública causado pela exploração do carvão é notório e
questão ambiental é sensível e não pode ser ignorada, prin- está bem presente no imaginário da população, será que essa
cipalmente quando relaciona população e meio ambiente. questão não deveria ser mais discutida com toda a sociedade
(c) Depois do conflito, conforme alguns relatos (MATIOLA, visando minimizar os riscos ambientais e identificar alterna-
2009; REUS, 2009, AXÉ, 2009) as mineradoras da região, tivas mais sustentáveis para o desenvolvimento da região?
muito embora ainda tenham muito a melhorar, já não são Além disso, considerando os dispositivos legais
mais as mesmas. Até hoje, tirando o caso dos Morros existentes, a licença pode ser questionada, pois, de acordo
Albino e Estevão, as mineradoras faziam um EIA/Rima com o Artigo 19 da Resolução 237/97 do Conama, o órgão
inconsistente e o mesmo era aprovado sem dificuldades ambiental, mediante decisão motivada, poderá suspender ou
pelo órgão licenciador e pelas comunidades sem quase cancelar uma licença expedida, quando ocorrer omissão ou
nenhuma contestação. Hoje isso tem mudado tanto por falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram
parte das comunidades, que passaram a estar mais atentas, a expedição da licença, bem como quando houver superve-
como por parte das mineradoras, que passaram a adotar uma niência de graves riscos ambientais e de saúde.
abordagem mais diplomática e menos autoritária. Conforme dados da Munic (IBGE, 2008), o município
de Içara tem conselho de meio ambiente deliberativo, mas,
na realidade, durante todo o conflito ele esteve ausente. Fica
Considerações finais claro que é fundamental a descentralização com participa-
ção e, em muitos casos, também com poder de veto, caso
Este caso apresenta a situação de um conflito socio- contrário as decisões do conselho serão sempre limitadas.
ambiental que colocou boa parte de um município contra Outro fator importante a ser ressaltado no conflito em
a instalação de uma mina de carvão. Legalmente isso é questão é o fato de a comunidade ter um bom poder aquisi-
possível, pois cabe à União expedir o direito de exploração tivo e uma boa qualidade de vida. Isso faz com que os argu-

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mentos em prol da mineração sejam minimizados, pois os bientais, sejam elas de competência do Estado ou da União,
empregos não são tão sedutores como em localidades mais pois o município necessita emitir uma declaração de anu-
carentes. De acordo com o então presidente do Sindicato ência ou alvará. Assim, percebe-se que o município não é
dos Mineiros, João Paulo Serafim, de cada emprego direto tão impotente como se pensa em matéria de licenciamento
gerado na mina, mais oito serão gerados indiretamente, de grandes empreendimentos.
ou seja, se serão gerados 84 empregos diretos, o total de Por outro lado, é importante registrar que a criação da
empregos (diretos e indiretos) será 656 (AGORA, 2008). APA foi um instrumento importante; entretanto, percebeu-se
Entretanto, vivem da agricultura na comunidade mais que o foco sempre foi impedir a continuidade das atividades
de 300 famílias, ou seja, mais de 1.000 moradores. Dessa da mineradora. Criou-se a APA, mas pouco foi feito para
forma, emprego por emprego, a agricultura gera mais, sem implementá-la, com comitê gestor atuante, plano de manejo,
contar com os empregos informais no período de colheita e a diretrizes de uso do solo, entre outros instrumentos.
continuidade da atividade que já é centenária na localidade. Neste ponto, é válido resgatar Martinez-Alier (2007),
Vale lembrar ainda o fato de existirem famílias com mais que diferencia este tipo de movimento do movimento
de 100 anos vivendo da agricultura na região. Sabe-se que a ambientalista tradicional, pois trata de mobilizações co-
mina terá uma vida útil de 14 anos; assim, numa perspectiva munitárias com o objetivo principal de lutar pelo direito
de longo prazo, fica nítida a dificuldade da mineradora de de acesso aos recursos naturais contra atividades de alto
convencer os agricultores dos benefícios do empreendimen- impacto ambiental que possam restringir sua subsistência
to para a comunidade local – que conhece bem os impactos ou seu modo tradicional de vida.
potenciais e duvida dos resultados positivos argumentados Enfim, percebeu-se que os momentos onde mais
pela mineradora. se avançou foram quando houve diálogo, mesmo que
Outro fator interessante são as várias acusações e intermediado pelo MPF, como pode ser visto nos termos
suspeitas de relações não tão transparentes entre as empre- dos acordos celebrados entre as partes. Esta constatação
sas mineradoras e os órgãos fiscalizadores. Questões como corrobora com a visão de Ostrom (1990) de que, quando
estas levam à reflexão acerca dos fatores histórico-culturais existe diálogo, a probabilidade de surgimento de novas
brasileiros – como a corrupção, o clientelismo e o patrimo- instituições é maior.
nialismo – e ajudam a explicar algumas das barreiras para Muito embora se compreenda que não é possível ge-
uma maior eficiência da gestão pública municipal. neralizar as lições do caso analisado para todos os conflitos,
Muito embora o conflito analisado ainda persista, este caso evidenciou que conflitos socioambientais, que
este caso mostrou a importância da mobilização da comu- muitas vezes duram anos, podem ser decisivos e contribuir
nidade envolvida em áreas de risco ambiental na luta pela de forma significativa para o fortalecimento de ações am-
garantia de seu direito constitucional de um meio ambiente bientais e para a institucionalização da gestão ambiental.
equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, sendo Como se observou, estruturas de governança, bem como
fundamental defendê-lo e preservá-lo para as presentes e novas leis e normas foram surgindo e fortalecendo o pro-
futuras gerações. cesso de discussão, favorecendo a institucionalização da
Um fato relevante verificado foi a importância que gestão ambiental que antes não existia ou era frágil.
têm as prefeituras municipais na emissão de licenças am-

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Recebido em setembro de 2010.


Aceito em novembro de 2010.
Publicado em dezembro de 2010.

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